Caracterização Morfológica Da População Bovina Jarmelista
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DGV Direcção Geral de Veterinária CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DA POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA Fevereiro 2006 A POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DA POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA Protocolo de colaboração: Junho de 2004 Instituições Participantes Direcção Geral de Veterinária (DGV) Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI) Instituto Nacional de Investigação Agrária e das Pescas / Estação Zootécnica Nacional / Estação Nacional de Melhoramento de Plantas (INIA/EZN/) Associação de Criadores de Ruminantes do Concelho da Guarda (ACRIGUARDA) Equipa técnica: Maria de Fátima Sobral (DGV) Carmen Roberto (INIA/EZN) Dolores Navas (INIA/ ENMP) José Manuel Nunes (ACRIGUARDA) Paulo Poço (ACRIGUARDA) Sabina Mónica Duarte (ACRIGUARDA) i A POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA RESUMO DOS TRABALHOS DESENVOLVIDOS Foi efectuada a inventariação e identificação da população bovina Jarmelista através da identificação dos criadores e explorações, determinação do tamanho da população, distribuição etária, proporção entre sexos e recolha da informação disponível sobre a origem e genealogia do efectivo. Foi analisada a diversidade morfológica de trinta e nove fêmeas Mirandesas e de todos os animais identificados como Jarmelistas num total de vinte e quatro fêmeas e dois machos. Para a caracterização morfológica foram utilizados 185 caracteres morfológicos para as fêmeas e 170 caracteres para os machos recorrendo aos métodos de análise de dados/taxonomia numérica. Os resultados obtidos neste estudo, foram analisados em conjunto com resultados anteriormente obtidos para cinco raças bovinas autóctones de fêmeas da região Sul de Portugal - Algarvia (AG), Alentejana (AL), Garvonesa (GA), Mertolenga (ME), Preta (PR) - e doze raças autóctones de machos: Algarvia, Alentejana, Arouquesa (AR), Barrosã (BA), Cachena (CA), Garvonesa, Marinhoa (MA), Maronesa (MO), Mertolenga, Minhota (MN), Mirandesa (MI) e Preta. Simultaneamente com a recolha e registo dos dados morfológicos, foi efectuada a recolha de sangue, pêlos e sémen e ainda a filmagem e fotografia de todos os animais identificados como Jarmelistas. Com base nos dados morfológicos, utilizando as técnicas de análise de taxonomia numérica, a população bovina Jarmelista apresentou resultados que mostram claramente que os machos e fêmeas estudados constituem um grupo distinto e independente. ii A POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA ÍNDICE GERAL RESUMO ............................................................................................................................. ii 1. INTRODUÇÃO ……………………..………….………………………………………………. 1 1.1. A população bovina Jarmelista ........................................................................ 2 2. OBJECTIVOS ................................................................................................................. 4 3. METODOLOGIA DA CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA ........................................ 5 4. RESULTADOS 4.1. Análise de grupos ………………………………….……..................................... 8 4.2. Análise em coordenadas principais ................................................................. 11 4.3. Características morfológicas dos bovinos Jarmelistas ………………………… 14 5. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES ..................................................................................... 16 AGRADECIMENTOS ………………….…………………………….…..………………………. 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 18 ANEXOS I - Estudo para o Reconhecimento da População Bovina Jarmelista …..… 20 II - Lista dos caracteres morfológicos para fêmeas ………….………….….. 25 III - Lista dos caracteres morfológicos para machos …………..……………. 37 iii A POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA 1. INTRODUÇÃO “Uma raça é o produto de uma sociedade, das suas necessidades materiais e da sua cultura”. Laurans (1989) Em 1992 a Organização para a Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO/UNEP) lançou um programa internacional com o objectivo de “salvaguardar e difundir a diversidade genética, inventariar os recursos de cada região, detectar as raças que se encontravam em perigo de extinção e estudar e propor a forma de as proteger”. Paralelamente, os países membros da União Europeia incentivaram o desenvolvimento de acções visando o melhoramento e conservação das raças autóctones no seu habitat original. Estas medidas assumem particular importância num país onde, nas últimas décadas, se tem verificado uma diminuição drástica no efectivo de algumas raças autóctones, que nalguns casos chegou mesmo à extinção e onde cerca de 40% do total das raças nacionais se encontra ainda em perigo de extinção mais ou menos acentuado (Matos, 2000). Neuvy (1980) afirmava que o argumento mais convincente para a conservação de raças em perigo de extinção, é que “o devemos fazer, porque não sabemos o que perdemos se não o fizermos”. A caracterização das raças bovinas autóctones nacionais tem-se baseado na avaliação morfológica, de acordo com a descrição que se encontra normalmente na bibliografia e, principalmente, na descrição do padrão da raça dos respectivos Livros Genealógicos, apesar da natureza, por vezes, poética e ambígua de alguns destes caracteres (e.g. formas harmoniosas, cabeça expressiva, olhar vivo, olhos aflorados, peito profundo). Neste contexto, foi celebrado um protocolo entre a Direcção Geral de Veterinária, a Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e das Pescas/EZN/ENMP e a Associação de Criadores de Ruminantes do Concelho da Guarda (ACRIGUARDA), para a execução do “Estudo para o Reconhecimento da População Bovina Jarmelista” (Anexo I), cujos objectivos propunham identificar e caracterizar morfologicamente a população bovina Jarmelista e a raça bovina Mirandesa, determinar o grau de semelhança entre as duas populações citadas e precisar as relações entre estas populações e outras raças anteriormente estudadas. 1 A POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA 1.1 A POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA Referenciada na bibliografia clássica como as “vacas Jarmellas”, a população bovina Jarmelista, era considerada por alguns autores como uma variedade da sub-raça Beiroa incluída na raça Mirandesa (Cincinnato da Costa - 1900, Bernardo Lima - 1900, Miranda do Vale - 1949). Outros autores porem, consideravam-na como uma raça independente da Mirandesa, com caracteres morfológicos distintos e uma produção leiteira, única entre as raças nacionais. No arrolamento do gado de 1870 dizia-se: “... a raça Jarmelista acha-se localizada no antigo concelho do Jarmelo, que hoje faz parte do da Guarda ... Esta graça é sem contestação não só a melhor do distrito mas talvez a do país e atrevo-me mesmo a dizer que pode rivalizar a vários respeitos com muitas raças estrangeiras”. E prosseguia: “...não julgue V. Excelência que exagero as boas qualidades destes animais ... ainda hoje existem bastantes indivíduos puros como sendo reservatório da raça, que não lhes acudindo em breve desaparecerá mercê de cruzamentos com raças inferiores”. Mais tarde, em 1904 João Tierno afirmava “A ganadaria vacum do Jarmello tãopouco corresponde a qualquer forma intermédia; afigura-se-nos, como logo se dirá, que não é uma sub-raça, mas um verdadeiro grupo ethnico independente ...”. Afirmava ainda este autor “O armentio do Jarmello, o melhor que temos para leite, foi referido aquelle typo (mirandês), mas sem motivo fundamentado. O professor Bernardo Lima, nos seus bellos estudos sobre as raças bovinas portuguesas, apresentou ao de leve a hypothese, sem todavia a garantir, de ser este agrupamento uma variedade mirandesa; a mera supposição do mestre tomou-se como affirmativa terminanate, e d’ahi proveio esse erro vulgar, justamente combatido pelos que de perto, e não por outivo, conhecem a morphologia e os caracteres physiologicos das reses jarmellas”. 2 A POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA Em 50 anos a raça sofreu um profundo declínio como se deduz das afirmações de Manuel Virgílio Coelho (1954), acerca da extinta raça Jarmelista: “Não há dúvida de que a raça Jarmelista tinha caracteres morfológicos bem distintos como tinha predicados inegualáveis por outra raça qualquer mesmo dentro da mesma região”. 3 A POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA 2. OBJECTIVOS Os objectivos principais do presente trabalho visam identificar e caracterizar morfologicamente a população bovina Jarmelista e a raça bovina Mirandesa, determinar o grau de semelhança entre as duas populações citadas e precisar as relações entre estas populações e outras raças anteriormente estudadas. Pretende-se que os resultados deste estudo constituam o primeiro passo para o reconhecimento da originalidade da população bovina Jarmelista, que constitui um valioso recurso natural e justifiquem a continuação do estudo desta população conduzindo à implementação do registo zootécnico e ao seu reconhecimento como raça bovina Jarmelista. 4 A POPULAÇÃO BOVINA JARMELISTA 3. METODOLOGIA DA CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA Para a caracterização morfológica foram utilizados 185 caracteres morfológicos para as fêmeas e 170 caracteres para os machos (Anexos II e III). A selecção dos caracteres morfológicos foi efectuada de uma forma cuidada e exaustiva, de modo a ser obtida uma classificação objectiva, facilmente aplicável por qualquer pessoa, a qualquer raça e em qualquer situação, baseada num conjunto de caracteres objectivos, mensuráveis e comprováveis. A partir das duas listas de caracteres, foram elaboradas as respectivas fichas de campo para registo das observações. Os dados registados nas fichas de campo foram codificados de acordo com as