Seleção Brasileira, Identificação Nacional E Imprensa

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Seleção Brasileira, Identificação Nacional E Imprensa Artigo recebido em Seleção Brasileira, 08/09/2014 Aprovado em 14/10/2014 identifi cação nacional e FRANCISCO ÂNGELO BRINATI imprensa: A Representação do Universidade Federal de São João del-Rei – chicobrinati@yahoo. “Mineiratzen” na Folha de S. com.br 1 Doutorando em Comunicação Social Paulo e em O Globo pela Universidade Francisco Ângelo Brinati do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professor de Resumo Comunicação Social da O esporte, entre as suas diversas variantes, também é meio de expressão das constru- Universidade Federal de ções imaginárias acerca da identidade nacional. O futebol atua como um elemento São João del-Rei (UFSJ) aglutinador de raças e classes e é uma importante maneira de infl uenciar a visão que o brasileiro tem de si próprio. No Brasil, a seleção funciona como instrumento unifi cador de nação, representante da cultura nacional. O trabalho, um estudo sobre Comunicação e Esporte, pretende fazer uma análise do discurso dos jornais impres- sos O Globo e Folha de São Paulo no dia seguinte à derrota do selecionado nacional para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014. Busca-se, uma vez que se percebera o vínculo simbólico entre o conceito de nação e o desempenho da seleção nacional de futebol, entender como foram construídas as representações da equipe e os jogadores diante do revés sofrido dentro de campo. Palavras-chaves Imprensa, Representação, Discurso, Seleção Brasileira, Copa do Mundo. Abstract Th e sport, among its many variants, is also means of expression of imaginary con- structions about national identity. Football acts as a uniting element of races and classes and is an important way to infl uence the vision that the Brazilian has of itself. In Brazil, the selection works as a unifying instrument of nation, representative of the national culture. Th e work, a study on communication and sport, intends to make a discourse analysis of the newspapers O Globo and Folha de São Paulo the day aft er the defeat of the selected national Germany in the World Cup of 2014. Search your- self, once you understand the symbolic link between the concept of nation and the performance of the national soccer team, understand how the representations were built the team and players before the setback suff ered in the fi eld. Keywords Estudos em Jornalismo Press, Impersonation, Speech, Brazilian Team, FIFA World Cup. e Mídia Vol. 11 Nº 2 Julho a Dezembro de 1- Uma versão deste trabalho também foi publicada nos anais do GP Comunicação e Esporte do XIV En- 2014 contro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXVII Congresso Brasileiro de ISSNe 1984-6924 Ciências da Comunicação 2014. 402 DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-6924.2014v11n2p402 Os primeiros anos de futebol cravos e trabalhadores comuns. O homem no Brasil não se preocupava com a aparência física, São várias as versões sobre o início da tinha pele clara e músculos frágeis. Com prática moderna do futebol no Brasil. A a libertação dos negros e o crescente uso mais aceita é a chegada de Charles Miller a social dos esportes, isso muda. Mesmo um Santos-SP, em fevereiro de 1894, após um homem de elite, para se destacar, precisava período de estudos na Inglaterra. Desde ter um bom porte físico e praticar alguma esse que é considerado o marco inicial da atividade esportiva. disseminação do jogo no país, o esporte se No início dos anos 1900, jovens brasilei- tornou um instrumento de unidade na- ros que tinham estudado na Europa e imi- cional, integrante fundamental da Cultura grantes europeus fundaram os primeiros Brasileira. clubes de futebol no país. Restrito inicial- Originado em clubes e colégios de classe mente à elite, “o foot-ball funcionava como média da Inglaterra, no princípio do sécu- um símbolo de status quo, como diferen- lo XIX, o futebol foi instituído de forma ciador de classes, um referencial para as definitiva em 1863, com a criação do The pessoas que queriam ter bom gosto e ser Foot-ball Association, órgão que tinha a aceitos na alta sociedade” (SOUZA, 2008, função de regulamentar e organizar o es- p.28). À época, o remo e o críquete eram porte em terras inglesas. Neste período, a os esportes mais populares, ao menos no prática do jogo já era vista como um mo- Rio de Janeiro. Aos poucos, as cidades fo- delador de caráter de jovens da burguesia ram se transformando. Campos de várzea europeia. Mas, aos poucos, o proletaria- foram aparecendo em bairros suburbanos. do foi conseguindo entrar num ambiente Trabalhadores, pobres, negros e mulatos dominado até então pelas classes média e adotaram o esporte como lazer. Famílias alta2. inteiras acompanhavam os jogos. Novos No Brasil, não foi diferente. Praticado, clubes foram criados. E a popularidade do na maioria, por jovens brancos da elite e futebol aumentou. Antes, somente os jovens e as mu- imigrantes, antes dos anos 1920, as parti- lheres das elites iam assistir aos ma- das eram criticadas por alguns intelectuais tchs. Depois, os espaços nas arqui- nacionalistas que achavam o futebol mais bancadas passaram a ser disputados por um novo público. Trabalhadores uma influência estrangeira e alienante do e desempregados passaram a olhar povo brasileiro. Era mais um elemento que com mais interesse a novidade. To- colocaria em risco a autenticidade da Cul- dos estranhavam, no início, aquele espetáculo de vinte e duas pessoas tura Brasileira. Já que o “ser brasileiro” não correndo atrás de uma bola. Entre- poderia vir de cópias dos países exteriores. tanto, existia algo viril, algo de san- Com a consolidação do fim da escrava- guinário, algo trágico nesse jogo que levava aquelas pessoas, sofridas com tura, a difusão entre as camadas mais po- a vida, a extravasarem seus rancores bres e os negros ganha força, já que a prá- e desilusões numa partida de foot- -ball. (SOUZA, 2008, p.30-31) tica esportiva em geral sofreu mudanças de valores após a abolição em 1888. Antes, A Seleção Brasileira de futebol surge a sociedade brasileira convivia com o pre- nesse cenário, no ano de 1914. Diante da conceito: quem tivesse a pele bronzeada e necessidade de se montar um seleciona- 2- Cf. Souza, 2008. o corpo musculoso era associado aos es- 403 do para enfrentar equipes estrangeiras, bol brasileiro foram marcados pelo ama- foi a campo um combinado de jogadores dorismo. Inicialmente, os jogadores não paulistas e cariocas, no Estádio das Laran- recebiam salários. Contudo, uma prática jeiras, no Rio. A vitória por 2 x 0 sobre o escondia um certo pagamento aos atletas. Exeter City, da Inglaterra, em 21 de julho, O “bicho” – uma ajuda de custo por parti- inaugurou o que seria considerado poste- da – era pago por vitória. Uma espécie de riormente como “um novo canal formal salário informal. Com isso, jogadores das de operação para a diplomacia das nações” classes mais baixas viram uma maneira de (SARMENTO, 2013, p.12). Esse primeiro ascensão. O profissionalismo seria inevitá- jogo foi seguido de diversas disputas con- vel, mesmo sendo alvo de muitas críticas. tra os vizinhos Uruguai e Argentina. Des- O jogador que recebia algum valor por de então, as partidas envolvendo a Seleção partida era considerado “mercenário”. O Brasileira passaram a ser frequentes. E os amadorismo era exaltado, pois o atleta jo- convites para participar de torneios, prin- gava “por amor à camisa” de um clube. Era cipalmente contra equipes da América do um ídolo, apreciado e convidado como Sul, também. estrela em bailes de gala. Sem obrigações Essa disputa em campo, ainda de uma trabalhistas. Um dos medos de se instau- maneira amadora, porém de suma im- rar os contratos profissionais era vincular portância diplomática, colocou o governo o atleta a um clube com deveres e direitos brasileiro diante de uma tarefa complica- de trabalhador comum, sem regalias. da: unificar as associações regionais que Aos poucos, o futebol virara um gran- organizavam a prática do futebol no país de balcão de negócios. Os times que mais em um único organismo nacional. Desde a venciam, traziam mais torcedores, fãs, vi- criação da Liga Paulista de Futebol (LPF), sibilidade. As vitórias eram necessárias. em 1901, vários outros órgãos foram fun- Os melhores jogadores eram disputados dados, principalmente no eixo Rio-São e recebiam bons “bichos”. “Se o atleta não Paulo. Assim, a disputa política entre essas gostasse do ordenado, atuava mal, muda- associações, que atendesse o interesse de va de time ou viajava para o exterior. Era todas em torno do “comando” esportivo preciso encontrar uma maneira de manter inviabilizava a formação de uma Seleção o bom player no clube. Muitos, revoltados com os principais jogadores. Somente em com a sua situação ambígua, exigiam que 1916 foi criada a Confederação Brasileira o profissionalismo fosse reconhecido de de Desportos, que unificaria a organiza- fato” (SOUZA, 2008, p.32). ção do futebol no país3. Mas a CBD, mes- O profissionalismo chegaria de vez nos mo assim, não resolveu de início todos os anos 19304. Década que ficaria marcada problemas de relacionamento e interesses também pelas primeiras Copas do Mun- 3- Cf. Sarmento, 2013. de dirigentes, principalmente de Rio e São do. O Mundial foi uma ideia que surgiu 4- Mais especifica- Paulo. logo após os Jogos Olímpicos de 1928, em mente no ano de 1933, quando “o governo Após fracassos nos primeiros campeo- Amsterdã, na época cidade-sede da Fifa instituiu a profissio- nalização do futebol, natos contra os rivais continentais, o Brasil – a Federação Internacional de Futebol superando os limites conseguiu vencer seu primeiro título em Associado, órgão criado em 1904 para re- do profissionalismo marrom que caracte- 1919, no Sulamericano disputado no Rio ger o futebol no mundo –, quando o atual rizara o esporte por tantos anos” (AGOS- de Janeiro.
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