# 54 – julho 2015

Estilos musicais A mistura mineira do

udo começou em 1963, em Belo seresteiro Godofredo Guedes, que tinha Horizonte. O cantor, compositor e vindo de Montes Claros. Juntos, os dois T instrumentista (na meninos que haviam se conhecido por causa foto, primeiro à esquerda) tinha acabado de de um patinete, montaram a banda The chegar de Três Pontas, onde tocava na banda Beavers, inspirada no quarteto inglês. Assim W’s Boys com o pianista , e foi surgia o embrião do Clube da Esquina. A morar numa pensão no Edifício Levy, na troca de ideias avançou pelas noites no bar cinzenta Avenida Amazonas, no centro da Saloom e nas sessões no Cineclube SEC. cidade. Lá, em outro apartamento, viviam os irmãos Borges – doze ao todo. No começo, Enquanto isso, Milton Nascimento, o grande Milton se enturmou com o mais velho deles, aglutinador dessa cena, continuava cantando Marilton, com quem foi tocar no grupo na noite e compondo. Em 1966, tirou o Evolussamba. Logo, estaria fazendo amizade quarto lugar no Festival Nacional de Música também com Márcio (segundo) e com o Popular da TV Excelsior de São Paulo pequeno Lô (quarto), de apenas dez anos de cantando Cidade Vazia, de Baden Powell e idade, que desceu certa vez as escadas do Lula Freire. No mesmo ano, Elis Regina prédio para ver de quem era aquela voz e gravou uma música de Milton, Canção do Sal. aquele violão que o encantavam. Em 1967, inscritas à sua revelia pelo cantor Agostinho dos Santos, três músicas suas Os encontros entre Milton e os dois irmãos acabaram vingando no II Festival eram sempre no quarto dos Borges, em Internacional da Canção: Travessia em noites regadas a batida de limão. Márcio segundo lugar, Morro Velho em sétimo e tornou-se o letrista das primeiras Maria, Minha Fé, que ficou entre as 15 composições de Milton, Novena, Gira Girou e finalistas. Era o começo do estrelato para Crença, criadas em 1964. Enquanto isso, Lô Milton Nascimento, que logo foi apresentado estudava harmonia com o guitarrista Toninho aos americanos com o disco Courage (1968), Horta (quinto) e devorava discos dos Beatles gravado por lá com arranjos de Eumir com outro menino, , filho do Deodato.

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Enquanto isso, a turma de músicos mineiros com Novelli, Danilo Caymmi e reunida por Milton e os Borges não parava de e em seguida fez A Página do Relâmpago crescer, com a chegada de Flávio Venturini, Elétrico e Amor de Índio. Lô Borges gravou os Vermelho e Tavinho Moura, que apresentou elogiados Lô Borges e Via Láctea. Flávio muitas das canções folclóricas mineiras que Venturini foi para O Terço, banda que lançou Milton gravaria em Gerais (1976). Eles se discos mais voltados para o rock progressivo apresentavam em shows chamados Fio da e depois daria origem ao pop 14 Bis (de Navalha com Lô Borges, Beto Guedes e Vermelho e Magrão). Wagner Tiso, por sua Toninho Horta. Faltava apenas batizar essa vez, partiu para a carreira solo instrumental e reunião de músicos. Um dia, na esquina da Tavito (que era do Som Imaginário) lançou-se Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis, no como cantor e compositor (e teve os bucólico bairro de Santa Teresa, Milton e os sucessos Casa no Campo, parceria com Zé irmãos Borges fundaram o Clube da Esquina, Rodrix, e Rua Ramalhete). Em 1978, Milton irmandade unida no interesse por música, Nascimento lançou o disco duplo Clube da política, amizade e uma cachacinha das Esquina 2, reunindo a sua velha turma e boas. O nome foi ideia de Márcio que, alguns novos integrantes. Entraram canções sempre ao ouvir a mãe, Dona Maria, como Nascente (Flávio Venturini e Murilo perguntar por onde andavam os meninos Antunes), Maria, Maria (Milton e Brant), Tanto Borges, dizia: "Claro que lá na esquina, (Beto Guedes e Ronaldo Bastos), Pão e Água cantando e tocando violão". Em comum entre (os irmãos Borges e Roger Motta), Olho os integrantes, a origem de classe média, o d´Água (Paulo Jobim e Ronaldo Bastos) e grande interesse por assuntos culturais e Mistérios (Joyce e Maurício Maestro), Meu políticos e a disposição de privilegiar os Menino (Danilo Caymmi e Ana Terra) e temas sociais em detrimento do amor nas Toshiro (de Novelli). A essa altura, o som por letras. Antes mesmo que se formalizasse um ele inspirado em Minas tinha dado outros movimento (que, de acordo com seus frutos, como o Uakti, banda de integrantes, nunca se formalizou), Milton e Lô experimentalismo radical, que inventou seus Borges entraram em 1972 nos estúdios da próprios instrumentos. EMI para gravar o primeiro Clube da Esquina. Com uma capa que trazia apenas a foto de A partir da década de 80, em parte como dois meninos, um preto e um branco, na reação à diluição das ideias do Clube da beira de uma estrada em Nova Friburgo, o LP Esquina, viu nascer uma apresentou ao país a alquimia sonora fornada de bandas de rock que em nada gestada por aquele grupo de mineiros, ao pareciam ter sido influenciadas por aqueles qual se agregaram ainda o letrista Ronaldo músicos: o Sepultura (que, com sua original Bastos (terceiro) e o grupo Som Imaginário solução para o heavy metal, tornou-se a (de Wagner Tiso): bossa nova, Beatles, banda brasileira de rock mais conhecida no toadas, congadas, choro, jazz, folias de reis e exterior), o Skank, Pato Fu e Jota Quest. rock progressivo, tudo reunido numa música original, de apelo universal e grande força Caetano Veloso destacou o papel do poética. Canções como O Trem Azul (de Lô e movimento mineiro. ―Sem apresentar ruptura Ronaldo, regravada por ninguém menos que com as conquistas da bossa-nova, exibindo Tom Jobim em seu último disco, Antônio especialmente uma continuidade em relação Brasileiro), Tudo o que Você Poderia Ser (Lô e ao samba-jazz carioca, Milton sugeriu uma Márcio), Nada Será Como Antes e Cais fusão que – partindo de premissas muito (ambas de Milton e Ronaldo) foram o marco outras e de uma perspectiva brasileira – zero para aquele que foi um movimento confluía com a fusion inaugurada por Miles musical tão importante quanto a Tropicália. Davis. Essa fusão brasileira desconcertou e apaixonou os próprios seguidores da fusion Logo, cada um dos sócios do Clube estaria americana‖, escreveu o baiano no prefácio seguindo o seu caminho, lançando seus do livro ―Os sonhos não envelhecem‖, de próprios discos – Beto Guedes rachou um LP Márcio Borges. # 54 – julho 2015

Ao pé da letra Travessia

or volta de 1965, Milton Nascimento se estou só e não resisto mudou para São Paulo, determinado a muito tenho pra falar P seguir a carreira artística. Encontrava- se com Fernando Brant e Márcio Borges de Solto a voz nas estradas 15 em 15 dias – todo mundo viajando de já não quero parar ônibus nos fins de semana. Milton havia meu caminho é de pedra composto Pai Grande e Morro Velho, que como posso sonhar chamaram a atenção da cantora Elis Regina. sonho feito de brisa Em 1967, Milton mostrou uma tristonha vento vem terminar melodia a Brant. E pediu: ―Queria que você vou fechar o meu pranto fizesse a letra pra ela‖. Em depoimento, o vou querer me matar amigo revelou sua reação: ―Não mexo com isso, não sei, nunca fiz‖. Era coisa para o Vou seguindo pela vida Marcinho Borges, alegou. me esquecendo de você eu não quero mais a morte Famoso por sua obstinação, Bituca não tenho muito que viver desistiu. Propôs o tema: um caixeiro-viajante vou querer amar de novo que passava por uma cidade, namorava por e se não der não vou sofrer lá, mudava-se para outra e ia deixando já não sonho amores em seu rastro. Fernando teve outra hoje faço com meu braço o meu viver ideia: cantar o drama de alguém que parte e deixa o outro desesperado. Assim nasceu a primeira parceria entre ambos, Travessia, cujo título seria encontrado no texto do livro Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa, mas precisamente em sua última palavra.

Esta canção excepcional mostra que Milton já começou fazendo música séria e não apenas música bonita, como analisaria o arranjador Eumir Deodato, em depoimento a Zuza Homem de Mello, em 1968: ―Até hoje não consegui descobrir o impulso rítmico que ele dá às suas músicas. É uma coisa totalmente nova, misteriosa, intrigante e desafiadora‖. Qualificada como ―toada que vem de Minas‖, acabou por se classificar em segundo lugar no II Festival Internacional da Canção (FIC), no , em 1967, proporcionou o prêmio de melhor intérprete a Milton Discos onde ouvir: Nascimento e ainda se tornou um clássico. Milton Nascimento – (1967) Agostinho dos Santos – Música Nossa (1967) Quando você foi embora Elis Regina – Elis (1974) fez-se noite em meu viver Luiz Eça & Victor Assis Brasil – No MAC (1993) forte eu sou mas não tem jeito Flávio Venturini – Trem Azul (1998) hoje eu tenho que chorar minha casa não é minha Veja também: e nem é meu este lugar https://youtu.be/kDe3qOhrJLo # 54 – julho 2015

Telinhas e telonas Império, a novela que vai brilhar

anal 12 estreou a produzida sugere que ele comece a trabalhar com a pela TV Globo, Império, que exibe de exploração de pedras preciosas. Depois de Osegunda a quinta, às 21:30 horas. uma passagem pelo Monte Roraima, que culmina com a morte de Sebastião, José Final dos anos 1980, bairro carioca de Santa Alfredo parte para a Suíça, onde vai conhecer Teresa. O pernambucano José Alfredo (Chay Maria Marta (Adriana Birolli), uma jovem Suede), 22 anos, chegou há dois meses ao brasileira proveniente de família tradicional Rio de Janeiro ―para tentar a vida na grande decadente. O rapaz vê a possibilidade de ter cidade‖, mas ainda não arranjou trabalho. o seu nome conhecido na alta sociedade e Hospedado na casa do irmão Evaldo (Thiago casa-se com ela. José Alfredo também vai Martins), logo se vê completamente conhecer a empresária portuguesa Maria apaixonado pela mulher deste, Eliane Joaquina (), que vai infiltrá-lo (Vanessa Giácomo). A paixão é mútua. A irmã no mercado de contrabando de pedras de Eliane, Cora (Marjorie Estiano), candidata preciosas, meio pelo qual o dinheiro aparece a solteirona e ressentida, que vive com o mais fácil e rapidamente do que o trabalho casal, é a primeira a perceber o que está lento e honesto, na visão deles. acontecendo. E, já prevendo o desastre, pressiona a irmã a ―acabar com aquela Anos depois, José Alfredo de Medeiros loucura‖. Mas José Alfredo e Eliane já (Alexandre Nero) é um homem milionário, planejam uma fuga para recomeçar uma chamado de Comendador e já divorciado de nova vida juntos. No dia da fuga, Eliane Maria Marta (Lília Cabral), que dedica a sua descobre que está grávida, e num plano vida a infernizar o ex-marido e ter ardiloso de Cora, acaba abandonando José participação ativa nos negócios da Alfredo, que decide ―sumir no mundo‖. joalheria Império, o empreendimento que enriqueceu a família. Os três filhos do ex- Sozinho, José Alfredo parte rumo ao casal são a designer de jóias Maria Clara desconhecido e acaba conhecendo o (Andreia Horta), preferida do pai; o ambicioso misterioso Sebastião (Reginaldo Faria), que José Pedro (Caio Blat), preferido da mãe, com # 54 – julho 2015 quem vive armando para tirar o pai do poder; Mendes, Caio Blat, Othon Bastos e Dani e João Lucas (Daniel Rocha Azevedo), o Barros. Paulo Betti, Paulo Vilhena e Aílton problemático caçula cujo apego ao pai não Graça dividiram opiniões. Muitos torceram o impede que este detecte nele todos os sinais nariz para o histrionismo de Betti, como o de um caráter fraco, indolente e jornalista fofoqueiro Téo Pereira; para os o irresponsável. Enquanto isso, José Alfredo se exageros do pintor maluquinho Salvador (de dedica aos negócios e a se encontrar com a Vilhena); e para a caracterização surreal de amante Maria Ísis (Marina Ruy Barbosa), uma Aílton Graça, como a cross-dresser Xana. ninfeta projetada pela mãe Magnólia (Zezé Polessa) e pelo pai Severo (Tato Gabus As primeiras chamadas da novela vendiam Mendes) a tirar dinheiro de José Alfredo. Cora, a personagem de , como a grande vilã de Império. A expectativa também A queda do império de José Alfredo começa foi grande. Mas, infelizmente, Cora ficou na quando seu talismã, um poderoso diamante promessa e acabou se transformando numa rosa da África do Sul, símbolo de status e vilã cômica, ―pé-de-chinelo‖, com direito a poder, desaparece no Monte Roraima. Em flatulência e fungada em cuecas de sua visão mística, José Alfredo acredita que marmanjos. Para piorar a situação, Drica tudo vai por água abaixo caso ele não Moraes foi afastada da novela por motivos de encontre a sua pedra preciosa favorita e se saúde. Em seu lugar, o autor preferiu trazer livre de um falso brilhante que ficou no lugar. de volta Marjorie Estiano, que vivera a E uma história do seu passado, que ele personagem na primeira fase da trama, julgava morta e enterrada, ressurgirá em sua quando Cora era jovem. Aguinaldo Silva vida através de Cristina (Leandra Leal), a filha mandou a lógica pros ares e não apresentou de Eliane (Malu Galli). Influenciada por Cora nenhuma explicação plausível para o (Drica Moraes) após a morte dos pais, e para repentino rejuvenescimento de Cora – um conseguir meios de tirar da cadeia o irmão, verdadeiro golpe de realismo fantástico que foi responsabilizado por um incêndio no dentro da proposta realista de Império. camelódromo onde trabalham, ela exigirá do Marjorie Estiano, por sua vez, apresentou Comendador um teste de paternidade graças uma Cora mais visceral, que, talvez, tivesse ao qual se tornará o mais novo membro de rendido bem mais se tivesse sido ela a sua família, para o desespero de Maria Marta intérprete desde o começo. e seus filhos. Além de locações em Petrópolis (no Rio de A novela, que teve como título provisório Janeiro), em Genebra (na Suíça) e Annecy (na Falso Brilhante, foi escrita por Aguinaldo Silva França), a equipe de produção e alguns dos e teve direção geral de Rogério Gomes. ―A principais nomes do elenco gravaram as receita é drama, base do folhetim. Resolvi primeiras cenas no município de Carrancas, resgatar a origem clássica da novela‖, explica no interior de , que representa Aguinaldo. ―Tem ingredientes do melodrama na história o Monte Roraima. Ao todo foram e do folhetim que foram sucesso nas três semanas de gravação, com a novelas.‖ participação de 130 profissionais, em lugares como a Chapada do Abanador, Gruta da Alexandre Nero, estreando como Ponte e Cachoeira do Turco. ―Carrancas tinha protagonista, viveu o Comendador José um lugar que se assemelhava muito ao Alfredo de Medeiros, numa brilhante Monte Roraima. É o lugar mais alto da serra, caracterização. Como apoio ao personagem é uma floresta de pedra que nos remetia de Nero, outra grande interpretação: Lília muito ao Monte. Se nós tivéssemos que ficar Cabral, como a arrogante e espirituosa Maria no Monte Roraima mesmo, seria sol e chuva Marta, a ex-mulher do Comendador. Também o tempo todo, sem proteção e defesa. E em merecem destaque os esforços de Leandra Carrancas os lugares conseguem nos dar Leal, Drica Moraes, Marjorie Estiano, José estrutura para podermos trabalhar‖, explicou Mayer, Suzy Rêgo, Zezé Polessa, Tato Gabus o diretor Pedro Vasconcellos. # 54 – julho 2015

Tem fome de que Todo mundo gosta de acarajé

saberes do ofício são transmitidos por gerações, e precisamos fomentar políticas públicas de preservação‖, afirma Mônica.

Como forma de resguardar a diversidade cultural, a Prefeitura do Rio regulamentou, em 2011, a venda do bolinho nas ruas. Hoje, é possível saborear um autêntico acarajé em 29 barracas espalhadas da Zona Norte à Sul. Para além de uma simples atividade comercial, a ocupação dos espaços públicos pelas baianas —vestidas com seus turbantes,

panos e colares de conta— resgata os ritos entro de uma vasilha, a massa feita das religiões afro e fortalece a cultura negra. com feijão fradinho moído, cebola e

sal é remexida até atingir o ponto D ―Não é só o preparo de uma comida certo. Em seguida, com a ajuda de uma qualquer. É um ritual, no qual oferecemos o colher especial, pequenas partes da mistura alimento aos orixás do candomblé. É são mergulhadas no azeite de dendê quente. importante que essa tradição saia dos Visivelmente crocantes, os bolinhos são guetos, seja incentivada e se mantenha viva‖, retirados da frigideira e recheados com uma conta Dó, carioca que desempenha o ofício camada de pimenta e generosas porções de de baiano de acarajé há 25 anos. vatapá, caruru, camarões fritos e salada de tomates verdes. De mãos habilidosas, nasce O cardápio das baianas inclui outros quitutes uma delícia da gastronomia afro-brasileira: o como abará (bolinho de feijão), passarinha acarajé. (baço bovino frito), mingaus, lelê, bolinho de

estudante, cocadas e pé de moleque. Tudo ―O acarajé é um só. O que muda é o toque elaborado artesanalmente. Nascida na Bahia especial de cada baiana. Mas o grande e há 31 anos no Largo da Carioca, Cida diferencial é o carinho. Muita gente vem aqui Bahiana ressalta que o preparo da culinária e diz que vai embora mais feliz e curado das da sua terra não é tão fácil como cozinhar tristezas. Essa é a magia do típico acarajé‖, feijão e arroz: ―O acarajé, o vatapá, o caruru e conta Nega Teresa, soteropolitana de 42 todas as receitas herdadas dos negros anos de idade, 28 deles passados nas ruas escravos são comidas dos deuses. São de Rio de Janeiro como baiana de acarajé. insubstituíveis. E dá trabalho para fazer. Eu

acordo bem cedo, todos os dias, para O ofício é considerado Patrimônio Imaterial preparar os alimentos. Quero que tudo seja Brasileiro pelo Iphan. Só no Estado do Rio, o vendido bem fresquinho‖. instituto identificou, nos últimos cinco anos,

81 baianas (e baianos) de acarajé. Mas, esse Dó conta que, em Salvador, há um número pode ser maior. Mônica da Costa, movimento de baianas que se converteram assessora de patrimônio imaterial do Iphan às religiões evangélicas e, para não perder o no Rio, diz que o próximo passo é fazer, com trabalho que desenvolvem há anos, a ajuda das prefeituras, um mapeamento passaram a vender o chamado acarajé de mais detalhado das baianas que atuam em Jesus. ―É uma descaracterização cultural. No todo o interior do estado. ―Sabemos que Rio, somos um grupo pequeno de baianas, existem mais baianas de acarajé no Rio. Por mas nossa essência ainda está no isso, pretendemos encontrá-las e saber quais candomblé‖, opina o baiano. são as suas demandas e necessidades. Os # 54 – julho 2015

Boca no trombone A latino-americanização do Brasil

ara quem acompanhou a trajetória do Cabe lembrar também o chamado boom da Brasil desde os anos 1970, chama a literatura latino-americana que, na mesma P atenção, hoje, um fenômeno que pode década, trouxe Guimarães Rosa aos países ser qualificado, em certa medida, como hispânicos e levou para os leitores brasileiros latino-americanização do país –entendida uma safra de brilhantes escritores como não apenas como o estabelecimento de García Márquez e Julio Cortázar, sem nexos econômicos com os Estados da região, esquecer o trabalho silencioso e mas, sobretudo, como o surgimento de um perseverante de intelectuais como Ángel discurso político que decididamente insere a Rama e Emir Rodriguez Monegal, dois nomes identidade do Brasil na matriz latino- contrapostos ideologicamente que, junto com americana. A latino-americanização é Antonio Candido e Haroldo de Campos igualmente visível no ambiente universitário respectivamente, construíram parcerias que brasileiro, onde é cada vez maior o número redundaram na abertura de vias de de professores que desenvolvem parcerias comunicação e conhecimento mútuo entre com pesquisadores da região ou que hispano-americanos e brasileiros no contexto incorporam, na sua matriz empírica e da cultura universitária. Outro fator refere-se comparativa, a experiência dos países à guinada da política externa brasileira hispano-americanos. Também é maior a efetivada, por motivos econômicos e aproximação dos estudantes à língua e à políticos, na fase terminal do regime militar. cultura dos países vizinhos, via convênios de intercâmbio, ou fazendo por conta própria A internacionalização da economia brasileira uma viagem para culminar sua formação. nas décadas de 60 e 70 explica, em parte, a orientação para o Sul, impulsionada pela Essas mudanças são fruto de longo processo busca de mercados regionais; mas houve que contempla variáveis de natureza outros fatores intervenientes, entre eles a socioeconômica, cultural, tecnológica e ruptura, durante a presidência de Ernesto institucional. Mas para que não fique tudo Geisel, do acordo de assistência militar com em mãos da chamada globalização recente, os Estados Unidos, em função das pressões propiciada, entre outras coisas, pela do governo Carter sobre direitos humanos. extraordinária revolução nos meios de Por outro lado, o regime autoritário reativou, comunicação, vale a pena mencionar sobretudo na sua fase mais truculenta, um brevemente alguns antecedentes. Primeiro, o dispositivo estrutural da política latino- papel que tiveram instituições-chave como a americana até então, que veio a ter um Cepal, que, nas décadas de 40 e 50, impacto extraordinário sobre o tema aqui congregou hispano-americanos e brasileiros tratado: o exílio, que levou parte de uma da estatura intelectual e moral de um Celso geração de intelectuais brasileiros à Furtado e de outros que, na elucidação das convivência em países hispano-americanos causas do subdesenvolvimento, ou europeus, onde desenvolveram um senso consideraram a América Latina não só uma de identidade e vínculos de solidariedade unidade analítica, mas uma união a ser continental que logo seriam reforçados construída politicamente pelos Estados. Em politicamente por eles próprios, quando segundo lugar, eventos políticos dramáticos, passaram a se constituir em governo ao como a revolução cubana que, nos anos 60, longo da terceira onda democrática. E foi na esteira do pensamento de José Martí, assim que o interesse pela América Latina suscitou o encontro e o estabelecimento de acabou sedimentado no campo da economia, vínculos entre intelectuais brasileiros e no discurso político e na cultura acadêmica hispano-americanos em torno da Casa das brasileira. Américas e da revista Pensamiento Crítico. # 54 – julho 2015

Navegar é preciso Elis continua viva

este ano de 2015, a cantora Elis No ano passado teve a peça ―Elis, a Musical‖, Regina completaria 70 anos de vida e estrelada pela atriz Laila Garin, que N 50 de carreira, e, por isso, já ganhou personificou a cantora e mostrou no palco diversas homenagens. várias passagens importantes de sua vida e carreira. Já neste ano, em fevereiro, um Foi lançado o novo Site Oficial organizado samba-enredo em homenagem a Elis Regina pela família, que reúne todo o conteúdo da rendeu à escola de samba Vai-Vai o título de exposição ―Viva Elis‖ (que rodou o Brasil em campeã do Carnaval paulistano. O desfile foi 2013) e muitos outros materiais inéditos. considerado impecável e raras vezes se viu no Sambódromo de São Paulo sambistas tão Em www.elisregina.com.br compila-se mais emocionados durante boa parte do desfile – de 500 fotos de Elis ao longo da carreira, entre eles, a cantora Maria Rita, que vídeos desconhecidos do público, áudios conduziu o espetáculo como mestre de exclusivos e o download gratuito do livro cerimônia da comissão de frente. ―Viva Elis‖, uma biografia artística focada em sua carreira, de autoria de Allen Guimarães. Além do novo site, Elis Regina acaba de ―Decidimos criar o site com o objetivo de ganhar a biografia ―Nada Será Como Antes―, alimentar a memória de Elis, a obra e a do jornalista Júlio Maria. E mais. O diretor pessoa, através de seus discos, Hugo Prata prepara, ainda sem previsão de apresentações ao vivo, entrevistas, fotos, lançamento, um filme sobre a história da reportagens e depoimentos. Todos esses cantora, com roteiro de Nelson Motta e Luis itens poderão ser vistos e ouvidos no site Bolognese. Isso tudo, além de uma gratuitamente, tendo muito material inédito minissérie sobre Elis e um relançamento do que será publicado ao longo do tempo‖, clássico álbum de 1972 ao lado de Cesar completa seu primogênito, João Marcello. Camargo Mariano, Elis Regina.