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Visualizar/Abrir 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG INSTITUTO DE LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM HISTÓRIA DA LITERATURA DECIFRANDO OS ENIGMAS DA MODERNIDADE EM ESPHINGE, DE COELHO NETO CLAUDIA JANE DUARTE MAYDANA Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal de Rio Grande, como requisito parcial e último para a obtenção do grau de Mestre em Letras, na área de História da Literatura. Profa. Dra. Claudia Luiza Caimi Orientadora Data da defesa: 21 de dezembro de 2010 Instituição depositária: SIB: Sistema de Bibliotecas Universidade Federal do Rio grande RIO GRANDE 2010 2 AGRADECIMENTOS A minha mãe, pela genética da perseverança; a meu pai, pelas primeiras incursões nos caminhos da boêmia, o retrato inconsciente que me trouxe de Baudelaire. A José Antonio, pela motivação à vida acadêmica e pela crença em minhas potencialidades. Aos professores em geral e, em especial: a Prof. Tânia Prehn (in memorian), modelo de educadora incansável e doce amiga; ao Prof. Dr. Artur Vaz, por acreditar no curso e pelas informações iniciais que conduziram ao meu retorno ao mundo acadêmico; ao Prof. Dr. Carlos Baumgarten, por introduzir Coelho Neto em minha “causa”, fazendo desta mais do que uma pesquisa, uma verdadeira “perseguição”; a Prof. Dra. Nubia Hanciau, pelas diretrizes em minha iniciação como pesquisadora, sempre tão generosa em elogios e motivação; ao Prof. Dr. Mauro Póvoas, por ter me apresentado à fascinante condição literária do “duplo”. Finalmente, a Prof. Dra. Claudia Caimi, pela orientação e leitura atentas, sempre tão criteriosa no respeito às ideias desta pesquisadora. Aos colegas de mestrado, em especial a Letícia Nunes Gomes, pelas salutares discussões em torno do meu tema e pelos bolos de caixinha, companheiros de nossas tardes de invernada cassinense; a Rosa Cristina Gautério, por também compartilhar de minhas perguntas e me auxiliar em respostas, vendo nas crônicas de Coelho Neto o reflexo de um homem que realmente observava seu tempo. Partilhar nossas certezas e dúvidas fez por transformar nosso coleguismo em amizade. Aos bons e velhos amigos, que reforçaram a cada dia nossa cumplicidade “belle époque” através de doses comedidas de absinto. Aos meus “filhos”, em especial a Thunder, por suas incontáveis horas de companhia durante minhas leituras. 3 Je suis comme le roi d'un pays pluvieux, Riche, mais impuissant, jeune et pourtant très vieux, Qui, de ses précepteurs méprisant les courbettes, S'ennuie avec ses chiens comme avec d'autres bêtes. Rien ne peut l'égayer, ni gibier, ni faucon, Ni son peuple mourant en face du balcon. Du bouffon favori la grotesque ballade Ne distrait plus le front de ce cruel malade; Son lit fleurdelisé se transforme en tombeau, Et les dames d'atour, pour qui tout prince est beau, Ne savent plus trouver d'impudique toilette Pour tirer un souris de ce jeune squelette. Le savant qui lui fait de l'or n'a jamais pu De son être extirper l'élément corrompu, Et dans ces bains de sang qui des Romains nous viennent, Et dont sur leurs vieux jours les puissants se souviennent, II n'a su réchauffer ce cadavre hébété Où coule au lieu de sang l'eau verte du Léthé. Spleen, Charles Baudelaire 4 RESUMO Coelho Neto, apesar de sua vultosa produção literária, que dá conta de períodos que abrangem desde o Realismo ao Simbolismo, bebendo igualmente de fontes que se alimentam do Parnasianismo, Decadentismo e Pré-Modernismo, representa um paradoxo dentro do ideário histórico da literatura brasileira: considerado o escritor mais prolixo de sua geração, é também nos dias de hoje um dos escritores menos lembrados e citados nas histórias da literatura, em consequência, ocupando lugar desconfortável junto ao espólio literário brasileiro. Rechaçado pelos modernistas de 22 por manter-se adepto do preciosismo vocabular e por desconsiderar quase integralmente a identidade nacional, volta-se para um tom impregnado de uma ultrapassada belle époque na maioria das obras. Dessa forma dá continuidade a seu estilo literário, a despeito de toda a crítica desfavorável, e produz por quase mais 20 anos. A proposta desta dissertação é evidenciar através da obra Esphinge, de 1908, que Coelho Neto aponta para a conscientização dos novos tempos, e revela características que corroboram o advento da Modernidade, conforme proposto por Charles Baudelaire. O objetivo principal é demonstrar que é possível o seu resgate do limbo literário, e devolver-lhe motivos para que novamente faça parte da História da Literatura Brasileira. PALAVRAS-CHAVE: Coelho Neto, Baudelaire, Modernidade, Decadentismo, Simbolismo, Parnasianismo. 5 ABSTRACT Coelho Neto, despite his huge literary production, which comprises periods from Realism to Symbolism, as well as taking part in Parnassianism, Decadentism and Pre-Modernism, accounts for a paradox in the history of Brazilian literature: known as the most prolific from his generation, he is equally one of the least remembered and quoted writers in the history of literature these days, thus occupying an uncomfortable place in the Brazilian literary heritage. Cast aside by the modernists from the “week of 22” for remaining devoted to the preciousness in vocabulary and for disregarding the national identity almost entirely, he approached an outdated belle époque tune in most of his books, thus, Coelho Neto carried on with his literary style, producing for almost 20 years, in spite of all unfavourable criticism. This dissertation proposes highlighting, through the 1908´s book, Esphinge, that Coelho Neto points out to some awareness of the times to come, revealing characteristics which corroborate the Modernity advent, as proposed by Charles Baudelaire. The main aim is to demonstrate that Coelho Neto's rescue from the “literary limbo” is possible, drumming up support, hence, to his role in the Brazilian literary history once again. KEY WORDS: Coelho Neto, Baudelaire, Modernity, Decadentism, Symbolism, Parnassianism. 6 SUMÁRIO 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................... 07 2. A TRAJETÓRIA DE CLIO............................................................................... 10 2.1. Clio faz distinções................................................................................. 10 2.2. Clio muda sua dança............................................................................. 11 2.3. Clio começa a dança da Modernidade na Europa.............................. 12 2.4. A nova Clio surge no Brasil.................................................................. 14 2.5. Clio pensa o fim do século................................................................... 17 2.6. Clio apresenta a modernitè ao tradutor............................................... 21 2.7. Clio apresenta a modernitè ao mundo................................................ 27 2.8. Clio veste as roupas de Salomé.......................................................... 39 2.9. “Clio-Salomé” é “tropicalizada”.......................................................... 45 3. COELHO NETO, O “ÚLTIMO DOS HELENOS”?......................................... 51 4. DECIFRANDO ESPHINGE............................................................................ 71 4.1. Personagens.......................................................................................... 73 4.1.1. O narrador-protagonista: o herói moderno.............................. 73 4.1.2. O protagonista dândi: a luta edípica re-encenada................... 77 4.1.3. Os adjuvantes: sociedade com um quê de Modernidade....... 88 4.2. O intertexto: revelação do moderno e da Modernidade................... 95 4.3. Os temas que prenunciam a Modernidade: elementos de sua composição........................................................................................... 105 4.3.1. Imagem e linguagem: percepções da Modernidade............... 108 4.3.1.1. Imagem: o símbolo como recurso............................... 108 4.3.1.2. Linguagem: a não-rendição à própria decadência..... 110 4.4. Somos todos, então “europeus”........................................................ 115 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 121 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 129 7. ANEXO............................................................................................................. 137 7 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Desde que a necessidade da organização de elementos de ordem similar fez- se presente na mente humana, o impulso em “compartimentar” tornou-se poderoso aliado no sentido de sistematizar o logos obtido através dos tempos. Essa tendência taxonômica surgiu em auxílio a todas as áreas do saber, concedendo aos estudiosos maior comodidade em relação às abordagens de estudo. A episteme literária, em consonância com os demais segmentos do conhecimento humano, utiliza-se amplamente de critérios taxonômicos para a análise e fundamentação de seu material de estudo, cuja sistematização ainda proporciona a sensação de “pisar em solo firme”, ou seja, encontrar certa lógica que una, sob uma mesma denominação, elementos que atuam de forma a corroborar um mesmo sentido, uma mesma direção. No entanto, esse conforto proporcionado pelo método científico é apenas aparente, uma vez que a ciência deve dar conta também de um mundo de exceção. Se o infinito faz parte das ciências ditas “exatas” S se a matemática consegue sustentar a ideia de um “conjunto vazio” e os estudos astronômicos, de um “buraco
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