PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 434 • ANO XXXIX SETEMBRO/OUTUBRO 2009 • MENSAL • € 1,50

BAPTISMOBAPTISMO DODO N.R.P.N.R.P. ««VIANAVIANA DODO CASTELOCASTELO»» Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

Milhares de jovens tiveram o seu primeiro con- tacto com a Marinha na Escola de Alunos Mari- nheiros (EAM) que esteve instalada, cerca de seis décadas (1938-1996), na Quinta das Torres, em Vila Franca de Xira. Converter os mancebos que lhe são confiados em bons militares e bons cidadãos a fim de bem servi- rem a Pátria e a Armada, foi a missão da Escola. A recruta mais propriamente denominada a Ins- trução Militar Básica, terminava com o Juramento de Bandeira, evento este de alto significado não só para os alunos como também para o sempre eleva- díssimo número dos respectivos familiares e ami- gos, alguns vindos propositadamente do estrangeiro onde se encontravam emigrados. A foto acima apresentada, datada de 1976, capta o momento em que, terminada a cerimónia do Ju- ramento, os 750 alunos saem da EAM e entram na Parada das Escolas Técnicas do Grupo nº 1, prontos para iniciar a sua formação técnica e tornarem-se dignos Marinheiros da Armada Portuguesa. Esta imagem, que jamais se repetirá neste local, faz parte da História da Marinha e da memória dos muitos que frequentaram ou prestaram serviço nas Escolas da Marinha em Vila Franca. SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 434 • Ano XXXIX 5 Setembro/Outubro 2009 Baptismo do Director NRP “Viana do Castelo” CALM EMQ Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redacção CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção SAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho 9 Colaboradores Permanentes Viagens de Instrução CFR Jorge Manuel Patrício Gorjão CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redacção e Publicidade Revista da Armada 16 Edifício das Instalações Centrais da Marinha Farol de Cacilhas Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa - Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] 20 Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, Oito Décadas da Marinha montagem e produção na Quinta das Torres Página Ímpar, Lda. 1925-2009 Estrada de Benfica, 317 - 1º F 1500-074 Lisboa Tiragem média mensal: 24 6000 exemplares Nos 100 Anos do Engº João Rocheta Preço de venda avulso: 1,50 € FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2 Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 PONTO AO MEIO DIA 4 Depósito Legal nº 55737/92 O NRP “BARTOLOMEU DIAS” NO OPERATIONAL SEA TRAINING (OST) - PLYMOUTH 6 ISSN 0870-9343 NRP “ÁLVARES CABRAL”. NAVIO-ALMIRANTE DA SNMG1 8 A ADMINISTRAÇÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS DA MARINHA 12 LOCALIZAÇÃO DA EMBARCAÇÃO “TROMBAS” 13 PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 434 • ANO XXXIX SETEMBRO/OUTUBRO 2009 • MENSAL • € 1,50 INICIATIVA CRIATIVIDADE. QUALIDADES RELEVANTES DO DESEMPENHO 14 A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (I) 15 DOUTRINA NAVAL 2 18 NOTÍCIA / UM DESCUIDO FATAL 28 VIGIA DA HISTÓRIA 14 29 O ALMIRANTE CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA RECEBE O NÚCLEO DE RADIOAMADORES DA ARMADA / REVISTA DA ARMADA - INQUÉRITO DE OPINIÃO 30 BAPTISMO DO N.R.P.N.R.P. «VIANA DO CASTELO» Foto SAR FZ Pereira HISTÓRIAS DA BOTICA (67) 31 QUADRO DE FOLGA / ACADEMIA DE MARINHA 33 ANUNCIANTES: ROHDE & SCHWARZ, Lda. NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 INSTALAÇÕES DA MARINHA CONTRACAPA

Revista da Armada • setembro/outubro 2009 3 PONTO AO MEIO DIA Arsenal do Alfeite – rumo ao futuro, aproveitando as lições do passado.

cessação da actividade do Arsenal do A partir de meados da década de 80 estabili- adequada política de valorização dos recursos Alfeite e o início efectivo da concessão zou-se o modelo de manutenção dos navios da humanos, preservando e valorizando os conhe- Ado estaleiro à sociedade Arsenal do Armada, que no essencial ainda se mantém e cimentos e as competências, mas não descuran- Alfeite S.A., em 1 de Setembro de 2009, é um onde o Arsenal é um dos protagonistas. do elementos de produtividade. acontecimento bastante significativo que inter- Nestas últimas décadas, as características As motivações da mudança radical que se fere com todo o sector do material da Armada e essenciais do Arsenal foram disponibilidade vai operar no Arsenal, foram sobretudo de ín- que marca o fim de um ciclo e o arranque para para ocorrer às necessidades operacionais da dole administrativa e financeira, mas também uma nova etapa no modelo organizativo e de Marinha e a constituição de uma relativa au- incluíam considerações sobre a qualidade e a gestão da manutenção dos navios da Armada tonomia nacional de intervenção em sistemas produtividade. e na restante produção industrial no Alfeite. militares complexos com vincada importância O novo ciclo, balizado por termos de re- Justifica-se que neste momento se faça uma na substituição de importações de serviços tec- ferência bastante rígidos, fixados por diplo- singela evocação. nológicos prestados pelos fabricantes, normal- ma jurídico e por um exigente contrato de Com o início da actividade em 1939, o Ar- mente extremamente onerosos. concessão, deverá ter em conta a experiência senal do Alfeite completou recentemente 70 Na área dos submarinos, duma forma mais passada, nas metodologias usadas e nas li- anos de laboração. Para além da importância institucional, e na manutenção das armas e ções aprendidas. da longevidade, a presente transição tem maior electrónica, o Arsenal projectou-se muito para O que se pretende com a mudança é manter significado quando é relacionada com a últi- além na mera prestação de serviços, actuando o que de bom existia no “velho” Arsenal, que ma grande reestruturação da Superintendência os seus técnicos, militares e civis, como peritos era o saber e as competências dos seus trabalha- dos Serviços do Material, ocorrida há 32 anos e conselheiros cujos pareceres e sugestões fo- dores qualificados em todos os sectores, e em e onde se lançaram as bases da integração e ram sempre apreciadas pelas guarnições e pe- acréscimo, criar condições para uma mudança subordinação orgânica do Arsenal do Alfeite los técnicos do material naval. de atitude profissional, possibilitar a reformu- à Superintendência dos Serviços do Material Pelo lado do Arsenal manteve-se uma per- lação da organização da produção e a melhoria que se foi consolidando até 1989, altura em que manente preocupação interna com a formação da capacidade de gestão. Igualmente se preten- se tornou plena e efectiva. profissional dos aprendizes e dos restantes tra- de melhorar o potencial tecnológico através da Quem nos princípios da década de 80 do sé- balhadores em todas as categorias profissio- renovação física de instalações e equipamentos culo passado, viveu intensamente a época dos nais. O esforço, ainda a decorrer, associado aos e reforçar a racionalidade económica. estudos e da realização dos ensaios de soluções novos meios que estão a chegar do estrangeiro A mudança vai ocorrer no Arsenal, mas destinadas a melhorar a capacidade de respos- é mais um marco na política de qualificação dos sabe-se, que irá igualmente arrastar mudan- ta do sistema de sustentação técnica e logística recursos humanos orientada para as necessida- ças no Sistema de Gestão do Material Naval dos navios e restante material naval, não pode des objectivas de intervenção. da Marinha. deixar de sentir alguma nostalgia e até alguma Para os militares que prestaram serviço no A viabilidade económica da nova sociedade saudade do convívio da geração dos que pro- Arsenal, o organismo foi igualmente uma es- tem se ser preservada para que não se venha curaram afincadamente fazer transitar o Ar- cola de aprendizagem muito reconhecida e a gerar instabilidade nem motivação para so- senal duma situação de distanciamento e total valorizada. luções expeditas que não foram consideradas independência face às estruturas da Marinha O reforço da capacidade tecnológica , a pro- no modelo agora decidido. para uma forma de estar colaborante e partici- cura de soluções de reparação mais eficazes e A transição foi acompanhada de algumas pativa que se veio a consolidar com o ingresso mais racionais e a obtenção de processos pa- dificuldades que poderiam ter sido evitadas. maciço de oficiais e sargentos no Arsenal. dronizados de intervenção, foram sempre um Acabou por existir um afastamento de pro- A renovação naval operada nas décadas de objectivo estratégico, mas nem sempre foram fissionais qualificados, alguns com formação 60 e 70, implicou substanciais mudanças nas alcançados, por uma multiplicidade de razões aplicada recém obtida, que transitaram vo- políticas de manutenção do material naval, cuja enumeração não cabe nesta evocação. A luntariamente para a mobilidade especial ou onde o Arsenal se foi gradualmente inserindo passagem de processos artesanais para pro- que foram seleccionados para executar tarefas e tornando cada vez mais indispensável. cessos industriais racionalizados e de elevada generalistas em outros organismos dos Estado Deve-se citar, pela sua relevância, as impor- produtividade nem sempre foram bem recebi- onde o manancial de experiência profissional tantes decisões tomadas em meados da década dos internamente por desconfiança e por falta e os conhecimentos específicos não vão ser de 70, de atribuir ao Arsenal responsabilidades de suficiente capacidade de engenharia, que aproveitados. especiais na manutenção dos submarinos “Al- concedesse credibilidade às soluções que se A expectativa é grande e a observação dos bacora” e de inserir no Arsenal as OGAE, ofici- ensaiavam. A cultura instalada aceitava com resultados da mudança vai ser rigorosa. Não nas gerais de armas e electrónica. Foram créditos facilidade a importação de tecnologia “pronta é a primeira vez que ocorrem mudanças orga- de confiança na altura depositados no Arsenal a usar”, mas via com alguma reserva e até dis- nizacionais na Marinha. No presente caso, por que se revelaram decisões muito acertadas. tanciamento, o estudo de soluções internas que decisão do poder político optou-se por um pro- Siglas como “IRS”, “SRU”, “SLAR/SLAE” incorporassem mais valias que não fossem in- cesso inovador, que nunca tinha sido usado em e, mais tarde, “SIAGIP”, entraram no léxico troduzidas pelos próprios intervenientes. situações semelhantes. Há que esperar que re- dos militares da Armada, , sobretudo na área A construção, modificação e manutenção sulte, a bem da Marinha, a bem do País. do Material; na realidade todas elas apenas ti- de navios militares são tarefas com grande in-  veram origem em simples ordens de serviço tensidade de mão de obra com elevado grau V. Gonçalves de Brito internas do Arsenal do Alfeite. de qualificação tecnológica que requerem uma CALM ECN

4 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada Baptismo do NRP “Viana do Castelo” baptismo do futuro NRP “Viana do de 2 para 4 milhões de km2. É uma área de recur- tidamente o meu muito obrigado, pela sua ama- Castelo”, primeiro Navio Patrulha sos ainda inexplorados que se estende por uma bilidade em ter aceitado ser madrinha do “Viana OOceânico (NPO) da classe com o superfície que corresponde a 40 vezes o território do Castelo”, na senda de uma tradição secular mesmo nome, teve lugar no passado dia 24 nacional e a mais de 80% da área terrestre dos 27 da nossa Marinha. O seu nome ficará ligado de Julho, com o navio atracado no cais de países membros da União Europeia.”(…) para sempre a este navio e os seus votos serão aprestamento dos Estaleiros Navais de Via- “Só com uma Marinha muito bem apetrecha- um incentivo para as suas futuras guarnições. É na do Castelo (ENVC). da será possível fazer face às responsabilidades que, para nós, marinheiros, os navios, tal como A cerimónia foi presidida pelo as pessoas, têm uma alma própria, Ministro da Defesa Nacional, que lhes confere um carácter único, Prof. Dr. Nuno Severiano Teixei- cuja génese está na sua madrinha e ra, e contou com a presença da a que as suas guarnições dão conti- Dra. Manuela Eanes, madrinha nuidade.” (…). do navio, acompanhada pelo O Ministro da Defesa Nacio- GEN Ramalho Eanes e dos se- nal, na sua alocução, frisou: Hoje guintes convidados: Chefe do Foto CFR ECN Lopes Moreira é um dia importante para a Marinha. Estado-Maior da Armada, ALM Mas é também um dia importante Melo Gomes, e Senhora; Depu- para os ENVC e para a construção tados à Assembleia da República naval portuguesa. por Viana do Castelo, deputada O NPO, que hoje baptizamos, é Fátima Pimenta e deputado Jorge o primeiro navio militar construí- Fão; Presidente da Câmara Municipal de do em Viana do Castelo desde a década de 60 Viana do Castelo, Dr. Defensor de Mou- do século passado”. (…) “Viana do Castelo, ra; os ex-Chefes do Estado-Maior da Ar- como a Armada e como os estaleiros, estão mada, ALM Vieira Matias e ALM Vidal hoje de parabéns. É um dia importante para a Abreu; Governador Civil do Distrito de Foto 1SAR FZ Pereira Marinha, porque depois das fragatas da clas- Viana do Castelo, Prof. Pita Guerreiro; se “Bartolomeu Dias”, cuja primeira chegou Director-Geral de Armamento e Equipa- a Portugal em Maio deste ano, dos submari- mentos de Defesa, VALM Viegas Filipe; nos da classe “Tridente”, dois já batizados, o e outros oficiais da Marinha. NPO da classe “Viana do Castelo”, são um A cerimónia teve início cerca das 11:20 passo mais, e um passo importante, na moder- horas com as palavras de boas vindas do nização da Marinha Portuguesa.” (…)“Mas Presidente do Conselho de Administração o processo de modernização não fica por aqui. da EMPORDEF e do Conselho de Admi- Está em curso e continuará a desenvolver­ nistração dos ENVC, Dr. Jorge Rolo, que ‑se, estou seguro, com o mesmo empenho e a

salientou a presença do Ministro da Defe- Foto 1SAR FZ Pereira mesma prioridade. Está assinado o contrato sa Nacional neste evento de grande impor- para a construção das Lanchas de Fiscalização tância para os Estaleiros Navais de Viana Costeira, aqui mesmo, neste local, em Março do Castelo e para a cidade, salientou ainda deste ano, e o Navio Polivalente Logístico de- a importância dos contratos de construção finido como uma prioridade, aliás, prioridade de navios para a Marinha, que pode atingir consensual, para a próxima revisão da Lei de os dezassete navios, e a parceria celebrada Programação Militar.” com um dos maiores estaleiros europeus Findos os discursos, procedeu-se à ben- – a Damen Schelde Naval Shipbuilding ção do navio pelo Vigário da Diocese de –, no sentido de permitir ao estaleiro ter Viana do Castelo, Monsenhor Sebastião acesso a tecnologias mais avançadas, à sua Ferreira. central de compras e ao seu departamento Antes de partir a garrafa de champa- de marketing, e, desta forma, estar melhor nhe na amura do navio, que tradicional- preparado para enfrentar a crescente con- mente consuma o seu baptismo, a Dra. corrência europeia e mundial. Manuela Eanes proferiu as seguintes pa- Na sua alocução, o Almirante CEMA lavras: “Baptizo este navio com o nome de sublinhou: “Não existe maior símbolo de op- “Viana do Castelo” e desejo à sua guarnição timismo para uma Marinha do que o baptismo que temos. Com os patrulhas da classe “Viana do as maiores felicidades. Faço votos para que nave- de um novo navio. Significa que a Marinha está Castelo” estamos a caminhar na direcção certa, gue sempre em águas safas e que regresse em se- a modernizar-se e a melhorar a capacidade para fazendo um investimento correcto na segurança gurança à sua Base.” melhor cumprir as suas missões”(…). e contribuindo, também, para a prosperidade do Seguiu-se o Hino Nacional executado pela “Portugal, como país ribeirinho por excelên- nosso país, seja pelo apoio à indústria da cons- Banda da Armada. cia, com uma área marítima sob sua soberania e trução naval, seja por, a jusante, se possibilitar a De seguida, foi efectuada uma visita a bor- jurisdição de enormes dimensões, tem que estar salvaguarda do uso do mar português pelos por- do do navio onde foi realçada, pela generali- preparado para proteger os seus interesses, até tugueses”.(…) dade dos presentes, alguma surpresa quanto porque tem razões para sentir que se abrem novas “Senhor Ministro, Excelência: A esquadra à modernidade, dimensão e funcionalidade e extraordinárias oportunidades para a sua afir- necessita, como sabemos, de urgentíssima reno- dos espaços de bordo. mação no mar, atenta a possibilidade de estender vação. Infelizmente, por falta de planeamento Finda a visita a bordo, foi oferecido um a sua Plataforma Continental. Como é sabido, a adequado, temos que o fazer neste momento em almoço no refeitório do estaleiro. proposta de alargamento poderá representar a du- contra ciclo económico”(…)  plicação do “nosso território submerso”, passando Senhora Doutora Manuela Eanes, renovo sen- (Colaboração da MAF–NPO)

Revista da Armada • SETEMBRO/OUTUBRO 2009 5 OO NRPNRP “Bartolomeu“Bartolomeu Dias”Dias” nono OperationalOperational SeaSea TrainingTraining (OST)(OST) -- PlymouthPlymouth PREPARATIVOS D. Santiago Bolibar Pimeiro. de coordenação da batalha interna e exter- Durante a nossa permanência naquele na são postas à prova num cenário multi­ aprontamento de um navio para a porto, cruzámo-nos com o KNM “Helge ‑ameaça. Para esta primeira guerra, tivemos execução de um OPERATIONAL Ings­tad”, quarto navio da classe Nansen, a excelente oportunidade de ter participa- O SEA TRAINING (OST) - Plymouth construído localmente e em fase final de tes- do na série com o maior número de meios (Reino-Unido da Grã-Bretanha e da Irlan- tes para entrega à Marinha Norueguesa. envolvidos do último ano – 9 unidades de da do Norte), pela sua complexidade e exi- Após a atracação no cais 7 da Base Na- superfície com helicópteros orgânicos, um gência, constitui uma árdua tarefa que exige val de Devonport, no dia 18 de Junho, efec- submarino, um avião E3A (os conhecidos planeamento, agregação de esforços, forte tuadas todas as reuniões que antecedem a AWACS), várias aeronaves atacantes (Hawks coesão e interdependência departamental. inspecção inicial (Material and Safety Che- e Falcons) e helicópteros vindos da base O aprontamento de um navio acabado de ck - MASC), foram concluídos os pormeno- aérea de Culdrose. Como nota de rodapé, chegar à Esquadra, diferente na sua estrutu- res finais para que o navio estivesse ao seu refira-se a participação de dois navios Aus- ra, desenho e filosofia de utilização, das que melhor nível. tralianos (HMAS “Sidney” e HMAS “Balla- ao longo de quinze rat”) que se encon- anos têm vindo a travam a frequentar frequentar o OST - uma versão reduzi- requereu, desde o da do OST. dia da sua entrega

á Marinha, um tra- FZ Pereira 1SAR Foto 1ª E 2ª SEMA- balho particular de NA DE MAR preparação mate- rial e de motivação Após o impac- da Guarnição. te inicial da ava- Nesta fase de liação começou a preparação e por correcção dos fa- motivos relacio- migerados “pick­ nados com o em- ‑up points – items penhamento do a rever”. Através navio, não foi pos- de uma cuidada sível efectuar em análise e distribui- toda a extensão, ção de todos os re- antes da largada do latórios recebidos navio, o tradicional pelo navio, as cor- plano de treino de recções foram sen- operacional. do implementadas MASC – 1ª SEMANA TERRA de uma forma célere e eficaz. Apesar de LARGADA algumas alterações efectuadas na organi- “Não há segunda oportunidade para cau- zação interna do navio, para responder a Quando no dia 16 de Junho 2009, cinco sar uma boa primeira impressão” – Esta frase necessidades detectadas durante a primei- meses após a recepção do navio pela Ma- repetida inúmeras vezes, assenta como uma ra semana de mar, o detalhe elaborado um rinha, largámos para Plymouth, tínhamos luva a este importante dia. Após o embar- ano antes mostrou-se adequado para fazer consciência do desafio. No entanto, optá- que do Commander Sea Training, Comman- face à grande maioria das situações colo- mos por encará-lo como uma oportunidade der Ian Graham, acompanhado de mais 60 cadas durante o período de treino. A nível para crescermos sabendo quão fundamental elementos do FOST, deu-se inicio à sequên- de equipamentos recuperaram-se alguns seria este treino para adquirir todas as va- cia de eventos planeada para esta importan- equipamentos críticos que tinham condi- lências necessárias a um navio combatente, te série tendo sido alcançado no final um cionado o desempenho durante o MASC e pronto a ser empregue em qualquer cená- resultado positivo, permitindo assim que o a anterior guerra de quinta-feira. rio operacional. navio fosse considerado seguro para prosse- Na segunda semana, face à presença de guir o treino. Durante o resto desta primeira dois navios com capacidades de defesa aé- TRÂNSITO semana de terra foram realizadas várias pa- rea de área – HNLMS “Tromp” e FGS “Hes- lestras por elementos do Staff e efectuadas sen”, foi notório um aumento no enfoque Durante o trânsito para Inglaterra foi ne- algumas séries simuladas para correcção da componente AAW, com quase todos os cessário efectuar uma paragem logística, de erros frequentes em navios que reali- meios ao dispor do OST a efectuarem “rai- de apenas algumas horas, no porto de Fer- zam o OST. Conforme é prática actual nos ds” sucessivos à força, de forma a saturar as rol (Espanha) para embarcar munições de planos de treino, mesmo durante a semana capacidades destas Unidades Navais. Cola- exercício de 76mm para a Peça OTO-ME- de terra, os navios participam na chamada teralmente, esta disponibilidade invulgar de LARA. A colaboração das autoridades es- “guerra de quinta-feira – Thursday Weekly meios aéreos revelou-se numa mais-valia panholas e as condições favoráveis para a War”, série onde todo o treino é posto em para o navio traduzindo-se no aumento da realização desta faina permitiram que todo prática. Durante oito horas, todos os navios qualidade do treino realizado e revelando o planeamento fosse cumprido sem atrasos. participantes executam um cenário tipifica- a “Bartolomeu Dias” como um parceiro a O Comandante foi recebido pelo Director do com impactes simulados, feridos e per- ter em conta na defesa da TG (task group do Arsenal Militar de Ferrol, Vice-Almirante da de equipamentos, onde as capacidades – grupo tarefa).

6 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada Noutra área de treino, a integração do a atitude e a moral; tomar todas as medidas semanas decisivas. Uma das séries fulcrais Lynx MK95 (nickname Bacardi) correu fran- necessárias para combater eventuais contá- para a avaliação do navio – DCX (damage camente bem. gios, e; preparar as duas semanas de treino control exercise) 1.2 – foi executada em Durante a segunda semana de mar, o na- de mar que restavam para terminar o OST. simultâneo com o ADEX de terça-feira. O vio assumiu pela primeira vez uma das tare- Toda a actividade diária a bordo foi planea- guião para este evento compreende 2 im- fas principais da força – ASUWCommander da neste sentido: limpeza e desinfecção do pactes no navio com evacuação de um dos (Comandante da Luta Anti-Superfície). A or- sistema de filtragem de ar da ventilação e centros de comando, neste caso o Centro ganização interna e o de- de Operações, tendo o sempenho da equipa de desempenho do navio, guerra de superfície pro- quer na batalha interna varam o seu valor, tendo quer na batalha externa conquistado elogios por sido acima do expectá- parte dos avaliadores da vel. O bom desempenho Royal Navy. na execução do DCX1.2 A grande maioria das permitiu a realização do séries efectuadas neste DCX 1.3A. período foram acompa- O DCX1.3A é um exer- nhadas de um grande nú- cício com um único im- mero de não-conformida- pacte, de grandes dimen- des, no entanto, a atitude sões, com repercussões da guarnição e a vontade em várias zonas estan- de colmatar o mais rapi- ques do navio. O gran- damente possível os erros de objectivo desta série é apontados permitiu enca- não perder o navio, man- rar o plano de treino com tendo a sua flutuabilidade renovada confiança. e conseguindo assegurar uma capacidade mínima 2ª SEMANA de defesa. Objectivos es- DE TERRA tes que foram plenamente limpeza profunda de todos os espaços do conseguidos pelo navio. No final da guerra de quinta-feira do dia navio com desinfectante; palestras sobre a Na quarta semana de mar decorreu a ins- 09JUL, quando o navio atracou, confir- doença, formas de contágio e medidas de pecção final. O Comandante assumiu pela mou-se que um militar apresentava sinto- protecção individual; acções de treino pró- segunda vez as funções de CTG da força. matologia compatível com a infecção por prio; rectificação de não-conformidades; Durante a inspecção final, realizada pelo vírus H1N1. table-tops; preparação das semanas de mar DFOST, foram realçados a motivação e o Perante o caso confirmado de Gripe A que faltavam realizar. empenho demonstrados por esta Guarni- (H1N1), o Serviço de Saúde activou o pla- O não aparecimento de mais nenhum ção e que permitiram colocar o navio a um no de contingência, previamente elabora- caso de gripe A e a resposta dada pela guar- nível compatível com o seu emprego em do, que se revelou adequado ao controlo nição ao treino na semana subsequente à operações reais. da situação. quarentena, reconhecida pelo FOST staff O navio iniciou um pe- REGRESSO ríodo de quarentena, de 7 dias. A guarnição foi sub- Concluída a inspecção metida a quimioprofilaxia final, deu-se início ao re- farmacológica e informa- gresso à Base Naval de da, periodicamente, do Lisboa. evoluir da situação. Todo Seis meses após a sua o pessoal foi diariamente entrega à Marinha, a 16 avaliado e tratado segun- Janeiro de 2009, o NRP do critérios clínicos. As “Bartolomeu Dias” e a sua medidas de higiene pes- Guarnição concluíam, soal e do material foram com sucesso, um exigen- minuciosamente cum- te plano de treino . pridas. Realça-se o excelente No terminus do período apoio dado por vários or- de quarentena, com todo ganismos da Marinha, par- o pessoal pronto e dispo- ticularmente a Esquadrilha nível, prosseguiu a mis- de Escoltas Oceânicos, são. Por coincidir com a a Flotilha, a Direcção de semana de terra, o impacte nas actividades como muito boa, indicia que as acções rea­ Tecnologia de Informação e Comunicação e previstas foi mínimo. lizadas durante a quarentena produziram os o Centro de Instrução de Táctica Naval. Após a comunicação do caso gripal e efeitos desejados. Durante todo o período do OST a colabo- até ao término da quarentena foi recebido ração e a disponibilidade demonstrada pela da Direcção do Serviço de Saúde um cui- 3ª e 4ª SEMANA DE MAR Direcção de Abastecimento e Direcção de dado apoio. Navios permitiram manter e recuperar siste- Apesar do interregno do treino, por força Após o arranque a frio materializado pela mas vitais para o sucesso do Navio. das circunstâncias, o navio não suspendeu a participação na guerra de quinta-feira, do  sua actividade. Durante a quarentena foram dia 16, mesmo no final do período de qua- (Colaboração do definidos três objectivos a alcançar: manter rentena, a guarnição concentrou-se para as COMANDO DO NRP “BARTOLOMEU DIAS”)

Revista da Armada • setembro/outubro 2009 7 NRPNRP “Álvares“Álvares Cabral”Cabral” Navio-AlmiranteNavio-Almirante dada SNMG1SNMG1 Verão está quase a meio. Após a chega- rama marítimo que nos rodeia. Este controlo e os “hails” – uma dos Oficiais de Quarto à Pon- da a Lisboa da “Côrte-Real”, já se sente o o permanente esforço de efectuar questionários te da “Álvares Cabral” – já conhecida como “a Oformigueiro da partida que se aproxima. ajuda a partilhar com a navegação mercante a voz do MED”!!! Ninguém está indiferente e as rotinas diárias en- presença naval da NATO. Esta presença, per- Diariamente é cumprido um programa seria- contram-se agora mais extensas e aceleradas. Os manente e credível, é o garante na luta contra o do bem recheado, de forma a manter as valên- preparativos continuam a todo o gás. cias adquiridas pela guarnição ao Fainas de mantimentos e material longo dos períodos de treino ante- diverso, sobressalentes requisitados riores a esta integração. Foram re- e recepcionados chegam à “Álvares alizados exercícios do tipo FLYEX, Cabral” para aprontamento da mis- exercícios de combate a incêndios são de Navio–Almirante da força na- de grandes proporções com passa- val SNMG1. gem a postos de emergência, e ala- Chega finalmente o dia 12 de gamentos. Foram efectuados “table- Agosto de 2009 e estamos a escassos top” para preparativos de postos de horas da largada. No cais 1 da B.N.L. combate e uma série de STAGE 21, concentram-se as famílias que vêm com o objectivo de serem treinadas despedir-se dos seus para os próxi- as comunicações entre as estações mos seis meses. Ninguém consegue em Condição Geral 1. Foi ainda re- esconder as saudades que já se sen- alizada uma série de tiro de G3 para tem mostrando, no entanto, a grande os elementos que pertencem às equi- vontade de participação nesta missão agora atri- terrorismo e contra a proliferação de actividades pas de convés em “Force Protection”. buída. São cerca de 9h da manhã e apita à faina, ilegais no mar, contribuindo para o aumento da E como a vida a bordo nunca pára, todos os os últimos beijos e abraços são distribuídos e to- segurança marítima num espaço marítimo tão militares formam no hangar para uma cerimó- dos os militares embarcam para iniciar a missão. praticado como é o do Mar Mediterrâneo. Na nia de imposição de condecorações e distintivos O navio larga. Começou a missão. sua generalidade todos os contactos com a na- de horas de navegação. Mesmo no decorrer de As expectativas são grandes. Os uma operação como esta, há oportu- meses anteriores foram marcados nidade de galardoar os Marinheiros por um período em terra em prepara- distinguidos. tivos sendo agora o culminar de toda Nas rotinas diárias também entra essa actividade. O navio larga a ca- a saudade de Portugal. A fila para o minho de Cádis, onde atracará a 31 telefonema diário assume propor- de Agosto. São um total de 20 dias ções gigantescas, sobretudo perto de mar, navegando quase que ex- da hora do jantar, havendo por vezes clusivamente no Mar Mediterrâneo. tempos de espera pouco aconselhá- Este primeiro período caracteriza-se veis. A guarnição gasta o tempo livre pelo empenhamento na operação com as notícias de casa, jogos de “ACTIVE ENDEAVOUR”. O esforço cartas ou a ver filmes nos seus com- da força naval vira-se para o contro- putadores. Há quem ainda opte por lo da navegação no Mediterrâneo, outras “navegações”, conversando com questionários aos navios mer- pela Internet com os seus familiares. cantes que aí navegam. Toda a força Há ainda tempo para manifestações está preparada para executar opera- espontâneas das relações salutares ções de boarding (abordagem), se entre Marinheiros, com o momento necessário. alto no convívio do núcleo Sportin- “Vamos mais para Oeste da área, guista da “Álvares Cabral”, o qual que está a passar um mercante na contou com mais de 40 aficiona- zona e vamos fazer-lhe um questio- dos e onde até alguns benfiquistas nário”, comunica o Centro de Ope- se sentiram bem, quase tentados a rações para a Ponte manobrar. Já mudar de clube. tendo sido ultrapassados os 250 “hai- Os dias são compridos e trabalho- lings”, a missão prossegue de vento sos, quentes e húmidos, com tempe- em popa. As equipas da ponte e do raturas de 34ºC e 90% de humidade. centro de operações unem esforços No entanto, ao fim do dia, o saldo para conseguirem questionar o má- é positivo, e toda a guarnição sente ximo de navios mercantes, aumen- que o dia que passa é um dia bem tando assim o número em cerca de feito. Os olhos estão agora voltados 15 diários. para o primeiro porto estrangeiro O navio mantém-se em patrulha, desta integração. No dia 31 de Agos- a controlar o tráfego marítimo, contribuindo vegação mercante são marcados pelo espírito to, o Navio-Almirante e demais força irão atracar para um aumento da Maritime Situational Awa- de cooperação e rapidamente são efectuados os em Cádis, cidade da Andalucia. reness, termo tão em voga actualmente, que questionários. Para este resultado contribui tam-  consiste no conhecimento e validação do pano- bém a presença de uma voz feminina a efectuar (Colaboração do COMANDO NAVAL)

8 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada ViagensViagens dede InstruçãoInstrução 20092009 Escola Naval tem por missão principal Sendo a guarnição de um navio de guerra que contribuí para afirmação da soberania e preparar os seus alunos para o exercício organizada em função de vários departamen­ do prestígio de Portugal. Adas funções de Oficial da Armada. Na tos ou serviços e de uma linha de comando, Mas passemos então, em específico, a cada formação para o desempenho dessas funções, com tarefas bem determinadas para todos os uma destas viagens de instrução que se reali­ tem um lugar de relevo o contacto com a vida que aí prestam serviço, é fundamental que zaram para cada um dos anos e cursos, no Ve­ no mar, a bordo dos navios da esquadra, pois haja uma preparação para o desempenho rão de 2009. Para tal, contámos com a ajuda o futuro oficial passará grande parte da sua das funções a bordo e uma adaptação à vida dos testemunhos de vários oficiais e cadetes vida profissional a bordo, chefiando ser­ envolvidos nas mesmas. Uma pequena viços e liderando homens. Desde que se nota a terminar esta parte introdutória. optou por fornecer uma formação acadé­ Nos últimos anos, a viagem de instrução mica aos futuros oficiais de Marinha, que dos cadetes do 4º ano tem sido realizada os períodos de permanência dos alunos a antes de terminado o ano lectivo. O objec­ bordo são uma componente fundamental tivo é permitir a participação dos alunos do ensino naval. São um prolongamento num exercício internacional, dedicado das matérias ministradas na Escola Naval, especificamente à formação de cadetes, assim como o eram no caso da sua ante­ o “European Cadet Training”. Sobre a par­ cessora, a Academia Real dos Guardas­ ticipação portuguesa nesse exercício em ‑Marinhas. 2009, e respectiva viagem de instrução Para uma adaptação, com sucesso, à associada, foi já publicado um artigo, nas vida do mar torna-se necessário que o páginas desta Revista, no seu número de aluno viva a bordo de um navio, durante Junho. Por esse motivo, optou-se por não um certo tempo, onde as tarefas do dia­ incluir a viagem de instrução do Curso ‑a-dia são executadas ao sabor do balan­ “Vice-almirante Pereira Crespo” no pre­ ço, num ambiente marinho muitas vezes sente texto. hostil e agreste. Uns terão mais facilidade que outros na integração neste tipo de vida CURSO “PAdre fernando muito particular. No entanto, todos os alu­ Oliveira” - 1º ANO nos, de uma forma ou de outra, vão enten­ der que num espaço relativamente limita­ Os cadetes do 1º ano ainda não dis­ do, não há nada que não interfira na vida põem de uma experiência suficiente para do camarada que está ao lado, quer seja rentabilizar os seus conhecimentos numa em termos de segurança, quer se trate da grande viagem de instrução. O que lhes operacionalidade do navio. Com efeito, é proposto, para consolidar os saberes as­ exige-se a todos os que andam no mar, senti­ do mar. Tal necessidade de adaptação é tanto similados durante este primeiro ano lectivo, é do de grupo, de camaradagem, de cooperação, mais acrescida e premente se estivermos pe­ praticar a navegação costeira e conhecer a or­ de tolerância. Todos estes valores contribuem rante futuros oficiais de Marinha. Nesse sen­ ganização de bordo, sendo da maior importân­ para que a vida a bordo tenha um cunho muito tido, as viagens de instrução dos cursos da Es­ cia a sensibilização para a vida a bordo bem próprio, fomentando a unidade e a solidarie­ cola Naval assumem particular importância, como a habituação à permanência no mar. A dade entre os que compõem a guarnição de obrigando, por um lado, a um planeamento viagem do 1º ano decorreu por um período re­ um navio de guerra. Sublinhe-se, que os vários cuidado e minucioso para a sua consecução lativamente curto, face à duração das viagens serviços de bordo são interdependentes. Da e, por outro, à disponibilização de diversos dos cursos dos anos seguintes, não deixando, eficiência e eficácia de um, dependem todos meios da esquadra. no entanto, de ser da maior relevância para a os outros. E para que o navio cumpra as suas Este ano, participaram cinco navios. Foram formação dos cadetes envolvidos. missões, para que estes serviços funcionem na praticados vários portos, nacionais e estrangei­ Entre 20 de Julho e 3 de Agosto, 42 cade­ perfeição, é imprescindível treino, exercícios, ros, o que é bem representativo da dimensão tes do 1º ano da Escola Naval do curso “Padre simulação de avarias, para que na altura ade­ e da abrangência desta tarefa para a Marinha Fernando Oliveira” embarcaram no NRP “João quada a unidade naval responda com profis­ Portuguesa. Estas viagens, por seu turno, cons­ Coutinho” e no NRP “António Enes”, 21 ca­ sionalismo às missões que lhe foram confiadas, tituem um factor de motivação muito significa­ detes em cada navio. Em cada unidade naval, tanto no campo da soberania e fiscalização das tivo para todo o pessoal envolvido. Realce­‑se os alunos foram organizados num regime de águas sob jurisdição nacional, como na inte­ a sua importância para a própria Marinha e bordadas, divididos em 4 quartos. gração em forças multinacionais, honrando os para o país, visto tratar-se, no caso dos portos Esta viagem de instrução decorreu em pa­ compromissos internacionais do país. estrangeiros, de uma representação nacional, ralelo com a atribuição dos navios à área do Continente, para salvaguarda da vida humana Quadro-resumo das viagens de Instrução no mar e vigilância e fiscalização dos espaços Navio(s) Curso Período Portos Visitados marítimos. Esta situação veio naturalmente in­ “João Coutinho” 20 de Julho a 03 Portimão troduzir algumas condicionantes. No entanto, Padre Fernando Oliveira “António Enes” de Agosto Funchal uma viagem de instrução nestas condições Hamilton (Bermudas) pode ser bastante positiva, pelo facto de per­ 30 de Maio a 22 Nova Iorque (EUA) Boston(EUA) “Sagres” D. Rodrigo de Sousa Coutinho mitir aos cadetes tomarem contacto com a uti­ de Agosto Halifax (Canadá) lização de navios em operações reais. Belfast (Irlanda do Norte) A bordo, os alunos tiveram a oportunidade “Baptista de 29 de Junho a Cidade da Praia (Cabo Verde) Comandante Nunes Ribeiro de colocar em prática os conhecimentos teó­ Andrade” 28 de Julho Mindelo (Cabo Verde) ricos obtidos ao longo do ano e de serem pos­ Civitavecchia (Itália) “Bérrio” Vice-almirante Pereira Crespo 14 a 28 de Abril tos à prova em diversas tarefas. Destacam-se os Cartagena (Espanha) quartos à ponte, nos quais os cadetes, depois de

Revista da Armada • SETEMBRO/OUTUBRo 2009 9 um período inicial de adaptação, rapidamente CURSO “D. rodrigo de sousa nhos a puxar cabos e às palavras que aprendi mostraram uma melhoria de desempenho e a coutinho” - 2º ANO em português, nunca esquecerei a minha expe- vontade de conhecer mais. Foram também re­ riência a bordo da “SAGRES”.” alizadas palestras sobre a organização de bor­ “Os primeiros dias foram muito difíceis. A bar- As palavras anteriores resultam da tradução do e sobre as competências dos vários serviços. reira linguística, todas as tarefas manuais e os co- de um texto incluído no jornal “A BARCA”, Além disso, tiveram oportunidade de assistir normalmente publicado a bordo da “Sa­ a vários exercícios. Dentre estes, merecem gres”, quando o navio executa missões destaque: os exercícios de homem ao mar, mais prolongadas. São o testemunho da exercícios de limitação de avarias, aproxi­ cadete Cáceres, da Marinha Canadiana, mações para reabastecimento, exercícios que acompanhou parte da Viagem de Ins­ de comunicações e tiro com as peças de trução do 2º ano da Escola Naval, tendo 40 mm e 76 mm. Foi ainda possível aos embarcado em Boston e desembarcado alunos assistir a exercícios de cooperação em Lisboa. Testemunhos semelhantes fo­ entre a Marinha e a Força Aérea Portugue­ ram apresentados pelos outros onze ca­ sa. Nestes, os helicópteros, um “Puma” e detes e oficiais de Marinhas estrangeiras um “Merlin”, efectuaram treino para acções que tiveram oportunidade de fazer algu­ de busca e salvamento, usando os navios mas das tiradas desta viagem. como plataformas de recolha de sinistrados. Fi­ nhecimentos a nível da manobra revelavam-se A mencionada viagem de instrução decorreu nalmente, os cadetes tiveram oportunidade de deveras intimidativas. Felizmente, a minha per- no período compreendido entre 30 de Maio e assistir a acções de fiscalização de pescas. cepção alterou-se na medida em que a guarni- 22 de Agosto de 2009. Em termos estatísticos À passagem junto à Ponta de Sagres, cade­ ção me recebeu de coração aberto, como mais foram apurados os seguintes resultados: tes e guarnição de ambos os navios for­ - Duração da missão: 2018h00m maram para as honras previstas na Orde­ - Atracado: 654h40m – 32,5% nança do Serviço Naval, sendo lida uma - Fundeado: 92h30m – 4,5% alocução alusiva ao Infante D. Henrique - A navegar: 1270h50m – 63% e aos descobrimentos. - Navegação à vela: 598h53m – 47,1% Os navios praticaram vários fundea­ - Navegação a motor: 671h57m – douros: Peniche, Sesimbra e Porto Santo, 52,9% tendo ainda atracado nos portos de Porti­ - Milhas percorridas: 7459 mão e Funchal. - À vela: 2647 – 35,5% No entanto, em virtude de uma cha­ - A motor: 4812 – 64,5% mada de emergência, no dia 25 de Ju­ Os valores apresentados são prova de lho, relacionada com o desaparecimento que se tratou de uma viagem que permitiu de um mergulhador, próximo do um contacto bastante prolongado Cabo Carvoeiro, tiveram de par­ CADETES E OFICIAIS ESTRANGEIROS EMBARCADOS NO NRP “SAGRES” com o mar, fortalecendo a cultura tir mais cedo do Ponto de Apoio País de Origem Posto Período Embarque marinheira dos cadetes deste cur­ Naval de Portimão e navegar para África do Sul Subtenente 18JUL-22AGO so. No decurso da mesma foram o local em causa, alterando as­ Alemanha Cadete 10JUL-22AGO realizadas duas travessias oceâ­ sim o planeamento previamente Angola Subtenente 16JUL-22AGO nicas, uma delas em regata. Na estipulado. Brasil Segundo-tenente 07JUL-22AGO fase final desta o navio foi fustiga­ Esta operação, teve a duração Canadá Cadete 09JUL-22AGO do por uma tempestade durante de cerca de quatro dias, tendo o Espanha Cadete 30MAI-09JUL cerca de cinco dias, facto que foi empenhamento do NRP “Antó­ EUA Guarda-marinha 18JUL-15AGO bastante positivo em termos de nio Enes” sido ligeiramente mais França Cadete 09JUL-22AGO experiência para os cadetes em­ prolongado que o do NRP “João Inglaterra Subtenente 09JUL-22AGO barcados. Foram visitados cinco Coutinho”. Concluído o empe­ Moçambique Guarda-marinha 10JUL-22AGO portos estrangeiros: Hamilton nas nhamento dos navios nesta ope­ Tunísia Cadete 09JUL-22AGO Bermudas, Nova Iorque e Boston ração, os mesmos rumaram ainda Turquia Aspirante 30MAI-09JUL nos EUA, Halifax no Canadá e à Madeira, por forma a assegurar Belfast na Irlanda do Norte, pos­ a presença durante a visita oficial dos Reis de um dos seus. Eu comecei a comunicar com a sibilitando o contacto com diferentes povos e Espanha, que teve lugar no dia 1 de Agosto. guarnição, e as tarefas quotidianas, tais como culturas. De realçar o facto de em três destes Foi, para alguns dos alunos envolvidos, a pri­ polir amarelos tornaram-se divertidas. Não te- portos: Boston, Halifax e Belfast, a “Sagres” meira oportunidade de conhecer esta região nho palavras para expressar a minha gratidão ter integrado a “Tall Ships Atlantic Challenge autónoma, e a cidade do Funchal. pela generosidade e apoio da Marinha Portu- 2009”, facto que possibilitou o contacto com A 3 de Agosto as corvetas “João Coutinho” guesa durante toda esta aventura. A experiência dezenas de outros veleiros que participaram e “António Enes” atracavam na Base Naval de foi incrível. Desde os conhecimentos adquiridos neste evento. Importa ainda destacar o con­ Lisboa, após mais uma viagem de instrução. ao nível da marinharia, aos novos músculos ga- tacto com as comunidades portuguesas resi­

10 SETEMBRO/OUTUBRO 2009 • Revista da Armada dentes nas regiões em redor dos portos que o apresentações dos portos foram apresentados da C­ooperação Técnico-Militar e Diplomacia navio visitou. em língua inglesa, na segunda parte da viagem. Naval. Por forma a cumprir este desiderato, a Em termos protocolares e de cerimonial Esta opção revelou-se bastante frutífera em ter­ corveta “Baptista de Andrade” participou na ini­ a viagem também se revelou bastante rica. mos de prática desta língua, fundamental para ciativa Mar Aberto 2009, que decorreu entre 05 Logo no dia posterior à largada, a barca pas­ qualquer oficial de uma Marinha moderna. e 20 de Julho, na área daquele país amigo. sou junto ao promontório de Sagres, tendo Em jeito de conclusão, pode-se afirmar que As acções desenvolvidas enquadraram-se sido realizada a cerimónia de homenagem a Viagem de Instrução do Curso “D. Rodrigo nos projectos 4 e 5 (Guarda Costeira e Uni­ ao Infante D. Henrique, conforme previsto de Sousa Coutinho” a bordo da “Sagres” se dade de Fuzileiros Navais respectivamente) na Ordenança do Serviço Naval. Em todos os revelou bastante positiva. O facto de ser bas­ do Programa-quadro de Cooperação Técnico­ portos visitados foram realizadas recepções, tante prolongada permitiu aos cadetes adquirir ‑militar. Deste vasto programa de actividades sendo convidados para as mesmas autoridades bastante experiência em diversas áreas de for­ destacam-se diversas instruções aos níveis da locais e personalidades ilustres. Em todas elas mação. O seu espírito de corpo saiu bastante formação nas áreas da fiscalização marítima, da participaram cadetes deste curso. No âmbito reforçado. O contacto com outras realidades, abordagem a navios no mar, bem como a pre­ da “Tall Ships Atlantic Challenge 2009” foram povos e culturas foi certamente bastante en­ paração de operações de segurança marítima. A organizados inúmeros eventos, nomea­ destacar igualmente a contribuição para damente desfiles das guarnições, conví­ a edificação da capacidade de compi­ vios entre os participantes e actividades lação do panorama marítimo através da desportivas. Os cadetes tiveram opor­ instalação e implementação do Sistema tunidade de participar nestes eventos. de Apoio à Decisão para a Actividade de Durante as estadias nos portos o navio Patrulha (SIADAP – C). No âmbito da Au­ esteve aberto a visitas, existindo sempre toridade Marítima Nacional, no quadro cadetes do grupo de serviço com fun­ da segurança e manutenção da Autori­ ções de relações públicas, esclarecendo dade do Estado no Mar, foi ministrada dúvidas colocadas pelos visitantes. Esta formação específica à Polícia Marítima tarefa foi desempenhada com uma in­ da RCV. Sublinhe-se ainda a participa­ tensidade elevada nos portos em que o navio riquecedor. Terminamos como começámos, ção numa demonstração de capacidades da esteve acompanhado pelos restantes veleiros, apresentando outro testemunho de um dos Guarda Costeira da RCV, no dia 17 de Julho, uma vez que o número de visitas diárias era convidados para esta viagem, desta feita o As­ com a presença de diversas entidades, entre as sempre da ordem de vários milhares. pirante de Castelnau, da Marinha Francesa: quais a Embaixadora de Portugal na cidade da Outro aspecto, já aflorado no início, foi a “Como qualquer visitante ao entrar a bordo Praia, e a Ministra da Defesa da RCV. participação de um grande número de ca­ da “Sagres”, eu fiquei inicialmente espantado Durante o período em que esta iniciativa se detes e de oficiais estrangeiros nesta viagem. com a beleza do navio. Mas uma vez no mar, desenrolou no mar – entre 05 e 17 de Julho – Dois deles embarcaram em Lisboa, tendo feito tive oportunidade de descobrir outro aspecto permaneceram embarcados: um elemento da a primeira travessia atlântica, desembarcando da “Sagres”. Mais que um museu flutuante ou Polícia Judiciária, cinco elementos do Pelotão em Boston. Os restantes dez embarcaram em uma janela para a cultura portuguesa, a Sagres de Abordagem, quatro militares da Guarda Boston e Halifax, tendo efectuado a segunda é acima de tudo as suas pessoas. Podemos di- Costeira e dois elementos da Polícia Marítima travessia oceânica. Desembarcaram todos em zer que é o vento que a move. Na realidade de Cabo Verde. Lisboa à excepção da cadete americana, que será mais correcto dizer que é a sua guarnição Na sequência de uma reunião dos ministros saiu em Boston. Em caixa apresenta-se a lis­ que a faz mover, tirando partido do vento.” dos Negócios Estrangeiros da CPLP, realizou­ tagem dos diferentes convidados, com ‑se uma recepção a bordo no dia 19 de indicação dos países de origem e dos Julho de 2009. Neste evento estiveram respectivos períodos de embarque na presentes diversas entidades, salientan­ “Sagres”. do-se o Ministro dos Negócios Estran­ No que concerne ao principal objec­ geiros, Dr. Luís Amado; o Secretário de tivo da viagem, que é complementar Estado da Defesa Nacional e dos As­ na prática a formação académica dos suntos do Mar, Dr. João Mira Gomes; cadetes, os resultados também foram o Secretário de Estado dos Negócios bastante positivos. Foram ministradas Estrangeiros e da Cooperação, Dr. João aulas, pelos diferentes chefes de serviço, Cravinho; a Embaixadora de Portugal na dando a conhecer basicamente a orga­ Praia, Dra. Graça Guimarães e ainda o nização e as atribuições dos respectivos Almirante CEMA do Brasil. serviços. Os cadetes integraram a escala Os cadetes, além da formação previs­ de quartos e de divisões de serviço, ten­ ta, participaram em todas as actividades do oportunidade de acompanhar de perto os CURSO “comandante nunes referidas e na demonstração naval no dia 17 respectivos oficiais de quarto e de serviço no ribeiro” - 3º ANO de Julho, integrando a equipa do navio, desti­ desempenho destas tarefas. Todos os cadetes nada a prestar apoio em áreas sinistradas. De efectuaram trabalhos sobre matérias relaciona­ No período compreendido entre 29 de Ju­ destacar também as acções de instrução de das com as respectivas classes tendo ainda os nho e 28 de Julho do corrente ano, realizou-se batalha interna (incêndios e alagamentos) e da classe de Marinha praticado intensamente a Viagem de Instrução dos cadetes do 3º ano manobra do navio. a navegação astronómica. Todos os cadetes da Escola Naval. Esta Viagem de Instrução, para No decurso desta missão, o navio escalou puderam ainda participar, por diversas vezes além de propiciar aos alunos a aplicação e o os portos da Cidade da Praia – Ilha de Santiago cada um, nos briefings diários ao comando do aperfeiçoamento dos conhecimentos técnico- – e o porto do Mindelo na Ilha de S. Vicente, navio, nos quais eram apresentados assuntos navais e militares adquiridos, também teve tendo navegado ao largo das restantes ilhas do variados, sendo dada uma atenção especial à como objectivo aprofundar os laços, diplomá­ arquipélago. Já no regresso a Lisboa, a “Baptis­ navegação e à meteorologia. Antes da chegada ticos e de amizade, entre Portugal e a República ta de Andrade” efectuou uma passagem pela a cada porto era preparada uma apresentação de Cabo Verde (RCV). Deste modo, a viagem Reserva Natural das Ilhas Selvagens e atracou do mesmo por um grupo de cadetes, sendo a inseriu-se perfeitamente no quadro actual das no porto do Funchal. mesma apresentada aos oficiais e aos sargen­ missões e tarefas da Marinha, nomeadamente  tos e praças mais antigos. Estes briefings e as no apoio à Política Externa do Estado através (Colaboração da ESCOLA NAVAL)

Revista da Armada • SETEMBRO/OUTUBRO 2009 11 AA AdministraçãoAdministração dosdos RecursosRecursos FinanceirosFinanceiros dada MarinhaMarinha or ocasião do 35.º aniversário da Su- Marinha para satisfação das necessidades e o Serviço de Informática da Armada. perintendência dos Serviços Financei- do Ministério como organismo central de Na década de 1990 tem início uma refor- Pros (SSF), efeméride que se reporta a administração. ma profunda da administração financeira 18 de Setembro de 1974, pretende-se, com o Em 1968, fruto da necessidade de nova do Estado, visando a racionalização e dis- presente artigo, dar conhecimento das ori- reestruturação ditada pela relevância cres- ciplina das finanças públicas, que envolveu gens e evolução da administração financei- cente da gestão dos recursos financeiros, é a publicação de diversos diplomas, de for- ra da Marinha. criada a Intendência dos Serviços de Admi- ma a galvanizar e estruturar a disciplina da A génese da administração financeira da nistração Financeira da Marinha (ISAFM), gestão orçamental pública. A par e passo a Marinha remonta ao séc. XVI, percorreu va- na directa dependência do Ministro da Ma- Marinha sofreu um processo de reestrutu- riados trilhos evolutivos e acompanhou di- rinha, integrando as actividades e absor- ração orgânica que envolveu os ajustamen- versas reorganizações da estrutura superior vendo o pessoa­l, o material e as instalações tos necessários no seu sistema de adminis- da Marinha ocorridas a partir da reforma de da Inspecção de Marinha e da Direcção do tração financeira. 1859, altura em que a Administração da Fa- Serviço de Administração Naval, que são A SSF, na sua estrutura vigente desde a zenda Naval passa a constituir uma das Di- extintas. A Comissão Liquidatária de Res- publicação da Lei Orgânica da Marinha, recções do Ministério da Marinha. ponsabilidades ficou igualmente a depen- através do Decreto-Lei n.º 49/93, de 26 de Pela reorganização de 1907 é cometida der directamente do Ministro da Marinha. Fevereiro, é um órgão central de adminis- à Direcção-Geral da Marinha a ad- tração e direcção ao qual incumbe ministração central dos recursos fi- assegurar as actividades da Mari- nanceiros atribuídos à Marinha, sob nha no âmbito dos recursos finan- a direcção superior do seu Ministro. ceiros, situando-se na dependência Institui-se na respectiva orgânica directa do Chefe do Estado-Maior uma repartição chamada de Fiscali- da Armada. zação Naval para a verificação, ajus- Nesta reestruturação foi criado o tamento e coordenação de contas. É Gabinete do Superintendente, que ainda criada a Comissão Permanen- absorveu as competências da extin- te Liquidatária de Responsabilidades ta Direcção do Planeamento Admi- no intuito de garantir, para a função nistrativo, retirando-se da esfera da fiscal, a independência necessária Superintendência as competências para o seu exercício, e publicado um do Serviço de Informática da Arma- novo Regulamento de Administração da, extinto com a criação da Dire­ da Fazenda Naval. cção de Análise e Métodos de Apoio A missão da Administração Naval à Gestão. – que projecta, na provisão dos ob- Nesta senda reformadora, o Re- jectivos da mesma, o seu conteúdo gulamento de Administração da programático – foi estabelecida em Fazenda Naval foi revogado pelo 1917 pelo Congresso da República, Decreto-Lei n.º 179/94, de 29 de Ju- acentuando-lhe o relevo e a impor- nho, embora com diferimento da pro- tância. Um ano depois foi aprovado o dução de efeitos à data de entrada Regulamento Orgânico dos Serviços em vigor do novo Regulamento de de Administração Naval, que marca Administração­ Financeira da Mari- em definitivo a consolidação concep- nha. Por outro lado, o Decreto-Regu- tual, orgânica e funcional da actividade de Em 1974, através do Decreto-Lei n.º lamentar n.º 24/94, de 1 de Setembro, veio administração financeira na Marinha, esta- 464/74, de 18 de Setembro, a administra- determinar a absorção das competências da belecendo-se, pela primeira vez, o princípio ção superior da Marinha passou a integrar a Comissão Liquidatária de Responsabilida- da integração das actividades financeiras esfera de competência do Chefe do Estado­ des pela SSF, que viu ainda revistas as suas (“processo, liquidação e fiscalização técni- ‑Maior da Armada. A Superintendência dos atribuições e estrutura orgânica. ca das despesas referentes à aplicação dos Serviços Financeiros foi criada pelo mesmo As bases do actual sistema de adminis- recursos que o Orçamento de Estado coloca normativo, em substituição da Intendência tração financeira da Marinha ancoram no à disposição da Marinha”), embrião da con- dos Serviços de Administração Financei- Despacho n.º 1/2008, de 9 de Janeiro, do centração orgânica da função financeira na ra da Marinha, com o objectivo de evoluir Almirante Chefe do Estado-Maior da Arma- Marinha. Efectivamente, com a reorganiza- para uma maior integração das actividades da, que aprovou o Regulamento de Admi­ ção profunda da Marinha, protagonizada de âmbito financeiro da Marinha e, como nistração Financeira da Marinha (RAFM), pelo Ministro, Almirante Pereira da Silva, estabelece o preâmbulo do diploma, tendo tendo em vista responder de forma adequa- em 1924, o Ministério da Marinha passou a em vista a “… maximização do rendimento dos da e reajustada à evolução entretanto verifi- dispor, pela primeira vez, de um órgão de- recursos financeiros utilizados pela Marinha e a cada no paradigma legal da administração dicado exclusivamente à função financeira instituição de um eficiente sistema de controlo financeira do Estado, visando a adequação dirigido por um oficial general na directa dos actos de administração financeira.” daquele sistema às novas exigências con- dependência do Ministro, a Inspecção de A estruturação orgânica da SSF tomou ceptuais e técnicas do processo de moder- Marinha, que integrava na sua estrutura as forma de lei em 1979, cinco anos depois da nização e desenvolvimento da gestão finan- Repartições de Administração Naval (en- sua criação. Foram então edificados, na de- ceira, caracterizada pela definição prévia de tretanto elevada a Direcção de Serviços) e pendência hierárquica do Superintendente objectivos, descentralização da tomada de de Fiscalização da Marinha, a Comissão dos Serviços Financeiros, a Secretaria Cen- decisão, avaliação dos resultados e respon- Permanente Liquidatária de Responsabili- tral, a Direcção do Planeamento Administra- sabilização dos gestores. dades, como órgão consultivo, e, ainda, o tivo, a Direcção da Fazenda Naval, a Dire­ Várias alterações - conjunturais e estru- Conselho Administrativo da Inspecção da cção do Apuramento de Responsabilidades turais - vieram determinar a metamorfose

12 SETEMBRO/OUTUBRO 2009 • Revista da Armada e ajustamento do quadro de competências financeiros (planeamento, organização, • Direcção dos Serviços Administrativos financeiras estabelecidas no RAFM: desde execução e controlo) numa perspectiva e Financeiros Centrais (DSAFC) – Órgão logo, a implementação do Sistema Integrado gestionária moderna, englobando as ver- responsável pelas operações financeiras de de Gestão da Defesa Nacional (SIGDN), du- tentes orçamental, financeira, económica carácter global, ou relativas à obtenção e/ou rante o ano de 2008, enquanto instrumento e patrimonial, como se indica: aplicação de recursos geridos centralizada- operativo de suporte da actividade financei- • Direcção de Administração Financei- mente, e pelo cumprimento das obrigações ra da Marinha; depois, a alteração do mo- ra (DAF) – Órgão responsável pela gestão fiscais de carácter institucional e representa- delo de prestação de contas ao Tribunal de global do financiamento da Marinha (pla- ção externa da pessoa colectiva “Marinha” Contas, agora assumido pela Marinha en- neamento, mobilização, disponibilização e junto da Administração Fiscal, e que, com- quanto “entidade única prestadora de con- controlo de utilização dos meios financeiros) plementarmente, continuará a assegurar o tas”. Procedeu-se, assim, à reestruturação e pela implantação, coordenação e funcio- processamento, liquidação e pagamento dos do sistema de administração financeira até namento dos sistemas contabilísticos e or- vencimentos e outros abonos a todo o pes- então vigente, o que abrangeu as respecti- çamentais no âmbito da Marinha. soal da Marinha, decorrentes das decisões vas estruturas, a matriz de competências • Direcção de Auditoria e Controlo Fi- dos órgãos detentores de competências em e o modus operandi, aproando-se renovado nanceiro (DACF) – Órgão de controlo fi- matéria de administração de pessoal. paradigma de gestão financeira na nossa nanceiro de escalão estratégico em relação Como resultado da acção laboriosa e Marinha, com um sistema de controlo in- à Marinha, reconhecido pelo Tribunal de profícua de todos os que ao longo destes terno sustentado. Contas como fazendo parte do Sistema de 35 anos serviram a Marinha na Superinten- Com a recente publicação da nova Lei Controlo Interno da administração financei- dência dos Serviços Financeiros, tem sido Orgânica da Marinha pelo Decreto-Lei ra do Estado, responsável pela execução de possível alcançar elevados níveis de profici- n.º 233/2009, de 15SET, são dados novos auditorias financeiras e de resultados rela- ência técnica nos seus segmentos orgânicos, passos na evolução organizativa da SSF, tivamente à aplicação dos recursos (aspec- o que contribuiu e assegurará a edificação mantendo a sua act­ual caracterização e tos formais e materiais), contribuindo para da Marinha do futuro, moderna, eficiente acolhendo, além do Superintendente e a apresentação rigorosa e apropriada da e prestigiada. respectivo Gabinete, três direcções que situação financeira e patrimonial da Mari-  assegurarão a coerência e integridade ins- nha e para a adopção das melhores práti- (Colaboração da SUPERINTENDÊNCIA titucional do ciclo de gestão dos recursos cas de gestão. DOS SERVIÇOS FINANCEIROS)

Localização da embarcação «TROMBAS» ituação amplamente divulgada nos ór- gãos de comunicação social, a Marinha Sconcluiu com sucesso as operações de busca e localização da embarcação de re- creio “Trombas”, que afundou no passado dia 12 de Agosto a cerca de 8 milhas náuticas ao largo da praia do Pedrógão, Leiria. Recorde-se que aquela embarcação, com uma tripulação constituída por 3 elementos, afundou devido a um problema de entrada de água junto ao motor, tendo sido salvos na al- tura do acidente dois dos elementos da tripu- lação por uma outra embarcação de recreio que se encontrava nas proximidades. Utilizando um vasto leque de valên- cias e capacidades de busca e localiza- ção, foram empenhadas no decorrer das operações aeronaves de asa fixa e rotati- va da FAP, meios das capitanias dos por- tos da Figueira da Foz e da Nazaré, os embarcação, foi poste- NRP “Shultz Xavier”, “Argos”, “António riormente realizada uma Enes”, “Baptista de Andrade” (com câ- complexa operação de mara hiperbárica embarcada) e “Andró- mergulho, caracterizada meda”, este último equipado com sonar pela utilização de equi- lateral e um veículo submarino operado pamento específico e de remotamente (ROV – Remoted Opera- uma equipa de mergulhadores especializada, ted Vehicle), uma equipa da divisão de cidade que é complementada com um ROV atendendo à profundidade do local. Releva no geologia marinha do Instituto Hidrográfico e para a identificação positiva do alvo através decorrer desta operação, na qual foi recupera- uma equipa de mergulhadores especializada de imagem. Foi desta forma que o NRP “An- do o corpo do tripulante, a utilização do ROV em mergulho profundo. drómeda”, fazendo uso destes equipamen- para a fixação na embarcação do cabo de Dos meios empregues nas operações, tos, localizou e identificou positivamente a descida dos mergulhadores, revelando-se as- que se prolongaram por 8 dias consecuti- embarcação a 75 metros de profundidade, sim este equipamento fundamental no apoio vos, destacam-se o uso do sonar lateral para numa posição a cerca de 300 metros a NW às várias acções desenvolvidas no decurso de detecção e localização da embarcação nau- do presumível local de afundamento. todas as operações realizadas. fragada, possibilitando assim a extensão da Existindo a possibilidade do corpo do tripu-  área de buscas até ao fundo marinho, capa- lante desaparecido permanecer no interior da (Colaboração do COMANDO NAVAL)

Revista da Armada • SETEMBRO/OUTUBRO 2009 13 AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL 6 IniciativaIniciativa ee CriatividadeCriatividade QualidadesQualidades relevantesrelevantes dodo desempenhodesempenho

aros cadetes, neste artigo trato da ini- pelo que possui grande relevância no desem- vés de planos originais, desencadeados com ciativa e da criatividade, duas qua- penho. Todavia, deve ser ponderada pela pru- talento após apreciação célere das circunstân- Clidades relevantes do desempenho, dência perante cada situação, em especial das cias. Por isso, é essencial em todos os postos pela influência que possuem na obtenção do desconhecidas, porque não é compatível com da hierarquia militar, sobretudo quando essas sucesso no cumprimento das tarefas atribuí- a intempestividade nem com a temeridade, circunstâncias requerem evoluções positivas, das a cada militar. atitudes geradoras de riscos extraordinários dependentes da obtenção de bens úteis, pro- A iniciativa consiste em empreender algo e mal calculados, que podem perturbar gra- duzidos graças àqueles que colocam a inspi- relativamente a uma determinada situação vemente o funcionamento das organizações ração ao serviço do progresso. que exige uma decisão. A criatividade tra- militares ou conduzir a grandes insucessos Caros cadetes, a criatividade depende da duz-se em concretizar alguma coisa nova genéticos, estruturais ou operacionais de con- imaginação própria e original de cada mili- que a mente formulou a partir do nada, para sequências muito graves. tar no cumprimento das tarefas que tem atri- acorrer a determina- buídas, pelo que pos- das circunstâncias. sui grande relevância A iniciativa está as- no desempenho. To- sociada à capacidade davia, deve ser pon- de cada militar para derada pelo sentido superar dificuldades da realidade perante ou explorar oportu- cada circunstância, nidades, quando as em especial das com- ordens recebidas ou plexas, porque não é as normas estabeleci- compatível com o fa- das se tornam inapli- zer à pressa, de for- cáveis, por influência ma inopinada e sem de factores de planea- preparação prévia, mento que não foram obedecendo apenas à convenientemente fantasia da improvisa- previstos ou conside- ção momentânea, que rados. Para isso, um pode perturbar grave- militar precisa de agir mente o funcionamen- inteligentemente, tra- to das organizações çando novos rumos militares, ou conduzir no cumprimento das a grandes insucessos tarefas que lhe foram genéticos, estruturais confiadas, sem se afas- e operacionais de con- tar das suas competências. Procedendo desta A criatividade está associada à capacida- sequências muito graves. forma, o militar dotado de iniciativa será ca- de de cada militar para dar forma concreta É essencial que todo o militar cultive e paz de antecipar as medidas necessárias ao àquilo que a mente concebeu como novida- alimente a iniciativa e a criatividade. Des- bom andamento das tarefas que tem a seu de, gerando, construindo, originando, pro- ta forma, apaixonar-se-á pelo seu trabalho cargo, na busca permanente do seu aperfei- duzindo, instituindo, promovendo e acres- e não será tomado pela falta de entusiasmo çoamento e melhor cumprimento. centando algo ao que existe, tendo em vista daqueles que, por inércia ou passividade, Nestas circunstâncias, a iniciativa expri- superar dificuldades ou explorar oportuni- cumprem a rotina e se acomodam às circuns- me-se pela apresentação e execução de pro- dades que o planeamento lento ou mal cal- tâncias. Com iniciativa e criatividade enca- postas de reformas, destinadas a melhorar culado não considerou. Para isso, um militar rará com grande optimismo e esperança as o que a rotina tornou inerte, o tempo desac- precisa de agir inteligentemente, inovando, decisões que toma e as concretizações que tualizou e a técnica obsolesceu. Frequente- agilizando e aperfeiçoando os conceitos, os alcança, sem se preocupar com o esforço re- mente, materializa-se através de planos al- métodos, os processos, as técnicas, as tácti- querido. Acreditará e lutará por um futuro ternativos, desencadeados com talento após cas e os meios, sem se afastar das suas com- melhor, ao serviço do qual colocará um âni- apreciação célere da situação. Por isso, é es- petências. Procedendo desta forma, o mi- mo muito forte, capaz de enfrentar as adver- sencial em todos os postos da hierarquia mi- litar dotado de criatividade será capaz de sidades resultantes das alterações que induz litar, sobretudo quando essa situação requer conceber e realizar as acções cujos resulta- continuamente na organização onde serve. a interpretação, o completamento ou a modi- dos contribuirão para a construção de um Por isso, a conjugação, num mesmo militar, ficação dos detalhes de execução das ordens futuro melhor em todos os sectores da sua da iniciativa e da criatividade, é uma garan- recebidas ou das normas estabelecidas, por actividade. tia quase certa da invulgaridade do seu de- ter evoluído e apresentar características dis- Nestas circunstâncias, a criatividade expri- sempenho em todas as ocasiões, no mar ou tintas que implicam nova decisão. me-se pela exploração e aplicação do génio na em terra, na paz ou na guerra. Caros cadetes, a iniciativa depende do es- satisfação de necessidades urgentes, tangíveis  pírito renovador e genuíno de cada militar no ou intangíveis, que a conjuntura tornou prio- António Silva Ribeiro cumprimento das tarefas que tem atribuídas, ritárias. Frequentemente, materializa-se atra- CALM

14 SETEMBRO/OUTUBRO 2009 • Revista da Armada A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (1) OO inícioinício dede umum reinadoreinado ee aa teiateia dosdos HabsburgosHabsburgos ntes de falar propriamente no início para o mosteiro de Yuste, em Espanha, onde para que a Rainha ficasse com esses encar- do reinado de D. Sebastião, e das pretendia viver o resto da sua vida, dando gos, “em que seria ajudada por D. Henri- Acondicionantes da acção política a impressão pública de um retiro espiritual que”. Carlos já estava em Yuste e – como que decorreram durante esse período, é útil e um abandono de tudo quanto era munda- disse – a regência era exercida por Dª Joa- rever as condições em que se deu a morte de no ou que tivesse a ver com o exercício do na, que nesse mês enviou um embaixador D. João III e as vicissitudes ocorridas com poder. Carlos V retirou-se para o mosteiro, a Portugal. Pois em 24 de Junho, antes da todos os seus filhos, com as dificuldades deixando Filipe em guerra com Henrique notícia oficial do óbito, o velho guerreiro que isso criou à sucessão. O Rei casou com II de França (o sucessor de Francisco I), e retirado escreveu à filha regente dando-lhe Dª Catarina, irmã do imperador Carlos V, o governo de Espanha entregue à regên- conselhos sobre a actuação do embaixador uma figura que dominou quase toda a Eu- cia da sua filha Dª Joana, viúva do último que segue para Portugal, tendo em conta a ropa, apenas com um oponente de monta filho de D. João III e mãe de D. Sebastião. morte do rei. E, quando a regente, já ciente em Francisco I de França, que não hesitou Contudo a correspondência que continua a da situação, envia um emissário a Lisboa em recorrer às mais heterodoxas alianças manter com Filipe, com o irmão, com em- para que apresente as condolências for- para combater o Império. O rei de Portu- baixadores diversos, secretários, enviados mais e recorde os seus direitos sobre a edu- gal não poderia ter melhor aliado cação do jovem D. Sebastião, seu do que este, tanto mais que os inte- filho, Carlos V não deixa que essas resses marítimos de um e outro lhes cartas sejam entregues: intersecta­ traziam grandes proveitos, interes- ‑as e altera-as, no sentido de man- sando-lhes consolidar uma amiza- ter o que já tinha sido decidido pelo de que, além do mais, selava uma Conselho de Estado português, cer- complementaridade de interesses e to que estava de que era isso que – quem sabe – um dia poderia levar convinha ser feito. Dª Catarina seria ao domínio absoluto do mar e das regente do reino, bem como “tuto- riquezas ultramarinas do Oriente e ra e curadora” de D. Sebastião, ga- da América Central. Os dois sobera- rantindo algo que não tinha preço: nos trabalharam para este objectivo, o equilíbrio necessário para man- casando cada um deles com a irmã ter a tutela dos Habsburgos sobre o do outro: Carlos V com Maria de império marítimo português. Algo Portugal e D. João III com Catarina que a presença de Dª Joana poderia de Habsburgo. Contudo, os pode- perturbar e que Dª Catarina tinha res de um e outro só podiam com- condições para manter, com a ajuda parar-se nas possessões ultramari- de Alcáçova Carneiro e outros fiéis nas e na capacidade de domínio do servidores espalhados pelas duas mar, porque a influência e prestígio cortes ibéricas. do Imperador superava em muito Carlos V foi o grande patriarca a do rei Português, quando se tra- Habsburgo que estendeu o seu po- tava de conferenciar no teatro euro- der muito para além dos domínios peu, junto do Papa ou de qualquer territoriais da sua soberania. Teve outro soberano. E é importante que D. Sebastião ideias muito claras acerca de Portu- tenhamos presente a verdadeira di- Cristóvão de Morais gal e, por isso, casou com uma filha mensão dos poderes em causa, sem Museu Nacional de Arte Antiga de D. Manuel e fez casar D. João III efabulações de qualquer ordem, para que pes­soais, espiões, etc., constitui um vasto com uma irmã sua. Na prática integrou a fa- se compreenda a política do rei português acervo de centenas de páginas, talvez ainda mília real portuguesa no clã dos Habsbur- em tudo o que dizia respeito ao seu cunha- não completamente conhecido e estudado. gos – senhores do Mundo avant la lettre – de do imperador. E podem juntar-se-lhe inúmeras audiências, que ele próprio continuava a ser o grande E realço estes aspectos – nalguns casos encontros, recados e outras acções políticas patriarca, mesmo estando retirado em Yus- abordados em revistas anteriores – porque difíceis de contabilizar. te. Quando morreu, em 1558, essas funções eles se tornaram muito importantes aquan- As comunicações oficiais do óbito de foram assumidas por Filipe II de Espanha, do da morte de D. João III, a 11 de Junho D. João III foram particularmente tardias, e mesmo tendo em conta que o Imperador in de 1557, e do processo de atribuição das chegaram à Europa bastante tempo depois nomine do Sacro-Império era o seu tio Fer- regências e tutelas durante a menoridade de terem sido ajustados todos os pormeno- nando. Há uma hierarquia familiar que se de D. Sebastião. res sobre o governo de Portugal e sobre a sobrepõe aos poderes estabelecidos e essa Relembro ainda que Carlos V, depois de educação de D. Sebastião. É bom lembrar hierarquia vai condicionar a História dos três décadas de guerra por toda a Europa, que Dª Catarina era castelhana e a tradi- povos de Portugal e Espanha, na segunda renunciou progressivamente aos seus su- ção nacional apontava para que a regência metade do século XVI. Esta será uma das cessivos poderes que foi passando a seu fi- ficasse na mão do cardeal D. Henrique, ir- condicionantes mais importantes da políti- lho Filipe e a seu irmão Fernando. Em 1555 mão mais velho do rei. O Conselho de Es- ca portuguesa durante o reinado de D. Se- abdicou da soberania sobre os Países Baixos tado, contudo, ouviu com atenção os de- bastião, com repercussões na dimensão e a favor de Filipe II, em 1557 entregou-lhe a sejos expressos pelo rei, comunicados sob utilização do seu Poder Naval. coroa de Espanha e, no princípio de 1558, juramento pelo secretário Pêro de Alcáço-  abdicou do título imperial a favor de seu va Carneiro (o rei não deixou testamento J. Semedo de Matos irmão Fernando. Retirara-se, entretanto, assinado) e regulou todos os pormenores CFR FZ

Revista da Armada • SETEMBRO/OUTUBRO 2009 15 o longínquo dia de 15 de Janeiro de 1886, o Farol de Caci- lhas iniciou as suas funções como Ajuda à Navegação. Im- Nplantado no pontal de Cacilhas, este dispositivo de assina- lamento era constituído por uma torre cilíndrica em ferro, pintada de vermelho com 12 metros de altura por 1,70 metro de diâmetro, dispunha de uma lanterna cilíndrica (espaço onde fica instalado o equipamento luminoso) com 8 vidraças e cúpula esférica pintada de verde, encimada por uma pequena esfera sobre a qual estavam montados um catavento e um pára-raios. Foi equipado com um apa- relho iluminante de 5ª ordem (0,375m de diâmetro), com candeeiro de 2 torcidas. A luz era fixa, branca, alimentada a petróleo, dispo- nibilizando um alcance luminoso de 11,5 milhas e iluminando um sector de 342º. A partir de 9 de Maio de 1886 ficou pronto a funcionar um sinal sonoro estabelecido a Este do farol, abrigado numa guarita de ferro, constituído por um sino automático de movimento de relojoaria, o qual dava uma batida a intervalos de 5 segundos. Entre Março de 1916 e 26 de Dezembro de 1918 o farol esteve apagado, por imposição de âmbito operacional, resultante da 1ª Grande Guerra. Em 1 de Janeiro de 1905, após ter sofrido algumas alterações de natureza técnica, o aparelho iluminante modificou a sua caracte- rística, passando a operar por ocultações de 5 segundos espaçadas por 55 segundos. Em 1925 o aparelho iluminante foi substituído por outro de 4ª or- dem (500mm diâmetro), tendo a característica do seu foco luminoso sido alterada em 01 de Março de 1927, passando de luz de oculta- ções, para luz de relâmpagos verdes. Em 1931, foram anexadas duas pequenas câmaras, uma para a ins- talação do sinal sonoro e outra para acondicionamento das garrafas de gás. Estes compartimentos viriam a ser ampliados em 1957, re- cebendo um segundo piso. No mesmo ano, o sinal sonoro foi subs- tituído por uma trompa de ar comprimido, tendo o sino sido cedido ao Instituto de Socorros a Náufragos para ser posteriormente insta- lado na Ericeira.

Foto CAB L Figueiredo CAB Foto Em 1957 foi electrificado com energia da rede pública, ficando a utilizar como fonte luminosa a incandescência eléctrica com reser-

18 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada va a gás, tendo sido equipado com uma lâmpada de Julho de 1987, a Junta de Freguesia de Cacilhas, soli- 500W / 110V e bico de gás acetileno com manga. citava algumas informações sobre o paradeiro do farol Aquando da inauguração do monumento ao Cris- e indagava sobre a possibilidade de o recolocar numa to-Rei (17 de Maio de 1959), foram montados 3 alti- zona próxima do seu local original. Por se encontrar falantes no varandim do farol, para possibilitar a di- ao serviço, integrando o dispositivo de assinalamento fusão à população de informações relacionadas com marítimo da costa de Portugal Continental e Ilhas Adja- o evento. centes, tornava-se inviável, satisfazer as pretensões das Em Julho de 1959 o farol foi ligado à rede pública entidades que demonstravam interesse na reposição do de água e o seu sinal sonoro desactivado em 31 de Farol de Cacilhas no seu local de origem. Março de 1977. Durante o primeiro semestre de 2004, o ex-Farol de Em 1978, com o aumento do número de cacilhei- Cacilhas instalado na Ilha Terceira, foi desmontado e ros e procurando ir de encontro ao conforto das pes- substituído por uma estrutura em fibra de vidro com soas, enquanto aguardavam o transporte fluvial no sistema não vigiado, ficando desta forma a estrutura cais, evitando que estivessem permanentemente su- metálica do ex-Farol de Cacilhas disponível para re- jeitas a condições climatéricas adversas, foi tomada gressar ao continente. a decisão de desactivar o farol e, no local correspon- Perante a situação, aliada à anterior troca de docu- dente, construir uma gare de embarque de passagei- mentação manifestando o elevado interesse da Autar- ros. Numa primeira fase ainda foi ponderada a colo- quia de Almada e da Junta de Freguesia de Cacilhas cação do Farol de Cacilhas noutro local, no entanto, em voltar a “ter o farol” como elemento de referên- a avaliação de que o farol já não apresentava interesse cia histórica, a Direcção de Faróis, com autorização prático e utilidade como Ajuda à Navegação, condu- superior, tomou a iniciativa de contactar o Município ziu inevitavelmente à extinção daquele dispositivo de em Abril de 2004, dando conta da possibilidade de assinalamento marítimo, tendo sido apagado no dia concretização do “sonho adiado”. 18 de Maio de 1978 e iniciada a sua desmontagem Finalmente, correspondendo aos desejos das edilida- nesse mesmo dia. des locais, que consideravam o Farol de Cacilhas como O último faroleiro a prestar serviço no Farol de Ca- parte da sua história e património cultural, e consequen- cilhas, foi o faroleiro de 2ª classe (à data) Edgar Du- temente, satisfazer os anseios da população local, foi em arte Marques Casaca. 4 de Outubro de 2007 celebrado um protocolo entre a O antigo Farol de Cacilhas acabou por, em 1983, Marinha e a Câmara Municipal de Almada conducente ser deslocado para a Ilha Terceira, nos Açores, com o à execução pela Direcção de Faróis da recuperação da objectivo de substituir o Farol da Serreta que fora des- estrutura metálica do farol, sua montagem em local a de- truído pelo sismo de 01 de Janeiro de 1980. Naque- finir e instalação de um sistema de iluminação de baixa le local, iria permanecer em funcionamento desde o intensidade, passando a constituir uma nova conhecen- ano de 1986 até Junho de 2004. ça, embora sem funções de Ajuda à Navegação. Em 1984 a Câmara Municipal de Almada, através da Após um período de aproximadamente 6 meses, du- sua vereadora do turismo, solicitava a entrega do farol rante o qual se procedeu à recuperação da estrutura para recolocação em Cacilhas, justificando esta pre- metálica do farol nas instalações da Direcção de Fa- tensão com o facto de aquele dispositivo, para além róis, o Farol de Cacilhas foi, em Junho de 2009, im- de ser um “motivo decorativo”, representar um “fac- plantado no cais fluvial de Cacilhas, regressando fi- tor característico daquela zona”. Posteriormente, em nalmente, decorridos mais de 123 anos, à zona onde fora implantado. No dia 18 de Julho de 2009, ocorreu a cerimónia de recolo- cação e cedência ao município de Alma- Fotos CAB L Figueiredo CAB Fotos da, do antigo Farol de Cacilhas. Este evento contou com a presen- ça da banda da Arma- da e foi presidido pelo Chefe de Estado Maior da Armada, Almirante Fernando José Ribei- ro de Melo Gomes e pela presidente da Câmara Municipal de Almada, Maria Emília de Sousa.  Colaboração da DIRECÇÃO DE FARÓIS

Revista da Armada • setembro/outubro 2009 17 DOUTRINA NAVAL 2

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18 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada Revista da Armada • setembro/outubro 2009 19 OitoOito décadasdécadas dada MarinhaMarinha nana QuintaQuinta dasdas TorresTorres 1925-2009 o ano de 1925, o último da I Repú- de Lisboa unidades e serviços, já que a capi- Entretanto, verificando-se que com a cria- blica Portuguesa, o regime político tal era então palco de sucessivos movimen- ção das Brigadas da Armada, em 1924, tinha Nencontrava-se em franca decompo- tos revolucionários, o último dos quais tinha surgido a inconveniente acumulação de ser- sição com governos de curtíssima duração, acontecido em Abril desse ano. viços burocráticos e de instrução num mes- sendo um dos raros ministros que se man- Com o tempo constatou-se que a maioria mo organismo, optou-se, em Maio de 1934, tinha em funções, o capitão-de-fragata Pe- dos navios da Flotilha Ligeira, necessitam na concentração no Corpo de Marinheiros reira da Silva, na pas- da burocracia, sendo ta da Marinha. Este a instrução atribuída Ministro, oficial clari- às Escolas de Aplica- vidente e pragmático, ção da Marinha, na a quem se deve a con- dependência directa cepção do mais com- do Comando Geral da pleto programa naval Armada. Uma das Es- do século XX, deter- colas da Aplicação foi minou a aquisição da designada por Escola Quinta das Torres, es- de Mecânicos e ins- treita faixa de terreno, talada na Quinta das logo a jusante de Vila Torres, tendo iniciado a Franca de Xira, entre a sua actividade no ano estrada nacional nº 10 lectivo de 1934/35. Se e a linha do caminho bem que durante anos de ferro, que ali tinha permanecessem em um apeadeiro. Vila Franca unidades A data de 28 de Se- navais, as instalações tembro de 1925 marca da Marinha passaram o dia da inauguração, a ter exclusivamente na Quinta das Torres, actividades dedicadas da Base da Flotilha Li- Recepção em 1925 na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira à comitiva da Marinha. à instrução. geira, unidade constituída pelos contrator- de demoradas reparações e fabricos, só possí- Com a chegada, em Março de 1933, do avi- pedeiros e torpedeiros da esquadra. Nesse veis no Arsenal de Marinha, a 17 milhas de so de 2ª classe “Gonçalo Velho”, o primeiro dia o cruzador “Carvalho Araújo”, com o distância, e também porque convém aprovei- navio do Programa Naval, a que se segui- Ministro da Marinha embarcado em repre- tar as poucas unidades que existem em treino e ram até 1937 mais três avisos de 2ª classe, sentação do Presidente da República, acom- instrução do pessoal. Embora não se encontre dois de 1ª classe, cinco contratorpedeiros panhado dos contratorpedeiros “Douro”, escrito nas várias fontes consultadas, parte­ e três submersíveis, os avanços tecnológi- “Guadiana”, “Tâmega” e “Vouga” e dos tor- ‑se do princípio que uma das razões que le- cos tinham sido enormes pelo que cursos pedeiros “Mondego”, “Sado”, “Ave”, “Lis” varam a esta decisão foi ter sido conseguida técnicos, em grande parte que competiam e “Tejo”, fundeou frente à nova base naval, a estabilização do regime, o que motivou a à Escola de Mecânicos, tiveram de ser cria- seguindo-se um cerimonioso e variado pro- ausência de convulsões políticas significa- dos, desenvolvidos ou actualizados. Estas grama. prontas respostas ás A Marinha iniciava sucessivas evoluções o relacionamento com tecnológicas foram a autarquia e a popu- sempre uma constante lação vilafranquense, ao longo dos anos nas que havia de se con- Escolas da Marinha solidar ao longo de em Vila Franca. décadas, originando A Escola de Mecâ- inúmeras vantagens nicos, no seu início, para ambas as partes. ministrava o ensino Além da Base da Flo- técnico nos ramos tilha Ligeira, é simul- de torpedos, electri- taneamente criada, no cidade e máquinas, mesmo espaço, a De- além do Curso Ge- legação Marítima de ral de Sargentos. Em Vila Franca de Xira. 1937 os cursos da Es- Considera-se que a cola de Radiotelegra- vinda da Marinha para Flotilha Ligeira fundeada no Tejo frente à Quinta das Torres em 28 de Setembro de 1925. fia e Comunicações, a lezíria se deveu não até então localizada só, conforme expresso no respectivo decreto, tivas na capital. Em Maio de 1928 foi então na Estação Radiotelegráfica do Monsanto, às vantagens que oferece tanto pelo lado militar, extinta a Flotilha Ligeira, ficando contudo os passaram a ser uma atribuição da Escola de como de instrução e ainda pelo lado da conservação contratorpedeiros que dela faziam parte no seu Mecânicos. do material da Flotilha Ligeira, por se encontrarem fundeadouro provisório em Vila Franca de Xira. Em 1938 a população escolar irá aumentar em águas tranquilas e abrigadas, mas também e Nas instalações navais apenas permaneceu substancialmente com a integração da Escola principalmente pela necessidade de afastar a Delegação Marítima. de Alunos Marinheiros que se instala numa

20 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada pequena quinta, então comprada pela Ma- cola Rádio-Detecção, em 1961 designada por Escolas Técnicas de Máquinas, Electrotec- rinha e confinante a sul com a área ocupada Escola de Informações de Combate. nia, Escriturários, Informações de Comba- desde 1925. Este novo espaço era limítrofe Será durante a década dos anos 50 e iní- te, Comunicações, Armas Submarinas e de com a Quinta do Paraízo, considerado o local cios de 60 que se constroem novas infra-es- Sargentos. de nascimento de Afonso de Albuquerque. truturas e se modernizam outras para cor- Os cursos do G1EA, destinados essencial- A Escola de Mecânicos ficou a ter mais uma responder ao sempre crescente número da mente ao pessoal da Marinha, são igualmen- missão, a de dar formação básica a todas as população escolar. Foram então edificados te ministrados a militares dos outros Ramos praças de Marinha, situação que se manterá os imóveis da Escola de Armas Submarinas, das Forças Armadas, a elementos da Mari- até 1975, ano em que as praças destinadas à da Escola de Electrotécnia, o de maiores di- nha de Espanha, da GNR e inclusive a civis. classe de fuzileiros passarão a rece- Foi apreciável o número de oficiais ber toda a sua formação na Escola da Força Aérea Portuguesa que de Fuzileiros. frequentou o Curso de Especiali- A II Guerra Mundial deflagra e zação em Comunicações. com ela começam a ser utilizados Com o início da Guerra de meios navais dotados de novos África o número de voluntários armamentos e equipamentos e e recrutas a frequentar a Escola adoptadas modernas práticas que de Alunos Marinheiros aumenta serão divulgadas, principalmen- substancialmente e por isso em te, a partir de 1945, quando do fim meados dos anos 60, serão amplia- do conflito. A Marinha principia dos e modernizados os respectivos verdadeiramente a tomar conhe- alojamentos e construído um notá- cimento dessas experiências da vel parque desportivo dotado de Guerra com a entrada, em 1949, de um amplo ginásio e uma moderna Portugal na NATO. É então reor- piscina de 25 metros. Esta piscina ganizado o ensino, actualizando­ foi durante vários anos a única pis- ‑se os programas nos vários cur- cina coberta no Concelho aberta à sos e criadas novas especialidades, população civil, e nela inúmeros à medida que os nossos navios se jovens vilafranquenses aprende- vão modernizando. ram a nadar. A área logística ganha importân- A partir de 1963 algumas das cia e em 1952 é criada, na Escola de escolas integradas no G1EA são Mecânicos, a Escola de Escriturá- deslocadas para o Grupo nº 2 de rios e reestruturadas as classes e Escolas da Armada (G2EA) no Al- sargentos e praças, o que levou à feite, não só porque a Quinta das remodelação de cursos e à criação Torres já não comportava mais de outros. O ano de 1953 é mar- pessoal mas também por se enten- cante, pois se até essa data apenas der que as escolas que correspon- existia a Escola de Escriturários e diam às especialidades ditas ope- os vários cursos que se tinham vin- racionais deviam estar próximas, do a actualizar e a promover desde já que cada vez era mais evidente 1934, a partir desse ano passam a a sua interligação. Assim, em 1963, ser ministrados no âmbito de Escolas Técni- mensões, da Escola de Escriturários, que em foi transferida a Escola de Comunicações e cas, tendo sido, por esse motivo, instituídas 1963 passará a ser denominada por Escola de em 1972 o G2EA recebeu a Escola de Armas as Escolas de Máquinas, de Armas Subma- Abastecimento, e da Escola de Informações Submarinas. rinas, de Electrotecnia, de Comunicações e de Combate. Entretanto, de Dezembro de 1967, com de Sargentos. Entretanto, em 1961 é novamente reorga- a chegada da fragata “Comandante João O radar, equipamento que se tornou im- nizado e reestruturado o ensino sendo extin- Belo”, até Dezembro de 1975, com o aumen- prescindível nos finais da Guerra, começou ta a Escola de Mecânicos e criado o Grupo to ao “Efectivo dos Navios da Armada” da a equipar as nossas unidades navais, o que nº1 de Escolas da Armada (G1EA), englo- corveta “Oliveira e Carmo”, a Marinha re- motivou, em 1954, o estabelecimento da Es- bando a Escola de Alunos Marinheiros e as cebeu quatro fragatas, dez corvetas e quatro

Festival em benefício das vítimas das cheias do Tejo em 7 de Julho de O torpedeiro “Ave” a ser sobrevoado por uma esquadrilha da Aviação Naval 1937. em 1937.

Revista da Armada • setembro/outubro 2009 21 submarinos. É a concretização do 2º Progra- res. Constata-se que passadas três décadas do “Eco das Torres”, um pequeno jornal de ma Naval do século XX. Os conteúdos dos a situação não se alterou. circulação interna, com várias secções, sen- cursos serão novamente reestruturados e é Foram três anos de um comando sem do uma das mais apreciadas a “Chrónica da nesse período que se assiste ao grande de- quaisquer problemas, não houve necessida- Unidade”. O termo Universidade da Lezíria, senvolvimento da Escola de Electrotécnia, de de dar punições significativas e ... ganhei utilizado por vezes quando a voz comum que além dos habituais cursos de formação muitos amigos. se refere ao G1EA, nasceu nas páginas do promoverá cursos monográficos, isto é de- Voltando à nossa história de referir que em “Eco das Torres”. De salientar que o “Pré- dicados exclusivamente a determinada téc- 1979 foi criado o Departamento de Instrução mio Almirante Pereira Crespo”, destinado nica ou equipamento, facto que constituiu Comum ao qual competia ministrar o ensi- anualmente a distinguir o melhor colabora- uma novidade na Marinha. São igualmente no das disciplinas e instruções não técnicas dor da Revista da Armada, foi concedido no montados simuladores na Escola de Máqui- e a realização de cursos de aperfeiçoamento ano de 1990 ao G1EA. nas. Mais uma vez o ensino acompanha, de em língua inglesa. No apoio à sociedade civil de referir o perto, a evolução tecnológica. Em meados dos anos 80 começou a pla­ “Plano Tejo”, já há anos em vigor, que em Em 1975 a Escola de Sargentos é extinta near-se outra reestruturação do ensino, ago- caso de acidentes naturais, nomeadamente assim como a classe de Oficiais do Serviço ra devido à futura incorporação das fragatas inundações, era accionado através da mo- Geral, sendo en- bilização de meios tão criado o Cur- anfíbios, lanchas so de Formação e fuzileiros se- de Oficiais Técni- diados na Quinta cos (CFOT) que das Torres. Quan- passa a ser minis- do das grandes trado na Escola cheias em inver- Naval. nos anteriores ti- A Delegação nha sido impor- Marítima em 1979 tante a acção da é transferida para Marinha perante as suas actuais uma lezíria alaga- instalações sitas da. Também, entre no Jardim Cons- outras medidas, a tantino Palha. utilização da pis- Cabe-me agora cina por agremia- incluir um apon- ções desportivas, tamento pessoal a disponibilidade nesta história de de alojamentos presença da Mari- para participantes nha em Vila Fran- no XIRA CUP, um ca pois, em Julho festival desporti- de 1979, fui co- vo internacional mandar a Escola promovido anu- de Alunos Marinheiros (E.A.M.) que passou classe “Vasco da Gama”. Era o quarto desa- almente pela autarquia e o fornecimento de nesse ano à situação de adstrita ao Grupo, o fio que a Marinha enfrentava no século XX. ajuda alimentar, proveniente das sobras do que na prática significava ficar directamente O primeiro tinha sido a vinda dos navios do rancho que diariamente era encaminhada dependente do Comandante do G1EA. “Programa Magalhães Corrêa”, o segundo para a Misericórdia de Vila Franca, proce- A EAM dispunha de um conjunto de ins- as lições da II Guerra Mundial conjunta- dendo esta à sua distribuição, mais consoli- trutores com larga experiência na formação mente com a entrada na NATO e o tercei- daram o prestígio da Marinha e as boas re- de grumetes, sendo as praças da classe de fu- ro a chegada dos navios que constituíram lações com a população local. zileiros e os oficiais e sargentos, na sua gran- a Marinha de África. Agora o problema era Um dos resultados desta situação foi, de maioria, provenientes da então já extinta mais complexo já que abrangia áreas quase por exclusiva iniciativa da Câmara Muni- classe de monitores, que tão boas provas vi- desconhecidas como as das novas tecnolo- cipal, a celebração das comemorações, em nha dando na área da instrução. A Escola era gias ligadas à computarização, os mísseis, 1990, ano em que terminei o comando, do uma muito eficaz fábrica de fazer marinheiros. as turbinas de gás e os helicópteros. Essas 65º aniversário da presença da Marinha em Cada incorporação tinha 750 alunos e além da alterações no ensino estavam a acontecer Vila Franca. instrução militar e cívica era-lhes, em caso de quando, em Outubro de 1988, fui coman- Os meus antecessores tinham feito um necessidade, proporcionadas aulas de Portu- dar o G1EA. Por curiosidade refiro que sou bom trabalho e eu não fiz mais que conti- guês e Matemática, leccionadas por professo- o único oficial que teve a honra e o privilé- nuar a tarefa, com a sorte de estar rodeado res civis devidamente habilitados. Relembro gio de comandar a EAM e o G1EA, facto que de óptimos colaboradores. os Juramentos de Bandeira, que reuniam lar- muito me orgulho. Na minha carreira naval, já tinha tido co- gas centenas de familiares e amigos dos gru- Nessa época o Grupo constituía a maior mandos, haveria de ter outros, mas os dois metes num ambiente bem demonstrativo do entre as Unidades das Forças Armadas Por- passados em Vila Franca ressaltam sempre profundo respeito e admiração que a popu- tuguesas, formando anualmente cerca de na minha memória. lação nutria pela sua Marinha. 5.000 homens e tendo uma população mé- O quarto desafio ia entretanto sendo ven- Cito um episódio que merece uma refle- dia anual, de forma continuada, de cerca de cido e em Janeiro de 1991 a fragata “Vasco da xão. Após uma dessas cerimónias os pais de 2.500 homens. A missão foi-se cumprindo e Gama”, a primeira da sua classe, é aumenta- um dos grumetes mostraram-me a sua sa- as várias dificuldades ultrapassadas num da ao efectivo. Começa então a ser planeado tisfação por terem assistido ao evento e dis- bom ambiente de serviço. Como era habitu- o reordenamento do parque escolar da Ma- seram-me que o facto para eles mais notório al raramente surgiam militares com desejo rinha que levaria à extinção da sua presen- tinha sido a Leitura dos Deveres Militares, já de destacar da Unidade e muitos moviam ça em Vila Franca. Assim, em 1993, é trans- que desde há alguns anos só ouviam falar de influências para vir para o Grupo. Era bem ferida para o G2EA a Escola de Informações direitos de toda a espécie e nunca de deve- patente o espírito de unidade na publicação de Combate. Esse ano também é importan-

22 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada te para a Marinha e para a como o fornecimento de ali- EAM pois a 9 de Fevereiro 79 mentação. A capela que des- jovens militares do sexo fe- de a sua inauguração, aos minino juram bandeira. São Domingos quando da cele- as primeiras grumetes da Ar- bração da missa, estava aber- mada. Mais um novo desafio ta a civis, mediante protocolo tinha sido vencido. A recruta, entre o Vicariato Castrense em conjunto com mais 670 e a Paróquia de Vila Franca grumetes do sexo masculino, reforçou mais essa ligação decorrera na mais completa à sociedade civil. Como se normalidade e a integração verifica o G1EA continua- das mulheres na Armada se- va cada vez mais aberto ao ria perfeita. exterior. Em 1994 a Escola de Alu- Em 2003 a Escola de Elec- nos Marinheiros era extinta trotécnia é transferida para passando a recruta, isto é a o G2EA, ficando em Vila formação básica das praças, Franca unicamente a Escola a ser dada exclusivamen- de Máquinas e de Abasteci- O G1EA em dia de Juramento de Bandeira. te na Escola de Fuzileiros, mentos, que passarão a ser medida que só foi concretizada designadas respectivamente por De- Lista dos Oficiais que chefiaram, dirigiram ou comandaram em Julho de 1996. A primeira Es- partamento de Propulsão e Energia a Marinha na Quinta das Torres cola de Alunos tinha sido criada e Departamento de Administração e por Carta de Lei de 1876, a bor- 1. Base da Flotilha Ligeira Logística, quando em Outubro de do da corveta “Duque de Palme- Chefes do Estado-Maior: 2004 se reorganiza, mais uma vez, la” chegando depois a haver três Cap. frag.. Joaquim de Melo Coutinho Garrido ...... SET 25 A SET 26 o Sistema de Formação Profissio- Cap. frag.. João Batista Barros...... SET 26 a MAI 28 EAM´s distribuídas por navios: nal da Marinha. São então extintos um no Porto, outro em Lisboa e o 2. Delegação Marítima de Vila Franca de Xira os dois Grupos de Escolas e em sua Delegado Marítimo: terceiro em Faro. Após várias re- 2 Ten aux. man. Artur Fernandes Fajardo...... MAI 28 a JUN 34 substituição criada a Escola de Téc- estruturações passou a funcionar nologias Navais (ETNA), ficando as exclusivamente em terra até que, 3. Escola de Mecânicos instalações da Marinha na Quinta Comandantes: como atrás citado, ficou instalada Cap. frag.. Álvaro de Almeida Marta...... JUN 34 a AGO 34 das Torres a serem designadas por na Quinta das Torres em 1938. Cap. frag. Álvaro da Palma Lami...... SET 34 a DEZ 36 Pólo de Vila Franca da ETNA. Con- Em Vila Franca de Xira as noites Cap. frag. José Monteiro Guimarães...... DEZ 36 a MAI 37 tinuará intensa a actividade escolar de quartas e sextas-feira deixaram Cap. frag. Manuel Pedroso Pais do Amaral...... MAI 37 a SET 38 na Quinta das Torres, com cerca de Cap. frag. Artur Vital da Cunha Freitas...... DEZ 39 a JAN 40 então de contar com a tradicional Cap. frag. António Negrão Neto...... JAN 40 a ABR 40 500 formandos, anualmente, entre e significativa presença de mari- Cap. frag. Jaime da Cunha Gomes...... ABR 41 a SET 46 oficiais, sargentos e praças, (alguns nheiros que se deslocavam à cida- Cap. frag. António Negrão Neto...... SET 46 a NOV 48 da Força Aérea) e civis assim como de nos dias de folga, ora em busca Cap.m.g. José Filipe Castela...... JAN 49 a JUN 53 elementos das forças armadas de Es- de diversão ora de passagem a ca- Comodoro Arnaldo da Silva Moreira...... JUN 53 a OUT 58 panha e dos países africanos de lín- Cap.m.g. Joaquim Oliveira Júnior...... OUT 58 a DEZ 59 minho de transportes ferroviários Cap.m.g. António Morgado Belo...... DEZ 59 a MAI 61 gua oficial portuguesa (PALOP’s). ou rodoviários que os levavam Entretanto, conforme planeado, 4. Grupo nº 1 de Escolas da Armada de regresso a casa. Apesar desta Comandantes: tornava-se necessário concluir o presença já não ter a importância Cap.m.g. António Morgado Belo...... MAI 61 a MAR 63 reordenamento do parque escolar social e económica verificada em Cap.m.g. Rogério de Castro e Silva...... MAR 63 a NOV 64 da Marinha, sendo então determi- décadas anteriores a sua ausência Cap.m.g. Alberto Alves Lopes...... NOV 64 a JUL 65 nado que todos os Departamen- foi então sentida e lastimada pela Cap.m.g. Joaquim Trindade dos Santos...... JUL 65 a AGO 67 tos Técnicos da ETNA passassem Cap.m.g. António de Sá Teixeira ...... AGO 67 a JUN 68 população vilafranquense. Cap.m.g. Pedro Fragoso de Matos...... JUN 68 a MAR 70 a funcionar, a partir do ano lectivo Na área operacional a Parada Cap.m.g. Henrique Vosgien de Noronha...... MAR 70 a SET 73 2009/2010, no Alfeite. Assim, no das Escolas, passou a ser consi- Cap.m.g. Vicente Manuel de Almeida D’Eça...... SET 73 a ABR 74 dia 1 de Setembro de 2009, às 1850, derada um Ponto de Apoio para Cap.m.g. Alfredo Ramos Rocha...... ABR 74 a MAR 75 numa cerimónia presidida pelo Cap.m.g. Pedro Manuel Casqueiro de Sampaio...... MAR 75 a JUN 76 a Esquadrilha de Helicópteros da Cap.m.g. Edgar Manuel Portugal Ribeiro...... JUN 76 a JAN 78 ALM CEMA, a Marinha arreou pela Marinha. Foi estabelecido um con- Cap.m.g. Eduardo Manuel Rebelo da Silva...... JAN 78 a JAN 79 última vez a Bandeira Nacional no vénio com o Centro de Formação Cap.m.g. José Manuel de Sousa Ceregeiro...... JAN 79 a OUT 80 local em que tinha estado presente Profissional da Indústria Electró- Cap.m.g. Artur Aurélio Rodrigues Consolado...... OUT 80 a OUT 82 durante 84 anos. Ali foi o berço naval nica (CINEL) que começou a mi- Cap.m.g. José Luís Gomes Teixeira...... OUT 82 a OUT 84 de largos milhares de jovens e tam- Cap.m.g. Joaquim Manuel Espadinha Galo...... OUT 84 a MAI 86 nistrar cursos a civis nas instala- Cap.m.g. Rui Vasco de Vasconcelos e Sá Vaz...... MAI 86 a OUT 88 bém onde parte deles recebeu a de- ções do Grupo, disponibilizando Cap.m.g. José Luís Leiria Pinto...... OUT 88 a OUT 90 vida formação técnica, cujo elevado gratuitamente algumas vagas Cap.m.g. Alfredo Ribeiro Reis...... OUT 90 a SET 92 nível foi sendo, ao longo do tempo, para alunos militares. Cap.m.g. José Deolindo Torres Sobral...... SET 92 a OUT 93 comprovado não só na Marinha Cap.m.g. Luís Saraiva Pereira Vale...... OUT 93 a SET 96 Além do já referido “Plano Tejo” Cap.m.g. Carlos Alberto Viegas Filipe...... SET 96 a SET 98 como na sociedade civil. Tudo tem o Grupo iniciou a sua participa- Cap.m.g. José Manuel Alves Correia...... SET 98 a OUT 99 um começo e um fim. Fechou aUni - ção no “Plano de Emergência Mu- Cap.m.g. António Manuel Abrantes Lopes...... OUT 99 a OUT 00 versidade da Lezíria mas certamente a nicipal” ligado à protecção civil e Cap.m.g. Joaquim Filipe Alves Gaspar...... OUT 00 a OUT 02 sua memória perdurará, principal- igualmente no “Plano Esperança”, Cap.m.g. António Verde Franco...... OUT 02 a OUT 04 mente naqueles que tiveram a opor- este com vista ao alojamento de 5. Pólo de Vila Franca de Xira da Escola de Tecnologias Navais tunidade de servir a Marinha na já deslocados. Por disponibilidade Comandantes: saudosa Quinta das Torres. Cap.m.g. Fernão Manuel Malaquias Pereira...... OUT 04 a FEV 06 das cobertas da ex-EAM foi pro- Cap.m.g. João Manuel Casqueiro de Sampaio...... FEV 06 a JUL 08  porcionado apoio aos peregrinos Cap.m.g. Valentim Antunes Rodrigues...... JUL 08 a SET 09 José Luís Leiria Pinto em trânsito para Fátima assim CALM

Revista da Armada • setembro/outubro 2009 23 NOS 100 ANOS DO ENG.° JOÃO ROCHETA

averá várias maneiras de nos con- Decisivo… queria ser almirante!», de- Desta feita o assalto à «Fortaleza» resul- servarmos jovens mas uma das clara. tou. Estamos em 1 de Outubro de 1928! Hmais interessantes será termos «Atirei-me à conquista da Escola Na- Agora, «tratar do enxoval - Fardas e vivido com garra cada etapa das nossas val». Preparatórios da Escola Politécnica afins.» e, a par, o alicerçar das primeiras vidas e irmos revivendo-as ao longo dos e provas físicas tão a sério que não satis- amizades. anos com toda uma capacidade crítica sua­ fazendo a fórmula de Pignet (altura a mais O «“Vicente do Clube”, um antigo des- vizada pela experiência mas sem desistir- para o peso) decide, com outra vítima e penseiro… vendeu as espadas com os res- mos de nós e usufruindo de tudo, bom e enquanto “repetem” os Preparatórios, por pectivos talins e uma enorme caixa de lata, mau, que nos marcou. aulas de ginástica num ginásio onde, ines- pintada de castanho, para as fardas» Neste testemunho do Senhor Engenhei- peradamente, deram com dois instrutores «O primeiro acto militar…inspeccionar ro João Farrajota Rocheta, um jovem a do- (o “Galrinhas” e o “Bimbas”) que sendo os novos recrutas, já fardados de azul. En- brar os 100 (cem) anos, o mais espantoso professores na Escola Naval, rapidamente tão é que foi o bom e o bonito:... a cor das é a demonstração de que os jovens, em definiram posições em nome da sua digni- fardas do Luís e a minha era diferente» das qualquer geração, são, na diversidade da dade de oficiais da Armada. Um terceiro do «Sr. Silva… que habitualmente as fazia sua circunstância temporal, extremamente foi mesmo inflexível… tiveram que mu- para os novos cursos. semelhantes. E que o tesouro dos menos dar de ginásio. «O Conselho Escolar... determinou que jovens é, exactamente, poderem recordar Vencidos foram o exame escrito, a ins- o tecido passasse a ser adquirido na Cor- o que os menos doaria Nacional». velhos ainda es- Mais nada! Um tão a viver sem já alívio. terem de atraves- «Nós esperá- sar as situações, vamos que hou- com todas as suas vesse alguma ca- incógnitas, que tástrofe, logo no a vida imporá a 1.º dia, mas não quem ainda tem tão grande como caminho a fazer, a que se nos de- cientes, aqueles, parou. de que se algo Quando, à noi- ainda os motivar te, fomos para a é, afinal, porque nossa camarata, puseram a sua para nos deitar- meta mais longe. mos… não havia Por circuns- camas! Aqueles tâncias editoriais “malandros” do de espaço fomos 2.º ano, tinham­ incumbidos da ‑nas desarmado ingrata missão e espalhado pe- de sintetizar o las camaratas. esplêndido ori- Tivemos que ir à ginal (aqui entre O Aspirante João Rocheta entre os Lentes da Escola Naval em 1929. procura, por to- «...») em que, para mantermos a sua for- pecção física e o…peso! Só no fim do curso dos os cantos, dos pedaços, e reconstruir ça, procurámos reduzir ao mínimo a nos- o “inflexível” elogiou os progressos atlé- as camas, enquanto eles gozavam desaver- sa intervenção. ticos do nosso aspirante…que classificara gonhadamente.» Instado a que «fizesse um “escrito” so- de «“miséria física (quase)”» mas que se ia Quando «o clarim tocava o desagradável bre a antiga Escola Naval» este aspirante afirmando em todas as actividades despor- toque de alvorada, nós levantávamo­‑nos, de Marinha recorda-nos, «desde que em tivas desde «a carabina Mauser-Vergueiro mais ou menos ensonados, formávamos pequenino “ia para banhos” na praia da (“ai! O meu ombro!”)» ao florete, sem es- em linha no corredor das camaratas, onde Quarteira», como sentiu «o primeiro ape- quecer o mais viril sabre, o das aborda- o oficial de dia já nos esperava e, depois de lo para a vida do mar…» saboreando uma gens «aos navios da flibusta, do Capitão verificar que ninguém tinha ficado a dor- «deliciosa batata doce cozida ... ainda não Morgan...!» mir, dava ordem de destroçar. se tinham inventado as magníficas “bolas «Mas a Luta pela “conquista da fortale- Daí seguíamos para o pequeno almoço, de Berlim”... quando eu já era aspirante». za” ainda não terminara; faltava a “pro- constituído por café com leite e “papo-se- Depois, os pescadores de Semina e o seu va de água”… numa viagem à ilha da cos” com manteiga à discrição.» «peixe fresquinho» que vinha da «“arma- Madeira, no vapor “Gil Eanes”…». Dos «As refeições eram fartas e boas, eram ção” em grandes caíques…», a «torre da «“convidados”, como nos alcunharam os especialmente apreciados o bacalhau à Medronheira, observatório para vigiar marinheiros… enjoámos todos, excepto o “Gomes de Sá” e à “Brás” e as tripas à os piratas do Magrebe…» e as descober- Basílio…que nunca vi enjoado». moda do “Porto”. O despenseiro era bom tas que confirmaram «a minha ânsia de Da Madeira ficou para sempre o deslum- e competente, talvez por ter seis dedos em ser “um guerreiro do mar”, talvez... um bramento da aterragem, «umas casinhas cada mão, o que me fazia confusão.» gene herdado de um avoengo que ia para brancas, que pareciam de bonecas», o Fun- «No nosso 1.º dia de aulas houve uma o mar» combatê-los e, «choque fatal, … chal, «debruçado sobre o mar», «as des- sessão de recepção aos novos alunos, uma rua com o nome de “Almirante Cân- cidas vertiginosas em cestos de vime» e o presidida pelo Director da Escola, com dido dos Reis”. «delicioso peixe espada… todos os dias»! a assistência de vários oficiais do Corpo

24 SETEMBRO/OUTUBRO 2009 • Revista da Armada Docente… Entre eles estava o Vice-Almi- «A sala de convívio era pequena mas desalmadamente contra o “Catraio”… só rante Almeida d’Eça, lente da cadeira de agradável. Além de mesas e cadeiras ti- tivemos tempo de gritar.. e “bumba”, ba- Direito Marítimo e de História Marítima, nha uma pequena biblioteca, onde havia temos com um grande estrondo… faltava que nos fez um belo discurso de boas­ vários livros relatando as façanhas dos na- o Braga… que não sabia nadar. Estávamos ‑vindas, tendo terminado, emocionado, vios corsários alemães durante a 1.ª Gran- já aflitíssimos quando ouvimos uma voz com estas palavras: “Fala-se, agora, mui- de Guerra e as batalhas travadas no Mar muito alegre a chamar-nos: “Estou aqui, to na hipótese de Portugal voltar a unir­ da Jutlândia… uma grafonola de manivela estou aqui!”… comodamente sentado… ‑se à Espanha. Lembrem-se, meus amigos, onde tocávamos os poucos discos de vinil, em cima da bóia». Bom! «Confiámos a nos- lembrem-se que a experiência já foi feita de 75 rpm, com fados, canções das revistas sa salvação, não esquecendo o “Catraio”, e não resultou! Nunca o esqueçam!”. Eu teatrais e algumas canções francesas». a um rebocador do Arsenal». nunca o esqueci.» «Em 1931, com a admissão de um núme- O “Sírius” (o iate de D. Amélia, que está Desengane-se, porém, quem estiver a ro de rapazes relativamente elevado, a EN no Museu de Marinha) acabado de reparar ver-se no Alfeite. Estamos na rua do Ar- ficou com 51 aspirantes, incluindo os repe- de um abalroamento «fomos logo experi- senal onde estão instaladas a Academia tentes, o que obrigou a fazer ampliações. mentá-lo, dando uma volta pelo rio. Fo- de Marinha e o Centro Naval de Ensino à «A nossa vida, na Escola, decorria nor- mos vários aspirantes e o sargento encar- Distância, prolongando-se para os regado do barco. Ia eu ao leme, por actuais refeitórios. A escada, a mes- gosto e por ser o mais antigo… su- ma mas com entrada pelo Arsenal bimos o Tejo, até Xabregas… depois que, com a Escola, migrou para a descemos o rio até Belém… para a margem sul em 1936. doca da Aviação (Naval)… Mandei O mesmíssimo «longo corredor… preparar para a manobra… mas só servia, no lado norte, várias salas. arriaram as velas de estai… É claro A primeira era a Biblioteca, razoa- que dei imediatamente ordem para velmente recheada. Depois ficavam largar os ferros que “unharam bem”, várias salas de aulas…:» Electricida- e o “Sírius” parou, sem causar qual- de, Torpedos e Minas, Máquinas, quer dano…É que os “jovens ma- Construção Naval, Navegação As- rinheiros” em vez de largarem os tronómica, Arte Militar e Fortifica- chicotes dos teques, largaram os das ções, Administração e Contabilida- estralheiras… de e Legislação Naval. Dias depois… baía de Cascais, No fim do corredor estava a para- onde fundeámos e almoçámos fru- da, que era a antiga “Sala do Risco” galmente, uma grande sanduíche de do Arsenal. A sua parte norte tinha atum… sem nenhum percalço. pavimento cimentado; foi aqui que Nessa altura, apareceu à venda eu aprendi a andar de patins para ir, um internacional de 6 metros, o com a minha namorada e o seu gru- “Xixão”!... os 5 ou 6 contos… o Mi- po, ao “ring” do Rádio Clube Portu- nistro concedeu-no-los logo… To- guês”, na Parede.» confidencia-nos dos conheceram o “Xixão”, um lin- o jovem aspirante. Aí «um mastro do “galgo do mar”…» do «Carlos com uma vela redonda que se dizia Blec­k, que quase chorava...» quando que era da Nau Providência… tudo no-lo entregou. o que era preciso para aprendermos Além da oferta duns monotipos, a manobra de um navio à vela.» A «simpáticos barquinhos que eram aula de Marinharia. uma novidade em Portugal» tam- 2TEN ECN João Rocheta. Na Parada faziam-se os «exercí- bém uns outros estaleiros italianos cios de infantaria, marcha, corrida, ginásti- malmente, com lições, estudo (mais ou me- nos ofereceram um “out-rigger”, a remos, ca, esgrima, etc. … No vão das janelas que nos…), as usuais “dores de barriga”, nas de 4 e ainda «tivemos outra, dum simpá- davam para o Arsenal, havia umas cartei- vésperas das provas escritas e as saídas tico casal, representante de outra empre- ras, tipo escolar, onde estudávamos sosse- às 5.ª feiras à tarde, quando lográvamos sa, concorrente ao fornecimento dos novos gadamente depois das aulas…» apanhar um 14 (valores da tabela) e aos navios (estava-se a proceder à renovação No fim as «vetustas latrinas» que em sábados, para regressarmos ao Domingo total da esquadra!): o “Vega”.» 1929 receberam as, hoje, comuns sanitas. à noite, sem acontecimento de maior, mas «A propósito,... apareciam na praia de Mais adiante, no lado sul, as Oficinas alguns houve, mais ou menos anedóticos, Algés, uns rapazes, civis... Um dia desa- de Máquinas onde também os alunos de que passo a relatar: fiei um deles para uma pequena regata... marinha tinham que «fazer uma determi- O nosso clube, o CNOAA (Clube Náuti- Verifiquei, “atónito”, que o monotipo rival nada peça de madeira (?) e limar, à mão, co dos Oficiais e Aspirantes da Armada)» se distanciava do meu, “afrontosamente” um bocado de ferro, de modo a dar-lhes a tinha uma “Canoa” que já «exigia uma (para a frente, claro...) o que me fez sus- forma de um paralelepípedo perfeito, isto certa prática» e um “Catraio” «pesadão e peitar que ”ele tivesse, secretamente, um é, com as faces rigorosamente planas e per- lento, mas fácil de manobrar.» motor debaixo da quilha”... o segredo era pendiculares entre si. Bem, eu esforcei-me, «Numa amena tarde de Verão, depois simples:... era o António Herédia, um vele- denodadamente, mas o mais que consegui das aulas, informaram-nos que estava um jador experiente... Quem sabe, sabe!» foi fazer “uma tampa de baú”». paquete a arder no cais de Alcântara.» De- «... a saudosa Escola Naval contribuiu No 2.º andar ficavam o quarto do oficial vidamente autorizados, com dois cama- para eu começar a gostar de música clás- de dia, «as camaratas dos aspirantes, res- radas e amigos, puseram o “Catraio” na sica. Naquele tempo, a Marinha tinha uma pectivas casas de banho, refeitório geral, água e lá foram «a descer o rio com um boa Banda, regida pelo maestro Fão mais sala de convívio e prisão… tenho a vaga Norte banzeiro, ajudados pela maré vazan- novo... e dava concertos regulares aos do- lembrança dum aspirante preso, talvez te, muito interessados no incêndio , como mingos no Teatro Ginásio... eu era um dos por ter sido apanhado nalguma escapa- é natural. Mas, de repente apareceu­‑nos aspirantes que aproveitavam as “borlas” dela nocturna…». uma bóia vermelha, pela frente, a correr (nessa altura não tinha namorada...).»

Revista da Armada • SETEMBRO/OUTUBRO 2009 25 «O Juramento de Bandeira dos aspiran- ço do cavalo... O Sr. Miranda comandou: zes, com força, os pés no chão. Pronto, as tes fazia-se, habitualmente, nos fins do 1.º “ALTO!” Foi o que me valeu...» normas estavam cumpridas... Daí a pou- ano de cada curso e realizava-se na pa- Antes de eu ter aprendido a montar... co tempo começavam as aulas e aí era a rada da própria Escola cujo pavimento, num desses passeios, fomos parar, cava- sério!» e a doer; apanhados a copiar pelo de madeira, era preparado com uma boa leiros e automóveis,... em Sete Rios, Lis- chefe de curso, «foram todos “premiados baldeação... Formavam em continência e boa, onde havia, num bosque, um peque- “ com zeros.» faziam o juramento perante a bandeira no lago com uma ilhota no meio. «No fim do nosso 3º ano, no verão de nacional desfraldada por eles, em geral o Utilizando uma corrente pendurada 1931, houve um festival de jogos e de gi- mais alto e forte». numa árvore, saltava-se facilmente da nástica, nas instalações do “JocKey Club” Havia também «um prémio anual (ins- margem do lago para a ilhota... quando ia do Campo Grande, em que o pelotão do tituído pelo Cte Fiel Stockler) de cerca de no meio do meu voo, senti um peso enor- Corpo de Alunos da Armada, fardado de 800 Escudos (4 €) para o melhor aluno do me... e comecei a escorregar pela corrente branco mas equipado de carabinas e cartu- 1º ano (150 Escudos (0.75 €) mensais). abaixo e só parei quando os sapatos toca- cheiras, fez... evoluções de infantaria, exe- Depois da cerimónia havia baile, com ram o fundo, ficando eu... em semicúpio. cutados sem qualquer voz de comando, e “cocktail”, para que tinham sido convi- Um dos cavaleiros,... rapaz bem nutrido... finalizavam com 3 descargas de pólvora dadas as famílias e amigos dos as- seca e uma 4ª... a imitar uma metra- pirantes» e entre eles «as filhas do lhadora. A execução foi perfeita e ti- Ministro» e o próprio Almirante vemos um grande sucesso!...» Magalhães Corrêa... realizador da Treinados pelo 1TEN Fortée Re- renovação da nossa Marinha» (em belo, que nos deu «uma “grande Inglaterra; 2 avisos de 1ª Classe, 2 projecção” nos meios artísticos de de 2ª (mais 2 em Portugal), 5 des- Lisboa e arredores.» Como na Bro- troyers e 3 submarinos). adway, em Nova Iorque, se exibiam, «O pior foi quando, à noite, nos com grande sucesso, em bailados lembrámos que no dia seguinte ha- rítmicos as “Ziegfeld girls”, «fomos via aulas e nada tínhamos estuda- alcunhados de “Fortèe girls”...» do. Ficámos “apavorados” mas ti- Nesse fim do curso da Escola vemos uma ideia luminosa: vamos Naval, fizemos vários tirocínios: telefonar às simpáticas meninas… de Hidrografia, no “Cinco de Ou- e obtivemos a almejada dispensa» tubro” (Levantamento do Mar paterna, de “Chamadas”. da Palha), Electricidade e torpe- No fim do 1.º ano de curso, em dos, em Vale de Zebro e no Vapor 1929, a viagem de instrução rea- “Vulcano”(lançamento dum torpe- lizou-se no Couraçado “Vasco da do… a partir dos turcos), Navega- Gama”… alojados no paiol das mu- ção em esquadra, constituída pelos nições… de 20cm… abaixo da co- idosos “Tejo”, “Douro”, “Lima” berta das Praças… no Verão (!!!)… e “Guadiana” (no qual eu embar- mudaram-nos para o convés… quei), entre Setúbal e o Porto. depois para outros locais.» mais Na baía de Cascais, onde, de ma- aprazíveis. nhã, assistíamos ao banho dos ve- Madeira, Açores (instrução de raneantes, tínhamos muitas visitas remo e vela e uma divertida corrida de banhistas a quem, às vezes, o 1TEN ECN João Rocheta, na Reserva da Armada. de touros “à corda”) e Lisboa. comandante oferecia uma volta, no «A do 2.º ano foi no navio Hidrográfi- achou mais prático saltar para os meus navio…». co “Cinco de Outubro”, antigo iate real», ombros! Foi uma gargalhada geral... Aí uma ousada e irreverente graçola, o último “Amélia” cujas camarinhas po- Era um domingo e eu estava fardado, nunca descoberta pela vítima, o coman- dem ser visitadas no Museu de Marinha, como de costume. dante, era o gáudio dos jovens oficiais… «sempre em costas do continente.» Imaginem... à frente da minha namora- Connosco «estavam, também, arrancha- Daí, «fui destacado para a canhonei- da e das suas amigas.!» dos dois simpáticos conhecidos jornalis- ra “Faro”… para fazer a Fiscalização da O cavaleiro «desfez-se em desculpas e tas: o Maurício de Oliveira, fundador da Pesca, na costa Oeste… Encurtadas por levou-me logo a minha casa, no seu “bó- Revista de Marinha, onde fez, durante razões de orçamento… provocava um lide de corridas” ainda com faróis de ace- anos, uma acérrima campanha para a re- enjoo bastante desagradável… mas, de- tileno... novação da Marinha de Guerra, e o Leo- pois, habituei-me. O Comandante… os Febril... no dia seguinte... dei uma lição poldo Nunes, também grande entusiasta outros oficiais tornaram-se meus amigos “morna “ perante outro oficial convida- da Armada… Um dia os oficiais mais di- para sempre.» do para me “ver brilhar”... muito aborre- vertidos/brincalhões… resolveram fazer­ «Costumava pedir (ao professor de in- cido,... mas pela desilusão que receio ter ‑lhes uma partida mas como tinham bom glês prático) que me chamasse para eu ob- dado ao professor» de Hidrografia. humor, não “afinaram”». ter uma nota de 14 valores. Assim, poderia No último ano «havia um oficial de dia «Fomos à Aviação Naval, no Bom Suces- encontrar-me com a minha namorada no que... não se levantava quando o clarim so, Lisboa, e fizemos voos, nos hidroavi- picadeiro do Sr. Miranda, à rua do Possolo, tocava... Os rapazes toparam isto, e todos ões, sobre Lisboa e Tejo. Todos gostámos, onde se aprendia a andar a cavalo e, depois adoptaram tão agradável acto, excepto mas só um foi para a Aviação Naval.» se dançava ao som dum velho gramofone... eu, que era o chefe do internato. E então «Promovidos a guarda-marinhas em 1 Depois de eu ter frequentado a modalida- que fazia eu: ia à porta do oficial e dizia: de Setembro de 1931, os “aspirina de mi- de de dança... “sugeriu-me” que recebesse “A Escola está formada, o Sr. Comandan- rante», como as meninas parafraseavam umas lições de equitação... que eu aceitei... te dá licença que mande destroçar?” ... carinhosamente, viram substituída aquela Aprendi tão depressa que, uma vez, a ga- eu, então, ia para junto da “formatura”, inestética “bicha” da manga esquerda da lopar no “russo” (o mais manso...), na Rua constituída só por mim e ordenava “... farda azul por um brilhante galão doura- da Escola Politécnica... já estava no pesco- dispersar!” E então batia, uma data de ve- do com o respectivo óculo.»

26 SETEMBRO/OUTUBRO 2009 • Revista da Armada Fomos distribuídos por vários navios da ilha, Sir Edmund Lowe (descendente da Vaca” «para que mais ninguém fosse até embarcarmos, com o curso anterior, do Lowe envolvido no “falecimento” de descobrir os jazigos de petróleo que ela no Cruzador “Carvalho Araújo” para fa- Napoleão – assunto Tabu, dirá o Consul já conhecia», os navios que chegavam, o zermos o tirocínio de navegação e prepa- francês)... levando-me como ajudante de reluzente “República” gémeo do nosso, rarmos a tese necessária para a promoção ordens (clandestino, claro), mas com os com os amarelos... verdes (fruto do típico a 2º tenente. respectivos cordões dourados, que muito “spleen” que atingia os oficiais nas “esta- Como destino final, Angola, onde de- me envaideciam... ções nas colónias») o reencontro de cama- veríamos fazer uma estação de dois anos Jantar... com “Medals and Decora- radas, as missões de soberania ao longo a par de duas missões diplomáticas: re- tions”… o Comandante cheio... e eu duas da costa, etc. presentar Portugal em Bolama, a antiga envergonhadas fitinhas de Bom Com- Em Fevereiro de 33 passam ao “Repú- capital da Guiné, na inauguração de um portamento e de Socorros a Náufragos, blica” para seguirem para Moçambique monumento a dois aviadores italianos que o Comandante me “obrigou a levar” mas mandam-nos regressar no paquete que, vindos do Brasil, foram aí morrer e, para não fazer má figura... Senti-me um “Niassa” até embarcarem na «“Sagres” de seguida, em Santos, a fundação da 1ª “bébé”... acarinhado por aquelas simpáti- para uma viagem incluída nas provas do Capitania, por Martim Afonso de Sousa, cas senhoras, já de respeitável idade». exame para segundo tenente» com «exa- no Brasil que enviou, a me final da tabela»... «Foi receber­‑nos o couraçado então que saímos do sau- “Minas Gerais”, tão “es- doso Corpo de Alunos da magador” que, dizíamos, Armada». a sua «ronda... tinha de Na memória, cada um andar de bicicleta.» dos oficiais, os lentes,

Facto é que do Minis- Foto Reinaldo de Carvalho tudo nomes que extra- tro da Marinha, dos ofi- vasaram a Armada, os ciais (almoço na ilha de “Filhos da Escola” mas Perchá) e civis brasileiros, também sargentos e pra- bem como das colónias ças como o «Sr. Paulo, portuguesas de Santos um sargento reformado, (recepção no Real Centro já velhote, muito bondoso Português e espectáculo e nosso amigo… o “Quin- regional no Teatro do Co- zé”, um marinheiro, tam- liseu) e de S. Paulo (Fes- bém reformado, que nos ta “Minhota”) a recepção resolvia os problemas lo- que tivemos foi muito gísticos e os “enrascan- amigável e calorosa.» ços”», cujo filho, os irre- Graças às «excelentes verentes aspirantes logo relações estabelecidas... alcunharam, claro, de e aos eruditos e eloquen- “Sete e meio”... tes discursos do nosso co- O Engenheiro Cons- mandante..., que encanta- trutor Naval que, então, ram todos, especialmente não teria acesso ao pos- o Ministro da Marinha» to de Almirante, ficou 1.º brasileiro que conseguiu Tenente por, depois de que Lisboa autorizas- um notável desempenho se a impensável ida ao no novíssimo Arsenal do Rio… donde, anos antes, Alfeite, ter sido aliciado O Eng.° João Rocheta proferindo uma conferência no I.S.N.G. o “Adamastor” zarpara para projectos da maior prudentemente porque dois oficiais, face Visitámos a casa e o túmulo vazio do envergadura, nomeadamente na LISNA- à falsa notícia de que marujos nossos ti- Corso. VE que foi o maior estaleiro de reparação nham desertado em massa, foram à Re- «E, finalmente, fomos para Luanda, da Europa... Digamos que, além da Arma- dacção dar uma sova no jornalista e atirar­ onde chegámos em Março ou Abril de da, atingiu o Almirantado e que é também ‑lhe os móveis pela janela fora! 1932... pacata cidade, com casas tipo co- um dos mais antigos Membros da Acade- Assim, tornou-se o «sonho tanto mais lonial, geralmente construídas sobre esta- mia de Marinha. agradável, porque apanhámos, em cheio, cas... Os únicos grandes edifícios de que Conscientes do muito que tivemos de o célebre Carnaval carioca!» As “modi- me lembro, eram o Palácio do Governador omitir, resistimos a registar as diferen- nhas” de que ainda me recordo, as noites e o Hospital... e os raros degredados... fato ças para o nosso tempo mas se cada leitor a dançar no Teatro Municipal ou no lu- de ganga azul e chapéu de palha de copa no-lo desse a conhecer teríamos as etapas xuoso Clube da Marinha, os membros da cilíndrica, à “Maurice Chevalier”.» duma evolução de quase um século. Este colónia portuguesa… Enfim, «se ficásse- A bordo... além dos habituais serviços de desafio, para que o leque de olhares seja mos lá mais tempo arriscávamo-nos (com rotina e de escala... dávamos lições às pra- mais abrangente, abre-se a todos os que, convites para “desertar”) a ficarmos todos ças “menos letradas”... nós os G/M tínha- onde quer que seja, serviram ou servem noivos das belas moças»… mas apenas um mos, ainda, de trabalhar as nossas “me- na Armada. voltou para se casar. mórias de fim de curso” o que nos tomava  Mas «fui “gentilmente” forçado a fazer bastante tempo. Outra actividade... não me Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves um “tirocínio” exta... O Comandante des- saí mal... campeão de tiro de Luanda. É o 1TEN cobriu que eu sabia escrever à máquina único trofeu que posso, orgulhosamente, Nota (tridigitalmente)...» mostrar aos meus netos e bisnetos! Este texto é constituido por extractos do «Singrámos para Luanda, com esca- Os muitos festejos, os chás, as parti- opúsculo A “Velha” Escola Naval da autoria la em Santa Helena... O comandante foi das de Ténis com os ingleses, no “court” do Eng. João Farrajota Rocheta e datado de 14 apresentar cumprimentos ao governador duma agência da “Companhia do Olho de Julho de 2008.

Revista da Armada • SETEMBRo/OUTUBRO 2009 27 NOTÍCIA Encerramento do Pólo de Vila Franca de Xira da Escola de Tecnologias Navais l No passado dia 1 de Setembro, sob a presidência do CEMA, Almirante Melo Gomes, realizou-se a Cerimónia de Encerramen- to do Pólo de Vila Franca de Xira da Escola de Tecnologias Navais (ETNA), cumprindo-se assim mais um novo e decisivo passo no reordenamento do Parque Escolar, no âmbito do Sistema de For- mação Profissional da Marinha. Figueiredo Fotos CAB L Perante altos comandos da Marinha, antigos comandantes do G1EA, oficiais, sargentos e praças em serviço na Unidade, o even- to foi iniciado com umas breves palavras do actual Comandante da ETNA, CMG Antunes Rodrigues, que afirmou:Vila Franca fica na memória dos nossos marinheiros e de muitos portugueses, como uma grande escola de formação cívica militar e técnica. Seguiu-se a alocu- ção do Almirante CEMA que destacou: a actividade de formação que nestes oitenta anos, fruíram dezenas de milhares de alunos representa um património incalculável de que muito justamente nos podemos orgulhar e terminou deixando uma palavra de regozijo pela forma como a Mari- nha sempre foi acolhida pela comunidade local e, de uma forma geral, pelos organismos e entidades com que foi interagindo, manifestando a certeza que este relacionamento ficará na memória desta terra, mas também na dos milhares de marinheiros que por aqui passaram. Após a leitura da Ordem do Dia à Unidade foi realizada a ceri- mónia do arrear da Bandeira Nacional, acto que marcou o fim da presença de 84 anos da Marinha em terras vilafranquenses.

Um descuido fatal m Agosto de 1949, fui colocado no aviso de 1ª classe “Bartolomeu dirigia uma equipe empenhada na reparação de uma máquina de frio, Dias” o qual, com o “Afonso de Albuquerque”, eram os navios trabalho que estava a fazer juntamente com dois operários do estaleiro. Emais importantes da nossa Marinha de Guerra. Fui desempe- Todavia, não conseguia perceber qual a razão que motivou tal desastre. nhar as funções de encarregado do serviço de Electricidade, Torpedos Não percebeu dado que, só mais tarde, veio a saber-se que a explosão e Minas, cuja especialização tinha acabado de obter na Escola de Vila na máquina aconteceu por esta ter sido carregada com uma garrafa de Franca de Xira. oxigénio em vez de CO2. Assim, quando a máquina foi posta a trabalhar, O “Bartolomeu Dias” encontrava-se atracado ao cais, em Alcântara, uma pequena faísca foi suficiente para motivar a explosão. Na realida- a ser sujeito a grandes fabricos pelo pessoal dos Estaleiros da CUF e, de, o incidente resultou do facto das garrafas contendo gases, ao serem nem sequer, tinha oficial de serviço. Alguns transportadas rodando pelo chão, irem per- oficiais que já compunham a guarnição iam, dendo os dizeres indicativos do seu conteúdo. de manhã, para bordo. Assim, no fatídico dia Passou, então, a haver instruções, muito rigo- 9-9-1949, poucos minutos depois das 9 horas, rosas, para que tal não tornasse a acontecer. O estava eu a fardar-me no camarote, que dava descuido tinha custado quatro vidas. para a praça d’armas, quando oiço um estron- Coube-me a mim ir dar esta horrível no- do violento, logo seguido por fumo que saía tícia aos pais do Taborda, que moravam nas dum porão mesmo ali a meus pés. Para meu proximidades do Hospital da Marinha, para espanto, passados poucos segundos, de súbi- onde tinham ido os corpos queimados. Quan- to, saem do porão, dois homens desvairados, do cheguei a sua casa, já lá não estavam. Um com suas roupas a arder. Nem me ouvem. Sobem as escadas que os leva jornalista tinha chegado primeiro. ao convés, saem mesmo do navio até que caem exaustos, sem forças. Estou a escrever estas linhas no dia 9-9-2009, exactamente sessenta O tenente Saturnino Monteiro, que já se encontrava a bordo, aparece e anos depois de tão trágico acontecimento. Elas que sirvam para mos- é ele que desce ao porão para ver se há mais vítimas. Dois corpos inani- trar que as normas de segurança -- neste caso, a perfeita identificação do mados são trazidos para cima, com as roupas ardidas, sem que os con- conteúdo das garrafas de gás -- devem ser rigorosamente cumpridas. E, sigamos reconhecer. É pelo relógio (comprado há dias e para o qual me também, para recordar os nomes das vítimas: tinha sido chamada a atenção) que identifico o tenente Taborda, nosso 2º ten. maq. naval José Taborda Ramos companheiro de câmara. O outro é um operário do estaleiro. Todos os 2º cabo fogueiro Domingos Gouveia quatro faleceram devido às queimaduras. Operários da CUF: Rui de Sousa Pinto e João Pina Ferreira A história desta tragédia, conhecemo-la logo de seguida pelo teste- Mas a tragédia do 9-9-49 não se esgotou na explosão que acabamos munho dum sargento, que pertencia à equipe de trabalho que estava no de relatar. A esposa do comandante do navio, capitão-de-mar-e-guerra porão a reparar uma máquina de frio. De facto, quando uma das pra- Negrão Neto, falece nesse mesmo dia. Um dia que não podia ser pior! ças se preparava para ir buscar uma peça de ferramenta, ele ofereceu-se  para a trazer, pois tinha de ir à oficina. Teve um dia de sorte que nunca A. Estácio dos Reis mais esquecerá. É ele que nos pôs a par da situação: o tenente Taborda CMG

28 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada VIGIA DA HISTÓRIA 14 AsAs RiquezasRiquezas dada ÍndiaÍndia frequente, quando nos referimos à Carreira da Índia, salientar as va- liosíssimas cargas que as naus transportavam e, no entanto, muito Époucos são os casos em que o valor de tais cargas é conhecido. O transporte de pedras preciosas, parte significativa do valor das car- gas é, em muitos casos, conhecido na sequência de acidentes ocorridos e isto porque, estando sujeitas a elevadas taxas e sendo fácil dissimular o seu transporte, eram frequentemente objecto de contrabando. Os poucos casos que seguidamente se relatam poderão ajudar a ter uma noção dos valores envolvidos. Os sobreviventes do naufrágio da nau S. João, ocorrido no rio S. Cristó- vão em 1624, queixaram-se de que os negros daquela zona lhes haviam roubado as pedras preciosas que levavam, avaliadas em 200 000 cruzados, num saco com cerca de 15 Kg de peso. O padre Manuel Gomes, vindo como passageiro na nau Nª Sª da Luz, só a 28 de Dezembro de 1615, mais de um mês após a naufrágio da nau nos Açores, se apresentou a declarar trazer com ele uma imagem de Nª Sª dos Poderes com o Menino Jesus no regaço, a descrição da imagem parece justificar a razão do “esquecimento”. A imagem tinha 37 diamantes grandes, uma coroa em ouro, um selo de ouro com 1 diamante e 4 rubis, um diadema em ouro com 11 diamantes, 31 peças de ouro nos vestidos com 71 diamantes grandes, 21 rubis, 7 es- meraldas grandes e vários rubis pequenos. Na boca da imagem estavam 8 diamantes e uma esmeralda do tamanho de uma noz grande simbolizava o globo terrestre. O conjunto era completado por 2 jarrinhas em ouro com um ramalhete, igualmente em ouro, em que 1 diamante , 2 esmeraldas, 2 safiras e 2 pérolas simbolizavam flores. Um inglês, preso em Lisboa, refere que na mesma prisão se encontrava o piloto da nau S. Valentim, apresada pelos ingleses em Sesimbra em 1602, por terem sido encontrados em sua casa 3 sacos cheios de pedras preciosas. O apresamento, pelos ingleses, da nau Madre de Deus ocorrido a 13 de Agosto de 1592 (1), também, neste aspecto, poderá constituir um contribu- to significativo. Após um combate de várias horas a nau foi entrada durante a noite e sujeita a um saque, relatos ingleses referem que o calado da nau terá dimi- nuído, nesse dia, dois pés e à chegada a Darthmouth a diferença de calado já era de 5 pés. A Rainha Isabel, parte interessada no saque, ordenou a efectivação de in- vestigações tendentes a reaver o saque desviado, investigações essas que não lograram qualquer êxito. Nas inquirições efectuadas são frequentes as acusações mútuas entre os comandantes ingleses, um deles acusado de se ter apropriado de 10 000 li- bras alega só ter ficado com 2 000, uma cruz de pérolas encontrada na pos- se de um dos comandantes é referida como sendo, de há muito, proprie- dade da sua família. Um outro comandante, que se juntara tardiamente ao saque, ao mani- festar o seu descontentamento por ver que um ostentava um cordão de ouro com pérolas, foi por este sossegado com a informação de que havia um outro colar igual para ele. Um marinheiro é citado como tendo em seu poder 320 diamantes, um outro teria só 150 enquanto um terceiro além de 1 000 cruzados tinha ain- da muitos rubis. Um tal Broadburt terá adquirido a um marinheiro 1 800 diamantes e en- tre 200 e 300 rubis. Só com os lucros das especiarias, drogas e tecidos chegados a Inglaterra a Raínha terá recebido entre 60 000 a 90 000 libras, correspondentes ao in- vestimento que fizera, de 3 000 libras, na expedição.  Com. E. Gomes Nota: (1) A data tem sido indicada como sendo 3 de Agosto que é, na realidade, a data ingle- sa e que, contrariamente ao que sucedia em Portugal, não estava de acordo com o calendá- rio gregoriano. Fontes: Caixas 5 e 19 Índia e cx 1 Moçambique do Arquivo Histórico Ultramarino Corpo Cronológico 1ª Parte Maço 86 documento 11 Naval Tractos of. Sir William Monson, Vol 1, Londres 1914.

Revista da Armada • setembro/outubro 2009 29 OO AlmiranteAlmirante ChefeChefe dodo EstadoEstado­‑Maior‑Maior­ dada ArmadaArmada receberecebe oo NúcleoNúcleo dede RadioamadoresRadioamadores dada ArmadaArmada m 27 de Julho último o Núcleo completou sete anos desde a sua fundação. No âmbito da cele- Ebração daquela data, cumulativamente com a intenção de dar a conhecer a nova Direcção que em Março último tomou posse, uma delegação compos- ta pelo Presidente da Direcção SMOR António Gamito e pelo Te- soureiro SMOR Álvaro Costa, foi recebida em audiência, em 28 de Julho, pelo Almirante Chefe do Estado Maior da Armada, a quem apresentou cumprimentos. Foram abordados vários assuntos relacionados com o Núcleo, nomeadamente sobre a história da sua fundação, desenvolvimen- to, propósitos e actividades. As activações da fragata “D. Fernan- do II e Glória”, dos faróis do Bugio, Cabo Sardão, Cabo

Foto CAB L Figueiredo Foto CAB L da Roca e farolins no arquipélago dos Açores, constituí- ram razão de enal- tecimento, parti- cularmente pela conjugação com a divulgação do nos- so património naval, seja na vertente arquitectónica seja na verten- te histórica e cultural. Também a realização do “Concurso Dia da Marinha” constituiu motivo de apreciação pelo que é em si mesmo, pelo que representa bem como pela diversidade geográfica com que tem sido conduzido. Igualmente foi abordado o enquadramento do NRA no universo de Núcleos similares existentes nas Marinha europeias e muito par- ticularmente a condução da próxima edição do International Naval Contest que este ano, em 12 e 13 de Dezembro, cabe por rotação à Marinha Portuguesa, através do NRA. De salientar o particular interesse com que o ALM CEMA seguiu todas as explanações na ocasião desenvolvidas, tendo mesmo feito questão de se inteirar de alguns aspectos específicos da actividade radioamadorística, bem como de eventuais dificuldades logísticas essenciais à sua sobrevivência. No final a delegação do Núcleo ofereceu uma cresta do Núcleo bem como um exemplar dos vários diplomas emitidos e cartões de QSL inerentes aos vários indicativos de chamada já utilizados.  SMOR António Gamito – CT1 CZT

INQUÉRITO DE OPINIÃO l No sentido de auscultar a opinião dos seus leitores, a Revista da Armada lança um novo inquérito em que cada um dos leitores para além de manifestar a sua opinião sobre a Revista, poderá também emitir um comentário sobre os motivos que gostaria de ver contemplados e até indicar os pontos menos apreciados. As respostas devem ser dirigidas à Revista da Armada – Edifí- cio das Instalações Centrais da Marinha, Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa - Portugal, até 31 de Dezembro de 2009.

30 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada HISTÓRIAS DA BOTICA (67) O cantor, o marinheiro e os simples… no coração magine o leitor um cantor muito conheci- nheiro, fruto dos seus muitos recursos, fez com vida na mão, entram em pânico ao menor sinal do, do tipo mundialmente famoso. Imagine que lhe entregassem, ali mesmo em Tróia, uma de fragilidade, procurando fortaleza em ícones Iagora que era (ou terá sido) extremamente moto de alta cilindrada – “Era para as desloca- vazios deste tempo moderno. rico. Tinha quintas e criados. Tinha até a ex- ções, afirmava…” Nessa noite, enquanto regres- Na minha vida e prática pessoal contacto centricidade de um zoo privado. Tinha passa- sava de licença teve um acidente grave. Faleceu com o sofrimento de muitos. Emociono-me do por períodos de grande sucesso, alternado no Hospital de Setúbal no dia seguinte… muitas vezes com o sofrimento alheio, talvez com outros de relativa opacidade. Da sua vida No meu dicionário pessoal aquele mari- mais que a maioria (…é um caminho que não emanava, sobretudo, uma incapacidade para nheiro ficou como sinónimo de insatisfação. escolhi voluntariamente). No princípio lutava se aceitar a si próprio. Senão vejamos: em pri- Para ele, tal como para o tal cantor falecido re- contra este forma de ser (por considerar, como meiro lugar modificou o corpo até mudar o centemente, nada chegava. Era como se uma me dizem muitos, que é sinal de uma fraque- seu aspecto étnico. Teve uma série de envol- parte do seu ser estivesse persistentemente va- za potencialmente usável contra o próprio). vimentos com mulheres estranhas, dos quais zia. Ao contrário, encontro imensos humildes Com o tempo aprendi a aceitar essa parte de resultaram filhos, que geneticamente não pa- para os quais a vida traz múltiplas fontes de mim, como uma qualidade não como um de- recem ser seus… Entretanto fora acusado, oca- sionalmente, de relações com crianças a ron- dar a pedofilia… Apesar do seu óbvio sucesso, aparentava uma grande infelicidade. Afirmava, em entre- vistas públicas, que tinha tido uma infância infeliz, em que não se sentiu respeitado pela família, particularmente pelo pai, que o mal- trataria regularmente, até ao ponto crítico que incluía a violência física regular…Era um ser frágil. Preenchia o vazio através de objectos (que publicamente comprava a preços exorbi- tantes, numa quantidade que só era suplantada pelo óbvio mau gosto). Neste sentido, era um exemplo extremo do seu tempo – que teima em valorizar o mérito pela ostentação de cada um. Entretanto morreu subitamente – como tantos outros artistas de sucesso ao longo dos tempos. Soube-se o que já se adivinhava: vi- via em grande sofrimento. Até para dormir era satisfação. Estes últimos, nalguns casos, des- feito a ser apontado. Afinal é esta capacidade anestesiado… tituídos de muito do conforto moderado que que permitiu escrever todas estas histórias (e Este exemplo, medite comigo o leitor aten- rodeia a maior parte de nós, acham felicidade todas as outras, que guardo, na parte mais ín- to, serve para ilustrar dois factos bem reais: o em coisas que outros tomam por garantidas. A tima da alma). primeiro (e passe o lugar-comum) – dinheiro e compra de uma casa, a compra de um carro Na vida, esforço-me por aceitar a nossa qua- poder não são, nem nunca serão, sinal de fe- (ainda que já com uns anos de uso), o suces- lidade de seres frágeis e à mercê de uma exis- licidade. A este propósito, recordei um outro so académico dos filhos e até coisas conside- tência sempre curta e limitada pelas regras da caso que ainda hoje me atormenta. O caso de radas triviais, como a fruta que se cria numa natureza e de uma sociedade insensível, por um determinado marinheiro, provavelmente o horta lá da terra, a “água pé” feita com as uvas vezes mesmo selvagem, apesar de todo o seu marinheiro que menos pude ajudar, de tantos da latada, todas estas pequenas coisas lhes en- desenvolvimento científico. Aprendi, em espe- que conheci… Tratava-se de um jovem que chem a alma. cial, a lamentar apenas as coisas verdadeira- nasceu no seio de uma família poderosa em Parece portanto que quem tem objectivos mente importantes: como o pôr-do-sol que não vários campos. Pai empresário, mãe herdeira simples e atingíveis vive mais feliz. Claro, não vi, algures no horizonte de um navio. Lamento de um império imobiliário. Veio para a Mari- creio que quem nasce rico está condenado à também não ter alma para abarcar os sons do nha, por insistência da mãe, porque a vida mi- infelicidade. Acredito, isso sim, que aqueles mar e não conhecer o poema, que ainda não litar o iria “endireitar”… que são humildes de coração atingirão mais escrevi. Lamento, por fim, não poder abraçar Contudo, nada se passou como o previsto, o facilmente a felicidade, independentemente aquele grande amigo que já partiu…e deixou nosso marinheiro depois de uma recruta algo dos bens materiais que possuam. A felicidade um vazio que não sei preencher, um sentimen- atribulada – que terá porfiado por cumprir - é um estado que se vai construindo. Parece to que muitos cantaram ao longo dos séculos sempre se revelou muito desajustado. Tinha di- dar-se mal com a arrogância e a sobranceria, como “saudade”. Contudo, estou certo de pro- ficuldade em cumprir tudo o que se lhe pedia. comuns num tempo em que a incivilidade é curar a felicidade no seu reino mais seguro: na Teve, como é previsível, muitos problemas dis- regra e ser-se humilde é, para muitos, sinal de intimidade do coração dos homens simples… ciplinares. Tal história, adivinhava-se então, só debilidade. Talvez por isso encontro, na doen­ Esta é, concluirá o leitor a esta altura, uma im- poderia acabar mal. Assim aconteceu. Faleceu, ça, atitudes muito diferentes. Aqueles que acei- portante conquista…aquela que realmente ga- enquanto embarcado. A corveta, onde embar- tam a dor da vida como fazendo parte das li- rante satisfação e alegria… cámos os dois, havia feito uma escala técnica mitações do ser humano (cuja vida é frágil e  nas Instalações Navais de Tróia. O nosso mari- passageira), e outros, que, achando que têm a Doc

Revista da Armada • SETEMBRO/OUTUBRO 2009 31 4QJFG5EJYCT\ PCXCPIWCTFCFCVGEPQNQIKC

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YYYTQJFGUEJYCT\RV QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS Problema Nº 122 Problema Nº 405

Norte (N): 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11     1 A R A V 2 6 R 6 3 5 3 4 4 2 5 Oeste (W): 3 Este (E): 6     2     7 R D D R - 6 V 8 8 9 D 9 10 10 5 9 5 10 8 8 9 4 7 11 7 6 3 5 4 Sul (S): 3 HORIZONTAIS: 1-Pessoas que praticam a cartomância. 2 – Vulcão activo da An- tártida, na ilha de Ross; remoínho de água. 3 – Pequeno mamífero roedor de cau-     2 da comprida muito espalhado em todo o globo; animal bravio e carniceiro (inv). V A - A 4 – Todavia; maior na confusão. 5 – Pessoa pertencente a uma seita religiosa que 10 V D prescrevia o culto das imagens. 6 – Consoante dobrada; nota musical (inv). 7 – Ex- tra terrestre; aragem. 8 – Em que há iras; cinquenta e seis romanos. 9 – Que, ou 9 10 7 aquele que restaura. 10 – Ligar; que provém do vinho. 11 – Género de batráquios 8 2 4 urodelos da Europa. 7 VERTICAIS: 1 – Mulher a quem se pagava, para ir prantear os mortos (pl). 2 – Rio de Portugal, afluente do Douro (inv); estratagema. 3 – Fio de seda ou conjunto de fios de seda torcidos; falta uma para ser rosal. 4 – Trenó na confusão; molusco la- Ninguém vuln, apesar dos 12 pts S abre em 1♠ tendo em conta ter os 2 naipes ri- melibrânquio bivalve, perlífero ou comestível. 5 – Orçamento de Estado; morrao cos, W dobra, N dá 2ST (equivale ao redobre mas com fit a ♠), S dá 3♣ (2º naipe na barafunda. 6 – No meio de âmbar; carboneto de cálcio amorfo, vulgarmente que pode ser uma informação útil, já que W deve ter ♥), N com 3♦ mostra o seu chamado, greda branca; fruto da videira. 7 – Palavra composta da preposição a e controlo de 1ª e S com 3♥ o mesmo nesse naipe; N parte então para chelem com do artº o; outra coisa; gás mortal, usado no metro japonês. 8 – Gostais; ADN na 4ST e ouve 5ST mostrando 2 ases e uma chicana, fechando N em 6♠. Como deve barafunda. 9 – Troncos de árvores limpos de ramos; nome próprio masculino. 10 – S jogar recebendo a saída a ♠R? Escolhido ou nomeado por meio de voto; cova na barafunda. 11 – Instrumento de ferro com que se abrem os olhos ou alvados das enxadas, machados, etc.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 122 O dobre de W mostra-nos a colocação dos pontos em falta, sobretudo a D de ♥ e SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 405 o R de ♣, pelo que devemos conduzir o carteio com base nessa informação. As- HORIZONTAIS: 1 – Cartomantes. 2 – Erebo; Ola. 3 – Rato; Aref. 4 – Porem; Amoir. sim, a linha de jogo a seguir será a de eliminar as ♥ e os ♦ e colocar W em mão 5 – Iconoclasta. 6 – Rr; Od. 7 – Et; Oressa. 8 – Iroso ; Lvi. 9 – Restaurador. 10 – na D de trunfo, para o obrigar a jogar corte e balda ou para ♣AD. Vejamos então o Atar; Vinica; 11 – Salamandras. desenvolvimento: ♠A, ♥R, ♦A que corta, ♥A para baldar um ♣, ♥V que corta pois W certamente cobre de D, e se não o fizer balda outro♣ , ♦R para cortar e eliminar VERTICAIS: 1 – Carpideiras. 2 – Aoc; Treta. 3 – Retros; Osal. 4 – Troen; Ostra. 5 – os ♦; ♥10 que corta ou balda outro ♣, conforme a jogada anterior com este naipe, Oe; Morroa. 6 – Mba; Crue; Uva. 7 – Ao; Al; Sarin. 8 – Amais; And. 9 – Toros; Al- eliminando agora as ♥; finalmente trunfo para a D de W que fica sem defesa. dir. 10 – Eleito; Voca. 11 – Safradeiras. Nunes Marques Carmo Pinto CALM AN 1TEN REF

ACADEMIA DE MARINHA

PROGRAMA - 2009 7 OUT – “Portos de águas profundas e navios de grande calado” - Ciclo de conferências sobre a extensão da plataforma continental Dr. Ortigão Neves portuguesa:

a 27 OUT – “A extensão da plataforma continental. O projecto 20 OUT – “S. Nuno de St Maria – o Herói e o Santo” n­acional.” – Prof. Doutor Manuel Pinto de Abreu D. Januário Torgal Ferreira – Bispo das Forças Armadas Ten. Gen. Alexandre Sousa Pinto 3 NOV – “A plataforma continental, o mar e a economia” V/Alm. António Carlos Rebelo Duarte 22 OUT – “Valor Militar e Naval das Armadas de Portugal, no 10 NOV – “A plataforma continental na problemática da Defesa Séc. XVI” – Máq. Manuel Carrelhas Nacional” – V/Alm. Victor Manuel Cajarabille 15 DEZ – Sessão Comemorativa dos 60 anos da NATO (a confir­ 25/26 NOV – Simpósio de História Marítima mar) “O Poder do Estado no Mar e a História”

Revista da Armada • SETEMBRO/OUTUBRO 2009 33 NOTÍCIAS PESSOAIS

CM Carlos Manuel da Costa Silva  SAJ H Gaspar Dias Martins  1SAR CM Luís COMANDOS E CARGOS Manuel Costa Ferreira  CAB TFH João Manuel Antunes Vinagre. NOMEAÇÕES REFORMA  CMG Rui Manuel Costa Casqueiro de Sampaio nomeado Chefe de Repartição de Sargentos e Praças da Direcção do Serviço do Pessoal em substituição do CFR José  CMG Filipe Horácio Pereira Macedo  CFR OT Carlos Alberto Abegão da Cruz Cardoso da Cruz Gomes  CMG AN Sílvio Manuel Henriques da Silva Ramalheira  CTEN OT Carlos Alberto Graça Lourenço  SMOR CM João Freire Ventura  nomeado Chefe do Gabinete do Superintendente dos Serviços Financeiros  CFR SCH SE João Manuel Águas Marreiros  SAJ FZ Ricardo Augusto Fraga Ferreira  Paulo Miguel da Silva Brandão Correia nomeado Comandante do Agrupamento SAJ L Feliz Oliveira da Costa  SAJ TRC Jaime da Conceição Pereira  CAB TFD de Navios Hidrográficos, em substituição do CFR João Paulo Ramalho Barreiros Manuel Filipe Serrachino Pereira  CAB CCT Florentino da Silva Pimenta  CAB  CTEN Luís Miguel dos Reis Arenga nomeado Chefe de Brigada Hidrográfica M José Pereira Rodrigues Peleja  CAB M Fernando de Oliveira Salgado  CAB M Nº 1 em substituição do CFR Carlos José Costa Paixão Lopes: 1TEN David Esteves Daniel António Alves Barradas  CAB CM Afonso Pereira Rodrigues  CAB CM Maroco de Freitas Moura nomeado Comandante do NRP “Andrómeda” em subs- Luís Victor Cerdeira Beites  CAB T Fernandino Viegas Gago Murta. tituição do CTEN António Carlos Marques Peiriço  1TEN João Paulo Nogueira Madaleno Galocha nomeado Comandante do NRP Bacamarte em substituição do 1TEN Cláudio Sérgio Sousa Dias  2TEN Telmo Geraldes Dias nomeado Coman- FALECIMENTOS dante do NRP “Rio Minho”, em substituição do 2TEN Paulo Jorge Antunes Nunes   1TEN SG REF Manuel Gonçalves da Silva  1TEN SG REF Alfredo José Fosco de Lemos 2TEN Rita João Ribeiro de Carvalho Oliveira nomeada Comandante do NRP    “Águia”, em substituição do 2TEN Abdul Aziz Salé. 1TEN SC REF António Augusto das Neves SAJ CM REF José António Ferrão Vilas SAJ CM REF José Taveira Gonçalves Roque  SAJ CM REF Francisco Orvalho Gotão  SAJ A REF António Bernardino Ribeiro  SAJ SEE REF Joaquim Fernandes Horta  1SAR H RESERVA REF Isaac Ventura Cardoso  CAB A REF António Tomaz Janeiro Tavares  CAB M José Domingos Tormenta Carneiro  CAB TFH Sebastião Teixeira de Barros  AG 1ªCL PM  SMOR L Dário Farinha Ferreira  SAJ E César Alexandrino Lança Figueira  SAJ REF Joaquim Vaz Rato da Horta  C. Ponte APOS Ezequiel Manuel Candeias.

CONVÍVIOS N.R.P. “Cte Roberto Ivens” “Filhos da Escola” Guarnição 1970 - 1972 de Março de 1962 l Vai realizar-se no próximo dia 17 de Outubro, com concen- l Para comemorar o 47º aniversário, realizou-se no passado dia tração pelas 10.00h na Base Naval de Lisboa, o nosso almoço de 23 de Maio na “Quinta do Canavial”, em Alenquer, o almoço-con- confraternização. Contamos com a tua presença amiga. vívio dos “Filhos da Escola” de Março de 1962 que reuniu cerca Contactos para inscrições: de 270 pessoas CALM: Leitão Rodrigues - 91 910 82 32, Ex.Mar. C: S.Diogo - 96 entre filhos da 680 60 81, Ex Mar. A: F.Simões - 96 578 23 03, Ex.Grt: E: V.Varela escola e fami- - 96479 71 00 - 21416 36 33 - [email protected]. liares. Para o pró- ximo ano o en- contro fica mar- cado no mesmo mês em data ainda a deter- minar.

32º ENCONTRO NACIONAL DE MARINHEIROS l Realizou-se, no passado dia 6 de Junho no concelho de Mafra, o 32º Encontro Nacional de Marinheiros. Na Igreja Paroquial da Malveira foi celebrada uma Missa por intenção de todos os falecidos que envergaram as fardas da Ma- rinha, a que se seguiu as habituais saudações e a entrega de lem- CONVÍVIO DOS ELECTRÕES branças à organização por parte da Marinha e dos representantes dos vários Clubes, Núcleos e Associações presentes. l Realizou-se no passado dia 23 de Maio o 8º almoço-convívio Seguiu-se o almoço de confraternização no Restaurante “O dos Electrões em movimento, na Delegação do Clube do Sargen- Cangalho” - Barras. to da Armada. O convívio contou a presença do Cte. Valentim Rodrigues, em Este convívio reuniu cerca de 100 amigos num almoço onde representação do Almirante CEMA. Como sempre, houve momen- estiveram presentes várias gerações de Sargentos Electricistas, tos musicais, sendo de salientar a presença do “Fado” através da no Activo, Reserva e Reforma, oficiais convidados oriundos da singular voz do Victor Costa “Taxista” - ex-Marinheiro Clarim. classe de electricistas que também recordaram os excelentes mo- Antes de terminar realizou-se a transmissão do “Testemunho” mentos em que serviram a tão prestigiada classe dos electrões. o qual foi entregue ao Núcleo de Marinheiros de Almeirim que Foram recordados com emoção e saudade os bons velhos tem- assim assumiu o encargo de realizar o 33º Encontro Nacional de pos da “Briosa”. Marinheiros para o ano de 2010.

34 setembro/outubro 2009 • Revista da Armada

Instalações da Marinha

19. O Departamento Ma r í t i m o d o Ce n t r o

Reza a CARTA DE LEÏ DE 27 DE JULHO DE 1882 que reorganiza destinam ao porto de Lisboa. Existe uma actividade piscatória rela- o serviço das capitanias do reino de Portugal “ – D. Luiz, por Graça tivamente reduzida, mas é a sua marina, uma das maiores a nível de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc. Artigo 1º - A costa de nacional, que lhe confere a razão da enorme quantidade de em- Portugal, desde a Foz do Rio Minho até à ao Guadiana, é dividida em barcações de recreio que aí aportam ao longo de todo o ano e da três departamentos marítimos. O primeiro departamento marítimo, ou grande quantidade de eventos náuticos nacionais e internacionais o do Norte, (…); o segundo departamento marítimo, ou o do centro, que aí se realizam. Incluindo diversos quilómetros de praias, a área abrange a costa desde a margem esquerda do Mondego até ao cabo de jurisdição abarca os Concelhos de Torres Vedras, Mafra, Sintra e de S. Vicente; o terceiro departamento marítimo, ou o do sul, (…). Ar- Cascais, e inclui a Delegação Marítima da Ericeira e o posto Marí- tigo 3º - Em cada departamento marítimo há as capitanias e delega- timo da Praia das Maças. ções seguintes: (...) Departamento Marítimo do Centro: S. Martinho; Capitania do Porto de Lisboa – Situada durante muitos anos no Tor- Lisboa com delegações em Peniche, Ericeira e Cascais; Setúbal com reão da Ribeira das Naus e mais tarde no Cais do Sodré, a Capitania de delegações em Sesimbra e Sines.” Lisboa mudou-se provisoriamente para um edifício pré-fabricado em Actualmente, a organização da Autoridade Marítima Nacional é Alcântara em 1970, onde permaneceu durante 31 anos. Finalmente, bastante diferente embora a distribuição geográfica se mantenha se- em 2001, ocupou as actuais instalações num edifício construído de melhante. Assim, o Departamento Marítimo do Centro (DMC) é o raiz na zona portuária de Alcântara-mar. A Capitania da capital é a Órgão Regional da Direcção-geral da Autoridade Marítima (DGAM) maior do país, em termos de efectivos, a par do maior porto nacional que coordena, no âmbito da sua competência, as actividades das ca- com uma área de jurisdição portuária de cerca de 400 quilómetros pitanias situadas entre Nazaré e Sines. quadrados dentro do estuário do Tejo, englobando dez municípios. O Situado nas instalações da Capitania do Porto de Lisboa, o Depar- porto de Lisboa acolhe diariamente dezenas de navios de comércio e tamento Marítimo, é chefiado por um Capitão-de-mar-e-guerra e dá passageiros, sendo igualmente significativo o número de embarcações apoio Administrativo, Logístico e Técnico às unidades dependentes. do tráfego local de mercadorias, de transporte de passageiros entre as Cumulativamente o Chefe do DMC é o comandante regional da Po- duas margens do rio, de recreio e de pesca. Fazem ainda parte da es- lícia Marítima do Centro. Pela sua proximidade aos órgãos centrais trutura de Autoridade Marítima Local as Delegações Marítimas de V. de Administração da Marinha e ao Comando Naval, o DMC é o úni- F. De Xira, Barreiro e Trafaria, os Postos Marítimos da Costa de Capa- co Departamento a nível nacional que não acumula, actualmente, as rica e da Fonte da Telha e a ESV de Paço de Arcos. funções de Comando de Zona Marítima. Capitania do Porto de Setúbal – num local privilegiado no centro A constituição do Departamento Marítimo do Centro engloba as da cidade e junto ao rio Sado, construído em 1943, encontra-se o seguintes Capitanias: edifício da Capitania do porto de Setúbal. A actividade comercial do Capitania do Porto da Nazaré – Inaugurada no ano de 1895 ficou porto, bem como a existência dos estaleiros navais favorecem con- inicialmente situada longe do local onde as embarcações varavam dições aos navios de grande porte que praticam o porto. A presença, tendo-se mudado para as actuais instalações no ano de 1909. Com o na zona, da península de Tróia tem vindo ao longo dos tempos a cha- aumento das actividades da pesca e indústria complementar foi sen- mar um número crescente de turistas que incrementam os quantita- do pedido a construção de um porto para a Vila, petição que só teve tivos de embarcações de transporte fluvial e de recreio no respectivo eco no governo em 1980, sendo inaugurado em 1985. A Capitania espaço de jurisdição. Também os navios da Armada Portuguesa prati- do Porto da Nazaré/Comando Local da Policia Marítima tem como cam amiúde este porto quer pela presença das instalações Navais de unidades descentralizadas a Delegação Marítima de S. Martinho do Tróia, quer pelas características geográficas da barra de Setúbal que Porto e o Posto Marítimo da Vieira de Leiria. Estende-se por cinco con- permitem um excelente treino de navegação em águas restritas. A pes- celhos, Leiria, Marinha-Grande, Alcobaça, Nazaré e , ca é uma actividade relevante, nomeadamente no porto de Sesimbra, ao longo de cerca de 50 km de costa, constituindo-se como actividade segundo no país em termos de descarga de pescado, onde se situa a principal do porto a pesca que noutros tempos teve na Vila uma pun- respectiva Delegação Marítima. gente actividade, estando neste momento em declínio. Capitania do Porto de Sines – Herdeira da Delegação Marítima de Capitania do Porto de Peniche – A Delegação Marítima do Porto de Sines, a Capitania foi criada em meados dos anos 70, O seu espaço de Peniche, criada em 1882, ascendeu à categoria de capitania em 1917. jurisdição que vai desde a Foz da Ribeira das Fontainhas (junto à praia Localiza-se no Baluarte da Misericórdia, frente aos Paços do Conce- da Aberta Nova) até à Foz da Ribeira de Seixe (junto a Odeceixe) e no lho e o seu espaço de Jurisdição estende-se da Foz do Rio Sisandro, a Rio Mira desde a Foz até ao Casal de D. Soeiro, é caracterizado pela Sul, até ao marco geodésico da serra do Bouro, a Norte, incluindo a existência de um porto de águas profundas – o porto de Sines, a norte Lagoa de Óbidos (águas interiores não marítimas) e o arquipélago das pela Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha e a sul Berlengas tendo na sua dependência a ESV de Peniche, os Faróis do pelo Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina. Carvoeiro e da Berlenga e o Posto Marítimo da . O porto de Sines opera essencialmente com cargas perigosas (com- O Porto de Peniche, considerado de importância estratégica para o bustíveis e gás natural) e contentores (área em franca expansão). A pes- país, expandiu-se nos últimos anos e tem actualmente uma área mo- ca é uma actividade com grande impacte regional, e a componente lhada aproximada de 47 hectares. da navegação do recreio dispõe de uma marina em Sines. A área de Capitania do Porto de Cascais – Encontra-se situada num dos responsabilidade engloba algumas das mais belas praias de Portugal, mais emblemáticos edifícios da Costa do Estoril, o Palácio Seixas, mantendo-se muitas delas com elevado valor em termos de beleza onde também se situa a Messe de Cascais e residência oficial do natural e paisagística. Alm. CEMA. Embora não exista em Cascais um porto comercial, é nessa zona que fica o fundeadouro onde esperam os navios que se (Colaboração do DEPARTAMENTO MARÍTIMO DO CENTRO)

Instalações da Marinha

19. O Departamento Ma r í t i m o d o Ce n t r o Foto SAJ L Carvalho SAJ Foto

Departamento Marítimo do Centro. Capitania do Porto de Lisboa

Capitania do Porto da Nazaré Capitania do Porto de Peniche

Capitania do Porto de Cascais

Capitania do Porto de Setúbal Capitania do Porto de Sines

14 Janeiro 2003 • Revista da Armada