Dissertação De Mestrado
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
MAX JEFFERSON DOS SANTOS A POÉTICA CONTEMPORÂNEA DE CAETANO VELOSO POR MEIO DA LEITURA DE QUATRO CANÇÕES UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGÜÍSTICA Maceió, agosto de 2008. MAX JEFFERSON DOS SANTOS A POÉTICA CONTEMPORÂNEA DE CAETANO VELOSO POR MEIO DA LEITURA DE QUATRO CANÇÕES Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística, da Universidade Federal de Alagoas, para obtenção do título de Mestre, na área de Concentração Literatura Brasileira. Orientador: Prof. Dr. Roberto Sarmento Lima UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGÜÍSTICA Maceió, agosto de 2008. Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca Central Divisão de Tratamento Técnico Bibliotecária Responsável: Helena Cristina Pimentel do Vale S237p Santos, Max Jefferson dos. A poética contemporânea de Caetano Veloso por meio da literatura de quatro canções / Max Jefferson dos Santos, 2008. 119 f. : il. Orientador: Roberto Sarmento Lima. Dissertação (mestrado em Letras e Lingüística: Estudos Literários) – Universi- dade Federal de Alagoas. Faculdade de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística. Maceió, 2008. Bibliografia: f. 78-83. Anexos: f. 84-119. 1. Veloso, Caetano, 1942- .– Crítica e interpretação. 2. Crítica literária. 3. Poesia brasileira contemporânea. I. Título. CDU: 869.0(81).09 DEDICATÓRIA A todos que vêem – nas canções – a noção de poética. Principalmente, aos que não colocam as coisas no mesmo campo, para que não se perca o rigor que estudo exige. Aos familiares que estiveram mais próximos da real execução deste trabalho. À inestimável amiga Caroline Blanca Maciel Marinho, por me presentear com um dos livros de Caetano – Letra só –, cuja consulta foi fundamental para este trabalho. AGRADECIMENTOS À paciência e competência do Prof. Dr. Roberto Sarmento Lima, pelas muitas vezes que me fez compreender, de fato, a proposta deste trabalho. Aos membros da banca examinadora, Profª. Drª. Rachel Esteves Lima e, em particular, à Profª. Drª. Gláucia Vieira Machado, que fortaleceu o caminho da pesquisa com sua competência nesta área. Ao amigo Cristiano Lessa de Oliveira, que contribuiu para que eu repensasse a versão do meu resumo e pela grata contribuição ao vertê-lo. EPÍGRAFE “Amo a palavra CIDADE. Amo cidades. Me sinto um ser urbano.” (Caetano Veloso) RESUMO Análise da poética-musical de Caetano Veloso em “London, London” (1970), “Adeus, meu Santo Amaro” (1971), “Sampa” (1978) e “Meu Rio” (2000) como tradução do comportamento do artista contemporâneo diante da presença imagética da cidade, cuja força produtiva leva o sujeito lírico, segundo uma visão negativista mas producente do ser poético, a tornar-se, além de espectador da realidade, o veículo e a linguagem pela qual se organiza o texto. Por isso, a cidade não é exclusivamente tema, mas, antes de tudo, desempenha papel discursivo, orienta a visão e produz uma imagem do real. Portanto, Caetano será observado como um músico-poeta contemporâneo que absorveu as propostas da tradição do moderno, segundo a teoria de Octavio Paz, e as categorias da negatividade, propostas por Hugo Friedrich, estabilizando-se num espaço mais consciente onde essas categorias, já descontextualizadas em relação à primeira modernidade, atualizam suas imagens e sentido poéticos, dentro da contemporaneidade, onde Danto a classificará como um estilo de usar estilos. Palavras-chave: Caetano Veloso, poesia citadina, produção. RESUMEN Analisis de la poética-musical de Caetano Veloso en “London, London” (1970), “Adeus, meu Santo Amaro” (1971), “Sampa” (1978) y “Meu Rio” (2000) como traducción del comportamiento del artista contemporáneo delante de la presencia imagenética de la ciudad, cuya fuerza productiva lleva el sujeto lírico, según una visión negativista más producente del ser poético, a convertirse, además de espectador de la realidad, el vehículo y el lenguaje por el que se organiza el texto. Por ello, la ciudad no es exclusivamente tema, pero, antes de todo, desempeña papel discursivo, guía la visión y produce una imagen del real. Por lo tanto, Caetano será observado como un músico-poeta contemporáneo que absorbió las propuestas de la tradición del moderno, según la teoría de Octavio Paz, y las categorías de la negatividad, propuestas por Hugo Friedrich, estabilizándose en un espacio más consciente dónde esas categorías, ya descontextualizadas respecto a la primera modernidad, actualizan sus imágenes y sentido poéticos, dentro de la contemporaneidad, dónde Danto la clasificará como un estilo de usar estilos. Palabras-clave: Caetano Veloso, poesía citadina, producción. SUMÁRIO INTRODUÇÃO_______________________________________________________08 1. A CIDADE QUE SE CONVERTE NA PRÓPRIA FORMA_________________11 2. O ACRE E O LÍRICO DO ACRILÍRICO________________________________21 2.1. Caetano Veloso entre o moderno e o pós-moderno_________________________27 2.2. Nas origens da abstração poética_______________________________________32 2.3. Os efeitos poéticos a partir de um olhar citadino __________________________35 3. A AUTO-EXPULSÃO DO SUJEITO LÍRICO __________________________43 3.1. O desenraizamento do sujeito lírico ____________________________________52 3.2. Nos trilhos de uma possível poética ____________________________________66 CONCLUSÃO________________________________________________________74 REFERÊNCIAS_______________________________________________________78 DISCOGRAFIA_______________________________________________________82 ANEXOS ____________________________________________________________84 APÊNDICE __________________________________________________________89 INTRODUÇÃO A canção popular avizinhou-se da arquitetura, das artes plásticas, do teatro, do cinema e da literatura com vigor semelhante ao dessas áreas e injetou, por sua natureza híbrida, uma inequívoca complexidade na vida cultural do país. (Eucanaã Ferraz) 1 Este trabalho analisa a obra poético-musical de Caetano Veloso, em particular, os poemas “London, London”, “Adeus, meu Santo Amaro”, “Sampa”, e “Meu Rio”, vendo o artista como poeta-músico contemporâneo que, tanto absorveu as propostas da tradição do moderno como sugere Octavio Paz 2, quanto as categorias da negatividade, propostas por Hugo Friedrich 3, estabilizando-se num espaço mais consciente onde essas categorias, já descontextualizadas em relação à primeira modernidade, atualizam suas imagens e sentidos poéticos, dentro do que prevê a contemporaneidade. À medida que Caetano é apresentado como um herdeiro dessa tradição moderna, algumas semelhanças serão possíveis em relação a poetas como Baudelaire – precursor dessa modernidade – cuja ambiência e motivos são os da cidade. Tudo isso como um auxílio para compreender um Caetano que, operando esses modos de escrita poética, pode ser, também, investigado na linha dessa tradição moderna. A arte contemporânea consegue se harmonizar entre procedimentos de épocas literárias diversas e, portanto, não se vê na necessidade de posicionar diante de determinado conjunto de valores. Essa noção de contemporaneidade que, segundo Danto 4, define a diferença marcante entre a arte moderna e a contemporânea permite-nos compreender a obra poética de Caetano Veloso, que, apesar de sua herança simbolista (raiz de sua modernidade), supera os limites em direção à contemporaneidade. Apesar de reconhecer que o texto de Caetano Veloso dialoga, por um ângulo mais preciso, com a vertente simbolista francesa e, por outro viés, menos pontual, com a modernidade literária mais ampla por sua vez, inscrita nos limites do simbolismo francês, decorrência dessa nova poética, a proposta deste trabalho é ver o poeta como um contemporâneo, alguém que 1 VELOSO, Caetano. O mundo não é chato . São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 2 O Simbolismo rompe com a idéia de tradição, o antigo caráter estético, e funda uma espécie de tradição, a de romper sempre com o que lhe vem antes. Isso coincide com a idéia de Baudelaire, de que o moderno é a presença do transitório no eterno. Esse movimento regular é que faz o moderno. 3 Caetano Veloso, cuja visão é dirigida pela cidade, transforma o sujeito lírico em espectador de si mesmo. Para isso, a tradição moderna já o fez conhecer as figuras da negatividade (que estão em Hugo Friedrich) e, agora, na segunda metade do século XX, é o poeta já estabilizado no curso dessa tradição.. 4 DANTO, Arthur C. Após o fim da arte: a arte contemporânea e os limites da história . Trad. Saulo Krieger. São Paulo: Odysseus Editora, 2006. herdou as propostas advindas da modernidade, a partir de Baudelaire, mas que, acima de tudo, soube contextualizá-las no seu espaço histórico-sociocultural, o que, para alguns críticos, será chamado de pós-moderno, mas, aqui, será compreendido e avaliado como contemporâneo. Caetano Veloso será apreciado criticamente como um poeta cuja visão é dirigida pela cidade que impõe sua força e vontade segregadora e, por isso, transforma o sujeito lírico em espectador de si mesmo. Ao contrário dos simbolistas franceses, entre os quais o período de choque do primeiro contato com a cidade criou uma sensibilidade e uma percepção de realidade, a poesia de Caetano transforma-se, nele, em momento de estabilização. A cidade não é apenas um tema, desde os simbolistas, mas uma perspectiva de realização literária, um foco orientador de uma nova sensibilidade poética, que vem a substituir a natureza ou transformá-la segundo essa nova orientação. Neste sentido, Caetano já não é moderno clássico, que