Palácio Itamaraty Itamaraty Palace

Palácio Itamaraty – Apresentação | 3 Itamaraty Palace – Presentation | 4 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| O Palácio Itamaraty e seu anexo em construção | | The Itamaraty Palace and its annex in construction | Palácio Itamaraty – Apresentação | 5 Itamaraty Palace – Presentation |

É com prazer que apresento esta publi- It is with pleasure that I present this pub- cação, produzida para servir de guia e lication, compiled to serve as a guide and apoio aos visitantes e admiradores do support to the visitors and admirers of the Palácio Itamaraty, obra-prima de Oscar Itamaraty Palace - a masterpiece by . Niemeyer.

Todos nós, diplomatas, sentimos orgulho ao falar All of us diplomats proudly to talk about Itamaraty. do Itamaraty. Esse verdadeiro palácio–museu en- This true palace-museum comprises the spirit cerra em sua arquitetura, em seus espaços e no which guides our diplomacy in its architecture, in seu acervo o próprio espírito que norteia a nossa its spaces, and in its assets – a diplomacy whose diplomacia, cujos alicerces estavam presentes na- foundations were present in that “certain idea of quela “certa idéia de Brasil”, pensada e realizada ”, thought of and accomplished by our pa- por nosso patrono, o Barão do Rio Branco. tron, the Baron of Rio Branco. Último dos palácios de Brasília a ser construído, The last of the palaces of Brasilia to be built, the a Chancelaria brasileira foi o primeiro ministério Brazilian chancellery was the fi rst Ministry to be a transferir-se totalmente do para completely transferred from Rio de Janeiro to a nova capital federal. A mudança da Chancelaria the new federal capital. Its transfer was a decisive marcou decisivamente a consolidação de Brasília, mark in the consolidation of Brasilia, a city that que representava a ascensão de um Brasil moder- represented the rise of a modern Brazil, creative no, criativo e confi ante no seu destino. and confi dent in its destiny. Em 1967, transferiu-se defi nitivamente o gabinete In 1967, the offi ce of the Minister of External Rela- do Ministro de Estado das Relações Exteriores e tions was transferred defi nitively, and the fi rst pro- tiveram início os primeiros atos públicos. No mes- tocolary ceremonies in the city were organized. In mo ano, por decreto presidencial, o prédio – ini- the same year, the building – initially called Arch cialmente chamado Palácio dos Arcos – passou Palace – was renamed by presidential decree It- 6 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Oscar Niemeyer, Juscelino Kubitschek e Israel Pinheiro | | Oscar Niemeyer, Juscelino Kubitscheck, and Israel Pinheiro | a chamar-se Palácio Itamaraty, denominação do tradicional imóvel da antiga sede, no Rio de Ja- neiro, e que serve de designação, consagrada in- ternacionalmente, para a Chancelaria brasileira. A inauguração ofi cial do Palácio ocorreu em 21 de abril de 1970, quase dez anos após o lançamento de sua pedra fundamental. A sede da Chancelaria foi desenhada, no plano original da cidade, para ser um prédio idêntico aos outros ministérios. O padrão proposto foi, depois, substituído pelo projeto de se construir um edi- fício em dois blocos, ligados por passagens: um anexo para a administração e outro para abrigar as dependências de caráter diplomático e de re- presentação. O conjunto seria ampliado em 1980 com a inauguração do Anexo II, informalmente conhecido como “Bolo de Noiva”, também proje- tado por Niemeyer. O Palácio é uma espécie de cartão de visita do amaraty Palace, after the traditional estate seated Brasil e traduz, em cada um dos seus detalhes, in Rio de Janeiro. It is the internationally renowned idéias e valores caros à diplomacia brasileira. Pri- designation of the Brazilian chancellery. The offi - meiro, a inspiração no passado, no esforço e no cial inauguration of the Palace took place on April talento daqueles que tanto fi zeram pelo Brasil. A 21st, 1970, almost ten years after the laying of the força do Palácio nos envolve como um legado. foundation stone. Segundo, a vibração do presente, refl exo da de- In the original city plan, the seat of the chancellery dicação cotidiana de todos nós na busca de um was designed identical to the other Ministry build- país melhor, de um mundo mais justo e solidário. ings. The proposed standard building was then re- E, terceiro, a utopia do futuro, para o qual o Palácio placed by the project of a building with two blocks parece a todo tempo apontar, na dualidade de sua connected by passages: a main block to shelter elegância e simplicidade, nas suas formas arejadas the diplomatic and representative offi ces and an e amplas. annex for the administration. The ensemble was Para estar à altura da sede da Chancelaria bra- amplifi ed in 1980 with the inauguration of the sileira e expressar a ousadia pioneira da nova Annex II, informally known as the “Wedding Cake” capital, o Palácio precisava traduzir o talento and also designed by Niemeyer. da arquitetura moderna brasileira. Devia ser ao The Palace is a calling card of Brazil and expresses, mesmo tempo criativo e funcional, a ponto de in each one of its details, ideas and values dear conciliar o moderno com o monumental, a sim- to the Brazilian diplomacy. Foremost, it expresses plicidade com a elegância. the inspiration drawn from the past, the effort and Palácio Itamaraty – Apresentação | 7 Itamaraty Palace – Presentation |

| Wladimir Murtinho | | Wladimir Murtinho | the talent of those who did so much for Brazil. The force of the Palace surrounds us as a legacy. Secondly, the Palace expresses the vivacity of the present, a refl ection of our constant dedication in search of a better country, of a fair and solidary world. Finally, it expresses the utopia of the future, to which the Palace seems to point at all the times through the duality of its elegance and simplicity, in its open, wide forms. To be worthy of the seat of the Brazilian chancel- lery and express the pioneer daring of the new capital, the Palace needed to represent the tal- ent of modern Brazilian architecture. At the same time, it had to be creative and functional, reconcil- ing the modern with the monumental and simplic- ity with elegance. It is through this quality that the nudity of the steel and concrete, one of the peculiarities of the É nesse ponto que a nudez do concreto armado, Palace, acquires, in the words of Yves Bruand, “a um dos traços característicos do Palácio, vai ad- nobility and delicacy without equal ... Until then, quirir, nas palavras de Yves Bruand, “uma nobreza no one had ever dared to use it as a sophisticated e delicadeza sem igual. (...) Até então, ninguém ti- element in an essentially aristocratic work, like a nha ousado empregá-lo como elemento sofi stica- palace deserving of the name; well, this was the do numa obra de essência aristocrática, como era tour de force of Niemeyer, and his attempt re- um palácio que realmente merecesse esse nome; vealed itself to be a master-stroke.” ora, foi esse o tour de force de Niemeyer e sua The Palace causes an unmistakable impression tentativa se revelou um golpe de mestre.” on those who visit it. This can be noticed through É assim que o Palácio imprime uma marca incon- many subtle elements, like the equilibrium be- fundível àqueles que o visitam. Isso se nota por tween the four identical façades, the symmetry of uma série de elementos sutis, como o equilíbrio the external arches, the composition of concrete das quatro fachadas idênticas, a simetria dos ar- and glass, the audacity of the spacious interior, or cos externos, a composição do concreto com o the contrast between the architectonic building vidro, a audácia dos grandes espaços internos ou and the refl ecting pool surrounding it. o contraste entre a construção arquitetônica e o On the reflecting pool there are over eighty spe- espelho d’água que a circunda. cies of tropical plants from the Cerrado and the O espelho d’água é ocupado por mais de oitenta Amazon - a work of . Thanks variedades de plantas tropicais, do cerrado e da to this great landscape gardener, says Mario Amazônia, obra de Roberto Burle Marx. Graças a Pedrosa,| Jardins Roberto “modern Burle Brazilian Max | architecture finds 8 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Palácio Itamaraty - vista frontal, jardim Burle Max e O Meteoro - obra de Bruno Giorgi | | Itamaraty Palace – front view, Burle Marx garden and The Meteor – work by Bruno Giorgi | Palácio Itamaraty – Apresentação | 9 Itamaraty Palace – Presentation |

esse grande paisagista, diz Mário Pedrosa, “a arqui- its environment, its integration with nature. And tetura moderna brasileira encontra seu ambiente, the national plebeian plants, like the native cro- sua integração na natureza. E as plantas nacionais tons of which we have over a dozen species in plebéias, como, por exemplo, os crótons nativos the most beautiful and transparent tones, were de que temos mais de uma dúzia de variedades, accepted into the new gardens.” Burle Marx is nos tons mais belos e transparentes, obtiveram responsible for the inner gardens of the Palace carta de entrada nos novos jardins.” Burle Marx and the paintings and tapestry of the art col- é também responsável pelos jardins internos do lection. Palácio, bem como por quadros e tapeçarias do As if fl oating over the refl ecting pool, the famous acervo de arte. sculpture - The Meteor, by Bruno Giorgi - ap- Como que a fl utuar sobre o espelho d’água, apare- pears, one of the symbols of Brasilia and Itama- ce a famosa escultura O Meteoro, de Bruno Giorgi, raty itself. The marble sculpture carved in Carrara, um dos símbolos de Brasília e do próprio Itamaraty. Italy, weighs 30 tons and symbolizes the integra- A escultura de mármore esculpido em Carrara, na tion among the fi ve continents and the peaceful Itália, pesa 30 toneladas e simboliza a integração relations among the peoples, the ultimate goal entre os cinco continentes e as relações pacífi cas of diplomacy. entre os povos, objetivo último da diplomacia. In addition to the creative project of Niemeyer, the Além do projeto criativo de Niemeyer, a equipe de construction team counted on important names construção contou com nomes de peso como Is- like Israel Pinheiro, Olavo Redig de Campos, and rael Pinheiro, Olavo Redig de Campos e Milton Ra- Milton Ramos. Besides representing Niemeyer in mos. Além de Milton Ramos representar Niemeyer Brasilia during the construction period of the pal- em Brasília à época das obras de construção do ace, Ramos, along with Joaquim Cardoso, is also Palácio, é de sua autoria a escada helicoidal que responsible for the spiral staircase that connects liga o térreo ao segundo piso, projetada em par- the ground fl oor to the second fl oor. ceria com Joaquim Cardoso. Another unforgettable name is that of Ambas- Outro nome inesquecível é o do saudoso Embai- sador Wladimir Murtinho, who injected great en- xador Wladimir Murtinho, que injetou grande entu- thusiasm into the work when he arrived in Brasilia siasmo à obra quando de sua chegada a Brasília, from Tokyo in 1963. The internal appearance of vindo de Tóquio, em 1963. A aparência interna do Itamaraty Palace, so well prepared to receive for- Palácio Itamaraty, preparado para receber autorida- eign authorities, owes a lot to the vision, work eth- des estrangeiras, muito deve à visão, capacidade de ic, and wisdom of Ambassador Murtinho. Brazilian trabalho e sabedoria do Embaixador Murtinho. A di- diplomacy paid him a posthumous homage, giving plomacia brasileira o homenageou postumamente, his name to the Palace’s auditorium. dando seu nome ao auditório do Palácio. Aside from the architecture and yet an integrated Além da arquitetura, e totalmente integrada a ela, part of it, the art collection of Itamaraty deserves merece destaque o importante acervo de obras de a spotlight, bestowing value to the building’s in- arte do Itamaraty, que valoriza o seu interior e com- terior and harmoniously combining tradition and bina, de forma harmônica, tradição e inovação. innovation. 10 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

No imenso vão do andar térreo, encontra-se a In the immense bay of the ground fl oor, one fi nds escultura polivolume de Mary Vieira, Ponto de En- the poly-volume sculpture by Mary Vieira, Rendez- contro, formada por mais de 200 lâminas móveis vous Point, formed by over 200 movable blades of de alumínio anodizado. Um pouco além, está a anodized steel. A little farther ahead is the enig- enigmática escultura A Mulher e sua Sombra, de matic sculpture The Woman and Her Shadow, by Maria Martins. Na lateral, pode-se apreciar a parede Maria Martins. To the sides, passersby can appreci- de mármore em baixo-relevo de Athos Bulcão. Ao ate the low-relief marble wall by Athos Bulcão. In fundo, vemos os jardins aquáticos de Burle Marx. the back, one sees the aquatic gardens of Burle Tudo isso dá a exata medida do constante diálogo Marx. All of this gives the exact measure of the entre arquitetura e arte, que acompanha o visitante constant dialogue between architecture and art, ao longo de todos os espaços do Palácio Itamaraty. which accompanies the visitor alongside all the Além dos quadros e esculturas, integram o acervo spaces of Itamaraty Palace. variado mobiliário, tapeçarias e peças artísticas, Besides all the paintings and sculptures, tapestries como os dois anjos de 1737, que pertenciam à and art pieces also compose the varied furniture Igreja de São Pedro dos Clérigos, demolida na collection, including two angels from 1737 that abertura da Avenida Presidente Vargas, no Rio belonged to the Church of Saint Peter of the Cler- de Janeiro. Atualmente, os anjos estão suspensos ics, demolished for the opening of the Presidente em frente ao espelho negro da Sala Portinari, no Vargas Avenue in Rio de Janeiro. The angels are terceiro andar. now hanging in front of the black mirror of the Também se destaca o teto em madeira policro- Portinari Salon, on the third fl oor. mada do século XVIII, proveniente do salão de mú- Another highlight of the collection is the ceiling in sica de uma fazenda em Paracatu, Minas Gerais. O polychromatic wood from the 18th century, which teto compõe a menor sala de jantar do Palácio, no proceeds from the music room of a farm in Paraca- mesmo terceiro andar. tu, Minas Gerais. The ceiling composes the smallest O Itamaraty tem tradicionalmente uma proximi- dining room of the Palace, also on the third fl oor. dade muito grande com a arte brasileira, a pin- It is Itamaraty tradition to keep ties with Brazilian tura e a escultura, além da literatura. Por anos, art, painting, sculpture, and literature. For years, o Ministério das Relações Exteriores concedeu the Ministry of External Relations granted acqui- prêmios-aquisição na Bienal Internacional de sition awards at the São Paulo International Art Arte de São Paulo e sempre apoiou com entu- Biennial. It has also always enthusiastically sup- siasmo a divulgação da arte e da cultura brasilei- ported the publicizing of Brazilian art and culture ras ao redor do mundo. around the world. Em 1952, por exemplo, o então Ministro das Rela- In 1952, for instance, João Neves da Fontoura, ções Exteriores, João Neves da Fontoura, sugeriu then Minister of External Relations, suggested the o nome do pintor brasileiro Cândido Portinari ao name of the Brazilian painter Cândido Portinari to Secretário-Geral das Nações Unidas, que procura- the United Nations Secretary-General, who was va um artista para compor as duas paredes que se searching for an artist to compose the two walls defrontam na entrada dos delegados junto à ONU, that face each other in the entrance hall of the em Nova York. United Nations building in New York. O trabalho foi encomendado ao pintor pelo Ita- The job was assigned to the painter by Itamaraty, maraty e o resultado são os painéis Guerra e Paz, and the result was the panels War and Peace, cre- obras da criação de um gênio e síntese da própria ations of a genius that epitomize the raison d’être razão de ser da diplomacia. O primeiro painel é of diplomacy. The fi rst panel is seen by those who observado pelos que chegam à ONU e o segun- arrive at UN, and the second, by those who leave. do, pelos que saem. Como lembrou o Presidente As recalled by President Lula during his opening Lula no discurso de abertura da 62ª Assembléia speech at the 62nd UN General Assembly, in Sep- Geral das Nações Unidas, em setembro de 2007, tember 2007, “The message of the artist is simple “a mensagem do artista é singela, mas poderosa: but powerful: transform distress into hope, war transformar afl ições em esperança, guerra em into peace. This is the essence of the United Na- paz, é a essência da missão das Nações Unidas”. tion’s mission.” Os painéis originais têm, cada um, 14 metros de The original panels are each 14 meters high. The altura. Os dois estudos para a sua confecção fa- two studies made for their production are part of zem parte do acervo do Palácio Itamaraty. the collection of Itamaraty Palace. Refl exo da complexidade e riqueza da cultura bra- A mirror of the complexity and wealth of the Bra- sileira, o acervo do Itamaraty suscita refl exões a zilian culture, the Itamaraty collection gives rise to respeito da própria identidade nacional. Nomes refl ections about our own national identity. Names como Portinari, Ianelli, Volpi, Ohtake, Mabe, Segall, like Portinari, Ianelli, Volpi, Ohtake, Mabe, Segall, Weissmann, Martins e Bulcão revelam a origem fa- Weissmann, Martins, and Bulcão reveal the diversi- miliar diversifi cada desses artistas, todos com no- fi ed family origins of artists who played remarkable tável papel na vida do País. Elementos nativos mis- roles in the life of the country. Native and foreign turam-se a contribuições estrangeiras para formar elements mix to form a dynamic and cosmopolitan uma cultura dinâmica e cosmopolita, tão caracte- culture characteristic of Brazilian society. Itamaraty rística da sociedade brasileira. O Palácio Itamaraty Palace offers a perfect space for this integration, oferece um espaço perfeito para essa integração, thanks to the geniality of Oscar Niemeyer. graças à genialidade de Oscar Niemeyer. In 2007, Niemeyer celebrated his 100th birthday Em 2007, Niemeyer completou 100 anos de vida in a life dedicated to Brazilian architecture and dedicada à arquitetura brasileira e ao Brasil. Sua to Brazil itself. His work was defi nitive in molding obra moldou de forma defi nitiva uma idéia de um an idea of a country that imposes itself through país que se impõe pelo talento, elegância e simpli- talent, elegance, and simplicity. In respect to his cidade. Conforme a defi nição do próprio arquiteto work, the architect himself said, “It is not the right em relação a seu trabalho, “não é o ângulo reto angle that attracts me, nor the straight, hard, in- que me atrai, nem a linha reta, dura, infl exível, cria- fl exible line created by man. What attracts me is da pelo homem. O que me atrai é a curva livre e the curve, free and sensual, the curve that I fi nd sensual, a curva que encontro nas montanhas do in the mountains of my country, in the winding 12 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

meu país. No curso sinuoso dos seus rios, nas on- course of its rivers, in the waves of the sea, in the das do mar, no corpo da mulher preferida.” body of the woman I hold dear.” Para homenageá-lo, nada melhor do que um tre- To pay him homage, nothing better than a pas- cho do depoimento de Niemeyer ao descrever as sage from Niemeyer's account describing the noites em que o Presidente Juscelino Kubitschek, nights in which President Juscelino Kubitscheck sozinho em Brasília, convidava sua equipe para (JK), alone in Brasilia, invited his staff for a chat, to uma conversa, ao som do violão: the sound of a guitar: "Reunidos em círculo, diante de JK, fi cávamos a "Assembled in a circle, before JK, we used to listen ouvir suas aventuras. (...) Atentos, escutávamos to his adventures ... Attentive, we would listen to sua dissertação apaixonada, satisfeitos de vê-lo his passionate discourse, satisfi ed in seeing him tão confi ante e otimista. (...) Tarde, uma ou duas so confi dent and optimistic ... Late, around one or horas da madrugada, JK nos acompanhava na sa- two a.m., JK would see us to the door. But then, ída. E aí nos retinha, empolgado com a noite de excited about the night in Brasilia, he would keep Brasília. O céu imenso, cheio de estrelas, os palá- us longer. The immense sky, full of stars, the pal- cios já erguidos a se destacarem com suas formas aces already raised, standing out with their white brancas na enorme escuridão do cerrado. Mansa- shapes in the middle of the darkness of the Cerra- mente, como a me dizer um segredo, JK tomava- do. Tamely, as if telling me a secret, JK would take me pelo braço: Niemeyer, que beleza!" me by the arm and say: Niemeyer, what beauty!"

Brasília, (dia) de (mês) de 2009 Brasilia, Month day, 2009.

Embaixador Celso Amorim Ambassador Celso Amorim Ministro das Relações Exteriores Minister of External Relations Palácio Itamaraty – Apresentação | 13 Itamaraty Palace – Presentation |

| Jardins Roberto Burle Max | | Gardens, Roberto Burle Marx |

16 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

O Palácio Itamaraty em Brasília The Itamaraty Palace in Brasilia

Quem hoje passeia pelos amplos espaços desse Those who walk today through the wide spac- Palácio e se depara com a harmonia eclética da es of this modern architectural icon and come coleção de obras de arte abrigada nesse ícone across the eclectic harmony of the artwork it da arquitetura moderna não imagina os esforços shelters cannot imagine the efforts undertaken empreendidos até chegar a esse resultado feliz. to arrive at such a felicitous product. It is also Também é difícil imaginar que, a despeito de alte- hard to imagine that, despite occasional modi- rações pontuais ao longo do tempo, a decoração fi cations along the years, the décor of Itamaraty do Palácio Itamaraty em Brasília é a mesma desde Palace in Brasilia has remained the same since 1970. O arrojo na disposição dos móveis, quadros 1970. The bold arrangement of furniture, paint- e esculturas tem quase 40 anos, o que se deve, em ings, and sculptures seen today is largely owed grande parte, ao então Primeiro Secretário Wladi- to Wladimir Murtinho, when he held the rank of mir Murtinho. Havia um estudo das necessidades First Secretary. The Ministry had prepared a study do Itamaraty, mas pareceu mais conveniente a for Oscar Niemeyer that specifi ed the diplomatic Oscar Niemeyer ser acompanhado por Murtinho, requirements of Itamaraty, but he chose instead que deu sugestões para a adequação do projeto às to work personally with Murtinho, who provided necessidades do Ministério das Relações Exteriores. suggestions for the project. Com base em texto de Sílvia Escorel, depoimento The following is a brief account of the Palace’s do Embaixador Wladimir Murtinho e relatos jorna- construction and the transfer of the Ministry to lísticos de Manuel Mendes, segue breve relato da Brasilia, based on a text by Sílvia Escorel, Ambas- construção do Palácio e da transferência do MRE sador Murtinho’s recollections, and journalistic re- para Brasília. ports by Manuel Mendes. Palácio Itamaraty – Apresentação | 17 Itamaraty Palace – Presentation |

O Prédio The Building Construção e construtores Construction and Constructors

Segunda-feira, 12 de setembro de 1960. Manhã Monday, September 12th, 1960. A sunny morning, ensolarada, com aquela brisa constante de setem- with that constant September breeze, raising a bit bro, levantando aqui e ali um pouco de pó verme- of red dust here and there, very common during lho, tão comum naqueles tempos pioneiros, sem those pioneer times without grass or gardens. grama e sem jardins. It was a broad landscape, under an immense, blue O cenário era amplo, aberto para um céu imenso, sky, sprinkled with white clouds like swans over a azul, salpicado de nuvens brancas como cisnes em calm lake. The scene couldn’t have been better um lago calmo. Não podia ser mais próprio o cená- suited to mark the fi rst step of a new era in Brazil- rio para marcar o passo inicial de uma nova era na ian diplomacy, hinterland diplomacy. diplomacia brasileira, a diplomacia do sertão. A candango (laborers who built the city), name- Candango, sem nome, com as roupas vermelhas less, with his clothes red from the dirt, contem- de barro, contemplava, espantado, aquela peque- plated in astonishment the small crowd giving na multidão, fazendo discurso e batendo palmas speeches and clapping around that hole - the hole em volta daquele buraco que sua mão rude abriu, which his bare hands dug open that same morn- ainda naquela manhã. Ele, como de resto milhões ing. He, like millions of other Brazilians, did not de outros brasileiros, não alcançava o signifi cado grasp the act’s meaning. Yet in that hole, which daquele ato. E, no entanto, no buraco que sua his calloused hands had opened in the crude soil, mão calejada abriu naquele solo rude, estava sen- was being planted the seed of a new building ‘that 18 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

do plantada a semente de um novo edifício “que will be named Itamarati, a name that evokes the se chamará Itamarati, nome que evoca a tradição tradition that ennobled and still ennobles Brazilian que enobreceu e enobrece a diplomacia brasileira”. diplomacy.’ With these words from the orator of Com estas palavras do orador daquela solenidade, that ceremony, the hole was closed, housing in- o buraco se fechou, guardando lá dentro um bloco side a white, rectangular block bearing an inscrip- retangular, branco, com uma inscrição em preto – tion in black: ‘Itamarati Palace – 11.09.60’. And so “Palácio do Itamarati – 11.09.60”. Estava lançada a was laid the foundation stone of one more build- pedra fundamental de mais um prédio a ser ergui- ing to be raised in a city just over fi ve months old, do numa cidade de pouco mais de cinco meses, embattled, incomplete, and planted on raw soil, incompleta e combatida, plantada em solo agreste, like a desert mirage. como uma miragem em pleno deserto. Without a past and almost without a present to Sem passado e quase sem presente, era a cidade call its own, Brasilia was the city of ‘here will be’ do “aqui será” e do “ali vai ser”. and ‘there is going to be’. O prédio está pronto. O Itamarati está transferido. The building is ready, Itamarati was transferred, As difi culdades esquecidas. Mas, quão grande elas and the obstacles have been forgotten. How foram, poucos sabem, Aquela própria solenidade large they were, few really know. That ceremony no dia 12 de setembro de 1960, foi esquecida. on September 12th, 1960 was itself forgotten; Ninguém sabe, sequer, hoje, onde está enterrada no one today knows where that white stone is aquela pedra branca nem as outras duas que se buried. The same goes for two other stones laid lançaram depois, por outros presidentes, na espe- after, by different Presidents, in the hope that any rança de que de alguma dessas pedras se gerasse of these stones would generate the miracle we o milagre que ora festejamos. celebrate today.

Manuel Mendes Manuel Mendes MENDES, Manuel. Mudança do Itamarati: Dez anos MENDES, Manuel. Mudança do Itamarati: Dez anos de luta. In: Correio Braziliense 21/04/1970 de Luta. In: Correio Braziliense 04/21/1970

Em abril de 1966, seria inaugurada a estrutura de In April 1966, the steel and concrete structure of concreto armado do Palácio, com a presença do the Palace was inaugurated, with the presence of Presidente Castelo Branco, do chanceler Juracy President Castelo Branco, Chancellor Juracy Magal- Magalhães, de altas autoridades brasileiras e do hães, high-level Brazilian authorities and the diplo- corpo diplomático. O arrojo dos vãos, a beleza matic corps. The boldness of the spans, the beauty das formas e o alto padrão técnico empregado na of the shapes and the high technical standard ap- execução foram admirados por todos. No último plied in the execution were admired by everyone. dia do governo Castelo Branco, 14 de março de On the last day of the Castelo Branco administra- 1967, o Palácio já estava em condições de abrir as tion, March 14th, 1967, the Palace was already in po- Palácio Itamaraty – Apresentação | 19 Itamaraty Palace – Presentation |

portas para sua primeira recepção ofi cial. O espe- sition to open its doors to its fi rst offi cial reception. lho d’água ainda não existia e, internamente, falta- The refl ecting pool did not exist yet, and, internally, vam acabamentos. Contudo, a visita presidencial some fi nishing touches were missing. However, the contou com a presença de 76 representantes de presidential visit counted on the presence of repre- missões estrangeiras, grande número de governa- sentatives from seventy-six foreign missions, along dores, ministros de estados e outras autoridades. with a great number of governors, state ministers, Nesse mesmo dia, Oscar Niemeyer, há sete anos and other authorities. fora de Brasília, exclamou: On that same day, Oscar Niemeyer, having spent – Não sei dizer o que mais me surpreende, se o seven years outside Brasilia, exclaimed “I don’t aspecto do prédio ou vê-lo terminado. know what I marvel at more, the building’s aspect Ainda em 1967, o gabinete do Ministro das Rela- or seeing it fi nished”. ções Exteriores é transferido do espaço ocupado In 1967, the Cabinet of the Minister of Exter- no Ministério da Marinha para o novo Palácio. Em nal Relations was transferred from a space oc- 22 de maio do mesmo ano, recebe a visita dos cupied in the Ministry of the Naval to the new príncipes herdeiros do Japão e, no ano seguinte, Palace. On May 22nd, the Palace was visited by volta abrir as portas para receber a Rainha Eliza- Japan’s Crown Princes and, in the following year, beth da Inglaterra. reopened its doors to receive Queen Elizabeth of England. Quando a rainha da Inglaterra veio a Brasília foi uma festa que jamais se deu aqui no planalto. When the Queen of England came to Brasilia, Todo mundo queria ir, evidentemente, todo mun- there was a party like no other here in the planalto do veio do Rio de Janeiro e de São Paulo para (central plateau). Everyone wanted to come, evi- assistir a essa recepção, e aí se viu que o palácio dently. Everyone came up from Rio de Janeiro and funciona muito bem. Ele é feito em diversos planos, São Paulo to watch the reception, and then we tem a parte térrea onde as pessoas esperam, de- saw how well the Palace really worked. It consists pois (...) o mezanino, no primeiro andar, e fi nalmen- of many levels: the lobby where people wait, then te temos os grandes salões que estão no segundo ... the mezzanine on the fi rst fl oor, and fi nally there andar. O palácio funciona muito bem. Há outros are the grand salons on the second fl oor. The Pal- ministérios das relações exteriores que têm gran- ace works really well. There are other ministries of des salões, mas nenhum tem estas facilidades com external relations that have grand salons, but none estas dimensões. has these facilities with these dimensions.

Wladimir Murtinho Wladimir Murtinho MURTINHO, Wladimir do Amaral. Depoimento – MURTINHO, Wladimir do Amaral. “Depoimento: Programa de História Oral. Brasília, Arquivo Público Programa de História Oral”. Brasilia, Arquivo Pú- do Distrito Federal, 1990. p. 14. blico do Distrito Federal, 1990. Page 14.

As obras prosseguem. Novos quadros, tapetes, es- The works proceeded. New paintings, tapestries, culturas e móveis vieram se somar aos já trazidos sculptures, and furniture joined those brought da sede anterior para alfaiar o Palácio Itamaraty de from the former headquarters in adorning the Brasília, onde iriam funcionar o gabinete do Minis- Itamaraty Palace of Brasilia, the seat that was to tro de Estado e seus assessores, a Secretaria-Geral, house the Cabinet of the State Minister and its a Secretaria de Imprensa e o Cerimonial. Fez-se a advisers, the Secretariat-General, the Press Secre- colocação dos mármores, de Minas Gerais no chão, tariat, and the Offi ce of Protocol. Smooth marble liso, e do Espírito Santo, epicoado, nas paredes. A tiles from Minas Gerais were installed on the fl oor, paginação do chão (cada peça de mármore é de while rough tiles from Espirito Santo lined the um tamanho diferente) é criação do artista plástico walls. The arrangement of the fl oor tiles (each Athos Bulcão. marble piece is of a different size) was done by artist Athos Bulcão. Palácio Itamaraty – Apresentação | 21 Itamaraty Palace – Presentation |

A Transferência The Transference

Mudança do Itamaraty: Dez Anos de Luta,2 A Cul- “Moving Itamaraty – Ten Year Struggle”2, “Culture tura Chega com Eles,3 Para os Diplomatas, Mudar Arrives with Them”3, “To the Diplomats, Moving to de Cidade é Normal,4 O Mais Bonito Prédio de Another City is Normal”4 , “The Most Beautiful Build- Toda a América Latina,5 Uma Nova Realidade Po- ing in Latin America”5 , and “A New Political Reality”6 lítica6 foram algumas das manchetes com que os were some of the newspaper headlines used to jornais da época saudaram a instalação da Chan- greet the installment of the Brazilian Chancellery in celaria brasileira no edifício de Oscar Niemeyer. Oscar Niemeyer’s building. The Correio Braziliense Instalação esta que foi defi nida pelo Correio Brazi- described it as a “happy ending to the longest and liense como “fi nal feliz para a novela mais longa e most troubling soap opera ever to move the city.” que mais preocupou e emocionou a cidade”. As the fi rst ministry to install itself entirely in the Primeiro ministério a se instalar em sua totalidade new capital, Itamaraty aimed for more than just a na nova capital, o Itamaraty visava, nas palavras do change of furniture and the relocation of its per- Embaixador Jorge Carvalho e Silva, proferidas na sonnel from the coast. In the words of Ambassa- aula inaugural do Instituto Rio Branco, mais do que dor Jorge Carvalho e Silva at the Inaugural Lecture mudar móveis e pessoas do litoral para o interior, given at the Rio Branco Institute, the goal was to criar uma nova imagem, “de uma diplomacia que create the novel image “of a diplomacy that al- já se antecipa a novos desafi os do mundo que nos ready foresees the new challenges arising in the cerca e é, também, ao mesmo tempo, resposta atu- world and is, at the same time, an answer to the al às novas exigências do desenvolvimento do País”. new demands of the country’s development.” Após a remoção do Embaixador Murtinho para After the reassignment of Ambassador Murtin- Nova Delhi, a comissão de transferência, chefi ada ho to New Delhi, the Transfer Committee, first pelo Embaixador Manuel Guilhon e depois pelo directed by Ambassador Manuel Guilhon and Ministro Mário Dias Costa, ultimou a mudança que, then by Minister Mário Dias Costa, completed conforme previa o Jornal do Brasil, viria a trazer “...à the task. As anticipated by the Jornal do Bra- capital um valioso aporte de recursos, uma impor- sil, Itamaraty would bring “to the new capital tante contribuição fi nanceira representada pelo a range of valuable resources, an important surto de novas obras, que certamente dinamiza- financial contribution through the increase of rá a vida econômica de Brasília”7. O jornal elogia constructions that will certainly dynamize the ainda a efi ciência da mudança, notável por ter economic life of Brasilia.”7 The newspaper also mobilizado um verdadeiro exército de diplomatas praised the efficiency of the transfer, notable for que passara a se comunicar através do recém- mobilizing an army of diplomats who began to lançados bip. E continua: “...O Ministério da Rela- communicate through the newly released pag- ções Exteriores aproveitou o trabalho de preparo er. It went on: “The Ministry of External Relations realizado no últimos anos e desencadeou, sob o made good use of the preparation work done comando do chanceler Mário Gibson Barboza, over these past years and unleashed, under the 22 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

uma ousada e complexa operação de transferên- direction of Chancellor Mário Gibson Barboza, cia. O Itamaraty, com seus tentáculos projetados an audacious and complex transfer operation. em todo o mundo, não parou de funcionar um Itamaraty, with its tentacles spread around the só dia. Os despachos e telegramas continuaram globe, did not stop working a single day. The dis- a chegar e a receber devidas respostas, as provi- patches and telegrams kept arriving and receiving dências internas e externas a serem tomadas na due replies; the internal and external foreign policy área da política exterior não sofreram interrupção. measures did not suffer any discontinuity. No dia da inauguração do Palácio como Minis- Inauguration day of the Palace as a Ministry was tério, 21 de abril de 1970, realizou-se a primeira on April 21st, 1970. The fi rst event was the gradu- solenidade de formatura de diplomatas, com a ation ceremony of the Rio Branco Institute, at- presença de grande número de autoridades tended by a great number of authorities. Homage e homenageando “a memória do Barão do Rio was paid to “the memory of Baron of Rio Branco Branco com a instituição do Dia do Diplomata, through the announcement of Diplomat’s Day, to a ser comemorado todos os anos, nesta data”.8 be celebrated every year on this date.”8 A mudança do Itamaraty traria grandes benefícios The transfer of Itamaraty would bring great ben- para a cidade. Mais do que a instalação das embaixa- efi ts to the city. More than just the investment of das, evidenciava estar consolidada, de uma vez por the embassies, these steps made clear that the todas, a nova capital, que só com esse passo se tor- new Capital was consolidated, and that it was the naria a verdadeira sede política e diplomática do País. true political and diplomatic seat of the Country.

Palacio Itamaraty Brasilia: Brasilia, Rio de Janeiro. Palacio Itamaraty Brasilia: Brasilia, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. pp. 11-20 São Paulo: Banco Safra, 2002. pp. 11-20

(1) Correio Braziliense, 19 – 20.9.1966. (1) Correio Braziliense, 19 – 20.9.1966. (2) Correio Braziliense, 21.4.1970. (2) Correio Braziliense, 21.4.1970. (3) Jornal da Tarde, 5.3.1970. (3) Jornal da Tarde, 5.3.1970. (4) Jornal da Tarde, 5.3.1970. (4) Jornal da Tarde, 5.3.1970. (5) Última Hora, 21.4.1970. (5) Última Hora, 21.4.1970. (6) Última Hora, 21.4.1970. (6) Última Hora, 21.4.1970. (7) Jornal do Brasil, 3.4.1970. (7) Jornal do Brasil, 3.4.1970. (8) Jornal do Comércio, 21.4.1970. (8) Jornal do Comércio, 21.4.1970.

24 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| O Palácio Itamaraty - fachada norte |

"A respeito desse espelho d’água, que dá toda beleza ao Palácio, realçando a majestade de seus arcos, recordo um fato singular: não constava do projeto original de Oscar Niemeyer. Surgiu de observações feitas pelo Ministro Murtinho e pelo arquiteto do Itamaraty, Olavo Redig de Campos, quanto a medidas de segurança próprias de uma Chancelaria. A idéia original era a de uma jardim contínuo, rodeando todo edifício até as colunas. Ocorre que, por motivo de segurança, as entradas e saídas de qualquer Ministério das Relações Exteriores são objeto de especial planejamento. Note-se além do mais, no caso de Brasília, que o Palácio do Itamaraty – e não o Palácio da Alvorada – foi projetado para acolher os banquetes oferecidos pelo Presidente da República aos Chefes de Estado estrangeiros em visita ao Brasil. A primeira idéia de proteção previa a construção de um fosso d’água como existe no Palácio da Alvorada. E aí entrou Niemeyer com seu toque de gênio: 'se é para fazer um fosso, melhor é alargá-lo'. E assim nasceu o espelho d’água de hoje sobre o qual como que fl utua esta magnífi ca obra, ligada à terra fi rme por passarelas”.

Manuel Mendes MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasília: Thesaurus, 1995. p. 61. Palácio Itamaraty – Apresentação | 25 Itamaraty Palace – Presentation |

| Itamaraty Palace – north façade |

“Concerning this refl ecting pool, which enhances the beauty of the Palace by intensifying the splendor of its arches, I recall a unique fact: it wasn’t in Oscar Niemeyer’s original plan. It came from the observations made by Minister Murtinho and Itamaraty’s architect, Olavo Redig de Campos, regarding the safety mea- sures proper to a Chancellery. The original idea was to have a continuous garden surround the entire building all the way to the columns. As it happens, safety reasons demand that the entrances and exits of any foreign ministry be the object of special planning. Furthermore, in the case of Brasilia, Itamaraty Palace – and not Alvorada Palace – was designed to host the banquets offered by the President of the Republic to visiting Heads of State. The fi rst idea for a protection measure foresaw the construction of a moat like the one at the Alvorada Palace. Then came Niemeyer with his genius touch: “If we are going to build a moat, we better stretch it.” And that is how the refl ecting pool was born, over which this magnifi cent work of art fl oats, connected to the mainland by footbridges.”

Manuel Mendes MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasilia: Thesaurus, 1995. p. 61 26 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

“Não sei dizer o que mais me surpreende, se o “I don’t know what I marvel at more, the building’s aspecto do prédio ou vê-lo terminado”. aspect or seeing it fi nished.”

Oscar Niemeyer Oscar Niemeyer Correio Braziliense, 20 de abril de 1970. Correio Braziliense, April 20th, 1970 Palácio Itamaraty – Apresentação | 27 Itamaraty Palace – Presentation |

Palácio Itamaraty – Apresentação | 29 Itamaraty Palace – Presentation |

"O ano começa com o escultor Bruno Giorgi dirigindo a montagem do seu meteoro. Em declarações a um grupo de jornalistas, do qual eu fazia parte, Bruno Giorgi confessou: 'Poucas vezes em minha vida de artista tenho experimentado emoções e sobressal- tos tão grandes, como nesta fase da montagem das quatro peças que constituem o Meteoro. Cada lance da montagem requer cuidados especialíssimos em virtude da forma irregular dos blocos, que pesam toneladas. Qualquer descuido pode redundar na mutilação da obra'. O ajuste dessas várias peças foi feito com uma cola especial. Cerca de 30 homens trabalharam na montagem do monumento, fazendo uso de pesados guindastes. A maquete do Meteoro recebeu o grande prêmio de escultura da cidade de Milão, em 1966, além de elogios de jornais europeus."

Manuel Mendes MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasília: Thesaurus, 1995, p. 65.

"The year starts with the sculptor Bruno Giorgi directing the assembly of his Meteor. Speaking to a group of journalists, of which I was part, Bruno Giorgi confessed: 'Seldom in my life as an artist have I experienced the emotions and anxiety I felt during the assembly of the four pieces that compose the Meteor. Each step of the assembly demands extra-special care due to the irregular shape of the blocks, which weigh tons. Any disregard may result in the mutilation of the work.' The various pieces were conjoined with a special glue. About thirty men worked in the assembly of the monument, making use of heavy cranes. The maquette of the Meteor received the great sculpture award of Milan in 1966, besides the acclaim of European newspapers."

Manuel Mendes MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasilia: Thesaurus, 1995. p. 65

| Meteoro, de Bruno Giorgi, 1966 - 1967, mármore de Carrara 400 cm de altura 40 toneladas peso | | Meteor, by Bruno Giorgi | 1966 – 1967 – Carrara Marble, height: 400 cm, weight: 40 tons | 30 | Palácio Itamaraty Introdução | 31 32 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| O Palácio Itamaraty - estrutura de concreto armado | | Itamaraty Palace – steel and concrete structure | Palácio Itamaraty – Apresentação | 33 Itamaraty Palace – Presentation |

| Marco de Fronteira | Século XVIII, Portugal

Trazido de Portugal, em 1752, a pedido do gover- nador-geral do estado do Grão-Pará e Maranhão, Capitão de Fragata Francisco Xavier de Mendonça Furtado, para balizar as possessões luso-hispânicas, no Alto Amazonas. Esse marco foi encontrado em 1963, em frente à cidade de Barcelos, no fundo do leito do Rio Negro, no estado do Amazonas.

| Landmark | Portugal, 18th century

Brought from Portugal in 1752 to stake the Portu- guese-Spanish boundary in Alto Amazonas at the request of the Governor-General of the State of Grão-Pará and Maranhão, Frigate Captain Francisco Xavier de Mendonça Furtado. This landmark was found in 1963 on the bottom of the Rio Negro River, near the town of Barcelos, Amazonas.

Visitando o Palácio Itamaraty Visiting Itamaraty Palace 38 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Escada helicoidal, projeto de Milton Ramos e Joaquim Cardoso, une o térreo ao segundo pavimento | Palácio Itamaraty, térreo | 39 Itamaraty Palace, ground floor |

| Spiral stairs, design by Milton Ramos and Joaquim Cardoso, connects the ground fl oor to the second fl oor | 40 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Parede de mármore, de Athos Bulcão, no hall de recepção do andar térreo, 1966 | | Marble wall, by Athos Bulcão, at the reception hall on the ground fl oor,1966 | Palácio Itamaraty, térreo | 41 Itamaraty Palace, ground floor |

| Ponto de Encontro, no hall de recepção do andar térreo | | Rendezvous Point, at the reception hall on the ground fl oor | 42 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Polivolume de alumínio de confi guração variável; de Mary Vieira, 230 placas de alumínio móveis ao redor do eixo central, mais blocos de mármore - 160 x 100 x 28 cm -, 1969 - 1970 | | Variable-confi guration aluminum poly-volume; by Mary Vieira, 230 aluminum sheets around the cen- tral axis, marble blocks - 160 cm x 100 cm x 28 cm -, 1969 - 1970 |

Mary Vieira São Paulo, SP, 1927 – Basiléia, Suíça, 2001 Escultora e professora

Estudou desenho e pintura com Guignard e escultura com Franz Weissmann e Amílcar de Castro. Por meio de pesquisas sobre o movimento e a dinâmica das formas, produziu, em 1948, suas primeiras esculturas eletromecânicas e um conjunto de trabalhos em madeira que intitulou Multivolumes. A partir de 1949, elaborou os primeiros polivolumes.

Mary Vieira São Paulo, SP, 1927 – Basel, Switzerland Sculptor, teacher

Vieira studied drawing and painting with Guignard and sculpture with Franz Weissmann and Amílcar de Castro. Through research on movement and shape dynamics, she produced in 1948 her fi rst electric- mechanical sculptures and a set of wooden works entitled Multi-volumes. Starting in 1949, she elabo- rated the fi rst poly-volumes.

44 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Maria Martins Campanha, MG, 1900 – Rio de Janeiro, RJ, 1973 Escultora, desenhista, gravadora e escritora

Em um catálogo de uma exposição de Maria Martins em Nova Iorque, o poeta surrealista André Breton escreveu que suas esculturas acusam a preocupação de despojamento e não deixam de situá-la nos an- típodas de uma arte que não cessou de ressecar o intelectualismo. “O importante é que a démarche de Maria a trouxe do macrocosmo ao microcosmo, em vez de fazê-la percorrer o caminho inverso. É, nunca se repetirá o sufi ciente, o universo que deve ser interrogado em primeiro lugar e a partir do homem e não o homem a partir do universo. O que prenuncia os grandes acordes acrobáticos de Maria, o tour de force dessa maleabilidade total no rígido, não é a ‘cera perdida’, são as seivas’”. BRETON, André. Maria Martins. A Phala - Revista do Movimento Surrealismo. v. 1, p. 112-113.

Maria Martins Campanha, MG, 1900 – Rio de Janeiro, RJ, 1973 Sculptor, drawer, printmaker, writer

In a catalogue of an exhibition by Maria Martins in New York, the surrealist poet André Breton wrote that her sculptures reveal a concern for dispossession and place her at odds with an art that continuously dries up intellectualism. “The important thing is that Maria’s demarche brought her from the macrocosm to the microcosm, rather than lead her through the opposite path. Indeed, we can’t say it enough: the universe should be questioned fi rst, and it should be questioned from man’s perspective, not vice-versa. What forshadows Maria’s great acrobatic chords, the tour de force of this complete malleability of the rigid, is not the ‘wasted wax’, BUT THE SAP.” BRETON, André. Maria Martins. A Phala – Revista do Movimento Surrealismo. v. 1, pp. 112-113. Palácio Itamaraty, térreo | 45 Itamaraty Palace, ground floor |

| A Mulher e sua Sombra, de Maria Martins, bronze, 150 x 200 x 48 cm, 1949, doação da artista | | Woman and her shadow, by Maria Martins, bronze, 150 x 200 x 48 cm, 1949. artist's donation | 46 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations Palácio Itamaraty, térreo | 47 Itamaraty Palace, ground floor | 48 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations Palácio Itamaraty,segundo pavimento | 49 Itamaraty Palace, second floor |

Sala dos Tratados Treaties Salon 50 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Franz Weissmann Knittefeld, Áustria, 1911 – Rio de Janeiro, RJ, 2005 Escultor, desenhista, pintor e professor

A escultura de Weissmann é limpa, de uma limpeza estética e também moral. As cores de Weissmann nem sempre são as primárias. Nelas se encontra até certa acidez expressionista, que sugere a agressivi- dade cromática de um Van Gogh: um tom mais elevado, uma cor mais sensibilizada e ativa que poten- cializa a escultura. É uma escultura que se destaca como elemento expressivo do espaço urbano, como o crítico Paulo Venâncio Filho caracterizou a obra do artista. VENANCIO FILHO, Paulo. Franz Weissmann: peripécias do plano. Veredas, Rio de Janeiro, ano 3, n. 34, p. 7-8, out. 1998.

Franz Weissmann Knittefeld, Austria, 1911 – Rio de Janeiro, RJ, 2005 Sculptor, drawer, painter, teacher

Weissmann’s sculpture is clean – it has an aesthetic and moral cleanliness. He does not always work with primary colors. In the colors you may even fi nd some expressionist acidity that suggests the chromatic aggressiveness of a Van Gogh: an elevated tone, a sensitized and active color that releases the sculp- ture’s power. It is a sculpture that stands out as an expressive element of urban space. VENANCIO FILHO, Paulo. Franz Weissmann: peripécias do plano. Rio de Janeiro: Veredas, ano 3, n. 34, pp. 7–8, Oct. 1998 Palácio Itamaraty,segundo pavimento | 51 Itamaraty Palace, second floor |

| Metamorfose, de Franz Weissmann, escultura formada de placas de ferro cortadas, pintadas de cinza-chum- bo e montadas com solda, 254 x 99 x 67 cm, 1957-1958 | | Metamorphosis, de Franz Weissmann, sculpture formed by cut iron plates, painted in lead gray and assem- bled by welding, 254 cm x 99 cm x 67 cm, 1957-1958 | 52 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Athos Bulcão Rio de Janeiro, RJ, 1918 – Brasília, DF, 2008 Pintor, escultor e arquiteto

As fotomontagens produzidas pelo artista, entre 1952 e 1953, só encontram paralelo, no país, em trabalho semelhante feito por Jorge de Lima, como escreveu Fernando Cocchiarale. O crítico acredita que “a cena dessas obras de Athos Bulcão não é clássica ou surrealista. É antes de tudo cinematográfi ca. Como nos fi lmes, resulta da construção de imagens através de frag- mentos fotográfi cos que recriam, em alguma medida, o movimento. Assimila uma concepção técnica e uma temporalidade absolutamente comprometida com a lógica das linhas de monta- gem indispensáveis à indústria. São cenas construídas de modo análogo aos painéis de azulejos que constituem uma das principais vertentes de sua múltipla trajetória artística.” Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Fotografi a. nº 27, 1998, p. 318.

Athos Bulcão Rio de Janeiro, RJ, 1918 – Brasília, DF, 2008 Painter, sculptor, architect

In Brazil, wrote Fernando Cocchiarale, the photomontages Bulcão produced between 1952 and 1953 are only matched by a similar work by Jorge de Lima. The critic believes that “the scene of the artist’s works is neither classical nor surrealistic; it’s above all cinematographic. Like in the movies, it results from the construction of images from photogra- phic fragments that, to some extent, recreate movement. It assimilates a technical conception and a temporality completely bound to the logic of a production line, which are indispensible to industry. The scenes are constructed in a manner analogous to the tile panels that compose one of the major strands of Bulcão’s multifaceted artistic trajectory.” Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. IPHAN. Fotografi a. No. 27, 1998, p. 318. Palácio Itamaraty, segundo pavimento | 53 Itamaraty Palace, second floor |

| Treliça, de Athos Bulcão, madeira e ferro (placas de metal de tamanho e formatos variados nas cores preta, branca e vermelha), 4,44 x 22,40 metros, 1967 | | Lattice, by Athos Bulcão, wood and iron (metal plates of diverse sizes and shapes in black, white, and red), 4.44m X 22.40 m,1967 | 54 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Busto de Alexandre de Gusmão | | Busto de Duarte da Ponte Ribeiro |

Bruno Giorgi, herma, bronze, base em pedra Bruno Giorgi, herma, bronze, base em pedra sabão, 57 x 34 x 40 cm, pedestal 190 cm de sabão, 55 x 34 x 40 cm, pedestal 190 cm de altura, 1967 altura, 1967

| Bust of Alexandre de Gusmão | | Bust of Duarte da Ponte Ribeiro |

Bruno Giorgi, herm, bronze, soapstone base Bruno Giorgi, herm, bronze, base in soap- 57 cm x 34 cm x 40 cm, pedestal 190 cm high stone, 55 cm x 34 cm x 40 cm, pedestal 190 1967 cm high, 1967 Palácio Itamaraty, segundo pavimento | 55 Itamaraty Palace, second floor |

As hermas encimadas pelos bustos de Alexandre de Gusmão, Duarte Ribeiro e Rio Branco que distin- guiram-se na consolidação das nossas fronteiras e representam três grandes fases da nossa diploma- cia na época Colonial, no Império e na República.

These are herms topped by the busts of Alexandre de Gusmão, Duarte Ribeiro and Rio Branco, who distinguished themselves in the consolidation of our borders and represent three great periods of our diplomacy: Colony, Empire, and Republic.

| Busto do Barão do Rio Branco |

Bruno Giorgi, herma, bronze, base em pedra sabão, 52 x 28 x 42 cm, pedestal 190 cm de altura, 1967

| Bust of Barão do Rio Branco |

Bruno Giorgi, herm, bronze, basis in soap- stone, 52 cm x 28 cm x 42 cm, pedestal 190 cm high, 1967 56 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Alfredo Volpi Lucca, Itália, 1896 – São Paulo, SP, 1988 Pintor

Ele pintou o que sentiu. Como mesmo diz, “a minha pintura aos poucos foi se transformando, começa com a natureza, depois aos poucos vai saindo, às vezes, continua, eu nunca penso no que estou fazen- do. Penso só no problema da linha, da forma, da cor. Nada mais. Meus quadros têm uma construção, o problema é só de pintura, não representam nada. Isso vem aos poucos, é uma coisa lenta, é um proble- ma, toda a vida foi assim”. SALZSTEIN, Sônia. Volpi. Rio de Janeiro: Campos Gerais, 2000. p. 283.

Alfredo Volpi Lucca, Italy, 1896 – São Paulo, SP, 1988 Painter

The artist painted what he felt. As he puts it, “My painting transformed itself little by little. It begins with nature, then it starts to trickle out. Sometimes, it continues ... I never think about what I’m doing. I only think about the line, the shape, and the color. Nothing more. My artworks have a construction, the problem is only in painting, they don’t represent anything. That comes little by little, it’s a slow process, it’s a problem, it has been like this all my life.” SALZSTEIN, Sônia. Volpi. Rio de Janeiro: Campos Gerais, 2000. p. 283 Palácio Itamaraty, segundo pavimento | 57 Itamaraty Palace, second floor |

| O Sonho de Dom Bosco, de Alfredo Volpi, afresco, 336 x 465 cm, 1966 | | The Dream of Dom Bosco, by Alfredo Volpi, fresco, 336 x 465 cm, 1966 |

Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 59 Itamaraty Palace, third floor | 60 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Sala D. Pedro I

Sala Rio de Janeiro Sala Bahia

Oratório

Sala D. Pedro II Sala Portinari

Sala Brasília

Salão Nobre Sala Duas Épocas Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 61 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro I, D. Pedro I Salon | 62 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Jean-Baptiste Debret Paris, França, 1768 – 1848 Pintor, desenhista, gravador, professor, decorador, cenógrafo

Debret veio ao Brasil como integrante da Missão Francesa de 1816, que tinha a fi nalidade de criar a Aca- demia de Belas Artes no Brasil. Chegou ao Rio na aurora do Brasil Reino, quando a Corte já se ocupava com os preparativos do cerimonial da aclamação de Dom João VI. Debret retratou a corte e o povo – pintou a família real, quadros históricos, a vida cotidiana no Brasil e aspectos de rua – sendo um verdadeiro fotógrafo da vida brasileira. A documentação debretiana é de um valor excepcional, pois retrata o nascimento do Brasil como nação. “Percorrendo-se a famosa obra de Debret e encontrando relembradas nas suas curiosas litografi as as grandes cerimônias da Corte do Rio de Janeiro, no primeiro quartel do século XIX, aclamações, funerais, casamentos, vê-se grafi camente onde e como se constitui o sentimento nacional da terra”. LIMA, Oliveira. Dom João VI no Brasil, José Olympio, 1945, I Vol., p. 268.

Jean-Baptiste Debret Paris, France, 1768 – 1848 Painter, drawer, printmaker, teacher, decorator, scenographer

Debret came to Brazil in 1816, as part of a French Mission invited to found the Academy of Fine Arts in Brazil. He arrived in Rio at the dawn of the Brazilian Monarchy, when the Court was busy in preparation for the acclamation ceremony of Dom João VI. Debret was a keen observer of Brazilian life, who depicted both the court and the people. He painted the royal family, historical portraits, and daily life in the Brazilian homes and streets. The Debretian documentation has an exceptional value, because it portrays the birth of Brazil as a nation. “Going through the famous works of Debret and fi nding, remembered in his lithographs, the great Court ceremonies of the fi rst quarter of the 19th century - acclamations, funerals, weddings - one can see, graphically, where and how the people’s national sentiments were established.” LIMA, Oliveira. Dom João VI no Brasil. José Olympio, 1945, I Vol., p. 268

| Coroação de D. Pedro I pelo bispo do Rio de Janeiro, Monsenhor José Caetano da Silva Coutinho, no dia 1o de dezembro de 1822, na Capela do Paço Imperial, de Jean Baptiste Debret, óleo sobre tela, 340 x 640 cm, 1828 |

| Coronation of D. Pedro I by the Bishop of Rio de Janeiro, Monsignor José Caetano da Silva Coutinho, at the Chapel of the Imperial Palace, December 1st, 1822, by Jean Baptiste Debret, oil on canvas, 340 cm x 640 cm, 1828 | Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 63 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro I, D. Pedro I Salon |

A Coroação de Pedro I, quadro pintado por Debret em 1828, foi levado pelo imperador D. Pedro II, quando se exilou na França, e fi cou guardado e enrolado no Castelo D’Eu. O Embaixador Chateaubriand, que havia comprado o castelo e estava por vendê-lo, perguntou ao Embaixador Wladimir Murtinho, na época responsável pela construção do Palácio, se tinha interesse no quadro, tendo apenas que pagar o transporte. Assim, o quadro A Coroação de Pedro I, que se encontra no salão principal do palácio, foi doado por Chateaubriand.

The Coronation of D. Pedro I, painted by Debret in 1828, was taken by the emperor D. Pedro II when he exiled himself in France. It was rolled up and stored away for over a century at Castle D’Eu. Ambassador Assis Chateaubriand, who came to own the castle in France and intended to sell it, asked Ambassador Wladimir Murtinho, at that time responsible for the construction of Itamaraty Palace, whether he had any interest in the painting, in which case he would only need to pay its transportation. Thus, the painting The Coronation of Pedro I, which can be appreciated in the main room of the palace, was donated by Chateaubriand. 64 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

“Nós temos outro quadro extraordinário, esse trazido do Ministério, que é o Grito da Independência, o Grito do Ipiranga. O quadro que está lá, do Pedro Américo, é o verdadeiro. O que está em São Paulo é uma ampliação, que não tem a qualidade pictórica. E, então, nós trouxemos para cá, e as pessoas nem sabem, não podem acreditar que aquele quadro, que eles viram em todas as cartilhas (...) O original está conosco”. MURTINHO, Wladimir do Amaral. Depoimento – Programa de História Oral. Brasília, Arquivo Público do Distrito Federal, 1990. p. 28.

“And we have another extraordinary painting, this one brought from the former ministry, which is the Cry of Independence, the Cry of Ipiranga. The painting that is here, by Pedro Américo, is the real one. The one that is in São Paulo is an enlargement, which doesn’t have the same pictorial quality. So we brought it here and nobody knows this, they can’t believe that the painting, the one they saw in every schoolbook ... The original one is with us.” MURTINHO, Wladimir do Amaral. Depoimento – Programa de História Oral. Brasilia, Arquivo Público do Distrito Federal, 1990. p. 28

| Grito do Ipiranga, de Pedro Américo de Figueiredo e Melo, Areia, PB, 1843 – Florença, Itália, 1905, óleo sobre tela, 109 x 201 cm, 1886 | | Cry of the Ipiranga, by Pedro Américo de Figueiredo e Melo, Areia, PB, 1843 – Florence, Italy, 1905, oil on canvas, 109 cm X 201 cm, 1886 | Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 65 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro I, D. Pedro I Salon | 66 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Tomie Ohtake Kyoto, Japão, 1913 – Pintora, gravadora, escultora

“A pintora não se satisfaz com os padrões informais do Ocidente, tão em moda na década de 50, como não aceita integralmente a reprodução da caligrafi a oriental. A artista soma aspectos caligráfi cos ao informalismo da arte européia, ligando-se à sugestão formal, típica da pintura sumi, e para obter sur- preendentes resultados tonais de harmonias monocromáticas”, disse o crítico João Spinelli sobre . SPINELLI, João J. Tomie Ohtake. In Tomie Ohtake: o antigo e o novo na obra de Tomie Ohtake.1985. f. 92. Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicações e Arte, Universidade de São Paulo, São Paulo.

Tomie Ohtake Kyoto, Japan, 1913 – Painter, printmaker, sculptor

“In the same way that the painter is not satisfi ed with the informal standards of the West, so fashionable in the ‘50s, she doesn’t fully accept the reproductive element of eastern calligraphy. So, the artist com- bines aspects of calligraphy with the informality of European art in order to obtain marvellous tones from monochromatic harmonies, associating herself with the formal suggestion so typical of Sumi-e painting,” said the critic João Spinelli, regarding Tomie Ohtake. SPINELLI, João J. Tomie Ohtake. In: Tomie Ohtake: o antigo e o novo na obra de Tomie Ohtake.1985. f. 92. Dissertação de Mestrado - Escola de Comunicações e Arte, Universidade de São Paulo, São Paulo.

| Sem título, de Tomie Ohtake, óleo sobre tela, 156 x 117 cm, 1965 | | Untitled, by Tomie Ohtake, oil on canvas, 156 x 117 cm, 1965 | Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 67 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro I, D. Pedro I Salon | 68 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Tapete simétrico de fundo vermelho. Ao centro, medalhão com extensão nas laterais, preenchido por grande variedade de pássaros e gavinhas com fl ores, em tons de vermelho e amarelo. No campo des- taca-se o motivo conhecido como Boteh ou Mir-i-Botah (fl or do príncipe) disposto de modo alternado, em fi leiras, com o motivo Herat. O motivo Boteh ou Paisley, em forma de pêra ou lágrima fi cou conhecido no ocidente como Paisley, porque caracterizou xale de lã produzidos em Paisley (Escócia). O Boteh simboliza a fertilidade e a abundância e é usado com freqüência nos tapetes persas, como elemento repetido em todo o campo ou complementado por outros motivos, e também nas bordas ou beiras. O Boteh apresenta-se também na forma geométrica ou fl oral. (Informação gentilmente cedida pelo IPHAN)

Symmetrical carpet with red background. A medallion lies in the center with extensions to its sides, contain- ing a myriad of birds and tendrils with red and yellow fl owers. In the fi eld, the motif known as “Boteh” or “Mir-i-Botah” (prince’s fl ower) stands out, arranged in alternating rows with the “Herat” motif. The “Boteh” motif, in a pear or teardrop shape, became known in the West as “Paisley” because it character- ized the wool shawls produced in Paisley, Scotland. The “Boteh” symbolizes fertility and abundance and is frequently used in Persian rugs as an element either repeated throughout the entire fi eld or complemented by other motifs. It is also commonly found on the borders or margins and may present itself in a geometrical or fl oral shape. (Information graciously provided by IPHAN)

| Tapete, origem: Irã , lã, algodão, tecelagem, 14,28 x 4,80 m | | Carpet, origin: Iran, wool, cotton, weaving, 14.28 m X 4.80 m | Palácio Itamaraty, térreo | 69 Itamaraty palace, third floor | Sala D. Pedro I, D. Pedro I Salon | 70 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Revoada dos Pássaros, de Pedro Corrêa de Araújo, luminária, esculpida em ferro, prata e bronze, com cristais de rocha lapidados em forma de disco na ponta de cada um dos 110 braços, iluminados por uma única lâmpada de mil velas. Quando iluminada, refl ete-se no teto provocando o efeito que dá o nome à obra, 1500 kg, 1967 – 1968 |

| Flight of the Birds, by Pedro Corrêa de Araújo, chandelier sculptured in iron, silver, and bronze, with a disk-shaped rock crystal at the end of each one of the 110 branches, illuminated by a single thousand- watt lamp, 1,500 kg, 1967–1968 |

O artista pernambucano dedicava-se antes à confecção de jóias artísticas, tendo ganho uma medalha de ouro na VII Bienal de São Paulo. O lustre, de mais de uma tonelada, foi sua primeira obra nesse gênero. MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasília: Thesaurus, 1995 p. 65.

The artist from Pernambuco had previously dedicated himself to making artistic jewelry, winning a gold medal at the 7th São Paulo Biennial. The chandelier, which weighed over a ton, was his fi rst work of this kind. When lit, it refl ects on the ceiling, causing the effect that gives the artwork its name. MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasilia: Thesaurus, 1995. p. 65 Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 71 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro I, D. Pedro I Salon | 72 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Leon Tirode Bésançon, França, 1873 – ? Pintor da Escola Francesa, foi autor de inúmeros retratos. Aluno do pintor Bonnat, participou do Salão de Artistas Franceses de 1897 a 1944.

“Representa o mediador inglês e plenipotenciário da parte portuguesa, Sir Charles Stuart, apresentando credenciais, (...) sentados em tronos, o Imperador D. Pedro I, a Imperatriz D. Leopoldina e a Princesa D. Maria da Glória, futura Rainha de Portugal. (...) À direita, uma fi gura alada, representando a História, inscreve, em suas tábuas de pedra, o faustoso acontecimento. (...) O óleo de Tirode é baseado em gravura da qual só se conhece hoje uma reprodução fotográfi ca existente no Museu Histórico Nacional. Nela basearam-se também um leque comemorativo, do acervo do Instituto Histórico e Geográfi co Brasileiro, e uma aquarela, pertencente ao Itamaraty”. Embaixador João Hermes Pereira de Araújo, Palácio Itamaraty Brasília: Brasilia, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. p. 80

Leon Tirode Bésançon, France, 1873 – ? Tirode belonged to the French School and was the author of countless portraits. As a pupil of the painter Bonnat, he participated in the Salon of French Artists from 1897 to 1944.

English mediator and Portuguese plenipotentiary, Sir Charles Stuart, presenting his credentials ... Seated before him are the Emperor D. Pedro I, the Empress D. Leopoldina, and the future Queen of Portugal, Princess D. Maria da Glória ... To the right, a winged fi gure represents History, engraving the occasion in stone tablets ... Tirode’s work is based on an engraving of which there is only one photographical repro- duction known today, at the National Historical Museum. A commemorative fan, from the collection of the Brazilian Geographic and Historical Institute, was also based on that engraving, as was a watercolor belonging to Itamaraty. Ambassador João Hermes Pereira de Araújo, Palácio Itamaraty Brasília: Brasilia, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. p. 80 Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 73 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro I, D. Pedro I Salon |

| Reconhecimento do Império do Brasil e sua Independência (entrega de credenciais do Embaixador Char- les Stuart), de Leon Tirode, óleo sobre painel, 49,5 x 76 cm, fi m do século XIX / Início do século XX |

| Recognition of the and its independence (Ambassador Charles Stuart presenting creden- tials), by Leon Tirode, oil on panel, 49.5 cm x 76 cm, end of 19th century / beginning of 20th century | 74 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Sala D. Pedro I

Sala Rio de Janeiro Sala Bahia

Oratório

Sala D. Pedro II Sala Portinari

Sala Duas Épocas

Sala Brasília

Salão Nobre Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 75 Itamaraty Palace, third floor | Sala Portinari, Portinari Salon | 76 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Candido Portinari Brodósqui, SP, 1903 – Rio de Janeiro, RJ, 1962 Pintor, gravador, ilustrador e professor

“(...) os dois grandes Portinari que estão lá são extraordinários, faziam parte da exposição universal de 1939, que se fez em Nova York. Estiveram lá e depois foram para a embaixada. (...) O Gibson Alves Barboza, quando veio para ser ministro, mandou buscar imediatamente os dois quadros, porque, claro, era indispensável que viessem. De maneira que fi camos com esses dois quadros. Eles têm as seguintes características: são da mesma época dos célebres afrescos do Ministério da Educação, mas foram total- mente pintados pelo próprio Portinari, enquanto que os outros ele trabalhou com muita gente, ajudante. Esses dois quadros (...) foram pintados em fi ns de 37. Ele não tinha dinheiro, então ele mesmo pintava diretamente. São dois quadros admiráveis que representam o máximo que se poderia ter em matéria de quadros modernos”. MURTINHO, Wladimir do Amaral. Depoimento – Programa de História Oral. Brasília, Arquivo Público do Distrito Federal, 1990. p. 26.

Candido Portinari Brodósqui, SP, 1903 – Rio de Janeiro, RJ, 1962 Painter, printmaker, illustrator, teacher

“The two Portinaris there are extraordinary. They were part of the 1939 New York World’s Fair, after which they were taken to the embassy ... When Gibson Alves Barboza became minister, he immediately sent for both paintings, because, of course, it was essential that they be here ... They are from the same period as those frescos found in the Ministry of Education, but with an important difference: the ones in Itamaraty are painted completely by Portinari himself, while the others were worked on with other people, as- sistants. The Itamaraty Portinaris were painted at the end of 1937, when he didn’t have any money and painted alone. The two are admirable paintings, the cream of the crop in what regards of modern art.” MURTINHO, Wladimir do Amaral. Depoimento – Programa de História Oral. Brasilia: Arquivo Público do Distrito Federal, 1990. p. 26 Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 77 Itamaraty Palace, third floor | Sala Portinari, Portinari Salon |

| Os Jangadeiros, de Candido Portinari, têmpera sobre tela, 310 x 348 cm, 1939 (circa) | | The Raftsmen, by Candido Portinari, tempera on canvas, 310 cm x 348 cm, c. 1939 | 78 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Os Gaúchos, de Candido Portinari, têmpera sobre tela, 310 x 345 cm, 1939 (circa) | | The Gaúchos, by Candido Portinari, tempera on canvas, 310 cm x 345 cm, c. 1939 |

80 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Arcangelo Ianelli São Paulo, SP, 1922 –

O depoimento de Arcangelo Ianelli, no Dicionário Crítico da Pintura no Brasil, revela que “o quadro deve falar apenas por si, sem necessidade de dissertações. Deve transmitir algo às pessoas sensíveis, somente pelo conteúdo pictórico. Nunca com a fi nalidade de ‘contar uma história, revelar estados psíquicos’. Um pintor deve ter em mente realizar, antes de mais nada, pintura. Um quadro não é um livro contador de histórias, descritivo, ilustrativo ou explicativo. Pouco importa o que possa representar. Antes de mais nada terá que ser observado e analisado como pintura, na correlação das formas e das cores, em suma, os valores plásticos na sua visão mais pura e essencial. E o essencial é que deve irradiar aquela sublime sutileza, aquela misteriosa mensagem, tão difícil de descrever, mas que se sente através dos olhos e da sensibilidade e que se chama simplesmente Arte.” LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.

Arcangelo Ianelli São Paulo, SP, 1922 –

The testimony of Arcangelo Ianelli, in the Critical Dictionary of Painting in Brazil, reveals that “the paint- ing should speak for itself, without any text. It must transmit something to the sensitive only through its pictorial content, never with the purpose of ‘telling a story or revealing psychic states’. A painter should have painting in mind, before anything else. A picture is not a storybook - descriptive, illustrative, or explanatory. It doesn’t matter what it may represent. First of all, it will have to be observed and analyzed as a painting, in the correlation of its shapes and colors, in its pure and essential plastic values. More importantly, it should irradiate that sublime subtlety, that mysterious message so hard to describe, but which can be observed through the eyes and a keen sensibility, and is simply called Art.” LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 81 Itamaraty Palace, third floor | Sala Portinari, Portinari Salon |

| Sem título, de Arcangelo Ianelli, óleo sobre tela, 199 x 150 cm, 1973 | | Untitled, by Arcangelo Ianelli, oil on canvas, 199 cm x 150 cm, 1973 | 82 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Manabu Mabe Kumamoto, Japão, 1924 – São Paulo, SP, 1997 Pintor, gravador, ilustrador

“Os quatro ingredientes básicos da arte de Mabe são a paixão, o drama, o risco e a sensibilidade. Juntos, representam um artista de excepcional sensibilidade, cujas pinturas encarnam e reencarnam os grandes dramas da paixão contra a passividade, do movimento contra a inércia, e da vida contra a morte”, escre- veu o crítico Theodore F. Wolff. Sobre sua arte, Mabe declarou: “O que é a arte? Qual a fi nalidade da minha pintura? Um certo dia, pensei sobre tudo isto e, desde então, já se passaram mais de 20 anos. Foi bom ter pensado, pois o lavrador tornou-se pintor e minha vida mudou”. Ele nunca foi aluno de nenhum mestre e tampouco pertenceu a qualquer escola. Como diz, “possuo um estilo de pintura que eu mesmo desenvolvi, à custa de muito esforço e perseverança, o qual é facilmente identifi cável. A título de brincadeira, eu o denominei de ‘ma- bismo’. Mas esse estilo também foi sofrendo modifi cações com o decorrer do tempo. As pessoas dizem que ele representa a fusão do oriente com o ocidente, sendo a expressão da poesia lírica, mas eu creio que a minha pintura representa a mim mesmo”. MABE, Manabu. Palavras do artista. In: MANABU Mabe: vida e obra. São Paulo: Raízes, 1986. p. 9. MABE, Manabu. Chove no Cafezal. Nihon Keizai Shimbun. São Paulo 1994. p. 86. WOLFF, Theodore F. As múltiplas máscaras da arte moderna. In: MANABU Mabe: vida e obra. São Paulo: Raízes, 1986. p. 288.

Manabu Mabe Kumamoto, Japan, 1924 – São Paulo, SP, 1997 Painter, printmaker, illustrator

“The four basic ingredients of Mabe’s art are passion, drama, risk, and sensibility. Together they represent an artist of exceptional sensibility, whose paintings incarnate and reincarnate the great dramas of passion against passivity, movement against inertia, and life against death,” wrote the critic Theodore F. Wolff. Regarding his own art, Mabe stated, “What is art? Why am I painting? Twenty years have gone by since I last asked myself these questions. I'm glad I stopped to think. The peasant has become a painter. My life went through many changes.” He was never a pupil to any master nor did he belong to a school. As he says, “I have a painting style that I developed myself through much effort and perseverance, and which is easily identifi able. As a joke, I’ve called it ‘mabism’. But even this style has suffered changes in the course of time. People say that it represents the fusion of East and West, the expression of lyric poetry, but I believe that my painting represents me.” MABE, Manabu. Palavras do artista. In: MANABU Mabe: vida e obra. São Paulo: Raízes, 1986. p. 9. MABE, Manabu. Chove no Cafezal. Nihon Keizai Shimbun. São Paulo 1994. p. 86. WOLFF, Theodore F. As múltiplas máscaras da arte moderna. In: MANABU Mabe: vida e obra. São Paulo: Raízes, 1986. p. 288. Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 83 Itamaraty Palace, third floor | Sala Portinari, Portinari Salon |

| Juramento, de Manabu Mabe, óleo sobre tela, 240 x 240 cm, 1967 | | Oath, by Manabu Mabe, oil on canvas, 240 cm x 240 cm, 1967 | 84 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Sem título, de Arcangelo Ianelli, óleo sobre tela, 199 x 150 cm, 1973 | | Untitled, by Arcangelo Ianelli, oil on canvas, 199 cm x 150 cm, 1973 | Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 85 Itamaraty Palace, third floor | Sala Portinari, Portinari Salon |

“Quem comparecer, hoje, à recepção que será oferecida à rainha da Inglaterra, terá a oportunidade de ver belas obras de arte que o bom gosto do Embaixador Murtinho reuniu para o belo Palácio. A ala oeste do Salão de Recepção vai apresentar, numa das paredes, dois anjos de 1737, que pertenciam à Igreja de São Pedro dos Clérigos, demolida para a abertura da Avenida Presidente Vargas, no Rio. As seis camadas de pintura que escondiam a cobertura original em ouro foram raspadas a bisturi, com extremo cuidado, e os anjos apresentar-se-ão, hoje, tal como eram no altar-mor da velha igreja”. (Ari Cunha) MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasília: Thesaurus, 1995. p. 85.

“Whoever attends tonight’s reception, offered to the Queen of England, will have the opportunity to see the beautiful artworks gathered for this graceful Palace by the good taste of Ambassador Murtinho. The west wing of the Reception Room will present, on one of its walls, two angels from 1737. They once be- longed to the Church of Saint Peter of the Clerics, since demolished for the opening of President Vargas Avenue in Rio. The six layers of painting that hid the original gold coating were scraped off by scalpel with extreme care, so that the Angels will present themselves today such as they were up in the high altar of the church.” (Ari Cunha) MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasilia: Thesaurus, 1995. p. 85. 86 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Anjos, século XVIII Proveniente da Igreja de São Pedro dos Clérigos, Rio de Janeiro, hoje demolida, de autor desconhecido, madeira entalhada e policromada, 135 cm | Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 87 Itamaraty Palace, third floor | Sala Portinari, Portinari Salon |

| Angels, 18th century, proceeding from the Church of Saint Peter of the Clerics in Rio de Janeiro, now demolished, by Anonymous, carved polychrome wood, 135 cm | 88 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Sala D. Pedro I

Sala Rio de Janeiro Sala Bahia

Oratório

Sala D. Pedro II Sala Portinari

Sala Brasília Sala Duas Épocas

Salão Nobre Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 89 Itamaraty Palace, third floor | Sala Duas Épocas, Duas Épocas Room | 90 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Milton Dacosta Niterói, RJ, 1915 – Rio de Janeiro, RJ, 1988 Pintor, desenhista, gravador e ilustrador.

Como o artista descreveu seu ofício, “o pintor deve estar presente, por inteiro, no quadro. Se isto não acontecer, sua arte se enfraquece ou se esvazia. Tudo em minha pintura é pensado e repensado. Não gosto das coisas feitas de improviso. Somente na música os improvisos são válidos. Isto mesmo pela natureza essencialmente temporal dessa arte. Já na pintura, as coisas têm de ser meditadas e realizadas com cuidado. É por esta razão que, em se tratando de minha arte, desconfi o das coisas feitas com es- pontaneidade. São sempre perigosas. Creio mesmo que o pintor, quando chega diante do cavalete, deve se dar conta de que tem de conseguir este ambicioso propósito. Mas deve tê-lo presente no espírito e no coração. Em arte, a gente não faz o que quer. Faz o que pode. Esta é uma regra válida, tanto para a pintura, como para as demais artes. Talvez seja por isto que eu quase nunca pinto um quadro de uma só vez. Coloco-o com freqüência de lado, esperando a oportunidade de revê-lo, analisá-lo e aprontá-lo defi nitivamente.” MARTINS Gandra, JP (ed.). Milton Dacosta. São Paulo: Kosmos, 1980. p. 236-237

Milton Dacosta Niterói, RJ, 1915 – Rio de Janeiro, RJ, 1988 Painter, drawer, printmaker, illustrator

As the artist described his craft: “The painter must be entirely present in the painting. If this does not hap- pen, the art grows weak or becomes empty. Everything in my painting is considered and reconsidered. I don’t like things made offhand. Only in music is improvisation valid, due to the essentially temporal nature of that art. In painting, things have to be meditated and carried out carefully. It is for this reason that, when it comes to art, I suspect things made spontaneously. They are always dangerous. I really believe that the painter, when approaching the easel, must be aware of the ambitious purpose he has to achieve. He should bear it in his spirit and heart. In art, we don’t do what we want, but what we can. This rule is valid for painting and for other arts as well. Maybe that’s why I rarely fi nish a painting in one go. I repeatedly put it away, waiting for the opportunity to see it again, analyze it, and fi nish it defi nitively.” MARTINS Gandra, JP (ed.). Milton Dacosta. São Paulo: Kosmos, 1980. pp. 236-237. | Figura, de Milton Dacosta, óleo sobre tela, 100 x 81 cm, 1951 | | Figure, by Milton Dacosta, oil on canvas, 100 x 81 cm, 1951 | 92 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Sem título, de Tomie Ohtake, óleo sobre tela, 239 x 217 cm, 1987 | | Untitled, by Tomie Ohtake, oil on canvas, 239 x 217 cm, 1987 | Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 93 Itamaraty Palace, third floor | Salão Nobre, Noble Salon |

Sala D. Pedro I

Sala Rio de Janeiro Sala Bahia

Oratório

Sala D. Pedro II Sala Portinari

Sala Brasília Sala Duas Épocas

Salão Nobre

96 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Lasar Segall Vilna, Lituânia, 1891 – São Paulo, SP, 1957 Pintor, gravador, escultor e desenhista

Sobre a obra do pintor, Mário de Andrade escreveu que, em Dresden, na Alemanha, já era condensada: “Condensação anímica das fi guras desvalorizadas proposital e insensualmente nos corpos, mas expan- dindo toda a signifi cação dramática nas cabeças enormes de olhos ainda maiores, que ultrapassam os limites dos rostos numa vibratilidade angustiosíssima. Condensação desenhística que soube com- preender a lição da arte negra e do cubismo e também condensação cromática, que se exprimia em tonalidades intensas enervadas ainda mais pela bravura do pincel”. O escritor conta, ainda, sobre a segunda visita do pintor ao Brasil, que “a presença do moço expressio- nista era por demais prematura para que a arte brasileira, então em plena unanimidade acadêmica, se fecundasse com ela. Mas em 1923 o pintor aportava de novo em nossa pátria. Então ele viu o Brasil e o Brasil o viu, num primeiro amor a que o artista se entregou com toda a sua generosidade apaixonada”. ANDRADE, Mário de. Lasar Segall. In: Modernidade: arte brasileira do século XX. Paris: Musée d'Art Moder- ne de la Ville de Paris, 1988. p. 20.

Lasar Segall Vilna, Lithuania, 1891 – São Paulo, SP, 1957 Painter, printmaker, sculptor, drawer

Mário de Andrade wrote that, in Dresden, Germany, the artist’s work was already characterized by its condensation: “An animistic condensation in the bodies of intentionally and asexually devalued fi gures. The work lays all of its dramatic meaning out on the giant heads and the even larger eyes, which exceed the limits of the faces in a distressing vibratility. Its condensation shows an understanding of the lessons of black art, cubism, and also chromatic condensation, which expressed itself in intense tonalities, ener- vated moreover by the brush’s brave strokes.” The writer tells of the painter’s second visit to Brazil, during which “the presence of the young expres- sionist artist was too premature in the world of Brazilian art, at the time in full academic unanimity, to inseminate it. But in 1923, the painter returned to our country. Finally, he saw Brazil and Brazil saw him, fostering a love affair to which the artist devoted himself with all his passionate generosity.” ANDRADE, Mário. Lasar Segall. In: Modernidade: arte brasileira do século XX. Paris: Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, 1988. p. 20.

| Três Jovens, de Lasar Segall, bronze, bloco único fundido com pátina, 155 x 83 x 73 cm, 1939, doa- ção da Associação Cultural de Amigos do Museu Lasar Segall, 2001 | | Three Ladies, by Lasar Segall, bronze single block molten with patina, 155 cm x 83 cm x 73 cm, 1939, donated by the Cultural Association of Friends of the Lasar Segall Museum, 2001 |

98 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Alfredo Ceschiatti , MG, 1918 – Rio de Janeiro, RJ, 1989 Escultor, desenhista, professor.

O amigo Oscar Niemeyer disse sobre Ceschiatti que, como dois bons amigos, ambos vão caminhando pela vida. O arquiteto absorvido pela profi ssão, inventando formas, brincando com o concreto armado, e Ceschiatti fazendo esculturas. “Essas mulheres lindas, barrocas, cheias de curvas, que seu talento cria para o mármore. Como gosto de vê-las! De sentir, depois de tantos anos que nosso amigo não mudou, que não ingressou em caminhos alheios, mantendo-se autêntico, modesto, irrepreensível”. CESCHIATTI, Alfredo. Ceschiatti. São Paulo: MAM, 1976. p. 2

Alfredo Ceschiatti Belo Horizonte, MG, 1918 – Rio de Janeiro, RJ, 1989 Sculptor, drawer, teacher

Oscar Niemeyer said of himself and his friend Ceschiatti that, like two good friends, they walk through life together: the architect, absorbed by his profession, inventing shapes, playing with concrete; Ceschiatti, making sculptures. “These beautiful, baroque, curvaceous women that he creates out of marble - how I love to see them, to feel that after this many years our friend hasn’t changed, that he did not follow other paths. He kept himself authentic, modest, irreprehensible.” CESCHIATTI, Alfredo. Ceschiatti. São Paulo: MAM, 1976. p. 2. Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 99 Itamaraty Palace, third floor | Salão Nobre, Noble Salon |

| Eva, de Alfredo Ceschiatti, bronze | Duas Amigas, de Alfredo Ceschiatti, bronze fundido, patinado, polido e cinzelado, fundido, patinado, polido e cinzelado, 255 x 127 x 147 x 47 x 34 cm, 1965 | 58 cm, 1967-1968 | | Eve, by Alfredo Ceschiatti, cast | Two Girlfriends, by Alfredo Ceschiatti, cast bronze, in patina, polished and chiseled, bronze, in patina, polished and chiseled, 255 cm 147 cm x 47 cm x 34 cm, 1965 | x 127 cm x 58 cm, 1967-1968 | 100 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Victor Brecheret São Paulo, SP, 1894 – 1955 Escultor

Em depoimento a Maria Antônia, Brecheret disse que foi parar em Paris depois da 1ª Grande Guerra e o que lá encontrou era completamente diverso do que aprendera. Ficou aturdido e confuso. Passou um ano sem trabalhar, embora freqüentasse ateliers e artistas. Depois, arrastado pelo ambiente, entrou na fase modernista. Ele declarou que o que se fazia à época no estrangeiro ou no Brasil já tinha sido feito na Europa depois de 1920. Naquele tempo, segundo o artista, desejava-se acabar com o convencionalismo na arte. “Fora das bases clássicas, seria inútil tentar criar alguma coisa nova. Aliás, na arte, tudo o que se poderia con- seguir já tinha sido feito”, como contou. ANTONIA, Maria. Brecheret fala de arte. In: BRECHERET: 60 anos de notícia. São Paulo: s.n., 1976. p.93-95.

Victor Brecheret São Paulo, SP, 1894 – 1955 Sculptor

In a statement given to Maria Antônia, Brecheret said he arrived in Paris after World War I and what he found there was completely different from what he’d been taught. Dazed and confused, he spent a year not working, though still visiting studios and artists’ homes. However, the environment eventually dragged him into the modernist phase. He said that what was being done both abroad and in Brazil at that time was already being done in Eu- rope since 1920. In those days, the artist explained, conventionalism in art was no longer wanted. “Out- side of the classical bases, it would be useless to try to create something new. Besides, in art, everything you could do had already been done,” he claimed. ANTONIA, Maria. Brecheret fala de arte. In: BRECHERET: 60 anos de notícia. São Paulo: s.n., 1976. pp.93-95. Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 101 Itamaraty Palace, third floor | Salão Nobre, Noble Salon |

| Nu Deitado, de Victor Brecheret, gesso patinado e polido, 65 x 130 x 27,5 cm, 1940 (circa), doação da família do artista. Este gesso é o molde da escultura em bronze intitulada Depois do Banho, localizada no Largo do Arouche em São Paulo |

| Lying Nude, de Victor Brecheret, plaster in patina, polished, 130 cm x 27.5 cm x 65 cm, 1940, donated by the family of the artist. This plaster is the mould of the bronze sculpture named “After the Bath”, located at the Largo do Arouche, in São Paulo | | Canto da Noite, de Maria Martins, bronze polido. Obra fundida em bloco único de bronze, patinado em amarelo ouro e polido, 170 x 203 x 122 cm, 1968 | | Song of the Night, by Maria Martins, polished bronze. Work cast in a single bronze block, in gold yellow patina, polished, 170 cm x 203 cm x 122 cm, 1968 | 104 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Sala D. Pedro I

Sala Rio de Janeiro Sala Bahia

Oratório

Sala D. Pedro II Sala Portinari

Sala Brasília Sala Duas Épocas

Salão Nobre Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 105 Itamaraty Palace, third floor | Sala Brasília, Brasilia Salon | 106 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Roberto Burle Marx São Paulo, SP, 1909 – Rio de Janeiro, RJ, 1994

Pintor, arquiteto paisagista, decorador, artesão de jóias e tapeceiro. Burle é o nome da família maternal, gente de Pernambuco, de ascendência francesa e portuguesa. Marx é o nome paterno, israelita alemão, nascido em Treves. Em companhia da família transferiu-se em 1913 para o Rio de Janeiro. Em 1927, ingressou na antiga Escola Nacional de Belas Artes, para estudar arquitetura. (...) viajou para a Europa e permaneceu dois anos na Alemanha, quando teve sua atenção despertada para a fl ora brasileira, nas estufas do Jardim Botânico de Dahlen, em Berlim. Regressando ao País, voltou em 1930 à antiga Escola Nacional de Belas Artes. (...) A partir de 1933, quando concebeu jardim para uma residência particular projetada por Lucio Costa e recebeu desse arquiteto fortes estímulos, passou a dedicar-se à jardinagem. No ano seguinte ocupou a direção de Parques e Jardins do Recife, onde projetou jardins e praças públicas e instalou, em 1937, o primeiro jardim ecológico do País. Voltando ao Rio de Janeiro, fez parte da equipe de arquitetos, chefi ada por Lucio Costa e encarregada do projeto do edifício do antigo Ministério da Educação e Saúde, cujos jardins internos e externos planejou. Desde então, são numerosos seus trabalhos de arquiteto-paisagista. Palácio Itamaraty Brasília: Brasília, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. p. 142. Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 107 Itamaraty Palace, third floor | Sala Brasília, Brasilia Salon |

Roberto Burle Marx São Paulo, SP, 1909 – Rio de Janeiro, RJ, 1994 Painter, landscape architect, decorator, jewelry artisan, tapestry artisan

Burle is his mother’s family name, Pernambuco folk of French and Portuguese ascendancy. Marx is from the father, a German Israelite born in Trier. Together with his family, Marx arrived in Rio de Janeiro in 1913. In 1927, he enrolled in the former National School of Fine Arts to study architecture ... He settled in Germany for two years, and during this time his attention was drawn to the Brazilian fl ora, thriving in the greenhouses of the Dahlen Botanical Garden, in Berlin. Back in Brazil in 1930, he returned to the National School of Fine Arts. In 1933, he planned the garden of a private residence designed by Lúcio Costa, with whose encouragement he began to dedicate himself to gardening. The following year, he was given charge of Recife’s Parks and Gardens. He designed gardens and public squares and, in 1937, installed the country’s fi rst ecological garden. Marx returned to Rio de Janeiro, where he joined a team of architects entrusted with building the former Ministry of Education and Health and directed by Lúcio Costa. Marx designed its internal and external gardens. From then on, he was involved in numerous works as a landscape architect. Palácio Itamaraty Brasília: Brasília, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. p. 142.

| Vegetação do Planalto Central, de Roberto Burle Marx, tapeçaria em lã, 4,15 x 25,50 m | | Vegetation of the Central Plateau, by Roberto Burle Marx, tapestry in wool , 4.15 m x 25.50 m | 108 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Sala D. Pedro I

Sala Rio de Janeiro Sala Bahia

Oratório

Sala D. Pedro II Sala Portinari

Sala Brasília Sala Duas Épocas

Salão Nobre Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 109 Itamaraty Palace, third floor | Sala Bahia, Bahia Room |

Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 111 Itamaraty Palace, third floor | Sala Bahia, Bahia Room |

| Provavel teto de um salão de música (detalhe), de Anônimo, madeira policromada, 390 x 450 cm, século XVIII | | Ceiling possibly of a music room (detail), Anonymous, polychrome wood, 390 cm x 450 cm, 18th century | 112 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Abraham Louis Buvelot Morges, Suíça, 1814 – Melbourne, Austrália, 1888 Suíço, estudou pintura em seu país, com Arland. Em 1865, radicou-se na Austrália, onde, hoje, é considerado o paisagista que faz a ligação entre a obra de Conrad Martens (1801-1878) e os artistas que fi zeram parte da Heidelberg School (fi ns do século XIX). Viveu dezoito anos no Brasil, participando regularmente das Exposições Gerais da Academia Imperial de Belas Artes, tendo sido premiado, em 1843, com a medalha de ouro. Dedicou-se, também no Rio, à reprodução de aspectos urbanos e de panoramas, em colaboração com o pintor francês Louis Auguste Moreaux. Editou, em 1845, um álbum litográfi co com esses trabalhos.

Abraham Louis Buvelot Morges, Switzerland, 1814 – Melbourne, Australia, 1888

A Swiss national, he studied painting in his homeland with Arland. In 1865, he settled in Australia, where he is now remembered as the landscape gardener who bridges the work of Conrad Martens (1801- 1878) and that of the artists who were part of the Heidelberg School (late 19th century). Buvelot spent eighteen years in Brazil. He became a regular in the General Exhibitions of the Imperial Academy of Fine Arts, and awarded a gold medal in 1843. In Rio, he engrossed himself in the reproduction of urban aspects and panoramas, in collaborations with the French painter Louis Auguste Moreaux. In 1845, he edited a lithographic album of these works. Palácio Itamaraty Brasília: Brasília, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. p. 74. Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 113 Itamaraty Palace, third floor | Sala Bahia, Bahia Room |

| Vista da Bahia tomada do caminho do Monte Serrat, de Abraham Louis Buvelot, óleo sobre tela, 38,2 x 49,4 cm, 1839 |

| View of Bahia taken from the path to Monte Serrat | , by Abraham Louis Buvelot, oil on canvas, 38.2 cm x 49.4 cm, 1839 | 114 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Sala D. Pedro I

Sala Rio de Janeiro Sala Bahia

Oratório

Sala D. Pedro II Sala Portinari

Sala Brasília Sala Duas Épocas

Salão Nobre Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 115 Itamaraty Palace, third floor | Sala Rio de Janeiro, Rio de Janeiro Room | 116 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Sala D. Pedro I

Sala Rio de Janeiro Sala Bahia

Oratório

Sala D. Pedro II Sala Portinari

Sala Brasília Sala Duas Épocas

Salão Nobre Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 117 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro II, D. Pedro II Room | 118 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Delfi m Joaquim Maria Martins da Câmara Magé, RJ, 1834 - ? Quando sobreveio a guerra com o Paraguai, em 1865, e os soldados do general López invadiram Uruguaiana, Delfi m da Câmara encontrava-se naquela cidade, pintando. Larga a paleta e alista-se voluntário. De soldado raso volta, em 1870, no fi m da campanha, no posto de capitão, para a sua província natal. Foi depois, por longos anos, professor de desenho técnico na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Deixou alguns retratos cheios de vida e expressão. Palácio Itamaraty Brasília: Brasília, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. p. 76.

Del fi m Joaquim Maria Martins da Câmara Magé, RJ, 1834 - ?

When war with Paraguay befell in 1865, and General Lopez’s soldiers invaded Uruguaiana, Delfi m da Câmara was in the city, painting. He dropped the palette and volunteered. At fi rst a mere buck private, he returned to his home province at campaign’s end as captain, in 1870. For many years afterwards, he taught technical drawing at the Polytechnical School of Rio de Janeiro. He left a few portraits fi lled with life and expression. Palácio Itamaraty Brasília: Brasília, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. p. 76. Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 119 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro II, D. Pedro II Room |

| Retrato de Dom Pedro II, de Delfi m Joaquim Maria Martins da Câmara, óleo sobre tela, 80 x 63,5 cm, 1875 |

| Portrait of Dom Pedro II, by Delfi m Joaquim Maria Martins da Câmara, oil on canvas, 80 cm x 63.5 cm, 1875 | 120 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Retrato de Dom Pedro I, de Rodolfo Amoedo, Salvador, BA, 1857 – Rio de Janeiro, RJ, 1941, óleo sobre tela, 68 x 41 cm , 1908 | Cópia realizada por Amoedo da pintura de Henrique Silva, atualmente no Museu Nacional de Belas Artes (na época Escola de Belas Artes).

| Portrait of Dom Pedro I, by Rodolfo Amoedo, Salvador, BA, 1857 – Rio de Janeiro, RJ, 1941, oil on canvas, 68 cm x 41 cm , 1908 | Copy made by Amoedo of Henrique Silva’s painting, presently at the National Museum of Fine Arts (former School of Fine Arts) Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 121 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro II, D. Pedro II Room |

| Retrato de Dom João VI, de Rodolfo Amoedo, óleo sobre tela, 68 x 41 cm, 1908 | Cópia realizada por Amoedo da pintura de Debret (1817), atualmente no Museu Nacio- nal de Belas Artes (na época Escola de Belas Artes).

| Portrait of Dom João VI, by Rodolfo Amoedo, oil on canvas, 68 cm x 41 cm , 1908 | Copy made by Amoedo of Debret’s painting (1817), presently at the National Museum of Fine Arts (former School of Fine Arts). 122 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Retrato de Dom Pedro II , de Rodolfo Amoedo, óleo sobre tela, 68 x 41 cm, 1908 | Cópia realizada por Amoedo do Retrato de D. Pedro II, de Vinot, cujo original pertence ao Instituto Histórico e Geográfi co.

| Portrait of Dom Pedro II, by Rodolfo Amoedo, oil on canvas, 68 cm x 41 cm, 1908 | Copy made by Amoedo of Vinot’s “Portrait of D. Pedro II”, whose original belongs to the Historic and Geographical Institute Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 123 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro II, D. Pedro II Room |

| “Le Tricheur”, de Pierre Pourbus, Gouda, Países Baixos, 1510 (?) – 1584, óleo sobre madeira, 70 x 101,5 cm, Século XVI | | Le Tricheur, de Pierre Pourbus, Gouda, Netherlands, 1510 (?) – 1584, oil on wood, 70 cm x 101.5 cm, 16th century | 124 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Autor desconhecido Estátua em madeira encerada Imagem de santa com cabelos abotoados, duas saias com uma rendilha na ponta. Presume-se tratar de imagem de Santa Bárbara.

“Da Bahia, veio uma Santa Bárbara, do fi m do século XVII. Numa nova sala que se decora e abre pela primeira vez, hoje, situada no lado leste do Salão de Recepções, de frente para o Anexo da Câmara, a parede será ornada com uma grande quadro de Djanira, representando um casario baiano. Essa obra foi comprada para presentear um visitante ilustre, mas o Cerimonial preferiu retê-la no Palácio, pelo seu valor artístico e histórico". MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasília: Thesaurus, 1995. p. 85.

Anonymous Statue in waxed wood A saint with buttoned hair and two skirts with a fi ne lace on the edge Presumably an image of Saint Barbara

“From Bahia, came a fi gure of Saint Barbara from the end of the 17th century. In a new room just opened today, located on the east side of the Reception Room and facing the annex of the City Council, a great Djanira painting will adorn the walls, depicting a group of houses in Bahia. This work was bought to be presented to an illustrious guest, but the Offi ce of Protocol preferred to keep it at the Palace, due to its artistic and historical value.” MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasília: Thesaurus, 1995. p. 85. Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 125 Itamaraty Palace, third floor | Sala D. Pedro II, D. Pedro II Room | 126 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Sala D. Pedro I

Sala Rio de Janeiro Sala Bahia

Oratório

Sala D. Pedro II Sala Portinari

Sala Brasília Sala Duas Épocas

Salão Nobre Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 127 Itamaraty Palace, third floor | Oratório, Oratory |

| Tapeçaria, de Autor desconhecido, Gobelin, 180 x 200 cm, Século XIX | | Tapestry, Anonymous, Gobelin, 180 cm x 200 cm, 19th century | 128 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Oratório, de Autor desconhecido, madeira policromada, 220 x 115 x 52 cm, século XVII | | Oratory, Anonymous, Paracatu, MG, polychrome wood, 220 cm x 115 cm x 52 cm, 17th century |

Apesar de incompleto, o Palácio chamava a atenção de todos pela amplitude de suas salas sem colunas. A decoração era outra nota que despertava a admiração pela raridade, beleza e riqueza de algumas peças, como os móveis da Sala dos Tratados, da coleção do próprio Barão do Rio Branco, inclusive a mesa onde foi assinado o Tratado de Petrópolis, em 1903 e, a partir daí, todos os demais tratados diplomáticos fi rmados no Brasil com outros Estados. Outra peça rara era o oratório do século XVII, feito em Paracatu, MG, e comprado por Oswaldo Aranha em 1940. Do Recife, vieram móveis estilo manuelino, do século XVII. MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasília: Thesaurus, 1995. p. 70. Palácio Itamaraty, terceiro pavimento | 129 Itamaraty Palace, third floor | Oratório, Oratory |

| Nossa Senhora do Carmo , de Autor desconhecido, madeira policromada, 114 x 42 x 32 cm, século XVII | | Our Lady of Carmel , Anonymous, polychrome wood, 114 cm x 42 cm x 32 cm, 18th century |

Although incomplete, the Palace drew the attention of everyone because of the size of its rooms and the lack of columns. The decoration was another cause of admiration, due to the rarity, beauty, and wealth of some pieces. For example, the furniture of the Treaty Room, from the Baron of Rio Branco’s own collection, included the table on which the Treaty of Petropolis was signed in 1903, and on which every subsequent diplomatic treaty with other States was signed. Another rare piece was the 17th century oratory, made in Paracatu and bought by Ambassador Oswaldo Aranha in 1940. Some furniture from the D. Manuel I of Portugal period (17th century), was brought over from Recife. MENDES, Manuel. O Cerrado de Casaca. Brasília: Thesaurus, 1995. p. 70.

Palácio Itamaraty, subsolo | 131 Itamaraty Palace, underground floor | 132 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Sérgio de Camargo Rio de Janeiro, RJ, 1930 – 1990 Escultor

Frederico Morais acredita que “Sérgio de Camargo criou relevos e esculturas para atrair a luz – o branco como armadilha. A luz era sua matéria-prima, costumava dizer. Mas depois de percorrer a obra, deserto branco, a luz quer descansar. Melhor, deseja a sombra, sem perder de vista o sol. Solombra. E é nesse momento, na sombra, que a obra vibra. Em silêncio. A sombra funciona como corte. Intercepção da luz. O corte é preciso, rápido, rigoroso, mas nunca áspero ou agressivo. Cai sempre em oblíqua. Como a sombra. Contra a plenitude da forma, o corte. Contra a plenitude da luz, a sombra. Uma sensualidade discreta percorre toda a obra do artista”. MORAIS, Frederico. Tridimensionalidade na arte brasileira do século XX. In: Tridimensionalidade: arte bra- sileira do século XX. 2.ed. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 1999. p. 233. Palácio Itamaraty, subsolo | 133 Itamaraty Palace, underground floor |

Sérgio de Camargo Rio de Janeiro, RJ, 1930 – 1990 Sculptor

Frederico Morais believes that “Sérgio de Camargo created reliefs and sculptures to attract light – using the color white as a trap. Light was his raw material, he used to say. But after going through the artwork, a white desert, the light has to rest. Better yet, it desires the shadow, without losing sight of the sun. Solom- bra (sun and shadow). In that moment, in the shadow, the work vibrates. In silence. The shadow works like a cut, the interception of light. The cut is precise, fast, rigorous, but never harsh, never aggressive. It falls obliquely, like the shadow. Against the plenitude of the shape, the cut. Against the plenitude of the light, the shadow. A discreet sensuality fl ows through the entire work of the artist.” MORAIS, Frederico. Tridimensionalidade na arte brasileira do século XX. In: Tridimensionalidade: arte bra- sileira do século XX. 2.ed. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 1999. p. 233.

| Muro Estrutural, de Sérgio de Camargo, relevo, blocos de concreto e tinta vinílica, 4,45 x 26 m, 1965-1966 | | Structural Wall, by Sérgio De Camargo, relief, concrete blocks and vinyl paint, 4.45 m x 26 m, 1965 -1966 | 134 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Rubem Valentim Salvador, BA, 1922 – São Paulo, SP, 1991 Escultor, pintor, gravador e professor

Palavras do artista: “Minha arte tem um sentido monumental intrínseco. Vem do rito, da festa. Busca as raízes e poderia reencontrá-las no espaço, como uma espécie de ressocialização da arte, pertencendo ao povo. É a mesma monumentalidade dos totens, ponto de referência de toda a tribo. Meus relevos e objetos pedem fundalmentalmente o espaço. Gostaria de integrá-los em espaços urbanísticos, arquite- tônicos, paisagísticos”. VALENTIM, Rubem. Rubem Valentim: artista da luz. São Paulo: Pinacoteca, 2001. p.30. Palácio Itamaraty, subsolo | 135 Itamaraty Palace, underground floor |

Rubem Valentim Salvador, BA, 1922 – São Paulo, SP, 1991 Sculptor, painter, printmaker, teacher

Words of the artist: “My art has a monumental intrinsic meaning. It comes from the rite, the feast. It seeks the roots and could fi nd them again in space, a sort of resocialization of art, belonging to the people. It is the same monumentality of the totems, a point of reference to the entire tribe. My reliefs and other pieces fundamentally ask for space. I would like to integrate them into landscapes and into urban and architectonic spaces.” VALENTIM, Rubem. Rubem Valentim: artista da luz. São Paulo: Pinacoteca, 2001. p.30.

| Templo de Oxalá, de Rubem Valentim, relevo, madeira recortada e esmaltada de branco, 3,30 x 13,45 m, 1977 | | Temple of Oxala, by Rubem Valentim, relief, white enameled, cutout wood, 3.30 m x 13.45m, 1977 | 136 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Emanoel Araújo Santo Amaro da Purifi cação, BA, 1940 – Escultor, desenhista, ilustrador, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo

Sobre Emanoel Araújo, George Nelson Preston escreveu: “É fi rmemente independente em espírito e, tanto como homem quanto como artista, resiste a rótulos artísticos, políticos ou intelectuais. Não obs- tante, é impossível apreciar plenamente um artista sem discuti-lo no limiar de seu contexto histórico. É impossível comentar um artista ignorando tudo que o antecedeu e tudo que está acontecendo ao seu redor. Para alguns artistas, nacionalidade não quer dizer nada, mas no caso de Araújo compreender algo do enigma brasileiro é importante”. Emanoel Araújo, além de brasileiro, tem ascendência africana com predecessores Nagô e “as teorias da não-construção, redução, frontalidade, a repetição generalizada de formas primárias e o não uso de textu- ras, perspectiva, cor natural, conteúdo narrativo e literário obrigatórios no movimento minimalista em pin- tura e escultura precisam ser avaliados em relação a alguns cânones formais básicos da arte paleo-africana e neo-africana”. Como brasileiro – discorreu o crítico – “o artista sente que chegou aos seus africanismos organicamente e não através de uma síntese intelectual, como seus contemporâneos norte-americanos fi zeram". ARAÚJO, Emanoel. Emanoel Araújo: esculturas, relevos. São Paulo: Skultura Galeria de Arte, 1987. Palácio Itamaraty, subsolo | 137 Itamaraty Palace, underground floor |

Emanoel Araújo Santo Amaro da Purifi cação, BA, 1940 – Sculptor, drawer, illustrator, printmaker, scenographer, painter, curator, museologist

George Nelson Preston wrote about Emanoel Araújo: “He is fi rmly independent in spirit and, as a man and an artist, he resists artistic, political, and intellectual labels. Nevertheless, it is impossible to fully appreciate an artist without discussing him in the threshold of his historical context. It is impossible to comment on an artist while ignoring everything that preceded him and everything that is happening around him. Nationality means nothing to some artists, but in Araújo’s case, understanding something of the Brazilian enigma is important.” Emanoel Araújo, while Brazilian, has an African ascendancy of Nagô predecessors. “The following cha- racteristics, found in Araújo’s work, need to be evaluated in connection with some basic formal canons of Paleo-African and Neo-African art: the theories of non-construction, reduction, and frontality; the ge- neralized repetition of primary shapes; the nonuse of textures, perspectives, natural color, and narrative and literary content. All of these are obligatory in the minimalist movement of painting and sculpture.” As a Brazilian, wrote Preston, “The artist feels that he arrived at his Africanisms organically, rather than through an intellectual synthesis, as his North American contemporaries did.” ARAÚJO, Emanoel. Emanoel Araújo esculturas, relevos. São Paulo: Skultura Galeria de Arte, 1987.

| Grande Relevo Branco, de Emanoel Araújo. relevo em madeira esmaltada de branco, 2,70 x 11,17 m, sem data |

| Great White Relief, by Emanoel Araújo, relief in white enameled wood, 2.70 m x 11.17 m, no date |

Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 139 Itamaraty Palace, other paintings and pictures | 140 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Retrato do Barão do Rio Branco, de Davis Sanford, Estados Unidos, fotografi a aquarelada, 41 x 34 cm, 1893 | | Portrait of the Baron of Rio Branco, by Davis Sanford, United States, watercolor photograph, 41 cm x 34 cm, 1893 | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 141 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

Antonio Felix da Costa Antonio Felix da Costa Portugal Portugal

Artista que se dedicou sobretudo ao retrato. Foi An artist who above all dedicated himself to por- discípulo de Miguel Angelo Lupi. Figurou com traits, Costa was a pupil of Miguel Angelo Lupi. pintura nas mostras da Sociedade Promotora de His paintings were on show at exhibitions of the Belas Artes nos anos 1867 e seguintes, do Grêmio Society for the Promotion of Fine Arts and the Na- Artístico, dos anos 1891 em diante, e da Socieda- tional Society of Fine Arts in the late 1860s and in de Nacional de Belas Artes, em 1919. Fez retratos 1919, respectively. At the Artistic Club, his paintings do Rei D. Luís, do Rei D. Carlos e também de Fon- graced exhibitions from 1891 onward. He painted tes Pereira de Melo, Duque de Ávila e Bolama. portraits of King D. Luís, King D. Carlos and also Fon- tes Pereira de Melo, Duke of Ávila and Bolama.

| Retrato do Marechal Deodoro, Antonio Felix da Costa, óleo sobre tela, 58,5 x 55,5 cm, 1890 | | Portrait of Marshal Deodoro, by Antonio Felix da Costa , oil on canvas, 58.5 cm x 55.5 cm, 1890 | 142 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Retrato de Hipólito José da Costa, de Autor desconhecido, óleo sobre tela, 76 x 63 cm, primeiro quartel do século XIX | | Portrait of Hipólito José da Costa, Anonymous, oil on canvas, 76 cm x 63 cm, fi rst quarter of the 19th century | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 143 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Retrato do Barão do Rio Branco , de Carlo de Servi, Lucca, Itália, 1871 – Roma, 1947, óleo sobre tela, 81 x 60 cm, primeira década do século XX | | Portrait of Baron of Rio Branco, by Carlo de Servi, Lucca, Italy, 1871 – Rome, Italy, 1947, oil on canvas, 81 cm x 60 cm, fi rst decade of the 20th century | 144 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Giovanni Battista Felice Castagneto Gênova, Itália, 1851 – Rio de Janeiro, RJ, 1900 Pintor, desenhista e professor

“Para Castagneto, o pintor do mar, o mar era um estado de alma e a pintura, uma forma de vida. Vivia na praia de Santa Luzia, numa casa que parecia um barco. Qualquer objeto lhe servia para fi xar a lembrança de um trecho de praia ou para copiar um tema. Apoderava-se, então, do tema com o traço febril da mão e com grande economia de meios, até transfi gurá-lo numa imagem simplifi cada e rápida, a fi m de não perder a força da sensação”, escreveu Luciano Migliaccio. “Em certos pontos, percebem-se a violência do gesto, o uso de instrumentos improvisados e até mesmo do polegar, à maneira dos escultores. Os botes a seco de Castagneto ultrapassam os limites de gênero, atingindo, não raro, o domínio da expressão lírica, como nos cascos–hieróglifos de De Fiori, Volpi, ou nas areias deslumbrantes de Pancetti”, como defi niu o crítico. Mostra do Redescobrimento, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 129-130.

Giovanni Battista Felice Castagneto Genoa, Italy, 1851 – Rio de Janeiro, RJ, 1900 Painter, drawer, teacher

“To Castagneto, the painter of the sea, the sea was a state of the soul and painting was a way of life. He lived in a Santa Luzia beach house that looked like a boat. Any object could recall to his mind some part of the beach and serve as the base of a theme. He would seize upon these themes with the hectic trace of his hand and with a great economy of means, until he had captured them in quick, simplifi ed images - all so he would not to lose the strength of the sensations,” wrote Luciano Migliaccio. “At certain points, there is a violence to his gesture, and the use of improvised instruments, even of the thumb, can be noticed, as if he were a sculptor. Castagneto’s paintings of skiffs in dry places surpass the limits of genre, occasionally entering the dominion of lyric expression, like the hieroglyphic hulls of De Fiori, Volpi, or the dazzling sands of Pancetti.” Mostra do redescobrimento, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. pp. 129-130.

| Fundo de quintal, de Giovanni Battista Felice Castagneto, óleo sobre cartão, 27 x 19 cm, 1897 | | Backyard, by Giovanni Battista Felice Castagneto, oil on cardboard, 27 cm x 19 cm, 1897 |

146 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Marinha , de Giovanni Battista Felice Castagneto, óleo sobre madeira, 8,4 x 22,5 cm, 1888 | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 147 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Marine, by Giovanni Battista Felice Castagneto, oil on wood panel, 8.4 cm x 22.5 cm, 1888 | 148 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Eliseu D'Angelo Visconti Salerno, Itália, 1866 – Rio de Janeiro, RJ, 1944 Pintor, desenhista e professor

Com Rodolfo Amoedo, , J. Medeiros e Zeferino da Costa, aprendeu o ofício do pintor. Ele, como escreveu o crítico Frederico Barata, “não se conteve em pintar por moldes ou imitar o já feito. Criou e plasmou um estilo. Repetia sempre que arte é movimento e que ao artista, eterno insatisfeito, como à vida, só a morte poderá deter”. Visconti acreditava que “o espírito quer reno- vação e é a própria natureza que nos impele a esse movimento universal, pois nela nada está parado”. BARATA, Frederico. Eliseu Visconti e seu tempo. Rio de Janeiro: Zelio Valverde, 1944. p. 192-194. CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.

Eliseu D'Angelo Visconti Salerno, Italy, 1866 – Rio de Janeiro, RJ, 1944 Painter, drawer, teacher

Eliseu Visconti learned the workmanship of painting with Rodolfo Amoedo, Henrique Bernardelli, J. Me- deiros, and Zeferino da Costa. Critic Frederico Barata wrote that he “didn’t limit himself to the mould and imitation of what had already been done. He created and moulded a style of his own. He always repeated that art is movement, and that the eternally unsatisfi ed artist, like life, is only stopped by death.” Visconti believed that “the spirit seeks renewal, and it is nature itself that impels us to be part of this universal movement, for nothing in it is still.” BARATA, Frederico. Eliseu Visconti e seu tempo. Rio de Janeiro: Zelio Valverde, 1944. pp. 192-194. CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 149 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| No jardim, de Eliseu D'Angelo Visconti, óleo sobre tela, 46,5 x 61 cm, década de 1930 | | In the Garden, by Eliseu D'Angelo Visconti, oil on canvas, 46.5 cm x 61 cm, 1930s | 150 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Emil Bauch Hamburgo, Alemanha, 1823 – Rio de Janeiro, RJ, 1890 Pintor, gravador e professor

O pintor chegou ao Brasil, em 1849, após completar sua formação artística em Munique, Alemanha. Permaneceu no Recife, Pernambuco, por três anos e lá compôs importante conjunto de litografi as so- bre a cidade, publicado mais tarde na Alemanha. Depois, se mudou para o Rio de Janeiro, onde pintou panorâmicas da região. Uma das obras de maior destaque de Bauch é um panorama do Rio de Janeiro, de 1873, em cromolito- grafi a, que se parece muito com uma vista aérea, por ter ponto de vista elevado e abranger grande ex- tensão territorial. Nas pinturas de Bauch, as pessoas aparecem em atividades cotidianas e demonstram o interesse do artista em apresentar as cenas de costumes locais.

| Vista do Rio de Janeiro, de Emil Bauch, cromolitografi a, 241 x 72 cm, século XIX, antes de 1889 | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 151 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

Emil Bauch Hamburg, Germany, 1823 – Rio de Janeiro, RJ, 1890 Painter, printmaker, teacher

The painter arrived in Brazil in 1849, after completing his artistic education in Munich, Germany. He lived in Recife, Pernambuco for three years, where he composed an important set of lithographs about the city, later on published in Germany. Finally, he moved to Rio de Janeiro, where he painted panoramas of the region. One of Bauch’s most important works is an 1873 chromolithographic panorama of Rio de Janeiro. It is no- table for its elevated, almost aerial point of view and the vast territorial distance it encompasses. In Bauch’s paintings, people appear in daily activities; they display the artist’s interest in portraying local customs.

| View of Rio de Janeiro, by Emil Bauch, Chromolithograph, 241 cm x 72 cm, 19th century, prior to 1889 | 152 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Edoardo de Martino Sorrento, Itália, 1838 – Londres, Inglaterra, 1912 Pintor

O artista chegou ao Brasil em 1868. Elegeu o mar como tema, especializando-se na pintura de navios e cenas de guerra. O Imperador D. Pedro II o escolheu para acompanhar os almirantes Barroso e Taman- daré na Guerra do Paraguai.

Edoardo de Martino Sorrento, Italy, 1838 – London, England, 1912 Painter

The artist arrived in Brazil in 1868. He chose the sea as his theme and became specialized in painting boats and war scenes. Emperor D. Pedro II chose him to accompany the admirals Barroso and Taman- daré in the war with Paraguay.

| Navio de guerra ao luar, de Edoardo de Martino, óleo sobre madeira, 29 x 17,5 cm, 1909 | Dedicatória: Ao amigo Barão do Rio Branco. | Warship Under the Moonlight, by Edoardo de Martino, oil on wood panel, 29 cm x 17.5 cm, 1909 | Inscription: “To my friend, Baron of Rio Branco” Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 153 Itamaraty palace, other paintings and pictures | 154 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Frans Janszoon Post Haarlem, Holanda, 1612 – 1680 Pintor, desenhista e gravador

Post pintou como pintor holandês, com seu olhar à moda de Haarlem, olhando só o visível, enxugando a pintura de toda contribuição emblemática ou retórica; pintou como um holandês no Brasil, contra uma secular e poderosa tradição italianizante. Suas primeiras paisagens estão impregnadas do olhar de um pintor holandês, junto à natureza ainda sem nome e sem aspecto do continente americano. Ao voltar à Holanda, Post não fez mais que pintar, como um pintor de outro mundo, paisagens brasilei- ras, suas recordações dos trópicos, como lembra Luiz Pérez Oramas. ORAMAS, Luis Pérez. Paisagem e fundação: Frans Post e a invenção da paisagem americana. In: Bienal Internacional de São Paulo, 24, 1998, São Paulo, SP. Núcleo histórico: antropofagia e histórias de caniba- lismos. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998. 570 p., il. color. p. 103-104.

Frans Janszoon Post Haarlem, Netherlands, 1612 – 1680 Painter, drawer, printmaker

Post painted as Dutch painters did, perceiving only what is immediately visible to his Haarlemesque eyes. His paintings were void of any emblematic and rhetoric contribution; he painted as a Dutchman in Brazil, against the backdrop of a secular and powerful Italianizing tradition. His fi rst landscapes are im- pregnated with both a Dutch painter’s gaze and the still nameless and unknown nature of the American continent. Upon his return to the Netherlands, Post, as if from another world, did nothing but paint Brazilian land- scapes - his memoirs from the tropics, recalls Luis Pérez Oramas. ORAMAS, Luis Pérez. Paisagem e fundação: Frans Post e a invenção da paisagem americana. In. Bienal Internacional de São Paulo, 24., 1998, São Paulo, SP. Núcleo histórico: antropofagia e histórias de cani- balismos. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998. 570 p., il. color. pp. 103-104. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 155 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Engenho de Pernambuco, de Frans Janszoon Post, óleo sobre madeira, 50 x 74,5 cm, século XVII, após 1637 - doação do Ministro Joaquim de Souza Leão Filho | | Pernambuco Mill, by Frans Janszoon Post, oil on wood panel, 50 cm x 74.5 cm, 17th century, after 1637 - donated by the Minister Joaquim de Souza Leão Filho | 156 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Johann Moritz Rugendas Augsburg, Alemanha, 1802 – Welheim, Alemanha 1858

Pintor e desenhista alemão, veio ao Brasil como desenhista da expedição científi ca do Barão Langsdorff, em 1821. Desistindo de prosseguir com a expedição preferiu, por sua conta, fi xar ora a paisagem, ora os tipos e costumes de nossos habitantes, produzindo muitas obras documentais sobre o Brasil de sua época. Retornou à Europa, reuniu cem de seus trabalhos relativos ao Brasil, publicados em Paris, sob o título de Voyage Pittoresque au Brésil, em 1835. Palácio Itamaraty Brasília: Brasília, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. p. 62.

Johann Moritz Rugendas Augsburg, Germany, 1802 – Weilheim, Germany, 1858

A German painter and drawer, he came to Brazil in 1821 as offi cial draftsman of Baron Langsdorff’s sci- entifi c expedition. He soon quit the expedition, however, preferring instead to alternate between drawing the Brazilian landscape and drawing the customs of its inhabitants. He produced many documentary works about the Brazil of his time. Rugendas returned to Europe and published one hundred works related to Brazil, in Paris, under the title “Voyage Pittoresque au Brésil”, in 1835. Palácio Itamaraty Brasília: Brasília, Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 2002. p. 62. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 157 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Tropeiros com índios, de Johann Moritz Rugendas, lápis e nanquim sobre papel, 17 x 23 cm, 1821-1826 | | Tropeiros (horseback traders) and Indians, by Johann Moritz Rugendas, pencil and ink on paper, 17 cm x 23 cm, 1821 -1826 | 158 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Emiliano Di Cavalcanti Rio de Janeiro, RJ, 1897 – 1976 Pintor, ilustrador, caricaturista, gravador, muralista, desenhista, jornalista, escritor e cenógrafo

O escritor diz que não se lembra quando conheceu Di Cavalcanti. Tornaram-se amigos a distância. Encontravam-se no Rio, em São Paulo, em Paris ou em Londres. Di Cavalcanti costumava aparecer no Alcazar, onde Sabino tomava chope quase todas as noites. O escritor acredita que Di Cavalcanti tenha sido, na história da arte brasileira, o único exemplo de grande pintor com formação de um homem de letras. Ele diz ser incrível perceber a presença da literatura na vida do pintor e completa: “Poderia ter-se tornado um grande escritor, de que nos dão conta seus dois livros de memórias e a poesia que, embora esporá- dica, nunca o abandonou”. SABINO, Fernando. Fernando Sabino: obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, v.2, 1996, p. 250-253.

Emiliano Di Cavalcanti Rio de Janeiro, RJ, 1897 – 1976 Painter, illustrator, caricaturist, printmaker, muralist, drawer, journalist, writer, scenographer

The writer Fernando Sabino claims he doesn’t re- member when he met Di Cavalcanti. They became long-distance friends, who used to meet in Rio, in São Paulo, in Paris, or in London. Di Cavalcanti would show up at Alcazar, where Sabino drank his “chope” (draft beer) almost every night. Sabino believes that Di Cavalcanti was, in the history of Brazilian art, the only example of a great painter with a degree in Literature. He remarks how incredible it is to perceive the presence of literature in the painter’s life, and he goes on: “He could have become a great writer, evidenced by his two books of memoirs and the poetry that, although sporadic, never abandoned him.” SABINO, Fernando. Fernando Sabino: obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, v.2, 1996, pp. 250-253.

| Cabeça de mulata, de Emiliano Di Cavalcanti, grafi te e nanquim sobre papel, 30 x 22 cm, 1935 (circa) | | Head of a Mulatto Woman, by Emiliano Di Cavalcanti, graphite and ink on paper, 30 cm x 22 cm, c. 1935 |

160 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Estudo para o painel “Cena de carnaval”, de Candido Portinari, guache sobre papel, 47,6 x 55,8 cm, 1961 | O original pertence ao Pampulha Iate Clube (Belo Horizonte, MG) | Study for the panel "Carnaval Scene", by Candido Portinari, gouache on paper, 47.6 cm x 55.8 cm, 1961 The original belongs to the Pampulha Yacht Club (Belo Horizonte, MG, Brazil). Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 161 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

Candido Portinari: Guerra e Paz

No hall de entrada dos delegados para a Assembléia Geral das Nações Unidas encontram-se expostos os painéis Guerra e Paz, de Cândido Portinari. Os painéis foram doados pelo Brasil à sede das Nações Unidas, em Nova York, em 1957. Candido Portinari foi convidado pelo Itamaraty, em 1952, para realizar os painéis Guerra e Paz. A entrega ofi cial foi feita em 24 de agosto de 1955. Neles, o pintor concentrou-se não na guerra ou na paz, mas nas conseqüências para a humanidade de uma e de outra. A sua obra foi executada em cedro contraplacado e pintada em doze segmentos, devido às dimensões das paredes, de 14 metros de altura e 10 de comprimento, na qual os painéis iriam fi car. Antes de con- cluir a sua obra, Portinari realizou mais de 180 estudos, esboços e maquetes, que hoje se encontram dispersos em coleções particulares e que nunca foram expostos em conjunto. As duas maquetes a óleo integram o acervo artístico do Palácio Itamaraty de Brasília. Para o Itamaraty e para o Brasil, os painéis possuem um valor inestimável, pois “condensam, na sua bele- za e na sua sugestão, uma súplica de todos os homens, o repúdio à guerra e o amor à paz” (Embaixador José Carlos de Macedo Soares, Ministro das Relações Exteriores à época da inauguração).

Candido Portinari: War and Peace

The panels War and Peace, by Candido Portinari, are located in the great entrance hall of the United Na- tions General Assembly. In 1957, they were donated by Brazil to the headquarters of the United Nations in New York. In 1952, Cândido Portinari was invited by the Ministry of External Relations to make the panels, and their offi cial delivery took place on August 24th, 1955. The painter focused neither on war nor on peace, but rather on their consequences for mankind. The work was made in counterplated wood and painted in twelve segments, due to the proportions of the walls (14 meters high and 10 meters wide) on which the panels would be placed. Before fi nishing his artwork, Portinari made over 180 studies, sketches, and maquettes, which today are dispersed in numer- ous private collections and have never been exhibited together. The two maquettes in oil are part of the art collection housed at Itamaraty Palace. To Itamaraty and Brazil the panels are priceless, for they “Condense, in its beauty and suggestion, the supplication of all men, the repudiation of war, and the love of peace.” (Ambassador José Carlos de Macedo Soares, Minister of External Relations at the time of the opening) 162 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Estudo para o painel “GUERRA”, de Candido Portinari, óleo sobre tela, 160 x 120 cm, 1952 | | Study for the panel WAR, by Candido Portinari, oil on canvas, 160 cm x 120 cm, 1952 | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 163 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Estudo para o painel “PAZ”, de Candido Portinari, óleo sobre tela, 160 x 120 cm, 1952 | | Study for the panel PEACE, by Candido Portinari, oil on canvas, 160 cm x 120 cm, 1952 | 164 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Bruno Giorgi Mococa, SP, 1905 – Rio de Janeiro, RJ, 1993 Escultor

O escritor escreveu, a respeito de Giorgi, que a monumentalidade saudável e mediterrâ- nea, herdada de Maillol, tornou-se um dos pólos do progresso escultórico do escultor. No início dos anos 40, “a linguagem do artista brasileiro está muito perto da de seu mestre francês, embora já se manifeste a liberdade com que ele se moverá sempre em meio ao prolífero universo das formas. E também se verifi ca seu interesse pela temática brasileira, pelo tipo nativo, o que o conduz a audaciosas conjugações do clássico ou do arcaico com o moderno”. GULLAR, Ferreira. Bruno Giorgi ou o fascículo das formas. In: BRUNO Giorgi. São Paulo: Art Ed.; Rio de Janeiro: Record, 1980. p. 14.

Bruno Giorgi Mococa, SP, 1905 – Rio de Janeiro, RJ, 1993 Sculptor

The writer Ferreira Gullar wrote about Giorgi that the healthy, Mediterranean monumentality inherited from Maillol became one of the axes of the artist’s sculptural progress. At the beginning of the 1940s, “The Brazilian artist’s style is very close to his French master’s, though it already shows the freedom with which it will always move around in the prolifi c universe of shapes. Also apparent is his interest for the Brazilian theme, for the native type that conducts him to audacious conjugations of the classic or archaic with the modern”. GULLAR, Ferreira. Bruno Giorgi ou o fascículo das formas. In: BRUNO Giorgi. São Paulo: Art Ed.; Rio de Janeiro: Record, 1980. p. 14.

| Estudo para escultura, de Bruno Giorgi, carvão sobre papel, 91,5 x 58 cm, 1959 |

| Study for sculpture, by Bruno Giorgi, charcoal on paper, 91.5 cm x 58 cm, 1959 |

166 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Giuseppe Gianinni Pancetti Campinas, SP, 1902 – Rio de Janeiro, RJ, 1958 Pintor

Pancetti procurou no povo a inspiração de sua arte. A paisagem brasileira é a síntese de seu sentimento nativista. O crítico Luís Martins imaginava-o “um homem rude, poético e violento, talvez triste, talvez nostálgico dos velhos portos do mundo, onde viu a vida de perto. Essa experiência humana, ele a trans- portou para quadros, com um lirismo admirável e por vezes patético. Não é um pintor de água doce. É um notável artista oceânico”. PANCETTI, José. Exposição de pintura de José Pancetti. São Paulo: Instituto dos Arquitetos, 1945. 7 p., il. p&b. p. 6.

Giuseppe Gianinni Pancetti Campinas, SP, 1902 – Rio de Janeiro, RJ, 1958 Painter

Pancetti looked to the people for artistic inspiration. The Brazilian landscape is the synthesis of his nativistic sentiments. The critic Luís Martins imagined him as “a rude, poetic, and violent man - maybe sad, maybe nostalgic for the old ports of the world, where he saw life up close. He took this human experience to his paintings, with an admirable and sometimes moving lyricism. He is not a fresh water painter. He’s a noteworthy oceanic artist.” PANCETTI, José. Exposição de pintura de José Pancetti. São Paulo: Instituto dos Arquitetos, 1945. p. 7, il. p&b. p. 6

| Paisagem vista de uma janela com vaso de fl ores, de Giuseppe Gianinni Pancetti, óleo sobre tela, 65 x 55 cm, 1945

| Landscape Seen from a Window with a Flower Vase, by Giuseppe Gianinni Pancetti, oil on canvas, 65 cm x 55 cm, 1945 | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 167 Itamaraty palace, other paintings and pictures | 168 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Glênio Bianchetti Bagé, RS, 1928 – Gravador, pintor, ilustrador, tapeceiro, professor e desenhista

Bianchetti participou, nos anos 1950, do Grupo de Bagé, voltado para literatura, música e artes plásticas. No grupo, dedicou-se ao Clube de Gravura que, segundo Carlos Sacarinci, “foi uma tentativa de reunir num único projeto o regional, o social e o moderno”. Em 1962, estabeleceu-se em Brasília, junto com uma leva de artistas que vieram a convite da recém fundada Universidade de Brasília. SCARINCI, Carlos. A gravura no Rio Grande do Sul 1900-1980. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.

“A partir da década de 1970, o artista utiliza os grafi smos ao lado das manchas de cor em obras de cores muito contrastantes”. “Em composições diversas, o artista tira partido da intensidade da cor, ao mesmo tempo que procura sintetizar as formas de homens, de mulheres ou de bichos. Em outros quadros, nota-se um acentuado abandono da espacialidade realista da imagem em benefício do esquema cromático, disposto em largas chapadas coloridas (Antônio Bento)”. BIANCHETTI, Glênio. Bianchetti: pintura. Texto Antonio Bento, Joaquim Cardozo. São Paulo: MAM, 1970. [10] p., il. p&b.

Glênio Bianchetti Bagé, RS, 1928 – Printmaker, painter, illustrator, tapestry artisan, drawer, teacher

In the 1950s, Bianchetti participated in the Group of Bagé (in the south of Brazil), dedicated to literature, music and fi ne arts. Within the group, he devoted himself to the Engraving Club which, according to Carlos Sacarinci, “was an attempt to unite in a single project what is regional, social and modern”. In 1962, he settled in Brasilia, along with a spate of artists invited by the newly founded University of Brasilia. SCARINCI, Carlos. A gravura no Rio Grande do Sul 1900-1980. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.

“As of the 1970s, the artist utilizes the graphisms next to color stains in artworks that contain high- contrast colors ... In various compositions, the artist makes use of color intensity, all the while composing the forms of men, women, or animals. In other paintings, there is a marked abandon of the image’s realist spaciality in favor of its chromatic scheme, laid out in wide colored stretches.” (Antônio Bento) BIANCHETTI, Glênio. Bianchetti: pintura. Texto Antonio Bento, Joaquim Cardozo. São Paulo: MAM, 1970. [10] p., il. p&b. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 169 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| A Praça, de Glênio Bianchetti, acrílico sobre tela colado sobre eucatex, 137,5 x 178 cm, 1971 | | The Square, by Glênio Bianchetti, acrylic on screen glued onto eucatex, 137.5 cm x 178 cm, 1971 | 170 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Carybé (Hector Julio Páride Bernadó) Lanús, Argentina, 1911 – Salvador, BA, 1997

Modernista por excelência, Carybé registrou a cultura local por meio de sua arte (...), colocando o retra- tado não como sujeito e sim como classe, aproximando-se da pintura naïf. O retrato do povo, sua religião e costumes permeiam as imagens desse artista, que não são de cunho social, mas apenas servem de testemunho de um acontecimento, como vemos nos barcos que se des- locam no estado da Bahia. É dessa maneira que se transforma em um cronista do cotidiano, valorizando a cultura afro-brasileira. No mesmo ano (1966), o pintor lança os livros “Olha o Boi” e “Boa Terra Bahia”, este último com . FURRER, Bruno. Carybé. Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1989.

Carybé (Hector Júlio Páride Bernadó) Lanús, Argentina, 1911 – Salvador, BA, 1997

Modernist par excellence, Carybé recorded the local culture through his art. The portrayed are not posi- tioned as the subject, but rather as a class, approximating Carybé’s art to naïf painting. The portrait of the people, their religion, and customs permeate the images of this artist. They are not characteristically social, but instead serve only as testimonies to events, such as the movement of boats along around the state of Bahia. It is in this sense that he transforms himself into a chronicler of the daily life, valuing Afro-Brazilian culture. In the same year (1966), the painter released the books "Olha o Boi " and "Boa Terra Bahia", the latter with Jorge Amado. FURRER, Bruno. Carybé. Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1989. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 171 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Bahia, de Carybé (Hector Julio Páride Bernadó), óleo sobre tela, 76 x 119 cm, 1966 | | Bahia, by Carybé (Hector Júlio Páride Bernadó), oil on canvas, 76 cm x 119 cm, 1966 | 172 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Djanira Avaré, SP, 1914 – Rio de Janeiro, RJ, 1979 Pintora, desenhista, ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora

No fi nal dos anos 1930, no Rio de Janeiro, Djanira teve suas primeiras aulas de arte em um curso noturno de desenho no Liceu de Artes Ofícios e também com o pintor Emeric Marcier, hóspede da pensão que tinha aberto em Santa Teresa. Os contatos com os artistas Carlos Scliar, Milton Dacosta, Arpad Szenes, Vieira da Silva e Jean Pierre Chabloz, freqüentadores da pensão, proporcionavam um ambiente estimu- lante que a levou a expor no 48º Salão Nacional de Belas Artes, em 1942. Em 1945, viajou para Nova York. De volta ao Brasil, pintou o mural Candomblé para a casa do escritor Jorge Amado, em Salvador, Bahia, e um painel para o Liceu Municipal de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Entre 1953 e 1954, foi estudar na União Soviética. No retorno ao Rio de Janeiro, tornou-se uma das líderes do movimento pelo Salão Preto e Branco, um protesto de artistas contra os altos preços do material para pintura.

Djanira Avaré, SP, 1914 – Rio de Janeiro, RJ, 1979 Painter, drawer, illustrator, poster maker, scenographer, printmaker

At the end of the 1930s, in Rio de Janeiro, Djanira had her fi rst art lessons in a nighttime drawing course at the Lyceum of Arts and Crafts, and then with the painter Emeric Marcier, a guest at a Santa Teresa boarding house. The contact with the artists Carlos Scliar, Milton Dacosta, Arpad Szenes, Vieira da Silva, and Jean Pierre Chabloz, all frequent visitors to the house, offered a stimulating environment which led her to exhibit at the 48th National Salon of Fine Arts, in 1942. In 1945, she traveled to New York. Upon her return to Brazil, she painted the Candomble mural for the house of writer Jorge Amado, in Salvador, Bahia. She also made a panel for the Municipal Lyceum of Petropolis, in Rio de Janeiro. Between 1953 and 1954, Djanira studied in the USSR. Once again in Rio, she became a leader in the movement for the Black and White Salon, a protest of artists against the high prices of the painting material. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 173 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Cena de Rua, de Djanira, óleo sobre tela, 130 x 195 cm, 1964 | | Street scene, by Djanira, oil on canvas, 130 cm x 195 cm, 1964 | 174 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Grito, de Manabu Mabe, óleo sobre tela, 130 x 110 cm, 1960 | | Scream, by Manabu Mabe, oil on canvas, 130 cm x 110 cm, 1960 | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 175 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Árvores, de Antônio Bandeira, óleo sobre tela, 119 x 119 cm, 1959 | | Trees, by Antônio Bandeira, oil on canvas, 119 cm x 119 cm, 1959 | 176 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Antonio Bandeira Fortaleza, CE, 1922 – Paris, França, 1967). Pintor, desenhista e gravador

O estudioso Frederico Morais acha defi nitiva, para a compreensão da obra de Antonio Bandeira, a afi rma- ção do artista: “Nunca pinto quadros. Tento fazer pintura”. O crítico quis dizer que o quadro não parece signifi car para o pintor uma realidade autônoma, uma estrutura que possui suas próprias leis, algo que se constrói com elementos específi cos. “A pintura – segundo o crítico – é um estado de alma que Bandeira extroverte aqui e ali, com a proposta de comunicar um sentimento, uma emoção, uma lembrança. É ‘uma transposição de seres, coisas, momentos, gostos, olfatos que vou vivendo no presente, passado, no futuro’”. A pintura do artista não pode ser vista como comprometida com as lutas e as tensões do mundo, mas como algo que levita sobre o mundo, dentro do ser do artista. MORAIS, Frederico. Abstração informal. in: DACOLEÇÃO: os caminhos da arte brasileira. São Paulo: Júlio Bogoricin, 1986. p.160.

Antonio Bandeira Fortaleza, CE, 1922 – Paris, France, 1967 Painter, drawer, printmaker

In order to understand Antonio Bandeira’s work, the scholar Frederico Morais considers the artist’s own statement defi nitive: “I never make paintings. I paint.” Morais is suggesting that, for the painter, the pain- ting itself doesn’t constitute an autonomous reality, a structure with its own laws, something self-com- posed from specifi c elements. “painting,” he continues, “is a state of the soul that Bandeira externalizes here and there, with the purpose of communicating a feeling, an emotion, a memory. It is ‘a transposition of beings, things, moments, tastes, smells that I experience in the present, past, and future.’” The artist’s paintings cannot be seen as involved with the confl icts and tensions of the world, but as something that fl oats above it, inside the artist’s soul. MORAIS, Frederico. Abstração informal. In: DACOLEÇÃO: os caminhos da arte brasileira. São Paulo: Júlio Bogoricin, 1986. p. 160. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 177 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Nascimento de uma cidade, de Antônio Bandeira, óleo sobre tela, 97 x 162 cm, 1964 | | Birth of a City, by Antônio Bandeira, oil on canvas, 97 cm x 162 cm, 1964 | 178 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Maria Leontina São Paulo, SP, 1917 – Rio de Janeiro, RJ, 1984 Pintora, gravadora, desenhista

Leontina iniciou estudos de desenho em 1938. Na primeira metade dos anos 1940, estudou pintura. Em 1951, convidada pelo psiquiatra e crítico de arte Osório César para orientar o setor de artes plásticas do Hospital Psiquiátrico do Juqueri, organizou uma mostra dos internos no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Em 1952, com bolsa de estudo do governo francês, viajou para a Europa, acompanhada pelo marido, o pintor Milton Dacosta. O estudioso Frederico Morais escreveu que Leontina, “gótica, busca na matéria o seu contrário – o espí- rito, eliminando o seu peso, libertando-a do solo”. Ela realizou “uma pintura aérea, etérea, transparente e imprecisa, quase se desprendendo da tela e do papel. Seu gesto vem carregado de um certo tremor místico, sugere um olhar vagamente míope. Um gesto vago e, no entanto, capaz de tudo dizer, como num haikai no qual se fala do mundo em 17 sílabas.” MORAIS, Frederico. A pintura como silêncio. in: MILTON Dacosta e Maria Leontina: um diálogo. Rio de Janeiro: CCBB, 1999. p. 23.

Maria Leontina São Paulo, SP, 1917 – Rio de Janeiro, RJ, 1984 Painter, printmaker, drawer

Leontina began her drawing studies in 1938 and painting in the fi rst half of the ‘40s. In 1951, invited by the psychiatrist and art critic Osório César to guide the visual arts sector of the Psychiatric Hospital of Ju- queri, she organized an exhibition by the patients at the Museum of Modern Art of São Paulo (MAM/SP). In 1952, with a scholarship from the French government, she traveled to Europe accompanied by her husband, painter Milton Dacosta. The scholar Frederico Morais wrote that Leontina, “Always gothic, searches matter for her opposite – the spirit, ridding her of weight, freeing her from the ground.” She made “aerial, ethereal, transparent, and imprecise paintings, almost detaching themselves from the canvas or paper. Her gesture carries a certain mystic shiver; it suggests a slightly myopic gaze. It is a vague gesture, yet capable of saying everything, like a haiku that says the world in only 17 syllables.” MORAIS, Frederico. A pintura como silêncio. In: MILTON Dacosta e Maria Leontina: um diálogo. Rio de Janeiro: CCBB, 1999. p. 23. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 179 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Os Episódios III, de Maria Leontina, óleo sobre tela, 81 x 116 cm, 1959 | | The Episodes III, by Maria Leontina, oil on canvas, 81 cm x 116 cm, 1959 | 180 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Flavio-Shiró Sapporo, Hoakkaido, Japão, 1928 – Pintor, gravador, desenhista e cenógrafo

Flavio-Shiró vem para a Amazônia com sua família, aos três anos de idade. Durante sua infância vive em Tomé-Açu, no Pará. Muda com sua família para São Paulo e é na capital urbana que começa a pintar e a desenvolver sua carreira artística. Com a venda de seus quadros, tem a oportunidade de ir a Paris, onde estuda na École Nationale Superieure des Beaux Arts. Flavio-Shiró está ligado a três continentes por raízes, assim como as suas obras que fazem um percurso paralelo a sua biografi a: Paris, Tomé-Açu, Sapporo. Sua obra mostra uma certa realidade brasileira, do Brasil onde viveu na sua juventude. “Não é a paisagem que se encontra nas raízes de cada uma das suas composições, mas a lembrança global da natureza brasileira, com sua vegetação, sua fauna e sempre uma presença humana consciente e de sua impotên- cia diante dos fenômenos da vida, mas espectadora vigilante, pronta a lhe interpretar o valor sugestivo, simbólico e poético". BOUDAILLE, Georges. Flávio-Shiró e a realidade brasileira. In: FLÁVIO-SHIRÓ. Rio de Janeiro: Salamandra, 1990. p.171.

Flavio-Shiró Sapporo, Hokkaido, Japan, 1928 – Painter, printmaker, drawer, scenographer

Flavio-Shiró came to the Amazon, with his family, when he was three years old. During his childhood he lived in Tomé-Açu, in the state of Pará. He then moved with his family to the urban capital São Paulo, where he began to paint and develop his artistic career. Thanks to the sale of his paintings, he had the opportunity to go to Paris, where he studied at the École Nationale Superieure des Beaux-Arts. Flavio-Shiró is linked to three continents by his roots, and his works take a route that parallels his biog- raphy: Paris, Tomé-Açu, and Sapporo. His work depicts a certain Brazilian reality, the Brazil he lived in during his youth. “It’s not the landscapes that are found in the root of each of his compositions, but the all-encompassing memory of Brazilian nature, with its vegetation, its fauna, and, always, its human presence. This presence is conscious of its impotence before the phenomena of life, but remains a vigilant spectator, ready to interpret a sugges- tive, symbolic, and poetic value from life.” BOUDAILLE, Georges. Flávio-Shiró e a realidade brasileira. In: FLAVIO-SHIRÓ. Rio de Janeiro: Salamandra, 1990. p.171. | Decolagem (Díptico), de Flavio-Shiró, óleo sobre tela, 184 x 73 cm, 1965 | | Take-off (Diptych), by Flavio-Shiró, oil on canvas, 184 cm x 73 cm, 1965 | 182 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Kazuo Wakabayashi Kobe, Japão, 1931 Pintor

A pintura de Wakabayashi, marcada pela austeridade, por tons sóbrios e graves, “era uma pintura quase surda, porque fosca, embora aqui e ali tênues transparências se insinuassem”, como defi niu Paulo Men- des de Almeida. Depois, ele partiu em busca de uma superfície mais espessa, um quase baixo-relevo em esmalte, em cores vibrantes, ressaltando formas de precisados contornos. SPINELLI, João J., KO, Yvete (coord.). Arte nipo-brasileira: momentos. São Paulo : Takano, 2001.

O artista recebeu o prêmio de aquisição do Itamaraty na 9a edição da Bienal de São Paulo, em 1967, com esta obra.

Kazuo Wakabayashi Kobe, Japan, 1931 Painter Paulo Mendes de Almeida said that Wakabayashi’s painting, marked by austerity, by sober and low tones, “Was so opaque that it was almost deaf, although here and there some tenuous transparencies would suggest themselves.” Later on, Wakabayashi left in search of a thicker, almost low-relief enamelled sur- face, with vibrant colors, highlighting shapes with precise contours. SPINELLI, João J., KO, Yvete (coord.). Arte nipo-brasileira: momentos. São Paulo : Takano, 2001.

The artist received Itamaraty’s acquisition award for this work, at the 9th Biennial of São Paulo, in 1967. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 183 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Vermelho em expansão, de Kazuo Wakabayashi, óleo sobre tela, 172 x 216 cm, 1967 | | Red in Expansion, by Kazuo Wakabayashi, oil on canvas, 172 cm x 216 cm, 1967 | 184 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Iberê Camargo Restinga Seca, RS, 1914 – Porto Alegre, RS, 1994 Pintor, gravador, desenhista, escritor e professor

Iberê disse, certa vez, que, como pintor, era apenas um operário. Ele procurava fazer seu objeto da me- lhor forma possível, como se fosse uma mesa, uma cadeira. “Atendo a sua necessidade de ser, de seu existir. Eu sei que uma mesa tem tantos pés e não pode fi car solta no espaço. Tenho de me submeter a essa necessidade construtiva do objeto comum para fazer minha pintura da melhor maneira que posso fazer, com meus conhecimentos de pintor, de artesão, de brochador de parede, não mais que isso. Um pintor em São Paulo assistiu ao vídeo [sobre sua obra] e disse ter visto desfi lar uma humanidade, porque são tantas fi guras que surgem, e que eu rejeito. Por que eu rejeito? Gostaria de saber. Para mim, é porque aquela é mais plástica, tem mais verdade como imagem. Mas eu posso estar dando a defi nição de um esteta, de um artista. Pode ser que eu esteja até sendo enganado por mim mesmo. Talvez eu esteja procurando, sem saber, a primeira imagem, a imagem da mãe. Aí, quando a coisa se apresenta, aí satisfaz. Não sei dizer de antemão como ela é, mas sou capaz de reconhecê-la. É ela, eu sei”, completou Iberê no depoimento a Lisette Lagnado. LAGNADO, Lisette. Conversações com Iberê Camargo. São Paulo: Iluminuras, 1994. p. 33.

Iberê Camargo Restinga Seca, RS, 1914 – Porto Alegre, RS, 1994 Painter, printmaker, drawer, writer, teacher

Iberê once said that, as a painter, he was just a laborer. He tried making his product in the best way pos- sible, as if it were a table or a chair. “I meet its need to be, to exist. I know that a table has a certain number of legs and cannot be loose in space. I have to submit myself to this constructive need of the ordinary object to make my painting the best way I can, with my knowledge of painting, handicraft, plastering, no more than that. A painter in São Paulo watched the video [of his work] and claimed to have seen all of mankind parading, for so many fi gures passed by, and I reject them. Why do I reject it? I would like to know. To me, it’s because that one is more plastic, it’s more truthful as an image. But I might be giving the defi nition of an aesthete, of an artist. It may also be that I’m even fooling myself. Maybe I’m looking, without knowing, for the fi rst image, the image of the mother. Then, when it presents itself, it satisfi es. I can’t say in advance what it looks like, but I am capable of recognizing it. If it’s there, I know,” Iberê concluded in a testimony to Lisette Lagnado. LAGNADO, Lisette. Conversações com Iberê Camargo. São Paulo: Iluminuras, 1994. p. 33. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 185 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Estrutura de Objetos, de Iberê Camargo, óleo sobre tela, 130 x 184 cm, 1968 | | Structure of Objects, by Iberê Camargo, oil on canvas, 130 cm x 184 cm, 1968 | 186 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Abelardo Zaluar Niterói, RJ, 1924 – Rio de Janeiro, RJ, 1987 Pintor, desenhista, gravador e professor

No diálogo com sua arte, Zaluar busca o equilí- brio dos pólos natureza e geometria, pintura e desenho, cor e grafi smo, curvas e retas, instinto e razão, devaneio e ordem. Sua obra tem tanto a inexistência de arroubos vanguardistas quanto indecisões e vacilações. Nem excessos nem ca- rência. Faltam-lhe, ao mesmo tempo, timidez e arrogância. Assim o defi niu Frederico Morais. ZALUAR: obra recente 74-84. Rio de Janeiro: MNBA, 1984.

Abelardo Zaluar Niterói, RJ, 1924 – Rio de Janeiro, RJ, 1987 Painter, drawer, printmaker, teacher

In the dialogue he maintains with his art, Zaluar searches for the equilibrium between nature and geometry, painting and drawing, color and gra- phism, curves and straight lines, instinct and rea- son, reverie and order ... His work is marked by the inexistence of indecision, vacillation, and vanguar- dist ravishment. There is neither excess nor want. What is missing is both timidity and arrogance. This is how Frederico Morais defi ned Zaluar. ZALUAR: obra recente 74-84. Rio de Janeiro: | Acoplados, 89,9 x 89,8 cm, 1969 | MNBA, 1984. | Attachment I, 89.9 cm x 89.8 cm, 1969 | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 187 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

Acoplados I, Acoplados II e Acoplados V | Obras participaram junto com Acoplados III, IV, VI, VII, e VIII, da 10ª Bienal de São Paulo, em 1969. These works took part in the 10th Biennial of São Paulo, in 1969, along with Attachments III, IV, VI, VII, and VIII.

| Acoplados II, 89,9 x 90 cm, 1969 | | Acoplados V, 89,9 x 89, 9 cm , 1969 | | Attachment II, 89.9 cm x 90 cm, 1969 | | Attachment V, 89.9 cm x 89.9 cm, 1969 | 188 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Sem Título, de Emanoel Araújo, xilogravura, 105 x 70 cm, 1984 | | Sem Título, de Emanoel Araújo, | Untitled, by Emanoel Araújo, xylograph, 105 cm x 70 cm, 1984 | xilogravura, 105 x 70 cm, 1987 | | Untitled, by Emanoel Araújo, xylograph, 105 cm x 70 cm, 1987 | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 189 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Sem Título, de Emanoel Araújo, xilogravura, 105 x 70 cm | | Untitled, by Emanoel Araújo, xylograph, 105 cm x 70 cm 190 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Sem título, de Roberto Burle Marx, Kamanita, gravura, 40,01 x 53,98 cm, 1989 | | Untitled, by Roberto Burle Marx, Kamanita, print, 40.01 cm x 53.98 cm, 1989 | Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 191 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Montevidéu, de Manabu Mabe, óleo sobre tela, 135,1 x 135 cm, 1961 | | Montevideo, by Manabu Mabe, oil on canvas, 135.1 cm x 135 cm, 1961 | 192 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Francisco Galeno Parnaíba, PI, 1957 Pintor

“Nordestino, mestiço, migrante, morador de Brazlândia (cidade-satélite de Brasília), autodidata. (...) Da preocupação meramente paisagística - embora nunca com pruridos de fi delidade – evoluiu para pintura de universo poético e pessoal. Os elementos visuais de sua vivência suburbana continuam presentes, mas arbitrariamente agrupados, apenas referenciais de operação lírica, a fazer contraponto com gra- fi smos construtivos – estes jamais rígidos – e bizarros répteis e insetos, ou carretéis, que climatizam estranhamente o resultado fi nal". Simão Abrahão dos Santos SEIS pintores do Distrito Federal. Apresentação de Marba Furtado. Brasília: Fundação Cultural do Distrito Federal, 1986.

Francisco Galeno Parnaíba, PI, 1957 Painter

“Nordestino [northeasterner], mestizo, migrant, inhabitant of Brazlândia (a suburban settlement in the outskirts of Brasília), and self-taught ... From an early, but not exclusive preoccupation with landscapes, his painting evolved to focus on the poetic and personal universe. The visual elements of his suburban experience remain present, but they are arbitrarily encompassed into the works. They only serve as lyric references, in juxtaposition with constructive graphisms (never rigid), bizarre reptiles and insects, or spo- ols, all of which set the odd mood of the fi nal product.” Simão Abrahão dos Santos SEIS pintores do Distrito Federal. Apresentação de Marba Furtado. Brasília: Fundação Cultural do Distrito Federal, 1986. Palácio Itamaraty, outras pinturas e quadros | 193 Itamaraty Palace, other paintings and pictures |

| Catapora, de Francisco Galeno, óleo sobre madeira, 160 x 220 cm, 2000 | | Chickenpox, by Francisco Galeno, oil on wood, 160 cm x 220 cm, 2000 |

Palácio Itamaraty, tapeçarias | 195 Itamaraty Palace, tapestry | 196 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

As Teintures des Indes foram produzidas pela Manufacture des Gobelins, fi rma de tecelões de tapeçarias sediada em Paris. Transformada em Manufacture Royale des Meubles de la Couronne por Luís XIV, e sob a direção do pintor Charles Le Brun, passou a encarregar-se do fornecimento de acessórios aos palácios reais. Em 1687, o fi scal da Casas do Rei da França propôs a utilização de temática sobre a América nos tapetes da Manufacture des Gobelins. A partir desse ano, começou a ser produzida nos ateliês uma série de tapeçarias com cartões que teriam sido feitos a partir de desenhos atribuídos a Albert Eckhout, cujos originais haviam sido presenteados em 1678, por Maurício de Nassau ao rei Luís XIV. Entre 1737 e 1741, François Deportes criou novos cartões para Gobelins, baseados nos anteriores, mas introduzindo tantas modifi cações que esta nova série passou a denominar-se Nouvelles Indes, reservando-se para as antigas a denominação de Anciennes Indes. MORAES BELLUZZO, Ana Maria de. O Brasil dos Viajantes. vol. I. Imaginário do Novo Mundo. São Paulo: Me- talivros, 1994. p. 148.

| Manufatura dos Gobelins, século XVIII – França, Índios Pescadores, Lã e seda, 170 X 360cm. Atelier Cosette et Fils; cartão de François Desportes a partir de desenhos de Albert Eckhout | Palácio Itamaraty, tapeçarias | 197 Itamaraty Palace, tapestry |

The Teintures des Indes was produced by the Manufacture des Gobelins, a fi rm of tapestry weavers headquartered in Paris. Transformed into the Manufacture Royale des Meubles de la Couronne by Louis XIV, and under the direction of the painter Charles Le Brun, it took on the task of supplying accessories to the royal palaces. In 1687, the inspector of the Houses of the King of France suggested the use of a theme about the Americas in the rugs of the Manufacture des Gobelins. After that year, a series of tapestries, with cards made from drawings attributed to Albert Eckhout, were produced in the studio. Maurice of Nassau had purportedly given the drawings as a present to King Louis XIV, in 1678. Between 1737 and 1741, François Deportes created new cards for Gobelins based on the old ones, but introduced so many modifi cations that the new series became known as Nouvelles Indes, while the older series took the name Anciennes Indes. MORAES BELLUZZO, Ana Maria de. O Brasil dos Viajantes. vol. I. Imaginário do Novo Mundo. São Paulo: Metalivros, 1994. p. 148.

| Manufacture of the Gobelins, 18th century – France, Fishing Indians, wool and silk tapestry, 170 cm X 360 cm. Atelier Cosette et Fils; François Desportes’ cards based on Albert Eckhout’s drawings | 198 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

| Mapa de Marini, de Madeleine Colaço, Tânger, Marrocos, 1907 – Rio de Janeiro, RJ, 2001 Tapete em lã e cânhamo, 43 x 321 cm |

(...) “E temos, por exemplo, algo muito curioso, que é o Mapa de Marini, o primeiro em que consta o nome Brasil. Esse mapa, que, literalmente, é a peça-chave da nossa história, está guardado no Rio de Janeiro, na mapoteca. A tapeçaria por nós encomendada à Madelaine Colaço, que, hoje, está no gabinete do ministro, se inspirou nesse mapa e é uma das coisas curiosas porque as pessoas se espantam. É um mapa que está centrado sobre Jerusalém. A posição que ocupam a América Latina e o Brasil, em conseqüência, é completamente diferente daquela que você está acostumado a ver. E tem essa característica extraordinária. Pouco a pouco, todos os objetos foram encaixando dentro do edifício, e parece, absolutamente, como se tivesse sido feito para isso”. MURTINHO, Wladimir do Amaral. Depoimento – Programa de História Oral. Brasília, Arquivo Público do Distrito Federal, 1990. p.28-29

| Map of Marini, by Madeleine Colaço, Tangier, Morocco, 1907 – Rio de Janeiro, RJ, 2001 Carpet in wool and hemp, 243 cm x 321 cm

“We have as an example something very curious, the map of Marini, the fi rst to report the name ‘Brazil’. This map literally is the key piece to our history, and it is still kept in the Ministry's map library in Rio de Janeiro. Madeleine Colaço’s tapestry, which can be found in the Minister’s cabinet, was inspired by that map. It is one of those curious things that surprises people. The map is centered right in Jerusalem, so the positions that Latin America and Brazil occupy are, by consequence, completely different from what you’re used to seeing. This characteristic is extraordinary. Little by little, all objects fell into place inside the building, and it absolutely seems like this was made for it.” MURTINHO, Wladimir do Amaral. Depoimento – Programa de História Oral. Brasília, Arquivo Público do Distrito Federal, 1990. pp. 28-29. Palácio Itamaraty, tapeçarias | 199 Itamaraty Palace, tapestry |

Próxima página | Next page | Sem título, de Burle Marx, tapete de lã com forração de cânhamo, 242 x 420 cm, 1965 | | Untitled, by Burle Marx, wool and hemp carpet, 242 cm x 420 cm, 1965 |

Palácio Itamaraty, mobiliário | 203 Itamaraty Palace, Furniture | 204 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Cômoda-papeleira, época de D. José I Slant top desk, D. José I period 128 x 134 x 74 128 cm x 134 cm x 74 cm Brasil, terceiro quartel do século XVIII Brazil, third quarter of the 18th century

Jacarandá, marfi m e metal, estilo rococó. Possui Slant top desk in jacaranda, ivory, and metal, roco- papeleira em sua parte superior com tampo fi xo, co style, from the D. José I period; space for papers gavetinhas e escaninhos em seu interior. Série de in its upper part, with a fi xed lid, small drawers, and duas gavetas e três gavetões com quebras em pigeonholes in its interior. Contains series of two sua estrutura e decoração. drawers and three large drawers with breaks in the structure and decoration. Palácio Itamaraty, mobiliário | 205 Itamaraty Palace, Furniture |

Cômoda-papeleira, época de D. José I Slant top desk, period of D. José I 118 x 140 x 90 cm 118 cm x 140 cm x 90 cm Brasil, terceiro quartel do século XVIII Brazil, third quarter of the 18th century

Jacarandá, marfi m e metal, estilo rococó. Estrutura Slant top desk in jacaranda, ivory, and metal, ro- curvilínea, tampo de arriar, escaninhos diversos e coco style, from the D. José I period; curvilinear oito gavetinhas, entalhes fi tomorfos rasos e puxa- structure, lowering top, various pigeonholes, eight dores em bronze. Corpo contendo três gavetões little drawers, shallow phytomorphic carvings, and emoldurados e marchetados em marfi m. Móvel bronze handles; body contains three large draw- de cunho erudito, palaciano. ers framed and inlaid in ivory. Erudite, palatial De um par que pertenceu ao general argentino piece of furniture. Carlos Maria de Alvear (1789 – 1853) It was originally one of a pair of desks which be- longed to Argentine General Carlos Maria de Al- vear (1789 – 1853). 206 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Mesa dos Tratados Table of the Treaties 74 x 168 x 104 74 cm x 168 cm x 104 cm França, meados do século XIX France, mid-19th century

Mesa de centro em jacarandá claro das Índias, Center table in light-colored jacaranda from the In- bronze e pinturas, além de outras madeiras nas dies, bronze, and paintings, aside from other woods marchetaria, no estilo e época Luiz Felipe. Parte in the inlays, in the style and period of Louis Philippe; superior do tampo em marchetaria de inspiração upper part of the lid in marquetry of phytomorphic in- fi tomorfa apresentando medalhão contornado spiration, presenting a medallion contoured by small por pequenas volutas e fl ores. Pernas em curvas volutes and fl owers. Soft curves and countercurves e contra-curvas suaves contornadas por frisos de on the legs contoured by bronze friezes, decorated bronze, joelheiras decoradas com fi guras míticas with mythical fi gures, fl owers, and fruits on rocailles. com fl ores e frutas sobre rocalhas. The Treaty of Petropolis (1903), which annexed the Nesta mesa foi assinado o Tratado de Petrópolis territory of Acre to Brazil, was signed on this table. (1903), o qual anexa o Acre ao Brasil. Baron of Rio Branco’s Dispatch Briefcase | Pasta de Despacho do Barão do Rio Branco | Doa- Donated to the Ministry of External Relations by da pelo Senador José Sarney Senator José Sarney Palácio Itamaraty, mobiliário | 207 Itamaraty Palace, Furniture |

Mesa de encostar Console table 90 x 123 x 72 cm 90 cm x 123 cm x 72 cm Brasil, meados do século XVIII Brazil, mid-18th century

Vinhático, estrutura curvilínea, numa transição do Console table in vinatico wood, curvilinear struc- período barroco joanino ao rococó. Estrutura em ture, in a transition from the D. João baroque to pernas de curvas e contra-curvas vigorosas, barra the rococo period; vigorous curved and counter- do tampo em entalhes de inspiração salomôni- curved leg structure; top frame with Solomonic- ca (torcidos), sobreposto. Corpo em entalhes de inspired engravings (twisted), overlaid. Body with inspiração fi tomorfa em manufatura abundante e phytomorphic-inspired handcrafted shallow and mista (talha rasa e funda). Saial vazado contendo deep engravings. Hollow bottom with a garland of guirlanda de pequenas fl ores entalhadas, ao gosto small fl ower engravings, in rococo style. Lashing rococó, assim como joelheiras e pernas. Amarra- in engraved, cut wood. Possibly remnant from a ções em madeira recortada entalhada. Possivel- church or convent. mente remanescente de igreja ou convento. 208 | Ministério das Relações Exteriores | Ministry of External Relations

Conversadeira Conversation chair 88 x 72 x 59 cm 88 cm x 72 cm x 59 cm Brasil, Bahia, segunda metade século XIX Brazil, Bahia, second half of the 19th century

Jacarandá e palhinha, rodízios, três assentos Chair made from jacaranda and straw. Shifts, three interligados, ecletismo brasileiro (Segundo interconnected seats, and Brazilian eclecticism. Império Francês/Napoleão III). (Second French Empire/Napoleon III)

O Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (IBAS) constitui instância de coordenação política entre os três países desenvolvida no intuito de promover a cooperação Sul-Sul. O IBAS foi formalizado pela "De- claração de Brasília", emitida em 6 de junho de 2003 pelos Chancele- res dos três países. Naquela ocasião, a "conversadeira", integrante do acervo do MRE, foi escolhida como símbolo do IBAS. Os Ministros das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, da Áfri- ca do Sul, Nkosazana Dlamini-Zuma e da Índia, Yashwant Sinha.

The India-Brazil-South Africa Dialogue Forum (IBSA) is an initiative of policy coordination among the three countries to promote South- South cooperation. IBSA was formalized through the "Declaration of Brasilia", signed on June 6, 2003 by the Foreign Ministers of the three countries. On the occasion, the courting chair, part of the Ministry of External Relations collection, was adopted as the symbol of IBSA. The Ministers of External Relations of Brazil, Celso Amorim, of South Africa, Nkosazana Dlamini-Zuma and of India, Yashwant Sinha. Palácio Itamaraty, mobiliário | 209 Itamaraty Palace, Furniture |

Cadeira dos Arcos Chair of the Arches Bernardo Figueiredo Bernardo Figueiredo Rio de Janeiro, RJ, 1934 – 92 cm X 48 cm X 45 cm 92 x 48 x 45 cm Brazil, third quarter of the 20th century Brasil, terceiro quartel do século XX Chair made from jacaranda and leather. Rectilin- Cadeira brasileira em jacarandá e couro. Estrutura ear structure, backrest, and seat in leather framed retilínea, espaldar e assento em couro emoldurado in wood, displaying a sinuous opening movement por madeira e contendo sinuoso movimento de inspired by the arches of Itamaraty Palace. abertura, inspirado nos arcos do Palácio Itamaraty. 210 | Ministério das Relações Exteriores Ministry of External Relations

Poltrona de Verão Summer Armchair Bernardo Figueiredo Bernardo Figueiredo 73 X 65 X 68 cm 73 cm x 65 cm x 68 cm Brasil, terceiro quartel do século XX Brazil, third quarter of the 20th century

Cadeira de braços brasileira em jacarandá e palhi- Armchair made from jacaranda and straw. Recti- nha, estrutura retilínea, assento e espaldar forra- linear structure, seat, and backrest padded with dos em palhinha. straw.

Palácio Itamaraty, créditos | 213 Itamaraty Palace, credits |

Ministério das Relações Exteriores / Ministry of External Relations www.mre.gov.br

Ministro das Relações Exteriores / Minister of External Relations Embaixador Celso Amorim

Secretário-Geral das Relações Exteriores / Secretary General of External Relations Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto

Subsecretário-Geral de Cooperação e de Promoção Comercial / Undersecretary General for Cooperation and Trade Promotion Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira

Diretora do Departamento Cultural / Director of the Cultural Department Ministra Eliana Zugaib

Coordenação de Divulgação / Information Coordinating Offi ce Conselheira Mariana Lima Moscardo de Souza Secretário Bruno Miranda Zétola Secretária Gabriela Guimarães Gazzinelli

Coordenação do Projeto / Project Coordinator Conselheira Mariana Lima Moscardo de Souza

Organização / Organization André Vilaron Andréa Milhomem Seixas

Colaboração / Collaboration Leisa Cardoso de Sousa Fotografi as / Photography Maíra Brito A.C. Junior Tássia dos Santos Reis Soares André Vilaron Gustavo Magalhães Tradução / Translator Mariana da Costa Dominguez Projeto Gráfi co / Graphic Design Wagner Alves Revisão / Reviser Paulline da Silva Maximiano Impressão / Printing Tiago de Barros Cordeiro Gráfi ca Brasil

Palácio Itamaraty, créditos | 215 Itamaraty Palace, credits |

Esta publicação contou com o apoio da Superintendência Regional do IPHAN do Distrito Federal. This publication received support from the IPHAN (National Institute of Historic and Artistic Sites) Regional Superintendence of Federal Distric.

Agradecimentos / Acknowledgements Superintendente do IPHAN no Distrito Federal / Superintendent of IPHAN in the Federal District Alfredo Gastal

Coordenador do Inventário de Bens Móveis e Integrados no Distrito Federal (IPHAN) / Coordinator of the inventory of tangible movable and integrated property of the Federal District Rogério de Salles Carvalho.

Especialistas (IPHAN) / Specialists: Arnaldo Danemberg (Mobiliário / Furniture) Luiz Fernando Morales (Fotografi a / Photography) Priscilla Ribeiro Guimarães.(Auxiliar Técnico / Agradecimentos especiais / Special Technical Assistant) Acknowledgements Sandra Leite Silva.(Pintura, Gravura, Tapeçaria / Bené Fonteles Painting, Engraving, Tapestry) Conselheiro Pedro Wollny Tâmara Quirico.(Pintura e Gravura / Painting and Emanoel Araújo Engraving) Galerie Chevalier (Paris, França) Vera Siqueira.(Esculturas, Tapetes, Porcelana e Jorge Colaço outros objetos / Sculptures, carpets, porcelain Luiz Bernardo Pericás and other objects) Mirtes Moraes Julio Cezar Neto Dantas ( Arte Sacra e Prataria / Patrícia Pericás Sacred art and silverware) Valéria Maria Lopes Cabral – Fundação Athos Bulcão

Esta é uma publicação realizada pela Coordenação de Divulgação (DIVULG) do Ministério das Relações Exteriores. Nenhuma parte deste catálogo pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ou processo eletrônico, mecânico ou fotográfi co, sem autorização prévia por escrito dos autores. Venda proibida.

This is a publication of the Ministry of External Relations of Brazil. No part of this catalog can be reproduced or transmitted by any form or eletronic, mechanical or photographic process, without previous written permission of the authors. Not for sale.