DIAGNÓSTICO SOCIAL DO CONCELHO DE MATOSINHOS

Conselho Local de Acção Social de Matosinhos e CESIS – Centro de Estudos para a Intervenção Social

Fevereiro de 2005

Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

APRESENTAÇÃO

O Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos surge na sequência da participação do Concelho, no Programa Piloto da Rede Social.

A Rede Social foi criada em Diário da República, no ano de 1997, sendo aí definida como o “conjunto das diferentes formas de entreajuda, bem como das entidades particulares sem fins lucrativos e dos organismos públicos que trabalham no domínio da acção social e articulem entre si e com o Governo a respectiva actuação, com vista à erradicação ou atenuação da pobreza e exclusão social e à promoção do desenvolvimento social” (Diário da República de 18-11-97).

A cooperação entre diferentes entidades, o trabalho em parceria está, pois, subjacente à constituição da Rede Social. O Diagnóstico Social surge, assim, de participações várias, reunindo como Núcleo Executivo do Conselho Local da Acção Social as seguintes instituições: Câmara Municipal de Matosinhos; Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social do , Equipa de Acção Social de Matosinhos; Unidade Local de Saúde de Matosinhos, SA; Instituto de Reinserção Social; Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos / Direcção-Geral de Formação Vocacional; Associação para o Desenvolvimento Integrado de Matosinhos; Centro de Emprego de Matosinhos; Comissão Local de Acompanhamento do Rendimento Mínimo Garantido; Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, de Matosinhos.

A realização deste trabalho contou com o apoio técnico – científico do CESIS – Centro de Estudos para a Intervenção Social.

O documento que se apresenta é composto por quatro partes: • I Parte: Trata-se de um enquadramento geral que faz uma abordagem conceptual da pobreza e da exclusão social, tendo em conta que o objectivo da Rede Social é a promoção do desenvolvimento social e a atenuação daqueles fenómenos.

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• II Parte: Apresenta-se um conjunto de informações sobre o concelho de Matosinhos, as quais se organizam de acordo com os direitos sociais básicos estabelecidos na Constituição da República Portuguesa. • III Parte: Apresentam-se os resultados de um inquérito lançado instituições sociais e a um grupo de pessoas residentes em Matosinhos, sobre as percepções dos problemas do Concelho. • IV Parte: Identificam-se os recursos existentes, desde os equipamentos sociais até às redes de partenariado.

A primeira versão do Diagnóstico Social de Matosinhos foi realizada em 2001, tendo sido actualizada durante o ano de 2003 com o objectivo de introduzir dados mais recentes sobre a realidade social do Concelho e de compreender as suas evoluções mais actuais.

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PARTE I

ENQUADRAMENTO GERAL

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I. INTRODUÇÃO

1. O Diagnóstico Social: um Instrumento de Trabalho na Luta Contra a Exclusão Social

Tal como é explicitado em Diário da República, a Rede Social tem como objectivo a promoção do desenvolvimento social e a atenuação da pobreza e exclusão social.

Em tempo de profundas transformações sociais onde, apesar das grandes evoluções tecnológicas e do crescimento económico alcançado, as exclusões teimam em emergir e persistir, importa uma intervenção social cada vez mais integrada – do ponto de vista dos actores e das dimensões abrangidas, bem como das estratégias para fazer face à multidimensionalidade dos fenómenos.

Importa, ainda, uma intervenção sustentada por um conhecimento sempre actualizado e rigoroso da realidade. Só conhecendo melhor se poderá intervir melhor, no sentido de uma maior eficácia e eficiência da acção: “um bom diagnóstico é garante da adequabilidade das respostas às necessidades locais e é fundamental para garantir a eficácia de qualquer projecto de intervenção” (Guerra, 2000).

É nesta óptica que se elaborou o Diagnóstico Social do Concelho, ou seja, procurou-se que o Diagnóstico produza um conhecimento alargado do meio, abrangendo-se as diferentes áreas / dimensões da realidade social, em particular aquelas onde se jogam os factores de vulnerabilidade aos processos de exclusão social.

Procurou-se, ainda, não só identificar mas também compreender os problemas existentes, o que pressupõe uma relação entre as diferentes variáveis em presença e a identificação, não apenas das vulnerabilidades, bem como dos recursos e das potencialidades existentes no Concelho que podem estar disponíveis, ou ser mobilizadas, para a intervenção social.

Numa óptica de pesquisa-acção, o Diagnóstico Social é também um instrumento de participação de todos os que detêm elementos de conhecimento sobre a realidade. Desta forma, todos os parceiros presentes no Grupo de Trabalho se constituíram como “fontes de informação” para a realização do Diagnóstico, possibilitando-se a conjugação de informações produzidas no exterior (estatísticas oficiais, por exemplo) com “informações

4 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos endógenas”, isto é, produzidas no seio dos parceiros, com carácter quantitativo e qualitativo. De acordo com a metodologia de investigação-acção que foi seguida, o Diagnóstico mais do que um instrumento de pesquisa faz “parte integrante do processo de intervenção porque é um instrumento de interacção e comunicação entre actores face à compreensão da realidade e à identificação de necessidades” (Guerra, 2000).

No contexto anteriormente descrito, o Diagnóstico Social em Matosinhos orientou-se pelos seguintes objectivos: Descrever, analisar e interpretar os problemas sociais existentes no concelho de Matosinhos; Elencar as respostas sociais, recursos humanos e materiais existentes; Avaliar a adequação dos recursos aos problemas; Apontar pistas para a planificação futura, designadamente, definindo prioridades de intervenção social, identificando as respostas e recursos deficitários e sugerindo formas de adequar os recursos existentes às necessidades identificadas.

Partindo de uma abordagem conceptual da pobreza e da exclusão social onde se salienta o seu carácter multidimensional, o Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos orientou a sua análise em torno dos principais domínios, alguns deles apontando para direitos sociais básicos, onde se estruturam as vulnerabilidades face àqueles fenómenos: o Emprego; a Educação; a Habitação; a Saúde; e a Protecção Social.

Figura 1 Áreas do Diagnóstico Social

Dimensão Económica e Ecológica

Demografia Emprego Educação

Saúde Habitação Situações de Risco

Protecção Social, Equipamentos e Respostas Sociais

Dimensão Político-Social

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2. Os Métodos de Recolha de Informação

Tal como foi anteriormente referido a elaboração do Diagnóstico pressupôs a utilização de dois grandes tipos de fontes de informação. Um dito “exógeno” e que abrange informação estatística oficial, de natureza vária; e um outro que assenta na produção de instrumentos de recolha de informação, por parte do Núcleo Executivo do Conselho Local de Acção Social.

Assim, foi realizada análise documental de: informação estatística variada: Estatísticas Demográficas (INE); Inquérito ao Emprego (INE); Quadros de Pessoal (Ministério da Segurança Social e do Trabalho); Estatísticas da Educação (Ministério da Educação; Entreculturas); Estatísticas da Segurança Social; Estatísticas da Justiça; Estatísticas Locais (Centro de Emprego; Centro de Saúde; DREN – Direcção Regional de Educação do Norte; Comissão de Protecção de Menores); estudos já existentes sobre alguns bairros sociais do Concelho.

Sempre que possível, procurou-se introduzir uma perspectiva temporal na análise da informação estatística recolhida. Embora focando a atenção nos dados mais recentes, houve a preocupação de tentar compreender o presente a partir das dinâmicas anteriormente criadas. Assim, os dados recolhidos dizem, por vezes, respeito a uma série de anos da década de 90, recuando-se, quando pertinente e sempre que possível, à década de 80.

Ainda quando possível se desceu ao nível da mas os dados disponíveis a este nível são mais escassos.

Para uma melhor compreensão da realidade do concelho de Matosinhos procurou-se também uma análise comparada com a área mais vasta em que o Concelho se insere, isto é, a região do .

O maior ou menor número de fontes de informação a que foi possível recorrer, o maior ou menor número de dados disponíveis, conduziu a diferentes graus de aprofundamento dos temas identificados. Para a elaboração do Diagnóstico Social do Concelho foram concebidos, aplicados e analisados dois questionários:

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Um dirigido a todas as instituições do concelho de Matosinhos com intervenção social em algumas das áreas definidas pelo Diagnóstico Social; Outro, dirigido a elementos da população residente no Concelho.

Em ambos os casos procurou-se tornar o Diagnóstico Social mais participado e alargar os contributos para a sua elaboração a diferentes actores facilitando-se uma mais correcta identificação dos principais problemas sociais existentes no Concelho; das lacunas ao nível das respostas sociais; dos grupos sociais / etários mais atingidos.

Para além da utilização destas técnicas, as reuniões do Núcleo Executivo e as consultas às Comissões Sociais de Freguesia funcionaram como um verdadeiro fórum de consulta permanente (cfr. Guerra, 2000), onde elementos de carácter mais qualitativo foram emergindo, proporcionando uma maior capacidade interpretativa da informação recolhida.

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II – BREVE ABORDAGEM CONCEPTUAL

Tendo em conta que a pobreza e a exclusão social estão na base da constituição da Rede Social, parece importante fazer um breve enquadramento conceptual.

Os estudos sobre a pobreza são relativamente recentes em . Há menos de vinte anos a pobreza estava ausente dos objectos de análise das investigações científicas e dificilmente era reconhecida como um problema social sendo, também, politicamente ignorada. Os resultados do primeiro estudo sobre a pobreza em Portugal, publicado em 1985 (vd. Costa, 1985), chegaram a surpreender negativamente os responsáveis políticos na época, e a própria opinião pública, pois “levantou o véu de ocultação de uma situação com a qual havia hábitos de convivência tácita pacífica mas que uma vez descoberta tinha de considerar-se inaceitável à luz dos critérios de cidadania e de uma vida em democracia” (palavras de Manuela Silva, no seminário “Pobreza e exclusão social - percursos e perspectivas da investigação em Portugal”, Cesis, 1999).

De então para cá, o quadro mudou completamente. Não só se multiplicaram os estudos sobre o tema – recentemente foram recenseados cerca de 200 títulos (vd. Silva, 1999) – como os termos de pobreza e exclusão social entraram no discurso e nas agendas políticas.

De uma análise do que se tem escrito e dito sobre estes fenómenos, pode constatar-se que o conceito de pobreza tem sido frequentemente utilizado numa perspectiva restrita, no centro da qual está uma noção de distribuição, ou seja, o que está em causa é a forma como os recursos numa dada sociedade se encontram distribuídos.

Neste sentido, a pobreza define-se como uma situação de escassez de recursos que conduz a que indivíduos e famílias não possam satisfazer as suas necessidades básicas. A privação a que os pobres se encontram sujeitos, devido à falta de recursos “traduz-se, antes de mais, em más condições de vida. Este é, porventura, o lado mais visível da privação e da própria pobreza. Normalmente, trata-se de privação múltipla, isto é, em diversos domínios das necessidades básicas: alimentação, vestuário, condições de trabalho, possibilidades de escolha, saúde e cuidados de saúde, educação, formação profissional, cultura, participação na vida social e política, etc.” (Costa, 1998), por isso se fala no carácter multidimensional da pobreza.

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Ao contrário, o conceito de exclusão social acentua a dimensão relacional do fenómeno, “quando encaramos este conceito enquanto situação de inadequada (ou ausência de) integração social de indivíduos ou grupos sociais na sociedade de que fazem parte” (Pereirinha, coord, 1999).

Existem, na literatura, duas principais correntes de abordagem do conceito de exclusão social.

Uma centrada nos direitos de cidadania, como sejam os direitos civis, políticos e sociais. Isto é, “numa sociedade existem instituições e políticas públicas de carácter universal correspondentes a esses direitos fundamentais. Mas nessa sociedade, factores de natureza económica e social, e a própria orientação e gestão da política económica e social e o funcionamento das instituições, podem excluir socialmente indivíduos e grupos do exercício pleno dos seus direitos” (Pereirinha, coord, 1999). Nesta perspectiva, a exclusão social traduz-se na negação dos direitos de cidadania.

Uma outra concepção é aquela que define a exclusão a partir da noção de ruptura dos laços sociais que ligam o indivíduo à sociedade. Nesta vertente de análise se inclui Robert Castels com o conceito de “desafiliação” (Castels, 1991). Segundo este autor, a exclusão surge como resultado de uma série de rupturas, de insucessos, que fazem do indivíduo alguém sem “pertença social”, alguém que “desconhece e é desconhecido”.

Utilizando os potenciais analíticos das duas correntes, Alfredo Bruto da Costa no seu livro Exclusões Sociais considera que o exercício pleno da cidadania implica e traduz-se no acesso a um conjunto de sistemas sociais básicos, acesso que deve ser entendido como uma forma de relação com a própria sociedade. Diz o autor que “parece ser possível agrupar os sistemas sociais básicos nos seguintes cinco domínios: o social, o económico, o institucional, o territorial e o das referências simbólicas” (Costa, 1998).

A área social contempla o sistema de relações mais próximas, as relações familiares e de vizinhança, englobando, ainda, as relações com a comunidade num sentido mais alargado da participação social e política. No domínio económico incluem-se os mecanismos geradores de recursos, como o mercado de trabalho (salários), o sistema de segurança social (pensões); o mercado de bens e serviços (consumo); o sistema de poupanças. A área institucional abarca o acesso ao sistema educativo, à saúde, à justiça, à habitação...No domínio territorial situam-se os processos de segregação espacial, o que corresponde a uma situação em que um dado território (bairro, aldeia, concelho) se

9 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos encontra demarcado do contexto mais abrangente em que se inscreve. Finalmente, o domínio das referências simbólicas “respeita a todo um conjunto de “perdas” que o excluído sofre, e que se agravam com a permanência na situação de exclusão, no campo das referências: perda de identidade social, de auto-estima, de auto-confiança, de perspectivas de futuro, de capacidade de iniciativa, de motivações, do sentido de pertença à sociedade” (Costa, 1998).

Desta definição surge reforçado o carácter multidimensional da exclusão, o que significa que a exclusão, e a pobreza, não dizem apenas respeito ao factor “rendimento” mas envolvem outras dimensões: materiais e não materiais, objectivas e subjectivas, sociais e psicológicas. Este aspecto encontra-se muito bem identificado por Henri Bartoli, ao dizer que “ser pobre não é apenas ter um rendimento inferior a um certo limiar, é viver na incerteza do amanhã, é não dispor senão de fracos meios de defesa ou de pressão, é fazer quotidianamente a experiência da indiferença ou do desprezo dos outros, incluindo o de si próprio” (Bartoli, 1980).

Desta breve abordagem pode concluir-se que, embora distintos, pobreza e exclusão social não devem ser considerados como conceitos mutuamente exclusivos. De facto, a pobreza pode ser encarada como uma forma de exclusão. Neste sentido apontava já a definição de Townsend ao afirmar que “indivíduos, famílias e grupos na população consideram-se em situação de pobreza quando defrontam a falta de recursos que lhes permitam ter o tipo de alimentação, participação nas actividades e condições de vida e conforto que são habituais, ou pelo menos amplamente encorajados ou aprovados, nas sociedades a que pertencem. Os recursos estão situados de tal forma abaixo dos disponíveis pelo indivíduo médio que estão, assim, de facto, excluídos dos padrões normais de vida, costumes e actividades” (Townsend, 1979).

Reforçando a ideia anterior pode, pois, considerar-se a pobreza como uma forma específica do fenómeno muito mais amplo da exclusão social. Se a pobreza decorre de uma escassez de recursos económicos é certo que existem formas de exclusão que não radicam na pobreza. Tal como afirmou Jacques Delors “Todos os pobres são excluídos; nem todos os excluídos são pobres”. Figura 2

Pobreza

Exclusão

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Com a introdução do conceito de exclusão social estes fenómenos impuseram-se mais claramente como fenómenos socialmente produzidos, o que faz com que a política social não deva ser vista unicamente de um ponto de vista curativo (de atenuação / resolução da privação) mas que a inserção / inclusão seja uma área privilegiada da sua actuação.

Por outro lado, o entendimento da exclusão como fenómeno social remete para a existência de determinados mecanismos na sociedade que vão produzindo este fenómeno, salientando-se a exclusão como um processo dinâmico. Assim, os principais factores explicativos da pobreza e da exclusão devem ser procurados na sociedade: “no modo como a sociedade se encontra organizada e funciona, no estilo de vida e na cultura dominantes, na estrutura do poder (político, económico, social e cultural) – tudo factores que se traduzem em mecanismos sociais que geram e perpetuam a pobreza e a exclusão. Neste entendimento, a solução do problema requer a eliminação desses mecanismos, o que se não faz sem mudanças sociais” (Costa, 1998).

O Diagnóstico Social do concelho de Matosinhos parte, pois, da convicção que a exclusão social é um fenómeno socialmente produzido, apontando-se para a existência de mecanismos sociais geradores do mesmo e que serão aqui analisados em capítulos identificados como o Emprego; a Educação, a Habitação e a Protecção Social. Simultaneamente, cada uma destas áreas se constitui como direitos sociais básicos a partir dos quais é possível, de acordo com a abordagem conceptual anteriormente apontada, identificar grupos de população em que tais direitos não se encontram satisfeitos e que, como tal, se encontram em situação de exclusão ou que são tendencialmente mais vulneráveis a tais processos.

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III. A POBREZA EM PORTUGAL

Alguns Elementos para uma Melhor Compreensão

A pobreza em Portugal assume-se como um fenómeno intenso e persistente.

Com efeito, pese embora se tenham registado evolução nas realidades que compõem o fenómeno e nas causas que lhe têm dado origem, a pobreza permanece na sociedade portuguesa a níveis elevados, no contexto da União Europeia.

Utilizando uma definição de pobreza relativa em que a linha de pobreza é estabelecida na base dos 60% do rendimento mediano equivalente, chega-se, no ano de 2000, e de acordo com dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho / Departamento de Estudos, Estatísticas e Planeamento, com base no Inquérito aos Orçamentos Familiares, a uma taxa de pobreza de 17.9% para a população portuguesa.

Esta percentagem decorre de um decréscimo ocorrido no final da década, depois de, na primeira metade dos anos 90, a taxa de pobreza ter aumentado, tal como se pode verificar no gráfico seguinte.

Gráfico 1 Taxas de pobreza em Portugal 1990, 1994 e 2000

18,3 18,2 18,1 18 17,9 17,8 17,7 17,6 17,5 17,4 1990/91 1994/95 2000

Fonte: MSST /DEEP, cálculos com base no IOF 1990/91; 1994/95 e 2000. Nota: Taxa de pobreza calculada em 60% do rendimento mediano equivalente, usando a escala modificada da OCDE.

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O critério adoptado para a definição do limiar de pobreza, bem como a fonte de informação de base, influencia as taxas de pobreza encontradas.

Assim, utilizando a mesma fonte, o Inquérito aos Orçamentos Familiares (IOF), única fonte com representatividade estatística ao nível das NUTII, e considerando como linha de pobreza o valor que corresponde a 50% do rendimento mediano, ou seja, 287,060 1 contos / ano, por adulto equivalenteTPF FPT, em 1990 e 316,516 contos /ano por adulto equivalente, em 1995, o estudo publicado em 2002, pela Comissão de Coordenação da Região do Norte, da responsabilidade de Leonor Vasconcelos (Vasconcelos, L., coord, 2002), revela que a evolução registada na Região Norte foi a de atenuação das taxas de pobreza, tanto para as famílias, como para os indivíduos, ao contrário da tendência verificada no Continente.

Quadro 1 Incidência da pobreza no Continente e na Região Norte 1990 e 1995 1990 1995 Continente 10.5 11.1 Agregados Domésticos Região Norte 11.2 8.7 Continente 9.2 10.5 Indivíduos Região Norte 10.6 9.0 Fonte: Vasconcelos, Leonor (coord), 2002. Nota: Taxas calculadas com base em 50% do rendimento mediano.

No que respeita ao número de famílias e indivíduos em situação de pobreza na Região Norte, bem como ao peso da população pobre desta Região no contexto da população pobre do Continente, verificou-se uma evolução positiva, tal como se pode ver pelo quadro seguinte.

1 TP PT Considerando a escala de equivalência da OCDE.

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Quadro 2 População pobre e população pobre na Região Norte em percentagem da população pobre do Continente 1990 e 1995 1990 1995 Peso da população Peso da população pobre da RN na pobre da RN na Número Número população pobre do população pobre do Continente Continente Continente 319 439 348 273 Agregados Domésticos Região Norte 117 717 36.9 92 228 26.5 Continente 870 534 988 708 Indivíduos Região Norte 370 858 42.6 316 550 32.0 Fonte: Vasconcelos, Leonor (coord), 2002. Nota: Taxas calculadas com base em 50% do rendimento mediano.

Apesar desta evolução positiva, importa não ignorar que a Região Norte, como consequência da distribuição geográfica da população residente, concentrava, em 1995, 32% dos indivíduos em situação de pobreza.

A evolução verificada nos anos em questão colocou a Região Norte, no contexto do Continente, como aquela que apresenta taxas de incidência de pobreza mais baixas.

Quadro 3 Incidência da pobreza por NUT II 1990 e 1995

ADP Indivíduos 1990 1995 1990 1995 Norte 11.2 8.7 10.6 9.0 Centro 12.7 13.2 9.7 11.9 Lisboa / Vale Tejo 7.5 11.3 6.8 10.4 Alentejo 16.1 15.7 14.1 15.9 Algarve 10.2 12.0 8.0 11.0

Fonte: Vasconcelos, Leonor (coord), 2002. Nota: Taxas calculadas com base em 50% do rendimento mediano.

Comparando Portugal como o contexto europeu, e apesar do processo de convergência, verificado na segunda metade dos anos 90, a taxa de pobreza, calculado com base nos 60% do rendimento mediano era, em 1998, de 20%, sendo inferior à do Reino Unido e da

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Grécia, mas, ainda assim, superior à média Europeia de18%, de acordo com dados do Eurostat. Gráfico 2 Taxas de pobreza nos países da União Europeia 1995 e 1998

25 20 15

10 5 0 1995 Bel Din Ale Esp Fra Gre Ire Ita Lux Hol Aus Por RU UE13 1998

Fonte: Eurostat, Painel sobre os Rendimentos e Condições de Vida dos Agregados Familiares da União Europeia (PAUE), 1995 e 1998. Nota: Taxas calculadas com base em 60% do rendimento mediano.

Também ao nível da persistência da pobreza, Portugal revela a posição menos favorável da EU. Com efeito, o peso da população portuguesa que durante o período entre 1995 e 1998 se manteve sistematicamente abaixo do limiar de pobreza foi de 16%, posição significativamente superior à média europeia de 11%.

Gráfico 3 Taxas de persistência da pobreza na União Europeia 1995 - 1998

16 14 12 10 8 6 4 2 0 Bel Din Ale Esp Fra Gre Ire Ita Hol Aus Por RU UE15

Fonte: Eurostat, Painel sobre os Rendimentos e Condições de Vida dos Agregados Familiares da União Europeia (PAUE), 1995 e 1998. Nota: Taxas calculadas com base em 60% do rendimento mediano.

Considerando o perfil da população pobre pode identificar-se um conjunto de categorias mais vulneráveis à pobreza. Tomando a Região Norte verifica-se que, a este nível, a região segue o mesmo padrão da do Continente, em geral, fazendo-se destacar a seguintes situações:

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Tipo de família Casais com 3 ou mais crianças; Famílias monoparentais com crianças; Pessoas idosas a viver só ou em casal. Grupo etário Idosos (mais de 64 anos e, em particular, os maiores de 75 anos). Sexo Mulheres. Fontes de rendimento Pessoas que vivem de pensões ou outras prestações sociais; Pessoas que vivem dos rendimentos do trabalho, em particular da actividade agrícola. Nível de instrução Pessoas sem o ensino básico.

Estas características da população pobre remetem, desde logo, para alguns dos factores que, estruturalmente, se constituem como causas da pobreza em Portugal.

De uma forma sucinta pode identificar-se as seguintes causas:

Um sistema de protecção social frágil marcado pelo pagamento de baixas prestações sociais, em particular na passagem à reforma, transformando essa passagem num factor de risco face à pobreza.

Um mercado de trabalho caracterizado pela precariedade do emprego, pelas baixas qualificações, e pelas desigualdades salariais, nomeadamente entre homens e mulheres, com uma forte presença da economia informal e de baixos salários. Mercado de trabalho marcado, ainda, por um forte desvalorização de certas actividades profissionais, em particular as agrícolas.

Refira-se que, tanto no Continente, como na Região Norte, as baixas pensões de reforma e os baixos salários foram os dois factores considerados mais importantes para explicar a pobreza, de acordo com as repostas a um inquérito realizado pelo Ministério da Qualificação e o Emprego em 1995. Um sistema educativo que, pese embora as evoluções positivas registadas no que diz respeito à sua democratização, continua a produzir situações de exclusão escolar que se traduzem na existência de indivíduos pouco escolarizados, alguns dos quais sem

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que tenham atingindo sequer a escolaridade mínima obrigatória. Para além do mais, a educação vem assumindo uma importância cada vez maior no acesso ao mercado de trabalho que se tornou mais exigente quanto à qualificação escolar e profissional dos indivíduos.

Cabe, no entanto, não esquecer a relação forte que se estabelece entre estes e outros factores, como as questões ligadas à saúde e à habitação, por exemplo, tornando-se estas, causas e consequências da pobreza.

É, pois, a partir deste conhecimento que o Diagnóstico Social de Matosinhos se orientou em torno de dimensões como: o Emprego; a Educação; a Habitação; a Saúde; e a Protecção Social.

Importa, porém, não ignorar que uma concepção holística do fenómeno da pobreza lembra que as suas causas não estão unicamente nos domínios que mais facilmente se identificam como sociais mas também na definição das políticas macro económicas e fiscais.

Uma última referência merece as linhas de pesquisa mais recentes sobre estas questões, apontando, as mesmas, para uma análise dinâmica. Procura-se, a este nível, um esclarecimento sobre os movimentos de saída e entrada na pobreza.

Tomando uma vez mais em consideração o inquérito ao Painel de Agregados Familiares da União Europeia (PAUE da Eurostat) entre a vaga de 1994 e a de 1995, verifica-se que foi mais fácil entrar na pobreza do que sair dela e que, por outro lado, quem se encontrava já em situação de pobreza corre um elevado risco de nela permanecer, reforçando-se a ideia de que, em Portugal, a pobreza se assume com uma faceta particularmente persistente na vida dos indivíduos.

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Figura 3 Pobreza – uma análise dinâmica (1994 / 95)

Saíram da pobreza

5.6% Permaneceram fora

Permaneceram da pobreza

na pobreza 71.2%

15.2%

Entraram na pobreza 8%

Fonte: Cálculos feitos em CESIS, “Estruturas Familiares, Participação no Mercado de Trabalho e as Dinâmicas 2 da Exclusão Social”TPF FPT com base no Painel aos Agregados Familiares da União Europeia, Eurostat, 1995.

2 TP PT Este é um projecto desenvolvido por uma equipa do CESIS, financiado ao abrigo do Programa TSER, que envolve centros de investigação de vários países da EU, sendo coordenado por uma equipa da Universidade de Bath / Reino Unido.

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PARTE II

DOS DIREITOS DE CIDADANIA À REALIDADE SOCIAL DO CONCELHO DE MATOSINHOS

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I. DINÂMICAS DEMOGRÁFICAS

A análise das dinâmicas demográficas é um elemento importante na elaboração de um diagnóstico local. No que diz respeito a um diagnóstico orientado para as questões da exclusão social, o conhecimento em torno do comportamento dos diferentes grupos demográficos pode apontar no sentido de evidenciar o aumento, ou estabilidade, daqueles que, como os idosos, por exemplo, são mais vulneráveis aos processos de empobrecimento. Por outro lado, o crescimento populacional geograficamente assimétrico pode contribuir para a identificação de diferentes necessidades ao nível de equipamentos sociais.

1. O Crescimento Populacional do Concelho

Situado na Região Norte do País, e mais especificamente na Região do Grande Porto, Matosinhos era, em 2001, segundo o último Recenseamento, um Concelho com 167.026 habitantes e com 167041 em 2002, de acordo com o Anuário Estatístico de 2003.

Gráfico 4 População Residente no Concelho de Matosinhos 1981 - 2002

200000 166850 167026 167041 151682 160200 150000 136498

100000

50000

0 1981 1991 1995 1998 2001 2002

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População 1981, 1991 e 2001. INE, Anuários Estatísticos da Região Norte 1996, 1999 e 2003.

Com uma área total de cerca de 62,3 Km2, aquele número de habitantes corresponde a uma densidade populacional de 2 680.9 hab/km2, situando-se esta acima da verificada para o Grande Porto: 1 547.3 hab / Km2, para o mesmo ano.

Estes números correspondem a um aumento populacional que se vem sentindo no Concelho nas últimas décadas. Veja-se que, no período de 1981 até 2001, a população

20 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos residente aumentou em mais de 30 mil pessoas, o que corresponde a uma taxa de crescimento de 22.4%.

Embora o crescimento da população seja uma constante a partir do início dos anos 80, parece notar-se, contudo, uma tendência para certa atenuação do ritmo a que o mesmo se verifica. Com efeito, na década de 80, o aumento populacional em Matosinhos situou- se nos 11%, enquanto que, na década seguinte, foi já de 10%, verificando-se uma maior intensidade no crescimento no começo dos anos 90. Assim, entre 1991 e 1995, assistiu-se a um aumento de 5.6% da população do Concelho, descendo para 4.3% entre 1995 e 2001. Entre 2001 e 2002 o número de habitantes apresenta-se estável.

Mesmo assim, a dinâmica de crescimento populacional verificada no concelho de Matosinhos foi sendo superior à registada no Grande Porto, onde as taxas de crescimento dos anos 90 se ficaram pelos 2.9%. Daí decorre um aumento do peso da população residente no concelho de Matosinhos, no contexto dos residentes no Grande Porto: de 12.9% em 1991, os residentes no Concelho passaram a representar, em 2001, 13.2% da população da Região que se inserem.

As evoluções registadas na população do concelho de Matosinhos, por relação ao Grande Porto, correspondem, no fundo, aos movimentos demográficos que têm vindo a caracterizar as duas áreas metropolitanas do País (Lisboa e Porto) onde, nos últimos anos, se verifica uma reorganização da população no seu interior “observando-se uma tendência para o declínio demográfico das duas cidades centrais e o desenvolvimento do processo de suburbanização nos territórios envolventes” (Martins, 1996).

Ou seja, tendo em conta o Grande Porto, o que se verifica é que, a par de uma diminuição da população residente na cidade, pólo da Região, se constata um crescimento dos concelhos que lhe são periféricos. Note-se que o concelho do Porto foi o único que perdeu população entre 1981 e 1991, face ao forte crescimento verificado noutros concelhos, nomeadamente o concelho de Matosinhos.

Tendo em conta a variação populacional entre 1991 e 2001, verifica-se que a tendência se mantém, ou seja, o concelho do Porto continua a revelar a maior variação negativa no que respeita ao crescimento populacional. À excepção de outro concelho, os restantes registaram um aumento da população residente. Daqui decorre que a população de Matosinhos tem vindo a crescer tendo em conta dois diferentes tipo de movimento:

21 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Um que diz respeito ao crescimento natural; Outro, que resulta da conjugação de factores de atracção, por parte do próprio Concelho, e de repulsão da cidade do Porto, que vai “atirando” para as suas periferias aqueles que, por uma razão ou outra, já não encontram lugar na cidade.

3 Tendo em conta que a taxa de crescimento migratórioTPF FPT da população do Concelho assumia, em 2001, valores superiores (12.8‰) aos da taxa de crescimento natural da 4 população (3.2‰)TPF FPT, depreende-se que as dinâmicas migratórias contribuíram, em maior escala, para o crescimento populacional já registado.

Estas migrações têm tido um carácter fundamentalmente interno, com origem noutros concelhos do espaço nacional. No entanto, esta é uma tendência que estará a alterar-se já que, entre 1995 e 2001, o concelho de Matosinhos presenciou uma variação negativa no que respeita às migrações internas. Durante este período, a saída de população do Concelho foi superior à entrada de imigrantes internos. No total, registou-se a entrada de 13.686 pessoas em Matosinhos oriundas de outros concelhos, mas, em contrapartida, saíram 14.413, o que significa que Matosinhos perdeu, no efectivo, 727 habitantes para outros concelhos.

Quadro 4 Movimentos Migratórios em Matosinhos e Grande Porto 1995 - 2001 Pop. Pop. que Imigrantes Imigrantes Emigrantes Saldo Taxa do Área residente não vindos de vindos do para outro migratório saldo geográfica 2001 mudou outro Estrangeiro Concelho Interno migra- de Concelho 95 - 01 95 - 01 tório Concelho 95 – 01 interno

Matosinhos 167 026 142 981 13 686 1 506 14 413 -727 -0.43

Grande 1.260.680 1068862 106 535 14 822 104 200 2 335 0,18 Porto

Fonte: INE, Recenseamento da População e da Habitação; 2001.

3 TP PT A Taxa de Crescimento Migratório corresponde ao saldo migratório durante um certo período de tempo, normalmente o ano, referido à população média desse período; TCM= (SM (0,t) / (P0 + Pt) /2) x 1000; SM (0,t) - Saldo migratório entre os momentos 0 e t; P0 - População no momento 0; Pt - População no momento t.

4 TP PT Cálculos próprios com base em dados recolhidos do INE, nomeadamente o "Anuário Estatístico da Região Norte - 2001". Os dados referentes ao ano 2000 utilizados nos referidos cálculos são provenientes de Estimativas Intercensitárias Provisórias da População Residente em 2000, incluídas no mesmo anuário. A Taxa de Crescimento Natural corresponde ao saldo natural durante um certo período de tempo, normalmente o ano, referido à população média desse período. TCN= (SN (0,t) / P0+Pt/2 x 1000; SN - Saldo natural entre os momentos 0 e t; P0 - População no momento 0; Pt - População no momento t.

22 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

O saldo migratório continua, porém, a ser positivo se tivermos em conta a compensação proporcionada com a entrada, no Concelho, de pessoas vindas de outros países (1506, no período em questão).

Esta dinâmica populacional é, contudo, composta por movimentos diferentes orientados por estratégias e motivações distintas.

De salientar que, no Censo de 2001, foram recenseadas 5 650 pessoas com naturalidade estrangeira. No entanto, num país como Portugal, outrora essencialmente um país de emigração e onde ocorreu, no final dos anos 70, um processo de descolonização que deu origem a um intenso fluxo de “retornados” das ex-colónias hoje integrados na sociedade portuguesa, há que conjugar a variável naturalidade com a nacionalidade. Com efeito, 75% (4237) daquelas pessoas possui nacionalidade portuguesa o que se depreende serem, sobretudo, situações decorrentes dos acontecimentos anteriormente apontados: da descolonização e do retorno de familiares de emigrantes, sendo este retorno geralmente acompanhado dos próprios elementos da família, em particular quando se trata de menores. Refira-se que os países de origem destas pessoas são, sobretudo, Angola (30.2%); Moçambique (16,3%); França (13,2%) e Brasil (13%) o que reforça aquela ideia.

Não será, no entanto, de descurar a presença de pessoas de nacionalidade estrangeira, sendo que esta característica, independentemente, das razões de nortearam a sua imigração para Portugal, é condição de uma não cidadania plena.

Em 2001 foram recenseados 1360 estrangeiros o que significa 1.1% da população do Concelho. Esta percentagem reflecte já um aumento em relação à percentagem de 0.7% expressa pelos Censos de 1991. A desagregação da informação contido no Censo permite dizer que a maior parte destas pessoas vem do Brasil (409) e de “outros países” (513), onde se pensa que os novos países da Europa de Leste terão uma forte presença.

Com efeito, os novos fluxos migratórios com origem em países do Leste Europeu têm vindo a mudar a face da imigração em Portugal e, nesta perspectiva, será de todo o interesse manter um conhecimento actualizado em torno destas dinâmicas.

Considerando a reflexão feita no seio das Comissões Sociais de Freguesia, pode dizer-se que estes novos fluxos tornaram-se já particularmente visíveis em como Matosinhos, Leça da Palmeira, S. Mamede e Lavra onde algumas pessoas têm recorrido

23 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos aos serviços das UNIVAS, das Juntas de Freguesia e dos Centros de Saúde. Alguns dos problemas que afectam esta população dizem respeito às dificuldades com a língua portuguesa; a ilegalidade / clandestinidade de algumas situações; o desemprego que, numa conjuntura económica desfavorável, afecta também os imigrantes.

Matosinhos começa, assim, a sentir o impacte das transformações que, a este nível, já se iniciaram na Região Norte, da qual é parte integrante.

5 Tal como escreve Jorge Macaísta Malheiros na Rediteia, nº27TPF FPT só muito recentemente a Região Norte se constituiu como um território atractivo para a população imigrante. Em 2000, residiam aí 10,6% dos estrangeiros instalados em Portugal, o que correspondia a 0,6% da população residente; para o conjunto do País esta percentagem era já superior a 2%. “Este comportamento relaciona-se com a dinâmica interna da região em termos demográficos e económicos: uma população relativamente jovem com taxas de natalidade elevadas implicava a presença de mão-de-obra disponível, ao mesmo tempo que se verificavam níveis salariais baixos (inferiores aos praticados noutras regiões do país) e menores investimentos por parte do governo central relativamente a obras públicas. Contudo, os últimos anos da década de 90 significaram uma nova dinâmica ao nível dos fluxos migratórios direccionados para a região Norte. O forte crescimento do investimento público na região, com o arranque de um conjunto de obras públicas relevantes e a expansão do terciário têm contribuído para o reforço do recrutamento de trabalhadores/as estrangeiros. Este processo ocorre num contexto de retracção da oferta endógena de mão- de-obra nos segmentos menos qualificados do mercado de trabalho, mais por via do aumento das qualificações e das expectativas dos jovens activos, do que propriamente pela sua emigração” (Malheiros, J. “Novos destinos na imigração contemporânea: o caso da Região Norte de Portugal” in Rediteia, nº27, pp 21).

Considerando os indivíduos com autorização de permanência concedida durante 2001, pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras verifica-se, por um lado, a dispersão geográfica dos novos fluxos migrantes com origem nos países da Europa de Leste; por outro lado, constata-se que 20% da população estrangeira com autorização de permanência se localizava na Região Norte.

5 TP PT Rede Europeia Anti-Pobreza, Rediteia, nº27, Abril, Maio e Junho de 2002.

24 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

2. As Assimetrias do Crescimento

Ao olhar para as diferentes freguesias de Matosinhos verifica-se que o aumento de população não se processou uniformemente pelo território concelhio, nem foi constante ao longo dos anos.

Gráfico 5 Variação Relativa da População Residente no Concelho de Matosinhos, por Freguesia 1981-1991 e 1991-2001 (%)

60 50

40 32,8 30 22,1 20,3 V.Pop. 81/91 20 15,8 15 11,1 9,4 10,3 12,8 10,3 V.Pop. 91/2001 10,1 5,8 8,4 8 4,7 2,6 -2,21 0 -4,4 -11,3 -13,7 -20 1234567891011 Fonte: Cálculos com base em INE, Recenseamento Geral da População 1981, 1991 e 2001.

Legenda: 1- Total do Concelho 2 - Custóias; 3 – Guifões; 4 – Lavra; 5 – Leça do Balio; 6 – Leça da Palmeira; 7 – Matosinhos; 8 – Perafita; 9 – Sta. Cruz do Bispo; 10 – S. Mamede Infesta; 11 – .

Verificam-se, assim, diferenças significativas no crescimento da população residente do Concelho, entre 1981 e 1991. Neste período, as freguesias com um crescimento demográfico mais acentuado foram as de Senhora da Hora, Guifões, Custóias e Lavra.

Esta última freguesia goza de uma proximidade com a costa e com a praia, a sua paisagem marítima, proporcionaram um crescimento dirigido sobretudo a grupos sociais com uma capacidade económica elevada, traduzindo-se numa construção baseada em casas unifamiliares, em vez de grandes urbanizações em altura. O crescimento urbanístico que aí se fez sentir fica-se a dever, não só à satisfação da necessidade de uma primeira habitação, bem como de habitação para férias ou fins-de-semana.

Dez anos passados, porém, o destaque apenas se mantém para Custóias e Senhora da Hora. Estas duas freguesias desde cedo se constituíram como zonas dormitório do

25 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos concelho do Porto. A sua proximidade com a capital do distrito, bem como as suas boas acessibilidades, quer em termos de vias rodoviárias, quer de transportes públicos ferroviários, favoreceram o surgimento de novas urbanizações e, como tal, o seu crescimento demográfico.

Guifões, por seu turno, regista mesmo um decréscimo populacional, com uma variação negativa de -11.3%. Com efeito, esta é uma freguesia com um carácter marcadamente rural; o seu crescimento, nos anos 80, deveu-se à “explosão” de construção clandestina, com base em loteamentos ilegais, a qual estagnou, a partir de então. Esta situação não só deve ter dado origem à estagnação do crescimento populacional bem como ao seu próprio decréscimo, movido por uma população em busca de melhores condições de habitabilidade.

Curioso é o facto de freguesias que em 1981/91 não apresentaram um crescimento significativo, registarem na década seguinte subidas bem mais acentuadas de população residente. É o caso de Leça do Balio, Leça da Palmeira, Santa Cruz do Bispo e S. Mamede Infesta.

Desfrutando de uma frente costeira, Leça da Palmeira, que na década de 80, cresceu a um ritmo muito inferior ao crescimento médio do Concelho, deverá, nos anos seguintes, ter acentuado esse crescimento, já que tem sido palco de novas construções, muitas das quais no âmbito do sector cooperativo, dirigidas, aqui também, a famílias com maior capacidade de compra.

A freguesia de Santa Cruz do Bispo destaca-se entre as anteriormente referidas por ter invertido o sentido da sua variação populacional. Isto é, se entre 1981/91 esta freguesia apresentava valores negativos, na década de 1991/2001 apresenta um crescimento de população positivo na ordem dos 10%. Esta inversão de tendências deve-se, sobretudo, à construção de habitação por parte do sector cooperativo e à abertura de novas vias de acesso.

Sede de Concelho, a freguesia de Matosinhos é a única que mantém uma variação populacional negativa desde 1981, continuando, porém, a concentrar a maior percentagem de população (17%), percentagem esta já muito próxima da apresentada por Senhora da Hora (15.8%). Correspondendo ao casco urbano mais antigo, a freguesia de Matosinhos tem vindo, cada vez mais, a desenvolver a sua centralidade face ao Concelho o que correspondeu, à semelhança de outros locais, a uma redução da função residencial e a um

26 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

aumento da função comercial e de serviços. A renovação recente de Matosinhos Sul (onde outrora se concentrava a maior parte das indústrias conserveiras), com a construção de novas áreas residenciais deverá, futuramente, contribuir para que a freguesia não continue a perder população.

Gráfico 6 População Residente no Concelho de Matosinhos, por Freguesias 2001

30000 28488 26543 23542 25000 18065 20000 17215 15673

15000 12298 9686 9408 10000 6108

5000

0 Custóias Guifões Lavra Leça B. Leça P. Matosinhos Perafita Stª Cruz B. S. Mamede Srª Hora

Fonte: INE, Recenseamento da População e da Habitação; 2001.

Tal como se pode verificar no gráfico seguinte, a presença da população, tendo agora em conta os diferentes grupos etários, também não é uniforme nas dez freguesias do Concelho.

Com efeito, as freguesias de Leça do Balio, Matosinhos, S. Mamede e Leça da Palmeira são as que revelam uma maior presença de população idosa.

Por outro lado, Senhora da Hora, Santa Cruz do Bispo, Custóias, Guifões e Lavra, são as apresentam um maior peso de população do grupo etário dos 0-14 anos. Estes elementos, conjugados com o acentuado crescimento populacional em Santa Cruz do Bispo e Custóias, na última década, podem constituir indicadores importantes para uma avaliação da rede de equipamentos de apoio à infância naquelas freguesias.

27 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 7 População Residente no Concelho de Matosinhos, por Grupos Etários e por Freguesia 2001

100% 90% 80% 70% 60% 65-+ 50% 25-64 40% 15-24 30% 20% 0-14 10% 0% Cústóias Guifões Lavra Leça B. Leça P, Matosinhos Perafita Stª Cruz S. Srª Hora Mamede

Fonte: INE, Recenseamento da População e da Habitação; 2001.

Descendo a um nível ainda mais micro, pode verificar-se que crianças e os jovens têm uma presença bem mais expressiva em certas zonas do Concelho, nomeadamente em alguns bairros sociais. Considerando um questionário realizado em 1998 nos bairros da Guarda, Praia de Angeiras e S.Gens, a percentagem daqueles que tinham idades inferiores a 24 anos rondava, em qualquer um dos bairros, os 50% (face aos 32% para o total dos residentes no Concelho, considerando como referência o mesmo ano de 98).

Por outro lado, o peso da população idosa, nesses mesmos aglomerados populacionais, não ultrapassava um máximo de 7.2% no bairro de Praia de Angeiras, percentagem essa inferior à verificada, no Concelho, no mesmo ano, de acordo com os Anuários Estatísticos do INE (11%).

Estudos realizados sobre a população urbana pobre, que se concentra em determinados bairros sociais ou de habitação degradada, tinham já evidenciado a maior “juventude” desta população (vd. Cardoso, 1993) que parece estar relacionada, por um lado, com uma menor esperança de vida e, por outro, com estratégias diferentes face á natalidade e à constituição de família.

Não esquecer que os níveis de instrução mais baixos desta população, restringirá o acesso, e a prática efectiva, a certas normas de planeamento familiar. Acresce que a própria valorização dos filhos se reveste de outras dimensões: mais do que um custo no

28 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos imediato a criança é vista, por boa parte desta famílias, como “mais um salário mais um braço disponível a juntar a outros. Pela sua colaboração nas actividades domésticas, ela constitui também uma fonte regular de apoio da dona de casa” (Almeida, 1985).

29 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

3. O Envelhecimento e Feminização da População Idosa

À semelhança do que acontece no resto do País, e também no Grande Porto, Matosinhos tem vindo a revelar uma tendência para um envelhecimento demográfico. Tal como refere Maria João Valente Rosa este fenómeno corresponde “às alterações que, relativas à estrutura etária da população, se traduzem por um aumento da importância relativa dos idosos (envelhecimento no topo), por uma diminuição da importância relativa dos jovens (envelhecimento da base) ou por ambas as situações (duplo envelhecimento ” (Rosa, 1996).

Na década de 90, a população do concelho de Matosinhos manifesta, pois, esse duplo envelhecimento através de uma diminuição do número de crianças (0-14anos) e de jovens (15-24 anos) e de um aumento do número de idosos. Veja-se que, em 1991, os menores de 25 anos representavam 37% dos residentes descendo a percentagem para 30.4%, em 2001; em contrapartida, os idosos eram 9% no início dos anos 90 e passam a representar 12.3% dos residentes, em 2001.

Gráfico 8 População Residente no Concelho de Matosinhos, por grupos etários 1991- 2001 (%)

60 53,9 57,4 50 40 30 20,6 1991 16 16,5 20 14,4 12,3 1995 9 10 1998 2001 0 0-14 15-24 25-64 65 e mais

Fonte: Cálculos feitos com base em INE, Anuários Estatísticos da Região do Norte, 1991/92, 1996, 1999, e Recenseamento da População e da Habitação; 2001.

A partir de cálculos feitos com base nas Estatísticas Demográficas de 2000 e nas Estatísticas Intercensitárias Provisórias de População Residente para 31.12.1999 e

30 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

31.12.2000, do Instituto Nacional de Estatística, o índice de envelhecimento de Matosinhos era de 79% o que, apesar das tendências para o progressivo envelhecimento 6 da população, situa o Concelho muito perto da média para a Região Norte (80.1%)TPF FPT.

Para além do aspecto demográfico, o aumento da população idosa pode, por si só, ser um indicador do aumento das situações de exclusão social já que os idosos se constituem como um grupo particularmente vulnerável.

O aumento desta população tem, por outro lado, diversos impactes, nomeadamente ao nível da estrutura das famílias.

Assim, considerando, , a estrutura das famílias no Concelho de Matosinhos, na perspectiva da população idosa, verifica-se que, de acordo com o Recenseamento de 2001 e por comparação com 1991:

∗ Aumenta o número de famílias com idosos: os idosos estão presentes em 25.1% das famílias residentes no Concelho; esta percentagem era, em 1991, de 21.7%.

∗ Aumenta o número de idosos a viverem sós: cerca de 23% das famílias com idosos são, de facto, compostas por um único elemento, isto é, correspondem, a situações de pessoas idosas que vivem sozinhas, situações essas que em relação ao total de famílias residentes significam 5.8%. Em 1991 estas mesmas percentagens eram, respectivamente, 20% e 4.3%. Embora as mulheres estejam em maioria entre a população idosa, verificou-se, entre 1991 e 2001, um maior aumento do número de idosos do sexo masculino a viverem sozinhos, (78.8%, contra 66.5%, no caso das mulheres).

O envelhecimento da população e o aumento do número de idosos a viverem sós transporta consigo importantes implicações para a própria intervenção social. Na sua reflexão em torno dos problemas locais, as diferentes Comissões Sociais de Freguesia foram unânimes em equacionar os problemas associados ao processo de envelhecimento: ∗ Isolamento social da população, o que alimentará um sentimento de solidão decorrente, em grande parte, da viuvez e da perca de outros familiares e amigos o que leva a uma fragilidade das relações sociais, afectivas e de suporte; ∗ Ausência ou insuficiência de retaguarda familiar devido, em alguns casos, às dificuldades que as famílias actuais têm em conciliarem as exigências de uma

6 TP PT Segundo dados do Observatório de Emprego e Formação Profissional – “Qualificações e Formação

31 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

actividade profissional a tempo inteiro com os cuidados a familiares e, noutros casos, sobretudo no caso dos muito idosos, devido à ausência de parentes. ∗ Aumento das situações de dependência. Na freguesia de Leça da Palmeira foi mesmo referido as más condições de habitabilidade que afectam a população idosa. Com pouca capacidade económica, habitando em casas arrendadas com rendas baixas onde os próprios senhorios também não querem investir, para estes idosos a habitação torna-se, ela mesma, um factor de agravamento das suas condições de vida.

Como anteriormente foi aflorado, o envelhecimento da população tem implicado um fenómeno de feminização.

Com efeito, se considerarmos a população no seu conjunto, existe um certo equilíbrio entre os sexos, embora com um peso já ligeiramente superior para a população feminina: 48.5% e 51.5% são as percentagens que, respectivamente, homens e mulheres detêm na população residente em Matosinhos, para o ano de 2001. Contudo, a distribuição por sexo não é assim tão homogénea quando se toma os diferentes grupos etários. Se nos grupos mais novos (dos 0 aos 14 anos e dos 15 aos 24 anos) se verifica uma maior presença de homens, a situação inverte-se a partir do grupo etário 25 – 64 anos, atingindo as mulheres uma percentagem superior à dos homens nas idades superiores a 64 anos - 59%, contra 41%, em 2001. Estas percentagens dão conta, apesar de tudo, de um certo aumento do número de homens idosos, uma vez que estes representavam, em 1998, 39.6% da população idosa.

A situação é comum ao Grande Porto e, uma vez mais, reflecte as tendências demográficas do País presumindo-se, assim, uma sobremasculinidade nos nascimentos e uma sobremortalidade masculina. Ou seja, nascem mais homens do que mulheres, mas os elementos do sexo masculino tendem a morrer mais cedo.

O envelhecimento demográfico é, pois, uma questão essencialmente feminina o que em termos sociais pode significar uma situação desvantajosa e vulnerabilidades acrescidas para as mulheres idosas, nomeadamente do ponto de vista económico, na medida em que as pensões sociais das mulheres são geralmente mais baixas tendo em conta percursos profissionais mais precários e remunerações também mais baixas.

Profissional na Região Norte, Junho de 2003.

32 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 9 População Residente, no Concelho de Matosinhos, por Grupo Etário e Sexo 2001 (%)

60 51,4 48,5 51 49 51,3 51,5 48,6 59,3 48,5 50 41 40

30

20

10 Homens 0 Mulheres 0-14anos 15-24 25 e 64 65 e mais Total

Fonte: INE, Recenseamento da População e da Habitação - 2001.

33 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

4. As Transformações nas Estrutura Familiares

Nos últimos anos tem-se vindo a assistir no País a um conjunto de transformações nas estruturas familiares que decorrem, por um lado, de alterações de comportamento e, por outro, do próprio processo de envelhecimento da população, tal como se referiu anteriormente.

Uma dessas transformações prende-se com a evolução sofrida pelas taxas de natalidade.

No concelho de Matosinhos as tendências seguidas pela taxa de natalidade são semelhantes às verificadas em Portugal. Com efeito, tanto no País, em geral, como em Matosinhos, em particular, houve um decréscimo continuado das taxas de natalidade na primeira metade da década de 90, atingindo, em 1995 e para o Concelho, os 11‰. Depois de um período de estabilização, a taxa sofre movimentos oscilatórios registando em 1998 o valor mais baixo da década, com 10.5‰. A partir de 1999 revela-se uma nova subida, apresentando, em 2000, uma permilagem de 11.8, valor que é superior ao verificado para o País mas inferior ao registado no Concelho no início dos anos 90. É registada nova descida em 2001 onde atinge os 10.8‰, mantendo-se estabilizada até 2002 com 10,9‰.

Gráfico 10 Taxas de Natalidade no País e em Matosinhos 1991/2002

16 14 12 10 8 6 4 2 0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Matosinhos Portugal

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População; 2001; Anuários Estatísticos da Região Norte, 1991/92 - 2002.

A descida da taxa de natalidade é, normalmente, acompanhada de um retardamento da concretização dos projectos conjugais. Ou seja, as pessoas tendem a casar mais tarde e a terem filhos em idades mais avançadas.

34 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

De acordo com uma recente publicação do INE, "Mulheres e Homens em Portugal nos Anos 90", editado em 2002, assiste-se, cada vez mais, entre a população mais jovem, a um aumento gradual das idades medianas à saída de casa dos pais e no primeiro casamento, facto que não é, contudo, uniforme em ambos os sexos, verificando-se que entre as mulheres se está a retardar, sobretudo, a idade no primeiro casamento, havendo, a este nível, uma maior aproximação entre as idades medianas apresentadas por homens e mulheres.

Segundo dados contidos no Inquérito à Fecundidade e Família de 1997 (incluídos no estudo acima referido), enquanto que nas mulheres a idade à saída de casa dos pais aumenta de 21,3 anos, no grupo etário dos 45-49, para 22,7 anos, no grupo etário dos 25- 29 anos; nos homens aumenta de 23,6 anos no grupo etário dos 50-54 anos, para 28,5 anos, no grupo dos 25-29 anos.

Por outro lado, no que diz respeito ao primeiro casamento legal, nas mulheres a idade mediana aumentou, tendo em conta o mesmo período temporal: de 23,4 anos entre as mulheres de 45-49 anos, para 26,1 anos, na faixa dos 25-29 anos; nos homens, o aumento foi de 26,1 anos, no grupo dos 50-54 anos, para 27,9 anos, no dos 30-34 anos. Complementarmente, assiste-se, a um aumento constante na idade média da mulher ao nascimento de primeiro filho, sendo, em 1999, de 26,4 anos.

Estes aspectos ficam a dever-se a vários factores: à instabilidade e precariedade laboral; à crescente participação da mulher no mercado de trabalho; às dificuldades daí decorrentes na conciliação entre a vida familiar e a vida profissional; bem como a uma mudança cultural no que diz respeito à valorização dos filhos no seio da família - “a valorização dos filhos passa hoje, em larga escala, por uma lógica claramente expressiva, evocando as características afectivas da relação pai/mãe-filho, e em que o valor económico das crianças aparece já não sob a forma de lucro mas de custo, custos estes elevados e em concorrência com outros bens alternativos constitutivos de uma noção cada vez mais alargada de qualidade de vida” (Figueiredo, et al, 1999).

O “comportamento” da taxa de natalidade tem também produzido efeitos na estrutura das famílias que se revelam da seguinte forma: ∗ Diminuição do número de famílias numerosas (cinco e mais elementos). Em 1991, estas famílias representavam 14.8%; em 2001 essa percentagem é de apenas 8.2%, o que faz com que a dimensão média das famílias fosse, em 2001, de 2.8 pessoas.

35 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

∗ Diminuição do número de famílias com crianças. No concelho de Matosinhos, segundo dados dos Censos de 1991, eram cerca de 46.0% as famílias com pelo menos uma criança. Em 2001, aquelas famílias surgem representadas por apenas 33.6%. ∗ Tendência para o “filho único” é já bastante expressiva no Concelho: em 1991, 62.9% das famílias com crianças, tinham apenas uma; em 2001 essa percentagem é de 69.4%. Na Região do Grande Porto, aquela percentagem é de 67.6%.

As tendências acima referidas não podem deixar de ser enquadradas no contexto de outras transformações onde se jogam, por um lado, um certo enfraquecimento dos laços conjugais e, por outro, novas formas de viver a conjugalidade com reflexos no aumento de divórcios, no surgimento de formas familiares cada vez mais diversificadas, na dissociação entre a parentalidade e a conjugalidade formal.

Nesta perspectiva importa salientar, ainda, as seguintes transformações, importantes para uma melhor compreensão desta realidade: ∗ Aumento do número de divórcios. No concelho de Matosinhos, entre 1991 e 2001, o número de pessoas divorciadas aumentou cerca de 57%, passando de 1735 para 4097. ∗ Aumento das uniões de facto. Em 1991, o número de pessoas em união de facto era, no Concelho, 1989; em 2001, este número sobe para 5 220, o que significa um aumento na ordem dos 61%. ∗ Crescimento das famílias monoparentais. Em 2001 as famílias monoparentais eram, no Concelho, 5 052 o que significa 8.7% do total de famílias clássicas, percentagem que fica acima da registada no País (8.3%). Estas famílias têm maioritariamente uma mulher como responsável (87% para Matosinhos). ∗ Aumento do número de nascimentos fora do casamento: o 1996 – 284 o 1999 – 366 o 2001 – 417 o 2002 – 478 o 2003 – 497 (Fonte: INE, Estatísticas Demográficas, 1997, 2000, 2002, 2003.)

36 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

II. EMPREGO E DESEMPREGO

O emprego é um direito social básico que se encontra reconhecido a todos os cidadãos e cidadãs na Constituição da República Portuguesa (4ª revisão de 1997).

No seu artigo 58º a Constituição refere que incumbe ao Estado promover a “execução de políticas de pleno emprego”; saliente-se a alínea a) do artigo 59º onde se escreve que todos/as trabalhadores/as têm direito, sem distinção de idade, sexo, raça, cidadania, território de origem, convicções políticas ou ideológica, “à retribuição do trabalho, segundo a quantidade, natureza e qualidade, observando-se de que para trabalho igual salário igual, de forma a garantir uma existência condigna.

A exclusão face ao direito ao emprego, ou numa perspectiva mais ampla, ao trabalho, tem sido uma das questões centrais no debate sobre a exclusão social. Tal exclusão ultrapassa hoje a vertente mais fácil de identificar, e também a mais visível, que é a do desemprego mas contempla as dimensões da ausência de qualidade no emprego, que passam pelo baixo nível de remunerações, pela precariedade ou inexistência de vínculos contratuais, pela clandestinidade de determinadas actividades profissionais, pelas enormes desigualdades que caracterizam o sistema de remunerações e que afectam, em particular, as mulheres e os estratos escolar e profissionalmente menos qualificados.

A exclusão face ao direito ao emprego é, em si mesmo, uma dimensão da exclusão social e é, também, um factor potenciador de outras dimensões dessa mesma exclusão. Repare- se que o emprego, ou o desempenho de uma actividade profissional remunerada, representa, para a maior parte das famílias, a principal fonte de rendimentos. Ter um emprego / uma profissão é, pese embora todas as transformações sociais ter acesso a um determinado estatuto que, geralmente, se assume como uma referência social muito importante.

Por outro lado, conhecer o funcionamento do mercado de trabalho, é conhecer a expressão, a nível local, de um dos factores que, consensualmente, é identificado como um dos principais responsáveis pelos processos de exclusão. Com efeito, vários autores apontam no sentido de ser ao nível do funcionamento do mercado de trabalho que se podem encontrar as situações mais preocupantes de exclusão social e o desencadear de processos que, gerando escassez de recursos e insegurança na sua obtenção, dão origem

37 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos continuada a situações de privação e de não satisfação de outros direitos sociais básicos, para além do emprego.

1. O Emprego: uma Perspectiva Evolutiva e por Género

De acordo com o Recenseamento Geral da População e da Habitação de 2001 eram 78.877 as pessoas residentes no concelho de Matosinhos que se encontravam a trabalhar. Este valor é superior ao apurado no Recenseamento Geral da População e da Habitação de 1991, em que se registaram 70.763 indivíduos empregados.

Estes números reflectem um crescimento da população activa empregada superior ao crescimento verificado na população residente em geral durante a década de 90 (11.5% contra 10.1%), donde se pode inferir a capacidade de atracção de mão-de-obra que o Concelho exerceu neste período.

Para além deste aumento, a actividade económica de Matosinhos nas últimas décadas foi, sobretudo, marcada por um crescimento dos activos no terciário, a par de um decréscimo dos activos, quer no sector primário, quer no sector secundário.

Este é um processo de terciarização que se vem acentuando e que se traduz numa inversão do predomínio dos activos no sector secundário (55% em 1981) para um predomínio dos activos do terciário (67.2% em 2001).

Gráfico 11 Estrutura da População Residente Empregada, no Concelho de Matosinhos, segundo o Sector de Actividade Económica 1981– 2001

80 67,2 55 52,8 60 45,2 41,2 31,7 40 1981 20 1991 2001 0 Secundário Terciário Fonte: Cálculos feitos com base em dados do INE, Recenseamento Geral da População, 1981, 1991 e 2001.

38 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Tomando como base de análise outra fonte de informação, os Quadros de Pessoal do 7 Ministério da Segurança Social e do TrabalhoTPF FPT, verifica-se que, entre 1991 e 1999, o número de trabalhadores/as na indústria no concelho de Matosinhos diminuiu em 10.495, o que corresponde a um decréscimo de 33.6%. Esta diminuição é superior à verificada no Grande Porto, que se cifrou em 22.5%.

Por outro lado, no mesmo período de tempo e segundo a mesma fonte, regista-se um continuado crescimento da população com emprego nos serviços (+ 65.8%), facto que também é mais acentuado em Matosinhos do que no conjunto da região em que o Concelho se insere.

Gráfico 12 Variação relativa da população com emprego na indústria e nos serviços no concelho de Matosinhos e no Grande Porto 1991/1999

80 60 40 65,8 20 27,2 0 -22,5 -20 -33,6 -40 Indústria Serviços

Matosinhos (91/99) Grande Porto (91/99)

Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1991 e 1999.

Nos últimos anos (considerando 2002 como último ano com informação disponível) estas tendências mantêm-se, e Matosinhos chega a 2002 com 16 491 pessoas com emprego na indústria (das quais 11 998 eram homens e 4 493 eram mulheres) e com 34 510 pessoas com emprego nos serviços (18 638 homens e 15 872 mulheres).

Esta terciarização da estrutura produtiva do Concelho está de acordo com o que tem acontecido no País, em geral. Tal como refere Machado Pais assiste-se, actualmente, “a uma transformação do perfil sectorial da actividade económica semelhante à que se seguiu à revolução industrial: decréscimo do emprego agrícola a favor do industrial. Às portas de

7 TP PT Esta fonte de informação tem algumas limitações que importa explicitar: só considera a população empregada no sector privado; na medida em que o seu preenchimento é feito directamente pelas entidades empregadoras há uma ocultação do trabalho clandestino; não inclui o trabalho por conta própria pelo que não é uma boa fonte de informação para a análise do sector primário, por exemplo.

39 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos uma economia terciarizada, o processo parece repetir-se a favor dos serviços” (Pais, 1991).

Por outro lado, estas transformações não são alheias ao tipo de tecido industrial de Matosinhos, onde algumas das suas actividades dominantes, sofreram o impacte negativo da modernização e da globalização da economia: é o caso da indústria alimentar, do sector conserveiro, e da indústria têxtil. Algumas indústrias, como as de produção metalomecânica, maquinaria, artigos e matérias plásticas, começaram, por seu turno, a sentir uma necessidade de expansão que os preços dos terrenos no Concelho dificultavam. Assistiu-se, assim, à transferência, para fora dos limites concelhios, de uma parte das antigas unidades industriais.

Em contrapartida, o sector terciário vai crescendo em torno de actividades ligadas ao comércio retalhista; à restauração; aos serviços pessoais e domésticos; aos serviços colectivos; aos transportes e comércio grossista, cuja expansão está ligada à localização de infra-estruturas portuárias, terminais de carga e aeroporto (cfr. Plano Director Municipal, 1992). O comércio grossista, com as suas grandes áreas de armazenagem, marca aliás a paisagem do concelho de Matosinhos; ao serem grandes “consumidores” de espaço, os armazéns servem, muitas vezes, de tampão à expansão urbana.

A distribuição por sector de actividade segundo o género dá conta da discrepância existente entre trabalhadores masculinos e femininos. Assim, se em sectores como o industrial se tem vindo a verificar, no Concelho, um peso cada vez maior da mão-de-obra masculina, o que se verifica nos serviços é o inverso dessa tendência, mostrando-se este sector cada vez mais feminizado.

Dos dados apresentados pode inferir-se que a diminuição de pessoal empregado no sector industrial se ficou a dever, em particular, a uma redução do emprego feminino no sector (- 61.8%%, entre 1991 e 2002), enquanto que o terciário cresce, sobretudo, à custa de uma canalização da mão-de-obra das mulheres (+169.7%, no mesmo período de tempo). Dados mais recentes reforçam esta ideia, revelando uma tendência para a continuação da diminuição de trabalhadores/as no sector industrial e um aumento no que se refere ao sector dos serviços. Entre 1999 e 2002, os valores referentes a homens e mulheres apresentam alguma homogeneidade. Na indústria o número de homens diminui cerca de 21%, enquanto que nas mulheres essa diminuição foi de 20%. Ao nível dos serviços, homens e mulheres registaram aumentos na ordem dos 12% (homens, 12.6%; mulheres, 12.1%).

40 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 13 Pessoal ao Serviço na Indústria e nos Serviços no Concelho de Matosinhos (valores absolutos) 1991 - 2002 Indústria Serviços

35000 30000 35000 30000 25000 25000 20000 20000 15000 15000 10000 10000 5000 5000 0 0 Indúst. 91 Indúst. 95 Indúst. 99 Indúst. 02 Serv. 91 Serv. 95 Serv. 99 Serv. 02

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1991, 1995, 1999 e 2002.

Pese embora o decréscimo de emprego verificado na indústria, tal como vem sendo referido, é curioso verificar o aumento do número de estabelecimentos industriais, na ordem das 259 unidades, entre 1991 e 2002. Contabilizando esse aumento, tendo em conta dos diferentes anos, verificamos que entre 1991 e 1995 houve um aumento de 98 estabelecimentos; entre 1995 e 1998 surgiram mais 25; e entre 1999 e 2002 foram contabilizados mais 71 novos estabelecimentos industriais. Esta disparidade tem certamente subjacente todo um processo de reconversão industrial com introdução, cada vez mais forte, das novas tecnologias, o que implica uma diminuição do número de postos de trabalho.

Note-se, ainda, que o crescimento das unidades, quer industriais, quer de serviços, se 8 tem feito sentir, sobretudo, ao nível da micro e da pequena empresaTPF FPT. Com efeito, entre 1991 e 2002 o número de estabelecimentos industriais com menos de 10 trabalhadores aumentou de 424 para 780, enquanto que já no número das médias empresas se registou uma diminuição na ordem dos 56 estabelecimentos.

Também nos serviços, embora o crescimento do número de estabelecimentos seja generalizado, ele é muito mais acentuado nas dimensões mais pequenas: as micro

8 TP PT São consideradas micro empresas, aquelas que têm entre 1 a 9 trabalhadores; são consideradas pequenas empresas as que possuem entre 10 e 49 trabalhadores; são consideradas médias empresas as que possuem entre 50 e 199 trabalhadores.

41 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos empresas prestadoras de serviços mais que duplicaram o seu número, entre os anos em análise: de 1 437 em 1991, passam a 3 243 em 2002.

Considerando o nível de instrução da população empregada, uma dimensão de análise importante para uma boa compreensão do funcionamento do próprio mercado de trabalho, 9 verifica-se uma evolução positiva na indústria e nos serviços, de 1991 a 2002TPF FPT. Essa melhoria, tal como se pode ver no gráfico seguinte, deve-se, por um lado, à diminuição progresiva do peso relativo dos empregados com um nível de instrução igual ou inferior ao 2º ciclo do ensino básico e, por outro, a um aumento do número de pessoas empregadas com licenciatura.

Gráfico 14 Total de Pessoal ao Serviço na Indústria e Serviços, possuindo habilitações inferiores ao 2º Ciclo e Licenciatura, no Concelho de Matosinhos 1991 - 2002 (%)

60 54,8 50 46,1 39,1 40 37,2 29,3 % 30

20 Inferior 2º Ciclo 8 5,0 5,8 10 2,4 3,4 Licenciatura 0 1991 1995 1998 1999 2002

Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1991, 1995, 1998, 1999 e 2002.

Existem, contudo, uma vez mais, diferenças significativas entre o que se passa no sector da indústria e no dos serviços.

Com efeito, verifica-se que a redução de emprego na indústria, na década de 90, se situa, precisamente, nas pessoas com os níveis de instrução mais baixos. Embora, como em cima se apontou, se tenham reduzido os totais de trabalhadores/as industriais, no período considerado, (à excepção de 1999 em que houve um ligeiro aumento) o número absoluto de trabalhadores/as com níveis de instrução igual ou superior ao 3º ciclo do ensino básico chegou mesmo a aumentar, sendo que o maior crescimento se verifica entre os trabalhadores/as que têm o ensino superior, tal como se pode verificar no gráfico 15.

42 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

No sector dos serviços verifica-se igualmente um aumento do número de empregados com o ensino superior (+364%), aumento esse bem mais expressivo do que o verificado na indústria. Mas neste sector regista-se, também, um importante aumento do quantitativo de empregados que possuem um nível de instrução inferior ao 2º ciclo (+16%), o que não acontece na indústria.

Isto parece significar que o sector terciário, no concelho de Matosinhos, é um sector dual. Ou seja, engloba um conjunto de serviços altamente qualificados, oferecendo elevados níveis de remuneração para uma população qualificada escolar e profissional e, simultaneamente, revela uma grande capacidade de absorção de mão-de-obra desqualificada, alguma dela entretanto desempregada devido à compressão e reestruturação do emprego verificada na indústria.

Apesar de tudo, a estrutura de pessoas activas empregadas no sector dos serviços apresenta-se, genericamente, com um nível de instrução mais elevado do que a dos empregados na indústria, tal como se pode verificar no gráfico seguinte.

Gráfico 15 Nível de instrução do Pessoal ao Serviço no Concelho de Matosinhos (%) 1991, 1995, 1998, 1999 e 2002 Serviços Indústria

40 70

35 60

30 50 25 40 20 30 15 20 10

5 10

0 0 =/< 2ºciclo 3ºciclo Sec. Lic. Ignorado =/<1ºciclo 3ºciclo Form.Prof. Ignorado 1ºciclo

1991 1995 1998 1999 2002 1991 1995 1998 1999 2002

Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1991, 1995, 1998,1999 e 2002.

9 TP PT De acordo com os dados do Quadro de Pessoal / Ministério da Segurança Social e do Trabalho. 43 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

1.1. Desigualdades Salariais

Os processos de exclusão social com origem no próprio mercado de trabalho têm que ver, em boa parte, com os níveis salariais auferidos pela população que trabalha por conta de outrém.

Uma das características do mercado de trabalho em Portugal diz respeito à forte incidência de baixos níveis salariais com implicações directas no nível das condições de vida da população, nomeadamente no que diz respeito ao poder de compra.

O salário base mensal médio em Matosinhos, a preços correntes, era de 523.20 euros em 1995, passando para 615.50 euros, em 1998, 648.40 euros em 1999 e 746.90 euros em 2002.

Se tivermos em conta a evolução dos preços entretanto verificada, regista-se que, para comprar em 2003 os mesmos bens que em 1995, seriam necessários mais 27.5% de nível salarial. Ou seja, para manter o “poder de compra” de referência em 1995 seriam necessários 745.50 euros em 1999 e 771,50 em 2002 (respectivamente mais 15% e 3.3% do que o valor médio efectivo). Em resumo, ao longo do período em consideração o salário médio mensal, em termos reais, foi-se degradando, embora o último ano considerado desse conta de alguma tentativa de recuperação, face a anos anteriores. Contudo, segundo o “Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio” publicado pelo INE em 2002 (dados de 2000), em que se pretende medir o peso percentual do poder de compra de cada concelho, verifica-se que Matosinhos se encontrava em nono lugar a nível nacional. O concelho de Matosinhos representa 2,1% do poder de compra nacional, contrastando com a maior parte dos concelhos em que esta percentagem não atinge sequer o 1%.

Comparando o salário médio de base para 1991, com a linha de pobreza para os 10 centros urbanosTPF FPT, constata-se que Matosinhos apresentava, em 1991, uma situação relativamente melhor do que a registada em contexto nacional, já que a distância entre a linha de pobreza e a média dos salários de base é maior: 2.07 vezes em Matosinhos; 1.97 vezes para o Continente. A evolução foi, pelo menos até meados da década, de sentido positivo aumentando a distância entre o salário médio e a linha de pobreza considerada.

44 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 16 Rácio entre o Salário Médio de Base, em Matosinhos e a Linha de Pobreza Urbana 1991 e 1995

3

2,5

2

1,5

1 1991 1995

Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1991 e 1995.

Porém, se o salário médio tomado como referência for, no seio familiar, o único salário a ser partilhado, o rendimento per capita aproxima-se da linha de pobreza (expressa em escudos / mês por adulto equivalente) ficando, no ano de 1995, apenas a 10 mil escudos acima do limiar de pobreza considerado para as zonas urbanas (42 519 escudos).

Outro dos elementos que caracterizam o mercado de trabalho português reside nas desigualdades salariais entre homens e mulheres. A partir dos elementos dos Quadros de Pessoal do Ministério da Segurança Social e do Trabalho é possível identificar alguns indicadores dessas desigualdades.

Um deles diz respeito à comparação entre o salário médio de base feminino e o salário médio de base masculino. Em 1991, no concelho de Matosinhos, os homens ganhavam mais 40.5% do que as mulheres, sendo essa disparidade muito mais acentuada no Concelho do que na Região do Grande Porto. Nos anos seguintes, e até 2002, à excepção de 1999, regista-se em Matosinhos uma maior aproximação entre os salários médios auferidos pelos trabalhadores masculinos e femininos.

10 TP PT De acordo com cálculos feitos em Pereirinha, coord (1999) o valor da linha de pobreza mensal, por adulto equivalente, em 1991, era de 35 433 escudos. Em 1995 era de 42 519 escudos.

45 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 17 Diferença entre o Salário Médio de Base Feminino e o Salário Médio de Base Masculino, em Matosinhos e no Grande Porto 1991 - 2002 (%)

45 40,5 37 40 31,3 34 35 29,8 30,6 29,4 30,5 30 27,1 24 25 % 20 15 Matosinhos 10 Grande Porto 5 0 1991 1995 1998 1999 2002

Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1991, 1995, 1998, 1999 e 2002.

Apesar de uma certa convergência salarial, em 2002 os salários médios das mulheres trabalhadoras persistiam mais próximos da linha de pobreza urbana do que os salários auferidos pelos trabalhadores do sexo masculino.

Gráfico 18 Rácio entre o Salário Médio de Base, em Matosinhos e a Linha de Pobreza Urbana, por sexos 1991 e 1995

3

2,5

2

1,5

1 Homens 0,5 Mulheres 0 1991 1995 Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1998.

A maior vulnerabilidade das mulheres à pobreza monetária, comprovada em vários estudos, encontra elementos justificativos nos salários mais baixos que, em geral, as mulheres auferem o que se repercute não só no curto, como no longo prazo, isto é, com a passagem à reforma, momento a partir do qual irão auferir rendimentos das pensões

46 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos também mais baixos, já que o cálculo da pensão tem como base os rendimentos do trabalho. Relacionando com a linha de pobreza para os contextos urbanos (1991 e 1995) verifica-se claramente essa vulnerabilidade: em 1995 o salário médio de base das mulheres era 1.98 vezes superior à linha de pobreza; para os homens esse valor era de 2.72 vezes.

Esta disparidade em termos salariais relaciona-se, em parte, com o (ainda) mais baixo nível de instrução das mulheres e, na sequência deste factor, com a sua inserção em profissões menos qualificadas e, como tal, pior remuneradas. Nno entanto, alguns/algumas autores/as têm-se dedicado a identificar as razões que, para além das anteriormente apontadas levam, o mercado de trabalho português, a penalizar as mulheres do ponto de vista salarial. Um dos argumentos analisados diz respeito ao absentismo que, de acordo com algumas perspectivas, será mais acentuado entre as mulheres. Os dados do Inquérito à Força de Trabalho, lançado de três em três anos nos diferentes países da União Europeia pelo Eurostat, revelam que, em 1996, em Portugal, ao contrário do que acontece noutros países europeus “as mulheres têm taxas de absentismo – quer por doença ou incapacidade temporária, quer por vários tipos de licenças – inferiores às dos homens e apenas por razões de natureza familiar aquelas taxas assumem um valor ligeiramente superior” (Lopes, 1999). Estes dados desde logo remetem para as questões de uma partilha equilibrada, entre homens e mulheres, das responsabilidades familiares e, por outro lado, para a necessidade de uma rede de infra-estruturas de acompanhamento à educação e cuidados das crianças, nomeadamente, creches, ensino pré-escolar e infra-estruturas de tempos livres.

Com base nos elementos fornecidos pelos Quadros de Pessoal do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, a autora em cima citada construiu um modelo considerando a igualdade de circunstâncias para homens e mulheres, isto é, tomando trabalho de valor igual, em termos do nível de instrução do/a trabalhador/a, da sua antiguidade na empresa, do regime contratual e do mesmo horário de trabalho, as mulheres continuam a apresentar níveis salariais mais baixos.

Por outro lado, “homens e mulheres com habilitações idênticas não têm o mesmo nível de remuneração. No entanto, este facto não é alheio à actividade profissional que ambos os géneros exercem, pois possuir a mesma habilitação literária não será sinónimo de possuir as mesmas qualificações profissionais. Os níveis de qualificação profissional são níveis utilizados administrativamente nas empresas e nos diversos organismos para a afectação

47 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos das remunerações e dos ganhos aos seus trabalhadores, revestindo-se, por isso de uma grande importância para a verificação de práticas discriminatórias” (Perista, coord, 1999).

Ou seja, são as políticas de carreiras e de gestão de pessoal e os sistemas de incentivos que as empresas praticam que determinam as diferenças de salários, tendo em conta o género. No entanto, as empresas “agem muitas vezes sem terem em conta que, ao praticarem tais políticas de diferenciação salarial, estão a introduzir círculos viciosos nas suas próprias estratégias de competitividade, desperdiçando uma fracção extremamente significativa do seu potencial produtivo e induzindo frequentemente à rotatividade de trabalhadores que poderiam ser mais qualificados e mais estáveis” (Lopes, 1999).

Diferenças salariais são também notadas quando se consideram os diversos subsectores de actividade. Com efeito, alguns subsectores apresentam salários médios de base mais baixos do que a média geral do Concelho: a Restauração, os Serviços de Educação / Acção Social, Saúde e Outros Serviços Pessoais e Colectivos. Saliente-se que todos estes subsectores, com a excepção da Construção Civil, são maioritariamente femininos. Ao contrário, registam-se salários acima da média nas Actividades Financeiras, na Produção de Electricidade e Água e nos Transportes, Armazenamento e Comunicações.

Gráfico 19 Relação entre o Salário Médio nos Diferentes Ramos de Actividade e Salário Médio Total, no Concelho de Matosinhos 11 1995, 1998, 1999 e 2002TPF FPT

1,6

1,4

1,2

1

0,8 1995 1998 0,6 1999 2002 0,4 Ind.Transf. Const.Civil Restauração Activ.Financ. Serv.Educ. Outros

Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1995, 1998, 1999 e 2002.

11 TP PT Não foi considerado o ano de 1991 devido ao facto de os ramos de actividade considerados serem diferentes.

48 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Entre 1995 e 1999, e tal como se pode verificar no gráfico anterior, poucas alterações se verificam na estrutura das diferenças salariais, constituindo essas diferenças, aspectos estruturais da própria economia portuguesa.

No dizer de alguns autores (Vd. Pereirinha, 1988 e Rodrigues, 1993) as qualificações, nomeadamente as qualificações escolares, são o atributo que mais contribui para a desigualdade dos salários em Portugal.

Gráfico 20 Relação entre o Salário Médio nos Níveis de Escolaridade e Salário Médio Total, no Concelho de Matosinhos 12 1991, 1995, 1998,1999 e 2002TPF FPT

2,8

2,3

1,8 1991 1995 1,3 1998 1999 2002 0,8 Sem 1ºCiclo 2ºCiclo 3ºCiclo Secund. Ens. Bach. Licenc. Total diploma Técnico Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1995, 1998, 1999 e 2002.

Como se pode ver no gráfico anterior, existe uma nítida clivagem entre o nível dos salários auferido por quem não possui a escolaridade obrigatória (de nove anos), apresentando valores abaixo da média, e por aqueles que ultrapassam aquele grau de escolaridade. Como seria de esperar, os valores dos salários aumentam muito a partir dos níveis de instrução superior: bacharelato ou licenciatura, havendo, no entanto, uma certa tendência para uma maior aproximação destes últimos em relação à média.

Também a diferença entre os valores salariais mínimos (que se verificam para os níveis de instrução mais baixos) e os valores salariais máximos (que se registam para os licenciados) vai-se reduzindo ao longo dos anos em análise no Concelho de Matosinhos.

12 TP PT Não foi considerado o ano de 1991 devido ao facto de os ramos de actividade considerados serem diferentes.

49 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Apesar disso, a diferença é ainda muito expressiva: em 2002, em média, um/a trabalhador/a licenciado/a

Gráfico 21 Relação entre o Salário Médio de Base dos Trabalhadores/as Licenciados/as e o Salário Médio de Base dos Trabalhadores/as sem Diploma Escolar, em Matosinhos 1991, 1995, 1998, 1999 e 2002 (%)

75

70 74 65 71,1 68,9 65,5 60 65

55

50 1991 1995 1998 1999 2002

Fonte: Cálculos feitos com base em dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, Quadros de Pessoal, 1995, 1998, 1999 e 2002.

A vulnerabilidade dos/as trabalhadores/as escolarmente pouco qualificados face à precariedade económica apresenta-se como um aspecto muito grave a ter em conta no Concelho de Matosinhos. Em 1995 os trabalhadores/as com o 1º ciclo do ensino básico ganhavam apenas 0.5 vezes acima do valor da linha de pobreza.

Alguns dos elementos aqui apontados condicionam bastante a evolução do emprego e o processo de formação dos salários e, por consequência, dos rendimentos familiares. São de salientar as dificuldades em fazer conjugar as características (e exigências) da procura de trabalho com as da oferta da mão-de-obra, em termos de qualificações escolares e profissionais, responsáveis em larga medida pelas características estruturais do desemprego. A elevada percentagem de trabalhadores/as com baixas habilitações escolares em Matosinhos (Em 2002 era 29.5% a percentagem de trabalhadores/as que tinham, no máximo, o 1º ciclo do ensino básico) constitui um elemento de flagrante fragilidade ao nível do Concelho. Uma vez que o baixo nível de habilitações escolares vai, em grande medida, determinar a possibilidade de aquisição de qualificações profissionais. Este handicap vai fazer-se sentir também à escala dos sectores mais expostos à concorrência internacional, como é o caso de grande parte do sector industrial em Matosinhos.

50 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

1.2. A Precariedade do Trabalho

Estudos realizados têm evidenciado como, para além da dicotomia emprego / desemprego, a qualidade do próprio emprego é factor de vulnerabilidade, ou de protecção, à pobreza. Neste sentido, refiram-se alguns indicadores que, na ausência de informação para a totalidade do Concelho, são mencionados numa caracterização dos bairros de Praia de Angeiras, S.Gens e Guarda.

Assim, entre a população residente nestes bairros verifica-se a existência de uma parte importante dos trabalhadores/as (26%) que não efectua descontos para a segurança social. Mais de 2/3 destes/as trabalhadores/as enquadram-se na indústria da construção civil e a maioria dos restantes nos serviços pessoais e domésticos.

Esta forma de precariedade afecta sobretudo os/as trabalhadores/as designados como “por conta própria”, entre os quais a situação mais frequente é a do biscateiro, trabalhador/a sem trabalho certo, que “faz o que aparece”. Por outro lado, é entre os indivíduos menos escolarizados que se registam as maiores percentagens de ausência de descontos para a Segurança Social, chegando tal situação a atingir os 51% no caso dos analfabetos. O que significa que a integração profissional destas pessoas se faz fortemente através da economia informal.

A precariedade do emprego é, ainda, consubstanciada pelo tipo de contrato dos/as trabalhadores/as por conta de outrém. Neste grupo, menos de metade tem um contrato de trabalho permanente; entre os restantes, salienta-se a importância dos contratos a prazo, ou a termo, e do trabalho à empreitada.

Os contratos “não permanentes” são uma realidade essencialmente feminina, abrangendo 41.7% das trabalhadoras por conta de outrém, face a apenas 17.4% dos homens.

Fazendo uma análise por grupos etários, confirma-se a expectativa de que o contrato permanente é uma figura cada vez mais inacessível. Se no grupo etário dos 40 aos 64 anos a percentagem de trabalhadores/as, neste tipo de contrato, é largamente superior à registada no contrato a prazo, nos grupos etários mais novos, a proporção vai-se progressivamente invertendo.

51 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

As UNIVA’s presentes nas Comissões Sociais de Freguesia confirmam, por seu turno, esta tendência para a crescente precarização dos contratos de trabalho, referindo-se não só ao contrato a termo certo mas também à empreitada como figuras cada vez mais presentes nos sectores da construção civil e nos serviços de limpeza.

1.3. A Formação Profissional

Não havendo dados específicos para o concelho de Matosinhos importará referir alguns elementos constantes de relatórios produzidos para a Região Norte e que denotam algumas fragilidades da Região.

Em primeiro lugar, importa salientar que esta Região, quando comparada com as outras NUTS II, apresenta posições mais desfavoráveis no que respeita a aspectos como as baixas taxas de escolarização, o abandono precoce, a falta de qualificação profissional dos jovens à entrada no mercado de trabalho, a baixa frequência de formações de requalificação e reconversão da população adulta (cfr. CCRN, 1998).

Por outro lado, de uma análise das fraquezas, apresentadas pela Região, a este nível, feita pelo Observatório do Emprego e Formação Profissional, destacam-se os seguintes aspectos: • A reincidência da formação profissional nos níveis de qualificação e de habilitações literárias mais elevados. • Grande concentração da formação em determinados sectores da actividade económica – 32.3% dos participantes em acções de formação profissional realizadas em 2000, pertencia ao sector das actividades financeiras. • Grande percentagem de empresas que refere não necessitar de formação profissional (73.7%). • Esta não necessidade de formação é referido, sobretudo pelas pequenas empresas. À medida que a dimensão da empresa aumenta, aumenta, também a proporção de empresas que perspectiva necessidades de formação: 77.5% das empresas que têm, no máximo 49 pessoas ao serviço, referiram não necessitar de formação; 73% das empresas com mais de 249 trabalhadores/as explicitaram aquela necessidade. • A pouca formação profissional associada à inovação tecnológica, i.e., a introdução de novos equipamentos.

52 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

• O peso mais acentuado da formação profissional de aperfeiçoamento e actualização, com a formação profissional de reconversão a evidenciar percentagens muito baixas. • A pouca repercussão da formação profissional no desenvolvimento das carreiras dos/as trabalhadores/as (ex. promoções e aumento salarial…) • O facto de a formação profissional não se mostrar “promotora” de uma maior fidelização do pessoal, mantendo-se com vínculo precário percentagens elevadas de trabalhadores/as que foram objecto de formação. • A persistência de uma maior insistência da formação profissional em áreas tradicionais (ex. Produção e Aprovisionamento), descurando Áreas novas como a Qualidade e o Ambiente.

Face a estas fraquezas refere o Observatório que se torna imperativo tomar medidas, designadamente medidas de descriminação positiva abrangendo diversas áreas. Uma delas diz respeito à prevenção do abandono escolar, sendo a criação de sistemas articulados de educação e formação de segunda oportunidade, assim como o desenvolvimento do ensino profissional de nível intermédio. Outra questão, que requer especial atenção, prende-se com a entrada dos jovens no mercado de trabalho, quer através da proposta específica de programas para a inserção, como de apoio ao primeiro emprego.

No que se refere à qualificação da população activa, atente-se em medidas tendentes a enquadrar a assistência técnica à fase de arranque e acompanhamento de novos projectos empresariais, nomeadamente no que respeita às microempresas, à formação dos promotores e gestores e à certificação de competências, tendo em conta a lógica de formação ao longo da vida.

53 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

2. Actividade Profissional e Vida Familiar: a Conciliação Necessária

Tal como acima referido, e é constitucionalmente reconhecido, o trabalho é um direito social básico e é do trabalho, em particular do trabalho por conta de outrem, que a maior parte das famílias retira o seu rendimento principal.

Nas últimas quatro décadas do século XX, uma das principais tendências de evolução do mercado de trabalho em Portugal correspondeu à forte presença das mulheres nesse mesmo mercado, situação essa que se prevê em reforço: “Por um lado, uma vez que as mulheres estão em maioria no ensino superior (e tendencialmente em número crescente), é de prever que aumente a percepção por parte das mulheres de que a sua realização pessoal passa por um bom desempenho ao nível da sua profissão. Um outro aspecto que poderá influenciar esta tendência, e ainda a lógica da oferta de trabalho, prende-se com a crescente necessidade de aumentar o rendimento do agregado familiar” (Lopes e Perista, coord, 1999). Com efeito, o rendimento do trabalho das mulheres tornou-se não apenas um complemento mas uma necessidade, um imperativo para a melhoria da qualidade de vida da família e, por vezes, até da sua sobrevivência.

Num contexto em que homens e mulheres despendem uma grande parte do seu tempo no trabalho remunerado as questões da conciliação entre vida familiar e profissional requerem uma cada vez maior atenção.

Tal passa, nomeadamente, perante o desvanecimento das solidariedades informais, pelo reforço das redes formais de suporte social às famílias, particularmente no que diz respeito ao acolhimento e da prestação de cuidados a crianças e jovens, mas também, e cada vez mais, à pessoa adulta em situação de dependência.

Um relatório da Comissão Europeia, datado de 1998, sobre Conciliação da vida profissional e familiar na Europa nos diferentes Estados Membros, revelava a situação desfavorável de Portugal ao nível dos serviços (co)financiados pelo Estado dirigidos a crianças dos vários escalões etários: “ a relação percentual entre o número de crianças e os lugares disponíveis nos serviços financiados pelo sector público, no que respeita a crianças dos 0 aos 3 anos, é de 12% em Portugal, valor muito baixo quando comparado com os dos países escandinavos, já que, por exemplo, na Dinamarca (...) este valor atinge 48%; quanto às crianças dos 3 aos 6 anos, a taxa em Portugal é de 48%, enquanto que em vários países – Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Itália e Espanha, ela ultrapassa 80%” (cfr. Lopes e Perista, coord, 1999).

54 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Dados de 2003 referentes a um inquérito realizado no Concelho de Matosinhos sobre as “Necessidades de Equipamentos Sociais” o qual abrangeu, entre outros equipamentos, 18 creches, incluindo uma creche familiar e uma mini-creche, bem como 28 jardins-de- infância, revelam que o panorama concelhio, a este respeito, ainda está aquém do desejado. Assim, e embora não tivesse sido possível considerar o universo dos equipamentos, as taxas de cobertura alcançadas com as creches inquiridas apontam para os 15%, valor ainda distante dos 33% estipulados como meta do PNAI – Plano Nacional de Acção para a Inclusão de 2003/2005 até 2010. A maioria destes equipamentos encontrava- se no limite da sua capacidade (13), existindo listas de espera em 83.3% do total de equipamentos.

Considerando os jardins-de-infância entrevistados, a taxa de cobertura situava-se nos 43.3%, igualmente longe da meta desejável, estabelecida no PNAI de 2003/2005 (90%). Por outro lado, 79.3% destes equipamentos apresentam também listas de espera ainda que quantitativamente inferiores às registadas nas creches.

Mas a questão do reforço das redes formais de apoio às famílias, através da prestação de cuidados às crianças e jovens, não passa unicamente pela criação de mais infra-estruturas. Passará, também, por uma maior adequação das já existentes face às novas necessidades das famílias as quais dependem, em muito, das próprias exigências do mercado de trabalho. Aspectos essenciais, a este nível, são os horários de funcionamento destes equipamentos e serviços. Aliás, a re-definição e melhor articulação de horários de funcionamento de locais de trabalho, escolas, serviços públicos, centros de saúde, etc afigura-se indispensável a uma re-organização dos tempos das cidades, mais favorável à conciliação entre as diversas esferas da vida das pessoas que nelas residem e/ou trabalham.

A par da participação crescente da mulher na actividade económica, a necessidade de aumentar a mão-de-obra disponível na economia, fez surgir novas questões sociais onde se enquadra a necessidade de uma maior partilha de responsabilidades entre homens e mulheres no seio da família.

Se Portugal é um dos países onde a taxa de actividade feminina é das mais elevadas da União Europeia, seria de esperar que fosse um dos países com uma divisão do trabalho doméstico mais equitativa entre homens e mulheres, de modo a que ambos possam fazer face às exigências do mercado de trabalho. No entanto, os homens portugueses figuram

55 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos entre os que menos participam nestas actividades (Knuppel, 1995 citado por Lopes e Perista, coord, 1999).

Com efeito, dados recentes sobre os usos do tempo revelam, inequivocamente que, independentemente “de ambos os elementos do casal exercerem uma profissão ou não, é da “responsabilidade” das mulheres assegurar a grande parte dos trabalhos domésticos e do cuidado das crianças. (...). A esta desigualdade acresce ainda o facto de as tarefas desempenhadas pelas mulheres serem mais exigentes, quer no que toca ao tempo de execução, quer ao número de tarefas em si, requerendo assim uma maior disponibilidade para o seu cumprimento” (Lopes e Perista, coord, 1999).

Como facilmente se pode constatar esta é uma situação altamente penalizadora para as mulheres trabalhadoras fazendo-as estar sujeitas a uma dupla jornada de trabalho e constitui-se como um grande obstáculo à sua afirmação profissional e a uma progressão na carreira.

Por outro lado, esta situação implica, ainda, um menor cumprimento do direito que aos homens assiste quanto à sua paternidade. Com efeito, “a conciliação não se prende apenas com a questão da partilha de responsabilidades domésticas, enquanto divisão das tarefas no contexto familiar, mas sim com a necessidade e a importância de alcançar uma efectiva igualdade entre homens e mulheres em todas as esferas, com uma vontade crescente que os homens sentem de efectivar o seu direito de pais e ainda com um direito que assiste a todas as crianças de crescerem num ambiente equilibrado quanto à partilha de afectos” (Lopes e Perista, coord, 1999).

Sem dados estatísticas que ilustrem especificamente o que se passa a este nível no concelho de Matosinhos, foram enunciados apenas alguns dos problemas que no contexto europeu cada vez mais se colocam como questões transversais a toda a sociedade e, em particular, ao funcionamento do mercado de trabalho, como alerta para a situação do Concelho.

56 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

3. O Desemprego no Concelho

De acordo com os dados do Inquérito ao Emprego, o Grande Porto tem apresentado taxas de desemprego mais elevadas do que as registadas para o Continente.

A partir de 1997, ano em que o desemprego apresentou na região a percentagem mais elevada (10.5%), verifica-se uma descida até 2000 (5.8%), acompanhando-se, ainda que de uma forma mais acentuada, as tendências verificadas para o País. O agravamento da situação económica traduz-se, já em 2001, numa nova subida da taxa de desemprego na região, ano que em atinge os 8%, valor bem superior ao registado para Portugal (4.1%).

Gráfico 22 Taxas de Desemprego na Região do Grande Porto e em Portugal

12

10 8

6 4

2 Grande Porto 0 1991 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Portugal

Fonte: INE, Inquérito ao Emprego, 1991, 1996, 1997, 1998, 2001 e 2002; INE, Região Norte em Números, 1998 INE; Área Metropolitana do Porto em Números, 2001. Nota: Os valores correspondentes ao ano de 2002, referem-se ao 4º trimestre do mesmo.

A informação fornecida sobre o desemprego registado no Centro de Emprego de Matosinhos revela precisamente o mesmo tipo de evolução.

Com efeito, em Outubro de 1997 estavam inscritos 11 414 pessoas. A partir desse ano e até 2000, verificou-se, no Concelho, um decréscimo do desemprego registado, na ordem dos 49%. Em 2001, o número de desempregados/as começou a subir e em Dezembro de 2004 atinge as 9 592 pessoas registadas.

F

13 TP PT Segundo o Relatório Trimestral – Evolução e Situação dos Mercados Locais de Trabalho, 2º trimestre de 2004 do Instituto de Emprego e Formação Profissional.

57 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 23 Número de Pessoas Desempregadas Inscritos no Centro de Emprego de Matosinhos 1997 - 2004

11414 9040 9592 8552 7257 5961 5815 5963

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fonte: Instituto de Emprego e Formação Profissional. Nota: Os dados até ao ano de 2000 dizem respeito ao mês de Outubro; 2001, 2003 e 2004 reportam-se a Dezembro e 2002 a Novembro.

A situação do Centro de Emprego de Matosinhos é comum à grande maioria dos Centros de Emprego da Delegação Regional do Norte, em relação aos quais o aumento do número de desempregados/as se situou nos 15,2%, no fim do 2º trimestre de 2004, por relação ao 14 período homólogoTPF FPT.

Mais de metade (60,7%) dos pedidos de emprego, chegados aos Centros de Emprego da Delegação Regional do Norte, dizem respeito a situações de desemprego, sendo a mais frequente o despedimento (24,2%) seguido do “fim do trabalho de carácter não permanente” (21,7%).

Entre as pessoas registadas no Centro de Emprego de Matosinhos, tem sido superior a percentagem de mulheres, sendo o ano de 2004 a excepção. Sobretudo nos períodos mais favoráveis, e embora com algumas oscilações, parece que o desemprego se “alimentou”, em particular, das dificuldades de inserção profissional das mulheres e das incapacidades de absorção de mão-de-obra feminina, por parte do mercado de trabalho.

Repare-se que, entre 1997 e 2000, enquanto para os homens, o decréscimo do desemprego registado no Centro de Emprego de Matosinhos foi de 52%, para as mulheres, esse decréscimo ficou-se nos 46.4%. A partir de 2000, e tal como já se referiu, o número de pessoas desempregadas volta a aumentar, mas desta vez são os homens que mais contribuem para o seu aumento: entre finais de 2000 e Dezembro de 2004 o número de

58 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos homens desempregados aumenta 88%, enquanto o aumento do número de mulheres desempregadas se fica pelos 46%. Em relação ao peso de ambos os sexos no total de desempregados, os homens representam, no ano de 2004, 50,7% (4861) e as mulheres, 49,3% (4731).

Gráfico 24 Pessoas Desempregadas Registadas no Centro de Emprego, por Sexo (%) 1997 e 2004

100%

80%

60%

40%

20% Mulheres Homens 0% 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fonte: Instituto de Emprego e Formação Profissional. Nota: Os dados até ao ano de 2000 dizem respeito ao mês de Outubro; 2001, 2003 e 2004 reportam-se a Dezembro e 2002 a Novembro.

É interessante referir que, embora as mulheres constituam a maior parte das pessoas desempregadas consideradas em sentido lato (nos dados do Inquérito ao Emprego), o sexo feminino está, normalmente, sub-representado entre o desemprego registado, considerando os dados totais para o País. Tal não tem acontecido, porém, em Matosinhos, ou seja, como se verificou anteriormente as mulheres estão, também, em maioria entre os registados no Centro de Emprego, o que poderá estar relacionado com a intervenção realizada no âmbito do Rendimento Mínimo Garantido e com todo o trabalho de intervenção social desenvolvido em alguns bairros do Concelho.

A estrutura etária do desemprego registado no Concelho revela que o desemprego jovem diminui quando as taxas de desemprego baixam e aumentam com a subida das mesmas, embora a subida do desemprego entre os jovens se tenha feito sentir já desde 1999, o que revela que o desemprego jovem é particularmente sensível às diferentes conjunturas. Verifica-se, por outro lado, um aumento do desemprego das pessoas com 50 e mais anos nos períodos mais favoráveis e uma diminuição do seu

14 TP PT Segundo o Relatório Trimestral – Evolução e Situação dos Mercados Locais de Trabalho, 2º trimestre de 2004 do Instituto de Emprego e Formação Profissional.

59 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos peso entre os/as desempregados/as quando o desemprego aumenta, o que apontará para situações de desemprego mais estrutural. Haverá interesse em acompanhar este comportamento do desemprego, segundo a idade, com o objectivo de verificar se isto corresponderá a uma tendência segundo a qual o desemprego se situará nos dois extremos das faixas etárias: • os mais jovens, onde se enquadrarão a maior parte das situações de procura do primeiro emprego; • os mais velhos e mais desqualificados que procuram um novo emprego e onde se colocarão as maiores dificuldades de empregabilidade e, como tal, um desemprego de maior duração.

Gráfico 25 Pessoas Desempregadas Registadas no Centro de Emprego, por Idades (%) 1997 e 2004

60

50

40

30 Menos de 25 anos 20 25 a 49 anos 10 50 e mais

0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fonte: Instituto de Emprego e Formação Profissional. Nota: Os dados até ao ano de 2000 dizem respeito ao mês de Outubro; 2001, 2003 e 2004 reportam-se a Dezembro e 2002 a Novembro.

Tomando, uma vez mais, a variável sexo, o desemprego feminino é, em Matosinhos, tal como se pode verificar no gráfico seguinte, um desemprego mais jovem do que o apresentado pelo sexo masculino. Com efeito, em todos os anos considerados se verifica, entre as mulheres desempregadas, uma maior percentagem do grupo das menores de 25 anos, chegando-se a 2004 com 13,2% de mulheres na faixa etária “menos de 25 anos”, enquanto que a percentagem de homens, nesse mesmo grupo de idades, é de 10,0%. Por outro lado, os homens desempregados com mais de 55 anos representam 28,8% enquanto que as mulheres inscritas no Centro de Emprego naquela mesma faixa etária são 18,1%. Isto poderá significar que as mulheres encontram mais dificuldades em encontrar um primeiro emprego, mas a partir de uma certa idade encontram mais facilmente estatutos

60 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos alternativos ao de trabalhadora, desistindo a sua própria inscrição nos serviços de emprego.

Gráfico 26 Pessoas Desempregadas Registadas no Centro de Emprego, por Sexo e Idade (%) 2004

Homens Mulheres 55 e mais Menos de Menos de 25 a 34 28,0% 25 25 anos 13,2% 10,0% 24,5%

24 a 34 anos 55 e mais 35 a 54 35 a 54 19,3% 18,1% anos anos 44,3% 42,7%

Fonte: Instituto de Emprego e Formação Profissional.

Entre a população desempregada destaca-se a elevada percentagem de pessoas que têm o 1º ciclo do ensino básico ou menos, a qual manteve relativamente constante até 2000, rondando, nessa altura, os 49%.

Com o aumento do desemprego, em 2001, a percentagem de desempregados/as escolarmente pouco qualificados/as começa, no entanto, a perder importância, atingindo os 38.6% em 2003. Em 2004 assiste-se a uma nova subida do número de desempregados/as com escolaridade igual ou inferior ao 1º ciclo situando-se a percentagem nos 40.4%.

Por outro lado, entre Outubro de 2000 e Dezembro de 2004, o número de pessoas desempregadas com uma licenciatura ou bacharelato passa de 425 efectivos para 717, ou seja, mais 68,7%. Estes aspectos dão conta de uma generalização da crise de emprego a estratos anteriormente mais protegidos, para além de poder contribuir para uma desvalorização da educação aos olhos da população, enquanto veículo de promoção económica e social, vem na esteira de algumas teses que apontam para o facto de, cada vez menos, uma instrução superior ser garantia de emprego.

61 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

No entanto, apesar da referida perda de importância relativa, a população desempregada continua a apresentar-se escolarmente menos qualificada do que a população com emprego, revelando-se, assim, o nível de instrução como um factor determinante para a inserção profissional dos indivíduos e, tal como se viu no ponto anterior, para a qualidade dessa mesma inserção. No entanto, é de referir que algumas Comissões Sociais de Freguesia identificaram os jovens que saem da escola com o 9º ano de escolaridade como sendo dos mais difíceis de integrar profissionalmente. Se para aqueles que têm um nível de instrução mais baixo a economia informal é aquela que lhes oferece mais possibilidades (ainda que precárias e instáveis) de oferta de trabalho, sendo essa precariedade aceite como tal, para os que investiram no cumprimento da escolaridade obrigatória foram sendo criadas algumas expectativas que frequentemente não são compatíveis com o nível de instrução alcançado que é desvalorizado face aos que atingiram o 11º e o 12º ano.

Gráfico 27 Pessoas Desempregadas Registadas no Centro de Emprego, por Nível de Instrução (%) 1997 - 2004

60

50

40

30 1997 1998 20 1999 2000 2001 2002 10 2003 2004

0 4ºano ou 6ºano 9ºano 11º/12º Bach./ Lic. menos

Fonte: Instituto de Emprego e Formação Profissional. Nota: Os dados até ao ano de 2000 dizem respeito ao mês de Outubro; 2001, 2003 e 2004 reportam-se a Dezembro e 2002 a Novembro.

A situação de procura de um novo emprego é bastante mais frequente, do que a procura de primeiro emprego, e tem vindo a aumentar com o crescimento do desemprego, em geral, o que está de acordo com as razões mais frequentemente evocadas para uma inscrição no Centro de Emprego: a finalização dos contratos e os despedimentos.

62 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 28 Pessoas Desempregadas Registadas no Centro de Emprego, segundo o Tipo de Procura (%) 1997 - 2004

94,8 95,7 95,8 96,9 92,5 94,4 96,1 93,6

1º emprego Novo emprego 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fonte: Instituto de Emprego e Formação Profissional. Nota: Os dados até ao ano de 2000 dizem respeito ao mês de Outubro; 2001, 2003 e 2004 reportam-se a Dezembro e 2002 a Novembro.

O desemprego de longa duração sofreu, em Matosinhos, um decréscimo bastante acentuado entre 1998 e 1999, a partir daí e, até 2002, continua em descida, muito embora, nos últimos anos considerados, ela seja sobretudo simples reflexo directo do aumento do número de desempregados/as, já com consequências contrárias em 2003 e 2004. Repare- sepois que, neste último ano, o desemprego com duração superior a 12 mais meses aumentou para 49,8%.

Uma situação de desemprego de longa duração não só significa, como transporta consigo, dificuldades ao nível do processo de inserção profissional e social. Com efeito, são sobejamente reconhecidas as consequências negativas de uma situação prolongada de desemprego, consequências que se manifestam não só na dinâmica económica das famílias, mas também no estado psicológico das pessoas desempregadas que perdem, com a perca de trabalho, uma referência social de grande importância, e desenvolvem, por vezes, um sentimento de inutilidade, uma baixa auto-estima. Uma situação de desemprego de longa duração pode, ainda, significar uma perca dos ritmos reguladores da vida quotidiana e o desencorajamento para a procura activa de emprego.

63 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 29 Pessoas Desempregadas Registadas no Centro de Emprego, segundo o Tempo de Inscrição(%) 1997 - 2004

70 1997 60 1998 50 1999 40 2000 30 2001 20 2002 10 2003 0 2004 Menos de 3 meses 3 a 12 meses Menos de 12 meses 12 e mais

Fonte: Instituto de Emprego e Formação Profissional. Nota: Os dados até ao ano de 2000 dizem respeito ao mês de Setembro; 2001, 2003 e 2004 reportam-se a Dezembro e 2002 a Novembro.

É reconhecido pelas instituições sociais que o desemprego, no Concelho, faz-se sentir particularmente em determinadas zonas. Com efeito, num estudo de caracterização, realizado no âmbito da ADEIMA, em 1998, 28.5% da população activa dos bairros de S.Gens, Praia de Angeiras e Guarda declarou-se como desempregada (em sentido lato).

Também aí, o desemprego afectava, em maior proporção, os elementos do sexo feminino. Os mais jovens (menores de 25 anos) representavam 27% dos/as desempregados/as, percentagem bem mais elevada do que a dos jovens inscritos no Centro de Emprego – no mesmo ano, os jovens inscritos representavam menos de 10% do total de desempregados/as inscritos.

Entre a população dos referidos bairros, “o desemprego assume-se como uma experiência frequente mesmo entre os que se encontram a trabalhar. Mais de metade dos inquiridos (56.7%) afirma ter conhecido, pelo menos uma vez, um período de desemprego entre dois empregos, situação que afecta, uma vez mais, sobretudo as mulheres e os mais jovens” (CESIS, 1998).

O facto de aquele ser um aspecto que se faz notar entre as camadas mais jovens da população, remete para alguns estudos sobre a juventude que salientam a rotatividade do emprego/desemprego jovem, a qual se relacionada com as novas formas, cada vez mais precárias, de emprego e a instabilidade na inserção sócio-profissional que, também cada vez mais, afecta os mais novos. Segundo o mesmo relatório, o desemprego é, para

64 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos aquelas populações, “uma experiência cumulativa – cerca de metade (45.1%) afirmou ter estado naquela situação mais do que uma vez, havendo mesmo cerca de 8% que estiveram desempregados/as 4 vezes ou mais” (CESIS, 1998).

É entre os analfabetos que se regista uma maior percentagem de inquiridos que, com mais frequência foram atingidos pelo desemprego e a quantidade de vezes que o desemprego ocorreu entre aqueles que não possuem qualquer grau de instrução, permite identificá-los como particularmente vulneráveis a este fenómeno.

Ao contrário do desemprego registado no Centro de Emprego, aqui são as mulheres que, em maior percentagem, conheceram um desemprego de longa duração (61.1% para as mulheres; 49.3%, para os homens).

Entre a população que se auto-declarou como desempregada, quase 1/3 não estava inscrita no Centro de Emprego, o que faz com que o desemprego registado seja apenas de 14.9% (percentagem naturalmente mais baixa do que quando se considerou o desemprego em sentido lato) mas, mesmo assim, bastante elevado.

Daqueles, são sobretudo as mulheres, e os indivíduos pertencentes ao grupo etário dos 25 - 30 anos que mais recorrem ao Centro de Emprego, o que está de acordo com os elementos fornecidos sobre o desemprego registado naquele organismo.

As dificuldades apontadas pelos inquiridos, na busca por um emprego, variam, como seria de esperar, com a idade. Não surpreendentemente, os inquiridos entre os 40 e os 64 anos, apontam sobretudo o facto de que os empregadores preferem pessoas mais novas. Quanto aos inquiridos entre os 15 e os 24 anos referem, principalmente, questões relacionadas com o seu baixo nível de instrução, o que se torna compreensível quando se verifica que, em 75% dos casos, o grau de escolaridade alcançado por estes indivíduos é, no máximo, o 2º ciclo do ensino básico.

Saliente-se, ainda, que o desemprego nestes bairros é, em larga medida, um desemprego não coberto pela segurança social. Com efeito, 52.9% dos/as desempregados/as afirmaram nunca ter recebido subsídio de desemprego, ou porque nunca houve lugar a descontos para a Segurança Social, ou porque não descontaram o tempo suficiente para usufruir de tal direito, aspectos que são reveladores da precariedade de que se reveste a sua inserção profissional.

65 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

4. Ofertas de Emprego e Colocações

O aumento do desemprego ocorrido nos últimos 4 anos tem vindo a ser sentido por todas as Comissões Sociais de Freguesia as quais apontam, ainda, para uma forte diminuição das ofertas de emprego apresentadas junto das UNIVAS.

Com efeito, e segundo o Relatório Trimestral – Evolução e Situação dos Mercados Locais de Trabalho do Instituto de Emprego e Formação Profissional, as ofertas recebidas ao longo do 2º trimestre de 2004 nos Centros de Emprego da Delegação Regional do Norte, representam 7 929 postos de trabalho, para um total de 42 375 pedidos de emprego. Aquele número de ofertas corresponde, no entanto, a um acréscimo de 2.3% face ao período homólogo de 2003,

Em Matosinhos, no 2º trimestre de 2004, os pedidos de emprego apresentados ao longo do período, no Centro de Emprego, foram de 1 891 , ou seja, menos 224 pedidos comparando com o mesmo período de 2003. Favoravelmente, o número de ofertas sobe para 357, o que corresponde a um aumento de 37.5% face ao período homólogo

Mantém-se, porém, uma grande diferença entre o número das ofertas e dos pedidos, mas, apesar disso, as colocações de desempregados/as chegaram apenas aos 175, no 2º trimestre de 2004. Se este valor representa um aumento significativo (36.7%) do número de colocações relativamente ao período homólogo, as colocações continuam a corresponder, apenas, a 9,2% dos pedidos apresentados e a 49% das ofertas.

O aumento das colocações em 36.7% no Centro de Emprego de Matosinhos, entre o 2º trimestre de 2003 e de 2004, correspondeu ao terceiro maior aumento registado, sendo que a maior capacidade de colocação coube aos Centros de Emprego de e Vila Nova de Famalicão.

Apesar disso, continuam a persistir dificuldades ao nível das colocações que foram justificadas pelos Centros de Emprego devido ao desajustamento entre a procura e a oferta, a falta de qualificação das pessoas desempregadas, a dificuldade no tratamento da totalidade das ofertas e, por fim, a morosidade / complexidade do processo de convocatórias e apresentação.

66 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

De referir ainda que, de acordo com as Comissões Sociais de Freguesia, as exigências feitas para a definição do perfil dos candidatos a emprego são cada vez maiores, quer do ponto de vista da qualificação, escolar e profissional, quer da experiência profissional, oferecendo-se contrapartidas muito baixas ao nível de salários e de condições de trabalho, em geral. Veja-se o exemplo de uma empresa que solicita alguém para trabalho administrativo, mediante pagamento de salário mínimo, com as seguintes características: “jovem à procura do 1º emprego, com conhecimentos de Inglês e Alemão, computadores, 12ºano e experiência na área da facturação”.

Se as UNIVAs apontam para a restauração e os serviços como os sectores que apresentam mais ofertas de postos de trabalho, a de motorista de veículos pesados é, de acordo com os relatórios do 2º trimestre de 2003 e do 2º trimestre de 2004, contrariando a generalidade dos Centros de Emprego da Região Norte, onde as ofertas recaem, sobretudo, na profissão de costureira (trabalho em série).

67 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

III. EDUCAÇÃO

A Constituição da República Portuguesa (revisão de 1997) estabelece os direitos sociais básicos dos cidadãos no que respeita à educação, nos seus artigos 73º, 74º, 76º e 77º. De acordo com esta legislação fundamental, a educação surge como um direito universal, cabendo ao Estado a promoção da democratização da educação, bem como das demais condições que contribuam para a “igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância (...) (Artigo 73º).

Nos termos da Constituição compete, ainda, ao Estado, nomeadamente, “Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito”; “Criar um sistema público e desenvolver o sistema geral de educação pré-escolar”; “Garantir a educação permanente e eliminar o analfabetismo”.

A exclusão em relação ao sistema educativo traduz-se, na prática, em baixos níveis de escolaridade e, paralelamente, em insucesso e abandono escolar precoce. Actualmente o nível de instrução possuído influencia, cada vez mais, a capacidade económica dos indivíduos e um baixo nível de instrução tem sido identificado como um factor causa-efeito da pobreza.

A relação entre baixo níveis de instrução e situações de pobreza foram referidas por alguns autores ao apontar, a partir dos Inquéritos aos Orçamentos Familiares (INE), que os agregados familiares representados por pessoas sem o ensino básico estavam sujeitos a rendimentos muito baixos, a uma forte e crescente incidência da pobreza: 19% em 1981; 21.9%, em 1989; 23% em 1994) ” (Vasconcelos, 1993). Os dados avançados no capítulo anterior comprovam, uma vez mais, a situação vulnerável dos/as trabalhadores/as com baixos níveis de instrução.

Por outro lado, a selectividade do sucesso do sistema educativo, a não verificação dos princípios da igualdade e universalidade da educação estão presentes quando se constata que são os pobres que se ficam, geralmente, pelos níveis de instrução mais baixos.

68 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

1. População Escolar e Níveis de Instrução

Em Matosinhos, no início da década de 90, estavam inscritos no ensino básico (até ao 3º 15 ciclo), 18 534 alunos/asTPF FPT. O número aumenta, entre o ano lectivo de 91/92 e 94/95, para decrescer no final da década, sendo que este decréscimo é um efeito da diminuição do número de crianças e jovens residentes no Concelho: A partir do ano lectivo de 2000/01 o número de alunos/as tem vindo gradualmente a diminuir atingindo no último ano de referência o número de 17 136.

Gráfico 30 Número de Alunos/as Matriculados/as no Ensino Básico, no Concelho de Matosinhos, 1991/92 – 2002/03

10000 8219 8549 7883 7829 7378 8000 7053 7570 6540 6342 6025 6000 6005 5874 4807 4363 3775 4054 4178 4000 4209 1º Ciclo 2º 2000 3º 0 91/92 94/95 98/99 00/01 01/02 02/03

Fonte: INE, Anuários Estatísticos da Região Norte, 1991/92, 1996, 1999, 2001, 2002 e 2003.

Muito embora não seja objectivo do Diagnóstico recuar no tempo, para além da década de 90, é bom relembrar que o referido número de estudantes no Concelho, reflectirá uma das transformações mais importantes, ocorridas na sociedade portuguesa, nos últimos 30 anos: a democratização do sistema de ensino e o alargamento da escolaridade obrigatória que, em paralelo como o aumento do nível de vida e das expectativas da população, deu origem a uma maior procura social da educação e à correspondente ampliação da população escolarizada e dos níveis de instrução alcançados.

Veja-se, por exemplo, que, em Matosinhos, de acordo com os dados do Recenseamento 16 de 2001, a taxa de escolarizaçãoTPF FPT ronda os 59%, entre os indivíduos com mais de 64 anos, passando para 98% entre os que tinham idades compreendidas entre os 16 – 24 anos no ano do último recenseamento.

15 TP PT Note-se que este número diz respeito aos alunos matriculados nas escolas do Concelho, podendo, como tal, ocorrer que haja alunos matriculados que não sejam residentes em Matosinhos. 16 TP PT As taxas de escolarização foram calculadas considerando-se a população que frequentava, ou tinha frequentado (mesmo sem concluir), a escola, sobre o total de população, em cada um dos grupos etários considerados, independentemente dos níveis de instrução alcançados.

69 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 31 Taxas de Escolarização da População Residente em Matosinhos, por Grupos Etários, 1991 / 2001

98 100 95,8 93,7 95,1 87,2 84,7 86,5 80 70,8

60 58,6 47,1 40

1991 20 2001

0 10 - 15 anos 16 - 24 anos 25 - 44 anos 45 - 64 anos 65 e mais

Fonte: INE, Recenseamento da População e da Habitação, 1991 e 2001.

17 Apesar de tudo, Matosinhos chega a 2001 com uma taxa de analfabetismo de 5.2%TPF FPT, muito semelhante à apresentada para o Grande Porto (5.3%). Estes valores são, contudo, inferiores aos registados em 1991, onde as taxas de analfabetismo atingiam valores 5.5% em Matosinhos e 5.9% na região do Grande Porto.

A situação escolar da população é, contudo, bem diversa tendo em conta os diferentes grupos de idade. Considerando a população com mais de 15 anos nota-se, nos grupos etários mais jovens, um aumento significativo dos graus de instrução alcançados (ou frequentados), seja através de um maior acesso a outros níveis do ensino básico, para além do 1º ciclo, seja através do acesso a níveis de instrução superiores.

17 TP PT Segundo os dados do INE, Recenseamento Geral da População de 2001.

70 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 32 População de 16 anos e mais, Residente no Concelho de Matosinhos, com 18 Escolarização, por Nível de Ensino concluído, 2001TPF FPT 16 – 24 Anos 25 – 44 Anos

Ensino Ensino Superior Superior 1ºCiclo Secund. 3% 17% 34% 6% 1ºCiclo Sencund, 25% 2ºCiclo 22% 15%

3ºCiclo 2ºCiclo 3ºCiclo 19% 42% 17%

45 – 64 Anos 65 Anos e Mais

Superior Secund. Ensino 4% 6% Secund. Superior 10% 9% 3º ciclo 10% 3ºCiclo 12%

2ºCiclo 10% 2º ciclo 8% 1ºCiclo 1º ciclo 57% 69%

Fonte: INE, Recenseamento da População e da Habitação, 2001.

Assim, e de acordo com os gráficos anteriores, se apenas 4% da população com mais de 64 anos, e 9% dos que tinham entre 45 e 64 anos, concluiu o ensino superior, na faixa etária dos 25 – 44 anos aquela percentagem sobe para 17%.

18 TP PT Para cada um dos grupos etários, os cálculos foram feitos tendo em conta o número de pessoas que frequenta, completou ou frequentou sem concluir, os diferentes níveis de instrução.

71 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Apesar das tendências positivas, Matosinhos insere-se numa Região que (não existem dados disponíveis para o Concelho) continua a apresentar taxas de escolarização reais inferiores às registadas no Continente, em todos os níveis de ensino.

Quadro 5 19 Taxas de Escolarização Reais (%)TPF FPT 1999 / 2000

Continente Norte

Pré-escolar 75.0 64.9 Ensino Básico: 1ºciclo 107.6 83.7 2ºciclo 90.6 67.8 3ºciclo 87.5 77.9 Ensino Secundário 59.4 54.4 Ensino Superior 26.7 20.2

Fonte: ME-DAPP, Recenseamento Escolar Anual 2001 / 2002 – Inquérito Preliminar, in Observatório do Emprego e Formação Profissional, Qualificações e Formação Profissional na Região Norte, Junho de 2003.

19 TP PT As taxas reais de escolarização, por ciclos, correspondem à relação do somatório dos alunos que frequentam um ciclo de estudo nas idades próprias à sua frequência, e o somatório das idades próprias de frequência dos respectivos ciclos de estudo.

72 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

2. Insucesso e Abandono Escolar

Num quadro de evoluções inegavelmente positivas no domínio da educação, o insucesso e o abandono escolar precoce são duas situações que continuam a persistir e a preocupar pelas suas repercussões a vários níveis.

Portugal, no seu conjunto, apresenta no contexto da União Europeia (dos 15), um dos piores indicadores relativamente a aspectos como o abandono do sistema de ensino.

Considerando a população com idades entre os 18 e os 24 anos que não concluiu o ensino secundário e que já não se encontra no sistema educativo ou em formação, em 2001, Portugal apresentava uma percentagem de “saídas precoces” de 45%, enquanto que, essa mesma percentagem, era de 19% para a Europa dos 15 (Eurostat in

www.min-edu.ptHTU ).UTH No Concelho de Matosinhos, este indicador apresentava-se igualmente elevado com uma percentagem de 37%.

Tomando a população residente em Matosinhos com idades entre os 10 e os 15 anos verifica-se, no Recenseamento de 1991, que 1 301 indivíduos já tinham saído da escola (o equivalente a 8.9% do total de indivíduos daquelas idades) dos quais 716 saíram sem terem sequer concluído o 2º ciclo do ensino básico, o que correspondia, então, à escolaridade máxima obrigatória. Na faixa etária seguinte, dos 16 aos 24 anos, o número dos que saíram sem o 2º ciclo sobe para 4 861, o que significa 22% dos jovens daquele grupo etário.

No Recenseamento de 2001 verifica-se uma evolução extraordinariamente favorável no que diz respeito aos mais novos. Com efeito, na faixa dos 10 – 15 anos foram registados apenas 285 casos de saída da escola.

No entanto, face aos actuais nove anos de escolaridade obrigatória, a posição destas 20 crianças é agora mais grave, dado que em 84% dos casosTPF FPT elas estão numa situação de incumprimento desse nível de ensino, enquanto que essa percentagem era de 55%, em 1991.

20 TP PT 240 casos entre 285 (incluem 25 crianças sem qualquer nível de ensino).

73 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quadro 6 21 Abandono Escolar PrecoceTPF FPT, no Concelho de Matosinhos, 2001 Nº Taxa de Pop. na Idade Abandonos Abandono % 10 anos 0 1880 0,0 11 anos 29 1826 1,6 12 anos 22 1866 1,2 13 anos 22 1892 1,2 14 anos 56 1906 2,9 15 anos 111 1970 5,6 Total 10-15 240 11 340 2,1

Fonte: Cálculos próprios com base em dados do INE, Recenseamento Geral da População e Habitação, 2001.

De acordo com a definição, o abandono escolar precoce diz respeito à crianças dos 10 aos 15 anos que tendo já saído da escola o fizeram sem terem completado o 9ª ano do ensino básico. Ora, tal como se pode verificar no quadro acima apresentado, a maioria dos abandonos precoces ocorre nas faixas do 14 e 15 anos, perfazendo quase 70% do total de abandonos registados. A informação censitária permite apurar o número de abandonos distribuídos pelos diferentes ciclos. Assim, os abandonos das crianças entre os 14 e os 15 anos, em 2001, processou-se da seguinte forma:

Quadro 7 Indivíduos com 14 e 15 anos que não completaram o 3º ciclo e não se encontram a estudar, por nível de ensino, no Concelho de Matosinhos, 2001 (%)

22 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo TotalTPF FPT 14 anos 25,0 41,1 19,6 85,7 15 anos 34,2 41,4 21,6 97,2

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População e Habitação, 2001.

Em ambas as faixas etárias a maioria dos abandonos escolares ocorreu no 2 ciclo do ensino básico, logo seguido do 1º ciclo.

21 TP PT A taxa de abandono escolar foi calculada tendo em conta a população dos 10 aos 15 anos que não concluiu a escolaridade obrigatória (9º ano) e que não se encontrava a frequentar a escola. 22 TP PT A diferença entre o valor total e 100% justifica-se pela existência de indivíduos que, não frequentando a escola, não tinham qualquer grau de ensino nas idades respectivas.

74 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

No grupo dos 16-24 anos, são 1 591 os que, ainda de acordo com o Censo de 2001, saíram sem completarem o 2º ciclo do ensino básico, verificando-se também aqui uma evolução positiva. Mas se considerarmos o total de jovens que abandona o sistema de ensino sem ter cumprido a escolaridade obrigatória de nove anos, verifica-se que o 23 número sobe para 3 790, correspondendo a uma percentagem de 17,2%TPF FPT.

Em relação às faixas etárias mais elevadas, e mais concretamente a faixa dos 18 aos 24 anos, o abandono deixa de ser contabilizado enquanto tal passando a ser designado como “saídas” do sistema de ensino. De acordo com a terminologia do próprio Censo, estas saídas podem ser “precoces” ou “antecipadas” dependendo do nível de ensino a que se referem.

Quadro 8 Taxas de Saída Antecipada e de Saída Precoce, no Concelho de Matosinhos e Grande Porto, 2001 (%)

Saída Antecipada Saída Precoce Jovens 18-24 anos que Jovens 18-24 anos que saíram sem o 9º ano saíram sem o 12º ano

Matosinhos 18,4 37,0

Grande Porto 22,0 40,5

Fonte: Ministério da Educação; Estatísticas da Educação; Cartografia do Abandono e Insucesso Escolares, 2004.

Assim, os jovens que, entre os 18 e os 24 anos, saíram da escola sem a escolaridade obrigatória, ou seja, o 9º ano, perfazem, em 2001,18.4% do total de indivíduos dessa faixa etária (3 243). Embora possamos considerar esta percentagem ainda elevada, ela revela já uma melhoria muito significativa face a 1991, onde se registava uma taxa de “saída antecipada” de 52.3%.

O mesmo se pode dizer da “saída precoce” que, em 1991, era de 61.6% e em 2001 foi de 37%. Ou seja, 6 526 jovens entre os 18 e os 24 anos, a quando do processo de recenseamento da população de 2001, não havia completado o 12º ano à saída do sistema

de ensino. H

Os elementos fornecidos pela Direcção Regional de Educação do Norte revelam também, uma persistência do fenómeno do abandono escolar durante a segunda metade da década de 90, com números que, num único ano lectivo apontam para os identificados no

23 TP PT De um total de 22 065 jovens entre os 16 e os 24 anos. 75 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Recenseamento Geral da População. No ano lectivo de 2002/03 (último ano para o qual existe informação disponível), abandonaram a escola, sem completarem a escolaridade obrigatória, 218 crianças, sendo que o maior número de abandonos (em termos absolutos e percentuais) se verificou no 3º ciclo do Ensino Básico.

Quadro 9 Número de Abandonos, por Nível de Ensino, nas Escolas do Concelho de Matosinhos 1995/96 – 2002/03 1ºCiclo 2ºCiclo 3ºCiclo

Nº Nº Nº 24 Anos Abandonos Abandonos Abandonos TotalTPF FPT Alunos/as Alunos/as Alunos/as 1995/96 8 163 30 4 349 34 7 136 166 230 1996/97 8 053 40 4 274 31 6 485 181 252 1997/98 7 803 28 4 248 36 5 653 148 212 1998/99 7 883 - 4 363 55 6 342 121 196+22* 1999/00 7 946 3 4 360 52 6 011 139 194+22* 2000/01 7 829 - 4 054 53 6 025 157 210+27* 2001/02 7 378 - 4 178 56 6 005 148 204+6* 2002/03 7 053 5 4 209 57 5 874 150 212+6* Fonte: Direcção Regional de Educação do Norte. *Todos os valores acrescidos representam alunos/as que abandonaram a escola não tendo sido especificado os anos onde ocorreram, sabendo-se apenas que se encontravam distribuídos pelos 2º e 3º ciclo.

Quanto ao insucesso, medido na perspectiva das retenções, verifica-se a mesma persistência e uma maior presença nas escolas de 2º e 3º ciclo, muito embora a tendência, no 1º ciclo, nos três anos considerados, aponte no sentido de um crescimento, ao contrário do que acontece nos outros dois níveis de ensino.

24 TP PT Foram considerados abandonos casos de “anulação de matrícula”, “exclusão por falta” e “desistência”.

76 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 33 Taxas de Retenção nas Escolas do Ensino Básico do Concelho de Matosinhos, por Nível de Ensino (%) 1995/96 – 1997/98

25

20 18,2 19,9 17,3 15 15 12,5 1ºCiclo 10,3 10 9,4 2ºCiclo 7,1 8,8 5 3ºCiclo

0 1995/96 1996/97 1997/98

Fonte: Direcção Regional de Educação do Norte.

Tendo em conta o ano lectivo de 2002/03, e embora não seja possível calcular taxas de retenção para este ano, os números absolutos das retenções revelam a mesma tendência realçada no gráfico anterior, ou seja, o maior número de retenções continua a ocorrer no 3º ciclo: 1º ciclo, 84 retenções; 2º ciclo, 418 retenções; 3º ciclo, 523 retenções.

F

FF

O abandono precoce do sistema de ensino e o insucesso, que com frequência se constitui como causa do abandono, têm sido vistos como manifestações do fracasso de um sistema de ensino que se pretende democrático não só nas condições de acesso mas também de sucesso. O insucesso, por exemplo, assume-se como uma realidade tendencialmente cumulativa – porque afecta, normalmente, o percurso escolar de uma criança em mais de um ano lectivo – e socialmente selectiva – porque não afecta todas as crianças ou jovens da mesma forma, incidindo precisamente sobre os que são oriundos dos meios sócio- económicos mais desfavorecidos (vd. Benavente, 1994).

A incidência destes dois fenómenos em algumas escolas de 1º ciclo do concelho de Matosinhos, em particular aquelas que servem a população escolar de alguns bairros de realojamento do Concelho, foi um dos elementos justificativos da criação de projectos de intervenção social, levados a cabo pela ADEIMA, onde a educação se constituiu como uma dimensão central.

25 TP PT De referir a possibilidade de algumas retenções se poderem ficar a dever a tentativa voluntária de melhoria de qualificações.

77 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

A existência destes projectos é, por si só, reveladora da selectividade do insucesso e do abandono escolar, comprovada aliás pelos diferentes parceiros nas Comissões Sociais de Freguesia. E, se graças a esta intervenção, o abandono escolar desceu, na quase totalidade das escolas abrangidas, reflectindo-se, de certa forma nas estatísticas concelhias.

O insucesso tem-se mantido e feito incidir sobretudo em escolas onde há uma forte concentração de crianças pertencentes a grupos étnicos. Com efeito, um dos factores que tem sido apontado como causa para o insucesso escolar é a dificuldade que o sistema de ensino tem demonstrado, na sequência do seu processo de democratização, em lidar com públicos cada vez mais diversificados do ponto de vista social, cultural, religioso e até da origem geográfica. Neste contexto, são as minorias étnicas as mais atingidas pelo insucesso escolar, sendo também os seus elementos que, geralmente, se ficam pelos níveis de instrução mais baixos.

De acordo com as informações fornecidas pelo Secretariado Coordenador de Programas de Educação Multicultural “EntreCulturas”, no ano lectivo de 1997/98 estavam 27 matriculadas nas escolas do Concelho, 120 crianças de etnia ciganaTPF FPT. Estes/as alunos/as concentravam-se fortemente nas escolas de três freguesias: S. Mamede (51), onde se incluem as escolas designadas de Seixo 1 e Seixo 2, no gráfico; Matosinhos (33) onde se insere a “escola da Biquinha”; bem como a freguesia de Custóias 28 (25) onde se inclui, apenas, a “escola de S.Gens”TPF FPT.

O número de 120 crianças corresponde a 22% do total de crianças ciganas matriculadas no Grande Porto (537), o que significa que em Matosinhos existe uma forte presença de alunos/as desta etnia – o total de alunos/as do Concelho representa 9% dos /as inscritos/as nas escolas do Grande Porto.

Daquelas 120 crianças apenas 4 estavam inscritas em escolas de níveis superiores ao 1º ciclo do ensino básico, o que significa que a grande maioria delas não conclui a escolaridade obrigatória nem ultrapassa, sequer, a barreira de transição entre o 1º e o 2º ciclo. Por outro lado, enquanto que a taxa média de diplomação, no Concelho, foi de 78.5%, para os/as alunos/as de etnia cigana essa taxa foi de 13.6%, a qual se constitui

26 TP PT A diferença entre o valor total e 100% corresponde à percentagem de indivíduos que frequentam os respectivos anos lectivos mas que pertencem às restantes faixas etárias. 27 TP PT Fala-se apenas de alunos de etnia cigana dado que as outras etnias, como seja a africana, têm nas escolas do Concelho uma expressão muito menor. Para o ano lectivo de 97/98, a mesma fonte refere a existência de: 48 alunos de origem africana; 41 brasileiros; 59 oriundos de países da União Europeia. 28 TP PT A escola designada no gráfico 30, como escola de Custóias, não tem alunos de etnia cigana.

78 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos como a mais baixa de todas, considerando as diferentes origens dos/as alunos/as matriculados. Gráfico 34 Taxas de Diplomação nas Escolas do Concelho de Matosinhos e no Grande Porto, por Origem dos/as Alunos/as, no Ano Lectivo 1997/98

100 90 80 70 60 50 40 30 Matosinhos 20 10 Grande Porto 0 Total C.Verde Angola Brasil U.E. Cigana

Fonte: Secretariado Coordenador de Programas de Educação Multicultural “EntreCulturas”.

De notar, ainda, que, tendo em conta o ano lectivo em questão, as taxas de diplomação das escolas de Matosinhos são mais baixas do que as verificadas para o Grande Porto sendo que a diferença maior se situa, precisamente, nos/as alunos/as de origem cigana.

O insucesso e o abandono da escola são manifestações dos processos de exclusão escolar, e no centro da sua análise deve estar o próprio funcionamento do sistema de ensino. Como já foi referido o sistema educativo, em Portugal, passou, nas últimas três décadas, de uma “escola de elites” para uma “escola de massas”, ou seja, o espaço escolar não só passou a acolher uma população muito mais numerosa como também muito mais heterogénea. Perante isto, a escola retrai-se e as diversidades são vistas, não como recursos e potencialidades mas como fragilidades, por outro lado, os “conteúdos curriculares, os modelos pedagógicos, a formação de professores mantiveram durante largas décadas os traços de uma escola que tinha maioritariamente como público crianças originárias de grupos sociais letrados” (Sebastião, in Viegas, 1998).

Acresce que a relação professor/a –aluno/a, em contexto de sala de aula, é muitas vezes construída na base de estereótipos e preconceitos criados a partir da pertença social ou étnica do aluno ou, simplesmente, do bairro de residência da criança que, por sua vez, vão condicionar as expectativas em relação aos/às alunos/as e, como tal, o seu sucesso escolar.

79 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

De acordo com o princípio da “profecia que se cumpre a si mesmo”, o comportamento e as expectativas dos docentes acabam por, de certa forma, induzir a “performance” dos/as alunos/as contribuindo-se, assim, para a “naturalização” do insucesso na escola, imputando-se às crianças, e suas famílias, as causas do insucesso e tomando-se o abandono como uma forma aparente de “auto-exclusão”.

Conscientes deste “modo de ser” do próprio sistema educativo e das questões sociais ligadas à selectividade do insucesso e do abandono escolar, estão algumas / alguns professoras / professores de escolas do concelho de Matosinhos, participantes activas/os de projectos de Luta Contra a Pobreza e de outros desenvolvidos no âmbito do Programa Comunitário Sócrates, por exemplo; ou, ainda, promotores directos de programas de educação – formação, através dos quais se procura tornar a escola mais inclusiva e aprofundar os conhecimentos dos docentes na área das metodologias multi-inter-culturais de ensino – aprendizagem.

Para além do funcionamento do sistema de ensino existem outras razões que, sendo externas à própria instituição, concorrem para uma explicação do insucesso e do abandono escolar. No final dos anos 80, um trabalho de investigação definiu algumas características do perfil do aluno em risco de abandono (Almeida, 1990): existência de um percurso de insucesso; idade inadequada ao nível de ensino que frequentava; existência de problemas de saúde; viver longe da escola; existência de dificuldades económicas; atracção por outras actividades que se afiguram mais interessantes; integração no meio sócio- económico que o atrai para o trabalho; a educação não surge como um projecto. Conhecendo-se, à partida, a tendência para os/as alunos/as oriundos/as dos meios mais pobres se ficarem pelos níveis de instrução mais baixos, uma equipa do CESIS procurou explicações para, apesar de tudo, a existência de percursos escolares diferenciados nos meios desfavorecidos (vd. Detry, et al, 1996). O abandono escolar surge, assim, entre as famílias pobres mais fragilizadas: as mais numerosas; aquelas onde se regista uma maior sobreocupação do espaço, sendo como tal, mais difícil haver um espaço próprio para estudar e existir condições de privacidade; aquela onde os níveis de instrução dos pais são os mais baixos e onde se faz sentir uma maior precariedade de emprego.

Por todos os aspectos enunciados, para estes pais será muito difícil acompanhar e valorizar o percurso escolar dos seus filhos, daí que aos olhos da escola, e tal como muitas vezes surge nas reflexões tidas no seio das Comissões Sociais de Freguesia, estas famílias sejam identificadas como pouco participativas e os/as alunos/as sejam vistos como desmotivados/as.

80 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Na ausência de um forte acompanhamento familiar e de motivação para o estudo, a rua é vista por estas crianças e jovens como um espaço de liberdade e de experimentação, sendo simultaneamente entendida, pelos actores sociais, como um espaço de desenvolvimento de comportamentos associadas a práticas de risco face à marginalidade, práticas essas que são frequentemente transportadas para o interior do espaço escolar fazendo emergir outro tipo de problemas que preocupa de sobremaneira as Comissões Sociais de Freguesia.

81 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

IV. HABITAÇÃO

O artigo 65ª da Constituição consagra os direitos básicos à habitação nos seguintes termos: “Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e privacidade familiar” (ponto 1 do artigo 65º).

A expressão mais visível da exclusão relativamente ao direito “habitação” tem sido, sem dúvida, a existência de bairros de barracos nas principais aglomerações urbanas e, por outro lado, a persistência, no País em geral, de certos indicadores que atestam, ainda, deficientes condições de habitabilidade, ausência de privacidade e conforto, pese embora as grandes evoluções a este nível.

Para além das dimensões mais objectivas o alojamento transporta consigo uma dimensão simbólica que é necessário ter em conta, sobretudo a quando do processo de realojamento sob pena de se criarem autênticos guettos. “É que o espaço alojamento é ele próprio um signo de estatuto social. E esta simbologia do espaço dá lugar a uma competição cujo resultado é a exclusão, ou marginalização, de alguns em relação a certos locais; esta marginalização consiste não apenas da incapacidade económica de escolher, de facto, o seu alojamento mas resulta também de uma imagem estigmatizada de certas categorias da população. A ideia de que ter certa vizinhança é factor de despromoção social é bem patente na desvalorização efectiva dos preços de habitações, do mercado formal, a quando da instalação, nas proximidades, de bairros de realojamento e na concomitante reacção das populações de acolhimento, perante situações de realojamento” (Cardoso, 2000).

1. A Habitação no Concelho

As primeiras referências escritas a problemas de carácter habitacional surgem na segunda metade do século XIX, sendo os mesmos considerados como um perigo para a saúde pública devido à ausência de condições de higiene e salubridade que algumas habitações apresentavam.

Como resposta a tais problemas surgem, então, as primeiras habitações operárias que, no Porto, assumiram a forma de “ilhas”: “filas pequenas de casas, a maior parte delas construídas nos quintais das traseiras de habitações de classes médias e com acessos

82 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos para a rua através de estreitos corredores”. Mais tarde esta forma de habitação torna-se independente e “em alguns casos, estas tipologias foram sistematicamente empregues em zonas mais ou menos extensas da cidade, quer em situações de interior de quarteirão, quer face à rua” (Teixeira, 1985).

É, porém, a partir dos anos 60 do século XX, que os problemas de carência habitacional se fazem sentir com particular intensidade nas grandes áreas urbanas e, em particular, em Lisboa e Porto. É também a partir daquela década que se verifica um intenso crescimento populacional das zonas urbanas no país, polarizadas por aquelas duas cidades.

Este crescimento demográfico decorre num contexto de intensos fluxos migratórios protagonizados por uma população de origem rural que, perante as más condições de vida que imperavam no campo, foge para a cidade em busca de uma vida melhor. Tratou-se, pois, de um processo de urbanização que decorreu num contexto de baixos níveis de rendimento. Perante isto, as iniciativas estatais de construção de habitação não se revelaram suficientes, dando origem à prática de várias estratégias para enfrentar os problemas de alojamento. A partilha de alojamento por várias famílias e a construção de barracos, ainda que mais frequente noutras zonas urbanas do País, são algumas dessas estratégias.

No Recenseamento de 1991, foram contabilizados 316 barracos no concelho de Matosinhos. Dez anos depois, o número de barracos recenseados foi de 183, o que correspondia a 0.3% do total de alojamentos familiares existentes no Concelho, percentagem esta bastante mais baixa do que a de outros concelhos urbanos, em particular os situados na Área Metropolitana de Lisboa.

A quando da realização do levantamento do número de barracos no âmbito do PER – Programa Especial de Realojamento – em 1996, foram identificadas no Concelho 3 745 barracos, o que representa cerca de 28% do número total existente no Grande Porto. Uma tão grande diferença entre este número e o do Recenseamento Geral da População, deve-se aos conceitos utilizados.

Com efeito, face ao objectivo de adaptar o PER às necessidades específicas de cada uma das metropolitanas envolvidas, houve que, no caso do Porto, alargar o conceito de “barraca” a outras situações de habitação degradada, nomeadamente, as “ilhas”.

83 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Em Matosinhos a construção de habitação social tem conhecido uma forte dinâmica, sendo anterior ao próprio PER. No Recenseamento de 2001 foram identificados no Concelho 2 470 alojamentos com “arrendamento social”, o que significa 14.4% do total de alojamentos arrendados. Em 2002, as informações disponibilizadas pela própria Câmara Municipal, apontam para a existência de 3 601 fogos de habitação social, revelando-se, assim, um dinamismo continuado nos anos 90, para a construção de habitação social.

Gráfico 35 Distribuição dos Alojamentos Familiares, por Freguesia (%)

30 25 20 Total de 15 Alojamentos 10 5 0 Habit. Social Lavra Leça P Leça B. Perafita Guifões Custóias S.Mamede Cruz Bispo Senh. Hora Senh. Matosinhos

Fonte: INE, Recenseamento da População e da Habitação, 2001. Câmara Municipal de Matosinhos, Departamento de Habitação e Obras Públicas, 2002.

Tal como se pode verificar, os alojamentos de âmbito social distribuem-se pelas várias freguesias do Concelho havendo, no entanto, três freguesias que, face à percentagem de alojamentos familiares, apresentam uma sobre-representação de habitação social. São elas: Matosinhos, Perafita e Guifões.

Em Perafita e Guifões, respectivamente, 78% e 47% dos alojamentos sociais dizem respeito habitações construídas ao abrigo do PER – Famílias e dos CDH (Contratos de Desenvolvimento de Habitação) que, à partida, se encontram mais dispersos e que se dirigem a famílias que, embora com dificuldades, se encontrarão em processo de mobilidade social ascendente.

Em Matosinhos a habitação social, em particular aquela cuja construção aconteceu em décadas atrás, nos anos 70/80, padece, tal como noutros concelhos, do mal de uma forte concentração e uma certa “guetização”. Actualmente, a tendência parece ser de atenuação da distância entre os bairros de habitação social e a cidade envolvente, através da intensificação (ou mesmo criação) de carreiras de transportes públicos que “entrem” nos bairros, da construção de equipamentos sociais destinados à população em geral, da

84 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos construção pouco concentrada de fogos de habitação social e da sua dispersão pelo território. Estas preocupações levaram mesmo à atribuição, a Matosinhos, de um prémio por parte do Instituto Nacional de Habitação.

Contudo, há um problema que subsiste em alguns locais e que é o da acumulação de um conjunto e factores num mesmo espaço físico: famílias de baixos níveis de rendimentos; manifestações distintas de apropriação do espaço (maior permeabilidade entre o público e o privado; relações sociais mais intensas); famílias de grupos étnico-culturais minoritários. Estes são apenas algumas das características de certos bairros que contribuem para uma desvalorização simbólica dos mesmos e, como tal, para um processo de segregação não só do espaço como da população que aí reside, o que faz com que estes sejam vistos, frequentemente, como territórios prioritários de uma intervenção social concertada.

85 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

2. Indicadores de Condições de Habitabilidade

A construção de habitações a preços acessíveis para as famílias com menores recursos económicos constituiu a expressão mais visível das necessidades de habitação, não se devendo ignorar, porém, a situação de certos indicadores das condições de habitabilidade.

A este nível, a evolução em todo o País tem sido muito positiva. Por exemplo, em 1981, 10% dos alojamentos em Portugal não tinham electricidade e 26% não tinham água canalizada; estas percentagens baixam para 0.5% e 1.5%, respectivamente, em 2001.

Inserido na segunda maior aglomeração urbana do País, Matosinhos apresenta melhores indicadores das condições de habitabilidade do que Portugal, considerado no seu todo; a sua situação aproxima-se bastante da apresentada para o Grande Porto, muito embora num indicador (alojamento sem instalação de banho ou duche) a percentagem fosse, em 2001, um pouco mais elevada.

Quadro 9 Indicadores das Condições de Habitabilidade em Matosinhos e Grande Porto 1991 e 2001 (%) Matosinhos Grande Porto Portugal

Indicadores 1991 2001 1991 2001 1991 2001

Alojamentos sem electricidade 0,9 0,06 0,6 0,1 2,1 0,5 Alojamentos sem retrete 2,0 0,7 2,3 0,9 7,9 2,5 Alojamentos sem água canalizada 9,2 0,5 7,9 0,6 11,0 1,5 Alojamentos s/ instal. de banho ou duche 15,3 6,0 14,9 5,8 17,8 6,3

Fonte: INE, Recenseamento da População e da Habitação; 2001.

Por outro lado, é de registar a evolução positiva de todos os indicadores entre 1991 e 2001. Apesar disso, algumas Comissões Sociais de Freguesia apontam a existência de más condições de habitabilidade. Lavra, S. Mamede, Leça da Palmeira, Sta. Cruz do Bispo, Guifões e Custóias são as que explicitaram, de facto, este tipo de problemas embora nem em todos os casos os mesmos estejam quantificados. Guifões, por exemplo, refere-se, em particular, à habitação clandestina; S. Mamede e Custóias referem-se às más condições de habitabilidade, em geral, que atingem algumas famílias das freguesias. Lavra, Sta. Cruz e Leça da Palmeira associam as habitações em más condições à existência de ilhas em mau estado e sem instalações sanitárias - este é, aliás, o indicador em que Matosinhos

86 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos apresenta uma pior “performance”. Leça da Palmeira quantifica estas ilhas em 398 (10% das existentes no Concelho) apontando para a urgência da atribuição de 75 fogos. Lavra e Sta. Cruz quantificam, respectivamente, em 50 e 116 o número de famílias com necessidades urgentes de intervenção ao nível da habitação.

Um outro indicador que sofreu uma melhoria significativa diz respeito ao número de famílias que partilhavam alojamento – de 13.1% em 1981, passou para 4.5% em 2001. Embora com oscilações, a mesma evolução positiva registou-se no número de famílias em alojamentos superlotados, tal como se pode constatar no gráfico seguinte.

Gráfico 36 Indicadores das Condições de Habitação das Famílias, em Matosinhos 1981, 1991 e 2001 (%)

29 30 27

25 20 20 13,1 15 1981 10 5,4 4,5 1991 5 2001 0 Fam. Alojam. Superlotados Fam.Partilham Alojamento

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População, 1981, 1991 e 2001.

3. A Tendência para a Casa Própria

A um crescimento populacional do Concelho, correspondeu um aumento do número de alojamentos, mas o crescimento, que a este nível se verificou, é superior ao registado para a população (28.5% e 10%, respectivamente).

Contribuindo para este fenómeno está, certamente, o crescimento de alojamentos que não se destina à residência habitual e, em particular, os de uso sazonal. De 1 772 alojamentos de uso sazonal recenseados em 1991, registaram-se, em 2001, 5 130. Confirma-se, assim, a tendência para algumas freguesias do Concelho apresentarem um crescimento urbanístico baseado na construção de habitação para férias ou fins-de-semana.

87 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Um outro aspecto a ter em conta, diz respeito à transformação que, nas últimas décadas, se tem verificado ao nível do mercado de habitação com a progressão para a aquisição de casa própria, o que, de certa forma, se poderá constituir como um indicador de melhoria do nível de vida das populações.

Em Matosinhos, no recenseamento de 1981, 32.5% das famílias residiam em alojamento próprio; em 1991, a percentagem sobe para 46.9%, atingindo em 2001 os 65,7%.

Gráfico 37 Famílias em Alojamento Próprio, em Matosinhos 1981, 1991 e 2001

40000 36577 35000 30000 25000 20980 20000 1981 12491 15000 1991 10000 2001 5000 0

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População, 1981, 1991 e 2001.

No entanto, a tendência para a aquisição de casa própria tem sido acompanhada de um aumento do recurso aos empréstimos bancários e, como tal, do endividamento das famílias. Dos resultados do primeiro inquérito lançado pelo Instituto Nacional de Estatística sobre o “Património e endividamento das famílias” (1994), apurou-se que cerca de 61% das famílias portuguesas recorrem ao crédito para aquisição de habitação principal. Correspondem, também à habitação, os valores mais significativos desse endividamento – 88% das dívidas dos agregados familiares relacionam-se com aquisição de alojamento.

O recurso ao crédito à habitação, ao qual acresce o recurso ao crédito ao consumo, em geral, tem feito diminuir as taxas de poupança “em meados da década de 80 tínhamos uma das taxas de poupança de particulares mais altas da Europa: 18%. Em 1990, andava pelos 15% mas em 1991 tinha já descido para os 8%” (Silva Lopes, num artigo do Jornal “O Expresso” de 8 de Novembro de 1997).

88 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

O sobre-endividamento em que algumas famílias portuguesas se encontram, ou seja, situações em que o volume das dívidas, nomeadamente com a habitação, ultrapassa a capacidade de as liquidar, tem dado origem a (mediatizadas) situações de despejo e é já considerado como um novo factor de “novas exclusões”.

A nível local as situações de endividamento não são muito visíveis. No entanto, Comissões Sociais de Freguesia como S. Mamede dão conta de um aumento de pedidos de apoio junto da Segurança Social, com o objectivo de regularizar as dívidas do pagamento de prestações em atraso. S. Mamede e Leça da palmeira referem, ainda, a existência de situações de despejo.

Mas as dificuldades de satisfazer os compromissos com a habitação também se fazem sentir nos bairros de habitação social, tal como expressaram Leça do Bailio e Perafita. Esta situação, muito relacionada com o desemprego, acontece nas rendas sociais com valores mais elevados e, sobretudo, por parte de famílias monoparentais ou de pessoas que vivem sós e de famílias numerosas.

89 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

V. SAÚDE

A saúde é estabelecida como um direito no artigo 64º da Constituição, onde se escreve que “Todos têm direito à protecção na saúde e o dever de a defender e promover”. Entre outros aspectos diz, ainda, que “para assegurar o direito à protecção da saúde, incumbe prioritariamente ao Estado: garantir o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados de medicina preventiva, curativa e de reabilitação”.

As dificuldades de acesso àqueles cuidados de medicina afiguram-se, pois, não só como factores de exclusão em si mesmo como, também eles próprios, têm implicações ao nível de outras dimensões da exclusão social.

Num inquérito realizado em 1993 aos bairros de Biquinha e Custóias, a saúde, ou melhor, a ausência dela, surgiu como um factor importante de pobreza. Em adulto, os problemas de saúde contribuem para que, em geral, as condições de vida piorem, seja pelo aspecto imediato da maior debilidade física ou psicológica e uma menor capacidade para a realização de certas tarefas; seja por implicarem desemprego e, como tal, uma quebra de rendimentos; seja, ainda, pela origem de mais despesas. “Em criança, não ter saúde pode implicar um atraso no desenvolvimento (físico e intelectual); já na escola, pode diminuir a capacidade para prestar atenção. Finalmente, ter uma saúde débil na infância está, normalmente, associado a uma saúde débil na idade adulta o que levará a menores níveis de produtividade, a menores salários, reproduzindo-se o ciclo da pobreza” (ADEIMA, 1995).

Essa transversalidade do conceito de saúde e a sua importância para as condições de vida da população em geral está presente nas definições da Organização Mundial de Saúde onde se refere que “uma boa saúde é um dos maiores recursos para o desenvolvimento social, económico e pessoal e uma dimensão importante da qualidade de vida” (OMS, 1986).

90 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

1. Indicadores de Saúde

A taxa de mortalidade infantil é um dos indicadores gerais mais utilizados para verificar os progressos ao nível da saúde da população. Para além disso, é um indicador sócio- económico, pois dá conta do nível das condições de vida em termos de habitação, higiene e alimentação.

Tal como se pode verificar pelo gráfico abaixo apresentado, a taxa de mortalidade infantil do Concelho de Matosinhos regista ao longo dos anos considerados valores inferiores aos registados quer no Grande Porto, quer em Portugal.

Gráfico 38

Taxas de Mortalidade InfantilFF, em Matosinhos, no Grande Porto e em Portugal (permilagem) 1998 / 2003

8 7,4 7 7 6,9 6,5 6 6,1 6 6 5,5 5,8 5 5,1 ‰ 5 Matosinhos 5 4,7 4,9 4,1 4 4,1 Grande Porto 3,4 3,4 3 Portugal 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Fonte: INE, Estatísticas Demográficas; USP Matosinhos: Observatório Local de Saúde.

Tal como acontece em Portugal e no Grande Porto, a taxa de mortalidade infantil no Concelho de Matosinhos tem vindo a diminuir gradualmente, contrariando essa tendência apenas em 2002, onde registou um aumento de 1.5pp, por relação ao ano anterior, corrigindo, porém, essa tendência, no ano seguinte, em 2003, o qual apresenta, aliás, a taxa mais baixa do período considerado, como já tinha acontecido em 2001.

A selectividade social actualmente, apresentada pela taxa de mortalidade infantil, dá conta, no entanto, da existência de grupos particularmente vulneráveis face à saúde e onde se colocam, ainda, problemas de acessibilidade aos cuidados de saúde e às medidas preventivas. Não foi possível obter dados a nível concelhio mas no âmbito do País verifica-

29 TP APT mortalidade infantil corresponde ao número de óbitos de crianças com menos de 1 ano de idade observado durante um determinado período de tempo, normalmente um ano civil, referido ao número de nados-vivos do mesmo período: TMI = [Ob -1 (0,t)/Nv (0,t)]*1000; Ob-1= Óbitos de crianças de menos 1 ano entre o momento 0 e t; Nv= Nados-vivos entre o momento 0 e t; INE.

91 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos se uma clara tendência para a concentração do número de óbitos em crianças com menos de um ano, em gravidezes de mulheres cujos níveis de instrução vão, no máximo, até ao 2º ciclo do ensino básico (81.6% dos casos em 1990 e 75% em 1995, de acordo com os dados do Departamento de Estudos e Planeamento da Saúde).

Esta constatação permite, uma vez mais, estabelecer uma relação entre a taxa de mortalidade infantil e a escassez de recursos.

Tomando agora a taxa de mortalidade, em geral, verifica-se que também neste domínio Matosinhos apresenta valores bastante abaixo dos registados, quer em Portugal, quer no Grande Porto, verificando-se, no entanto, ao longo do período considerado, variações na taxa de mortalidade que seguem as tendências gerais.

Gráfico 39 Taxa de Mortalidade (permilagem), 1996-2001

12 11 10,8 10,5 10,7 10,8 10,3 10,2 10,2 10 9 9 ‰ 9 8,7 8,7 8,4 8,5 8,3 Portugal 8 8,1 7,9 7,1 8,1 7,7 Grande Porto 7 7,8 7,4 Matosinhos 6 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região Norte, 1996-2002.

A partir de 1997 os valores da taxa de mortalidade aumentam (com uma descida no ano de 2001), em Matosinhos, contrariando um pouco a tendência verificada no País que, embora apresentando valores mais elevados, era a de uma certa estabilidade.

O aumento da taxa de mortalidade, verificado entre 2001 e 2002, foi acompanhado de um aumento da esperança de vida à nascença para os homens, mas de uma diminuição da mesma para as mulheres.

92 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quadro 8 Esperança de Vida à Nascença no Concelho de Matosinhos 2001 e 2002

2001 2002

Mulheres 75,2 74,5 Homens 63,6 66,5 Total 68,8 70,3

Fonte: INE, As Cidades em Números – Informação Estatística, 2000/2002.

Assim, e tal como se pode verificar no quadro anterior, a esperança de vida dos homens registou um aumento de 3 anos, mas apesar da diminuição da esperança de vida para as mulheres esta mantém-se 8 anos acima da dos homens. Considerando homens e mulheres, a esperança de vida em Matosinhos aumentou 1 ano e meio.

Gráfico 40 30 Índice de EnvelhecimentoTPF FPT, 1996-2002

120 100 80 % 60 40 Portugal 20 Grande Porto 0 Matosinhos 1996* 1997* 1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região Norte. * Cálculos próprios com base em dados dos Anuários Estatísticos de 1997 e 1998.

O aumento da esperança de vida tem, por seu turno, consequências ao nível do aumento do índice de envelhecimento. Saliente-se que a evolução deste índice para o Concelho de Matosinhos revela aumentos superiores aos registados para a região do Grande Porto e Portugal, na ordem dos 3 p.p. O maior aumento registado ocorreu entre os anos de 1999 e 2000, sendo que em Matosinhos este índice aumentou 12p.p.(aumento superior ao Grande Porto, com um aumento de 8 p.p. e ao de Portugal, com 10.7 p.p)

30 TP OPT Índice de Envelhecimento é a relação entre a população idosa e a população jovem, definido habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 anos e mais e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos (expressa habitualmente por 100 pessoas dos 0 aos 14 anos; IE= [P(65 e +) / P(0-14 anos)]*100; INE.

93 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

O aumento do número de pessoas idosas é um elemento com consequências nas mais diversas áreas sociais e, nomeadamente, na saúde. Os idosos podem constituir-se como uma das camadas populacionais mais exigentes de cuidados de saúde, e o seu aumento acabará, necessariamente, por conduzir a um reequacionamento dos serviços prestados.

2. O Acesso aos Cuidados de Saúde e a Tipologia de Problemas

Tendo em conta dados do INE no que diz respeito a alguns indicadores dos recursos de saúde no Concelho de Matosinhos, podemos referir que este apresenta valores abaixo dos registados na região do Grande Porto e no País, exceptuando a taxa de ocupação de camas que registada um valor mais elevado.

Quadro 10 Indicadores de Saúde

Pessoal de Consultas Camas Farmácias por Enfermagem por 10000Habitantes por 1000 Habitante* por 1000 Taxa de Habitantes* Habitantes Ocupação 2002 2001 Nº Portugal 2,5 3,9 3,6 4,2 66,5 Grande Porto 2,3 5,4 4,2 5,0 60,8 Matosinhos 1,7 4,0 3,3 2,7 70,9

Fonte: INE, Estatísticas da Saúde; INE, Estatísticas Demográficas; INE, Estatísticas Provisórias de População Residente, aferidas dos resultados definitivos dos Censos 2001, ajustados com as taxas de cobertura, in INE, Anuário Estatístico da Região Norte, 2003. * Estes indicadores contemplam apenas dados dos Hospitais e Centros de Saúde. Nota: O pessoal de enfermagem por 1000 habitantes é apresentado por local de actividade.

As lacunas ao nível dos recursos, e em particular dos recursos humanos, na área da saúde é, aliás, uma questão que se tem vindo a constituir, cada vez mais, como uma preocupação premente do Concelho de Matosinhos, explicitada no seio das próprias Comissões Sociais de Freguesia, pelo que isso significa, nomeadamente, de pessoas inscritas nos Centros de Saúde sem médico de família, o que se constitui, inequivocamente como uma dificuldades no acesso à prestação de cuidados de saúde.

94 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quadro 11 População Inscrita nos Centros de Saúde e População não inscrita em médico de família - Abril de 2004

Srª da Hora + Leça da Matosinhos S. Mamede Total Privadas Palmeira Nº total de Utentes 43093 50786 45689 38755 178323 Nº de Utentes com 39414 47500 41096 33284 161294 médico de família Nº de utentes sem 1470 2095 3475 5447 12487 médico de família Nº de Utentes sem médico de família por 209 1191 1118 24 2542 opção Fonte: ULS – Matosinhos.

Tal como se pode verificar é o Centro de Saúde de S. Mamede Infesta que apresenta uma situação mais preocupante uma vez que é o que regista o maior número de utentes sem médico se família, perfazendo um total de 14,1%, sendo simultaneamente o Centro de Saúde com o menor número de utentes. Em termos gerais, 7% do total de utentes dos 4 Centros de Saúde não tem médico de família.

Este tipo de situação tem, como não podia deixar de ser, implicações directas na saúde dos utentes e na eficácia dos serviços que revelam uma maior morosidade nas respostas / consultas, quer de clínica geral, quer de especialidades.

Apesar das lacunas identificadas ao nível do pessoal médico e de enfermagem, entre 1998 e 2002 registou-se um aumento de pessoal ainda que insuficiente face às necessidades.

Quadro 11 Pessoal ao Serviço no Hospital e nos Centros de Saúde no Concelho de Matosinhos 1998/2002

Hospital Centros de Saúde

1998 2001 1998 2002

Médicos 223 277 118 129

Enfermeiros 489 562 96 106

Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região Norte, 1999 e 2003.

Se as acessibilidades aos serviços são uma dimensão de cidadania, transversal a todas as áreas a existência de barreiras arquitectónicas que dificultam o acesso às instalações dos Centros de Saúde, por parte de população com dificuldades de locomoção, entre os quais

95 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos se encontram os mais idosos, é uma questão que assume particular gravidade, tal como acontece na Extensão de Perafita. Por outro lado, o acesso a alguns Centros encontra-se particularmente dificultado pela escassez de transportes públicos e/ou pelo tipo de carreiras que não estabelecem uma ligação fácil aos Centros de Saúde.

2.1. Os Doentes em Lista de Espera no Hospital Pedro Hispano

Considerando a população utente do Hospital Pedro Hispano, regista-se, entre o período de Janeiro de 1990 a Abril de 2001, uma lista de espera para cirurgia composta por 31 5702 pessoas, correspondendo a mesma a uma espera média de 130 diasTPF FPT.

Algumas situações apresentam, contudo, dias de espera muito superiores à média, como 32 por exemploTPF FPT: • algumas neoplasias benignas, que podem chegar a atingir 425 dias de espera; • as cataratas, com uma média de espera de 335 dias; • algumas doenças relacionadas como o aparelho geniturinário, como é o caso da hipertrofia do útero, com uma demora média de 293 dias.

O diagnóstico feito sobre a situação de saúde dessas pessoas permite identificar quais as doenças com maior incidência entre os utentes.

31 TP PT Esta lista pode estar inflacionada se não estiver devidamente actualizada, isto é, se não estiver expurgada de todos os indivíduos que entretanto resolveram a sua situação noutro contexto ou dos que desistiram de qualquer que fosse a intervenção. 32 TP PT Referem-se, apenas, as situações que, a “olho nu” parecem mais credíveis não sendo tão enviesadas pela inflação acima referida.

96 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quadro 13 Doentes em Lista de Espera para Cirurgia, segundo as Doenças Diagnosticadas (%) 2001

Doenças Diagnosticadas %

Neoplasias 15.8 Doenças endócrinas 0.1 Doenças do aparelho circulatório 9.8 Lesões, fracturas, queimaduras 2.5 Doenças do aparelho digestivo 4.7 Doenças do aparelho geniturinário 20.4 Doenças do aparelho respiratório 8.7 Doenças cardio-vasculares 1.5 Anomalias congénitas 7.6 Doenças otorrinolaringológicas 2.6 Doenças oftalmológicas 19.3 Doenças de pele 2.8 Doenças das articulações 4.0 Total 100 Fonte: Cálculos próprios feitos, com base em estatísticas da ULS de Matosinhos, SA – Hospital Pedro Hispano, 2001.

Como se verifica no quadro anterior as doenças do aparelho geniturinário, as doenças do foro oftalmológico e as neoplasias são aquelas que mais se destacam, pelas percentagens apresentadas.

As duas primeiras reflectem os problemas de saúde que atingem, em particular, uma população idosa e/ou feminina. No âmbito das doenças do aparelho geniturinário cerca de 40% dizem respeito a problemas nos órgãos pélvicos e genitais femininos e a doença das mamas. As restantes aí incluídas correspondem, em 30% dos casos, a doenças do aparelho urinário que afectam, homens ou mulheres, mas que, na generalidade, se situam em idades mais avançadas; os outros 30% correspondem a problemas dos órgãos genitais masculinos que surgem também, em particular, nas faixas etárias mais velhas. Também entre as doenças de foro oftalmológico, onde as cataratas representam mais de 70%, se reflecte uma presença forte dos idosos.

Considerando um período mais recente, entre Janeiro e Maio de 2004, existia uma lista de espera para cirurgia de 1630 doentes, no Hospital Pedro Hispano, sendo que a sua distribuição por especialidades se fazia da forma como explicitada no quadro seguinte.

97 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quadro 14 Doentes em Lista de Espera para Cirurgia, segundo a Especialidade 1 de Janeiro a 20 de Maio de 2004 Doentes em lista

de espera Cirurgia Geral 618 Cirurgia Maxilo-Facial 21 Ginecologia 35 Neurocirurgia 12 Obstetrícia 3 Oftalmologia 79 Otorrinolaringologia 359 Ortopedia 236 Urologia 267 Total 1630

Fonte: ULS de Matosinhos - Hospital Pedro Hispano, 2004.

2.2. Os Doentes em Internamento

Com 408 camas e uma taxa de ocupação, entre 1 de Janeiro de 2002 e 31 de Dezembro do mesmo ano, e uma taxa de ocupação de 78.9%, estiveram internados no Hospital Pedro Hispano, e tiveram alta, 15 168 pessoas (não considerando a obstetrícia e o berçário).

Para aquele mesmo ano, o custo dia internamento era de 354,34 Euros.

98 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quadro 15 Doentes Internados no Hospital Pedro Hispano, por Serviço, 2002 Total Total

(valores absolutos) (%) Cirurgia 3 103 20.5 Ortopedia 1 180 7.8 Neurocirurgia 611 4.0 Ginecologia 774 5.1 Medicina 5 176 34.1 Pediatria 1 378 9.1 Neonatologia 193 1.3 Urologia 603 4.0 Otorrino 352 2.3 Oftalmologia 804 5.3 Cirurgia maxilo-facial 46 0.3 Cirurgia pediátrica 70 0.5 Ortopedia pediátrica 160 1.1 Neurocirurgia pediátrica 30 0.2 Urologia pediátrica 22 0.1 Otorrino pediátrica 209 1.4 Oftalmologia pediátrica 15 0.1 Cardiologia 162 1.1 Neurologia 173 1.1 Pneumologia 19 0.1 Gastroenterologia 30 0.2 Dermatologia 2 0.01 Infecciologia 38 0.3 Endocrinologia 11 0.07 Cirurgia maxilo-facial pediátrica 6 0.04 Neurologia pediátrica 1 - TOTAL (s/ Bercário e s/ Obstetrícia) 15 168 100 Fonte: ULS de Matosinhos / Hospital Pedro Hispano SA.

99 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quadro 16 Doentes Internados no Hospital Pedro Hispano, por Grupos de Idade e Sexo (%) 2002

Masculino Feminino Total 1- 4 anos 10.3 7.4 8.8 5 – 9 anos 3.5 2.6 3.1 10 –14 anos 2.3 2.0 2.1 15 – 24 anos 5.3 3.9 4.6 25 – 44 anos 16.8 18.4 17.6 45 – 64 anos 27.3 23.8 25.5 65 – 74 anos 17.3 16.9 17.1 75 e mais 17.2 25.0 21.2 TOTAL 100.0 100.0 100.0 Total absoluto* 7 522 7 646 15 168 * Sem Berçário e sem Obstetrícia. Fonte: ULS de Matosinhos / Hospital Pedro Hispano SA.

Tendo em conta os doentes internados no Hospital Pedro Hispano, ano de 2002, pode identificar-se uma forte presença (38.3%) da população idosa (maiores de 65 anos) que utiliza, em particular, os serviços de Oftamologia, Cardiologia e Urologia.

Para além da situação de saúde, em si mesma, existe associado aos idosos um conjunto de problemas de carácter social identificados pelo Hospital e que se relacionam com: • situações de precariedade económica certamente derivadas dos baixos valores das pensões, principal fonte de rendimentos da população idosa; • deficientes condições de habitabilidade ou, mesmo, ausência de domicílio; • situações de isolamento, ou seja, uma parte dos casos diz respeito a pessoas idosas que vivem sozinhas não dispondo, como tal, de um enquadramento familiar de apoio numa ocasião de doença; • indisponibilidade familiar para acolher o idoso, por vezes em situação de acamado. Tratam-se de casais de idosos em que o cônjuge não está ele/a próprio/a em condições de saúde para prestar os cuidados necessários, ou de famílias alargadas em que os restantes elementos se encontram a trabalhar não havendo, portanto, o tempo necessário, nem por vezes as condições de habitação, para a “guarda” de um doente em casa.

100 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Estes problemas, de carácter sócio-familiar, associados a uma lacuna de respostas diversificadas dirigidas às pessoas idosas e aos doentes, em geral, conduzem, por vezes, ao próprio internamento (registe-se o aumento do fluxo de idosos aos hospitais em períodos festivos ou de férias de Verão, quando há, normalmente, uma diminuição dos cuidados prestados pela família ou quando a família pretende uma maior disponibilidade de tempo para outras actividades) ou podem contribuir para prolongar a estada dos idosos no hospital.

Quanto à população mais jovem, os problemas que levaram ao internamento prendem- se, no caso das mulheres, com questões associadas à gravidez e à saúde materno- infantil: gravidezes não vigiadas; gravidezes na adolescência; mulher multípara. Em geral, entre os doentes jovens internados encontravam-se problemas de saúde relacionados com comportamentos de risco: toxicodependência; alcoolismo e prostituição.

2. 3. A tuberculose no Concelho

Os dados disponíveis revelam que a tuberculose tem uma forte incidência em Matosinhos, sobretudo quando é feita a comparação com o que se passa no País, tal como se pode verificar no quadro seguinte. Apesar de a evolução verificada ser positiva, considerando os anos entre 1996 e 2000, a posição de Matosinhos continua, porém, a ser negativa face às outras áreas geográficas com as quais o Concelho pode ser, aqui, comparado.

Quadro 12 Incidência da Tuberculose em Portugal, Grande Porto e Matosinhos, 1996,1997 e 2000

1996 1997 2000 Nº de Nº de Nº de Taxa %000 Taxa %000 Taxa %000 observações observações observações Portugal 4 656 46,9 4 532 45,6 3 841 40,9

Grande Porto 1 155 68,9 1 149 67,7 - -

Matosinhos 158 96,2 148 88,1 145 85,9 Fonte: INE e Direcção Geral da Saúde.

No âmbito do trabalho desenvolvido pelas Comissões Sociais, Leça do Balio foi a freguesia identificada pelo Centro de Saúde de S.Mamede Infesta como aquela em é mais elevado o número de pessoas atingidas pela tuberculose.

101 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

3. A População Com Deficiência

3.1. Dados Gerais

Nos Censos de 2001 foram recenseados 10 818 indivíduos com deficiência o que representa 6,5% do total da população residente em Matosinhos. Desse total, 5 627 são homens e 5 191 são mulheres. Tal como se pode verificar pelo gráfico abaixo apresentado referente à distribuição da população com deficiência por faixas etárias, a maior incidência ocorre na população adulta entre os 25-54 anos e mais de 65 anos.

Gráfico 41 Estrutura Etária das Pessoas Portadoras de Deficiência Residentes no Concelho 2001

Menos 16 anos

16-24 anos

25-54 anos

55-64 anos

65 e mais

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População, 2001.

Dos tipos de deficiência registados, os valores mais elevados recaem sobre a deficiência visual (29.6%), motora (21.1%) e auditiva (13.8%). É possível apurar, também, através dos Recenseamento mais recente, que 4 742 destes indivíduos (46.7%) subsistem com uma pensão/reforma; 3 222 (31.8%) têm actividade laboral e 1 218 (12%) vivem a cargo da família, sendo provavelmente aqui que se farão sentir as maiores carências ao nível de apoio social.

33 O total das instituiçõesTPF FPT do concelho que se dirigem à população deficiente abrange 252 pessoas, ou seja, 2,3% do total de população com algum tipo de deficiência.

33 TP PT As Instituições em questão são: CentroT Condessa de Lobão, Centro de Campo Lindo; Centro de Reabilitação da Areosa; T APPACDM – T Associação T Portuguesa T de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental; ALADI –T

Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Intelectual eT Colégio Novos Rumos.T

102 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Olhando a estrutura etária destes utentes verifica-se um predomínio de crianças e jovens o que não significa, como se verificou pelos dados dos Censos, uma maior incidência da deficiência naqueles grupos mas uma maior informação por parte das famílias mais jovens quanto ao acesso aos serviços e, provavelmente, uma maior vocação das próprias instituições para um apoio dirigido aos mais novos.

Gráfico 42 Estrutura Etária das Pessoas Portadoras de Deficiência Abrangidas por Instituições do Concelho

0-5 anos

6 - 10 anos

11 - 15 anos

16 - 20 anos

21 - 25 anos

26 e mais

Fonte: Centro Condessa de Lobão, Centro de Campo Lindo; Centro de Reabilitação da Areosa; Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental; ALADI e Colégio Novos Rumos.

Com efeito, se olharmos a estrutura etária da população portadora de deficiência recenseada no Censo de 2001, verifica-se que 85% tem mais do que 25 anos, denotando- se, a este nível, lacunas importantes na cobertura institucional.

34 3.2. A Doença Mental: Os Utentes do Hospital Magalhães LemosTPF FPT

O Hospital Magalhães Lemos é um hospital especializado em saúde mental e psiquiatria que tem como incumbência atender a este tipo de cuidados de saúde da população do concelho de Matosinhos, à excepção das servidas pelos Centros de Saúde de S. Mamede Infesta e Leça do Balio.

No ano de 1999, este Hospital registava 2 886 utentes, residentes em Matosinhos, com particular incidência de moradores na freguesia sede do Concelho (29.6%); Senhora da Hora (17.4%) e Custóias (11.1%).

103 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Predomina uma população em idade activa, onde o grupo dos 25 aos 64 anos perfaz 78%. No entanto, tal como é referido no relatório “Breve Caracterização da População Utente do Serviço de Matosinhos do Hospital Magalhães Lemos”, é de salientar que “devido às suas dificuldades de saúde, uma grande parte é pensionista (…) outros são desempregados/as ou desocupados”; a forte presença de mulheres (64%) traduz-se, também, numa forte presença de domésticas. Daqui se depreende as carências económicas que afectam esta população as quais são acrescidas das despesas com a aquisição de medicamentes. Estes utentes apresentam patologias diversas: desde as psicoses esquizofrénicas, afectivas delirantes e parnóides, que atingem, em particular, as populações mais idosas; até às que derivam da dependência do álcool ou drogas, problemáticas que se associam, em alguns casos, à prostituição e ausência de um domicilio fixo.

4. Velhas e Novas Dependências

A evolução positiva dos indicadores de saúde, como seja o aumento da esperança de vida à nascença e a diminuição da taxa de mortalidade infantil, que se verificou nos últimos anos, tem sido acompanhada do crescimento, de sentido negativo, de fenómenos como a toxicodependência e o consumo de álcool.

Num estudo intitulado “Consumo de Álcool e Drogas nos Jovens: estudo epidemiológico no Concelho de Matosinhos”, da autoria de Jorge Negreiros, partindo de uma amostra de 969 alunos/as que se encontravam a frequentar, no ano lectivo de 1995/96, do 7º ao 11º anos de escolaridade em dez escolas do Concelho verificou-se que 13% dos/as alunos/as inquiridos podem ser considerados como consumidores excessivos de álcool e que 31%, são consumidores regulares, embora não excessivos.

A média de idades para a iniciação no consumo de álcool é de 13 anos, aumentando o consumo com a idade.

São sobretudo os rapazes que mais se excedem neste consumo – a percentagem de consumidores excessivos atingia os 69% entre os elementos do sexo masculino, ficando- se pelos 31% entre as raparigas. Como refere o autor, as explicações sobre as diferenças de sexo no consumo de álcool centram-se em torno dos diferentes papéis atribuídos a homens e mulheres, ou seja, as normas socio-culturais prevalecentes nas sociedades

34 TP PT Capítulo inteiramente realizado com base no relatório “Breve Caracterização da População Utente do Serviço de Matosinhos do Hospital Magalhães Lemos”.

104 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos ocidentais tornam o consumo de álcool mais aceite entre os homens e penalizando-se mais as mulheres.

Num estudo mais recente (2001), que abrange alunos/as do ensino básico, secundário e também do ensino superior, o mesmo autor revela que o consumo de bebidas alcoólicas continua muito difundido entre a população estudantil de Matosinhos, havendo a registar, desde 1995, sobretudo uma mudança no padrão de consumo. “Com efeito, enquanto que o consumo de bebidas como a cerveja e o vinho registam uma tendência para a estabilização, nas bebidas destiladas observa-se uma tendência para um nítido aumento. Importa salientar que o consumo de bebidas destiladas atinge, na amostra do ensino básico e secundário, a percentagem mais elevada de entre os três tipos de bebidas alcoólicas (cerveja, vinho e bebidas destiladas), destronando a cerveja que aparecia, em 1995, como a bebida alcoólica mais consumida pelos jovens” (Negreiros, 2001).

Os problemas de saúde representam as consequências mais negativas de um tal consumo, identificadas pelos/as alunos/as inquiridos: “33% dos sujeitos que admitem ter tido um problema em qualquer momento das suas vidas resultante do consumo de álcool associam-no ao domínio da saúde física” (Negreiros, 1996). No entanto, à medida que a idade avança “o consumo de álcool deixa de ser percepcionado (…) como um comportamento reprovável para passar a ser incorporado nos hábitos de consumo dos jovens” (Negreiros, 2001).

Os dados recolhidos junto do Centro Regional de Alcoologia do Porto referem apenas o número de utentes do Concelho de Matosinhos e a sua distribuição tendo em conta o sexo. Este número tem vindo a aumentar ao longo dos anos, atingindo, em 2002, um total de 379 utentes, o que poderá não significar somente um aumento dos casos de alcoolismo, mas também, uma maior divulgação dos serviços prestados pelo Centro e uma maior capacidade de intervenção, em geral, junto destas situações: ∗ 1999 – 337 utentes; ∗ 2000 – 340 utentes; ∗ 2001 – 362 utentes; ∗ 2002 – 379 utentes.

A predominância dos elementos do sexo masculino tem sido relativamente constante atingindo os 68%. Os utentes residentes no concelho de Matosinhos representavam, em 1999, 16.5% do total de utentes daquele Centro.

105 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

O trabalho de intervenção social desenvolvido, no concelho de Matosinhos, tem possibilitado a identificação de situações de alcoolismo junto das quais se actua no sentido da sua integração em programas de desintoxicação: no final do ano 2000, a ADEIMA tinha sinalizado 116 destes casos.

Em famílias económica e socialmente fragilizadas, o alcoolismo é factor acrescido de precariedade económica (pela despesa que representa) e, como tal, de não satisfação de certas necessidades básicas (pela canalização de recursos para a prioridade que o consumo de álcool representa); é factor de conflito e, certas vezes, de violência familiar; é factor de negligência, em particular para com as crianças.

Quanto ao consumo de drogas ilícitas, e voltando a citar o estudo de Jorge Negreiros, com dados recolhidos em 2001, o haxixe / marijuana revelou-se como a droga mais utilizada entre os jovens, verificando-se “um aumento do consumo desta droga nos estudantes do ensino básico e secundário, exprimindo o que parece ser uma tendência extensível a todo o território nacional. No básico e no secundário, 8% dos/as alunos/as já experimentaram esta droga pelo menos uma vez ao longo da vida e 4% consumiram-na durante o último mês” (Negreiros, 2001).

Ainda segundo este autor, “o haxixe / marijuana representa igualmente a primeira droga consumida para uma vasta maioria de estudantes (76% nos/as alunos/as do básico e secundário). O consumo é sempre mais elevado nos rapazes do que nas raparigas” (Negreiros, 2001) e, por outro lado, o início do consumo é muito precoce ocorrendo, em 82% dos casos, entre os 13 e os 15 anos de idade. Refira-se que o consumo de haxixe em contexto escolar é uma realidade visível em algumas freguesias concelhias, como são os casos de Perafita e da Lavra. Este fenómeno torna-se ainda mais preocupante quando se apercebe que existe uma certa banalização do consumo, nomeadamente de haxixe, em idades cada vez mais precoces, caminhando-se para uma situação em que o “não consumo” se torna uma situação “não normal” para uma larga maioria de jovens.

Se o uso de drogas ilícitas não é extraordinariamente elevado entre a população estudantil do Concelho tal não significará que a sua presença não constitua uma ameaça à segurança da maior parte dos jovens, que se confrontam com o medo das drogas. Por outro lado, o consumo pode ser particularmente elevado, quer entre os jovens que abandonaram o sistema de ensino, quer entre os que frequentam as zonas quentes da cidade, isto é, “determinados espaços do tecido urbano onde se concentram “diferentes

106 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos actores sociais da desviância” (Negreiros, 1996). Presentemente, foi identificado como um local de consumo o Parque 25 de Abril.

Recorrendo a várias fontes de informação, Jorge Negreiros, no seu estudo de 2001, estima em 1670 o número de consumidores problemáticos residentes no concelho 35 de MatosinhosTPF FPT.

Considerando, agora, os dados fornecidos pelo Serviço de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência (SPTT) da Direcção Regional do Norte (DRN), verifica-se que no período compreendido entre Janeiro de 1990 e Junho de 2000, foram admitidos nesse centro 1 696 pessoas residentes no Concelho com problemas de toxicodependência nos CAT’s da DRN, das quais 80 foram admitidas durante o primeiro semestre do ano 2000.

Tendo em conta dados mais recentes, fornecidos pela mesma fonte, sobre os doentes admitidos nos CAT's da DRN, respeitantes ao período entre 2000 até ao 1º semestre de 2002, verifica-se que deram entrada 360 novos doentes..

Em 2000 e 2001, o número de toxicodependentes em primeira consulta manteve-se relativamente constante (147 e 144, respectivamente), e no primeiro semestre de 2002 foi de 69 utentes.

Quanto aos utentes que se encontravam em seguimento, registou-se um aumento entre 2000 e 2001 de 690 para 740. No 1º semestre de 2002 este número era já de 617 utentes, revelando esta evolução não só um aumento do fenómeno, mas, eventualmente, um aumento da capacidade do próprio serviço, bem como uma maior disponibilidade para o tratamento por parte das pessoas toxicodependentes à qual poderá não ser alheia a intervenção realizada no âmbito do Plano Municipal de Combate À Toxicodependência.

Ainda com base nos mesmos dados, confirma-se a tendência para a masculinização do fenómeno da toxicodependência, já que também aqui predominam os elementos do sexo masculino. A presença dos homens tem mesmo vindo a aumentar entre os utentes dos CAT’s: no início da década de 90 eles representam 68% dos doentes entrados; considerando em primeira consulta no período entre 2000 e 2002 (Junho) eles representam 82%.

107 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 43 Doentes Admitidos em 1ª Consulta nos CAT’s da DRN, entre Junho de 2000 e de 2002, Residentes no Concelho de Matosinhos, segundo o Sexo (%)

Feminino 18% Masculino 82%

Fonte: Serviço de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência, DRN.

A distribuição geográfica destes utentes, de acordo com a sua área de residência, revela uma forte presença de moradores na freguesia de Matosinhos. Esta é a freguesia onde se concentra a maior percentagem de moradores no Concelho (cerca de 17%) mas os 35.3% de utentes nela residentes apontam para outros factores, para além de uma simples distribuição populacional. A juntar a Matosinhos surgem também S. Mamede Infesta e Sr.ª da Hora. Gráfico 44 Doentes Admitidos nos CAT’s da DRN, segundo a Freguesia de Residência 01/01/1990 a 30/06/2000 - 01/01/2000 a 30/06/2002 (%)

50 45 44,3 40 35,3 35 30 25 20 15,3 15 13,5 12,5 10 8,4 9,2 6,1 6,1 5,9 8 6,6 6,3 5,3 5 4,1 3,4 3,7 3,3 0,9 0,8 0 Custóias Guifões Lavra Leça B. Leça P. Matosinhos Perafita Cruz B. S.Mamede S. Hora 1990-Junho 2000 2000-Junho 2002

Fonte: Serviço de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência, DRN.

Dados datados de finais de 1995, publicados pelo SPTT/DRN, revelavam que os toxicodependentes residentes em Matosinhos, e atendidos em 1ª consulta nos CAT’s do Porto, representavam 10.4% do total, percentagem que era a quarta mais elevada no contexto do Grande Porto.

35 TP PT A este número, composto por indivíduos todos eles do sexo masculino, acresce um número indeterminado de

108 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quadro 17 Doentes para 1ª Consulta nos CAT’s do Porto, segundo o Concelho de Residência 1977 - 1995

Concelhos Total % Espinho 186 2 Gondomar 1165 12.4 Maia 413 4.4 Matosinhos 979 10.4 Porto 4126 43.8 Póvoa do Varzim 172 1.8 344 3.6 159 1.7 1882 20.0 Total 9426 100

Fonte: SPTT/DRN, Toxicodependentes na Área Metropolitana do Porto, 1998.

Ainda segundo os dados publicados pelo SPTT, os doentes toxicodependentes de Matosinhos apresentavam, à semelhança do que acontece na região, uma estrutura etária jovem: 47% dos utentes tinham, então, menos de 25 anos, comprovando-se, assim, a tendência para a juvenilização destes fenómenos.

No entanto, no período compreendido entre 2000 e Junho de 2002, é visível um relativo envelhecimento dos utentes que deram entrada nos CAT's da DRN. De facto, os grupos etários mais afectados estão situados entre os 30-34 anos, seguidos de perto pela faixa dos 25-29 anos, o que poderá não significar uma tendência para o consumo se iniciar mais tarde (recorde-se os dados do estudo de Jorge Negreiros que apontam exactamente no sentido contrário), mas sim um recurso mais tardio aos serviços do CAT.

Em relação aos doentes que se encontram em seguimento, este aspecto é ainda mais evidente uma vez que as idades etárias que apresentam o maior número de doentes continuam a ser dos 30-34 anos, sendo que as dos 25-29 e 35-39 anos se encontram muito próximas entre si. Tal facto poderá estar relacionado com a duração do processo de recuperação em si, dependendo da evolução e do tipo de tratamento implicado, contribuindo para o aumento das idades dos toxicodependentes em tratamento.

consumidores de drogas do sexo feminino.

109 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 45 Doentes para 1ª Consulta nos CAT’s do Porto, segundo o Grupo Etário 1977 - 1995

100% 45 e mais 80% 40 - 44 anos 60% 35 - 39 anos 40% 30 - 34 anos 25 - 29 anos 20% 20 - 24 anos 0% Menos de 19 Matosinhos Porto

Fonte: SPTT/ DRN, Toxicodependentes na Área Metropolitana do Porto, 1998.

Eventualmente associados a problemas de toxicodependência estarão também alguns casos de doentes em consulta de infecciologia e de pneumologia, no Hospital Joaquim Urbano, apontando este tipo de consultas para a existência de casos de pessoas infectadas com o vírus da sida.

Quadro 18 Número de Consultas Externas Efectuadas a Utentes residentes no Concelho de Matosinhos, no Hospital Joaquim Urbano, de Acordo com o Sexo do Utente Janeiro a Julho de 2000

Sexo Infecciologia Pneumologia Masculino 729 31 Feminino 55 34 Total 784 65

Fonte: Hospital Joaquim Urbano.

Tanto a toxicodependência, como o alcoolismo não são problemas específicos do concelho de Matosinhos mas os números apontados e, sobretudo, o facto de estes serem fenómenos que afectam a população jovem fazendo parte dos rituais de emancipação e de convívio entre pares, exigem uma atenção redobrada já que se vislumbra uma continuidade, se não agravamento, de tais situações.

Não se dispõe, até ao momento, de dados para o Concelho, mas a nível nacional a relação entre a toxicodependência e o vírus da sida, na população jovem, impõe-se: “para o universo jovem, é na categoria da população toxicodependente que se intensificam as notificações do vírus da imunodeficiência adquirida. Assim, em 1996, ano de maior

110 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos representatividade, dos 429 casos de toxicodependentes infectados com o vírus, 225 tinham entre 15 e 29 anos e 135 entre 25 e 29” (Figueiredo, et al, 1999).

111 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

VI. PROTECÇÃO SOCIAL

O direito à segurança e à solidariedade social encontra-se consagrado na Constituição da República Portuguesa no seu artigo 63º “O sistema de segurança social protege os cidadãos na doença, velhice, invalidez, viuvez e orfandade, bem como no desemprego e em todas as outras situações de falta ou diminuição de meios de subsistência ou de capacidade para o trabalho”.

A protecção social no Concelho de Matosinhos rege-se, obviamente, pelas normas de funcionamento do sistema a nível nacional. Tendo no entanto em conta que o funcionamento do sistema de protecção social, nomeadamente o sistema de pensões, é tido como um importante factor gerador de pobreza e de exclusão; tendo, ainda, em conta que a população abrangida pela acção social, uma componente da protecção social, é, por definição, uma população que foi sujeita a processos de exclusão e marginalização social importa dar conta de alguns aspectos.

1. Os Pensionistas

Como foi referido na primeira parte do Diagnóstico, os pensionistas constituem, em Portugal, um dos grupos mais vulneráveis à pobreza monetária. De acordo com os dados do Painel aos Agregados Domésticos da Comunidade Europeia, (1993), 36% das famílias pobres em Portugal tinham um reformado como seu representante.

Tal como refere Alfredo Bruto da Costa, “o montante da reforma é determinado, fundamentalmente, por três tipos de factores: a política de segurança social, o período de contribuições e o valor das contribuições. Não é raro, entre nós, verificar-se que da conjugação desses três factores resultam pensões particularmente baixas, ao ponto de se ter julgado necessário estabelecer, por via administrativa, o valor da pensão mínima, ao qual são elevadas as que, estatutariamente, atingem valores inferiores. Não deverá surpreender, pois, que as famílias cujos rendimentos dependem da pensão de reforma sejam particularmente vulneráveis à pobreza” (Costa, 1998).

Em 1995, as famílias que se apoiavam em benefícios sociais, onde se enquadram as pensões, como principal fonte de rendimento, tinham um rendimento médio de, aproximadamente, 500 contos anuais; esse montante representava menos de metade do

112 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos auferido pelas famílias cujo rendimento provém do trabalho (cfr. Albuquerque e Bomba, 2001). No entanto a evolução parece ser, nos últimos anos, positiva: “a pensão média de invalidez e de velhice do regime geral tem crescido significativamente mais do que a inflação; as pensões de mais baixo valor têm sido actualizadas a taxas mais elevadas; a relação entre a pensão social mínima e o salário mínimo nacional reduziu-se em quase 10 pontos percentuais durante a última década” (Albuquerque e Bomba, 2001), tal como se pode verificar no quadro seguinte.

Quadro 19 Rácio entre Pensão Mínima e Salário Mínimo

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 36.4 35.3 35 35.5 38.5 38.5 39 40.1 40.8 45.1

Fonte: IGSS – Conta da Segurança Social in Albuquerque e Bomba, 2001.

De acordo com o Anuário Estatístico da Região Norte, entre 1991 e 2003 o número de pensionistas cresceu, no Concelho, em 6857 indivíduos o que corresponde a um acréscimo de 24%. Este aumento foi proporcionalmente superior ao verificado no Grande Porto (15,6%) fazendo com que o peso dos pensionistas de Matosinhos aumente ligeiramente, no contexto da região, entre os anos considerados (12.1% em 1991; 13% em 2003).

Gráfico 46 Número de Pensionistas em Matosinhos, por Tipo de Pensão 1991 - 2003

40000 35381 35000 28524 1991 30000 1995 25000 21018 1998 20000 14918 2000 15000 2001 9221 2002 10000 6809 6797 5142 2003 5000 0 Total Invalidez Velhice Sobrevivência

Fonte: INE, Anuários Estatísticos da Região Norte, 1991/92, 1996,1999, 2001, 2002 e 2003.

Se forem considerados os diferentes tipos de pensão verifica-se, como seria de esperar, que são os beneficiários de pensões de velhice, aqueles que correspondem à maior fatia entre os pensionistas (59,4%, em 2003). Mas são os que recebem a pensão de sobrevivência, uma das mais baixas do sistema de pensões, que conhecem um dos

113 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos maiores aumentos entre 91 e 2003 (na ordem dos 35%) chegando a representar 26.1% dos pensionistas do concelho de Matosinhos no ano de 2003. Este facto pode constituir um indicador importante da fragilidade económica da população idosa do Concelho. Ele vem a par do processo de envelhecimento da população de Matosinhos e da sua feminização, isto é, do peso das mulheres entre os idosos já que a pensão de sobrevivência está, na generalidade, relacionada com situações de viuvez e de dependência, por parte da mulher, dos rendimentos auferidos pelo marido.

Olhando para os montantes das prestações pode constatar-se que, no total, as prestações pagas aos pensionistas do Concelho atingem, na generalidade, valores mais elevados do que as atribuídas no Grande Porto. Os dados disponíveis a este nível, comprovam, ainda, os baixos valores das pensões de sobrevivência: se estes pensionistas, em 2003, representavam, como se disse, 26,1% do total, os valores das pensões que lhe são atribuídas correspondem a 15.2% do total dos montantes pagos. Em 1991 ela era de 14.4% e em 1995 de 15.4%, confirmando-se, assim, localmente, as tendências, inicialmente referidas, para o aumento relativo dos montantes das pensões mais baixas.

Quadro 20 Montantes das Pensões Pagas pela Segurança Social aos Pensionistas do Concelho de Matosinhos, 2003

Total Invalidez Velhice Sobrevivência

3 10P P Euros 146 368 19 891 104 222 22 255 % 100 13,6 71,2 15,2 Fonte: INE, Anuário Estatístico da Região Norte de 2003.

2. Os Utentes da Acção Social

36 De um total de cerca de 2000 utentesTPF FPT atendidos no ano de 1999, pelos serviços locais de Matosinhos do, agora, Centro Distrital de Segurança e Solidariedade Social do Porto, mais de 40% terá correspondido a um atendimento de primeira vez, significando, pois, uma forte afluência aos serviços por parte de pessoas que nunca tinham recorrido antes. A criação do Rendimento Mínimo Garantido, como uma medida de direito, poderá estar, em parte, na origem deste afluxo, sendo as famílias cujos rendimentos se situam acima do limite considerado pelo RMG enquadradas pelo atendimento geral da Acção Social.

36 TP PT Considerando, apenas, um elemento por cada família.

114 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

A maior parte dos pedidos apoia-se num diagnóstico dos problemas que aponta, antes de mais, para a insuficiência económica dos indivíduos ou famílias (40%), às quais se seguem, em particular: • as questões relacionadas com a doença ou invalidez (22%) – encontram-se aqui algumas situações em que o atraso do pagamento das prestações de direito (subsídios de doença ou pensão de invalidez) é causa de dificuldade económica e, como tal, razão para um pedido de apoio. Existem, por outro lado, situações que se restringem a um pedido de informação sobre a forma como proceder, perante a doença ou invalidez; • o desemprego (17%) verificando-se, por vezes, o mesmo tipo de situações que as apontadas anteriormente; • os desajustamentos psico-sociais das famílias (6%), isto é, situações em que um ou mais elementos do agregado familiar apresentam problemas de inserção social, profissional ou gerados, nomeadamente pelo alcoolismo, droga, delinquência juvenil, reclusão, etc.

Estes problemas justificam, pois, pedidos que são, também eles, maioritariamente de natureza económica aos quais acrescem os pedidos de informação / orientação e o apoio técnico de serviço social, onde se enquadra todo o trabalho de acompanhamento das famílias com vista à delineação de estratégias para a resolução dos problemas existentes, de articulação com outras instituições, bem como o encaminhamento, em caso de necessidade, de algum elemento da família para os equipamentos sociais existentes.

Gráfico 47 Natureza dos Pedidos Apresentados pelos Utentes da Acção Social do Concelho de Matosinhos, 1999 (%)

70 60 50 40 30 20 10 0 Informação Ajuda econ Apoio técnico Outros

Fonte: Centro Regional de Segurança Social, Serviço Sub-Regional do Porto, 1999.

Para os pedidos apresentados, as respostas são, normalmente, de carácter múltiplo havendo três tipos de resposta que se salientam, tal como se poderá verificar no gráfico seguinte: a ajuda económica; a colocação institucional; e a informação / orientação.

115 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 48 Tipo de Resposta Atribuída aos Utentes da Acção Social do Concelho de Matosinhos, 1999 (%)

35

30

25

20

15

10

5

0 Inform. Coloc. Fam. Coloc. fam. Coloc amas Ajuda dom. Ajuda Outras Instituc. acolhim. natural económica

Fonte: Centro Regional de Segurança Social, Serviço Sub-Regional do Porto, 1999.

Se a maioria dos utentes conseguiram obter uma resposta por parte dos serviços será bom referir que cerca de 15% não obtiveram nenhum tipo de apoio. As razões, conhecidas, que justificam uma tal ausência de resposta assentam, sobretudo, na insuficiência dos recursos humanos e materiais.

3. O Rendimento Mínimo Garantido

A Lei nº19 – A/96 de 29 de Junho, cria o Rendimento Mínimo Garantido como um direito não substitutivo mas aditivo, em relação aos direitos sociais que se encontravam já consagrados na Constituição.

Esta nova medida conjugada da Segurança Social e da Acção Social, sujeita a condição de recurso, assume-se, a partir daí como um direito, procurando “assegurar aos indivíduos e seus agregados familiares recursos que contribuam para a satisfação das suas necessidades mínimas e para o favorecimento de uma progressiva inserção social e profissional.

Trata-se de uma medida subsidiária em relação a outras prestações da Segurança Social, o que significa que os beneficiários devem requerer a essas outras prestações, podendo beneficiar do Rendimento Mínimo se esgotadas as possibilidades de acesso, ou de suficiente cobertura económica, por parte dessas outras prestações.

116 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

O RMG deve ser entendido como um estímulo para que os seus beneficiários iniciem um percurso de inserção. Neste sentido, a lei que cria o RMG define, ainda, uma estreita articulação entre a prestação em si e a existência de programas de inserção definidos como um conjunto de acções implementadas localmente por acordo “entre as comissões locais de acompanhamento (...) e os titulares do direito a esta prestação, com vista à criação de condições para a progressiva inserção social destes e dos membros do seu agregado familiar” (Artigo nº3 do Decreto-Lei nº19 – A/96 de 29 de Junho).

A introdução do programa de inserção assenta, assim, numa lógica de contratualização entre o cidadão – beneficiário e a sociedade. Embora já existissem práticas deste tipo no âmbito da “acção social tradicional”, elas assumiam, até aqui, um carácter pontual e informal. O contrato compromete o cidadão e a sociedade, reúne numa mesma base o direito e o dever, “um direito assente no reconhecimento do princípio de que os cidadãos beneficiários do RMG se encontram excluídos das oportunidades sociais e têm direito a que lhes sejam facultadas tais oportunidades” (Santos, et al, 1997).

A lei que institui o RMG, prevê a criação das Comissões Locais de Acompanhamento (CLA). Estas Comissões têm um âmbito territorial que corresponde ao Concelho e são compostas por vários parceiros, devendo contar, obrigatoriamente com representantes da Segurança Social, do Emprego, do Ensino Recorrente e da Saúde.

As CLA são entendidas como condição determinante do sucesso da medida “se as CLA não forem entidades operativas, há sérios riscos de que a medida possa ser empobrecida, reduzida a mera prestação pecuniária que, visando elevar a dignidade humana, resulta insuficiente para a inversão das trajectórias pessoais e sociais de exclusão. Daí ser fundamental que essas Comissões possam ser agentes dinâmicos e capazes de pôr em comum recursos públicos e da sociedade civil tendentes da inserção social dos beneficiários do RMG” (CES, 1997).

Em Matosinhos, a CLA é constituída por 23 entidades, públicas e privadas, existindo representantes do poder político local, de organismos estatais com delegações locais e, ainda, representantes de organizações da sociedade civil.

No final do ano de 2002, a CLA do RMG de Matosinhos tinha 2243 processos de RMG

Tendo como referência um relatório do ano 2000, entre os beneficiários da medida salienta-se a presença de menores – cerca de 50% tem idades inferiores a 19 anos,

117 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos apontando-se, assim, para uma forte presença de crianças e jovens entre as famílias beneficiárias - e de uma população em idade activa – apenas 3,8% dos beneficiários dos programas de inserção têm mais de 64 anos.

Gráfico 49 Beneficiários do RMG, em Matosinhos, por Grupos de Idade

40 35 30 25 20 15 10 5 0 0-5 anos 6-18 anos 19-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65 e mais anos anos anos anos anos

Fonte: Relatório de Avaliação da Actividade da CLA em 2000.

No conjunto, o peso das mulheres é um pouco superior ao dos homens (52,6%, contra 47,4%). No entanto, e ao contrário do verificado entre a população em geral, é nos grupos etários entre os 25 e os 54 anos que a percentagem de mulheres é mais elevada (note-se que o desemprego registado das mulheres é, nesta faixa etária, também mais elevada do que entre os homens). Como reflexo das tendências demográficas elas estão em minoria entre as crianças mas entre os idosos as mulheres não chegam a atingir as percentagens de 60%, por exemplo, verificada na faixa de idades dos 35 aos 44 anos.

Quanto às acções contempladas nos programas de inserção, mais de um terço dizem respeito à saúde, onde tem uma maior expressão o encaminhamento para consulta e o respectivo acompanhamento médico. Revelando-se, aqui, os problemas de saúde desta população, em alguns casos inibidores da sua participação efectiva no mercado de trabalho (cerca de 4% dos beneficiários das acções dos programas de inserção foram dispensados da inserção profissional por motivos de saúde). Por outro lado, ficam patentes as dificuldades que as mesmas apresentam no acesso aos serviços e cuidados de saúde.

Segue-se a área designada como acção social, onde se incluem acções de apoio psico- social, sendo estas as mais frequentes, bem como a integração em equipamentos sociais, dirigidos, em particular, a crianças e jovens. A terceira área é a da habitação, sobretudo com acções de apoio à melhoria do alojamento e de realojamento.

118 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Na área da educação são numericamente mais expressivas as acções que encaminham os indivíduos para o cumprimento da escolaridade obrigatória e as de educação extra- escolar.

As acções de emprego e formação profissional são as menos frequentes revelando outras necessidades por parte do público beneficiário que ultrapassam, em muito, a inserção no mercado de trabalho e, por outro, a relativa desadequação das medidas existentes em relação aos beneficiários do RMG.

As acções delineadas nos programas de inserção dão, pois, conta de como o RMG funciona como um “agente facilitador” do acesso das pessoas mais desfavorecidas a outros direitos sociais, tais como a saúde e a educação, por exemplo, tornando explícita a necessidade de serem facultados, a estes cidadãos, as oportunidades que lhes faltaram noutras fases das suas vidas.

119 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

VII. SITUAÇÕES DE “RISCO”

Neste capítulo, dar-se-á conta de um conjunto de situações que, pela sua transversalidade e importância social, se decidiu isolar. São questões relacionadas com “violências” várias que são abordadas na perspectiva das vítimas - apresentando-se elementos da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, bem como da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres e da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).

As violências em contexto familiar são hoje uma preocupação crescente.

Quando praticadas na esfera privada da família, a violência foi entendida, durante séculos, como um modo “normal” de regular litígios e conflitos individuais. Actualmente, porém, a violência é, cada vez mais, entendida como um “exercício de força”, um “exercício de poder” de alguém sobre um outro o que se torna inaceitável numa sociedade democrática e de direitos.

No Plano Contra a Violência Doméstica, elaborado por um grupo de peritos do Conselho da Europa, a violência doméstica é definida como “qualquer acto, omissão ou conduta que serve para infligir sofrimentos físicos, sexuais ou mentais, directa ou indirectamente, por meio de enganos, ameaças, coacção ou qualquer outro meio”.

A maior parte das vítimas de violência em contexto familiar são as mulheres e as crianças. O leque das consequências da violência pode ser bastante vasto e particularmente gravoso para as vítimas (quer directas, quer indirectas) criando-se, por vezes, um contexto de reprodução dessa violência que atinge os mais jovens elementos dos agregados familiares. Na expressão das Nações Unidas “ a violência gera violência”, ou seja, a observação de casos de violência na família pode repercutir-se na violência para com as crianças e na prática de atitudes violentas por parte das próprias.

Associada à violência doméstica, os maus-tratos dirigidos às crianças e jovens podem, pois, pôr em perigo a sua segurança quer física, quer moral levando as Nações Unidas a mencionar que “os maus-tratos e a violência familiar constituem um problema crítico com graves repercussões físicas e psicológicas sobre os seus membros, em especial sobre os jovens, e que compromete a saúde, assim como a manutenção da unidade familiar. A violência familiar é um problema com aspectos múltiplos que devem ser analisados na

120 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos perspectiva da prevenção da criminalidade e da justiça penal.” (Resolução nº 40/36 da Assembleia das Nações Unidas).

Alguma desta multiplicidade de aspectos que compõe os maus-tratos, em particular aqueles que têm como vítimas as crianças e jovens, podem identificar-se nos elementos disponíveis na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo.

Considerando a actividade daquela Comissão no concelho de Matosinhos, no ano de 2000, encontravam-se em acompanhamento 463 processos entrados desde 1993. Desde esse ano para cá, verificou-se um aumento progressivo do número de processos o 37 que deverá estar relacionado com a própria consolidação da ComissãoTPF FPT.

Gráfico 50 Número de Processos em Acompanhamento, segundo do Ano de Entrada

152 160 140 128 110 120 107 100 76 80 56 60 44 40 22 27 20 3 0 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Fonte: Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, Relatório de Actividades de 2000.

Os processos entrados ao longo dos anos perfazem, em 2002, um conjunto de 542 em acompanhamento, entre os quais de incluem os entrados pela primeira vez e os que transitaram de anos anteriores.

Outro tipo de informação fornecido, ainda, pela Comissão de Crianças e Jovens em Risco dá conta que o ano de 2004 foi um ano de forte entrada de novos processos, tal como se pode verificar no gráfico seguinte.

121 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 51 Número de Processos da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, Segundo a sua Situação

500 450 433 437 400 350 300 265 238 215 250 195 200 168 150 100 42 50 26 0 2003 2004

Fonte: Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo.

Do relatório do ano 2002 desta Comissão salienta-se um certo equilíbrio em termos da distribuição por sexo (49.2% são do sexo feminino; 50.8% são do sexo masculino). A maior percentagem das crianças tem idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos (47.6%), seguindo-se o grupo etário dos 9 aos 12 anos (22.1%).

De acordo com o Relatório de Avaliação, os casos chegam à Comissão em particular por sinalização dos estabelecimentos de ensino (192), seguindo-se-lhes os estabelecimentos de saúde (53), o Tribunal (50), as autoridades policiais (34), a família ou os vizinhos (30), o Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social (19) e a ADEIMA (19). Em 16 casos foram os próprios menores que recorreram à Comissão.

Associados aos estão os problemas identificados pelas instituições os quais dizem respeito, sobretudo, ao abandono e absentismo escolar, à negligência e maus-tratos físicos de que as crianças são vítimas.

Ao nível do diagnóstico técnico, elaborado pela Comissão, procura-se identificar as razões que conduzem a tais problemas onde se salientam aspectos como: • Disfunção ou desestruturação familiar (103 casos); • Precariedade económica (40 casos); • Existência de situações de toxicodependência e/ou de alcoolismo no seio familiar (40).

37 TP PT Anteriormente designada como Comissão de Protecção de Menores.

122 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Saliente-se, ainda, pela sua gravidade, os 11 casos em que há suspeita de abuso ou assédio sexual e os 3 casos de prática de mendicidade infantil.

Vocacionada para um atendimento às mulheres está a Comissão para a Igualdade e para os Direitos da Mulheres (CIDM). No ano de 1999, o gabinete de atendimento da CIDM tinha recebido 27 mulheres residentes no concelho de Matosinhos vítimas de violência doméstica, situação à qual acrescia a existência de deficientes condições de habitabilidade, de fracos recursos económicos, ou seja, uma dependência económica em relação ao cônjuge, que, em muitos casos, dificulta o processo de saída e de corte com o agressor. Embora se reconheça que a violência doméstica não é socialmente selectiva, afectando todos os grupos sociais, na generalidade, as mulheres do concelho de Matosinhos que recorreram aos serviços da CIDM eram, todas elas, oriundas de “meios pobres” (bairros sociais e ilhas), o que poderá significar uma maior dificuldade, por parte de pessoas oriundas de meios sociais mais favorecidos, em assumir que são vítimas de violência.

Os elementos fornecidos pela APAV permitem apenas saber que 10% dos utentes do seu gabinete de atendimento instalado no Porto são residentes em Matosinhos. A maioria dos/as utentes são mulheres que, em cerca de 70%, são vítimas de maus-tratos por parte do cônjuge.

Outro tipo de situações que não se deve ignorar, no contexto do "Riscos" diz respeito à prostituição. Não se identificaram elementos que possibilitem quantificar com rigor esta realidade mas o "Estudo de Caracterização de Prostituição de Rua no Porto e Matosinhos" (CIDM, 2002) permite uma melhor compreensão do fenómeno em si e das relações, nomeadamente, com a toxicodependência e outros factores de risco.

Das 124 mulheres entrevistadas, 46% tem menos de 35 anos, verificando-se nos grupos mais jovens a maior frequência do consumo de drogas. Tal como é evidenciado no estudo da CIDM, esta é uma questão que se constitui como diferencial ao nível das práticas de prostituição e das trajectórias das mulheres que a praticam.

Assim, a toxicodependência surge não só associada às idades mais jovens mas também a um menor tempo de vida na prostituição; a níveis de escolaridade mais elevados; a menores com responsabilidades familiares.

123 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quanto à seropositividade é entre o grupo das consumidoras de drogas que se encontra a maior percentagem das que afirmaram terem obtido resultados positivos no teste ao HIV.

"Ainda relativamente ao grupo das toxicodependentes, é de salientar que se observa nestas mulheres uma espécie de «gestão económica no imediato», comum aos restantes «toxicodependentes de rua» e às exigências de um consumo que tem que ser repetido várias vezes ao dia".

124 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

PARTE III

A PERCEPÇÃO SOCIAL DOS

PROBLEMAS

125 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

I. O INQUÉRITO ÀS INSTITUIÇÕES SOCIAIS E À POPULAÇÃO

Com o objectivo de tornar o Diagnóstico do Concelho mais participado, com uma participação que ultrapassasse as entidades presentes no grupo de trabalho do Conselho Local de Acção Social, aplicaram-se dois questionários (ver anexo): um dirigido às instituições locais; outro para ser aplicado a pessoas residentes em Matosinhos, individualmente consideradas.

Com o primeiro questionário procurava-se caracterizar melhor as instituições do Concelho, no que diz respeito ao tipo de serviços que prestam, população que abrangem e problemas que sentem na sua intervenção. Com ambos os instrumentos pretendia-se conhecer a opinião dos entrevistados quanto aos problemas sociais existentes no concelho, suas causas mais próximas e propostas de solução.

Os questionários estão preparados para serem aplicados periodicamente (anual ou bianualmente, por exemplo) constituindo-se, assim, um importante observatório sobre a realidade social de Matosinhos e sua evolução, bem como sobre as percepções sociais que a população e os diferentes actores sociais têm dos problemas existentes e das dinâmicas emergentes.

1. Do Universo das Instituições do Concelho ao Universo de Análise

Com vista à aplicação do questionário às instituições sociais do Concelho de Matosinhos 38 foi criada, a partir dos dados já recolhidos pelo Observatório SocialTPF FPT, uma tipologia para a classificação e recenseamento das referidas instituições. De acordo com essa tipologia foi possível construir o universo das instituições públicas ou privadas sem fins lucrativos cuja (principal) área de intervenção se enquadra em pelo menos um dos domínios sociais já identificados pelo Diagnóstico.

38 TP PT Criado no âmbito do CRSS do Norte, com o enquadramento do projecto “Acolher, Conhecer e Agir” da Direcção Geral da Acção Social.

126 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Quadro 21 Instituições Sociais Existentes no Concelho do Matosinhos, por Tipo de Instituição Número de Instituições Universo de Tipo de Instituição Existente no Análise Concelho Instituição Educativa: pré-escolar 22 12 escolas EB1 45 38 escolas EB2/3 10 8 escolas Secundárias 5 5 Associações de Pais 33 9 IPSS ou Instituições Públicas de: apoio à Infância 15 13 apoio aos Idosos 13 13 apoio a Deficientes 2 2 Instituições de Formação e Emprego 5 4 Associações de Moradores 5 3 Cooperativas de Habitação 10 5 Organizações de Saúde 7 7 Autarquias 11 9 Serviços à Comunidade 8 4 Outras Organizações 5 5 TOTAL 185 137 Notas: • Em “Serviços à Comunidade” foram enquadradas instituições que prestam um apoio de carácter sócio- caritativo dirigido à população carenciada em geral, sem definição de um grupo-alvo em particular. Aí se enquadram as Conferências Vicentinas relativamente às quais apenas foi considerado os seus Conselhos Particular Misto e Particular Feminino. • Nas “Outras Organizações” foram consideradas entidades públicas concelhias, ou seja: o núcleo de Matosinhos do CDSSS, a ANEFA, o IRS, a Comissão de Protecção de crianças e Jovens em Perigo. Dada a sua actuação de carácter abrangente e a sua forte articulação com as restantes instituições, a ADEIMA foi também enquadrada nesta categoria.

Assim, partindo de um número de 185 entidades, o universo de análise construído pelas instituições que responderam ao questionário é composto por 137 organizações, o que corresponde a uma adesão a este processo em cerca de 74%.

127 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

A adesão foi, portanto, bastante positiva tanto mais que este foi um questionário postal de auto-aplicação, embora tivesse havido, por parte da equipa da Rede Social na Câmara Municipal de Matosinhos e dos parceiros de cada área, a responsabilidade de um contacto telefónico com as instituições incentivando-as a uma resposta e tirando dúvidas quanto ao preenchimento do questionário.

Gráfico 52 Taxas de Adesão ao Questionário, por Tipo de Instituição

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 EB1 EB2/3 Saude Idosos Outras Infância Secund. Serv.Com Emp.Form Asso. Pais Asso. Autarquias Deficientes Coop.Habit Pre-escolar Assoc.Mora

Olhando a freguesia onde se encontra a instituição entrevistada, ou a sua “sede”, verifica- se que a “concentração institucional” acompanha, de certa forma, a concentração populacional, ou seja, são as freguesias onde se regista a presença de uma maior percentagem de população residente no Concelho, aquelas onde se regista, também, uma maior presença de instituições. Sobressaindo, mesmo assim, a freguesia de Matosinhos como que reflexo da sua centralidade.

Gráfico 53 Instituições de Acordo com a Freguesia onde estão Implantadas (%)

30

25

20

15

10

5

0 Custóias Guifões Lavra Leça B. Leça P. Matosinhos Perafita Cruz B. S.Mamede S. Hora

128 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

O inquérito postal às instituições, foi dirigido aos seus responsáveis / dirigentes / directores mas nem sempre foram esses os elementos que forneceram a informação, tal como se pode verificar no quadro seguinte.

Quadro 22 Cargo Desempenhado pelo/a Entrevistado/a, Representante da Instituição

Cargo Desempenhado na (%) Instituição Responsável institucional 69.4 Coordenador/a técnico/a 12.7 Pessoal Administrativo 5.2 Outro pessoal técnico 12.7 Total 100

Os inquiridos foram em grande parte (59.7%) mulheres reflectindo a forte presença do sexo feminino na área do social, no entanto, são os homens que em larga maioria (83%) ocupam lugares de direcção / chefia enquanto que as mulheres, embora também presentes na categoria de “responsáveis institucionais” desempenham, muito mais do que os homens, funções técnicas.

Gráfico 54 Cargo Desempenhado pelo/a Entrevistado/a, por Sexo (%)

100 80 60 40 Masculino Feminino 20 0 Resp. Institucional Coord. Técnico Administrativos Técnicos

A média de idades dos/as inquiridos/as é de 46 anos; em 70% dos casos estes indivíduos possuem uma licenciatura ou um bacharelato, o que demonstra uma certa qualificação dos recursos a qual se reflecte mais, como seria de esperar, na coordenação técnica do que nos cargos dirigentes das organizações. As qualificações variam, porém, substancialmente, consoante o tipo de instituição sendo que os níveis de instrução superiores situam-se, em maior percentagem, nas “outras organizações” nas organizações de saúde e nas instituições educativas.

129 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

2. O Inquérito à População: Breve Caracterização dos/as Inquiridos/as

Com a aplicação de um inquérito à população, em boa parte comum ao questionário aplicado às instituições do Concelho, pretendeu-se, por um lado, alargar o âmbito da participação neste Diagnóstico e, por outro lado, ensaiar uma metodologia que possa vir a ser aplicada a uma amostra representativa da população residente com carácter de painel, isto é, podendo vir a ser aplicado regularmente aos mesmos elementos. Este inquérito não tem, pois, de momento, um carácter representativo mas sim de consulta da população sobre os problemas do Concelho e de preparação para futuros acompanhamentos.

O questionário foi aplicado pelos técnicos dos diferentes parceiros presentes no grupo de trabalho do Conselho Local de Acção Social a utentes dos seus serviços e a funcionários dos mesmos quando residentes em Matosinhos. O número de pessoas entrevistadas residentes no Concelho foi de 142.

Mais de metade (52%) dos elementos são do sexo feminino. Intencionalmente, e por razões óbvias, o limite inferior de idade para a aplicação do inquérito foi de 16 anos não havendo limite superior estabelecido. Contudo, a população entrevistada salienta-se, por comparação com a população residente por uma maior juventude o que advém, sobretudo, de uma presença quase inexpressiva dos idosos com mais de 65 anos. A média de idade dos inquiridos foi 42 anos.

Gráfico 55 Elementos da População Entrevistados, por Grupos de Idade (%)

50 40 47,9 Menos de 25 anos 30 25 - 44 anos 20 37,1 45 - 64 anos 0,7 65 e mais 10 14,3 0

130 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

A distribuição dos/as inquiridos/as pela freguesia de residência é muito idêntica à distribuição da população residente no Concelho, quando se considera ainda os dados dos Censos de 1991, havendo, porém, uma sobre-representação dos residentes na freguesia de Matosinhos.

Gráfico 56 Elementos da População Entrevistados, pela Freguesia de Residência (%)

30 25 20 15 10 5 0 Custóias Lavra Leça P. Perafita S.Mamede

Pop. Entrevistada Pop. Residente

Fonte: Rede Social de Matosinhos, Inquérito à População Residente, 2000. INE, Recenseamento Geral da População, 1991.

Quanto aos níveis de instrução dos/as inquiridos/as, eles apresentam-se polarizados nos níveis mais baixos e mais elevados, o que se ficará a dever ao facto de terem sido, por um lado, os utentes dos serviços (acção social, emprego...) e, por outro, o pessoal técnico desses mesmos serviços a responder ao questionário.

131 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

II. A EXPRESSÃO DOS PROBLEMAS SOCIAIS NO CONCELHO: UMA PERSPECTIVA EVOLUTIVA

De acordo com as repostas dadas quanto à existência de pobreza na freguesia em que actua, as quais se analisarão mais adiante, os diferentes actores institucionais afirmaram, na sua grande maioria (81%) que as necessidades sociais da população não se encontram satisfeitas. Os que se afirmaram por uma “maior satisfação” são as instituições de Perafita e Leça da Palmeira.

Como grupos mais desprotegidos surgem: as crianças, os jovens, as pessoas / famílias de fracos recursos económicos, em geral, os alcoólicos e os idosos.

Gráfico 57 Grupos Mais Desprotegidos

60

50

40

30

20

10

0 Idosos Jovens Adultos Toxicod. escol Crianças Desemp. recursos Alcoólicos Pessoas f. Pessoas Sem-abrigo Pess bx nív. bx Pess Doent. SIDA Doent.crónicos

As necessidades não satisfeitas de tais grupos situam-se, sobretudo ao nível de: • actividades de cultura, lazer e desporto, mencionadas por cerca de 53% dos/as inquiridos/as, por referência, certamente, à população jovem, • equipamentos sociais em geral (46,7); • apoio dos serviços de saúde (44%); • educação pré-escolar (41%);

Complementarmente, tanto no questionário às instituições como no questionário dirigido à população residente, procurou-se conhecer a opinião dos/as inquiridos/as sobre os

132 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos problemas sociais do Concelho de Matosinhos. As respostas foram dadas a partir de uma lista de problemas previamente elaborada e organizada em função das diferentes áreas: Emprego, Economia, Saúde, Habitação, Educação, Acessibilidades, Lazer e Situações de Risco. Foi, então, solicitado aos/às inquiridos/as que sinalizassem, de entre os identificados no inquérito, quais aqueles problemas cuja existência se verifica em Matosinhos.

Na análise foram apenas considerados os problemas cuja percentagem de resposta se situou acima dos 50%.

Assim, tendo em conta tal critério, pode dizer-se que os principais problemas do Concelho, de acordo com as percepções dos inquiridos, se enquadram no âmbito de quatro grandes áreas, com a seguinte ordenação: Saúde; Educação; Situações de Risco e Emprego.

No âmbito da Saúde, dois dos problemas mais focados prendem-se com novas e velhas dependências que nem sempre caminham separadamente: a toxicodependência e o alcoolismo. Não sendo um fenómeno exclusivamente concelhio, e conhecendo algum mediatismo e forte visibilidade, a toxicodependência é, aliás, o problema que em maior percentagem foi referido pelos/as inquiridos/as. Ainda enquadrado no domínio “Saúde” foi apontado, por cerca de 73% dos inquiridos, o problema dos idosos dependentes para os quais não existem respostas sociais.

Na área da Educação a preocupação vai, sobretudo, para os baixos níveis de instrução da população em geral (78%) englobando-se, aqui, provavelmente, outras questões mais específicas que o questionário contemplava, como seja a existência de jovens sem a escolaridade obrigatória, apontada em menor percentagem mas, apesar de tudo, sinalizada por 54% dos que responderam ao inquérito.

Ainda no domínio da Educação o inquérito identificava problemas como o insucesso escolar, isolando os vários níveis de ensino. Não deixa, pois, de ser curioso o facto de o 3º ciclo sobressair por relação ao 1º e 2º, de acordo, aliás, com os dados estatísticos já avançados. Ambos os elementos parecem, pois, querer chamar a atenção para a necessidade de intervenção neste nível de ensino após o trabalho continuado de há alguns anos sobretudo nas escolas de 1º ciclo. Com efeito, a identificação da existência de problemas, quer de insucesso escolar, quer de abandono, por parte dos/as inquiridos/as vai aumentando à medida que se sobe nos níveis de ensino, conhecendo o 1º ciclo as

133 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

percentagens mais baixas para ambas as situações ainda que merecendo a preocupação por parte de 45.5% e 35.5%, respectivamente, dos/as inquiridos/as. Certamente relacionada com alguns dos problemas identificados na Saúde, nomeadamente com a toxicodependência, surge a área das “Situações de risco”, com os problemas da insegurança urbana e da prostituição. Gozando de uma menor visibilidade, já que se enquadram fundamentalmente na esfera doméstica, e conhecendo, também por isso, menores impactes na opinião pública, foram sobretudo referidos pelos actores institucionais as situações de violência doméstica e de crianças maltratadas, recolhendo, apesar disso, percentagens muito expressivas: 62% e 59%, respectivamente.

Finalmente, no domínio do Emprego foi salientado, como problema mais importante a precariedade do emprego. Se quanto à identificação do emprego precário, actores institucionais e população estão de acordo, já a existência de ofertas de emprego desajustadas à formação profissional da população desempregada foi um problema sinalizado, em particular pelos actores institucionais, demonstrando um certo conhecimento dos mecanismos de funcionamento do mercado de trabalho. No entanto, e algo contraditoriamente, são também as instituições que mais apontam questões como a “falta de hábitos de trabalho”, ao contrário da população que a refere em muito menor percentagem (75%, entre os actores institucionais; 52% entre a população).

Gráfico 58 Opinião sobre os Problemas Existentes no Concelho

Emprego Habitação

90 90

80 80 71 68,8 70 70 63,4 64,2 63,4 57 59,9 60 54,5 60 55,2

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10 0 0 Emp. Pr ec . Of er . Dim.postos Falta Bx Habit degrad Má imagem Rendas Endividamento Desajust trab. háb.trab. qualif.prof. bairro elevadas

134 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Saúde Situações de Risco

90 83,5 90 79,6 80 80 72,8 71,7 72 70 70 62 59,1 60 60 53,4 50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0 Prostituição Insegurança Violência dom Crinças Dif. aces. Toxicod. Alcoolismo Idosos dep. maltratadas serv. Saude

Educação Lazer

90 90 77,8 80 80 70 70

60 54,1 60 55,6 51,6 50,5 50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0 Bxs níveis Jovens sem esc Insucesso 3º ciclo Poucas activ culturais Poucos espaços verdes instrução obrigatória

Apesar de ter sido referida em muito menor percentagem, cabe porém, destacar que no âmbito das acessibilidades cerca de 40% dos/as inquiridos/as referiram os desajustes nos horários dos transportes face às necessidades da população, e a existência de zonas do Concelho não cobertas pelos transportes públicos.

135 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Tomando a última década, e ainda de acordo com os/as inquiridos/as, as diferentes áreas consideradas, mesmo algumas das classificadas como “problema”, conheceram no entanto, uma evolução de sentido positivo.

De acordo com a opinião expressa no inquérito, a área com uma evolução mais positiva foi a Habitação, à qual acresce a das Acessibilidades, da Educação e Saúde, cuja evolução positiva foi, em todas elas, identificada por mais de metade dos/as inquiridos/as.

Curiosamente é o emprego que, pese embora o decréscimo das taxas de desemprego, menos positivamente foi avaliado para o que contribuirá, certamente, a tão sinalizada precariedade do trabalho.

Em relação aos dados do gráfico seguinte deve ainda salientar-se o facto de uma boa parte (entre 30% a 40%) dos/as inquiridos/as não ter dado a sua opinião, “abstenção” essa que é transversal aos actores institucionais e população residente, o que apontará para uma certa debilidade ao nível do conhecimento e da reflexão em torno da realidade social do Concelho, em termos globais.

Gráfico 59 Opinião sobre a Evolução das Diferentes Áreas Sociais no Concelho de Matosinhos

70

60

50

40

30 Positiva 20 Negativa 10 NR

0 Emprego Saúde Habitação Educação Lazer Acessibilidades Equip. sociais

136 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

III. AS PERCEPÇÕES SOBRE A POBREZA

1. A pobreza entre a População Inquirida

Em ambos os foram introduzidas questões sobre a percepção face à pobreza. Numa delas, comum aos dois instrumentos, perguntava-se aos inquiridos sobre a existência de pobreza no Concelho; no inquérito aos elementos da população foi, ainda, introduzida uma pergunta sobre a percepção de cada um/a face à sua própria situação.

Neste último caso, trata-se da utilização do conceito de pobreza subjectiva de acordo com o qual “é pobre todo o indivíduo que se sente como tal” (Stoleru, 1977). A subjectividade aqui é total: não são conhecidos, nem identificados à luz de que critérios os indivíduos se consideram acima ou abaixo de uma linha de pobreza que, fica também por definir. Assim, os critérios de distinção entre pobres e não pobres não são exógenos, antes resultam exclusivamente do “juízo que as pessoas fazem da sua própria condição, quer face às suas necessidades e aspirações, quer por comparação com os outros ou com a sociedade em geral” (Silva, et al, 1989).

Este conceito tem sido utilizado na relação com outros conceitos ditos mais “objectivos”, como é o caso do conceito de pobreza relativa, já utilizado neste Diagnóstico. Nesses casos podem identificar-se algumas descoincidências, isto porque “o sentimento de ser pobre pode não significar pobreza de facto, embora encerre um problema social real” por outro lado, “a falta de consciência de ser pobre não retira realidade à pobreza (antes lhe acrescenta uma dimensão adicional)” (Costa, 1984).

Têm sido realizados vários estudos que utilizam apenas o conceito de pobreza subjectiva para medir o fenómeno num país ou numa dada região, tal foi o caso do já citado estudo realizado pelo então Ministério para a Qualificação e o Emprego (1995).

Entre a população entrevistada, residente em Matosinhos, 18.5% auto-classificou-se como pobre. Os restantes consideram-se como “remediados”, embora 45% (do total geral) tenha reconhecido a existência de dificuldades financeiras. Nenhum/a entrevistado/a se considerou rico.

137 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 60 Classificação dos/as Inquiridos/as Face à Situação Financeira da Família

50

40

30

20

10

0 Muito pobre Pobre Remediado com dif. Remediado sem dif.

Existe uma clara distinção na classificação feita pelos indivíduos que têm baixos níveis de instrução e os que atingiram níveis de escolaridade mais elevados. Com efeito, 84% dos pobres têm, no máximo, o 2º ciclo; as dificuldades económicas distribuem- se por todos os níveis de instrução, mas são, apesar de tudo, os licenciados os que em maior percentagem se classificaram como “remediados sem dificuldades económicas”. Estes elementos estão, de certa de forma, de acordo com o já revelado pela análise dos Quadros de Pessoal do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, através da qual se constatou que níveis de instrução mais elevados correspondem, de modo geral, a níveis de remuneração também mais elevados e a uma maior segurança no emprego. Repare-se 39 que o desempregoTPF FPT faz-se sentir (seja do próprio indivíduo, seja de outro elemento da família) sobretudo entre os que se consideram pobres e entre aqueles que afirmaram as suas dificuldades financeiras.

Outro elemento interessante parece residir no facto de tanto os que se classificaram pobres como os “remediados com dificuldades financeiras”, se encontrarem, em maior proporção, entre os que têm, no seio do seu agregado familiar, elementos menores de 18 anos o que dará conta, por um lado, da juventude da população pobre e, por outro, do peso das despesas que os menores acarretam.

Ainda no que diz respeito à presença de crianças e jovens nas famílias dos/as entrevistados/as, continua a verificar-se que são os pobres e os indivíduos que explicitaram dificuldades económicas que, em maior percentagem, não colocam os filhos nos equipamentos pré-escolares. As razões apontadas situam-se, em primeiro lugar, na não valorização da frequência deste tipo de equipamentos e, só depois, são evocadas as questões financeiras associadas a essa frequência.

39 TP PT É de ter em conta que o desemprego está sobre-representado entre o grupo dos entrevistados/as.

138 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Independentemente da classificação feita pelos/as inquiridos/as, a grande maioria afirmou que a situação da sua família piorou, nos últimos cinco anos; essa evolução negativa acentua-se, porém, entre os que se auto-classificaram como pobres ou afirmaram as suas dificuldades económicas. É entre os “remediados sem dificuldades económicas” que se verificou uma evolução de sentido mais positivo.

Gráfico 61 Evolução da Situação Familiar, nos Últimos Cinco Anos

80 70 60 50 40 30 20 10 0 Melhorou Piorou N.R.

Mais de um terço dos/as entrevistados/as afirmaram que já ter conhecido a necessidade de um apoio para além da ajuda que pode ser prestada em contexto familiar. Esta necessidade foi referida, também em maior número, por aqueles dois grupos: pobres e “remediados com dificuldades financeiras”. Os domínios em que essa necessidade foi mais sentida situam-se ao nível do apoio económico, habitação e emprego, tal como se pode verificar no gráfico seguinte.

Gráfico 62 Áreas das Necessidades de Apoio “Extra-familiar” (%)

16 14 12 10 8 6 4 2 0 Emprego Formação Apoio económico Educação Habitação Saúde Equipamentos sociais

Na maioria dos casos, a necessidade correspondeu a um apoio efectivo, adequando- se este, também na maioria, ao pedido efectuado, sendo que em 80% dos casos, o apoio prestado significou a resolução, pelo menos parcial, do problema sentido.

139 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

A concessão de apoio, bem como a avaliação do mesmo, varia consoante as áreas, salientando-se, por oposição: • a habitação onde o apoio foi prestado em 88% dos casos e onde a avaliação é positiva em mais de 70% das situações; • e a área da formação profissional onde não só o apoio alcançado foi em menor proporção, como a avaliação é maioritariamente negativa.

Saliente-se, ainda, a percentagem dos que não conseguiram apoio para a colocação de crianças em equipamentos revelando algumas carências, no Concelho, ao nível de tipo de estruturas. A maior discrepância entre a percentagem daqueles que afirmaram ter conseguido apoio e uma avaliação positiva do mesmo situa-se na educação, não havendo, porém, muitos elementos qualitativos que permitam uma leitura mais cuidada destes elementos.

Gráfico 63 Apoios Conseguidos e sua Avaliação Positiva

100 90 80 70 60 Apoios 50 40 30 Avaliação positiva 20 10 0 Emprego Formação Apoio Educação Habitação Saúde Equipamentos económico sociais

2. A Pobreza no Concelho e sua Evolução

Tanto instituições, como população, reconhecem a existência de pobreza no Concelho; tanto uns, como outros, porém, reconhecem, sobretudo, aquela que lhes está mais próxima, seja na freguesia onde residem ou na freguesia onde a instituição a que pertence intervém. Apesar de tudo, mais do que a população em geral, são os inquiridos / representantes das instituições que têm uma maior consciência quanto à existência de pobreza, o que se prenderá com o tipo de actividade que exercem (profissional ou de voluntariado) a qual lhes possibilita uma forte proximidade com os problemas multidimensionais que constituem a pobreza.

140 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 64 Reconhecimento da Existência de Situações de Pobreza, no Concelho em Geral e na Freguesia de Residência ou de Intervenção

100

80

60

40 20

0 No concelho Na freguesia

Os/As entrevistados/as tendem a espacializar a pobreza, associando-a aos bairros camarários de habitação social onde, de acordo com a sua justificação, se concentram situações de insucesso e abandono escolar, maiores taxas de desemprego, alcoolismo, maior número de beneficiários do RMG.

Apesar disso, a perspectiva destes actores é optimista: 43% afirmou que as situações de pobreza melhoraram no Concelho, nos últimos dez anos.

Gráfico 65 Evolução da Pobreza, no Concelho, nos Últimos Dez Anos

45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Agravou Melhorou Estabilizou N.R.

De acordo com a opinião manifestada pelos diferentes entrevistados (considerando conjuntamente população e actores institucionais, uma vez que não há diferenças significativas nas suas respostas) os principais factores que contribuíram para a melhoria das situações de pobreza foram: a construção de habitação social, a criação de novos equipamentos sociais, a realização de projectos de luta contra a pobreza e a introdução do RMG. Estes factores confrontam-se, na sua opinião, com outros de sinal negativo onde se destaca: o aumento do consumo de droga; a precariedade do trabalho; a diminuição dos postos de trabalho na indústria, bem como o aumento do desemprego.

141 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Gráfico 66 Factores que Contribuíram para Agravar ou Melhorar as Situações de Pobreza, no Concelho, nos Últimos Dez Anos

70

60

50

40

30

20 Agravar 10 Melhorar

0 Precariedade Crição novos Desemprego Habitaçâo Consumo Proj LCP no Trabalho postos soc droga

142 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

PARTE IV

OS RECURSOS EXISTENTES

143 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

I. MEDIDAS DE POLÍTICA SOCIAL E SUA IMPLEMENTAÇÃO EM MATOSINHOS

Como qualquer outro Concelho, ou região do País, Matosinhos tem à sua disposição um conjunto de medidas de política, de carácter social, para serem accionadas pelos organismos públicos respectivos e / ou pelas instituições particulares de solidariedade social.

Aqui se apresenta informação síntese sobre algumas delas, tendo em conta as diferentes áreas em que se enquadram, bem como o seu actual grau de aplicação no Concelho, denotando um bom aproveitamento destas medidas, enquanto recursos disponíveis, o que, por seu turno, pressupõe dinamismo e bons níveis de informação por parte das organizações locais.

Acção Social

População sócio-economicamente desfavorecida Implementação no Concelho Medida Base legal 2001 2002

RMG Lei nº 19 – A/96 29/6. 564 Acordos 1023 Acordos

Projectos de Luta 535 famílias; Contra a Pobreza 1669 crianças; 58 jovens.

144 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Infância e juventude

Implementação no Concelho Medida Base legal 2001 2002

Amas DL. nº 158/84 de 17/5 Existem 15 Despacho norm. nº 5/58 de 18/1. amas

Intervenção precoce 17 casos

Acolhimento familiar DL nº 190/92, de 03/9

Adopção DL nº 2/86 de 02/1.

Comissão de DL nº 189/91 de 17/5 463 casos em Protecção de Lei 147/99 de 1 de Setembro acompanha- Crianças e Jovens em mento Perigo

Projecto de Apoio à Resolução do Conselho de Família e à Criança Ministros nº 30/92 de 18 de Agosto

Programa Ser Despacho nº 26/MSSS/95 Apresentadas Criança duas candidaturas/ Não aprovadas

Programa Escolhas Resolução do Conselho de A iniciar Ministros nº 4/2001 de 9 de Janeiro

População idosa

Implementação no Medida Base legal Concelho

Acolhimento familiar DL nº391/91 de 10/10.

145 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Acção Social / Saúde

Implementação no Concelho Medida Base legal 2001 2002

Redes sociais de Despacho conjunto da Ministra da 60 pessoas 100 pessoas apoio integrado Saúde e do Ministro do Trabalho e da Solidariedade nº 407/98 de 18/6.

Educação

Implementação no Medida Base legal Concelho 2001 2002

Ensino recorrente Desp. Morm. Nº 58/88 de 22/7 230 inscritos Desp. Norm. nº 189/93 de 7/8 (ano lectivo Desp. Norm. nº 41/SEED/94 de 14/6. 2000/2001)

Ensino recorrente Desp. Morm. Nº 189/93 de 7/8 663 inscritos por unidades Desp. Norm. nº 41/SEED/95 capitalizáveis Desp. Nº59/SEEI/96 de 19/11.

Obtenção da Despacho Conjunto 897/98 escolaridade

PRODEP Desp. Conjunto nº 50/ME/MESS/95

Curricula Portaria nº 432/89 de 14/6 alternativos Desp. Norm. nº 189/93 de 7/8 Desp. Nº 22/SEEI/96 de 30/4.

Cursos de Desp.Normativo 214/91 de 30/9 40 inscritos Educação extra- Portaria 432/89 de 14/6 (26 a escolar frequentar)

Educação especial DL nº 301/93 de 31/8 Portaria nº 52/97 de 21/1

146 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

3 acções 7 acções Saber Mais PRODEP III 60 inscritos 90 inscritos (a iniciar em Julho)

Emprego e Formação

Implementação no Concelho Medida Base legal 2001 2002

Incentivos à DL nº 34/96 de 18/4 contratação

Iniciativas Locais de DL nº 189/96 de 8/10 50 pessoas Emprego

Apoio/Criação do Portaria nº 476/94 de 1/6 200 pessoas próprio emprego por DL nº 44/80 de 4/10 subsidiados

Iniciativas de RCM nº 154/96 de 17/9 desenvolvimento local

Conservação do DL nº 247/85 de 12/7 8 património cultural

Programa de estímulo Portaria nº 196-A/01 de 10 de 120 pessoas à oferta de emprego Março Despacho Normativo nº42-B/00 de 20 de Setembro

147 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Implementação no Concelho Medida Base legal 2001 2002

UNIVA Desp. Norm. nº 27/96 de 3/8. 11 UNIVAS 10 UNIVAS

Apoio à auto- Portaria nº 247/95 de 29/3. colocação

Incentivos à Portaria nº 247/95 de 29/3. colocação

Incentivos à Portaria nº 247/95. mobilidade geográfica

Programas DL. 192/96 de 30/5 508 pessoas ocupacionais RCM nº 104/96 de 9/7 Decreto-Lei nº 119/99 de 14 de 649 pessoas Abril

Bolsas de estudo da Desp. Norm. nº 53 A/96 de 17/12 iniciativa do trabalhador/a

Estágios profissionais Portaria nº 247/95 de 29/3. 420 pessoas 310 pessoas

Formação profissional Desp. Norm. nº 140/93 de 6/7. especial

Escolas- Oficina Portaria nº 414/96 de 24/8.

Empresas de Portaria nº 348/98 de 18/6. 3 processos 2 processos inserção 24 pessoas

Inserção Emprego Portaria nº1109/99 de 27/12 53 pessoas

Cursos de orientação DL nº 205/96 de 25/10. de nível 1

148 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Cursos de DL nº 205/96 de 25/10. 1284 pessoas 1144 pessoas aprendizagem de Despacho Conjunto nº 102-A/01 níveis I, II e III de 1 de Fevereiro

Formação pré- Desp. Norm. nº 388/79 de 17/12. profissional.

Apoios ao Emprego DL nº 247/89 de 5/8 1 pessoa Desp. Norm. nº 99/90 de 6/9.

Emprego protegido Dl nº 194/85 de 24/6. 2 pessoas Apoios à instalação Desp. Norm. nº 99/90 de 6/9. por conta própria 4 pessoas Programa Vida Resolução do Conselho de Emprego Ministros nº 136/98 de 4/12

Formação Informática 60 pessoas para Desempregados/as 6 pessoas (em Lei nº 9/89 de 2 de Maio 2003) Ajudas técnicas Despacho Conjunto MS/MTS nº 402/01 de 3 de Maio

Educação / Emprego

Implementação no Concelho Medida Base legal 2001 2002

PEETI – Programa de Resolução do Conselho de Em preparação Em curso Eliminação da Ministros nº 75/98. Exploração do Trabalho Infantil

149 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

Habitação

Medida Base legal Implementação no Concelho

2001 2002

PER – Programa DL nº 163/93 de 7/5 950 fogos Especial de realojamento entregues PER – Famílias DL nº 79/96 de 20/7 58 famílias Realojamento em habitação social DL 226/87 797 municipal DL50/77 571 DL 295/78 de 26/09 e Lei 12/79 184 7/04 Venda de habitação a DL 220/83 202 custos controlados 60 (Aquisição) 22 (Renda Resolúvel)

Promoção de habitação DL nº 163/93 de 7/5. social pelas IPSS

Renda social Portaria nº 288/83 de 17/03. 967 DL 166/93 de 07/05 1399

Renda apoiada Dl nº 321 B/90 de 15/10 DL nº 13/86 de 23/1 Portaria nº 616 A/96 de 30/10 Portaria nº 616 C/96 de 30/10.

Subsídio de renda Lei nº 46/85 de 30/9 DL nº 68/86 de 27/3 Portaria nº 42/97 de 17/1.

RECRIA - Regime Esp. DL 329 –c/2000 DE 22/12 186 de Comp. Para a Recuperação de Imóveis Arrendados

150 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

RECRIPH - Regime DL 106/96 de 31/07 2 Especial de Comparticip.de Imóveis em Prop.Horizontal

SOLARH (Programa de DL 7/99 de 8/01 1 Solidariedade e Apoio à DL 39/2001 de 9/02 Recuperação de Habitações)

Rehabita DL 105/96 de 31/07

Outros

Implementação no Medida Base legal Concelho

PO Formação, Emprego e Quadro Comunitário de Apoio III. Em fase de avaliação das Desenvolvimento Social candidaturas

Iniciativa EQUAL Quadro Comunitário de Apoio III. Em fase de candidatura

151 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Almeida, Ana Nunes de (1985) “Trabalho feminino e estratégias familiares” Análise Social, Vol XXI.

Bartoli, Henri (1980) “Le phénomène de la pauvreté dans l’economie marchande” Économies et Sociétes, nº1.

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155 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

ÍNDICE

APRESENTAÇÃOTU UT ...... 1

I.TU INTRODUÇÃOUT ...... 4

1.TU O Diagnóstico Social: um Instrumento de Trabalho na Luta Contra a Exclusão Social...... 4UT

2.TU Os Métodos de Recolha de InformaçãoUT ...... 6

IITU – BREVE ABORDAGEM CONCEPTUALUT ...... 8

III.TU A POBREZA EM PORTUGAL U -UAlguns Elementos para uma Melhor CompreensãoU ...... 12T

TUI. DINÂMICAS DEMOGRÁFICASUT ...... 20

1.TU O Crescimento Populacional do ConcelhoUT ...... 20

2.TU As Assimetrias do CrescimentoUT ...... 25

3.TU O Envelhecimento e Feminização da População IdosaUT ...... 30

4.TU As Transformações nas Estrutura FamiliaresUT ...... 34

II.TU EMPREGO E DESEMPREGOUT ...... 37

1.TU O Emprego: uma Perspectiva Evolutiva e por GéneroUT ...... 38

2.TU Actividade Profissional e Vida Familiar: a Conciliação NecessáriaUT ...... 54

3.TU O Desemprego no ConcelhoUT ...... 57

4.TU Ofertas de Emprego e ColocaçõesUT ...... 66

III.TU EDUCAÇÃOUT ...... 68

1.TU População Escolar e Níveis de InstruçãoUT ...... 69

2.TU Insucesso e Abandono EscolarUT ...... 73

IV.TU HABITAÇÃOUT ...... 82

1.TU A Habitação no ConcelhoUT ...... 82

2.TU Indicadores de Condições de HabitabilidadeUT ...... 86

3.TU A Tendência para a Casa Própria...... 87UT

V.TU SAÚDEUT ...... 90

1.TU Indicadores de SaúdeUT ...... 91

2.TU O Acesso aos Cuidados de Saúde e a Tipologia de ProblemasUT ...... 94

2.1.TU Os Doentes em Lista de Espera no Hospital Pedro HispanoUT ...... 96

2.2.TU Os Doentes em InternamentoUT ...... 98

2.TU 3. A tuberculose no ConcelhoUT ...... 101

3.TU A População Com DeficiênciaUT ...... 102

3.1.TU Dados GeraisUT ...... 102

3.2.TU A Doença Mental: Os Utentes do Hospital Magalhães LemosUT ...... 103

4.TU Velhas e Novas DependênciasUT ...... 104

VI.TU PROTECÇÃO SOCIALUT...... 112

1.TU Os PensionistasUT ...... 112

2.TU Os Utentes da Acção SocialUT...... 114

VII.TU SITUAÇÕES DE “RISCO”UT...... 120

I.TU O INQUÉRITO ÀS INSTITUIÇÕES SOCIAIS E À POPULAÇÃOUT ...... 126

1.TU Do Universo das Instituições do Concelho ao Universo de AnáliseUT ...... 126

2.TU O Inquérito à População: Breve Caracterização dos/as Inquiridos/asUT ...... 130

II.TU A EXPRESSÃO DOS PROBLEMAS SOCIAIS NO CONCELHO: U UMAU PERSPECTIVA

EVOLUTIVAU ...... 132T

TUIII. AS PERCEPÇÕES SOBRE A POBREZAUT ...... 137

1.TU A pobreza entre a População InquiridaUT ...... 137

2.TU A Pobreza no Concelho e sua EvoluçãoUT ...... 140

I.TU MEDIDAS DE POLÍTICA SOCIAL U E SUAU IMPLEMENTAÇÃO EM MATOSINHOSU... 144T

AcçãoTU SocialUT ...... 144

InfânciaTU e juventudeUT ...... 145

156 Diagnóstico Social do Concelho de Matosinhos

PopulaçãoTU idosaUT ...... 145

AcçãoTU Social / SaúdeUT ...... 146

EducaçãoTU UT ...... 146

EmpregoTU e FormaçãoUT ...... 147

EducaçãoTU / EmpregoUT ...... 149

HabitaçãoTU UT ...... 150

OutrosTU UT ...... 151

REFERÊNCIASTU BIBLIOGRÁFICASUT ...... 152

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