Mangue”: Moderno, Pós-Moderno, Global
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA “Mangue”: moderno, pós-moderno, global Glaucia Peres da Silva1 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Sociologia. Orientador: Prof. Dr. Leopoldo Waizbort São Paulo 2008 1 E-mail para contato: [email protected]. 0 Resumo / Abstract Este trabalho analisa o ―Mangue‖ como um fenômeno cultural que se distingue temporal e espacialmente de outras manifestações culturais que ocorrem nos âmbitos local, nacional e mundial. Como suas características podem ser pensadas como alguns dos aspectos culturais que marcam nosso tempo presente, suas possibilidades de distinção são analisadas a partir de duas perspectivas: a formação de identidades e a relação com a indústria fonográfica. Parto da hipótese de que o ―Mangue‖ apresenta facetas modernas, pós-modernas e globalizadas, discutindo-as da perspectiva da arte e sua relação com a economia e a política. A análise sugere, ao final, que estas diferentes temporalidades não são mutuamente excludentes, mas, antes, combinam-se, rearranjando as relações entre as partes para que o todo continue em funcionamento. Palavras-chave: movimento Mangue, Recife, moderno, pós-moderno, global, cultura. This research analyzes the “Mangue” [Mangroove] as a cultural phenomenon that distinguishes itself from other local, national and world cultural activities in relation to time and space. As “Mangue”‟s characteristics may be thought in the same fashion of other cultural aspects that characterize our present time, its possibilities of distinction are analyzed from two distinct perspectives: the formation of identities and the relation between “Mangue” and the phonographic industry. I assume the hypothesis that the “Mangue” presents modern, post-modern and global facets, and discuss them from the perspective of arts and the relation between arts, economy and politics. Finally, the analysis suggests that these different temporalities are not mutually exclusive, but concur with each other, rearranging the relation between the parts in order to keep the whole at work. Key-words: “Mangue” movement, Recife, modern, post-modern, global, culture. 1 Agradecimentos Em primeiro lugar, agradeço a dedicação e a atenção do Prof. Dr. Leopoldo Waizbort, que me orientou desde a iniciação científica e se empenhou em me formar socióloga. Suas leituras atentas, críticas pertinentes e sugestões instigantes foram de grande valor e me estimularão sempre em minha trajetória profissional. Os auxílios financeiros dados pela CAPES e pela FAPESP também foram fundamentais para o bom desenvolvimento desta pesquisa, assim como as possibilidades de financiamento oferecidas pelo Departamento de Sociologia. O apoio dos professores deste departamento também foi de grande importância, tanto dentro de sala de aula, como na valorização de atividades como a Revista Plural e os Seminários de Pesquisa organizado pelos alunos do Programa de Pós-graduação em Sociologia. Agradeço também todo o suporte dado pelos funcionários do departamento. Agradeço às diversas pessoas que concordaram em gravar entrevistas para este trabalho, cujos depoimentos me ajudaram a entender melhor o ―Mangue‖ (em ordem alfabética): Abuhl Júnior, Antonio Gutierrez (Guti), Éder ―O‖ Rocha, Gilmar Bolla 8, Hélder Aragão (DJ Dolores), Jorge du Peixe, Márcio Monjolo, Maurício Alves, Mazinho Lima, Mestre Nico, Murilo, Nilton Jr, Paulo André, Renato L., Roger de Renor, Sérgio Cassiano e Siba Veloso. Os comentários do Prof. Dr. Edson Farias e dos colegas do grupo ―Cultura, Memória e Desenvolvimento‖, principalmente de Fernando Rodrigues, foram bastante motivadores no início do trabalho, e devo agradecer-lhes por todo o companheirismo desde então. Aos Prof. Dr. Renato Ortiz e Profa. Dra. Márcia Dias, agradeço a atenção com que leram e comentaram meu trabalho na fase de qualificação, ajudando a definir melhor os rumos da pesquisa. Pelo apoio, agradeço à Profa. Dra. Maria Celeste Mira, que me permitiu participar de discussões interessantes em seu curso sobre globalização e cultura na PUC-SP, e me colocou em contato com colegas-pesquisadores de grande valor: Luna Vargas, Jorge Leite Jr, Expedito da Silva e Danilo Cardoso. Agradeço também as críticas e sugestões dadas pelo Prof. Dr. Peter Wicke, do Forschungszentrum Populäre Musik (Humboldt Universität zu Berlin), onde pude fazer um estágio de pesquisa em 2007. Aos colegas Frederico Tell Ventura, Osvaldina Araujo, Vladimir Puzone, Mariana Thibes, Priscila Vieira, Paula Wolthers, Thais Waldmann, Arthur Bueno, Edmundo, Gustavo 2 Barros, Stefan Klein, Maria Lidola, Maria Backhouse, Paula Krammer, Anne Dirnstorfer, Marcelo Rodrigues, Conrado Falbo, Daniela Ghezzi, Kelly Prudêncio, agradeço pelo apoio e companheirismo nesses momentos solitários e cheios de apreensão que marcam o início da vida acadêmica. Não menos importantes são meus sinceros agradecimentos aos meus queridos amigos Sylvia Sanchez, Victor Bittow, Thais Ushirobira, Rodolfo Valente, Gabriela Fonseca, Mariana Rodrigues, Maria Cilene (em memória), Amanda Beraldo e Marcella Perez, cuja amizade incondicional foi fundamental na tomada das diversas decisões que me fizeram chegar até aqui. Sem vocês, não haveria sociologia, nem Pernambuco. Por fim, é fundamental agradecer à minha mãe, Vera, ao meu pai, Osvaldo, ao meu irmão, Glauco, e à minha irmã, Gabriela, pelo inestimável apoio, emocional e material, que formam a base de minha existência. Sem o respeito, a paciência, o interesse e os constantes estímulos de vocês, não teria sido possível começar a trilhar esses caminhos e continuar sonhando. 3 Sumário Introdução.......................................................................................................... 5 1 - Identidade “Mangue”.................................................................................. 12 Referentes identitários.............................................................................................. 19 Movimento punk.............................................................................................................. 19 Movimento hip-hop......................................................................................................... 26 Movimento negro baiano e o samba-reggae................................................................... 30 Formação de um discurso ―Mangue‖........................................................................ 37 Primeiro Manifesto: ―Caranguejos com cérebro‖ (1991)................................................ 38 Formas de recepção desse discurso na mídia................................................................... 46 Afirmação do discurso ―Mangue‖............................................................................ 55 Segundo Manifesto: ―Quanto vale uma vida‖ (1997)..................................................... 58 O idêntico no diverso: considerações sobre a identidade ―Mangue‖....................... 62 2 - “Mangue” e indústria fonográfica............................................................. 66 A estreita relação entre a mídia e a indústria fonográfica........................................ 72 Considerações intermediárias sobre a indústria cultural................................................. 77 Razões para a permanência do ―Mangue‖ no mercado fonográfico......................... 84 Mudanças no processo de produção das mercadorias musicais no Brasil....................... 91 O mercado de world music.............................................................................................. 95 O ―Mangue‖ vira sucesso................................................................................................ 99 O caso do grupo Mestre Ambrósio........................................................................... 102 Chico Science torna-se um mito: consagração do ―Mangue‖ na indústria fonográfica............................................ 106 Consideração final: 110 “Mangue” moderno, pós-moderno, global................................................. Alguns diagnósticos de nosso tempo presente.......................................................... 112 Bibliografia......................................................................................................... 120 Anexo.................................................................................................................. 132 ―Caranguejos com cérebro‖ (1991)........................................................................... 132 ―Quanto vale uma vida?‖ (1997).............................................................................. 136 4 Introdução O ―Mangue‖ surgiu na década de 1990, como uma movimentação cultural criada por jovens moradores da região metropolitana de Recife, Pernambuco. O objetivo era colocar a cidade ―no mapa‖, através do contato com a ―rede mundial de circulação de conceitos pop‖, abrindo um ―canal de comunicação direta com o mercado mundial‖, conforme consta nos textos que ficaram conhecidos como Manifestos ―Mangue‖. De maneira sucinta, o ―Mangue‖ pode ser caracterizado pela valorização da diversidade cultural da cidade, por uma atitude de auto-afirmação, pela articulação de elementos da cultura popular e da cultura pop, pela participação intensa da periferia, pelo senso de coletividade e pela atitude inspirada no ―do it