Substrato Cultural Das Etnias 1. Introducáo Pré-Romanas Do

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Substrato Cultural Das Etnias 1. Introducáo Pré-Romanas Do Substrato cultural das etnias 1. INTRODuCÁO O estudo dos poyos pré-romanos peninsulares pré-romanas do Norte de ocupou um lugar de destaque na historiografia da Portugal primeira metade do nosso século. Utilizaram-se para o efeito os relatos dé historiadores e geógrafos da antiguidade, o registo arqueológico e os dados de natureza linguistica. Esta perspectiva de estudos Insere-se aliás coerentemente nas tendencias interpre- M. Martins* tativas dominantes na Europa de entáo a nivel da S. O. Jorge~’ Arqueologia, cuja giénese pode ser encontrada na escola Austro-Húngara dos finais do séc. XIX. Penseguia-se entáo, de forma generalizada urna com- ABSTRACT para~áo sistemática de vestigios entre regi5es; cuja reparti9ao espacial definia «Culturas». Será contudo This paper considers the contribution of various G. Childe que sistematizará e generalizará á Europa sources (written, inscriptions, linguistic and archaeo- pré-histórica este tipo de abordagem. Definindo logical) in order lo define the cultural and ethnic «Cultura» como um conjunto recorrente de artefactos boundaries of Protohistor (Late Bronze Age/Iron numa dada regiáo, Childe estabelecerá uma correla~áo Age) in the North of Portugal. entre «Culturas arqueológicas» e «poyos», embora After examining the aval/ah/e sources for the nunca tenha definido com clareza o real significado region, they are analised separa/eh, presenting a dessa arlicula9áo. Abre assim caminho a uma série de picture of seitíemení suggested by the written saurces sinteses, algumas de grande envergadura, que relacio- and also discussing ¡he contribution o!’ linguistics in nam os dados arqueológicos de diferentes regiñes order to define the ethnic picture of ihis part of the europeias com a existéncia de determinados grupos teninsula, étnicos e mesmo linguisticos. The results provided by the most recent archaeolo- A invcstigayáo arqueológica dos últimos 20 anos e, gical research (undertaken in the 1980s) permit a em particular, a contribui9áo teórica no dominio da proposition concerning the cultural evolution of ihe ínterpreIa¡~áo das sociedades pré-históricas lan~aram Late Bronze Age and the ¡ron Age to heputforward. um certo descrédito sobre a ideia deque as «Culturas», It evaluates varlaus aspecis of the material culture, no sentido arqueológico do termo, traduzissem ou settlements. metallurgy and pottery. presented within identificassem grupos étnicos, ou linguisticos. Simul- chronologicalframeworks. taneamente, a panorámica da arquelogia europeia Final/y, the problems arising by using dVferent modificou-se substancialmente em termos metodoló- saurces are discussed, in view of the dif,ficulty oj gicos e interpretativos. O meihor conhecimento da correlaíing the archacological evidence with the cultura material permitiu sistematizar a evolu~áo social, ethnic and linguistic units. cultural de diferentes negiñes europeias e reconhecer continuidades, onde anteriormente se tinham sugerido RESUMO altera9oes étnicas. O questionamento dos chamados «modelos de domináncia», que valorizavam sistemati- Este irabaiho pretende equacionar a cantributo e camente as migra~óes e invasóes de poyos, como validade de diferentes tipos defon/es (escritas, epigrá- responsáveis peía altera9ao do registo arqueológico ficas, linguisticas e arqueológicas) na defink&o de era inevitável. Reconhece-se hoje que a evolu9áo das possíveis fronteiras culturais e étnicas na Proio- comunidades pré-históricas se fez, náo brusca, mas flistória (Bronze Final/Idade do Ferro) do Norte de lentamente, sendo as mudanQas culturais o resultado Portugal. de complexos processos de interac9áo, quer restricta, Após uma análise das fontes disponíveis, canhecidas quer alargada. Evidentemente que este tipo de abor- para a regido, estas Sao analisadas sepúradamente. dagem náo exclui a ocorr~ncia de fenómenos de E apreseniado o quadro do povoamento sugerido migra9ao. Estes deixaram contudo de ser percepcio- pelas foníes escritas, senda igualmente discutidos os nados como explicaqáo monocausal na evolu9áo das contribuías da linguistica na formulacdo do quadra comuni(Iades humanas. étnico desta área da Península. Mas, se o desenvolvimento da Arqueologia facultou Tendo por base os resultados fornecidos peía dados que permitiram questionar a equa9áo inicial de invesíiga<do arqueológica mais recen ¡e (estudos reali- «Culturas»/«Povoss>, é um facto que encontramos zados na década de 80) é apresentada uma praposta ainda muitas reminiscéncias dessa premissa no ámbito para a eva/uQao cultural da Idade do Branze Final e dos estudos sobre a Proto-História, Rejeita-se hoje a da Idade do Ferro. Nesta prapasta sáo valorizados ideia de um «poyo megalíticos>, de um «poyo campa- vários aspectos da cultura materiaL o habitat, a 55e presentemente de niformes>, ou de um «poyo da cerámica cordada», metalurgia e a cerámica, que dispr quadros cronológicos de referéncia mais seguros. cujas deslocacóes teriam alterado a cultura material Finalmente, as autoras discutem os problemas que da Europa pre-histórica e, 4uiqá, a própnia base se colocam á articula~rdo da informa(do sugerida por étnica (las regiñes por onde passavam. No que fon/es d~éren ciadas, colocando a ¡¿nica na dWculdade de correlacionar a realidade arqueológica cam a Universidade do Minho. fórmula qdo de unidades soclais, étnicas e linguisticas. ~ Univorsidade do Porto. 348 M. MARTINS - S. O. JORGE respeita ao 1 milénio a. C. é forte a tentaqáo de Os extraordinánios progressos da Paleontologia identificar arqucologicamente os poyos da Europa linguistica e da socio - linguistica, dos últimos anos, bárbara, uma vez que os autores gregos e posterior- forneceram dados de capital importáncia para o mente romanos os referem com certa frequéncia, estudo das línguas da Europa e mesmo para a enunciando muitos dos seus costumes. Muito embora interpretaqáo da sua génese, em particular no que muitos deles nilo tenham atingido acomplexidade das respeita ao problema do Indo-europeu (Gimbutas sociedades estatais é suposto que a sua marcada 1980, 273-315; Renfrew 1987). Sendo extremamente individualidade cultural traduza a sua diferenciacáo fácil discorrer dos dados linguisticos influencias e étnica, consequentemente reconhecível no registo movimenta~óes de poyos, a verdade é que eles nilo arqueológico. O facto do 1 milénio a. C. ser conside- nos fornecem, por si próprios, quaisquer meios de rado habitualmente como o momento de expansáo data 9áo, nem mesmo elementos para interpretar a para Ocidente das linguas indo-europeias, que deixa- ram em vastas regiñes tragos na onomástica e importáncia cultural ou social de uma alteracáo toponimia, justifica que se tenham valorizado siste- linguistica. Tradicionalmente a linguistica histórica maticamente os modelos de tipo invasionista/ mig- apoiou-se na Arqueologia para interpretar a presen~a de certos elementos linguisticos cm certas zonas, e racionista, na interpreta~áo deste período. Em certas regióes da Europa ocidental, como é o mesmo para os datar e inserir culturalmente. A Arqucologia, por sua vez, podendo percepcionar caso da Península Ibérica, tais modelos silo mesmo aceites como dados assentes, em parte porque a altera9óes demográficas e sociaís, encontrou frequen- natureza dos dados arqueológicos nilo justificou temente na linguistica uma justifica$o para os seus ainda interpreta9óes alternativas. De facto, para próprios modelós interpretativos. No entanto, os contributos da linguistica sáo indiscutíveis para o muitas regiñes , nem a evidencia arqueológica é ela por si suficiente para afirmar ou infirmar tais estudo das sociedades antigas. Eles permitem aceder, através da onomástica, náo só á organiza9áo social e modelos, nem existe um tratamento sistemático e actualizado dos contributos mais recentes da Arqueo- económica das comunidades, como também á esfera ideológica, dificilmente percepcionada con base na logia e da Linguistica, que permita lanQar nova luz evidencia arqueológica. Embora os dados da Linguis- sobre a génese dos poyos pré-romanos. A Arqueología, a Linguistica, a Epigrafia, as fontes tica e da Arqueologia se possam completar, a verdade literárias, fornecem hoje um acervo documental é que eles sáo muitas vezes mais paralelos do que intercomunicantes, sendo possivel sobrepó-los mas bastante mais significativo para a abordagem desta nem sempre relacioná-los. problemática. No entanto, parece-nos necessário ques- A documentaQio epigráfica, em particular aquela tionar aqui, em jeito de intnodu9áo, qual o tipo de informa~ées que cada um destes campos disciplinares que diz respeito á área do nosso estudo, é latina e refere-se a uma realidade tardia na evoluyáo das pode fornecer, no sentido de os relacionar correcta- mente. De facto, nilo existe urna metodologia expressa populaQoes do NO e a um momento em que as suas que permita articular os dados provenientes de estruturas sociais e mentais se encontravam em investiga~6es táo dispares, pelo que será desejável que mutayáo. A validade desta fonte, embora indiscuti<el eles sejam encarados de uma forma critica a fim de se para o estudo dos momentos mais próximos e de evitarem abordagens demasiado lineares e outras plena Romaniza¡áo, deve ser devidamente avahada, quando se pretende projectar para o anonimato dos excessivamente negativas. A Arqueologia fornece basicamente o quadro da séculos anteriores a realidade dela inferida. Apesar de tudo, é bern mais profunda a articula9io dos dados cultura material das populaQñes, transmitindo-nos, por conseguinte, uma imagem truncada e incompleta epigráficos com os linguisticos. A
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