CARTA AO LEITOR ÍNDICE Chegamos à segunda edição produção. Ou seja, a produção, 80 da Revista #INCITARTE, sem patrocínio e com muitos 6 | ENTREVISTA 44 | HOLOFOTES ainda em formato digital e custos a cobrir, contou com Entrevista com CLAUDIO TOVAR, o artista multi- Quem são os nomes de destaque EM CARTAZ EXPEDIENTE facetado que cabe em qualquer lugar do teatro. na atual cena teatral. com periodicidade trimestral, nosso apoio sem nenhum Confira os Diretor de Redação: mas com a ambição de investimento financeiro e 12 | EM BOA COMPANHIA TEATRO PELO MUNDO destaques da rapidamente se tornar mensal ainda teve, em uma semana, Os DezEquilibrados chegam às Bodas de Por- programação Paulo Fernando Góes celana com trajetória de espetáculos que buscam carioca. e impressa. O caminho até lá o retorno do valor investido. novas linguagens e subvertem os espaços teatrais. 48 | NEW YORK não é longo, mas depende da A formação deste público “To Kill A Mockingbird”, a grande surpresa da Broad- Redatores: 16 | EVOÉ way e outras 4 produções que vão estrear na Big compreensão de produtores pagante se deu através da Apple, pelo jornalista e dramaturgo Gustavo Pinheiro. Renata Magalhães Confira as últimas novidades do teatro carioca teatrais sobre a startup nossa divulgação nas redes por Leonardo Torres, do Teatro em Cena. Bruno Bernardino chamada “Quero Teatro”, onde sociais. Resumindo: é possível. 50 | LONDRES 18 | REGISTRO A adaptação musical do filme “O Fabuloso se insere esta publicação. O aclamado Grupo Galpão e seus preciosos re- Destino de Amélie Poulain” chega ao West End. Colaboradores: Com esta e outras ferramentas, O marketing digital tem uma gistros em DVD, como a montagem de “Romeu Bruno Cavalcanti e Julieta” no Globe Theatre, em Londres. 52 | PORTUGAL levaremos conteúdo máxima que aqui reproduzo: “Severa - o Musical” conta o mito da Cacá Valente jornalístico de qualidade sobre “Quando um serviço é gratuito, 20 | NO FOYER prostituta transgressora e criadora do Quem foram as celebridades que compareceram à gênero musical legítimo português, o Fado. Fabiana Seragusa os espetáculos em cartaz e o produto é você”. De fato, esta badalada estreia VIP de “A Cor Púrpura”, na Cidade Gustavo Pinheiro assim, alcançaremos nosso revista só pode ser baixada das Artes e de “Monstros”, no shopping da Gávea. 54 | PARIS Confira 4 musicais em cartaz em Paris Leonardo Torres objetivo maior: levar público gratuitamente após entrega de 22 | CINEMA que, apesar de americanos, combinam Luís Francisco Wasilevski pagante ao teatro carioca. telefone e e-mail, para onde Saiba quais são as 5 peças de teatro que perfeitamente com a Cidade Luz. 102 vão para as telonas. Marlon Zé vamos divulgar os espetáculos 56 | BUENOS AIRES VAQUINHAS A fórmula é possível e viável em cartaz para que você, leitor “Todo tendria sentido si no existiera la muerte”: Dicas de espetáculos em Paulo Neto 26 | NA COXIA premiado espetáculo conta a história de uma Saulo Sisnando e, para provar, cito o exemplo de hoje, seja o espectador de Conheça o prédio em Botafogo que foi o professora com doença terminal que decide financiamento coletivo para colaborar. de um excelente espetáculo amanhã. Como sabemos o berço do teatro besteirol. protagonizar um filme pornô feminista. que vem circulando pelo quão inconveniente é a invasão Designers: 29 | MEU OFÍCIO 58 | TEATRO PELO BRASIL Rio de Janeiro: o monólogo de propagandas em nosso Fernando Philbert e Herton Gustavo Gratto Teatro ao alcance do tato: a cena paraense Arthur Felippe discorrem sobre o ofício da direção teatral e “Eu Sempre Soube...”, com WhatsApp ou caixa de e-mails, que acontece nas casas e porões de Belém, da dramaturgia, respectivamente. por Saulo Sisnando. Rodrigo Almada Rosane Gofman em momento perguntaremos antes se você iluminado nos palcos e texto quer receber nosso material e 60 | PONTE AÉREA Colunista Convidada: e direção de Marcio Azevedo, com que periodicidade. Mas Quatro dicas de espetáculos para assistir em São Paulo, por Fabiana Seragusa. Soraya Ravenle igualmente inspirado em sua um conselho que lhe dou é: 32 jornada dupla. Assisti na estreia aceite receber nossas dicas do 62 | PALAVRA DE CAMAREIRA OS 50 ANOS Elma Lucia fala sobre sua experiência Edição: e saí do teatro atordoado, que assistir no Rio de Janeiro. trabalhando nos bastidores dos musicais Daniel Terra querendo que o maior número Caso contrário, você pode DE GOTTSHA de Claudio Botelho e Charles Möeller. de pessoas possível visse perder a chance de ganhar um Gottsha comemora seus 50 anos com novo show com canções de Roberto 64 | NAS REDES Mídias Sociais: aquela obra-prima para se bom desconto, de descobrir Confira os posts de quem compareceu à Carlos e relança seu álbum disco nas noite de gala do Prêmio Bibi Ferreira no Isabela Oliveira transformar, que é o que uma joia rara do teatro e de plataformas digitais. Teatro Renault, em São Paulo. faz o bom teatro. Para tal, deixar sua semana mais leve, 66 | TEATRO NA WEB Marketing: precisaria de um material em rindo ou se emocionando. 4 sugestões de sites e blogues de críticos 102 | COLUNISTA CONVIDADA Rodrigo Medeiros audiovisual que me permitisse teatrais em atividade no Rio de Janeiro. mostrar ao público a força da A atriz Soraya Ravenle, em cartaz com o 68 | LEITURA DE PALCO musical argentino “Monstros”, escreve Rosane no palco, algo que sobre suas angústias e urgências. Produção: Fernanda Montenegro e Antônio Fagundes texto nenhum traduziria. Pedi em livros que, para além do registro de Wanderson Neri suas carreiras, ajudam a contar a história uma cota de ingressos para das Artes Cênicas no Brasil. cobrir os custos da produção 70 | TV www.incitarte.com.br dos vídeos, especialmente “Persona in Foco”, o programa de entrevistas www.queroteatro.com.br dos terceirizados (roteirista, da TV Cultura mediado por Atílio Bari que é um prato cheio para os amantes do teatro. [email protected] câmera, editor e aluguel de facebook.com/incitarte equipamentos) e, na primeira 71 | MÚSICA semana, vendi todos os A “Barca dos Corações Partidos”: companhia Instagram: @programaincitarte tem álbuns de espetáculos e clipe com Elba YouTube.com/incitarte ingressos da minha cota Ramalho disponíveis nas plataformas digitais. através do site queroteatro. 73 | UMA PEÇA QUE NOS MARCOU com.br. Na segunda semana Qual foi a peça que marcou sua vida? O casal em cartaz, vendi o mesmo Paulo Fernando Góes Leo Wagner e Carlos Arruza responde. valor, desta vez, repassado à DIRETOR DE REDAÇÃO 74 | ESPECIAL Aos 80 anos, o veterano ator, diretor e político paulista Sérgio Mamberti prepara autobiografia enquanto alinha peças inéditas e nova turnê. 4 OUTUBRO 2019 Confira na reportagem de Bruno Cavalcanti. ENTREVISTA ENTREVISTA

O diretor norte-americano deu, mas foi com muito mais Como foi? TALENTO PARA Lennie Dale fazia jus à fama trabalho que nós podíamos de exigente? imaginar. Temos muita CT: O general que me QUALQUER LUGAR saudade e até hoje falamos recebeu disse barbaridades. CT: Fui para o primeiro e rimos muito de tudo o que Vê-lo com dois seguranças DO TEATRO ensaio achando que ia tirar aconteceu com a gente. Na e a bandeira do Brasil foi de letra, mas errava muito verdade, nossa trajetória inteira assustador. Ele apontava Diretor de arte, cenógrafo, produtor, simplesmente por não foi uma viagem maravilhosa. o dedo na minha cara ator, cantor, dançarino, figurinista e saber contar os compassos e perguntava se para dramaturgo. O que pensa Claudio dentro da música. Levei Vocês se tornaram símbolo fazer teatro eu precisava Tovar, o artista multifacetado que fez muitos esporros do Lennie, da contracultura ao fazer mostrar o c*, enquanto parte dos Dzi Croquettes e declara ia chorar sozinho no um teatro libertário em gritava me chamando de voto no presidente Jair Bolsonaro. banheiro. Quem me ajudou plena Ditadura Militar. Como “veado”. Ameaçava acabar foi Paulette, que percebeu foi esse momento? com a gente, caso nos Por RENATA MAGALHÃES isso e em uma noite me apresentássemos daquela Claudio Tovar. FOTO: Arquivo Pessoal. explicou como funcionava. CT: Em São Paulo, nos forma de novo. Segui os Precisei fortalecer minha apresentamos para os conselhos que me deram e ascido em Vitória, no Espírito Santo, Claudio Tovar precisou traçar um bom musculatura para dançar censores. Nossas produções ouvi tudo calado. Cheguei em Ncaminho até se tornar o artista multidisciplinar que se tornou referência aquelas coreografias eram muito livres, então casa e chorei sozinho a tarde em tantas áreas das artes cênicas. Foi porteiro de obras e estudou dentro da intensas e no final estava fizemos algo muito bobo e inteira, me questionando dançando muito bem. evitamos colocar a bunda por quê tive que passar por guarita para prestar vestibular em Brasília, cursou Arquitetura durante alguns Adorava aquilo. Aos 40, de fora. Passou na boa e foi aquilo. Foi um fator decisivo anos até perceber que a vocação que se apresentava desde criança era já casado, senti que era um sucesso. Aqui no Rio, para irmos embora do país. inegável. Fez história durante a Ditadura Militar ao se apresentar junto com a hora de parar. durante a temporada, nosso os icônicos Dzi Croquettes e hoje lamenta o desmonte cultural que assola a espetáculo foi censurado. Muito se fala hoje sobre cidade. Sempre controverso, Tovar deu uma entrevista sincera para a Revista Qual a história mais Descobrimos depois que a um retorno, mesmo velado, #INCITARTE, na qual falou sobre tudo – inclusive os motivos que o levaram a peculiar que você se mulher de um “milico” foi e dessa censura. mandou cancelar. Ficamos votar em Bolsonaro nas últimas eleições. Confira a seguir. lembra desta época? mais de um mês suspensos CT: Será que tem censura CT: A ida para a Europa, que e tivemos um prejuízo hoje? Achei lamentável o Impossível não começar Como era a rotina de vocês ? foi uma aventura fantástica. enorme. Conseguimos uma que houve com a mostra perguntando sobre a sua Fomos sem contrato, cheio reunião, mas Lennie havia “Queermuseu” [que teve experiência com os Dzi CT: É Foram vários momentos. de baús com roupas e tralhas, se acidentado e acabei seu fim antecipado após Croquettes. De que maneira Moramos em uma pensão para tentar algo que tínhamos indo em seu lugar. Foi a pior manifestações de membros isso foi transformador para em São Paulo, cada um com certeza que daria certo. Até experiência da minha vida. do Movimento Brasil Livre]. a sua vida? seu quarto. Já moramos É uma bobagem! Eu inclusive todos juntos em um casarão estava com uma exposição Claudio Tovar: Assisti ao no bairro de Higienópolis. de arte erótica pronta e espetáculo e no dia seguinte Passamos por casas de amigos desisti. Não era fundamental pedi ao Lennie Dale para e hotéis. A gente trabalhava para mim e optei por não entrar para o elenco. Ele muito, fazíamos muitas aulas. passar por isso. aceitou, contanto que eu Passava horas desenhando não atrapalhasse ninguém. com Roberto [de Rodrigues] Fiz uma maquiagem, ou criando histórias para os coloquei um vestidinho e nossos espetáculos com o Ciro me apresentei na mesma [Barcelos]. Já com o [Cláudio] noite. Um novo mundo de Gaya discutia biografias, Claudio Tovar, com os “Dzi possibilidades se abriu para enquanto a palhaçada era Croquettes” Bayard Tonelli mim naquele momento. com Paulette [Paulo Bacellar]. e Ciro Barcelos: “Sempre fomos muito unidos e era Claudio Tovar, como “Dzi Croquette”, em Sempre fomos muito unidos e muito divertido estar juntos”. 1976. FOTO: Arquivo Pessoal. era muito divertido estar juntos. FOTO: Miguel Sá.

6 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 7 ENTREVISTA ENTREVISTA

Não deixa de ser Foi a polarização que te um tipo de censura. impulsionou à direita? Fora a repressão contra as minorias... CT: Se fosse uma escolha entre Bolsonaro e Haddad, CT: A maior passeata gay eu escolheria Bolsonaro aconteceu há poucas simplesmente por este semanas e não vi ninguém ser motivo sim. No começo reprimido. fiquei muito assustado com ele, essa coisa do “mito” me O Brasil ainda é o país que chocava. Mas quando eu vi mais assassina LGBTs no as coisas que ele postava, mundo. aquela foto tosca sentado na mesa do café da manhã com CT: Isso acontece desde a bandeira do Brasil torta sempre, não é por causa atrás, comecei a simpatizar Claudio Tovar e Lucinha Lins, casal longevo das artes: “Eu me casei com uma desse governo. e ver o lado mais humano mulher, mas isso não quer dizer que nunca me relacionei com homens. Sou o que sou e me deem o direito de ser.” FOTO: Damon Almeida. daquela pessoa. Gauche pra O discurso do presidente cacete, só fala bobagem! não acaba validando esse Mas não o crucifico por isso e Ainda assim, não parece São Paulo. Não temos mais comportamento? as coisas estão começando mesmo paradoxal pela teatros, está tudo em ruínas. a acontecer, como a sua história? Para fazer alguma coisa, é CT: O Bolsonaro é um militar e reforma da Previdência. preciso reunir pessoas e tentar não gosta de gays. Não sei se Temos uma imprensa muito CT: Não pense você que fazer de forma independente. eu tivesse só amigos militares, partidária e não sei se temos Dzi Croquettes levantou Não tem como não achar se eu gostaria. Eu não o vejo acesso a tudo que ele faz. bandeira. Nós simplesmente isso tudo muito triste. Há fazendo nada. Isso tudo é Sinceramente? Estamos éramos. Jovens, lindos, pouco mais de três anos eu uma bobagem. vivendo um tempo gostosos, talentosos, infartei em cena enquanto muito chato. tesudos. Metemos o pé na fazia “Palhaços” por conta de Você sente uma reatividade porta e entramos, explorando exaustão. Não quero ter outro da classe artística por um alto nível de sensualidade problema desses. Chegar aos adotar esta postura? Simpatizante do presidente Jair Bolsonaro, Claudio não se envolve mais em e sexualidade, sem ter que 75 anos nessas condições? discussões nas redes sociais: “Quando pessoas que têm opiniões contrárias se veem no dever de entrar numa guerra, encerro logo. A única bandeira que levanto pedir licença ou reivindicar É muito doído. CT: Sinto. Atualmente, é a da paz. Quero meu sossego.” FOTO: Daniela Dacorso / Agência O Globo. Com Camila Amado no musical “Les nossos direitos LGBT para Comédiens” (2017), espetáculo dedicado não sou uma pessoa de à música francesa. FOTO: Rafael Blas isso. Nós só queríamos ser Qual a saída para esse esquerda. Todo mundo livres, sem rótulos, soltos no desmonte cultural? queria que eu fosse e não Como é sua relação com as mundo. Já tinha uma Ditadura se conformam com isso, redes sociais? Militar em cima da gente – CT: Seguir trabalhando, por ainda mais pela minha quanto mais desbundados mais difícil que seja. Estou trajetória. Esses dias uma CT: O Fiz grandes amigos, nós fôssemos, melhor. Eu me levantando completamente pessoa que eu nem conheço assim como também casei com uma mulher, mas sozinho uma exposição me escreveu dizendo que já limei muitas pessoas isso não quer dizer que nunca sobre os Dzi Croquettes eu sou a vergonha dos Dzi por lá. Vivemos em uma me relacionei com homens. para estrear na Casa de Croquettes. Tenho, sim, mil democracia e temos direito Sou o que sou e me deem Cultura Laura Alvim. Eles restrições a tudo que fizeram ao pensamento, qualquer que o direito de ser. pedem como contrapartida e roubaram para deixar o seja ele. Mas quando pessoas uma contribuição para a nosso país desse jeito. Para que têm opiniões contrárias Como você avalia o estrutura do espaço. Isso é mim, é qualquer coisa menos se veem no dever de entrar cenário artístico hoje no um paradoxo: ao invés de ter PT novamente. Já entrei em numa guerra, encerro logo. A Rio de Janeiro? o governo me ajudando, sou discussões políticas, mas única bandeira que levanto é obrigado a pagar algo para agora cada vez menos. a da paz. Quero meu sossego. CT: Paupérrimo, desesperador. um órgão público. Todo mundo está fugindo para

8 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 9 ENTREVISTA Quais os espetáculos mais No entanto, é impossível marcantes que você já fez? abandonar a própria E quais personagens ainda vocação. Você sempre sonha em fazer? soube que queria ser artista? CT: ”Sempre, Sempre CT: Ainda na infância, meu Mais” (1982), que foi meu pai me deu uma caixa de primeiro espetáculo já em guache com pincéis e carreira solo, realizado em sugeriu que eu copiasse parceria com a Lucinha Lins. alguns cartões. Se ficasse Ela foi me ver com os Dzi bonito, ele colocaria em um Croquettes e me convidou quadro. Quando mostrei, ele para criar junto – fiz uma disse que estava tudo errado Lucinha Lins e Claudio Tovar: “Ela foi me ver com os Dzi Croquettes peça e ganhei uma esposa e me convidou para criar junto – fiz uma peça e ganhei uma e que eu deveria ser mais (risos)! Também lembro esposa!”, diverte-se. caprichoso. Fiquei bem triste, com carinho dos musicais mas foi a maior lição que “Ópera do Malandro” (2003) Quais eram suas referências Você acabou de fazer ele me deu. Ali comecei a e “O Beijo no Asfalto” (2015), na juventude? 75 anos. Qual o maior procurar ser cada vez melhor. além de “Lima Barreto ao ensinamento que esse Terceiro Dia” (1995), ainda lá CT: Claro que existem artistas tempo te deixou? Você se formou em atrás. Ultimamente venho maravilhosos, de quem Arquitetura. Como o teatro pensando em remontar o admiro o trabalho. CT: Viver o momento, o surgiu na sua vida? monólogo “Diário de um Mas não tenho ídolos. aqui e agora! Sei que agora Louco” (2009). Sobre os tenho menos tempo – já CT: Fui para Brasília aos 18 personagens, adoraria ter Tem alguma crença? vivi mais do que vou viver. anos para trabalhar e virei feito o Puck de “Sonho de Então, cada momento porteiro de obras para ganhar uma Noite de Verão”, mas CT: Não sou religioso, mas é importante. Já tive as a vida. Quando conheci a Com Gustavo Gasparani no musical “As Mimosas da Praça Tiradentes”. acho que agora estou velho. talvez seja espiritualista. minhas perdas, então universidade de lá, fiquei FOTO: Cristina Granato. E o Emcee de “Cabaret”, que Minha forma de comunicação é preciso valorizar os enlouquecido: salas de aula foi um sonho que persegui com Deus é através dos amigos, os netos que estão em um prédio do Oscar durante muito tempo. meus desenhos, talvez por eu chegando, o momento Niemeyer entremeadas de também me sentir um criador. presente. Claro que penso jardins do Burle Marx, com Com o tempo, você acabou Sua família reagiu bem, Arte é criação pura. Aquele no futuro, mas ele depende pessoas se exercitando por desempenhando inúmeras especialmente na época momento é uma espécie de dos passos que dou hoje. todos os cantos. Descobri funções: diretor de arte, dos Dzis? Capixaba, Claudio foi o meditação para mim, assim Ontem já era, amanhã não homenageado do 25º Festival o mundo que sempre tinha cenógrafo, produtor, ator, de Cinema de Vitória, em 2018. como quando estou em se sabe se vive. sonhado para mim. Decidi dançarino, figurinista, CT: Houve uma preocupação FOTO: Sérgio Cardoso. contato com a natureza. prestar vestibular para dramaturgo. Foi uma quando entenderam arquitetura e ficava estudando escolha nunca se colocar que eu havia largado na guarita. Lá eu conheci o em determinada caixinha? arquitetura para começar teatro e fiz minha primeira a dançar. Mas respeitaram POR peça, como cenógrafo e CT: Tenho raciocínio de a minha escolha, afinal RENATA também como ator. Já vinha arquiteto e consigo sair me tornei financeiramente MAGALHÃES pensando que arquitetura do geral para o particular independente muito cedo. não era bem a minha praia, com muita facilidade: crio Ainda que seja grato a Jornalista de vocação e que eu precisava de algo coreografias já pensando no generosidade dos meus formação, eternamente figurino, situo a minha direção amigos, conto apenas apaixonada pela cultura do mais lúdico e colorido. O nosso país. Já foi repórter do arquiteto continua dentro de de acordo com o cenário. comigo e procuro soluções portal Globo Teatro e crítica mim, só não está construindo Agora, mais velho, se torna para os meus problemas de Artes para a extinta revista prédios, de uma forma um pouco mais cansativo. dentro de mim. Veja Rio; atualmente, é jurada mais convencional. Sigo Mas acumular funções nunca do Prêmio APTR e idealizadora foi um problema. da plataforma Rio em Cartaz arquitetando a vida (risos). (Instagram: @rioemcartaz)

10 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 11 EM BOA COMPANHIA EM BOA COMPANHIA

OS DEZEQUILIBRADOS Companhia chega às Bodas de Porcelana com diversos espetáculos que buscam novas linguagens e subvertem os espaços teatrais

Por RENATA MAGALHÃES Letícia Isnard e José Karini em Karini José e Isnard Letícia “Rio 2065”, montagem mais montagem 2065”, “Rio recente da Companhia. recente FOTO: Valério. Dalton FOTO:

“Amores” (2014), de Domingos de Oliveira, foi montado com atores da companhia (Ângela Câmara, José Karini e Saulo Rodri- gues) e de fora (Ana Abott, Lívia Paiva e Lucas Gouvêa). FOTO: Divulgação.

a batuta de Ivan Sugahara. até as Bodas de Porcelana. as pesquisas com novas “Mais do que pessoas que Faz sentido. Quando se experiências. “Nesse tipo de trabalham juntas, somos juntaram, eles tinham casamento, a infidelidade é uma família. É um casamento apenas 20 e poucos bem interessante para todo de verdade, com tudo anos e interesses que mundo, renova os votos que há de bom e ruim no se diversificaram com o (risos). Na companhia, as relacionamento. O que nos passar do tempo. Muitos relações acabam ficando segura é o afeto”, conta o trabalharam fora, em viciadas e isso confere uma diretor ao ser questionado parcerias com outros artistas, possibilidade de ampliar o sobre o segredo que os levou o que ajudou a alimentar nosso repertório”, confidencia

om os pés paralelos e sempre aberta ao risco. Daí montagem “Rio 2065”, que Cos joelhos flexionados, nasce o nome da companhia levou à cena um futuro era preciso inclinar a cabeça Os Dezequilibrados, que este distópico (porém não muito levemente para frente e ano completou uma invejável distante) no qual o estado deixar a gravidade agir. Marca trajetória de duas décadas, do Rio foi desmantelado registrada do controverso com a rara assiduidade de e vendido a outros países. mestre Antunes Filho, o um espetáculo produzido Extremamente crítica, a exercício cênico tinha como por ano e uma coletânea de produção reuniu todos os objetivo mostrar que o prêmios, e esteve sempre seus integrantes: Ângela Letícia Isnard, desequilíbrio deve ser o norte longe do comodismo. Câmara, Cristina Flores, José Alcemar Vieira, do trabalho do ator – sem Karini, Letícia Isnard e Saulo Saulo Rodrigues e José Karini em “A vícios ou gatilhos, de uma Em 2019, o coletivo Rodrigues (este último em Estupidez” (2011). forma nunca confortável e apresentou no CCBB a uma gravação em off), sob FOTO: Dalton Valério.

12 OUTUBRO 2019 OOUTUBROUTUBRO 2019 13 EM BOA COMPANHIA EM BOA COMPANHIA Letícia Isnard e Érico Brás em “Tarja Preta”: adaptado de um conto de carioca, impede a criação Adriana Falcão, o espetáculo mostrava o embate entre uma dependente de planos imediatos. “É química e seu cérebro. A montagem assustador como tudo ocupava o extinto horário das 23 horas mudou ao longo destes na Sala Fernanda Montenegro do Teatro do Leblon, hoje fechada. 20 anos. É impraticável FOTO: Dalton Valério. manter uma frequência de produção neste momento tão complicado para o país. Antes de pensar no futuro da companhia, estamos pensando em sobreviver a tudo que está acontecendo”, conclui Ivan. Letícia já é mais otimista: “O cenário é tão absurdo que não tem como se sustentar muito tempo. Tratar a cultura e os artistas como inimigos é uma violência contra o próprio povo. O lado positivo é a criação de uma arte que já nasce comprometida e necessária, se reinventando na adversidade. Talvez Cláudia Mele e Julio Adrião foram os atores convidados do espetáculo “Beija-me Como nos Livros” (2015). Este foi o primeiro demore mais para espetáculo de Julio após 10 anos em cartaz com o solo “A Descoberta das Américas”. FOTO: Dalton Valério. conseguirmos viabilizar um projeto, mas somos uma Letícia Isnard. Duas vertentes, foyer de um cinema, o porão família e vamos passar por no entanto, permaneceram de um centro cultural e um isso juntos”. Seja como for, Ivan Sugahara, diretor da Companhia: marcas registradas do antigo casarão tombado “Antes de pensar no futuro da um caráter tão inventivo grupo: o interesse pelos serviram como palco para companhia, estamos pensando com certeza ainda promete espaços não convencionais Os Dezequilibrados. em sobreviver a tudo que está muitas boas histórias para as acontecendo”. FOTO: Divulgação. e a aproximação com a próximas duas décadas linguagem do cinema. A lista é longa e bastante rica. “Bonitinha, mas Ordinária” Tudo começou com “Um (2001) fez uma temporada sobre ficção e realidade, (2015) encerrou uma tríade Quarto de Crime e Castigo” de um ano na Casa da que retornaria em outros de peças sobre o amor (1999), encenado dentro do Matriz, explorando de forma tantos trabalhos. A trilogia com diálogos em gromelô, apartamento de Ângela na itinerante todos os cômodos “Assassinato em Série” (2003), espécie de língua inventada Urca. “Foi ali que definimos para contar de uma forma composta pelos espetáculos nos palcos, incompreensível POR um projeto estético”, afirma diferente o clássico de “Combinado”, “Cena do foneticamente. Fica fácil Sugahara, que garante ter Nelson Rodrigues. Baseada Crime” e “Outro Combinado”, concluir que a palavra “rotina” RENATA tido o apoio dos vizinhos, em um capítulo de “Os arrastava o espectador para nunca esteve em nenhum MAGALHÃES dentro de um verdadeiro vocabulário do grupo. mesmo quando eles não Irmãos Karamazov”, a peça- Jornalista de vocação e entendiam exatamente instalação “1” (2001) tinha jogo de detetives. Com formação, eternamente o que estava sendo a duração de 15 minutos “Memória Afetiva de um Para o futuro, alguns apaixonada pela cultura do criado. A proximidade dos e era apresentada para Amor Esquecido” (2008), desejos ainda movem o nosso país. Já foi repórter do espectadores permitiu um único espectador, oito eles fizeram a adaptação coletivo, como a vontade portal Globo Teatro e crítica do longa-metragem “Brilho de fazer um espetáculo de Artes para a extinta revista explorar as minúcias dos sessões por noite. Já “Vida, Veja Rio; atualmente, é jurada gestos de uma forma quase o Filme” (2002) ficou em Eterno de uma Mente sem só com os atores homens. do Prêmio APTR e idealizadora cinematográfica. Desde cartaz no Estação NET Rio Lembranças”; enquanto No entanto, o cenário da plataforma Rio em Cartaz então, uma casa de shows, o e deu início à pesquisa “Beija-me Como nos Livros” cultural, especialmente (Instagram: @rioemcartaz)

14 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 15 EVOÉ OLHO NELA “A Cor Púrpura – O Musical” tem arrancado lágrimas do público desde sua estreia e a protago- nista Letícia Soares desponta FOTO: Divulgação. FOTO: como nome forte para a tempo- rada de premiações. O espetá- culo fica em cartaz até 3 de no- vembro na Cidade das Artes, no Rio, e estreia em 6 de dezembro FOTO: Vinicius Fleury FOTO: no Theatro Net, em São Paulo.

MUNDO IDEAL BRILHA LA LUNA O ator Carlos Bonow está investindo Com estreia marcada para novembro cada vez mais na direção teatral. no Rio, o musical “Brilha La Luna” vai Depois de assinar a direção de um apostar em uma protagonista novata: infantil e uma comédia romântica Marcella Bártholo. Ela tem apenas 17 em 2017, Bonow atua como anos de idade e venceu o reality show assistente do diretor Wendell “Be a Star”, com audições de canto, dan- Bendelack na comédia dramática ça e interpretação, para ganhar o papel “Mundo Ideal”, que cumpre principal do espetáculo, que utilizará as temporada no Teatro Vannucci, no canções do grupo Rouge para contar Rio, até o fim de outubro. uma história inédita. Detalhe: ela nasceu no mesmo ano que a girlband foi criada. Priscila Assum, Anderson Tomazini e Bia Guedes estão no elenco de “Mundo Ideal”, em cartaz de 4 a 27 de outubro no Teatro NOVO DESPERTAR Vannucci. FOTO: Márcio Faria. Também para novembro, Charles Möeller e Claudio Botelho preparam a estreia da nova montagem de “O Despertar da Primavera”, Jornalista cultural, escritor e crítico teatral musical da Broadway. Moritz, personagem POR: que rendeu o Prêmio APTR para o ator com mestrado em Artes da Cena. É fundador LEONARDO Rodrigo Pandolfo em 2010, agora será do site Teatro em Cena, redator do Portal interpretado por João Felipe Saldanha, que TORRES POPline e jurado do Prêmio Brasil Musical. se destacou como protagonista de “Pippin”.

FOTO: Jairo Goldflus. TEATRO PARA QUEM NÃO GOSTA Marcelo Médici e Ricardo Rathsam chegam ao Rio com o espetáculo “Tea- tro Para Quem Não Gosta”. Sucesso em São Paulo, o trabalho da dupla venceu na categoria Melhor Peça do Prêmio de Humor 2019, idealizado por Fábio Porchat. A estreia será no dia 25 de outubro, no Teatro dos 4 e a produção é de Rodrigo Velloni.

CINCO JÚLIAS SOMOS IGUAIS BRASIL NA ÁFRICA ...... E TAMBÉM NA CHINA Há três anos sem novidades A atriz e cantora O espetáculo “A Vida Passou Quem acaba de voltar de no teatro, o roteirista e Tânia Alves estreia Por Aqui”, escrito e protago- viagem internacional é a cineasta Matheus Souza em outubro seu novo nizado por Claudia Mauro, Armazém Cia. de Teatro, está escrevendo uma show, “Somos Iguais”, será apresentado em Luan- que apresentou “Hamlet” nova peça. Sua intenção é em parceria com da, na Angola, em 2020. Já em miniturnê pela China. colocá-la no palco ainda Altemar Dutra Jr. Eles “Contos negreiros do Brasil”, O grupo fica em cartaz até em 2019. “Cinco Júlias”, seu interpretarão boleros, com Rodrigo França, será 3 de novembro no Teatro último espetáculo, ganhou uma adaptação literária e foi serestas e músicas apresentado no festival Firjan SESI Centro, no Rio, lançada como romance na românticas. A primeira teatral Mindelact, na Ilha com “Angels In America” Bienal do Livro do Rio neste apresentação ocorre de São Vicente, em Cabo – espetáculo dividido em ano. Esteve entre os livros em Porto Alegre. Verde, em 13 de novembro duas partes, com total de distribuídos gratuitamente deste ano. cinco horas de duração. por Felipe Neto.

16 OUTUBRO 2019 REGISTRO REGISTRO

Em 2000, o grupo foi e dirigido por Kika Lopes instalação de sistemas de GRUPO GALPÃO E SEUS convidado para uma e André Amparo. Em microfones. Durante três REGISTROS AUDIOVISUAIS temporada de “Romeu e uma exceção aberta pelo meses, o quebra-cabeça Julieta”, no Globe Theatre, cultuado teatro inglês, a para que a filmagem Aclamado grupo de teatro de rua disponibiliza em Londres. O DVD é equipe do Galpão gravou fosse bem-sucedida foi em site DVD’s com gravações de seus resultado de mais de trechos do espetáculo montado, captando a espetáculos, ensaios e outras produções 50 horas de gravações, com câmeras pequenas, beleza da efemeridade do produzido por Paulo José sem uso de tripés, luz e teatro em audiovisual. Por BRUNO BERNARDINO Shakespeare, em Londres. FOTO: Guto Muniz. Guto FOTO: em Londres. Shakespeare, cultuado Globe Theatre, o teatro de William William de o teatro Theatre, Globe cultuado Grupo Galpão apresentou “Romeu e Julieta” no no Julieta” e “Romeu Grupo Galpão apresentou

Além do título, outras o valor do teatro, da poesia peças do grupo estão e da arte e sua capacidade Todos os DVDs disponíveis em gravações de comunicação com o estão disponíveis em lojagrupogalpao.com.br audiovisuais, confira abaixo: mundo do século XXI. A gravação é o registro na “Os Gigantes da íntegra da sua estreia, em Montanha”: no repertório 2013, na Praça do Papa, em de espetáculos ainda Belo Horizonte (MG). apresentados pelo Grupo, a fábula “Os Gigantes da O documentário é o Montanha” narra a chegada resultado de sete anos de de uma companhia teatral pesquisa e gravações do Grupo Galpão foi de muito trabalho, o grupo foi apresentada no decadente a uma vila Grupo em mais de 400 O criado em 1982, em mineiro transformou- shakespeariano Globe mágica, povoada por horas de material, como um período de esperança se em referência e Theatre e, aclamada, fantasmas e governada ensaios, espetáculos, Não deixe de conferir o Grupo no Instagram e redemocratização do seus espetáculos, em transformou-se em por um mago. Escrita por viagens e vida familiar dos @grupogalpao. país e traçou uma brilhante clássicos brasileiros ou DVD nos anos 2000 Luigi Pirandello e dirigida integrantes. Produzido por trajetória de resistência por abrasileirados. Exemplo (atualmente, é possível por Gabriel Villela (que Paulo José, dirigido por Kika meio da arte do teatro de disso é a versão de assistir à peça na íntegra também dirige “Romeu e Lopes e André Amparo. rua. Ao longo dos anos e “Romeu e Julieta”, que no YouTube). Julieta”), a peça fala sobre

18 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 19 NO FOYER

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4 Musical argentino montado no Brasil, com direção de Victor Garcia Peralta, “Monstros” traz os atores e cantores Cláudio Lins e Soraya Ravenle, interpretando quatro personagens que revelam a crueldade das relações cotidianas. Sofisticada, 6 a dramaturgia contemporânea e fragmentada da peça fala muito sobre a violência que nos cerca e da grande incapacidade de enxergar verdadeiramente o outro, colocando em prática um sentimento esquecido nestes dias, a empatia. Confira as fotos da estreia VIP de “Monstros”, que aconteceu no Teatro PetroRio das Artes, no shopping da Gávea, no dia 6 de setembro. Fotos: Janderson Pires 7 8 1 - Lucinha Lins e Claudio Lins. 2 - Azullllllll, Cláudio Lins, Victor Garcia Peralta e Soraya Ravenle 3 - Laura Castro, Cristina Flores, Julia Bernat, Stella Rabello e Soraya Ravenle. 4 - Luciana Braga e Soraya Ravenle. 5 - Luciana Braga e Claudio Lins. 6 - Alexandre Lino, Andrea Veiga e Marcella Muniz. 7 - Deborah Olivieri, Alexandra di Calafiori, Helena Fernandes, Claudio Lins e Juliana Didone. 8 - Helena Fernandes, Soraya Ravenle e Juliana Didone.

1 2 Com direção de Tadeu Aguiar e adaptação brasileira do jornalista Artur Xexéo, o musical “A Cor Púrpura” estreou na Cidade das Artes e contou com uma badalada estreia VIP no dia 9 de setembro. A mega produção com 17 atores, 8 músicos, 90 figurinos é inspirada no livro homônimo escrito pela primeira mulher negra a ganhar o Pulitzer, Alice Walker. Lançado em 1982, o título segue sendo atual ao retratar relações humanas, de 3 4 amor, poder e ódio, em um mundo pontuado por estruturais diferenças econômicas, sociais, étnicas e de gênero. Fotos: Cristina Granato.

1 - Antônio Fagundes e Alexandra Martins na plateia de “A Cor Púrpura”. 2 - Isabela Bellenzani, Leilane Neubarth e Glória Maria também estiveram na plateia de 5 “A Cor Púrpura”. 6 7 3 - Ana Cristina, Valentina, Letícia Soares, Tadeu e Laura Schmidt no camarim. 4 - Ivan Lins, o produtor do espetáculo Eduardo Bakr e Cláudio Lins. 5 - André Marini e o casal Bruno Chateaubriand e Diogo Bocca. 6 - Bel Kutner, curadora da Cidade das Artes e a atriz Patrícia França. 7 - Beth e Carlos Alberto Serpa. 8 8 - Artur Xexéo e Zezé Polessa. 20 OUTUBRO 2019 CINEMA CINEMA

CONFIRA 5 ADAPTAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS DE Judy SUCESSOS DOS PALCOS 2 A atriz ganhadora udy” é a O filme foca no último ano BRASILEIROS. “J cinebiografia da do Oscar solta antes do falecimento de icônica estrela de “O a voz com Garland por overdose aos Por REDAÇÃO Mágico de Oz”, com “Somewhere 47 anos de idade, quando a Renée Zellweger Over the atriz realizou uma série de como uma Judy Rainbow”, shows na casa noturna Talk Garland no final de mostrando of the Town, em Londres. Veneza sua carreira. uma grande Na preparação para o transformação papel, Renée Zellweger 1xibido em agosto no para sua primeira fez aulas de música, EFestival de Gramado e protagonista nas estudou as coreografias das com estreia em novembro, telonas, desde “O populares performances de “Veneza” é o novo longa Bebê de Bridget Garland no Talk of the Town de Miguel Falabella como Jones”, de 2016. e leu muito sobre a vida da diretor (dez anos após sua Dirigido por Rupert icônica atriz e cantora. primeira incursão, “Polaróides Goold, mais Urbanas”). O filme conta conhecido por seu Em entrevista à People, a história de Gringa, uma trabalho no teatro, Zellweger contou que cafetina que tem como sonho Judy é baseado passava duas horas na reencontrar o único homem na peça “End of cadeira de maquiagem que amou. Para realizar seu the Rainbow”, diariamente para aplicar desejo, as prostitutas que criada pelo inglês Pôster do filme. próteses, lentes de trabalham em seu bordel se Peter Quilter, o unem a uma trupe circense FOTO: Divulgação contato e perucas, o mesmo autor e idealizam um plano para que de acordo com ela, de “Gloriosa”, levar Gringa ao encontro cineasta Pedro Almodóvar Moscovis e Caio Manhente. foi “definitivamente um de seu amado. -, a talentosa argentina Com texto do argentino espetáculo exercício de paciência”. Georgina Barbarossa, a Jorge Accamme, a peça estrelado por “Veneza” é uma ode às uruguaia Camila Vives e a “Veneza” foi dirigida e Marília Pêra No teatro, “Judy” teve uma mulheres latino-americanas, colombiana Carolina Virgüez adaptada por Miguel em 2009. magistral interpretação com um elenco estrelado (de “Caranguejo Overdrive”), Falabella e estreou em de Tracie Bennett pela atriz espanhola Carmen além das brasileiras Dira Paes, abril de 2003 no Teatro dos em Londres e Nova Maura – famosa por aqui Carol Castro e Danielle Winits. 4, no shopping da Gávea. Iorque, que lhe rendeu pelas atuações nos filmes do Completam o elenco Eduardo No elenco, Laura Cardoso, a indicação de Melhor Arlete Salles, Tuca Andrada, Atriz ao Tony Awards. No Juliana Baronni, Débora Brasil, coube a Claudia Olivieri e Cristiano Gualda. Netto a missão de viver a eterna Dorothy, dirigida por Claudio Botelho e Carmen Maura, Dira Paes, Eduardo Charles Möeller. A estreia Moscovls, Carol Castro, Danielle Winits, no teatro Fashion Mall Georgina Barbarossa, André Mattos Camila Vives, Magno Bandarz, Carolina contou com a presença Virgguez, Laura Lobo, Maria Eduarda do próprio autor da peça, de Carvalho, Roney Villela, Yuri Ribeiro, Giovanni Venturini, Pia Manfroni, que ficou encantado com Bruno Bonelli, Yamandú Barros, Paula a versão da dupla. Fernández, Alessandra Verney. Renée Zellweger no pôster do FOTO: Mariana Vianna filme ‘Judy’. FOTO: Divulgação

22 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 23 CINEMA CINEMA

histórias de personagens Alma da Bíblia que romperam com as tradições em busca Imoral de uma nova ordem, como 3 Eva, Abraão e Moisés – e transgressores dos lma Imoral é um longa tempos contemporâneos Ae série documentais de em vários campos, como Silvio Tender, baseados no comportamento, ciência livro do rabino Nilton Bonder. e política. A mensagem O documentário que estreou principal é de que o avanço em agosto reflete sobre os da humanidade está conceitos de corpo e alma, vinculado intimamente a atos tradição e transcendência, de desobediência. obediência e ruptura. O filme questiona o que acontece No teatro, a atriz e dramaturga quando o “corpo moral” passa Clarice Niskier encena sua a ser um obstáculo para o adaptação do livro de Bonder futuro da humanidade. desde 2007. Clarice ganhou o Prêmio Shell de Melhor Como se dá esse processo Atriz pelo seu trabalho imoral de transgressão no espetáculo e, para para que as fronteiras quem ainda não assistiu, a sejam ampliadas? O filme montagem está em cartaz em Pôster do Filme. FOTO: Divulgação estabelece pontes entre São Paulo, no Teatro Eva Herz.

Paulo Gustavo e Mariana Xavier. FOTO: Divulgação Rasga Pôster do Filme. FOTO: Divulgação Globo Filmes. 4Coração Minha Mãe adaptação da peça de quatro décadas da é uma Peça 3 A homônima de Oduvaldo sociedade brasileira, nesse 5 Vianna Filho, mais retrato de gerações em meio conhecido como Vianinha a crises políticas no país. aulo Gustavo chega em seu elenco com Cadu patrocínio e estreou no retrata conflitos políticos e Com o título emprestado Pao terceiro filme de Fávero como o marido Teatro Cândido Mendes, geracionais, tendo em seu de uma canção de Anacleto Dona Hermínia, “Minha de Marcelina, Alexandra em Ipanema. Com cenário elenco nomes como Drica de Medeiros, “Rasga Mãe é uma Peça 3”, após Richter, Patricya Travassos, repaginado, a produção Morais, Chay Suede, Marco Coração” foi a última peça levar mais de 13 milhões Malu Valle, Samantha ainda circula por algumas Ricca, George Sauma, João de Vianinha, concluída em de espectadores às salas Schmütz e Herson Capri, cidades do país, sempre Pedro Zappa e Nelson Diniz. 1974, quando este já estava de cinema de todo o país além de Mariana Xavier, com lotação esgotada. A A história gira em torno de debilitado por um câncer com a franquia. Dessa vez, Rodrigo Pandolfo e Stella peça que virou filme agora Manguari Pistolão (Marco de pulmão. Vianinha nunca Marcelina está em uma Maria Rodrigues. Todos sob também terá formato Ricca), homem de meia- chegou a ver a peça ser nova fase como recém-mãe, direção de Susana Garcia, de série, produzida idade que fora militante e encenada e, após anos de morando em uma casa no que trabalhou com Paulo pela Globoplay, com 4 agora, 40 anos mais tarde, censura, ela finalmente foi Alto da Boa Vista, enquanto Gustavo no sucesso “Minha temporadas confirmadas. passa a se desentender com levada aos palcos em 1979, Juliano está casando com Vida em Marte”. Já o filme, entrará em cartaz seu filho Luca (Chay Suede). marcando época. seu primeiro namorado nos principais cinemas no O longa registra um período (que participou do primeiro O espetáculo dirigido por dia 26 de dezembro. da trilogia). O filme conta João Fonseca foi feito sem

24 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 25 NA COXIA NA COXIA Guilherme Karam (1957- 2016) e Miguel Falabella: Vicente Pereira conheceu Falabella no edifício da comédia, onde escreveram sucessos O EDIFÍCIO como “Sereias da Zona DA COMÉDIA Sul”. FOTO: Divulgação

Conheça os bastidores do prédio que serviu de morada na década de 1980 para nomes do besteirol como Miguel Falabella, Vicente Pereira e Duse Naccarati.

Por LUÍS FRANCISCO WASILEWSKI

FOTO: Google Street View oi Miguel Falabella quem Alvisi, Thais Portinho, Rubens o único do elenco original “Emily”, texto dramático de Quem passou pela vida Fbatizou o logradouro no Araújo, Américo Issa e sua de moradores que ficou William Luce sobre a vida em branca nuvem, qual viveu, na década de pequena filha, Tatiana Issa. na Pepe até sua morte. Na da poeta norte-americana E em plácido repouso 1980, localizado na Travessa Quando fomos examinar cobertura do edifício morava Emily Dickinson. A montagem adormeceu; Pepe, em Botafogo, de a foto atual do edifício, o médico Renê Batista. E por de “Emily” com Beatriz Quem não sentiu o frio “O Edifício da Comé-dia”. Falabella viu que ainda resiste um bom tempo, no mesmo Segall interpretando o da desgraça, Também sempre comenta bravamente nele a Dama apartamento viveu Eduardo papel título, sob a direção que dos moradores ligados da Noite plantada por Duse, Dussek. E para destoar da de Miguel, foi um divisor Quem passou pela vida e ao universo teatral do prédio cujo aroma ainda se mantém atmosfera de liberdade de águas em sua carreira “não sofreu, só estão vivos ele e Eduardo redivivo na memória dele. e transgressão presente teatral. Alcançou com a Foi espectro de homem, Dussek. Eu não sabia o local No segundo andar moravam naquele lugar, no terceiro montagem uma notoriedade não foi homem, exato da travessa onde eles Vicente Pereira e Carlos andar habitava uma família e respeitabilidade como Só passou pela vida, moraram. Graças ao trabalho Augusto Strazzer. Os dois careta que vivia implicando encenador. A parceria não viveu investigativo do meu amigo se mudaram para a Avenida com os odores, as fumaças dramatúrgica dele com Vitor Antunes, consegui uma Niemeyer, onde o primeiro e os barulhos advindos dos Vicente Pereira também Em sua (sub)versão POR foto do prédio. E Miguel viveu até poucos anos antes outros apartamentos. Renê começou quando os dois se besteirolista, o LUÍS FRANCISCO confirmou que eles viviam na de falecer. Ocorreu então a se casou com a atriz Vera conheceram no prédio. Desta dramaturgo escreveu: WASILEWSKI Travessa Pepe, número 98. passagem do apartamento Gimenez e ajudou a criar os união surgiram as criações de Vicente/Strazzer na filhos dela, a apresentadora deles para os espetáculos Natural de Porto Alegre- Quem passou pela Pepe No térreo residia Duse Pepe para Falabella e Luciana Gimenez e o ator Miguel Falabella e Guilherme RS, Luís Francisco Naccarati, batizada por Carlos Augusto Lefevre, Marco Antônio. Em 2013, Karam, Finalmente em branca nuvem, Wasilewski é Mestre e E em plácido repouso Doutor em Literatura Falabella de “A Soberana pintor e cenógrafo, cujo Luciana fez uma postagem no Juntos E Finalmente Brasileira pela USP. Pós- da Comédia”. Era musa do apelido era Duto. Assinou a Instagram em homenagem a Ao Vivo, Classificados adormeceu, Doutorando no Programa Dzi Croquettes e rainha cenografia de encenações Renê, lembrando da saudade Desclassificados, Pedra, A Quem não sentiu o frio Avançado de Cultura do Teatro Besteirol. Houve como “A Sereiazinha” e “No que sentia do seu padrasto, Tragédia, Sereias da Zona Sul, da desgraça, Contemporânea da UFRJ um período em que, em Coração do Brasil”, dois também morto precocemente. Brasil, A Peça e na televisão, Quem passou pela Pepe e autor do livro “Isto é Besteirol: O Teatro de seu apartamento, também espetáculos de Falabella. Foi no “edifício da comédia” para o programa TV Pirata. e não sofreu, Vicente Pereira”, editado morou Cláudio Gaya, um Além disso, possui até hoje que Falabella, usando Vicente também fez uma Foi espectro de homem, pela Imprensa Oficial do dos integrantes do Dzi. Por em seu apartamento no a máquina datilográfica paródia do poema Ilusões da não foi homem. Estado de São Paulo. lá também circulavam Diogo Rio de Janeiro, um quadro emprestada por Duse, Vida, de Francisco Otaviano, Vilela, Regina Casé, Marcus pintado por Duto. Este foi escreveu sua tradução para onde está escrito: 26 OUTUBRO 2019 ” OUTUBRO 2019 27 MEU OFÍCIO

Vanja Freitas e Claudiana Cotrim em “Rugas”, texto de Herton dirigido ão por Amir Haddad. aç lg FOTO: Thyago u iv Andrade D : O T

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HERTON GUSTAVO GRATTO Dramaturgo Comunicar é preciso

m tempos de não escuta, tregar tudo mastigado, de mão Tampouco se apoia numa lin- onde a incomunicabilida- beijada, de bandeja, e assim o guagem erudita e envernizada Ede é quase generalizada, tornar não apenas testemunha, no afã de rebuscar o texto. a dramaturgia que acredito mas cúmplice e sujeito ativo Desde que o mundo é mundo, precisa antes de mais nada da narrativa; e que, ao mesmo pretensão é sinônimo de cafoni- comunicar. E que fique bem tempo, se comunique com ce e não serve de alicerce para claro que a comunicação que um espectador de primeira a construção de uma comuni- “me refiro não é sinônimo de viagem. Se essa experiência cação de qualidade. explicação ou didatismo. Pelo dramatúrgica for vivida por um contrário. Como espectador- espectador que está indo ao O buraco é mais embaixo: -dramaturgo e como drama- teatro pela primeira vez, ela minha busca constante é turgo-espectador, pouco me terá uma comunicação po- por uma dramaturgia que enche os olhos uma narrati- tente o bastante ao ponto de estabeleça conexão. E se va conclusiva que tente me estimulá-lo a voltar? Essa é a conectar, no meu ponto de empurrar goela abaixo res- primeira pergunta que me faço vista, é oferecer elementos de postas. Sou movido antes de sempre que começo a escre- identificação sem apelar pra mais nada por interrogações e ver uma nova peça. E volto a obviedade. Em tempos de fake atravessamentos repletos de dizer, que a busca por essa news e ostentação, a minha curvas sinuosas. Porque escre- comunicação não ambiciona obsessão é elaborar uma ver dramaturgia é flertar com uma compreensão meramen- dramaturgia que comunique o risco e a vulnerabilidade. E te lógica ou uma explicação. com potência e simplicidade. que, de preferência, provoque reflexões e inquietações sufi- Ciro Sales, Camila Moreira, Deborah Figueiredo e Felipe Dutra em “Moléstia”, cientes para nos tirar da zona elogiado texto de estreia do dramaturgo. FOTO: Divulgação. de conforto. E um bocado de coragem é necessário para acessar esse lugar. Em tempos de silêncios coniventes e ruí- dos irreparáveis, o pensamen- to dramatúrgico que investigo, contém em sua essência o poder da comunicação. Quan- do me debruço para criar uma nova obra, o primeiro desafio que me lanço ao iniciar essa nova jornada de criação é construir uma dramaturgia que não subestime a inteligência do espectador, ao não lhe en- 28 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 29 MEU OFÍCIO MEU OFÍCIO “Contos Negreiros do Brasil”: o espetáculo- documentário com a proposta de abordar e aí temos uma característica a cena virar rocha sólida é estranha e absurda que lhe a real condição atual do negro e da negra invisível do trabalho do necessário, mesmo quando pareçam a história e o homem no Brasil esteve em cartaz por 2 anos e fará apresentação na África no dia 13 de diretor, qual seja a de fazer o diretor vê que não está do palco, esta pessoa na novembro. FOTO: Divulgação. com que o ator possa intuir o bom porque o ruim também plateia precisa e merece caminho como se fosse seu, é necessário ao ensaio. reconhecer a verdade e a e sim, muitas vezes quando o humanidade no que está caminho é do ator, proposto Aceitar que se possa ter diante de seus olhos, coração, por ele, pois o teatro é uma ensaios ruins, afinal nem razão e todos os sentidos. O arte coletiva, então o diretor sempre temos apenas dias teatro não existe se for apenas caminha com ele nesta bons, nem sempre o ator está um jogo entre os atores no proposta e busca perceber as pleno de seu entendimento, palco, acredito que o jogo possibilidades neste caminho. nem sempre o diretor tem a deve reverberar e incluir Sempre respeitando este clareza do que quer dizer ao todo o público neste acordo tempo da afetividade do elenco. Um ensaio ruim às antigo, milenar, sagrado de ator. A prática ensina que vezes vale mais do que dez confiar no ser humano igual ção ga por mais que o diretor já ensaios bons, pois saber o a mim que escuto e observo ul iv D : saiba aonde quer chegar, que não se quer, o que a peça me contando e sendo O T O não se pode apressar o não deve ser, ajuda muito. representante de um tempo e F ensaio, acelerar o ensaio na Acredito que dirigir é fortalecer espaço, seja real ou imaginário. construção do espetáculo, o encontro entre o homem aliás esta é uma boa do palco e o homem da palavra: “construção”. Uma plateia, para que andem juntos FERNANDO PHILBERT construção implica em de certo modo. A história tempo, em alicerces bem contada, vivida pelo homem Diretor profundos, em tempo para do palco deve pertencer “O Escândalo Philippe Dussaert”: no o concreto secar e virar igualmente ao homem da discurso de todos os prêmios que irigir é navegar na O trabalho de descobrir que está sendo levantada rocha. Uma cena também, plateia, deve “chegar” nele recebeu pelo trabalho, fez questão de ressaltar a importância Dbusca de descobertas. caminhos para contar sua e percebe como essa cena e no ensaio o tempo para com humanidade, por mais da direção de Philbert no espetáculo. O diretor de teatro se história e descobrir caminhos pode vir a ser. Às vezes o ator FOTO: Paula Kossatz. lança sobre o oceano da exige uma visão geral, uma não percebe e segue um sala de ensaio com a proa visão de um lugar que lhe dê outro caminho, mas este apontada para a descoberta, um plano geral, a amplitude “descaminho” em principio a descoberta é o norte de de um horizonte aonde é necessário, pois uma “um diretor. Parece óbvio e se vai chegar. O olhar do marcação de cena é como simples, mas nesta rota de diretor é, em certo sentido, um sapato, é preciso usar, navegação o oceano é mais clarividente, pois ao estar se acostumar, gostar, ter profundo e desconhecido diante da sala de ensaio, e “o tempo do afeto”.Esta do que parece, quando deve muitas vezes estas salas não expressão foi dita pelo emergir dele um espetáculo tem a menor relação com diretor carioca Amir Haddad, de teatro. O trabalho de o espaço do palco onde a em um ensaio para um um diretor de teatro, na peça irá estrear, o diretor, espetáculo e que, ao final, li sala de ensaio é descobrir enxerga o palco pronto, ou o para ele minhas observações que ação os atores farão, caminho que deve percorrer. sobre os atores. Amir Haddad qual o caráter de cada Este olhar à frente, este me disse que ainda era cedo personagem, qual a função espírito de descoberta, não para alguns comentários, social destes personagens, é um privilégio do diretor que é necessário o tempo que objetos poderiam usar porque os atores e toda a da afetividade para o ator se em suas ações, como dizer equipe de criação devem apropriar das marcas, das o que as palavras do texto ter este olhar, mas é uma ações, dos objetos, enfim, ir dizem, tudo para contar uma natureza do ofício de dirigir. tornando seu o espetáculo. história que esteja presente Em um ensaio de uma peça Este “tornar seu” é importante e viva para o público. o diretor olha para uma cena em um processo de criação,

30 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 31 CAPA CAPA O que tem em comum um show com músicas de Roberto Carlos, um musical sobre Bibi Ferreira, o relançamento de um álbum de dance OS CINQUENTA ANOS DE music e a dublagem de um filme infantil?Gottsha rtista de um nome Roberto mas também à música nome que servisse só para mim só, mas de atividades negra americana através de caso o trio se separasse. Ele mil. Completando Nina Simone, Donna Summer, me deu Gotcha, em inglês. Eu A50 anos no dia 4 de Gloria Gaynor, Dionne Warwick que tive a sacada da inversão outubro, Gottsha trocou a e Stevie Wonder – nomes de sílabas, que dá a mesma festa de aniversário – “estava fundamentais para o trabalho sonoridade. Na época, ninguém pensando em fazer uma para que ela exerceria mais tarde. sabia quem era Gottsha - se eu vir vestida de Aladdin” – - Meu pai era muito rígido. uma banda, uma mulher, um por uma série de realizações Eu era péssima aluna, não homem, uma drag, um ET...”, profissionais. O “meio século” queria saber de escola, tinha conta. Hoje em dia, é um nome chegará com novos desafios. pavor de matemática. Uma vez popular no meio artístico. São GOTTSHAPor LEONARDO TORRES “Eu achava que estaria de cheguei com zero no boletim. quatro novelas, duas séries, cabelo branco, sem voz e gagá Meu pai sabia que eu tinha uma minissérie, 19 musicais nesta idade. O nosso 50 hoje essa questão artística, mas ele teatrais, dois espetáculos é muito diferente dos 50 da falava “você não vai sobreviver infantis, três comédias teatrais, época da minha mãe. Eu sinto disso”. Ele sempre duvidou. três dublagens de filmes, como se estivesse fazendo Essa dúvida que ele deixou pra três shows (quatro com o do 30”, diz em entrevista exclusiva mim foi o que me motivou. Até Roberto) e um disco exportado para a Revista #INCITARTE, pra ele, eu provei. Ele faleceu para 50 países. Só neste ano, “mas já vivi mais da metade em 2004, quando eu estava esteve em cartaz com “A Noviça da minha vida. Agora tudo que fazendo “Senhora do Destino”. Rebelde”, em turnê com “Bibi – vier é lucro. Quero cumprir Ele teve um câncer e, num Uma Vida Em Musical”, assinou tudo que não cumpri ainda. O estalo de dedos, foi embora. contrato para relançar seu que eu tenho que fazer agora? Mas nessa época eu vi como álbum nas plataformas digitais, O que não fiz ainda”. O show ele estava orgulhoso. Ele, montou o “Nossa Canção”, foi com repertório de Roberto coitado, no hospital, deitado, chamada para botar voz em Carlos, “Nossa Canção”, é a ruim, mas falava “deixa eu te “Frozen 2”, prepara o retorno do síntese desse desejo. Gottsha ver na televisão”. Eu sabia que show “Discotheque” e conversa se consagrou cantando dance tinha um orgulho ali, porque com a gravadora para ter uma music em inglês. Cantar o rei ele sempre me dizia “você é festa própria para excursionar é assustador para ela, no alto péssima aluna, você jamais será o país. “Querem que eu me de seus 25 anos de carreira. uma grande artista”. Ele falava! torne uma espécie de Preta “Começo a suar frio quando Ele queria que eu estudasse. Gil e Tiago Abravanel e tenha falo desse show. Olha só como Ele falava que o artista não ‘a festa da Gottsha’, só com me dá buço! Fico nervosa, pode ser um artista burro. Ele dance music, dos anos 1970 até porque sei que precisa ficar... estava certo. Acho que sou os dias atuais. Bem na minha perfeito não digo, mas o muito crítica por causa do meu área”, comemora. Por conta das melhor que eu possa fazer. Sou pai, e por isso vou fazer essa novidades, ela teve que adiar o preguiçosa na vida, mas não homenagem a ele. Acho que projeto de subir no palco com no trabalho”. A apresentação devo. Ele me deu tanta pressão, uma comédia intitulada “Até acontece no dia 7 de outubro que no fundo me ajudou. Ele Que a Morte Não Nos Separe” no Theatro Net Rio, em errou da maneira que colocou, – sem músicas, para se mostrar Copacabana, com direito a um mas acertou de ter colocado. mais como atriz. “Às vezes fico coral de 30 pessoas para entoar – confidencia. Nascida Sandra pensando ‘o que falta na minha “Jesus Cristo”. O título está entre Maria Braga Gottlieb, ela vida para eu me desafiar?’. as 26 músicas selecionadas se rebatizou de Gottsha ao Falta um cinema, que vai rolar, para a setlist. “Tive que tirar chegar à vida adulta. O nome já estou com dois filmes para músicas que adorava, porque é a fusão da primeira sílaba do fazer; falta um show dedicado à não dá para fazer um show de sobrenome e da primeira sílaba música brasileira; umas viagens

três horas”. A apresentação será do prenome acrescido de um internacionais, que tenho Scarpa. Manuela FOTO: também uma homenagem ao H. Foi ideia de um amigo. “Eu loucura para cantar fora do

FOTO: Roberto Cardoso Júnior. Cardoso Roberto FOTO: pai, que a introduziu não só ao tinha um trio musical e pedi um Brasil...”, enumera.

32 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 33 CAPA As Malvadas. FOTO: Divulgação CAPA

para dar conta de cantar, “A Noviça Rebelde” (2018). dançar, atuar, memorizar os Graças a essa parceria, movimentos e marcações... se apresentou na França Na coxia, pediu para sair. cantando Beatles e morou em Portugal por três meses Gottsha: Não vou entrar. cantando Cole Porter. - “Beatles” tem mais Charles Möeller: Como não de dez anos em cartaz! vai entrar? Já tocou o terceiro A gente começou tão sinal. Claro que você vai entrar. despretensioso... “7 – O Rocky Horror Show. FOTO: Arquivo Pessoal Gottsha: Não quero, não vou Musical” tinha dado uma mais brincar disso! parada e os diretores criaram algo para que os Ela se virou de costas. Era atores não ficassem duros. a deixa para sua entrada maneira! Vou arrumar algum E está aí até hoje... Sou do no palco. Ele deu um “NUNCA FUI PROTAGONISTA” lugar se não tiver”. Mas deu elenco original, já vi todos empurrãozinho e ela entrou. tudo certo com o patrocínio, os elencos passando... – “Se não fosse ele, talvez eu Gottsha comemora – Já “Cole um papel protagonista, vem até ela. Quando não a temporada foi ótima, aquele tivesse desistido ali, porque Porter” foi um papel que me falta? Gottsha jura que vem, ela a produz. “Quando grupo era ótimo... esse é um pensei que não dava para deu um prestígio incrível. essa não é uma ambição. digo que vou fazer algo, eu musical que eu faria de novo. E mim”. O empurrãozinho A gente ficou três anos em “Nunca fui protagonista e, vou fazer. Tenho certeza. – fala apaixonada. foi literal em sua carreira. cartaz, viajou pra caramba. É aliás, prefiro não ser. Minha Sou assim. Se não vem, Foi com Möeller e Botelho Com Möeller e Botelho, ela um musical muito elegante, preguiça fica brigando eu vou. Pode demorar um que ela começou no teatro fez uma série de musicais muito chique. Quando voltou comigo. O protagonista tem pouquinho, mas eu chego”, musical, em 1997, com “As teatrais – “Ô Abre Alas” neste ano, ficou pouco tempo uma responsabilidade maior, sublinha, determinada. Uma Malvadas”. Era também

(1998-1999), “Cole Porter – Divulgação FOTO: Jazz. é Tudo o início da dupla – hoje em cartaz. Não acho que por ter mais cenas, mais solos, prova disso foi sua atuação no Ele Nunca Disse Que Me referência no segmento. Na ficou datado. Acho que as e obviamente está ali para musical “Rocky Horror Show” Amava” (2000-2003 / 2019), época, um amigo em comum pessoas realmente estão segurar um pouco a barra. (2016). Quando soube que “Suburbano Coração” (2003), os apresentou e eles se sem dinheiro. Não fez mais Não almejo, não. Nunca quis. ele seria montado no Brasil, “Tudo É Jazz” (2004), “7 – O encantaram de cara. Gottsha sucesso por causa dessa Nunca pensei”, diz, muito se ofereceu para interpretar Musical” (2008), “Beatles Num topou a empreitada – que situação financeira do país. segura da resposta. Mas será Magenta – um sonho desde a Céu de Diamantes” (2007), incluía meses de ensaios sem que ela aceitaria, caso fosse adolescência. Conseguiu até “Como Vencer Na Vida Sem receber um tostão e, uma vez convidada? Neste momento, mais do que isso. Fazer Força” (2013), “Rocky Gottsha titubeia. Pensa por em cartaz, dividir bilheteria À direita, a primeira montagem de “Cole Horror Story” (2016-2017) e Porter - Ele Nunca Disse Que Me Amava”. um segundo. “Nem sei. Tenho - Eu me ofereci muito. Por irmãmente. Condições de Abaixo, a segunda montagem. até medo”, confessa. “Eu não quê? Porque “Rocky Horror trabalho bem diferentes das FOTO: Divulgação. preciso ser protagonista em Show” eu vi quando estudava atuais. “Era uma cooperativa: musical. Sou protagonista no Colégio Andrews, com todo mundo ganhava a do meu trabalho, e está tudo a Marisa Monte fazendo a mesma coisa. Eu amava bem para mim. Quando faço baleira, e depois vi a versão aquilo, a gente ganhava um meus shows, estou ali, sou do Jorge Fernando aqui no dinheirinho e estava tudo minha protagonista, e está Leblon com a Carla Daniel ótimo. Agora, com essa lei tudo certo”. Dá para acreditar fazendo a Magenta, que de incentivo de teto de R$ no que ela diz. Se quisesse, já era o papel que eu queria 1 milhão, quero saber quem teria corrido atrás. fazer. Aí o Charles [Möeller] vai fazer musical. Vai ser Gottsha é assim: quando enfia falou: você vai fazer os dois sem dinheiro, igual quando algo na cabeça, não sossega papéis! Eu amei, né? Porque comecei. Vai ter que ser até aquilo se realizar. Acredita eu realmente queria fazer alguém que ame”, diz a atriz, no poder da palavra: às vezes a Magenta, e a música da que quase desistiu de “As quando projeta um desejo baleira é uma coisa linda! Malvadas” na noite da estreia. profissional, a oportunidade Falei “faço de qualquer Ela não se sentia segura

34 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 35 CAPA CAPA GOTTSHA “POSSO FAZER QUALQUER PAPEL” alta de oportunidade Destino”. O autor ameaçou do samba-enredo da escola SÓ PARA também é a justificativa cortar a personagem da fictícia que homenageou a Fpara poucas aparições trama se ela não voltasse ao protagonista Maria do Carmo na TV. Gottsha até hoje faz seu peso anterior. (Susana Vieira) na Sapucaí. BAIXINHOS? bastante testes, e não é - Sou gorda e bem resolvida Gottsha colheu bons elogios. aprovada (aliás, ela detesta comigo. Malho e faço dieta “Graças a Deus, sempre tive testes e audições). “Quando por saúde, mas adoro comer. ótimos feedbacks, inclusive me perguntam por que não Não sou louca por doce, com peças ruins. O crítico ottsha não esconde: faço mais TV, respondo: ‘tem mas como também! (risos) criticava, mas me destacava. “Cole Porter” era seu que perguntar para eles’. Na época da novela, tinha Sempre falo que fui um Gmusical favorito... até Existe toda uma questão emagrecido uns 20kg. Estava pouco mimada”, pondera. fazer “A Noviça Rebelde” de physique: ‘você não em uma “fase boa”, mas Quem não a poupa é o cantor no ano passado. Com o combina’, ‘você não está no quando o autor me viu, falou Marcio Gomes, seu terceiro espetáculo, ela descobriu padrão’. Eu acho que ou você “quando te conheci, você não marido. “Ele fala na cara: ‘está sua paixão pelas crianças. é boa atriz ou não é. Sou estava assim, escrevi o papel muito ruim isso!’. É bom ter Eram 21 meninos e meninas uma boa atriz e posso fazer para você do jeito que você alguém que te fala que está nos elencos de São Paulo qualquer papel”, defende-se. era”. Parei a dieta e comecei a ruim”, avalia, “eu também e do Rio de Janeiro. Seu Por ironia da vida, ela uma engordar, porque não queria o critico. Mas é porque eu camarim era o lugar da vez quase perdeu um papel... perder o papel. – conta. sempre quero que ele esteja bagunça e da recreação. porque havia emagrecido! Sua personagem, Crecilda, melhor do que é. Ele é muito “Fiquei muito amiga das Foi justamente em sua surpreendeu e cresceu na bom, e vou procurar cabelo crianças. Andava mais com primeira novela, “Senhora do trama, tornando-se puxadora em ovo (risos)”. elas do que com os adultos. Com criança, fico maternal”, diz. Apesar disso, nunca Gottsha A Noviça Rebelde - Foto Arquivo Pessoal quis ser mãe. Prefere ser na novela tia e madrinha. Tem três Duas afilhados. “Ganho qualquer Caras. FOTO: TV criança quando revelo que Além da aproximação com de personagens. as crianças, o espetáculo - Todo mundo diz que Globo/ sou a voz de ‘Sua Mãe Sabe Márcio de Mais’ de ‘Enrolados’”. Ela lhe deu a chance de não faço papel de pobre... Souza também dublou “Monstros mostrar outra faceta. Sua Faço sim! Em “Senhora do S.A.” e “Frozen”, outros personagem, a Madre Destino”, eu era pobre. Era sucessos infantis. Agora ela Superiora, foi totalmente uma empregada. Eu faço! quer fazer um infantil no diferente de tudo que já Acham que só sei fazer papel teatro, de tão empolgada fizera até então. “Eu pensei de diva ou de engraçada. que ficou com os pequenos. que não conseguiria fazer Quando fiz a Madre, me tirou - É uma questão karmática. bem. Sou muito bagunceira, um pouco dessa coisa. Não Vou fazer algo para crianças. muito diva, mexo muito a tinha nada disso, nem diva Elas têm uma pureza, uma mão... a Madre é o oposto de nem palhaçada. Foi bom para verdade e uma sabedoria... mim. Eu falei para o Charles: mim. Pude entender que Elas me deram conselhos ‘você me deixa usar um cílio realmente sou capaz de fazer e me ensinaram coisas. Se postiço?’ (risos) Eu sofri muito outras coisas. Só não tenho alguém falasse “o que você no processo”, admite a atriz, oportunidade. – pontua. repetiria hoje?”, eu diria “A que está sempre em busca Noviça Rebelde”. Repetiria de desafios. Ela, inclusive, fica quantas vezes fossem incomodada quando querem necessárias. – confidencia. limitá-la a determinados tipos

Senhora do Destino. FOTO: TV 36 OUTUBRO 2019 Globo/João Miguel Junior OUTUBRO 2019 37 CAPA CAPA “CANTAR É UM DOM DE DEUS” O BOOM despertar de Gottsha do fundamental. Uma vez, INESPERADO para a arte veio ainda Miguel a pegou escondida e Ona infância. Sua mãe deu uma bronca nela: música a escolheu, e Gottsha se diz que antes de aprender a - O que você está fazendo aí? adaptou. Não demorou muito para falar, ela assoviou. Com sete Quem é você? A descobrirem que ela cantava nas aulas anos, ganhou um gravador e - Eu não sou ainda! Sou da 7ª que tinha n’O Tablado. Conclusão: a professora passou a se ouvir cantando série. Não sou, não sou! – se Cacá Mourthé transformou a montagem de a mesma música o dia todo. atrapalhou toda. “Cinderela” em um musical no qual só a fada Muito por influência do Quase se tornou a primeira cantava. Gottsha, claro, era a fada. Durante a pai, que colecionava vinis menina expulsa do colégio: faculdade, idem. Os professores preferiam dar e ficava em casa fazendo tudo que não podia fazer, ela Gottsha e Miguel Falabella. nota e liberá-la das provas a prejudicá-la em mixagem e coletâneas. A queria. Detalhe: era bolsista. FOTO: Arquivo Pessoal sua carreira ascendente. Foi durante o curso música sempre foi fácil para “Minha mãe falava ‘pelo amor que ela gravou a música “No One To Answer” e ela. É autodidata e não tem de Deus, não faz bagunça, explodiu nacionalmente – e até mundialmente. pediu uma música, eu cantei qualquer cuidado com a voz. você tem que ficar na escola, Foi despretensioso. “Começou como uma e... ele ficou louco. Ele me Durante a entrevista, pede mamãe não pode pagar’”, brincadeira: ‘pô, ninguém está interessado no deu um papel e inventou para que tragam mais gelo conta, “hoje sou uma finesse, meu trabalho em português, então vamos botar uma música para minha para sua bebida. “É um dom porque naquela época era um nome estranhíssimo e cantar em inglês’”. personagem”, conta. A partir de Deus. Eu agradeço todos endiabrada”. Com 14 anos, Tornou-se a primeira brasileira a apresentar daí, a adolescente Sandra os dias”. Mas ela sempre conseguiu o que tanto um trabalho todo cantado em inglês, mas Maria ingressou também quis mesmo é ser atriz. No almejava: as aulas de Miguel com compositores e produtores nacionais. Na na banda do colégio, se colégio, matava as aulas Falabella, que mais tarde sequência do single, veio “Break Out”, música interessou por estudar das disciplinas básicas para a dirigiria em espetáculos em novela, álbum vendido em outros países... artes cênicas no Tablado, assistir escondida ao curso como “Godspell” (2002) e um estouro! Ela conquistou o público LGBTQI+ e começou a frequentar extracurricular de teatro “Xanadu” (2012). Por causa (na época apenas “GLS”) e rodou o país abrindo o karaokê do “Noites lecionado por ninguém dele, Gottsha descobriu suas shows de artistas estrangeiros como Double U Cariocas” no Morro da Urca – menos que Miguel Falabella. habilidades com teatro e e Ice MC. “Eu viajava todo final de semana. Não escondida dos pais. Marisa Monte e Thereza Piffer música simultaneamente. tinha folga”. Apresentou-se no programa da - Fugia de ônibus com 14 eram alunas. O curso era “Ele falou ‘você só vai fazer Xuxa e do Jô Soares e, por algum tempo, foi anos, de madrugada, para restrito para o ensino médio. aula aqui se cantar’, eu disse uma espécie de mito. Gottsha ainda era da 7ª série que não era cantora, ele ver show. Quando descobri o karaokê lá em cima, comecei - As rádios falavam “a internacional Gottsha vem a cantar. O vencedor da noite Godspell. FOTO: Paola Prado aí”. E eu: “mas sou brasileira!”. Não acreditavam. ganhava convites para a

Uma vez, saiu uma matéria “Gottsha, a cantora Pessoal Arquivo na dance music. FOTO: Gottsha semana seguinte. Eu sempre que canta dance”. Alguém entendeu “a cantora ganhava, porque as pessoas canadense” (risos). Que louco! Eu não sou gostavam. Uma vez a canadense. Tenho bisavós austríacos, um avô apresentadora falou comigo que veio da Rússia, mas Canadá? Depois me “vamos fazer um negócio? contaram essa história do “canta dance” e Hoje você não canta, mas “canadense”... achei uma pândega! Só comigo. eu te dou os convites para Por alguns meses, eu virei uma cantora semana que vem. Para canadense. – ela ri só de lembrar daquela época você deixar outras pessoas – Também fui confundida com gay. Achavam que ganharem”. O engraçado é eu era travesti. A Roberta Close perguntou pra que eu gostava de música, mim onde eu tinha me operado e eu falei “olha, mas achava que ia ser atriz. fui operada no momento que nasci, porque Deus “Eu canto, mas vou ser atriz”. me cortou e eu vim assim”. Ela ficou com raiva Acabou que não foi bem de mim. Achou que eu estava mentindo, que não isso. – diz. queria contar onde tinha feito a cirurgia.

38 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 39 CAPA CAPA LADY GAGA TUPINIQUIM

eu visual deixava que sou eu em 1995. Igual. imediatamente Gottsha dúvidas. Gottsha era Ela também faz musical, vislumbra como vai ser seu Sexcêntrica e a frente dublagem, a mesma coisa. figurino, a cenografia, a luz... de seu tempo. Saía na Antes de eu me lançar “Eu me meto em tudo”. Faz rua com dread no cabelo como Gottsha, já fazia esse parte de sua expressão – e enrolado em papel laminado look louquinha, por isso já era assim antes fama. prateado – “igual uma fui realmente considerada Gottsha, ainda Sandra, foi Medusa” – e investia em traveca, drag, rainha gay do vendedora de roupas (“a pior figurinos incomuns. Chocava Brasil”. As ideias eram dela de todas, porque eu falava as pessoas. Certa vez, e de Beto Carramanhos, ‘olha, eu não gosto, não te mandou fazer um vestido de visagista que está ao seu favoreceu...’”), tirou diploma de época todo com papel do lado até hoje. “É uma pena vitrinista e inventou um desfile bombom “Sonho de Valsa”. que eu já seja casada, senão com os funcionários da loja. Moda sempre a interessou. iria infernizá-lo. “Falei ‘olha, os vendedores “Por isso eu falo: eu era vão ser os modelos, a gente uma Lady Gaga tupiniquim. Meu sonho é casar com um vai para uma boate, vou Naquela época, fazer o que cabeleireiro: estaria sempre escolher as músicas...’. Foi um eu fazia? E eu não fazia para linda”, brinca. A plasticidade desfile maravilhoso”, lembra, causar, não. Fazia porque é importante para a artista. “foi gerente, subgerente, gostava”, pondera, “quando Quando começa a pensar diretor da loja e todo mundo eu vejo a Gloria Groove, acho em um projeto novo, ficoubobo com o sucesso

Gottsha no show Discotèque. FOTO: Divulgação

que gente fez. Sempre tive de George Michael em “menina, não posso, porque esse tino de palco. Acabei paradas musicais na Europa. esse carro ainda tem que ser contratada para ajudar “‘Como posso estar no 2º emplacado”. Eu falei “eu quero a escolher quais roupas lugar e George Michael em agora”. Joguei o dinheiro na comprar para a loja”. Não ficou 3º?’ Eu achei que não era mesa do vendedor, levei o muito tempo por lá, contudo. verdade. E era”. Confessa: carro pra casa, depois ele foi se deslumbrou um pouco, lá, pegou, emplacou e levou Não é todo mundo que porque não tinha o menor de volta na minha casa. “Eu associa a Gottsha do teatro preparo para receber tudo quero agora! Toma aqui o musical à Gottsha diva pop que acontecia em sua vida. dinheiro! Quero levar agora!” dos anos 1990. Mas “No (risos). E eu levei. Cara, eu One To Answer” mudou - Fiz tanto show pelo Brasil na tinha dinheiro na mão para completamente a vida da época de “No One To Answer” entrar numa concessionária e artista, antes dos 30 anos. que uma vez cheguei em casa comprar um carro 0km. Não Ela mantém fã-clube fiel com um bolo de dinheiro, era na conta bancária. Era na desde aquela época. O fui a uma concessionária e mão! Eu levei num saco de trabalho dance tomou uma falei “quero aquele carro”. Era pano. – ela ri só de lembrar. proporção tão grande que um lançamento. O homem ela chegou a ficar na frente olhou pra minha cara e falou Gottsha adora usar pe- rucas em shows. FOTO: Edson Lopes Júnior

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“QUEBREI A PORTA DA GRAVADORA”

unto com a glória, ela conheceu também Jo lado obscuro da indústria. Logo veio a pressão para se enquadrar no padrão de beleza. A gravadora a mandou para um spa, porque ela estava com três dígitos Gottsha cantando em homenagem a Bibi Ferreira no TV Xuxa. na balança. Gottsha até FOTO: Arquivo Pessoal achou bom. Mas lá teve que encarar uma dieta de 300 ido para a Sony Music foram reencontrando com um calorias por dia – que a fez minhas maiores frustrações. dos sócios da gravadora emagrecer 10kg em 23 dias. Minha gravadora cobrou R$ há pouco tempo. Fizeram Tentou encarar da melhor 1 milhão pelo meu passe, as pazes e renegociaram o Gottsha com a primeira edição da Revista #INCITARTE, durante ensaio maneira: subornando uma mais do que o Roberto contrato. “Acredito que as fotográfico para o show “Nossa criança por um brigadeiro e Carlos naquela época. Foi pessoas mudam”, diz. É ele Canção - Um Tributo ao Rei”, que fazendo do spa seu mundo. proposital, porque não o responsável por trazer fará única apresentação no Theatro “Eu me apaixonei e deixei queriam me vender. Isso, “No One To Answer” às NET Rio, em 7 de outubro. corações partidos lá dentro. pra mim, foi a gota d’água. plataformas digitais. A convite FOTO: Roberto Cardoso Junior. Fiz karaokê, cantei, me diverti. Falei: “eu também não gravo dele, Gottsha também São histórias tragicômicas. mais para vocês”. Quebrei a regravou “Baby Can I Hold Estava sofrendo pra caramba porta da gravadora. Era de You” de Tracy Chapman. lá, mas se você não tiver vidro, dei uma pézada e ela “A gente quer botar essa humor realmente cai em se estraçalhou toda. Foi sem gravação em uma novela”, depressão. Eu sou bem- querer. Eu não sabia que ia revela a cantora. Os planos humorada, graças a Deus”. quebrar, mas quebrei, num não param. A vontade é de As 300 calorias não são sua ímpeto, louquíssima, com trabalhar até o último dia da pior lembrança. Depois que raiva deles. Hoje eu entendo vida. “Será que vou ficar igual POR: seu álbum virou um sucesso que não era pra ser. Tem a Bibi? Será? 96 anos? Vou LEONARDO em vários países, Gottsha foi gente que sofre muito com ter que inventar muita coisa. TORRES iludida e acreditou que teria a a nostalgia do passado. Não Quero morrer trabalhando, tal carreira internacional. sou assim. Não rolou. Fiz seja com que idade for, quero Jornalista cultural, Mas a gravadora não lhe tantas outras coisas depois, estar executando, realizando. escritor e crítico teatral deu o suporte necessário que me abriram o leque de Se eu não realizar, estou com mestrado em Artes e ainda a boicotou. tantas maneiras... – pondera morta”, conclui. da Cena. É fundador a atriz e cantora. do site Teatro em - Eu briguei muito com a Cena, redator do Portal gravadora. Não ter ido fazer Gottsha trilhou seu Gottsha e Roberto Carlos. POPline e jurado do Foto: Arquivo Pessoal show fora do Brasil e não ter caminho e acabou se Prêmio Brasil Musical

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O empreendedorismo de uma das “Nos palcos ou fora maiores estrelas do teatro musical dele, minha vida é me dedicar a salvar a tive muito incentivo da minha Musical” (2012), Jane Valadão família. Então recebi apoio em “A Madrinha Embriagada” vida dos outros” ao buscar estudar muito e (2013) - que lhe rendeu desde muito cedo, mesmo uma indicação ao Prêmio FOTO: Cassiano Grandi FOTO: fora do país. Ao passar no Bibi Ferreira, bem como meu primeiro grande musical sua Aldonza/Dulcineia, de em São Paulo, precisei deixá- “O Homem de La Mancha” los para trás, bem como (2014, 2015 e 2017). Sara ainda minha cidade e meu curso pôde ser vista como Grace de Educação Artística com em “Annie” (2018), Sarah Licenciatura em Música na Elliot em “Billy Elliot” (2019) e Universidade de Brasília agora se prepara para viver (UNB)”, conta Sara. a diretora Rosalie Mullins, SARA SARRES estrelando “Escola do Rock” O clássico de Victor Hugo ao lado de Arthur Berges foi a porta de entrada da e grande elenco no Teatro ara Sarres é uma artista atriz e cantora para uma Santander, em São Paulo. Smultifacetada: atriz, série de outras montagens Paralelamente, Sara foi a cantora, orientadora e futura como “Godspell – O Circo criadora do 1º Curso Técnico fonoaudióloga. Brasiliense da paixão” (2002 e 2003), de Teatro Musical do Brasil, e de 39 anos, Sara descobriu dirigido por Miguel Falabella, atualmente é coordenadora ainda criança que teria uma o original “Cole Porter – da Duetos Escola de vida mais feliz se fosse movida Ele nunca disse que me Música, em Fortaleza, Ceará. pela Arte. A estrela de icônicos amava” (2004), de Charles Empreendedora, Sara é RAFA LUZ musicais e com talento Möeller e Claudio Botelho, proprietária do Studio S, onde Cassiano Grandi FOTO: reconhecido dentro e fora “Comunitá – O Musical”, com dá aulas de canto, e também do Brasil foi apresentada ao direção de Jarbas Homem da Casa da Voz, loja dedicada afa Luz é bombeiro para crianças. “Em 2012, vem, o musical infantil “O ballet aos quatro anos, pouco de Melo e “O Mágico de a tudo que possa ajudar a Rmilitar desde 2010, tendo após uma criança de 9 Bombeiro Rafa”. antes de conhecer a magia Oz”, onde deu vida à bruxa aprimorar o instrumento de sido condecorado duas anos perder a vida em um das notas musicais na Escola boa, Glinda. Com o papel de trabalho mais valioso de vezes na corporação por incêndio em Itaperica da “Minha relação com o teatro de Música de Brasília, onde Christine Daaé, Sara estrelou um cantor, de pastilhas a bravura. Recebeu também a Serra (SP), por não saber é de muito amor e respeito; estudou piano, percussão “O Fantasma da Ópera”, equipamentos de respiração. medalha “Avante, Bombeiro”, se comportar em situações pretendo levar uma mensagem erudita e onde descobriu a que lhe proporcionou uma Sara dedica ainda parte em reconhecimento ao seu de emergência, resolvi me muito importante para os força de sua voz delicada ao experiência internacional, do seu tempo ao curso trabalho com crianças. Ator, mexer”, conta o bombeiro jovens. Acredito plenamente no participar de corais, grupos de ao ser convidada a reviver de Fonoaudiologia pela comediante e autor, Rafa Rafael, que pediu permissão poder de transformação que câmara e orquestras. a personagem em uma Faculdade de Ciências está no ar na TV Brasil com a ao seu comandante para existe entre o palco e a plateia”, turnê internacional. Médicas da Santa Casa e série de sua criação “Amigos iniciar um trabalho de afirma o militar, que assina Sara entrou para o mundo da pretende abrir seu consultório, do Pelotão”, uma atração em conscientização nas escolas. texto e músicas do projeto. ópera, estreando aos 13 anos Na sequência vieram outras com especialidade em voz formato de programetes, Rafa posta vídeos lúdicos e “Sou bombeiro e não desisto, em “La Traviata”, de Verdi, e grandes protagonistas e artística, além de planejar onde ele e seu cachorro educativos em seu canal no ainda acredito que isso pode aos 15, em “A Flauta Mágica”, antagonistas como Anita um show comemorativo e o mascote Torrada dividem YouTube “Canal do Bombeiro dar certo. Ainda vamos salvar a de Mozart. Seus caminhos em “West Side Story” (2008), lançamento de seu primeiro uma oficina no quartel de Rafa”. Como uma extensão vida de milhares de crianças”. a levaram a atuar em sua Jellylorum em “Cats” (2010), livro. Não há dúvida de que bombeiro. Entre brincadeiras, ao trabalho e, após uma primeira grande personagem, Fiona em “Shrek” (2012, 2013), ser paciente ou aluno de Sara histórias criativas e situações temporada no Theatro Net Em 2020, com peça em a jovem Cosette, de “Les Mortícia Addams, alternando é um privilégio, a questão que inusitadas, eles ensinam a Rio em 2012, com o stand- cartaz, Rafa comemora 10 Misérables”, na montagem o papel com Marisa Orth, fica é: que horas ela dorme? prevenção de acidentes e up “Comédia em Chamas”, anos de carreira salvando brasileira de 2001. “Sempre em “A Família Addams – O a diversão de forma segura o ator estreará, no ano que vidas como bombeiro.

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João Pedro Chaseliov Depois de arrebatar plateia como Norma Desmond e o talento que corre em “Sunset Boulevard”, Andrezza Massei vive Dona em suas veias Clotilde em “Chaves - Um Tributo Musical”

FOTO: Cassiano Grandi FOTO: oão Pedro Chaseliov, participante uitas personagens, de diferentes Jda temporada de 2019 do programa Maparências e personalidades, podem “The Voice Kids”, da Rede Globo, esteve habitar uma artista. Destemida quanto aos recentemente em cartaz no Teatro Clara desafios profissionais, Andrezza Massei já foi Nunes em “Shrek – O Musical”, peça da uma cômoda de castelo, uma integrante do Broadway licenciada por uma produtora grupo Dynamos, uma dona de bar e de taberna, FOTO: Cassiano Grandi FOTO: brasileira. Na história do casal de ogros uma aviadora, uma freira, uma megalomaníaca, uma bruxa dos mares, uma atriz decadente Fiona (Yasmin Lima) e Shrek (Leo do cinema mudo e agora se prepara para Iglesias), ele interpretou o personagem viver uma personagem eternizada pela TV há Pinóquio. Mas João já tinha roubado a quase 50 anos, Dona Clotilde, a Bruxa do 71, cena no número de “Matilda” do musical de “Chaves - Um Tributo Musical”, em cartaz no “A Nobre Arte de Bater a Porta”, do Teatro Opus, em São Paulo, até 13 de outubro. CEFTEM, com direção de Reiner Tenente. “Fazemos no palco uma grande homenagem, mas sem nos esquecer que, por outro lado, João tem 14 anos, é carioca e sobrinho existe uma expectativa em torno de tudo por da renomada atriz Ada Chaseliov, parte do público, de poder ver no palco o que falecida em 2015. Desde pequeno antes só se via na TV. As pessoas sentem um ANDREZZA MASSEI se interessa pela área artística e já amor pela voz da dublagem, por bordões, e ter acompanhou de perto muitos trabalhos essas noções, sobre o que se espera e o que de se envolver profissionalmente dentro e fora da tia no teatro. Ada participou de fato será, direcionam bastante o meu trabalho. das produções. Estreante como ensemble no inúmeras montagens da dupla Mesmo com toda liberdade que tivemos para musical baseado no clássico de Victor Hugo, Möeller&Botelho. No “The Voice Kids” criar, me atenho ao espírito da Dona Clotilde, Massei emendou superproduções como “A seu arquétipo, e estudo a fundo não só o encantou a todos os músicos e jurados Bela e a Fera” no papel de Dona Cômoda - nas texto, mas tudo o que ela representa. A ideia é por sua voz imponente e presença de duas montagens brasileiras -, o original “Cole respeitar a memória afetiva e fazer uma junção Porter - Ele Nunca Disse que me Amava”, palco. Sua audição foi escolhida para do que os fãs esperam com a importância do “Cats”, “Mamma Mia”, em um de seus papéis as cinco melhores audições às cegas palhaço, uma essência que esses personagens preferidos, a Dynamo Rosie, “Priscilla, a do canal internacional do Youtube The também têm”, explica. Rainha do Deserto” como Shirley, “A Madrinha Voice Global. Embriagada” como Dora Aviadora, “Mudança Dos seus 43 anos de vida, quase 20 vêm sendo de Hábito” como Irmã Patrícia, “We Will Rock No seu currículo, constam trabalhos em dedicados ao teatro musical. Formada em You” como Killer Queen, “Wicked” como cover musicais como “Pequena Miss Sunshine”, fisioterapia, Andrezza não chegou a exercer a de Madame Morrible, “Les Misérables” como de Sérgio Módena, Tony Lucchesi e profissão, pois foi levada pela onda de musicais a premiada Madame Thénardier, “A Pequena Miguel Schönmann, o já citado “A Nobre que se instalava de vez em São Paulo no final Sereia” onde foi convidada para viver Úrsula, e Arte de Bater à Porta”, de Reiner Tenente dos anos 1990. Com uma carreira abrilhantada “Sunset Boulevard” como alternante de Marisa e Marcelo Castro, participação especial por grandes personagens e importantes Orth. Entre um trabalho e outro, Andrezza em “Beatles num céu de diamantes”, prêmios, a atriz e cantora teve seu primeiro ainda foi responsável pela preparação vocal de de Charles Möeller e Claudio Botelho, contato com a arte na adolescência, cantando espetáculos como “Sweet Charity”, com Cláudia em eventos do colégio e participando de entre outros. João Pedro também já Raia, e produções como “Peter Pan - Todos bandas, o que abriu caminho para planos emprestou a voz para músicas que Podemos Voar” (2007), da CIE Brasil (atual T4F), maiores. O envolvimento de Andrezza com o e “Aida” (2008), da Master Produções Artísticas fazem parte da trilha sonora da novela universo que une canto, dança e interpretação e Culturais e Break a Leg! Produções e Eventos. Verão 90 e para a abertura do desenho ganhou algumas ramificações e seu talento Quem quiser acompanhar as novidades da “Woorooroo”, do canal Gloobinho. Olho foi sendo lapidado através de cursos livres, carreira de Andrezza, além do seu Instagram nele porque esse menino vai longe. aulas com o Maestro Marconi Araújo e Amélia oficial, @andrezzamassei, o Fã Clube Gumes e um curso de teatro com Fátima @fcandrezzamassei também está atento JOÃO PEDRO CHASELIOV Toledo, voltado para interpretação para a tudo o que a cantora e atriz faz. cinema, por exemplo. A prática lhe permitiu

46 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 47 TEATRO PELO MUNDO | NEW YORK TEATRO PELO MUNDO | NOVA YORK TO KILL A “A rosa tatuada” “Jagged Little Pill” OUT DEZ MOCKINGBIRD 2019 2019 A SURPRESA DA TEMPORADA NA BROADWAY Por GUSTAVO PINHEIRO Marisa Tomei assume o papel que, “Quem tem medo na montagem brasileira de 2000, foi Musical traz clássicos de Alanis vivido por Louise Cardoso. Morissette e também canções de Virginia Woolf?” FOTO: Divulgação. inéditas. FOTO: Evgenia Eliseeva.

MAR Clássico de Tennessee 2020 Sucesso mundial, o disco Williams, o texto conta a “Jagged Little Pill”, de Alanis história da costureira Serafina, Morissette (1995) inspira um mãe da jovem Rosa. Viúva, novo espetáculo, definido Serafina redescobre o desejo pelo jornal “The New York e o amor nos braços de um Times” como “um musical novo homem. Serafina será que espanta o mofo”. Dirigido interpretada na Broadway pela por Diane Paulus, vencedora atriz Marisa Tomei. do Prêmio Tony por musicais como “Waitress” e “Pippin”, a peça conta a história da família “Tina – The Tina Healys, perfeita à primeira vista, mas que precisa decidir Turner Musical” entre manter as aparências ou NOV encarar verdades dolorosas 2019 sobre eles próprios e o mundo que os cerca. O musical traz Laurie Metcalf: atriz repete a parceria clássicos de Alanis, como com o diretor Joe Mantelo, que já lhe “Ironic”, “You Oughta Know” e renderam duas indicações ao Tony. “Hand In My Pocket,” além de músicas inéditas. FOTO: Julieta Cervantes Clássico da dramaturgia, “Quem tem medo de Virginia Woolf?” Em cartaz em Londres, o musical ganha nova montagem na começa com Tina se preparando enômeno na temporada mulher branca no estado em bilheteria, número Broadway a partir de março. para entrar no palco do Maracanã, Fteatral nova-iorquina, americano do Alabama. impressionante até A atriz Laurie Metcalf repete no histórico show de 1988. “To kill a mockingbird” é A trama discute temas mesmo para musicais. a dobradinha com o diretor FOTO: Manuel Harlan. uma adaptação do livro de como racismo, culpa e Joe Mantelo (juntos fizeram O musical conta a trajetória Harper Lee (publicado no perda da inocência. “To kill a mockingbird” “Três mulheres altas” e “Hillary da cantora desde o começo & Clinton”, que garantiram à POR: Brasil com o título “O sol é recebeu nove indicações ao de sua carreira, no estado atriz duas indicações ao Tony). do Tennessee, até sua GUSTAVO para todos”), vencedor do Dirigida por Bartlett Sher, Prêmio Tony, apesar de ter Laurie dará vida ao icônico transformação em rainha PINHEIRO Prêmio Pulitzer em 1961. a montagem recebeu sido esnobado na categoria personagem Martha, casada mundial do rock ‘n’ roll, com críticas elogiosas, o que de Melhor Peça do Ano. Jeff com o professor George. mais de 180 milhões de discos Dramaturgo, roteirista e Inspirado na infância da impulsionou a trajetória Daniels deixa a montagem O casal recebe a visita de vendidos. Fatos dolorosos de jornalista. É autor das peças “A Tropa”, “Alair”, “Relâmpago Nick, um novo professor, e sua sua vida, como abuso que autora nos anos 1930, a vitoriosa da temporada: em novembro e será Cifrado”, “Os impostores”, esposa. Alguns drinques depois, peça conta a história da apenas nos seis primeiros substituído por Ed Harris sofria durante o casamento, “Antes do ano que vem”, família de Atticus Finch meses desde a estreia, até o final da temporada, o que domina a cena é uma não são deixados de lado e dentre outras. É autor dos antológica discussão de casais (Jeff Daniels), advogado em novembro de 2018, a em 13 de dezembro. fazem parte do musical. A livros “A Tropa” (Ed. Cobogó) e recheado de diálogos brilhantes, direção está a cargo da inglesa “O menino que nunca sorriu de defesa de um negro peça alcançou a marca traço marcante nos trabalhos do Phyllida Lloyd, diretora do & outras histórias reais” (Ed. acusado de estuprar uma de 36 milhões de dólares autor Edward Albee. musical “Mamma Mia!”. Máquina de Livros).

48 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 49 TEATRO PELO MUNDO | LONDRES TEATRO PELO MUNDO | LONDRES

“AMÉLIE”: Após breve temporada na Broadway, musical do filme francês estreia em novembro no West End. Por PAULO NETO

O musical do icônico filme francês fica em cartaz em Londres no The Other Palace Theatre, de 29 de novembro de 2019 até 1º de fevereiro de 2020. FOTO: Pamela Raith.

No papel título, a atriz e cantora franco-canadense Audrey Brissac, que também é acrobata e durante “Amélie” não fez sucesso na alguns anos integrou o elenco do Broadway mas história tende espetáculo “Quidam”, do Cirque Du a agradar mais aos europeus.

FOTO: Joan Joan Marcus FOTO: Soleil. FOTO: Michael Wharley. FOTO: Pamela Raith.

mélie” é a insólita alguns anos, o elenco do Amélie Poulain é uma jovem Até que ela conhece o amor. uma atmosfera inebriante, “A história de uma moça espetáculo do Cirque Du solitária e altruísta, capaz Apaixona-se perdidamente que inclui elementos como parisiense que vive de forma Soleil, “Quidam”. O espetáculo de inesquecíveis gestos de por Nino, um homem que uma cabine telefônica quieta em suas relações com é uma produção americana, humanidade e generosidade, a fará revisar traços de seu que transforma-se num o mundo, mas de maneira que começou com previews às escondidas. Amélie gosta comportamento e a permitirá confessionário e um piano POR: frenética e criativa dentro em 2015 e estreou em 2017 de fazer o bem e tornar os reavaliar sua real missão no que transmuta-se em um PAULO de sua mente. Baseado no na Broadway, permanecendo outros felizes, anonimamente. mundo. Nino é interpretado balcão de bar. Produção NETO aclamado filme francês de somente pouco mais de 2 pelo britânico Danny Mac, relativamente modesta mas 2001, o musical traz a franco- meses em cartaz. Iniciou Com andanças que já participou de inúmeras muito charmosa, tem tudo Jornalista, crítico canadense Audrey Brissac um tour pelo Reino Unido extraordinárias pelos bairros montagens do West End. para dar mais certo no West de teatro e cinema. no papel título. Fisicamente há alguns meses e somente mais charmosos de Paris End do que na Broadway. Colaborou com as muito parecida com a agora chega oficialmente (Montmartre, Marais), a moça Com uma cenografia As andanças da sonhadora revistas Drops Magazine francesa Audrey Tautou aos palcos do West End, de cruza com pessoas das mais deslumbrante, a ação situa- Amélie tendem a agradar e Aimé. Jurado do Prêmio (protagonista do filme), a 29 de novembro de 2019 variadas idades e classes se grande parte do tempo mais aos europeus do que Guarani de Cinema-RS atriz também é cantora e até 1º de fevereiro de 2020. sociais, fazendo diferença nos anos 90. O espetáculo aos americanos. Veremos. e votante do Prêmio acrobata. Compôs, durante Para quem nunca viu o filme, nas vidas destas pessoas. traz uma Paris mágica e Cenym de Teatro.

50 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 51 TEATRO PELO MUNDO | LISBOA TEATRO PELO MUNDO | LISBOA SEVERA, O MUSICAL Nesse caldeirão formado por Com mais de 40 profissionais em cena, entre boêmios, marujos, ciganos Até 30/11/2019 atores e bailarinos, musical conta o mito da e negros vindos do Brasil qua: 21h30; qui: 21h30; sex: 21h30; prostituta transgressora e criadora do gênero surge o fado, um gênero sáb: 17h, 21h30; dom: 17h musical legítimo português, o Fado essencialmente urbano. 15 € a 35 € Legendado em Inglês, Por CACÁ VALENTE O musical tem duas Espanhol e Francês profissionais que se dividem Teatro Politeama ao interpretar a Severa, a atriz Rua das Portas de Santo Antão, 109 Anabela e a fadista Filipa www.filipelaferia.pt Cardoso, junto com as duas, em cena, um elenco de mais de 40 profissionais, entre atores e bailarinos.

De uma forma contemporânea, o musical nos transporta para uma POR: Lisboa oitocentista cheia de CACÁ aventura, romance, política e VALENTE história, aumentando ainda Designer, Mestre em História da mais o mito da prostituta Arte, Gestor e Produtor Cultural por transgressora e criadora mais de 20 anos, tendo contribuído do gênero musical legítimo para Petrobras, Secretaria de FOTO: Divulgação FOTO: português, o Fado. Estado de Cultura do Rio de Janeiro e Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. Atualmente mora em m Lisboa, desde março O mito da Severa teve origem – título de um fado cantado Portugal, onde desenvolve projetos Edeste ano, com muito no romance de Júlio Dantas por uma outra conhecida de cultura, turismo e artesanato. sucesso, está em cartaz (1901), transportado para a fadista, Amália Rodrigues. Em cartaz até novembro, a personagem- título é vivida pela atriz Anabela e a fadista “Severa – O Musical”, de Filipe tela no primeiro filme sonoro Rua freqüentada por marujos Filipa Cardoso. FOTO: Divulgação. La Féria. Para os portugueses, português por Leitão de portugueses e ingleses o nome Severa não se passa Barros (1930), mas foi retratada e boêmios. E lá, perto da desapercebido, já para os em pinturas e peça de teatro Rua do Capelão, em sua estrangeiros há de se fazer também. Por tanta fama, homenagem, tem um largo uma pequena introdução. criaram-se histórias, onde com seu nome. Severa é conhecida como a não se sabe onde termina e “Mãe do Fado”. Nascida Maria começa a ficção. Teve vários O curioso é que a Severa Severa Onofriana, de origem amantes, mas o mais famoso surge num momento histórico humilde, tem como pai um – lenda ou não – foi o Conde que tem muita relação com o cigano, natural de Santarém, de Vimioso, que, por sua Brasil, para além, é claro, de e mãe de Portalegreque, condição aristocrata marialva ter sido colônia de Portugal. como outros de sua região, e boêmio, permitiu-lhe a Com a independência da migrara para Lisboa. Sua mãe, conquistar mais prestígio e colônia, parte da corte – conhecida como “A Barbuda” oportunidades, apresentando- fica D. Pedro I que se torna era uma conhecida prostituta se para um público de jovens o primeiro imperador do da Mouraria, e teria ingressado oriundos da elite social e Brasil – volta para Lisboa a filha muito cedo na profissão. intelectual portuguesa. depois de 13 anos fora do Por sua beleza exótica e cantar Fixou residência na Rua país, e com ela os escravos, expressivo, Severa logo se Suja, que depois passou a e com eles o lundu, que tem destacou e criou fama. chamar-se Rua do Capelão origem em danças angolanas.

52 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 53 TEATRO PELO MUNDO | PARIS GHOST OS MUSICAIS Os amantes do clássico filme “Ghost - Do Outro Lado da DE PARIS Vida” podem revivê-lo no musical homônimo que faz Confira quatro musicais temporada até junho de 2020 que, embora americanos, no Théatre Mogador. “Ghost” é uma história de amor, suspense combinam perfeitamente e sobrenatural. Um jovem com a Cidade Luz casal se instala em um loft Por REDAÇÃO no Brooklyn, prontos para o futuro, mas tudo desmorona quando o homem (Sam) é FUNNY GIRL fatalmente ferido em uma FOTO: Divulgação briga. A história se desenrola a De novembro deste ano a partir daí, quando o espírito de e Patrick Swayze, a começar Alanis Morissette, Celine janeiro de 2020, o Théatre Sam entende que sua morte pela melodia que atravessa Dion e Elton John. As sessões Marigny recebe a temporada não fora acidental e o amor de gerações. A realização é de acontecem em francês, com FOTO: Divulgação de “Funny Girl”, 55 anos após sua vida corre perigo. O musical Dave Stewart e Glen Ballard, legendas em inglês e os a criação original do musical tem todos os elementos do que tem seu nome associado a ingressos estão à venda a da Broadway. “Funny Girl” foi rendeu o Oscar e o Globo de aguarda seu marido sair da filme de 1990, com Demi Moore estrelas como Michael Jackson, partir de 24 euros. criado para os palcos em 1964, Ouro. “Funny Girl” é a biografia prisão. O show é performado antes de se tornar um filme, em ficcional da estrela americana em inglês, com legendas em 1969, estrelado pela icônica Fanny Brice, que relembra sua francês, com preços que variam Barbra Streisand, que lhe trajetória até a fama, enquanto de 15 a 65 euros.

FOTO: Divulgação FOTO: Bernard Richebé AN AMERICAN IN PARIS FAME O grandioso e centenário na boemia parisiense pós- jornada pelos mais belos Inspirado no filme de Alan aprendem a cantar, dançar se alcança a fama em um Théatre du Châtelet tem Segunda Guerra, quando o cartões postais de Paris e qual Parker e na famosa série de TV, e performar. Reunidos pela estalar de dedos. Composta focado, nos últimos anos, americano Jerry decide ir viver melhor lugar para assistir este o musical “Fame” está de volta mesma paixão pela arte e um por dezoito talentos, entre em reproduções parisienses seu sonho de artista na Cidade espetáculo, que não a própria à Cidade Luz, no Casino de grande desejo de sucesso, os comediantes, cantores, de clássicos da Broadway. Luz. Enquanto corre atrás de cidade de sonhos? A peça é Paris, em uma nova temporada alunos são supervisionados dançarinos e instrumentistas, É o caso de “An American suas ambições artísticas, Jerry encenada em inglês, mas são que fica em cartaz até 3 de por professores inteiramente “Fame – La comédie musicale” in Paris”, musical renomado se apaixona pela francesa Lise, disponibilizadas legendas em novembro. O show, que já dedicados à sua disciplina. é um show para todas as internacionalmente e ganhador que é também a musa de um francês e os ingressos custam percorreu o mundo, conta a Eles vão entendendo ao longo idades, com suas músicas de quatro Tony Awards. de seus melhores amigos. cerca de 33 euros. história de jovens artistas da de quatro anos de estudo, alegres e mensagens de Inspirado no filme homônimo As reviravoltas da história de High School of Performing que a escola também ensina esperança. Os ingressos estão de 1951, a história se passa amor levam Jerry em uma Arts, em Nova York, onde muito sobre a vida e que não à venda a partir de 17 euros.

54 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 55 TEATRO PELO MUNDO | BUENOS AIRES TEATRO PELO MUNDO | BUENOS AIRES TUDO FARIA SENTIDO SE Artes Cênicas do Uruguay (FIDAE), Centro Cultural POR:

A MORTE NÃO EXISTISSE Divulgação FOTO: Rector Ricardo Rojas! MARLON Ambientado nos anos 80, premiado espetáculo conta (UBA), Centro Cultural San ZÉ Martín e da !Comedia da a história de uma professora com doença terminal que Provincía de Buenos Aires. decide protagonizar um filme pornô feminista Marlon Zé é ator, diretor e figurinista A peça ganhou dois Por MARLON ZÉ brasileiro. Atualmente prêmios Trinidad Guevara mora na capital de melhor ator e melhor argentina e estuda atriz, premiada também Dirección Escénica como melhor autor, de Ópera no Instituto destaque nos Prêmios Superior de Arte do Teatro XXI como melhor Teatro Colón. peça, melhor atriz protagonista, melhor diretor e também nos prêmio ACE como melhor autor nacional e melhor protagonista.

Até 08/10/2019 Terça-feira 20h;

600 ARS$

TEATRO METROPOLITAN SURA Av. Corrientes, 1343 Capital Federal Buenos Aires - Argentina Com estética dos anos 80, o espetáculo www.metropolitansura.com.ar traz referências de novelas, filmes de diretores como Pedro Almodóvar e romances de Manuel Puig. FOTO: Sebastian Freire.

que é a vida? A amizade, professora de uma cidade da da ficção, as personagens personagens literalmente O o amor, o desejo, o Província de Buenos Aires, questionam de forma e emocionalmente corpo de uma mulher como descobre que está com os comovente o sentido da despidas, sob o olhar um campo de batalha, uma dias contados por conta vida, acentuados pela de um público que ao novela, uma despedida? de uma doença terminal e estética dos anos 80, com mesmo tempo é voyeur, “Todo tendría sentido si no como seu último desejo, quer referências novelísticas, a testemunha e cúmplice existiera la muerte”, peça protagonizar um filme pornô, filmes de diretores como de tudo isso. que estreou em 2017 escrita feminista, pra ser mais exato. Pedro Almodóvar e a e dirigida por Mariano romances de Manuel Puig. “Todo tendria sentido si Teconi Blanco, em cartaz Neste projeto, ela conta no existiera la muerte”, todas as terças-feiras no com a ajuda de Liliana, uma Tudo acontece neste mini ganhadora do prêmio teatro Metropolitan Sura, atendente de locadora que mundo que se torna a Germán Rozenmacher questiona tudo isso. acaba se tornando uma amiga casa de Maria, seu set de de Dramaturgia, é uma muito íntima, sua irmã Nora e filmagem, quarto de hospital produção da “Compañia Nesta trama que é ambientada um conhecido ator pornô. e abrigo de suas constantes de Teatro Futuro”, Festival nos anos 80, Maria, uma Neste jogo de ficção dentro decepções. Vemos as Internacional de Buenos Aires (FIBA), Festival de

56 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 57 TEATRO PELO BRASIL | BELÉM TEATRO PELO BRASIL | BELÉM

TEATRO AO Foi pensando nestas salas e porões, por exemplo, que POR: ALCANCE dirigi “A Outra Irmã”, um SAULO thriller cômico inspirado em SISNANDO DO TATO Agatha Christie. Foi para sala mantida pelo meu grupo, o Escritor, dramaturgo, ator A cena paraense que Teatro de Apartamento, que e diretor teatral. Nasceu no acontece nas casas e escrevi e dirigi “Desertos. Dois Ceará, mas, ainda na infância, porões de Belém Homens. Dois destinos. Um mudou-se com a família Por MARLON ZÉ Amor”. Foi longe da grande para Belém, tornando-se Por SAULO SISNANDO construção arquitetônica da um dos mais populares Era da Borracha, que assisti dramaturgos do estado do espetáculos da Companhia Pará. Autor de mais de uma dezena de peças, dentre mbora o principal ponto Brasileira de Cortejos, dos elas “Susto” e “Desertos”. Eturístico de Belém seja Atores Contemporâneos, Também publicou romances um teatro – o Theatro da da Companhia Madalenas e teve vários de seus contos Paz – fundado em 1878, no e foi dentro de um ônibus premiados. Em 2016, ganhou auge do ciclo da borracha, que percorri um viagem o prêmio de melhor direção hoje o teatro paraense não romântica em “O Auto do no Festival Internacional do está mais dentro desta ou Casarão do Boneco: com gestão Coração”, do Grupo Cuíra. Rio de Janeiro - Rio Webfest, colaborativa, espaço é um dos maiores de qualquer outra pomposa abrigos da cena teatral belenense. pela Webserie “A Solteirona”. edificação com cortinas FOTO: Otávio Henriques. Belém do Pará tem, sem No mesmo ano, ganhou o vermelhas e cadeiras dúvida, um dos mais lindos Prêmio Literário do Estado elegantes. O teatro da cidade fazeres teatrais brasileiros. do Pará pela dramaturgia de teatros clássicos e os fizeram atores iniciantes, como em colaborativa, é hoje também “O Príncipe Poeira e a flor da está, ao meu ver, dentro de Mas se um dia vier por ocupar espaços alternativos, A Ratoeira, peça com alunos um dos maiores abrigos da cor do coração”. Atualmente casas e porões. onde com mais liberdade formandos do Curso Livre de cena teatral belenense. aqui, antes de procurar faz parte do grupo Teatro de podiam construir suas Formação de Ator promovido a programação dos Apartamento com sede em A atriz e diretora paraense obras mais contundentes. pela própria casa. São diversos e incontáveis grandes teatros, busque Belém do Pará. Wlad Lima há anos escreve Casarões antigos sob o os casarões, porões e as salas, os casarões, os sobre os porões dedicados comando de grupos locais Mas antes da Casa Cuíra, salas mantidas por artistas porões artísticos e viva a à arte em Belém. Algo que foram transformados em outros grupos já tinham e grupos destinados a experiência de um teatro ela chama de o “Teatro ao espaços cênicos. O Cuíra, transformado suas sedes manter vivo o visceral extremamente profissional Alcance do Tato”. Ela mesma um dos mais tradicionais em palcos cênicos. Os teatro autoral paraense, e maduro, que pode ser apresentou o espetáculo grupos, adquiriu há alguns Palhaços Trovadores mantém sendo impossível elencá- tocado, sentido e vivido de “Em carne e Osso”, objeto anos um casarão antigo no o espaço chamado “A Casa los sem esquecimento. perto... ao alcance do tato. de seu doutoramento, centro da cidade, a Casa dos Palhaços”, que além no porão de sua própria Cuíra, e de sua grande de abrigar obras do próprio residência, no bairro da sala vários espetáculos se grupo, dentre elas o faroeste Campina, centro de Belém. apoderaram. Nesta sala, cômico “A Vingança de por exemplo, o Gruta, Ringo”, ainda tem projetos Mas ela não está sozinha mais antigo grupo local, como “Tem gente na casa” neste movimento de apresentou “A Casa do Rio”, que oportuniza o uso da sala espalhamento do teatro por espetáculo que comemora de apresentações para outros toda a cidade. As políticas 50 anos de trajetória do grupos e artistas. O Casarão culturais desastrosas, a grupo. Mas dentro daquelas do Boneco, edificação “A Casa do Rio”, da burocracia, a impossibilidade paredes de barro, além centenária, que há 15 anos Companhia Gruta de de longas temporadas Teatro, comemorou 50 do grupo mais antigo, há se abre ao público e abriga anos de trajetória do grupo e os valores das pautas espaço para o novo surgir, diversos grupos e artistas e foi encenado na Casa afastaram os artistas dos ao abrigar montagens de da cidade em uma gestão Cuira. FOTO: Divulgação

58 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 59 PONTE AÉREA | SÃO PAULO PONTE AÉREA | SÃO PAULO

TEATRO EM SAMPA AMIGAS, PERO NO MUCHO CHAVES - UM TRIBUTO MUSICAL Na dúvida do que vem ou volta ao Rio de Janeiro, melhor pegar a ponte aérea para conferir esses 4 espetáculos imperdíveis

Por FABIANA SERAGUSA

EU DE VOCÊ SÍSIFO

Elias Andreato, Leandro Luna, Raphael Gama e Romis Ferreira formam o atual elenco da comédia que está há 12 anos em cartaz. FOTO: João Caldas. Elenco de “Chaves - Um Tributo Musical” (em sentido Quando você assiste a essa comédia horário): Patrick Amstalden (Professor Girafales), Maria escrita pela jornalista Célia Forte percebe Clara Manesco (Dona Florinda), Fabiano Augusto (Ro- berto Gómez Bolaños), Mateus Ribeiro (Chaves), André o porquê de a peça estar em cartaz há 12 Pottes (Seu Madruga), Andrezza Massei (Dona Clotilde), anos. Para começar, as personagens hilárias Ettore Verissimo (Sr. Barriga), Carol Costa (Chiquinha) e e inusitadas são interpretadas por homens: Diego Velloso (Quico). FOTO: Rafael Beck. nesta temporada, entram em cena Elias Você vai rir muito e até chorar com este Andreato, Leandro Luna, Raphael Gama Denise Fraga encena monólogo composto por histórias Solo de Gregório Duvivier no SESC Santana. espetáculo, pode acreditar. Com roteiro e Romis Ferreira. Seus trejeitos, roupas e enviadas pelo público. FOTO: Cacá Bernardes. FOTO: Lina Sumizono. inédito da diretora musical Fernanda Maia e perucas são, por si só, muito engraçados. direção de Zé Henrique de Paula, o musical Denise Fraga acaba de estrear este Encenada por Gregório Duvivier e dirigida Mas o texto também faz com o público celebra a famosa série mexicana “Chaves”, espetáculo construído a partir de histórias por Vinicius Calderoni, a peça parte do mito se identifique e ria das confusões dessas que faz sucesso há mais de 35 anos no Brasil. reais enviadas pelo público. A dramaturgia, grego de Sísifo para falar sobre dezenas de quatro mulheres que tentam dar conta de Os fãs (e também os que não forem tão fãs) assinada por Cassia Conti, André Dib, Denise assuntos atuais. Enquanto sobe e desce uma trabalho, família, amizade e relacionamentos vão se divertir com as aventuras de Chaves Fraga, Fernanda Maia, Luiz Villaça e Rafael rampa (no mínimo 40 vezes), o ator aborda amorosos. A direção é de José Possi Neto, e de seus amigos Quico, Chiquinha, Seu Gomes, costura essas narrativas com trechos o amor, a efemeridade da vida, a diversão, com trilha sonora assinada pelo maestro Madruga, Dona Florinda, Sr. Barriga, Bruxa de poemas e de obras de grande autores, as fronteiras, a poesia, o jornalismo, a beleza Miguel Briamonte. Anderson Beltrão do 51, entre outros. É uma bela homenagem além de incluir música e imagens em cena, e o horror. Cita fatos políticos perturbantes participa, ao vivo, ao piano à obra de Roberto Gómes Bolaño, intérprete sob a direção de Luiz Villaça. A direção e relembra as tragédias de Mariana e do Chaves, e também aos palhaços em geral. musical é de Fernanda Maia, que estará em Brumadinho, o incêndio no Museu Nacional, No elenco, nomes como Mateus Ribeiro, cena ao lado dos músicos Clara Bastos e os gays assassinados, as mulheres mortas LOCAL: Teatro Folha - Shopping Pátio Higienópolis Carol Costa, Diego Velloso, Andrezza Massei, Priscila Brigante. Além de curtir a peça, é por seus maridos… As histórias contadas ali Av. Higienópolis, 618, terraço, Higienópolis Fabiano Augusto e Milton Filho. uma oportunidade de conferir o novo Teatro são curiosas, instigantes e têm um efeito HORÁRIO: sextas (21h30) e sábados (22h); até 14/12 Vivo, reinaugurado após 9 meses de reforma. impactante sobre a plateia. O espetáculo, PREÇO: R$ 40 a R$ 60 Agora, o espaço conta com sistemas com texto assinado por Gregório e Vinicius, DURAÇÃO: 80 minutos LOCAL: Teatro Opus - Shopping Villa-Lobos exclusivos de iluminação e sonorização e um estreou em Curitiba, em abril, e acabou de CLASSIFICAÇÃO: 14 anos Av. das Nações Unidas, 4.777, 4º andar, Alto de Pinheiros HORÁRIO: sextas (21h), sábados (16h e 20h) e domin- moderno café-bar. fazer temporada no Rio de Janeiro. gos (15h e 19h); até 20/10 PREÇO: R$ 75 a R$140 LOCAL: Teatro Vivo LOCAL: Sesc Santana DURAÇÃO: 150 minutos Av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, Morumbi Avenida Luiz Dumont Villares, 579, Santana CLASSIFICAÇÃO: Livre HORÁRIO: sextas (20h), sábados (21h) e domingos HORÁRIO: sextas (21h), sábados (21h) e domingos (19h); até 15/12 (18h); até 20/10 PREÇO: R$ 50 e R$ 70 PREÇO: R$ 12 e R$ 40 POR É editora do site Culturice. Ganhou o Prêmio Folha de DURAÇÃO: 80 minutos DURAÇÃO: 60 minutos Jornalismo em 2015 pela avaliação dos teatros de São Paulo CLASSIFICAÇÃO: 12 anos CLASSIFICAÇÃO: 16 anos FABIANA e é jurada do Prêmio do Humor SP, do Prêmio Bibi Ferreira e SERAGUSA do Prêmio Destaque Imprensa Digital.

60 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 61 COM A PALAVRA, A CAMAREIRA NAS REDES Causos dos camarins em 25 anos cuidando dos mais diversos elencos

Camareira Elma Lucia fala sobre sua experiência trabalhando nos bastidores dos musicais de Claudio Botelho e Charles Möeller FOTO: Arquivo Arquivo Pessoal. FOTO: Por REDAÇÃO

lma Lucia trabalha teatro musical, Elma ter carinho por todos, Em outra história, Elma nas coxias de encontrou seu caminho dos atores mais novos estava cuidando da Eteatros há 25 e se destacou por seu aos já consagrados. Já atriz e cantora Cláudia anos. Começou perfeccionismo e forma trabalhou com nomes Netto, que tem pavor “despretensiosamente”, de trabalhar. De lá para como Vera Holtz, José de barata. “Eu estava com o incentivo da cá, foram mais de 30 Mayer e , trocando o sapato dela sogra, em um desfile musicais, há 16 anos mas diz não gostar de em um camarim muito de moda. Foi para ao lado da dupla ícone pontuar nomes, pois são apertado, na Gávea e conhecer o trabalho de musicais brasileiros, todos muito queridos. vi uma barata enorme e rapidamente pegou Claudio Botelho e “É uma harmonia só e no pé dela. Na mesma o jeito do que deveria Charles Möeller. um cuidado igual para hora, recolhi a barata ser feito. Quando Elma cuida e coordena todos”, diz. com o meu cabelo, foi trabalhar com todo o elenco e diz que estava grande na Um dia em um musical época. Estávamos em infantil, Elma consolou troca de cena e quando uma atriz mirim que, Cláudia terminou de cansada de ensaios e da se trocar, eu corri de lá dura rotina dos palcos, com a barata no meu queria desistir de atuar. cabelo, sem ninguém “Eu a incentivei falando entender o que estava que um dia a veria na acontecendo”, relembra. televisão, e que aquilo Cláudia e Elma daria muito orgulho para sobreviveram, embora ‘a tia’, para o que ela me a barata não tenha sido respondeu: ‘Tia, você encontrada. é muito gente boa! Por sua causa vou continuar no espetáculo…’. E Para proteger a atriz Claudia “A Noviça Netto em uma troca de cena, Rebelde”: seguiu em cena até o final da temporada. Elma escondeu nos cabelos uma cansada, barata que estava no pé da atriz. uma das Não foi para a televisão, FOTO: Montenegro Talents. atrizes mirins mas anos depois, a do musical pensou em encontrei e ela lembrou desistir da desse momento, me carreira e agradecendo pelo recebeu o estímulo de incentivo dado”, conta Elma nos Elma. camarins. FOTO: Eduardo Lopes.

62 OUTUBRO 2019 NAS REDES NAS REDES Prêmio Bibi Ferreira ator Fábio Assunção venceu o Prêmio riscila Prade, a fotógrafa e diretora de Bibi Ferreira na categoria Melhor Ator produção do espetáculo “O Mistério de Irma Coadjuvante em Peça de Teatro pelo Vap” (na foto, de vestido vermelho), postou seu trabalho no espetáculo “Dogville”. momento descontraído com a equipe do Este foi o primeiro ano que o Prêmio Ocontemplou também espetáculos não musicais. espetáculo, comemorando os 5 prêmios Precebidos na noite de gala no Teatro Renault, em Ao receber o troféu, Fábio fez questão de lembrar São Paulo. Quem levou o troféu para casa foi Jorge de Ágatha, a criança morta por um tiro no Morro do Farjalla na categoria Melhor Direção, Alemão, no Rio de Janeiro e também de Fernanda e Luis Miranda na categoria Melhor Ator, Marco Lima Montenegro, que foi alvo de críticas pelo diretor pela Cenografia e Cesar Pivetti pelo Desenho de luz. do centro de artes cênicas da Funarte, Roberto O espetáculo concorreu ainda na categoria Melhor Alvim. “O teatro é sim um espaço de resistência, Espetáculo e Melhor Figurino, para Karen Brusttolin. eu comecei minha vida pelo teatro, tô no teatro até hoje, mas acho que chegou a hora da gente ultrapassar a fronteira do teatro e se colocar como cidadão. A gente faz a nossa arte, mas o país tá precisando que a gente se junte, porque, realmente, lton Towersey e Vitor Rocha não tá dando pra enxergar tudo isso, então eu queria venceram na categoria Melhor dar um viva a Fernanda Montenegro e queria dar um Letra e Música em Musicais pelo viva a Ágatha, que faleceu na sexta-feira. Estamos trabalho realizado em “Se Essa Lua juntos aqui e fora daqui”, discursou Fábio, sob o Fosse Minha”. O musical foi indicado aplauso dos presentes. Etambém nas categorias Melhor Roteiro para Vitor Rocha, Melhor Atriz para Luci Salutes e Melhor Musical Brasileiro. O louvável esforço #TEATRO da jovem dupla em levar para a cena um musical autoral genuinamente brasileiro foi om mais de 90 mil espectadores, só em São merecidamente recompensado. Paulo, o espetáculo gospel “Rua Azusa – O Musical” venceu na categoria Revelação Cem Musicais. Criado e dirigido por Caique Oliveira, da Cia Jeová Nissi, o espetáculo fusivo e emocionado, o discurso de remonta ao ano de 1906 durante o Beto Sargentelli quando recebeu o período de segregação racial nos Estados Prêmio de Melhor Ator em Musicais Unidos. “Sem palavras para agradecer ao pelo espetáculo “Os Últimos 5 Prêmio Bibi Ferreira. Este é um prêmio que Anos” foi transcrito em sua conta do vem como cumprimento das promessas EInstagram. Casal na vida real e em cena, Eline de Deus em nossa geração. Que esta Porto e Beto estrearam como produtores unção de criatividade seja derramada ao trazer para a cena paulista o musical off como nunca antes em todos os artistas Broadway que conta a história de um casal que clamam por revolução! Obrigado com a cronologia invertida. Ela conta do fim pelas orações de tantos intercessores que para o começo e ele, do começo ao fim. A se levantaram ao redor do mundo para direção ficou por conta de João Fonseca. abençoar a Cia Jeová Nissi”, discursou Caique. Atualmente, o musical cumpre temporada de sucesso no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.

64 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 65 TEATRO NA WEB TEATRO NA WEB

WAGNER CORRÊA www.escriturascenicas.com.br

Wagner Corrêa é jornalista “Balé Teatro Guaíra 30 anos”, especializado em cultura, além de já ter participado roteirista, diretor de televi- como jurado de festivais de são e crítico de artes cêni- dança e cinema, no Brasil e cas. Jurado dos Prêmios de na Europa. Wagner mantém Teatro, Botequim Cultural, o “Escrituras Cênicas”, onde APTR e Brasil Musical. Di- tece com notável assidui- rigiu os documentários “O dade comentários sobre os Grande Circo Místico” e espetáculos em cartaz. urante muito tempo, a crítica teatral teve espaço nos jornais de grande circulação. Nomes como Sábato Magaldi e Bárbara Heliodora Dinfluenciavam diretamente na decisão do espectador de ir ou não ao teatro. Em Nova Iorque, ainda hoje, uma crítica negativa do The New York DANIEL SCHENKER www.danielschenker.wordpress.com Times é capaz de tirar de cena uma superprodução da Broadway, onde um espetáculo não permanece em cartaz se não estiver com mais de 70% de ocupação da casa. Com a evolução do mundo digital, o impresso foi perdendo Daniel Schenker é bacharel em da Associação de Produtores sua importância, as editoras foram enxugando suas equipes e o trabalho do Comunicação Social, mestre de Teatro do Rio de Janeiro crítico teatral também foi se transformando. Muitos migraram de jornais para em Artes Cênicas pela Unirio (APTR), Cesgranrio e Questão blogues e novos críticos também surgiram em espaços virtuais. Algumas e doutorando pela mesma de Crítica. Também é o autor análises são escritas por acadêmicos das Artes Cênicas, respaldadas em universidade. Atualmente, do livro “Teatro dos 4 - A colabora com os jornais O Cerimônia do Adeus do Teatro embasamentos teóricos e outras, por amantes das artes e entusiastas do Globo, O Estado de S. Paulo e Moderno”, onde registrou a era teatro. Mas a verdade é que nem sempre um sucesso de crítica é sucesso de Valor Econômico e também de ouro do espaço, localizado público e vice-versa. Com temporadas de curta duração - atualmente, um com as revistas Bravo! e no shopping da Gávea. mês em média -, nem todos os espetáculos em cartaz conseguem receber Preview. Escreve para os sites Prolífico, Schenker mantém uma crítica e o boca em boca acaba sendo mais eficiente na formação de questaodecritica.com.br e um blog em seu nome onde plateia. Selecionamos quatro sites de críticos teatrais em atividade no Rio de críticos.com.br. É professor de publica críticas das peças em Janeiro para ajudar você na hora de escolher o que assistir. Ou o que não ver. teoria do teatro da Casa de cartaz e outros textos sobre Artes de Laranjeiras (CAL) e teatro brasileiro. membro do júri dos prêmios

LIONEL FISCHER www.lionel-fischer.blogspot.com FOLIAS TEATRAIS - TÂNIA BRANDÃO www.foliasteatrais.com.br

Desde 2004, Folias Teatrais é gênero de primeira Lionel Fischer é ator, autor teatro, fez “O Sequestro”, é um blog escrito pela necessidade, item básico da e diretor. Ministra aulas de “Pequeno Poema Infinito” e historiadora, pesquisadora dieta de humanidade que Improvisação no Tablado “Safári Terapêutico”. Desde de História do Teatro toda pessoa precisa ingerir desde 1996. Lionel começou 2008, Lionel mantém um Brasileiro, professora, no cotidiano para sobreviver”. em 2001 com a novela blog onde publica críticas escritora e crítica de teatro, É com essa premissa que “Laços de Família”, na Rede teatrais, peças em cartaz e Tânia Brandão. Como a Tânia escreve suas críticas Globo. Em seguida, vieram novidades sobre o mundo própria intelectual descreve, teatrais, tece comentários “Bang Bang”, “A Diarista”, “O do teatro. seu blog tem por objetivo sobre o carnaval, shows Profeta”, “Cobras e Lagartos”, “sacudir realidades, discutir assistidos, publica “Eterna Magia”, “Duas Caras”, o andamento da vida que crônicas e entrevistas com entre outros trabalhos. No passa”. Para Tânia, “o teatro personagens do meio.

66 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 67 LEITURA DE PALCO LEITURA DE PALCO Fagundes e Fernanda Montenegro juntos na ocasião do lançamento do livro “A glória e seu FERNANDA MONTENEGRO, cortejo de horrores”, de Fernanda Torres, no Teatro Oficina, em ANTÔNIO FAGUNDES E A novembro de 2017. FOTO: Zanone Fraissat / ARTE NO BRASIL Folhapress. Para além do registro de suas carreiras, livros sobre estrelas do teatro e da TV ajudam a contar a história das Artes Cênicas no Brasil

Por REDAÇÃO

Editado pelo SESC-SP, livro de 500 páginas tem capa dura e rês livros sobre dois escritores, diretores, críticos custa em média R$ 160,00. Tdos nossos maiores de arte, atores e amigos. nomes dos palcos são Como sugere Fernanda, no fundamentais na estante prefácio do livro, “são 88 Brasil. Meu Deus, somos uma contadora de histórias para o desenvolvimento de qualquer apaixonado anos de vida e quase 75 de parte dessa resistência e de mão cheia. “Não estou cultural do país, além de por teatro. Um deles é vida pública, nos palcos, no dessa sobrevivência. E esse romanceando. Tenho quase detalhes dos bastidores “Fernanda Montenegro: cinema, na TV, na rádio. (...) entrelaçamento, através de um século de vida, portanto de sua carreira. Fagundes itinerário fotobiográfico”, Todos esse anos, convivi tantos anos, eles estão na posso dizer: ‘Era no tempo do detalha sobre como se lançado em 2018, na FLIP. com mais de mil colegas, minha vida como eu estou rei’”. Outro importante registro arriscou nos anos mais A obra conta, por meio personalidades relacionadas na deles”. Comemorando os para a memória do teatro é duros da ditadura militar, na de fotos e textos escritos à cultura brasileira em 90 anos da atriz, Montenegro “Antonio Fagundes no Palco época, sob tutela de Myriam pela própria Fernanda, a diversos campos: literatura, teve outro livro lançado: da História: Um Ator”. O livro Muniz e Gianfrancesco trajetória dessa que é hoje artes plásticas, rádio, “Prólogo, Ato e Epílogo”. conta a trajetória do ator que, Guarnieri, sua ascensão a a maior atriz brasileira de jornalismo, televisão, Escrita ao lado da jornalista com uma carreira de papéis astro da pornochanchada televisão, cinema e teatro. publicidade, cinema e teatro. Martha Góes, a obra se marcantes nas telenovelas, e o sucesso na televisão. A Fernanda esmiúça sua Antes de tudo o teatro. (...) pretende definitiva para a tem sua alma fincada no obra conta ainda com textos história no livro, desde a Revendo o material que carreira de Fernanda e conta teatro e está sempre em críticos, pesquisas históricas, Lançado pela Editora infância, no seio de uma conseguimos recuperar sua trajetória na dramaturgia cartaz com espetáculos sem entrevistas de Fagundes à Perspectiva, livro de Rosangela desde os primórdios, quando patrocínio e que começam autora e fotos de arquivo. Patriota tem 488 páginas e custa família italiana do subúrbio, sobre esses anos, (...) vejo que em média R$ 70,00. até os fatos que marcaram todos nós nos entrelaçamos esteve na fundação da rigorosamente no horário Segundo Rosângela, quando não só a sua carreira, através de, pelo menos, cinco Companhia dos Sete, ao marcado. Fagundes construiu começou a escrita do livro, como a de diversos outros gerações. Recebemos e lado de Sérgio Britto, Ítalo em mais de 50 anos de este seria focado na década profissionais e, também, passamos influências. Somos Rossi Gianni Rato, Luciana estrada uma obra que faz de 1980. “A força do conjunto da dramaturgia brasileira. uma tribo de mil ou mais de Petruccelli, Alfredo Souto de parte da cultura nacional. Sua de sua trajetória, porém, Organizado pela atriz que é um milhão de membros, se Almeida e Fernando Torres, história, contada no livro, se é tão significativa que a (até agora) a única brasileira contarmos com aqueles que seu companheiro de 60 anos, mescla à história do país – minha opção foi abranger o a ser indicada ao Oscar, a me viram ou que nos viram”. até seu falecimento, em do teatro de arena ao amor processo no qual o jovem obra é um acervo de imagens Parte da grande família que 2008. O livro, lançado pelo das massas que lotam seus Antonio da Silva Fagundes pessoais e profissionais de forma o Brasil, Fernanda Companhia das Letras, traz espetáculos. Filho tornou-se Antonio Fernanda, fotos inéditas escreve: “é um grande, as memórias de Fernanda Escrito por Rosangela Fagundes”, revela. Resta e imagens que registram imenso álbum de família se narradas em uma prosa Patriota, professora agora acompanhar quais cenas memoráveis ao lado nos subdividirmos. Toda essa afetiva, inteligente e sensível. universitária com formação serão os próximos capítulos de grandes nomes como galeria de criadores contém A atriz, que passou a vida em história e arte, com escritos nos palcos por , Sérgio Britto e os artistas mais presentes e decorando e memorizando foco especial em teatro, a Fagundes e dona Fernanda. Nathalia Timberg, além de creditados, com identificação textos, rememora com biografia traz uma análise detalhes sutis fatos ocorridos histórica da emergência Com 392 páginas, livro recém- documentos emblemáticos, no imaginário cultural do lançado pela Companhia das artigos e depoimentos de há décadas, mostrando-se do ator e sua importância Letras custa em média R$ 50,00.

68 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 69 TV MÚSICA “PERSONA EM FOCO”: A BARCA DOS TV CULTURA TRAZ CORAÇÕES PARTIDOS: CIA PERSONAGENS DO BRASILEIRA DE TEATRO PARA TV MOVIMENTO E SOM Com entrevistas mediadas por Discos dos musicais Atílio Bari, programa revisita da Companhia e clipe carreira de estrelas dos palcos com Elba Ramalho Por REDAÇÃO estão disponíveis nas plataformas digitais

esgatar e valorizar nossos artistas Por BRUNO BERNARDINO Ré fundamental – e até um pouco urgente. Sem passado, não há futuro. Sem a Arte, não há reflexão. Sem Barca dos Corações artistas, não há teatro, TV ou cinema. Na Partidos – Cia Brasileira contramão dos que atacam a Arte, Atílio A de Movimento e Som FOTO: Divulgação Bari e Analy Alvarez criaram o “Persona - nasceu em 2012 quando O encontro deu tão certo que, em Foco”, que já está em sua quinta os atores, músicos e multi- em 2014, o grupo se reuniu para temporada. instrumentistas Adrén Alves, de Melhor Música, APTR de realizar a “Ópera do Malandro”, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Melhor Produção, FITA (Festival de Chico Buarque, também “Persona em Foco” é um prato cheio Fábio Enriquez, Eduardo Rios, Internacional de Teatro de assinada por João Falcão, com Angra dos Reis) de Melhor para amantes do teatro, exibido na TV Renato Luciano e Ricca Barros produção de Andréa Alves. Uma Espetáculo, Melhor Direção Cultura. O programa traz aspectos da se conheceram na montagem grande produção da Sarau com e Melhor Figurino, Prêmio vida pessoal e da carreira de grandes do musical “Gonzagão – A a Barca, a “Ópera do Malandro” Lenda”, sob direção do Qualidade Brasil de Melhor fez uma bem-sucedida estreia nomes da dramaturgia brasileira e Espetáculo e Prêmio Bibi suas impressões sobre o ofício, com renomado João Falcão. Com no Theatro Municipal do Rio “Gonzagão”, o coletivo reuniu Ferreira de Melhor Espetáculo de Janeiro, onde 9 mil pessoas entrevistas conduzidas por pessoas mais de 300 mil espectadores, Musical Brasileiro, Melhor lotaram o espaço em 4 dias. também ligadas ao teatro, que têm em 13 estados brasileiros (e Direção, Melhor Roteiro e Além das temporadas de alguma ligação com o artista sendo também fora do Brasil, ao abrir Música. O espetáculo foi sucesso no Rio e São Paulo, entrevistado, além de contar com uma o Festival Iberoamericano apontado pelos veículos a peça fez turnê e alcançou plateia formada por jovens atores e de Teatro de Bogotá, na Folha de S. Paulo e Estado mais de 100 mil espectadores estudantes de teatro. O programa é Colômbia) e acumulou de São Paulo como um em um ano de exibição. intermediado por Atílio Bari e dirigido inúmeras indicações a prêmios, dos melhores espetáculos por e roteirizado por Analy Alvarez. ganhando os Prêmios Shell musicais daquele ano.

No canal do programa no Youtube, é possível ver as temporadas anteriores do programa. Algumas personalidades já entrevistadas são Fernanda Montenegro, Laura Cardoso, Fúlvio Stefanini, Eva Wilma, , Júlia Lemmertz, Herson Capri, Mauro Mendonça, Claudia Raia, Ruth de Souza, Marcos Caruso, Zezé Motta, Lucélia Santos, Louise Cardoso, Nathalia Timberg, Aguinaldo Silva, entre outros. Atualmente gravando sua quinta Os atores e músicos multi-instrumentistas temporada, Persona em Foco vai ao ar deram início ao grupo em 2012, depois da Primeiro álbum da Companhia começou às sextas-feiras, às 22h. montagem de “Gonzagão - A Lenda”, com com financiamento coletivo e hoje está Laila Garin. FOTO: Cristina Granato. disponível nas plataformas digitais.

70 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 71 MÚSICA UMA PEÇA QUE NOS MARCOU

Em seguida, foi a vez de “Auê”, criação coletiva dirigida por Duda Maia, e “Suassuna – O Auto do Reino do Sol”, ''WEST SIDE STORY”'' comemorando os 90 anos do poeta e dramaturgo paraibano. Clássico marcou o casal do teatro musical Ambos espetáculos foram Leo Wagner e Carlos Arruza sucesso de público e crítica. Com “Auê”, o grupo extrapolou Por REDAÇÃO novamente os limites do teatro, lançando o disco homônimo com as músicas originais e autorais que embalam o espetáculo multilinguagem. Sucesso repetido no disco lançado em 2017, com a trilha sonora de “Suassuna”, em “Suassuna - O Auto do Reino do Sol”: premiado musical que 35 músicas disponíveis nas comemorou os 90 anos de Ariano Suassuna tem 35 faixas e também plataformas digitais. está disponível nas plataformas digitais. FOTO: Jonatas Marques.

Atualmente, a Barca segue velejando, em cartaz com concepção de Bia Lessa se Elba Ramalho. Dirigido por “West Side Story”: a montagem de a rapsódia clássica e obra- distancia do musical tradicional Eduardo Rios, o vídeo traz 2008, dirigida por Jorge Takla, ficou prima de Mário de Andrade, e segue um fluxo que a diretora danças, fotografia colorida e em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo. FOTO: João Caldas. “Macunaíma”. Mais que prefere associar à estrutura de cenários detalhados, enquanto um marco do Modernismo uma ópera. Além de canções os meninos da Barca formam est Side Story” é um Sublime Amor”, mesmo artísticos de maneira única: brasileiro, “Macunaíma” originais, a Barca musicou um séquito ao redor da cantora. musical de Arthur título que recebeu o filme a coreografia, que para mim foi um romance que virou alguns trechos da adaptação. “Calcanhar” é o primeiro “W Laurants, com música de de 1961, com Natalie Wood é o que tem de melhor; a uma espécie de símbolo A direção musical, assinada trabalho audiovisual do novo da identidade cultural por Alfredo Del-Penho e Beto trabalho de Elba, “O Ouro Leonard Bernstein e letras e Richard Beymer. O musical música, que é genial do miscigenada do Brasil ao Lemos, contou com a música do Pó da Estrada”. Confira o de Stephen Sondheim. A que revolucionou a Broadway início ao fim; e o que falar do reunir fragmentos de histórias, adicional do duo O Grivo. clipe e outros trabalhos d’A história se passa em Nova ao colocar foco sobre a vida texto? Sem comentários. É mitos e lendas indígenas. Barca dos Corações Partidos Iorque, em meados dos nos guetos nova-iorquinos, um Romeu e Julieta”, afirma. Traço marcante em todos os Em conversa com a cultura nas plataformas digitais e anos 1950/60, no bairro teve por aqui a direção Já Leonardo Wagner, teve trabalhos da companhia, a popular brasileira, a Barca acompanhe seus próximos de Upper West Side dos geral, iluminação e cenários o contato com a obra pela música tem lugar de destaque lançou, em fevereiro deste lançamentos pelo Instagram guetos de diferentes origens de Jorge Takla. A versão primeira vez ao precisar na montagem, ainda que ano, uma grande produção @barcadoscoracoespartidos. étnicas. O amor proibido da brasileira, com assinatura cantá-la numa audição. esteja inserida de maneira para o clipe de “Calcanhar”, história clássica de Romeu de Claudio Botelho e “Ali tive a oportunidade de bem diferente do habitual. A em parceria com a cantora e Julieta é adaptado para a direção musical do maestro experimentar toda essa Manhattan de Tony e Maria e Luis Gustavo Petri, teve genialidade e, para mim, o amor que nasce em meio coreografia original adaptada ainda é um dos musicais ao ódio e rivalidade de duas pela diretora Tânia Nardini. mais completos de todos gangues de rua, retratando Para Carlos Arruza, “West os tempos”. POR uma juventude que crescia Side reúne os três elementos embalada pelo rock e BRUNO mambo, e inspirada pela BERNARDINO rebeldia de James Dean. Formado em Jornalismo pela Universidade Veiga A produção original da de Almeida. Com especial interesse por tudo que Broadway aconteceu em 1957 e, de lá para cá, vários envolva cultura e artes, Gilda Villareal. FOTO: atualmente cursa Artes revivals foram produzidos Visuais na Universidade do mundialmente. Em 2008, o Estado do Rio de Janeiro. Brasil encenou o espetáculo A cantora Elba Ramalho gravou com a Barca o clipe de “Calcanhar”, do álbum “O Ouro do Pó da Estrada”. FOTO: Divulgação. sob o nome de “Amor

72 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 73 ESPECIAL

s histórias do teatro moderno “Os governantes têm e sempre tiveram medo brasileiro e da política pós- da cultura e da arte, porque são mecanismos Ditadura Militar se confundem com contestadores. As pessoas que estão no Mamberti 80! Aa trajetória de Sérgio Mamberti, poder nunca gostaram de ser contestadas, ator, diretor e político paulista. Nascido na e hoje gostam ainda menos”, sentencia Veterano ator, diretor e político paulista cidade de Santos, não apenas se sagrou um Mamberti, que, à frente das secretarias e da prepara autobiografia enquanto alinha peças dos nomes mais importantes e respeitados FUNARTE, realizou uma série de trabalhos inéditas e nova turnê das artes cênicas no Brasil, como também relevantes, sendo um dos mais discutidos a acompanhou de perto as transformações compra e o início de processo de restauração Por BRUNO CAVALCANTI sociais e econômicas no país. do TBC, o Teatro Brasileiro de Comédia, no bairro do Bixiga, zona central de São Paulo. Co-fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), Mamberti construiu tanto na arte quanto “Se estabeleceu um diálogo com o Sesc para na política, uma história sólida na qual não a revitalização e reforma do TBC, e a parte de apenas acompanhou o desenvolvimento engenharia civil já está toda pronta, de modo histórico dos dois campos, mas também que agora estamos no caminho de fazer com participou ativamente de sua consolidação. que ele se reintegre a vida cultural da cidade, Na seara política, dirigiu três secretarias do e também seja um espaço de memória do Ministério da Cultura durante os oito anos de teatro brasileiro”, diz o ator que faz parte da governo do ex-presidente da República, Luís Associação dos Amigos do TBC (AATBC), e Inácio Lula da Silva (2003 – 2011). que, em diálogos com o Ministério da Cultura, investiu o total de R$ 20 milhões na primeira O profissional realizou trabalhos à frente da parte da revitalização do prédio, sendo R$ 5 Secretaria de Música e Artes Cênicas, da milhões para adquiri-lo e outros R$ 15 milhões Secretaria da Identidade e da Diversidade em toda a parte estrutural da obra. Cultural, Secretaria de Políticas Culturais, além de ter presidido a Fundação Nacional Em paralelo à vida política – na qual ainda de Artes (FUNARTE), hoje dirigida por Roberto promoveu projetos de valorização da Alvim. “O Brasil atravessa um momento cultura indígena, de povos ameríndios e bastante complicado, bastante feio”, diz de imigrantes, entre uma série de outros o profissional, que vê com naturalidade o processos de visibilidade cultural –, Mamberti ataque que a cultura vem sofrendo ao longo também construiu farta carreira nas artes do primeiro ano de mandato do presidente cênicas, tendo como base principal os palcos. Jair Messias Bolsonaro (PSL). O ator Sergio Mamberti completou 80 anos em abril. Foto: Bob Sousa 80 anos em abril. Foto: completou Mamberti Sergio O ator Trajetória será contada em autobiografia ainda inédita

os 80 anos de idade, de Santos para vir a São Paulo Acompletos em abril deste e estudar Arquitetura ao lado ano, Mamberti decidiu, pela do irmão, Cláudio Mamberti primeira vez, olhar para trás (1940 – 2001). Filho de uma mãe e contar sua história em uma professora de escola pública e de autobiografia ainda inédita, que um pai que, apesar do trabalho deve ser lançada ainda este ano em uma cafeteria, tinha o título pelo Selo Sesc. Escrita ao lado de diretor social do Clube de do jornalista da Veja São Paulo, Regatas de Santos, Mamberti se Dirceu Alves Jr., o livro – ainda interessou pela arte de interpretar sem título definido – rememorará justamente por influência de seus as principais passagens da pais, que o incentivavam a assistir carreira e da vida do ator, que, os espetáculos que costumavam

muito novo, deixou a cidade aportar no lendário Teatro Coliseu. da Carne”, em “Navalha Como “Veludo”, em 1967. de Plínio Marcos, sob direção Unesp. Acervo Foto:

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“Quando eu nasci, isso já era uma espécie de missão que eles consideravam muito importante”, diz. “Minha mãe, educadora, e meu pai, um agitador cultural, os dois sabiam que a cultura era o único veículo de transformação e aprendizado”, garante o ator que, sabendo desta relação dos pais com o meio, nunca entendeu a surpresa de sua mãe ao decidirem, ele e o irmão, enveredar para o Mamberti ao lado dos atores Ruthinéa de mundo das artes. Moraes e Paulo Villaça na peça “Navalha na Carne”. Foto: Divulgação Com Vera Holtz, o dramaturgo Mauro Rasi e seu pai, Oswaldo Rasi, em Bauru (SP) durante a turnê de sucesso da peça “Pérola” em 1997. Foto: Su Stathopoulos. Como Dionísio ao lado do ator José Loreto, em “Flor do Caribe”, novela da Globo de 2013. Foto: Divulgação/Globo.

Em cena com Nathalia Timberg como o Na pele do Dr. Victor, personagem do icôni- mordomo Eugênio, da novela “Vale Tudo”, co seriado infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”, em 1988. Foto: Divulgação Globo. sucesso na década de 1990 na TV Cultura. Foto: Divulgação - TV Cultura. Sergio recebe a apresentadora Angélica “Ela ficou muito surpresa, Veludo, uma personagem desde 1994, que lhe rendeu em sua casa na Bela mas não nos impediu, apenas que se tornaria um marco na parcerias com antigos colegas Vista, São Paulo. Foto: repetia: ‘não sei de onde dramaturgia nacional. e novos companheiros, como Deborah Montenegro. vocês tiraram isso’”, ri o artista Ao longo de mais de 60 anos Cássio Scapin, responsável pela enquanto se lembra de uma de carreira, Veludo, entretanto, direção do sucesso “Visitando passagem em que sua mãe não seria sua única personagem o Sr. Green”. “O Cássio foi para subir ao palco de novo. fez o mesmo discurso para marcante. Mamberti construiu, um colega muito especial, e “Eu estava afastado havia a mãe de Plínio Marcos, que tanto no teatro quanto na TV, trabalhar com ele futuramente alguns anos, e achei que seria prontamente respondeu “você trajetória estrelar que deu era mais que natural. O convidei a forma perfeita de retornar. E devia se dar por satisfeita, e espaço a grandes personagens, para dirigir o ‘Sr. Green’ porque tem uma coisa interessante, o meu que decidiu ir para o como o mordomo Eugênio, ele havia feito a versão original o Paulo Autran fez o Sr. Green circo?”, relembra Mamberti, da clássica novela “Vale Tudo”, com o Paulo Autran, e foi um por muitos anos, mas muito entre um riso e outro, do amigo na qual construiu azeitada processo muito especial”, espaçadamente, e com poucas e companheiro de cidade parceria com a colega e TBC, narra o veterano, que recebera apresentações. Já eu, estou há com quem dividiu os louros Nathalia Timberg, e, claro, o o convite para viver o mau cinco anos fazendo com um do sucesso com a montagem saudoso Tio Victor, o marcante humorado personagem-título, espaço de tempo muito menor original do clássico “Navalha na patriarca do infanto-juvenil enquanto ainda fazia parte e apresentações seguidas. Carne”, com Tônia Carrero, no “Castelo-Rá-Tim-Bum”, exibido do quadro do MinC, mas que É um espetáculo muito qual deu vida ao homossexual originalmente pela TV Cultura esperou o momento correto especial”, conta.

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montagem e os ensaios da palcos, quando dividiu a cena trajetória vitoriosa, tendo versão do Teatro Brasileiro com Beatriz Segall (1926- passado por uma série de de Comédia para o clássico 2018), em “Conversando capitais pelo Brasil, além de texto de Arthur Miller. com Mamãe” (2010). Em apresentações esgotadas “Aquilo foi muito chocante paralelo, também iniciará as com meses de antecedência para mim. Um jovem ator preparações para estrelar, no Festival de Teatro vendo aqueles profissionais em janeiro, “A Semente da Anton Tchekhov, na Rússia, todos trabalhando daquela Romã”, texto de Luís Alberto onde Mamberti recebeu forma, era muito importante”, Abreu, sob a direção de Ruy incansáveis ovações ao fim rememora. Entre os nomes Cortez e Marina Tenório. O de cada sessão. que compunham o elenco, espetáculo faz parte de uma estavam Leonardo Villar, trilogia dos diretores que Com o nome cravado na Stênio Garcia e Nathalia prevê um estudo acerca da história do teatro nacional Timberg, entre outros, obra de Anton Tchekhov. e com uma trajetória ainda sob a direção de Alberto Neste espetáculo, a ser em pleno desenvolvimento, D’Aversa. Sem tirar Miller do realizado no teatro do Sesc Sérgio Mamberti olha para radar, Mamberti já anunciou Pompéia, o público poderá frente sem jamais deixar também a montagem de comprar ingressos para ver seu passado para trás, e, outro texto do dramaturgo: “A dois espetáculos distintos: o entre tantos trabalhos, se diz Morte do Caixeiro Viajante”, supracitado “A Semente da grato. “É um privilégio muito numa produção em que Romã” e “As Três Irmãs”, uma grande estar nessa idade e Ao lado dos companheiros de cena Bernar- estará apenas atrás da das grandes obras escritas ter ainda tantos projetos pela do Bibancos e Patrícia Pichamone, o ator é cortina coordenando, ao lado pelo dramaturgo russo em frente. Não são todos que aplaudido na estreia da peça de 2018 “Um Panorama visto da Ponte”. Foto: Leo Franco. do filho Carlos Mamberti, a 1901. Incansável, Mamberti conseguem isso, e eu não produção geral. ainda prepara uma nova poderia estar mais feliz”, diz turnê de “Visitando o Sr. o ator que finaliza buscando FÔLEGO PARA O FUTURO INSPIRA PLANOS DE MAMBERTI PARA OS PALCOS A direção de “O Caixeiro Green” para 2020, quando olhar para frente: “estou lhando para o São Paulo. No espetáculo, dramaturgo norte americano Viajante” ficará a cargo de pretende viajar pelo interior sempre muito disposto a retrovisor, mas Papp costurou uma série Arthur Miller, estrelado ao Zé Henrique de Paula, e o do Estado de São Paulo desbravar novos caminhos, sempre com as de depoimentos de judeus lado de Rodrigo Lombardi, texto será protagonizado por ao lado do companheiro não quero ficar me repetindo. O Herson Capri, que retornará de cena Ricardo Gelli. Na, Gosto dessa coisa da antenas focadas no futuro, sobreviventes a Segunda e que marca, na visão de Mamberti dá continuidade Guerra, alguns que, inclusive, Mamberti, a retomada do ao teatro nove anos após turnê, ele completa cinco inovação, e assim eu construí a uma espécie de máxima haviam passado por campos teatro de texto. “Estamos sua última incursão nos anos em cartaz numa minha história”. silenciosa de sua geração. de concentração nazistas. num momento em que esse “Eu não pretendo parar tão “É um texto muito delicado tipo de teatro está muito cedo. É claro que o corpo e muito importante. Esse pouco representado. Você POR: tem suas limitações, mas a garoto tem uma dramaturgia tem grandes musicais de um cabeça funciona muito bem muito delicada e muito sólida lado, e, do outro, espetáculos BRUNO ainda”. E é com a cabeça ao mesmo tempo, tem sido de grupos, com textos CAVALCANTI em plena forma que o ator uma ótima experiência me fragmentados, criados por e Bruno Cavalcanti é jornalista forma- se divide entre uma série preparar para esse texto”, diz para uma companhia. Quis do pelo Centro Universitário FIAM de projetos futuros, seja o profissional que fora, ainda então fazer esse resgate FAAM. Colaborou em publicações alinhavando o lançamento neste ano, homenageado deste tipo de teatro”, pontua. como Revista BRAVO! e Sex Sites. Atualmente, é repórter da Folha de de sua autobiografia, seja pelo grande prêmio da crítica O texto escolhido, não à São Paulo, assina a coluna “Cone- dando início aos preparos da Associação Paulista de toa, é um dos grandes xão Sampa”, no portal da jornalista para ensaiar “O Ovo Dourado”, Críticos de Arte (APCA). títulos da dramaturgia norte Anna Ramalho e é repórter e crítico texto inédito do jovem americana, além de ter um teatral no site Observatório do dramaturgo paulistano A homenagem se deu por espaço especial na vida do Teatro. É jurado do Prêmio Desta- que Imprensa Digital, autor do livro Luccas Papp, que estreia sua performance em “Um veterano. Em 1958, habitando “Porque a Gente é Assim - Música em novembro, no Sesc Panorama Visto da Ponte”, há três anos em São Paulo, Ao lado de Ricardo Gelli no su- Popular e Comportamento” e da Santo Amaro, zona sul de um dos clássicos textos do o ator acompanhou a pracitado “Visitando o Sr. Green”, peça “Papo com o Diabo”. em 2017. Foto: João Caldas.

78 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 79 EM CARTAZ EM CARTAZ Carreira internacional: “Espero que Portugal seja dedicação, colhemos bons frutos. Esse o primeiro de muitos países cálculo é lógico!” Cálculo Ilógico que contarei essa história. Amor e vida são temas Sobre a ida para Portugal, Jéssika Direção: Daniel Herz universais”, afirma Jéssika. completa: “Ter a oportunidade de levar FOTO: Alberto Maurício. Texto: Jéssika Menkel o nosso teatro brasileiro para outro país Elenco: Jéssika Menkel é uma alegria imensa. Com certeza, um Teatro Poeira momento inesquecível na minha carreira Rua São João Batista, 104 e espero que Portugal seja o primeiro Botafogo de muitos países que contarei essa Horário: Terça e Quarta, às 21h. história. Amor e vida são temas universais. De 8 a 30 de outubro Acredito também que a peça tem uma Classificação: Livre força sensorial muito grande o que a torna independente do idioma”. Duração: 55 minutos Ingressos: R$ 40 Valor promocional em queroteatro.com.br: R$ 25

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Jéssika Menkel: Surpresa por ser a atriz e dramaturga mais jovem indicada ao Prêmio Após apresentações em Portugal e indicações a prêmios, Cesgranrio de Teatro. FOTO: Bia Chaves. “Cálculo Ilógico” reestreia no Teatro Poeirinha

Por REDAÇÃO

o levar para cena O objetivo é mostrar a surpresa muito feliz Aa experiência de inquietação que nos receber as indicações uma perda pessoal, a cerca quando nos e depois saber que eu morte do próprio irmão, deparamos com o fim. sou a atriz e dramaturga Jéssika Menkel buscou Após apresentações em mais jovem do Prêmio traduzir os sentimentos Portugal e indicações nas Cesgranrio. É gratificante complexos que estava 4 principais categorias e ao mesmo tempo uma vivenciando em cálculos do Prêmio Cesgranrio grande responsabilidade e formas. Em metáforas, de Teatro - Melhor estar representando a matemática é utilizada Texto, Melhor Atriz, jovens artistas. O teatro de forma bastante Melhor Espetáculo precisa disso: unir apropriada, questionando e Melhor Direção -, gerações! Feliz em até que ponto “é possível além da indicação de ver que um prêmio explicar a vida e o que a Melhor Direção para tão especial como é o gente sente através dos Daniel Herz no Prêmio Cesgranrio, dá espaço números?”. Sob direção Botequim Cultural, o para o novo. Quando de Daniel Herz, a atriz espetáculo ganha mais fazemos o que amamos mistura ficção e realidade uma temporada carioca de forma despretensiosa, no texto de sua autoria. no Poeirinha. “Foi uma colocando amor e

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‘Macunaíma’ nasce da fricção Prêmio da Música Brasileira. Grünberg e publicados em 1924 entre duas forças teatrais. De Andréa Alves, idealizadora em ‘De Roraima até o Orenoco’. um lado, Bia Lessa, renomada do projeto e produtora da Ao abandonar a estrutura realista, encenadora surgida nos anos Barca desde a fundação, Mário de Andrade transita com seu 80 cujo hiato de uma década pensou em promover este protagonista por vários estados fora dos palcos foi rompido encontro justamente para do país e constrói, de maneira

Foto: Elisa Mendes Foto: com o estrondoso sucesso de trazer uma nova linguagem simbólica, um retrato da formação ‘Grande Sertão: Veredas’ e do e um singular processo de cultural brasileira. outro, a Barca dos Corações criação para a companhia. Partidos, grupo que se reuniu Bia Lessa encontrou no Assim como no livro, a peça retrata em 2012 e deu grande passo grupo a disponibilidade a saga de Macunaíma desde o em sua trajetória ao levar para que precisava para encenar nascimento, em uma tribo na a cena mais um grande ícone uma obra tão complexa e Amazônia, e passa por momentos da cultura brasileira, Ariano distante do realismo: definitivos em sua vida: a relação Suassuna, inspiração para com a família, a paixão e a ida ao ‘Suassuna – O Auto do Reino do “O ‘Grande Sertão’ é um Sudeste em busca do Muiraquitã, Sol’, que recebeu os prêmios texto reflexivo, a palavra amuleto que recebeu da amada. APCA (Melhor Espetáculo), era muito importante, Entre encontros com deuses, mitos Cesgranrio (Espetáculo, Direção tinha grandes monólogos. e monstros, o personagem passa Musical, Ator), Shell (Música, Agora, com o ‘Macunaíma’, por aventuras e transformações até Autor), APTR (Música, Autor, a ação toma conta de tudo. retornar à tribo natal. Conhecido Ator Coadjuvante, Figurino) Em cada parágrafo, Mário pelo epíteto de ‘herói sem nenhum e Botequim Cultural (Melhor de Andrade descreve mil caráter’, Macunaíma não seria Espetáculo Musical, Diretor, eventos, é uma grande um personagem mal caráter, Bia Lessa dirige a Barca dos Corações Partidos em Autor, Ator, Direção Musical colcha de retalhos, um mas alguém sem caráter definido, e Figurino). O álbum com as painel”, analisa a diretora, com atitudes inesperadas, cuja “Macunaíma - Uma Rapsódia Musical” canções do espetáculo, gravado ressaltando que a maioria das ações é movida por um em estúdio, foi indicado ao atualidade, o frescor e a certo prazer mundano. Versão teatral do clássico de Mário de Andrade se despede do Rio após capacidade de provocação temporadas bem-sucedidas em Belo Horizonte e São Paulo da escrita modernista do Foto: Elisa Mendes autor permanecem até hoje, Por REDAÇÃO mais de noventa anos após a sua publicação. ário de Andrade concebeu Fábio Enriquez, Eduardo Rios, alguns trechos da adaptação. ‘Macunaíma’ (1928) como Renato Luciano e Ricca Barros, A direção musical, assinada M ‘Macunaíma’ foi escrito a MACUNAÍMA uma rapsódia, ao costurar e a encenação tem seis artistas mais uma vez por Alfredo Del- partir do estudo de mitos e Direção: Bia Lessa recriar fragmentos de histórias, escolhidos por uma concorrida Penho e Beto Lemos, contou lendas dos índios taulipang, mitos e lendas indígenas. audição (Ângelo Flávio Zuhalê, com a música adicional do duo arecuná e macuchi, no Elenco: Adrén Alves, Alfredo A narrativa épica virou uma Hugo Germano, Lana Rhodes, O Grivo.O desafio de adaptar o extremo Norte do Brasil, Del-Penho, Beto Lemos, Fábio espécie de símbolo da Lívia Feltre, Sofia Teixeira e Zahy mítico texto para os palcos ficou recolhidos pelo etnólogo Enriquez, Eduardo Rios, Renato identidade cultural brasileira Guajajara) e o músico Pedro a cargo da escritora Veronica alemão Theodor Koch- Luciano, Ricca Barros, Ângelo desde então. Após enveredar Aune. O processo criativo durou Stigger, que tem no currículo – Flávio Zuhalê, Hugo Germano, pela obra de Ariano Suassuna sete meses, entre audições, além de cinco premiados livros Lana Rhodes, Lívia Feltre, Sofia no premiado “Suassuna – O Auto oficinas, encontros, leituras e e duas incursões pelo teatro – a “Barca dos Corações Partidos”: música e brasilidade Teixeira, Zahy Guajajara do Reino do Sol”, a companhia os ensaios propriamente ditos. curadoria de uma exposição são marcas da companhia. FOTO: Elisa Mendes. Barca dos Corações Partidos Traço marcante em todos os fotográfica do antropólogo e Pedro Aune. resolveu se debruçar sobre este trabalhos da companhia, a Eduardo Viveiros de Castro, Teatro Carlos Gomes clássico modernista em seu música tem lugar de destaque focada na etnologia indígena. A Praça Tiradentes, Centro novo espetáculo. A produtora na montagem, ainda que proposta era se manter fiel ao Andréa Alves, idealizadora do esteja inserida de maneira original, mas também transpor Horário: Quartas, quintas e projeto, fez o convite para Bia bem diferente do habitual. A suas palavras para o conceito da sextas, 19h. Sábados e domin- Lessa (que acabara de arrebatar concepção de Bia Lessa se encenação. Ao longo do período gos, 18h. Até 13 de outubro plateias com “Grande Sertão: distancia do musical tradicional de ensaios, a dramaturgia Classificação:18 anos Veredas”) assinar a direção da e segue um fluxo que a diretora foi sendo modificada pela empreitada.Além do elenco da prefere associar à estrutura de encenadora e ganhando novas Duração: 180 minutos Barca, formado por Adrén Alves, uma ópera. Além de canções formas, em um grande processo Ingressos: R$ 40 Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, originais, a Barca musicou colaborativo. Este novo

82 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 83 EM CARTAZ EM CARTAZ Desde que estreou, em 2017, o espetáculo foi o significado do Sertão de obra de Guimarães. visto por quase 50 mil Guimarães ficasse reduzido Escolhemos não utilizar pessoas, acumulando 40 indicações e 14 a um único lugar. A opção na grandes efeitos ou prêmios recebidos. época foi trabalhar apenas recursos, a não ser a FOTO: Roberto Pontes. com palavras. No teatro, valorização do universo essa questão volta a se sonoro dos espaços impor: ‘o sertão está dentro propostos pelo romance, GRANDE SERTÃO: VEREDAS da gente’. Nosso caminho apenas os próprios atores”, Direção: Bia Lessa foi realizar um trabalho pontua a diretora. Elenco: Balbino de Paula, Leon onde homens, animais e Góes, Caio Blat, Daniel Passi, Elias vegetais estabelecessem Os ingressos podem ser de Castro, Fábio Lago, José Maria uma relação de diálogo sem adquiridos pelo valor da Rodrigues, Lucas Oranmian, Luísa supremacia entre eles. Não meia entrada (R$ 15,00) Arraes, Luiza Lemmertz, Isabelle estamos exatamente no para aqueles que levarem Nassar. sertão, mas em um espaço 1 kg de alimento para o “ecológico” e metafísico onde Projeto Mesa Brasil, do Sesc Copacabana tudo cabe. Um espaço, uma Sesc RJ. A compra é feita Rua Domingos Ferreira, 160, imagem, que nos possibilita somente na bilheteria Copacabana a experiência proposta pelo mas sugerimos telefonar Horário: Quinta a domingo, às romance, sem obviamente antes para consultar a 19h, 18h. realizar o romance tal como disponibilidade do dia. Classificação:18 anos é – fidelidade absoluta (todas as palavras ditas são Duração: 180 minutos de Guimarães Rosa), mas Ingressos: R$ 30 (inteira) liberdade infinita, visto que Bia Lessa leva para os palcos o clássico de Guimarães Rosa é apenas uma das leituras possíveis da riquíssima Prolífica, a diretora está em cartaz com “Grande Sertão: Veredas”, marco da literatura brasileira

Por REDAÇÃO

té 27 de outubro, Rosa. Ela levou o público cena permanentemente, com Aestá em cartaz a para dentro da obra na o público experimentando aclamada peça “Grande inauguração do Museu da a dissolução das fronteiras Sertão: Veredas”, no Sesc Língua Portuguesa (SP), entre início e fim do Copacabana. Transpondo ao em 2006. A exposição foi espetáculo; entre teatro, palco uma leitura da maior aclamada por onde passou. cinema e artes plásticas; obra literária brasileira do Agora, ela convida a plateia entre literatura e encenação. século XX, Bia Lessa dirige a um mergulho profundo o espetáculo baseado na na epopeia narrada pelo “O teatro para mim é sagrado. obra de Guimarães Rosa e jagunço Riobaldo (Caio Blat), Me dedico a ele de tempos seus diversos universos. A que atravessa o sertão para em tempos, não me sinto peça é vencedora do prêmio combater seu maior inimigo, com capacidade de realizar APCA de Melhor Direção e Hermógenes (Leon Góes), espetáculos um após o outro. foi indicada ao Prêmio Shell fazer um pacto com o diabo Me deparei com o Grande de Teatro nas categorias e descobrir seu amor por Sertão e ele se apoderou de Direção, Ator (Caio Blat) e Diadorim (Luíza Lemmertz). mim mais uma vez. Quando Música (Egberto Gismonti). O espetáculo, encenado montei a exposição, algumas em ininterruptas 2 horas e questões se apresentavam: Bia conhece profundamente 20 minutos, trata-se de uma a principal delas era como o Sertão de Guimarães instalação, com o elenco em utilizar imagens sem que Divulgação. FOTO:

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um arco dramático que vai espetáculos do gênero. de Victor Garcia Peralta e Claudio do orgulho ao terror. “Quando “É uma peça sofisticada, Lins e novos arranjos de Azullllllll, o Victor me falou que tinha de dramaturgia que assina a direção musical e está visto este espetáculo em contemporânea e em cena com um set eletrônico. Na Buenos Aires, fiquei muito fragmentada, que montagem argentina, os atores eram intrigado. Afinal, um musical fala muito sobre a acompanhados por uma banda, original com um texto potente violência que nos mas, na adaptação atual, a equipe e apenas dois atores é algo cerca. Há uma grande optou por uma produção eletrônica. raro. Consegui assistir ao incapacidade de enxergar “Uma sonoridade que aborda do espetáculo na Argentina e verdadeiramente o imaginário infantil ao terror para criar fiquei entusiasmado. Que grade outro, de ter calma para uma espécie de realidade onírica desafio para um ator! Falar compreender quando e cruel. Há também, nos arranjos, das aflições da paternidade as atitudes das pessoas a noção ancestral da relação que é algo com o qual eu me não são as mesmas que temos com nossos pais e nossas identifico completamente as nossas. A peça põe paternidades e, por isso, um aspecto nesse momento da minha em cena uma mãe e um sensorial e emocional nas canções. vida”, comenta Claudio, que pai que amam os filhos, Evoco elementos musicais da tem um filho de 7 anos. Atriz mas que não conseguem nossa ancestralidade brasileira e com mais de três dezenas de se comunicar com eles”, afro-brasileira e recorro, também, musicais no currículo, Soraya define a atriz e cantora. a estéticas eletrônicas, como a das Ravenle chama a atenção para O espetáculo conta com séries “Stranger Things” e “Dark”, a densidade do texto, que oito canções originais, buscando a contemporaneidade não costuma ser habitual nos com tradução e versões necessária para dialogar com a diversidade cultural que o povo FOTO: Janderson Pires. brasileiro carrega e consome”, define

. Azullllllll. “Cada música adiciona uma camada ao entendimento da peça, “Monstros”: Soraya Ravenle e Cláudio Lins estrelam primeiro fortalecendo a trama e ajudando a conduzir a energia do espetáculo”, musical argentino contemporâneo montado no Brasil acrescenta. O espetáculo fica em Dirigido por Victor Garcia Peralta, espetáculo cumpre curta temporada no cartaz somente até 27 de outubro.

Teatro PetroRio das Artes, no shopping da Gávea Janderson Pires FOTO:

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Pais e mães têm grandes de Claudio e Sandra, pessoas familiares, educação, infância MONSTROS expectativas em relação aparentemente comuns e que e, principalmente, a dificuldade Direção: Victor Garcia Peralta a seus filhos e vice-versa. só se conhecem porque seus que temos de nos colocar no Texto: Emiliano Dionisi Mas como lidar quando os respectivos filhos, Francisco lugar do outro, de exercer a sonhos e desejos não são e Luíza, estudam na mesma empatia”, explica Victor Garcia Elenco: Soraya Ravenle e correspondidos? Como lidar escola. Eles têm certeza de Peralta. “Em ‘Monstros’, temos Claudio Lins. com nossos próprios impulsos que seus filhos são especiais um pai e uma mãe que não Direção musical e musicista : e emoções? Este é o ponto e acima da média, apesar de conseguem olhar de verdade Azullllllll de partida de “Monstros”, alguns probleminhas na escola, para os seus filhos e que premiado espetáculo de ou questões de relacionamento têm dificuldade de lidar com Teatro Petro Rio das Artes Emiliano Dionisi, com músicas com outras crianças. Mas nada as expectativas frustradas”, Shopping da Gávea originais de Martín Rodríguez, que o amor desses pais veja acrescenta o diretor, que Horário: Sextas e sábados, às que fica em temporada no como desvios de conduta. Aos assistiu à primeira montagem 21h; Domingos, às 20h Teatro PetroRio das Artes, no poucos, como monstros saindo do texto, em Buenos Aires, Até 27 de outubro. shopping da Gávea, sempre do armário, as verdadeiras há três anos. Na encenação, às sextas e sábados, às 21h e, faces dessas famílias vão se Cláudio Lins e Soraya Ravenle Classificação:14 anos aos domingos, às 20h. A trilha revelar. interpretam os pais Sandra e Duração: 120 minutos sonora tocada ao vivo e a “O musical põe em cena temas Claudio, mas também seus direção musical é de Azullllllll. com os quais eu tenho gostado respectivos filhos, Luíza e Ingressos: R$ 80 A trama acompanha a história de trabalhar: as relações Francisco. E assim, percorrem

86 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 87 EM CARTAZ EM CARTAZ No Festival de Mairiporã, público elegeu a comédia documental de Cleber Tolini como Melhor Espetáculo com deficiência, dando voz a pessoas de outros e Melhor Direção. FOTO: Divulgação. estados brasileiros. O gênero escolhido é a SUBNORMAL – UMA HISTÓRIA comédia documental, trazendo uma leveza DE BAIXA VISÃO em vários momentos, já que a vida continua Direção: Djalma Lima para todos e o Humor é um bom caminho para Texto & Atuação: Cleber Tolini entender a própria verdade, sem máscaras e Teatro Cândido Mendes também sem uma “lente de aumento” para Rua Joana Angélica, 63 aquilo que já está na sua realidade. A escolha Ipanema por um cenário e figurino simples e de fácil Horário: Sextas, sábados e do- identificação, também faz parte do projeto, mingos, às 20h. para que pessoas com Baixa Visão possam Classificação: 12 anos identificar tudo com mais facilidade. E por tratar Duração: 60 minutos de acessibilidade, a peça traz na dramaturgia a Ingressos: R$ 50 descrição do que acontece na cena, portanto Valor promocional em queroteatro.com.br: R$ 20 o recurso de audiodescrição está integrado à obra, permitindo que a pessoa com deficiência visual tenha acesso ao espetáculo mesmo sem o DESCONTO NO equipamento de audiodescrição. QUEROTEATRO.COM.BR

Cleber Tolini chega ao Rio com FOTO: Divulgação. “Subnormal: Uma História de Baixa Visão” Ator com baixa visão leva aos palcos a realidade de uma vida convivendo com 20% da visão Por REDAÇÃO

espetáculo “O o que é conhecido como Ivan Garcia Guerra OSubnormal – Uma Visão Subnormal. A peça no Bronx, em Nova História de Baixa Visão”, estreou em julho de 2018 Iorque. O espetáculo fala sobre a Visão no Espaço Parlapatões narra a trajetória do ator Subnormal (pessoa que e já percorreu diversas Cleber Tolini e expõe as enxerga menos de 30% instituições como Museu condições das pessoas mesmo após correção do Amanhã (RJ), Senac com essa acuidade com óculos ou lentes) São Paulo e Araçatuba, visual. Como cada pessoa a partir da experiência Sesc Ipiranga e Campinas, convive com a dificuldade pessoal do ator Cleber Sesi Marília e Birigui, Virada e como a Baixa Visão Tolini, hoje com 38 anos. Inclusiva, Festival de está na “penumbra”, pois Aos 24 anos, após uma Mairiporã (onde ganhou o algumas pessoas não cirurgia para retirada de Prêmio de Melhor Direção a reconhecem como um tumor no cérebro, o e Melhor Espetáculo, deficiência. A peça ator teve seu nervo ótico eleito pelo público) e o também conta com afetado, convivendo X Festival Internacional quatro depoimentos em hoje com 20% de visão, de monólogos Don áudio de outras pessoas

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Musical. Escrito há mais de versão brasileira do texto em cena, mostrando que há 35 anos, “A Cor Púrpura” e das letras das músicas. possibilidade de mudanças e é um musical baseado Com um elenco em novas perspectivas, esperança em uma história passada sua maioria escolhido e até prazer. Completam o na primeira metade do por meio de testes, o elenco: Analu Pimenta (Squeak); século XX, na zona rural do espetáculo apresenta a Suzana Santana (Jarene); Sul dos Estados Unidos, trajetória e luta de Celie Erika Affonso (Doris); Cláudia com personagens típicos (Letícia Soares) contra as Noemi (Darlene); Caio Giovani dessa região. “Mantive adversidades impostas (Grady Ensemble); Leandro até alguns nomes que, pela vida a uma mulher Vieira (Chefe da Tribo Olinka na tradução do romance, negra, na Geórgia, no Ensemble); Gabriel Vicente ganharam versões em decorrer da primeira (Bobby Ensemble); Thór Junior português. Mister, por metade do século XX. (Pastor Ensemble); Renato exemplo, continuou sendo Na adolescência, a Caetano (Soldado Ensemble); Mister, embora no romance personagem tem dois e Nadjane Pierre (Solista da tenha se transformado filhos de seu suposto Igreja Ensemble). “A Cor Púrpura” em Sinhô. Mas, apesar pai (Jorge Maya), que a segue em cartaz no Rio até 3 de de ser um musical de oferece a um fazendeiro novembro e, em dezembro, inicia época, fala muito de local para criar seus temporada no Theatro NET, em questões atuais, como a herdeiros (entre eles, São Paulo, até fevereiro. Musical fica em cartaz no Rio até 3 de novembro e depois segue para São Paulo. A estreia paulistana será no dia 6 de participação da mulher Harpho – Alan Rocha), dezembro, no Theatro NET. FOTO: Divulgação. na sociedade, o papel lavar, passar e trabalhar da mulher numa relação sem remuneração. Ela é “A Cor Púrpura - O Musical”: sucesso da Broadway amorosa, o machismo, o tirada à força do convívio chega à Cidade das Artes racismo… Não foi preciso de sua irmã caçula Nettie adaptação alguma para (Ester Freitas) e passa Dirigido por Tadeu Aguiar, o musical vem arrebatando o público carioca e já é o o musical interessar à a morar com o marido favorito no gênero às premiações de 2020 plateia brasileira. Ele, Mister (Sérgio Menezes). A COR PÚRPURA Direção: Tadeu Aguiar Por REDAÇÃO naturalmente, fala a Enquanto Celie resigna- qualquer plateia do mundo se ao sofrimento, Sofia Texto: Marsha Norman de hoje”, esclarece Artur (Lilian Valeska) e Shug Direção Musical: Tony Lucchesi om 17 atores, oito vida em musical” e “Quase Púrpura”, que continua Xexéo, responsável pela (Flávia Santana) entram Cmúsicos, 90 figurinos Normal”. Tadeu prioriza a contemporâneo ao retratar Músicas: Brenda Russell, Allee e um palco giratório de interpretação como força relações humanas, de amor, Willis e Stephen Bray seis metros de diâmetro motriz da cena. “Reforcei poder, ódio, em um mundo Elenco: Letícia Soares, Sérgio com uma escada curva, “A o caráter epistolar do pontuado por estruturais FOTO: Divulgação. Menezes, Lilian Valeska, Fla- Cor Púrpura – O Musical” romance, valorizei o ponto diferenças econômicas, via Santana, Jorge Maia, entre é um espetáculo de de vista da protagonista, sociais, étnicas e de gênero. outros. grandes proporções. “A tendo a figura do ator “A Cor Púrpura” foi lançado Grande Sala da história é universal: fala do como principal instrumento em 1982. Com direção de Cidade das Artes ser humano, em especial condutor da história. A Steven Spielberg, a obra Av. das Américas, 5300 – Barra das mulheres. É imediata palavra é a grande força foi adaptada para o cinema da Tijuca a identificação com o do espetáculo”, afirma o em 1985, recebendo 11 momento do país, onde há diretor. “A Cor Púrpura – O indicações ao Oscar. A Horário: Sextas, às 20h30 tantas histórias de opressão Musical” é apresentado pelo transposição para musical Sábados, às 17h e às 20h30 às mulheres. ‘A Cor Ministério da Cidadania e ocorreu em 2005, na Domingo, às 17h. Púrpura’ é um grande grito pela Bradesco Seguros. Broadway. Em 2016, houve Até 3 de novembro de liberdade”, explica o uma nova montagem, Classificação:12 anos diretor e idealizador Tadeu Alice Walker foi a primeira rendendo à produção dois Duração: 180 minutos Aguiar, responsável pela escritora negra a ganhar prêmios Tony e o Grammy Ingressos: De R$ 50 a R$200 encenação de “Bibi, uma o Pulitzer pelo livro “A Cor de Melhor Álbum de Teatro

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volta a Paris e Vincent reage, sua morte e, ao mesmo de comunicação e afeto com aquele intempestivamente, decepando tempo, forçando-o a se que tinha tanta coisa dele mesmo, a própria orelha. lembrar dos momentos mas que também seria o seu oposto, Gauguin, em 1891, depois de que passaram juntos. a sua sombra. Vive uma culpa uma bem-sucedida exposição, Em um ambiente sobre aquele que lhe causou, por realiza o sonho de ir morar no decadente, deteriorado fim, tantos sentimentos intensos, Taiti. Lá, produz vigorosamente e sujo, ele sente fome profundos e contraditórios, como o até que, abatido por uma e muita dor. E seus amor e a repulsa. A ideia deste projeto sífilis não diagnosticada, vai delírios colocam o partiu do desejo de Alex Morenno, sendo excluído da sociedade público frente às Roberto Lage e da diretora assistente e abandonado pelos seus. diferenças entre eles, Joanah Rosa em retratá-lo no palco. É sobre esse episódio mal tanto no modo de ver “Acho que Van Gogh me escolheu”, sucedido que se pauta a vida, de agir e de confessa o ator Alex Morenno. “Já o espetáculo “Van Gogh fazer arte, como na estive muito ruivo e as pessoas me por Gauguin”. “A intenção evidente admiração associavam a ele. Isso despertou em é trazer para cena um Van de um pelo outro - mim o interesse por sua vida e obra”, Gogh espectral, fruto do assumida por Van completa. E resolveram, então, dar inconsciente delirante de Gogh, mas dissimulada corpo a esse desejo, sendo Thelma Gauguin que, sofrendo com por Gauguin, numa Guedes convidada para criar o as consequências da sífilis, mistura de inveja com texto. “Van Gogh por Gauguin é um acredita estar morrendo”, incômoda admiração. trabalho puramente emocional. Não comenta o diretor Roberto A culpa de Gauguin passa pela ‘tese’ sociopolítica que Lage. Por meio de um exercício em relação ao amigo sempre defendi no palco”, revela o dramatúrgico de imaginação, morto, que fora por ele diretor. Já Alex conta que sempre se a encenação reinventa o magoado, abandonado interessou em falar sobre loucura, Os embates e a admiração mútua entre os pintores estão presentes no texto de Thelma Guedes. FOTO: Divulgação. momento em que o efeito e esquecido, e cuja solidão e inquietação artística. delirante do arsênico sobre o presença e memória “Quando penso em Van Gogh, Sucesso em São Paulo, “Van Gogh por Gauguin” chega à pintor o leva a acreditar que servem como acusação essas três coisas me vêm à cabeça, Van Gogh está ao seu lado, e sentença de morte, assuntos tão pertinentes em tempos Ipanema para curta temporada acompanhando o instante de revela sua incapacidade tão difíceis”, reflete. Encontro fictício entre os dois grandes artistas é pano de fundo para espetáculo Por REDAÇÃO Alex Morenno e Augusto Zacchi vivem, VAN GOGH POR GAUGUIN e outubro a dezembro amigo Vincent, estreia no dia 4 a um trágico fim. Tendo como respectivamente, Van Direção: Roberto Lage Dde 1888, na cidadela de outubro, na Casa de Cultura apoio a pesquisa biográfica Gogh e Gauguin. francesa de Arles, deu-se um Laura Alvim, em Ipanema, e que traz à luz, sobretudo, FOTO: Divulgação. Texto: Thelma Guedes encontro explosivo entre duas personifica de forma poética, os pensamentos artísticos Elenco: Alex Morenno e potências nas Artes que viriam, simbólica e onírica os conflitos divergentes de ambos, a peça Augusto Zacchi. futuramente, a ser dois dos e a admiração incondicional privilegia questões humanas maiores artistas da história entre os pintores. com a força de seu alcance na Casa de Cultura Laura Alvim da humanidade: o holandês vida dos criadores. Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema Vincent Van Gogh (1853-1890) Como não se trata de um Em um febril período de Horário: Sextas e sábados às e o francês Paul Gauguin (1848- espetáculo biográfico, mas apenas dois meses, em que 20h | Domingos, às 19h. 1903). Após uma bem-sucedida de um encontro ficcional eles dividem a pequena Casa Até 27 de outubro temporada em São Paulo, o entre os artistas - vividos Amarela, em Arles, na isolada espetáculo “Van Gogh por por Alex Morenno e Augusto região rural francesa, vivendo e Classificação:14 anos Gauguin”, escrito por Thelma Zacchi, respectivamente -, a pintando juntos, as profundas Duração: 75 minutos Guedes e dirigido por Roberto direção priorizou o trabalho diferenças de temperamento Lage, chega ao Rio de Janeiro. de interpretação para criar um e de visão artística provocam Ingressos: R$ 50 A peça, uma ficção na qual universo cênico que remeta embates, muitas vezes Gauguin, em um agonizante aos padrões cromáticos violentos, culminando no delírio, vive sob o peso de sua dos dois pintores, levando o famoso e terrível desfecho responsabilidade em relação espectador a refletir sobre o no qual, após uma forte ao final de vida trágico do que levou essa grande amizade discussão, Paul decide partir de

92 OUTUBRO 2019 OUTUBRO 2019 93 EM CARTAZ EM CARTAZ dramatúrgica e a riqueza impressa do texto me trouxe a certeza que não me interessava AQUI JAZ HENRY Concepção e atuação: qual história contar, mas sim, como contá-la. Renato Wiemer Nada importa para além do que é dito. Mesmo Direção artística: que sejam mentiras”, completa. Clarissa Freire O texto do espetáculo foi concebido em um Casa de Cultura Laura Alvim Av. Vieira Souto, 176 - Sala workshop ministrado pela Da Da Kamera Cia. Rogério Cardoso– Ipanema de Teatro no Festival Antigonish, e sua primeira montagem aconteceu no Six Stage Festival, no Horário: Sextas e sábados, às 19h e domingos, às 18h. Buddies In Bad Times Theatre, em Toronto. Até 27 de outubro Classificação:16 anos Duração: 65 minutos Ingressos: R$ 40 Valor promocional em queroteatro.com.br: R$ 18

DESCONTO NO QUEROTEATRO.COM.BR

“Aqui jaz Henry” retrata, de forma simples e inteligente, o conceito de verdade, mentiras, dores e amores, e a relação do FOTO: Patrícia Ribeiro. homem com a morte. FOTO: William Aguiar.

“Aqui Jaz Henry” ganha nova temporada em Ipanema Porão da Casa de Cultura Laura Alvim recebe solo de Renato Wiemer do mesmo autor de “In on It”

Por REDAÇÃO

olta à cidade nem teria como saber – mas que no final faz todo Vfluminense para uma porque mente a respeito o sentido. Henry fala e curta temporada, de 04 de tudo, até sobre a se relaciona o tempo a 27 de outubro, na Sala própria mentira. todo com a plateia. Rogério Cardoso da Casa Quebrando a ‘quarta de Cultura Laura Alvim, Renato Wiemer traduziu parede’, o espetáculo o espetáculo “Aqui Jaz a escrita polissêmica do transporta o espectador Henry”. Com figurinos de autor canadense Daniel para dentro da sua Claudio Tovar e visagismo MacIvor, conhecido no narrativa”, define Wiemer. de Leopoldo Pacheco, Brasil pelas peças “In On a peça apresenta um It”, “À Primeira Vista” e A paixão do ator pelo homem que tenta “Cine Monstro”. “MacIvor estilo de MacIvor surgiu explicar uma série de tem uma maneira quando assistiu a uma fatos sobre a existência particular de escrita, uma montagem da peça “In On humana. Nem ele mesmo dramaturgia não linear, It”. “Minha experiência ao sabe o que é verdade – e meio ‘torta’, dissonante, testemunhar a escritura

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literal e metaforicamente e de seus afetos. E agressiva. A tendência de Barbara falando. Literal porque faz essa família pode é ficar igualzinha a Violet. E romper quimioterapia para um servir como espelho com esse ciclo de infelicidade e câncer de boca e talvez sua reflexivo para qualquer violência é também um ato de amor”, morte esteja anunciada. indivíduo”, conta Guida comenta Letícia, que venceu dois Metaforicamente, porque sua sobre a personagem prêmios por sua interpretação em família está se desmantelando: que lhe rendeu quatro “Agosto”. A obra do norte-americano o marido sumiu, as filhas só prêmios. Tracy Letts é vencedora dos prêmios esperam o funeral para partir Pulitzer de Melhor Drama e Tony de e a ela só restará permanecer “Barbara é uma mulher Melhor Texto. A montagem brasileira, sozinha aos cuidados de forte, que está num com direção e adaptação de André uma empregada que ela momento de total Paes Leme, teve 21 indicações não conhece. Barbara é a desestabilização. Seu em premiações, sendo vencedora filha preferida porque Violet casamento está ruindo, de 7 prêmios. O elenco estelar é a julga a mais inteligente e vive em crescente composto pelas já citadas Guida a mais parecida com ela. Os conflito com a filha Vianna e Letícia Isnard e também por temperamentos parecidos adolescente, está há Alexandre Dantas, Claudia Ventura, levam as duas a embates muito afastada das Claudio Mendes, Eliane Costa, frequentes. Violet guarda irmãs, do pai e bate Guilherme Siman, Isaac Bernat, profunda mágoa de Barbara de frente com sua Isabelle Dionísio, Julia Schaeffer e porque ela não voltou para mãe, Violet. Ela luta Marianna Mac Niven. “Agosto” é uma casa quando soube do seu para não ter o mesmo idealização da produtora Maria Siman câncer, mas voltou quando destino da mãe: a e realização da Primeira Página o pai desapareceu. A peça solidão, consequente Produções, em parceria com a Sarau conta uma história familiar na de uma personalidade Agência de Cultura Brasileira. extensão de seus conflitos forte, acachapante e

Coube a Guida Vianna e Letícia Isnard interpretarem AGOSTO os papéis de mãe e filha vividos no cinema por Meryl Direção e adaptação: Streep e Julia Roberts, na adaptação que levou o André Paes Leme título de “Álbum de Família”. Foto: Silvana Marques. Texto: Tracy Letts A peça aborda uma família desconectada e desfeita, com membros que fizeram de tudo para permanecer unidos. Foto: Silvana Marques. Elenco: Guida Vianna, Letícia Isnard, Alexandre Dantas, Claudia “AGOSTO”: montagem indicada a 21 prêmios (e vencedora Ventura, Rubens Camelo, Eliane Costa, Guilherme Siman, Isaac de 7) volta ao Rio de Janeiro Bernat, Julia Schaeffer, Lorena A obra do norte-americano Tracy Letts é vencedora dos prêmios Comparato e Marianna Mac Niven. Pulitzer de Melhor Drama e Tony de Melhor Texto Teatro Petra Gold R. Conde de Bernadotte, 26, Leblon Por REDAÇÃO Horário: Sextas, sábados e do- mingos, às 19h30. De 11 de outu- té 3 de novembro, o (ambas vencedoras, pela peça, desistência. Apesar de se tratar bro a 3 de novembro ATeatro Petra Gold recebe do Prêmio APTR de Melhor de um texto denso, forte, há o premiado espetáculo Atriz Protagonista). Uma peça certa descontração na peça, Classificação:16 anos “Agosto”, uma contundente sobre o inconfessável, sobre o uma divertida recusa em Duração: 130 minutos e emocionante história que fica entalado na garganta levar-se demasiado a sério, Ingressos: R$ 70 sobre conflitos familiares e sufoca. A história de uma uma tendência a nos passar Valor promocional em queroteatro.com.br: R$ 30 que emocionou as plateias família desconectada, desfeita, “rasteiras” cômicas justamente brasileiras com espetaculares cujos membros insistiram na nos momentos que achamos interpretações de seu elenco, união o quanto puderam, da que não há mais espaço para DESCONTO NO com destaque para as atrizes forma que puderam, mas que o riso.“Violet é uma mulher QUEROTEATRO.COM.BR Guida Vianna e Letícia Isnard chega finalmente ao limite da que vive numa situação limite,

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se divertem e rememoram E eu fui… Mais algumas também por ser convidado a atuar os altos e baixos de quase 50 páginas, alguns dias no num outro diapasão, longe do registro anos de amizade. computador, e veio a dos musicais, que posso chamar de Segundo Claudia, “a vida notícia. Dessa vez, meu minha zona de conforto. Um exercício passou por mim e disse: pai. Partiu. Tomando estimulante e necessário como ator”. ‘Chegou a hora. Seus pais vinho com os amigos, A diretora Alice Borges, inicialmente sairão de cena. Agora é com rindo e feliz, como convidada por Cláudia para atuar você, sua vez’. Pausa. Em ele queria e merecia. no espetáculo, recusou o papel e meio à mudança de casa Então, recomecei… e o delegou à própria autora que, da minha mãe – que havia a história de amizade receosa, aceitou a missão. “Em 20 sofrido um AVC – encontrei virou uma história para anos de amizade com a Cláudia uma caixa cheia de agendas, contar tantas outras (Mauro), pude conhecer e conviver que ela escrevia como diários. histórias… Histórias de de perto com a sua família. Através Estava ainda fazendo o “luto” amor, de dor, de perdas dessa observação tão íntima, pude daquela mãe – que corria atrás e alegrias, histórias conduzir de forma delicada este texto dos meus filhos, com uma de família e de tantos sensível e emotivo, que resgata uma energia vital incrível – e me personagens da minha parte dessa história familiar. Minha acostumando com uma mãe vida”. O ator Édio Nunes, intenção é levar o público para dentro numa cadeira de rodas, que ora conhecido pela sua deste universo poético – e ao mesmo me olhava profundamente, ora presença constante em tempo realista – da maneira mais com distância, ora muito lúcida, espetáculos musicais sincera, verdadeira e simples”, afirma ora bastante esquecida. Tive de sucesso – tanto Alice Borges. A montagem estrutura- uma súbita inspiração e me como ator quanto como se nas idas e vindas entre passado e lembrei de uma história linda diretor – complementa: presente. Valendo-se basicamente entre ela e um grande amigo. “A minha amizade do trabalho corporal e pequenas Desandei a escrever um texto com a Cláudia foi mudanças nos acessórios, os atores sobre amizade. Liguei para o determinante para este passeiam por quatro décadas – dos meu pai e mandei as primeiras projeto, porque falamos anos 1970 até os dias de hoje, e por Cláudia Mauro convidou Alice Borges para atuar no espetáculo, mas ela recusou o papel, delegou-o à própria páginas escritas. Em alguns da vivência pessoal de todas as mudanças em suas vidas. autora e assumiu a função de diretora. FOTO: Caio de Biasi. minutos ele me retornou e ambos, fundamental disse: ‘Filhota, você é boa de para este trabalho. “A Vida Passou Por Aqui”: longevidade diálogos, hein? Vai em frente!’ Fui muito motivado rara nos palcos cariocas A VIDA PASSOU POR AQUI Sucesso de público e crítica, espetáculo de Cláudia Mauro Direção : Alice Borges em cartaz há quase 3 anos renova temporada no Teatro Petra Gold Texto: Cláudia Mauro Por REDAÇÃO “A minha amizade com a Cláudia foi determinante Elenco: Cláudia Mauro para este projeto, porque falamos da vivência e Édio Nunes. ucesso de crítica e público e a amizade, e a importância sentimento de solidão, e pessoal de ambos, fundamental para este trabalho”, Teatro Petra Gold Svisto por mais de 18 mil das relações construídas com Floriano (Édio Nunes), boy e afirma Édio Nunes. FOTO: Dalton Valério. pessoas, “A Vida Passou por generosidade e altruísmo, faxineiro, de hábitos simples e R. Conde de Bernadotte, 26, Leblon Aqui” segue em temporada no numa sociedade em que o inteligente por natureza, que Horário: Terças, às 20h . Teatro Petra Gold, no Leblon, comportamento humano torna- sempre levou sua vida com Até 29 de outubro até o final de outubro, antes se cada dia mais autorreferente leveza e bom humor. de sair em turnê pelo Brasil e e imediatista. Depois de quase meio século Classificação:14 anos apresentações em Luanda, na A montagem conta a história de convivência, Silvia é Duração: 90 minutos Angola, em 2020. O espetáculo, da profunda amizade entre uma mulher solitária que se Ingressos: R$ 60 cujo argumento foi criado a uma mulher e um homem recupera de um AVC, e Floriano Valor promocional em queroteatro.com.br: R$ 35 partir da experiência pessoal de de estratos sociais diferentes o único amigo ainda presente. Cláudia Mauro com sua família, – Silvia (Cláudia Mauro), Aos poucos, ele contagia Silvia lança um olhar otimista sobre o professora e artista plástica, com sua alegria de viver e envelhecimento e as angústias que viveu grande parte da vida senso de humor, que acabam DESCONTO NO da vida e da passagem do às voltas com as crises em devolvendo a saúde e os QUEROTEATRO.COM.BR tempo. A peça celebra a alegria seu casamento e um enorme movimentos à amiga. Juntos,

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Entre os selecionados, “O amor é o princípio educa, humaniza. É inerente e há trechos de Mário de todas as virtudes. indispensável em qualquer forma Quintana, Clarice Lispector, Todas as atitudes de vida. Como atriz, utilizo minhas Maiakovski, Castro Alves, positivas e virtuosas armas para propagar essa ideia. Manuel Bandeira, Isabel da vida têm o Como pessoa, é o que move a Allende, Baudelaire, amor como base. minha vida. E que bom poder dentre outros. Em cena, A gente pode falar unir a arte e o amor num trabalho apenas Cyria, um banco e a de solidariedade, vibrante como esse”, diz Cyria. potência do amor expressa de amizade, de em cada palavra. bondade, de Ela celebra ainda a parceria com a honestidade. A base poetisa Elisa Lucinda e com o ator, “Love” estreou em 2014, de todas elas é o diretor e amigo, Jackson Costa: em Salvador. No ano amor. O amor pelo “Desde criança gosto de escrever. seguinte, Cyria Coentro outro, o amor pela Tenho alguns textos, algumas recebeu o Prêmio Braskem vida, o amor pelo poesias guardadas. Quando aflorou de Teatro como Melhor trabalho. O amor. essa vontade de fazer um trabalho Atriz pela atuação na Sem amor, nada autoral, percebi que o tema só peça. Em 2017, fez uma floresce. Sem amor, podia ser esse: o amor. Falei com curtíssima temporada no não há solução. O a Elisa, que é maravilhosa, e com Rio de Janeiro. Dessa vez, amor é a resposta o Jackson, que é um artista super a convite do Teatro Petra a tudo nessa vida. completo, também, além de Gold, ela aceitou trazer O amor melhora um grande amigo. Entre muitas mais uma vez a peça à o mundo e as conversas e troca de ideias, nasceu cidade do Rio. pessoas. Sensibiliza, o roteiro do espetáculo. Foi uma parceria deliciosa”, finaliza.

“Love” estreou em 2014, em Salvador. No ano seguinte, Cyria Coentro recebeu o Prêmio Braskem de Teatro como Cyria aborda as dores e delícias do amor, em Melhor Atriz pela atuação na peça. Foto: Débora 70/Divulgação. espetáculo que estreia no dia 14 de outubro. LOVE Foto: Divulgação Direção: Jackson Costa Premiado em Salvador, espetáculo “Love” cumpre Texto: Cyria Coentro, Elisa Lucinda e Jackson Costa temporada às segundas-feiras no Teatro Petra Gold Elenco: Cyria Coentro Para celebrar seus 30 anos de carreira, a atriz baiana Cyria Coentro Teatro Petra Gold reestreia monólogo que fala sobre o amor R. Conde de Bernadotte, 26, Leblon Por REDAÇÃO Horário: Segundas, às 20h.De 14 de outubro a 11 de novembro ove” é o primeiro que falam do amor e de Cyria cumpre o papel “Lmonólogo da atriz seus desdobramentos, de tradutora dos sentidos Classificação:12 anos Cyria Coentro, baiana, de estabelecendo uma e sentimentos que as Duração: 50 minutos 53 anos, rosto conhecido sequência de situações palavras contêm. Ingressos: R$ 70 da TV, cinema e teatro, que que a relação amorosa Valor promocional em queroteatro.com.br: R$ 30 escolheu o tema AMOR propicia a cada um de nós Dessa forma, o público se como fio condutor de quando experimenta o identifica e se entrega ao seu espetáculo. O roteiro amor: a fase da paixão, da espetáculo. Afinal, quem DESCONTO NO de Cyria, Elisa Lucinda sedução, do romantismo, nunca viveu um grande QUEROTEATRO.COM.BR e Jackson Costa, que do erotismo, da decepção, amor? também assina a direção, da dor e da saudade. No Ao longo de 10 anos, Cyria traz textos clássicos palco, a interpretação pesquisou diversos textos e contemporâneos forte, direta e emocionada até escolher os que queria.

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Companhia teatral Fricta encontrou em Lope de Vega o Fonte Ovejuna suporte dramatúrgico para seu espetáculo de estreia

A Fricta Cia está em Com direção de Samara pessoais e sociais e, portanto, processo de adaptação Pinheiro e idealização e individuais e coletivas. O e montagem do clássico interpretação dos atores grupo optou pelo modelo de “Fuente Ovejuna”, que terá Hikari Amada, Luísa financiamento “tudo ou nada’, sua estreia em 9 de outubro, Vianna e Vinicius Teixeira, ou seja, se não arrecadarem no Teatro Cesgranrio e segue a montagem pretende o valor total estipulado na em temporada, sempre às aguçar as discussões acerca meta, sua colaboração será quartas e quintas. O primeiro das relações de poder devolvida e o espetáculo espetáculo da Fricta traz à construídas em torno das engavetado. Confira a página cena o coletivo formado por hierarquias sociais, traçando do financiamento e colabore multiartistas com destaque um importante paralelo com o projeto! no cenário cultural. entre os trabalhadores do povoado fictício da história e Acesse em benfeitoria.com/ Com proposta a sociedade brasileira atual. fricta inovadora, explorando de forma intensa a Fundada em 05/01/2019, tríade corpo-música- a Fricta Cia é composta META: R$ 15.685,00 interpretação, o projeto por três artistas-amigos ARRECADADO: R$ 6,185,00 tem como diferencial que se juntaram para o coprotagonismo do criar um grupo teatral que Sob direção de Pascal Giordano, esse projeto pedagógico é o destaque público, por meio de permeasse inquietações do programa educativo 2019 do Festival Ópera na Tela, que acontece a cada ano, desde 2015, e apresenta 12 filmes do melhor da produção ensaios abertos seguidos lírica europeia recente no Parque Lage. FOTO: Renato Mangolin. de debates e bate-papos que proporcionarão uma troca entre artistas e Palavrastortas Ópera franco-brasileira integra crianças de escola pública e particular espectadores. O projeto tem como premissa, Com apresentações iniciando Michel e as canções são de doações permitirão acompanhar inclusive, essa aproximação em 05/11, no Teatro Riachuelo, Michèle Bernard. Sob direção de os resultados do trabalho com o público, guiando- “Palavrastortas” está com Pascal Giordano, esse projeto das crianças ao longo dessa se pelas motivações financiamento coletivo aberto pedagógico é o destaque do aprendizagem assistindo ao do escritor de “Fuente no Benfeitoria até 26/10. programa educativo 2019 do espetáculo, resultado de uma Ovejuna”, Lope de Vega. Com objetivo de oferecer Festival Ópera na Tela, que obra onde o empenho de uma experiência única para acontece a cada ano, desde cada pessoa para construí-la Contemporâneo de crianças de universos distintos 2015, e apresenta 12 filmes é fundamental. Seja qual for o Miguel de Cervantes, – alunos do Lycée Molière e do melhor da produção lírica tamanho, o seu aporte é uma apelidado por este de da Escola Municipal Professora europeia recente no Parque pedra muito preciosa nessa “monstro da natureza”, Dídia Machado Fortes, com a Lage. Conforme escreveram construção!”A ópera também Lope de Vega foi uma das participação da orquestra de em sua página na Benfeitoria, pode ser apoiada por meio maiores personalidades da jovens da ONG Ação Social “Montar um espetáculo é uma da Lei Federal de Incentivo à literatura espanhola e era pela Música do Brasil -, o experiência coletiva, onde cada Cultura, abatendo o valor do apaixonado pelo homem financiamento produzirá uma um aprende muito por meio de Imposto de Renda. Confira ópera em francês, baseada um intercâmbio e convivência detalhes na página do projeto! comum, preservando em na obra dos anos 1980, do em grupo. Para crianças, esse suas produções textuais escritor e desenhista Pef, “La tipo de aprendizagem é ainda Acesse em benfeitoria.com/ esse encontro vivo entre Belle Lisse Poire du Prince de mais importante, sobretudo operaparacriancas artista e espectador. Motordu”. A história mostra quando se trata de conviver como as pessoas podem ser com crianças de outras origens aceitas pela coletividade apesar sociais. Vocês, benfeitores, META: R$ 25.000 de suas diferenças. As músicas também participarão dessa ARRECADADO: R$ 4.610 Fricta Cia é assim nomeada devido foram criadas por Jean-Luc experiência, já que suas ao excesso, ao êxtase, ao vigor e ao furor criativo. FOTO: Divulgação.

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sexta a domingo. Como é Immanuel Wallerstein: intensa, variada, instável, “O tempo em que forte e fraca, misteriosa… podemos mudar o

SOBRE MONSTROS Boquimpani. Ítalo FOTO: a vida.Mais sobre mundo: quando a “Monstros”: ao contrário crise é estrutural o por Soraya Ravenle dos musicais onde o livre-arbítrio se torna texto é um pretexto para importante, as ações que a música e a dança de cada um realmente Não enxergar o outro que violências que estão tocada profundamente envolvam a plateia com seu poder de sedução, importam, de uma está na sua frente é uma acontecendo na nossa pelas questões indígenas, maneira que não se viu violência? E quando esse cidade e país, tanto que de gênero, do racismo, do aqui é a dramaturgia bem nos últimos 500 anos. outro é o seu próprio filho? não consigo parar de fascismo que se estabelece urdida e surpreendente, Nessas situações raras, E quando é uma criança? pensar a cada dia, o que agora no nosso país... a estrela que reina, Quando essa criança fazer? Como fazer? Como Essas minhas palavras, que emoldurada pela música. um pequeno esforço não é olhada como um sair das minhas bolhas? apontam na direção de Essa maestria que já traz um conjunto ser único, mas como um Efetivamente! Ao mesmo muitos assuntos ao mesmo reconhecemos claramente enorme de mudanças - objeto/coisa, onde se tempo, na profissão que tempo, falam com certeza, no cinema argentino e seus porque o sistema está depositam frustrações, exerço há mais de 30 anos, deste momento em que roteiros incríveis, parece instável e volátil”. desejos, fantasias, o que que é meu sustento diário, vou por aí com lenço e se estender ao teatro pode acontecer? Por que é e que é ainda um lugar com documento, lendo, musical argentino. Detalhe: Primo Levi: “Uma parte tão difícil sair de si mesmo? que traz algum sentido vendo, ouvindo, abrindo é o primeiro musical nossa, está nas almas contemporâneo argentino Por que tantos projetos de para minha existência, o sensibilidades outras, de quem se aproxima montado no Brasil. Nosso poder sobre o outro? Somos que fazer? Como fazer? revendo idiossincrasias de nós, por isso não é adictos a formas de poder? Cada vez mais quero cotidianas, questionando diretor, Peralta, também argentino, sinalizou humana a experiência estudar, encontrar pessoas, paradigmas, meditando de quem viveu dias Acabo de estrear com conversar muito e escolher, um pouco para trazer o que, possivelmente nas nos quais o homem foi Cláudio Lins, Victor o mais cuidadosamente silêncio interior para a vida, décadas de 1930, 1940 ou apenas uma coisa ante Garcia Peralta e Azullllllll, possível, cada trabalho. continuando a psicanálise, 1950, quando Companhias “Monstros”, musical Sim, “Monstros” é pertinente assistindo “Guerras Brasileiras e cantores outro homem”. argentino que trata da nesse momento, pois Brasileiras” no Netflix, faziam turnês pela relação entre pais e filhos, a espelha, com nitidez “Bacurau” no cinema, Argentina e vice-versa, Amós Oz: “O que é saber? dor e a delícia... Nesse caso, absurda, a célula-família. vendo a performance de pode ter vindo algo para o É sair de si mesmo, ou ao de forma radical, o texto fala Vinícius Arneiro na casa Brasil, mas não achamos menos tentar”. das dificuldades, projeções, Confesso que tem me do Felipe, “Amazona” na um título específico. simbioses doentias, as alegrado bastante, ver o rua, da companhia Teatro Aliás, nosso cenógrafo, Vivo tentando! pequenas e grandes modo estupefato com que de Caminho, do Ricardo Fernando Rubio, também é É trabalho pra toda uma vida! violências domésticas... as pessoas saem da peça, Cabral, sendo ouvinte de portenho, tudo dominado! tudo, enfim, tão comum chega a ser engraçado. uma cadeira de literatura Ainda bem que não se a todas as famílias e Saem em choque num na PUC, indo a passeatas trata de futebol... (Risos). quase sempre revestido e primeiro momento e logo e reuniões progressistas, Aguardamos em outubro nomeado de amor. Amor? a seguir, todos querem como a reunião sobre a vinda do autor, para conversar, e muito! Nós eleição de conselheiros podermos intensificar O convite de escrever para também, então ficamos ali tutelares (uma eleição que esse, que já é um a #INCITARTE encontra na frente do teatro, falando, podemos votar e eu nem encontro histórico para o meus pensamentos e ouvindo, trocando, que sabia, vale saber sobre), teatro musical Brasileiro! o coração totalmente bom! Isso faz sentido, pois indo ao teatro às quintas Arremato, com pílulas de pensadores importantes:

mobilizados pelas estou em plena ebulição, e fazendo “Monstros” de Janderson Pires. FOTO:

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