Nos Choros: Carinhoso, Doce De Côco E Lamentos

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Nos Choros: Carinhoso, Doce De Côco E Lamentos Anais do VII Fórum de Pesquisa Científica em Arte. Curitiba, Embap, 2011. 222 ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS INTERPRETATIVAS DE ALTAMIRO CARRILHO (1924) NOS CHOROS: CARINHOSO, DOCE DE CÔCO E LAMENTOS Thiago Abreu Saraiva1 [email protected] Resumo O presente artigo apresenta a pesquisa realizada com o objetivo de levantar dados acerca da interpretação musical no gênero choro, mediante a transcrição e a análise das partes da flauta, executadas por Altamiro Carrilho (1924), em três choros presentes no disco Chôros Imortais (1964). Para melhor compreensão sobre o tema o autor realizou, concomitantemente às transcrições, pesquisa sobre a história do choro, sobre a biografia de Altamiro Carrilho e sobre as características da performance musical no choro. Palavras-chave: Altamiro Carrilho; Música-interpretação; Choro (música). Abstract This paper presents a survey aimed at gathering data about the interpretation of the music genre choro, through the transcription and the analysis of flute parts performed by Altamiro Carrilho (1924) in three choros found in the album Choros Imortais (1964). For a better understanding of the topic, simultaneously to the transcripts, we conducted research on the choro’s history, on Altamiro Carrilho‟s biography and on musical performance characteristics of the choro. Keywords: Altamiro Carrilho; Music-interpretation; Choro (music). INTRODUÇÃO O levantamento bibliográfico realizado para o desenvolvimento desta pesquisa mostrou que os trabalhos acerca do estilo musical choro2, geralmente, têm abordagem historicista, enfatizando as características socioculturais do estilo, sem se aprofundarem em características técnico-interpretativas e musicais em geral. Exemplos disso são as obras de Cazes (1998), Diniz (2007), Dreyfus (2005), Tinhorão (1966, 1975 e 1990) e Vasconcelos (1984). Apesar da importância da contextualização histórica do tema, também é necessário o 1 Thiago Abreu Saraiva é discente de Graduação na Universidade Federal do Estado do Paraná (Educação Musical – Licenciatura em Música) e da Universidade Estadual do Paraná - Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Superior em Instrumento – Bacharelado em Flauta Transversal). 2 Antes de se tornar um gênero musical bem definido, o choro, consistia na prática instrumental – na segunda metade do século XIX – de estilos musicais importados da Europa, por músicos da classe média do Rio de Janeiro (TINHORÃO, 1966). Com o passar dos anos, essa prática musical foi se desenvolvendo, caracterizada pelo sincretismo do estilo musical europeu com ritmos afro-brasileiros. O choro era tocado de maneira improvisada, tendo em vista que as músicas eram aprendidas de ouvido ou, segundo Tinhorão (1975), somente o solista, às vezes, tinha acesso à partitura. A partir disso, começam a surgir composições resultantes desse sincretismo cultural, que são denominadas choro. Anais do VII Fórum de Pesquisa Científica em Arte. Curitiba, Embap, 2011. 223 desenvolvimento de pesquisas que apresentem embasamento para compreensão musical do assunto. Portanto, é de pertinência bibliográfica, na área da música popular, o estudo de elementos interpretativos – inseridos por instrumentistas em suas interpretações – que caracterizam o estilo. A pesquisa teve como objetivo analisar as características interpretativas de Altamiro Carrilho3, mediante a transcrição de três gravações presentes no disco Choros Imortais4 (1964), para que com dos resultados da análise somados aos demais dados levantados – história do choro, características interpretativas e dados biográficos de Carrilho – fosse possível compreender como ocorre a performance musical do gênero. No início do estudo, foram selecionadas três músicas a serem transcritas e analisadas: Doce de Côco, autoria de Jacob do Bandolim5; Lamentos, autoria de Pixinguinha6 com Vinicius de Moraes7 e Carinhoso, autoria de Pixinguinha e Benedito Lacerda8. Não obstante, após a conclusão da transcrição de Doce de Côco e Lamentos, mostrou-se desnecessária a transcrição completa de Carinhoso, sendo que esta resultaria apenas em acréscimo quantitativo, e nenhum acréscimo qualitativo, ao trabalho. Portanto, de Carinhoso foram retirados apenas os elementos interpretativos que não estavam presentes em Doce de Côco e Lamentos. A partir das transcrições citadas, foi realizada a comparação com as partituras impressas9, para o levantamento dos elementos inseridos por Carrilho nas gravações, elementos não presentes nessas partituras. Esses elementos foram organizados e analisados conforme suas características, incidência e circunstâncias de uso. 3 Altamiro Aquino Carrilho nasceu em 21 de dezembro de 1924, em Santo Antônio de Pádua, Rio de Janeiro. Instrumentista e compositor, compôs cerca de duzentas músicas de estilos variados. Nascido em família de músicos, começou a tocar flauta aos cinco anos de idade de maneira autodidata (CARRILHO, 2004). Conforme Marcondes (2000), toca vários tipos de flauta e já gravou 69 discos. Segundo pesquisa apresentada no sítio Agenda do Samba & Choro (presente nas referências do artigo), já realizou mais de cento e trinta gravações. 4 O disco foi lançado em 1964 pela Copacabana-Discos, tendo Altamiro Carrilho como solista, acompanhado pelo Regional de canhoto, integrado pelos músicos Gílson de Freitas, pandeiro; Meira, violão; Canhoto, cavaquinho; Orlando Silveira, acordeão; Altamiro Carrilho, flauta; e Dino, violão de sete cordas. Nele são interpretadas doze músicas: Naquele Tempo, Urubatan, Chorei e Sofres Porque Queres, de Pixinguinha com Benedito Lacerda; Cinco Companheiros e Lamentos, de Pixinguinha; Carinhoso, de Pixinguinha com João de Barro; Doce de Côco, de Jacob do Bambolim; Língua de Preto, de Honorino Lopes; Harmonia Selvagem, de Dante Santoro; Evocação, de Rubens Leal Brito e Cuidado Violão, de José Toledo. A possível origem do título do disco está na importância dessas obras no repertório chorístico. São frequentemente presentes em rodas de choro. 5 Jacó Pick Bittencourt. Compositor e instrumentista. Rio de Janeiro, 14 fev.1918 - Rio de Janeiro, 13 ago.1969. 6 Alfredo da Rocha Viana Filho. Compositor, instrumentista, arranjador e regente. Rio de Janeiro, 23 abr.1897 - Rio de Janeiro, 17 fev. 1973. Segundo Barreto (2006), Pixinguinha foi um dos mais influentes compositores no desenvolvimento e estruturação do estilo musical choro. 7 Marcus Vinicius de Moraes. Diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta, compositor e cantor. Rio de Janeiro, 19 out. 1913 – Rio de Janeiro, 9 jul. 1980. 8 Compositor, instrumentista, arranjador e regente. Macaé, RJ, 14 mar. 1903 - Rio de Janeiro, 16 fev.1958. 9 Partituras retiradas de Bandolim (1997), Pixinguinha (1997a) e Pixinguinha (1997b). Anais do VII Fórum de Pesquisa Científica em Arte. Curitiba, Embap, 2011. 224 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para melhor compreensão acerca do tema estudado, mostrou-se necessário, além das transcrições e da sua análise, o estudo histórico do tema, a definição do gênero musical choro, o estudo de sua origem, de seu desenvolvimento e das características performáticas, bem como a síntese biográfica de Altamiro Carrilho e contextualização histórica do disco Choros Imortais. Em seguida as transcrições foram organizadas de maneira a permitir a análise de cada elemento interpretativo levantado, de maneira individual e pragmática. As transcrições foram realizadas escutando trechos das músicas propostas e reproduzindo-os no editor de partituras Encore 3.210. Trechos que ofereceram maior dificuldade de compreensão foram reproduzidos na flauta transversal para obter-se melhor compreensão dos mesmos ou, quando necessário, executados em baixa velocidade com o auxílio do software BestPractice11, que realiza a repetição de pequenos trechos musicais em diferentes velocidades sem alterar a tonalidade. Devido à irregularidade e imprecisão rítmica – fato recorrente e estilístico na interpretação do choro, segundo Sève (1999) e Cançado12 (2000, citado por SARMENTO, 2005) – na execução de alguns trechos musicais, buscou-se na notação musical o resultado gráfico mais próximo do resultado sonoro, não obstante, evitando-se a busca pela notação dessas irregularidades rítmicas e enfatizando uma escrita que favorecesse melhor compreensão ao leitor. A seleção das músicas, para transcrição, baseou-se no princípio de obter o maior número de elementos interpretativos dentro do menor número de músicas transcritas, visando a um resultado pragmaticamente eficaz. A escolha do disco ocorreu pelo fato de o Regional de Canhoto13 ser referência entre os grupos tradicionais de choro da época e devido à maturidade artístico-musical dos integrantes no período do lançamento (1964). A pesquisa buscou expor exemplos de elementos analisados – os quais podem ser constatados, auditivamente, de maneira idêntica ou semelhante em diversas gravações – que possam oferecer embasamento para a compreensão do fenômeno interpretativo no choro, sem, contudo, objetivar concluir a pesquisa acerca da interpretação musical de Altamiro Carrilho, mas sim oferecer base para futuras pesquisas. 10 Disponível em: <http://www.gvox.com>. 11 Disponível em: <http://www.xs4all.nl/~mp2004/bp/>. 12 CANÇADO, Tânia Mara Lopes. O fator atrasado na música brasileira. Revista Per Musi, Belo Horizonte, v. 2, jan. 2000. 13 Segundo Prata (s.d.), o grupo foi criado em 1951 por quatro músicos que pertenciam ao Regional de Benedito Lacerda - após a saída de Benedito Lacerda do grupo, substituído por Altamiro Carrilho – sendo eles Canhoto, tocando cavaquinho e liderando o grupo; Dino, violão de sete cordas; Meira, violão de seis cordas
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