Universidade Federal Do Ceará Centro De Humanidades Departamento De Literatura Programa De Pós-Graduação Em Letras
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES DEPARTAMENTO DE LITERATURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS AIRTON UCHOA NETO MALANDRAGEM E ESPAÇO URBANO NO CONTO “PAULINHO PERNA TORTA” DE JOÃO ANTÔNIO FORTALEZA 2011 AIRTON UCHOA NETO MALANDRAGEM E ESPAÇO URBANO NO CONTO “PAULINHO PERNA TORTA” DE JOÃO ANTÔNIO Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Universidade Federal do Ceará – UFC, como requisito obrigatório para obtenção do título de Mestre em Letras, na Área de Literatura Comparada. Orientador: Prof. Dr. Irenísia Torres de Oliveira FORTALEZA 2011 AIRTON UCHOA NETO MALANDRAGEM E ESPAÇO URBANO NO CONTO “PAULINHO PERNA TORTA” DE JOÃO ANTÔNIO Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Universidade Federal do Ceará – UFC, como requisito obrigatório para a obtenção do título de Mestra em Letras, na Área de Literatura Comparada. Aprovada em: _____/_____/_______ BANCA EXAMINADORA: ___________________________________________________________________ Profa. Dra. Irenísia Torres de Oliveira Universidade Federal do Ceará – UFC ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo de Almeida Peloggio Universidade Federal do Ceará - UFC ___________________________________________________________________ Profa. Dra. Tania Celestino de Macêdo RESUMO O presente trabalho analisa o conto “Paulinho Perna Torta”, de João Antônio Ferreira Filho sob duas perspectivas principais, a saber, a da construção do conceito de malandragem e da internalização ficcional do espaço urbano ao redor, bem como do fato histórico que ocorre como pano de fundo da narrativa, a destruição da antiga zona de prostituição de São Paulo e o aparecimento gradual da chamada Boca do Lixo. Percebe-se e compara-se estruturalmente o conto de João Antônio com o romance São Bernardo, de Graciliano Ramos. Além disse, procura-se localizar o conto de João Antônio dentro de sua própria obra, comparando esse conto selecionado com outros contos do mesmo autor, publicados antes e depois de “Paulinho Perna Torta”, e o lugar do próprio João Antônio na literatura brasileira a partir da fortuna crítica cotejada sobre o autor. O conceito de malandragem é evoluído a partir do conceito contido no clássico ensaio de Antonio Candido “Dialética da malandragem” e comparado com os de outros autores que também se debruçaram sobre o tema. Assim como também a questão do espaço urbano é discutida a partir de autores que tratam do tema da urbanização no Brasil. No caso específico da São Paulo dos anos de 1950, período no qual se passa a ação do conto. Também se buscou construir uma genealogia do discurso sobre a cidade a partir de cronistas importantes como João do Rio, Olavo Bilac, Mário de Andrade e Lima Barreto, até se chegar ao ponto em se encontra o próprio João Antônio. Palavras-chave: Malandragem, Espaço Urbano, Conto. RÉSUMÉ Ce travail de thèse analyse le conte "Paulinho Perna Torta" par João Antônio Ferreira Filho sous deux angles principaux, à savoir la construction de la notion de “malandro” et de l'internalisation de fiction de l'espace urbain autour, ainsi que le fait historique qui se produit l'arrière-plan du récit, la destruction du vieux quartier rouge de São Paulo et à la décoloration appel “Boca do Lixo”. Elle est perçue et comparé structurellement le conte de João Antônio à la nouvelle São Bernardo, par Graciliano Ramos. Outre dit, si vous voulez trouver l'histoire de João Antônio dans son propre travail, comparant avec d'autres histoires sélectionnées par le même auteur court récit, publié avant et après "Paulinho Perna Torta" et la place de João Antônio lui-même dans la littérature brésilienne de la fortune critique rassemblées sur l'auteur. Le concept de “malandro” se dégage du concept dans l’essai classique par Antonio Candido "Dialética da malandragem" et comparées à celles d'autres auteurs qui ont étudié le sujet. Ainsi que la question de l'espace urbain est discuté par des auteurs qui traitent le thème de l'urbanisation au Brésil. Dans le cas spécifique de São Paulo en 1950, au cours de laquelle l'action se passe dans l'histoire, visait également à construire une généalogie du discours sur la ville de chroniqueurs importants comme João do Rio, Olavo Bilas, Mário de Andrade Lima et Lima Barreto, jusqu'à ce que vous arrivez au point est le João Antônio lui-même. Mots-clés: malandragem, l'espace urbain, conte. “Malandragem é fome.” (Adoniran Barbosa) SUMÁRIO Introdução 7 1. A cidade e a margem 11 1.1 A infância na rua: Paulinho e outros meninos de João Antônio 17 1.2 O avesso da cidade fáustica: os escombros da modernidade bandeirante 24 1.3 A cidade das veias abertas: o espaço no conto de João Antônio 44 1.4 De otários-malandros e malandros-otários: os donos da rua vazia 49 2. O malandro e o tempo 55 2.1 O malandro está morto: viva o malandro 58 2.2 Do estranho paraíso pré-moderno o malandro pisca o olho 61 2.3 O renascimento da malandragem urbana e os malandros mortais de João Antônio 79 2.4 Boca de Laércio Arrudão e seus preceitos: a ética da malandragem 89 2.5 Outras dialéticas da malandragem: “Visita” e “Joãozinho da Babilônia” 93 2.6 Malandros, otários, desiludidos 97 3. Paulinho Perna Torta e o Décimo Mandamento 99 3.1 De Graciliano Ramos a Lima Barreto 110 3.2 A máxima como negação da experiência e os lugares fechados 123 3.3 Paulinho Perna Torta: ascendência e descendência da malandragem 131 Conclusão 139 Referências bibliográficas 143 Introdução A obra de João Antônio se encadeia a linhas de força da literatura brasileira tanto pela sua representatividade, ressaltada por Antonio Candido, Wilson Martins, João Luís Lafetá, dentre outros críticos, quanto pelo seu projeto de literatura, alicerçado na obra de autores importantes da tradição literária brasileira como Lima Barreto, Graciliano Ramos, Oswald e Mário de Andrade, Manuel Antônio de Almeida e, embora menos comentado pelo criador de Leão-de-chácara, até mesmo por Machado de Assis. E, como afirma Antonio Candido, o conto “Paulinho Perna Torta” é um ponto alto em sua carreira e na própria literatura de sua época: (…) sua obra-prima (e obra-prima em nossa ficção) é o conto longo PAULINHO PERNA TORTA, de 1965. Nele parece realizar-se de maneira privilegiada a aspiração a uma prosa aderente a todos os níveis da realidade, graças ao fluxo do monólogo, à gíria, à abolição das diferenças entre falado e escrito, ao ritmo galopante da escrita, que acerta o passo com o pensamento para mostrar de maneira brutal a vida do crime e da prostituição. (Candido 2006:255) Mais do que isso, essa narrativa é de suma importância para a compreensão da obra de João Antônio como um todo. Há dois pontos importantes, relacionados à técnica narrativa, em que o conto “Paulinho Perna Torta” rompe com os contos anteriores do autor; dizem respeito, um, à problemática relação entre realidade e literatura, outro, aos limites dos próprios gêneros literários. Para se fazer esse tipo de análise, em termos formais, porém, é preciso desafiar um pouco as opiniões que o próprio autor deixou sobre o fazer literário, as quais podem conduzir a análise a aspectos conteudísticos puros, chegando no máximo a detalhes da linguagem utilizada pelo autor em sua prosa de ficção. A primeira questão que vem à mente do leitor e do estudioso de João Antônio é: como estudar a forma literária na obra de um autor confessadamente avesso ao formalismo em moda na sua época? É preciso, pois, compreender a expressão forma da mesma maneira que a entende Antonio Candido (2010a:14, 2010b:9- 10), em conceitos já bastante conhecidos. Ainda assim, essa tomada de posição não deixa de bater de frente com a profissão de fé do autor em questão, expressa apaixonadamente em suas entrevistas e em seus manifestos. A posição aguerrida de João Antônio se explica pela situação política de sua época: o autor escrevia sob censura pesada e, ao mesmo tempo, era sustentado pela intelligentsia brasileira de esquerda e pela pequena imprensa alternativa de que, inclusive, fazia parte, o que diz muito sobre o autor mesmo na época em que ele escrevia a primeira versão de “Paulinho Perna Torta” 8 Eu o escrevi depois de março de 1964, debaixo do impacto do golpe militar que, após dezembro de 68, com o AI-5 (…) atirou este país a uma ditadura massacrante em todos os sentidos. Pagamos até hoje./E o escrevi sob encomenda de Enio Silveira, editor que planejara lançar uma antologia de contos e novelas de autores brasileiros, Os Dez Mandamentos. Produzido em 64, Paulinho Perna Torta viria a público em 65 ao lado de contos e novelas de Marques Rebello, Jorge Amado, Campos de Carvalho e outros./(…)/(…)/Curiosamente, uma noveleta escrita sob encomenda, num tempo difícil, foi considerada uma obra-prima e até uma obra- prima dentro da ficção brasileira por um dos maiores mestres da nossa crítica, Antonio Candido./Bem feito, para mim. É por tudo isso que continuo marginalizado no meu País. (JOÃO ANTÔNIO apud SEVERIANO 2005:214-215) A realidade brasileira calada nos jornais convencionais da época necessitava de um outro modo de expressão, e a própria censura fazia com que, reativamente, pelo menos uma parte do público buscasse, criasse uma demanda pelas informações ocultadas. Logo, as declarações de João Antônio não podem ser descartadas apesar do exagero; são importantes para compreender o seu pensamento e a sua produção literária. O tempo, porém, mostrou as contradições em que mergulhou João Antônio: nem sempre o próprio autor conseguia ser fiel ao que estabeleceu nessas opiniões. Pois pode se perguntar até que ponto é possível ir nesse sentido sem abolir o próprio conceito de literatura, que, segundo Ieda Magri (2010:12), o autor chegava mesmo a desafiar nos seus manifestos. Em “Paulinho Perna Torta”, o que ocorre não é uma ficcionalização da realidade, embora o pano de fundo da narrativa seja um fato histórico-jornalístico comprovadamente real, o fechamento da antiga zona de prostituição de São Paulo e o surgimento da Boca do Lixo.