<<

Etnicidade e memoria entre quilombolas em lrara, *

Jucelia Bispodos Santosl Faculdade Nobre de

Resumo

Este trabalho faz uma apreci~ao do percurso hist6rico dos quilombo­ las da comunidade de Olaria, no municipio de Irara, no estado da Bahia. Esta regiao fica localizada a 6 km do distrito sede, foi fundada no final do secuIo XIX porfamilias de ex-escravos que resistiram aescravidao. A origem da oc~aoinicial data demais de cern anos, segundo a memOria dos morado­ res mais antigos, as referidas terras, nas quais os atuais moradores residem, foram ocupadas num periodoanterioraLei Aurea, assinada em 13 de maio de 1888 pela princesa Isabel do Brasil. A recordal;OO dos nativos mais ve­ lhosabaliza que os primeiros moradores desse lugarchagaram aregi~o por volta de 1840. Assim sendo, apresenta-se uma analise que identifica as dina­ micas interetnicas que foram constituidas em tomoda memoria dos quilom­ bolas, nos periodos que vao da origem do municipio, na segunda metade do secmo XVD, aos dias atuais, quandoessas comunidadesforam conhecidas comoremanescentes de quilombos.

Palavras--chave: MemOria; etnicidade; quilombo; parentesco; resistencia.

Abstract

Thispaperaimsatanalyzing thehistoricalfrajectoIy ofthequilomboaoom­ munity ofOlariacmmty, inIran\town. Thisregion is 6kmdistant from Olaria county. Itwasfounded late inthe nineteenth centurybydescendant families of slaves whoresisted tothe slavery system. The origin ofthe initial settlementis more thanahundred years old, according tothe meIllOIY ofthe oldresidents, the referred lands, in which the current residents live, were settledbefore Aurea Lawhadpassed, signed in 13 ofMayof1888for theprincessIsabel ofBrazil.

• Ethnicity and memory among quiIombolas at Irani, Bahia I Endere~ para correspondencias: Faculdade Nobre de Feira de Santana, Av. Maria Quiteria, 2116, Kalilandia, Feira de Santana, BA, 44025-250 ([email protected]).

Rev:istIa ., €iell£ias ·Humanas, FIoI'ian6peIis, EDUFSC, VollJme 43, N6mero t, y. 121-144, Abril ~ 2009 According to the elderly, the first ~ttlers arrived there around 1840. This study shows an analysis which identifies the inter-ethinic dynamics which have been constitutedabout the memory ofquilombolapeople which is dated from the very beginning ofthe process offoundation ofthe county, in the middle of seventeenth century, to the present times, when these communities are known as remaining ofquilombolas.

Keywords: Memory; ethicinity; quilombo; kinship; resistence.

1- Introdu~io

locus desta pesquisa e a comunidade da Olaria a qual, portanto, faz Oparte do municipio de Irara.-Bahia. 0 nome desse municipio tern origem tupi edesigna uma espeeie de fonniga de asas brancas semelhante aos cupins: e uma altera9ao da palavra "a.rara", que por sua vez significa nascida na luz do dia, pois estas formigas surgem ao alvorecer do diazo No entanto, antes de passar a ser chamada de Irani a localidade era conhecida como Purificafiio dos Campos. Essa denomina9ao persistiu ate 0 fmal do seculo XIX, quando foi criado 0 municipio, a 08 de agosto de 1895. A coloniza9ao de Irani come90u na segunda metade do seculo XVII, com as entradas de AntOnio Guedes Brito, mestre de Casa da Ponte. ACasa da Ponte abrangia desde 0 ate os limites de Sergipe, inc1uindo 3 a Cachoeira de Paulo Afons0 • Anteriormente aentrada desse sertanista, temos avinda dos jesuitas para essa regiao, os quais chegaram com amissao de catequizar os indigenas. Dessa iniciativa surgiu 0aldeamento da Purifica­ 9ao que, nos dias atuais, pode ser visualizado por meio dos sitios arqueo16­ gicos que esmo presentes nas seguintes regioes: comunidade de Brotas, vila de Caroba, Bento Simoes e 0 distrito sede, a cidade de Irani. o Conde da Ponte, Joao de Saldanha da Gama Mello Torres Gue­ des de Brito e a Condessa da Ponte D. Maria Constan9a de Saldanha Oliveira e Souza, desmembraram, no dia 21 de fevereiro de 1807, a sua gigantesca propriedade. Joao Peixoto Veigas, urn portugues que veio para a Bahia por volta de 1640, filho de Femao Peixoto de Viana e de Barbara Fernandes, passou a comandar parte das terras da Casa da Ponte.

2 NOGUEIRA, A. Hist6rico do Municipio de Irara. Prefeitura Municipal de Irani, 1988. 3 NEVES, E. F. Da sesmaria ao minijUndio (um estudo de hist6ria regional e local). Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia; Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 1998.

Revista de Cifulcias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero 1, p. 121-144, Abril de 2009 122 Etnicidade e memoria entrequilombolas emIrara,Bahia Jucelia Bispo dos Santos

Em 1652 estas terras abrangiam as regioes do Paragua~u, Itapororocas e Agua Fria, inc1uindo tambem 0 atual municipio de Irani, enta~ pertencente 4 aregiao de Vila de Sao loaD Batista de Agua Fria , criada por for9a de Resolu9aO Regia de 28 de abri11727. A coloniza~ao s6 se consolidou, de fato, nos solos do atual municipio de Irani a partir do avan90 da pecmiria no seculo XVIII, quando ocorreu a instala9ao de currais de gada emtodo 0 sertao baiano, tais como 0 do capi­ tao-mor, Antonio Romem deAfonseca e 0 de DiogoAlves Campos. Nesse periodo, os colonizadores ensejaram choques com as tribos dos Paiaias, mas eles ofereceramresistencia. No decorrerdos anos, a regiao de Irani foi conquistando espa90 poli­ tico no projeto da coloniza9ao. Como exemplo desse sucesso ocorreu a cria9ao da Vila daPurifica9ao em 1842, com a mudan9a da vila de Sao loaD Batista da AguaFria (atual AguaFria). Coma implanta9ao da vila ocorreu a ere~ao do Pelourinho, na atual Pra9a Pedro Nogueira, 0 qual era urn poste de madeira com argolas de ferro em que os condenados pelajusti9a eram amarrados e chicoteados. Assim era exercidaajusti9a: atraves da aplica9ao das penas de a90ite ou mutila9a05. Naque1e espa~o, tambem eram afixados os editais, anfulcios e outras ordens municipais de interesse publico. A pre­ sen9a do pelourinho representou a efetiva~ao e 0 reconhecimento daposse das terras, isto e, simbolizou 0 poder constituido. A vila foi elevada a condi9ao de cidade atraves lei estadual de 08.08.1895 com a denomina9ao de Irara. Nesse periodo, 0 municipio era govemado porintendentes, cujo primeiro fora Pedro Nogueira Portela. Pos­ teriomente, surgiu a administra9ao dos interventores: Elpidio Nogueira foi 0 primeiro a assumir 0 cargo em Irara. Somente em 1948 a cidade passou a sera adminstrada porprefeitos, tendo Elisio dos Reis Santana como 0 pri­ meiro representante.6 Atualmente, Irarapossui 25.531 habitantes e uma area total de 271 ,7 2 km , distando suasede cerca de137 km de Salvador, capital do Estado. Este municipio possui as seguintes rodovias: a BA-084, viaCOfa9oo de Maria (de liga~ao acapital do estado); a BA-504 via Santan6polis ( que liga acidade de Feira de Santana).

4 Idem. 5 ARAGAO, A. Pelourinhos da Madeira, Funchal, 1959, Luis Chaves, Os Pelourinhos de Portu­ gal, Gaia, 1930. 6 NOGUEIRA, A. His/orico do municipio de Irani. Prefeitura Municipal de Irani, 1988.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Ntunero I, p. 121-144, Abril de 2009 123 HirMANAS

MUNICipIO DE IRARA (AREA DE ESTUDO)

La --..• ~./\ ...... _--._- ---- ...... -' ~ /''''"- n... ng.. "~ A<_::' __

elra da s1ntana Pedrio 'j ,/

~ ·lcor.~io da ';;ri;.--"'/'/- ,_)/,·A(.gOlnha . Tao oro Sam~io IMUNICIPIO DE IRARA NAREGIAo ECONOMICA DO PARAGUAl;U I

I i I

IQ < ~ u

LOCALlZA~O DA AREA DE ESTUDO NO ESTADO DA BAHIA

,..I

Figural Divisao territorial cia Bahia, regiao do Paraguayu e do municipio de Irani Fonte: IBGE, 2000.

Revista de Ciencias Hwnanas, Florianopolis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero 1, p. 121-144, Abril de 2009 124 Etnicidade ememoria entre quilombolas em Irara,.Bahia Jucelia Bispo dos Santos

Suazona politico-administrativa e a do Paragua~u, que e composta de 42 municipios que, em sua maior parte, localizam-se no semi-ando baiano. 2 Essa regiao tern urna area de 34.129 km , ocupando, portanto, 6,05% do 7 territ6rio Estado da Bahia • De acordo com a regionaliza~ao do IBGE, Irara pertence amicrorregiao de Feira de Santana e amesoregiao centro norte­ baiano, a qual e considerada uma das regi5es mais povoada do territ6rio do 2 estado: sua densidade demognifica em 2000, de 36,63hab.l km • Esse espa­ ~o limita-se ao reconcavo baiano e ao do agreste de . A lei estadual de n. 614, de 18 de agosto de 1905 esclerece os limites do municipio de Irara: 8

o municipio de continuani a ter os seus limites antigos, excluida dele a parte que constituiu a frequezia do Santissimo Coracrao de Maria, em virtude da lei n. 489 de 6 de junho de 1853, e que mais tarde constituiu-se, pelo acto de 28 de marcro de 1891, vila sob a mesma denominacrao do Santissimo Coracrao de Maria, com seus li­ mites declarado e conhecidos.

Os atuais limites do territ6rio de Irara sao assim configurados: ao norte, AguaFria; ao suI, Cora~ao de Maria; ao leste, Ouri~angas; ao oeste, Santa­ n6polis; ao sudeste, Pedrao. Apresenta-se nesse municipio urna rede hidro­ grafica modesta, sem rios perenes, sendo divisor de aguas de dois importan­ 9 tes rios: 0 rio Seco e 0 rio Parmirim • Irara esta centrado numa zona de transi~ao, entre 0 reconcavo e os tabuleiros semi-aridos do Nordeste. Essa regiao apresenta urn clima seco, solos rasos e pedregosos. Sua vegeta~ao e constituida de especies que se misturam: floresta tropical, na regiao leste ecaatinga (cactos, pequenas arvo­ res e arbustos), na regiao oeste. Na vegetayao da caatingapredominam: aroeira, angico, baraUna, cardei­ ro, coroa de frade, catingueira, craibeira, sucupira, juremabranca ejurema preta, ,juca, macambira, marmeleiro, oiticica, pau d'arco, pereiro,

7 IBOE. Enciclopedia dos muniefpios brasileiros. Rio de Janeiro, IBOE, 1957. 8 IBOE. Bahia, limites municipais regulados por ordens regias, leis municipais e estaduais. Enciclope­ dia dos municipios brasileiros. Rio de Janeiro, IBOE, 1957. 9 Idem.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, NUmero I, p. 121-144, Abril de 2009 , velame, xiquexique. Tal vegetayao apresenta urn aspecto de plan­ tas sub-xerofilas, decfduas, cujos componentes predominantes sao peque­ nas arvores ou arbustos, geralmente espinhosos, formando grupamentos ora densos, ora com arvores esparsas. Na parte leste, encontra-se uma maior diversidade de especies vege­ tais: palmeiras, como 0 dende e 0 baba~u, alem de outras arvores, como: tambor, turco, mulungu, brafu1a, urnbauba, umburana de cambao, sucupira, etc. Esta parte de Irani e ainda ocupada por pastagens e planta~oes agrico­ las, como a produ~ao de furno. Segundo os dados do IBGE, 0 municipio de Irara esta situado no poli­ gono das secas10• Atemperatura media oscila entre 22° e 24°, com as medi­ as maximas ficando em torno de300 e as medias minimas porvolta de 19°. A precipi~o media situa-se em torno de 844,0 mm anuais. Quando aumenta aumidade relativa do ar, lui ocorrencias de neblina, sobretudo no periodo do inverno, entre junho e agosto, como apice. 11 Embora, os dados oficiais atribuem aregiao 0 perfil do semi-arido, poucos moradores de Irara, reconhecem que a localidade possui essas ca­ racteristicas c1imaticas. Pois, para essas pessoas, 0 codinome "serno" esta vinculado aseca, aincapacidade produtiva da economia, ao subdesenvolvi­ mento cultural: enfim tern a ver com atraso. Essas conside~oes estao pre­ sentes nos depoimentos de populares, tais como: "Iraranao e serno, pois esta um pouco perto do litoral... E nao e reconcavo tambem, mas aqui tern massape que so da perto do reconcavo" 12. Aregiao e tambem identificada como uma area de transi~ao, uma especie de "porta para 0 Serno". A seca e vista como uma eterna amea~a nessa regiao. Durante 0 verno, especialmente no mes de dezembro 0 clima torna-se mais seco e atempera­ tura do solo chega a 40°C. 0 sol forte acelera a evapora~ao da agua de lagoas e corregos que, nos trechos mais estreitos, secam e param de correr.

10 0 Poligono das Secas e urn territ6rio reconhecido pela legisla~iio como sujeito a periodos criticos de prolongadas estiagens. Compreende os estados do Piaui, Ceara, Rio Grande do Norte, Paraiba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Norte de Minas Gerais. Trata-se de uma divisilo regional efetuada em termos politico-administrativo e nilo corresponde a zona semi-arida, pois apresenta diferentes zonas geograficas com distintos indices de aridez, indo desde areas com caracteristicas estritamente de seca, com paisagem tipica de semi-deserto a areas com balan~o hidrico positivo. MINTER, Plano Integrado para 0 Combate Preventivo aos Efeitos das Secas no Nordeste. Serie Desenvolvimento Regional. N° I. Brasilia. 1973 II IBGE. Enciclopedia dos municipios brasileiros. Rio de Janeiro, IBGE, 1957. 12 TRANSCRI<;:AO DO DEPOIMENTO DO SR. S6STENES PAES COELHO. Em colabora~ilo para o projeto de historia oral de Irara-12/07/1985.

Revista de Ciencias Humanas, Florianopolis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero 1, p. 121-144, Abril de 2009 126 Etnicidade e memoria entrequilombolas em Irani,Bahia Jucelia Bispo dos Santos

Nos periodos de estiagem ocorrem movimentos migrat6rios caracterizados pela saida das pessoas da regiao. Esse fator contribui com a apresenta~ao de urn quadro economico empobrecido, devido especialmente ao castigo da irregularidade das chuvas. Irani e dividido em zona rural e zona urbana. Alem do distrito-sede de Irara, 0 municipio tambem e composto pelas vilas de Bento Simoes e da Caroba, e porpovoados e fazendas que formam sua zona rural.

Figura2 Mapa de Irara: zona urbana ezona rural.

Na sede municipal existem duas agencias bancarias, uma federal e uma privada, alem de possuir uma agencia de Correio e TeIegrafos. Para 0 aten­ dimento da popula~ao, existe urn hospital conveniado ao SUS, dispondo de vinte leitos. 0 abastecimento de agua e feito pela Embasa, e 26,5% domici­ 13 lios possuem acesso aagua encanada • Na cidade, 0 comercio ebastante diversificado, sendo encontrados: su­ permercados, lojas de cal~ados eroupas, postos de gasolina, saloes de beleza, bares, entre outros. Ja 0 setor industrial nao e tao expressivo no municipio:

13 IBGE. EnciclopMia dos municipios brasileiros. Rio de Janeiro, IBGE, 1957.

Revista de Ciencias Humanas, F1orian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nillnero 1, p. 121-144, Abril de 2009 127 HUMANAS Irara possui apenas pequenas indtistrias de farinha, algumas madeireiras, as de confec~s e pres~ de seM90S em fac~, egranjas com abatedourO. 14 Aos sabados e reati2'Ada afeira livre de Irar8, uma das mais importantes da micro-regiao de Feira de Santana. Nesses dias, oritmo da cidademuda: as ruas sao tomadas por uma multidao bern heterogenea que aumenta os fluxos emobilidades s6ci0-eooOOmicas. Na ~a da Purifi~osao ergui­ das barracas de madeira que i>rmam as baneas dehortiftutigranjeiros, rou­ pas, utilidades domesticas e artesanatos, como: objetos de ceramica, estei­ ras, cestos, chapeus de palha, chicotes, moveis, artefatos de couro para montana, dentre outms. No mercado municipal sao vendidos eames, came­ de-sol, requeijao, beiju, farinha; feijao, milho, fumo de corda, ~ man­ teiga-da-terra, dentre QUtros elementos, que atendem ao abastecimento da popula9aO looal e de outras cidades prO~imas, como COTa9Ao de Maria, Agua Fria, 0uri9angas e Santanopolis. Afeira se cIa durante as madrugadas e manhas de sabado. Ocampo e formado por minifiindios e fazendas. Na zona rural desta­ cam-se as propriedades de pequeno porte, onde se desenvolve a agricultura de subsistencia. Destacam-se tambem, aavicultura, aapicultura eapecuaria, com a cria9ao de bovinos para 0 abate no mercado local. A agricultura e produzida em pequenas e medias propriedades com utiliza9Ao de mao-de­ 15 obra familiar , teenicas tradicionais erudimentares e se destina a subsisten­ cia da familia. Amao-de..obra domestica aplicada naagricultura se organiza em tome daepara a familia, poruma logica que retm.e saberes evalores que asseguram arepr0du9ao daunidade familiar. Os ciclos da produ9ao agricola sao anuais e semi-anuais, ou seja, de esta930 em esta9ao, 0 que promove uma dificil subsistencia das popula93es rurais deIrani, uma vez que essas pessoas. dependem dos efeitos climaticos, como a chuva, para obterem boas safras. Oeste modo, grande parte da sub­ sistencia economica dos.individuos quemoram nessemunicipio esta intima­ mente ligada ao sustentobasieo. que epromovido atraves das escassas pro­ du93es que advem de uma prodU9ao tradicional.

14 NOGUEIRA, Ar'isteu. Hist6rico c10 municipio c1e Inlra. Prefeitu.ra munieiPlll c1e Irara. 1988. IS PlIIl!. Abramovay a agricultura familjar • emprega trabalhadQres permanentes. ~nclo, porem, cOnUlt com ate cinco empregados tmnpor4lios. Agrieultu.r. patronal pocle eontar com empregaclos permanentes e/ou temporanos. ABRAMOVAY, R., Agricultura, diferencia~ilo social e desempenho economico. Projeto IPEAcNEADIMDA - Banco Mundial, sao Pl!iulQ, FEA-USP, 2000, p. 63.

Revista de Cillncias Humanas, FIQrian6polis, EDUFSC, Volume 43, NUme~ I, p. 121-144, Abril de 2009 Etnicidade e memoria entrequilombolas em Irara,Bahia Jucelia Bispo dos Santos

Os principais produtos agricolas produzidos em Irani sao: mandioca, milho, feijao e furno. Vale salientar que Iranijafoi um grande produtor de 16 furno, especialmente, no seculo XIX e quase todo 0 seculo XX • Hoje, no entanto, a produ~ao esta dratiscamente reduzida, em rela~o ao volume ocor­ rido no passado. Segundo informa~oes da EMBRAPA17 local, 0 declinio da cultura do fumo foi provocado nao somente pelos problemas decorrentes da seca, mas tambem pela concorrencia do mercado extemo que oferece 0 produto por um valor bern abaixo do praticado no mercado local. Aqueda da produ~ao e da venda do fumo se deu por conta tambem dos entraves nos creditos agricolas, cujos custos sao muito altos. 0 centro urbano guarda e memoria da fase da prosperidade da economia fumageira, atraves de gran­ des trapiches, predios que tern uma arquitetura glamurosa que lembra uma fase de opulencia. Nos finais dos anos oitenta do Ultimo seculo, a produ~ao de fumo iraraense passou por uma crise especialmente por conta da seca. Nos dias atuais, ainda mantem-se a produ~ao fumageira, embora, reduzida. Hoje em dia, a mandioca e 0 principal sustento do municipio. Quase toda a produ~ao de mandioca de Irara e utilizada para a fabrica~ao de farinha, que e vendida nas cidades circunvizinhas e no mercado municipal local. A farinha e vista em lram, como 0 principal termometro que mede a economia local: quando falta a farinha (geralmente por conta da seca), falta tudo tambem. Ou seja, a economia de Irara gira em tomo da produ~ao e da venda de farinha. Alem da produ~ao agricola, os moradores do campo tambem contam com a cria~ao de porcos, galinhas e ovelhas. As atividades ligadas apecuana sao executadas, mas pelo uso exclusivo dos grandes proprietarios de terras, isto e, por homens que sao considerados fazendeiros 18, mas que em sua a maioria nao residem na zona rural. Esses criadores possuem geralmente ati­ vidades ligadas acria~ao de rebanhos bovinos emuares, sendo que tambem jaexistem fazendas de cri~ao de avestruz.

2 - As comunidades de quilombos deIrani

A Fun~o Palmares apontaque existem vanos nucleos de resisrencia negra, no Brasil, conhecidos como comunidades remanescentes de quilombos.

16Idem.

17 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria. 1& Idem.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, NUmero I, p. 121-144, Abril de 2009 129 HirMANA'S Essa demar~ao procedeu de uma cata1oga~ feita, nas diversas regi5es do pais19. Confonne elementos recolhidos por meio de pesquisas, esses grupos sao distinguidos atraves da re~ de descendencia de negros dos quilombos. De acordo com a primeira configura~ao espacial dos territorios das comunidades remanescentes de antigos quilombos no Brasil, atualmente, exis­ 20 tern no Brasil cerca de 2 milhoes de quilombolas • Nos dias atuais, a Bahia possui 396 grupos registrados como comunidades de quilombos. Esses es­ tao espalhados entre os 417 do estado. Confonne a abordagem de Sanzio a extensao territorial dos quilombos e as revoltas dos povos negros no Brasil, aconfi~ao territorial etnol6gica africana no pais ea distribui~ da popu­ la~ao negra em vanas regi5es da Bahia favoreceram 0 mapeamento dos re­ manescentes de quilombos no paisque mostra os territ6rios quilombolas que jaforam demarcados desde a Constitui~o de 1988, inclusive na micro-re­ giao deFeira de Santana, onde 0 municipio de Irani esta inserido, que tern as seguintes comunidades: Tabela 1 Configura~o espacial das comunidades de quilombos da Micro-regiao de Feira de Santana. Contigura.;io espacial - Centro de Cartografia Aplicada e Infonna.;io Geografica da UNB - Brasilia. Elabora.;io: SEAGRI-SPA/CPA Feira de Santana 4 Lagoa do Negro Lagoa Grande Matinha Ro~ado Agua Fria 1 dos Crioulos Irani 4 Crioulo Mocani>inho Olaria Tapera Tp.-; Nova 2 Caboata Malenba

'9 ANJOS, R. S. A. Projeto mapeamento dos remanescentes de qui/ombos no Brasi/ - sistematizat;:llo dos dados e mapeamento - Relatorio Tecnico, Fundat;:llo Palmares, Brasilia, 1997. 20 Fundat;:llo Cultural Palmares (FCP), do Minisrerio da Cultura. Projeto de melhoria da identificat;:lio e regularizat;:llo de terras das comunidades quilombolas brasileiras, 2003.

Revista de Ciencias Humanas, Florianopolis, EDUFSC, Volume 43, Nillnero I, p. 121-144, Abril de 2009 130 Etnicidade e memoria entrequilombolas emIrara,Bahia Juc(Hia Bispo dos Santos

Esta coleta foi feita pelo Centro de CartografiaAplicada e Informayao Geognifica do Departamento de Geografia da Universidade de Brasilia (UnB). Conforme as informayoes do CIGA, existem em Irani quatro comunidades de quilombos21 : Crioulo, Olaria, Mocambinho e Tapera. Vale salientar que, Crioulo, Olaria e Tapera fazem parte do proprio municipio de Irani; Tapera esta localizada a sete qui16metros de distancia do distrito-sede, ao sudeste de Irani. Olaria fica centrada na regiao da Serra de Irani, ao noroeste. Ja Mocambinho, atualmente, faz parte do municipio de Santanopolis. A Fundayao Palmares executou uma demarcayao dessa regiao toman­ do como ponto de referencia os dados do IBGE22, pois, para as pesquisas oficiais, essas regioes sao divididas atraves de limites geograficos que se es­ tabelecem no espayO por meio de vales, nos, montanhas, estradas, ou seja, atraves de limites visiveis. Ao noroeste do municipio de Irara, distante a cinco qui16metros do distrito- sede, entre as terras cortadas pelas serras do Urubu e do Periquito, encontra-se a comunidade da Olaria, em tomo desta rodovia que liga 0 mu­ nicipio de Irara aos municipios de Santanopolis e Feira de Santana. Vale ressaltar que para se chegar ate este lugar, percorre-se a BA 504, a (mica estrada que permite 0 acesso a regiao. Aregiao remanescente de quilombo da Olaria que foi fundada no secu­ 10 XIX por ex-escravos que saiam do cativeiro e passaram a ocupar as ter­ ras da Serra de Irara. No decorrer do percurso historico, a comunidade foi recebendo denominayoes novas. Estas sao novas nomenc1aturas que sao utilizadas para designar a regiao que foi fundada, antes da lei Aura, as quais correspondem as seguintes comunidades: Olaria, Mangueira, Periquito e Urubu. Vale a pena salientar que, os nomes dessas comunidades esmo re1a­ cionados com uma tradiyao local que demarcam as seguintes caracteristicas:

21 Idem.

22 Fundas;ao CulIural Palmares (FCP), do Ministerio da CulIura. Projeto de melhoria da identificas;ao e regularizas;ao de terras das comunidades quilombolas brasileiras, 2003.

Revista de Ciencias Humanas, Florianopolis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero I, p. 121-144, Abril de 2009 131 Quadrol Origem do significado dos nomes das comunidades de pretos da Serra de Irani.

o significado dos Domes: Os prirJ:'eiros ID)radores desenvolviam os se~os do o~iro. Os oorrens fuziam telhas e as mulheres fuziam objetos utilit8ms: potes, panelas, cabores, engana-gato OLARIA (segumo os nativos esta designa~ao serve para deoominar urm especie de panela de barro sem tarq>a que atraiam os gatos para a execu;!o do roubo carnes, 00 processo de cozitmnto dos aliIrentos), etc. Segundo os ID)radores dessa commidade, esse hcal seIlllre fui refUgio de mritos perquitos, DurO e petr6~0, PERIQUITO urm especie de Eldorado. As pessoas mais velhas contam que circulava wn carneiro de Duro no topo da serra, 0 que significava que ali era wn lugar de rquezas minerais. Nesse lugar existiam mritas mangueiras, por isso a MANGUEIRA commidade recebeu essa llOrrenclatura. Esse lugar ehabitat natural dos urubus da regillo. Segundo os ID)radores, esses anirmis dorrnem nesse espa~o da URUBU Serra. ''Logo que 0 dia amanhece, eles \lRO passear em outros lugares do m.micipio, ImS ao entardecer eles veem dormir no topo da serra."

De acordo com amem6ria dos nativos das comunidades remanescentes de quilombos, essa regiao e dividida apartir da seleyao de caracteristicas que se manifestam nos tra~os de sua identidade que tern a ver com 0 passado vinculado ao cativeiro. Dessaforma, as pessoas se diferenciam das outras que estao ao seu redor, sabendo quais sao as que fazem parte do grupo equais nao fazem parte. Essas categorias "de dentro" e "de fora" apontam para 0 limite etnico que definem os grupoS23. Os ~s etnicos raciais fundamentam aatra­ ~ao e a separa~o dos mesmos. Alguns criterios sao acionados pelos nativos na a~ao da identidade do grupo como: sobrenome, mem6ria do cativei­ ro, fen6tipos raciais, locais de moradia, parentesco e situa~ao economica.

23 POUTIGNAT, P. e STREIFF-FENART, J. Teorias da etnicidade, seguido de grupos etnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. Sao Paulo, Unesp, 1998.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero I, p. 121-144, Abril de 2009 132 Etnicidade e memoria entrequilombolas em lrara, Bahia Jucelia Bispo dos Santos

Portanto, a etnicidade apresenta-se comourn importante elemento diacriti­ co, sendo indispensavel como identidade social. Esses elementos estao pre­ sentes nas relayoes sociais que os descendentes dos ex-escravos contruiram ap6s a Aboliyao na relayao deles com os outros que estao ao seu redor. Estes outros fazem parte das chamadas comunidades de brancos, que sao as seguintes: Ayougue Velho e Murici. Estas comunidades abrigamas familias que possuemos seguintes sobrenomes: Pinto, Mascarenhas, Lopes, Pinheiro e Carneiro. A representayao etnicaracial destes espayos, especialmente a do Murici e compostade pessoas brancas, que se casam entre si. As pessoas que residem na comunidade da Olaria lidam comurn pro­ cesso de reconstruyao identitaria tipica das comunidades quilombolas, pois existe urna afirma~ao delas, enquanto grupos que promovem urn diferencial dos "outros", 0 que implica a construyao de discursos de auto-afirma~ao etnica, que se baseiam no passado vinculado aescravidao. Nos depoimen­ tos, as pessoas se identificam como negros e descendentes de escravos. Assim, rememoramcomnitidez pai e mae, avo e av6, bern comotrayam com facilidade suas genealogias are 0 cativeiro. Produzem, assim, urnarepresen­ ta~ao sobre a escravidao destacando 0 papel central da familia escrava. Os moradores mais velhos da Olaria, como 0 senhor Joao dos San­ tos, conhecido na comunidade com Seu Dil, explicam que a forma~ao dessa regiao esta pautada com a relayao que as pessoas estabeleceram nesse espayO e a hist6ria de vida que elas tern e que sao incluidas com a 24 mem6ria cativeir0 :

Eu nao arcansei 0 cativeiro, mas 0 povo mais velho conta sobre 0 cativeiro. Aqui nessa re­ giao tern muita gente que tern rama com 0 cativeiro... A Olaria toda! Essa regiao toda que senhora ta veno, fazia parte da Olaria. Era uma s6 propriedade. Hoje 0 povo nao gosta de fa­ lar que e da Olaria, como vergonha... Mas, toda essa regiao que vosmice esta veno fazia parte da Olaria. Pega essa regiao toda da Ser­ ra do Urubu, Serra do Piriquito e da Manguei­ ra. Cometyava hi de onde e 0 Atyogue Veio.

24 ENTREVISTA: Senhor J030 de Jesus, morador da localidade de Olaria, cedida no dia 14/08/2005.

Revista de Ciencias Humanas, Florianopolis. EDUFSC, Volume 43, Nfunero 1, p. 121-144, Abril de 2009 133 HirMANAS

Depois 0 foi mudano de nome. Hoje 0 povo nao quer serda Olaria porque tern vergonha de ser nego... 0 povo diz que ser da Olaria e ser nego... La 0 Murici sempre foi terra de branco... Hoje 0 POVO ja chama isso aqui de MOOci II... Mas, tudo ehistoria porque aqui tudo eOlaria na verdade...

Neste discurso, epossivel observar a mem6ria do cativeiro, fortemente marcada por algumas identidades sociais historicamente construidas. As pes­ soas se reconhecem e sao distinguidas conforme as caracteristicas etnicas que se respaldam nas rela~oes de parentesco com a escravidao. Ao mesmo tempo que existe a mem6ria da cativeiro, essa mem6ria coletiva tambem e negada atraves da intera~ao entre os membros. Assim, ocorrem os movi­ mentos de mobili~ao e desmobili~ao, por conta dos preconceitos gera­ dos pelos estigmas existentes no interior do grupo e sofridos por ele. Tendo em vista 0 modo como a sociedade concebe individuos estigmatizados, 0 encontro entre estes grupos e 0 meio social abrangente, coloca-se em evi­ dencia 0 efeito do estigma, fator que provoca uma situa~ao angustiante para 25 todos os envolvidos • Esta rejei~ao tambem pode designar uma fuga, na medida que 0 grupo pode ser utilizado como amparo ou escudo contra uma discrimina~ao japrevista. Nesse caso, 0 estigmatizado, ao entrar numa situa~ao social mista, pode passar aresponder de maneira defensiva, tentan­ do aproximar-se com retraimento ou atraves de uma atitude hostil, incomoda aos outros, temendo a rejei~ao. As pessoas da comunidade da Olaria afirmam que experimentam con­ flitos etnico-raciais com os outros que estao ao seu redor. Eles nao se mistu­ ram. Ecomum surgirem conflitos diretos em si~oes de festas populares e ate mesmo quando as crian~as se encontram na escola. No local existe uma distin~ao que separa os descendentes dos ex-escravos, das outras pessoas. Por conta dessa questao, em algumas situa~oes, muitos sujeitos que residem no territ6rio remanescente de quilombo negam sua identidade, posto que ser da Olaria, por exemplo, sempre representou exclusao da socieade regional, jaos ancestrais da Olaria tern um passado vinculado aescravidao.

25 GOFFMAN, E. (1988). Estigma: notas sobre a manipulal,:ilo da identidade deteriorada (M. B. M. L. Nunes, Trad.). Rio de Janeiro, Zahar Editores. (Original publicado em 1963).

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero I, p. 121-144, Abril de 2009 134 Etnicidade e memoria entrequilombolas emIrani,Bahia Jucelia Bispo dos Santos

Nessa regHio, 0 negro e visto como "diferente" devido a sua cor. Essa "diferen9a" aumenta ainda mais 0indice de rejei9ao e discrimin~ao porpar­ te de muitos brancos, que ainda veem os negros como "seres inferiores"26. A nega9ao da identidade negra por alguns moradores da Olaria advem da a9ao do racismo no cotidiano daquelas pessoas, sendo, muitas vezes, manifestado por determinados sujeitos que residem ao seu redor. Vale ressaltar que a estrutura9ao desses grupos nao e um fenomeno isolado, uma vez que esses processos estao relacionados com caracteristicas polfticas, econ6micas e culturais que foram estatabelecidas conforme 0 projeto da estrutura9ao social que se organizou no projeto da coloniza9ao em vanas partes do mun­ do. No contexto descrito, ocorre 0 acirramento das "identidades etnicas", considerando-se que a etnicidade eresultante da rela9ao com 0 outro etnico, sendo posta em pauta pelos sujeitos em virtude de necessidades impostas27. Aetnicidade, portanto, aparece nas rela90es sociais como uma dinfunica que assume caracteristicas determinadas em fun9ao dos conflitos etnicos impos­ tos pelo entomo regional. Percebe-se que a comunidade investigada, apesar de ter demonstrado a existencia de conflitos em rela9ao apr6pria identidade, manifestou, ainda que inconscientemente, algumas situa90es que evidenciaram a existencia de processos que contribuem para a constitui9ao de sua identidade negra. Nes­ sas rela90es aparecem as marcar da etnicidade: a cria9ao de limites e crite­ rios de auto-adiscri9ao subjetivos, e a de um discurso social determinado de diferencia9ao cultural, pois e1es sao e1eitos conforme a cria9ao dos termos de inc1usao e de exc1usa028. No discurso de Sr. Joao, a etnicidade aparece como uma unidade dis­ creta, dotada de uma cultura, de hist6ria e de comportamentos especificos que os separam e1es dos diferentes sujeitos que residem ao redor, como os que nao tem ancestrais escravos. De acordo sua fala, e possivel perceber elementos que anunciam como ocorre esse processo de diferencia9ao dos sujeitos que residem na comunidade, tanto intema quanta extema. De acor­ do com Weber essa questao pode expressa da seguinte forma29 :

26 NASCIMENTO, A. do. NASCIMENTO, E. L. Enfrentando os termos: 0 significado de ra9a, racismo e discrimina9ao racial. Revista para atem do racismo: abra9ando urn futuro interdependen­ teo Estados Unidos, Brasil e Africa do Sui, jan. de 2000. 27 POUTIGNAT, P. & STREIFF-FENART, J. Teorias da etnicidade, seguido de Grupos etnicos e suas fronteiras, de Fredrik Barth. Sao Paulo, Unesp, 1998. 28 BRANDAO, Carlos R. Identidade e etnia. Brasiliense, Sao Paulo, 1986. 29 WEBER, M. Rela90es comunitirias etnicas. In: Economia e sociedade: fundamentos da Sociologia compreensiva. Brasilia, UnB, 1994 [1922].

Revista de Ciencias Humanas, F1orianopo1is, EDUFSC, Volume 43, Niunero 1, p. 121-144, Abril de 2009 135 Assim como toda comunidade pode atuar como geradora de costumes, atua tambem de alguma forma,na sele9Ro dos tipos antropol6­ gicos, concatenando a cada qualidade herda­ da probabilidades diversas de vida, sobreviven­ cia e reprodu9Ro, tendo, portanto fun9RO cria­ dora, e isto, em certas circunstancias, de modo altamente eficaz.

Assim sendo, a atribui~Ao do parentesco realiza a uniao entre pessoas de descendencias raciais diferenciadas, mas que partilham a cren~a numa origem comum. Hoje, 0 territOrio eocupado pelas familias dos parentes, dos descendentes dos casais fundadores. Todo esse espa~o edefinido pela des­ cendencia epelas trocas matrimoniais. Nesse sentido, chega-se aconc1usAo de que, de acordo com uma 16gica intema, esse territ6rio remanescente de quilombo esta dividido em quatro sub-regioes (Dlaria, Periquito, Mangueira e Urubu), delimitado-as simbolicamente, pelo parentesco. A intera~ao entre essas sub-regioes se dA atraves da organiza9ao de uma "grande familia", 0 que fonna a comunidade dos quilombos.As info~Oes citadas fazem parte dos aspectos gerais da regiAo que e objeto da presente pesquisa: a comuni­ dade remanescente de quilomboda Dlaria, localizada no municipio de Irani

3 - Aspectos especfficos da comunidade pesquisada

D cotidiano da comunidade da Dlaria e marcado por disputas e con­ flitos, sobretudo a respeito dos recursos naturais, como: arvores, barro para fazer objetos utilitarios e agua. Essaregiao possui umapaisagem natu­ ral marcada pela presen~a de uma vegeta~Ro que se caracteriza pela exis­ tencia de arvores espinhosas. Existem as arb6reas-herbaceas (plantas xe­ r6fi1as), de troncos torcidos, recurvados e de folhas grossas, esparsas em meio a uma vegeta~aorala e rasteira envolta porcampos limpos. Tambem possuem arvores nao muito altas, como: caju da caatinga, barbatimao, 0 pau-santo, a gabiroba, a sucupira, 0 pau-terra, a catuaba, dentre outros. Algumas espeeies sao utilizadas como remedio caseiro: os nativos utilizam raizes, cascas, folhas e sementes dessas arvores como marerias-primas para sua medicina altemativa

Revista de Ci&lcias Humanas, F1orian6polis, EDUFSC, \Ulume 43, NUmel'O t, p. 121-144, Abril de 2009 U6 Etnicidade e memoria entre quilombolas em Irani, Bahia Jucelia Bispo dos Santos

Figura 3 o perfil da vegetayao da comunidade da Olaria.

Eda mata que se retira a materia-prima para os banhos de descarrego e remMios caseiros. Os nativos tomambanhos com as folhas da regiao em rituais, onde utilizam determinados elementos danatureza, de maneira orde­ nada e com conhecimento de causa, com 0 intuito de trocar energia entre 0 individuo e a natureza, a tim de fomecer-Ihe equilibrio energetico e mental. As pessoas tomam banhos de folhas colhidas naregiao, com a fmalidade de 30 puriticarem, limparem e energizarem 0 corpo e a alma . Para os sujeitos que moramnesse lugar, as folhas tern diversas fmalidades e combinay5es, nomes e consideray5es: alecrim, gonsalinho, olho-de-boi, folba daguine,jua,juru­ beba,jurema preta, laranjeira do mato, unha do porco, pau d'alho, aroeira, assapeixe, picao, pinhao roxo, pinhao branco, quixabeira, urtiga, vassouri­ nha, carobas, paus d'arco, entre outros. Estas plantas sao utilizadas como remedio caseiro e para fazer bebidas: mistura-se cachaya com raizes, folhas,

30 Segundo D. Anjinha, a farmacia dos nativos e a mata, pois e dela que as pessoas retiram grande parte dos remedios que curam as doenyas, como: gripe, dores de barriga, no figado, nos rins, de cabeya, etc.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Numero I, p. 121-144, Abril de 2009 137 cascas, sementes, entre outros, para se criarem diversas receitas de bebidas que servem como remOOio. Cada ervaou conjunto de ervas tem sua finalida­ de em rela~ao aurn ou mais tipos de problemas espirituais ou enfermidades. Apaisagem da Olariaproduzvarias hist6rias nacomunidade. Ecomurn encontrarpor ali pessoas dispostas a contarem e ouvirem "causos" por meio de urna atividade ludica parapassarem 0 tempo livre ou quando estao traba­ lhando em grupo: amarrando furno, raspando mandioca, limpando feijao, ou fazendo objetos de cer8mica. Nessas conversas, os individuos vao incorpo­ rando os valores do grupo em que viv~ e assim aprendem as tradi~s que regem a organiza~ao social. Nessa terra, prevalece a transmissao oral

Inte agora, 0 povo dizia que aqui na Serra existia ouro. 0 povo via 0 carneiro de ouro que pulava de urn conto pra outro. Ele bri­ Ihava rnuito, chegava doer os z6i das pes­ soa... Esse carneiro era urn simi de ouro.

31 A lenda do carneiro de DurO esta presente no imagimirio popular dos sujeitos que moram na Serra de Irara e dos outros que residem fora dessa comunidade. Para esse sujeito esse animal mantem rela~oes com os homens, quando aparece para eles a tim de mostrar que existe ouro enterrado na serra. 32 ENTREVISTA: Senhor Joao de Jesus, negro, nascido em 1912, morador da localidade de Olaria.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero 1, p. 121-144, Abril de 2009 138 Etnicidade e memoria entrequilombolas emIrani, Bahia Juc(Hia Bispo dos Santos

Por isso que 0 povo dizia que aqui tinha ouro... Quando eu era menino argumas pessoas veio aqui olhar que na Serra tinha ouro. Era os doutor engenheiro... Agente nao ficou saben­ do que ele encontrou ouro, mas depois disso as terras foi cereada....

Desse modo, a Serra de Irani (espa~o que abriga a comunidade da olaria), sempre foi vista na regiao, mais do que uma paisagem. Pois, essa sempre representou urna motiva9ao no imaginario da popula9ao, notada­ mente dos moradores da cidade. A Serra de Irani despertou interesses de pesquisadores, por volta dos anos 40 do seculo xx. Segundo os nativos, algumas pesquisas foram feitas na regiao. Os moradores mais velhos garan­ tern que, ate hoje, 0 carneiro de ouro se esconderia no interior da Serra de Irani. Porem, a lenda que mobilizou algumas pessoas, no passado, ainda perrnanece no imaginario local. Se nao existiarn minerais preciosos na serra, os nativos nao sabem. Embora nao tenha sido efetivarnente localizado ouro, a noticia serviu de impulso para outras expedi90es particulares e governistas, que tomaram os caminhos da Serra de Irani, no seculo xx. Como resulta­ dos da busca pelo ouro, temos na regiao 0 cercarnento definitivo das terras que forarn conquistadas pelos ancestrais negros. Para os moradores da Olaria, outros seres enigmaticos tarnbem habi­ tarn a regiao. As pessoas acreditarn que, nas matas, morarn seres espirituais que exercem rela90es diretas na comunidade. Acaipora e urn ser que vive nesses matos. Esse espirito euma especie de moleque da floresta, que apronta ciladas para as pessoas que cayarn animais e lenha. Essa espiritualidade tanto afugenta as presas, como desorienta 0 ca~ador simulando os ruidos dos ani­ mais da mata. Essa criatura surpreende especialmente as mulheres que catarn lenha no moto. Apartir dessa lenda, e comum nao regiao a resistencia de catar lenha, nos dias de sexta-feira, que segundo os nativos, e 0 dia que a 33 caipora mais apronta • Ahist6ria da caipora demarca que existe uma rela­ 34 yao entre seres viventes e espiritos que residem nas florestas • Mas, dentre os seres visiveis, aparecem nessas matas uma fauna nativa constituida por: tatus, veados, caititus, raposas, gatos do mato,jaracu9u,

33 ENTREVISTA: Senhor Jollo de Jesus, morador da localidade de Olaria, cedida no dia 14/08/2005. 34 Essas narrativas desempenham um papel bastante importante na socializa~lio do grupo investigado.

Revista de Ciencias Humanas, Florianopolis, EDUFSC, Volume 43, Niunero I, p. 121-144, Abril de 2009 139 HirMANAS cobra coral, etc. Esses seres, ao contrario dos mitologicos, deixaram de apa­ recer para os nativos. Pois, 0 desflorestamento e caya predatoria provoca­ ram 0 desaparecimento desses animais. Essa regiao tern uma populayao formada por homens, mulheres, crian­ yas e por velhos, tern as suas bases comandadas pelo lado feminino,ja que os homens saem do seu convfvio familiar para trabalhar em terras distantes do seu local de moradia; na maioria das vezes vao trabalhar em outras pro­ priedades rurais da vizinhan~a. Nesse caso, a produ~ao agricola da comuni­ dade vern das terras que nao pertencem aos quilombolas, mas e nela que 0 homem trabalha, recebendo pequenos salarios, do valor de sete reis pelo dia trabalhado. Esse trabalho econhecido na localidade como atarefa de ganhar dia, urna vez que os homens, em geral, nao tern a quem vender 0dia, perdem o dia sem trabalhar e, portanto, nao ganham nenhurn dinheiro. Essa e urna das comunidades rurais mais pobres do municipio de Irani. Essa e considerada uma comunidade numerosa, com aproximadamen­ te quinhentas pessoas. Existem 150 casas e 200 famflias, sendo que muitas 35 delas moram sobre 0mesmo tet0 • Existe urn riacho que alimenta acomuni­ dade com a sua agua, seja para beber ou para 0 trabalho - 0 barro que ainda existe, a materia-prima para a ceramica, e extrafdo da sua margem. Isso pode ser urn fator que ajuda na invisibilidade da sociedade em relayao Ii comunidade quilombola. Nao existem polfticas publicas eficientes que con­ tribuam para 0 bem-estar das comunidades de urna maneira geral. Essas pessoas tambem sao vftimas de urn racismo velado na sociedade local, fruto de todo urn processo historico. Dentro da comunidade nao existe urn posta de saude. Existe apenas uma escola (Escola MunicipalAna Souza) euma casa de farinha comunitaria. Ambas tern grande serventia a todos os moradores, pois e nesse espayo que as pessoas fazem reunifies, da associa~ao dos moradores. A popula~ao e predominante catolica, e 0 padroeiro da localidade eSao Cosme e Sao Da­ miao. Existe uma igreja bastante simples onde ocorrem os cultos religiosos e reunifies. Segundo, os moradores, essa igreja foi construfda em 1998, e os moradores escolheram 0 santo protetor do local, atraves de urna votayao. Grande parte dos moradores dessa regiao jaera devota de SaoCosme e por isso este foi escolhido, uma vez que nas residencias jaera muito cultuado.

3S SECRETARIA MUNICIPAL DE SAUDE DE IRARA. Programa de controle de epidemias, 2006.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero I, p. 121-144, Abril de 2009 140 Etnicidade e memoria entrequilombolas em Irani,Bahia Jucelia Bispo dos Santos

Alem de fazer rezas para Sao Cosme, as pessoas dessa comunidade tambem sao devotas de outros santos. Todas as casas tern muitos quadros de santos nas paredes. Tern muitas festas religiosas. As pessoas tern 0 habito de "se benzer" antes de sair de casa. A comunidade tern urn amor muito grande pelas raizes culturais dos seus antepassados. As atividades economicas praticadas na comunidade sao a agricultura e cri~ de animais, sendo estas destinadas asubsistencia das farrnlias. Agrande maioria destas atividades e realizada em terrenos individuais, situados nas proximidades das residencias. asprincipais produtos cultivados sao: milho, feijao e mandioca. Hoje em dia, os atuais moradores dessa regiao nao possuem titulos de terra. a acesso a terra satisfaz aos principios do parentesco, ou seja, ocorre atraves da descendencia, filia~, ou da alian~a matrimonial. Assim, aparece urn sistema de terras de heran~a, comungado com terras de parentes. Aco­ munidade e formada por esse territ6rio que eparcelado por pequenas pro­ priedades, onde existem uma casa epoucos metros de terras, que sao utiliza­ dos para plantar parcos produtos agricolas e criar animais. Essa questao e consequencia da especulayao imobiliaria, a ambi9fu> dos fazendeiros circun­ vizinhos, que com a falta de docurnen~ao legal por parte de seus legitimos donos foram ocupando a regiao e instalando propriedades privadas e blo­ 36 queadas do uso coletiv0 • Nesse caso, 0 problema mais grave de todos, nessa regiao, e que a terra que nao perspectiva de ser identificado de forma coletiva para se ter 0 reconhecimento legaL

4 - Considera~6es finais

Presentemente, os moradores da comunidade de Quilombo da Olaria estao vivendo urn processo de constru9ao identitaria: elas tern consciencia que de descendem diretamente de ex-escravos africanos, e sua caracteristi­ ca comurn esta ligada ao "desenvolvimento de praticas de resistencia na ma­ nuten~ao e reprodu~ao de seus modos de vida". Conforme voz corrente na comunidade, as terras que sao habitadas pelos nativos foram doadas pelos ancestrais. Essa hist6ria tern inico no momento em que colonizadores ecoloni­ zados firmaram as bases iniciais dos seus relacionamentos na sociedade local.

36 Idem.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero I, p. 121-144, Abril de 2009 141 HirMANA'S

Em decorrencia disso, acomunidade da Olaria acabou por ocupar no sistema fmalmente estabelecido, em se tratando da sua situa~ao fisica, geognifica e cultural, urn lugarmuito alemdas fonnas pelas quais acomunidade eintegrada ao entorno regional. Dessafonna, os nativos almejam relacionar amemoria da escravidao edaresistencia com aatual discussao sobre 0 conceito de quilom­ bos. Atraves dessas atividades, as pessoas que ali residem, planejam executar urn trabalho respaldado na memoria dos mais velhos, em que Ultimos passarao a fazer urn retorno aquele passado fincado na escravidao e a lembran~ pou­ co ou nada prazerosas que costumam se apagar da memoria. o alvo inicial desse povo e a conquista da titula~ao das terras das co­ munidades ea constru~ de urn perfil de identidade quilombola que se finne politicamente, posto que a legisla~ao brasileirajaadota este conceito de co­ munidade quilombola e reconhece que a determina~ao da condi~o quilom­ bola advem da auto-identifi~. 0 auto-reconhecimento garantido no De­ creto n° 3.572, de 22 de julho de 1999 so foi estabelecido na legisla~ao ederal em novembro de 2003, atraves do Decreto n° 4.887. Depois da proxima~ao dos sujeitos, atraves dos encontros promovidos na associa~ao ocal, notou-se 0 quanto essas pessoas estao avidas por entenderem 0 signif­ icado dapalavra quilombos, a tim de mudarem a sua comunidade. De acord­ 37 o com 0 seguinte depoimento percebe-se :

A gente quer saber por que agora ti dizendo que aqui eurn quilombo. Antes 0 povo mais velho falava da escravidao e dessa historia que os negros se escondiam no mato. Mas, agora a gente quer saber por que as pessoas se interes­ saram para dizer que aqui eurn quilombo. Eu ouvi na televisao que 0 quilombola tern direito a vaga na universidade. Eu quero saber como a gente pode ter vaga para estudar na universi­ dade, porque ainda eu sonho em continuar com meus estudos. AMm disso, tern outras coisas que sempre aparece na televisao, mas a gente nao entende bern 0 que passa na televisao. A gente quer saber como nos evisto como qui­ lombola e que a gente pode ganhar com isso...

37 Elza dos Santos, moradora da Olaria, nascida em 30/0111982.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero 1, p. 121-144, Abril de 2009 142 Etnicidade e memoria entrequilombolas emIrani,Bahia Jucelia Bispo dos Santos

Foi possivel perceber que esses sujeitos janao querem mais assumir urna postura passiva diante da sua trajet6ria coletiva. As pessoas que moram nessas comunidades sonham com a transformal;ao do lugar. Dentre as prin­ cipais questoes que as pessoas almejam, aparecem as seguintes: melhoria e/ ou implantaf;ao dos servif;os de saude com qualidade nas comunidades; im­ plantaf;ao do Programa Saude da Familia nas comunidades; implemental;ao de af;oes efetivas de detecf;ao e controle da anemia falciforme nas comuni­ dades; atendimento odontol6gico; cursos que promovam 0 desenvolvimento das potencialidades dos jovens das comunidades nas areas de educal;ao e de qualificaf;ao profissional; realizal;ao de cursos de alfabetizal;ao parajo­ yens e adultos; melhor estruturaf;ao da escola existente na comunidade com suporte de materiais pedag6gicos; reforma e ampliaf;ao da escola que existe na regiao (Escola Municipal Ana Souza Carneiro); transporte escolar com qualidade e seguranf;a para os jovens que estudam fora da comunidade; re­ vitalizaf;ao do trabalho com a cerfunica; e demarcaf;ao das terras que perten­ ceram aos ancestrais. Hoje, os sujeitos que moram na comunidade quilombola da Olaria que­ rem recuperar da hist6ria desses grupos, a fim de fomentarem a luta por terras. Portanto, tornou-se interessante a aproximaf;ao dos sujeitos pesqui­ sados para, juntos pensarem no contexto das desigualdades e exploraf;ao coletiva. Vma vez que nesses espaf;os os individuos janascem com papeis definidos- uns nascem para mandar e outros para obedecer, uns oprimem e outros sao oprimidos- apratica da pesquisapode ser urn meio de promover a transformaf;ao social em busca da igualdade e da valoriz~ao do ser hurnano.

Referencias bibliograficas ANJOS, R. S. A. Projeto mapeamento dos remanescentes de quilombos no Brasil- sistematizaf;ao dos dados e mapeamento- Relat6rio Tecmco, Fun­ daf;ao Palmares, Brasilia, 1997. ARAGAO, A. Pelourinhos da Madeira, Funchal, 1959, Luis Chaves, Os Pelourinhos de Portugal, Gaia, 1930. BRANDAO, C. R. Identidade e etnia. Brasiliense, Sao Paulo, 1986. FUNDA<;AO CULTURALPALMARES (PCP), do Ministerio da Cultura. Projeto de melhoria da identificar;iio e regularizar;iio de terras das co­ munidades quilombolas brasileiras, 2003.

Revista de Ciencias Humanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nillnero I, p. 121-144, Abril de 2009 143 HirMANA'S

GOFFMAN, E. (1988). Estigma: notas sobre a manipul~o cia identidade deterioracla. (M. B. M. L. Nunes, Trad.). Rio de Janeiro: Zahar Editores. (Originalpublicadoem 1963). IBGE. EnciclopMia dos municipios brasileiros. Rio deJaneiro: IBGE, 1957.

NASCIMENTO, A. e LARKIN, E. Enfrentando os termos: 0 significado de ra9a, racismo e discrimina9!o racial. In: Revista para alem do racismo: abra9ando urn futuro interdependente. Estados Unidos, Brasil e Africa do Sui, jan. de 2000. NOGUEIRA, A. Hist6rico do municipio de Irarri. Prefeitura Municipal de Iranl, 1988. NEVES, E. F. Da sesmaria ao minijUndio (urn estudo de hist6ria regional e local). Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia; Feira de Santana: Universiclade Estadual de Feira de Santana, 1998. POUTIGNAT, P. e STREIFF-FENART, J. Teorias da etnicidade, seguido de grupos etnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. sao Paulo: Unesp, 1998. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAUDE DE mARA. Programa de con­ trole de epidemias, 2006 WEBER, M. Rel~s comunitarias etnicas. In: Economia esociedade: fun­ damentos cia sociologia compreensiva. Brasilia: UnB, 1994 [1922].

Revista de Ciencias Hwnanas, Florian6polis, EDUFSC, Volume 43, Nfunero 1, p. 121-144, Abril de 2009 144