A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO SETOR NAVAL NA
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
E AS CONSEQÜÊNCIAS PARA A
Marinha do brasil*
ARMANDO AMORIM FERREIRA VIDIGAL
Vice-Almirante (ReP)
SUMÁRIO
Introdução
A propulsão mista: Da roda ao hélice A Guerra da Crimcia e suas lições A Guerra da Secessão Norte-Americana A Guerra da Tríplice Aliança A Guerra Austro-Prussiana - A Batalha de Lisa A Guerra da Tríplice Aliança Continua A Guerra Franco-Prussiana Acirra-se o duelo couraça x canhão As torpedeiras com tubos axiais A Guerra Chile-Peru Os Cruzadores
A evolução da pólvora Ação francesa contra chineses "Jeune A École" A Guerra Estados Unidos x Espanha O Submarino de casco duplo A Guerra Russo-Japonesa
A guerra de minas A Batalha do Mar Amarelo A Batalha de Tsushima O Aparecimento do Dreadnought
N-R.: O extenso uso do negrito foi para chamar atenção dos diversos tópicos analisados, c que não mereciam Um subtítulo.
KMB4ÜT72000 131 INTRODUÇÃO armada com a do Chile e a da República da
Argentina. Um confronto há pouco esboça- fim da Guerra do Paraguai (1864-70), a do pelo jornal mais influente deste último Ao Marinha Brasil do era, sem nenhuma país,/4 Prensa, de Buenos Aires, opõe a cada
dúvida, significativa, só sendo superada, em um de nossos vasos de guerra hoje válidos
número de bocas de fogo, pelas Marinhas da um competidor formidável, deixando, ainda,
Inglaterra, Rússia, Estado Unidos e Itália, nas sombras, com que compor mais de uma
nessa ordem. Poucos anos mais tarde, a Esquadra, capaz de medir-se com nossa.
Marinha nacional não tinha ex- Deus nos as já qualquer dê por muitos anos paz com militar. pressão nações que nos cercam. Mas, se ela se rom-
As razões esta decadência são várias. é no oceano para per, que veremos jogar a sorte de O enorme esforço financeiro do Império nossa honra. E essa partida não será decidida do Brasil durante os anos pelo azar, mas pela pre-
em que se envolveu em vidência. A nulificação
guerras externas, muito de nossa Marinha é,
especialmente na Guerra "... um e e no oceano veremos portanto, projeto que da Tríplice Aliança con- começo de suicídio.'" a sorte de nossa tra Solano López, e du- jogar A Proclamação da
rante os anos de turbu- honra" (Ruy Barbosa) República tirou da Ma-
lência interna, após a In- l inha si- E essa não poder político, partida será dependência, deixou ar- tuação que se agravou decidida azar, mas pelo pela ruinada a economia do ainda mais com a Revol-
País, não havendo recur- previdência. A nulificação ta da Armada de 1893, e,
sos a manutenção sem a para de nossa Marinha é, poder político, de uma Esquadra adequa- Marinha perdeu acesso um e portanto, projeto da às necessidades de às verbas para a sua atu- começo de suicídio defesa que, ao longo do alização e renovação.
tempo, puderam ser Menos óbvio como
identificadas: nemaques- justificativa dessa
tão das Missões com a nulificação do Poder
Argentina nem o aumento das tensões no Naval brasileiro, mas tão ou mais importante
subcontinente sul-americano, devido às dis- que as anteriores, foi o fato de o Brasil não ter sensões entre a Argentina e o Chile sobre a podido acompanhar a verdadeira revolução Patagôniaeo Estreitode Magalhães, levaram tecnológica que ocorreu no setor marítimo, na o Brasil a um programa de reaparelhamento segunda metade do século XIX. A Revolução
naval significativo. Em Cartas da Inglaterra, Industrial, teve que início na Inglaterra a partir
Rui Barbosa, em 1896, retratou de forma dra- do final do século XVIII, só chegou aos
mática a situação de nossa Marinha, compa- navios de guerra na segunda metade do sécu-
rando-a, dentro da lógica da época, com as Io XIX, mas, então, as mudanças ocorreram
Marinhas dos demais do ABC em países (Argen- profundidade e se processaram muito tina-Brasil-Chile): rapidamente. "Acabo de ler com tristeza, em um opúscu- Não resta dúvida que a rapidez das mu- Io recente, o estudo comparativo de nossa danças se deveu, em grande parte, ao desafio
1. BARBOSA, Ruy. Cartas da Inglaterra, p. 7-8.
132 RMB4"T/2000
I d° Poder - Naval francês ao Poder Naval de guerra mas esse esforço não teve conti- hegemônico da Inglaterra. Esse desafio per- nuidade, em parte pelas dificuldades finan- s,stiu, embora de intensidade decrescente, ceiras do País, mas, também, porque faltavam ate em que, 1886, a posse na pasta da Marinha as outras condições necessárias para a manu- da França do Almirante Théophile Aube, o tenção de um desenvolvimento industrial Cnador da Jeune École, afastou definitiva- auto-sustentável, como falta de pessoal ca- mente a França da disputa pela supremacia pacitado, em número suficiente, para absor- naval. ver as novas tecnologias, e dos insumos
Apesar de seu poder de fogo, a Esquadra indispensáveis para a industrialização do País brasileira de 1870 era tecnologicamente retar- (por exemplo, pelo fato de o Brasil não haver datária: a maioria dos navios, desenvolvidos descoberto carvão em todo o século XIX, que Para o cenário típico do Rio da Prata, eram veio substituir a lenha como principal com- '"adequados para operar no mar (pequena bustível e era um dos elementos essenciais borda livre); embora alguns dispusessem de para a fabricação do aço, ficou impossibilita- Propulsão a vapor, usavam ainda a roda em do de industrializar-se).2 'uBar do hélice, com todas as desvantagens Chegava ao fim, definitivamente, a época daí decorrentes; a grande maioria era de ma- em que uns poucos operários, dispondo de ^e'ra, apenas poucos levavam couraça; boa uma tecnologia tradicional, de aprendizado Parte da artilharia usada era de canhões de longo mas dependente apenas da prática, e de erro montados sobre carretas, atirando, atra- ferramentas simples, ao alcance de qualquer ves de aberturas feitas no casco, projetis um, podiam construir os maiores e mais sofis- s°'idos não-explosivos. Com a evolução ticados navios de guerra existentes. A partir tecnológica, sua obsolescência foi, pois, muito da revolução tecnológica, o país que não se rápida. industrializasse não teria mais condições de
A indústria naval brasileira - importante construir e mesmo de apenas manter Esqua- desde o período colonial, com a Ribeira das dra moderna e eficaz. A famosa Esquadra aus, em Salvador, e, já no período imperial, brasileira de 1910, conforme veremos, é um eom o Arsenal da Corte (hoje Arsenal de exemplo claro de que, mesmo existindo recur- arinha), no Rio de Janeiro, ambos capaci- sos para a aquisição de navios modernos e 'ados para a construção até mesmo de naus, sofisticados, não havendo uma base indus- °s niais poderosos navios de guerra da época trial capaz de mantê-los nem competência nao pôde acompanhar as mudanças para operá-los devidamente, eles muito pou- tecnológicas que se sucederam, e entrou em co significarão em termos de verdadeiro Po- Acelerada decadência. É bem verdade que derNaval. Urante a Guerra do Paraguai foi feito um Alguns fatos ocorridos na primeira meta- c°nsiderável esforço para a aquisição de de do século XIX serão aqui citados porque tecnologia moderna - o sucesso mais expres- eles foram etapas iniciais de processos que SIV° foi a construção de dois navios - tiveram conseqüências no setor naval na ®ncouraçados e três monitores encouraçados segunda metade desse século; a nossa rese- 0 total, foram construídos seis) que torna- nha estender-se-á até o início da Primeira Possível - a Passagem de Humaitá, o acon- Guerra Mundial (1914 18) eventos ^a,T1 porque Clrnento de maior significação estratégica importantes então decorridos provêm de des-
Os Estados Unidos, pelo contrário, descobriu importantes reservas de carvão quase à flor da terra, criando condições excepcionais para uma rápida industrialização.
HMB4UT/2««0 133 dobramentos tecnológicos verificados ante- imediata, só se tornaram de emprego comum riormente, enquadrando-se, portanto, no es- após 1850. A grande maioria dos navios de copo deste trabalho. guerra antes desta data era de construção toda em madeira, com propulsão apenas a A PROPULSÃO vela, armadacom canhões de ferro, montados MISTA: DA RODA sobre carretas, dispôs- AO HÉLICE = ~^~"^^^ tos ao longo dos bor- dos do navio e atirando As transformações No início do século XIX, não projetis sólidos, das resultantes do desen- havia diferença sensível na variantes existentes.3 volvimento tecnológico dos navios Um bom exemplo de no setor naval ocorre- qualidade das navio típico do final da ram em todas as áreas: grandes potências e de países primeira metade do sé- na construção naval, na recém egressos do jugo culo XIX é o HMS propulsão dos navios, colonial Victoria, uma fragata nos seus equipamentos three-decker, isto é, e, finalmente, nos seus ² com três conveses, sistemas de armas. lançadaaomarem 1859 Embora os principais - que até 1867 foi o desenvolvimentos só viessem repercutir nos capitania da frota inglesa do Mediterrâneo; navios de guerra e nas formas de seu emprego era um navio construído de madeira, propul- na segunda metade do século XIX, eles tive- são exclusivamente a vela, armado com 121 ram origem nas cinco primeiras décadas do canhões distribuídos nos seus três conve- século; outros, ainda que tendo aplicação ses; uma bordada desses canhões era capaz
3. Até meados do século XIX, os projetis pouco mudaram, havendo quatro tipos principais: o tiro sólido, que consistia numa esfera de ferro fundido, do tamanho compatível com o calibre do canhão. Um tiro desse tipo, no caso de canhões de maior calibre, tinha um alcance de cerca de 4(K) jardas - para calibres - menores o alcance era da ordem de 2(K) jardas e podia atravessar, quando usado a queima-roupa, 4 a 5 pés de madeira maciça. Este tipo de tiro apresentava duas variantes: o "tiro com corrcnle". em duas esteias "tiro-harra", que sólidas eram ligadas por uma corrente, e o cm que duas semi-esferas sólidas eram unidas por uma barra de ferro soldada nelas; essas duas variantes eram usadas para avariar os mastros dos navios inimigos c o aparelho de velas. o tiro de estilhaços, que podia ser de dois lipos diferentes - 0 grape-slun ou 0 liro de metralha, que consistia cm diversas camadas de pequenas esferas sólidas de ferro dentro de um saco de lona grossa, amarradas juntas de modo a formar um cilindro de diâmclro compatível com o canhão; e o case-shot, em que a metralha era conseguida colocando-se grande número de tiros de mosqucle dentro de uma caixa cilíndrica metálica, de diâmetro adequado ao calibre do canhão (funcionava como o shrapnet). o "tiro liro iiucmliúrio, também de dois tipos - o hol-shol ou qucnlc". em que a esfera de ferro era aquecida até o rubro anles de ser colocada no canhão (para evitai a detonação prematura da pólvora propelente, o "carcaça" "esqueleto". projétil era isolado da pólvora por uma camada de palha úmida nu de argila); c a ou que consistia numa estrutura de ferro, assemelhada às costelas de um corpo humano, cheia de material combustível, de forma e tamanho compatível com o morteiro ou canhão a ser usado o liro explosivo ou granada explosiva que, a partir de IK.V), passou a ser de uso comum a bordo (pelo menos, alguns canhões de bordo podiam atirar esse tipo de granada); I esfera de ferro fundido era oca, sendo o espaço va/io cheio de pólvora; um pavio, uma vez aceso fazia a pólvora explodir. Inicialmente, 0 pavio era aceso antes de se colocar a granada no canhão, o que, obviamente, era muilo perigoso, razão pela qual a prática foi abandonada tão logo foi constatado que a detonação da pólvora propelente acendia automaticamente o pavio; este lipo de tiro era em geral usado em morteiros. O projétil moderno é uma evolução dessa granada explosiva.
1.14 RMH4"T/2l>00 ^ y '
Combate do Banco Santiago, 7 e 8/4/1827: Início do incêndio do Independência (Arg.) - - (Aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho No.\sa Marinha p. 37)
liberar 3.016 libras inglesas de metal, en- Nesse confronto sul-americ mo, sendo o
Quanto Poder Naval dominante, o Brasil estabeleceu o peso total dos tiros de todos os canhões Prata, de menor chegava a 6.167 libras, ou seja, pou- o bloqueio do e a Argentina, Co menos de 3 toneladas. Poder Naval, decretou a guerra de corso*
A última marítimo O mais grande batalha naval envolvendo contra o comércio brasileiro. aPenas navios a vela ocorreu em 1827, na Baía importante combate naval da guerra-a Bata-
Navarino, lha de Santiago - embora uma vitória tática quando uma força naval combi- nada da Inglaterra, França e Rússia, destruiu argentina, cujas perdas foram inferiores às a Enquadra turco-egípcia, assegurando a in- brasileiras, foi uma vitóriaestratégica do Bra- ^Pendência da Grécia, liberada então do sil, que conseguiu manter o bloqueiodo Prata ^°Tiínio turco (Guerra da Independência da (semelhantemente ao que ocorreria na Primei- ^écia: 1821-27). ra Guerra Mundial, na Batalha da Jutlândia,
Na mesma época, as Esquadras argentina uma vitória tática da Alemanha, mas estraté- e brasileira da Inglaterra). Embora as argen- que se defrontavam na Guerra gica perdas Cisplatina (1825-28) muito pouco diferiam tinas tenham sido menores que as brasileiras, ern termos tecnológicos dos navios da Es- os argentinos tiveram o núcleo de sua força Quadra anglo-franco-turca. A revolução naval destruído, ficando ela, pois, a partir daí, tecnológica só teria lugar alguns anos mais com o seu valor militar muito reduzido. A ta'de, não havendo diferença sensível na independência da Cisplatina, com o nome de
Validade República Oriental do Uruguai, fim ao dos navios das grandes potências pôs c ^ o novo funcionando como países recém egressos do jugo colonial, conflito, com país diferenças "algodão do um tampão entre Argentinae Brasil, eram mais quantitativas que Qualitativas. entre dois cristais", no dizer de Lorde
N.R.: "O sobre o assunto, ver corso nas costas do Brasil", RMB Ia trim./2000, p. 53-78.
KMB4uT/2ooo 135 Ponsomby, embaixador inglês e mediador do dos canhões inimigos, ainda que estes fos- acordo de paz.4 sem bastantes primitivos, e tirava o espaço As o experiências para dotar os navios com destinado à própria artilharia, reduzindo a a vapor vinham propulsão sendo feitas des- poder de fogodo navio; umacerta hostilidade de os últimos anos do século XVIII, mas as do pessoal do convés para com os maquinis-
primeiras embarcações práticas a usar o va- tas e foguistas, homens rudes, sempre às
apareceram no início do XIX: voltas por século em com óleos e graxas.
1801, o engenheiro escocês Willian Symington A oposição britânica ao vapor fundamen-
construiu um rebocador a roda; em pequeno tava-se ainda na consciência de que a adoção 1803, Robert Fulton fez um barco pequeno a generalizada desse tipo de propulsão, espe- vapor navegou no Rio Sena, que e, em 1807, cialmente para os grandes navios de linha, de volta aos já Estados Unidos, construiu tornaria obsoleta, de um só golpe, toda a sua uma embarcação a vapor fez a viagem que de Esquadra, a mais poderosa do mundo, o trun- Nova Iorque para Albany a uma velocidade fo que lhe garantira a condição de nação de 4 nós. 1812, Em Fulton começou o projeto hegemônica. O Primeiro Lorde do Almiranta-
do primeiro navio de guerra a vapor, a Fragata do britânico, Lorde Merville, declarou em
USS Demologos, um catamarã com a roda 1828: "Os entre os seus dois cascos roda ficava mais lordes é (a do Almirantado sentem que
protegida, mas o navio tinha pouca o seu dever maior desencorajar, até o limite de manobrabilidade); ela tinha 156 pés de cum- sua capacidade, o emprego do navio a vapor, e era armada 24 primento com canhões 32- porque consideram que a introdução do va- a fragata só foi completada em 1815, foi na pounder, por planejada para dar um golpe fatal
após o fim da Segunda Guerra de Indepen- supremacia naval do império." [trad.nossa]5
dência dos Estados Unidos e a morte de Entretanto, o desafio naval francês, enca-
Fulton; em 1829 foi destruída por uma expio- beçado pelo brilhante oficial de artilharia Henri - a são no seu paiol. Paixhans que, desde 1822, antecipava As limitações novo do sistema de propul- revolução que seria criada com a adoção do
são eram, porém, ainda muito grandes. As vapor e das granadas explosivas (desde 1830
Marinhas de todo o mundo, principalmente a os franceses, com o Aviso Spliinx, adotaram
da Inglaterra, opunham-se à construção de o vapor) - levaria o Almirantado a ir revendo
navios de a vapor, só aceitando guerra este as suas posições. Assim é que em 1837 eles tipo de as propulsão para pequenas embarca- lançam o seu primeiro navio de guerra com auxiliares, ções como rebocadores, dragas, propulsão a vapor, a Chalupa HMS Gorgon,
etc. As razões para isso eram várias: a preca- com propulsão mista, a roda, armada com dois
riedadee pouca confiabilidade das máquinas canhões na linha longitudinal do navio, um
a vapor existentes; a dependência ao forneci- avante e outro a ré.
mento de carvão, nas viagens maiores, sendo Pouco tempo depois, cm 1839, aparece-
necessário instalar estações de reabasteci- ram as granadas explosivas, desenvolvidas
mento de carvão ao longo da rotas dos navi- Paixhans; de por os navios passaram a dispor os; o uso da roda - o único recurso então canhões que atiravam os projetis sólidos existente impulsionar o navio - convencionais as para tornava e de canhões que atiravam
os navios extremamente vulneráveis ao fogo granadas explosivas. Desde o final do século
4. CARDOSO, Efraim. El Império dei Brasil y El Rio de la Plata, pág. 19. Donakl 5. MCINTYRE, & liATHE, Basil W. Man of War-a Hislory of llie Combat Vessel, p. 75-76.
136 RMB4T/2000 ^ VIU que a França e a Inglater- ra faziam experiências com esse llP° de granadas mas, devido à at'tude do pessoal de Marinha c°ntra a - granada explosiva clUe consideravam tornaria a "pouco guerra cavalheiresca" "" os desenvolvimentos foram 'entos. À medida que os navios foram se tornando imunes à artilharia da época, esse pre- Aviso Corse, primeiro navio de guerra a utilizar hélice em sua onceito foi desaparecendo. propulsão. Lançado em 1842 como navio de passageiros, em 1850 foi Embora incorporado à Marinha francesa, onde serviu por quase 50 anos. ^ as primeiras experi- er,eias Superou 12 nós e, aos 29 anos de serviço, navegou 11.000 milhas com o hélice datassem sem avaria. (Foto: Procecdings) de 1825, só em 1842osfrance- ses 'ançaram o primeiro navio com hélice, o O primeiro navio de guerra de certo porte Aviso Corse, com propulsão mista, que al- a usar o hélice só surgiu em 1844: a Fragata CanÇ°u 12,4 nós de velocidade. No ano se- USS Princeton, com hélice Ericsson. êU|nte, os ingleses lançaram a Escuna HMS Na Inglaterra ganha força a idéia de que o Qttler, de propulsão mista, a hélice, já com hélice não deveria ainda ser usado em navios °s motores a vapor de dois cilindros (até de linha, acreditando-se que a roda era mais 839 "dúvidas", todos os motores eram de apenas um eficaz. Para dirimir as o Almiranta- c'ündro). do, 1845, fez em realizar uma série de provas No Brasil, o Arsenal da Corte construiu, entre a Escuna Rattler, a hélice, e a Escuna, de eni 1843, a primeira embarcação a vapor feita mesmo tamanho e potência, Alecto, a roda. país, a Barca Tetis, com deslocamento de As provas de velocidade, realizadas em di ver- u toneladas. . Os motores e caldeiras foram sas condições de tempo e de mar, foram todas "Aportadas da Inglaterra. vencidas pelo navio a hélice, assim como a "um Em 1843 - , as mudanças tecnológicas che- prova final cabo de guerra". S^am também às minas marítimas6. Samuel Enquanto os ingleses experimentavam, os t desenvolveu "minas um sistema de con- franceses inovaram: em 1845, colocavam em tr°'adas", em que as minas eram explodidas serviço a sua primeira fragata a hélice, a Pamo- P°r ação de um observador que acionava um ne, três anos antes que os ingleses adotas- sPositivo; uma corrente elétrica circulava sem o hélice para suas fragatas. A Pamone
ao longo de cabos submarinos, fazen- dispunha de motor horizontal de 2 cilindros a mina explodir quando o navio-al vo esta- de 22 HP, usava hélice Ericsson, e era capaz Va Próximo. Durante os testes, um navio a 5 de desenvolver 7 nós. Na época, as fragatas
de distância do posto de observação desempenhavam o mesmo papel que, bem filhas01 destruído por uma dessas minas. mais tarde, os cruzadores desempenhariam.
As m'nas, com o nome de torpedos, foram inicialmente desenvolvidas no século XVIII pelo norte-americano av'd Bushncll, com a sua mina flutuante que explodia ao se chocar contra o navio-alvo. Esta mina é a ancestral das minas modernas, pois só explodia quando em contato com o alvo. Em 1777, foi usada com sucesso pelos norte-americanos contra a frota britânica no Rio Connecticut; ela foi lançada contra a Fragata Cerberus, não a acertando, mas atingindo e afundando uma escuna ancorada nas suas proximidades. KMB4UT/200() 137 Em 1846 são construídos e testados os cidade, foi necessário colocar entre o motor e dois primeiros canhões com alma raiada e o hélice desse navio uma engrenagem redu- carregamento culatra pela (o engrazamento tora, para conciliar o melhor rendimento do do projétil cilíndrico nas ranhuras do tubo motor (alta velocidade) com o melhor rendi- alma tornava complicado o carregamento pela mento do hélice (baixa velocidade); com isso boca, daí a necessidade do carregamento foi pela possível usar caldeiras com maior pressão, culatra, além, é claro, da maior rapidez de tiro dando mais eficiência ao sistema propulsor o propiciada pelo carregamento pela culatra. como um todo; em termos estruturais,
Voltaremos a falar sobre isso). Estes canhões, Agamemnon era um three-decker-navio de
- produzidos pelo Major Cavalli, oficial da arti- três conveses armado com 91 canhões lharia da Sardenha, e pelo Barão Wahrendorf, (contra 90 do Napoléon). mestre ferreiro sueco, não foram adotados Na América do Sul, em meados do século
nenhuma Marinha de expressão, apesar XIX, as tentativas por argentinas para fazerre viver de terem alcançado excelentes resultados nos o Vice-Reinado do Prata- a Argentina consi- testes. derava-se herdeira da Espanha - e a forte
Os franceses, mais uma vez, se adiantam oposição do Império do Brasil a essa preten- aos ingleses, lançando ao mar, em 1848, o são, mantinham vivas as tensões no sul do
navio de linha a hélice, de continente. Em virtude primeiro propulsão disso, o Brasil procu- mista, o Napoléon, projeto do grande Dupuy rou fortalecer o seu Poder Naval, não só de Lôme; usando apenas o vapor, o Napoléon construindo em estaleiros nacionais alguns alcançou a velocidade de 14 nós. Só nesse navios com propulsão mista, a roda-em 1850 ano, três anos após os franceses, os ingleses e 1851 são construídos três vapores nos - lançaram suas primeiras fragatas a hélice. estaleiros da Ponta da Areia* e da Saúde7
Os alemães, em 1848, desenvolveram uma , mas, também colocando encomendas no série de testes na universidade de Kiel visan- exterior - 1848 em é incorporado o primeiro do a melhorar as minas existentes. As minas navio de guerra a vapor, a Fragata DomAfon- controladas, por eles aperfeiçoadas, foram so, a roda, construída na Inglaterra. usadas na guerra de emancipação de O apoio ostensivo de Rosas, ditador ar-
Schleswig-Holstein com o de a Oribe em oposição propósito pro- gentino, que, ao governo teger o Porto de Kiel da frota holandesa; legal do Uruguai, pela pretendia assumir o poder "associação vez, primeira portanto, é usado um campo de para unir-se à Argentina, numa minas em caráter defensivo e não, como era de iguais" (sic), levou a Argentina e o Brasil usual até -conhecida então, em caráter ofensivo. à guerra entre nós como a Guerra
Em 1850, com dois anos de atraso em Contra Oribe e Rosas (1851-52). Sob o ponto relação aos franceses, os ingleses lançam o de vista naval, o fato mais importante do seu navio de linha a hélice, o HMS foi Passagem primeiro condito a de Tonelero pela Agamemnon; usando motores de maior velo- Esquadra brasileira. A passagem havia sido
* N.R.: Sobre os estaleiros da Ponla da Areia, ver A fábrica da Ponta da Areia, RMH 2" trim./1997, p. 61 a 69. 7. Na Ponta da Areia, foram construídos os Vapores Recife (1849), Pedro II (1850) e Paraense (1851); na Saúde, o Vapor Golfinho O desenvolvimento (1851). do estaleiro da Ponta da Areia teve início em 1846 quando Irincu Evangelista de Souza (o futuro Visconde de Mauá) adquiriu o Estabelecimento de Fundição e Companhia Estaleiros da Ponla da Areia. Em 1848, o estaleiro contava com cerca de 300 operários, incluindo engenheiros
e operários europeus, dando início à construção de grande números de navios (em 11 anos foram construídos 72 navios, inclusive os vapores mencionados). "A Ver também história (N.R.: da construção naval no Brasil" na RMH 2" trim/1998, pág. 159 e 160.)
RMB4"T/2000 fortificada com 16 pe- Çasdeartilhariae2mil hoi mens; para que as * ^ forÇas L94 + w%4£k-æ i, ¦> m5m m^^*\W^*\\\\\Amgm brasileiras, pro- |L.,. , y I^^l <*^F ^H venientes da Colônia de Sacramento, pudes- sem chegar a Diaman- te-no Rio Paraná, e daí atacar as forças de Ro- Sas, seria necessário transportá-las além de T°nelero. Os vapores brasileiros Dom Afon- •So- - capitania de Gren- NAPOLEÃO LEVEL CARLOS BRACONNOT fe,UmaisoPeí/ro//,o (Fotos SDM) Rec'fe e o D. Pedro, chocando duas corvetas e um brigue, estes Sinope, na guerra entre a Rússia e a Turquia, res a vela, tiveram êxito nessa passagem e as a frota russa -cujos navios, na maioria, eram r°pas brasileiras puderam atacar e derrotar, armados com canhões Paixhans, ainda de etT> Monte Caseros, as tropas de Rosas, pon- alma lisa, mas já fazendo uso das granadas do fim ao conflito. explosivas -, sob o comando do Almirante Com isso, cessaram todas as restrições Nakhimov, atacou e destruiu um esquadrão Mue se faziam no Brasi I ao emprego do vapor; naval turco, sob o comando do OsmanPasha, 111 eertas circunstâncias, ficara comprovado, cujos navios não dispunham de canhões a '"dependência em relação ao vento era capazes de atirar as explosivas. ,undamental granadas para a Marinha de Guerra. O Apesar de esmagadora superioridade naval Ministro da Marinha, Conselheiro Vieira Tos- russa - que alinhava seis navios de linha, tia> em seu relatório de 1852, insiste na neces- duas fragatas e três vapores - contra os 'dade do aumento de número de navios a turcos - que dispunham de sete fragatas, três *Por para a Esquadra, apoiando a sua argu- corvetas e dois vapores - o rápido massacre cntação na experiência de Tonelero. dos turcos foi atribuído pelos analistas ao Em 1852, começam a chegar do exterior os terrível efeito das granadas explosivas sobre asi'eiros enviados pelo governo para se os navios de madeira. sPecializarem em estaleiros europeus nas A Batalha da Baía de Sinope não só de- 0vas tecnologias ligadas à construção mili- monstrou a eficácia das granadas explosivas, ar- Napoleão Levei e Carlos Braconnot eram mas deixou claro dali frente, impu- Clvis que, para que trabalhavam no Arsenal da Corte e nha-se os navios usando couraças. "Ue proteger se especializaram, respectivamente, em Ofistrução naval e máquinas. Com eles che- Wrarn ao Brasil técnicos estrangeiros para A GUERRA DA CRIMEIA E SUAS arjalhar nas oficinas do Arsenal. As conse- LIÇÕES MUericias dessas medidas logo se fariam sen- ""' conforme veremos. AGuerra da Criméia(l 854-56) trariaalguns Em 1853, há o primeiro teste real das importantes ensinamentos para a guerra no danadas explosivas. Na Batalha Naval de mar. *MB4Or/2000 139 Ela representou excelente oportunidade do forte e depois de 4 horas de bombardeio,
uma reavaliação dos para confrontos, tão o forte russo, que usara contra as baterias freqüentes à época, entre navios e fortalezas flutuantes tanto projetis sólidos como grana- de terra; até então, esse confronto era franca- das explosivas, foi forçado a se render (45 mente favorável às fortalezas, não só devido mortos e 130 feridos), enquanto as três embar-
à fragilidade de navios de madeira sem coura- cações encouraçadas sofreram apenas avari-
ça mesmo em face dos projetis sólidos, mas, as insignificantes: os tiros sólidos do forte também, à eficácia dos canhões navais ricocheteavam na pouca couraça e as granadas ex- contra as poderosas defesas das fortalezas. plosivas, explodindo contra a couraça, não
Os franceses foram os a reagir às nenhum primeiros produziam dano. A partir daí não lições de Sinope. Em 1855, desenvolveram mais se podia duvidar da eficácia da couraça um tipo especial de embarcações enfren- navios a para para os de guerra e ficava claro que "ba- tar os fortes de terra; conhecidas como voltaria tecnologia se para o melhoramento terias flutuantes" eram embarcações fun- de dos canhões e dos projetis usados. Ficou do chato, operar em águas rasas, para próxi- fácil perceber que a granada explosiva só mas à terra, construídas de madeira mas seria eficaz pro- contra a couraça se pudesse tegidas com couraças de ferro forjado de 4,5 perfurá-la e explodir na parte vulnerável dos de espessura, montadas sobre navios; polegadas pia- para isso, o projétil deveria ser cilín- cas de madeira de 18 (teca) polegadas de drico e ter ponta (ogiva); com os canhões de espessura8; esta couraça fora planejada para alma lisa, o projétil ao deixar o tubo alma do resistir aos canhões típicos da época, os 68- canhão tinha uma trajetória muito instável pounder9 de alma lisa. Nesse mesmo ano, as (dando verdadeiras cambalhotas), não se três Baterias Flutuantes Dévastacion, Lave e podendo garantir que ele acertaria aonde se
Tonnante, dispunham de a muito mesmo que propulsão queria e que ele bateria de ponta vapor capaz de deslocá-las a uma velocidade no alvo; a alma raiada, já testada e aprovada de 2 a 3 nós, foram rebocadas o Mar para desde 1846, conforme já vimos, seria a solu- Negro fragatas de mista, por propulsão a ção para este problema. roda, e, compondo um esquadrão anglo-fran- Ainda nesse mesmo ano, o bombardeio de cês com outros navios tradicionais, ti veram a Sebastapol por um esquadrão inglês, do qual missão de neutral izar o forte russo de Kinburn, fazia parte o Agamemnon e outro navio da na foz do Dnieper. Enquanto os navios de mesma classe, mostrou o valor da propulsão madeira, sem davam apenas fogo a vapor, os dois proteção, já que navios de propulsão de apoio e engajavam algumas baterias peri- mista, diferentemente dos navios a vela, po- féricas do forte, os navios com couraça fica- diam se posicionar convenientemente em re- ram estacionados a algumas milhares dejardas lação aos pontos a serem atacados, dando
8. A idéia de empregar couraça nos navios é muito antiga. Já no século XVI, numa guerra entre a Coréia e o Japão, "navio surgiu o navio, ainda a remo, primeiro protegido eom couraça; conhecido como tartaruga", pelo seu aspecto exterior, dispunha de um convés em forma de domo, feito de chapas de ferro, às quais foram soldados verdadeiros espigões de ferro; o navio era praticamente invulnerável às armas da época e a sua abordagem pelo inimigo era quase impossível. 9. Antes de os canhões serem designados pelo calibre, o que só acorreria na segunda metade do século XIX, eles eram designados do usavam: pelo peso projétil que um canhão inglês 68-pounder era um canhão que atirava um 68 libras inglesas. projétil pesando Devido à diferença de padrão de pesos havia uma dificuldade de comparar canhões de diferentes; exemplo, um procedências por 36-pounder francês atirava projetis que pesavam, aproximadamente, 39 libras inglesas; um 4R-pounder sueco, - projetis de 45 libras inglesas; um 42 pounder russo, projetis de cerca de 30 libras inglesas.
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Fragata - Amazonas. (Aquarela do Almirante Trajano Augusto Gonçalves Nossa Marinha, p. 57) mais eficácia ao bombardeio, indiferentes à consistiam em tubos de vidro cheios de ácido ^'reção do vento. sulfúrico; quando quebrados pelo casco de No que se refere à guerra de minas, os um navio, liberavam o ácido que então se rUí>sos usaram de a minagem defensiva para a misturava com clorato potássio e açúcar, Pr°teção e chamas suficientes dos portos de Sebastopol, Sveaborg gerando calor para pro- e Kronstadt, usando minas de contato, isto é, vocar a explosão da mina.
^Ue explodiam casco Já apontamos durante a Guerra da quando atingidas pelo que um navio. navios Os fusíveis dessas minas, pro- Cisplatina os argentinos e brasileiros Vavelmente muito semelhantes contempo- desenvolvidos por Alfred Nobel, eram aos seus
Canhoneira Ipiranga. Primeiro navio de guerra a htílice construído no Brasil (Arsenal de Marinha da Corte). Projetado e construído por Napoleào Levei - - (Aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho Nossa Marinha. p 53) râneos que lutaram em Navarino. Agora, pelo Ainda cm 1856 os ingleses desenvolvem contrário, os navios de linha da frota anglo- o canhão A rmstrong, com carregamento pela franco-turca na Criméia eram tecnologicamen- culatra, alma raiada, capaz dedispararprojetis te muito superiores aos navios de Navarino, cilíndricos com ogiva, providos com cinta de embora muito pouco afastados no tempo. chumbo para que pudessem engrazar nas O Brasil procurava compensar o seu atra- ranhuras do tubo alma. O canhão Armstrong, so tecnológico tanto adquirindo navios no que só seria usado a bordo alguns anos mais exterior-em 1852, chega ao Brasil a Fragata tarde (1860), consistia num tubo alma no qual de propulsão mista, a roda, Amazonas; em um número de jaquetas eram vestidas a quen- 1854, recebeda Inglaterra os primeiros navios tee, após o resfriamento, elas encolhiam e for- a hélice (quatro canhoneiras); em 1856, mais mavam uma unidade sólida com o tubo alma. três - como construindo no Brasil - em 1854 Desta forma, o canhão ia tendo sua resistên- inicia a construção da Canhoneira Ipiranga, cia aumentada, da boca para a culatra. O tubo que seria o primeiro navio a hélice construído alma era raiado internamente no sistema de no País (projeto de Napoleão Levei, executa- múltiplas ranhuras (grande número de ranhu- do no Arsenal da Corte; as máquinas e as ras rasas). O bloco de culatra, uma peça sólida caldeiras, sob a supervisão de Carlos de ferro forjado, furada e com ranhura, era en- Braconnot, foram construídas também no caixado a quente na parte oposta à boca; um Arsenal) A Ipiranga participaria da Batalha rasgo aberto através dela e da jaqueta acima Naval do Riachuelo. permitia que uma cunha fosse inserida, fe- O agravamento das relações do Brasil chando esta extremidade do tubo alma; a eu- com o Paraguai, conseqüência das di vergên- nha era mantida no lugar por um parafuso va- cias quanto a questões de fronteiras e livre zado que antes da colocação da cunha permi- navegação nos rios da região (houve ruptura tia o carregamento do canhão. Este sistema das relações diplomáticas entre os dois pai- mostrar-se-ia propenso a causar acidentes. sesem 1853),estimulou maiores invcstimcn- Dois anos mais tarde, a Marinha francesa tos noPoderNaval brasileiro, principalmente adota o sistema de culatra com ranhura inter- em termos de preparação de mão-de-obra rompida (quatro seções separadas): a alavan- qualificada. ca de operação primeiro levava o bloco para Os ingleses não tardaram a copiar os dentro da culatra e depois girava-o 1/8 de navios encouraçados franceses que tão bom volta, fazendo com que as ranhuras do bloco desempenho haviam tido contra os fortes de engrazassem com as da culatra, ficando 0 Kinburn, mas logodepois procuraram supera- bloco assim travado. los, lançando ao mar quatro navios com cou- Também na Alemanha o carregamento raça-o 1 IMS Thunderbolt, o Terror, o Aetna pela culatra mereceu a atenção dos técnicos, e o Erebus — todos em 1856; embora não se começando o desenvolvimento do sistema possa dizer que esses navios fossem de linha, Krupp, usando, como o Armstrong, um siste- eles foram os precursores dos modernos na- ma de cunha, mas sem os inconvenientes do vios de guerra, sendo os primeiros navios a sistema inglês. combinar casco de ferro, couraça e propulsão Com o fracasso da missão diplomática do a vapor.10 Almirante Pedro Ferreira de Oliveira, enviado
10. O tradicionalismo naval fez com que as Marinhas de (iuerra custassem a adotar o casco de ferro; desde 1832, o engenheiro inglês Bruncl já lançara mão desle recurso na construção de um grande transatlântico: o Greal Brilain.
142 RMB4°T/2000 a Assunção inspirou-se no pelo governo brasileiro, logo bombardeio do Kinburn pelas aPós a interrupção das relações diplomáticas baterias flutuantes francesas. entre os dois países (1853), um novo impulso Os franceses, em 1859, lançam ao mar o
Para a renovação do Poder Naval brasileiro Gloire, uma fragata de 5.600 toneladas, a
teve lugar. Em 1857, é iniciada no Arsenal da primeira de uma classe de três navios Corte a construção da Corveta Niterói, até construídos de madeira mas dotados de cou- então vapor raça, o maior navio de propulsão a projetadas por Dupuy de Lôme. Eram construído Brasil; navio dotado no o seria navios de propulsão mista a hélice (inicial- c°m canhões de alma raiada. Por dificuldades mente o Gloire só dispunha de mastro de tecnicas a construção arrastou-se até 1863. sinais mas depois recebeu toda a aparelha-
A luz da experiência adquirida quando da gem para vela), capaz de desenvolver, só com fissão diplomática enviada à Assunção - o vapor, 13,5 nós. A mais significativa mudan- c°m exceção vapor de um pequeno em que ça no Gloire estava na sua artilharia, toda ela yiajou o chefe da missão, todos os navios da concentrada numa única fileira de poderosos força naval brasileira não puderam subir o Rio canhões (pelo fato de todos os canhões es- Paraguai porque calavam muito-Tamandaré tarem num único convés do navio, apesar de ¦"ecebeu o encargo de adquirir na Europa seu tamanho, foi classificado como fragata). canhoneiras navegar no Prata que pudessem A economia de peso assim conseguida permi- e dispusessem de couraça em face da existên- tiu que o navio recebesse uma cinta couraçada C]a de muitos fortes nas margens do Rio de 4,7 polegadas de espessura, fabricada por Paraguai; como resultado, são recebidas, no Creusot. O armamento do Gloire consistia em alo de 1858, duas canhoneiras construídas 36 canhões de um novo modelo 66-pounder,
na França e sete na Inglaterra, todas a vapor carregamento pela culatra, alma raiada, atiran- e a hélice, com pequeno calado para operarem do projetis explosivos, 34 deles ao longo da nos rios do Prata. seu borda do navio Conforme aponta em e dois montados em pivôs. Um relatório para o Ministro da Marinha, dos três navios da mesma classe tinha casco ^amandaré, no que diz respeito à couraça, de ferro, o Couronne, lançado em 1860.
Corveta Niterói. (1862). Construído no AMRJ sob pia ;>s do Engenheiro Napoleão Levei; casco de madeira e Almirante Trajam - - propulsão mista. (Aquarela do Augusto de Carvalho Nussci Marinha p. 88)
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bordos dos navios, como os
navios mais antigos do perío-
do da vela. A época das bar-
betas e torres ainda não havia
chegado, embora, já nessa épo-
ca (1860) o canhão Armstrong
tivesse sido introduzido a bor-
do dos navios britânicos.
A insistência das Marinhas
na propulsão mista, mantendo
ainda nos navios toda a apare-
Gloire (1859). Primeira fragata encouraçada francesa I hagem para a propulsão a vela, - (Foto: Rivisla Maritlima Itália) como no Gloire e no Warrior,
decorria de uma série de cir-
No ano de 1859 tem início a construção cunstâncias. Esses navios eram destinados dos primeiros navios de linha dotados de aríete às grandes viagens marítimas, com extensos que, breve, seria uma característica de todos cruzeiros abrangendo áreas onde os pontos os da encouraçados época; projetados por para reabastecimento de carvão eram pou-
Dupuy de Lôme, são lançados em 1861 o cos, ficando muito afastados um dos outros,
Magenta e o Soferino, bastante semelhantes e, além disso, as máquinas então disponíveis ao Gloire. A ineficiência dos canhões da eram deficientesequebravam freqüentemente,
época os navios encouraçados valo- contra daí o conservadorismo dos que não queriam "Chaminés rizou o aríete que, se supunha, podia atingir abrir mão da vela. A ordem para os navios inimigos abaixo da linha d'água, na baixo; hélice para cima" ("Downjunnel; up não Voltaremos parte protegida pela couraça. screw"), que assinalava numa viagem a pas- ao assunto mais adiante. sagem da propulsão a vapor para a vela, tão
Os ingleses reagiram ao desafio francês freqüente à época, refletia uma situação bas- do Gloire lançando ao mar, em 1860, o HMS tante comum: os navios mistos eram essenci-
Warrior, que é o primeiro navio de linha com almente navios a vela que, ocasionalmente, casco de ferro. Embora fosse lançado um usavam o vapor. No B rasi I, por exemplo, que antes do este foi incorpo- pouco Couronne, importava todo o carvão consumido pelos rado E um navio de ainda primeiro. propulsão navios de Cardiff, na Inglaterra, era o próprio mista, mas vapor a propulsão a é agora a Ministro da Marinha que autorizava os tre- e não apenas um viagem principal, complemento à chos da em que a propulsão a vapor a vela. O Warrior propulsão deslocava 9.210 podia ser usada. toneladas e dispunha de couraça de 4,5 pole- A medida que as estações de reabasteci-
de espessura. Inicialmente, navio foram o gadas o era mento sendo instaladas por todo dotado com canhões de alma lisa, em carrega- mundo e as máquinas a vapor ganhavam mento pela boca, montados sobre carretas, desempenho e confiabilidade, a situação co- mas o eles foram sendo substituídos por ca- meçou a mudar. Entretanto, foi só quando nhões de alma raiada. aumento do peso dos armamentos e das cou-
Neste ponto da evolução dos navios de raças comprometeu a estabilidade dos navi- guerra, duas considerações são importantes. os, reduzindo a borda livre de tal modo que
Tanto o Gloire como o Warriorcram ainda eles não mais podiam levar, sem risco, o peso armados fixos, com canhões alinhados nos alto representado pelos mastros e seus apa-
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O inglesinglês Warrior (I860).(1860). PrimciroPrimeiro navio dode linha com casco dcde ferro (Folo(Foio USNIP)(,'SNIP)
re'hos, ou suportar o momento de aderna- armamento consistia em três canhões de 9 mento vento provocado pela pressão do so- polegadas, de alma lisa, e de um canhão de 6, ^reo velame do navio, a vela foi finalmen- de alma raiada, que montado em pivô, todos os te abandonada. Um acidente trágico, do qual canhões passando através de aberturas exis- daremos adiante, contribuiu um tentes na para por casamata e atirando granadas ex- P°nto final na a vela. propulsão plosivas; ainda na casamata, existiam dois
canhões de 7 polegadas, um atirando para vante e outro para ré; o navio dispunha de batalhas de hampton aríete, de ferro, que se projetava 2 pés abaixo roads e lissa* da linha d'água. A velocidade era muito baixa,
de apenas 2 ou 3 nós. Em 1861 , teve início a Guerra de Secessão Por sua vez, a União desenvolveu o Moni- Estados Unidos, que se até tor, de Ericsson, verdadeiramente re- 1°s prolongaria projeto esta guerra foi rica de ensinamentos volucionário; tinha casco de madeira revesti- relativos à guerra no mar, em especial os do de couraça; a meia nau foi instalada uma ^correntes da Batalha de Hampton Roads torre rotativa, a primeira a ser instalada num "62), onde, pela primeira vez, dois navios navio, com dois canhões de 11", à época o Ct1couraçadosa vapor sedefrontaram-sur- maior calibre embarcado; o seu convés, exceto tendentemente a época os dois navios para pela torre e por uma capuchana onde se abri- eram exclusivamente acionados a vapor, muito a responsável gava pessoa pelo governo do avunçados quando comparados com os de- navio, era totalmente desimpedido; devido mai« navios do ao o período. peso da torre navio tinha pequena borda Recuperando uma fragata havia sofri- livre, não que sendo, pois, projetado para operar 0 UtTi grave i ncêndio, os confederados trans- em alto-mar mas apenas em águas f protegidas; - num navio encouraçado o sua velocidade era da ordem de 5 nós. ^¦"Tiaram-na'/gmia que, entretanto, passaria para a his- Inicialmente, o Merrimack atacou os na- r'a com o seu antigo nome Merrimack. O vios da União que bloqueavam o Rio na vio era dotado de uma casamata, construída Chesapeake, afundando a Fragata a vela C(>tn traves de carvalho revestidas com trilhos Congress a tiros de artilharia e a Chalupa Qa estrada de ferro e placas metálicas; seu Cumberland com o seu aríete; os três navios
* Kl N-R-: "Os Mais sobre essas batalhas, ver em encouraçados", RMB 1" ao 4" trim/1996. ,