Estudo Geológico
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ESTUDO GEOLÓGICO MONOGRAFIA Introdução O presente trabalho integra-se no “Projecto de investigação e estudo do património biológico e análise geológica e geomorfológica da região de Óbidos”, no âmbito da preparação do processo de candidatura da Vila de Óbidos a Património Mundial, representando a componente do estudo geológico. O texto reune a base da informação geológica local, seu enquadramento regional e prismas de interpretação existentes, salientando desta forma a importância e a diversidade da Geologia da zona. Sintetizam-se dados relativos a: litostratigrafia, paleoambientes e paleogeografia, magmatismo e tectónica (Cap. I); geomorfologia (Cap.II); sedimentologia e evolução histórica da Lagoa de Óbidos (Cap.III); recursos geológicos (Cap.IV); inventariação, caracterização e propostas de preservação e de fruição do Património Geológico da região, identificando, descrevendo e ilustrando geo-sítios e geo-percursos (Cap.V). Em complemento, fornece-se um glossário dos termos geológicos mais específicos. Para além deste texto de conjunto, são fornecidos em formato autónomo os diversos elementos iconográficos referidos: mapa geológico, mapas geomorfológicos da região (geral) e da Lagoa de Óbidos (reconstituição da sua evolução), locais com interesse geológico e propostas de geopercursos. A área de estudo situa-se na região oeste de Portugal, a norte de Lisboa (Figura I.1.) englobando o concelho de Óbidos e zonas limítrofes pertencentes aos concelhos das Caldas da Rainha (a norte e a leste), Bombarral (a sul) e Peniche (a oeste). I. Caracterização Geológica 3 I.1. Local em Estudo Do ponto de vista geológico, a região em apreço está enquadrada na Orla Meso- Cenozóica ocidental de Portugal, mais particularmente na Bacia Lusitânica, mostrando de forma mais ou menos clara a evolução dos ambientes sedimentares neste sector, desde a Era Mesozóica até à Actualidade. Neste capítulo apresentam-se os principais aspectos da geologia da região, enquadrando-os no contexto evolutivo da Bacia Lusitânica (Figura I.1.). As informações aqui sintetizadas resultam da compilação de diversos elementos bibliográficos, desde 1880 (Paul Choffat) até ao presente (Alves, 2003; Azerêdo et al., 2003), contidos nos trabalhos que adiante se citam, complementada por observação directa realizada no âmbito do presente estudo. A base cartográfica geológica é fundamentalmente a da Folha 26-D (Caldas da Rainha) - Zbyzewski e Almeida (1960). 4 ESPAN ESHPAAN HA Óbidos Soocco Grraannitiotso &s bBaassallttoos Meessoozóziócoic mMeessoozzóióciocso s o & s EoE stsrutrturtaus ra Ceennoozóziócoi tardios halocinéticas sh a locinétic co as Figura I.1.: Geologia simplificada da Bacia Lusitânica (in Azerêdo et al. 2003), com localização da região de Óbidos. 5 Desde Freire de Andrade (1937) que a região de Óbidos se considera estrutural e estratigraficamente pertencente à área normalmente designada por Vale Tifónico das Caldas da Rainha, embora de facto esta estrutura seja parte duma unidade estrutural maior, que se prolonga desde o paralelo de Rio Maior até Porto de Mós-Batalha, aproximadamente. A região de Óbidos tem sido muito estudada ao longo do tempo. As bibliografias mais antigas reflectem o trabalho realizado por diversos grupos de cientistas da Terra do século XIX, de entre os quais se destacam os trabalhos realizados por Paul Choffat (Choffat, 1880, 1882 e outros). No século XX, prosseguiram diversos estudos de diversa ordem, ao nível tectónico (Freire de Andrade, 1937; Zbyzsewski, 1959), estratigráfico e dos recursos minerais (petróleo, sais, águas, gesso, evaporitos, calcários, etc), muitos dos quais serão citados ao longo deste relatório. Nos últimos 25 a 30 anos, a região foi foco de acções de pesquisa e de prospecção de petróleos, o que permitiu complementar os estudos anteriormente efectuados, introduzindo novos dados. Desta forma, existe uma boa caracterização da evolução geodinâmica da região, que mostra uma história geológica complexa, ainda reservando algumas incertezas sobre determinados períodos-chave. I.1.1. O contexto geológico da região do Vale Tifónico Como foi referido, a região de Óbidos encontra-se num contexto geológico relacionado com a evolução das bacias meso-cenozóicas portuguesas. A bacia mesozóica ocidental, conhecida como Bacia Lusitânica, foi gerada em ambiente tectónico de estiramento crustal, desde tempos triásicos (rifting sem geração de crosta oceânica) até ao limite Cretácico Inferior/Superior. Esta evolução sofreu dois passos de maior importância: a abertura do Oceano Atlântico Norte (verdadeira abertura a partir do Jurássico Superior), com o afastamento da Eurásia do continente Norte-Americano; e abertura do Tétis, por consequência do movimento relativo entre a Eurásia e África (por ex., Ribeiro et al., 1979; Wilson, 1988). A bacia engloba diferentes domínios tectono-sedimentares (in Kullberg, 2000): Sector Norte (N da falha da Nazaré); Sector Central (entre as falhas da Nazaré e Arrife – Vale inferior do Tejo); Sector Sul (S da falha do Arrife). A região de estudo pertence ao Sector Central. Segundo Freire de Andrade (1937), a região de Óbidos pertence estrutural e estratigraficamente à área tifónica das Caldas da Rainha. Esta região é conhecida desde tempos remotos (Árabes, Romanos…) pelos seus recursos minerais, tais como as águas 6 termais e medicinais e também gesso, sal-gema e caulinos, inertes (areias, diatomitos…) e rochas ornamentais (calcários). Esta variedade de recursos advém da diversidade de eventos tectono-estratigráficos característicos de todo o Maciço Estremenho. Estes eventos provocam uma variação lateral e vertical das sequências estratigráficas, relacionadas directamente com os diferentes e contínuos eventos tectono-sedimentares experimentados pela Península Ibérica durante o Meso-Cenozóico. O anticlinal das Caldas da Rainha tem uma expressão evidente no Maciço Estremenho e relaciona-se directamente com a interferência de diferentes eventos tectono- estratigráficos, incluindo a actividade halocinética (devido à existência de sedimentos salinos na base da série estratigráfica). O seu núcleo é composto por rochas hetangianas e possivelmente triásicas, cobertas pelo enchimento plio-quaternário. Este anticlinal esventrado é actualmente conhecido por Vale Tifónico das Caldas da Rainha, e como tantos outros observados dentro e fora do território português, tem uma relação estreita com a halocinese e com tectónicas do tipo thin e thick – skinned. Esta estrutura é bordejada a este e oeste por calcários de idades compreendidas no intervalo de tempo Sinemuriano (Jurássico Inferior) – Aptiano (Cretácico Inferior). A morfologia actual é produzida no Cenozóico, através dos diferentes episódios tectónicos compressivos e de diapirismo, e através das variações eustáticas e uplift crustal. As rochas do núcleo desta estrutura são conhecidas como a Formação de Dagorda (FD) (in Azerêdo et al., 2003 e referências diversas ali citadas) e são compostas, sobretudo, por argilas (pontualmente, argilas margosas) vermelhas e esverdeadas, por vezes com gesso e sal. Esta formação inclui rochas do Keuper (Triásico Superior) de origem detrítica, resultantes da “erosão de um continente bastante acidentado pelas montanhas e plicaturas hercinianas” (Freire de Andrade, 1937). Esta sequência detrítica estende-se para norte e para sul desta estrutura, mostrando um ambiente sedimentar generalizado na região (Palain, 1976). Estes sedimentos vermelhos são extremamente salinos (halite, gesso, anidrite, etc.) evidenciando um ambiente sedimentar de shabka, na frente de leques aluviais, em clima árido, com ocorrência de fortes chuvadas. Também incluídas na FD, encontram-se arenitos e argilas com gesso do Retiano – Hetangiano, reflexo de características transgressivas dos ambientes marinhos, neste período (Palain, 1976). Pode constatar-se heterogeneidade de fácies quer lateral quer verticalmente, derivada, possivelmente, da forte instabilidade tectónica. É também neste período que se observa o 1º Ciclo Vulcânico do Mesozóico, e corresponde a uma fase de rifting abortada (Ribeiro et al., 1979) durante o Hetangiano. 7 A Formação de Dagorda marca o início do ciclo transgressivo Triásico – Jurássico e passa a unidades calco-dolomíticas, da Formação de Coimbra (por ex. Mouterde et al., 1979; Soares et al., 1993; Azerêdo et al., 2003), já do Sinemuriano. O Jurássico Inferior corrresponde, assim, à invasão gradual da bacia pelo mar, instalando-se ambientes marinhos progressivamente mais profundos, em regime globalmente transgressivo embora pontuado por fases regressivas importantes. Durante o fim do Liásico (Jurássico Inferior) início do Dogger (Jurássico Médio), mais propriamente no Toarciano – Aaleniano, há evidências de acentuada regressão relativa. Para as diversas formações existentes na bacia e referência a inúmeros trabalhos, veja-se Azerêdo et al., 2003. No Dogger observa-se, de forma generalizada em toda a bacia, a existência de ambientes marinhos, predominantemente de plataforma carbonatada pouco profunda mas também de ambiente oceânico; os terrenos a leste (marginais) da Bacia Lusitânica estariam bastante aplanados. Estas sequências mostram que existiu sedimentação carbonatada de baixa profundidade sobre terrenos mais antigos (a leste), hoje expostos, provavelmente com uma extensão maior que a actualmente observada. Observam-se também variações verticais e horizontais de fácies, que ocorrem de maneira gradual e que correspondem a diversas formações e põem em evidência as características paleo – deposicionais muito dinâmicas (Azerêdo et al., 2003).