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Diana Aragão Bacharel em Jornalismo e Comunicação pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do (UFRJ, 1973) estagiando em seguida no Jornal do Brasil atuando no Caderno de Turimo e, em seguida, no Caderno B

nas funções de repórter, crítica de shows, discos e TV. Depois A Incomparável de 15 anos desligou-se da empresa passando para o Segundo Caderno do jornal O Globo exercendo também o papel de crítica de shows e discos. Mesmas funções no jornal O Dia e na Revista Visão, sucursal Rio de Janeiro, assim como no Jornal da Tarde, de São Paulo, sucursal Rio, na área de cultura. Trabalhou Marlene ainda como assistente de direção dos shows Memória do Samba realizados no final de 1993 no Teatro Gonzaguinha, do Centro de Artes Calouste Gulbenkain. Co-autora do vídeo Thereza Aragão-Memória do Samba realizado em 1995. Diretora dos seguintes shows realizados na Sala Funarte Sidney Diana aragão Miller e no Projeto Pixinguinha, no Teatro Carlos Gomes, em 1995: Velha Guarda da e convidados, Marcos de Pina e conjunto Vibrações; Alaíde Costa, João Carlos Assis Brasil e Renato Borghetti, Velha Guarda da Mangueira e convidados. Diretora e Produtora do show reunindo e Família Roitman para o Projeto Pixinguinha de 1997. Trabalhou ainda com a cantora e compositora Telma Tavares no Teatro Rival Rio, além de escrever textos dos seus discos para artistas como Alcione, Maria Bethânia, Tunai e Nana Caymmi, entre outros. Autora ainda da série de fascículos/CDs Grandes nomes da MPB, da Editora Del Prado. Colabora atualmente com os blogs CPC Aracy de Almeida e Curabula Livro Clube. A Incomparável Marlene Diana Aragão

12083455 capa pb.indd 1 22/03/13 16:16 MarleneA Incomparável Diana Aragão

1 2 MarleneA Incomparável Diana Aragão

3 4 5 Fazendo pose em 1960

6 Os auditórios sempre lotados, os sucessos de carnaval, o canto e a dança brejeiros e irreverentes. Para muita gente esta é, até hoje, a imagem que permanece de mim, Marlene alegria e festa. Só que esta é apenas uma meia verdade, não explica na totalidade quem eu sou, não reflete as mudanças, os caminhos e descaminhos; as descobertas que fiz ao longo da vida princi- palmente durante as duas últimas décadas em que me vi distante do mercado fonográfico. Por isso, não me espanta mais quando, após um dos muitos shows que faço Brasil afora, alguém chega ao meu camarim boquiaberto diante do que viu. Somente quem acompanhou minha carreira pelos palcos sabe das minhas mudanças, das minhas escolhas. Viver com plenitude é participar de um processo, um caminhar que precisa estar refletido na música que se canta. Mas não só isso: meu canto também pretende retratar os dramas cotidianos, induzir a reflexão. É a forma que tenho de me emocionar e me solidarizar diante da miséria e da solidão.

(Trecho, escrito por Marlene, na contracapa do CD Estrela da Vida)

7 8 Dedico o livro ao meu querido Manoel Barcelos, a toda a imprensa e essa querida família “marlenista” que me acompanha há sete décadas.

Marlene

Este livro é dedicado às cantoras do rádio, minha mãe e minha irmã e aos meninos da minha vida: Luciana, Pedro, Julia, Joana, Marcos, Lucas, Marcelo, João, Luisa, Lis, Matheus, Marina e José, também amantes da música.

E a Érico de Freitas, Maria Helena Dutra e Thereza Aragão

In memoriam

Diana Aragão

Na década de 60

9 Sumário

Apresentação 12 Cap I – O começo de Vitorinha 14 Cap II – O Começo de Marlene 29 Cap III – A Rainha do Rádio 45 Cap IV – Marlene: a Estrela 67 Cap V – O Primeiro Casamento 72 Cap VI – O Segundo Casamento 99 Cap VII – Marlene no Olympia com Edith Piaf 101 Cap VIII – A Grande Volta de Marlene nos Shows Carnavália e É a Maior 124 Cap IX – Show mais Teatro e Escola de Samba Império Serrano 134 Cap X – Cinquenta Anos de Carreira e Shows na Década de 1990 154 Cap XI – Marlene e seus Figurinos 160 Cap XII – Marlene Compositora 170 Cap XIII – Marlene versus Emilinha 176 Cap XIV – Marlene e os Fãs-Clubes Mais a Amar 183 Cap XV – Final 190 Cronologia 196 Discografia 208 Filmografia 237

10 11 Apresentação

Victoria de Martino Bonaiute somente na pia batismal porque o Brasil inteiro a conheceu – gritando Incomparável ou É a maior – como Marlene. Desde que chegou ao Rio de Janeiro e atravessou a baía rumo a Niterói como con- tratada do Cassino Icaraí passando em seguida para os palcos do Cassino da Urca, Boate Casablanca e Copacabana Palace. Pra depois aportar, gloriosa- mente, no palco-auditório mais famoso do País, o da Rádio Nacional. Do seu palco e plateia de 570 lugares, sentados, Aquela que não perde a majestade dividiu com sua arqui-inimiga Emilinha, em público, por mais de dez anos o reinado da MPB. Reinado partilhado entre rumbas escandalosas e marchinhas falando do coitadinho do papai. Reinado dividido somente quando cantavam juntas no programa de . Aonde? ao microfone da Nacional. A mesma rádio ouvida do Oiapoque ao Chuí unificando o Brasil e transfor- mando a rivalidade Marlene versus Emilinha em fato histórico e nacional. Até mesmo quando desciam do avião que as levava país afora, eram sepa- radas por conta dos fãs mais afoitos, mesmo na hora do desembarque. Toda desavença provocada por conta da eleição da Rainha do Rádio de 1949 que Emilinha dava como certa. Mas Marlene, bancada pela Companhia Antarctica Paulista – que queria um rosto inédito para associar ao Guaraná Caçula, seu novo lançamento –, ganhou disparado a eleição. Explica-se: os votos eram vendidos para a construção do Hospital dos Radialistas, e a companhia deu um cheque em branco garantindo a vitória de Marlene e o começo da real rivalidade entre as duas cantoras. Enfim, histórias de bastidores da nossa MPB desfiadas ao longo do depoimento de Marlene,a que canta diferente.

Foram muitos os encontros iniciados em meados de outubro de 2009 em seu amplo apartamento de Copacabana, trocado depois por um menor, mas na mesma Copacabana. Entrevistas regadas a suco de uva integral e água de coco para amenizar os efeitos do calor do pior verão no Rio de Janeiro nos últimos anos. Encontros interrompidos apenas pelas festas de fim de ano e pela mudança de endereço, além da festa de aniversário de seus 87 anos promovida por seus eternos admiradores. Entrevistas que tiveram em Cezar Sepulveda, pesquisador, admirador de Marlene desde os 10 anos de idade quando fugia de casa para vê-la na Nacional nem que fosse somente

12 na calçada da praça Mauá (endereço da rádio até hoje), valioso colaborador. Amigo de Marlene há 50 anos (foi seu maquiador nos anos 1960) ele é, além de fiel amigo e escudeiro, guardião do acervo da cantora como diretor da Amar (Associação Marlenista) ao lado de outra amiga e colaboradora, Antonieta Carvalho, a Nieta, presidente da Amar.

Este depoimento é uma viagem pela MPB detalhada por quem viveu suas entranhas, de uma cantora que completou 70 anos de carreira querendo mais. De uma cantora que foi a primeira a se apresentar no Olympia, de Paris, convidada pela própria Edith Piaf que se encantou pela mulher elegante e exótica. Dona de uma beleza realmente diferente, ela sempre esteve entre as dez mais elegantes, seja de Jacinto de Thormes ou Ibrahim Sued, além da lista da Revista do Rádio, claro. Ao ponto de assinar uma coluna sobre moda e participar de concurso para revelar novos talentos. Pois o vencedor de tal concurso foi Clodovil, conhecido de todos, falecido em 2009. Marlene ainda exibe outras faces como a de compositora de A Grande Verdade, em parceria com Luís Bittencourt, gravada com sucesso pela amiga Dalva de Oliveira em 1951. Ou de atriz premiada ao lado do primeiro marido, o ator Luiz Delfino, na década de 1950 ou emBotequim , na década de 1970. Ou de shows antológicos como Carnavália e É a Maior, além da série Carnavalesca. E que pode ser vista no seu primeiro DVD/CD lançado em 2009, o Marlene, a Rainha e os Artistas do Rádio. Espero que todos gostem de viajar com Marlene, A Maior ou a Incomparável como era anunciada na Nacional no programa Manoel Barcelos dando título ao seu depoimento. Pois é como ela própria admite: o rádio foi uma das minhas faculdades.

Diana Aragão Rio de Janeiro, abril e maio de 2010

13 Capítulo I O Começo de Vitorinha

O papai estava tuberculoso. Tudo isso que eu vou contar agora eu soube pela minha mãe Antonieta. Meu pai morreu sete dias antes do meu nascimento. Eu não existia ainda, estava sendo gerada. Nasci no Hospital São Paulo, no bairro Bela Vista, Rua Frei Caneca. Somos de uma família italiana, mamãe conheceu o papai aqui. Victorio. Nascido na Itália, a família toda. A mamãe é calabresa, o papai é romano. Nós somos descendentes de Galileu Galilei. É verdade. Uma sobrinha minha, a Liliana, tem um livro que dá o sobrenome nosso junto com o Galileu Bonaiutti Galilei. Eu nunca disse isso a ninguém. Mas não me incomodo com isso não. Nós éramos sete. Eu sou a caçula. O que sei do papai é através da minha mãe, claro. Através da minha mamãe e de amigos que eu ainda peguei menina, que falavam muito do meu pai. Ele fez todo o trabalho de ferro do Teatro Municipal de São Paulo e o do Rio de Janeiro além de um cinema também, que não me lembro qual foi.

Eu soube conversando com um colega dele, já era um senhor e eu pequeni- ninha, mas guardei. Victorio, eu tenho o nome do meu pai, Vitorinha. Mamãe era uma mulher extraordinária, não existe mais esse tipo de mulher, eu acho que não tem. Mamãe estudava no externato São José, que ela queria ser freira. Até que ela conheceu o Evangelho. Somos evangélicos sim. A família inteira era. E a mamãe se converteu e se tornou uma diaconisa, a primeira diaconisa Batista do Brasil. Era uma santa, sabe, me deu uma educação inigua- lável. Mas não sou beata não, mesmo acreditando em Deus e não sendo uma mulher religiosa pois não existe cantora religiosa.

Eu sei, e eu respeito, não sou devota não, mas eu respeito muito, porque a pessoa que me deu essa imagem foi uma criatura que largou tudo para ficar comigo, mais de 30 anos comigo e faleceu. Foi a Almerinda, uma camareira que trabalhava no Brazilian Follies comigo, no Hotel Nacional. Um teatro enorme, muito grande, e ela foi minha camareira. Passaram por mim sete camareiras, eu me acertei só com ela. Ela era uma pretinha linda, com feições lindas, ela era tudo.

O pai Victorio falecido antes do nascimento de Marlene Sua mãe, Antonieta

14 Voltando à minha infância, não foi alegre não, porque nascer já sem pai foi muito triste. Então, eu era o presente que Deus deu pra minha mãe. Eu sempre procurei um pai que nunca tive, e a mamãe era apaixonada pelo papai, ficou viúva aos trinta e poucos anos. No meu DVD tem o retrato da minha mãe e do meu pai. Minha mãe tinha 16 anos naquela fotografia e papai, 19. Duas crianças que me fizeram. Mamãe era uma mulher extra- ordinária, ela lecionava no Instituto de Surdos e Mudos da prefeitura de São Paulo e quando saía de lá ainda costurava, era grande costureira. Ela sustentou a família trabalhando na prefeitura e costurando para fora para bancar as três filhas. A minha irmã tinha 21 anos, era mais velha que eu, a Marieta, eu tinha 10. Eu fui o presente que a mamãe recebeu do papai. Que ela não tinha mais nenhum contato carnal com ele, porque era proi-

15 bido pelos médicos, já que ele estava há 15 anos com tuberculose.

Minha mãe foi uma guerreira, uma mulher extraordinária. Eu tenho uma admiração por ela, sabe, sei lá, eu acho a minha mãe excep- cional. Eu fico lembrando as coisas que ela fazia, com tão pouca idade. Casou com 16 anos, muito cedo. Ela saiu do Externato São José, conheceu o Evangelho, se tornou evangélica. A gente estudava no Colégio Batista Brasileiro, onde eu fui internada. Eu, a Geni e a Marieta, minha irmã mais velha. A mamãe teve que tirar a Marieta do colégio, ela era uma estudante fantástica, e ela ficou revoltada com isso. Porque papai tinha morrido. Aí a dona Antonieta, minha mãe, tirou ela do colégio para trabalhar, para ajudar no sustento e ela foi trabalhar na Cristaleria Americana, mas não me lembro de que, lembro que ela dirigia trezentos e tantos funcionários e ela tinha muita capacidade para isso. Mas ficou revoltada porque ela era a queri- dinha da casa, a primeira filha, a filha mais ve- lha. E papai e mamãe tinham verdadeira paixão por ela.

A Geni era de um grupo escolar, que eu não me lembro, não sei qual foi e a diferença entre a Geni e a Marieta era de dez anos. Mas a Marieta sempre teve um gênio muito forte, pelo menos eu conheci assim, já vi acontecerem desastres na vida dela, a perda de papai. Ela era a queridinha da casa, quer dizer, papai não me viu, nasceu a Geni, quer dizer, passou todo aquele amor para a outra também, ela era muito ciumenta. Eu estou contando o que me contaram. E Marieta começou a trabalhar, justamente para ajudar a família. Quando eu nasci a mamãe falava muito na rua Quatorze de Julho, eu me lembro muito bem dessa rua, na Bela Vista.

Aos dois anos de idade me achavam um portento, não sei por quê. A minha irmã Geni, que era a do meio, tinha loucura por mim e ela sempre dizia:

Dona Antonieta com as filhas Geni e Marieta

16 Dona Antonieta

17 Marlene, bebê e jovem

18 Você foi minha primeira filha. Fui sempre muito bem tratada por elas, mas não com aquele carinho que eu não conhecia. Eu ensinei à minha família o carinho, foi depois do meu nascimento. A mamãe dizia que tinha vergonha de receber carinho das filhas, devia ser a educação. Eu tenhoflashes , por exemplo, das mudanças de casa. Me lembro que as joias eram todas postas num lençol, amarradas e carregadas. Mas eu digo, onde estão essas joias? Não interessa isso. Mamãe era muito crente, muito evangélica, muito Cristo, muito Jesus, muito Deus, aquilo é que valia para ela. Ela me deu uma edu- cação extraordinária, até hoje eu conservo isso. Por isso, na minha época eu era tida como uma esnobe. Não era, é pela educação que eu tive, muito reservada, então achavam, muita gente achava que eu era antipática.

Fui interna com nove anos. Eu estudei no Júlio Ribeiro, grupo escolar Júlio Ribeiro. Eu fiz o meu primário lá, mas a mamãe conseguiu uma vaga para mim no Colégio Batista Brasileiro, que era o melhor colégio da época em São Paulo, era ele e o Mackenzie. Meu tio era tesoureiro do Mackenzie. Fiz o ginásio no Colégio Batista Brasileiro.

Papai era de uma família de posses, mas quando a mamãe ficou viúva, garota ainda, trinta e poucos anos, era garota ainda, ela se meteu então ao trabalho mesmo para sustentar as filhas, pois a família do meu pai era muito rica, mas não ajudava. Havia muito respeito, mas ajuda financeira não. Eles eram riquíssimos, eu soube depois.

Eu só sei que, quando papai faleceu, recebeu, de um trabalho que ele tinha feito, 600 mil, ou 600 cruzeiros, não sei, eu sei que eram 600. E a família de papai exigiu que a mamãe gastasse aquele dinheiro com o luto. Roupas, todo mundo de preto, até eu. A mamãe obedeceu. Ela adorava o meu pai. Claro que o dinheiro poderia ter sido aplicado na nossa educação, mas não existia isso, não. Tanto é que, quando eu me tornei artista, a família do meu pai se separou de mim. A família da minha mãe era pobre, era completa- mente diferente. Eu me dava bem com todos eles, mas havia certo receio. Eu me lembro dos jantares na casa da minha tia Felícia, que era irmã do papai, que morava nas Perdizes, uma casa lindíssima, que eu me lembro bem até hoje. Lautos jantares. A mamãe fazia eu comer em casa primeiro, porque eu era uma esfomeada, por causa da etiqueta. Ela me ensinou tudo, eu tive toda educação possível e imaginada que um ser humano podia ter, é como se eu fosse uma princesa, mesmo na pobreza, que eu não sabia nem o

19 que era isso, eu não sabia, para mim a vida era aquilo mesmo. Nunca tive um contato mais direto com o lado ruim, o lado feio da pobreza, nem passa- mos fome nunca, nunca. Eu me lembro uma vez, flashes que vêm na minha cabeça. Mamãe já membro da Igreja Batista da Liberdade, que era na Rua Santo Amaro, Bela Vista, também e ela recebia de vez em quando alguns amigos da igreja. Numa dessas vezes foi o seu Crispim, que também era da igreja, mas ele chegou de repente. Era um membro da Igreja Batista, não sei se era diácono, não sei, é muita coisa, eu era muito pequenininha. Eu estou me lembrando de coisas de dois anos de idade, passadas mas que eu via também. Eu tenho uma memória maravilhosa, como disse o médico que esteve aqui em casa ontem, eu tenho uma cabeça de 15 anos. Eu me lem- bro uma vez, duas coisas na hora do jantar. Numa dessas vezes era o seu Crispim que estava jantando lá, eu disse: Mãe, esse homem come muito. Vai sobrar pra gente?

Ela disse: Deus proverá. Não é fantástica? E ele proveu mesmo. Isso é um flash assim. Outra vez, isso anos depois, eu já devia estar com uns 10, 11 anos, nós tínhamos o nosso horário de almoço, de jantar, eu, minhas irmãs e mamãe, nunca entrou homem em casa, eu não sabia nem como era homem. E era uma sopa, porque sempre fazia, o italiano gosta muito de sopa no jantar. É a tradição. Ela botou os pratos numa mesa, era uma mesa oval, eu me lembro disso, e dei muita risada até, caçoei da mamãe. Ela foi servir, porque ela tinha botado os pratos, então ela foi servindo, e chegou num prato que não estava mais lá, ela colocou no prato, que deveria ter estado lá. Mamãe era fantástica. Aquilo eu achei muito engraçado, e ela também. Pediu mil desculpas e tal, porque ela não estava já enxergando bem.

Eu sei o fato, o que aconteceu. Outra vez, nós íamos indo para a igreja junto com uma colega, que morava pegado à minha casa. E a mamãe tinha muita preocupação com aquela menina, e a minha colega me pegava pela mão para me conduzir, e a mamãe na frente, para indicar o caminho que a gente tinha que ir, para ir para a igreja na Rua Santo Amaro, a Igreja Batista da Liberdade. Uma hora a mamãe virou e disse: Cuidado! Vocês estão andando olhando bem para o chão? Olha porque é perigoso, ela é muito pequenininha. Engraçado. Ela acabou de dizer isso e eu caí num poço. São flashes que vêm à cabeça. Tão adorada foi minha mãe.

Quando fui para o colégio não estranhei não. Fiz o curso primário no Júlio Ribeiro, mas me formei muito antes do que era na época. Na época a gente

20 tinha que fazer não sei quantos anos. Cinco anos? Eu sei que com nove anos eu já estava formada, eu entrei com seis anos, já tinha educação primária completa. Mas mamãe conseguiu uma vaga no Colégio Batista Brasileiro, a troco de algum trabalho que eu ajudasse lá, como arrumar cama, refeitório, botar a mesa, obrigações que só me fizeram bem. É duro. Mas eu vou chegar, eu vou chegar lá, eu tenho que ir devagarinho, é muita emoção. Eu tomava 35 cafezinhos por dia e fumava três maços por dia, por isso a falta de ar principalmente quando me emociono.

Eu varria o corredor, eram dois corredores enormes, um de lá e outro cá, assim. Nunca pude ir na sala das meninas de mesma idade que eu, porque eu era muito desenvolvida, não era desenvolvida de corpo não, de intelecto. Era precoce para ficar com as meninas de nove anos. Então me botaram com as meninas de 13. Para mim tudo era novidade, porque elas não me davam confiança, porque eu era garota, nove anos. Eu via elas tocarem violão, eu aprendi a tocar violão com elas. Era a semana inteira, sábado e domingo saía. E cada aluna tinha sua família que frequentava a tal Igreja Batista, que era um colégio evangélico, Colégio Batista Brasileiro, era Batista. Então, no fim de semana eu via a minha mãe e a minha família na igreja. Eu chorava muito, porque eu era muito ligada à mamãe. E na hora que acabava o culto, que eu tinha que me despedir, era uma choradeira louca, que eu queria ficar com a mamãe.

Voltávamos para o colégio e eu ia chorando, essa coisa toda, mas a norma era essa, tinha que aceitar. E nesse quarto, em que haviam oito meninas, cada uma fazia a sua cama, era obrigatório. É muito bom, porque a gen- te aprende muita coisa. Eu era muito curiosa, mas não me davam muita atenção, eu nunca tive atenção, porque não sei se eu era inteligente, era uma coisa estranha para as outras. Eu sei que elas estudavam nesse co- légio que era particular, era Maluf, Jafé, Matarazzo, esses nomes da alta sociedade de São Paulo, a frequência era essa, e eu era pobrezinha. Mas elas gostavam de mim, elas me tratavam muito bem, mas não podiam ter comunicação total, pela minha idade. Apesar de eu já compreender muita coisa mesmo com nove anos.

E elas 12, 13 anos, já com os seus namoradinhos. O Colégio Duca ficava atrás, o dos meninos. Então, havia muito namoro entre elas e eles. Eu não, eu não podia. Não tinha interesse, não tinha. Então, foi muito difícil a minha

21 infância, foi difícil a minha adolescência, foi muito difícil, mas eu suportei tudo. Fiquei até quando a Marieta tinha que casar e ela estava com 20 anos e eu com 10. Casou com o Décio, cunhado maravilhoso que me adorava, me chamava de Vitorinha, todo mundo na família me chamava de Vitorinha. Sempre Vitorinha. Até que a mamãe tirou a Marieta do colégio. Disse: Você precisa trabalhar.

Eu estou sozinha com vocês. Aí ela ficou revoltada porque era uma das melhores alunas do colégio. E ficou revoltada até o final da vida dela, ela nunca esqueceu disso. Ela descontou muito em mim, porque era a mais velha, me dava banho, me limpava lá de um jeito estranho, mas eu gostava muito dela. Apesar do temperamento dela, não compreendia o porquê, mas aceitava, porque a minha educação permitia que eu aceitasse.

Eu não fui ao casamento dela, me lembro até da cor do vestido que eu estava. Mostarda! Eu me lembro do vestido e não me lembro por que eu não fui. Eu não quis ir. Eu acho que estava um pouco magoada com ela, porque eu apanhava muito, acho que foi isso, não sei. Certo ressentimento infantil, mas não posso dizer, não posso dizer o que foi porque eu amei a minha família até o final.

A educação que eu tive é que a família era santificada, era uma coisa que a gente tinha que respeitar. Que eu como menor, minha irmã Marieta, que era a mais velha, acordava e eu já acordava, pulava da cama, e ela dizia: Menina, fica deitada. E eu com dois, três anos de idade, pulava da cama. Ela dizia: Eu vou sair porque eu tenho que trabalhar, mas você não, aproveita esse tempo, descansa bastante. Eu me lembro dessas palavras dela. Ela era muito gentil, mas com um temperamento bravo. Meu cunhado Décio gostava muito de mim. Décio Miranda. Ele trabalhava em cartório. Documentos, essa coisa toda. Que eu também não entendia nada disso. Mas ele era muito bom, era mineiro. Tiveram três filhos, três homens, estão todos muito bem. Moram na Barra, estão muito bem, um é médico. Mas foram sustentados por mim.

Ficamos mamãe, Geni e eu dentro de casa. A Geni teve que sair também do colégio. Eu não sei em que colégio ela estudava, não sei, não me lembro. Mas a Geni era um doce, era o oposto da outra. Ela dizia que eu era a filhinha, a primeira filhinha que ela teve. Ela me adorava. Eu me dou com as filhas dela como se fossem minhas. São casadas, uma está morando na Flórida,

Jovem, morando em São Paulo

22 23 outra na Carolina do Norte, outra em Boston, sabe. Espalhadas pelo mundo. Voltando aos estudos, continuei no colégio e eu era furona, eu tinha interesse em tudo, eu queria aprender tudo. Eu via aquelas aulas de ginástica, que eram pagas separadamente do curso, eu via elas fazerem e eu fazia igual. Tinha aula de culinária, eu fazia igual. Eu espiava. A cozinha do colégio era enorme. E a frequência era da alta sociedade de São Paulo. Curiosa porque eu queria fazer também.

Elas tinham aulas duas vezes por semana de culinária, e aquilo me chamava muito a atenção. Eu me lembro que eu ia para o pátio do colégio e tinha uma janela que dava para a cozinha. Dava para ver tudo. Eu ficava lá ouvindo e vendo. Olha, me deu uma ânsia, eu sempre quis aprender. Até que numa dessas vezes, que elas fizeram um bolo, acho que era para um concurso, acabou a aula, eu entrei sorrateiramente na cozinha, e tinha uma senhora que tomava conta daquele lugar, fazendo um bolo. Ela disse: Mas você não sabe. Eu disse: eu sei, eu vi.

Como é que é? Com isto, isto e isto. Então vamos lá, você vai fazer. Eu pedia os ingredientes, e ela sabia onde tinha, e eu preparava. Até que chegou o dia do concurso, e eu levei um baita susto, ganhei o primeiro lugar. Gostaram do meu bolo. Todos eles enfeitadíssimos, cheios de presepada, e o meu não, simples, mas com muito sabor. Um bolo normal, não sei explicar. E eu ganhei um prato de porcelana, com uma alça, um arco todo trabalhado e eu fiquei tão vaidosa, tão contente, tão feliz. Eu guardei por muitos anos aquele prato. No meio daquela garotada toda riquíssima, com parentes e tudo e eu sozinha. Porque a mamãe não podia ir, estava trabalhando.

Violão eu aprendi lá, porque eu estava interna com oito meninas num quarto, todas elas tinham aula de violão e eu ficava doida pra aprender. Eu pedi para uma aluna externa comprar para mim um método, ela comprou e eu ficava estudando tanto que pedi um violão pra mamãe. Eu pedi à mamãe, escrevi uma carta: Querida mamãe, eu quero um violão, um violão, um violão, um violão, um violão repetindo até o final:um violão. Vitorinha. No final de semana, que era a época justamente que os pais iam visitar os alunos, levar as roupinhas limpas e tudo, porque não podia mandar lavar lá, mamãe levava as roupas para lavar em casa e quando ela foi entregar as outras, eu entreguei a carta. Ela comprou um violão e entrou, eu me lembro, pelas escadarias do Colégio Batista, ela subiu com um negócio grande, um papel cáqui. Eu digo: o

24 quê é isso, mamãe?. Será que ela vem trazendo roupa que lavou para mim? Quando ela abriu eu vi o violão, eu quase desmaiei. Meu primeiro instrumento musical. Só que o meu não tinha tarraxa, era de madeira para afinar. Um violão vermelho horroroso! Nunca ninguém tinha visto violão vermelho na vida, então foi um deboche total. Mas a minha felicidade foi muito grande. E eu, como era muito esperta, tinha nove anos, já tinha feito o curso primário no Júlio Ribeiro, na época não se admitia uma menina de seis anos entrar no grupo escolar, a idade era sete. E eu com nove anos já estava preparada para o ginásio. Mas no Batista Brasileiro não aceitavam isso não. Falaram com mamãe, que era evangélica, e o colégio também. Comecei a tocar Senhor venha ver, senhor vem oiar, o nego mexer, o nego assoviar, e o nego

Com as irmãs Geni e Marieta nos anos 70

25 batucar. Poeira acabou, senhor venha ver saci pererê. He-re, he-re, he-re. E uma vez por mês, tinha o salão nobre, que era maravilhoso, do colégio, que é até hoje, eles faziam sempre uma festinha com as alunas internas. Eu disse é hoje: era de tarde, final da tarde, num sábado.Quem quiser fazer alguma coisa, ou recitar, ou declamar, qualquer coisa, que se aproxime ou levante. Ah, eu levantei logo o dedinho.

– Eu quero cantar.

– Vitorinha, mas você quer cantar?

A professora estava no palco e eu na plateia.

– Ah, eu quero.

– Mas como? Você quer cantar o quê? Quem vai te acompanhar?”

Eu digo:

– Eu.

– Então, como?

– Eu tenho violão.

Eu saí de lá correndo, eu me lembro tão bem, subi as escadas, fui para o outro andar onde tinham os quartos, para apanhar o meu violão. E cheguei lá e fui para o palco com o meu violão vermelho, e cantei: Senhor venha ver, senhor vem oiar, saci pererê. É uma música folclórica. Nunca cantei isso no rádio. As professoras comentavam: não é possível essa menina, ela fez um bolo e ganhou, pede para cantar, ela entra com um violão, canta, é aplaudida. Eu sei que, nesse ínterim, a igreja fazia festas de Natal, e a minha irmã Geni é quem dirigia. Era uma árvore imensa, os presentes todos ali pendurados, cada um ganhava um presente. Eu era louca para ter uma boneca, nunca tive uma boneca. Tive uma só, que está aqui. É toda desenhada, cabelo de verdade, é uma raridade. Cheia de parafusos.

Mas eu nunca colecionei bonecas e não tinha nem como. Eu era muito curiosa, eu via todo mundo fazer alguma coisa, e eu queria fazer igual. Mamãe cos- turava, eu também me meti na máquina, costurei o dedo e uma vez fiz um

26 vestido de menina muito bonito, de veludo, à mão. Eu meti o dedinho, dois dedinhos, e a máquina costurou. E o que eu costurei foi na grande, na Singer da minha mãe e ela foi com muito cuidado, desparafusou, tirou o meu dedinho com aquela agulha enfiada, furado, eu tenho até a marca.

Minha mãe foi muito importante na minha vida e eu sinto muita falta dela. Mas é que ninguém me compreendia, eu era muito levada e eles não me levavam para lugar nenhum, porque eu queria ver tudo. Eu era precoce. É uma coisa impressionante, que até hoje tenho. Eu fui muito atacada, fui atacada em criança, adolescente. Eu me lembro que, na casa das minhas amigas, elas não me convidavam para jantar ou almoçar, me deixavam fora. Devia ser algum tipo de preconceito porque eu era pobre e eu me dava tanto às pessoas, eu chorava. Eu me entrego demais às pessoas, choro por elas. Quando eu perco, me desespero, até hoje sou assim.

Voltando às festas de Natal, a gente ia para a Geni nas festas natalinas e foi a primeira vez que eu pisei num palco de verdade, aos seis anos de idade, dirigida por minha irmã Geni que me ensinou um hino da igreja. Eu lembro até a roupinha que eu estava, feita por mamãe: era um vestidinho branco com babadinho. E eu cantando o hino religioso Em sonho eu vi, em resplendor, o céu de glória e luz, vi multidões lá junto a Deus, que entoavam uma canção. E eu num cantinho agachadinha, o órgão tocando, e o órgão acabou os acordes e ficou todo mundo preocupado porque eu não começava a cantar o tal hino. Eu já estava representando sem saber. Eu estava me acordando, porque a música dizia num sonho eu vi em resplendor, então eu queria contar que eu tive um sonho, eu estava dormindo. Eu comecei a me espreguiçar e comecei a cantar.

Eu acho que foi o primeiro palco que eu pisei com seis anos de idade. E minha irmã Geni era uma atriz nata evangélica. E o namorado dela, que veio a ser o seu marido, foi o primeiro namorado dela, primeiro casamento e último, ele dirigia essas peças religiosas. E eu fiquei muito triste uma vez, porque ele montou a peça, a Rainha Ester, e minha irmã fazia a rainha Ester, e eu fazia uma pontinha qualquer. Eu sei que era tão viva, que não suportava ficar parada. Não posso dizer, àquela época, que eu pretendia isso ou aquilo. Eu me lembro do desprezo que tinham por mim, eu fui muito desprezada. A mesma coisa que eu sofri quando comecei a minha carreira artística.

27 Marlene na juventude

28 Capítulo II O Começo de Marlene

Saí do colégio porque eu tinha que sair, pois a segunda irmã, a Geni, ia casar e aí eu vi o sacrifício da minha mãe. Ela me levava ao Instituto de Surdos e Mudos, e eu estava com 15 anos e comecei a procurar emprego para ajudar a minha mãe, mas ninguém sabia. Como eu tive que sair do colégio, fui para a Faculdade de Comércio do Estado de São Paulo para fazer o curso de contadora. Eu estudava à noite e durante o dia procurava trabalho.

Eu vi um anúncio, aceitam-se matrículas. Eu já tinha saído do Batista e falei: eu vou entrar aí. O primeiro trabalho foi num escritório de representações de fumo, foi onde eu comecei a fumar e o Sr. Nogueira era o dono do escritório, gostava muito de mim. Me deixavam cantar, escrever e eu escrevia crônicas.

(Na sua adolescência, Marlene manteve um diário e dessa época, fevereiro de 1937, escreveu que minha mãe não quer que eu me empregue. Mas não há de ser nada. Vou trabalhar de qualquer maneira. Eu quero é trabalhar, eu quero é movimento. Emprego registrado no mesmo mês: estou trabalhando num escritório de representações.)

Com ordenado baixo, nem sei, 150 mil réis, representações de fumo, tudo que era qualidade de fumo passava por lá. Aí a curiosidade também, é a tal da curiosidade, comecei a fumar, mas eu não me lembro com quantos anos estava não. O escritório era na cidade, perto da Praça da Sé, não me lembro a rua. Eu trabalhava durante o dia, tinha a hora de almoço. Eu não sei o que eu fazia, sei que escrevia muitas crônicas, tinha um caderno cheio de crônicas escritos à mão mesmo. Quanto tempo fiquei lá, também não me lembro. E quando mamãe soube? Porque isso tudo eu fiz sem ela saber. Sem ela e minhas irmãs saberem. E quando elas descobriram eu disse que era para ajudar em casa, mas nem me lembro se deu, não lembro.

E a Faculdade de Comércio continuou porque eu li no jornal que estava sendo criada a Federação dos Estudantes do Estado de São Paulo que estava convocando todos os estudantes, de qualquer classe, para integrar o quadro

29 da federação. O presidente era Menotti de Tomazo, o secretário era Hideo Onaga, que se tornou um grande jornalista em São Paulo, era japonês. Aí eu fui. Por coincidência, o Menotti morava em frente à minha casa e quando entrei pra me inscrever, ele disse: Vitorinha, você por aqui? Aí eu consegui entrar para o núcleo da Hora dos Estudantes. Comecei a cantar, cantava em inglês, cantava em francês, eu queria era cantar, o meu negócio era cantar. Eles fizeram uma reunião, porque o Menotti sabia do problema da minha mãe comigo. Vitorinha, você não pode cantar com esse nome. Aí fizeram uma reunião com o Hideo Onaga, e quando saíram de lá falaram: Você não é mais Vitorinha não, você é Marlene. Não sei se foi por causa da atriz porque eu não conhecia a Marlene Dietrich, nem sabia, nem ia a cinema. Mas gostei. Estava entre Marlene e Marilu. Eu digo: ah não, eu gosto mais de Marlene. E fiquei como Marlene. Quando me tornei profissional, que foi naRádio Tupi, que eu fiz teste de três músicas, botei o nome de Marlene, continuei defini- tivamente com o nome que os estudantes me botaram.

(No mesmo diário, ela registrou, em 18 de junho de 1938, que estou noiva do presidente da Federação de Estudantes. Não está dando certo, mas. “Comecei hoje a frequentar a Rádio Tupi com a cantora Janete, a garota do chapéu de palha. O diretor simpatiza comigo, pergunta se quero ser astista, se quero cantar. Ora, perder essa oportunidade? Era meu sonho ser artista profissional. Submeto-me a um teste, atuando das 21h15m às 21h30m. Fui feliz. Assinei contrato no mesmo dia, ganhando 200 mil réis por mês. Era pau pra toda obra. Locutora, radioatriz e consegui um programa de cinco minutos intitulado Doroteia no Cinema.” )

Nessa época eu não me lembro quantos anos tinha. Foi tudo uma coisa atrás da outra pois já tinha saído do colégio e passado pelo escritório do Dr. Nogueira. Mas o interessante é que eu não conseguia ouvir rádio em casa, música popular não, era só música sacra e clássica. Música popular a mamãe desligava. Aquilo me aguçou a curiosidade.

Aprendi esse repertório assim: eu enfiava o ouvido no rádio bem baixinho, com uma caneta, lápis, sei lá o que, e ia escrevendo a letra dentro da minha casa. De ouvido, tudo, tirei várias canções e depois eu ia pra rádio cantar essas músicas, era uma vez por semana. Na Hora dos Estudantes me lembro das sinfonias mas eu gostava mesmo era de samba. Eu ouvia Dircinha Batista,

30 Linda Batista, Aracy de Almeida. E a mamãe desligando o rádio, desligando e eu apanhando. Isso é pecado, é pecado, é pecado.

Aí o bichinho da música já tinha entrado mesmo. Nessa época conheci uma cantora de São Paulo chamada Janete – a Garota do Chapéu de Palha, porque ela tocava chapéu de palha, fazia a batucada no chapéu de palha e eu achava aquilo incrível. Eu morava perto dela, Rua Riachuelo, ela no Largo de Santo Antônio. E a mãe da Janete me achava muito engraçadinha, porque eu pas- sava todo dia por lá.

A Janete tinha um nome muito bom. Mas hoje ninguém fala nela. Ela me convidou quando eu perdi um dos empregos, que não queria que mamãe soubesse. Eu olhava o jornal todo dia, mas frequentava as minhas aulas lá na Faculdade do Comércio à noite aprendia Estatística. Aprendia muita coisa pois eu era gulosa de sabedoria, muito curiosa ao ponto de ter muitos pro- blemas em casa. Por exemplo, eu já quase morri afogada, já perdi pedaço do calcanhar, já tive fogo nos meus cabelos quando era adolescente. A minha irmã Geni, encerava a casa aos sábados. Então, me lembro uma tarde que ela pegou uma lata de cera e botou no gás, e o fogo entrou, eu ia passando pela porta do quintal, ela jogou a lata assim, e a lata caiu em cima de mim, queimou os meus cabelos. Eu era danada.

Outra vez foi na Água Branca, que eu fui com a Geni e a futura sogra dela, mãe do Valério. É muito bonito lá na Água Branca. E fui, eu ia sempre na frente, menina, corria. Imagina se eu ia esperar um passo deles, mole. E eu vi um lago muito bonito lá, e vi três latinhas, com a tampa da latinha, a tampa virada, como se a tampa estivesse dentro da água e só ficasse o chão, o teto da lata. Eu achei aquilo curioso, isso eu me lembro tão bem, como é que pode três latinhas dentro de um lago, por quê? Aí eu fui botar o pé. Eu não sei o que aconteceu, só sei que fui cair dentro do lago. Aí foi um deus nos acuda, porque eu não sabia nadar.

A Geni ficou louca, ela e a futura sogra, se jogou na água, e com o baque do corpo dela aí eu vim com o meu corpo mais na tona, então eles me puxaram pelos cabelos. Incrível, eu devia ser incrível mesmo. Todo mundo tinha medo de mim. Não era maldade não, eu era levada. E aí me tiraram pelos cabelos, fizeram tanta coisa comigo, sei lá, sei que eu me salvei, mas a minha irmã ficou na água, e quem é que ia tirar? Socorreram a Geni, porque ela também ia

31 morrer. Que loucura. Outra ocasião eu estava tomando café à tarde, sentei- me à mesinha, quebrei uma xícara. Eu tinha medo de apanhar, então botei a xícara debaixo da mesa, com o pezinho descalço, quando levantei eu pisei em cima, isso aqui ficou pendurado. Não é por nada não, mas eu era um inferninho. Mamãe abriu aqui, botou pó de café, amarrou, não ficou nem o sinal. Incrível. Eu fui mordida de cachorro. O cachorro pegava os garotos da rua, vem aqui para dentro, eu nem sabia se era menino ou menina, eu não tinha noção de nada, mas eu comandava, era líder do grupo, grupo pequeno. Aí eu vi o cachorro, que adorava aquele cachorro, era um pastor-alemão enorme, quando ele estava em pé, eu ficava desse tamanhinho perto do cachorro. Aí eu chamei os meninos, eram dois ou três, meninas e meninos, eu subi em cima do cachorro, e os meninos atrás de mim, montados tam- bém no cachorro. Mas ele estava comendo, a comida aqui, ele só fez assim, au, para avisar que estava comendo. Nesse au, me arrancou tudo. Aí eu tive uma sorte louca, porque fui para o hospital, naturalmente. Ponto aqui, aqui, está vendo? Cinco pontos aqui, abriu.

Incrível. Eu fui um diabinho, mas nada com maldade não. Eu me lembro que fiquei seis meses enfaixada comendo com luvinha. Terrível, terrível. Mas disso eu me lembro tão bem. Mamãe comprou um casaquinho de pele para mim, nem sei se era pele mesmo, se era imitação. Era branquinho, um gorrinho branquinho. Eu nem aí para aquele negócio, até enfaixada, botava o gorrinho, o casaquinho e ia para a igreja com ela. Fui danada. Essa foi uma das vezes que morri, porque eu morri mesmo.

Era impossível, tinha seis anos, essa eu me lembro da idade. Agora, eu nunca tinha visto um bicho chorar, eu vi o cachorro chorar, porque ele tinha loucura por mim. Queriam matar o cachorro, eu não deixei. Era da casa onde a gente morava, que ficava tomando conta de mim, sabe.

Outra coisa que gravei muito e até hoje eu choro, que aquilo foi maldade mesmo. Eu tinha dois anos, morava na Rua Major Diogo, em São Paulo. A mamãe lecionava no Instituto de Surdos e Mudos, e saia de lá, ela ia catar trabalho na costura. Então, ela me amarrava numa corda grande no pé da mesa da sala, e deixava até a porta da rua. Era grade de ferro na porta. Mas eu tinha uma cachorrinha, um cachorrinho, Tupi. E ele me fazia companhia, não me largava. A mamãe saía e me deixava um ovo, que ela me ensinou a fazer gemada, então, ela deixava o açúcar, o ovo, a xícara, tudo. E eu fazia

32 a gemada, e depois eu fazia com a clara, batia a clara, suspiro né, até ela chegar. Numa dessas vezes, acabei de fazer isso e fui para o portão junto com o cachor- rinho. O cachorrinho não estava preso, estava só do meu lado sempre, tomando conta de mim. Passa a carrocinha e vê aquela menininha, eu lembro até hoje, o chofer saltou do carro e pegou a minha cachorrinha. Pegou a cachorrinha, eu fui atrás, não podia, estava amarrada, foi uma choradeira. Quando a mamãe chegou eu contei. Mamãe disse: filhinha, me perdoa, mas eu não tenho dinheiro para tirar a cachorrinha. E ela virou sabão. Isso eu nunca me esqueço. A partir daí eu ia atrás de carrocinha na rua, para defender os bichinhos. Até hoje a minha felici- dade é ter muito bicho em volta de mim, gato, cachorro.

(O papagaio Rivelino, quase cego, fica em sua gaiola conversando com Marlene.)

Eu tinha nove gatos aqui nesse apartamento e uma cachorrinha. E o Rivelino tinha feito uma peça comigo e Emiliano Queirós. A peça era do Timochenco Wehbi. É um dramaturgo paulista conhecido como Timó e essa peça foi um dos seus grandes sucessos retratando os cortiços paulistanos. Ô cabecinha boa. Graças a Deus! E a peça era A Dama de Copas e o Rei de Cuba.

Esse trauma me acompanha até hoje. Quando eu fiquei doente aqui, há cinco anos que estou doente, minha casa era toda atapetada com pele de carneiro, assim ó, você enfiava o pé e ia lá embaixo. Mas o médico mandou tirar. Era o pelo, né, então, ele mandou tirar. Você imagina o sofrimento que foi. Até hoje eu sinto falta. Ele mandou tirar os tapetes todos da minha casa. Até no banheiro tinha tapete, mas tirei tudo, está tudo aí guardado.

Voltando para São Paulo. Acabou a Hora dos Estudantes e eu conheci a Janete, a garota do chapéu de palha. E ela então me levava para a Rádio Tupi, porque eu estava sem emprego. Todo dia procurava, mas não encontrava. Então eu ia para lá, para a mamãe não descobrir. Eu ia de manhã cedo, no horário de trabalho, ia para a casa dela, almoçava com ela, ou então almoçava em casa, voltava para a casa dela, e passeava com ela, ia à rádio. Ela cantava, eu achava aquilo lindo, uma coisa linda, com aquele chapéu de palha. O primeiro músico que me acompanhou foi o Abel Ferreira. Do clarinete. Maravilhoso. Eu fiz música com ele na época em que estava com a Janete em São Paulo e aí o Armando Bertoni que era diretor da Rádio Tupi falava assim: Não é possível, essa menina, com a vida que ela tem, não sabe fazer nada? Eu disse pra ele que sei cantar, sim senhor, cantei na Hora dos Estudantes.

33 Então você vai fazer um teste aqui, ele me falou e fui fazer o teste e cantei: mente ao meu coração, que cansado de sofrer, só deseja adormecer na palma da sua mão, é de . A valsa: Entre nós está tudo acabado, eu não quero vê-lo nunca mais. Para que relembrar o passado, que só desventura nos traz. Eu fiz o teste com essas músicas.Acabo de rasgar a tua última carta, na qual você me pede que eu volte outra vez. Nela você me diz que é muito infeliz, e que está arrependido do mal que me fez. Sei que o arrependimento é sincero, mas sinto que ainda lhe quero com todo meu coração. Mas resolvo a chorar que não. O Abel foi o primeiro músico que me acompanhou quando cantei Você tem açúcar no seu coração. Você é o engenho, minha Usina de Banguê. Meu pé de moleque, meu doce de coco. Que gosto gostoso que eu sinto em você. Você é receita de um bolo caseiro. Que dá apetite até pelo cheiro. A fome não mata, mas tira a vontade, de um dia outro beijo malfeito provar. Você é reclame de confeitaria bombonzinho, casadinho. Se um dia você me deixar, minha vida vai ser de amargar.

Fui aprovada no tal teste, larguei a Faculdade do Comércio e fui para o programa da Rádio Tupi, em São Paulo, onde o Armando Bertoni era diretor. Fui aprovada, ele adorou. Ainda bem que você faz alguma coisa. Vou te aproveitar aqui no elenco. A Janete estava fazendo uma temporada em Poços de Caldas, então eu estava sozinha lá. Foi quando eu comecei a conhecer os artistas de rádio que faziam temporada lá, como Orlando Silva, Silvio Caldas, Francisco Alves. Eu ficava louca. Heleninha Costa conheci lá, ela era menina também. Dircinha Batista, que tinha um problema de cabeça, ela fugira do Rio de Janeiro, de carro ou de ônibus, não me lembro, e ido a São Paulo, acabou na Rádio Tupi. Eu fui apresentada a ela, ela não deu nem bola, imagina, eu não era nada, não era ninguém. Mas eu estava deslum- brada. Vida bonita a minha, mas era muito menina, não é 16 anos de hoje não. Eu namorava sim mas eu gostava mesmo era de cantar, queria cantar no palco. Já entrou o bichinho do palco aos seis anos de idade. Eu queria fazer alguma coisa, mas a mamãe não sabia de nada, de jeito nenhum. Era tudo escondido. E a mamãe, engraçado, dizia assim: você precisa ficar em casa. Você precisa ficar em casa um dia, para escutar uma menina que está cantando na Rádio Tupi, ela é muito engraçadinha. Não, ela não escu- tava, mas gostou da menina que cantava. Era eu e perguntei pra ela: Mas como é o nome dela? Quando ela respondeu Marlene, fiquei tremendo de medo. Foram os estudantes que botaram meu nome de Marlene quando conseguiram a Hora dos Estudantes.

34 Aí a mamãe descobriu, porque uma noite estava chovendo muito, e a mamãe disse para o Décio, que já era marido da Marieta, vai buscar a Vitorinha no colégio, na faculdade, que está chovendo muito e ela foi sem agasalho. Ele disse é pra já, pegou o guarda-chuva e foi para a Praça da Sé, onde era a faculdade. Chegou lá, esperou, saiu todo mundo e eu não saía. Aí entrou na direção perguntando: Cadê a Vitorinha? e a resposta foi que foi muito bom ele ter ido até lá, porque fazia um mês que eu não aparecia. O que eu apanhei não foi brincadeira. Você é a vergonha da família. Artista, você. Isso é até pecado, minha mãe dizia enquanto me batia.

Ao mesmo tempo, me lembro de quando eu comprei um rádio para a minha casa em São Paulo. O primeiro trabalho que eu tratei foi para comprar um rádio, assim grande. Eu adorava música brasileira. Aliás, eu sempre gostei de música. Lá em casa era clássico e sacro. Aí eu estou me lembrando das coisas e vêm outras coisas junto. Também é uma vida inteira, mais de 70 anos só de carreira. É uma vida.

Depois da surra, inventei qualquer coisa, mas nunca disse que era rádio e aí a mamãe ficou na dúvida aonde é que eu andava. Em rádio eu não podia dizer. Aí ela disse: Você vai parar com essa coisa, dessa mania sua de cantar, de fazer coisa que não deve. Porque você é evangélica, eu também sou, e Deus não gosta disso. Se você continuar a insistir, eu vou prender você no Instituto de Menores. Que só saía aos 21 anos. Aquilo me assustou muito. Meu Deus do céu, eu vou presa, ficar até os 21 anos presa. Não vou mesmo, decidi. Aí descobri que tinha um empresário aqui no Rio de Janeiro, chamado Armando Silva Araújo. Não me lembro exatamente como foi nosso contato, quem me indicou: só sei que eu tirei fotografias com roupas das minhas irmãs, salto alto, vestido longo, maquiagem, mascarada, porque eu não sabia fazer maquiagem. Fui num fotógrafo, tirei fotografia e mandei para o Rio de Janeiro, para o Armando Silva Araújo. Mandei meu material e ele mandou a passagem para o Rio. Ele mandou e eu fui, fugi de casa, com medo da mamãe me botar no Instituto de Menores. Quando eu cheguei aqui no Rio de Janeiro, ele já tinha alugado quarto no Hotel Itajubá, que é na rua do Teatro Rival, na Álvaro Alvim. Um apartamento para mim. Quando ele me viu ficou apavorado: Eu vou preso. Você tem que voltar para São Paulo. Aí eu disse:

– Pelo amor de Deus, não faz isso, que a minha mãe prometeu que ia me mandar para o Instituto de Menores.

35 – Mas eu não posso ficar com você, e você não pode estar nesse hotel, você vai para a minha casa.

Ele tinha quatro filhos, a mulher dele era uma escritora, não me lembro o nome dela. Você vai morar com a minha família. Morava em frente ao hotel. Então eu fui para lá e me agarrei à mulher dele, os filhos choravam. A mãe vai me prender, e não sei o quê.

Foi quando ele disse: Mas o que eu vou fazer com você? Eu digo: eu não quero voltar para São Paulo, eu vou fugir outra vez. Mas eu me comunicava com a minha irmã Geni. Olha, Geni, não fala nada para a mamãe, mas eu estou aqui no Rio de Janeiro, no endereço assim, assim, mas eu estou muito bem, e eu vou ser cantora. Não fala nada para a mamãe. Foi uma luta a minha vida.

Aí eu disse o que eu vou fazer? Aí um dia ele chegou para mim e disse: Você vai fazer um teste no Cassino Icaraí, que ficava em Niterói e atualmente é um cinema.

Aí eu fiz o teste, era Vicente Paiva no piano, um dos maiores compositores brasileiros que nós tivemos, e Jaime Redondo, que era o diretor do Cassino Icaraí. Eu fui fazer um teste lá mesmo gripada, com a minha voz ruim. E como é que eu vou cantar assim? Você faz qualquer coisa. Porque ninguém acreditava que eu fosse passar. Mas eu pisei no palco e comecei a cantar mexendo os braços, fazendo movimentos que ficaram como minha marca registrada.

Eu cantei o quê? Eu não sou daqui, eu sou de Niterói. Sinto muito mas não posso lá-lá-lá o teu amor. Na terra de Arariboia é que eu tenho quem me quer. Era essa música: Eu não Sou Daqui, de Wilson Batista e Ataulfo Alves. O teste foi na hora, canta uma música! Aí eu lembrei dessa música: Eu não Sou Daqui, do repertório da Aracy de Almeida. Porque eu me lembro da Aracy, quando eu falei para a Aracy dessa música, ela disse: O que é isso, está maluca? Nem eu me lembro dessa música. Eu era menina mas eu sabia a letra inteira com a gravação de Aracy de Almeida

Jaime Redondo fez a letra em português para In The Mood. Os dois, Vicente Paiva e Jaime Redondo. Não foi teste, aí eu já fui substituindo a Carmélia Alves, porque ela já vinha cantando essa música. Eu substituí a Carmélia

36 cantando a mesma música e usando a mesma roupa. Fui aprovada. Era a Carmélia Alves quem estava fazendo o show, mas aí ela foi contratada para o Copacabana Palace e sei que eles mandaram eu provar a roupa dela. Não, ela não, ela nunca me deu confete, eu não era ninguém, como é que ela ia me dar confete? Eu fui muito maltratada. Então, ela saiu, foi para o Copacabana, e eu fiquei no lugar dela cantando toda noite.

(No mesmo diário foi anotado, em março de 1941, que sou artista de um cassino e de uma estação de rádio no Rio.)

A partir daí meu nome correu este Rio de Janeiro e Carlos Machado foi me assistir, que ele era do Cassino da Urca. Quando ele me viu, meu Deus! Falou com o Rolla, que era o dono dos cassinos. Eu quero essa menina na minha orquestra. Ele era maestro. Lógico que o Joaquim Rolla conseguiu que eu fosse, mas eu era menor. Menor. Então, o que aconteceu? Carlos Machado me levou, não sei se foi para Caxias ou Niterói, não sei, e mudou a data do meu nascimento. Então, hoje eu não sei mais em que ano eu nasci, tenho três certidões. Mas a data de nascimento continua a mesma, 22 de novembro de 1922. Eu nasci em 22, mas fui registrada como 24.

Então era disso que precisava para poder caminhar na vida, ter mais idade, ser maior. Não me lembro se o salário era bom. Eu sei que eu conheci dona Darcy Vargas, a mulher do presidente Getúlio Vargas, que se apai- xonou por mim. Eu achava a coisa mais linda do mundo. Ela tinha um escritório, a Fundação Anchieta, em Niterói, e quando eu fui contratada pelo Cassino da Urca, pelo Carlos Machado, ela fez umas dez roupas para mim, vestidos longos para poder cantar. E eu fazia aniversário no mesmo dia que a Alzirinha Vargas. Ela até me deu essas mesinhas da casa criada por ela, o Pequeno Jornaleiro.

Coquetel de 42 é o nome do espetáculo da estreia no Cassino Icaraí. E o crítico fala: De São Paulo, uma menina assim, que canta. Carlos Machado me chamou para o Cassino da Urca. Ele me viu, foi um rebuliço a minha entrada, porque, imagina, eu não entendia nada de nada, eu gostava do palco. Nunca tinha enfrentado o público, essa coisa, de repente eu apareci lá com o meu jeito de gesticular, de dançar, que eu não sei de onde veio, porque eu nunca aprendi, nunca fui a um baile. Eu fui, eles me botaram logo para substituir a Carmélia Alves no Cassino Icaraí.

37 Cantando no chá-dançante do Jockey Club Brasileiro em 1948

38 Saí do Icaraí para o Cassino da Urca chamada pelo Carlos Machado que me levou à Argentina, pois ele tinha uma orquestra. Ele nunca foi músico. Ele tinha um charme danado, ele dirigia aquilo, era uma atração. Laurindo de Almeida era guitarrista dele. E o Dick Farney era o pianista. Foi o primeiro músico que me acompanhou no cassino, porque o primeiro músico que me acompanhou na vida foi o Abel Ferreira. Entre o fechamento do cassino e tudo, o Machado saiu com esse grupo de artistas para a Argentina. Russo do Pandeiro, eu, Dick Farney só cantando música brasileira. Eu cantava de tudo o que era da época, que eu não me lembro. Mas eu lembro que a primeira música que eu cantei na minha vida foi a do Cassino Icaraí, In The Mood. É uma canção popularizada pelo maestro Ray Conniff recebendo no Brasil tradução de Aloysio de Oliveira com o título de Edmundo, depois da primeira versão feita por Vicente Paiva e Jaime Redondo que eu cantava nos shows do Cassino Icaraí. Que era a Carmélia que estava na frente do espetáculo. E eu cheguei e me pegaram logo.

Eu já tinha toda essa movimentação das mãos que eu não sei de onde veio isso. Não aprendi com ninguém, não fiz escola, não tive professor. Nem ensaiava, porque a família era contra. Então, eu não podia nem ouvir rádio. Tudo foi espontâneo, tudo foi na hora. E eu estava rouca. Quando eu fiz o teste no Icaraí estava completamente gripada. Agora, me lembrei desses dias, eu morava na Rua Riachuelo, em São Paulo. Então, nós morávamos na rua Riachuelo, 46. Era na frente da Faculdade de Direito, que existe até hoje lá, no Largo de São Francisco. E os fundos da faculdade dava para os fundos da casa onde estávamos morando. Aí tinha uma vizinha, eu sei que era 46 onde a gente morava. É. Era uma senhora que sublocava quartos, e tinha uma criançada, que eu não me lembro de quem eram os filhos, mas que cantavam em japonês. Eu achei aquilo muito interessante, nunca tinha escutado. E eu me lembro da música, e cheguei a fazer orquestração na Rádio Nacional. Eram umas músicas japonesas. Eu devia ter uns três anos.

Bom, quando Carlos Machado me viu, ele disse: eu quero levar aquela menina ela é diferente de todo mundo. Não, eu não tinha empresário. Me propunham os contratos e eu aceitava ou não. Mas tudo escondido da família, porque eu estava fugida. Não, eu convidei uma menina pra morar comigo que era girl do Cassino Icaraí porque eu não podia pagar. Para divi- dir despesa. Ruth era o nome dela, mas foi uma luta para mim. Não fiquei

39 muito tempo não, porque o Carlos Machado me pegou logo para essa excursão pra Buenos Aires, foi minha primeira viagem internacional. Eu não sabia de nada, não tinha nem roupa, mas eu me lembro de um vestido branco. Um frio, gelado. Nossa! E eu decotada. Cantamos no Park Hotel que tinha jogo. Na volta de Buenos Aires comecei no Cassino da Urca e foi uma sensação, porque todo mundo só falava em mim com apresentações diárias, toda noite. Toda noite, das 21 horas e ia até às três da manhã. Como crooner. Com a orquestra de Carlos Machado em que o Dick Farney tocava piano, Russo no pandeiro. O Dick Farney também já era cantor. Fiquei no Cassino da Urca até o seu fechamento, eu trabalhei seis meses. Fechou logo. Aí o Carlos Machado foi convidado para dirigir o Casablanca. A Boate Casablanca, que ficava na Praia Vermelha.

Lá, também atuava como crooner, era Bené Nunes no piano, tudo mais reduzido porque era uma boate. Mas incendiava o Rio de Janeiro. Era famo- síssima. E eu, eu explodi, cantando Chamego e Xangô. Chamego do Luis Gonzaga. Tinha sido uma gravação da Carmem Costa, que ela cantava: O chamego dá prazer, o chamego faz sofrer, o chamego às vezes dói, às vezes não... Mas eu não tinha temperamento para isso. O Xangô é uma música com uma velocidade impressionante, aquilo perturbou todo mundo. Uma música de candomblé, de macumba, uma coisa assim. É do Humberto Porto.

Porque crooner é assim, entrava a orquestra, eram vários conjuntos, quando entrava o Machado, ele dava a introdução, a gente conhecia a introdução, sabia que era a música da gente, aí a gente entrava. Diário. Varava a madrugada.

40 Logicamente havia um tempo de descanso de uma orquestra para a outra. Ah, Casablanca não tinha Simão Boutman não. Era Bené Nunes.

A Linda Batista era a grande estrela do Cassino da Urca quando entrei, até porque a já estava nos Estados Unidos. E eu a substituí. Parece que houve uma briga entre ela e o Chianca de Garcia, o grande produtor dos musicais da Urca. E aí o Rolla deixou-a fora. O Joaquim Rolla era o diretor-geral. Aí me chamaram para substituir a Linda. Imagina! Eu não tinha experiência de nada, mas me disseram pra aprender as músicas que ela cantava.

Do show, da peça que estava sendo encenada que era Exaltação à Bahia. Era Vicente Paiva, o autor, mas era uma música muito conhecida. Era Vicente Paiva e Chianca de Garcia e a música era sim Exaltação à Bahia. E a Linda estava, foi assistir, lógico. Levei uma vainha dela, eu estava em cima, não entendia. Ela estava com a Dircinha e sua mãe. Mas eu não sei por que me escolheram, tinha tanta cantora lá. E a Linda, nossa! Meu Deus! Quanto eu ganhava, meu salário não me lembro até porque mudou tanto, tantas moedas que agora já nem sei mais. Posso dizer que deu pra comprar vestidos, bolsas, etc. Deu para comprar muita coisa sim, era um bom dinheiro.

Tinha que me arrumar, eu tinha um namoradinho. Que por coincidência fora namorado da Emilinha Borba, Newton Paz, que era um cantor da Urca também, fazia os espetáculos na Urca. Eu o conheci em São Paulo, era menina ainda, nem sonhava em ser artista. Conheci em São Paulo, porque ele foi fazer uma temporada lá, e eu fugi de casa para assistir. Era relativamente conhecido

41 na época. E por coincidência, anos depois, eu já casada com um homem do tamanho de um bonde, gravei uma música dele: Broco do Dodô Criolo. Deu uma polêmica danada na época essa música. Aí a Boate Casablanca também fechou.

Fechou o jogo. E veio um show que me requisitaram. Eu era muito chamada, por causa do meu jeito de cantar, talvez porque as outras cantoras se apresen- tavam paradas. Eu fugia dos padrões e tinha uma presença de palco muito forte. Mas nunca entendi aquilo. Talvez por ser uma intuitiva. Eu não sabia o que fazia. Eu aprendia a música, quando chegava no palco, nunca saía fora do palco, entrava para cantar e ali nascia tudo, sempre foi assim, até hoje. Eu não sei o que vou fazer na música. Ainda sobre a Urca tenho o que falar sim: da Urca fui fazer um espetáculo, era um lugar ao ar livre, que o Dutra era candidato à Presidência, e eu cantei uma música de macumba, eu não me lembro o que era, se era o Xangô, e fiz a minhamise-en-scène lá, porque eu não conhecia nada, era tudo intuitivo, era uma coisa impressionante. E não é que o raio do homem ganhou! Disseram: Isso foi uma mandinga que a Marlene fez. Aí espalhou. Imagina! Eu, evangélica, cantando uma música que era proibida pela minha seita, mas sei lá, eu achei bonita a música, era de Humberto Couto. Aí fechou o jogo.

(A proibição do jogo no Brasil foi estabelecida pelo Decreto-Lei nº 9.215, de 30 de abril de 1946, assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra. Provavelmente influenciado por sua mulher, Carmela Teles Leite Dutra, conhecida como Dona Santinha, devota da Igreja Católica. A proibição foi um baque econômico em cidades que viviam principalmente do turismo ligado aos jogos, como Rio de Janeiro, Petrópolis e Poços de

42 Caldas, entre outras. A última partida de roleta no Brasil foi realizada no cassino do Hotel Copacabana Palace, em 30 de abril de 1946. Na época existiam cerca de 70 cassinos no País e 40 mil trabalhadores na indústria de jogos. O maior prejudicado com a proibição do jogo no Brasil foi o empresário Joaquim Rolla, que tinha uma cláusula contratual com o governo que nunca foi paga, relacionada à sua enorme folha de pagamentos.)

Quando ele ganhou perdi o emprego, todo mundo perdeu o emprego. Eu fiquei danada da vida com ele. Você cantou lá, e acaba depois perdendo o emprego, eu e todos os outros, foi um caos, um caos danado aquilo lá.

(Em um dos seus últimos registros no diário, Marlene dizia em 5 de maio de 1946 que acho-me desesperada, perdi um emprego que me rendia 11 mil cruzeiros mensalmente. Mas, que fazer? O amanhã é outro dia.)

Ruim para todo mundo, mas no dia seguinte o Carlos Machado, que estava no Casablanca, me convidou para ser crooner da Boate Casablanca. Foi quando eu conheci Bené Nunes e outros músicos que me acompanharam lá. Fiquei bastante tempo, até ser requisitada pelo Caribé da Rocha, que era diretor do Copacabana Palace. Voltando mais uma vez: estreei no Copacabana Palace em 1948 de onde saí quando fui eleita a Rainha do Rádio. Aí voltei fazendo o espetáculo Fantasias e Fantasias.

Mas para mim era uma casa como outra qualquer. Meu negócio era estar no palco. Aí tanto fazia ser A, B, C. Eu não sabia o que era, quem estava, quem era, quem não era, nada. Nunca tive preocupação disso.

43 44 Capítulo III A Rainha do Rádio

Antes de ser contratada pelo Copacabana Palace tentei as rádios, eu tentei furar. Eu queria ser contratada numa rádio, mas ninguém me convidava. Todo mundo já naquela altura era Emilinha Borba. Mas fui pra Mayrink Veiga pois o Newton Paz, que eu estava namorando, atuava lá, com o Cyro Monteiro, a Odete Amaral, um elenco maravilhoso e lógico que eu queria. Eu queria também. Então eu aparecia lá. Aí eu pedia para entrar, fazer qualquer coisa. Algumas não, uma ou duas. Engraçado. Eu não sabia que programa era. Também não lembro o que cantei.

Cantei pouco lá mas não fiquei chateada. Não, não, porque eu fui logo con- tratada para a Rádio Globo. Fui contratada pelo para a Rádio Globo que era na avenida Rio Branco. A rádio estava engatinhando. Me tornei muito amiga do Roberto Marinho, eu era muito jovem ainda e não me lembro quanto tempo fiquei. Eu sei que eu fui convidada logo para ir para o Copacabana Palace. Eu estava na Rádio Globo e Boate Casablanca. Não, não eram programas ao vivo, cantava em estúdio. Qualquer música que eu aprendesse eu cantava. E o Caribé logo me convidou para o Copacabana Palace para atuar como crooner onde cantava as músicas do Caymmi, as da época. Tudo o que era bonito eu cantava, todos os gêneros. Caymmi era amicíssimo do Carlinhos Guinle, que fez música até para ele. Carlinhos Guinle também era compositor, muito bom compositor. Muito bom, só que era de elite, e o Caymmi não, o Caymmi falava mais da Bahia, das coisas da Bahia. Maestro Gaó, que quis me levar para os Estados Unidos. Fez a orquestra dele, começou a fazer sucesso e mandou me chamar mas o Caribé e o Otávio Guinle não deixaram. É por isso que quando eu digo que Piaf me convidou para a Europa, eu já tinha um nome grande.

Fui ficando comocrooner mas o Caribé me fez estrela! Meu Deus, que choradeira. Eu não quero, eu não quero ser estrela daqui, eu não sou estrela, eu quero continuar cantando. O meu negócio era cantar no palco.

Show no Copacabana Palace em 1948

45 “Não, é muito bom”. Eu digo não, estrela canta pouco e eu não quero. Foi uma luta danada pois estrela tinha uma cortina própria e eu entrava como a atração da casa. Todos na frente e eu cantando para o público dançar. E eu não queria isso de jeito nenhum, eu queria era estar no palco a noite inteira. Eles me convenceram, até entrou um dinheirinho a mais também, claro. Não muito não, mas bem mais. Dez mil. Agora, nessa fase de 48 e 49, eu já tinha feito o meu primeiro disco. Já, já tinha gravado o primeiro disco, feito em 1946, meu primeiro 78 rotações com as músicas Swing no morro, de Amado Régis e Felisberto Martins e Ginga, ginga moreno de João de Deus e Hélio Nascimento. Eu estava na Rádio Globo quandro gravei Coitadinho do Papai, que foi um grande sucesso. Marchinha de carnaval assinada por Henrique de Almeida e M. Garcez cantada junto com os Vocalistas Tropicais.

O Caribé já me conhecia da época do Cassino Icaraí. Quando estreei no Cassino Icaraí, eu tenho essa crítica, o Caribé fala. Foi o primeiro jornalista que falou. E em 1947, gravei outro grande sucesso, Coitadinho do papai. Foi quando fui convidada para cantar no programa César de Alencar na Rádio Nacional. Um ano depois fui convidada para ser candidata a Rainha do Rádio. Aí começou a minha cruz! É, era junto com o Copacabana Palace, eu era crooner ainda. Convidou, eu me lembro até da roupa que eu estava. Quando anunciaram Marlene, ninguém sabia quem era Marlene, disseram é uma cantora. Mas o César também me conhecia pois ele me acompanhava desde a Boate Casablanca. Bom, mas não importa isso. Ele me assistia e me convidou. Nessa mesma época aconteceu que o cantor Mário Reis, que morava no Copacabana Palace, disse: “Não deixem a Marlene ir para a Rádio Nacional”. Foi uma luta, pois o Copacabana não admitia. O Mário Reis, de elite, dizia que eu indo para a rádio, iria me tornar muito popular, e aquilo ia me prejudicar. E o Otávio Guinle, pior ainda. Mas eu fui assim mesmo em 1947, o ano do Coitadinho do Papai. Eu acho que não foi somente o sucesso da música não. É porque ele me achava uma cantora diferente. Eu não posso detalhar tanto assim mas o programa era uma vez por semana. Aos sábados. No auditório, ao vivo, naquele prédio ali da Noite ali na Praça Mauá, não é isso? Número 7. Ah, eu levei um susto danado com a minha estreia pois a vibração do público era totalmente diferente da do público da noite. Não havia comparação, o público de elite do Copacabana era uma coisa, e o popular era lá na Rádio Nacional. E aplaudir. E eu, a primeira vez que vou lá, começo a cantar Mamãe quer saber, o público inteiro começou a cantar esse primeiro verso. Eu paro, eles cantam a música inteira e aplaudem. Olha, eu nem sei como eu resisti

46 Marlene como crooner no Copacabana Palace

47 Coroada rainha do rádio em 1949

48 49 àquela emoção. Não, não eram muitas músicas não.

Quando eu apareci com Coitadinho do Papai, o público todo cantando, para eles eu já era um nome, eu não era nada, para mim eu não era nada. Eu fui exclusiva dali. Agora, além do programa do César de Alencar, que eventualmente aparecia, eu fazia alguns programas de estúdio também da Rádio Nacional. Aí isso foi em 1947, o sucesso dessa música. Em 1949 veio o concurso Rainha do Rádio, que era patrocinado pela Asso- ciação de Radialistas. Na época da Linda e da Dircinha Batista, as rainhas eram escolhidas por um grupo de jornalistas. A Linda foi rainha durante muito tempo, depois a Dircinha. Nessa época o Victor Costa, o grande homem de rádio, já era o diretor da Rádio Nacional.

E a ideia da eleição de 1949 era a de construir o Hospital dos Radialistas quando comecei a me projetar. Qual foi a ideia dele? Vamos convocar algumas cantoras e vamos reativar o concurso de maneira diferente, vai ser voto vendido e a que vender mais vai ser eleita Rainha da Rádio. Foi quando eu fui convidada...Ele disse: “Olha eu estou convidando você”. Para mim não, porque eu não sabia nem o que era sucesso. Sempre quis ir para a rádio sim, isso é verdade, mas eu queria ir pela festivi- dade que existia lá, pela alegria do público, não que eu quisesse ser alguém. Pode ser, não sei, não sei explicar. Com a eleição da Rainha do Rádio, ao me escolher houve o olhar clínico do Victor Costa já que eu cantava para um público que tem dinheiro.

Ah, aí eu vou contar! Ele me chamou e disse: “Marlene, estou convidando você porque nós temos um projeto para ajudar o artista nacional que não tem nada. Então, nós queremos fazer o Hospital dos Radialistas. Então, vamos fazer esse concurso para angariar verba, para a gente começar a

Saindo do guaraná

50 Com o guaraná no baile de coroação

51 construir o hospital. Agora, estamos convidando você, porque você trabalha numa casa de elite onde corre o dinheiro, mas não pense que você vai ga- nhar, porque você não é nada ainda, mas precisamos do seu prestígio aqui dessa casa, e nós vamos explorar a casa”. Qual casa? O Copacabana Palace.

Aí foi uma luta, porque houve a reunião com o Otávio Guinle, reunião com o Caribé da Rocha, não sei mais quem, até consentirem que eu aceitasse o convite do Victor Costa, porque o Victor tinha poder, que era a Rádio Nacional também. O Otávio Guinle cedeu: “Tá bom, se é para isso, uma coisa beneficente, tudo bem, ela pode”. Então eu fui. Olha, nós íamos para qualquer lugar. Manoel Barcelos foi escolhido como meu cabo eleitoral, e César de Alencar cabo eleitoral da Emilinha Borba, a Ademilde Fonseca era da Rádio Tupi, aí tinha como cabo eleitoral o Assis Chateaubriand, que era o manda-chuva de lá, dos Diários Associados. O grande cabo eleitoral dela, o que tinha todas as rádios Tupi. O Caribé me levava, me levou... Eu fiz até propaganda na rádio patrulha, nós fazíamos na rua, como se fosse política. Para vender os votos que custaria hoje um real. É, um real, um tijolinho. Foi a única vez que participei e conseguiram fazer o hospital sim.

(O Hospital foi realmente construído localizado na rua David Campista, uma rua sem saída no bairro carioca do Humaitá mas dois anos depois foi assumido pela recém criada rede Pró-Cardíaco. Hoje em dia pertence ao estado do Rio de Janeiro funcionando como Instituto Estadual de Cardiologia Aluísio Castro (IECAC).

Quando deram o resultado, eu desmaiei. Mas tem uma história por conta dessa minha eleição: a Antárctica, das bebidas, que era um grupo de pessoas, os manda-chuvas da Antárctica frequentavam também o Copacabana e o Caribé então disse: “Vá pedir voto para aquele rapaz que está descendo a escada”. Era o Raul Guastine, empresário. Como eu era uma cantora nova, desconhecida e eles já estavam com a ideia de lançar o guaraná Caçula, como é que iriam chamar uma cantora consagrada, como é que vai dizer: “Linda Batista a Rainha do Rádio e o novo guaraná Caçula” Então a propa- ganda começou a ser armada, eles deram um cheque em branco, para cobrir

52 Helena Sangirarde, Angela Maria, Marlene, Marli Sorel, Cauby Peixoto e Manoel Barcelos

53 54 qualquer voto pois a ideia na manchete de jornais era assim: “A nova Rainha do Rádio e o novo refrigerante”.

Associando a nova cantora ao novo refrigerante ganhei em primeiro lugar disparada fui eleita com exatos 529.982 votos. Em disparada, e quando eu fui atuar à noite, que deu no Repórter Esso, interrompeu tudo. Porque aí então fizeram essa associação. Genial a ideia. Quem fez foi um gênio da propaganda na época.

(Hoje em dia o guaraná é vendido em supermercados como caçulinha a R$ 0,99 em garrafinhas de 237ml e, claro, que foi uma grande jogada de marketing a eleição de Marlene nesse ano de 1949 porque a Antarctica, de bebidas, estava procurando um rosto novo pra associar ao lançamento do guaraná Caçula no mercado. Foi criado o voto vendido/ comprado e a empresa chegou a dar um cheque em branco garantindo a vitória da cantora).

Esse resultado final foi anunciado na rua do Acre, na antiga sede da Asso- ciação Brasileira de Imprensa, com as candidatas todas. Carmélia, Ademilde, Emilinha, Julie Joy, Lenita Bruno, Heleninha Costa. As Batista? Não, Linda já tinha sido eleita, a Linda já tinha sido rainha e a coroa estava na cabeça de Dircinha. Dora Lopes também foi candidata. Nessa apuração final do concurso, que foi dada ali na rua do Acre, a Dircinha me coroou. Então esse resultado, essa última apuração foi dada na ABI (Associação Brasileira de Imprensa). E à boca miúda já deveriam ter dito para a Emilinha, “Você se segura porque a Marlene ganhou.” Tanto que ela não foi à apuração final. Na apuração final a Emilinha não estava. Aí deu esse resultado final lá. Aí como eu estou dizendo, a Emilinha não estava. Em apurações anteriores as candidatas iam, para daí ficar falando, fulana está classificada em tal lugar, e não sei o quê. Porque tem capas de revistas da época com as principais, as mais votadas, que a Emilinha está junto. Mas nesse final que também virou capa de revista, a nova rainha com todas as princesas, Emilinha não estava. Então eu acho que já devia correr à boca miúda, e chegou até a Emilinha, não vai para lá porque a Antárctica bancou a Marlene. Alguma coisa assim, porque ela não está

A Favorita da Aeronáutica

55 nessa final. Se tinhamos algum desentendimento, alguma coisinha boba, isso aí culminou. Então aí deu esse resultado na ABI, na rua do Acre, que era ali para chegar à Praça Mauá. Fui levada nos ombros das pessoas, que era um sábado, para adentrar o programa do César de Alencar, carregada. Nos braços do povo. Aí lá foi dado o resultado: a nova rainha é a Marlene. Culminando à noite no Copacabana, que foi uma grande festa, num show que eu fazia. Isto está documentado e o repórter narra tudo isso que eu estou te falando. Aí no dia seguinte estava em todos os jornais, no domingo, essa fotografia. Se você for noO Globo, você vai ver na primeira página do Globo. Aí o baile da coroação foi quase um mês depois. Aí depois teve o baile do rádio, que tinha um baile do rádio no Teatro Carlos Gomes, que foi uma coisa maravilhosa, o grand monde estava lá, eu me lembro também do irmão do Getúlio Vargas, a filha do Getúlio, a Alzira Vargas. A própria Emilinha estava no baile de coroação, ela foi ao baile. São capas de várias revistas da época. A história real é essa, comprovada pelo material de época. Minha eleição foi em 1949. Em 50 não houve rainha, eu fiquei dois anos no reinado, 49 e 50. Só foi ter uma outra rainha com voto popular em 1951, que foi a Dalva de Oliveira. Aí depois veio uma sucessão de artistas, de cantoras, Dalva de Oliveira mas nunca mais houve o que aconteceu comigo pois mexeu com o mundo, não foi só com o Brasil.

(O concurso para a Rainha do Rádio começou em 1947 com os jornalis- tas da época elegendo Linda Batista, seguida em 48 por sua irmã Dirci- nha até a apoteose de Marlene, em 1949. Em 1950 não houve concurso, o ano de 1951 é de Dalva de Oliveira seguida por Mary Gonçalves em 1952. Emilinha Borba conseguiu sua coroa em 1953 seguida por An- gela Maria em 1954, Vera Lucia em 1955 e Dóris Monteiro em 1956/57. A última eleição foi em 1958 coroando Julie Joy).

Foi uma coisa de marketing: a nova Rainha do Rádio e o novo rei dos re- frigerantes. No resultado final, a Emilinha ficou em terceiro lugar, porque eu ganhei disparado, e a Ademilde Fonseca, que estava tendo também o inves- timento da Rádio Tupi, do Chateaubriand, ficou em segundo. Se eu não ganho, quem ia ganhar era a Ademilde. A Emilinha confiou só no voto popular, e o voto popular não cobriu os votos todos, ela não conseguiu vender todos,

Com César de Alencar em 1959

56 57 Primeiro contrato com a Rádio Nacional

58 se ela vende todos, ela ia deslanchar, é isso, a história é essa. Foi daí que começou toda essa coisa de rivalidade, essa coisa toda. Porque eu não sei mais nada, eu estou atordoada.

Com esse boom da Rainha do Rádio, já recebendo a chancela do patrocínio da Antárctica, a mesma comprou um horário na Rádio Nacional. Era às terças-fei- ras, às 21h30, e, a cada semana, nesse programa da rádio que era apresenta- do pelo Manoel Barcelos, eu vinha caracterizada de um tipo: uma semana era uma dama francesa, uma semana era uma jogadora de futebol onde eu recebia convidados, tinha um pequeno esquete que eu fazia com o Barce- los, às vezes algum rádio-ator da rádio, como o Osvaldo Elias.

Quem me levou para a Rádio Nacional foi o César de Alencar. O Victor Costa pediu ao César que fosse falar comigo no Copacabana. Aí eu passei a escutar a Rádio Nacional, e via aquela folia toda, aquelas palmas, aquela gritaria, e aquilo me aguçou. Uma jovem, me deu vontade de pertencer também ao elenco da Rádio Nacional. Eu era tão sem maldade, eu não tinha realmente maldade nenhuma, era meio boboca. Eu falei para o Herivelto (Martins): “O senhor arranjou para a Emilinha” que trabalhava na Rádio Nacional. Eu também gostaria de ir, falei. Ele disse: “Ah! Mas você não vai ser aceita não.” Eu disse: “Por que” “Porque o timbre da tua voz não está de acordo.” Porque ele estava casado com a Dalva, a Dalva era aquela coisa, aquela coisa maravilhosa. A Emilinha tinha uma voz bonita, eu achava, mas não tinha nada a ver com Dalva de Oliveira, nem comigo, nem com ninguém.

E a grande estrela era a Linda Batista, então não tinha nada a ver. Passou isso, Emilinha foi para a Rádio Nacional e começou a fazer sucesso com a música chamada Escandalosa. Foi o primeiro sucesso dela, essa rumba. Eu me lembro dela, porque nessa altura o Machado tinha me levado para o Casablanca, que era uma boate.

Nessa época ainda não existia a rivalidade entre nós duas não pois ainda não existia esse negócio de fã-clube. Mas a Emilinha tinha um nome muito forte e a eleição da Rainha do Rádio começou tudo isso. Mas era uma jogada, e isso do cheque em branco para cobrir todos os votos de todas as cantoras, isso

59 nunca foi escondido, isso foi dito desde a época, todo mundo sabe disso. A Antárctica deu um cheque para cobrir os votos. Comprou o que faltava. Foi por isso que a Ademilde ficou em segundo lugar e Emilinha ficou em terceiro. E a Ademilde não era artista do elenco da Nacional nessa época, a Ademilde era do elenco da Rádio Tupi mesmo com todo o poder do Chateaubriand com todo o poder que tinha. É, dono dos Diários Associados. Todas as rainhas do rádio foram da Rádio Tupi, da Rádio Nacional, só uma que foi da Rádio Tupi, que foi a Dóris Monteiro, quase no final, três anos para acabar o concurso, a Dóris foi eleita.

A nossa rivalidade, Marlene versus Emilinha, continuou sim até a morte dela. Acirrada foi nos anos 50 realmente, aquela década toda dos anos 50, aquilo é que foi brabo, depois a coisa ficou um pouquinho mais suave, aí de vez em quando saiam uns arranca rabos. Até hoje, até hoje. Aquela época, 50, é que foi complicada. Aí jogaram até na Itália, eles quiseram jogar duas cantoras, Maria Callas, junto com a Renata Tebaldi mas isso já existia lá. A Renata Tebaldi e Maria Callas. Para competir conosco, que foi um escân- dalo no Brasil inteiro. Foi até perigoso, se é nos dias de hoje, uma das duas estava morta. Acho que havia uma consideração de lado a lado, de ambas as partes, cortesia, digamos assim e eu gostava dela. Nunca houve uma baixaria entre nós duas, nunca. Quando acontecia, quase sempre era “plantado”, tinha o dedo de alguém e uma respeitava a outra.

Voltando à rádio, fui ser a estrela do programa Manoel Barcelos na Rádio Nacio- nal, e Emilinha do César, mas a gente se revezava no programa Paulo Gracindo, um domingo era uma, um domingo era outra, um domingo era uma, um domin- go era outra. O programa Paulo Gracindo era aos domingos na Rádio Nacional também e nós duas éramos as grandes estrelas da Nacional fazendo parte de toda a programação musical da Rádio Nacional. Por coincidência, comecei a gra- var para a mesma gravadora que a Emilinha gravava, a Continental Discos. Mas antes disso tudo, quando eu ainda estava no Cassino Icaraí, Jararaca me deu uma marcha pra gravar mas não me lembro o nome, não me lembro. Eu só sei dizer que Emilinha era estrela da Continental também e ela me proibiu de gra- var!!! Eu já estava me projetando com uma música, já tinha gravado Coitadinho do papai, da gravação em 78, gravada com os Vocalistas Tropicais.

60 JK e Marlene Marlene e Manoel Barcelos

61 62 Bom, voltando ao César de Alencar: foi, eu estava contratada na Rádio Globo e ele foi me ver. Exatamente. Ah! A Emilinha tinha um nome muito grande quando ela foi para a rádio. Foi assim que eu a conheci. Mas ela sempre me perseguiu, de uma forma ou de outra, porque aí eu comecei a me projetar também. Uma birra? Não, porque ela gostava de mim, isso é que é curioso. Quando o César me levou para a Nacional e anunciou meu nome, o auditório todo cantou a música. Foi o Coitadinho do papai e levei um baita de um susto. Eu cheguei lá convidada pelo César e eu não sabia que seria assim. Quando eu comecei Mamãe quer saber onde é que o velho vai..., o auditório inteiro começou a cantar, aquilo me arrepiou, me arrepia até hoje, porque era exata- mente o que eu escutava em casa, aquela alegria. A partir daí, em 1947, fui contratada da Nacional. Eu fazia apresentações inclusive dentro do programa do César de Alencar. Aí quando foi em 1949 veio o concurso e eu já estava no Copacabana Palace. É, o concurso para a Rainha do Rádio e Emilinha era o maior nome. Muito, já tinha botado a Linda pra lá. A Emilinha já tinha se projetado, era estrela do programa César de Alencar. Eu não era nada, eu era uma cantora de elite do Copacabana Palace.

Em traje de gala

63 64 Cantando na Nacional nos anos 40 Com Lamartine Babo no programa Noites da Guanabara em Belo Horizonte | 1962

65 66 Capítulo IV Marlene: a Estrela

Para mim Rádio Nacional era uma coisa impossível, porque eu estava em uma casa de elite em Copacabana, e eles não admitiam que fosse popular. Não me contrataram para programa nenhum, mas para a emissora, não sabia nem onde eu ia cantar.

Eu nem conhecia o Manoel Barcelos, mas o programa dele era às quintas e a minha participação era às 13h25. Acho que eu fechava o programa. Ah! Meu Deus! Auditório lotado e era pago. Cinco reais o equivalente hoje, acho. E era uma dificuldade para conseguir entrada, tinha gente que obtinha meses depois. Eu cantava meia hora, acho que umas cinco músicas por aí. Que era acompanhada com orquestra ao vivo. A rádio tinha 16 maestros, todos eles com nome, eu não conhecia nenhum deles. Lembro-me do Guerra Peixe, Radamés Gnattali, Lyrio Panicalli, os grandes maestros. Eu me dei bem com todos eles, e tenho a felicidade de ter toda, não digo toda, mas muita coisa da minha carreira orquestrada por estes grandes maestros. Tudo ao vivo. Tudo que havia de melhor eu procurava, e cantava, músicas que não eram da minha época. Qui nem Jiló já foi uma criação minha, na famosa parceria de e . Ah! Meu Deus! Suçuarana por exemplo, que eu nem me lembro de quem é.

(A música é de autoria de Hekel Tavares e Luís Peixoto, de 1927.)

Eu gostava muito de um cantor, eu achava ele especial, aliás, dois cantores, um era o Bob Nelson da Rádio Nacional. Então uma coisa que me impressionou muito, porque aquela coisa de iiiiiiiiiii! Como é que ele fazia? Aquilo ficou na minha lembrança até hoje. Tanto é que no meu DVD convidei, ele faz parte do meu DVD, e faleceu um mês depois.

Dessa época da Rainha do Rádio sei que quando eu ganhei o concurso foi uma surpresa enorme para mim. Não, não tinha interesse nenhum também em ganhar, eu queria era cantar, o meu negócio era cantar, estar num palco,

67 Marlene com Roberto Rossellini e Pascoal Carlos Magno em 1959 no Copacabana Palace

68 Cartaz do show em Juan-Les-Pins

69 70 até hoje a minha vida é um palco, então era só isso que tinha na cabeça. Então aquilo foi o céu. Conseguir entrar lá e pertencer àquela alegria que existia no auditório, que eu não conhecia.

Nessa época também fui convidada para fazer filmes, conheci o Adhemar Gonzaga (fundador da legendária Cinédia). Foi em 1950, mas antes eu tinha ido à Europa. Eu tinha um namorado. Não era uma pessoa conhecida. Era Paulo Leite Correa. Ele era negócio de dente, como é o nome? Ele era mais do que dentista. Voltando ao cinema, eu conheci o Adhemar Gonzaga no Cassino da Urca. Um dos filmes mais famosos foiPif-Paf assim como Um Beijo Roubado que eu estrelava e os outros foram participações especiais. Engraçado, né, a confiança que eles tinham em mim. Pois é, mas para mim, não sabia o que era estrelar ou ser principal, eu não sabia nada disso, tudo para mim foi surpresa, é, como atriz também, porque para mim era novidade isso. Eu fui levada, eu sempre digo que não fui eu, foi Deus quem me enca- minhou para essa vida, porque não me lembro disso, não procurei, eu fui levada mesmo. Eu não sabia nem o que era isso, não sabia nem o que era sucesso, o que é fazer sucesso? Eu não sabia.

No Copacabana Palace, atuando realmente, fui até 1959. Depois me dividi entre rádio, cinema, viagens internacionais, tudo isso, pois o título de A Rainha do Rádio foi o meu trampolim para o grande público tomar conhecimento. No Copacabana Palace voltei como estrela absoluta de novo em 1955, com Fantasias e Fantasias, um grande show já que nessa época viajei muito princi- palmente pela América Latina durante a década de 1950. Eu me lembro de uma passagem com o maestro Gaó, o paulista Odmar Amaral Gurgel, que foi para os Estados Unidos e passou um telegrama me convidando para ser lançada lá. Eu não aceitei porque não sabia nem o que era isso.

Passaporte e identidade

71 Capítulo V O Primeiro Casamento

Mas eu também nunca tomei conhecimento das fofocas. O meu negócio era cantar, estar no palco, é verdade, mas ingênua eu nunca fui. Nessa época, em 1951, namorava esse tal Leite Correa. De sociedade, era um homem de sociedade. E começamos a namorar, essa coisa toda, e ele me convidou para fazer uma viagem à Europa, para conhecer, sem trabalho e foi minha primeira viagem para a Europa. Aceitei. Me hospedei no Claridge’s em Londres, era o hotel mais chique de lá. Eu cheguei, e os jornais falavam com notícias mandadas pelo Oscar Ornstein, que era o public-relations do Copacabana Palace. Naturalmente ele lançou o meu nome para o mundo porque quando eu cheguei lá os jornais diziam: Chegou a rainha do samba da Argentina. Mas aí me encontrava sozinha, ele já estava lá. Fui direto para Londres. Depois fui a Paris e me hospedei no Plaza Athènee. De lá fui a Cannes, fiquei noCarlton , melhor hotel até hoje, onde estavam o Duque e a Duquesa de Windsor. Com aquela propaganda toda que o Oscar Ornstein mandava para os jornais, recebi um convite da duquesa, eu admirava muito ela. O duque já estava com ela, foi o princípio daquela coisa. Meu Deus, largou o trono! Largou o trono para se casar com uma plebeia!

Nessa época lá em Cannes ia acontecer uma noite beneficente, em prol do Hospital Anglo-Americano, uma festa com grandes personalidades, e eu fui convidada para fazer um show dessa gala. E dessa apresentação em Cannes, fui convidada depois para atuar em outro cassino, que era lindo, em Juan-les- Pins. Os grandes da época e para mim tudo era novidade. Fui primeiro a Juan-les-Pins onde eu conheci Mistinguette, famosa vedete. Ela me falou do Carlos Machado. Essa viagem durou mais de um mês.

Voltei para a Rádio Nacional. Era a coisa mais importante: o Copacabana e a Rádio Nacional. Eu vivia no Copacabana, mas como frequentadora, depois de casada. Morei lá dois anos. e conheci todos os artistas que passaram por lá. Atuando na programação normal da Rádio Nacional, e paralelo a isso o grande sucesso, pois era muito convidada para a Argentina, Chile, eu corri

72 Convite de casamento com Luiz Delfino

73 Certidão de casamento com Luiz Delfino Casamento civil e religioso

74 75 tudo isso. Quando voltei da Europa participei do Balança mas não cai, que era o grande boom do programa de rádio e eu já fazia pequenas incursões como compositora, e tinha feito a letra desse grande sucesso que foi A Grande Verdade, na voz da Dalva de Oliveira. Foi composta com o Luís Bittencourt, um jornalista, homem de rádio. Fazia tudo, era uma mistura e foi um dos maiores sucessos da Dalva, gravada originalmente no LP Dalva, de 1951. Logo depois, uma grande temporada no Chile. Na volta, conheci o Luiz Delfino em 1952 quando fizemos o filmeTudo Azul e nos casamos logo depois.

Não sei se foi amor à primeira vista, atração sim. Foi no beijo que estourou, eu estava ainda com o Leite Correa. E ele, o Delfino, de nome, era o primeiro ator. Eu fui apresentada a Delfino quatro vezes, não me lembrava dele. Quatro vezes, e não guardava o nome dele, não me recordava da fisionomia dele, até que fui fazer o filme, ele era o primeiro ator, primeiro nome do filmeTudo Azul. Era uma comédia com alguns toques de drama, uma coisa assim. Quando chegou a hora do beijo foi demais! Que eu não resisti. Aí o Caribé da Rocha começou a encher a cabeça do Leite Correa, meu namorado, que eu estava traindo ele, e eu não estava traindo, apenas participava de um filme. Não, eu não tinha interesse, aconteceu. Quer dizer, o encontro entre nós despertou um fogo. É, ficamos juntos, mas porque ele era muito delicado, muito bom ator, muito boa gente. E eu o convidei para tomar um chá em casa, na Urca. É, que eu morava com mamãe. Mamãe achou ele uma gracinha. Ele era muito engraçado. Jovem. Mamãe me induziu a isso. Eu não estava apaixonada por ele, tinha tesão por ele, que eu não sabia nem o que era isso na época. Mas foi isso que aconteceu. Aí o Caribé da Rocha começou a envenenar o Paulo Leite Correa, e a mamãe do outro lado dizendo: Filha, você tem que casar. Eu não sei por que ela disse isso, talvez tenha percebido alguma coisa diferente em mim, porque eu era muito parecida com o papai. Papai era incrível, as histórias que ela contava. Mamãe, que me induziu, disse: Filha, essa coisa de você estar namorando um, outro, outro, eu posso faltar para você. Porque eu nunca me desliguei da minha mãe. Nem sei como fazia pra namorar, não sei. Não me lembro. Eu sei que a mamãe botou na cabeça que devia casar com o Delfino.Ele vai cuidar de você. Eu posso faltar. Você está muito ligada a mim. Eu quero uma pessoa que

76 No filmeTudo Azul com Luiz Delfino

77 tome conta de você. Que até hoje eu sou assim, gosto que tomem conta de mim. Só mamãe veio para cá, moramos na Urca, alugando um apartamento de sala, quarto, cozinha e banheiro. Era perto do Cassino, onde eu trabalhava, era só descer a Sebastião, a Avenida São Sebastião, era em frente à casa onde o cantor Roberto Carlos hoje tem o estúdio dele na Urca.

Uma semana antes do casamento, eu me lembro que estava no cinema com ele e disse: Olha Delfino, eu não vou casar mais com você não. Neste tempo mantinha um apartamento no Copacabana Palace onde acho que me encontrava com os meus namo- rados. Pra acabar com o Paulo foi tão triste, que até hoje fico pensando por que aconteceu isso e olha que eu conheci a Europa toda através do Paulo. Foi com ele que conheci Edith Piaf. Mas eu não consegui acabar, foi ele quem acabou comigo. É, porque o Caribé inventou tanta coisa e ele também foi assistir ao filme e viu aquele beijo onde aparecia todo o meu tesão por ele, Delfino.

Um dia, antes do meu casamento com Delfino, cheguei ao Copacabana e o Caribé disse: Olha, as tuas coisas estão no armário. Eu disse: As minhas coisas?

– É, o Paulo apanhou tudo o que é teu e trouxe para cá.

Quer dizer, me despediu assim. Porque o Paulo não acreditava que eu seria capaz disso. E não fizera, eu não tinha tido contato ainda com o Delfino. Foi fofoca mesmo. E eu orgulhosa com a atitude dele, fiquei muito ofendida e disse: vou casar com esse rapaz que a mamãe está querendo, eu vou casar com ele, pronto, acabou. É, procuramos igreja inclusive, evangélica. Mas eu casei no Outeiro da Glória porque nenhuma igreja evangélica admitiu o meu casamento porque era uma multidão atrás de mim. E o nosso padrinho, Caplignone, era um cardiologista de renome. Aliás, foram vários padrinhos. E, foi uma coisa, uma loucura! Tanto que no dia do casamento o Caplignone

Marlene e Luiz Delfino no filmeTudo Azul onde se conheceram

78 79 foi em casa me apanhar com o carro, estava interrompido o trânsito. É, eu estava na Urca. Eu disse: meu Deus do céu, como é que eu vou me casar atrasada? Ele disse: Não liga não, todo casamento atrasa. Estava marcado para o final da tarde, às 17 horas, uma terça-feira. E eu fiquei parada no carro com ele, até que conseguimos. Aí eu vi, e o Caplignone disse: O congestio- namento é por sua causa, por causa do seu casamento. O que tinha de gen- te nesse Rio de Janeiro... Ninguém podia entrar na igreja, só os convidados e padrinhos. Não dava mesmo. Foi muito simples. A família dele nem sei, não vi ninguém, eu sei que entrei chorando na igreja. Não, eu não quis bo- tar vestido de noiva, branco, não era virgem. Foi da Mary Angélica, que era a maior estilista da época. Costurava para todas as mulheres de sociedade, essa coisa toda. Ela me fez um vestido. Era um vestidozinho, um corpetezinho aqui assim de alcinha, que vinha acompanhado com um grande casaco, todo transparente o casaco. Parecia uma organza, rodado, plissado, e com um chapéu lindo, enorme, um chapéu imenso. Tem uma capa da Manchete maravilhosa.

Programa Marlene meu Bem

80 Todo mundo ficou espantado, porque achavam que eu ia de noiva. Nossa! Um frisson louco. Não, mamãe concordou comigo, porque, minha filha, eu fui educada assim, nada de mentira. Eu fui a única que assumiu que não era donzela, porque todas as outras foram de vestido de noiva, todas, colocaram vestidos de noiva, e foram para a igreja da Glória. Não, a minha agenda estava sempre cheia e por isso não fizemos uma lua de mel. Eu sei que saí da igreja, fui para a Urca, onde estavam os meus parentes, eles abriram um bolo para mim... champagne. Tradicional, simples, não convidei ninguém, não tinha essa coisa e os fãs não sabiam onde eu morava.

Eu me lembro que liguei para a Gimol dizendo: Gimol, eu estou alucinada porque a imprensa me telefonou aqui em casa, que vem todo mundo fotografar. Eu tinha telefone sim, tinha tudo, só que o apartamento era pequenininho. Gimol Caplignone era a madrinha de casamento. Toda a imprensa querendo ir lá em casa. E eu disse: Gimol, o que eu faço? Ela disse: Nós vamos até lá, vamos levar alguma coisa, não fique impaciente. Eu era uma menina, era boboca. Tenho fotos sim do casamento.

Peça Depois do Casamento

81 82 83 Saímos para ir a um hotel, e o hotel qual era? Esse hotel da Av. Copacabana? Era o Castro Alves

(Hotel que era situado na Praça Serzedelo Corrêa, em Copacabana, mesma praça onde Marlene mora atualmente.)

Quando chegamos, que eu saí da igreja, entrei para o carro, tinha fotógrafo escondido dentro do carro. Quando chegamos ao hotel, o Delfino descobriu fotógrafos debaixo da cama, era uma coisa incrível comigo. Eu levei um susto danado. Depois voltamos a trabalhar normalmente. Moramos primeiro com a mamãe na Urca e depois no bairro Peixoto onde compramos um apartamento. Era Edifício Piancó e Mamanguape, Piancó era o meu, Mamanguape era onde morava o Jacinto de Thormes. Foi meu amigo a vida inteira. Era uma gracinha, duplex. Não, moravámos só eu e o Delfino. Mamãe voltou para São Paulo.

Era uma vida complicada porque a imprensa não me deixava. Rodeando, para saber o que ia fazer, aonde eu ia, com quem estava. O Delfino também trabalhava com o Silveira Sampaio. Era o melhor ator do Silveira Sampaio, um grande ator. E tem um detalhe muito importante nessa época: como eu era requisitada no País inteiro como a grande atração, ia em clubes, em teatros, o Delfino ia como mestre de cerimônia, ele fazia a abertura, contava umas piadas, umas coisas, e depois me apresentava. O mestre de cerimônias. E isso me acompanhou até meados dos anos 1960, até iniciozinho dos anos 1960, porque o colunismo social começou a se projetar muito, e o Jacinto de Thormes fazia muito desses eventos, beneficentes, aqui, ali, acolá, principal- mente aqui pela periferia, pelo Rio de Janeiro. Eu não tinha liberdade nenhuma, não podia ir à janela.

Meu primeiro casamento durou nove, dez anos e impulsionou meu lado atriz. Até o velho Assunção dizia, homem ligado a teatro, ele tomava conta do Teatro Dulcina. Ele disse para o Delfino:a tua mulher é uma atriz. Ele disse: Ai! Que bobagem! Atriz! Porque participava de um programa na Rádio Nacional. Entra na Faixa, onde eu fazia personagens com uma projeção enorme. Estreou junto, no mesmo dia do Balança mas Não Cai, na sexta-feira.

84 Aí resolvemos montar uma companhia tea- tral. Ele montou a Companhia Teatral Marlene e Luiz Delfino. Nessa época, tinha a Eva Todor Companhia, tinha a Tônia com o e Adolfo Celi. Companhia da Alda Garrido. Com- panhia Teatral Procópio Ferreira. E tirando o outro lado, eram os grandes shows da Praça Tiradentes. Walter Pinto e tantos outros, Companhia Teatro de Revista Colé, Celeste Aída. Mas também eu era conhecida mesmo não tendo feito os filmes daAtlântida , mas sim os da Cinédia.

Nossa estreia teatral foi uma peça que o Delfino chamou para dirigir o Mário Brasili com os ato- res Maurício Sherman, Vanda Lacerda. Era uma comédia de um autor francês, Depois do Casa- mento encenada no Teatro Dulcina. Alugamos o teatro sim. Depois do Casamento é exatamente depois do meu casamento, três meses depois do casamento, é muita coincidência. Um vaudeville. E eu me lembro que, quando abriu, levei um susto com a quantidade de gente! Meu Deus! Os grandes autores da época estavam lá. Foi um auê. Eu me lem- bro do Jaime Costa. Entrando no camarim para me dar um abraço. Nasceu uma grande estrela!, dizia. Foi uma coisa indescritível. A peça ficava em cartaz de terça a domingo. Terça, quarta e quinta (matinê e à noite), sexta e sábado (duas sessões) e domingo (duas sessões, matinê e à noite).

E eu ainda fazia rádio. A temporada durou seis meses de casa cheia. Estreamos logo depois Angelina e o Dentista, Teatro Rival. Que era o grande templo das comédias encenadas pela Alda Garrido. Todas as peças foram com o Delfino. Aí nessa segunda peça o elenco era formado por Carlos Durval, Oswaldo Louzada, o Louzadinha, que morreu recentemente, e Iracema de Alencar. Um elencão. Tudo de casa cheia. Aí ficou uma temporada mais ou menos de uns quatro meses. Aí vem Maiá, foi a última desse período.

Programa Marlene Meu Bem da TV Record

85 Peça Depois do Casamento com Vanda Lacerda Na mesma peça com Luiz Delfino

86 87 88 89 páginas anteriores – Depois do Casamento com Maurício Sherman No camarim do Teatro Dulcina

90 Com Dulcina na peça Tia Mame

91 Cartaz TV Excelsior

92 Era outro vaudeville. Aí fechou o ciclo disso. Logo depois dessa temporada teatral eu fui ao Chile como grande estrela. Não, eu dizia assim: Mas por que eu faço tanta coisa no teatro? Faço na rádio. Eu quero é cantar. Ganhamos dinheiro sim, ficamos ricos. A rádio era vitrine, pois não era um bom salário. Eu comecei a viajar, e a mamãe pegava o dinheiro e colocava em uma mala porque o pagamento era em espécie, não era cheque. Nessa época o Delfino viajava comigo. Aonde eu ia pelo Brasil, na grande maioria das vezes o Delfino era o mestre de cerimônias.

Eu sei que depois de todas essas excursões tinha 25 apartamentos, casa em São Paulo, casa em Petrópolis. Argentina também, que eu filmei lá e tudo. Fa- zíamos o País inteiro, eu passava um telegrama e dizia assim: Dia tal eu chego ao aeroporto, me levem uma mala com roupas novas. Levava as orquestra- ções com um show já pronto. Eram sucessos da época. Só o Delfino ia co- migo porque eu levava as orquestrações feitas na Rádio Nacional e as rádios locais tinham grandes orquestras. Eles ensaiavam com as minhas orquestra- ções e eu cantava. Isso era uma coisa extraordinária. Nem sei se nessa época queríamos ter filhos. Eu nem sei. Não, não dava. Não dava, tanto é que o meu filho reclama até hoje. (Sérgio é seu único filho, com Luiz Delfino.)

As viagens eram todo dia. Toda semana, eu saía de um lugar e ia pra outro. Era avião. Eu só me lembro que fiz uma viagem para o Sul com o Abel Ferreira, o músico. Para o Sul, toda cidadezinha a gente ia lá, alugava um carro, o Delfino dirigia, e nós íamos parando nas cidades, porque era uma cidade atrás da outra. Eu fui até Cachoeira no Rio Grande do Sul, foi a última viagem que fiz ao Sul. Fazíamos Norte, Nordeste também. O Brasil inteiro, e exterior. Mas eu ganhei tanto dinheiro! Mamãe era a mulher da mala. Eu sei que eu abria a mala e caía dinheiro. O Delfino só gastava. Cada viagem que eu fazia, comprava depois esses imóveis todos.

Ele detestava negócio de fã, porque a gente não podia ter liberdade nenhuma, ele já estava farto disso. Em qualquer lugar. Então ele não ia, eu deixava documentos para ele, para fazer o que quisesse. Ele dizia assim: Marlene, para que tanto imóvel, se a gente mora em um só? Nessa altura eu já estava em um apartamento na Rainha Elizabeth, um por andar.

93 O casamento foi até os anos 1960 e o Sérgio nasceu no dia 8 de setembro de 1953 e é meu único filho porque eu trabalhava demais, e eu deixava ele com a minha mãe, ela é quem cuidava de tudo. Não dava pra ter outro e eu não queria expor também ele, todo mundo fotografando seu filho.

Voltando ao teatro, essa nova carreira gerou o programa da Rádio Nacional, o Marlene meu Bem, que estreou em 1955, junto com o Delfino e que era feito no palco da Rádio Nacional. Eram dez microfones espalhados, era um teatro. O programa ia ao ar todas as sextas-feiras, às 21h30, após o Balança mas Não Cai. Era um tipo radioteatro, ao vivo, uma comédia que se passava mas era teatro mesmo com direção do Floriano Faissal, o produtor era o Mário Lago com textos escritos especialmente para o casal. Eram historinhas de casais, tinha sempre uma empregada, um convidado. Era uma comédia de costumes, tipo I Love Lucy. Esse programa durou de 1955 a 1959 na Rádio Nacional gerando ainda o mesmo programa na televisão estreando, em 1956, Marlene Meu Bem, que ia ao ar na TV Record, de São Paulo, com grande sucesso. Era eu e Delfino. O mesmo esquema transposto para a TV e que em 1959 também veio para a TV Rio, logo quando ela começou. É, faz parte da história da televisão. Agora, nesse meio tempo aí, o ano acho que foi 1954, ainda fiz o filme na Argentina:Adiós Problemas.

E em Paris eu não participei de películas porque eles queriam operar o meu nariz. Mas o filme foi um sucesso, aquele grandeboom na Argentina, a estreia, foi para países de língua espanhola, Espanha, Chile, além do Brasil. Em 1956 já atuara em teatro de revista como atração: a montagem era Aperta o Cinto, do Silva Ferreira, empresário de revistas. Com Chocolate e Berta Loran, entre outros. Eu fazia esquetes e números musicais com o Delfino. Foi um grande sucesso. Deixei essa revista, substituída pela Renata Fronzi, para cantar em Nova York, no Waldorf Astoria, que ia ter uma grande noite brasi- leira, que era o primeiro voo Rio – Nova York pela Varig. Aí ia ter um grande show do (Carlos) Machado, no Waldorf Astoria. Fui como grande atração, mais a Leny Eversong, aquelas coristas, bailarinos. Fui, e quando voltei não retornei mais para a peça, a Renata Fronzi terminou a temporada. Fiquei

94 atuando no programa em televisão. E trabalhando, gravando aquelas coisas todas. E não comendo, perdi 40 quilos. Eu não sei, a minha vida foi uma coisa terrível. Eu fumava três maços por dia. Só me lembro da última marca, Charm. Na época devia ser Hollywood, Windsor. Não, Hollywood nunca, era cigarro importado. Eu nunca bebi. Detesto, até hoje. Aguentava com café, 35 xícaras por dia. Não sabia de drogas, nunca experimentei, nem sabia o que era isso. Café e cigarro e isso me afetou até hoje, tenho essa tosse seca de ex-fumante. Eu fui a oito hospitais. Foi quando tive derrame. Foi no iniciozinho de novembro... 1992/1993, foi quando eu parei de fumar. Quando enfartei.

Eu tinha acabado de ter o Sérgio, mas a minha vida conjugal continuou normal, nunca fiquei sem homem, só sei dizer que os momentos felizes da minha vida, além do palco, foram na cama fazendo amor. Até hoje. E, eu heim! É uma coisa impressionante. Hummmmmm! O meu marido morreu há 12 anos, eu estou sem ninguém.

Meu estremecimento com o Delfino começou numa volta de viagem a Paris. Fui sozinha. Eu fui como vedete americana não sei por que, invenção da Edith Piaf quando nos conhecemos. Eu estava no Copacabana Palace, ela foi fazer uma temporada e gostou de mim. Ela falou com o Caribé, não queriam deixar, foi uma luta danada. Eu fui, e ninguém conhecia o português, e eu cantei em português, no Teatro Olympia. Fiquei seis meses em Paris. Morei em hotel, não me lembro qual. A Piaf era a grande atração, mas ela me apre- sentava. Mas foi uma polêmica danada, porque o Rio de Janeiro não acei- tava que eu tivesse feito sucesso lá. Eu chegava lá e achavam que aqui tinha cobra andando na rua. Hoje não. Mas, na época, Deus me livre!

Nessa mesma época meu casamento com o Delfino já andava mal. Foi numa quinta-feira, quando voltava da Rádio Nacional de táxi, não eram duas vias que tinha a Atlântica. Era mão única e o sinal da rua Souza Lima fechou. Quando abriu, o carro dele passou assim junto do meu, e estava com uma mulher. Mas ele não me viu e eu não conhecia a moça, não.

95 Como ele tinha feito aqueles pedidos todos antes de viajar pra Paris, escrevia todo dia para ele, tudo que acontecia comigo em Paris eu contava. Quando voltei, aconteceu isso. Chegando em casa, meia hora depois ele chega.

– Oi, minha querida, você está aí?

Apartamento, um por andar, uma beleza de apartamento, lindo.

– Oi minha querida, você já está em casa? Quinta-feira você sempre fica na cidade fazendo as coisas.

– Hoje eu não estava com vontade, vim embora para casa.

– Eu queria que você fizesse um favor para mim, ele falou.

Eu digo: O que é?

– Chama teu primo que é advogado, para ele vir hoje à noite aqui em casa.

– Para quê?

– Eu quero bater um papo com ele, não posso?

Eu disse: claro que pode, e telefonei, louca para saber qual era o assunto: não sei se era sobre a minha procuração que ele tinha. O primo chegou à noite, jantamos e tudo. Marlene, você me telefonou, pediu que eu viesse, qual é o assunto? Eu digo:

– É o seguinte, a separação do teu primo.

– Como?

Aí ele levou um susto. Ele caiu na gargalhada. Até morrer, ele não acreditou. Morreu depois do Paulo, meu querido Paulo, foi o homem da minha vida. Ele disse não adianta, porque o sexo era muito forte. Mas me deu um nojo dele tão grande!

96 – Você não vai me ter mais.

– Como?

– Não adianta.

– Ah-ra-rá, você não me resiste.

– Você vai ver.

Comecei a tomar Namuron para dormir. Era fortíssimo. Eu tomava Namuron na cozinha e caía na hora. Eu digo:

– Se você quiser me ter, você vai ter uma mulher morta.

E era verdade. Mas ele (Delfino) não saiu. Mas continuei a amizade com ele até o final da sua vida. Ele (Delfino) exigiu tudo, a metade. Então tive que vender o apartamento da Rainha Elizabeth, vendi as casas em São Paulo. Partilhei e continuei a minha vida. Comprei um apartamento na rua Júlio de Castilhos. Um por andar, 400 m2. Na época de casada recebia muito, muitos artistas. O Tom Jobim, meu Deus do céu, fez Dindin no meu piano. Tinha ainda o Aloísio de Oliveira, , tantos, tantos.

97 Com Paulo, seu marido

98 Capítulo VI O Segundo Casamento

Separei, comprei o apartamento da rua Júlio de Castilhos e comecei a namorar com o Paulo, que foi o amor da minha vida. Era engenheiro. Ele tinha a vida dele, e eu tinha a minha, mas morávamos juntos. Casamos na Suíça e íamos fazer 35 anos de convivência quando ele morreu. Eu engravidei dele três vezes. A primeira vez ele disse: você se separou do teu marido há um mês, vão falar, vão achar ruim. Ele me preservava muito, vou te levar ao hospital. Me levou para o Pio XII, que o dono do hospital era amigo dele, e abortei. Na segunda vez ele disse: Marlene, um homem de 40 anos ter uma criança, vão dizer que eu sou o avô. Eu abortei outra vez. A terceira vez foi em 1975, eu já não falei mais, fui direto para o hospital. Não, nunca mais engravidei, e nunca tive menopausa. Graças a Deus, Deus me preservou de tudo, Deus Pai e Jesus. Mas sempre fui amiga do Delfino até o final da sua vida. Conheci a mulher dele, a Ione, eu gostava muito dela, era evangélica. Eu dizia: Olha, vê se você cria juízo nessa sua cabeça oca, fica com essa mulher, que ela é muito boa. O Sérgio morou comigo a vida inteira. Mamãe morreu em São Paulo de infarto com 83 anos.

Relembrando ainda: lembro que um respeitava o outro. O Delfino dizia: sempre existe um chinelo velho para um pé doente calçar. Eu era garota, quer dizer, perto de hoje. Nessa época era até engraçado porque o Paulo tocava a campainha, e o outro saía, um entrava, e o outro saía. Ficamos amigos, e eu dava conselhos ao Delfino:Você é muito impulsivo, você não pode fazer isso, você não pode fazer aquilo. Aí ele conheceu Ione, foi casado até o falecimento dele. Mas antes o Delfino teve outro casamento, com uma filha de outra união, Norma. É, mas eu não o conheci. O Paulo também era separado mas nunca teve filhos. Eu morava na rua Rainha Elizabeth ainda e nos conhecemos por Nilza Magraci, foi através dela. Ela frequentava um clube chamado Bridge Club, que era na rua Canning, em Ipanema. E eu morava na Rainha Elizabeth, que é colada. Então eu me dava com a Nilza da rádio, e ela me convidou para ir: Você gosta de jogar? Eu disse: Eu ado- ro jogar. Eu não sabia jogar, aprendi lá, apanhei muito. Aprendi pif-paf. Você

99 precisa conhecer e tal. Aí eu fui uma vez com ela e tal, gostei do ambiente, Roberto Marinho jogava lá, era da alta, eu não frequentava qualquer coisa não. Aí apareceu o Paulo, aquele homem moreno, alto. Eu achei muito bonito, muito delicado, muito fino, usava óculos. Engenheiro. Era frequentador, mas às 23 horas ele ia embora, porque trabalhava de manhã. Ele morava em frente ao Bridge Club. Não foi amor à primeira vista, mas foi aumentando e nem houve muito papo. Todos nós fizemos amizade, muita gente boa. Aí começaram as rusgas com o Delfino, que eu chegava tarde em casa, se bem que era uma quadra, muito perto, e começaram as rusgas, eu já tinha tido o Sérgio. Eu me lembro que em uma das grandes brigas com o Delfino fui dormir no quarto do Sérgio porque parece que ele viu o Paulo me levar em casa. Mas não tinha nada ainda. Nilza Magraci foi uma grande radioatriz, e apresentadora da Rádio Nacional, tinha um programa famoso, Seu Criado Obrigado! que ela dividia com o César Ladeira. Voltando ao trabalho, eu fazia programas variados: Aérton Perlingeiro, J. Silvestre. Viajando, fazendo muito essa ponte aérea Rio – São Paulo, que tinha alguns programas que eram da TV Excelsior, TV Tupi. Mas não era só lá não, era Bahia, era Recife.

100 Capítulo VII Marlene no Olympia com Edith Piaf

A Piaf já tinha estado aqui no Brasil no início dos anos 1950, muito discreta- mente. Não com a pompa toda que voltou depois em 1957 para cantar no Copacabana Palace. Da vez anterior, ela veio para atuar na Rádio Mundial, que tinha uma programação maravilhosa. Eu acho que o Caribé fez essa ponte comigo e a Piaf.

(Sobre a cantora, Piaf declarou em entrevistas à época que o que mais a havia impressionado em Marlene era a sua marcante personalidade com toda aquela vivacidade. Tenho certeza absoluta que fará sucesso em Paris. Tanto assim que, pela primeira vez, me tornarei empresária e com muito prazer por se tratar de Marlene.)

101 Com Aznavour e Amália Rodrigues

102 Piaf era alguém que muito pouca gente conhece, até a , que faz um espetáculo interpretando músicas de Piaf, não sabe o que eu sei dessa grande cantora francesa. Ela era muito dramática no palco, era uma coisa de a gente chorar com ela, era fantástica, como eu aprendi coisas com ela! Ela olhou para mim, sei lá, se apaixonou por mim, entre aspas, naturalmente. Então, eu fiquei muito amiga dela, mas muito amiga mesmo. E ela chegou ao Caribé da Rocha e disse: Olha, há dois anos que eu não faço minha tem- porada no Olympia e gostaria de levar essa cantora que se apresenta aqui no Copacabana. E foi uma dificuldade muito grande para conseguir sair do Copacabana para ir a Paris, E eu, no dia estreia estava apavorada, porque aquele teatro era um novo mundo para mim. Tinha uma cortina que se abria, era mecânica, que custava a abrir, custava a fechar, e aquilo me amedrontava muito. Então, ela deu a volta no palco, foi até perto de mim, me deu um beijo e disse: Você está muito amedrontada, mas não tenha receio não que vai agradar aqui. Muita gente não entenderá o que você está falando, mas vai agradar pela sua personalidade. Ela me deu muita força e disse que, além de cantar com muita brejeirice, era dramática também. Então, eu devia procurar um repertório mais forte, para poder me expressar melhor e ela me deu vários conselhos. Mas na minha volta ao Brasil principiei a raciocinar o que ela tinha dito, e comecei então a procurar um repertório mais forte realmente.

Bom, fiz uma audição para a Piaf. Aí ela ficou encantada comigo e eu dei um jantar para ela. A dama da música francesa me disse: eu vou empresariar pela primeira vez uma artista fora do meu país. Que ela tinha empresariado lá o Yves Montand, o Aznavour, que estava começando. E outro que ela namorou, Félix Martin. Aí começaram a agendar tudo. Caribé aproveitou que a Piaf fazia uma temporada em São Paulo, na TV Paulista, aí organizou uma coletiva com as duas que foi na Boate Oásis, com toda a imprensa, a Piaf comunicando que ia levar a Marlene para Paris. Comecei a me preparar e viajei no dia 30 de dezembro de 1957. Fui para Paris com antecedência para me preparar, fazendo uma pequena prévia, em Marseille. A Piaf estava voltando a atuar no Olympia depois de muito tempo, de ter viajado pela América, cantado no Carnegie Hall, em Nova York, em outros países. Aí ela estava voltando a Paris. E teve uma particularidade: eu fui contratada para ser a vedete americana. Era assim: antes da grande atração fechavam a primeira parte com a vedete americana. Mas numa dessas minhas viagens, um dia eu estou lá folheando um desses jornais franceses, o Fidel Castro estava em

103 À beira do Rio Sena No Arco do Triunfo

104 105 Programa e cartaz do Olympia

106 107 Programa Olympia Marlene e Piaf em Paris

108 Paris, e estava lá: Fidel Castro, a grande vedete americana, eles classificam as coisas assim. Aí nesse primeiro ato tinham várias atrações, quem fechava o primeiro ato era o namorado dela na época, o Félix Martin. Essa história eu vou contar. Havia acrobatas no show, cães amestrados, aquela coisa francesa, bem de vaudeville. E a grande atração do segundo ato todo era a Piaf. Aí estreio nessa noite maravilhosa, que tinha todo mundo que você pode imaginar, Michèle Morgan, Françoise Sagan, Henry Salvador, fulano, beltrano, sicrano. E eu era apresentada por uma locutora em off. Tinha o aval de Piaf, tanto que gravei dois compactos duplos na França, um inclusive com esse histórico todo de Rio de Janeiro e França. É porque aqui eu estava no auge e saí para fazer uma temporada no templo da música francesa, o templo do teatro da Europa no auge, então aqui foi muita coisa.

E lá também a mídia se dividiu um pouco, pois fiquei noOlympia atuando durante quatro meses. Fiquei final de dezembro, janeiro, fevereiro, março, abril e maio. Em 8 de maio de 1958, já estava voltando para o programa Manoel Barcelos, no Teatro João Caetano. Grande estilo. A grande artista brasileira que foi atuar no Olympia de Paris. Cantava em português. Lamento Negro, uma coisa de macumba, de Humberto Porto. Maracangalha e Saudades da Bahia do Caymmi, Zezé, baião do Humberto Teixeira, Trepa no Coqueiro, de Ary Kerner Veiga de Castro, Fiz a Cama na Varanda, de Dilu Melo e Ovidio Chaves, Biá-tá-tá, do Hekel Tavares, e Com Jeito Vai, de João de Barro, o . É, Com Jeito Vai, que Emilinha tinha gravado aqui, que foi um sucesso também.

(Vale registrar que ela gravou dois compactos duplos em Paris conforme discografia anexa.)

Vou contar uma passagem da Edith Piaf. Estávamos em Marseille, ela me telefonou no apartamento: Marlene vem aqui. Quando fui ao quarto dela, estava deitada toda coberta.

– Marlene, consegui, consegui.

– Conseguiu o que Edith?

Em francês, conversavámos em francês. É que hoje ninguém mais fala comigo e eu já esqueci muita coisa. Falava.

– Consegui.

109 Em show realizado em Paris

110 111 Edith Piaf no Olympia em fevereiro de 1958

112 Marlene na noite de estreia no Olympia

113 – O que foi?

Ela disse:

– Você sabe o quanto eu gosto de você, Marlene. Eu quis trazê-la, porque é a coisa mais curiosa que eu vi fora de Paris. Mas agora como amiga que eu sou de você, queria pedir um grande favor. Cede o teu lugar de vedete americana para um rapaz que eu consegui hoje? Félix Martin. Aí ela tirou a roupa. Tirou toda a roupa de cima dela, ela estava toda chupada. Era o corpo inteiro chupado. Consegui, porque ela vinha tentando namorar o rapaz. Eu consegui. O sem-vergonha Félix Martin veio justamente na véspera da minha estreia. Claro, faz o que você quiser. Ia dizer não, não abro mão? De jeito nenhum. E lá ficou ele como vedete americana, fechando a primeira parte. Fui para Paris no final de 1957 cantei noTeatro Olympia no dia 7 de fevereiro de 1958.

Na volta, continuei atuando, gravando, viajando, essas coisas todas. No início de 1959 fui convidada pela Dulcina para fazer a peça Tia Mame, na minha volta ao teatro. Comecei a fazer teatro de novo, pois o último espetáculo que fizera foi Aperta o Cinto, uma revista montada em teatro da Praça Tiradentes. E aí a Dulcina me chamou para fazer o quê? Tia Mame, uma peça que estava na Broadway, com a Rosaline Russell, e a Dulcina montou-a aqui. Comprou os direitos e o elenco foi formado pela Dulcina, eu, Conchita de Moraes. Uma comédia, que depois a Lucille Ball fez o filmeMame, antes a Rosaline Russell atuara nessa produção, a Lucille fez a refilmagem. A peça não viajou dentro daquele esquema antigão.

No começo dos anos 1960 continuei viajando pelo País, gravando as mesmas coisas, fazendo bons programas de televisão como o Noite de Gala. Aí em 1960 vou para a Argentina como cantora. Fiz o Teatro Nacional, e uma boate famosa da época, Tabaris, como grande atração. E no teatro, atuei numa revista argentina. Uma atração internacional, a grande atração internacional tanto que fiquei uns três meses e meio. Fui para São Paulo, para aTV Tupi, fazer um programa com o Ivon Cury, o Ivon e Marlene, apresentado por nós dois, e no qual recebíamos cantores e atores. Mas era uma disputa, uma brin- cadeira. Era tudo tão corrido mesmo sendo uma vez por semana, às terças- -feiras, exibido lá em São Paulo. Aí depois quando termina a temporada desse programa, fui fazer outros Estados como a TV Itapoã, da Bahia. E, Recife, eu fui mil vezes. O Borjalo, que também era da TV Rio, me convidou para fazer um programa na TV Itacolomi, de Belo Horizonte, que era Noites da Guanabara, um musical semanal. Tinha o Borjalo, o Carlos Alberto Loffer.

114 Plateia no Olympia na estreia de Marlene Henry Salvador ao centro

115 116 Era um musical que eu apresentava, o Noites da Guanabara porque era patrocinado por essa casa Guanabara. Eu cantava também e apresentava artistas do Rio nesse programa que durou mais de um ano. Foi neste programa que apresentei, num quadro chamado Velha Guarda, o Pixinguinha, Lamartine Babo, , João da Baiana e eles tinham loucura por mim. Eu já conhecia o João da Baiana, que era músico da Rádio Nacional. Era trabalhoso com ponte aérea toda semana e eu sempre atuei muito, mas nunca tive medo de avião. Entrava tranquilamente, viajava o Brasil inteiro. Eu chegava a dormir, porque daqui a Manaus, você imagina o tempo que levava, e aproveitava pra descansar e dormia no avião. Quando havia aqueles baques, aquelas quedas, aí pegava no sono. Eu digo:

– Esse avião vai retinho?

– Não, tem aquelas caídas normais.

Marlene e Luiz Delfino na TV Rio em 1959 emComédias Piraquê Com Trio Iraquitã, Dorival Caymmi, Bibi Ferreira, , Antonio Maria, Lena Horne, Lennie Hayton e Norma Bengel. 1960.

117 Eu digo: É nesse que eu vou. Era uma loucura porque tinha a hora do intervalo do teatro, e eu saía para fazer o Marlene Meu Bem na TV Rio. O Delfino me levava porque esse programa era ao vivo. Se chamava Comédias Piraquê. Durava uns vinte minutos, não era longo não, eram vinte minutos, porque era um esquete com vários artistas, comigo abrindo o programa. Eram histori- nhas. Apresentado toda quinta-feira à noite, às vinte e pouco e durou quase um ano.

Foi exatamente quando estreou o Balança mas Não Cai, sexta-feira. Durou bastante tempo, um ano e pouco, pegou esse finalzinho de 1961 todo, aí logo no início de 1962 o Borjalo, da equipe da TV Rio, me convidou para apresentar O Garçom Garante o Espetáculo, que era nos mesmos moldes desse Noite

Marlene com o cantor Lúcio Alves no programa Garçom garante o espetáculo, de 1962, líder em audiência

118 da Guanabara, recebendo cantores. Aí bolaram um quadro dentro do programa que era O Compositor e Eu. A cada semana eu recebia um compositor apre- sentando uma música inédita interpretada por mim no próximo programa. A tal música era orquestrada e arranjada pelo maestro da TV Rio, Oswaldo Borba, ele fazia grandes arranjos para as músicas desses compositores, que eles também apresentavam às vezes ao piano ou ao violão. Nessa época eu estava contratada, tinha voltado a gravar na Continental, mas não gostava muito de gravar. Aí aquilo acabou indo para a gaveta. Mas foi feito um compacto e quem encabeçava era a música do Ronaldo Boscoli e Roberto Menescal, Rio. Que foi lançada no programa, não fui a primeira a gravar, mas foi lançada inédita nesse programa. Com a chegada da Bossa Nova não tive vontade de voltar a compor não. Lembro que gravei Tom Jobim, gostei da Bossa Nova sim. Gostei. Mas já tinha um nome grande, então a turma da Bossa Nova não me deu bola.

Mesmo com essa novidade, turma nova na música, continuei trabalhando como sempre foi, nunca faltou serviço e tinha tanto sucesso, que não fui gravar o que não era sucesso, vou me meter numa coisa nova que não sei o que vai acontecer, deixei para lá, não me interessei. Mas eu adorava, tanto que gravei Brigas nunca Mais e Rio do Menescal e do Boscoli. Mas eu nunca gostei de gravar, passei por várias companhias, mas isso nunca deu dinheiro e posso dizer que não ganhei dinheiro nem como compositora, nem como cantora mesmo com as várias gravações de A Grande Verdade. Tem uma de uma cantora da época do rádio, uma que não foi muito famosa, que é a Marion Duarte, que eu gosto muito, tem da Ângela Maria também, que eu gosto da gravação.

Voltando aos programas de TV: eu apresentei Elis Regina na TV Rio, , que não era o Benjor. A Elis Regina começando, cantava boleros, recém- chegada de Porto Alegre. Eu gostei, só que eu achava sério uma brasileira cantar boleros. Jorge Ben eu adorava, sempre gostei dele, achava uma coisa diferente, sempre foi com aquele balanço dele. Eu apresentava e cantava. Me lembro de um programa da Rosinha de Valença, que nós fizemos só de violão. Estava começando, e eu fiquei encantada com ela, tanto é que anos depois ela me dirigiu em um espetáculo no Dulcina.

Esse programa da TV Rio durou muito tempo, é da época em que lancei o Sassaruê, a música de Marino Pinto e Pernambuco. Coisa muito interessante,

119 era um conjunto, não apenas eu, mas vários artistas. Era todo mundo igual, e eu no meio deles. Tinha uma hora e ficou um ano e pouco em cartaz. Fiz muito programa de TV, mas gostava mais do rádio porque tinha público. Na televisão me sentia isolada. Lembro que fui chamada a atenção, por causa de uma música que eu cantava, Biatatá, de Hekel Tavares, um clássico. Então eu fazia os gestos e o diretor do programa, que era o Carlos Alberto Loffer, disse: Marlene, você não vai poder fazer essa gesticulação que você tem natural, porque a tela é muito pequena. Era pequena, então você abria os braços, já estava fora. Então fui diminuindo aos poucos, porque era um foguete mesmo. E a TV tolhia, tolhia. Eu queria levantar as pernas, e já não podia. Para mim, sim, existia muita diferença. Em maquiagem não sei, pois nunca liguei para isso não. E foi proibido também o Sassaruê. Que eu cantava em todo programa e não era costume. É porque a música teve uma grande projeção, aí acho que os patrocinadores não queriam que eu cantasse, fazia às vezes no programa dois números, às vezes ao lado de algum convidado, como Lennie Dalle, Consuelo Leandro, Carmem Verônica, Lúcio Alves, tinha às vezes umas brincadeiras, umas coisas assim, pegava uma música famosa, alguma coisa assim, Ciro Monteiro, Odete Amaral. Então acontecia que o patrocinador não queria que se repetisse Sassaruê semanalmente. Então cortou. Aí eu fiquei danada e disse:Não vou cantar mais essa música. Podia cantar, mas não com tanta frequência, uma vez por mês e era uma marca minha. E era, a dança pegou tanto, que as crianças na rua dançavam ao ritmo, criado por Davi Dupret, coreógrafo oficial daTV Rio que tinha aqueles grandes musicais. O programa durou dois anos e pouco e com ele ganhei prêmio de melhor apresentadora. E no ano anterior melhor revelação, no ano seguinte, melhor apresentadora. Melhor revelação de apresentadora, com esse programa, O Garçom Garante o Espetáculo. Aí logo depois esse programa mudou de patrocínio e comecei a fazer, em estúdio também, o Vip Show Royal. Era todo sofisticado, e já não gostava, patrocinado pelos Royal. E paralelo ao Vip Show Royal, aos domingos fazia um programa de prêmios na TV Rio, também com o Murilo Nery, Fique no 13. Às terças-feiras e aos domingos fazia, com o Murilo Nery, o Fique no 13, só que era de auditório.Era um programa de prêmios, patrocinado por um cartão. Era uma caderneta, uma coisa assim. Era um carnê, um carnê X, que as pessoas compravam, como é o do Baú da Felicidade, que depois vai disputar prêmios, era uma coisa assim. E aí nessa época a TV Excelsior, de São Paulo, começou a se projetar no Rio de Janeiro e fez a limpa em todo o elenco da TV Rio. Inclusive o . Todo mundo foi para a TV Excelsior

Posando para reportagem

120 121 e aí nessa leva fui também em 1963. Eles contrataram artistas que estavam com programas já de sucesso. Era o Chacrinha, era eu. Aí comecei a fazer a linha de shows da TV Excelsior, que era de auditório. Atuava junto com a Betty Faria. Participava de um número musical e a Betty Faria só dançava. E aí logo depois estreio um programa à noite, todas as quintas-feiras, que era o Playboy. Assinado pelo , tratava-se de uma grande revista baseada em cima da Playboy. Era semanal com vários quadros. Tinha o João Roberto Kelly, eu, várias pessoas. Eu entrava cantando, falava alguma coisa, uma história de um compositor, sempre essa parte musical e fazia um número. Esse ficou no ar um ano mais ou menos. Mas aí eles quiseram cortar a mim e ao Chacrinha porque éramos nomes consagrados e caros. E a Excelsior queria fazer os nomes dos seus artistas como o do João Roberto Kelly que estava começando lá. Na rádio continuava como contratada fixa. Aí quando terminou essa fase da TV Excelsior, comecei a fazer programa de televisão como convidada, a participar de musicais aqui, ali. É aquele tal negócio, a televisão já estava começando a afetar a rádio também.

E eu fiquei mais ou menos nessa coisa até quase 1968, quando voltei com o espetáculo Carnavália mas mesmo assim fiz incursões naTV Globo, que estava começando em 1965. Por exemplo, tinha um famoso programa às terças-feiras, Ó Que Delícia de Show, com Ted Boy Marino, Célia Biar e outra pessoa que eu não me lembro agora. E às vezes quando a Célia Biar entrava de férias, eu era convidada para substituí-la. O rádio estava em decadência. Estava, porque já era o negócio de 1964, ocorrera o problema de 1964, a ditadura imperava. Verificou-se uma decadência muito grande por isso quando houve esse problema político. Nessa época eu mais viajava do que parava aqui no Rio, no Brasil. Mas a cada volta para a Rádio Nacional via que fulano não trabalhava mais ali. Eu perguntava: cadê o fulano? Saiu da rádio. E o sicrano? Saiu da rádio. Eu não entendia nada de política, nada, para mim aquilo era uma brincadeira que estava acontecendo, tudo muito estranho. Sei que aqui pegou fogo mesmo, na Rádio Nacional, todo mundo saindo da emissora. Aí a Globo pegou todo mundo. Alguns atores foram para a TV Globo como o Mário Lago e o Paulo Gracindo. E o Roberto Marinho disse: Desses comunistas quem toma conta sou eu.

Aí nesse meio tempo, nesse hiato entre esses problemas de ditadura, essa coisa toda, começaram a pipocar, em São Paulo, os famosos festivais da Record. Porque – quando desses musicais famosos da Record – aqui a TV

122 Rio, junto com a prefeitura e a Secretaria de Turismo, organizou os festivais internacionais. Eu participei porque a TV Rio tinha um programa muito famoso às segundas-feiras, na época, o Globo Music Hall. Eles pegavam os clássicos da música popular brasileira, com grandes orquestrações, e chamavam artistas de várias gerações, para cantar determinadas músicas de uma época, mais novas ou mais antigas. Com uma roupagem nova e eu acompanhando.

Participei muito desse programa. E em um desses programas fui convidada para cantar uma música do , O Cordão da Saideira. Aí como deu muito certo, e havia nesse programa um quadro em que cantavam essas músicas, e um júri escolhia a melhor música da noite, nesses intervalos, quando não participava cantando, atuava em um quadro reunindo vários artistas com um tema musical. Então era Lúcio Alves, Ciro Monteiro, fulano, beltrano, Marlene. A produção do programa reunia esses artistas com um tema musical, enquanto o júri estava escolhendo aquelas cinco ou seis canções que concorriam como a melhor da noite. Ganhei uma vez cantando Cordão da Saideira. Aí foi o seguinte: quando aconteceu o Festival Internacional da Canção, na parte nacional, no Maracanãzinho, no intervalo das concorrentes, a Globo, que comandava, fez a mesma coisa nos intervalos, pegava essa coisa que deu certo nesse programa, e reuniu esses artistas no palco do Maracanãzinho, cantando determinadas músicas que já tinham passado nesse programa. Aí era Vicente Celestino, fulano, beltrano, numa dessas cantei Cordão da Saideira. Aí depois participei, anos depois, concorrendo. Concorri já nos anos 1970, em 1972, com o tango Carangola ou Navalha na Carne do Fauzi Arap e do Fototi que era um dos integrantes do grupo que estreou comigo no show É a Maior, dirigido pelo Fauzi Arap e Hermínio Bello de Carvalho. Eles fizeram um tango, o tango foi inscrito, passou na seleção, e cantei na parte nacional. Foi classificado, sétimo lugar. Aí passados anos depois, fui novamente convidada a participar do festival com uma música do Silvio César, Você não Está com Nada, que entrou na trilha da novela Bandeira Dois. Em 1982, voltei, pois o festival continuava, com outro nome, Festival Shell, eram só músicas brasileiras. Mas vamos voltar para o último programa de TV que é o do Carlos Manga, a gente estava no Playboy do Carlos Manga. Esse durou quanto tempo? Um ano de sucesso. TV Excelsior, canal 2. Ah! Esse ano só. Continuei depois atuando em alguns programas, mas não mais como contratada. Terminou a fase do Playboy, também encerrou o contrato.

123 Capítulo VIII A Grande Volta de Marlene nos Shows Carnavália e É a Maior

Primeiro Carnavália. Foram lá em casa o Sidney Miller, Paulo Afonso Grisolli e mais uma pessoa. Acho que era o Moisés, o dono do Teatro Casa Grande.

(Moysés Ajhaenblat e Max Haus, donos do teatro localizado no Leblon, foco de resistência durante a ditadura.)

Eles estavam querendo montar a história do cancioneiro carnavalesco, para resgatar o carnaval. E essa é uma passagem muito engraçada. Isso é de 1968. Primeiro eles me telefonaram, eu morava na Júlio de Castilhos, em Copacabana. Então o que fiz? Eu me vesti de longo, eu digo:Imagina se eu vou dar bola para essa gente! Telefonaram, o Moisés telefonou, queria bater um papinho comigo. O Moisés. Telefonou para mim, se podia fazer uma visita, porque ele queria fazer um convite para o Teatro Casa Grande. Eu digo: Que será que esse homem quer? Aí eu me coloquei toda de longo. Me produzi com uma piteira que era desse tamanho, e fumando, e a Eneida foi também que era muito conhecida.

(A paraense Eneida de Moraes, escritora, jornalista autora do clássico livro História do Carnaval Carioca e criadora do Baile do Pierrô, outro ícone do carnaval carioca que durou até sua morte, em 1971.)

A Eneida era muito debochada e explosiva. Quando abri a porta, ela me viu, eu tinha logo um sofá em frente à porta, era um apartamento lindíssimo, Eneida foi entrando e eu a fiz sentar, peguei a minha piteira. Ela também fumava muito, começou a fumar e a jogar cinza no chão. Eu fiquei pensando: Mas que mulher mal educada. Nada, que nada, ela não tinha essa coisa, não. Eu também era fumante. Era. Aí eu larguei. Bom, a primeira coisa que fiz foi largar a piteira, quase tirei o vestido, porque ela me deixou tão à vontade sabe, debochava tanto, que eu acabei rindo, aí começou a nossa amizade.

No show É a maior

124 125 Aí me fizeram um convite, e eu disse não. Um musical sobre o carnaval, só de carnaval, e a Eneida seria a narradora. Eu, Blecaute, Nuno Roland e o conjunto do Índio. A história carnavalesca narrada pela Eneida, tudo ao vivo. Eram queijos no palco, aqui permaneceia o conjunto musical, nesse canto ficava a Eneida em uma mesa, de um lado assim o Blecaute, depois tinha o Nuno, e em outro praticável, assim mais alto, ficava eu. E na hora que cada intérprete cantava individualmente, o foco se dirigia só para ele e quando os três cantavam em conjunto, aí abria, o show era temático, o tema era a mulher no carnaval. E a Eneida contava a história da música. Ah! Está tudo gravado, foi um sucesso enorme! Imenso. Eu não queria fazer, eles falaram que o espetáculo era para ficar em cena apenas 15 dias. Só 15 dias, eu disse:

– Eu não quero.

Não sei, não sei por que disse não primeiro. Não sei, não, eu nunca fui mas- carada. Eu só sei que seriam 15 dias de show e o Paulo me disse:

– O que é isso, Marlene, você não está fazendo nada! Por que não vai fazer lá? O teatro é bom.

Ele conhecia. Café Concerto, onde a Bethânia tinha uma temporada. O negó- cio não ia ninguém. Não ia público. Falando de carnaval, estava em uma época chata, o governo tomando conta de tudo. Uma coisa incrível e eu sofri muito com isso, porque não tinha nada a ver com política. Possuía as minhas opiniões, isso é verdade, mas nunca demonstrei. Tudo o que fazia era censurado, cantei Bia-ta-tá, foi cortado, e não tinha nada a ver com política.

Mas acabei aceitando fazer, só que não tinha público. Mas em uma noite de chuva horrível, eu entrei pra fazer o show e havia só duas pessoas: Carlinhos de Oliveira e , mas isso eu soube depois e o Carlinhos de Oliveira tinha uma coluna imensa no Jornal do Brasil. Aí o show tinha três horas, uma hora e meia, intervalo para a gente tomar água, e continuava. Eu sei que ninguém queria fazer o show nessa noite, mas a Eneida obrigou, dizendo que eu tinha que respeitar, porque era uma senhora, jornalista famosa. E eu digo: vou respeitar essas duas pessoas que vieram nessa chuva horrorosa e eu nem sabia quem eram. Aí eu digo: vocês podem não ir, mas eu vou fazer o show sozinha. O Grisolli disse: Marlene, os teus colegas não estão querendo fazer. Eu digo: Não tenho nada com isso, eu vou respeitar o público que veio, está

126 uma chuva danada, eles saíram de casa para vir assistir, então eu vou fazer o show para os dois. Mudou a história do espetáculo. Aí eu consegui convencer, foi todo mundo para a cena e fizemos oshow . Olha, os dois fizeram umauê nos jornais! Dois dias depois saiu a crítica, uma página inteira do Jornal do Brasil. Aí depois foi uma enxurrada de gente. Duas mil pessoas por noite. Aí depois, aí pipocou tudo. E como eu estava, naqueles últimos anos de 1960, mais discreta, aí em vez de focar no Nuno e no Blecaute, que eram elogiados em cima de um todo, focaram em cima de mim: Quem é essa mulher que está escondida? A direção foi do Paulo Afonso Grisolli e Sidney Miller e ficou quase dois anos em cartaz. Aí mudou tudo, até porque era um libelo contra a ditadura que estava no auge.

E a Eneida colocava todos os comunistas que iam ser presos na casa dela. Eu ia buscá-la na porta do apartamento dela, que era aqui em Copacabana, pegado ao Banerj. Ela abrigava muita gente perseguida. Nunca abriu a boca para dizer que tinha alguém lá e dizia para eu ficar calada.Eu não quero você nesse meio. Ficamos grandes amigas, uma diferença enorme de idade, mas

No show Te pego pela palavra

127 era uma criança, ela era uma criança. E se apaixonou por mim mesmo sabe, fantástica, e eu me tornei amiga dela. Foi um negócio assim maravilhoso, que saudades da Eneida. Eu passei a frequentar a casa dela, o filho dela era namorado da Elizete Cardoso na época. Eu sei que acabou essa fase, mas o show fazia tanto sucesso, que nós fomos convidados para uma temporada no extinto restaurante Grizing.

Mas teve um hiato aí antes disso. Em 1969, ficamos praticamente um ano em cartaz com o Carnavália, aí deu aquela parada e fui fazer o show É a Maior, depois ele voltou para o Grizing. É a Maior é o show do Fauzi Arap e Hermínio Bello de Carvalho e quando terminei a temporada do É a Maior, aí voltou o Carnavália em Ipanema, no Grizing. Era um restaurante. Aí o narrador já não era a Eneida, era o indicado pela esta, doentinha. O Carnavália teve uma pausa porque não quis mais continuar, não aguentava mais. Estava há dois anos. Era de terça a domingo, menos segunda-feira, às 21 horas. Aí deu aquela paradinha de final de ano, aquela coisa, porque o espetáculo ficou até o início do carnaval. Quando houve aquele espaço após o carnaval, o Fauzi e o Hermínio começaram a querer montar um espetáculo comigo. Nesses anos 1970 eu fui convidada para assistir a Bethânia no Teatro Miguel Lemos, da Brigitte Blair, o show era de Fauzi Arap. A Bethânia fez muitos espetáculos ali no Teatro Sérgio Porto, levava o nome de Miguel Lemos, um teatrinho pequeno ali. Aí eu assisti a Bethânia, não fui lá falar com ela porque não conhecia, até nessa noite ela bebera muito, tomava um litro de uísque para entrar em cena. E ela tropeçando no palco, caiu, e foi para o camarim direto, eu achei aquilo engraçado, engraçado mesmo. Quando ia saindo, a Brigitte perguntou:

– Você gostou do espetáculo?

Eu disse:

– Muito, muito mesmo.

– Por que você não faz um show?

Eu indaguei:

– Eu fazer um show?

– É, tipo esse da Bethânia.

No show É a maior de 1971

128 129 130 Eu digo:

– Eu não, já fiz o Carnavália, não quero.

Ficou nisso. De repente batem na minha porta, da minha casa, na Júlio de Castilhos. Quem era? Fauzi Arap. Diretor do espetáculo da Bethânia. Passou a frequentar a minha casa uma semana, sempre sem dizer nada. E eu recebia, lógico. Não tinha nem ideia de quem era Fauzi Arap. Ficou conversando comigo e tal, todos os assuntos. Depois de uma semana ele perguntou: Quer que eu te dirija? Eu disse: Dirigir o quê? Eu estava completamente parada, curtindo o Paulo. Eu não queria mais nada, nada mesmo, tinha uma situação financeira boa.

Eu pergunto:

– Fazendo o quê?

– Você cantando e eu dirigindo.

Eu nunca tinha tido um diretor assim, a não ser no Cassino da Urca e no Copacabana Palace, mas era um grupo, não era eu sozinha, era diferente. Aí eu digo: Quero, quero. Eu não sabia o que era, apenas que ia para mais um desafio na minha vida. Aí continuou frequentando a minha casa, e fui me apaixonando por ele, era apaixonante, ele é, não sei quanto tempo faz que não o vejo. Aí começou e tal, iniciou o repertório, e ele disse:

– Eu só tenho uma condição para pedir a você.

– O quê é?

– Eu não faço show sem um diretor musical.

Que ele já tinha apanhado muito com a Bethânia, por causa de música, mas quando ela quer fazer um show liga para ele em São Paulo, e diz: olha, o repertório é esse, o que você acha? Ele responde: não, coloca essa aqui, tira essa. Eu sei que ele faz o roteiro, um amor o Fauzi. Eu afirmei:Você quer um diretor musical? Eu tenho um. Aí eu disse:

– Eu tenho um: Hermínio Bello de Carvalho.

– Quem é?

Cantarolando na Nacional em 1966

131 – É um rapaz que eu conheci no Carnavália, ele ia toda noite. Falava em carnaval, o Hermínio estava lá. Eu telefonei na hora para o Hermínio.

Eu apresentei os dois, ambos se amaram, surgiu É a Maior. Estreou no próprio Teatro Miguel Lemos, da Brigitte Blair, em 1969. O Hermínio só na maquininha, ele que escrevia os textos.

O show É a Maior é o grande divisor na minha carreira, pois a partir dele as novas gerações me descobriram e me deram prestígio. É a Maior era focado em mim. E foram mais atrás descobrir por que lá no início, na primeira metade dos anos 1950, a Marlene já era considerada a intérprete, prestigiada intér- prete, diferente intérprete. É a Maior era um espetáculo focado, contava a minha vida dentro da Rádio Nacional. Com uma grande vantagem: dentro desse leque da emissora, me permitiu começar a cantar os compositores que estavam aparecendo na época: Chico, Caetano, Gil, Milton, todo mundo. As pessoas foram descobrindo outro lado meu, outra Marlene.

O Milton não saía do teatro. Gonzaguinha junto com o Milton. E eu era ataca- díssima, eu era muito atacada porque defendia , Caetano, Gil. A Marlene não tem gosto, falavam. Completamente rechaçados, e eu junto, só que eu me defendia. Eu digo: Não, vocês estão enganados, ouça isso aqui, e cantava a capela. Eu cantei Irene, que foi um escândalo. Caetano estava no exílio, e sabe como é que eu via, eu via o Caetano menino, acuado num cantinho cantando Irene, que era a irmã dele, eu chorava. O que soube, a minha interpretação veio do que soube, que ele estava em um canto acuado. Então me arrepia. Sei que o Fauzi ficou besta comigo, porque ninguém fazia aquilo, nem eu sabia o que era aquilo. Eu sei dizer que fui cantar uma música, que eu não me lembro qual, que o Hermínio e o Fauzi disseram:

– Não, não vai cantar isso não.

– Por quê?

– Está lembrando Elis Regina.

Mas é o tal negócio, tem uma passagem sobre a Elis: eu estava na Europa e quando cheguei disseram da Elis coreografada pelo Lennie Dalle. Ele cansou de ir me assistir e passou para ela os movimentos que eu fazia com os braços. É a Maior ficou um ano e pouco em cartaz. Ficou um tempo noTeatro Brigitte

132 Blair e depois pipocou em vários lugares, alguns teatros do subúrbio e depois veio a melhor temporada do É a Maior, que foi no Teatrinho de Bolso lá em Ipa- nema. Seguido depois por uma temporada maravilhosa, popular, no Teatro Gi- nástico, imenso, lá na Av. Graça Aranha, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Lá foi o pique. Porque a partir da temporada do É a Maior no Teatro Ginástico, é aquele grande momento daquela música, do Esquindo-do-do, quando ganhei o segundo prêmio de melhor intérprete de festival de carnaval, e que foi proibida pela censura. Eu tive que ir a Brasília. Proibida por causa do gestual da música. E nesse espetáculo cantava o Broco, aquela do Newton, foi incluída no repertório, depois de ter sido liberado pela censura. Eu fui muito perseguida pela censura.

Posando na década de 60

133 Capítulo IX Shows mais Teatro e Escola de Samba Império Serrano

Aí vêm os espetáculos Na Boca da Noite um Gosto de Sol, da Boate Colt 45, e Marlene Olê, Olá, de 1972. Por causa desse show fui convidada para puxar o samba enredo da Império Serrano em1972. Mas antes da estreia do próprio Marlene Olê, Olá, a Império Serrano se apresentou em Paris e eu fui com o Jorge Ben, e alguns componentes da escola de samba. Ficamos poucos dias em Paris e eu já tinha sido convidada para levar o samba enredo contando a história da música popular brasileira, o mesmo tema do show do Haroldo Costa passando em todos os Estados brasileiros onde tinha um ritmo, alguma coisa. Era a história do Brasil por meio da música. Através do baião, frevo, maracatu, toada, tudo o que tinha. Eram eu, os músicos, os ritmistas. E com uma grande atração no espetáculo, que era o Carlinhos Pandeiro de Ouro. Eu usava três trajes e eram projetados painéis contando mais ou menos a história desses ritmos dos Estados. E quando vai chegando no Rio de Janeiro tem um grande tributo à Eneida, falando do Baile do Pierrô criado por ela, inclusive tem uma foto linda que estou ajoelhada no palco, e atrás tem um painel com a Eneida vestida de pierrô. E terminava com o carnaval no Rio de Janeiro, eu cantava Alô Alô Carmem Miranda, que era o samba-enredo da Império Serrano.

Nesse mesmo ano de 1972, do Olé, Olá, cantei o samba da Império e foi uma coisa tão linda, eu nunca tinha visto tanta gente. É algo tão maravilhoso que é indescritível; o desfile foi na Avenida Presidente Vargas. Era tanta gente, as arquibancadas ainda eram de madeira. Eu me lembro que o Albino Pi- nheiro, ele falou tanto de mim, numa rádio que eu não me lembro. Era uma cantora, a primeira vez que uma cantora puxava um samba de uma grande escola, ele se baseou nisso. Tanto que dois anos depois ele me convidou para ser a madrinha da Banda de Ipanema, uma honraria, quando o foi o padrinho.

No desfile da Império Serrano “puxando” o samba vencedor

134 135 136 Vamos contar a história do Marlene Olé, Olá. Não chegou a um ano, mas ficou alguns meses. Estreou em janeiro, ficou até quase o meio do ano. Teatro Glória, até porque a Império Serrano ganhou, fazia 16 anos que não vencia, isso me lembro bem, achei uma coisa incrível, 16 anos sem vitória. O interessante desse ano é que o enredo era do grande carna- valesco Fernando Pinto. Agora, o curioso do carnavalesco que eu achei na escola, cada ala tinha uma atriz ou cantora perso- nificando Carmen Miranda – numa ala a , em outra era Marília Pêra, na terceira era Miriam Pérsia. Em outra ala Rosemary, Isabel Ribeiro – cada ala tinha uma atriz ou cantora personificando. Eu cheguei a gravar o samba enredo pela Som Livre, os dois sambas vence- dores. E a Elis Regina regravou com outro andamento.

Aí depois de Marlene Olé, Olá, o Carnavália, que tinha sido grande sucesso em 1968, voltou em temporada no Teatro Opinião. Mas retornou em dois lugares, aqui no Opinião e no restaurante/boate Grizing, em Ipanema. A Eneida já tinha falecido e no Teatro Opinião era apresentado pelo Albino Pinheiro e o Nuno Roland, o Blecaute estava doentinho, e quem apresentava era o Paulo Marquês. Foi uma remontagem, era a mesma coisa do Teatro Casagrande.

Fiz O Botequim, do Guarnieri (Gianfrancesco) em 1973. Eu estava atuando no show do Teatro Glória, o Olé, Olá, quando o Orlando Miranda foi me ver, pois a ideia inicial da peça era um musical, um grande musical passeando pelos ritmos brasileiros estreando no teatro dele, o Princesa Isabel, em Copacabana. Feito o convite, ele demorou a retornar e fiquei me perguntando o que tinha acontecido? O Orlando me disse que o Guarnieri sentou-se à máquina de escrever e não saiu um musical, mas sim um drama: o Botequim, com as

Na peça Botequim

137 Elenco de Botequim em 1973, em pé: Jorge Chaia, Oswaldo Louzada, o Louzadinha, Isolda Cresta, André Valli, Thaia Perez, Pascoal Villaboim e Otavio Cesar. Sentados: Eduardo Tornaghi, Ivan Cândido, Marlene e Alvin Barbosa.

138 músicas do Toquinho. Eu não me lembro se ele mandou logo o texto, mas aceitei fazer a peça, que contava no elenco com Isolda Cresta, Louzadinha, Eduardo Tornaghi, com direção de Antonio Pedro.

Lembro-me que havia uma cena que eu tinha que transar com uma menina mais o Ivan Cândido, o ator principal, mas não conseguia. Cheguei a ligar para aquela menina da banana pra perguntar como eu fazia.

(A atriz Wilma Dias, precocemente falecida em 1991, de infarto, que ficou famosa ao sair de uma casca de banana no programa humorístico Planeta dos Homens, da TV Globo)

E ela me disse: vou te ensinar um truque, coloca o braço assim no rosto e finge que esta transando com a linguinha lá. Ninguém vai ver. Mas não adiantava, não conseguia fazer, pois tinha muito preconceito naquela época. Aí, um dia num ensaio larguei tudo e fui embora pra casa e quando cheguei contei pro Paulo. Ele falou:

– Marlene, voce é atriz ou não?

–Não posso fazer isso, não sinto.

Mas o Orlando ficou me ligando pra me convencer a voltar porque a peça ainda estava na fase dos ensaios e eles me queriam mesmo por essa parte em que fiquei travada. Era uma cena muito forte de ter que fazer e repudiei. Aí, quando o Paulo me falou a Isolda veio e me carregou para o teatro, fui para o meu camarim, o Antonio Pedro me chamou e fiz a cena subindo pelas pernas da menina. Eu sei que a cena foi tão forte que estavam Toquinho, Guarnieri, Orlando Miranda e Carlos Miranda na plateia pra ver o ensaio e sei que os homens ficaram excitadíssimos. Fiz uma cena maravilhosa! Veio a es- treia em Brasilia e a Dulcina estava lá e foi um negócio incrível, pois também tinha muita mocidade lá. Quando acabou a peça, a Dulcina foi falar comigo e me disse: a peça é magnifica, mas não havia necessidade nenhuma de você fazer uma lésbica. Fiquei assustadíssima e acho que a censura foi em cima sim, cortando essa cena. Viemos para o Rio, para o Teatro Princesa Isa-

139 140 Com Ziembinski, Roberto Pirilo e Louise Cardoso na peça Quarteto Marlene e

141 bel, lotado, e levei um susto, pois não imaginava essa repercussão – já sofrera tanto no ensaio e depois cortam! Mas o Botequim foi um sucesso impres- sionante, no João Caetano foi muito sério. Não, a Dulcina não deve ter feito por maldade, mas repercutiu. E me livrou do preconceito, pois não tive medo de mais nada, faço qualquer coisa em teatro!

Em 1974 fizA Dama de Copas e o Rei de Cubas, uma peça maravilhosa até porque trouxe o Rivelino que está comigo há 38 anos

(Trata-se de um papagaio que fica em uma gaiola, na sua casa, meio cego já, conversador).

Em 1976 fizQuarteto, de Antonio Bivar, o último trabalho do Ziembinski que dirigia e atuava no Teatro Ipanema com Louise Cardoso e Roberto Pirilo que me lembro. O ano de 1979 foi marcado pela Ópera do Malandro, do Chico Buarque, pra estrear em São Paulo e ele foi me convidar lá no Recreio, pois eu já tinha vendido o apartamento da Julio de Castilhos e estava morando nessa casa enorme. Ele foi junto com o diretor Luiz Antonio Martinez Correa e lembrou que agora eu tinha que aceitar o convite, pois antes havia me convidado para o Canecão com ele e não fiz. Lembro-me que foi noTeatro São Pedro, eu fazia a Vitoria Duran e a minha filha era a Tania Alves. Não era o primeiro papel até porque todos eram ótimos, mas sei que dei conta do recado correndo o Brasil todo.

Fiz, em 1982, A Mente Capta, do Mauro Rasi, direção do Wolf Maia, adorei ele. Só não entendi o Diogo Vilela falar em entrevista de época que o nervo- sismo dela (Marlene) me ensinou exatamente o que um ator não deve fazer em cena, como ele deve se comportar no palco. A Marlene me incomodava, não tinha técnica. Ela é uma boa atriz, sente de verdade o que está fazendo. Não é atriz por natureza, aliás, nem atriz ela é, ela é uma intérprete musical. O negócio, o forte dela, é cantar. Enfim, seu nervosismo foi um ensinamento de como um ator não deve agir em cena.

Meu último trabalho em teatro foi em 1991 com Céu de Asfalto, do Bertold Brecht, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) com músicas do Kurt Weill e

Marlene na peça A Ópera do Malandro

142 143 Marlene com Sérgio Ricardo e Chico Buarque

144 gostei tanto que gravei em meu CD Estrela da Vida a música Surabaya Johnny. Gostei, gostei muito de trabalhar também com o Sérgio Brito. Foi muito bom o convívio, muito gentil. Lembro de um dia na peça do branco que me deu, não deu pra continuar e avisei para o público voltar no outro dia que já estaria boa. Foi um apagão mes- mo, mas fui aplaudida em cena aberta. Aí no ano seguinte estreio o Te Pego pela Palavra, na Boate Number One, 1974. Show sozinha com músicos, que era do Hermínio Bello de Carvalho.

Nossa! Eu costumo dizer que o Te Pego pela Palavra foi um divisor de águas mesmo já tendo feito o Carnavália e o É a Maior mas o Te Pego pela Palavra foi onde eu pensei: agora minha carreira vai ser assim! Como? Apresentando compositores que não tinham absolutamente nome nenhum, e eu abracei o repertório deles, fui a primeira a cantar esse repertório desses grandes compositores de hoje. Que era o Milton, era o Gonzaguinha, João Bosco, . Todos eles, essa nova safra de compositores.

Foi um divisor porque mudou mesmo a minha carreira que tomou um novo curso, um novo rumo. A partir desse espetáculo, fui incluindo mais pessoas que foram surgindo depois, , fulano, beltrano, sicrano. Os shows feitos foram ficando com esse repertório e pegando outros compositores. Fazia uma seleção junto com o Hermínio, ele apresentava e eu apoiava. Ele colhia material, a pesquisa, aí tem essa música, essa. E teve uma, um compositor que eu gostaria de ter incluído que foi o Oswaldo Montenegro. Ele mostrou uma música que adorei, cheguei a decorá-la, e fiquei muito triste porque não entrou. Até hoje me lembro e fico triste. Mas o espe- táculo começou a ficar muito grande e foram cortadas algumas canções. Não cabia mais.

145 146 E só para citar outra curiosidade: teve uma música – que depois se tornou muito famosa por outra intérprete –, também cortada, que foi o Kid Cavaquinho, que depois a Maria Alcina gravou. Ele tinha feito para mim, para entrar no espetáculo. É, o João Bosco.

Te Pego pela Palavra, o que quer dizer isso? Eu não entendia por que esse título, e não tinha confiança para perguntar. Hoje eu sei que a palavra é muito mais importante que qualquer coisa, ela eleva ou destrói.

Com esse show eu corri o Brasil, foi esse espetáculo que a Elis Regina quis patrocinar, com a sua empresa Trama, pra excursionar pelo Brasil. Fiz alguns Estados, mas ela não me pagou naquela época. Eu sei que, muitos anos depois, ela mandou um cheque para mim de sete mil e pouco, por essa excursão que estava devendo. Não sei, não sei quanto valia sete mil e pouco, eu não sabia. Como até hoje não sei. Tem outra coisa comigo, mas isso é uma coisa que aconteceu com o pai dela: eu não sei nem se eu devo dizer isso, que o pai dela quando me viu me abraçou e disse: Minha filha te adora, minha filha te imitava, tudo o que você fazia, ela fazia lá no Sul. Ela ouviu e deu um chega pra lá nele. Foi no Tuca, que aconteceu essa história da Elis.

Te Pego pela Palavra, já falamos, estreou no Number One. Aí em 1976 fui convidada pelo Caribé da Rocha para fazer Ritmos do Brasil. É, o mesmo Caribé da Rocha do Copacabana Palace e ele me convidou para fazer o Ritmos do Brasil, no Hotel Nacional, com grande elenco e foi maravilhoso porque fiquei um ano ali com esseshow junto com Nora Ney, Jorge Goulart e Trio de Ouro, e eu era a grande atração. Ficou um ano e pouco em cartaz e só não podia viajar porque a peça era realizada todas as noites.

Só dava para fazer shows como o Seis e Meia, pois me lembro que fiz um espetáculo da série com o Gonzaguinha, foi o primeiro Seis e Meia, com direção do Hermínio Bello de Carvalho em 1976. À noite eu fazia o show e durante uma semana, o Seis e Meia. Eu atuava na primeira parte, ele na segunda, depois cantavámos no final juntos. Ele me adorava. É, porque ele

Marlene com Hermínio Bello de Carvalho e Gonzaguinha

147 era muito tímido. Inclusive, ele só tocava violão sentado e fui eu que tirei isso dele. Falava pra ele: Você tem que levantar e abrir os teus braços. Você é muito grande, você tem que passar isso. E devagarzinho, devagarzinho foi levantando, e explodiu para aqueles todos que tiveram a felicidade de assistir. Para mim ele foi o maior compositor brasileiro.

Fiz quatro shows com ele pelo Brasil inteiro. Depois realizamos a dupla no Pixinguinha com quatro shows. Fauzi Arap dirigiu um, em 1977, é montada a série de espetáculos que leva o nome do Projeto Pixinguinha. Eu e Gonzaguinha estreamos no Teatro Dulcina, em seguida percorremos toda a região Sudeste do Brasil e era um negócio, era um sucesso tão grande, eu me lembro muito bem de Belo Horizonte pois foi um negócio impressionante. Teve uma apre- sentação em São Paulo e no Nordeste.

Aí depois em 1980. Época de uma pequena apresentação do Te Pego pela Palavra no Teatro Castro Alves, em Salvador, na Bahia, seguida de outros Estados, voltando, em 1980, para o Projeto Pixinguinha, no Teatro Dulcina, com o João Bosco, fomos para a região Sudeste. Com o João Bosco a música mais marcante era o Dois pra Lá e Dois pra Cá, mas que eu já cantava no Te Pego pela Palavra. Com o Gonzaguinha era Galope, que, sem a menor dúvida, é marca registrada. Com o João, fazíamos pequenos solos juntos assim, o João entrava quase no meio da música, alguma coisa assim. Essa Dois pra Lá e Dois pra Cá a Elis gravou, foi a primeira gravação, horrorosa. Quando ela me contratou viu que essa música estava no meu show, regravou com a mesma interpretação que eu. A gravação que toca até hoje da Elis, é a mesma gravação.

Agora vamos para 1981 fazendo o Projeto Pixinguinha, estreando no mesmo Teatro Dulcina, dirigida pela Thereza Aragão, contando ainda com as partici- pações do Antônio Adolfo e da Vanda Sá. Encontro de três gerações, com gêneros completamente diferentes. Antônio Adolfo uma coisa, Vanda Sá outra coisa, e eu, Marlene. Agora, nesse show com a Thereza Aragão, canto pela primeira vez Meu Guri, de Chico Buarque, que só gravei anos depois. Foi a música que chamou a atenção de algum produtor do meio teatral que

148 foi ver esse espetáculo e sugeriu o meu nome para a peça Um Céu de Asfalto. Eles estavam querendo uma atriz cantora para fazer o personagem com o Sérgio Brito. E a pessoa se encantou, e foi decidido, a Marlene vai atuar. Aí, fiz esseshow que também viajou para o Norte, esse espetáculo do Projeto Pixinguinha. Depois, em 1982, estreio a série de espetáculos na sala Funarte, era o projeto Carnavalesca, um show do Ricardo Cravo Albim, Na Boca do Povo. Esse foram duas temporadas de muito sucesso. Enormes, e outra coisa, tivemos que repetir. Eram brigas imensas pra conseguir lugar. No mesmo ano, em novembro, voltei ao Seis e Meia com o espetáculo Um Dia na Rádio Nacional, com direção do Haroldo Costa, que era um espetáculo do Seis e Meia durante uma semana, contando a história da emissora.

No show É a maior

149 Entrando em 1986, mais Seis e Meia, só que no palco do Teatro Carlos Gomes. É no outro lado da Praça Tiradentes seguido do Nem Luxo nem Lixo, direção do Roberto Azevedo. Aí o Roberto, que era também um admirador ferrenho e um diretor e ator maravilhoso, fez um repertório sensacional. Já no Seis e Meia comecei com . Cantava Rita Lee com Nem Luxo nem Lixo, cantava Rock da Periferia do , cantava aquela do Martinho da Vila, À Volta da Fogueira. E cantava uma música que ficou como marca minha que é Como uma Onda, do Lulu Santos e Nelson Motta. Foi nesse Nem Luxo nem Lixo. Um repertório bem eclético, bem moderno. E cantava outras músicas dos que estavam começando a surgir, os bons compositores de pagode, como algumas coisas do Marquinhos Satã, que era ótimo. Ele começou com a Jovelina Pérola Negra em shows do Seis e Meia também e eu cantava músicas da Jovelina Pérola Negra e do Marquinhos Satã. No começo de 1984, volto com a Série Carnavalesca da Funarte, fazendo É com Esse que eu Vou, que retratava a vida do Pedro Caetano, direção do Ricardo Cravo Albim, contando ainda com o conjunto Céu da Boca. E ele participava também, o Pedro Caetano. Aí nesse mesmo ano, faço a Série Carnavalesca, que dura alguns meses, na Sala Funarte. Aí no final do ano vou para o Teatro João Caetano com o Céu da Boca.

Vou para o Teatro João Caetano, retornando ao Seis e Meia, com a direção do Roberto Azevedo de novo, fazendo um espetáculo de nome Este Samba É Fogo, meu Senhor, um disco que eu tinha feito, um compacto, para o carnaval desse ano, que era um samba do Ney Lopes, O Samba É Fogo. E do outro lado um samba do Noca da Portela. Não tinha essa coisa de gravar

Cartaz Sala Funarte

150 um compositor só, não, foi um compacto inde- pendente que se gravou no estúdio do Artur Verokai, aqui na Siqueira Campos, patrocinado pela Associação Marlenista, a Amar. E aí gravei isso para o carnaval daquele ano. Então a gente achou por bem colocar o nome do espetáculo do Roberto Azevedo de Este Samba É Fogo, que era o título do compacto. E fiz bons programas de televisão, Fantástico, vou a São Paulo ao , tudo baseado nesse compacto, a gente conseguiu isso da mídia. E agora nesse mesmo ano viajo com o espe- táculo para São Paulo e algumas capitais, o É com Esse que eu Vou, dentro do Projeto Pixinguinha. Volto de novo ao Projeto Pixinguinha, e viajo com o espetáculo que tinha passado na Funarte, que é o da vida do Pedro Caetano, viajando para várias capitais.

Em São Paulo foi um sucesso também. Volto ao Rio, faço mais um Seis e Meia no Dulcina, nessa época os Seis e Meia do João Caetano tinham cessado um pouco as apresentações. Problema de patrocínio e essa coisa toda. Aí faço uma semana no Teatro Dulcina, em um show dirigido de novo pelo Roberto Azevedo, que se chamava Aberto para Balanço, que tinha a Rosinha de Valença no violão. Seguido de show na Sala Funarte, outra atuação deslumbrante, que é A Praça Onze dos Bambas, direção do Ricardo Cravo Albim, conside- rado o melhor do ano. Mais viagem no Projeto Pixinguinha com esse show que tinha também as participaçãoes especiais do Zeca do Trombone, Alceu Maia e do maestro Aécio Flávio. Em 1986 vou com o espetáculo lá no Seis e Meia que estava voltando para o Teatro João Caetano.

Depois no Teatro Carlos Gomes atuo no Estrela da Vida – o nome da música que fiz está no CD e tinha participação do Paulo Baiano, eu me lembro que eles cantavam no piano, e era um show com dois diretores, era o Albino e o Roberto Azevedo, no Carlos Gomes. Em 1987 vou para a Boate People fazer

Cartaz do Seis e Meia

151 o Aberto para balanço, que tinha a Rosinha de Valença, pegaram, enxugaram esse show, do Aberto para Balanço, e fomos para a Boate People. Ainda em 1987 volto para a Sala Funarte naqueles espetáculos maravilhosos, que é Prazer em Conhecê-lo, sobre a vida do Custódio Mesquita, com as participa- ções de Rosana Toledo e Marcos Sacramento, direção de Érico de Freitas. Em 1988 vou para a boate do Hotel Sheraton fazer o espetáculo Eterna Rainha, uma temporada pegando janeiro e fevereiro aproveitando o movimento do verão mais o carnaval.

Aí faço um show no mesmo ano no Teatro João Caetano, em homenagem à cidade do Rio de Janeiro, São Sebastião, essa coisa toda, eu com o Trio de Ouro. Claro que eram outros cantores, pois a Lourdinha já tinha morrido, era outra pessoa, a Shirley Dom, com o Herivelto e o Raul Sampaio. Nesse mesmo ano fui convidada, pelo Orlando Miranda e pelo Miguel Falabella, para me apresentar no show de entrega do Prêmio Mambembe, Troféu Mambembe, no Teatro João Caetano, um prêmio importantíssimo de teatro. Foi uma ovação, pois entrei apresentada pelo Falabella, Stella Miranda, que não era nem muito conhecida, e Vera Holtz. Faço o show e é um prêmio que, era uma garotada de teatro, o João Caetano abarrotado, muito aplaudida. E a plateia toda de grandes personalidades que estavam concorrendo ao prêmio, Nathália Timberg, fulano, beltrano e sicrano. Começo timidamente, depois domino a timidez com a música do Botequim, que é a Canção do Medo, do Guarnieri e do Toquinho. O espetáculo vai num crescente, num crescente, numa coisa, e terminei o espetáculo cantando a história do enredo da Vila Isabel, de alguns anos atrás, que fala que naquele ano o Flávio Rangel foi convidado para fazer o enredo da escola, parece que era o carnavalesco, que contava a história do teatro brasileiro, e ele havia me convidado para

152 levar o samba-enredo. Aí termina todo o elenco, os premiados, cantando o samba carnavalesco da Vila Isabel.

No ano seguinte, 1989, volto para a segunda temporada da boate do Sheraton, Eterna Rainha 2, atravessando janeiro e fevereiro. Esse eu me lembro que me convidaram para continuar, mas não aceitei porque fiquei cansada. E depois viajei pela região Nordeste com o Projeto Pixinguinha. Depois veio Alô, Alô Brasileiro no Teatro Rival, também de 1989, com roteiro musical de Ricardo Cravo Albim, e direção do Maurício Abud, o maior sucesso. Alô, Alô Brasileiro é outro divisor na minha vida, acho. Eu abria esse espetáculo cantando Eu sou Neguinha, do . Cantava Cazuza, Caetano Veloso, Chico Buarque, e nesse espetáculo voltei a cantar Meu Guri, do Chico Buarque. Quase dez anos depois. E era fantástico esse show, eu também tenho ele todo em CD gravado, é primoroso. Tem a critica maravilhosa da jornalista Regina Etcheverria; a crítica da Maria Helena Dutra, do Alô, Alô Brasileiro. A crítica da Regina da revista IstoÉ, que eu adoro essa foto, ela colocou no meio do cenário que tinha na entrada daquela Sala Funarte, com aqueles adereços carnavalescos. Tudo que ela fala aí eu concordo, a Maria Helena Dutra. Alô Brasileiro, que é mais ou menos aquilo que está na crítica do comentário da Maria Helena Dutra, que foi um show maravilhoso, excelente. Foi uma pena ele ter começado no Rival, ficou quase um mês ali, na época em que tinham temporadas maiores nesse teatro, e não viajou nem nada, morreu ali. Era um espetáculo que deveria ter sido gravado, documentado em vídeo para virar hoje um DVD.

153 Capítulo X Cinquenta Anos de Carreira e Shows na Década de 1990

A década de 1990 começou com show da Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro, e no Centro de Artes, daquele colégio ali, da Calouste Gulbenkian, eles começaram a ter projetos. Fiz várias temporadas e em 1991 realizei o Viva Marlene, um show, coletânea de todos esses espetáculos do meu repertório, repetido em 1994. Depois em 1992, vou para São Paulo fazer uma apresentação no Vale do Anhangabaú, em praça pública, um show aberto e um projeto que estava sendo realizado na época lá no Museu da Imagem e do Som. Esse aí do Vale do Anhangabaú foi uma coisa muito bonita. Tinham muitos pivetes ali, eu não conhecia ninguém, os pivetes aplaudiam muito, essa é das nossas, essa sabe tudo, diziam. O repertório era um pouquinho do É a Maior, um pouquinho do Te Pego pela Palavra, dos Seis e Meia da vida, Alô, Alô Brasileiro. Uma mistura de sucessos. Fazia também uns projetos na época, também em 1993 na Cinelândia, eram shows, projeto Menu Cultural, que era todas as quartas-feiras. Na praça, ali na Cinelândia mesmo. Depois eles começaram com uns projetos na praia também, uma ou duas vezes por mês, que era no Leme. Projeto Aquarela Brasileira. Vários artistas passaram, foi na Praça do Leme, e fizÉ com Esse que eu Vou, com o Pedro Caetano, um show que já vinha com uma carreira da Funarte, São Paulo, de tudo isso. Em 1995 fui convidada, aí já estava lá no Shopping da Gávea, lá onde tem o Teatro dos 4, aí aquele corredor de teatros, o Falabella pegou aquele espaçozinho e transformou no Teatro dos 4. Ele pegou aquele espaçozinho da antessala do teatro, e fazia ali um show só com cantoras, o Chá das Chiques, passaram várias, e fui fazer esse Chá das Chiques lá. Fiz com muito sucesso com direção do Falabella.

Aí eu enfartei. Aí enfartei numa sexta-feira carnavalesca. Não, enfartei indo para lá fazer o espetáculo ainda morando na Rua Paula Freitas, na esquina com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Eu telefonei para a portaria

Desenho de J. Luiz

154 155 156 para tirarem o meu carro, que estava na garagem, pois ainda dirigia. É, adorava, corri também como profissional, tive aulas com o Manoel de Tefé, o corredor do circuito do Trampolim do Diabo na Avenida Niemeyer, tive duas classes como corredora, larguei por causa da mamãe. Eu estava esperando na portaria o carro subir. De repente eu comecei a sentir uma coisa estranha em mim, aqui, uma dor, era o enfarto, eu mesma achei que era. Eu estou infartando. Fui tirando roupa, fui tirando roupa. Abrimos a porta de casa, e eu não sei mais. Eu sei dizer que de repente apareceu um médico daqui da clínica, uma clínica que tem ao lado do prédio onde eu morava, na Avenida Copacabana. Eu estava com a Glória, a minha secretária, e a Almerinda, a acompanhante e camareira. A Glória foi providenciar o médico, na hora ali. Eu disse: Meu Deus do Céu, vocês têm que correr logo aqui e chamar um médico. Eu sei que me colocaram na cama, depois vi que o colchão estava ensopado, fiquei sabe, parecia que estava debaixo de um chuveiro, aí me levaram para o São Lucas, o doutor Noé Costa, que é o meu cardiologista, me salvou. Foi um infarto, infarto mesmo.

Aí a temporada foi cancelada por um tempo. Isso foi em uma sexta-feira de carnaval, e tinha espetáculo, esse espetáculo Chá das Chiques, era cedo, ás seis e meia, sete horas. E na terça-feira de carnaval eu tinha uma apresen- tação em um baile, numa casa de espetáculos, no Metropolitan, na Barra, que era um baile gay que ia ter lá, e eu ia ser a grande atração do baile que era patrocinado por aquele empresário de São Paulo, o Poladian. E eu não fiz, lógico. Quem me substituiu nessa apresentação foi a Elza Soares. Levei um mês e pouco, quase dois. Aí quando me recuperei, voltei ao Chá das Chiques e continuei a temporada.

Eu nunca consegui viver em ritmo mais calmo e por isso não alterei muito a minha vida não. É, foi stress sim. Eu fiquei internada, a casa continuou e devo ter permanecido um mês no hospital e depois que voltei para casa segui a vida normal. O cardiologista é o mesmo até porque já tive mais quatro enfartos. Voltei para o show, continuei a minha vida, agitada como sempre. Aí depois, isso foi em 1994, em 1994 vou a São Paulo receber o título de gratidão da cidade. Uma cidadã paulistana, uma coisa assim. Aí fui fazer

157 esse espetáculo em São Paulo, o show foi na Biblioteca Estadual de São Paulo. Foi tão bonito!

Depois, já no final de 1995, fiz o espetáculo comemorativo dos50 anos de carreira no Canecão, que levava o nome de 50 Anos de Alegria, era dirigido pelo Túlio Feliciano, com patrocínio da Amar (Associação Marlenista), que bancou o Canecão, tudo, alugamos, tudo isso. Meus 50 anos de carreira foram comemorados com show de uma única noite que lotou o Canecão de convidados e público pagante.

Ainda no início de 1996 fiz um projeto também, era noShopping Plaza lá de Niterói, eles estavam realizando uma semana de homenagem ao rádio. Aí fiz umshow na praça de alimentação, vários artistas participaram, tinha uma exposição nos corredores desse shopping. Esse mesmo espetáculo do Canecão, com pequenas modificações, fiz durante uma semana nasala Funarte, uma temporada, o nome do espetáculo era Viva Marlene dirigido pelo Érico de Freitas, comemorativo dos 50 anos de carreira. Em 1996 fui convidada para um espetáculo comemorativo dos 90 anos de Braguinha, foi no Centro Cultural Banco do Brasil. Cada dia era um artista, cantando o repertório do homenageado. Em 1997 foi no Metropolitan. Em 1998 fiz durante uma semana no Teatro João Caetano, dentro do projeto Seis e Meia, O Carnaval de Marlene, uma semana antes do carnaval. Aí foi fazendo assim, o show da virada do milênio fiz aqui na praia de Copacabana, aqueles espetáculos carnavalescos que tinham na passagem do ano, aí depois veio o projeto Carnaval na Cinelândia, com aqueles bailes públicos ali. Aí participei de um projeto também, da Rua do Lavradio, aquele corredor de antiquários foi restaurado ali, aí eles fizeram... Plínio Froés é o dono dali. Aí eles fizeram um projeto assim, todo sábado de cada mês, eles realizaram o As Cantoras do Rádio. Eu abri esse projeto na Rua do Lavradio onde passaram várias cantoras: Dóris Monteiro, Emilinha e outras. Depois vou a São Paulo, no mesmo ano de 1999, fazer o show no Sesc Ipiranga, lançando o CD Estrela da Vida, que foi gravado em 1998, mas em 1999 fui lançar esse CD. Aí depois tem espetáculo de um dia só, aniversário da Gafieira Elite, projeto do Largo da

158 Carioca, da Secretaria Municipal de Cultura. Aí depois, no final de 1999 o Metropolitan pegou alguns artistas que tinham passado desde a inauguração do Metropolitan, cada dia da semana era um artista, acho que durou uns 15 dias isso. Aí voltamos fazendo o show do diretor Régis Cardoso, que era A Virada do Milênio. Eles remontaram o espetáculo e tinha um acréscimo de um cantor, que era o Agnaldo Timóteo que entrou nessa jogada aí. Para mim foi meio uma jogada política. Eram os mesmos artistas e Agnaldo Timóteo. Aí depois a mesma coisa, 2000, e em 2001, a virada do milênio com show na praia de Copacabana de novo. Eram à noite. Como estavam inaugurando outra casa de espetáculos lá na Barra, que era o Garden Hall, eu nem sei se ainda existe, fiz uma noite, terça-feira de carnaval. E não me pagaram. Fiz e não pagaram. Depois, no mesmo ano, um show de duas noites ali no Centro Cultural Carioca, Na Batucada da Vida, direção do Vicente Maiolino. Depois fui, em 2002, fazer um show de aniversário da Cidade de São Paulo, O Baile da Saudade, realizado pela Prefeitura. No mesmo ano fui a Petrópolis fazer um show também de uma noite, Ouvindo o Vinil, no Sesc Petrópolis. Aí faço uma abertura do carnaval de Angra dos Reis e Carnaval da Cinelândia de novo. Depois, show no Sesc Ipiranga, quando eles restauraram o filmeTudo Azul. Aquele primeiro, do Lata d’Água, com o meu primeiro marido, o Luiz Delfino. E o último show montado da minha carreira foi em 2000 também, que foi o Marleníssima no Teatro Rival, escrito por Ricardo Cravo Albim. Eu cantava somente o meu repertório.

159 Capítulo XI Marlene e seus Figurinos

Eu não sei explicar esse meu jeito de apresentação, de gesticulação, não sei por que surgiu isso, não sei explicar. Mas tinha um estilo próprio em tudo, e sempre tive essa preocupação com a roupa de cena, acredito que todo artista tenha. Ao longo do tempo, das viagens internacionais fui apurando o gosto. Isso me fez lembrar uma nota que eu li, foi minha primeira crítica no Cassino Icaraí. Dizendo que veio uma cantora de São Paulo, que precisava ter um retoque melhor no ca- belo, na indumentária e na maquiagem. Na época, eu queria uma coisa exótica, diferenciada. Não tinha preocupação de aparecer bem, era eu ficar satisfeita com o que estava fazendo, uma coisa muito pessoal. Mas o figurino era um comple- mento e eu já chegava dizendo: estou com uma ideia assim, assim e assim, o que você acha? Da minha cabeça. Eu nunca tive preocupação de copiar, fui aprenden- do, olhando. Eu me lembro que o Christian Dior perguntou onde tinha aprendido a me vestir. Foi em Paris, sim, mas eu não tinha preocupação de ser. Tinha Mary Angélica e Aidê Mesquita, as duas figurinistas que faziam minhas roupas. Eram as duas grandes da época, mulheres maravilhosas, elas costuravam para toda a nata da sociedade. Só para a sociedade. Era a época do high-society. Elas tinham muito poucas artistas, mas eu estava incluída. Eu fazia quatro figurinos por ano acompanhando as estações. Fora isso, se tinha uma apresentação especial, fazia fora desses quatro, obrigatório para mim. Eram trajes para todo verão, inverno, outono e primavera. No todo, o social e o de cena. Longos e curtos. Traje social e esporte. Nunca comprei em butiques. Os sapatos sob encomenda, você sabe, os sapatos todos sob encomenda. Ah! Era um lá em Botafogo. Fiz parte sim da lista das dez mais elegantes. Já tinha e entrei na do Jacinto.

(Jacinto de Thormes, pseudônimo do elegante jornalista Maneco Muller, o pioneiro do colunismo social no Brasil, falecido em 2005. Ele pinçou o Jacinto, do livro A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz.)

Do Jacinto e outros. Porque tinha essa lista do Jacinto de Thormes e logo de- pois veio a lista do Ibrahim (Sued), mas nessa época havia também a lista das

160 Figurino vencedor de Clodovil

161 dez mais elegantes de algumas revistas, como a Fon-Fon. E a Revista do Rádio era célebre com a sua lista das dez mais elegantes, nem sempre era uma lista justa, porque também tinha uma coisa meio para agradar, mas dessa participei durante muitos anos. Eu também fiz uma coluna de moda semanal na revista Radiolândia, falando de moda em que as pessoas mandavam os figurinos, os croquis. Foi quando o Clodovil mandou um croqui. Estavam fazendo um concurso, qual o melhor traje para eu usar, e vários figurinistas do Brasil inteiro mandaram seus croquis para lá. Aí, no final de alguns meses, foi publicada a foto do vencedor: Clodovil.

Eu tenho a página e o desenho. Anos depois, na década de 1980, ele sempre falou nisso a vida inteira. Anos depois ele já com um programa na TV Bandeirantes, na estreia, fui uma das convidadas. E ele fez o traje da revista com um fundo musical tocando a minha música com a Dalva de Oliveira, A Grande Verdade, eu sentada com ele e a modelo veio desfilando, aí fez uma montagem. Era assim: a modelo vem com uma roupa, e depois num corte, apareço no topo da escada com a modelo.

(Clodovil, em entrevista ao jornalista Ronaldo Bôscoli para a extinta revista Manchete, relembrou esse episódio: Um dia apareceu lá em casa uma revista Radiolândia com um concurso para um modelo que mais agra- dasse à cantora Marlene. Sem a menor esperança, mandei o meu trabalho e ganhei. Não me pergunte como eu desenhava modelos tão bem. Hoje espiritualista que sou, tenho certeza: baixa um santo que me aguça o sentido e a sensibilidade. E depois daquele teste com Marlene co- mecei a ficar seduzido pela ideia de tentar a vida na capital de São Paulo.)

Sempre gostei de moda, achava chique. Eu olhava muito na coisa vulgar e na coisa chique, o que achava chique eu usava, o vulgar sempre me afastei. Agora, de onde veio isso eu não sei. Não sei, pode ser uma coisa inata, da mesma maneira como o gesticular no palco. Uma mise-en-scène. Ao ponto do Dior perguntar onde eu aprendi a me vestir. E nem sei o que respondi. Nem sei o que eu achava ou acho chique ou o que nunca usaria, engraçado mas nunca pensei nisso. Só sei que todas as revistas, as publicações da

Marlene e Clodovil no programa Clo para os íntimos de 1986

162 163 Em 1961 com seus figurinos nota 10

164 165 época diziam que eu lançava moda. Não, não. Era o contrário. Eu ficava muito chateada, porque eu na Rádio Nacional tinha uma roupa especial para cada programa. Não repetia roupa não. Na semana seguinte tinha gente com o meu vestido. Eu ficava danada, eu ficava muito chateada. Puxa vida, eu bolo as coisas, chego aqui e qualquer modista fazendo. Então eu queria que todo mundo se vestisse bem, mas não copiasse.

(Vale registrar que a altura de 1,72 m e a silhueta magra valorizavam sua figura em modelos complementados por elegantes chapéus.)

Com o cabelo também era a mesma coisa. O meu cabeleireiro era o Renault. Eu tinha um cabelo aqui, na cintura, no começo de carreira. Quem cortou o meu cabelo foi o Renault quando fui Rainha do Rádio, a pastinha, colocaram o nome de pastinha. Virou moda, ele criou um penteado, tirou aquele cabelão enorme que eu usava solto assim para o lado, ou então prendia o cabelo assim, usava preso, tem umas fotos aí de época que tem isso. Quando da eleição da Rainha do Rádio, o Renault cortou esse cabelo: vou criar um visual novo para essa coisa, para a coroa. Foi exatamente isso. Gostava também de um chapéu porque se usava muito e todo traje tinha chapéu. Eu aprovava, tinha que aprovar a roupa. Não tenho cor preferida, depende do tempo. Eu não tinha essa preocupação não. Nunca me meti em nada, eu queria me olhar no espelho e dizer, é isso que eu queria, está certo o que eu quero. Não sei se eu era bonita, eu acho que não era bonita. Era tida como uma mulher diferente, uma mulher exótica. É, fugia dos padrões de beleza. Eu era muito chique eu acho, mesmo não sabendo o que era chique. Tudo veio assim sabe, brotavam, as coisas brotavam na minha cabeça, eu nunca tive a preocupação de copiar. Eu gostava de qualquer perfume francês mas hoje, depois do banho, é uma água de colônia. Eu gosto do cheirinho do sabonete. Na minha época eu tinha maquiador sim. No Copacabana era o Fernando de Barros, que depois foi casado com a Maria Della Costa, um produtor, um homem de cinema, de teatro, das artes. Cabeleireiro era o Renault, depois passei para a Camile. Selmar e a Camile. Fazia uma dobradinha com o Selmar, ele trabalhava no mesmo salão, o Rafinée, no posto 6. Nessa época do Renault me acompanhou, 1957, quando voltei de Paris, com aquele famoso

166 A cantora elegante

167 168 cabelo todo repicado na frente, foi o corte dele. Todos os cortes foram dele. E o Renault me disse que o substituto dele seria a Camile. Quando fui morar no Recreio dos Bandeirantes, o Renault era vizinho, tinha uma casa próxima. Isso de deixar de frequentar o salão, não estremeceu a relação. Agora, esses anos todos foi a Camile que ficou aí, com a maior frequência foi a Camile. Em Paris mesmo, frequentei muito salão, mas não gostei, engra- çado. Esse cabelo que apareceu na televisão agora, vermelho, eu usei, foi um escândalo.

Mas em toda a minha carreira sempre fui assim bastando lembrar do tempo dos shows na praia promovidos pela Nacional em Niterói. Uma dessas apresentações desse programa do Paulo Gracindo foi na praia de Icaraí, aos domingos. Na praia, ao vivo. Então as ruas eram todas fechadas. Feriado. As ruas todas que convergiam para a praia de Icaraí, todas fechadas, porque tinha aquele elenco todo culminando comigo. Fiz esse show na praia vestida completamente diferente de todas as outras cantoras que se apresentaram: de short, bonezinho, com um bustiêzinho de um biquíni, com um óculos imenso, cara lavada e o Delfino de bermuda. O dia todo, umshow praiano, nada de vestido, uma coisa diferente. Calça comprida usei cedo. Nessa época, até antes. Eu fui multada por usar calça comprida! E eu dizia: como? Nesse horário? Em pleno verão, em uma época como essa, num dia de hoje, eu ia de calça comprida. Ia mas era proibido, porque a rádio tinha uma norma que não poderia. Eu fui suspensa, multada. Mas insistia e liberaram e o Brasil inteiro passou a usar calça comprida. Não, eu não usava maquiagem nesses shows da praia. Todas as artistas nessa época do auge dos programas de auditório, um dia eu citei até a Nora Ney, em pleno verão de sandália havaiana, a sandália havaiana estava entrando na moda. Mas eram poucas, porque todas se arrumavam muito, mesmo sendo nesse horário. Nesses horários de programas em pleno verão, eu vi poucas artistas, a Nora Ney, a Marion, a Neusa Maria, Heleninha Costa, pessoas que tinham um gosto mais apurado. Eu ia mais à vontade, num sapatinho mais simples, sem maquiagem, com óculos escuros, bem arrumada, mas sempre ousava mais, sempre fui mais além. Todos estes figurinos, mais bolsas, sapatos, etc., tudo combinando eram guardados num grande quarto.

Em agosto de 1955

169 Capítulo XII Marlene Compositora

Eu não lembro de todas as composições! Não sei mesmo, nem me lembro qual foi a primeira. Lembro de A Grande Verdade, que foi meu primeiro suces- so como compositora. Eu e o Luís Bittencourt fizemos parceria e lembro sim que foi numa quinta-feira antes do programa do Barcelos lá na Rádio Nacional que o palco era no 21º andar, e tinha o bar que também era no primeiro andar, agora passou para o segundo. E eu fui para aquele bar, mas não me lembro como começou essa história. Ele trabalhava no mesmo programa que eu ia fazer, do Manoel Barcelos, e eu digo: estou com vontade de fazer uma música pra talvez a Dalva gravar porque tenho grande admiração por ela. A Dalva foi a primeira artista que eu vi no palco, mas essa é outra história. Eu apanhei muito por causa disso, da família, porque ela junto com o Trio de Ouro se apresentaram num teatro perto da minha casa. Eu morava na rua Jaceguai, em São Paulo, com a minha família, e o Cine Estérea era na rua Major Diogo. É como se fosse, a minha casa era aqui, e a Major Diogo era quase ao lado. Nunca tinha visto artista nenhum. Quando eu vi Trio de Ouro, não sabia nem o que era isso, vou assistir quando vi anunciado na porta do cinema Estérea, no ensaio do Trio de Ouro. Eu vi e fiquei encantada. Meu Deus do Céu, o que é isso? Isso é ser artista? Cantar no palco é isso? Aí eu endoidei.

Eu acho que ter visto esse show influenciou a minha vinda para o Rio. Marcou. Eu sei que de repente a mamãe entra, avança no palco, e me tira pela orelha, e foi me puxando pela orelha até em casa, que era a uma quadra, eu apanhei porque fui assistir coisa do diabo, porque artista era do diabo. Ela tinha essa concepção.

Como nasceu essa composição não sei direito. Não sei como comecei, se fui eu ou se foi o Luís Bittencourt. Só me lembro que ele disse: vamos para o estúdio, que lá é fechado e ninguém vai nos incomodar. Então fomos para o estúdio pequeno da Rádio Nacional, que existe até hoje. Ele com o violão dele, e me veio a letra, sei lá como é que veio, a gente não sabe. Ele acom-

170 Marlene entre Assis Valente e Luís Bittencourt em julho de 1955

171 panhando, dando palpites também, entrando com algum pedaço, que eu não me lembro qual foi, e acabou a história ali, eu fui para a Europa. Sei que era década de 1950, mas não fui eu quem ofereceu pra Dalva (de Oliveira) gravar. Acho que foi o Luis Bittencourt. Eu acho que foi ele, porque, quando cheguei de Paris, daquela primeira viagem, a música era um grande sucesso. Só foi. Quando retornei ao Brasil, parabéns Marlene! Parabéns de quê? A tua música está um grande sucesso com a Dalva. Dalva? Música minha? O que é isso? Mas você não fez uma música com o Luis Bittencourt? Aí é que eu fui saber. Depois, fiz uma porção de músicas. Fiz para a Nora Ney. Fiz, com Abel Ferrei- ra, O que Passou, Passou (gravada no álbum Nora Ney, de 1958).

Essa música nasceu numa viagem que eu fiz quando era casada ainda com o Delfino, e fui fazer uma turnê no Sul. No caminho mandei parar o carro, meu Deus, está vindo um negócio aqui na minha cabeça, para, para. Eu não me lembro quem estava dirigindo, se era o Delfino, se era carro alugado, não me lembro. Nunca parei para esmiuçar essas coisas. Eu tinha até me esquecido da Estrela da Vida, que eu fiz com o Paulo Baiano. MasEstrela da Vida é mais contemporânea. Eu fui chamada pela Funarte, que tinha parado de convidar artistas para viajar, eu era rainha da Funarte, fiz não sei quantos shows lá. Fui convidada. Vou mais uma vez fazer uma turnê, era para o Nordeste. De repente me ligaram:

– Olha, não vai ter mais não.

– Ué, não vai? Por quê?

– Porque a Clara (Sandroni) não quis fazer o show com você.

E outra coisa, eu era assim com o Paulo Baiano. Falei isso com o Paulo Baiano, o Baiano parou de falar comigo. Eu senti muito, porque eu gosto muito do Paulo Baiano, muito mesmo. E eu contei isso para o Paulo Baiano. E não me telefonou mais.

Voltando às minhas composições, nunca cantei o meu repertório. Não sei, porque eu não achava nada de extraordinário mas, A Grande Verdade entrou

172 na remontagem do É a Maior, no Teatro Ginástico, cantada a capella (sem acompanhamento instrumental). Eu nunca me incomodei com isso, como tudo o mais. Agora, e mais recentemente, tem essa com o Paulo Baiano e o Zé Carlos Asberg que deu título ao meu primeiro CD, A Estrela da Vida.

Mas não sei por que eu não gravava, acho que não queria, porque eu me lembro que eles iam me buscar em casa para gravar. Eu tinha uma preguiça louca de gravar. E eles gostavam de mim, porque eu ia sempre na primeira e até hoje eu me pergunto por que gravei tão pouco.

(Vale registrar que Emilinha Borba gravou 324 discos e Marlene 178, prova real de sua aversão às gravações. Sua discografia encontra-se anexa.)

Claro que muitos compositores queriam ser gravados por mim. Não tenham dúvida. Talvez eu não gostasse do repertório que me mostravam, pode ser. Eu tinha até um compositor favorito: o Luiz Antonio,

(Autor de sucessos como Sapato de Pobre, em parceria com Jota Júnior, assim como em Lata d’Água e Zé Marmita, com Brazinha, três marcas marlenistas) que foi lançado por mim, o Jota Júnior, que faleceu agora. Quem mais? Ah! Eu não escolhia compositor, eu escolhia a música, a que me falava ao coração, porque eu ia sempre procurando falar do povo. Você vê que a maioria das minhas gravações fala: Zé Marmita, Morro, Lata d’Água. Claro que havia as marchinhas que chamo de brejeira, chamo de a parte brejeira porque não gostava de gravar marcha. Eu só gostava de samba, porque samba eu tinha mais oportunidade de contar a história e a marchinha não. A marcha era jocosa, mas sempre gostei mais do samba. Sempre, sempre. Era o samba. Claro que tive sucessos com as marchinhas tanto que o meu primeiro sucesso foi Coitadinho do Papai, uma marchinha. Tem ainda Eva, Eva, Me Leva para o Paraíso Agora, do Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, o Roubaram a Mulher do Rui, de José Messias. Para você ver que eu sempre vendi com samba, sempre. Mas eu cantava carnaval, não cantava só meu não, cantava de outros cantores. Eu era muito exigente para o carnaval, não era qualquer coisa, se não

173 caía aqui no coração não adiantava. Então os compositores se ofereciam para compor comigo, nunca pedi a eles. A última foi para o meu primeiro CD, é de 1998, 10 anos, vai fazer 12. Na era digital. Porque até então só tinham saído CDs com as coletâneas.

Na contracapa desse primeiro CD, escrevi que os auditórios sempre lotados, os sucessos de carnaval, o canto e a dança brejeiros e irreverentes. Para muita gente esta é, até hoje, a imagem que permanece de mim, Marlene alegria e festa. Só que esta é apenas uma meia verdade, não explica na totalidade quem eu sou, não reflete as mudanças, os caminhos e descaminhos; as descobertas que fiz ao longo da vida principalmente durante as duas últimas décadas em que me vi distante do mercado fonográfico. Por isso, não me espanta mais quando, após um dos muitos shows que faço Brasil afora, alguém chega ao meu camarim boquiaberto diante do que viu. Somente quem acompanhou minha carreira pelos palcos sabe das minhas mudanças, das minhas escolhas. Mudanças e escolhas que só agora chegam ao disco. Sim, este é finalmente o disco que eu sempre quis gravar. Estrela da Vida reúne algumas das principais canções que interpretei nos shows e nas peças de teatro onde atuei ao longo destes anos. Este CD é fruto de um processo de extrema liberdade na escolha do repertório, dos músicos, dos arranjos, das ideias. Reflete tudo o que aprendi e o que sou hoje. A música sempre foi minha companheira, minha professora: foi através da obra destes maravilhosos compositores presentes no disco que eu me descobri como pessoa, abri meus horizontes, conheci outros sentimentos, aprendi a encarar a vida com tudo o que é bom e de ruim que ela possa ter. Viver com plenitude é participar de um processo, um caminhar que precisa estar refletido na música que se canta. Aqui neste disco eu digo: Marlene é, sim, força positiva diante da vida. Mas não só isso: meu canto também pretende retratar os dramas cotidianos, induzir à reflexão. É a forma que tenho de me emocionar e me solidarizar diante da miséria e da solidão. Enfim, são estas as ideias que pretendi passar para vocês ao gravar este CD. Espero ter conseguido.

Também nunca fui de guardar as músicas que compunha, esquecia as letras. Não sei até hoje como era a rotina da criação, sei que não era no violão e nem no piano, era na memória e eu não tinha processo criativo não.

Com Dalva de Oliveira

174 175 Capítulo XIII Marlene Versus Emilinha

Eu posso começar elogiando, como eu conheci, como ouvi falar a primeira vez nela. Quando conheci a Emilinha, quer dizer, ouvi falar em Emilinha Borba, nem sonhava em ser artista. Eu era estudante, ainda morava em São Paulo e era proibida de ouvir música brasileira. Então eu vi num dia, não me lembro da semana, uma revista que eu não me lembro se foi Carioca ou se foi a Revista do Rádio. A Carioca era uma publicação que focava teatro, cinema e rádio, uma revista muito boa. Eu li e vi uma fotografia, ela junto com uns rapazes, dizendo: Emilinha Borba, madrinha, foi escolhida madrinha do conjunto do Lúcio Alves, o Garotos da Lua. Eu, que não sabia o que era madrinha nem coisa nenhuma, dada a minha educação religiosa, vamos dizer assim, eu fiquei curiosa para saber o que era aquilo, e achei interessante uma mulher ser madrinha. O que era ser madrinha? Porque isso não existia no meu vocabulário, eu desconhecia. Foi a primeira vez que ouvi falar em Emilinha Borba, foi muito antes de eu ser artista. Mas muito antes.

O negócio é o seguinte, naquela época o tempo era muito comprido. Quando eu vim para cá, para o Rio, que foi o Armando Silva Araújo quem me levou para o Cassino Icaraí foi somente lá que eu comecei a tomar conhecimento do que era música popular que mal ouvia pelo rádio. E eu não conhecia ela, mas por coincidência eu estava namorando um rapaz que tinha sido namorado dela, o Newton Paz. Um cantor dos cassinos, que era o autor desse Broco do Dodô Criolo. Eu só fui conhecer Emilinha quando o Carlos Machado me convidou para viajar para a Argentina e depois para pertencer ao conjunto do Machado, que era Dick Farney no piano, Laurindo (de Almeida) – aquele grande violonista que foi para os Estados Unidos –, Fafá Lemos. Mas nessa altura Emilinha já estava com o Arthurzinho (seu futuro marido). Mas ela soube do Newton e não se conformou. Nunca houve apresentação formal. A Emilinha foi indiferença total.

Eu me lembro que uma vez na coxia da Urca tinha uma escadaria para os camarins, então eu ia passando, a orquestra era aqui, a escada era ao lado,

176 e ia para os camarins. Ela estava lá em cima, e eu ia passando com o Newton para a rua, acho que eram 3h da manhã, hora em que normal- mente acabávamos. Era 3, 4 horas. Então ela lá de cima disse: Está fazendo um ano e meio, amor / Que o nosso lar desmoronou / Meu sabiá, meu violão / E uma cruel desilusão foi tudo o que restou. / Ô, ô, ô, ô / Para machucar meu coração... que era um trecho da letra do Ary Barroso, Pra Machucar meu Coração.

Eu gravara na Odeon um disco, mas sem contrato, não tinha nada. Ela proibiu de eu gravar na Continental e o Braguinha, o compositor João de Barro, era o diretor artístico. E o Braguinha aceitou, porque ela era a grande estrela. Mas depois sempre fazíamos sucesso nos carnavais. Uma beleza, não é? Jorge Goulart, Gilberto Milfont, Blecaute, Nuno Roland, Marlene, Emilinha. Havia um time que não gravava só carnaval, mas músicas para o ano inteiro.

Claro que o grande sucesso era o carnaval, não era meio de ano. Até em termos de vendagem também era. Mostrava realmente a popularidade de cada artista, o carnaval, não é? Se não fizesse sucesso no carnaval, você não era nada. E você chegava a ser alguma coisa se fizesse sucesso. Após o carnaval saía o suplemento do início do ano, depois no meio do ano. Nessa época era muito engraçado, as pessoas gravavam música para Dia dos Pais, Dia das Mães, música de São João. Era o ano inteiro que se gravava. Muito interessante, não é? Ninguém ficava sem nada a fazer, porque tinha trabalho o ano inteiro. Quem tinha contrato com alguma gravadora traba- lhava o ano inteiro.

Emilinha e eu chegamos a gravar juntas em 1950 por imposição da gravadora, a Continental onde nós duas gravávamos. Foram as marchinhas Eu Já Vi Tudo, de Peterpan e Amadeu Veloso, Casca de Arroz, de Arlindo Marques

Com Emilinha Borba, 1956

177 Emilinha e Marlene com Cesar de Alencar e Manoel Barcelos

178 Júnior e Roberto Roberti, e A Bandinha de Irajá, de Murilo Caldas. Eu gravei porque Peterpan era cunhado dela, da Emilinha. Aí ele me procurou pra gravar a música dele e quando ela soube quis entrar na minha gravação porque era do cunhado dela. Se ela não gravasse, disse, sairia da gravadora. Apesar dos pesares, era uma honra gravar com ela. Das outras músicas não me lembro não. Lembro que gravamos e cantamos na Rádio Nacional também e no programa do Paulo Gracindo que era aos domingos.

Não havia uma briga mesmo, rivalidade sim. Nessa época, minha relação com Emilinha não existia nem socialmente. Falávamos pelo telefone. Ela me contava o que acontecia com ela, e eu contava a minha parte, mas nunca foi muito estreita a relação. Eu tenho segredos dela que não vou revelar de jeito nenhum, em lugar nenhum, e nunca revelei. Havia um respeito e o que ficou é que eu sempre gostei dela. Sempre. Apesar do temperamento, dos fuxicos que ela fazia, que eram terríveis. No Brasil inteiro era uma coisa. Ah, ih! Os fãs brigavam muito! Os comissários nos separavam logo no avião. Era terrível. No avião, não íamos as duas juntas sentadas. Na hora de saltar, sair do avião, já cada uma para seu lado. Para saltar eram duas turmas. O desembarque já era uma pra lá e outra pra cá, para não haver os problemas em terra. Era feriado nas cidades, as lojas fechavam, era feriado local. E isso para fazer um show! Para fazer uma apresentação numa rádio famosa de Belo Horizonte, que era a Inconfidência, mas isso acontecia no País inteiro. Eu sei que nós corremos o Brasil inteiro, e cada lugar que a gente ia era uma festa. Uma coisa. Eu passava e os fãs dela viravam a cara. No Brasil foi o seguinte: a rivalidade era tão acirrada com a Emilinha Borba que eu era clas- sificada como a intrusa e até hoje existe isso. A minha vida teria sido muito diferente sem essa rivalidade, porque chegou a me atrapalhar completamente.

Nos programas de auditórios não. Sabe por que? Porque cada uma tinha um programa, esses grupos de admiradores não se encontravam, só acon- tecia isso quando nós duas estávamos escaladas no mesmo programa. Anos depois, alguns anos depois, não muitos anos depois dessa coisa da Rainha do Rádio, Emilinha passou a participar também no Manoel Barcelos, porque a Emilinha tinha um horário antes de mim, 12h30 às 13 horas, e eu encerrava o programa das 13h30 às 14 horas e, às 13h30, quando cantávamos juntas. Ali já acontecia às vezes alguma coisa, mas era pouco, o que acon- tecia mais, isso começou a acontecer mais, foi quando a Emilinha passou a fazer um programa à noite na Rádio Nacional todas as segundas-feiras,

179 Desenho feito por Arthur, marido de Emilinha, com dedicatória da própria Emilinha

180 Desenho de Geraldo Lamego

181 o musical Singer, um programa solo dela à noite, horário nobre. E tinha um famoso programa na Rádio Nacional, Gente que Brilha, do Paulo Roberto, que era um radialista fantástico. Então esse Gente que Brilha eram artistas do elenco da Nacional, que passavam nesse programa, radioatores, atores. Às vezes tinham convidados de outras estações que participavam, e quando participava nesse programa, que às vezes ia umas duas vezes por ano, era uma agonia, porque imagine um auditório da Rádio Nacional, um programa das 20h30 às 21 horas e o outro ia das 21 horas às 21h30, era uma confusão danada, um caos. Então eles passaram a fazer o seguinte: tinha um vidro que separava o palco do auditório, era um vidro blindex largo imenso, de uns 20 cm, então eles desciam aquele vidro, e o artista ficava cantando para o público através do vidro, a orquestra lá atrás, e quem escutava de casa era uma maravilha, parecia que ouvia um programa de estúdio. Você podia aplaudir, gritar, fazer tudo lá, e em casa não ouvia nada. Nesses programas, havia arranca-rabos às vezes quando terminava o programa. Eu digo embaixo, porque dentro do auditório era difícil acontecer isso, a segurança era muito rígida, rigorosa, muitos fiscais uniformizados, eles eram todos uniformi- zados, de blazer azul-marinho, Rádio Nacional com o nome do funcionário, calça cinza. Como o ingresso era comprado, eles levavam você como no teatro, no cinema, no cinema antigamente, o lanterninha ia te levar lá no lugar, o seu lugar, a sua fila é essa, naRádio Nacional era assim. Cobravam. Era pago. Todos os programas da Nacional eram pagos. Todos. Paulo Gracindo, César de Alencar, Manoel Barcelos. O equivalente hoje a uns R$ 5,00, R$ 10,00. Não, não, era caro e lotava seus 570 lugares. Sentados, em pé dava mais. Ficavam nas laterais assim. Vendia ingresso em pé e o preço era a mesma coisa.

182 Capítulo XIV Marlene e os Fãs-Clubes Mais a Amar

Os fãs-clubes são importantes. Eu sei que eles tinham uma dedicação por mim fora do comum, era uma adoração. Fã-clube não tem idade. Por isso eu chamei para o meu aniversário, porque eu trato fã-clube e a Amar (Associação Marlenista), a família marlenista, como uma família porque é uma família. É uma família porque existe aquela coisa da preocupação que eles têm comigo, de doença, de repertório, de onde eu vou, telefonam, você vai fazer show onde? Que dia é? Eu me lembro que antigamente tinha até um jornal, o Clarim da Vitória. Era a Glória, minha secretária na época, quem fazia. É importante, é emocionante. Foi e é importante, apesar de não ter mais, coisa muito emocionante. Meu primeiro fã-clube foi fundado em 1952 no boom do grande sucesso. Como eu já falei da outra vez, era o auge do Sinatra na América, e naquela histeria toda, estavam sendo fundados no continente muitos fãs-clubes, até de outros artistas, e isso repercutiu aqui. A primeira presidente do meu fã-clube foi a Lígia Rosa, era uma mulher bonita, está viva até hoje. Chamava atenção, uma morena bonita, bem brasileira, com os cabelos curtos, de Campos, e ela sempre ia aos meus programas de rádio. Eu é que não conhecia ninguém, mas sei que ela reuniu um grupo e essa primeira diretoria da Associação Marlenista ficou durante muito tempo. E a sede do fã-clube passou por vários lugares, essa primeira sede era na rua do Riachuelo, não me recordo o número, mas depois passou por alguns lugares, pela rua da Alfândega, depois foi para a Presidente Wilson numa sala alugada.

Tomava conhecimento porque nos primeiros meses da fundação do fã-clube, foi criada a Associação dos Fãs Beneficentes de Marlene, encabeçada pela minha mãe, dona Antonieta. A mamãe me dizia: Marlene, você tem na mão essas pessoas que te adoram tanto, que gostam tanto de você, só para não ficar essa coisa só visando você, vamos ajudar os mais necessitados.

183 Aí foi fundada essa asso- ciação beneficente, que angariava donativos durante o ano inteiro para as crian- ças, asilos, orfanatos e no final do ano a gente fazia uma grande distribuição de comida e roupa.

E a mamãe recebia, sem eu saber, um grupo de mulheres lá em casa, na Urca, eu era solteira nessa época e não tinha nome nenhum. Mas quando o fã-clube mesmo foi fundado já estava casada, foi fundado logo depois do meu casamento. Tanto que quando o público foi assistir ao meu casamento ali no Outeiro da Glória, foi aquela emoção com o povo todo cantando Lata d’água, já existiam todas essas pessoas porque tem fotografias de época em que estão todas essas pessoas na porta da igreja. Algumas pessoas já conhecia, tanto que participei da primeira reunião da Associação Beneficente do fã-clube Marlene, porque tem uma matéria na revista Carioca, onde estou com esse grupo todo, está a Lígia Rosa, está a Nancy Mesquita, que na época era sua secretária particular. Esse encontro foi na Fundação Brasileira de Teatro, ali na rua onde é o Teatro Dulcina, na Alcindo Guanabara, que o Dulcina é na Alcindo Guanabara. Tinha muitos sócios e criou ramificações pelo Brasil inteiro, Porto Alegre, Curitiba, em várias cidades do Brasil que eu nem sabia, nem conhecia. Inclusive em uma progra- mação onde tinha algum evento, alguma premiação, vinham pessoas do País inteiro para o Rio de Janeiro. E um detalhe: isso era muito importante porque na época em que se comemorava o meu aniversário e o da Emilinha nossos programas não eram transmitidos do auditório da Rádio Nacional porque não havia lugar pra todos os fãs daqui e os que vinham de fora. Os programas tinham que ser transmitidos de algum teatro, os teatros

Marlene com Cezar Sepulveda, diretor da Associação Marlenista

184 185 186 maravilhosos daquela época como o Teatro República, que ficava na Avenida Gomes Freire, no Centro, assim como o João Caetano e o Carlos Gomes que tinham mais de mil lugares assim como o próprio Teatro Dulcina pra dar conta das caravanas de fãs que vinham de todo o País. E eu quero aproveitar pra desmistificar uma coisa que foi criada em cima dessa coisa do admira- dor, do fã, seja lá o que for, principalmente em 1958 quando se criou aquela famosa frase maldita, vista hoje de forma mais carinhosa, que foi macaca de auditório, mas que naquela época foi usada de maneira pejorativa. Foi criada pelo Nestor de Holanda, o produtor e compositor que era meu grande amigo e aquilo foi um choque. Na época foi e eu não engoli o Nestor. E olha que a mãe dele frequentava o auditório! Deixei de falar com ele por causa disso e eu era grande amiga dele.

Eu queria desmistificar essa coisa, limpar um pouco essa imagem que ficou das pessoas que frequentavam os auditórios, não só da Rádio Nacional não, de outras estações. Até porque o Caetano frequentou, Ziraldo frequentou, assumidamente, eles já comentaram isso, não sou eu quem estou falando. Outro detalhe também que as pessoas nunca comentam é a minha relação com a Emilinha porque fica parecendo que sempre foi uma briga horrorosa entre nós duas e não era verdade. Eu era conhecida, com um nome razoável, estava começando, não tinha uma projeção nacional, mas era conhecida e ela também. Mas a partir da eleição da Rainha do Rádio a imprensa e todo mundo deitaram e rolaram em cima da história Marlene versus Emilinha, que virou uma marca até hoje.

Mas é lógico que teve brigas sérias também, entre os fãs, mas geralmente lá embaixo na Praça Mauá, porque o auditório era de uma segurança incrível. Mas ocorriam as brigas entre os fãs principalmente quando eu era escalada para cantar em programas em que a Emilinha era estrela, no caso o do César de Alencar, além de dobrar a segurança da Rádio Nacional, tinha os fiscais, eles eram todos uniformizados, calça cinza, sapato preto, camisa branca. Então eu raramente ia ao Programa César de Alencar. Sabe o quê acontecia? Eles pediam policiamento, a Polícia Militar se espalhava pelo audi- tório, a Rádio Nacional pedia, mesmo sabendo que eu cantava no meio do

Jornal Clarim da Vitoria, da década de 50

187 programa, e que a Emilinha ia encerrar. E tinham várias pessoas que ficavam de fora, centenas de pessoas que não compravam ingresso e ficava uma boa plateia lá embaixo criando um tumulto. Mas foram momentos gloriosos. E o futebol hoje pegou tudo que acontecia na Rádio Nacional. É, essas disputas de torcidas, é um pouco o reflexo disso. Essa coisa toda desse auge, o fã-clube, até meado dos anos 1970 ele esteve em plena atividade, depois deu uma parada, e só foi ser reorganizado quando eu estava voltando com Carnavália. Teve um hiato. Quando terminaram os programas de auditório já existia uma nova era por causa da televisão mostrando os grandes festivais da Record, logo depois veio o Festival da Canção, na parte nacional e internacional e as coisas começaram a tomar um novo rumo. Aí quando voltei com o Carnavália, com aquela publicidade maciça, aí as pessoas começaram a se organizar e até uns 10 anos atrás o fã-clube estava em plena atividade, mas era uma coisa mais voltada para o lado beneficente. Mas de 20 anos para cá houve uma dissidência do fã-clube, aí entrou a Associação Marlenista – Amar. Hoje em dia os dois grupos que mais me impressionaram em termos de fã-clube são o do e do Legião Urbana, com o . São entro- sados, uma coisa com alicerce profundo. Do Raul Seixas eu fico espantada. Porque eu acho que foi dada uma nova conotação ao fã. Saiu desse estigma de tiete, de macaca de auditório, principalmente para quem gostou e gosta de Marlene e Emilinha. A Amar foi fundada em 1986 e eles já conseguiram muita coisa pra mim como a produção e o lançamento do meu primeiro DVD, o primeiro CD, o Estrela da vida, além de vários espetáculos.

Esse DVD é um show-documentáro, é o meu último registro feito em 2007 e lançado em 2008 pois levamos um tempinho para conseguir colocar na rua. Ele foi patrocinado pela Petrobras e gravado na Rádio Nacional. Na primeira noite eu gravei no palco. Aí na segunda o Gracindo Júnior gravou as vinhetas de apresentação, ele é o narrador. O projeto inicial seria recebendo Cauby, Ângela e Emilinha. A Emilinha morre, Cauby e Ângela morando em São Paulo, não se poderia montar para gravar com eles só em São Paulo, eles não podiam vir para o Rio, estavam com compromisso. Gravaram a Ademilde Fonseca com sua filha Eimar, a Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas com a neta Mariana Belém, Bob Nelson, Ellen de Lima e duas cantoras novas, a Cris Delanno e uma de São Paulo, a Taís Bonizzi. Está tendo um retorno até bom, pois foi uma tiragem limitada de 2 mil exemplares. Não vai sair de catálogo, ele vai permanecer.

Depoimento sobre os fãs

188 189 Capítulo XV Final

Os meus figurinos, os prêmios e os troféus foram doados para aAssociação Marlenista (Amar) e alguma coisa, o vestido Dior por exemplo, está no Instituto Cravo Albim. Mas sei que os diretores da Amar, o Cezinha e a Nieta (o pes- quisador Cezar Sepulveda e Nieta Carvalho) estão muito preocupados em conseguir um lugar definitivo para o meu acervo e sei que eles tentaram durante muito tempo obter uma sala, um espaço, mas é tudo com muita burocracia. Aí doei todo esse acervo para a Associação Marlenista que pretende repassar para o novo Museu da Imagem e do Som. Mas algumas roupas, alguns troféus terão que passar por um reparo. É, o novo MIS, em Copacabana, na Avenida Atlântica. Então uma parte vai para ali porque será um espaço de visitação enquanto o Instituto do Ricardo (Cravo Albin) é um espaço só para pesquisa, não visitação. O público – que são estudantes de comunicação ou de outra área qualquer – vai em grupos porque é agendado e o acervo do MIS será aberto ao público.

Os prêmios devem ir para o MIS, assim como os troféus, porque o mais importante eu quero que fique noMIS . Os troféus todos estão precisando passar por um reparo, aos pouquinhos a Amar está catalogando para levar para uma firma especializada, para limpar bonitinho, restaurar. Mas se nesse espaço de tempo, fazendo esse levantamento todo desse acervo, a Amar conseguir um espaço como foi conseguido agora lá em São Paulo, um espaço com todo o acervo do famoso cenógrafo e diretor, Gianni Ratto, com patrocínio, eu vou adorar isso, porque se contrata uma equipe especializada, que neces- sariamente não precisam ser membros da Amar. Esse espaço do Gianni Ratto foi conseguido com patrocínio e não foi muito dinheiro, mas deu para a família dele montar um espaço com visitação, para as pessoas fazerem pesquisa.

Porque o MIS na realidade é um somatório, não é a Marlene, não sou eu. Eu adoraria que fosse um espaço Marlene, que as pessoas fossem lá para fazer pesquisas. Inclusive seria um ponto de referência, porque, por exemplo, muitas gravadoras por onde eu passei de vez em quando lançam uma coletâ- nea e você fazendo um acordo com as gravadoras, tendo um bom site, as pessoas saberão onde encontrar meus discos. Isso é maravilhoso, pois perpetua o nome do artista para as novas gerações.

190 E Deus me ajudou muito na minha carreira. Eu lutei muito, sofri muito. Eu acho que todo mundo sofre quando quer chegar a um ponto. Eu não sabia a que ponto eu chegaria, mas fazia aquilo entrar no meu coração, e Deus me ajudou sempre, me encaminhou pela vida afora. São 70 anos de profissão, e eu fico orgu- lhosa com o que eu consegui. Porque o que eu mais queria conseguir, eu acho que consegui, mas não era essa intenção minha não, eu queria alegrar todo mundo, quero alegrar, a vida sem alegria não vale nada, absolutamente nada. Então, era isso que eu aprendi no meu tempo de colégio interno, no Batista Brasileiro, em São Paulo, que a vida é uma alegria, e a gente tem que dar alegria aos outros. Eu sempre fui assim, apesar de ter nascido triste, porque eu estava na barri- guinha da minha mãe quando o meu pai faleceu. Então, nasci sem pai e a vida inteira procurei um pai nos meus namo- rados. Encontrei vários pais, mas não era aquele pai que eu sempre desejei. Mas um dia, estava no Hospital São Carlos, e de repente olhei para o teto e eu acho que Deus se voltou para mim e eu disse: Meu Deus você é meu pai. Não fisiológico, mas espiritual. E até hoje tenho uma segurança incrível, porque elegi Deus, meu Deus, meu pai Jesus, como meu protetor. E Ele está me ajudando a vencer todas as intempéries que a vida me apresenta. E estou feliz porque gosto muito de gente, mas é muito mesmo, quando eu estou sozinha eu choro, não gosto de ficar sozinha. E consegui a amizade de todos os meus fãs, eu acho, então é isso que me faz feliz hoje, porque apesar de ter uma família linda, que tenho, eu sou evangélica, a família toda é evan- gélica, mas eles são afastados de mim, cada um tem a sua vida, muitos estão na Europa, nos Estados Unidos, minha mãezinha querida, santa, faleceu, minhas irmãs também, então eu me sinto muito só. Mas eu consegui uma coisa linda na vida, que é juntar toda essa gente em volta de mim. E a maior felicidade para mim agora é ter formado a minha família, a família do meu coração, a família marlenista. Um beijo para vocês todos, muito obrigada.

Capa DVD, gravado na Rádio Nacional

191 192 Recebendo a Ordem do Mérito Cultural das mãos do ex-Ministro da Cultura, Juca Ferreira

193 Marlene gravando seu primeiro DVD no estúdio da Rádio Nacional em 2007 acompanhada 194do violoncelista Marcelo Sales e o baterista Erivelton Silva 195 CRONOLOGIA RÁDIO

1987 – Apresenta na Rádio MEC do Rio de Janeiro Marlene Total, programa de pesquisa sobre música popular com entrevistas e personalidades da música, teatro e da cultura em geral.

1969 – Neste ano apresenta o programa Marlene no Carnaval da Rádio Nacional. Claro que sobre carnaval.

1966 – Estreia outro programa na Nacional, o É Preciso Cantar.

1955 – Marlene meu Bem estreia em 15 de abril de 1955 como o primeiro programa de radioteatro com cenários e microfones espalhados pelo palco. A cada semana apresentava uma peça diferente redigida por Mario Lago com direção de Floriano Faissal e ficou no ar até 1959 na mesmaRádio Nacional.

1954 – Uma estrela ao meio-dia, também de estúdio todas as segundas- -feiras. No mesmo ano a Rádio Record paulista faz o programa de auditório Marlene Marlene.

1950 – Faz o programa de estúdio Duas Majestades (ela e o guaraná Caçula).

1949 – Estreia no programa Manoel Barcelos ficando até o seu término em 1970 na Rádio Nacional. Mesmo ano do programa Entra na Faixa patrocinado pelo guaraná Antarctica que bancou a sua vitória como Rainha do Rádio. A cada semana interpretava um personagem diferente. Também transmitido pela Nacional.

1947 – Assina seu primeiro contrato com a Rádio Nacional e estreia no Programa César de Alencar a bordo do slogan Ela que canta o samba diferente devido ao seu jeito de mexer com os braços e as mãos.

196 1946 – É contratada pela Rádio Mayrink Veiga no Rio de Janeiro na qual grava o seu primeiro disco na Odeon cantando Swing no Morro, de Amado Régis e Felisberto Martins, e Ginga, Ginga, Moreno, de João de Deus e Helio Nascimento. Nesse ano, gravou com os Vocalistas Tropicais, para o carnaval seguinte, a marcha Coitadinho do Papai, de Henrique de Almeida e M. Garcez passaporte definitivo para o sucesso como contratada da Rádio Nacional.

1946 – Assina contrato com a Rádio Globo do Rio de Janeiro.

1935 – Aos 13 anos participa do programa A Hora do Estudante na Rádio Ban- deirantes e estreia como profissional aos 18 anos naRádio Tupi de São Paulo.

1922 – Nasce no dia 22 de novembro no bairro Bela Vista, em São Paulo, filha de Victorio Bonaiuti e Antonieta de Martino, adotando o nome de Marlene quando artista.

197 SHOWS

2002 – Ouvindo o Vinil, talk show realizado no Sesc RJ.

2001 – Carnaval na Praça, realizado na tradicional Cinelândia, RJ.

2001 – Relançamento do filmeTudo Azul no Sesc Ipiranga em São Paulo.

2001 – Realização do Marlenissima dirigido por Ricardo Cravo Albin com figurinos de Kalma Murtinho no Teatro Rival, RJ.

2001 –Réveillon na praia de Copacabana.

2001 – Abertura do carnaval do Pelourinho, no centro histórico de Salvador, Bahia.

2001 – Participa do Carnaval dos Anos Dourados na Garden Hall no Rio de Janeiro.

2001 – Faz Na Batucada da Vida dirigido por Vicente Maiolino no Centro Cultural Carioca, no Rio de Janeiro.

2000 – Participa do Virada do Milênio na praia de Copacabana realizado pela prefeitura e Rede Globo.

1999 – Outra participação no tradicional Réveillon de Copacabana. Assim como o Carnaval na Praça da Cinelândia, RJ.

1999 – Participa do Os Cantores do Rádio no Atl Hall, RJ.

1999 – É o ano de mais um espetáculo na histórica série Seis e Meia criada por Albino Pinheiro e Herminio Bello de Carvalho, no Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, RJ. Este show foi dirigido por Albino Pinheiro num de seus últimos trabalhos já que morreu, infelizmente, em junho desse ano.

1998 – Espetáculo carnavalesco na Cinelândia, RJ.

1997 – Outro grande momento da cantora: o Yes, nós Temos Braguinha realizado no Centro Cultural Banco do Brasil.

Estreia de Marlene no programa de espetáculos da Tonelux, ao lado de na TV Tupi em 1960

198 199 1997 – Participa de Vivendo a Rádio Nacional ao lado de uma turma de ouro da sua geração: o professor Cauby Peixoto, Angela Maria e Emilinha Borba apresentado por Luis Carlos Miele, na Metropolitan, RJ, dirigido por Regis Cardoso.

1996 – Viva Marlene exibia outro ótimo espetáculo da cantora na Sala Funarte, RJ, dirigida por Érico de Freitas.

1995 – Chá das Chics dirigido por Miguel Falabella no Teatro do Quatro, RJ.

1995 – Cinquenta Anos de Alegria festejou seus 50 anos de carreira no Cane- cão, RJ, dirigido por Tulio Feliciano e produção da Amar, a briosa Associa- ção Marlenista.

1994 – Ano do espetáculo Aquarela Brasileira realizado na Praia do Leme, Rio de Janeiro.

1992 – Faz o Projeto Cantoras do Rádio no Museu da Imagem e do Som paulista.

1990 – Ano do Alô Alô Brasileiro, com roteiro de Ricardo Cravo Albin dirigido por Mauricio Abud no Rio de Janeiro.

1989 – Realiza na boate One Twenty One, no Rio de Janeiro, o segundo espetáculo Eterna Rainha, que já havia acontecido em 1988.

1989 – Participa da série O Som do Meio-dia com Fernando Lobo e direção de Ney Murce no Teatro Teotônio Villela, no centro do Rio de Janeiro.

1989 – Faz o saudoso Prêmio Mambembe de Teatro no Teatro João Caetano do Rio de Janeiro.

1987 – Apresenta-se na Boate People que marcou época no Rio e deixou saudades ao lado de Rosinha de Valença.

1986 – Participação memorável: No show Praça Onze dos Bambas com direção de Ricardo Cravo Albin considerado pela crítica um dos melhores do ano. Viaja pela regiões Nordeste e Sudeste e faz ainda a Sala Funarte do Rio de Janeiro.

1986 – Faz o Seis e Meia – Estrela da Vida (título de composição sua em parceria com Paulo Baiano e Zé Carlos Asberg) com direção de Albino Pinheiro e Roberto Azevedo no Teatro Carlos Gomes, RJ.

200 1986 – Mesmo ano de Prazer em Conhecê-lo, dirigido por Vicente Maiolino com participação do cantor e compositor Marcos Sacramento na Sala Funarte RJ.

1985 – Participa ao lado da violonista Rosinha de Valença de Aberto pra Balanço, dirigido por Roberto Azevedo, no Teatro Dulcina do Rio de Janeiro.

1984 – Mais um espetáculo na Sala Funarte – É com Esse que eu Vou – dirigido por Ricardo Cravo Albin.

1984 – Este Samba É Fogo, dirigido por Roberto Azevedo.

1984 – Participa do Projeto Pixinguinha que levava os artistas a todas as regiões do Brasil, maravilhoso projeto criado por Hermínio Bello de Carvalho, viajando pela região Centro-Oeste.

1983 – Outro Seis e Meia com Nem Luxo, nem Lixo, dirigido por Roberto Azevedo no Teatro Carlos Gomes, RJ.

1982 – Mais uma direção de Ricardo Cravo Albin, Na Boca do Povo é realizado na Sala Funarte, RJ. Mesmo ano do espetáculo também no Seis e Meia, Um Dia na Rádio Nacional, dirigido por Haroldo Costa no Teatro João Caetano, RJ.

1981 – Fez o Projeto Pixinguinha ao lado de Wanda Sá e Antonio Adolfo, dirigido por Thereza Aragão no Teatro Dulcina viajando, em seguida, para a região Sul.

1978 – Realiza os espetáculos Te Pego pela Palavra nos teatros Castro Alves, de Salvador, e João Caetano, no Rio de Janeiro.

1978 – Outro Projeto Pixinguinha em companhia de João Bosco, direção de J. Santos, viajando pela região Norte.

1977 – Faz o Projeto Pixinguinha com o querido amigo Luiz Gonzaga Junior, o Gonzaguinha, direção de Hermínio Bello de Carvalho viajando pela região Sudeste.

1976 – Trabalha em Ritmos do Brasil do legendário Caribé da Rocha no Hotel Nacional que tinha um ótimo teatro.

201 1976 – Mesmo ano do histórico encontro entre Marlene e Gonzaguinha no Seis e Meia dirigidos por Hermínio Bello de Carvalho no Teatro João Caetano, RJ.

1975 – Apresenta no Teatro do Tuca Te Pego pela Palavra.

1974 – Data do memorável Te Pego pela Palavra dirigido por Hermínio Bello de Carvalho na Boate Number One e no Teatro Senac, ambos no Rio de Janeiro.

1973 – Montagem de Carnavália no histórico Teatro Opinião no Rio de Janeiro.

1972 – Outro marco na sua carreira, o espetáculo Marlene Olé Olá.

1971 – Na Boca da Noite um Gosto de Sol é outro espetáculo marcante em sua carreira na parceria com Fauzi Arap e Hermínio Bello de Carvalho na Boate Colt 45.

1970 – Mais uma remontagem de Carnavália na cervejaria Grizing no Rio de Janeiro.

1970 – Mesmo ano da remontagem de outro clássico: É a Maior no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro.

1969 – É a Maior estreia no Teatro Sergio Porto (antigo Brigite Blair localizado em Copacabana) no Rio de Janeiro.

1968 – É o ano da estreia de Carnavália, um marco na carreira de Marlene, assinado por Paulo Afonso Grisolli e Sidney Miller que estreou no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro. Com Eneida de Moraes, Nuno Roland e Blecaute.

1954 – Grande momento da cantora pois, Fantasia e Fantasias faz parte da griffe Caribé da Rocha encenado, claro, no Golden Room do hotel Copacabana Palace.

202 Marlene em cena

203 TEATRO

TEATRO DE REVISTA

1956 – Estreia de Aperta o Cinto ao lado de Luiz Delfino, Zeloni, Berta Loran, com texto de Max Nunes e Meira Guimarães dirigida por J. Maia no Teatro Carlos Gomes no Rio de Janeiro.

1951 – Me Leva que eu Vou encenada no antigo Teatro Jardel (pertencia à família do ator Jardel Filho) em Copacabana, RJ.

1950 – Participa de Bonde do Catete também encenada no João Caetano de forte tradição no teatro de revista.

1949 – Estrela a revista Deixa que eu Chuto no Teatro João Caetano do Rio de Janeiro.

TEATRO (COMÉDIA)

1959 – É o ano de outro grande sucesso: Tia Mame com Dulcina de Moraes e Yolanda Cardoso, além de Marlene. Foi dirigida pela própria Dulcina já no teatro com seu nome .

1956 – Participa de Poeira de Estrelas encenada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com direção de Dulcina de Moraes.

1953 – Ao lado de Luiz Delfino, estreiaMaya , direção de Mario Brazini e participação de Oswaldo Louzada também encenada no Teatro Rival

1952 – Estrela a peça Angelina e o Dentista, de Alex Jeffé, ao lado de Luiz Delfino, Iracema de Alencar e Gilberto Martinho, dirigidos por Mario Brazini no Teatro Rival do Rio de Janeiro.

1952 – Estreia Depois do Casamento, de Victor Ruiz Trad. Esta peça marcou a criação da Companhia Marlene e Luiz Delfino. Wanda Lacerda e Maurício Sherman também faziam parte do elenco na peça que tinha cenário de Carlos Perry e direção de Mario Brazini encenada no Teatro Regina (depois transformado em Teatro Dulcina localizado na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro.)

204 TEATRO A PARTIR DE 1970

1991 – Sua última participação em teatro foi na peça Um Céu de Asfalto ao lado de Sergio Brito encenada no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. Texto de Bertold Brecht com música de Kurt Weill, excur- sionou por várias capitais do Nordeste. Direção de Luis Fernando Lobo.

1982 – É o ano de A Mente Capta com Louise Cardoso e Diogo Vilela, além de Marlene, em cima de texto de Mauro Rasi com direção de Wolf Maia encenada no Teatro da Praia (RJ).

1979 – Participa da montagem paulista da Ópera do Malandro, de Chico Buarque, que excursionou depois pelo País. Atuou ao lado de Claudia Jimenez e Abraão Farc, entre outros. A direção foi de Luiz Antonio Martinez Correa, a estreia no Teatro São Pedro (SP) e durante um ano a peça rodou 17 capitais brasileiras.

1976 – É o ano de Quarteto com Ziembienski – também dirigindo – ao lado dos jovens Louise Cardoso e Roberto Pirilo em texto assinado por Antonio Bivar encenada no Teatro Ipanema (RJ).

1972 – Ao lado de Emiliano Queiroz e Wanda Lacerda estreia, no extinto Teatro Santa Rosa (RJ), A Dama de Copas e o Rei de Cuba de Timochenco Wehbi. Direção Odavlas Petti.

1972 – É outro ano de grande sucesso com a peça Botequim, de Gianfranceso Guarnieri, ao lado de Ivan Cândido, Isolda Cresta, entre outros dirigidos por Antonio Pedro no Teatro Princesa Isabel no Rio de Janeiro seguindo depois em turnê por 20 capitais.

1970 – Estreia Alice Divino Maravilhoso com direção musical de Sidney Miller e direção de Paulo Afonso Grisolli ao lado de Ary Fontoura no Teatro Casa Grande, também no Rio de Janeiro.

205 Na peça Alice, Divino Maravilhoso

206 207 DISCOGRAFIA

DVD E CD MARLENE A RAINHA E OS ARTISTAS DO RÁDIO (2009) Amar (Associação Marlenista). Gravado em 2007 nos estúdios da Rádio Nacional e lançado em 2009 com as participações de Ellen de Lima, Ademilde Fonseca, Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas, Bob Nelson, Cris Delanno, Tahís Bonizzi, Mariana Belém e Eimar Fonseca apresentado por Gracindo Jr. ESTRELA DA VIDA (1998) Leblon Records – LB 070

ANTOLOGIA DA MARCHINHA (1977) Philips – 6349 330

TE PEGO PELA PALAVRA (1974) Odeon – SMOFB 3855

É A MAIOR! (1970) Fermata – FB 270

CARNAVÁLIA – ENEIDA CONTA A HISTÓRIA DO CARNAVAL VOL. 2 – Marlene, Blackout e Nuno Roland (1968) Museu da Imagem e do Som – MIS 010

CARNAVÁLIA – ENEIDA CONTA A HISTÓRIA DO CARNAVAL VOL. 1 – Marlene, Blackout e Nuno Roland (1968) Museu da Imagem e do Som – MIS 009

SA-SA-RUÊ – Marlene e Pernambuco e sua Orquestra (1963) Continental – PPL 12108

CAIXINHA DE SAUDADE (1960) Odeon – MOFB 3149

EXPLOSIVA! (1959) Odeon – MOFB 3083

MARLENE APRESENTA SUCESSOS DE ASSIS VALENTE (1956) Sinter – SLP 1071

208 209 210 Projetos extras

HERIVELTO MARTINS AO VIVO EM MARLENE TOTAL (2006) Selo Rádio MEC – RM036

ÍDOLOS DO RÁDIO VOL. VII – MARLENE (1988) Collector’s – S/nº

BOTEQUIM – Trilha Sonora da peça teatral – Marlene, Toquinho & Guarnieri(1973) RGE – 303.0018

Coletâneas

GRANDES SUCESSOS – MARLENE (2000) BMG Brasil – 7432150063-2

BIS – MARLENE (2000) EMI Music – 530911 2

MARLENE, MEU BEM (1996) Revivendo – RVCD 107

MESTRES DA MPB – MARLENE (1994) Warner Music – 995471-2

MARLENE – Série ÍDOLOS DA MPB Nº 18 (1976) Continental – 1.19.405.021

VAMOS DANÇAR COM MARLENE E SEUS SUCESSOS (1956) Sinter – SLP 1081

GENTE QUE BRILHA – Jorge Goulart / Marlene (N/D) Revivendo – LB 041

211 Compactos / Singles Todamérica – CST-9907 (1971) 1. Bloco da Solidão (Evaldo Gouveia / Jair Amorim) 2. Festa para um Rei Negro (Salgueiro – Samba-enredo 1971) (Zuzuca) Odeon – SDP-608 (1974) 1. Pra Onde Vai Valente (Manezinho Araújo) Studio V – 992 005-7 (1984) 1. O Samba É Fogo ( / Sereno)

CPD – Marlène – Columbia – ESRF 1147 (Gravado em Paris em 1958 e a grafia segue o modelo das capas).

Zeze, baion (Humberto Teixeira – Caribe de Rochas)

Com Jeito Vai, marche (João de Barro)

Maracangalha, samba (Dorival Caymmi)

A Saudade Mata a Gente (Antonio Almeida e João de Barro)

Orchestre, direction: Armand Canfora

CPD – Marlene à Paris

RCA – 76.154 standard (Gravado em Paris em 1958)

Trepa no Coqueiro (Ary Kerner)

Fiz a cama na Varanda (Dilu Melo e Veiga de Castro)

Bia-a-ta-ta (Hekel Tavares)

Saudades da Bahia (Dorival Caymmi)

212 CPD: SA-SA-RUÊ – NOVO RITMO COM MARLENE Continental – LD-33-701 (N/D) 1. Sa-sa-ruê (Marino Pinto / Pernambuco) 2. Quem me Deu a Flor (Marino Pinto / Pernambuco) 3. Vamos Sa-sa-ruá (Marino Pinto / Pernambuco) 4. Sa-sa-ruá Meu Bem (Marino Pinto / Pernambuco) Philips – C-9 (N/D) 2. Abença Vovó (Dora Lopes / Renato Araújo)

78 rpm

Momo – MO-04 (-) 1. Bububu no Bobobó (Armando Cavalcanti / Ivo Santos) Marcha

2. O Nosso Amor (Tom Jobim / Vinicius de Moraes) Samba

Odeon – 12.716 (1946) 1. Swing no Morro (Amado Regis / Felisberto Martins) Samba choro

2. Ginga, Ginga Moreno (João de Deus / Hélio Nascimento) Samba

Odeon – 12.757 (1947) 1. Coitadinho do Papai (Henrique de Almeida / M. Garcez / M. Garcez) Intérprete(s): Marlene / Vocalistas Tropicais Marcha

2. Um Ano Depois (Valentina Biosca / Waldemar Pereira) Samba

213 Star – 0003 (1947) 1. Subúrbio da Central (Mário Rossi / Carvalhinho) Marcha

2. Gabriela (Romeu Gentil / Waltamir Goulart) Samba

Continental – 15.885 (1948) 1. Toca Pedroca (Cuidado Amigo) (Pedroca / Mário Morais) Choro

2. Casadinhos (Luis Bittencourt / Augusto Oliveira Pinto “tuiú” / Augusto Oliveira Pinto “tuiú”) Intérprete(s): Marlene / César de Alencar Choro

Star – 67 (1948) 1. Nasci para Bailar (Fernando Lobo / Joel de Almeida) Samba rumba

2. Brasil Diferente (Gadé / Sá Róris) Maxixe

Star – 71 (1948) 1. Vamos Lá (Pedro Caetano / Alcyr Pires Vermelho) Samba

2. Palhaço Mais ou Menos (Ari Monteiro / Ari Follain) Marcha

Star – 101 (1948) 1. Fantasia Escocesa (Alberto Ribeiro / Alcyr Pires Vermelho) Marcha

2. Traje a Rigor ( / J. Costa) Samba

214 215 Star – 107 (1948) 1. Caçador (Luis Soberano) Samba

2. Minha Vitrola (Péricles) Marcha

Continental – 16.125 (1949) 1. Macapá (Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira) Baião Star – 122 (1949)

Star – 122 (1949) 1. Conceição da Praia (Dilú Mello / Oldemar Magalhães) Intérprete(s): Marlene / As Três Marias Jongo

2. Candonga (Fernando Martins / Felisberto Martins) Intérprete(s): Marlene / As Três Marias Guaracha

Continental – 16.147 (1950) 1. Eu já Vi Tudo (Peterpan / Amadeu Veloso) Intérprete(s): Marlene / Emilinha Borba Samba

2. Casca de Arroz (Roberto Roberti / Arlindo Marques Júnior) Intérprete(s): Marlene / Emilinha Borba Marcha

Continental – 16.148 (1950) 1. O Passo do Pinguim (Humberto Teixeira / Luiz Gonzaga) Marcha

2. Se É Pecado Sambar (Manoel Santana) Samba

216 Continental – 16.172 (1950) 2. A Bandinha do Irajá (Murilo Caldas) Intérprete(s): Emilinha Borba / Marlene Marcha

Continental – 16.186 (1950) 1. Dona Vera Tricotando (Humberto Teixeira / Luiz Gonzaga) Choro

2. Nego Meu Amor (José Maria de Abreu / Luis Peixoto) Intérprete(s): Marlene / Ivon Cury Maxixe

Continental – 16.251 (1950) 2. Cambinda Briante (Evaldo Ruy / Fernando Lobo) Maracatu

Continental – 16.309 (1950) 1. Esposa Modelo (José Maria de Abreu / Carlos Rêgo Barros de Souza) Choro

2. Tome Polca (José Maria de Abreu / Luis Peixoto) Polca

Continental – 16.417 (1951) 1. Suspiro Que Vai e Vem (Manezinho Araújo / Ismael Netto) Intérprete(s): Marlene / Ivon Cury Baião

2. Panchito no Mambo (S. Campelo / Murilo Vieira / Newton Lucena) Samba mambo

Continental – 16.331 (1951) 1. Estou com o Diabo no Corpo (Haroldo Lobo / Milton de Oliveira) Marcha

217 2. Peço Licença (Manoel Santana / Guaraná / Lourival Faissal) Samba

Continental – 16.358 (1951) 1. Piririm (Humberto Teixeira / Zé Dantas) Intérprete(s): Marlene / Trio Melodia (1) / Trio Madrigal Baião

2. Bandeira de Couro (Humberto Teixeira) Intérprete(s): Marlene / Trio Melodia (1) / Trio Madrigal Samba

Continental – 16.406 (1951) 1. Vamos à Valsa (Norival Reis / Rutinaldo) Valsa

2. Pinheiral (Luis Antônio / Jota Júnior) Baião

Continental – 16.332 (1951) 1. Sapato de Pobre (Luis Antônio / Jota Júnior) Samba

2. Para o Inferno ou para o Céu (Manoel Santana / Lourival Faissal) Samba

Continental – 16.473 (1951) 1. Tamanqueiro (Manezinho Araújo / Fernando Lobo) Baião

2. Xô Pato, Xô Peru (Aristeu Queiroz) Baião

Continental – 16.509 (1952) 1. Lata d’ Água (Luis Antônio / Jota Júnior) Samba

218 2. Sereia da Areia (João de Barro / Antônio Almeida) Marcha

Continental – 16.513 (1952) 1. Aquele Amor (Arnaldo Passos / Geraldo Pereira) Samba

2. Eva (Haroldo Lobo / Milton de Oliveira) Marcha

Continental – 16.515 (1952) 1. Velho Barrigudo (Caribé da Rocha / Evenor) Marcha

Continental – 16.556 (1952) 2. Canção das Noivas (Haroldo Lobo / Rômulo Paes) Baião

Continental – 16.563 (1952) 1. Tuniquinho (tá Vendo Só) (Luis Vieira / Ubirajara dos Santos) Baião

2. Luz de Vela (Jota Júnior / Luis Antônio) Samba

Continental – 16.601 (1952) 1. A Lenda do Paraná (Luis Vieira / Ubirajara dos Santos) Baião

2. Amanhã Será Tarde Demais (Carvalhinho / Francisco Neto) Samba

Continental – 16.646 (1952) 1. Só se Fala na Baiana (César Siqueira) Samba

219 2. Foi Despacho (Sereno) Samba

Continental – 16.670 (1953) 1. Zé Marmita (Luis Antônio / Brasinha) Samba

2. Marcha do Sapinho (Humberto Teixeira / Norte Victor) Marcha

Continental – 16.687 (1953) 1. Quebra Mar (Adelino Moreira / José Gonçalves / Zilda Gonçalves) Marcha

2. Gente do Morro (Getúlio Macedo / Bené Alexandre / Manoel Santana) Samba

Continental – 16.745 (1953) 1. Eu Vou pro Ceará (Humberto Teixeira) Baião

2. Baião no Deserto (Paulo Tapajós / Abel Ferreira / José Menezes) Baião

Continental – 16.771 (1953) 2. Tenho um Negócio pra Te Contar (Silvino Neto) Baião

Continental – 16.799 (1953) 1. Meu Baião (Tradicional / Adpt. João de Barro) Baião

220 Marlene em quadro de Julio Vieira

221 2. Chora Tereré (Luis Vieira) Baião

Continental – 16.853 (1953) 1. Jambalaya (H. Williams / Vrs. Capitão Furtado) Não Informado

2. Telefonando (Getúlio Macedo / Bené Alexandre) Mambo

Todamérica – TA-5.293 (1953) 1. Baião do Gago (Luis Vieira) Baião

2. Estrela Miúda (João do Vale / Luis Vieira) Baião

Continental – 16.891 (1954) 1. Patinete no Morro (Luis Antônio) Samba

2. Funga-funga (Zé da Zilda / Zilda do Zé / Adelino Moreira) Marcha

Continental – 16.892 (1954) 1. Batucada (Eduardo Souto / João de Barro) Samba

2. Marcha do Tambor (Evaldo Ruy / Hianto de Almeida / Jurandi Prates) Marcha

222 Continental – 16.928 (1954) 1. Toma Jeito João (Luis Bandeira) Samba

2. Mariquinha Namoradeira (Caribé da Rocha) Baião

Continental – 16.991 (1954) 1. Gaby Morena (Luis Bandeira) Samba

2. Se É Verdade (Lupicínio Rodrigues) Toada

Continental – 17.000 (1954) 1. É Sempre o Papai (Miguel Gustavo) Baião

2. Zé da Gota (Luis Vieira) Baião

Continental – 17.010 (1954) 1. Meu Pianinho (Lúcio Alves) Fox-trot

2. Os Sininhos de Natal (James R. Murray) Canção

Continental – 17.047 (1955) 1. Can Can (João de Barro) Marcha

2. Mora na Filosofia (Monsueto / Arnaldo Passos) Samba

223 Continental – 17.121 (1955) 1. O Lenço do Chiquinho (Hianto de Almeida / Haroldo de Almeida) Choro

Sinter – 00-00.389 (1955) 1. Dinguilin no Baião (Betinho) Baião

2. Papai É do Mambo (Papa Loves Mambo) (Hoffman / Manning / Reichner / Vrs. Luis de França) Mambo

Sinter – 00-00.395 (1955) 1. Canta Menina Canta (Monsueto / Arnaldo Passos) Samba

2. Mi Papá (Getúlio Macedo / Lourival Faissal) Mambo

Sinter – 00-00.425 (1955) 1. Marlene, meu Bem (Mário Lago) Intérprete(s): Marlene / Luis Delfino Valsa

Sinter – 00-00.440 (1955) 1. Ibrahim Piu Piu (Marcha do Ibrahim) (Miguel Gustavo) Marcha

2. Couro do Falecido (Monsueto / Jorge de Castro) Samba

Sinter – 00-00.448 (1955) 1. A Fruta É Boa (Otolindo Lopes / Fausto Guimarães / Arnô Provenzano) Marcha

224 2. Na Casa do Corongondó (Monsueto / Arnaldo Passos) Samba

Sinter – 00-00.463 (1956) 1. Samba Rasgado (Zé Keti / Jaime Silva) Samba

2. Aperta o Cinto (Monsueto / Jorge de Castro) Samba

Sinter – 491 (1956) 1. Lamento da Lavadeira (Monsueto / Nilo Chagas / João Violão) Samba

2. Leva Ele (Assis Valente / Álvaro da Silva) Samba

Sinter – 510 (1956) 1. Boas Festas (Assis Valente) Marcha

2. Té Já (Assis Valente) Marchinha

RCA Victor – 80-1725 (1957) 1. Papai do Céu Castiga (Antônio Almeida / Jota Júnior) Marcha

2. Inda Tem que Rebolar (Antônio Almeida / Zé Tinoco) Samba

RCA Victor – 80-1726 (1957) 1. Cão que Ladra não Morde (Arnô Provenzano / Otolindo Lopes / Oldemar Magalhães) Marcha

225 Marlene em 1949

226 2. Ingratidão (Oldemar Magalhães / Jota Júnior / Vera Silva) Samba

RCA Victor – 80-1757 (1957) 1. Grand Monde do Crioléu (Ary Barroso) Samba

2. Dora me Disse (Candeias Jota Jr. / Oldemar Magalhães) Fox

RCA Victor – 80-1810 (1957) 1. Cindy Oh Cindy (Mário Mendes / Bob Barron / Burt Long) Calipso

2. Saudade da Bahia (Dorival Caymmi) Samba

RCA Victor – 80-1862 (1957) 1. Quero Sambar (Zé Keti) Samba

2. Minha Candeia (Luis Vieira / João do Vale) Samba

Sinter – 541 (1957) 1. Jarro d’ Água (Assis Valente) Samba choro

Odeon – 14.343 (1958) 1. O Gondoleiro (le Gondolier) (Marcucci / Pete de Angelis / Vrs. Sergio Porto) Beguine

227 2. Canoeiro (Dorival Caymmi) Não Informado

Odeon – 14.374 (1958) 1. L’edera (Merci) (Seracin / D’Acquisto / Vrs. Armando Louzada) Beguine

2. Bom que Dói (Luis Bonfá / Aloysio de Oliveira) Choro

Odeon – 14.398 (1958) 1. Chaminé de Barracão (Monsueto / José Batista) Samba

2. Vou nas Águas (Raul Sampaio / Benil Santos) Marcha

RCA Victor – 80-1894 (1958) 1. Fogo na Marmita (Monsueto / Aldacir Louro / Amado Regis) Samba

2. Jurei (Milton Legey / Edu Rocha / S. Ramos) Samba

RCA Victor – 80-1894 (1958) 1. Fogo na Marmita (Monsueto / Aldacir Louro / Amado Regis) Samba

2. Jurei (Milton Legey / Edu Rocha / S. Ramos) Samba

RCA Victor – 80-1907 (1958) 2. Foi o Fim (Mirabeau / Jorge Gonçalves / Nilton Ribeiro) Samba

228 RCA Victor – 80-1954 (1958) 1. Biá-tá-tá (Hekel Tavares / Jorge D’Altavilla) Coco

2. Eu Subi (João da Bahiana / Príncipe Pretinho) Macumba

Odeon – 14.415 (1959) 1. O Apito no Samba (Luis Bandeira / Luis Antônio) Samba

2. O Lá Lá Bambolê (Luis Bittencourt / Marival) Samba

Odeon – 14.453 (1959) 1. Cumaná (Barclay / Hillman / Spina / Vrs. Aloysio de Oliveira) Não Informado

2. Chove (Piove) (Domenico Modugno / Verde / Vrs. David Nasser) Não Informado

Odeon – 14.503 (1959) 2. Erros de Gramática (Marino Pinto / Carlos Lyra) Samba

Odeon – 14.522 (1959) 1. Gimba ( / Jorge Kaszas) Samba

2. A Banda do Papai (Fonseca Filho) Guaracha

229 Odeon – 14.623 (1960) 1. Show de Amor (Hianto de Almeida / Chico Anísio) Não Informado

2. Olha que Lua (Guarda Che Luna) (Elgos / Malgoni / Vrs. Lourival Faissal) Não Informado

Continental – 78-178 (1963) 1. Twist no Carnaval (João de Barro / Jota Júnior) Marcha

2. Alguém (Haroldo Barbosa / Luis Reis) Marcha

Continental – 78-255 (1963) 1. Rio (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli) Samba

2. Nosso Cantinho (Jair Amorim / Evaldo Gouveia) Samba

Continental – 78-290 (1963) 1. Vamos Pro Mato Caçar (Antônio Almeida) Intérprete(s): Ruy Rey / Marlene Marcha

230 Participações

FARINHADA À FRANCESA 2005 CD Revivendo RVCD 234

CAYMMI 90 ANOS — MAR E TERRA 2004 CD BMG Brasil 8287658853-2

EMILINHA PINTA E BORBA 2003 CD Timbre S/nº

SONGBOOK BRAGUINHA 2002 CD Lumiar Discos LD 58 A LD 60

NELSON FERREIRA — 100 ANOS — CARNAVAL, SUA HISTÓRIA, SUA GLÓRIA — VOL. 23 a 28 2002 CD Revivendo RVCD 174 / 179

RAROS COMPASSOS 2000 CD Revivendo RVCD 142 / 144

SONGBOOK CHICO BUARQUE 1999 CD Lumiar Discos LD 46-07/99 a LD 53-14/99

NOEL ROSA — COISAS NOSSAS 1996 CD Leblon Records LB 060

SONGBOOK ARY BARROSO 1995 CD Lumiar Discos LD 03/95

EU E MEU CORAÇÃO — VOL. 1 1995 CD Revivendo RVCD 101

CANTORIA 1995 CD Saci 107.727

MESTRES DA MPB — HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO 1995 CD Warner Music M063012958-2

231 Na novela O Amor é Nosso

232 MESTRES DA MPB — EMILINHA BORBA 1994 CD Warner Music 995468-2

CARROSSEL — Trilha Sonora da Novela do SBT 1991 LP BMG-Ariola 140.0079

ADONIRAN BARBOSA — O POETA DO BIXIGA 1990 LP/CD Som Livre 407.0039

PROJETO BRAHMA EXTRA — GRANDES INTÉRPRETES 1989 LP Independente Mercado Promoções 003

LUIS ARMANDO QUEIROZ 1988 LP Retoque 60.0002

HÁ SEMPRE UM NOME DE MULHER 1987 LP Independente 803.520

CUSTÓDIO MESQUITA — PRAZER EM CONHECÊ-LO 1986 LP Funarte PA 86015

OS GRANDES CAMPEÕES DO CARNAVAL 1986 LP Phonodisc/Continental 0.34.405.374

HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO — LIRA DO POVO 1985 LP Independente Tycoon 992 061-1

TARCYS ANDRADE 1985 LP Jangada/EMI-Odeon 036 422598

MPB SHELL 82 — VOL. 1 1982 LP Som Livre 403.6258

NOVA HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA — LUIS ANTÔNIO / DJALMA FERREIRA / HAROLDO BARBOSA / LUIS REIS 1979 LP Abril Cultural HMPB 72

AS RAINHAS DO RÁDIO 1979 LP Clack/Bandeirantes Discos BR 33.022

233 ÓPERA DO MALANDRO — Trilha Sonora da Peça Teatral 1979 LP/CD Philips 6349 400/1

SÉRIE MPB CULTURAL Nº 26 — IVON CURY 1977 LP Continental 1.19.405.033

A RÁDIO NACIONAL E SEUS ÍDOLOS DE AUDITÓRIO — SÉRIE ÍDOLOS MPB Nº 25 1977 LP Continental 1.19.405.032

O DINHEIRO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA 1976 LP Independente V. Som 2809.073-A

40 ANOS DA RÁDIO NACIONAL 1976 LP Philips 6349 303/4

100 ANOS DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA — 4 PROJETO MINERVA 1975 LP MEC/Tapecar MPB-1004

100 ANOS DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA — 3 PROJETO MINERVA 1975 LP MEC/Tapecar MPB-1003

O SHOW DOS SHOWS 1975 LP Odeon SMOFB 3890

CARNAVAL DE TODOS OS TEMPOS 1974 LP Continental 1.19.405.004/5

CARNAVAL 75 — CONVOCAÇÃO GERAL 1974 LP Som Livre 411.6001

SAMBAS QUE MARCARAM 1974 LP Som Livre 403.6045

SÉRIE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA — GRANDES AUTORES — MONSUETO 1973 LP/CD RCA Camden 107.0148

QUANDO AS ESCOLAS SE ENCONTRAM 1973 LP RCA Camden 107.0131

NA TRANSA DO CARNAVAL — 1973 1972 LP RCA Victor 103.0058

234 VII FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO POPULAR — AS 12 FINALISTAS — FASE NACIONAL 1972 LP Som Livre SSIG 1017

A MEDIDA DO SUCESSO — VOL. 2 1972 LP Som Livre SIG 1011

BANDEIRA 2 — Trilha Sonora da Novela da Rede Globo 1971 LP Som Livre SIG 1007

IV FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO POPULAR — NACIONAL — AS FAVORITAS 1971 LP Som Livre SIG 1005

CARNAVAL DE CABEÇA PRA BAIXO 1968 LP CID 14.005

CARNAVAL DOS 7 GRANDES — 1969 1968 LP CID 14.004

II CONCURSO DE MÚSICAS DE CARNAVAL 1968 LP Independente CMC-1 a CMC-3

CARNAVAL DE VERDADE 1968 — VOL. 2 1967 LP Philips R 765.018 L

CARNAVAL DE VERDADE 1968 — VOL. 1 1967 LP Philips R 765.017 L

CARNAVAL 67 1966 LP Philips P 765.002 P

O FINO DA FOLIA! — 1966 1965 LP Philips P 632.778 L

CARNAVAL ALEGRIA DE TODOS 1965 LP Philips P 632.777 L

CARNAVAL RIO / 65 1964 LP Continental PPL 12153

CARNAVAL DE 1964 1963 LP Continental PPL 12088

235 CARNAVAL DE 1963 1962 LP Continental PPL 12047

CARNAVAL 1959 1958 LP Odeon MOFB 3054

CARNAVAL RCA VICTOR — VOL. 2 1958 LP RCA Victor BPL 13

CARNAVAL RCA VICTOR — VOL. 1 1958 LP RCA Victor BPL 12

SOUVENIR MUSICAL 1957 LP Fantasia/Philips SLP 1806

JUBILEU HERIVELTO 1957 LP RCA Victor BPL 5

CARNAVAL RCA VICTOR 1957 LP RCA Victor BPL 1

RITMOS BRASILEIROS — VOL. I — SAMBAS E MARCHAS 1955 LP10’ Sinter SLP 1049

DEZ SUCESSOS PARA O CARNAVAL DE 1956 1955 LP10’ Sinter SLP 1048

MOMENTO UNIVERSITÁRIO N/D LP EMI-Odeon 062 421025

ARY BARROSO — NOSSA HOMENAGEM — 100 ANOS — VOL. 6 N/D CD Revivendo RVCD 211

236 FILMOGRAFIA

PROFISSÃO: MULHER (1982)

Dirigido por Claudio Cunha, foi sua última participação em cinema como atriz convidada, ao lado de Otávio Augusto e Márcia Porto, além de Mário Cardoso, Cláudio Marzo, Wilma Dias, Fabio Sabag e Maurício do Valle, entre outros.

A VOLTA DO FILHO PRÓDIGO (1978) O longa dirigido por Ipojuca Pontes conta com a participação de sua mulher, Thereza Rachel, e de Helber Rangel, que faturou o prêmio de melhor ator em vários festivais, assim como Dilma Lóes no Festival de Gramado. Marlene tem participação especial.

CARNAVAL BARRA LIMPA (1967) Essa comédia, dirigida por J. B. Tanko, traz o premiado Dib Lutfi na câmera no elenco formado por Costinha, Carlos Eduardo Dolabella, Geórgia Quental, Marlene e Jorge Cherques, entre outros.

QUEM ROUBOU MEU SAMBA (1959) O musical dirigido por José Carlos Burle faturou o Prêmio Saci em 1959 dando o prêmio de melhor ator para Aurélio Teixeira ao lado de craques como Ankito, Nancy Wanderley e Marlene.

Em seu penúltimo papel no cinema: A volta do filho pródigo

237 Marlene ladeada por Gonzaguinha e Sérgio Cabral

238 Marlene com Fototi e o diretor Fauzi Arap

239 No filmeQuem roubou meu samba?

240 Com Walter D’Ávila no filmePif Paf

241 O CANTOR E O MILIONÁRIO (1958) Outra comédia premiada, pois ganhou o Prêmio Associação Brasileira dos Cronistas Cinematográficos e o galã , o de melhor ator na direção de José Carlos Burle. Luiz Delfino e Marlene repetiram dobradinha. Atuação também de Miriam Persia e , além da participação especial da cantora e compositora Maysa (Matarazzo).

ADIÓS PROBLEMAS! (1954) Longa produzido por A.Garcia e J. Smith. Roteiro de Abel Santacruz dirigido por Kurt Land filmado em Buenos Aires. Com Marlene (convidada especial), Henrique Muinõ, Amalia Sanchez Arino, Alberto Berco e Nilda Rey. Marlene é uma famosa artista estrangeira, golpista, que se envolve com uma rica família local, mas é descoberta.

BALANÇA MAS NÃO CAI (1952) A comédia – baseada no sucesso do programa da Rádio Nacional homônimo com roteiro de Max Nunes, Paulo Gracindo, Brandão Filho, Alinor Azevedo e Mario Brasini – repetia também o elenco da emissora com os personagens de Brandão Filho e Paulo Gracindo. Afinal, quem não se lembra do primo pobre e do primo rico, vividos depois na TV pelos mesmos Brandão Filho e Paulo Gracindo? Marlene, Herval Rossano e Mário Lago, entre outros, também faziam parte do elenco.

TUDO AZUL (1951) Longa-metragem dirigido por Moacyr Fenelon. Foi nessa filmagem que Marlene e Luiz Delfino se conheceram e se casaram logo em seguida, formando parceria depois no teatro e na televisão com grande sucesso.

Com Brandão Filho no filmeBalança mas não cai

242 243 Com Anselmo Duarte no filmeO Cantor e o Milionário

244 No filme Argentino Adios Problemas Páginas seguintes: Cyll Farney, Vera Nunes, Marlene e Maria Costa no filmeUm beijo roubado

245 246 247 UM BEIJO ROUBADO (1950) Também conhecido como Noites de Copacabana, é outra comédia musical da Cinédia dirigida por Léo Marten. Dick Farney canta música de Braguinha, enquanto Marlene interpreta Zumba, de Moisés Fridman. Foco também para as participações de Walter D’Ávila e Cyll Farney como o namorado de Marlene. Este longa-metragem reunia, pela primeira vez, os dois irmãos galãs do cine- ma e da música.

TODOS POR UM! (1950) Outro filme sobre o carnaval dirigido por Moacyr Fenelon com as participações de Colé, Marlene, Emilinha Borba, César de Alencar, Ciro Monteiro, entre outros.

PRA LÁ DE BOA (1949) Longa-metragem dirigido por Luiz de Barros com as participações de Linda Batista, Jardel Filho e Marlene, entre outros. Isto é, praticamente quase todo o elenco da Rádio Nacional.

CAMINHOS DO SUL (1949) O longa – dirigido por Fernando de Barros com cenografia de Carlos Thiré – tem no elenco Tônia Carrero, Maria Della Costa e Marlene, entre outros.

ESTA É FINA (1948) Comédia musical em que Marlene canta Gabriela, de Romeu Gentil e W. Goulart. Como companheiros de cena, o Trio de Ouro, Francisco Alves e Aracy de Almeida, entre outros.

CAÍDOS DO CÉU (1946) Longa carnavalesco também conhecido como Caminho do Céu com roteiro e direção de Luiz de Barros. Além de Marlene cantando Vou Sambar em Madureira, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, participam os grandes nomes da época como Isaurinha Garcia, Linda Batista, o Trio de Ouro origi- nal formado por Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas, além de Francisco Alves.

248 PIF-PAF (1945) Outro longa produzido por Adhemar Gonzaga e sua Cinédia dirigido por Luiz de Barros baseado no jogo que deu título ao filme. Entre os instrumentistas, destaque para Bucy Moreira, neto da legendária Tia Ciata e um dos fundadores da primeira escola de samba do Rio de Janeiro, a Deixa Falar. Marlene inter- preta junto com Chocolate O Samba faz Tanta Confusão, Não Irei lhe Buscar e Isto é Brasil, de Vicente Paiva e Sá Roriz, um clássico do nosso cancioneiro.

CORAÇÕES SEM PILOTO (1944) Longa-metragem produzido pela legendária Cinédia, de Adhemar Gonzaga, com argumento e roteiro de Luiz de Barros. Marlene interpreta Arrasta o Pé, de Peterpan, em sua estreia no cinema.

VIAGENS INTERNACIONAIS

1972 – Apresenta-se em Paris na Noite Brasileira ao lado de Jorge Ben (à época ainda não se assinava Benjor), Dona Ivone Lara e Império Serrano, com direção de Haroldo Costa.

1961 – Realiza shows em Buenos Aires no Teatro Nacional e em Punta del Leste (Uruguai) na Boate Tabaris.

1960 – Apresenta-se, com Norma Bengell, dirigidas por Carlos Machado, no Empire Room do Palmer House de Chicago, nos Estados Unidos.

1958 – Convidada pela cantora francesa Edith Piaf apresenta-se no Olympia, de Paris, e é a primeira artista brasileira a conseguir este feito.

1956 – Apresenta no hotel Waldorf Astoria, em Nova York, Uma Noite no Rio, dirigido por Carlos Machado.

1952 – Atua na rádio chilena Nivéria.

249 250 251 252 1951 – Em sua primeira viagem à Europa apresenta-se em show beneficente realizado em Cannes organizado pela Duquesa de Windsor. Ainda nessa mesma viagem apresenta-se no cassino de Juan-Les-Pins também localizado na Riviera Francesa.

1943 – A sua primeira viagem ao exterior é para Buenos Aires, participando de vários shows com a orquestra de Carlos Machado.

TELEVISÃO

1992 – Apresenta-se no programa Ensaio dirigido por Fernando Faro, na Cultura, de São Paulo, numa época em que a televisão se preocupava em botar a MPB no veículo.

1988 – Participa da novela Olho por Olho da Manchete.

1986 – VHS Marlene Estrela da Vida

1985 – Participa como comentarista dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, grupo especial, pela Bandeirantes, que fazia uma cobertura muito boa do desfile.

1983 – Faz o programa Eu Sou o Show especial da antiga TVE (atual TV Brasil), do Rio de Janeiro.

1983 – Participa do especial Quarta Nobre – A Guerra dos Inocentes, de , com direção de Herval Rossano, na Globo, Rio de Janeiro.

1983 – Atua em Viver a Vida, minissérie de Manoel Carlos, dirigida por Herval Rossano, exibida na Manchete (atual Rede TV), RJ.

1982 – Estrela É a Maior, especial da Manchete (atual Rede TV), RJ.

253 1981 – Faz a novela O Amor É Nosso, de Roberto Freitas, Wilson Aguiar Filho e Walter Negrão, na Rede Globo.

1977 – Apresentadora do programa Levanta a Poeira exibido pela Globo do Rio de Janeiro.

1969 – Na Globo RJ apresenta, com Agildo Ribeiro, A Grande Revista.

1967 – Faz na Tupi, de São Paulo, o talk show Sala de Espera.

1966 – Participa, na Globo RJ, do musical Oh, que Delícia de Show, criado pelos craques Max Nunes e Haroldo Barbosa e direção de Augusto César Vanucci. Era apresentado pela atriz Célia Biar e pelo lutador de luta livre Ted Boy Marino.

1964 – Sob a batuta de Carlos Manga participa, na Excelsior RJ, do programa Playboy.

1963 – Faz na TV Rio RJ o Vip Show Royal.

1963 – Apresenta no canal 13, a TV Rio, o programa de prêmios Fique no 13, ao lado de Murilo Nery, um dos melhores apresentadores que a TV já teve.

1962 – Na época em que a TV Rio dominava o cenário, apresentou o programa Garçon Garante o Espetáculo, recebendo prêmio como melhor apresentadora.

1960 – Apresentadora do Espetáculos Tonelux (que viria celebrizar a apresen- tadora Neide Aparecida) na Tupi, RJ.

1960 – Atua no Teatro de Comédia da Tupi, RJ.

1959 – Faz o programa Comédia Piraquê na TV Rio, RJ.

1955 – Apresenta o programa Marlene meu Bem com Luiz Delfino na Record, de São Paulo. Em sua origem era um programa de rádio também apresentado pelo casal de grande sucesso (os dois).

254 Cartaz TV Rio

255 256 Marlene com a atriz norte americana Merle Oberon

257 PRÊMIOS EM MUSICAIS, TEATRO E TV

1952 – Fatura outro prêmio por uma das músicas que a consagraram: a Lata d’ Água, de Luiz Antonio Jota Junior, grande sucesso do carnaval desse ano.

1950 – Ganha o Prêmio Noel Rosa como melhor intérprete de música carna- valesca com Se É Pecado Sambar, de Manuel Sant’anna.

TEATRO

2001 – Medalha Pedro Ernesto conferida pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Mesmo ano do prêmio Rainha das Rainhas do Rádio em concurso promovido pela Folha online do jornal Folha de S.Paulo.

1990 – Recebe a Medalha Funarte do Fundo Nacional de Artes pelo conjunto de trabalho à cidade do Rio de Janeiro.

1988 – Comenda Carlos Gomes conferida pela Sociedade de Artes Cultural e Turismo Brasília.

1985 – Recebe o Troféu Funarte Ídolos do Rádio por serviços prestados à cultura brasileira.

1969 – Ganha o Troféu Carmen Miranda por suas interpretações de músicas de carnaval.

1966 – Prêmio dado pela TV Record como campeã do carnaval.

1965 – Recebe o Prêmio Euterpe pelo disco mais original do ano, no caso com o LP Sassaruê.

1965 – Prêmio IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro.

1952 – Revelação de atriz conferido pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais por Mora na Filosofia do Carnaval.

258 Marlene desfilando naBanda de Ipanema em 1974

259 260 TÍTULOS

1995 – Ganha a Medalha Anchieta em São Paulo.

1993 – Recebe a Medalha Tiradentes pela Câmara dos Deputados em São Paulo.

1985 – É eleita Cidadã Honorária da Cidade do Rio de Janeiro em título dado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

1974 – É escolhida como madrinha da Banda de Ipanema, honraria do carnaval carioca. O padrinho foi Martinho da Vila.

1972 – Diploma de campeã como intérprete do samba enredo do Império Serrano, o Alô Alô Taí Carmen Miranda.

1972 – Prêmio Favoritos da Canção da revista Amiga.

1971 – Prêmio de melhor intérprete do ano conferido pelas revistas TV Guia e A Cigarra.

1971– Prêmio pela melhor música, Bloco da Solidão, de Ewaldo Gouveia e Jair Amorim, do Festival de Carnaval promovido pela TV Tupi do Rio de Janeiro.

1970 – Premiada como Personalidade feminina da MPB pela TV Tupi e revista O Cruzeiro.

1970 – Recebe outro prêmio da TV Guia/RJ pelo melhor show do ano com É a Maior.

1970 – Escolhida Imortal do Rádio pela revista Amiga.

1959 – Eleita Cidadã dos Cariocas em título dado pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.

1957 – Escolhida como a Mais elegante do ano na lista das 10 mais de Jacinto de Thormes, o dono da tal lista antes de Ibrahim Sued.

Regina Duarte e Marlene em 1985

261 1957 – Mesmo ano do título conferido pela União Nacional dos Estudantes, a UNE: Favorita dos Estudantes.

1956 – Enquanto a rival Emilinha Borba era escolhida favorita da Marinha, Marlene foi de Favorita da Aeronáutica outorgado pela Força Aérea Brasileira (FAB) em prêmio entregue pelo próprio ministro da Guerra, Eduardo Gomes.

1955 – Prêmio Rainha dos auditórios dado pela revista Carioca do Rio de Janeiro.

1954 – Eleita Rainha da Primavera dos Radialistas pela Associação Brasileira de Rádio do Rio de Janeiro.

1953 – Escolhida a Maior Figura Feminina do Rádio pelo jornal Diário da Noite.

1949 – Sagrou-se Rainha do Rádio com 579.982 votos vendidos para a cons- trução do Hospital dos Radialistas. É o famoso episódio da cantora ter sido bancada pela fábrica de bebidas Antarctica derrotando Emilinha Borba que já dava como certa a sua vitória datando dessa época a rivalidade entre as duas cantoras gerando Marlene versus Emilinha ou o contrário (depende de quem você era ou é).

262 Marlene no programa Levanta Poeira da TV Globo, 1977

263 Atuando em Botequim

264

Créditos fotográficos

Amar (Associação Marlenista | Acervo Cezar Sepulveda).

A Editora agradece quaisquer informações sobre os detentores dos direitos das imagens não creditadas neste livro, bem como de pessoas não identificadas nas fotografias, apesar dos esforços envidados para obtê-las. Agradecimentos

Amar (Associação Marlenista) através de Nieta Carvalho e Cezar Sepulveda, seus representantes

Jornalista e escritora Tania Carvalho

Pesquisador e escritor Jairo Severiano

Marcelo Barros (tratamento de imagens fotos Marlene)

Produtor e escritor Rubens Ewald Filho Coleção Aplauso Série Música

Coordenador geral Rubens Ewald Filho Projeto gráfico Via Impressa Design Gráfico Direção de arte Clayton Policarpo Paulo Otavio Editoração Douglas Germano Emerson Brito Tratamento de imagens José Carlos da Silva Revisão Maria Lúcia Zanelli

CTP, impressão e acabamento Imprensa Oficial do Estado de São Paulo © Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012

Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Aragão, Diana Marlene : a incomparável / Diana Aragão. – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012. 272p. : il. – (Coleção aplauso. Série música / Coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN: 978-85-401-0027-5 1. Música popular – Brasil – História e crítica 2. Cantores – Brasil 4. Marlene, 1924 I. Ewald Filho, Rubens. II. Título. III. Série.

CDD 780.92

Índice para catálogo sistemático: 1. Brasil : Cantoras : Biografia 780.92

Proibida a reprodução total ou parcial sem a autorização prévia do organizador e dos editores Direitos reservados e protegidos (lei no 9.610, de 19.02.1998) Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (lei no 10.994, de 14.12.2004) Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009

Impresso no Brasil 2012

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270 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador Geraldo Alckmin

Secretário Chefe da Casa Civil Sidney Beraldo

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Marcos Antonio Monteiro

271 Formato 21 x 26cm Tipologia Chalet Comprime e Univers Papel capa triplex 250g/m2 Papel miolo offset 120g/m2 Número de páginas 272

272 musica musica colecao colecao Zegoli

Diana Aragão Bacharel em Jornalismo e Comunicação pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 1973) estagiando em seguida no Jornal do Brasil atuando no Caderno de Turimo e, em seguida, no Caderno B

nas funções de repórter, crítica de shows, discos e TV. Depois A Incomparável de 15 anos desligou-se da empresa passando para o Segundo Caderno do jornal O Globo exercendo também o papel de crítica de shows e discos. Mesmas funções no jornal O Dia e na Revista Visão, sucursal Rio de Janeiro, assim como no Jornal da Tarde, de São Paulo, sucursal Rio, na área de cultura. Trabalhou Marlene ainda como assistente de direção dos shows Memória do Samba realizados no final de 1993 no Teatro Gonzaguinha, do Centro de Artes Calouste Gulbenkain. Co-autora do vídeo Thereza Aragão-Memória do Samba realizado em 1995. Diretora dos seguintes shows realizados na Sala Funarte Sidney Diana aragão Miller e no Projeto Pixinguinha, no Teatro Carlos Gomes, em 1995: Velha Guarda da Portela e convidados, Marcos de Pina e conjunto Vibrações; Alaíde Costa, João Carlos Assis Brasil e Renato Borghetti, Velha Guarda da Mangueira e convidados. Diretora e Produtora do show reunindo Nelson Sargento e Família Roitman para o Projeto Pixinguinha de 1997. Trabalhou ainda com a cantora e compositora Telma Tavares no Teatro Rival Rio, além de escrever textos dos seus discos para artistas como Alcione, Maria Bethânia, Tunai e Nana Caymmi, entre outros. Autora ainda da série de fascículos/CDs Grandes nomes da MPB, da Editora Del Prado. Colabora atualmente com os blogs CPC Aracy de Almeida e Curabula Livro Clube. A Incomparável Marlene Diana Aragão

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