REPENSANDO O ENSINO DE HISTÓRIA: A TELENOVELA ATRAVÉS DE “LADO A LADO”
RETHINKING THE TEACHING OF HISTORY: THE TELENOVELA ACROSS “LADO A LADO”
Ingrid Oyarzábal Schmitz Licenciada e Bacharela em História/PUCRS Graduanda em Pedagogia/UFRGS [email protected]
RESUMO O currículo escolar e os materiais didáticos são alvo constante de questionamento, contudo, raramente apresentamos modos alternativos de escola com a estrutura já existente. As Ocupações escolares que ocorreram no primeiro semestre desse ano no Rio Grande do Sul são um exemplo. Devemos perceber como a escola está fundamentada e que ainda demorará anos para se modificar, entretanto, quem a faz são os alunos e os professores. Apresentando-se como um espaço passível de ressignificação conforme os interesses de quem as moldam. Repensando o espaço escolar, bem como as fontes que consideramos mais “confiáveis” para a História, propomos aqui uma discussão em torno de que escola que queremos e qual o significado do que estamos ensinando em sala de aula. Lado a Lado foi uma telenovela transmitida entre 2012-3 pela Rede Globo, e é apenas um exemplo de potencialidade de uma fonte alternativa que pode ser trabalhada. Através desse objeto de análise, nos propomos a refletir sobre as construções possíveis tanto para o meio acadêmico quanto para o ensino regular de História. Pesquisa originada ao longo da graduação, percebemos na telenovela uma fonte do nosso tempo, e, em Lado a Lado, questões que emergem do hoje por reflexões sobre o passado. Todavia, sabemos que este não foi um trabalho fechado e desta forma o apresentamos aqui buscando abrir a discussão e teorizar sobre as potencialidades da telenovela como fonte histórica e material didático.
Palavras-chave: Ensino. História. Telenovela. Lado a Lado. Fonte histórica.
ABSTRACT The curriculum and teaching tools are a constant target of questioning. However, rarely show alternative ways to school with the existing structure. School Occupations that occurred in the first half of this year in Rio Grande do Sul are an example. We must realize how the school is founded and still will take years to change. However, who is building that school are students and teachers. Presenting itself as a reframing liable space as the interests of those who shape. Rethinking the school environment, and the sources that we consider more "reliable" to History, we propose here a discussion around that school we want and what is the meaning of what we are teaching in the classroom. Lado a Lado was a telenovela transmitted between 2012-3 by Rede Globo, and is just one example of potential of an alternative source that can be worked. Through this object of analysis, we propose to reflect on the possible constructions for both: academia and regular teaching of History. This search started during the graduation, we discovered the telenovela as a source of our time, and from Lado a Lado emerge questions from today about reflections from past. However, we know that this was not a closed work and this way we show here trying to open the discussion and theorizing about the telenovela's potential as a historical source and a teaching tool.
Keywords: Teach. History. Telenovela. Lado a Lado. Historical source.
Anais do III Encontro de Pesquisas Históricas - PPGH/PUCRS. Porto Alegre, 2016. p.440-449.
1 Não entrarei na discussão aqui, mas como já devem ter observado, optei pelo uso do termo telenovela inclusive no resumo em língua estrangeira, pois conforme observado e defendido por Androvandi (2010), não é possível esta tradução. O gênero do qual falamos é unicamente brasileiro, e resultado de um longo percurso da televisão aberta e nacional. Anais do III Encontro de Pesquisas Históricas - PPGH/PUCRS. Porto Alegre, 2016. p.440-449.
Por onde andou Lado a Lado
O primeiro capítulo foi ao ar em 10 de Setembro de 2012, inicialmente escutei os comentários tradicionais, uma nova telenovela está no ar! Até este ponto tudo normal, mas começo a ouvir que é uma “telenovela de época”, que fala de fatos históricos, de elementos que não ouvimos nas aulas de História. Não tinha como não ficar curiosa, vou assistir alguns capítulos. Me deparei com o Bota abaixo, a modernização do Rio de Janeiro, a formação das favelas, etc. Foram 154 capítulos ao ar, cerca de seis meses sendo transmitida na faixa das 18 horas. Seus autores, Claudia Lage e João Ximenes Braga são oriundos da Oficina de Autores da Globo do ano de 2004, visaram o público brasileiro. Quando lembro da importância da Rede Globo no cenário nacional e na RBS TV em âmbito regional, me vi observando Lado a Lado como uma fonte, como um projeto que visa mostrar o que é o povo brasileiro, mesmo que com um recorte tão específico, que dialogou com o telespectador sobre um momento de lacuna na memória dos brasileiros. Se olharmos atentamente as telenovelas conseguimos perceber que os tabus sociais são uma das temáticas mais presentes (MELO, 2000, p. 40), aparecendo com diferentes intensidades, ou até mesmo tons, o que não significa que trarão uma perspectiva rasa do assunto. Comentei minha escolha em classificar a nossa telenovela como única, outro padrão particular nosso, ou melhor, da Rede Globo, é divisão de faixas horárias temáticas. Lado a Lado, uma “novela das seis”3, condiz com a proposta mais suave (nesse caso o sútil se enquadraria melhor), mas que normalmente apresenta e discute traumas profundos da nossa sociedade, questões como a escravidão e a discriminação social nunca perdem espaço, pois ainda sentimos os resquícios na atualidade. Poderia dizer que este é um espaço em que se
2 Luciane Reis e Rosane Barnachvili. 3 Não inicia necessariamente nesse horário. Anais do III Encontro de Pesquisas Históricas - PPGH/PUCRS. Porto Alegre, 2016. p.440-449.
4 Sabemos que não há uma só História, apenas comparamos o modo de produção de ambas as narrativas. 5 Utilizamos aqui o termo sambar já, conquanto, ao longo de toda a trama é reforçado que essas danças representadas são uma mistura das diversas modalidades trazidas da África, e que aos poucos vai tomando novos rumos, se tornando um novo ritmo e uma nova dança, nascida no Brasil. Oficialmente, o primeiro samba reconhecido é “Pelo Telefone”, de 1917 (NAPOLITANO, 2001, p. 47). 6 Palhaço, em tradução livre. Anais do III Encontro de Pesquisas Históricas - PPGH/PUCRS. Porto Alegre, 2016. p.440-449.
Figura 01: Imagem de divulgação. Da esquerda para à direita: Edgar, Laura, Isabel e Zé Maria. Fonte:
A trama se passou desta forma, correlacionando o mundo de encontros e desencontros das protagonistas. Coerente com um docudrama, caracterizou-se por usar fatos históricos para dar suporte e sustentação a narrativa, sendo eles diretamente relacionados a trama principal ou não. A trajetória das duas protagonistas mulheres, Laura, mulher branca oriunda da elite aristocrática carioca, que se divorcia; e, Isabel, negra, filha de escravos, doméstica no Rio de Janeiro, que “desgraça” sua vida ao se envolver com um homem branco, engravidando sem estar casada, e enriquecendo como dançarina de samba na França. Seus pares, Edgar e Zé Maria, respectivamente, recebem papeis importantes dentro da trama, mas não ao ponto de serem considerados protagonistas também, possuem essa função somente ao lado de suas parceiras. A obra em geral foi uma produção de alta qualidade, coerente com o período que buscou retratar, e, principalmente, é um produto que podemos analisar, questionar.
Novas fontes
A cada dia no curso de História me deparava com fontes que precisava compreender sobre sua produção, qualidade e como interpretá-la. Contudo, a ideia era o uso de fontes com um certo distanciamento da minha realidade. É justamente esse afastamento do hoje que acaba descontextualizando a História para os estudantes. Na mesa conversamos como
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Figura 02: Nota apresentada no site da telenovela, na sessão Naquele Tempo. Fonte:
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Figura 03 - Cidade virtual do Rio de Janeiro. Visão geral 1. Fonte:
Durante o EPHIS, uma das perguntas que me foi feita era sobre como havia aplicado esta proposta de estudo em sala de aula. Expliquei que só utilizei tal fonte em aulas na universidade, onde já consegui uma resposta positiva, o interesse de todos. Quanto à métodos, sabemos que não há uma receita, e sim a necessidade de reconhecer nossos alunos como sujeitos ativos da História. Estas novas narrativas/linguagens são suportes, caminhos para gerar esse sentimento de pertencimento e protagonismo em seus processos de aprendizagem.
Considerações finais
Contra tudo que escrevi e comuniquei desde o início, não poderia ter aqui uma conclusão, de métodos, fontes, estratégias de ensino, todavia, acredito que chegamos à um ponto em comum: existem outras linguagens além das tradicionalmente utilizadas como fontes pela História. Além disso, percebi assim as potencialidades destas através do exemplo de Lado a Lado, em que mesmo como professora revi conceitos, refleti sobre a sociedade em que vivemos. Por fim, se consegui que os participantes do EPHIS e os leitores deste trabalho tivessem um tempo de reflexão sobre o assunto e uma renovação de seus olhares ao ensino, meu objetivo foi realizado.
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