“Grandiosos Batuques”
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MATHEUS PEREIRA SERVA MATHEUS SERVA PEREIRA TENSÕES, ARRANJOS E EXPERIÊNCIAS COLONIAIS EM MOÇAMBIQUE “GRANDIOSOS BATUQUES” O “batuque” possui uma história múltipla. O termo foi empregado para designar diferentes práticas musicais e tipos de performance produzidos por africanos ou afrodescendentes. Este livro investiga as formas como os “Grandiosos “batuques” foram praticados e ressignifi cados pelo colonialismo português em Lourenço Marques (atual Maputo) e no sul de Moçambique durante o período de 1890-1940. As categorias criadas e implementadas pela ação colonial portuguesa não batuques” foram capazes de conter a multiplicidade das experiências e das práticas das populações africanas. Por meio de ferramentas teórico-metodológicas da Tensões, arranjos e experiências História Social da Cultura, da história “vista de baixo” e da microhistória, os “batuques” são aqui confi gurados como objeto de investigação e janela coloniais em Moçambique privilegiada para analisar resistências, tensões e arranjos cotidianos daque- les que foram subalternizados pelo poder colonizador português na região. (1890-1940) Matheus Serva Pereira (Rio de Janeiro, 1985) é investigador no Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa. Doutor em História Social da África pela Universidade Estadual de Campinas, realiza pesquisas nas áreas da História Social, História da África e História de Moçambique no século xx. ISBN 978-989-8956-10-1 “Grandiosos batuques”: Tensões, arranjos e experiências coloniais em Moçambique (1890 ‑1940) IMPRENSA DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA A Imprensa de História Contemporânea é a editora universitária do Instituto de História Contemporânea, especializada na divulgação de trabalhos de investiga‑ ção originais nas áreas da História e das Ciências Sociais. A IHC publica estudos inovadores que incidam sobre o período contemporâneo, privilegiando as abor‑ dagens de carácter transdisciplinar. Conselho Editorial Paulo Jorge Fernandes (Coord.) Álvaro Garrido Luís Trindade Maria Alexandre Lousada Maria João Vaz MATHEUS SERVA PEREIRA “Grandiosos batuques” Tensões, arranjos e experiências coloniais em Moçambique (1890 ‑1940) © 2019 Matheus Serva Pereira Título: “Grandiosos batuques”: Tensões, arranjos e experiências coloniais em Moçambique (1890‑1940) Autor: Matheus Serva Pereira Revisão de texto e coordenação executiva: Elisa Lopes da Silva Capa e paginação: Gráfica 99 Tiragem: 150 exemplares, Gráfica 99 Este livro foi objecto de avaliação científica A ortografia segue a variante brasileira do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 Imprensa de História Contemporânea – Catalogação na Publicação PEREIRA, Matheus Serva, 1985‑ Grandiosos batuques: Tensões, arranjos e experiências coloniais em Moçambique (1890‑1940) CDU 94(679)”1890/1940” ISBN: 978‑989‑8956‑10‑1 (Impresso) ISBN: 978‑989‑8956‑11‑8 (EPUB) ISBN: 978‑989‑8956‑12‑5 (Mobi) ISBN: 978‑989‑8956‑13‑2 (PDF) DOI: https://doi.org/10.34619/06z3‑w430 Depósito legal n.º 472 778/20 1.ª edição: Julho de 2020 Imprensa de História Contemporânea [email protected] http://imprensa.ihc.fcsh.unl.pt Av. de Berna, 26 C 1069‑061 Lisboa Esta é uma obra em Acesso Aberto, disponibilizada online e licenciada segundo uma licença Creative Commons de Atribuição Internacional Não Comercial – Sem Derivações 4.0 Internacional (CC‑BY‑ NC‑ND 4.0). Financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito dos projetos UID/HIS/04209/2013, UID/HIS/04209/2019 e UIDP/HIS/04209/2020. Índice PREFÁCIO Os grandiosos batuques, o tempo e a alegria ................................ 7 por Omar Ribeiro Thomaz AGRADECIMENTO ......................................................................... 11 INTRODUÇÃO Nesses batuques têm histórias ..................................................... 15 CAPÍTULO 1 Algazarras ensurdecedoras Cantando e dançando até altas horas ............................................... 49 Batuques na cidade ........................................................................... 54 As letras impressas periódicas, os batuques e seus participantes/praticantes ....................................................... 58 Uma geografia dos batuques em Lourenço Marques ......................... 79 Representação e repressão dos batuques no espaço urbano .............. 87 CAPÍTULO 2 Construindo categorias, homogeneizando diferenças, enquadrando pessoas e práticas Um alferes‑médico e os “pretos” em Lourenço Marques ................. 105 Construindo categorias, homogeneizando diferenças, enquadrando pessoas ........................................................................ 113 Imaginando “homens degenerados e mulheres dissolutas” .................. 130 Batuques negros, ouvidos e olhares brancos ..................................... 146 O nome e as coisas: uma palavra para muitas práticas .................... 155 CAPÍTULO 3 Cosmopolitismo enevoado e a criação de uma civilização das necessidades Cosmopolitismo enevoado ............................................................... 165 Espaços de lazer e a criação de uma civilização das necessidades .... 170 Para além da “conversa burguesa”................................................... 190 CAPÍTULO 4 Forçando as frestas do poder colonial Entre a “escola de vício” e o “mundo temperado de ritmo e poesia” 215 Um “membrudo negralhão” .............................................................. 221 Poder, pudor e agenciabilidade africana nos espaços públicos de Lourenço Marques ................................................................... 228 Experiências da “maior parte da população” ..................................... 244 Batuques e experiências de mulheres trabalhadoras “indígenas” em Lourenço Marques .................................................................. 266 CAPÍTULO 5 Entre o subsídio e a subversão: apropriações, negociações e resistências ao redor dos “batuques” e das “danças nativas” Apropriações, negociações e resistências ......................................... 293 Subsídios ........................................................................................... 303 Espetacularização dos “batuques” e das “danças nativas” como projeto colonial .................................................................... 312 Subversões ........................................................................................ 331 “Ouça como a música troveja”: experiências e resistências nos “batuques” e “danças nativas” ................................................... 335 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 357 LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................. 365 LISTA DE MAPAS E IMAGENS ............................................................ 367 BIBLIOGRAFIA .............................................................................. 376 ÍNDICE REMISSIVO ........................................................................ 395 PREFÁCIO Os grandiosos batuques, o tempo e a alegria Em abril de 1998, e após um longo período entre o Chimoio e Maputo, passei duas semanas em Cape Town. Entre as idas e vindas à biblioteca, deixava‑me levar por tudo o que me conectava direta‑ mente com os recentes tempos do apartheid ou com a explosão de alegria que significou o seu fim institucional em 1992. Foi quando visitei o pequeno museu do District Six, dedicado à memória de um bairro que o regime do apartheid destruíra e às gentes que haviam sido de lá deportadas. Uma série de fotos sobre a vida do antigo e multirracial District Six me chamou particularmente a atenção: tratava ‑se de fotos do carnaval de rua e das noites de jazz que mar‑ caram durante anos a vida do bairro. Havia uma beleza rara naquelas fotos: afinal, havia alegria, mesmo durante o apartheid! A mesma alegria que encontrei em mais de uma foto de Ricardo Rangel de Lourenço Marques (anterior Maputo) no período tardo ‑colonial. Imagens que revelam que o colonialismo tentava, mas não conse‑ guia, acabar com a alegria. Como lembra Chinua Achebe, “o mais incrível é que os despossuídos muitas vezes transformam sua impo‑ tência em algo útil e riem dela”.1 O livro de Matheus Serva Pereira que ora tenho o prazer de apresentar é, entre outras coisas, um livro sobre a alegria, aquela que insistia em aparecer e que revelava que o sistema colonial, ou o apartheid, não eram favas contadas. Pela mão do jovem historiador 1 Chinua Achebe, A educação de uma Criança sob o Protetorado Britânico (São Paulo: Com‑ panhia das Letras, 2012), 28. 7 PREFÁCIO sou levado para outros tempos, aqueles anteriores aos das magníficas fotos de Ricardo Rangel da Lourenço Marques dos anos 1950 e 1960. Seus grandiosos batuques ecoam os anos de formação, os momentos decisivos que vão das guerras de ocupação do Sul de Moçambique às turbulências da I República e à imposição da triste e violenta versão colonial‑fascista do Estado Novo. Mas os batuques também ecoam outros espaços, em grande medida desconhecidos até os dias atuais: os subúrbios da cidade de Lourenço Marques, atual Maputo. Nem esgotamento, nem ruína, a descoberta renovada dos arqui‑ vos em Portugal e Moçambique confirma que o passado é imprevi‑ sível. Os batuques – a tenacidade de seus sujeitos, as controvérsias que geravam e sua continuidade no tempo – exigem uma nova apro‑ ximação ao mundo colonial, aquele marcado por hierarquia, ordem e violência e que parecia reservar poucos lugares para os dominados, quais sejam, a subversão que caminha para a construção do heroísmo, ou a colaboração que