LAILA GARIN Frente Teatro RJ Mantém Vaquinha Aberta Após Mostra

Home , Eva Wilma, Nathalia Timberg, Paulo Autran

CARTA AO LEITOR ÍNDICE 70

EXPEDIENTE 6 | ENTREVISTA 48 | HOLOFOTES TV O verbo do teatro era re- com ingressos populares A jornalista Fabiana Seragusa entrevista Conheça um pouco mais sobre Drayson Elias Andreato, um dos maiores nomes Menezzes e Rodrigo Miallaret, dois nomes de Grande Teatro TUPI: o feliz sistir. Agora, ele tem que para o público abraçar a destaque na cena teatral. Diretor de Redação: do teatro paulistano. encontro da televisão e do reexistir. A pandemia do classe teatral. Ainda que se teatro no Brasil. Paulo Fernando Góes novo Coronavírus foi um fale na valorização do in- 10 | EM BOA COMPANHIA Conheça mais sobre a Velha Companhia, TEATRO PELO MUNDO duro golpe em um grupo já gresso (que já não dá conta Colaboradores: por Kyra Piscitelli. combalido, financeiramente de pagar todos os custos 50 | NEW YORK 62 | NAS REDES 17 | EVOÉ Sarah Jessica Parker e Matthew Broderick Bruno Cavalcanti O que postam os principais nomes falando. Artisticamente, do teatro e do espetáculo), Confira as novidades mais quentes do se reencontram em “Plaza Suite”, comédia Cacá Valente do teatro nas redes sociais. quando mais o teatro apa- há de se pesar que o públi- teatro na coluna do Leonardo Torres, de Neil Simon. Claudio Martins do Teatro em Cena. nha, mais forte e criativo co também teve suas ren- 64 | TEATRO NA WEB 52 | LONDRES Fabiana Seragusa 18 | REGISTRO Canal no YouTube disponibiliza 55 ele fica. Mas o que fazer das diminuídas com a pan- “4.000 Miles”, de Amy Herzog: Estúdios Disney preparam gravação vídeos do ensaio de “Grande Sertão Kyra Piscitelli espetáculo reflete sobre pontes quando as cortinas estão demia e não terá dinheiro do musical “Hamilton” para distribuição Veredas”, de Bia Lessa. Leonardo Torres fechadas e o público confi- para ingressos caros. Se na em cinemas. entre gerações e escuta ativa. Luís Francisco Wasilewski nado em suas casas? Como Broadway, que vive sem 20 | NO FOYER 54 | PORTUGAL 66 | LEITURA DE PALCO Marlon Zé o teatro irá se reerguer? leis de incentivo, os espe- Quem foram as celebridades que Dirigido por Henri Pagnoncelli, “Os O jornalista e dramaturgo Bruno Paulo Neto compareceram à estreia VIP de “A Hora da Impagáveis” ganha adaptação com Cavalcanti lista 10 peças inspiradas táculos com menor procura Estrela ou o Canto de Macabéa”, no CCBB-RJ. em publicações literárias. Sérgio Maggio elenco português. No decreto publicado recebem maior desconto 22 | CINEMA 57 | PARIS 72 | MÚSICA pelo governador do Rio de para venda na bilheteria da “Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues, ganha Designers: sua terceira adaptação cinematográfica. “Coup de Foudre Sans Gluten”: comédia “Tudo Ao Contrário” e “Cazas de Janeiro, Wilson Witzel, no TKTS, localizada na Times mostra um divertido embate amoroso Cazuza” retornam aos palcos com Arthur Felippe dia 13 de março de 2020, Square, por que não aplicar 24 | NA COXIA entre um açougueiro e uma vegana. parte da bilheteria revertida à Pedro Barbosa Sociedade Viva Cazuza. Artistas, produtores, técnicos e donos 58 | BUENOS AIRES salas de cinema, teatro e a mesma lógica às peças de teatro se articulam para sobreviver à Rodrigo Almada “Late el Corazón de un Perro”: premiado 77 | ESPECIAL casas de show deveriam cariocas? A população está pandemia do Coronavírus. espetáculo de Franco Gabriel Verdoia Com pandemia do Coronavírus, fechar para evitar aglome- sedenta para se desen- Colunista Convidado: estreia no Espacio Callejón. produtoras disponibilizam espetáculos rações e diminuir o risco de clausurar, o público quer 28 | MEU OFÍCIO on-line para entreter a quarentena. Rodrigo França Rico Vilarouca discorre sobre o 60 | TEATRO PELO BRASIL contágio do Coronavírus. ocupar às ruas, passear, rir, recente ofício de videografista e Alonso 85 | EM CARTAZ Sérgio Maggio traz um panorama sobre a Barros fala sobre seu despertar para a Confira alguns espetáculos que, antes Em uma cidade como o se divertir. Queremos ver cena teatral em Brasília. Edição: profissão de coreógrafo. da pandemia de Coronavírus, estavam Rio de Janeiro, não seria gente! E o teatro deve estar Daniel Terra programados para estrear em abril. melhor começar fechando de portas abertas para nos os barzinhos e as praias? acolher e nos propiciar o 92 | VAQUINHAS Mídias Sociais: Rede composta por 26 grupos da O isolamento social faz-se mesmo prazer que sentem Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Isabela Oliveira necessário mas para a os ex-presidiários quando LAILA GARIN Frente Teatro RJ mantém vaquinha aberta após mostra. classe teatral que vive do redescobrem a liberdade. 32 A CARA DO NOVO TEATRO Marketing: seu ofício, como sobre- Tudo que queremos é viajar 94 | COLUNISTA CONVIDADO Rodrigo Medeiros MUSICAL “MADE IN BRAZIL” Rodrigo França escreve coluna sobre “o viver? Capitaneada pelo com as peças para lugares teatro nosso de cada dia”. produtor Eduardo Barata, a mais protegidos do que Entrevista exclusiva com Produção: APTR vem lutando para re- este onde estamos. Laila Garin, estrela do Wanderson Neri teatro musical brasileiro, ceber apoio governamental protagonista de “A Hora Agradecimento: para a classe teatral, mas da Estrela ou o Canto de Macabéa” 74 Rodrigo Monteiro dessa vez, a luta é para todos, do pescador ao em- UMA PEÇA QUE presário. A crise é global. ME MARCOU Estrela do teatro musical, Kiara Para o teatro, novamente, Sasso rememora “Mamma Mia!”, a peça que mais marcou sua carreira. a única saída que vejo é o público. Penso que esse www.incitarte.com.br momento deve ser aprovei- www.queroteatro.com.br tado para trazer de volta os [email protected] espectadores às salas de facebook.com/queroteatroRJ espetáculo. Nenhuma peça Instagram: @queroteatro pode abrir as cortinas com YouTube.com/queroteatro cadeiras vazias. É a hora de uma grande campanha Paulo Fernando Góes DIRETOR DE REDAÇÃO

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alar de Elias Andreato é falar de ticas de cada um e focando nisso, no Fteatro. Desde sua estreia profissio- que eles podem oferecer de melhor. nal em 1977, com a peça “Pequenos ELIAS ANDREATO Burgueses”, o artista vem construindo O ator teve uma biografia lançada re- uma carreira premiada e respeitada centemente, chamada “Elias Andreato, Gente é pra brilhar! tanto por colegas como pelo públi- A Máscara do Improvável”, escrita pelo Por FABIANA Seragusa co em geral, que o prestigia desde o jornalista Dirceu Alves Jr., e recente- início. Já trabalhou com nomes como mente esteve em cartaz com duas pe- Renato Borghi, Juca de Oliveira, Jorge ças em São Paulo: o monólogo “Arap” Takla, Roberto Lage e Marília Gabriela, e a comédia “Amigas Pero No Mucho”. além de ter dirigido Paulo Autran (1922- 2007) nos espetáculos “Visitando o Sr. Aos 64 anos de idade e com 43 de Green” (2000) e “Adivinha quem Vem carreira, ele observa uma mudança para Rezar” (2005). no fazer teatral ao longo dos anos, de quando começou até agora. Para ele, Se foi fácil chegar até aqui? Longe dis- o tempo dedicado ao processo criati- so. Caçula de uma família de seis ir- vo e à preparação dos espetáculos era mãos, o paranaense precisou ser forte maior - e o público também compare- para ir em busca dos seus sonhos e cia mais. Além disso, avalia que os artis- trilhar a profissão que fazia seus olhos tas estão cada vez mais desunidos, que brilharem, apesar da falta de incentivo vivem em guetos e não se misturam. e de ouvir que não tinha talento para os palcos. E é por isso que, hoje em Neste bate-papo exclusivo, Elias fala, dia, ele faz questão de estimular o má- ainda, de políticas públicas e sobre co- ximo possível seus alunos de teatro, mo a arte é fundamental para a forma- identificando as principais caracterís- ção e consciência da sociedade.

Além de estar sempre em cartaz, você vai constantemente ao teatro para ver peças de outros artistas. Você acha que é essencial prestigiar os colegas?

Elias: Sempre que possí- vel vou ao teatro! Gosto FOTO: Divulgação. FOTO: de fazer e de assistir teatro. É importante observar o olhar de outros artistas, aprendemos muito e nos tornamos mais generosos com o talento do outro.

Elias Andreato dirigiu Paulo Autran em “Visitando o Sr. Green” (2000) e “Adivinha quem Vem para Rezar” (2005), com Claudio Fontanta. FOTO: Divulgação

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despindo de tudo que cri- De qual forma as políti- ticávamos. Tudo era teatro cas públicas podem aju- burguês. Este público foi dar de fato o mercado ar- se afastando. A juventude tístico? O que mudar? não foi estimulada a nos conhecer. Fomos fazen- Elias: As nossas leis exis- do teatro para nós e para tem e cumprem o papel poucos. de que precisamos. Todos devem ter o direito de Você acha a classe artís- usá-las e ser beneficia- tica unida ou desunida? dos por elas. Precisamos prestar contas, como to- Elias: A classe artística só dos os que usam dinhei- foi unida quando todos ro público. O que produ- estavam do mesmo lado. zimos é, sim, de utilidade Hoje, vivemos em guetos pública. Contribuímos, co- (a maioria). Todo artista, mo a educação, para a todo grupo, todo produ- formação e consciên- tor... todos são maravilho- cia de nossa sociedade. “A Máscara do Improvável”, sos demais. Não nos mis- Através da arte, nos torna- biografia escrita pelo jornalista e turamos! “Meus amigos mos mais humanos. crítico de teatro Dirceu Alves Jr., lançada em 2019. são campeões em tudo. Nunca conheci quem ti- Você já disse que, no iní- vesse levado porrada.” cio da sua carreira ouviu (Fernando Pessoa) de muita gente que o te- Com Nilton atro não era coisa para Bicudo na comédia você, para você desistir. “Dona Bete”. Alex Gruli, Norival Rizzo e Elias Andreato Até que ponto você acha FOTO: João na longeva comédia “Amigas, Pero No Caldas Filho que vale a pena enfren- Mucho”, sobre quatro mulheres que mantêm uma relação de amor e ódio. tar as dificuldades e lutar Foto: João Caldas/Veja SP por um sonho? Qual a principal diferença Sem as leis de incentivo, é que você observa em re- inviável produzir. Elias - A gente nunca dei- lação aos espetáculos re- xa de ouvir estas merdas. alizados atualmente e aos Todo mundo sempre fa- Com a idade, nos torna- encenados quando você la que é muito difícil le- mos mais calejados e cí- POR: começou sua carreira? var público ao teatro. Por nicos. O que aprendi com FABIANA que você acha que isso isso? Quem sabe de mim SERAGUSA Elias: Mudou o jeito de fa- acontece? E o que fazer sou eu! Jamais repeti- zer. O tempo dedicado ao para mudar isso? rei esse desserviço com É editora do site Cultu- processo criativo e à exe- alguém. Estarei sempre rice. Ganhou o Prêmio cução era maior. A produ- Elias: Sempre foi assim, apoiando o outro e reco- Folha de Jornalismo ção sobrevivia com pouco mas antes pensávamos nhecendo o seu talento em 2015 pela avalia- e arriscava mais, porém, mais no público. Existia o ou dificuldade com empa- ção dos teatros de São tínhamos mais público. teatro do entretenimen- tia. Que tudo mais vá pra Paulo e é jurada do Fazíamos apenas um es- to com qualidade. Autor, o inferno! Vamos sonhar Prêmio do Humor SP, petáculo e tentávamos produção, artistas. Pano sim!!! Gente é pra brilhar! do Prêmio Bibi Ferreira sobreviver dele. E isso, de boca, recepção do e do Prêmio Destaque geralmente, era possível. público, tudo mais gla- Imprensa Digital. Hoje tudo é muito caro. mourizado. Fomos nos

8 ABRIL 2020 ABRIL 2020 9 EM BOA COMPANHIA EM BOA COMPANHIA VELHA COMPANHIA A tríade equilibrada do teatro delas e com elas. Alejandra é a poesia, o olhar para o outro necessário à arte, Por KYRA PISCITELLI enquanto Virgínia é a única com um real e poderoso senso prático. Enxerga o óbvio uando Maurício Marques (Kiko há quilômetros e costuma ter uma visão Marques), Virgínia Buckowski e cirurgicamente objetiva dos caminhos. QAlejandra Sampaio se cruzaram no Teatro Pirandello, entre 1994 e 1995, foi o A primeira montagem assinada pela começo da Velha Companhia – fundada Velha Companhia foi “Brinquedos quase 10 anos depois desse encontro. Quebrados”, com texto e direção de Kiko. Na época, Kiko e Marco Antônio Braz Depois, passaram para uma remontagem tínham chegado do Rio de Janeiro e (“Crepúsculo”) e um reencontro com Braz foram convidados a ocupar o teatro com (“Ay, Carmela”). Na terceira empreitada, a recém-formada companhia Círculo dos “O Travesseiro”, a Cia. volta-se para a Comediantes. Juntos, criaram um curso dramaturgia própria, caminho seguido para atores de onde vieram Alejandra e até hoje. Em 2012, o trio monta “Cais Virgínia. Na teia do destino, a dupla entrou ou da Indiferença das Embarcações”, como substitutas de “Perdoa-me por me considerado obra-prima pela crítica, Traíres”, de Nelson Rodrigues. Essa era público e a primeira parte de uma trilogia a segunda montagem do Círculo que seguida por “Sinthia” e “Casa Submersa”. percorreu a obra de Nelson pela batuta de No portifólio também está o monólogo Braz, especialista no dramaturgo. “Valéria e os Pássaros”. Em entrevista exclusiva para a Revista #INCITARTE, o O sonho de trabalhar dramaturgia trio – inseparável – fala sobre trajetória, própria uniu o trio em uma nova presente, futuro, e como é trabalhar com empreitada. Assim nasceu a Velha ideias que parecem sonhos. Companhia, em 2003. Como uma orquestra afinada, cada um é insubstituível. Kiko dirige, escreve e cria tudo a partir

Henrique Schafer e Alejandra Sampaio em “Sínthia”. FOTO: Lenise Pinheiro/ Divulgação.

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O nome do grupo vem boa parte desse período inseparáveis em alguns de guerra. Fratricida. Como da palavra memória e da em que se acreditou que momentos. Noutros, não. há muitos tipos de morte, amizade de vocês. Qual o cultura e arte são elemen- Esse é o sentido de existi- também há muitos tipos papel da memória no tea- tos fundamentais da for- rem e isso é democracia. de guerra. Estamos no tro de hoje ou qual deve- mação e identidade de um Mas calar a arte é algo momento de reaprender ria ser esse papel? povo, que devem ser, de que ninguém, seja por qual é de fato essa nossa alguma forma, fomentados qualquer ideia de bem ou guerra, pelo que vale a pe- Alejandra Sampaio: A me- e cuidados. Foi um momen- contra qualquer conceito na lutar, quem e o que so- mória é uma espécie de to bom para a companhia de mal, pode reivindicar. mos e como devemos agir rio que corre e nos dá de em termos de patrocínios Não se cala os artistas. diante disso tudo. É um beber. Fundamental para e apoios e isso possibili- Quando isso acontece, trabalho intenso e duro, in- a sobrevivência, responsá- tou a criação de uma obra morre quem é calado, terna e externamente. vel pelo que permanecerá como a Trilogia das Águas, morre quem manda calar. depois da morte. De forma três de nossos espetáculos Há muitos tipos de morte. “Cais ou da Indiferença primária, construímos nos- escritos e encenados entre Nosso tempo é um tempo das Embarcações” pode sa identidade margeando “Cais ou da Indiferença das Embarcações”: espetáculo trouxe prêmios e reconhecimento à o período de 2006 e 2019, ser considerado um marco Velha Companhia. FOTO: Maringas Maciel esse rio. Medo e coragem com o auxílio de verbas em termos de crítica para nadam no mesmo caldo públicas e que deram um a Companhia? Prêmio vale desse processo cogniti- Não comove os poetas de bastante fora dos padrões enorme retorno em termos alguma coisa? vo, afetivo e intuitivo on- salão. Mas os poetas do comerciais e chegamos a de empregos diretos e inde a memória individual lixo, os idealistas das fa- resultados também des- diretos, bem como do bem Divulgação. FOTO: KM: Sim, “Cais ou da Indi- é ressignificada durante velas, um espectador que ligados desses balizado- artístico que devolvemos ferença das Embarcações" toda a vida. A memória assiste e observa as tra- res. Existe um pacto de pra sociedade. Vivemos é um marco. A partir dele, coletiva tem o poder da gédias que os políticos re- muita confiança, porque agora um momento em a companhia teve a visibili- atemporalidade, sua na- presentam em relação ao é o lugar do inusitado, do que artistas são novamente dade que não tinha até en- tureza primordial fomenta povo. Os políticos sabem imponderável que precisa- demonizados, a arte deixa tão. É a trajetória normal, a sobrevivência da espé- que eu sou poetisa. E que mos trilhar. Realmente não de ser bem vista pelos ve- arquetípica. Uma compa- cie. Quando o público e o poeta enfrenta a morte sabemos aonde iremos ículos de comunicação e “Não se cala os nhia de teatro, um artista... os artistas recordam sua quando vê seu povo opri- chegar quando começa- formação de opinião e a li- artistas. Quando existe. E produz sua obra. mido”. O papel da memória mos um processo, por isso berdade de expressão volta Essa obra é reconhecida humanidade, acontece isso acontece, morre a experiência do Teatro. no Teatro hoje parece ser é preciso confiança, tempo a ser duramente atacada. dentro de um círculo, às Vivemos um tempo violen- sobre a liberdade em seu de estrada e conhecimen- Um tempo de luta. A polí- quem é calado, morre vezes, pequeno. Num de- to e anêmico de empatia. sentido amplo e irrestrito. to humano e artístico do tica e a arte nunca foram quem manda calar”. terminado momento, por Violento com a constru- Memória que a falta de outro. A real e sincera co- amigas eternas. São irmãs KIKO MARQUES uma conjunção de fatores, liberdade subjugou, opri- municação entre as pes- “ aquele artista ou grupo de ção de uma história oficial.

Tempo de desconstrução. miu, dizimou. Memória do soas é um dos maiores e Espetáculo “Sínthia”. artistas alcança uma visi- A resistência da memó- real sentido de democra- mais raros dons da vida. A FOTO: Bob Souza. bilidade que não tinha até ria coletiva é sinônimo de cia e humanidade. companhia, se vivida com então. "São descobertos". sobrevivência: dos povos coragem e cuidado, nos Os fatores que criam isso indígenas, dos negros, das O trabalho feito pelo grupo proporciona isso. ” são muitos e inusitados. mulheres, dos LGBT's, dos seria possível de ser feito Pode ser que apenas es- trabalhadores, dos direitos fora dele? É possível fazer um ba- tivessem no lugar certo, ambientais, direitos huma- lanço do que viveram en- na hora certa, como diria nos, do humano. Virgínia Buckowski: Acre- quanto companhia nesses Hamlet. No caso de “Cais dito que não seria possível quase 20 anos? ou da Indiferença das Em- Lembrando Carolina Maria fazer o trabalho que faze- barcações" estávamos de Jesus nas suas memó- mos fora da companhia. Kiko Marques: Vimos um na nossa hora, plenos de rias: “Vi os pobres sair cho- Ela é justamente o lugar turbilhão político nesses honestidade para com rando. E as lágrimas dos dessa investigação. Traba- últimos quase 20 anos. nossas vontades artísti- pobres comove os poetas. lhamos com um processo Como companhia, vivemos cas, não devíamos nada a

12 ABRIL 2020 ABRIL 2020 13 EM BOA COMPANHIA EM BOA COMPANHIA

tuição mandavam. Num determinado momento, dava essa fase por termi- nada e ia escrever o tex- to. Sozinho, no meu dito gabinete. Quando vol- tava, sempre tinha uma obra com que a maioria se identificava, com elementos criados por muitos, escrita para cada um dos atores e atrizes, mas, ao mesmo tempo, uma

obra reconhecidamente Parte do elenco de “Sínthia” (em sentido horário): Marcelo Diaz, Willians Mezzacapa, Kiko pessoal. Foi esse proces- Marques, Marcelo Marothy e Denise Weinberg. FOTO: Lenise Pinheiro. so que levei para a Velha Companhia e que a ca- Quais são os planos para Mas sempre trabalhamos da espetáculo se desen- o futuro? com ideias que parecem volve. Em "Sínthia", por sonhos. Esse é nosso pro- exemplo, acrescentamos KM: Queremos editar a jeto do coração. Queremos os observadores: pesso- Trilogia. Editar e pôr em também fazer um proje- as que tinham interesse cartaz as três peças juntas, to nosso para crianças.

“Casa Submersa” (2019): último espetáculo da trilogia marítima composta por “Cais ou da Indiferença das Embarcações” e “Sínthia”. em algum tipo de troca com palestras, debates Para nossos filhos e netos. FOTO: Nelson Kao. com a companhia e que sobre dramaturgia. Os li- Queremos estar vivos, ple- passaram a observar e vros e as peças! Podendo, nos de amor e pensamen- ninguém e tínhamos uma porte diferenciado que faz morte do Walter Portella comentar o processo de num dia da semana, ver to e sempre em cena. conjunção artística muito com que você tenha algu- depois de ter sido nosso criação. Em "Casa Sub- às três, começando às 11 potente. Houve isso em mas ferramentas a mais barco... Muitos e cada um mersa", esses observado- da manhã e terminando outras ocasiões, até com nesse mundo intrinseca- num sentido. res se multiplicaram e su- à meia-noite! Um sonho mais potência, mas como mente competitivo, um biram ao palco conosco. dentro do ambiente atual. com Matraga, também carimbo de qualidade que Há uma evolução e co- penso que "todo mundo lhe abre algumas portas, munhão pelo tempo de POR tem sua hora e sua vez". mas que também cria um existência do grupo? monstro muito destrutivo KYRA Quanto aos prêmios que dentro de você. O monstro KM: A companhia surge PISCITELLI ganhamos, eles são sem- da superação. Saber lidar e de uma necessidade de Jornalista formada pela uni- pre menos do que pare- conviver com tal fera é das produzirmos dramaturgia versidade Metodista de São cem. Temos a sensação tarefas mais nobres de um própria. Eu, como pro- Paulo, pós-graduada em que, depois de recebê-los, criador honesto. fessor de teatro, já pro- globalização e cultura pe- basta ficarmos ao lado de duzia dramaturgia nas la Faculdade de Sociologia nossos telefones para que A Companhia tem outros montagens que dirigia e Política de São Paulo sejamos convidados a re- marcos? no âmbito da escola. Ali (FESPSP). Escreve sobre teatro e arte desde 2009. alizar os nossos mais ins- fui desenvolvendo um ti- Integra os juris da Associação tigantes sonhos artísticos. KM: Temos muito ou- po de processo ao mes- Paulista de Críticos de Arte Não é assim. A vida e a tros. A visita de Denise mo tempo comunitário e (APCA) - da qual é membro lida continuam como an- Weinberg ao nosso pro- centralizado. Pesquisava da diretoria - e do Prêmio tes. Mas é claro que você cesso de trabalho, a ida muito com os alunos, im- Aplauso Brasil. Ávida por co- e sua companhia passam a ao Retiro dos Artistas com provisava, conduzindo- nhecimento, se não está em ter um selo. Esse selo é, ao nosso espetáculo sobre -os pelos caminhos que viagem ou estudo, só há um mesmo tempo, um passa- os moradores de lá, a meu olhar e minha in- Virgínia Buckowski, Alejandra Sampaio e Kiko Marques. FOTO: Lenise Pinheiro. lugar para achá-la: o teatro!

14 ABRIL 2020 ABRIL 2020 15 EVOÉ

BEM ACOMPANHADO FALANDO NISSO... Ney Latorraca vai comemo- O espetáculo, produzido pela rar seus 55 anos de carreira Aventura Entretenimento, cap- com o espetáculo inédito tou R$ 2,5 milhões pela Lei de “Seu Neyla”. Os atores Bel Incentivo à Cultura. Lima (de “Bibi – Uma Vida em Musical”), Bruno Fraga (de “2 POR: Filhos de Francisco”), Thainá Gallo e Emerson Espíndo- LEONARDO la (ambos de “Cássia Eller”) TORRES serão seus colegas de cena, Jornalista cultural, escritor e crí- dirigidos por José Possi Neto. tico teatral com mestrado em Artes da Cena. É fundador do site Teatro em Cena, redator do Ney Latorraca Portal POPline e jurado do Prê- FOTO: Divulgação mio Brasil Musical.

JURY GARLAND NÃO ESTREOU Pegando carona no sucesso Rodrigo Portella deveria ter do filme “Judy”, que rendeu estreado um espetáculo iné- o Oscar a Renée Zellwe- dito no Brasil em março. Ele ger, a atriz brasileira Clau- vinha ensaiando com o Teatro dia Netto planeja remontar de Comédia do Paraná (TCP) o musical “Judy Garland – para apresentar “TodoMundo!” O Fim do Arco-Íris”. Claudio no Festival de Curitiba, que foi Botelho deverá contrace- adiado por conta da pande- nar com ela, interpretando mia de coronavírus. Na peça, o amigo pianista da estrela indicada ao Pulitzer, Deus está Judy. A previsão de estreia insatisfeito com os rumos da é para o segundo semestre, humanidade e dá ordem para no Rio de Janeiro. que a Morte busque “todo mundo” para uma prestação de contas. Ranieri Gonzalez fazia parte do elenco. FOTO: Divulgação

BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS O filme de 2004, estrelado por Jim Carrey, será adaptado para o teatro pelo diretor Jorge Farjalla. Quem vai encabe- çar o elenco é o ator Reynaldo Gianecchini, revivendo o papel que foi de Jim Carrey no cinema. Antes do coronavírus, a previsão de estreia era para junho. Reynaldo Gianecchini FOTO: Cristiano Madureira

TEATRO ONLINE TEATRO ONLINE 2 A produtora Palavra Z se destacou durante a Dois espetáculos escritos pelo dramatur- pandemia de coronavírus, disponibilizando go Gustavo Pinheiro também chegaram à espetáculos infantis e adultos para streaming Internet em meio à pandemia: “A Tropa”, com gratuito em horários determinados. Entre os Otávio Augusto, e “Alair”, com Edwin Luisi. destaques, estiveram “A Gaiola”, “Contos Par- Estão no Youtube “para entreter a quarente- tidos de Amor” e “Vamos Comprar Um Poeta” na e para entendermos como chegamos a no segmento infantil e “Perdoa-me Por Me Tra- um desgoverno como este”, diz o autor. íres”, “Tudo o Que Há Flora” e “Ouvi Dizer Que a Vida É Boa” no adulto.

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Disney levará versão teatral de “Hamilton” para os cinemas. FOTO: Divulgação maior premiação da mú- sica nos Estados Unidos. A coletânea de faixas do musical foi vence- dora na categoria de “melhor álbum de teatro musical” em 2016. O espetáculo já esteve em turnê nos Estados Unidos e também conta com apresentações em Londres atualmente.

A novidade chega ao mercado após uma entrevista de Lin-Manuel Miranda à Variety sobre a possibilidade de um filme de “Hamilton”. Por hora, não há previsão ESTÚDIOS DISNEY para distribuição em ci- “Hamilton” é um fe- nemas brasileiros. PREPARAM GRAVAÇÃO DO nômeno recente na Broadway, vencedor do MUSICAL “HAMILTON” PARA Tony Awards de melhor musical de 2016. A obra, DISTRIBUIÇÃO EM CINEMAS embalada pelas can- Versão para os cinemas contará ções de Miranda ao estilo hip-hop, conta a histó- com membros do elenco original ria de um dos patriarcas do espetáculo dos Estados Unidos, POR Por CLÁUDIO MARTINS Alexander Hamilton. O CLÁUDIO personagem é reconhe- MARTINS Disney finalizou ra exibir a versão teatral cido como a principal Jornalista formado pe- a compra dos na telona com o elenco mente por trás filosofia la FACHA com MBA em Comportamento do direitos para a original do espetáculo, econômica do país. A Consumidor pela ESPM- distribuição do musical que inclui nomes como Além dos prêmios te- RJ. É o criador do portal “Hamilton” em cinemas o do criador da peça, “A Broadway é Aqui!”, de- a partir de 15 de outubro Lin-Manuel Miranda. A atrais, o sucesso de dicado ao teatro musi- de 2021. Após intensas novidade foi divulgada Hamilton alcançou as cal. Também atua como paradas musicais, ge- Coordenador de Conteúdo negociações, os estúdios nos canais de redes so- no Mundo do Marketing, de Mickey Mouse con- ciais da empresa com a rando reconhecimen- to no Grammy Awards, gerenciando projetos de seguiram os direitos pa- hashtag #Hamilfilm. clientes empresariais.

18 ABRIL 2020 ABRIL 2020 19 NO FOYER NO FOYER

o dia 9 de março, aconteceu 1 4 no Centro Cultural do Banco Ndo Brasil do Rio de Janeiro, a estreia VIP do espetáculo “A Hora da Estrela ou o Canto de

Macabéa”. Produzido pela Sarau Barboza. Daniel FOTOS: Agência de Cultura Brasileira, o musical de uma das obras mais emblemáticas de Clarice Lispector (1920-1977), estreou no ano do seu centenário. A adap- tação e direção é de André Paes Leme, as canções originais são de Chico César e, no elenco, estão Laila Garin, como a mítica protagonista do aclamado romance, Claudia Ventura e Claudio Gabriel. Confira algumas das presenças da badalada estreia.

2 5 FOTO: Silvana Marques/Divulgação Silvana FOTO:

1 Françoise Forton, Maria Siman, Guida Vianna e Stela Miranda. 2 Chico César e Zélia Duncan. 3 Geraldo Azevedo. 4 Paulinho Moksa e Larissa Bracher. 5 Paulo José́, Andréa Alves e Bel Kutner.

20 ABRIL 2020 ABRIL 2020 21 CINEMA CINEMA

“BOCA DE OURO” GANHA SUA TERCEIRA ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA Clássico de Nelson Rodrigues Esteves/Divulgação Ique FOTOS: é adaptado e dirigido por Daniel Filho, com Marcos Palmeira no papel-título e do Canal Brasil. No fil- A atriz Malu Mader já é Por REDAÇÃO me, a vida perigosa e mo- íntima da obra de Nel- vimentada de Boca de son. Ela esteve no elen- Ouro acaba chamando co de “A Vida Como Ela scrita em 1959 por a atenção do jornalista É” na televisão e, no te- Nelson Rodrigues, Caveirinha, que procura atro, encenou “Vestido Eo espetáculo “Boca uma ex-amante do conde Noiva”, com Luciana de Ouro” estreou em traventor para colher ma- Braga e Thelma Reston São Paulo em 1960, com No cinema, Boca foi vi- Avancini. Agora é a vez no elenco, estão ainda terial para uma reporta- no elenco. Sobre o dra- Ziembinski como dire- vido por Jece Valadão de Marcos Palmeira ga- Lorena Comparato (Ce- gem sobre a sua vida. maturgo, Malu afirma: “O tor e ator, no papel-títu- em 1963, em filme diri- nhar as telonas com es- leste), Thiago Rodrigues O ator Marcos Palmeira Nelson foi, é e será sem- lo. Reza a lenda que a gido por Nelson Pereira te clássico de Nelson (Leleco), Silvio Guinda- acredita que o que tor- pre relevante e atual. Su- atuação do diretor com do Santos e novamen- Rodrigues, dirigido por ne (Caveirinha), Fernan- na ‘Boca de Ouro’ rele- as falas são coloquiais, seu sotaque polonês te em 1990, com Tarcí- Daniel Filho. O filme traz da Vasconcellos (Maria vante é o fato de que o mas revelam com pro- no papel do “Drácula sio Meira no papel-títu- Malu Mader de volta ao Luísa), Guilherme Fon- Brasil mudou pouco em fundidade paixões, ódios, de Madureira”, como é lo e direção de Walter cinema após 10 anos e, tes (Agenor) e Anselmo relação aos anos 1950, ressentimentos, morbi- referido no texto, não Vasconcelos (dentista). época em que a história dez, através de uma lin- convenceu o público. A é ambientada. “A dife- guagem única, cheia de história do bicheiro que O longa-metragem foi rença é que, hoje, tem a estilo e ironia. Ele é to- nasceu em um reser- exibido pela primei- milícia. Mas sempre teve talmente livre, não es- vado de gafieira e teve ra vez na mostra Hors- essa relação promíscua creve para agradar, foge como seu primeiro ber- -Concours da Première entre a bandidagem, a do senso comum e as- ço uma pia de banheiro Brasil do Festival do Rio sociedade e os empre- sim consegue nos revelar onde sua mãe o deixou, 2019. Euclydes Marinho, sários. O Boca de Ouro nosso lado mais obscu- teve sua mais recente roteirista do sucesso da é esse bicheiro que lida ro e mais humano”. montagem teatral diri- TV “A vida como ela é”, de uma forma paterna- gida por Gabriel Vilela, também assina o roteiro lista e populista com a com Malvino Salvador do filme, uma produção comunidade dele”, dis- como protagonista. da Lereby com copro- se Palmeira ao portal de O filme traz Malu Mader de volta ao cinema após 10 anos. dução da Globo Filmes notícias G1.

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A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS E OS PREJUÍZOS PARA O TEATRO Teatro Multiplan, no shopping Village Mall. FOTO: Divulgação. nadamente, para que haja de financiamento para re- dução de impostos, como Produtores, donos de teatro, artistas e técnicos uma distância entre os es- alização dos espetáculos acontece na atual Lei de articulam-se em busca de soluções para sobrevivência pectadores, além da con- on-line, sem a presença do Incentivo à Cultura. A atriz e Por REDAÇÃO dução dos espectadores público presencial. A atriz dramaturga Cláudia Mauro aos banheiros para lavar Alexandra Richter propôs sugeriu que peças patro- m razão da pande- ções para tratar aqueles para 15 dias, o fechamento as mãos e usar álcool gel. a elaboração de uma pro- cinadas tenham na presta- mia do Coronavírus, que forem infectados”. dos teatros pode se es- A deputada federal Jandi- posta de lei SOS para que ção de contas uma rubrica o governador do tender por 3 meses, pera Feghali (PCdoB) reco- empresas privadas colabo- permitindo que os paga- E rem e tenham alguma re- mentos no período de tea- Rio de Janeiro, Wilson A determinação que visa ríodo previsto para o pico mendou a busca de linhas Witzel (PSC), decretou impedir a propagação do da pandemia no Brasil. Em o fechamento de tea- vírus foi prontamente res- encontro promovido pela tros, cinemas e casas de peitada pelos produtores APTR, realizado no Teatro show no dia 13 de mar- desde a sexta-feira, dia de Poeira no dia 15 de mar- ço, em edição extraor- sua publicação. Mas já no ço e transmitido ao vivo dinária no Diário Oficial. sábado e domingo seguin- pelo Instagram, artistas, Em seu pronunciamen- tes ao decreto, o que se produtores e donos de to no dia do decreto, o observou foram filas em teatro contribuíram com governador afirmou: “O restaurantes, praias lota- ideias para que a cadeia vírus se transmite mui- das, aglomerações em cul- produtiva das artes não to rapidamente quando tos religiosos e na mani- entre em colapso. há aglomeração, e, se festação política realiza- evitarmos as aglomera- da na Avenida Atlântica, A produtora Maria Lucia ções, nós não teremos em Copacabana. Priolli sugeriu que os espe- uma crise aguda e pode- táculos voltassem ao car- remos, assim, ter condi- Inicialmente programado taz ocupando as filas alter- Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, e sua equipe, em anúncio do decreto 46.970, em 13 de março, que determinou o fechamento de teatros, cinemas e casas de show. FOTO: Reprodução.

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tros fechados sejam feitos de forma a reduzir ris- No Rio de Janeiro, boa normalmente, mesmo sem cos potenciais de contá- parte do público que fre- a realização das apresen- gio do Coronavírus. Foi a quenta o teatro é com- CORONA-ARTE tações. E para peças que primeira vez que a noite posta por idosos, grupo Por CAIO BUCKER vivem de bilheteria, que o de entrega dos prêmios de risco letal para o Co- governo estadual disponi- não aconteceu, desde ronavírus. Não se sabe “Irmão, tá todo mundo com animação, ilumina- bilize uma verba mínima 1988, ano do início do quando o público volta- fazendo live!”. Essa foi do pelo farol de trans- para pagamentos. Prêmio Shell de Teatro. rá a frequentar as salas a frase do Ivan Mendes, portes públicos abarro- O Festival de Teatro de de espetáculo sem me- durante a nossa live. A tados de trabalhadores. A pandemia de Coronavírus Curitiba, que aconteceria do de contágio. O pre- quarentena não intimi- prejudicou a economia em em março, foi adiado para juízo para todos os se- dou a maioria dos artis- Sim, a situação é gra- FOTO: Felipe Guga. nível global, mas quan- setembro de 2020, entre tores envolvidos direta tas. Muito pelo contrário. ve e a quarentena é ne- do se trata de um setor já os dias 1º e 13. Em Nova e indiretamente com a Mais uma vez a arte se cessária. Por isso, artistas espanhola Beatriz Bero- combalido como as Artes Iorque, o governador do realização de um espe- mostra necessária e re- do mundo todo se unem dia e a Varanda Party do Cênicas, a situação fica estado Andrew Cuomo táculo são inestimáveis. sistente. Com o cancela- em shows e festivais onli- DJ James B, em Maceió), ainda mais grave. O pro- restringiu reuniões pú- A classe artística, acos- mento de shows, festas ne, principalmente em su- e projeções em prédios dutor cultural João Luiz blicas com mais de 500 tumada a resistir, ago- e espetáculos, e com o as páginas do Instagram. A e fachadas do país du- Azevedo teve de cancelar pessoas, exceto escolas, ra anseia pelo controle fechamento de salas de inspiração veio do festival rante um panelaço con- 17 shows e adiar outros 27. hospitais e trânsito. Com deste inimigo invisível cinema e teatros, as re- português “Eu Fico em Ca- tra o viral governo. A cerimônia do 32º Prêmio a medida, os espetácu- para reexistir. des sociais viraram pal- sa”. Aqui no Brasil, os inde- Shell de Teatro do Rio de los da Broadway suspen- co de exibição e debate pendentes e os consagra- A verdade é que, aconte- Janeiro, que seria reali- deram suas temporadas durante o confinamento dos se apresentam, muitas ça o que acontecer, a arte zada no dia 17 de março por 1 mês. O prejuízo es- geral da nação. O que vezes à capela, confinados vai continuar resistindo. no Copacabana Palace, timado é de 100 milhões antes era feito muitas veem suas casas. Espetáculos Já passamos por golpes, também foi cancelada de dólares. zes apenas como regis- teatrais estão sendo dispo- censuras e o constante tro pessoal, hoje virou a nibilizados na íntegra. Ba- descaso de quem deveria única forma de acessar te-papos em grupo com in- nos valorizar. No meio de um evento cultural. teração do público pensam tragédias, surgiram ex- o futuro do país e possíveis pressões artísticas e mo- O mais engraçado é que, soluções para minimizar o vimentos de extrema im- antes, esses eventos eram prejuízo, além de novida- portância para o mundo. ignorados pelos governos, des para quando acabar o O poeta da Revolução - e com a pandemia, a pri- apocalipse. Além das pági- Maiakóvski - disse que a meira providência toma- nas online, a arte também arte é um grande instru- da foi justamente fechar reflete o impacto mundial mento para a revolução, teatros e cinemas. Será da doença de outras for- pois fazer arte é reflexão, realmente que, a maioria mas, com grafites (como a é um caminho para dis- da população ocupa es- imagem da mulher cobrin- cutir e dimensiona diver- ses lugares? Na mesma do o nariz enquanto espir- sos sentidos. A verdade noite em que produtores ra, feito pelo grupo senega- é que a arte cria proces- e artistas anunciavam o lês RBS Crew), ilustrações sos de resistência e en- adiamento de suas tem- online (como a do “iluztra- tra na vida das pessoas. poradas e apresentações, dor” Felipe Guga), música Então, que a luta conti- os bares e restaurantes ao vivo na varanda (como nue. E que a arte resis- ocupavam sua lotação o pocket show da cantora ta, mais uma vez.

26 ABRIL 2020 ABRIL 2020 27 MEU OFÍCIO Os irmãos Rico e Renato Vilarouca criaram o videografismo do elogiado espetáculo “Eu, Moby tretanto, queria um ele- teatro. Mais do que isso. ção cênica como lingua- Dick” (2019). FOTO: Divulgação. mento que colaborasse Eu acho o teatro a mais gem teatral - já é cadeira de fato na encenação. importante e rica ex- em cursos de arte lá fora Não à toa tive que refa- pressão artística já de- e tem sido elemento co- zer tudo algumas vezes. senvolvida pelo ser hu- mum nos cenários mais Sim, ela era uma ence- mano, porque engloba elogiados e premiados nadora exigente. A partir quase todas as demais aqui recentemente. daí, uma amiga nos indi- (até mesmo a música, a cou pra uma montagem minha preferida de to- No início de tudo, eu e em que queriam fazer o das). Quando se inven- meu irmão – e sócio até cenário e personagens tou a perspectiva, lá es- hoje – ainda estávamos em desenho animado tava um pintor em uma em nossos empregos e interagindo com os ato- montagem. Quando se tudo era feito nas horas res. Dá pra fazer? Claro. inventou a luz elétrica, vagas. Eu já perambulara Ainda que eu soubesse alguém usou o dimmer pela publicidade e escri- que vídeo e animação já pra dar mais “drama” a tórios de design e vi que estavam sendo usados uma cena. Quando se não era ali o meu lugar. no teatro, principalmen- inventou o projetor, lá Algum tempo depois, te lá fora, não era claro estava um Svoboda pra entendemos o caminho que estávamos percor- criar um efeito até então que havia ali e montamos rendo caminhos ainda nunca visto. a Vilaroucas Produções, RICO VILAROUCA novos por aqui. Não ha- já com mais de uma dé- Designer & Videografista via referência, bibliogra- Hoje, com mais de 200 cada. Hoje, além do tea- fia, tutorial de youtube... montagens no currículo, tro, estamos nas demais Teatro escolhe de amiga. Bobo nem nicação social, que divi- quase tudo era empírico. nada me deixa mais feliz áreas do audiovisual e você. E acredite, nada, convenci mais uns de o prédio e as maté- Essa segunda montado que fazer as pesso- inaugurando uma área O quem te diz isso quatro ou cinco amigos, rias básicas com o curso gem levou seis meses… as se emocionarem com de imersão em VR. Mas é alguém que sabia o porque eu detesto pas- de... Direção Teatral. Sim, hoje levaria poucas se- uma projeção plenamen- se você perguntar qual o que queria fazer da vida sar vergonha sozinho. ele te escolhe sim. manas. Essa experiên- te integrada à montagem meu preferido, eu esco- muito antes dos quin- Restamos apenas eu e cia de vida rendeu uma – o espetáculo é sobe- lho o teatro. Tanto quanto ze anos. Comunicação, a amiga e isso durou al- A direção teatral me coisa que eu dificilmen- rano. Mas persistindo na ele me escolheu. “design, redação, novas guns anos. Sim, o Teatro rendeu grandes amigos, te vejo em colegas da busca constante pelo re- formas de narrativa – escolhe você. Mesmo minha esposa e, com a minha área: Eu gosto de conhecimento da proje- quando ainda nem ha- levando algum jeito pra autorização dela na sua “A Última Aventura É a Morte” (2018): viam as novas formas de coisa – e eu gostava de primeira montagem do trabalho de Rico está presente em um narrativa de hoje – tudo atuar – eu estava concurso, a oportunidade dos espetáculos mais celebrados da Cia Pequod. FOTO: Divulgação. isso me fascinava. De al- victo da minha escolha, de fazer as primeiras ex- guma forma era ali que que eu achava ser a pu- periências de projeção eu queria estar. blicidade. No vestibu- cênica numa montagem lar da UFRJ, em vez de real. Na verdade, eu Ainda ali pelos quinze acertar a publicidade, queria apenas um lugar anos, me inscrevi numa acabei no curso de Ra- pra experimentar todas turma de teatro que dio e TV por um décimo as ferramentas que es- abrira na minha escola. de ponto. Pra quem não tudava à época: 3D, edi- Na verdade, foi um de- sabe, a Radio e TV é um ção de vídeo, animação safio feito por uma gran- curso noturno da comu- e até música. Ela, en-

28 ABRIL 2020 ABRIL 2020 29 MEU OFÍCIO Musical “Peter Pan” (2019), coreografado por Alonso: coreografia no ar. FOTO: Chico Lima. coreografo é... mas eu não “Spring Awakening”, “Ha- a de como passar a sua estaria sendo honesto, milton”, entre outros. ideia para ser entendida e pois não teria me tornado executada. Distribuo mo- um bailarino e coreógra- Para mim, tornar o teatro vimentos como um tex- fo sem a inspiração, ini- musical contemporâneo to, uma história que vai cialmente, destes gênios sempre foi fundamental ser dissecada e estudada e mais tarde, de outros e descobrir novas lingua- pelo intérprete. Este jogo como Pina Bausch e Mats gens, valorizar o “teatro/ é fundamental para achar Eck. Eles foram influências movimento”. O ofício de um diálogo com quem se distintas no meu trabalho, coreógrafo não é fácil, está trabalhando. Sempre na procura da minha lin- mas nunca deixa de ser fui pelo diálogo corporal guagem ou estilo, por as- estimulante. Para quem entre criador e intérprete. sim dizer. Até hoje me per- gosta de criar, é um pra- A relação coreógrafo/in- guntam por que “escolas” to cheio. Eu adoro criar. A térprete ou coreógrafo/di- tão distintas podem ter me inspiração vem das ruas, retor se baseia no trabalho influenciado. A minha res- dos artistas com quem conjunto do respeito pelo posta é a mesma de Pina: trabalho e, claro, do ma- espaço de cada um. Para “Eu não investigo como as terial que eu recebo. Mas mim, coreografar teatro pessoas se movem, mas acho fundamental ir atrás musical é sempre achar o que as move”. Sempre de histórias que me tocam um conceito de movimen- ALONSO BARROS me levaria de Campinas achei teatro musical uma e inspiram. Para mim, um to que vá ajudar a contar Coreógrafo ao Rio de Janeiro para as- escola de estilos distin- dos conceitos de dan- a história. A dramaturgia sistir a um jogo de futebol tos, de coreógrafos que ça é a interpretação do coreográfica e corporal u tinha 13 anos e es- pre ansioso. Segundos da Ponte Preta com o meu marcaram sua identidade movimento aliado a uma para mim é fundamental. tava passando em na escuridão e eu já sou pai, que era um fanático dentro dele. Não posso “técnica/linguagem” que Cada trabalho é uma dra- Efrente ao cine Jequi- surpreendido pelo primei- pontepretano. Ele era uma esquecer de Michael Ben- melhor encaixe no in- maturgia diferente, é um tibá em Campinas, quando ro acorde de uma “sinfo- pessoa curiosa e incrível. net e Gower Champion. térprete. Tenho grande novo desafio, uma nova vi o cartaz de um filme. Eu nia” que ficaria na minha Assistimos o jogo (a Ponte Mas no final dos anos 90, respeito pela obra, mas composição. Texto, per- ja era cinéfilo na época. O memória para sempre. Ali perdeu de goleada) e eu, explodiram espetáculos também por quem vai in- sonagem e música, tudo título era “Amor, Sublime morreu “Amor, Sublime após o fracasso pontepre- que buscavam outros ca- terpretá-la. Para criar, eu é inspiração. Nós, coreó- Amor”. Um filme já antigo Amor”. Nascia “West Side tano, mencionei a ele so- minhos para o trabalho de entro no trabalho. É uma grafos de musical, temos “na época, que tinha sido Story”, a música era de Le- bre Pippin. O Alonso pai me movimento. Vieram “Rent”, grande responsabilidade uma responsabilidade e remasterizado para Cine- onard Bernstein e a minha surpreendeu e logo depois um trabalho imenso em rama 70 mm. Não me inte- vida mudou, ou melhor, de uma viagem de táxi do cada produção. Eu sou ressei nem um pouco pelo mudaria anos depois. Eu Maracanã à Glória, estáva- grato por ter a oportunida- título até ver as fotos que não tinha ideia do que a mos em frente ao teatro de de trabalhar em tantos acompanhavam o cartaz coreografia representava Adolpho Bloch. O ingresso espetáculos distintos aqui na vitrine do cinema. Com naquele momento, mas era caro, então entrei so- no Brasil. Todos diferen- este título pensei: “Não cada cena esculpida pelo zinho enquanto o Alonsão tes em tema, linguagem, estou disposto a mais um coreógrafo/gênio Jero- sentou no bar ao lado do dramaturgia e música. Love Story”. Mas as fotos me Robins ficou comigo teatro e pediu uma Brahma Mas temos um futuro difí- me intrigaram. Eram fotos lá dentro, esperando para gelada, eterna companhei- cil pela frente. Parece que que “se moviam” e que re- explodir anos a frente. ra e, pacientemente, es- nada deve ser fácil para a almente não tinham muito perou até o fim do espetá- classe artística, mas acre- a ver com “Amor, Sublime Poucos anos depois, a culo. A música de Stephen dito na união e na ajuda Amor”. Pois bem, peguei capa da revista Manchete Schwartz com a genialida- mútua para passarmos por o dinheiro da semanada, era uma troupe de atores de de Bob Fosse ali sela- mais essa. Somos feitos comprei o ingresso, uma liderados por Marília Pêra ram o meu futuro. de Arte e a arte empodera. Frutella na bomboniere e e Marco Nanini. O título “Pippin” (2018): coreografia era um sentei na plateia. A tela Ci- era: “Pippin” no Brasil. Não Eu poderia começar esta dos pontos altos do espetáculo. nerama me deixava sem- sei porque mas o destino crônica dizendo que ser FOTO: Daniel Coelho.

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multipremiada Esse é um ponto na cur- sionada, enquanto ex- LAILA GARIN: Laila Garin foi va da carreira da atriz, põe a busca por ma- A pega de surpre- que pisou no palco pela neiras de se manter sã. “ESCOLHO MINHAS sa em meados de mar- primeira vez aos cinco “Tenho limpado muito a ço. Depois de uma se- anos, substituindo outra casa, higienizado mui- PERSONAGENS” mana e meia em cartaz menina em uma adap- to as coisas e arruma- com seu novo espetá- tação de “Decamerão”, do minha cabeça pa- Por LEONARDO TORRES culo, “A Hora da Estrela em Salvador. Laila Garin ra começar a fazer al- – O Canto de Macabéa”, (se diz “Garrã”, e ela jura go criativo. Perguntei a temporada teve que que é mentira o boato às pessoas que me se- ser suspensa por tem- sobre ficar braba quan- guem o que gostariam po indeterminado dian- do pronunciam seu so- de ver”, diz a artista, te da pandemia de co- brenome errado) es- “meu trabalho é total- ronavírus. “Foi um mis- tá bastante assustada. mente presencial... es- to de alívio e frustração. “Tenho parentes que tou à beira da loucura! Mas isso ficou peque- moram na França, então Não posso fazer teatro no ao longo dos dias, eles estão alguns dias de casa. Estamos nos porque estamos viven- a frente de nós, em re- reinventando agora”. A do uma questão mui- lação à pandemia e às produção de “O Canto to maior”, ela avalia em medidas dos governos. de Macabéa” avalia fa- entrevista por telefo- Eu não estava queren- zer leituras online. Além ne, respeitando a re- do entrar nesse pâni- disso, um single com a comendação de isola- co, mas fui vendo o que trilha sonora do musical mento social, em sua acontecia na França e foi lançado nas platafor- residência no Catete, no vendo que estava che- mas digitais. Rio de Janeiro. Só sai de gando até nós”, ela con- lá para ir à farmácia ou ta. Durante os 60 minu- “A Hora da Estrela – O ao mercado. Laila e o tos de entrevista, a atriz Canto de Macabéa” é elenco ensaiaram mais se volta ao coronavírus uma adaptação do di- tempo do que ficaram diversas vezes, embora retor André Paes Leme em cartaz: foram três os assuntos sejam ou- para o livro de Clarice meses de preparação. tros. Quando pergunta- Lispector, publicado O que vem pela frente, da sobre prêmios, res- em 1977. As canções ela não sabe dizer no ponde: “agora esses são originais e escritas momento, mas o musi- prêmios não servem, por Chico César. Quem cal estreou no Rio com não dão o que a gen- leu o livro pode imagi- uma turnê programa- te está precisando nes- nar a dificuldade que é da por Curitiba, Porto se momento”. Quando o transpô-lo para o palco. Alegre, Brasília e Belo assunto é estabilidade Macabéa, a protagonis- Horizonte até setem- na carreira, diz que ago- ta, é uma personagem bro. O espetáculo deve- ra o mais rico é quem praticamente sem ação, rá retomar seu percurso tem paz interior, uma que beira a passividade quando for seguro pa- casa para se enfurnar e absoluta. Oca, segundo ra todos, com remane- comida ao alcance. É vi- a própria autora. É qua- jamento das datas. sível que está impres- se como se não tivesse

32 ABRIL 2020 ABRIL 2020 33 Dornelles. Daryan FOTO: CAPA CAPA

sangue nas veias. O de- ge é muito diferente do safiadoras. “Nego tra- “TENHO MUITO safio instigou Laila: jeito que as pessoas re- balhos. Já fui chama- agem. Uma pessoa bate da para muitos musi- RESPEITO PELOS - Descobri muitas coi- nela e ela reage de outra cais, inclusive biográ- sas sobre mim interpre- maneira. Essa outra ló- ficos. Mas prefiro per- MAIS VELHOS” tando Macabéa. Sempre gica dela me levou mui- sonagens que são de- fiz mulheres muito fortes to tempo. – conta a atriz safios. Escolho sim. aila Garin é filha no teatro e Macabéa é e cantora, que percebeu Acho que você às ve- de pais separados: o oposto. Precisei achar que passou a entender zes escolhe ativamen- Lmãe brasileira e um lugar de relaxamen- melhor a obra de Clarice te e às vezes pela rede pai francês. Ela nasceu to muito grande. O mais após a maturidade. de profissionais com e cresceu em Salvador, difícil é: como alguém quem trabalha. As pes- com férias anuais na pode se inocentar e se Laila Garin é uma atriz soas já veem que você França, o que lhe ren- “ingenuizar” depois de que já pode se dar ao gosta mais daquilo...”, deu fluência no idioma. morder a maçã? Depois luxo de escolher seus explica. Faz sentido: a “Sempre meio híbrida, que você já pensou to- trabalhos. Depois que produção de “A Hora pertencendo em um pe- das aquelas coisas - co- estourou no teatro mu- da Estrela” é a mesma daço e em outro não”, mo diria popularmente, sical protagonizando a de “Gota D’Água” e de pontua, “um pouco so- quando a gente já mal- biografia de Elis Regina “Gonzagão: A Lenda”, litária também, por ser dou - como se “desmal- em 2013, emendou alguns de seus espetá- filha única”. A mãe, jor- da”? A gente tem um uma sequência de per- culos anteriores. Para nalista cultural, lhe pro- olhar tão maldado, mal- sonagens complexas entender melhor co- porcionou uma infância vado, que julga o tem- nos palcos: Selminha mo ela chegou a esse cheia de arte, assistin- po inteiro o outro e a si, de “O Beijo No Asfalto nível na carreira, é pre- do a espetáculos e fa- e esse “desjulgar-se” e – O Musical” e Joana ciso voltar ao início de zendo cursos na área “desjulgar” o outro é um de “Gota D’Água [a se- tudo: Salvador. para “sua formação co- Com Alejandro caminho muito profun- co]”. Macabéa entra na mo ser humano”. Desde Claveaux em “Gota do. O jeito que ela realista de escolhas de- d’Água [A Seco]” pequena, vivia cerca- (2016). FOTO: da de artistas e “huma- Lenise Pinheiro/ Folhapress. Laila Garin e Claudia nistas”, como gosta de Ventura, em cena da peça “A Hora da Estrela ou dizer. Foi criada sem O Canto de Macabéa” (2020). preconceitos. Depois a carreira de atriz ou de do paterno era que ela FOTO: Gabriel Monteiro / Agência O Globo da separação com seu cantora. Adolescente, fosse sua própria patroa. pai, sua mãe namorou apaixonou-se por No fim da escola, Laila mulheres, e Laila nunca Chico, Caetano, Gil e ficou dividida entre dois enxergou aquilo como Milton – “ouvia muito caminhos: estudar canto uma questão. Na ca- Milton” – mas sobretu- lírico na França ou pres- sa, tocava Cida Moreira, do por Edson Cordeiro. tar vestibular para artes Bibi Ferreira, Gal Costa Também fundou um fã- cênicas na Universidade e Maria Bethânia. Aos 11 -clube da atriz baiana Federal da Bahia (UFBA). anos, começou a estu- Rita Assemany. Teatro Ficou com a segunda dar teatro efetivamente. e música sempre foram opção e logo começou Já sabia que queria ser seus interesses. a trabalhar. Chegou a fa- artista, como alguns dos zer teatro com Wagner amigos da mãe. A única Os pais a apoiaram des- Moura e Vladimir Brichta, dúvida era se seguiria de o início. O único pedi- quando todos

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estavam começando, em Salvador. Também “ATORES DE MUSICAIS TÊM UMA VOZ MEIO DUBLADA, trabalhou com José UNS GESTOS MEIO FAKES, MEIO IGUAIS” Possi Neto, em “A Casa de Eros”, espetáculo que a revelou para a classe uando viajou sentiu um peixe fora estranho”, admite, “eu na Bahia. Outros des- Joana Mendonça. FOTO: para a França, o d’água. Amanda Acosta gosto de fazer treina- taques foram “Roberto Qplano era viver e Afonso Nigro eram mento, improvisar e ali Zucco”, de Nehle Franke, um tempo lá, já que ti- os protagonistas da vi que era outro meio. e “Medéia”, em que foi nha o suporte da famí- produção dirigida por É muito presente is- protagonista, estabe- lia paterna, mas Laila Cristina Trevisan. Laila so do ‘protagonista’ no lecendo seu primeiro ficou só seis meses nunca escondeu que teatro musical. Tem contato com o universo no país. De Paris voou não se identificou com uma hierarquia diferen- da tragédia da mulher para São Paulo, con- o “formato Broadway”, te, ao mesmo tempo abandonada que mata vidada para atuar em tanto é que não voltou que tem uma discipli- os filhos. Tragédia à qual uma montagem brasi- a trabalhar em um es- na muito maravilhosa se voltaria novamen- leira de “Grease”, que petáculo assim. “Eu não e bonita, principalmente no futuro, com “Gota não foi das melhores sabia cantar daquele te dos dançarinos que D’Água [a seco]”. experiências que teve jeito e tudo bem, por- fazem coro. Uma coisa no palco. Era seu pri- que me aceitaram as- mesmo de trabalha- A faculdade foi muito meiro musical e ela se sim mesmo. Mas achei dor”. Suas expectativas importante para os pri- eram outras e não fo-

meiros passos da carrei- não precisa necessaria- Com elenco da primeira ram atendidas. ra de Laila. O curso lhe mente fazer uma carreira direção de Ariane Mnouchkine fora do Théâtre du Soleil, deu um panorama histó- acadêmica”. Terminado “As Comadres” (2019). Em 2014, Laila Garin rico que a situou melhor o curso, Laila Garin via- FOTO: Divulgação. deu uma entrevista ao em seu ofício. “Tenho jou para a França e programa “De Frente muito respeito pelos fez estágio por 15 dias com Gabi”, no SBT e mais velhos. Você apren- no icônico Théâtre du disse que tinha um de que a roda já foi in- Soleil, trabalhando com pouco de preconceito ventada. Você não acha Ariane Mnouchkine. Ela com musical, porque que está inventando-a. não podia imaginar que, achava algumas atua- Já fizeram lá atrás. Acho anos mais tarde, faria ções falsas e padroni- rico, um privilégio você parte do elenco de “As zadas. Não agradou os ter um mestre te dizen- Comadres”, primeira di- fãs do gênero, claro. do o que você vai ler”, reção de Mnouchkine no Perguntada se mudou divide, “mas conside- Brasil. “Foi muito bom. de opinião com o pas- ro importante você não Quando você se vê dian- sar dos anos, ela diz perder o tempo da uni- te da mesma pessoa, que não. “É um precon- versidade, pegar a vaga em outro momento da ceito meu, porque não e ocupar os professores, vida, você acaba rece- vejo todos os musicais se você quer fazer TV bendo as coisas de ou- em cartaz. Algumas e ser celebridade. Sou tro jeito. Foi mais uma coisas que vi achei tão meio antiga nesse as- formaçãozinha. Curta, frias... não acontece na- pecto. Você tem muitos mas foi”, destaca a fran- da comigo quando as- caminhos para ser ator, co-brasileira. sisto. Acho artificiais,

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No sucesso dirigido por João Falcão, “Gonzagão - A Lenda” no mau sentido, os (2012). FOTO: Cristina Granato. atores da maioria dos musicais que vi. Tem uma voz meio dublada, uns gestos meio fakes, meio iguais. Alguns pa- sou a fazer o treinamen- recem que estão po- to vocal diário dos ato- sando para frente em res. “Eu me desenvol- vez de atuar e jogar vi muito com eles”, lem- com o parceiro do la- bra. Para “O Homem do. Parece que são vá- Provisório”, uma adapta- rias pessoas posando ção de “Grande Sertão: para frente, com seu Veredas”, de Guimarães lado mais bonito. Vejo Rosa, o elenco ensaiou isso. Por isso quando nove meses e passou 40 falam que sou atriz de dias na casa de morado- musical, eu digo ‘err.... res no Cariri. Muito imer- mais ou menos’. Mas é sivo. Ela carrega consigo um preconceito, por- até hoje tudo que apren- que não conheço tudo. deu com Cacá. É sobre o que vi aqui. Nunca fui a Broadway - Eu carrego um gos- ou a Londres ver mu- to pelo treinamento, pe- sicais. Sou totalmente la disciplina, pelo ritual, ignorante”, confidencia. pelo sacerdócio. Eu carrego os princípios do te- Marcelo Mimoso atro, que estão se per- e Laila Garin em “Gonzagão - A “ATOR COM CELULAR NA COXIA, dendo um pouco. Ator Lenda” (2012). FOTO: Ana Branco. com celular na coxia, PARA MIM, É INADMISSÍVEL” para mim, é inadmissí- vel. Carrego um gos- ão sentindo que Homem Provisório”, ten- to pelo estudo, de bus- ali era seu lu- do este terceiro marca- ca de referências, carre- Ngar, Laila saiu de do bastante a atriz. Tinha go uma crítica e uma in- “Grease” para o teatro música, mas não era um satisfação ferrenha, mas de pesquisa de Cacá musical. Cacá não se im- que me põem para fren- Rodrigues. Ficou cinco pressionava com o ta- te. A Casa Laboratório anos com ele na Casa lento vocal de Laila, exi- é minha segunda facul- Laboratório, em São gindo que o dom esti- dade, minha segunda Paulo, direcionando sua vesse a serviço do tex- formação. – reconhece carreira para um lado to, que passasse ver- a baiana, que se sente completamente distinto. dade, que comunicas- mais atriz do que can- Com o ator e diretor, fez se como atriz. Firulas vo- tora até hoje, por tudo “A Sombra de Quixote”, cais não bastavam. Era que aprendeu, mesmo “Os Figurantes” e “O outra proposta. Ela pas- já tendo lançado dois

38 ABRIL 2020 ABRIL 2020 39 CAPA CAPA ELIS E A ACLAMAÇÃO

“Gonzagão – A Lenda” abandonaria a seleção. mas ao mesmo tempo tinha agenda fechada Mas o próprio Dennis não via tudo. Era muito por mais um ano quan- ligou para ela e pediu trabalho. Era meio sur- do Laila Garin soube que, pelo menos, fizes- real: 40 solos. Era um dos testes para “Elis, a se os testes até o final. trabalho físico mesmo. Musical”. Decidiu fazer Braçal. No caso, ‘gar- apenas para ser vista O resto da história to- gantal’”, ela brinca. por outros profissio- do mundo conhece: nais na cena carioca. Laila Garin foi escolhi- Uma curiosidade é que, No meio do processo da entre 200 candida- durante os ensaios pa- de audições, chegou a tas e saiu dos palcos ra viver Elis Regina, o desistir, porque achava aclamadíssima. “Elis, a smartphone de Laila que não tinha a menor Musical” fez turnê na- quebrou. Ela optou por chance. Os produto- cional e temporadas não comprar outro ime- res haviam escolhido sucessivas no Rio e em diatamente e passou

FOTO: Ana Branco. FOTO: Dennis Carvalho, dire- São Paulo. O público aquele processo inteiro tor de novelas, para es- saía emocionadíssimo. offline, mergulhada em trear na mesma função Laila ganhou atenção Elis. Usava só um “tijo- álbuns e viajado com Falcão também a levou - João tem uma mano teatro musical. Ela da mídia e conquistou lão” com SMS. “Abri mão shows – Meu approach para sua primeira apa- neira muito particu- imaginou que ele queria a crítica especializada Internet”, relembra, na música é de atriz ain- rição na TV, com uma lar, que não tem nada a algo mais realista e que da. Recebeu nove prê- “mas o mais doloroso da, mesmo quando can- ponta na série “Clan- ver com esses musicais buscaria alguém pare- mios ao todo, inclusive foi abrir mão da minha to um álbum sem cara. destinos”, da TV Glo- da Broadway. É músi- cida fisicamente com o Shell, o mais antigo cia. e do ‘Gonzagão’. bo. Ela nunca mais dei- ca brasileira, não tem Elis. Ciente de que não do teatro brasileiro. Todo mundo me apoiou Foi essa abordagem xou o Rio. “É uma cida- o jeito americanizado tinha nada a ver com a Ela ficou especialmen- na época e disse ‘vai’. que encantou outro di- de muito bonita. A na- de cantar. É outra fonte. cantora e não queren- te feliz com esse, por Foi lindo. Mas foi doído, retor, João Falcão. Con- tureza e a possibilidade Desta vez, eu me sendo tomar o tempo de ser um prêmio de me- porque estava vidada para fazer tes- de sair daqui me fazem ti em casa. A gente im- ninguém, anun- lhor atriz, sem seg- tes para um musical ficar. A possibilidade provisou muito. Tive um ciou que mentação por musical. sobre Carmem Miranda de poder sair para tra- retorno aos meus tem- “Eu percebia que era que ele queria montar, balhar e voltar”, expli- pos de companhia. A uma coisa grandio- ela foi escolhida para ca. Com João, fez ainda gente se encontrava e sa acontecendo na o papel principal. O es- “Gonzagão – A Lenda”, Duda Maia, que fazia a minha vida, petáculo acabou não sendo a única mulher direção de movimen- saindo do papel, mas em um elenco inteiro to, propunha muitas im- gerou frutos para Lai- masculino. O espetácu- provisações. A gente foi la. Graças a esse pri- lo encerrou sua traje- desenvolvendo o sen- meiro contato, mudou- tória com mais de 300 timento de grupo até -se para o Rio de Ja- mil espectadores em 13 que realmente se for- neiro em 2009 para fa- estados e foi o primei- mou o grupo, A Barca zer outro musical, “Eu ro sucesso de Laila Ga- dos Corações Partidos, Te Amo Mesmo As- rin nos palcos. da qual não faço parte

sim”, que teve super- mais. – relembra. Divulgação. FOTO: visão geral dele. João

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Como Elis Regina em “Elis, a Musical” indo para o desconhe- (2015). FOTO: Felipe Panfili. cido”. Antes da estreia, Laila venceu o Laila também temeu a Prêmio Shell de Melhor Atriz pelo rejeição. O público en- seu trabalho em tenderia que era uma “Elis - A Musical”. FOTO: Ag News. homenagem e que ela não estava tentando imitar Elis? Após a estreia, porém, o medo foi outro: ficar marcada. Todo mundo queria vê-la de Elis. “A grande vantagem é não ter a cara dela, não ter nada a ver com ela. Acho que isso pode ter aju- dado a não me limitar. Tem as vantagens e as desvantagens: por que não marcar? É uma me- mória tão boa”. Mais do que isso: Laila soube toda. Estava meio falsa. por ter ficado conheci- tagem original da peque as pessoas sentem fazer escolhas. Queriam me levantar da já mais velha... Com NOVOS DESAFIOS ça. Vale destacar que e veem. Mas a partir como a maior canto- 20 anos você está de Nelson escreveu a his- do prêmio, você tem a A visibilidade dos pal- ra do Brasil. Achei pre- biquini nas revistas pa- a Globo, fez ain- tória por encomenda e confirmação de “que cos lhe rendeu uma tensioso”, posiciona-se. ra as pessoas ficarem da a novela “Rock pressão de Fernanda. legal, isso que eu faço série de convites e ela Mas ela aceitou o con- loucas por você e pu- NStory” e participa- Fazer esse trabalho faz sentido”. Por que a teve que avaliar todos vite de Dennis Carvalho larem no seu pescoço. ções em “Sob Pressão”, era um novo desafio e gente pode viajar né? muito bem. Choveram para fazer a novela Eu tive um reconheci- “Malhação” e “Hebe”. Laila se saiu bem no- Fazer e só você achar propostas para uma “Babilônia”, na Globo, mento relativo, no te- Mas a carreira de Laila vamente, ganhando o lindo. – reflete a atriz. grande carreira de can- seu primeiro grande atro, que não é a mes- Garin continuou nos pal- Prêmio Reverência de tora. Havia empresários trabalho na TV. A par- ma coisa que na TV, já cos – seu lugar predile- Teatro Musical. Virou Enquanto “O Beijo No dispostos a lançá-la ceria rendeu fofocas com 35 anos de idade. to. Terminados os com- oficialmente a queridi- Asfalto” acontecia, como “a próxima Elis maldosas em sites e re- Nunca me senti muito promissos com “Elis”, nha da classe. Laila Garin preparava Regina”. Em vez dis- vistas – afirmavam que invadida. Só essa vez aí. ela atuou na adapta- sua primeira produção so, Laila montou sua ela tinha um caso com Mas meu marido deu ção musical de “O Beijo - Com esses prêmios, no teatro musical: “Gota banda e foi cantar para o diretor – mas ela le- risada e Dennis tam- no Asfalto”, dirigida por senti que talvez o meu D’Água [a seco]”, uma um público pequeno vou tudo na esportiva. O bém deu risada. Eu vi João Fonseca e ideali- fazer fizesse senti- adaptação dirigida por no Beco das Garrafas. mundo das celebrida- que não estava ferin- zada por Claudio Lins, do para outras pesso- Rafael Gomes. A ideia Gravou e lançou um des não lhe interessou. do ninguém, e a gente com quem contracenou as que não eu, e isso inicial, em parceria com álbum de pouca reper- deixou quieto. – avalia também em “Elis”. Desta é muito gratificante. a Sarau Agência de cussão, mas que a rea- - Foi a única vez que ti- a experiência com o vez, ela interpretou Acaba te dando, con- Cultura, era transformar lizou como artista. “Não ve que lidar com isso. status de celebridade. Selminha, personagem traditoriamente, uma o espetáculo de Chico me parecia consistente Acho que por ser mais vivida por Fernanda humildade, porque vo- Buarque em um aquela megalomania conhecida do teatro ou Montenegro na mon- cê não faz tudo isso

42 ABRIL 2020 ABRIL 2020 43 CAPA CAPA

cional, Laila admite que A VILÃ MARCELA, RECONHECIDA já pensou: na França, pela facilidade do idio- INTERNACIONALMENTE ma. “Pensei em ficar um tempo lá, mas não é fá- cil. É outro mundo, outro á um nome co- comandante do exérci- mercado. Tem que ser nhecido no meio, to que abusa da mani- bem pensado”. E está Laila se viu diante pulação psicológica e J cheia de compromissos de convites para TV, cida violência contra seus no Brasil – além do tea- nema e teatro, tudo ao soldados. “É maravilho- tro, tem seus shows. mesmo tempo. Aceitou so ser vilã, a melhor coi- interpretar a mãe de sa do mundo. Você per- Ney Matogrosso assis- Zezé Di Camargo e de o pudor de ser mau. tiu a apresentações de- Luciano no musical “2 E, no caso da Marcela, é la no Beco das Garrafas, Filhos de Francisco”, muito divertido, porque deu feedbacks e acabou viver Clara Nunes no posso ser tudo, até ca- se tornando diretor mu- filme do “Chacrinha, nastrona. É muito liber- Com Claudio Lins em “O sical de sua turnê. Quan- Beijo no Asfalto” (2015). o Velho Guerreiro” de tador”, diz Laila Garin. FOTO: Nó Produções. do surgiu a oportunidade Andrucha Waddington, de transformar o show em e estreou no streaming Pelo papel, ela já foi re- monólogo. No desen- - Gostei e não gostei troféu mais simbólico, DVD, ele também assinou com a série de ficção conhecida nas ruas de rolar do projeto, ele de ser co-produtora. porém, foi o do Prêmio a direção. Com Ney, Lai- científica “3%”, na Netflix. Paris. Em 2019, a Netflix se transformou e vi- Gostei porque me en- Bibi Ferreira, já que sua la aprendeu a se libertar O programa se passa divulgou que metade do rou diálogo, focado volvo tanto com as coi- personagem Joana foi de quaisquer limitações. em um futuro cruel, no público de “3%” era de na dicotomia entre os sas que faço que achei vivida pela primeira vez “Ia discutir repertório e fa- qual apenas 3% da po- fora do Brasil. No mes- personagens Jasão e bom dar um nome. Mas por Bibi. “Minha mãe lava ‘isso aqui não pode, pulação é escolhido mo ano, “3%” foi também Joana, eliminando to- acho que jamais seria tinha o disco do musi- né’ e ele: ‘por que não?’. para viver no conforto, a série de língua não- dos os personagens produtora. Só co-pro- cal, cantado por Bibi. Tinha algo muito lindo”. enquanto o restante de- -inglesa mais assisti- orbitantes. O texto foi dutora mesmo. Não te- Eu ficava impressiona- Os dois se reencontra- ve enfrentar todo tipo da nos Estados Unidos. reformulado, enxuga- nho a competência e o da com aquilo e com ram, em seguida, na pró- de adversidade. Laila Questionada sobre uma do, e algumas músicas know how que a Andrea o texto todo rimado”, pria série “3%”. Ney Mato- Garin faz a vilã Marcela, possível carreira interna- foram acrescentadas – [Alves] tem. Era mais lembra Laila Garin, “não grosso se tornou seu co- como “Cálice”. um complemento ar- fiquei com medo de lega de elenco. “Colega? tístico. É bom, porque comparações, porque Pelo amor de Deus! É um tenho um espírito de a gente fez outra coisa. sei lá o quê! Em nenhum liderança, que é mais A gente mexeu muito. momento, você pen- forte do que eu. Mas Bibi é minha inspiração. sa ‘colega’”, ela diz sobre foi uma ótima experi- Está em outro lugar”. a parceria com o cantor, ência. – avalia Laila. As críticas foram super “ele é uma coisa maravi- favoráveis e o espetá- lhosa! Muito singular. Tem O trabalho lhe ren- culo conseguiu rodar o uma autenticidade, sem deu mais sete Brasil – algo cada vez maneirismo, sem afeta- prêmios, tornan- menos comum. ção, sem coisa fake. Pare- do-se invicta no ce que ele só diz o que é Reverência por três mesmo, e o essencial”. edições seguidas. O Como a vilã Marcela, da série “3%”, da Netflix. FOTO: Pedro Saad/Netflix

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Nos últimos meses, o São tantas áreas de atu- nograma de fevereiro e O DESEJO DE grande desafio de Laila ação simultaneamente março, por exemplo. Foi Garin pré-pandemia de que ela precisa ter muito todo um quebra-cabe- VOLTAR AO coronavírus era conciliar cuidado para conseguir ças, com muita gente as agendas de seus pro- ajeitar as datas. “Passei envolvida. De repente, TEATRO FALADO jetos. É música, é teatro, muitos meses planejan- com a pandemia, tudo s pessoas ainda é cinema, é streaming. do como seria meu cro- suspendeu”, ela conta. querem vê-la can- Atando. Quando o público sabe de um es- petáculo com Laila Garin, ALTOS E BAIXOS DO OFÍCIO presume ser um musical,

afinal tem sido assim há “A Hora da Estrela ou o Canto em tudo é glória, cou frustração, não. É planos. Desde que se de Macabéa” (2020): temporada anos. Mas ela busca ou- interrompida pela pandemia do claro. Como to- importante fazer coisas mudou para o Rio de tros caminhos. Pouca Coronavírus. FOTO: Silvana Marques. Ndo artista, Laila que não tenham sem- Janeiro, ela nunca mais gente sabe, mas “A Hora vive momentos melho- pre o mesmo reconhe- fez uma peça não mu- da Estrela – O Canto de Para quem começou a A técnica do cantor e do res e piores. “2 Filhos de cimento, o mesmo su- sical – não por desin- Macabéa” não era para carreira na dúvida se es- dançarino é mais visível. Francisco – O Musical”, cesso de público e de teresse. “Tem uma for- ser um musical. Ela conta colhia entre o canto ou Parece que qualquer um primeira produção na- crítica. Ali eu não tinha ça das circunstâncias. que defendeu a proposta a atuação, unir as duas pode ser ator. Como vo- cional da produtora lugar de protagonista e Teve o boom dos musi- de um espetáculo sem artes foi um verdadeiro cê mede um ator? É di- Time For Fun, não repe- acho importante ocu- cais, os patrocinadores, canções, mas a produto- achado para Laila Garin. ferente. A gente não tem tiu o sucesso do filme. par lugares diferentes, o desejo do público... ra insistiu e, quando Laila Não há como negar que um espacate para fazer. “Alegria, Alegria”, outro ocupar posições dife- Além disso, o trabalho descobriu que Chico é uma ótima solução. “A Para cada espectador espetáculo em que Laila rentes. Eu estava preci- que me projetou, ‘Elis’, César iria compor as mú- verdade é que minha é um. É bem subjetivo. Garin atuou, substituin- sando disso. Às vezes é foi um musical e ficou sicas, cedeu. “Quando cantora me rouba a ce- Talvez por isso impres- do Zélia Duncan por bom dar uma recuada mais marcado”, explica. Andrea disse que pode- na. O poder da música sione mais a coisa do duas semanas, também também. É fundamental ria ser ele, fiquei ‘putz, é muito forte. Tem uma canto, mas quero fazer não colheu os melhores passar por várias posi- quero muito!’”, lembra. coisa sensorial, para também espetáculos comentários na mídia ções. – ela avalia. além do entendimento”, sem cantar. – conclui especializada. Os dois teoriza a baiana, ressal- Laila Garin – é tão vital tiveram vidas curtas e Hoje em dia, o desejo tando que as portas não para mim cantar e atuar, restritas a São Paulo. maior de Laila Garin é estão fechadas para o que tenho certeza que Não ser um sucesso, explorar o audiovisual, teatro falado. Ela acha vou dar um jeito. contudo, não abalou que ainda ocupa um importante retomá-lo, Laila Garin. Não é uma espaço pequeno sim. Laila atrela sua se- obrigação que ela tenha em seu currículo. quência de musicais consigo mesma. “Tenho muitos também a outro ponto: POR sonhos. Quero - O canto é uma coisa - “Alegria, Alegria” fo- fazer mais ci- mais concreta. Quando LEONARDO TORRES ram só 15 dias e foi uma nema, mais sé- você canta e quando experiência e tanto pe- rie, trabalhar você dança, tem como Jornalista cultural, escritor gar tudo rápido. Com “2 com um monte medir: “é um bom cantor, e crítico teatral com mestrado em Artes da Cena. Filhos de Francisco”, code gente”, diz. é um bom dançarino”. O nheci o Breno [Silveira, Voltar ao teatro É fundador do site Teatro bom dançarino faz pirue- em Cena, redator do Portal diretor] e depois fiz uma falado também ta, espacate, faz isso, faz POPline e jurado do Prêmio série com ele. Não fi- está em seus aquilo, coisas concretas. Brasil Musical.

46 ABRIL 2020 Divulgação. FOTO: Garin e a Roda. Laila ABRIL 2020 47 HOLOFOTES

DRAYSON MENEZZES TEMPORADA ADIADA

tor, cantor e dançarino, Drayson Menezzes tem se destacado bastan- A te na cena de 2020. O belo rapaz esteve em cartaz em três elogiados espetácu- los: “Negra Palavra Solano Trindade”, “Oboró – Masculinidades Negras” e, em São Paulo, o ator viveu Malcom X no espetáculo “O Encontro - Martin Luther King e Malcom X”. Com formação em Teatro pela UniverCidade, Drayson tem como seus principais trabalhos nos palcos os musicais “Forever Young”, “2 Filhos de Francisco” e “CONSTELLATION – Uma Viagem Musical Pelos Anos 50”. O rapaz aprendeu com mestres como Camilla Amado, João Fonseca e Daniel Herz. A be- leza e o talento do moço são de família: ele é irmão da atriz Sheron Menezzes. Os dois já dividiram a cena quando Sheron foi ler uma poesia de Solano Trindade no espetáculo “Negra Palavra Solano Trindade”, que esteve em cartaz no Teatro Poeira e na Casa de

Cultura Laura Alvim, em Ipanema. Gadret. Karen FOTO:

RODRIGO MIALLARET ator, cantor, diretor e dublador Rodrigo Miallaret foi o escolhido para interpretar o Vovô Joe no musical ‘Charlie e a Fantástica O Fábrica de Chocolate’. Com quase 20 anos de carreira, Rodrigo se mudou de Minas para São Paulo em dois dias, quando foi convi-

FOTO: Osmar Lucas. Osmar FOTO: dado a cobrir um ator no elenco da primeira montagem brasileira de ‘Les Misérables’. Depois do clássico de Victor Hugo adaptado para os palcos, conquistou seu lugar no elenco de ‘A Bela e a Fera’ onde cumpria jornada tripla, como cover de Lumière, Din-Don e Maurice. Também é de Rodrigo a voz de Maurice, pai da Bella, na versão dublada do filme live-action baseado na anima- ção da Disney. No filme ‘Aladdin’, dublou o Sultão e em ‘O Rei Leão’, foi Scar, seu primeiro vilão. Na primeira versão de ‘O Fantasma da Ópera’, além de cover de Mr. Firmin, foi as- sistente de Direção. Já na mais recente montagem do sucesso de Andrew Lloyd Webber, foi cover do mesmo personagem e assumiu, durante a temporada, a função de Diretor Residente. Como ator de teatro musical, Miallaret esteve ainda em ‘Jekyll & Hyde – O Médico e o Monstro’, ‘Crazy For You’, ‘Mudança de Hábito’, ‘A Princesinha’, ‘Uma Luz Cor de Luar’, ‘We Will Rock You’, ‘Castelo Rá-Tim-Bum – O Musical’ e ‘Forever Young’.

48 TEATRO PELO MUNDO | NEW YORK

APÓS 26 ANOS, SARAH musical que deu a Brode- rick seu segundo prêmio JESSICA PARKER E Tony (o primeiro veio justamente da primeira mon- MATTHEW BRODERICK tagem de Brighton Beach SE REENCONTRAM Memoirs, de Simon). O espetáculo marcará tam- NA BROADWAY bém o retorno de Parker à Broadway. A atriz es- Casal estrela “Plaza Suite”, teve longe por 26 anos, comédia de Neil Simon quando deu vida à princesa Winnifred no revival Por BRUNO CAVALCANTI do musical Once Upon a Mattress. No Off-Broadway,

a atriz esteve nas produções Na comédia, a dupla dá vida a três casais em diferentes situações dentro de suítes do de Wonder of the World luxuoso hotel Plaza Suite. FOTO: Joan Marcus. (2001) e The Commons of Pensacola (2013). Proibido Amar (1997); en- Também sob a grife da dupla, tre outros, além do mesmo chegou ao Brasil em 2018 Se Vale lembrar que a obra de Plaza Suíte, montado em meu Apartamento Falasse, Simon também já ganhou 1970, protagonizado por musical baseado no filme uma série de montagens no Jorge Dória e Sandra Bréa. homônimo de 1960, que Brasil, entre eles: Descalços estreou na Broadway, em no Parque (1964); O Estra- Mais recentemente, a dupla 1968, e que no Brasil foi es- nho Casal (1967), com Lima Charles Moeller e Cláudio trelado por Marcelo Medici, Duarte e Juca de Oliveira; Botelho assinou a direção Marcos Pasquim, Maria Clara O Prisioneiro da Segunda de Sweet Charity, musical Gueiros e Malu Rodrigues. Sarah Jessica Parker Jessica Sarah Parker Brodrik. e Matthew Divulgação FOTO: Avenida (1973), com Ítala de Simon montado origi- Nardini; Essa Gente Incrí- nalmente em 1966, e que uando morreu em Memoirs estrelando Laurie avenida tendo como estre- vel (1981), com Eva Todor; no Brasil foi estrelado por agosto de 2018, aos Metcalf se tornou um dos las o casal Sarah Jessica Desencontros Clandesti- Cláudia Raia e Marcelo POR: 91 anos, o dramaturgo grandes fracassos de pú- Parker e Matthew Brode- Q nos (1982), com Eva Wilma; Medici em 2006. BRUNO nova iorquino Neil Simon blico e crítica da temporada rick após uma temporada CAVALCANTI experimentava o amargo (sua última peça foi Rose’s de pré-estreia na capital gosto do ostracismo e Dilemma, que não chegou de Massachusetts. Bruno Cavalcanti é jornalista formado pelo Centro Univer- do desprestígio da crítica a estrear na Broadway). sitário FIAM FAAM. Colaborou moderna, que considerava Na comédia, a dupla dá em publicações como Revista suas comédias passadas Contudo, se as previsões da vida a três casais em di- BRAVO! e Sex Sites. Atualmen- te, é repórter da Folha de São e desinteressantes. crítica de Boston se confir- ferentes situações dentro Paulo, assina a coluna “Cone- marem, o nome de Simon de suítes do luxuoso hotel xão Sampa”, no portal da jorna- Indicado quatro vezes ao retornará à Broadway com Plaza Suite. O espetáculo, lista Anna Ramalho e é repórter e crítico teatral no site Obser- Oscar e vencedor de dois pompa e circunstância gra- em cartaz até 12 de julho vatório do Teatro. É jurado do prêmios Tony, Simon saiu de ças ao primeiro revival de no Hudson Theatre, marca Prêmio Destaque Imprensa cena sem ter conseguido Plaza Suite, comédia em o reencontro do casal em Digital, autor do livro “Porque terminar de escrever nenhuma três atos lançada pelo dra- cena 26 anos após o revi- a Gente é Assim - Música Po- pular e Comportamento” e da peça desde 2009, quando maturgo em 1968 e que, re- val de Como ter Sucesso Casal esteve juntos no palco pela última vez em 1994, na comédia “Como ter Sucesso na peça “Papo com o Diabo”. o revival de Brighton Beach tornou em março à famosa na Vida sem Fazer Força, Vida sem Fazer Força”. FOTO: Joan Marcus.

50 ABRIL 2020 ABRIL 2020 51 TEATRO PELO MUNDO | LONDRES TEATRO PELO MUNDO | LONDRES

Eileen Atkins, veterana que tem 3 Olivier Awards na estante, mais 4 indicações ao Tony, vive uma avó endurecida. FOTO: Divulgação

Timothée Chalamet (de “Ado- ráveis Mulheres” e “Me Cha- me Pelo Seu Nome”), faz seu début no West End em “4.000 FOTO: Divulgação. Miles”. FOTO: Divulgação pelo musical “Fun Home”. Aclamada por ao Teatro Old Vic com grande visibilidade, “4.000 MILES”, DE AMY HERZOG, muitos críticos como uma dramaturga pelas mãos do diretor Matthew Warchus, de ascendente talento, Herzog tem no do musical “Matilda”. REFLETE SOBRE PONTES ENTRE currículo peças como “The Great God Pan” (2012), sobre abuso sexual, “Belleville” (2011), “4.000 Miles” constrói uma ponte de afeto GERAÇÕES E ESCUTA ATIVA que mostra um casal e seu casamento entre um neto desesperado e uma avó despedaçado e “After The Revolution” endurecida, assim como une dois mundos Por PAULO NETO (2014), que, curiosamente, já trazia a distintos com ideias totalmente opostas eo tem 21 anos, mora com a mãe Estes dois mundos se mesclam: a avó personagem Vera, uma nonagenária em suas visões de mundo. Estreia dia 6 em Seattle (extremo oeste ameri- enrijecida e o neto exasperado passam apegada às tradições marxistas. de abril para curta temporada. Lcano) e perde o melhor amigo em a conviver. Harmonia não é uma cons- um acidente de bicicleta. Vera tem 91, tante, mas há entendimento, há escuta “4.000 Miles” foi montada pela primeira uma cabeça cheia de memórias difi- ativa e vontade de interagir. vez há 8 anos, também em Londres, em cultosas e vive sozinha, em Nova York. um circuito diminuto. Agora com nomes POR Estas duas extremidades (geográficas O diálogo intergeracional (sete décadas reluzentes como Timothée Chalamet PAULO NETO e geracionais) se tocam quando o ra- os separam) é o mote principal da peça (de “Adoráveis Mulheres” e “Me Chame paz resolve cruzar as 4 mil milhas do da jovem dramaturga americana Amy Pelo Seu Nome”), que faz seu début no Jornalista, crítico de teatro e cinema. West End, e a veterana Eileen Atkins, que Colaborou com as revistas Drops título, que separam o oeste e o leste do Herzog, finalista do Prêmio Pulitzer por Magazine e Aimé. Jurado do Prêmio mapa dos EUA, chegando até a casa este trabalho, em 2011 e casada com tem 3 Olivier Awards na estante, mais 4 Guarani de Cinema-RS e votante do da avó, sem avisar, numa madrugada. o diretor Sam Gold, vencedor do Tony indicações ao Tony. A remontagem chega Prêmio Cenym de Teatro.

52 ABRIL 2020 ABRIL 2020 53 TEATRO PELO MUNDO | PORTUGAL TEATRO PELO MUNDO | PORTUGAL

“OS IMPAGÁVEIS” quase ingênuo e meio gues) e Joaquim Manuel “Os Impagáveis” regressa bobão, disfarce perfeito Dirigido por Henri (Luís Viegas), oriundos do aos anos 20 com charme, para enganar pai e filha. Norte. Mais do que confron- sedução e humor. Uma Pagnoncelli, espetáculo tar mocinhos e bandidos, ótima diversão. ganha adaptação com Curioso lembrar a perso- elenco português nagem Molly, um pouco mimada, interpretada na Por CACÁ VALENTE produção brasileira pela atriz Heloisa Perissé, que alguns anos depois faria grande sucesso com personagens que girariam com esta característica, como o caso da adolescente Tati do filme “O Diário de Tati”.

Na versão brasileira, a dupla de amigos que era FOTO: Nuno Fernandes. FOTO: representada pelos retiran- tes nordestinos Severino e Sinfrônio tornou-se Manuel epois de ter es- Ambientada nos anos 20, d’Almeida Ribeiro). Os dois Joaquim (Pedro A Rodri- treado no Rio de esta comédia musical faz planejam roubar a Noiva, Nuno Fernandes. FOTO: DJaneiro, não era referências e homenagens última boneca que resta de se espantar que “Os ao cinema americano e por- na cidade, e, para isso, Impagáveis” aterras- tuguês – adaptação feita Carcaça não hesita em sem (é assim que se para o público em Portugal namorar Molly (Ana Sofia fala, aqui em Portugal, –, como por exemplo “Ca- Gonçalves), a filha do poli- quando um avião aterri- sablanca” e “O Pátio das cial Zé de Brito (Lourenço

za) em Lisboa, no Teatro Cantigas”, além de grandes Henriques), devidamente Nuno Fernandes. FOTO: Independente de Oeiras. comediantes como O Gordo disfarçado como Carlinho. Afinal, a cidade tem re- e o Magro (Bucha e Estica), cebido constantemente Oscarito, Os Três Patetas, Lourenço Henriques vive centenas de brasileiros, entre outros. O cinema está o inspetor de policia, um a todo momento. tão presente que foi criado, anti-herói inspirado na per- especialmente para o es- sonagem Sam Spade de Com estreia prevista para petáculo, um filme com a Humphrey Bogart em “O 12 de março – adiada para estética do cinema mudo, Falcão Maltês”, filme noir 2 de abril por conta a pan- que divide o espaço com que marcou a estreia do demia do COVID-19 –, “Os a cena ao vivo. diretor John Huston na ci- Impagáveis” tem produção nematografia mundial. Na do próprio Teatro; encenação A história é ambientada no peça, essa estética noir de Henri Pagnoncelli; texto, famoso cabaré de Lisboa é quebrada por números adaptação e figurino de Te- “Lulu’s Club”, que tem por musicais coloridíssimos. resa Frota e um elenco todo donos o casal Luxúria (Paula Carlos d’Almeida interpreta português (ver ficha técnica). Marcelo) e Carcaça (Carlos seu Carlinhos, um rapaz

54 ABRIL 2020 ABRIL 2020 55 TEATRO PELO MUNDO | PORTUGAL TEATRO PELO MUNDO | PARIS

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM HENRI PAGNONCELLI Já faz alguns anos que você está diferente. É muito enriquecedor. em Portugal. Participou de tele- É muito legal quando você “está novelas (TVI) e, no ano passado, a viver” – como eles falam – no esteve em cartaz, neste mesmo país e trabalhar. É uma dádiva. Reprodução. FOTO:

FOTO: Divulgação. FOTO: Teatro (Teatro Independente de Aumenta muito mais a interação Oeiras), com a peça “O Melhor do Millôr – um Sarau de humor” e o conhecimento sobre o povo com um elenco de atores bra- do lugar onde você está vivendo. sileiros. Além de você, Carolina E posso garantir uma coisa: há Puntel e Ricardo Schöpke. Como mais semelhanças do que di- é trabalhar em Portugal no teatro ferenças. E cada experiência é e na TV? Você vê alguma dificul- muito enriquecedora. Esta, por dade, seja na língua ou mesmo exemplo, está sendo muito en- na maneira como as coisas são A peça – produzida e encenada riquecedora, pois é uma equipe conduzidas por aqui? em 1996 no Rio de Janeiro – con- toda portuguesa, com um elenco correu na categoria produção ao todo português… está sendo muito Prêmio Coca-Cola do CBTJ (Centro Estou aqui com a Teresa (Frota) bacana, mesmo. Brasileiro de Teatro para Infância desde o início de 2018. São idas e Juventude). Como foi adaptar a e vindas. Me chamam para fazer Por fim, depois desta peça, al- peça para o público português? novela, vou para o Brasil. Volto guma coisa que possa adiantar pra cá. Ah! Um filme… volto pro de futuros trabalhos na terrinha? A peça entrou no projeto Coca- Brasil, retorno para Portugal. No -Cola para Teatro Jovem. Inclusi- final de 2018 e início de 2019, eu Eu devo ir ao Brasil, nos próximos “COUP DE FOUDRE ve, levamos este espetáculo para fiz na TVI, a telenovela “O Valor da meses, para fazer um trabalho, alguns festivais como adulto, e Vida”, escrita por Maria João Costa. e já começar a preparar a minha como havia esta possibilidade de Foi muito legal esta experiência. próxima peça. A Teresa Frota, minha SANS GLUTEN” ser visto por jovens, também, não Estive no teatro com o “Millor...” e esposa, dramaturga premiadíssi- podíamos apimentar muito. Deixar agora estamos estreando esta ma no Brasil, fez uma adaptação, “Amor à Primeira Vista Sem Glúten” muito sensual o espetáculo. O que peça. Mas não é a primeira vez lindíssima e primorosa, do livro aqui, em Portugal, nos permitiu que eu me apresento em Portu- “Caim” do (José) Saramago para um é um divertido embate amoroso entre mais, porque a idade mínima é gal. Eu já fiz, aqui, “Doze homens monólogo. Então eu vou começar um carnívoro e uma vegana de 12 anos (classificação etária e uma sentença”, em 2012, no a trabalhar isto no Brasil e a minha para teatro). Pudemos deixá-lo Teatro Nacional D. Maria II, em intenção é estrear ainda este ano Por PAULO NETO Lisboa, que foi uma experiência mais sensual. Fizemos algumas – se Deus quiser – aqui em Por- expressão “coup casa e não tem onde guar- e pessoas apaixonadas por adaptações e uma tradução para maravilhosa. Com muito sucesso tugal, e depois levar para o Brasil. o português de Portugal. A nossa num teatro maravilhoso. E fize- Caim do Saramago, monólogo, de foudre” (umas dar suas carnes. Se não as carne vermeha. A dupla é preocupação foi aproximar o espe- mos também, no ano seguinte, adaptado pela Teresa Frota. Já fiz A das mais utiliza- colocar em um freezer, per- interpretada por Célia Diane táculo para o público português. no Porto, no Teatro Nacional São algumas leituras e todo mundo das pelos franceses) sig- derá tudo. Sem saída, ele to- e Julien Barbier. A peça fica Os atores são todos portugueses. João, “Bonitinha mas ordinária”, que ouve fica maravilhado. Quer nifica, literalmente, “um ca na campainha da vizinha em cartaz até 31 de maio e As coreografias e as letras das que foi uma interação com o fazer… quer dirigir. Fica todo mundo golpe de relâmpago”, ou para pedir ajuda. Além de tem atrativos ingressos que público e uma emoção extraor- músicas foram adaptadas para doido. Este é o próximo plano. uma descarga elétrica. detestar açougueiros, Ca- custam apenas 13 euros. a realidade portuguesa. dinária. Trabalhar em Portugal é Uma acesa metáfora pa- mille acaba de ser demiti- ra: amor à primeira vista. da e está em um momento OS IMPAGÁVEIS Cenografia Original: POR Elenco: Carlos d’Almeida Ribeiro, Lidia Kosowski de repensar sua vida. Lourenço Henriques, Paula A comédia “Coup de Fou- POR CACÁ Marcelo, Ana Sofia Gonçalves, PREÇO dre Sans Gluten” narra o Escrita por Adéle Esposito e VALENTE Pedro A. Rodrigues, Jaime Soares, Bilhete Normal: 15,00€ PAULO NETO Luís Viegas e Gonçalo Lima. Maiores de 65 anos: 12,00€ inusitado encontro entre Tristan Zerbib, “Amor À Pri- Designer, Mestre em História da Arte, Autora: Teresa Frota Menores de 25 anos: 12,00€ Romain, um açougueiro e meira Vista Sem Glúten” é Jornalista, crítico de teatro Gestor e Produtor Cultural por mais Encenação: Henri Pagnoncelli de 20 anos, tendo contribuído pa- Músicas Originais: Cacau Ferreira Classificação Camille, uma mulher cui- um romance com todos os e cinema. Colaborou com ra Petrobras, Secretaria de Estado de Castro Maiores de 12 anos dadosamente vegana. Eles elementos de humor cáus- as revistas Drops Magazine Desenho de Luz: Aurélio de Simoni e Aimé. Jurado do Prêmio Cultura do Rio de Janeiro e Secretaria de são vizinhos de porta e, na tico que os franceses tanto Cultura do Rio de Janeiro. Atualmente Figurinos: Teresa Frota Quintas, sextas e sábados às Guarani de Cinema-RS e Coreografias Originais: Marcelo 21h30 mora em Portugal, onde desenvolve noite de 31 de dezembro, adoram e faz um divertido Caridade Até 30 de Maio votante do Prêmio Cenym projetos de cultura, turismo e artesanato. ele perde suas chaves de deboche com o veganismo de Teatro.

56 ABRIL 2020 ABRIL 2020 57 TEATRO PELO MUNDO | BUENOS AIRES TEATRO PELO MUNDO | BUENOS AIRES “LATE EL CORAZÓN DE

UN PERRO” Verdoia. Franco FOTO: Premiado espetáculo de Franco Gabriel Verdoia estreia no Espacio Callejón

Por MARLON ZÉ

omo é o abraço entre mãe e filha que não C se vêem há anos? Até que ponto uma mentira pode ser sustentada com o desejo de construir uma verdade que nos ajude a viver? Que lógica opera na vontade de uma pessoa que acumula compulsivamente todos os tipos de objetos? Como é possível desarti- cular esse universo sem gavetas do antigo armário que sua vida desmorone? da casa dos pais. Late el Corazón de un Perro MENÇÃO HONROSA Em uma cidade no inte- Verdoia. Franco FOTO: A condição extrema e irre- FUNDO NACIONAL DAS ARTES rior da província de Santa versível de uma mãe, obri- de móveis, objetos e lixo Mabel se reúne com sua fi- PRÊMIO ARTES CÊNICAS 2018 Fé, uma aeromoça e um gam a convivência forçada que a mantém cativa em lha Ana depois de anos sem Dramaturgia e Direção: Franco Gabriel Verdoia bombeiro têm 24 horas para entre a filha que se recusa a sua própria casa. Enquan- vê-la. Com a ajuda de Her- Elenco: Mónica Antonópulos, Diego Gentile, convencer uma mulher a se voltar e o menino que ain- to a cidade deseja imitar o nán, um amigo da escola Silvina Sabater separar de um acumulado da hoje lembra do amor da brilho de uma cidade mo- e o primeiro amor da ado- Figurino: Cecilia Allassia escola com a força daque- derna, dentro de Mabel, na lescência, Ana tenta tirar a Iluminação: Matías Sendón les que não querem que o calçada, apega-se estoi- mãe daquele território frá- Música: Ian Shifres tempo passe. “Late el co- camente aos objetos que gil e impenetrável. razón de un perro” usa a ló- construíram a identidade ESPACIO CALLEJÓN gica social que opera nas de sua história e de sua fa- Como amar uma mãe que Humahuaca, 3759 - Buenos Aires pequenas cidades do inte- mília. Viver em uma espé- te machucou tanto? O amor Ingresso: $ 500 rior, e a partir da intimidade cie de vulcão latente, com desaparece com a distân- Todos os domingos de abril, às 20:30h de um vínculo difícil cons- a vida cotidiana reduzida à cia? O perdão é permeá- trói espelhos desconfortá- estreiteza de um corredor vel à passagem do tempo? veis; porque refletem o que que se abre entre monta- “Late el corazón de un per- Ator, Diretor e Figurinista Brasileiro, atual- evitamos ao longo de nos- nhas de móveis e lixo. ro” (O coração de um ca- POR mente mora na Capital Argentina e estu- sas vidas: refletindo o que chorro bate) abre perguntas da Dirección Escénica de Ópera no Insti- realmente somos. MARLON ZÉ tuto Superior de Arte do Teatro Colón. FOTO: Franco Verdoia. como alguém que abre as

58 ABRIL 2020 ABRIL 2020 59 TEATRO PELO BRASIL | BRASÍLIA TEATRO PELO BRASIL | BRASÍLIA Grupo Embaraça: dramaturgia negra e feminina. FOTO: Divulgação. Cia. Andaime, Cia. Plágio, A Agrupação Teatral A Macaca, Embaraça, Grupo Cena. Em suas criações, jogam na ce- O TEATRO na elementos que ajudam a formar a identidade de um BRASILEIRO teatro ainda novíssimo. É UM CALDEIRÃO Nesse curto tempo histó- rico, algumas gerações de fazedores moldam em su- EM FERVURA as mãos um teatro de re- sistência. Cito alguns deles: Há muito para entender de Teatro do Concreto. FOTO: Diego Bresani. Humberto Pedrancini, Hu- Brasília em seus palcos go Rodas, Os Irmãos Gui- marães, Alexandre Ribondi, Por SÉRGIO MAGGIO Rute Guimarães, Ana Flá- via Garcia, Guilherme Reis, James Fensterseifer, Túllio Eros Impuro, Criaturas Alaranjadas. FOTO: Claudia Ferrari. Guimarães, Zé Regino, Mi- queia Paz, Luciana Martu- chelli, Miqueas Paz, Miriam Virna, André Amaro. Todas as gerações que se misturam no caldeirão em fervu- rasília completa 60 Brasileiro (TMPB). Entre um resistência de O Hierofante saberes reforçam o mergu- que surge em cena não é ra. Venha conhecer. Há mui- anos no próximo dia personagem e outro, vi o e seu teatro ora na rua ora lho no trabalho de pesqui- o simulacro do que teste- to para entender de Brasí- 21 de abril de 2020. teatro brasiliense se diversi- em espaços abandonados sa entre o ator e o corpo. munhamos diariamente nas B lia em seus palcos. Seis décadas configuram ficar em seu modo de fazer. pelo poder público. Tagua- tevês e nas mídias sociais, um traço histórico dentro Hoje, em que pese o revés tinga efervescente de onde Nas longas itinerâncias que até porque já somos íntimas da linha do tempo do tea- sofrido na política pública brotou o Celeiro das Antas, fizemos com o Criaturas testemunhas diárias. Acre- tro mundial. A duas delas para o teatro brasileiro, é que hoje desenvolve uma Alaranjadas, vimos o pú- dito que o teatro da capital estou inserido como um fa- possível falar de um teatro instigante pesquisa sobre blico se surpreender com federal põe a política pelo zedor das artes cênicas do feito em todos os territórios clown e comicidades. a qualidade do corpo cêni- seu lado íntimo, da solidão Distrito Federal. Essa ex- do Distrito Federal, formado co dos atores e atrizes de às mazelas humanas. POR periência aparenta ser le- pela Brasília monumental, O teatro brasiliense, como Brasília. Talvez, esse traço gítima para que eu possa dona de poder hegemônico, espaço de experiência efê- seja uma das características A comédia, que tem fortes SÉRGIO apontar ao leitor da Revis- e pelas 26 administrações de mera, é permeado por tro- do jovem teatro brasiliense. representantes como Os MAGGIO ta #INCITARTE caminhos cidades, periféricas a esse cas e pesquisas. Em parte, A mistura de linguagens é Melhores do Mundo, bus- Mestre em crítica teatral pe- para conhecer a cena te- centro de poder e status. porque está inserido numa intensa. O teatro se mescla ca misturar até em seus es- la Universidade de Brasília e atral brasiliense. cadeia alimentada por três com o circo que se mes- quetes mais rasgados uma pós-graduado em direção teatral pela Faculdade Dulcina Não posso falar do vigor cursos universitários de artes cla com a palhaçaria que se pitada dessa inquietação. Há de Moraes. Ao lado do ator Jo- Na capital federal, cheguei do teatro de Brasília sem cênicas (UnB, FBT e Iesb). mescla com a dança. uma busca de estarmos em nes Abreu Schneider, coman- como crítico e, no aqui e visitar a diversidade dessas Um deles é histórico e foi coletivos. Eles brotam direto da o Criaturas Alaranjadas que agora, reporto-me como cidades administrativas. O criado em 1955 por Dulcina Há ainda uma busca pela das universidades e dos en- criou projetos de repercus- são nacional como L, O Mu- diretor-dramaturgo do Gama é um polo de teatro de Moraes, que, numa epi- universalidade de temas contros da vida. Há muitos sical e Eros Impuro. Jornalista Criaturas Alaranjadas Núcleo de bonecos (os grupos Voar fania ao visitar a nova capital postos no palco. O fato de inquietantes como Teatro do de formação, ganhou o prê- de Criação Continuada, que e o Bagagem) e ainda tem o nos anos de 1960, resolveu sermos sufocados pelo poder Concreto, O Grupo Tripé, A Cia. mio Jabuti pelo livro-reporta- desenvolve uma pesquisa instigante Semente. Ceilân- transferi-lo para Brasília. Em nos faz pensar numa criação Vísceras, Sutil Ato, Teatro do gem Conversas de Cafetinas. sobre o Teatro Popular Musical dia cuja história flerta com a comum, esses centros de que o questione. A política Instante, O Liquidificador, SAI,

60 ABRIL 2020 ABRIL 2020 61 NAS REDES NAS REDES

dramaturgo e pro- m Montreal, o ator Gustavo dutor Eduardo Bakr Vaz postou esse look géli- postou foto com do ao lado de Armando Ba- o diretor Tadeu baioff, seu parceiro de cena Aguiar, a atriz Vera em “Tom na Fazenda”. O es- OFischer e o elenco principal de Epetáculo viajou até o Canadá, país de Michel Marc Bouchard, autor do pre- “Harry Potter and The Cursed miado texto, para 8 apresentações na Child”, sucesso da Broadway Usine C. Em razão do Coronavírus, a que tem ingressos disputadís- última apresentação foi cancelada, as- simos! Bakr tinha estreia pre- sim como a apresentação que aconte- vista de seu mais novo texto, ceria nos EUA no dia 20 de março. Mas “Quando Eu For Mãe Quero as 7 apresentações que aconteceram Amar Desse Jeito”, para abril, no foram um sucesso, com o público SESC Ginástico. No elenco, es- chamando os atores de volta ao palco tão Vera Fischer, Larissa Maciel com aplausos diversas vezes. e Mouhamed Harfouch.

postando em tema inédito, o ator Guilherme Logullo ator Luís Lobianco estreou o podcast postou foto com a “Eu Ator”, nas pla- equipe do Buraco Ataformas Spotify, Google Po- Show, em reunião dcast e YouTube (versão em onde arquitetaram vídeo). Os papos são sempre Oa comemoração dos 8 anos da leves, divertidos e cheios de Companhia. Com próxima apre- curiosidades interessantes sentação prevista para maio de para quem ama teatro e quer 2020, o Buraco Show acontece saber mais sobre o mundo na- no Buraco da Lacraia, na Lapa, da glamouroso do ator. Dentre sempre com performances mu- os convidados, estão Deborah sicais irreverentes, ao estilo Dzi Evelyn, Luiz Fernando Guima- Croquettes. Fazem parte do coletivo nomes como Simone Mazzer, rães, Hugo Bonemer, Paulo Pedroca Monteiro e Eber Inácio. Betti, Totia Meirelles e os dire- Lobianco estava em cartaz no Te- tores Charles Möeller, Dennis atro Prudential com “O Método Carvalho e Tânia Nardini. Con- Grönholm”, que também saiu de fira, vale muito a pena. cena por conta do Coronavírus.

62 ABRIL 2020 ABRIL 2020 63 TEATRO NA WEB LEITURA DE PALCO

CANAL NO YOUTUBE DISPONIBILIZA 55 VÍDEOS DO ENSAIO DE “GRANDE SERTÃO VEREDAS” Série documental registra processo criativo de Bia Lessa

Por BRUNO CAVALCANTI

m dos grandes “O intuito de criar um canal diálogo é fundamental, espetáculos de onde compartilharemos aliás, nascemos para U 2017, que rendeu o nosso processo criativo falar um com o outro. a Bia Lessa os prêmios parte do desejo de que Travamos esse diálogo Shell e APCA de Melhor as pessoas estejam cada através do espetáculo e Direção e a Caio Blat o vez mais perto da obra queremos travá-lo agora Prêmio Shell de Melhor “do Guimarães Rosa e que através do processo. Pro- Ator, “Grande Sertão também tenham acesso cesso que cobrou de nós Veredas” ganhou um aos caminhos que trilha- uma construção interior canal no Youtube para mos até chegarmos ao e exterior. Bem-vindos à dividir o processo de nosso Grande Sertão. O nossa luta!” ensaios e concepção enfrentamento que o autor do espetáculo baseado nos propõe é único, o que POR no clássico literário de passamos, como passamos Guimarães Rosa. pode servir como caminho BRUNO CAVALCANTI – uma das possibilidades Bruno Cavalcanti” é jornalista No canal, está dispo- de se entrar nessa obra, formado pelo Centro Univer- nível uma série de 55 tão rica. Não porque seja sitário FIAM FAAM. Colaborou em publicações como Revista vídeos com o processo um ensaio extraordinário, BRAVO! e Sex Sites. Atualmen- de ensaios, exibidos mas por ser um exercício, te, é repórter da Folha de São durante as sucessivas um diálogo com esse tex- Paulo, assina a coluna “Cone- xão Sampa”, no portal da jorna- temporadas do espe- to e esses personagens, lista Anna Ramalho e é repórter táculo em instalação sem concessões. Não e crítico teatral no site Obser- vatório do Teatro. É jurado do geralmente sediada no facilitamos o texto, não Prêmio Destaque Imprensa hall dos teatros. Em post o transformamos, decidi- Digital, autor do livro “Porque nas redes sociais, Lessa mos enfrentá-lo. Estamos a Gente é Assim - Música Po- pular e Comportamento” e da conceituou o lançamento: num momento em que o peça “Papo com o Diabo”.

64 ABRIL 2020 ABRIL 2020 65 LEITURA DE PALCO LEITURA DE PALCO

10 PEÇAS INSPIRADAS EM TUDO O QUE EU 04 PUBLICAÇÕES LITERÁRIAS QUERIA TE DIZER Por BRUNO CAVALCANTI Considerado um dos livros mais ambiciosos da cronista Martha Medeiros, o título, lançado em hega a ser sintomático uma peça (Machado de Assis), O Cortiço (Aluísio de 2007, inspirou um monólogo es- de teatro ser adaptação de um Azevedo) e Senhora (José de Alencar), trelado por Ana Beatriz Nogueira JARDIM DE INVERNO romance, um livro de crônicas, entre outras, ficaram de fora da seleção C sob a direção de Victor Garcia O espetáculo Jardim de Inverno, protagoniza- um thriller ou qualquer outro gênero por seu caráter educacional, montado Peralta, em 2011, que, por qua- do por Andréa Horta e Fabrício Pietro, é uma que apareceu, antes, numa publicação geralmente para projetos voltados a se sete anos, viajou o Brasil nar- adaptação do livro Revolutionary Road, do ro- do ramo literário. Adaptações de publi- escolas. Confira abaixo nossa lista de rando as histórias de seis mu- mancista norte americano Richard Yates. O livro cações clássicas como Dom Casmurro 10 títulos adaptados de livros: lheres diferentes. Emílio Orciollo também deu origem ao filme Foi Apenas um Netto levou à cena uma versão Sonho, estrelado por Leonardo Di Caprio e Kate masculina do espetáculo, inti- Winslet. Sob a direção de Marco Antônio Pâ- Um dos maiores blockbusters da Broa- tulado Também Queria te Dizer mio, “Jardim de Inverno” é a primeira adaptação dway moderna, a história sobre os pri- – Cartas Masculinas, também teatral para a obra literária, e narra a trajetória WICKED mórdios da terra de Oz (antes da chegada de um casal de jovens burgueses que tentam sob a direção de Garcia Peralta. de Dorothy, em O Mágico de Oz) toma lutar contra as amarras e as engrenagens so- Tudo o que eu Queria te Dizer como base o livro Wicked – A História não ciais para mudar de vida. 01 Contada das Bruxas de Oz, de Gregory foi uma das mais bem sucedi- Maguire e narra a juventude de Glinda das adaptações dos livros da e Elphaba, a bruxa boa do norte e a cronista porto alegrense, ao bruxa má do oeste, respectivamente. lado da excelente Divã (2007), Com canções como Popular e Defying protagonizado por Lília Cabral, Gravity, escritas por Stephen Schwartz, o e Doidas e Santas (2010), com espetáculo está há 16 anos em cartaz na Cissa Guimarães. Outros títu- 05 Broadway e chegou ao Brasil em 2016, los da bibliografia da gaúcha quando cumpriu temporada de sucesso chegaram a ir para os palcos, em São Paulo, estrelando Myra Ruiz, como A Graça da Coisa, Feliz Fabi Bang e Jonathas Faro. por Nada e Simples Assim, mas sem o mesmo sucesso. VERGONHA DOS PÉS Primeiro romance da escritora multimídia Fernanda LEITE DERRAMADO Young (1970 – 2019), Vergonha dos Pés ganhou Romance que deu o Prêmio Jabuti a Chico Buarque de adaptação da própria autora e teve direção as- Hollanda em 2009, Leite Derramado quase virou mo- sinada por Alexandre Reinecke (que já havia diri- nólogo pelas mãos de Marília Pêra. Contudo, foi pela 0 gido outra peça de Young, A Ideia, no qual a es- 3 critora estreava no teatro como atriz) em 2008, direção de Roberto Alvim que o espetáculo chegou aos 02 palcos paulistanos em 2015 (ano da morte de Marília). Com numa montagem estrelada por Priscila Fantin e Juliana Galdino na pele do centenário Eulálio, o espetá- Danton Mello. Na obra, a jovem Ana, envergonha- culo passou a limpo a história do Brasil e seu histórico da por calçar 33, inventa uma série de histórias de corrupção. Em meio aos ânimos exaltados causados que sonha ver transformadas em livro, enquanto pelo pedido de impeachment da então Presidente da enxerga com desconfiança o interesse amoroso República, Dilma Rousseff, o espetáculo foi ovacionado do jovem Jaime. Essa foi a primeira adaptação e recebeu as principais indicações a todos os prêmios cênica de um livro de Young, que, antes de mor- voltados a teatro, além de ter consagrado Alvim e sua rer, pretendia ainda adaptar para os palcos Tudo companhia teatral, o Club Noir, frente a classe teatral. o que Você não Soube, O Pau e Aritmética, três de seus livros mais festejados.

66 ABRIL 2020 ABRIL 2020 67 LEITURA DE PALCO LEITURA DE PALCO

MISERY A peça é baseada no suspense homônimo 06 de Stephen King, adaptado para o cinema em 1990, que deu um Oscar para Kathy Bates. O livro foi adaptado para os palcos da Broadway em 2015 em controvertida montagem estrelada por Bruce Willis e Laurie Metcalf. A obra narra a história de um escritor que, após sofrer um acidente, vira refém 09 de uma fã de sua obra, e tenta se safar O LIVRO DE JÔ VOL. 2 antes que a admiração dela o leve a morte. No Brasil, o espetáculo deve Lançados em 2018 e 2019, os Jr. alguns dos melhores mo- estrear em 2020 com Tarcísio Filho dois volumes das memórias mentos das memórias que no papel que foi de Bruce Willis nos de Jô Soares, O Livro de Jô, passaram a limpo a história palcos. Uma versão brasileira ganhou renderam um solo em que o teatral e televisiva do Brasil os palcos em 2005, com Marisa Orth ator, diretor, instrumentista, no século XX. O espetáculo e Luiz Gustavo como protagonistas. apresentador, escritor e ro- ficou em cartaz em curtíssima mancista narra, ao lado do temporada no Teatro FAAP, e jornalista Mathinas Suzuki deve retornar em 2020.

NELSON A CASA DOS BUDAS DITOSOS RODRIGUES Há mais de 15 anos em cartaz, o solo de Fernanda Torres é uma POR ELE MESMO 08 10transposição fiel do livro homônimo de João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) Baseado no livro homô- para os palcos. Sob a direção de nimo editado por Sônia Domingos de Oliveira (1936-2019), o Rodrigues em 2012, com solo traz para a cena uma baiana de impressões de Nelson 68 anos que narra suas aventuras Rodrigues acerca de sua sexuais ao longo da vida, e faz FIM DE CASO 07 própria figura, o espetácu- um tratado sobre sexualidade, lo nasceu como um possí- moral, ética e a hipocrisia dos Fim de Caso, adaptação de Thereza Falcão para o vel monólogo que contaria costumes sociais. O espetáculo livro homônimo do romancista inglês Graham Greene, com a direção de Fernanda rendeu à Fernanda Torres um é um tratado sobre a construção dos estereótipos Montenegro, mas, graças Prêmio Shell de Melhor Atriz. de relacionamento amoroso na metade do século a problemas de agenda, XX, na qual um triângulo amoroso discute temas acabou sendo protago- Bruno Cavalcanti é jornalista formado pelo Centro Universi- como ética, responsabilidade emocional, obsessão nizado pela própria atriz, tário FIAM FAAM. Colaborou em publicações como Revista BRAVO! e Sex Sites. Atualmente, é repórter da Folha de São e o envolvimento tóxico. Sob a direção de Guilher- que promove uma leitura Paulo, assina a coluna “Conexão Sampa”, no portal da jorna- me Piva, o espetáculo se apresentou no Oi Futuro acerca da figura do clás- lista Anna Ramalho e é repórter e crítico teatral no site Obser- POR vatório do Teatro. É jurado do Prêmio Destaque Imprensa Di- Ipanema em 2019 com elenco formado por Vanessa sico dramaturgo carioca. BRUNO gital, autor do livro “Porque a Gente é Assim - Música Popular Gerbelli, Eriberto Leão e Isio Ghelman. CAVALCANTI e Comportamento” e da peça “Papo com o Diabo”.

68 ABRIL 2020 ABRIL 2020 69 TV TV O GRANDE TEATRO TUPI O feliz encontro da televisão e do teatro no Brasil

Por LUIS FRANCISCO WASILEWSKI

oi em 1956 que a TV Tupi do Rio de Janeiro criou um dos progra- Fmas mais exitosos de sua histó- ria. Faço menção ao Grande Teatro Tupi, que reuniu, em seu núcleo for- mador, artistas que se tornaram per- tencentes ao rol dos grandes no- Fernanda Montenegro mes da cultura brasileira. Eram eles: e Sérgio Britto em “Vivendo em pecado”, Fernanda Montenegro, Fernando de Terence Rattingan, Torres, Nathalia Timberg, Ítalo Rossi, peça televisionada pela TV Tupi em 1959. Flávio Rangel, Zilka Salaberry, Aldo FOTO: Cedoc/Funarte de Maio e Manoel Carlos. Tanto Luís Sérgio Lima e Silva em sua obra TV Tupi do Rio de Janeiro: Uma Viagem Nathalia Timberg, Afetiva, editada pela Imprensa Oficial Sérgio Britto, Ítalo do Estado de São Paulo em 2010, Rossi, Fernanda Zilka Salaberry e Aldo de Montenegro e Manoel quanto Fernanda Montenegro em Maio em ‘As Medalhas da Carlos: formadores do Velha Senhora’, em 1959. Grande Teatro Tupi. seu livro de memórias escrito em FOTO: Cedoc/Funarte FOTO: Divulgação. parceria com Marta Góes, Fernanda Montenegro: Prólogo, ato, epílo- de Queiroz; Breve Encontro, de Noel espaço do intervalo do Grande Teatro de Arthur Azevedo, sob a direção de go, publicado pela Companhia das Coward, e muitos outros. Um re- Tupi para a venda de assinaturas, cujo Gianni Ratto e a primeira montagem de Letras em 2019, creditam Sérgio pertório do maior quilate. Fernanda resultado alcançado foi a criação da O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, Britto como a célula mater do Montenegro comenta que “Só não fi- companhia. Sérgio Britto comentou dirigida por Fernando Torres. Grande Teatro Tupi. Foram quatro- zemos Shakespeare e os gregos”. para o livro de Luís Sérgio de Lima e centos e cinquenta programas exi- Silva: “Conseguimos dez milhões de bidos, dos quais quase a metade foi E, abordando o programa como ins- cruzeiros, o que possibiltou estrearmos POR ao ar ao vivo. Entre as obras literárias trumento catalisador da cena teatral as primeiras produções do Teatro dos LUÍS FRANCISCO que foram adaptadas para o progra- brasileira, foi, a partir da parceria de Sete: Mambembe, A Senhora Warren e WASILEWSKI ma, estão Os Espectros, de Henrik Fernanda, Fernando, Ítalo e Sérgio Cristo Proclamado”. Com uma trajetória Pós-Doutor pelo Programa Avançado de Ibsen; Helena, de Machado de Assis; que aconteceu a gênese do Teatro que honra o melhor do teatro brasi- Cultura Contemporânea da UFRJ, Doutor em Nossa Cidade, de Thortorn Wilder; dos Sete. Em 1959, os quatro, tendo leiro, o Teatro dos Sete criou encena- Literatura Brasileira pela USP e autor de “Isto Floradas na Serra, de Dinah Silveira Sérgio como líder, passam a usar o ções históricas como O Mambembe, é Besteirol - O Teatro de Vicente Pereira”.

70 ABRIL 2020 ABRIL 2020 71 MÚSICA MÚSICA

Atrizes do teatro musical em performance de “É uma partida de futebol”, música do MÚSICA NO TEATRO EM PROL Skank que foi trilha do musical “Samba Futebol Clube”, de Gustavo Gasparani. DA SOCIEDADE VIVA CAZUZA FOTO: Divulgação. Previstos para abril, “Tudo ao Contrário” e “Cazas de Cazuza” destinam bilheteria à ONG Por REDAÇÃO

apitaneada por Lucinha Araújo, Cmãe do cantor Cazuza (1958-1990), a Novo elenco de “Cazas de Cazuza”: musical que virou febre nos anos 2000 retorna sociedade Viva Cazuza ao Vivo Rio para 4 apresentações. FOTO: Robert Schwenck. dá assistência a crian- ças e adolescentes ca- rentes portadoras do vírus da AIDS, doença que o levou a um cho- que séptico e encerrou a carreira do poeta aos 32 anos. Previstos para abril, dois eventos des- tinarão parte da sua bilheteria à organização. “Tudo ao Contrário - A Cena em Prol da Vida”: apresentação de números musicais com inversão de gênero terá toda renda destinada à Sociedade Nos dias 9, 10, 11 e 12 abril, Viva Cazuza. FOTO: Divulgação. volta ao cartaz no Vivo Rio, 20 anos após sua es- participou de programas eu fui ver todos os dias para os dias 10, 11 e 12 de pela Broadway Cares / Serrado, Tiago Abravanel, treia, o musical “Cazas de como Faustão, Jô Soares no canecão e a cada dia abril, a partir de 100 reais. Equity Fights AIDS, ONG André Dias, Kelzy Ecard, Cazuza”. A montagem ori- e Hebe. A ópera-rock na- era uma nova emoção. Já no Teatro Riachuelo, americana responsável Claudio Lins, Helga Nemetik, ginal estreou em 2000, cional ousou ao transfor- Não é uma biografia, não está previsto para 21 de pelo evento beneficen- Thati Lopes, Ícaro Silva, idealizada por um gru- mar canções de rock em- é um filme, são variações abril a quinta edição do te em Nova York, “Tudo Gabriel Staufer, Kacau po de jovens paulistanos, blemáticas em um musi- sobre um mesmo tema evento beneficente “Tudo ao Contrário - A Cena Gomes, Soraya Ravenle, em sua maioria amado- cal estilo Broadway, mui- falando das várias fa- Ao Contrário”. Com apre- Em Prol da Vida” conta Evelyn Castro, Saulo Segreto res, que acabaram reali- to antes do Brasil ter se cetas do Cazuza, é um sentações musicais com com repertório de musi- e Tadeu Aguiar, entre ou- zando a primeira grande transformado em um polo musical muito bonito e inversão de gênero, o cais brasileiros e ameri- tros. A única apresenta- homenagem à sua obra. consumidor e criativo de vocês não podem per- show, dirigido por Reiner canos que tem como sua ção do evento terá toda espetáculos do gênero. der, corram para comprar Tenente e João Fonseca principal característica a a verba arrecadada des- Escrito e dirigido por Rodrigo os ingressos”. Até o fe- conta com a apresenta- celebração da diversida- tinada à Sociedade Viva Pitta aos 22 anos, “Cazas Sobre o musical, Lucinha chamento desta edição, ção de vários artistas code e da vida. Cazuza. Em razão do de Cazuza” virou uma fe- Araújo afirma: “Cazas de as datas da apresenta- nhecidos do segmento Coronavírus, sugerimos bre, lotou o Canecão e o Cazuza foi a primeira gran- ção estavam mantidas, musical. Inspirado pelo Nas quatro edições ante- confirmar a data do evento Tom Brasil, as maiores ca- de homenagem feita a apesar da pandemia do evento anual Broadway riores já passaram pelo pal- em seu Instagram oficial: sas de show da época, e Cazuza e agora 20 anos Coronavírus, e ainda ha- Backwards e autorizado co nomes como Marcelo @tudoaocontrariomusical. depois ainda é tão atual, viam ingressos disponíveis

72 ABRIL 2020 ABRIL 2020 73 UMA PEÇA QUE ME MARCOU UMA PEÇA QUE ME MARCOU

MEMÓRIAS ‘Mamma Mia’ foi especial Ver aquela plateia intei- MAMMA MIA! desde o começo. Quando ra abanando as luzes no começamos os ensaios ar, no clima da cena, foi Após maternidade, e fizemos nossa primei- realmente incrível. Kiara Sasso reme- ra leitura, me lembro de mora musical que um momento em que Mas nem só de lágrimas comecei a cena cantan- emocionadas nós vivemos, marcou sua carreira do ‘Slipping Through My tivemos outros momentos Por KIARA SASSO Fingers’, que é a música de muita risada, como uma emocionante que a Donna vez que eu cantei metade musical que mais canta enquanto está arru- de uma letra em inglês, me marcou foi o mando a filha para o ca- sem nem perceber, em O ‘Mamma Mia’, re- samento, e depois can- uma cena com o Saulo almente. Não só pelo tava ‘The Winner Takes It Vasconcelos, que fazia o fato de eu ter feito ele, All’ (‘Tudo ao vencedor’), Sam, e foi quem percebeu há 10 anos, mas porque e ver o elenco emocio- (risos). Ou quando ‘fui víti- nado. Eu não podia olhar ma’ dos nossos cenários antes dele acontecer na Amizade das personagens minha vida, as pessoas se estendeu à vida real. para os meus colegas, ne- giratórios, duas paredes FOTO: Dede Fedrizzi sempre me pergunta- nhum deles, porque es- grandes que andavam para vam qual era o musical tava todo mundo com os frente e para trás montando que mais tinha feito isso, uma aposta em mim. Eu fi- extremamente talentosos, que fazia a Tanya e eu fi- olhos cheios de lágrimas. vários cenários diferentes. o que mais tinha amado quei muito preocupada de além de serem muito hu- quei conhecendo melhor Em todas as cenas que fazer, e eu nunca conse- me sair bem porque esta- manos – pois não é sempre no processo. Nós ficamos Me lembro também do se passavam no quarto guia escolher um, mas aí va tocando em um lugar que a equipe que vem de tão amigas que elas aca- último dia, no último es- da minha personagem, veio o ‘Mamma Mia’, que que eu não havia tocado fora é assim -, eram pes- baram sendo madrinhas do petáculo. Precisei tomar as paredes viravam, e ti- é um musical extrema- antes, com uma persona- soas cuidadosas com rela- meu casamento. A gente dois beta blockers para nha uma escada no meio mente especial – e não gem que passa por tantas ção ao artístico, mas tam- realmente criou uma ami- tentar controlar um pouco por onde, quando eu es- que os outros não sejam coisas na história. A Donna bém com a gente, eles se zade muito forte, nós três, as emoções, porque eu tava na coxia, eu subia e, também, mas pra mim é realmente uma mulher interessavam por nós, en- e era muito divertido. Era sabia que iam ser muito quando entrava em cena, foi muito bacana. muito forte, de muita fibra, quanto pessoas, de verda- uma coxia muito divertida, fortes. E foram. Quando eu descia. Até que, um dia, e que, ao mesmo tempo, de. Foi muito, muito, muito o nosso elenco era mui- cantei ‘Tudo ao Vencedor’, Foi a primeira vez que um tem sua comicidade, seu especial para mim. Eu acho to coeso, todo mundo se que era um marco, meu diretor realmente me deu drama, tudo isso embala- que posso dizer por todos, dava bem, não tinha dra- Deus do céu... Saí de cena uma personagem que não do pela trilha do ABBA... ou praticamente todos. ma, era muito bom mes- urrando, não estava nem era uma princesa, que não Muito icônico! mo, uma reunião de mui- chorando, eu estava ur-

era uma mocinha, que não Foram muitos aconteci- ta gente talentosa e baca- rando de tamanho cho- E3 Fotografia. FOTO: era aquela coisa que to- Tiveram muitas coisas mentos e encontros es- na. A gente foi muito feliz ro, foi muito emocionan- dos já estavam acostu- especiais, inesquecíveis, peciais, como o fato de ali... Eu lembro que quan- te. A plateia veio abaixo mados a me ver fazen- que aconteceram duran- ter ficado muito amiga das do faltava uns dois meses no meio dela, foi absolu- do. Eu era, inclusive, jo- te toda a temporada, perí- atrizes que faziam as ami- para terminar, depois de tamente sensacional, ca- vem para a Donna, não odo em que a gente qua- gas da Donna. Quem fa- um ano e um mês em car- tártico. Os fãs ainda orga- tinha uma filha, não tinha se mora dentro de teatro zia a Rose era a Andrezza taz, todos já estavam se nizaram uma ação, com passado pela experiência e acaba virando uma fa- Massei, que já era muito emocionando, tristes que ‘palitinhos’ de luz neon, e que aquela mulher pas- mília. Tínhamos um time minha amiga desde ‘A Bela estava acabando, e eram usaram durante a nossa sou, então realmente teve de criativos, de diretores, e a Fera’, e a Rachel Ripani, todos, todos mesmo. cena do ‘Super Trouper’.

74 ABRIL 2020 ABRIL 2020 75 UMA PEÇA QUE ME MARCOU ESPECIAL TEATRO EM CASA PARA ENTRETER A QUARENTENA Com pandemia do Coronavírus, lives congestionam Insta- gram e produções liberam íntegra dos seus espetáculos

Por REDAÇÃO

pandemia do intermediadas por Rodri- o canal de contação de novo Corona- go Naice e Tauã Delmiro, histórias “Brincando de A vírus obrigou o dupla indicada ao Prêmio Imaginar” para apresentar público e os artistas a Cesgranrio de Teatro 2018 pocket shows acústicos FOTO: Dede Fedrizzi FOTO: ficarem em casa e co- pelo par cômico em “70? direto de suas casas nas em um momento que eu Sem dúvida, eu não pode- para ele muitas vezes pode mo consequência, mais Década do Divino Mara- redes sociais da Brain+. tinha que entrar correndo, ria escolher outro musical pensar: ‘Nossa, é muito le- conteúdo on-line pas- vilhoso - Doc. Musical”. A perguntando para as mi- como o mais marcante, ti- gal, muito divertido’, mas sou a ser produzido e poeta Maria Rezende, que O cineasta e produtor au- nhas amigas onde estava a nha que ser ‘Mamma Mia’. não é só isso, sabe? É um consumido. Com tem- estaria em cartaz na Ca- diovisual Eduardo Chamon, Sophie - porque tinha aca- Nossa, me toca demais! espetáculo que realmente poradas de espetácu- sa de Cultura Laura Alvim dono da produtora de ví- bado de me deparar com Acho que ele tem essa coisa reúne tudo, tudo de bom los e gravações de no- com o recital “Mulher Mul- deos Chamon Audiovisual os três possíveis pais dela e de tocar as pessoas, seja que se pode ter, e quan- velas suspensas, atores tidão”, decidiu manter as - a mais atuante no regis- que eu não via há vinte anos pela música já fazer par- to a Donna Sheridan, tá aí e atrizes promoveram apresentações pelo Ins- tro de espetáculos do Rio (risos) -, eu ‘perdi o chão’. te da história delas, pela uma personagem que eu transmissões ao vivo tagram @amariadapoesia. de Janeiro -, criou o site história ser bonita e inte- ia amar reprisar, tenho mui- pelas redes sociais pa- www.espetaculosonline. Nessa corrida para subir, ressante, ou por tas saudades. Amo, amo, ra falar sobre o Corona- Já Frederico Reder e a com, onde disponibilizará tropecei e fui ‘catando ca- ter personagens amo… vírus, cantar, atuar, fazer Brain+, empresa gesto- não só registros realizados vaco’, quando cheguei na muito diver- entrevistas ou simples- ra de 6 teatros e 1 circo, por sua empresa, como hora de descer os degraus, tidos e bem mente mostrar mais so- entre eles o Teatro Cla- de outras produtoras. É rolei escada abaixo, entrei delineados. bre sua intimidade. ro (antigo Theatro NET), uma oportunidade para em cena rolando, e a pla- Quem olha promoveu a campanha quem não teve a chance teia teve aquele momen- No Instagram, o Cantágio #OShowVaiContinuar, de assistir ao espetácu- to sonoro, de ‘ohhh’. Todo Musical (@festivalcanta- que buscou conscienti- lo in loco conferir a peça mundo percebeu que aquilo gio) reuniu nomes do te- zar as pessoas a respeito mas também um mate- não estava certo. As me- atro musical como Tiago da importância de opta- rial de estudo para atores, ninas jogaram para cima Barbosa, Jullie, Analu Pi- rem pelo reagendamento diretores e dramaturgos. tudo que tinham nas mãos menta, Hugo Kerth, Cás- dos eventos ao invés do e foram ao meu resgate sia Raquel e Marcela Bar- reembolso dos ingressos. Selecionamos 10 ótimos para ver se eu ia estar viva tholo para lives onde in- Junto com essa proposta, espetáculos disponibili- para seguir a cena (risos). terpretaram canções de os live shows #OShow- zados na íntegra para en- No fim, viram que eu es- teatro musical e dos seus VaiContinuarLiveFestival treter sua quarentena no

tava bem e continuamos Dede Fedrizzi FOTO: ídolos. São 6 artistas por trouxeram artistas co- mês de abril. Aponte a dali mesmo. noite cantando 3 músicas mo Jullie, Adriano Fer- câmera do seu celular cada, com apresentações reira, Magno Navarro e para o QR Code e confira.

76 ABRIL 2020 ABRIL 2020 77 ESPECIAL ESPECIAL 7 - O Musical Primeiro trabalho autoral da dupla Claudio Botelho e Charles Möeller, “7 - O Divulgação. FOTO: Musical” estreou em 2007, com música escrita especialmente por Ed Motta. O espetáculo foi protagonizado por Alessandra Maestrini e tem uma conti- nuação chamada “14”, prevista para 2021. O musical

reuniu elementos de co- FOTO: Divulgação. nhecidas histórias dos ir- mãos Grimm, especifica- O Vendedor de Palavras - Teatro Mototóti mente o drama de Branca FOTO: Divulgação. de Neve, com uma visão Espetáculo de rua, a peça se apresenta desde março Assista: Assista: contemporânea em cli- tes eram bruxas e prin- de 2009 em ruas, parques, escolas e eventos. Com ma noir e adulto – a his- cesas eram suburbanas. texto de Rodrigo Monteiro, criado a partir da crônica tória foi levada para um Vale a pena assistir pe- homônima de Fábio Reynol, o espetáculo conta a his- Rio de Janeiro de contos las músicas, pela histó- tória do garoto Milho, que parte do interior e vai para a de fada, onde fazia frio ria, pelo elenco e, prin- capital, onde lê para as pessoas nas ruas e lhes ensina nas ruas (e nas almas), cipalmente, para matar o significado das palavras, porque “cada palavra vale onde havia mais noite do a saudade de Rogéria e um pensamento”. É encenado pelo Grupo Mototóti, que dia, onde cartoman- Ida Gomes. interpretado por Fernanda Beppler (autora das canções) e por Carlos Alexandre. A direção é de Arlete Cunha.

MÚSICA PARA CORTAR OS PULSOS A peça teatral que fez su- deroni. A peça apresenta os pulsos” também está

FOTO: Divulgação. FOTO: cesso nos circuitos de São em dez cenas curtas os disponível em livro e filme. Paulo e em boa parte do universos particulares de Brasil desde 2010 recebeu o três jovens em torno dos Assista: prêmio da Associação Pau- 20 anos: seus sentimen- lista dos Críticos de Arte tos íntimos, anseios, frus- (APCA) de melhor peça jo- trações e dúvidas. Isabela vem de 2010 e marcou a es- sofre de um coração par- treia da companhia Empó- tido, Felipe quer desespe- rio de Teatro Sortido, que o radamente se apaixonar e diretor Rafael Gomes criou Ricardo, seu melhor ami- com o também diretor e go, está apaixonado por dramaturgo Vinicius Cal- ele. “Música para cortar

78 ABRIL 2020 ABRIL 2020 79 ESPECIAL ESPECIAL FOTO: José José Renato. FOTO:

A Tropa FOTO: Elisa Mendes. Um pai doente recebe a visita dos quatros filhos no hos- Assista: pital. Mas, o que seria apenas um encontro em função Hollywood and Broadway de um parente debilitado se revela um acerto de con- Assista: Dirigido por Carlos Alberto Serpa, a produção da tas familiar, permeado de humor e afeto, tendo como Cesgranrio mesclou sucessos da Broadway e de pano de fundo a história brasileira, dos tempos da di- filmes clássicos de Hollywood, com números mu- tadura militar à Operação Lava-Jato. Vencedor do séti- mo concurso Seleção Brasil em Cena, promovido pelo sicais costurados por Carlito, personagem de Char- Centro Cultural do Banco do Brasil, o texto de estreia les Chaplin. No elenco, Alan Hauer, Aline de Bar- do jornalista Gustavo Pinheiro comemorou os 50 anos ros, Julia Nogueira, Santiago Viallal, Raí Valadão, de carreira do ator Otavio Augusto, foi lançado em li- Ricardo Knupp, Suzana Felske, Tamara Trindade, vro pela editora Cobogó e, recentemente, também foi Tatty Caldeira e Bruno Torquato. roteirizado para virar série na televisão.

partida é um universo real Volcato Ester Dias, Flora A Vida Não é de uma cidade fictícia, ins- Menezes, Ingrid Gaigher, um Musical pirada no Rio de Janeiro, Joana Mendes, Marcelo FOTO: Carol Pires. Carol FOTO: imperfeito, cru, violento. A Nogueira, Nando Brandão Senha para acesso: quasecia peça satiriza o universo dos e Udylê Procópio. contos de fadas da Disney “A Vida Não É Um Musical e o atual cenário político. Assista: – O Musical” tem texto e As canções originais são trilha 100% originais, com de Fabiano Krieger, co- um universo bastante par- reografias e direção de ticular que mescla a ma- movimento de Carol Pires, neira americana de fazer cenário de Nello Marrese musicais com a diversidade e figurino de Carol Lobato. da música brasileira con- No elenco, Daniela Fontan, temporânea. O ponto de Thelmo Fernandes, Augusto

80 ABRIL 2020 ABRIL 2020 81 ESPECIAL ESPECIAL

Chacrinha, o Musical Grande sucesso dos pal- Waddington, estreando no cos em todo o país desde teatro depois de quase três Divulgação. FOTO: 2014, “Chacrinha, o Musical” décadas de carreira dedi- marcou a volta de Stepan cada à produção cinema- Nercessian ao teatro, emo- tográfica. A montagem já cionando com sua inter- foi assistida por mais de 2 pretação do velho guer- milhões de pessoas no te- reiro. Em cena, persona- atro e na exibição do es- gens emblemáticos do petáculo no Canal VIVA. Assista: Cassino, como Russo, Elke As temporadas contaram Maravilha, Pedro de Lara, com a participação espe- Boni e, claro, as Chacretes. cial de artistas que batiam Produzido pela Aventura ponto nos programas do Entretenimento, com tex- Chacrinha, como Xuxa, to de Pedro Bial e Rodrigo Fábio Jr, Paulo Ricardo, Nogueira, o musical conta Biafra e Wanderléa. com direção de Andrucha

Os Sertões - A Terra Cabeça - um documentário cênico A Cia de Teatro Oficina ria é contada em 5 par- e 16 minutos de duração. Oito homens em cena, Uzyna Uzona encenou o tes: "A Terra", "O Homem “Os Sertões” relata os epi- numa formação que alude espetáculo “Os Sertões”, a 1", "O Homem 2", "A Luta sódios da Guerra à luz da a uma banda de rock, exe- saga narrada por Euclides 1" e "A Luta 2". Somadas, história passada e presen- cutam todas as canções da Cunha no livro homô- são 27 horas de espetá- te do Brasil e em relação do álbum Cabeça Dinos- nimo e transposta para os culo. O link do QR Code à batalha do grupo Ofici- sauro, dos Titãs, perme- palcos pelo dramaturgo, corresponde somente à na contra o apresentador adas por cenas e proje- diretor e ator José Celso primeira parte da pentalo- Sílvio Santos. ções que desenham um Martinez Corrêa. A histó- gia, “A Terra”, com 3 horas painel dos acontecimentos emblemáticos nacio- nais e mundiais dos anos Assista: 1980 e dialogam com ima- gens e referências do Bra- sil e do mundo nos tem- FOTO: Ricardo Brajterman. pos atuais. A dramaturgia Assista: e direção são de Felipe Vidal e, no elenco, além e Sergio Medeiros. O es- do próprio diretor, estão petáculo foi indicado aos Felipe Antello, Guilher- Prêmios Shell e Cesgran- me Miranda, Gui Stutz, rio, ambos nas categorias Leonardo Corajo, Lucas “Melhor Texto” e “Melhor FOTO: Divulgação. Gouvêa, Luciano Moreira Direção Musical”.

82 ABRIL 2020 ABRIL 2020 83 EMESPECIAL CARTAZ FOTO: Turazzi. Rodrigo FOTO:

Euforia

Dividida em dois solos, Victor Garcia Peralta e um homossexual de 87 atuação de Michel Blois. Assista: anos e uma mulher pa- A peça estreou no Espaço raplégica, a peça tra- Cultural Municipal Sérgio ta do desejo. Um de- Porto em setembro de sabafo de persona- 2017 e, de lá pra cá, já gens que socialmen- cumpriu diversas tem- te são olhados como poradas entre Rio e São seres assexuados, invi- Paulo, colhendo críti- síveis aos olhos do pra- cas positivas e aplau- zer comum. O espetá- sos efusivos ao final de culo tem texto de Julia cada sessão. Spadaccini, direção de

84 ABRIL 2020 EM CARTAZ Por conta da pandemia do Coronavírus, todos os espetáculos sofreram adiamento ou cancelamento da temporada. Consulte a programação atualizada em queroteatro.com.br/emcartaz.

ABRIL 2020 87 EM CARTAZ EM CARTAZ A COR PÚRPURA – O MUSICAL A VIDA PASSOU POR AQUI A HORA DA ESTRELA OU IELDA - COMÉDIA TRÁGICA O CANTO DE MACABÉA FOTO:Silvana Marques FOTO:Silvana FOTO: Divulgação FOTO: Da obra de Clarice Lispector Machado Fernanda FOTO: FOTO: Divulgação FOTO: Texto: Claudia Mauro Texto e Direção: Renato Carrera Adaptação e Direção: André Paes Leme Baseado no livro que deu à Alice Walker o Direção: Alice Borges Elenco: Ângela Câmara, Carolina Ferman, Fer- Canção Original: Chico César prêmio Pulitzer e no filme de Steven Spiel- Elenco: Claudia Mauro e Édio Nunes nanda Sal, Marcel Giubilei, Ricardo Lopes, José Direção Musical e arranjos: Marcelo Caldi berg, o musical foi produzido na Broadway A peça conta a história de uma profunda Karini, Renato Carrera e Jean Marcel Gatti. Com Claudia Ventura, Claudio Gabriel e Laila Garin por Oprah Winfrey e Quincy Jones e recebeu e sólida amizade entre uma mulher e um Um grupo de amigos, que não se via há bastante Músicos: Fábio Luna, Pedro Aune e Pedro Franco 11 indicações ao prêmio Tony. Trata de uma homem de estratos sociais diferentes – tempo, resolve se encontrar para assistir ao último Adaptação da obra de Clarice Lispector com saga familiar inspiradora que conta a inesque- Silvia (Claudia Mauro), professora e artista capítulo da novela “Vale Tudo” e assim, matar trilha original de Chico César, o espetáculo cível história de uma mulher que, através do plástica, que viveu grande parte da vida às as saudades. Um deles é assassinado. Ielda, a conta a história de Macabéa (Laila Garin), imi- amor, encontra a força para triunfar sobre a voltas com as crises em seu casamento empregada, é considerada a principal suspeita. grante nordestina cuja vida no Rio de Janeiro adversidade e descobrir sua voz no mundo. e um enorme sentimento de solidão, e Ielda mora com seu marido Marco Antonio e é marcada pela ausência de afeto e poesia. Uma história universal de esperança, um tes- Floriano (Édio Nunes), boy e faxineiro, de seu filho Cleyton num beco ao lado da Praça Vista pela sociedade como uma mulher des- temunho do poder de cura do amor e uma hábitos simples e inteligente por natureza, da Apoteose, no Sambódromo. Acompanhamos provida de qualquer atrativo, ela se contenta celebração da vida com atitude afirmativa e que sempre levou sua vida com leveza e então o cotidiano de Ielda nestes dois univer- com uma existência medíocre: ganha menos de empoderamento da mulher na sociedade. bom humor. Depois de quase meia década sos distintos durante todo o ano. Seja enquanto do que um salário, divide um quarto com Texto: Marsha Norman de convivência, Silvia é uma mulher solitária trabalha na cozinha do grupo de amigos prepa- quatro pessoas, sofre com um chefe rigoroso Músicas: Brenda Russell, Allee Willis e Ste- que se recupera de um AVC, e Floriano o rando a ceia de natal ou em sua casa durante e não atrai a atenção de ninguém. Na obra phen Bray único amigo ainda presente. Aos poucos, o desfile das escolas de samba. O dia a dia da literária, tal história é contada por um escritor, Versão brasileira: Artur Xexéo ele contagia Silvia com sua alegria de viver família de Ielda também está abalado pelas di- que vê Macabéa na rua e resolve narrar a vida Direção Geral: Tadeu Aguiar e senso de humor, que acabam devolvendo ficuldades enfrentadas com a falta de dinheiro, de uma pessoa tão invisível, comum e sem Direção Musical: Tony Lucchesi a saúde e os movimentos à amiga. Juntos, os conflitos com o filho adolescente e com o brilho, em um exercício de alteridade. Para Elenco: Letícia Soares, Sérgio Menezes, se divertem e rememoram os altos e baixos tráfico local. Com bom humor e alegria, apesar esta nova versão teatral, o diretor André Paes Lilian Valeska, Flavia Santana, Jorge Maia, de quase 50 anos de amizade. do sofrimento, as duas classes sociais levam entre outros. Leme propõe uma inversão e esta figura do a vida entre desconfianças, suspeitas, fofocas, escritor se transforma em uma atriz. Desta Produção Geral: Eduardo Bakr Teatro Petra Gold histórias pessoais e comentários ácidos. Comédia Teatro Riachuelo Rua Conde de Bernadotte, 26 – Leblon forma, Laila Garin tem o desafio de se alternar e tragédia se misturam tendo como pano de Rua do Passeio, 40 – Centro Até 28 de abril entre a Macabéa e a Atriz, que não somente fundo os acontecimentos que transformaram o Metrô: Cinelândia Terças-feiras, às 20h narra, mas também comenta e lança uma país e o mundo durante o fatídico ano de 1989. Até 12 de abril de 2020 Ingressos: R$ 60 série de questões ao longo da encenação. Teatro Petra Gold Sexta e Sábado às 20h, Sábado às 16h e Do- QueroTeatro.com.br: R$ 35 Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil Rua Conde de Bernadotte, 26 – Leblon mingo às 17h Duração: 90 minutos R. Primeiro de Março, 66 – Centro Até 8 de abril Ingressos: De R$ 50 (balcão) a R$ 150 (pla- Classificação: 14 anos Até 10 de maio Quartas-Feiras, às 20h teia VIP) Quintas e sextas, às 20h; Sábados e domin- Ingressos: R$ 70 Vendas on-line: sympla.com.br gos, às 19h Quero Teatro: R$ 35 Duração: 180 minutos Ingressos: R$ 30 Duração: 140 minutos Classificação: 12 anos Vendas on-line: eventim.com.br Classificação: 16 anos

88 ABRIL 2020 ABRIL 2020 89 EM CARTAZ EM CARTAZ

MARCELO JORGE SEU NEYLA A ESPERANÇA NA A HORA E VEZ É MARWEM HD CAIXA DE CHICLETES PING PONG FOTO: Divulgação FOTO:

Texto: Heloísa Périssé Bob Sousa FOTO: FOTO: Emerson Brandt FOTO: Direção: José Possi Neto

Gênero: Comédia Musical Divulgação FOTO: Texto: Jô Bilac Com Ney Latorraca, Bel Lima, Bruno Fraga, Texto e Atuação: Marcelo Jorge Direção: Antonio Januzelli Thaina Gallo e Emerson Espindola. Texto, Interpretação, Direção Geral: Direção: Patrícia Vilela Com Rui Ricardo Diaz Direção musical e arranjos: Tony Lucchesi Clarice Niskier Supervisão de Direção: Amir Haddad Depois de cair na emboscada liderada por O ator curitibano Marcelo Jorge interpreta Major Consilva, Nhô Augusto é dado como Aos 75 anos de idade, o ator Ney Latorraca Direção Musical: Zeca Baleiro “Marwem HD”, um comediante que traz em morto. Socorrido por um casal, consegue levará aos palcos – com muito humor, música Inspirada pelas músicas de Zeca Baleiro, seu repertório personagens cômicos como sobreviver. Quando se recupera, vai viver e humanidade – a história de sua infância Clarice vai revelando, diretamente ao público, cantoras de funk e líricas, vendedoras de longe do Murici e decide dedicar sua vida pobre em Santos, a relação com os pais – sentimentos e pensamentos sobre o país, produtos inusitados e polêmicos, Madon- ao trabalho, à penitência e à oração. De- artistas que trabalhavam em Cassinos – o sobre a vida, o sucesso e o amor, expondo na, personagens de reality shows, cenas pois de anos de reclusão, no povoado do início da carreira e o registro de 55 anos a ‘viagem’ que faz dentro de si enquanto de novelas mexicanas, além de interpretar Tombador, decide partir. O destino o leva de uma das mais bem sucedidas trajetórias a trilha vai se desenrolando. Memórias, canções clássicas de artistas como Doris ao Arraial do Rala-Côco, onde o reencon- do cenário artístico do país. Personagens, sensações, desejos, reflexões, fantasias, Day, Angela Maria, Maria Callas, Nat King tro com o amigo e poderoso cangaceiro, novelas, peças, seriados, filmes que mar- opiniões e crônicas se encadeiam de forma Cole, Julie Andrews, Dalva de Oliveira, Lola Seu Joãozinho Bem-Bem, provoca nova caram várias gerações e famílias brasileiras: lúdica, formando um painel social do Brasil Flores e Liza Minelli. reviravolta em sua vida. Barbosa, seu Quequé, Mederix, Irma Vap, e, ao mesmo tempo, do mundo individual Ópera do Malandro, Tv Pirata, entre outros. da atriz, há 40 anos em cena. Teatro Cândido Mendes Teatro Poeirinha

Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema Rua São João Batista, 104 – Botafogo Teatro Clara Nunes Teatro Petra Gold Até 30 de abril Até 12 de abril Rua Marquês de São Vicente, 52 – Shopping Rua Conde de Bernadotte, 26 – Leblon Quartas e Quintas, às 20h Sextas e sábados, às 21h e domingos às 19h da Gávea Até 26 de abril Ingressos: R$ 50 Ingressos: R$ 60 Até 26 de abril Sexta, sábado e domingo, às 20h Vendas on-line: ticketmais.com.br Vendas on-line: tudus.com.br Sextas e sábados, às 21h e domingos às 20h Ingressos: R$ 80 Duração: 60 min Duração: 55 minutos Ingressos: De R$ 70 (balcão superior) Vendas on-line: sympla.com.br Classificação: 16 anos Classificação: 16 anos a R$ 120 (plateia) Duração: 100 minutos Vendas on-line: tudus.com.br Classificação: Livre

90 ABRIL 2020 ABRIL 2020 91 EM CARTAZ EM CARTAZ O BATERISTA DUAS FRIDAS PÁ DE CAL (RAY-LUX) LUPITA FOTO: Paula Kossatz Paula FOTO:

Texto: Jô Bilac Menezes Rogrigo FOTO: FOTO: Daniel de Jesus de Daniel FOTO:

FOTO: Taiane Brito Taiane FOTO: Direção: Paulo Verlings Gênero: Infantil Direção: Diego Molina Gênero: Teatro performativo Elenco: Carolina Pismel, Isaac Bernat, Or- Dramaturgia e Direção: Flávia Lopes Direção musical: Marcio Lomiranda Dramaturgia: Maíra Oliveira lando Caldeira, Pedro Henrique França e Direção Musical: Karina Neves e Pedro Coelho Direção: Gizelly de Paula Ruth Victor Mariana e Jonas Hocherman Texto: Celso Taddei Orientação cênica: Ana Kfouri A trama de “Pá de Cal (Ray-lux)” parte do sui- Atuação: Aline Marosa, Caio Passos, Gabrielly Atuação: Antônio Fragoso Atuação, texto e pesquisa: cídio de um personagem central, ou seja, ele Vianna, Marcio Nascimento, Maria Adélia e A história se passa durante uma aula de ba- Dayene Ruffo e Paula Lom está ausente. O mesmo acontece com suas Marise Nogueira. teria ministrada por um músico excêntrico, Atravessadas pela vida e obra de Frida Kahlo, irmãs que mandam representantes para a Em um México imaginário, a menina Lupita, que vive um relacionamento afetivo em crise. duas performers dialogam sobre suas forças reunião “familiar” na qual irá se definir o destino de 10 anos, faz parte de uma família muito Ele é obrigado a encarar uma aula repleta e fragilidades, ora narrando seus medos, ora do pai dessa família e também o destino da parecida com tantas outras famílias. Ela vive de alunos exigentes pouco tempo depois encontrando neles um apoio para falar so- mãe do morto (uma antiga empregada), que com a sua mãe e seu avô, que também é de se separar da mulher. Com a cabeça na bre suas angústias urgentes. Através de suas também manda seu representante. O morto o seu melhor amigo. Lupita adora ouvir as lua, ele se esquece da aula e se surpreende próprias memórias e do legado deixado pela também é representado por uma pessoa com histórias dele, principalmente de quando com a quantidade de pessoas que aparece artista, surge a necessidade de revelar os seus quem conviveu em terras estrangeiras. Além ele era bem pequeno do tamanho de um na sua garagem – sua sala de aula improvi- sentimentos mais profundos. “Duas Fridas” não de uma morte traumática a peça lida com botão que cabe na palma da mão. Com seu sada. Mas o dia não vai ser fácil: sua bateria é uma biografia, mas sim o pulsar da artistici- a terceirização de responsabilidades e de avô, ela aprendeu a ouvir e contar histórias. está completamente desmontada; e o lugar, dade feminina latino-americana. como essas representatividades interferem Aprendeu também que tudo é música, até o todo bagunçado. Durante a aula, o baterista na boa condução das questões. Toda a ação silêncio, e que nada é impossível para quem organiza as coisas, ao mesmo tempo em que Parque das Ruínas se desenrola na casa onde mora o patriarca, tem imaginação. A sua jornada começa com se vê às voltas com a ex-mulher, com quem R. Murtinho Nobre, 169 – Santa Teresa local que é foco de uma disputa pela posse, a tradicional festa do Dia Dos Mortos, que troca diversas mensagens nas redes sociais. Até 12 de abril revelando interesses divergentes entre as acontece todos os anos no Vilarejo de San Como ainda é apaixonado por ela, o baterista Sábados e domingos, às 16h partes. Conflitos inesperados emergem a partir Miguel del Corazon, mas que aquele ano seria transborda todas as suas emoções diante dos Ingressos: R$ 30 desse encontro. Com o passar do tempo, as diferente e mais especial por ser o primeiro alunos, usando seu instrumento musical para Duração: 60 minutos relações entre pai e seus filhos – represen- ano da partida de seu avô. A encenação é expurgar suas desventuras e decepções, em Classificação: 12 anos tados – se revelam aos espectadores cada uma viagem pela memória de Lupita com cenas ora divertidas, ora comoventes. vez mais límpidas e latentes. seu avô e suas aventuras. O público torna-se Teatro Poeira Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro II cúmplice da menina que conta e vive suas Rua São João Batista, 104 – Botafogo Rua Primeiro de Março, 66 – Centro lembranças entre presente e passado. Até 22 de abril Metrô: Uruguaiana Terças e quartas, às 21h Até 20 de abril Centro Cultural Oi Futuro *Sessão com intérprete de libras no dia 15 de abril De quinta a segunda, às 20h Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo Ingressos: R$ 60 Ingressos: R$ 30 Até 12 de abril Vendas on-line: tudus.com.br Vendas on-line: eventim.com.br Sábados e Domingos, às 16h Duração: 1 hora Classificação: 14 anos Ingressos: R$ 30 Classificação: 14 anos Duração: 70 minutos Vendas on-line: ticketplanet.com.br

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PEÇA DO CASAMENTO EU COMIGO MESMO FOTO: Divulgação FOTO: FOTO: Guto Muniz Guto FOTO: Texto: Edward Albee Adaptação e direção: Guilherme Weber Se você acha que já riu de tudo, vai se surpre- Elenco: Eliane Giardini e Antonio Gonzalez ender com Rafael Portugal. O ator do Porta dos Fundos apresenta no seu espetáculo inédito Edward Albee faz do embate entre um marido ‘Eu comigo mesmo’. A rapidez do stand up e uma esposa um jogo de metalinguagem e aliada à criatividade na composição de um desconstrução do gênero “peça de relacio- personagem inusitado em um show de humor namento”, nesta sua ácida comédia “Peça do e comédia no ritmo. Casamento.” Após trinta anos juntos, uma crise

obriga um casal a revisar suas vidas e os em- Gênero: Stand Up Comedy bates que se seguem os obrigam a aprender Com Rafael Portugal algo sobre si mesmos e sobre o outro.

Theatro Bangu Teatro Poeira Rua Fonseca, 240 – Bangu Shopping R. São João Batista, 104 – Botafogo Até 26 de abril Até 26 de abril Sábados e domingos, às 20h Quintas, sextas e sábados, às 21h. Domingos, Ingressos: às 19h R$ 100 (camarote) Ingressos: R$ 60 R$ 80 (plateia) Vendas on-line: tudus.com.br R$ 60 (balcão)

Vendas on-line: sympla.com.br Duração: 1h Classificação: 14 anos Classificação: 16 anos Duração: 60 minutos Foto: Guto Muniz

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cidade de Paracambi, na Baixada Fluminense, e marcou a inauguração da Casa Uivo, sede do Uivo Coletivo, e do Anfiteatro Leandro Romano - cons- truído pelos próprios in- tegrantes da Frente -, e que presta uma homenagem ao idealizador da rede, falecido em julho de 2019. O projeto contou com 12 horas de ati- vidades, incluindo espe- táculos de teatro, performances, intervenções, vídeos, oficinas, debates e batalha de slam.

A 2a edição da Mostra contou com 36 trabalhos apresentados por mais de 100 artistas, totali- zando mais de 15 horas de espetáculos, performances, oficinas, instala- os teatros. A iniciativa foi Encena, Contágio Cole- ções, leituras e debates. FRENTE TEATRO RJ MANTÉM indicada ao Prêmio Shell tivo, Dragão Voador, Fo- A meta da vaquinha não VAQUINHA ABERTA APÓS MOSTRA de Teatro no segundo se- guetes Maravilha, Ges- foi atingida, mesmo com mestre de 2019 na cate- topatas, Grupo Código, todos os artistas traba- Rede composta por 26 grupos da Região Metropolitana goria Inovação. Miúda, Multifoco Compa- lhando sem cachê. Aos nhia de Teatro, Peneira, que quiserem ajudar a foi indicada ao Prêmio Shell na categoria Inovação Participam da rede os gru- Probástica Companhia de Frente Teatro RJ a cobri- Por REDAÇÃO pos Aquela Cia, Artefatos Teatro, Teatro Comercial, rem seus custos, o ID da Luminosos, Brecha, CE- Teatro de Extremos, Te- vaquinha no site vakinha. Frente Teatro é do de Leandro Romano, bios, formações, experi- TA - Centro Experimental atro Inominável, Teatro com.br é 864689. uma rede com- diretor do Teatro Voador mentações dramatúrgi- de Teatro e Artes, Coleti- Voador Não Identificado posta por 26 gru- Não Identificado - para cas, compartilhamento vo Egrégora, Sala Preta, e Uivo Coletivo. A Confira em: pos de artes cênicas da enfrentar os desafios da de tecnologias, susten- Coletivo Transarte, Co- Região Metropolitana do cultura na atualidade. tabilidade, fortalecimen- letivona, Complexo Du- A primeira edição da https://www.vakinha.com.br/ Rio de Janeiro, que se to de espaços alternati- plo, Cia. Cerne, Karma- Mostra Frente Teatro vaquinha/2a-mostra-frente- uniram no final de 2018 Dentre as pautas da vos e ampliação do pú- Círculus Teatro, Compa- aconteceu em setem- -teatro-rj - a partir de um chama- Frente, estão intercâm- blico que hoje frequenta nhia Teatral Queimados bro do ano passado na

96 ABRIL 2020 ABRIL 2020 97 COLUNISTA CONVIDADO SOBRE O NOSSO TEATRO DE CADA DIA Por RODRIGO FRANÇA

screvo para aqueles al máscara que coloca- res. Agora sem a velha e aquelas dentre os mos: quantas profissionais desculpa que não há pro- Equais eu estou in- trans estão envolvidas fissionais qualificados ou serido. Aos que se colo- em nossas produções, que eles não existem. cam como progressistas, como artistas e técni- abertos à diversidade, de- cas/técnicos de criação? Muitos querem encenar mocráticos, subversivos, Quantas mulheres são temáticas sobre a mu- plurais - ARTISTAS. oportunizadas como di- lher, sobre a negritude, retoras, autoras e téc- sobre as travestis... E suas Vivemos em uma socie- nicas? A nossa cadeia pautas são respeitadas? dade racista, machista, de produção frequen- Um dos mecanismos para classista, homofóbica, ta os espetáculos que reverter a desigualdade transfóbica e xenofóbi- produzimos? Porque a tão sistêmica é a econô- ca (pra quem não é norte- profissional que costu- mica. Não há nada mais -americano ou europeu). rou o figurino deveria digno do que um traba- Nós do TEATRO somos assistir à conclusão do lho remunerado. uma instituição dentro seu trabalho. dessa mesma socieda- Ninguém é obrigado a de com todas e mais al- Aos poucos, fomos nos inserir tais questões em gumas mazelas citadas. afastando de tanta coi- suas produções teatrais, Não podemos nos iludir, sa. Ouço muitas quei- mas que se tenha coe- pois é fácil reproduzir tais xas sobre a escassez do rência. Assuma que, de valores, pois são hege- público. Mas com qual progressista, o seu tra- mônicos. Como se dizer teatro estamos com- balho não tem nada. progressistas e, ao mes- prometidos? Sei, mui- mo tempo, fazer campa- tas perguntas. Algumas O ser humano é contra- nha contra o politicamen- respostas eu tenho, ou- ditório por natureza, mas te correto. Debochando tras fico divagando. existem valores tão bási- de pautas, onde grupos cos que o nosso discurso exigem dignidade. A so- Nós, negros e negras, so- não pode fugir da prática. ciedade avança e, nós? mos 56% da população brasileira. Esse número Precisamos fazer um estatístico está longe de Rodrigo França: Ator, produtor, diretor, dramaturgo e simples teste a fim de ser realidade nos palcos, apaixonado pelo teatro ne- gro. FOTO: Gabriel Monteiro/ sabermos qual é a re- até mesmo nos bastido- Agência O Globo

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