Marisqueira Com Orgulho, Quilombola Para Sempre!
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RELATÓRIO DE APRENDIZADOS DA CAMPANHA PROGRAMA PESCA PARA SEMPRE BRASIL - CICLO 1 Campanha Marisqueira com Orgulho, Quilombola para Sempre! Fundação Vovó do Mangue Coordenador: Daniel Souza Andrade Maragogipe, Bahia, Brasil Abril 2017 1 Índice I. Resumo Executivo .................................................................................................................................. 3 II. Contexto e Planejamento ...................................................................................................................... 4 a) Contexto: social, político, econômico, biológico, etc. ....................................................................... 4 b) Teoria da Mudança e Objetivos SMART ........................................................................................... 7 c) Responsabilidades ........................................................................................................................... 12 d) Estratégia de Mudança de Comportamento .................................................................................. 14 e) Reserva Extrativista/ACRES / Estratégia de Pesca .......................................................................... 18 f) Estratégia de Remoção de Barreiras ................................................................................................ 19 g) Plano de Monitoramento e Avaliação ............................................................................................ 22 III. Aprendizagem .................................................................................................................................... 27 a) Análise Preliminar dos Resultados .................................................................................................. 27 b) Análise Preliminar do Plano de Trabalho ........................................................................................ 30 c) Análise do Impacto e Resultados .................................................................................................... 30 d) Lições Aprendidas e Melhores Práticas .......................................................................................... 36 e) História de Sucesso ......................................................................................................................... 39 f) Aprendizados Pessoais ..................................................................................................................... 41 g) Recomendações .............................................................................................................................. 42 IV. Próximos Passos ................................................................................................................................. 42 V. Anexos ................................................................................................................................................. 44 2 I. Resumo Executivo A iniciativa atuou em duas frentes. A primeira é a realização de uma campanha de comunicação voltada para as marisqueiras de Capanema e Baixão do Guaí, comunidades extrativistas e quilombolas de Maragogipe. As mulheres são as principais extrativistas de ostras e outros moluscos, e responsáveis pelo sustento das famílias. A partir da valorização da origem e saberes das comunidades tradicionais e fortalecimento da autoestima destas mulheres, a campanha visa a adoção de novas condutas no dia-a- dia do trabalho delas, como a realização da vigilância comunitária nas áreas do cultivo de ostras, o trabalho coletivo e a não comercialização de ostras menores que cinco centímetros, fundamental para garantir o ciclo de reprodução da espécie. A logomarca da campanha, criada com a participação e aprovação das marisqueiras, mostra a mão da extrativista retirando da natureza ostras, peixes e outros alimentos para o seu sustento. Acompanhada pelo slogan Pescar, Conservar, Prosperar, ela reforça o compromisso com a conservação do meio ambiente como garantia de mesa farta no futuro. O outro foco de atuação da campanha é a implantação do cultivo de ostras de base comunitária. O empreendimento envolve 30 famílias, 15 em cada comunidade, escolhidas por critérios elaborados pelas próprias marisqueiras. Além de gerar renda extra para as famílias, o cultivo de ostra diminuirá o esforço de mariscagem desta espécie em vida livre, fazendo com que o estoque volte a crescer no estuário e nos manguezais, além de colaborar na disseminação de novas sementes de ostras no ambiente. O modelo de cultivo utilizado é o mesmo desenvolvido com sucesso nas comunidades do Kaonge e Dendê, em Santiago do Iguape, distrito de Cachoeira, que há mais de 15 anos cultivam ostras nativas. Com estruturas feitas de bambu, coletores de sementes produzidos com garrafas PET e gestão compartilhada, o empreendimento com base na economia solidária promove a autonomia das marisqueiras com sustentabilidade e sem prejuízo ao meio ambiente. As estratégias e tecnologia social aplicadas no projeto preocuparam-se em promover a autonomia das mulheres e realizar uma campanha ‘com elas’ e não ‘para elas’, de forma que hoje elas tomam iniciativas, propõem atividades e realizam trabalhos sozinhas, sem a necessidade da presença do coordenador. 3 II. Contexto e Planejamento a) Contexto: social, político, econômico, biológico, etc. - Na literatura disponível não foi encontrado um consenso sobre o número de comunidades inseridas na RESEX, que compreende áreas dos municípios de Maragogipe, Cachoeira e São Félix. As informações variam entre os autores que, em geral, desenvolveram os seus trabalhos em localidades específicas da reserva, mas com o processo de identificar as famílias beneficiárias da reserva o ICMBio estimou em 92 comunidades, que utilizam diretamente os recursos da resex. O município de Maragogipe possui 450 quilômetros quadrados e cinco distritos além da sede - Coqueiros, Guaí, Guapira, Nagé e São Roque do Paraguaçu - e limita-se com os municípios de Jaguaripe, Nazaré, Salinas das Margaridas, São Felipe, São Felix e Cachoeira. - Para estimar o número de comunidades envolvidas com o extrativismo de recursos pesqueiros, o ICMBIO reuniu dados obtidos em oficinas, reuniões do Grupo de Trabalho e na literatura para a elaboração de um mapa da RESEX Baía do Iguape, ilustrando a localização aproximada das comunidades extrativistas da área, além de elaborar o Perfil do Beneficiário da Reserva Extrativista Marinha Baía do Iguape. Nesta compilação chegou-se a 93 comunidades beneficiárias da unidade, das quais 82 estão localizadas no anexo 6. Somente na sede do município de Maragogipe, 19 comunidades estão situadas às margens de manguezais e dependem diretamente da pesca para a sua sobrevivência, e outras duas (Alto do Cruzeiro e Alto do Japão) que não alcançam a margem de rios ou manguezais, mas também são compostas, em sua maioria, por extrativistas. Há ainda nas adjacências da reserva um grande número de comunidades quilombolas, já reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares, algumas delas, inclusive, com territórios delimitados e outras com o processo de reconhecimento de suas terras em andamento. - Acerca das comunidades onde foi aplicada a Campanha por Orgulho (Capanema e Baixão do Guaí), a estrada que leva a essas comunidades é a mesma utilizada para se chegar à Maragogipe, a BR 420. São 14 quilômetros da sede de Maragogipe até Capanema. As duas comunidades compõem o distrito do Guaí, que ainda conta com as comunidades da Lagoa; Samambaia do Meio; Tamancas; Topa de Cima; Topa de Baixo; Piedade; Mutamba; Guarucú; Bom Jardim; Terra Seca; Carobas; Rio Grande; Fanu Leite; Tabatinga 1 e 2; Cascalheira; Quilombo; Salaminas; Enseadinha; Guerém; Sítio Gramador; Palma de Cima; Quizanga/Socorro; Entrada Rural de Capanema; Rio Grande (Piedade); 4 Água Boa; Traíras/Rio das Pedras/ Tijuca; Santa Ângela; Camarão de Baixo; e Porto da Pedra, sendo todas estas predominantemente comunidades rurais. O número aproximado de moradores das comunidades envolvidas da Campanha são: 250 famílias em Capanema e 140 famílias no Baixão do Guaí. - A Reserva Extrativista Marinha Baía do Iguape tem uma população de pescadores e marisqueiras de aproximadamente 12.180 pessoas conforme o diagnóstico socioeconômico realizado pela Universidade Federal de Viçosa (Prof. Ferreira Neto, José Ambrósio, 2014), sendo que, deste número, 74% residem no município de Maragogipe. A atividade de mariscar é predominantemente feminina e, em muitos casos, as mulheres são as principais responsáveis pelo sustento das famílias, que dependem do manguezal e dos mariscos para obter a sua renda. Num dia típico de trabalho, uma marisqueira cata em média um quilo e meio de ostras e vende a sua produção a um atravessador local, que revenderá para restaurantes e mercados, sobretudo, da capital - Salvador, ou vende diretamente para a vizinhança. - Com o cultivo em funcionamento, as marisqueiras organizam-se para buscar novos mercados e vendas diretas para os consumidores finais, vendendo as ostras em dúzias – e não mais a quilo -, utilizando o princípio da economia solidária e em coletividade. - Apesar do cultivo já estar implantado, as marisqueiras ainda não pararam de retirar as ostras em vida livre, utilizando um utensílio chamado farracho. Trata-se de um facão inutilizado, técnica que não agride o manguezal. Porém quando as ostras do cultivo começarem a ser comercializadas diminuindo assim o esforço de mariscagem da ostra, juntamente com a aprovação do Acordo de Gestão da Resex Baía do Iguape, no qual ficou definido que não se deve capturar