Manguetown: identidade, cultura e geografia no jornalismo cultural impresso

Manguetown: identity, culture and geography in the cultural printed journalism

Angela Prysthon Professora e Doutora do Departamento de Comunicação da UFPE E-mail: [email protected]. André Telles do Rosário, Jornalista e pesquisador

Resumo

Mediante o entrecruzamento de matérias dos jornais Folha de S. Paulo (de São Paulo) e Jornal do Commercio (do ) sobre o movimento Mangue (o Manguebit) no ano de 1996, o objetivo deste paper é indicar alguns modos de disseminação das noções de identidades (nacionais, regionais), as formas de negociação entre distintas representações culturais, e as tendências de articulação do global e do local nos mesmos espaços geográficos. Palavras-chave: identidades; jornalismo cultural; Manguebit, representações culturais.

O processo de criação e propagação culturais do país. das identidades regionais no jornalismo Antes de começarmos a análise, cultural diário, embora difuso e contudo, é preciso explicar no que consiste multíssono, deixa transparecer como vão o movimento Mangue, ou Manguebit, sendo construídas algumas narrativas da objeto das matérias de jornal observadas nação, como vai sendo demarcado um neste artigo. O Manguebit é uma cena mapa imaginário do consumo de bens musical que se originou no início da simbólicos no Brasil. São interpretações década de 1990, na cidade do Recife. As identitárias, são leituras, que, por sua vez, bandas envolvidas procuraram estabelecer adaptam ou reforçam determinados diálogos intensos entre tradição e aspectos do que noticiam ou analisam — modernidade, entre centro e periferia, no caso deste estudo, o movimento entre nacional e internacional, tanto nos Mangue, na Folha de S. Paulo e no Jornal aspectos estritamente musicais como nos do Commercio. Com este específico aspectos discursivos, visuais e ponto de partida, é possível analisar as comportamentais. Emergindo da referências e os estereótipos relacionados "periferia da periferia", da lama, o a Pernambuco, ao Nordeste, ao Recife, Manguebit (como foi chamado pelos ao Brasil e aos centros hegemônicos (EUA, grupos que o constituíam), ou mangue Europa, Japão) — em confronto com as beat (como ficou conhecido por meio da referências transnacionais (como cultura mídia nacional), vai transformar a cidade pop, hip-hop, world music, etnia, classe) do Recife. A crítica de música pop Bia manifestas no movimento. Abramo vê assim o movimento: Principalmente havendo a inferência da O mangue beat, e produção de sentido identitário no Centro Nação e mundo livre s/a são a (Folha de S.Paulo) e na Periferia (Jornal tentativa mais honesta e bem-sucedida de do Commercio). procurar uma dicção cosmopolita na Estudando jornais paulistas e música brasileira (o sinal inverteu, mas pernambucanos, matizando as diferenças os valores são os mesmos). Ou por outra, entre os dois discursos, é possível ver introduziram o frescor de sonoridades até alguns indícios de como se conformam então restritas geograficamente num as relações centro-periferia no nosso país, formato viciado e cheio de armadilhas mediante jogos de identidade e como o pop. Sem íòlclorizar, como faz estereótipos. Por meio das novas . Sem condescendência representações, pode-se observar e paternalista, como fazem os Paralamas. perceber como é constituída e processada Sem a diluição do Skank. Sem a afetação uma nova relação de forças nos cenários de . Não é à toa que

Ângela Pryssthon e André Telles do Rosário.Manguetown: identidade, cultura e geografia no jornalismo cultural impresso. Comunicação e Informação, V 8, n° 1: pág 47 - 52. - jan/jun. 2005. se encantou com Chico, nem tanto em Recife quanto em SP. tampouco que a crítica tenha usado Com esses elementos (que são palavras como neotropicalistas para noticiosos e, ao mesmo tempo, signos de descrever o mangue beat (ABRAMO, transformações culturais mais profundas), 1997). a imprensa atualizou seu discurso Em 1991, foi elaborado um nacional, regional e local. Dessa forma, manifesto que teve repercussão nacional por estarem tão conectados com o Mundo e no qual estão os pontos norteadores de e com o local, pela releitura da cultura uma nova representação da cultura brasileira que o movimento proporcionou recifense - e brasileira: e pelas viagens, muitas referências Em meados de 91 começou a ser geográficas são aderidas ao Manguebit gerado/articulado em vários pontos da pela imprensa paulista e pela cidade um organismo/núcleo de pesquisa pernambucana. e criação de idéias pop. O objetivo é Como o que nos interessa é perceber engendrar um circuito energético' capaz as relações centro-perifèria, o método aqui de conectar alego ricamente as boas adotado para esmiuçar os textos dos vibrações do mangue com a rede mundial jornais foi o de buscar, no material de circulação de conceitos pop. Imagem— coletado, confrontações entre os locais símbolo: uma antena parabólica enfiada citados nas matérias. Dessa forma, na lama. selecionamos estereótipos e imagens que A partir daí, duas bandas, Chico representam os topônimos, primeiro na Science & Nação Zumbi e mundo livre Folha de S.Paulo, e depois no Jornal do s/a, se destacam na cena que, no meio Commercio. E, a partir da relação entre jornalístico, começou a ser apontada como as representações desses lugares, "o que de mais original surgiu na música observamos o reiterado reforço, brasileira na década de 1990". Cinco anos subliminarmente justificativo, das relações depois do manifesto, em 1996, pela econômicas entre esses mesmos lugares. visibilidade alcançada, o Manguebit já se A seguir, apresentaremos e comentaremos configura como um valiosíssimo alguns excertos das matérias sobre o instrumento de análise para as relações Movimento Mangue, primeiro na Folha centro e periferia na cultura brasileira. de S. Paulo, depois no Jornal do Com o movimento (e de sua presença na Commercio, com o intuito de comparar mídia impressa nacional), identifica-se e as imagens do Recife e da cultura recifense compara-se o discurso geográfico no implicadas em ambos os jornais. centro e na periferia do Brasil, que é reinterpretado e apropriado de maneira Folha de S.Paulo característica pelas mídias de alcance nacional e local. Excertos: O ano de 1996 talvez tenha sido o 1.1. "O conceito continua o do auge do movimento Mangue. Chico mesmo: fusão de ritmos Science era vivo, a banda tocava no populares do Nordeste ao Hollywood Rock, no Pacaembu. Os universalismo do pop e do rock, segundos CDs da Chico Science & Nação fusão antropofágica da miséria do Zumbi (CSNZ) e do mundo livre s/a mangue à sofisticação tecnológica eram lançados e recebidos com entusiasmo das antenas parabólicas" (Chico pela crítica. A banda Mestre Ambrósio Science busca maracatu começava a fazer algum sucesso no eixo psicodélico, lançamento do CD, Rio-São Paulo, como também o Alto José 22/5/96). do Pinho e suas bandas de punk e rap. O a festival Abril Pro Rock, então em sua 4 1.2. "A surpresa vem com edição, despertava interesse crescente da Enquanto o Mundo Explode, mídia musical brasileira. Além disso, porrada pura. O som de houve também excursões para os EUA e percussão é ensurdecedor. No Europa — fatos que mantiveram o meio da pancadaria, Chico berra movimento como notícia o ano todo, como um louco: Que som é esse

Ângela Pryssthon. e André Telles do RosáriaManguetówn: identidade, cultura e geografia no jornalismo cultural impresso. Comunicação e Informação, V 8. tf 1: pág 47 - 52. - jan/jun. 2005, que vem de Pernambuco?" (Chico - Abril Pro Rock). Science prepara show pra chacoalhar, ensaio aberto para 2.2. Noite será só dos alternativos imprensa, 17/01/96). "Depois é a vez do mangue beat, movimento (como todos já 1.3. "Chico Science abriu a noite, rotularam aqui) que nasceu no às 19h25, com um atraso de 25 começo da década de 90 quando minutos. Foi um dos melhores alguns grupos nordestinos show (sic). No mínimo, o mais começaram a misturar ritmos pesado. Ele não cantou reggae. folclóricos da região com rock e Fez coisa melhor: mostrou como pop" (Noite será só dos o Brasil pode ser um país alternativos, 27/04/96 - APR). influente no futuro do rock, combinando guitarras de metal 2.3. Recife vira 'Seatde miserável' com uma percussão superior à "Liderado pelo grupo Devotos do fama de Carlinhos Brown" Ódio, punk-rock hardcore renasce (Brasileiros roubam show, 21/ nas encostas do Alto José do Pinho, 01/96 - Hollywood Rock). periferia da cidade. Os punks não morrem, apenas Nos excertos selecionados da mudam de endereço e de sotaque. Ilustrada (Folha de S. Paulo), é evidente Eles trocaram os porões pelos o foco numa idéia de brasilidade morros e ressurgem nas encostas "universal", como se isso resultasse na do Alto José do Pinho, morro da absorção do outro lugar, como se miserável periferia de Recife. houvesse a possibilidade de uma síntese O mais legítimo representante do identitária brasileira. As matérias da punk que renasce no Nordeste é o Ilustrada procuram desenvolver o grupo 'Devotos do Ódio', tradução argumento de que o movimento musical contemporânea de 'Deus Mangue e suas manifestações evocariam e o Diabo na Terra do Sol', o filme certos aspectos do discurso catalisador da de Glauber Rocha. Antropofagia. A intenção é demonstrar a O nome da banda vem do título conectividade entre várias "versões" do homônimo do livro de José Brasil, a absorção, a deglutição de idéias Louzeiro, a saga neo-realista sobre - que seria geral à cultura brasileira e da camponeses do Nordeste. Louzeiro qual o Manguebit seria apenas mais um é o mesmo que cedeu o argumento sintoma. Nesse contexto de centralidade para o filme 'Pixote'. paulista (meia centralidade, pode-se dizer, O grupo 'Faces do Subúrbio*, com já que divide com o Rio a concentração o seu rap-embolada dançante, é de renda e produção), interessa exaltar outro representante do morro que a cultura nordestina - até um certo já finca os seus tentáculos fora da ponto, contudo —, pois é ela que funda periferia de Recife. o mito original (da cultura oficial) do Em julho, tocou em São Paulo, sob Brasil —, a expansão ultramarina a guarda e apresentação do 'Câmbio portuguesa. E Recife é sua "capital", Negro', um dos mais consistentes pela centralidade que possui tanto do do hip-hop nacional. ponto de vista geográfico quanto do E o Alto José do Pinho tem também cultural. o anarquismo porno-existencialista do grupo "Matalanamão", criada 2.1. Recife recebe o pop agreste em 1993 para tocar -metal e do Brasil variações do gênero" (Recife vira "Festival Abril Pro Rock, que vai 'Seattle miserável', 25/07/96 - de hoje a domingo, mostra o som Alto José do Pinho). de bandas como Chico Science e Mundo Livre" (Recife recebe o 2.4. Movimento é Vingança' pop agreste do Brasil, 25/04/96 contra Ariano

Ângela Pryssthon e André Teltes do Rosário.Manguetown: identidade, cultura e geografia no jornalismo cultural impresso. Comunicação e Informação, V 8, n° 1: pág 47 - 52. - jan/jun. 2005. "A cena musical do Alto José do dos anos 80, o tal do mangue beat Pinho é considerada uma espécie era a grande novidade. Misturava de praga ou vingança, na visão a música regional, frevo, maracatu bem-humorada dos recifenses, e baião com o pop" (Mistura contra o escritor e teatrólogo virou lugar comum, 06/05/96 — . APR - Folhateen). Secretário de Cultura de Pernambuco, Suassuna detesta 3.2. Nova geração do mangue se qualquer som que envolva uma renova com punk, noise e rap guitarra elétrica. Imaginem o "Festival reúne novas bandas de renascimento do punk-rock no Pernambuco e outros Estados. seu próprio terreiro. Depois de quatro edições, o Abril Por ironia, muitos filhos de Pro Rock confirma-se como o mestres de maracatu seguem hoje maior festival de rock de bandas as pegadas do velho roclcnroll. brasileiras. Existe um projeto Para quem já condenava o para levá-lo a várias cidades do 'Mangue Beat', os punks do Alto Brasil já no ano que vem" (Nova José do Pinho estão ainda mais geração do mangue se renova longe da política de Suassuna" com punk, noise e rap, 30/04/ (Movimento é 'vingança' contra 96 - APR - Ilustrada). Ariano, 25/07/96 - Alto José do Pinho). 3.3. "Guentando a Ôia" para dançar Essa seria uma segunda maneira de "Falta inventividade ao mundo se referir à identidade (recifense, em livre. particular, e nordestina, em geral): Seattle O mundo livre s/a (maldita Miserável. A miséria, quase que uma mania dessas bandas que grafam referência óbvia na mídia nacional, sugere seu nome com minúsculas) lança o reforço do estereótipo, mesmo quando seu segundo disco e cai no associada à energia criativa do de malogro. Seatde. Tal adjedvo séria inimaginável na Sem a responsabilidade de imprensa pernambucana. Há também mostrar para o resto do Brasil o referências que remontam a outras que era o mangue-beat do Recife, maneiras clichês de se ver a cultura o grupo, liderado por Fred 04, nordestina. Por exemplo, a referência ao fez um CD mais rock e menos Pop Agreste (região do interior do Estado inventivo" ("Guentando a ôia" que não teve nenhuma representação no para dançar, 20/05/96 - CD evento), ou a "vingança" contra Ariano e MLSA - Folhateen). o Movimento Armorial. Os ícones do modernismo regionalista, os estereótipos Curioso esse contraste do caderno mais famosos dessa cultura são mesclados, dedicado aos adolescentes com o justapostos, jogados contra novas caderno de cultura. Pode ser lido como imagens. O que, de certo modo, concorre um sinal da pluralidade do jornal, ou para que novas representações venham à como uma maneira de pulverizar a tona, mais urbanas e nem por isso menos crítica dentro das várias seções. É nordestinas. interessante observar que o caderno, voltado para os adolescentes, é muito 3.1. Mistura virou lugar-comum mais crítico que a Ilustrada, caderno que "Há quatro anos o Abril Pro Rock deveria ser mais crítico. (festival anual que reúne bandas alternativas em Recife) revelou Jornal do Commercio Chico Science & Nação Zumbi e o Mundo Livre S/A 4.1 Crítico de Nova Iorque elogia Para o cenário póp da época, que Science vivia a ressaca criativa das bandas John Parelles, do New York

Ângela Pryssthon e André Telles do Rosárío.Manguetown: identidade, cultura e geografia no jornalismo cultural impresso. Comunicação e Informação, V 8, n° 1: pág 47 - 52. - jan/jun. 2005. Times, incluiu o disco entre os americano, mas onde esse desejo por uma melhores de 95. idéia abstrata do coletivo, por uma "Do Rio, o empresário Paulo André unidade do coletivo, tem sido liga, eufórico, e manda notícias do recodificado "by the fabrication of ethnic Chico Science & Nação Zumbi. A enclaves, affectively bonded subcultures, primeira, o respeitado crítico do simulacra for survival that, claiming to New York Umes, John Parelles, na preserve the ethnos of origin, move further edição do dia 6 deste mês, incluiu and furhter away from the vicissitudes and entre os 10 melhores lançamentos transformations of the nation and group do ano o cd Da lama ao caos, do of origin"1 (SPIVAK, 1999: 172). grupo pernambucano. Em tempo, Observando as devidas proporções, há, ao contrário de outros artistas provavelmente, uma série de relações tupiniquins elogiados por lá, mas possíveis entre essa reflexão de Spivak e a sempre metidos no gueto da tal nota do colunista Teles, no JC. A nota world music, de quem nem aponta justamente para o "desire for the escapou, Chico e abstract collective" pernambucano. O os zumbis figuram entre os dez discurso implicado almeja a unidade, mais do New York Times ao lado baseado na idéia de um orgulho local, por de anglo-saxões feito PJ Harvey e meio de uma afirmação identitária única. Foo Fighters. A segunda, CSNZ Ao mesmo tempo em que é valorizada a terão uma das músicas do disco que diferença local, essa diferença é colocada estão gravando incluída no próximo no contexto da globalidade. projeto da série Red+Hot, cuja Pernambuco falando para o Mundo. renda é revertida para o combate à Ufanismo. Importante para manter o Aids, com direito a remixagem de Estado unido, também (haja vista a longa Goldie, DJ criador da jungle, uma história de mutilações do Estado). das mais badaladas vertentes atuais Preocupações com a unidade estadual da música européia feita pra dançar. (Noronha inclusive). Atitude O-Brasil- Chico e os Zumbis estarão no também-somos-nós e/ou Em-Nova- Red+Hot+Rio ao lado de David Iorque-eles-são-pernambucanos-e-dão- Byrne, , Bjõrk, uma-banana-para-o-Sul-Maravilha. Everything But the Girl, Seal, Quanto mais periférico um discurso, , Cassandra maior sua auto-referência. Essa euforia Wilson, Gilberto Gil, Sting e Tom cobre os buracos de um cobertor curto. Jobim, em sua última gravação, entre outras feras" (Coluna Toques, Algumas idéias sobre identidade, nação e 17/01/96). cultura

O que mais chama a atenção no MPB, Pop, Rock, Hip-Hop, excerto escolhido do Jornal do Alternativo, Maracatu, Samba? Todos Commercio é a necessidade do discurso esses adjetivos foram usados para referir- de autoridade de John Parelles para se ao Mangue. Produtos híbridos são justificar e legitimar o movimento simultaneamente mais difíceis e mais Mangue. O discurso não é mais o da fáceis de se enquadrar em rótulos e identidade nacional, mas a valorização do segmentos. Têm uma existência local dentro do global. Gayatri Spivak faz fragmentária, e causam certo tumulto algumas distinções entre a colonização justamente porque esticam, entortam, "interna" e a colonização de outros espaços. quebram classificações dentro da 1 Pela fabricação de endavès Ela fala sobre a necessidade de alguns "Cultura". E, ao mesmo tempo, cabem étnicos, subculturas reunidas sistemas de representação que assegurem em todos os lugares. afetivamente, simulacros de nossa própria cultura, nossas próprias Ideologias geográficas são montadas sobrevivência que, proclamando explicações culturais. Ela usa a cultura mediante o consumo de símbolos das preservar o etnos de origem, vão norte-americana como exemplo, e na qual Culturas de uma nação, de uma região, cada vez mais longe das vicissitudes o "We the people" da Constituição seria de uma cidade, etc. Representações e e transformações da nação e do a base do sistema de representação narrativas com que travamos contato, no grupo de origem.

Ângela Pryssthon e André Telles do Rosário. Manguetown: identidade, cultura e geografia no jornalismo cultural impresso. Comunicação e Informação, V 8, n° 1: pág 47 - 52. - jan/jun. 2005. 51 consumo cotidiano de bens simbólicos, nacional e no global. por meio da repetição, do reiterado As negociações culturais levadas a enfoque, do reforço positivo ou negativo cabo pelo Manguebit, e refletidas tanto a certos estereótipos. Negociando, pelo jornalismo cultural de alcance aprendendo, aceitando, recusando. Esse nacional como por aquele de influência processo faz parte, principalmente na apenas local, partem de uma consciência cultura jovem, da construção da cosmopolita. Os modelos exógenos ainda personalidade e do caráter de cada são elementos de legitimação para a cultura indivíduo. As decisões relativas a que local, mas a maior ambigüidade e grupo seguir, com quem se afiliar, qual complexidade com que são representados modelo de comportamento adotar esses fenômenos culturais na mídia perante assuntos específicos — essas demonstram novas formas de se conceber decisões também passam pelo campo de as identidades ms metrópoles periféricas. jogo das identidades. Como escolher fazer Capoeira, ou Abstract Maracatu, ou Break, ou Samba, ou By researching the artides in the newspapers Folha de Funk. Em todas essas opções, o verniz S. Paulo (from São Paulo) and the Jornal do Commercio verde-amarelo, mais ou menos forte - (from Recife) about the Mangue movement (the como um vírus a referir-se a si mesmo Manguebit) in 1996, this paper intend to point some ad infinitum. waysofexpressingidentitynottons (national, regional), Entender como está sendo the negotiation forms between differents cultural representations, and the global and local articulation representada a cidade na esfera tendencies in the same geographical spaces. midiática (da própria cidade e dos Key words: identity; cultural journalism, cultural centros econômicos do estado nacional representation. a que pertence) é também descobrir estratégias e mecanismos de Referência comunicação dos grupos sociais em busca de poder e hegemonia - alguns ABRAMO, Bia. "Os sustos do mangue", Verbum. (http:/ que já têm poder e hegemonia, e outros Avvmlatitude.uol.com.br) ainda à margem. CANCUNI, Néstor Garcia. Consumidores e cidadãos. Conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Nessa perspectiva, analisar a Editora da UFRI, 1997. construção das identidades brasileiras . Culturas Híbridas: estratégias para entrar (locais, regionais e nacionais) é revelar e sair da modernidade. São Pauto: EDUSR1997. o tecido de discursos que justificam a COELHO, Teixeira. Dicionário Critico de Política Cultural. divisão da riqueza dentro do território. São Paulo: Iluminuras, 1999. Mediante o discurso que justifica a união DIÓGENES, Gloria. Cartografias da cultura e da violência desse mesmo território. Estereótipos - gangues, galeras e o movimento hip-hop. São Paulo: Annablume,1998. geográficos que demonstram e reforçam FRED 04 & L, Renato. 1o Manifesto do Movimento relações econômicas. . Recife, mimeo, 1991. Assim, a nacionalidade permanece, HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. não mais unívoca, mas adaptada e Rio de Janeiro: DP & A, 1997. reforçada, por meio dos novos espaços que HERSCHMANN, Micael. 0 Funk e o Hip-Hop invadem a absorve. Permanece como mensagem, cena. Rio de Janeiro: editora UFRJ, 2000. plural e difusa, a se referir ROSE, Tricia. "Um estilo que ninguém segura: política, estilo e a cidade pós-industrial no Hip-Hop". In: interminavelmente. Apesar de toda a HERSCHMANN, Micael (org.). Abalando os anos 90 - diversidade, apesar de essa noção de funk e hip-hop. Globalização, violência e estilo cultural. pertencimento ser uma construção Rio de Janeiro: Rocco, 1997. historicamente recente, o sentimento de SANS0NE, Lívia "Funk baiano: uma versão local de üm comunidade hermenêutica comum é fenômeno global?". In: HERSCHMANN, Micael (org.). bastante fbrte no imaginário popular. O Abalando os anos 90 - funk e hip-hop. Globalização, que vem ocorrendo, nas últimas décadas, violência e estilo cultural. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. é uma ampliação das imagens—símbolo SPIVAK, Gayatri Chakravorty A Critique of Postcolonia! Reason. London/Cambridge: Harvard University Press, desse pertencimento — com uma 1999. tendência à valorização e inserção do local TELES, José. Do Frevo ao Manguebeat São Paulo: (a cultura das cidades e das regiões) no Editora 34,2000.

Ângela Pryssthon e André Telles do Rosário.Manguetown: identidade, cultura e geografia no jornalismo cultural impresso. Comunicação e Informação, V 8, n° 1: pág 47 - 52. - jan/jun. 2005.