Maurice Thorez (1900-1964)
João Arsénio Nunes* Análise Social, vol. XXXVI (160), 2001, 939-960 Filho do povo e neto de Clément: Maurice Thorez (1900-1964) Stéphane Sirot, Maurice Thorez, col. «Références/Facettes», Presses de Sciences Po, Paris, 2000. Durante mais de trinta anos Maurice Thorez foi o chefe do Partido Co- munista Francês e, nessa qualidade, o dirigente de um partido comunista da Europa ocidental que por mais tempo — à excepção de Álvaro Cunhal — desfrutou do reconhecimento de uma liderança carismática. Diversamente do último, exerceu essa liderança durante os decénios de maior projecção inter- nacional (inclusive cultural) do comunismo e como dirigente de uma «gran- de potência» eleitoral de uma grande potência europeia. É a esta figura esquecida que a recentemente inaugurada colecção «Références/Facettes» (na qual até agora saíram apenas um volume sobre Maurras, outro sobre Marc Bloch e um terceiro dedicado a Ho-Chi-Minh) consagra o estudo da autoria de Stéphane Sirot. Não se trata de uma biogra- fia, no sentido do que esse género historiográfico normalmente envolve como construção literária. Antes, numas sintéticas trezentas páginas muito simetri- camente organizadas (e conforme o esquema da colecção), procede-se, numa primeira parte, à análise do corpus das representações disponíveis sobre a personagem — Thorez représenté — para, na segunda — Thorez représen- tant —, se fazer o ponto dos conhecimentos. Dentro de uma linha muito característica da historiografia francesa, a primeira parte da obra ocupa-se da desconstrução das imagens históricas prévias: primeiro, do «espelho» originário, fabricado em 1937 (em pleno apogeu, ou assim parecia, da Frente Popular), que foi o livro autobiográfico Fils du peuple.
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