Substrato cultural das etnias 1. INTRODuCÁO O estudo dos poyos pré-romanos peninsulares pré-romanas do Norte de ocupou um lugar de destaque na historiografia da primeira metade do nosso século. Utilizaram-se para o efeito os relatos dé historiadores e geógrafos da antiguidade, o registo arqueológico e os dados de natureza linguistica. Esta perspectiva de estudos Insere-se aliás coerentemente nas tendencias interpre- M. Martins* tativas dominantes na Europa de entáo a nivel da S. O. Jorge~’ Arqueologia, cuja giénese pode ser encontrada na escola Austro-Húngara dos finais do séc. XIX. Penseguia-se entáo, de forma generalizada urna com- ABSTRACT para~áo sistemática de vestigios entre regi5es; cuja reparti9ao espacial definia «Culturas». Será contudo This paper considers the contribution of various G. Childe que sistematizará e generalizará á Europa sources (written, inscriptions, linguistic and archaeo- pré-histórica este tipo de abordagem. Definindo logical) in order lo define the cultural and ethnic «Cultura» como um conjunto recorrente de artefactos boundaries of Protohistor (Late Bronze Age/Iron numa dada regiáo, Childe estabelecerá uma correla~áo Age) in the North of Portugal. entre «Culturas arqueológicas» e «poyos», embora After examining the aval/ah/e sources for the nunca tenha definido com clareza o real significado region, they are analised separa/eh, presenting a dessa arlicula9áo. Abre assim caminho a uma série de picture of seitíemení suggested by the written saurces sinteses, algumas de grande envergadura, que relacio- and also discussing ¡he contribution o!’ linguistics in nam os dados arqueológicos de diferentes regiñes order to define the ethnic picture of ihis part of the europeias com a existéncia de determinados grupos teninsula, étnicos e mesmo linguisticos. The results provided by the most recent archaeolo- A invcstigayáo arqueológica dos últimos 20 anos e, gical research (undertaken in the 1980s) permit a em particular, a contribui9áo teórica no dominio da proposition concerning the cultural evolution of ihe ínterpreIa¡~áo das sociedades pré-históricas lan~aram Late Bronze Age and the ¡ron Age to heputforward. um certo descrédito sobre a ideia deque as «Culturas», It evaluates varlaus aspecis of the material culture, no sentido arqueológico do termo, traduzissem ou settlements. metallurgy and pottery. presented within identificassem grupos étnicos, ou linguisticos. Simul- chronologicalframeworks. taneamente, a panorámica da arquelogia europeia Final/y, the problems arising by using dVferent modificou-se substancialmente em termos metodoló- saurces are discussed, in view of the dif,ficulty oj gicos e interpretativos. O meihor conhecimento da correlaíing the archacological evidence with the cultura material permitiu sistematizar a evolu~áo social, ethnic and linguistic units. cultural de diferentes negiñes europeias e reconhecer continuidades, onde anteriormente se tinham sugerido RESUMO altera9oes étnicas. O questionamento dos chamados «modelos de domináncia», que valorizavam sistemati- Este irabaiho pretende equacionar a cantributo e camente as migra~óes e invasóes de poyos, como validade de diferentes tipos defon/es (escritas, epigrá- responsáveis peía altera9ao do registo arqueológico ficas, linguisticas e arqueológicas) na defink&o de era inevitável. Reconhece-se hoje que a evolu9áo das possíveis fronteiras culturais e étnicas na Proio- comunidades pré-históricas se fez, náo brusca, mas flistória (Bronze Final/Idade do Ferro) do Norte de lentamente, sendo as mudanQas culturais o resultado Portugal. de complexos processos de interac9áo, quer restricta, Após uma análise das fontes disponíveis, canhecidas quer alargada. Evidentemente que este tipo de abor- para a regido, estas Sao analisadas sepúradamente. dagem náo exclui a ocorr~ncia de fenómenos de E apreseniado o quadro do povoamento sugerido migra9ao. Estes deixaram contudo de ser percepcio- pelas foníes escritas, senda igualmente discutidos os nados como explicaqáo monocausal na evolu9áo das contribuías da linguistica na formulacdo do quadra comuni(Iades humanas. étnico desta área da Península. Mas, se o desenvolvimento da Arqueologia facultou Tendo por base os resultados fornecidos peía dados que permitiram questionar a equa9áo inicial de invesíiga, é um facto que encontramos zados na década de 80) é apresentada uma praposta ainda muitas reminiscéncias dessa premissa no ámbito para a eva/uQao cultural da Idade do Branze Final e dos estudos sobre a Proto-História, Rejeita-se hoje a da Idade do Ferro. Nesta prapasta sáo valorizados ideia de um «poyo megalíticos>, de um «poyo campa- vários aspectos da cultura materiaL o habitat, a 55e presentemente de niformes>, ou de um «poyo da cerámica cordada», metalurgia e a cerámica, que dispr quadros cronológicos de referéncia mais seguros. cujas deslocacóes teriam alterado a cultura material Finalmente, as autoras discutem os problemas que da Europa pre-histórica e, 4uiqá, a própnia base se colocam á articula~rdo da informa(do sugerida por étnica (las regiñes por onde passavam. No que fon/es d~éren ciadas, colocando a ¡¿nica na dWculdade de correlacionar a realidade arqueológica cam a Universidade do Minho. fórmula qdo de unidades soclais, étnicas e linguisticas. ~ Univorsidade do Porto. 348 M. MARTINS - S. O. JORGE

respeita ao 1 milénio a. C. é forte a tentaqáo de Os extraordinánios progressos da Paleontologia identificar arqucologicamente os poyos da Europa linguistica e da socio - linguistica, dos últimos anos, bárbara, uma vez que os autores gregos e posterior- forneceram dados de capital importáncia para o mente romanos os referem com certa frequéncia, estudo das línguas da Europa e mesmo para a enunciando muitos dos seus costumes. Muito embora interpretaqáo da sua génese, em particular no que muitos deles nilo tenham atingido acomplexidade das respeita ao problema do Indo-europeu (Gimbutas sociedades estatais é suposto que a sua marcada 1980, 273-315; Renfrew 1987). Sendo extremamente individualidade cultural traduza a sua diferenciacáo fácil discorrer dos dados linguisticos influencias e étnica, consequentemente reconhecível no registo movimenta~óes de poyos, a verdade é que eles nilo arqueológico. O facto do 1 milénio a. C. ser conside- nos fornecem, por si próprios, quaisquer meios de rado habitualmente como o momento de expansáo data 9áo, nem mesmo elementos para interpretar a para Ocidente das linguas indo-europeias, que deixa- ram em vastas regiñes tragos na onomástica e importáncia cultural ou social de uma alteracáo toponimia, justifica que se tenham valorizado siste- linguistica. Tradicionalmente a linguistica histórica maticamente os modelos de tipo invasionista/ mig- apoiou-se na Arqueologia para interpretar a presen~a de certos elementos linguisticos cm certas zonas, e racionista, na interpreta~áo deste período. Em certas regióes da Europa ocidental, como é o mesmo para os datar e inserir culturalmente. A Arqucologia, por sua vez, podendo percepcionar caso da Península Ibérica, tais modelos silo mesmo aceites como dados assentes, em parte porque a altera9óes demográficas e sociaís, encontrou frequen- natureza dos dados arqueológicos nilo justificou temente na linguistica uma justifica$o para os seus ainda interpreta9óes alternativas. De facto, para próprios modelós interpretativos. No entanto, os contributos da linguistica sáo indiscutíveis para o muitas regiñes , nem a evidencia arqueológica é ela por si suficiente para afirmar ou infirmar tais estudo das sociedades antigas. Eles permitem aceder, através da onomástica, náo só á organiza9áo social e modelos, nem existe um tratamento sistemático e actualizado dos contributos mais recentes da Arqueo- económica das comunidades, como também á esfera ideológica, dificilmente percepcionada con base na logia e da Linguistica, que permita lanQar nova luz evidencia arqueológica. Embora os dados da Linguis- sobre a génese dos poyos pré-romanos. A Arqueología, a Linguistica, a Epigrafia, as fontes tica e da Arqueologia se possam completar, a verdade literárias, fornecem hoje um acervo documental é que eles sáo muitas vezes mais paralelos do que intercomunicantes, sendo possivel sobrepó-los mas bastante mais significativo para a abordagem desta nem sempre relacioná-los. problemática. No entanto, parece-nos necessário ques- A documentaQio epigráfica, em particular aquela tionar aqui, em jeito de intnodu9áo, qual o tipo de informa~ées que cada um destes campos disciplinares que diz respeito á área do nosso estudo, é latina e refere-se a uma realidade tardia na evoluyáo das pode fornecer, no sentido de os relacionar correcta- mente. De facto, nilo existe urna metodologia expressa populaQoes do NO e a um momento em que as suas que permita articular os dados provenientes de estruturas sociais e mentais se encontravam em investiga~6es táo dispares, pelo que será desejável que mutayáo. A validade desta fonte, embora indiscuti

1985,13). A celtizaqao da Europa Ocidenta), mais dos dados arqueológicos correlacionáveis com os tardia, tena consolidado a influéncia indo-enropela primemos influxas indo-europeús para Ocidente leva cm largas partes da HispAnia e tena ela própria sido a supor que a sua influéncia nito se terá feito sentir, processada cm etapas distintas: urna goidélica e pelo menos na zona da NO peninsulár, anteriormente ocidental. it qual pertencerá a ¿iugua celtibérica, aos sees. V(ll/ VII a. C. (Almagro Gorbea ¡986). estudada por Untermann (1963, 195-262; 1965) e Se aceitarmos que a inf¡uéneia inda-europeia na outra gálica e oriental. regiáo mais ocidental da Península, estará correlacio- Considerando o contributa dos estudos linguisticos nada com a fenómeno dos Cl) da Catalunha, cuja mais receptes sobre o lusitano e celtIbérico, é possivel irnpacto a nivel peninsular, pelo menos num momento admitir urna vaga de migraqées indo-eurapeias mais inicial, já fol devidamente questionado, tememos que antiga, it qual se aíribuem os Astures. Cántabros, avanqar a eronolagia dessa influéncia sobé a regiáo Vetóes, Carpetanos, Pelendones. Olcades, Lusitanos cm esiudo, para os primeiros séculos do 3 milénio e várias tribos da Galécia. Numa autra vaga de para ura perlada certarnente nAo anterior ao sér. VIII invasóes, mais especificarner,te celta. será possível a. C.. Par antro lado. nilo devemos esquecer que até iascnr os Celtiberos, os Berones. Arex’acos, Vacceus, ao momento nito forarn encontradas vestigios que Célticos do Sul de Portugal e da Bética e ainda dacurnentem directamente urna inficéncia das CV no algunas tribos da Galécia. O critério seguido pelos território do Norte de Portugal, seja na forma de Cl) linguistas para distinguir estas doas vagas ¿ a presenQa do Bronze Final, seja nadas CV tardias, já da Idade do p, fonema que se perde no Celta. Todavia, a indo- do Ferro. Algun paralelismo a nivel da decora~áo ou europeizaqad da Península parece ter constituido um da morfologia das cerámicas do Bronze Final entre as processo extíemamente complexo de movirnentos de doas áreas culturais, poderá ser explicado por processos pavas, nito sendo possivel reduzi-la a una mcm de interac 9áo decarrentes de tracas de ámbito alargado, sobreposi9áo de vários estratos populacionais. A expansáo do indo-curopeu nas regióes do ocidente da que parecen ter afectado amplas regiñes do ocidente Europa foi gradual e representará o resultado de urna peninsular, no periodo entre ¡100/800 a. C... E neste sentido que ternos que interpretar o facto de cacao- série de conrnibui9óes linguisticas, étnicas e culturais. [¡-armas ca reglito do NO de Portugal, en pleno eventualmente esíruturadas num processo semeihante Branze Final (séc. IX,’ VIII a. Cl, certos tipos de áqueie que C. Hawkes (1973, 607-628> definiu de cerámica e de técnicas decorativas, que registarn «Cumulative Celticity» para explicar a Celtizaqáa da paralelos con a reglito da Catalunha, e que se Gril-Bretanha (Tovar 1983, 253). encantram, por exemplo, nos castras da reglito de O avan9o nos estados linguisticos, apesar de terem Soria apenas nos secs. VII/VI a. C. (Romero Carnicero facultado un conhecirnento mais correcto e aprofun- 1984), supostameate devido a urna expaulsáo das Cl) dado sobre a questAa do indo-europeo na Península, tardios para Ocidente. nito logrararn contudo resolver os problemas que se Aparentemente. a aceitarmos as teses tradicionais relacionan coni a cronologia das migra9oes, aspecto para a questAo indo-europeia, esta componente, fundamental para se estabelecer urna correcta articu- trar.ida para o Norte e Ocidente peninsular, nos la~áo entre os contributos da Linguistica e da primeiros séculos da ¡ milénio, tena sido tAo forte e Arquealagia. Por sua vez, subsisiem enormes difical- significativa que tena alterado, nito só o fundo dades ern documentar arqueologicamenie os fenómenos de nigra~áo, urna vez que a cultura material de linguistico da regiito, cama tambéra as instittli4oes e a própria idealogia das suas populaqées. Tal praeesso, diferentes regióes peninsulares nito regista desconti- tena necessaniamente que ter afectado a cultura nuidades, mesmo para os momentos en que é tradicionalmente suposta a sua ocorreneta. material da regiAo e, nesse casa, deveria poder ser documentado no registo arqueológico. Se a influxo Se considerarmos o conjunto das contribuiqóes relativas ao povoamento amigo do Norte da Peninsula, de populaqóes indo-enropetas tivesse sido demográfica e culturalmente significativo, deverta ser passivel verificamos que existe un certo caucenso de que. observar a sobreposi~áo de dais espectros culturais nun periodo compreendido entre finais do II milénio diferenciados, talvez identificáveis por diferentes tipos a. C. e os prisneiros séculos do 1 a. C., importantes de povoados. por diferentes culturas matenlais, talvez áreas peninsulares foram afectadas peía inírusito de mesmo diferentes economías. Uma investiga~Ao ar- populafées oriundas de além-Pirineus, que iráo quealógica sistemática podenia assin detectar a exis- transformar profundamente o substracto étnica pe- ninsular. Mais au menos concensual é tambéra a tese tencia desses dais fundos culturais: un autóctane e autro intruso. Urna ontra hipótese, seria a de que os dc que cías parecem estar arqucologicamente docu- quantitativos demográficos paputacionais nilo Coran mentadas pelos CV, con origem centro-europeia. No entanto, o estudo arqueológico desta cultura, realizado significativos, fazendo-se a assmmila~Aa linguistica e cultural por um processo lento e essenciatmente por nos últimos anas, limitan consideravelmente o ámbito geográfico das popula~es das C. Urnas, a nivel intemacqáa au contAgio, eventualmente a nivel das etites, O registo arqueológico seria nesse caso mais peninsular, pelo menos nurn momento inicial (C.U. fluido, mas mesmo assim deveria ser passivel encontrar, do Bronze Final), entre finais do II/inicios do l miténio a. C. (Ruiz Zapatero 1985), salientando urna na cultura material da regi7to, traQos que documentas- mnajor expansAa das elementos cuiturais das C.U. sem esse prOceSSO. tardios para diferentes zonas peninsulares, incluindo N~o podemos contudo deixar en branco, cesta fase da nossa exposi9áo, o recente contributo de C. a franja ocideníal, num momento que año será Renfrew (1981) relativo ao problema do lndo-europeu. anterior ao séc. VIII a. C. Neste sentido, a interpretaQáo Compulsando un vasto acervo de informa~ées prove- SUBStRATO CULTURAL DO NORTE DE PORTUGAL 353 nientes da Arquealogia e da Linguistica, aquele autor actual das pesquisas. duas grandes etapas de desen- considera serem hoje muito dificeis de aceitar os volvimento cultural no Norte de Portugal (provincias argumentos da Paleontologia linguistica que propunha do Minho. Dauro Litoral, Trá-os-Mantes e Alto tradicionalmente profundas mudangas na populagAa l)ouro) durante o Bronze Final: uma primeira estende- e lingua da Europa, durante o III nilénio a. C., e que se entre c. de 1250 e c. de 1000 a. C. e una segunda carresponderiam A expansAo da lndo-europeu para a entre c. de 1000/900 e c. de 700 a. C. Europa Central e Ocidental. Estes argumentos O prirneiro período parece ass¡stír a uma incipiente, relacianavan-se com a ideia de una pátria comun mas crescente, produgAo e circulagito de artefactos en para a origen deste grupa linguistica, cuja lacalizagAo branze: machados nacigos de talAo can un au dais foi ensaiada par diversos investigadores e colocada, anéis, machados de rebordos e provavelmente tambén por uns na Asia Central e por autros na Europa do can apéndices laterais, algumas pontas de langa de Norte. Mais recentemente, M. Gimbutas (1977, 277- alvado e. no fim desta etapa, talvez raras punhais da 338; 1980, 273-315) localiza essa suposta pátria nas «tipo Porto de Mós». Alguns autores incluen nesta estepes do Sul da Rússia, hipótese que já havia sido fase exemplares de aurivesaria do estilo «Villena- sugerida por O. Childe (1950). A principal abjecqáo Estremaz,>. Saliente-se a ausencia de espadas. A de C. Renfrew, en relagito ás teses tradicionais sobre influéncia med iterránica, apesar de ténue, manifesta- os lndo-europeus, é arqueológica, pois ao analisar a se através, pelo menas, das punhais e das machados evidéncia dispanível para extensas regiñes europeias de apéndices laterais. nito constata mudangas culturais profundas au gene- Recentes estudas en povoadas providas de fossas ralizadas, que permitan aceitar a cranologia sugerida (estruturas subterráneas de armazenamento), como o parao inicia dessa expansito. Na sua apiniáo o único da Bauga do Frade (Jorge 1988a), sen espectais fenómeno com cansequéncias demográficas e sociaís condigñes naturais de defesa, Calan-nos de una profundas, capaz de provocar mudangas linguisticas, significativa transformaqño nos sistemas de subsisténcia seria a própria expansAo da agricultura na Europa. durante esta fase: a capacidade de armazenar grandes Utilizando o «modelo de vaga de avanga» de Cavalli quantidades de sementes e eventualmente autros Sforza e Amnemman (1979, 275-294), para explicar a produtos de consumo básico, através de urna inequí- expansito das comunidades agricolas na Europa, a voca especializagito agro-pastoril conseguida através partir da Grécia e BalcAs, C. Renfrew desenvolve urna da provável aplicagito de uma teenolagia relativamente argumentagito que o leva a situar o ponto inicial dessa evolucionada con recurso it utilizagAo de aninais de expansito a leste da Anatólia, regiáo ande por volta tiro. Tal intensificagáo económica permitiria abastecer, de 6000 a. C. existirian popuiagñes que falarian o it escala local, toda uma camunidade, disseminada antepassado das linguas indo-europeias. Neste sentido, por vArias unidades habitacionais, tornando-a auto- aquele autor irá interpretar as semelbangas que se suficiente, o que, como se sabe, é condigito indispen- desenvolven no ámbito das sociedades indo-europeias, savel para a consalidagito de um sistema social a nivel social e ideológico, coma o resultado de un hierarquizado. Par autro lado, a análise da provável processo histórico senelhante e como um fenómeno rede de pavoamenta em que se insere o povoado da de convergéncia. Muito embara o modelo de C. Bauga do Frade deixa-nos entrever a farmagito, jA Renfrew nito consiga explicar nuitos das aspectos da desde os finais do II nilénio a. C., de una organizagito formagito e desenvolvinento das comunidades pre- habitacional possivelnente hierarquizada, ao nivel da históricas europeias, coma aliás é salientado pelo bacia do rio Ovil (afluente da margem direita do próprio autor, ele afigura-se coma urna hipótese Douro). Em simultáneo, a hecrópole do Tapado da alternativa ao modelo invasionista nigracionista, que Caldeira, a apenas algunas dezenas de metros da pretende explicar sistematicamente as mudangas cuí- Bauga do Frade, constituida par sepulturas rectangu- turais através dos movimentos de papulagñes. lares abertas no saibro, de provável inumagito indivi- No que respeita A regiáo em estudo e, de um modo dual (contenda cada una apenas un vaso cerámico), geral, á parte norte ocidental da Península Ibérica é conectada passivelmente con una prineira fase de poderíamos admitir, can base na prapasta de C. ocupagito daquele povoado, forneceu-nos un indicio Renfrew, que o fundo indo-europeu pré-celta, que importante. De Cacto, a presenga de uma pequena parece caracterizar a regiáo, jA faria parte integrante sepultura, com toda a verosimilhanga infantil (sepultura das populagñes que ai viveriam, no II milénio a. C. e IV), permite-nos colocar a hipótese da transnissáa que dispunhan de una economia agro-pastoril. Tal hereditária de um estatuto social superior, no seia suposigao explicaria, com vantagen, o enraizanento desta comunidade das sécs XIii-XII a. C.. AliAs, tal profundo do substracto indo-europeu, a nivel linguis- fenómeno, a ter-se dado, condiz con o processo tico, sobreposto posteriormente, peía menos nalgumas sugerido de intensifigito económica, no qual a posse e áreas, par elementos celtizantes. transmissito da terra se tornaria numa base funda- mental da sustentagito da estabilidade das novas 3. A IDADE DO BRONZE FINAL DO. elites. Crentís, na verdade, que no Norte de Portugal, NORTE DE PORTUGAL: PROPOS- particularmente nas actuais provincias do Minho e TA DE EVOLUCÁO CULTURAL (*) Douro Litoral, durante esta primeira etapa do Bronze Cama jA se escreveu en trabaihos recentes (Jorge siqflo e tamb¿n porque sto visiveis algumas d¡feren~as ao nivel 1988b, 85-112; no prelo), reconhece-se, no estado do rs~gisto arqueológico. analisaremos, nuro primeiro momento. et A área que doravante abordaremos. sendo cxtensa, ¿ atraveasa- a, prnvtncias do Minho, t5ouro t3torat, trás-os-Montes e Atto da peto Ho Doaro. Por urna queatao de comodidade de expo- Douin e, nun~a segunda rase, a provincia da Beira Atia. 354 M. MARTtNS - S. O. JORGE

Final, teráo emergido, correlacionadas corn povoadas acorrer atnda, alén de mainhas manuais ou artefactos de vocagito agro-pastoril, necrópoles de sepulturas liticos, raros objectos metálicos. Os recipientes cerá- planas, de inumagAo individual (abertas no saibro ou micas das povoados sito, na sua generalidade, lisos, en cistas) contendo un au mais vasos cerámicos, mas por vezes ínserem decaragito plástica (manilas e entre os quais se canta una forma regional ben cardñes). Muitos tem bordos decorados con incisñes conhecida no Noroeste, a das recipientes chamados ou puncianamentos. Contudo, para alén das excep- de «largo bordo horizontal». cíonaís vasos de «largo bordo» podem surgir, espora- Os materiais insertos nestes contextos habitacianais dicamente, cerámicas decoradas con as técnicas de e sepulerais datáveis dos sécs. XIII-XI a. C. sito, na «Boquiques>, incisito ou excisita, con nítidas paralelos sua maior parte, cerámicos. Nos povoados padem en exemplares da «Cultura de Cogotas 1» da Meseta

¡ ~ ¡

-t

0 10cm

Fío 1. Recipientes cerámicos do povoado do Bronze Final da Bouca do Frade. SUBSTRAíO CULTURAL DO NORTE DE PORTUGAL 355

4”,

4 UBe, it

o -“u t r N. ‘4 ql 3

4% (4—

Fin 2. cerámicas do povoado do Bronze Final da Bo¿¿~a do Frade: 1. 2 e 4. «tipo Cogotas 1»; 3. «largo bordo horizontal»; 5, «tipo Raides,,. 356 M. MART?NS - SO. JORGE

Norte. Conhecema-las por exemplo nos povoados da persistindo una grande raridade en «habitats,>. No Bauga do Frade (Baiita), au Monte do Padrita (Santo entanto. en alguns destes existen pravas inequívocas Tirso) e ainda ern «habitats» inéditos da zona do dc una metalurgia do branze feita in laco. Dauro. Na necrópole do Tapado da Caldeira, na A par de povoadas (e sepulcros) do tipa já sepultura III, foi exumada urna bela «fuente» decorada mencionado a propósito da fase anterior, os quais segundo aquelas técnicas tito típicas das comunidades continuarito a ser utilizados (ou construidos) durante do Bronze Final da Meseta. Se os vasos «de largo esta etapa, poderito surgir na passagem do milénio os bordo horizontal» se poderito interpretar enquanto prineiros «habitats» alcantiladas, con defesas naturais recipientes de luxo característicos do Noroeste penin- ou mesmo artificiais. como aliás a sugeren as sular, a presenga de cerámicas de «tipo Cogotas lo en cronologias absolutas de 5. Julito (Vila Verde) e pavoados e nuna necrópole desta Area deverá ser Coto da Pena (Caninha) (sec. X a. C.). Nesta classe justificada peía interaegito das diferentes comunidades de povoados ocarrerita. en regra. para alén de da Meseta e da fachada atlántica. Como tambén jA cerámicas comuns. locais e regianais. recipientes sugerimos en sínteses recentes, a procura de estanho brunidas, lisos ou decorados, do tipa «Baiñes/Santa ou de artefactos en bronze por parte das populagñes Luzia,,. Tais cerámicas, de morfologia supra-regianal. nesetanhas, nesta fase inicial (anterior ao dinamismo parecen acompanhar, en alguns destes «habitats». das suas «oficinas» locais), poderia estar na base de artefactos metálicos. A titulo meramente exemplifica- intercámbios entre aquelas regiñes, estabelecendo-se tiva citemos Castelo de Matas (Baiito), Castelo de asstm canais de contacto através das quais, por Aguiar (Vila Pouca de Aguiar), 5. Juliito e Barbudo ~ centrais hierarquia com base no controlo da produgito de bens que se assenharariam tanto da produgita e circulagito de subsistencia resultantes de una economia agro- metálica, como da redistribuigita de produtos de pastoril evolucionada; nanipulagito por parte de consumo básico. Tal modelo de povoamento comega, cedas elites das vias de circulagita e intercámbio do por exemplo, a ser testado numa regiita bem delimita- metal, integrando-se assim, desde cedo, en amplas da, cama é a bacia da Ovil en Rauta. Durante esta redes de aliangas supra-regionais que paderian abarcar etapa, coexistem povoados abertas con fossas, como o centro da própria Península. por exemplo a Bauga do Frade au a Lavra, e Durante asegundo período, entre e. de 1000/900 a. povoados de altura, can defesas naturais, como C. e c. de 700 a. C., é visivel una naior quantidade e Castelo de Matas ou, mesmo, a Alta da Caldeira. Os progressiva diversidade de artefactos metálicos pro- primeiros, se devidamente articulados con os segundos, duzidos au en circulagito: machados de taIta e no mesmo sistema de povoanento e esfera de alvado, pontas de langa de alvado, punhais afins ou interaegita, poderiam funcionar como «celeiros,> da da «tipo Porto de Mós», una eventual espada (de comunidade. Aos «habitats» de altura poderia, entre- línguade carpa?), e ainda utensilios de uso quotidiano tanto, competir a gestita da produgita metálica e a ou de prestigio, cono foices de taIta e de alvado, controlo das intercAmbias a distAncia, o que, dada a facas, cinzéis, fibulas de arco nulticurvilíneo, capacetes campetigito que essa actividade despoletaria, justificava de crista ponteaguda, ealdeiróes, ganchos para carne a ocupagito de cerros alcantilados, ande nais facilmente e espetas articulados em bronze. A ourivesaria está os seus habitantes se pudessem defender de eventuais representada por braceletes e espirais, ande ¿ possível agressñes. verificar, num caso (o bracelete de Cantonha), a O aparecimento destes novas povoados de altura, peculiar simbiase do estilo «Villena-Estremoz» cono tal como en autras regiñes da fachada atlántica o de «Sagrajas-Berzocana». A grande maioria destes peninsular ven acampanhado do incremento da artefactos deve ter sido fabricada no local segundo pradugita metalúrgica e de sinais da «influéncia,> modelos alógenos. Se atendessemos a recentes tearias cultural mediterráñica. As cerámicas brunidas (em como a de Almagra-Gorbea (no prelo), teríamos de particular as decoradas) e outros elementos socio- aceitar una influencia mediterránica Da produgito de técnicos nito sito mais do que indicios desse novinento tipos como foices de alvado, capacetes, caldeirñes e mais geral. De facto, a necessidade das «oficinas,> ganchos para carne, além, claro, de punhais «Porto de locais colocaren produtas en novas áreas receptaras Mós,> e fibulas de arco multicurvilíneo en bronze. do «mercado» atlántica, mesma en plena mundo Muitos destes objectos poderito ter pertencido a nediterránico, terá provocado, a partir das inicios do «depósitos». A naioria aparece fora de contexto, 1 nilénia a. C., una forte competigita entre os StIBSTRAlO CULTURAL DO NORTE [lE PORTUGAL 357

y-e -3

d 4 ¡ c — e’. 4 -e -4 e 1

‘1 ) y

0 5

Fíe 3. Ma¡eriais da Fase 7? Povoado de 5. JuliJo. 358 M. MARTINS - S. O. JORGE diferentes centras produtares e «intermediárias» pe- fico da exemplar de Faites, e quisemmos associá-lo A ninsulares. A prazo, temA sido inevitável a emergéncia vantade de representar un personagem mais indivi- de importantes desigualdades e assinetrias de poder dualizado, talvez possanos estabelecer um paralelo nas «unidades socio-políticas». con aquese observa nas «estelas de tipo estrenenho,> Cremos que será neste contexto de alguma instabi- do SO. Assin estaríamos neste caso, possivelnente, lidade social generalizada (nos trés séculos que perante o culto de determinada figura divinizada ou anteceden o impacto fenicio na Península) que se tito sé heroificada, cuja nenória quigá se quisesse deve compreender o fenómeno abrangente das arqui- manrer viva no seío da comunidade que a honrava. tecturas fortificadas e, en última análise. a ascensto A distribuigito na Beira Alta das artefactos metálicas de certos chefes can poder acrescido. integrados no «camércio» atlántica adverte-nas para No Norte de Portugal, a supremacia de cedas elites o fenómeno, precoce nesta área, de produgito e poder-se-ia ter materializado, segundo nossa sugestita circulagito daqueles objectos (pelo menos desde os (Jorge 1988b, 104-105; no prelo), na feitura de sécs. XII/XI a. C.) (Jorge no prelo). Para alén de algumas estátuas-nenires recentenente descobertas. machados de taita sen anéis au can un só anel. Referina-nos particularmente ás estátuas-nenires de conhecemos rnachados de apéndices. punhais «tipo Chaves e Faiñes (Chaves) e, de forma mais remota, á Porto de Más», espadas pistilifammes. langas de da Bauga (Mirandela). Consideramos a estátua-menir alvada e braceletes magos, cuja tipologia aponta, chamada «da Porto» (e provavelmente oriunda de 5. segundo os faseamentos de A. Coffyn (1985) ou Jato de Ver, em Vila da Feira)já proto-histórica (isto Almagro Gorbea (1986. 350-532). para una época é, de una provável Idade do Ferro). Quanto ao charneira entre o Bronze Final 1 e o Bronze Final II. exemplar da Ermida (Ponte da Barca), devida á Por autro lado, na Beira Alta as estelas recenternente auséncia de atributos que pernitam estabelecer para- descobertas de Baragal e de Foias (Sabugal) vern lelos fiáveis, preferimos de momento nito a incluir ajudar a compreender melhar a estrutura social de nesta série, embora a consideremos nais tardia da cedas comunidades metalúrgicas, cujas elites detinhan que o proposto pelo seu descobridor. As pegas de certamente o controlo de rotas terrestres na procura e Chaves, Faiñes e da Bauga, tem algo de comun, para distribuigáo da metal. alén de se tratar de exemplares ande a configuragito A pega de Baragal integra-se no sub-tipo líA da antropomórfica se encontra mais ou nenas expressa: grupa das «estelas estremenhas» formulado por Varela apresentam no reverso un atributo similar, de Corma Ganes e Pinho Monteiro (Gomes e Monteiro 1976- sub-rectangular alongada, con ligeira alargamenta 77, 281-343), cuja céntro se lacaliza, coma é sabido, terminal. Tal atributo (adorno de vestuário?) lembra na Estremadura espanhola. Sito estelas possivelnente vagamente as figuragóes ancorifomnes das Lampas de datadas das sécs XII-XI a. C., incluinda como é sepulturas da Branze da SO e, dado a contexto en característico deste sub-tipo, en pasigito central que acorre, também aqui poderia ser interpretado dominante, un escudo con chanfradura en V, cama um símbolo padronizado de poder. AliAs, tal ladeado por una langa e una espada. elemento, con una estilizagito ligeiranente diferente, A estela de Foios insere-se no sub-tipo lIB, tambén surge na pega «da Porto», insinuando una apresentando ainda, alén do tema clássico, e segunda eventual perduragita da mesma insignia de poder. o autor da seu estudo, o esbogo de uma fibula. É Todavia, das trés estátuas-nenires inicialmente referi- datada das sécs X-IX a. C.. Este sub-tipo acusa en das, apenas as de Chaves e Faiñes estito amadas. Par ternos peninsulares, novas influxos culturais medite- autro lado, a de Chaves e a da Bauga sito verdadeiros rránícos (se aceitamos a tese de que o própria escudo nenires fálicos, aos quais se apuserarn (sen que tal já se inspira em protótipos orientalizantes), através da abrigue, note-se, a consideragito de duas fases culturais inclusáo de un ou mais atributos (espelbo, pente, diferentes de elaboragito das pegas) autros atributos fíbula, carro de combate au de transporte e capacete). individualizantes. Cantuda, se do ponto de vista Contudo, a escudo continua a dominar as campo- meramente tipológico, o exemplar da Bauga (menir sigóes, senda aparentemente cultuada, através destas fálico + insignia) é nais simples do que os de Chaves pegas, a fungito social do poder. De referir que as (menír fálico + insignia + correia + arnas) e Faiñes estelas de Faios e do Baragal (Sabugal) constituen os (laje antropomórfica + insignia + correia + arma), de exemplares do tipo «estrenenho» nais setentrionais un ponto de vista cronológico-cultural tais exemplares canhecidos até A data na Península. Curiosamente a tanto podem ser contemporáneos como de épocas sua tipologia integra-os numa fase ben antiga. diferentes. Quanto as armas das pegas de Faiñes e A partir do séc. X a. C. (se nitojá antes) poderita ter Chaves, elas estito embainhadas, pelo que é dificil comegado a aparecer en vArios pontos da Beira Alta deduzir a respectiva tipología. (este fenómeno assume características curiosamente No geral, parece que nos encontramos face a trés bern senelhantes en quase toda o território portugués) representagóes con carácter antropornórfico mais ou povoados de altura cam boas condig5es naturais de nenas esbogado, eventualmente relativas a personagens defesa, alguns das quais fortificadas (recorrendo a de estatuto social superior, glorificadas na sua fungito rnuralhas, fossos ou aterras). Nesta área global men- social de comando, ou entidades míticas ou divinas cionaremos apenas, cano exemplas, Castelejo (Sabu- nas quais se projeetau o carisma inerente a tal fungto. gal), Cabega da Castro de 5. Ramito (Seia), alén das Dada a ben conhecida polissenia dos símbolos, nada conhecidos povoados da N. Senhara da Guia (5. impede, antes sugere, que tenhan tido todos esses Pedro da Sul) e Sta. Luzia (Viseu). Futuras pras- significados ao mesmo tempo. Se, de entre as trés, pecgóes nesta regita deven, a curto prazo, vir destacamos o aspecto nais nitidamente antropanór- ampliar a lista de povoados desta fase. SUBSTRATO CULTURAL DO NORTE DE PORTUGAL 359

O que aglutina estes habitats de altura, para alén do próprio Alenteja (Cerradinha/Outeiro do Circo), do seu carácter defensivo, sito alguns das materíais os quais talvez imiten, por sua vez, padrñes decorativos cerámicos constituidos por recipientes brunidos, fre- mediterránicos. Nestes povoadas podem ainda acorrer quentemente carenados, por vezes decorados, segundo artefactos metálicos insertas no ámbito cultural das as técnicas da brunidura e da incisito (pré ou pós tntercánbias supra-regianais que temas vindo a ana- cazedura). Se as formas cerámicas carenadas se lisar. integran nun quadra tipológico global recorrente no De entre as estagñes referidas, gastaríamos de Baixo Tejo, no Alentejo e no Norte de Portugal as realgar a.lguns aspectos recentemente publicados sobre decaragñes poden assumir aqui variantes, senda o povoado de N. Senhora da Guía (5. Pedro do Sul). muito habituais as incisóes e os puncianamentos de Sobre este habitat já amplamente divulgado sob a «tipo Baiñes/Santa Luzia,,. Trata-se de una variagita forma de múltiplos artigas, gostariamas de chamar a local das «ornatos brunidos» característicos das atengito para a associagito nele verificada de cerámicas estagóes da Baixo Tejo (Alpiarga,’ Lapa do Fumo) e brunidas de «tipo Baióes/Sta. Luzia» com variadiss¡- ~1

SI’ ¿

0 5

‘4%

Fin 4. Cerámica da Fase IL 1, 2 e 4, 5. Julia 0; 3 e .5, Castro do Barbudo. 360 M. MAR1INS - S. O. JORGE mas artefactos metálicas, nomeadanente os recente- cultural, colocaran o seu nivel de habitagito no sér. X mente encontradas num «depósito», cujas branzes a. C., dando assin una certa consisténcia aos pará- náo aparentavan sinais de utilizagito. Entre os metros da cranologia relativa (inferidos através de artefactos de bronze deste pavoado cumpre destacar: analogias tipalógicas) já mencionados, no que toca it machados de taIta can dupla anel e un molde origen das povoados can cerámicas brunidas desta bivalve de fundigito de machados de taIta unifaces área. Un breve balanga sobre o Bronze Final da con um anel; faices de alvado (de tipo británico?); Norte de Portugal (a Norte e a Sul do Daura) revela- tagas hemisféricas con decaragita incisa geométrica nos, nas diferentes áreas que constituen esta ampla sab a borda; pontas de langa de alvado; un punhal regito, indicios de un fenómeno abrangente de con cabo de bronze (grande percentagen de chumba) hierarquizagito social e de insergita das comunidades e lámina de ferro; carros votivos; gancho para carne e lacais nun processo de intercAmbios en larga escala. espeto articulado. Entre os objectas de adorno en Assim, nas regiñes interiores de Trás-os-Mantes e aura, há que referir a presenga de dais torques e un da Beira Alta, algunas estátuas-menires e as conhecidas bracelete, macigos, de seegito circular, decorados «estelas» sito carrelacionáveis con o culto de chefes segundo a estilo «Sagrajas-Berzocana» e um par de guerreiros no seio de populagées certanente nuito braceletes de fita larga tanbém decoradas can hierarquizadas, implantadas en zonas ricas em estanha caneluras e incisóes geométricas nas extremidades. O au en «corredores de passagem» entre áreas produtoras interesse deste conjunto, adiado no interior do de estanho e cobre. recinto habitada, para alén de provar a prática de Por autro lado, a partir, pelo menos, do séc. X una importante metalurgia nun povoado con cerá- a. C., a emergéncia de povoadas alcantilados, con micas brunidas do ámbito «Haiñes/Santa Luzia», defesas naturais ou artificiais, en toda esta vasta revela ao mesmo tempo, segundo Almagro Gorbea regiito, parece ser simultánea da intensa produgito e (no prelo), a plena penetragito de camportamentas circulagito de artefactos metálicos. Trata-se de un rituais e simbólicos mediterránicas no seio de comu- «movimenta» mais geral que atingiu una grande nidades situadas na fachada atlántica peninsular, parte da Península desde os inicias do 1 milénio a. C. ainda durante o Branze Final III (900-700 a. C.), na Implementaran-se inúmeras «oficinas» lacais, as quais verdade, para aquele autor, nito só as foices de intensificaran as suas relagóes can os tradicionais alvada, os carros votivos, o gancho para carne e as centros atlánticos, quer can navas «mercados» situadas tagas hemisféricas parecen copiar modelos «orientali- no Mediterráneo. Desse processo resultaran certa- zantes», como a presenga daqueles tres últimas arte- mente competigóes intercomunitárias, respansaveis, factos indicara a posse de una utensilagem de presti- en última análise, pelo aparecimento de novas gio e poder, para ser utilizada en banquetes rituais, povoados con incisivas necessidades defensivas. ao gasto das elites mediterránicas. Ntste sentido, a Na canfluéncia de múltiplas «influéncias», a com- existéncia destes objeetos registaria a assinilagáo de ponente mediterránica parece ter deixado fortes una estrutura ideológica, bastante mais profunda e marcas culturais, sobretuda a Sul do Doura, desde, complexa do que a simples cireulagita de items socia- pelo menos, os finais do 11/ inicios do 1 nilénia a. C. técnicas deixaria pressupar. Assin, se explicara a presenga das estelas de «tipo A argunentagita de Almagro-Garbea, que pretende estremenha» e ainda os abjectas rituais en branze valorizar a componente cultural mediterránica nos encontrados no povoado de N. Senhora da Guia, na contactos supra-regionais europeus, anteriores it in- Beira Alta. Tais ~

—— IV 300

250

‘50 ¡00

50 o e loo

SO ~ ~ .~ 2 — a 200 u1¡ ¡ ~JJ 250

350

~ 500

600550

SSO 1—— 700

750 fi VW~. p~

3 900

950

Xt~ ¡¡00

Fui; 5. Cronologia do I’J milénio a. C. e datas de C 14 conhecidas para o N. O. peninsular (rijo calibradas). con acontecinentos que se prenden directa, ou distAncia. Os factores que favoreceran a nudanga da indirectamente con o NO, alguns das quais narradas cultura material entre os sécs. VIII/VII e os inicios da nas fontes literárias. Esta situagita é particularmente Ronanizagito parecen articular-se predominantenente válida para os últimos séculas do 1 nilénio a. C. Para con as características da regiita, con os constrangí- 05 séculos anteriores utilizan-se coma supones cro- mentas de una alta densidade populacional, con nológicas as migragóes e una rede de influéneias una escassez de recursos, au de neios técnicos para técnicas e estilísticas, cuja repercussito raramente ¿ rentabilizar os existentes. Este quadro nito exclui avahada. obviamente a importAncia da difusito de técnicas ou A criagito de un modelo de evolugito interna, no pradutos de origen exógena, nen tito pauco as qual sejam valorizadas mesma os aspectos nats arcai- eonsequéncias que a conquista romana da Península zantes da cultura material e en que as explicagñes terá tida no seu desenvolvimento. O que nito está para a alteragita do regista arqueológico sejan procu- estabelecido sito as repercussñes de tais pracessos na radas no ámbito da dinámica interna das próprias evolugita cultural, pais nen sempre elas se fizeran comunidades e en ternos da sua interaegita, nito sentir de forma directa, ou generalizada. eanstitui todavía una mera questito de moda. [la O quadra cronológico de boa parte da 1 nilénia decarre da própria lógica do registo arqueológica da a. C. e en particular do período que genericamente regiito, no periodo posterior a 700 a. C. Este assinala coincide con a Idade do Ferro europeia (séc. VIII,’ VII- una fraca permeabilidade it nudanga e una reduzida 1 a. C.) é demasiada grosseiro e generalista, senda os evidéncia de bens de consumo, sugerinda tránsito á marcos divisórios das grandes fases de evolugita en SUBSTRATO CULTURAL DO NORTE DE PORTUGAL 363 nuitos casos puramente convenclanais. A tentativa de construir modelos de evolugita interna, relegando para segundo plano os marcos convencionais da His- I0• FIAlliS tória do NO, depara can enormes dificuldades, utilize-se como critério a fenómeno da petrificagito ¡¡mii das casas. considerada como un marca importante ci- na formagito da Cultura castreja (Almeida 1983, 70- umini’ 74; 1986, 161-172), ou a evolugito da cerámica en 200 canjugagita can autras aspectos da cultura material (Martins 1987). Por autro lado, há que destacar 200 importantes regionalismos dentro desta área e un acentuado polimorfismo das estruturas en certas 400 momentos, que poderito indicar a existéncia de varios modelos evolutivas e nito apenas de un só. Con base 500 nos dados disponíveis será de supar que certas áreas tenhan conhecido un maiar dinamismo do que *00 autras e que certos processos tenhan tido um redu- zido impacto regional, cano pode ter acontecido con t00 os contactas con o Mediterráneo, documentadas arquealagicanente na arIa litoral portuguesa e galega *00 (Hidalgo Cuñarro 1984, 371-384; Silva 1986, 33-37). As prapastas cronológicas e as etapas evolutivas *00 que passaremos a analisar tén en canta apenas os 1000 resultadas acumulados peía investigagita das últimos 15 anas e é válida basicamente para a regiito da Entre- Fue 6. Propostas cronológicas para a evolu~ao dos Doura-e-Minho (Soeiro ¡984; Hock 1986; Silva 1986; casiros do A’. O. peninsular. Martins 1987; Almeida 1987). Por ara, é inpossivel articular e muito menas generalizar os dados desta da regiáo, designadanente no tesauro de Baiáo, no regiáo con os de Trás-as-Montes e Heira Alta. Os colar de Malhada e na arrecada de Pagos de Ferreira conhecimentos relativos a essas áreas sito demasiado (Silva 1986, 232-239). incipientes e estamos mesmo en crer que terito sofri- No mesmo período fizeran-se sentir na regiáo do do una evolugito diferente, mais articulada con a NO influéncias continentais, que se traduzen a nivel Meseta e vale do Daura. da aurivesaria, na generalizagita da decaragita a O período que corresponde genericamente it 1 pungio e estanpilha, presente nos torques de Gondei- Idade da Ferro, en ternos meramente cronológicos ra, Malhada e Soalháes. A presenga desses elementos (séc VIII/VII-V a, C.), e habitualmente incluido estilísticas e a acultanento de jóias e autros depósitos numa fase 1 da Cultura castreja, que carresponderia como Serrazes, Baralhas, Figueireda das Donas e até aa séc. VIII a. C. aa plena desenvalvimento da Vila Coya de Perrinho, sito interpretados por A. C. metalurgia da bronze no NO. Esta poderá ter-se man- Silva (1986,121) como un sinaí de inigragito de tido residual ainda nos séculas seguintes (séc. VII/VI papulagóes indo-europeias, portadoras de influéncias a. C.). Nito existen tadavia datas para este periodo halístáticas. que documenten a continuidade de una pradugita A dualidade de influéncias externas, mediterránicas metalúrgica do bronze. A. Cocího da Silva considera e continentais, reconhecida para a periodo entre os que o período entre o séc. VII-Va. C. representa una sées. VIII/VII/V a. C., ter-se-ia assim feito sentir importante sub-fase (IB da sua cronalogia), pais ela essencialnente a nivel de bens de prestigio, quer testenunha una dualidade de influáncias externas, resultení de una produgito local, ou exógena. Con arquealagicanente ben documentadas (Silva 1986, efeito, a evidéncia arqueológica nito testenunhou até 33-37). ao momento quaisquer autros sinais dessa dualidade A presenga de alguns materiais metálicas no de influéncias, nen parece fácil aferir o seu impacto a povoado do Coto da Pena, en Caninha, naneada- nivel económico ou social. mente una fibula tipo Acebuchal, pendentes de Sabemos que alguns povoados poderita ter sido bronze tipo sanguessuga e pingentes de eixo alongado, abandonados nos inicios desse período, cono é a caso rematados en disco, testenunhan contactos da da povoado aberto da Bauga do Frade, Baiito (Jorge regiito litoral da NO con o mundo orientalizante, 1988a), ou do povoado de Castelo de Matas, tambén resultantes de un comércia par cabotagen, aa longo en Baiáo (Queiroga 1988, 112-138), ou do própria da casta. O mesma tipo de abjectos, ou autras da pavoado da Sra. da Guia, na Beira Alta (Kalb 1978, mesma origen, está presente en pavoados da aria 112-138>. Todavia, estes casos nito parecen suficientes litoral galega, designadamente en Santa Tecla, La para documentar a chegada de elementas populacionais Lanzada, Alobre e o Neixon, senda igualmente de índo-europeus ao Norte de Portugal. A justificagito destacar a sua ocorréncia no pavoado de Santa para o abandono de tais povoados, embora passa ter Estevito da Facha, en Ponte de Lima, en territória sido diferente de caso para caso, pode articular-se portugues (Almeida et alii 1981). Os contactos cono con a declínio das mesmas, relacionado, pelo menos mundo de Tartessas estito igualnente expressas a no caso de Castela de Matas e da Sra. da Guia, con nivel técnico, estilístico e morfológica na aurivesaría a estagnagito da actívidade metalúrgica. 364 M. MART!NS - .. O. JORGE

Todavia. alguns pavoados já fortificados en inicios mentada através de estudos palinológicas realizados do 1 milénio a. C. paderito ter perdurado neste en vArias lacais do Norte da Península (Aíra Rodrí- período, coma parece ter acontecido con a povoado guez et ahí, 1989; Olivier 1988). Essa degradagáo cli- do Cato da Pena, en Caminha, ou 5. Juliito, en Vila mática poderia correlacionar-se can una dininuigita Verde. Tanto quanto é possível avahar can base nos da actividade agrícola e o reforgo da componente escassos dados disponíveis para este período, a cerá- pastoril na ecanomia das comunidades da Idade do micadeverá ter sido subsidiária daquela que caracteriza Ferro, it semeihanga aliAs do que parece ter acontecida os inicias do 1 milénio a. C., ainda que seja de presu- nautras regiñes europeias. mir una eventual rarefagita de formas nais luxuosas, O periodo compreendido entre o séc. V/IV a. C. e cono as tagas carenadas. Estas, já totalmente ausentes II a. C. define para a generalidade das investigadores no período seguinte paderian constituir un iten de una autra fase na evolugito das comunidades da NO. prestigio de valor regional (Jorge no prela). O séc. y a. C. é mesma considerado por alguns O fin dos corredores de circulagito do branze terá autores como un marca histórica do NO, una vez certamente afectada a produgita e economía da regiita que assinalaria a imigragita para a regiito de Túrdulos da NO peninsular e talvez mesmo, a sua arganizagita e Célticas, referida por Estrabáo (111,3,5); (García e social. Esta situagito poderia ter levado ao rápido Bellida 1952; Silva 1986), mas que autros autores declínio das comunidades que estivessen nais direc- preferen situar no séc. III a. C. (Alarcito 1988). tamente envolvidas na explaragita, produgito e clrcu- A presenga de Túrdulas Velhas na margen esquerda lagita de natérias-primas e produtos, a que justificaria, do Dauro, referida par P. Mela (111,8) e Plinio pelo menas nalguns casos, a abandona das próprios (IV,l 12-113), documentada nas tesseras de Monte povoados. No entanto, cía paderá ter afectado desi- Murado (Silva 1983, 9-26), nito serve contudo para gualmente a regiito. De qualquer nodo, nada indica datar tal expedigito. Por autra lada, se podemos ad- para o período en análise una descantinuidade mitir que os Túrdulas nito ocuparaa una area alén cultural, senda antes provável que as comunidades se Daura, nada sabemos quanto it regiáa para ande se tenhan isalado mais e que tenhan diminuido as terito deslocado os Celtas, embora seja sugerida que esferas de interacgáo entre cías. Esse facta,justificaria estes se dirigiran para a Galiza (García e Bellido a falta de navidades técnicas na regiáo e una certa 1952; Silva 1986, 37). heterageneidade de tragos culturais representados na Outras autores, coma C. A. Almeida (1983, 70-74; organizagito das habitats e nas estruturas, aspectos 1986, 161-172), baseando-se na arquitectura doméstica, ben patentes no registo arqueológico de meadas do 1 julgan ser o séc. IV a. C. o momento que definirá o nilénio a. C. Por autro lada, o facto de a joalharia inicia de una nava fase (Fase antíga do castrejo da parecer ter sido a único aspecto tacada par influxos sua proposta evolutiva), que se desenvolvería até técnicos e estilísticas de natureza exógena poderá sig- César. Na opiniito daquele autor o séc. IV a. C. nificar que as elites nantiveran una certa enulagito, representaria una viragen na evolugito das comuni- aliangas, ou contactos, un pauco mais alargadas, que dades da regiito, definindo mesmo a inicio da Cultura nito terito chegado a afectar profundamente os hábi- Castreja, una vez que a partir de entito se generalizariá tos da generalidade das papulagées. o hábito de construir as casas con pedra, situagita A auséncia de ferro neste período pode ser tanta testenunhada en 5. Estevita da Facha (Almeida et explicada pelo desconhecimento da sua teenolagia, alii 1981). No entanto, este critério nito se afigura cama peía inexisténcia na regiita de jazidas deste fidedigno, país se alguns povoadas poderita ter metal. Ela pode traduzir tambén o desaparecinento conhecida essa inovagito ben cedo, ela parece ausente de tracas de ámbito alargado, que abastecessen a en nuitos autros, ande se continua a construir con regiito, o que refargaria o seu isalanento económico e materíais perecíveis até peía menas ao séc. II a. C. (5. explicaría a sua marcada individualidade a nivel da Juliáo, Barbudo, Lago) (Martins 1988a; 1988b; 1989). habitat e das cerámicas, en relagáa a autras áreas Parece-nos que o problema da petrífícagito das casas peninsulares limítrofes. deverá ser entendida como un dos indicadores do A evidéncia arqueológica da período en análise acentuada polimorfismo destas comunidades, a nivel parece-nos insuficiente para dela se poder inferir da arquitectura e da organizagito das próprios habitats quaisquer fenómenos de migragita para o Norte de e mesmo das discrepAncias económicas e soeiaís que Portugal, que possam ter afectada profundamente a existirían entre elas. Ainda na prineira metade do substracto étnico das suas populagées. As alteragées séc. 1 encontramos simples cabanas de materíais pere- do registo arqueológico que faran constatadas en cíveis no povoado do Lago, en Amares (Martins relagito ao Bronze Final, parecen poder ser correla- 1988a), num momento en que muitos castros de cionadas essencialmente con fenómenos de natureza altura erguian já una imponente arquitectura pétrea, económica (retracgáo da pradugáo e das mercadas, militar e doméstica, ben documentada na generalídade diminuigito da activídade metalúrgica, naior auto- das povoados nais escavados da regíita da Minha suficiéncia das comunidades) e social (menor aportu- (Ramera Masiá 1976; Silva 1986; Martins 1987). nidade de emulagáo entre elites, crise de posigées de As diferentes prapostas para o inicio da Fase II da prestigio dentro e entre comunidades), que necessítam evolugito das castras traduzen una incipiente investí- de naíor aprofundanenta a nivel arqueológica. Par gagito deste periodo. Pelo nosso lada nito temas qual- autro lado, nito será de desprezar tambén, para este quer hesitagito en aceitar que a conego desta fase periodo, os efeitas de una possivel deteoragito passa situar-se nos sécs. VII,’ VI a. C., pois considera- climática, detectada en vastas regiñes da Europa da mos que a alteragito mais significativa no registo Norte e Central e que ven senda igualmente dacu- arqueológica será aquela que se observa posteriormente SUBSTRATO CULTURAL DO NORTE DE PORTUGAL 365 ao séc. VIII,’ VII a. C., quando desaparecen as condi- de contactos iniciados nos séculos anteriores (Silva góes relacionadas con a pradugito e circulagito das 1986). Os quantitatívos de nateriais dessa proveniéncia objectos de bronze. No entanto, considerando que o (alguns fragmentos de ánforas pánicas, ou mesmo processa nao tenha sido brusco, mas lento e que as ímitagóes, e fragmentos de cerámica grega) sito ainda suas repercussóes a nivel da cultura material possam pauco significativos para justificar a ideia de un ter levada algun tempa a estruturar-se, aceitamos camércio organizado entre a regiita e o mundo medí- cono marca meramente hipotética os sécs. VII,’ VI a. terránico, nos sécs. V-IV a. C. Eles poden traduzir C. para o inicio de una nava fase cultural. símplesmente a ocarréncia de expedigñes prospectivas, A nivel da cultura material a principal alteragito que terian tocado vários pontos do litoral portugués digna de nota consiste na generalizagito de un tipo de e galega, mas que nito se terian materializado nun cerámica, cuja morfología se inspira en fornas pré- circuito comercial consequente (Martins 1987). No existentes no Bronze Final, mas cwja técnica de entanto, por essa via terito chegada influéncias técni- execugito é diferente. Esta caracteriza-se basícanente cas e estilísticas, que afectaran a produgito dejóias da por possuir abundantes partículas de nica acrescenta- fachada litoral, ande dominan os colares de fornas da, facto que confere un aspecto brilhante ás suas campósitas, it base de placas e saldas, documentadas superficies. O repartório de fornas restringe-se consi- no tesouro de Estela, Póvoa de Varzin, a granulado deravelmente, centrando-se agora na produgito de 3 e pseudo-granulado e a filigrana, característica das ou 4 tipos diferentes. Esta alteragito parece relacionar- arrecadas de apéndice triangular (Silva 1986, 234). se nais con un certo empobrecinento material O autro grupo de aurivesaria identificado por M. destas comunidades do que con influxos exteriores. Cardosa na regiáo de Chaves (1942, 98; 1965, 168), de Estando por datar o momento exacta en que este influéncia céltica, cinge-se aos torques e braceletes tipo de cerámicas faz a seu aparecímento será de con decoragito geométrica, de nativos curvilíneos, salíentar que a prática de acrescentar nica As pastas circulas. SS, par vezes associados a línhas e recticula- acorre já en pegas datadas do Bronze Final, pelo das. menas nos povoados de 5. Juliito e Barbuda, no vale Nito é fácil estimar o impacto das influéncias do Cávado (Martins 1988b; 1989). externas: assinaladas a nivel da aurivesaria nautros Nito se constatau ate ao momento alterag5es no aspectos da cultura material, senda difícil inferir o seu tipo de habitat, en meados do 1 nilénia a. C. E pro- significada cultural, ou social. Tratando-se de meras vável que nuitos povoados que foran ocupados no ínfluéncias técnicas e estilísticas, registadas a nivel de Bronze Final tenhan perdurado e que muitos autros, abjectas de prestigio será de supor o seu reduzido con as mesmas características, possan ter emergida impacto, fora da esfera das elites que detinhan tais durante esse periodo. No entanto, a prudéncía nito objectos. De qualquer nodo, as correntes de inspiragita acanselha grandes generalizaeñes a este propósito, meridional e continental parecen acusar una certa país dos 825 castras catalogados por A. Caelho da continuidade, entre os sécs. VII-TV a. C., pelo que, se Silva para a regiito do Norte de Portugal apenas traduzissem realmente a chegada de elementos popu- tenas referéncias cronológicas sobre o momento lacianais flavos, teríam forgosamente que ter afectado inicial da sua ocupagita para cerca de 20 deles (Silva autros áspectas da vida material da regiito. 1986). Alguns povoados parecen conhecer nesta fase As comunidades da Fase II parecen exercer un modificagóes das estruturas defensivas (Martins 1988b; rigoroso controlo sobre una gana pauco variada, 1989). Estas carecen contudo de una datagito nais embara homogénea, de recursos (caga, pesca, recale- rigorosa e poden testemunhar un fenómeno pantual cgito pastorícia). Tais recursos nito parecen favorecer e nito alargada. grandes tracas entre regíñes, nen tito pauco una A generalizada auséncia de produgito metalúrgica acumulagito perceptível de riqueza. A exploragito de nesta fase traduz una perfeita cantínuidade en reía- metal íarece restringir-se a exploragito da aura gito aos sécs. VII,’ VI a. C. já analísados. Mais una fluvial e talvez apenas ao estrictamente necessário vez é sobretudo no ámbito da aurivesaria que cons- para a consumo regional, de forma a garantir a tatamos sinais de influéncias externas, perceptiveis produgita de alguns items que assegurassen o prestigio en dais grupas ben individualizados: un transman- de certas familias. A auséncia generalizada de autros tana, centrada na regiáo de Chaves, con naíor metais, a raridade de materíais exógenas, tradutares influéncia céltica e autro litoral, acusando influéncias de esferas de troca alargada e a existéncia de una mediterránícas (Blanco Freijeiro 1957; Silva 1986, cerámica de feigita local, estilistica e narfolagicamente 42). Tambén as fíbulas parecen regístar a mesma conservadora, ao longo de várias séculos, parecem- dualidade de influéncias, meridionais e cantinentais, nos indicadores de una acentuada autarcía na vida as primeiras constatadas nos grupas designados por das comunidades, en meados do 1 milénio a. C. tipo Sabrosa e Sta. Luzia, as segundas no tipa Tambéin una restrigito das actividades artesanais e transmontano (Ponte 1980, 111-119; 1984, 111-144; una maiar importáncia dada it recaleegito e pastoricía Silva 1986). No entanto, será de realgar que as fíbulas na alimentagito, sito aspectos de destacar no registo nito se encontran convenientemente datadas en arqueológico desta fase, no qual se constata una contexto arqueológica, verificando-se que acorren auséncia quase sistemática de mós, indicadora talvez mesmo en niveis muito tardios da ocupagito das da reduzida importAncia da componente agrícola na castras. dieta alimentar desse periodo. Este quadra cultural e A presenga na orla litoral do NO de objectos prove- económico parece manter-se basicamente até aa sec. nientes da comércio pánica e grega, ten vindo a ser II a. c:., altura en que numerosos povoados vito bastante valorizada, pais testemunha una cantinuidade conhecer un considerável desenvolvímenta, que traduz 366 M. MARTíNS - SO. JORGE una naior interaegito entre as comunidades, que 11 e meadas do séc. 1 da nossa era, embora extensível aparentan estruturar-se, a partir de entita, en quadros a una vasta área do Norte de Portugal, parece afectar sacio-políticas de ámbito regional e inter-regianal. particularmente os povoados que ocupan una posigito Assím, a fin da Fase II ea inicia da Fase III poden dominante nos principais vales fluviais. Sinultanea- ser colocadas entre meados e finais do séc. II a. C. mente testenunhamos o aparecimenta de un número Alguns autores vito mais longe ao considerar que a significativo de pequenos pavoados fortificados que Fase II termina en 138-136 a. C., con a campanha de ocupan as zonas baixas das vales. Estes, embora O. Junius Brutus, momento que assínala a entrada do situados na periferia, au mesmo fora das terrítórios NO portugués na esfera do mundo romano. A partir de exploragito das povoados de altura, parecen de entito a cultura material altera-se, acelerando-se o articulados nuna estrutura de povoanento híerarqui- desenvolvinento técnico e económico da regiita, que zada, analisada para a regiito da vale do Cávada parece emergir de un longo periodo de obscurantismo (Martins 1987; 1988a). Será possível admitir que os cultural. Aa longo de todo o séc. 1, e ainda na pri- pequenos povoados de vale, representando una meira metade do séc. 1 da nossa era, os povoados espécie de nácleos especializados de produgaa, estí- registan un crescimento perceptivel e sen precedentes, vessem dependentes de autros mais importantes, que que se materializa nuna imponente arquitectura de ocupavan as posigées gea-estratégicas mais assínalá- pedra. No entanto, será de salíentar, que embora se veis, possuíndo tambén una maior concentragito possa reconhecer para este periodo una maiar hamo- populacianal. A necessidade de alimentar una nito geneidade de tragos culturais, en amplas regiñes, de obra considerável, afecta a realizagito de trabalhos estamos longe de poder documentar un processo de interesse colectivo, como seria a construgito das evolutiva único. As regiñes mais merídionais e oci- nuralhas e o reordenamento das áreas habitacionais, dentais conhecerito na Fase 111 una dinámica pró- exigiría una produgito excedentária, que podería en pria, desconhecida nas regíées nais interiores ou parte ser garantida pelos pequenos povoados de vale, setentrianais, cano a Galiza e Astúrias. orientados para una exploragito mais extensa e A precace pacificagito do território correspondente intensa das seus recursos. Tuda leva a crer que as it provincia portuguesa do Minho terá certanente comunidades terían reforgado neste período a com- favorecido un florescimento económica particular ponente agrícola da sua econonia, testemunhada nesta regiito e una crescente complexificagito social, directamente pelo aparecimento de várias utensilios ben evidentes no registo arqueológico do último relacionados con aquela actívidade (Silva 1986), pelo século antes da nossa era. Datan desse periodo o elevado nánero de nós giratórias que aparecen en desenvolvimento da metalurgia do bronze g a produgita quase todos os castras e ainda, indirectamente, peía de ferro na generalidade das povoados. O torno de elevada presenga de cereais nos espectros polínicos aleiro faz a sua introdugito na regiito o mesma correspondentes a este periodo. acontecendo con a nó giratória. Sito igualmente Neste sentido, será de diluir a imagen de rudeza e generalizados novas sistemas de trabalhar a pedra, pobreza económica que nos é transmitida pelas fontes documentados nas poderosas nuralhas deste periodo literárias, que descreven para a regiito do Norte da e nas casas circulares. Estas estruturas apresentan Península comunidades cuja economía é basicanente agora paredeá lisas, organizadas con aparelho poli- recolectora e pastoril. É un facto que esse parece ser gonal, senda as pedras faceadas a pico de ferro. o tipo de economía dominante na Fase II, já anali.- O desenvolvínenta desta fase, acampanhado de sada, e que ele pode ter persistido nas regiñes nais importantes inovagñes tecnológicas e por una an- nontanhosas da Norte da Hispánia. No entanto, para pliagáo das actividades económicas, aparece ben a regiito do nosso estudo essa imagen revela-se denonstrada no crescinento das povoados e na totalmente desadequada, nito só face it evidéncia ampliagito e renodelagito das circuitos defensivos. arqueológica, cama tambén peía complexificagito Estes atingen entito a sua máxima extensito e, por social que se depreende a partir da organizagito dos vezes, un indiscutivel aparato, mais justificável por castras da regiito do Minho. A estrutura das grandes razñes de prestigio do que por una efectiva necessídade povoados de altura, poderosamente fortificados exigia de defesa. Tambén a reestruturagito das áreas resi- un suporte económico que nito parece compatível dencíais, organizadas por vezes en bairras, dentro con o cenária de pobreza endémica retratado por das quais encontramos casas, con ou sen vestíbulo, Estrabito. Ela subentende antes una forte dinámica estruturas de arnazenamento, ladeadas par páteas cultural da regiito e una revitalizagito de redes lajeadas, traduz ben a complexificagito da vida eco- conercíais, it qual nito deverá ser estranho a afluxo de nómica e social no interior das povoados. Esta faz-se maeda e de produtas romanos. De qualquer nodo, sentir tambén numa delinitagito mais rigorosa das este desenvolvimenta económico poderá constituir espagos domésticas e nalguns povoados mesmo por un fenómeno relativamente regionalizada, senda una definigito espacial evidente da organizagito familiar necessárío aprofundar a investígagito nautras áreas das seus habitantes (Sanfíns, Áncora, Santa Luzia) do Norte de Portugal para que seja possível con- (Silva 1986). Datará talvez deste período a estruturagito preender a seu real significado. de alguns povoados segundo un modelo ortogonal, A existéncia de estátuas antropomórficas, deseo- con ruas e quarteirñes residenciais, correspondentes bertas en povoados de certa impartáncia, representa- a núcleos familiares, numa organízagito de tipa proto- tivas de chefes guerreiros heroicizados (Martins e urbano (Silva 1986). Silva 1984, 29-47), constítui a principal evidéncia ar- O desenvolvimento referido, que caracterizara ge- queológica da existéncia, nesta regiito, de sociedades nericamente a periodo decorrente entre finais da séc. do tipo chefada. As referéncias epigráficas a princepes SUBSTRATO CULTURAL DO NORTE t)E PORTUGAL 367

05

Fío 7. Cerámica da Fase hL Castro do Barbudo. 368 M. MARTtNS -5. 0. JORGE na zona da Galiza, corrobora tambén a interpretagito que as populagñes da Galecia indicavan o seu arígo de sociedades con chefes guerreiras, embora nada se pessoal, a sua pertenga a una conunidade pelo saiba quanto ao carácter electivo ou hereditária da símbolo designativo de castella, ou castro (Albertas seu poder. Apesar de tudo, a organizagito socio-pali- Firmat 1975), que possuia una delinitagito territorial tica das comunidades do NO é ainda estruturalmente dentro da área de una civñas (Pereira Menaut 1983, desconhecida, mesmo nos momentos finais do 1 199-212). milénio a. C. É sobretudo a epigrafia romanado séc. Esta forma de referéncia desaparece das inscrig5es, 1 que nos fornece indicagóes sobre a existéncia de quando a onomástica perde o seu carácter indígena e castella, designagito que deve equivaler ao castro, que o fornulário passa a ser romano, talvez cono canse- se integrarian em quadros étnicos mais amplos, os quéncia da munícipalizagito do NO, aceite por A. populí. referidos nas fontes literarias. Tranoy e P. Le Roux (1973, 177-231; Tranoy 1981), Muito embora as fontes literárias constituan un mas contestada por autros autores. De qualquer documento importante para a canhecimento da vida modo, ao desaparecer a mengito aos castella, nito das papulagñes do Norte da península nos últimos desaparece a estrutura de organizagito da sociedade séculos do 1 milénio a. C., cías sito bastante incompletas castreja, que continua a ter, na unidade castro a sua no que respeita it arganizagito destas comunidades. base territorial e social nuclear. A forma de referéncia Temas noticia, através daquelas fontes de alguns modifica-se, mas os castras ou castella deverito ter aspectos socíais, jurídicos, rítuais e alimentares das nantida a sua importAncia e relativa autonomía pavas do NO, que constituen elementos de un todo dentro das cHías, ou populu~, facto que denata a cultural e social. No entanto, eles nito permiten, só arigínalídade desta regiito e as dificuldades da sua por si, reconstituir un sistema concreto. Por autro integragito na estrutura social e administrativa roma- lado, nuitas afirmagées das geógrafos e historiadores na. clássicos poden mesmo ser infirmadas pelos dados arqueológicos. A Geografia de Estrabito refere vagamente a exis- 5. TÓPICOS PARA IlMA DISCUSSÁO téncia de una aristocracia guerreira, mas nito fornece FINAL pormenores quanto it sua fungito real. Esta informagito corrobora en certa medida os próprias dados arqueo- A tentativa de se equacionar críticamente as fontes lógicos e epigráficas disponíveis que apontan para escritas, por un lado, e as arqueológicas, por autro, comunidades governadas por elites guerreiras, it con o objectivo de se discernir, por comparagito, senelbanga do que acontece con autras sociedades possíveis fronteiras culturais ou a natureza social das indo-europeias da mesma época. De resto se aceitamos pavas pré-romanos do Norte de Portugal, enfrenta a a forte componente indo-europeia na regiito, a nivel superagito de un problema central en Arquealogia: a linguistico, nito será de estranhar que a sociedade dificuldade de correlacionar o plano arqueológico castreja se ajuste a un padrito social senelhante con a da formulagita de unidades sociais, étnicas ou áquele que é reconhecído nautras comunidades indo- linguistícas. europeías, ande se observa un sistema trifuncional a Na verdade, quando, por exemplo, reconhecenos nivel da arganizagita socio-política e religiosa. Na que a partir do séc. VIII a. C., en algunas áreas do área en análise esse sistema adivinha-se apenas a Norte de Portugal, certos pavoados (fortificados ou partir da fungito guerreira, con a qual se relacionaria nito) sito abandonadas, surgindo autros, nautros una divindade da guerra Coso-, assimilada a Ares. locais, cuja implantagito parece obedecer a una Das autras fungñes nito chegaran até nós evidéncias, diferente lógica de exploragito dos territórías envol- nen literárias, nem epigráficas (Bermejo Barrera yentes, apenas podemos, nuna prineira fase, afirmar 1978), apesar das lauváveis tentativas de alguns estar en presenga duma descantinuidade arqueológica. autores para identificaren, no espectro das divindades Quer dizer, nito podemos extrair deste facto nenhuna indigenas, os testenunhos de una arganizagita indo- ilaegito de arden nais geral. Tal modíficagita tanta europeia (Silva 1986). pode conectar-se can una ruptura estrutural nos Tambén o sistema de parentesco que nos é narrado mecanismos que regulavan o equilibrio das comuni- nas fontes escritas, nomeadanente en relagito ao dades, cono dever-se a un reajustamento das estraté- sistema de heranga descrito en pormenor por Estrabito gias económicas das mesmas, en fungito, por exemplo, (III, 4, 17) parece aparentada do indo-europeu. No de nudangas climáticas, ou outras. O mesmo principio entanto, como refere Bermeja Barrera (1983, 145- se aplica á interpretagito de sucessívas ocupagóes no 146), essa estrutura nito constituí un património ex- mesmo sitio, durante vários séculas. A continuidade elusivo das indo-curopeus, encontrando-se difundido de ocupagito deve ser apreciada, nun prineira entre muitos pavos con organízagito social primitiva, momento, a un nivel estritanente arqueológico. Sob de origen muito diferenciada e en amplas áreas geo- essa aparente «estabilidade» pode att nito estar gráficas. simulada a passagen, pelo mesma local, de diferentes Os testenunhas da organizagito social e política das agrupanentos culturais, cuja especificidade nito é comunidades da Galecía, chegados até nós pelos facilmente recortada pelo regista arqueológico. Para textos literários parecen larganente insuficientes até podernos aceder a un nivel mais abstracta da inter- mesmo para documentar a sua indiscutivel identidade pretagito da passado pré e prota-histórico, será indo-europeia. necessárío captar variagóes e regularidades nas estra- Aa contrário de autras regiñes peninsulares en que tégias de povoamento, na economía, nas relagóes daminava una estrutura de tipo gentilicio, sabemos interconunitárias, nos sistemas de percepgito da realí- SUBSTRATO CULTURAL DO NORTE DE PORTUGAL 369

0~_ 5

¿ —J Sil

-.5 Ii

4k,.

>1

‘5.

1”’ .5

.1”

o 5

Fío 8. Espólio da Fase HL 1-3, 5, 7-9. Pago; 4, 6, lOe 11. 5. Julido. 370 M. MARTINS - S. O. JORGE dade simbólica, etc. Esse plano mais abstracto, senda período una homogeneidade cultural muito mais fundamental para a distíngita cultural das papulagñes, significativa. do que aquela que é possível perceber, it raramente é atingido no decurso das investigagóes, luz das dadas díponiveis, para os séculos anteriores. nais viradas para aspectos empíricos da descrigito das Os povoados estruturan-se segunda padrñes mais att testemunhas materais. Daqui decorre que, na maior menas senelhantes, a cerámica revela una notória parte das situagñes, nito é possível extrapolar da honogeneidade, a produgito metalúrgica, bastante plano arqueológico para o plano cultural. Cremos mais significativa, fornece o mesma tipo de produtas. mesmo que una grande parte das «fornagñcs cultu- Os povoados parecen neste periodo organizados en rais» da Pre e Proto-llistória peninsular ten sido estruturas ben híerarquizadas, que poden subentender construida através de correspondéncias lineares entre un controlo de amplas territórios e una marcada territórias de semelhanga arqueológica e áreas supos- interaegito entre as elites. É possível que o esforgo tamente homogéneas do ponto de vista cultural. representado peía resisténcia inicial it ocupagito roma- na, a fazer fé nos textos literários, tenha cristalizado Decarrente da problemática anterior surge a questito os alicerces de un sistema social, certanente en da identíficagito do fenómeno da inda-curopeizagito génese desde meados da ¡ milénio a. C. Este sistema, ao nivel do registo arqueológico. Independentenente nantenda o castro cama núcleo básico, parece da cronología que se atribua it origen provável de tal estruturar-se numa rede horizontal e hierárquica, que fenómeno no NO peninsular, o que estará en causa é ligaría os vários pavoados de áreas mais ou menos a necessidade de delínítagito. por un lado, das amplas. A complexificagito social no interior das parámetros culturais de tal processo, e, por outro, a povoados, nos quais parecen evidenciar-se sinais de da eventual «expressito» arqueológica do mesmo. De una verdadeira estratificagito, poderia ter sido acon- facto, os especialistas da assunto, ao ampliaren o panhada de un processo similar ao nivel das elítes conceito para alén das limites estritamente linguisticos das diferentes povoados, que poderian disputar entre (concedendo-Ihe una amplitude cultural a diversas sí un controlo cada vez naior sobre áreas económicas niveis) forneceran a notivagito aos arqueólogos para mais extensas e nais diversificadas. Este processo, a que estes pracurassem reconhecer as marcas de tal desenvolver-se sen restrig5es, poderia ter conduzido fenómeno entre os vestigios materiais veiculados peía a situagóes de confito regional, que nito tendo que regista arqueológico. Todavía, nen a «índo-europei- assunir forgasamente un carácter bélico, poderia ter zagita» se encontra definitivamente caracterizada conduzido a um reforgo do sentido étnico das comu- enquanto processo trans-cultural. nen é clara que o nidades. Se considerarnos que as comunidades nito mesmo, tradicionalmente situado a un nivel muito se distinguian do ponto de vista da cultura material, abstracto. possa ser facílmente «transposto» para o social, religioso e que talvez partilhassen mesmo un plano da «cultura material». De resto, existen fenó- menos que peía sua natureza e fluidez de integragito, substrato étnico comun, nito será descabido pensar que a identidade dos diferentes popuil do NO só muito díficilmente poderito ser apreendidos conos portugués, que levau á sua designagito diferenciada, instrumentos utilizados actualmente pelos historiadores seja um processo tardio, talvez das dais últimos destas épocas. séculos antes da nossa era, resultante do desenvolví- A dificuldade en articular a realidade arqueológica menta socio-político da regiito, articulado cam a con a do canceito de «etnicidade,> encontra-se ben expansito económica das comunidades castrejas. A expressa nos dais últimos séculos do 1 milénio a. C. malar au menor extensita das terrítórios de determi- no Norte de Portugal. De facto, importaría tentar nados pavos, poderá documentar a existéncia de interpretar o significado da existéncia de una verda- áreas de maior ou menor integragito socio-política a deira panóplia de pavos, identificados a partir dos nivel regional. Neste caso a diferenciagito das populi relatos das geógrafas e historiadores. con a realidade do Norte de Portugal poderia ter resultado basicamente arqueológica daquela fase, momento para a qual se de un pracessa eminentemente política de afirmagito dispóe de un regista relativamente rico en termos de da autoridade e poder de elites, ou grupos regionais, cultura material. A regíáo em estudo, revela neste sen real significado étnico, ou línguistico.

BIBLIOGRAFIA

Acufía Castroviejo, F. 1977. Panorama de la cultura Albertos Firnat, M. L. 1975. Organizaciones Supra- castrexa en el NO de la Península Iberica, Bracara familiares en la Hispania Antigua, Studia Archeo- Augusta, 31, Pp 235-253. logica, 37, Valladolid, Universidad de Valladolid. Aira Rodríguez, M. .1.; Saá Otero, E. P. e Taboada Almagro Basch, M. 1952. La invasían céltica en Chivite, T. 1989. Estudios paleobotánicas e edafoló- España, 11CM!’, 1, 2, pp. 1-278. gicas en yacimientos arqueológicos de , Arqucoloxía,’ Investigación, Xunta de Galicia. Almagro-Gorbea, M. 1986. Bronce Final y Edad del Hierro. La formación de las etnias y culturas Alarcita, J. 1988. Roman PortugaL 1, Introduction, prerronanas. Historia de España, 1, Prehistoria. Aris & Phillips Ltd, Warninster-England. Madrid, Ed. Gredas, pp. 350-532. SUBSTRAlO CUI.TURAL DO NORTE l)E PORTUGAL 371

Almagro-Gorbea. M. (no prelo). Elementos del Oriente Kalb, Ph. 1978. Senhora da Guía, Baiñes. Dic Mediterraneo en el Bronce Final del Occidente de Ausgrabung auf ainer Hohensiedlung der Atíantis- la Península Iberica... (Conferencia realizada en? chen Bronzezeit in Portugal. MM. 19. pp. 112-138. Atril de 1988, na SPAE, Porto. López Cuevillas, F. 1951. Las jo vas casi reñas, Madrid, Almeida, C. A. B. 1987. Froto-Historia e Roínani:agáo CSIC.

da bacia inferior do Lima, Porto. — 1953. La civilización Céltica en Galicia, Santiago Almeida, C. A. F. 1983. Cultura castreja. Evalugito e de Compostela

problemática. Arqueología. 8. Porto, pp. 70-74. — 1954. La Edad del Hierro en el Noroeste (La

— 1986. Arte Castreja. Arqueo/agio. 13, Porto, PP. Cultura de los Castros>, Madrid. 161-172. — 1973. Prehistoria

— 1960. La cultura castreña, 1 Svrnposium de Cdvado (tese de dautoramenta policopíada). Prehistoria Peninsular, Pamplona. pp 179-195. — 1988a. O povoado fortificado do Lago, Amares, Cardaso, M. ¡942. Una pieza notable de la orfebrería Cadernos de Arquealogia-Monograflas 1, Braga. primitiva, AEA, 15 (47), pp. 93-103. — 1988b, A Citánia deS. Juliáo, Vila Verde. Memó- — 1962. Alguns problemas da cultura das castras no ria das trabalhos realizados entre 1981 e ¡985. Norte de Portugal, XXVI CLEPC, 2(5), pp. 39!- Cadernos de Arqueologia-Monografias 2, Braga. 423. — 1989. 0 castrada Barbuda, Vila Verde. Resultados 1965. A metalurgia na Prota-Históriada Península das carupanhas realizadas entre ¡983 e 1985. Cader- Ibérica, Dedalo, 1 (2), pp. 29-49 nos de Arqueologia-Monografias 3, Braga. Caro Baroja, J. 1973. Los pueblos del Norte de la Martins, M. e Silva. A. C. F. 1984. A estátua de Península Ibérica, San Sebastián, 2 ed, guerreiro galaico de 5. Juliito (Vila Verde), Cadernos Caffyn, A. 1985. Le Bronze final Ailaníique dans la de Arqucologia, Série II, 1, Braga, pp. 29-47 Peninsule Iberique, Diffusion du Boccard, Paris. Menéndez Pida!, R. 1952. Toponimia preromana Garcia y Bellido, A. 1945. España y los españoles hispano, Madrid, pp. 71-104. hacía dos mil años, según la geograjia de Strabon, Madrid, Ed. Espasa Calpe. Olivier, NI. D. 1988. Palinologia y Palcoambiente. Nuevos

Hidalga Cuñarro, J. M. 1984. El castro de Vigo y el — 1984. Fíbulas de sitios a Norte do rio Dauro, comercio atlántica romano en el Noroeste Peninsu- Lucerna, Porto, pp. 111-144. lar, Revista de Guimaráes. 94, pp. 371-384. Queiroga, F. e Figueiral, 1. ¡988. Castelo de Matas Rock, M. 1986. Studien zur sogenannien Castro- 1982-1986, Arqueologia, 17, pp. 137-150. Kulíur in Nord Portugal. Marburg. Romero Carnicero, F. ¡984. La Edad del Hierro en la Jorge, 5. 0. 1988a. O Povoado da Bauga do Frade Serrania Soriana. Los castras, Siudia Archaeologica, (Baiito) no quadra do Bronze Final do Norte de Valladolid, 75. Portugal, Porto, G.E.A.P. Romero Masía, A. ¡976. El habitat castreño, Santiago 1988b. Reflexñes sobre a pré-história recente do de Compostela, Publicaciones do Colexio de Ar- Norte de Portugal, Trabalhos de Aníropologia e quitectos de Galicia. Etriologia, 28 (1-2), pp. 85-112. Ruiz-Gálvez Priego, M. >980. Consideraciones sobre — 1990. Complexificagito das sociedades e sua inse- rgito numa vasta rede de intercAmbios, Nova el origen de los Puñales de Antenas gallegos- História de Portugal. 1, Lisboa, ed. Presenga. asturianos, SA NP, 2, Pp. 85-111. 372 M. MARTINS -5. 0. JORGE

— 1984. La Península Ibérica e sus relaciones con? el — 1968. Lingñística y Arqueología sobre los pueblos circulo cultural atlántica, Tesis Doctoral (polica- de Hispania. Las Raíces de España, II, Madrid. piada), Madrid, — 1977. El nombre de Celtas en Hispania, RUC, 26 Ruíz Zapatero, 0. 1985. Los campos de urnas del (109), Pp. 163-178 (Homenaje a Garcia y Bellido).

N. E. de la Península Ibérica. Tesis Doctoral. — 1983. Etnia y lengua en la Galicia Antigua: el pro- Madrid, Universidad Complutense. blema del Celtismo. Estudos de Cultura Castrexa e Santa Olalla, M. 1946. Esquema paletnológico de la de História Antiga de Galicia. Santiago de Compos- tela, Pp. 247-282. Península Ibérica, Madrid. — 1985. Lenguas y pueblos de la Antigua Hispania. Sehulten, A. 1955. Avieno. Ore Maritima. 2 ed. Lo que sabemos de nuestros antepasados protohis- 1963. Geografía y Etnografía antiguas de la tóricos, IV Coloquio Internacional de Lenguas Península Ibérica, II, Madrid. Culturas paleohispónicas, Vitoria. Silva, A. C. E. 1983. As íessarae hospitilis do Castro Tranoy, A. 1981. La Galice Romaine, Diffusion du da Senhora da Saúde, ou Monte Murado (Pedroso, Boccard. Paris. Vila Nova de Gaia), Gaia, 1, Pp. 9-26. Tranay, A. e Le Roux. P. (1973). Rome et les indigénes dans le NO de la Peninsule Iberique. — 1986. A Cultura Castreja no Noroeste Portugués. Problemes d’epigraphie et d’histaire. MCV, 9. Pp. Pacos de Ferreira. 177-23!. Soeiro, T. 1984. Monte Mozinho. Aponíamentos Unternann, i. 1963. Estudios sobre las áreas linguis- sobre a ocupa~ao entre Sousa e Támega em época tícas prerronanas de la Península Ibérica, Archivo romana. Penafiel. de Prehistoria Levantina, lO, Pp. 195-262.

Tovar, A. 1949. Estudios sobre las primitivas lenguas — 1965. Elementos de un atlas antroponímico de la hispánicas, Buenos Aires. Hispania Antigua. Madrid.