Universidade De São Paulo Faculdade De Filosofia, Letras E Ciências Humanas Departamento De Filosofia Programa De Pós-Graduação Em Filosofia

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Universidade De São Paulo Faculdade De Filosofia, Letras E Ciências Humanas Departamento De Filosofia Programa De Pós-Graduação Em Filosofia UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA Gustavo Takashi Moraes Assano TEATRO IRRESOLUTO Impasses do teatro subvencionado na encenação do espetáculo Oresteia – o canto do bode pelo grupo teatral Folias D’Arte VERSÃO CORRIGIDA São Paulo 2016 Gustavo Takashi Moraes Assano TEATRO IRRESOLUTO Impasses do teatro subvencionado na encenação do espetáculo Oresteia – o canto do bode pelo grupo teatral Folias D’Arte Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Filosofia do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Filosofia sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Eduardo Arantes. VERSÃO CORRIGIDA São Paulo 2016 Para Rosa Maria Moraes Assano e Hideko Assano ( in memoriam ) “É verdade que as opiniões são importantes, mas as melhores não têm nenhuma utilidade quando não tornam úteis aqueles que as defendem” (Walter Benjamin ) "Os bancos e as igrejas e todos os tribunais dependem dos acessórios do teatro. Dependem da ilusão. Bancos, a ilusão de estabilidade e de negócios honrados com a podridão e a corrupção da exploração capitalista. Igrejas, a ilusão do santuário sagrado pacificador dos efeitos do descontentamento social. Tribunais, é claro, concebidos para promover a ilusão de justiça solene. Se houvesse justiça verdadeira por que tais armadilhas seriam necessárias? Uma mesa e cadeiras e um quarto comum não dariam no mesmo?" (E. L. Doctorow ) "Nas outras portas outras lutas fervem; Mas narrar tudo, como um deus, não posso." (Homero – Ilíada, canto XII) Resumo O presente trabalho consiste em uma análise aproximativa entre a trajetória do grupo teatral paulista Folias D’Arte e a realização, em 2007, do espetáculo Oresteia – o canto do bode . Partindo dos termos utilizados pelo próprio grupo estudado sobre o sentido do empreendimento artístico, buscamos esclarecer uma leitura sobre os juízos e vozes intrusivas estabelecidas pelos artifícios épicos da narrativa sobre o material cênico concebido na adaptação. O conteúdo deste empreendimento enquanto “ofício” de realizadores no campo teatral, bem como a maneira pela qual este conteúdo se traduz em uma atividade consciente, dirigida e produzida em termos programáticos pelo coletivo, é confrontada com paradigmas organizativos da formação do teatro moderno brasileiro. Retomando leituras históricas sobre a oposição entre a ideia de “Teatro moderno” (compreendido como atualização de gêneros e dramaturgias associados a uma ideia de profissionalização do ofício do artista teatral brasileiro na década de 1940) e alguns dos principais debates sobre a consolidação do teatro moderno brasileiro na década de 1950 e 1960, pautamos o legado destes debates não como uma disputa por maior influência estética, mas como projetos de modernização teatral em conflito. A partir deste debate, expomos a compreensão e posicionamento do grupo Folias D’Arte seguindo as analogias e aproximações concebidas para encenar a trilogia de Ésquilo. Palavras-chave: Teatro Moderno, Modernização, Teatro de Grupo, Reinaldo Maia, Folias D’Arte. Abstract This paper consists in an approximative analysis between the formative path of Folias D’Arte Theatre Group from São Paulo and the execution, in 2007, of the spectacle Oresteia – o canto do bode . Starting from the terminology utilized by the studied group on the meaning of this artistic endeavour, we seek to clarify a reading on the senses and intrusive voices established by the narrative’s epic artifices on the scenic material conceived in the adaptation. This endeavour’s content understood as a “craft” from the operatives in the theatrical field and the way by which this content is translated into a conscious activity – directed and produced by the group in programmatic terms – is confronted with organizative paradigms from the formation of modern Brazilian theatre. Retaking historical readings on the opposition between the idea of “Modern Theatre” (understood as an actualization of genres and dramaturgies associated with a notion of professionalization of the theatrical artist in the decade of 1940) and some of the major debates on the consolidation of modern Brazilian theatre in the decades of 1950 and 1960, we base the legacy of these debates not as a dispute over aesthetic influence, rather as projects of theatrical modernization in conflict. From this debate, we expose Folias D’Arte Theatre Group’s understanding and positioning following it’s analogies and approximations conceived in order to stage Aeschylus’ trilogy. Keywords: Modern theatre, Modernization, Group Theatre, Reinaldo Maia, Folias D’Arte. Sumário Introdução ...........................................................................................................................................................1 Primeira Parte: Mal-estar no teatro fomentado – O grupo teatral Folias D’Arte antes da Oresteia ..........7 1.1 Prosperidade e desencanto: A utopia da “ética cidadã” entre o “amador” e o “profissional” .........7 1.2 O percurso de Reinaldo Maia ............................................................................................................... 24 1.3 O Grupo Folias D’Arte e o Movimento de Arte Contra Barbárie: Neoliberalismo como “inimigo comum” ........................................................................................................................................................ 42 Segunda Parte: Encenar um impedimento coletivo ..................................................................................... 63 2.1 Primeiros contatos com os temas “América Latina” e “tragédia”: Entre a aniquilação “íntima” em Otelo e “cidadania” como “guerra civil” em Babilônia ...................................................................... 63 2.2 Cidadania, aparelho teatral e “fundamento”: A Oresteia como matéria de experimentação ........ 82 Terceira parte: Teatro convencional e expectativas ..................................................................................... 96 3.1 A espera pelo início do espetáculo no Galpão do Folias e o palhaço augusto .................................. 96 3.2 O público, o espaço e a escuridão: Nas trevas da transparência ..................................................... 107 Quarta parte: A Oresteia do Folias .............................................................................................................. 116 4.1 A Oresteia de Ésquilo ........................................................................................................................... 116 4.2 A sentinela e o sinal ............................................................................................................................. 131 4.3 O corifeu-palhaço ................................................................................................................................ 143 4.4 O párodo hesitante: Um coro desagregado para uma plateia “à italiana” .................................... 152 Conclusão ....................................................................................................................................................... 161 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................... 163 Anexos ............................................................................................................................................................. 169 1.1 Plantas do Galpão do Folias ............................................................................................................... 169 1.2 Ficha técnica do espetáculo Oresteia – o canto do bode .................................................................... 171 1.3 Cronologia de espetáculos encenados pelo grupo Folias D’Arte até Oresteia – o canto do bode .. 172 Introdução As investigações que culminaram neste trabalho monográfico se iniciaram em 2010, quando escolhi a trajetória do grupo teatral Folias D’Arte e o espetáculo Oresteia – o canto do bode como tema de meu TCC para o curso de Comunicação Social da PUC-SP (Cf. ASSANO). Com o passar dos anos, temas e questões que aparentavam claras e bem resolvidas sobre o espetáculo em questão, bem como o papel do grupo na evolução política do teatro de grupo paulista, ganharam distância histórica que permitiram o desdobramento de temas críticos e teóricos tanto sobre a unidade do grupo como para a compreensão do espetáculo que nos dedicamos a tratar. Em 2010, nosso ponto de partida para tratar da relação entre o coletivo e sua obra foi a compreensão da “experiência moderna” acumulada pela crítica teatral paulista desde a década de 1940 relacionada aos debates estabelecidos por alguns grupos paulistas de teatro ao longo do final da década de 1990 e início da década de 2000 acerca da recepção e da prática de concepções teóricas de Bertolt Brecht aliadas ao momento de politização dos coletivos teatrais paulistas em torno do hoje lendário Movimento de Arte Contra a Barbárie. Nossa hipótese inicial era a de que o trabalho do Folias poderia iluminar muitos dos descaminhos e inadequações sobre debates acerca do conceito de “drama” e sua evolução particular na história literária e teatral brasileira. O conceito de “teatro moderno”, portanto, antes de ser tratado a partir dos paradigmas europeus de sua consolidação, com a fundação do Theatre Libre de Antoine, em 1887, e de sua implementação em solo brasileiro
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