Arte Para a Nação Brasileira UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
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Arte para a nação brasileira UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ Reitor José Jackson Coelho Sampaio Vice-Reitor Hidelbrando dos Santos Soares Editora da UECE Erasmo Miessa Ruiz Conselho Editorial Antônio Luciano Pontes Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes Emanuel Ângelo da Rocha Fragoso Francisco Horácio da Silva Frota Francisco Josênio Camelo Parente Gisafran Nazareno Mota Jucá José Ferreira Nunes Liduina Farias Almeida da Costa Lucili Grangeiro Cortez Luiz Cruz Lima Manfredo Ramos Marcelo Gurgel Carlos da Silva Marcony Silva Cunha Maria do Socorro Ferreira Osterne Maria Salete Bessa Jorge Silvia Maria Nóbrega-Therrien Conselho Consultivo Antônio Torres Montenegro (UFPE) Eliane P. Zamith Brito (FGV) Homero Santiago (USP) Ieda Maria Alves (USP) Manuel Domingos Neto (UFF) Maria do Socorro Silva Aragão (UFC) Maria Lírida Callou de Araújo e Mendonça (UNIFOR) Pierre Salama (Universidade de Paris VIII) Romeu Gomes (FIOCRUZ) Túlio Batista Franco (UFF) Manuel Domingos Neto (organizador) Arte para a nação brasileira ARTE PARA A NAÇÃO BRASILEIRA © 2012 Copyright by Manuel Domingos Neto Impresso no Brasil / Printed in Brazil Efetuado depósito legal na Biblioteca Nacional TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Editora da Universidade Estadual do Ceará – EdUECE Av. Paranjana, 1700 – Campus do Itaperi – Reitoria – Fortaleza – Ceará CEP: 60740-000 – Tel: (085) 3101-9893. FAX: (85) 3101-9893 Internet: www.uece.br – E-mail: [email protected] Editora filiada à Coordenação Editorial Erasmo Miessa Ruiz Projeto Gráfico, Diagramação Everton Viana – CE 01799 DG Capa Samuel dos Santos Rodrigues Revisão de Texto Natália Silvestre Domingos Ficha Catalográfica Francisco Welton Silva Rios – Bibliotecário CRB-3 / 919 A786 Arte para a nação brasileira / Manuel Domingos Neto, orga- nizador . – Fortaleza : EdUECE, 2012. 232 p. ; 14 x 21 cm. Inclui referências e notas nos capítulos I a VIII, com exceção do capítulo IX. ISBN: 978-85-7826-131-3 1. Arte – Brasil. 2. Artistas – Brasil. 3. Nacionalismo – Brasil. I. Domingos Neto, Manuel. CDD: 709.81 Sumário Capítulo I Niemeyer e as reminiscências do Barroco Roberto Martins Castelo ................................................................... 17 Capítulo II Lúcio Costa e a arquitetura da nação Napoleão Ferreira ............................................................................. 45 Capítulo III Pixinguinha e a modernidade brasileira Manuel Domingos Neto Mateus Perdigão de Oliveira ............................................................. 65 Capítulo IV Arranjos brasileiros de Radamés Mateus Perdigão de Oliveira Mônica Dias Martins ......................................................................... 95 Capítulo V Luiz Gonzaga: nação em ritmo de baião Sulamita Vieira ................................................................................. 119 Capítulo VI Jakson do Pandeiro: estética na palma da mão Deribaldo Santos Regina Coele Queiroz Fraga ............................................................. 141 Capítulo VII A gente de Chico Manuel Domingos Neto Fabiane Batista Pinto ........................................................................ 163 Capítulo VIII Caetano: só um jeito de corpo e um projeto Brasil Priscila Gomes Correa ...................................................................... 187 Capítulo IX Nelson Pereira dos Santos: em busca do povo Carlos Alberto Mattos ....................................................................... 213 Introdução Nacionalidade é uma condição jurídica e uma caracterização cultural-sentimental; tanto indica a subordinação a um Estado como a filiação a uma comunidade cujos membros revelam traços culturais comuns e estão unidos por laços afetivos. A nacionalidade de que trata esse livro diz respeito à comu- nidade de sentimentos. Sua existência seria impensável sem re- messas ao passado de sofrimentos e glórias compartilhadas, sem símbolos, efemérides e figuras paradigmáticas que despertem afetos e autoestima em seus integrantes. Uma comunidade desse tipo é necessariamente uma abstração, dado que é alimentada por pressupostos imaginados e promessas de igualdade entre seus membros. A construção de nacionalidades seria impensável sem artistas. Suas obras, pela carga de valores e emoções que podem traduzir, despertar ou alimentar, integram a enigmática construção de afetos coletivos. Suas escolhas temáticas e opções estéticas si- nalizam fenômenos e tendências constitutivas das comunidades de sentimentos. A maioria dos que se embrenharam seriamente no debate te- órico sobre a emergência deste tipo de comunidade viu a produ- ção artística como reflexo de propensões sociais. A arte revelaria pulsões, humores e anseios de coletividades; à revelia das inten- ções de seus autores transmitiria de forma direta ou subliminar proposições de grande alcance e longa permanência. Captando e expondo de maneira especial dilemas e esperanças, absorvendo e reinventando técnicas, propondo conceitos inovadores, ofere- cendo releituras do passado, os artistas operam sobre o devir de coletividades, refletindo ou não valores e convicções de segmentos sociais hegemônicos. Artistas são fundamentais na configuração daquilo que é designado usualmente como sentimento, vontade ou ainda consciência nacional e amor à pátria. Não há definições de nação e de nacionalismo universalmente aceitas. Autores clássicos das ciências sociais evitaram substan- tivar esses termos, apesar de, na modernidade, ser impossível descrever processos históricos sem utilizá-los, assim como os seus numerosos derivados: nacional, nacionalismo, nacionalida- de, internacionalismo, internacional, multinacional... Cientistas políticos e historiadores não dispensam expressões como ordem nacional, contexto nacional ou relações internacionais. Estudiosos da cultura e da arte não teriam como expor suas ideias eludindo noções tais como tradições nacionais, culturas nacionais e tendên- cias internacionais. Enfim, na contemporaneidade, somos todos obrigados a empregar os derivados da comunidade que Benedict Anderson adjetivou imaginada. Na concepção desse livro, partimos do entendimento de que a nação é uma sociedade que se reconhece, é reconhecida externa- mente e vive impulsionada pela perspectiva de futuro promissor. Essa sociedade é levada a arguir ancestralidade sempre tentando reduzir (ou esquecer, conforme Ernest Renan) seus desencontros domésticos mais explosivos como a servidão, a escravidão, os privilégios do berço e as profundas desigualdades sociais e as variadas manifestações de preconceitos. Embora os embates sangrentos, internos ou externos, se des- taquem na emergência deste tipo de sociedade, a coesão de seus integrantes é mantida sobretudo pela esperança de mudanças benéficas. Mais que um título de cidadania ou do que a submissão de indivíduos ao Estado, a comunidade nacional se cristaliza por laços afetivos. Os termos população e povo designam conjuntos de pessoas, mas quando adjetivados por uma filiação nacional (população brasileira, povo francês), pressupõem uma coletividade sentimentalmente unida. Trata-se de um laço afetivo entranhado e forte o bastante para sobrepor-se a quaisquer outros tipos de solidariedade tais como a corporativa, a religiosa e a de classe. Mesmo (ou por que) abstrata, a rigor, a nação tornou-se a única entidade capaz de pedir e obter de forma legítima o sangue de seus filhos. O verso do imperador luso-brasileiro Pedro I, ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil, tem versões correntes em to- dos os vernáculos modernos, mas a banalidade não desqualifica a força do apelo. O sentimento ou vontade nacional, tantas vezes apontado como algo arcaico, mesquinho e condenável, não dá mostras de perder sua natureza sacrossanta e sua utilidade no inicio do século XXI. Daí os esforços dos que exercem ou querem exercer o domínio político para se mostrarem autênticos porta-vozes da naciona- lidade, como se constata facilmente nas campanhas eleitorais dos Estados Unidos, país que tornou-se paradigma de riqueza, modernidade e poder. Não haverá, em horizonte histórico descortinável, forma mais poderosa de legitimação do poder que a pretensa tradução do sentimento nacional. Demonstração disso é o fato de os desaqui- nhoados e sem direitos correrem em busca de integração nessa comunidade abstrata na perspectiva de encontrar melhoria de vida. Na construção das nacionalidades vale mais do que nunca a formulação aristotélica de que a política é movida pela esperança de um bem. A proclamação de sentimentos nacionais persiste animada pela expectativa de mudanças favorecedoras da coesão de seus integrantes. Este livro reúne autores que admitem ser a nação o tipo de comunidade na qual se baseia a chamada civilização moderna. Assim, afastam o senso comum, que a percebe como resultante de processos naturais irrecorríveis, de impulsos gregários manifestos desde tempos imemoriais ou ainda de sensibilidades desenvolvidas ao sabor de dinâmicas sociais aleatórias. Por nação, entendemos a comunidade estruturada para integrar o sistema global competitivo do capitalismo industrial. Trata-se da entidade que tanto legitima o Estado quanto a ordem designada internacional e cuja construção é inerente ao processo que Norbert Elias chamou de civilizador. Não importando qual sejam as remessas a sua ancestralidade – todas as comunidades nacionais estarão sempre em busca de raízes remotas e se imaginando eternas - a entidade nacional dá seus primeiros sinais no século XVI, demonstra força política no século XIX ao romper domínios coloniais e se consolida no século XX, quando as trocas entre estruturas