CADERNO DE RESUMOS

Márcia Maria Menendes Motta Raquel Alvitos Pereira Thiago de Souza dos Reis (orgs.)

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias

Rio de Janeiro Anpuh-Rio 2018

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA SEÇÃO REGIONAL DO RIO DE JANEIRO (Biênio 2016-2018)

Conselho Diretor

Presidenta Márcia Maria Menendes Motta (UFF)

Vice-presidente Ricardo Figueiredo de Castro (UFRJ)

Secretário-geral Edmar Checon de Freitas (UFF)

Primeira secretária Claudia Beltrão (UNIRIO)

Segunda secretária Silvana Cristina Bandoli Vargas (CP II)

Primeira tesoureira Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ)

Segunda tesoureira Tânia Salgado Pimenta (FIOCRUZ)

Conselho Consultivo

Presidenta Ismênia de Lima Martins (UFF/IHGB)

Secretária Vânia Leite Fróes (UFF)

Relatora Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ)

Conselho Fiscal

Presidenta Beatriz Kushinr (AGCRJ)

Secretário Marcus Ajuruam de Oliveira Dezemone (UFF)

Relatora Mônica de Souza Nunes Martins (UFRRJ)

Secretaria Administrativa Juceli Silva

Assessor da Diretoria Thiago Reis

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Reitor Sidney Luiz de Matos Mello

Vice-reitor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega

Pró-Reitoria de Graduação José Rodrigues de Farias Filho

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Vitor Francisco Ferreira

Instituto de História Norberto Osvaldo Ferreras

Instituto de Ciências Humanas e Filosofia Alessandra Siqueira Barreto

Departamento de História Edmar Checon de Freitas

Programa de Pós-Graduação em História Giselle Martins Venancio

Coordenação do Curso de Graduação em História Alexandre Santos de Moraes

Coordenação do Curso de Graduação em História Carolina Coelho Fortes

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Comissão Organizadora Geral Beatriz Kushinr (AGCRJ) Claudia Beltrão (UNIRIO) Márcia Maria Menendes Motta Edmar Checon de Freitas (UFF) (UFF – Coordenação-geral) Ismênia de Lima Martins (UFF/IHGB) Beatriz Kushinr (AGCRJ) Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ) Claudia Beltrão (UNIRIO) Márcia Maria Menendes Motta (UFF) Edmar Checon de Freitas (UFF) Marcus A. de Oliveira Dezemone (UFF) Elizabeth Santos de Souza (Anpuh-Rio) Mônica de Souza N. Martins (UFRRJ) Ismênia de Lima Martins (UFF/IHGB) Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ) Juceli Santos da Silva (Anpuh-Rio) Ricardo Figueiredo de Castro (UFRJ) Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ) Silvana Cristina Bandoli Vargas (CP II) Marcus A. O. Dezemone (UFF) Tânia Salgado Pimenta (FIOCRUZ) Mônica de Souza N. Martins (UFRRJ) Vânia Leite Fróes (UFF) Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ) Ricardo Figueiredo de Castro (UFRJ) Comissão Científica Internacional Silvana Cristina Bandoli Vargas (CP II) Tânia Salgado Pimenta (FIOCRUZ) António Manuel Botelho Hespanha Thiago S. Reis (UVA/UNESA) (Universidade Nova de Lisboa – Portugal) Vânia Leite Fróes (UFF) Eugénia Rodrigues Comissão Organizadora Local (Universidade de Lisboa)

Andréa Casa Nova Maia (UFRJ) Fernando Manuel Paulo Cunha Edmar Checon de Freitas (UFF) (Universidade da Beira Interior) Ismênia de Lima Martins (UFF/IHGB) Juniele Rabêlo de Almeida (UFF) Hal Langfur Larissa Moreira Viana (UFF) (University at Buffalo) Márcia Maria Menendes Motta (UFF) Marcus A. O. Dezemone (UFF) Maria Margarida Sobral da Silva Neto Maria Letícia Corrêa (Uerj/FFP) (Universidade de Coimbra) Marina Monteiro Machado (Uerj) Mauro H. B. Amoroso (Uerj/FEBF) Teresa Cribelli Mônica de Souza N. Martins (UFRRJ) (University of Alabama) Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ) Renata Torres Schittino (UFF) Secretária-geral Ricardo Figueiredo de Castro (UFRJ) Silvana Cristina Bandoli Vargas (CP II) Elizabeth Santos de Souza (UFF) Paulo Cruz Terra (UFF) Vânia Leite Fróes (UFF)

Comissão Científica Nacional

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias

Márcia Maria Menendes Motta Raquel Alvitos Pereira Thiago de Souza dos Reis (orgs.)

1ª Edição – 2018. Anpuh-Rio

Editor-chefe: Thiago de Souza dos Reis

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SUMÁRIO

ST 01. 7 ensaios de interpretação da realidade peruana - Mariátegui & História: 90 Anos de Parcerias. Coordenação: Ricardo José de Azevedo Marinho (UNIGRANRIO), Renata Bastos da Silva (IPPUR/UFRJ)...... 10

ST 02. A história da loucura e dos saberes médico-psicológicos: instituições, teorias, atores e práticas. Coordenação: Allister Dias (UFRJ), Daniele Corrêa Ribeiro (Instituto Municipal Nise da Silveira)...... 21

ST 03. A Literatura de Cordel e suas relações com a História, as Migrações, os Territórios e a Educação. Coordenação: Elis Regina Barbosa Angelo (UFRRJ)....28

ST 04. A pesquisa de iniciação científica: experiências e práticas. Coordenação: Fábio Afonso Frizzo de Moraes Lima (Universidade Estácio de Sá), José Ernesto Moura Knust (IFFluminense)...... 33

ST 05. A produção da História e o marxismo. Coordenação: Wanderson Fabio de Melo (UFF/PURO), Demian Bezerra de Melo (UFF)...... 46

ST 06. Anarquismo em questão: conceitos, práticas, circulação e trajetórias. Coordenação: Angela Maria Roberti Martins (UERJ / UNIGRANRIO), José 5 Damiro de Moraes (UNIRIO)...... 55

ST 07. As Direitas, suas bases intelectuais, expressões e vertentes contemporâneas no Brasil e no mundo. Coordenação: Marcia Regina da Silva Ramos Carneiro (UFF), Cícero João da Costa Filho (USP)...... 64

ST 08. Construções e representações de gênero: abordagens multidisciplinares e parcerias acadêmicas. Coordenação: Lana Lage da Gama Lima (UENF), Miriam Cabral Coser (UNIRIO)...... 73

ST 09. Cultura Visual e História: as imagens em debate. Coordenação: Maria Teresa Bandeira de Mello (APERJ), Carlos Eduardo Pinto de Pinto (UERJ)...... 86

ST 10. Da construção dos patrimônios ao acesso às cidades: direitos, negociações e conflitos. Coordenação: Vivian Luiz Fonseca (UERJ/ CPDOC - FGV), Daniel Roberto dos Reis Silva (CNFCP-CRIA/ISCTE)...... 106

ST 11. Diálogos sobre a cidade a partir de Michel Foucault: saber, poder e sujeito. Coordenação: Fernando Augusto Souza Pinho (UFRJ)...... 116

ST 12. Dimensões da Propriedade e o campo interdisciplinar de debates. Coordenação: Carol Teresa Cribelli (The University of Alabama), Mônica de Souza Nunes Martins (UFRRJ)...... 122

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ST 13. Dimensões do Regime Vargas e seus desdobramentos. Coordenação: Thiago Cavaliere Mourelle (UERJ) ...... 130

ST 14. Ditaduras, regimes autoritários e processos de transição no século XX: história e memória. Coordenação: Janaina Martins Cordeiro (UFF), Livia Goncalves Magalhaes (UFF)...... 139

ST 15. Entre caminhos, trajetórias, vilas e cidades: Políticas e tramas de ocupação e representação das conquistas e territórios portugueses no ultramar. Coordenação: Maria Fernanda B. Bicalho (UFF)...... 168

ST 16. Estudos étnico-raciais: compatibilidades e particularidades dos movimentos sociais em suas lutas por liberdade, direitos e cidadania. Coordenação: Lucimar Felisberto dos Santos (UFRJ)...... 177

ST 17. Experiências negras no pós-Abolição: entre parcerias e saberes compartilhados. Coordenação: Clícea Maria Augusto de Miranda (USP), Lívia Nascimento Monteiro (Centro Universitário Celso Lisboa)...... 189

ST 18. GT Mundos do Trabalho: Novos temas e debates na História do trabalho (Século XIX- década de 1950). Coordenação: Paulo Cruz Terra (UFF), Anna Beatriz de Sá Almeida (COC/Fiocruz)...... 201 6 ST 19. Habitação e direito à cidade: favelas, subúrbios, periferias e assentamentos informais no Brasil. Coordenação: Mario Sergio Ignácio Brum (FEBF-UERJ), Rafael Soares Gonçalves (PUC-Rio)...... 209

ST 20. História & Educação – Abordagens Gramscianas. Coordenação: Sonia Regina de Mendonça (UFF), Rodrigo de Azevedo Cruz Lamosa (UFRRJ)...... 219

ST 21. História & Teatro. Coordenação: Henrique Buarque de Gusmão (UFRJ), Elza Maria Ferraz de Andrade (UNIRIO E UNESA)...... 242

ST 22. História Comparada enquanto método: suas abordagens, limites e possibilidades. Coordenação: Carolina Arouca Gomes de Brito (CEDERJ / UNIRIO), Ingrid Fonseca Casazza (PPGHC/UFRJ)...... 258

ST 23. História da alimentação, da gastronomia e suas interfaces. Coordenação: Thaina Schwan Karls (UFRJ), Cleber Eduardo Karls (UVA)...... 264

ST 24. História da Baixada Fluminense: pesquisa, ensino e parcerias no Rio de Janeiro. Coordenação: Nielson Rosa Bezerra (UNIRIO)...... 273

ST 25. História e História da educação e a formação de professores: práticas, políticas e registros históricos. Coordenação: Desire Luciane Dominschek Lima (UNICAMP/UNINTER), Alexandre Ribeiro Neto (UERJ/FEBF)...... 280

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ST 26. História da Educação: fronteiras entre o local, o regional, o nacional e o global. Coordenação: Carlota Boto (FE/ USP), Washington Dener dos Santos Cunha (UERJ)...... 293

ST 27. História Pública e Educação: saberes compartilhados. Coordenação: Rodrigo de Almeida Ferreira (UFF), Samuel Silva Rodrigues de Oliveira (CEFET)...... 303

ST 28. História do crime, da polícia e da justiça criminal. Coordenação: Cândido Gonçalo Rocha Gonçalves (UNIRIO), Marcos Luiz Bretas da Fonseca (UFRJ)...... 314

ST 31. História e Ciências Humanas – dimensões epistêmicas, éticas e estéticas. Coordenação: Pedro Spinola Pereira Caldas (UNIRIO), Francine Iegelski (UFF)...... 324

ST 32. História e Direito. Coordenação: Marco Aurélio Vannucchi Leme de Mattos (CPDOC-FGV), Gustavo Silveira Siqueira (UERJ)...... 340

ST 34. História e memória das periferias brasileiras, africanas e latino americanas: cidadania, invisibilidade social e silêncio. Coordenação: Linderval Augusto Monteiro (UFGD)...... 345 7 ST 35. História econômico-social nos séculos XIX/XXI: diálogos interdisciplinares entre História, Economia e Relações Internacionais. Coordenação: Almir Pita Freitas Filho (UFRJ), Leonardo Leonidas de Brito (Colégio Pedro II)...... 351

ST 36. História Militar: Práticas e saberes. Coordenação: Ricardo Pereira Cabral (Escola de Guerra Naval), Francisco Eduardo Alves de Almeida (Escola de Guerra Naval)...... 365

ST 37. História, Arquivologia e Biblioteconomia: fronteiras, embates e diálogos. Coordenação: Luciana Quillet Heymann (FGV/CPDOC), Vitor Manoel Marques da Fonseca (UFF)...... 375

ST 39. História, Educação e Memória: interfaces e diálogos. Coordenação: Renata Rodrigues Brandão (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro), Teresa Vitória Fernandes Alves (Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro)...... 385

ST 40. Histórias das mulheres negras no Brasil Republicano (1889-2017). Coordenação: Júlio Cláudio da Silva (Universidade do Estado do Amazonas), Cláudia Maria de Farias (Universidade Estácio de Sá)...... 393

ST 41. Igreja, Sociedade e Poder na Alta Idade Média. Coordenação: Paulo Duarte Silva (UFRJ), Rodrigo dos Santos Rainha (UERJ)...... 398

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ST 42. Igreja, Sociedade e Poder na Baixa Idade Média (séculos XI-XV). Coordenação: Andreia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ), Marta de Carvalho Silveira (UERJ)...... 411

ST 43. Imagens da Morte: saberes e investigações interdisciplinares sobre a morte, os mortos e o morrer. Coordenação: Cláudia Rodrigues (UNIRIO), Mara Regina do Nascimento (UFU)...... 422

ST 44. Indígenas, camponeses e quilombolas: caminhos para os (des)encontros com novas e outras narrativas. Coordenação: George Leonardo Seabra Coelho (UFT)...... 432

ST 45. Livros, bibliotecas, cartas e outros escritos: apropriações e representações. Coordenação: Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira (UERJ), Beatriz Pìva Momesso (UFF)...... 448

ST 47. Militares, poder e sociedade: métodos de história e parcerias. Coordenação: Fernando da Silva Rodrigues (UNIVERSO)...... 466

ST 48. Mundos do trabalho e ditaduras no Brasil republicano. Coordenação: Felipe Augusto dos Santos Ribeiro (UFRRJ), Claudiane Torres da Silva (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro)...... 475 8 ST 49. Novos temas e debates sobre a imprensa e circulação de impressos no século XIX: interseções entre a história cultural e a cultura política. Coordenação: Camila Borges da Silva (UERJ), Gladys Sabina Ribeiro (UFF)...... 483

ST 51. O Vale do Paraíba, a Segunda Escravidão e a Civilização Imperial. Coordenação: Ricardo Salles (UNIRIO), Mariana de Aguiar Ferreira Muaze (UNIRIO)...... 497

ST 52. Pesquisas em estudos africanos: parcerias e perspectivas interdisciplinares. Coordenação: Regiane Augusto de Mattos (PUC-Rio), Marina Berthet (UFF- ICHF)...... 509

ST 53. Políticas públicas no Brasil: trajetórias e debates. Coordenação: Marcello Rodrigues Siqueira (Universidade Estadual de Goiás)...... 519

ST 54. Por um século XIX ampliado: constituições e modernizações de práticas e saberes diversos. Coordenação: Iuri Bauler Pereira (PPGHIS/UFRJ), Eduardo Wright Cardoso (UFRRJ)...... 527

ST 55. Práticas de parcerias e epistemologia interdisciplinar: sobre história do poder, das instituições e das ideias políticas. Coordenação: Ana Paula Barcelos Ribeiro da Silva (UERJ), Jefferson de Almeida Pinto (IF Sudeste MG)...... 535

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ST 56. Rural no Brasil: História & Parcerias. Coordenação: Marina Monteiro Machado (UERJ), Marcus Dezemone (UFF)...... 553

ST 57. Uma Idade Média para o século XXI – parcerias e colaborações acadêmicas na escrita da História. Coordenação: Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ), Vânia Leite Fróes (UFF) ...... 569

ST 58. “A classe trabalhadora vai ao paraíso?” O Ensino de História e diferentes sujeitos em processos formais e não formais de escolarização. Coordenação: Alessandra Nicodemos Oliveira Silva (UFRJ), Fabiana de Moura Maia Rodrigues (UFF)...... 579

Índice de autores...... 587

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ST 01. 7 ensaios de interpretação da 10 realidade peruana - Mariátegui & História: 90 Anos de Parcerias

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A Crítica da Economia Política nos Sete ensaios - Renata Bastos da Silva (IPPUR/UFRJ)

Sete ensaios de interpretação da realidade peruana cuja primeira edição foi publicada em novembro de 1928 foi escrito pelo pensador peruano José Carlos Mariátegui. Observa-se que Sete ensaios de interpretação da realidade peruana expõem um movimento de transformação que aglutina certas forças da tradição em seu processo, sendo ciente das vantagens e desvantagens do moderno e do atraso para uma sociedade como a peruana. Um dos temas dos Sete ensaios, tal como em O Capital de Marx, é o desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de produção. Assim, entendemos que Mariátegui em seus Sete ensaios parte da análise da estrutura econômica do Peru, desde a economia colonial até o caráter da economia peruana nos anos de 1920. Por conseguinte, iniciou seu exame da realidade peruana com uma interpretação sobre a economia, ou seja, o primeiro dos sete ensaios é sobre a economia. É este ensaio que iremos aproximar da crítica que John Maynard Keynes fez aos desdobramentos da política econômica do fim da primeira guerra mundial.

A educação em Mariátegui e Anísio Teixeira como agente de transformação - Bárbara Rosalino Pinheiro Matos (Unigranrio)

O presente artigo tem como finalidade além de analisar o sistema educacional peruano através da obra, os 07 ensaios da realidade peruana, de um dos principais 11 intelectuais latino-americano, José Carlos Mariátegui (1894-1930), dialogar também com a realidade educacional brasileira segundo a visão de seu contemporâneo, latino americano e pedagogo, Anísio Teixeira (1900-1971) partindo da leitura de sua obra, Educação não é privilégio. O artigo foi dividido em três partes. Na primeira, busquei situar como as ideias de Mariátegui e Anísio apesar de países diferentes poderiam ser tão próximas. Na segunda, a importância de tais autores para o âmbito educacional. Na terceira, como seus ideais podem ser ainda melhor explorados e se são ou não postos em prática na atualidade. Mariátegui em sua obra afirma que por haver uma influência espanhola, francesa e norte-americana, a educação possuía um espirito colonial e não nacional sendo, portanto, excludente e elitista tal como Anísio Teixeira que via as instituições de ensino brasileiras como aristocráticas. Por essa razão, ambos em suas próprias realidades, compartilhavam um ideal comum: Uma escola que incluísse toda a sociedade. Temos então, tanto em Mariátegui quanto em Teixeira, a ideia de que somente a educação seria capaz de ultrapassar as barreiras impostas pelos níveis das classes sociais e que dessa maneira, haveria uma aproximação social findando com o processo de exclusão.

A educação pública e sua herança colonial: uma interpretação brasileira a partir da obra de Mariategui. - Fabíola de Cássia Freitas Neves (UFRJ)

De acordo com a obra de José Carlos Mariategui, no Peru, assim como no Brasil, a transição da colonização para a república não se deu em termos de rupturas com o antigo modo de organização social, antes “a república se sente e até se confessa ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------solidária com o vice-reinado” (MARIATEGUI, 2008, p.116). As consequências disto são percebidas na manutenção das posições sociais ocupadas pelos indivíduos em ambas as nações: os Estados se referiam à índios (no Peru) e a negros (no Brasil), mas não à cidadãos, como se esperaria de uma República. A cultura de manutenção de privilégios herdadas das coroas espanhola e portuguesa nos respectivos países permanecia como prioridade. Neste sentido, após discorrer sobre as três influências educacionais que influenciaram o processo da educação pública no Peru, no final de seu texto Mariategui afirma que “a cada dia mais se comprova que alfabetizar não é educar. A escola elementar não redime o índio moral e socialmente. O primeiro passo para sua redenção tem que ser o de abolir sua servidão” (IDEM, p.161). Em outras palavras, “à medida que existem desadaptados no âmbito da sociedade, pede-se que a educação desempenhe o papel de adaptar, de integrar os indivíduos na sociedade” (SAVIANI, 1991, p.42), porém, isto não é possível já que quando não se alteram as bases socioeconômicas de uma sociedade não se pode acreditar que uma instituição educacional será capaz de redimir por si própria estes indivíduos. José Carlos Mariategui nos apresenta a origem do processo da educação básica no Peru, atentando para o fato que através da influência espanhola “o privilégio da educação persistia pela simples razão de que persistia o privilégio da riqueza e da casta” (MARIATEGUI, 2008, p.112), de modo que o povo não tinha direito à educação. Já Marcelo Burgos, ao discutir sobre a Base Nacional Comum no Brasil, vê na obrigatoriedade da socialização de conteúdos básicos à todas as instituições públicas nacionais uma possibilidade de se lançar bases para um Estado, de fato, mais democrático, haja visto que é 12 imprescindível garantir a publicização do “conhecimento já acumulado principalmente na vida escola e nas universidades; para transmitir uma herança, mas também para forjar nas novas gerações a capacidade de se emanciparem dela” (BURGOS, 2005, p.26). Desta forma, o presente artigo pretende abordar a herança colonial nos processos de formação da educação pública no Brasil, atentando para as similaridades com o Peru através da obra de José Carlos Mariategui, sob a perspectiva de que o modo como a sociedade brasileira se organiza sócio e economicamente aponta tanto para as fraquezas contidas em nosso sistema público de educação quanto para as potencialidades que a democracia apresenta à construção do mesmo.

Breve resumo de um homem Latino-americano, peruano e de vigor. Breve resumo de Mariátegui - Rafael dos Santos Gomes (UNIGRANRIO)

São interessantes as observações de Mariátegui, destaca-se a sua principal obra, 07 Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana, onde fez uma análise do período colonial até o momento em que escreveu, ele conseguiu capitar os alicerces fundamentais para se compreender como foi o crescimento e desenvolvimento de seu país. Dentre seus estudos nesse período, trago como exemplo, a visão sobre a extração de matérias primas, não só pelo seu valor, mas também pela facilidade encontrada, e com isso desde seus colonizadores aos primeiros burgueses regionais, foi um elemento decisivo para se investir ou não, devido à localização e a necessidade de escoar via mar para a Europa o seu produto. Este elemento serve de contemplação e estudos para se aplicar a outros países da América Latina, como o ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Brasil. A importância de se estudar Mariátegui parte inicialmente do fato que este intelectual não se fecha aos conhecimentos adquiridos na Europa e nem fica apenas com a dele de origem, ou seja, não busca ter uma única visão, mas a expande, unindo ao conhecimento adquirido e aplicando em sua terra. Foi um homem que marcou a história sendo um marxista-leninista latino-americano, e com um marxismo incomum ao que se tinha em crescimento no início do século XX. Ele traça uma perspectiva materialista na história econômica peruana não sendo somente teórico. Ele foi afetado pelos grandes eventos que ocorreram durante sua vida, o rechaço ao imperialismo norte-americano, a Primeira Guerra Mundial e o fato das classes médias estarem conseguindo entrar entre os intelectuais. Por fim pode-se afirmar que a Revolução Russa de 1917 também colaborou com seus pensamentos, se tornando um intelectual orgânico e tido como um dos frutos da Reforma Universitária de Córdoba (Argentina) – 1918. Um homem intenso e firme, pois bateu de frente com algumas acusações, não se dobrando e defendendo seu ponto de vista, não só contra antigos companheiros como da Internacional Comunista (IC). Enfim, assim como a história não para, e ela favorece aos que como Mariátegui se empenham em construir algo, deixar algum legado, dar o sangue por um ideal, e se desgastar durante a vida por um trabalho. A vida sobre está terra é como um dia, tem seu começo, meio e fim. Agora o que pode transcender a este dia, e perdurar por mais tempo que a existência material, são as ideias e as obras que se constroem aqui. Ele foi um dos ideólogos Peruanos de maior importância e um dos maiores pensadores marxista latino-americano de sua época, Mariátegui é um dos fundadores do Partido Socialista do Peru. 13

Burocracia Oligárquica nas Universidades Peruanas e a Reforma Universitária - Adriano de Carvalho Mendes (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Ana Flávia Merlim Dias (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A partir dos estudos de Mariátegui, percebeu-se o fenômeno em a que educação pública, não somente no Peru como em toda a América Latina, era necessariamente uma educação universitária que se restringia apenas a uma classe, a dominante, tornando-se um privilégio oligárquico. Desta forma, a educação fechava suas portas para classe mais pobre, fazendo-a sustentar um objetivo de determinar que o ensino público superior fosse provedor de doutores apenas para classe dominante, já que o ensino elementar público se mostra deficitário às camadas sociais mais baixas. Contudo, o tal fenômeno só foi prolongado por conta de um histórico estrutural econômico semifeudal, que de acordo com o autor, a vontade de mudança e transformação do ensino se deu tardiamente nas universidades latino americanas, não somente no Peru, um exemplo claro foi a citação sobre as universidades argentinas. Destas reflexões, entendeu-se a necessidade de atacar a estrutura conservadora das universidades, começando a se estruturar um movimento de reforma. As ações em prol da reforma no âmbito estudantil, geraram reações conservadoras como: uma união com os professores incompetente que eram rejeitados pelos alunos e uma resistência própria de docentes de valores não universitários. Em grande parte, os docentes obtiveram uma atitude contra a maioria dos princípios da reforma universitária. Desta forma, para que a reforma seja efetivada, é necessário que haja aceitação de dois princípios: o voto dos alunos, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------impulso intrínseco de atitude e visão ao progresso em detrimento da burocracia oligárquica; e as cátedras livres, que seriam ineficazes sem o movimento estudantil.

El Problema del índio - Suas raízes e heranças - Ramon da Conceição Fagundes (UFRJ)

No segundo ensaio de 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana, a questão esboçada por José C. Mariátegui é a temática indígena, tópico esse que é trabalhado com um diagnostico marxista em relação ao cenário peruano. Apesar desse ensaio ser o mais curto do livro, apresenta extensa importância para problemática indígena, não só no contexto peruano, mas para toda América Latina. El problema del índio, em resumo apresenta dois semblantes, um a qual a face da América Latina está habitada por milhares de indígenas, e outra instituída com a essência do quase aniquilamento total desta raça e de suas raízes. Mariátegui em suas viagens para Europa e adjunto aos seus estudos, visualizou que a exploração indígena tem inúmeras matrizes, e que os indígenas só poderiam constituir e usufruir da estrutura social a partir da veiculação da perspectiva capitalista na sociedade nacional. A solução para a questão indígena é complexa, já que está atrelada a El problema de la tierra. Esse ensaio, estiga de maneira confrontacional a busca pelo enfrentamento contra o opressor, doravante depende apenas da solidariedade e da força dos movimentos de emancipação das massas indígenas.

José Carlos Mariátegui e Caio Prado Junior: a questão agrária como objeto 14 de evolução política nacional - José Marcio Figueira Junior (CPDA/UFRRJ)

Em face aos 90 anos do clássico de José Carlos Mariátegui, Los siete ensayos de interpretación de la realidad peruana (1928), nosso trabalho busca compilar um dos ensaios presente no clássico do autor, El problema de la tierra, juntamente com uma análise recortada do texto publicado cinco anos depois por Caio Prado Junior, Evolução política do Brasil (1933), de modo a cruzar dois autores marxistas que escreviam em tempos próximos no Peru e no Brasil e buscavam interpretar os respectivos quadros, o que nos leva, em relação a Mariátegui, às características “fundamentalmente econômicas” da sociedade peruana fundamentadas pelo modo no qual o processo de colonização hispânica, ao ser processado mediante a já existência de povos em terras que viriam a ser colonizadas e o posterior uso desses povos em força de trabalho, gerou resultados objetivos no arranjo da sociedade peruana, inserindo a questão da terra como problema concreto de formação política da mesma, vide que os processos históricos ocorridos após a Independência não foram ainda suficientes para gerar desenvolvimento capaz de cancelar esses efeitos nocivos, o que aproxima Mariátegui de Caio Prado Junior no que tange o argumento, visto que, ao analisar o processo de colonização de terras do Novo Mundo e o Império Brasileiro nascido no processo de Independência, o autor busca argumentar, convocando diversos episódios ocorridos neste recorte, sobre o modo como a sociedade brasileira, incluindo a formada e residente do campo, evoluiu politicamente ao longo do tempo, tendo estes anseios sido traduzidos ou não pela figura estatal, primeiro portuguesa, depois brasileira. Assim sendo, este exercício procura transversalizar os dois autores doravante a questão agrária como objeto ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------fundamental de interpretação concreta dos respectivos cenários nacionais do ponto de vista econômico, social e político, dado este que evidencia a inovação no modo de produzir história como contribuição prima dos mesmos. Em outras palavras, buscamos destacar interpolações que, dada a aproximação temporal entre os textos, posiciona os dois autores na busca intelectual pelo modo tal qual as duas sociedades peruanas e brasileiras, em suas configurações campesinas, se constituíram e se constituem enquanto sujeitos integrados aos processos de formação política dessas nações, de modo a ser impossível realizar leitura correta sem a inserção dos dois autores no contexto recortado, tal qual figuravam enquanto interpretes e figuras políticas ativas.

Literatura e Escrita em José Carlos Mariátegui: A Pedra Angular da Construção Identitária da Nação Peruana - Annelyse Guedes Ramos (UNIGRANRIO)

A literatura para José Carlos Mariátegui era um importante estratagema no quesito de construção do Peru, em todos os aspectos que compõem a estruturação de um povo, especialmente no âmbito de fundamentação da identidade nacional. Tanto que ao estudo literário foi dedicado um espaço maior em o “Siete Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana”. No ensaio literário, desde seu início, nota- se que a literatura peruana passou por fases até possuir sua própria base, características e personalidade. O autor menciona didaticamente no trecho a seguir a respeito dessas fases: “Una teoría moderna –literaria, no sociológica– sobre el 15 proceso normal de la literatura de un pueblo distingue en él tres períodos: un período colonial, un período cosmopolita, un período nacional.” (MARIATEGUI, 1975, p. 200) Durante o período colonial, a escrita era de profundo cunho espanhol; Ainda não possuíam raízes nacionalistas. O período cosmopolita há a assimilação de elementos de diversas literaturas estrangeiras. E no período nacional, alcança- se o ideal de escrita peruana, com raízes nacionais e sentimentos próprios. Foi uma evolução gradual da literatura com seu país, onde o mesmo evoluía enquanto nação e sua literatura conjuntamente. A respeito do período colonial, existe uma peculiaridade interessante a ser trabalhada, com o escritor Inca Garcilaso de la Vega. Filho de pai espanhol e mãe inca, nascido em Cuzco, Garcilaso é uma figura que representa sucintamente o que é a cultura peruana, atendo-se aqui na literatura. Uma miscigenação, fusão de dois universos em um. Segundo Mariátegui: “O primeiro peruano”. Por suas obras, nota-se que devido às influências que tivera ao estudar fora de seu país natal, ao retornar, trouxe o início da revolução identitária ao povo. Poderia apenas classificá-lo como escritor colonialista, mas sua forma de trazer o Peru para os papéis e registrar a história da nação, pode-se colocá-lo nas três fases da literatura peruana, pela sua atemporalidade e por seus escritos conseguirem ter características que se enquadram nos três momentos. Tanto no relato da colonialidade da época de forma com inspiração na escrita hispânica, quanto em trazer influências estrangeiras para seus escritos, como a exaltação da nacionalidade, as primeiras raízes de identificação como peruano sendo moldadas em seus escritos. A linguagem é um dos fatores principais que une os seres humanos desde os primórdios, seja esta verbal ou não-verbal. E no ensaio literário de Mariátegui, esta afirmação é vista com muita clareza e relatada com a devida ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------importância e magnitude pelo autor ao longo da leitura realizada pelo capítulo, sendo reforçada na figura de Inca Garcilaso de la Vega.

Literatura popular e identidade nacional no Brasil - Hendie Tavares Teixeira (UFRJ)

O presente trabalho tem como objetivo analisar as contradições entre os esforços de estabelecer critérios de nacionalidade na consagração dos romances brasileiros na virada do século XIX, hoje canônicos, e as características dos romances que fizeram sucesso, hoje ignorados. Utilizaremos como eixo interpretativo a leitura do capítulo O processo da literatura na obra 7 ensaios de interpretação da realidade peruana, de José Carlos Mariategui, publicado em 1928. Grande parte da obra destina-se a preocupação sobre a literatura, pois o autor afirma que a concepção estética está ligada diretamente a concepções morais, políticas e religiosas. A literatura nacional surge a partir do idioma e uma política de afirmação nacional. Os países colonizados, ao adquirirem o idioma metropolitano, acabam por importar e se tornar dependente não só dos modelos, mais também dos temas e sentimentos da metrópole. Mesmo depois que a América, em realidades diferentes, passou pelos processos de independência e a experiência da república, seu maior desafio em relação a sua produção estética foi sair de sua condição colonial. Ainda que o autor estabeleça as dificuldades da realidade peruana, no Brasil, também com seu passado colonial e presente mestiço passou por projetos de afirmação de identidade nacional em que foram estabelecidos parâmetros nos quais a literatura deveria ter 16 a função de interpretação do país. Em contrapartida, os romances que vendiam, que atingiam várias edições em uma época de escassos leitores, apresentam temas que divergem desse projeto explícito de “brasilidade”, mas são exatamente eles que apresentam os sentimentos do povo, a miscigenação, a sensualidade, a vivacidade, características que Mariategui entende como fundamentais na construção de uma literatura independente, pois é somente no contato com o povo que é possível extrair as raízes e o sentimento nacional.

Mariátegui e as influências na busca de organização da instrução pública peruana - Dheane de Oliveira Dias (Universidade do Grande Rio Professor José de Sousa Herdy)

7 ensaios de interpretação da realidade peruana mostra que o início das colônias da América espanhola foram habitadas inicialmente com o intuito de demarcar território conquistado e exploração das riquezas naturais para custear o poderio da metrópole. Após alguns anos um contingente de crioulos se consolidará nas colônias e houve a necessidade de tornar-se independentes. A visão de 7 ensaios de interpretação da realidade peruana nos remete a perceber que a raiz do Peru são seus nativos, mas para o colonizador, a instrução pública refere-se a eles como indígenas e inferiores e não parte integrante da política da instrução pública, negam as raízes do país e sua própria história. Maior choque é a depreciação dos nativos do Peru (o que é natural do Peru) a República apesar de impulsionada pela valorização e igualdade entre o povo peruano não contemplou este propósito, em suma, o povo instrumentalizado como contingente revolucionário continuou de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------fora das políticas e decisões sociais como no tempo da colônia. Na instrução pública a herança espanhola (princípio do privilégio) o conhecimento científico- social trazido por eles tornou-se uma necessidade a partir de uma nova configuração de sociedade após a colonização e independência. A instrução pública institucionalizada é meio da apropriação dos conhecimentos sóciohistoricamente acumulados que permite a concentração do poder econômico e político com os que a detém, neste processo, início de uma República, mostra que os fundamentos foram sobrepostos a ideologia de classes. O pensamento demoburguês de Manuel Vicente Villarán citado por Mariátegui no livro coloca que a decadência de um país através da educação pode vir pela supervalorização das atividades intelectuais em detrimento das atividades braçais embora as duas sejam unificadas, pois não se pode apenas pensar e não agir e nem agir sem pensar. o problema aparece quando o trabalho braçal se torna subjugado, inferiorizado e ratificado como apropriação dos menos favorecidos demonstrando um fator de causa e consequência, o pobre não precisa pensar e sim trabalhar com esforço físico, pensamento é coisas para os favorecidos economicamente. Manuel Vicente Villarán dá o exemplo do surgimento das treze colônias da América que ergueu-se com através da mão de obra da sociedade que ali se estabeleceu. Essa supervalorização do trabalho intelectual que vem da herança medieval espanhola criou e consolidou um estranhamento ao trabalho braçal, oportunizando discussões e pensamentos a respeito do trabalho braçal e sua importância na construção da sociedade, sua desvalorização e tendência a servidão e o desprezo por ele até mesmo de quem precisa dele para subsidiar sua vida em sociedade. 17

O Silenciamento da Historiografia Latino-americana - Andreia Nunes da Silva (UNIGRANRIO)

José Carlos Mariátegui, um pensador revolucionário, porém, fora do meio acadêmico ainda pouco conhecido. Por que desse silenciamento a propósito de sua obra?

Os desafios da gestão democrática da educação no cotidiano escolar, à luz de José Carlos Mariétegui - Cleber Ribeiro de Souza (Pré Vestibular Comunitário da Rocinha)

O presente trabalho tem como objetivo analisar os atuais desafios para efetivação da gestão democrática da educação (Constituição federal de 1988) no cotidiano de uma escola estadual do Rio de Janeiro, a luz das contribuições analíticas de José Carlos Mariétegui, em sua obra “7 ensaios de interpretação da realidade peruana”. Publicada em 1928 no Peru, nos deteremos no ensaio “El proceso de la instrucción pública”. Momento que o autor se debruça com maior intensidade no entendimento da realizada da educação peruana. Perú e Brasil, inseridos no contexto da sociedade moderna ocidental, se aproximam em suas características de sociedade pós- colonial, em relação com o sistema mundo. Com isso, em ambos os países a educação como instituição sustentadora da empresa colonial, ganha sua dualidade. Sendo um tipo de educação e instituição escola destinada ao pequeno grupo da elite, pautada inicialmente no pensamento moderno acidental dos colégios ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------parisienses. Uma outra destinada as grandes massas de trabalhadores, pautada por seu caráter “assimilacionista” e alienador dos saberes dos povos indígenas, africanos em situação de exploração no “novo continente”. Mariétegui, ao dar luz a superposição de elementos estrangeiros na formação do sistema público educacional do Perú, bem como na formação da sociedade peruana, salienta que a educação vigente em seu período trabalha na manutenção do privilégio de castas sociais. (Re) produzindo, com isso, a mentalidade colonial nos indivíduos da sociedade Peruana. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 (resultante de conquistas da sociedade civil organizada), representou importantes marcos de rupturas da educação colonial que Mariétigui desvela em seu país. A Constituição garante legalmente a educação como direito social, sendo dever do Estado e da família promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, é um dessas conquistas (Art. 6º. CF 88). A gestão democrática do ensino público é um dos princípios que define o caminho para se garantir o direito a educação e estabelecer sua qualidade, a partir do diálogo entre os sujeitos da sociedade. Por mais que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, (Art. 12 e 14) tenha legitimado mecanismos de gestão democrática, como a participação na elaboração do PPP, os sujeitos de territórios periféricos, seus interesses, temáticas e práticas, ainda são negados de participarem da construção do projeto de educação de sua escola. Com isso, a luz de Mariétigui, o texto propõe analisar os desafios vividos para a efetivação da gestão democrática da educação no cotidiano da escola CIEP 358 Alberto Pasqualini. 18 Reflexão sobre o processo histórico do livro sete ensaios de interpretação da realidade peruana - Rayssa Porto de Araujo Cruz (Universidade do Grande Rio - Unigranrio)

No senso comum o termo “processo histórico” costuma transmitir uma mensagem de progresso, o que leva a uma visão isolada dos fatos históricos. E para preencher as lacunas deixadas por um “possível” distanciamento dos acontecimentos históricos, a historiografia moderna exerce seu papel de expor o constante movimento histórico, porém com a sensibilidade de compreender rupturas e estagnações. O objetivo é problematizar os fatos de média e longa duração para assimilar os fatos de curta duração. E neste trabalho sobre o livro “sete ensaios de interpretação da realidade peruana” de José Carlos Mariatégui, devemos refletir sobre a perspectiva da historiografia. Os fatos políticos e econômicos citados na obra indicam uma nova fase para o país peruano, mas o autor destaca como as rupturas na sociedade também são carregadas de permanências do sistema anterior, que geram desigualdades no tempo presente. O livro foi publicado no início do século XX, em um momento que o país estava presenciando movimentos socialistas no Peru. Foi nesse contexto, o Mariategui se tornou fundador do partido socialista peruano. E através de suas obras o mundo acadêmico dá o titulo de um dos maiores marxistas da américa latina. Sete ensaios de interpretação da realidade peruana faz uma crítica ao sistema republicano que sequenciou a situação da exploração do índio. No primeiro capítulo do livro, o autor descreve o sistema econômico Inca, mostrando como a política era voltada para o coletivo. Faz uma pequena ironia a teoria Malthusiana (teoria na qual prever uma escassez de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------alimentos), pois a falta de comida seria quase impossível no sistema peruano, sua organização abolia um sistema individualista e a população sempre se dedicava em prol da comunidade (evitando acumulação de riquezas). E mostra também nesse trecho como a conquista espanhola desconfigurou o sistema e a cultura de coletividade e como a independência manteve o sistema econômico espanhol e quais foram os resultados desta atitude.

Religião e política nos 7 ensaios de interpretação da realidade peruana - Ricardo José de Azevedo Marinho (UNIGRANRIO)

Para Mariátegui nos seus 7 ensaios de interpretação da realidade peruana, o que confere valor a uma religião não é a importância de seu fundador, o conteúdo dos ensinamentos, a verdade dos dogmas ou a significação dos mistérios e ritos. Importa não a essência da religião e sim sua função e importância para a vida coletiva. A religião ensina a reconhecer e a respeitar as regras políticas a partir do mandamento religioso. Essa norma coletiva pode assumir tanto o aspecto coercivo exterior da disciplina militar ou da autoridade política quanto o caráter persuasivo interior da educação moral e cívica para a produção do consenso coletivo. A sociedade peruana constitui um exemplo interessante de fator religioso e político, ou seja, um exemplo de como a dimensão política de uma sociedade pode adquirir um aspecto religioso próprio, assumindo um caráter decisivo na disputa da hegemonia. No início da experiência peruana acentua-se no Peru a religião do tawantinsuyu. Na memória peruana, previamente, se entende o tawantinsuyu como 19 uma sedimentação ativa do passado. O tawantinsuyu, a Cidade-Estado não fica fora da história e/ou remonta ao início dos tempos. Ao contrário, é um acontecimento histórico. Existiu. Tem governantes: os Incas. Uma capital: Cusco. Por isso ter sido desde sempre típico de Mariátegui o rigor dispensado à cultura popular, ao costume difuso, ao folclore. Ao mesmo tempo, era grande seu olhar - como é natural para um intelectual preocupado com a política - às instituições do Estado e da sociedade, e, portanto, o fator religioso. Diante do fator religioso, Mariátegui coloca-se segundo sua concepção marxista, segundo uma visão histórica e política. O fator religioso é um fenômeno histórico, político e cultural, profundamente motivado, rico de significado. O fator religioso é uma tentativa de conciliar sob forma mitológica as contradições reais da vida histórica. Compreende-se, então, a distância de Mariátegui em relação ao anticlericalismo superficial do seu tempo. Assim como o Estado oligárquico nunca soube encontrar um equilíbrio na sua relação com a Igreja Católica, também deve encontrá-lo os proponentes de uma política moderna para o Peru. Desta forma, nossa comunicação mostrará como Mariátegui analisou quando e como as características distintivas dos processos históricos que levaram à formação do Estado nacional no Peru determinaram a conformação particular de seu fator religioso. Demonstraremos que para compreender o que define as peculiaridades do fator religioso é preciso considerar a hegemonia histórica da ainda pervasiva cultura cristã em sua sociedade e de suas complexas relações com o tawantinsuyu. E, por fim, como a perspectiva de Mariátegui era incorporadora do fator religioso para se pensar os rumos democráticos para o Peru.

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Um ensaio de intepretação da saúde nas questões agrárias do Brasil - Tiago Martins Simões (CPDOC - FGV)

O viés interpretativo de Mariátegui acerca da economia e sociologia agrárias perpassam pelas marcas históricas do processo de colonização no Peru, atravessando a Conquista e a Independência, em chave de longa duração. Os elementos nacionais estariam, a partir de uma internacionalização crescente das trocas comerciais daquele país (desde a chegada dos espanhóis), em movimento de transformação e acomodação, criando uma passagem para a modernidade tipicamente peruana e conciliando ritmos de desenvolvimento aparentemente contraditórios. A questão agrária, marcada naquela chave pela figura dos feudos, estaria, portanto, em sintonia distinta do espírito do capitalismo europeu clássico. Propomos, neste trabalho, a abordar as inflexões teóricas de Mariátegui sobre o alcance da questão agrária na conformação de um mercado de trabalho, cotejando este tema com a experiência brasileira de configuração de um sistema sanitário que, conforme iremos argumentar, fora fruto de sedimentações passivas de um passado rural esquecido em nossa história. Em diversas matrizes teóricas, o campo é lido como face constitutiva do Brasil e a intermediação política de grupos locais, detentores de poder econômico, permanece como uma lógica revigorada em relações diretas ou indiretas com a política. Estas teses possuem profundas relações com as interpretações de Mariátegui sobre sua época, e é sobre esses aspectos que vamos nos debruçar. 20

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21 ST 02. A história da loucura e dos saberes médico-psicológicos: instituições, teorias, atores e práticas

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A decadência do Hospital Nacional de Alienados na imprensa carioca nos anos de 1920 - Monica Cristina de Moraes (Fiocruz/COC)

Esta comunicação versa sobre a decadência sanitária, na década de 1920, do Hospital Nacional de Alienados (HNA) – versão republicana do Hospício Pedro II, inaugurado em 1852, na cidade do Rio de Janeiro –, enquanto tema pertinente à minha tese de doutorado (PPGHCS/COC/Fiocruz), que investiga a problemática da tuberculose no âmbito da sua história institucional e, em particular, o setor de isolamento de pacientes tuberculosas. A tuberculose é citada como um contínuo óbice administrativo nos relatórios enviados ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, pela Direção Geral do HNA e da Assistência a Alienados no Distrito Federal – nas mãos do psiquiatra Juliano Moreira desde 1903. Paralelamente, entre outros tópicos, há registros do declínio das condições sanitárias do HNA e de sucessivos pedidos de apoio estatal para melhorar a estrutura hospitalar de atendimento aos doentes mentais e de ampliação da assistência pública a alienados na cidade do Rio de Janeiro, com o fim de sanar o problema da superpopulação de loucos que crescia continuamente, entre outros desafios enfrentados no cotidiano nosocomial. Aprofundando a investigação das condições sanitárias do HNA, observamos inúmeras e diferentes notícias sobre o HNA na imprensa carioca, no período mencionado. Desse vasto material, optamos por reunir e analisar alguns artigos que se destacam pelo aspecto da denúncia de problemas administrativos, sanitários e de inadequada assistência aos loucos, que saíram em jornais como O Brasil, A Razão e o Diário Carioca. Para tanto, julgamos importante: pensar a 22 imprensa dentro do jogo de forças políticas e sociais da época, situando brevemente os periódicos em análise; confrontar o quadro sanitário e assistencial do HNA, pintado pela imprensa, com o discurso institucional; e, por fim, refletir sobre sua influência nos rumos da assistência pública aos alienados do Distrito Federal. Assim, do conjunto de fontes analisadas, destacaremos os principais resultados encontrados.

A Formação da Psicanálise no Brasil: relações entre Adheleid Koch e Durval Marcondes - Marcio Lucas Moreira Rodrigues (Colegio Rembrandt COC), Pedro Ernesto Miranda Rampazo (Colégio Galileu Mackenzie)

Em 1933 a ascensão do Partido Nazista ao poder resulta no controle e repressão de toda a sociedade alemã a partir da ideologia de raça. No campo intelectual, o nazismo realizou a arianização das ciências e dos saberes, como a psicanálise, que neste caso, levou ao expurgo dos analistas judeus, inclusive de Sigmund Freud, fundador da psicanálise, e Adheleid Koch, analista didata judia, que foi fundamental na implementação da psicanálise no Brasil. No mesmo período, Durval Marcondes, psiquiatra brasileiro e grande entusiasta dos saberes psicanalíticos, se dedica ao processo de institucionalização da psicanálise no Brasil junto ao IPA (Internacional Psychoanalytical Association), esforço que começara na década anterior. Dentro do contexto apresentado, esta pesquisa pretende discutir a atuação profissional de Adheleid Koch e Durval Marcondes, a relação intelectual entre ambos nesse ofício, bem como suas ideologias, ressaltando a importância desse vínculo para a institucionalização da psicanálise no Brasil. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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A loucura Espírita e o Espírito da loucura no Rio de Janeiro da República Velha - Marcos Moreira Marques (UNIRIO)

Desde os primeiros documentos produzidos na França por Allan Kardec, para configuração da doutrina que o autor batizou de espiritismo, este conjunto de pensamentos e práticas foi acusado de provocar o suicídio e a loucura. As acusações iniciais foram proferidas essencialmente pela Igreja, mas, logo se transformaram em matéria de interesse de médicos e psiquiatras que, já no Brasil dos anos 1880, pela pena do Dr. Nuno de Andrade, ganhava a classificação psiquiátrica de loucura vesanica, reconhecida pelos delírios e ideias fixas que provocava. Essas acusações não impediram que ainda na década de 1880 houvesse no Rio de Janeiro cerca de trinta casas totalmente dedicadas ao tratamento espírita das doenças mentais. A base teórica para esses tratamentos provinha de O Livro dos Médiuns, que classificava a doença mental como obsessões, sendo estas divididas em três tipos: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação, todas elas oriundas da ação de espíritos sobre o encarnado. Na década seguinte, este conjunto explicativo será aprofundado pelo médico e político Adolfo Bezerra de Menezes que, através da obra A loucura sob Novo Prisma, classificará a doença mental em dois tipos: àquelas resultantes de algum defeito do cérebro, às quais caberá à medicina o tratamento, e aquelas resultante da ação dos espíritos, que será responsabilidade do espiritismo o seu tratamento. Com a promulgação do Código Penal de 1890, qualquer tipo de ação curativa realizada pelos seguidores da 23 doutrina passa a ser encarado como crime, mas nem mesmo a criminalização fez com que os seguidores do espiritismo deixassem de atender doentes, sendo que, entre 1902 e 1911 o número de pacientes atendidos na Federação Espírita Brasileira ultrapassará a quantidade de 1.600.000 pessoas, entre elas, vários doentes mentais, que serão atendidos por médiuns, diagnosticados por espíritos e tratados a base de remédios homeopáticos e sessões de desobsessão. Já nas primeiras décadas do século XX, a doutrina espírita sofrerá pesados ataques da classe médica, em particular de médicos ligados à Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e à Liga Brasileira de Higiene Mental, de onde médicos como os doutores Leonídio Ribeiro, Henrique Roxo, Oscar Faria e Carlos Fernandes, entre outros, procurarão demonstrar que o espiritismo seria um dos principais fatores responsáveis pelo desenvolvimento de distúrbios mentais entre a população da cidade do Rio de Janeiro. Desta forma, entre os últimos anos do século XIX e as primeiras décadas do século XX, o espiritismo tanto procurou desenvolver técnicas de tratamento para as doenças mentais quanto foi acusada pela classe médica como causador dessas doenças. Sendo assim, este trabalho procura discutir esse duplo aspecto na relação espiritismo e doença mental.

A pena de morte no discurso médico-criminológico na Era Vargas (1930- 1945) - Allister Dias (UFRJ)

Este texto tem por objetivo descrever e analisar o conteúdo dos discursos de médicos, sobretudo psiquiatras e médicos legistas, e juristas cerca da pena de morte. O contexto dos anos 1930 e início dos anos 1945, a chamada Era Vargas, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------justifica-se pelo maior densificação do debate sobre o assunto na ambiência intelectual do período em decorrência do tensionamento e da polarização política que marcou o mesmo, o que trouxe também a recorrência do tema dos “crimes políticos”, ainda mais a partir de 1935. O decreto-lei n° 431, de 18 de maio de 1938, previu a pena de morte em alguns casos. Em vista disso, centraremos nossa análise no livro do advogado Jurandyr Amarante, “A Pena de Morte”, do mesmo ano do decreto supracitado. Tal análise é complementada com a inscrição e cotejamento de seus posicionamentos em meio a ideias veiculadas pelos membros da comunidade de debate da qual fazia parte: a Sociedade Brasileira de Criminologia, fundada em 1933. Nosso acesso aos termos deste debate se dá por meio da Revista de Direito Penal, periódico da instituição. A posição geral daquela sociabilidade intelectual era de repúdio à pena capital. Porém, surgiram posicionamentos destoantes, às vezes pautados por racionalidades eugênicas, como os do psiquiatra Jefferson Lemos, reconhecido por sua militância positivista. Procura-se, com este estudo, perceber quais as ideias e noções biológicas e psicológicas mobilizadas na oposição à pena de morte. Além desta questão, testamos a hipótese de que tal tema abria flancos importantes para debates acerca de questões historicamente muito caras ao discurso criminológico da primeira metade do século XX: o nível de cientificidade do conhecimento médico-criminológico para afirmar a “incorrigibilidade” de certos criminosos; o tema das “personalidades psicopáticas”; a crítica ao lombrosianismo e ao neolombrosianismo; a relação entre as penas e a civilização; as raízes da etiologia criminal; entre outras. 24 A questão do louco criminoso nas primeiras legislações penais do Brasil e da Argentina - Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos (UERJ)

A loucura no âmbito do Direito foi abordada de forma diversa ao longo das elaborações dos códigos penais tanto do Brasil quanto da Argentina. O dito “louco criminoso” representava, muitas vezes, um perigo social, sendo então necessárias ações ou medidas de segurança que o mantivessem afastado da sociedade. No caso do Brasil, o primeiro Código Penal – o Código Penal do Império do Brazil, de 1830 foi elaborado sob os preceitos da escola clássica do direito penal, fundamentado no livre arbítrio e na responsabilização penal definida de acordo com a moralidade dos fatos, sendo a loucura uma questão ambígua para os fundamentos deste Código. Embora houvesse indicação para que os considerados “loucos criminosos” fossem enviados para casas destinadas especificamente para eles, só em 1841 foi criado o Hospício Pedro II no Rio de Janeiro destinado estritamente à assistência e tratamento dos doentes mentais. A criação do hospício corresponde ao grande projeto civilizatório em curso durante o Império, que implicava, entre outras coisas, a colocação da loucura sob a égide médica, como doença mental. Na Argentina, diferentemente do Brasil, as primeiras leis penais não tinham abrangência nacional, estando limitadas às províncias, o que conferiu certa heterogeneidade ao âmbito penal. O Código Penal da Argentina foi elaborado em 1863 e ficou conhecido como Código Tejedor. Na Argentina os primeiros hospitais psiquiátricos implementados eram administrados por sociedades filantrópicas e de beneficência. A situação das mulheres dementes foi uma das primeiras preocupações da Sociedade Filantrópica, pois estas ou viviam acorrentadas em prisões ou vagando pelas ruas da cidade. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Diante disso, em 1852 a Sociedade Filantrópica solicitou ao governo que a polícia deixasse de levar as mulheres para a prisão e as encaminhasse ao Hospital General de Mujeres onde se criou um pavilhão de dementes. É importante apontar que no final do século XIX e início do século XX na Argentina as políticas estatais visavam ações com o objetivo de ordem e controle social devido ao grande fluxo migratório europeu que resultou em um aumento populacional neste período. Em 1863 foi criada uma Casa dos Dementes que recebeu o nome de Hospicio de Las Mercedes em 1873. Em 1887, após o hospício passar por obras para a criação de novos espaços para alojar os internos, começaram a funcionar alguns departamentos, dentre eles um específico para os alienados delinquentes. Assim como no Brasil, a criminologia se desenvolveu neste período com o objetivo de um ordenamento social.

Cem anos de Assistência a Alienados na cidade do Rio de Janeiro: Uma história entre rupturas e continuidades (1852-1930) - William Vaz de Oliveira (CAp-UERJ)

Propõe-se aqui analisar a Assistência a Alienados na cidade do Rio de Janeiro no período compreendido entre 1852- ano de inauguração do primeiro estabelecimento destinado ao tratamento dos alienados no Brasil, Hospício de Pedro II, que se configura como um espaço de desenvolvimento dos saberes e práticas psiquiátricas na cidade do Rio de Janeiro e no Brasil - e 1930 - ano do afastamento de Juliano Moreira da direção da Assistência a Alienados e o início de 25 um período de fragmentação e especialização dos saberes e práticas psi no Brasil - , atentando para as rupturas e continuidades observadas nesse processo de consolidação da medicina mental, marcadas, especialmente, pela convergência de caridade religiosa, ciência e filantropia.

Gênero e sexualidade no Hospício Nacional de Alienados (década de 1920) - Ygor Martins da Cruz (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A pesquisa “Gênero e sexualidade no Hospício Nacional de Alienados (década de 1920)” integra-se, como subprojeto, à pesquisa “Do Hospício de Pedro II ao Hospital Nacional de Alienados: cem anos de história (1841 – 1944)”, coordenada pela professora e pesquisadora Drª. Cristiana Facchinetti (COC/FIOCRUZ). Associa-se também ao grupo de pesquisa do CNPq “O físico, o mental e o moral na história dos saberes médicos e psicológicos”. A partir da documentação disponibilizada – essencialmente os Livros de Observação Clínica dos Pacientes – pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ) essa pesquisa propõe-se a identificar como as categorias gênero e sexualidade influenciaram nos diagnósticos oferecidos por psiquiatras e estudantes de psiquiatria aos pacientes que ingressavam no Hospital Nacional de Alienados, durante a década de 1920. É de nosso interesse compreender como funciona a relação entre os comportamentos sociais e sexuais desviantes com os diagnósticos psiquiátricos a partir das avaliações médicas feitas dos pacientes. Como já mencionado, a documentação pesquisada encontra-se no IPUB, que tem sua origem vinculada ao Pavilhão de Observação. Esse Pavilhão era a porta de entra-da para ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------os doentes – suspeitos de alienação mental – enviados pelas autoridades públicas. A documentação analisada são as observações clínicas desta instituição, portanto, tratam da primeira avaliação oferecida aos pacientes em relação aos 15 dias, em média, que estiveram in-ternados sob supervisão ali. Além disso, por meio dos registros disponíveis, propõe-se traçar o panorama histórico dos indivíduos que ingressaram no Hospício Nacional. Idade, origem sócio profissional, estado civil, história da doença e, principalmente, diagnóstico, encaminhamento, tratamentos e saída são as informações que serão buscadas nos livros de observação.

Imagens da loucura: as fotografias no Hospital Nacional de Alienados (1906- 1944) - Raisa Monteiro Capela (Unirio)

A presente pesquisa tem por objetivo analisar o uso da fotografia como ferramenta científica no campo da psiquiatria no Rio de Janeiro, entre os anos de 1906 e 1944, no âmbito do Hospício Nacional de Alienados. Neste sentido, este projeto pretende investigar a documentação fotográfica produzida no Hospício Nacional de Alienados, buscando compreender como essas imagens constituíram-se como um dispositivo fundamental para a prática do saber psiquiátrico e fizeram parte do impulso modernizante da Primeira República. Nossa questão central é investigar como o Hospício buscava se representar e como os loucos eram representados através do dispositivo fotográfico, buscando analisar o repertório de fotografias que foram produzidas tanto institucionalmente como pela imprensa do período até 1944 ano de encerramento do HNA. 26

Médicos e Psiquiatras na fundação da Revista Brasileira de Psicanálise (1967) - Lourdes Madalena Gazarini Conde Feitosa (Universidade do Sagrado Coração), Roger Marcelo Martins Gomes (Universiade Sagrado Coração)

Desde a fundação da psicanálise por Sigmund Freud, a medicina e, em especial a psiquiatria, envolveram-se na produção e publicação do saber psicanalítico. Vários periódicos psicanalíticos desde o início da psicanálise contemplaram estudos médicos e psiquiátricos. Neste trabalho propõe-se avaliar a participação dos médicos e psiquiatras na Revista Brasileira de Psicanálise de 1967, especificamente o que publicaram e qual o sentido destas publicações no discurso psicanalítico da revista. Foram analisados quatro números da primeira revista em 1967 – sua materialidade, Diretores e Conselho Editorial e os conteúdos temáticos tratados. Com efeito, verificou-se que a parceria entre médicos e psiquiatras nas páginas da revista contribuiu para os psicanalistas conferirem à psicanalise o estatuto de ciência entre os saberes médico-psicológicos.

O significante em Jacques Lacan e sua contribuição para uma história da loucura - Danieli Machado Bezerra (Universidade Federal Fluminense)

O significante para Jacques Lacan é um modo de produção. Neste artigo identificamos como ele opera na teoria lacaniana e como ele foi importante no ensino de Lacan e contribuiu com a discussão sobre a loucura. Antes de entrarmos, propriamente, na temática dessa operação, faz-se necessário estabelecer o que é a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------linguagem como articulação do significante a partir de uma compreensão lacaniana sobre a linguística, pois as reflexões em Jacques Lacan são possíveis porque ele se apoia em uma crítica constante, dentro de seu ensino, ao que foi proposto pela linguística moderna através de Ferdinand de Saussure e Roman Jakobson. Em Meu Ensino [2005/2005] Lacan mostra que a sua transmissão da Psicanálise lida com a linguagem desde o início quando ele propõe a fazer uma releitura da obra freudiana. Concorda com Heidegger [1889-1976] quando afirma que o "o homem habita a linguagem". Ele pensa com Heidegger [1889-1976] que formula a teoria do Dasein. Essa frase aponta para a questão sobre a linguagem existir mesmo antes de o homem ser, ou seja, de o homem ser constituído por ela, de ser invadido por ela. Para Lacan, o homem nasce na linguagem precisamente como nasce no mundo, como também nasce pela linguagem. Isso é a origem para ele. A questão sobre a operação significante atravessa essa questão sobre a linguagem e com ela articulamos uma discussão original em Jacques Lacan, pois vemos como ele elabora a releitura da obra de Freud, pois ele formula a relação do inconsciente e a linguagem e inicia uma investigação sobre os pormenores inerentes à língua através de questionamentos sobre a função que ela exerce no sujeito e assim, inaugura sua construção teórica sobre o significante.

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28 ST 03. A Literatura de Cordel e suas relações com a História, as Migrações, os Territórios e a Educação

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A ditadura militar contada a partir da literatura de cordel: contribuições para o ensino de História - Maria Isaura Rodrigues Pinto (Faculdade de Formação de Professores da UERJ), Rejane Rosa do Amaral Monteiro (UERJ)

Este estudo examina a maneira como a ditadura militar é contada através da Literatura de Cordel. Nesse contexto, destaca-se o folheto O Golpe: de 1964 a 1985, no qual o poeta J. Victor,de forma instigante e esclarecedora, narra acontecimentos que marcaram esse momento histórico. Busca-se, a partir disso, ressaltar que a presença do cordel na escola constitui uma boa oportunidade de o aluno ter contato com a experiência cultural que emana dessa literatura e também com a riqueza expressiva de sua linguagem, tanto em relação aos recursos poéticos que lhe são específicos quanto aos diversificados temas significativos que aborda. A construção do conhecimento, por meio do trabalho com o cordel, seja no espaço da Cordelteca Gonçalo Ferreira da Silva, na Faculdade de Formação de Professores da UERJ, ou em escolas, por meio de atividades externas desenvolvidas a partir do acervo da Cordelteca, permite uma aprendizagem significativa, pelo fato de essa literatura se apresentar no contexto sociocultural como rica fonte de pesquisa, despertando nas pessoas, quando bem trabalhada, um interesse maior pela aquisição de saberes. Ao se valer de temas variados, os escritos contidos nos folhetos tornam as aulas mais dinâmicas. Seu uso também pode abarcar atividades como: contação de histórias, apresentação de pequenas peças teatrais e planejamento de oficinas de desenho. Destaca-se, aqui, a importância do trabalho com os folhetos na escola para dinamizar o ensino de história, assim como quebrar 29 a exclusividade do uso de livros ou manuais em detrimento de outros materiais. Como conclusão, verifica-se que a literatura de cordel é uma forma de produção de conhecimento que, ao ser levada para a sala de aula, enriquece o processo educativo. É preciso analisar os fatos históricos não somente a partir das versões oficiais, da fala dos políticos e das informações veiculadas em jornais, mas também através das representações dadas pelos poetas de cordel, através dos folhetos, mostrando visões de momentos históricos vivenciados por eles.

As expressões da literatura de cordel nos aspectos materiais da Feira de São Cristóvão. - Letícia Moura Gomes Rosa (UFRRJ)

Este artigo tem como proposta mostrar como a cultura popular nordestina, expressa no cordel, ainda se faz tão presente dentro da cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente na Feira de São Cristóvão. A literatura do cordel – objeto aqui em estudo – será usada como base para se perceber o quanto traços dessa tradição materializam-se nos espaços da Feira. Pretende-se a partir da observação dos espaços e de entrevistas com os comerciantes mensurar as razões para a escolha de traços da tradição cordelista presentes na ordenação e na ornamentação da Feira como um todo. Em suma, esse trabalho tem como objetivo mostrar como o cordel dialoga com os espaços físicos presente nesse patrimônio e resgatar, dessa forma, as permanências e rupturas que marcam os seus mais de 70 anos de existência.

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As Transformações e Permanências da Literatura de Cordel nos Territórios do Rio de Janeiro - Carolina Mariano de Oliveira (UFRRJ)

Este artigo visa apresentar o projeto de extensão que vem sendo realizado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro intitulado “Identidades e Expressões Populares no Rio de Janeiro: Territórios da Literatura de Cordel” e que tem como objetivo compreender a produção e a manutenção da Literatura de Cordel na cidade, levando em conta, principalmente, o papel da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, da Feira de São Cristóvão e da Fundação Casa de Rui Barbosa como locais de produção, divulgação e preservação do cordel brasileiro. Como metodologia de trabalho adota-se a análise de fontes, a produção de fichas informativas sobre a maior parte dos cordéis em arquivos, a visitação e as entrevistas diretas com os produtores e divulgadores do cordel na atualidade da capital fluminense. Antes, contudo, de expor os caminhos que o projeto segue e os resultados que espera alcançar, pretende-se aqui uma reflexão sobre o papel fundamental da categoria de Patrimônio Imaterial para a perpetuação, ainda que com transformações, dessa forma de expressão literária no contexto cultural brasileiro.

Mole não se mete: violência, masculinidade e "identidade nordestina" discurso do cordel - Valdinar da Silva Oliveira Filho (UESPI)

Era “tempo de política”, 12 de setembro de 1976. A cidade de Caicó se vê abalada 30 por um grande crime. Um corpo é achado e desenterrado próximo ao Parque de Exposições do município. Constata-se ser o corpo da menor Rita Reges, que por estar desaparecida há alguns dias, vinha sendo insistentemente procurada por seus familiares. A polícia prende, então, a última pessoa a ser vista na companhia de Ritinha, como era mais conhecida. Trata-se de Wilson Roque, seu namorado, que, após interrogatório, confessa ter sido o autor do assassinato. Conta que matou sua namorada e prima após estuprá-la, enforcando-a com a sua camisa, já que esta resistiu ao “atentado à sua honra”. O acontecimento, parece, só teria vindo a confirmar as suspeitas dos pais de Ritinha que já a alertara para não mais sair com o rapaz. A violência e a masculinidade e, obviamente, o sofrimento da família que perdeu sua filha narradas através dos folhetos de cordel Nos parece, inclusive, que a violência é constitutiva das relações sociais. A "identidade nordestina" na corda bamba dos folhetos cordelistas.

O cordel em movimento: diálogos Brasil - França - Sylvia Regina Bastos Nemer (UERJ)

O presente trabalho tem como objetivo pensar a literatura de cordel no quadro da história das idéias, abordando, primeiramente, um problema que ocupa número expressivo de estudiosos: a questão das origens. Em seguida, serão discutidos os processos de circulação de saberes envolvendo pesquisadores brasileiros e estrangeiros, com destaque para Raymond Cantel cujas pesquisas com folhetos populares nordestinos abriram caminho para um fértil diálogo entre Brasil e a França em torno desse tema. A análise se baseia no conceito de circularidade ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------cultural, de Carlo Guinzburb, que permitirá uma aproximação entre os campos da História e da literatura de cordel em torno da qual as mais variadas perspectivas teórico conceituais foram traçadas nos últimos cem anos.

Representações de religiosidades afrobrasileiras em folhetos de cordel - Arthur Gomes Valle (UFRRJ)

A presente comunicação discute as diversas maneiras (poéticas e imagéticas) como as religiosidades afrobrasileiras foram representadas na literatura de cordel a partir da análise de um corpus de folhetos pertencente ao Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e à Fundação Casa de Rui Barbosa. A pesquisa nas “cordeltecas” dessas duas instituições cariocas por termos como “candomblé,” “macumba” ou “umbanda” revelou centenas de referências às religiosidades afrobrasileiras. Embora a maioria dessas referências seja ligeira e pontual, alguns folhetos - com destaque para os produzidos pelo poeta Rodolfo Coelho Cavalcanti (1919-1987) - tem como seu tema central religiões afrobrasileiras específicas e/ou seus praticantes. Nos cordéis que analisaremos, é possível observar a proposição de representações que exaltam as religiosidades afrobrasileiras como um patrimônio cultural a ser valorizado, mas também de representações que reiteram esterótipos preconceituosos e negativos, cujas origens remontam ao menos às primeiras décadas da República no Brasil.

São Paulo entre identidades e signos: o cordel e outras representações em 31 territórios culturais - Elis Regina Barbosa Angelo (UFRRJ)

O objetivo dessa análise se concentra na representação de elementos que definem os territórios culturais formados e mantidos fora do nordeste, nos quais a religiosidade, a festividade e as imagens em forma de signos, são palcos privilegiados de processos simbólico-territoriais alocados na cidade de São Paulo, especialmente quanto aos elementos identitários. Entre esses territórios, encontram-se o centro de tradições nordestinas- CTN e a biblioteca Belmonte, nos quais se percebe imagens e demais representações de sentidos na cidade, sacralizadas em temporalidades e territórios culturais de memória. Dessa forma, serão privilegiadas para análise e interpretação, as formas de concepção desses lugares, suas definições e diferenças no que tange à missão de abraçar e acolher os traços da cultura do Nordeste, incluindo sotaques, cores, sabores, memórias, e religiosidade, nas maiores concentrações de nordestinos fora do seu lugar de produção de sentido. A partir desses territórios de tradições, espaços de memórias e mantenedores de representações culturais de religiosidade, alimentação e entretenimento, serão vislumbradas suas principais relações de afetividade, e identificação dos seus colaboradores e visitantes. Como metodologia será enfatizada a relação entre a história oral, a imagem sacralizada como fonte de memórias, além de documentos sobre a fundação e continuidade desde as festividades e formas de retenção da história em ícones culturais, até suas relações de poder e implicações sociais resguardadas. Também será aplicada pesquisa quantitativa para compreender a média de visitas aos lugares como representantes dos nordestinos nestes estados a partir da visitação a estes territórios. Como ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------resultado constrói-se discussões sobre os elementos formadores de memórias acerca das imagens sagradas e consagradas pela perspectiva do patrimônio cultural, sobre como estes lugares se fundamentam na missão de agregar e manter as identidades.

Um estudo Afroperspectivista para além da narrativa de Cordel: Ressignificando Tradições e Heranças - Luiza Helena Dias Braga (UFRRJ)

Este trabalho fundamenta o Cordel como estudo do campo do Patrimônio. Entendemos o Cordel como baluarte da memória, sobretudo ao se tratar de narrativas históricas orais, para além da expressão popular. Essas narrativas carregam elementos das heranças e das tradições e por isso podemos afirmar que a prática de contar e narrar histórias cria uma perspectiva de história, pois possibilita recontar o passado sobre o ponto de vista do que são os grupos sociais. Desta forma, é possível resgatar heranças e tradições vinculadas à tradição africana no sentido afroperspectivista. O Cordel pode ser utilizado para inscrição de elementos desta tradição em sua perspectiva narrativa, significando desta forma, elementos desta herança e desta tradição que também integram a identidade brasileira.

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33 ST 04. A pesquisa de iniciação científica: experiências e práticas

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A composição do livro didático: forma e análise das iconografias sobre Egito Antigo - Jerrison Patu de Melo Alves (Universidade Estácio de Sá)

O conhecimento histórico escolar é percebido cada vez mais como distinto do conhecimento acadêmico. Neste processo, ganha importância o estudo do papel dos livros didáticos na construção escolar dos relatos do passado humano, considerando-se, ainda, a inserção de tais livros como mercadoria num circuito que movimenta milhões de reais. No caso especifico da história antiga, o debate sobre conhecimento escolar tornou-se mais intenso com os projetos de sua exclusão nas primeiras versões da BNCC, enfatizando perspectivas lineares, progressivas e eurocêntricas do passado histórico. Neste sentido, o trabalho proposto irá demonstrar as características do conhecimento histórico escolar sobre o Egito Antigo a partir da analise das representações iconográficas presentes nos livros didáticos do 6° ano do ensino fundamental.

A Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha através da mídia: Análise de discursos - Wanderson Oliveira (Uerj)

Durante trabalho, são utilizados arquivos de universidades, jornais e livros para entender como foi a construção da imagem do "gaúcho" até a realização da Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha em 1935, no Governo de Getúlio Vargas, e como a mídia da época tratou do evento. Para o desenvolvimento a pesquisa propus a abordagem do assunto em dois enfoques: o primeiro 34 privilegiando um exame dos trabalhos produzidos nos meios acadêmicos, como monografias, artigos e livros que discutiram a formação da imagem do gaúcho, desde o século XIX até os anos 1930 e outro apresentando e analisando as notícias veiculados no Diário de Notícias e Correio do povo em setembro de 1935 que davam conta da Exposição do Centenário Farroupilha e a valorização dos ideais da Revolução Farroupilha.

A influência do futebol amador nas particularidades dos bairros de Iporá - Valtuir Freitas Silva Júnior (Universidade Estadual de Goiás-Iporá)

Esta pesquisa busca compreender como o futebol amador fomentou a rivalidade entre bairros na cidade de Iporá - GO, com destaque para o embate que existia entre o Umuarama e o Atlético, sendo o primeiro localizado no centro da cidade e o segundo na periferia. Para tanto, o método de investigação utilizado tomou como princípio uma abordagem qualitativa, valendo-se especialmente dos postulados metodológicos da História Oral, uma vez que se utilizou de relatos de sujeitos que vivenciaram a rivalidade em questão, dentro e fora de campo. Por conseguinte, ao longo desta investigação se tomou como ponto de reflexão as considerações de Norbert Elias (1992). Desta feita, esta pesquisa possibilitou um entendimento acerca das relações estabelecidas em determinado contexto no ambiente urbano local.

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A Influência Neoliberal na Reforma do Ensino Médio (MP 746/16) - Bruno Martins dos Santos (Universidade Estácio de Sá)

A proposta deste artigo é investigar a influencia neoliberal na reforma do ensino médio estabelecida pela medida provisória 746/16 e aprovada pelo senado e sancionada pelo Presidente Michel Temer em 2017. Busca também mapear a influência neoliberal na educação brasileira até a reforma e também entender a ideologia que mantém o modelo neoliberal de sistema e como a educação é usada para a manutenção de tal sistema através de leis e modelo de ensino organizado pelas elites. Sendo assim, a discussão nos leva a refletir sobre a postura que tomamos mediante os problemas políticos e sociais e enxergar a verdadeira intenção do modelo neoliberal e dessa reforma.

A iniciação científica na educação básica – problematizando o lugar dessa reflexão a partir da experiência da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz - Ana Lucia de Almeida Soutto Mayor (Pesquisador em Saúde Pública)

Os processos de indagação, pesquisa, investigação, sistematização e difusão constituem etapas fundantes do processo de construção do conhecimento e, sobretudo, de modos de compreender, pensar e indagar o mundo em que vivemos. Nesse sentido, é necessário sublinhar o lugar privilegiado e central que a “iniciação científica” – ou, de maneira mais ampla, uma “educação científica” - deve ocupar 35 nos currículos de educação básica de todo o país e, de modo mais específico, nos currículos de educação básica dos sistemas públicos de ensino brasileiros. A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), unidade que atua, em nível médio de ensino, na formação de jovens trabalhadores em saúde, além de ocupar um lugar importante na formação de alunos trabalhadores que buscam dar continuidade à sua formação (EJA/PROEJA), possui duas formas distintas de iniciação científica/iniciação à pesquisa: uma de natureza não curricular, em espaço de educação não formal – o Programa de Vocação Científica (PROVOC) – e o Projeto Trabalho, Ciência e Cultura (PTCC), integrado à grade curricular obrigatória dos alunos dos cursos de Educação Profissional de Nível Técnico em Saúde, da EPSJV. O objetivo central deste trabalho é discutir, de modo comparativo, como se organizam essas duas experiências formativas de iniciação, à luz da premissa da pesquisa como princípio educativo. A relevância das experiências formativas acima descritas, desenvolvidas no âmbito da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)/FIOCRUZ, ratificam o entendimento de que esses processos devem assumir um lugar central e sistemático nos currículos de educação básica dos diferentes sistemas e redes de ensino de todo o país, na certeza de que esses processos se constituem em frentes decisivas e fundantes de uma formação integral, humanista e emancipadora, capaz de contribuir para as transformações políticas, econômicas e sociais, tão necessárias à sociedade brasileira. Além disso, de modo particular, pretende-se problematizar de que maneira as linguagens artísticas e as experiências estéticas participam desses processos, partindo do entendimento de que a Arte - como a Ciência - se constitui em um modo singular de indagar o mundo e refletir sobre ele. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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A Pesquisa de Iniciação Científica no Ensino de História Antiga: experiências e práticas - Fábio Afonso Frizzo de Moraes Lima (Universidade Estácio de Sá)

Nos últimos anos, trabalhamos em conjunto com diversos discentes em projeto de Iniciação Científica, com apoio da Universidade Estácio de Sá e da FAPERJ, destinados a analisar o estado atual do ensino de História Antiga no país através de livros didáticos adotados em escolas do estado do Rio de Janeiro, tanto em seus aspectos textuais quanto iconográficos. Esta comunicação tem por objetivo discutir algumas destas experiências, demonstrando as dificuldades e a importância de debater o tema do Ensino de História Antiga no país, em especial a partir do diálogo com as diferentes formas da consciência histórica de senso comum acerca da Antiguidade.

Análise Estrutural da Vingança na Mitologia e na Sociedade Nórdica (Séculos X-XIII) - Caio de Amorim Féo (UFF)

A vingança era uma prática recorrente entre os vikings, envolvia questões de honra e coragem e ressaltava o valor do principal núcleo social da sociedade germânica, a família. Na Islândia pré-cristã (870-1000), a resolução de conflitos por meio da vingança violenta ocorria, porém, devido a fatores que envolviam o tamanho territorial da ilha, distanciamento do continente e a intenção de se evitar um confronto generalizado incontrolável. A vendeta entre pequenos grupos, ou 36 exercida de maneira individual em casos isolados, eram as formas predominantes. Com o cristianismo consolidado na região, no ano 1000, e com o Estado Livre Islandês já estabelecido desde o ano de 930, as resoluções dos conflitos passaram a ser promovidas cada vez mais através de acordos em que as compensações financeiras se tornaram correntes. Esta tentativa de controle da violência sofreria um forte abalo com o início da guerra civil em 1220, que se estenderia até 1264, configurando-se um período de violência deflagrada na Islândia. A proposta do projeto de Iniciação Científica que desenvolvo na UFF, sob orientação do prof. Dr. Mário Jorge da Motta Bastos, está centrada em utilizar os atos de vingança realizados pelos deuses presentes nas fontes mitológicas nórdicas com o intuito de estruturar o ethos violento presente nas práticas de vingança que se articulavam na Islândia do período pré-cristão até o fim do Estado Livre em 1264. Para a abordagem em questão utilizamos, além das fontes mitológicas, compilados de leis islandesas de conteúdo variado que abarca o período pré e pós-cristianização. A pesquisa tem por objetivo problematizar a utilização das fontes mitológicas nórdicas para o estudo da religiosidade e da sociedade islandesa da Era Viking, além de contribuir com a crescente expansão do interesse pela produção de materiais voltados à Escandinavística em língua portuguesa. Ademais, as análises da religiosidade e da vingança privada em contexto viking auxiliam no entendimento não só das relações circunscritas aos países escandinavos, mas também de casos intrínsecos a outros recortes espaço-temporais. Nesta apresentação, pretendemos, ainda, refletir sobre a importância da iniciação científica na formação profissional do graduando em História. Para tal, buscaremos apresentar o processo de seleção e tratamento das fontes primárias por nós ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------utilizadas, o que significa escolher ou descartar uma determinada fonte de acordo com o seu objeto de estudo.

Análise social da infância abandonada na Casa dos Expostos do Rio de Janeiro (1870-1885) - Beatriz Virgínia Gomes Belmiro (UERJ)

Este trabalho tem por objetivo identificar quem eram os pobres da cidade do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o século XX. Para tal, irei estudar o perfil da infância abandonada e, na medida do possível, caracterizar a família que abandonava a criança – através da leitura dos bilhetinhos que cada vez mais acompanhavam as crianças deixadas na roda dos expostos da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. O período estudado é marcado pela chegada significativa de imigrantes no Brasil e pelo processo de Abolição da escravatura. Interessa perceber de que maneira essas mudanças influenciaram no perfil (cor e estado de saúde) das crianças enjeitadas no Rio de Janeiro, analisando os registros e as cartas deixadas junto aos recém-nascidos.

As faces do Diabo, uma análise da composição das diferentes concepções sobre a ideia do adversário durante o medievo - Victoria Gonçalves Lisboa (Universidade Estácio de Sá)

O presente trabalho tem como intento analisar as diferentes ideias que compõem o conceito do Diabo durante o período conhecido como medievo. Partindo do 37 pressuposto que diferentes entidades tomam posteriormente a forma de um único adversário, o Diabo, dentro do próprio contexto teológico cristão. Para fundamentar esse pressuposto será analisado e exposto textos de monges católicos que escreveram sobre a figura do Diabo e seus mitos, durante o medievo, onde será analisado as descrições das características individuais e específicas de cada entidade relacionada ao Diabo; tais como Lúcifer, Satanás, Besta, Dêmonio e Satan(Shaitan) e posteriormente será analisada a questão do maniqueísmo católico durante o medievo, tendo suas origens na filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu no século III, estabelecendo assim as bases para a formação final da concepção de um único adversário opositor ao Deus cristão, e sua também utilização para controle social, político e religioso. Demonstrando assim um paralelo entre as diferentes noções sobre as entidades relacionadas a figura do Diabo e sua posterior e intencional, dada as influencias e contexto social da época, reunião em uma única figura opositora que se opõe aos propósitos e ideias representados pela Igreja e seu credo.

As relações de trabalho e o sindicato na Companhia Nacional de Álcalis entre o período 1964-68 - Thadeu Mendonça Martins Correa (Universidade Estácio de Sá)

Esta pesquisa tem como objetivo compreender as consequências do golpe civil militar de 1964 para os trabalhadores da Companhia Nacional de Álcalis (CNA), principalmente os trabalhadores sindicalizados, em tempo de modernização de leis trabalhistas e mudanças na contribuição aos sindicatos. Busca-se também mostrar ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------como foi a atuação do governo provisório instaurado para desfazer um sindicato bem combativo antes do golpe, que além de fazer reivindicações para melhores condições de trabalho, também foi fundamental para a defesa da companhia, atacada por trustes desde o início de sua produção. Partiremos de fontes relativas aos arquivos do DOPS e do SNI, além da documentação produzida pelo próprio sindicato e os relatos orais das memórias de ex-funcionários da empresa, que trabalharam no período abordado.

As vozes femininas do Império e da República - Patrick Fernandes Abêlha. (Universidade Estácio de Sá)

Período em que teve a contribuição de pioneiras em diversas áreas, as tendo como espelhos, para mostrar que as mulheres também podem ser sujeitos históricos, seguindo suas diretrizes como literárias, educadoras, militares, líderes políticas e herdeiras de fazendas.

Bolsista de iniciação científica: experiências, práticas e resultados de pesquisa no campo da história da Educação - Eliane de Mesquita Sabino dos Reis (UERJ)

O presente trabalho tem como objetivo relatar as experiência, práticas e os resultados de pesquisa como bolsista de iniciação científica no campo da História da Educação. Graduanda do 7º período no curso de Pedagogia, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), encontro-me vinculada ao Núcleo de Ensino e 38 Pesquisa em História da Educação (NEPHE), coordenado pelo professor José Gonçalves Gondra. Foi durante as reuniões deste grupo, entre leituras, apresentações e eventos que o projeto de pesquisa se iniciou, focalizando a assistência à infância pobre no Brasil durante os primeiros anos da República. O projeto contou inicialmente com o apoio da UERJ durante quatro semestres, após este período recebeu durante dois semestres o apoio da Faperj. E no momento presente está em tramitação na citada fomentadora, a solicitação de renovação da bolsa, que muito contribuirá para a conclusão do trabalho, a ser apresentado como monografia. O primeiro passo da pesquisa foi fazer o levantamento bibliográfico sobre a temática escolhida. Diante dos resultados, o estudo ancorou-se num conjunto de autores que nos ajuda apresentar e discutir como a infância pobre do início do século XX tornou-se um problema social e alvo de práticas reeducativas em internatos. Neste sentido, tendo como objeto da pesquisa a Escola Quinze de Novembro (1905-1925), instituição para meninos abandonados no Rio de Janeiro, reunimos diversas fontes documentais que nos permite investigar e compreender a citada escola como um espaço de reeducação dos menores abandonados, estruturada em três eixos: trabalho, disciplina e educação elementar. Assim, prosseguimos à análise de ofícios de entrada e saída de alunos, folhas de gratificações concedidas aos menores, mapas, periódicos, iconografias, legislação referente à instituição e relatórios do Ministério da Justiça e Negócios, ao qual a escola estava subordinada. Como resultado parcial da pesquisa, compreendemos a escola e seu projeto de reeducação como uma experiência perpassada por uma rede de discursos, de variados atores sociais da época, que institucionalizou a infância pobre como aquela que precisava ser reprimida, vigiada e recuperada. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Bonequinhas Karajás: Objeto de Poder e Construção Social - Carla Cristina da Silva Lavinas (UERJ), Janaina Santana Alves da Silva (UERJ)

Parafraseando a pergunta do autor Roger Chartier, na obra “A História Cultural – entre Práticas e Representações”, seria possível detectar “os hábitos e práticas dos habitantes dos campos [ou de outras civilizações], que não são de modo algum os das nostalgias citadinas, mas os de carne e osso que povoam o país comum? . A ideia desta pergunta traz luz a vários questionamentos quanto ao objeto escolhido pelo grupo para fazermos uma análise dentro de dois museus; Objeto este que iremos analisar, as “bonequinhas Karajás”. Dentro dos museus, essas bonequinhas são representadas como brinquedo e descobrimos que, na aldeia, ela é um objeto de transição, ou seja, as bonecas Karajás são dadas às crianças (meninas) na idade entre 5 e 7 anos. Para cada menina é dada cinco bonecas Karajás com diferentes formas, para que ela compreenda desde cedo a sua origem, religião e os costumes da sua tribo. Ao pesquisarmos nas teses, dissertações, sites e nos dois museus, o Museu Nacional e no Museu Histórico Nacional, encontramos diferenciações quanto à sua representação. Ao longo do texto iremos ilustrar o lugar social em que as bonequinhas estão inseridas dentro dos dois museus, além de delinear o seu lugar social, dentro da aldeia e, por último, fazer um cotejo das ideias entre as representações nos museus e na aldeia; enfatizando que os brinquedos somente ganharam tal proporção, como conhecemos hoje em dia, no final do século XVIII e início do XIX, quando foram criadas as primeiras fábricas de brinquedo. 39

Culturas ancestrais sob o olhar do Studios - Barbara Maria França Gomes (UNESA)

As animações produzidas pelo Walt Disney Studios tendem a abranger e explorar variadas culturas, apresentando-as para um público geral encantando adultos e crianças. Dentre essas, o estúdio abordou cultos à ancestralidade de forma expositiva, causando interesse sobre a cultura ancestral de determinado povo protagonista da trama. Façamos um tour pela África, China, Estados Unidos, Polinésia, e México, conhecendo diferentes formas de contato com os ancestrais. O objetivo deste artigo é comparar os métodos de se transmitir tais conhecimentos para as telas com a realidade vivenciada em cada cultura.

Entre Arquétipos e Narrativas: História das Identidades Sociais - Paulo Fernando Araujo de Melo Cotias (Universidade Estácio de Sá)

A Pós-Modernidade é um conceito polissêmico, em processo contínuo de construção. Entretanto é notável a influência desse paradigma em diversos campos do conhecimento, a história em especial, o que ensejou novas maneiras de se constituir o fazer científico e a sua comunicação. No campo da História, que é de nosso interesse, após a terceira geração dos Annales e com a fragmentação da perspectiva das mentalidades em diferentes campos que tangem o simbólico, observamos um interesse maior nas questões relacionadas aos modos de pensar, sentir, agir e ser. Em nosso estudo, em especial, postulamos investigar sob ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------diferentes ângulos e perspectivas a historicidade do processo de construção de identidades sociais de modo comparativo entre as visões monolíticas, típicas da modernidade e os novos arranjos identitários contemporâneos. Desse modo, nossa trajetória de pesquisa vai percorrer de modo a exemplificar nossa proposta, as temáticas de identidade da instituição familiar, da infância abandonada, do ser professor e das identidades arquetípicas na construção de categorias sociais na historiografia. Através delas, esperamos demonstrar como essas dimensões processuais foram se modificando ao longo da transição de um paradigma para o outro, com suas rupturas e permanências, identificando as possíveis influências de fenômenos históricos de ordem geral ou os particulares a cada contexto sociais específico. Nos concentraremos prioritariamente no recorte que estabelece como campo de análise a história e a sociedade brasileira sem, no entanto, deixarmos de estabelecer as necessárias conexões, quando o caso, com fenômenos históricos mais amplos.

IHGB e a contrução de uma identidade nacional - Sara Pereira dos Santos Bragança (Estácio de Sá)

A composição do povo brasileiro sabemos que é formada por três matrizes: a do português, o negro e o índio. Essa miscigenação proporcionou novas culturas, que são diferentes costumes, tradições, rituais, línguas, religiões, vestimentas, danças entre outras manifestações que formam um determinado povo e que também está interligado a identidade. A ideia de nação pode se dizer que é uma construção 40 simbólica e materiais, que possui características similares, algo que os integram. Surgiu no Brasil assim uma diversidade cultural que foi construída ao longo do tempo com essas multiplicidades por conta da miscigenação. Mas a identidade nacional brasileira não foi gerada tão facilmente, com a criação do IHGB houve uma tentiva de construção de uma identidade nacional totalmente forjada para dar uma ideia de unidade e pertencimento da nação brasileira. O IHGB foi um projeto político centralizador pois no período regencial e até antes havia regionalismos. Somente com criação de um sentimento nacional acabaria com as revoltas.

A FEB “de baixo para cima” e seus efeitos sobre a sociedade - Rodrigo Alberto Alves Marques (Universidade Estácio de Sá)

Com a necessidade de um estudo de abordagem mais plana nas escolas e faculdades, quando se trata da Segunda Guerra Mundial, brevemente estudamos sobre quem compunha o lado dos Aliados acompanhando a Inglaterra, URSS e Estados Unidos contra o Eixo. Rapidamente lemos em materiais escolares ou escutamos em seminários a participação brasileira da FEB durante o período da guerra e suas ações na Itália. Seria isso por falta de documentos, pela falta de importância, por ser ofuscada pela vitória das duas superpotências ou por fatores sociais? Os soldados, por sua maioria humildes, que batalhavam na FEB pelo Brasil na Itália sem experiência e pouco treinamento, conseguiram cumprir a sua missão e voltaram ao seu país com referências sobre a guerra que evocam o heroísmo e glorificam vitórias, porém, devido a uma quantidade pequena de veteranos em relação a população do país, não se consolidou a ideia de grande participação do ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Brasil em nossa sociedade a ser reconhecida, restando apenas frustrações, “neurose de guerra” e a morte para se enfrentar. A guerra mudou.

Imperialismo e novas fontes energéticas: a experiência de uma sala de aula compartilhada entre História e Química numa escola técnica - Pâmella Santos dos Passos (IFRJ-Campus Rio de Janeiro), Pedro Henrique Souza dos Santos (Universidade Federal Fluminense)

A presente comunicação tem como objetivo dar visibilidade a uma pesquisa de iniciação científica que busca compreender o lugar da História num curso de Ensino Médio e Técnico, realizada no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – IFRJ. Compreender a relação que perpassa o cotidiano escolar torna-se fundamental para que haja a compreensão do papel da História dentre tantas disciplinas, tanto do eixo técnico quanto do propedêutico. Para tanto realizamos uma atividade interdisciplinar entre História e Química Orgânica, uma roda de conversa que buscava compreender a temática do Imperialismo do século XIX e as novas fontes energéticas. Assumimos assim o desafio da sala-de-aula compartilhada, momento no qual o aluno de iniciação científica, licenciando em História, preparou e conduziu esta aula/debate conjuntamente com a professora de História, sua orientadora, e o professor de Química Orgânica. Tal experiência mostrou-se enriquecedora não apenas para os alunos, que viram como assuntos que parecem estanques quando abordado em disciplinas isoladas, podem ser interligados de maneira muito produtiva, mas 41 também para nós, professores, incluindo o bolsista. Ao discutir as implicações políticas das disputas territoriais entre Nações pudemos abordar, ainda que de forma rápida, temáticas das duas disciplinas, tais como: contexto de criação da Petrobrás, crise na Venezuela, qualidade do petróleo do pré-sal, importância do gás dentre outros. Do diálogo entre essas disciplinas, podemos repensar o lugar das Ciências Humanas na formação técnica e assim afirmar uma escola politicamente engajada, que prepare para o mundo do trabalho e que faça sentido para as juventudes. Romper os muros da escola é fazer deste espaço-tempo um local de encontros e de sociabilidades, e apostar em temáticas transversais contribui nesse objetivo. Entre perguntas que circulavam desde a queda do morro do Bumba no Município de Niterói pela produção do gás metano e o descaso do poder público, até o poder energético de países como Rússia e Venezuela e como isso implica em desavenças com os EUA, transitamos entre o local e o global problematizando os aspectos técnicos e políticos existentes em cada um desses casos. A todo momento refletíamos: o que isso diz respeito a minha formação de Ensino Médio Técnico em Química? O tocar do sinal nos impunha o final do tempo para uma discussão que teria muito a avançar. A implicação de todos com a atividade e a auto avaliação feita pelos alunos indicava o sucesso da atividade. Vários afirmaram que queriam saber mais sobre o assunto antes do encontro para poderem perguntar mais. Ou seja, uma História e Química que fazem sentido para nossos jovens.

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Industrialização do Samba - Thaís Maria Cruz de Moura (Universidade Estácio de Sá)

Por que o samba passou a ser comercializado? Em 1920, se alguém fosse visto dançando, ou cantando samba era preso por vadiagem. Então irei responder como algo tão descriminado se tornou hoje em dia patrimônio cultural do Brasil, sendo o Brasil um país ainda tão racista, porque uma música que antes era considerada de “preto” por ter origem africana, com músicas que serviam como forma de resistência para expor , para expressar a opressão que os mesmos sentiam na época colonialista consegue agradar todas as etnias e consegue gerar tanto lucro ao Brasil na indústria fonográfica.

Justiniano José da Rocha: Jornalista, Político e Cidadão - Gilson dos Reis Melo Filho (Universidade Federal Fluminense), Olavo Passos de Souza (Universidade Federal Fluminense)

José Justiniano da Rocha, considerado pelo Barão do Rio Branco como o primeiro dos jornalistas do seu tempo, demonstrou mais que nenhuma outra figura, o peso que a imprensa adquiriu no ambiente político imperial, na qual pôde participar e ser reconhecido durante sua estreia em 1836, como um dos redatores do jornal O Atlante, e em pouco tempo, do O Cronista. Desde sua entrada no mundo jornalístico, se viu solidamente posicionado no Conservadorismo, se aproximando 42 do Emergente Partido Conservador e logo se elegendo Deputado. Incessante em sua produção, Justiniano continuou a analisar e moldar o pensamento brasileiro desde a Regência até a década de 1860, quando faleceu ainda com três obras ainda inacabadas. Buscamos nesta pesquisa, através da leitura dos Anais do Parlamento, e do jornal O Regenerador, observar a trajetória ideológica e politica de Justiniano, de Jornalista para Político para Jornalista novamente. Esta trajetória, encaixada dentro de uma cultura política que marcou a década de 1850, definida em grande parte por figuras próximas de Justiniano, como o Marques de Paraná e Nabuco de Araújo, teve imenso impacto no pensamento conservador de sua época, assim como em décadas tardias. Ao utilizar a Imprensa como uma ferramenta para a transmissão de seu posicionamento Político, Justiniano provava a capacidade desta de influenciar as sociedades civis e políticas de qualquer época. O autor poderia elevar uma figura ao ponto do martírio, e ao mesmo tempo atacar outra impiedosamente. O jornal O Regenerador esteve envolvido em questões políticas que concernem a meados da década de 1850 e ao início da década de 1860, situando-se em um ambiente político marcado pelo chamado “Gabinete da Conciliação”. Formado em 1853 e dissolvido em 1856, e composto por ditos Conservadores e Liberais, a Nona Legislatura atraiu destaque por sua longa lista de realizações e reformas. Este “Gabinete da Conciliação é popularmente descrito como a tentativa Imperial de preservar o equilíbrio político da nação. Gabinete ao qual Justiniano da Rocha pertenceu, foi liderado por figuras como o Marques de Paraná e o Ministro da Justiça Nabuco de Araújo, sendo responsável por uma série de reformas que transformaram o panorama político brasileiro. Conceitos como Monarquia, Municipalidade, Federalismo, democracia, e religião seriam ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------amplamente debatidas por Justiniano, tanto em seus jornais e periódicos, como em seus discursos diante do Gabinete. Todos esses analisaremos em nossa apresentação.

Lideranças femininas e juventude negra - Edilma Soares da Silva (UNESA)

O interesse pelo tema, Lideranças femininas e juventude negra, se dá durante a graduação em Serviço Social, quando apresentei o trabalho de conclusão de curso - “Mãe pode tudo! – Um estudo sobre lideranças femininas”, ao tentar encontrar respostas para as questões de violência vivenciadas por mulheres e crianças no núcleo familiar decidi dar continuidade a essa discussão na pós-graduação onde discuto a família e o espaço lúdico como aprendizado para uma cultura de não violência, partindo da compreensão que parte dos lares monoparentais no Brasil, são femininos e de etnia não-branca. Prossigo com a temática, Crianças e Relações Familiares: Experiência de uma Assistente Social em um Centro Social (Silva, 2008), neste trabalho, relato minha experiência como Assistente Social em um Centro Social que atende a crianças entre 03 e 06 anos e seus respectivos familiares, buscando fazer uma crítica à falta de oportunidade de formação e capacitação com a ausência de políticas públicas destinadas à juventude. Os jovens ocupam, hoje, um quarto da população do País. Isso significa 51,3 milhões de jovens de 15 a 29 anos vivendo, atualmente, no Brasil, sendo 84,8 % nas cidades e 15,2 % no campo. Os dados do Censo de 2010 mostra que 53,5% dos jovens de 15 a 29 anos trabalham, 36% estudam e 22, 8% trabalham e estudam simultaneamente de acordo 43 com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que os jovens entre 14 e 24 anos são os mais afetados pelo desemprego. No 4° trimestre de 2015 o índice era de 15,25% e passou para 26,36% no 1° trimestre no ano de 2016. Em pesquisa feita pela SNJ (Secretaria Nacional de Juventude) constatou que a juventude brasileira é grande diversa e ainda muito atravessada por desigualdades. De acordo com o sexo, 49,6 % são homens e 50,4% são mulheres, desses, seis em cada dez entrevistados declararam-se de cor parda (45%) ou preta (15%) e 34% da cor branca. No levantamento da SNJ, a proporção de jovens que se diz preta é maior (15%) do que a identificada pelo Censo (7,9%), e a Secretaria acredita em uma tendência de crescimento, na população jovem, de auto declaração como da cor preta. Uma das hipóteses é que o aumento da visibilidade da questão racial no País e os papeis importantes que os negros vêm conquistando ultimamente estejam estimulando os jovens a afirmar sua identidade por cor e etnia. Atualmente atuo com supervisora de estágio em uma organização que atua com famílias moradores da Vila Operária Confiança em Vila Isabel. As famílias são basicamente monoparentais femininas. São jovens mães, que enfrentam diariamente o desafio de cuidar dos filhos, crianças e adolescentes e dos idosos doentes.

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O ensino de História da Grécia e Roma Antigas na Educação Básica brasileira em um projeto de integração pesquisa-extensão - José Ernesto Moura Knust (IFFluminense)

Esta apresentação busca socializar resultados e impressões do primeiro ano de desenvolvimento de um projeto de integração pesquisa-extensão desenvolvido no IFF-Macaé com a participação de bolsistas de extensão e de Iniciação Científica Júnior. O projeto pretende, a partir de um estudo de caso específico, o ensino de história da Grécia e Roma antigas, desenvolver reflexões e práticas que colaborem para o desenvolvimento do atual debate sobre o currículo de história na educação básica. Através de uma pesquisa sobre a presença de temas destas histórias nos currículos (prescritos e reais) da educação básica, da constituição de um fórum de professores da rede básica da região que trabalham com estes temas em suas turmas, e da produção de metodologias e materiais inovadores sobre tais temas para serem utilizados em sala de aula, este projeto pretende ir além do mero debate sobre o currículo prescritivo e propor novos caminhos para o trabalho pedagógico destes temas. Neste início de projeto começamos uma pesquisa curricular mais geral, usando currículos prescritos e livros didáticos como objeto de estudo, e o início de articulação com as escolas da região para a montagem do fórum de professores.

O inconsciente coletivo e Luís XIV: influências arquetípicas na construção da imagem do "Rei Sol" da França - Fábio Dias Júnior (Universidade Estácio de Sá) 44

O presente trabalho busca novas formas de analisar o campo simbólico na história apoiado na psicanálise de Carl Gustav Jung. Através de seus conceitos de inconsciente coletivo, arquétipos, consciência e Eu, é feito uma análise da construção da imagem do Rei Luís XIV da França, o rei Sol, com foco nos conceitos e nas personificações da vitória e da glória, para a época. Para isso se faz uso das fontes artísticas e literárias. Este último é dado importância para o discurso da glória de Scudery, e quanto ao primeiro às pinturas e esculturas feitas do rei com as personificações de tais substantivos. Para isso procura-se usar as próprias formas de como os contemporâneos do rei expressavam as pinturas e esculturas, suas falas quanto ao significado, descrição das palavras no dicionário da época e suas descrições nos jornais. Esse material é encontrado em acervos online da própria França e suas referências tiradas do livro A Fabricação do Rei de Peter Burke. Os textos, tal como jornal Le Mercure Galant e o Discurso da Glória, são analisados na língua materna para, assim, evitar os problemas da tradução no tocante a semântica, importante para análises simbólicas. Além dos conceitos teóricos a metodologia analítica e sintética de Jung também é utilizada. Então é feito, primeiramente, uma análise decompondo os símbolos que se apresentam nas fontes, e, posteriormente, a unificação das partes decomposta para compreender o todo da fonte, ligando os símbolos agora analisados. Por fim, interpreta-se o todo para assim compreender quais arquétipos influenciaram na construção da imagem real, tentando demonstrar que a política e sua propaganda não se faz unicamente de forma racional, mas também por meio das influências inconscientes sobre a consciência humana. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Os cantos negros do Rio de Janeiro - Thaise Rezende Lima (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

A região de Madureira, que inclui a Favela da Serrinha, Congonha e Cajueiro, e também os bairros de Oswaldo Cruz, Bento Ribeiro e Marechal Hermes, é localizada nos arredores do Rio de Janeiro. Essa região é habitada por uma enorme população negra que foi expulsa dos locais centrais da cidade do Rio no início do século XX. Ela abriga uma herança cultural rica e intangível, composta principalmente por canções e mantida quase invisível para o resto da cidade. Em 2015, iniciamos uma pesquisa sobre os espaços de memória nesta localidade com o objetivo de construir uma cartografia poética-musical registrando diversas práticas celebratórias tradicionais produzidas a partir da diáspora africana, com ênfase nas celebrações do jongo, folia de reis, choro, samba de gafieira, samba de quadra e samba enredo. Nelas, os participantes cantam e dançam em um exercício intenso de atualização e de manutenção da memória que se mantém viva em seus corpos e em suas vozes. Para realizar a pesquisa, construímos um suporte teórico- empírico, realizamos uma ampla revisão bibliográfica, analisamos estruturas musicais e registros fonográficos e as memórias de músicos e seus familiares, utilizando como apoio a musicologia histórica, os estudos de memória e a história oral. Tudo isso culminou com a produção de um documentário que está em execução. Assim, pretendemos, aqui, apresentar o projeto e sua história, bem como os conflitos e tensões em torno da memória musical da cidade. 45

Passados distantes passados presentes: o ensino de História do Egito Antigo nos livros didáticos - Matheus Da Silva Lima (Universidade Estácio de Sá)

Vivemos em um país visivelmente miscigenado e com contribuições histórico- culturais fundamentais de diversas etnias de origens africana e indígena. Com a aprovação de uma lei federal (10.639/03), que obriga o ensino de contribuições das culturas indígenas e africanas na nossa sociedade, que houve um progresso no que tange o ensino dessa temática. Tendo isso, percebemos que há a necessidade de analisar a real importância dada a esse recorte nos materiais didáticos. Por isso julgamos importante o debate e a pesquisa do tema a partir do suporte dos Livros Didáticos para tentar compreender as escolhas do saber escolar no ensino da história do Egito Faraônico.

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46 ST 05. A produção da História e o marxismo

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A Fundação Getúlio Vargas: intelectualidade orgânica e modernização conservadora (1951-1969) - Rafael do Nascimento Souza Brasil (PPGHIS- UFRJ)

Nossa pesquisa objetiva, fundamentalmente, examinar o papel cumprido pela Fundação Getúlio Vargas, na conjuntura histórica das décadas de 1950 e 1960, enquanto um importante aparelho privado de hegemonia dedicado à formulação e propagação de propostas que garantissem a organicidade do projeto burguês para o país. Através do mapeamento e da análise das trajetórias político-institucionais de empresários e intelectuais ligados à Fundação Getúlio Vargas pretendemos investigar as mediações entre sociedade civil e sociedade política no Brasil. A delimitação temporal da pesquisa situa-se entre os anos de 1951 e 1969, pois abrange o período em que diferentes forças político-sociais, ligadas à FGV, engendraram um conjunto de diretrizes reformadoras do Estado brasileiro e a sua efetiva implantação sob um novo regime político no país. Diversas esferas da vida social foram remodeladas após 1964: as relações e direitos trabalhistas, o arcabouço da administração pública, a previdência social, além dos sistemas eleitoral, bancário, tributário e fiscal. No centro desses eventos históricos, a FGV não apenas participou como instituição em alguns momentos, como também forneceu personagens que atuaram vigorosamente no palco e nos bastidores dessa remodelagem estatal. Em 1951, nasceram duas poderosas agências da sociedade civil, sob o crivo da FGV: o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e o Instituto Brasileiro de Administração (IBRA), enquanto o Instituto de Direito Público e 47 Ciência Política (IDPCP) surgiria em 1952 – unidades que desde cedo elaboraram e veicularam estratégias para a construção de um consenso em torno da “modernização conservadora” das estruturas capitalistas do país. A conquista das metas política (arrefecimento do conflito) e econômica (início da recuperação do crescimento) e a consolidação de medidas que asseguravam o triunfo das reformas modernizadoras do capitalismo brasileiro, ao final da década de 1960, encerram o período histórico abordado nesse trabalho, posto que se alteraria o sentido das reformas, na direção de um regime democrático restrito, e a atuação de efegevianos no interior do regime ditatorial seguiria novos rumos. Em termos teórico- metodológicos, nossa preocupação é analisar a FGV enquanto um aparelho privado de hegemonia, desvendando as estratégias utilizadas para a inscrição de seu programa no âmbito da sociedade política (através da ocupação de efegevianos nas agências do Estado restrito) e os laços empresariais que tecia no âmbito da sociedade civil. Trata-se assim, de investigar o(s) projeto(s) hegemônico(s) elaborado(s)/veiculado(s) pelos intelectuais orgânicos vinculados à fundação e examinar as modalidades de pressão engendradas pela FGV através de ações institucionais e/ou por meio de seus quadros individuais.

A historiografia e a participação dos Estados Unidos no golpe empresarial- militar de 1964 - Martina Spohr (CPDOC/FGV)

A produção historiográfica sobre a participação dos Estados Unidos no golpe empresarial-militar de 1964 tem focado, em grande parte, na referida Operação Brother Sam. Alguns autores, como René Dreifuss, Luiz Alberto Moniz Bandeira ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------e Ruth Leacock, apontam mais diretamente para o envolvimento do empresariado, brasileiro e norte-americano, no golpe. É preciso deixar claro um ponto: quando indicamos a existência de algo para além da Operação Brother Sam, estamos apontando para um processo histórico pautado pela comunhão de interesses de uma elite orgânica transnacional. Procuramos demonstrar essa comunhão ao longo desta tese. Perguntas mais diretas podem aparecer nesse momento: os Estados Unidos financiaram o golpe? Os empresários norte-americanos atuaram diretamente na tomada de poder? Estavam fisicamente presentes, como nos indica a possibilidade de uma operação militar? São esses e outros apontamentos que trataremos nesse artigo.

A leitura política de "O Capital" (Karl Marx) apresentada por Raniero Panzieri nos Quaderni Rossi (1961-1964) - João Alberto da Costa Pinto (Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás)

Apresento nesta comunicação uma breve reconstituição historiográfica da trajetória política e intervenção intelectual de Raniero Panzieri (1921-1964) nas páginas da revista italiana Quaderni Rossi, primeira expressão institucional do marxismo dissidente operaísta. Para descrever a proposta teórico-política do marxismo de Panzieri desenvolvo uma sumária análise de dois dos seus mais importantes textos teóricos, seminais na organização e caracterização ideológica do movimento operaísta italiano: “Sobre o uso capitalista da máquina no neocapitalismo” (1961) e “Mais-Valia e planificação: notas sobre a leitura de ‘O Capital’” (1964). Com 48 estes textos o autor dialogou com as limitações teóricas e políticas da tradição leninista italiana que lhe era coetânea resgatando outras perspectivas de análise junto à obra de Marx (enfatizadas especialmente na reinterpretação da Parte IV d’ O Capital – “A produção da mais-valia relativa”). Ao considerar que o capitalismo nas suas crises estruturais tem como marca fundamental a capacidade de recuperação por parte do capital das lutas sociais dos trabalhadores através da imposição do planejamento tecnológico como instrumento de controle da força de trabalho também estendido ao tecido social em geral (a cidade percebida como fábrica social, por exemplo), Raniero Panzieri organizava com a sua intervenção intelectual a ação política do movimento operaísta. Conjuntamente com as intervenções de Cornelius Castoriadis na revista Socialismo ou Barbárie (na França), as de Cyril Lionel Robert James e Raya Dunayevskaia com a Tendência Johnson-Forest (nos EUA), as de Guy Debord na revista Internacional Situacionista (na França), as de Alfredo Margarido e o grupo português exilado em França reunido em torno da revista Cadernos de Circunstância e as de João Bernardo junto ao coletivo Combate (em Portugal), o movimento operaísta de Raniero Panzieri nos Quaderni Rossi apresentou-se como um dos protagonistas fundamentais no quadro geral das práticas dissidentes do marxismo conselhista das décadas de 1960 e 1970.

A saúde pública como tema da historiografia marxista: o trabalho e a saúde dos/as trabalhadores/as. - Ivan Ducatti (UFF)

A saúde pública nasce com o desenvolvimento do modo de produção capitalista, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------em especial a partir da formação da classe operária na Inglaterra, que configura o proletariado urbano no cenário político, entre 1830 e 1840. A industrialização emergente requeria uma urbanização com planejamento, para garantir condições sanitárias não ameaçadoras à população com seus surtos epidêmicos. O Estado, ainda que idealizado mínimo para os liberais, investigou e supervisionou a execução das medidas para regulamentar a situação sanitária de comunidades urbanas. No Brasil, fenômeno com alguma semelhança somente ganhará corpo com o governo varguista. Trata-se de uma conjugação entre economia política e história social que ainda urge pesquisas aprofundadas.

As revoluções sociais do pós-guerra: algumas reflexões sobre suas dinâmicas, sujeitos políticos e sociais - Marcio A. Lauria de M. Monteiro (Universidade Federal Fluminense)

As revoluções sociais ocorridas no pós-guerra na Iugoslávia, Albânia, China, Coreia do Norte, Vietnã, Cuba e Laos podem, em certo sentido, serem caracterizadas como socialistas. Todavia, caracterizá-las dessa forma, sem mais qualificações, apaga não só seu isolamento a nível nacional e os regimes não- democráticos que elas originaram, como também uma série de peculiaridades do processo de tomada do poder que marcaram profundamente seus rumos posteriores. Mais especificamente, refere-se aqui aos seus sujeitos sociais – as classes sociais que impulsionaram os processos, sendo, no primeiro momento, de derrubada dos regimes então vigentes, uma heterogênea força de trabalho rural 49 (frequentemente reduzida de forma simplista a uma “campesinato pobre”) e, no segundo momento, de liquidação das relações sociais capitalistas, o proletariado urbano (largamente ignorado pela literatura especializada); aos seus sujeitos políticos – as organizações que lideraram os processos, partidos-exércitos que (diferente da caracterização simplificadora, frequentemente utilizada, de “socialistas”) almejavam que eles fossem revoluções “democrático-burguesas” ou “nacional-libertadoras”; e à sua dinâmica – o percurso efetivamente seguido pelas revoluções até o momento da mudança social qualitativa e sua consolidação na forma de novas instituições estatais, marcado por guerras revolucionárias de longa / média duração, programas nacional-democráticos (reforma agrária, república democrática e soberania nacional) e tentativas iniciais de preservar as relações sociais capitalistas e governar em conjunto com setores “liberais” das burguesias nativas. A partir de pesquisa bibliográfica e análise crítica de fontes secundárias, a presente comunicação apresentará dados e reflexões acerca desses três aspectos, buscando uma compreensão mais apurada do que foram essas revoluções sociais, detendo-se de forma mais detalhada sobre os casos chinês e cubano, cujas semelhanças talvez sejam extensíveis aos demais. Com isso, buscará trazer à tona e concatenar aspectos pouco conhecidos e debatidos dessas revoluções que, todavia, são fundamentais para compreendê-las e, mais ainda, às formações sociais e regimes políticos que delas se originaram. Ademais, espera-se contribuir para jogar alguma luz sobre as divisões no seio de diferentes tradições do socialismo revolucionário e surgimento de novas, ocasionadas pelas peculiaridades desses processos, bem como contribuir para a compreensão dos tantos outros processos

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------revolucionários ocorridos no mesmo período, mas que não seguiram os mesmos rumos anticapitalistas destes que se transformaram em revoluções sociais.

Da proibição do tráfico escravista à organização do Estado burguês - atualização histórica e dependência econômica no Brasil. 1850-1891 - Pedro Guimarães Pimentel (UERJ)

Nenhum outro tema despertou maior interesse entre os marxistas brasileiros que o do "desenvolvimento". Pelo olhar histórico, debateu-se qual modo de produção vigorou no país durante o período colonial e imperial, além da forma como a economia brasileira se vinculou ao mercado mundial em expansão a partir do século XVI. Como proposição política, debruçaram-se tais teóricos na compreensão do "atual estágio de desenvolvimento" com o intuito de elaborar alternativas autônomas ou - de forma menos radical - uma melhor integração ao capitalismo internacional. A segunda metade do século XIX é palco da efervescência tanto da economia cafeeira quanto - paradoxalmente - da rebelião escrava, culminando na derrocada de uma relação de produção (fundada num modo específico de produção). No entanto, o assentamento das relações de trabalho em novas formas jurídicas (“livre” contrato de compra e venda da força de trabalho) não levou à extinção da “lavoura nacional”. Ainda assim, a superação do escravismo colonial não significaria imediata e obrigatoriamente o desenvolvimento da economia industrial. Antes disso, serviu para a diversificação e incremento de uma economia agrária baseada em formas não capitalistas (muitas 50 delas semi servis ainda que parcialmente assalariadas) durante significativo período de tempo. Por outro lado, é impossível negar, mesmo para a temporalidade em questão, que o Brasil “se desenvolveu”: ferrovias foram implantadas transportando o café com maior velocidade e deslocando a força de trabalho (escravizada ou colonata) para a lavoura, cidades vislumbraram rápidos crescimentos demográficos e reformas urbanizadoras e o aparato jurídico- normativo foi emparelhado com o das sociedades “desenvolvidas”. Optamos por afirmar, no entanto, que o Brasil sofreu um processo de atualização histórica assentado em sua condição de dependência econômica, o que resultou numa modernização reflexa. O que isto difere das explicações tradicionais é o que queremos dissertar neste trabalho, debatendo o período que nos parece decisivo para a polêmica em questão, através de um instrumental teórico distinto do usualmente aceito pela historiografia tradicional. Este aporte é fornecido fundamentalmente por três conjunto de autores: Darcy Ribeiro e os conceitos elaborados em torno da ideia de um “processo civilizatório”; Jacob Gorender em seu “escravismo colonial” e José de Souza Martins a respeito do colonato como regime de trabalho; e a Teoria Marxista da Dependência edificada por Theotonio dos Santos, Vânia Bambirra e Ruy Mauro Marini.

História e Revolução na interpretação marxista de Caio Prado Jr - Bruno Borja (UFRRJ)

Caio Prado Jr foi um dos pioneiros a tratar da história econômica do Brasil. Nas décadas de 1930 e 1940 produziu trabalhos que, posteriormente, seriam ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------consagrados como fundantes deste campo de pesquisa no país. Os estudos sociais desta época, entendidos como intérpretes do Brasil, vão colocar a formação da nação em perspectiva histórica. Estes trabalhos expressam a transição da sociedade brasileira, passando de agrário-exportadora a urbano-industrial, sendo portadores desta particularidade e influenciados pelas teorias difundidas à época no mundo. Caio Prado será um dos primeiros a introduzir o materialismo histórico no país, para fazer uma interpretação marxista do Brasil, a partir de uma visão de mundo atenta às questões da classe trabalhadora. Por este caminho partirá do estudo do Estado em Evolução Política do Brasil (1933) e chegará à pesquisa sobre a estrutura econômica e social em Formação do Brasil Contemporâneo – colônia (1942), para finalmente fazer sua síntese em História Econômica do Brasil (1945). Esta interpretação será a base sobre a qual avançará a possibilidade de superação do capitalismo em A Revolução Brasileira (1966). O autor vai apresentar respostas diferentes para perguntas comuns à época, dentre as quais talvez a principal seja: por que tomaram rumos tão distintos Brasil e Estados Unidos? Se ambos tiveram uma origem histórica comum na colonização americana pelos europeus, qual seria a razão dos EUA se firmarem como a principal nação industrial do século 20, enquanto o Brasil era uma das maiores áreas atrasadas, subdesenvolvidas ou dependentes do mundo? Outro tema central, que o distingue da historiografia até então produzida, será a caracterização da economia colonial brasileira como capitalista, se opondo às teses feudais prevalecentes. Escapando à forma jurídica da propriedade da terra, vai buscar na estrutura produtiva, nas relações comerciais e nas relações sociais de produção elementos que definam a economia colonial. 51 Neste sentido, faz história econômica no intuito de captar a formação da economia brasileira, isto é, interpretar o passado para compreender o presente e propor uma intervenção política consistente rumo ao futuro. A proposta desta comunicação é apresentar os principais trabalhos do autor no campo história econômica do Brasil, entrelaçados com sua trajetória política e intelectual, de acordo com a historicidade e a processualidade de seu pensamento. Assim, pretende-se apontar os vínculos desta interpretação do desenvolvimento do capitalismo no Brasil – e de sua prática política – com a defesa da revolução brasileira.

Marx e a questão sindical na Associação Internacional dos Trabalhadores: avanços e limites do sindicalismo - Wanderson Fabio de Melo (UFF/PURO)

A presente comunicação versa sobre as posições de Marx na Associação Internacional dos Trabalhadores relacionadas à questão sindical. Busca-se discutir a ascensão da luta sindical nos anos 60 do século XIX, as diferentes tendências entre os sindicalistas e as posições de Marx naquele período. Defende-se que Marx constituiu o trabalho teórico e prático em diálogo com esses trabalhadores, sendo assim, a intervenção de Marx na Primeira Internacional não foi a aplicação de formulações previamente estabelecidas, tampouco seus escritos na organização expressaram meramente a disputa de frações. Portanto, frisa-se que o espaço da Associação Internacional dos Trabalhadores foi um momento importante para a constituição da obra marxiana. As fontes da reflexão estão formadas pelos escritos de Marx realizados no período, as resoluções da Internacional e os trabalhos de adversários. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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O Golpe de 2016 e a autocracia no Brasil - Gelsom Rozentino de Almeida (UERJ)

O presente trabalho tem como proposta identificar os elementos da fragilidade do sistema político brasileiro que permitiram a ruptura democrática de maio e agosto de 2016, com a deposição da presidente Dilma Rousseff. Pretende ainda analisar as contradições dos governos petistas de Lula e Dilma que contribuíram ou possibilitaram as condições para o golpe. Analisar o governo oriundo do golpe, presidido por Michel Temer e a sua agenda de retrocesso de direitos e restrição às liberdades, relacionando com as desigualdades sociais e econômicas da formação social brasileira. Contribuir para a construção de cenários a partir dos desdobramentos da crise em curso, as possibilidades de reorganização de movimentos sociais e resistência popular, bem como do restabelecimento do Estado de direito e da democracia no Brasil. Destaca-se a relação entre a crescente judicialização da política, desde o processo do “Mensalão” até as presentes operações midiáticas desenvolvidas pela “Lava-Jato” e outras, e a desmobilização e desorganização promovida pelo PT ao longo dos seus governos. O governo enfrentou disputas internas crescentes na própria base aliada, por disputa de espaço e interesses, que resultaram na divisão do grande arco de alianças. Diante do crescimento do descontentamento e manifestações populares, das lutas ainda em aberto nas ruas, as escolhas do governo Dilma e do PT possibilitaram o sucesso do golpe de 2016. A perda da base social tornou o PT um partido da ordem, semelhante 52 aos demais. Assim sendo, não é mais uma “esquerda” para o Capital. Resta a liderança carismática e as ambiguidades conciliatórias de Lula. Mas que, aparentemente, não cabem mais na autocracia burguesa.

Segurança nacional e indústria: a aliança empresarial- militar no Brasil, 1949- 1967 - Renato Luís do Couto Neto e Lemos (UFRJ)

A comunicação tem como objetivo discutir as bases materiais e ideológicas das aproximações entre setores empresariais e segmentos militares brasileiros no período que vai da criação da Escola Superior de Guerra (1949) ao fim do governo do marechal Castelo Branco (1967). Parte-se da hipótese de que tais aproximações se dirigiram para a constituição de um programa econômico, ideológico e político que se tornou uma das principais forças dos processos de disputa pelo poder de Estado no país. A aliança empresarial-militar constrangeu o regime político democrático vigente até 1964 e atuou como um dos elementos estratégicos da conformação do regime ditatorial que se instituiu a partir do golpe que depôs o presidente João Goulart (1961-1964). O governo Castelo Branco é tomado como emblemático desta aliança, tanto pelos seu membros constituintes quanto por importantes políticas de Estado adotadas no seu interior.

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Semear consenso com adubo e linha: dominação e luta de classes na extensão rural no Brasil (1974-1990) - Pedro Cassiano Farias de Oliveira (Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro)

O trabalho é o resultado da tese de doutoramento sobre a política de extensão rural no Brasil. O recorte cronológico é de 1974 a 1990, período em que esta política esteve sobre a coordenação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER). Abordaremos também a origem do extensionismo na década de 1950 para enfatizar as continuidades e rupturas das ações extensionistas. Baseado no pensamento de Antonio Gramsci sobre Estado ampliado podemos definir nosso principal objetivo da seguinte forma: analisar a relação entre Estado restrito e sociedade civil, tomando a extensão rural como parte integrante de projetos de hegemonia do patronato rural que transbordavam para iniciativas de convencimento e dominação de setores subalternos. Sabemos que na história rural brasileira as relações entre classes são permeadas por intensa violência. Assim, a extensão rural pode ser inserida como uma política de convencimento e expropriação de saberes, típica de uma relação de dominação que, apesar de tentar produzir o consenso entre classes, não deixava de exercer uma violência simbólica com suas práticas de crédito rural, clubes de juventude 4-S, produção de líderes rurais e campos de demonstração de insumos agrícolas. Percorremos alguns agentes e agências que influenciaram a política extensionista tais como o Banco Mundial e a Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA). A primeira financiou com empréstimos milionários a EMBRATER e imprimiu 53 diretrizes da revolução verde na empresa enquanto que a segunda veiculava críticas ao extensionismo e teve um de seus membros como presidente da empresa. Durante a década de 1980, nas discussões sobre o Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) e na Constituinte de 1986-88, a extensão rural foi atravessada pelas disputas intra e entre classes que tiveram como principais protagonistas a Confederação Nacional de Agricultura (CNA), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e o Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Convém finalizar lembrando que este trabalho faz parte de uma série de pesquisas de historiadores fluminenses que visam entender a correção de forças das classes dominantes no Brasil recente nas mais diversas áreas no período republicano e possuem como norteador crítico o materialismo histórico, tais como André Guiot, Rodrigo Lamosa, Pedro Campos, Flavio Casimiro, Melissa Natividade, entre outros.

Trabalhadores na encruzilhada: A conspiração, o golpe e a trajetória do sindicalismo dos Trabalhadores Rurais na Bahia - Marcelo da Silva Lins (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Este texto está dividido em duas partes. Na primeira parte, tratei de como alguns autores abordam a conspiração e o papel do complexo IPES-IBAD no golpe de 1964, bem como as motivações do golpe. Na segunda parte, abordo a trajetória do sindicalismo de trabalhadores rurais no sul do Estado da Bahia, especificamente de um grupo de sindicalistas inicialmente ligados ao Partido Comunista do Brasil (PCB) que em 1952 fundaram o sindicato de Trabalhadores Rurais de Ilhéus e ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Itabuna, que se tornaria o maior sindicato de trabalhadores rurais do Brasil, e que depois de saírem do partido em 1957 em função dos impactos do “Relatório Kruschev”, se vincularam ao Movimento de Renovação Sindical (MRS), que estabeleceu ligações com setores conservadores da Igreja Católica, com o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), contribuindo com a campanha de desestabilização de João Goulart e com a conspiração que levou ao golpe de 1964. É uma tentativa de, com base na trajetória desse grupo, demonstrar algumas das teses defendidas por Dreyfuss em A Conquista do Estado (1981) sobre o caráter de classe do golpe de 1964 e algumas iniciativas e setores envolvidos na conspiração. Revela aspectos pouco conhecidos da trajetória do movimento sindical dos trabalhadores rurais na Bahia, suas relações e posicionamentos políticos.

Uma Revolução Mineira e Operária: Bolívia 1952 - Alexandre Elias da Silva (IF FLUMINENSE)

Em 1952 a Bolívia passou por uma das mais marcantes transformações sociais do continente. Sob a liderança dos trabalhadores mineiros. A tradição de organização sindical boliviana remonta à década 1940 com a organização da Central Obrera Boliviana (COB) e a Federação Sindical dos Trabalhadores Mineiros Bolivianos (FSMTB) que, dentre outras organizações sociais e partidos políticos de esquerda. Nosso trabalho pretende traçar um panorama das organizações envolvidas na Revolução de 1952, bem como iluminar aspectos por vezes esquecidos pela 54 historiografia brasileira.

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55 ST 06. Anarquismo em questão: conceitos, práticas, circulação e trajetórias.

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"Minha Pátria é o mundo intierio": Neno Vasco e o anarquismo no Brasil e Portugal. - Alexandre Ribeiro Samis (Colégio Pedro II)

A presente trabalho tem como objetivo analisar a trajetória pessoal e política do anarquista português Neno Vasco. Este libertário, ao atuar no movimento operário no Brasil e em Portugal, contribuiu sobremaneira para a formação do patrimônio teórico que caracterizou a corrente geralmente identificada como sindicalista revolucionária, e mesmo os setores anarquistas vinculados a mesma. Além disso, a investigação permite entender as relações entre os anarquistas estrangeiros e os que no Brasil formaram círculos de sociabilidade política, sem hierarquias ou ascendência intelectual de determinado grupo étnico sobre o contingente de militantes brasileiros. De uma forma geral, a apresentação pretende lançar luz sobre a formação dos anarquistas em um contexto de forte coloração ideológica, no qual o internacionalismo representou um importante eixo de orientação com o objetivo de unir esforços em favor de uma única “pátria de trabalhadores”.

"Uma caretinha para todos". Escritos de Domingos Ribeiro Filho nas páginas da revista Careta. - Mariana da Silva Rodrigues de Lima (UERJ)

A pesquisa que se expõe nessa proposta toma a revista Careta, um periódico semanal ilustrado que circulou no Rio de Janeiro a partir de junho de 1908, como fonte privilegiada de investigação. Nessa revista pretende-se identificar, selecionar e organizar os textos do escritor libertário Domingos Ribeiro Filho (1875-1942) 56 publicados até 1934, época em que ele se afastou da publicação deixando de ser editor da revista. Enquanto esteve ligado à Careta, Ribeiro Filho publicou textos dos mais diversos gêneros literários, com destaque para as quase seiscentas crônicas que foram publicadas entre 1919 e 1934. Nessa perspectiva, pretende-se abordar a dimensão política de seus escritos, tomando-os como espaço não só de crítica social, mas de projeção de uma certa visão de mundo. Explorar, portanto, nos textos, as possibilidades históricas e documentais, exige encará-los como campo de tensão, no qual podem estar explicitadas tanto as condições materiais de vida e os modos de viver quanto os valores e as ideias, os sentimentos e as sensibilidades, os projetos e as expectativas inerentes à experiência do autor num tempo e espaço determinados.

A literatura como estratégia de luta e resistência: Domingos Ribeiro Filho e as letras anarquistas (Rio de Janeiro, 1904-1919) - Angela Maria Roberti Martins (UERJ / UNIGRANRIO)

Nesta comunicação os romances de Domingos Ribeiro Filho (DRF) emergem como importante documento de referência para os estudos da chamada “literatura anarquista”, pois neles encontram-se dados que marcam as intenções do autor no sentido de fazer larga semeadura dos princípios libertários. Pretende-se explorar os traços da “literatura de combate” e dos “romances de escândalo”, que evidenciam um certo perfil ideológico, ilustrado por cultivar o “gênero da literatura social” e o clamor à “propaganda das ideias libertárias”. Os registros de sua literatura de ficção, representados, sobretudo, por romances, contos e peças de teatro, alinham------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------se ao projeto de transformação social, moral e sexual dos libertários nos primeiros anos de vida republicana no país, época em que as ideias e práticas anarquistas no Brasil tiveram maior repercussão. O escritor oportunizou-se da literatura não só para analisar e criticar os valores da sociedade estabelecida, mas também expressar seus desejos e sentimentos. A partir da análise das peças literárias do autor e do contexto social da época, é possível traçar o perfil político-literário de DRF, as características e os elementos de sua literatura, bem como a contribuição que deixou no campo das ideias e das lutas com as quais se envolveu. Deve-se registrar que o trabalho decorre de uma investigação, ainda em andamento, sobre a trajetória política e intelectual do escritor libertário Domingos Ribeiro Filho (1875-1942), e sua contribuição tanto para a vida literária no país quanto para o movimento anarquista que se desenvolveu na cidade do Rio de Janeiro, seu lócus de atuação, no alvorecer do século XX. Nesse sentido, o trabalho converge com uma tendência que se verifica nos últimos tempos, na qual há uma aproximação cada vez maior entre História e Literatura, com uma profusão de pesquisas utilizando textos literários como documento para o estudo do processo histórico. Assim fazendo, pretende-se, entre outros, perscrutar a militância anarquista a partir de textos de ficção, para refletir sobre a posição ocupada pelo autor e sua “literatura de combate” no cenário político e literário brasileiro.

Anarquistas te convidam à barbárie: Cultura libertária nas páginas da revista Barbárie de Salvador-BA (1979-1982) - Verônica Santos Borba (Universidade do Estado da Bahia) 57

Essa comunicação parte de um pré-projeto de trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em História pela Universidade do Estado da Bahia, onde analisa a trajetória da imprensa alternativa anarquista da Bahia no contexto ditatorial. A pesquisa ainda em andamento busca refletir acerca da cultura libertária na Bahia nos anos de 1970/80 destacando o papel da revista para o contexto da época. Ao analisar as ideias libertárias impressas nas páginas da revista, será possível discutir aspectos importantes da historiografia sobre a imprensa alternativa da Bahia, tais como a disseminação das ideias anarquistas no movimento estudantil de Salvador, entendendo sua movimentação e relação com outros periódicos anarquistas, como também o ressurgimento dos ideários libertários num período de repressão e autoritarismo que representava a negação dos direitos civis e políticos no país. A revista Barbárie é uma revista cooperativa idealizada e organizada por estudantes dos cursos de filosofia, ciências sócias, psicologia e letras da Universidade Federal da Bahia, rodou entre os anos de 1979 a 1982 possuindo cinco números, apesar de aparentemente o quantitativo ser pequeno, as páginas que variavam entre sessenta a quarenta por revista, carregam uma enorme contribuição crítica, política e ideológica sobre o regime e sobre outros movimentos correntes do período. As fontes até então encontradas são três números da revista, algumas entrevistas com os escritores e um acervo considerável de obras relacionadas a prática anarquista no Brasil.

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Em tempos de sombra, matutemos uma educação completa - Silvério Augusto Moura Soares de Souza (Faculdade de Educação - Gragoatá)

De fato, em tempo de recrudescimento do fenômeno da escola dual pelas políticas marcadas pelo produtivismo e eficientismo para a educação básica, há de se pensar numa educação completa. Isto é, numa educação integral não resultante de correlação de forças antagônicas reguladas pela economia e pelo mercado, mas alinhada à compreensão humana de que a liberdade é de todos e construída socialmente, a partir de relações antiautoritárias e solidárias; obstaculizando, portanto, o individualismo e a competitividade. Ademais, proporcionar uma educação completa, significa, em grande medida, colapsar o fenômeno da dualidade educacional no processo educativo, ao romper o fosso entre trabalho manual e trabalho intelectual. Por Bakunin, “não deverão existir nem operários nem intelectuais, mas tão-somente homens”. Aliás, é preciso trazer a contemporaneidade de sua questão, já secular, levantada em seu escrito sobre A Instrução Integral: “a emancipação das massas operárias poderá ser completa enquanto receberem instrução inferior à dos burgueses ou enquanto houver, de um modo geral, uma classe qualquer, numerosa ou não, mas que por nascença tenha os privilégios de uma educação superior e mais completa?”. Por outro lado, é tempo de autocrítica por todos os sujeitos envolvidos no processo educacional, assim como é tempo de refletir/agir, em coletivo, em favor da humanização do chão da escola, em particular, da escola pública: sua realidade, suas necessidades, seus desejos, seus impedimentos e suas regulações. Afinal, uma escola é “reflexo 58 constante e variante da sociedade que nos rodeia”, reafirma Luengo, em A escola da Anarquia. Pois o que temos, diz ela, é o sistema e as educações conservadoras fragilizando as pessoas desde a sua primeira infância, quer seja pela dependência, egocentrismo, exibicionismo, agressividade, com as quais elas se voltam contra si por distorcerem a própria luta pela emancipação. É premente a elucidação da relação entre o indivíduo e o coletivo para que se possa compreender a essência da pedagogia anarquista. Em suma, para possibilitar a educação integral, há de se considerar, como o verdadeiro papel social da escola, o impedimento da reprodução da hierarquia das funções sociais a partir das desigualdades sociais. Ou seja, tem-se um trabalho complexo que envolve transformações sociais profundas.

Emma Goldman: Trajetória, Anarquismo e Feminismo - Nilciana Alves Martins (Universidade Federal de Juiz de Fora)

Emma Goldman (1869-1940) foi uma revolucionária anarquista de origem russa, que em 1886 emigrou para Rochester (EUA), e assim como a maioria dos imigrantes do leste europeu que chegavam a solo norte-americano, tornou-se funcionária de uma indústria têxtil e passou por diversas dificuldades. O fato de ser uma trabalhadora fabril, sua trajetória pessoal, como também os acontecimentos daquele contexto, foram fatores que marcaram profundamente Emma Goldman, fazendo com que ela se aproximasse do Anarquismo. Em 1889, a jovem já militava pela causa socialista libertária, proferindo palestras por diversas cidades americanas, tornando-se rapidamente alvo de perseguições encorajadas pela “opinião pública”, sendo presa diversas vezes. Em 1906, fundou a revista Mother ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Earth, que funcionou até o ano de 1917, momento no qual Emma - juntamente com seu companheiro Alexandre Berkman - foi deportada para a Rússia. Goldman participou de importantes eventos históricos, entre eles a Revolução Russa e a Revolução Espanhola e também desenvolveu uma série de interpretações sobre esses eventos. Entretanto, a visão desenvolvida pela militante, mesmo mostrando- se em convergência com a historiografia mais recente, foi, por muito tempo, obscurecida e/ou negligenciada nos estudos históricos e sociais. Ainda no início do século XX, Emma foi capaz de defender ideias que se aproximam das concepções feministas da geração de 1970, chamando a atenção, em seus artigos, para o caráter “cultural” da opressão que as mulheres sofriam/sofrem, e o intuito do presente trabalho é retratar, tendo como base artigos escritos por Emma e publicados, inicialmente, na revista Mother Earth, os apontamentos que a revolucionária faz sobre o movimento feminista da época, como também compreender o que ela acreditava ser necessário para a verdadeira emancipação da mulher. Por isso, o objetivo desse trabalho é retratar parte da trajetória pessoal de Goldman, com base, na sua autobiografia Vivendo Minha Vida, mas, principalmente, abordar o caráter singular do feminismo de Emma Goldman.

Espaços de sociabilidade e a circularidade das ideias anarquistas no Rio de Janeiro da Primeira República - Eduardo Carracelas Lamela (UFF)

Pretende-se discutir as formas de circulação, apropriação e ressignificação das ideias libertárias no Rio de Janeiro, então capital da República, entre finais do 59 século XIX e início do XX, mais especificamente entre 1889 e 1930, momento considerado por grande parte da historiografia como de formação do mercado de trabalho capitalista no Brasil, mas também como um período de sindicatos livres e associações autônomas, ainda não tocadas pelas posteriores medidas centralizadoras e hierárquicas do Estado. Neste período, foi presente a circulação de ideias anarquistas, o que segundo muitos estudos que tratam sobre o tema seriam oriundas principalmente de imigrantes estrangeiros, que teriam trazido consigo as experiências de luta e resistência dos seus países de origem – não sendo portanto apenas aqueles clássicos opositores políticos dos movimentos libertários, como a polícia e o empresariado, que as definiam como “plantas exóticas”, ou “sementes importadas”, pesquisadores do movimento operário brasileiro também o fizeram. É importante destacar que neste momento, dentro de um contexto de pauperização e de degradação das condições sociais, características estas inerentes ao modelo de transição para o capitalismo que marcou a formação do mercado de trabalho no país, podemos repensar a circularidade das ideias anarquistas entre os trabalhadores e intelectuais do período como um fenômeno relacionado às péssimas condições de trabalho, onde a cultura associativa se tornava necessária, manifestando-se em experiências aglutinadoras dos trabalhadores empobrecidos como práticas de promoção de solidariedades horizontais e de resistência contra as injustiças da exploração no trabalho. Não há dúvidas que, entre a última década do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX, o anarquismo foi aqui a principal corrente organizatória entre os trabalhadores. Sendo assim, o que propomos é tensionar estas interpretações sobre a circulação dos ideais libertários, que acreditamos envolver não apenas sua “chegada”, mas também as diferentes ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------reapropriações realizadas pelos indivíduos na cidade, em outros termos, ideias estas que foram ressignificas pelos cariocas que às utilizaram conforme as demandas específicas da região. Analisaremos, portanto, a atuação dos militantes libertários em alguns importantes locais de sociabilidade no Rio de Janeiro, dentro da delimitação temporal proposta, onde verificamos referências às ideias e práticas anarquistas. Espaços estes que, assim como os jornais operários da época, também contribuíram para a divulgação/construção das ideias revolucionárias e, com isso, para a mobilização para a luta.

Francisco Ferrer y Guardia nos periódicos anarquista no Rio de Janeiro nos anos 1909-1920: propaganda e polêmicas - José Damiro de Moraes (UNIRIO)

Esse estudo tem como objetivo apresentar a propaganda do pensamento educacional de Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) no Rio de Janeiro nos anos 1909-1920, destacando as polêmicas e as críticas voltadas para as escolas e educação do período. A comunicação faz parte do projeto que pesquisa a circularidade de ideias anarquistas no Brasil, com o objetivo de perceber as trocas entres países europeus bem como das Américas, não entendemos os ativistas no Brasil como receptores de discursos e teorias “vindas de fora”. Pelo contrário, compreender como esses militantes percebem as reflexões que ocorriam no movimento anarquista mundial e suas atuações (escritos teóricos) no desenvolvimento das ideias e práticas no Brasil. Também perceber como essas ideais chegaram e quais foram seus impactos. Com isso, procurar compreender a 60 pluralidade do anarquismo a partir de suas estratégias e táticas no cotidiano das lutas sociais/sindicais, sem se apegar a definições que procuram engessar as interpretações históricas. Nesta direção, problematizar a “presença” de Ferrer y Guardia no campo do discurso e das práticas educacionais de ativistas anarquistas no Rio de janeiro. Francisco Ferrer criou o conceito educacional “Racionalismo” e aplicou em sua criação, a Escola Moderna em Barcelona nos anos 1901 – 1906. Essa experiência educacional foi fechada e reprimida pelo governo espanhol e Ferrer acusado de participar no atentado à vida do Rei Afonso XIII, absolvido, Ferrer deu inicio a Liga Internacional para o Ensino Racionalista na França com diversos educadores europeus. Entretanto, em 1909, Ferrer foi preso na Catalunha e acusado de envolvimento em manifestações populares denominadas de Semana Trágica que protestavam contra o envio de tropas da Espanha para o Marrocos, última colônia espanhola. Rapidamente um tribunal militar o condenou ao fuzilamento, ocorrido em 13 de outubro. Esse motivo impulsionou a propaganda em torno do seu projeto educativo em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil. Assim se espalharam Escolas Modernas ou que advogavam a defesa do racionalismo no Estado de São Paulo e Rio de Janeiro, bem como em outros locais. Nosso estudo procura analisar como o Racionalismo e o nome de Ferrer aparecem entre os anos 1909 até 1920 em críticas à educação/escola, na criação/defesa de uma nova educação/escola presentes nos periódicos anarquista no Rio de Janeiro. Também apresentar as polêmicas com religiosos católicos e outros grupos que combatiam o pensamento anarquista na educação representado pelo racionalismo. A divulgação de Ferrer e o Racionalismo nos periódicos é analisada em torno do

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“mito Ferrer y Guardia” e procura indicar como se deu sua apropriação no campo das experiência educacionais no Rio de Janeiro pelos ativistas anarquistas.

José Oiticica como colunista do Correio da Manhã (1921-1927): o anarquismo e seus possíveis caminhos para manutenção da ideologia nos campos de luta - Aden Assunção Lamounier (Universidade Federal Fluminense)

O presente artigo pretende analisar a participação do anarquista José Rodrigues Leite e Oiticica como colunista no periódico carioca Correio da Manhã, entre os anos de 1921 a 1927. Desse modo, busca-se perceber se a atuação neste jornal liberal pode ser entendida como apropriação de um novo espaço para propagação do ideal libertário após perderem o protagonismo em meio ao proletariado para as correntes comunista e nacional estadista. Assim como, investigar sobre as motivações que possibilitaram a coexistência de ideias tão dissonantes, as teorias anarquistas e as práticas liberais, nas mesmas páginas de um jornal. Para tanto, acredita-se ser necessário dar relevância às transformações político-econômicas no contexto internacional, após a Primeira Guerra Mundial, e, também, às continuidades e rupturas dentro do movimento operário subsequente à Revolução Russa. Esta abordagem, juntamente às análises dos textos publicados por Oiticica, pode levar à compreensão, em via de duas mãos, da publicação de críticas libertárias em um periódico de seguimento divergente. Da mesma forma que contribui para percebermos os caminhos que os militantes anarquistas trilharam na defesa de suas ideias. 61

Por uma consciência libertária -Piotr Kropotkin nas páginas da Impresa Anarquista do Rio de Janeiro (1900-1920) - Barbara Cristina Soares Pessanha Araripe (UERJ)

Nesta apresentação, pretendemos refletir sobre a ação dos militantes libertários que atuaram no Rio de Janeiro, nas duas primeiras décadas do século XX, priorizando a reflexão sobre a importância da obra de Piotr Kropotkin, e de seus conceitos primordiais, como a importância da solidariedade e a da ajuda mútua nas sociedades no seu processo evolutivo. Na percepção doutrinária do movimento, especialmente nos seus espaços de produção e análise do conhecimento, como as revistas, jornais e centros de estudos, as discussões teóricas, em grande parte eram influenciadas por conceitos decisivos do período analisado, como o evolucionismo e o cientificismo. Essas ideias legitimavam a defesa inconteste dos libertários, de que a Revolução Social estava a caminho, e que para essa etapa evolutiva da sociedade se estabelecesse, era necessária uma melhor formação dos explorados, para se formar e consolidar uma consciência libertária. A visão de que era necessário elevar a formação racional e científica dos explorados para se alcançar uma sociedade igualitária, onde a emancipação dos trabalhadores também estaria vinculada a sua emancipação intelectual foi muito intensa nessa militância libertária carioca, e um autor em especial exerceu uma forte influência, o pesquisador, geógrafo e anarquista, Piotr Kropotkin. Não só no Rio de Janeiro, mas em outros centros econômicos e industriais que se estabeleciam na América Latina, nas duas primeiras décadas do século XX, como Buenos Aires, nos meios ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------libertários dessa importante capital, também havia uma constante preocupação doutrinária com a formação intelectual dos explorados, e da necessidade permanente de promover a evolução cultural destes, como defendia Kropotkin. De acordo com o importante historiador argentino, Juan Suriano, a versão Kropotkiana predominava na Argentina. Pretendemos refletir como essa versão Kropotkiana se apresentou em alguns veículos da imprensa libertária, através das revistas “Kultur” e “A Vida” que circularam nas primeiras décadas do século XX na cidade do Rio de Janeiro, e como esses libertários construíram seus discursos nesses espaços de formação e mobilização desses ideais defendidas pelo movimento.

Transnacionalismo e pluralidade de ideias: circularidade do anarquismo italiano na América do Sul - Carlo Maurizio Romani (UNIRIO)

As redes transnacionais criadas pelos ativistas anarquistas, especialmente entre o fim do XIX e início do XX são bastante conhecidas da historiografia. No caso do anarquismo italiano, dado as perseguições políticas, a transnacionalidade do movimento constitui-se em regra. A vinda de imigrantes anarquistas para o cone sul americano e sua circulação fazem parte dessa história transatlântica. Entre Buenos Aires, Montevidéu e São Paulo, Brasil, o encontro de anarquistas italianos permitiu a criação de grupos de afinidade articulados em rede que foram muito profícuas para a propaganda. Em São Paulo, um desses esforços gerou o periódico La Battaglia (1904-1913), o principal meio de difusão da propaganda anárquica no Brasil no início do século XX. Através da análise biográfica dos anarquistas mais 62 atuantes nesse periódico, Oreste Ristori, Alessandro Cerchiai, Angelo Bandoni, Tobia Boni e Gigi Damiani, queremos mostrar como as relações de afinidade foram mediadas pelo componente sócio-identitário dos ativistas. Em comum nesses nomes, a origem ou o crescimento no centro da Itália, na Toscana para os 4 primeiros, o que tornou esse núcleo o mais coeso, e Damiani, em Roma. Os aspectos sociais pintam um quadro mais ou menos comum. Todos provêm de classes subalternas da sociedade, com poucos ou nenhum recurso material, Ristori era filho de boia-fria, entraram em contato com o anarquismo muito jovens, passaram pelas prisões do Reino, formaram sua concepção política em contato com os mestres do anarquismo nas prisões em ilhas, foram adeptos de ações individualistas típicas dos extratos sociais mais baixos, migraram para as posições do anarco-comunismo no decorrer da vida, tiveram forte aversão às autoridades, inclusive aquelas sindicais que se constituíam entre os trabalhadores. Nos últimos anos o heterodoxo grupo de La Battaglia foi classificado como individualista por uma historiografia específica do anarquismo que não se deteve em investigar as singularidades de cada caso. Esta comunicação quer mostrar que dentro do quadro geral do anarquismo internacional e de sua transnacionalidade, há dezenas de casos que somente podem ser compreendidos a partir da análise particular de cada um deles.

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¡Viva el Amor Libre! ¡Viva la unión libre! Discursos sobre amor e sexualidade no periódico La Voz de la Mujer (Buenos Aires, 1896-1897) - Ingrid Souza Ladeira de Souza (UNIRIO)

Esta comunicação é parte da dissertação de mestrado que vem sendo desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em História da UNIRIO e tem como proposta analisar os discursos sobre amor, matrimônio, maternidade voluntária e sexualidade presentes no periódico La Voz de la Mujer. Este periódico anarquista circulou em Buenos Aires entre os anos de 1896-1897, sendo lançando como o primeiro jornal de mulheres para mulheres da América Latina. Os artigos que versam sobre esses temas íntimos femininos fazem parte de uma série de textos contestatórios que tinham como objetivo final o levante feminino em busca de sua própria emancipação. O amor livre, a união livre e a sexualidade feminina foram os pilares do periódico La Voz de la Mujer. O amor livre era a prática voluntária do amor, sem a opressão física do homem, sem as condições impostas pela sociedade e sem a obrigação religiosa. As libertárias procuravam, com a divulgação do amor livre, defender o direito de amar; o direito à liberdade individual de cada um escolher o companheiro e a companheira. Faziam da defesa do amor livre uma crítica ao modelo burguês de família, de casamento; uma crítica às obrigações sociais da mulher que a transformavam em objeto de trabalho e prazer do homem. Na concepção das redatoras do periódico o amor livre contribuía para a construção de uma nova sociedade, e com a formação da nova mulher. O matrimônio estava diretamente relacionado com o amor livre e, para elas, significava a livre união dos 63 seres. As libertárias faziam uma crítica ao casamento burguês baseado em uma união contratual, na qual a mulher era subordinada ao homem, muitas vezes sem que houvesse um sentimento verdadeiro por ele. A união livre seria a alternativa a esse modelo de casamento monogâmico indissolúvel controlado pelo Estado e sacramentado pela Igreja. Agregada ao amor livre e a união livre, a sexualidade da mulher também foi motivo de discussão entre as colaboradoras e redatoras do La Voz de la Mujer, essa questão, porém, aparecia de forma comedida por conta das convenções da época, principalmente quando a discussão envolvia práticas sexuais.

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64 ST 07. As Direitas, suas bases intelectuais, expressões e vertentes contemporâneas no Brasil e no mundo

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A Monarquia e o Fascismo: reflexões sobre a direita portuguesa nas primeiras décadas do século XX - Luiz Mário Ferreira Costa (Universidade de São Paulo)

O objetivo deste ensaio é analisar os “caminhos” trilhados pela direita portuguesa, sobretudo, em duas de suas principais vertentes históricas, a primeira monárquica e a segunda fascista, por meio do estudo da produção intelectual de Francisco de Barcelos Rolão Preto. Primeiramente, como nota introdutória, apresentaremos alguns aspectos da trajetória individual de Rolão Preto, tendo em vista “momentos chaves”, que contribuíram para o seu amadurecimento político-intelectual. Logo em seguida, analisaremos a versatilidade e a flexibilidade do modelo teórico, denominado de “sindicalismo orgânico”, para a organização do novo Estado português que se pretendia construir. Finalmente, demonstraremos o papel do moderno “messias” político, o “Chefe histórico”, diante de um duplo desafio, de um lado, a modernização da relação capital/trabalho e, de outro, a recuperação moral da nação portuguesa.

A trajetória anticomunista do psiquiatra Antônio Carlos Pacheco e Silva - Luiza das Neves Gomes (UFRJ)

A proposta desta comunicação é realizar uma breve apresentação da tese de doutorado que está sendo desenvolvida dentro do Programa de História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O objetivo é analisar a trajetória do médico psiquiatra Antônio Carlos Pacheco e Silva bem como sua importância na esfera 65 política do Brasil por meio do exame de seu posicionamento e atuação político- ideológica nas mais variadas instituições em que passou, tendo como recorte suas representações e ações anticomunistas no âmbito nacional e internacional. Atentando-se sobre como Pacheco e Silva se relacionava com seus pares e com o poder iremos ao longo deste estudo verificar como este médico inseria em suas discussões científicas e políticas os assuntos que permeavam a doutrina guerra revolucionária (DGR): o avanço do comunismo, a guerra psicológica e as questões relacionadas à segurança e desenvolvimento nacional. A intenção desta tese também é observar que o estudo e a disseminação da DGR não era apenas feita por militares e assim poderemos observar como este médico conseguiu transpor as doutrinas militares para o meio civil, seja por meio da imprensa seja por suas palestras. A ampla atuação de Pacheco e Silva no meio científico, político e social revela o impacto de suas formulações e a sua legitimidade com o papel de representante ativo da ciência psiquiátrica no debate sobre profilaxia mental dos indivíduos mentalmente deficientes, perturbados e delinquentes que precisavam ser identificados, diagnosticados para que não atentassem contra segurança e desenvolvimento do país. Seus discursos médicos faziam uma articulação entre anticomunismo e valores morais conservadores e reacionários que tentou assim classificar os que fugiam da moralidade e aos bons costumes. A partir do mapeamento de suas redes de sociabilidade com militares, políticos, empresários e médicos de grande renome irá se perceber sua configuração como intelectual orgânico, que por meio de um discurso científico conseguiu encontrar espaço no projeto da grande burguesia brasileira que visava a consolidação de um país industrial, desenvolvimentista e anticomunista. Iremos priorizar nesta ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------comunicação as atuações e discursos anticomunistas de Pacheco e Silva nas décadas de 1960 e 1970, apontando que por diversas vezes este médico mostrou grande preocupação com as “personalidades psicóticas” e “desajustadas” que estariam suscetíveis à influência dos comunistas e das táticas soviéticas. Essas ideias circularam em instituições como a USP, a FIESP, o Fórum Roberto Simonsen, o IPES, o Wolrd Anti-Communist League e diversos veículos de imprensa, como os jornais Folha de S. Paulo e O Globo.

Do feixe à pena, um “fascista democrata”: uma análise do Estado brasileiro na Obra Política de Miguel Reale (1931-1937) - Cícero João da Costa Filho (USP)

Miguel Reale aparece no cenário político brasileiro ligado ao fecundo movimento do Integralismo, criado por Plínio Salgado, em 1932. De curta duração, o integralismo é extinto com a implantação do Estado Novo de Vargas. Formado por valores cristãos, como o sentimento, a alteridade e comunhão (“Deus, Pátria e Família”), com a máxima de que “Deus rege o dos Povos”, uma verdadeira revolução ideológica tomou conta do rico momento histórico do Brasil da década 1930. Uma verdadeira assepsia tomava conta desse rico momento histórico que viu nascerem as mais fecundas interpretações brasileiras. Reale discutia a espoliação do brasileiro frente um estado das elites, suas leituras reabilitam clássicos como Platão, Aristóteles, Bodin, Rousseau, Locke (liberais contratualistas), dentre tantos outros, passando pelo crivo de Kant e Hegel, mostrando a inviabilidade do que 66 considera democracia pelas vias do constitucionalismo, caminho necessário conforme as regras do liberalismo. De cultura enciclopédica, Reale rechaça alternativas políticas como o socialismo, o marxismo, e tantas outras formas democráticas, por ferir a liberdade em si, subjugando o homem, aprisionando-o sempre num sistema que beneficia sempre pequenos grupos. Reconhecido pela historiografia, filosofia, e ciência jurídica, como formulador de uma Teoria de Estado, Reale é o intelectual de passagem pela academia, de uma tradição clássica no campo das ciências sociais. Em sua Obra Política se detém detalhadamente na crítica ao modelo liberal do estado brasileiro. Estudar a Obra Política de Miguel Reale, especificamente, sua concepção sobre o estado brasileiro (e suas particularidades, como partidos, soberania popular, liberdade, democracia, etc), é antes de tudo reabilitar alguns destes problemas que são bastante atuais, como por exemplo, a corrupção das elites brasileiras, a forma como se realiza a democracia, e acima de tudo reconhecer um estado que diz democrático cerceando cada vez mais a população. Miguel Reale é um teórico do estado, que pensa uma organização sócio-política capaz de gerar a “verdadeira” democracia, daí seu combate ao liberalismo (demo-liberalismo), ao marxismo, ao capitalismo, somente possíveis em razão do pensamento natural (direito), que nunca questionou a tutela do estado, fazendo deste uma espécie maquiavélica, donde suas análises no plano político sobre soberania e vontade geral; no plano econômico sobre os males provocados pela não intervenção do estado na economia, sem moral; e no plano filosófico, o importante tema da liberdade humana, da moral e da gnosiologia.

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Edmund Burke, Reflexões sobre a Revolução Francesa e o Conservadorismo Britânico do Século XVIII - Eraldo da Silva Duarte (UFF)

O trabalho busca expor o pensamento e as considerações do Filósofo Escocês Edmund Burke na obra "Reflexões sobre a revolução francesa", assim como mostrar a ligação e a importância deste autor ao pensamento conservador britânico

Espíritos do século XX na composição do pensamento Integralista Brasileiro - Marcia Regina da Silva Ramos Carneiro (Universidade Federal Fluminense)

Em fins do século XIX e inícios do século XX, o pensamento ocidental passou por inflexões acerca da sua própria capacidade de produzir conhecimento. Romper-se- ia, segundo Henry Kariel, a lógica da filosofia política tradicional. Para Kariel, três pensadores seriam responsáveis por tais rupturas: Nietzsche, Freud e Mannheim. A transição dos séculos esteve impregnada por importantes mudanças no mundo civilizado pela racionalidade: a emergência do proletariado; a tentativa de adequação da Igreja Católica às condições de desigualdade social que faziam transparecer as contradições das questões sociais, enquanto a expansão imperialista moldava as relações econômicas, sociais e políticas mundiais sob a lógica do mercado. No início do século XX, alguns intelectuais, críticos do que consideravam o ceticismo do século XiX, defendiam a possibilidade de constituírem um novo 67 pensamento capaz de recuperar a crença numa possível nova síntese equilibrada e harmoniosa do conhecimento. Nesta perspectiva, punham-se contra o pensamento liberal e comunista. Reivindicavam, ante ao cosmopolitismo e avanços tecnológicos, a “rehumanização” do homem. Neste sentido, correntes intelectuais e políticas que consideram a necessidade de uma “revolução espiritual”, tomariam forma como condição alternativa às chamadas interpretações materialistas das possibilidades de organização da humanidade. Este artigo pretende discutir o projeto integralista brasileiro de Revolução espiritual, construindo um debate com as influências do pensamento de Popper e Jaspers na constituição da “Doutrina do Sigma

Invisibilidade palestina como projeto de Estado israelense - Luana Rodrigues Mota (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho tem como objetivo discutir um dos maiores conflitos da atualidade, a chamada “Questão Palestina”, abordando-o sob o enfoque da construção da hegemonia do modelo ocidental/burguês, no qual o Estado de Israel seria incluído como Estado-Nação e Sociedade afim. Este estudo pretende abordar os aspectos econômicos e sociais, especialmente ao que se refere à Educação, buscando refletir sobre as condições criadas pelos fundadores do Eretz Israel, que se adequando às estratégias ocidentais, impôs aos habitantes não judeus do território palestino uma política segregacionista que pretende eliminar vestígios de representações religiosas, principalmente muçulmanas, deste território reconhecido pela Organização das Nações Unidas como Israel. Desde o século ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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XIX, a região da Palestina vinha sendo disputada pelos Estados-Nações com fins estratégicos. A expansão imperialista impulsionou os conflitos como forma de atribuir importância estratégica aos interesses capitalistas e encontrou no movimento sionista um aliado ideológico e político. Deste modo, as condições de reordenamento geopolítico após a Segunda Guerra consideravam reconhecimento do nacionalismo judaico com apoio ao alinhamento ao bloco capitalista no contexto da Guerra Fria, enquanto o nacionalismo árabe era visto com desconfiança pelo Ocidente. A região disputada teria impulsionado o sistema de distinções entre os povos semíticos palestinos, de origens variadas, mas, principalmente, judias e árabes. Assim sendo, sob a hegemonia judaica, as propostas da Educação dos estudantes israelenses vêm sendo definidas com o objetivo de tornar “invisíveis” as regiões ocupadas pelos palestinos com a intenção de educar gerações de jovens israelenses insensíveis às condições desumanizadoras que o Estado lhes impõe. A política israelense de segregação humana do residente palestino muçulmano pode ser interpretada dentro do espectro das definições de Direita por seu viés autoritário e antipopular, de violência desumanizadora de um Estado sobre parcela do seu povo.

Licenciatura em História - Marta Valéria Ribeiro dos Santos Martins (UFF)

O presente trabalho tem como proposta abordar aspectos da história da educação brasileira e de como ela foi organizada no período de 1930-1945, sob a égide de uma ordem político-autoritário no então governo Getúlio Vargas. O Estado 68 varguista, principalmente, via na educação uma forma de desenvolver o país e conduzi-lo à modernidade. A partir das primeiras décadas do século XX, a educação seria tema recorrente nos discursos políticos e isso aconteceria com mais frequência à medida que o caráter autoritário do regime iria se acentuando. O Estado via na educação uma forma de propagar o seu projeto autoritário. Dessa forma, a educação passaria a ser um problema de ordem nacional. A ligação entre educação e saúde e a ênfase na educação moral, foram uns dos desafios do Ministério da Educação e Saúde da Era Vargas. Neste sentido, considera-se que, enquanto proposta autoritária e de ordenação da sociedade brasileira sob a bandeira da educação ordenadora de uma sociedade brasileira nacionalista e obediente ao Estado.

O "MBL - Movimento Brasil Livre" e o seu papel na direita brasileira - Matheus Henrique Marques Sussai (Universidade Estadual de Londrina)

Esta comunicação traz algumas reflexões iniciais sobre o grupo “MBL – Movimento Brasil Livre” e o papel que estes representam na direita contemporânea brasileira. Tal reflexão faz parte de uma pesquisa de mestrado que investiga os usos do termo “nazismo” pelo grupo do MBL em sua página da rede social online Facebook. O presente trabalho tem o intuito de apresentar brevemente a discussão teórica tomada para a pesquisa, e focar na reflexão sobre o movimento e suas principais características. Tal comunidade é bastante acessada, na medida em que possui aproximadamente 2,6 milhões de curtidas. Esse dado nos faz discutir a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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História Pública (LIDDINGTON, 2011) e a Didática da História (BERGMANN, 1989/1990; RÜSEN, 2011), a fim de embasar teoricamente a nossa pesquisa. Também apresentamos o MBL e suas ideias, dialogando com autores que discutem a direita política e suas atuações contemporâneas. Para isso, nos utilizaremos de Norberto Bobbio (2011), Michael Löwy (2015), Joan Antón-Mellón (2011), Dilton Cândido Santos Maynard (2013), entre outros. Para nos auxiliar com a pesquisa sobre o MBL, recorreremos ao estudo de Maria da Glória Gohn (2017), que dedica páginas analisando o grupo e suas principais ideias e embasamentos. Até o momento, podemos considerar que o MBL utiliza do termo “nazismo” para difundir ideias contra o PT (Partido dos Trabalhadores), contra movimentos gerais de esquerda, partidos de esquerda, e qualquer intelectual ou pessoa pública que defende ideias ligadas à esquerda. Assim, o grupo acaba difundindo noções na maioria das vezes não especializadas/fundamentadas, sem a anuência da historiografia.

O Caminho Para a Servidão: Considerações de Hayek Acerca da Planificação Econômica e da Liberdade Individual e a Apropriação de Suas Ideias Pelas Correntes Conservadoras Atuais - Letícia Gonçalves de Mattos (UFF)

O trabalho visa expor os pensamentos e argumentos do economista austríaco Friedrich Hayek acerca do liberalismo de mercado e de que modo ações no sistema econômico acarretam consequências quanto a liberdade do indivíduo, descritas em seu livro O Caminho da Servidão, lançado em 1944, salientando as críticas e os 69 pensamentos deste liberal durante a Segunda Guerra Mundial e suas apropriações por correntes conservadoras na atualidades.

O Fracasso do Liberalismo no Brasil - Alex Conceição Vasconcelos da Silva (Uerj)

Este trabalho, tendo como base o segundo capítulo da minha tese de doutoramento, intitulado a busca pelo “poder moderador”: o fracasso do liberalismo no Brasil, tem como meta analisar profundamente o pensamento de Golbery do Couto e Silva, em seu lócus de atuação no período recortado em nossa pesquisa: a ESG, cuja atuação tanto quanto estagiário e logo em seguida como professor seria determinante para a estruturação de uma corrente política dentro das Forças Armadas, que seria denominada de “esguianos”, contando com militares de renomes como Cordeiro de Farias, Juarez Távora e Humberto de Castello Branco. A atuação desse segmento marcou profundamente os acontecimentos da História Política Brasileira, tais como o suicídio de Vargas (1954), a tentativa de impedir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek (1955), a tentativa de impedir a posse do vice- presidente João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros (1961), a queda do presidente Goulart e a instauração do Regime Militar (1964). Para analisar a atuação de Golbery na ESG, temos que adentrar em sua obra intelectual para compreender a sua formação e atuação política, que marcou o país durante duas décadas (1961-1981), período compreendido entre a luta pelo poder, ou melhor, a luta contra o simbolismo representado pelo ideário do “trabalhismo”, e consequentemente contra as “ideias exóticas” que contaminaram o sistema ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------representativo, tornando a democracia frágil e incipiente, de certo modo, até mesmo perigosa dentro da perspectiva desse segmento, conforme podemos observar nas fontes coletadas. A feitura deste artigo exige a análise dos conceitos de Segurança, Desenvolvimento, Tecnocracia e Estado para que possamos compreender a visão de mundo de Golbery e dos “esguianos”, as suas propostas para os desafios que o Brasil de sua época viveu, e qual método que o país deveria empregar para a consecução de seu engrandecimento econômico e social. Analisaremos o desenvolvimento do ideário da Segurança Nacional como proposta para o desenvolvimento brasileiro, tendo como referência as diretrizes do estado brasileiro, ou seja, a formação e a atuação de uma burocracia que fosse imune as oscilações sociais e políticas que marcaram a conjuntura do Brasil, ou seja, uma tecnocracia que fosse imune a instabilidade institucional do sistema representativo.

O leão e o sigma: a crítica de Plinio Corrêa de Oliveira ao movimento integralista - Victor Almeida Gama (UFF)

O crescente interesse pelo estudo dos movimentos de Direita despertado recentemente pela forte atuação política de grupos alinhados ao pensamento Liberal e Conservador no Brasil, coloca novamente em destaque e discussão a atuação e o ideário de movimentos que tiveram uma grande atividade política de influencia na opinião pública no século XX, como é o caso da TFP de Plinio Corrêa de Oliveira e de sua particular compreensão dos limites do conceito de Direita, bem como o Integralismo de Plinio Salgado, combatida intensamente por Plinio Corrêa 70 de Oliveira por alinha-se ao que ele compreendia como "falsa-direita", cujo propósito era desviar os setores influenciáveis pelo pensamento contra- revolucionário, consignado no ideario tefepista. Para tanto, em colaboração com setores eclesiásticos, elaborou uma carta pastoral assinada por dom Gastão Liberal Pinto, bispo de São Carlos - SP visando uma condenação explícita dos bispos brasileiros ao integralismo por não acordar ele com a fé católica. Além disso, Plinio Corrêa de Oliveira e Plinio Salgado disputaram em artigos de jornais em debates ideológicos tentando demonstrar a possibilidade ou não de adequar-se o Integralismo à um ideal de sociedade católico. No momento em que o debate sobre a ascensão de movimentos conservadores, muitos eles com ligações ou que reclamam uma herança ideológica da TFP ou do Integralismo, se faz importante colocar em debate a atuação e a força de ambos os movimentos na política do século XX.

Skinheads do ABC paulista e memória: o que eles querem lembrar (e o que eles querem esquecer) - Alexandre de Almeida (USP)

Esta proposta de comunicação tem como objetivo discutir, na perspectiva de Joel Candau, quais os episódios eleitos por indivíduos que pertenceram a primeira cena (final da década de 1970 e primeira metade da década de 1980) e a segunda cena (segunda metade da década de 1980 até o início da década de 1990) do grupo "Carecas do ABC", consideradas relevantes para a elaboração de sua identidade coletiva. Como contraponto, serão apresentados os episódios considerados menos relevantes ou que merecem ser relegados ao esquecimento. A questão norteadora ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------desta comunicação é a seguinte: quais são os critérios de seleção e qual imagem do grupo se pretende perpetuar? Os dois eixos norteadores serão: o orgulho de pertencer à classe operária (memorável) e a decepção da aproximação com organizações Integralistas (esquecimento). Essa discussão surgiu durante as gravações, ainda em andamento, de um documentário sobre a cena Skinhead no ABC paulista.

Uma possível aliança entre direita e esquerda? Os Libertários norte- americanos e a sua união com a Nova Esquerda nas páginas da revista Left and Right A Journal of the Libertarian Thought - Vinicius Patrocínio Pereira Costa (Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro)

Os anos 60 nos EUA foram marcados pela efervescência política e cultural. Esta agitação se fez presente em todos os lados do espectro político, abarcando tanto a direita quanto a esquerda. Em um período de surgimento de novos atores políticos dentro da sociedade civil estadunidense, onde as atividades do movimento negro, o movimento feminista, os protestos estudantis e as manifestações contra a guerra do Vietnã estão ganhando cada vez mais notoriedade dentro da arena política. O segmento libertário rompe com os demais setores que compõe a direita norte americana, por causa de discordâncias ideológicas internas. Esta cisão fez com que os Libertários procurassem por novos potenciais aliados, enxergando no surgimento da Nova Esquerda uma possibilidade de união. A revista Left and Right A Journal of the Libertarian Thought, foi fundada justamente com o objetivo de 71 aproximar os Libertários da direita com os grupos constituintes da Nova Esquerda e a partir disso consolidar uma nova aliança que integrasse ambos os grupos. Este trabalho tem como objetivo traçar as linhas editoriais gerais da revista para descobrir de que forma esta aliança com a esquerda influenciou a direita libertária.

“Porta-Vozes da direita” e “Apóstolos” do regime Civil-Militar Brasileiro: reflexões historiográficas sobre as trajetórias intelectuais de Gustavo Corção e Julio Fleichman entre as décadas de 1970 e 1990 - Glauco Costa de Souza (FFLCH/USP)

O trabalho tem por objetivo apresentar o resultado das reflexões teóricas e metodológicas, oriundas do campo historiográfico denominado História dos Intelectuais, tendo por perspectiva a minha tese de doutorado, com seus objetos e fontes. A tese procura avaliar a trajetória de dois intelectuais representantes do catolicismo carioca, Gustavo Corção e Julio Fleichman, que, em 1968, fundam o grupo e a revista homônima Permanência, onde iniciam um projeto político e religioso de apoio ao regime civil-militar brasileiro e, ao mesmo tempo, em defesa dos valores de uma cultura ocidental com base nos dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana. A partir disso, na década de 1970, ambos intelectuais passam a participar de Congressos Internacionais, escrevem na imprensa católica francesa e, além disso, Gustavo Corção tem três livros publicados na França entre as décadas de 1980 e 1990. São dessas fontes que se defende a ideia de que Corção e Fleichman são “porta-vozes da direita” e “apóstolos” católicos do regime civil- militar brasileiro no exterior. A análise desses documentos permite identificar um ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------discurso compartilhado por grupos da direita política e católica do Brasil que, a partir das denúncias feitas no exterior por Dom Hélder Câmara contra os abusos do regime, defenderam ideias e imagens de um governo ditatorial preocupado com a ordem social cristã abalada pelos males do pensamento moderno, representado na prática pelo combate ao comunismo pelos militares no país. São representações e práticas desse projeto político e religioso, esquematizado pelos intelectuais católicos cariocas no exterior, que serão apresentados nesse trabalho, em que conceitos e ferramentas metodológicas provenientes da História dos Intelectuais auxiliarão na estruturação e no desenvolvimento da tese. Sendo assim, procura-se descrever o Itinerário da vida desses dois personagens e, a partir disso, apresentar as reflexões provenientes do campo historiográfico em estudo com a trajetória intelectual dessas duas figuras do laicato católico brasileiro.

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73 ST 08. Construções e representações de gênero: abordagens multidisciplinares e parcerias acadêmicas

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A disputa sobre os Direitos Reprodutivos: uma análise na Câmara dos Deputados (séc. XX-XXI) - Aline Beatriz Pereira Silva Coutinho (UNIRIO)

O objetivo da comunicação é expor parte da pesquisa do Mestrado. Dessa forma, será apresentada uma análise das tensões e disputas existentes sobre a temática do aborto dentro da Câmara dos Deputados, a partir de um recorte de projetos legislativos propostos do século XX até presente momento e que promoveram/promovem impacto nas discussões sociais e políticas no Brasil. Será contextualizado, portanto, os protagonistas dessa disputa pelo discurso da "vida" dentro do âmbito legislativo: atores políticos como a Igreja Católica, os deputados federais pentecostais e o movimento feminista; com o intuito de mostrar que a entrada dos pentecostais na esfera política e principalmente dentro da Câmara, quando relacionado ao tema de sexualidade, família e reprodução; tem o objetivo de minar as conquistas promovidas pelo movimento feminista desde a década de 1960 – e particularmente, as relacionadas aos Direitos Reprodutivos e Sexuais dos anos 1990. O embate sistemático entre essa bancada conservadora religiosa e o movimento feminista avança durante o século XXI e propicia contestações, demandas e mobilizações sociais, as quais serão brevemente analisadas.

A História Estética da Mulher Maravilha: Vestuário e Padrões de Beleza Refletidos nas Histórias em Quadrinhos - Savio Queiroz Lima (UNIVERSO)

O proposto artigo tem por intento a análise da história estética da Mulher Maravilha 74 enquanto reflexo de uma dinâmica cultural. A super-heroína, criada em 1941, mudou o uniforme, algumas vezes sutilmente e noutras radicalmente, em processos historicamente localizados de expectativas e adequações sobre a imagem feminina. Através de contextualizações históricas e de análise crítica, a história da ficcional personagem Mulher Maravilha reflete, através de suas vestimentas, as mudanças nos discursos e imaginários sobre o corpo da mulher e nos socialmente construídos padrões de beleza e estética. Durante mais de 70 anos de mercado de entretenimento, as diversas equipes que ocuparam-se com as narrativas e as imagens buscaram atualizar a personagens para os públicos femininos de cada geração, entre erros e acertos. Este trabalho pretende resgatar as mudanças mais significativas e as motivações sociais sobre a estética feminina e os comportamentos baseados em gênero que fomentaram tais alterações.

A saída da mulher brasileira pela política - Análise acerca da atuação do Movimento Sufragista Brasileiro e a Constituinte de 1934 - Sofia Alvarez Dias (UFF)

Neste trabalho, se tem como proposta revisitar um dos mais importantes momentos de luta por representação do movimento tanto de mulheres como o feminista na desde o final do século XIX, canalizado pelo embate travado na conquista do sufrágio feminino. Trata-se, mais especificamente, da atuação do movimento sufragista, que ganha novo fôlego em meados do século XX, conquistando novos espaços na agenda política brasileira. Essa ascensão participativa num cenário de grande turbulência política para o país, aqui se coloca em três momentos: o Estado ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Provisório, as eleições de 1933 e a Constituinte de 1934. Nesses três processos houve engajamento político direto – e indireto – do movimento sufragista, através de negociações com políticos e instituições, com o propósito de além de incluir temáticas de suas agendas dentro do ambiente político efervescente da época, conseguir atingir de fato a concretização dessas demandas, especialmente na esfera parlamentar. A análise dessa participação será feita a partir do conceito de ‘saída’, desenvolvido pela historiadora Michelle Perrot, referência no estudo da história das mulheres. Tal conceito, após uma seção explanatória, será explorado aqui a partir de um viés político, da transição das mulheres no início do século XX no âmbito de tomada de poder e decisão de, ainda hoje, tão difícil acesso. Este estudo de caso, elaborado através de uma metodologia histórica, leva em consideração a consolidação da história coletiva obtida pelo movimento social que buscava a evolução da cidadania brasileira através da conquista do voto, porém ressalto que toda história coletiva é constituída a partir da atuação de sujeitos. Essa ressalva é feita no sentido de enaltecer algumas trajetórias específicas dentro da elaboração do trabalho, como é o caso de Leolinda Dastro, Carlota Pereira de Queirós, Natércia da Silveira, Bertha Lutz e algumas outras mulheres cujas vozes fizeram ser ouvidas na luta pela conquista de direitos não apenas para sua geração, mas para tantas outras gerações de mulheres que as seguiram.

A trajetória profissional de Marialzira Perestrello: uma história da psicanálise no Rio de Janeiro a partir do viés de gênero (1934-1977) - Vanessa de Almeida Moura (Fundação Oswaldo Cruz/ Casa de Oswaldo Cruz) 75

O objetivo da minha pesquisa de mestrado é investigar a trajetória profissional da médica e psicanalista Marialzira Perestrello (1916-2015). Perestrello teve uma carreira ativa ao formar-se em medicina (1939) e participar, em 1953, da fundação da Clínica de Orientação Infantil do Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil (COI-IPUB) e do processo de institucionalização que resultou, em 1959, na fundação da SBPRJ, quando esta foi reconhecida pela Internacional Psychoanalytical Association (IPA), durante o XXI Congresso Psicanalítico Internacional, em Copenhague. Mais precisamente, ela fez parte da primeira geração de psicanalistas, formada em medicina, dos quais alguns integrantes receberam financiamento do governo brasileiro para se especializar em psicanálise no exterior ao longo das décadas de 1940 e 1950, chegando a fundar no país sociedades filiadas à IPA. A pesquisa pretende circunscrever a trajetória de Marialzira Perestrello em uma sociedade em transformação lenta e parcial de modernização nas relações de gênero. O interesse nesse objeto é ainda maior quando se considera a incompletude dessas mudanças e os obstáculos e hesitações que surgem no caminho profissional de nossa personagem. A proposta metodológica procura integrar a trajetória profissional e a obra da personagem dentro de um campo mais amplo de debates e embates sobre as novas posições que as mulheres alcançaram no processo de modernização da sociedade brasileira do século XX. Iremos trabalhar a trajetória profissional de Marialzira Perestrello na encruzilhada da história das profissões, da história da psicanálise e da psiquiatria e dos estudos de gênero. O recorte cronológico proposto é de 1934 a 2001. Este período abrange desde a entrada de Marialzira na Universidade do Brasil até às ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------contribuições de Marialzira Perestrello junto à Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ). Entre suas funções na SBPRJ, destacam-se seu papel como presidente da instituição (1976-1977) e como historiadora oficial da instituição (1984- 2001).

A Vida Elegante - A invenção das damas na sociedade da Belle Époque Carioca (Rio de Janeiro - 1903 a 1914) - Laíne Soares Mendes (UFRRJ)

O meu trabalho tem como objetivo identificar e analisar as relações e as hierarquias entre as damas da alta sociedade carioca, bem como a invenção das mesmas pela imprensa nos tempos Belle Époque. Isso significa dizer que nem toda mulher é uma dama, mas toda dama é mulher. Deste modo, darei ênfase à Belle Époque no contexto Carioca, originada a partir do advento do início da República no Rio de Janeiro, através da análise dessas damas da alta estirpe com a moda. Essa última atuará como um fator social de mudança fundamental na vida coletiva, além de possuir significação e distinção social, ou seja, se transformará em uma problemática para a sociedade e para a modernidade, sendo cumprida tanto no âmbito público, quanto no privado. Propondo uma relação entre a moda masculina e a feminina, apresentando que mesmo que a ostentação e a ousadia fizessem parte da feminina, a masculina em nenhum momento deixou de estar sob influência da tirania da moda. Já a análise sobre as altas damas trarei gênero como uma ferramenta analítica para se compreender o meio social da época introduzindo um método de investigação capaz de transformar determinadas dimensões da 76 sociedade. Nesse caso, será proposto um misto metodológico de análise conceitual com análise de discurso de periódicos da época, utilizando como fonte principal a revista chamada “A Vida Elegante – O Jornal das Senhoras”. Portanto, esse trabalho proporcionará uma articulação, através da intersecção dos conceitos de Belle Époque Carioca, Moda e Condição Feminina.

Arte e gênero na China de Mao: Os pôsteres de propaganda e a construção da "nova mulher" socialista (1949-1976) - Edelson Costa Parnov (Universidade Federal Fluminense)

Os esforços de construção do socialismo na China ocorridos entre o triunfo da revolução, em 1949, e o falecimento da principal liderança daquele processo, Mao Zedong, em 1976, foram marcados por profundas modificações na situação das mulheres chinesas, como, por exemplo, a sua entrada massiva na esfera da produção, a conquista de direitos políticos e o fim do pátrio poder. Neste sentido, a pesquisa em questão possui como intuito compreender qual o conjunto de características femininas considerado pelo Estado chinês como estando em consonância com a transição ao socialismo naquele país. Para isso, utilizamos como fontes primárias os cartazes de propaganda chineses da coleção de Stefan Landsberger, produzidos ao longo do período supracitado. Esse material encontra- se disponível no website chineseposters.net, mantido pela Chinese Posters Foundation e pelo International Institute of Social History (IIHS) da Leiden University, situada em Amsterdã. Em termos metodológicos, realizamos a filtragem do acervo a partir das palavras-chave family (família), girl (menina) ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------marriage (casamento), woman (mulher) e women (mulheres), de modo a obtermos somente os pôsteres de propaganda úteis aos objetivos do trabalho. Em seguida, classificamos as fontes de acordo com os seguintes atributos: o período histórico em que foram produzidas (Período I: 1º Plano Quinquenal – 1949-1957; período II: Grande Salto Para Frente – 1958-1960; período III: Reajustamento Conservador – 1961-1965; período IV: Revolução Cultural I – 1966-1968; e período V: Revolução Cultural II – 1969-1976), se a(s) mulher(es) é/são representada(s) sozinha(s) ou acompanhada por um ou mais homens; a classe ou fração de classe à qual ela(s) pertence(m), além da atividade que estava(m) desempenhando ou da qual participavam no cartaz. A partir das análises já realizadas, obtivemos como resultados preliminares que nos períodos I, II e III há alta representação de camponesas e no período II também de operárias, demonstrando um forte estímulo do Estado chinês à entrada em massa das mulheres no mundo do trabalho, de modo a aumentar a produção do país, fator entendido como fundamental para a transição ao socialismo; no período IV há grande representação de mulheres estudantes em atividade política, indicando um encorajamento à sua participação na Grande Revolução Cultural Proletária (GRCP); enquanto no período V se eleva a representação de mães e de esposas, apontando um esforço para restabelecer padrões tradicionais de gênero, num momento de domesticação movimentos sociais que foram a base da GRCP.

As Evas de Molière - Yohanna de Moraes Guimarães (UNIRIO) 77 O presente projeto trata a importância da vida das mulheres francesas no século XVII a partir da análise de peças de Molière. Há uma tentativa de compreender como se dá a mobilidade de ação das personagens – principalmente femininas – numa sociedade de caráter fortemente hierarquizado.

Entre “bem” e “mal” comportadas: feminismo(s) na Era Vargas (1930- 45) - Yasmin Bragança (UFF)

A presente comunicação tem como base o projeto de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. O tema dessa pesquisa são o(s) feminismo(s) durante a Era Vargas. Os diferentes grupos serão identificados, assim como suas atuações, embates e posicionamentos perante problemáticas da época, como o voto feminino, a legislação trabalhista feminina, a questão materna e a emancipação da mulher. Para tanto, serão examinados artigos de periódicos como Correio da Manhã, A Noite, A Manhã, A Batalha, O homem do povo, A Plebe e O homem livre, alguns de autoria de mulheres, relatos ou entrevistas sobre posicionamentos de feministas.

Ermelinda Lopes de Vasconcellos: a Repercussão do Ingresso Feminino na medicina no final do século XIX - Thaís Marcello de Almeida (UFRRJ)

A pesquisa que desenvolvo no mestrado tem como proposição discutir o ideal de mulher proposto no final do século XIX e início do século XX – pautado nas ideias positivistas e no higienismo – com a finalidade de “normalizar” a sociedade ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------brasileira e levá-la ao “progresso”. (SANTOS, 2010, s/n.) Diante disso, propõe-se o modelo “imaginário de mulher, voltada para a intimidade do lar.” A figura feminina aparece como o sexo frágil, pois, suas características biológicas atestariam a fragilidade, a delicadeza e o descontrole emocional em virtude de seu aparelho reprodutor. (ROHDEN, 2003, p. 202) Sendo assim, à mulher caberia o papel de mãe e dona-de-casa, visto que, essa era a “ordem natural”. Contudo, em meu trabalho historiográfico, dedico-me a investigar o ingresso feminino de Ermelinda Lopes de Vasconcellos na medicina, em 1888, num momento cuja área era marcadamente masculina. Assim, nessa comunicação, meu principal objetivo é demonstrar que a despeito do ideal de mulher como esposa e dona-de-casa, diversas mulheres não concordaram com tal pressuposto e defendiam os direitos femininos. Intenciono, portanto, desconstruir a ideia de passividade feminina por apontar diversas mulheres que ingressaram em universidades no final do século XIX e sustentaram, através de discursos e ações, a “emancipação da mulher”. Ademais, considero importante desconstruir a interpretação que compreende o passado como sinônimo de atraso, isto é, retirar o julgamento de que as mulheres foram submissas e aceitaram o patriarcado sem questionar ou se manifestar de alguma forma. Busco recuperar a agência das mulheres a partir de suas experiências – tal como o historiador inglês Edward Palmer Thompson propõe – e enfatizar que existiam diversos ideais de mulheres em variados contextos sociais. Desse modo, minha intenção é apontar, através de periódicos correntes no Rio de Janeiro, na década de 1890, figuras femininas que, de certa forma, romperam com o ideal de mulher proposto. Busco, portanto, ressaltar o gênero no processo de investigação, todavia, 78 admitindo a necessidade de entrecruzá-lo com a raça, a etnia e a classe. Tal abordagem permite-nos perceber que as experiências femininas variam de acordo com o contexto em que estão inseridas. Do mesmo modo, o feminismo proposto no período não era homogêneo. Existia uma disputa sobre o “feminismo”, ou seja, seus significados e ações modificavam dependendo de quem utilizava o termo e de quem era seus e suas agentes.

Gênero e quotidiano medieval: algumas observações sobre soldadeiras e jograis ibéricos (séculos XIII – XIV) - Douglas Santos Bastos (SEEDUC RJ)

Jogral e Soldadeira eram categorias sociais comumente encontradas por toda Península Ibérica ao longo da Idade Média. Vinculadas ao entretenimento, viviam de forma itinerante transitando das praças às cortes, presença de tamanha recorrência que cidades e reis direcionaram leis e recomendações para o exercício de suas atividades. Contudo, as fontes nas quais estas categorias sociais figuram com maior intensidade são as cantigas, em especial as de escárnio e maldize. Partindo das perspectivas de Joan Scott de que as relações de poder seriam significadas primariamente através do gênero e da concepção de Pierre Bourdieu do poder (Poder Simbólico) como algo invisível capaz de conformar, de homogeneizar noções como tempo, espaço, valores, etc., esta comunicação pretende realizar uma breve análise das relações de gênero através da observação das diferenciações representativas e legais verificáveis entre jograis e soldadeiras (masculino e feminino).

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Gênero, condição feminina e relações de poder nas revistas: Brasil Feminino e Momento Feminino (1930- 1950) - Vívian Marcello Ferreira (UERJ)

Refletiremos acerca das falas das mulheres que publicaram artigos ou contos nas revistas Brasil Feminino e Momento feminno entre os anos de 1930-1950. Este corte cronológico foi feito por acreditarmos que durante este período, é possível encontrar vestígios de mudanças na condição feminina da sociedade brasileira. Analisaremos o contexto da conquista do voto feminino nos anos 30 e o processo para a sua autonomia política, econômica e social até os anos 50. Partindo das análises feitas dos escritos femininos presentes nas revistas, refletiremos sobre a visão destas em assuntos como o divórcio, a educação superior, a inserção da mulher no mercado de trabalho e o sufrágio feminino. Afinal, o ideal feminino seguia em oposição ao feminismo.

Gênero, origem étnica e religiosa no Tribunal do Santo Ofício de Goa (1560- 1620) - Luiza Tonon da Silva (Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina)

Bibeasilá, muçulmana que com seu cavalo entrava nas terras portuguesas de Goa - então capital do Estado da Índia , seria acusada de impedir conversões ao catolicismo, e por esse motivo, seria banida dos territórios. Assim como Maria, cristã-velha, que teria buscado curas com feiticeiros nativos, ou Isabel, cristã-nova que em acusada de blasfemar contra a fé católica, foi presa e sentenciada pelo 79 Tribunal do Santo Ofício de Goa, o único tribunal inquisitorial português existente para além das terras do Reino. Essas mulheres foram algumas dentre as centenas de condenadas nas primeiras décadas de funcionamento dessa singular Inquisição, situada no difuso Estado da Índia, onde uma grande parte da população permanecia hindu ou islâmica, e para onde diversos homens e mulheres, por variadas razões, migravam. Este trabalho, portanto, originado a partir de questões levantadas em minha pesquisa sobre a Inquisição de Goa, com base em registros de processos do Tribunal, visa analisar as trajetórias de mulheres condenadas no período: como demais cristãs-novas, como Isabel, eram processadas? Mulheres que foram presas por desafiar a ordem colonial e cristã como Bibeasilá são frequentes nos documentos? É possível perceber através deles como os contatos entre diferentes culturas e práticas religiosas se expressaram no cotidiano feminino no Estado da Índia? E ainda, como ser homem e ser mulher poderia acarretar em diferentes tratamentos e julgamentos enquanto réus e rés do Santo Ofício no contexto asiático? Como isso se atrelava às origens étnicas e religiosas desses sujeitos? Essas questões, amplas, mas que podem ser abordadas através das fontes manuscritas disponíveis, objetivam fazer refletir acerca do gênero no colonialismo português na Ásia, e perceber de que modo a voz do outro lado da mesa inquisitorial, mesmo se abafada, deixou vestígios.

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Mulheres cristãs-novas no século XVIII (Identidade, gênero e religião) - Lina Gorenstein (USP)

Mulheres portuguesas de origem judaica constituíram um dos grupos mais visados pelo Santo Ofício da Inquisição de Portugal. A razão que inspirou essa desconfiança foi o fato de serem consideradas o principal e mais poderoso foco de heresia, centro transmissor do Judaísmo - a casa e a família. Transferindo-se para o Novo Mundo, a Inquisição portuguesa continuou, através de seus agentes, a investigar a conduta das mulheres cristãs-novas. As atividades inquisitoriais no Brasil atingiram seu ápice no século XVIII, quando dentre 225 mulheres presas, 205 eram cristãs-novas. Destas, 165 eram ou naturais ou moradoras no Rio de Janeiro, e foram levadas para os cárceres inquisitórias, acusadas do crime de Judaísmo. É esse capítulo da história do Brasil que abordaremos nessa comunicação A história dessas mulheres, que em sua maioria, pertenciam as camadas mais abastadas da sociedade fluminense, filhas ou esposas de proprietários de engenhos e possuidores de inúmeros escravos, sua vida cotidiana, familiar, os casamentos, o sentimento religioso e a perseguição que sofreram serão aqui discutidos, com ênfase especialmente as relações entre gênero, identidade e religião.

Mulheres de Axé: Feminismo, etnia e religião - Lana Lage da Gama Lima (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro) 80 No final dos anos de 1970 e início da década de 1980, surgiu no Brasil o feminismo das mulheres negras, que articulou às lutas feministas o enfrentamento ao racismo, inspirando-se, sobretudo, nas experiências norte-americanas. Atualmente, um novo feminismo negro vincula a questão racial e de gênero à defesa da liberdade religiosa para os adeptos das religiões afro-brasileiras, que vem sendo particularmente ameaçada com o crescimento da intolerância que tem acompanhado a multiplicação das igrejas neo-pentecostais no país. O movimento, denominado, de um modo geral, Mulheres de Axé, propõe a construção de um feminismo dialógico e interseccional. Projetos feministas vem sendo implantados em terreiros de umbanda e candomblé, voltados sobretudo para o enfrentamento da violência contra as mulheres. O trabalho focaliza um desses projetos, implantado em um terreiro do Rio de Janeiro, analisando as relações entre feminismo e religião. A pesquisa vem sendo realizada por meio de visitas ao terreiro e entrevistas com seus membros.

O amor cortês em Dom Quixote como subversão das relações de gênero nas narrativas cavaleirescas - Caio Rodrigues Schechner (UNIRIO)

O presente trabalho pretende discutir a figuração do amor cortês, forma idealizada de amar e relacionar-se, típica das narrativas medievais, no romance Dom Quixote de La Mancha, escrito por Miguel de Cervantes e publicado em dois volumes (1605 e 1615). Como objetivo principal, busca-se compreender a tópica do amor cortês no âmbito da narrativa mencionada - especificamente sob a forma da relação do protagonista Dom Quixote e sua pretensa dama Dulcinéia d'el Toboso - como uma ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------possível subversão das relações de gênero consagradas pelas novelas de cavalaria de até então. Dessa forma, almeja-se tanto contribuir com os estudos de gênero, ao evidenciar uma quebra parcial no paradigma da representação feminina, quanto reforçar a parceria entre História e Literatura, ao fazê-lo a partir da análise de uma fonte de caráter literário.

O conceito de gênero na obra de Joan Scott e suas contribuições para a História Medieval - Miriam Cabral Coser (UNIRIO)

Os estudos de gênero na área de História Medieval produzidos no Brasil são tributários, em sua grande maioria, do conceito tal como proposto por Joan Scott no artigo “Gênero, uma categoria útil de análise histórica”, publicado em 1996. Sendo assim, a compreensão de gênero como a organização social da diferença sexual tem embasado uma série de trabalhos da área. No entanto, a historiadora em questão vem há algum tempo revisitando o próprio conceito e ponderando sobre sua aplicabilidade. A proposta deste trabalho é analisar as nuances do conceito de gênero para Joan Scott e refletir sobre suas potencialidades para o estudo do medievo.

O estudo de gênero e o Holocausto no livro "Paisagens da Memória", de Ruth Klüger - Maria Eliza Moreira Zahner (UNIRIO)

O intuito deste trabalho é analisar a importância dos estudos de gênero dentro do 81 estudo do Holocausto. Uma figura essencial para esse tema é Ruth Klüger, que em seu livro “Paisagens da Memória” conta as memórias de sua vida e tem sua identidade como tema recorrente. Mulher, austríaca, judia, sobrevivente do Holocausto e professora de Estudos Germânicos, ela luta para encontrar sua identidade, que muitas vezes lhe é negada. Dentro desse tema, vemos em evidência o apagamento de sua experiência e vivência enquanto mulher. “As guerras pertencem aos homens, e assim também as lembranças de guerra”, nesta frase, logo no primeiro capítulo de Paisagens da Memória, vemos a mensagem de Ruth Klüger. Ela não tem o direito de ter sido protagonista na guerra. Não tem voz para falar sobre isso, não importa o que a ela tenha acontecido, suas memórias não têm o mesmo valor das memórias de um homem. Usando o artigo “What do studies of women, gender and sexuality contribute to understanding the Holocaust?” de Doris L. Bergen, dentro da coletânea Different Horrors, Same Hell: Gender and the Holocaust, pretendo analisar a contribuição do estudo de gênero para a história do Holocausto e tentar entender o seu apagamento, aplicando suas ideias a “Paisagens da Memória”.

O exército em perspectiva: a consagração de Maria Quitéria na Semana de Caxias de 1953 - Raphael Pavão Rodrigues Coelho (UFF)

Este trabalho busca analisar como as questões relacionadas ao debate de gênero estão introduzidas nas Forças Armadas brasileiras. Para contemplar esse objetivo, escolhemos analisar a consagração de Maria Quitéria, heroína brasileira da Guerra de Independência, considerada a primeira mulher a ingressas nas fileiras do ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Exército, no ano do centenário de sua morte, incutido na semana de homenagens ao 150º aniversário de nascimento do Duque de Caxias, patrono do Exército brasileiro. A proposta deste trabalha perpassa demonstrar que, apesar de ser uma das instituições mais conservadoras, o Exército brasileiro, em meados do século XX (década de 1950), homenageia uma mulher por seus feitos em batalha; contudo, e aqui se encontra o cerne da questão, é do nosso interesse demonstrar como esta homenagem é feita, e principalmente, em qual contexto ela é promovida.

O Lampião da Esquina: expressão e voz dos homossexuais através das cartas ao jornal (1978-1981) - Marília Miranda Alves Carvalho (UERJ- FFP)

A comunicação tem como objetivo apresentar os resultados parciais da pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E que tem como objetivo analisar a sessão “Cartas na Mesa” do jornal Lampião da Esquina, periódico destinado ao público gay, que circulou entre 1979 e 1981. O periódico, de distribuição nacional, embora tenha sido editado no contexto da “transição”, ainda estava inserido no contexto de repressão e censura às diferentes formas de expressão pela ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). Sendo assim, através do estudo das cartas enviadas pelo público leitor ao jornal, procuraremos investigar os principais assuntos relacionados às questões de gênero e da sexualidade relacionada ao universo homossexual. 82 O patrimônio do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda do Rio de Janeiro dos séculos XVIII-XIX: A santa riqueza por meio do sistema de dotes e doações das religiosas (1765-1800) - Amanda Dias de Oliveira (UFRJ)

Planeja-se neste artigo, fazer uma análise das características econômicas do Convento da Ajuda, entre os anos de 1762-1800. Procura-se entender o gerenciamento e transações econômicas da instituição, por meio dos bens adquiridos por doações, dotes e empréstimos. Veremos mediante as fontes, que este tipo de acordo, proporcionou um contato com o mundo externo e um laço de dependência frente à família das religiosas que, de certa forma, contribuíram para o fortalecimento econômico da instituição. O dote, bem como a propina e outras formas de contribuições, foram realizadas pelos responsáveis das donzelas, que almejavam uma carreira religiosa em período colonial. Desta maneira, a principal fonte a ser explorada, foi a Série de Congregação Religiosa, cód. 081, depositado no Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, e para este artigo, separamos o volume que contém vinte e seus registros de pedidos oficiais. Compreendemos, que no aspecto institucional, o bispo diocesano em união com as madres fundadoras, buscaram delinear um perfil bem preciso, a fim de que mulheres brancas, de bom cabedal e puras de sangue, fossem aptas a prosseguir uma carreira dentro do convento. E obviamente, que o perfil estipulado, foi concedido a mulheres de bom cabedal, que sem dúvida, contribuíram com a formação da Santa Riqueza do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda do Rio de Janeiro.

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Rainhas Medievais em Cerimônias de Coroação na França e na Inglaterra (século XII) - Letícia Saldanha Simmer (UNIRIO)

Durante a Idade Média, cerimônias de coroação para marcar a ascensão de um rei foram se tornando cada vez mais necessárias. Aqui, noa voltamos para a coroação de suas consortes. Sabe-se que coroações de rainhas ocorriam em diferentes circunstâncias, podendo se processar junto à coroação do rei ou separada, no caso do casamento de uma rainha com o rei só ocorrer após a coroação deste, por exemplo. Se considerarmos que desde o século IX, a necessidade de um ritual de coroação para marcar a posição de uma rainha cresceu em vários reinos na Europa, pode-se levantar a questão sobre o que tornava uma rainha, de fato, rainha. Assim, a partir dessa questão, que considera qual era o poder de uma rainha dentro de sua esfera de atuação, observa-se a rainha em suas diversas funções: como modelo, intercessora e parceira de seu marido, como benfeitora que realizava grandes doações para Igrejas, ou regentes para seus filhos, quando estes ainda não tinham idade para assumir o trono, também não esquecendo a função de assegurar a continuação da linhagem com a produção de herdeiros. Em geral, procura-se notar qual era a esfera de atuação dessas rainhas, bem como sua posição dentro de um reino, associando essas posições com os rituais de coroações e com o termo que em inglês aparece como queenship, indicando uma espécie de qualidade, dignidade ou status de uma rainha; portanto, relacionando a esfera de poder e atuação legítima dessas rainhas, e quanto de poder ela guardava em cada um desses reinos a tais rituais. 83

Rainhas, infantas e aias : as mulheres no matrimônio - Richardson Herculano Santiago (UNIRIO)

No medievo tardio o matrimônio entre nobres não era motivado por razões do coração, mas sim pelos interesses da linhagem, como firmar alianças e estabelecer tréguas entre reinos. Os acordos para efetivação do casamento poderiam perdurar por longo tempo e envolvia, durante o processo, desde os procuradores até os reis e rainhas. Depois de realizada toda a transação do consórcio, as infantas podiam partir para o novo reino na companhia de suas aias. Contudo, era bastante comum essas infantas serem preteridas pelos reis ou infantes e terem seus casamentos anulados quando estes optavam por outra mulher que oferecesse mais recursos e privilégios políticos, ou a quem eles se enamorassem. Neste presente artigo, a partir das discussões de gênero e das imbricações entre a antropologia e a história, almeja-se tecer uma breve análise acerca do casamento, a importância das rainhas no decorrer das negociações e o papel das infantas durante esse processo de ida a esses reinos estrangeiros.

Revisitando a Idade Média Portuguesa: o conceito de gênero pensado por Judith Butler - Suzane Mayer Varela da Silva (UNIRIO)

Revisitar a Idade Média portuguesa com um novo olhar, um olhar do século XXI, é uma tentativa cheia de esforços para não cometer anacronismos. Nossa tentativa, então, é observar e analisar seres humanos, representações de suas ações, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sentimentos e toda a sua estrutura de vida, formas de poder e instituições. A partir da crônica de D. João I, de Fernão Lopes, podemos entender a cidade de Lisboa como um organismo em constante movimento. Organismo esse formado tanto pelos citadinos como por suas ruas, praças, igrejas, comércio. Isso nos permite analisar o “corpo” da cidade. Desse modo, a construção da cidade de Lisboa em nossa análise é construída pelo discurso de Lopes. Mesmo como metáfora a cidade tem que nascer como mulher, possuir determinadas características femininas. Se aceitamos que o corpo não pode existir fora do discurso “generificado”, devemos admitir também que não existe nenhum corpo que não seja, já e desde sempre, “generificado”. Isso não significa que não exista essa coisa que é o corpo material, mas que só podemos apreender essa materialidade através do discurso. Trata-se do corpo como significado e como significação, um corpo que só pode ser conhecido por meio da linguagem e do discurso – em outras palavras, um corpo que é construído linguística e discursivamente. Dessa forma, o conceito de performatividade, pensado por Judith Butler, deve ser entendido como aquele aspecto do discurso que tem o poder de produzir o que nomeia. O corpo discursivamente construído não pode ser desvinculado dos atos linguísticos que lhe dão nome e constituição.

Um relato de uma vicentina no Novo Mundo: ideias e perspectivas - Melina Teixeira Souza (UFF)

A Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo estabeleceu sua 84 primeira casa brasileira em meados do século XIX, no município de Mariana, em Minas Gerais. A empreitada das freiras não era nada simples, já que para fundar o primeiro colégio católico feminino do Império têm de enfrentar meses de travessia marítima de Paris até o Rio de Janeiro e, logo depois, prosseguir viajando a cavalo pelo interior do país. Sabendo da densidade da missão, Irmã Dubost, madre superiora da congregação no Brasil, começa um diário de bordo para relatar o cotidiano da viagem, e, ao chegar ao seu destino, prossegue escrevendo. A freira envia correspondências mensais para seus superiores franceses, tratando da fundação do Colégio Providência entre os anos de 1849 e 1858. Este artigo visa o precioso contato com a produção de si da religiosa, em uma perspectiva que destaca sua identidade de freira missionária em um ambiente hostil à conquista de novos espaços socais pelo gênero feminino, buscando classificar a escrita de madre Dubost e refletir se o material se aproxima de um relato autobiográfico em sua essência, ou se tem características mais próximas de um relatório institucional orientado pelo objetivo de publicação e divulgação dos feitos da companhia vicentina. Para tanto, é salutar discutir o conceito de subjetividade, relacionando-o à ascensão do individualismo moderno, bem como é necessário conferir importância a própria figura de irmã Dubost: quem era, o que a fizera optar pela vida religiosa, seus anseios e inquietações cotidianas, quais expectativas e motivações relacionavam-se à mudança para o Novo Mundo em novo patamar hierárquico dentro da congregação das Filhas da Caridade. Seria a freira um exemplo de crente fervorosa, portadora de uma religiosidade sentimental e inspiradora? Ou poderia ser, do contrário, uma burocrata a serviço da expansão da empresa católica no Oitocentos? ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Violência obstétrica no Brasil: um conceito em questão - Larissa Velasquez de Souza (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)

Esta investigação pretende apresentar uma análise sobre a configuração atual do conceito de violência obstétrica, no Brasil, considerando os atores e cenários históricos envolvidos nessa construção. O debate sobre este tipo de violência contra a mulher, que é vivenciada em instituições de saúde e no contato com profissionais dessa área de assistência, vem sendo desenvolvido no âmbito do movimento de mulheres e feministas. Como fruto das pressões exercidas por tais grupos, o debate tem se desdobrado em leis e políticas públicas de assistência humanizada à gestação e ao parto, como a lei de garantia de acompanhante no parto, de 2005 e a Política de Humanização ao Pré-Natal e Nascimento, de 2000. No entanto, o debate não alcança todas as mulheres da mesma forma, havendo a necessidade de ressaltar as questões de gênero e classe que interferem no cenário da assistência à gravidez, ao parto e nascimento no Brasil, assim como as questões de âmbito sócio culturais que influenciam na compreensão e vivência, individual ou coletiva, do que seja violência obstétrica. Tais questões abrangem, também, o acesso a saúde e, de certa forma, a questão da compreensão da saúde como um bem a ser adquirido. Assim, a questão também nos impele a pensar sobre a estrutura econômica no âmbito macro em que estamos imersos e que, de certa forma, dita as regras de consumo, ou a impossibilidade dele no âmbito da assistência à saúde. A temática do processo de medicalização do parto perpassa este estudo, assim como a violência de gênero. 85 Para este estudo, nos utilizamos da análise da narrativa dos principais grupos de mulheres e feministas na definição do termo, apresentados em documentos oficiais, em websites, jornais, revistas da área científica, tendo como referencial teórico os estudos sobre a construção de conceitos, considerados sob a perspectiva histórica em questão, sobre violência e saúde, violência de gênero, movimentos sociais e medicalização do parto no Brasil.

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86 ST 09. Cultura Visual e História: as imagens em debate

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A chegada da peste bubônica no Brasil expressa nas charges (1899) - Dilene Raimundo do Nascimento (Fundação Oswaldo Cruz/Casa de Oswaldo Cruz)

Este artigo pretende analisar a chegada da peste bubônica no Brasil, mais especificamente na cidade portuária de Santos, a partir das charges de Angelo Agostini, publicadas na revista ilustrada Don Quixote, na segunda metade do ano de 1899. Em que pese a representação de terror e medo da peste, difundida em todas as sociedades a partir das grandes epidemias do século XIV, na Europa, Agostini se utiliza da peste de forma mordaz e sarcástica, nas suas charges, para realizar sua crítica política.

A fotografia nos arquivos e a memória pública - Maria Teresa Bandeira de Mello (Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro)

O objetivo da comunicação é desenvolver uma reflexão sobre a noção de fotografia pública no universo dos arquivos institucionais. Considerando as fotografias existentes nos arquivos públicos como documentos de arquivo, pretende-se analisá- las enquanto uma das expressões da fotografia pública. Desde sua invenção, a fotografia tornou-se objeto de registro e colecionamento por parte de indivíduos, famílias e instituições. Para alguns autores, como André Rouillé, apesar da fotografia, em si, não ser um documento, ela está provida de um forte valor documental baseado no seu dispositivo técnico, no âmbito de um regime documental da sociedade industrial. No universo dos arquivos, é fundamental 87 investigar e tornar explícitos tanto o contexto de produção quanto os vínculos e relações que ligam as imagens fotográficas às funções que desempenham ao longo de sua trajetória como documento. Nesse sentido, não tratamos da discussão sobre a imagem em si, mas do estatuto do documento arquivístico que lhe dá suporte. A noção de fotografia enquanto documento de arquivo implica que ela está inserida na trama das relações da sociedade da qual faz parte e que não pode ser isolada do contexto histórico cultural do qual ela é ao mesmo tempo produto e fator constituinte. Por sua vez, a fotografia pública – conceito que vem sendo trabalhado por Ana Maria Mauad – é criada por agências de produção da imagem que desempenham papel importante na elaboração da opinião pública tais como os meios de comunicação e o Estado. Ela é o suporte de agenciamento de uma memória pública que registra, retém e projeta no tempo histórico, uma versão dos acontecimentos. Uma das principais vertentes da fotografia pública desde o século XIX é sua utilização associada a projetos governamentais enquanto estratégia para dar visibilidade à ação do Estado. Nosso universo de análise incidirá sobre as fotografias do acervo do Arquivo Público do Estado do Rio Janeiro, com o intuito de interpretá-las a partir da perspectiva da fotografia pública. Provenientes de diversos órgãos do executivo estadual, essas imagens possuem características diferenciadas quanto à sua natureza bem como às suas formas de produção e acumulação. Ao nos debruçarmos sobre as imagens do APERJ, buscamos compreendê-las como parte integrante do arquivo produzido pela administração pública estadual, constituindo-se enquanto documentos resultantes das atividades realizadas por esses órgãos e ligadas às práticas institucionais envolvidas em sua

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------produção. Tal prática constitui uma peça fundamental para a compreensão e leitura dos significados dessas imagens.

A “Belém Moderna” nas páginas da revista A Semana 1920-1925 - Raimundo Nonato de Castro (Instituto Federal do Pará)

A Cidade de Belém, no início do século XX, marcava-se pela ideia de uma sociedade moderna. Os diversos elementos urbanísticos reforçaram esse imaginário. A arquitetura e os rituais republicanos contribuíram para que a sociedade paraense se visse como tal. Neste contexto, a República produziu novos valores que considerados modernos sofreram diversas críticas, seja pelos textos publicados em jornais e semanários, seja pelo lápis dos caricaturistas, na medida em que o regime republicano se consolidava. Mas neste cenário pintores, jornalistas, caricaturistas e intelectuais manifestavam-se ora a favor ora contrários ao novo momento político, num debate constante. Vale ressaltar que a cidade de Belém, no inicio do século XX, passou por um profundo processo de alteração urbana, e o principal responsável foi o intendente municipal Antônio Lemos, que promoveu uma espécie de revolução urbana. O contexto de transformações se devia aos recursos advindos da economia da borracha. Diante deste quadro, a cidade foi considerada a "Paris dos trópicos", haja vista que um conjunto de atividades ocorriam na cidade quase que diariamente como, por exemplo, a presença constante de companhias artísticas que vinham apresentar-se nos teatros da Paz e Amazonas. Portanto, ainda nos anos 20 a ideia de cidade moderna continuava 88 ocupando o imaginário dos paraenses. É justamente neste cenário que a Revista A Semana ocupa seu espaço, reforçando um imaginário que colocava a cidade na codinção de moderna. Não a toa que em várias páginas o semanário publicava imagens de lugares considerados elegantes de Belém.

Alô Alô Carnaval (Adhemar Gonzaga, 1936): a modernidade urbana carioca nos traços Art Déco de J. Carlos - Carlos Eduardo Pinto de Pinto (UERJ)

A proposta do trabalho é analisar a representação do Rio de Janeiro realizada em Alô Alô Carnaval (Adhemar Gonzaga, 1936), um dos filmes carnavalescos da Cinédia. Embora não veicule imagens da cidade – num sentido estrito –, as conexões entre o enredo, as canções e os cenários formam um painel capaz de dar sentido à urbe e a seus habitantes. Entre essas coordenadas, se destaca a atuação de J. Carlos, responsável pelos cenários dos números musicais. Os traços do cartunista, atuante desde o início do século XX, associavam a estética Art Déco aos cenários e personagens cariocas em revistas ilustradas com grande circulação no Brasil, alimentando sobre a capital um imaginário calcado na modernidade e no cosmopolitismo. No enredo, uma dupla de malandros inofensivos conduz a narrativa através de situações cômicas, entremeadas aos números musicais de um cassino. Entre estes, “Molha o pano” (Getúlio Marinho, Cândido Vasconcelos) traz Aurora Miranda cantando os conflitos entre os pagodes elegantes e os barracões desprezados. Dircinha Batista entoa “Pirata” (João de Barro, Alberto Ribeiro), alertando as mocinhas para o perigo do “pirata” de Copacabana e suas falsas promessas de casamento. Carmem e Aurora Miranda se apresentam como as ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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“Cantoras do rádio” (Alberto Ribeiro, João de Barro, Lamartine Babo), reunindo “corações de norte a sul” com suas canções. Embora a cidade não seja explicitada aqui, subjaz a leitura de que o rádio une o país, tendo como centro de conexão o lugar de onde partem as vozes – o Rio de Janeiro. Vale ter em conta que a capitalidade do Rio passava por um momento de reelaboração, em que o Art Déco ganhava vulto. Tal escolha simbolizava um ideal de cidade e, por sinédoque, de país, agregando valores como industrialização e modernidade – afinal, as linhas geométricas das fachadas, produzidas com material bruto, rescendiam a um futuro objetivo e mecanicista. Mas não só, pois o design Art Déco, num sentido amplo, também apontava para a liberação sexual e o empreendedorismo. A presença dessa estética no filme, convivendo com as outras leituras da urbe comentadas acima, formava uma rede complexa, em que o Rio surgia como uma cidade cosmopolita, simultaneamente afeita às tradições populares. Exatamente a mesma operação simbólica que o Estado Novo faria nos anos subsequentes. Estas reflexões são fruto da pesquisa (Quase) sem perder a majestade: a produção de uma história pública sobre o Rio de Janeiro em filmusicais e chanchadas entre o Estado Novo e a inauguração de Brasília, desenvolvida no Núcleo de Estudos sobre Biografia, História, Ensino e Subjetividades (Nubhes/UERJ), com apoio da Faperj.

Antonio Lemos e a imprensa: as representações visuais e escritas sobre sua atuação política (1908-1912) - Maria de Nazaré Sarges (Universidade Federal do Pará) 89 A pesquisa consistiu no estudo das representações visuais e verbais divulgadas na imprensa local (Pará) e na do Rio de Janeiro durante o período da administração de Antonio Lemos e, sobretudo após o acirramento da disputa entre lemistas e lauristas, no período de 1908 a 1912. É importante captar o olhar da imprensa nacional (RJ) e suas ligações com as disputas políticas nacionais e sua vinculação com a imprensa paraense. É uma possibilidade de se apreender o jogo político desse período, visto que Antonio Lemos constituía-se em uma ligação com o grupo político que era desafeto de Lauro Sodré, em nível nacional. O corpus documental escolhido para dar suporte à pesquisa constituir-se-á dos jornais paraenses Folha do Norte e A Província do Pará, justamente por estarem politicamente, em lados opostos, sendo a Folha uma ferrenha “laurista” enquanto A Província defendia seu proprietário Antonio Lemos. Nos acervos do Rio de Janeiro consultamos as revistas Fon-Fon, A Semana, O Malho e o jornal Correio da Manhã e ainda o acervo do IHGP que possui uma coleção de panfleto do período.

As hierarquias do crime de O invasor em perspectiva: do melodrama social à generalização do mal - Guilherme Muniz Safadi (UFF)

Este trabalho propõe um estudo das hierarquias sociais do crime construídas no filme O invasor (2001), de Beto Brant, considerando sua singularidade no contexto de representações da violência urbana que marca a chamada “Retomada” do cinema brasileiro, a partir de meados dos anos 1990, bem como em relação a formas pelas quais as hierarquias do crime foram representadas em momentos anteriores. É conhecida a predominância de imagens do crime e da violência urbana ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------no âmbito do cinema brasileiro, a partir dos anos 1990, sobretudo, autocentradas na construção de visualidades periféricas e das camadas populares. O invasor opera um deslocamento ao abordar a violência urbana no contato entre atores de diferentes procedências sociais, tomando setores e espaços sociais abastados como âmbito privilegiado de ação. Em outros momentos do cinema brasileiro, narrativas do crime articularam hierarquias sociais a partir de enfoques melodramáticos, nos quais oposições entre atores envolvidos no crime foram estabelecidas a partir de convenções do bem e mal, articuladas a tensões sociais (Assalto ao trem pagador , de Roberto Farias e Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, de Hector Babenco). Através da análise da construção das imagens dos espaços e dos personagens do filme, aventa-se a hipótese de que o afastamento do modo imaginação melodramática se faz pela conservação de convenções de representação do mal, configurando-se representações de uma generalização do crime como associada a uma generalização do mal.

Aspectos do Movimento New Age (MNA) no filme Doctor Strange (2016) - Bruno Rodrigues Pimentel (UERJ)

Este trabalho tem como proposito realizar uma breve análise do filme "Doctor Strange", de 2016, e evidenciar aspectos característicos do Movimento New Age (MNA), Nova Era, presentes no filme. O objetivo é identificar os principais aspectos dessa nova consciência religiosa, que estão presentes no filme, e relacioná-los a análises existentes sobre esse movimento religioso. Anthony Albert 90 D´Andrea, sobre o movimento, diz que a “sua invisibilidade, tal qual um iceberg, oculta números expressivos sobre aqueles que, em graus variados, se envolvem com o New Age hoje”, para comprovar tal afirmação o autor expõe dados que demonstram os números expressivos de pessoas que tem ligação com o movimento nos Estados Unidos, no Canadá, na Grã-Bretanha e em países em desenvolvimento como o Brasil. No Brasil, por exemplo, cerca de 2 milhões de pessoas estão ligadas ao movimento de acordo com os dados, que, cabe ressaltar são anteriores ao ano de 2000. D'Andrea diz que em geral, não são pessoas que se identificam como tais, mas certamente são as que apresentam um habitus e disposições ao estilo New Age. Para destacar quais dos principais aspetos do MNA podem ser percebidos no decorrer do filme serão destacados alguns momentos específicos do longa- metragem e as falas serão transcritas, com o intuito de destacar os principais aspetos do movimento que podem ser percebidos. A análise do filme será realizada levando em consideração dois pontos. Um dos pontos consiste em decompor o filme, ou seja, em descrevê-lo, uma descrição geral para apresentar o filme e em algumas vezes uma descrição de momentos mais específicos. O segundo ponto consiste em estabelecer e compreender as relações existentes entre os elementos decompostos do filme, ou seja, o segundo ponto consiste em interpretar o que foi descrito. No que diz respeito a decomposição este artigo não tratará de detalhes referentes à imagem (enquadramento, composição, ângulo, etc ...), ao som (por exemplo, off e in) e à estrutura do filme (planos, cenas, sequências). Algumas cenas serão descritas e suas sequências mencionadas. O objectivo da análise aqui é o de explicar/esclarecer o como no decorre do filme elementos do MNA são representados e isso só é possível por meio da interpretação. Para isso será ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------necessário, acima de tudo, realizar uma atividade de separação de determinados elementos e para a identificação desses elementos é necessário perceber a articulação entre eles.

Brasília e "brasília": a perspectiva de um periódico sertanejo no desenvolvimento do Brasil - Alexandre Pinto de Souza e Silva (UERJ)

Nos anos 1950, a construção de Brasília gerou uma nova perspectiva para o interior brasileiro, conhecido como "sertões", desvinculando de uma imagem associada à barbárie e a doenças para uma nova ideia de modernidade e civilização, indo de acordo com a perspectiva progressista do então presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960). Nisso, a oposição política ao governo se manifestava contrariamente à transferência da capital, sobretudo por meio de veículos de imprensa, criando uma imagem negativa sobre ao então centro de poder da nação. Como resposta, o presidente organizou um periódico para mostrar uma visão positiva da mudança, utilizando Brasília como símbolo da modernidade e do desenvolvimento que Kubitschek buscava para todo o país. Sendo assim, a revista "brasília" (1957-1960) é fundado e contava com a contribuição de políticos, intelectuais, cientistas sociais, engenheiros, arquitetos e muitos outros profissionais que estavam engajados na transferência. O acervo iconográfico também registrava as mudanças, bem como as publicidades da revista. Desse modo, procuro ressaltar a importância desse periódico na influência do imaginário social e como seu conteúdo fortalecia os debates regionais naquele período. 91

Carros, “currais” e “vagalumes”: representações visuais do trânsito de Belém na década de 1960 - Anderson Rodrigo Tavares Silva (Secretaria de Educação do Estado do Pará - SEDUC)

Esta proposta tem como objetivo analisar algumas representações visuais do trânsito de Belém publicados pela grande imprensa paraense durante a década de 1960. Vistas enquanto fonte e objeto de pesquisa, de acordo com as contribuições teórico-metodológicas de Rodrigo Motta e De Luca, as fotoreportagens são recorrentes nos jornais de maior circulação do estado neste período (“O Liberal”; “Folha do Norte” e “A Província do Pará”) e possibilitam discutir aspectos do cotidiano de Belém no contexto da década de 1960. Muitas dessas imagens destacam alguns problemas que afligem a cidade durante o período como o significativo aumento do fluxo de veículos nas áreas centrais da cidade, as tentativas por parte do DET (Departamento Estadual de Trânsito) de melhorar o trânsito nessas áreas e os conflitos com grupos sociais decorrentes de suas ações. Diante disso, esse conjunto de fotografias foi visto como um tipo particular de narrativa visual, com um potencial tão relevante quanto os editoriais para o debate historiográfico em torno de questões relativas ao contexto pré-golpe de 1964 e ditadura militar no Pará.

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Discursos jurídicos y visuales en la construcción social de la infancia. Una articulación entre cultura visual, historia y sociología jurídica - Federico Eduardo Urtubey (FAHCE/UNLP), Verónica Capasso (Instituto de Investigaciones en Humanidades y Ciencias Sociales, Universidad Nacional de La Plata)

En el presente trabajo se aborda la construcción social de la infancia en Argentina a principios del siglo XX, desde la perspectiva de la cultura visual. En torno al año 1919, cuando se sanciona la Ley de Patronato en Argentina, se deja atrás la igualdad de juzgamiento para menores y adultos, y se configura un régimen especial destinado a la “infancia desviada” que cometiese hechos delictivos. Sin embargo, la nueva legislación estaba destinada a regir no sólo ante la comisión de delitos, sino también ante situaciones de “peligro moral y/o material”, cuestión que posibilitaba una intervención judicial de tipo asistencial hacia la infancia pobre o en situación de calle. En este punto, el presente trabajo se interroga por aquellos discursos que circulaban en torno a los últimos años del siglo XIX y primeras décadas del XX, que colaboraron en la construcción de un imaginario en torno a la “infancia desviada”. Para ello, se analizan una serie de dispositivos visuales, gráficos y literarios de esa época, que desplegaron un repertorio de imágenes destinado a tematizar las características de la infancia marginal. La hipótesis del presente trabajo es que además de los discursos científicos y jurídicos, es posible detectar un discurso eminentemente anclado en elementos visuales y literarios, que significó un soporte para las nuevas ideas en torno al control social de la infancia. 92 Se presenta una metodología de corte cualitativo, con énfasis en una perspectiva interdisciplinaria, articulando herramientas conceptuales provenientes del campo de la historia, del derecho y la cultura visual.

Do gesto à palavra - Mariarosaria Fabris (Universidade de São Paulo)

"Imputazione di omicidio per uno studente" ("Assassinato de um inocente", 1972) é um filme aparentemente estranho à trajetória de Mauro Bolognini, por se inserir no filão do "poliziottesco", que se afirmou na Itália na década de 1970, trazendo ao gênero policial uma forte carga política, de contestação do "establishment". Durante um violento choque entre policiais e estudantes que apoiam uma manifestação por moradias populares, cada um dos lados sofre uma baixa, mas a investigação só se dedica a descobrir quem matou o agente da lei. A acusação recai sobre o estudante errado, uma vez que o verdadeiro culpado é o filho do juiz encarregado do caso. Dessa forma, vários embates acontecem ao longo do filme: esquerda-direita, magistratura-polícia, sistema-contestação, pai-filho. O pano de fundo desses confrontos são os conturbados anos de chumbo na Itália, que os roteiristas Ugo Pirro e Ugo Liberatore esquadrinham, no calor da hora, com um olhar carregado de intenções políticas e sociológicas. Depois de uma carreira dedicada a servir o sistema, o juiz resolve interessar-se pelos ideais dos jovens e se dispõe a tentar entender o gesto do filho, embora saiba que ele é culpado, pois o diálogo lhe parece o melhor caminho para resolver a situação explosiva que o país está vivendo. Apesar de o filme terminar sobre uma possível abertura para dias melhores, os fatos históricos posteriores sufocarão essa tênue esperança, porque o ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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ápice da violência na Itália ainda estava por vir. Essa polêmica obra de Bolognini oferece vários dados para uma abordagem didática do período em tela.

Entre o disforme e o monstro: o corpo espetáculo - Juçara de Souza Nassau (FAV-UVG)

Se a maioria das doenças pode ser detectável, possui uma organicidade, visibilidade, enfim, constitui-se de dados a partir dos quais se pode desenvolver uma ação médica, compreendemos que não é mera casualidade que as deformidades do corpo enfermo apreendem a atenção do olhar médico e foram historicamente representadas. Desde o período renascentista esse corpo disforme, tido como imperfeito, começou a ser considerado monstruoso e foi amplamente ilustrado. Embora, muitas dessas ilustrações não tenham sido consideradas relevantes para o entendimento e estudo da anatomia humana, foram divulgadas em obras especializadas ou publicadas apenas a título de curiosidade, satisfazendo a mera exploração visual de uma aparência física, considerada diferente e, portanto, perturbadora. A partir dessas observações, propomos uma reflexão sobre a visibilidade das deformidades do corpo através das fotografias médicas produzidas pelo médico/fotógrafo Konstantin Christoff (1923-2011) na Santa Casa de Misericórdia de Montes Claros-MG, em meados do século XX. Assim, refletiremos a respeito das imagens das lesões das patologias dermatológicas, como foi o caso das epidemias como a varíola, das graves deformidades, dos hermafroditas, dos indivíduos afetados por gigantismo, entre outros que 93 historicamente receberam atenção visual e promoveram a Cultura Visual da Medicina.

Entre símbolos e tradições: o imaginário clássico e a invenção da justiça no Palácio do Supremo Tribunal Federal (1889-1930) - Douglas de Souza Liborio (UFRJ)

O presente artigo se propõe analisar a relação entre a decoração com símbolos romanos da Sala de Sessões do Palácio do Supremo Tribunal Federal (STF) e o ideal de construção de uma tradição nacional para a Justiça Federal, ancorada na Iustitia romana. Para tal, foi utilizado o conceito de invenção das tradições de Eric Hobsbawm, a fim de compreender o processo de afirmação das instituições republicanas brasileiras, nos moldes dos padrões europeus, e que se propunha estabelecer uma continuidade com a Antiguidade, para expressar suas práticas civilizatórias. O advento da República em 1889 e a nova Constituição promulgada em 1891 trouxeram significativos impactos sobre o Brasil, em especial sobre a cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal. O Rio do início do século XX emergiu com uma estrutura radicalmente alterada, inspirada na estética legada por Eugène Haussmann a Paris do XIX, e trazendo embutida em si um discurso civilizatório e racional. No bojo de tais mudanças, as instituições da República recém-instaurada também se enquadraram em tal contexto de afirmação. O STF teve sua instituição prevista na Constituição de 1891 (arts. 55 e 56). Em 3 de Abril de 1909, sua sede foi inaugurada no número 241 da nova Avenida Central integrando o conjunto arquitetônico da Cinelândia. O STF funcionou neste ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------endereço até a transferência do Distrito Federal para Brasília, em 1960. Após várias reformas e mudanças, passou a sediar, a partir de 2001, o Centro Cultural da Justiça Federal. A arquitetura do edifício, projetado pelo arquiteto espanhol Adolfo Morales de los Rios, foi concebida com grande influência dos padrões ecléticos em voga no período, trazendo um ideal de equilíbrio estético. A Sala de Sessões possui inúmeras referências à Iustitia romana, remetendo a um esforço da Justiça Brasileira, e, por conseguinte, da República, de afirmar uma tradição nacional de continuidade da autoridade e do fausto de grandes personalidades da Antiguidade Romana. A tradição da Antiguidade se associou ao referencial de modernidade e progresso representado pela Constituição dos Estados Unidos, que irá influenciar diretamente a Carta Magna brasileira e a organização jurídica de então. Tal preocupação refletiu o elo entre a tradição e a modernidade. A bibliografia selecionada forneceu as bases teórico-metodológicas para compreender as inspirações estéticas predominantes no Palácio. A utilização de elementos clássicos e ecléticos assume caráter político-cultural quando inserido num contexto de invenção de uma identidade nacional a partir da associação de elementos nacionais com a cultura clássica, recuperada em nível internacional. O Palácio do STF compreende um exemplo material e histórico dessa reinvenção, eternizado no coração do Rio de Janeiro.

Fotografia e gênero: Judith Munk e o Rio de Janeiro dos anos 1940- 1960 - Lorena Fernandes Antunes (UNESA), Paula Ribeiro (UNESA) 94 O presente projeto inscreve-se no campo de estudos da história da fotografia brasileira e objetiva elaborar um ensaio biográfico sobre a trajetória de Judith Munk, imigrante húngara, de origem judaica, que chegou ao Rio de Janeiro em 1949 e se tornou uma das primeiras mulheres do fotojornalismo carioca. Pretende- se, com esta pesquisa, investigar tanto a trajetória de Judith, cuja importância no contexto da história da fotografia brasileira ainda é pouco conhecida e, portanto, pouco valorizada, como também, relacionar sua trajetória com o lugar ocupado por mulheres no fotojornalismo no Rio de Janeiro. A importância de analisar a obra produzida por Judith Munk justifica-se pela eclética documentação da fotógrafa, que guarda muitas relações com a vida cultural, social e política do Rio de Janeiro dos anos 1940, 1950 e 1960

Garrincha, alegria do povo (1962): documento, filme verdade, invenção - Luís Ricardo Araujo da Costa (UFRJ)

Este trabalho pretende discutir os sentidos da produção do documentário "Garrincha, alegria do povo" (Joaquim Pedro de Andrade, 1962) no contexto da invenção de uma identidade nacional como proposta programática do cinema novo. Por invenção, compreendemos a feição de uma iconografia simbólica captada pela câmera e concatenada pela montagem, no curso de uma narrativa que traduzisse uma ideia de Brasil embebida pela estrutura de sentimento romântico- revolucionário, na acepção dada por Marcelo Ridenti. "Garrincha" inscreve-se no itinerário da renovação de um cinema que punha em movimento uma interpretação do Brasil a partir de referenciais de imagem e som em que se conjugavam retratos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de uma realidade social subdesenvolvida e de uma cultura popular que, a um só tempo, era vertida sob signos ambíguos de autenticidade e alienação. Em 1962, o filme inaugurava no Brasil a experiência do chamado cinema direto. Era a ideia da câmera como um captador de uma realidade fugidia, em ambiência de produção próxima à de uma reportagem. O "filme verdade" recuperava a experiência soviética de Dziga Vertov para filmar a vida em movimento. O carioca Joaquim Pedro de Andrade já filmara em documentário a intimidade doméstica de dois fazedores e intérpretes da cultura brasileira: "O poeta do castelo" e "O mestre de Apipucos", rodados em 1959 com Manuel Bandeira e Gilberto Freyre em tomadas fora do círculo formal da Academia. "Garrincha", em sentido talvez semelhante, é um exercício de criação icônica de um herói do povo, com quem divide o protagonismo no argumento da fita: o gênio travesso e pouco afeito às exigências da disciplina de atleta é tratado como um brasileiro simples, fagueiro, criativo. Garrincha é uma metonímia para o homem brasileiro; o futebol, um fenômeno de êxtase coletivo ainda pouco compreendido, mas tratado como espécie de força motriz do espírito popular, num movimento de afirmação de uma cultura brasileira que se arrogava autêntica, em contraposição ao retrato menos abonador que "Subterrâneos do Futebol" (Maurice Capovilla, 1965) faria ao filmar o futebol como índice de alienação.

Imagem, história e política: imprensa caricata, estética da subversão ou quer que eu desenhe? - Rogéria Moreira de Ipanema (UFRJ) 95 Pela proposição geral do tema Parcerias para o XVIII Encontro de História - Anpuh/Rio, queremos pensar as possibilidades do encontro pelas parcerias epistemológicas de campos e áreas do conhecimento que, subescritas pela imagem, dissolvem enquadramentos disciplinares, cortam durezas de cátedras, atravessam fronteiras desmanchando limites e, ao se articularem, convocam à reflexão conteúdos e programas mais inclusivos; temas, objetos, sujeitos, ideias. História, estética e poder são partes constitutivas da compreensão das formas de apresentação do pensamento social brasileiro. Integradas em nossa pesquisa, esta comunicação temporaliza uma inserção na primeira década da Primeira República, mediada pelas imagens da imprensa político-caricata do Brasil dos Oitocentos. Das pensabilidades sensíveis, sob a denominação de Jacques Rancière, podemos levantar a crítica histórica da imagem impressa deste jornalismo oitocentista, problematizada em três frentes que iremos desenvolver: como problema social da história, como problema visual da arte e como problema cultural da política. Como problema social da história, uma vez que, ao apresentarem as criações visuais das realidades de seu tempo, os artistas-jornalistas da imprensa transgressora, subvertendo a lógica das representações por uma estética satírica, reafirmavam o seu lugar e papel na mediação crítica social do país. Como problema visual da arte, pois as caricaturas são desenhos litografados e o campo do desenho é um campo da arte, assim como a litografia e a serialidade reprodutível das imagens estão para a interface gráfico-artística e à cultura visual. Como problema cultural da política, não como representações históricas, mas pela prática das folhas engajadas, fundamentalmente nos movimentos do poder, do governo, estado e seus atores,

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------quando forjaram uma avaliação discursivo-visual e exerceram culturalmente a história da política nas imagens da imprensa ilustrada brasileira.

Imagens e representações do socialismo soviético: a construção de uma História a partir da leitura de posters e fotografias da União Soviética em sala de aula - Fabrício Augusto Souza Gomes (CPDOC - FGV)

A compreensão do significado das imagens pelos alunos pode ser uma importante ferramenta de aprendizagem. Imagens são instrumentos poderosos, porque despertam e instigam a curiosidade e o interesse no receptor. O socialismo soviético - e suas complexidades - merecem especial atenção nesta comunicação, através da análise de posters e fotografias produzidas durante o esforço de guerra, como forma de afirmação do regime socialista em oposição aos países do Eixo. Essas imagens tinham o propósito de construir uma narrativa favorável ao regime comandado por Stálin. A comunicação também tem como objetivo analisar como essas imagens são (e podem ser) trabalhadas em sala de aula, com alunos do ensino fundamental e ensino médio.

Letramento em História para alunos surdos: construção do conhecimento histórico em Libras a partir da produção de sequências didáticas visuais - Camilla Oliveira Mattos (UFRRJ)

O presente artigo tem por objetivo analisar a construção de um material didático 96 (sequência didática visual) voltado para o ensino de tempo histórico para surdos. Este material é fruto de pesquisa empreendida no Mestrado Profissional em Ensino de História (PROFHISTORIA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Nesta produção operamos conceitualmente com quatro campos do conhecimento, em especial: tempo histórico, surdez, linguagem e letramento. Entendendo como fundamental o respeito à cultura surda, sobretudo no que diz respeito à sua língua, a Língua Brasileira de Sinais – Libras, todo o material histórico produzido foi construído em Libras, utilizando imagens e vídeos, materiais estes que, devido ao caráter visual, acreditamos serem os mais adequados para o ensino de História para crianças surdas. Tendo estas preocupações como ponto de partida, construímos uma sequência didática articulada em quatro eixos: ferramentas do tempo, medição temporal, distinção entre tempo histórico e tempo natural e, por fim, permanências e rupturas no tempo. Ressaltamos que neste material todo o conhecimento histórico foi construído em Libras, com o auxílio de uma intérprete, possibilitando o letramento destes alunos surdos.

Marcas e significações de uma Boa Vista do Recife : imagens em debate - Fabiana Bruce da Silva (UFRPE)

Esta comunicação tem por objetivo revisitar imagens da cidade do Recife, reconstituindo, verbal e visualmente, algumas marcas e significações que teriam legitimado e conferido historicidade à paisagem local. Ao eleger « plataformas de observação privilegiadas » de cultura visual, pretendemos fazer aparecer alguns esquemas narrativos, manifestos e latentes, perguntando, também, como estas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------visualidades foram colocadas em debate e escolhidas. Os recortes selecionados da paisagem - cartográfico, iconográfico, fotográfico -, informam um percurso visual e compõem o arquivo repertoriado.

O Estúdio Disney vai à guerra - Annateresa Fabris (USP)

Desde o ingresso dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, o Estúdio Disney engaja-se ativamente na produção de animações, tiras em quadrinhos, livros, bônus de guerra e outros artigos de propaganda. O Estúdio realiza filmes de encomenda para os governos dos Estados Unidos e do Canadá, além de produções mais livres, nas quais os personagens dos quadrinhos e das animações estão direta ou indiretamente envolvidos no esforço bélico. Dentre os filmes de encomenda, podem ser lembrados os realizados para o Departamento do Tesouro ("", 1942; "The spirit of ’43", 1943), para a Aeronáutica ("Victory through air power", 1943) e para o governo ("Der Fuerher’s face", 1942; "", 1943; ". The making of a nazi", 1943). Para o governo canadense, o Estúdio realiza animações como "The thrifty pig" (1941), "All together" (1941) e "Stop that tank!" (1942). Nas produções mais livres, os personagens participam de diversas maneiras do esforço bélico: 1 – encorajando o alistamento: uma série de curtas protagonizados pelo Pato Donald entre 1942 e 1944; o desenho de animação "Private " (1943); tiras diárias protagonizadas por Pateta, entre outros; 2 – convidando os cidadãos a adquirir bônus de guerra e a pagar os impostos: "Donald’s decision" (1942); 3 – despertando o empenho cívico 97 da população pela divulgação da necessidade de ações relativas ao engajamento em trabalhos que beneficiariam a produção agrícola e industrial (tiras diárias com Mickey, Pateta e Minnie), ao uso consciente de matéria-prima e de fontes de energia ("Out of the frying pan into the firing line", 1942; "Donald’s tire trouble", 1943), à vigilância constante contra o inimigo ("", 1943; "Chicken little", 1943), ao combate a espiões nazistas (tiras da série "Mickey Mouse and the nazi submarine", 1943), entre outras. Desse modo, Disney afasta de si a pecha de ser um simpatizante do nazi-fascismo, como alguns aspectos da produção do Estúdio e seu comportamento pessoal pareciam atestar. No primeiro caso, inscrevem-se a presença de um isqueiro com suástica na casa de Minnie na animação "The wayward canary" (1932), o disfarce caricatural do Lobo Mau como um mascate judeu numa cena de "" (1933) e as referências germânicas de filmes como "Branca de Neve e os sete anões" (1937) e a sequência “O aprendiz de feiticeiro” de "Fantasia" (1941). O segundo caso envolve uma visita a Benito Mussolini (1936), o encontro com Leni Riefenstahl em Hollywood (1938) e a participação de Disney em algumas reuniões do equivalente norte-americano do Partido Nazista.

O lugar da obra de Paulo Menten na gravura artística brasileira do século XX - Priscilla Perrud Silva (UFF)

Neste escrito buscamos apresentar e problematizar o mapeamento que executamos em meio à história e a historiografia da gravura artística brasileira no século XX, com a finalidade de localizar o gravador Paulo Menten (1927-2011) e sua obra. Tal ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------procedimento de pesquisa foi realizado com o intuito de se estabelecer não somente o estado da arte da gravura artística brasileira, mas também a demarcação do estatuto social e artístico do referido gravador ante sua época, assinalando desta maneira sua importância para o estudo das artes gráficas no país. Em comparação a outros artistas, Paulo Menten trilhou uma trajetória peculiar por ter sido bem sucedido logo no início da carreira artística que terminou no ostracismo. Possivelmente por causa de seu afastamento dos grandes circuitos de arte nos anos 1970 e sua fixação no interior do Paraná em meados dos anos 1970 e 1980, sua atuação como artista por fim se tornou uma lacuna considerável nas narrativas sobre a gravura artística brasileira, dada sua importância não somente por sua extensa produção artística por efeito de sua participação em diversas exposições desde o final dos anos 1950, mas também por seu testemunho dos acontecimentos do cenário artístico-cultural da época, seus contatos com nomes importantes do meio artístico brasileiro e seu desempenho na formação de inúmeros artistas, principalmente gravadores, não só em um grande centro cultural como a cidade de São Paulo, mas também nos circuitos menores do interior dos estados de São Paulo e do Paraná. Com isso, compreendemos que Paulo Menten alcançou um determinado posicionamento como artista no espaço artístico e cultural da gravura de arte no país e desta maneira foi reconhecido por seus pares, contudo, este artista ainda não foi devidamente localizado na história da gravura artística brasileira pela historiografia, e constatamos que mesmo a gravura em si desloca-se entre diferentes esferas de discussão, por vezes carecendo de identidade própria, tensionada como uma intersecção entre arte expressiva e técnica de impressão e 98 reprodução. Assim, se faz necessário ressaltar a importância deste mapeamento para a devida localização da obra de Paulo Menten em meio à história e a historiografia da gravura artística brasileira no século XX, a fim de “resgatar” este artista esquecido, mas que foi relevante para a produção da gravura no Brasil para além da produção dos estados de São Paulo e do Paraná, de maneira que possamos demarcar nossa contribuição para a historiografia da gravura.

O Parque Ibirapuera e a construção da imagem de um Brasil moderno - Laura de Souza Cury (PUC-SP)

Este trabalho analisará imagens fotográficas do Parque Ibirapuera, inaugurado em 1954 para os festejos do IV Centenário da cidade de São Paulo, entre as décadas de 1950 e 1970, década esta em que foi construída a última obra do complexo (a Assembleia Legislativa). Objetiva-se situar um conjunto diversificado de fotografias do Parque em seus contextos promocionais históricos e compreender os papéis que as representações de modernidade contidas nelas desempenharam no imaginário paulistano e brasileiro. A leitura das imagens conduz à importância de compreender o interesse de grupos dominantes na construção de determinado discurso no qual o Ibirapuera deveria representar uma nova imagem de São Paulo no contexto mais amplo do país. As obras arquitetônicas do Parque, assim como suas representações fotográficas, refletem projetos estéticos e políticos e revelam diferentes leituras sobre o modernismo, almejado como característica determinante para a nova identidade que se pretendia para o Brasil. A apresentação tratará da vontade das elites dirigentes de, no contexto das comemorações para o IV ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Centenário, projetar São Paulo enquanto modelo de desenvolvimento no Brasil por meio do Ibirapuera apesar de, inicialmente, o Parque ter sido construído em uma várzea que abrigava uma favela. Assim, portanto, também será possível observar como memórias foram apagadas em nome de um discurso e como novas memórias foram criadas, principalmente com o aparecimento de imagens – selecionadas - do Ibirapuera na mídia impressa. Em conclusão, a apresentação buscará compreender como as imagens fotográficas do Ibirapuera foram capazes de criar, utilizando terminologia foucaultiana, “construções heterotópicas”. A reflexão acerca desse termo será utilizada como filtro para a análise do espaço “natural” dentro do espaço urbano. Dessa maneira, será possível perceber como foram criadas determinadas imagens relacionadas com a memória seletiva de momentos pretéritos da história e como, simultaneamente, foram criadas novas imagens, que apontam para o futuro na constituição de uma nova identidade para a cidade e para o país. A análise apresentada combinará contextualizações e análises históricas e visuais (formais), assim como discussões sobre arquitetura e urbanismo, relacionadas ao Parque Ibirapuera. As imagens serão compreendidas como registros, mas também como interpretações, que ajudaram a construir e a divulgar uma imagem mental, geral e sintetizante, referente a uma nova identidade, moderna, para São Paulo e para o Brasil.

Os impactos da revolução de São Domingos ao abolicionismo britânico e à segunda escravidão através das gravuras de Marcus Rainsford (1789- 1815) - Amanda Bastos da Silva (UFF) 99

A pesquisa se propõe a compreender os efeitos da Revolução de São Domingos à segunda escravidão e ao abolicionismo britânico, sob a luz da historiografia e das obras e gravuras de Marcus Rainsford. Utiliza como base metodológica a História Comparada Integrada, lança mão da Cultura Visual e dos conceitos de Haitianismo, Primeira e Segunda Escravidão, Antiescravismo e Revolução. Ao final do século XVIII, São Domingos era uma das colônias mais visadas do Novo Mundo. Altamente lucrativa e explorada pela sua metrópole, a França. Em 1791, em meio à Revolução Francesa, os escravos da região iniciaram um intenso processo revolucionário, que se estendeu por mais de treze anos. Esses eventos não possuem precedência na história da humanidade - acentuaram as tensões iluminismo, inverteram os princípios dos Direitos do Homem e redefiniram o significado de liberdade. O nascimento do Haiti deixou medo, mas também um espaço econômico em aberto e se converteu em elemento do discurso abolicionista. Em outras palavras, o escravismo demonstrou a sua adaptabilidade e a segunda escravidão tomou forma, com a ascensão de Brasil, Cuba e sul dos Estados Unidos. Simultaneamente, a Grã-Bretanha consolidou a argumentação a respeito da imoralidade da escravidão e iniciou uma intensa campanha antiescravista, que perduraria até o final do século XIX. Marcus Rainsford foi um soldado britânico que visitou São Domingos em 1799. Em 1798, os britânicos foram expulsos da ilha e Rainsfrod precisou fingir ser um americano. Por algum tempo funcionou, mas acabou descoberto e salvo por Toussaint Louverture, um dos principais líderes do movimento revolucionário. Os trabalhos de Rainsford, A memoir of transactions that took place in St. Domingo, de 1802, e An historical account of the Black ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------empire of Hayti, de 1805, expressam a devastação de São Domingos e a ascensão de Cuba, refletem a iminência da lei britânica de fim do tráfico de escravos, de 1807, e trazem à tona as limitações do soldado ao retratar São Domingos de forma europeizada - os negros mostraram-se tão receptivos, humildes e inteligentes, que Rainsford se sentiu como em Londres. Apenas a segunda obra contém ilustrações. Trata-se de 09 gravuras elaboradas a partir dos rascunhos de Rainsford e relacionadas à estadia e à prisão do britânico e às cenas do conflito final entre França e São Domingos, ocorrida entre 1801 e 1804. As imagens se estabelecem como ilustrações ao texto escrito, mas Rainsford possuía o desejo de que funcionassem, também, de forma autônoma, com o auxílio máximo da legenda, a fim de que pudessem circular pelas sociedades europeias. O resultado é uma curiosa experiência de visualidade, com imagens intuitivas, que constituem uma situação histórica e apresentam múltiplas camadas e possibilidades de interpretação.

Os indesejáveis à modernidade: representações populares e humoristas no Brasil Republicano (1889-1930) - Leonardo de Freitas Onofre (CIEP 358 Alberto Pasqualini)

O presente trabalho tem como recorte temático a análise das representações de populares no trabalho ilustrado de Calixto Cordeiro, J.Carlos e Raul Pederneiras entre outros caricaturistas em diferentes semanários de humor das primeiras décadas do século XX, como a Fon-Fon!, O Malho, Revista da Semana, O 100 Tagarela, O Mercúrio, Kosmos e etc. Capital do país e palco principal dos conflitos políticos e sociais do início da República, a pesquisa busca na obra de tais ilustradores, o Rio de Janeiro dos antagonismos, dos libertos, dos criados, das festas populares, das gafieras, dos insalubres cortiços, do comércio ambulante, do pensionato, das remoções urbanas e das novas aglomerações domiciliares, cada vez mais distantes do centro da cidade, que ganham vida através de representações como Zé Povo, do sertanejo, dos capoeiras, malandros entre outros. Ainda no final do século XIX e início do XX, o período conhecido como a Belle Époque traz à tona o desejo da elite republicana: “civilizar” os modos “bárbaros” da população citadina subalterna, tocando em pontos fundamentais das sociabilidades populares, procurando disciplinar suas festas, sociabilidades e modos de vida. Nesse contexto, a modernidade almejada pelo projeto político em questão, constitui-se repleta de contradições e distanciamentos dos ideais parisienses, uma vez que o Brasil ainda trazia no tecido social as feridas da abolição recente, com uma ampla camada populacional alijada do acesso à cidadania. Após a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918), o modelo europeu de civilização passa a encontrar questionadores, possibilitando outros olhares internos para os elementos da vida social brasileira. Nesse momento, a questão racial e a identidade nacional são mescladas através de discussões que tocavam em pontos como a racialização das relações sociais, da mestiçagem e do incentivo à imigração européia. Através de seus traços, o trio trava diálogos com intelectuais e debates de seu momento, trazendo à tona, novas reflexões sobre nacionalidade brasileira, não isentas das contradições e preconceitos de sua época, todavia, contrastando com marcos ilustrativos anteriores, como o índio vigoroso de Ângelo Agostini (Revista Illustrada, de 1876------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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1898), que perde a vez para o povo das ruas: os capoeiras, o Zé-Povo, o português do pequeno comércio, as representações da mulata, do malandro entre outros populares.

Pintura mural modernista e a imprensa no Brasil - Luciana de Fátima Marinho Evangelista (UFF)

Igualmente muito antiga e muito valorizada, tendo em vista as pinturas rupestres e os afrescos renascentistas, a pintura em muros e paredes ganham novos contornos e ampla difusão no interior do movimento modernista brasileiro. Tanto que se tornou recorrente nos depararmos com os mais diversos estilos e concepções de pinturas murais proliferadas por metrôs, escolas, bibliotecas, residências, e muitos outros locais. Por outro lado, toda a diversidade dessa expressão artística também se reverberou na impressa, ora pelo registro da realização de algumas obras, como pela manifestação da opinião da comunidade em geral sobre as imagens artísticas, ora pela veiculação da crítica de arte travada por nomes como Mário Pedrosa, Quirino Campofiorito e Frederico Morais. Nesse sentido, esta comunicação aborda a atuação da mídia impressa no registro das intenções e negociações inerentes ao processo de elaboração e difusão do muralismo no Brasil, mas no seu protagonismo no engendramento de uma nova cultura visual.

Postais para ver - Clarissa Ramos Gomes (Universidade Federal Fluminense) 101 O trabalho aborda o colecionismo e discute a cartofilia durante a Era de Ouro dos postais no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro. Para isso é realizado um estudo de caso da prática de colecionar na Coleção Estella Bustamante, integrante do acervo do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ). Seus itens são em grande parte de fabricação francesa e alemã, nos quais fotografias apresentam modelos em poses encenadas, característica do período. São examinadas a coleção e a materialidade de seus itens conduzindo a uma análise iconográfica dos cartões-postais. A pesquisa ainda se debruça sobre os postais observando a representação da mulher em suas imagens conciliada a um discurso de feminilidade construído nas primeiras décadas do século XX.

Propaganda e representações escritas e visuais da Amazônia na Revista Brasil- Portugal (1899-1900) - Anna Carolina de Abreu Coelho (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará)

A pesquisa consiste na análise das representações discursivas e imagéticas visando à divulgação da Amazônia que foram utilizadas na revista Brasil-Portugal durante os anos de 1899 e 1900 (posteriormente os números publicados nos outros anos serão objeto de uma acurada leitura). O periódico Brasil-Portugal era uma revista ilustrada quinzenal que foi publicada entre os anos de 1899 a 1914, tinha por objetivo estreitar as relações entre os Brasil e Portugal ou nos dizeres dos redatores “tornar o Brasil conhecido em Portugal e Portugal conhecido no Brasil”; tratava de assuntos diversos era ilustrada e alguns de seus colaboradores eram figuras conhecidas da política e intelectualidade paraense como Paes de Carvalho e Barão ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de Marajó. Encontramos entre os anos de 1899 e 1900 vários artigos e referências à Amazônia relacionados a economia, as cidades de Belém e Manaus, biografias de homens ilustres e muitas propagandas de casas comerciais das duas capitais da Amazônia. Pretendo entender essa as representações amazônicas dentro de uma política relacionada ao processo de afirmação nacional e regional ligado intrinsecamente ao olhar estrangeiro.

Redenção de Cã: uma história de apropriação - Elaine Cristina Ventura Ferreira (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O objetivo da presente comunicação é traçarmos uma reflexão sobre o trabalho iconográfico “Redenção de Cã” de autoria do pintor espanhol Modesto Brocos y Gómez e saber como o autor leu o pensamento social que o circundava, do qual, se apropriou e, criou sua obra “Redenção de Cã”. Não se trata de um estudo biográfico, mas de uma reflexão sobre formas de apropriação para entender como o pensamento social de uma época foi reproduzido na obra aqui analisada. Entendemos que esta obra, está ligada a vários processos sociais, o pensamento de uma época, a construção da imagem do país e ao debate sobre a identidade nacional.

Santa Maria em perspectiva: possibilidades de extensão universitária (RS) - Roselâine Casanova Corrêa (UNIFRA) 102 Entende-se que a obrigatoriedade (pelo MEC) da curricularização da extensão nas IES fez com que as mesmas (re) pensassem seu tripé "ensino/pesquisa/extensão" e passassem a pensar de fato na extensão universitária como uma das formas de compartilhar e adquirir conhecimento, a partir das demandas da sociedade em que se insere. A maioria das Instituições Comunitárias de Ensino Superior foi criada a partir da década de 1940. A Faculdade Imaculada Conceição (FIC), criada em 1955, transformou-se em Centro Universitário Franciscano (1998) e, ainda em 2018, passará a Universidade Franciscana (UFN). Trata-se de uma universidade comunitária que, a partir do o Encontro Nacional de Dirigentes de Ação Comunitária em Campinas (1995), deu início com maior ênfase na discussão para a articulação da IES em torno da extensão. Destaca-se que essas discussões em torno da extensão tem sua origem na preocupação dispensada pelas IES Confessionais em relação às questões sociais, considerando-se os elevados índices de desigualdade social no país. Em se tratando do Centro Universitário Franciscano, tal IES confessional possui três conjuntos de prédios, chamados Conjunto I, II e III. Da comunidade acadêmica, somam 4.760 estudantes de graduação; 532 estudantes em cursos lacto sensu e 219 em cursos stricto sensu. O número atual de professores é de 410 e de técnicos-administrativos somam 240. Trata-se, portanto, de uma IES de médio porte em termos locais. Sobretudo a Área de Ciências da Saúde sempre se privilegiou a extensão pela missão inerente aos cursos atrelados a tal área. Na Área de Ciências Humanas esse caminho ocorreu mais recentemente, porém não com menor empenho. O Projeto de Extensão sobre o qual se apresenta neste breve artigo, possui como objetivos recuperar a história sociocultural do município, atualizando sua formação política em alusão aos 160 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------anos de emancipação, a ser comemorado em 2018; priorizar a valoração dos campos de memória; a problematização da temporalidade, expressa nas artes visuais, na literatura, na religiosidade, na arquitetura, na historiografia, no teatro, no vestuário, na culinária, na música, no mobiliário e nos espaços de sociabilidade; promover a interconexão entre os eixos de extensão acadêmica do Centro Universitário Franciscano, em especial, os de Educação, Cultura e comunicação e Cidadania, Identidades e Direitos. As ações ocorrerão em espaços formais e não formais de educação. As atividades contemplam shows, apresentação de teatral, seminários, desfiles de moda, brechós, todas elas voltadas para a história da cidade, em comemoração aos seus 160 anos de emancipação político-administrativa.

Trabalhadoras em fotografias 3x4: as mulheres e a carteira profissional no Rio Grande do Sul, 1933-1943 - Aristeu Elisandro Machado Lopes (UFPel)

No ano de 1933 foi instalada no Rio Grande do Sul a Inspetoria Regional do Trabalho, órgão ligado ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio que em seguida passaria a ser identificada como Delegacia Regional do Trabalho. A DRT/RS tinha por principal função recolher os dados dos trabalhadores para a confecção das carteiras profissionais, documento recém criado pelo governo provisório de Getulio Vargas. As informações recolhidas eram anotadas em uma ficha de qualificação profissional e informavam dados antropométricos, pessoais e profissionais dos trabalhadores. Uma fotografia no formato 3x4 com a imagem da cabeça do trabalhador tomada de frente também era fornecida. Parte das fichas de 103 qualificação preenchidas no estado no período entre os anos de 1933 e 1968 foi preservada e está salvaguardada no Núcleo de Documentação Histórica da Universidade Federal de Pelotas. O objetivo principal desta proposta de comunicação é apresentar o trabalho de pesquisa que está sendo realizado com uma parte deste material destacando um tema em particular: a presença da mão de obra feminina no mercado de trabalho do Rio Grande do Sul entre os anos de 1933 e 1943. Os mundos do trabalho sempre foram marcados pela presença masculina, mas as mulheres também estiveram presentes, mesmo que sua história fosse negligenciada ou suplantada em favorecimento de uma história dos homens. Dessa forma, averiguar a presença das trabalhadoras no acervo da DRT/RS é uma maneira de fortalecer a sua história e colocar as mulheres como parte ativa e integrante do mercado de trabalho. Até o momento, a pesquisa já localizou fichas de 9.911 mulheres, o que representa 21,74% do total de trabalhadores e os outros 78,26% correspondem aos 35.678 homens. As trabalhadoras exerciam profissões variadas como serventes, costureiras, domésticas, cozinheiras, professoras, camareiras, fiandeiras, atividades comerciais, entre outras, constituindo um multifacetado universo de ocupações. Com a análise desenvolvida a partir dos dados soma-se a fotografia 3x4 dessas mulheres. Os seus registros fotográficos constituem uma parte importante das suas histórias profissionais e o conjunto das fotografias é considerado como um documento que permite compreender aspectos do passado, ou seja, a presença feminina no mercado de trabalho e a busca por seus direitos, como, por exemplo, as solicitações da carteira profissional.

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Uma reflexão histórica da intensificação da reificação humana no capitalismo contemporâneo representada no filme Futuro da História, de Fiona Tanto - Cíntia Medina de Souza (USP)

A atual conjuntura histórica de crise estrutural do capitalismo é marcada pela extensão global da acumulação flexível do capital às diversas práticas sócioculturais do cotidiano. Nesse caso, assistimos a uma intensificação dos processos de reificação que alteram as relações sociais e os comportamentos individuais na experiência contemporânea. Estes processos, por sua vez, demandam cada vez mais por uma compreensão histórica de seus impactos, impelindo a reelaboração do próprio conhecimento social. Nesse sentido, as imagens cinematográficas, enquanto objeto cultural constituído por sujeitos atuando nas relações sociais, podem ser um importante instrumento analítico de compreensão histórica da realidade contemporânea. Sua linguagem artística, estruturada pela técnica de montagem, reconstrói eventos históricos em segmentos e combinações de um modo que não os vemos no mundo objetivo, retirando-lhes, assim, a sua imediaticidade. Diante disso, sob uma perspectiva histórico-dialética e com base na montagem de teor dialético de Eisenstein, propomos, a partir do filme Futuro da História (2016), de Fiona Tan, discutir o papel das imagens cinematográficas em suscitar conceitos que permitam investigar as medições e determinações históricas da experiência do sujeito contemporâneo.

“A lembrança de um acontecimento”: A fotografia na Exposição Colonial 104 Portuguesa de 1934 - Marcus Vinicius de Oliveira da Silva (UFF)

Em 1934, na cidade do Porto, ocorreu a Primeira Exposição Colonial Portuguesa, uma das primeiras celebrações públicas do recém-instaurado Estado Novo. O evento foi uma plataforma de propaganda da “nova política colonial” imposta pelo regime salazarista, a qual já tinha sido elaborada e exposta no Ato Colonial de 1930, como também foi uma grande vitrine das empresas que atuavam nas colônias que expuseram seus produtos e divulgaram informações das suas ações. Além disso, havia também o desejo de promover uma “lição do colonialismo” na população metropolitana parafraseando as palavras de Henrique Galvão, diretor técnico do certame. A exposição mobilizou as diversas partes do país com caravanas para visitar os stands e as pessoas expostas no Palácio de Cristal (local do evento), as quais consumiam notícias e informações sobre o acontecimento nos jornais e revistas que apresentavam cada aspecto do evento com ilustrações ou fotografias dos espaços coloniais recriados na localidade. As imagens fotográficas produzidas por fotógrafos comunicavam, informavam, educavam e monumentalizavam aquele episódio para uma população que tinha um regime interessado em reconfigurar a política colonial e angariar novos partidários para seus objetivos coloniais. Além de um concurso de fotografia com diferentes temáticas que participaram fotógrafos e amadores, as fotografias também tiveram um grande circuito social que perpassava as publicações em revistas e jornais, a produção de postais e a elaboração de souvenir que eram consumidos durante os meses de execução da Exposição Colonial Portuguesa. No entanto, a organização queria “eternizar” aquele acontecimento tão marcante para a “nova política ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------colonial” e promoveu a confecção de um álbum comemorativo com 101 fotografias produzidas pela Casa Alvão. Segundo Henrique Galvão aquela a publicação era a “que mais expressivamente manterá a lembrança de um acontecimento que interessou profundamente todo o País”. A edição comemorativa foi caracterizada por Galvão como a principal guardiã da memória do acontecimento que durante meses mobilizou os portugueses. A “eternização” de uma narrativa visual alinhada ao ideal mítico do novo regime era o desejo expresso na confecção da publicação oficial, mas haviam outras funções desempenhadas pela fotografia neste cenário. Portanto, pensar os usos e funções da fotografia, assim como as ideias que essas imagens fotográficas mobilizavam e criavam na sociedade portuguesa, são os objetivos da presente comunicação, reconhecendo que essas questões fazem partes de um conjunto inscrito no âmbito da produção da fotografia pública no mundo contemporâneo.

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106 ST 10. Da construção dos patrimônios ao acesso às cidades: direitos, negociações e conflitos

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A Fazenda Praia Grande: Entre estradas a identidade inquieta de um patrimônio fantasma em Mangaratiba - João Vitor Hugo Menezes do Nascimento (UFF)

Essa comunicação busca reunir elementos que resgatem a história da fazenda Praia Grande por meio da noção de patrimônio fantasma de Márcia Motta, ratificando a importância da memória na história, lançando um novo olhar sobre ela. Localizada na Vila de Mangaratiba no século XIX, a história da fazenda se assemelha com a trajetória da região diante do crescimento da cafeicultura do Vale do Paraíba, visto que a construção da Estrada Imperial em 1857 possibilitou a consolidação de uma aristocracia e um maior desenvolvimento da área. Durante esse período, a Vila pôde funcionar como apêndice do empreendimento cafeeiro, escoando a produção. Contudo com a construção da Estrada de ferro Dom Pedro II, a região perde boa parte de sua importância na logística do principal negócio do país. Juntamente com isso, a atividade escrava está em decadência no país desde meados do século, levando Mangaratiba a ter sua estrutura fundamental desmantelada. Nesse contexto, será analisada a trajetória da fazenda, enquanto área dominada por uma aristocracia, até o momento em que a região sucumbe, e o momento posterior de loteamento do local para servir como residências de veraneio, juntamente com a emergência da Estrada de Ferro Central do Brasil. De fato, torna-se importante abordar essa memória da história, visto que essa identidade corre o risco de se obliterar diante de uma identidade que não cessa de se manifestar ao mesmo tempo que é reprimida. Dessa forma, o conceito de patrimônio fantasma faz-se necessário 107 para averiguar os traços de amnésia social, patrimônio e história que se relacionam, entendendo a memória como uma questão humana envolta pelo inexorável elemento da mudança.

A História Pública e a educação patrimonial: saindo da academia e chegando aso cidadãos. A importância da “publicização” das pesquisas patrimoniais na formação da cidadania na cidade de Bauru. S.P. - Fabio Paride Pallotta (Universidade Sagrado Coração)

Bauru, no estado de São Paulo, foi fundada devido ao café, na passagem do século XIX para o século XX (1º de agosto de 1896), em terras indígenas invadidas por colonos e tomadas aos índigenas Caingangues. A cidade se desenvolveu devido a um importante entroncamento ferroviário que reunia as três principais ferrovias de São Paulo à época: Estrada de Ferro Sorocabana – 1905, Estrada de Ferro Noroeste do Brasil – 1905 e a Cia. de Estrada de Ferro Paulista – 1910. Apesar da sua importância, as ferrovias paulistas e brasileiras foram paulatinamente abandonadas devido a “preferência” dos políticos do Partido Republicano Paulista pelo automóvel, tendência esta aprofundada, a partir do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961). Transporte fundamental para a economia, a ferrovia deixou de ser um modal importante e se transformou em Arqueologia Industrial Ferroviária a partir da década de 1990, com as privatizações. Hoje, a cidade de Bauru, possui o maior acervo do interior do Brasil desta Arqueologia, que nos remete ao café, a política das oligarquias, aos indígenas Caingangues, aos ferroviários e sua cultura, a Era de Vargas, temas históricos de suma importância ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------para a formação da cidadania dos brasileiros e, em especial dos bauruenses. Como estes temas podem chegar às pessoas comuns? Através das descobertas históricas feitas pelas pesquisas de Patrimônio Cultural Material dentro das universidades. A partir delas foi elaborado um Roteiro de Visita Urbana onde há o diálogo entre o Estilo Eclético, ligado ao Café-com-Leite e o Art Deco, ligado à Revolução de 1930 e a Era de Vargas, com o pano de fundo da ferrovia. Estas descobertas são compartilhadas com os alunos e a população em geral pela “publicização” proposta pela História Pública.

Chafariz do Lagarto (RJ): Patrimônio Para Quem? - Daniel Levy de Alvarenga (Universidade Autonoma de Lisboa)

Este trabalho pretende abordar alguns aspectos da constituição patrimônio cultural utilizando-se do caso concreto do Chafariz do Lagarto, uma singela obra projetada pelo Mestre Valentim no século XVIII, situada entre a ruas Frei Caneca e Salvador de Sá, próximo ao Sambódromo, no Rio de Janeiro. Entendemos que através da exposição do caso do Chafariz do Lagarto é possível fornecer elementos que auxiliem na reflexão a respeito da interlocução entre aqueles que definem os bens que devem compor um patrimônio cultural de uma coletividade e aqueles que, em tese, seriam os destinatários desta atribuição de valor, considerando as diferentes percepções possíveis. Atualmente o Chafariz do Lagarto encontra-se em péssimo estado de conservação. Além disso, sua área foi ocupada por uma família que utiliza as suas estruturas como moradia fixa, inclusive com instalações elétricas, 108 telefônicas e hidráulicas. Tanto o estado de conservação do Chafariz quanto esta sua ocupação para moradia foram questionadas através de ações judiciais distintas ainda em curso perante a Justiça Federal do Rio de Janeiro. A primeira delas foi proposta pelo Ministério Público Federal em face da Superintendência do Patrimônio da União e do IPHAN para obriga-los a realizar obras de restauro no bem e a segunda ação foi proposta pela União/SPU contra a ocupante do Chafariz, para forçar a sua retirada do local. No primeiro item serão expostos, em linhas gerais, os critérios de escolha dos bens tombados pelo IPHAN no início de sua existência institucional para, então, inserir o Chafariz do Lagarto nestes critérios. Faremos algumas anotações biográficas sobre o Mestre Valentim bem como uma descrição mais detalhada a respeito da materialidade do Chafariz e sua trajetória desde o século XVIII até o presente momento. No item seguinte serão abordados os mencionados processos judiciais que envolvem o Chafariz, indicando quais foram as suas motivações e as estratégias argumentativas utilizadas tanto pelos autores quanto pelos réus. Pretende-se, com esta análise, obter algumas pistas a respeito das significações produzidas pelas diferentes leituras relacionadas ao patrimônio. Por fim, apresentaremos as noções de referencia cultural e de ressonância relacionando-as com o caso do Chafariz do Lagarto. As fontes utilizadas para a composição deste trabalho foram os Processos de Tombamento n.º 0101-T-38 e n.º 0154-T-38 disponibilizados na versão digital pelo Arquivo Central do IPHAN/RJ; os processos judiciais em curso na Justiça Federal no Rio de Janeiro, especificamente a Ação Civil Pública proposta pelo MPF e a Ação de Reintegração de Posse proposta pela União/SPU; além de diversas notícias

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------veiculadas pelos periódicos da cidade do Rio de Janeiro a respeito do Chafariz do Lagarto ao longo dos séculos XIX, XX e XXI.

Cidade, patrimônio imaterial e cultura esportiva popular: o caso do registro do futebol amador de Belo Horizonte - Raphael Rajão Ribeiro (CPDOC-FGV)

A presente comunicação objetiva apresentar o caso do registro do futebol amador em Belo Horizonte que se encontra em sua fase final de aprovação. Pretende-se apresentar o contexto de criação da iniciativa, seus pressupostos metodológicos e os resultados alcançados até momento pelo projeto desenvolvido pela Fundação Municipal de Cultura em parceria com a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer. Em um cenário de formulação de novos marcos legais para a utilização de terrenos pertencentes ao erário público, espaços historicamente ocupados por práticas esportivas de caráter popular enfrentam riscos de manutenção de suas atividades. A partir daí, é possível discutir as possibilidades e os limites de ações de salvaguarda, especialmente frente a outros movimentos recentes da gestão governamental, baseado em pressupostos de desoneração do poder público em relação às políticas sociais, e às dificuldades de articulação intersetorial.

Constituição Cidadã e Patrimônio Cultural: nenhum direito a menos e por mais direitos! - Maria Helena de Macedo Versiani (Museu da República)

Há trinta anos, a Constituição Federal de 1988 definiu avanços importantes no 109 campo dos direitos culturais. O Estado assumiu a responsabilidade de garantir o exercício dos direitos culturais a todos os cidadãos brasileiros, de garantir acesso generalizado às fontes de cultura e operar para a valorização e difusão da diversidade de manifestações culturais presentes na sociedade brasileira. Especificamente, o conceito de patrimônio cultural passou a ser reconhecido como domínio relacionado aos bens materiais e imateriais. Ou seja, a tese de que houve avanços culturais a partir do marco regulatório promulgado com a chamada Constituição Cidadã justifica-se, entre outros pontos, em função da ampliação democrática do conceito de patrimônio cultural e pelo seu reconhecimento como um campo que constitui o direito à memória. Por outro lado, é importante ter em consideração que tais avanços no texto constitucional não estão desconectados do tempo e do espaço, como aliás nada está. Ao final dos anos 1980, já se tinha muito aquecida no Brasil toda uma discussão em torno do patrimônio cultural e de suas práticas. Nesse debate ganha importância a ideia de que preservar acervos é uma ação que deve ser expressiva da multiplicidade étnica, regional e cultural das sociedades. E uma questão central que então se coloca é a de buscar compreender de que forma o patrimônio cultural impacta e pode enfrentar a desigualdade de direitos no mundo, e como pode fortalecer e afirmar uma cultura igualitária. O entendimento é que o esforço de dotar as instituições públicas que se dedicam à preservação de bens culturais com acervos mais expressivos da multiplicidade de experiências presentes no mundo social tem profunda relação com o esforço de universalizar os direitos de cidadania. Porque a universalização de direitos não diz respeito exclusivamente às questões de ordem econômica, mas também ao fato de que parcelas da população são marginalizadas, esquecidas e não há sequer interesse ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------em sua representação simbólica. Esse debate repercute no texto constitucional, e repercute também nas práticas institucionais, por exemplo, renovando as formas de atribuir valor de patrimônio aos bens culturais. O propósito desta comunicação é iluminar alguns aspectos desse debate, a partir da experiência concreta do Museu da República. Intenta-se apontar para inovações levadas a efeito nesse museu, a partir de fins dos anos 1980, no tocante às formas de justificar a formação e preservação do seu acervo, a partir do estreito diálogo com noções contemporâneas de museu e com a afirmação dos direitos culturais garantidos no texto constitucional.

Do reconhecimento da luta a ilegalidade do processo: tombamento da sede da Associação dos Empregados do Comércio de Juiz de Fora - Dalila Varela Singulane (Universidade Federal de Juiz de Fora)

Desde de sua instituição, o tombamento é uma instancia que gera tempestivos conflitos entre proprietários de imóveis considerados de interesse cultural e a administração pública. Isso se deve primordialmente ao desconhecimento que a maior parte da população tem em relação ao que é e como funciona a preservação legal de bens juntamente com a falta de políticas públicas que efetivamente desobscureçam essa instancia legal para a comunidade, frisando continuamente que o tombamento, antes que qualquer outra coisa, é uma forma de reconhecimento oficial e geral do quão importante é determinada coisa para a população. A Associação dos Empregados do Comércio de Juiz de Fora foi uma importante 110 instituição para a conquista de direitos de classe no fim do século XIX e primeira metade do XX, sendo esta uma das mais antigas da cidade e que influenciou diversas outras categorias a empreenderem lutas em favor de seus direitos. Sua sede foi construída em uma das ruas centrais da cidade em estilo eclético e contava com espaços de lazer e prestação de serviços para seus associados, sendo que, segundo documento anexado ao processo, sua fundação contaria com a presença do presidente Washington Luís e do governador de Minas Gerais Antônio Carlos, mostrando a estreita e interessante relação existente entre essa aglomeração proletária e o governo. O processo de tombamento do prédio foi aberto em 1997 e até hoje se encontra sem resolução. Entre muitas impugnações e memoriais, a análise dessa pesquisa concentrar-se-á sobretudo na sentença judicial que no ano de 1999 concedeu a Associação um Mandado de Segurança contra a Prefeitura Municipal e declarou nulos ou ilegais todos os imóveis tombados na cidade até aquele ano, em virtude, segundo o juiz, da inconstitucionalidade da Lei Municipal 7.282/88, que dispõe sobre o tombamento de bens a nível municipal. Este estudo de caso busca discutir como vem se dando processos de tombamento e seu desgaste, bem como o despreparo de magistrados, advogados, conselheiros e, de forma geral, profissionais que lidam com o patrimônio. Esta pesquisa é parte do trabalho de conclusão de curso orientado pelo Prof. Dr. Rodrigo Christofoletti.

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Hibridismo Cultural no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos – Congonhas – MG - Pamela Mota Bastos (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, é considerado referência da arte brasileira no período colonial. Trabalhou em Congonhas, Minas Gerais, de 1776 até 1779, encarregado de esculpir as imagens em madeira dos Passos da Paixão e, entre 1800 e 1805, empenhou-se com sua equipe na elaboração das doze estátuas em pedra sabão que compõem o adro dos profetas do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. O Santuário, assim como o adro dos doze profetas de Aleijadinho – referência máxima de seu trabalho – além de terem sido tombados pelo IPHAN, em 1939, também foi reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 1985. Tendo em vista a importância deste Santuário, dentro e fora do território nacional, essa pesquisa propõe analisar algumas inscrições feitas nas áreas em pedra sabão nos muros e nas estátuas do adro dos 12 Profetas de Aleijadinho, demonstrando a ligação entre o ato de registrar a pedra sabão e a prática dos ex-votos, relacionando-as às tradições locais, em especial ao Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos, que acontece, anualmente, no Santuário. As comemorações religiosas locais fazem parte de um conjunto de tradições mistas, parte oriunda de Portugal, que chegou até Congonhas através de exploradores portugueses, e parte constituída por tradições desenvolvidas ao longo do tempo, na própria região. Essas tradições que podem ser analisadas dentro do conceito antropofágico de Oswald de Andrade, o qual enaltece o caráter híbrido da cultura brasileira e ao conceito de hibridismo cultural de Homi K. Bhabha. 111

Narrativas da escravidão, patrimônio e memória pública - Iohana Brito de Freitas (PUC-Rio)

Nas décadas de 1980 e 1990, o circuito de fazendas do Vale do Paraíba fluminense buscou na experiência do tempo transcorrido (que atribui ao espaço valor documental) e na chancela do Estado, através dos órgãos responsáveis pelo patrimônio histórico, a legitimidade de suas narrativas e o combustível para sua divulgação enquanto corredor turístico comercial. A ideia de patrimônio aparece ligada ao território e à memória pública, transformando as fazendas em fontes de conhecimento e referências da história. Seus espaços são apropriados cenograficamente, requalificados para o circuito turístico de memória. A transformação das casas sede em museus-casas, o colecionismo de objetos que remetam ao imaginário dos séculos XVIII e XIX, a construção de senzalas cenográficas, a caracterização dos guias de turismo que integram o receptivo como barões e baronesas e de funcionários ou grupos artísticos que compõem a programação da fazenda como escravizados são recursos à construção de memórias que atuam na constituição de um universo simbólico onde o patrimônio histórico não é observado do passado e sim como categoria de ação do presente e sobre o presente. Proponho então pensar como as narrativas tecidas sobre os escravizados nas visitas às fazendas históricas do Vale do Café e as representações daí decorrentes contribuem para a construção e valoração de discursos em torno do passado histórico que perpassam a construção de saberes do público em geral. Em outras palavras, como a memória da escravidão está sendo moldada, exibida e ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------construída na arena destas fazendas? Qual a importância do diálogo entre o que é produzido na academia e a divulgação histórica promovida nestes espaços e como pensar uma ponte com a recepção social do trabalho acadêmico pelo grande público que problematize esta cultura histórica? O espaço público é a arena onde se enfrentam as memórias, onde se instituem formas de compartilhar a experiência, o dever da memória e o reescrever da história. É a vivência, as formas de apropriação do passado e a vontade de sua transmissão às gerações vindouras que dão o norte interpretativo do que se quer valorar. Os museus – e aqui incluo as fazendas históricas com seus museus casa – são peças importantes neste jogo, pois são validados socialmente como locais de memória, legitimam narrativas, possuem autoridade de fala, são fiadores do contrato da memória pública. E aí reside sua potencialidade: oferecer novas e múltiplas narrativas.

O Belo do Moderno Amplia o Horizonte: Análise do processo de patrimonialização do “Conjunto Moderno da Pampulha” – Belo Horizonte (MG), entre 1984 e 2016 - Walkiria Maria de Freitas Martins (Unirio)

Nesse artigo analisaremos narrativas relacionadas ao patrimônio moderno brasileiro e, mais especificamente, ao “Conjunto Moderno da Pampulha”, localizado em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. Em 2016 o conjunto projetado por Oscar Niemeyer na década de 1940 foi incluído à lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. Os intelectuais modernos que estiveram à frente das questões patrimoniais no Brasil, desde a primeira metade do século XX, 112 consideraram a arquitetura como elemento expressivo da identidade nacional e elegeram o colonial e o moderno como expressões de períodos importantes da trajetória do país. Em certa medida, percebe-se ainda hoje uma continuidade discursiva no âmbito das instituições patrimoniais, como é o caso do IPHAN. Tendo em vista tal contexto, propomos uma análise do processo histórico que culminou com a declaração do “Conjunto Moderno da Pampulha” como um patrimônio mundial. Tal contexto abarca a esfera nacional, em todas as instâncias nas quais o instrumento de tombamento foi utilizado para proteger o bem. Além do contexto nacional, abordaremos também o processo encaminhado à UNESCO, pelo governo brasileiro, para que o conjunto fosse reconhecido, como um patrimônio mundial. O primeiro tombamento do conjunto foi a nível estadual, promovido pelo IEPHA-MG, no ano de 1984. O reconhecimento pela UNESCO viria em 2016, sendo este, portando, o recorte cronológico sobre o qual incidirá a análise. Como fontes foram utilizados os processos de tombamentos ocorridos dentro do Brasil e o dossiê enviado à Unesco em 2014. Consideramos que tal análise contribui para compreensão das políticas patrimoniais brasileiras bem como de suas conseqüências.

O Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico: O Tombamento de Cáceres – MT - Elzira dos Santos Matos (UNEMAT)

O presente artigo é fruto da dissertação de mestrado em Direito que teve por objeto a análise da legislação do tombamento do Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico de Cáceres-MT e as ações empreendidas para sua preservação e ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------conservação pelo Ministério Público, após seu tombamento, além daquelas especificadas no Inquérito Civil efetuado pelo Ministério Público Estadual e Federal. Ainda que o tombamento tenha sido efetuado nas esferas municipal, estadual e federal, muito há de ser realizado, continuam as demolições e abandono dos imóveis pelos proprietários e pouca fiscalização do poder público municipal e estadual. Percebe-se que a esfera do tombamento municipal, estadual e federal não alterou a conservação do Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico de Cáceres-MT. Há muito a realizar. Acredita-se no tombamento como instrumento fundamental para a preservação da memória e cultura brasileira, cujas mudanças socioeconômicas são importantíssimas e devem ser compreendidas, mas a preservação é o objeto fundamental do tombamento.

O debate em torno da música popular e da "cultura popular" brasileira dos anos de 1960-1970 sob a luz do Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro - Letícia Freixo Pereira (UERJ/FFP)

Esta pesquisa se propõe a trabalhar com o envolvimento do Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro nos debates que ocorreram nos anos de 1960-1970 entre a intelectualidade sobre a música popular e a “cultura popular” brasileira. Irei analisar a complexidade deste debate em que os intelectuais do MIS estão envolvidos, mostrando que tais problematizações não se restringem aos muros do museu, ela abarca um contexto social mais amplo. Neste período havia uma luta em torno da classificação do que seria a “autêntica” música popular brasileira, e 113 sobre quem seriam os representantes da nossa “cultura popular”. Até mesmo entre os intelectuais do museu havia divergências de posicionamentos. Mas, o que é preciso ressaltar é que o diretor do museu Ricardo Cravo Albin, que esteve a frente da instituição de 1965 a 1971, se posicionava frente a este debate, e realizava esforços, projetos e estratégias para fazer valer seus interesses. Ricardo Cravo Albin era adepto da linha de pensamento que acreditava que a música popular “autentica” seria aquela realizada pelos velhos sambistas da Primeira República, sambistas estes que eram herdeiros de africanos, netos das tias baianas, o diretor levava em conta a origem destes sujeitos, e a forma espontânea que segundo ele produziam suas músicas. Cravo Albin, neste sentido, criou o Conselho de Música Popular Brasileira (MPB), este órgão demonstra a complexidade deste debate em torno da musica popular, já que não há unanimidade entre os seus membros. O diretor do museu também criou a série Depoimentos para Posteridade, onde este conselho escolhia que sujeitos deixariam suas memórias registradas em forma de entrevistas ao museu. A transcrição das entrevistas dos sambistas Donga, Pixinguinha e João da Baiana foram publicadas em um livro intitulado As Vozes Desassombradas do Museu de 1970, a escolha destes intérpretes não foi por acaso. O museu também produziu cursos e palestras sobre a música popular. Todo este material será utilizado neste trabalho como fonte, além das atas das reuniões do Conselho de Musica Popular Brasileira. Esta pesquisa irá se focar na gestão do Ricardo Cravo Albin, mas também não deixarei de abordar um cenário social mais amplo, como a relação destes debates com a Ditadura Militar e o contexto da Guerra Fria, já que este panorama nacional e internacional influenciaram estas discussões. Também não deixarei de abordar as características do museu enquanto ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------instituição, as artimanhas da memória utilizadas em seus projetos e a luta que está por traz de cada programa realizado no MIS. E, para melhor entender este museu pontuarei sobre o seu histórico brevemente, a sua relação com os projetos políticos do então governador do Estado da Guanabara Carlos Lacerda e com a cidade do Rio de Janeiro.

Paredes de memórias, ausência de sentidos - Giovanni Codeça da Silva (UFRJ)

As cidades históricas brasileiras, em sua grande maioria, congregam patrimônios materiais e imateriais. Algumas cidades como Diamantina, Ouro Preto, Tiradentes e Paraty possuem ações educativas e preventivas reconhecidas e premiadas, porém a maior visibilidade destas cidades esta na capacidade de seus patrimônios atraírem turistas, e assim incrementarem a economia local. Um outro olhar sobre estas cidades pode nos revelar que bens materiais e imateriais patrimoniados podem se apresentar como espaços de exclusão para as populações locais. Num processo de exclusão social e de sentimento de não pertencimento, a população passa a estranhar parte da cidade onde vive, como espaços de não ocupação e legitimação. Nosso trabalho buscou analisar a relação entre o patrimônio e os moradores da cidade de Paraty tendo como objeto a memória, os sentidos e a ocupação. Durante o período de 2017 e 2018 analisamos três variantes diferentes: o dia-a-dia; as festas religiosas e as festas laicas; sobre três grupos de atores sociais: estudantes, turistas, trabalhadores dos setores de: serviços e da construção civil. Esta perspectiva perpassa a noção de cidade educadora onde não só a escola, mas todo o território 114 passa a ser percebido e vivenciado como espaço de educação. Assim a cidade ganha um outro protagonismo, onde seus espaços históricos e sua população são atores do no processo educacional. Utilizamos métodos que coadunaram o método quantitativo, a partir de questionários fechados estruturados, o método qualitativo com questionários semiestruturados e entrevistas focais. A partir de duzentos questionários aplicados, sendo cinquenta questionários para cada categoria de atores sociais (quatro categorias), mapeamos a percepção sobre a cidade histórica edificada e os sentimentos que a mesma suscita. A partir dos dados coletados estabelecemos uma discussão sobre os currículos escolares, as práticas educativas nas escolas e os caminhos de uma cidade patrimônio em processo de (des)educação.

Peregrinações da folias de reis em João Pinheiro (MG): análise do significado simbólico desses dramas e metáforas - Maria Célia da Silva Gonçalves (Universidade Católica de Brasília)

Esse trabalho tem por objetivo analisar as peregrinações (giros) da Folias de Reis de João Pinheiro (MG) pelos caminhos da cidade e da zona rural do município. As Folias de Reis são autos natalinos de origem ibérica muito presentes na cultura popular brasileira, que se aportaram no Brasil quando do início de sua colonização e ao longo do tempo ganhou significados, características e contornos muito próprios e foi sendo (re) significada de acordo com as regiões, necessidades e recursos dos praticantes desse ritual. Esses autos natalinos são compostos por cantores e instrumentistas populares que peregrinam, normalmente entre os dias 24 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de dezembro e 6 de janeiro (dia de Reis), entoando músicas e fazendo orações ao Menino Deus. Ao mesmo tempo em que o grupo canta o nascimento de Jesus vai recolhendo as “esmolas”, (donativos) dos fiéis para a realização da festa dedicada a Santos Reis, são compostas normalmente por um grupo composto de 14 a 16 pessoas, no passado era exclusivamente masculino, porém na atualidade já é possível perceber a presença das mulheres no ritual das peregrinações. A metodologia utilizada nessa pesquisa se assenta na Etnografia orientada na perspectiva do antropólogo Victor Tuener (2008) junto aos grupos de Folia de Reis do referido município

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116 ST 11. Diálogos sobre a cidade a partir de Michel Foucault: saber, poder e sujeito

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A filosofia de Michel Foucault como uma caixa de ferramentas - Fernando Augusto Souza Pinho (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O pensamento do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) teve nas análises históricas um pilar fundamental. Isto pode ser facilmente observado ao acompanharmos o seu percurso intelectual, desde “História da loucura” (de 1961), o seu primeiro livro, até o seu último livro em vida, o “História da sexualidade: o cuidado de si” (de 1984), inclusive a mais recente publicação do quarto volume de História da sexualidade, cujo subtítulo é “Confissões da carne” (2018). A riqueza de temas e abordagens que caracterizou a trajetória filosófica foucaultiana influenciou outros campos de saber para além da filosofia, em debates e territorializações nem sempre tranquilos. No campo da história, Paul Veyne já defendeu que Michel Foucault havia revolucionado a história. No Brasil, trabalhos de historiadores, tais como a professora Margareth Rago e o professor Durval Muniz Júnior, entre outros, podem ser vistos como exemplos dessa influência. A comunicação aqui apresentada tem por objetivo fazer um apanhado geral da trajetória filosófica de Michel Foucault (situando suas fases e principais categorias e objetos) e a importância da história em suas investigações, para, por fim, apontar a atualidade de seu pensamento e as possibilidades de uso de sua abordagem para análises históricas e contemporâneas sobre a cidade e a vida urbana. Esta apresentação servirá, fundamentalmente, como elemento de introdução para as comunicações a serem apresentadas no Simpósio Temático “Diálogos sobre a cidade a partir de Michel Foucault: saber, poder e sujeito” e também como 117 elemento de promoção dos debates.

Diálogos Interculturais no Ensino de História e a Lei 11.645-08: entre saberes e poderes - Maria de Fátima Barbosa da Silva (UFRJ)

Com base na teoria da interculturalidade, intenciona-se refletir sobre a problemática cultural brasileira, especialmente no tocante as questões indígenas e africanas com o objetivo de contribuir para implementação da lei 11.645-08. A relevância desta lei para o campo do Ensino de História, diz respeito ao seu potencial mobilizador de saberes outros, capazes de romper com a lógica eurocêntrica. Neste sentido, a seleção de conteúdos materializada nos currículos, é reveladora das relações de poder, que na acepção foucaultina impactam as nossas subjetividades, nos constituindo como sujeitos, bem como, no modo como nos enxergamos e ao outro. Considerando-se estas relações, é possível negociar sentidos entre os saberes já prefixados, em busca de caminhos que possam enunciar os silenciamentos históricos e, simultaneamente, inverter as narrativas eurocêntricas para outras tramas plurais. Niterói (RJ), um cenário, como tantos outros, nos possibilita abordagens replicáveis a outros contextos, por meio de histórias entrecruzadas para entonação de vozes, outrora silenciadas. É importante considerar, que para Foucault, as relações de poder não emanam apenas de um centro, dissipam-se, ao longo do tecido social. Neste cenário, convivem por meio de suas marcas desarticuladas no tempo, os efeitos destas relações de poder. Como teoria que visa, intervir para empoderar, a interculturalidade, possui interfaces com o pensamento de Foucault: as relações de poder podem ser alteradas a partir de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------micro realidades. A proposta do "diálogo" não é apenas conciliatória. Trata-se de uma alternativa para empoderamento dos nossos estudantes, na medida em que busca ampliar a visão de mundo, no intercâmbio entre saberes. É ainda, um dever de memória em relação à(s) histórias desses grupos culturais, que ao longo do nosso percurso histórico, vem lutando por sua representatividade nos discursos, que compõem o nosso modo de ver o mundo. Narrativas plurais que operem com os saberes dominantes, no lugar de apenas substituir o currículo eurocêntrico a fim de evitar-se novos silenciamentos. Tendo a alteridade como horizonte, serão apresentadas propostas para enfrentamento da problemática cultural, evitando-se a compartimentalização entre as culturas com vistas a uma abordagem de modo contínuo e não apenas em momentos pontuais.

Discursos da cidade: modernidade e produção espacial na cidade de Garanhuns-PE (1937-1951) - José Eudes Alves Belo (UFF)

A partir de 1937 a cidade de Garanhuns - PE passa por reformas urbanísticas que tentam dotar a cidade de aspectos modernos numa época em que a mesma busca novas vocações. A partir da produção discursiva que são produzidas para a cidade, anseia-se apreender as práticas espaciais que emergem de diversas fontes cruzadas e fazem a cidade ser revelada além dos discursos oficiais que a produzem de forma moderna e progressista. A partir de conceitos de Foucault, discurso, disciplina, poder, estabelecendo diálogo com outros autores como Canclini e Certeau na perspectiva de melhor compreensão das variadas faces de transformações da Urbe 118 iniciadas durante o período do Estado Novo varguista.

O dispositivo de sexualidade na literatura: uma análise de discurso sobre o feminino nas obras de José de Alencar e sua perpetuação no contemporâneo. - Beatriz Izabelli Zumba Elihimas (Faculdade Damas da Instrução Cristã)

As categorizações de gênero e os padrões pré-estabelecidos às identidades do homem e da mulher são construídos a partir das interações socioculturais entre os sujeitos e as relações de poder. Assim, as expectativas de gênero são representações formadas também por uma construção histórica e que, por serem fruto do pensamento social, acabam se expressando em espaços como o literário. A partir disso, utilizando as obras “Lucíola” e “Cinco Minutos” de José de Alencar, pretende-se analisar como os perfis de mulheres forjados pelo autor, condizentes com um modelo de gênero do passado, ainda refletem na construção de modelos de subjetivação do feminino no contemporâneo. Os romances revelam-se como instrumento capaz de apresentar a construção histórica da expectativa de gênero, tendo em vista as descrições do autor sobre o feminino e os destinos de vida e morte das personagens. Tal demarcação reflete no contemporâneo, retroalimentando modelos de gênero, como observado na marca “bela, recatada e do lar” ou na culpabilização de gênero em casos de violência. Ademais, é fundamental analisar como essa naturalização de expectativas corrobora para a produção de corpos sujeitados, em um processo de subjetivação do feminino, tendo em vista que perfis de mulheres que fogem a um padrão submisso são colocados de forma menos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------valorativa. Em meio a esses discursos permeados por uma expectativa, há a formação e atuação do dispositivo de sexualidade que normaliza os sujeitos e mantém as relações de poder. Para tanto, será utilizada a literatura como ferramenta, através da análise dos discursos contidos nas obras supracitadas, em cotejo com observação crítica a luz da “História da Sexualidade” de Michel Foucault e possíveis relações com o pensamento de Judith Butler. Desse modo, com a observação paralela do campo literário e social, é possível vislumbrar o modus operandi do dispositivo de sexualidade, fazendo imperar com força similar as concepções do período pretérito em relação ao gênero.

O Homo Oeconomicus como habitante da cidade educativa: estratégias biopolíticas na formação vitalícia - Haroldo de Resende (UFU)

A espacialidade contemporânea é desenhada por um mapa diagramado por redes de intercomunicações de pontos que entrecruzam sua complexa trama. Esse espaço afeta diretamente o tempo, produzindo efeitos sobre os sujeitos que habitam tal espaço e circulam nesse tempo. É na superfície desse espaço que se inscreve a cidade educativa, em que o jogo político se concentra na noção da aprendizagem vitalícia e suas vinculações com a formação ao longo da vida, como uma maneira de estabelecer parâmetros normativos que conformam um modo de viver circunscrito por mecanismos de formação, no continuum educacional dessa “cidade da aprendizagem”. Desse modo, tendo os conceitos foucaultianos de biopolítica e de governamentalidade, busca-se discutir aspectos da constituição do 119 sujeito que deve habitar essa cidade educativa, que Popkewitz chama de cosmopolita inacabado ou ainda, tomando formulações de Foucault, o homo oeconomicus. Como fontes, são utilizados dois relatórios da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), nos quais é cunhada a expressão cidade educativa: o primeiro, de 1973, é intitulado Aprender a ser, e o segundo, de 1996, tem como título Educação, um tesouro a descobrir. Discute-se, então, pontos da teoria do capital humano como racionalidade do comportamento que norteia esse habitante da cidade educativa, encarnado no homem econômico, no cosmopolita inacabado, de modo que leva-se em conta a economia como análise da programação estratégica das atividades e dos comportamentos dos indivíduos dimensionados na massa populacional. Entende- se, por fim que, mesmo com a preconização da cidade educativa, como espaço e tempo em que a aprendizagem deve ser constante e por toda a vida, numa espécie de inflação educativa em todo o corpo social, ainda se atribui à escola a tarefa de desenvolver a capacitação dos sujeitos, tornando-a um ponto catalisador da formação de competências e capacidades, de maneira a exercer uma regulação da conduta dos sujeitos. O homo oeconomicus torna-se, assim, o correlato dessa governamentalidade, e se caracteriza como sujeito eminentemente governável, de modo que os efeitos da condução de suas condutas frente à invenção das demandas de capacitação acabam por consubstanciar um projeto de sociedade e de educação que, ao mesmo tempo em que recorta o espaço social, dispõe a população, regulando-a por critérios biopolíticos, através da educação escolar inserida num regime de racionalidade econômica que opera com a virtualidade da função e dos desdobramentos da formação vitalícia para que o aprendiz permanente, indivíduo ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------habitante da cidade educativa, se torne um empreendedor de si mesmo pela via da escolarização.

O Olhar e os dizeres: imagens decifrando códigos de um passado - Cecilia de Fátima B. Macedo (Colégio Estadual Luiz Viana Fº), Marysther Oliveira do Nascimento (Secretaria de Educação do Estado da Bahia)

Uma das características da modernidade (ou pós-modernidade) são os processos de re-significação dos espaços e sujeitos. No início do século XX, Durkheim afirmava que a educação é uma socialização da geração jovem. Através do processo educacional nos tornaríamos humanos. Com o passar do tempo a escola, suas estruturas e atores começaram a ser questionados em relação aos seus papéis. Que tipo de ser humano as escolas têm preparado? Na perspectiva de uma escola como espaço sociocultural que valoriza os diversos sujeitos que compreendem essa trama propusemos uma análise do espaço da cidade. O projeto buscou usar e ampliar o conhecimento fotográfico dos alunos e o direcionou para a temática da cidade. É nessa cidade que esses jovens inscrevem seu fazer. Na atividade de andar pela cidade, registrar suas ações cotidiana eles se reconhecem, ou não, nesse espaço. Como afirma De Certeau "Os passos tecem lugares, moldam espaços, esboçam discursos sobre a cidade." Partimos da abordagem histórico discursiva da cidade propondo os seguintes questionamentos: qual a representatividade da cidade para esses sujeitos? Quais mudanças são percebidas? Desta forma conduzimos estes sujeitos a questionarem o seu local, sua representatividade e seu papel. Esses 120 questionamentos levam a uma reflexão em relação ao conceito de memória. Em uma perspectiva Filosófica memória “...pode ser entendida como a capacidade de relacionar um evento atual com um evento passado do mesmo tipo, portanto com uma capacidade de evocar o passado através do presente”. A necessidade de se discutir o conceito de memória está relacionado a própria dificuldade em se construir identidades no atual contexto. Para Canclini, vivenciamos um momento de hibridismo cultural onde os sujeitos estão indissociáveis da urgência do presente, onde a cultura erudita, a cultura popular e a cultura de massa fazem suas interfaces. Desta forma, como se processa a construção de identidades destes jovens? Le Goff afirma que a memória é um elemento essencial na construção da identidade. Ao promovermos essa trajetória reflexiva em torno da cidade observamos nos questionamentos dos nossos alunos a construção de outros discursos. Utilizando o pensamento de Foucault que afirma ser o saber uma construção histórica produtora de verdades que legitimam uma determinada estrutura de poder o projeto se insere nesta perspectiva de se ampliar o conhecimento, a memória coletiva e demostrar a esse sujeito que verdades são construções e a cada dia podemos (ou não) construir a nossa.

O tempo da subjetivação: Etnografia comparada em Comunidades Terapêuticas - Matheus Caracho Nunes (Unicamp)

O presente artigo discute, a partir de etnografias, a questão do tempo e de sua gestão na subjetivação. A pesquisa empírica foi realizada em três Comunidades Terapêuticas (CTs): uma em Pernambuco e duas no estado de São Paulo. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Atualmente, as Comunidades Terapêuticas desempenham papel fundamental na gestão de usuários de crack e outras drogas no âmbito das políticas públicas vigentes. O objetivo central deste texto é compreender as relações entre tempo e subjetivação a partir das Comunidades Terapêuticas. Os objetivos específicos são: 1) analisar, através de perspectiva comparada, como o tempo vivido institucionalmente é ligado ao tempo do mundo exterior, atentando-me às circulações e porosidades institucionais; 2) refletir sobre as relações do pesquisador com os residentes, que, em alguns casos, já se conheciam antes da internação, criando um clima de cumplicidade nas narrativas das ilegalidades. O artigo é amparado por trabalho etnográfico, que compreende: a) Imersão de quinze dias em Comunidades Terapêuticas em tempo integral; b) Comparação do modo como o pesquisador era percebido nas diferentes CTs como pesquisador individual e como pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Este texto é resultado parcial de investigação mais ampla sobre os cotidianos de grupos fortemente marginalizados no Brasil.

Vigiando no bairro de Vila Kosmos (RJ): Circulação e Segurança no subúrbio carioca - Fabio Costa Peixoto (UERJ)

A temática da Segurança e aquelas relacionadas como a violência e o crime, por exemplo, se tornaram questões importantes na dinâmica das grandes metrópoles. Derivado desta centralidade, estimulou-se inúmeras preocupações acerca das formas de obtenção de segurança pelos moradores cariocas. Nesta direção, 121 selecionou-se o estudo de caso de o “fechamento” de 13 ruas no bairro de Vila Kosmos. Este “fechamento” foi colocado em destaque, por não consistir de a instalação de um “condomínio fechado”, mas sim em uma forma de controle de circulação de pessoas e de veículos, como forma de alcançar o objeto proposto. Neste processo, apresentou-se dois elementos importantes nesta dinâmica: a Vigilância e a Circulação. Baseado na relação entre a Segurança e os caminhos para a sua obtenção, neste caso, a adoção da Vigilância e do controle de Circulação, motivou-se a elaboração do título desta reflexão a partir do caso singular destas ruas em questão. A partir da utilização da técnica da Vigilância, por meio do controle da circulação e do objetivo da Segurança representam três questões caras a Foucault (2008), especialmente quando ele se dedicou a compreender a dinâmica da Segurança e da Biopolitica. Por meio desta abordagem, destaca-se a justificativa para inserção da reflexão no âmbito deste Simpósio. Complementarmente, a abordagem teórica será realizada a partir dos pontos anteriormente destacados por Foucault e com interfaces com representantes da sociologia pragmática francesa como Boltanski e Thevenot (1991) e Ogien e Queré (2005). A contribuição destes autores, curiosamente também franceses como Foucault, indicam para o foco no sujeito e na análise dos cenários sobre os quais eles são deparados. Para tanto, selecionou-se trabalhar com os conceitos de momento crítico e situação para compreender o processo de “fechamento”, por meio do exercício do controle de circulação de pessoas e de veículos. Logo, o resultado desta reflexão constituiu na preocupação em ofertar a Segurança por meio do controle da circulação e indiretamente, da população, ou melhor, a Vigilância sobre esta população.

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122 ST 12. Dimensões da Propriedade e o campo interdisciplinar de debates

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A contribuição de Marx para uma discussão atual sobre propriedade intelectual - Leandro Miranda Malavota (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

A consolidação de uma economia baseada no conhecimento é um fenômeno facilmente observável nas últimas décadas. O dinamismo de estruturas socioprodutivas tecnologicamente complexas e/ou criativas impõe aos seus agentes novos problemas e desafios, dentre os quais os concernentes às relações de trabalho. Autores como Don Tapscott, William Mitchel, Nicholas Negroponte, entre outros, interpretam a emergência das tecnologias de informação e comunicação (TICS) como base de uma verdadeira revolução social, marcada pela extrema expansão dos fluxos de informação e pela consagração do conhecimento como fator de produção. Nessa economia de novo tipo, o valor seria criado mais pelo cérebro do que por músculos, isto é, a capacitação e as habilidades específicas do trabalhador assumem protagonismo no ambiente produtivo. Em consequência, se no modelo da sociedade industrial os meios de produção estavam apartados do trabalhador, constituindo-se como propriedade do capitalista, nessa nova etapa do capitalismo (a chamada era da informação) a propriedade dos meios de produção migra para o trabalhador. Em tal viés interpretativo, essa nova realidade cria condições para a autonomização do trabalho frente ao capital. Ao contrário do ocorrido na revolução industrial, o trabalho agora se individualiza, as hierarquias funcionais tornam-se mais fluidas e as relações de trabalho tendem a ser mais complexas, livres e equilibradas. Neste estudo buscaremos analisar esse modelo 123 interpretativo à luz do conceitual marxista. Partindo das reflexões de Ellen Wood e Christopher May, buscaremos problematizar o suposto “empoderamento” do trabalhador em uma economia baseada no conhecimento. Nossa crítica passa pelo exame do papel exercido pelos objetos de propriedade intelectual como ferramentas para manutenção e exercício do controle sobre os bens de produção e sobre a mercadoria conhecimento, geralmente em favor da grande empresa capitalista. Defendemos o argumento de que o surgimento de novas ferramentas tecnológicas e a valorização do trabalho intelectual não produziram mudanças estruturais significativas, posto que o reforço dos direitos de propriedade intelectual assegura a separação entre o indivíduo e o resultado do seu trabalho intelectual, garantindo a captura, pelo empregador, do valor gerado pelo conhecimento aplicado à produção.

A farra do boi! A construção do Matadouro Industrial na Imperial Fazenda de Santa Cruz e os conluios entre a empreiteira e o governo imperial. 1874- 1881 - Edite Moraes da Costa (SEEDUC)

A grande empreitada para a construção do Matadouro Industrial na Imperial Fazenda de Santa Cruz foi marcada por escândalos e desperdícios de verbas dos cofres públicos, sendo considerada como a "farra do boi", apesar das denúncias e relatórios, do engenheiro fiscal e as publicadas no jornal Gazeta de Notícias. Os escândalos começaram a partir da chamada pública para os concorrentes a obra, pelo pouco tempo de prazo, menos de 30 dias, o que impediu de empresas de outras províncias, ou até mesmo de outros países, participassem. A empreiteira vencedora, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------além de preparar o terreno para a construção dos 24 prédios previstos no projeto, teria que expandir a Estrada de Ferro D. Pedro II até a Fazenda, encanar água para o abastecimento de Matadouro, construir sistema de escoamento dos detritos e a compra de todos os maquinários necessários para o funcionamento das atividades do Matadouro e os vagões apropriados para o transporte das carnes verdes ao mercado de São Diogo. Após 3 anos do início das obras, 3\4 da verba, destinada a todo o empreendimento, já haviam sido utilizadas, mas a obra ainda continuava no estagio de terraplanagem e preparo do terreno, operários em greve por falta de salários e alimentação, sendo necessário o aumento do efetivo de policiais para conter as manifestações de reivindicação de direitos pelos operários.

A proteção de ativos por Desenho Industrial no Brasil: o que é e como veio a ser - Eduardo Rodrigues Rio (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)

O objetivo deste trabalho é apresentar um breve levantamento histórico com relação a alguns dos diversos decretos e legislações promulgados sobre o tema da Propriedade Industrial, tanto no âmbito mundial quanto nacional, buscando identificar como, a partir de distintas formas de proteção, inicialmente por meio da concessão de privilégios e, posteriormente, de monopólios patentários, chegamos ao que possuímos hoje com respeito à proteção de ativos de propriedade industrial por Desenho Industrial no Brasil. De algo inexistente, quando a forma de um produto era dada de acordo com a função por ele desempenhada, passando por uma proteção ambígua, quando uma simples mudança na ornamentação de produtos 124 conhecidos (e, em muitos casos, similares) bastava para reivindicar sua proteção, até chegarmos a um ponto em que, mesmo ainda sendo considerada uma proteção menor quando comparada a suas irmãs mais velhas, as marcas e patentes, o Desenho Industrial surge como uma opção para proteger uma inovação incremental, ao tornar necessária, como parte da sobrevivência desses produtos em um mercado competitivo, a sua diferenciação por meio de uma mudança na forma, ou em seu design, ainda que tais produtos cumpram com uma mesma função primária. A partir da Lei 9.279/96, Desenho Industrial, para este fim, passou a ser denominado como a forma ornamental de um objeto, além da configuração de padrões de linhas e cores que possam ser aplicados a um objeto. Seu registro é concedido sem que seja realizado nenhum exame de mérito, desde que o pedido não se enquadre nas proibições legais ou não constitua um Desenho Industrial nos termos da Lei, e é válido por 10 anos a partir do depósito, prorrogáveis por até 3 períodos de 5 anos cada. Apesar de não ser mais considerado uma “patente”, muito de sua regulamentação remete aos artigos do título de patentes dentro da lei. E, como uma patente, comunga com o estipulado em acordos internacionais, como o tratamento nacional, o direito a prioridade e a validade territorial e temporal de seu registro. Embora não seja a situação ideal, é o que temos. Vários paradigmas quanto à forma de se enxergar a proteção por Desenho Industrial no país são necessárias. De qualquer modo, nenhuma mudança poderá ser radicalmente implementada sem uma alteração na legislação vigente. E, para isso, é necessário que o país veja a Propriedade Industrial não apenas como forma de se proteger ativos intangíveis, mas como verdadeira força inovadora, capaz de transformar e servir à sociedade.

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Análise dos impactos econômicos da participação brasileira nas exposições universais: indústria e propriedade - Laryssa Muniz do Amaral (UFRRJ)

O presente trabalho dedica-se à análise dos impactos sociais e econômicos da participação do Império do Brasil nas Exposições Internacionais do século XIX e suas consequências diretas no processo de proteção à propriedade industrial. A análise da participação brasileira nesses certames internacionais contribui para a compreensão da inserção do país nas relações de comércio de caráter internacional, das estratégias econômicas que motivaram a sua participação e suas implicações no processo de proteção às novidades construídas, a partir da regulamentação das patentes de invenção. Diversos debates discutiram acerca dos retornos positivos e negativos da participação brasileira nessas Exposições. No entanto, demonstra-se evidente que a participação brasileira nas relações econômicas se apresentava pela exportação agrícola. Tal fator, aliado às técnicas rudimentares aplicadas à agricultura e pecuária e à escravidão, se constituía como um entrave para um retorno positivo da exibição brasileira, como defendiam liberais da época e instituições do Império. Mesmo diante de vozes destoantes, o Brasil foi partícipe assíduo nas Exposições Universais, no que diz respeito à exibição de produtos nos países anfitriões que sediavam as exposições, mas também pela movimentação financeira que perpassou a realização de exposições prévias nacionais e provinciais. Algumas hipóteses preliminares têm norteado os rumos deste trabalho. Dessa forma, pudemos reconhecer que apesar do propósito primeiro das Exposições em difundir ao mundo novos ideais de modernidade e civilidade a partir 125 da exibição de produtos industriais, abriam-se espaços para as nações agrícolas demonstrarem ao mundo seus recursos internos. A partir dessa perspectiva, o Brasil se insere nas Exposições Universais de forma estratégica, com o fim de divulgar ao mundo a sua produção predominantemente agrícola, diante da latente necessidade do país pela inserção no comércio internacional. É importante ressaltar que a escolha do Brasil na exibição de sua dimensão agrícola foi resultado da decisão da classe dominante em um projeto agrário-exportador, que melhor se adequava aos seus interesses. Diante disso, pode-se depreender que apesar das Exposições impulsionarem ao Brasil um novo ideal de modernidade, que se refletia em novos questionamentos sobre a industrialização ou não, conservadorismo ou inovação, ecoados principalmente pelas vozes liberais, não se traduzia em políticas reais de fomento à industrialização. A partir disso, questiona-se qual seria o papel do Brasil como signatário da CUP e quais as consequências dessa escolha no plano econômico interno.

Artesãos fluminenses e Governo Imperial: a formação e a prática profissional em debate (1824-1860) - Daiane Estevam Azeredo (UFRRJ)

Este estudo tem por objetivo analisar o processo de formação profissional dos trabalhadores de ofício mecânico e a relação entre esses agentes e o governo imperial no Rio de Janeiro entre 1824 e 1860. Dessa maneira, questionamo-nos quais foram as estratégias utilizadas por esses trabalhadores para se organizar frente a extinção das corporações de ofício em 1824 e como teria sido a relação entre eles e o governo imperial sem o auxílio dessas entidades, ou mesmo sem a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------força de outrora, e como os trabalhadores passaram a ter acesso à formação profissional. Verificaremos essas questões mais precisamente do período que vai de 1824 até o ano de 1860. Escolhemos esse marco inicial, porque foi o ano em que as corporações de ofício foram legalmente extintas, além ter sido o momento a partir do qual teriam se perdido os vínculos obrigatórios entre a formação profissional, a produção manufatureira, o monopólio sobre produção, distribuição, preços e controle sobre os trabalhadores, e os elos religiosos com uma irmandade leiga. Propomos realizar as análises até o ano de 1860, porque a partir dessa ocasião foi oficializado ser de competência do Conselho de Estado a autorização para o funcionamento das associações de auxílio mútuo que surgiram em meados da década de 1830, fossem elas de trabalhadores ou não. De modo geral, a pesquisa está sendo realizada com base em vasta bibliografia referente ao tema e fontes manuscritas. Essas últimas são formadas basicamente pela documentação pertencente à Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação, ao Conselho de Estado (CE) e à Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda (SENF), além das edições do Almanak Laemmert, de processos judiciais de ofícios, de licenças comerciais, de estatutos, de petições de ofícios, de cartas, de relatórios, de alvarás e de provisões. Ressalta-se que a pesquisa está em fase inicial de desenvolvimento. Desse modo, serão apresentadas as reflexões desenvolvidas até o presente momento.

Autorias encarnadas: dança cênica, propriedade e dramaturgias em movimento - Beatriz Cerbino (UFF) 126

Esta comunicação tem por objetivo trazer para o debate as relações entre dança cênica, propriedade intelectual e bem comum. A partir da discussão sobre a noção de autor, e como a autoria é construída no corpo, realizar-se-á uma reflexão acerca da dança. Trata-se de estudar como se dá, no mundo contemporâneo, a aproximação entre estes campos de conhecimento. O acesso à cultura e às informações sobre a dança cênica são fundamentais para que coreógrafos e bailarinos possam criar, assim como o público possa usufruir de obras coreográficas. Logo, a dança precisa circular. Trata-se de garantir o acesso a um tipo de informação essencial para a produção artística no campo da artes cênicas: entender como se dá no corpo, em movimento, em seu sentido mais amplo, a produção de sentido. A relação entre autoria e dramaturgia no corpo surge aqui como um profícuo caminho para se estudar tais questões: como o corpo se apropria de um movimento, de uma ideia, de uma técnica? No sentido contrário, e igualmente importante: como a dança se instala no corpo? E para refletir sobre a dramaturgia do movimento, no corpo, é fundamental que acessar tais informações aconteça ao vivo, e não apenas por meio de vídeos ou notações, como a Labanotation ou Benesh notation. Atualmente, contudo, são muitos os fundos e fundações que cuidam de acervos de coreografias, em especial de criadores do século XX, tais como George Balanchine (1904-1983) e Martha Graham (1894- 1991), entre outros, o que tem restringindo essa circulação em nome da preservação das obras e dos direitos do autor. Vivemos hoje em um novo contexto de criação artística e intelectual, no qual barreiras impostas pelas normas de propriedade intelectual, em especial direitos autorais, estão em processo de transformação. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Outra importante questão surge quando falamos das diferentes propostas de dança contemporânea, já que não há uma só técnica para uniformizar e habilitar os corpos que as realizam, como no balé. As implicações dessa questão podem ser percebidas nos processos de remontagem/reconstrução/apropriação de coreografias com bailarinos que são atravessados por diferentes marcas e registros. A questão central é como articular estes distintos aspectos da criação artística – autoria e acesso à cultura e informação – e entender como a dança pode ser criada e usufruída neste contexto de proteção autoral.

Brazilian and US Frontiers of Progress: Powell’s Arid Lands and Taveres- Bastos’ O Vale do Amazonas - Carol Teresa Cribelli (The University of Alabama)

The natural resources and wilderness landscapes of the “two giants of the Western Hemisphere” —Brazil and the United States—played a crucial role in the construction of narratives of progress in the nineteenth and early twentieth centuries. Beyond machines and technology (railroads in particular) representations of progress included the cataloguing of natural resources and wilderness geographies. Indeed, renderings of frontier landscapes were essential to the then peripheral nations of Brazil and the U.S. in projecting modern national images on the international stage. This project seeks to understand how particular U.S. and Brazilian geographies came to represent progress and modernity over others. For example, U.S. expeditioner John Wesley Powell’s 1879 report on 127 settlement in the U.S. West and Aureliano Tavares Bastos’1866 treatise on the Amazon provide an entryway to understanding how these regions – one arid and one tropical – were understood by statesmen and settlers as landscapes of progress. Though vastly different, in the minds of contemporaries each held the key to the future development of the nation. At the same time, the U.S. West and the Amazon Basin posed formidable challenges to Euro-American expansion. In the former, the lack of water necessitated ambitious irrigation projects and transportation networks, while the latter depended on short-lived cycles of slash-and-burn cultivation that stymied the monetization of agricultural land. Nonetheless, both regions remain powerful symbols of progress in Brazil and the U.S. today, underscoring the place of nature in the creation of nationhood.

Ciência, técnica e progresso: a dimensão urbanística das exposições internacionais e as dimensões da propriedade no Rio de Janeiro na passagem dos séculos XIX e XX - Maria Letícia Corrêa (UERJ/FFP), Mônica de Souza Nunes Martins (UFRRJ)

A historiografia das exposições internacionais realizadas nos principais centros urbanos europeus e também nas Américas, a partir de meados do século XIX, tem enfocado as diferentes dimensões desses eventos, com importantes contribuições no campo da História Econômica e também na História Cultural. Seguindo sugestão de Nelson Sanjad (2017), apresentamos, nessa comunicação, uma investigação sobre aspectos tecnológicos, científicos e do planejamento urbano das grandes exposições como espaços de divulgação de invenções e inovações e do ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------processo de modernização, a que se associam as diferentes dimensões da propriedade, o que implica o exame de intervenções de homens públicos, sobretudo arquitetos e engenheiros, no planejamento e na construção e montagem de infraestrutura, tendo em vista a preparação desses grandes eventos. Nosso foco se dirige, primeiramente, às importantes obras de construção e reformas da cidade do Rio de Janeiro, a partir de finais do século XIX, e ao conjunto de intervenções materializadas na reforma do porto e da zona adjacente, voltadas, sobretudo, a garantir uma melhor e mais adequada integração desse centro às rotas de comércio internacional e de expansão do capital financeiro do período. Em seguida, apresentamos o exame da relação desse conjunto de reformas com a preparação de dois importantes eventos, a Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, em 1908, e a Exposição Internacional do Centenário da Independência, em 1922.

História e patrimônio na produção intelectual do engenheiro Ernesto da Cunha de Araújo Viana (1852-1920) - Lorhan Lascolla de Souza (UERJ)

Na passagem do século XIX para o XX, no Rio de Janeiro, grupos de intelectuais brasileiros salientavam a obsolescência da herança colonial e defendiam a necessidade de reformas para colocar o país na marcha da civilização ocidental. Na égide da república, especialmente, essa visão de mundo se tornou mais recorrente, pois surgia a necessidade de demonstrar que o novo regime inaugurava tempos novos. Na contramão de tais ideias, que pautaram o conjunto de obras públicas 128 empreendidas pelo governo republicano, destaca-se a produção intelectual do engenheiro Ernesto da Cunha de Araújo Viana (1852-1920), que se notabilizou pela defesa da existência de uma essência brasílica inscrita nos edifícios coloniais, lamentando a “monotonia” do ecletismo reinante na arquitetura de seu tempo. Contrapôs-se, assim, à visão imperante entre seus pares na profissão, que vilipendiavam a arquitetura colonial em favor dos estilos belle époque de matriz francesa. Sócio do Instituto Politécnico Brasileiro e membro fundador do Clube de Engenharia, Viana transitou entre diferentes instituições, imbricando-se em outras áreas de atuação, tendo professado na cadeira de História e Teoria da Arquitetura na então Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, que, após a reforma republicana de 1890, transformou-se em Escola Nacional de Belas Artes. O engenheiro colaborou ainda com o jornal A Notícia, entre 1901 e 1908, e contribuiu coma revista mensal Renascença, entre 1904 e 1907, dentre outras folhas diárias, onde tratou de assuntos vários, sendo sempre sua particular predileção as questões de arte colonial. Tais escritos foram condensados no curso ministrado no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1915. Dividido em cinco lições, o curso deu-lhe entrada no grêmio do Instituto, que o elegeu sócio efetivo no ano seguinte. Araújo Viana pode ser considerado, portanto, como um dos precursores na defesa do “patrimônio nacional”, que, de acordo com Márcia Chuva (2017, p. 49) adquiriu o estatuto de projetos legislativos a partir da década de 1920, fomentando, mais tarde, a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Diante disto, o presente trabalho tem por objetivo analisar a produção intelectual do engenheiro Ernesto da Cunha de Araújo Viana, contribuindo para o conhecimento do embate entre as propostas de modernização ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------republicanas, que visavam tanto a ordenação do espaço urbano como o progresso material do país, e suas objeções, que frisavam a necessidade de proteger e conservar o que era entendido como “patrimônio nacional”.

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130 ST 13. Dimensões do Regime Vargas e seus desdobramentos

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A "era Vargas" e a capoeira enquanto "simbolo de identidade nacional" - Roberto Augusto A. Pereira (UFRJ)

É consenso entre os historiadores da capoeira a importância do período que se convencionou chamar de "era vargas" para a constituição e desenvolvimento da capoeira contemporânea, particularmente no que se refere as suas vertentes mais conhecidas: a “angola” e a “regional”. Tal confluência se deve em parte a que este período é marcado, dentre outras coisas, pelo registro oficial da primeira academia de capoeira, pelo baiano Manoel dos Reis Machado, o mestre Bimba, assim como pela descriminalização da prática, não incluída no novo do código penal de 1940. Todavia, a despeito da inegável mudança de posicionamento do Estado em relação à capoeira, particularmente à capoeira com características desportivas que emergia – haja vista que a de rua continuava sob a vigilância policial – não se pode deduzir que houve por parte do governo Vargas uma política de apoio ou incentivo à prática, e menos ainda afirmar que a sua desmarginalização esteve associada a um projeto do Estado brasileiro de nacionalizá-la. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo questionar esta perspectiva que aponta a "era Vargas" como um período de consecução de políticas públicas orientadas a difundir a prática da capoeira ou de promovê-la ao status de “símbolo de identidade nacional”. Como metodologia utilizamo-nos da comparação histórica entre a política estatal do governo Vargas direcionada ao samba e à capoeira no mesmo período. A utilização do samba como parâmetro de comparação se deve, mutatis mutandis, às semelhanças históricas entre as duas manifestações, além de que, no período 131 discutido, o samba e a capoeira passam por grandes transformações.Como resultado, constatamos que na "era Vargas", em meio a um cenário marcadamente nacionalista, em que o Estado buscava inventar símbolos de identidade nacional, o samba, de fato, obteve claro apoio político e financeiro do Estado, desde o início dos anos 1930, sendo alçado a "símbolo de identidade nacional". Enquanto isso, a capoeira permaneceu na ilegalidade até a entrada em vigor do novo código penal (1942), sem receber qualquer atenção especial do estado varguista no sentido de incentivar sua prática em escolas ou outras instituições civis ou militares, como prática desportiva ou mesmo “luta nacional”. Sua perpetuação enquanto prática e “nacionalização”, por sua vez, ocorreram efetivamente devido a um longo e complexo processo que teve como protagonistas os próprios capoeiras.

A campanha eleitoral de 1950 no Estado do Rio de Janeiro: uma análise da (re)organização político-partidária fluminense - Rafael Navarro Costa (UERJ)

As eleições de 1950 no Estado do Rio de Janeiro foram determinantes para a reconfiguração do jogo político estadual. Em 1947 tomou posse como governador Edmundo Macedo Soares e Silva, eleito por uma ampla aliança entre os principais partidos (PSD, PTB e UDN), contando com o apoio do ex-Interventor Ernani do Amaral Peixoto e do Presidente Eurico Dutra, candidato indicado por Getúlio Vargas. Todavia, logo nos primeiros meses de governo, o governador eleito rompe com o ex-Interventor. A partir de então, iniciou-se uma disputa entre estes dois importantes personagens da política fluminense. Tanto Macedo Soares quanto Amaral Peixoto pertenciam aos quadros do PSD-RJ, e a opção do partido pela ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------candidatura de seu Presidente (Amaral Peixoto) ao Governo do Estado do Rio de Janeiro em 1950 acirrou a disputa em curso. Mesmo filiado ao PSD-RJ, Macedo Soares utilizava-se da imprensa, em particular do jornal "O Fluminense", para criticar seu adversário e promover a candidatura do udenista Prado Kelly, a quem apoiou, ao cargo de governador. A campanha eleitoral de 1950 estava além da disputa pelo cargo de chefe do executivo fluminense, pois tinha como pano de fundo o controle do maior partido político do estado e, por conseguinte, o controle da política estadual. Vale lembrar que a disputa ocorrida no Rio de Janeiro insere- se em um contexto nacional de reorganização partidária que ainda estava em curso. Por isso, e também pela proximidade entre Amaral Peixoto e Getúlio Vargas (que era candidato a presidência pelo PTB), as questões nacionais estiveram muito presentes na campanha eleitoral fluminense.

Campos dos Goytacazes nos anos 1930/1950: Reflexões sobre Modernidade Urbana e Poder Político por meio de Registros Fotográficos - Heloiza de Cacia Manhães Alves (UENF)

A expressão da modernidade urbana de Campos dos Goytacazes, nos anos 1930- 1950, pode ser percebida através dos registros fotográficos. Imagens de edifícios, praças, avenidas, novos espaços dentro de uma linguagem arquitetônica e urbanística que expressavam a modernidade no país, propiciadas por uma elite que buscava um modo de vida fundamentado no quadro da singularidade das práticas sociais demarcadoras do seu prestígio social e político na região norte fluminense. 132 Neste sentido, proponho uma discussão das mudanças no espaço urbano e seu particular significado durante a gestão do prefeito Salo Brand (1942/45), indicado pelo interventor Amaral Peixoto, que tinha por incumbência o de habilitar o município dentro de uma racionalização e eficiência administrativa atendendo as demandas do projeto político do governo varguista – Campos dos Goytacazes, metrópole regional em perfeita sintonia política com o governo estadual e federal além de representar a força política e econômica na região norte fluminense. Destarte, as representações da cidade moderna expressavam ações com fins propagandísticos do progresso do município, de modo a garantir o lugar das elites na política fluminense, contribuindo para a percepção dos atributos do poder.

Cartas de Pedro Ernesto: relatos de repressão e articulação política às vésperas do golpe de 1937 - Thiago Cavaliere Mourelle (UERJ)

O presente trabalho versa sobre o trabalho realizado atualmente no pós-doutorado sobre 92 cartas encontradas pela neta de Pedro Ernesto Baptista no sótão de sua casa. As cartas são escritas por Pedro Ernesto, prefeito do Rio de Janeiro de 1931 a 1936, da prisão para seu filho, Odilon, que estava fugindo da perseguição política do Governo Vargas aos comunistas e colaboradores dos eventos revolucionários de novembro de 1935. Encontramos a sofrimento de uma família e informações importantes sobre articulações envolvendo as eleições que se realizariam em 1938 e a eclosão de um possível golpe de Estado, que acabaria ocorrendo.

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Como se coloca a direita no poder - A narrativa de Paulo Schilling sobre o Golpe de 1964 - Laura Vianna Vasconcellos (Uerj)

Como se coloca a direita no poder é o livro mais famosos de Paulo Shilling. Na obra, os acontecimentos e a trama golpista são revelados do ponto de vista de quem participou ativamente dos acontecimentos políticos do golpe. Assessor de Leonel Brizola durante o governo no Rio Grande do Sul e editor-chefe de O panfleto, jornal brizolista que ganhou as ruas nos anos 1960, Paulo Schilling foi também o principal ideólogo do nacionalismo revolucionário - designação do brizolismo de primeiros tempos. A obra entrelaça uma acurada interpretação da conjuntura política (primeiro volume) a uma interpretação de Brasil que parte dos tempos coloniais até o contexto do golpe (segundo volume), revelando em primeiro plano o racha do trabalhismo brasileiro: de um lado a vertente radical, liderada por Brizola e Schilling, e de outro, o trabalhismo pragmático e conciliador de Jango e San Tiago Dantas. Escrito no contexto do exílio, nos anos de 1970, Como se coloca a direita no poder revela um intenso diálogo do militante com a intelectualidade latino- americana e o marxismo. Manuseando conceitos como subimperialismo, bonapartismo, populismo e subdesenvolvimento, Shilling é com frequência lembrado por seu testemunho político, mas surpreendentemente pouco valorizado por suas interpretações de Brasil. A obra de Schilling pode ser vista como a expressão primeira da base intelectual do brizolismo.

Entre a salvação e a perdição: Getúlio Vargas pelas páginas de O Estado de 133 S. Paulo (OESP) - Thiago Fidelis (Universidade Estadual Paulista - campus Assis)

A presente comunicação tem como objetivo problematizar como o jornal paulista O Estado de S. Paulo (OESP), publicação de maior tiragem da capital paulista na primeira metade do século XX, retratou a figura de Getúlio Vargas, abrangendo o período desde o processo eleitoral de 1929, quando o então presidente da província do Rio Grande do Sul candidatou-se pela Aliança Liberal, até 1940, ano em que o interventor de São Paulo, Ademar de Barros, ocupou o jornal e tirou-o do controle da família Mesquita e, em especial, de seu diretor, Júlio de Mesquita Filho, que era o principal nome por trás dos editoriais e da orientação política do jornal e que, de simpático à Vargas na campanha presidencial, passou a ser um de seus críticos e opositores mais ferozes, sendo um dos principais organizadores da Revolução Constitucionalista de 1932 e um dos principais opositores do Estado Novo, instituído em 1937. Dentro dessa perspectiva, passaremos pelos principais acontecimentos e as mudanças de enfoque do jornal, desde as primeiras movimentações que viam em Vargas uma espécie de salvador da pátria do país, até à perspectiva construída de Vargas como o principal fator de desagregação política e moral do Brasil.

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Getúlio Vargas na ótica do Jornal O Globo (1953-1954) - Mauro de Oliveira Tavares Junior (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O presente trabalho tem por intuito estabelecer a conexão entre a imprensa brasileira e os acontecimentos políticos transcorridos, no Brasil, no início da segunda metade do século XX. Busca-se compreender como os meios de comunicação ganharam uma capacidade, sobretudo, na década de 1950, de interferir efetivamente nas ações governamentais e no cenário político nacional. Há, no Estado, uma gestão que não se apresenta pautada apenas pela vontade das urnas ou de tradicionais lideranças políticas e que sofre, inclusive, com a ação dos interesses orientados pelas redações dos jornais, em que empresários do ramo de comunicação têm cada vez mais voz ativa e influência política nos rumos seguidos pela nação. Pretende-se entender como o jornal O Globo, um dos representantes da chamada “nova imprensa brasileira”, entre agosto de 1953 e agosto de 1954, desenvolveu os temas relacionados à crise política responsável por inviabilizar o governo Vargas, e quais os efeitos provocados pela atuação desse meio de comunicação na vida política do presidente – Vargas – e do próprio país. Não é demais lembrar que a narrativa que o jornal transcreve, em suas páginas, está longe de representar a expressão, real, dos acontecimentos, mas uma leitura particular sobre todas as situações vivenciadas pelo presidente Vargas e seus auxiliares.

O aeromodelismo como fator estratégico para o desenvolvimento aéreo durante o governo Vargas - André Barbosa Fraga (Secretaria de Estado de 134 Educação do Rio de Janeiro)

O primeiro governo Vargas (1930-1945) mostrou-se um período marcado por consideráveis mudanças e inovações provenientes de iniciativas públicas e privadas no campo da aviação. O grupo político que chegou ao poder por meio da Revolução de 1930, e se fortificou com a implantação do Estado Novo, identificou no fortalecimento do setor aéreo, principalmente a partir de 1940, algo fundamental à própria legitimação do regime. Diante disso, o caminho mais seguro encontrado pelo governo para empreender alterações profundas no setor foi o de investir na elaboração de um projeto de Estado voltado à construção do que foi chamado na época de uma mentalidade aeronáutica. Ela consistia na tentativa de se generalizar a compreensão e o interesse da população pelo desenvolvimento da navegação aérea, despertando em cada brasileiro o interesse de colaborar com a causa. Tal investimento tinha por intuito, inclusive, estimular nos jovens o interesse de seguir futuramente alguma das ocupações militares ligadas à aviação. Salgado Filho, o primeiro ocupante do cargo de ministro da Aeronáutica, a partir de janeiro de 1941, passou a empregar três estratégias para viabilizar a conscientização popular acerca de tudo o que dizia respeito à navegação aérea: o aumento do número de pilotos civis, o crescimento da quantidade de aviões disponíveis para treinamento dos atuais e futuros condutores e a elevação na proporção de jovens interessados nas profissões técnicas, como as de engenharia e mecânica para a aviação. O presente trabalho foca principalmente na terceira estratégia descrita. Dessa forma, procurar- se-á demonstrar como o Ministério da Aeronáutica logo percebeu que o melhor caminho para atingir seu objetivo de despertar nas novas gerações uma consciência ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------a respeito das ocupações técnicas do setor aéreo provinha principalmente do ato de se incentivar na juventude escolar brasileira o interesse pelo aeromodelismo: conjunto de atividades que envolvem a construção e o voo de modelos em escala reduzida, levando o construtor a adquirir noções de tempo, distância, desenho, cálculo, pintura, marcenaria, funilaria, métrica, aerodinâmica, manuseio de ferramentas e de combustíveis, funcionamento de motores e também de paciência e de disciplina. Ou seja, a construção de pequenos modelos de aviões exige conhecimentos técnicos, estimulando os praticantes a aprenderem sobre as leis básicas da aviação. Sendo assim, a pesquisa mostrará de que maneira Salgado Filho colocou em prática esse importante aspecto do projeto do governo que almejava criar uma mentalidade aeronáutica na população.

O Departamento Nacional da Criança em seu primeiro quinquênio de funcionamento, a assistência e educação à infância (1940-1945) - Cláudio Amaral Overné (UERJ)

O objetivo desta comunicação é compreender o funcionamento do Departamento Nacional da Criança (DNCr) em seu primeiro quinquênio, sem deixar de analisar a sua criação e os mecanismos de assistência e educação à infância por ele acionados. O período eleito para análise, 1940 a 1945, demarca a criação de instituições públicas que atuaram na produção e execução de políticas sociais, além das intensas discussões relacionadas à infância. Tais medidas eram parte das ações do Estado Novo (1937-1945) que intencionava a formação do cidadão civilizado 135 devidamente higienizado. Como metodologia efetuar-se-á o exame das fontes documentais, dos materiais impressos junto aos arquivos e documentos de instituições arquivísticas como CPDOC-FGV, Biblioteca Nacional e Arquivo Nacional. No exame da criação e do funcionamento do DNCr, bem como de suas ações serão utilizadas como fontes documentais as publicações do Periódico Boletim Trimensal do Departamento Nacional da Criança, o Decreto-Lei 2.024 de 1940, o documento institucional intitulado “Departamento Nacional da Criança: objetivos e realizações”. Assim, questiona-se: que razões levaram a criação do DNCr? Como o DNCr veio a acionar mecanismos de assistência e educação à infância em seus cinco primeiros anos de existência? Os resultados iniciais assinalam que o DNCr, emergiu como instituição privilegiada organizando, centralizando e orientando medidas de assistência e proteção dirigidas à infância. Em seu primeiro quinquênio de existência as ações promovidas estavam assentadas sob a bandeira das concepções das ciências, no desejo de promover a construção da infância higienicamente saudável concorde com os ideais nacionalistas e as concepções de país civilizado.

O Prefeito de Juiz de Fora durante a Segunda Guerra Mundial: intolerância e perseguição a estrangeiros e seus descendentes durante o Estado Novo. - Luiz Antonio Belletti Rodrigues (Universidade Federal de Juiz de Fora)

O objetivo deste artigo é analisar a perseguição sofrida pelo prefeito de Juiz de Fora, Minas Gerais, durante a Segunda Guerra Mundial e sob o regime do Estado Novo. Neste período os estrangeiros e seus descendentes residentes no país, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------oriundos dos países com o qual o país estava em guerra, Itália, Japão e Alemanha passaram a ser hostilizados e perseguidos. As perseguições aconteceram de diversas formas e em diversos locais. O estudo mais amplo, em que se insere este artigo, analisa como os mecanismos de repressão e perseguição a estes estrangeiros aconteciam, tanto explicitamente como de forma tácita. Este artigo apresenta parte deste estudo, a perseguição feita ao prefeito da cidade de Juiz de Fora, descendente de italianos e que não se posicionou publicamente a favor das manifestações públicas contra o afundamento dos navios na costa brasileira pelos alemães. O presente estudo foi feito através de análise de dois processos no Arquivo do Crime do Arquivo Histórico de Juiz de Fora em que o prefeito aparece como vítima, pesquisa em jornais da época e documentos do Arquivo da Polícia Política, existentes no Arquivo Público Mineiro. O período estudado abarca o período entre 1939 e 1943, os anos de guerra em que o prefeito esteve no cargo.

Paulo Duarte e a memória de oposição a Getúlio Vargas (1933- 1945) - Carolina Soares Sousa (Universidade Estadual de Campinas)

O presente trabalho tem como objetivo pensar sobre a atuação política de Paulo Alfeu Junqueira Duarte, membro do grupo político liderado por Armando de Salles Oliveira entre os anos de 1933 e 1945. Paulo Duarte se considerou protagonista do jogo político regional e nacional naquele período, com uma atuação intensa na vida política e cultural brasileira, sobretudo no cenário paulista. Rememorou sua vida pessoal e política, detalhadamente, ao longo de nove tomos de memórias, mais de 136 três mil páginas, publicados entre os anos de 1969-1974. A escrita dessas memórias teve como suporte um arquivo cuidadosamente montado por Duarte ao longo de sua carreira como político, advogado, jornalista, intelectual e, também, durante dois exílios enfrentados. Com efeito, na historiografia e na memória social, a experiência política de Getúlio Vargas entre 1930 e 1945 é representada como uma continuidade, um bloco coeso, que reduz ou silencia a importância da experiência de outros grupos políticos. Desnaturalizar a leitura de continuidade naquele período é imperativo para compreender a atuação política de Paulo Duarte. É em São Paulo, com o pensamento e ação de Duarte e de seu grupo político, que será desenvolvida com maior expressividade uma cultura política de oposição ao varguismo.

Revista Letras Brasileñas: o pensamento do Estado Novo na América Latina - Maria Margarida Cintra Nepomuceno (PROLAM-USP-CESA- Sociedade Científica de Estudos da Arte)

Dentre as muitas publicações editadas no período Vargas, oficiais e não oficiais, destacamos um periódico, em especial, editado em 1936 que circulou no Brasil, países europeus e América Latina. Boa parte dos artigos era escrito em espanhol e tinha como objetivos difundir as realizações e o pensamento do novo governo e firmar uma posição no cenário regional. Chamava-se Revista Letras Brasileñas. Cuadernos de Divulgación en idioma español de Literatura, Artes y Ciencias del Brasil e reuniu destacados intelectuais das artes, literatura, música bem como os principais ideólogos do governo Getúlio Vargas, tais como Francisco Campos e Oliveira Viana. Teve também como assíduos colaboradores Rubens do Amaral, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Cecília Meireles, Menotti del Picchia, Luiz da Câmara Cascudo, dentre dezenas de outros. Getúlio Vargas concebia a cultura como um braço ideológico de sua política de desenvolvimento econômico e social. Os intelectuais brasileiros foram determinantes para difundir a imagem de uma nação moderna e desenvolvimentista, vanguarda de grandes reformas sociais. Letras Brasileñas faz parte de uma estratégia de propaganda do governo que busca mostrar às sociedades dos países da América Latina que não havia incompatibilidade política alguma entre o desenvolvimentismo e o regime autoritário instalado a partir de 1937.

Turismo e imigração no Brasil durante o governo Vargas - Senia Regina Bastos (Universidade Anhembi Morumbi)

A obrigatoriedade do visto como uma das condições para o ingresso de turistas é estabelecida no governo Vargas (1930-1945), resulta do incremento da demanda de ingresso no país, decorrente da situação política e econômica que antecede a Segunda Guerra Mundial. A partir da perspectiva histórica, propõe-se a investigação da influência da política imigratória de caráter eugênico na regulamentação do turismo e no estabelecimento do perfil do turista desejado socialmente durante as décadas de 1930 e 1940.

Usos do passado na Coleção “Decenal da Revolução Brasileira” do Departamento de Imprensa e Propaganda - Ana Paula Leite Vieira (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) 137

Integrando a ampla gama de iniciativas em comemoração aos dez anos de governo do Presidente Getúlio Vargas em 1940, o Departamento de Imprensa e Propaganda publicou uma coleção destinada a realizar um balanço das realizações do regime desde 1930. A partir da mobilização do passado mais remoto e mais recente do país, procura-se construir um discurso de “revolução em marcha”, que apresenta o movimento político que levou Vargas ao poder como um momento de ruptura e início da construção de um novo e moderno Brasil.

“Jovens do Brasil sentido!” - A Juventude Brasileira e a Segunda Guerra Mundial (1942-1945) - Aline de Almeida Hoche (Secretaria Municipal de Educação de Queimados)

Em janeiro de 1942, o Brasil tornou oficial o seu apoio aos Estados Unidos da América e aos aliados na Segunda Guerra, neste mesmo período, navios brasileiros sofreram ataques de submarinos alemães. Esta situação levou o governo brasileiro a declarar guerra ao Eixo e a participar efetivamente do confronto mundial. Ainda em 1940, foi criado através do Decreto-Lei n. 2.072 um movimento de arregimentação juvenil denominado Juventude Brasileira, que tinha como objetivo cuidar da educação cívica, moral e física dos jovens de todo o país. Esta mocidade esteve presente em desfiles comemorativos e em eventos organizados pelo governo ou por estabelecimentos privados. A criação da Juventude Brasileira esteve pautada em alguns objetivos, como o interesse em organizar uma parcela da sociedade que apoiasse as medidas do governo, a exaltação da figura do Presidente da República ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------e de suas ações e o cuidado com a instrução dos jovens brasileiros para que permanecessem alinhados com os ideais do Estado Novo. Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, este movimento adquiriu novo fôlego com as atividades voltadas para os esforços de guerra e o governo reforçou o cuidado com a formação dos jovens através da criação de mais três Decretos-Leis relacionados à Juventude Brasileira. As ações da Juventude Brasileira, no período em que o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial, nos ajudam a compreender as intenções por trás da criação de um movimento de arregimentação juvenil. A busca de apoio popular, manifestações, espontâneas ou não, que se colocavam como favoráveis às ações de Getúlio Vargas e a exaltação do regime eram bem recebidas em um momento delicado como o que se viveu a partir de 1942.

“Não é a ditadura que está em jogo: é o país todo contra um estado rebelado”: o alistamento voluntário para a defesa do Governo Provisório durante a Guerra de 1932 - Raimundo Hélio Lopes (Instituto Federal Fluminense)

O presente trabalho se propõe a analisar o processo de alistamento voluntário para a defesa do Governo Provisório varguista (1930-1934) durante a Guerra de 1932. Amplamente conhecida na historiografia como Revolução Constitucionalista de 32, esse evento foi bem mais que um conflito meramente regional. Na verdade, o compreendo como uma guerra civil de proporções nacionais, que mobilizou e agitou todo o país, quer seja a favor da chamada “causa paulista” pela constitucionalização, quer seja em prol da defesa do governo instaurado pelo 138 movimento de outubro de 1930. Mesmo reconhecendo que os fronts de batalha mais bélicos tenham se concentrado no território de São Paulo e em suas fronteiras, o país inteiro esteve envolvido no conflito. Uma das principais formas de participação na luta foi através da formação de batalhões voluntários, formados por diversos sujeitos que se alistaram nas tropas que se destinavam a defender, de armas nas mãos, o Governo Provisório. Vale notar que os líderes paulistas do movimento que se rebelou contra o governo central utilizaram igualmente a estratégia de formação de batalhões voluntários, o que mostra que tal iniciativa deve ser pensada como algo bem maior do que um mero artifício bélico. Assim, defendo que a opção do Governo Provisório em autorizar e estimular a formação de batalhões de voluntários sofreu resistências dentro do próprio governo, tendo sido a determinação de próprio presidente Getúlio Vargas fundamental para a efetivação de tais tropas. Para analisar esse percurso, privilegiarei o diálogo e aproximações do Governo Provisório com Juarez Távora e a corrente política que liderava naquela conjuntura, os revolucionários nortistas.

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139 ST 14. Ditaduras, regimes autoritários e processos de transição no século XX: história e memória

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"Juventude Torcedora". As torcidas jovens cariocas e a sociabilidade juvenil nos anos de chumbo. - Nathália Fernandes Pessanha (UFF)

A proposta de apresentação é discorrer sobre o surgimento das torcidas jovens no Rio de Janeiro, entendendo-as como um espaço de sociabilidade da juventude carioca em um momento de repressão de direitos e liberdades, que se tornam ainda mais ferozes com a promulgação do AI 5 pela ditadura militar. As torcidas são entendidas também como um espaço de formação de identidade, individual e coletiva, a partir do contato com o outro e do processo de alteridade e de reconhecimento das diferenças. Por tanto, é objetivo desta apresentação, em primeiro lugar, estabelecer o contexto de surgimento dessas torcidas, realizando um breve panorama da sociedade brasileira à época. Sociedade essa que vivia sob um regime de exceção que solapava as liberdades individuais e de grupos, permitindo entender os espaços das torcidas jovens formadas naquela época como também produto de seu tempo e espaço de encontro das juventudes. Posteriormente, será necessária uma breve introdução teórica sobre juventude, para situar os ouvintes a respeito do grupo social sobre o qual está se referindo. E por fim, tratarei sobre o nascimento das organizadas jovens em si, sempre que possível mencionando as particularidades de cada torcida.

A História da Comissão Parlamentar de Inquérito da União Nacional dos Estudantes - CPI DA UNE (1964) - William Marcos Botelho (SME-SP) 140 Esta comunicação tem como objetivo apresentar as conclusões da dissertação de mestrado que descreveu e analisou a trajetória da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da União Nacional dos Estudantes (UNE) e seus desdobramentos para os projetos educacionais e para o movimento estudantil brasileiro. A CPI foi aberta pela Resolução No 25/1963 para investigar as aplicações de CR$ 1.726.000.000,00 (um bilhão, setecentos e vinte e seis milhões de cruzeiros, em 1962) e CR$ 2.146.450.000,00 (dois bilhões, cento e quarenta e seis milhões e quatrocentos e cinquenta mil cruzeiros) no ano de 1963, supostamente utilizadas para as atividades estudantis vinculadas à UNE. Analisa a CPI da UNE de 1964, a partir das observações de E. P. Thompson e do seu entendimento sobre a importância dos rituais jurídicos como desdobramentos das práticas sociais, entendendo-os como um diálogo constante e contínuo, que torna as normas e atos jurídicos, não como procedimentos isolados da sociedade, neutros, mas como ações feitas na dialética entre a política e os desejos sociais. As fontes principais foram os processos de sua instalação, relatórios, atas de depoimentos, provas e resoluções emitidas pela relatoria da Comissão Parlamentar de Inquérito da UNE gerados durante o processo, que foram encontrados no Centro de Documentação e Informação (CEDI) da Câmara Federal dos Deputados em Brasília – DF. A CPI da UNE de 1964 foi parte de um processo amplo de disputa política e de projetos de país que aconteceu dentro e fora do Congresso Nacional, durante a década de 1960. Foi organizada com o intuito de enfraquecer a entidade estudantil que, em 1962 e 1963, possuiu um papel importante na luta pelo projeto Nacional Desenvolvimentista em apoio às Reformas de Base, por meio de ações no cenário político como a luta pela participação estudantil nas instâncias de poder dentro das ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------instituições de ensino; pela reforma universitária e por reformas amplas para o país. De acordo com a documentação analisada, a UNE passou por um processo de restruturação para atender as necessidades de grupos ligados ao Diretório Estudantil da União Democrática Nacional (DE -UDN), os quais, desde o final da década de 1950, ensaiavam uma volta ao controle da maior entidade estudantil do Brasil. Não conseguindo resultados positivos nas eleições realizadas nos Congressos Nacionais Estudantis da UNE, utilizaram-se dos meios legais, a seu favor, como uma das estratégias para ocupação da direção da UNE e coordenar os movimentos estudantis universitários no país.

A maison du Brésil nos anos 1960: local de resistência estudantil, vigilância militar e disputa diplomática em terras francesas - Angelica Müller (Universidade Federal Fluminense)

Esta exposição terá por objetivo apresentar, um primeiro olhar, sobre a história da Casa do Brasil na cidade universitária de Paris na década de 1960. A Maison, uma criação dos arquitetos Lucio Costa e Le Corbisier, foi inaugurada em 1959 e, em seus primeiros anos, jogou um importante papel não apenas na recepção dos estudantes brasileiros que chegavam na Franca, como também se tornou um polo de difusão da cultura brasileira naquele país. A partir do golpe civil-militar de 1964, a Casa passou a ser alvo da vigilância militar devido aos inúmeros indivíduos considerados “subversivos” que faziam propagandas contrarias ao regime e que lá habitavam e que eram, em sua maioria, bolsistas do próprio governo. O regime de 141 administração da Maison, que respeitava as normativas que regiam a própria Cité Universitaire e os acordos estabelecidos entre o governo brasileiro e a instituição, revela a ação de três atores (não necessariamente uniformes) na mediação: a administração da Cité, os funcionários do Itamaraty e os militares. Da mesma maneira que os documentos das agências de vigilância revelam a tentativa de cerceamento do movimento estudantil nos anos 1960 e o crescimento do “medo” militar pela atividade destes “subversivos”, os documentos também apresentam a preocupação dos militares, a partir visão de mundo anticomunista e autoritária que marcam a caserna naquele momento, com os acontecimentos em Paris e atuação e influencia que podiam exercer sobre os brasileiros que la estudavam. O agitado ano de 1968 não passa imune a Casa que é ocupada entre maio e junho. A cogestão, um dos temas chave do movimento estudantil francês e de grupos de esquerda, passa a ser a grande bandeira dos moradores da Cité e essa questão leva a uma difícil relação entre os três atores mencionados e chegando ao abandono da Casa por parte dos militares no início dos anos 1970. Os eventos referentes a Casa do Brasil na Franca demonstram os limites e possibilidades de atuação das forças de repressão e resistência no exterior durante a ditadura brasileira e a preponderância do pensamento militar nas decisões diplomáticas. O presente trabalho é uma primeira aproximação com a documentação oriunda de uma pesquisa realizada em arquivos franceses e que resultará na construção de um projeto de pesquisa sobre a temática.

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A memória institucional e os impactos da repressão na UFRJ (1964- 1985) - Andrea Cristina de Barros Queiroz (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Este estudo tem como principal objetivo apresentar a importância do Projeto Memória, Documentação e Pesquisa da Divisão de Memória Institucional do Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e as suas pesquisas referentes à memória e à história institucional. Desde o ano de 2014, quando se completou 50 anos do golpe civil-militar no Brasil, as pesquisas desenvolvidas se destinaram à análise e à disseminação do acervo universitário referente a esse período da história nacional, em que houve vários expurgos de professores, discentes e servidores técnico-administrativos da UFRJ, a invasão do campus da Praia da Vermelha pelas forças armadas e a perseguição de vários estudantes universitários ligados direta ou indiretamente ao movimento estudantil, além de outros mecanismos institucionalizados de cerceamento, como a censura às obras bibliográficas e à pesquisa; a criação de Agências Especiais de Informação (as AESI) para vigiar a comunidade universitária; ao mesmo tempo em que percebemos que foi no período autoritário que as obras do campus da Cidade Universitária foram concluídas e que vários Programas de Pós-Graduação foram criados, por tudo isso, tornou-se necessário rememorar e analisar essa conjuntura na trajetória da UFRJ. Como destacou Rodrigo Patto (2014), o intento reformista, de feição autoritária e conservadora, influenciou as políticas do regime militar para as Universidades. Lembramos que um ponto culminante do governo autoritário e a 142 sua principal legislação de exceção para as Universidades foi a criação do decreto- lei nº 477, de 26 de fevereiro de 1969, também chamado de “AI-5 das universidades”, que punia professores, estudantes e servidores técnico- administrativos das universidades acusados de subversão ao regime e punidos com a expulsão e outras sanções. Este trabalho mantem um diálogo com a Comissão da Memória e Verdade da UFRJ (CMV-UFRJ), criada, em Julho de 2013, com o intuito de investigar os impactos do regime militar e das violações dos direitos humanos no interior da Universidade, e os debates em torno do chamado “dever de memória”.

A narrativa da Shoah: cultura judaica e literatura de testemunho - Sabrina Costa Braga (Universidade Federal de Goiás)

A partir da palavra Zakhor (lembrar), significativamente presente na bíblia hebraica, buscamos compreender a relação entre a memória e o compromisso existencial do judeu, que culturalmente é sempre conclamado a se lembrar de seu passado, rememorando suas catástrofes. Assim, para além da necessidade de narrar, geralmente presente em vítimas de eventos traumáticos, percebemos nos judeus sobreviventes da Shoah um sentimento de dever em narrar os acontecidos, um compromisso judeu com a memória que se mostra presente ainda no momento mais catastrófico de sua história. A literatura de testemunho vem sendo utilizada como componente essencial da análise do século XX, em especial dos horrores da Segunda Guerra Mundial e dos campos de concentração e extermínio nazistas. O testemunho de vítimas não é exclusividade do caso judaico, contudo, ao objetivar ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------perscrutar os nexos entre a cultura judaica e os testemunhos produzidos por sobreviventes judeus dos campos de concentração nazistas, partimos da premissa de que a memória constitui elemento basilar dessa cultura. Apresenta-se então o problema a ser respondido da relação entre a cultura judaica e a literatura de testemunho produzida pelos judeus após a experiência nos campos de concentração e extermínio e quais as implicações dessa relação para a escrita da história.

A trajetória de João Havelange na FIFA (1974-1998) - Livia Goncalves Magalhaes (Universidade Federal Fluminense)

Esta comunicação é parte de um projeto que propõe como objeto de reflexão o estudo da biografia e da trajetória de vida de João Havelange (1916-2016), empresário e dirigente esportivo brasileiro, ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) e ex membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). A trajetória de Havelange, como atleta, empresário e dirigente esportivo percorre quase todo o século XX, atravessando ditaduras e períodos democráticos, momentos de euforia desenvolvimentista e nacionalista e enfrentamentos de crises políticas e econômicas. Ao mesmo tempo, sua biografia entrelaça-se de maneira íntima aos processos de institucionalização das práticas esportivas no Brasil e no mundo, os quais em muitos momentos, levaram a marca do dirigente, mas principalmente, refletem muitas vezes questões caras aos projetos políticos em disputa em suas épocas. A proposta é, portanto, a partir do estudo de sua biografia, discutir questões 143 políticas, sociais e do mundo esportivo brasileiro e internacional ao longo deste centenário.

A “vida comum” sob regimes autoritários: os trabalhadores da Rede Ferroviária Federal e a Ditadura Civil-Militar no Brasil (1968-1974) - Isabella Villarinho Pereyra (Universidade Federal Fluminense)

A renovação de uma historiografia preocupada em analisar as relações entre sociedade e regimes autoritários no século XX trouxe aos pesquisadores novos caminhos para se pensar o político não mais separado do social, utilizando conceitos como a memória, cotidiano, cultura política, consenso e consentimento. Em meio a esta temática, podemos ainda observar o reduzido número de pesquisas realizadas sobre o movimento operário em contextos ditatoriais, como o caso da ditadura civil-militar no Brasil. Grande parte das pesquisas abordam a questão da resistência da classe operária ao regime. Sendo assim, aponto a necessidade de se tomar o cotidiano da classe trabalhadora – e as construções de memória do homem comum – sob regimes autoritários como uma forma de se compreender melhor não só as relações entre sociedade e ditadura civil-militar no Brasil, mas as consequências do projeto modernizador e autoritário impostos pela ditadura aos trabalhadores. Para este trabalho, “o homem comum” compreende o trabalhador não pertencente a grupos de resistência e combate à ditadura. Por mais que fizessem parte de algum sindicato, muitos desses operários não exerciam um papel de destaque e combativo dentro desses espaços, demonstrando muitas vezes indiferença ao processo político, preocupados apenas em trabalhar e garantir o ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sustento de sua família. Dito de outra forma, se trata de cidadãos preocupados com a retomada da normalização da vida cotidiana, que não se viam atingidos diretamente pela ditadura militar, mas apenas como homens comuns. Além disso, para um trabalho que se dispõe a analisar as relações entre mundos do trabalho e ditadura, torna-se central observar como a memória dos trabalhadores comuns da RFFSA lida com as questões relativas à alteração do cotidiano e dos diversos comportamentos sociais em torno dos benefícios materiais e simbólicos adquiridos por parcela da população com o milagre econômico. Dito de outra forma, cabe observar, particularmente, como o período de governo Médici – no qual se inserem as modificações impostas pelo Milagre Econômico e repressão estatal – é lembrado ou silenciado pela sociedade. É, portanto, tendo em vista estas articulações entre lembrança e esquecimento que deve ser compreendida a memória sobre a ditadura civil-militar brasileira.

Ação Integralista Brasileira: reconstrução histórica - Vinícius da Silva Ramos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão historiográfica acerca da Ação Integralista Brasileira. Através de obras clássicas e do que de mais recente é produzido na Academia, procuramos situar o leitor na trajetória desse grupo, mais especificamente dos anos anteriores à sua fundação, até seu fechamento em 1938. Nosso trabalho é parte da tese, que construímos sobre as relações entre a AIB e o Partido de Representação Popular com a imprensa fluminense. Consideramos 144 importante essa digressão para que haja um melhor entendimento das implicações práticas na qual a AIB estava inserida, seus aspectos doutrinários e organizacionais, além de um panorama de sua atuação. A Ação Integralista Brasileira foi um movimento de extrema-direita, de inspiração fascista, que atuou no Brasil de 1932 a 1937, quando teve sua nomenclatura oficial modificada para Associação Brasileira de Cultura, e extinta definitivamente em 1938. A história do movimento integralista se inicia no começo da década de 1930, mas a formação do pensamento radical e conservador têm suas raízes desenvolvidas ainda na década de 1920, com a formação de alguns grupos com a matriz ideológica semelhante à AIB, tais como a Legião Cearense do Trabalho, a Ação Patrionovista Brasileira e o Partido Nacional Sindicalista. Da efervescência política e cultural da década de 1920 sairão as sementes para a formação do representante da extrema-direita brasileira. Ao pensarmos na AIB, invariavelmente o nome de Plínio Salgado está ligado umbilicalmente a este grupo político. É impossível dissociar o partido do seu fundador, e isso se manteve mesmo após o período de exílio do líder, que retornou ao Brasil em 1945. Mesmo com a fundação do Partido de Representação Popular (agremiação que congregava as principais lideranças da AIB), após a democratização do pós-guerra, Plínio Salgado continuou a ser a mais importante referência do integralismo no Brasil. Dessa forma, antes de tratarmos dos eventos que antecederam a criação da AIB, necessitamos fazer uma retração no tempo para observamos rapidamente a atuação de seu fundador que viria a redundar na fundação da Sociedade de Estudos Políticos (SEP), embrião da AIB.

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As controvérsias públicas em torno da Comissão Nacional da Verdade: ditadura, história e memória pública - Karina Avelar de Almeida (UFJF)

O presente trabalho se baseia na pesquisa de mesmo título, da qual sou bolsista de iniciação científica, conduzida sob orientação do Prof. Dr. Fernando Perlatto no Laboratório de História Política e Social da Universidade Federal de Juiz de Fora. O século XX na América Latina foi marcado pela instauração de regimes militares de exceção, pela supressão de direitos políticos e pela sistematização de práticas de perseguição e aniquilamento. A despeito da singularidade com que essas experiências autoritárias se efetivaram em diversos países, é possível traçar paralelos entre elas, bem como entre os movimentos desencadeados após o seu término. De maneira geral, a abertura dos respectivos processos de redemocratização deu início a lutas pela memória, disputas históricas e políticas pela reelaboração desse passado. No Brasil, essa luta teve início tardiamente e culminou com a instituição da Comissão Nacional da Verdade (CVN), que trouxe à tona debates sobre a efetividade da democracia e a aplicação dos direitos humanos e inseriu o Brasil no rol de países que constituíram comissões dessa natureza a fim de enfrentar questões relacionadas à justiça de transição. A CNV produziu muitas controvérsias públicas, as quais polarizaram debates e discussões entre diferentes segmentos da sociedade brasileira. Assim, o presente trabalho busca identificar as principais temáticas de tais controvérsias, bem como compreender os principais argumentos mobilizados para a defesa e contraposição ao desenvolvimento das atividades da CNV. Ademais, procura-se analisar de que maneira esse debate 145 repercutiu na sociedade brasileira e em suas instituições, problematizando-se o esvaziamento gradativo de seu caráter público– ao contrário do que ocorreu com comissões de outros países, como Argentina e África do Sul – e o exíguo envolvimento das instituições da sociedade civil em seus trabalhos. Busca-se, portanto, estudar as dimensões públicas de um debate que foi paulatinamente perdendo espaço na esfera pública, a fim de possibilitar uma compreensão renovada da forma como segmentos importantes da sociedade compreendem e se relacionam com a memória pública de aspectos vinculados à ditadura e contribuir com a reflexão teórica sobre as relações entre passado e presente, tomando como base as disputas em torno da memória pública. Para tanto, foram analisadas matérias de jornais de circulação nacional sobre o assunto, partindo do entendimento de que, apesar da pretensa imparcialidade, os meios de comunicação detêm papel preponderante na determinação e enquadramento de debates em torno de questões públicas. Ademais, objetiva-se fazê-lo através de uma perspectiva comparada com os debates públicos relacionados à criação de comissões com perfis semelhantes que tiveram curso em outros países.

Bispo Progressista x Bispo Conservador: Caricaturas de membros da Igreja Católica em tempos de Ditadura - Grimaldo Carneiro Zachariadhes (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro)

Esta apresentação pretende discutir a relação dos membros da Igreja Católica com a Ditadura Militar, para além de uma visão dicotômica de "conservador" x "progressista", que prevaleceu nos estudos sobre os católicos durante o período ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------ditatorial. Priorizando os estudos sobre os prelados, tentaremos problematizar a visão dos "bispos resistentes" e "bispos apoiadores" da Ditadura que ficou cristalizada na memória das pessoas sobre este período autoritário do Brasil. A relação dos prelados com a Ditadura não pode ser vista por um viés simplista de apoio ou adesão. Devemos ter em conta que, entre os extremos de prelados opositores e apoiadores incondicionais da Ditadura Militar, centenas de bispos, sem procurar entrar em choque definitivo com o Governo, comandaram suas dioceses tendo que dialogar, divergir, resistir e criar estratégias de atuação em um período em que as garantias democráticas estavam suspensas.

Black Rio Contra o Sistema - Considerações Sobre Autenticidade e Combate à Ditadura Civil-Militar (1973-1977) - Carlos Eduardo de Freitas Lima (UFF)

Este trabalho investiga o surgimento dos bailes de música negra americana nos subúrbios do Rio de Janeiro, no fim dos anos 1960, procurando identificar suas características, sua transformação ao longo das décadas de 1970 e 1980 para avaliar como eles assumiram traços de celebração do orgulho negro em plena ditadura civil-militar. A ideia é identificar os momentos de tensão surgidos a partir do crescimento do cenário dos bailes, quando organizá-los e frequentá-los significou assumir um posicionamento diferente sobre o ser negro no Rio (e no país) até então. Utilizaremos embasamento teórico de autores como Paul Gilroy, Stuart Hall, Paulina Alberto, Hermano Vianna e Carlos Fico, entre outros, procurando respaldar as provas dessa circunstância, bem como que tensões surgiram em relação ao 146 conceito de “democracia racial”, então dominante. Ao longo do trabalho, buscarei expor evidências que confirmarão o surgimento de vários indícios de uma cultura diferente da existente até então, formada por influência e contato com elementos estrangeiros (americanos) referentes a gêneros musicais novos – Soul, Funk – e uma série de signos – roupas, gírias, penteados – que destacarão os frequentadores e organizadores dos eventos do resto da população carioca de então, assumindo ares identitários. O trabalho também mostrará como a participação nestes eventos significou um ato de resistência ao racismo e à ditadura, mostrando que a repressão aos frequentadores dos bailes e para os que os promoviam estava associada à uma política mais ampla de vigilância social, que se amparava na ideologia da segurança nacional, cujo objetivo principal era identificar e eliminar os “inimigos internos” do Estado brasileiro. Fazer parte deste universo passava a ser um motivo palpável e legítimo para que as forças de repressão investigassem da forma que achasse mais conveniente e eficaz o funcionamento dos eventos. Em tempos de ditadura civil- militar, isso significava desde a repressão ostensiva à infiltração de informantes e observadores nos bailes. Por fim, utilizando evidências e documentos obtidos pela Comissão da Verdade/RJ, este trabalho visa provar que os bailes do Movimento Black Rio foram atos de resistência à ditadura civil-militar no Brasil.

Cadernos do Terceiro Mundo e os desafios de uma mídia alternativa - Alessandro Léccas Marçal Neves (UERJ)

A Revista Cadernos do Terceiro Mundo notabilizou-se pela produção de uma série de entrevistas com personalidades políticas e culturais da África, América Latina e ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Oriente Médio, que foram publicadas nos anos 1980 e 1985. Entrevistas com atores significativos dentro das regiões de abrangência da Cadernos, dialogam com a história contemporânea e com a atuação dos integrantes do eixo SUL-SUL, que praticamente não apareciam na mídia convencional lograda unicamente pelas demandas do eixo Norte. Portanto, através da análise das entrevistas e dos respectivos personagens, o trabalho intenciona refletir sobre como a Revista impôs- se numa conjuntura marcada pela bipolaridade neste recorte temporal específico.

Classes populares, cultura política e Constituinte (1984-1988) - Charleston José de Sousa Assis (Universidade Federal Fluminense)

A presente comunicação tem por objetivo investigar a cultura política dos brasileiros nos anos da transição para a democracia a partir das sugestões da população à Assembleia Nacional Constituinte, encaminhadas por carta ao Congresso Nacional. As cartas analisadas no presente artigo integram um conjunto documental composto por 72.719 missivas encaminhadas entre os anos 1986 e 1987, nas quais ficaram registradas as queixas, as reivindicações, as sugestões, os elogios, as decepções e os sonhos dos brasileiros que, em maior ou menor grau, acreditavam estar participando da construção de novo um país. Tais registros foram cotejados com outros contemporâneos seus oriundos de outros espaços, como as empresas de comunicação, de entretenimento e partidos políticos. Na análise dos discursos dos missivistas considera-se que os mesmos integram a categoria de classes populares, entendida enquanto uma conformação social não alinhada aos 147 projetos hegemônicos que atua de modo classista, sem que, contudo, seus integrantes sejam percebidos como pertencentes a uma única classe social. Dessa forma, procurou-se compreender os vínculos que as pessoas comuns - trabalhadores, estudantes, donas de casa, profissionais liberais etc. - estabeleceram entre democracia e justiça social nas cartas, assim como identificar a perspectiva classista que aparece naqueles discursos e analisar as correspondências dos mesmos com outros discursos enunciados em diferentes espaços e por distintos atores sociais.

Clausura e gênero: fotografia do debate sobre o encarceramento de presos políticos durante a Ditadura Militar (1964-1985) - Ayssa Yamaguti Norek (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

A historiografia produzida até o presente momento sobre a Ditadura Militar (1964- 1985) tem se concentrado, quase majoritariamente, na construção das memórias dos presídios políticos masculinos e daqueles que neles foram encarcerados, como trabalhos que retratam os presídios Ilha das Flores, Tiradentes, Milton Dias Moreira e outros. Sobre as presas políticas e a sua experiência no cárcere, muito pouco tem sido escrito, e este pouco se concentra em torno da reconstrução da memória dessas mulheres, sem, no geral, uma perspectiva voltada, de forma mais circunscrita, à análise de gênero. Por esse motivo, o presente trabalho se propõe a construir uma fotografia do debate proposto pelas mencionadas produções, a fim de demonstrar a lacuna que existe na historiografia quanto ao estudo do encarceramento de presas políticas sob um viés de gênero. Por gênero, entendemos, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------assim como Joan Scott, os papeis sociais atribuídos aos sexos, sendo este conceito socialmente construído sobre interações fundadas nas diferenças percebidas entre os sexos e como uma primeira forma de dar significado às relações de poder. No que concerne ao olhar de gênero sobre o encarceramento de presas políticas, entende-se que existem diferenças de tratamento dispensado às mulheres encarceradas em relação a um universo masculino que engloba, numa configuração mais imediata, o próprio espaço prisional e, depois, as relações simbólicas estabelecidas dentro da prisão. Entre esses pontos está a adaptação da mulher a um espaço não exatamente construído para o sexo masculino, mas para uma idealização que, década após década, tem sido projetada na figura do homem; assim também, as diferenças de experiências (anteriores ao cárcere) e vivências (relativas ao cárcere) – físicas e psicológicas – que não se aproximam, nem na realidade mais imediata, nem em termos simbólicos, daquelas experimentadas pelos homens na condição de presos políticos.

Conexão Berlim-Istambul: parceria otomano-alemã no extermínio dos armênios - Pedro Bogossian Porto (Université Paris Diderot - Paris 7)

Entre 1915 e 1917, em meio à Primeira Guerra Mundial e imbuído de um projeto de modernização do Estado, o Império Otomano promoveu a perseguição e o massacre da população armênia que habitava os seus territórios, em uma série de eventos que podem ser definidos como “o genocídio dos armênios”. De acordo com a memória coletiva armênia, entre os responsáveis por esses massacres estariam 148 não apenas a população civil e as autoridades otomanas, mas também as potências internacionais, que ou colaboraram ou observaram com indulgência o que ocorria no interior do Império. Em relação a esses agentes externos, as principais acusações recaem sobre o Império Alemão, mais importante aliado do governo otomano e que muitas vezes é referido como o verdadeiro formulador do projeto de limpeza étnica aplicado no Oriente Médio. Este trabalho pretende analisar a colaboração otomano- alemã, adotando para tanto uma dupla ótica. Por um lado, pretende-se compreender o cenário em que essa parceria se desenvolveu e os mecanismos através dos quais ela se concretizou. Por outro, busca-se interpretar o registro dessa ação combinada na memória coletiva da população armênia e a força discursiva dessa narrativa. Trata-se aqui não apenas de avaliar se houve ou não um planejamento em conjunto entre os dois Estados, mas também de lançar luz sobre a preservação e os usos dessa memória entre a população armênia. No que concerne à reflexão acerca da memória, uma compreensão mais profunda da colaboração entre os impérios otomano e alemão se torna ainda mais relevante à medida que permite elucidar o discurso, bastante frequente entre os armênios, que os inclui na mesma categoria das populações perseguidas pelo nazismo. A narrativa armênia evoca essa colaboração para afirmar que armênios e vítimas do holocausto seriam semelhantes não apenas por estarem igualmente submetidos a uma ação desmedida de regimes autoritários, mas se irmanariam também por serem alvo de um projeto genocida protagonizado pela Alemanha. Cumpre, portanto, observar os usos e os limites dessa memória.

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De lo próximo a lo lejano. Representaciones actuales de la gente corriente sobre las víctimas de la represión estatal durante la última dictadura militar en Argentina (1976-1983) - Ana Inés Seitz (Universidad Nacional de La Plata)

En el presente trabajo nos proponemos analizar las representaciones actuales de la gente corriente sobre las víctimas de la represión estatal de la última dictadura en Argentina (1976-1983). Concretamente, abordaremos la indagación de dichas percepciones y sentidos tomando como punto de partida las nociones de lejanía y proximidad y reflexionando acerca de los modos en que los distintos grados de distancia social que tuvieron estos sectores sociales respecto de los afectados por los mecanismos represivos del régimen militar configuran en la actualidad las valencias de las interpretaciones construidas acerca de éstos. Todo ello como un insumo para reflexionar sobre los vínculos entre estas representaciones actuales, dicha distancia social y determinadas narrativas que circularon en la sociedad (como la de la “lucha contra la subversión”) durante los años del “Proceso de Reorganización Nacional”. Nos proponemos examinar esta problemática desde una perspectiva microanalítica, centrándonos en el estudio de un espacio institucional específico: la Escuela Nacional de Educación Técnica N°1 “Ingeniero César Cipolletti” de la ciudad de Bahía Blanca (Argentina). Ello en tanto los derroteros que siguió la historia institucional de dicho colegio durante las décadas de los setenta nos permiten explorar los distintos modos en que se expresaron en dicha historia la movilización política y social de esta década y los procesos de radicalización de algunos sectores juveniles, así como las maneras en que se 149 manifestaron en ella los procesos de avance de la violencia represiva paraestatal y estatal. Concretamente, a partir del análisis de relatos construidos en entrevistas en profundidad, nos proponemos explorar las percepciones actuales de los antiguos integrantes de la comunidad educativa del colegio sobre aquellos alumnos y profesores que fueron víctimas de la represión estatal durante la última dictadura militar argentina.

De O Berço do Herói (1963) a Roque Santeiro (1975 e 1985): a trajetória de Dias Gomes na ditadura militar brasileira - Natasha Moreira Piedras Ferreira (UFF)

A trajetória político-intelectual de Dias Gomes (1922-1999) foi marcada pela militância junto ao Partido Comunista (PCB). Durante o período ditatorial, o dramaturgo e teatrólogo teve, inclusive, algumas de suas peças e novelas censuradas, como foi o caso de O Berço do Herói (1963) e sua primeira adaptação para televisão, Roque Santeiro (1975). A partir destas obras censuradas e de suas repercussões, assim como da novela Roque Santeiro finalmente exibida em 1985, esta comunicação pretende realizar um panorama a respeito trajetória de Dias Gomes nos anos de regime ditatorial brasileiro. O rompimento do dramaturgo com o PCB e sua posterior contratação pela Rede Globo, ambos nos limiares dos anos de 1970, não são aqui enxergados com uma relação de causalidade. Ao contrário disso, pretende-se compreender a complexidade da ação e dos dilemas do intelectual nesse contexto. Os enredos, diálogos, continuidades e rupturas do original de O Berço do Herói (1963) e da suas duas versões televisivas emergem, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------deste modo, como um mecanismo para compreender a atuação de Dias Gomes em três conjunturas distintas para o intelectual engajado: o início da década de 1960, período de efervescência política e cultural das esquerdas; a década de 1970, após a promulgação do AI-5, e meados dos anos de 1960, já no período da redemocratização. Através das narrativas de Dias Gomes nessas conjunturas, assim como do que foi veiculado na grande imprensa e na imprensa alternativa, pretende- se refletir a respeito de alguns dos principais anseios, frustrações e embates vivenciados por Dias Gomes e pelos intelectuais de sua geração durante a ditadura militar brasileira.

Dever de memória e ensino de história: o ensino da ditadura militar no Brasil situado no processo de justiça de transição - Licia Goms Quina (Prefeitura Municipal de Areal)

O conceito de dever de memória, surgido na França, se referindo à segunda guerra mundial e ligado à memória dos soldados franceses resistentes, foi ressignificado na década de 1970 e passou a tratar da memória das vítimas, se referindo ao holocausto. A partir daí “fazer memória” se tornou sinônimo de “fazer justiça”. Na América Latina, essa questão ocupou o espaço público se relacionando às ditaduras ocorridas no Brasil, Uruguai, Argentina e Chile. Dessa forma, o holocausto serviu de modelo para aqueles que, através de suas memórias, denunciaram os crimes perpetrados pelas Ditaduras. Fechando o enfoque sobre o caso da Ditadura inaugurada pelo golpe de 1964 no Brasil, a questão do dever de memória hoje 150 representa não só o direito à memória, à verdade e à justiça, mas as iniciativas para a não repetição. Trata-se de remover o chamado “entulho autoritário”, as práticas autoritárias que persistem na atualidade. O processo de transição democrática no Brasil, com todas as características peculiares que lhe garantiram o, assim designado, “acordo pelo alto”, esbarra em diversos entraves à garantia de uma democracia plena e efetiva. Entretanto, fica a cargo da Justiça de Transição, garantir a consolidação dessa democracia e a superação desses “entraves” herdados da experiência de autoritarismo. Entendendo a Justiça de Transição como um conjunto de medidas jurídicas, políticas e sociais, nossa proposta é situar o ensino de história, e mais especificamente o ensino da ditadura, como um braço da Justiça de Transição, uma importante ferramenta de reparação social. Nessa perspectiva, o ensino de história permitirá ao professor/historiador, analisar a construção da memória sobre a ditadura militar no Brasil e, no limite, promover reflexões que possibilitem uma reconstrução dessa memória, no sentido de seu questionamento. E isso se faz necessário sob pena de nunca se atingir a consolidação da democracia em nosso país, e, mais ainda, de continuarmos a construir, todos os dias, uma memória histórica que tem como naturalizados elementos de coerção, autoritarismo e repressão. Finalmente, vale ressaltar que, somente enxergamos ser possível situar o ensino de história nesse contexto, se partirmos das premissas da história pública, enxergando o conhecimento histórico construído dentro do espaço escolar e fora dele como produções circulares e complementares.

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Diretas Já x Carapintadas: Relação entre Estado e sociedade - Gabriel Cheleiro Justino (Universidade Estácio de Sá)

O presente trabalho tem por objetivo realizar o debate sobre a relação entre e Estado e sociedade através das manifestações sociais ocorridas no final da Ditadura Militar (Diretas Já) e durante o governo Collor (Carapintadas), procurará compreender também o contexto e como se deu o pós-movimentação, se houve permanências, se houve rupturas, quais foram e como se deram. A partir da análise individual de cada um dos principais movimentos sociais desse período, as manifestações serão confrontadas para que possamos compreender o que a sociedade buscava com esses movimentos e como o Estado, a partir de suas instituições, lideranças e legislação puderam perceber as ações populares, tendo em vista que, as Diretas Já, tinham como foco central, o acesso ao voto para o executivo por parte da população enquanto que o movimento Carapintada, buscava retirar o presidente eleito pelo povo. Ao confrontar essas duas manifestações, observaremos as permanências e rupturas nessa relação Sociedade x Estado, se existiam anseios em comum, como se deu sua organização e como o Estado brasileiro reagiu a esses movimentos sociais, ou seja, de que forma essa relação foi se atualizando de acordo com novos anseios da sociedade, com novas perspectivas. O que podemos observar através dessa relação, é a fragilidade de nossa Republica e o quão complexa seria o seu fortalecimento, tendo em vista uma sucessão de golpes e de políticas que acabavam por privilegiar grupos restritos, como foi o caso da política Café-com-leite, do governo de JK, da própria ditadura civil-militar e do governo Collor. As 151 mobilizações surgem nesse contexto, como um elemento de coesão social, tendo em vista que as camadas da sociedade são interdependentes e buscam ao mesmo tempo evitar uma ruptura em sua formação . Ou seja, a sociedade, procura sempre se preservar e se manter como agente vital no desenvolvimento do Brasil e como base do mesmo, fazendo com que ao perder o poder de decisão (ditadura) e ao fazer valer os direitos (Impeachment de Collor), ela busque a sua unidade para que seus esforços sejam ouvidos e atendidos. As manifestações de 1984 e 1992, serviram como parâmetro para os novos protestos, seja como se organizar, seja como uma referencial em como a população pode exercer seu poder, exigindo o exercício pleno de sua cidadania e isso passa na forma pela qual o sistema irá atender as demandas populares e como a redemocratização foi sendo aprimorada e aplicada para uma sociedade que se diversifica a cada geração e anseia por novas demandas. Considerando a peculiaridade de cada contexto, as razões que levaram a população a exigir tal participação passam por uma tentativa de recuperar direitos perdidos, como na ditadura e no exercício dos direitos recém conquistados, como no caso do Collor.

Entre a barbárie e a cultura: disputas na construção das memórias do antigo 1º Batalhão de Infantaria Blindada de Barra Mansa (2013-2017) - Eminny Aly Carmel Ghazzaoui (ISEIB - Instituto Superior de Educação Ibituruna)

As discussões em torno dos lugares que têm suas memórias imbricadas à violação dos direitos humanos, à barbárie, têm crescido no Brasil e serão norteadoras para as reflexões que se pretende realizar nesta comunicação. Especificamente, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------considera-se as disputas entre 2013 e 2017 na construção das memórias no lugar que abrigou o antigo 1º Batalhão de Infantaria Blindada (BIB) na cidade de Barra Mansa, no sul do estado do Rio de Janeiro. O 1º BIB foi apontado como um centro de tortura e morte principalmente durante a ditadura militar pelas pesquisas das comissões da verdade. Atualmente, além da instalação do Exército com o Tiro de Guerra, o espaço é ocupado por departamentos da Prefeitura de Barra Mansa, setores da cultura e também é utilizado para a realização de eventos, shows, feiras e outras atividades. As investigações conduzidas pelos pesquisadores da Comissão Municipal da Verdade de Volta Redonda abriram possibilidades para iniciativas de ações e reflexões pelo direito à memória, à verdade e à justiça acerca do passado sensível do lugar, antigo 1º Batalhão de Infantaria Blindada, ocupado hoje pelo Parque da Cidade. O Ministério Público Federal emitiu no ano de 2016 um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para o cumprimento de algumas medidas com relação ao uso das dependências do Parque da Cidade. Diante das reflexões sobre cultura, barbárie, disputas de memória, patrimonialização e violação dos direitos humanos pretende-se consolidar uma análise crítica da experiência em construção na cidade de Barra Mansa, que tem como principal diferencial a intervenção do MPF na proposta de memorialização e patrimonialização das antigas instalações do 1º Batalhão de Infantaria Blindada. Walter Benjamin (1987) em “Sobre o conceito de História”, através das categorias monumentos de barbárie e monumentos de cultura, considera a relação não dicotômica, dividida, opositiva e ou separada das noções de cultura e barbárie. Construindo uma concepção dialética de que na cultura está também a barbárie, assim como também a barbárie está no 152 processo de transmissão da cultura, pesando sobre aqueles que não venceram e foram silenciados nas narrativas da história oficializada. Neste sentido, o historiador precisa saber “de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer”. Seguindo as reflexões do autor, entende-se que a luta por memória, verdade e justiça se faz cada vez mais necessária na atual conjuntura brasileira, cujos discursos autoritários e opressivos contra os direitos de ser humano permanecem.

Festivais da Canção: Música, media e censura durante os regimes autoritários em Brasil e Portugal - José Fernando Saroba Monteiro (UFRRJ)

Os Festivais da Canção iniciados na década de 1960 em Brasil e Portugal e que encontraram seu auge entre este período e a década seguinte, foram responsáveis pela renovação do cenário musical e até hoje considerados um dos períodos mais férteis da produção musical destes países. Malgrado, os festivais se inserem em um momento conturbado, no qual ambos os países se encontravam sob regimes autoritários vigentes, nomeadamente, a ditadura civil-militar, no Brasil, e o Estado Novo, em Portugal. A produção cultural, amplamente dominada pelos setores de esquerda, buscava visibilidade e encontraram nos palcos dos festivais, que também contavam com a transmissão televisiva e exposição na imprensa, o palanque perfeito para a difusão de suas ideias. Entretanto, os regimes autoritários faziam pleno uso dos meios de comunicação para sua propaganda ideológica e passaram a controlar estes meios, tal como a produção musical, através da censura, seja ela prévia ou a posteriori. Deste modo, instaurou-se uma rivalidade e uma série de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------embates pelo espaço midiático que, se gerou grandes danos à indústria cultural e até mesmo aos artistas, compositores e intérpretes, também possibilitou a criação de grandes obras ainda hoje lembradas na história destes países.

Frei Betto - Memórias do Batismo de Sangue. Os dominicanos e a morte de Carlos Marighella - Fabiano Dias Azevedo (UNIVERSO)

Frei Betto, autor brasileiro com grande publicação editorial, atualmente, trabalha em pastorais populares, assessora movimentos sociais, escreve artigos e ministra palestras mundo a fora. “A vida é curta para todos os meus projetos. E não cabe nos meus sonhos, afirma Frei Betto”. A proposta do artigo científico é discutir o conceito de memória, através da obra de Frei Betto. Memória entendida como passado que nasce da oralidade e é, posteriormente, desenvolvido por meio da escrita. Construções individuais e coletivas. Percepções pretéritas que organizam presente e projetam futuro. Para tanto utilizaremos algumas reflexões de David Lowenthall, Jacques Le Goff e Gilberto Velho. Além disso, analisaremos a memória enquanto formadora das personalidades, identidades coletivas e projetos futuros. Por fim, discutiremos como Frei Betto constrói sua memória. Nosso autor possui ampla produção literária. Por isso, escolhemos obra que represente sua memorialística. Separamos Batismo de Sangue- os dominicanos e a morte de Carlos Marighella. A obra debate a relação dos dominicanos com a luta armada durante a ditadura militar, marcando de forma expressiva a trajetória da Ordem Dominicana no Brasil. 153

Gatekeepers x censores: a luta pelo controle da informação jornalística durante a transição política brasileira - Ana Lucia Vaz (UFRRJ)

Este artigo se insere na pesquisa de doutorado que tem por objetivo desconstruir o mito da polaridade entre resistentes e colaboradores na análise da atuação da imprensa frente à censura de Estado durante a ditadura militar brasileira. Não apenas identificar as dicotomias criadas nas narrativas sobre o tema, mas buscar identificar elementos que nos ajudem a compreender como o trabalho de memória produz e reproduz esta dicotomia. Este artigo apresenta alguns resultados da investigação sobre os sistemas de controle da informação dentro das redações jornalísticas entre a segunda metade da década de 1970 e a primeira metade da década de 1980. O período escolhido se baseia na identificação de um período de grandes transformaações e intensa atividade no campo do jornalismo. Este período se abre após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-CODI paulista e se encerra com o fim dos governos militares. O objetivo da pesquisa aqui apresentada é desnaturalizar um pressuposto presente na historiografia sobre a imprensa que opõe o jornalismo à censura. O conceito de gatekeeper, desenvolvido no campo das teorias de comunicação, é utilizado aqui apenas com a função de destacar o lugar de controle da informação ocupado por jornalistas profissionais. Para tanto, será analisada a construção da memória do período de transição política com foco na imprensa, vista como instituição constituinte e constituída no processo político mais amplo das relações de poder no campo da luta pela verdade. Dentro desse contexto, discutiremos a noção de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------imprensa, as relações de poder internos e externos à redação, os procedimentos técnicos de produção e controle da informação e os hábitos que conformam os agentes institucionais, ampliando a noção de sistemas de controle para além das ações do Estado. Apesar de um contexto teórico mais abrangente, o foco é a construção da memória sobre o funcionamento desses sistemas. Portanto, as fontes utilizadas nesta parte da pesquisa são os relatos de jornalistas que atuaram nas redações cariocas nesse período, colhidos pela autora e por outros estudiosos do tema.

Gaúchas de direita”: a história da Ação Democrática Feminina Gaúcha (ADFG) nos os primeiros anos da ditadura civil-militar - Eduardo dos Santos Chaves (Instituto Federal de Santa Catarina)

A comunicação pretende discutir a formação e atuação da Ação Democrática Feminina Gaúcha (ADFG), organização criada em março de 1964, na cidade de Porto Alegre, com objetivos de desestabilizar o governo Jango e “conscientizar” a população dos perigos que o comunismo representava. Cabe destacar que a ADFG fazia parte de uma rede de organizações femininas constituídas no Brasil a partir do início dos anos 60, tais como a CAMDE (Rio de Janeiro, 1962), a UCF (São Paulo 1962), a LIMDE (Belo Horizonte, 1964) e a CDF (Recife, 1964). A partir dos livros de atas da organização e o pequeno material divulgado na imprensa da época, o trabalho apresentará as primeiras ações da ADFG, após o golpe civil- militar de 1964, voltadas para o assistencialismo e o voluntarismo, bem como a 154 tentativa de colaborar com o “governo revolucionário”. Nesse sentido, o trabalho pretende analisar a atuação da ADFG em um cenário de construção social da última ditadura, no qual foram tecidas complexas relações entre o regime e a sociedade brasileira.

Governo Geisel e o MDB (1974-1978): um debate sobre abertura - Tamires Mascarenhas Pecoro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O governo do general Ernesto Geisel ficou reconhecido por muitos pesquisadores do período da ditadura civil-militar como o começo do processo de abertura desse sistema político, principalmente pela revogação ao Ato Institucional de nº.5 (AI-5) ao final de seu mandato. Marcado pelo ideal da distensão lenta, gradual e segura, esse governo precisou lhe dar com a ascensão do partido de oposição a nível federal e também nas principais assembleias legislativas do país. Após a vitória eleitoral em novembro de 1974, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) passou a requerer maior participação na vida política, utilizando o parlamento como instrumento de defesa de sua bandeira democrática e espaço de debate com o governo. Mas algumas medidas foram adotadas por Geisel que diretamente interferiram nas ações emedebistas, como a Lei Falcão e o Pacote de Abril, sendo considerado por alguns autores um período de “avanços e recuos”. Assim sendo, este artigo pretende debater a relação entre as ações da oposição e do governo durante a presidência de Geisel sob a insígnia da abertura, bem como discutir a utilização do termo “avanços e recuos” para denominar esse processo político.

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Guerrilheiras, biografias e memória: a construção da figura da mulher militante nos ciclos de memória sobre a Ditadura - Juliana Marques do Nascimento (Universidade Federal Fluminense)

A pesquisa tem por objetivo analisar como foram construídas as imagens das mulheres guerrilheiras em suas biografias, produzidas e publicadas no pós- redemocratização. As militantes selecionadas foram: Iara Iavelberg, com biografia publicada em 1992, de autoria da jornalista Judith Patarra; Carmela Pezzuti, livro publicado em 1996, por Maurício Paiva, ex-guerrilheiro e amigo da biografada; e Dilma Rousseff, obra de 2011, pelo jornalista Ricardo Batista Amaral. As datas de elaboração das biografias são importantes para o estudo, pois permitem a realização de um mapeamento da memória social sobre o período ditatorial: o momento de produção influencia diretamente na narrativa construída e, consequentemente, na maneira de recordar a Ditadura. Pretende-se, portanto, produzir uma história da memória, localizando cada obra em sua "fase" (Napolitano, 2015) e, através disso, será possível observar as permanências e continuidades da memória, a memória hegemônica e as subterrâneas, inserindo nesse contexto a perspectiva da atuação feminina na política. O conceito de Daniel Lvovich e Jaquelina Bisquert (2008) de "memoria cambiante" é fundamental para o desenvolvimento do trabalho: a forma de lembrar uma determinada época não é definitiva, mas sim muda com o tempo, a partir das demandas do presente.

História e reminiscência: o Chile nas tramas da justiça de 155 transição - Leonardo de Oliveira Souza (Universidade Federal de Goiás)

Acerca das experiências dos regimes autoritários na América Latina, a maior parte do continente foi abalada por golpes militares armados que violaram as democracias nacionais em construção, construindo, por meio do lema da Doutrina de Segurança Nacional, um aparato institucionalizado de repressão, que, em linhas gerais, elegeram inimigos, suprimiram as garantias constitucionais da sociedade e recorreram à práticas de terror como instrumento de estabilidade política do Estado, cometendo, assim, graves violações aos direitos humanos. Em se tratando do caso chileno, a superação desse regime exigiu muita disposição política e um conjunto de esforços marcados por intensas lutas sociais, que foram essenciais na soma dos esforços que conduziram a sociedade à difícil tarefa da negociação. Uma vez reestabelecida as vias democráticas, o país deparou-se com algumas questões cruciais: como lidar com a herança autoritária? Como afirmar-se democraticamente em meio a tantas fraturas sociais e institucionais ainda tão vivas na transição? Quais medidas de reparação e de justiça deveriam ser tomadas? Quais medidas eram possíveis de serem tomadas? As recentes liberdades eleitorais e civis não eram garantias de estabilidade democrática nem de garantias jurídicas em nenhum país do Cone Sul. Essa proposta de pesquisa visa compreender esse processo transicional partindo da análise das narrativas dos relatórios finais produzidos pelas duas Comissões da Verdade instauradas no país em momentos distintos, a primeira entre 1990 e 1991, e a segunda ente 2004 e 2005, e que foi novamente reaberta e concluída em 2011. Pretende-se discutir a maneira como o Chile lida com esse passado recente de violações e como o relaciona com os mecanismos de memória, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de reparação e de justiça de transição, considerando a cultura política do país e comparando as produções das Comissões em seus diferentes momentos ao longo do tempo. Portanto, lança-se um olhar interdisciplinar, relacionando a história e o campo do direito a partir da perspectiva da justiça de transição, cujo conceito está inserido na primazia dos direitos humanos e versa sobre cinco pilares básicos: esclarecimento da verdade sobre as violações; reparação às vítimas; punição aos envolvidos; reforma das instituições promotoras das violações e produção de memória. De todo modo, é importante destacar que não existe um único modelo para que um Estado se redemocratize, cada sociedade desenvolve procedimentos de acordo com sua realidade e conjuntura sócio política. A construção e o manuseio dos relatórios representam um importante instrumento de (re)construção do passado a partir do presente, constituindo-se como um elemento essencial para o modelo de justiça e de democracia adotado pelo país.

Ler para não esquecer: denúncia e resistência à ditadura civil-militar brasileira no romance O pardal é um pássaro azul de Heloneida Studart - Ioneide Maria Piffano Brion de Souza (UFJF)

A literatura teve um papel importante entre as artes de resistência tanto no diagnóstico da violência e da experiência social sob o autoritarismo, quanto no exame das contradições e impasses dos intelectuais de esquerda que se opunham ao regime. Este artigo objetiva refletir sobre a relação entre história e literatura a partir da análise do romance O pardal é um pássaro azul que compõe a Trilogia da 156 Tortura de Heloneida Studart. O romance aborda a ditadura civil-militar brasileira a partir da ótica do militante de esquerda. A escolha da temática do artigo se deu não porque a literatura imitou a realidade nos livros, mas porque, em muitos casos, só a reflexão propiciada pela ficção, pela imaginação ou pela memória poderia dar conta de compreender uma realidade política, cultural e social tão multifacetada e complexa. Assim, partindo do livro em questão, busca-se compreender de que maneira a narrativa literária, quando colocada em diálogo com pesquisas acadêmicas recentes, contribuem para uma compreensão desse período da história brasileira

Memória vista de cima: a construção da narrativa histórica do ocaso soviético a partir das memórias de Mikhail Gorbachev - Cesar Augusto Rodrigues de Albuquerque (Universidade de São Paulo)

O presente trabalho se insere no âmbito de pesquisas em andamento desenvolvidas pelo autor durante o desenvolvimento de sua tese (Re)New Thinking: A Evolução do Pensamento Político e Econômico de Mikhail Gorbachev Antes e Depois do Fim da URSS, sob orientação do Prof. Dr. Angelo Segrillo, no PPG em História Social da USP. Nestas pesquisas, as memórias – individuais e coletivas - constituem uma das principais fontes a partir das quais desenvolvemos nossa análise. Uma vez que nosso recorte temporal permite desfrutar das vantagens obtidas a partir do avanço dos meios de comunicação e difusão da informação, dispomos de um vasto material disponível em diversos formatos (escritos, áudios e imagens) composto por entrevistas; artigos e declarações publicadas nos meios ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de comunicação; livros e ensaios publicados no mercado editorial; surveys e bancos de dados com pesquisas de opinião; além, é claro, de livros autobiográficos ou de “memórias” propriamente ditos. Para este trabalho, propomos apresentar um artigo com alguns dos resultados preliminares de nossa análise, focado aqui na construção da narrativa histórica da perestroika e da dissolução do regime soviético a partir das memórias de Mikhail Gorbachev. Ao nos referimos às memórias, não estamos nos limitando apenas a livros de caráter autobiográfico ou pensados com essa finalidade – embora Gorbachev tenha publicado pelo menos três obras dessa natureza desde 1991 –, mas incluímos também uma série de outras manifestações do ex-líder soviético, sobretudo após o fim da URSS, em que ele trava uma batalha para expor a sua versão dos acontecimentos e processos ocorridos desde sua ascensão ao cargo de Secretário-Geral do Partido Comunista da URSS. Seu embate se dá principalmente com as outras versões que aos poucos se constituem e vão se tornando majoritárias na narrativa histórica da memória coletiva russa, e que tendem a vê-lo de forma bastante negativa – como responsável pela “destruição” da URSS ou como uma liderança derrotada. Ao iniciar o título desse artigo com a expressão “Memória vista de cima”, fazemos alusão aos debates historiográficos da segunda metade do século XX, sobretudo em relação às críticas à chamada History from above. Seguindo tais movimentos, nosso trabalho não pretende um retorno a História Política Tradicional, mas propõe um diálogo interessante entre as novas abordagens – incluindo aqui as considerações quanto o uso da memória como fonte e sua relação com a História – e as temáticas tradicionais, especialmente neste caso em que a narrativa construída pela memória do ex-líder 157 parece tão distante daquela de seus outrora liderados.

Na mira dos militares: a UFMG como laboratório do projeto autoritário (1964-1968) - Alexander da Silva Braz (UFF)

A proposta deste artigo consiste em analisar como surge e se desenvolve um espaço de vigilância e repressão institucional dentro da UFMG ainda nos primeiros meses do Golpe de 1964. Partindo da premissa de que havia a construção de um projeto autoritário em curso destinado a promover a limpeza nos espaços universitários mineiros. O estudo da documentação produzida pelo aparato repressivo do Regime Militar nos mostrará a grande atuação e vigilância de dois atores políticos atuando naquela universidade: a Infantaria Divisória da 4ª Região Militar (ID-4) e a agência de vigilância, do Serviço Nacional de Informação (SNI), estabelecendo contato direto com o Reitor e os diretores das Unidades Universitárias, autorizando o início do ano letivo, ordenando a instalação de Comissões de Inquérito para investigar atividades subversivas envolvendo docentes, discentes e funcionários públicos da Casa; assim como interferindo na autonomia universitária por meio da intenção militar da Faculdade de Filosofia e, posteriormente, da Reitoria da UFMG. Além da interferência direta destes dois atores, mostraremos, também, o estreitamento das comunicações do aparato repressivo - por meio da indicação de um nome para estabelecer contato diretamente com o SNI – assim como o aumento da vigilância e da repressão sob o movimento estudantil. Sobre este último, a documentação aponta para como a vigilância sobre o movimento estudantil da UFMG foi intenso já nos primeiros anos do regime. Alunos brasileiros e estrangeiros acusados de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------atividades subversivas foram investigados pelas Comissões de Inquérito, Diretórios Acadêmicos (DAs) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) tiveram seus direitos de representação suspensos e suas instalações fechados inúmeras vezes por não criarem um Regimento nos moldes da Lei Suplicy. Além das práticas de censura e cassação da representatividade dos órgãos estudantis mineiros, mostraremos como os estudantes reagiram a implementação deste projeto autoritário. Dessa forma, buscaremos mostrar por meio da documentação produzida pelos órgãos de informação que entre os anos 1964 - 1968 a UFMG teve sua autonomia ferida pelos atentados que sofrera ao longo dos primeiros anos com as intervenções militares e ao ter de seguir os ordenamentos dos agentes da máquina repressiva, assim como mostrar como os órgãos de representação estudantil e o próprio movimento estudantil foram censurados e perseguidos politicamente durante esse período.

Nem rebeldes, nem revolucionários: o outro lado das juventudes brasileiras de 1968 - Rafaela Mateus Antunes dos Santos Freiberger (UFF)

1968 ficou conhecido na História como o ano das juventudes. Foi um período caracterizado por manifestações em diversas partes do mundo, principalmente, contra os padrões culturais vigentes, marcados pelo o conservadorismo e o autoritarismo. No Brasil não foi diferente. 1968 foi o ano auge das manifestações juvenis que, além de expressar a rebeldia aos padrões dá época, lutavam pelo fim da ditadura e pela Reforma Universitária, demanda dos estudantes desde o final da 158 década de 1950. As atuações juvenis em 1968 contribuíram para a construção de um imaginário baseado na premissa que os jovens possuem uma natureza rebelde e revolucionária. Dessa maneira, a juventude seria uma fase da vida de um indivíduo que, necessariamente, traz à tona uma postura de rebeldia e contestação aos padrões sociais e políticos estabelecidos. Essa afirmação é largamente empregada, principalmente, nos estudos relacionados aos movimentos juvenis da década de 1960. Porém, nem todos os jovens participaram ou foram favoráveis aos protestos estudantis de 1968. No meio estudantil, a disputa era intensa, pois havia diversas organizações com variadas matizes ideológicas. Desse modo, não é possível compreender nem a juventude, nem a sua atuação no movimento estudantil de uma forma homogênea. Na historiografia brasileira, ao se fazer um balanço dos trabalhos relacionados a atuação juvenil, se percebe a falta de estudo acerca de grupos estudantis que possuíam projetos e visões políticas diferentes dos grupos de esquerda. Esse quadro se deve em parte pela memória construída em relação aos anos chaves - 1964 e 1968- e, o período ditatorial como todo, de que a população foi resistente ao regime. Esse ponto de vista foi construído, sobretudo, a partir das experiências vividas pelos jovens nas décadas de 1960 e 1970, particularmente, em regimes políticos conservadores ou autoritários. A proposta deste trabalho é mapear alguns exemplos de manifestações e posicionamentos políticos das juventudes em 1968, desde a oposição à ditadura ao apoio ao regime militar, principalmente, através do Projeto Rondon. Desse modo, será possível perceber a pluralidade de comportamentos, as visões de mundo e os projetos políticos de outras parcelas juvenis, que estiveram distantes da luta armada e de outras estratégias de atuação das esquerdas. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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O Banco "Quinta-Coluna" do Brasil. O Processo de Exoneração de Raimundo Padilha - Diego da Silva Ramos (UERJ/FFP)

O trabalho apresentado é parte de uma pesquisa mais ampla que busca construir a trajetória política do ex-integralista e ex-governador do Rio de Janeiro, Raimundo Padilha. Em seu atual estágio o trabalho está focado na reconstrução da atuação de Padilha nos anos de 1940. Em um dos momentos mais interessantes da pesquisa, nos deparamos com a documentação do processo de exoneração do ex-integralista da “Carteira de Crédito do Banco do Brasil”. A principal acusação que pesou sobre Padilha foi o fato de agir repetidas vezes contra a campanha de captação de bônus de guerra feita pelo banco durante o conflito mundial na metade do século XX. Num dos episódios narrados, Padilha ordenou a retirada do material de propaganda da venda dos bônus na agência que trabalhava. Ampliando o foco do trabalho podemos perceber que Padilha sempre contou com uma rede de contatos que acreditamos ter sido fundamental para o seu trânsito por diversas etapas da política brasileira. Utilizaremos, para buscar um entendimento conceitual sobre as ligações que Padilha mantinha, o conceito de "redes" trabalhado no artigo de Gabriela de Lima Grecco intitulado “Redes de Intelectuales de Deerechas Durante El Estado Novo Brasileño”, que pressupõe a existência de redes de contatos políticos que puderam interferir na forma como figuras proeminentes dos anos de 1930 e 1940 transitaram por vários "mundos políticos" e se utilizaram disto como ferramenta de sobrevivência política. O episódio da exoneração do Banco do Brasil mostra a ação 159 de Estllac Leal, figura de destaque na política brasileira, tentando alertar Padilha sobre possível investigação que já estaria em curso para demiti-lo do banco. Munidos de tais documentações acreditamos ser esta uma passagem interessante de sua trajetória, não só pelo fato de expor o furor "quinta colunista" de Padilha em tentar evitar o esforço de guerra dos Aliados, como reforça a nossa hipótese de que Padilha possuía uma rede de contatos importantes que foram essenciais para livrá- lo de possíveis retaliações ao seu trabalho em favor do Eixo. Tal episódio não foi suficiente para inibir o apoio de Padilha aos fascistas. Como em trabalhos anteriores apresentados a partir de resultados da mesma pesquisa, o ex-integralista foi reincidente em seu intento de auxiliar na formação de uma "Quinta Coluna" no Brasil.

O Festival Internacional da Canção de 1972 – conflitos, disputas e inovação musical - Ulisses Monteiro Coli Diogo (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho pretende analisar o Festival Internacional da Canção (FIC) em suas especificidades. Como afirma o pesquisador Zuza Homem de Mello, o FIC de 1972 representou o fim de uma era de festivais, iniciada na década de 1960 e que marcou e ajudou a definir o sentido do que se tornou a MPB. O festival em questão foi marcado por confusões e a tentativa de impulsionar o modelo, que já apresentava certo desgaste em relação a público e crítica. Neste evento, ainda surgem diversos nomes que durante a década de 1970 irão almejar carreiras de destaque no cenário artístico/musical do período, mas que por diversos motivos não concomitantes ou sempre presentes, como baixa vendagem, comportamento ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------transgressor, aproximação com elementos do rock e da contracultura e relação ruim com público, mercado e crítica, tiveram carreiras não tão sólidas ou problemáticas. Tais artistas foram rotulados como malditos e/ou marginais, e tiveram suas carreiras permeadas por esta pecha. Por fim, o presente trabalho pretende relacionar como este momento, onde os grandes festivais se encerram, relaciona-se com o mercado de música, público e comportamento do período e também como os artistas denominados malditos se posicionam em relação às condições vivenciadas.

O General Médici entre memória e história:escrever a biografia de líderes autoritários? - Janaina Martins Cordeiro (Universidade Federal Fluminense)

O General Emílio Garrastazu Médici (Bagé, 1905 – Rio de Janeiro, 1985) tornou- se o terceiro militar a presidir o Brasil depois do golpe de 1964. Assumiu o poder em 1969 e o exerceu até 1974. Os anos do governo Médici são, não sem razão, identificados como o período mais duro de toda a ditadura civil-militar. Neste momento, o aparelho repressivo funcionava de maneira extremamente eficaz na caça aos inimigos do regime, prendendo, torturando, matando, desaparecendo. Ao mesmo tempo, sabe-se que este é o período do Milagre brasileiro, de grande crescimento econômico, da construção de grandes obras, do triunfo da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo do México, em 1970, dos slogans ufanistas da propaganda oficial e da euforia nacionalista fruto desta conjuntura. Médici foi, nesse momento, um presidente extremamente popular. A partir do fim de seu mandato, no entanto, foi muito rapidamente, à medida em que o país caminhava 160 para redemocratização, relegado ao silêncio e ao ostracismo. A comunicação aqui proposta pretende levantar algumas questões importantes para a compreensão dos processos de construção de memória sobre a ditadura civil-militar brasileira tomando como referência o estudo da biografia do General Emílio Garrastazu Médici. Sua vida cobre boa parte do século XX, perpassando momentos importantes da História nacional, sendo, sob muitos aspectos, representativa das complexas relações estabelecidas entre militares e política ao longo da República brasileira. De maneira mais ampla, o trabalho concentra-se em três aspectos distintos porém complementares: 1) o estudo da biografia de um chefe político como forma de compreender a sociedade que produziu tal liderança; 2) a memória social construída em torno dessa figura; 3) as problemáticas que envolvem a escrita biográfica de líderes autoritários. Em sentido similar ao que o historiador Ian Kershaw propõe em sua biografia sobre Adolf Hitler, o estudo da trajetória de vida do General Médici pretende ser, antes de tudo, uma investigação sobre o seu poder. Nesse sentido, debruçar-se sobre a biografia de líderes autoritários deve contribuir para compreender, mais que uma trajetória pessoal, o tipo de sociedade que originou e sustentou aquele tipo de poder.

O golpe de 1964 e a repressão aos sindicatos e lideranças trabalhistas em Parnaíba-PI - Francisco José Leandro Araújo de Castro (UFF)

O trabalho em questão pretende analisar os efeitos repressivos produzidos pelo Inquérito Policial Militar aberto em 1964, a partir da nomeação dos trabalhadores sindicalizados e lideranças políticas na cidade de Parnaíba-PI, como elementos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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"agitadores", “subversivos” e “comunistas”. Pretende-se evidenciar as perseguições políticas como cassação de mandatos no legislativo e a repressão sobre os grupos ligados ao trabalhismo petebista em Parnaíba, bem como aos sindicatos urbanos. Evidenciando também a repressão às recentes experiências das associações dos trabalhadores rurais, que começam a ganhar corpo no final dos anos 1950, nos povoados ao redor da cidade de Parnaíba, que questionam a posse de terra, a expulsão de camponeses da região, bem como as condições degradantes de vida a que estão submetidos os trabalhadores rurais e urbanos. O trabalho em questão, é parte da pesquisa de Doutorado, que desenvolvemos no Programa de História da Universidade Federal Fluminense, sobre o contexto de experiência liberal democrática (1945-1964) e sobre as culturas políticas oriundas desse quadro histórico no espaço norte piauiense. Pretende-se ainda perceber como o golpe de 1964, adquire uma nuance local marcada pelo conservadorismo dos grupos oligárquicos tradicionais contra as formas e propostas políticas emergentes nos anos 1950 e 1960, como o trabalhismo, que encontrou grande viabilidade eleitoral, em fins dos anos 1950, integrando grupos plurais da sociedade local, mas que incomodou os setores oligárquicos, justamente por trazer para a legenda petebista as figuras dos arrumadores, marítimos, estivadores, trabalhadores urbanos e rurais os mais diversos. O golpe, portanto, adquire um caráter político-partidário a nosso ver, ao buscar inviabilizar um projeto político ligado às massas de trabalhadores e a grupos políticos não tradicionais, caracterizados genericamente como “comunistas”, pois pretendiam instaurar uma “ditadura síndico comunista” no Brasil, junto ao presidente João Goulart, segundo o IPM. Esta narrativa vai ser 161 coerente com a lógica dos grupos conservadores brasileiros, que por meio de uma longa tradição anticomunista, junto a setores do exército, derrubam um regime democrático. Usamos, portanto, o IPM, instaurado em 1964 e jornais de circulação local – tais como Gazeta do Piauí, O Paladino, Jornal do Piauí, etc. – que falam sobre as batidas policiais nos sindicatos, na Estrada de Ferro Central do Piauí, nas residências dos trabalhadores, etc. no sentido de perceber as nuances políticas envolvidas no quadro histórico do golpe de 1964 em um âmbito local. O trabalho é relevante pelo seu pioneirismo na cidade, bem como por apontar questões relegadas ao esquecimento ao longo do tempo, pela memória política parnaibana.

O refúgio latino-americano no Brasil: contexto e possibilidades em tempos de transição - Bárbara Geromel Campanholo (Universidade Federal Fluminense)

Na América Latina, o século XX ficou marcado pela experiência autoritária. Desde a década de 1950, com a chegada de Alfredo Stroessner ao poder no Paraguai, o continente assistiu ao desfecho de uma sequência de golpes e à ascensão de ditaduras. Em 1964 era a vez do Brasil. A década de 1970 se caracterizou pela derrocada em cadeia de regimes democráticos: Uruguai, em junho de 1973; Chile, em setembro do mesmo ano; e Argentina, em março de 1976. Os novos governos não se furtaram ao uso da violência para eliminarem seus opositores e se consolidarem no poder. A realidade imposta pela sua institucionalização, configurando uma situação de terrorismo de Estado praticado contra a sociedade, gerou uma atmosfera de constante e crescente insegurança onde fugir, deixando para trás a terra natal, projetos e militância, tornou-se um meio de garantir a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sobrevivência. É nesse contexto que muitos exilados/refugiados chegam ao Brasil, em um fluxo que se intensificaria sobremaneira a partir de 1976. A chegada dos exilados latino-americanos coincide com o movimento de partida de muitos brasileiros aos caminhos do exílio. Além disso, o país compartilhava o status quo de seus vizinhos do Cone Sul e integrava a rede de repressão colaborativa materializada pela Operação Condor. Nesse sentido, qualquer atitude com vistas ao tratamento da questão imposta pela presença dos grupos estrangeiros exigia cautela. É para este momento de tomada de decisões e estabelecimento de estratégias para lidar com a realidade imposta pela presença dos refugiados no país que se volta o esforço analítico do presente trabalho. Compreender o contexto e as possibilidades desse refúgio, principal objetivo desta exposição, implica analisar o momento particular de uma ditadura que dava passos em sua transição para a democracia, a legislação brasileira para o tema e, sobretudo, a recepção e discussão da problemática nas esferas do governo e as resoluções daí advindas.

Os bons companheiros: tensão e colaboração no interior do governo de Arthur Cezar Ferreira Reis (1964-1967) - Vinicius Alves do Amaral (SEEDUC/RJ)

O historiador Arthur Cezar Ferreira Reis foi o primeiro governador indicado para comandar o Estado do Amazonas após o Golpe Civil Militar de 1964. As poucas narrativas sobre seu mandato atribuem a ele total crédito à série de mudanças implantadas na região, tanto para o bem quanto para o mal. O propósito do presente trabalho é problematizar esse discurso identificando seus principais colaboradores 162 civis e militares, analisando o papel que cada um desempenhou durante seus quatro anos de governo. Tal empreitada pode iluminar muitos aspectos da constituição do regime autoritário no Amazonas, como a articulação entre os interesses regionais e as diretrizes da cúpula militar.

Os Lugares do Discurso na Memória: uma análise comparada da inserção de testemunhos nos relatórios das Comissões da Verdade da Argentina, Paraguai e Brasil. - Cecília Riquino Heredia (Universidade de São Paulo)

Os relatos acerca das violações cometidas ao longo das ditaduras militares latino- americanas, ocorridas a partir da segunda metade do século XX, causaram e ainda causam grande impacto na construção da memória acerca deste período, sobretudo nos próprios países que foram palco de regimes autoritários. Estas narrativas envolvendo sequestros, prática de tortura e desaparecimento, apesar de em comum possuírem as vítimas ou seus familiares como principais porta-vozes, diferenciam- se pela pluralidade de suportes e objetivos com os quais são realizadas, dentre os quais destaca-se os testemunhos realizados a Comissões da Verdade, depoimentos concedidos durante processos jurídicos, entrevistas a periódicos, cartas de denúncias à comunidade internacional e obras pertencentes à literatura de testemunhos. Dentro deste quadro, esta apresentação tem como objetivo mapear o lugar do testemunho na produção dos relatórios finais das Comissões da Verdade instauradas na Argentina, Paraguai e Brasil, identificando operações relacionadas ao campo da memória presentes na implantação e desenvolvimentos das citadas Comissões. A escolha, por sua vez, destas três experiências específicas relaciona------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------se à hipótese de elas se configurarem em exemplos paradigmáticos de diferentes contextos de transição observados na América Latina, conferindo à busca pela verdade, empreendida em cada um destes países, especificidades na maneira como se relaciona com os outros ramos da justiça de transição (justiça, memória, reparação e reformas institucionais). Em contrapartida, pretende-se, no presente trabalho, analisar um importante paralelo observado nas três experiências em questão, que seria a constante influência das disputas, no campo da memória, presentes tanto na gênese das Comissões quanto na conclusão das mesmas. Estas disputas seriam originadas, por sua vez, a partir do tensionamento entre uma incipiente – ou ausente – memória nacional acerca das ditaduras militares; a memória hegemônica, forjada pelas elites políticas que se encontravam no poder durante a transição tendo por objetivo a conciliação; uma grande pluralidade de memórias coletivas, construídas tanto pelas vítimas diretas/indiretas da ditadura quanto pelos seus agentes; e, por fim, as memórias individuais, trazidas com a subjetividade do testemunho, principal substrato narrativo no qual se pautaram as conclusões das Comissões.

Os militares e a opinião pública - entre a crítica e a prática (1964- 1979) - Raphael Oliveira da Silva (Universidade Federal Fluminense)

Esta pesquisa tem como objetivo compreender os mecanismos da ditadura civil- militar brasileira (1964-1985) para propagar, restringir informações e criar uma opinião pública. Tal processo gerou, em sua contemporaneidade e a posteriori, um 163 desconhecimento de atos praticados pelo governo que violaram as liberdades e direitos individuais. De acordo com pesquisa, elaborada pelo IBOPE e enviada a Presidência da República, 76% dos 600 entrevistados no Rio e em São Paulo, os dois maiores centros urbanos do país, desconheciam o que era Ato Institucional nº 5 (AI-5) em 1975, ou seja, sete anos depois de ser decretado. A ignorância sobre uma legislação que trazia uma série de violações aos direitos humanos não foi uma escolha da sociedade civil brasileira. Ela faz parte de um processo que alia diferentes setores e órgãos governamentais, sem necessariamente vínculos institucionais ou um projeto conjunto. Ainda assim, seu resultado é tão consolidado que perpassa os próprios anos do regime chegando até os dias atuais. Neste objeto, foi destrinchado que há pelo menos três esferas que mantém este processo de desinformação: uma propaganda patriota que se negava como tal e dizia ser um serviço cívico, uma censura com práticas divergentes de acordo com o veículo a ser analisado e um projeto de integração nacional que modificou não só a técnica, mas também o conteúdo a ser transmitido para todo o país através da difusão da televisão. Estas áreas serão analisadas através de uma discussão historiográfica e também por pesquisa de fontes que possam contribuir com o debate tendo como principal indagação a forma como esta sociedade, majoritariamente, desconhecia atos da ditadura que eram vistos como negativos para o regime. A partir disto, a questão da formação da opinião pública será discutida. A concepção de que existe uma opinião pública diverge historiadores e pesquisadores das Humanidades. Neste trabalho, trabalha-se com a ideia de Pierre Bourdieu de que não existe uma opinião pública e sua crítica as sondagens porém apresenta-se a visão dos próprios militares sobre o tema. Com rubricas orçamentárias fixas, a busca pela (construção ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------da) opinião pública foi uma das metas dos governos militares ao fazer sondagens periódicas e mudanças de gestão após seus resultados. O interessante é que estes mesmos governos, publicamente, reafirmavam que não trabalhavam pautados na opinião pública. Essa dualidade de discurso somada com a ideia de construção de uma narrativa que enaltece os militares e permanece até hoje é o objeto a ser discutido neste trabalho.

Os valores tradicionais da nova mulher ariana: O lugar da mulher alemã no Terceiro Reich - Yasmin Trindade Machado (Universidade Federal Fluminense)

Em 1933, o nazismo chega ao poder na Alemanha, com promessas de criação de um “novo homem”. A identidade deste novo homem nazista traz consigo também implicações acerca do papel feminino no Reich. O ideal da mulher nazista vai sendo construído de forma articulada com medidas pró-natalistas e a construção da ideia da “mãe do Volk”. Partindo de um estudo da ascensão do conservadorismo na Alemanha do século XIX e das mudanças e permanências que sofre até os anos da Alemanha nazista, procurou-se estabelecer em que medida figura da “nova mulher” nazista é uma mulher tradicionalmente conservadora. Buscou-se, de forma semelhante, entender o que há de novo no ideal feminino do nazismo. A partir da análise de artigos e imagens da revista nazista NS- Frauen Warte, dedicada ao público feminino, pôde-se observar o uso de linguagem que articula e associa ideias tradicionalmente conservadoras à “verdadeira libertação” da mulher alemã. Este trabalho foi produzido como trabalho monográfico de conclusão de curso, tratando- 164 se de uma temática a que procuro também me dedicar ao curso de meu mestrado.

Os “Guardiões da História”: a atuação política e intelectual do IHGB durante a ditadura (1964-1985) - Fernanda Coelho Mendes (UFRJ)

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), com sede no Rio de Janeiro, comemora em outubro deste ano seu 180º aniversário, constituindo-se em uma das instituições intelectuais mais antigas do país. Ao longo deste período, o IHGB conviveu com diferentes regimes políticos, desde o Império até a recente redemocratização, interagindo de variadas formas com os grupos no poder. Desde o golpe civil-militar de 1964 até o fim da ditadura, em 1985, os intelectuais do IHGB mantiveram uma postura favorável e de proximidade com o governo, elegendo os presidentes militares como Presidentes Honorários do Instituto, organizando eventos e festividades de datas comemorativas do calendário nacional em parceria com o governo e com o Exército, recebendo políticos e militares que ocupavam cargos importantes na ditadura em suas instalações e publicando artigos na imprensa em defesa do regime. Tendo como fonte principal os exemplares da Revista do IHGB, este trabalho, ainda em fase inicial, se propõe a analisar a atuação política e intelectual do Instituto durante o período autoritário de 1964 a 1985, com o objetivo de aprofundar as questões sobre sociedade, intelectuais e regime militar e compreender como o Instituto colaborou para a legitimação da ditadura no Brasil.

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Petebismo Fluminense - Andressa Cristina de Miranda do Carmo (UFF)

O presente trabalho tem por objetivo analisar as disputas e as alianças políticas petebistas no estado do Rio, entre os anos de 1962-1964; e discutir os desdobramentos do golpe civil-militar de 1964, em Niterói, utilizando como principais fontes de pesquisa: imprensa e fontes orais. Entre 1946-1964, instaurou- se efetivamente no Brasil um regime de democracia representativa, no qual as cidadãs e os cidadãos brasileiros obtiveram acesso aos seus direitos políticos e puderam exercitar seus direitos civis, a partir da promulgação da Constituição de 1946. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi o partido que mais cresceu eleitoralmente, durante esse período, principalmente devido ao seu projeto político partidário, o qual visava prioritariamente às questões trabalhistas e sociais, capitalizando, assim, o apoio da classe trabalhadora. O antigo estado do Rio de Janeiro, sobretudo sua capital Niterói, foi um importante reduto político petebista, isso se devia as organizações sindicais, já que, entre a década de 1950 até o golpe civil-militar de 1964, foram grupos de grande articulação política e mobilizatória no estado do Rio. No entanto, com a deflagração do golpe, sua autonomia e suas principais conquistas foram suprimidas pelo novo governo golpista que agiu de forma autoritária e violenta com os sindicalistas por todo o Brasil. Na capital fluminense, o estádio Caio Martins chegou a ser transformado em uma prisão política, abrigando presos, de vários municípios fluminenses, acusados de subversão. Em abril de 1964, o governador petebista Badger da Silveira – eleito em 1962, após a morte trágica do irmão Roberto da Silveira – foi preso no Palácio 165 do Ingá (antiga sede do governo fluminense) por um grupo apoiador da “Revolução”, autointitulado “Comando Revolucionário Civil do Estado do Rio de Janeiro”, chefiado pelo tabelião Antônio Schueler que, por sua vez, autonomeou- se interventor do estado do Rio. Essa “interventoria” durou menos de 24 horas, já que, Badger foi solto e retornou às suas atividades no Palácio do Ingá. Durante sua curtíssima permanência no governo após o golpe, Badger dialogou com as forças golpistas, ao mesmo tempo em que sofreu forte pressão de grupos civis e de parlamentares que exigiam a sua saída, pois o acusavam de ser comunista. Só após o governador contrariar as ordens do novo Comandante da 1ª Infantaria Divisionária, General Manuel Rodrigues Lisboa, que o seu impeachment foi aprovado na Assembleia Legislativa Fluminense, em maio de 1964. Badger foi o último governador fluminense democraticamente eleito, vide a efetivação da fusão do estado do Rio com o estado da Guanabara, em 1975.

Reforma e repressão: a atuação de Wilson Choeri na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - Leonardo Faria Cazes (UFF)

O presente trabalho apresenta e analisa a trajetória do professor Wilson Choeri na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) entre as décadas de 1960 e 1970. Neste período, que abrange a ditadura civil-militar brasileira, Choeri teve papel fundamental no processo de reforma pela qual passou a universidade, tendo ocupado altos cargos na burocracia universitária. Por sua posição na hierarquia da instituição e também por laços pessoais construídos ao longo de sua vida, o professor manteve um relacionamento próximo ao aparato repressivo do regime ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------instaurado a partir de 1964. Choeri ocupou, em sequência, a partir de 1962, os cargos de diretor do Departamento Cultural, Secretário-Geral, Sub-Reitor de Assuntos de Planejamento e Coordenação Executiva e, por fim, vice-reitor, em 1976. Foi destes lugares que ele se envolveu com os debates internos acerca da reorganização da instituição e, também, externos, mantendo um diálogo com as discussões nacionais e internacionais, particularmente com os militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Além de participar das formulações da reforma universitária, Choeri foi responsável por efetivá-la na UERJ, sendo a construção do campus do Maracanã, obra da qual o professor esteve à frente, o principal marco da reorganização da universidade. No que tange à repressão política, Choeri foi ele próprio alvo dos órgãos de informação e, também, atuou como “mediador” entre o aparato repressivo estatal e o corpo docente da UERJ, tendo ocupado um lugar ambivalente ao abrir investigações contra colegas e, ao mesmo tempo, agir para preservá-los. Isso só foi possível porque, na própria estrutura do aparato repressivo, a universidade ocupava uma posição particular: sendo uma autarquia estadual, o alcance do Serviço Nacional de Informações (SNI) era significativamente menor, como será demonstrado no trabalho.

Sangrando História: Maus e uma narrativa do holocausto a contrapelo - Danilo Nagib Queiroz de Mattos (UFF - Campos dos Goytacazes)

Toda manifestação artística é uma fonte histórica. Partido desta ideia, estamos propondo neste trabalho uma análise historiográfica a partir da história em 166 quadrinhos Maus: A história de um sobrevivente. Esta produção de Art Spiegelman, além de sua grande relevância no meio dos quadrinhos alternativos dos EUA do pós-underground, tem como epicentro contar a história de Vladek Spiegelman, pai de Art, judeu sobrevivente de Auschwitz. Maus se conta a partir das entrevistas de Art com seu pai, em uma mistura de ficção e não-ficção. O primeiro elemento fica às custas dos personagens antropomorfizados, estratégia clássica dos quadrinhos. O segundo, pelo conteúdo autobiográfico, metalinguístico e histórico. Seguindo estas ideias, este artigo se centra em identificar a relevância deste quadrinho acerca do polêmico tema do holocausto. Além disso, nos atentamos em como o relato deste sobrevivente se mostra como um fragmento único para reconstrução deste momento crítico da história contemporânea, a partir da perspectiva do oprimido, suas tradições e sutis formas de resistência. Para tal, foi necessário também analisarmos a obra através das metáforas e dos símbolos utilizados por Art Spiegelman, entendendo que eles traduzem, de forma densa, porém lúdica, a tática fascista de estereotipação e desumanização do “outro”, tornando possível uma assimilação profunda de tal problemática por parte do leitor de Maus. Para esse trabalho, Walter Benjamin foi bastante utilizado em vista de seu conceito da História a contrapelo o que é diretamente ligado à seu cuidadoso tratamento acerca da memória dos vencidos. Com isso, tivemos como objetivo principal, trazer a tona uma tradição que está distante daquela que é dia-a-dia recontada pelos vencedores neste processo histórico. Também buscamos aproximar este trabalho da "microhistória", uma vez que Vladek e Art são pequenos retalhos nesse imenso tecido social e, exatamente por isso, eles nos mostram

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------detalhes de tamanha profundeza deste momento histórico, que seriam impossíveis de acessar a partir da pura visão do "macro".

Sobre lembrar Marc Bloch na França: lugares de memória e a síndrome de Vichy (1945-2015) - Jougi Guimarães Yamashita (UFRRJ)

Dentre os debates historiográficos mais controversos no contexto francês pós- Segunda Guerra Mundial, a França de Vichy é um dos destaques. Entre tabus, constrangimentos e um certo comportamento “obsessivo”, a experiência colaboracionista sempre mobilizou esforços acadêmicos bastante peculiares. A busca pela pacificação/domesticação narrativa dos eventos ligados à participação francesa na guerra acabou por gerar, em diversos contextos, a busca pela criação de espaços de memória e a valorização de heróis que de certa forma legitimassem esse discurso almejado. A proposta do trabalho é a de analisar os lugares de memória construídos em homenagem ao historiador Marc Bloch, morto em 1944 nesse problemático contexto. O crescimento de menções ao seu nome a partir de determinados momentos, a persistência em lembrar de sua figura por membros dos mais distintos espectros políticos – ainda hoje –, e a luta de seus familiares por uma lembrança “legítima” do intelectual serão os aspectos abordados a fim de problematizar essa dificuldade dos franceses em lidar com a colaboração.

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168 ST 15. Entre caminhos, trajetórias, vilas e cidades: Políticas e tramas de ocupação e representação das conquistas e territórios portugueses no ultramar.

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A cidade do Rio de Janeiro vista pelas lentes de sua Alfândega (XVII- XVIII) - Helena de Cassia Trindade de Sá (UNIRIO)

A proposta deste trabalho é mostrar a evolução econômica da cidade do Rio de Janeiro, desde sua inserção no mercado atlântico, quando ainda era uma pequena vila rural, até se transformar em uma das principais praças mercantis do Império português. Para tal utilizar-se-á como lente de observação a Alfândega do Rio de Janeiro em dois períodos distintos: a primeira metade do século XVII, durante o governo filipino, no alvorecer do sistema colonial, com a imposição do exclusivo metropolitano e a segunda do XVIII, já no reinado de D. José I e seu secretário, o futuro Marques de Pombal, e de D. Maria I, quando se dá o inicio a crise do Antigo Regime. A Alfândega era uma das principais instituições da Coroa, responsável pela cobrança das mercadorias que entravam e saiam dos portos e ainda pelo controle do contrabando que sempre pairou na costa brasileira. Assim, a aduana fluminense acompanhou o crescimento da cidade, buscando se adequar ao incremento da movimentação comercial e aos novos ares vividos tanto na colônia americana lusa, quanto na metrópole.

A Formação da Cidade do Rio de Janeiro na Criação da Freguesia Rural de Irajá - 1644/47 - Maria Celeste Ferreira (SME/RJ e SEEDUC/RJ)

O nome da cidade e do município é Rio de Janeiro, fato que merece atenção, seja no senso comum ou no mundo acadêmico, pois esta forma físico-geográfica 169 deveria reafirma-se como objeto de preciosa atenção e estudo, não obstante essa importância em geral é redimensionada para o mar. A importância turística e a construção histórica , que adquiriu os “bairros atlânticos”, consolidados na primeira metade do século XX, confirmam uma intensa valoração dos bairros banhados pelo Oceano Atlântico, fora da baía de Guanabara. A historiografia oficial consagrou espaços geográficos fora da baía de Guanabara, em detrimento de um “palco histórico” chamado de Recôncavo da Guanabara e de territórios ao fundo da baía de Guanabara de grande relevância social, política e econômica nos séculos XVI, XVII e XVIII. . O artigo chama atenção para a necessidade de uma desnaturalização de qualquer processo de valorização espacial, em si, e serve de alerta para as escolhas feitas em sociedade, isto é, para a construção coletiva dessa cidade ao longo do tempo. É certo que, como diz o dito popular : “todos os rios correm para o mar”, e no caso do “Rio”, ironicamente correm também os olhares e os investimentos (históricos e patrimoniais) para a costa atlântica, esquecendo-se dos rios ao fundo da baía de Guanabara. Os caminhos fluviais são fundamentais para entender a história da cidade. Fatos lembrados por vários autores como Maurício de Abreu, Fânia Fridman, Carlos Lessa, Nelson da Nóbrega Fernandes, entre outros, que destacam a morfologia estratégica da baía de Guanabara e seus inúmeros rios que nela deságuam como caminhos viáveis de expansão e desenvolvimento da colonização portuguesa, além de enfatizarem as transformações na formação da cidade carioca, parte de uma vasta área do município do Rio de Janeiro ao longo de sua história. O rio Irajá juntamente com o rio Meriti , entre outros, próximos a localização da primeira freguesia rural do Rio de Janeiro, e alguns portos fluviais da época colonial relacionam-se com a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------criação da paróquia e matriz de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá – 1644/47 - conservando em sua história, centralidades e sociabilidades que devem ser ampliadas em novas pesquisas acadêmicas.

Arraial de São Luiz e Sant´Ána das Minas de Paracatu: A configuração do espaço urbano e o fortalecimento local e regiobal - Giselda Shirley da Silva (Universidade De Brasilia e Universidade de Évora)

O estudo apresenta como objeto a configuração do espaço urbano do Arraial que deu origem a Paracatu do Príncipe no período colonial. Localizada no noroeste de Minas, seu surgimento está ligado a descoberta do ouro no sertão das Minas Gerais e a exploração desse minério no período colonial, exercendo grande influência na ocupação do território. Buscou-se perceber a modalidade de povoamento, formação do Arraial, posse e uso da zona mineradora e a instalação do poder civil local. O estudo foi realizado em um viés qualitativo com pesquisa documental realizada no acervo do Arquivo Público Michael Olímpio Gonzaga em Paracatu e no Arquivo Publico Mineiro. A fundamentação teórica foi redigida a partir dos referenciais da História Cultural e com o diálogo com outras áreas do saber. Procurou-se perceber os sentido possíveis atribuídos a História e memória, contribuindo para a escrita da história local e regional.

As trajetórias de Francisco de Sousa Guerra Araújo Godinho e Paulo Fernandes Viana: coesão entre magistrados, associações comerciais ou 170 amizade? - Nara Maria de Paula Tinoco (UFRRJ)

A presente comunicação tempo por objetivo analisar a trajetória conjunta de dois magistrados entre o final do século XVIII e a primeira década do século XIX. Ambas, as carreiras de Francisco Godinho e Paulo Fernandes Viana, naturais da América Portuguesa, começam a se entrelaçar durante suas nomeações, respectivamente, como Ouvidor e Intendente do Ouro na Comarca do Sabará, entre 1790 a 1799. No ano de 1798, após algumas denúncias de atividades ilícitas na localidade são nomeados a desembargadores do Tribunal da Relação do Rio de Janeiro, ou seja, suas ações comprovadas ou não pelo Conselho Ultramarino não influenciaram na progressão de suas carreiras. Durante os anos de 1800 a 1813, observamos diversas relações entre eles, desde a indicação de Francisco Godinho por Paulo Fernandes Viana para efetuar em seu lugar a residência do Governador de Angola a compra em sociedade de um engenho na Capitania do Rio de Janeiro. Inclusive, observamos um parecer favorável efetuado por Fernandes Viana quanto a solicitação de um primo de Francisco Godinho para que se retirasse ao Reino. A influência de Paulo Fernandes Viana na trajetória de Francisco Godinho é nítida nas documentações analisadas, pois, até no ato de sua morte, em 1813, está anexada no processo de inventário uma carta precatória endereçada para Mariana quanto ao envio dos bens do falecido para o local. Assim, pretendemos entender até que ponto suas atividades conjuntas e as consequências de suas decisões em prol de cada um foram resultado de um processo de coesão entre magistrados, associações comerciais ou somente amizade.

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Cartas de liberdade passadas na Aldeya de São Jozê de Mosamedes - Igor Fernandes de Alencar (PPGH/UFG)

Nossa pesquisa tem-se arrolado sobre as estratégias de liberdade desempenhadas por sujeitos escravizados no início do século XIX, no Sertão do Guayazes. As fugas e revoltas, importantes dentre as dinâmicas de resistência, têm tido acentuada lembrança por parte dos pesquisadores que se enveredam nos estudos sobre escravidão nas Américas. Em nossa empreitada, nos dispomos em analisar as Cartas de Liberdade passadas no Cartório do 1º Ofício de Registro Geral de Imóveis e Tabelionato de Villa Boa, a primeira capital do atual estado de Goiás. O processo de povoamento colonial do território goiano, é iniciado ainda no século XVIII, em função da mineração. As alforrias, comumente descritas na documentação como cartas de liberdade, formalizava um acordo selado no âmbito particular, entre senhor e escravizado. Grande parte dos documentos manuseados, correspondem a circunscrição de Villa boa, mas, também temos nos deparado com cartas registradas em outras localidades suburbanas e mesmo rurais, coadunando com a assertiva de que as alforrias não se restringiram aos centros urbanos. Dentre outras espacialidade contidas nas fontes em análise, encontramos cartas de liberdade que subscreviam a aldeia São José de Mossâmedes. Este foi um aldeamento, que iniciou-se com os Akroâ, em 1775, e serviu posteriormente de modelo e suporte na criação de outros aldeamentos. Consequentemente outras diversas nações para ali também foram deslocadas. Imerso ao processo de expansão colonial sobre outros territórios nas Américas, muitas outras formações étnicas 171 nativas foram extintas. Pela persistência algumas se mantiveram, enquanto outras se reinventaram. Envolta da engenhosa expansão e manutenção do poder colonial, os aldeamentos se consolidaram enquanto instituições essenciais. A exemplo do aldeamento de São José de Mossâmedes, como o Maria I, serviram no arrimo de Villa Boa no combate aos Kayapó, bem como na proteção de estradas que serviam de passagem de impostos destinados ao reino. Não menos importante, resguardava sobre os aldeamentos a função de manter os aldeados produtivos, civilizados na fé cristã. Guardando as devidas proporções quanto ao poder do empreendimento colonial sobre a idealização dos aldeamentos e suas dinâmicas, estes espaços se convencionaram enquanto locais de multo intercâmbio. Inter-fluxos culturais dentre um mesmo território, com práticas territoriais diversas. Nesta mesma jurisdição, habitado por sujeitos de distintas “qualidades”, que se reterritorializavam no fluxo contínuo das frágeis fronteiras na convergente zona de lugar de intersecção.

Devoção e Conquista no Além-mar Português: a construção da fortaleza de São Jorge da Mina no reinado de D. João II - Ieda Avenia de Mello (UFF)

A devoção a São Jorge é presente na monarquia lusitana desde a Reconquista. Com a ascensão da Dinastia Avis este santo converte-se em seu panteão. D. João II, em 1482, leva São Jorge ao além-mar nomeando a primeira fortaleza portuguesa na costa ocidental da África sob seu signo e proteção. Em 1486, São Jorge da Mina recebe carta de foral, o que contribui para que as populações locais se coloquem ao serviço da feitoria, auxiliando os portugueses no comércio, nas incursões no ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------interior e na luta contra a pirataria. Além disso, a Mina torna-se o principal estabelecimento português em África, por meio da qual se escoa a produção aurífera. E, posteriormente, torna-se o primeiro entreposto de escravos da era Moderna. Nesse sentido, propõe-se analisar o papel da construção desta fortaleza no contexto da política ultramarina joanina, bem como seu papel seu simbólico na expansão portuguesa.

Dinâmica e prática governativa: a comunicação política entre Governo-Geral e a Câmara de Pernambuco (1663-1675) - Michelle Samuel da Silva (UERJ)

A proposta do trabalho visa analisar a comunicação política entre o Governo-Geral e a Câmara de Pernambuco na segunda metade do século XVII. Pretende-se identificar a dinâmica política dessas duas instâncias de poder – do Governo-Geral com a Câmara – no contexto posterior a Restauração Bragantina. Procuramos por meio das correspondências trocadas entre esses poderes identificar a atuação do governador-geral para manter a governabilidade no Estado do Brasil, contexto este, em que a coroa necessitava criar mecanismos para retomar a administração no ultramar. Nas últimas décadas, as Câmaras Municipais tornaram-se um tema fundamental para pensar o processo de centralização política e administrativa das monarquias do Antigo Regime. A Câmara Municipal tinha funções político- administrativas, judiciais, fazendárias e de polícia. Dentre as várias instituições portuguesas transplantadas para o ultramar, a municipalidade colonial regia-se pelas mesmas leis metropolitanas – as Ordenações – que regulamentaram 172 legalmente os concelhos em seu funcionamento no Reino. Nesse sentido, o trabalho tem como proposta analisar as relações políticas exercidas pelo Governo-Geral – sendo este um representante do monarca no ultramar – e a Câmara, com o objetivo de identificar as questões, conflitos e seus interesses.

Fingindo que representam o bem comum: relações sociais e poderes invisíveis nos caminhos do sertão - Marcos Guimarães Sanches (UNIRIO)

O título apropria uma afirmativa do Governador Gomes Freire de Andrada ao avaliar junto ao Rei a disputa entre interesses de grupos vinculados as Freguesias do Pilar e da Estrela, ambos em caminhos que levavam as minas no início do século XVIII. No início do século XVIII, o interior da Capitania do Rio de Janeiro foi desbravado por vias de comunicação que interligavam a capitania fluminense as recém-descobertas áreas mineradoras, nelas se constituíram localidades integradas aos novos circuitos econômicos. A constituição do espaço, resultante do complexo das relações sociais deram vida a diversas localidades, que mesmo quando sem desfrutar de status administrativos específicos, por exemplo, como Vilas, tiveram papel relevante no processo de conquista e colonização A comunicação analisa as relações entre indivíduos e grupos com interesses ou auto definidos como “moradores” das Freguesias do Pilar do Iguassu e Piedade da Estrela, ambas pontos de partida de caminhos para as minas, nas primeira décadas do século XIII, no apogeu da exploração mineradora. Os conflitos são conhecidos, assim como a documentação utilizada, mas se pretende pensar o processo no contexto da política metropolitana de controle e extração sobre a colônia ao qual se juntava um amplo ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------conjunto de interesses dos diversos grupos sociais e suas respectivas atividades econômicas em permanente disputa, produzindo uma dinâmica na qual interagiam as resistências ao controle colonial e, ao mesmo tempo, o seu reforço como possível instrumento de apoio a determinados interesses privados. As localidades, reconhecidas como Freguesias na última década do século XVII, mas de pequena expressão urbanística, pois só foram eretas Vilas na década de 1840, estavam “as margens do poder visível”, na expressão de António Manuel Hespanha, pois mesmo sem status administrativo, interagiam por seus sujeitos num processo dialético na regência da governação da conquista.

Ideias para a urbanização: as práticas de defesa propostas em documentos régios e o estudo de plantas de fortificação do Rio de Janeiro (1700- 1750) - Luiza Nascimento de Oliveira da Silva (UFRJ)

Para o estudo das ideias que integram uma série de documentos oficiais da corte portuguesa, do Arquivo Histórico Ultramarino (cartas, pareceres e ofícios), acerca da defesa da cidade do Rio de Janeiro, propomos reflexão a partir da teoria da ciência da arquitetura militar de dois tratados escritos em língua portuguesa, da primeira metade do século XVIII, quais sejam, "Exame Militar" (1703) e "Tratado da Arquitetônica, ou Arquitetura Militar, ou Fortificação das Praças" (ca. 1705) . O que denominamos de uma cultura política de defesa ajudou a forjar a urbanização da dita cidade, fato que pode ser observado no modo como os parâmetros defensivos foram ensinados. Através das experiências vitruviana e celestial 173 ensinadas pelos tratadistas, a compreensão dos aspectos do processo de urbanização e a interpretação do território são factíveis. A confecção das plantas de fortificação nos permite questionar intenções, estamos nos referindo às interpretações do desenho. Os agentes envolvidos nas decisões em relação à defesa do território, engendravam estratégias políticas que podem ser identificadas no estudo conjunto da documentação ultramarina e dos textos da ciência de defesa. Plantas de fortificação das fortalezas da entrada da barra do Rio de Janeiro (Fortalezas de Santa Cruz, da Lage e de São João) e o processo de urbanização dos domínios portugueses, em especial a cidade do Rio de Janeiro, na primeira metade do século XVIII, serão cotejados na medida em que, havia a proposta de um sistema de defesa mútuo, como mostram os tiros conexos entre as ditas edificações no "Plano da situação das três principais fortalezas" (ca. 1764).

O caminho das pedras, as águas boas e os novos portugueses - Renata Klautau Malcher de Araujo (Universidade do Algarve)

Na Relação Sumaria das Cousas do Maranhão (1624), Simão Estácio da Silveira identifica o rio Itapecuru como um dos “cinco rios caudalosos” que desaguam na baía de São Luís, acerca dos quais dizia que “em todos e cada um destes se pode fundar um reino opulentíssimo”. O Itapecuru foi dos primeiros que se procurou ocupar. Ali se fez uma fortaleza, à sombra da qual instalaram-se vários engenhos de açúcar. Era uma das áreas mais produtivas da capitania. Chegou-se mesmo a pensar transferir a capital do Estado do Maranhão para o rio Itapecuru, determinando-se fundar ali uma nova vila em sítio tipo por inexpugnável. Mas nem ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------a capital mudou de lugar, nem se fez a vila. A partir da segunda metade do século XVII todo um conjunto de dificuldades, em especial a feroz resistência indígena, tornou inviável a continuidade da ocupação do vale. Os moradores reivindicaram que se fizesse uma nova vila na costa, onde estariam mais seguros, e assim de se fundou, em 1687, a vila de Icatu. Também aqui levantou-se uma série de problemas e a nova vila mudou a sua localização mais de uma vez. No entanto, coincidindo com a cronologia da criação da vila de Icatu, assiste-se, entre os anos finais do século XVII e os primeiros do século XVIII, uma mudança no modo de pensar a ocupação do sertões do Maranhão, em que aos engenhos se vão somando (ou vão sendo substituídos por) fazendas de gado. Na literal confluência destes processos, volta a surgir como elemento importante o rio Itapecuru, que se estabelece como eixo de condução das manadas que transitavam entre o Maranhão e o Brasil. De rio da guerra, o Itapecuru passa a rio do gado e volta a povoar-se. Na segunda metade do século XVIII os moradores voltam a reivindicar a fundação de uma vila no rio. Nessa ocasião, o governador do Estado do Grão Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, empenhou-se para que a nova vila do Itapecuru finalmente se fundasse. O governador tinha projetos especiais para esta vila, que partilhou com o irmão Sebastião José de Carvalho e Melo. Na língua Tupi, Itapecuru significa “caminho das pedras” e Icatu “águas boas”. A intenção da comunicação é tomar o exemplo destas vilas para refletir acerca dos processos de criação de novas vilas no Maranhão e, por extensão, no Brasil. Importa ter em conta não apenas o conjunto de dificuldades que tais projetos necessariamente envolvem, mas sobretudo as expectativas que a criação urbana em si engendra. 174

Ocupação e instalação do poder eclesiástico na Paracatu setecentista: Instituição das Igrejas e Irmandades - Vandeir José da Silva (Universidade de Évora)

Este trabalho teve por finalidade investigar o processo de ocupação e instalação do poder eclesiástico na Paracatu do século XVIII e a relação com as irmandades religiosasas e como estas foram se isntituindo neste território. O objetivo da pesquisa foi contribuir com dados da história local e regional e a formação da Vila mineradora, importante centro regional. Apresentamos alguns questionamentos: Como aconteceu a ocupação e instalação do poder eclesiástico na Vila do Paracatu do Príncipe? Quantas Igrejas foram construídas neste território e quais as de maior importância? Qual a relação da construção e manutenção destas Igrejas com as irmandades religiosas? A investigação foi realizada através de pesquisa bibliográfica embasando em altores que discutem a história colonial e cultural. A pesquisa documental foi realizada no acervo do Arquivo público local, arquivo da diocese e livros de compromissos das irmandades. Compreendemos ao final do trabalho, que exitiu uma política de interesse econômico que permitiu a entrada no sertão das Minas Gerais em Paracatu século XVIII.

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Os aspectos que levaram a urbanização de Muriaé - MG - Arthur da Costa Orlando (Universidade Salgado de Oliveira - Niterói)

Compreendendo a importância de se entender as características sobre a urbanização nos mais variados locais do pais no passar dos anos. O presente trabalho busca debater as políticas de consolidação territorial fundamentais para o início de desenvolvimento urbano de São Paulo do Muriahé (atual Muriaé), freguesia essa localizada no sertão leste da zona da mata mineira que começa a receber seus primeiros sinais de povoamento entre o final do século XVIII e XIX, com a influência de políticas indigenistas ocorridas no período enfocado, além da concessão de privilégios, isenções fiscais e doação de sesmarias as quais procuraremos entender as mudanças ocorridas no espaço geográfico, evidenciando ainda mais a interdisciplinaridade entre Geografia e História na busca de uma reflexão ainda maior sobre as relações sócio - espaciais ocorridas no passar dos anos.

Processos locais e globais envolvidos na elevação da freguesia da Campinas à condição de vila - Felipe Rodrigues Alfonso (FFLCH-USP)

O presente trabalho propõe-se uma investigação dos processos locais e globais envolvidos na elevação da freguesia de Campinas (1774) à condição de vila (1797). Não raro a historiografia subavaliou o período em que a região era ainda freguesia, valendo-se do fato de sua indústria açucareira e sua lavoura cafeeira terem-se 175 expandido somente nas décadas subsequentes. Contudo, a portaria que alterou o estatuto administrativo de Campinas foi inicialmente estimulada pela pressão da nascente elite local por maior autonomia. Dessa inferência derivam duas conclusões: foi nos quadros da unidade “freguesia” que (i) os interesses da futura elite campineira construíram-se; (ii) os processos locais e globais já se mostraram transformadores. O recorte deste trabalho será, portanto, os 23 anos em que Campinas foi uma das freguesias da vila de Jundiaí. A estratégia de exposição dos resultados percorrerá três níveis escalares: (i) provincial, ao tratar da infra-estrutura agrícola criada pelo Império Português em São Paulo após a restauração da capitania; (ii) sistêmico, ao considerar as transformações no mercado internacional de artigos tropicais, sobretudo após a Revolução de Saint-Domingue, que levaram à expansão da fronteira mercantil do açúcar em direção ao Oeste Paulista; (iii) regional, ao abordar a maneira pela qual Campinas, agora parte de uma capitania em condições de desenvolver atividades agroexportadoras, respondeu à nova conjuntura de mercado. Julga-se que a referida estratégia de exposição – que parte do local, passa pelo global e, finalmente, retorna ao local – permite abarcar um espectro mais amplo de variáveis na busca por compreender a alteração do estatuto administrativo pela qual passou Campinas. A nível regional, o enfoque de análise considera quatro processos: (i) o incremento da especulação fundiária; (ii) a montagem e expansão da indústria açucareira; (iii) o crescimento demográfico, sobretudo da população escrava; (iv) o surgimento de uma elite açucareira no seio das duas famílias mais poderosas da região, com estratégias de manutenção e reprodução das riquezas adquiridas. Esses quatro processos reiteram a afirmação de que, ainda enquanto freguesia, Campinas já se encontrava inserida no circuito ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de interesses locais e de transformações globais. Em síntese, este trabalho considera, a partir de múltiplos níveis escalares – provincial, sistêmico e regional – e múltiplas estratégias analíticas – sócio-econômica, demográfica e política –, a elevação da freguesia de Campinas à condição de vila como um sintoma de processos das mais diversas naturezas em curso ao longo das três primeiras décadas do longo século XIX (1765-1797). Assim como a própria freguesia enquanto unidade de análise válida para que se apreendam tais processos.

“Em espaço breve, a grandeza e a superfície da terra e do mar”: representações políticas no espaço cartografado (séculos XV-XVII) - Marcello José Gomes Loureiro (UFF)

Tradicionalmente, as “cartas náuticas” e roteiros de navegação produzidos entre os séculos XV e XVII foram interpretados pela historiografia como fontes que poderiam aduzir conhecimento dos mares e territórios. Frequentemente, a história da cartografia procurou nas representações desses espaços elementos de verdade ou de incorreção, debruçando-se exaustivamente sobre os graus de acurácia ou de precisão das informações por elas oferecidas. Subsumidas a uma rigorosa história da técnica, as representações não foram (ou pouco foram) referenciadas à cultura política a que pertenciam, de tal modo que normalmente foram vinculadas de modo exclusivo às concepções contemporâneas (e por isso anacrônicas) de cartografia e de geografia. É preciso, contudo, verter as leituras de tais imagens, substituindo a compreensão de que são mapas primitivos ou rudimentares por outra que as 176 comporte como papeis políticos que ofereciam conselhos, advertências ou arbítrios a navegantes e governantes. A partir de alguns exemplos, esta comunicação pretende não apenas demonstrar como alguns arbítrios figuravam nessas representações, como também discutir alguns de seus possíveis significados.

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177 ST 16. Estudos étnico-raciais: compatibilidades e particularidades dos movimentos sociais em suas lutas por liberdade, direitos e cidadania

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A Guerra à Pobreza e o movimento pelos direitos civis: repensando o welfare norte-americano (1964-1968) - Barbara Maria de Albuquerque Mitchell (UFRJ)

O objetivo deste trabalho é analisar a Guerra à Pobreza de Lyndon Johnson focalizando os conflitos entre o governo federal, os estados e o movimento afro- americano, especialmente o pelos direitos civis. Utilizando o conceito de Jaqcquelyn Hall de “long civil rights”, nesta análise pensaremos no movimento pelos direitos civis para além de seu período “clássico”, ou seja, desde Brown v. Board of School (1954) até a aprovação do Ato pelos Direitos Civis em 1964. Nesse sentido, pensaremos o movimento pelos direitos civis em uma ação política e social desde o contexto da Segunda Guerra Mundial e sua luta pelos direitos civis, pelo voto e na denúncia das desigualdades sociais e econômicas experimentadas pela população afro-americana nos Estados Unidos em consequência da segregação e exclusão social, política e econômica. Em um cenário de renovação do Partido Democrata desde o governo Roosevelt e o projeto de welfare inaugurado pelo New Deal, Frances Piven e Cloward demonstram como o welfare foi utilizado em várias partes do mundo como artifício de controle social ou redução de conflitos sociais. Nesse sentido, os autores entendem que a postura do Partido Democrata e das políticas de welfare na década de 1960 tinham sim como base as demandas do crescente movimento pelos direitos civis, de camadas progressistas e liberais radicais, de intelectuais progressistas, mas, além disso, pretendiam resolver as tensões e conflitos urbanos que preocupavam cada vez mais as camadas médias norte-americanas. Por outro lado, a legislação da Guerra à Pobreza atacou 178 diretamente a autonomia dos estados ao tentar federalizar, pela primeira vez, considerável parte da estrutura de welfare norte-americano e, com seus projetos de ação direta comunitária, abriu uma brecha para a entrada de atores e lideranças sociais que desafiaram a estrutura oficial do projeto e pressionaram por mudanças em sua concepção e execução. Considerando a utilização do diálogo direto com membros do governo por grupos afro-americanos para exigir o aumento de programas sociais, é também importante entender os diferentes meios de inserção dos atores sociais durante a Guerra à Pobreza. Ademais, planejo investigar como tais métodos influenciaram as disputas por poder e recursos locais disponibilizados pelo governo ao financiar os programas da Guerra à Pobreza. Com isso em mente, esta apresentação enfatizará a dinâmica de operação da Guerra à Pobreza, assim como as tensões existentes entre as forças oficiais e os movimentos sociais durante o projeto.

A legislação e os modos operantes de resistência - Lucimar Felisberto dos Santos (UFRJ)

O status quo da História tem mudado nos últimos anos. Destacadamente, em função de contendas sobre a memória coletiva e o dever de memória de específicos grupos humanos. A questão da memória tem, assim, ganhado espaços públicos, do que se vê reflexo na vasta produção editorial, audiovisual, museológica, entre outras, que mobiliza saberes históricos, articulando demandas por esse tipo de conhecimento vindas de diversos setores da sociedade civil e do Estado. A proposta de reflexão com a pretendida comunicação passa por analisar essa chamada história pública ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------que vem recebendo visibilidade nos últimos anos. Mas são principalmente dois os eixos de análise com os quais se quer dialogar – ambos envolvendo uma denominada cultura legal. O primeiro diz respeito aos novos sujeitos do imaginário acadêmico – incluindo as novas identidades étnicas investigadas a partir do conceito de etnogênese. O segundo tem o sentido de refletir a luz de novos argumentos sobre o conceito que, em verdade, propiciou a propagação de uma metodologia de análise das fontes que, a contrapelo, revisitou leis e acordos assinados que deixaram entrever os modos operantes de resistência.

A Liga Cristã Umbandista e a luta contra a intolerância religiosa em Campos dos Goytacazes - Luiz Gustavo Guimarães Aguiar Alves (UENF)

Objetiva-se nesta pesquisa, resultante de um trabalho de conclusão de curso, compreender como se deu a luta pela liberdade religiosa no município de Campos dos Goytacazes - cidade que possui uma formação afrorreligiosa muito peculiar -, e ainda abordar acerca do trânsito entre o poder político e o poder religioso, no qual os adeptos dos cultos afro-brasileiros legitimam sua defesa político-jurídica através da formulação de associações, federações e demais órgãos criados no seio dos movimentos sociais locais, enfatizando a Liga Cristã Umbandista, e observando a criação do Fórum Municipal de Religiões Afro-brasileiras. Para tanto, a metodologia se constrói em diálogo com a história oral através de entrevistas, contando ainda com a análise do catálogo As Religiões Afro-brasileiras em Campos dos Goytacazes: preservar, dar visibilidade e combater a discriminação – 179 cedido pelo NEEV (Núcleo de Estudos da Exclusão e da Violência) da UENF (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), e de documentos destas associações. Considera-se que o foco desta discussão perpassa pelas religiosidades e seus sistemas de signos, e ainda pela vida em comunidade, valorizando o imaginário social acerca da intolerância religiosa. As associações afrorreligiosas, fundamentadas no poder religioso, puderam construir e fomentar, ao longo da história, estratégias contra a opressão às outras expressões religiosas que não a católica. Deve-se ressaltar que a perseguição foi fundamentada no poder político, através de leis, códigos, e as próprias constituições, que tinham como objetivo cercear os direitos deste povo. Desse modo, observa-se que as irmandades católicas, muito presentes na região de Campos, puderam iniciar, asfaltando o caminho da luta contra a intolerância religiosa, uma vez que foram focos de perpetuação de expressões religiosas africanas junto ao sincretismo com doutrinas do catolicismo ibérico, e serviram como as primeiras organizações de viés afrorreligioso. No início do século XX, com a proliferação das casas de Candomblé na Bahia e o surgimento da Umbanda no Rio de Janeiro, o povo de axé criou federações, confederações, ligas e demais organizações que funcionaram enquanto redes de solidariedade entre os adeptos destes cultos. É notável, desta forma, que, em Campos, a Liga Cristã Umbandista foi capaz de desenvolver atividades, propiciar documentações e lutar contra a intolerância religiosa neste município. De acordo com os depoimentos coletados durante a pesquisa, foi observado que a luta da Liga foi extremamente relevante, posto que se deu no contexto da Ditadura Militar, no qual diversas casas foram invadidas e fechadas pela polícia.

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Alfabetização, letramento e emponderamento no terreiro de Umbanda: Da leitura da vida para a vida na leitura - Paula dos Reis Moita (UFRRJ)

O presente projeto surge a partir da interseção do trabalho Do texto ao contexto: Ler e escrever com prazer, apresentado como Trabalho de Conclusão do Curso da graduação em Pedagogia com a observação da rotina e estrutura das relações interpessoais tecidas durante as diversas ações de educação formal e informal efetivadas no cotidiano do Centro Espírita Justiça e Amor. No cenário atual de pesquisas educacionais, cada vez mais se busca proporcionar aos indivíduos mais do que um ensino quantitativo, mas aprendizagem significativa para a vida, incentivando e promovendo o desejo por aprender mais, inserindo o sujeito como protagonista de sua própria aprendizagem e utilizando sua realidade como mecanismo do desenvolvimento de seu processo de alfabetização e letramento. Nesse sentido, é fundamental direcionar o olhar e reflexões para os diversos espaços de convívio social dos indivíduos, observando suas influências no processo de cognição e sua contribuição, ou não, na promoção de seu desenvolvimento global e de seu processo de empoderamento de espaços e identidades socioculturais. O Terreiro de Umbanda, mais especificamente o Centro Espírita Justiça e Amor, observado no presente estudo, oportuniza dentro de sua rotina espaços de crescimento e desenvolvimento das múltiplas linguagens inseridas em seu contexto, inclusive através de estudo sistematizado e projetos de educação/escolarização.O trabalho tem por objetivo analisar práticas educacionais formais e informais dentro do cotidiano da Instituição e suas implicações no 180 letramento, alfabetização, na formação da consciência e no processo de empoderamento dos indivíduos. A Discussão traz como referencial teórico norteador básico os estudos de Magda Soares, Vigotsky e Paulo Freire . A investigação tem por metodologia o estudo de caso, privilegiando para coleta de dados a observação participante, a entrevista em profundidade e a revisão bibliográfica. Destacar e legitimar esta prática educativa inclusiva, que acolhe a diversidade, que abriga valores democráticos, se consolida como espaço de formação do exercício da cidadania, construção crítica dos conhecimentos e na formação do leitor/autor proficiente e letrado nesse LOCUS pouco explorado pela Academia, constitui elemento relevante, de contribuição significativa para que se efetive e expanda mais práticas educacionais que possibilitem ao indivíduo descobrir o que querer, aprender o sentir, construir maneiras diferentes de pensar e dessa forma, agir e proceder com alegria e coerência, paixão e entusiasmo, abnegação e consciência.

As abordagens étnico-raciais nas provas do ENEM e ENADE: interdisciplinaridade, ensino de História e ações afirmativas - Siméia de Nazaré Lopes (Universidade Federal do Amapá)

A obrigatoriedade da lei Nº. 11.654/08, também pode ser pensada como uma política de valorização das identidades e da memória de grupos sociais ausentes nos currículos da educação básica. Após a implementação dessa lei, firmou-se a necessidade de se discutir sobre a desigualdade racial e social e sobre as práticas de discriminação presentes na cultura escolar, entretanto como essas questões estão ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sendo aferidas em sociedade é o que se busca nessa pesquisa. Como o SINAES percebe seus objetivos de diagnosticar as políticas de ações afirmativas no ensino básico e superior? Através das questões das provas do ENEM e ENADE para os alunos do Ensino Médio e Superior será feita a seleção das perguntas que envolvam as relações étnico-raciais dentro das diversas temporalidades históricas abordadas nos Temas Transversais dos PCN´s. O objetivo dessa comunicação é apresentar as observações iniciais referentes às questões das provas de História do organizadas pelo INEP. Com base na produção acadêmica e dos movimentos sociais buscar-se- á perceber como as provas elaboradas pelo SINAES articulam essas demandas em suas questões, bem como perceber como as pluralidade cultural é entendida pelo governo, tendo em vista que essa perspectiva de análise não situa o debate para a superação do racismo e das desigualdades raciais na educação. Nesse sentido, entende-se que a análise das questões das provas possibilitam observar como o MEC entende a relação entre as diretrizes propostas para o ensino (os eixos e temas transversais dos PCN´s, as ações afirmativas) e a aferição dessas competências pelos alunos e futuros professores da educação básica. A pesquisa elegeu como recorte temporal as avaliações realizadas de 2008 a 2015 e utilizará as provas disponíveis na internet.

Cartografias Juvenis (Tecendo identidades negras periféricas no território das aulas de História) - Eleonora Abad Stefenson (UFF), Everardo Paiva de Andrade (UFF) 181 O presente trabalho é parte de uma pesquisa de doutorado em desenvolvimento no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF. Seu objetivo é compreender os processos de subjetivação de jovens estudantes do Ensino Médio de uma escola da Rede Estadual do Rio de Janeiro nas aulas de História, em meio a processos de construção e ressignificação identitários que emergem em um contexto de profundas transformações curriculares,provocadas pela Lei 10639/03 e suas respectivas diretrizes, que estabelecem a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileiras e africanas na educação básica.As transformações sentidas na sala de aula nos oferecem pistas sobre estes múltiplos sentidos negociados e disputados no que tange às histórias e culturas negras pelos jovens estudantes. As diversas formas de (se) narrar neste processo nos apontam para possibilidades de leituras políticas sobre as suas realidades e sobre o mundo. Nesse sentido, pesquisadores do campo de Ensino de História nos apontam a possibilidade de pensarmos o saber histórico escolar enquanto um espaço profícuo para a construção de diálogos interculturais em função da sua própria especificidade epistemológica de profundas relações com outros saberes sociais – um saber de fronteira, portanto. Atentos a esta característica da pesquisa, enquanto espaço de cruzamentos de diferentes saberes, como é a pesquisa em ensino de História e, em especial a pesquisa a ser construída no interior da escola com os seus atores (no caso, os estudantes), neste território comum ao pesquisador e aos pesquisados, buscamos na metodologia da pesquisa-intervenção, mais especificamente, na pesquisa cartográfica, as pistas que orientam nosso percurso investigativo.No presente trabalho, portanto, anunciaremos as primeiras pistas construídas neste percurso investigativo. Para tal, nos utilizaremos das anotações ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------do caderno de campo produzidas durante duas oficinas realizadas nas aulas ao longo dos anos de 2016 e 2017, assim como do próprio material construído durante as oficinas. A partir dessas primeiras pistas, podemos perceber que a reflexão sobre a emergência dos movimentos multiculturais perpassa a própria elucidação das redes que os constituem, ou seja, dos múltiplos sujeitos que compõem estes rizomas: os estudantes da escola, a pesquisadora, os movimentos sociais, a escola e a academia.

Da cor e das associações negras: educação, lazer e identidade (1949 e 1970) - Stephane Ramos da Costa (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A presente pesquisa tem como objetivo versar acerca do papel de projetos educacionais no Brasil que não necessariamente perpassam pelas mãos do Estado, através dos intitulados clubes sociais negros. O contexto histórico a qual o objeto circula é o do pós-abolição, mais especificamente entre as décadas de 40 e 70 do século XX. Não se trata aqui de ter um olhar completamente salvacionista da educação e nem tanto romantizar todas essas experiências dos sujeitos, mas sim de se utilizar da educação desses associados para entender suas expectativas e projetos. O processo que construiu as diversas formas de educação escolar no Brasil não foi uniforme e nem mesmo indiferenciado para toda a população. Pretende-se, diante disto, problematizar os processos dos modelos de educação, que já na Primeira República tinham como objetivo a civilização e o progresso, dando um enfoque prioritário nas experiências históricas dos indivíduos que aqui pretendem 182 ser estudados. Pretende-se aqui também mobilizar os conceitos de "associativismo negro" de Petrônio Domingues, "experiência histórica" de Edward Thompson e "dupla-consciência" de Paul Gilroy.

Diálogos de saberes e fazeres tradicionais em uma perspectiva intergeracional - Elaine Monteiro (Universidade Federal Fluminense)

A partir de conhecimentos compartilhados em atividades de ensino, pesquisa e extensão com comunidades negras da região sudeste, este trabalho apresenta o processo que levou à criação de uma Rede de Jovens Lideranças Jongueiras e destaca duas questões que emergiram no trabalho com a Rede: o surgimento de novos grupos de Jongo e a inserção dos saberes e fazeres jongueiros na universidade. Ambas as questões são analisadas por uma perspectiva intergeracional. A geração é a idade processada pela história e pela cultura. Cada geração alude ao tempo em que os indivíduos se socializam e incorporam linguagens e formas de perceber, de apreciar, classificar e distinguir. Desta forma, diferenças entre lideranças adultas e jovens lideranças jongueiras são identificadas no trabalho, assim como as diversas compreensões e posicionamentos com relação às duas questões citadas. A partilha de saberes e fazeres com a Rede de Jovens Lideranças Jongueiras tem levado à identificação de questões relevantes no recente processo de reconhecimento e de valorização do patrimônio cultural imaterial, como a própria concepção de salvaguarda do patrimônio imaterial e sua vinculação a políticas de ações afirmativas como forma de reparação.

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Diante da liberdade , uma Lei: a reforma eleitoral de 1881 e a educação na Corte - Leandro Duarte Montano (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O presente trabalho abordará historicamente o contexto que deu origem as reformas político-eleitorais, a questão educacional e a questão servil a partir da década de 1870 na cidade do Rio de Janeiro como um forma resgatar debates e experiências sociais que ajudem na compreensão dos processos complexos que levaram às tentativas de exclusão e/ou controle social e político dos setores populares mediante a tentativa de capitalização e monopólio dos debates e atos pelos setores da elite, materializados na reforma eleitoral de 1881. Será apresentado o resultado preliminar das pesquisas/leituras sobre o tema ainda em desenvolvimento no meu doutoramento em História da Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ.

Direito à liberdade: protagonismo escravo na política de emancipação gradual - Cátia da Costa Louzada de Assis (UERJ)

O ano era 1872. O reitor do Externato do Imperial Colégio de Pedro II, Dr. Manoel Pacheco da Silva, teve que explicar-se ao Inspetor Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, Dr. Antonio Joaquim Ribas, por conta de uma subscrição realizada entre os alunos do Externato para a libertação de uma escrava. O episódio aconteceu alguns meses após a aprovação da Lei de 1871 e, segundo Pacheco, a mulher foi até a instituição pedir ajuda para sua libertação e contou com 183 o apoio de um professor que exortou todos os alunos a participarem da subscrição. Havia suspeita, porém, de que a escrava pertencia a uma parente do dito professor. Iniciativa da própria cativa ou uma subscrição arquitetada para atender aos interesses de sua suposta senhora, a alforria poderia ser efetivada, nos termos da lei de 1871, desde que atendida a condição de pagamento à proprietária. Os mecanismos legais serviam aos interesses senhoriais, mas também de escravos que se mobilizavam, ainda que nos limites de sua condição jurídica, para efetivar suas expectativas de liberdade.

Do bairro do Alto do São Sebastião à Paris: a luta dos congadeiros de Oliveira (MG) 1950-2010 - Fernanda Pires Rubião (SEEDUC/RJ)

O bairro do Alto do São Sebastião faz parte da periferia da cidade de Oliveira (MG). Lá moram pessoas pobres e afrodescendentes, e muitos deles participam da Festa de Nossa Senhora do Rosário ou Congado. Essa festa acontece desde o período escravista e seus integrantes - os congadeiros-, através do seu ritual, homenageiam seus santos de devoção -Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Nossa Senhora das Mercês, Santa Ifigênia e Nossa Senhora Aparecida, rememoram à África e escravidão. E também expressam suas lutas políticas e o combate ao racismo. Suas lutas estão intimamente associadas à consciência que eles possuem que são portadores de direitos, e assim, desejam conquistar e ampliar sua cidadania. Ao longo dos anos, muitos foram os obstáculos que os congadeiros tiveram que enfrentar para continuarem manifestando sua devoção aos santos padroeiros, em especial com representantes da Prefeitura Municipal e da Igreja Católica. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Entretanto, mesmo com diversas barreiras, os congadeiros foram convidados para irem à Paris no ano de 2005 no evento “Ano do Brasil na França”, considerado pelos integrantes da festa como o maior reconhecimento de sua expressão cultural. Mas, mesmo com esse reconhecimento internacional continuam a enfrentar o racismo na sociedade oliveirense. Desse modo, o objetivo dessa apresentação é analisar as diversas lutas enfrentadas pelos congadeiros; como a proibição de realizarem sua festa na Praça XV de Novembro, local nobre da cidade, e sua missa no interior da igreja assim como a discriminação racial; como uma forma de conquistarem e ampliarem sua cidadania na sociedade oliveirense.

Identidade na perspectiva de Kabengele Munanga - Francielly Nunes Silva (Universidade Estadual de Goiás)

O presente trabalho propõe-se a discutir a identidade negra dentro da perspectiva de Kabengele Munanga. O objetivo da pesquisa é destacar os aspectos psicológicos, linguísticos e históricos que são essenciais para a construção de uma identidade negra consciente, perceber como ocorre o processo de construção da identidade negra e quais são suas dificuldades enfrentadas durante tal processo. Para desenvolvimento da pesquisa, a metodologia a ser utilizada é a pesquisa bibliográfica, como base nos autores Munanga (2012), Hall (1992) e Gomes (2012). Ao longo da História e do desenvolvimento do Brasil, tudo o que se relaciona com a origem negra sofreu um processo de folclorização e domesticação, principalmente no que diz respeito a cultura e religiões. Assim ao se tratar da 184 identidade negra vale ressaltar a história a partir da diáspora forçada de muitos africanos para o Brasil para serem submetidos à escravidão durante mais de trezentos anos, porém ao alcançar a libertação sofreram com a alienação da cor da pele e sua inferiorização resultou na construção social de submissão negra em relação ao branco, ocasionando o sufocamento e o aprimoramento de ideologias racistas que causam até hoje sofrimento e impõe dificuldades para o negro. Essa ideia de hierarquização racial enraizada em nossa sociedade dificulta os movimentos de (re)afirmação identitária, já que a cultura negra é tratada no imaginário social como inferior. De forma geral, a identidade, bastante complexa, é constituída a partir de diversas esferas, das quais apresentam-se pela política, pelo social, pela cultura e pela economia. Consequentemente, a identidade negra traz uma complexidade maior ainda, pois ela não pode ser julgada a partir somente de suas características físicas, mas também por sua contribuição cultural e social ao longo do tempo. Assim, a cada dia mais, há uma valorização da história dos diásporos e, consequentemente, da história que aqui ficaram.

Irmandades católicas leigas formadas por africanos e afrodescendentes e a educação dos negros na transição Império-República no Rio de Janeiro - Edna Braga Pereira (UNIRIO)

Irmandades são instituições religiosas formadas por leigos com o objetivo de auxiliar seus membros tanto material quanto espiritualmente. Duas irmandades se destacam nesse trabalho por serem formadas por negros, escravos e ex-escravos. A Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia e a Irmandade de Nossa Senhora do ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Tais irmandades eram compostas por negros escravos e alforriados, e era voltada para dar assistência aos seus membros. Para os negros trazidos dos continentes africanos e escravizados as irmandades serviam para a “manutenção de sua identidade cultura como forma de resistência”. Esse trabalho fica como objeto de estudo a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, pois em meio a pesquisa descobriu-se que a instituição fundou e manteve uma escola para educar os filhos dos seus membros. A Irmandade nasceu da fusão entre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e a Confraria de São Benedito, no século XVII. Formada em sua maior parte por negros forros, ela se empenhava em comprar a alforria de seus irmãos. Uma de suas características era sua vocação para a caridade. Um dos atos de caridade promovidos pela instituição seria cuidar de seus membros, principalmente na sua morte, sepultando-os dignamente, e cuidando de suas famílias. Esse cuidar também era expresso na forma de escolarização. A pesquisa para esse trabalho se deu a partir de material bibliográfico e a análise de publicações de jornais referentes à escola. Buscamos artigos e livros que abordassem temas como educação dos negros no Brasil e também que falassem sobre irmandades negras no Brasil para construir a base do nosso pensamento. Também pesquisamos através de diferentes palavras chaves notícias sobre nosso objeto em periódicos da época através do arquivo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos funcionou - e ainda funciona - como um espaço de comunhão, apoio e solidariedade entre o povo negro. Também é um local em que esses podem se manter conectados às suas raízes e manter a sua 185 identidade étnica. A escola de São Benedicto possibilitou que crianças negras não ficassem desamparadas e fossem cuidadas e educadas por pessoas que não somente queriam ofertá-las uma educação impessoal, mas que se importavam e se identificavam com elas, se importavam com suas famílias, e queriam que elas tivessem oportunidades além das que eles mesmos tiveram. A irmandade nos mostra como a população negra protagonizou sua própria luta mesmo em meio a resistência social.

Mulheres negras e intelectualidade: transgredindo fronteiras - Marisangela Lins de Almeida (UFSC)

Houve, como fruto da militância negra do século XIX, notável aumento na visibilidade das produções de mulheres negras a partir de 1980. Apesar disso, o campo intelectual, historicamente, vem se desenhando como um não lugar para as mulheres negras. Introduzindo a variável raça às questões de gênero, essa comunicação tem por objetivo refletir sobre a intelectualidade das mulheres negras, utilizando, para isso, os debates de Hooks (1995;1989), West (1985), Bairros (1995), Carneiro (2001;2003), Gonzalez (1984), Collins (20017), Crenshaw (2002) e Gois (1996). Busca-se refletir sobre o silenciamento e a invisibilidade do pensamento de mulheres negras no meio acadêmico e intelectual, investigando os modos que o sexismo e o racismo atuam nesta relação. Essa demarcação de espaços, apesar das lutas destas por representação, tem significado concreto sobre suas vidas. Segundo Carneiro (2001), o racismo estabelece a inferioridade social dos segmentos negros da população em geral e das mulheres negras em particular. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Para Hooks (1995), o sexismo e o racismo atuando juntos perpetuam uma iconografia de representação da mulher negra que imprime na consciência cultural coletiva a ideia de que ela está neste planeta principalmente para servir aos outros, onde, desde a escravidão até hoje, o corpo da negra tem sido visto pelos ocidentais como o símbolo de uma presença feminina natural orgânica mais próxima da natureza animalística e primitiva, lendo-a socialmente como um corpo sem mente, tornando o domínio intelectual como um lugar interdito. Desse modo, procura-se compreender a dinâmica social e histórica que invisibiliza e afasta as mulheres negras do campo intelectual. Para tal, o conceito de interseccionalidade será uma ferramenta de análise, contribuindo para a compreensão dessas dinâmicas históricas também no interior do movimento feminista.

O Club da Lavoura e do Commercio e a Lei do Ventre Livre - Antonio Carlos Higino da Silva (PPGHC-UFRJ)

Em 16 de julho de 1871 foi organizado o Club da Lavoura e do Commercio, ou seja, pouco mais que dois meses antes da promulgação da Lei do Ventre Livre. Seu objetivo era organizar agricultores e comerciantes contra a tramitação do projeto de lei. Para eles a comissão especial adotara uma “celeridade despótica”, uma “exaltação frenética”, expusera “theorias perigosas” que atropelavam “regras parlamentares” contra aqueles “cujos os hombros possantes repousa a fortuna pública” a fim de ludibriar a opinião pública “sobre a questão mais grave que pode agitar este Império”: “a proposta relativa ao estado servil”. Proposições e 186 posicionamentos como esses eram prontamente respondidos por aqueles que procuravam apelar para o “patriotismo” e desinteresse dos dirigentes do Club, pois entendiam que não havia mais sobre o que se deliberar e nem mais tempo a perder. Nesse contexto de disputas nasceu a Lei do Ventre Livre que procurava definir o processo de libertação dos filhos e das filhas das escravas, juntamente, as formas de indenização de seus proprietários. Todavia identificamos que os aspectos presentes neste processo litigioso revelam a reprodução de mecanismos exploratórios por parte de associações estabelecidas, pelo híbrido exercício de atividades públicas e privadas e de uma circunscrita rede de representação que privilegiava repetidos atores. Sendo assim, nos propomos trazer à tona elementos e parte de um tecido social que por meio de uma rede restrita procurava interditar o acesso a liberdade e a cidadania.

Rascunhos da liberdade: iniciativas escolares negras e instrução no Rio de Janeiro, século XIX - Higor Figueira Ferreira (UFRJ)

No intuito de obter o aprendizado básico das letras – ler e escrever –, os segmentos sociais subordinados direta ou indiretamente à lógica do cativeiro – escravos, libertos e livres de cor – procuraram constituir estratégias que pudessem tornar possível o acesso à instrução. Com efeito, do ponto de vista simbólico, o ingresso no mundo letrado representaria, dentre outras coisas, o afastamento do mundo do cativeiro, marcado predominantemente por restrições e impedimentos de toda ordem. Neste sentido, portanto, a mobilização em favor do acesso à instrução letrada compunha uma luta de caráter mais amplo, dialogando com os próprios ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sentidos de liberdade constituídos por meio da luta abolicionista no século XIX. De modo a compreender mais profundamente as estratégias acionadas por estes segmentos, bem como as subversões e arranjos necessários para que obtivessem sucesso nas suas empreitadas educacionais, temos promovido pesquisas no intuito de localizar e perscrutar ambientes escolares, ou mesmo iniciativas educacionais de caráter informal, em que se possa identificar o comparecimento de escravos, libertos e livres de cor na Corte na segunda metade do século XIX. Neste sentido, apresentaremos numa perspectiva comparada duas experiências educacionais que foram conduzidas diretamente por negros e para negros. São elas a escola do professor Pretextato dos Passos Silva, professor que se afirmava preto e que lecionava meninos pretos e pardos na freguesia de Santíssimo Sacramento, e o curso noturno oferecido por Israel Antônio Soares, ex-escravo e filho de africanos islamizados que – diferentemente de Pretextato – não era e tampouco se reconhecia enquanto professor, mas que de forma militante organizou na sua casa um curso noturno no intuito de atender a escravos e ex-escravos. Cotejar essas duas iniciativas educacionais, ambas feitas por negros e para negros, pode permitir de algum modo a melhor compreensão acerca do caráter variado que as experiências educacionais poderiam adquirir neste contexto, o que, por fim, poderá descortinar novos caminhos para a construção de reflexões a respeito das formas de organização, dos significados e intenções que as populações negras tinham para com a instrução naquela época.

Representações de protestos indígenas na mídia brasileira:um estudo de caso 187 sobre o jornal O Globo - Ana de Melo (Uerj), Silene Orlando Ribeiro (SEEDUC/RJ)

Este trabalho é o resultado preliminar de uma pesquisa que estamos desenvolvendo sobre o processo de construção de representações de protestos indígenas na mídia brasileira no tempo presente. A invisibilidade e os esteriótipos construídos sobre as populações indígenas no Brasil nas últimas décadas são elementos de um projeto político partilhados por grupos hegemônicos com diferentes interesses econômicos, políticos e sociais no âmbito da sociedade brasileira. A mídia escrita e televisionada tem um importante papel neste processo por sua capacidade de produção de discursos e representações e a imensa penetração que tais discursos alcançam. A disputa por imaginários,representações e discursos, tornou-se a principal função dos meios de comunicação de massa após a segunda metade do século XX. Assim sendo, em um país perisférico como o Brasil e com uma longa história de violência contra as populações indígenas, a imprensa tornou-se parte das estratégias das elites econômicas na produção de discursos sobre os indígenas no Brasil e na representação dos protestos e organizações políticas indígenas.

“É official de ferreiro e desconfia-se que tenha vindo para esta Côrte”: O Ofício de ferreiro em Minas Gerais e no Rio de Janeiro em uma perspectiva comparativa (Século XIX) - Antonio Ramos Bispo Neto (Instituto de História)

Continuando uma reflexão iniciada em trabalho de conclusão de curso buscarei investigar, neste trabalho, um momento da longa história da industrialização ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------brasileira, mais especificamente entre as décadas de 1840-1870, em que houve relativo crescimento de indústrias e manufaturas na província do Rio de Janeiro, mais especificamente a Corte e seus arrabaldes e na província de Minas Gerais, em suas regiões voltadas para o abastecimento interno e cafeicultura. A pesquisa girará em torno da chamada escravidão industrial, ou seja, sobre o uso de escravos em empreendimentos industriais ou manufatureiros, no século XIX.

“Um canto libertário” contra “o cativeiro social”: um desfile da Nenê de Vila Matilde e do Paraíso do Tuiuti e o combate ao racismo em sala de aula - Emerson Porto Ferreira (PUC-SP)

A proposta de apresentação para a ANPUH - RJ tem como proposta cruzar dois desfiles e sambas de duas escolas de samba, uma de São Paulo e outra do Rio de Janeiro, como fonte histórica a discussão do racismo e da desigualdade social. A seguinte apresentação é um desdobramento da pesquisa de mestrado na PUC-SP, no Programa de Educação: História, Política, Sociedade, sobre os sambas afro- brasileiros da Nenê de Vila Matilde, como um recurso ao material didático, no ensino de história em sala de aula atendendo a discussão da Lei 10.639/03. Entendemos que a música seja um importante campo a ser descoberto no ensino de história devido ao seu caráter imaginativo e simbólico, existente em suas letras e na sua produção, e que no caso da escola de samba, o próprio desfile e suas simbologias são fortes representações de uma prática de “ouviver”: ouvir e viver, que atingem a escuta na emoção, da intelectualidade e do corpo. Para isso trazemos 188 a discussão dois desfiles: o da Nenê de Vila Matilde, escola da Zona Leste de São Paulo, de 2013 sobre a busca de igualdade tendo como ponto de partida a Revolta dos Búzios, e a busca de direitos dos diversos movimentos sociais no Brasil ao longo da história; e o da Paraíso do Tuiuti de 2018, escola do Morro de São Cristóvão, que abordou a problemática do trabalho escravo e das permanências de tal prática em nossa sociedade, que se refletem no atual contexto de golpe e de retiradas de direitos do atual “des”governo brasileiro. Sendo assim, os dois sambas se complementam em suas narrativas, uma vez que a busca da liberdade é um "canto libertário" a ser buscado, para a quebra do cativeiro social ainda enfrentado pelo negro em sociedade. Assim, o samba enredo se torna um discurso potente em sala de aula junto ao desfile, uma vez que, a escola de samba é um locutor de ações da história do Brasil, sendo uma produção de origem afro-brasileira que dentro de São Paulo e do Rio de Janeiro foram palco de resistência e permanência do negro em sociedade. Os dois desfiles ainda possuem uma quebra da visão colonial do "outro" (Carlos Skliar, 2003), que dentro do campo da história e do ensino ainda são colocados à margem da sociedade em uma visão rasteira e ainda pouco crítica dentro do nosso currículo. Ao trazer a Revolta dos Búzios e os movimentos sociais e a continuação do trabalho escravo e do cativeiro social do negro em sociedade, os dois desfiles agem como uma força que transita entre o conhecimento acadêmico e o escolar, como um conhecimento de um grupo de origem negra, na produção de um currículo transgressor (Vera Candau, 2008, 2012), para abordar, alertar e denunciar o racismo em sala de aula. Portanto, tal proposta visa contribuir no campo da educação e da história, como recurso de ação ao professor em sala de aula. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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189 ST 17. Experiências negras no pós- Abolição: entre parcerias e saberes compartilhados

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"O maxixe é sinceramente humano!”: dança e moralidade no Rio de Janeiro (1900-1915) - Juliana da Conceição Pereira (Universidade Federal Fluminense)

O trabalho tem por objetivo o analisar os códigos de moralidade adotados nos bailes realizados pelos clubes dançantes carnavalescos. Frequentados por homens e mulheres de maioria negra essas associações são resultado de um fenômeno dançante que tomou o Rio de Janeiro entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Os diretores dessas associações adotaram regras de conduta e comportamento como uma importante estratégia de afirmação social, garantia de respeitabilidade e proteção feminina.

1° Festival Mundial de Artes Negras no Senegal: a negritude entre Brasil e Dakar - Maybel Sulamita de Oliveira (Universidade Federal Fluminense)

Em 1966 realizou-se no Senegal, na cidade de Dakar, o 1° Festival Mundial de Artes Negras (FESMAN) promovido pela República do Senegal com o apoio e suporte da UNESCO. O festival pretendia atrair diversos artistas ligados as “artes negras” promovendo integrações artísticas e contatos entre diversos países com o continente africano dentro um eixo cultural. O país que outrora havia sido colônia francesa e obteve sua independência em 1960, contou com o apoio do reconhecido poeta da Negritude, Léopold Sédar Senghor, que posteriormente elegeu-se como presidente por unanimidade da nova República, vindo a desempenhar o cargo até o final de 1980. Nesse sentido, a ideia de um país africano sediar um evento de 190 porte internacional dialogava com as intenções de demonstrar o caráter cosmopolita de Dakar, ao mesmo tempo em que fortaleceria os ideais acerca da negritude e do socialismo africano de Léopold Sédar Senghor. O contato do Brasil com os ideais da negritude podem ser percebidos desde a Frente Negra Brasileira (FNB) na década de 1930, movimento que pode ser considerado como um primeiro impulso do movimento negro no Brasil, mas a influência do movimento da Negritude francês de Léopold Sédar Senghor, só ganhou destaque no Brasil durante um segundo impulso: o Teatro Experimental do Negro (TEN). A relação do TEN com o movimento da Negritude e, consequentemente, com Leopold Sédar Senghor e a realização do 1° FESMAN, fez com que o grupo – através de Abdias Nascimento –, tivesse interesse em participar do evento realizado em Dakar. Tal objetivo foi frustrado pela não participação de nenhum dos integrantes do TEN na delegação brasileira, de acordo com Nascimento (1966), a “exclusão” do TEN era consequência da “censura aos esforços de afirmação do negro e de sua tomada de consciência”, o governo brasileiro nessa compreensão tentava não “perder sua imagem de democracia racial”, vale ressaltar que neste momento o Brasil vivia a realidade de um regime militar, onde violentas repressões atingiam setores político- sociais que pudessem estar em desacordo com o governo. A exclusão do TEN, porém não impediu diversos desdobramentos e debates políticos tanto no Brasil, quanto no Senegal, dentro desse breve panorama a presente comunicação se propõe a discutir as diversas concepções de negritude entre fronteiras intelectuais de pensamentos situados tanto no continente africano como na diáspora durante a realização 1° Festival Mundial de Artes Negras (FESMAN), demonstrando como o evento artístico obteve grande importância simbólica e política para o Senegal, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------assim como revelou a presença da ideologia da negritude em outros países do Atlântico Negro.

A formação de médicos negros nas escolas médicas brasileiras - Helber Renato Feydit de Medeiros (Colégio Militar do Rio de Janeiro)

Essa pesquisa procura realizar um levantamento sobre o número de médicos negros formados pelas faculdades de medicina, do final do século XIX até metade do século XX, o que acaba por abordar duas questões muito debatidas na historiografia brasileira: a formação médica e a questão racial no Brasil. Em pesquisa preliminar, foi realizado um levantamento do número de negros formados pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a partir de álbuns de formatura. Tal pesquisa mostrou um resultado inesperado. Álbuns da década de 20 do século passado registram um número significativamente maior de negros que álbuns da década de 70. A busca das pastas de alunos correspondentes também mostra aspectos interessantes, como casos em que os registros iniciais indicam que o aluno é pardo e no final do curso o mesmo aluno é registrado como branco. Aparentemente a primeira metade do século XX tem um registro maior de negros no curso médico do que nos anos pós- Segunda Guerra. Esta pesquisa se dedicará a observar o problema da formação médica e o pensamento médico sobre a inferioridade dos negros. Poucos são os trabalhos sobre a vida de médicos negros formados nas faculdades de medicina da Bahia e do Rio de Janeiro no século. A Bibliotheca Gonçalo Moniz, da Faculdade de Medicina da Bahia, promoveu, entre os dias 20/11 a 31/12 de 2017, a exposição 191 “Presença negra na Faculdade de Medicina da Bahia: alunos e docentes (1808- 1946)”. Tal evento teve o objetivo de, no mês da consciência negra, dar visibilidade à personalidades afrodescendentes que se destacaram na sociedade brasileira e que lecionaram ou tiveram sua formação acadêmica na Faculdade de Medicina da Bahia, como Juliano Moreira, célebre psiquiatra. Na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro encontra-se documentação sobre negros no curso médico no século XIX, tais como José Maurício Nunes Garcia e Francisco de Menezes Dias da Cruz. Existem ainda retratos a óleo de ambos de ambos, uma vez que além de alunos foram também professores daquela escola. Além disso, existem registros sobre um escravo da Fazenda Real mandado matricular no terceiro ano da Escola Médica em 1815 pelo Príncipe Regente D. João - registro que consta do livro de matrículas de 1815. Essa pesquisa também pretende acessar as teses de médicos franceses das faculdades de Paris e Montpellier, arquivadas na biblioteca do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, e os registros dos primeiros congressos internacionais de eugenia a fim de verificar o pensamento de europeus e americanos sobre o movimento eugênico brasileiro e seus representantes. Existem ainda fotografias de turmas de medicina do início do século XX. Não há fotografias do século XIX e a maior parte da documentação de alunos, presentes nas pastas, não traz registro de cor.

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A invisibilidade da questão racial no cenário musical: contribuições para uma reflexão - Caroline Moreira Vieira Dantas (UERJ)

O campo artístico-cultural representou uma possibilidade de inserção profissional para músicos pobres e negros desde o início do século XX, com a fonografia e, posteriormente, com a radiofonia no Rio de Janeiro. Apesar de poucos, alguns artistas conquistaram prestígio e fama nacional e internacional. Contudo, esse processo não excluiu hierarquizações e tensões raciais, mesmo diante do sucesso artístico. A trajetória do cantor e violinista Patricio Teixeira (1893-1972) demonstra a contradição entre uma sociedade que valoriza as habilidades artísticas de músicos negros e os trata de forma preconceituosa e depreciativa. Muitos músicos tiveram que lidar com situações de discriminação racial ao longo de suas carreiras, recebendo apelidos pejorativos e racializados. Brancura, Blecaute e Príncipe Pretinho são apenas alguns deles. A cor da pele determinando seus nomes artísticos. Patricio, negro retinto, além do pomposo apelido de “O seresteiro incorrigível”, também foi chamado de a “voz branca do rádio”, a “voz branca de brasileiro” e o “negro de alma branca”. A ludicidade do ambiente artístico e o constrangimento com uma temática tão espinhosa, fez com que muitos músicos preferissem o silêncio. Afinal, o Brasil seria, na concepção de muitas pessoas, o país da harmonia racial. Apesar de episódios de racismo no campo musical já terem sido narrados, o que é extremamente relevante, é preciso ir além e enfrentar esse debate sobre latentes conflitos e tensões raciais que atingiram grandes ídolos. À luz da trajetória de Patricio Teixeira, enfocarei situações de preconceito racial a que 192 este foi submetido ao longo de sua longa e estável carreira de cantor de rádio. Acredito que o enfoque não pode se limitar a curiosidades biográficas, mas debater as representações do artista e como ele se relacionava com as questões do seu tempo. Em se tratando de músicos negros, a questão racial, em especial, com o advento da radiofonia, não pode se restringir a meros apontamentos dentro da narrativa sobre sua história de vida. Os próprios nomes artísticos e apelidos revelam que a questão racial nem sempre era velada. Portanto, um tema debatido no campo das ideias, mas que precisa ser demonstrado como processo histórico, o que já vem sendo realizado por alguns pesquisadores, aos quais me proponho a somar reflexões.

A representação dos negros no cordel e nos censos demográficos - Nadya Maria Deps Miguel (IBGE)

O presente trabalho examina a maneira como a história dos negros é contada através da Literatura de Cordel e como os censos demográficos decenais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apresentam a variável cor ou raça entre 1940 e 2010. No estudo sobre o Cordel, destaca-se o folheto A linha do tempo dos negros no Brasil, que integra a coleção da Cordelteca Gonçalo Ferreira da Silva, na Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde o poeta Ivamberto Albuquerque de Oliveira, narra de forma instigante e esclarecedora, a trajetória dos negros em território nacional. Através do arcabouço teórico da Análise de Discurso (AD) da vertente francesa, a variável cor ou raça presente nos questionários dos censos demográficos é analisada para se ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------traçar um retrato da população, do contexto sócio-histórico e das preocupações e dilemas que marcam o pensamento social de uma época, constituindo uma memória em conformidade com os fins e os meios de sua construção. Com isso, pretende-se contribuir para uma melhor compreensão do papel e do modo como o negro era visto ao longo da história, de modo a estabelecer uma cronologia dos caminhos trilhados pelos negros no Brasil. Para tanto, promover-se-á uma discussão delineada da representatividade numérica da população negra brasileira atrelada à análise de cordéis. Percebe-se que a construção do conhecimento, por meio do trabalho com o cordel, permite uma aprendizagem significativa, pelo fato de essa literatura se apresentar no contexto sociocultural como rica fonte de pesquisa, despertando nas pessoas, quando bem trabalhada, um interesse maior pela aquisição de saberes. Seu uso também pode abarcar atividades como: contação de histórias, apresentação de pequenas peças teatrais e planejamento de oficinas de desenho. Como conclusão, verifica-se que a literatura de cordel é uma forma de produção de conhecimento que, ao ser levada para a sala de aula, enriquece o processo educativo.

Abolição Americana: imprensa e as interpretações sobre o pós-abolição americano no Brasil - Clícea Maria Augusto de Miranda (USP)

Em 1865, com a vitória dos estados da União sobre os estados confederados do Sul, terminava a guerra Guerra Civil e a escravidão nos Estados Unidos. Os jornais brasileiros obviamente não deixaram de veicular notícias a respeito do conflito, 193 especialmente aqueles assuntos relacionados a emancipação. Ao acompanhar os jornais da corte do Rio de Janeiro entre 1861 (ano que dá início a Guerra de Secessão) e 1888 (fim da escravidão no Brasil), procurando identificar o conteúdo das matérias nos órgãos de notícia sobre os desdobramentos da guerra civil e da abolição americana, buscou-se entre outros fins, verificar as representações sobre a sociedade americana, suas relações raciais e de que forma se apresentam, mas sem perder de vista seu diálogo com os projetos sobre o destino da escravidão no Brasil. Ao longo destas três décadas, o tema da Guerra Civil e da abolição da escravidão foram veiculados por alguns jornais no Brasil, entre eles o Correio Mercantil, A Pacotilha, A Pátria, A Reforma, Atualidades, Correio da Tarde (Campos dos Goitacazes), Correio da Tarde (Rio), Diário de Notícias, O Nacional, O Parlamentar e O Século XIX, no que se refere ao Rio de Janeiro. A imprensa carioca era particularmente importante em virtude de sua posição nacional, uma vez que era sede da Corte imperial, mas também pela quantidade de jornais que lá circularam durante esse período. De uma maneira mais ampla, podemos verificar, a partir desta fonte, as polarizações políticas em torno do debate sobre o cativeiro e o destino da população escravizada a partir do episódio americano.

Badia, a dona do Carnaval de 1985 - ela é de festa, ela é de religião! - Augusto Neves da Silva (Universidade Federal de Pernambuco) ano, a festa foi em homenagem a Babia, uma afamada mãe de santo pernambucana. Diante disso, este trabalho investiga as relações históricas entre a yalorixá Badia e o Carnaval do Recife. Buscamos entender os caminhos que levaram essa ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------personagem a tornar-se símbolo do Carnaval recifense. Para tanto, procura-se compreender como, em torno da figura de Badia, é possível vislumbrar discussões relevantes sobre tradição, festas, religiosidade popular, identidade e cultura negra no Recife. Interpretar os caminhos desse acontecimento é possibilitar conhecer um pouco mais a respeito de memórias invisualizadas sobre o Carnaval recifense e sobre a própria capital pernambucana.

Da identidade religiosa a uma identidade cultural: as CEB's e os quilombos no Litoral Sul Fluminense - Maria do Carmo Gregório (UFF)

Os municípios definidos para o texto são Paraty e Angra dos Reis onde ocorreu no período delimitado para a pesquisa um intenso conflito de terras. Esses dois municípios pertenciam à diocese de Volta Redonda e estavam sob o bispado de Dom Waldyr Calheiros. São áreas de ocupação tradicional. Estou classificando de áreas de ocupação tradicional: áreas de quilombos ocupados pelos negros, descendentes dos povos escravizados e áreas de terras demarcadas, reservas ocupadas pelos povos originários. Onde dentro de uma perspectiva arqueológica observamos diferentes camadas de processos históricos. Realizamos entrevistas com o Sr. Valentim no território de Paraty e o Sr. Manoel Moraes e o Sr. Argemiro da Silva, em Angra dos Reis. Buscávamos nas entrevistas informações sobre a importância da presença da diocese de Itaguaí e de D. Vital para a região. A riqueza das entrevistas nos permite identificar o processo de construção da identidade religiosa que acionou outras identidades: a de classe e a cultural. Foi dentro das 194 Comunidades Eclesiais de Base na região que parte da população, ainda na década de 1960, começou a se organizar, a principio o objetivo foi viver, propagar e consolidar a fé cristã católica diante dos temores da Igreja que objetivava conter o avanço do protestantismo e suprir a escassez de sacerdotes. Em 1970 as CEB’s passam a representar uma renovação dentro da estrutura institucional da Igreja Católica. Internamente rompeu com uma concepção religiosa fundamentada na valorização da centralização hierárquica, formal e autoritária e possibilitou formas internas democráticas de participação popular. Externamente no período em que vigorou o regime civil-militar no Brasil significou canais abertos onde diferentes concepções de religião e de politica puderam se expressar. Nesse artigo utilizo como fonte os depoimentos orais para com eles registrar a memória da experiência vivida. O objetivo é examinar a partir da memória construída como, em diferentes fases demarcadas, ocorreu o “deslizar da Igreja católica” rumo aos movimentos sociais, aos sindicatos e ao Partido dos Trabalhadores no Litoral Sul Fluminense. A memória da experiência vivida ofereceu à Igreja Católica uma identidade como Igreja popular na região. Nas entrevistas encontrei uma delimitação de tempo histórico diferente da que construímos a partir do arquivo memória da Comissão Pastoral da Terra. Vou explorar as entrevistas a partir da demarcação apresentada pelos entrevistados. As entrevistas foram realizadas em algumas áreas de conflito pela posse da terra, acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra na região.

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Dos grilhões aos guizos: história pública, memórias e saberes compartilhados - Lívia Nascimento Monteiro (Centro Universitário Celso Lisboa)

O objetivo dessa apresentação é debater os limites e caminhos percorridos durante a pesquisa de doutorado, defendida em 2016 na Universidade Federal Fluminense, sobre as festas de Congada e Moçambique em Piedade do Rio Grande, Minas Gerais, minha cidade natal, na qual utilizei fontes orais e audiovisuais no decorrer da pesquisa, e que resultou num vídeo documentário, feito em parceria com a Narre Produções. "Dos Grilhões aos Guizos. Festa de Maio e as narrativas do passado" foi lançado na festa de maio de 2017, como é carinhosamente conhecida a festa que celebra os santos católicos Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora das Mercês e São Benedito, agregando também elementos simbólicos das religiões de matrizes afro-brasileiras. A festa que acontece desde a década de 1920, tem em sua formação inicial famílias de ex-escravos que moravam na zona rural de Piedade. Durante os festejos, os congadeiros-moçambiqueiros rompem com o silêncio ao som da sanfona, da caixa e dos guizos, revelando orgulho pelo passado e ancestralidade negra. A relação entre História Pública e Oralidades está nas pautas das reflexões desse produto da tese, tendo em vista também as relações que a História Pública pode e vem sendo desenvolvida com a memória da escravidão e da liberdade no país, em diversos projetos divulgados atualmente e ligados à reparação e aos direitos de memória. Desse modo, pretendo contar como esse trabalho tem se tornado um importante instrumento para a divulgação da festa enquanto patrimônio 195 imaterial e a articulação que o grupo de jovens congadeiros e moçambiqueiros vem promovendo em suas redes sociais na luta contra o racismo. Ao compartilhar essa experiência, pretendo discutir os espaços das narrativas audiovisuais na História e o quanto a História Pública foi e tem sido importante arcabouço teórico para esse projeto.

E eu, não sou mulher? Violência e Crime contra a Mulher Negra no Pós- Abolição - Elaine P. Rocha (University of the West Indies)

Este artigo propõe uma análise sobre o status da mulher negra no pós-abolição, a partir do caso de Barbados, um país com uma extensão territorial reduzida e consequentemente uma população que há décadas se mantém na faixa dos 280 mil habitantes, a maioria descendentes dos africanos escravizados. Ainda que abundem estudos sobre as condições de vida da classe trabalhadora, predominantemente negra nas ilhas do Caribe, existe uma lacuna que demanda por investigações acerca da trajetória das mulheres desta região. No caso de Barbados, a existência de acervos e de documentação referente ao período da passagem entre os séculos XIX e XX, permitem uma apreciação das pressões sociais e econômicas sofridas pelas mulheres negras, bem como de elementos culturais que alimentavam sua alienação dentro da sociedade. A base para este estudo é a documentação existente sobre dois crimes praticados contra mulheres barbadianas, um na ilha de Barbados em 1916 e outro na nascente cidade de Porto Velho em 1924. O que ambos crimes têm em comum é o anseio das vítimas em escaparem de uma vida de pobreza e opressão e a forma possessiva e violenta como seus algozes – ambos homens negros – as ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------mataram. Complementam o estudo o panorama sócio-econômico das mulheres negras em Barbados e o cenário das migrações femininas negras, uma vez que se trata de analisar o lugar de expulsão e o lugar de recepção. A moldura teórica que fundamenta a análise combina a produção bibliográfica sobre a história econômica e social de Barbados e do Caribe ingles, com a historiografia brasileira sobre o racismo, além de utilizar elementos dos estudos feitos nos Estados Unidos sobre a vulnerabilidade da mulher negra e sua vitimização nas mãos de homens da mesma condição racial e social.

Emancipação e pós-abolição no Maranhão: entre negociações e conflitos - Carolina Christiane de Souza Martins (UFF)

Em fins do século XIX, São Luís do Maranhão estava entre as principais cidades que se destacavam pela concentração de população afrodescendente, juntamente com o Rio de janeiro, Salvador, Recife e Porto Alegre. O entrecruzamento de fontes como jornais, portarias de policia e ocorrências policiais permitem observar como, às vésperas da abolição, as ruas da cidade eram cotidianamente tomadas por práticas culturais associadas à população negra que habitava a cidade. Entender como esta população se organizava no espaço urbano, principalmente com relação à fé, às festas, às redes de solidariedade mais especificamente no período pós- abolição é umas das principais questões que norteiam esta pesquisa que se encontra em desenvolvimento. Através das licenças policiais, das notícias de jornal sobre estas festividades, dos documentos de policia que tratam da repressão às práticas 196 consideradas desordeiras, e também com relação às notícias referentes às moradias populares, a presente pesquisa suscita pensar estes espaços da cidade de são Luís como sendo territórios negros, ou seja, espaços ocupados por uma população negra que estabelecia redes de sociabilidade e solidariedade entre si. O desafio que se coloca é olhar para além das fontes, produzidas a partir dos estereótipos e preconceitos das elites e visualizar o universo de possibilidades que se apresenta para que seja possível um olhar sobre as práticas de sociabilidade da população negra ludovicense, contribuindo, dessa forma, com os estudos referentes ao pós- abolição no Brasil, mais especificamente na região norte e nordeste do país.

Mãos negras em solo hostil: a utilização do Habeas Corpus no processo de ocupação da terra na Primeira República em Santo Antônio do Rio Abaixo - Mato Grosso - Cristiane dos Santos Silva (UFMT)

Na Primeira República, muitos trabalhadores rurais negros permaneceram no campo, após a Abolição em 1888. Uma parte, nas propriedades dos coronéis, no caso, nas usinas de açúcar situadas em Santo Antônio do Rio Abaixo, às margens do Rio Cuiabá. Outros trabalhadores rurais, aspiravam e conseguiram um pedaço de chão, seja por ocupação ou doação, visando o cultivo da terra com a família, constituindo uma agricultura familiar negra e mestiça. O fato dos lavradores possuírem uma propriedade era tratado como afronta à elite agrária da região, pois simbolizava a ascensão e a autonomia individual e coletiva, de negros e mestiços, ainda mais quando produziam excedente, garantindo a comercialização entre produtores e/ou cidades vizinhas, simbolizando uma independência econômica ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------indesejada. O estudo sobre o processo de ocupação da terra pelos negros e mestiços, enquanto produtores e não apenas trabalhadores rurais, desnuda uma mentalidade escravagista que permaneceu no pós-Abolição. Uma mentalidade que não aceitou um novo modelo de sociedade, advindo com a emancipação, para os filhos do 13 de Maio, as ações dos coronéis eram denunciadas como parte de um “projeto escravagista”, no qual não reconheciam a presença do Estado, e tampouco respeitavam a lei vigente. O projeto escravagista imposto pelos usineiros, não reconhecia a cidadania das pessoas, por isso, dispunham de bandos armados para efetivação de seus desmandos, não medindo esforços para alcançar seus objetivos em busca da obtenção de mão de obra barata, ou mesmo, gratuita. De acordo com o interesse dos coronéis foram praticadas invasões em propriedades, com o intuito de impor trabalhos forçados aos trabalhadores livres, através de rapto, tortura e cárcere privado. Em contrapartida, os trabalhadores rurais lutaram por seus direitos, denunciando em jornais as práticas abusivas e utilizando do poder judiciário à seu favor, através do Habeas Corpus, para garantir proteção e o direito de ir e vir.

Mundo do Trabalho e Pós-Abolição: A Freguesia do Pilar como base de análise - Sabrina Machado Campos (SME - Duque de Caxias)

Este artigo pretende analisar a estrutura socioeconômica da freguesia Nossa Senhora do Pilar, um dos primeiros núcleos populacionais da atual cidade de Duque de Caxias – Rio de Janeiro, tendo como fonte os dados apresentados em 197 1847-48, 1872 e 1890, registros eclesiásticos e inventários. Seu embasamento teórico será fundamentado em E.P. Thompson e Eric Hobsbawm, utilizando os trabalhos de Flavio Gomes, Alvaro Nascimento, Marcelo Badaró, Sidney Chalhoub, Antonio Negro, Nielson Bezerra e Marlucia Santos de Souza como arcabouço analítico. Para tal terá três pontos de reflexão, iniciando com uma consideração acerca do debate entre as pesquisas do Mundo do Trabalho e de escravidão/pós- abolição, diálogo ainda incipiente, principalmente no que tange as pesquisas acerca da Baixada Fluminense, mas profundamente relevante. Em seguida, serão apresentadas algumas ponderações sobre o tema na Baixada Fluminense no Rio de Janeiro. E por último, a análise da Freguesia de N. S. do Pilar para compreender como essa interlocução pode ser aplicada.

O Asilo de Órfãs São Benedito (1901-1930): atuação da comunidade negra em prol das meninas desvalidas - Jeane dos Santos Caldeira (UFPel)

O texto proposto tem por finalidade destacar a atuação da comunidade negra em prol das meninas desvalidas, junto ao asilo de órfãs situado em uma cidade da região sul do Brasil. O foco de análise corresponde ao período de 1901, ano de fundação do referido asilo, até 1930, ano em que faleceu uma das principais idealizadoras para fundação da instituição. Para a presente investigação, foram utilizadas atas, estatutos, relatórios e excertos de jornais locais, tendo a análise documental como principal metodologia de pesquisa (CELLARD, 2012; SAMARA; TUPY, 2010). Sobre a infância desvalida, cabe explicitar que entre o final do século XIX e início do século XX, o governo republicano elaborou ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------estratégias para solucionar o problema de abandono moral da sociedade, do analfabetismo e preparar os excluídos sociais para constituírem mão de obra mais qualificada, uma vez que o país estava passando pelo processo de urbanização e industrialização. Considerando esse quadro, a cidade de Pelotas/RS também necessitava de alternativas para garantir a educação modelar, disciplinadora e higienista destinada às crianças das classes populares, pois o número de crianças abandonadas e em situação de pobreza era assustador e precisava de iniciativas para amenizar essa situação. Logo, ressalta-se como problema de pesquisa, o estudo de como a comunidade negra daquele período se comportava diante desses fatos. Em prol da infância desvalida, Luciana Lealdina de Araújo (1870-1930) teve a iniciativa de criar uma instituição que abrigasse meninas sem distinção de cor. “Mãe Preta” como era conhecida, filha de escrava, era uma mulher dotada de bondade e de extrema determinação, com vontade de praticar o bem e fazer caridade junto às crianças abandonadas. Para a fundação do asilo, Luciana contou com a colaboração de membros da sociedade pelotense, em especial homens negros, que constituíram as primeiras diretorias da instituição. A fundação do asilo foi considerada uma conquista da etnia negra tão rejeitada e discriminada e que, mesmo após a abolição oficial da escravatura no país, ainda enfrentava dificuldade para suprir suas necessidades básicas, entre elas, emprego, saúde e educação. Além disso, naquele período, outro importante asilo em funcionamento na cidade não estava acolhendo meninas negras e/ou filhas de pais desconhecidos. O Asilo São Benedito é um exemplo que ratifica a atuação da comunidade negra pelotense em diferentes espaços sociais. Esse grupo étnico-racial deixou suas marcas no cenário 198 educativo, político e até mesmo na imprensa, com a fundação do jornal pelotense A Alvorada (1907-1965), mais duradouro jornal da imprensa negra do Brasil (MELLO, 1995). Por isso, a importância deste estudo, pois busca valorizar sujeitos excluídos e ausentes da visibilidade histórica.

Para uma nova abordagem das relações entre músicos populares e o compositor Heitor Villa-Lobos - Lurian José Reis da Silva Lima (UFF)

Os encontros e as parcerias de setores da elite com músicos populares negros constituem, segundo apontou Hermano Vianna, episódios frequentes na vida cultural brasileira. Não é, nessa interpretação, nada historicamente excepcional que Heitor Villa-Lobos, Gilberto Freyre, Prudente de Moraes Neto e Sérgio Buarque de Holanda (a elite) se reunissem com Donga, Pixinguinha e Patrício Teixeira (músicos negros) na década de 1920, uma vez que essa partilha de experiências musicais e o desejo de construir elos simbólicos inter-raciais já eram realidade desde o tempo do Império. A elevação do samba a símbolo nacional a partir da década de 1930 não significava uma ruptura, portanto, mas um episódio marcante de um projeto difuso, e vivo há muito tempo, de conciliação nacional. Entretanto, dois conjuntos de textos nos quais a relação de Villa-Lobos com a música popular carioca é posta em discussão subtraem o compositor da tese de Vianna por caminhos opostos. De um lado, os trabalhos de Ermelinda Paz e Hermínio Bello de Carvalho, ampliando a vereda aberta pela musicologia brasileira da tradição modernista, enfatizam a integração total e absolutamente excepcional com a música popular que caracterizaria a vida e a obra de Villa-Lobos. De outro, um ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------vasto corpus de produções mais recentes, centrado na trajetória educacional do compositor na Era Vargas, sustenta que Villa-Lobos foi um nacionalista autoritário e demagogo, para quem a música popular, senão como matéria-prima para música de concerto, não tinha valor e constituía um empecilho à elevação do gosto artístico do país. No presente trabalho, procuro discutir os limites dessas duas interpretações, relacionando-os às fontes documentais que lhes dão lastro, e propor uma nova abordagem para esse tema. Argumento: 1) que a relação de Villa-Lobos com os músicos populares cariocas exige um olhar atento tanto aos dissensos e conflitos, quanto aos consensos colaborações surgidas entre eles; 2) que isso implica uma observação em escala reduzida e a utilização de uma variedade maior fontes documentais; 3) que é preciso nominar e ouvir os próprios músicos populares, para não encará-los como um grupo homogêneo e não inferir uma postura supostamente coerente deles em relação a Villa-Lobos e vice-versa; 4) que mais do que “consertar” a historiografia sobre Villa-Lobos, essa nova perspectiva analítica deve procurar por em evidência a dinâmica cultural no Brasil Pós- Abolição procurando também inverter o ângulo de observação de Hermano Vianna: enfatizando a agência dos músicos populares, negros em sua maioria, em seus encontros e desencontros com setores da intelectualidade.

Saúde Pública e Justiça na primeira República: práticas populares de curas e legislação em vigor - Glícia Caldas Gonçalves da Silva (UNIRIO)

Ao longo da Primeira República coube aos cultos religiosos não reconhecidos 199 como religiões institucionalizadas o ônus de demonstrar aos aparatos sanitários, policiais e judiciais que eram religiões. Diferenciar o que era religioso e legal do que era “magia” e ilegal, cabendo muitas vezes aos aparatos jurídicos e policiais esse embate de diferenciação. O artigo visa uma discussão acerca da repressão ao curandeirismo/feitiçaria, no Rio de Janeiro, de 1889 a 1927. O Código penal de 1890 criou mecanismos reguladores de combate às categorias, instituídos nos artigos 156, 157 e 158. No novo instrumento penal a prática da magia foi incluída entre os crimes contra a saúde pública. As fontes são os processos criminais do Arquivo Nacional e do Arquivo Central do Tribunal do Júri, na tentativa de reconstruir trajetórias desses personagens “ocultos”. Caminhos que nos levam a conhecer alguns agentes de curas, seguindo por estradas que pudessem ser diferentes, mas que em algum momento das suas trajetórias houvesse pontos de interseção, para melhor “se pensar” esses misteriosos trajetos. Os processos criminais são uma das fontes de combate a feitiçaria à época. A necessidade de incorporar e tornar visíveis outros sujeitos políticos menos “legítimos” oficialmente, silenciados no discurso sobre as diversas medicinas do Brasil, revelou os terapeutas de curas negros e seus descendentes, além da estreita ligação desses praticantes com as religiões praticadas por eles.

Secos e Molhados: A construção de esteríotipos raciais no teatro do Rio de Janeiro no pós abolição; Decáda de 1920. - Lissa dos Passos e Silva (UFF)

Este trabalho vislumbra analisar as representações dos personagens do roteiro de Secos e Molhados, de autoria de Luis Peixoto, de 1924. Esta peça faz parte da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------forma conhecida como teatro de revista, e foi encenada no Theatro São José, que, entre os anos de 1903 a 1926, recebeu espetáculos de grande impacto na vida cultural carioca. Localizava-se na praça Tiradentes, lugar de maior concentração de teatros na Primeira República. A pesquisa visa pensar a construção do estereótipos raciais de seus personagens compreendendo-a como objeto de interesse de intelectuais brasileiros que refletiam sobre a brasilidade, em uma sociedade recém-saída de um regime escravocrata e monárquico. Dando maior enfoque na análise dos personagens negros trás o questionamento de como esses personagens da cultura se inserem nos debates raciais vigentes no período de pós abolição, mostrando o quanto esses debates construídos transparecem nas construções de personagens carregados de estereótipos com o objetivo de provocar o riso.

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201 ST 18. GT Mundos do Trabalho: Novos temas e debates na História do trabalho (Século XIX- década de 1950)

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"Eu trabalhei também": as trabalhadoras nos seringais do Amazonas (1940- 1950) - Agda Lima Brito (PPGH-UERJ)

Por meio de fontes orais, periódicos e fontes oficiais, buscamos pesquisar a história de trabalho das mulheres que viveram nos seringais. Em 1940 milhares de famílias, foram atraídas para o trabalho nos seringais, uns através do alistamento e outros vinham seduzidos pelas propagandas que eram divulgadas pela imprensa, uma forte arma usada pelo governo varguista, esses trabalhadores acabaram encontrando um universo de trabalho bem diferente daquele oferecido nas propagandas e contratos. Percebemos que as mulheres realizavam inúmeras tarefas em meio as matas, evitando consumir nos barracões, tentavam garantir a sobrevivência de sua famílias, com isso destacamos a importância do trabalho feminino nos seringais entre 1940-1950.

Apregoando sabores pelas ruas de Minas Gerais: um estudo sobre a atuação das quitandeiras no mundo do trabalho no século XIX - Juliana Bonomo (USP)

Essa pesquisa busca refletir acerca do destino das quitandeiras nas Minas Gerais do século XIX, assim como levantar uma discussão sobre a interação das mesmas com o mundo do trabalho. Embora haja um grande número de estudos que abordem a atuação das quitandeiras no abastecimento alimentar da capitania mineira no século XVIII, observamos que há uma falta de estudos sobre essas agentes 202 comerciais no período que abrange a decadência da produção aurífera até o final do século XIX. Sabemos que há uma ampla bibliografia sobre as quitandeiras dos Oitocentos para as cidades de Salvador, São Luís do Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. Contudo, a historiografia mineira dedicou-se exclusivamente ao estudo das quitandeiras no contexto da mineração, deixando a incerteza sobre a presença delas nos Oitocentos. Em vista disso, elaboramos três hipóteses sobre o destino das quitandeiras no século XIX, baseando-nos nos estudos sobre a economia mineira, nos documentos históricos, nos relatos memorialísticos e nas bases de dados Poplin-Minas 1830 e o Recenseamento Populacional de 1872. Para o ano de 1804, contamos com as informações do estudo realizado por Luna & Costa (1982), no qual os autores analisaram os dados empíricos de Herculano Gomes Mathias relativos ao levantamento populacional efetuado em Minas Gerais naquele ano, na área que corresponderia, atualmente, ao perímetro urbano de Ouro Preto. Encontramos outras informações, para a década de 1830, na base de dados Poplin- Minas 1830, compilada pela pesquisadora Clotilde Paiva do CEDEPLAR/UFMG. Baseada nas Listas Nominativas de 1830/1832, a base de dados revelou-se uma fonte confiável e fundamental para atestarmos não só a presença das quitandeiras em grande parte da província mineira, como também a inserção de mulheres brancas e homens nessa atividade, ainda que a participação deles fosse pequena. No total, foram encontradas 111 quitandeiras vivendo em Minas Gerais na década de 1830. Outra fonte utilizada foi o Recenseamento Imperial de 1872, através do qual foi possível apreender as ocupações dos escravos e ex-escravos a uma década e meia da abolição da escravatura, o que nos ajudou a levantar uma discussão sobre o destino das quitandeiras no final do século XIX. Relatos memorialísticos como ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------os de Ciro Arno (1979) e de Helena Morley (2016) constituíram-se, também, fontes importantes para essa análise. Em suma, essa pesquisa atestou não só a existência de quitandeiras nas Minas Gerais do século XIX, como também a diversidade racial e social entre elas. Tudo isso facilitado pela contínua expansão urbana ocorrida ao longo do século e a diversificação da produção de alimentos, possibilitando o surgimento de novas quitandeiras, enquanto outras possam ter migrado para outros tipos de ocupação ou retornado à África.

Nos currais, roças e lidas da casa: escravidão no sertão do Piauí - São Raimundo Nonato (1850 – 1888) - Nayanne Magna Ribeiro Viana (UEFS)

O presente trabalho tem o objetivo de discutir a utilização da mão de obra escrava em São Raimundo Nonato-PI, com enfoque na distribuição dos escravos por propriedades e no perfil da população escravizada. O local em análise era uma pequena vila do sertão do Piauí, que no século XIX possuía economia voltada para o mercado interno. Caracterizada por pequenas propriedades cuja principal atividade econômica era a criação do gado (vacum e cavalar) e agricultura, na qual a maior parte da produção era destinada para subsistência das famílias, a mão de obra escravizada era utilizada sobretudo nas atividades agrícolas, nos serviços domésticos e na criação do gado. Na região predominava microproprietários, com um a quatro escravos por propriedades e não havia concentração de muitos escravos por fazendas. A documentação que tem permitido essa análise são os dados obtidos por meio dos inventários post-mortem, livros de notas, da Matrícula 203 geral de escravos de 1886, no Censo Geral de 1872, informações estatísticas da Delegacia de Polícia e os Relatórios dos Presidentes da Província do Piauí, através de uma metodologia comparativa para estabelecer padrões de mudanças ou continuidades. A utilização do trabalho escravo nas pequenas propriedades de criação de gado e lavoura do sertão do Piauí configurou de maneira distinta de outras regiões do Brasil, sobretudo das zonas de plantations, tanto na estrutura de posse como no perfil populacional.

O trabalho de ama de leite no Brasil Republicano: a amamentação como questão de saúde e como serviço doméstico - Caroline Amorim Gil (COC/Fiocruz)

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a ama de leite no início do século XX, chamando atenção para a presença e circulação de mulheres que trabalhavam com a venda do leite materno. Um dos objetivos deste trabalho é a construção do perfil desta mulher que ofertava seus serviços como ama em um momento caracterizado pela mobilização política em prol da fiscalização do leite, enquanto atividade doméstica, e de médicos e intelectuais preocupados com a saúde infantil. As fontes para este trabalho são censos, plantas da cidade, discursos médicos, anúncios de amas de leite em periódicos correntes como o Jornal do Brasil, além de teses de alunos da Faculdade de Medicina (FMRJ) que se apresentam como documentos importantes para compreender o cenário. Em fins do século XIX a utilização de amas era um hábito corriqueiro entre as camadas médias e altas na cidade do Rio de Janeiro. Esta época foi marcada por uma geração de intelectuais preocupados ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------com a mortalidade infantil e o desenvolvimento das crianças cujas mães buscavam se desprender do aleitamento materno. Temos um quadro marcado pela recente abolição da escravidão, ocorrida em 1888, a expansão da cidade para os subúrbios e o crescimento da mulher no mundo do trabalho. Este é o pano de fundo deste estudo.

Os funcionários públicos e a Câmara Municipal do Rio de Janeiro (1891- 1900) - Mariana Kelly da Costa Rezende (UFF)

O presente trabalho faz parte de um projeto de iniciação científica que busca analisar as relações entre os trabalhadores e as leis no Rio de Janeiro nas primeiras décadas republicanas, entre 1889 e 1906. Nessa apresentação, pretende-se analisar a relação do funcionalismo público com a Câmara Municipal, destacando a regulamentação do papel desses funcionários e a conquista de direitos, tal como licença médica, aposentadoria e aumento salarial. Além disso, é importante perceber o jogo político no qual se insere tais negociações: os funcionários públicos eram uma parte influente nas eleições, e, como eleitores, se impunham nas demandas.

Queer Work e o mundo do trabalho artístico no Brasil na primeira metade do século XX - Flavia Ribeiro Veras (CPDOC-FGV)

A relação entre os conceitos de artistas e trabalhadores é complexa. Ao analisarmos 204 a consolidação do mercado artístico na cidade do Rio de Janeiro é possível perceber que a moralidade é um dos elementos que tensionava a relação dos artistas com o mundo do trabalho. Facilmente identificados com o lume proletariado os artistas e empresários do ramo das diversões, a partir do primeiro quarto do século XX, começaram a pleitear direitos trabalhistas produzindo a invisibilidade de personagens que, embora muito presentes nos espaços de diversões, não correspondiam ao padrão de respeitabilidade e moralidade em vigor na época. Vários artistas que trabalhavam legalmente como transformistas, por força da lei registraram-se no sindicato profissional. Além desses, que dificilmente poderiam camuflar sua sexualidade, muitos outros viviam em uma dualidade entre resguardar sua orientação sexual e pleitear sucesso profissional nos meios comerciais. O mundo do trabalho artístico com sua multiplicidade de espaços como teatros populares, circos, cassinos, bares e bordeis mostrava-se como um universo muito mais aberto à diversidade do que outros espaços na cidade. No entanto, a emergencia da cultura comercial de massas atuou reordenando o mundo de trabalho artístico e transformando a vida pessoal do artista em material para seu personagem.

Revista Typographica e o debate operário sobre a República (1889) - Igor Soares Rodrigues (UERJ)

O presente trabalho procura analisar os debates que ocorreram na Revista Typographica no final do ano de 1889, tendo como tema a República e a posição dos trabalhadores no novo contexto político. A Revista tem início na Corte em 1888 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------e tinha por objetivo defender os interesses dos tipógrafos, entretanto acaba por se inserir nos principais assuntos políticos e sociais da época. Desde seus primeiros números mostra o apoio a abolição e retrata com entusiasmo os festejos após o 13 de maio, destacando a participação dos tipógrafos e sua relação com a imprensa. O seu dono e redator principal era Luiz da França e Silva, que seria personagem importante na criação dos primeiros partidos operários. Podemos observar pela Revista a trajetória de lutas, que começa na abolição e se estende até os debates sobre a República, representação e papel dos trabalhadores no novo sistema político. Pretendemos nos limitar a analisar os últimos números da Revista, em dezembro de 1889, momento em que houve um debate entre Silva e Elpidio de Castro – secretário do Centro Tipográfico Treze de Maio – sobre a posição dos operários diante o novo regime que se inaugurava.

Sob olhar de Netuno - Memórias e narrativas como forma de compreender a verticalização do litoral sul de São Paulo e seus impactos - Rafael da Silva e Silva (Prefeitura Municipal de Praia Grande)

O presente trabalho tem como objetivo analisar o início da verticalização do Litoral Sul do Estado de São Paulo como forma de compreender os impactos culturais que a região sofreu a partir da segunda metade do século XX com base em memórias e narrativas de moradores do Bairro Cidade OCIAN, no município de Praia Grande- SP. Este bairro deu início à verticalização das regiões balneárias do Litoral Sul, com grandes transformações culturais e impacto direto nas comunidades caiçaras. 205 Isso porque o projeto da Cidade OCIAN, previa a construção de vinte e dois prédios, mais de mil e trezentos apartamentos, com sistema próprio de esgoto, coleta de lixo, clube para associados e luz elétrica; em uma época em que os bairros ainda estavam sendo loteados e era comum a presença de sítios que mais tarde deriam origem aos loteamentos das cidades litorâneas. Na ocasião foram realizadas vinte e duas entrevistas de História Oral coordenadas pelo Centro de Memória de Educação de Praia Grande para compor o livro “Sob Olhar de Netuno”, sendo que a proposta partiu da própria comunidade em virtude da comemoração dos sessenta anos do bairro. Esse material, porém, carecia de uma análise mais profunda, apesar da sua riqueza historiográfica para a região. Além das entrevistas de História Oral, utilizou-se também outras fontes apresentadas pela própria comunidade durante a realização do projeto, tais como fotografias e objetos biográficos. As entrevistas de história oral foram realizadas com base nos trabalhos dos autores José Carlos Sebe B. Meihy, que define alguns caminhos possíveis para a aplicação das entrevistas; na autora Verena Alberti, que apresenta experiências da Fundação Getúlio Vargas em realizar entrevistas de História Oral, experiência interessante uma vez que o presente trabalho foi coordenado pelo Centro de Memória da Educação de Praia Grande e Zeila de Brito Fabri Demartini, que propõe o estudo com migrantes e imigrantes utilizando também a história oral. Por fim, foi possível perceber que o litoral sul teve sua paisagem transformada pela verticalização e urbanização na segunda metade do século XX. Essa transformação refletiu grande impacto cultural que a construção civil trouxe para a região, uma vez que atraiu mão de obra de outros estados, trouxe influências externas e transformou decisivamente o estilo de vida litorâneo da cultura caiçara. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Trabalhadores escravizados e livres na legislação municipal (Rio de Janeiro, século XIX) - Paulo Cruz Terra (Universidade Federal Fluminense)

A história social do trabalho produzida no Brasil tem passado por importantes transformações nos último anos. Uma das principais delas diz respeito ao diálogo necessário entre os historiadores da escravidão e os estudiosos das práticas políticas e culturais dos trabalhadores urbanos pobres e do movimento operário. A presente comunicação pretende contribuir nesse sentido ao apontar a importância do poder municipal para analisar o trabalho livre e escravo nos espaços urbanos no século XIX, sendo aqui privilegiada a capital do Império. Além disso, busca-se investigar como os trabalhadores agiam diante das medidas que incidiam sobre suas ocupações e os sentidos atribuídos por eles às leis.

Trabalhadores negros no processo de formação da classe trabalhadora carioca: A Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em Trapiche e Café - Livia Cintra Berdu (UFF)

O presente trabalho tem como objetivo refletir acerca do processo de formação da classe trabalhadora na cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente sobre a organização e a sindicalização dos trabalhadores portuários ligados ao setor cafeeiro no início do século XX. A categoria dos carregadores de café, chamados de "trabalhadores de tropa", são conhecidos pela historiografia pela sua 206 composição étnica fortemente marcada pela escravidão negra, além de possuir alguns elementos de continuidade desse momento histórico em relação ao espaço de trabalho e suas formas de organização. Por outro lado, também é de conhecimento dos historiadores que nos últimos anos do século XIX e início do século XX, havia um cenário político nacional e internacional que possibilitava uma forte influência de distintas correntes ideológicas no movimento operário que se formava, sobretudo no setor portuário por conta de seu constante intercâmbio entre trabalhadores do mundo todo. O socialismo e o anarco-sindicalismo eram amplamente difundidos no cotidiano desses sujeitos, além de suas idéias serem parte orgânica de suas lutas, incluindo as várias greves ocorridas na primeira década. E é nesse contexto que se situa a criação da "Sociedade de Resistência em Trabalhadores em Trapiche e Café", fundada em 15 de abril de 1905 na zona portuária do Rio de Janeiro, abarcando de forma ampla os carregadores e arrumadores de café, bem como os chamados "capitães de tropa", se destacando pela sua organicidade e sua combatividade.

Trabalho e Loucura: internos da Colonia Juliano Moreira (1830-1945) - Anna Beatriz de Sá Almeida (Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz)

A pesquisa tem como objetivo analisar a história de homens internados na Colônia Juliano Moreira (CJM), os quais apresentaram indícios em suas documentações internações relacionadas com o campo do trabalho, no período de 1930 à 1945. São questões que nos norteiam: o estudo das políticas públicas e do conhecimento científico nos campos da psiquiatria, da saúde do trabalhador e da sexualidade. A ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------metodologia de trabalho foi o levantamento e seleção do grupo de internos analisando as principais fontes documentais: prontuários dos internos e as fichas de observação e a posterior análise das histórias, sempre que possível, do grupo de internos selecionado, destacando: características e dados sociais, causas da internação, diagnósticos e tratamentos recebidos, dados de constituição física e temperamento, entre outros aspectos. Casos selecionados: Alfredo, pardo, natural de Rio Preto, MG, nascido em 1909 e casado. Ingressou na CJM, aos 35 anos, em março de 1944. Informou ao médico ter “bebido um pouquinho”, quando ficou desatinado e foi detido. Apresentando tremor na língua e nos dedos, afirmou ser foguista e musico e “que por causa dessas funções, bebe quando trabalha”. Diagnosticado com alcoolismo crônico e psicose hetero-tóxicas. Orlando, branco, casado, ingressou na CJM com 34 anos, em fevereiro de 1932, apresentando tremor generalizado e estando muito assustado. Dias depois, ainda tremulo, mostrou-se mais calmo e bem orientado. Afirmava que seu alcoolismo resultara de problemas no trabalho e do desemprego.“Chegou às lágrimas e emoção ao narrar a sua história”. Inteligente e culto, informou ter sido guarda–livro e vendedor, com o que conseguiu atingir boa situação financeira. Habituado ao álcool nas refeições e quando em “farras”, ao ver seu trabalho improdutivo, entregou-se ao vício. Viveu com a ajuda dos irmãos que o convenceram a buscar ajuda médica. “Perante nós, emocionadamente pede que o ajudemos a vencer este transe difícil, pois que deseja curar-se, a fim de poder dedicar-se a sua filha hoje com cerca de um ano”. Designado para catalogar os livros da biblioteca, recebeu alta em julho do mesmo ano, quando não mais manifestava necessidade de álcool. 207

Volta Redonda em Preto e Branco: relações raciais, desenvolvimentismo e modernização no “calor do fogo” e na raça (1941-1980) - Leonardo Silva (UFRRJ)

O presente trabalho tem por objetivo o estudo da relação entre raça e classe em um dos grandes centros industriais do pós-guerra brasileiro, analisando o lugar desta questão no sistema político populista. Propomos que para a localidade de Volta Redonda os ideais do nacional desenvolvimentismo e do desenvolvimentismo utilizaram do discurso racial, positivando e ou negativando determinados grupos. Em determinados momentos o contexto foi agudizado por questões de caráter mais econômico que cultural (como o desmonte da Família Siderúrgica), ajudando na formatação de determinadas identidades que se mesclaram à de classe trabalhadora, tal qual a de trabalhadores negros. Ademais, à época, mesmo tendo em Volta Redonda um símbolo de cidade de novo tipo (urbanizada, planejada e repleta do “novo” trabalhador brasileiro) e o centro da cadeia produtiva do aço, a pesquisa demonstra que outras áreas geográficas foram envolvidas tanto na produção como na disseminação de determinados ideais. A constante, para além do processo migratório e da transformação de trabalhadores rurais em urbanos, era que na cadeia produtiva da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) a disparidade racial era estrutural entre grupos de trabalhadores.

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“A alma da mulher brasileira explodiu em vibrante protesto”: formas de atuação e resistência das operárias têxteis do Distrito Federal no início do século XX - Isabelle Cristina da Silva Pires (Fundação Getulio Vargas)

No âmbito da historiografia brasileira, é a partir dos anos 1970 que emergem pesquisas que focalizam a presença das mulheres no cotidiano da vida social, sobretudo, aquelas que centralizam a temática da inserção das mulheres no mercado de trabalho e a denúncia das péssimas condições de trabalho que enfrentavam. Tais estudos preocuparam-se em identificar as mulheres trabalhadoras como produto das determinações econômicas e sociais, vítima do sistema capitalista, e davam pouca relevância à sua dimensão de sujeito histórico. A partir dos anos 1980 são elaborados trabalhos que procuram atentar para a experiência de mulheres pobres e marginalizadas, trabalhadoras ou não, e focalizam suas capacidades de questionar os discursos elaborados pelos homens públicos em relação ao sexo feminino. Tais estudos além de destacarem a experiência das mulheres enquanto agentes de suas histórias, ainda exerceram forte contribuição na desconstrução das imagens tradicionais das mulheres como passivas e frágeis. Nos anos 1990, emerge a categoria analítica de “gênero”, que nos permite desviar a atenção da “mulher” ou das “mulheres” e focalizar as relações entre homens e mulheres, mas também entre mulheres e entre homens. São nessas relações que o gênero se constitui. Sabendo que ao analisar as relações de gênero em um determinado contexto, torna-se possível perceber também as relações de poder presentes em tais circunstâncias, acredito que a perspectiva de gênero 208 possibilite novas análises no campo da História Social do Trabalho. Tal perspectiva nos permite perceber as relações de poder na construção das representações de gênero. Posto que, na utilização dos jornais como fontes, por exemplo, é importante atentar para o fato de que sendo as notícias e artigos da imprensa escritas, majoritariamente, por homens, eram as trabalhadoras registradas pela perspectiva masculina e, portanto, observadas a partir de noções de feminilidades, o que poderia apagar suas agências e menosprezar suas participações, visto que, na maior parte das vezes, elas não eram as líderes dos movimentos grevistas, devido a diversos motivos, tais como, dupla jornada de trabalho, criação dos filhos, dificuldade de ingressar em associações de classe, posturas de menosprezo por parte dos operários, etc. Assim, utilizando a perspectiva de gênero e fazendo uso de periódico como fonte, esta apresentação procurará analisar as formas de atuação e as reivindicações implementadas por operárias têxteis no Distrito Federal no início do século XX e, com isso, procurar desconstruir a imagem, muitas vezes propagas por militantes operários, de que as mulheres trabalhadoras eram passivas em relação às explorações que sofriam e não tinham consciência política.

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209 ST 19. Habitação e direito à cidade: favelas, subúrbios, periferias e assentamentos informais no Brasil

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A Cultura Urbana nos Subúrbios Cariocas: Uma análise das relações de sociabilidade suburbanas ao longo do século XX - Rafael Mattoso (UFRJ)

O uso da expressão cultura urbana, em nosso título, procura balizar o que este estudo centralmente se propõe a interpretar. Tendo como foco as relações de sociabilidade estabelecidas em meio aos espaços públicos e privados dos Subúrbios cariocas. Para tal, compreendemos o conceito de cultura como o conjunto de modos de vida, tradições, costumes e experiências vivenciadas por um determinado grupo social dentro de um contexto histórico. Esta proposta de pesquisa tem como objetivo aproximar-se, por meio da História da Cidade e do Urbanismo, de uma investigação da vida social e das experiências cotidianas de um grande número de moradores dos arrabaldes da cidade do Rio de Janeiro. Buscando promover uma análise mais detalhada dos particulares mecanismos de habitação e sociabilidade, pretendemos nos aprofundar no cotidiano de parte dos agentes sociais que edificaram suas moradias nos bairros suburbanos, entre 1900 e 1960. Priorizando analisar o processo de edificação de residências populares, assim como, da formação de redes de identidade e sociabilidade suburbanas e visando propiciar os limites territoriais necessários a esta investigação histórica, delimitamos espacialmente nosso foco em parte do bairro do Engenho Novo, que compunham a antiga freguesia de Inhaúma. Adotaremos como corte temporal um grande período da história republicana, em que a cidade do Rio de Janeiro foi sede da capital federal, pois sabemos que neste contexto estudado um profundo conjunto de transformações socioespaciais estiveram em curso. Contribuindo para a 210 intensificação de um processo de deslocamento populacional em direção às áreas tidas com periféricas. De fato, acreditamos que nosso trabalho poderá revelar que os subúrbios cariocas são multifacetados e plurais, pois cada área chamada de subúrbio deve ter suas particularidades, assim como suas próprias relações socioculturais.Acreditamos que as edificações suburbanas, principalmente as casas populares, podem ser objetos legítimos para a compreensão da história da cidade. Assim, admitimos que a arquitetura suburbana nos proporciona um vasto campo de estudo das representações, ou seja, das formas como as pessoas compreendem a sua sociedade.

A UPP sob a ótica do jornal O Globo: a construção midiática do discurso da pacificação (2008-2017) - Cintia de Lourdes Martins Araujo (Município do RJ)

A mídia é constantemente citada nas pesquisas sobre favelas e periferias cariocas, sendo colocada como grande colaboradora no reforço do estigma desses espaços geográficos e da população que ali reside. E, atualmente, segundo autores de grande relevância no meio acadêmico como: Márcia Leite (2012), Luiz Antonio Machado da Silva (2010), João Pacheco de Oliveira (2014) entre outros, ela teve grande participação na implantação da Política de Segurança Pública para o Estado do Rio de Janeiro, as chamadas UPPs, ou até mesmo é considerada "como peça chave da sua própria montagem" como afirma Burgos, Pereira, Cavalcanti, Brum e Amoroso (2011, p.55). A apresentação visa contribuir com o debate sobre o impacto que a forma de noticiar do referido jornal gera na opinião pública, colaborando para a perpetuação do senso comum na sociedade. E a partir da análise das reportagens ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sobre as Politicas de Segurança Públicas demostrar como as escolhas do que deve ser noticiado e a forma de como essas informações chegam a população é determinante para que algo se torne tema central numa sociedade, podendo, inclusive, interferir na política, na economia, na cultura, bem como em outras esferas de um país. Isto porque, de acordo com Bourdieu (1997), as empresas de telecomunicações possuem um monopólio real sobre os mecanismos de produção e propagação, em grande escala, da informação. Desse modo, é notável não apenas a importância que a mídia recebe de diferentes setores da sociedade, mas também a força que exerce na construção de realidades sociais, podendo apresentar visões positivas ou negativas em suas representações e repercussões. Este é um debate que atualmente atinge a sociedade, causando, inclusive polarização em torno do assunto. Portanto, entender essa questão é um importante meio para se compreender a relação direta da comunicação com o estímulo de práticas preconceituosas a determinados grupos étnicos, sociais e a espaços da cidade.

A Vila Operária e a Estrada de Ferro: No entre-lugar das territorialidades da Cidade Rio (1889-1917) - Paulo Cesar dos Reis (IPPUR/UFRJ)

A Cidade do Rio de Janeiro do século XIX é, por excelência, o grande paradigma de cidade no Brasil. A partir da Cidade Rio, o poder imperial da família Bragança emanou com toda força, havia a vontade de construir um país moderno e civilizado. Este foi o grande impulsionador do projeto conservador do Estado iniciado em 1808, com a chegada da Família Real Portuguesa, entrepassando o Império do 211 Brasil e a Primeira República e findando apenas no golpe civil e militar de 1930, no que nomeio de O longo século XIX brasileiro. Projeto este que está balizado na superação da sociedade pré-capitalista, cujos fundamentos encontram-se hegemonicamente na produção agrícola exportadora e nas relações senhoriais em todos os sentidos, da matriz de trabalho à organização da sociedade. A formação de uma classe dominante ou senhorial foi crucial para o sucesso deste projeto, a partir da cooptação das elites senhoriais regionais que formaram a Corte brasileira, base do empresariado nacional e da elite política e cultural. A Vila Operária de Bangu pode ser colocada como um topos deste projeto de modernização conservadora que se operou neste longo século XIX. Portanto, cumpre-se neste texto, a tarefa de analisar a Vila Operária de Bangu em consonância com o projeto de estruturação do Estado Brasileiro, que colocou a modernização das relações econômicas, políticas, jurídicas, sociais e culturais como fator preponderante desta jovem Nação que emerge das estruturas de dominação do Império Atlântico Português.

Conflitos territoriais e pesca artesanal: as zonas de exclusão de pesca como expressão da sobreposição de usos do espaço – O caso da Ilha da Madeira (Itaguaí - RJ) - Milaysa de Oliveira Cabral Paz (FFP/UERJ)

Os processos de modernização, tendo como base as atividades industriais e portuárias em áreas costeiras geram alterações, tanto no ambiente quanto no modo de vida de populações que vivem nessas áreas. Na Ilha da Madeira, bairro do município de Itaguaí (RJ), banhado pela baía de Sepetiba, essa situação é presente. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Esse bairro passa por intensas transformações, e as populações que ali vivem, destacando nesse contexto os pescadores artesanais, por problemas e dificuldades ocasionados por essas atividades. Diferentes forças e leituras estão presentes e atuantes no mesmo recorte territorial, caracterizando assim, uma situação de tensão e conflito. A leitura hegemônica das empresas e a lógica de trabalho e vida dos pescadores artesanais marcam a presença do conflito entre os diferentes modos de ler o espaço e produzi-lo. A Ilha da Madeira passou por momentos de intensas transformações, no que concerne aos processos de modernização: na década de 1960, com a construção da Ingá; na década de 1980, com a construção do Porto de Sepetiba (atualmente, Porto de Itaguaí), e a partir dos anos 2000, com a modernização do Porto de Itaguaí, a instalação da Usiminas (onde anteriormente funcionava a Ingá), a construção do Estaleiro e Base Naval da Marinha e do Porto Sudeste. Em todos esses momentos, a população teve seu modo de vida e trabalho alterados, em especial, como é o caso da pesquisa desse trabalho, os pescadores artesanais. Impactos ambientais, desapropriações e zonas de restrição de pesca são alguns dos problemas/impactos que permeiam o cotidiano desses pescadores artesanais. Diante desse contexto, esse trabalho tem como objetivo analisar os processos de modernização na Ilha da Madeira, partindo das ações do Porto Sudeste, e seus impactos no cotidiano dos pescadores artesanais, a partir de 2010, ano de inicio da construção do Porto. Nesse trabalho a atenção será concentrada para a questão das zonas de restrição de pesca, pois verifica-se claramente uma sobreposição de usos territoriais. Para tanto, serão usados entrevistas realizadas em estudos de campo, documentos e dados secundários oficiais (estudos de impacto 212 ambiental, dados do IBGE, entre outros) e analise bibliográfica.

Direitos de ser e de viver: novos sentidos e dimensões na luta de jovens lideranças de favelas - Mario Sergio Ignácio Brum (FEBF-UERJ)

O artigo apresenta a hipótese que nos últimos anos jovens lideranças de favelas do Rio e Grande Rio, sob impacto de várias transformações econômicas, sociais e tecnológicas, vêm desenvolvendo novos eixos de lutas e novas formas de mobilização, configurando uma ‘nova geração’ de lideranças e/ou ativistas que se distingue radicalmente das anteriores. Sem pretender tomar isso como uma classificação rígida ou estática, aprofundamos-nos nos discursos dessas jovens lideranças (a própria classificação como jovem de algumas é discutível) que, diferente das gerações que a precederam, lidam como uma nova forma de sociabilidade na cidade, em que a presença do tráfico de drogas como fator de estigmatização põe as favelas como territórios em que o controle através da violência do Estado sem se importar com a vida dos seus moradores, principalmente os mais jovens. Se isso não constitui em si uma novidade, a distância entre o discurso de cidadania a partir do fim da década de 1970, e principalmente sob os governos petistas, e o cotidiano real de violência estatal e estigmatização social, é o contexto em que essas novas lideranças se deparam e reivindicam o direito de serem moradores de favela em discurso aos seus semelhantes (articulando para isso diversas ações pedagógicas), enquanto exigem da sociedade que respeitem seu direito à vida.

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Educação, políticas públicas e cultura na favela da manguerinha - Sidney Silva dos Santos (Febef/Uerj)

O presente trabalho pretende tratar de aspectos relevantes no que tange a educação, cultura e as políticas públicas de fato eficazes no interior de uma FAVELA da baixada fluminense situada em Duque de Caxias, onde a realidade não é diferente de outras FAVELAS do Rio de janeiro, no entanto cabe aqui salientar que é a primeira favela fora do Estado do Rio de Janeiro a receber uma unidade de polícia pacificadora, UPP. Trataremos também de um projeto de educação infantil que chega a favela na década de 80 onde através do estado em parceria com os moradores, a saber país e mães de crianças em fase escolar se dispunham a participar ativamente desse processo e projeto. Responder a perguntas como, quais eram as espectativas dos moradores na década de 80 com relação a um programa que visava a retirada de crianças da rua viabilizando a educação das mesmas e também possibilitando suas mães ao trabalho que viria a ser o sustento da família ou mesmo uma renda extra na família? Quanto ao projeto de polícia pacificadora qual a eficácia do mesmo, o que de fato veio de relevância para os moradores com a chegada da upp, como teria sido num primeiro momento e qual a situação atual? A relação polícia versus moradores, a escola e seus momentos de embate frente ao tráfico e as incursões policiais? É bem verdade que essa é uma pesquisa ainda em andamento que resultará na dissertação de mestrado a ser defendida no próximo ano, mas através de documentos, depoimentos e observações traremos os resultados e as abordagens teóricas que dão base a esse trabalho. 213

Empresariado e remoções de favelas (1962-1973) - Marco Marques Pestana (UFF)

Esse trabalho busca apresentar os resultados de pesquisa desenvolvida em torno da participação empresarial na formatação das políticas públicas de remoções de favelas no Rio de Janeiro, vigentes ao longo do período 1962-1973. São destacas as ações do empresariado do capital imobiliário e construtor, além dos intelectuais organicamente vinculados a eles, no âmbito do aparato estatal (Estado restrito, em termos gramscianos), onde ocuparam inúmeras posições estratégicas, seja chefiando órgãos públicos, seja participando de comissões ad hoc montadas pelo poder executivo. A partir dessas posições, os representantes daquelas frações do capital puderam atuar diretamente nas diversas etapas de produção da referida política pública, desde a concepção à execução final, passando pela organização. A hipótese central defendida é a de que a atuação política desses agentes foi fundamental para que as políticas de remoções sistemáticas de favelas ocupassem a condição de alternativa prioritária do poder público ao longo do período abordado.

Fincando raízes. Memória e Cidade. Alguns casos de luta pela moradia em São Domingos, Niterói. (1980-2017) - Vinícius Rocha do Nascimento (UFF)

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre os acontecimentos que envolvem o processo de “consolidação” de uma habitação irregular. Tratando como ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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“consolidação” a averiguação prática, ou seja, sua condição de automanutenção, organização e sobrevivência, e não a sua realidade jurídica. Para tal, a pesquisa dispôs da observação participante e das fontes orais. E através destes métodos, obteve informações sobre o dito processo em uma favela, uma ocupação e alguns cortiços localizados no entorno do campus da Universidade Federal Fluminense (UFF), no bairro de São Domingos em Niterói. O recorte temporal do estudo abrange o período entre 1980 e 2017. Esta escolha deve-se ao fato de que todos os locais estudados remontarem o início de sua ocupação aos meados dos anos 80. É necessário mencionar que neste período a cidade de Niterói sofria os reflexos da perda de seu status de capital do então Estado da Guanabara, além disso, o capital imobiliário passava a apontar suas ações em direção a região oceânica o que colocava o bairro no meio do caminho. O bairro de São Domingos deste período perdia, sua importância como local de moradia das elites que compunham a antiga estruturação social do bairro. Que aos poucos o abandonaram, deixando vazios que foram aproveitados ora pelo capital imobiliário, ora pelo Estado, ora por aqueles que não tinham onde morar. Desta maneira, o estudo trata objetivamente do processo de “consolidação” da ocupação de três casarões, o “27”, localizado no número 27 da rua General Osório, e a “Ocupação Mama África”, localizada na rua Passo da Pátria, números 48 e 50 e mais conhecido pelos moradores do bairro como “48 e 50.” Além do estudo destes casarões, a pesquisa aborda o crescimento do morro do 94, localizado na rua Professor Lara Vilela. Um dos resultados mais notórios do estudo foi o levantamento de informações de uma série de locais que não são mais. Obtida através de uma espécie de arqueologia da memória, que 214 enumera lugares e práticas do antigamente. Revela praias, favelas, fontes e casarões. Mostra uma praia onde hoje é uma universidade, uma favela onde hoje é um cinema, mostra uma ocupação onde hoje é um prédio, uma fonte e um campo de futebol onde hoje são bancos de cimento e uma favela que começou através da ocupação do terreno de um casarão em ruínas. Aos poucos a antiga paisagem foi perdendo para o moderno e em meio a isso pessoas buscavam um lugar para morar. Os relatos demonstram sobretudo a persistência em ficar no bairro, entre algumas remoções e reintegrações de posse, estas pessoas foram ficando e ainda hoje resistem. Esta temática, para além de repercutir em reflexões acerca da habitação informal, contribui para pensar o trabalho informal, assim como a supressão dos locais de públicos de lazer.

História urbana da ocupação habitacional do Jardim Nova Esperança em Goiânia (1979-1982): O estudo de caso da imprensa comunitária e corporativa - Lucius Fabius Ben Jah Jacob Gomes (Faculdade de História-UFG- Campus Goiânia)

Neste artigo será evidenciado os jornais comunitários Comunicados e Boletins, e os jornais corporativos Cinco de Março e O Popular que possuem notícias sobre a origem da ocupação habitacional do Jardim Nova Esperança, em Goiânia (1979- 1982). O objetivo desse artigo é problematizar a construção narrativa de uma história urbana contida nos jornais e ao mesmo tempo historicizar seus pressupostos discursivos que geraram, por parte dos jornais e jornalistas, suas motivações e intenções na escolha de suas opiniões. Ao mesmo tempo, será ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------trabalhado algumas historiografias sobre esse objeto de pesquisa, articulados ao conceito de espoliação urbana de Lúcio Kowarick. A hipótese deste artigo é de que é possível identificar com mais precisão a vida cotidiana experenciada pela ocupação habitacional tendo como vestígio os jornais comunitários.

Legislação Urbana Contemporânea: O direito à cidade como possibilidade - Marcos Aguiar (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

As formas de moradia popular produzidas ao longo do tempo constituem marcas integrantes das principais cidades brasileiras, estas em grande medida caracterizadas pelas condições de precarização em relação às necessidades habitacionais das massas urbanas. Cortiços, favelas, loteamentos periféricos clandestinos e/ou irregulares, numa ordem sucessiva no tempo, expressam distintas saídas possíveis encontradas pela população trabalhadora frente aos desafios de se viver em meio urbano. O presente artigo tem por objetivo situar a conformação das tipologias de moradia popular no país porém tendo em vista sua conexão com os processos mais abrangentes que envolvem a produção da cidade e os imperativos da acumulação urbana. Embora a cidade seja produto dos mais diversos agentes e atores, inclusive daqueles subalternizados, é inegável o papel central desempenhado particularmente pelo Estado e por frações do capital imobiliário cujas ações muitas vezes convergem a favor dos processos de valorização do solo urbano e da apropriação das rendas fundiárias urbanas. Se a cidade é entendida e disputada essencialmente enquanto valor de troca pelos agentes e grupos 215 hegemônicos privados, inúmeros atores - contrários às formas predominantes de sua mercantilização - a afirmam enquanto valor de uso, tendo por horizonte o direito à cidade, noção norteadora da legislação urbana que emerge a partir da Constituição Federal de 1988.

Megaeventos esportivos no Rio de Janeiro: uma perspectiva histórica sobre as remoções - Ingrid Gomes Ferreira (UFF)

A pesquisa sobre as remoções realizadas no município do Rio de Janeiro vem sendo realizada pelo Núcleo de Estudos sobre Território e Conflitos Sociais na Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes. O estudo encontra- se em fase intermediária de seu desenvolvimento, tendo iniciado suas atividades nos primeiros meses de 2016, apresentando uma problematização acerca do processo de remoção na cidade do Rio de Janeiro por conta das intervenções urbanas para a realização dos megaeventos esportivos como: os jogos Pan- Americanos, a Copa do mundo e as Olimpíadas, buscando compreender de que forma a confluência dos interesses entre essas as esferas pública e privada acarretou num conflito social e demolição de diversas comunidades, localizadas em áreas de interesse do setor imobiliário e ampliação da malha viária, espalhados em variados pontos da cidade carioca. A metodologia empregada utiliza-se de fontes para o levantamento dos dados como os materiais produzidos tanto pela mídia hegemônica quanto por ativistas/ alternativa ou, até mesmo, a mudança jurídica direcionada para a legitimação das intervenções urbanísticas. As informações após serem coletadas passaram por um processo de análise e sistematização dos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------conflitos em uma tabela de classificação que contém a localidade, protagonistas e antagonistas, além das formas de contenção estatal e resistência popular. Posteriormente, está sendo promovido um detalhamento dos atributos expostos por esses conflitos urbanos como a produção de material escrito, gráficos, mapas e tabela de informações. Vale ressaltar que concomitantemente ao trabalho com as fontes ocorre uma discussão bibliográfica que fornece o embasamento teórico para o desenvolvimento dos resultados obtidos. Os objetivos da pesquisa são de compreender as consequências das relações de poder que se constituem na esfera do público e privado, visando à realização das intervenções na cidade para os megaeventos desde o ano de 2005, principalmente na questão das reformas voltadas para a mobilidade urbana e revitalização da área central. Contudo, destacando de forma imprescindível o papel da luta social pelo espaço na cidade com sua forte relevância e necessidade de ser afirmada seja por meio de um ativismo ou movimento social organizado, no processo de resistência, buscando romper com a estrutura urbana ligada à ordem hegemônica que sendo a detentora do capital financeiro acaba por ditar, muitas vezes, o processo de urbanização da cidade. Enfatizando que, do lado oposto, os movimentos sociais dão a possibilidade dos sujeitos se tornarem ativos na disputa pelo cenário urbano.

Memória, propriedade e direito à cidade: resistência e mobilização nos depoimentos orais dos moradores da favela Vila Operária - Mauro Amoroso (UERJ/FEBF) 216 Na comunicação analisaremos a memória sobre a propriedade dos moradores da favela de Vila Operária como forma de resistência urbana e estratégia de alcance ao direito à cidade. A partir de suas habitações, esses sujeitos constroem seus laços de sociabilidade de diversas formas, da mobilização contra tentativas de remoção ao alcance de serviços urbanos básicos, como saneamento e acesso à luz elétrica. Ou seja, é possível ver práticas cotidianas se tornarem estratégias de resistência e alcance de direitos. Desse modo, através da análise da narrativa memorial da construção e função das propriedades faveladas, pretende-se refletir sobre como estas se constituem em ferramentas de busca pelo direito à cidade. Vila Operária é localizada no bairro Vila São Luís, no município de Duque de Caxias. Essa cidade se encontra na região conhecida como Baixada Fluminense, que reúne diversos municípios marcados por estigmas negativos, não raros associados à violência, e carência de serviços de infraestrutura urbana. Vila Operária é uma favela cujo surgimento se dá entre o final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Sua ocupação é ligada a loteamento promovido por atores políticos locais, e a organização de seu movimento associativo contou com participação de militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). A partir do uso da metodologia da História Oral, pretende-se colher depoimentos de famílias há muito residentes no local, para traçar a trajetória de construção e consolidação de suas moradias. Com essas fontes, se refletirá sobre as formas de sociabilidade desenvolvidas nesse processo, privilegiando a visão dos moradores de favelas como atores sociais e políticos autônomos, bem como seus processos de luta coletiva. A apresentação será encerrada com uma breve reflexão metodológica sobre a importância da fonte oral para a preservação e acesso às narrativas sobre o passado dos moradores de favelas. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Memórias e disputas de um bairro que nasceu rural e virou operário na cidade do Rio de Janeiro: o caso do Jardim Botânico - Luciene Pereira Carris Cardoso (PUC-RIO)

De um bairro originalmente rural e proletário em fins dos Oitocentos, o Jardim Botânico tornar-se-ia décadas depois num bairro bucólico e de passagem para outros, nas proximidades do mar, entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Floresta da Tijuca. Na esteira dessa invenção simbólica de zona sul, o Jardim Botânico foi concebido. Com o declínio das empresas fabris na região e com o fechamentos delas na década de 1960, a concepção de “zona de sul” já está difundida metaforicamente. Na evolução urbana da cidade nos últimos cem anos, uma parcela da população carioca enfrenta a segregação e a gentrificação do tecido espacial. A organização de megaeventos na cidade, ao lado da revitalização de certas áreas, vêm contribuindo para o processo de supervalorização imobiliária, e consequentemente para remoção de tradicionais moradores em vários pontos da cidade. As batalhas por direito à moradia e à circulação engendram revoltas, lutas, mobilizações civis, ganhando ampla midiatização. Nesse sentido, há cerca de três décadas está em pauta a polêmica questão fundiária, ou seja, a ocupação das áreas da União que compreendem uma extensa área de vegetação da mata atlântica na região, até então habitada em conveniência do Estado. A região em disputa localiza-se na região do Horto, um recanto do Jardim Botânico, com características de uma cidade ou vila do interior. 217

Vivências e saberes produzidos em escolas da periferia do Rio de Janeiro – os caminhos da aprendizagem no chapadão, pedreira e arredores - Rosana Mendonça Ferreira Muniz (UERJ /FEBEF)

O presente trabalho insere no campo das discussões sobre o Ensino Público Fundamental, no que se refere aos anos iniciais, um olhar sobre as escolas de Periferia, a fim de identificar traços e horizontes de aprendizagem comuns ao cotidiano escolar. Nesse sentido, situamos como eixo a cidade do Rio de Janeiro, em sua multiplicidade de bairros considerando também a existência dos complexos e comunidades que configuram alguns espaços periféricos. Esta investigação tem como proposta analisar as relações entre aprendizagem e violência no cotidiano de algumas comunidades de periferia que são recortadas por traços e marcadas por uma rotina de tiroteios e operações policiais. A análise é recortada no cenário de duas escolas da Rede pública do Município do Rio de Janeiro, considerando o desempenho, as atividades implementadas nas Unidades escolares, bem como a fala dos alunos, gestores e professores, na configuração de especificidades comuns às escolas da região do Chapadão e arredores. Cabe-nos compreender como são afetadas as práticas pedagógicas e o planejamento das mesmas no curso destas circunstâncias. O intuito é o de trazer informações que possam colaborar para grandes questões que cercam a Educação no Ensino Fundamental, entre elas: De que maneira as rotinas de aprendizagens são afetadas em regiões marcadas pela ostensiva criminalidade? Quais as alternativas possíveis para o professor quando o “ir e vir” (seu e do aluno) à escola se mostra tão comprometido pela violência da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------região? O objetivo geral seria o de analisar a existência de possíveis especificidades no processo de afirmação de identidades e na aprendizagem de crianças que estudam em um cenário marcado pela violência urbana. Bem como, identificar as marcas e os traços da violência do entorno (bairros e comunidades afins) que invadem o espaço escolar; além de desenvolver ou propor estratégias facilitadoras de aprendizagens para a atuação dos professores para este cenário. As rotinas de aprendizagem tem sido o caminho escolhido para o desenvolvimento do trabalho.

“SOMOS MAIS QUE MEIA-DÚZIA!” Os atingidos pela tragédia de 2011, na Região Serrana do Rio de Janeiro, e a luta por moradia e dignidade! Um resgate de suas memórias! - Ronaldo Sávio Paes Alves (UNIFESO)

A presente comunicação apresenta os resultados do Projeto de Extensão (PIEx) intitulado “Resgatando memória com arte! Dando voz às vítimas sobreviventes da tragédia de janeiro de 2011. Um esforço de sensibilização e cidadania”, desenvolvido junto ao Núcleo de Direitos Humanos (NDH) do Centro Universitário Serra dos Órgãos – UNIFESO, em Teresópolis/RJ. O Projeto em questão pretendeu contribuir com a necessária visibilidade das demandas sociais e estruturais das vítimas sobreviventes da tragédia em questão. Em Teresópolis, 1.599 famílias que perderam suas residências dependeram do inconstante pagamento do benefício “Aluguel Social” por parte do Governo do Estado do Rio de Janeiro, enquanto esperavam a entrega dos apartamentos prometidos pelas autoridades da época. Diante daquilo que classificam como “descaso das 218 autoridades”, representantes destas famílias decidiram lutar por seu direito a moradia, denunciando o que chamam de “continuação da tragédia”. Assim, apoiados por membros isolados da sociedade civil – professores, advogados, estudantes – resolveram protestar em momentos simbólicos como aniversário da cidade, concentração da Seleção Olímpica de Futebol, passagem da Tocha Olímpica, abertura dos jogos olímpicos e o “Grito dos Excluídos” no dia sete de setembro. A proposta de contribuição social do Projeto de Extensão passou pelo esforço de sensibilização das autoridades locais e da sociedade civil teresopolitana. Sua ação midiática de denúncia foi o resgate da memória dos atingidos sobreviventes, materializada em produção artística, em particular a pintura. Ao levarmos para as ruas a exposição das obras resultantes, pretendemos encetar um esforço de cidadania, acolhimento e respeito por estas pessoas, cumprindo o papel cidadão da academia, de equalizar a voz daqueles que se sentem preteridos na sociedade em que vivem.

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219 ST 20. História & Educação – Abordagens Gramscianas

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A ampliação do tempo escolar sob a hegemonia do capital - Nívea Silva Vieira (UERJ)

Este trabalho visa analisar a participação ativa da holding Itáu, através do Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), na formulação e difusão de um modelo de educação de tempo integral, materializado no o Programa Mais Educação, instituído pela Portaria nº17 de 24 de abril de 2007 e regulamentado pelo Decreto 7.083/10. O CENPEC se define como uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com ações voltadas para escola pública, espaços educativos e políticas públicas destinadas à resolução de problemas sociais. Esta organização, criada em 1987, reúne atualmente um conjunto de associados que vêm influindo nas principais políticas públicas direcionadas à Educação Básica e, destacadamente, aquelas que se referem à Educação de tempo integral. O CENPEC compõe a estratégia de atuação do Banco Itaú que, desde o recente processo de fusão com outra entidade financeira, passou a ser denominado como Itaú Holding S/A. Com presença em mais de vinte países e um lucro superior aos quinze bilhões de reais em 2014, a holding multinacional promoveu ao longo nos últimos anos uma intensa atuação junto às políticas públicas educacionais, destacadamente através do CENPEC, produzindo inúmeros documentos de referência visando à gestão pública, utilizados por diversos municípios e estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, São Paulo e Belo Horizonte. Desde 2000, o CENPEC passou a cumprir o papel de entidade responsável pela coordenação técnica de todos os projetos da Fundação Itaú Social, 220 criada no mesmo ano. O objetivo deste artigo é verificar a capacidade da entidade em organizar politicamente a atuação empresarial e inserir seus interesses no interior do Estado Ampliado, especialmente na formulação das políticas educacionais direcionadas a ampliação do tempo escolar. São utilizados como fonte desta investigação a produção intelectual do CENPEC e de instituições da sociedade política, como o Ministério da Educação. O recorte temporal deste trabalho abrange o momento da fundação do CENPEC, em 1987 e o ano de 2015, que antecede a reformulação do programa Mais Educação e sua transformação no “Novo Mais Educação”. Sob a luz do referencial teórico metodológico desenvolvido pelo marxista italiano Antônio Gramsci, buscou-se verificar a capacidade da entidade em organizar politicamente a atuação empresarial e inserir seus interesses no interior da Sociedade Política, especialmente na formulação das políticas educacionais direcionadas a Educação de Tempo Integral. Concluímos que a holding Itaú Unibanco, através do CENPEC não só integrou o bloco no poder que define e redefine as políticas educativas, como dirigiu as politicas de fomento a ampliação do tempo escolar.

A atuação da Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial na ampliação do Estado brasileiro (1946-1962) - Talita Francieli Bordignon (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo)

Entre 1946 e 1962 atuou no Brasil a Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial, criada especificamente para administrar os acordos bilaterais entre Brasil e Estados Unidos que, por sua vez, foram firmados também para o ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------desenvolvimento das escolas técnicas industriais no país, uma vez que a opção pela substituição de importações gerou a demanda pela formação de mão de obra qualificada. Com representantes de ambos os países, a comissão investiu na formação técnica e ideológica dos recursos humanos que tiveram vínculo direto com o ensino nestas escolas. Por meio de seu periódico mensal – o Boletim da CBAI – o grupo difundiu o escolanovismo e a proposta de democracia liberal apregoada pelos intelectuais orgânicos da burguesia, cujo princípio fundamental era a diferenciação unificadora, com o fim último de manter a ordenação social baseada na divisão em classes. A CBAI atuou como um partido interessado em ampliar o Estado brasileiro, de modo que a somatória da sociedade civil com a sociedade política no Brasil, se estendesse em articulação com a burguesia norte- americana. As elites brasileiras consentiram a interferência estadunidense nos negócios do Estado brasileiro, colocando-se em posição periférica no desenvolvimento do modo de produção capitalista – situação dada pelos contornos que assume o Estado no país e no seu comportamento a nível internacional. Sob o ponto de vista do materialismo histórico e dialético, pretende-se identificar a CBAI como um dos partidos a operar a ampliação do Estado brasileiro por meio da educação técnica industrial, ao mesmo tempo em que se identificam os intelectuais orgânicos que se empenharam com a manutenção da hegemonia burguesa. Para tanto, propõe-se a análise de alguns dos Boletins da CBAI, tomados, neste caso, como fonte histórica.

A Fundação Roberto Marinho e seu projeto de formação do trabalhador de 221 novo tipo: reflexões gramscianas sobre o papel da sociedade civil no capitalismo global - Amanda Rodrigues (UFRRJ)

Uma das principais consequências da superação das crises cíclicas do capitalismo – essas inerentes a sua natureza – é a rearticulação da estrutura produtiva e, consequentemente, de todo bloco histórico no sentido de reestabelecer a acumulação de capital e o crescimento dos lucros por parte dos capitalistas. Em especial, a crise de 1970 foi um marco histórico importante porque a saída representou a superação do modelo fordista-keynesiano, o qual tinha na superprodução de mercadorias e no incentivo ao pleno emprego seus marcos estruturais para o modelo toyotista japonês de produção flexível e descentralizado. O predomínio do modelo de produção flexível em escala global foi um duro golpe aos trabalhadores organizados, uma vez que para modificar o modelo de produção fundado no pleno emprego para o de relações flexíveis de trabalho, foi preciso golpear duramente as resistências trabalhistas e tal golpe foi articulado tanto no nível da repressão às organizações propriamente ditas – como os sindicatos - quanto na instituição de novas formas de convencimento, ou seja, novas ideologias. Nesse sentido, o trabalho do pensador marxista Antonio Gramsci é uma ferramenta valiosa de compreensão das articulações traçadas entre governos e sociedade civil no sentido de implementação do seu projeto de hegemonia sem que, contudo, haja a necessidade de uso puro da violência e coerção. A sociedade civil, portanto, ganha ainda mais relevância nos momentos os quais a crise demanda dos capitalistas novas formas de exploração dos trabalhadores. Por meio das suas instituições chamadas por Gramsci de Aparelhos Privados de Hegemonia, são ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------capazes de introduzir no seio das classes subalternas não apenas a aceitação, mas adesão espontânea aos princípios ideológicos das classes dominantes. Por tal razão, faz-se imperiosa a tarefa de aprofundamento dos estudos sobre os mecanismos ideológicos de dominação, uma vez que é na superestrutura onde a luta de classes se desvela. Assim, o presente trabalho pretende apresentar um breve estudo sobre o projeto de educação da Fundação Roberto Marinho, um Aparelho Privado de Hegemonia da principal rede de telecomunicações do país, conectado às novas demandas de mão-de-obra do capitalismo de tipo dependente, tal qual o brasileiro. Para cumprir tal tarefa, será discutida a influência do referencial marxiano na obra de Gramsci e as principais adequações ao contexto italiano do início do século XX. Serão abordados também elementos da reestruturação produtiva pós 1970 e o desdobramento no neoliberalismo de terceira via típico dos anos 1990/2000.

A Ofensiva Ultraconservadora na Educação Brasileira - reflexões sobre as origens do movimento Escola Sem Partido - Luiza Rabelo Colombo (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Após as chamadas jornadas de junho de 2013 é possível observar uma ofensiva ultraconservadora no cenário político brasileiro, que decorre a partir de um longo processo transnacional de crescimento do conservadorismo-liberal, que surge nos anos 1970, no contexto em que desponta a crise estrutural do capital. No Brasil, uma das expressões deste fenômeno no âmbito educacional é movimento Escola Sem Partido (ESP), que vem emergindo desde 2014 como protagonista e 222 aglutinador de frações de classe contrárias a pautas historicamente defendidas por movimentos sociais de trabalhadoras e trabalhadores da educação, como o direito a educação laica, plural e democrática, o direito a participação e organização política dos estudantes e profissionais da educação. O objetivo geral da pesquisa, neste sentido, foi desvendar e analisar os interesses no discurso difundido pelo movimento ESP, assim como sua organização e atuação. As fontes de pesquisa incluíram levantamento bibliográfico em livros, páginas na internet, artigos em jornais e revistas – tanto documentos produzidos pelo próprio movimento amplamente divulgados em seu site e redes sociais quanto por pesquisadores da Educação que tem debatido de maneira crítica sobre o tema – seguido de análise das fontes, sua organização e sistematização. A pesquisa partiu da hipótese de que o movimento atua como um típico “aparelho privado de hegemonia”, nos termos gramscianos, uma vez que: no âmbito da sociedade civil, apresenta-se como um canal de elaboração e difusão de uma determinada concepção sobre a dimensão educativa do Estado, ou seja, na conformação de consenso sobre a sua concepção de educação; e no âmbito da sociedade política ele busca atuar através da criação de legislações e da consolidação de “bancada” de políticos eleitos que vêm defendendo o seu projeto educacional, ou seja, por meio do fortalecimento do aspecto coercitivo. Neste sentido, o arcabouço teórico-metodológico gramsciano tem apontado importantes possibilidades de interpretação sobre a representação do movimento ESP, portanto, a partir dos conceitos de “Estado ampliado”, considerando as noções interdependentes de “sociedade civil” e “sociedade política”, para a compreensão da dimensão da organização das classes sociais, relacionando-as no âmbito das superestruturas do Estado. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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A Onda Conservadora e a Militarização das Escolas no Estado de Goiás - Paula Cristina Pereira Guimaraes (UFRRJ)

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa sobre o recente e aligeirado processo de militarização da gestão das escolas da rede estadual de ensino do estado de Goiás. A militarização das instituições públicas de educação básica vem ocorrendo em outros estados do país (Rondônia, Minas Gerais, Amazonas, Bahia, entre outros), sendo o estado de Goiás aquele que mais avançou até o momento neste movimento. Este processo ocorre em um contexto caracterizado por uma onda conservadora no país em que aparelhos privados de hegemonia que atuam na sociedade civil vêm defendendo junto às agências da sociedade política a militarização das escolas públicas. O referencial teórico-metodológico utilizado neste artigo se apoia nos estudos gramscianos e, destacadamente, os conceitos Estado Ampliado, contrarreforma, consenso e coerção. Para coleta de dados foi utilizada revisão de literatura de análise de fontes bibliográficas primárias e secundárias, além de entrevistas com diretores-coronéis que vêm protagonizando a política de militarização da gestão das escolas públicas. A pesquisa identificou que nos últimos anos as escolas que foram militarizadas na rede pública estadual de ensino de Goiásdespontaram nos principais indicadores que medem a qualidade do ensino no país e que estes resultados têm sido divulgados como estratégia de convencimento do conjunto da sociedade pelo governo do estado e os apoiadores da militarização das escolas. A gestão militarizada vem remodelando as escolas à 223 imagem e semelhança dos quartéis, com todas as regras e ditames militares. Os princípios de ordem e disciplina militar que norteiam as instituições públicas de segurança e, destacadamente, às polícias militares têm sido introduzidos no interior das escolas públicas. A militarização da gestão das escolas é dispersa e têm ocorrido de forma desigual entre os diferentes bairros, embora a justificativa esteja associada ao combate à violência escolar e no entorno das comunidades escolares situadas em regiões com índices altos de criminalidade identificados pelos órgãos de segurança do governo do estado. A reserva de vaga aos filhos de policiais militares e a cobrança de taxas, apesar de ser enunciada como “voluntária”, são outros componentes de distinção entre os discentes.Este artigo conclui que a militarização da gestão das escolas públicas do estado de Goiás é uma expressão da onda conservadora na educação, inserindo no interior das escolas um ensino “interessado” e valores que objetivam conformar por meio de instrumentos de disciplinamento militar toda a comunidade escolar.

A reação do SEPE-RJ aos novos modelos de gestão do trabalho escolar: hegemonia e contra-hegemonia no Rio de Janeiro. - Carlos Mauricio Franklin Lapa (UFRRJ)

Este artigo apresenta os resultados de investigação acerca da insurgência de novos modelos de gestão do trabalho escolar e a ação sindical na organização e luta dos trabalhadores da educação contra a reforma gerencial do Estado brasileiro, tendo como referência o pensamento gramsciano, O objetivo foi verificar a pertinência de suas categorias para a compreensão da reação sindical ao sistema de “Gestão ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Integrada da Escola” (GIDE). A pesquisa realizada teve como delimitação a reação do sindicato docente do Rio de Janeiro ao processo de desenvolvimento e implementação do modelo denominado Gestão Integrada da Escola na Secretaria Estadual de Educação e Cultura do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ), entre os anos de 2010 e 2017. A investigação tratou-se de uma pesquisa básica, análise qualitativa, de caráter explicativo, que se insere na categoria de pesquisa de tipo documental. Na coleta de dados, utilizou-se de revisão de literatura e análise de fontes bibliográficas primárias e secundárias em materiais de referência da GIDE e aos cadernos de deliberações dos congressos sindicais, os jornais sindicais e outros materiais impressos e produzidos pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEPE), no período de 2011 a 2016. Concluímos que a reação sindical tem se limitado à crítica aos fenômenos reflexivos do novo modelo de gestão do trabalho escolar. Essa limitação está evidenciada nas formulações presentes em diversas teses congressuais que centraram suas críticas nos aspectos fenomênicos da GIDE: Plano de Metas, Programa “Conexão”, Sistema de Avaliação da Educação, Programa de Bonificação, expressados nos materiais oficiais, tais como o Jornal Diário de Classe e panfletos produzidos pelo SEPE/RJ. Assim sendo, o SEPE não conseguiu realizar, nesse contexto, mais do que travar a luta econômico-corporativa, reproduzindo o papel histórico e limitado dos sindicatos na ordem burguesa. Conclui-se que a pesquisa que resultou neste artigo identificou que a reação sindical ao novo modelo de gestão do trabalho escolar, embora crítica e combativa, não apresenta contribuição substantiva para uma ação contundente e bem 224 fundamentada, capaz de apresentar para a sociedade, um projeto contra- hegemônico de gestão do trabalho escolar alternativo à GIDE, voltado para os interesses históricos da classe trabalhadora.

A Reforma Gerencial do Estado na Educação de Jovens e Adultos na Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro - Sergio Vieira da Silva (SEEDUC RJ / SME RJ)

A reforma gerencial promovida pelo governo do estado do Rio de Janeiro para ajustar a máquina estatal a um novo modo de regulação social não poupou a gestão educacional. A evidência disto é a implantação do Programa Gestão Integrada da Escola (GIDE) por parte da Secretaria de Estado de Educação (SEEduc/RJ). Por meio desse Programa de reforma gerencial, a SEEduc/RJ tem buscado contemplar aspectos estratégicos, políticos e gerenciais com foco em resultados, a pretexto de melhorar os indicadores da educação, especialmente aqueles relacionados ao desempenho do estado do Rio de Janeiro no IDEB. Esse conjunto de medidas alteram significativamente o cotidiano das escolas, na medida em que estabelece a lógica mercantil como referência de gestão do trabalho escolar. Esse impacto nos parece ser mais intenso na Educação de Jovens e Adultos (EJA), justamente por suas especificidades e contradições. Por esta razão, tomamos como objeto de estudo as mudanças determinadas pela GIDE na EJA desenvolvida na educação pública do estado do Rio de Janeiro, analisando o Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) Brizolão 175 José Lins do Rego, localizado, em São João de Meriti/RJ. Nosso objetivo foi avaliar se em algum aspecto a implantação da GIDE ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------trouxe alguma melhoria no trabalho pedagógico desenvolvido na EJA ofertada pela instituição de ensino investigada. Com o desenvolvimento desta pesquisa, avançamos em apresentar o real impacto da reforma gerencial do Estado na EJA desenvolvida no Brizolão 175 – José Lins do Rego. Trata-se de uma pesquisa documental, de análise qualitativa e de caráter explicativo, sem abrir mão de fontes bibliográficas primárias. Com o desenvolvimento deste trabalho investigativo, conseguimos perceber que de fato, existe um impacto de influencia muito grande do setor privado na formulação e efetivação na política pública da EJA, por dentro da reforma gerencial do Estado na EJA do Estado do Rio de Janeiro. Analisamos essas relações de tensões existentes no mundo da escola, por dentro dos conceitos desenvolvidos por Antônio Gramsci: hegemonia e contra hegemonia; crise do bloco histórico fordista, e de Sociedade civil. Essa investigação contribuí não apenas para o desenvolvimento dessa política pública da Educação, mas também para a reflexão de profissionais da educação pública do Estado do Rio de Janeiro desenvolverem suas atividades na EJA acerca de sua própria realidade, seja pelas similitudes, seja pelas distinções.

A restruturação universitária, a ditadura e o projeto de desenvolvimento econômico - Ludmila Gama Pereira (SEEDUC/RJ)

Nesta apresentação discutirei os projetos para o ensino superior em disputa após o golpe empresarial militar de 1964 até a materialização da reforma universitária de 1969 desenhada pela ditadura. Para isso, demonstraremos a circulação de 225 formulações por membros da Escola Superior de Guerra, do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (que também ocupariam cargos nos ministérios e em comissões institucionais), a atuação dos membros da Escola Superior de Guerra nos assuntos educacionais, os relatórios de consultores americanos independentes (relatório Atcon) ou contratados pelos acordos firmados entre o Ministério da Educação e a United States Agency for International Development (USAID), e finalmente, os resultados do grupo de trabalho que formulou a reforma universitária de 1969. Analisaremos, portanto, como a reforma aglutinou ou rejeitou os pressupostos de todas as formulações das entidades citadas assim como a participação direta de seus membros no grupo de trabalho convocado pelo MEC.

Aparelhos Privados de Hegemonia dos novos modelos de gestão escolar: uma análise da atuação do Instituto de Desenvolvimento Gerencial na Educação Básica - Fabrício Fonseca da Silva (UFRRJ)

Os novos modelos de gestão escolar que emergiram no Brasil, no contexto da contrarreforma do Estado, foram formulados por um conjunto de Aparelhos Privados de Hegemonia (APH’s), responsáveis pela difusão do gerencialismo em toda administração pública, incluindo as instituições de ensino. O APH, identificado para análise em tela, foi Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), atualmente Falconi Consultores de Resultado, criado, em 2003. Esse Instituto possui vínculo orgânico com a classe burguesa, visto que seu quadro de conselheiros é formado por diferentes frações do empresariado. Para esta comunicação, em especial, investigou-se o sistema de Gestão Integrado da Escola ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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(GIDE) que vem sendo implantado em sistema públicos de ensino. Como referencial, utilizou-se o conceito gramsciano de Estado Ampliado como instrumento teórico-metodológico para análise das transformações que vêm correndo nas políticas públicas na área da educação, realizadas pelas agências do estado estrito. A escola pública tem sido a principal instituição responsável pela reprodução das relações sociais de produção capitalista e na difusão da sociabilidade burguesa. A pesquisa identificou que a introdução da GIDE nas escolas públicas tem sido realizada por meio da incorporação de trabalhadores da educação às estratégias de conformação das comunidades escolares (professores, pais e alunos) promovendo cursos de formação e até ações de marketing em murais das próprias escolas. Conclui-se que esse sistema GIDE foi inserido nas redes públicas de ensino pelo INDG com o objetivo de garantir a qualidade e a eficiência das escolas sem, portanto, aumentar os recursos financeiros, materiais e humanos destinados para as mesmas. Esse modelo de gestão também introduziu nos sistemas de ensino público básico a privatização de novo tipo que está relacionada ao desenvolvimento organicamente articulado de difusão e legitimação de princípios das organizações privadas na administração das instituições públicas.

As agências e os agentes do Patronato São Bento (1955-1961) - Márcia Spadetti Tuão da Costa (Prefeitura Municipal de Duque de Caxias)

Apresentamos resultados de pesquisa em história da educação acerca da instituição do Patronato São Bento, fundada em 25 de novembro de 1955, em Duque de 226 Caxias, no Rio de Janeiro para atender a uma demanda urbana. No estado do Rio de Janeiro, no pós-1930, nas associações que os sucessivos governos estabeleceram entre agrarismo e instrução, a zona rural foi idealizada como espaço detentor da identidade fluminense, lócus de formação do trabalhador requerido para o progresso econômico do estado e da pátria. Enquanto o Distrito Federal representava o centro político e urbano, o estado do Rio de Janeiro era agrário e campesino, assim como parte da Baixada Fluminense, que teve parte do território destinado às funções rurais. Essa instituição educativa criada dentro do Núcleo Colonial São Bento emerge da diversidade de instituições destinadas a abrigar e instruir a infância nos moldes do projeto ruralista. A educação elementar básica e a iniciação profissional agrícola marcaram esse equipamento. As fontes garimpadas possibilitaram conhecer o projeto de educação para a infância pobre no município de Duque de Caxias e a inserção desses meninos no campo do trabalho sem nenhuma reflexão da exploração do homem sobre o homem. Através das atividades desenvolvidas pelo Centro de Pesquisa, Memória e História da Educação da Cidade de Duque de Caxias e Baixada Fluminense (CEPEMHEd), identificamos parte do acervo do Patronato. Como referencial teórico, utilizamos Antonio Gramsci para entender as diferentes agências e agentes que conformaram o perfil de Estado em Mendonça (2005). Quanto ao entendimento do projeto ruralista, Mendonça (2007) e Souza (2014) que ajudou a compreender esse projeto local. Esse estudo permitiu o entendimento sobre as peculiaridades perpassadas por diferentes disputas, relacionadas com a função social desse território, os comprometimentos com o projeto ruralista e urbano-social.

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As instituições educacionais no Império podem ser estudadas como aparelhos privados de hegemonia? - Isabella Paula Gaze (UFF)

Na concepção gramsciana, a sociedade civil é espaço de luta de classes (inter e intra), de disputas, de projetos, onde os agentes sociais se organizam e se associam em torno de suas concepções de mundo e interesses, onde se constrói consensos e, portanto, se estabelece a hegemonia de classe. Compreendendo como processo relacional a convivência entre sociedade civil e estado restrito, destaco a importância de estudar a segunda metade do período imperial através da concepção de estado ampliado, ou melhor, através das relações estabelecidas entre sociedade política e sociedade civil, considerando seus próprios conflitos sociais, a organização de suas formas educativas e a participação delas na construção da hegemonia. As concepções de Gramsci ganham importância quando relacionadas a análises desenvolvidas como resultados de pesquisas empíricas. Nesta perspectiva, seria possível usá-las para compreender a organização e a inserção de instituições de ensino no império. Os critérios usados para afirmar que a sociedade civil imperial era gelatinosa e primitiva não correspondem aos esforços de pesquisa de historiadores para ampliar o conhecimento sobre a organização da sociedade civil no império. Assim, na busca permanente do diálogo entre conceito e evidência, não poderia desconsiderar o quê os documentos pesquisados tem sinalizado aos historiadores, e vislumbrar a categoria gramsciana de sociedade civil, no período imperial. Se a materialização da sociedade civil encontra-se nos aparelhos privados de hegemonia, então, acredito ser possível usar a categoria 227 gramsciana para analisar o império, considerando alguns pontos: não buscar critérios de organização na sociedade imperial, tendo como referência as formas de organização surgidas, posteriormente, quando a sociedade burguesa e o capitalismo brasileiro se encontravam consolidados; considerar que a classe senhorial conquistou a hegemonia do Estado Imperial, a partir de um projeto sustentado em torno da coroa e do imperador; considerar que os aparelhos privados de hegemonia se organizaram através do consenso estabelecido pela hegemonia saquarema ou de algum outro projeto contra-hegemônico; considerar a complexidade da sociedade civil imperial a partir de sua própria formação e não pela inexistência de elementos atemporais e anacrônicos. Assim, escolas e colégios, fundados neste período, podem ser caracterizados como aparelhos privados de hegemonia, principalmente, após 1854, quando se institui a Reforma Couto Ferraz e multiplicam-se as instituições de ensino particulares como sustentáculos da ordem monárquica religiosa, contribuindo para disseminar a cultura hegemônica. Neste trabalho apresentarei algumas dessas instituições educacionais para sustentar minhas reflexões.

As políticas de ampliação da jornada escolar e o Estado: problemas de análise - Regis da Costa Argüelles (Universidade Federal Fluminense)

O objetivo deste estudo é criticar determinados modelos de análise das políticas educacionais utilizados na literatura acadêmica contemporânea, e apresentar uma abordagem teórico-metodológica diversa do problema. Mais especificamente, buscamos nos acercar das determinações que atravessam o Estado capitalista ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------quando se trata de analisar as políticas para a educação. Partimos da premissa de que as concepções de Estado, enunciadas ou não, são determinantes nos resultados de pesquisas sobre políticas educacionais. Daí a importância de um estudo que exponha as fragilidades de certas abordagens do Estado, as quais obstam a compreensão crítica das políticas educacionais, seja a respeito das suas origens, seja quando se busca discutir os seus resultados. Neste artigo voltaremos nossas atenções para as políticas de ampliação da jornada escolar. Estas políticas estão presentes no debate educacional nacional há mais de 3 décadas, sendo que, nos últimos 20 anos, novos atores sociais vêm ditando o rumo a ser tomado pela ampliação do tempo de escola. Dentre estes novos atores, se destacam as instituições voltadas para ações de responsabilidade social do empresariado em direção às camadas mais desfavorecidas da classe trabalhadora (MARTINS, 2009). A proeminência do empresariado na definição dos rumos da política de ampliação da jornada é tratada muitas vezes de forma superficial pela literatura, ao considerar o Estado ator neutro e acima dos conflitos presentes na sociedade civil, ou considerando-o como mais um ator dentre outros (MENEZES, 2009; GADOTTI, 2009). Por outro lado, ao fazer uso dos conceitos de Estado ampliado, bloco histórico e hegemonia civil de Gramsci (2012), buscaremos desvelar a intencionalidade prática do empresariado no sentido de sistematizar e mobilizar a sociedade civil e política para a construção de um tipo de educação em jornada ampliada de acordo com sua agenda. Já as análises de Poulantzas (1977), que tratam do exercício do poder político em uma sociedade capitalista de classes, permitem uma abordagem justa da relação que os aparelhos educacionais do Estado 228 estrito mantêm com a sociedade civil cindida em classes e suas frações. No caso da ampliação da jornada escolar, a valorização da descentralização da gestão e das parcerias da escola pública com a “sociedade civil” podem ser compreendidas a partir da posição que estes aparelhos ocupam na correlação de forças em uma formação capitalista dependente. Por último, propomos que a apreensão crítica das políticas públicas em educação passa pela análise dos aparelhos privados de hegemonia voltados para educação que atuam na sociedade civil e no Estado estrito, seguindo o caminho metodológico desenvolvido por Mendonça (2010).

Congressos Brasileiros de Agronegócio: a Educação do Consenso - Sonia Regina de Mendonça (UFF)

Baseado na documentação produzida pelos Congressos Brasileiros do Agronegócio (CBAs), anualmente patrocinados pela ABAG - sobretudo seus Anais -, o trabalho discute como tais eventos podem ser considerados, além de espaços de construção das redes de sociabilidade entre agricultura, indústria e capital financeiro, como práticas educativas, destinadas a “domesticar” o consenso em torno das propostas e ideias-força emanadas da Associação Brasileira do Agronegócio. Levando em conta que, tanto a organização dos Congressos – que têm seus temários previamente definidos nos Fóruns ABAG de cunho trimestral – , quanto sua realização mobilizam intelectuais orgânicos do setor, da academia, além dos mais distintos agentes das sociedades civil e política, creio possível estabelecer que as práticas, estratégias e argumentos político-ideológico-culturais apresentados durante os CBAs têm, na repetição permanente, papel visceral para a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------afirmação hegemônica da ABAG. Mais que isso, eles contam com aquilo que Antonio Gramsci sinaliza como fulcral para esta tarefa: o caráter pedagógico – logo, educativo – da construção do consenso. Sob tal ótica e seguindo o filósofo italiano, a Educação extrapola sua dimensão escolar - formal e formalista - constituindo-se em noção estruturante da hegemonia de uma dada classe ou fração dela.

Construindo um lugar social para a música: Heitor Villa-Lobos - história, memória e mito - Maria das Graças Reis Gonçalves (UFF)

Ao considerar que toda relação de hegemonia é uma relação pedagógica, Gramsci concebeu o controle da consciência como uma área de luta política, onde o Estado atua como educador, na medida em que lança mão de todos os canais possíveis para conseguir o consentimento político. Daí o interesse, por exemplo, pela educação, religião, pelo rádio, pela música, dentre outros. Nesta perspectiva, Getúlio Vargas (1882-1954), enquanto líder de um governo autoritário, não desprezou as oportunidades de buscar convencer através da cultura, a fim de ampliar sua base de apoio. Foi assim que os instrumentos culturais, como a música de Villa-Lobos (1887-1959), vieram a ocupar um espaço importante dentro da proposta política do Estado Novo, como um dos caminhos possíveis para alcançar a harmonia social. O maestro foi uma das figuras mais polêmicas do meio musical brasileiro. Autor de uma produção musical reconhecida nacional e internacionalmente, ele se projeta no cenário musical do século XX, tornando-se 229 um dos ícones da escola nacionalista de música. Além disso, teve um papel importante no campo educacional na década de 1930, com a proposta do ensino do canto orfeônico nas escolas de ensino primário e secundário que, ao cultivar a disciplina e despertar o civismo, inseriu-se no nacionalismo e na articulação de um projeto de (re)construção da nação que envolvia a criação de uma vontade coletiva. Este trabalho tem como objetivo apontar os aspectos políticos que envolveram a atuação de Villa-Lobos e sua posição de autoridade máxima em relação à educação musical, tendo em vista os cargos que assumiu no governo Vargas. O maestro acreditava no caráter socializador da música e que a prática escolar desse ensino contribuiria para a construção de um ambiente de solidariedade e de consciência coletiva, importantes para convivência em grupo. Ao reconhecer no movimento de 1930, a chance de realização de um programa de educação estética, social e artística, instrumento de promoção de novos hábitos de disciplina, de civismo entre os escolares, o canto orfeônico veio a ocupar um espaço importante dentro dessa proposta política, ao viabilizar uma pedagogia da mobilização, através da música. Pensar a música dessa forma é considerá-la, sobretudo, resultado de um processo histórico, onde diversos discursos, aspirações, sentimentos e crenças se entrelaçaram. As concentrações orfeônicas demonstraram a possibilidade de manter unidas, não pelo medo, mas pelo sentimento, em cerimônias marcadas pela emoção, milhares de vozes sob o comando do maestro. A imagem de força do chefe da nação podia se associar à imagem do grande maestro: um regendo as concentrações do Dia da Pátria; o outro regendo a Pátria todos os dias. Nessa perspectiva, cabia manter a afinação entre música e política.

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Educar mulheres: o curso de Economia Doméstica da UREMG (1952- 1962) - Camila Fernandes Pinheiro (Universidade Federal Fluminense)

A partir da matriz gramsciana de Estado, discutiremos a perspectiva de educação feminina veiulada pelo curso de Economia Doméstica da então Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (UREMG). Criado em 1952, o curso de graduação teve uma origem fundamentalmente ligada ao extensionismo rural e, portanto, congregou interesses locais, nacionais e internacionais na formação de mulheres que atuariam como difusoras de modelos de comportamento para comunidades rurais, associando o feminino ao trabalho doméstico e de cuidados. Para esta análise utilizaremos o currículo da Escola Superior de Ciências Domésticas da UREMG durante a primeira década de seu funcionamento, com o intuito de mapear as influências sobrepostas nessa nova matriz de ensino superior e o projeto pedagógico que acabaria por construir um ideal de mulher rural.

Entre a Educação para Todos e o Todos pela Educação: o direito à educação e o projeto de concertação nacional - Renata Spadetti Tuão (UERJ)

Na “Década da Educação para Todos”, o “direito à educação” ganha centralidade na busca da conformação social ao projeto burguês. Os discursos hegemônicos assumem um sentido mercantil e uma essência conservadora em conexão com a pedagogia da hegemonia que vem sendo atualizada desde a formação do bloco histórico toyotista/neoliberal. O papel educador do Estado, em sua concepção 230 ampliada, concebe o surgimento de aparelhos privados de hegemonia fundados em “acordos” intercorporativos que estabelecem a conciliação de classes como caminho para a conformação social. O “direito à educação” entoado pelo conjunto das organizações internacionais tem expressão, na década de 1990, nos diversos encontros, conferências e fóruns interclassistas criados com o objetivo de conferir materialidade ao projeto de concertação nacional em curso. Este artigo analisa a atuação da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE) no avanço do projeto neoliberal em curso no Brasil, encampado pelo bloco no poder e materializado através da formulação de políticas públicas educacionais. Nossa pesquisa tem base no levantamento de fontes bibliográficas primárias e secundárias, entre as quais: documentos institucionais disponibilizados pela CNDE em seu arquivo digital e físico, na legislação educacional e em entrevistas semi- estruturadas com os representantes do comitê diretivo e da coordenação geral da CNDE. Buscamos identificar quais as estratégias de educação política utilizadas pela CNDE se destinam a reorganizar tanto a dinâmica da sociedade civil quanto dos aparelhos do Estado na materialização de um novo padrão de sociabilidade. A CNDE é dirigida por um conjunto heterogêneo de organizações da sociedade civil, composto por onze instituições, entre elas encontramos a Fundação ABRINQ, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, o Movimento Social dos Trabalhadores Sem Terra e a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação. A interlocução teórica se dá através dos estudos produzidos por Gramsci (2011), Neves (2010; 2005), Mendonça (2014), Lamosa (2016) e Martins (2009) nos ajudando no entendimento das formas utilizadas pela classe dominante que objetivam manter e ampliar o seu domínio na contemporaneidade. Concluímos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------com esse artigo que a CNDE se propõe a reorganizar os mecanismos de mediação dos conflitos de classe, a partir da criação de um consenso ampliado em torno da defesa, inicialmente, do lema “Educação Para Todos”, materializado na década seguinte sob o movimento “Todos Pela Educação” no processo de consolidação da hegemonia. Assumindo o protagonismo na representação política da sociedade civil e difundindo uma nova pedagogia da hegemonia, tendo em vista a formação de trabalhadores adaptados aos requisitos do século XXI.

Estado, Políticas Públicas e Educação do Campo: reflexões históricas acerca do PROCAMPO e PRONACAMPO - Rita de Cássia Gomes Nascimento (IFMA)

O presente texto trata sobre problematizações históricas acerca de políticas de educação do campo, através de reflexões sobre Programa de Apoio às Licenciaturas em Educação do Campo (PROCAMPO), no contexto do Programa Nacional de Educação do Campo (PRONACAMPO), surgido em 2012. Parte-se das contradições e correlações de forças hegemônicas e contra hegemônicas no seio da mediação entre Estado, políticas públicas e capital, no contexto do campo e da Educação do Campo. Partir-se-á do quadro teórico de Antônio Gramsci (2001; 1980) para se pensar a Categoria Estado. Este é tomado como Estado Integral composto por um todo complexo que inclui sociedade civil e sociedade política e, portanto, uma multiplicação de vontades coletivas organizadas de forte caráter classista no embate pela hegemonia (GRAMSCI, 2001). Assim, as análises 231 permeiam a educação superior em Educação do Campo, e suas relações e mediações entre Estado, políticas públicas e sociedade civil no contexto da materialidade do capital no campo. O Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (PROCAMPO) constitui-se enquanto política aprovada no ano de 2006, pelo MEC, em consonância com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD, Secretaria de Educação Superior – SESU e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE para responder a demanda de reinvindicações e articulações engendradas pelos movimentos sociais e sindicais do campo, em especial, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, relativa à necessidade de oferta de cursos qualificados à formação inicial de professores e professoras para as escolas do campo nos anos finais do ensino fundamental e médio, que tenham como objeto de estudo e práticas as escolas da educação básica do campo (MOLINA & SÁ, 2011). Como segunda fase, a partir de 2012, o PROCAMPO fora inserido ao Eixo II do Programa Nacional de Educação do Campo (PRONACAMPO). O PRONACAMPO foi lançado em março de 2012e se configura em um conjunto de ações já existentes no âmbito nacional, só que com maior abrangência e articulação institucional no planejamento e acompanhamento do desempenho das ações que devessem dar suporte ao sistema de ensino e implementação da política de Educação do Campo. Para França (2016), o PRONACAMPO pode ser definido como uma política híbrida, uma vez que seu próprio contexto de surgimento realça essas contradições, já que se insere nesse momento de disputa ampla do Estado, para a efetivação de projetos distintos. De um lado as agências internacionais e a frações agrárias dominantes lutando para sua hegemonia e de outro os movimentos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sociais e populares campesinos, que no acirramento das contradições do modelo capitalista lutam por políticas, dentre elas as de educação.

Influência estadunidense na Educação e Pesquisa para o campo: a Aliança para o Progresso no Brasil (1961-1970) - Melissa de Miranda Natividade (Universidade Federal Fluminense)

O tema central deste trabalho é a Aliança para o Progresso, programa de cooperação técnica e financeira, direcionado aos países da América Latina, lançado por John F. Kennedy logo no início de seu mandato como 35° presidente dos Estados Unidos, em 1961. O Brasil foi o país do hemisfério que mais recebeu investimentos do programa estadunidense, ademais, o único também na região a contar com duas missões da USAID, uma no Rio de Janeiro e outra em Recife. A United States Agency for International Development (USAID), pensada e criada pela equipe de Kennedy, era o braço operacional do programa, onde figuravam importantes empresários e intelectuais acadêmicos que deram o tom e o direcionamento do programa de “ajuda”. A Aliança para o Progresso perdurou pelo período compreendido entre 1961 e 1969/1970, estando integrada à conjuntura da Guerra Fria. Nesse contexto, os programas de assistência financeira e técnica oferecidos pelos países do centro capitalista, traziam a promessa de abundância e desenvolvimento econômico para as nações da periferia do capital, a partir de uma “nova” atuação, menos militarizada e mais “racional” e “científica”. Nosso trabalho debruça-se sobre a operação da Aliança direcionada à agricultura 232 brasileira, a partir do estudo das várias iniciativas perpetradas por meio da Aliança, direcionadas às áreas de pesquisa e educação rural. Buscamos entender o funcionamento de uma das estratégias utilizadas para influenciar na forma de produzir, de se alimentar e de viver da população das áreas rurais brasileiras.

Instituto Ayrton Senna: Uma análise da sua atuação como Aparelho Privado de Hegemonia - Aline Carla Batista de Laia (UFRRJ)

O artigo apresenta os resultados preliminares da pesquisa sobre as determinações históricas da emergência e difusão de entidades “filantrópicas” fundadas pelos empresários na sociedade civil com grande influência sobre as políticas educacionais na década dos anos de 1990 até a década atual, em destaque o Instituto Ayrton Senna. O objetivo deste trabalho é apresentar o contexto histórico onde se formou o Instituto Ayrton Senna (IAS) e que favoreceu sua participação nos arranjos da Reforma e Contrarreforma da Educação Básica e atuação no interior do Estado Ampliado no Brasil, tanto em sua atuação na Sociedade Civil, como em sua influência na Sociedade Política. A pesquisa utiliza o conceito gramsciano de Estado Ampliado como ferramenta teórico-metodológica, compreendendo a sociedade civil como instância superestrutural em que um conjunto heterogêneo de Aparelhos Privados de Hegemonia disputa a hegemonia e a inserção de sua concepção de mundo na sociedade política, especialmente nas agências responsáveis pelas políticas públicas de seus interesses. A pesquisa identifica o IAS como um Aparelho Privado de Hegemonia que atua nas formulações das políticas educacionais, por meio da inserção de intelectuais orgânicos no interior de agências ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------da sociedade política responsável pela educação brasileira, através da oferta de programas e pesquisas que são aplicados nas escolas públicas das redes municipais e estaduais de ensino. Destaca-se que a pesquisa vem identificando a existência de diferenciações entre as empresas que organizam e dirigem o IAS, bem como camadas distintas de intelectuais que se dividem entre a formulação, sistematização e difusão da concepção de mundo representada no interior do aparelho. Neste artigo foram analisados os programas e ações do IAS no período que compreende os anos entre 1994 e 2016. O artigo conclui que o IAS, por meio de uma intensa agenda de atividades produzida por seus intelectuais orgânicos, realiza uma pedagogia da hegemonia que difunde metodologias educacionais adequadas à formação dos trabalhadores para o trabalho simples, atendendo às emergências da recomposição burguesa, que retira das escolas a centralidade da produção do conhecimento escolar e proletariza os docente que são expropriados, tornando-se executores de uma pedagogia interessada.

Instituto Brasileiro de Petróleo: a construção da hegemonia sobre a economia de petróleo brasileira - Thiago Vasquinho Siqueira (UFRJ)

Este artigo realiza uma análise de informações de uma pesquisa de doutorado em andamento que objetiva entender a atuação pedagógica dos Aparelhos Privados de Hegemonia (APHs) na manutenção dos interesses do capital multinacional sobre a exploração de petróleo no Brasil. Busca-se, sobretudo, entender a forma de consolidação e atuação institucional do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e 233 Biocombustíveis (IBP), maior e mais antigo APH do setor, na sedimentação pedagógica de sua concepção de mundo na sociedade civil e suas reverberações na estrutura econômica nacional. A análise dos APHs e seus principais intelectuais, à luz do conceito ampliado de Estado em Gramsci, possibilita entender as correlações de forças entre as classes e suas frações existentes em um determinado período histórico, orientando as construções ideológicas, concepções de mundo, políticas públicas e outras ações concretas do Estado em seu sentido estrito. Formado em maio de 1957, o IBP teve suas atividades originais, supostamente, vinculadas ao ambiente técnico e científico, sendo vedada qualquer atividade de natureza política ou partidária. Contudo, o histórico de atuação política de seus fundadores aponta em outra direção. Suas atividades foram diversificadas ao longo dos anos, consolidando-se como o principal representante do setor e autodenominando-se a “Casa da Nossa Indústria”. O Instituto atua como amortecedor e neutralizador de conflitos internos entre os agentes da indústria e as instituições estatais na busca por consolidar os interesses do bloco industrial. A vasta área de atuação do IBP faz deste um intelectual coletivo que atua pedagogicamente na consolidação da hegemonia burguesa constituída pelo capital multinacional. No Brasil, estes interesses se tornaram força socioeconômica dominante no período de fundação do IBP, criando uma estrutura de poder político de classe do bloco multinacional, corporificado em uma “intelligentsia empresarial”. Este artigo conclui que os intelectuais que compunham o IBP seguiram a mesma tendência de diversos outros APHs conformados no período, acumulando cargos de dirigência de companhias privadas e estatais, desenvolvendo um “complexo financeiro-industrial estatal integrado de produção e domínio” que criou raízes na década de 1950 e se expandiu ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------no governo de Juscelino Kubistchek. Nesse sentido, o IBP parece ter transitado suas formas de atuação conforme as necessidades historicamente determinadas no desenvolvimento brasileiro, mantendo a hegemonia também através de relações pedagógicas, nas quais a classe ou frações dominantes subordinam os grupos sociais através da persuasão, organizando um suposto consenso social em torno da concepção dominante de mundo.

O caráter educativo de um aparelho privado de hegemonia da classe trabalhadora: a experiência de organização da Ação Popular junto as castanheiras (CIONE, Fortaleza-CE, 1967-1969) - Marcelo Henrique Bezerra Ramos (UFF)

Em finais de 1968 centenas de castanheiras (operárias da indústria da extração de óleo da castanha de caju) da Companhia Industrial de Óleos do Nordeste – CIONE (Fortaleza-CE) organizaram uma greve para reivindicar melhores salários e condições de trabalho desenvolvendo-se numa crítica à lógica da exploração sofrida pelas trabalhadoras e ao papel do patrão e do Estado na opressão de classe. Este é um período de ditadura empresarial militar no Brasil, marcado pelo aumento da coerção na sociedade, cerceamento das liberdades políticas, perseguição aos movimentos sociais e arrocho sobre os salários e a vida dos e das trabalhadoras, a fim de garantir melhores condições para a produção e reprodução do Capital no Brasil. Portanto, buscamos entender o processo de organização política e construção de consciência de classe entre estas trabalhadoras, identificando a ação 234 de aparelhos privados de hegemonia para organização dessa ação política, especificamente o caráter educativo destes. Abordamos a organização destas mulheres que enfrentaram o projeto hegemônico e a coerção aplicada pelo Estado, contribuindo no movimento contra-hegemônico que marcou 1968 como o ano de maior resistência dos subalternos ao regime militar, tais como as greves dos metalúrgicos de Osasco-SP e Contagem-MG, e a greve dos trabalhadores rurais da zona da mata pernambucana. Nós, por escolha temática e metodológica a partir do que achamos mais importante a destacar no momento a partir do nosso trabalho com as fontes, nos esforçamos para dar um maior aprofundamento a um aspecto em si da greve, os processos de transformação da consciência de classe no processo de construção do movimento e da greve, relacionando as questões de raça e gênero com o processo de formação de classe. Como as operárias se conscientizaram da necessidade de se organizarem e empreenderem luta contra o patrão? Quem eram os aparelhos de classe que agiram na greve? Qual papel desses aparelhos na construção de uma consciência política de classe? Qual a caráter educativo dos aparelhos de classes e quais impactos deste caráter educativo na conscientização das trabalhadoras? Entendemos a Ação Popular como um aparelho privado de hegemonia da classe trabalhadora que busca na atuação junto ao Sindicato do Óleo e na organização de base na CIONE, construir a organização de um segmento dos subalternos no Brasil em 1968, uma parte da vontade coletiva organizada em luta de greve, fazendo avançar a consciência de um conjunto de trabalhadores dos problemas imediatos, na direção dos problemas políticos nacionais.

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O Enraizamento do Capitalismo no Campo Brasileiro Através da Educação de Jovens Rurais: Dos Clubes Agrícolas Educacionais aos Clubes 4-S (1942 – 1980) - Nathalia dos Santos Nicolau (Universidade Federal Fluminense)

O trabalho em questão conta com apontamentos iniciais do meu objeto de Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em História na Universidade Federal Fluminense, iniciado nesse ano de 2018. O referente projeto dá continuidade a minha Dissertação de Mestrado defendida em 2016 no PPGH-UFF, sob o título “Clubes Agrícolas: Um projeto de educação, trabalho e cooperação para jovens rurais (1842-1958)”, porém ampliando não só a analise como refletindo sobre uma nova instituição de ensino: Os Clubes 4-S. Dessa forma, Tendo como referencial teórico para análise das questões subjacentes à temática da Educação de Jovens rurais em geral, e dos tipos de Clubes Agrícolas em particular, adoto a perspectiva marxista de Antonio Gramsci, ou seja, analiso o Estado como Ampliado no período proposto, através do estudo de Aparelhos Privados de Hegemonia que pretenderam ganhar espaço e ter seus projetos educacionais inseridos junto ao Estado restrito. A principio, o plano de pesquisa se baseia em examinar o processo de consolidação e as sucessivas redefinições sofridas pelo ensino agrícola/rural de nível primário no Brasil viabilizado por práticas de extensão rural - que se fez presente no campo entre inícios da década de 1940 e da de 1980, através das duas instituições aqui 235 analisadas: dos “Clubes Agrícolas” (1940-1950) e dos “Clubes 4-S” (1950- 1970/80). Ao observar a educação rural, aqui vista a partir dos dois tipos de Clubes, nota-se que foram marcadas por embates políticos e, simultaneamente, produtora/reprodutora de hierarquias sociais que sanciona de fato a subalternidade do trabalhador rural aos projetos que visavam o aumento da produtividade, legitimado sob o discurso de modernização. A pesquisa também investigará as inflexões sofridas pelo Ensino rural - por meio do Ministério da Agricultura - via Extensionismo, já que os dois tipos de Clubes respondiam a projetos distintos, mas que perpassavam direta ou indiretamente pela Extensão Rural, seja pela “ruralização do ensino” e/ou por um conjunto de práticas e de agências voltadas para a “assistência técnica” e social da juventude rural, tendo como modelo o Clubismo estadunidense. aqui veiculado por inúmeras instituições de cooperação norte-americanas. Assim, ao refletir sobre os Clubes, levando em conta suas semelhanças e suas diferenças, procuro demonstrar que esses projetos de educação tem como objetivo a disseminação do capitalismo no campo com sua ideologia de priorizar a técnica enquanto instrumento da negação dos conflitos sociais no campo e a neutralização de potenciais mobilizações de trabalhadores rurais.

O estudo do SEBRAE enquanto difusor junto a noção de "educação empreendedora" - Felipe da Silva Duque (UERJ)

O presente trabalho tem como proposta investigar o papel do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) reconhecendo-o como um Aparelho ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Privado de Hegemonia (APH) na difusão da noção recente de “educação empreendedora”. A compreensão de tal condição se faz fundamentada num breve resgate da entidade a partir de sua fundação enquanto setor da sociedade política em 1972 sob o nome de Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena e Média Empresa (CEBRAE), ligada naquele momento ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE). O exame dos principais autores envolvidos na reivindicação da entidade - representantes de algumas frações da burguesia brasileira no período - torna fundamental a análise das metamorfoses desse APH e suas relações com as mudanças no bloco histórico transformadas na contemporaneidade diante do avanço conservador-liberal.

O ideal de desenvolvimento sustentável presente na construção da política municipal de educação ambiental PMEA - Eduardo da Costa Pinto d'Avila (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia)

Este artigo tem como tema o processo de institucionalização da política municipal de educação ambiental do Rio de Janeiro (PMEA/RJ), entre 2006 e 2016, objeto da Lei Nº 4.791, promulgada no dia 02 de abril de 2008 e regulamentada por decreto 236 em 2013. O objetivo do estudo foi entender como a PMEA/RJ foi materializada mapeando os sujeitos coletivos envolvidos. O quadro teórico-metodológico consistiu na concepção gramsciana de Estado integral e de sociedade civil, envolvendo os procedimentos técnicos tais como levantamento de pesquisas no banco de teses e dissertações da Capes, análise de conteúdo documental, entrevistas e revisão bibliográfica. A educação ambiental, no Brasil, é resultado de um embate travado desde os anos 1970 e 1980, no campo do ambientalismo e no campo da educação, que resultou na Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA, 1999) e, desde então, a institucionalização da educação ambiental se desdobrou em legislações estaduais e municipais. No Rio de Janeiro a PMEA/RJ resultou de uma política pública educacional do município do RJ submetida a uma influência direta dos governos do Estado do RJ e federal, em função da coligação partidária PMDB- PT. Os resultados preliminares envolveram a influência do ideal da gestão gerencial, bem como a inserção da educação ambiental em projetos formulados por empresas em parceria com a prefeitura. A pesquisa vem confirmando a hipótese de que a institucionalização da PMEA/RJ opera na lógica da administração gerencial de políticas educacionais. A pesquisa vem identificando os sujeitos coletivos organizados na sociedade civil e sua atuação no Estado strictu.

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O Movimento Escola Sem Partido e as disputas por um sentido conservador de educação: luta pela hegemonia nos debates educacionais - Diogo da Costa Salles (UERJ)

Esse trabalho trata do Movimento Escola Sem Partido (MESP), da história de sua criação e desenvolvimento e dos interesses político-ideológico que ele representa. O objetivo aqui é reconstituir como o movimento se tornou um veículo para difundir junto à sociedade civil de discursos e perspectivas conservadoras sobre a educação escolar e a função social da escola. A proposta que guia esse trabalho é a de que o MESP, através da sua associação com outros partidos, aparelhos privados e intelectuais orgânicos, visa consolidar um consenso hegemônico em torno do papel da escola e das relações de ensino-aprendizagem com o objetivo de converter esses espaços em ferramentas para a reprodução de valores e paradigmas político- ideológicos conservadores

Os mestrados profissionais em educação: uma nova arena em expansão - Luciane da Silva Nascimento (UFRJ)

A política sinalizada para a pós-graduação brasileira no atual Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2011-2020) revela a necessidade de ajustamento dos cursos stricto sensu à formação de recursos humanos para as empresas, da internacionalização desses cursos com vistas à cooperação internacional e define um perfil para os cursos voltados à formação para mercados não acadêmicos. A 237 redefinição das políticas de ensino superior notadamente está inserida nesse projeto em que a educação para formação de capital humano acontecerá com o fortalecimento de um ensino terciário, incluindo, a pós-graduação. Não se pode ignorar o fato de que as formulações dos organismos internacionais associadas às demandas das frações burguesas que ocupam maior proeminência no bloco de poder do Estado brasileiro configuram as matrizes conceituais e operacionais dos projetos educacionais em curso. Apesar, de situar que essa discussão ultrapasse as fronteiras da pós em educação, o PNPG busca redimensionar as problemáticas no campo da educação, afirmando a necessidade da produção de estudos com resultados mais visíveis, atrelando-os sempre a dinâmica de ajuste da educação aos macros planejamentos. Portanto, dada a natureza recente desses cursos, tornou-se focal compreender a dinâmica que os envolve e a política que direciona a expansão dos mesmos numa perspectiva de compreensão histórica do tempo presente. Para analisar a complexa configuração do Estado na atualidade, na busca de entender a sociedade civil como instância que altamente organizada e composta por aparelhos privados de hegemonia tem os instrumentais para disputar as concepções e os direcionamentos políticos nas políticas educacionais, Gramsci constitui-se em uma das categorias teórico-metodológica focais desta pesquisa em andamento. A defesa dos organismos internacionais e das instituições nacionais ligadas à regulamentação da pós-graduação pela modalidade profissional como indutora de desenvolvimento, devido ao caráter de otimização de processos produtivos e econômicos, revelou a complexidade do objeto desta pesquisa. Afinal, não basta desmascarar o discurso como forma de simplificação do conhecimento humano e social no campo acadêmico. É preciso apreender a discussão conceitualmente por ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------meio de suas contradições dialéticas. Por isso, olhar metodologicamente os mestrados profissionais como categoria analítica tem contribuído para desvelar o caráter ideológico subjacente ao discurso defensor da modalidade. A utilização dos microdados da pós-graduação, disponibilizados no portal CAPES (extraídos da base Sucupira) tem corroborado para o mapeamento e caracterização desses cursos em território nacional.

Recomposição Burguesa, Ampliação do Estado e as Novas Sociabilidades do Capital: o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP - Marcio Douglas Floriano (UFRJ)

O presente trabalho buscou analisar, ainda que de forma preliminar, o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), na medida em que este se configura em um poderoso intelectual orgânico coletivo burguês com forte capilaridade no Estado Restrito e capacidade de educar o consenso em torno das atividades de produção e exploração (P&E) do petróleo. O arcabouço conceitual de Antônio Gramsci, sobretudo as categorias estado integral ou estado ampliado, hegemonia e bloco histórico subsidiaram teoricamente nossa investigação. A metodologia baseou-se em pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, envolvendo análise de projetos de Responsabilidade Social/Educação Ambiental de empresas associadas ao IBP e que compõem a Refinaria Duque de Caxias (REDUC), polo industrial situado no Município de Duque de Caxias – RJ. Nossa análise se desmembra em dois eixos: a) a influência de seus intelectuais orgânicos sobre a 238 legislação que rege a exploração do petróleo no Brasil e b) as formulações do IBP sobre Responsabilidade Social (RS), que influenciam decisivamente as relações das empresas associadas com as comunidades do seu entorno. As empresas ligadas ao IBP configuram seus departamentos de RS para educar o consenso e formar um cidadão de novo tipo, com projetos que abaram aspectos desde o voluntarismo e o empreendedorismo, permeados por uma mentalidade mercadológica e até uma aura de civismo e conservadorismo. Some-se a isso seu discurso de sustentabilidade, utilizando tal conceito como um termo mágico capaz de unir as classes hegemônicas e subalternas nas regiões de seu entorno. Concluiu-se, preliminarmente, que o IBP se configura num Aparelho Privado de Hegemonia(APH) que, simultaneamente, subsidia tecnicamente as decisões do estado estrito atuando na consolidação de uma mentalidade neoliberal no país e na “frente de humanização” da indústria do petróleo a partir da educação do consenso entre as classes e das novas sociabilidades do capital, representadas pelo neoliberalismo de Terceira Via. As práticas de Responsabilidade Social das empresas cumprem uma dupla função: conformar as populações circunvizinhas das empresas em relação ao risco socioambiental trazido pelas atividades de produção, exploração do petróleo e aumentar o valor de mercado das empresas, visto que, a RS se configura como um ativo de mercado atualmente.

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Reformas educacionais na América Latina na década de 1990 - Graciella Fabrício da Silva (Universidade Federal Fluminense)

No ano de 2016, o governo Temer anunciou a reforma do ensino médio brasileiro, promovendo alterações na estrutura e na oferta deste segmento de ensino no Brasil. Recentemente, foi apresentada a versão final da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), o qual prevê a obrigatoriedade de Português e Matemática nos três anos do ensino médio, constando as demais disciplinas no currículo apenas de forma opcional, inseridas nos chamados itinerários formativos. Toda a polêmica em torno do projeto do governo - que despertou críticas de diversos segmentos da sociedade brasileira - torna propícia a reflexão sobre as reformas nos sistemas educacionais latino-americanos. Na década de 1990, países como Brasil, México, Chile e Argentina realizaram modificações em seus sistemas de ensino. Apesar das especificidades de cada país, as "reformas" realizadas têm diversos pontos em comum. A principal delas reside no fato de que as alterações na educação tomavam como base as orientações de instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. De um modo geral, elas foram marcadas pelo enfraquecimento do financiamento público da educação, pela instituição de currículos pré-definidos a serem seguidos pelas unidades de ensino, pela realização de avaliações externas com vistas a avaliar o desempenho de estudantes e professores e pelo estipulação de critérios pautados nas ideias de competitividade e meritocracia para remunerar os docentes. O propósito por trás dessas "reformas" era o de promover a hegemonia econômica e ético-política da burguesia na 239 educação. No entanto, elas não foram aplicadas sem que houvesse resistência das classes populares, especialmente dos atores e trizes diretamente afetados pela sua implementação (profissionais da educação, estudantes, mães, pais). A finalidade deste trabalho é, portanto, promover uma reflexão sobre o sentido e os impactos dessas reformas nos sistemas educacionais nos países em que foram aplicadas, bem como as resistências de professores e estudantes à sua implementação.

Todos Pela Educação: a hegemonia empresarial sobre a formação dos trabalhadores na América Latina e Caribe - Rodrigo de Azevedo Cruz Lamosa (UFRRJ)

A reforma educacional ocorrida nos países latino-americanos e caribenhos nas três últimas décadas vem sendo realizada a partir de uma intensa mobilização e articulação de aparelhos privados de hegemonia. Este artigo tem como objetivo geral analisar a articulação empresarial latino americana, considerando sua atuação na região por meio da Rede de Organizações da Sociedade Civil pela Educação (REDUCA) e seus associados: Proyecto Educar 2050 (Argentina); Movimento Todos Pela Educação (Brasil); Educación 2020 (Chile); Empresarios por la Educación (Colômbia); Grupo Faro (Equador); Fundación Empresarial para el Desarrollo Educativo – Fepade (El Salvador); Empresarios por la Educación (Guatemala); Fundación para la Educación Ernesto Maduro Andreu – Ferema (Honduras); Mexicanos Primero (México); Foro Educativo Nicaragüense "Eduquemos" (Nicarágua); Unidos por la Educación (Panamá); Juntos por la Educación (Paraguai); Empresarios por la Educación (Peru); Acción por la ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Educación – Educa (República Dominicana). Tem ainda como objetivos específicos verificar a composição deste movimento, tomando como referência empírica a constituição das organizações em cada país, revelando as frações de classe, seus intelectuais orgânicos e sua articulação. O trabalho se caracteriza por ser uma pesquisa básica, de análise qualitativa, de caráter explicativo, que se insere na categoria de pesquisa de tipo documental. Este trabalho compreende a atuação das classes sociais no interior do Estado Ampliado, tanto na sociedade civil, onde estas organizam seus intelectuais, individuais e coletivos, quanto na sociedade política onde as mesmas inserem seus projetos e interesses nas agências estatais. O instrumento de coleta de dados utilizado tem sido a busca por documentos produzidos pela REDUCA e seus associados. Em ambos os casos as fontes pesquisadas têm sido coletadas nas páginas oficiais disponibilizadas ao público na internet. Por meio destes documentos tem sido possível identificar as frações do capital e suas respectivas empresas que configuram entre os associados, a agenda destes movimentos, suas pautas e slogans anunciados. O artigo conclui que a rede tem tido grande relevância para a definição das diretrizes da reforma educacional, possuindo uma composição em que se destacam distintas frações do capital, com grande protagonismo da fração financeira e empresas de telecomunicação, e uma atuação que lhe confere o papel de partido, no sentido ampliado, conforme formulação gramsciana, sendo decisivo para a produção do consenso, passivo e ativo, da sociedade.

Tradições e Resistência: terreiros, sindicatos e consensos na formação da 240 classe trabalhadora negra carioca (1905-1940) - Camila Pizzolotto Alves das Chagas (UFF)

Este trabalho tem como tema as relações raciais e a formação da classe trabalhadora brasileira, em especial a carioca, entre os anos 1906 e 1930. Pretendemos aqui nos aprofundar em dois espaços de sociabilidade dos trabalhadores no Rio de Janeiro, suas redes de solidariedade e de sociabilidade: A Sociedade de Resistência dos Trabalhadores de Trapiche e Café, fundada em 1906 e a Tenda Espírita Cabana de Xangô, situada no subúrbio da cidade, que tinha como mãe de santo Vovó Maria Joana Rezadeira, que se mudou para Madureira no ano de 1916. Neste trabalho nos interessa investigar de que maneira os conceitos de raça e classe, no Brasil, se mostram indissociáveis. Além disso, nos interessa buscar compreender como as organizações da classe trabalhadora podem contribuir para a formação de consensos contra-hegemônicos, seja na manutenção de tradições, seja em suas redes de solidariedade, nos fazer-se dessas entidades. Desse modo, tanto o sindicato, como o terreiro se apresentam como organizações das classes subalternas em disputa por trabalhadores negros, na luta pela consolidação e pela formulação de consensos. Diversos sócios do sindicato frequentavam o terreiro de Vovó Maria Joana, um espaço também dedicado ao Jongo e à manutenção da tradição jongueira como elementos de resistência, dentre eles Mano Elói, Sebastião Molequinho e João Grandim. Mano Elói, foi um importante quadro da Resistência, tendo seu nome em destaque no atual Sindicato dos Arrumadores do Rio de Janeiro, foi frequentador do terreiro de Vovó Maria Joana e um dos fundadores do Império Serrano, escola de samba localizada em Madureira. Os que haviam sido ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------escravizados e os libertos abriram caminhos para a fundação e estruturação do que viria a ser o sindicato. Nesse sentido, a Resistência se mostrou um espaço de trabalhadores negros. As redes de solidariedade que dariam origem ao sindicato e firmaram muito antes de sua fundação. Dessa maneira, as práticas de auto- organização dos grupos de trabalho não começaram após a abolição. Essas redes de solidariedade e sociabilidade construídas desde os tempos da escravidão são muito semelhantes àqueles laços fundados nos terreiros de candomblé e tendas de umbanda, tendo esse papel fundamental na formação da fração negra da classe trabalhadora. A Tenda de umbanda liderada por Vovó Maria Joana se firmou como um espaço de grande importância nesse sentido, tanto pelos cultos realizados, quanto pela participação e perpetuação da tradição jongueira. Ali estabeleciam-se redes de sociabilidade e solidariedade, tomadas de decisão sobre a comunidade e a organização de movimentos para a preservação do jongo. Vovó Maria Joana também esteve envolvida na fundação da escola de samba Império Serrano, juntamente com outras lideranças já mencionadas.

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242 ST 21. História & Teatro

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"Aquenda essa mala, Nicole!": O figurino de uma transformista no teatro de revista dos anos 1950 - Calori de Lion Antonio Ricardo (UFU)

Este trabalho propõe analisar a indumentária criada para compor o figurino da transformista Ivaná, como parte da proposição estética de sua persona feminina, no teatro da Companhia Walter Pinto, nos anos 1950. Estabelece-se uma parceria entre estudos históricos e estudos queer no objetivo de refletir sobre tal sujeita/o, partindo da compreensão de que apresentou/representou ambiguidades em sua(s) existência(s). A persona era performada pelo ator Ivan Monteiro Damião numa estética glamourizada do feminino do período. O contraponto, neste caso, são as próprias representações femininas das vedetes que atuavam ao lado de Ivaná na Companhia. Pensa-se esta questão a partir das prospecções de Judith Butlher no que se refere ao sistema sexo-gênero e as regulações impostas aos corpos, não só disciplinadoras, mas impostas como maneiras de existências forjando, assim, padrões. Debates sobre a moda como o de Gilda de Mello e Souza em “O espírito das roupas” (1987) possibilitam a discussão entre indumentária, história e relações de poder (gênero). A análise se dá a partir de imagens da transformista em cena e em material de divulgação das peças teatrais nas quais fora estrela, neste âmbito as suas representações são o foco analítico, pensadas a partir de suas práticas artísticas. Entende-se, deste modo, que: a) houve uma regulação de gênero na construção estética da transformista Ivaná a partir de elementos que destoavam da feminilidade das vedetes brasileiras, já que o ator Ivan Damião viera da França para atuar no Rio de Janeiro, e trazia a nacionalidade francesa na esteira de seu cartaz; 243 b) a disciplinarização de uma dada estética “travesti” sobre o corpo do performer mostra a construção de um padrão de transformismo no Brasil daquele período, colocando em evidência elementos femininos tidos como belos, atrativos, do mundo cinematográfico e civilizado da mulher europeia.

A cena iluminada - a importância da Haskalá russa para o nascimento de um teatro yiddish não-folclórico - Thiago Herzog (PPGAC/ UNIRIO)

Esta apresentação se propõe a apresentar e discutir a Haskalá russa, o movimento de Ilustração judaica em sua versão produzida no Império Russo, menos analisada pelos historiadores, assim como demonstrar sua importância para o nascimento de um teatro de cultura yiddish não-folclórico no leste europeu. Embora a Haskalá alemã, seja o foco principal dos estudos judaicos, em sua vertente russa, o iluminismo judaico caminhou no sentido de criar espaços de diversão, arte e discussão filosóficas seculares de forma definitiva, moldando o que chamaremos com a diáspora para as américas, de cultura judaica propriamente dita. Esse espaço permite que o teatro yiddish, até então sufocado pelas leis rabínicas, possa trilhar novos caminhos, primeiramente pelo pioneirismo textual dos iluministas e, mais tarde, pela prática de Abraham Goldfaden. Além disso, é nesta versão que o yiddish ganha alcunha de língua judaica, permitindo que as produções em sua dimensão ganhem atenção. Essa conexão entre iluminismo judaico e o teatro não-folclórico que nasce, principalmente, a partir de 1976, segundo historiadores como Jacó Guinsburg, pode demonstrar, associado com as características de continuidade de sua vertente folclórica que, além de um teatro de língua yiddish, esse é um teatro ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de uma cultura particular, produzida por judeus do leste europeu, bastante sedimentada, elevada, compreendida e valorizada no século XIX.

A dramaturgia como fonte para história da iluminação cênica, questões de abordagem para uma pesquisa em andamento - Berilo Luigi Deiró Nosella (UNIRIO)

A presente comunicação pretende apresentar algumas questões e proposições de ordem teórica e metodológica quanto ao uso da dramaturgia como fonte para uma história da iluminação cênica. Tais questões foram levantadas e vivenciadas no desenvolvimento da pesquisa de pós-doutoramento “Capocomicato e metateatro: o fazer e o pensamento da iluminação na dramaturgia pirandelliana” em desenvolvimento (conclusão prevista para julho de 2018) no Programa de Pós- Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa em História e Historiografia do Teatro e das Artes, sob supervisão da Profa. Dra. Maria de Lourdes Rabetti (Beti Rabetti). Procuraremos demonstrar como a relação, que consideramos orgânica, entre o olhar pretendido para o passado, pelo fazer do historiador, e a fonte por ele inquirida, definiu-se e definiu os objetivos da pesquisa. Assim, o caráter fluido do objeto escolhido como fonte – a dramaturgia enquanto narrativa ficcional – possibilitou a revelação de dados sobre o fazer e o pensamento da iluminação mais ligados à um contexto abstrato, mas mais amplo, do imaginário de uma época quanto ao fazer da iluminação cênica. Revelando, mais do que apenas um possível, e intangível, fazer 244 da época, aquilo que se animou tanto enquanto potencial quanto aspiração, pela concretude das realizações da época, no caso, o desenvolvimento tecnológico da iluminação elétrica em fins do século XIX e início do século XX.

A História do Teatro Político Indiano no século XX: reflexões e diálogos socioculturais e políticos - Ana Beatriz Pestana Gomes (Programa de Pós- graduação em História da UERJ)

Na primeira metade do século XX na Índia, principalmente nas décadas de 1930 e 1940, as manifestações teatrais com ideais políticos se fortaleceram com a chegada no país de ideologias revolucionárias que defendiam a importância do engajamento da arte com lutas políticas em prol da transformação social e assim artistas militantes iniciaram um movimento cultural de esquerda que almejava desenvolver uma arte marginal e revolucionária através da criação de diferentes movimentos políticos culturais, como por exemplo, a Indian People’s Theatre Association. O contexto da Segunda Guerra Mundial e a intensificação das sanções da Coroa Britânica aos movimentos de emancipação colaboram para o fortalecimento do teatro político indiano e para um direcionamento diferente do teatro praticado nos séculos anteriores, que desvalorizou a cultura nacional com criações colonizadoras, direcionadas para a classe privilegiada do país e não comprometidas com a formação do pensamento crítico e reflexivo. Após a independência da Índia em 1947 e da instauração do governo nacional novas complexidades sociopolíticas eclodiram (o término do regime colonial, novas políticas de liberalização e globalização, o processo de reconstrução da nação, a marginalização dos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------movimentos artísticos de esquerda, discordâncias entre políticos, intelectuais e artistas, etc.) e desapontaram ideologicamente e enfraqueceram os movimentos revolucionários e o teatro político indiano. Estes e outros conflitos fizeram com que na década de 1960 o movimento de teatral político indiano se descentralizasse dando origem a teatros políticos independentes, que continuaram a lutar por transformações socioculturais e políticas aliando a isso experimentações artísticas mais livres de ideologias políticas partidárias. Atualmente estes teatros trabalham questões da contemporaneidade em comunidades através de projetos em prol da justiça social, da educação, da participação democrática do povo, dos direitos das minorias e em muitos outros âmbitos. Desta forma, a presente comunicação visa analisar a história do teatro político indiano no século XX, que apresenta-se como um interessante campo de investigação e pesquisa histórica e teatral, visto que ela é repleta de fatores e complexidades socioculturais, históricas, políticas, teatrais e artísticas que estabelecem reflexões dialógicas com manifestações de movimentos de teatro político em distintas partes do mundo e momentos históricos.

Bumba-meu-boi e Teatro: diferentes critérios de aproximação - Weslley Fontenele Frota (UERJ)

Mário de Andrade em Danças Dramáticas do Brasil (1959) já havia aproximado do Teatro as manifestações culturais brasileiras definidas como danças dramáticas, dentre as quais aparece o Bumba-meu-boi. Diferentes autores trataram de aproximar por distintos critérios estéticos Bumba-meu-boi e Teatro. Folcloristas, 245 antropólogos, diretores teatrais e dramaturgos. Todos relacionando, com diferentes perspectivas, o Bumba-meu-boi e o universo do Teatro. As diferentes interpretações encontradas dialogam com o contexto histórico, com os métodos e com as técnicas das disciplinas a partir da qual discorrem os autores (Antropologia, Teatro, História, Literatura). Neste trabalho analisamos como foi sendo formado um entendimento que vê o Bumba-meu-boi como possuidor de elementos estéticos que o aproximariam do Teatro, apresentando uma discussão que envolve os seguintes questionamentos: o que o Bumba-meu-boi tem de teatral? O que é o teatral para cada um dos autores com os quais estamos dialogando? Este trabalho aponta por meio da discussão sobre a relação entre Teatro e Cultura Popular: aproximações pelos autores Mário de Andrade, Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, Edson Carneiro, e Marlyse Meyer, envolvendo o Bumba-meu-boi e tipos teatrais bastante diversos, como o teatro grego, o teatro de revista e a commedia dell’arte italiana. Os resultados iniciais desta pesquisa deram a ver que por vezes aspectos muito distintos do Bumba-meu-boi são utilizados pelos autores mencionados para compará-lo com o Teatro, como também que tipos teatrais muitos distintos e de contextos históricos variados são trabalhados na aproximação entre Bumba-meu-boi e Teatro.

Canudos, Glauber Rocha, Teatro Oficina & a Epifania Final - Josafá Veloso (Universidade Federal Fluminense)

A partir da análise crítica do filme A Luta II – O Desmassacre, dirigido por Eryk Rocha, (quinta e última parte da transcriação teatral de Os Sertões de Euclides da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Cunha levada a cabo pelo Teatro Oficina), pretende-se evidenciar o diálogo deste com a estética do cineasta Glauber Rocha. O gosto pela alegoria, o anseio de totalização, o ritual entre o mito e a história, o sagrado e profano nos trabalhos do Oficina e de Glauber. Essas aproximações são elaboradas a partir de um mergulho imanente nos procedimentos de montagem de Luta II que, como se verá, dialoga e reflexiona o trabalho de montagem da filmografia glauberiana. Proponho exercitar um olhar crítico que escave as especificidades fílmicas de uma obra magnífica: A Luta II – O Desmassacre. Um livro que vira peça que vira filme que vira DVD sobre aquilo que foi, na significação integral da palavra, um crime. Ou melhor, uma tragédia. Um ato de tragédia. De 2001 a 2007, o Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona dedicou-se à épica adaptação, ou melhor, transcriação de Os Sertões de Euclides da Cunha. Dividida em cinco partes, A Terra, O Homem I, O Homem II, A Luta I e A Luta II – O Desmassacre, o espetáculo durava ao todo 26 horas. Um feito artístico extraordinário. As cinco partes construídas sob direção geral de Zé Celso Martinez Corrêa e com a colaboração de mais de 60 técnicos e atuadores viraram também filmes, exibidos poucas vezes nas salas de cinema e agora disponíveis em DVD. A Luta II - O Desmassacre narra a quarta e derradeira expedição do exército brasileiro ao sertão nordestino, com o envio de 12 mil soldados, canhões, armas modernas e estrategistas, como o Marechal Bittencourt, que pela primeira vez na história do exército brasileiro criou uma base de operações distante do front, de onde comandou as manobras, chefiadas pelo general Arthur Oscar e secundada pelo sanguinário general Barbosa. O filme discorre sobre os últimos dias da guerra civil de Canudos, que resultou no massacre de mais de 25 mil sertanejos. 246

Carlo Goldoni e a Commedia Dell'Arte: Modos de produção de comicidade - Elza Maria Ferraz de Andrade (UNIRIO E UNESA)

Duzentos anos separam a assinatura do estatuto da “Fraternal Companhia” em fevereiro de 1545, referência histórica que marca o início da comédia dell'arte, da escritura de O Teatro Cômico, peça manifesto de Carlo Goldoni, uma espécie de poética da nova comédia italiana. Durante cerca de dois séculos os atores da comédia dell'arte improvisaram a partir de um “canovaccio”, (“scenario”), que mostrava uma sucessão de cenas e de situações-chaves, e algumas vezes também a ação mímica-gestual correspondente. Goldoni, escreve em 1743, para a grande atriz florentina, Anna Boccherini, La donna di Garbo, sua primeira comédia regular totalmente escrita, entregando aos atores o texto completo, da primeira à última palavra. Em 1750 cria a peça O Teatro Cômico, manifesto em forma de teatro, representada pelos atores da Companhia de Girolamo Medebach em Veneza, no Teatro de Sant’Angelo. Os atores-personagens discutem a passagem da antiga comédia dell'arte para um teatro “reformado”, novo, moderno. Ou seja, a transformação da comédia de improviso numa comédia “premeditada”. Depois de dois séculos, os atores eram convocados a ensaiar e decorar. Sem dúvida, uma radical mudança nos hábitos dos intérpretes veteranos. Aparecem neste texto- manifesto os elementos fundamentais da poética goldoniana. Goldoni utiliza a técnica dramatúrgica do “teatro no teatro” (que Pirandello vai utilizar em 1916, no seu texto Seis personagens a procura de um autor) e que já havia sido proposta por Molière no seu O Improviso de Versailles (1663), quando também coloca em cena ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------a companhia para expor suas teorias sobre a arte dramática e responder aos críticos. Em O teatro cômico aparecem propostas para um teatro “reformado”, uma nova comédia, e também indicações para uma reforma da postura do intérprete. Uma espécie de “comédia de tese”, onde o autor expõe uma outra maneira de compreender a comédia. Este trabalho pretende destacar e comentar algumas destas novas propostas goldonianas sobre o modo de produzir a comédia, contidas no seu texto O teatro cômico.

Concepções de temporalidade nas peças Amor (1933), de Oduvaldo Vianna e Vestido de noiva (1933), de Nelson Rodrigues - Isabella Santos Pinheiro (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

As proximidades entre Vestido de noiva e Amor já foram sinalizadas por alguns especialistas, entretanto, esta análise tem a pretensão de examinar, por meio do texto das peças e de suas indicações cênicas, a forma como esses dois dramaturgos constroem a temporalidade de suas narrativas a partir de planos e quadros. A peça Amor estreou em 1933 em São Paulo e inaugurou o Teatro Rival, no Rio de Janeiro, em 22 de março de 1934. Amor foi dirigida por seu autor, Oduvaldo Vianna, e pela Companhia Dulcina-Durões-Odilon. A peça contribuiu para o movimento de modernização do teatro nacional por meio de inovações na linguagem, temática, estrutura do texto e relações entre espaço e tempo. Vestido de noiva foi escrita por Nelson Rodrigues e dirigida por Zbigniew Ziembinski. A peça foi consagrada como obra inaugural do teatro brasileiro moderno e estreou no dia 28 de dezembro 247 de 1943, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em Vestido de noiva, assim como citado acima sobre a peça Amor, é possível encontrar inovações relacionadas a linguagem dos diálogos, a temática da narrativa e o jogo entre espaço e tempo. Ressaltando que na peça de Rodrigues, as novidades relacionadas a temporalidade são mais aprimoradas do que na peça de Vianna, sobretudo, em relação aos dispositivos utilizados para construir e representar a passagem do tempo e os acontecimentos simultâneos. As duas peças estrearam em um período de disputas pela modernidade teatral. Assim como Oduvaldo Vianna, que terá uma de suas peças examinada na presente análise, outros dramaturgos que escreviam peças nas décadas de 1930 e 1940, também estavam em busca de novas formas de construir a narrativa cênica. No entanto, somente a partir da estreia da peça de Nelson Rodrigues que os críticos teatrais consideraram que a modernidade do teatro brasileiro havia começado. Uma averiguação das elaborações temporais das duas peças, pode contribuir na compreensão de como alguns dispositivos em circulação no ambiente teatral podem ter sido apropriados e aprimorados por Nelson Rodrigues.

Elementos de antissemitismo na dramaturgia de Shakespeare: o caso do personagem Shylock em "O Mercador de Veneza" - Andre Luis Prudencio Sena (Universidade Veiga de Almeida)

O fenômeno do antisemitismo atravessou os séculos, marcadamente no ambiente europeu ocidental. Apesar da antiguidade pré-cristã deste tema, sua prática ganhou um fôlego novo e mais consistente na transição da Europa medieval para a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------moderna, tal como aponta Gerard Messadié, um dos maiores estudiosos desta questão. Os tempos modernos, iniciados a partir dos séculos XV/XV trariam a população judaica européia novos ares persecutórios e genocidários, ilustrados nos guetos italianos, no isolamento dos vilarejos judaicos posteriores (sthetls) e culminando com os libelos de sangue e Pogroms de fins do século XIX e inícios do XX na Boêmia e no sul da Rússia. Entre os anos de 1596 a 1599 a peça O Mercador de Veneza foi escrita por um dos maiores dramaturgos de todos os tempos: William Shakespeare. O vilão da trama desta peça, o judeu Shylok, provocou e provoca ainda hoje um sério debate sobre a questão do antissemitismo presente na obra shakespereana, mas também na apropriação do mesmo para manifestações de natureza antissemita por parte de grupos de extrema direita no presente. Este trabalho pretende analisar as imagens estereotípicas que o personagem expressa na construção de suas falas, e de que maneira será possível relacionar a trama do texto onde ele aparece com um subjacente discurso antissemita difuso na sociedade européia dos tempos do autor de Romeu e Julieta.

História Urbana e Teatro: uma parceria entre a dramaturgia de Wilson Sayão e a história do Rio de Janeiro - Evelyn Furquim Werneck Lima (Unirio), Natália Gadiolli Carneiro da Silva (Unirio)

Este artigo é uma investigação das representações e transformações da cidade do Rio de Janeiro, a partir da obra dramatúrgica de Wilson Sayão. Esta é a quarta etapa da pesquisa Espaço e Memória Urbana, que se propõe estudar um momento da 248 história do patrimônio urbano e sociológico de algumas áreas do Rio de Janeiro. Em especial, o centro e suas adjacências e a zona sul da cidade, enfatizando a questão da memória coletiva e das identidades que assumem estes espaços na história social, por meio das referências presentes na obra de Sayão, escritas entre os anos de 1970 e 1980. Nas peças analisadas, Sayão apresenta imagens da cidade contemporâneas a sua escrita, contudo, também retoma, em algumas delas, momentos históricos anteriores. Em ambos os casos é possível notar que há inúmeras imagens aludidas pela dramaturgia que hoje não encontramos mais e outras que permanecem vivas no tecido urbano, bem como aspectos sociológicos que também sofreram transformações e outros que se aproximam do contexto atual da cidade. É uma revisita urbanística e sociológica do centro da cidade e bairros vizinhos, bem como bairros da zona sul, ora enquanto cenários para as histórias, ora por meio das percepções que manifestavam no discurso e comportamento social das personagens. A esse artigo, interessa, especialmente, desvendar os lugares de memória, aludidos por Sayão, para compreender de que maneira a cidade representada em sua obra sofreu ou não transformações na paisagem urbano-social e nas relações de sociabilidade. Existe, portanto, uma parceria entre as produções dramatúrgicas analisadas e a história urbana da cidade do Rio de Janeiro, na obra de Sayão, que ganha valor de uso arquivístico, ao fazer referência a uma memória viva e espontânea da cidade por meio de seus bairros, ruas, pontos turísticos e históricos. São peças que resgatam, portanto, lugares materiais e imateriais que se tornaram símbolos do patrimônio memorial da cidade do Rio de Janeiro, de forma que se faz possível um diálogo entre a história urbana e a história do teatro. Dessa forma, as peças de Sayão, são utilizadas nessa pesquisa como ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------fontes legítimas de memória da cidade do Rio de Janeiro e, portanto, colaboram para o estudo da história urbana e do patrimônio cultural.

Luzes e formas animadas, teatro na Belle Epoque carioca - Ana Paula Brasil de Matos Guedes (Faetec)

A pesquisa reconhece os gêneros teatrais híbridos como lugares privilegiados de interseções técnicas e estéticas da cena, na cidade do Rio de Janeiro, na virada do século XIX para o século XX. Comprova que estes gêneros, em especial a Mágica, foram espaços de experimentação e aproveitamento dos mecanismos rudimentares da cena e da alta tecnologia. Propõe uma cartografia dos agenciamentos sociais e estéticos da época, para analisar a circularidade dos saberes em diálogo com a história da cidade e os fatores catalizadores de transformações culturais. A localização dos teatros, o histórico do tecido urbano e a implantação de sistemas de iluminação na via pública e nos edifícios teatrais proporcionaram os percursos de análise. Por meio da investigação do papel da mecanização e da eletricidade na época, procedeu-se à observação da variabilidade do olhar do espectador finissecular na relação com as visualidades da cena. Por ora recupera a história do uso de experimentos com luz, projeções de imagens, formas animadas e maquinarias cenográficas, dispositivos que produziam as imagens cênicas destes espetáculos. O levantamento e posterior análise das imagens cênicas, dos truques cenográficos e da iluminação considerou o edifício teatral e seus recursos técnicos. Entre os aspectos observados o sucesso de público e os altos investimentos 249 evidenciam o vulto dos gêneros, sua complexa rede de dispositivos cênicos e modos de produção teatral. A pesquisa realizada até o momento revelou que estes espetáculos foram importantes na expressão cultural nacional, apontando traços precursores e processos de rupturas e persistências das técnicas operadas. A discussão insere-se no campo das narrativas historiográficas do teatro no Brasil e permite reconhecer as visualidades e formas animadas na cena do passado.

O ator e a Estética de Resistência: Arena e Oficina trazem Stanislavski para o Brasil - Denise Pires de Andrade (UFRJ)

Esse artigo trata de pesquisa iniciante sobre a chegada do Método de Constantin Stanislavski no Brasil e a apropriação e adaptação de seus ensinamentos pelos grupos de teatro Arena e Oficina para a construção de suas propostas estéticas no período do final do anos de 1950 e início de 1970. Os grupos Teatro de Arena de São Paulo e Teatro Oficina buscavam produzir uma dramaturgia genuinamente brasileira que levasse para a cena a discussão de questões sociais tendo como base o trabalho do ator. O Método de Constantin Stanislavski - ator, diretor, professor e escritor nascido na Rússia no século XIX, fundador do Teatro de Arte de Moscou em 1896 - contribuiu para o desenvolvimento dos projetos artísticos do Arena e do Oficina durante o período compreendido entre o final da década de 1950 e início dos anos 1970. A pesquisa se concentra sobre a investigação das trajetórias percorridas pelos pelos grupos Teatro de Arena e Teatro Oficina, suas escolhas estéticas, sua produção artística e os desdobramentos políticos e sociais das propostas realizadas. Observar e compreender de que maneira as ideias ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------stanislavskianas foram recebidas, apropriadas e reconfiguradas por esses grupos para alcançar seus objetivos é um dos objetivos da pesquisa.

O embate entre o bem e o mal: a dramaturgia santense e o contexto histórico literário do séc. XIX - Marcus Vinicius Fritsch de Almeida (Universidade Estácio de Sá)

Apresentação do contexto histórico-literário brasileiro onde se insere a produção dramatúrgica de José Joaquim de Campos Leão, Qorpo-Santo. A apresentação tenta traçar e entrelaçar a criação teatral de Qorpo-Santo com o panorama literário da época, notadamente o realismo do Ginásio Dramático, cujo autor referencial é José de Alencar e as comédias farsescas de um Martins Penna. Tendo como horizonte uma revisão de certa tendência da crítica em considerar a dramaturgia santense deslocada de seu contexto histórico.

O Parateatro de Rena Mirecka - Evelin Reginaldo e Silva (UNIRIO)

O Parateatro foi uma das fases do percurso de Jerzy Grotowski iniciada em 1970. O foco desta fase está no encontro, na reunião de pessoas com diferentes culturas que possuíam o objetivo de ultrapassar seus limites pessoais. Este trabalho pretende estudar a continuidade do Parateatro liderado não mais por Grotowski e sim por Rena Mirecka. Rena Mirecka, foi atriz do Teatro Laboratório e esteve ao lado de Grotowski desde 1959, quando se juntou ao grupo no Teatro das Treze Fileiras em 250 Opole. Durante muito tempo Rena Mirecka foi a única atriz do Teatro Laboratório, e a única atriz que se manteve desde o início da Companhia. Mirecka teve uma participação fundamental na construção do Teatro Laboratório. Em 1970, Mirecka passou a ser assistente de Grotowski e começou a acompanhá-lo em sua nova fase, o Parateatro. Segundo Grotowski, os primeiros anos do Parateatro, onde o grupo trabalhava minuciosamente durante horas na floresta, aconteciam coisas que estavam como que na fronteira de um milagre. Mirecka explicou que “para”, em sânscrito, significa alto, então Parateatro seria um alto teatro, um nível mais elevado de teatro, perto da origem, um teatro ainda ritualizado. Com o fim do Teatro Laboratório em 1984, Mirecka deu início a um novo momento, desta vez sem Grotowski. Para ela, era extremamente necessário dar continuidade à pesquisa que haviam começado. Em uma entrevista ela diz que as experiências ainda viviam nela. Mirecka montou um grupo com Ewa Benesz. Elas se conheceram quando Benesz participou do Teatro Laboratório entre 1966 e 1968 no trabalho “The Gospels (Ewangelie)”. Ela voltou a colaborar com o grupo em 1981 durante as experiências parateatrais. Segundo ela, Grotowski a chamou de volta para o grupo, pois tinha medo que ela fosse pega pela “lei marcial” que conduziu vários opositores do governo socialista à prisão. Quando Grotowski deixou o grupo, as duas continuaram as experiências parateatrais. Os primeiros encontros começaram em Brzezinka, floresta perto de Wroclaw, cidade sede do Teatro Laboratório. Depois foram para uma casa de campo chamada Casa Blanca na Sardenha, Itália, essa casa recebeu o nome de uma flor que Rena Mirecka ganhou dos participantes do laboratório, os italianos chamavam a flor de casa blanca, por isso batizaram o lugar com o mesmo nome. Lá criaram um centro de estudo chamado “International ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Center Prema Sãyi”. Este nome tem origem na filosofia de Sri Sathya Say Baba. Mirecka havia estado na Índia onde conheceu o mestre Say Baba e segue sua filosofia até hoje. O objetivo deste trabalho é colocar em foco o Parateatro desenvolvido por Rena Mirecka, pensando não só a importância destes encontros no momento histórico em que eles estão inseridos, como também o que reverbera ao teatro contemporâneo.

O povo na obra de Maria Bethânia: uma análise do espetáculo Opinião - Marlon de Souza Silva (Universidade Federal de Minas Gerais)

O espetáculo Opinião foi o primeiro evento cultural de contestação ao regime ditatorial instaurado no ano de 1964. A partir de aspectos da vida dos atores- personagens, o roteiro colocou em primeiro plano o morro e o sertão como locais de resistência. O espetáculo tinha como norte a vida e obra de três representantes da sociedade brasileira: João do Vale, um nordestino; Zé Ketti, um "favelado" dos morros cariocas; e Nara Leão, uma garota zona sul. Portanto, buscava-se, dessa forma, demonstrar o que os três personagens tinham em comum: a resistência ao regime militar. A substituição de Nara Leão por Maria Bethânia permite pensar sobre questões relacionadas à proposta do espetáculo. Tal fato implicou uma mudança no roteiro, retirando a zona sul carioca e, inserindo assim, o recôncavo baiano. A partir das mudanças ocasionadas pela estreia de Maria Bethânia no espetáculo Opinião, esse trabalho tem como objetivo analisar de que forma o Opinião representou o povo brasileiro. Ou seja, em um período em que os 251 intelectuais de esquerda realizaram uma busca no povo brasileiro com intuito de enfrentar o regime instaurado, demonstrar qual era o povo que estavam falando. Para tanto, tomamos como ponto de partida a carreira de Maria Bethânia iniciada no Opinião, ao substituir Nara Leão. A análise comparativa dos roteiros nos permitem entender a mudança geográfica provocada a partir da substituição. Entendemos que a busca no povo ocorrida no Opinião marcará a trajetória artística de Maria Bethânia.

O presente e o passado da pátria em Joaquim Manuel de Macedo - João Cícero Teixeira Bezerra (FACULDADE-CAL/ SENAI -CETIQT)

O trabalho discute o procedimento de volta ao passado defendido pela tese médica Considerações sobre a Nostalgia de Joaquim Manuel de Macedo (1847) cotejando os usos da temporalidade passadista nas obras de crônica Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro (1861) e de dramaturgia Amor e Pátria (1859) do mesmo escritor. O objetivo da comunicação é o de compreender como o autor edifica sua práxis de intelectual público do Império por meio do sentimento de “nostalgia” alçado à categoria crítico-moralizante. Assim, mais do que interpretar a obra de Macedo vinculada às leis poéticas de gênero vigentes no oitocentos, conforme estudos tradicionais da historiografia teatral, busca-se o nexo de sua poética por meio de uma hermenêutica das ideias formuladas pelo autor.

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O teatro de Georg Fuchs - Beatriz Magno Alves de Oliveira (UNIRIO)

O alemão Johann Georg Peter Fuchs (1868-1949) foi encenador, dramaturgo e pensador do teatro moderno. Viveu a maior parte de sua vida em Munique onde construiu o Münchener Künstlertheater (Teatro dos Artistas de Munique), que abriu as portas em 1908, com a encenação do Fausto, de Goethe. Contemporâneo de Adolphe Appia e Edward Gordon Craig, Fuchs repensou os fundamentos do teatro e sua obra foi de grande relevância para as transformações ocorridas no âmbito do espaço cênico, da iluminação e da arquitetura teatral no início do século XX. Foi uma forte influência para encenadores modernos importantes como Vsévolod Meierhold e Max Reinhardt. O ponto de partida da presente comunicação é o livro A Revolução do Teatro publicado por Fuchs em 1909, pouco após a abertura do teatro concebido por ele. Nesse livro, o autor apresenta as suas propostas teóricas e como elas influenciaram na construção do teatro (qual teatro?) e na elaboração de aparatos técnicos. Assim como outros modernos, suas ideias partem da crítica ao teatro vigente na época, um teatro de ênfase literária e naturalista. Suas propostas de transformação caminham em direção a uma essência teatral, originada na potente força da multidão dos antigos ritos religiosos, considerada a própria essência da vida. Para alcançar as transformações desejadas, Fuchs repensou diferentes aspectos da encenação, sempre considerando o movimento do corpo do ator como o elemento gerador do espetáculo teatral. A proposta desta comunicação é apresentar e discutir as ideias de Fuchs e suas contribuições para a transformação do teatro moderno. Nesse sentido, pretende-se 252 analisar os fundamentos do seu Teatro Festival, seus principais referenciais e objetivos. Alguns aspectos mais relevantes desse teatro estarão em destaque, sendo eles a criação de um novo espaço cênico, suas descobertas técnicas e, ainda, as questões que envolvem a relação palco / platéia e a recepção. Pode-se fundamentar o pensamento de Fuchs em dois pilares: o da crítica teatral que pensa um novo teatro afinado com as inovações feitas em outros gêneros artísticos, ligados às experiências das vanguardas e das primeiras ideias simbolistas; e o segundo pilar seria ligado à função do teatro, pensando-o por um viés ideológico. Desta maneira, pretendo ao longo desta discussão pensar suas ideias sempre abordando esses dois lados. Para Fuchs, o sentido do teatro é proporcionar um encantamento na multidão que participa do evento teatral. Em uma tentativa de retomar o verdadeiro sentido do teatro, seria necessário reconectar essa multidão que foi separada e individualizada pelo teatro que coloca o texto dramático como o centro da cena. O teatro como festival é, portanto, origem e meio para a sua revolução no teatro.

Os teatros de bairro no Recife da década de 1930: efervescentes e fugazes - Leidson Malan Monteiro de Castro Ferraz (UFPE)

A capital pernambucana foi palco de uma profusão de novos espaços teatrais nos anos 1930, exatamente quando o teatro profissional local galgou ocupar a mais importante casa de espetáculos da cidade, o Teatro de Santa Isabel, com o surgimento do Grupo Gente Nossa, intimamente atrelado àquele palco. Em paralelo, os chamados “teatros dos arrabaldes”, espalhados por bairros do subúrbio, dinamizaram ainda mais o campo teatral recifense, ampliando a geografia do fazer ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------teatral daquela época. Além de possibilitarem o exercício da sociabilidade a diferentes públicos que os frequentavam, tornaram-se pontos de encontro e convívio de moradores das redondezas, criando um circuito alternativo para a fruição teatral. Lutando contra o apagamento destes centros de cultura e diversão, esta comunicação/artigo procura dar visibilidade sobre seus perfis e práticas, temas abordados, artistas e técnicos em atividade e plateias envolvidas, como uma possibilidade a mais de enxergar o teatro e a cidade para além dos palcos oficiais em busca de uma construção identitária de negociação de ideias sobre a realidade cotidiana pelo viés artístico.

Pensamento material: corpo-profanação no treinamento do Teatro laboratório - Dinah de Oliveira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O artigo expõe um breve estudo sobre as potencialidades do pensamento, ou de modos de pensar, suscitados por meio de uma prática de treinamento de atores. O treinamento em questão é o training desenvolvido por Jerzy Grotowski e Ryszard Cieslak na época do Teatro Laboratório na Polônia. Nossa hipótese alia as noções de profanação de Giorgio Agamben e a escrita imagética de Walter Benjamin para compor um quadro de possibilidades sobre o objeto – o training físico – e o trabalho atorial pré-criativo, partindo justamente de sua fatura.

Pontuações para estudo histórico comparativo entre traduções: a de Jacy Monteiro (1965) e a Guilherme Figueiredo (1980) da peça Le Tartuffe, de 253 Molière - Camila Freitas Santos (UNIRIO)

O presente texto insere-se em proposta de trabalho no campo dos estudos de personagem e discute fundamentalmente questões relacionadas à história do teatro e a tradução teatral. É fruto de minha pesquisa de mestrado em andamento, orientada pela prof. ª Dra. Maria de Lourdes Rabetti, junto à linha de pesquisa HTA (Historia do Teatro e das Artes) do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), cujo objeto é a personagem Dorine, criada doméstica da peça Le Tartuffe, de Molière, em seu trânsito ou trajeto entre uma edição do “original” em francês, uma tradução e uma adaptação brasileiras. Nesse trabalho, e sempre com o olhar voltado para o estudo do personagem Dorine, opta-se por apontar algumas questões a respeito da tradução de Guilherme Figueiredo – por se tratar de um tradução canônica e apresentar, na terceira edição publicada pela Civilização Brasileira, um ensaio sobre a poética da tradução do teatro em verso; e a de Jacy Monteiro – pela consagrada excelência dessa tradução no Brasil, publicada pela Difusão Europeia do Livro. O objetivo seria o de traçar um viés comparativo entre as duas traduções, de autores e épocas distintas, e verificar o caminho percorrido pela personagem Dorine em cada tradução, e, assim, entre elas. Neste sentido, interessa tentar identificar as mudanças e permanências de sentido e função que a criada doméstica da referida peça adquire nas duas traduções, apontando diferenças e semelhanças entre elas e considerando, inclusive, o espaço temporal de uma tradução para a outra. Dorine é uma criada localizada na categoria dos servos da comédia popular italiana, gênero bastante explorado em novas adequações por Molière. Pertence à ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------galeria de personagens – tipo em que se insere: atrevimento nos assuntos da família, embora seja uma das únicas a demonstrar certa lucidez diante das maquinações de Tartufo, personagem título; posiciona-se ao lado do casal de jovens, auxiliando a construção da relação amorosa; é responsável por boa parte da dimensão cômica da peça, etc. E, no entanto, percebe-se que é “traduzida” ou “recriada” de maneira distinta nas traduções de Jacy Pinheiro – onde Dorine é caracterizada como dama de companhia de Mariane - e Guilherme Figueiredo – onde é qualificada como criada de Mariane. Assim como esse dado, outros tantos serão apontados à luz de estudos sobre o personagem cômico molièresco e tradução teatral.

Teatro amador no Rio de Janeiro: da escolha dos repertórios à grande estreia (1871-1920) - Luciana Penna Franca (Estado do Rio de Janeiro e Prefeitura de Teresópolis)

Esta comunicação propõe uma reflexão sobre as escolhas dos repertórios pelas sociedades dramáticas amadoras procurando compreender critérios e motivações envolvidas na montagem dos espetáculos teatrais encenados e apresentados pelos amadores. Os caminhos traçados após a decisão sobre o texto teatral a ser encenado, os atores e atrizes que tiveram destaque nos periódicos, a dedicação dos amadores nos ensaios, o que diziam os críticos teatrais sobre seus cenários e figurinos e, por fim, a estreia, demonstram a dedicação e a paixão pelo teatro daqueles que, muitas vezes, trabalhavam durante o dia e faziam teatro à noite. Busco traçar o caminho dos textos teatrais aos palcos e, dessa forma, entender o teatro como uma prática 254 social tanto do grupo que atua, como de quem assiste, e perceber se e em que medida essa prática se constituía como um elemento identitário daquele grupo.

Teatro e cotidiano no Portugal Quinhentista: corpo e vestuário nas peças da Escola Vicentina - Vanessa Gonçalves Bittencourt de Souza (UFF)

Dos serões da corte às festas litúrgicas, o teatro foi parte importante das principais celebrações em Portugal ao longo do século XVI. Gil Vicente, maior expoente desse teatro, colocou em evidência os costumes e o cotidiano da sociedade portuguesa. Entre os poetas quinhentistas classificados pela historiografia tradicional como continuadores ou imitadores do teatro de Gil Vicente, destacam- se nomes como Afonso Álvares, António Prestes, António Ribeiro Chiado e Baltasar Dias. A chamada Escola Vicentina explorou temas de fundo religioso, como a fixação de condutas cristãs ideais e as cenas de martírio dos santos, e temas da vida doméstica e familiar, como o casamento, a gravidez, as doenças. Seus personagens eram tipos construídos a partir de características atribuídas a um determinado grupo social e, portanto, facilmente reconhecidos pelo público, fosse pela linguagem, pelo gestual ou pela vestimenta. Considerando a importância das representações do cotidiano no teatro quinhentista, o objetivo deste trabalho é analisar as referências ao corpo e ao vestuário em peças da Escola Vicentina.

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Teatro e poder na corte do Brasil Império - Suzana Regina Camillo de Abranches (UNIRIO)

Após dezoito anos ministrando aulas de interpretação, fui convidada, em 2012, a lecionar História do Teatro Ocidental, no Curso Regular de Formação do Ator da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Ao estudar o teatro no Brasil, no século XIX, um recorte foi se revelando quase que naturalmente, e ele apontava para a frequência com que homens do métier teatral estavam envolvidos em atividades públicas e políticas durante o Primeiro e o Segundo Reinados. Assim ‘nasceu’ o projeto de pesquisa “Teatro e poder na Corte do Brasil Império: as relações entre autores de teatro e o poder vigente, e sua repercussão nos rumos da produção teatral da época”, que está sendo desenvolvido no curso de Mestrado em História e Historiografia do Teatro e das Artes, do Programa de Pós - graduação de Artes Cênicas – PPGAC, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, com orientação da Professora Maria de Lourdes Rabetti. Nele, traçamos um paralelo entre a presença de autores de teatro em cargos públicos e políticos, dentre os quais, Martins Pena, Gonçalves de Magalhães, José de Alencar, Artur Azevedo e Joaquim Manuel de Macedo, e a possível consequência dessa proximidade com o poder nos rumos da produção dramática da época. O poder vigente será entendido, tanto como as instituições que regulavam as publicações e encenações teatrais - por meio de cessão de verbas ou espaço -; a censura; e as figuras pessoais dos imperadores D. Pedro I e D. Pedro II, ou personalidades diretamente ligadas a ambos. Com a vinda da Coroa portuguesa, sob a ordem de 255 D.João VI, foi construído o Real Theatro São João, que, desde a sua inauguração, em 1813, assumiria um protagonismo na vida artística, política e social da cidade. Sua importância se confirma quando observamos a disposição, prevista em contratos, que obrigava seus gestores a apresentar grandes espetáculos em noites de gala ligadas a datas cívicas. Em 1833, a produção dramática passou contar com um órgão de censura próprio, o Conservatório Dramático, e alguns homens de teatro chegaram a ocupar cargos dentro da instituição, como Joaquim Manuel de Macedo, o que não impediu que sua Antonica da Silva fosse proibida, em 1880. Quanto à crítica teatral, esta se misturava com crônica social, e, não raro, era feita por dramaturgos, poetas e romancistas, como Olavo Bilac, Machado de Assis e Artur Azevedo, ou seja, homens que assumiam uma tripla função social, como servidores públicos, criadores e críticos. Este é o ponto de partida de nossa pesquisa, que gostaríamos de compartilhar com os participantes do XVIII Encontro de História da ANPUH.

Um demo malpensante cai sobre ti: vozes corais – imagens da história - Larissa Cardoso Feres Elias (UFRJ)

A performance "Um demo malpensante cai sobre ti" foi criada no ano de 2017 pelas artistas Larissa Elias, Marília Martins e Vanessa Teixeira de Oliveira, com o objetivo de integrar a ocupação cultural "Que Legado", realizada nos espaços culturais Oduvaldo Vianna Filho (Castelinho do Flamengo) e Sérgio Porto, e nas universidades PUC e UERJ, na cidade do Rio de Janeiro, durante o mesmo ano de 2017. A performance tem como estrutura básica três faixas cênico-sonoras: 1. voz ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------da atriz em cena, que fala textos de três personagens trágicas ficcionais, cujo traço em comum é o caráter profético de seus discursos – Cassandra, da "Oresteia" de Ésquilo (458 a.C.), Calpúrnia, de "Júlio Cesar" de William Shakespeate (1599), e Camila, de "Horácio" de Pierre Corneille (1640); 2. vozes e músicas gravadas e reproduzidas eletronicamente, sendo estas vozes, em sua maioria, vozes do “mundo real”, captadas em “situações reais”, de natureza diagnóstica ou prognóstica sobre o Brasil, o mundo e a política; 3. voz gravada da atriz, ouvida apenas por ela, que funciona como uma espécie de ponto eletrônico. O conceito chave da cena é a interseção entre estas três instâncias, realizada pela atriz, através da manipulação de dois celulares e de uma mesa de som. Se poderia considerar que a performance se organiza por meio de uma série de subestruturas formadas por esta inter-relação entre voz da atriz/textos trágicos versus conjunto sonoro de gravações. A trama entre as vozes dramáticas ficcionais e as vozes discursivas reais, como em uma montagem, forma, por assim dizer, uma espécie de tecido histórico. As gravações redimensionam e atualizam as tragédias, expandindo-as para fora dos limites do drama. As tragédias, por sua vez, impregnam as gravações de sentidos além do ordinário. A dramaturgia cênica coloca em relevância a sonoridade e as vozes coralizadas, procurando evidenciar uma articulação histórica, mas não uma cronologia. Como se do confrontamento entre os textos trágicos e o conjunto sonoro das gravações emergisse a “imagem mesma da história”, valendo-me do entendimento do ensaísta e crítico teatral Jan Kott acerca das crônicas históricas de Shakespeare. A partir destes imbricamentos convida-se o espectador a visitar o passado para dali lançar-se de volta para o presente e, na trilha das visões 256 premonitórias das personagens reais e fictícias, projetar o futuro, dimensionando historicamente os temas tratados. Esta comunicação objetiva decompor os elementos em jogo nesta performance e pensar a relação entre sua engenharia cênica e a produção de uma percepção e de um pensamento históricos.

Um Rei Negro ... Construção Identitária em La Tragèdie du Roi Chistophe, de Aimé Césarie - Maria Helena Valentim Duca Oyama (UFRR)

Nesta comunicação, pretende-se apresentar uma releitura da peça La Tragédie du roi Christophe do poeta, ensaísta e dramaturgo martinicano Aimé Césaire, escrita nos anos 1960 e que aborda os desdobramentos dela decorrentes da Revolução de Saint Domingue (Haiti,1804) com relação à construção da nova nação. Este estudo elege o personagem Henri Christophe, revolucionário que se proclamou rei após a referida Revolução, como emblema desta construção que, repleta de ambiguidades, ora tende a seguir o modelo metropolitano de língua, religião e política, ora quer fazer emergir a africanidade inerente à própria Revolução, retomando a temática da identidade afro-caribenha, à luz das características da negritude proclamada por Césaire, em defesa dos elementos culturais africanos, o que se revelou como uma tomada de consciência para alavancar a literatura na região. O estudo tem o objetivo de discutir os possíveis caminhos sugeridos pelo autor/ensaísta a serem percorridos pelos haitianos, diante da metrópole que ainda se impunha na nova nação.

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Zumbi entre golpes: em cena dois momentos da história - Carina Maria Guimarães Moreira (UFSJ)

A presente comunicação – um dos resultados da pesquisa de pós-doutorado (PNPD/CAPES) “Zumbi e Madame Satã: a cultura afro-brasileira e as formas de produção na cena política” (2018), desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Universidade de Campinas-UNICAMP sob supervisão da Professora Doutora Larissa de Oliveira Neves Catalão – pretende, a partir do conceito de cultura popular negra em Stuart Hall, tecer uma análise da peça Zumbi, dirigida no ano de 2012 pelo artista João das Neves. Zumbi é inspirado no musical Arena Conta Zumbi (1965), de Boal e Guarnieri, que tendo por base o romance de João Felício dos Santos, Ganga Zumba (1962), trouxe uma narrativa da história do Quilombo dos Palmares. A montagem do Teatro de Arena foi considerada uma das primeiras respostas no campo cultural ao Golpe de 1964. Para a montagem atual, João das Neves propõe a formação do elenco com atores negros, deslocando o foco central da resposta política ao momento histórico da obra (golpe militar de 1964) para um debate, não menos político, sobre a cultura afro-brasileira e sua história, trazendo à tona uma discussão acerca do racismo e das desigualdades sociais presentes em nossa sociedade desde sempre.

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258 ST 22. História Comparada enquanto método: suas abordagens, limites e possibilidades.

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Caderno da Bahia (1948-1951), Joaquim (1946-1948) e Revista Branca (1948- 1961): redes de sociabilidade em revistas culturais independentes após 1945. - Tiago Santos Groba (UFRJ)

Sob uma abordagem social da arte, focando em estratégias discursivas e apropriações, pesquiso três revistas literárias e culturais: Caderno da Bahia (1948- 1951), de Salvador, Revista Branca (1948-1961), do Rio de Janeiro, e Joaquim (1946-1948). As três constituíram-se em empreendimentos editoriais independentes, idealizados e organizados por jovens ‘vintanistas’, muitas vezes com recursos próprios, unindo artes plásticas, poesia e prosa. Recorro à sistematização dos enunciados discursivos presentes no conteúdo propriamente dito das três revistas, assim como recorro aos enunciados presentes na atuação de seus membros fundadores e colaborados mais assíduos, para além de suas páginas, como na criação de editoras homônimas e na organização de palestras e conferências sobre arte moderna. Procuro cruzar estes enunciados criticamente com correspondências, depoimentos, memórias, biografias, obras, entrevistas e outras fontes de natureza pessoal, familiar, afetiva e profissional dos artistas e escritores ligados aos periódicos. Dentro das redes de sociabilidade artística e intelectual surgidas em torno das três publicações, problematizo, numa perspectiva comparativa, sensibilidades da geração modernista de 1945: escolhas temáticas, efeitos estéticos e de estilo, posicionamento político e filosófico diante da realidade social brasileira, entre outras características. Trata-se de três cidades, três historicidades, diferentes ritmos de renovação artística e distintas realidades 259 políticas, sociais e culturais. Apresentam distintas percepções sociais, diferentes preocupações estéticas e mesmo de comportamento enquanto grupo, enquanto movimento cultural. Ao comparar campos artísticos e intelectuais de diferentes regiões do Brasil por meio de periódicos independentes, pretendo inscrever a produção destas revistas e da atuação de seus fundadores dentro do curso maior das transformações modernistas ao longo do século XX. Iniciada na década de 1920, uma genealogia do moderno se abre e se desdobra em diferentes conjunturas históricas, nacionais e regionais, tendo como fio condutor dos galhos dessa árvore a busca pelo elemento autenticamente brasileiro e ao mesmo universal. Este fio condutor modernista chega na conjuntura das décadas de 1940 e 1950, onde estão situadas as revistas ora estudadas, e prossegue ainda pelas décadas de 1960 e1970. Para a pesquisa, situada na primeira conjuntura, pergunto qual o lugar social que as revistas culturais do pós 1945 ocupariam neste curso? De fato ocupam? Que tipo de relações sociais guardariam em suas redes de sociabilidades? Que jogo de força social poderia representar? Que estratégias discursivas poderiam oferecer? São questionamentos que, numa perspectiva comparativa, podem fazer surgir novos problemas e caminhos.

Comparar para compreender: A História Comparada como ferramenta metodológica para a compreensão do tempo presente e os seus traumas coletivos - Paulo Roberto Alves Teles (UFRJ)

O presente artigo é fruto de investigações iniciais sobre os atentados terroristas ocorridos na Argentina contra a Associação Mútua Israelita Argentina (1994) e nos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Estados Unidos contra os World Trade Center e o Pentágono (2001). Nosso trabalho tem como objetivo analisar a ação do fundamentalismo islâmico nos países citados e para isso, utilizaremos como metodologia as ferramentas epistemológicas propiciadas pela História Comparada e pela História do Tempo Presente para abordar os relatórios oficiais produzidos sobre os mesmos. Os documentos foram publicados por organismos oficiais e independentes. No caso dos EUA, foi criada uma comissão denominada Comissão Nacional sobre os Ataques Terroristas nos Estados Unidos, também conhecida como Comissão 11/9 ou Comissão do 11 de Setembro em 27 de novembro de 2002. Já no caso argentino, o relatório fora apresentado em 25 de outubro de 2006 pela Unidade de Investigações do Ministério Público liderada por Alberto Nisman (Procurador Federal) e Marcelo Martinez Burgos (Procurador Distrital). O documento produzido por ambos acusou formalmente o governo iraniano e o grupo extremista libanês Hezbollah, além de apontar o Governo Kirchner pelo encobrimento dos autores do responsáveis pelo planejamento e ataque a Associação Mútua Israelita Argentina. Em virtude do que fora posto, pretendemos ao longo desse, discutir alguns pontos: 1) Ambos os atentados foram promovidos por grupos vinculados ao extremismo islâmico; 2) Ambos foram ataques coordenados contra símbolos de grupos considerados inimigos do Islã; 3) Ambos são considerados ataques de projeção internacional e por fim, 4) Ambos os casos são suspeitos políticas equivocadas de segurança pelos governos argentino e estadunidense respectivamente. O trabalho se dedica a retomar o debate acadêmico sobre o nascimento do fundamentalismo islâmico como uma ferramenta de ativismo 260 político sem desconsiderar os aspectos geopolíticos e o cenário interno como elementos potencializadores para ambos os atentados.

História conectada: Instituições negras nas Américas - Caroline dos Santos Guedes (Universidade Federal Fluminense)

Esta apresentação pretende demonstrar como as formas negras de associar-se mudaram nas cidades negras das Américas - Rio de Janeiro e Buenos Aires, entre os séculos XVIII e XIX. No século XVIII os negros das cidades propostas para estudo se reuniam em instituições católicas, as irmandades, obviamente devido a influência de seus colonizadores ibéricos. As irmandades eram entidades mutualistas, onde os negros fortaleciam seus laços de identidade e criavam redes de solidariedade através das famílias espirituais. Já no século XIX os negros começaram a abandonar as irmandades e se agrupar em torno de instituições igualmente mutualistas, onde também eram fortalecidas suas identidades e formadas famílias extensas. Dentre essas corporações destaco as naciones bonarenses, as associações fluminenses e os grêmios existentes em ambas as cidades. É importante ressaltar que pensar em conectar historicamente territórios como Rio de Janeiro e Buenos Aires é possível pois durante o século XVIII Buenos Aires recebeu muitos escravos provenientes do Brasil, em especial do Rio de Janeiro e da Bahia. O que nos permite pensar que os escravos habitantes do Brasil puderam levar consigo práticas, costumes e identidades formadas no país que influenciaram em sua vivência em Buenos Aires. Uma das formas de identificar a presença de negros do Brasil em Buenos Aires é através das naciones que os ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------abrigam, como: Nación Protectora Brasilera e Nación de los Brasileros Bahianos. Além disso vale destacar a similiridade de seus processos históricos, por exemplo, ambas as cidades são portuárias, foram colônias ibéricas influênciadas pelo catolicismo, são meios urbanos, escravocratas e se encontraram ao longo do século XIX em meio à confusão política que o processo de independência carregava, assim como passaram pelo processo de abolição lenta, gradual e tardia.

História e Literatura: abordagens e possibilidades do fato e da ficção - Rosana de Oliveira Prado dos Santos (UFGD)

Este trabalho tem por objetivo analisar a possibilidade de se tomar a literatura como fonte histórica, tendo em vista que alguns romances fornecem uma incisiva interpretação de acontecimentos sociais, culturais e políticos no Brasil. Este é o caso da obra "Chão do Apa: contos e memórias da fronteira" de Brígido Ibanhes, objeto de estudo desta pesquisa. O autor constrói uma representação histórico- literária desde o início da obra através de fatos, processos e detalhes históricos que deixam entrever de forma ficcional, uma interpretação da história. Ibanhes constrói uma espécie de informações históricas no tecido textual da obra ao representar a Guerra do Paraguai, abordando os aspectos sociais e culturais da fronteira entre Brasil e Paraguai. Desta forma, à luz de uma bibliografia teórica dedicada ao assunto entende-se que a presente obra traça abordagens comparativas neste diferentes campos do saber que é a História e a Literatura, permitindo-nos um intenso diálogo entre a ficção e a História na literatura brasileira. 261

Identidade Nacional: As interpretações de Oliveira Vianna, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda - Iara Andrade Senra (UFRJ)

O presente artigo busca uma análise comparativa entre as propostas de identidade nacional formuladas por Oliveira Vianna, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Para tanto realizo uma leitura exploratória das obras clássicas dos autores em questão, publicadas na década de 1930 - Raça e Assimilação, Casa Grande e Senzala e Raízes do Brasil - e de artigos dos jornais Diário de Notícias, Correio da Manhã e A Manhã que discutem a identidade brasileira e a ação do Estado, publicados na década de 1940. Através do levantamento de divergências e de convergências entre suas teorias, o presente trabalho pretende esclarecer possíveis relações entre as propostas identitárias baseadas em critérios étnicos e suas ressonâncias sobre a formação de uma identidade cívico-nacional.

O esporte enquanto forma de se pensar a nação no cenário latino-americano: um estudo comparado entre os Jogos do Centenário (Rio de Janeiro, 1922) e os Jogos Bolivarianos (Bogotá, 1938) - Eduardo de Souza Gomes (UFRJ)

Este estudo tem como objetivo a análise comparada de dois eventos esportivos. O primeiro, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, foi organizado no contexto de festejos do centenário da independência do país e ficou conhecido como Jogos Olímpicos Latino-Americanos (ou Jogos do Centenário de 1922). Já o segundo, ocorrido em 1938 em Bogotá, capital da Colômbia, foi ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------organizado nos festejos de comemoração do quarto centenário da capital colombiana. Considero que ambos os eventos são objetos possíveis para se pensar como foram, nesses cenários, formuladas ideias de nação, tanto para Brasil quanto para Colômbia. Ao mesmo tempo, se faz possível inferir que o contexto latino- americano se fez importante, tendo diferentes países da região participado dos eventos em questão e dialogado, tanto de formas negativas quanto positivas, com as noções nacionalistas construídas nos países anfitriões. A partir da análise de fontes periódicas (notadamente jornais do Rio de Janeiro e Bogotá nos períodos analisados), busca-se neste trabalho analisar como os discursos de nação construídos por Brasil e Colômbia pelo esporte nesses eventos, se relacionou com o cenário das relações internacionais em que ambos os países estavam inseridos.

Parques nacionais e projetos de desenvolvimento: uma análise comparativa da criação do Parque Nacional de Itatiaia no Brasil e do Parque Nacional Nahuel Huapi na Argentina - Ingrid Fonseca Casazza (PPGHC/UFRJ)

Este trabalho propõe uma análise comparativa dos processos de criação de dois parques nacionais na América Latina, o Parque Nacional Nauhel Huapi, na Argentina, e o Parque Nacional de Itatiaia, no Brasil. O objetivo principal é compreender a criação destas duas áreas de proteção em contextos de desenvolvimento regional e nacional. O primeiro, apontado como o primeiro parque nacional latino americano, foi criado em 1903, porém, efetivado por uma política oficial de parques nacionais, apenas em 1934. Está localizado no Noroeste 262 da Patagônia argentina, na divisa com o Chile e a região na qual foi criado era habitada até fins do século XIX somente por índios nativos e animais selvagens. Na ocasião de sua consolidação, na década de 1930, a região remota e pouco habitada ainda representava um risco para o governo e a consolidação do parque ocorreu como estratégia de ocupação do território e desenvolvimento de alternativa econômica a partir da associação entre conservação e turismo. O segundo, primeiro parque nacional brasileiro, foi criado em 1937. Está localizado na divisa entre os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, em uma área de extrema raridade ecológica e paisagística. A criação do Parque Nacional de Itatiaia deve ser compreendida a partir de suas relações com a política governamental de gestão da natureza então implementada e atrelada ao projeto de desenvolvimento da Era Vargas. Sigo uma tendência de trabalhos recentes que sugerem a necessidade de abandonar o modelo de exportação do parque nacional americano e considerar a proteção da natureza como um produto de imperativos nacionais. A análise de outras experiências nacionais, como a que proponho nesse trabalho, permitem a complexificação e o entendimento de como diferentes países atentaram para resolver algumas das tensões na proteção da natureza- como um balanceamento entre turismo, pesquisa científica, interesses locais e nacionais, democracia e autoritarismo ou preservação e conservação. Deste modo, pretendo, a partir da análise comparativa proposta, discutir essas duas experiências históricas, identificar aproximações e distanciamentos entre elas e estabelecer especificidades que configurariam a criação dessas áreas protegidas na América Latina. Problematizar a história da criação de parques nacionais e demais medidas conservacionistas permite escapar da visão romantizada de proteção da natureza ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------que produz heróis e ofusca o entendimento das relações entre os homens e a natureza produzindo uma idealização da separação entre ambos. A historicização das políticas de proteção à natureza facilita a elaboração de soluções possíveis para o dilema entre conservação e desenvolvimento.

Saúde indígena em perspectiva histórica comparada: O Serviço de Saúde do SPI de 1947 e a Lei Arouca de 1999 - Carolina Arouca Gomes de Brito (CEDERJ / UNIRIO)

As décadas de 1940 e 1950 foram marcadas por novas iniciativas no campo da saúde indígena, sobretudo no âmbito do Serviço de Proteção aos Índios – SPI. Uma dessas investidas refere-se ao “Plano para um Serviço Médico do SPI”, estruturado por Herbert Serpa em 1947, que apresentava um caráter diferenciado em torno da especificidade da atenção à saúde das populações indígenas. Em perspectiva comparada, levando em conta as múltiplas realidades sociais e políticas brasileiras ao longo do tempo, é aprovada em 1999 a lei “Arouca” que criou o subsistema de atenção à saúde indígena no Brasil, que também valorizava as especificidades culturais e estruturais dos grupos indígenas. Nesse contexto, esse trabalho tem por objetivo propor uma análise comparada, em perspectiva histórica, desses dois projetos, em torno da questão da saúde das populações indígenas brasileiras.

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264 ST 23. História da alimentação, da gastronomia e suas interfaces

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"Cozinha tradicional paulista" (1963) e "Fogão de lenha" (1977): livros de receitas regionais como fontes para a história dos imaginários culinários - Viviane Soares Aguiar (FFLCH-USP)

Esta comunicação propõe apresentar parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado em andamento, que aborda o processo de formação de uma culinária regional por meio não de práticas cotidianas, mas de representações construídas no âmbito intelectual. Nosso estudo de caso é a culinária tida como “caipira” e a forma como ela foi percebida, valorizada e/ou rechaçada nos discursos a respeito da existência de uma cozinha típica associada à região de São Paulo. Embora o sistema culinário “caipira” tenha se formado e se espalhado a partir da expansão bandeirante por um amplo território – que compreenderia, atualmente, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, além de trechos do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, do Mato Grosso e do Paraná –, é notória a maneira discrepante como essa “cozinha” foi apropriada pelas diferentes regiões, algo que pode se tornar visível nos discursos propagados por livros de receitas, guias de turismo ou projetos de registro dos órgãos de patrimônio cultural. Discutir os meandros de construção simbólica de uma identidade culinária está no cerne de nossa pesquisa. Para este simpósio temático, trataremos especificamente do exercício metodológico pertinente ao uso de livros de receitas como fontes históricas para acessar não apenas o cotidiano culinário de um período e um local e suas transformações, como também os mecanismos que envolvem a formação ou a afirmação de imaginários culinários relacionados a determinadas regiões brasileiras. O foco estará em um 265 livro de receitas lançado em 1963 com a explícita intenção de definir a culinária típica de São Paulo. "Cozinha tradicional paulista" foi organizado pela folclorista Jamile Japur (1920-1979), dentro do contexto intelectual do movimento folclórico brasileiro, que esteve em intensa atividade sobretudo entre 1947 e 1964, e será analisado tanto como fonte textual quanto como objeto agente da cultura material, em sua visualidade e tridimensionalidade e, ainda, em sua trajetória “biográfica” (sua relação com estudos que o antecederam, com a atuação da autora junto ao movimento folclórico e com os discursos de “paulistanidade”). Para efeito comparativo, será analisado da mesma forma o livro "Fogão de lenha: quitandas e quitutes de Minas Gerais", publicado em 1977 pela pesquisadora Maria Stella Libanio Christo. O que se conclui é que, apesar da semelhança de técnicas e receitas de base caipira, as cozinhas paulista e mineira propostas pelas publicações em análise se revelam de formas bastante distintas. Enquanto a primeira é construída como uma alteridade ou como um “souvenir” do passado, embasada em uma marginalização do elemento “caipira” e no conceito de uma tradição esquecida, a segunda parece se consolidar como patrimônio que deve ser, acima de tudo, vivenciado e cultuado.

"Voduns também comem": alimentação ritual, educação da atenção e saberes em uma cozinha candomblezeira. - Franciliete S. Campos Souza (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ)

O presente trabalho é um desdobramento da dissertação de mestrado e parte da seguinte problemática: como nas práticas rotineiras da cultura alimentar em uma ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------roça jeje savalu percebe-se a circulação e mediação de saberes culturais? Em vista desse problema a pesquisa possuiu como objetivo geral analisar de que forma os saberes culinários ressaltam a memória do candomblé Jeje e evidenciam uma cosmologia do sagrado, e dessa forma, também, analisar como a mediação desses saberes que circulam a comida de Vodun no candomblé Jeje revelam o legado da culinária sagrada, vislumbrada a partir de uma educação da atenção e dos sentidos. Caracterizou-se, metodologicamente, como uma pesquisa de campo do tipo etnográfica, com base nos pressupostos da história oral. O lócus da pesquisa, foi um terreiro de candomblé jeje Savalú, em Belém-PA. Havendo, portanto, a necessidade de tecermos algumas reflexões que permitam desvelar de que forma é cabível inferir que a presença dos símbolos da cultura afrobrasileira são mantidos e transmitidos na feitura dessa comida que é situação sine qua non para uma prática de representação social e de pertencimento de crenças, hábitos e costumes peculiares da cultura afrobrasileira. Analisar a alimentação não somente em seu papel fisiológico, mas, sobretudo, por seu papel agregador de capital simbólico, exige um esforço de implementar considerações sobre o processo de comensalidade e destacar produções acerca do tema, presentes em obras que discutem teorias da História Cultural social e em específico no campo da História e Antropologia da alimentação. Os procedimentos metodológicos utilizados para a produção de dados foram: levantamento bibliográfico; observação; entrevistas semidirigidas com membros permanentes e esporádicos da cozinha savaluana; registros audiovisuais dos adeptos e a partir de conversas com praticantes e visitantes do terreiro. As categorias analíticas em diálogo com a pesquisa foram: 266 educação da atenção; comida como cultura; saberes da experiência; memória e identidade, as mesmas foram perpassadas e alinhavadas a luz da Historiografia da alimentação e de uma percepção mais ampla da Educação, para além da perspectiva cientificista e escolacentrista. O processo educativo investigado gira em torno das figuras responsáveis e proeminentes da cozinha do terreiro, as senhoras da cozinha, que tem o maior posto hierárquico da alimentação da casa. Elas orientam todos os postos de menor hierarquia na cozinha e têm a condição de educadoras e mediadoras da memória, detêm, portanto, a maior experiência e conhecimento a respeito dos inúmeros saberes que circulam a culinária votiva em uma roça Jeje Savalú. Saberes, culinários e ritualísticos, encarados aqui como os conteúdos a serem ensinados no terreiro.

A Cozinha Brasileira e suas panelas de barro - Ursulina Maria Silva Santana (PUC = SP)

As panelas de barro brasileiras apresentam em seu contexto toda história e experiencia de um fazer culinário. Cada uma delas apresenta-se em formatos e utilidades especificas e tem como marca os locais onde são confeccionadas e as comidas que acondicionam apresentando-se em momentos festivos, sociais ou religiosos. Reconhecer o saber fazer das paneleiras é proteger o utensilio tão representativo da cozinha brasileira. Entretanto sabemos que várias regiões do Brasil ainda produzem suas panelas de barro com suas técnicas de busca do barro no barreiro, manipulação, feitura e queima da peça, especificidades de uso e suas comidas identitárias, que não se aparentam com as panelas capixabas, restringindo------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------se muitas vezes apenas aos locais de origem. A cozinha brasileira se mescla nesse elemento cultural, a panela de barro, ao mesmo tempo que organiza e elabora a celebração da comensalidade. São vários os sítios que ainda produzem essas panelas como: as Cerâmicas de Coqueiros em Maragogipe que preparam as panelas de barro para servir as moquecas, as panelas de Pasmado e Pasmadinho no norte de Minas que servem o frango com quiabo, em Morretes no Paraná com as panelas que acondicionam e cozinham o barreado, em Irará na Bahia com seu barro vermelho para preparar o ensopado de carne seca, e em outros locais que continuam a produzir suas panelas, feitas ainda por mulheres. A pesquisa será desenvolvida a partir de inventários dos sítios, o tipo de utensilio culinário que é confeccionado e a receita que é preparada nessa panela.

Alimentação, Utopia e imigração finlandesa em Penedo – RJ (1929 – 1940) - Diego Uliano Rocha (UFF)

As questões alimentares estão para além de uma necessidade biológica humana. Elas fazem parte da cultura e história da sociedade. Investigar este elemento cultural pode contribuir para o entendimento aprofundado da organização dos grupos sociais, ideias e políticas do passado e presente. Este estudo busca seguir este direcionamento na medida em que pretende investigar a construção do comportamento alimentar dos finlandeses entre 1929 à 1940 na colônia finlandesa em Penedo – RJ. Especificamente buscou-se investigar a saída da Finlândia, a vinda ao Brasil, o projeto utópico de Toivo Uuskallio e a relação destes elementos 267 a escolha de uma restrição alimentar durante o funcionamento do projeto colonizador no Brasil.Para este trabalho foram consultados livros de memória escritos por imigrantes que vivenciaram a colônia assim como obras científicas sobre a temática.

Câmara Cascudo e Josué de Castro - um diálogo sobre a linguagem da alimentação - Adriana Salay Leme (Universidade de São Paulo)

Essa comunicação pretende, a partir das cartas trocadas entre Luis da Câmara Cascudo e Josué de Castro, olhar a formação epistemológica e a linguagem utilizada na pesquisa sobre alimentação em dois campos de estudo que estavam ainda incipientes no Brasil na primeira década do século XX - respectivamente a etnografia e a nutrição. As correspondências, de conteúdo inédito, são utilizadas para jogar luz sobre a vida e obra de cada autor, delimitar suas áreas de atuação e os termos utilizados em seus textos. Quem conhece os dois autores não imagina quão próxima parece ser esta relação intelectual. Apesar das nítidas diferenças de suas bases de estudo, os dois aparentemente mantiveram contato maior do que nos mostram suas obras. Essa conclusão se dá depois de analisar as cartas trocadas que perpetuaram ao longo do tempo e estão disponíveis no Instituto Câmara Cascudo, em Natal, e na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife. Para tal análise será utilizada a base teórica da escola dos conceitos alemã, principalmente as ideias de Reinhardt Koselleck. A conversa travada ao longo dos anos explicita que os pontos de vistas eram mutuamente articulados. Assim, a linguagem no campo da alimentação, apesar de mostrar as diferentes áreas do pensamento que estavam em formação ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------naquela época, também revelam o desejo comum de entender os hábitos alimentares na sociedade brasileira.

Chocolate: reflexões sobre o desenvolvimento do cacau cabruca no sul da Bahia - Marcella Sulis (Universidade Anhembi Morumbi)

O chocolate na América pré-colombiana representava divindades, moeda de troca, riqueza, poder, reciprocidade e distinção social. Compreender o chocolate como um alimento que, ao longo da história, foi carregado de expressões simbólicas, permeado de representações de hospitalidade, dádiva e reciprocidade é o objetivo deste trabalho. Para tanto, apoiar-se-á essa compreensão através da análise e reflexão sobre a história do cacau no Brasil. As relações de trocas, ambíguas e muitas vezes evidenciadas pela hostilidade existente no modelo de cultivo inicial do cacau no Brasil colônia, são características dessa história. No Brasil, inicialmente o cacau estava ligado a uma cultura baseada na agricultura de exploração, através do trabalho em condições de escravidão, condições hostis de relação entre trabalhador e proprietário, além da cultura da exportação do produto de qualidade. Nas duas primeiras décadas do século XX, o Brasil era o maior produtor mundial das amêndoas de cacau, responsável pela riqueza de municípios como Ilhéus e Itabuna. Entretanto, os próprios trabalhadores que produziam o cacau não tinham acesso ao chocolate. Ao contrário, inicialmente a produção nem mesmo era para o consumo local, sendo quase toda destinada à exportação. Poucos eram os privilegiados a provar o chocolate, destinado às classes mais altas. Fica 268 evidente que no Brasil não existia uma cultura de valorização com relação ao chocolate e sua história. Como exemplo, é possível citar o descaso relacionado ao processamento e à legislação relativa ao fabrico do chocolate. Diferente de outros países da América, como México, que possui uma legislação detalhada. Entretanto, existe um movimento atual de pequenos produtores de cacau e chocolate em prol da valorização desses alimentos. Movimento que começou no sul da Bahia e preza pela produção sustentável do chocolate de qualidade superior e a conscientização do consumidor. Uma característica importante desse cultivo, é o modelo cabruca de produção, sistema agroflorestal onde se combina a produção do cacau com a conservação das matas nativas, respeitando todas as etapas de produção. Neste contexto, foi possível considerar que essas relações envolvidas na cultura do chocolate e o modo de produção atual, influenciaram de alguma forma o consumo e a valorização relacionada ao chocolate. Paralelamente, mudanças acontecem também no plano sociocultural. Pouco a pouco, o chocolate tem seu consumo difundido em todas as classes sociais, constituindo cada vez mais, ao lado do café e da cachaça, um elemento presente na cena hospitaleira doméstica e nas trocas de presentes, sobretudo na Páscoa e no Natal.

Comida, Bebida e Entretenimento: As confeitarias no Rio de Janeiro do Segundo Império (1850-1889) - Thaina Schwan Karls (UFRJ)

A partir de 1850 se tornou mais perceptível o processo de modernização na cidade do Rio de Janeiro, o que já vinha ocorrendo de maneira mais enfática desde a chegada da família real e a independência do Brasil. Foi também a partir deste ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------período que a busca pelo espaço público como local de vivência social e valorização das atividades de lazer começou a melhor se conformar, inclusive com o crescimento e diversificação do mercado do entretenimento. Dentre estes se destacam os teatros, circos, bailes, práticas esportivas e ginásticas e uma estrutura pública de alimentação que também se relacionava com esta nova configuração urbana, como as confeitarias. Estas casas disponibilizavam frequentemente atividades de diversão para seus clientes através de exposições de retratos, plantas, animais e bebidas, campeonatos de tiro ao alvo, jogos como xadrez, bilhares, bagatelas e espaços com jardim. As confeitarias, em geral, exerciam funções muito mais amplas que o simples preparo e venda de doces, se portando também como padarias e até armazéns, com comércio de frutas, bebidas, pães, biscoitos, guloseimas e até presentes. Da mesma forma, atendiam a outro segmento, que era o fornecimento de gêneros alimentícios prontos, sem serem preparados no interior dos seus espaços e que poderiam ser adquiridos e consumidos nas residências. Acreditamos que os maiores frequentadores destas eram os integrantes de camadas sociais de maior poder aquisitivo, ou componentes de fatias medianas em ascensão. No entanto, não é possível descartar que houvesse clientes menos remediados que comparecessem a esses lugares cada vez mais comuns e diversos. Frequentar confeitarias poderia ser interpretado como a representação de hábitos modernos, evoluídos e requintados, adequados a um país e a uma cidade que buscavam progredir, se civilizar. Este estudo tem por objetivo apresentar o perfil destes espaços de alimentação no Rio de Janeiro do Segundo Império (1850-1889). Para alcance do objetivo foram utilizados como fontes, periódicos publicados no 269 período estudado na cidade do Rio de Janeiro. Este trabalho é fruto da minha tese de doutorado.

Consumo alimentar como sujeito da cultura material - Jadir Peçanha Rostoldo (Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo - IHGES)

O propósito deste trabalho é analisar a relação entre cultura material e consumo alimentar por meio de uma análise amplificada da disciplina de cultura material, e não apenas pela visão materialista. O consumo alimentar aqui assume o papel de sujeito histórico alimentador da cultura material, e não de destruidor dessa cultura. Defende que cultura material e consumo alimentar não são antagônicos, mas importantes peças para se entender as sociedades e suas transformações.

Da América para o mundo: O sabor picante da capsaicina - Marcia Narcizo Borges (Universidade Federal Fluminense)

Rozin e Schiller , que estudam a evolução cultural e impacto psicológico de alimentos, consideram um verdadeiro enigma tentar compreender como a pimenta chili, uma importação do “Novo Mundo” tornou-se tão disseminada e popular ao ponto de seu consumo ter sido firmemente enraizada em Sichuan, uma pequena província litorânea localizada na fronteira sudoeste da China. Investigando as informações publicadas na literatura que vão desde a domesticação das pimenteiras nas planícies americanas até os estudos mais recentes que investigam os impactos das trocas colombianas no velho mundo, buscamos compreender como uma ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------resposta inata às propriedades irritantes da pimenta podem se transformar numa sensação de prazer viciante, que leva seus consumidores a quererem sempre mais? Nesse trabalho pesquisamos a origem da pimenteira e suas variedades, todas americanas, seus aspectos biológicos e propriedades químicas, ressaltando a importância da substância chamada capsaicina, que dá o sabor peculiar a todos os tipos de pimenta americana, como as trocas columbianas popularizaram a pimenta americana do outro lado do Atlântico e respondemos à pergunta de partida interpretando contexto social, químico e fisiológico porque a pimenta agrada tanto ao paladar.

Muito mais do que se põe no prato: os Arquivos Brasileiros de Nutrição e o projeto de educação alimentar no Brasil (1940-1950) - Marcela Martins Fogagnoli (IFRJ)

A proposta desse trabalho é fazer uma breve análise sobre o surgimento da nutrição enquanto um campo de conhecimento e profissional específico no Brasil, destacando os principais fatores que contribuíram para tal processo, assim como os atores e instituições que surgiram e fizeram surgir nesse contexto. Sobretudo nos anos de 1940, a nutrição como um saber ganhou contornos mais definidos com o surgimento dos primeiros cursos e das primeiras políticas de melhoria da condição de alimentação do trabalhador. Nesse contexto surgiu a revista Arquivos Brasileiros de Nutrição, considerada como o veículo de difusão das ideias e propostas de nutricionistas e nutrólogos a respeito da alimentação dos brasileiros. 270 Buscaremos nesse trabalho identificar e analisar as principais ideias e propostas dos intelectuais ligados à revista, bem como suas leituras sobre os problemas da alimentação no Brasil.

O acidente com o CÉSIO 137 em Goiânia e suas consequências - Larisssa Mendanha Cabral (UFG)

Este trabalho é sobre o acidente com o césio 137 que ocorreu em Goiânia em 1987. Por conta do abandono de uma cápsula contendo césio-137, de aparelho de radioterapia em um prédio abandonado, antes hospital, onde pessoas puderam ter contato com essa cápsula e ao manuseá-la, fez causar todo esse transtorno para as vítimas e também os moradores da cidade e estado. Pretende-se, explicar como ocorreu o acidente bem como o processo de descontaminação do material radioativo e da descontaminação simbólica.

O doce e a história: Brigadeiro ‘di cumê’ “Ô Mainha”, uma doce experiência universitária de empreendedorismo pautada no chocolate e no leite condensado - Guilherme Lima Silva Junior (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

O presente artigo tem como objetivo analisar a introdução do doce no gosto da sociedade europeia e a incorporação desses hábitos por parte da comunidade brasileira, além de apresentar uma experiência empreendedora vinculada à produção desse tipo de iguaria com a realidade acadêmica. Compreende-se ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------brigadeiro como a junção de chocolate, leite condensado e manteiga, além de outros ingredientes que podem ser acrescentados. Por ser um item de grande aceitação por indivíduos das demais idades, tornou-se um produto incorporado à culinária brasileira, e ganha adeptos ao seu consumo todos os dias. Este artigo apresenta o empreendedorismo pautado na criação da marca Brigadeiro ‘di cumê’ “Ô Mainha”, evidenciando a percepção de uma oportunidade, destacando: a aplicação, a tenacidade e o atrevimento como condutas necessárias neste processo, objetivando alcançar os propósitos pretendidos dentro do meio acadêmico.

O Regional como Conceito Gastronômico: Região Norte, regionalização, percepções e realidades - Ricardo Núñez Amin Dick (UNISUAM)

Breve ensaio sobre a conceitualização do processo de regionalização na Gastronomia, com enfoque na Região Norte e seus pertencentes. São expostos pontos conceituais, teóricos e práticos, assim como interpretações, críticas e proposições sobre a temática. Além disso pretende instigar um diálogo mais abrangente entre a sociologia, história, cultura, antropologia e Gastronomia sobre as possíveis interpretações do fenômeno da regionalização gastronômica (produtos, produtores e origens).

Os aparatos de mesa e o consumo do chá no cotidiano doméstico do Rio de Janeiro oitocentista (1800-1840) - Renata Jardim Quadros (UNIRIO) 271 A historiografia frequentemente discute a propagação de padrões estéticos e intelectuais franceses no Rio de Janeiro oitocentista na medida em que foram fortemente presentes por mais de um século. Mesmo contemporâneos reconheciam a influência francesa que ditava quais os hábitos ‘civilizados’ a os costumes a serem seguidos, ou mesmo clamavam por um maior afrancesamento cultural, em todas as instâncias da vida pública e privada do Brasil. A materialidade revelada por projetos de arqueologia histórica em sítios datados do século XIX, por outro lado, demonstra a penetração expressiva de produtos ingleses, em especial, os de pasta cerâmica de pó de pedra ou earthenware. Pesquisas que se debruçaram sobre a presença dos produtos ingleses, frequentemente, privilegiam o enfoque econômico- industrial, relacionando essa presença inglesa à busca por novos mercados e à abertura dos portos às nações amigas. Qual seria a participação inglesa na definição de tais padrões comportamentais e ritos cotidianos? Gilberto Freyre (2000) chegou a voltar seu olhar antropológico para a questão das trocas culturais entre Brasil e Inglaterra, argumentando que sem um estudo do impacto dos aspectos materiais e imateriais da cultura britânica na nossa formação seria impossível compreender a história e o ethos da cultura brasileira; porém, ainda assim, a presença inglesa vista sob este viés do cotidiano permaneceu tópico marginal na historiografia brasileira. Acervos produzidos durante a realização de projetos de arqueologia de resgate tem entre as louças a categoria de maior incidência. Bules, xícaras, malgas e pires são um convite a se pensar qual o papel do consumo do chá em um projeto civilizatório mais amplo da cidade, que então, abrigada uma corte européia.

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Os prazeres da mesa: um debate sobre o conceito de gastronomia no Rio de Janeiro imperial - Cleber Eduardo Karls (Universidade Veiga de Almeida)

O Rio de Janeiro oitocentista foi o palco de um intenso trânsito de ideias e de modificações em diversas esferas, sustentadas, principalmente, por concepções de modernidade que buscavam reorganizar e adaptar a mais importante cidade brasileira à época a um ideal civilizacional pautado, majoritariamente, no modelo europeu. Deste paradigma faziam parte novas práticas relativas ao lazer, divertimento, esportes e a progressiva e iminente indústria do entretenimento que com o desenrolar do século XIX se demonstrava cada vez mais consolidada e relevante no cotidiano urbano da capital do Império. Neste contexto, a “gastronomia” passou a fazer parte deste ambiente de modernização e a se relacionar com as diferentes variáveis destas esferas. Para esta apresentação, analisamos a aplicação do termo “gastronomia” nos periódicos publicados na cidade do Rio de Janeiro no período Imperial e traçamos alguns considerações acerca do seu conceito. Buscamos, portanto, elaborar um debate conceitual sobre este termo no período em tela.

Sexualidade, Gênero e Gastronomia - Lívia Batista da Costa (Faculdade Cambury)

A associação entre comida e sexo enquanto fonte de diversos prazeres está presente em diversas culturas. Da mesma forma, a definição dos papéis sexuais diante do 272 espaço da cozinha nos remete a uma análise da construção histórica cultural entre os sexos. Nesse sentido, pretende-se analisar a relação entre alimentação, sexualidade e prazer, a partir de referências bibliográficas que abordam essa temática e das percepções de gênero dos alunos de um curso de gastronomia da cidade de Goiânia. Foi realizada uma pesquisa com questionários abertos e fechados, na qual, discentes de gastronomia responderam sobre a definição dos papéis sexuais na cozinha e a relação entre sexualidade e comida. A pesquisa tem como objetivo contribuir para a produção científica de trabalhos que associam gênero e alimentação.

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273 ST 24. História da Baixada Fluminense: pesquisa, ensino e parcerias no Rio de Janeiro

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A Vila de Santo Antonio de Sá: população e configuração político-territorial (1697-1877) - Gilciano Menezes Costa (UFF)

Este trabalho tem como proposta desenvolver um estudo sobre a Vila de Santo Antonio de Sá, dentro do período iniciado com a fundação da Vila, em 1697, até a sua dissolução definitiva em 1877. Através da análise da configuração político- territorial desta Vila, e de sua população, busca-se dialogar com os trabalhos dos memorialistas da década de 1930, como José Matoso Maia Forte, e com as pesquisas atuais que sustentam suas hipóteses. O presente estudo apresenta novas interpretações sobre os fatos principais desta Vila, inserindo este espaço no âmbito das mudanças da Capitania, e posteriormente Província, do Rio de Janeiro. Entre as fontes primárias utilizadas destacam-se as anotações dos viajantes, relatórios dos Vice Reis, decretos, estatísticas demográficas, periódicos, anotações de visitas pastorais e descrições oficiais da produção da Vila. No início do último quartel do século XVIII, a Vila de Santo Antonio de Sá era composta por seis freguesias, são elas: Santo Antônio de Sá (sede da Vila); Santíssima Trindade; Nossa Senhora da Ajuda de Cernambitigba (Guapimirim); Nossa Senhora da Conceição do Rio Bonito; São João Batista de Itaboraí e Nossa Senhora do Desterro de Itambi. A Vila, com suas seis freguesias, possuía uma dimensão territorial tão extensa, que ao ser desmembrada no decorrer do século XIX se dividiu nos atuais municípios de Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Itaboraí e Guapimirim. Por fim, esta pesquisa apresenta um estudo que prioriza a desconstrução da história única e aponta novos caminhos para o entendimento da decadência da região que um dia 274 foi chamada de Vila de Santo Antonio de Sá.

Compadrio: alargando a família entre os escravos de São Bento (séc. XIX) - Vitor Hugo Monteiro Franco (Universidade Federal Fluminense)

Os estudos sobre a família escrava têm sido de suma importância para compreendermos a Escravidão no Brasil. Assim, o presente trabalho busca não só dialogar com o debate já feito sobre esta dimensão do passado escravista, como contribuir para ele, concentrando-se no âmbito de propriedades de ordens religiosas. Sendo assim, viso estudar a formação familiar e os laços comunitários entre os escravos da Ordem de São Bento, no Recôncavo da Guanabara, no século XIX. Para isso, analisei arquivos paroquiais: assentos de batismos, casamentos e óbito, da Capela de Nossa Senhora do Rosário. Tais fontes me permitiram realizar uma análise mais acurada da vida desses indivíduos que vivenciaram o cativeiro, os então chamados: Escravos da Religião.

Dos Rios aos Trilhos: Trajetórias e Representações para o estudo da História Local na Baixada Fluminense - Ivonete Cristina Silva Campos (SEMED- Belford Roxo)

A proposta é suscitar construções e/ou reconstruções significativas de aprendizagem para os alunos do 6º ao 9º anos de escolaridade do ensino fundamental da disciplina escolar de História sendo o CEMBF Centro de Memória da Baixada Fluminense do Centro Universitário – UNIABEU o lugar de registro ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------para estas pesquisas, com vistas à região e à localidade da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro. Estes espaços primordiais – a sala de aula – ganham visibilidade na metodologia da oralidade que passa a ser o norte de “fontes múltiplas” para novas reflexões e abordagens dialéticas, no sentido de promover uma educação histórica sócio-interacionista de pertencimento deste passado histórico, através da narrativa. Portanto, para nós professores de História, a prática da interlocução de saberes é vivenciada dentro e fora da escola e tem como resultado, a mudança de ótica da leitura do mundo contemporâneo dos aprendizes enquanto sujeitos de sua própria história.

Educação de terreiro e o ensino de história - saberes/memórias étnico raciais em diálogo na Baixada Fluminense - Marta Ferreira da Silva (UNICAMP)

Este texto é parte inicial da pesquisa que se propõe a analisar 244 páginas manuscritas com histórias de orisás, Ìtàn, coletadas nos cotidianos de terreiros de candomblé por uma mãe de santo e a produção de conhecimentos nos espaçostempos em que esses Ìtàn circulam. Esses escritos de Aṣé, recebidos como herança por seu filho de santo (hoje pai de santo) e as influências dessas heranças servem como fio condutor para essas reflexões iniciais, que tem como base fundante as dinâmicas de repasse e ressignificações dos saberes contidos nessas fontes e na sua própria constituição, tecendo redes de saberes muito além dos muros do terreiro, tendo em vista principalmente as crianças e jovens candomblecistas, que levam consigo esses saberes para as escolas e, especificamente nos interessa 275 nesse texto, para as aulas de história. Construções orais e escritas realizadas em um terreiro de candomblé, no município de Duque de Caxias - RJ, que dialogam com oralidades e escritas desses espaçostempos.

Ensino Superior na Baixada Fluminense (RJ) os Impactos da Reforma Universitária de 1968 no território Fluminense - Debora Luisa de Freitas da Silva (UFRRJ)

O presente trabalho é parte parcial da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós Graduação em História da UFRRJ. Tem por objetivo relacionar a implantação de Universidades Privadas na região da Baixada Fluminense, que é uma área metropolitana do Rio de Janeiro, com a Reforma Universitária implantada pelo Regime Militar em 1968. Na tentativa de acalmar os ânimos e silenciar a UNE, além de atender uma demanda da classe média em ascensão, o Governo de Costa e Silva promove uma Reforma nas Instituições de Ensino Superior Públicas no país em 1968. Porém o efeito não é o aclamado pelos movimentos sociais, a reforma somente aumentou o abismo entre a massa e o acesso a universidade, além de promover a multiplicação de iniciativas privadas no ensino. Acarretando a transformação de um ensino crítico e filantrópico em um ensino produtivista que atendia as necessidades dos industriais. Nesta perspectiva foi implantada três faculdades de portes consideráveis, em uma região antes não atendida por nenhuma instituição, já nos primeiros anos da década de 70. Observamos que este movimento não foi isolado e pontual, houve uma crescente aceleração na criação de IES pela iniciativa privada em todo o país. Partindo deste ponto pretendemos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------analisar o enlace entre as reivindicações sociais por educação superior democrática, formação do sistema educacional na Baixada Fluminense. Levando em consideração as dinâmicas políticas e econômicas da região.

Exercício farmacêutico em Iguassú entre os finais do século XIX e início do século XX através das trajetórias de José Manoel de Santa Rita e Joaquim Nery Cotrim de Santa Rita - Ticiana Santa Rita (COC/Fiocruz)

Este trabalho analisa o exercício da profissão farmacêutica por práticos, boticários e farmacêuticos na periferia da capital do Rio de Janeiro, entre o final do século XIX e início do XX, a partir do Livro de Assento deixado pelo prático de farmácia Joaquim Nery Cotrim de Santa Rita. Procurando entender a inserção destes agentes ligados às artes de curar neste universo, identificamos e analisamos a rede de sociabilidade em que estavam inseridos, levando em consideração a história do grupo familiar e as práticas farmacêuticas desenvolvidas. Destacamos além da vida profissional do prático, a de seu pai José Manoel de Santa Rita, boticário desde a década de 1850. Procuramos analisar como o prático e o boticário estavam inseridos nas localidades em que atuavam. Assim como outros farmacêuticos locais, José Manoel e Joaquim Nery estiveram envolvidos com as ações voltadas de alguma forma para o saneamento da região. José Manoel foi vacinador em Iguassú na época da epidemia de varíola de 1895, aplicando as linfas vacínicas na população local. Porém, trabalhar para a Câmara Municipal não era novidade para o boticário que já estivera ligado a de Capivary (atual Silva Jardim) em meados do 276 século XIX, fornecendo medicamentos a população carente local. Junto a ele estavam mais dois boticários contratados para o mesmo fim. Quanto a Joaquim Nery, constatamos que o prático esteve envolvido em movimentos de caráter nacionalista que se espalharam pelo país, tendo como objetivos o saneamento dos sertões. Seu envolvimento com O Centro Pró-Melhoramentos de Merity do qual foi presidente comprova esse engajamento. Já sua participação na Liga Contra o Analfabetismo através da fundação da Escola Noturna Gratuita de Merity, nos leva a crer que permitiu a sua aproximação com Armanda Álvaro Alberto e mostra como as relações de sociabilidades em que estava inserido lhe conferiam capital social. Porém, é importante ressaltar que, desde o início não tínhamos a pretensão de construir um estudo propriamente biográfico. Pretendíamos que as anotações deixadas por um prático de farmácia norteassem os caminhos da pesquisa sobre o exercício da farmácia e suas transformações ao longo do tempo e, fazer uma apresentação do Joaquim Nery e José Manoel era fundamental para o desenvolvimento do trabalho. Contudo, é importante ressaltar que apenas alguns pontos na história do prático e do boticário foram destacados, buscando não produzirmos uma trajetória autoexplicativa, encadeada e homogênea.

História e Memória da Primeira Escola Municipal do Parque Beira-Mar, Duque de Caxias: Escola Municipal Aline Gonçalves de Lima - Fernando Rodrigo dos Santos Silva (Prefeitura Municipal de Duque de Caxias)

Este artigo toma como objeto a história da primeira escola municipal alojada dentro da comunidade Dois Irmãos, localizada no Parque Beira-Mar, Primeiro Distrito da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------cidade de Duque de Caxias/RJ, a saber: a Escola Municipal Aline Gonçalves de Lima, inaugurada em 2004, no final do mandato do ex-prefeito José Camilo Zito dos Santos. O interesse pela investigação tomou como ponto de partida, a escolha do nome da escola. Compreende-se que o gesto de nomear não é algo desinteressado, mas um ato deliberado repleto de significados, quem dá nome disputa a memória. Aline Gonçalves de Lima, 16 anos, foi executada em uma operação da Polícia Civil na comunidade, junto com o pastor Marcelo Salgueiro Soares de Menezes, 31 anos. Embora ambos tenham sido mortos na mesma operação, Aline foi escolhida para dar nome à escola. Que razões teriam levado à escolha de um nome em detrimento do outro? Para responder a esta pergunta, o artigo articula distintas fontes e metodologias de pesquisa. Utiliza-se a análise documental, a partir da coleta de documentos pela Secretaria Municipal de Educação do referido município; periódicos cariocas do período, em especial o jornal O Dia, cuja cobertura privilegia reportagens do estado; e depoimento oral. O trabalho articula três escalas: O local, o regional e o nacional, a partir dos seguintes eixos: a "luta" popular pelo direito à educação, a carência de escolas municipais, a expansão do número de matrículas, a representação da cidade como violenta a política de segurança pública no combate ao narcotráfico dos governos estadual e federal.

Iguaçu em transe: as transformações de uma cidade a partir do campo jornalístico (Nova Iguaçu, 1946-1964) - Maria Lúcia Bezerra da Silva Alexandre (CPDOC/FGV) 277

A comunicação tem por objetivo discutir o papel desempenhado pela imprensa nas disputas do campo político iguaçuano, durante a transição do regime do Estado Novo para a ordem democrática, assim como seus posicionamentos e enfrentamentos a respeito do desenvolvimento de uma categoria formada por industriais e comerciários, e a permanência de uma classe constituído por lideranças ligadas ao ruralismo, movimento político consolidado no início do século XX, responsável por catalisar a citricultura, principal atividade econômica de Nova Iguaçu, nos anos 1920 e 1930. Com base nestas inquietações, o estudo pretende situar historicamente o jornalismo desempenhado pelos semanários locais Correio da Lavoura (CL) e Correio de Maxambomba (CM), durante a redemocratização do país, em Nova Iguaçu. Isto se dará tanto pela política definida pela retomada da representação pluripartidária, como jornalística, quando as redações dos principais jornais da Capital Federal redirecionaram seu fazer para o padrão empresarial. Entender as razões que movimentaram estes semanários a promoverem agentes e instituições vinculadas a uma nova ou velha ordem política, pode esclarecer as tensões provocadas pelo intenso contexto de transformações políticas, mas também, socioeconômicas e territoriais em curso na região metropolitana do Rio de Janeiro. Trata-se, entre outras motivações, compreender como os editoriais destes jornais nos indicam a formação ou continuidade de núcleos de poder, uma vez que a guinada dos industriais, durante o pós-guerra na Baixada Fluminense, mobilizou novas demandas e setores de atuação, como comércio. A modernização do município já não passava somente pelo campo, mas pelo desenvolvimento da indústria, do comércio e urbanização da cidade. Para isto, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------serão analisados colunas e matérias produzidas por Luiz Martins Azeredo e Dionísio Bassi, sobretudo, nos anos 1950. Representante do Correio da Lavoura, o jornalista Luiz Azeredo ocupou lugar de destaque entre as lideranças políticas e proprietários de terra. Editor do CL, foi membro-fundador da Arcádia Iguassuana de Letras e manteve-se atento aos principais acontecimentos da cidade. Na contramão deste perfil, o fundador do Correio da Maxambomba, o jornalista Dionísio Bassi, ganhou proeminência ao se intitular “emissário” dos interesses do empresariado modernizador e delator das mazelas das classes populares. Inquisidor dos “desmandos” das forças arcaicas, o proprietário consolidou-se enquanto liderança na câmara legislativa e “Arauto das reivindicações da Baixada Fluminense”. Com base no jornalismo fomentado por estes dois personagens, esta breve análise investigará como imprensa integrou as disputas capazes de formar uma nova ordem política, mas sobretudo cultural, a partir do jornalismo e das letras.

Marcas e expressões: o que o africano livre deixou revelar - Juliana Santos de Lima (UFF)

Esta comunicação pretende analisar a condição jurídica dos africanos que desembarcaram em portos brasileiros após a proibição do tráfico de escravos, tornando-os africanos livres. As legislações que abrangem sua existência previam que tais pessoas deveriam cumprir um período de 14 anos de trabalho compulsório, afim de que aprendessem a dinâmica social e fossem capazes de “viver sobre si”. Compreendemos que a historiografia sobre os africanos livres tem avançado no 278 sentido de problematizar sua existência, as contradições desta liberdade, o número de pessoas que compuseram este grupo e a tutela na qual foram submetidos. Nossas fontes são os anúncios dos periódicos: Diário do Rio de Janeiro e Jornal do Comércio. Por meio delas, é possível perscrutar biografias de africanos livres. Utilizamos informações acerca das fugas, repartição de polícia e obituário, com foco em suas idades, gênero, nações, características físicas, ofícios, nomes de seus tutores, local de moradia. Com essas informações é possível perceber suas experiências coletivas, assim como a criação de redes de sociabilidade, o mapeamento de identidades, culturas e estratégias para livrar-se da tutela.

O recenseamento de 1872: perfil populacional do Porto das Caixas - Mirian Cristina Siqueira de Cristo (Prefeitura Municipal de Itaboraí)

O presente artigo utiliza do Recenseamento de 1872 para analisar o perfil social e econômico da Freguesia de Nossa Senhora Imaculada Conceição do Porto das Caixas. Porto das Caixas, atual distrito do município de Itaboraí, RJ, possuiu uma grande importância econômica, social e política durante o século XIX, para a província e para o próprio Império, sendo considerado o terceiro porto fluvial em importância comercial para a província do Rio de Janeiro pertencente ao recôncavo da Baía de Guanabara.

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Um encontro geracional no Instituto Histórico de Duque de Caxias: primeiros achados (1973-2001). - Eliana Santos da Silva Laurentino (UERJ)

O presente trabalho se propõe apresentar os primeiros achados sobre alguns agentes do Instituto do Instituto de Duque de Caxias, desde sua criação em 1973 até o ano de 2001, e os vínculos com outros institutos na região. A partir do banco de dados elaborado com as fichas cadastrais dos membros da Associação de Amigos dos Instituto Histórico de Duque de Caxias serão apresentados os agentes ligados diretamente ao Instituto e os membros do encontro geracional vivido em uma das fases da instituição. Nesse sentido, partimos da ideia que o Instituto Histórico representa um lugar de destaque e articulação dos agentes para ações e produções na/e para região, possibilitando identificar as relações entre a produção local e as perspectivas historiográficas, a partir dos jogos de escala. Desse modo, sendo o Instituto de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que permanece em atividades sem interrupções, desde de sua criação, é possível identificar quais autores se vincularam e quais permanecem. Assim, pensar as escritas a partir desse espaço e as atuações dos agentes dessa instituição é considerar que essas escritas são parte da construção do território. Vale lembrar, que o próprio conceito de Baixada Fluminense é polissêmico, possuindo múltiplas definições. No que tange os recortes geográficos, ora são incluídos determinados municípios, considerando a extensão entre o litoral e a Serra do Mar, ora são excluídos outros, restringindo a região do entorno da Baía de Guanabara. Essas e outras abordagens da definição geográfica não excluem os significados da apropriação dos homens no espaço, ou 279 seja, o espaço é socialmente produzido. E o Instituto também faz parte dessas apropriações, o que indica que sua importância e significado não se restringe a municipalidade, mas a própria Baixada Fluminense.

O Gerencialismo Como Proposta de Gestão Da Educação no Estado do Rio de Janeiro - Léo Manso Ribeiro (Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro)

O modelo de gerenciamento da educação apresentado pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, denominado Gestão Integrada da Escola (GIDE) transfere aos professores toda a responsabilidade pelos problemas enfrentados na educação. A lógica deste paradigma fundamenta-se numa visão produtivista e não estabelece uma proposta de educação orientada por uma prática emancipadora, demonstrando apenas preocupação com a melhora nas avaliações estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC). Definimos como objeto de estudo, a precarização ocorrida no trabalho docente após a implantação da GIDE que foi extremamente polêmica em razão da adoção de pressupostos neoliberais na educação, que buscam diminuir a autonomia dos docentes de pensar e organizar suas ações pedagógicas, tendo como consequência na precarização do seu trabalho.

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ST 25. História e História da educação e a formação de professores: práticas, 280 políticas e registros históricos

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A formação do professor através da revista “A Escola Primária” (Distrito Federal, 1916 – 1938) - Mariza da Gama Leite de Oliveira (Prefeitura Mun. de Duque de Caxias)

O trabalho interpreta como os inspetores escolares da cidade do Rio de Janeiro utilizaram a Revista “A Escola Primária” como canal de acesso aos professores primários da então capital federal nas primeiras décadas do século XX, e abriram seu espaço para que políticos e educadores traduzissem os princípios legais e práticos da Escola Nova - a grande esperança de renovação educacional para a emergente nação; também investiga os projetos de formação em disputa e a mobilização desses agentes históricos pela conquista de reconhecimento social, através de associações como a Associação de Professores Primários do Distrito Federal, e da atuação da Associação Brasileira de Educação (ABE) para que a categoria adquirisse visibilidade política e social, através dos inquéritos, conferências e congressos que promovia na cidade nas décadas de 1920 e 1930. As novas abordagens historiográficas a partir da Nova História, causaram verdadeira revolução no campo, permitindo aos pesquisadores de História da Educação (re) descobrir novos documentos, relê-los sob nova perspectiva, sob a influência da Escola dos Annales. Nesse sentido, seguindo esta renovação metodológica, o estudo utiliza fontes como os jornais O Paiz e Correio da Manhã, cujo acesso é facilitado pelas novas tecnologias digitais, a partir de um dos inovadores projetos da Biblioteca Nacional: a hemeroteca digital, a qual digitalizou recentemente a coleção da revista supracitada. Além da fonte primária, o estudo fundamenta-se em 281 estudos desenvolvidos por diversos autores que, embora alguns deles tenham concentrado suas investigações na Primeira República, fornecem bases para a identificação de continuidades e rupturas identificáveis na Era Vargas. A materialidade dos impressos e seus suportes nos fornece elementos para historicizar a fonte, tendo em conta suas condições técnicas de produção e funções sociais; e isto nos permite analisar criticamente a pressão política exercida sobre a categoria de professores, especialmente no Estado Novo, quando Vargas extinguiu a Associação de Professores Primários do Distrito Federal, a Liga dos Professores e a Ordem dos Professores, formando uma única entidade, a União Nacional de Educadores (UNE). A última revista do acervo da Biblioteca Nacional é datada de março de 1938. O fato de ter sido extinta a Associação dos Professores Primários, dá pistas de que este foi o último ano da revista, pois não agradaria a Vargas a ideia da circulação de um periódico para um segmento específico de profissionais, que pudesse quebrar a “coesão nacional” por ele engendrada.

A trajetória de uma escola centenária na formação de professores: O PIBID no Instituto de educação do Paraná - Luciana Correa Barbosa Botelho (UNINTER)

Este texto apresenta o projeto Pibid Uninter – Pedagogia. Que está vinculado ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid, junto a Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior. O programa tem como objetivo a valorização do magistério, portanto, para que isso ocorra é fundamental o aperfeiçoamento e a elevação da qualidade na formação dos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------professores que atuam na educação básica. Participam do projeto os alunos que estão cursando pedagogia, ou seja, alunos da licenciatura, na modalidade presencial e à distância, recebendo uma bolsa auxilio. O projeto visa promover a inserção dos estudantes no contexto das escolas públicas. Podendo a instituição oferecer oficinas de língua portuguesa, enfatizando o estudo de textos acadêmicos e científicos, produções de relatórios e textos escritos, comunicação verbal própria para a educação básica. A inserção dos estudantes (bolsistas) nas escolas, se dá pela plena integração a todos os espaços pedagógicos. A organização da pesquisa está subdividida em grupos de pesquisa, sendo elas: Contexto histórico, Documentação escolar e observação. Participam dos grupos, três docentes, três pedagogas orientadoras das escolas e alunos da graduação em pedagogia presencial e a distância. Está pesquisa está diretamente vinculada ao contexto histórico da escola. Assim, a presente pesquisa tem por objetivo investigar o contexto histórico da escola Instituto de Educação do Paraná “Professor Erasmo Pilotto”, em Curitiba, com foco no nosso objeto de estudo que é o curso de formação de docentes (magistério) em nível médio. O problema se dá pela preocupação da qualidade da formação de docentes no magistério. A importância da pesquisa deu-se em compreender o contexto histórico da escola. A pesquisa envolve o levantamento bibliográfico, pesquisa documental e pesquisa de campo.

A “classe dos professores adjuntos”: sujeitos, tensões e agências na formação docente pela prática na Corte Imperial (1854-1889) - Angelica Borges (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) 282

Este estudo visa analisar aspectos da “formação pela prática” instituída legalmente pela Reforma Couto Ferraz, em 1854, na Capital do Império Brasileiro, por meio da criação da “classe dos professores adjuntos”. A reflexão enfoca os sujeitos, as tensões geradas pelo funcionamento deste mecanismo de formação e as agências empreendidas por professores regentes na condição de responsáveis pela formação de novos quadros para atuarem nas escolas primárias, ou seja, de seus futuros colegas de profissão. A chamada “classe dos professores adjuntos”, segundo o Regulamento da Instrução Primária e Secundária da Corte de 1854, era composta por alunos das escolas públicas maiores de 12 anos de idade, com bom rendimento escolar e “propensão para o magistério”. Atuavam nas escolas como ajudantes para se “aperfeiçoarem nas matérias e pratica de ensino”. Ao final de cada ano de exercício (eram previstos três anos), passavam por exames para avaliar “o grau de seu aproveitamento”. Mas quem eram os adjuntos e as adjuntas que exerceram a função? Tais aprendizes de professores seguiram a carreira do magistério público após o período de formação pela prática? Quem foram os professores e professoras regentes responsáveis por formar docentes no espaço das escolas primárias? Que contribuições tais professores deram para o processo de profissionalização docente? Para realizar a pesquisa recorri a um conjunto variado de fontes: Relatórios da Inspetoria Geral de Instrução Primária e Secundária (IGIPSC); Relatórios dos Ministros do Império; Coleção de Leis do Império; edições do Almanak Laemmert; documentos manuscritos do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ); e uma grande coleção de jornais da imprensa oitocentista, disponibilizada pela Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. O estudo aponta ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------que no grupo de professores regentes vários eram conhecidos por terem um destacado conhecimento pedagógico – alguns analisados por pesquisadores como parte de um grupo de intelectuais. Tal fato poderia conferir à chamada “formação pela prática” a aprendizagem de um conjunto significativo de saberes pedagógicos. Desse modo, a teoria tão preconizada na formação científica dos professores e que era atribuída ao ensino pela Escola Normal como único espaço possível de aprendizagem desse saber, também poderia, de alguma forma, fazer parte da formação do adjunto, a depender do professor regente. Tal hipótese não desconsidera a importância dos debates em favor das escolas normais, dos quais tais professores também participaram, mas visa redimensionar a formação dos adjuntos frente a uma perspectiva fortemente pragmática atribuída a ela.

Conhecimento compartilhado: parcerias e desafios educacionais na atualidade - Suzana Bitencourt (Uniasselvi)

No mundo contemporâneo é lugar comum afirmar que o conhecimento compartilhado e em rede seduz e proporciona um significado diferenciado para o ensino e a aprendizagem. No âmbito da formação de professores, tal possibilidade renovou as estratégias de ensino e reforçou a emergência de compreender o universo onde se encontram mergulhadas as novas gerações de estudantes. Nesta direção o professor precisa refletir sobre seus próprios paradigmas e referenciais, pois compete a este profissional conduzir sua atividade docente no âmbito do processo de ensino e aprendizagem dando a ver as implicações presentes no 283 cotidiano escolar. Na modalidade EaD, os fenômenos tecnológicos empregados na formação ganham relevo. Esta proposta de apresentação de trabalho baseia-se em pesquisa realizada junto aos acadêmicos da Uniasselvi, Centro Universitário Leonardo Da Vinci, no qual a proponente atua como professora. Nesta oportunidade, pretende-se mostrar alguns resultados para que contribuam com o debate e suas reflexões nas configurações dos níveis de ensino e formação em uso no Brasil.

Corpo docente: instrução, formação e composição no Colégio Luiz Viana (1970-1979) - Maryana Gonçalves Souza (Universidade Estadual Da Bahia (UNEB)- Campus VI)

O presente trabalho, sob a orientação da professora Antonieta Miguel, objetiva investigar e conhecer a composição e a formação dos professores do Colégio Estadual Governador Luiz Viana Filho, localizado em Guanambi- Bahia, sob o recorte temporal de 1970-1979, trazendo discussões sobre instrução, formação docente e movimento educacional durante o regime militar. A escolha em realizar este estudo foi decorrente da incipiência de pesquisas no campo da História da Educação no interior da Bahia. O corpo docente foi escolhido como objeto diante da grande quantidade de fontes remetentes a ele encontradas no colégio e que ainda não foram usadas pela historiografia local, como também pelo fato do exercício da docência ter sido drasticamente alterado durante a ditadura militar, período que abrange o recorte temporal desta produção. Em primeiro momento, foi feito um levantamento bibliográfico sobre a temática da História da Educação, arquivos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------escolares, instituições escolares, corpo docente, ditadura militar em livros, revistas, teses e dissertações. Após isso, foram realizadas visitas ao Colégio Luiz Viana, especificamente nos locais onde a instituição acondiciona os seus documentos, que são o seu arquivo e um depósito, em que foi realizada a investigação, análise, levantamento e catalogação das fontes encontradas. As fontes utilizadas nesta pesquisa foram Ofícios, Correspondências, Planejamentos de Trabalhos, Relatórios, Regimentos, Atas, Livros de Ponto, Pasta de Professores. As discussões propostas por este trabalho veem acompanhadas de tabelas contendo dados numéricos adquiridos através da análise das Pastas de Professores encontradas no colégio. A pesquisa desenvolvida permitiu adentrar no campo educacional brasileiro do período da ditadura militar, especificamente na situação de aspectos da educação do Colégio Luiz Viana nos anos de 1970 e 1979, dando ênfase ao corpo docente da instituição, como também permitiu visualizar a riqueza de caráter social, cultural, histórica contida nas instituições escolares a partir da sua documentação.

Domínio das Letras: profissão docente e a reformava do Ensino Primário e Secundário da Província do Rio de Janeiro em 1849 - Alexandre Ribeiro Neto (UERJ/FEBF - Faculdade de Educação da Baixada Fluminense)

Nosso trabalho apresenta as reflexões iniciais do nosso projeto de pós-doutorado que analisa a educação na província do Rio de Janeiro. Tomamos como ponto de partida o Regulamento que reformava o Ensino Primário e Secundário escrito por 284 Luiz Pedreira do Couto Ferraz em 1849. Buscamos pistas nesse documento sobre a origem étnica dos professores, ao mesmo tempo, que procuramos descobrir se havia algum impedimento para que negros e pardos lecionassem nas escolas destinadas ao Ensino Primário e Secundário na Província do Rio de Janeiro. Para atingir nosso objetivo intencionamos dialogar com Gondra e Sacramento (2002) autores do verbete sobre o legislador em tela, para conhecer e problematizar a trajetória do mesmo. São igualmente importantes as reflexões de Castanha (2013), que se detém na análise da legislação educacional da corte do Rio de Janeiro. Levantamos a hipótese de que o Regulamento da Província do Rio de Janeiro de 1849, para ser melhor compreendido, precisa ser inserido dentro do conjunto de reformas propostas pelo seu autor. Entendemos os recortes estabelecidos pelos pesquisadores, que privilegiaram a análise da legislação proposta para a Corte do Rio de Janeiro, devido ao seu caráter modelar. Contudo, podemos incorrer um risco de tomar as medidas propostas para a Corte como únicas, quando elas fazem parte de um processo de uniformizar a Instrução Pública. No momento da apresentação do Relatório de 1849, Luiz Pedreira do Couto Ferraz estava a pouco tempo no cargo, para ser exato pouco mais de quatro meses. Para juntar as informações sobre a província e apresentar a Assembleia e ao Imperador, foram necessários a ajuda dos antecessores no cargo, neste caso o senador Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho que ocupou o cargo de 1846 a 1848. Couto Ferraz ao introduzir a estatística, reconhecia a dificuldade de realizar o recenseamento da população da Província do Rio de Janeiro. Pretendemos dialogar também com Saviani (2007), Gondra e Schueler (2008) e Cardoso (2014) para compreender o contexto da

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História da Educação, sobretudo os aspectos relacionados a formação docente no período imperial.

Estudo Dos Trabalhos De Conclusão Do Curso De Licenciatura Em História Da Universidade Estadual De Goiás – Câmpus Iporá (2001-2016) - Luiza Melo Fortunato (UEG - IPORÁ)

O referido projeto tem por finalidade analisar a produção historiográfica empreendida na Universidade Estadual de Goiás (UEG) – Câmpus Iporá referente aos anos de 2001 a 2016, com atenção especial aos trabalhos desenvolvidos no âmbito do curso de Licenciatura em História. O objetivo é identificar os temas escolhidos, orientadores dos trabalhos e referências bibliográficas utilizadas, a fim de traçar o perfil de pesquisa desenvolvido pelos graduandos do curso ao longo desse período. A problemática se dá pela falta de investigação nesta área de produção historiográfica realizada pelos acadêmicos em processo final de formação. Então cabe a pergunta: até que ponto as monografias contribuem para a percepção acerca dos tipos de trabalhos de conclusão de curso na área de História? Os resultados preliminares mostram que ao traçar um panorama da distribuição de monografias, a relação dos temas propostos e os professores orientadores, é possível analisar os resultados em áreas específicas, e a partir daí um levantamento pode ser realizado acerca dos temas mais adotados pelos formandos em História. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico denominada “estado da arte”, voltada para classificação e análise de monografias 285 da área de História, disponíveis na Biblioteca Pio Vargas da UEG, já catalogadas pelo ano de aprovação do projeto.

Ideia e finalidade da Universidade: gênese e desenvolvimento - Zuleide Silveira (Universidade Federal Fluminense)

A universidade moderna têm sido importante instrumento de construção do Estado- Nação, sendo assumida, primeiro, como aparelho de reconstrução nacional e de formação de “elites burocráticas” (GOMES, 1994) voltada para o serviço da máquina estatal e, depois da Segunda Guerra Mundial, como instrumento de desenvolvimento econômico e modernização. A partir da década de 1970, com a chegada ao poder de governos conservadores, marcadamente neoliberais, que as políticas do campo da educação superior passam a: alterar as regras tradicionais de financiamento universitário, separar as universidades de ensino das de pesquisa, promover a hierarquização do ensino e de instituições com base em processos de avaliação padronizados, intervir não só na liberdade acadêmica em nome da eficiência e da produtividade, mas também, na autonomia universitária que passa a ser entendida como atributo de um movimento de aproximação ao setor empresarial. Neste período de implantação das políticas neoliberais, as críticas em torno dos modelos de universidade humboldtiana e napoleônica parecem retomar as orientações do Relatório Robbins e do Relatório Atcon, ambos produzidos no início da década de 1960. Orientações estas que vêm e manifestando, desde o final século XX, na universidade brasileira. Este é o presente histórico, marcado por tensões em torno da função social da universidade, de cujo discurso ancora-se na ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------visão do bloco no poder, em determinada conjuntura histórico-social do capitalismo, o neoliberalismo. Neste trabalho, não pretendemos esgotar o debate historiográfico do rico processo de criação e organização administrativo- pedagógica das instituições. No entanto, o texto analisa as transformações pelas quais vem passando a universidade brasileira, em relação à configuração institucional, ao financiamento, à gestão e à produção do conhecimento. Primeiro dá destaque aos modelos de universidade, humboldtiano, napoleônico e norte- americano, de modo a captar o desenvolvimento dessas concepções, sua convergência e materialização na universidade modernizada. Em seguida, desvela que no decurso dos processos de internacionalização da economia, a ideia de universidade passa a alinhar-se, historicamente, aos desígnios do desenvolvimento econômico por mediação da política científico-tecnológica, sob a orientação de organismos supranacionais e intelectuais orgânicos do capital. Por fim, aponta para a contrarreforma universitária como triplo processo: integração subordinada da educação à política de ciência, tecnologia e inovação; diversificação e hierarquização institucional segundo a oferta e duração dos cursos; e, empresariamento da educação.

O Colégio Pedro Segundo e as disciplinas de Ciências Naturais: um estudo sobre a formação intelectual e atuação sociocultural de seu corpo docente (1838-1889) - Luciana Borges Patroclo (UNESA)

Essa Comunicação se configura como um estudo acerca das trajetórias intelectual 286 e sociocultural dos professores que ministraram as disciplinas de Ciências Naturais do Colégio Pedro Segundo no decorrer do século XIX. No tocante ao recorte temporal foram estabelecidos como marcos delimitadores: 1838 – ano do início de funcionamento da instituição - e 1889 – fim do Império e período anterior a legislação que determinou a mudança da denominação do Colégio, temporariamente, para Ginásio Nacional. Outro aspecto ressaltado nessa seleção, fez-se presente no fato da referida instituição de ensino ter sido criada como parte do projeto de nação da Monarquia. Para o desenvolvimento desse trabalho foram realizadas pesquisas de cunho biográfico sobre o corpo docente de Ciências Naturais. Nesse contexto, foram consultados impressos digitalizados da Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Como também, foram examinados dicionários biográficos e informações presentes em instituições como o Instituto Histórico Geográfico do Brasil (IHGB). O estudo apresentado, foi realizado entre 2016 e 2017, como parte do projeto sobre a identidade docente do professor secundário do Colégio Pedro Segundo realizado pelo grupo História da Profissão Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-RIO.

O olhar da trajetória histórica da formação de professores a partir do PIBID - Desire Luciane Dominschek Lima (UNICAMP/UNINTER)

Este estudo analisa os impactos do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) na educação básica a nível Nacional. O PIBID é uma política pública brasileira que incentiva e valoriza o aprimoramento na formação dos docentes para a educação básica. O objetivo central desse estudo é investigar a ação ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------do programa na formação docente, bem como analisar como está sendo conduzida a formação inicial dos professores. Optou-se em descrever o PIBID e apresentar os dados de desempenho do programa entre os anos de 2007 a 2013, de forma a ilustrar os benefícios do Programa. Como fonte de pesquisa foram utilizados os estudos de Gatti, Pimenta, Saviani, Severino e Tardif, que tratam de forma específica como se encontra a estrutura da formação inicial dos professores de licenciatura, relacionada à prática docente. A partir da análise documental das Portarias 038/2007, 122/2009, 096/2013, do Edital 061/2013, do Decreto 7.219/2010, do Relatório de Gestão (2009-2013) e do Relatório de Gestão (2009- 2014), os resultados apresentados revelam que uma política pública bem estruturada, valoriza e fortalece a formação docente, traz melhoria em relação a qualidade nas escolas de rede pública, integrando as universidades e escolas, e ao mesmo tempo propicia a formação continuada dos professores da IES e dos Supervisores da escola. O programa proporciona a articulação entre a teoria e a prática, trazendo consigo a oportunidade do estudante se aproximar da realidade do cotidiano escolar, e ao mesmo tempo incentiva a pesquisa, cria condições de uma formação consequente, para que de fato os licenciandos possam participar efetivamente do processo de formação, de maneira emancipadora por meio da apropriação do conhecimento e dos saberes necessários para uma formação transformadora. O século XXI tem discutido de forma bastante enfática, visto a trajetória histórica da educação no Brasil, a formação de professores. Essas novas discussões são motivadas pelo quadro desafiador em que se encontra a qualidade da formação inicial docente, principalmente em relação as limitações na preparação 287 desse profissional em relação à prática. A formação inicial docente possui lacunas que devem ser preenchidas. Uma delas é a falta de formação prática do docente, diante dessa realidade é preciso desenvolver ações que ajudem a solucionar essa situação. Diante destes debates, entra em cena o PIBID, como política pública para a formação inicial de professores.

O significado da "Rebelião dos sutiãs" na formação de professores no Instituto de Educação: Feminização e mobilização - Nahyá Soares Nogueira (ISERJ)

A fim de entender singularidades do processo de feminização no magistério no Instituto de Educação do Rio de Janeiro em sua dimensão politica de militância e mobilização, esta comunicação apresenta e discute o significado da “Rebelião dos Sutiãs”, conforme a imprensa, ocorrida em outubro e novembro de 1997, protagonizada por um grupo de alunas em busca de visibilidade para uma questão de gênero, sua vestimenta, atribui novo significado distante ao movimento das feministas dos anos 1960. Com Sindicato Estadual dos Professores (SEP) e a Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas (AMES) a seu lado, estas rebeldes enfrentaram a direção do Instituto de Educação, sob impacto da mudança da Secretaria Estadual de Educação (SSEDUC) para a de Ciência e Tecnologia, integrado à Fundação de Apoio às Escolas Técnicas (FAETEC), enquanto as demais escolas de formação de professores permanecem vinculadas à SEEDUC. Orientada pela discussão de gênero (SCOTT, 1995), Memória (LE GOFF, 1990; BOSI, 2013; GRUPO DE MEMÓRIA POPULAR, 2004) e como documentos o ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------depoimento do professor Haroldo Teixeira, dirigente do SEP que atuou no movimento e periódicos, a grande imprensa e publicação do SEP-AMES. Esta pesquisa integra o projeto As Grandes Greves do Magistério Carioca e o Instituto de Educação: Militância, Mobilização e Formação de Professores (1979-2016) desenvolvido no Projeto Memória e História da Formação de Professores no Instituto de Educação desde a Escola Normal (1880) à História Imediata (PROMEMO) do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ).

PIBID História UFRJ (2011-2014): Uma “Casa Comum” para formação de Professores? - Viviane Grace Costa (SEEDUC/RJ)

Esse trabalho apresenta-se como um dos caminhos investigativos da pesquisa “Tempo Presente no Ensino de História, Historiografia, Cultura e Didática em diferentes contextos curriculares”, coordenada pela Dr.ª Ana M. Monteiro, vinculado ao LEPEH - Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino de História, UFRJ. Desde 2009, quatro escolas públicas estaduais, foram contempladas com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FE/UFRJ). Tem-se como objetivo analisar a prática do PIBID HISTÓRIA UFRJ no período de 2011 a 2014, com base nas proposições de Nóvoa (2017) sobre formação e profissionalização docente. Suspeito que, o PIBID de História UFRJ, tem aspectos semelhantes na sua proposta para formação de professores do século XXI. O recorte temporal se deve a participação da autora, como Professora de História supervisora, com a 288 coordenação das professoras Dra Carmen Teresa Gabriel (2011-2013) e Dra Ana Maria Monteiro (2013-2014). Em março de 2014 foi realizada com ex-bolsistas do PIBID uma avaliação de impacto imediato da participação no Programa dentro do colégio CIEP Brizolão 303 – Ayrton Senna. Dando seguimento a pesquisa, todos os atores (Coordenadores, Professores de História, ex Licenciandos, ex Alunos) através de outra avaliação de impacto após 4 anos, privilegiou-se investigar os conceitos de “interposição profissional” e “exposição pública”. O PIBID HISTÓRIA UFRJ pode ser considerado essa "Casa Comum"? Apresenta esse formato contemplando os cinco eixos na formação inicial e continuada dos professores proposto por Nóvoa? Os coordenadores, professores supervisores, Licenciandos e escola trabalharam coletivamente centrados num processo criativo? Foram realizadas pesquisas associando teoria e prática com problemas reais do espaço escolar e da disciplina História? Os PIBID saem da sala de aula e discutem problemas da profissão docente e políticas públicas da educação? Exploram a cidade do Rio de Janeiro para abordar a História? Esses entre outros questionamentos serão dialogados no trabalho.

Políticas Públicas Educacionais voltada para o Povo de Etnia Cigana - Estudo de Caso da Escola Municipal Dom Velloso - Jordan Luiz Menezes Gonçalves (Faculdade São Judas Tadeu)

A inclusão de crianças ciganas e de sua cultura em escolas regulares tem sido tema de muitas reportagens em Goiás e em algumas outras regiões isoladas de nosso país, em alguns locais não se encontra um estudo organizado sobre o tema voltado ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------para as Políticas Públicas Educacionais aplicadas nessas regiões. Aqui vai uma crítica ao meio acadêmico, tão engajado em políticas sociais como o que temos no Brasil, não podemos “desmemoriar” uma população que têm tanto a contribuir com nosso crescimento como nação. Antes, além da professora e da Equipe Gestora não saberem como lidar com as características das crianças, elas não demonstravam conhecimento o suficiente para entenderem a melhor forma de se trabalhar esse aluno, o que foi compreendido e desenvolvido ao longo do processo. O maior exemplo disso será abordado mais pra frente, quando for esmiuçar como funciona e o dia-a-dia desses alunos. Sempre vi a educação como um objeto de mudanças em nossa sociedade, o poder que exerce no combate da desigualdade e na melhoria da qualidade de vida da população, mas, entendendo, é claro, que a mesma sozinha não possui o poder de salvar a tudo e a todos, devemos então ter a ajuda e a iniciativa de pessoas, como os profissionais da Escola Municipal Dom Velloso. Dependemos também da ajuda familiar, ajuda essa que no caso estudado por nós, não é de fácil percepção, já que os responsáveis Ciganos não fazem parte desta sociedade letrada, vivendo assim na Marginalidade Social. Não ajudam a suprir as necessidades afetivas e colaborativa que seus filhos precisam, fazendo com que a escola cumpra com o além do papel de transmissão de conteúdos necessários para a formação do cidadão e com uma visão voltada para o meio profissional. Não devemos ter um olhar apenas “micro”, mas, também “macro” ao ver um exemplo em uma região de baixo poder aquisitivo, dando um grande exemplo educacional como este que estudamos que pode ser exportado para grandes capitais e/ou grandes polos educacionais em nosso país. Se seguirmos as leis e/ou 289 acrescentarmos ao nosso dia a dia um pouco de amor e bom senso, podemos junto a educação mudarmos o mundo e a sociedade em que vivemos. Daí vem a necessidade de investir em uma formação continuada voltada para os profissionais da educação. Formação essa que deve contemplar cada vez mais a necessidade de sermos plurais em nossas ideias e também em nossa forma de agir para com o outro, seja ele de origem não igual, de outra classe social, de uma cultura não igual e de uma visão político-social diferente da nossa. Não podemos mais permitirmos que dentro de uma sociedade tão plural, como a Brasileira, se encontre pessoas que vive na marginalidade (à margem da nossa sociedade) como vemos ainda nos dias de hoje.

Produção de Presença nas aulas de História (tempo, sentido e saberes no trabalho docente) - Hosana do Nascimento Ramôa (UFF)

O presente trabalho é fruto de uma pesquisa de mestrado ainda em andamento, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFF. Delimitando o Ensino de História como o espaço de realização, a pesquisa tem por objetivo geral compreender quais as maneiras de fazer mobilizadas pelos professores de História em suas aulas que impulsionam a produção de presença tendo por base os saberes docentes. Para isso, é preciso pensar duas movimentações: a primeira é investigar como a constituição dos saberes docentes é refletida nos modos de dar aula e a segunda se baseia em analisar quais as formas de mobilização desses saberes produz presença no processo educativo. O objetivo apresentado vai ao encontro da reflexão de que cada professor(a) possui ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------experiências, comportamentos, gostos, modos de organizar as aulas e usar os meios pedagógicos, de se relacionar com os alunos e de movimentação em sala próprios. Ou seja, a sala de aula e os acontecimentos que ali se sucedem envolvem uma alta complexidade, sendo impossível limitá-la a poucas variáveis, por isso, não pretendemos traçar fórmulas ou estabelecer padrões para a presença, mas observar as diferentes maneiras de seu desenrolar na atuação docente. É preciso salientar, ainda, que ao tratar da produção de presença, não estamos desconsiderando a produção de sentido nas aulas de História. Dessa forma, ao nos referirmos à produção de presença, a compreendemos como os fenômenos que nos tocam, nos marcam e nos impulsionam a agir, por meio de um encontro no qual os sujeitos colocam-se na presença uns dos outros negociando e compreendendo o significado do ensino. Dito de outra maneira, o professor não está isolado em sala de aula, mas sua relação de ação coletiva e mútua com seus alunos proporciona o desenvolvimento das individualidades num contexto plural, cerceado pelos componentes ético e emotivo de uma sociedade baseada no sentido, mas com recorrentes fenômenos da presença. Para alcançar o objetivo proposto, o caminho metodológico a percorrer consiste na gravação em áudio de aulas de História e a entrevista com três professores de distintos espaços: uma escola pública, uma escola particular e um curso “Historiando as artes”, sendo os três situados na cidade de São Gonçalo, RJ.

Raças e suas verdades: os discursos da psicologia educacional na formação dos professores no século XX - Aline Aparecida Gama Vieira (USP) 290

Ainda hoje é possível encontrarmos discursos que buscam afirmar a desigualdade entre grupos humanos valendo-se do controvertido conceito de raça, apoiados em argumentos pretensamente científicos. Assumindo, com Foucault, que a formação de um discurso está sempre submetida a um ordenamento, buscamos examinar os discursos da psicologia, que adquiriu status de disciplina nuclear na formação docente durante o século X, difundindo teorias psicológicas tidas como científicas sobre a aprendizagem. Este trabalho se propõe a analisar enunciados relativos aos saberes da psicologia quanto à raça nos capítulos dedicados ao estudo da inteligência e das diferenças individuais, a partir do exame de três manuais de psicologia educacional publicados entre o final da década de 1950 e 1960 no Brasil. Pretende-se, assim, contribuir para o estranhamento das relações usualmente estabelecidas entre faculdade inteligente e características inatas de indivíduos no período de educação escolar.

Tempo e disciplina de trabalho no magistério na Bahia Imperial – 1834- 1881 - Antonio Barbosa Lisboa (UEFS)

Este trabalho tem o objetivo de analisar o tempo e disciplina de trabalho no magistério baiano prescritos nos Regulamentos da Instrução Pública da Província. Intercalado às experiências de professores primários nas Comarcas do Litoral Sul intenciona demonstrar quais as relações se estabeleciam entre o prescrito e o praticado. A base da instituição do tempo e disciplina de trabalho está associada ao Ato Adicional (1834), à criação do Conselho de Instrução Pública (1842), da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Escola Normal (1836) e da Diretoria Geral dos Estudos – DGE (1849). O Conselho e a DGE eram os órgãos responsáveis pela fiscalização do ensino público, portanto, porta-vozes do Governo para a efetiva implementação dos Regulamentos que instituíam as normas quanto ao ingresso e trabalho dos professores. Por outro lado, a Escola Normal era regida pelos mesmos órgãos e a despeito da intermitência das políticas para formação de professores no período, cumpria – sobretudo na segunda metade do XIX – papel fundamental, porque formava os normalistas visando a uma disciplina de trabalho requerida e acompanhada pelas instituições supracitadas. A análise do ordenamento jurídico permite verificar ações do Estado, já os usos costumeiros, nos moldes da análise de E. Thompson quanto ao fato de que o direito consuetudinário deriva dos costumes, possibilita inferir efeitos desse sobre a constituição das legislações. É nesse sentido que acompanhar a trajetória de professores permite o cotejamento entre o instituído e o vivido na instrução. Por meio da metodologia indiciária e nominativa (micro-história) nas análises das fontes sobre os sujeitos (inventários, batismo, processos, correspondências) e o entrecruzamento com as Leis, Regulamentos e Relatórios da Instrução é possível identificar atuações de professores fora do magistério e suas trajetórias revelam oposição entre o prescrito e o praticado. Os professores condensavam e recriavam os programas escolares, atuavam em outras atividades, faziam horários convenientes à realidade da aula. A duplicidade de atividades – usualmente o magistério e um ofício ou atividade urbana/rural – resultava na existência de um único turno de aula. A instituição do turno único para as aulas em regiões mais afastadas da capital elucida essas negociações e demonstra que tais reformas 291 acatam as práticas costumeiras, com intuito, dentre outras coisas, de efetuar o controle. A disciplinarização através do estabelecimento das normas e fiscalização do trabalho dos professores não ocorreu em mão única. As táticas e as atividades costumeiras iam moldando, reconstruindo e resistindo a esse processo.

Trajetórias de vidas que se cruzam pelos currículos da História Ensinada - Maria Helena Cavalcanti Virgulino (IFRN)

Como professora da Educação Básica, nosso objetivo nesse texto é a discussão dos Referenciais do Ensino Médio da Paraíba (RCEM-PB/2007), constituindo-se no caso de História como uma proposta com avanços no seu programa de ensino, já que pela primeira vez rompia com a estrutura cronológica dos programas até então em volga, programas esses seguidos pela maioria dos professores(as) através do livro didático na maior parte do país, como ainda é muito comum, restringindo às discussões em sala de aula, limitando a criatividade dos docentes e discentes. A partir da proposta dos Referencias, foi elaborado um programa para o Processo Seletivo Seriado (PSS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), forma de ingresso nessa Universidade entre os anos de 1999-2014, que orientou o estudo de História para o vestibubar. Na elaboração dos Referenciais as professoras-autoras, Rosa Maria Godoy Silveira e Maria Luciana Calissi, partiram de uma reflexão sobre os objetivos do ensino médio, sendo essa uma discussão importante no sentido de construir uma proposta para o ensino de História nessa fase. O objetivo da proposta formulada foi o de facilitar uma compreensão mais abrangente de problemáticas sociais marcantes de cada momento histórico, procurando auxiliar ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------professores(as) e alunos(as) na tomada de posição frente a essas situações, levando também à sugestão de conteúdos (repertório de experiências históricas) que possibilitassem o desenvolvimento dos Eixos Temáticos propostos. Na época da implantação desse programa em uma das escolas em que trabalhávamos, ficamos encarregada das discussões referentes ao 3º ano do programa, correspondente ao eixo temático; “Diversidade Cultural”. Trazer essa discussão para o âmbito escolar e, mais especificamente, para o espaço da sala de aula, ao nosso ver, teve como implicações o enfrentamento de preconceitos, muitas vezes, vistos na escola como coisas banais, brincadeiras de adolescentes, o que faz com que em muitas circunstâncias esse tipo de comportamento termine sendo naturalizado e aceito pela maioria dos alunos(as) e dos professores(as). Precisamos de mais propostas como essa para a educação e para o ensino, precisamos de curriculos dinâmicos, flexiveis, atenado as questões da contemporaneidade, da vida em movimento, da História processo, que criem estratégias de enfrentamento aos desafios que a atual conjuntura impõem.

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293 ST 26. História da Educação: fronteiras entre o local, o regional, o nacional e o global

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A circulação dos conhecimentos científicos e a Maison Deyrolle no Brasil: história natural para os jovens - Elisangela Goulart Moreira (UNIRIO), Kaori Kodama (Casa de Oswaldo Cruz-FIOCRUZ)

A cultura das ciências sofreu mudanças profundas em diversas partes do mundo a partir da segunda metade do século XIX, em grande parte através das reformas do ensino. Um dos elementos que se destaca nesse processo é o método de ensino de ciências chamado de ‘objectteaching’, ou método do ensino intuitivo. No Brasil, este método esteve presente nas propostas na reforma de 1879 de Leôncio de Carvalho, e foi defendido por Rui Barbosa em seu “Parecer” de 1883, e, em sua tradução do livro popular de Norman Calkins, o Primaryobjectlessons de 1886, sob o título Lições de Coisas. A cultura dos museus e os materiais específicos que fomentaram um mercado voltado para os produtos de História Natural foram em boa parte o suporte para a ênfase no ensino científico calcado no método da “lição de coisas”. Esta apresentação tem por objetivo esboçar um mapeamento da circulação desses materiais de ensino de História Natural produzidos pela Maison Deyrollede Paris no Brasil a partir da década de 1880, além de iniciar uma investigação acerca das possíveis redes transnacionais de comercialização de objetos escolares que contribuíram para a aproximação das ciências a um público de massas. A circulação desses materiais nos remete à reflexão das maneiras como a mediação de uma nova cultura científica se implementava em diferentes contextos nacionais, nesse caso particular, no Brasil.Os materiais em questão podem ser encontrados sob o abrigo de diferentes instituições no Brasil, 294 especialmente nos estados do Sul e do Sudeste, sendo alguns ainda utilizados em aulas tanto para o Ensino Básico como para o Ensino Superior, ou mesmo como acervo de museus, sejam eles escolares ou não.

A Educação Feminina no Discurso Político da Medicina (1838- 1913). - Washington Dener dos Santos Cunha (UERJ)

Várias teses no decorrer do século XIX e início do século XX apontaram a “missão sagrada da mulher”: a sua vocação natural para a procriação e para a guarda do lar e da família. Tal discurso tinha como base a questão moral que procurava, através do discurso médico, moldar uma educação feminina de acordo com os países “civilizados”, pretendendo fundar um novo modelo normativo de feminilidade e, também, a instauração de um novo imaginário da família, ambos voltados para a intimidade do lar. O discurso médico vai ser o responsável pela condução da mulher burguesa à vida doméstica, utilizando-se da exaltação ao instinto natural e ao sentimento de responsabilidade. Por outro lado, vamos ter uma certa resistência feminina, que vai se dar através da não amamentação, da prática do aborto, da contestação do papel de “boa filha/esposa/mãe/dona-de-casa”. A partir da leitura das teses médicas sobre aleitamento materno, pretendemos identificar as várias estratégias médicas para implementar um modelo de educação feminina, capaz de romper e moldar a mulher entre o século XIX e início do século XX.

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A educação nas cartas: um estudo sobre a escrita autobiográfica das princesas - Jaqueline Vieira de Aguiar (UERJ)

Cartas e bilhetes esquecidos em gavetas de arquivos e silenciados pelo tempo têm aguçado cada vez mais o interesse de pesquisadores que privilegiam a escrita autobiográfica como fonte histórica. O presente artigo tem por objetivo apresentar a metodologia aplicada com as “escritas de si”, presente em cartas e bilhetes das princesas Isabel e Leopoldina referente ao período em que foram instruídas sob a orientação do pai, D. Pedro II, para que no futuro tivessem condições de assumir o Trono do Brasil. Além disso, é demonstrada a importância da parceria entre o historiador e o arquivista durante o processo de busca e investigação dos documentos históricos. Trata-se de pesquisa histórico-documental e tem como principal fonte as cartas e bilhetes das princesas Isabel e Leopoldina, oriundos do Arquivo Grão Pará, pertencente aos descendentes da família imperial do Brasil, cujos escritos possuem viés educativo e são testemunhos do vivido por suas autoras durante a infância e adolescência. O texto dialoga com autores que trabalham o processo de se “Fazer História” e a “Operação Historiográfica”. E ainda, obras que abordam métodos e técnicas aplicadas na análise de cartas e documentos autobiográficos. Ao término do trabalho foi possível concluir a relevância da parceria entre historiador e arquivista no trato com o acervo, pois enquanto o primeiro organiza e apresenta os documentos para a escrita da História, o segundo realiza a análise crítica fundamental para a (re)construção da narrativa histórica. Nessa perspectiva, os documentos autobiográficos mostraram-se fundamentais 295 para a recomposição histórica das personagens retratadas ao ampliar o olhar do historiador sobre um mesmo acontecimento e tempo, como a educação das princesas Isabel e Leopoldina ocorrida durante a regência política do segundo Imperador do Brasil.

A Escolarização em Itaboraí – RJ no Período Imperial (1840 – 1888) - Regina Coeli Alcantara Silva (Universidade Federal Fluminense)

Este estudo analisa o processo de ampliação e estabelecimento da escolarização, referente ao ensino público primário, em Itaboraí – RJ, no período do Império. A periodização adotada tem como objetivo analisar como a rede estava se constituindo e como a mesma se desenvolveu. Buscou-se reconstruir o percurso de constituição das escolas públicas primárias e de instituição do ensino sistemático e graduado na cidade. Podendo descortinar como aconteceu esse desenvolvimento, os motivos que levaram ao aumento quantitativo de escolas e como estava sendo engendrado uma possível rede de instrução na localidade. É somente nos dois últimos séculos que se processa uma “radical mudança em nossa sociedade” partimos de uma sociedade sem escolas para uma quase totalidade da escolarização (FARIA FILHO, 2003, p. 79). A natureza desta pesquisa é histórica de base documental, pelo viés da micro-história e acompanhada de um levantamento estatístico. A micro-história será utilizada como um recurso metodológico que ajudará na distinção das complexidades sociais que estudos mais gerais comumente ignoram. Sendo utilizada reduzindo a escala de observação e fazendo uso de “um estudo intensivo do material documental” tomando o particular como ponto de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------partida “identificando seu significado à luz de seu próprio contexto” (LEVI, 1992: pp. 136-154). Para reconstituir esse processo de escolarização é realizado um diálogo entre as seguintes fontes: os Relatórios de Presidentes de Província; censos do IBGE; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro; e artigos de jornal, como “O Popular”, que estão na Hemeroteca. Os primeiros resultados com a pesquisa foram: ter a possibilidade de tornar inteligíveis questões sobre a escolarização no município que até então estavam retidas nos arquivos e mostrar como estava, possivelmente, se delineando a constituição de uma rede de escolas naquele município.

As reformas pombalinas dos estudos no ultramar: convivialidade, educação e cultura material em Minas Gerais (séculos XVIII e XIX) - Luciane Cristina Scarato (MeciLA - Cebrap - Universität zu Köln)

Qual era o mapa do ensino básico em Minas colonial? Como era a sua distribuição ao longo da rede urbana da capitania? A presente comunicação analisa as reformas pombalinas dos estudos sob uma perspectiva transatlântica que conecta o local e o global. As reformas modificaram, de modo heterogêneo, as estruturas educacionais em Portugal e seus territórios ultramarinos. O ponto latino-americano dessa trama atlântica são as Minas Gerais durante os séculos dezoito e dezenove. As “geraes” tornaram-se o centro do Império português após a descoberta de metais preciosos, atraindo um número significativo de imigrantes. Nesse cenário, a instrução básica era um dos meios mais eficazes de ascensão social e, ocasionalmente, de 296 renegociação das regras excludentes de pureza de sangue. Esta pesquisa busca nas fontes primárias, principalmente nos inventários post-mortem de professores, traços de um cotidiano escolar que revele os modos de convivialidade entre mestres, alunos e seus familiares. Convivialidade, de modo geral, refere-se à dinâmicas, práticas e representações do “viver junto” em um determinado contexto histórico. Assim, convivialidade, enquanto conceito analítico, nos permite compreender melhor como diversos atores partilhavam um mesmo espaço, ora renegociando, ora subvertendo, através de redes de solidariedade e conflito, as normas sociais vigentes. A cultura material nos permite apreender a convivialidade engendrada pelas reformas pombalinas do ensino em Minas Gerais e será analisada em três aspectos. Em primeiro lugar, a materialidade em si: a presença de bancos, tinteiros e estantes de livros, por exemplo, nos permite reconstruir a infraestrutura escolar colonial. Em seguida, serão analisados os livros inventariados. O exame das bibliotecas pessoais dos professores elucida possíveis conteúdos administrados nas salas de aula, bem como as teorias pedagógicas vigentes na época. Além disso, uma comparação entre os livros listados e a bibliografia recomendada pelas reformas nos permite avaliar até que ponto os professores mineiros aderiram às reformas no que tange ao material didático. Finalmente, a materialidade da convivialidade escolar possibilita a reconstrução dos laços entre professores e alunos, tanto por meio do empréstimo de livros, quanto do rol de credores e devedores. Ao final da apresentação, espera-se ter contribuído com o debate sobre a história da educação no Brasil, cultura material, convivialidade e urbanidade.

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Fotografias da educação norte-americana: instituições e segmentos sociais na cultura visual da revista Life (décadas de 1930/1940) - Cláudio de Sá Machado Jr. (Universidade Federal do Paraná)

Esta comunicação tem por intenção apresentar os resultados parciais de pesquisa de pós-doutoramento, tendo como objeto de estudo as fotografias de estudantes, de professores e de instituições de ensino norte-americanas publicadas nas páginas da revista Life. Editada na cidade de Chicago, a revista Life destacou-se internacionalmente no âmbito da produção fotojornalística, tendo Henry Luce como fundador do empreendimento, em 1936, no período que marca a sua segunda fase de circulação. No âmbito político, as décadas de 1930/1940 marcaram não somente a reestruturação da economia norte-americana, mas também a ascensão dos estados fascistas na Europa e as políticas do Governo Vargas no Brasil. No âmbito da história da educação, desenvolvem-se nos Estados Unidos os pressupostos da denominada educação nova, de caráter pragmático, experimental e em constante diálogo com modelos de escolas europeias. Dentre as diversas temáticas presentes nas fotografias da revista Life, a educação pode ser entendida por sua especificidade através da visibilidade de estudantes, de professores e de edificações e espaços escolares. Partindo dos pressupostos teóricos da pluralidade característica das culturas escolares e dos condicionamentos da cultura a partir da experiência fotográfica, exercendo um papel duplo como vestígio de uma ilusão de realidade e de referência, busca-se, para além de verificar as características estéticas das fotografias, uma reflexão sobre seu papel como produto sensível de 297 cultura visual, da política pública ao entretenimento, da cotidianidade à exceção. O estudo das fotografias da educação norte-americana na revista Life soma-se às pesquisas realizadas em outras revistas da época, buscando aproximações e distanciamentos nas formas de representação das práticas escolares e das características estéticas perceptíveis, numa relação metonímica da contemporaneidade em relação ao seu passado.

Inventariando o arquivo do grupo escolar Getúlio Vargas: possibilidades de pesquisa - Velsa de Fátima Donato Teixeira Ferreira (UNEB)

Essa comunicação visa apresentar o projeto de catalogação do arquivo do Grupo Escolar Getúlio Vargas - Guanambi/BA como fonte de pesquisa,sob a orientação da professora Antonieta Miguel. O projeto considera as seguintes etapas: levantamento do material existentes no arquivo, catalogação das fontes, considerando sua tipologia, fotografia dos documentos escolares e tratamento adequado para impressão, e por fim, apresentação do patrimônio educativo encontrado na escola e suas possibilidades de pesquisa. A catalogação do arquivo permitirá a conservação das fontes escolares, no intuito de manter o patrimônio cultural e histórico do Grupo Escolar Getúlio Vargas, situado em Guanambi, interior da Bahia, sendo ela criada inicialmente com o nome Escolas Reunidas Getúlio Vargas. Esse projeto de catalogação de fontes primárias do Grupo Escolar Getúlio Vargas é um desdobramento do Projeto Missões de Pesquisa: levantamento e catalogação de fontes sobre a História da Educação da Universidade do Estado da Bahia, DCH- Campus VI, do Núcleo de Pesquisa sobre História Social e Prática ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de Ensino (NHIPE) e do Laboratório de Pesquisa em Didática da História (LAPEDHI) que já realizou outras ações em municípios circunvizinhos. Toda essa ação possibilitará novas pesquisas no campo da História da Educação e da História, já que a partir da nova historiografia, a História Cultural, houve a valorização do sujeito, como sugere Aróstegui (2006), e a busca de novos fundamentos para a interpretação da sociedade. Com essas mudanças significativas podemos eleger novas fontes e novos objetos possibilitando novas abordagens de pesquisa, dentre elas a história da educação. Como primeiros resultados percebemos que os documentos históricos educativos encontrados na escola, em sua maioria, pápeis de função burocrática, envoca o ofício dos grupos escolares, com a finalidade de trasmitir valores e civilização para a massa e propagar os governos republicanos. A abordagem historiografica permitirá entender informações do cotidiano escolar da referida instituição e a catalogação das fontes do arquivo possibilitará novas pesquisas no âmbito da História da Educação ou História, permintindo ainda a conservação e divulgação dessas fontes.

Lenz, a comédia da educação privada e a miséria do professor - Cauê Cardoso Polla (Universidade de São Paulo)

O cenário, Alemanha século XVIII, a protagonista, a educação, o coadjuvante, o preceptor. Assim a peça de Jakob Michael Reinhold Lenz encena a comédia da educação privada, retratando os males alemães – e por que não dizer, universais – de que padeciam os preceptores domésticos no século XVIII. Nomes de não pouca 298 monta como os de Kant, Hegel e Schelling, para nos limitarmos ao âmbito germânico, foram preceptores em casas burguesas e nobres. É certo que a figura do preceptor participa do campo semântico daquela do tutor (de notável caráter botânico) e também do gouverneur do Émile, cada qual recebendo suas nuances, tal como o Hofmeister de Lenz. Sem entrar em uma possível tipologia dos tipos ensinantes, bem como das questões de identidade docente que permeiam as nomenclaturas, pode-se tomar a peça O preceptor ou vantagens da educação particular (uma comédia), como um discurso acerca da prática docente, historicamente considerada. Mas o que nos diz, afinal Lenz? Em sua peça, o personagem do preceptor, Läufer, é retratado como um doméstico subalterno – não era o pedagogo grego também um escravo? – que deve preparar os filhos de um casal da alta burguesia, ensinando-lhes o necessário para estarem em sociedade. O major deseja que sua filha, declarada preferida, seja uma fina flor; o filho, que siga carreira militar. Para tal, contrata um preceptor, muito criticado por seu irmão, um conselheiro titular (cargo de alta hierarquia). Encena-se um diálogo opondo educação doméstica (privada) contra educação escolar (pública), ressaltando-se os malefícios daquela e as agruras desta. Durante a peça, as peripécias dos personagens ilustram a vida burguesa e pequeno-burguesa numa Alemanha do XVIII, trazendo à tona o papel e o lugar da educação na compreensão dos personagens, por vezes com imagens estereotipadas – nos personagens dos estudantes universitários, por exemplo – mas sempre muito pungentes. A potência da obra de Lenz é tal que Brecht, no século XX, reescreverá a peça, mostrando a atualidade do questionamento. Pretendemos, com a leitura desta peça, propor um questionamento acerca da figura emblemática do preceptor no seu poder ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------fomentador de uma reflexão sobre a diatribe educação doméstica versus educação pública, tema que vem ganhando cada vez mais relevância no cenário educativo atual.

O conhecimento escolar pelo ritmo do livro didático - Carlota Boto (Faculdade de Educação da USP)

O uso do livro didático, na fronteira entre meados do século XIX e princípio do século XX, apresentava peculiaridades. A proposta do livro didático, antes de tudo, é a de abarcar todos os alunos como se eles fossem, reunidos, um só. O método da exposição, da lição magistral com que o mestre apresenta o conhecimento, estrutura uma forma de agir que supõe indistintos entre os alunos, os padrões e os ritmos de aprendizagem. O moderno modelo de escola,, que tomará o livro didático como instrumento fundamental, terá a unidade da estrutura da aula como pilar fundador dos princípios de gradação de conteúdos e materiais que regularão o aprendizado. Nesse sentido, serão analisados textos de cartilhas e de livros de primeira leitura de variados autores portugueses e brasileiros, de meados do século XIX ao princípio do século XX. A análise dos textos será pautada pela reconstitução de conteúdos didáticos, pedagógicos, relativos aos níveis de alfabetização. Mas procuraremos identificar também alguns componentes ideológicos que dizem respeito à configuração de uma certa imagem de criança, de comportamento, de família e de padrões de civilidade. A escola primária tinha por princípio o ensino de saberes e de valores. Para tanto ela forma conteúdos, mas 299 também comportamentos. Os autores de livros com os quais trabalharemos serão basicamente J. I. Roquet, E. A. Monteverde, João de Deus, Antonio Feliciano de Castilho Barreto e Noronha, Felisberto de Carvalho, Ulysses Machado, Thomaz Galhardo e Duarte Ventura. Cada uma das obras analisadas possui similitudes com as outras, mas possui também particularidades que fazem com que se constitua sua singularidade frente às demais. O referencial teórico da abordagem dos textos nos é dado pelas obras de Circe Bittencourt e Kazumi Munakata, além de Roger Chartier e Anne-Marie Chartier.

O educador do século XVII, Jan Amos Comenius e a sua contribuição para uma educação para todos.. - Renata Augusta Ré Bollis (UNICID)

O educador Jan Amos Comenius foi um dos importantes pensadores que ajudaram a pensar em uma educação para todos. Opondo-se a práticas educacionais presentes em seu tempo, mas seguindo o pensamento metódico da ciência moderna, propôs uma Didática que tinha por objetivo central formar o bom cristão, ter fé verdadeira em Deus, praticar ações virtuosas e preparar-se para uma outra vida, estendendo esse objetivo a todos: os pobres, ricos, deficientes e mulheres. Almejamos abarcar o desenvolvimento de alguns conceitos comenianos ao longo do amadurecimento de seu pensamento. Na análise das obras comenianas, é possível perceber que alguns temas e conceitos receberam um novo tratamento em seus textos mais maduros. Aqui, apresentaremos o desenvolvimento do significado da noção de “todos” nas obras comenianas. O educador tcheco viveu entre os séculos XVI e XVII, um período de transição entre o medievo e a modernidade. Buscamos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------apresentar Comenius como um homem de seu tempo, que, por isso, forja um pensamento fortemente impregnado de religiosidade, como também fundado no ideário da nova ciência moderna e já ocupado com a valorização da infância e da família. Procuramos também indicar de que modo alguns acontecimentos da vida pessoal de Comenius influenciaram, em alguma medida, o desenvolvimento do seu pensamento. Ao final, esperamos, ainda, ter esclarecido que Comenius ainda que não almejasse a educação para todos no sentido de ascensão social no sentido capitalista, ou ainda que tivesse cunho religioso a sua luta, ele buscava por uma educação para todos, porque assim pretendia. Esta comunicação trará, portanto, à luz, as especificidades da visão trazida por Comenius, em diálogo com João Luiz Gasparin, Maria Lúcia Spedo Hilsdorf e Frances Yates. Nossa leitura das obras de Comenius traduzidas para o português foram feitas nas reflexões metodológicas do historiador Carlo Ginzburg. E, para isso, foram analisadas algumas obras dele (Queijo e os Vermes e O fio e os rastros), tomadas como fonte e tratadas segundo o paradigma indiciário (Ginzburg, 1976; 2001).

Parcerias imperiais: as relações construídas para a formação educacional de D. Pedro II, o jovem monarca - Gilmara Rodrigues da Cunha Pereira (UERJ)

A proposta do presente trabalho é estudar a importância de Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho, Condessa de Belmonte, na formação educacional de D. Pedro II, o futuro soberano do Brasil. Além disso, pretende-se compreender a parceria firmada entre a referida Senhora e D. Pedro I, pai do pequeno Imperador, 300 visando alcançar o objetivo proposto. D. Mariana, mulher de muitas virtudes e admirada por D. Pedro I, chegou ao Brasil em 1808, com sua família e, em pouco tempo ficou viúva, após o falecimento repentino do marido. O Imperador D. Pedro I percebia nessa mulher qualidades que a diferenciavam das outras damas da Corte e, por isso, convidou-a para morar na Quinta da Boa Vista e ser aia do príncipe herdeiro, que nasceria dentro de um mês. Após um ano exercendo suas funções, desde o nascimento, assumiu o papel de segunda mãe, devido ao falecimento precoce de D. Leopoldina, deixando-o órfão, e viveu ao seu lado até o casamento. Nesse contexto, passou a ser responsável pela transmissão de uma educação moral necessária para quem seria, no futuro, o sucessor no trono brasileiro. Para análise da trajetória da Condessa de Belmonte junto ao príncipe D. Pedro II, serão utilizados acervos localizados no Rio de Janeiro e em Petrópolis, entre eles documentos inéditos pertencentes ao arquivo pessoal de um descendente de D. Mariana, além de cartas pesquisadas no Museu Imperial e na Biblioteca Nacional. A revisão bibliográfica sobre o tema propõe um diálogo com as obras de Lyra (1977) e Schwarcz (2003), visando conhecer aspectos da vida de D. Mariana e sua relevância para a formação educacional de D. Pedro II, porque ambos os autores tratam da biografia do Imperador. O referencial utilizado como aporte teórico será a obra de Vasconcelos (2005), para compreender a educação das elites oitocentistas no Brasil e Gomes (2004) para contribuir com a análise e interpretação das cartas selecionadas. Para análise histórico-documental utiliza-se como fontes as cartas trocadas entre D. Pedro I e a Condessa de Belmonte e documentos do acervo pessoal do descendente da D. Mariana. Conclui-se que a Condessa de Belmonte fazia questão de manter o pai do jovem monarca a par do crescimento e ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------desenvolvimento dos estudos do seu filho, o que fazia por meio de cartas. A parceria firmada entre a Condessa de Belmonte e D. Pedro I foi fundamental para a formação educacional de D. Pedro II, pois nota-se a dedicação da preceptora, como por exemplo, na preparação do livro denominado “Introdução do Pequeno Catecismo Histórico”, com a finalidade exclusiva de “tomar as lições” do príncipe, cujo original, ainda não estudado, encontra-se em poder do seu descendente, e será analisado, como fonte, neste estudo.

Primitivo Moacyr a caminho da Europa: a Rússia como destino - Guaraci Fernandes (PROPED/UERJ)

Este autor é bem conhecido como um dispensário das leis e debates ocorridos no parlamento brasileiro, lugar de onde operou por mais de 30 anos. Seu modo de escrita dos acontecimentos da História da Educação no Brasil abrange desde a instrução no Império à instrução na República até 1930, não sem antes pincelar sobre a educação jesuítica. Apresenta os acontecimentos em ordem cronológica, utilizando-se de classificação por províncias, ou por reformas e códigos. Lançou seu primeiro livro em 1916 e os últimos no ano de sua morte (1942), totalizando 16 volumes. Tem sido considerado um sujeito partidário do governo brasileiro, esfera política na qual trabalhou e organizou a série dos Documentos Parlamentares. Entretanto, em contato direto com familiares se pode perceber traços distintos dos até então apresentados, e entre estes o de sua viagem à Rússia em 1926 com a clara intenção de avaliar as mudanças ocorridas com a revolução 301 bolchevistas. Tal viagem se tornou foco de 2 grandes reportagens em jornais de sua época e que serão apresentadas nesta ocasião. Seu modo de compreender as mudanças operadas naquele país são surpreendentes se considerarmos o seu locus e também a compreensão de latinidade que o Brasil se inscrevia, ou seja, não pertencente à chamada América Latina e sim mais próximo dos americanos do Norte. Enfim, uma nova perspectiva se apresenta como revolucionária para este sujeito que passa a se tornar polemico a partir dessa descoberta.

Yeshivá Colegial Machané Israel: Novas narrativas de uma longa história - Vanessa dos Santos Novais (PROPED)

Em tempos de contemporaneidade porosos e líquidos, quem se atreveria a guardar tradições milenares? Quais jovens buscariam tecer em suas vidas a de seus antepassados, buscando, dessa forma, encontrar-se ao que é seu? O artigo proposto estende o olhar e análise para uma pequena comunidade escolar chassídica, localizada na cidade de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. A pesquisa é composta por uma investigação qualitativa, de cunho etnográfico e apoia-se na análise dos discursos presentes nas observações realizadas in loco. Busca-se compreender as tessituras que permeiam uma vida em comunidade. A observação, quando utilizada com o devido rigor, constitui-se importante ferramenta metodológica, capaz de traduzir sons e silêncios, assim como valores polifônicos de pertença, aos quais jovens perpetuam sua cultura e fé. O referencial teórico encontra-se fundamentado em Martin Buber, para o qual, a relação dialógica é ato imprescindível à vida. Os resultados prévios apontam para uma nova geração que, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------ao encontrar-se com conhecimentos e virtudes milenares, ressignificam suas identidades e fé.

“O Ensino de História da África no Brasil: possibilidades e experiências” - Marcela Moraes Gomes (Colégio Pedro II)

A partir da trajetória enquanto discente da especialização em ensino de História da África no Programa de Pós Graduação do Colégio Pedro II pretende-se no presente trabalho discorrer sobre propostas de atividades curriculares para disciplina de História na educação básica a fim de incluir as demandas da lei 10.639/03. Tendo em vista os debates curriculares que permearam o curso e as possibilidades de atividades para articular a conexão entre Brasil e África, sobretudo no combate ao racismo e estereótipos, pretende-se compartilhar de que forma as atividades planejadas foram aplicadas na prática da sala de aula. Ao percorrer por temas como a presença das mulheres negras no processo abolicionista, a resistência escrava pela capoeira, o debate acerca das ações afirmativas, os processos de libertação na África e a atuação da Frente Negra Brasileira durante a era Vargas, pretende-se expor como a partir de tais temáticas é possível não só atender a lei 10.639/03, mas também articular as dinâmicas culturais entre Brasil e África e o campo da História com a Educação.

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303 ST 27. História Pública e Educação: saberes compartilhados

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A Pequena África como patrimônio histórico cultural: uma reflexão sobre a história do Cais do Valongo. - Jessica Silva Tinoco Gimenez (CEFET -RJ)

Este trabalho busca abordar o processo de patrimonialização da região portuária do Cais do Valongo pela Unesco e sua relação com a educação anti-racista. O Cais do Valongo fica localizado na região denominada Pequena África que também é conhecida como Circuito Histórico Arqueológico de Celebração da herança africana no qual o objetivo principal desta pesquisa é tratar sobre essa região como um local de representatividade e identidade histórica e cultural, além de caracterizar a luta, a força e a voz no resgate da memória dos afrodescendentes brasileiros. Os objetivos a serem alcançados nesse trabalho são: abordar o reconhecimento e redescoberta da Pequena África como espaço urbano e turístico que necessita ser preservado; identificar esses espaços da Pequena África, dando prioridade ao Cais do Valongo; analisar o espaço como resgate da memória e da identidade afro-brasileira, assim como o reconhecimento como patrimônio da humanidade pelo IPHAN e internacionalmente pela UNESCO/ONU; demonstrar que esses espaços caracterizam a luta diária no combate ao racismo e a busca pelos direitos e representatividade. A instituição relevante que será base para a elaboração deste trabalho é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) foi um órgão institucional criado, em 1937, para cuidar da preservação e conservação do patrimônio cultural brasileiro. Assim, a candidatura da região do Cais do Valongo, pelo IPHAN, como Patrimônio da Humanidade aceita pela UNESCO, órgão das Nações Unidas (ONU) nos remete aos diálogos sobre como 304 a relevância da memória e da identidade afro-brasileira buscam a preservação da cultura presente na região da Pequena África por meio da patrimonialização da região tendo um contexto histórico de herança africana na cidade do Rio de Janeiro.

As perspectivas econômicas, territoriais e étnico-raciais através da proposta do Turismo de Experiência na Região do Vale do Café - Uma análise sobre o município de Vassouras - Carolina Mara Teixeira (UFRRJ)

O presente artigo visa abordar um estudo aprofundado sobre o projeto Tour da Experiência Caminhos do Brasil Imperial na região turística Vale do Café, especificamente no município de Vassouras, no estado do Rio de Janeiro. A partir deste projeto pretende-se analisar qual experiência turística está sendo promovida, em relação ao contexto étnico-racial nas fazendas do município. A metodologia que será utilizada para a construção deste trabalho está baseada em uma pesquisa bibliográfica e análise de fontes secundárias. O objetivo central desta pesquisa visa contextualizar um possível processo de espetacularização e desvalorização do negro em determinadas fazendas históricas de Vassouras a partir da criação do Projeto Tour da Experiência, sendo este um produto fruto do sistema capitalista que apropria-se de aspectos históricos como a abordagem e memória do período da escravidão.

Como trabalhar com rigor histórico nas aulas do ensino básico? - Verena Alberti (Uerj) ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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É sabido que historiadores e historiadoras não podemos afirmar qualquer coisa sobre o passado. Nas salas de aula da escola básica tampouco. Professores e professoras de história precisam ter um forte compromisso com o rigor histórico. Nossos alunos e nossas alunas fazem parte, evidentemente, da sociedade e integram diferentes grupos, dentro e fora do espaço escolar. Estão, portanto, sujeitos e sujeitas a diferentes ideias sobre o passado e sobre a disciplina história, as quais são veiculadas das mais diferentes maneiras – nas redes sociais, nas mídias, nas famílias, nas obras de arte, na literatura... Algumas vezes pressupomos que ideias são essas; outras, nem cogitamos quais seriam. E muitas vezes cogitamos que foram influenciados por determinada história, imagem ou outro recurso, do qual, contudo, nem sequer tomaram conhecimento. Entre os princípios da aprendizagem está o de partir das ideias que os estudantes trazem para a sala de aula. Não saberemos como agir para ampliar seu conhecimento sobre o passado se não soubermos o que já sabem ou já acham que sabem. Em muitos casos, o que já sabem ou acham que sabem faz parte de um conhecimento difuso sobre o que aconteceu e sobre o que é história. Como a narrativa sobre o passado não é e não pode ser monopólio de historiadores e historiadoras, na sala de aula se evidenciam as expectativas e as tensões decorrentes do encontro entre o conhecimento histórico do professor ou da professora e aquele atualizado em diferentes grupos dos quais os estudantes fazem parte. O presente trabalho tem como objetivo discutir essas questões à luz de experiências com estudantes do ensino básico e com a formação de professores e professoras no ensino superior. 305

História e cinema: apontamentos de uma pesquisa para um roteiro de ficção - Vitoria A. Fonseca (Secretaria Estado da Educação)

A partir das reflexões desenvolvidas em tese de doutorado sobre os processos de pesquisa para elaboração de roteiros originais, e considerando as potencialidades educacionais de um filme de ficção, a proposta aqui é apresentar considerações sobre uma pesquisa para um roteiro de ficção que envolve o povo indígena Bororo, atualmente ocupando territórios do estado do Mato Grosso. O processo de pesquisa, considerando a especificidade daquela voltada para construção de obras cinematográfica, pode ser dividida em, basicamente, quatro tipos: pesquisa como levantamento de dados e informações, pesquisa para construção de estrutura narrativa, pesquisa para construção dramatúrgica e pesquisa para construção de argumentos.Desta forma, a partir de reflexões sobre a especificidade da pesquisa histórica para cinema, debates em torno das relações entre história e ficção, foi proposta uma abordagem específica para assessoria de pesquisa de maneira que pudesse embasar a roteirização. A proposta, assim, foi enfocar a pesquisa para construção narrativa e dramatúrgica, bem como pesquisa de levantamento de informações pontuais sobre espaços, formas de vida e situações cotidianas. Ao valorizar informações referenciadas na experiência social, em pesquisas desenvolvidas por outros pesquisadores, em abordagens e debates sobre a temática do filme, podemos construir referenciais que possibilitem experiências de recepção do filme que levem à “leituras documentarizantes”, conforme a definição de Roger Odin, apesar de se tratar de uma obra ficcional. Ou seja, o expectador, ao identificar ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------no filme referências à sua própria experiência social, a história narrada na tela passa a ser lida de maneira documentarizante e não ficcionalizante (na qual o expectador observa o enredo como parte de um mundo que não é o seu próprio). O roteiro foi desenvolvido a partir de um diálogo constante e verossímil para a construção da estrutura narrativa e dos conflitos dramáticos. A pesquisa histórica, a partir de estudos acadêmicos e audiovisuais, entrevistas e artigos de jornais, colabora na construção de uma dramaturgia mais rica e coerente. O elemento chave, mas não o único, do processo de pesquisa está relacionado ao processo histórico de configuração dos espaços da etnia Bororo, sua cosmologia, a concepção de feminino e masculino, a relação entre vida e morte, laços familiares e, acima de tudo, a riqueza estética e existencial do funeral bororo. O estreitamento da relação entre cinema e história, enfocando também a potencialidade dos audiovisuais nos processos de ensino e aprendizagem, começa, no nosso entendimento, na construção do roteiro cinematográfico e a relação estabelecida com a produção do conhecimento sobre o assunto abordado.

História Pública e Direitos Humanos: experiências a partir de discussões virtuais - João Carlos Escosteguy Filho (IFRJ)

Esta comunicação busca apresentar algumas considerações sobre pesquisa em desenvolvimento no campus Pinheiral do IFRJ. A pesquisa objetiva articular a temática dos Direitos Humanos às discussões sobre o desenvolvimento de uma Educação Histórica a partir das concepções de Jörn Rusen (2001), isto é, de um 306 Ensino de História que privilegie uma conexão entre a reflexão epistemológica acerca dos fundamentos da disciplina ao uso da História para a vida humana prática. A partir dessa concepção inicial, procuramos analisar algumas das várias formas pelas quais diferentes abordagens históricas e conceituais sobre os Direitos Humanos ganham vida nas redes sociais, analisando-as à luz das discussões acerca do papel da História Pública na produção contemporânea de sentidos para o passado. Educação Histórica, História Pública e Direitos Humanos articulam-se, assim, na pesquisa ora apresentada. Tencionamos pesquisar os usos feitos dessa expressão e os modos como o passado e o presente são transformados em argumentos em debates e situações de discussão política no Brasil atual, tendo como foco principal os usos em redes sociais. Em outras palavras, nosso objetivo central é partir dos modos pelos quais a expressão "Direitos Humanos" e seus elementos componentes têm sido utilizados nessas discussões virtuais do Facebook, em páginas identificadas como “de esquerda” e “de direita”, para, a partir de uma reconstituição dos Direitos Humanos em sua historicidade, buscar a crítica de fundo histórico a essas compreensões. Entender as formas pelas quais a História é utilizada nessas discussões permite uma reflexão sobre o papel do próprio conhecimento histórico e do Ensino de História nessa dimensão, bem como o papel da História Pública na construção de certos tipos de narrativa. A questão dos usos conceituais e do alcance das contextualizações para abordagem da questão dos direitos humanos também serão ressaltados. Ao final, esperamos que as formas possíveis de tratamento histórico dos Direitos Humanos nessas discussões do presente favoreçam novos olhares sobre o passado, resultando na ampliação dos modos pelos quais a História pode ser ensinada e aprendida – e de que forma pode ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------nos auxiliar na formulação de concepções de mundo que sirvam de orientação prática no presente.

História Pública e Educação: Um projeto extensionista de cinema no museu do Ingá - Rodrigo de Almeida Ferreira (Universidade Federal Fluminense)

A presente comunicação decorre do projeto de extensão “Educação e História Pública: o cinema no museu do Ingá”, realizado em diálogo com as disciplinas de Pesquisa e Práticas Docentes em História e em Cinema, ofertadas nos respectivos cursos de licenciatura da Universidade Federal Fluminense, em parceria com o Museu do Ingá (Niterói/RJ), e voltado aos estudantes do ensino básico da rede estadual. O projeto foi aplicado na cidade de Niterói, entre 2016-17. O objetivo principal do trabalho foi propor uma reflexão referente ao desenvolvimento de práticas didáticas voltadas a educação do conhecimento histórico em espaços não- escolares – neste caso, os museus – que articule saberes interdisciplinares como o cinema, a história e a educação. O desenvolvimento das atividades procurou estabelecer diálogos entre as áreas do cinema-história (Rosenstone, 2008; Ferro, 1992), do audiovisual e da educação (Napolitano, 1995), do ensino de história como mediação didática (Monteiro, 2007), da educação em espaços museológicos (Menezes, 1994; Marandino, 2004) e da história pública (Almeida; Rovai; 2011; Almeida; Mauad; Santhiago; 2016). Nesta comunicação, foi enfatizada a primeira etapa do projeto de extensão, que consistiu em proporcionar aos estudantes do ensino básico o contato com o museu do Ingá de modo que percebessem outras 307 possibilidades de seu uso como espaço cultural, de memória e produtor de conhecimento. Nesses momentos, foram desenvolvidas atividades de exibição fílmica tematizada e comentada. À equipe de licenciandos participantes coube o planejamento temático, cujo eixo foram representações fílmicas da liberdade no Brasil escravista, e metodológico de execução das atividades, sendo posteriormente realizada a reflexão sobre as ações a partir do material gravado pela Unitevê como parte da sua formação docente. Sob essa perspectiva, a pesquisa se desenvolveu no âmbito da história pública não apenas por considerar suportes e narrativas sobre a História para além da produção acadêmica. Mas, por entende-la como uma prática de produção de conhecimento histórico compartilhado, considerando as especificidades de saberes de áreas distintas, em diálogo com a participação ativa de estudantes, cuja mediação didática favorece a circularidade dos saberes históricos (Ferreira, 2014).

História pública, educação socioambiental e oralidade: um projeto de ensino para educação básica em parceria com pescadores artesanais - Ademas Pereira da Costa Junior (UFF), Juniele Rabêlo de Almeida (UFF)

O objetivo da proposta é refletir sobre a construção de um projeto de ensino, para educação básica (fundamental), na interface “educação socioambiental e história oral” – juntamente com pescadores artesanais da comunidade escolar local. A partir desse objetivo é possível discutir formação docente e história pública (autoridade compartilhada e espaços de educação não-formal). A docência em História, ao integrar saberes escolares e comunitários, pode estimular a elaboração de ações ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------educativas relacionadas à formação de professores da área de História que poderão desenvolver (em parceria com os pescadores artesanais) projetos de história oral que promovam espaços dialógicos entre “escolas e comunidades tradicionais” – com a construção de roteiros, gravação de entrevistas e criação de acervos. Sugerimos, para essa proposta, um projeto de história oral com os pescadores de Itaipu - Niterói/RJ, atentando para os conflitos socioambientais dessa região. Buscamos, dessa forma, oportunidade para criação de ações educacionais preocupadas com as dimensões da educação socioambiental (com conteúdos sequenciais: materiais para sensibilização e roteiros de visitação) para a prática docente na educação básica. As reflexões propostas são destinadas para docentes que irão atuar no 6º Ano do Ensino Fundamental. O projeto de ensino poderá ser desenvolvido ao longo do ano letivo – vinculado a disciplina História de modo interdisciplinar. Pensar o ensino-aprendizagem a partir de projetos faz parte das orientações metodológicas da área de História no ensino fundamental – desde os Parâmetros Curricu¬lares Nacionais é abordado o tema transversal “Meio Ambiente”. O projeto de ensino é entendido aqui como um itinerário flexível para elaboração e desenvolvimento dos eixos de ação construídos com a participação direta dos alunos, professores e pescadores artesanais.

História Pública, história “além da academia”. História Pública história “além da escola”? Isso é possível no Brasil? - Bruno Flávio Lontra Fagundes (Universidade Estadual do Paraná - (UNESPAR) - Campus de Cam) 308 O propósito da presente comunicação é o de fazer algumas colocações sobre a definição de História Pública feita por autores nacionais e estrangeiros e pensar até que ponto são úteis para se pensar a realidade brasileira. A comunicação advoga a ideia de que, no Brasil, a História Pública tem encontrado guarida preponderamente no Ensino de História, campo pelo qual têm sido feitas tentativas de definição de História Pública, mesmo que limitando o escopo de apreciação do conceito na realidade de modo bastante diferente do que fazem autores internacionais, principalmente anglo-saxões. Mas, ao mesmo tempo, aquelas tentativas de definição circunscrevem e limitam a definição de História Pública como chave de interpretação que indique encaminhamentos de outras atividades do historiador público para além da escola. Se a História Pública pode ser pensada como “história além da academia”, até onde é possível pensar História Pública como “história além da escola” no Brasil? A comunicação vai explorar o fato de que, talvez, professores estejam trazendo História Pública para dentro da escola sem saber que o estão fazendo.

I Put a Spell on You: Raça, Gênero e Identidade na Autobiografia de Nina Simone - Mariana Cardoso de Araujo (CEFET - RJ)

O trabalho analisa a autobiografia de Nina Simone levando em consideração as representações de si que a cantora produz e os diferentes papeis sociais que assume. Dada a relevância de sua figura e produção musical para as organizações políticas conhecidas como “Civil Rights Movement” e a sua recente retomada às mídias e às discussões feministas e raciais, buscamos neste “palco da memória” os relatos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------que, em múltiplos formatos narrativos, registram as vivências de racismo e misoginia da cantora nas décadas que se sucedem à crise econômica de 1929 tornando-as parte da história púbica estadunidense. A pesquisa parte da discussão da relevância da biografia nas pesquisas em História e Ciências Sociais e nas práticas pedagógicas contemporâneas de escrita e leitura, tendo como pano de fundo os Estudos Culturais e Decoloniais, os fenômenos da crise das identidades e da fragmentação dos sujeitos modernos.

Lutas sociais para a consciência racial como prática de História Pública: Uma inspiração em Mundinha Araújo - Geraldyne Mendonça de Souza (UFF)

Jill Liddington (2011) enfatizou que o entusiasmo por vasculhar memórias e lembranças dominam a sociedade contemporânea, mas, mesmo assim, estas escolhas geralmente ainda passam pelo crivo da colonialidade (evangelização, civilização, modernização, desenvolvimento e globalização). O revisionismo histórico nos mostrou que a extinção do colonialismo não foi capaz de emancipar político e administrativamente os países [periféricos] africanos, há histórias que permanecem silenciadas. Caminhando no sentido dos estudos da decolonialidade, um padrão mundial de poder moderno que permanece em voga mesmo com a descolonização. Implicando um posicionamento contínuo de insurgência e transgressão. Me debrucei sobre a militância de Maria Raymunda Araújo, a Mundinha. Esta maranhense marcou e mudou a forma como seus conterrâneos enxergam e entendem sua racialidade. Ela buscou dar-lhes consciência do que é ser 309 negro. Ela acredita que está é a única forma de promover o sentimento de orgulho das trajetórias e conquistas da população de cor. A partir de sua prática de transformação da consciência e valorização racial da sociedade maranhense, na década de 1980, fui em busca de mecanismos que pudessem ser utilizados junto à comunidade escolar e sociedade em geral nos dias atuais. O objetivo maior consiste em lançar luz a contribuição de personagens negros para a história, contribuindo assim para que estas trajetórias se tornem um referencial positivado na construção de identidades conscientes e orgulhosas de sua racialidade.

Lygia de Oliveira Santos, uma proposta biográfica abordando questões étnico-raciais pautadas em projetos coletivos e individuais - Diogo Jorge de Melo (CEFET)

Este trabalho tem como objetivo realizar um estudo biográfico, voltado para a formação de Lygia de Oliveira dos Santos (1934-). Uma mulher negra de classe média, que dedicou sua atuação nas questões culturais, integrando educação, música popular e questões museológicas. O trabalho se estrutura a partir da pesquisa de Sônia Giacomini, “A Alma da Festa”, e o conceito de “projeto” de Gilberto Velho. A autora ao estudar o Clube Renascença, um espaço de socialização construídos por e para negros, em que Lygia Santos foi uma de suas entrevistadas, acaba por enquadra-la nos três principais projetos sociais coletivos identificados no trabalho: o primeiro “Flor de Liz”, que se estrutura a partir da construção de padrões de distinções sociais de uma elite negra, que ascendeu em bairros do subúrbio do Rio de Janeiro; o segundo referente as questões da beleza ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------negra, principalmente pela realização de concursos de beleza negra; e o último vinculado ao movimento Black Power, movimento importado dos Estados Unidos da América, que buscava a construção de uma identidade negra. Estes projetos coletivos apontados podem ser entendidos como fortes estruturas, que se fizeram presente na vida de Lygia Santos, mas que se articularam com os projetos individuais da personagem. Lygia Santos é filha de Zaíra de Oliveira, cantora lírica, com Donga, o primeiro sambista a registrar um samba. Seus pais participaram do projeto “Flor de Liz” e sem dúvidas buscaram uma formação para sua filha conforme os padrões sociais deste grupo e Lygia viveu os outros movimentos, por ser frequentadora do Renascença. No entanto, identificamos alguns projetos individuais que se articulam com esses projetos coletivos em sua trajetória profissional. Lygia teve formação de professora no Instituto de Educação e realizou duas graduações em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro e Museologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Concursada pelo Estado do Rio de Janeiro como professora primaria, área que atuou no inicio da sua carreira, conseguiu ao longo de sua trajetória se deslocar para outro universo profissional, o dos museus, onde atuou principalmente no Museu do Primeiro Reinado e depois no Museu da Imagem do Som, local onde encontrou sua plenitude profissional. Conseguindo coadunar suas raízes no samba, sua realidade de mulher negra e suas paixões pela Museologia e música popular (Samba e Choro), atuou com pesquisas sobre as origens do samba, em atividades educativas de museu, como museóloga, comentarista e crítica do carnaval, como política, no magistério do ensino superior, mas seu mote profissional de maior destaque foi ser 310 reconhecida como educadora em sentido amplo, formando novas gerações em distintos espaços sociais, inclusive sendo chamada de “Dama da Sabedoria”.

Memória e narrativa no nono ano, um diálogo com a História Pública - José Conceição da Silva (Universidade Federal Fluminense)

Partindo da experiência de contar histórias nas aulas de História, desenvolvi uma prática didática baseada no uso de narrativas literáreas. Nesse trabalho apresento uma determinada narrativa, objetivando: motivar a discussão de conteúdos como escravidão, abolição e a condição dos afrodescendentes após a abolição e ainda estimular a produção textual dos alunos. Essa discussão é enriquecida com a reflexão dos conceitos de memória e narrativa. A narrativa proposta circula entorno do personagem Julius, homem negro, que desaparece misteriosamente no centro da cidade do Rio de Janeiro e após o seu reaparecimento é acometido por visões da escravidão no século XIX. As visões inicialmente o atormentam até serem relacionadas a um velho tio contador de histórias (tio Nestor), que conviveu com o personagem em um período da sua infância. A partir desse momento, Julius tenta ter controle sobre as imagens, a buscá-las, o que representa vivenciar mais uma vez as histórias contadas pelo tio. Essas imagens se apresentam como uma “ponte temporal” que permite levar os alunos ao conteúdo estudado, século XIX, sem a tradicional viagem no tempo e sim através da memória. As reflexões sobre memória e narrativa têm por base os trabalhos de Walter Benjamim e Paul Ricoeur. Nessa prática o professor primeiro assume a postura do contador que busca envolver os alunos no enredo narrado. Em um segundo momento os alunos passam ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------a ter contato com o texto escrito, para em seguida, um terceiro momento, se transformarem em produtores da narrativa a partir do conteúdo estudado. Nesse sentido esse trabalho dialoga com as preocupações da História Pública, não só utilizando a narrativa literária para motivar a reflexão histórica, como possibilitando uma produção compartilhada, já que um dos principais objetivos a serem alcançados é transformar os alunos em coautores da narrativa trabalhada. E ainda dar voz a um velho contador de histórias, tio Nestor, e através da sua fala alcançar o depoimento daqueles que vivenciaram o processo abolicionista no Brasil, buscando como quer W Benjamim (2012, p.13) ”escovar a História a contrapelo”. O que nos leva, como propõe a História Pública, a construção de “‘consciência histórica’ ou uma história mais participativa e colaborativa com a comunidade fora do espaço universitário” (Almeida; Juniele, 2013, p.3) e ainda, a valorização “das narrativas orais, importantes para a construção de identidade coletivas e do reconhecimento de “culturas subterrâneas” (Almeida; Juniele, 2013, p.6). Resultado da minha experiência na Escola Pública Municipal esse trabalho é a base da monografia, ainda em elaboração, a ser defendida em julho de 2018 no Mestrado Profissional de História na Universidade Federal Fluminense.

O antimovimento “Escola Sem Partido” (ESP) e os impactos no ensino de história: trajetórias docentes na prática da história pública em sala de aula - Renan Rubim Caldas (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho tem como objetivo apresentar um recorte específico das 311 reflexões e das análises realizadas na dissertação de mestrado em História (PPGH- UFF) “Narrativas em movimento – do ‘Escola Sem Partido’ à ‘Educação democrática’: história pública e trajetórias docentes”. Vivenciamos na história do tempo presente um intenso debate público em torno das condições da profissão docente, do papel do professor em sala de aula e da função da escola na construção da educação de uma sociedade. Esta pesquisa assume os desafios da investigação dos “sujeitos coletivos” envolvidos nos debates públicos em torno dessas questões. Dessa forma, analisa-se as narrativas públicas, os valores e as ações dos sujeitos mobilizados na construção e consolidação do que entendemos por antimovimento social “Escola Sem Partido” (ESP) e por movimento social “Professores Contra o Escola Sem Partido” (PCESP): grupos que possuem diferentes orientações valorativas e distintos repertórios de ação coletiva nos espaços públicos e que colocam em jogo divergentes projetos de escola, de educação, de docência e de sociedade (TOURAINE, 1994, 1998; TILLY, 2010). Tendo em vista o tema do simpósio, é importante evidenciarmos como o antimovimento Escola Sem Partido produz impactos negativos no processo de desprofissionalização docente (NÓVOA, 1995) e no ensino de história como prática de história pública (FRISCH, 2016; FERREIRA e PENNA, 2017). Aqui, entendemos que o ESP aparece não apenas como uma ameaça à autonomia docente do professor como sujeito, isto é, no sentido de estimular a separação entre o “eu” pessoal e o “eu” profissional da prática docente e negar a dimensão subjetiva de sua profissão, mas também como uma ameaça à própria produção compartilhada de conhecimento histórico, de saberes e experiências entre os professores e os alunos em sala de aula. Em meio a essas “narrativas em movimento” e em disputa pelo ESP e pelo PCESP, estão as ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------narrativas dos professores de História do ensino básico sobre suas próprias experiências, trajetórias e práticas docentes, e que também se posicionam nesses debates públicos sobre “Escola sem Partido”, tendo em vista que são questões que lhes afetam diretamente. Desse modo, realizamos um trabalho de história oral (PORTELLI, 1991, 1996) com esses professores e apresentaremos alguns trechos das suas reflexões sobre suas maneiras de ser e agir como professores nesse contexto de avanço do ESP. Aqui, esses professores apresentaram diferentes posicionamentos políticos e ideológicos em relação ao ESP (tanto a favor quanto contra) e diferentes concepções de história que estão intimamente entrelaçadas aos seus saberes experienciais incorporados no decorrer de suas trajetórias vida pessoal, intelectual, política e profissional (TARDIF, 2002).

O Museu Nacional como espaço de História Pública: O potencial da Educação Museal para uma abordagem crítica da História - Aline Miranda e Souza (Museu Nacional)

O Museu Nacional é o mais antigo do Brasil, teve papel fundamental no desenvolvimento das ciências no país e completará 200 anos em 2018. Hoje está localizado no Paço de São Cristóvão, que foi residência da família real durante o Império. Como unidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é reconhecido também por suas pesquisas. Há sobre essa história muito a ser explorado. Como um Museu de Ciências Naturais e Antropológicas, a abordagem histórica do Palácio e das coleções é pouco explorada nas exposições, apesar de ser uma 312 demanda frequente dos visitantes. Na construção desta proposta, trabalhamos na interface entre Ciência, Educação Museal e História Pública. Refletimos primeiramente acerca do processo histórico que levou à formação dos museus de ciência. A conquista do caráter público e educativo dos museus como conhecemos hoje é resultado de um processo. Discutimos a relação dos museus com as instituições de ensino e as especificidades da educação museal, no que concerne a conceitos, métodos e políticas. Este trabalho se insere no campo da História Pública e da Educação Museal com um caráter essencialmente prático e reflexivo sobre o potencial de um museu de ciências para, no bojo de sua inerente interdisciplinaridade, oferecer ao público possibilidades de discutir o passado. É feito um levantamento histórico do Palácio e do Museu, e são apontados aspectos organizacionais do museu hoje que possibilitam compreender melhor as escolhas apresentadas nas exposições. Propomos explorar o potencial das ações educativas para uma abordagem crítica da História. Buscamos, assim, conexões entre o Palácio e o Museu, duas instituições que se sobrepõem no mesmo local. A partir dos objetos expostos hoje, surgem diferentes possibilidades de leitura, e aquela proposta pela exposição é apenas uma delas. A história das coleções e dos objetos nos suscitam questões sobre a própria formação do Museu e das Ciências no Brasil. Junto ao público visitante, propomos que o objeto museal seja tomado como fonte histórica, e estimula-se uma posição questionadora dos visitantes sobre as permanências e apagamentos presentes no Museu. Pretende-se que este olhar questionador, não se detenha sobre os objetos, mas que a partir deles, seja questionada a própria realidade dos sujeitos.

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Zózimo Bulbul e o Centro Afro-carioca de Cinema: identidade, educação ani- racista e história pública no filme “Renascimento Africano” (2010) - Samuel Silva Rodrigues de Oliveira (CEFET)

Em 2007, Zózimo Bulbul – ator, artista plástico, produtor e diretor de cinema – criou o Centro Afro Carioca de Cinema. Entre 2007 e 2013, quando esteve a frente dos projeto do centro cultural, produziu um média metragem: “Renascimento Africano” (2010). A comunicação analisa o filme e o projeto do Centro Afro Carioca de Cinema analisando a noção de “cinema negro” no filme. Utiliza o filme, entrevistas de história oral e vida, pesquisa bibliográfica e de jornais como corpus de documentos. A partir de 2001, os manifestos “Dogma Feijoada” e “Manifesto de Recife” marcam uma virada na produção cinematográfica nacional: fundam a intenção de produzir um “cinema negro”. Festivais, filmes de curta e longa metragem, e polêmicas atravessam as produções de uma classe média negra e uma militância que se esforçam em produzir filmes que expressam a luta anti-racista no Brasil. Zózimo Bubul foi um dos personagens centrais desse movimento. A comunicação compreende que o filme “Renascimento Africano” (2010) insere-se numa vasta produção do cineasta de produzir narrativas históricas e uma educação anti-racista no Brasil.

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314 ST 28. História do crime, da polícia e da justiça criminal

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"É prohibida a venda e uso do pito do pango": o proibicionismo da maconha no Rio de Janeiro imperial, 1830. - Jorge Emanuel Luz de Souza (UFBA)

No dia 4 de outubro de 1830 a Câmara da Corte publicou o seu primeiro Código de Posturas Municipais, decretando no artigo 7º do Título II da Seção Primeira que daquele dia em diante estava proibida a venda e uso do "pito do pango" na cidade. “Pito do pango” ou “pango” eram expressões utilizadas para nomear a cannabis enquanto fumo psicoativo na Corte e desse dia em diante quem fosse pego em desobediência seria punido pelo poder municipal: vendedores com multa de vinte mil réis e usuários com oito dias de cadeia. O Código de 1830 foi dividido em duas seções – Saúde Pública e Polícia – e dezesseis títulos que abordam variadas questões da vida da cidade e ficaram a cargo da municipalidade administrar. A Postura que proibiu o “pito do pango” fazia parte da seção que regulava a saúde pública e, mais especificamente, da subseção sobre venda de gêneros e remédios e o trabalho dos boticários. Dos seus doze artigos, onze definem penalidades: multas, entre dez e trinta mil réis, e em dois casos apenas está prevista a prisão, uma delas para o uso de maconha. Apesar do alcance limitado à Corte, a Postura apresenta elementos de uma política proibicionista de drogas: proscreve o uso de uma substância, proíbe o comércio a ele relacionado, estabelece punições para seus comerciantes e usuários e se associa à esfera da saúde pública. A história dos usos de substâncias psicoativas no Brasil é atravessada por proibições diversas desde o período colonial até os tempos atuais, sendo a maconha, possivelmente, o objeto mais longevo de tais medidas. Propõe-se aqui, então, analisar a proibição do uso 315 da maconha na Corte no ano de 1830. Primeiramente, será apresentada a Postura Municipal que proibiu o “pito do Pango” na capital do Império, discutindo suas características gerais e as relações com o contexto histórico na qual foi produzida. A seguir, iremos visibilizar quem eram os usuários sobre os quais recaía agora a proibição bem como evidenciar qual uso estava sendo condenado. Por fim, destacaremos a dimensão econômica do processo, investigando a diversificada exploração da Cannabis na cidade no século XIX, que ia da sua comercialização como medicamento até a produção da sua fibra têxtil, o cânhamo.

A Comodificação da Desordem: Incêndios, Seguros e o Imaginário da Insegurança em Portugal, 1910-1917. - Cândido Gonçalo Rocha Gonçalves (Unirio)

A imagem de um prédio consumido pelas chamas na Avenida da Liberdade durante a revolução é uma das imagens icónicas da instauração da República em Portugal. Consequência direta dos movimentos revolucionários ou um simples fogo casual – questão que chegou até à barra dos tribunais -, este incêndio constitui um exemplo de uma faceta esquecida da sociedade portuguesa do início do século XX: o fogo como consequência da instabilidade política e social e as estratégias de segurança que se geraram a partir da perceção deste crescente risco. Em ambiente urbano e industrial, com o incêndio de repartições públicas a emergir como estratégia de protesto de correntes políticas mais à esquerda, ou em ambiente rural, onde o fósforo era a “arma de 10 centavos” do trabalhador rural contra o proprietário, o fogo atingiu neste período novos níveis de visibilidade pública. Como ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------consequência direta desta situação, o engendrar de estratégias de segurança públicas e privadas para prevenir e combater o risco da ocorrência de incêndios causados por mão-humana ganhou um novo protagonismo, revelando todo o significado social e político do fogo. Assim, se as estratégias públicas – bombeiros, polícia, etc. – sofreram com a crise de autoridade do Estado que marcaram os anos iniciais da república, o crescimento de estratégias privadas de proteção contra um imaginário de insegurança que que atingia transversalmente a sociedade é um dos efeitos mais relevantes do risco de incêndio. A indústria seguradora, que já vinha a crescer antes da implantação da república e continuou a fazê-lo depois, aproveitou as oportunidades que no novo contexto lhe proporcionava para crescer e prosperar, fazendo-o também com ‘produtos’ que respondiam à desordem politica e social que então se vivia. A transformação da ‘desordem’ em algo que podia ser transacionado foi, neste contexto, um dos resultados da resposta criativa da indústria seguradora às demandas da sociedade. Esta comunicação parte da análise de dois grandes incêndios – o da Avenida da Liberdade em Outubro de 1910 e o das Fábricas do Caramujo, em Almada, em Agosto de 1911, um fogo posto por trabalhadores e ativistas políticos – para analisar a introdução e popularização do “seguro contra greves e tumultos” em Portugal entre 1910 e 1917. Este ramo de seguros, que surgiu de forma inovadora em Portugal – apenas companhias Inglesas, Norte-Americanas e Portuguesas o ofereciam –, constituiu um sinal claro do sentimento de insegurança, pouca confiança na capacidade das instituições públicas para lidar com ele que emergiu na sociedade portuguesa e o prosperar de dinâmicas privadas e individualizadoras de segurança. 316

A Guarda Fiscal e o contrabando na fronteira luso-espanhola (1885- 1941) - Mariana Reis de Castro (Instituto de História Contemporânea - NOVA FCSH)

A história do sistema policial português tem conhecido, recentemente, uma significativa evolução do número de investigações e investigadores interessados. No entanto, o estudo da história da Guarda Fiscal, corpo criado com o intuito de controlar, vigiar e reprimir o comércio ilícito, tem ficado à margem da historiografia portuguesa, principalmente no que diz respeito à sua evolução institucional e actuação. Deste modo, esta comunicação propõe abordar a acção da Guarda Fiscal perante o contrabando realizado na fronteira luso-espanhola entre 1885 e 1941. A partir dos debates parlamentares (Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portugueza, Câmara dos Deputados e Assembleia Nacional) e o cruzamento com diferentes fontes de informação, provenientes dos acervos documentais depositados nos arquivos (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Arquivo Histórico da Guarda Nacional Republicana e Arquivo Contemporâneo das Finanças) e a consulta de imprensa nacional e periódicos, depositados nas bibliotecas, procurar-se-á entender a relação entre a evolução da Guarda Fiscal, a prática do contrabando e a intervenção do Governo português, como entidade reguladora. Numa primeira parte, pretende-se analisar a criação e organização da Guarda Fiscal, desde a sua criação até à Reforma Aduaneira de 1941. Na segunda, a sua distribuição no território português e, numa última parte, verificar as suas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------formas de actuação, como um corpo policial responsável por combater o crime, assim como a relação com os contrabandistas. Interessa principalmente reflectir sobre o papel que estas autoridades tiveram, não só apenas como cumpridoras das leis, promulgadas pelo Governo, como também pela sua autonomia e envolvimento com a sociedade.

Crime e punição no Rio de Janeiro: o Boletim Policial (1907-1918) - Rodrigo Maia Monteiro (UERJ-FFP)

Este estudo propõe a reflexão da Criminalidade e Punição na cidade do Rio de Janeiro, entre 1907 e 1918. A partir da análise do periódico do Gabinete de Identificação e Estatística, o Boletim Policial, objetivamos pensar a maneira como as idéias criminológicas e punitivas circulavam no campo intelectual fluminense na passagem à modernidade. A escolha desse recorte se deve ao fato de simbolizar um momento fértil no que toca ao estudo da delinquência e do controle social, atualizando questões como da relação entre criminalidade e crescimento urbano, a racialização do sistema penal, formas de punição e encarceiramento, criminalidade e imigração, entre outros. A rigor, o início do século XX representa um momento singular de sofisticação das instituições de controle social no Brasil, bem como uma conjuntura de modernização e reestruturação jurídica articulada a um processo de redefinição da espacialidade urbana na capital federal, assegurando que as classes ditas perigosas fossem segregadas e vigiadas, pois representavam o avesso dos ideais de ordem e higiene. O interesse pelo tema da criminalidade e pelas 317 notícias de crime vinham crescendo desde a segunda metade do século XIX. No Boletim Policial, reflete-se o desejo de ordem, o temor pelo crime associado à técnica e ao novo, a busca por resposta para o controle social que associavam a criminalidade à presença do estrangeiro e ao contingente maciço de ex escravos circulando pelas ruas, relatórios policiais identificam aglomerações no centro da cidade como um risco à paz social, o que em muitos dos casos foi aparentemente resolvido evitando a entrada desses indivíduos na zona central da cidade. Teorias baseadas no criminoso se fortaleciam cada vez mais pela sua validade científica e sobretudo pelas relações de poder que era capaz de justificar. Observamos no periódico uma série de técnicas de identificação do corpo utilizados para medir o delinquente e classificá-lo. Assim, fica claro no Boletim Policial uma exigência cada vez maior das instituições de controle social em adotar métodos e técnicas de identificação e classificação da população a fim de identificá-las e controlá-las, valorizando e unindo saberes como a antropologia, as ciências médicas e jurídicas na montagem de um aparato eficaz de identificação social.

Elysio de Carvalho e a Escola de Polícia : a circulação de saberes de polícia científica no Rio de Janeiro (1911-1915) - Marilia Rodrigues de Oliveira (PUC- RJ)

A Reforma Policial de 1907 trouxe como uma de suas preocupações a questão da profissionalização e estruturação da carreira dos policiais brasileiros. Em meio ao processo de modernização pelo qual passava tal instituição, a reforma apontava para a necessidade de instrução dos agentes no que se referia às técnicas de filiação ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------morfológica e de exame descritivo. Tal dispositivo regulamentar que não fora colocado em prática foi recuperado cinco anos depois, com a criação da Escola de Polícia do Distrito Federal. Fundada pelo chefe de polícia Belisário Távora, sob a direção de Elysio de Carvalho, a Escola de Polícia tinha como intuito prover uma educação profissional aos agentes de polícia, de acordo com os conhecimentos científicos e as necessidades do contexto sócio-histórico brasileiro. Entre suas aulas previam-se desde cursos sobre elementos do Código Penal relativos à organização policial, até estudos de criminalísticos e de métodos de investigação criminal. Não por acaso, na sessão de inauguração da escola de Polícia, Elysio de Carvalho discursou sobre as formas de criminalidade modernas, defendendo a importância tanto dos estudos científicos para formação dos agentes policiais, como também a análise de perfis de personagens criminosos literários, como os presentes nas obras de Tostoi e D’Annunzio. Literato, anarquista e policial, a trajetória de Elysio de Carvalho nos indica a presença de membros de uma elite intelectual que buscavam se familiarizar com os debates criminalísticos latino-americanos e europeus dentro das sessões especializadas da polícia brasileira. Desta forma, este trabalho tem como objetivo primeiro investigar como a atuação de Elysio de Carvalho favoreceu a circulação, apropriação e trocas de saberes internacionais ligados ao campo de polícia científica através da construção da Escola de Polícia do Distrito Federal. O esforço de instrução e profissionalização dos agentes policiais implicava em um processo tanto de compartilhamento de saberes que seriam capazes de criar uma identidade de grupo coerente, como também, de obtenção de um reconhecimento externo da capacidade destes funcionários de desempenharem suas funções. Logo, 318 também será um objetivo deste trabalho analisar os estudos ministrados na Escola de Polícia sobre as formas de criminalidade moderna, assim como os saberes necessários aos profissionais que desejavam combatê-las. Por fim, tendo em vista o perfil intelectual que perpassava os membros que idealizaram tal Escola de Polícia, a própria noção do caráter científico presente nas aulas ligadas ao campo da polícia cientifica, também será objeto de análise deste trabalho.

Histórias de bandidos? Visões do crime no Rio de Janeiro - Marcos Luiz Bretas da Fonseca (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O objetivo desse projeto é avaliar diferentes visões históricas sobre a categoria bandido. Como eça é tratada no Rio de janeiro entre o final do século XIX e o final do século XX

Iluminando a escuridão: Noite, guarda noturna e vigilância na capital no final do século XIX e início do XX - Pedro Guimarães Marques (PUC-Rio)

O trabalho procura analisar como e porque foram formados os grupos de vigilância privada denominados guarda noturna na capital carioca no começo da Primeira República. A historiografia policial brasileira aborda comumente as relações entre Estado - polícia - população. Esse trabalho visa inserir uma nova perspectiva - a de modelos de policiamento privados que existem desde o Antigo Regime e foram transportados para a época republicana brasileira com o intuito de auxiliarem a polícia a controlar uma noite cada vez mais incontrolável. O trabalho procurará ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------abordar um pouco da história da iluminação pública, sua associação com a atuação da guarda noturna presente em países anteriormente a sua criação no Brasil, o desenvolvimento da vida noturna carioca e a guarda noturna da candelária, o primeiro grupo de guarda noturna carioca.

Insurgência prisional: genealogia da delinquência e política de encarceramento em São Paulo, 1948-1961 - Dirceu Franco Ferreira (Universidade de São Paulo)

O propósito desta comunicação é analisar uma faceta da política de encarceramento em São Paulo, em meados do século XX, da perspectiva dos movimentos articulados pela população prisional, com ênfase nas rebeliões e nos seus desdobramentos na produção da delinquência cativa das prisões. Nessa conjuntura, marcada pela insurgência prisional, destacam-se a articulação dos presos para rebeliões de grande impacto político e social - via de regra visando a fuga -, a contínua e acentuada expansão do encarceramento no estado e o recrudescimento das formas de degradação da vida nos cárceres. Portanto, a insurgência deve ser considerada tanto do ponto de vista dos movimentos articulados pelos presos como das transformações operadas nos modos de tratamento da população prisional. Nesse período, a Casa de Detenção de São Paulo, o Instituto Correcional da Ilha Anchieta e a Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté foram os principais alvos dessa dupla insurgência. Assim, nesta comunicação, vou apresentar os debates em torno dos projetos para as prisões paulistas de meados do século XX, pontuando o 319 modo como as rebeliões foram percebidas pelas autoridades prisionais. Pretendo demonstrar como a produção da delinquência constituiu-se peça principal dos discursos mobilizados entorno da reforma das prisões do período.

Leis especiais, vigilâncias conectadas: a polícia de investigações na América do Sul, 1890-1920 - Diego Antonio Galeano (PUC-Rio)

Este trabalho tem como objetivo analisar a emergência e consolidação de divisões de investigação criminal nas polícias da América do Sul. Depois de ganhar um lugar diferenciado na burocracia policial, entre finais do século XIXX e inícios do século XX, estes gabinetes aumentaram o número de agentes e diversificaram suas áreas de incumbência. Cada área dedicou agentes específicos a custodiar os arquivos de prontuários criminais, policiar as atividades do incipiente movimento operário, acumular informações sobre prostitutas, proxenetas, ladrões, estelionatários e empresários do jogo clandestino. Além de realizar um mapeamento geral dessas atividades, o trabalho se focará em uma seção específica, conhecida como “Leis Especiais” ou “L.E.”, e que se ocupava da perseguição de quadrilhas de falsários. Esta denominação derivava de uma nomenclatura da Divisão de Investigações da polícia de Buenos Aires, que foi adotada em parte no Brasil e no Uruguai. A dimensão transnacional do crime de falsificação de dinheiro e, em particular, as conexões entre as redes de fabricantes e passadores de moeda falsa no espaço atlântico sul-americano, fizeram com que as polícias de investigação destes países estreitassem laços e compartilhassem informações. O vínculo entre a construção de divisões de investigação e a cooperação policial sul------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------americana não se limita à problemática da falsificação de dinheiro, porém, o trabalho escolhe esse ponto de observação para analisar os entrelaçamentos entre o trabalho policial, as mudanças nos marcos normativos e as práticas criminais.

Libertários no banco dos réus: a influência das teorias lombrosianas no processo de criminalização do anarquismo no Brasil (1906-1924) - Bruno Corrêa de Sá e Benevides (UNIRIO)

A comunicação tem como proposta estudar a influência que a Criminologia Positiva, desenvolvida no século XIX pelo médico italiano Cesare Lombroso, exerceu sobre algumas instituições republicanas no Brasil entre os anos de 1906 a 1921, e que contribuíram no processo de criminalização da prática do anarquismo, movimento que possuiu forte presença entre o proletariado, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo. Deste modo, por meio da análise de teses formuladas por juristas renomados do país, de debates parlamentares do Legislativo Federal em torno da edição de Leis destinadas a reprimir este movimento considerado “subversivo”, pela análise de algumas decisões proferidas pela Suprema Corte e por outras instâncias inferiores, e finalmente por meio da consulta dos principais jornais da grande imprensa, pretende-se demonstrar como as teorias lombrosianas do delinquente nato, principalmente aquelas formuladas no livro Os Anarquistas, possuíram grande adesão entre juristas, bacharéis, magistrados e políticos, influenciando diretamente na criação de legislações e na produção de decisões judiciais (pelo STF e outros juízos) destinadas à repressão daqueles que 320 compartilhavam das ideias libertárias.

O deslocamento discursivo que enfrenta o "menor de idade" nos anos 20 - Érica Oliveira Fortuna (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O presente artigo busca refletir acerca das representações sobre o “menor de idade” na década de 1920. Nosso objetivo é investigar em que medida os discursos jurídico e midiático contribuem na construção de sentidos que estigmatizam jovens negros e pobres. Nosso recorte recobre as notícias do jornal A Manhã, veiculadas nos anos de 1926, 1927 e 1928, concentrando a nossa análise em narrativas importantes ao tema. Nossa hipótese aponta para um discurso midiático que trata todos os meninos como "menores", mas que contribui na estigmatização do negro e pobre por meio dos artifícios sensacionalistas, seja pelo texto ou pelas fotos. Enquanto isso, o discurso jurídico traz a "situação irregular do menor" para "cuidar" dos meninos abandonados e/ou delinquentes com o Primeiro Código de Menores, promulgado em 1927, que parece segregar e categorizar os menos favorecidos, vulneráveis frente ao sistema penal.

O Diretório dos Índios de 1755: Economia, Trabalho e Polícia no Reformismo Luso-Brasileiro - Bianca Racca Musy (UFF)

No século XVI emergem algumas das principais diretrizes intelectuais sobre o papel positivo do trabalho e da utilidade das populações “pobres”, sistematizadas de forma paradigmática na obra Da Razão de Estado do italiano Giovanni Botero ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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(c.1544-1617). O diagnóstico proposto por Botero a respeito das causas da grandeza e da ruína das monarquias influenciou a tratadística política ibérica desde o século XVII, sendo ainda utilizada como uma das balizas para iniciativas tomadas por Sebastião de Carvalho e Melo, a partir de 1750. O futuro marquês procurou objetivar as ideias que a geração precedente havia elencado para gerar desenvolvimento, dialogando com uma gama de intelectuais no intuito de colocar em prática a “modernização” do mundo português. Dentre as várias tópicas destinadas a promover o desenvolvimento do império, ganhou força a crítica aberta à população “ociosa”, impingida a ser “útil” e produzir riqueza a partir do trabalho. Esta comunicação analisará quais foram os principais argumentos retóricos utilizados no Diretório dos Índios, a fim de compreender como o receituário modernizador foi “testado” na região do Grão-Pará e Maranhão dando origem a práticas que pretendiam minorar a pobreza, extinguindo vagabundos, vadios e ociosos. O Diretório dos Índios foi elaborado em 1755 e entrou em vigor em todo o território colonial a partir de 1757; possui 95 artigos que sumariam as diretivas sobre o governo português para a região do Grão-Pará e Maranhão. Frequentemente analisado como um instrumento de aculturação dos indígenas, o Diretório partia de uma série de querelas mais amplas e menos contingentes, que acabavam por conectar as distantes regiões do norte da América aos debates sobre as formas mais acertadas de gerar riqueza em pauta nas cortes europeias. Foi a partir de uma proposição de fundo econômico, que o governo pombalino condenou a falta de “polícia” dos indígenas, inserindo-os em uma concepção mais larga de pobreza, de modo a delinear novas formas de desenvolvimento por meio do 321 trabalho útil. É importante ressaltar que as medidas apresentadas no Diretório precedem a criação da Intendência Geral de Polícia em 1760, que tinha o intuito de zelar pela “segurança” e pela “tranquilidade” dos povos. Do ponto de vista legal, as justificativas observadas no Diretório e na Intendência compartilham um repertório comum de reflexões a respeito do aumento das populações e do trabalho útil como maneiras eficazes de assegurar o crescimento e a segurança do Estado, que se delineou em meados do século XVIII.

Os donos da banca e da folia - Os banqueiros do bicho e a criação da LIESA (1974-1985) - Felipe Santos Magalhães (UFRRJ)

Natal da Portela pode ser considerado como o primeiro banqueiro do jogo do bicho a ter se envolvido diretamente com uma escola de samba. Esta aproximação fez-se de modo mais intenso a partir da década de 1970 quando outros banqueiros de bicho, por diversos motivos, aproximaram-se e apropriaram-se de outras escolas ou, se quisermos, do próprio desfile das escolas de samba, sendo a criação da LIESA (Liga das Escolas de Samba) um marco deste processo. Para Natalino José do Nascimento (Natal) o envolvimento com o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela foi construído desde os primeiros momentos da escola. Ele viu a escola nascer e crescer no quintal de sua casa. No ano de 1974 na cidade do Rio de Janeiro ocorreu um evento que parece ter ligações diretas com o processo descrito acima. Vários banqueiros do jogo do bicho se reuniram num estabelecimento chamado de Ilha dos Pescadores para decretar a paz entre eles e delimitar a respectiva área de atuação de cada um, na cidade, no Estado do Rio de Janeiro e, quiçá, no Brasil. O ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------objetivo desta comunicação é discutir a relação construída pelos banqueiros do jogo do bicho no período entre 1974-1984 quando vários deles assumiram controle de escolas de samba e da organização do desfile que teve na criação da Liga das Escolas de Samba, em 1985, um marco fundamental.

Polícia e escravidão nos discursos da imprensa oitocentista: entre a legalidade e o costume - Joice Soares (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

O processo de construção do Estado ao longo do século XIX implicou a transformação e/ou a criação de distintas instituições. No que se relaciona especificamente à constituição do aparato policial, ganham destaque os debates e ações empreendidas a partir, sobretudo, da segunda metade da década de 1820 com o estabelecimento dos trabalhos da Assembleia Geral. Sob esse mesmo cenário, a imprensa periódica – que ganhara destaque com as disputas em torno da Independência – consolidava-se como elemento fundamental nas discussões políticas do período. Neste trabalho, objetiva-se analisar alguns dos sentidos atribuídos à relação entre as instituições policiais recém-criadas e a manutenção do sistema escravista. Objetiva-se, assim, apreender alguns dos posicionamentos correntes sobre as atividades policiais – ainda marcadas por inúmeras mesclas e hibridizações entre a polícia do Antigo Regime e as instituições criadas sob o ideário liberal e constitucional – e sua relação com a escravidão nas práticas cotidianas. 322 Tragédias em Atos Diários: imprensa e violência na cidade do Natal (década de 1960) - Wesley Garcia Ribeiro Silva (Universidade Federal do Pará)

Ao iniciar os anos de 1960, o periódico Diário do Natal, recém incorporado a rede dos Diários Associados, passou a compor um cenário temoroso para a urbe, figurada pela sua nova linha editorial. Os crimes passaram a se relacionar de modo fundamental com a cidade e a serem noticiados diariamente, não apenas com pequenas notas – ou fait divers – mas compondo uma parte estrutural do jornal, com títulos chamativos na capa e páginas inteiras dedicadas ao caráter sensacional dos assaltos, homicídios e tragédias cotidianas, cujos textos flertavam com uma narrativa anedótica, para acentuar o tom extraordinário. Em 1961, os assassinatos de três motoristas em um intervalo de tempo de sete meses foram publicados como se fossem folhetins e mobilizaram a cidade, seguindo o rastro de medo que o perigo carregava. Surgia daí o nome de João Rodrigues Baracho, que seria implicado não só a tais crimes, mas também a uma série de fugas e outros delitos, que tiveram lugar até o 1962, quando foi fuzilado em uma emboscada da polícia. A partir de tais elementos, esta comunicação pretende discutir as relações entre imprensa, espaço urbano e violência, problematizando a circulação de modelos e referências editoriais sobre o sensacional nos jornais locais e a construção de representações sobre a violência na cidade do Natal, com a emergência do bandido como personagem de destaque nas narrativas dos jornais.

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Um processo criminal nos jornais do século XIX: o atentado contra Dom PEDRO II - George Luiz de Abreu Vidipó (SEEDUC/RJ)

Quando o português Adriano Augusto Valle, na noite de 15 de julho de 1889, atirou em direção ao Imperador Dom Pedro II, colocou em xeque a imigração, que estava em curso no Império e o movimento republicano. Este artigo analisará como dois jornais, Gazeta de Notícias e O Paiz, trataram o evento e seus desdobramentos. Os dois periódicos optaram por acompanhar todo o processo criminal e serviram como base para defesa do acusado pelor crime

“O Homem Delinquente”: Processo de socialização,com foco à reinserção do indivíduo na sociedade - Andréia Gardênia Fernandes Oliveira Stival (Instituto Wallom)

O objetivo do presente estudo é diagnosticar como deve ser conduzido o processo de socialização dos presos através da educação e da oferta do trabalho dentro do sistema penitenciário brasileiro. A Constituição Federal conjetura expressamente a responsabilidade do Estado perante todos os cidadãos, garantindo-lhes direitos e deveres fundamentais, abrangendo também a população prisional que ingressa no sistema penitenciário. A estes condenados, devem ser proporcionadas condições para a sua integração social dentro das penitenciarias, visando a não violação de seus direitos que não foram atingidos pela sentença. Grande parte da inoperância do atual modelo socializador decorre da forma como este é aparelhado, em relação 323 aos aspectos ligados ao ócio no cárcere e a não obrigatoriedade do trabalho e estudo enquanto estes cumprem suas penas. Sendo assim, o conhecimento por parte da instituição penitenciária da necessidade de uma organização do trabalho e escolarização prisional que perpasse pela relação entre deleite e sofrimento no trabalho que possibilite a mudança e que gere repercussões positivas no processo de ressocialização e, consequentemente, na vida egressa dos apenados, bem como na vida daqueles com quem esses se relacionam. Justifica-se este estudo em razão da busca em indicar para a sociedade e para os presos que o melhor caminho para a reinserção social e profissional dos mesmos está na educação e no trabalho, pois a maioria deles não teve nem a oportunidade de estudar antes de entrar para o mundo do crime. Iniciou-se o projeto de pesquisa a partir da escolha do tema e da revisão bibliográfica, visto que, é uma pesquisa de cunho exploratória. Buscando analisar a temática proposta, este trabalho será pautado na leitura da referência bibliográfica do tema proposto. De forma a atingir a maior veracidade possível no processo de conhecimento da problemática a ser estudada. O trabalho examinará com um olhar investigativo situações referentes ao objeto estudado que no caso desta análise refere-se a socialização do encarcerado no sistema prisional do Estado de Goiás, mas especificamente na Casa de Prisão Provisória, localizada no município de Aparecida de Goiânia e pautado nas políticas públicas que abordam e abrangem os recursos no que tangem essa socialização. Assim podendo evidenciar a validade e a confiabilidade do estudo através dos dados obtidos.

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324 ST 31. História e Ciências Humanas – dimensões epistêmicas, éticas e estéticas

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A Crítica de Michel Foucault às Ciências Humanas - Kleverton Bacelar Santana (FFLCH-USP)

Essa comunicação tem por objetivo examinar a ‘arqueogenealogia’ foucaultiana das ciências humanas. A partir da análise do Nascimento da Clínica (1963) pretendo mostrar a posição arquitetônica da medicina na constituição das ciências humanas. Em seguida, mediante o exame da arqueologia foucaultiana das ciências humanas efetuadas em As Palavras e as Coisas (1966), mostrar a forma e a reduplicação dessas ciências. Por fim, discutir os efeitos normalizadores dessas ciências na virada efetuada pela genealogia do poder a partir dos anos 70, especialmente no Vigiar e Punir.

A febre amarela no Rio de Janeiro: história, ciência e literatura. - Cláudia Santos Turco (UFRJ), Eduardo Nazareth Paiva (HCTE-UFRJ)

Epidemias são fenômenos que contêm uma certa carga dramática. Iniciam em determinado tempo e local e, como se estivessem seguindo um roteiro, crescem, após um período de negação, se revelam em crise coletiva e individual, depois se encerram. Assim, mobilizam comunidades para a ação, explicitam valores sociais; cada sociedade constrói suas respostas, alianças e parcerias. Cientistas se mobilizam para encontrar explicações e possíveis estratégias de combate, enquanto as consequências da doença e muitas vezes das medidas para seu controle se refletem na produção cultural de uma época. No entanto, a própria construção da 325 ciência, fruto de práticas cotidianas de cientistas, está situada histórica e geograficamente, o que se evidencia ainda mais em momentos de controvérsias, nos quais muitas vezes ocorre uma disputa de diferentes estilos de pensamentos. Por outro lado, a ciências, seus conceitos e impactos permeiam as produções culturais. O presente trabalho busca capturar através de manifestações culturais - romances, contos e marchinhas - a teia de relações, as texturas e percepções sobre a febre amarela e seu combate no Rio de Janeiro. O período selecionado está entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX; período no qual surgiram controvérsias sobre a forma de transmissão da febre amarela e no qual se estabilizou o Aedes aegypti (à época, Stegomya fasciata) como seu vetor. As consequências deste consenso acarretaram mudanças intensas nas ações públicas, na vida cotidiana das pessoas e na própria percepção da doença. Traremos produções de autores da época nas quais a febre amarela foi incorporada como elemento central ou apenas incidental: um romance, uma marchinha de carnaval e um conto. Nestas obras, as dimensões de vivência da febre amarela no cotidiano são abordadas; estas vão do drama individual até mesmo a um diálogo entre um humano e o mosquito Aedes aegypti sobre as respostas coletivas à doença. A análise realizada busca trazer como, nas narrativas selecionadas, estão refletidos tanto a mudança de percepção da doença, de sua forma de transmissão e das medidas de controle adotadas, quanto os elementos e acontecimentos da época.

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A porta está no chão. O uso de áreas verdes como extensão da sala de aula - Camilla Agostini (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Um passeio por trilhas de fácil acesso em parques da cidade permitem vislumbrar o encontro de temporalidades não apenas históricas - de diferentes épocas, algumas mais, outras menos silenciadas, guardadas pela mata - mas da vegetação, da longa duração das formações geológicas, dos animais, todos em relação. Partindo de um ponto de vista arqueológico, as visitas têm como objetivo instigar o visitante a reconhecer a tridimensionalidade da realidade histórica, das múltiplas temporalidades e da coetaneidade. A porta, nesses encontros, está no chão onde se pisa, quando o pesquisador olha para baixo e começa a reconhecer passados em miudezas, estruturas e ruínas arqueológicas; para então, erguer a cabeça e ser capaz de correlacionar outros tempos ao redor, memórias e experienciar, na prática, conceitos complexos e abstratos que passam a ser acessíveis a públicos não acadêmicos.

A relação entre história e sociologia no pensamento de Raymond Aron - Murilo Gonçalves dos Santos (Universidade Federal de Goiás)

Trata-se de analisar a relação entre história e sociologia apresentada por Raymond Aron ao longo de suas reflexões durante a década de 1930, as quais se encontram presentes, sobretudo, na obra "Introduction à la philosophie de l'histoire". Os aspectos constituintes de tal relação ligam-se, por um lado, à inspiração aroniana 326 no pensamento alemão, bem como, por outro lado, a uma espécie de renúncia à sociologia francesa, especialmente aquela desenvolvida por Durkheim e sua escola. Não obstante, para além da inspiração em filósofos e sociólogos como Weber e Simmel, Aron apresenta uma forma original de tratar a relação entre história e sociologia, a saber, mediante seu rearranjo das categorias da compreensão e da explicação (causalidade), com efeito, a partir de uma perspectiva primordialmente epistemológica.

Antigos contra Modernos: a querela francesa e a disputa pelo gosto no século XVII - Juliana Timbó Martins (UNIRIO)

Conhecida, já no século XVII, como “querela dos Antigos e dos Modernos”, a série de debates entre eruditos da Academia e da alta sociedade francesa opôs, em pleno reinado de Luís XIV, os defensores da exemplaridade da Antiguidade e os partidários da legitimidade do gosto e das técnicas modernas na produção artística e literária do período. Entre aqueles que deram ensejo a tal embate, Charles Perrault se destacou não apenas como porta-voz dos autointitulados Modernos, mas também como o estopim da querela através da leitura solene de seu poema “Le siècle de Louis, le Grand” (1687), onde ousou destacar, de forma passional e parcial, a superioridade das diferentes áreas do conhecimento e das artes de seu tempo em comparação ao legado da Era Clássica. De fato, reconhecendo o direito ao gosto pessoal dos artistas modernos, bem como de um público em expansão, o poeta e escritor francês esboçou em seus escritos publicados sob tal contexto uma forte defesa da subjetividade na criação e no julgamento das artes e da literatura do ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------período em detrimento de uma prática antiquária que estabelecia como de “bom gosto” e “bom senso”, principalmente, obras que tinham nos clássicos antigos sua inspiração ou até imitação. Nesse sentido, a comunicação tem como objetivo discutir a “querela dos Antigos e dos Modernos” do século XVII como propulsora de uma estética moderna onde a subjetividade, enquanto expressão da individualidade do artista e de seu público, se torna o eixo definidor de um belo que não é mais apreendido apenas pela razão, mas também pelo coração. Ora, se por um lado, os Antigos concebiam cada obra de arte e literatura como um microcosmo interligado e dependente de um macrocosmo maior e exterior, onde os critérios do belo eram racionalmente preestabelecidos e rigorosamente seguidos; por outro, os Modernos, tal como Perrault, concebiam a arte tendo como referência a subjetividade, o sentimento e a individualidade de seu criador e receptor.

Decifrar Espaços em Branco: Mediações interdisciplinares na tessitura da narrativa histórica - Maicon Mauricio Vasconcelos Ferreira (UFRRJ)

Assim como um tapete, a pesquisa histórica também é composta por fios, que vão forjando uma tessitura que aumenta sua complexidade e caráter homogêneo ao passo que os sinais vão sendo interpretados, como teorizou Ginzburg em “O Fio e os Rastros”. E a direção do olhar define diferentes resultados, pois assim como num tapete que com desenhos estampados trazem uma infinitude de leituras sobre si, assim também é a história, ou seja, para compreensão da trama que a compôs é necessário o entrecruzamento dos resultados desse olhar nessas diferentes direções. 327 Se quisermos ler os testemunhos históricos contra as intenções de quem os produziu, ainda que seja fundamental levar em consideração suas intenções, é imprescindível reconhecer que todo texto detém elementos incontrolados. Trata-se de conjecturar (o que está dentro do documento, também está fora) o invisível a partir do visível, dos indícios, do rastro. Atentando para o discurso ali contido enquanto arma ideológica, com o cuidado para a não tomada das palavras textuais como verdades, mas sim buscar elementos para indagar aos documentos, exteriores ao próprio, entretanto que o compõem, como por exemplo: o contexto, quem o escreveu, etc. Sendo caro para o Historiador construir sua metodologia com princípios fundamentados na inquirição profunda que possibilite a transcendência do aparente contido no documento. Como manifestou Ginzburg na sua obra “Relações de Força”, é preciso aprender a ler os testemunhos às avessas. Só dessa maneira será possível levar em conta tanto as relações de força quanto aquilo que é irredutível a elas. Em “Combates pela História”, Lucien Febvre disse com todas as letras o que hoje parece tão evidente, mas que não o era à época de seus escritos e da Fundação da Escola dos Annales, pôr um problema é o começo e o fim de toda história. Se não há problemas não há história. Assumindo a escrita da história como uma narrativa resultante das tensões entre as fontes e as questões postas pelo historiador, estamos convencidos, como tantos outros historiadores, que a mediação desse processo criativo deve contar com o valioso auxílio de outras áreas - tais como a antropologia e a literatura - sem por isso confundir-se com elas, afinal o discurso histórico disciplinado da prova consiste no diálogo entre conceito e evidencia, como alertou Thompson na sua obra “A Miséria da Teoria”. Pretendo neste trabalho tratar desta questão da interdisciplinaridade no oficio do Historiador, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sobremodo elementos com os quais tenho me deparado na pesquisa de doutorado sobre as esquerdas armadas que desenvolvo no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Entre o papel e a voz: professores de História e a imagem fílmica na sala de aula - Rafael Monteiro de Oliveira Cintra (UERJ)

Em 2017 iniciamos uma pesquisa com o objetivo de entender de que modo os professores de história relacionam-se com o objeto fílmico em sala de aula. Nossa hipótese era a de que os professores de história não recebiam uma formação adequada aos usos de tal objeto, tendo como consequência uma prática que não desdobrava todas as camadas do filme. Dessa maneira, o filme era utilizado somente como ilustração do conteúdo. À medida que o tempo foi passando e a pesquisa seguindo seus rumos, descobrimos outras possibilidades de análise, inserindo a prática dos professores e suas intenções no interior dessa discussão. Hoje, reconsiderando nossas postulações iniciais, enxergamos a ação do professor que utiliza o cinema como uma ação racional, quer dizer, por mais que o filme seja utilizado como “ilustração”, esta ação é uma resposta ao cotidiano da sala de aula e ao próprio ensino de História. Para isso, nos baseamos nas postulações teóricas e metodológicas de Maurice Tardif, que inclui as “atitudes racionais” como uma possibilidade de análise dentro do campo cauteloso dos saberes docentes. No momento em que o professor consegue justificar suas ações, através de uma argumentação discursiva, estas podem ser consideradas “racionais”. É claro que 328 mesmo estas atitudes são passíveis de críticas, como nos aponta o autor. Contudo, apostamos que o professor de História, ao abrir mão deste recurso em suas aulas, está atendendo a uma demanda contextual – que, por sua vez, pode ser exigida pelos alunos e/ou por ele mesmo. Ainda, nossa aposta é a de que esta demanda se relaciona diretamente a uma necessidade de “visualidade” do conteúdo histórico, sendo o cinema o mecanismo através do qual estes se tornam visíveis e tangíveis. Para isso, utilizaremos as contribuições de Hans Ulrich Gumbrecht sobre “presença”, que não descarta a importância das experiências com o passado no “mundo da vida” – termo que pega emprestado da fenomenologia, que caracteriza uma existência humana esforçada em produzir experiências com aquilo é incapaz de experimentar: o passado e o futuro. Por isso, nossa pesquisa volta-se diretamente às práticas docentes, suas intenções e as circunstâncias que os rodeiam. A partir disso, este trabalho tem o objetivo de apresentar parte das experiências em uma escola estadual localizada no município de São Gonçalo - RJ, onde realizaremos grupos focais e entrevistas com os professores de História, com a finalidade de aferir nossas hipóteses e levantar reflexões sobre as relações entre estes objetos. O lugar da experiência oferecida pelas imagens, das diferentes instâncias formativas do professor – que acontece não somente nos espaços formais de formação – são cruciais neste ensaio, que acredita no ensino de História como uma ação sensível e múltipla.

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Experiências temporais na narrativa de Quentin Compson em "O som e a fúria" - Maria Isabel Wang Boselli Rautenberg (UFF)

Sem fio condutor e sem cronologia claramente estabelecida, O Som e a Fúria (1929) relata a degradação dos Compson na fictícia Yoknapatawpha County, no Mississippi. No segundo capítulo da obra, a narrativa de Quentin acerca de seu último dia de vida demonstra como as temporalidades se intercalam. Proposto o intercâmbio entre a História e a Literatura, o trabalho tem como objetivo analisar a relação estabelecida entre esta e a teoria da História. Por conseguinte, ao encarar a obra literária como fruto de seu tempo, ainda que não expressamente determinada pelo contexto de sua produção, a análise busca os sintomas de modificação na maneira como os homens, a partir da experiência pós-Primeira Guerra e a quebra da bolsa de Nova York, lidaram com as temporalidades e articularam o passado, o presente e o futuro.

Ficção e verdade na literatura latino-americana (1940-1960) - Francine Iegelski (Universidade Federal Fluminense)

A crítica literária costuma considerar que, a partir dos anos 1940, surge um novo momento da literatura latino-americana, em que ficcionistas de diferentes países passam a tratar, com profundidade e amplitude de enfoque originais, a herança colonial e a violência da realidade histórica e social – revoluções, religião, luta pela terra, miséria, explosões do crescimento das cidades – do continente americano no 329 século XX. Escritores como Miguel Ángel Asturias, Alejo Carpentier, Juan Rulfo, García Márquez, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges e João Guimarães Rosa, foram conhecidos por explorar em suas ficções, cada um a sua maneira, o que o crítico brasileiro Davi Arrigucci chamou de “oscilação ambígua entre real e irreal em suas narrativas”. Logo nos anos 1950, Ángel Flores considerou esse contexto como sendo o da emergência de um “realismo mágico” genuinamente latino-americano. Antonio Candido, por sua vez, entendeu que o “realismo mágico” de Guimarães Rosa, por exemplo, deveria ser interpretado como um realismo. Ou seja, para Candido, o “realismo mágico” de Rosa garantia um “sentimento de realidade” mais eficaz ou profundo do que todas as técnicas que a literatura realista dispunha para estabelecer uma impressão de real. Também vale mencionar, com Carlos Fuentes, que a obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, considerada por muitos críticos como fundadora do romance moderno, guarda fortes traços de parentesco literário com o que se fez na América Latina em meados do século XX. Interessa-nos, portanto, perguntar em que medida o “realismo mágico” pode servir como um gênero definidor para se pensar uma literatura de vanguarda latino-americana a partir dos anos 1940. Mas, para além de uma questão de gênero literário ou de estilo, queremos pensar como uma literatura não-realista comunica experiências históricas concretas. Em outras palavras, nossa intenção é investigar como, ao transformar a opacidade que marca as relações entre não-ficção e ficção em matéria literária, os escritores latino-americanos passaram a apresentar novas maneiras de relacionar literatura e experiência histórica. Contudo, em vez de uma “dialética da colonização”, marcada por relações de “diferença e repetição” da literatura latino- americana com a literatura produzida na Europa, como já interpretou Alfredo Bosi, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------defendemos que a moderna narrativa ficcional da América Latina – e a dos Estados Unidos, pela obra de William Faulkner, já nos 1920 – desenvolveu formas estéticas próprias, relacionadas às singularidades históricas dos países de passado colonial, o que nos trouxe um legado emancipado e emancipador num terreno importante da história da cultura intelectual, o da literatura. Um modo desafiador de pensar, então, nossa própria história e diferentes dimensões de sua escrita.

História Cultural e Historiografia: uma análise da trajetória de Robert Darnton a partir de seu lugar e de suas práticas - Lucas Bagio Furtoso (UEL)

A história cultural poderia remontar, como demonstra Robert Darnton, até mesmo a Heródoto, uma vez que a análise da cultura sempre esteve presente no trabalho dos historiadores. Porém, como um paradigma acadêmico, ela se desenvolveu com mais força a partir da segunda metade do século XX, tendo sua popularidade institucionalizada com o movimento historiográfico da chamada “Nova História Cultural”. Seu desenvolvimento liga-se com a história da historiografia, uma vez que estudar certas correntes e autores é uma forma de buscar caminhos a respeito das concepções teórico-metodológicas do fazer historiográfico. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo analisar a trajetória intelectual e acadêmica do historiador americano Robert Darnton, a fim de compreender o desenvolvimento de seu pensamento e de seu trabalho enquanto produtor do conhecimento histórico, e suas contribuições para o campo da história cultural. Buscou-se analisar as obras produzidas por Darnton, mais especificamente os livros O grande massacre de 330 gatos, e outros episódios da história cultural francesa, e O beijo de Lamourette – mídia, cultura e revolução. Utiliza-se da perspectiva estabelecida pelo historiador Michel de Certeau (2013), que trata da operação historiográfica com base em três elementos: o lugar do historiador, suas práticas e sua escrita – este estudo foca nos dois primeiros elementos, o lugar e as práticas. Através da análise de suas obras, e relacionando-as com seu percurso profissional (instituições de trabalho), procurou- se estabelecer a interpretação de seu pensamento. A partir dessa perspectiva, observou-se, como um dos elementos principais, a influência da antropologia no trabalho de Darnton, principalmente a desenvolvida pelo antropólogo também americano Clifford Geertz.

Historicidade e Objetividade em Georges Canguilhem e Lorraine Daston - Tiago Santos Almeida (USP)

Em seus estudos dedicados à história dos pensamentos médico e biológico, Georges Canguilhem mostrou que o dado social e a historicidade - marcada pela crítica, pelo erro e pelo abandono de certas concepções -, longe de entrar em contradição com os valores de objetividade, são fundamentais para determinação daquilo que faz da ciência uma ciência: a busca pela verdade. Já Lorraine Daston, ao estudar as ciências em seu desenvolvimento histórico, buscou entender menos a história de uma ciência específica e mais as ideias sobre o conhecimento que articulam seus discursos, suas práticas e seus ideais de objetividade. Por meio de noções como "virtudes epistêmicas" ou "economia moral das ciências", ela propõe historicizar a ideia de objetividade, isto é, mostrar que conceitos epistemológicos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------como “observação” ou “experiência” mudam, evoluem e são culturalmente definidos. Mas Daston não conclui, a partir daí, que escrever essa história necessariamente desacredite a reivindicação de objetividade de uma determinada ciência: assim como Canguilhem, não consegue esconder seu espanto diante dessa ideia "tão estranha quanto difundida" segundo a qual historicizar equivale a relativizar. Pretendemos, a partir dessa comparação entre os dois autores, tomando um dos temas mais caros à historiografia das ciências, compreender melhor as relações entre a "épistémologie historique" francesa e a "historical epistemology", desenvolvida no Instituto Max-Planck para a História das Ciências, em Berlim. Dessa maneira, poderemos pensar a atualidade da "epistemologia histórica" como estilo de historiografia das ciências, naturais e humanas.

Literatura e história para além da representação - Manuela Rodrigues Fantinato (PUC-Rio)

O século XX trouxe consigo não uma, mas várias pequenas (e grandes) revoluções epistemológicas que varreram diversos campos de saber. Se ele parece começar pendendo para uma excessiva profissionalização dos saberes, que pareciam distanciar-se uns dos outros isolando-se dentro dos limites quadros e referências teóricas de legitimação e diferenciação, logo foi possível observar o atravessamento de saberes e disciplinas e a criação de novos espaços de conhecimento que desestabilizaram muitas noções de verdade consideradas sólidas e estáveis. Nas ciências humanas e sociais, a renovação veio encabeçada pela 331 antropologia e a literatura, que deslocaram o dito “real” para a criação de sentidos, tendo a linguagem como espaço privilegiado para isso. Na história, a necessária relação com o real e com o paradigma da verdade fez com que a renovação se manifestasse sobretudo na escolha de objetos não tradicionalmente trabalhados pelo historiador, mantendo-se, muitas vezes, uma abordagem ainda conservadora. É o caso de muitos trabalhos históricos que usam a literatura ou textos literários como representação ou documento. Este trabalho se propõe a pensar nas relações entre história e literatura, do ponto de vista da história e do ofício do historiador, para além da representação. Isso significa rejeitar aproximar-se do texto literário como documento, buscando encontrar nele traços de seu tempo, mas encará-lo como um corpo de experiências capazes de provocar no leitor percepções e inspirações que incitem a produção de conhecimento sobre os vários tempos do texto, desde sua produção até sua recepção. Nesse sentido, a noção de diálogo, de Dominick Lacapra, parece especialmente cara. O papel da literatura para o conhecimento histórico deve ser o de proporcionar o diálogo com o presente, na medida em que apresenta outras perspectivas e sensibilidades que aproximam ou tencionam aspectos da instável relação entre presente e passado.

Marx, Burckhardt, Fustel de Coulanges e Weber: quatro autores em torno das origens da propriedade e da cidade antiga - Guilherme Moerbeck (LABECA/MAE/USP)

Dentre os trabalhos mais relevantes da segunda metade do século XIX está A Cidade Antiga, de Numa Denis Fustel de Coulanges, cuja influência na ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------historiografia europeia até 1930 foi singular; tendo ainda, inspirado muitas reflexões na segunda metade do século XX. A cidade antiga de Fustel, que começa a ser delineada por volta do século VIII a.C., são as instituições citadinas que incorporaram a religião, tornando-a, assim, esse binômio: estado-religião, ou, como preferiu Fustel: uma cidade que era uma igreja. O que subsiste em grande parte dos historiadores contemporâneos, ao se falar genericamente sobre a obra de Fustel, é um entendimento correto, porém demasiado breve, a síntese: família-religião- propriedade. Abertamente influenciado por Fustel, há o historiador suíço, Jacob Burckhardt. Em sua História da Cultura Grega, Burckhardt abordou a emergência da polis na Grécia antiga a partir de diálogos com a teoria política inerentes ao decurso do século XIX. A Atenas de Burckhardt é caracterizada por meio de uma avaliação francamente negativa para a democracia dos séculos V e IV a.C, uma cidade-estado que foi degenerada por um governo popular corrompido. Em Economia e Sociedade, Max Weber definiu a sua cidade a partir de três princípios: da existência de uma sede senhorial, da realização de troca de bens regular e da existência de um mercado. Ainda no século XIX, em 1857, Karl Marx escreveu os Grundrisse, dos quais nos interessam as Formações econômicas pré-capitalistas. Marx rompeu com a dicotomia gregos versus romanos e avaliou a origem das comunidades tribais e cidades-estados em torno da guerra como a grande tarefa partilhada entre os seus membros. A partir da guerra e da estrutura tribal, surgem diferenciações e hierarquizações no tecido social. Em seu modelo para o mundo antigo grego e romano, Marx tentou demonstrar que, a falta da necessidade de um trabalho coletivo para se cultivar a terra fez surgir os proprietários privados em uma 332 sociedade de pequenos camponeses.

Michel de Certeau e a condição histórica como princípio ético da renovação espiritual - Cristiano Ferreira de Barros (Universidade Federal Fluminense)

A produção intelectual do francês Michel de Certeau ultrapassou fronteiras disciplinares. Um primeiro exame dessa trajetória é suficiente para dar-se conta da facilidade com que transitava por diversas áreas do conhecimento pertencentes às ciências humanas - história, antropologia, sociologia, psicanálise e linguística, por exemplo. Contudo, ao averiguar mais atentamente, conclui-se que essa escrita multidisciplinar emerge a partir de um momento específico no percurso trilhado por Michel de Certeau: ela é fruto de uma inflexão ocorrida a partir de meados dos anos 1960. Em linhas gerais, um primeiro momento de sua trajetória intelectual, entre os anos 1950 e 1960, é marcado por um duplo interesse: desde 1956, ano de sua ordenação junto aos jesuítas, atuou no âmbito do que ele designou “teologia espiritual”, dedicando-se sobretudo ao fenômeno da experiência religiosa; em seguida, com sua entrada no curso de doutorado em ciências da religião da Sorbonne, iniciou suas pesquisas em história da espiritualidade e da mística cristã dos séculos XVI e XVII, interesse que manteve ao longo de toda sua carreira acadêmica. A partir de 1964, em grande medida motivado pelo desenrolar do concílio Vaticano II, cresce seu interesse pelo problema da posição que os cristãos deveriam assumir frente às novas experiências sociais e culturais do mundo moderno. Progressivamente, referências a autores não associados ao universo cristão vão recebendo maior destaque, processo acelerado a partir de 1968 com os ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------protestos que tomam Paris em maio daquele ano, frente aos quais manteve posição simpática, aprofundando um conjunto de reflexões relativamente autônomas ao campo teológico e aos preceitos institucionais da Companhia de Jesus. No interior desse processo, qual a função exercida pelos problemas relativos às ciências humanas nas reflexões sobre a experiência religiosa? As rupturas do mundo moderno acarretam novas dinâmicas sociais e culturais nas quais os cristãos são constituídos e dos quais não podem se furtar. Desse modo, as disciplinas que tratam dessas novas realidades informam sobre aspectos da experiência humana essenciais à experiência religiosa. Segundo Certeau, a tradição religiosa, ao longo da história do cristianismo, sempre esteve conectada à linguagem do presente. Em outras palavras, na experiência religiosa, a presença do passado se atualiza num processo de constante diferenciação. Portanto, essa condição histórica da renovação da vida espiritual fundamenta-se num princípio eminentemente ético de abertura à alteridade e de associação da caridade cristã ao clamor moderno por democratização e justiça social.

O Fato, o Tempo e o Método: usos e interpretações da História nas Relações Internacionais - Jéssica Cristina Resende Máximo (PUC-Minas)

Este artigo objetiva analisar o movimento de aproximação e debate entre as áreas de Relações Internacionais e História e colocar em prática tal movimento ao refletir sobre os usos e interpretações da História nas RIs. Chamado de “Virada Historiográfica”, “Virada Histórica” ou “Retorno à História” das Relações 333 Internacionais, este movimento tem sido caracterizado por seu impulso a historicizar os conceitos, as teorias e a própria história da área; isto é, há um esforço pela temporalização da área e de seus pressupostos dentro deste movimento. Datado do final da década de 1980 (tendo ganho mais força a partir da virada do milênio), este movimento na área de Relações Internacionais coloca-se em oposição ao “ahistoricismo” ou ao “mal uso” da História que a área de RI tem cultivado durante sua institucionalização acadêmica, a partir da década de 1940. Assim, a virada ansiaria por uma (re)aproximação das áreas de RI e História, de maneira mais “apropriada” (distante do dito “mal uso” da História por internacionalistas) e “consciente” (ciente das diversas possibilidades de uso e interpretação da História). Ademais, seguindo o espírito da época, investiga-se como três dimensões históricas – fato, tempo e método, têm sido pensadas dentro das RIs. Se a primeira dimensão levanta a questão de como fatos históricos (ou o passado) são compreendidos como correspondência ou narrativa; a segunda interroga como pensar o tempo histórico – ou o arco temporal entre passado, presente e futuro – como repetição, progresso e declínio; por fim, a terceira investiga usos metodológicos da história. Assim, esse artigo é dividido em quatro seções, para além da Introdução e Conclusão: 1) apresenta-se as diferentes visões da virada historiográfica e posiciona-se em relação a estas; 2) introduz as dimensões históricas em relação ao movimento da virada historiográfica; 3) analisa as dimensões históricas face a Teoria de Relações Internacionais e a Teoria da História; 4) reflete como os usos e interpretações da História aproximam ou distanciam as duas áreas.

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O ficcionista como crítico: uma genealogia do procedimento crítico de Vladimir Nabokóv (1889-1977) nas Lições de Literatura - Andressa Melo da Fonseca (Programa de Pós Graduação em História Social - UFRJ)

Entre 1941 e 1959, período que residira nos Estados Unidos, Vladimir Nabókov fora professor universitário de literatura e, antes de se tornar mundialmente conhecido como o autor de Lolita (1955), ministrara cursos que se debruçavam sobre contos e romances de língua inglesa, russa, francesa e alemã do século XIX e XX, que seriam posteriormente editadas e transformadas nas Lições de Literatura (1982). Dando especial atenção para “aos talentos individuais” dos escritores e “a questões de estrutura" dos contos e romances analisados, e fundamentalmente baseado em suas próprias experiências como romancista, Nabókov expunha em suas aulas o que pensava ser indispensável sobre as obras discutidas, priorizando uma análise desenvolvida concretamente na e através da forma e estrutura daquelas, e percebendo as ferramentas de cada autor para alcançar determinados efeitos estéticos ele delineia a “arquitetura” das obras. Grandemente influenciado pelos movimentos simbolista e formalista russo, o presente artigo busca ressaltar a influência da epistemologia formalista na crítica que Nabókov exerce durante a sua crítica. Se por um lado, o émigrè russo propõe uma análise da estrutura que despreza a historicidade das obras, por outro percebemos que, ao forjar seu cânone pessoal, Nabókov, pelo contrário, não deixa de estar inserido nas dinâmicas do campo literário e sobretudo, nas dinâmicas da Literatura Mundial, com suas disputa de poder, hierarquias e determinações de valor estético, criados por atores social e 334 historicamente definidos.

O marxismo vai ao Império: Thompson e Gramsci em O Tempo Saquarema - Vânia do Carmo (Universidade Federal Fluminense)

Originalmente apresentado como tese de doutoramento no ano 1985, O Tempo de Saquarema de Ilmar Rohloff de Mattos é uma obra de leitura fundamental tanto para quem estuda a formação do Estado Imperial brasileiro quanto para os que se dedicam às relações sociais no século XIX do Brasil. Bebendo em Edward Palmer Thompson, Mattos opera o conceito de classe senhorial como categoria histórica, e ao tecer a relação dessa classe senhorial com a formação do Estado Imperial entende a atuação da Coroa como papel de um Partido, conceito sustentado em Antônio Gramsci. Desta forma, este trabalho dispõe-se a discutir as influências de Thompson e Gramsci nO Tempo Saquarema, com o objetivo de compreender como os conceitos de classe senhorial e partido político se inserem na obra de Mattos e dão base para sua tese central.

O Nascimento da Cidade anti-higiênica: a experiência da epidemia no Rio de Janeiro de 1870 - Claudio Vinicius Felix Medeiros (UFRJ)

De fato existiu a cidade anti-higiênica – a cidade do Rio de Janeiro na segunda parte do XIX –, mas muito mais como produto ou efeito, não como origem. Como foi possível algo que não existia concentrar tamanha consistência ontológica? Como se elaboraram os sólidos contornos discursivos e mecanismos de poder tais ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------capazes de fazer emergir sob a condição de coisa algo cuja clarividência não foi manifesta? Nossa tarefa está próxima do que seria uma “topografia das condições de possibilidade” para a elaboração de um dispositivo higienista que preencheu, disputou narrativas, transmitiu ou procurou naturalizar nexos causais mais ou menos notáveis. A questão é, portanto, refinando aqui os objetivos: como foi possível que se assumisse de forma (aparentemente) irrefletida a ligação, o nexo causal, entre o desalinho das ruas coloniais (a disposição, a fisionomia das nossas ruas) e insalubridade pública (o anti-estético, o mau cheiro)? Ou: o que permitiu que o traçado urbano herdado do período colonial fosse considerado insalubre pelo discurso higenista da segunda metade do XIX? Propomos que não foram os higienistas que lançariam as bases de percepção da rua como causa intransigente da uma conveniência com mau cheiro da cidade. Interessa-nos de que modo o a priori histórico que ativou a sensibilidade para a condição defeituosa da cidade de S. Sebastião já estaria sendo preparado para que o discurso higienista objetivasse a cidade como um campo potencial de intervenção. No máximo, a importância preliminar do dispositivo médico-higienista foi ter institucionalizado, capturado um ramo de competências em torno da rua e do cortiço como formas de problematização quase que exclusivas, no contexto das epidemias de febre amarela da década de 1870.

O sentido histórico e genealogia na última fase do pensamento nietzschiano - José Nicolao Julião (UFRRJ) 335 Este ensaio está em intima conexão com os estudos que já vimos apresentando resultados preliminares nos últimos anos. Nos trabalhos anteriores, víamos, sobretudo, a crítica de Nietzsche ao historicismo, à consciência histórica, no período de juventude , devido à sua exacerbação do sentido histórico como capacidade de dar significação ao passado através da memória, ainda muito presa às teses apresentadas em o Nascimento da Tragédia. Nessas, Nietzsche se posicionou radicalmente crítico em relação à infecundidade criativa do que então chamou de racionalismo socrático, ou metafísica racional, caracterizado pela crença otimista na capacidade da razão em alcançar um conhecimento objetivo que consolaria, deste modo, o ser humano da sua condição de finitude e fraqueza. Na Segunda Extemporânea, ainda, repercute, consequentemente, essa crítica ao racionalismo socrático, ao tratamento caudal, científico da história como um rebento moderno da racionalização humana que pretende estabelecer, através da capacidade de dar significação ao passado pela memória, uma narrativa pretensiosamente verdadeira, comprometendo, por assim dizer, todo plano vital do presente. Por isso, o diagnóstico de que os males da cultura se devem à incapacidade do sentido histórico em dar significado ao passado através da memória, apresentado nessa Extemporânea, depende da tese peculiar do NT, segundo a qual, há na modernidade uma hipertrofia dos impulsos cognitivos que impossibilita uma cultura autêntica e elevada de vida ativa. No que concerne à questão do sentido histórico, embora já chamássemos atenção, em resultados anteriormente apresentados, para o fato de que o tema permeia toda a obra de Nietzsche, sofrendo novas significações de acordo com o texto e o contexto de inserção do desenvolvimento do seu pensamento, efetivamente, nós pouco ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------avançamos em nossas análises sobre o assunto, nas fases, intermediária e de amadurecimento. O tema do sentido histórico na história universal é retomado, posteriormente, tanto em obras editadas pelo filósofo quanto no espólio , nas fases seguintes do seu processo de desenvolvimento intelectual, como, por exemplo, em: Humano, Demasiadamente Humano I (HH I) I, 2; HH II, 17 e 223 (Miscelânea de Opiniões e Sentenças); Gaia Ciência (GC), 337; Para Além de Bem e Mal (PBM), 224; Genealogia da Moral (GM), I 2, II 12; Crepúsculo dos Ídolos (CI) “A razão na filosofia”, 1; Ecce Homo (EH), “As Extemporâneas”, 1. E ainda, aparecerá em alguns póstumos, em muito especial, nos aqui destacados por nós, como: KSA, XI, 34(229); KSA, XIV, p.121 comentário ao HH I, 2. Contudo, a posição de Nietzsche em relação ao tema nem sempre foi à mesma, variando quanto ao seu valor positivo ou negativo nas obras publicadas e nos póstumos de acordo com o momento da sua filosofia.

Primo Levi e o conceito de testemunho político - Pedro Spinola Pereira Caldas (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

Em “Os afogados e os sobreviventes” (1986), Primo Levi reflete densamente sobre a necessidade, as condições e os limites do ato de testemunhar. Extremamente rigoroso quanto às possibilidades do testemunho, Levi, porém, comenta que o testemunho mais apropriado da experiência dos campos de concentração era aquele produzido pelos antigos combatentes antifascistas, uma vez que eles, desde o início, haviam percebido que o “Lager” era, acima de tudo, um fenômeno fascista 336 (cf. LEVI, Primo. “I sommersi e I salvati”. Torino: Einaudi, 2007, p.9) Embora sempre muito criterioso, Levi não analisa detalhadamente casos particulares. Embora mencione, ainda em “Os afogados e os sobreviventes”, os nomes de Eugen Kogon, Hans Marsalek e, sobretudo, Hermann Langbein, o habitualmente conciso Levi não esmiúça as obras destes autores. Meu objetivo, portanto, consiste em propor uma possibilidade de investigação que leve em consideração a importância da interlocução de Levi com seus contemporâneos, e, uma vez ampliando a documentação, tentar identificar outros testemunhos de natureza política e antifascista que acompanharam a obra de Levi ao longo de toda a sua trajetória. Neste trabalho, todavia, pretenderei me deter apenas na obra “Menschen in Auschwitz” (1972), de Hermann Langbein (1912-1995), membro do Partido Comunista Austríaco e que esteve também em Auschwitz. Muito admirada por Levi, a obra de Langbein pode ser um primeiro passo para uma definição do conceito de testemunho político no âmbito da definição do conceito de testemunho no âmbito das pesquisas sobre a obra de Primo Levi.

Uma imagem da subjetividade: a arte de Francis Bacon entre logos e pathos - Letícia Pumar Alves de Souza (UFRRJ)

Por que produzimos conhecimento? Como isso é feito? Afinal, o que é conhecer? A pesquisa de pós-doutorado que venho desenvolvendo tem como objetivo promover uma reflexão sobre o ato de conhecer, dando especial atenção às questões sobre a produção e usos das imagens. Focando, inicialmente, no processo de trabalho do artista Francis Bacon (1909-1992), proponho analisar de que forma ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------esse artista usou referências da cultura visual científica de sua época em suas pinturas. Suas pinturas devem ser compreendidas tendo em vista o desenvolvimento da cultura visual do século XX que foi permeada pelas “imagens mecânicas”. Essa nova cultura visual mudou a forma que o corpo humano era representado até então, tanto nas artes, quanto nas ciências. Daston e Galison (2007) buscaram demonstrar de que forma o que eles chamaram de objetividade mecânica foi uma virtude epistêmica de meados do século XIX, que recorrendo à fotografia ou aos métodos gráficos, supunha produzir conhecimentos científicos independentes das subjetividades individuais. Como foi demonstrado recentemente por Brain (2016), essas formas científicas de conhecer influenciavam artistas que usavam algumas dessas práticas para os seus próprios objetivos. Quando eu tomei conhecimento das fontes que o pintor Francis Bacon usava para pintar (imagens retiradas de manuais médicos, de atlas científicos e de revistas de ampla circulação), considerei que o processo de trabalho desse pintor poderia ser analisado de forma mais detalhada. O chamado “realismo perturbador” de Bacon poderia demonstrar como algumas imagens consideradas “imagens objetivas” poderiam ser usadas como fontes para um artista que procurava expressar sensações e “reinventar o realismo”. Qual virtude epistêmica esse processo de trabalho revela? Procuro, portanto, analisar de que forma a produção de conhecimento pode ocorrer no entrecruzamento de diferentes campos disciplinares como as artes, as ciências e as tecnologias, enquanto um posicionamento epistemológico, ético e estético. Os trabalhos de Georges Didi-Huberman sobre a produção de conhecimento por montagem serão particularmente uteis para esse 337 debate, assim como uma produção crescente no campo da história das ciências sobre a questão das imagens.

Verbete da "enciclopedia audiovisual da cultura popular": um estudo sobre o filme "A cantoria" (1970) - Ana Caroline Matias Alencar (PPGH - Unirio)

Durante a década de 1960, no Brasil, em torno da figura de Thomaz Farkas, reuniu- se um grupo de cineastas preocupados com a definição do que poderia ser compreendido como a especificidade nacional. Ao primeiro projeto realizado pelo grupo, justamente por ter sido pautado por essa pesquisa sobre a "realidade brasileira", foi oferecido o nome de "Brasil verdade". Já para a realização do segundo projeto, denominado posteriormente como "A condição brasileira", a participação do cineasta baiano Geraldo Sarno ganhou destaque incontestável, uma vez que essa segunda fase da produção cinematográfica da "Caravana Farkas" toda ela foi alicerçada sobre trabalho de pesquisa anterior sobre cultura popular nordestina que já vinha sendo desenvolvido por Sarno nos limites do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP). Com o auxílio do então diretor do instituto, José Aderaldo Castello, a proposta inicial de filmagem de dez documentários que explorassem diversos aspectos das manifestações culturais nordestinas pôde ganhar corpo de forma a resultar nos dezenove filmes, em sua maioria curtas-metragens, que foram produzidos pelos cineastas da Caravana a partir das imagens gravadas durante as duas viagens feitas pelo grupo ao interior do Nordeste. A questão norteadora da pesquisa que venho desenvolvendo ao longo do mestrado é a de que maneira, para a elaboração e para ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------a execução deste projeto cinematográfico que contou com a parceria institucional do IEB, Geraldo Sarno reelaborou temas recorrentes nas reflexões de intelectuais como Euclides da Cunha, Luís da Câmara Cascudo, José Aderaldo Castello e Manoel Cavalcanti Proença, pertencentes a três gerações de intérpretes do Brasil distintas, mas com aos quais o cineasta recorreu para o estabelecimento do que deveria filmar e do porquê de fazê-lo: uma vez que as manifestações culturais consideradas por ele como autenticamente brasileiras estariam correndo iminente risco de desaparecimento, caberia à nossa intelectualidade o registro dessas manifestações vistas como tão imprescindíveis para qualquer definição que se tentasse estabelecer sobre o Brasil. Este trabalho, em especial, enfocará as reapropriações feitas por Geraldo Sarno da obra de apenas um destes intérpretes do país mencionados: Luís da Câmara Cascudo. Nas reflexões elaboradas pelo etnógrafo norte-rio-grandense o cineasta baiano procurou reforços para melhor definir sua própria função como intelectual, o que de maneira exemplar se expressou na identificação estabelecida por Sarno dos seus curtas-metragens como verbetes de uma “enciclopedia audiovisual da cultura popular brasileira”, como forma de oferecer continuidade ao esforço que ocupou toda a vida de Câmara Cascudo. Para tanto, será examinado o filme A cantoria (1970).

Vítima, testemunho e a “perversão historiográfica”: uma leitura de Marc Nichanian - Alexandre de Sá Avelar (Universidade Federal de Uberlândia)

Em suas reflexões mais recentes sobre a “fenomenologia do sobrevivente”, Marc 338 Nichanian, um teórico franco-armênio ainda muito pouco traduzido no Brasil, tem se esforçado para estabelecer um estatuto epistemológico para o testemunho de situações traumáticas. Por paradoxal que possa parecer, é a partir da própria impossibilidade do testemunho que funciona como ponto de partida para esta árdua tarefa intelectual. Na esteira de autores como Giorgio Agamben, Nichanian afirma que a vontade genocidiária é aquela que procura retirar a factualidade do genocídio e que obriga a vítima a fornecer a prova. As testemunhas, ao procurarem relatar a verdade do ocorrido, apenas confirmariam a vontade do perpetrador. Este realismo frágil ou a “lei do arquivo”, conforme expressão de Nichanian, evidencia, mais do que a impossibilidade do testemunho, uma “perversão historiográfica”. Em nossa perspectiva, trata-se de perceber como tais situações-limite ou eventos traumáticos atestam uma profunda crise da historiografia. Dois são os principais propósitos da minha apresentação: inicialmente, tento discutir o estatuto da vítima – operando uma crítica aos usos desta categoria – e definir em termos mais precisos tal “perversão historiográfica”. Em seguida, apresento as bases do que Nichanian compreende ser o estatuto do testemunho, chamando a atenção, sobretudo, para o que ele define como “poética do resto” (reliquat).

Wolfgang Schluchter, um olhar sobre a categoria de Racionalização - Rafael Martins de Marcelo Fallone (Universidade Federal de Goias)

Wolfgang Schluchter é considerado uma das maiores autoridades acerca da obra de Max Weber. Os aportes criados por este pensador alemão, que aposentou-se recentemente, continuam lançando luz sobre o papel da epistemologia nas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------definições formais das disciplinas. A partir da análise das obras: ‘A Ascensão do Racionalismo Ocidental’ (Die Entwicklung des okzidentalen Rationalismus) e ‘Paradoxos da Modernidade ( Paradoxes of Modernity. Culture and Conduct in the Theory of Max Weber), utilizo do conceito de Racionalização (Rationalisierung) como fio condutor e proponho uma relação de tal entre a produção de conhecimento histórico/sociológico e esta relação como tema da Filosofia da História.

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340 ST 32. História e Direito

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Arquitetura das Subvenções: Desvendando a Política de Fomento do Estado Brasileiro. - Fabíola Amaral Tomé de Souza (UFRRJ)

O tema das subvenções, apesar de extremamente relevante para pensarmos importantes aspectos da política brasileira, até o presente momento não se via prestigiado no campo das Ciências Humanas. Estudar, analisar, debater e conceituar as subvenções é um significativo avanço para compreender de forma interdisciplinar os mecanismos de financiamento de obras e de serviços incentivados pelo Estado, suas legalidades e ilegalidades. Analisando a legislação do Império Brasileiro e a legislação do período republicano até 1964, verificamos a ausência de matérias legais que tratassem especificamente de o tema apesar das subvenções serem presença constante na atividade do legislativo e executivo brasileiro pesquisada. Ao pensar o tema é importante atentarmos de estarmos, inicialmente, tratando de conceitos jurídicos e que, portanto, pensar o Direito enquanto objeto de análise histórica faz-se necessário. Pensar a historicidade do direito é imprescindível já que não podemos recusar a devida atenção ao modo histórico de pensar o direito, as leis e sua aplicabilidade. O direito não nasce isolado da sociedade, insere-se sempre num certo contexto histórico constituinte e reconstituinte, conforme a própria natureza do direito reclama que se entenda vinculado à existência cultural e histórica do homem. Evidentemente que a historicidade do direito não vive sufocada sob o império do passado e não se afere apenas pelas objetivações histórico-culturais estáticas, já que o direito que vivemos em cada época nunca constitui obra definitiva. Devemos analisar a legislação e o 341 direito assumindo um princípio de reflexão crítica e problemática, a partir das diversas camadas que determinada legislação recebe ao longo do tempo, desenhadas em relações flutuantes, porque, em direito, as coisas são historicamente fluidas. O direito é uma norma social, instituída de forma hierárquica e forçosa por membros de uma classe política capaz de impor seu respeito através de um sistema de repressões e sanções. Salientando que nas mais diversas atividades da sociedade essa regra também se aplicaria, como os códigos morais, profissionais e sociais. Não obstante, é correto afirmar que a noção de fato jurídico é distinta das outras. Diante do exposto este trabalho discutirá a arquitetura das subvenções. Igualmente, atribuímos mais ênfase e primazia à questão política e a posição do Estado em relação as subvenções, deixando num plano abaixo o discurso propriamente das funções caritativas e/ou filantrópicas que foram assumidas e combinadas pela sociedade civil diante da necessidade de auxiliar os cidadãos carentes.

As relações de gênero no sudeste escravocrata brasileiro: perspectivas historiográficas e jurídicas no estudo das famílias escravas oitocentistas - Daniel Camurça Correia (Universidade de Fortaleza)

Busca-se com este artigo discutir às relações de gênero dentro dos estudos da escravidão do sudeste brasileiro. Ao analisar a produção historiográfica desde os anos de 1970 até o presente momento, observa-se intenso debate a respeito do papel das mulheres negras e escravas, dentro da estrutura paternalista e provinciana da sociedade brasileira em tempos coloniais e imperiais. Viver, amar e casar são categorias de análise que nem sempre foram sinônimos para muitas mulheres que ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------lutaram pela sobrevivência, nos campos e nas cidades. Pelo contrário, ao estabelecerem ações para viver, de acordo com suas compreensões da realidade, as cativas permitiram que os historiadores indagassem sobre os significados do amor e do casamento, bem como da constituição familiar em tempos de escravidão.

Decisões judiciais no STF da Primeira República: Elementos para compreensão em casos políticos - Leonardo Seiichi Sasada Sato (UERJ)

O presente trabalho constitui um passo para a propositura da história política do Direito enquanto método para a compreensão de decisões judiciais em cortes superiores, em especial no Supremo Tribunal Federal. Acredita-se que decisões judiciais constitucionais possam ser melhor compreendidas através da história política do Direito, abordagem capaz de conferir inteligibilidade a decisões colegiadas em instância superior, mormente em casos de alta controvérsia política. Ao mesmo tempo é necessário aprofundamento no pensamento político que envolvia tanto os ministros do STF quanto a Corte em si: os casos políticos impunham debates sobre as funções, os limites, e o papel da atuação do STF no equilíbrio entre poderes. É proposto um caso específico, o habeas corpus nº 3548 julgado pelo STF no ano de 1914, referente à intervenção federal no Ceará e às decretações de estado de sítio no Distrito Federal, Niterói e Petrópolis. As peculiaridades do caso estão justamente em a decisão ter destoado de outras sobre os mesmos eventos, e não obstante isso ter alcançado um lugar nos precedentes citados à época, como se ilustrativo fosse. Revelam-se assim facetas acerca de 342 como os casos poderiam ser compreendidos à época, e como podem ser apreendidos na pesquisa histórica. A despeito de ter fugido à regra comum, o caso representou o que era o uso político dos julgados do STF. Essas percepções dependem de uma minúcia que só a análise atenta sobre a fonte histórica, tratada como tal, é capaz de captar. Será apontado, entretanto, que nenhuma abordagem é suficiente, se tomada de forma isolada: nem a História, nem a Ciência Política, nem o Direito. Procura-se assim uma compreensão através de uma história política do direito.

Inocêncio Serzedelo Corrêa: Pensamento financeiro e tributário na Primeira República - Priscila Petereit de Paola Gonçalves (UFF)

O tema de pesquisa tem como objetivo debater as ideias de Inocêncio Serzedelo Corrêa em torno das questões fiscais e econômicas que permearam o início da Primeira República. Serzedelo Corrêa, nascido no estado do Pará, teve um papel relevante na política econômica da recém República brasileira, sendo um dos principais porta-vozes do debate sobre os rumos da economia no país. Em 1890 foi eleito deputado constituinte, representando o estado do Pará no Congresso Constituinte de 1890-1891. Já neste primeiro momento teve um papel de destaque quando o tema em discussão tratava da temática financeira e tributária do país. Posteriormente, passou a integrar importantes cargos no cenário político como, por exemplo, de Ministro das Relações Exteriores e Ministro da Fazenda, ainda no governo de Floriano Peixoto. Pode-se observar que a sua política econômica e financeira se pautou no estímulo à industrialização, com tarifas protecionistas e ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------facilidades de crédito, sem perder de vista o controle da especulação e da inflação. Na qualidade de Ministro da Fazenda também empreendeu a reforma bancária, com a fusão dos bancos da República e do Brasil, bem como iniciou uma campanha para a instalação do Tribunal de Contas. Neste sentido, a partir da análise do texto “O problema econômico no Brasil”, produzido por Serzedelo Corrêa em 1903, bem como através da leitura de seus Relatórios, na qualidade de Ministro da Fazenda, e de seus discursos preferidos no Congresso Constituinte de 1890-1891, pretende-se investigar a produção intelectual e a trajetória política de Inocêncio Serzedelo Corrêa. Desta forma, acredita-se que o estudo aprofundado do citado político brasileiro, bem como de sua produção na área econômica e em torno do Direito Tributário possa nos revelar uma vertente do pensamento político-econômico nascente na Primeira República, mostrando, assim, a permeabilidade e a necessidade de estudos que relacionem Política, Direito e História.

Intervenção na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro - Algumas reflexões - Rafael Peçanha de Moura (Universidade Estácio de Sá)

O presente artigo traz contribuições, sob a ótica do Direito Constitucional, às reflexões sobre o decreto presidencial anunciado no dia 16 de fevereiro de 2018, referente à intervenção federal no setor de segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Por tratar-se de fato recente, a metodologia da abordagem utilizará fontes jornalísticas, acrescidas de bibliografias jurídicas e legislações anteriores, tendo como objetivo esclarecer os principais pontos do tema sob a égide da técnica 343 legislativa e das Constituições (Federal e Estadual), sem deixar de apresentar hipóteses sobre os aspectos políticos, sociológicos e históricos da discussão.

Um olhar sobre o acervo judiciário da Casa da Suplicação do Brasil: Notas de Pesquisa - Elizabeth Santos de Souza (UFF)

O presente trabalho tem objetivo de apontar a importância e potencialidade do acervo judiciário do Tribunal da Casa da Suplicação do Brasil, indicando algumas fontes históricas cujo uso permitirá escrever um novo capítulo sobre a história da administração da justiça no Brasil oitocentista e sobre alguns temas caros aos historiadores. Este trabalho trata-se de um exercício preliminar de análise sobre as fontes inventariadas, até o momento, para a pesquisa do doutorado em andamento. A Casa da Suplicação era o tribunal judicial mais importante da coroa portuguesa e tinha competência para despachar apelações e agravos de ações cíveis e criminais. As raízes desse tribunal encontram-se no medievo, quando era considerado itinerante devido sua localização estar atrelada ao lugar de residência do monarca. No Brasil, um congênere desse tribunal foi instalado no Rio de Janeiro em 1808, funcionando até o ano de 1833.

O processo inquisitorial 8064 à luz da Micro-história - Guilherme Marchiori de Assis (Universidade Federal do Espírito Santo)

A seguinte proposta se inscreve na relação entre a História e o Direito, buscando avaliar de que forma um indivíduo específico, sua trajetória e sua teia de relações ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------e significados sociais nos informam sobre as transformações na relação entre as instituições seculares e a Igreja no Portugal do Setecentos. Seu personagem central é o jesuíta italiano Gabriel Malagrida, religioso inaciano que dedicou grande parte de sua vida às missões nos quadros da colonização, tendo atuado como missionário no Brasil por trinta anos. Assim como Domenico Scandella, vulgo Menocchio, da obra O queijo e os vermes do historiador italiano Carlo Gizburg, Malagrida foi réu em processo inquisitorial, o qual saiu condenado à morte do mesmo modo. A sentença do processo inquisitorial de Menocchio era vasta e com atributos própios, tal qual o processo de Malagrida foi bem distribuído, vez que seguiu o Regimento de 1640, aprovado ao tempo de D. João IV (1640-1656), “o Restaurador”, sob a ordenação de D. Francisco de Casto, inquisidor-geral nesse período. Outro ponto de equiparação é a relação que a micro-história fornece: o mundo é equiparado ao queijo e aos vermes. Isso porque este, por atributos próprios, consome aquele. Sob foco similar, Malagrida afirma que o terremoto de primeiro de novembro de 1755 fora fruto do pecado atribuído ao povo lisboeta. Ao contrário de Menocchio que não deixou escritos, apenas suas palavras nos autos inquisitoriais, Malagrida redigiu o opúsculo denominado O Juízo da verdadeira causa do terremoto que padeceo a côrte de Lisboa no primeiro de novembro de 1755, além da Heróica e admirável vida da gloriosa Santa Anna mãe de Maria Santíssima, ditada pela mesma Santa, com assistência, aprovação e concurso da mesma Soberaníssima Senhora e seu Santíssimo Filho e Tractus de vita et Imperio Antichristi, todos os escritos anexados aos autos 8064 de 1761. O ponto mínimo de sua argumentação, qual seja, ligação direta entre o pecado e o terremoto, gera um processo de 2033 344 laudas. Processo esse sob o Tribunal da Inquisição durante o reinado de D. José I (1750-1777). De outro modo, Menocchio faz apontamentos vistos como contrários aos dogmas da Igreja e ao Cristianismo. Condenado ao garrote vil e queimado na Praça do Rossio, em Lisboa, Malagrida é publicamente supliciado em 1761. O moleiro filósofo foi condenado a passar o resto dos seus dias na prisão, usando o sambenito. Partindo assim da análise dos autos inquisitoriais 8064, tal como Ginzburg empreendeu sua análise da sentença em face de Domenico Scandella, é possível verificar quais os componentes histórico e jurídicos previstos nos autos e no Regimento de 1640, a fim de apresentar como se deu esse julgamento que é ponto crucial na análise historiográfica lusa.

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345 ST 34. História e memória das periferias brasileiras, africanas e latino americanas: cidadania, invisibilidade social e silêncio.

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A brasa fora do braseiro: implicações identitárias de uma igreja histórica em processo de pentecostalização - Pâmella Ferreira Campos (UNIRIO)

O trabalho em questão visa compreender o processo denominado como pentecostalização das igrejas protestantes históricas, mais especificamente o caso da Igreja Batista Novo Horizonte (IBNH), situada em São João de Meriti, Rio de Janeiro, fundada no ano de 1968, ativa na comunidade de Parque Tiete até os dias de hoje. O interesse sobre essa pesquisa surgiu no momento em que fui convidada a realizar o levantamento histórico desta instituição, a fim de salvaguardar a memória de sua fundação e sua relevância enquanto participante da história da comunidade de Parque Tiete, Baixada Fluminense. Por ser detentora de um modelo de culto mais rígido e racional, dando ênfase na leitura bíblica e na não abertura para êxtases espirituais e tampouco para testemunhos íntimos, a mensagem batista não é caracterizada por ter um discurso acessível que agregue as massas populares. Desde sua instalação no Brasil, ela prioriza uma postura ascética e tem como base o distanciamento da cultura popular católica, assim como as influências africanas e indígenas. Em IBNH não era muito diferente, modelos de cultos com maiores demonstrações emocionais e elementos pentecostais, não só eram mal vistos, como poderiam render exclusão de membros. Entretanto, há mais de uma década esta igreja tem não só aceitado o “batismo no Espírito Santo”, como também tem incentivado a busca frequente pelo “dom de línguas” por parte dos membros, a fim de que tenham uma vida espiritual mais avivada e íntima com Deus. Algo impensável até a década de 1990, estritamente condenado pelos diáconos e pastores 346 veteranos tradicionais, o incentivo e a prática de elementos pentecostais, atualmente tomou posse da organização de culto de IBNH. Os congressos voltados para o aprofundamento bíblico e o estudo teológico de maneira mais pragmática e rígida, foram substituídos por retiros espirituais com temáticas sobrenaturais tais como: “Encontro com Deus”, seminários sobre “maldição hereditária”, “libertação e cura espiritual”, e diversas programações carismáticas voltadas para o público jovem. Juntamente com essa transformação litúrgica, houve uma mudança quanto ao corpo de membros e suas estruturas familiares.Nessa perspectiva, comparando o fluxo e o histórico de famílias que frequentavam IBNH no período batista tradicional, e no momento mais recente admitindo elementos pentecostais, pude ver a diferença de raça, renda e escolaridade da membresia, mudança perceptível que se intensificou nos períodos de maior violência e expansão do tráfico de drogas na região. O objetivo final deste trabalho é a análise da expansão pentecostal associada à realidade periférica de seus fiéis, bem como o espaço de atuação social que essas pessoas, sobretudo mulheres pobres e negras, exercem através de lideranças nestas igrejas.

As interpretações da encantaria e da pajelança no Estado do Maranhão na primeira metade do século XX - Rayssa Sampaio Teixeira (UFRJ)

O presente artigo tem como objetivo descrever de que modo os rituais religiosos conhecidos como “Encantaria” e a “Pajelança” eram interpretados no Estado do Maranhão. Para o desenvolvimento da pesquisa foi realizado em fevereiro de 2018 o levantamento documental dos Periódicos Nacionais localizados na Hemeroteca ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Digital da Biblioteca Nacional no período entre 1890-1930, utilizando os descritores “curandeiros”, “pajelanças”, “feitiçaria”, “demônios”, “encantaria” e “macumba”. O estudo retrata o cenário da Primeira República e o protagonismo negro e indígena o que justifica o recorte temporal escolhido. A partir das fontes Jornal Pacotilha (MA) e Diário do Maranhão (MA) analisadas, nota-se que as denúncias contra os praticantes dos rituais religiosos afro-brasileiro e indígena provocou a distorção e o silenciamento dos testemunhos, bem como a memória coletiva sobre os mitos. Também foi possível relacionar as denúncias feitas contra estes rituais com o evento pós-abolição da escravatura no Brasil. Além disso, apesar da maioria dos autores atribuírem uma perspectiva pejorativa aos mitos na literatura dos Folhetins, percebeu-se a existência de uma minoria que adaptava a figura de Caboclos em seus personagens, ressignificavam os rituais nas histórias e exaltavam os orixás. Por fim, diante dos achados, ocorreu a reflexão acerca dos conceitos bibliográficos da filosofia e da antropologia que debatem a interferência da religião e da religiosidade na vida dos indivíduos e como isso reflete no coletivo.

Cabo Verde como paraíso do Atlântico colonial - Agata Bloch (Academia Polonesa das Ciências)

No século XVI, Cabo Verde tornou-se o coração responsável pelo percurso das ideias, pessoas, mercadorias e conhecimentos através de todo o Império colonial português, envolvendo várias heranças e tradições culturais. Foi um lugar de transplantação de inúmeras espécies vegetais e animais, um verdadeiro campo de 347 experimentação e um lugar estratégico no cruzamento das mais importantes rotas marítimas. Tudo o que foi enviado de África para a América ou para a Ásia, passou por um processo de adaptação em Cabo Verde. Plantas e animais foram sendo aí preparados para a reexportação, enquanto os escravos foram submetidos a um processo de adaptação, sendo batizados no porto da Ribeira Grande, sede da missão cristã em África, onde lhes era ensinada a língua portuguesa e onde eram obrigados a aceitar as matrizes culturais básicas dos Europeus. As novas circunstâncias permitiram o nascimento de uma sociedade distinta e mista, que foi obrigada a aprender tudo a partir do zero. Surpreendentemente rápido, conseguiram ultrapassar as suas fronteiras, contribuindo para a difusão cultural e comercial da Europa, da América, da África e da Ásia, sendo o Cabo Verde um ponto de encontro de quatro continentes. Na fronteira de vários mundos, aproveitou um pouco de cada um deles. Cabo Verde é um pedacinho do Brasil ou o Brasil é um pedação de Cabo Verde? Cabo Verde foi um espaço de oportunidade para ideias místicas, permanecendo o local favorito para os sonhos e medos ocidentais. Porém, foi verdadeiramente um paraíso para todos?

Em busca da ocupação dos subúrbios e áreas rurais de São Paulo entre os séculos XIX e XX. - João Paulo França Streapco (USP)

O presente trabalho tem por objetivo apresentar aspectos da transição rural-urbana ocorrida na cidade de São Paulo entre os séculos XIX e XX, que gerou o padrão periférico de urbanização, tendo por referência alguns dos elementos daquilo que o sociólogo Gabriel Bolaffi definiu por variáveis menos evidentes e mais profundas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------do processo de formação das periferias paulistanas. Entre estes elementos de referência, buscaremos apresentar algumas evidências de um processo de ocupação das áreas suburbanas e rurais do município, a partir do estabelecimento de chácaras, fazendas e pequenas propriedades, onde a produção agrícola, de subsistência ou para o fornecimento aos mercados da cidade, tinha uma função estratégica para a alimentação dos grupos mais pobres da cidade, inclusive no período de industrialização da primeira metade do século XX. Paradoxalmente, a historiografia sobre a cidade de São Paulo pouco se atentou aos processos históricos de ocupação de suas periferias e com aqueles que estiveram envolvidos com este processo. Apresentaremos algumas das fontes que referenciam nossa pesquisa e os desafios colocados para encontrar dados estatísticos acerca desta produção, em alguns períodos históricos e o trato com os dados encontrados em algumas estatísticas.

Hip Hop de leste a oeste de Manaus: quatro cabeças de uma Hidra Urbana e um bumerangue africano - Sidney Barata de Aguiar (UFAM)

Este artigo tem por objetivo principal resgatar a história recente do Hip Hop organizado na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, através da trajetória de quatro personagens exponenciais. Para tanto, coletei os depoimentos destes fundadores e protagonistas do que chamamos M.H.M. (Movimento Hip Hop Manaus). Com uma escrita didática, apresento e represento esta cultura gestada, criada e desenvolvida nas ruas como uma Hidra Urbana, pela sua capacidade de 348 renovação e envolto pela teoria do Bumerangue Africano que subsidia com a circularidade de informações regionais e culturais e que contribui com o enfrentamento dos problemas sociais e políticos das periferias locais e que utiliza os espaços urbanos para sobreviver, criar-se e recriar-se nas “quebradas”, nas vielas e arrabaldes manauaras.

O caso do astrólogo racista - Linderval Augusto Monteiro (UFGD)

Trata-se da narrativa e análise de um caso de justiçamento popular ocorrido em 1970 no município de Nova Iguaçu. O caso chamou a atenção da imprensa fluminense e carioca principalmente por envolver um astrólogo branco que vivia em um bairro periférico iguaçuano e seus vizinhos quase todos negros. Após alguns anos de uma convivência conflituosa ao extremo, alguns dos vizinhos do "professor Sousa" resolveram justiça-lo. Intento nessa comunicação pensar as formas como, ao longo do que chamo colonização proletária da Baixada Fluminense, deram-se as relações entre vizinhos e as identidades populares.

O Museu de Favela no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo: potencialidades e limites dos agenciamentos da memória - Aline dos Santos Portilho (IFF)

A Organização Não-Governamental Museu de Favela foi fundada em 2008. Sua existência resulta da mobilização de parcela dos moradores do Pavão-Pavãozinho e do Cantagalo em torno das ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), fruto de parceira entre governo federal e estadual e iniciado em novembro ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de 2007. No âmbito do PAC, propunha-se realizar investimentos em infraestrutura e no desenvolvimento econômico e social local, razão pela qual foi criada a Base de Inserção Social e Urbana (BISU)1. Dentre outras atividades, a BISU realizava cursos de qualificação profissional com o objetivo de criar um “legado do PAC” para aquelas favelas. Este legado consistia na criação de uma empresa, associação ou cooperativa que, após o término da execução do PAC, permanecesse no território gerando trabalho e renda para a população. Como resultado dos debates realizados entre moradores, gestores públicos e empresários, parte considerável das ações foi direcionada para a criação de um museu que operasse também o turismo. Neste sentido, foram realizados dois cursos em parceria com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) para moradores interessados em se engajar na criação daquele museu, um de Museologia e outro de Turismo. A articulação dos moradores em razão das ações sociais do Programa de Aceleração do Crescimento no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo concorreu de forma decisiva para a instalação do MUF. O cruzamento de ações governamentais desenvolvidas naquele território abriu o campo de possibilidades no qual os moradores envolvidos em torno do MUF produziram outras estratégias para relacionar-se com o governo. Utilizavam-se da memória como capital para movimentar estas relações, produzindo agenciamentos que não se limitaram a acionar o governo. Mobilizavam também a iniciativa privada, bem como foram utilizados para se aproximar de moradores das duas favelas que não participavam diretamente da gestão do museu. O objetivo central desta apresentação é refletir sobre as potencialidades e limites impostos a esta ação realizada pelos moradores mobilizados em torno do MUF. 349 Entendo que a possibilidade de utilizar a memória como capital nas relações estabelecidas pelo MUF está colocada em um quadro mais complexo. Sujeitos diversos, mobilizados no campo político, se utilizaram da memória como capital em suas disputas e assim produziram o léxico que permite novas mobilizações que articulam política e memória. Compreender as ações que tinham o MUF como foco passa, assim, por compreender como a memória se tornou recurso legítimo no agenciamento de demandas por direito e reconhecimento naquela localidade.

Uma região esportiva: os subúrbios do Rio de Janeiro no início do século XX - Glauco José Costa Souza (Universidade Federal Fluminense)

O futebol é o nosso principal objeto de análise no presente trabalho, todavia, ele não é o único, haja vista a existência de diversas práticas esportivas nos subúrbios do Rio de Janeiro no início do século XX. Inseridas em uma verdadeira febre esportiva que acometia a Capital Federal no início do século passado, as regiões suburbanas precisam ser vistas como sujeitos ativos deste período. Inicialmente, optamos por trazer a definição do que conceituamos como subúrbio e de que maneira os esportes se desenvolveram na região. Para tanto, faremos uso da interdisciplinaridade ao longo desta reflexão sobre a definição de que subúrbios estamos falando. Por meio da leitura de trabalhos na área de geografia, apresentamos definições variadas sobre as transformações deste espaço geográfico nos séculos XIX e XX. Tal procedimento se mostra de extrema importância para entendermos o cenário em que a prática esportiva é recebida pelos suburbanos. Neste sentido, também aproveitamos o espaço para apresentar a região do Engenho ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de Dentro, a qual trabalharemos com mais intensidade ao falarmos do Engenho de Dentro A.C., clube esportivo fundado na localidade e que conquistou o tricampeonato da Liga Suburbana de Futebol nos anos de 1916, 1917 e 1918. Região que serviu de moradia para muitos trabalhadores devido a instalação da oficina da Estrada de Ferro Dom Pedro II/Central do Brazil, é nesta localidade que são fundados os Fantasmas Azuis e, sem os quais, o presente trabalho não poderia ser realizado. Ao escolhermos analisar este processo nos deparamos com um cenário interessante pelo qual o esporte se desenvolveu na região a tal ponto que permitiu o estabelecimento de contatos com outros grupos inicialmente fora deste círculo. Assim, é importante reforçarmos a ideia de que a Liga Suburbana de Futebol foi uma das várias formas de competição que surgiram na então Capital Federal no início do Século XX. Não obstante, ao fazer uso do termo suburbano, seus praticantes trouxeram para si uma noção de identidade que começava a ganhar forma. Paralelamente, a concepção do que seriam os subúrbios encontrava-se em franca construção inserida em uma gama de complexidade e diversidade que esperamos explorar nas linhas que se seguem abaixo. Ainda que hoje em dia haja um senso comum sobre o perfil dos moradores dos subúrbios cariocas, esta unicidade de concepção não se fazia presente no início do século passado, sobretudo quando nos deparamos com os mais variados sujeitos e veículos que falavam sobre os subúrbios do Rio de Janeiro. Estes, por sua vez, são objetos de grande complexidade e que exigem um olhar atento para que se possa dar conta disso. 350

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351 ST 35. História econômico-social nos séculos XIX/XXI: diálogos interdisciplinares entre História, Economia e Relações Internacionais

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"O Comendador Mandou Construir" - Antônio Martins Lage e a Atividade Construtora na Ilha das Enxadas (1857-1882) - Thiago Vinícius Mantuano da Fonseca (PPGH-UFF)

O objetivo dessa comunicação é explorar uma perspectiva importante, mas relegada à segundo plano, para a História Urbano-Portuária, trata-se das construções hidráulicas, terrestres, de assentamento de equipamentos e maquinário nos portos. Na segunda metade do século XIX, o porto do Rio de Janeiro sofria pronunciados gargalos de infraestrutura, criados pela progressiva integração brasileira à Divisão Internacional do Trabalho através do Mercado Mundial, para corresponder à demanda, uma série de obras foram realizadas nas praias e encostas da Corte. As infraestruturas construídas e reparadas, longe de romper com a lógica produtiva do porto pré-capitalista, ampliavam, fortaleciam e dotavam de novos materiais, técnicas e tecnologias a antiga lógica de operação portuária dominada pelos trapiches. O poder público, através especialmente da Alfândega do Rio de Janeiro, há muito já não conseguia dar conta do fluxo de cargas e pessoas dos portos do Reino, assim como os trabalhos de carregamento/descarregamento, armazenagem, guarda, etc, especialmente intensos no porto da Corte. Por conta disso, desde o período Joanino, a solução encontrada foi realizar esse serviço através de agentes privados, os conhecidos Negociantes da praça do Rio de Janeiro. Neste trabalho, procuraremos debater a expansão física do complexo produtivo no Porto do Rio de Janeiro oitocentista. A proposta aqui é de nos concentrar na faceta privada dessa expansão. Para isso, como estudo de caso, demonstraremos a 352 transformação da Ilha das Enxadas num dos três principais Entrepostos Alfandegados do porto do Rio. Nas Enxadas, o Comendador Antônio Martins Lage construiu duas dezenas de armazéns em 25 anos de atividade como responsável pelas empresas da família, além de muitas outras infraestruturas. Os armazéns de carvão da família Lage ficaram internacionalmente conhecidos e eram de suma importância para o abastecimento da cidade, suas fábricas e, especialmente, das diversas frotas mercantes que carregavam/descarregavam e abasteciam no principal porto do Atlântico Sul. Desta forma, constitui estudo de caso representativo do processo que buscamos aclarar. Nesse sentido, pretendemos expor as condições de construção de todo aparato produtivo e comercial dos Lage na referida Ilha. Trabalharemos com alguns aspectos cruciais das diversas empreitadas deste negociante na Ilha, a saber: a magnitude/variedade das obras e as finalidades das construções, a força de trabalho utilizada, os materiais e técnicas de construção, as tecnologias implementadas, o maquinário utilizado nas obras e assentado para operação, o financiamento e o impacto destas obras na operação portuária da Corte. Com isso, buscaremos provocar uma discussão sobre como os serviços públicos criados e se expandiam no Segundo Império.

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A Dicotomia Imperial: Os Estados Unidos entre uma América de nações iguais e a supremacia norteamericana nos discursos de Joel Roberts Poinsett sobre a Independência do México (1821-1825) - Kaio Tavares Rodrigues (UFF)

O político, diplomata e latifundiário da Carolina do Sul, Joel Roberts Poinsett foi um dos maiores representantes da relação paradoxal dos Estados Unidos com a América Latina na primeira metade do século XIX. Se, por um lado, a república norte-americana apoiava as independências das ex-colônias espanholas, desejando constituir um mercado para seus produtos e uma zona de influência política, por outro, os norte-americanos colocavam seu experimento republicano, e suas declaradas: pureza racial, liberdade civil e religiosa, como características superiores. A partir de 1810, o governo dos EUA enviou missões consulares ou comerciais para reunir informações sobre as independências, bem como criar vínculos comerciais com os novos países. Poinsett, na qualidade do Cônsul, participou dos processos de independência de Buenos Aires e do Chile e, ao retornar a seu país, foi considerado um especialista no assunto. Eleito para a Câmara de Representantes dos EUA (1819-25), o sulista foi um dos principais defensores do apoio e reconhecimento das independências durante os primeiros anos de seu mandato, numa espécie de prévia das ideias evocadas pela Doutrina Monroe em 1823. Salientava sobretudo os princípios revolucionários das independências, tecendo comparações com a Revolução Norte-Americana. O caso do Império Mexicano, todavia, despertava insegurança, tanto por seu regime monárquico, como pela ameaça da reconquista espanhola. Assim, Poinsett foi 353 enviado ao México em 1822, como agente especial encarregado de avaliar a situação política e econômica do país para julgar as possibilidades de um reconhecimento. O antigo Vice-Reino da Nova Espanha se tornou independente em 1821, após 11 anos de uma sangrenta guerra, que ampliou uma crise econômica proveniente ainda do século XVIII, e potencializou as dívidas do novo país. Num contexto de fortalecimento da legitimidade e ameaça às independências, em razão da Santa Aliança, o novo governo mexicano urgia por reconhecimentos que pudessem garantir a sua autonomia e integração no concerto das nações. Durante sua viagem ao México, em 1822, Poinsett escreveu “Notes on Mexico”, publicação na qual adota um discurso bastante diferente daquele que havia defendido no Congresso, criticando assim o sistema político, a mistura racial, a Igreja e outros pontos da sociedade mexicana. Esta comunicação promoverá uma análise comparativa entre discursos de Poinsett em favor do reconhecimento das independências, e seu livro “Notes on Mexico”, entendido como um relato de viagem e um discurso político sobre a suposta superioridade dos EUA.

A Escravidão Atlântica e os Debates sobre Imperialismo - Gustavo Alvim de Góes Bezerra (PUC-Rio)

O trabalho busca analisar a História da Escravidão atlântica como um complemento para os debates sobre imperialismo. Esse esforço busca ser uma contribuição para o campo da História das Relações Internacionais ao mostrar um engajamento com um silêncio desse campo dos estudos históricos. Parte-se da importância da escravidão para a constituição do espaço atlântico como um espaço dinâmico de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------trocas e contatos e busca-se, através de recente bibliografia sobre a escravidão produzida sob o espectro da História Global, identificar as possibilidades de diálogo com a bibliografia sobre Imperialismo. Assim, o trabalho tem por objetivo responder a pergunta: é possível fazer uma leitura do Sistema Atlântico de Escravidão do final do século XIX a partir de debates sobre o Imperialismo? Nesse sentido, será mobilizada a literatura sobre Segunda Escravidão para, não apenas diferenciá-la da escravidão colonial na sua significação econômica para o sistema atlântico, mas sobretudo para situa-la, contextualmente, no debate originário do imperialismo. Essa crítica será feita à luz de debates contemporâneos sobre imperialismo que apontam para as práticas de silenciamento inerentes à expansão europeia através da constituição de espaços coloniais. Vincular a escravidão aos debates constitutivos sobre a expansão econômica europeia tem por consequência problematizar a hierarquia entre centro/periferia, ao discutir a relevância de pessoas marginalizadas e espaços periféricos na compreensão da dinâmica econômica europeia expansiva do final do século XIX.

A Sudene e o Desenvolvimento do Nordeste: notas sobre os Planos Diretores - Alexandre Black de Albuquerque (UFPE)

A Superintendência do desenvolvimento do Nordeste – SUDENE foi criada como autarquia em 15 de dezembro de 1959 pela Lei 3.692/59 e tinha como objetivo acelerá o desenvolvimento da região considerada “problema” na visão do Sudeste. O planejamento integrado, que previa investimentos conectados entre várias áreas, 354 de forma a sanar os gargalos produtivos da região, seriam baseados nos Planos Diretores, que dariam as diretrizes para a atuação da SUDENE por determinados períodos de tempos. Na década de 1950 não parecia haver dúvidas, mesmo entre os liberais (Bielschowsky, 1988), que a construção de uma indústria dinâmica e diversificada era preponderante para alcançar bem-estar social para a maior parte da população. Na América Latina esse processo pela busca do desenvolvimento dará origem ao estruturalismo econômico, também conhecido como escola (ou ideias) “cepalinas”, por ter sido desenvolvido, inicialmente, nos corredores da CEPAL – Comissão Para América Latina e Caribe pelas mãos do economista argentino Raul Prebisch. As ideias da CEPAL tiveram grande importância na formulação, em 1956, do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste – GTDN, e mais tarde da SUDENE, com Celso Furtado a frente, e tendo como objetivo formular uma política de desenvolvimento para a região que resultaria no “documento GTDN”. Também não nos esqueçamos que esse documento é filho direto de Furtado, o maior expoente do estruturalismo junto com Prebisch, e, portanto, a análise feita pelo GTDN dos problemas e possíveis soluções para o desenvolvimento da região Nordeste do Brasil é formulada sob uma ótica cepalina, que versava sobre a dicotomia centro periferia, advogava reformas estruturais (como a agrária) visando aumentar a dinamismo econômico através da melhora da distribuição de renda e do incremento da produtividade, como forma de engendrar o desenvolvimento, tudo isso sob a égide da atuação do Estado na economia, que seria o promotor e motor da industrialização. Como dito acima, defender a atuação do Estado não era algo proveniente apenas do campo dito progressista, mas, ao contrário da vertente neoliberal do pensamento econômico, a CEPAL considerava ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------que o Estado sempre teria funções importantes na regulação do sistema econômico e não compactuavam com a visão dos economistas ortodoxos que considera que o desenvolvimento econômico é variante natural de uma política fiscal “responsável”, e, por tanto, a criação da SUDENE, filha do GTDN, tinha por base uma intervenção estatal relativamente profunda, pelo menos em teoria, na economia nordestina como forma de promover o desenvolvimento regional. Logo a SUDENE adotou alguns dos principais pressupostos da CEPAL, no entanto, o golpe de estado de 1964 traria mudanças para autarquia que seriam expostas nos Planos Diretores.

As indústrias de alimentos e químico-farmacêuticas da cidade do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX: estrutura e dinâmica de crescimento - Almir Pita Freitas Filho (UFRJ)

O principal objetivo dessa comunicação é o de traçar o painel da estrutura da indústria da cidade do Rio de Janeiro ao longo da primeira metade do século XX, destacando a participação e as mutações verificadas em dois importantes ramos do setor: o de alimentos e o químico-farmacêutico. Parto da constatação de que uma das principais características do setor foi a persistência de ramos tradicionais da indústria, presentes desde o final do século XIX, dentre os quais se destacaram o de alimentos, têxteis e químico-farmacêutico. A fabricação de alimentos, para se ter uma ideia, foi uma das principais atividades desde os primórdios da indústria brasileira, até o inicio da década de 1950. Os dados censitários indicam que, ainda 355 em 1950, os alimentos e têxteis chegaram a representar 50, 71% do total do valor da produção industrial do País naquele ano. Esses ramos, por um longo tempo, também moldaram o perfil industrial da cidade, convivendo com indústrias consideradas mais modernas, as de bens de capital e consumo duráveis, originadas do processo de industrialização pesada. Buscar possíveis explicações para tal persistência é outro objetivo desse estudo, que parte de uma proposta que considera estar diante de situações de concentração de capital e de estratégias protecionistas voltadas para preservação dos mercados. Utilizo a seguinte documentação como principais fontes de informações: a) dados dos inquéritos industriais realizados no país até o inicio da década de 1960; b) publicações específicas de organizações dos ramos industriais selecionados, assim como informes da imprensa em geral; c) textos e estudos gerais sobre a situação atual e/passada de empresas dos ramos pesquisados.

Benjamim Franklin e a imigração: a elaboração de um mito semiológico para a política imigratória brasileira - Sergio Luiz Monteiro Mesquita (SEEDUC/RJ)

Dentre os debates levados a efeito na segunda metade do século XIX, a respeito da condução da política imigratória brasileira, enfocamos o discurso imigrantista dos partidários do uso da imigração para a colonização das áreas rurais do Brasil num sistema de pequenas propriedades. Nessa vertente, o discurso veiculado pela Sociedade Central de Imigração (1883-1891) foi um dos que apresentou maior elaboração e sofisticação, voltando-se para a propaganda de seus ideais de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------colonização e povoamento do Brasil, a ser realizado por imigrantes europeus, destinados a formar uma forte classe média rural, em contraposição ao tradicional latifúndio, mal aproveitado e pouco ou nada produtivo. Uma das estratégias do discurso enunciado pela Sociedade Central de Imigração, em seu periódico A Imigração, foi a utilização de exemplos de sucesso dessa prática imigrantista em outros países, especialmente nos Estados Unidos, onde se processava a ocupação populacional e fundiária nas vastas extensões a oeste de seu território. Um exemplo da argumentação utilizada é a identificação histórica da pessoa de Benjamin Franklin, um dos "pais fundadores" da república norte-americana, com o ideal da imigração para povoamento e desenvolvimento do território. Em nossas considerações sobre essa utilização, baseadas na análise de discurso, vimos um caso de tentativa de elaboração de um mito semiológico, tal como é articulado por Roland Barthes, vide sua obra Mitologias. Essa tentativa mostra o empenho da Sociedade Central de Imigração em recorrer à história para construir uma base ideológica para defender seu projeto imigrantista.

Central de Medicamentos - Estado, Multinacionais e as disputas pelo mercado farmacêutico nacional da ditadura civil-militar (1971-1985) - Matheus Santos Santana (Fiocruz)

O presente trabalho busca tratar de parte dos eventos transcorridos nas indústrias química e farmacêutica brasileira entre as décadas de 1970 e 1980, destacando principalmente as áreas de pesquisa biológica estratégica, desenvolvimento 356 tecnológico e produção de medicamentos. Nestas áreas, historicamente relevantes para a integração política e econômica das regiões mais recônditas do território brasileiro, ocorreram importantes reordenamentos produtivos, tendo o governo militar chefiado pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici passado a utilizar variados instrumentos econômicos e políticos a fim de reduzir o domínio das referidas áreas por empresas multinacionais. Tal intervenção do Estado visava estabilizar o rápido processo de desnacionalização do setor iniciado em 1964 e que acabou por entregar noventa por cento do mercado brasileiro de medicamentos aos oligopólios farmacêuticos internacionais. Neste contexto a Central de Medicamentos - CEME –, empresa estatal criada em 1971, foi uma das mais importantes ferramentas utilizadas pela ditadura civil-militar a fim de frear a ampliação da participação estrangeira na referida indústria e evitar a total dependência tecnológica brasileira em relação ao capital multinacional, problemática que o presente estudo intenta abordar. Sendo financiada inicialmente com verbas de origem pública, a Central de Medicamentos era considerada pelos técnicos do Ministério da Previdência e Assistência Social como “produto da constatação de que a indústria farmacêutica nacional encontrava-se em franca desnacionalização e que era necessário conter ou mesmo reverter este processo”. O governo brasileiro buscou ressaltar o caráter pretensamente nacionalista de sua intervenção, visto que uma das justificativas mais coerentes para a criação da CEME era o interesse de auxiliar na reconstrução econômica e produtiva da indústria nacional especializada no campo da química e da farmacologia. É possível perceber assim a importância da CEME como instrumento de mediação dos interesses entre o Estado e uma fração do setor industrial nacional e ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------multinacional presente no Brasil entre os anos 1970 e 1980. O órgão traz consigo a temática das disputas políticas e empresariais entre diversos setores do capital brasileiro e estrangeiro, no intuito de construir através do intermédio do Estado um consenso entre a iniciativa privada do setor farmacêutico, sendo necessário relevar nessa conjuntura variáveis que considerem a condição periférica ocupada pelo país no sistema capitalista e na divisão internacional do trabalho.

Do neoliberalismo de terceira via ao “novo desenvolvimentismo”- o réquiem “social-liberal” revisitado - Leonardo Leonidas de Brito (Colégio Pedro II)

O artigo tem como escopo a crítica ao neodesenvolvimentismo na obra recente do economista e ex-ministro da Fazenda e da Reforma do Estado, no Brasil, Luiz Carlos Bresser-Pereira. Modelo societário apresentado como estratégia de desenvolvimento por uma miríade de intelectuais pertencentes, ou que se aproximaram posteriormente, do bloco orgânico que chegou ao aparelho de Estado nas eleições presidenciais de 2002. A chegada do Partido dos Trabalhadores e aliados ao governo federal buscou se apresentar como uma inflexão (ainda que muito limitada) ao modelo neoliberal da década anterior. Na prática, começava-se a se desenhar um amplo campo de aliança de classes, sem rupturas fundamentais com o modelo econômico dos anos FHC e que construiu no país um longo e vigoroso debate, em parte da intelectualidade brasileira, acerca desta nova estratégia de desenvolvimento. Inicia-se, portanto, o debate acerca de um desenvolvimentismo de novo tipo: o novo desenvolvimentismo. Termo que, nos 357 meios acadêmicos e fora deles encontrou abrigo na obra recente do economista e ex-ministro da Reforma do Estado, no 1º governo FHC, Luiz Carlos Bresser- Pereira. Nossa hipótese primacial é a afirmação de que o novo desenvolvimentismo nada tem de novo e muito menos de desenvolvimentismo. Na prática, se tornou uma espécie de requiém social liberal buscado por intelectuais que tentaram se alinhar com o chamado neoliberalismo de terceira via, tanto nos anos FHC, quanto nos anos Lula e Dilma Rousseff.

Empresariado e ditadura no Brasil: o caso da obra da usina hidrelétrica de Tucuruí - Pedro Henrique Pedreira Campos (Departamento de História e Relações Internacionais da UFRRJ)

A apresentação pretende problematizar os interesses empresariais em torno do projeto da usina hidrelétrica de Tucuruí, construída durante a ditadura civil-militar brasileira. A partir da indagação acerca dos beneficiários do projeto desenvolvimentista posto em prática no período, analisamos os diferentes interesses em jogo, no que tange a aspectos como o financiamento, a realização da obra, a exploração da madeira da área inundada e o consumo da energia subsidiada por indústrias eletro-intensivas. Para proceder os argumentos, acessamos fontes primárias produzidas por diversos agentes envolvidos no empreendimento. Concluímos que a usina de Tucuruí expressa em boa medida o perfil da ditadura brasileira, que, ao advogar por um discurso desenvolvimentista e nacionalista, escondia, por trás dele, interesses capitalistas que se beneficiavam de seus projetos

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------e do próprio caráter autoritário do regime, que garantia, dentre outras coisas, uma alta exploração da força de trabalho e elevadas margens de lucro aos empresários.

Empresariado e Ditadura no Brasil: o caso dos banqueiros - Rafael Vaz da Motta Brandão (UERJ/FFP)

O trabalho tem como objetivo apresentar os resultados parciais da pesquisa em andamento acerca da relação entre empresariado e ditadura no Brasil, mais especificamente, o caso do empresariado ligado ao setor bancário. O período da ditadura foi marcado por um forte movimento de centralização de capital, responsável pela formação de grandes grupos empresariais, inclusive no setor financeiro.

Empresariado Fluminense e transição do seu padrão de acumulação de capital - Julio Cezar Oliveira de Souza (UERJ-FFP)

As discussões sobre a transição do Brasil para a nova ordem mundial coincidiram com o fim da ditadura militar e o início do governo civil de José Sarney ,em 1985. Embora o novo governo fosse composto por uma coalizão de diferentes matizes ideológicos, liberais, antiliberais, nacionalistas e internacionalistas, era hegemônica a ideia de crescimento econômico e combate à pobreza e à desigualdade social. Para tal, a agenda pública tinha como objetivos o resgate da dívida social, o combate à inflação e a instauração de uma ordem democrática . O 358 desmonte do Estado desenvolvimentista não era consensual dentro governo. A nova agenda empresarial era controvertida do ponto de vista da liberalização comercial. Havia resistência de alguns setores, que era reforçada pela própria fragmentação representativa dos grupos empresariais. Na esteira de uma lógica organizativa fragmentada, uma parcela extremamente influente do empresariado nacional, presentes no Rio de Janeiro, se organiza a partir de projetos econômicos voltados para a região. Havia a contraposição dos setores ligados ao capital especulativo. Contudo, observamos ao longo do governo Sarney, a disposição, e formação de poupança interna. Nesse sentido, nosso objetivo é realizar uma breve discussão sobre o comportamento dos empresários do Rio de Janeiro num cenário de transição para um novo ordenamento de acumulação de capital, pautado majoritariamente pelo capital financeiro.

Globalização e os Desafios dos Blocos Econômicos: o Caso da Aliança do Pacífico - Bruno Souza Duarte Lima (UFRRJ-IM), Igor Acácio Corrêa Guimarães (UFRRJ-IM)

A América Latina já conhece tentativas de integração econômica datando desde a década de 50. Contudo, é a partir dos anos 1990 que começam a se consolidar os blocos econômicos mais efetivos em promover a integração entre os seus países. Isto se dá após a economia mundial ter experimentado profundas transformações no cenário geopolítico e econômico. Com isso, veio a necessidade de se criar mercados cada vez mais fortes e integrados. Assim, é nesta mesma década em que boa parte da América Latina passa por uma guinada. Adotam ou aprofundam esses ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------países, como no caso do México e Chile, uma série de políticas de cunho neoliberal, onde se realizaram aberturas comerciais e de fluxo de capitais, múltiplas privatizações e desregulamentações de diversos setores. Tendo em mente estas grandes mudanças nas economias latino-americanas, o presente trabalho objetiva explorar a dinâmica e o funcionamento das experiências de integração econômica na América Latina, no contexto de liberalização financeira pós 1990, com ênfase no novo bloco Aliança do Pacífico. O projeto visa também ser um subsídio para identificar o significado da criação do bloco e seus reflexos na América Latina. A pesquisa é realizada a partir de um levantamento bibliográfico em livros, publicações, revistas, artigos e sites especializados para fundamentação teórica sobre integração regional e de produções analíticas, ao mesmo que se realiza a análise de dados econômicos e estatísticos dos países-membros e do bloco em si. Como resultados preliminares, podemos apontar que é visível o efeito positivo da formação do bloco para os países envolvidos. Os países-membros do bloco ocupam as primeiras posições no ranking de facilidade para fazer negócios na América Latina. Também, na medida em que outros blocos da região, como o MERCOSUL, perdem força, a Aliança do Pacífico vai ganhando espaço. Em relação ao aprofundamento da integração intra-bloco, em 2016, entrou em vigor Protocolo Comercial, este aplicando uma redução das tarifas de 92% dos produtos comercializados entre os participantes. Esse conjunto de fatores tem dado ao bloco ganhos, tanto pela possibilidade de diversificação das pautas de exportações, como também pela atração de investimentos externos diretos. Por fim, a Aliança do Pacífico continua avançando na implementação de seus acordos e aprofundando 359 sua integração.

O Banco dos Pobres: O mercado de penhor na cidade do Rio de Janeiro (1820- 1850) - Clemente Gentil Penna (UFRJ)

Esta comunicação pretende levantar alguns pontos que contribuam para uma discussão mais ampla a respeito do crédito por penhor e o mercado de segunda mão na cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1820 a 1850. Apesar de tema pouco analisado pela historiografia brasileira, algumas pesquisas têm, recentemente, chamado a atenção para importância das operações de penhor para as economias urbanas do XIX. Se aliarmos isto ao já conhecido incremento das atividades comerciais e crescimento urbano da capital Fluminense no mesmo período, uma investigação mais detalhada sobre o tema se faz pertinente e necessária. Através de uma análise dos bens apreendindos pelo não pagamento de dívidas, dos leilões judiciais e dos anúncios de jornais é possível percebermos que o penhor era operação corriqueira na vida financeira das classes populares cariocas ao longo do século XIX. A venda, troca e empenho de bens usados e e venda por consignação da produção doméstica, faziam parte do dia a dia dos trabalhadores cariocas e foram, ao que tudo indica, uma das formas mais comuns de acesso ao crédito durante o período estudado. Durante períodos de recessão e escassez de emprego, empenhar alguns parcos objetos de valor em troca de insumos destinados a produção doméstica voltada ao mercado foi, muita vezes, uma das poucas opções de trabalho disponível à libertos e livres pobres. A busca por crédito junto à armazéns de secos e molhados e casas de penhor criou o que poderíamos chamar ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de “economias subterrâneas”, que além de cruciais para a sobrevivência dos trabalhadores pobres, foi também fonte constante de preocupação por parte das autoridades municipais.

O Brasil na mira do Império do Capital: a atuação do Dep. de Estado dos EUA no Brasil durante o governo Lula (2003-2010) - Gabriel Lecznieski Kanaan (UFSC)

Esta pesquisa irá analisar as "relações perigosas" entre o Brasil e os Estados Unidos durante o governo Lula a partir dos documentos da embaixada e dos consulados estadunidenses no Brasil de 2003 e 2010, publicados pela Wikileaks em 2010 no vazamento de telegramas secretos que ficou conhecido como Cablegate. Analisaremos a construção das relações dos diplomatas e businessmen estadunidenses com os agentes estatais brasileiros, com o objetivo de mapear as redes associativas tecidas entre estes atores e traçar os interesses, táticas e estratégias dos agentes do imperialismo estadunidense, a fim de compreender o papel desempenhado pelo Estado norte-americano no processo histórico de subordinação do capital-imperialismo brasileiro ao "império do capital".

O Império no Prata: a dinâmica da diplomacia após o conflito cisplatino (1825-1828) - Luan Mendes de Medeiros Siqueira (UFRJ)

O presente trabalho pretende abordar nesse simpósio o discurso diplomático 360 brasileiro sobre a região do Rio da Prata após à guerra da Cisplatina (1825- 1828). Interessado durante a guerra na anexação da província Cisplatina aos seus domínios territoriais, o Império tinha como base o princípio da doutrina das fronteiras naturais e do uti- possidetis, utilizados como pilares de sua política externa não apenas nessa guerra como também ao longo de todo o século XIX. Pretendemos dar ênfase na análise de algumas correspondências diplomáticas entre os próprios representantes brasileiros e dos mesmos com os ministros das Províncias Unidas do Rio da Prata e do novo país formado, fruto do desfecho do conflito: a república Oriental do Uruguai. O referido conflito criou novos atores políticos e sociais em face do Prata e promoveu um alargamento das relações diplomáticas na região do cone- sul. Sabemos também que uma guerra não resolve de maneira definitiva os problemas suscitados entre os países beligerantes. Um dos elementos discutidos entre as autoridades diplomáticas foi a questão das fronteiras. Os interesses limítrofes entre os governos vizinhos nos mostram a profundidade de o quanto a fronteira não é algo dado, um simples critério geográfico, natural e mero divisor de territórios. Para além dessas características, ela é reflexo das relações políticas locais que também se estabelecem nesses espaços. Entre o macro e o micro, pensarmos a fronteira nessas distintas configurações é enunciarmos as diferentes concepções existentes nas áreas de litígio. O campo diplomático é caracterizado sobretudo por estratégias de coalizão e interesses que vão além das formalidades e negociações que se dizem definitivas ou preliminares. Analisar essas nuances torna-se fundamental a fim de entendermos, de maneira geral, os reais objetivos de uma política externa. Além disso, perceberemos o quanto esse campo é marcado

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------como um espaço de legitimidade de um discurso político mas também por contradições.

O pensamento econômico-social de Valentim Fernandes Bouças: organização político-empresarial, 1930-1945 - Maurício Gonçalves Margalho (Magistétio Estadual)

O presente trabalho analisará a trajetória social do empresário Valentim Fernandes Bouças. Tal empresário foi vinculado a grupos econômicos estadunidenses, a exemplo da International Business Machines Corporation – of Delaware, Companhia Goodyear do Brasil, Cia Serviços Hollerith, Panair do Brasil e Adressograph-Multigraph do Brasil S/A. Além das atividades características de um agente econômico, representante do capital estrangeiro, Bouças participou ativamente das agências que formam o complexo superestrutural do Estado capitalista no Brasil. Tornou-se bastante influente e, durante o Governo Vargas, participou de importantes órgãos técnicos e consultivos como, por exemplo, a Comissão de Estudos Financeiros e Econômicos de Estados e Municípios (CEFEM), o Conselho Técnico de Economia a Finanças (CTEF), o Conselho Federal do Comércio Exterior (CFCE) e a Comissão de Planejamento Econômico. Na sociedade civil, Valentim Bouças era vinculado à Associação Comercial do Rio de Janeiro – da qual foi Vice-Presidente em 1943 e 1944. Ele também era associado ao Instituto de Organização Racional do Trabalho, da qual também participavam os empresários Euvaldo Lodi, Roberto Simonsen e Horácio Lafer – p. ex. Devido 361 a seu conhecimento em economia e também a seus contatos com empresas estadunidenses, Valentim Bouças acumulou um capital social e político que permitiu a apresentação dele como bastante credenciado em assuntos econômicos e financeiros. Pesou ainda o fato de ter acumulado, no campo das relações sociais, conhecimentos dos trâmites e circuitos financeiros internacionais, assegurando-lhe confiança como interlocutor do governo junto a credores externos. Assim sendo, propomos avaliar as interconexões entre pensamento social, organização e ação política de classe na trajetória econômico-social do referido empresário em sua condição de intelectual orgânico e, portanto, representante de interesses de corporações estrangeiras.

Ocupação e ressignificações do espaço urbano em Nova Friburgo: o caso do Palácio Barão de Nova Friburgo (1871-1988) - Maria Ana Quaglino (Fundação Dom João VI de Nova Friburgo (antigo Pró-Memória))

O prédio sede da Prefeitura de Nova Friburgo é um dos imóveis tombados da cidade. No estudo que empreendemos, o consideramos como uma fonte histórica, ou seja, como o ponto de partida para uma das análises possíveis que qualquer documento, tornado objeto de pesquisa, permite. Escolhemos explorar a trajetória do espaço onde ele se localiza, desde o momento da sua primeira ocupação, focando mais especialmente nos processos de mudança que lhe conferiram novos usos e significados no contexto histórico social da cidade. Identificamos ao longo desse percurso quatro momentos decisivos que trouxeram novas identidades e/ou usos ao mesmo. No período considerado, o espaço conheceu três usos — estação ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------ferroviária, estação rodoviária e sede do poder executivo municipal — e se tornou, pelo menos, cinco lugares diferentes: I – Estação ferroviária de Nova Friburgo (Estação do Chalé) – de 1873 até 1887, estação da estrada de Ferro Cantagalo; de 1887 até 1898, estação da Estrada de Ferro Leopoldina; e de 1898 a 1933, estação da estrada de ferro Leopoldina Railway; II – Estação de passageiros de Nova Friburgo (Estação da Leopoldina) – de 1935 a 1950, nova estação da Leopoldina Railway; de 1950 até 1964 – estação da Estrada de Ferro Leopoldina, sob controle direto do governo federal até 1957, e da Rede Ferroviária Federal S.A., daí em diante, até a sua venda a prefeitura, em 1968; III e IV – Palácio Barão de Nova Friburgo – prédio reformado da antiga estação de passageiros, sede da prefeitura, desde 1969; e também, monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro, a partir de 1988; V – Estação Rodoviária Leopoldina – de 1971 a 1994, prédio construído em parte do terreno da extinta estação de passageiros e reincorporado, em 1995, ao complexo de prédios da prefeitura, edificados no terreno original. Consideramos este tipo de análise relevante para construção de narrativas sobre a história ferroviária brasileira, as políticas públicas de transporte, quer no âmbito federal, quer no estadual e a história da cidade.

Patrimônio da União: Discutindo as fontes - Cezar Honorato (UFF)

O objetivo de nosso trabalho é apresentar de maneira crítica o quadro de fontes presentes no Arquivo da Superintendência do Patrimônio da União. FRuto do Projeto Acervo da SPU (UFF-BID-SPU), buscaremos problematizar acerca de suas 362 possibilidades para o avanço da História Econômico-Social

Reforma institucional e o declínio do Império Otomano - Pedro Rocha Fleury Curado (UFRJ)

O presente trabalho objetiva compreender o declínio do Império Otomano a partir do enfoque sobre a relação entre elementos geopolíticos e institucionais. Para tanto, toma-se como fio condutor as sucessivas estratégias de "europeização" das principais instituições otomanas a partir do século XVIII, conferindo especial ênfase à transformação do aparato militar. Eventos geopolíticos são aqui entendidos como fatores desencadeadores de novos ciclos de reformas estatais empreendidos pelo sultanato otomano, cujos resultados variados demonstraram ser insuficientes para contrapor-se à pressão competitiva externa. Como método, propõe-se uma ordenação temporal a partir de ciclos reformadores entre o final do século XVIII e início do século XX. Em cada ciclo, evidencia-se a tentativa de reforçar a capacidade bélica do império que apresenta, como resultado, a gradual “importação” de diferentes instituições europeias. Para fins de sistematização, tais instituições serão aqui divididas em três categorias principais: a) conscrição forçada e renovação das técnicas de guerra; b) maior centralização burocrática para fins de arrecadação, e c) homogeneização da população.

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Sementes e Raízes cheirosas amazônicas no mercado mundial: As Relações entre comunidades de ilhéus, empresas e natureza - João Marcelo Barbosa Dergan (UFPA)

Um longo processo de apropriação de saberes sobre a flora e as essências vegetais das ilhas estuarinas na Amazônia foi se dando, com continuidades, rupturas, descontinuidades, contradições, esquecimentos e congruências, desde ‘as drogas do sertão’ e a colonização da região. A narrativa sócio-econômica-ambiental ressaltou a apropriação desses saberes por comunidades das ilhas estuarinas e empresas de biocosméticos no final do XX e início do XXI, com rupturas, continuidades, descontinuidades, esquecimentos, lembranças e contradições no uso e comercialização no mundo global das essências vegetais das ilhas estuarinas de Cotijuba, Paquetá, Das Onças, Combu e Grande, com empresas como a Natura e a Beraca, que trazem embutido nos produtos ‘o valor tradicional’ das comunidades e a ‘sustentabilidade’ da produção. Nessas apropriações a sustentabilidade ambiental ganha ‘um valor’ como discurso e como prática tanto pelas empresas como pelas comunidades dos ilhéus, mesmo que inseridas nas contradições do mercado global atual. Revelaram-se aspectos do discurso da valorização e apropriação de saberes e conhecimentos sobre essas espécies vegetais e a flora das ilhas, como as sementes Ucuuba- Virola Surinamenses e as raízes de Priprioca – Cyperus Articulatus, que foram inseridas na cadeia e comercialização internacional, sob a forma de biocosméticos. Compôs-se uma narrativa que cruzou fontes orais e escritas, em que se revelaram os múltiplos saberes e interesses sobre 363 a flora estuarina das ilhas amazônicas e a manipulação e apropriação desses saberes por ilhéus e empresas na produção de biocosméticos, como os sabonetes e perfumes de priprioca, ao mercado e na busca da sustentabilidade. Na dominação do natural pelo cultural, ainda como opostos e duais, escondiam-se e escamoteavam-se as utilizações e subjetividades envolvidas nos usos, manipulações, coletas e plantios que eram dados a flora das ilhas estuarinas pelos ilhéus, comuns, que foi possível reler e rever. Mesmo sem querer fazer generalizações abruptas e que possam apagar outros detalhes de outras realidades, há no processo de construção histórica da sociedade global uma tentativa de naturalizar relações sociais de poder, e de domesticação da natureza, construída na longa geração do processo de modernidade, que nas ilhas estaurinas perto de Belém, as comunidades significam e ressignificam suas tradições inseridas na contradição do próprio comércio e mundo sustentável global na atualidade.

Sentidos e limites para Democracia nas páginas do Correio da Manhã - Daiana Maciel Areas (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Nosso objetivo é fazer uma reflexão sobre o discurso editorial midiático, observando a relação entre as escolhas enunciativas e o lugar social do sujeito do discurso. O editorial, enquanto signo ideológico e gênero jornalístico, representa o posicionamento do grupo de mídia sobre assuntos de ressonância na esfera pública. Analisaremos os sentidos e limites de "Democracia" nos editoriais do Correio da Manhã nos anos de 1954-1955, em especial a crise política pós suicídio de Vargas até as eleições de 1955. Para interpretar os sentidos elaborados a partir dessa ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------atividade comunicativa, relacionaremos a Análise do Discurso à teoria social da mídia, para a reflexão de como o poder simbólico dos meios de comunicação reverbera assuntos, reitera teses, ressemantiza sentidos, na tentativa de influenciar a opinião pública e defender projetos para manutenção do status quo da classe que o jornal representa.

Turismo de Base Local: uma alternativa de desenvolvimento econômico e social - Valéria da Conceição Chaves (UFRRJ)

Este projeto constitui-se num instrumento de reflexão sobre Turismo de Base Local (TBL), uma modalidade turística que propõe a geração de emprego e renda, em pequenas comunidades, utilizando-se dos recursos disponíveis, com a minimização dos impactos. Observou-se que grande parte dos estudos publicados no Brasil, acerca desta temática, assenta-se sobre Estudos de Caso, muitas vezes, limitados às suas peculiaridades. Houve, por parte do governo federal, a implantação de dois programas relacionados à municipalização e a regionalização do Turismo, porém ambos ocorreram sem o devido monitoramento e foram desvinculados da implementação do programa desenvolvido pelo Ministério do Turismo conhecido como “65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico” (2007-20014), que timidamente apoiaram a promoção das comunidades do entorno turístico. Desta forma, a pesquisa, pretende apresentar uma análise bibliográfica sobre o TBL no Brasil, no período de 1990-2010, ponderando-o como uma alternativa de desenvolvimento econômico e social. O estudo se justifica na medida em que 364 reconhece a importância econômica do turismo e de seus impactos, apontando o TBL como uma alternativa de desenvolvimento, em comunidades que, normalmente, iriam usufruir apenas dos aspectos negativos da dimensão turística. A pesquisa, ainda em desenvolvimento, tem apresentado uma análise crítica/reflexiva do turismo e do TBL, nos destinos turísticos e nas comunidades quem compõem o seu entorno.

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365 ST 36. História Militar: Práticas e saberes.

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"Na paz cumpre-se preparar a guerra": Atuação da Armada Imperial na defesa da província de Mato Grosso contra a República do Paraguai (1852- 1865) - Jéssica de Freitas e Gonzaga da Silva (Fundação Getúlio Vargas)

Entre 1852 e 1864, as relações diplomáticas entre o Império do Brasil e a República do Paraguai foram marcadas por um conflito político devido às disputas por poder na bacia do Prata, território fronteiriço e a livre navegação do rio Paraguai. Diante da ineficácia das missões diplomáticas, o Estado brasileiro considerou recorrer à violência contra os paraguaios para alcançar os seus interesses. A ameaça de guerra implicava na defesa da fronteira de Mato Grosso para assegurar a soberania brasileira e sua integridade, além da modernização da esquadra para atuar no teatro de operações. O Estado mobilizou o Ministério da Marinha para atuar na defesa do território e preparar a guerra. Nossa proposta é apresentar a análise realizada sobre os seguintes ministérios: José Maria da Silva Paranhos (1853-1854; 1856-1857); Barão de Cotegipe (1855-1856) e José Antônio Saraiva (1857-1858), destacando as principais estratégias para defesa da fronteira: Trem Naval e Estação Naval do Mato Grosso; Modernização da Esquadra e o Estabelecimento Naval do Itapura e Colônia Militar. Além disso, apresentar os principais problemas enfrentados pela Marinha de Guerra para implantar tais estratégias que resultaram diretamente na invasão bem-sucedida das tropas de Solano López entre 1864-1865, contribuindo com novas interpretações para historiografia.

A Classificação de Marinhas de Guerra na atualidade: um desafio para os 366 estudos da História do Tempo Presente - Francisco Eduardo Alves de Almeida (Escola de Guerra Naval)

A presente pesquisa tem o propósito de classificar as marinhas de guerra no tempo presente, tendo em vista só existirem no meio acadêmico classificações que se limitam a critérios numéricos absolutos ou critérios qualitativos sem correspondência com a realidade. Pesquisadores como Geoffrey Till, Eric Grove e Hervé Coutau Begarie procuraram classificar as marinhas do tempo presente porém sempre esbarraram nos parâmetros norteadores, recorrendo a avaliações qualitativas. Procura-se com essa investigação determinar critérios comparativos quantitativos e qualitativos segundo o número de navios, tipos de meios, efetivos navais, razão efetivos/população, bases e estaleiros, nível tecnológico, capacidade nuclear, experiência de combate, capacidade financeira, recursos naturais estatais e capacidade de construção naval. Com esses dados compilados pretende-se comparar essas marinhas de guerra, estabelecendo um ranking mundial de poder naval. Com essa pesquisa poder-se-á confrontar poderes navais determinando o quanto um é mais "poderoso" que o outro segundo uma escala comparativa.

A Guerra e a Ética da Guerra na longa duração evolucionária: atualidade e ancestralidade - Daniel de Pinho Barreiros (UFRJ)

O objetivo desta comunicação é o de estabelecer uma narrativa macrohistórica acerca da emergência da guerra e da ética social como condições simplesiomórficas na linhagem de Homo sapiens. Isso significa que esses dois aspectos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------comportamentais, que representam um ramo bastante seleto na árvore filogenética da ordem dos Primatas, são compartilhados por duas linhagens de grandes símios africanos que divergiram de um ancestral comum por volta de seis milhões de anos atrás, resultando em humanos e chimpanzés extantes. Dessa forma, o artigo propõe uma interpretação etológica para a guerra e para a ética social, sendo ambas inatas de uma mente social modular altamente especializada, presente tanto nas espécies do gênero Homo quanto do gênero Pan. Não obstante essa interpretação, o artigo conclui que restrições comportamentais à violência interssocietária coalizacional parecem ser um aspecto exclusivo da cognição modular transdominial que caracteriza os humanos modernos. Assim, se na longa duração evolucionária, a guerra e as restrições à violência intrassocial aparecem em certa medida como traço etológico comum a humanos e chimpanzés, uma ética da guerra – e a capacidade cognitiva para a paz interssocietária – parece ser uma capacidade exclusivamente humana

A medicina do Cirurgião-Mor Soares de Meirelles - A formação do Corpo de Saúde da Armada (1849-1868) - Ricardo George Muller (COC/FIOCRUZ)

A formação dos Corpos de Saúde dos exércitos e marinhas aparece como fenômeno tardio em praticamente todo o mundo ocidental, isto é, por volta da segunda metade do XIX. O objetivo do trabalho é apresentar aproximação ao tema com vistas à Dissertação. O papel desempenhado pelos físicos e cirurgiões militares é conhecido na formação da Assistência no Brasil; ligados a dispositivos tais como a Fisicatura- 367 mor; a Junta do Protomedicato; docentes nas escolas médicas e suas relações com as Misericórdias; sobretudo a partir da vinda de 1808; na Academia Imperial de Medicina e Junta Central de Higiene; além dos conflitos militares – em particular a Guerra da Tríplice Aliança e de Canudos. O recorte deste trabalho, contudo, restringe-se à Corte no Rio de Janeiro, no período entre 1849, quando o primeira chefia do corpo de saúde naval é conferida ao Dr. Soares de Meirelles, cargo que exerceu até 1868, ano de sua morte. Não dirigiu o Hospital Central da Marinha, mas conduziu uma enfermaria no O Hospital Militar da Corte, no alto do Morro do Castelo. Apenas a partir de 1890, ano do terceiro Regulamento dos Corpos de Saúde do Exército e da Armada, é que configurariam de cada qual as suas políticas de saúde. O Cirurgião-Mor da Armada Joaquim Cândido Soares de Meirelles foi um dos fundadores da Academia Imperial de Medicina, ao lado do médico brasileiro Cruz Jobim (que seria diretor da Faculdade de Medicina por cerca de três décadas), dos médicos franceses Fauvre e Sigaud e do médico italiano De-Simoni. Mais tarde Soares de Meirelles seria partrono tanto da Academia Nacional de Medicina quanto do Corpo de Saúde da Marinha. Sua trajetória é representativa da medicina dos Oitocentos: formado na Academia Médico-cirúrgica do Rio de Janeiro em 1823, em seguida doutorou-se em Paris em medicina e em cirurgia. Sua prática foi marcada pelo sistema médico climatológico, pela anatomopatologia e pelo higienismo. Enquanto o Exército tem sido atenção de diversos estudos, o mesmo não ocorre com a Marinha; bem como Soares de Meirelles ainda não tenha tido tratamento acadêmico; o que justifica o trabalho.

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A Racionalidade Profunda da Guerra: um possível diálogo entre os objetivos políticos e a ancestralidade biológica - Daniel Ribera Vainfas (UFRJ)

As guerras são, essencialmente, fenômenos políticos, o que significa dizer que por trás de uma disputa violenta entre duas sociedades há alguma expectativa de resultado político (seja de expansão, ou de manutenção das condições materiais das sociedades em conflito) que justifica sua execução. Por sua vez, esse fenômeno político não ocorre no éter, pois quem faz a guerra são pessoas. Mais especificamente, a motivação política encontra-se assentada sobre um leito biológico, posto que os seres humanos são animais e compartilham uma herança evolutiva, assim como todas as criaturas vivas. Por mais que as interpretações tradicionais da guerra tendam a enfatizar um aspecto técnico e cultural como elemento explicativo das causas e dos direcionamentos tomados pelos conflitos, os avanços nas ciências biológicas nos colocam face a um desafio: uma vez que a natureza humana existe e que nossas ações sejam em grande medida condicionadas (embora não sejam completamente determinadas) por estímulos oriundos da nossa condição biológica, como formular o problema fundamental da guerra? A resposta para essa pergunta precisa levar em conta tanto os avanços na nossa compreensão sobre a natureza humana quanto os condicionantes políticos e culturais aos quais as sociedades encontram-se historicamente submetidas. O objetivo desse trabalho é explorar a interface entre esses dois elementos, partindo de uma abordagem geral sobre a chamada ‘guerra primitiva’ e seu contraponto, a ‘guerra estatal’, e de uma leitura focada sobre as guerras tupi e seus elementos sócio-políticos. A ideia de 368 uma racionalidade profunda busca compreender como o universo instintivo (subjacente à arquitetura mental humana) se faz presente no campo político da guerra, associado ao pensamento racional, no qual meios e fins encontram-se constantemente relacionados. Dito de outra forma, a racionalidade profunda traz a ideia de que a guerra pode funcionar como uma solução técnica, politicamente viável, para problemas oriundos das nossas limitações humanas. Assim, busca-se construir uma narrativa que se aproxima da Grande História e que adiciona uma dimensão ao problema da guerra, transformando-o simultaneamente em uma questão biológica, social e política.

Breves considerações sobre o emprego da força naval na política nacional brasileira em face da Bacia do Prata A Passagem de Tonelero (1850- 1852) - Edina Laura Costa Nogueira da Gama (Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha)

O Primeiro-Almirante Lord Cochrane em suas Sugestões para o Adiantamento da Marinha Imperial, ainda durante a consolidação da independência do Brasil, traçou as linhas-mestras de uma política naval somente implantada de fato pelo governo imperial ao final da guerra contra Oribe e Rosas. Conforme artigo publicado pelo historiador Max Justo Guedes na Revista Navigator (1971, pp. 3-8), dizia o Almirante britânico que devido aos “mares pacíficos” do litoral brasileiro, os navios da Esquadra poderiam ser dotados de mais velocidade e manobra, e com propulsão a vapor, acrescentando que a potência que primeiramente adotasse essa nova forma de condução da guerra naval teria enormes vantagens sobre as demais ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------nações marítimas; também se referia ao emprego de poucos canhões de grosso calibre, em vez de várias peças pequenas com menor concentração de fogo. Thomas Cochrane enfatizou a necessidade de adoção imediata de novas tecnologias, principalmente aquelas que implicassem mudanças nos conceitos estratégicos; quanto à construção dos navios a vapor, sua nacionalização deveria ser processada de forma paulatina. Caso houvesse guerras no Brasil, seriam sempre de caráter defensivo, com operações limitadas ao sul do Atlântico. Vinte e cinco anos depois dessas Sugestões ..., o Governo Imperial comprava o Vapor D. Afonso, o capitânia da Passagem de Tonelero, episódio que simbolizou o término da era a vela na mentalidade marítima brasileira. Assim, a proposta deste trabalho reside numa breve análise das ações empreendidas pela Marinha Imperial no conflito contra Oribe e Rosas, e sua contribuição para a vitória militar, contextualizando-as como representativas da instrumentalização política da Armada Nacional aplicada na região platina à época do II Reinado.

Da “Volante” à Radiopatrulha: As Comunicações na Polícia Militar da Bahia (1930-1967) - Andrea Reis de Jesus (Governo do Estado da Bahia)

Este trabalho tem como objetivo analisar as comunicações modernas na polícia militar da Bahia em momentos decisivos da história brasileira contemporânea, especialmente durante o combate ao banditismo no interior da Bahia entre os anos de 1930 e 1938, no contexto da Segunda Guerra Mundial e da experiência democrática brasileira e, no processo de implantação do serviço de radiopatrulha 369 da polícia militar no regime militar. A abordagem do tema partirá do conjunto de fontes reunidas durante a pesquisa sobre as comunicações na Secretária da Segurança Pública da Bahia, cuja finalidade foi localizar o acervo de imagens e documentos escritos sobre as comunicações policiais e registrar as informações em um texto. Os principais locais pesquisados foram o arquivo do centro de comunicação e memória da polícia militar, sediado no quartel do comando geral da polícia militar da Bahia, bem como, a biblioteca da academia da polícia militar baiana. O projeto contou ainda com depoimentos orais que colaboraram para profundar o conteúdo das fontes escritas. A partir da leitura e interpretação dos documentos, observou-se que as comunicações são um fator preponderante no emprego de estratégias militares. No âmbito da polícia militar, a utilização da radiotelegrafia foi crucial para dar suporte aos grupos que combateram o cangaço, bem como, serviu para integrar a capital, Salvador, às regiões mais longínquas do estado, especialmente as mais afetadas pelo banditismo e pela seca. É a partir da utilização da radiotelegrafia no suporte às volantes que as comunicações policiais militares irão se expandir nas décadas posteriores. Se, durante a Segunda Guerra Mundial, a conjuntura econômica difícil pela qual passava o Brasil e a Bahia, afetou o serviço de comunicação policial, o fim da guerra representou a retomada de investimentos do estado baiano nesse setor. As cidades mais estratégicas do interior passaram a contar com uma estação de rádio, que não só estabelecia comunicações militares, mas mantinham uma intensa atividade de troca de informações com a sociedade, por intermédio de transmissão de conteúdo de interesse social. O incremento tecnológico terá como ponto alto o uso do rádio VHF para distâncias curtas e SSB para comunicações de longa distância. A implantação dos rádios VHF ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------será fundamental para o serviço de radiopatrulha realizado pela polícia militar a partir do final da década de sessenta.

Geoestratégia Brasileira no Atlântico Sul: A importância da utilização militar das ilhas oceânicas brasileiras - Vitor Deccache Chiozzo (Escola de Guerra Naval)

O projeto de pesquisa se propõe a contribuir com a questão da defesa e segurança marítima do Atlântico Sul contíguo ao Brasil, com o objetivo de dotar o Estado brasileiro de pontos avançados para a defesa de seu território continental, bem como dos limites exteriores da Amazônia Azul. Seria importante o Brasil possuir uma geoestratégia de utilização militar dos pontos mais externos da ZEE brasileira, quais sejam as ilhas oceânicas brasileiras (IOB) de Fernando de Noronha (26 km²), Trindade e Martim Vaz (10,4 km²) e do Arquipélago de São Pedro e São Paulo. As ilhas de Fernando de Noronha e Trindade e Martim Vaz são trampolins para operações nos segmentos central e meridional do Atlântico e dão segurança para o tráfego de cabotagem e das linhas de comunicação marítima por onde circulam 90% do comércio exterior brasileiro, e que atualmente, encontram-se menos privilegiadas ou até mesmo negligenciadas pelo Estado Brasileiro, em sua política de defesa para o Atlântico Sul. Dessa forma, por meio dessa geoestratégia contribuiríamos, com a consecução de três das quatro tarefas básicas do poder naval brasileiro, exercendo um maior controle da área marítima de interesse do Brasil, projetando o poder sobre terra, no caso de o território continental brasileiro for 370 ocupado e ou invadido, e ao fim, promovendo a dissuasão, garantindo a vontade brasileira no mar.

Malvinas: escalada e guerra no Atlântico Sul - Felipe Malachini Maia (Escola de Guerra Naval)

Iniciada em 2 de abril de 1982 com a Operação Rosário, a Guerra das Malvinas se desenvolveu por três fases: Guerra Naval; Guerra Aeronaval; e Guerra Terrestre. Ao longo das quais, importantes operações foram realizadas, testando a força militar e o prestígio dos dois Estados envolvidos. Mais do que isso, em jogo estava a permanência e a aceitação dos governantes que estavam no poder. Se por um lado a junta militar argentina enfrentava um período de forte instabilidade econômica e política, pondo em risco a permanência do governo dado a falta de apoio papular, no Reino Unido a situação de Margareth Thatcher não era muito diferente (CARVALHO et. al., 2009). Foi neste contexto que a Argentina iniciou a formulação de um plano para a retomada das Malvinas/Falkland, a ser usado caso as medidas diplomáticas falhassem. A chegada de Constantino Davidoff às Ilhas Geórgias do Sul foi a primeira peça responsável pelo início do confronto. Tão logo seus funcionários hastearam a bandeira nacional argentina nas ilhas, ao som do seu hino nacional, se deram os protestos britânicos e o envio do HMS Endurance à região, com ordens para remover os trabalhadores que lá se encontravam. Imediatamente o governo argentino autorizou o envio de um de seus navios, devidamente guarnecido, à ilha. Suas ordens determinavam que deveria chegar às Geórgias antes do navio britânico e proceder um desembarque de modo a proteger ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------seus nacionais. Em resposta, a Câmara dos Comuns autorizou o envio de uma série de navios e submarinos ao Atlântico Sul. A partir deste momento a margem de ação da junta militar argentina ficou bastante reduzida. Se recuasse sua já debilitada imagem seria profundamente abalada. Por outro lado, se atacasse as Malvinas/Falkland poderia manter o ânimo de sua população, mas teria de antecipar os planos, o que prejudicaria sua estratégia. Apesar dos contras decidiu- se pela segunda opção. Às 9h e 15min do dia 2 de abril de 1982 os soldados britânicos se renderam e o arquipélago passou às mãos argentinas. Ao ser informada do que ocorrera em seu território além-mar, Margaret Thatcher discursou à Câmara dos Comuns que autorizou o envio de uma força tarefa de 93 navios, entre embarcações de guerra e logísticas. No dia 1º de maio o combate pelas ilhas começou. Setenta e quatro dias após a realização da Operação Rosário e 49 dias de intensos combates, chegou ao fim a Guerra das Malvinas, com o saldo de: 890 mortos; 1.845 feridos; 97 aviões abatidos; e 17 navios afundados (FORÇA AÉREA ARGENTINA). Observando a sequência de acontecimentos que levou a eclosão do conflito, concluiu-se que esta foi a principal causa da eclosão do conflito e não fruto exclusivo do desejo do governo argentino de se manter no poder, como habitualmente se crê.

O marquês do Lavradio e a atuação do general Böhm no conflito militar com os espanhóis no Sul (1770-1777) - Estevao Barbosa Damacena (UERJ)

Durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), quando Portugal se viu invadido 371 pelos exércitos do Pacto de Família, abriram-se discussões acerca da situação militar no reino e nas conquistas ultramarinas. Em virtude da situação de extrema fragilidade das tropas regulares portuguesas, o então secretário de Estado do Reino e Mercês, Sebastião José de Carvalho e Melo, viu-se na necessidade de reformular os quadros militares em Portugal, com base nos novos padrões modernos de disciplina e organização dos exércitos da Europa. Essas reformas ficaram sob a responsabilidade do conde de Lippe, de origem austríaca, contratado pelo governo português para tornar o Exército mais profissional e técnico. Como consequência dessas reformulações, o governo de Lisboa enviou ao Brasil em 1767 chefes militares estrangeiros, entre eles o tenente-general alemão João Henrique de Böhm, visando adaptar os regimentos da colônia aos novos padrões europeus. O objetivo deste paper consiste em narrar os avanços e retrocessos das experiências militares na luta contra os espanhóis pelas possessões meridionais na América portuguesa. As fontes que servem a esse trabalho consistem na comunicação materializada nos ofícios enviados pelo vice-rei da época, o 2° marquês do Lavradio, a Lisboa com destaque para as ações empreendidas pelo general Böhm.

Os Pensamentos e Decisões da Marinha do Brasil, durante a transição da vela para a mecanização - Claudeniz Fernandes Guimarães (Escola de Guerra Naval)

A partir de artigos da Revista Marítima, serão descritos e analisadas as decisões que guiaram o rumo da mecanização naval.

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Rito de Formação Guerreira no mar e a representação da morte entre os cidadãos Thetes - Alair Figueiredo Duarte (LSC/EGN/MB - NEA/UERJ - CEHAM/UERJ)

Qual a relação entre helenos e o mar? Não poderemos cuidar de tão complexa tarefa sem trazer a luz de nossas reflexões a atuação política do segmento social ateniense thete, como agente ativo na idealização das fronteiras marítimas atenienses. A concepção de fronteira marítima passou a interagir entre os cidadãos atenienses a partir do século V a.C., no recorte temporal de 483 a 404 a.C., houve uma prática cotidiana permitindo proximidade com a thalassa. Através de documentações escrita e cultura material do período Clássico, buscamos nessa abordagem destacar o processo de especialização guerreira do nautai (marinheiro) ateniense e sua contribuição na manutenção das fronteiras marítimas atenienses.

Sunzi e Vegetius: Comparando o Incomparável - Manuel Rolph Cabeceiras (Universidade Federal Fluminense)

Sunzi (544-496 a.C.?), mais conhecido no Ocidente como Sun Tzu, autor de "A Arte da Guerra" (孫子兵法 "Bingfa", mais apropriadamente "A Lei da Guerra") e Publius Flavius Vegetius Renatus, mais comumente Vegetius ou Vegécio, autor do "Epitoma rei militaris" ou "De re militari", o "Compêndio da Arte Militar", escrito muito provavelmente em torno de 390 d.C., tiveram com as suas obras tal sucesso 372 que atravessaram as épocas, chegando até os nossos dias ainda com aplicação e estudo no campo das ciências militares. Frequentemente este caráter prático tem suscitado comparações entre estas obras tomando-as como comparáveis em detrimento de suas singularidades mais profundas. O nosso propósito aqui é justamente acentuar estas singularidades, destacando o clássico chinês e o romano como obras incomparáveis a partir de suas marcas civilizacionais.

Terrorismo no Mar e a partir do Mar - Análise do Panorama Internacional e as consequentes Implicações para o Brasil - Vanessa da Costa Lamas (UNIRIO)

O denominado Terrorismo Marítimo - ou Terrorismo no Mar - representa uma das questões mais pertinentes no tocante a possíveis incursões por parte de organizações de cunho extremista cujos objetivos, para além das abordagens ideológicas, ilustram quadros que podem converter-se em significativos distúrbios tanto de ordem política - no que tange às práticas imprevisíveis onde a base mater é o uso da violência no seu estágio mais visceral - como - e substancialmente - de foro econômico. Propor uma abordagem mais específica acerca da importância que a prática do Terrorismo no Mar representa especialmente no contexto do Tempo Presente, onde a utilização das rotas marítimas e a intercomunicação entre os mais diferentes Estados existentes no globo respondem por um perfil majoritário no que concerne às transações comerciais, destacando a evidência do Brasil como potência marítima além da necessidade ímpar da proteção da faixa que comporta a Amazônia Azul. O tema proposto encontra no tempo presente uma possibilidade latente de impactos significativos frente à vulnerabilidade das embarcações - ainda que as mais sofisticadas tecnologicamente - e das instalações portuárias ao redor ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------do globo, representando, assim, uma ameaça intermitente não só à soberania dos Estados como às suas estruturas como um todo, já que o comércio marítimo representa cerca de 90% das transações econômicas nos cinco continentes. A metodologia elencada para a elaboração da pesquisa é que faz uso de bibliografia específica e procura desenvolver um objeto que busca apresentar tanto dados quantitativos - por meio de gráficos e planilhas estatísticas - quanto qualitativos a partir do desenvolvimento do tema proposto, dada a relevância da abordagem e sua inserção num contexto prático e de significância ímpar no que concerne as áreas da Defesa e da Estratégia ao se abordar eventos que representam ônus de grande relevância não só no âmbito econômico como também no campo político.

Um Castelo da Polícia: as conjunções históricas do lendário Regimento Marechal Caetano de Faria desde sua criação até os dias atuais - Leonardo Fernandes Hirakawa (Exército Brasileiro)

Quem frequenta o centro do Rio de Janeiro já viu ou ouviu falar da sede do Batalhão de Polícia de Choque sediado ao lado do Sambódromo. Muitos admiram sua arquitetura e desconhecem a importância que aquele aquartelamento teve no período da República Velha e até hoje desempenha relevante serviço na segurança pública de nosso Estado. Nossa análise parte do contexto histórico da função de Polícia atribuída ao Corpo Policial do então Distrito Federal numa jovem República, passando pelo fastígio da Ditadura Militar e encerrando com o enfrentamento ao poder dos narcotraficantes no início da década de 80. Intenciona- 373 se demonstrar através de análise documental e pesquisa bibliográfica a mutação do imaginário policial militar fluminense desde a República Velha e Ditadura Militar, sendo nesses dois momentos, caracterizados pela forte beligerância na garantia do status cor do Governo e nos anos 80 o início da narcoguerrilha que perdura até hoje. Demonstraremos as mudanças com análise da tática empregada em assuntos militares e a estética policial militar personificada em uniformes e veículos, gerando consequentemente o afastamento do ethos militar e a aproximação com meio civil já na segunda metade do século XX.

Uma visão comparada sobre a Missão Militar Francesa e a Missão Naval Americana - Ricardo Pereira Cabral (Escola de Guerra Naval)

No início do século XX, as Forças Armadas Brasileiras estavam defasadas em relação a maioria dos países europeus, aos Estados Unido e até mesmo a alguns vizinhos como a Argentina. As Forças operavam equipamentos desatualizados e obsoletos, utilizavam concepções táticas e estratégicas ultrapassadas. A fim de superar esse atraso o governo Epitácio Pessoa (1919-1922) contratou em 1920, uma Missão Militar Francesa para o Exército e em 1922 a Missão Militar Americana para a Marinha. A contração de estrangeiros era vista com desconfiança e tinha a oposição de uma parte da oficialidade das Forças. Esta comunicação tende comparar a atuação das duas missões no período de 1920-1930 e suas principais contribuições para a modernização da Marinha e do Exército Brasileiro.

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“Dossiê Operação Crossroads”: Um militar brasileiro observando os testes nucleares no Atol de Bikini em 1946 - Elias da Silva Maia (MAST - MCTI)

Após a Segunda Guerra Mundial a questão da energia nuclear tomou boa parte dos debates e das ações em torno desse novo tema. Sua relevância está inclusive no fato da ONU ter criado através de sua primeira resolução estabelecida pela Assembléia Geral, a Comissão de Energia Atômica para mediar os problemas causados com a descoberta da energia atômica. A Operação Crossroads consiste nos preparativos da Joint Task Force One dos Estados Unidos para a realização de duas explosões atômicas que ocorreram em julho de 1946, na região hoje conhecida como Atol de Bikini, nas Ilhas Marshall. Estas ainda eram a 4º e 5º explosões atômicas realizadas no mundo e geraram um custo que ultrapassou 5 bilhões de dólares. Esse acontecimento teve grande repercussão em todo mundo na época e 21 representantes dos países da Comissão de Energia Atômica da ONU acompanharam os testes. Entre esses, dois militares brasileiros: o Capitão de Fragata Carlos Almeida da Silva e o Major do Exército Orlando Rangel. Orlando da Fonseca Rangel sobrinho Rangel (1907-1976) foi um engenheiro químico militar que chegou ao posto de General, tendo uma formação ampla e exercido diversos cargos importantes no Ministério da Guerra, na Comissão de Planejamento Econômico e na Comissão de Energia Atômica da ONU. Participou da fundação do CNPq, ocupando o cargo de diretor na área de Pesquisas Químicas de 1951 a 1956. Após esse período, foi presidente da Academia Brasileira de Ciências e diretor da Vale do Rio Doce, além de participar ativamente dos debates 374 sobre Energia, Indústria Química e Defesa Nacional. O cientista acumulou no decorrer das observações em seu arquivo pessoal um conjunto variado de registros sobre essa experiência, sendo estes que comporão as fontes para realizar o resgate desse acontecimento. Tem se buscado com base nessa documentação entender o interesse e a participação dos brasileiros nos testes nucleares, questões que não foram sequer apontadas em outras investigações. Entende-se que Rangel pertenceu a um contexto social amplo, partindo para o conhecimento e interpretação de suas redes de relações e obrigações, inclusive fora do meio no qual estava inserido. Porém, não desconsideramos que sua atuação se fez presente num determinado sistema social e político que era culturalmente e socialmente determinado, que indicava suas ações, mas possibilitava brechas para suas pretensões. Os elementos biográficos sevem para a compreensão das atitudes individuais dentro de um contexto mais complexo, indicando o posicionamento destes indivíduos frente a sua realidade. Esses registros devem estar inseridos nas contradições que nascem entre as normas e práticas efetivas, entre o indivíduo e seu grupo, entre limitação e liberdade.

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375 ST 37. História, Arquivologia e Biblioteconomia: fronteiras, embates e diálogos

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A contribuição do Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II na formação da memória histórica da instituição - Luana Pires de Arantes (Universidade Federal Fluminense)

O trabalho discute a formação do NUDOM - Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II - e seu papel na preservação da memória histórica do colégio, instituição de ensino criada no século XIX e que foi durante muitas décadas referência para a educação nacional. Objetiva verificar com quais concepções de memória a entidade se alinha e de que forma tais concepções implicam nos processos de seleção e organização dos documentos que compõem os seus acervos. Destaca ser a memória institucional o reflexo da trajetória de uma instituição e que sua construção expressa as relações que esta mantém com a sociedade e com os sujeitos que dela fazem parte. Desnaturalizar esse processo permite-nos conhecer a instituição e a identidade que quer propagar frente aos diferentes grupos sociais com os quais se relaciona, no caso de um colégio, mais especificamente, seus alunos, professores e funcionários. Nesse processo nota-se que diversos tipos de memórias se perpetuam ou se apagam. No campo simbólico, significa a produção de ideologias que se manifestam nos discursos das autoridades e no conteúdo dos documentos institucionais que são organizados e dispostos ao público por meio de suas coleções e instrumentos de pesquisa (guias catálogos, etc.). Tem como referencial teórico os estudos de Pierre Nora, Maurice Halbawchs, Michael Pollak sobre os conceitos de memória, lugar de memória e identidade, além das análises de Ana Maria Camargo e Silvana Goulart sobre memória e centros de memória. 376 Usa como aporte metodológico a pesquisa qualitativa do tipo exploratória pautada em revisão de literatura sobre o NUDOM, sua criação, a formação de suas coleções e os instrumentos de pesquisa gerados. Conclui ressaltando a importância dos centros de memória na preservação e difusão da memória de uma instituição, possibilitando a consolidação de uma identidade para o grupo, garantindo-lhe coesão e sentimento de pertencimento. Destaca que o acesso a diferentes fontes de informação disponíveis no acervo tem possibilitado aos pesquisadores re(construir) a memória dessa instituição secular. Por meio do mapeamento de suas coleções demonstra que a entidade tem cumprido seu papel de reconstituir, em diferentes momentos históricos, as ações e a cultura desta escola, possibilitando àqueles que consultam seus acervos novas interpretações da história do Colégio Pedro II e de sua inserção na história da Educação no Brasil.

A doação da coleção Benedicto Ottoni para a Biblioteca Nacional: a repercussão pública de um gesto - Iuri Azevedo Lapa e Silva (Cpdoc-FGV)

A presente comunicação se insere numa pesquisa mais ampla que aborda o caso da doação da coleção Benedicto Ottoni, em 1911, para a Biblioteca Nacional a partir de um olhar que explora a biografia de coleções. O caso em pauta se caracteriza por um longo e multifacetado processo, a saber: a formação da coleção ao longo de décadas e o que ela significava para a “escrita de si” do colecionador, José Carlos Rodrigues, homem ligado à imprensa periódica e com profundo lastro de relações com o campo da política; sua simultânea venda e doação – dando à coleção uma dupla “paternidade”; e os frutos simbólicos obtidos pelo destino dado ao capital ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------econômico oriundo de sua venda. A culminância dessa trajetória – a venda da coleção para terminar a construção e auxiliar na manutenção de um hospital para crianças em situação de vulnerabilidade – revelaria a percepção, por parte de José Carlos Rodrigues, de um deslocamento das fontes de honra e prestígio social, saindo da esfera de certos tipos bens culturais – livros e papéis ligados à “história pátria” – para um plano mais “republicano”, ligado ao “bem comum”. O recorte aqui selecionado busca analisar a maneira como a doação reverberou na esfera pública e quais foram os mecanismos discursivos utilizados para tornar o gesto simbolicamente eficaz.

A história das práticas musicais e os estudos Musicologia histórica: saberes e diálogos interdisciplinares na pesquisa arquivística da música no Brasil - Fernando Lacerda Simões Duarte (UFPA)

Apesar de diversos autores terem dirigido críticas ao dito trabalho positivista da Musicologia – dentre os quais, Joseph Kerman, Alberto Ikeda e Maria Alice Volpe –, fato é que a pesquisa documental tem profunda relevância neste campo do conhecimento e carece ainda de trabalhos voltados à preservação e inventário dos acervos. Considerando que os profissionais da Arquivologia não raro têm limitações em relação às informações musicais contidas nas fontes, a realização dos trabalhos de salvaguarda dos acervos musicais acaba por ser realizado muitas vezes por musicólogos. O presente trabalho tem como objetivo abordar a pesquisa musicológica de vertente histórica a partir de suas interfaces com a História, 377 Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia e outras abordagens voltadas ao patrimônio cultural, a partir de referenciais comuns a estas áreas. Para tanto, serão discutidos casos concretos observados em pesquisa de campo em acervos brasileiros, abrangendo cerca de noventa cidades, nos vinte e seis estados. Questiona-se como têm sido tratadas as fontes musicais em distintos processos de arquivamento, como foram constituídos os acervos musicais mais representativos do Brasil, a aplicabilidade das noções de arquivo, acervo e coleção aos conjuntos de documentos musicais produzidos em distintas situações, bem como da teoria das idades documentais aos documentos musicográficos, o papel dos arquivos pessoais, as limitações das fontes musicais na produção de histórias da música e as novas possibilidades de abordagem destes acervos, inclusive por meio da etnografia de arquivos. As temáticas são abordadas a partir de referenciais interdisciplinares: as fontes para o estudo da Musicologia, em Pedro José Gómez González; a taxonomia do patrimônio musical, por Antonio Ezquerro Esteban; teorias e definições arquivísticas, em Heloísa Bellotto; estudos sobre a memória, em Pierre Nora e Joël Candau; e a etnografia dos arquivos pessoais proposta por Luciana Heymann. Os resultados apontam para a diversidade de situações de recolhimento de documentos musicográficos no Brasil, que ocorreram, sobretudo, a partir da década de 1940, a partir da atuação de clérigos e musicólogos. Observa- se ainda a necessidade de tratamento arquivístico em grande parte dos acervos brasileiros, bem como a necessidade de se considerarem as peculiaridades deste tipo de fonte nos processos de inventário e estudo. A existência de grupos de pesquisa voltados aos acervos musicais e de eventos acadêmicos voltados a esta temática também representam avanços. Finalmente, as limitações das informações ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------contidas nestes documentos aponta para a possibilidade de pesquisa arquivística de caráter mais amplo, abrangendo inclusive a história oral e a etnografia dos arquivos.

Arquivos históricos escolares: uma proposta de organização dos fundos das escolas do trabalho de Niterói, RJ - Elisabete Gonçalves de Souza (UFF)

Discute e analisa a importância dos fundos arquivísticos nas pesquisas sobre a memória da educação profissional no Brasil tendo como marco histórico a criação das escolas do trabalho na década de 1920. Destaca a função social dos arquivos históricos escolares identificando-os como fontes de informação essenciais para a história e historiografia da educação, pois arrolam dados fundamentais sobre a gestão escolar, como o número de matriculas, níveis de repetência, evasão, etc., além de documentos que relatam as práticas pedagógicas, como os currículos e planejamentos escolares, documentos técnicos essenciais para conhecermos a identidade dessas escolas, as formas como foram construídas e reconstruídas e sua relação com as políticas de educação em curso no país em diferentes períodos. Relata as diretrizes usadas para a identificação e organização dos documentos sob a custódia de duas instituições de ensino: a Escola Técnica Estadual Henrique Lage e o Colégio Estadual Aurelino Leal, primeiras escolas profissionais do município de Niterói, RJ. Caracteriza-se como pesquisa exploratória, sendo o seu principal caminho investigativo a pesquisa bibliográfica e o trabalho de campo feito nos arquivos, cujo objeto empírico foram os dossiês dos alunos. Seus procedimentos 378 metodológicos são oriundos das ciências documentárias, em especial a Arquivística, tendo em vista desenvolver metodologias adequadas para inventariar e identificar a documentação produzida pelas escolas com o objetivo de representar e descrever o conteúdo informacional de seus fundos. Envolve ações como: contextualização, descrição e identificação das espécies e tipos documentais. Traz análises preliminares sobre os conteúdos dos documentos relacionando-os com o contexto sócio-político-econômico nos quais foram produzidos, cenários marcados por reformas no âmbito do ensino profissional como a Reforma Nilo Peçanha (1909), Reforma Fernando de Azevedo (1928) e Lei Orgânica do Ensino Industrial (1942), que trouxeram mudanças significativas nas relações entre o mundo do trabalho e a educação face às necessidades impostas pelo projeto industrialista em curso.

Arquivos Municipais e História Oral: A busca pelo acesso à informação em Angra dos Reis - Martha Myrrha Ribeiro Soares (FCRB)

Articula os estudos teóricos e metodológicos da História Oral com os estudos de identificação de instituições com acervo arquivístico com o objetivo de construir uma referência para a aplicação e verificação de hipóteses e análises no trabalho de campo. Discute os arquivos municipais considerando o campo teórico sobre memórias e acervos. Reconstitui, através de entrevista oral, a história do acervo da secretaria municipal de saúde de Angra dos Reis. Considera a trajetória do entrevistado e sua relação identitária com a instituição, a Prefeitura Municipal de Angra dos Reis. Reconhece a gênese do acervo documental arquivístico ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------acumulado. Proporciona um mergulho mais profundo e qualificado no campo de investigação dos arquivos públicos municipais. Oferece alicerces para identificar a situação atual de organização e conservação dos documentos arquivísticos. Verifica a pertinência do uso da História Oral como metodologia para a elaboração da história administrativa e da história do acervo arquivístico, observando o conceito e os atributos do documento de arquivo. Relaciona e reflete sobre o uso da História Oral como subsídio para a organização da informação arquivística e aplicação da norma internacional ISDIAH. Demonstra a importância dos espaços de salvaguarda e dos lugares de memória como os que preservam o que há de fundamental para as sociedades democráticas, a informação.

As disputas de memória no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo - Tiago Braga da Silva (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Através da descrição de documentos, o arquivo pode ampliar as possibilidades de acesso aos seus conjuntos documentais. Isso porque os instrumentos de pesquisa resultantes do processo de descrição, configuram dispositivos importantes para se conhecer o que se tem nos acervos dos arquivos, além de ser uma ferramenta que possibilita o acesso. Isso posto, o presente estudo buscou compreender as dinâmicas que ocorrem no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APPES) para definir os fundos documentais prioritários a serem descritos. Entendo que as práticas realizadas pelos diversos agentes inseridos no campo dos arquivos representam uma estratégia de luta entre agentes diversos para definir que 379 memórias para determinar que memórias serão conservadas e acessadas. Mesmo diante dos diferentes conflitos de memórias que envolvem o arquivo, foi possível verificar ações determinantes de diversos agentes. As escolhas em relação a produção de instrumentos de pesquisa no APPES, não fica condicionada apenas por uma vontade institucional e unilateral, mesmo não tendo acesso a documentos que demonstrem os debates e os jogos de interesse que acontecem no interior dos arquivos, foi possível perceber uma abertura da instituição em considerar as necessidades de informação dos agentes, sobretudo, os consulentes dos arquivos, que ao apresentarem sua demandas determinam as prioridades que o arquivo deve ter. Além disso, a produção dos instrumentos de pesquisa não é exclusividade da instituição. Através de leis de fomento à cultura é possível produzir instrumentos de acordo com os interesses de diferentes agentes, sem necessariamente ter anuência de interesse da instituição. Podemos perceber isso em dois instrumentos de pesquisas do APPES. No interior do arquivo há fortes tensões nas escolhas, sobretudo, aquelas que envolvem processos e práticas de visibilidades de acervo. Mas é possível destacar que os agentes externos, usando de diferentes estratégias para priorizar fundos documentais e temáticas que não teriam preferência no âmbito da gestão institucional, conseguem operar mudanças e interferir na prática da instituição em questão. O que fica claro nesse debate é a importância da atuação dos diferentes agentes na configuração das práticas operadas no arquivo. E nessa direção, para as reflexões futuras, vale destacar algumas intenções de pesquisas : Ampliar o debate sobre as noções de habitus e campo em Pierre Bourdieu, com o objetivo de entender as relações de poder/disputas/conflitos que ocorrem nos arquivos públicos; e aprofundar o debate sobre os usos políticos do passado; e ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------analisar e problematizar as possíveis relações entre a noção de patrimônio cultural e o entendimento do documento de arquivo como patrimônio.

Entre a pesquisa histórica e o tratamento arquivístico: a organização dos arquivos pessoais do CEDOC como um estudo de caso - Dayane Ponciano de Lima (MAST), Paulo Vitor Sauerbronn Airaghi (UFRN)

Analisa a relação entre a Arquivologia, a História e a Biblioteconomia na organização de arquivos pessoais. Empiricamente o trabalho se concentra na experiência realizada por historiadores que, desde 2011, atuam na organização de arquivos pessoais que compõem o acervo do Centro de Documentação Cultural Eloy de Souza (CEDOC), instituição inaugurada em 2003 com a proposta de ser um local destinado a preservar a memória potiguar. Desde 2011, os arquivos pessoais se tornaram o principal foco do CEDOC, que passou a abrigar arquivos de personagens que se destacaram na sociedade potiguar ao desenvolver ações ligadas à política e às artes. Neste texto, serão analisadas as experiências com os arquivos pessoais dos ex-governadores Sylvio Pedroza (que organizou em vida seu acervo) e Dix-Sept Rosado Maia (que teve seu arquivo criado décadas após a sua morte, a partir de documentos doados por familiares e amigos), enfatizando as dificuldades para a organização de um arquivo que reúne documentos textuais, livros e objetos tridimensionais. O trabalho dos historiadores é o de situar historicamente os personagens e a documentação, e estando diante de arquivos de tanta diversidade documental, foi procurada a parceria com arquivistas, 380 museólogos e bibliotecários. O trabalho discorrerá sobre o que foi feito para juntar diferentes suportes documentais em um mesmo acervo. Teoricamente o texto está calcado na ideia de que nas últimas décadas, há um profícuo diálogo estabelecido entre os historiadores e profissionais que lidam com documentos arquivísticos: os historiadores, por um lado, passaram a se interessar cada vez mais pela formação de arquivos, especialmente no que diz respeito aos arquivos pessoais, que passaram a se tornar não só fonte, mas o próprio objeto de pesquisas históricas (GOMES, 2004); por outro lado, os arquivistas passaram a perceber, com os historiadores, que os acervos pessoais constituem uma determinada narrativa sobre a vida dos sujeitos cujos documentos estão arquivados (VENÂNCIO, 2015). Dividiu-se o texto da seguinte forma: inicialmente será discutido o papel do CEDOC como centro agregador de arquivos pessoais; num segundo momento se analisará como os historiadores envolvidos no processo de organização dos acervos dessa instituição têm trabalhado; depois disso, serão analisadas as diferenças e semelhanças no trabalho com os dois acervos supracitados; por fim, será discutida a utilização dessa documentação para desenvolver estudos sobre esses personagens. Concluímos que é possível organizar arquivos pessoais relacionando documentos textuais, livros e objetos tridimensionais, e que para um trabalho eficiente é necessária a interação entre profissionais das diferentes aqui mencionadas.

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História digital: o uso de #hashtag para recuperação de informações - Taciana Sene Lúcio (FGV/ CPDOC)

Na era da informação a sociedade passou a organizar-se em um novo espaço. A internet ou a ‘rede’, como prefere Castells (2001), é palco da elaboração de uma cultura digital constituinte de suas próprias técnicas, práticas e valores (LEVY, 2010). Aliada às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) a internet possibilitou a constituição de novos espaços para o compartilhamento de documentos. Instituições de memória cada vez mais tem se adaptado a essa realidade. Ao organizarem as informações, nesse ‘novo’ espaço, tais profissionais utilizam de conhecimento e normas científicas adequando-se as capacidades e limitações da rede. Por outro lado, fora das arestas normativas das instituições científicas, diferentes plataformas tem se transformado em uma espécie de repositórios informais de documento. Através das TIC’s e das ferramentas disponibilizadas pela web 2.0 “[c]om as câmeras de nossos celulares, capturamos o comum e o mundano, bem como o traumático e jornalístico (...). Publicamos conversas e pensamentos online que se tornam memórias em sites de redes sociais” (GARDE-HANSEN, et al. 2009, p.1). Os usuários da rede passaram de meros receptores a produtores de informação. Partindo desse contexto e considerando que a história digital aborda questões de preservação, coleta e difusão de documentos on-line (COHEN & ROSENZWEIG, 2005; JAH, 2008) nota-se a necessidade de diálogo entre profissionais da informação e historiadores que utilizam da rede para realizarem seus estudos. Nesta comunicação, pretendemos acionar um diálogo 381 focado no campo prático dos profissionais de informação e o exercício da história digital. Refletindo, em especial, sobre os processos de indexação e recuperação que influenciam na pesquisa do historiador usuário de informações da rede. Para isto, traremos os resultados parciais de um estudo ainda em desenvolvimento na FGV/CPDOC sobre as possibilidades de recuperação de informações utilizando #hashtag.

O arquivo e a escrita da história: a propósito do acervo pessoal de Thales de Azevedo - Mabel Meira Mota (UFBA)

A princípio, deve-se dizer este trabalho insere-se no âmbito da pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, da Universidade Federal da Bahia, a qual se propõe a analisar as tipologias documentais decorrentes da atividade historiográfica empreendida por Thales de Azevedo, em torno da temática do cotidiano. Thales de Azevedo produziu e acumulou diversos documentos em razão dos papéis sociais que desempenhou ao longo de sua vida. Dentre estes, destacam-se aqueles exercidos na Universidade Federal da Bahia, na qual ocupou cargos como gestor, conselheiro, professor e pesquisador. Enquanto professor universitário atuou na Faculdade de Medicina da Bahia e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, onde ensinou entre 1943 e 1969. Nessa última, fora encarregado da 1ª Cadeira de Antropologia e Etnografia, cuja matéria estava prevista nos currículos dos cursos de Geografia, História e Ciências Sociais. Foi através dela que Thales de Azevedo aproximou antropologia e história, dedicando-se a construção de diferentes ciclos de trabalho em ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------historiografia, dentre os quais se destaca aquele que culminou na obra Povoamento da Cidade do Salvador. O referido ciclo contempla uma série de documentos originários do labor historiográfico de Thales de Azedo, o que permite aproximações com o conceito de “arquivos da ciência” ou “arquivos científicos” (Charmasson, 2006), pois apontam para uma prática científica e seus registros documentais. É sobre as tipologias documentais advindas da prática científica desenvolvida no âmbito da pesquisa historiográfica desenvolvida pelo titular que discorreremos neste trabalho. Conciliando as áreas da História, da Arquivística, em específico da Diplomática Arquivística/Tipologia Documental, objetiva-se apresentar as circunstâncias de produção e usos dos documentos referentes ao ciclo de pesquisa historiográfica, destacando as peculiaridades estruturais de alguns desses documentos, que não estão previstos pela Diplomática, uma vez que ela está alicerçada, fundamentalmente, nos documentos advindos do exercício de funções administrativas ou jurídicas (BELLOTTO, 2005). Destaca-se, por fim, o valor informativo destes documentos para uma reflexão sobre a memória da pesquisa científica desenvolvida por Thales de Azevedo e para construção de historias da História através dos acervos pessoais de historiadores.

O lugar do arquivo, da biblioteca e da documentação na reforma administrativa do Governo Vargas (1935-1945) - Paulo Roberto Elian dos Santos (Fundação Oswaldo Cruz)

Aborda, em uma perspectiva histórica, a atuação do Departamento Administrativo 382 do Serviço Público – DASP, criado em 1938, durante o Estado Novo, com a tarefa de empreender um projeto modernizador capaz de viabilizar a separação entre política e administração no contexto de forte centralização do poder na Presidência da República, Considera que o departamento foi gente promotor de ações que configuram a gênese da fase moderna do conhecimento arquivístico, traduzido em técnicas, métodos e práticas da arquivologia e destinado a encontrar lugar na administração pública reformada. Apresenta, no contexto da reforma administrativa do governo Getúlio Vargas, essa fase da arquivologia, que só pode ser compreendida se forem analisadas suas relações com as áreas da biblioteconomia e documentação, em processo de institucionalização, e contempladas no projeto modernizador do novo órgão. A institucionalidade dos arquivos e da arquivologia alcançada ao fim do período estudado é o que se propõe a apontar o trabalho. Para tanto, utiliza como principal fonte de pesquisa os documentos do fundo DASP depositado no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.

O projeto de educação patrimonial de Santa Teresa (ES): Diálogos entre História, Memória e Arquivolgia - Margarete Farias de Moraes (UFES)

O objetivo principal do projeto foi fomentar a educação patrimonial, principalmente, do patrimônio documental, particular e público da Cidade de Santa Teresa (ES), através de oficinas e atividades para estudantes, educadores da rede pública municipal e estadual, profissionais da informação e comunidade em geral. O projeto foi desenvolvido entre os meses de março e julho de 2017 e foi patrocinado pelo edital 12/2016 do Funcultura (Fundo de cultura do ES). Santa ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Teresa foi a primeira cidade do Espírito a receber imigrantes italianos. Encravada nas serras capixabas, a cidade conservou sua arquitetura, cultura e sua beleza natural, que a tornou uma das mais importantes cidades turísticas do estado. O projeto foi estruturado em forma de oficinas de educação patrimonial e atividades de resgate de memória. As oficinas foram de 8 horas de duração, com temáticas que puderam provocar o entendimento da importância do tratamento e divulgação do patrimônio documental da cidade e de seus cidadãos, além de proporcionarem a vivência coletiva da identificação, coleta, tratamento, reflexão, divulgação e provocação do sentimento de pertencimento à cultura e história da cidade. As oficinas tiveram temáticas como: História Oral: Como fazer; Organização e tratamento de acervos fotográficos; Preservação e Conservação de documentos histórico; Prática culturais e Mediação da Informação; Arquivos pessoais: organização e uso cultural; Arquivos Familiares e sua importância para a história local; Tecnologia da informação no ensino da história local; Elaboração de projetos culturais, entre outras. Além das oficinas, duas importantes atividades compuseram o projeto. A primeira foi a participação do arquivo itinerante do Arquivo Público do Estado do ES, onde a equipe de arquivistas do Arquivo Público, de posse de um ônibus, atenderam a população na praça principal da cidade e emitiram certidões de entrada de imigrantes aos seus descendentes, que por ventura não sabiam desta possibilidade ou não tiveram oportunidade de irem ao Arquivo Público recuperá- las. A segunda atividade foi o mapeamento dos patrimônios culturais da cidade pelos próprios cidadãos. Esta atividade fez com que cidadãos percorressem a sua própria cidade de uma forma que nunca haviam experimentado. O projeto atingiu 383 todos os resultados esperados, como a satisfação da população, o aumento do sentimento de pertencimento à cultura local, a instrumentalização de professores das escolas locais nas aulas de história, o fomento turístico, o empreendedorismo na área do turismo, na medida que o projeto pode revelar mais aspectos culturais típicos da cidade, antes desconhecidos. Os documentos coletados produziram uma exposição, que pode fortalecer ainda mais as atividades do projeto na população.

O saber-fazer arquivístico nas páginas da revista Arquivo & Administração - Jacqueline Ribeiro Cabral (UFF), Suzanne Mendonça dos Santos (UFF)

A presente comunicação pretende apresentar um breve panorama dos anos iniciais da produção arquivística brasileira a partir das páginas da revista “Arquivo & Administração”. Editada desde 1972 pela Associação de Arquivistas Brasileira (AAB), – entidade civil voltada para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos profissionais de arquivo e da Arquivologia –, a revista “Arquivo & Administração” tornou-se o mais destacado periódico brasileiro na área, tendo sido publicada de forma intermitente entre os anos de 1972 a 2014. Trata-se de uma pesquisa em estágio incipiente, mas que ambiciona abranger os principais atores (articulistas mais frequentes, colaboradores institucionais, dirigentes responsáveis) e roteiros (temáticas recorrentes, abordagens privilegiadas) ao longo de quatro décadas de existência da revista em suas 50 edições. Desta forma, nosso intuito é tentar contribuir para o debate em torno da constituição da Arquivologia enquanto campo de conhecimento autônomo e interdisciplinar na área dos estudos sociais aplicados. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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“Nenhum dia sem linha”: experiência cristã e sua memorialização nos diários de Thomas Merton - Marcelo Timotheo da Costa (PPGH em História da UNIVERSO)

A presente comunicação analisa os journals/diários do monge trapista, místico, escritor e ativista social norte-americano Thomas Merton (1915-1968). Deseja-se ilustrar como Merton, pela consignação detalhada de seu cotidiano, buscou equilibrar pulsões dicotômicas: o apagamento do self, objetivo final da vida religiosa contemplativa, e intensa atuação na sociedade contemporânea. Pela escrita de journals, exercício que constituiu acervo de 7 alentados volumes, nosso autor buscou também equilibrar permanência e câmbio. Assim, refletindo pelo uso da pena, por décadas, dia após dia, Thomas Merton procurou organizar sua trajetória, mantendo-se fiel ao estado monacal, mas cambiando em seu entendimento das implicações sociais da fé cristã. Desta forma, logrou abraçar eclesiologia e atuação pública bem mais progressistas do que as adotadas quando de sua conversão ao catolicismo, na juventude.

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385 ST 39. História, Educação e Memória: interfaces e diálogos

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A Educação a Distância nas décadas de 1940 e 1970 na perspectiva do ensino pelo rádio e pelos centros de estudos supletivos - Cinthya de Oliveira Nunes (Faculdade de Formação de Professores FFP/UERJ), Niely Natalino de Freitas Leyendecker (UERJ), Rosa Maria Garcia Monaco Paiva (SEEDUC-RJ)

A História da Educação no Brasil é marcada por projetos desenvolvidos na Educação a Distância (EAD), advindos do governo federal, especialmente nos períodos de regimes arbitrários. O objetivo do estudo será o de analisar três dessas alternativas educacionais, disseminadas em período de regime coercitivo, através dos projetos de educação pelo rádio e nos Centros de Estudos Supletivos (CES), nas modalidades totalmente à distância e semipresencial de ensino: a Universidade do Ar (UAR) (1941-1945) e a educação rural no Serviço de Radiodifusão Educativa (1943-1951); e o CES (1973 até os dias atuais), respectivamente. Tal estudo justifica-se pela ausência de trabalhos que dialoguem essas alternativas da EAD de ordem pública federal aqui propostas. O recorte temporal da análise compreende aos anos a partir das vigências de cada projeto. A micro-história nos dá a sustentação metodológica necessária, colocando em jogo as oposições micro e macro, no intuito de redimensionar as certezas. Na abrangência dos projetos, a Universidade do AR, programa radiofônico transmitido pela Rádio Nacional, tinha como objetivo, a formação pedagógica de professores do ensino secundário de todo o Brasil. O caráter da UAR não era o de suprir o ensino superior, mas sim, o de dar aos professores atuantes na educação secundária, o contato com a metodologia do ensino nas disciplinas em que lecionavam. Nesse bojo, o Serviço de Radiodifusão 386 Educativa no período de implementação, possibilitou a integração entre os diversos brasis pela sua concepção de Educação Rural. Criado pelo Ministério da Educação e Saúde, durante a vigência do Estado Novo (1937-1945), o Serviço de Radiodifusão Educativa foi concebido como parte do movimento civilizatório que pensava a educação e a saúde como elemento capaz de unificar o país, regenerando o povo assolado pelas doenças e o analfabetismo. Já os Centros de Estudos Supletivos foram criados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) com a intenção de escolarizar o povo adulto brasileiro no 1º e 2º Grau, mediante o uso de módulos de ensino estudados em casa, junto à outras mídias tecnológicas. In lócus, os alunos eram orientados pelos professores de disciplinas (Orientadores de Aprendizagem) e realizavam os testes de aprendizagem, para a aprovação por disciplina. Embora com públicos-alvo distintos, tanto os programas em EAD, como o serviço de radiodifusão educativa, compunham uma estrutura sobre a qual buscou-se influenciar a nação como um todo, tendo cada uma das iniciativas, uma intenção. Diante das três concepções de ensino aqui apresentadas, observa-se que, em distintos momentos históricos, a instauração de um país fortalecido enquanto nação e unificado através da Educação foi o carro-chefe dos governos coercivos.

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A Era Vargas e o modelo de educador (1937-1945) - Janaina Pamplona Ribeiro (Faculdades São Judas Tadeu), Nielma Nunes Dantas de Lima (Faculdades São Judas Tadeu)

A organização da política de educação no Brasil tornou-se uma temática central em fins do século XIX e no decorrer do século XX vários estudos e modelos de ensino foram pensados, criticados e instituídos em nosso país. Em especial na cidade do Rio de Janeiro, que durante muito tempo foi capital da colônia, império e república. A ideia de uma escola nova para a formação de um novo homem se articulou com as exigências do desenvolvimento industrial e o processo de urbanização como, também, as transformações sociais, ideológicas, políticas e culturais.No Brasil o século XIX, a escola pública surge como elemento de uma condição redentora da nação, além se tornar em um espaço de difusão dos conceitos de modernidade, civilização e progresso vinculados à todas as mudanças que nossa nação estava passando. Posteriormente, no século XX, identificamos que nas décadas de 1930 e 1940 inúmeras medidas para renovação do modelo de ensino em todos os níveis (primário, secundário e universitário) e que vão ser pensadas e instituídas pelo chamado Estado Novo Varguista. Até que ponto essas mudanças metodológicas ultrapassam a questão curricular e chegam na formação dos professores primários e secundários, e como elas vão ou não forjar um novo perfil de professor. A proposta de nosso trabalho é identificar através de fontes com jornais, diários e documentos das instituições de ensino que dialoguem com e as mudanças legislativas e refletir como esses profissionais se veem e são vistos em seus 387 afazeres.

Campo de histórias e a batalha pela memória: o curioso caso da Praça da República - Lenna Carolina da Silva Solé Vernin (UFRJ)

O trabalho tem como objetivo traçar a trajetória das disputas pela memória da região do Campo de Santana no Centro do Rio de Janeiro. De arrabalde depósito de detritos no século XVIII ao Jardim romântico amputado por Vargas utilizado como passagem e despertador dos temores dos transeuntes contemporâneos, o Campo de Santana mudou inúmeras vezes sua toponímia. No entanto, a memória do Carioca jamais incorporou os nomes para além daquele que remete a pequena igreja construída por escravos em devoção à avó de Jesus. Atualmente seu nome oficial é Praça da República, porém muitos visitantes não reconhecem o como tal e seguem perdidos em seu entorno buscando o Campo de Santana. Diante de tal impasse, esta pesquisa, além de analisar as tensões acerca do lugar de memória, as múltiplas camadas de tempo sobrepostas no espaço, é proposta também uma atividade pedagógica a fim de se apropriar do patrimônio histórico urbano. A partir da crítica às demandas memoriais e apropriação do conhecimento histórico é oferecido subsídios para a forma de uma identidade para o estudante do ensino médio, sobretudo os moradores das comunidades vizinhas, em especial o Morro da Providência, tão visceralmente ligado a história republicana.

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Entre o educar e o moralizar: o desafio das professoras do IPF Orsina da Fonseca - Teresa Vitória Fernandes Alves (Pref. da Cidade do Rio de Janeiro)

Os anos que se seguiram após a proclamação da República foram circunscritos por inúmeras mudanças, dentre elas destaca-se a transformação urbanística e moralizante da sociedade brasileira. Da mesma forma que em boa parte do mundo ocidental, espaços como hospitais, escolas e prisões brasileiras começam a sofrer remodelações radicais, com base numa proposta de limpeza e novidades calcadas em métodos científicos e na crença de que o país estava passando por uma etapa de desenvolvimento material e do progresso social. Na tentativa de disciplinar, educar e curar a população pobre dos grandes centros urbanos brasileiros inicia-se uma mobilização entre o poder público – Estado – e os intelectuais. Nesse momento o Estado criou condições para a participação feminina no magistério de forma remunerada o que gera uma grande procura pelo ofício. Atrelado a isso o discurso ideológico que envolvia a participação da mulher no magistério ganha destaque em decorrência da ideia de que essa seria a profissão que conciliaria as atividades domésticas e de mãe, pois cuidar e educar crianças eram missão feminina. Partindo dessa premissa é que dirigimos nosso olhar para a formação profissional das professoras concursadas ou não que chegam para trabalhar no Instituto profissional Feminino Orsina da Fonseca. O que ensinavam, qual a sua formação e como se relacionavam com as meninas e moças que ali estudavam são alguns dos nossos questionamentos.

Museus pedagógicos: preservação da memória escolar - Cristiane Bomfim Cruz do Nascimento (Faculdade São Judas Tadeu) 388

A partir das reflexões sobre a função educativa do museu, este trabalho pretende analisar o conceito de “Museu Pedagógico”, presente desde as discussões sobre a Reforma do Ensino Primário, no parecer de Rui Barbosa, de 1882, e suas possíveis consequências para a relação museu e escola. Algumas questões conduziram a pesquisa: Em que consiste um museu pedagógico? Qual a origem do termo? Que relação estabelece com a ideia de museus escolares? Enquanto metodologia utilizou-se a pesquisa bibliográfica principalmente em artigos acadêmicos e em periódicos da época. A criação do “Pedagogium”, na cidade do Rio de Janeiro, em 1890, juntamente com o amplo investimento na implementação de museus pedagógicos no estado de São Paulo, nas décadas de 60 e 70, sob influência dos princípios da Escola Nova, podem ser considerados indícios da valorização pedagógica dos museus e consequente escolarização destes. Ao mesmo tempo a função educativa dos museus tem sido repensada no âmbito da educação museal, a ideia de transmissão de conteúdos e de complementaridade dos museus em relação a escola tem sido questionada. O trabalho se propõe a colocar em evidência estas questões, contribuindo para a construção de espaços pedagógicos que explorem a memória e as identidades das instituições escolares, assim como dos sujeitos envolvidos. Em contrapartida, colaborar com as reflexões sobre o lugar dos museus na sociedade brasileira, considerando-os como espaços de encontro entre sujeito, cultura, história e memória, valorizando o ambiente museológico enquanto espaço diferenciado do espaço escolar.

O (entre)lugar do pensamento intelectual de Manoel Bomfim para a educação no Brasil - Marcela Cockell Mallmann (UERJ)

Manoel Bomfim (1868-1932) foi um intelectual brasileiro (escritor, médico, professor e político) engajado em sua autenticidade: era um intérprete e um observador do país, em especial, da transformação urbana, social, política e econômica que se ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------desenvolveram a partir início do século XX. Suas críticas em torno dos atenuantes problemas sociais e educacionais existentes no Brasil também se voltaram para a América Latina, especialmente a partir de sua obra A América Latina: males de origem (1905). A obra, escrita na França, demonstra toda a preocupação do autor em relação à formação social brasileira de uma perspectiva diferenciada: do continente europeu enxergou o Brasil e a América Latina com outra silhueta, como se esta distância acentuasse o seu olhar em relação às suas proximidades latinas. Em seu ponto de vista, os latino-americanos, como os brasileiros, sofriam do que denominou “parasitismo social” em relação às nações ibéricas, estabelecendo uma relação de submissão entre classes dominadas e dominantes. Nesta obra, seu contradiscurso foi evidenciado ao ir de encontro à teoria do branqueamento e das etnias inferiores do povo brasileiro, afirmando que a questão do atraso não era um problema racial, mas social e que apenas a educação seria capaz de “curar” os atrasos brasileiros e das demais nações latinas. Consideramos a obra de 1905 como o ato inaugural do pensamento intelectual de Bomfim, seguido por seus escritos posteriores, até 1932 quando viria a falecer. Em sua última obra Cultura e educação do povo brasileiro (1932), o autor levou ao debate suas preocupações com a educação pública, e a urgência de se estabelecer uma ideia de nação. O entre-lugar (Santiago, 2000) do autor no cenário da Primeira República (1889-1930), e atravessando a Belle Époque tropical (1898-1914), se revela num movimento vanguardista ao não se ancorar num simples discurso de modernidade, mas também de procurar estabelecer a educação como uma ciência, em contato com a pedagogia e a psicologia. Nesta proposta, parte de uma pesquisa ainda em andamento, apontaremos alguns vestígios significativos em torno do autor pelos seus escritos (Ginzburg, 1987), na perspectiva de traçar a fermentação intelectual de seu 389 pensamento sobre o Brasil, a educação, a América Latina e também dar potência às questões que permeiam à sua produção na história da educação, que de certa forma nos leva a analisar o seu silenciamento, a tradição às dualidades (de presente e passado; antigo e moderno) e o discurso (ou contradiscurso) como ação intelectual.

O ensino de passados traumáticos: as relações entre história, memória e educação no desenvolvimento de uma pedagogia da memória - Ana Lima Kallás (Universidade Federal Fluminense)

O objetivo do trabalho é apresentar e discutir as origens e desdobramentos do debate sobre uma "pedagogia da memória" a partir da experiência alemã com o Holocausto e sua reelaboração para o ensino das ditaduras civil-militares do Cone Sul. A expressão é usada para tratar de políticas educacionais específicas que abordem passados considerados traumáticos entre as gerações que não o viveram diretamente ou não o viveram em fase adulta. O desenvolvimento de experiências de "pedagogia da memória" está relacionado com a ideia de elaboração de uma memória exemplar, tal como discutido pelo linguista búlgaro Tzvetan Todorov (2000), na qual, diferentemente da memória literal, a lembrança é usada para entender situações similares no presente, mesmo que com sujeitos históricos distintos. Trata-se de um processo que visa a transferir algo do plano individual e privado para a esfera pública, permitindo seu uso para analogias, mas sem perder por completo a singularidade da memória. Nesse caso, o passado se converte em princípio para a ação no presente, constituindo elemento central para a construção da contra hegemonia. O sentido de uma "pedagogia da memória" também está relacionado à ideia de "transgeneracionalidade do trauma", isto é, quando o dano produzido pelas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------experiências traumáticas é multigeracional, afetando muitas gerações de forma sincrônica; e quando é intergeracional, ou seja, traduzido em conflitos entre gerações; bem como transgeracional, pois seus efeitos reaparecem de diversos modos nas gerações seguintes, de modo diacrônico. A origem deste debate esteve presente nos estudos de Sigmund Freud, e foi desenvolvido posteriormente, a partir das experiências de violência extrema após a Segunda Guerra Mundial. Em situações traumáticas de origem social, a dificuldade para dotar de sentido a experiência está estreitamente relacionada com a inadequada elaboração social do acontecido marcada pelo silenciamento do Estado diante das violações de direitos humanos ocorridas, provocando uma dissociação entre sofrimento e dano produzido por uma violência de Estado, além de uma deshistoricização e uma descaracterização da questão como problema social. Tal debate deve ser encarado, portanto, de uma perspectiva interdisciplinar, possibilitando diálogos profícuos entre história, memória, educação e psicanálise social. Na América Latina, a discussão está referida na ideia do Nunca Mais, uma atitude de vigilância, repúdio e resistência de uma volta à barbárie do terror de Estado.

Os livros didáticos de História e as religiões afro-brasileiras: perspectivas para a construção da tolerância a partir do Ensino de História - Rodrigo de Souza Goulart (UFRJ)

Esta pesquisa apresenta como tema de investigação a presença/ausência de narrativas e representações sobre as religiões afro-brasileiras nos livros didáticos destinados ao ensino médio. Pretende problematizar os conteúdos da história do Brasil selecionados 390 em unidades e capítulos dos livros didáticos mais distribuídos no país, identificando permanências de perspectivas eurocêntricas, a reprodução de silenciamentos, invisibilidades e subalternizações que são impostas aos referenciais culturais de origem africana e que afetam de maneira singular os cultos religiosos afro-brasileiros e seus praticantes. As religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, estiveram presentes e trouxeram importantes contribuições para o processo de formação social e cultural do Brasil. Constituíram importantes espaços de resistências para muitos africanos escravizados e preservaram para o presente um repositório de tradições sagradas e cosmologias que remontam aos vínculos mais afetivos com a origem africana. No entanto, suas histórias, memórias e referenciais indenitários têm sido negados e silenciados historicamente. Nas últimas décadas, movimentos de resistência e luta por direitos, conquistaram a implantação de importantes políticas públicas e dispositivos legais que pretendem dar conta das demandas históricas das populações negras por dignidade, igualdade e reconhecimento de suas expressões culturais. A educação foi o principal alvo dessas políticas de reconhecimento e reparação, que trouxeram para o debate público a urgência da desconstrução de preconceitos e do enfrentamento das discriminações. Nesse contexto, o ensino de história foi reconhecido como disciplina escolar formidável para a implementação das medidas legais, uma vez que é construtor de identidades e divulgador de memórias que informam e produzem coesão social. Na mesma perspectiva, os tradicionais livros didáticos, meios de divulgação fundamentais de conteúdos, ideologias oficiais e que informam a sociedade sobre os saberes considerados canônicos, também passaram a ser objeto de questionamento nos termos dos conteúdos e abordagens que legitimam. Tais circunstancias nos permite identificar a necessidade de que os conteúdos sobre a história e cultura africana e afro-brasileiras não contornem o tratamento das expressões ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------religiosas, oferecendo conteúdos qualificados e que forneçam contribuições significativas para erradicar estereótipos, desconstruir preconceitos e promover a tolerância. Atendendo as demandas históricas, políticas, sociais e éticas na garantia do direito à história, e na construção de memórias e identidades religiosas afro-brasileiras positivadas.

Percursos pela memória: história local e ensino de história - Evelyn Morgan Monteiro (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFRJ)

Os currículos escolares não dedicam espaço para a História Local. Continuamos apresentando nas salas de aula as narrativas historiográficas que destacam grandes acontecimentos do país e do mundo. Conteúdos fundamentais para a formação de qualquer educando, contudo quando explicamos que “somos todos sujeitos históricos” onde eu, você, seu avô, alguém do bairro, algo que aconteceu na sua cidade aparece na História? A falta de fontes, de material didático ou de lugares de memória faz com que esses conteúdos sejam subtraídos das práticas de ensino cotidianas, sendo alegorias lembradas em datas comemorativas. Este é um relato de experiência de um trabalho realizado com a turma INF161, do Instituto Federal do Rio de Janeiro, campus Arraial do Cabo. No primeiro semestre de 2017 realizamos um jogo de escala entre a micro e a macro história ao buscar pontos de interesse histórico, e turístico, nas cidades de Arraial do Cabo e Cabo Frio. Ao elaborarem percursos a pé pelas cidades, os grupos compartilhavam as memórias recolhidas com os moradores ou as diferentes versões históricas que encontraram. O projeto ficou rico. Em uma avaliação coletiva do trabalho um aluno relatou que nunca tinha ido ao Forte São Matheus, que fica na praia 391 mais famosa de Cabo Frio, afinal para que ir ao Forte se temos a praia? Outro estudante resumiu o sentimento de todos: “eu não sabia que tinha tanta História onde eu moro”. Jacques Le Goff ressalta que não existe sociedade sem história. O sentimento de pertencimento escapa as narrativas historiográficas e está em cada indivíduo em seu tempo e seu espaço. O Ensino de História se torna potente, ganha sentido na vida cotidiana dos estudantes quando dialoga com sua realidade, com a memória do seu lugar.

Práticas educativas e construções de masculinidades no Instituto Profissionalizante João Alfredo - Renata Rodrigues Brandão (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro)

As mudanças nas estruturas do ensino revelam um olhar diferenciado acerca do papel das escolas/ institutos na construção da cidadania e, no caso em particular, o lugar a ser ocupado por homens e mulheres neste reordenamento social, o qual vai concretizar a ideia de uma Nação que se alicerçava com base em um projeto de nacionalidade frente as transformações de uma “nova” sociedade que precisava responder às demandas do processo de industrialização que o país estava iniciando. O ensino passa a reproduzir os ideais de nacionalidade, criando cidadãos e os hierarquizando de acordo com as necessidades do Estado. A proposta de profissionalização de meninos pobres, órfãos e desvalidos vem acompanhada por mudanças nas estruturas das escolas, o que nos leva a perceber que o olhar direcionado a essas instituições transforma-se e passa a ser relacionado ao progresso da Nação. Este trabalho tem como objetivo traçar a trajetória do Instituto Profissional Masculino João Alfredo dedicado a meninos/rapazes pobres e desvalidos no Rio de Janeiro da virada do século XIX até ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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1940. O objetivo consiste em analisar através dos documentos disponíveis, tais como: atas de diretores, cadernetas de alunos, currículos, fotografias e arquitetura, a forma como o governo da capital da república geria a formação de crianças e jovens a partir do sistema sexo/gênero. Buscamos por meio desses documentos compreendidos como fontes históricas, analisar a forma como se engendrava ideias de masculinidades. A história do Instituto Profissional Masculino João Alfredo contribui para a reflexão sobre o governo dos corpos e das almas a partir do sistema sexo/gênero.

Professoras suburbanas: memórias de uma fragmentação docente - Renata dos Santos Soares (Faculdade São Judas Tadeu), Shirlei Rodrigues Lourenço da Silva (Faculdade São Judas Tadeu)

No processo de urbanização ocorrido na gestão do então Governador Pereira Passos, na cidade do Rio de Janeiro, no início do século XX, ganhou força um movimento de deslocamento das populações que viviam nas encostas e nos cortiços da cidade para áreas consideradas mais rurais, denominadas “Subúrbios”. As zonas suburbanas eram representadas pelas antigas zonas de ocupação rural que se desenvolveram a partir da inauguração da estrada de ferro D. Pedro II em 1858. Ladeadas pelos trilhos dos trens de passageiros que começaram a circular em 1883, freguesias como Irajá e Engenho de Dentro passaram a demandar serviços e atrair a atenção e investimento da iniciativa privada e dos poderes públicos. Acompanhando essa ocupação, prioritariamente de operários e trabalhadores rurais, fez-se necessária a implementação de Escolas dentro dessas áreas suburbanas e o destacamento de professoras especialmente destinados a essas instituições. Este artigo busca analisar o perfil dessas professoras que 392 enfrentaram situações precárias de infraestrutura das escolas e as péssimas condições das estradas de ferro com seus numerosos acidentes para o deslocamento entre as áreas urbanas e suburbanas. Pretendemos ainda analisar o aparato legal presente em decretos e normatizações que deram sustentação a existência das professoras suburbanas como parte fragmentada do corpo docente da cidade do Rio de Janeiro. A pesquisa se desenvolve por meio da análise da imprensa periódica, publicações oficiais e correspondências dos professores a Diretoria Geral de Instrução Pública.

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393 ST 40. Histórias das mulheres negras no Brasil Republicano (1889-2017)

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A líder das nagô de Belmonte/Ba: fragmentos de uma biografia - Joceneide Cunha dos Santos (UNEB)

A biografia tem retornando ao debate da história com muita ênfase desde os anos setenta da centúria passada. No entanto, os autores que têm se dedicado a esse gênero não tem descolado o indivíduo da sociedade, dessa forma é percebido que o indivíduo esta inserido em um emaranhado social, mas que também há espaço para o acaso e escolhas individuais. Um alerta sobre o fazer biografia é pontuado por Pierre Bourdieu, sobre buscar o todo no individuo e as razões para as escolhas dos mesmos. A biografia também precisa ser conduzida por um problema, seguindo a tradição da terceira geração dos Annales. Belmonte é uma cidade localizada ao sul/extremo sul da Bahia que ainda possui alguns grupos de samba liderados por mulheres e em sua maioria por mulheres negras. Ressalta-se que há registros de samba na antiga Vila de Belmonte desde o final dos Oitocentos. E é nesse cenário que vive a nossa biografada, a “D. Dezinha”. Essa pesquisa objetiva traçar aspectos da biografia da líder do grupo de samba, as nagôs, a citada D. Dezinha. Partindo das aproximações que essa personagem tem e teve com as manifestações afro culturais, principalmente o samba. Para isso será utilizado entrevistas, recortes de jornais, poemas, memórias dentre outros. Esses documentos serão analisados e cruzados entre si, incluindo as entrevistas. Também operaremos com o conceito de gênero para analisar alguns aspectos da trajetória dessa líder. Ela narra que desde a sua infância convive com o samba através da sua mãe, descreve rodas de samba com usos de instrumentos que se assemelham aos citados 394 em um processo crime do século XIX. Essas memórias remetem a primeira metade do século XX. Em suma, através da biografia de D. Dezinha, conheceremos a líder de uma manifestação afro cultural de grande importância de Belmonte e perceberemos as estratégias que ela utilizou e utiliza para a sua sobrevivência bem como a do grupo das nagôs.

História das mulheres negras no Teatro Experimental do Negro (1945- 1957) - Júlio Cláudio da Silva (Universidade do Estado do Amazonas)

Nossa comunicação versa acerca da História da luta dos negros no Brasil, resgatando a contribuição do povo negro na área social, econômica e política e pertinentes à História do Brasil. Para isso tomamos como referência a história de vida das atrizes de teatro, cinema e televisão, Ruth de Souza e Léa Garcia. A partir dos relatos orais das atrizes, seus pares na comunidade artística e dos recortes de periódicos investigamos, em perspectiva histórica a contribuição dessas mulheres egressas do Teatro Experimental do Negro, ao processo de criação e ampliação da presença de atores, personagens e temáticas negra nos palcos brasileiros. Ao mesmo tempo buscamos iluminar as relações raciais no universo das artes cênicas no Brasil face a conjuntura política das décadas de 1940 e 1950. Iluminar aspectos da História do Movimento Negro, em especial do Teatro Experimental do Negro, a partir das trajetórias de atrizes que surgem em espetáculos montados para denunciar o racismo nos palcos brasileiros e posteriormente se profissionalizam, aparenta ser uma abordagem inovadora, na historiografia sobre o tema (SILVA, 2017). ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Irenice Maria Rodrigues, o esquecimento de uma atleta olímpica brasileira - Cláudia Maria de Farias (Universidade Estácio de Sá)

Em diferentes momentos da história republicana do Brasil, as relações entre política e esporte foram evidenciadas em diversos estudos acadêmicos recentes, muitos dos quais abordam as relações de gênero nos esportes. Neste sentido, o trabalho em questão pretende abordar a trajetória da atleta negra Irenice Maria Rodrigues, revelando a invisibilidade e o esquecimento público que pesam sobre sua história. Desse modo, ao incorporar o gênero como categoria de análise histórica, sem desconsiderar a importância dos conflitos de classe e raça/etnia, a pesquisa pretende verificar como se opera a construção das concepções dos corpos feminino/masculino e da feminilidade/masculinidade no campo esportivo brasileiro, durante a vigência da ditadura civil-militar no Brasil. Para além desta questão, o trabalho também tem como objetivo reconstruir as experiências vividas por Irenice Rodrigues durante este contexto, evidenciando seu protagonismo nas lutas das mulheres brasileiras por sua emancipação e afirmação no interior do “campo esportivo”, espaço de poder atravessado por disputas, conflitos e tensões sociais.

Mulheres negras e Ditadura Militar no Brasil: Guerrilheiras, camponesas e a Guerrilha do Araguaia - Janailson Macêdo Luiz (Universidade de São Paulo) 395 As trajetórias de mulheres negras que participaram da Guerrilha do Araguaia (1972-1974) têm muito a nos dizer não apenas em relação aos contornos assumidos nesse importante episódio da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), mas também sobre os lugares sociais ocupados por mulheres negras durante o período republicano, em especial aquelas que assumiram um lugar em organizações de esquerda e na luta armada contra a Ditadura ou, mesmo sem pertencer a tais organizações, acabaram vivenciando na pele o conflito, na condições de moradoras da região em que ele ocorrera. Serão problematizadas mais detalhadamente as trajetórias das guerrilheiras Helenira Rezende de Souza Nazareth (1944-1972), Lúcia Maria de Souza (1944-1973) e Dinalva Oliveira Teixeira (1945-1974), que vieram a perder as vidas nas matas paraenses, onde ganharam destaque junto a população local dadas suas ações durante o combate, e cujo destino dos corpos até hoje não fora elucidado. Entre as fontes apropriadas constam desde relatos orais de memórias reunidos na região através de entrevistas de História Oral ou veiculados em documentários que tratam do conflito, até documentos e informações presentes em obras que abordam a história da Guerrilha, lidas à contrapelo, dadas as estratégias de silenciamento e esquecimento lançadas sobre o tema.

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Ser Negra, Trans e Ativistta Política em Manaus: transições e transfigurações políticas em história de vida. (1980-2017) - Israel Pinheiro (Universidade Federal do Amazonas)

O presente trabalho busca construir uma reflexão em torno da experiência de vida transexual no percurso da construção de identidades políticas na cidade de Manaus, buscando analisar a trajetória de vida de militantes transexuais, tanto os processos de transição de gênero, sexualidade, como a construção de uma transfiguração política na construção de suas identidades enquanto mulheres trans, negras e militantes na cidade de Manaus. Tendo como ponto central a narrativa de suas experiências em diversos contextos, como a família, a escola, a rua, o trabalho e a política. A metodologia desenvolvida ao longo desse trabalho é a história oral, compreendendo o potencial que esse campo disciplinar nos oferece, buscou-se extrair o recorte temporal a partir de nossas interlocutoras, recompondo o espaço e o tempo central de suas narrativas na construção desse trabalho.

Vozes Negras: professoras de História no interior da Bahia e a profissionalização docente (1980-1986) - Célia Santana Silva (UDESC)

Esse resumo apresenta algumas reflexões sobre as memórias de duas mulheres negras, professoras de História que participaram do processo de implantação do curso de Licenciatura em História no interior da Bahia, na década de 1980, do século XX. Vale informar que essas reflexões são parte de uma pesquisa que se 396 encontra em andamento . As reflexões sobre a categoria memória ganham densidade na pesquisa histórica através de discussões e debates sobre a presença e os usos da História Oral em pesquisas que envolvem o ensino de História, a formação de professores e também práticas pedagógicas que fazem uso de fontes orais. Por conta disso, pesquisas relacionadas às práticas, vivências e trajetórias docentes têm utilizado fontes orais como recurso metodológicos que valorizam memórias. Através das entrevistas com essas mulheres negras, professoras de História, que atuaram nas Faculdades de Formação de Professores nos Municípios de Fera de Santana e Alagoinhas, respectivamente, foi possível conhecer e analisar o cenário político baiano, bem como as propostas e politicas voltadas para a formação de professores de História. As professoras relataram suas memórias sobre a década de 1980 no interior da Bahia, apresentando os embates, disputas e conflitos não só sobre a constituição da disciplina História, mas também sobre o ser professora, negras, num contexto conturbado politicamente. As narrativas dessas professoras, sobre o que vivenciaram nesse período, possibilitam reflexões que dizem muito sobre práticas culturais e relações de gênero, questões étnicas, bem como sobre o mundo do trabalho e as experiências pedagógicas acerca da profissionalização docente em História. As narrativas dessas professoras, sobre o que vivenciaram em seu ambiente de trabalho, as reflexões que trazem acerca da profissionalização docente em História, constitui um dos objetivos da pesquisa. Como formadoras, essas professoras agenciaram o processo de formação frente às demandas institucionais e políticas que necessitam ser escutadas, para se conhecer o processo de formação na Bahia. A partir das duas entrevistas, objetivou identificar quais memórias elas apresentam sobre o período analisado, sobre sua ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------condição de mulher, negra e qual o significado deste momento para cada uma delas. Conhecer as memórias das professoras que fizeram parte de um universo comum, e compartilharam um momento histórico significativo para sua profissionalização, um universo de significados que conduziram suas experiências na condição de grupo social e instituição e mesmo agentes da memória, possibilita compreender o processo de profissionalização dessas professoras, as lutas e embates que travaram para formar novos profissionais.

“E a trabalhadora negra, cumé que fica?”: uma análise dos escritos de Lélia González no jornal Mulherio (1981-1983) - Marjorie Nogueira Chaves (Universidade de Brasília)

Lélia Gonzalez é umas das intelectuais mais importantes da diáspora negra na América Latina. No Brasil, sua produção teórica e atuação política foram fundamentais para a consolidação dos estudos das relações raciais e a organização dos movimentos negros contemporâneos. Sua trajetória perpassa as primeiras organizações de mulheres negras brasileiras e descortina a invisibilidade das suas experiências pelo feminismo hegemônico. No sentido de evidenciar as demandas das mulheres negras das classes populares no debate político mais amplo, como também no espaço acadêmico, ela cria a categoria da amefricanidade como forma de pensar o seu lugar na sociedade patriarcal-racista. Em sua produção política e acadêmica, publicou livros e artigos, contribuindo também com a imprensa feminista da década de 1980 por meio do jornal Mulherio. O periódico se destaca 397 como o que mais tempo circulou em comparação a outros da mesma época, foram 36 edições entre os anos de 1981 e 1988. Produzido por um grupo de pesquisadoras feministas da Fundação Carlos Chagas, o jornal abordava questões de gênero e pautava as lutas das mulheres em diversas instâncias que vão desde a divisão do trabalho doméstico e de cuidados ao direito ao aborto. Destacam-se também outras pautas políticas como a mobilização pelas “diretas já’ e as discussões a respeito da Constituinte. Como colaboradora do jornal entre os anos de 1981 e 1983, Lélia González levou a discussão sobre a representatividade das mulheres negras e suas demandas, ainda invisibilizadas pelo feminismo hegemônico, a outro patamar, ao pautar a luta contra o racismo como fundamental para o enfrentamento das desigualdades. O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise da agenda das mulheres negras, a partir de seus escritos distribuídos em cinco artigos publicados.

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398 ST 41. Igreja, Sociedade e Poder na Alta Idade Média

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'Povo de espinhos, coroa de espinhos': considerações sobre a condenação aos judeus na pregação de Cesário de Arles (502-542) - João Victor Machado da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O amplo corpus documental de Cesário de Arles figura como uma das principais referências para o estudo da atividade pastoral e do poder episcopal na região da Gália na Alta/Primeira Idade Média, ao lado de figuras como Martinho e Gregório de Tours. Contudo, no que se refere ao estudo de sua pregação, relativamente pouca atenção foi dada a seu conjunto de sermões exegéticos, em comparação com a maior ênfase conferida aos sermões ad populum e de tempore. O interesse por essas parcelas do corpus é compreensível, já que delas podem-se extrair indícios sobre o ("mau") comportamento das comunidades cristãs, evidências da continuidade de práticas pagãs, dentre outros temas. Porém, atentando para o fato de que mais que um terço da produção homilética atribuída ao bispo consiste em trabalhos exegéticos, optamos por nos centrar no estudo dos sermones de scriptura - com isso buscamos explorar a maneira como o bispo se vale do texto bíblico para organizar a comunidade cristã em torno de si e de sua instituição. A partir deste recorte documental definimos um recorte temático: a condenação aos judeus, que pretendemos analisar a partir do conjunto de sermões baseados no livro de Êxodo (sc. 95-104). Neste trabalho pretendemos fazer breves indicações sobre a documentação utilizada, seu contexto de produção e questões de autoria. Em seguida nos voltaremos para a pregação de Cesário, buscando analisar seu papel em nível mais amplo, assim como o lugar da condenação aos judeus em meio ao 399 projeto de poder episcopal.

A afirmação do poder da Igreja - uma análise dos primeiros concílios ecumênicos - Fernanda Mattos da Silva (UNESA)

A associação do Catolicismo ao Império Romano não garantia a esta nascente instituição a legitimidade necessária. A análise proposta visa ressaltar a importância das determinações realizadas nos primeiros Concílios Ecumênicos para a definição dogmática e ainda, para sua afirmação enquanto espaço de poder. A comunicação será realizada a partir do estudo dos documentos de Niceia I, Constantinopla I, Éfeso e Calcedônia considerados como a pedra angular da Igreja Católica. Para além da observação das definições doutrinárias definidas nestes séculos, nos interessa compreender a percepção dos grupos que passaram a ser entendidos como sectários em razão destas propostas.

A construção do poder eclesiástico entre os séculos III-VI: Império, Papado e os dilemas do ofício episcopal - Paulo Duarte Silva (UFRJ)

No que concerne aos estudos históricos referentes à passagem do período antigo ao medieval (s. III-VI), um dos temas mais profícuos diz respeito à expansão do cristianismo no Ocidente, associada ao fortalecimento do episcopado. Nesta apresentação, discutimos alguns dos desdobramentos da aproximação entre Igreja e Império Romano, considerando como a historiografia tem reconsiderado tal processo, à luz de novas interpretações, enfoques e documentações. Além disso, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------debatemos como a ideia de um Papado aplicada a este período vem sendo rediscutida pelos pesquisadores. Por fim, apresentamos alguns dos aspectos componentes do ofício episcopal nas cidades, o debate referente ao “fardo episcopal” e ao eventual recurso à violência pelos bispos. Esta apresentação remete ao projeto de pesquisa “Pregação e Poder na Primeira Idade Média: O papel do bispo e os inimigos da ecclesia nos sermões de Leão de Roma (440-461), Cesário de Arles (502-543) e Martinho de Braga (550-580)”, contemplado no CNPq (Universal/2016).

A perpetuação do ideal de pureza feminina pela memória coletiva a partir da análise das Regras de San Leandro - Fernanda Blaso de Miranda Rodrigues (UERJ)

Na pesquisa recém iniciada no Programa de Estudos Medievais da UERJ, uma das abordagens centrais tem sido a discussão sobre gênero, em especial uma discussão que aproxime uma parte do grupo em relação a esses discursos de controle, estrutura e percepção do feminino em cada um dos momentos. Nesse sentido, a Regra monástica de Leandro de Sevilha ao ser apresentada demonstrou, ainda nessa fase inicial de pesquisa, elementos relevantes que nos permitem pensar como, ao longo de outros períodos da história, nos deparamos com processos muito semelhantes. A partir disso, esse trabalho possui o objetivo de buscar observar qual o tipo ideal constituído por San Leandro de Sevilha de uma Regra, que a priori, aparenta não somente definir a representação de uma monja ideal, mas também 400 construir um discurso da imagem ideal de mulher e como a mentalidade no qual estava inserido, ainda que tenha sofrido mutações, perpetuou de certa forma até a contemporaneidade. Além disso, pretende-se iniciar uma pesquisa em busca de referências bibliografias femininas para debater o tema em questão e também tentar analisar da perspectiva da mulher as consequências dessa memória tanto no cotidiano da sociedade em que está inserida como no âmbito acadêmico.

As Regras Monásticas e as Percepções de Gênero - Ana Karina Cordeiro Alves Sorrentino (Uerj)

A proposta do trabalho visa comparar as questões da mentalidade medieval perpassadas no conceito de homem e mulher. Isidoro e Leandro de Sevilha vão ser fundamentais nessa pesquisa, pois por meio de suas regras monásticas, isto é planamente exposto.

Aspectos da dominação muçulmana na Península Ibérica: uma releitura literária da história - Rossana Moreira do Espirito Santo Teixeira (UNESA)

Os entornos dos anos de 711 – 715 são representativos, especialmente, para o imaginário ibérico pelo fato de boa parte de sua literatura heroica ter se pautado nos movimentos de reconquistas e as lutas entre Cristãos e Muçulmanos. No entanto este imaginário tem um componente menos visível, a percepção de que durante os anos de domínio muçulmano no território ibérico, essas conquistas não são marcadas exclusivamente pela força militar, mas também por uma cultura ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------pungente e que deixou muitas de suas marcas nas tradições literárias posteriores. Esta comunicação, que ainda é a fase inicial de nossa pesquisa, visa analisar e mapear as representações literárias referentes aos aspectos da dominação islâmica na península ibérica paragonando as representações de tradição portuguesa e espanhola, que representaram a invasão e o heroísmo, com as de tradições ibéricas medievais, buscando realizar o levantamento e as relevâncias das percepções destas tradições, investigando os discursos literários em contrapartida com os fatos historicamente consagrados. Para isso iremos estudar textos literários que contam as batalhas árabes e suas conquistas, assim como os que possuem como plano de fundo os acontecimentos que se passam neste mesmo período, buscando traçar um perfil histórico e literário dos acontecimentos.

Considerações iniciais sobre o perfil e funções episcopais nas atas dos Concílios de Toledo no Século VII - Renan Costa da Silva (UFRJ)

A presente comunicação está integrada à pesquisa de mestrado recém iniciada no âmbito do Programa de Estudos Medievais (PEM) da UFRJ, sob a orientação da Profª. Drª. Leila Rodrigues da Silva. Este trabalho objetiva o estudo sobre as determinações e atributos do episcopado nas atas dos Concílios de Toledo no século VII, especialmente as celebradas entre os anos de 633 a 653, abrangendo assim dos Concílios IV de Toledo ao VIII. Desse modo, tomamos como marco o IV Concílio de Toledo para esta comunicação, tendo em vista o grande esforço empreendido pelo bispo Isidoro de Sevilha com vistas ao fortalecimento da 401 instituição eclesiástica, ao que se associava a consolidação do cristianismo niceno na região. É válido ressaltarmos sobre este ponto, que tal movimento de reestruturação do episcopado remonta ao final do século VI, a partir da conversão da monarquia àquela vertente do cristianismo. Partindo desse contexto, e sabendo que os concílios foram convocados em conjuntura política específica, refletiremos acerca do perfil e funções dos bispos nessas reuniões.

Considerações sobre a santidade de Brígida de Kildare na Vita Sanctae Brigitae, de Cogitosus (Irlanda, século VII) - Clarissa Mattana de Oliveira (SEEDUC - RJ)

As hagiografias irlandesas mais antigas que sobreviveram até os dias atuais datam da segunda metade do século VII. Sua produção está relacionada à disputas territoriais e políticas entre grandes comunidades monásticas locais, como Kildare, Armagh e Iona. Em um cenário marcado por conflitos eclesiásticos, glorificar o santo patrono significava também engrandecer o monastério cuja fundação lhe era atribuída. Nesse contexto foi escrita a Vita Sanctae Brigitae, cuja autoria é atribuída ao hagiógrafo Cogitosus e é considerada a mais antiga das hagiografias conhecidas sobre Brígida de Kildare. Esse documento foi bastante estudado pela historiografia, de forma a ampliar o conhecimento sobre a Alta Idade Média irlandesa, o que incluía temas como santidade, monacato, o papel social da mulher e relações entre igreja e sociedade. O objetivo desta comunicação é analisar a santidade de Brígida a partir da vita de Cogitosus. Devemos considerar que a tradição hagiográfica esteve relacionada com o fenômeno do culto aos santos, uma das características ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------mais expressivas da religiosidade medieval. Os santos são mortais que atuam como intermediários do divino junto às comunidades, e por isso são capazes de realizar obras extraordinárias, como milagres, profecias e visões. São homens e mulheres que levavam uma vida religiosa exemplar, e assim se constituíam como modelos de perfeição cristã. Dessa forma, a construção da figura do santo pelo hagiógrafo perpassa uma seleção de fatos, temas e topoi literários, de forma a construir uma mensagem não apenas edificante, mas também política, relacionada com as motivações do autor que fomentaram a produção de sua obra. Para além da análise da hagiografia de Cogitosus, pretendemos discutir, à luz da historiografia, sobre a maneira com que os temas, milagres e estereótipos contribuem para construir a imagem da santa e como se articulam com o contexto no qual a obra foi produzida.

Dioceses, bispos e territorialização do poder no reino suevo: um debate historiográfico acerca do Parochiale Suevum - Nathalia Agostinho Xavier (UFRJ)

O reino suevo foi convertido ao cristianismo em meados do século VI. Analisando a produção escrita desta época, observamos um esforço de cristianização e o estabelecimento de um vínculo entre clero e monarquia. Posicionados na região da Galiza, os suevos promoveram uma organização religiosa, normativa e territorial junto à hierarquia eclesiástica, o que podemos observar, dentre outros documentos, pela lista de sedes e paróquias intitulada Parochiale Suevum. Provavelmente escrita entre 572 e 582, tal lista fornece dados sobre o crescimento/reordenação de 402 dioceses e a formação de um quadro administrativo para o reino e para a hierarquia eclesiástica. Debatida por sua autenticidade e lida, geralmente, em comparação às organizações imperiais anteriores e/ou visigóticas posteriores, acreditamos que a fonte ainda careça de atenção que privilegie aspectos das demandas locais Portanto, abordamos e contrapomos, nesta comunicação, os debates historiográficos realizados acerca do Parochiale, objetivando investigar tendências e possíveis lacunas de análise, bem como propor questões para sua leitura.

Isidoro de Sevilha e seu projeto de educação para o reino visigodo: uma análise da Regula Monachorum - Pâmela Torres Michelette (Universidade Estadual Paulista)

Nesta comunicação pretendemos analisar a formação educacional monástica, a partir da Regula Monachorum, no reino visigodo pós conversão ao catolicismo niceísta (589), sob a perspectiva do bispo Isidoro de Sevilha (560-636). Aqui entendemos, portanto, que os ambientes escolares foram espaços de poder, que ultrapassavam a questão educacional. Neste sentido, a Igreja, monopolizadora desta área, terá mais um elemento de reforço de sua autoridade, ainda mais se considerarmos que o período em questão se dá logo após a consolidação desta instituição no reino visigodo. Desta forma, ao mesmo tempo em que a Igreja conquistou relativa legitimidade e autonomia, ela se deparou, por outro lado, com a necessidade de manter a coesão dos seus membros e de se fazer presente perante a sociedade. Assim, compreendemos que o controle do campo educacional serviu como diretriz para o fortalecimento da supracitada instituição, bem como, da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------cristianização das populações (hispano romanas e visigodas) e da continuidade do clero.

O deserto na cidade. O movimento monástico no epistolário jeronimiano - Marcus Silva da Cruz (Universidade Federal de Mato Grosso)

O movimento monástico se apresenta como um das grandes novidades e inovações do momento histórico que denominamos de Antiguidade Tardia que estende-se ao longo dos séculos III ao VIII em torno da bacia do Mar Mediterrâneo. A opção dos monges para se retirar das cidades rumo ao deserto renegando assim os ideais e princípios da civilização romana se configura, em certo sentido, como uma singularidade ou mesmo um comportamento extravagante. No entanto, essa atitude alcançará um significativo prestígio social e uma ampla difusão na sociedade tardo antiga. Diversos autores cristãos ou não contemporâneos dedicaram a discorrer e analisar o movimento monástico. Um desses letrados foi Jerônimo. O Estridonense foi um dos mais importante intelectuais cristão entre o final do IV século e o início V século, tendo sido secretário de Dámaso, bispo de Roma (366-384) assim como assumiu a titânica tarefa de traduzir as Escrituras diretamente de suas línguas originais, hebraico e grego, para o latim, trabalho que ficou conhecido como Vulgata. Jerônimo foi um grande entusiasta do movimento monástico tendo abraçado a vida monacal em duas ocasiões. Neste trabalho nosso objetivo é refletir acerca tanto das concepções monásticas bem como das práticas monacais presentes nas Epístolas de Jerônimo, buscando compreender como um intelectual formado 403 dentro dos moldes e parâmetros da paideia romano-helenística faz interagir esse universo simbólico com os preceitos do monacato.

O deserto nas epístolas de São Jerônimo - Eduardo Silva Leite (UFMT)

Munidos de doutrinas de impacto social como a do pecado, da disciplina, do inferno, entre outras, nos finais do IV século, o poder do discurso cristão ascético sobre a sociedade foi além de algumas pretensões e tensões que trazia estoicismo a tempos. O poder do discurso cristão, sobretudo dos anacoretas não tiveram êxitos somente pela extraordinária elaboração. Estes estiveram em posição privilegiada em relação aos demais intelectuais cristãos, em virtude do processo histórico cultural que o império sofreu desde o III século. Em grande medida, a valoração moral dos bispos e ascetas cristãos do IV século os transformaram em “missionários morais”, sem dúvida, um reflexo histórico que tem suas origens em diversas culturas antigas. O discurso do asceta cristão cobriu os espaços e pôde dar novos significados a eles. Assim, o deserto, um lugar que não há civilização passou também a significar um lugar não somente de protesto, mas uma espécie de estágio para santificação, um lugar para purificação do homem e da mulher de Deus. Tornou-se com o tempo um lugar de desprendimento do mundo e uma escola para o autoconhecimento onde homens e mulheres ao entrarem ali nunca mais seriam os mesmos. O deserto passou a ser o espelho da alma, o local de encontrar com a verdadeira natureza humana e com o tempo transformou-se, sobretudo onde eremitas mantinham suas vidas, em rotas de peregrinações, lugar de culto e veneração. O deserto foi atravessado por centenas de pessoas em busca da verdade, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------da espiritualidade, e de outros problemas a resolver. Essa construção do deserto foi possível graças às investidas dos Pais da Igreja gregos e latinos. Nos finais do IV século as vozes que concorriam para aliciarem pessoas ao cristianismo foram ouvidas com maior evidência desde o deserto. É dentro desse contexto que Jerônimo está inserido. Para nós, ele é um grande propagador do cristianismo ascético nos finais do IV século. Jerônimo esteve em Roma, após sua estadia em Calcis (deserto) exercendo uma função importante junto ao líder da igreja romana, o bispo Dâmaso, uma espécie de consultor bíblico, o que lhe proporcionou aproximar-se de figuras importantes para o fortalecimento de sua autoridade. Algumas dessas pessoas constituíram-se como alvos para o monge estridonense cooptar para seu círculo de discípulos inclinados ao ascetismo. Contudo nosso trabalho visa percorrer suas correspondências a procura das representações que faz do deserto. As epístolas foram escritas durante um período de aproximadamente 45 anos, isto é, de 374/75 d.C., até a morte de Jerônimo em 419 d. C. Endereçadas às mais diversas pessoas, o epistolário tem 125 cartas suas. É possível que Jerônimo durante sua passagem pelo deserto apresente-nos um e ao sair e passado algum tempo mostre-nos outro deserto.

O discurso eclesiástico acerca do binômio erro-castigo em atas conciliares do reino visigodo de Toledo (séculos VI-VII) - Nathália Cardoso Rachid de Lacerda (UFRJ)

Entre o final da Antiguidade e nos primeiros séculos da Idade Média podemos 404 definir a Igreja cristã como uma instituição em franca organização, tanto doutrinária quanto institucional, e perceber uma busca de hierarquização dos cargos, bem como de definição dos papéis assumidos pelos clérigos em meio a novas dinâmicas políticas, econômicas e sociais. Vemos que, por mais que não houvesse um só plano produzido pelo conjunto clerical, existiam estratégias de conversão e manutenção dos fiéis que caracterizavam as igrejas cristãs, tanto no Ocidente quanto no Oriente, em meio a um esforço de legitimação frente às populações. Dentre as ações e preocupações associadas a tal esforço, destacam-se as veiculadas nos textos produzidos pelo episcopado. Com enfoque no reino visigodo de Toledo, propomos uma reflexão acerca da dinâmica estabelecida pelo discurso eclesiástico entre erro/pecado e castigo, a partir da análise de um conjunto documental formado pelas atas de dois concílios, reunidos entre os séculos VI e VII na capital régia, o III e o IV. Objetivando compreender as nuances desse discurso, comparamo-las entre si a fim de identificar aspectos da normatização social empreendida pelo clero em uma conjuntura de formação de alianças entre monarquia e Igreja, que busca a estabilidade dessas duas instituições em meio às disputas político-religiosas internas do regnum.

O Império e o Poder da Igreja Cristã: os bispos e os homens santos nas cortes do IV ao V século - Kelly Cristina da Costa Bezerra de Menezes Mamedes (Universidade Federal de Mato Gosso)

A corte imperial tardo romana era formada por um agrupamento social e político composto por pessoas heterogêneas. Suas diferenças não estavam marcadas apenas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------em seus credos, etnias e línguas, mas estava também nos diferentes postos ocupados por eles dentro do espaço cortesão, quer fossem membros da administração civil, militar ou da esfera religiosa, porém algo unificava esses atores políticos, todos orbitavam ao redor daquele que era a figura central para onde todos convergiam, qual seja o imperador. Dentro dessa complexa malha cortesã, essa grande profusão de agentes, sejam burocratas palatinos, componentes do exército ou homens da igreja buscavam não apenas exercer seus ofícios, mas também buscar benefícios, ascensão social e prestígio, o que tornava esse ambiente um lugar de constante efervescência política. Entre as inúmeras figuras que circulavam ao redor do imperador, pretendemos nesse trabalho discutir a respeito do papel desempenhado pelos membros da Igreja Cristã, em especial as figuras dos bispos e dos homens santos. À medida que o Império Romano se cristianiza, sobretudo após o Édito de Milão em 313, temos um crescimento dos privilégios da religião e consequentemente o aumento do poder de seus membros, assim cada vez mais temos a presença de bispos e monges transitando e exercendo influência dentro do ambiente cortesão, bem como junto ao monarca. Diante disso pretendemos expor o papel que desempenhavam os bispos e os homens santos e qual era a performance desses religiosos no cenário político romano tardio.

O papado e as instâncias de poder bizantina no Ocidente: Gregório I (590- 604) e os exarcas - João Paulo Charrone (Universidade Federal do Piauí)

No Ocidente, o mais imediato contato papal com o poder imperial deu-se por 405 intermédio das relações com os funcionários imperiais. Frequentemente, esses pareciam ter atuado com um objetivo em vista, ou seja, aqueles que foram nomeados para governar pretendiam obter o máximo de lucro possível. Gregório percebeu que, como bispo de Roma, deveria exercer algum grau de hegemonia sobre tais indivíduos. Os postos do exarca da Itália e da África foram essencialmente novas criações imperiais, durante a segunda metade do sexto século. Fundamentalmente, o cargo de exarca reunia a administração civil, jurídica e religiosa. Tal cargo era ocupado, em geral, por um combatente de alta patente. Por conseguinte, sempre havia grande possibilidade, ainda mais considerando tais características – grande concentração de poder hegemônico gerido por uma pessoa com perfil militar –, de o exarca atuar de maneira despótica. Somam-se a esse quadro as invasões vândalas no Norte da África e as invasões lombardas na Península Itálica. O permanente estado de guerra naquele tempo, em muitas daquelas conturbadas províncias ocidentais, impelia o Império, se quisesse reter parte ou todo o território, a adotar medidas ainda mais centralizadoras, usando, portanto, os principais mecanismos da sociedade política. Roma estava dentro da jurisdição estatal do exarca da Itália. Enquanto Gregório foi papa, houve três ocupantes desse cargo: Romanum (590-596) , Callinico (596-603) e Smaragdo (603-608) . No exarcado da África, o conhecimento é escasso, mas dois exarcas podem ser identificados: Gennadio (591-598) e Heraclio. Porém, Gregório I não se corresponde com esse último.

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O rito batismal nas atas conciliares visigóticas (619- 653) - Nathália Serenado da Silva (Programa de Pós-Graduação em História Comparada-UFRJ)

Esta apresentação pretende abordar as referências documentais sobre o rito batismal nas atas de concílios visigóticos, especialmente, aqueles celebrados entre os anos de 619 e 653. Tal seleção temporal se baseia em uma análise preliminar dos referidos documentos, por meio da busca de menções ao batismo, bem como pelo interesse nas participações conciliares do bispo Isidoro de Sevilha. Sendo assim, os documentos selecionados para análise nesta apresentação são as atas do Concílio de Sevilha II celebrado em 619; as de Toledo IV, ocorrido em 633; e, por fim, aquelas referentes ao sínodo de 653 — Toledo VIII. Cabe apontar que, mesmo que o bispo Isidoro de Sevilha não tenha participado da reunião episcopal de Toledo VIII, a ênfase acerca da sua atuação se associa aos interesses futuros desta pesquisa, que se encontra em estágio preliminar. Nesta apresentação, portanto, tendo como referência a conjuntura em questão, buscamos identificar as características argumentativas utilizadas para afirmação do rito batismal, litúrgica e teologicamente, nos domínios visigóticos presentes nas atas conciliares.

O texto hagiográfico, a santidade das mulheres merovíngias e a trajetória da rainha Radegunda - Juliana Prata da Costa (UFRJ)

Esta comunicação tem como objetivo principal apresentar uma discussão historiográfica sobre a santidade feminina, particularmente na Gália, no período 406 merovíngio. Desta forma, procuramos estabelecer um diálogo entre os principais autores que têm se dedicado a estudar a documentação hagiográfica e as santas do período, incluindo especificamente os estudos que tratam sobre Radegunda de Poitiers, nosso objeto de estudo no doutorado, iniciado esse ano. Além disso, cabe mencionar a importância de analisarmos os trabalhos que se preocuparam também com a hagiografia dedicada a esta santa, atribuída a Venâncio Fortunato, um dos principais membros do episcopado do reino dos francos ao longo do século VI. Ou seja, nossa proposta está vinculada a três grandes eixos de discussão: o texto hagiográfico, a santidade das mulheres merovíngias e a trajetória da rainha considerada santa, Radegunda.

Os conflitos entre Hipácio de Rufiniana e a hierarquia eclesiástica de Calcedônia (426-435) e Constantinopla (428): a liderança monástica tardo- antiga em perspectiva - Lucas Moreira Calvo (UFRJ)

A historiografia tem dado cada vez mais atenção ao envolvimento monástico em conflitos com seus episcopados, principalmente em contexto de controvérsia religiosa. Como pesquisamos a atuação do monacato na controvérsia cristológica do século V, o estudo do poder monástico diante dos bispos é um assunto que tem mobilizado nossa atenção, no esforço de entender o papel assumido pelos monges nesse tipo de embate com a hierarquia eclesiástica. Inserido em nossa pesquisa de mestrado, o presente trabalho discute a relação conflituosa entre Hipácio de Rufiniana (366-446) e a hierarquia eclesiástica da localidade, representada por Eulálio, bispo de Calcedônia, e Nestório, bispo de Constantinopla, descrita na Vida ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de Hipácio. Nosso objetivo é, a partir deste documento, examinar a capacidade do monge de Rufiniana em sobrepujar a autoridade de seus superiores no campo religioso. No documento hagiográfico escrito por Calínico, Hipácio é colocado em confronto com a hierarquia eclesiástica em três momentos da narrativa, quando: a) abriga Alexandre e seus monges (426-428); b) se opõe à ascensão de Nestório ao trono episcopal de Constantinopla (428); c) contesta a realização dos jogos olímpicos em Calcedônia (434-435). Acreditamos que a insubordinação descrita na hagiografia estava associada à complexa teia de relações que o monge conservava no período em que fora abade do mosteiro de Rufiniana, localizado, na margem asiática do Bósforo, a sudeste da cidade de Calcedônia. Baseados na sociologia de Pierre Bourdieu, nos propomos a analisar na obra Vida de Hipácio aquilo que identificamos como composição dos capitais específicos detidos pelo abade de Rufiniana e seus efeitos simbólicos e práticos no jogo político- eclesiástico. Assim, acreditamos ser possível explicar o poder exercido por Hipácio nos conflitos com a hierarquia eclesiástica narrados por Calínico.

Os Germanos e a Igreja entre Crônicas e Histórias: poder e memória na Alta Idade Média - Luciana Araújo de Souza (PPGHC/UFRJ)

Acerca da aproximação entre grupos germânicos e Igreja na chamada Alta Idade Média, podemos observar a inserção de tais grupos dentro de um entendimento que os propõe como componentes de uma visão de mundo cristã. Associada à nossa pesquisa de mestrado recém-iniciada, nessa comunicação propomos a discussão 407 acerca da inserção de tais grupos em âmbito textual, principalmente no que diz respeito às Crônicas e Histórias: assim, são compreendidas como ferramentas eclesiásticas de manutenção do poder simbólico e inserção no tempo histórico, legitimando as dinastias germânicas ocidentais. Para tanto, apontamos para as qualificações propostas aos grupos germânicos ao adentrar o limes romano durante os séculos IV e V, observando tais relatos como documentos essenciais para o entendimento das relações entre tais grupos e a Igreja – sendo esta a responsável pela configuração memorial em relação aos germanos. Com base nas reflexões acerca dos dois gêneros textuais, propomos a reflexão acerca da concepção qualificatória sobre os grupos germânicos e o uso de tais documentos na pesquisa sobre a Volkerwanderung e estabelecimento dos reinos romano-germânicos cristãos, objeto de nossa pesquisa de mestrado.

Reflexões Sobre o Papel da Mulher na Idade Média, Um Estudo Sobre a Construção do Ideal Feminino por Leandro de Servilha e Seus Ecos no Pensamento Medieval. - Amanda da Cruz Xavier (UERJ)

Esse é um primeiro trabalho de movimentação de iniciação científica em que estamos nos aproximando das primeiras trocas relativas a educação, nessa primeira comunicação buscaremos uma primeira observação do documento da regra monástica, escrita por Leandro de Servilha em especiais itens tais como: VI, XI é XV; na busca de compreender a relação de humildade, a modéstia e as práticas de leituras e orações constantes que eram estabelecidas entre a igreja e a mulher, tal como fazer o primeiro reconhecimento dos principais tipos e elementos, dialogar ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------com outras discussões teóricas sobre a proeminência da representatividade da mulher na idade média, que foi marcada por um discurso marjoritariamente masculino, em que muitas vezes as próprias mulheres assumiam identidades masculinas, algumas conseguiam permanecer e marcar presença na história. Boa parte dos discursos são construídos por homens entretanto outros por mulheres, nosso objetivo é de perceber um tipo ideia de sobre essa associação, tal como do que deveria ser esperado de uma mulher, partindo de um documento simples da idade média escrita por Leandro de Servilha, bem como temos o objetivo de comparar e observar como essas práticas são alicerçadas no início da idade média e como manifestava em diferentes figuras representativas tais como, a monja Hildegard de Bingen e a Rainha Isabel de Castela.

Religião e a Escola: iluminando o debate contemporâneo a partir das relações pedagógicas na Primeira Idade Média - Rodrigo dos Santos Rainha (UERJ)

A presença oficial da religião na escola pública por meio de uma disciplina específica não é um assunto novo, também não é algo ultrapassado e tão pouco superado, mas sim tema de calorosos debates e que se mantém em alta na atualidade. A oferta desta disciplina pelo poder público voltou à tona nas últimas décadas por conta de legislações estaduais e municipais que trouxeram inovações e retomaram temas e discussões que se encontravam adormecidos. Sempre que estes debates se manifestam a primeira reação é a da generalização sobre um retorno, permanência ou prática vinculada a Idade Média. A relação construída 408 fácil e não problematizada pelo senso comum foi o caminho que procuramos construir de forma mais elaborada para a recém inaugurada linha de pesquisa sobre Educação e Religião iniciada pela professora Amanda Mendonça e Rodrigo Rainha na Universidade Estácio de Sá. Partindo das propostas de História Comparada de Vernant & Detienne, buscamos "Comparar o Incomparável", de modo que as percepções diversas sobre a temática nos permitam a partir da iluminação das práticas perceber melhor seus processos e principalmente as suas relações de poder envolvidas. Nesta comunicação, o primeiro de uma série de trabalhos que abordaremos essa temática, apresentaremos em linhas gerais o debate recente sobre a inserção do ensino religioso confessional nas escolas, e em seguida explicitaremos o papel da Ação Pedagógica de características religiosas nos espaços dos reinos na Primeira Idade Média, no século VII, explicitando como o discurso religioso transforma esses espaços em bases fundamentais para difusão e dispersão do "habitus" e a difusão do "Poder Simbólico" da Ecclesia.

Superstitio, paganiae, idolatria: Combate às práticas pagãs nos penitenciais de Finnian séc. VI e Cânones Irlandeses séc. VII - Maria Júlia Dutra Rabelo (UFRJ)

O presente trabalho apresenta considerações sobre a pesquisa iniciada no ano 2015, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Duarte Silva a respeito da trajetória do cristianismo na Alta Idade Média. Aqui, temos como objetivo analisar as estratégias de combate às práticas consideradas pagãs descritas, respectivamente, nos penitenciais de Finnian e dos Cânones Irlandeses (séculos VI e VII), na Irlanda. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------

A cristianização da Irlanda se dá no século V, através dos monges Palladius e Patrício. Não se sabe com clareza qual parte da Irlanda cada um dos monges realizou seu trabalho missionário, mas após suas respectivas mortes o território da Irlanda continua quase que inteiramente pagão. As penitências eram sacramentos disciplinares impostos pelos eclesiásticos desde ao menos o século III. Na Alta Idade Média, as penitências foram descritas em penitenciais, documentos que indicavam um novo método de disciplina empregado pela igreja com o objetivo de converter povos ditos pagãos ao cristianismo. Autores como Ian Wood, Abrahams, Le Goff e Schmitt ressaltam que a construção do cristianismo empreendida pelo corpo eclesiástico ao norte europeu, nunca foi uniforme e nem monolítica, onde são constituídas uma série de adaptações ressaltando-se a continuidade de elementos pagãos. Durante a cristianização da Irlanda, os penitenciais exerceram um papel fundamental. Com a finalidade de facilitar a adoção do cristianismo, incluíam acomodações de certos costumes e práticas locais, ao mesmo tempo em que denunciavam outros aspectos. Embora imprecisos em sua datação e anônimos, os penitenciais por nós estudados apresentam tais esforços eclesiásticos. No trabalho a seguir serão comparados e analisados os penitenciais de Finnian e os Cânones Irlandeses com o objetivo principal de demonstrar as estratégias empreendidas nos respectivos penitenciais para a cristianização da população irlandesa de crenças célticas.

Uma análise da mentalidade e influência do cristianismo no cidadão Romano, no início do século IV - Diogo Nunes dos Santos (Universidade Estácio de Sá) 409

Os problemas de ordem material assolavam o Império Romano desde o século III, imperadores como Diocleciano, Constantino, Justiniano, entre outros, já estavam preocupados com as condições sócias e econômicas a qual o Império Romano vivia do século III ao IV. Na tentativa de centralizar o poder os imperadores tomam uma série de medidas, como até mesmo o diálogo com a nova religião que está em crescente expansão no Império Romano, o cristianismo, que com seu caráter de vida pós morte e alivio para o homem romano, cumpri um papel importante nesse processo. Esse caráter cristão faz com que o império, em certos períodos em especifico, consiga apaziguar conflitos e rebelião na sociedade Romana. Nesse trabalho pretendo discutir e analisar a cooperação do cristianismo na sociedade Romana no início do século IV, logo após as perseguições proporcionadas pelo imperador Diocleciano. Analisando de que forma essa religiosidade influencia a mentalidade do homem romano da época, trazendo assim, benefícios para o império Romano.

Virtudes, milagres e adversidades: os topoi na Vita Sancti Amandi - Leila Rodrigues da Silva (UFRJ)

Produzida em circunstâncias de expansão do cristianismo, ao que se vinculava interesses políticos merovíngios, Vita Sancti Amandi, de autoria desconhecida, foi escrita em princípios do século VIII, poucos anos após o falecimento do hagiografado, o bispo Amando, em 675. Como outras vidas de santos, a narrativa evidencia a tensão entre duas dimensões. Por um lado, ressalta aspectos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------diretamente relacionados ao seu contexto de produção com destaque para especificidades da conjuntura em que foi escrita. Por outro, mas nem sempre em dissonância com tal perspectiva, reproduz um conjunto considerável de topoi. Neste texto, tendo como referência o reconhecimento de que o o autor compartilha de um habitus que lhe permite reproduzir lugares-comuns da literatura hagiográfica, interessa-nos identificar os topoi por ele eleito, com destaque para a relação que estabelece com a conjuntura específica na qual ele próprio e o hagiografado se inserem. Assim, de um modo geral, importa-nos realçar a trajetória do santo no que concerne às suas virtudes, aos milagres realizados e às adversidades superadas.

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411 ST 42. Igreja, Sociedade e Poder na Baixa Idade Média (séculos XI-XV)

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A cruzada albigense e o modelo de papado de Inocêncio III - Marcus Vinícius de Souza (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Inocêncio III (1198-1216) não foi o primeiro papa que enfrentou a heresia dos cátaros, porém foi em seu pontificado que foi instituída uma cruzada espiritual na região de Albi. A perseguição aos hereges não era nenhuma novidade, mas o papado de Inocêncio estabeleceu uma forte ligação entre o poder papal e a repressão ao herege. Cabia ao líder da cristandade, e vigário do próprio Cristo, eliminar os males das heresias e inimigos da fé. Para isso acontecer seria necessário extirpar do mundo as lideranças do mundo que não cumprissem a vontade do sucessor de Pedro e não seguissem corretamente as palavras dirigidas pela Igreja. Nesse sentido a cruzada albigense foi um modelo do que este papa tentou realizar em seu pontificado, destituindo hereges de suas terras e livrando seus vassalos de suas obrigações, pois nenhum poder temporal poderia existir se este fosse de contrário a ortodoxia romana. A perseguição herética em Albi, dava inicio a teocracia papal de Inocêncio III.

A Fé nos Astros: o Conceito de Macrocosmo e Microcosmo nas Ilustrações Medievais - Jefferson de Albuquerque Mendes (UERJ)

Esta apresentação tem o intuito de investigar o impacto das categorias de macrocosmo e microcosmo na produção das ilustrações medievais e seu embate no cotidiano do homem entre a fé nos astros, de origem pagã, e a fé teológica, de cunho 412 judaico-cristã. Os conceitos de microcosmo e macrocosmo tem uma longa e profícua trajetória na relação e tentativa do homem estabelecer algum parâmetro com o universo. Na verdade, num determinado grau, podemos considerar como um campo de investigação que possibilita criar panoramas sobre a visão do homem como uma porção do universo, como uma escala que simboliza a união – sempre numa relação hierárquica – entre o cosmo e o próprio homem. Esses conceitos estarão, ora colocados no cerne de problematizações ora mais escondidos, sempre envolvidos, dissecados e colocados a luz de teorizações, por parte de filósofos, filólogos, teólogos, enfim, eruditos de diversos campos de estudos sempre no intuito de dispor de um aparato complexo e cheio de significações que tentam, a todo custo, entender o que vem a ser o conhecimento do cosmo. Assim, o tema da astrologia e sua importância na compreensão dos processos sociais, políticos, artísticos e culturais, numa época de notória efervescência como o período medieval, deve ser encarado como uma tentativa de racionalização do mundo e, ao mesmo tempo, compreensão do incognoscível. Assim sendo, os estudos sobre a astrologia e suas ramificações se coloca como lugar necessário ao entendimento desse homem que estava entre a religião e a concepção natural de mundo, entre o pensamento pagão e a teologia cristã, e, enfim, entre a magia e o pensamento racional. Com isso, a existência deste tipo de ilustração que retrata as correspondências harmônicas entre macro e microcosmo, revelava um fascínio perante as antigas crenças na magia, e também a capacidade de assimilação de conteúdos advindos da cosmologia pagã e da astrologia, revestindo-os de uma caráter estritamente cristão. De todo fato, essas imagens relatam o impacto da teoria

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------pagã, através das relações entre a origem do homem e o universo, sobre a doutrina cristã.

A Vita et miraculi sancti Rudesindi face à restauração do arcebispado e à formação do Reino de Portugal - Andreia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ)

A Vita et miraculi sancti Rudesindi narra a biografia, a morte e os milagres de S. Rosendo, que viveu no século X. Segundo registram os documentos, ele era membro da alta nobreza galega. Foi bispo de Mondonhedo, promotor da vida religiosa na Galiza e fundador e, posteriormente, abade de Celanova. Seu culto foi oficialmente reconhecido por volta de 1173, pelo Cardeal Jacinto Bobone-Orsini, que foi legado papal na Península Ibérica. Esta Vita foi elaborada em etapas, no mosteiro de Celanova. O núcleo básico foi composto no século XII, pelos monges Estevão e Ordonho. É provável que a motivação para a redação desta obra esteja relacionada ao reconhecimento da santidade de Rosendo, em 1172, pelo cardeal Jacinto, ocasião em que seu corpo foi trasladado para a igreja abacial. Durante o século XIII outras narrações de milagres foram acrescidas. Em sua forma atual, pode ser dividida em cinco partes. Na primeira é narrada a sua vida; seus milagres estão divididos em três livros, finalizando com um apêndice. Ela foi transmitida por seis manuscritos, alguns somente com partes do texto. Os mais antigos são datados entre os séculos XIII-XIV e o mais recente, do XV. Em minha comunicação pretendo apresentar conclusões parciais de uma pesquisa 413 desenvolvida com o financiamento do CNPq, discutindo como esta Vita repercutiu dois eventos ocorridos na Galiza no século XII: a restauração do arcebispado de Braga e a formação do Reino de Portugal.

África Medieval e suas representações no Ensino de História - Larissa Nobre de Souza (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

A Lei 11.645/08 tem por caráter promover a introdução obrigatória do ensino de História da África no sistema educacional brasileiro, explorando principalmente as relações existentes entre a cultura africana e brasileira, permeando todos os níveis educacionais. Sabendo-se que o continente africano é caracterizado por uma multiplicidade cultural, política, religiosa e econômica que transcende a questão escravista do século XVI, acreditamos ser necessário ao estudante brasileiro compreender como a cultura africana esteve presente também na formação do Ocidente desde a Idade Média. Portanto, este trabalho tem como objetivo analisar, através de alguns títulos didáticos utilizados nas salas de aula brasileiras do segundo segmento do ensino fundamental, as representações estruturais e as caracterizações neles existentes acerca das sociedades africanas no período cronológico medieval.

As Acta Capitulorum Generalium Ordinis Praedicatorum: notas sobre uma tradução - Carolina Coelho Fortes (UFF)

Ao longo do século XIII, os frades pregadores construíram para si um extenso ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------corpus legislativo, concretizado no que se passou a conhecer como as atas dos Capítulos Gerais da Ordem dos Frades Pregadores. Essas atas são registros de encontros que, a princípio, ocorriam anualmente e tinham como objetivo discutir e decidir acerca de todas as instâncias da vida comum dos frades dominicanos. Tais decisões foram compiladas pela primeira vez no início do século XIV pelo dominicano Bernardo Gui, é só editadas em 1898, pelo também frade Benedito Reichert, na coleção Monumenta Historica Fratrum Ordinis Praedicatorum. Até hoje, não há tradução do texto para Nenhuma língua vernácula. Daí a necessidade premente de traduzi-lo como forma de viabilizar o alargamento do campo de estudos da Ordem Dominicana e, consequentemente, das ordens mendicantes medievais. Nessa comunicação pretendemos realizar alguns apontamentos sobre o processo de tradução das atas do latim para o português, detendo-nos, sobretudo, nas características gerais do texto e em seu conteúdo.

As práticas religiosas dos povos da Guiné por meio das narrativas de cronistas e viajantes (século XV e início do XVI). - Kátia Brasilino Michelan (IPHAN)

Os povos que estavam situados na costa africana ao sul do Cabo do Bojador, ultrapassado pelos portugueses em 1434, mereceram grande atenção por parte dos cronistas e viajantes. Dada a preocupação com a expansão do cristianismo e com o combate à religião islâmica, que era preponderante no Magrebe, a questão religiosa foi uma temática recorrente das narrativas, sendo a aptidão ou não à conversão um traço fundamental na descrição desses povos. Assim, o objetivo da comunicação 414 proposta é pensar quais traços das práticas religiosas dos habitantes da chamada Guiné são destacados pelas crônicas portuguesas e pelos relatos de viagem de viajantes que estavam sob a tutela da coroa portuguesa. Tais escritos, produzidos entre meados do século XV e o princípio do século XVI, tentaram dar forma a esses povos desconhecidos para seus possíveis leitores e foram responsáveis por construir aproximações e distanciamentos descritivos entre os povos do Magrebe e da Guiné.

Aspectos Eticos no Livro da Ordem de Cavalaria de Ramon Llull - Augusto Leandro Rocha da Silveira (Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lulio)

No Livro da Ordem da Cavalaria (1279-1283), Ramon Llull pretende sistematizar e orientar os novatos interessados no ofício de Cavaleiros pleiteantes a ocupar uma vaga na Ordem da Cavalaria e, para tanto, elenca valores de ordem espiritual, moral e éticos. Desta maneira, o Doutor Iluminado invoca valores cristãos para expor as características deste ofício destinado a poucos durante o Medievo Europeu. A referida sistematização expôs o caráter divino do Cavaleiro, que, para Llull, deve estar a serviço da fé cristã em sua luta contra os infiéis, pacificando os homens. A presente Obra foi uma contribuição de Llull para normatizar e instituir à Cavalaria seu próprio código de ética através das polaridades, virtudes/vícios, bem como à definição de Cavaleiro, seus costumes e às questões envolvidas neste tão nobre ofício.

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Considerações parciais sobre o conceito de demonização e as hagiografias castelhanas do século XIII - Thalles Braga Rezende Lins da Silva (Programa de Pós-graduação em História Comparada - UFRJ)

Este trabalho é um balanço intermediário, de uma tese de doutorado em construção, sobre a demonização nas representações medievais castelhanas do século XIII constantes nas hagiografias: Milagros de Nuestra Señora, de Gonzalo de Berceo; Liber Mariae, de Juan Gil de Zamora; e Cantigas de Santa Maria, de Alfonso X, o Sábio. As constatações aqui apresentadas tratam-se de um recorte das considerações parciais da minha pesquisa em História Comparada, desenvolvida no âmbito do PPGHC e do PEM da UFRJ, desde 2016. Iniciarei pelo conceito de demonização, conforme estabelecido na bibliografia das Ciências Sociais e Políticas. Ou seja, como negação integral que Outrem possua quaisquer qualidades morais valendo-se da associação, seja de que tipo for, deste Outrem com entidades sobrenaturais diabólicas. No entanto, deve-se ter cuidado para que essa simples definição não esconda todas as nuances e possibilidades conceituais da demonização. As hagiografias selecionadas permitem justamente explorar muitas delas, sendo assim, essa será a meta a ser atingida ao fim desta apresentação.

Construção do saber médico na Idade Média e suas relações com os poderes instituídos - André Silva Ranhel (Secretaria de Educação de Batatais/SP)

O presente trabalho visa analisar o desenvolvimento do saber médico na Idade 415 Média, principalmente no contexto do Renascimento do século XII e da formação das Universidades no século XIII, e quais as relações estabelecidas entre os poderes instituídos, majoritariamente com relação a Igreja, mas também percorrendo os poderes seculares. Pretende-se fazer um panorama, baseado principalmente em uma revisão bibliográfica sobre o tema, sobre como o saber médico se construiu no Ocidente Medieval, em meio ao controle social e intelectual promovido pela Igreja e as tensões entre clérigos e laicos. Como campo de saber, entendemos que tal análise se enquadra como um ramo da História do Corpo, visto isso os autores selecionados dialogam com o campo da História Cultural, guiando nosso trabalho nessa vertente historiográfica. O objetivo dessa empreitada é estabelecer uma visão geral sobre como o saber médico se desenvolveu e traçar suas relações, tanto de harmonia como de conflito, com seu contexto político, social e religioso, procurando superar certos conceitos de senso comum, como por exemplo a ideia de sua total inexistência em tal período. Percorreremos desde o controle estabelecido pela Igreja em relação ao trato com o corpo, atribuindo a si e a Deus a única possibilidade de cura efetiva, até a instituição de faculdades de medicina dentro de Universidades por ela controladas. Dentro desse contexto, insere-se a querela entre o saber médico universitário e o saber dos cirurgiões, barbeiros, etc., que muitas vezes eram recorridos pelos reis e príncipes para servir nas cortes, como o caso dos cirurgiões da dinastia dos Capetos na França medieval. Ao final, pretendemos contribuir para a construção de uma análise mais ampla e crítica de como o saber médico se desenvolveu durante a Idade Média, dando base para sua formação científica nos séculos posteriores.

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D. Afonso Henriques: uma análise sobre as representações do primeiro rei de Portugal nas crônicas medievais (séc. XII-XIV) - André de Faria Silva (UERJ)

A imagem do primeiro rei e fundador do Reino de Portugal, D. Afonso I, ou D. Afonso Henriques, se apresenta através das fontes históricas sob uma série de representações de caráter político, religioso, mítico e ideológico, que se desenvolveram e se ampliaram ao longo do tempo, através dos textos que se dedicaram a contar a sua história. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho consiste em analisar de que forma os cronistas medievais representaram a imagem de D. Afonso Henriques com base nas duas principais fontes portuguesas deste período: a ‘Crônica dos Godos’, escrita no século XII, e a ‘Crônica Geral de Espanha de 1344’, produzida no século XIV pelo conde D. Pedro de Barcelos; relacionando tais representações com os fundamentos políticos e ideológicos das monarquias medievais ibéricas, derivados do contexto histórico da Reconquista.

Lancelote e os ideais de cavalaria e amor cortês do século XII: O potencial da literatura para a compreensão do imaginário medieval - Rafael Farias dos Reis (UERJ)

Este trabalho tem por objetivo analisar as potencialidades da literatura, em particular da obra do trovador francês Chrétien de Troyes “Lancelote, O Cavaleiro da Carreta”, para compreensão do imaginário medieval. Neste sentido, o trabalho almeja identificar os ideais de cavalaria e amor cortês presentes na obra de Chrétien 416 de Troyes e os elementos constitutivos da sociedade feudal do século XII. Pode-se dizer que o texto em questão retrata a súmula bem-acabada do ideal cavalheiresco representado através da figura de Lancelote, o melhor cavaleiro e amante do mundo, que agrega em torno de si a personificação do fine amor tão admirado na época. Assim, para esta comunicação, pretende-se estudar as relações de poder feudo-vassálicas e os ideais de cavalaria presentes no romance bem como os seus desdobramentos na constituição do amor cortês.

Liderança feminina e a hierarquia eclesiástica na Penísula Itálica durante a Baixa Idade Média - Andréa Reis Ferreira Torres (UFRJ)

O presente trabalho visa discutir as possibilidades de liderança religiosa feminina a fins da Idade Média, tendo como recorte espacial a Península Itálica. A partir das considerações finais de nossa dissertação de mestrado, que versou sobre santidade feminina com a análise de fontes que traziam os relatos sobre Clara de Assis e Guglielma de Milão, procuramos, nesse momento, expandir a pesquisa e buscar novas fontes. O objetivo central será avaliar a presença feminina em posições destacadas na vida religiosa medieval, levando em consideração os limites e as possibilidades resultantes das relações de poder do contexto.

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O bordão, a cabaça e a escarcela: a peregrinação e os peregrinos nos séculos XII e XIII - Gabriel Braz de Oliveira (UFRJ)

Nossa pesquisa se vincula ao projeto coletivo Hagiografia e História: um estudo comparativo da santidade, coordenado pela professora Andreia Cristina Lopes Frazão da Silva e desenvolvido junto ao Programa de Estudos Medievais (PEM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O objetivo principal do projeto é estudar o fenômeno da santidade nos séculos XI a XIII nas Penínsulas Ibérica e Itálica. Como proposta individual de pesquisa monográfica, optamos pelo estudo do fenômeno da peregrinação na Idade Média Central. Durante esse período, boa parte das igrejas por toda a Europa procurou se estruturar como centros de peregrinação, locais tidos como sagrados por conservarem relíquias de uma pessoa cultuada como santo e aptos a receberem um contingente significativo de visitantes. Quanto maior fosse a fama de santidade do santo que tinha os seus restos mortais preservados, mais preparado deveria ser o local para receber o número de fiéis que esse santo atraísse. A peregrinação aos principais centros cristãos se tornou, com o tempo, uma etapa quase obrigatória na vida de todo fiel, o que resultou na transformação dos centros de peregrinação em fontes altamente rentáveis para o grupo eclesiástico responsável pela gestão do espaço. Para a nossa comunicação, selecionamos como objetos da pesquisa o ato de peregrinar e a figura do peregrino, mais especificamente o peregrino dos séculos XII-XIII. Quem peregrinava, quais eram os propósitos de uma peregrinação, o que diferenciava uma romaria de uma peregrinação, quais eram os preparativos da viagem, como era a aparência de um 417 peregrino e o que carregava consigo e com quais adversidades poderia se deparar na viagem são algumas das questões a serem respondidas no decorrer do trabalho. Como corpus documental da comunicação selecionamos três documentos: o livro V da coletânea Liber Sancti Jacobo, conhecido como Guia do Peregrino de Santiago de Compostela, escrito em meados do século XII; a Vita Sancti Martini ou Vida de São Martinho escrita por Lucas de Tui no início do século XIII, que retrata a vida de Martinho de Leão, um cônego regular que antes de ser ordenado clérigo realizou uma longa peregrinação pelos principais centros da época; e por fim, o título XXIV da Primeira Partida – Dos Romeiros e dos Peregrinos – das Siete Partidas, um conjunto normativo redigido durante o reinado de Afonso X (1252- 1284).

O Espelho, o Processo e o Concílio. Uma reflexão sobre a biografia e a influência do processo inquisitorial de Marguerite Porete (1250-1310) na condenação do movimento beguinal - Danielle Mendes da Costa (UFRJ)

O presente trabalho relaciona-se às reflexões da minha pesquisa de mestrado em História Comparada (PPGHC-UFRJ), iniciada em 2017. Após a década de 1940, quando Romana Guarnieri associou o Espelho das Almas Simples e Aniquiladas à um processo de inquisição realizado na França, entre 1309 e 1310, houve uma profusão de estudos sobre Marguerite Porete, considerada como autora da obra, em diversas áreas do conhecimento. Embora haja muitas lacunas acerca de sua vida e dos procedimentos que conduziram a sua à morte por heresia, os/as pesquisadores/as não tem dúvidas com relação à importância do seu papel no ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Concílio de Vienne (1311-1312), para a proibição do modo de vida beguinal. O meu objetivo nesta comunicação será apresentar e tecer algumas considerações a respeito das hipóteses sobre a trajetória de vida e a elaboração do processo inquisitorial desta personagem. Em vista disso, pretendo refletir a respeito das circunstâncias do caso de Porete, apontando questões sobre a atuação da instituição eclesial e da monarquia francesa no controle de uma espiritualidade laica, cuja forma de vida original proporcionou uma certa autonomia econômica e religiosa das mulheres, entre meados do século XII e o início do XIV, no Ocidente Medieval.

O Exordium Magnum de Conrad d’Heberbach (+1221): entre crônica histórica e hagiografia monástica - Ana Paula Lopes Pereira (UERJ)

O Exordium Magum de Conrad d’Heberbach (+ 1221) narra a origem da Ordem de Cisterciense. Trata-se de um relato histórico, mas também é uma obra apologética que incita os monges a imitarem o exemplo dos fundadores. Nesse sentido, o autor empreende uma narrativa que se estrutura como uma narrativa hagiográfica uma vez que utiliza o Livro de Milagres de Herbert de Clairvaux (+ 1198). Nossa intenção, no presente trabalho, é escrutar os exempla que compõem os relatos dos personagens emblemáticos da Ordem, mas também dos simples conversos para compreender o modelo perfeito de monge cisterciense considerando de forma mais sistemática suas relações afetivas e a manifestação das emoções, dando sequência à nossa pesquisa sobre a Caridade e a amizade na antropologia monástica cisterciense. 418

O Leal Conselheiro de D. Duarte: propostas analíticas - Cleiton Batista de Oliveira (UERJ)

Durante a Idade Média a literatura tipificada como espelho dos príncipes passou a ser difundia entre os monarcas. Como forma de conselhos e manuais de etiquetas, esses espelhos ensinavam como um rei deveria agir e se comportar para governar e manter seu poder. O Leal Conselheiro, escrito por D. Duarte (1391-1438) é um desses manuais, mas seu caso se torna um tanto singular, pois a pedido de sua esposa Leonor de Aragão, o próprio monarca escreve o manual direcionando-o aos seus súditos. Nele temos um compilado de conselhos sobre, por exemplo a soberba, a inveja e o amor. D. Duarte justifica a guerra em “A guerra contra os mouros” e descreve a sua própria experiência contra a melancolia, em o “Humor melancólico”. Este trabalho busca fazer uma pesquisa inicial sobre o Leal Conselheiro, discutindo sua singularidade e a relação com o gênero literário espelho dos príncipes, tentando perceber as potencialidades de pesquisa que esta fonte pode oferecer aos seus estudiosos.

O Livro das Bestas: Uma Alegoria da Sociedade Medieval - Camila da Silva Santanna Figueiredo (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O Livro das Bestas, escrito pelo religioso Raimundo Lúlio, é considerado um dos melhores textos de prosa catalã medieval. Compõe a sétima parte da obra chamada Livro das Maravilhas do Mundo, constituído pelos temas: Deus, Anjos, Céu, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Elementos, Plantas, Metais, Bestas, Homem, Paraíso e Inferno. A obra é considerada uma das primeiras novelas de cunho filosófico-social da Europa medieval e foi escrita durante a primeira visita de Raimundo à Paris. Embora a obra tenha sido escrita entre 1288-89, a sétima parte foi redigida anteriormente e acrescentada ao livro. Nesta sétima parte o personagem principal, Félix, é convidado a participar de uma assembléia de animais que tem como objetivo eleger seu novo rei. O objetivo deste trabalho é identificar o potencial analítico desta obra como uma alegoria da sociedade medieval construída neste universo literário.

O Livro das Leis e Posturas: uma proposta de análise - Marta de Carvalho Silveira (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O Livro das Leis e Posturas é uma compilação jurídica organizada no final do século XIV e início do XV que se referia a um conjunto de leis proclamadas pelos reis portugueses da dinastia de Borgonha a partir do reinado de Afonso II (1185- 1223), o primeiro monarca a mandar redigir as primeiras leis escritas em uma corte reunida na capital do reino, Coimbra, com a participação de representantes do clero e da nobreza. É justamente por tratar-se de uma compilação de leis que transcende os diversos reinados portugueses onde o desafio de manter a centralidade do poder monárquico e organizar o processo de reconquista do território português, que esta fonte se mostra particularmente interessante. O objetivo deste trabalho é, portanto, fazer uma leitura crítica da fonte buscando contextualizá-la e identificar o seu potencial analítico. 419

O pensamento goliárdico em Carmina Burana - Mayara Ramos Saldanha (UERJ)

A obra Carmina Burana é considerada uma das maiores representações das poesias goliárdicas e foi escrito entre os séculos XII e XIII, momento marcado por intensas transformações sociais, culturais, comerciais e religiosas que muito influenciaram o pensamento desse grupo. Oriundos do ambiente universitário, sendo clérigos em sua maioria, os goliardos se destacam pelo estilo de vida boêmio e pelos escritos profanos, que iam de encontro à moral e aos bons costumes pregados pela Igreja. O objetivo deste trabalho consiste em apresentar o manuscrito Carmina Burana, analisando seu contexto de produção e algumas de suas poesias com vias de melhor compreender o pensamento goliárdico e sua influência na sociedade medieval.

O sábado do Espírito de Joaquim de Fiore (1135-1202) - Valtair Afonso Miranda (Faculdade Batista do Rio de Janeiro)

Joaquim de Fiore foi um monge italiano conhecido especialmente por suas contrições para a filosofia da história e a hermenêutica de textos bíblicos. Esta comunicação analisa parte de uma de suas obras, o Expositio in Apocalypsim. Nela, ele rompe com a tradição agostiniana que identificou o milênio joanino com a história da Igreja, e propõe em seu lugar um período de felicidade na terra para toda a humanidade, sob a direção do Espírito Santo. O abade esperava algum tipo de continuidade entre o presente e o futuro, mas com a transformação de suas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------instituições sociais, especialmente da Igreja. Este período de descanso e contemplação não teve como ponto de partida, entretanto, diretamente o milênio do Apocalipse, mas sim as as reflexões históricas de Joaquim e a tradição do “refrigério dos santos”, que esperava uma fase histórica de felicidade na terra anterior à parousia. A emergência histórica deste tipo de milenarismo pode estar relacionada com a conjugação de fenômenos como o apocalipsismo e a reforma monástica.

Os sermões de santo Antônio de Pádua: análise de alguns elementos retóricos - Emili Feitosa de F. Olenchuk (UERJ)

Santo Antônio, nascido em Lisboa, mas sendo Pádua seu local de atuação missionária, viveu entre 1191 e 1231, estudou nos centros de ensino mais proeminentes de Portugal em sua época, Mosteiro de São Vicente e Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, o que lhe possibilitou assimilar vasto conhecimento que seria usado posteriormente na pregação e no combate aos hereges, sobretudo os cátaros. Em uma época de efervescência religiosa, em que os fiéis exigiam maior participação na vida eclesiástica, e de crescentes críticas, os movimentos mendicantes foram o sustentáculo de Roma: os dominicanos com os estudos e com a pregação, e os franciscanos com a pregação por meio sobretudo da vida exemplar. É também nesse período que tem início o estabelecimento de uma arte de pregar medieval, que possui como referência a própria prédica dos primórdios do Cristianismo, baseando-se principalmente em Jesus Cristo e no apóstolo Paulo; nos 420 Padres da Igreja, sobretudo Santo Agostinho e Gregório Magno; e, enfim, em diversos preceptores do século XIII. Santo Antônio valeu-se de todo o conhecimento adquirido nos mosteiros pelos quais passou e da ars praedicandi do período, mostrando-se bastante familiarizado com as questões de seu tempo. Critica severamente aos sacerdotes iníquos, organiza de forma sistemática a teologia da Trindade e se põe como eco estrondoso do IV Concílio de Latrão. Em seus sermões é possível verificar a presença de vários elementos persuasivos que possuem como objetivo alcançar a benevolência do ouvinte e, assim, atingir o propósito máximo, no dizer de Santo Agostinho: instruir para convencer e comover. Para alcançar tal propósito, fez amplo uso das cláusulas, das Ciências Naturais, dos Pais da Igreja, de escritores pagãos e dos bestiários medievais. Este último foi de vital importância principalmente na pregação contra os hereges cátaros, que negligenciavam a natureza como algo puro e de onde se poderia retirar preceitos espirituais ocultos. São esses os objetos, textuais e contextuais, a serem observados no presente artigo.

Um olhar sobre o Itinerário de Benjamin Tudela - Rayane Araujo Lopes (UERJ)

O Itinerário de Benjamin Tudela é uma obra considerada importante para literatura hebraica, pois permite um olhar sobre a cultura das comunidades judaicas medievais, além de contribuir para o estudo geográfico do próprio período, abordando trajetos importantes na configuração da história medieval. Como muitos judeus, Benjamin Tudela tinha gosto pelas viagens e pelo comércio, práticas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------comuns ao seu povo. Esta obra foi realizada durante o séc. XII e contém valiosas informações a respeito de diferentes regiões na qual se encontra as comunidades judaicas, no entanto é interessante notar que a atenção de Benjamin não é voltada apenas para a observação do seu povo, já que existem muitos detalhes em seu diário de bordo sobre as diversas comunidades com as quais teve contato comercial. O presente trabalho traz uma análise de O Itinerário de Benjamin Tudela, visando entender o contexto de sua produção e as pesquisas atualmente levantadas em torno dela, reconhecendo o seu potencial analítico em relação à história das comunidades judaicas.

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422 ST 43. Imagens da Morte: saberes e investigações interdisciplinares sobre a morte, os mortos e o morrer

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A crença no Purgatório e sua recusa no "Manual do Conforto para pessoas angustiadas e doentes", do teólogo luterano Johann Gerhard, de 1611 - Mara Regina do Nascimento (Universidade Federal de Uberlândia)

Dentro de um conjunto de obras de mesmo estilo e preocupações, o Manual do Conforto, de J. Gerhard, pode ser localizado como mais um dentre aqueles da linha dos ars morendi medievais. Segundo o seu primeiro tradutor do latim para língua vulgar, o pastor evangélico luterano Carl Julius Boettcher, “o Manual de Conforto é, na área da literatura luterana de edificação espiritual, uma obra primordial” e comparou o Manual “a um jardim com ervas medicinais, no qual a pessoa que necessita de cura pode encontrar as mais diferentes plantas”. Um jardim que fortaleceria a alma, onde o conforto estaria na medicina da palavra de Deus. Para Boettcher, “o livreto nunca deixará em apuros o pastor ou o leigo que precisam consolar almas aflitas. Aqueles que cuidam de doentes encontram neste livreto respostas preciosas às perguntas e dúvidas que podem afligir uma alma e com as quais as pessoas se debatem”. Tomando este livreto, em particular, e os manuais de preparação para a morte, no geral, esta comunicação pretende analisar os significados dos manuais como peças literárias de objetivo pedagógico, que educavam para o verdadeiro cristianismo, por meio das palavras de conforto às pessoas com necessidades espirituais. O alvo eram os que se encontravam doentes, à beira da morte, ou que eram vistos sob forte perigo diante das tentações do demônio sempre às espreitas, rondando os que ainda não haviam se deixado sensibilizar pela verdadeira Graça de Cristo, fonte única da salvação. Apelos ao 423 exercício da consciência interior, voltados à libertação da alma e à compreensão da Graça, o manual da boa morte luterano é expressão dos debates teológicos do período, em torno da liberdade do cristão, do amor ao outro, da Graça e da crença, ou não, no Purgatório.

A monumentalização do cemitério público do Caju: o mercado funerário nos Campos dos Goytacazes na segunda metade do XIX - Maria da Conceição Vilela Franco (UNIRIO)

O cemitério público de Campos dos Goytacazes foi criado na segunda metade do século XIX. Nasceu como um cemitério fracionado entre o espaço público e as necrópoles privadas a exemplo dos cemitérios da irmandades, ordens e confrarias que poderiam erguer catacumbas ou outro qualquer gênero de sepulturas dentro dos terrenos que lhes fossem concedidos para esse fim. Apesar de afastado das igrejas e do centro urbano, por ser bento, o cemitério público mantinha características de um campo santo o que indicava que era um lugar de sepultamentos destinado aos católicos e de jurisdição eclesiástica. Com base nesta perspectiva, este artigo tem por objetivo analisar a seu processo de monumentalização o que ocorreu através do implemento de um mercado funerário na urbe campista.

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A morte à venda: o comércio fúnebre de Antonio Alexandre Manoel no interior fluminense, RJ (séc. XIX) - Aguiomar Rodrigues Bruno (Cooperativa Educacional Contruir LTDA)

O artigo tem como objetivo discutir a morte e o morrer a partir da presença dos comerciantes fúnebres no interior fluminense, em especial na cidade de Piraí, no Segundo Império. Para tal intento, utilizaremos a metodologia micro historiográfica para analisarmos a casa fúnebre do comerciante Antonio Alexandre Manoel. A partir desse caso singular podemos reconstruir suas redes de comércio, mas, principalmente sua dinâmica comercial, no centro da cidade de Piraí. Por outro lado, podemos perceber que tal prática comercial estava difundida tão somente entre os cidadãos piraienses, mas, sobretudo, pelo interior fluminense. Assim, trazer à baila esses agentes históricos da morte ajuda-nos a compreender através da cultura material as sensibilidades mortuárias e suas respectivas práticas fúnebres entre os viventes.

A morte de D. João V (1689-1750) e as manifestações fúnebres no Rio de Janeiro - Anne Elise Reis da Paixão (UNIRIO)

O trabalho tem como proposta analisar duas orações fúnebres em homenagem ao rei Dom João V ditas no Rio de Janeiro em 1751. Enquanto encômios, as orações apresentavam as virtudes e as qualidades do monarca, ressaltando não apenas suas realizações políticas, como também seus feitos para elevar a fé católica em todos 424 os seus domínios. Dessa maneira, as orações fúnebres serão analisadas a partir de duas ideias principais, a saber, como um instrumento político de exaltação da monarquia e como um momento de meditação sobre a morte individual, servindo de exemplo aos súditos católicos.

A pena de morte na Legislação do Antigo Regime Luso - Bárbara Alves Benevides (UNIRIO)

O trabalho em questão explora a presença da pena de morte na legislação penal lusitana, dando destaque para as Ordenações Manuelinas e para as Ordenações Filipinas. Sendo assim, são analisados os contextos de criação das Ordenações mencionadas, bem como, as respectivas determinações referentes à pena de morte em cada uma das Ordenações, buscando estabelecer uma comparação entre as duas compilações legais. Além disso, o texto realiza uma reflexão a respeito da presença marcante da distinção social identificada nas delimitações de condenação e aplicação da pena última e do caráter severo da legislação estudada.

A Polêmica dos Mortos-Vivos na França Moderna (1693-1751) - Gabriel Elysio Maia Braga (UFPR)

Esta comunicação é fruto da dissertação de mestrado “O Natural e o Sobrenatural na Modernidade: A Polêmica Erudita sobre os Mortos-Vivos (1659 – 1751)”. Em nossa pesquisa, buscamos produções fontes que não tratassem somente dos relatos de ataques de vampiros provenientes dos Bálcãs, mas também aquelas que ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------propusessem algum tipo de esclarecimento sobre tal fenômeno. Para esta apresentação, propomos focar no debate público ocorrido no periódico Le Mercure Galant e nas posteriores produções datadas da primeira metade do século XVIII. A primeira publicação data de 1693, um artigo anônimo publicado no referido periódico francês. Nesta mesma revista há ainda outras duas produções do advogado do Parlamento de Paris, Marigner. Quanto às produções setecentistas, selecionamos a dissertação de Michaël Ranft, filósofo alemão, a qual circulou no meio letrado francês, e a dissertação do monge beneditino Dom Augustin Calmet. A pesquisa buscou as mudanças de sentido nas categorias de natural e sobrenatural e suas relações com a morte e a imaginação. Consideramos os mortos-vivos e os vampiros como elementos integrantes da obsessão pela morte do século XVII.

A representação da morte e suas modificações no seculo XX - Ingara Carolinne (Universidade AGES)

Visando as diferentes atitudes diante da morte, os rituais relacionados aos mortos identificados como ritos de passagens adquirem significados expressivos onde a morte é vista como momento de transição. O panorama histórico é traçado paralelamente, às suas práticas e significações expressas na memória coletiva das sociedades da época, cujos resultados são apresentados através da análise sobre as relações estabelecidas entre os vivos e os mortos nessas sociedades. Para tanto, buscou-se autores é entrevista de cunho oral que abordam o fenômeno da morte nas suas pesquisas e que tratam tais práticas mortuárias inseridas na sociedade pós- 425 moderna. No mundo hoje, consagrado á ciência e a técnica, atinamos a importância dessa posição: falar da morte é talvez o meio mais eficaz para superar nossa angustia.

Afirmação do poder régio na Dinastia de Avis: a morte de D. João I e suas representações nas crônicas oficiais do reino - Nathália de Ornelas Nunes de Lima (Universidade Federal Fluminense)

Em trabalhos divulgados nas últimas décadas, pesquisadores têm apontado que a partir dos séculos XII e XIII começa a ser operada no Ocidente Europeu uma mutação da concepção de morte, em que o fenômeno é experienciado de forma cada vez mais individualizada e, já nos séculos finais do período medieval, passa a ser utilizado para legitimar o poder dos príncipes. Nesse sentido, nossa principal hipótese de trabalho é a de que as representações dos membros da casa de Avis em seus cerimoniais fúnebres funcionaram como estratégias que contribuíram para a legitimação da dinastia e para a construção de uma memória oficial do reino de Portugal, ancorada na sacralização dos integrantes da família real. As crônicas compostas pelos cronistas oficiais do reino, que indicam um momento de transformações na historiografia produzida na Idade Média e são o tipo de fonte privilegiado em nossa análise, parecem-nos ter servido também a este propósito de legitimação do poder e de sacralização da segunda dinastia da monarquia portuguesa. Nestes textos, encomendados pelos próprios reis de Avis, é possível encontrar descrições pormenorizadas dos rituais funerários e de todo o aparato religioso, administrativo e militar que mobilizavam, além de referências à comoção ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------pública que tais cerimônias e cortejos teriam suscitado no reino. Na análise a ser empreendida, centraremos nossas atenções sobre os mecanismos envolvidos no processo de legitimação do poder régio durante a fase inicial da Dinastia de Avis, entre os séculos XIV e XV, momento que, para diversos historiadores, representa uma crise geral na Cristandade europeia ocidental, mas em que, ao mesmo tempo, estava em curso a formação do estado português. Assim, os cerimoniais fúnebres, bem como as crônicas régias, são elementos que adquirem grande importância, ao promoverem o culto a figuras da monarquia e se prestarem à construção de uma memória do reino. A partir da Crônica da Tomada de Ceuta por El-Rei D. João I, de Gomes Eanes de Zurara, e da Crônica de El-Rei D. Duarte, de Rui de Pina, procuraremos verificar como os dois cronistas relatam o episódio da morte de D. João I, de forma a investigar como os funerais régios foram utilizados como maneiras de consolidar o poder e a sacralidade da Dinastia de Avis.

Artes Musicais e Ciências Sociais - Representações musicais na morte de crianças. Do ciclo das crianças mortas, kindertolieder, de Gustav Mahler ao orixá Abikú do candomblé Ketu - Vandelir Camilo Neves Deolindo Mario (Theatro Municipal)

Essa comunicação pretende problematizar a representação e o legado de músicas em homenagens a crianças e adolescentes mortos em diferentes contextos sociais. Em um primeiro momento, teremos como o objeto o ciclo das crianças mortas, Kindertotenlieder de Gustav Malher,(1860-1911), compositor judaico checo- 426 austríaco, maestro e ativista influente em seu tempo, a obra foi composta no início do século XX, e representou um protesto ao elevado índice de mortalidade infantil na Europa – até o século XIX, na mentalidade ocidental prevalecia a naturalidade e aceitação elevadíssima de mortes de crianças. Da mesma forma, o povo Ioruba recorre a rituais e músicas, para demonstrar seu descontentamento na morte de crianças em sua sociedade, o orixá Abikú representa aquele que é “nascido para morrer” na tenra idade na cultura desse povo, que, através de canções de protesto com usos satíricos, e de louvação buscam consolo na morte de suas crianças e adolescentes (AJIBADE). A comunicação não pretende abordar aspectos da semiologia, suas relações interpretativas ou composicionais, e nem aspectos da etnomusicologia, ou seja, a relação dos símbolos e suas subjetividades com as obras. Atendendo a proposta desse encontro, pretende-se dialogar essas músicas, com as ciências sociais, entendendo- as como obras de arte, na medida em que diferentes significados são atribuídos no imaginário e na trajetória dessas músicas, assim sendo, buscaremos referenciais teóricos nas ciências sociais para contextualizaremos essa comunicação, a partir dos sentidos relacionadas ao conceito de representação e legado. No caso especifico dos sentidos de representação busca-se compreender as condições sociais, simbólicas e históricas que compõe esse quadro; no conceito de legado, busca-se analisar como essas obras vem sendo atualizadas e constantemente projetadas em rememorações em contextos diversos. Trata-se de um estudo de caso que buscou identificar os agentes, as temporalidades e as diferentes atribuições que alimentam o capital social dessas obras artísticas.

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Caronte e a representação da morte em Atenas no periodo Clássico - Maria Regina Candido (UERJ)

Os mitos e ritos relacionados a morte fazem muito mais do que organizar sincronicamente o conjunto social dos atenienses, podemos argumentar que através deles, apreendemos as mudanças e inovações presentes na sociedade de Atenas. Além da figura do morto, ser representado nos lécytos de fundo branco, encontramos junto a representação do morto, o barqueiro Caronte, personagem mítico ausente na poesia de Homero. A percepção da sua ausência nos leva a argumentar a possibilidade de Caronte ser uma construção tardia cuja existência restringia-se ao Hades. A indumentária de Caronte nos leva a supor que um segmento social emergente buscou construir a sua jornada para o Hades sob uma outra orientação, ou seja, uma nova maneira de usar os símbolos referentes a morte, que deixa de representar a bela morte dos aristhoi para se aproximar do cidadão emergente das atividades comerciais e mercantis do espaço urbano.

Da Igreja ao Campo Santo: o nascimento dos cemitérios e o monopólio da morte no Brasil do século XIX - Leonardo Oliveira Silva (UFRGS)

O espaço cemiterial público conquistou seu lugar definitivo no Brasil após décadas de debate e muito esforço do discurso médico higienista. A proibição do sepultamento intramuros, prática herdada dos colonizadores portugueses, foi o motivo principal para o surgimento dos cemitérios, uma vez que impôs a 427 transferência do espaço de enterro da igreja para o campo santo a partir de 1850. A transferência da moradia dos mortos implicou a configuração de um novo espaço da morte dentro da cultura funerária dos vivos e, consequentemente, a perda do domínio eclesiástico sobre a morte, uma vez que, durante séculos, os mortos foram inumados no interior de igrejas ou em suas circunjacências, prática adotada por grande parte da população brasileira no século XIX. O presente estudo visa reconstruir a trajetória dos mortos no período em questão, com especial atenção ao esforço eclesiástico de manutenção do monopólio da morte no interior de seus espaços intramuros.

ENTRE A VIDA E A MORTE: Tráfico, escravidão, doença e morte entre a África e o Brasil - Cláudio de Paula Honorato (UNIRIO)

O presente trabalho tem como objetivo analisar o tráfico, escravidão, doença e morte entre a África e o Brasil, com ênfase no Rio de Janeiro, para tanto utilizaremos as memórias do intelectual baiano Antonio Oliveira Mendes, apresentadas à Real Academia de Ciências de Lisboa, em 1793, seu texto trata da natureza e clima das regiões africanas, o modo de vida, liberdade, os costumes dos povos africanos e como eram transformados em escravos, as diversas doenças em que estavam sujeitos, assim como as formas de tratamento e morte. Aqueles que venciam essas etapas eram finalmente entregues aos compradores brasileiros e transportados pelo Atlântico e entregues aos senhores no Brasil que os utilizariam até a morte. Utilizaremos também o relatório do provedor-mor da saúde, que descreve o estado de saúde em que os africanos escravizados chegavam ao porto ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------do Rio de Janeiro, como era feito o controle da saúde e higiene no sentido de prevenção das doenças, como era feito o tratamento dos cativos nos lazaretos, e os embates entre a Provedoria-Mor da Saúde e os negociantes de africanos novos escravizados na cidade.

Hierarquia nas senzalas: a morte como demonstrativo de status social - Michele Helena Peixoto da Silva (UNIRIO)

Um casamento, uma moradia separada ou um pedaço de terra para cultivo próprio são benfeitorias que durante o período colonial da América portuguesa poderiam representar o status social dos cativos de um engenho. Mas para além desses benefícios apresentados, a morte também poderia ser responsável pela representatividade que um escravo tinha dentro de sua comunidade, pois a posição social de um indivíduo nesta época também poderia ser refletida através dos ritos fúnebres e pelos locais de sepultura, demonstrando que mesmo depois da morte seu status social poderia ser identificado. Este é o objetivo desta comunicação, apontar a existência de uma hierarquia entre os cativos através dos ritos fúnebres e dos locais de sepultamento. A ideia é mostrar que mesmo na condição de cativo, pertencendo a camada mais inferior da sociedade colonial, ainda existia a possibilidade de um escravo receber um sepultamento considerado digno e em local privilegiado pela população colonial devido a boa relação que tinha com seu próprio senhor. 428 Morte em São Cristóvão: Uma breve análise sobre a morte e o morrer na cidade de São Cristóvão no século XIX (1864-1886) - Márcia Oliveira Gama (Universidade Federal de Sergipe)

A cidade de São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do Brasil, fundada por Cristóvão de Barros no ano de 1590 é localiza-se em Sergipe, estado em que foi capital até o dia 17 de março de 1855, quando o presidente da província de Sergipe, Inácio Barbosa elevou o povoado Santo Antônio do Aracaju a posição de cidade de Aracaju e realizou a mudança da capital da província. O presente trabalho faz parte da pesquisa em andamento “Morte em São Cristóvão: Estudo sobre a história da morte na Cidade de São Cristóvão de 1864 a 1886.” (título provisório) do mestrado Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Sergipe e tem como objetivo apontar as primeiras impressões da morte e do morrer na cidade de São Cristóvão no século XIX (1864-1886), pontuando temas como principais causas de morte, rituais fúnebres e locais de inumação. Para tal, serão utilizados testamentos, inventários e o livro de assentamento óbito número 1 da Paróquia Nossa Senhora da Vitória, que é a Igreja Matriz da cidade.

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Os cativos e suas covas: um estudo sobre a hierarquização das práticas de sepultamento entre os escravos do Rio de Janeiro setecentista - Cláudia Rodrigues (UNIRIO)

A partir da análise das práticas de inumação entre escravos do Rio de Janeiro colonial, buscarei compreender as hierarquias existentes entre os cativos, expressas nas variadas localizações de suas covas nas igrejas católicas de diferentes freguesias. Ao contrário do que parte da historiografia costumou afirmar sobre o sepultamento dos escravos se localizar do lado de fora das igrejas, buscarei demonstrar a existência de covas nas quais alguns escravos “privilegiados” foram sepultados não só no interior dos templos, mas em sepulturas mencionadas como sendo de sua propriedade.

Os testadores libertos e suas irmandades por ocasião no Rio de Janeiro setecentista - Marcus Vinicius Rubim Gomes (UNIRIO)

Este trabalho esta sendo desenvolvido a orientação da Profª Drª Claudia Rodrigues e esta vinculado ao projeto “As reformas pombalinas e a prática testamentária no Rio de Janeiro colonial”, desenvolvida pela mesma professora. O papel das Irmandades religiosas no período colonial no contexto da morte era cuidar do corpo do irmão falecido, prepararem o velório de acordo com seus pedidos, realizarem procissões em sua memória, entre outras atividades requisitadas pelo morto. A justificativa de todo esse aparato era a necessidade daquele, cuja morte se 429 aproximava, de buscar a salvação de sua alma no além-túmulo, quando esta partisse do seu corpo. Em minha pesquisa terei como foco a relação de homens de cor com as suas Irmandades. Farei isto a partir da análise de óbitos e testamentos, onde consigo encontrar passagens que transmitem direitos e deveres de ambas as partes. É possível, através destas fontes, determinar vários aspectos desta relação, como o pagamento de anuidades, o pedido e a execução de Missas e demais sufrágios em nome do confrade, a necessidade de o corpo ser acompanhado por membros da associação no cortejo fúnebre, entre outras disposições. É importante também para o prosseguimento do trabalho entender a devoção desses irmãos. A devoção aos santos nos mostram tendências que expressam também relações com uma africanidade na relação dos membros com os mortos por meio de suas confrarias. A partir disso, através da perspectiva do testador, é possível estabelecer perfis de membros de determinadas Irmandades, ou seja, grupos que se identificam por alguma razão as devoções que as ligavam as ditas confrarias e assim entender a relação entre libertos e as Irmandades de homens de cor na iminência da morte.

Planejamento no decurso da vida para uma “boa morte”: testamentos e ritos fúnebres de alforriados (Mariana, Minas Gerais, Século XVIII) - Felipe Tito Cesar Neto (UFRRJ)

Esta comunicação versa a respeito do estudo sobre a prática testamentária e ritos fúnebres de alforriados, moradores no termo de Mariana, Minas Gerais, no século XVIII. Para esta pesquisa, utilizaremos os testamentos desses egressos do cativeiro com a premissa de compreender suas ações e estratégias utilizadas como forma de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------conseguir dispor de suas últimas vontades, tendo em vista obter a salvação da alma. Por meio dos testamentos desses alforriados, tornar-se-á possível analisar os vestígios de suas preocupações em vida com o momento da morte, especialmente no que tange os preparativos para o sepultamento, pois uma morte inesperada era o medo que motivou muitos a planejarem seus momentos finais. A Igreja, desde o Concílio de Trento, orientava seus fiéis a redigirem os testamentos em perfeita saúde como forma de refletirem sobre o derradeiro momento. Todavia, boa parte dos testadores solicitavam suas disposições testamentais estando de proximidade com a morte – mas em perfeito juízo e entendimento – por estarem com alguma moléstia ou ferimento grave. Essa escolha, de preparar-se para a morte nas horas finais, era devido à crença de que, por estarem mais fragilizados e ameaçados pelo Demônio, seria mais adequada a realização dos ritos e solicitações à Corte Celestial contra a condenação eterna, no Inferno. Devido à necessidade de realizar tal prática por almejarem uma “boa morte”, esses indivíduos agiram conforme seus interesses, recursos e orientações valorativas, com o intuito de lograrem sucesso em suas ações. Acreditamos que as estratégias desses alforriados nesses documentos de últimas vontades não estavam somente restritas à salvação da alma. Podendo demarcar as hierarquias presentes em vida e na morte, a prática testamentária também se constituiu como um importante discurso de poder no Antigo Regime, frente às características de uma sociedade estamental e escravista – como era a América Portuguesa –, viabilizando o estudo de outros subtemas inseridos tanto na fonte testamental, quanto na temática da história da morte. Nesta apresentação, apontaremos os rumos que esta pesquisa de mestrado tem seguido, bem como as 430 possibilidades que podemos ainda percorrer nos estudos sobre a prática testamentária e os ritos fúnebres, envolvendo os alforriados, nas minas setecentistas.

Presença sulamericana no Brasil ( Rio de Janeiro 1950/2018) - Maria Teresa Toribio Brittes Lemos (UERJ)

A presente comunicação trata do fenômeno migratório andino para o Brasil e especialmente para o Estado do Rio de Janeiro. A presença de imigrantes sulamericanos no Estado do Rio de Janeiro, é recente faz parte dos deslocamentos populacionais contemporâneos para o Brasil, atraídos pelo seu desenvolvimento. Em comum, essas duas correntes migratórias optaram pela saída de seus países para reconstruir suas vidas em outros espaços sociais, devido à instabilidade econômica, conflitos políticos, miséria, diferenças sociais e perseguições políticas, sem contar com os grupos de estudantes e profissionais liberais atraídos pelos acordos bilaterais. O estudo visa a assinalar as dificuldades que esses imigrantes enfrentavam para se instalar nos novos territórios, sofrendo toda sorte de discriminações, preconceitos, sentimento de xenofobia, indiferença dos governos locais em recebê-los e dificuldades de obter vistos de permanência. Também apresenta questões culturais fundamentais para análise, como a identificação das marcas culturais, memória coletiva, práticas e permanências culturais, representações simbólicas e ressignificações, confrontos de imaginários e cosmovisões, contribuições essenciais para a construção das novas identidades nos países em que chegam. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Reescrituras de la muerte. La proliferación discursiva como modo de re- actualizar-(la) - María Cecilia Colombani (Universidad de Morón/Universidad Nacional de Mar del Plata)

El proyecto de la presente comunicación consiste en analizar la producción discursiva en torno a la muerte que cierto sector de la sociedad salteña parece desplegar como ritualización funeraria y que toma cuerpo material en el periódico seleccionado. A partir de la fuerte impronta discursiva que analizaremos en la práctica, tomaremos algunos aspectos teóricos de M. Foucault, presentes en El Orden del Discurso, donde el autor problematiza la alianza entre poder y discurso y entre discurso y deseo; intentaremos pensar en qué medida el discurso constituye una herramienta de poder para re-actualizar la muerte, hacerla presente y mantenerla en acto y en qué medida el discurso constituye la vehículo del deseo para conjurar la presencia de la muerte. Excavar la sección denominada Obituarios, permite ver qué efectos de sentido emergen de la práctica social. Los efectos de sentido emergentes de esa arquitectura discursiva permiten visibilizar un orden del discurso tendiente a poner en palabras el estatuto de la muerte como modo de hacerla presente y visible en el marco de una arquitectura discursivo-afectiva que su presencia parece exigir. De este modo, la muerte encuentra su logos y el dispositivo discursivo que la nombra y la contiene dentro de unos límites precisos y legitimados, también. Acercamiento foucaultiano al territorio del discurso, en la medida en que es, precisamente a través de su materialidad, cómo se visibilizan los 431 juegos de construcción de la identidad social y cómo se construyen las fronteras entre la vida y la muerte, entre lo Mismo y lo Otro.

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432 ST 44. Indígenas, camponeses e quilombolas: caminhos para os (des)encontros com novas e outras narrativas

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A historiografia indígena e a possibilidade de novas interpretações - José Fernandes Neto (Universidade Estadual de Goiás)

Este trabalho tem como intuito analisar as abordagens historiográficas acerca dos povos indígenas brasileiros, do processo de formação do mundo colonial ao pós- colonial. Produzido através de pesquisas bibliográficas, o mesmo visa fomentar uma análise historiográfica que compreende o indígena como personagem histórico ativo na construção da história do Brasil. Dando enfoque as novas perspectivas históricas acerca das relações de poder entre nativos e colonizadores, far-se-á uma análise sobre a visão obsoleta e errônea de que os povos indígenas eram totalmente sem interesses e sempre submissos ao colonizador. Nas novas abordagens, a perspectiva do indígena acerca das relações travadas com o colonizador é objeto de interesse, o aldeamento, por exemplo, passa a ser analisado também sobre a visão do indígena. O aldeamento era importante para a manutenção da colônia e para os índios, os quais, a partir desse espaço, construíam uma relação de pertencimento à colônia, além, é claro, de espaço de resistência. As novas abordagens históricas percebe que a cultura dos povos indígenas não foi eliminada, apesar de toda a violência no processo de colonização, muitas foram ressignificadas.

A organização do trabalho no espaço rural da região do Vale do rio Tocantins no século XVIII - Carlos Eduardo Costa Barbosa (Universidade Federal do Pará) 433 O objetivo deste artigo é evidenciar, através das correspondências com o Governo da Capitania, deste com diversos agentes coloniais e com a Metrópole, o processo de ocupação da calha do rio Tocantins, observando a organização territorial que possibilitou o rearranjo das unidades familiares em estruturas relativamente autônomas de produção e consumo, como parte do projeto agrário, que foi caracterizado pela introdução de novas técnicas produtivas, incorporação de novas terras à agricultura seguida de novos gêneros e métodos de cultivo. O projeto agrário implantado pela administração colonial refletiu sobre os diversos sujeitos que compuseram o mundo rural paraense ao longo dos Setecentos, principalmente na região do Vale do rio Tocantins devido à proximidade de Belém. Nesta região, observamos a migração de colonos, a miscigenação, e o processo de dispersão populacional, como fatores que contribuíram para gestar famílias com pré- condições endógenas para viver e produzir sem dificuldades no meio ambiente amazônico, reproduzindo-se apenas pelo trabalho de seus membros. Nesse sentido, essa população dispersa vai se apropriar dos espaços possíveis e desenvolver atividades agroextrativistas. O que precisamos compreender de forma clara é que a agricultura colonial se equilibrava dentro de uma diversa gama de influências que determinavam suas condições e características, assim como perceber a múltipla composição do mundo rural. Dessa forma, este trabalho procura enfatizar a participação dessa população dispersa, contribuindo para uma compreensão da complexidade de organização da sociedade colonial e do dinamismo existente na região do Vale do rio Tocantins setecentista.

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A transferência dos Guarani Mbya para Carmésia - Kalna Mareto Teao (IFES)

Este trabalho tem por objetivo principal compreender o processo histórico da trajetória do povo guarani mbya do Espírito Santo no período de 1973 a 1979. Este artigo visa analisar o período no qual os Guarani Mbya se estabeleceram forçadamente na Fazenda Guarani, em Carmésia, em Minas Gerais. Tal local era uma espécie de reformatório indígena do período da ditadura militar que buscava inserir os índios considerados “desajustados” dentro da lógica do trabalho e da integração nacional. Índios de diversas etnias, como Guarani mbya, Tupinikim, Krenak, Karajá, dentre outros, foram agrupados no mesmo espaço, sem levar em conta suas características histórico-culturais e eram considerados um problema no período militar. Dessa história podemos constatar que os índios eram considerados um entrave ao projeto de desenvolvimento econômico do Espírito Santo e do período da ditadura, pois seus modos de vida contrastavam com o modelo que queria se estabelecer no Brasil, de um Estado atrelado ao capital internacional, produtor e exportador de matéria prima, marcado por um período de forte censura e repressão, que inclusive cerceava as culturas indígenas de se expressarem e controlavam fortemente os movimentos de deslocamentos dos povos indígenas. Além disso, a história do povo Guarani Mbya é entrelaçada aos demais povos, como os Tupinikim e os Krenak. Desses entrelaçamentos de encontros, se estabelecem relações de amizade, apoio mútuo, alianças políticas pelas conquistas territoriais e de direitos coletivos. As fontes utilizadas são jornais, relatos orais e 434 relatórios da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

A Vitória a Minas e os índios dos Sertões do Leste - Marina Mônica de Freitas (Universidade Federal Fluminense)

Os estudos sobre os povos indígenas brasileiros têm despertado o interesse de um número cada vez mais significativo de historiadores nas últimas três décadas. No entanto, ainda são poucos os trabalhos que tratam das interações entre indígenas e ferrovias nos sertões do Brasil republicano, temática que será focada na comunicação. A partir de fragmentos da história da Estrada de Ferro Vitória a Minas, extraídos, principalmente, do relato do engenheiro ferroviário Ceciliano Abel de Almeida, e de informações sobre os Krenak, constantes em documentos produzidos por funcionários do Serviço de Proteção ao Índio, a comunicação pretende apontar entrelaçamentos entre as histórias da ferrovia e dos Krenak, sinalizando modificações que o caminho de ferro imprimiu à trajetória de grupos indígenas que, até o início do século XX, eram senhores dos Sertões do Leste, território este que compreendia os vales dos rios Doce, Jequitinhonha e Mucuri, abrangendo áreas dos atuais estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. Um dos elementos analisados no apontamento daquelas interações será a destruição ambiental provocada pela ferrovia, obra sustentada pelo ideário de uma época que entendia as matas virgens e os indígenas como obstáculos à civilização, ao progresso e à modernidade.

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Aldeamentos em Goiás: Politicas, resistência e formação de identidade - Braulio Taruel da Rocha Fonseca (Universidade Estadual de Goiás), Ronan Bezerra de Araújo (Universidade Estadual de Goiás)

A escolha do tema se justifica pela atual necessidade compreender as abordagens dadas pela historiografia acerca dos indígenas do Brasil. Do período colonial os povos indígenas até meados da década 1980 eram vistos apenas sob a ótica do colonizador, do europeu. Sendo que a visão dos próprios índios ignorada e por muito tempo se proclamou que as populações indígenas não teriam sequer uma história própria. Partindo da premissa que todo homem é um sujeito histórico, as etnias indígenas no Brasil, assim como os colonizadores têm sua cosmovisão de mundo e percepção própria de seu passado e presente. Como medida da coroa portuguesa a fim de integrar as populações indígenas dentro do território colonial foram criados os aldeamentos, que basicamente serviram como um local onde as populações indígenas eram agrupadas independentemente da etnia com o proposito de serem catequizados, assim como de trabalharem para a coroa. Embora os aldeamentos tenham sido criados através do interesse de Portugal em suprir mão de obra para a colônia, os índios também tinham seus interesses que variava de aceitar o aldeamento, quanto em empreender resistência. Os aldeamentos na capitânia de Goiás são tardios em relação aos de outras como do Rio de janeiro ou Pernambuco, embora suas trajetórias se assemelhem em diversos aspectos é importante destaca como cada região recebeu a políticas de aldeamento e sua aceitação e formas de resistência, em relação às medidas empregadas pela coroa a 435 fim de estabelecer a “ordem”. Então buscando compreender o aldeamento como esse espaço de resistência indígena, partimos seguintes indagações, qual o proposito da criação de aldeamentos, sobretudo em Goiás? Como foi a recepção deste para a população indígena, assim como sua eventual resistência e aceitação? Motivos de sucessos e insucessos desses aldeamentos? É correto dizer que foi criado dentro dos aldeamentos uma nova identidade, a do índio aldeado? Portanto cabe ao historiador buscar problematizar essa relação de poder que envolve o colonizador e as populações indígenas, ao invés de enxergar a história do processo de aldeamento somente pela ótica do colonizador europeu. Através de estas novas perspectivas, visamos demonstrar que, longe de serem totalmente submissos e impotentes, os povos originários do Brasil agiam de acordo com seus próprios interesses.

Educação e memória: a trajetória da Escola Municipal do Albino - Maria Sebastiana Reges da Silva (Universidade Federal do Tocantins)

Este trabalho tem o intuito de analisar a trajetória da Escola Municipal Albino, navegando entre o passado e o presente, por meio de memórias, bem como das experiências pedagógicas dos professores responsáveis pelo surgimento e pelo funcionamento atual dessa instituição de ensino, localizada no campo. A referida unidade escolar fica em uma Comunidade remanescente quilombola/Kalunga, na região do Mimoso-Albino, aproximadamente a 100 km da cidade de Paranã-TO. Segundo informações de moradores da Comunidade, a Escola Municipal Albino foi fundada em agosto de 1972. Sem prédio próprio, a escola funcionou durante ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------muitos anos na residência do docente da instituição, em classe multisseriada. No final de 2009, foi construída pela prefeitura uma sala de aula, em um único cômodo. Nessa estrutura, funcionava sala de aula e cantina. Em 2014, o município construiu a sede da escola, em alvenaria, porém não foi realizado o acabamento da construção. Também não houve a entrega dos móveis necessários, o transporte escolar não foi devidamente organizado, as estruturas necessárias para o sistema de saneamento básico, energia elétrica não foram devidamente construídas. Diante desse contexto, para a produção desta pesquisa, que está em andamento, a abordagem metodológica utilizada é a pesquisa qualitativa, com a finalidade de buscar compreender a memória da escola em questão no âmbito da Educação Quilombola e do Campo. Questionários semiestruturados, na modalidade oral, serão aplicados com o primeiro professor e fundador da unidade escolar, meus pais e pais de alunos. Minhas memórias como aluna e como atual docente da referida instituição de ensino também serão arroladas neste estudo. Serão discutidos, nessa perspectiva, se os direitos dos educandos quilombolas estão sendo respeitados. Para tanto, a pesquisa fundamenta-se nos pressupostos da Educação do Campo (ARROYO, 1999), nas concepções de Freire (2005), nos estudos acerca da Educação Escolar Quilombola (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola. Resolução nº 08/2012 CNE/CEB Brasília, DF) e em conceitos gerais de Memória (TEIXEIRA & FREIXO, 2010). Enfim, fica claro que já houve mudanças no decorrer destes 45 anos de existência da Escola Municipal Albino, considerando sua fundação e permanência. Contudo, é evidente que há a continuidade de situações precárias no que concerne à educação escolar desses 436 quilombolas/camponeses. É preciso discutir a realidade em tela em prol da garantia de direitos.

Escravidão e cultura política no médio São Francisco - José Ricardo Moreno Pinho (Universidade do Estado da Bahia)

Trata das estratégias de conquista de liberdade. Região de fronteira e formas de invisibilidade quilombola, alianças sociais, reelaboração da condição social.

Estudo do currículo do curso de licenciatura em educação do campo/campus Arraias - Joélia dos Santos Rodrigues (Universidade Federal do Tocantins)

O presente trabalho tem por objetivo apresentar os dados de uma pesquisa em andamento, cujo objetivo é o estudo sobre a formação de professores, tendo como objeto de estudo, o currículo do curso de Licenciatura em Educação do Campo Códigos e Linguagens – Artes Visuais e Música, da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Arraias, especificamente em aspectos relacionados às habilitações Artes Visuais e Música, tendo como base o processo de formação dos primeiros graduandos. Para isso, foram selecionados a partir da análise documental, o Projeto Pedagógico do Curso, Ementas das disciplinas, Diretrizes Nacionais de operacionalização para a Educação do Campo, Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs/2015) para a formação inicial e continuada dos profissionais do magistério da educação básica, o Plano Nacional de Educação (2014/2024) e revisões bibliográficas. O referencial teórico-metodológico ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------fundamenta-se em autores das áreas da educação, currículo, Artes e Música: Apple(2011), Sacrístan(2000), Santomé(1998), Queiroz e Marinho(2005), Dozza(2009); Pereira e Silva(2017). Estudos apontam que a partir da década de 90, suscitaram inúmeras indagações e reflexões acerca do currículo no contexto da política educacional. Ressaltam a importância do professor e da comunidade escolar na organização e materialização do currículo, pois os mesmos são agentes principais na construção do currículo que se materializa nas escolas e nas salas de aulas, portanto o currículo associa-se ao conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas. Logo, é fundamental compreender de forma crítica como o currículo e as práticas pedagógicas se fazem na escola, visto que as instituições e seus agentes distribuem valores ideológicos mantendo conhecimentos necessários à manutenção das composições econômicas, políticas e culturais de uma minoria (APPLE, 2011). Nessa direção, os dados iniciais do estudo apontam a necessidade de uma reestruturação do projeto pedagógico do curso, no sentido de discutir e promover alterações no que diz respeito à fusão, desmembramento, inclusão e/ou exclusão de disciplinas, assim como uma revisão criteriosa das ementas. Assim, este estudo se reveste de importância devido à necessidade que se tem de estudar a estrutura curricular, como uma alternativa propositiva para uma possível reformulação do PPC, propiciando de certa forma a resolução de possíveis problemas encontrados, como forma de garantir um melhor desempenho do curso.

Fiando memórias: uma cronologia das técnicas de tecelagem no Brasil 437 colônia - Erica Barros de Almeida Araujo (UFRRJ)

A presente pesquisa, ainda em andamento, tem como objetivo apresentar uma cronologia das técnicas de tecelagem no Brasil Colonial. A manufatura têxtil, uma das poucas permitidas pela metrópole portuguesa na colônia, devido ao exclusivismo comercial, se desenvolve na América portuguesa a partir do encontro das culturas indígenas e portuguesa na utilização de técnicas distintas de tecelagem, assim como também, o uso de fibras diversas como algodão e a lã na confecção de roupas e artefatos. O ofício do tecelão buscava produzir volume considerável para suprir a necessidade da população da colônia e implicava um trabalho árduo, sendo executado principalmente pela mão de obra escrava indígena em diversas regiões do Brasil.

Folia do Divino em Arraias -To na Perspectiva da Identidade Cultural - Flavio Alexandre Martins Xavier (UFT)

Nesta pesquisa discutiremos a religiosidade popular através da análise antropológica das Folias nas regiões: do Sertão do Governo, do Sertão da Terra Nova e das Caatingas. Essa festa de caráter popular anuncia a presença do Espírito Santo, tendo como ponto de encontro a praça da Matriz da cidade de Arraias. É uma cerimônia estudada, com cruzamento das bandeiras que percorrem as regiões da caatingas e sertões. O presente trabalho se justifica em reforçar os aspectos históricos, mostrando a riqueza e a dimensão de uma festividade tão importante para a comunidade. Sabemos que a democratização da cultura é um meio através ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------do qual podemos integrar as pessoas em torno de atividade educativas e formativas. Nosso estudo também é relevante para as ciências sociais, no caso a antropologia, pois acreditamos que ao compreender uma manifestação da cultura popular tão importante para as comunidades rurais, podemos contribuir com os projetos de resgate cultural. Esse estudo servirá para o reconhecimento da religiosidade da comunidade local e valorização da cultura como caminho para enfrentar os desafios da modernidade. Em relação aos pontos de vista metodológicos da pesquisa, a estratégia utilizada será de cunho de base qualitativa, já que esse tipo de abordagem valoriza o discurso e as especificidades das experiências vividas, em torno do processo identitário das Folias. Para isso, serão utilizadas entrevistas, que buscam abordar respostas, pensamentos e anseios dos indivíduos. Para que possamos investigar esse assunto, utilizaremos as contribuições da História Oral como metodologia de pesquisa, pois consideramos que a abordagem em torno da oralidade é fundamental para a compreensão das experiências sociais vividas pelos Foliões. A utilização das fontes orais será a base de nosso estudo, uma vez que as fontes escritas são quase inexistentes. Como vemos, temos o intuito de valorizar os saberes histórico culturais e colaborar para o resgate cultural da folia já, que essas experiências foram silenciadas durante muito tempo. Acreditamos que esta pesquisa contribuirá com os estudos das festas religiosas que marcam a identidade e memória coletiva. Neste sentido, buscaremos preservar o patrimônio cultural religioso de pessoas simples que contribuirão efetivamente para o processo histórico cultural das comunidades rurais. 438 Formação de professores e o fortalecimento da identidade campesina - Wellison da Silva Rocha (UFT)

Na presente comunicação discutiremos sobre a formação de professores dentro do Curso de Licenciatura em Educação do Campo. Para tanto, trabalharemos com o contexto da criação e a implantação desse curso na Universidade Federal do Tocantins no município de Arraias. A metodologia para essa pesquisa será através pesquisa bibliográfica e a História Oral. A pesquisa será realizada com os alunos da primeira turma do curso de 2014, os quais se encontram hoje no 8º período. É sabido que para ameniza a grande deficiência na formação dos docentes, o Governo Federal elaborou programas vinculados à formação de professores, onde propõe um desenvolvimento para que o docente que atua no campo tenha mais capacidades formativas. Nesse sentido, trataremos sobre os benefícios que o curso trouxe para as pessoas que já tinham uma atividade direta com a docência no campo, pois de acordo com os dados recolhidos durante a pesquisa podemos perceber a grande deficiência na formação dos professores que estão dentro das salas de aula. Veremos, também, o quanto a formação de professores para o campo aborda as questões características da identidade do campo. Sendo assim, essa pesquisa tem o objetivo de dar voz aos alunos do curso, onde os mesmos podem falar sobre suas experiências, vivências e projetos futuros.

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Fragmentos históricos da resistência ameríndia no Posto Indígena Bananal – São Paulo (1923-1967) - Vladimir Bertapeli (UNESP)

Desde o século XIX, os grupos Tupi que habitavam a costa litorânea de São Paulo foram considerados extintos por pesquisadores e autoridades políticas. Mas, no limiar do século XXI, eis que surgem famílias indígenas que se autodenominam, como também são assim identificadas, como Tupi ou Tupi Guarani. A presente comunicação versa sobre as possibilidades de uma etnografia histórica acerca do processo de identidade destes Tupi que vivem na costa meridional atlântica do continente. Para isso, parte-se de uma articulação entre a memória oral destes indígenas, bem como os documentos escritos que podem ser encontrados nos acervos do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), na Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Arquivo Público do Estado de São Paulo e nos arquivos municipais e cartórios particulares das cidades litorâneas paulistas. Deste modo, partindo de uma crítica à etnonímia compósita Tupi, Guarani e Tupi Guarani, trata de apontar os caminhos para uma reconstituição genealógica das relações entre parentelas e grupos locais Tupi, Guarani e Tupi Guarani em suas múltiplas articulações identitárias nuançadas no tempo e no espaço. Para isso, a reconstituição remonta ao final do século XIX, referenciada ao alcance da memória oral Tupi e Tupi Guarani, por um lado e, por outro, aos primeiros registros destes etnônimos nas fontes documentais disponíveis, e abrange o processo de retomada territorial que culmina na primeira década do século XXI. Tem como marcador temporal a memória oral dos Tupi e Tupi Guarani quanto ao processo de retomada e o 439 momento em que surgem os primeiros registros documentais relacionados ao uso dos mencionados etnônimos.

Movimentos, Redes De Relações E Práticas Culturais Chané- Guaná/Kinikikau Em Fronteiras (1767 – 1864): Uma Primeira Abordagem - João Filipe Domingues Brasil (UNIVERSO)

A etnia indígena Kinikinau, que após ter sido declarada extinta habita hoje a Aldeia São João, no Mato Grosso do Sul, tem uma etno-história que remonta à ocupação de diversos territórios nas regiões denominadas como Chaco e Pantanal. Sua origem identitária é associada aos Chané (Guaná), povo indígena que migrou em tempos pré-coloniais para as regiões supracitadas e esteve intricada nas lógicas coloniais inerentes a elas, como nas disputas fronteiriças entre Portugal e Espanha, por exemplo. O presente artigo pretende, através de uma primeira abordagem, compreender as redes de relações estabelecidas pelos Chané-Guaná/Kinikinau com os diferentes sujeitos históricos em variados contextos sociais, que marcam os trânsitos e deslocamentos da etnia do Chaco para o Pantanal entre os séculos XVIII e XIX. Tal perspectiva de análise permite colocar em evidência o protagonismo Kinikinau frente à história da região e compreender aspectos fundamentais acerca do seu processo de etnificação. A pesquisa, portanto, está baseada em uma incipiente análise acerca da ocupação da região pantaneira pelos Chané- Guaná/Kinikinau, investigação acerca das redes de relações estabelecidas por eles e do processo de etnificação Kinikinau, entre a expulsão dos Jesuítas da América Espanhola (1767) e o início da Guerra do Paraguai (1864). ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Música caipira e identidade cultural nas perspectiva de Paul Ricoeur - Angela Maria da Silva (UFT)

Na presente comunicação, temos o intuito de mostrar que a proposta metodológica do ensino de história através da música sertaneja de raiz pode levar o aluno para uma postura reflexiva frente ao conteúdo, pois essa didática pode relacionar sua vivência com o mundo globalizado, por isso, é necessário que o sujeito se reconheça pertencente a uma identidade ligada ao meio. Sendo assim, acreditamos que as representações sociais dos traços refletidos pela realidade local através da memória, possibilita pensar a lembrança do ausente na memória presente. Para tanto, devemos ter em mente que a música com elementos descritos na composição das letras e no estilo melódico trazem elementos do espaço geográfico e sócio históricos, os quais a memória discente pode ser associada ao processo de ensino e aprendizagem. A partir dessa perspectiva, acreditamos que a lembrança serve como caminho para uma compreensão crítica das situações sociais, pela qual os seres dentro do seu contexto e dos grupos vivenciaram. A História é uma das ciências que também trabalha com conceitos sociais e temporais de espaços que influenciam e foram influenciados pelas ações humanas. Indo ao encontro dessa afirmação, a música sertaneja de raiz é um dentre os estilos musicais que retrata de forma marcante o modo e a caracterização cultural do sujeito do campo e possibilita aos que convivem com sujeitos que viveram ou vivem nesse contexto possam reconhecer elementos de identidade e de memória. Associando os elementos da 440 identidade cultural proposto por Stuart Hall, podemos construir um diálogo entre a música sertaneja de raiz e aos conteúdos da disciplina de História no Ensino Médio. Em nossa metodologia é o professor que deve levar o aluno a relacionar a sua memória aos dos próximos e aos dos outros, identificando que a relação entre a tríplice memória está interligada. Por meio dessa proposta, podemos trabalhar conceitos que servirão de base para a compreensão da memória social discutida por Paul Ricoeur. Portanto, a proposta de trabalho nas aulas de história com os alunos do ensino médio – na escola estadual Coronel José Francisco de Azevedo na cidade de Conceição do Tocantins – demonstrará o quanto a memória social desses sujeitos – que são ou estão ligados ao campo – os ligam a identidade do homem do campo, uma vez que a música é peça chave para que os sujeitos ativem suas lembranças.

O Índio Descoberto No Caminho Para Às Índias: leitura interdisciplinar da Carta de Caminha - Renato Pereira Brandão (Universidade Federal Fluminense)

A Carta de Caminha é considerada por nossa historiografia como fidedigna fonte de informação, não só da descoberta da Terra de Santa Cruz, como também da relação estabelecida pelos primeiros portugueses aqui desembarcados com uma etnia nativa. Em sintonia com a proposta do presente simpósio da Anpuh-RJ ao privilegiar a parceira da História com outras esferas de saber, temos a proposta de analisar pela ótica interdisciplinar as informações presentes na Carta de Pero Vaz de Caminha, referentes aos primeiros nativos contatados pelos viajantes portugueses. Nesse trabalho analítico procuramos nos aproximar do enfoque ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------proposto pelo antropólogo João Pacheco de Oliveira Filho, sob a denominação “Sociologia dos Viajantes”. Assim, relacionamos as narrativas expressas nessa fonte historiográfica primária com registros etnográficos e etnohistóricos referentes aos nativos e à etnia diretamente contatada. Desse modo, procuramos descortinar as pertinências e as incongruências presentes entre a narrativa expressa nessa conhecida fonte documental primária e o conhecimento antropológico a respeito dos indígenas envolvidos nesse que teria sido o primeiro contato de uma etnia nativa com o “branco” europeu.

O negro na literatura modernista brasileira - George Leonardo Seabra Coelho (Universidade federal do Tocantins)

Nos últimos anos a relação entre literatura e política vem ganhando destaque nas pesquisas de cunho histórico. Nesse texto pretenderemos realizar um esboço a partir da análise do poema Martim Cererê escrito pelo poeta paulista Cassiano Ricardo. Essa análise crítica torna-se importante para demonstrar como o escritor insere o negro em seu texto com o intuito de estabelecer a formação do brasileiro a partir da união entre três raças. Uma segunda importância desse estudo de cunho comparativo é a análise das três primeiras versões dessa obra. Por último, esse estudo pode levantar questões no campo do Ensino de Literatura e na formação de professores para comunidades quilombolas, não no sentido de que esse poema seja uma obra de exaltação do negro, mas como esse sujeito coletivo foi apropriado em uma produção literária modernista. Por mais que o poeta fundamente a “fusão” das 441 raças e a criação de algo novo nas três versões analisadas, somente a ação do branco – trazer a “noite africana” para o “país das palmeiras” – insere o país das palmeiras no tempo histórico. O poema deixa entrever que, se não fosse a chegada do branco, o “país das palmeiras” continuaria em um “tempo mítico” e permaneceria na barbárie, assim como não se daria o encontro racial que formaria o tipo brasileiro. Ao abordar a “fusão racial” no poema, não podemos apontá-la como uma visão menos (ou mais) racista do que as teorias do branqueamento, isso porque – reitero − Cassiano Ricardo está em diálogo com seu tempo. O que permeia a miscigenação racial proposta pelo poeta é a desqualificação das outras raças e a valorização do branco como o grande responsável pela Nação, pois a posição do branco é fundamental em todos os momentos de conflitos na trama elaborada por Cassiano Ricardo. Como podemos perceber, Cassiano Ricardo apropria-se do negro na formação da sociedade brasileira enquadrando-o como elemento subalterno e de pouca contribuição, a não ser pelo trabalho servil. Essa constatação é de suma importância para que o professor de Literatura possa demonstrar aos seus alunos como em obras literárias modernistas o negro foi construído imaginariamente e, não como elemento real. Sendo assim, cabe uma análise crítica para problematizar as distorções produzidas por autores que pretendiam construir representação identitárias do brasileiro a partir do viés racista dos primeiros anos do século XX.

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Os saberes e práticas agrícolas nas memórias da comunidade Quilombola de São Roque - Praia Grande/SC - Talita Daniel Salvaro (IFC - Instituto Federal catarinense - campus Sta Rosa do Sul)

Este trabalho é resultado de um projeto de extensão intitulado “Os saberes e práticas agrícolas de ontem e de hoje na comunidade Quilombola de São Roque/Praia Grande - SC”, desenvolvido com bolsistas do curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, do Instituto Federal Catarinense, campus Santa Rosa do Sul/SC. O Quilombo São Roque está localizado nos atuais municípios de Praia Grande (litoral sul do estado de Santa Catarina) e Mampituba (litoral norte do Rio Grande do Sul), sendo reconhecido como tradicional quilombola em 2004 pela Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura e, encontra-se incluso dentro do Parque Nacional Aparados da Serra, o que limita a agricultura no local, umas das principais atividades quilombola. O tema de trabalho envolveu a memória dos moradores mais velhos, onde foram obtidas entrevistas realizadas pela Metodologia da História Oral, visando relatos e aspectos ligados ao conhecimento sobre a agricultura desenvolvida na localidade no passado e presente, no intuito de identificar em ambas temporalidades: as práticas agrícolas utilizadas, alimentos produzidos, a comercialização e destino dos produtos, a preparação da terra, coleta de alimentos, instrumentos e demais fatores que englobam essa atividade. O local que abriga o quilombo foi escolhido para a formação de um refúgio dos escravos que trabalhavam nos campos de Cima da Serra, por ser um espaço de água abundante, muita mata e terra agricultável, além 442 de ser um local de difícil acesso. A agricultura sempre foi a principal fonte de subsistência e renda para a população, entretanto, atualmente as cerca de 26 famílias, vivem de pequenas plantações de subsistência. Por meio dos relatos obtidos, foi possível perceber juntamente com as observações de campo, que, no vai e vem das memórias, a forma de trabalhar com a agricultura está muito presente no dia a dia da comunidade, assim como a importante ligação com a terra tradicional. Na retomada de práticas ancestrais por meio da memória, registrando a oralidade da comunidade, foi perceptível a identidade e o pertencer étnico que cada membro tem em relação aos seus familiares e ao espaço de vivência. O resultado do trabalho é a produção de um livreto que registra as memórias quilombolas visando a divulgação da comunidade, que ainda é desconhecida até mesmo pelo entorno.

Por uma história das ruínas: levantamento de fontes sobre a região do Sahy nos periódicos da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional – (Mangartiba/ XIX-XXI) - Daniela Paiva Yabeta de Moraes (Universidade Federal de Rondônia)

Durante mais de uma década, observei Mangaratiba a partir do local no qual pesquisava: a Ilha da Marambaia. Por mais que a história da família Breves e do tráfico ilegal de africanos escravizados ultrapassasse essa fronteira, eu decidi não desbravar o continente. Meu interesse eram os quilombolas. Até que, em 2015, durante minhas atividades de campo no projeto “Passados Presentes”, eu tive a oportunidade de conhecer a praia do Sahy, localizada exatamente ao lado oposto ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------da praia da Armação na Ilha da Marambaia. No Sahy existe um complexo de ruínas com cerca de 40mil metros quadrados à beira mar. Pesquisas realizadas pela arqueóloga e historiadora Camilla Agostini, apontaram indícios de um cais, um cemitério e provavelmente um pequeno canal em seu interior. Como bem destacam Hebe Mattos e Martha Abreu: “Para olhos leigos, as ruínas passam a impressão de uma pequena vila fortificada, bem perto do mar”. No mesmo ano, tive a oportunidade de iniciar uma nova pesquisa de pós-doutoramento financiada pela FAPERJ que tinha o objetivo de realizar entrevistas com lideranças das comunidades remanescentes de quilombo do sul fluminense e incorporá-las ao acervo do LABHOI. Eram as comunidades de Santa Rita do Bracuí (Angra dos Reis); Campinho da Independência (Paraty); Cabral (Paraty); Alto da Serra (Rio Claro) e finalmente, Ilha da Marambaia e Fazenda Santa Isabel e Santa Justina, em Mangaratiba. Porém, ao compartilhar o movimento pela “busca” de uma “história do Sahy”, decidi incluir na pesquisa a elaboração de um banco de dados com todas notícias sobre a localidade encontradas nos periódicos da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Para essa comunicação, apresento parte da realização desse trabalho, que incluiu a consulta à mais de cento e vinte periódicos. Através dessa pesquisa, encontramos discussões que vão do desembarque de africanos escravizados no século XIX, até a criação de um Parque Arqueológico no século XXI.

Possíveis vestígios da Aldeia de Araribóia, em São Cristóvão - Marcelo Sant´Ana Lemos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) 443

O trabalho mostra o estado atual da pesquisa que pretende relacionar uma urna funerária encontrada na antiga praia de São Cristóvão, em 1890, com a aldeia de Araribóia, ali instalada no final da década de 60, do século XVI. As fontes apontam a breve existência dessa aldeia, construída com intuito de defender a cidade do Rio de Janeiro das incursões de povos indígenas do interior, em terras cedidas pelos jesuítas. Dali a aldeia mudou para Niterói, no sítio localizado em São Lourenço, onde permaneceu até ser extinta na segunda metade do século XVI.

Rede Caiçara de Cultura - Bruno Tavares Magalhães Macedo (PPGH/UFF)

O presente trabalho de História Oral destaca a memória da luta travada pelas comunidades caiçaras nos territórios de mata atlântica compreendidas entre os estados do Rio de Janeiro e o Paraná. A organização destas comunidades está inserida na resistência política aos efeitos do plano estratégico do II PND para o litoral sudeste, da Baia da Ilha Grande - RJ ao Vale do Ribeira- SP, que previa a construção de três centrais nucleares. Uma no litoral entre Angra do Reis e Paraty, em Itaorna, e duas na região da Jureia, litoral sul de São Paulo. Junto com elas vinha o projeto da expansão da BR 101 Sul, entre o Rio e a Baia de Paranaguá no Paraná. A estratégia era unir polos de tecnologia de ponta a um turismo de elite, em torno de cidades históricas decadentes do tempo da colônia. Paraty, Iguape, Cananeia, Guaraqueçaba, todas fundadas na tradição católica escravista da civilização portuguesa no Brasil. O processo de formação da Rede Caiçara de Cultura é fruto do encontro em parceria de um fluxo de agentes sociais ligados ao ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------mundo científico, das artes e à organização poplítica da localidades envolvidas na transformação acelerada de um território culturalmente constituído. Trabalho os vestígios de experiências heterogêneas de organização social, resistência popular, lutas políticas, manifestações pela cidadania em registros sonoros de canções sobre caiçaras. Proponho-me a descortinar limites na articulação entre projetos e contextos, através do desafio de analisar documentos produzidos por diversos agentes e instituições sociais envolvidas com práticas da experiência cotidiana representada através da música, dança e poesia sobre a Paraty contemporânea. O que procuro desenvolver em minha pesquisa é uma análise da formação da identidade caiçara em Paraty. Esta identidade se constrói como resistência cultural ao movimento de desapropriação e transformação do espaço territorial comum. Minha pesquisa histórica traz novos subsídios para a análise da circulação de agentes do conhecimento (saberes) envolvidos no processo, através de documentos audiovisuais inéditos produzidos em minha parceria de dez anos com o Instituto Silo Cultural José Kleber.

Reflexões sobre o estágio supervisionado no curso de licenciatura em educação do campo: entre a teoria e a prática - Lilia Reijane Ribeiro dos Santos Menezes (Universidade Federal do Tocantins)

O presente estudo traz reflexões sobre a experiência de estágio curricular supervisionado do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Tocantins Campus de Arraias. Nossas reflexões pretendem oferecer 444 subsídios à práxis educacional que possa alicerçar ações pedagógicas junto a comunidade acadêmica. As incursões teóricas realizadas pelo tema e as experiências em campo possibilitaram entender como se dá o estágio supervisionado, em seu fazer/acontecer, identificando os modos como ele se processa. Para a realização deste estudo, optou-se pela pesquisa bibliográfica e de campo e partimos de estudos de Selma Garrido Pimenta (2006) e Maurice Tardiff (2002) dentre os principais autores. Este estudo faz-se importante considerando que a educação do campo discute políticas de formação de cidadãos, onde os sujeitos sociais serão capazes de aproximar a realidade local do próprio sujeito, proporcionando uma educação de qualidade e capaz de atender as necessidades de cada indivíduo do campo considerando suas especificidades. Para tanto, a educação do campo transforma o sujeito a partir do momento em que o mesmo começa a construir novas representações sociais dentro de uma proposta contextualizada com à realidade do campo, a qual busca uma aproximação entre os conhecimentos tradicionais e conhecimentos acadêmicos.

Roça de Toco Kalunga: resistência, saberes e tradição quilombola - Domingas Nathália Moreira dos Santos Rosa (UFT)

A comunidade quilombola Engenho II, localizada no município de Cavalcante – GO, integra o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, um dos maiores quilombos em extensão do país. Seu território é composto por diferentes fitofisionomias do Cerrado, elemento fundamental para a sobrevivência das populações dessa região. O modo de produção agrícola do povo kalunga revela ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------técnicas e saberes que fazem parte da trajetória ou história de vida das gerações antepassadas, mas que, numa perspectiva sincrônica, ainda permanecem vivos por meio da oralidade e do próprio registro escrito das novas gerações que passaram a ter acesso à escola/educação formal. Nesse sentido, esses sujeitos têm buscado muito mais do que seu sustento material, oriundo do trabalho na terra, mas em processo de luta pela garantia de seus direitos e melhores condições de vida em seu território. Cumpre ressaltar que o reconhecimento e a valorização dos saberes dos povos tradicionais evidenciam a necessidade de novas metodologias, estudos e pesquisas que estejam, de alguma forma, associados às atividades transdisciplinares e mais participativas, assim como protagonizadas pelos próprios sujeitos históricos desse processo: indígenas, camponeses e, para fins deste trabalho, os quilombolas. Diante disso, este estudo busca investigar se a “roça de toco”, uma das práticas de produção agrícola empregada pela comunidade quilombola Engenho II, permanece presente no cotidiano das gerações atuais (mais jovens) e qual a visão desses sujeitos a respeito dos saberes que envolvem tal técnica. A metodologia utilizada na pesquisa é de base qualitativa, apoiada, sobretudo, na etnografia (observação, registro, geração e análise dos dados a partir da vivência em campo). Como resultado, temos o registro das práticas vivenciadas pelos jovens kalunga, assim como o relato de experiência da própria pesquisadora, graduanda do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Tocantins/Campus Arraias, quilombola e membro da comunidade em pauta. O trabalho fundamenta-se nos pressupostos da Educação do Campo, vista aqui como área do saber que tem possibilitado o reconhecimento e a ampliação do 445 olhar para as práticas sociais dos povos do campo, como sujeitos responsáveis pela sua própria trajetória, mesmo diante do permanente cenário de esquecimento que as comunidades tradicionais vivenciam no âmbito do contexto político-econômico brasileiro.

Saberes do artesanato do campo: como cultura material, oralidade e história de si - Edivaldo Barbosa de Almeida Filho (UFT)

Nosso campo de investigação objetiva-se no estudo de saberes do homem do campo na sociedade contemporânea. Para tanto, apresentaremos como o artesanato é compreendido como parte da cultura material dos camponeses do interior do estado do Tocantins, onde esses sujeitos apropriam-se de matérias primas extraídas da natureza encontrada nessas localidades. Além de ser um importante ponto de referência da cultura local, o artesanato também tem a possibilidade de fortalecer o comércio e subsidiar a renda familiar. Nos últimos anos, a atividade do artesanato vem paulatinamente se degradando por falta de mão de obra devido ao desinteresse dos mais jovens pelo artesanato tradicional. Como fonte de pesquisa, usaremos como referência metodológica a história Oral, pois ela é um importante caminho para dar voz as pessoas consideradas “sem história”; E para que possamos ouvir as experiências desses sujeitos, optamos pelo caminho da trajetória de vida de um desses sujeitos. Para os limites desse trabalho, entrevistamos o senhor Miguel Chaves Almeida, o qual é um importante artesão que reside no povoado Altamira no município de Taguatinga região sudeste do Estado do Tocantins. Esse artesão utiliza “braço” do buriti – árvore típica do cerrado – , na qual o estipe da palha ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------quando seco se usa no “centro” do material para fabricação de objetos do meio rural como carro de boi, pilão, engenho de pau etc. Lembrando que essa pesquisa ainda está em fase inicial, acreditamos que nossa abordagem da trajetória de vida de artesão pertencente a comunidade rural pode ser de grande valia para o registro das “histórias de si”, da cultura material do homem do campo e para a preservação do artesanato.

Saberes e práticas docentes: um estudo sobre a formação continuada em escolas quilombolas do municipio de Arraias-TO - Silvaneide Gonçalves Ferreira (Universidade Federal do Tocantins)

Partindo de reflexões acerca dos saberes e práticas docentes, a presente comunicação tem por objetivo apresentar um estudo sobre a relação entre a formação continuada e a Educação Escolar Quilombola. Ensejamos também compreender como os profissionais da educação tratam a Educação Escolar Quilombola nas formações no município de Arraias Tocantins. Nessa perspectiva fica evidenciada que apesar do avanço na Educação Escolar Quilombola, e da busca em trabalhar saberes culturais nas práticas educativas oriundos do povo quilombola pelos professores, ainda falta apoio da Secretaria Municipal de Educação, não apenas no que tange a formação continuada mas sim de maneira geral, para que os professores dessas escolas consigam realizar um trabalho conforme o que está previsto na legislação educacional. Portanto a Educação Quilombola como uma política educacional, oriunda das lutas do movimento negro carrega em si não 446 apenas um contexto de prática educativa, mas um elemento que representa os saberes do espaço físico e social chamado Quilombo.

Taki Ongoy e Santidade de Jaguaripe: uma análise comparada das idolatrias e resistências indígenas no Peru e no Brasil coloniais - Natalia de Souza Miranda (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A presente pesquisa, ainda em desenvolvimento, tem como objetivo analisar o impacto das chamadas idolatrias indígenas na organização política, econômica e social do sistema colonial luso-espanhol, levando em consideração as possíveis relações entre a pregação religiosa e as sublevações anticoloniais armadas. Pretende-se aqui fazer um estudo comparativo entre o movimento messiânico conhecido como Taki Ongoy ou Taqui Oncoy (1564-1572), cujo epicentro foram as províncias de Lucanas e Parinacochas, no Peru, e a Santidade de Jaguaripe, que atuou no sertão da Bahia entre 1585 e 1586. O enfoque principal é a forma como essas idolatrias abalaram as estruturas coloniais, bem como a possibilidade de relação entre a pregação dos profetas andinos e Tupinambá e os movimentos armados anticoloniais, especificamente a sublevação inca de Vilcabamba e as revoltas Tupinambá no litoral da América Portuguesa. Contrariando as interpretações que consideram o processo de colonização da América como imposição de uma cultura sobre a outra, ou ainda, como choque entre dois blocos culturais rígidos, busca-se refletir sobre as estratégias de dominação, adaptação e resistência dos sujeitos envolvidos frente à realidade imposta pelo contato entre culturas distintas. Para tal, os conceitos de “tradução” e “idolatrias insurgentes”, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------desenvolvidos respectivamente pela antropóloga Cristina Pompa e pelo historiador Ronaldo Vainfas, são fundamentais. A comparação feita entre os dois movimentos indígenas é norteada pelas noções de “histórias conectadas” e de “histórias emaranhadas”, de Serge Gruzinski e Jorge Cañizares-Esguerra, visto que considera a inserção desses eventos no quadro de expansão ibérica e de colonização da América, destacando os processos de “tradução” e redefinição dos espaços “locais” no seio de uma história “global”. Desse modo, busca-se compreender as peculiaridades de cada movimento, mas sobretudo analisá-los sob a ótica das transformações empreendidas pelo período de expansão ibérica.

Vozes Silenciadas: representação de negros/as e índios/as nas fontes do Arquivo Histórico Ultramarino - Alexia Shellard (UFRJ)

No presente trabalho, serão examinados os documentos disponibilizados pelo Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal referentes a populações negras e índias no Mato Grosso do século XVIII. Busca-se discutir as possibilidades e impossibilidades do estudo de grupos humanos historicamente explorados, através de fontes, cujos produtores – individuais e coletivos – contribuíram para construir, disseminar e perpetuar hegemonias de poder que hierarquizaram relações de acordo com origem e fenótipo de populações. Em que pesem as complexidades inerentes a tão abrangentes categorias, pode-se afirmar categoricamente que havia, na dinâmica social da América Portuguesa, onipresente discriminação negativa em relação a negros/as e índios/as. As fontes disponibilizadas pela instituição refletem 447 essa desigualdade, que ainda hoje, rende agudas injustiças no Brasil.

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448 ST 45. Livros, bibliotecas, cartas e outros escritos: apropriações e representações

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A chegada das luzes tipográficas: dedicatória impressas nas primeiras tipografias oficiais do Brasil - Ana Carolina Galante Delmas (UERJ)

O ambiente que recebeu a Corte Portuguesa em 1808 era uma sociedade em que predominavam os laços de cordialidade e muitos aspectos funcionavam mediante uma política de troca de favores, da qual os elogios como forma de atrair as boas graças foram essência. A América Portuguesa apresentava-se geográfica, política e economicamente fragmentada e, com a chegada de D. João, aconteceram tentativas de unificação para a construção de um império luso-brasileiro. O Rio de Janeiro que recebeu a Família Real, por sua vez, estava longe de ser uma notável sede de monarquia, apresentando-se como o de uma simples colônia, carente de uma ampla reorganização administrativa. Como foi dito por Oliveira Lima, o Rio de Janeiro era “capital mais no nome do que de fato". A presença da Corte contribuía, assim, decisivamente para alterar o estilo de vida no Brasil, uma vez que trazia grande parte da administração portuguesa, personalidades e funcionários que continuaram a desembarcar nos anos seguintes, contabilizando milhares de pessoas chegadas ao Brasil ao longo desse período. A transferência da burocracia real precisou contar com medidas diversas, como a nomeação de ministérios e a instalação de secretarias e repartições vindas de Lisboa. A recriação do aparelho central do Estado português em terras americanas despertou a antiga colônia para uma modernização segundo padrões europeus. Inaugurava-se, em 1808, um novo cenário no Rio de Janeiro, no qual não estava ausente a necessidade básica de criação de uma sociedade culta e ilustrada ao seu redor. A abertura de tipografias, 449 antes proibidas, foi marco representativo de mudanças, ao mesmo tempo em que abriu espaço para a perpetuação de hábitos e costumes europeus. Ávida pelo que a cultura europeia poderia oferecer, a nova corte se fez campo fértil para o caráter espetacular das sociedades do Antigo Regime, cultural e politicamente. Sendo assim, com a permissão de funcionamento de duas casas impressoras, uma oficial e uma particular, houve um despertar da vida cultural da colônia. Além dos inevitáveis documentos oficiais, cuidaram da publicação de jornais, folhetos políticos e de muitas obras de cunho científico e literário. Com isso, fervilhou também a prática das dedicatórias impressas, representativas das relações de mecenato, símbolos das relações políticas apoiadas na hierarquia vigente, e das trocas efetuadas na busca por poder e influência. É proposta do presente trabalho analisá-las nos primeiros anos da presença da Família Real no Brasil, trabalhando assim questões da política no Brasil oitocentista, além de contribuir para os estudos de história do livro e da imprensa.

A coleção Biblioteca Básica Brasileira da editora da Universidade de Brasília e o seu contexto na década de 1960 - Ana Regina Luz Lacerda (UNB)

Este trabalho visa apresentar a coleção editorial “Biblioteca Básica Brasileira”, uma coleção de livros sobre o Brasil e escritos por brasileiros, publicada pela editora da Universidade de Brasília, coleção esta criada para o estudo e diagnóstico da realidade brasileira. Faz um breve histórico da criação da Editora da Universidade de Brasília (UnB); e fala do idealizador da coleção BBB, e também um dos pioneiros e criador da própria UnB, o então reitor Darcy Ribeiro. São ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------apresentados os 10 títulos da coleção que foram publicados em 1963 e 1964. Através desta pesquisa pretende-se buscar conhecer as origens destas preocupações e das motivações para a geração de diversas coleções Brasilianas existentes no mercado editorial brasileiro, aborda os aspectos que provocaram tais debates tais como: econômicos; culturais; sociais; e outros. Fala sobre quais são as definições para o termo “coleção brasiliana”. Esta pesquisa, também, elenca e apresenta algumas considerações a respeito das principais coleções Brasilianas organizadas e publicadas durante o século XX, notadamente nas décadas de 1930, 1940 e 1950, dando especial atenção àquela editada na década de 1960. No entanto, identificar as fontes para estabelecer as origens destas publicações, da coleção, da Biblioteca Básica Brasileira, configura-se como um problema, porque nos arquivos administrativos constam poucos documentos relativos aos primeiros anos da Universidade, a partir de sua fundação em 1962. Nessas circunstâncias, a pesquisa teve como base a leitura das fontes bibliográficas disponíveis, de manuais de serviço, regulamentos e regimentos e de documentos recuperados nos arquivos da BCE (biblioteca central), do ACE (arquivo central) e do arquivo da editora, além de algumas informações orais, que se consagraram no quotidiano da Universidade.

A Gazeta do Rio Janeiro e a imprensa periódica no início do século XIX - Vanessa Batista da Silva (UNIRIO)

Sabe-se que antes do surgimento da imprensa oficial no Brasil, Antônio Isidoro da Fonseca chegou a instalar uma oficina tipográfica, em 1747 no Rio de Janeiro. No 450 entanto, por ordem régia de 10 de maio de 1747, foi vedado de prosseguir. Durante o século XVIII aconteceram tentativas de estabelecer casas tipográficas, mas todas fracassaram. Havia troca de informações, mas não imprensa. Houve um demorado período de aceitação das ideias que circulavam na corte após o fim da censura da Real Mesa Censória. Com a chegada da família Real em 1808, destacam-se a abertura dos portos e a instalação da Impressão Régia. Oportunidade de expansão econômica, política e cultural. Tipos distintos de periódicos do início do século XIX: as gazetas e os jornais divulgavam informações que circulavam nos jornais estrangeiros. As gazetas representavam caráter oficial limitando seu conteúdo às notícias de interesse do Estado, os jornais publicavam o que era de interesse público. Nesse contexto chegamos aos dois jornais pioneiros do século XIX no Brasil: A Gazeta do Rio de Janeiro e o Correio Braziliense; um de modelos áulico (com o apoio a família real portuguesa) e outro combativo, respectivamente. Esse trabalho aborda como A Gazeta do Rio de Janeiro (publicado pela primeira vez em 10 de setembro de 1808) formou redes de informações importantes para um público específico: a Corte. Distribuído duas vezes por semana, com um total de 1.413 edições durante os anos de 1808 e 1821 e tinha características semelhantes à Gazeta de Lisboa, exceto o fato de seu redator realçar sua tendência opinativa. Estruturada em duas partes: seção noticiosa e de. Colocando-se ao lado dos que detinham o poder, publicava fatos e informações do interesse da Coroa. Foi um importante veículo para estabelecimento da palavra impressa. O Correio Braziliense começou a circular em 1 junho de 1808, publicado por Hipólito José da Costa e editado de Londres. Exercia duras críticas ao regime político da época, considerado o primeiro jornal brasileiro. As notícias impressas no início do século XIX tinham como ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------exemplo de fontes jornais de outros países e cartas escritas a bordo dos navios. Essas informações formavam um circuito da comunicação. Publicavam fatos, notícias de interesse a Coroa Portuguesa e assim formaram um sistema de comunicação na cidade do Rio de Janeiro. O fim do monopólio da Impressão Régia no Rio de Janeiro, em 1821, abriu espaço para um maior número de editores e ofertas de impressão. A história dos livros e da leitura no Brasil, após a vinda da família real, proporcionou de forma mais intensa a circulação de pensamentos e ideias no século XIX.

A presença de uma ausência: a escrita epistolar e sua historiografia - Luiz Felipe Vieira Ferrão (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Vasco Luis da Gama, Marques de Nisa e Conde da Vidigueira, nunca escreveu um livro de sua autoria. Ajudou a publicar muitas obras, patrocinou trabalhos que estavam relacionados diretamente a sua história familiar. Fez publicar um numero considerável de peças de "propaganda", mas nunca ofereceu a sua rede de editores e livreiros algo que pudesse ser publicado. Mesmo nunca tendo publicado uma linha se quer, Vasco Luis da Gama se notabilizou por ser um prócere escritor de cartas. De um conjunto epistolar vastíssimo o Marques vai marcar o seu tempo com esta prática revelando uma necessidade de se comunicar muito comum para sua época. Essa prática tem o nome de epistolografia e estava restrita a um corpo de pessoas que conheciam bem as regras e as cerimonias que cercavam o simples ato de escrever. Segundo Antonio Castillo Gomez "Uns e outros aspectos convertiam 451 a carta em um artefato capaz de representar as regras de um pacto social e que por tanto podia projetar uma determinada imagem de quem havia escrito e de sua posição na sociedade" Também podiam transcrever laços de confiança entre o remetente e destinatário mesmo sem nunca os dois se encontrarem. Assim foi a relação entre Vidigueira e Nogueira que mesmo estando um em Paris/Lisboa e o outro em Roma nunca lhes faltou a confiança mutua. A historiografia sobre esse gênero em Português é diminuta sendo a análise destes documentos muito comum em língua espanhola. Esse comunicado tem por objetivo apresentar a historiografia deste gênero centrando a análise nas principais correntes historiográficas que tem como objeto a arte de escrever uma carta nos séculos XVI e XVII.

As cartas da professora de primeiras letras: os intercâmbios intelectuais e afetivos nas trajetórias de José Américo de Almeida e Júlia Verônica dos Santos Leal - Luiz Mário Dantas Burity (PPGH/UNIRIO)

Os intelectuais costumam guardar, em suas autobiografias, um espaço destacado para os professores e, no caso específico das primeiras letras, as professoras, que marcaram as suas trajetórias. O ritual diz muito dos significados que atravessam a imagem pública de um homem de letras e dos caminhos que ele trilhou na longa tradição do conhecimento. Em seu livro de memórias Antes que me esqueça (1976), José Américo de Almeida dedicou um capítulo para aqueles dias em que aprendeu a leitura e a escrita, mas também os números com suas operações básicas, e descobriu a sua miopia. A professora era uma prima de sua mãe, D. Júlia Verônica dos Santos Leal, que, àquela altura, começava a sua carreira como docente. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Algumas décadas mais tarde, o jovem estudante se tornou um literato e político reconhecido em âmbito nacional; ela se inscreveria como professora do estado, função da qual reclamaria o parco ordenado. A partir de então, as missivas eram remetidas com constância cada vez maior entre as residências. O objetivo desse texto é discutir como a memória das aulas de primeiras letras foi agenciada por ambos ao longo das correspondências e de seus relatos autobiográficos. Isso significa observar os diferentes espaços sociais atribuídos aos intelectuais criadores, como os literatos, e às intelectuais mediadoras, no caso da professora de primeiras letras, conforme definem Angela de Castro Gomes e Patrícia Hansen (2016). Ainda nessa esteira, é preciso pensar como essas personagens se inscrevem nesses gêneros textuais que privilegiam a escrita de si, como as cartas e as autobiografias, de acordo com Angela de Castro Gomes (2004), o que equivale a observar não só o que está escrito, mas como foi escrito, com que caligrafia, tinta, papel, remetido em que envelope, como dizia Brigitte Diaz (2002). Consideradas essas circunstâncias, foi possível observar um intercâmbio constante de memórias entre o político e a professora, o qual perdurou, em dezenas de cartas trocadas, por mais de duas décadas. Em ambos os casos, as vantagens eram flagrantes. Enquanto o sucesso do outrora estudante na vida pública legitimava a trajetória profissional da professora, além do recebimento ocasional de alguma quantia que a ajudasse na despesa, o contato com a professora de primeiras letras era um ponto afetivo importante na trajetória do homem de letras, que, de alguma maneira, a situava como evento fundador da sua ascensão na carreira intelectual e política. 452 As cartas jesuíticas do Oriente do século XVI - Célia Cristina da Silva Tavares (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Os jesuítas que chegavam ao Oriente no século XVI eram estimulados a escrever uma carta para os irmãos da Companhia de Jesus na Europa com as suas primeiras impressões. As dificuldades da viagem pela rota do Cabo; o estranhamento de cheiros, cores, sons de uma nova terra; os usos e costumes dos habitantes locais, tudo isso era alvo dos olhares destes religiosos que nesta pesquisa são vistos como "viajantes", ou seja, como testemunhas privilegiadas do encontro de culturas. A presente comunicação tem como objetivo refletir sobre as representações que estes missionários consolidaram sobre a visão da Europa em relação ao Oriente, especificamente em relação a Goa portuguesa.

As coleções do Instituto: o Instituto Nacional do Livro e as produções bibliográficas de divulgação cultural - Mariana Rodrigues Tavares (UFF)

Este trabalho procura apresentar a trajetória editorial do Instituto Nacional do Livro, o INL, destacando um pouco de que maneira se estruturou no Brasil um órgão dedicado a cuidar do livro, da leitura e das bibliotecas públicas do país. As publicações do Instituto Nacional do Livro (1937-1990) mobilizaram as bibliotecas públicas e escolares do Brasil ao longo de seus mais de cinquenta anos de existência. Pelo menos é o que demonstram alguns excertos publicados em periódicos jornalísticos e literários que circulavam, sobretudo, na capital federal entre as décadas de 1940-1960. O Instituto Nacional do Livro procurava ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------desempenhar com afinco algumas de suas funções, a saber: a de “Editar toda a sorte de obras raras ou preciosas para a cultura nacional” e “promover medidas para aumentar, melhorar e baratear a edição de livros”, dois lemas que movimentaram a Instituição. No entanto o que se procura nesta apresentação é a análise da circulação de algumas de suas coleções bibliográficas que se intitularam “Biblioteca de divulgação cultural” e “Biblioteca popular brasileira”, destacando- se de que maneira estruturaram publicações responsáveis por canonizar uma visão acerca dos conceitos de “popular” e “cultural” no Brasil.

As leituras de frei Caneca - Pedro Henrique Duarte Figueira Carvalho (UFF)

Esta comunicação faz parte de um esforço maior para analisar o "constitucionalismo histórico" de frei Joaquim do Amor Divino Caneca (1779- 1825). Em termos gerais, parte-se da hipótese de que o religioso não pode ser qualificado como um moderno. Ainda que parcialmente, o escrito analisado neste trabalho, a Dissertação sobre o que se deve entender por pátria do cidadão e deveres deste para com a mesma pátria, não foge de tal caracterização pelo fato de Caneca utilizar-se do humanismo cívico para embasar sua argumentação. Por outro lado, quando Caneca faz menção ao direito de tiranicídio, é possível detectar também outras influências, como a da segunda escolástica. Assim sendo, o objetivo deste trabalho é delinear algumas das referências do pensamento político do religioso e procurar avaliar em que medida ele pode ter acesso às obras que presumivelmente utilizou. Para tal, recorre-se ao "Catálogo" da Biblioteca do Oratório de São Filipe 453 de Néri, elaborado em 1770, pois sabe-se que frei Caneca esteve ligado à Congregação, que talvez dispusesse da melhor coleção de livros de Pernambuco na época e constituía importante local de sociabilidade.

Conde de Azevedo e Camilo Castelo Branco: quando a epistolografia revela afetos e formação de uma Biblioteca - Fabiano Cataldo de Azevedo (UERJ), Stefanie Cavalcanti Freire (UNIRIO)

O trabalho tem objetivo de evidenciar a participação discreta e silenciosa de Francisco Lopes de Azevedo Velho, o 1º Conde Azevedo, na literatura e história portuguesa. Após algumas incursões na política, esse miguelista e católico extremo, recolheu-se em sua casa em Póvoa do Varzim e deu continuidade a formação da biblioteca iniciada por seu avó. Revelando uma argúcia típica de um bibliófilo e um equilibrio diante de seus critérios de escolha na compra, incomum a seus pares, tornou sua coleção de impressos e manuscritos tão famosa quanto sua própria reputação de intelectual. Graças aos seus conhementos históricos e literários alguns de seus coetanos, como Garrett, Herculano, Inocêncio e Camilo Castelo Branco fizeram dele um estimado consultor. A comunicação terá como foco principal as informações cotejadas num conjunto de 67 cartas de sua autoria contidas no espólio de manuscritos e autógrafos do Real Gabinete Português de Leitura. Essas missivas, trocadas com Camilo, durante dez anos revelam a prática da bibliofilia portuguesa no século XIX. Ilustra igualmente alguns aspectos do mercado e circulação de impressos antigos em Portugal. O suporte teórico para compreender a antropologia do consumo e do modus faciendi do bibliofilo está ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------alicerçado em textos de Walter Benjamim, sobretudo “Desempacontando a minha biblioteca” e em Russel Belk (1988).

Diálogos Epistolares entre Maria Graham e D. Leopoldina: Sensibilidades, Tramas e Intrigas na Corte de D. PedroI.1823-1824 - Denise Maria Couto Gomes Porto (Universidade Salgado de Oliveira)

Neste artigo pretendemos investigar o diálogo interativo estabelecido entre a ilustrada Europa e o Brasil Imperial no século XIX, analisando dialeticamente, a fontes documentais: Correspondência entre Maria Graham e a Imperatriz Dona Leopoldina (1997) e ainda, Diário de Uma Viagem ao Brasil (1990), no recorte temporal compreendido entre os anos de 1823 e 1824. Nossa análise, revela-nos tensões, conflitos e rivalidades na vida cotidiana da corte do Rio de Janeiro, a partir da problematização do que teria determinado a estreita amizade entre Maria Graham e a Imperatriz D. Leopoldina e por que a viajante inglesa fora tão hostilizada pelos demais serviçais portugueses da corte, determinando sua curta permanência no Paço de São Cristóvão, como governanta da princesa Maria da Glória. Graças às fontes examinadas, nossa hipótese, é que entre Maria Graham e a Imperatriz D. Leopoldina estabeleceram-se laços de amizade para além do aspecto prático da educação da princesa D. Maria da Glória. E que estrangeiras às realidades tropicais, essas duas europeias fizeram da troca epistolar, um campo de observação sobre a diversidade cultural, política e mesmo paisagística em que se viram inseridas. Entendemos que a relevância da presente análise, se insere na 454 perspectiva teórica da Nova História Cultural por sua pertinência aos diversos estudos contemporâneos acerca da contribuição das mulheres viajantes, nos processos de transferências de mentalidades e das práticas socioculturais, no Brasil do Oitocentos.

Diálogos interdisciplinares sobre a arte epistolar na sociedade fluminense oitocentista (1811-1821) - Simone Aparecida Fontes (UFRRJ)

Nas últimas décadas, a reorientação do conceito de patrimônio e de novas políticas de preservação vem abrindo espaços para uma gama de bens e manifestações culturais, cujos artefatos e valores simbólicos teriam desaparecido, sem qualquer vestígio na memória coletiva. No entanto, pouca ênfase vem sendo dada à natureza dos objetos, sua forma, o material com que são produzidos, as técnicas de produção adotadas, seus usos e ritos sociais. A interação entre a materialidade do social e a historicidade dos objetos podem revelar as funções identitárias que se concretizavam em papel e tinta. Nesse sentido, lançamos um novo olhar para a prática epistolar, não apenas como fonte, mas também como objeto, especialmente em uma sociedade pautada na instantaneidade da informação, cujos projetos políticos de destruição dos documentos originais e técnicas de preservação equivocadas ameaçam o direito constitucional à identificação, proteção, conservação, valorização e transmissão do patrimônio documental às futuras gerações. A comunicação instântanea e relações cada vez mais efêmeras despertam para a importância da preservação do patrimônio histórico e cultural, bem como de políticas públicas que atendam a necessidade de salvaguardar as formas de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------expressão, modos de criar, fazer e viver de nossa identidade cultural. O estudo sobre a arte de escrever cartas implica em extrapolar o texto como mera comunicação entre ausentes, compreendendo que os objetos não estão à parte da vida social, que o documento tem uma história e que ela deixa marcas materiais em sua estrutura, além de outras imateriais. Manuais epistolares ensinavam a técnica da boa pena. Escolher a asa direita de uma ave, pois melhor se acomodavam aos dedos; saber cortar sua ponta em várias formas diferentes, de acordo com o tipo da letra a ser escrita; preparar as tintas a partir de algumas receitas básicas, entre outros instrumentos e acessórios que exigiam não só um profundo conhecimento linguístico, mas também um vasto domínio técnico. Mais do que um lugar de memória, a prática epistolar se transformou em um instrumento de poder, capaz de mudar a maneira de pensar e de viver o lugar social da sociedade fluminense oitocentista, lócus da cultura grafocêntrica que produz efeitos até hoje.

Edmund Burke e Silva Lisboa: escritos políticos, diferentes leituras - Rosemary Saraiva da Silva (UFF)

Os escritos de Edmund Burke, em especial, a obra mais conhecida, "Reflexões sobre a Revolução na França", foram objetos de interesse de José da Silva Lisboa, o futuro Visconde de Cairu, quando esse, por influência de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, traduziu partes da obra do irlandês e a essa juntou a tradução de outros textos que compunham discursos proferidos no Parlamento britânico. Esse trabalho de tradução foi publicado em períodos diferentes: em 1812, pela Imprensa Régia, 455 no Rio de Janeiro, e em 1822, pela Nova Impressão da Viúva Neves e Filhos, em Lisboa. Interessante foi observar que as duas publicações ocorreram em períodos políticos diferentes, o que pode indicar que a intenção para isso pudesse também ser diferenciada, ou seja, um mesmo texto conservador e desfavorável a qualquer tipo de movimento revolucionário, foi usado na defesa de um "status quo" que se apresentava relativamente diferente (Brasil Monárquico, pré-Reino Unido e Brasil Reino, em processo de separação de Portugal). A investigação da releitura ou apropriação do texto de Burke por Silva Lisboa leva ao encontro de novas obras, cuja leitura pode ser direcionada a dois fins diversos, defendendo dois monarcas diferentes que se encontravam pressionados por uma nova forma de governo, aquele guiado por uma Constituição. Os dois personagens apresentam semelhanças e diversidade em suas vidas particulares e políticas, com atuações de destaque na atividade parlamentar e em cargos de governança. O trabalho em questão buscou identificar o uso dos textos de Burke numa realidade diversa, como o da Monarquia Luso-brasileira, frente a um mundo político pós-Revolução Francesa e Napoleão Bonaparte. Discute-se também a prática da tradução, da apropriação e da representação de ideias produzidas na Europa e adaptadas a realidade luso- brasileira no início do século XIX.

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Ensino de História e Harry Potter: a narrativa ficcional como formadora de concepções - Jenifer Cabral (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Em 1997 foi lançado o primeiro livro da série Harry Potter, tornando-se um fenômeno de vendas mundial. A série é composta por sete (7) livros: Harry Potter e a pedra filosofal, Harry Potter e a câmara secreta, Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, Harry Potter e o cálice de fogo, Harry Potter e a Ordem da Fênix, Harry Potter e o enigma do Príncipe e Harry Potter e as relíquias da morte. Criada por J.K. Rowling teve alcance mundial, este traduzido em números espetaculares, com mais de 500 milhões de exemplares vendidos até o momento em que nasce esta pesquisa e tendo sido traduzido para mais de 70 idiomas, além do sucesso de bilheteria que as oito adaptações da saga para o cinema obtiveram. Sucesso capaz dar origem inclusive a peças teatrais, novos livros e filmes, como o recente publicado “Harry Potter e a criança amaldiçoada” e a nova marca “Animais Fantásticos e Ondem Habitam”. O enredo conta a história de um menino órfão, chamado Harry Potter, que aos onze anos descobre ser um bruxo, possuindo uma vaga garantida em uma das melhores escolas do novo mundo a qual irá pertencer, a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Em um currículo eletivo, a única disciplina obrigatória durante os anos de escolarização é a disciplina conhecida como História da Magia, que retrata a história do Mundo bruxo, sua fundação e seus grandes nomes, marcando assim, uma singularidade na relação com a história, marcando uma evidente importância. Neste ambiente escolar do espaço ficcional, que possui organização similar a que conhecemos, é possível perceber a 456 concepções de Escola, história e ensino de história, que também se fazem presentes no cotidiano escolar do mundo não ficcional, contemporâneo. Está característica particular do enredo tem impacto nas concepções formadas por seus leitores sobre estes temas justamente por tais proximidades. Sabendo disto, cabe a análise da narrativa ficcional, entendo que ela produz significados e significâncias acerca da História e do conhecimento sobre ela.

Entre as Luzes e a ortodoxia católica: relações entre Estado e Igreja nas disputas por um projeto reformista do ensino para o Convento de Nossa Senhora de Jesus de Lisboa (1769-1780) - Natália de Fátima de Carvalho Lacerda (UFRJ)

Em 1769, D. Frei Manuel do Cenáculo (1724-1814), recém nomeado Provincial da Ordem Terceira da Penitência, aplicou o seu Plano dos estudos, que reformou os estudos de sua Ordem para emprestar-lhes sentido moderno ao preconizar a exegese dos textos sagrados e das fontes da Teologia Positiva, por meio do método crítico-filológico histórico. O Plano de Cenáculo é tido como um dos primeiros esforços entre religiosos para conformar o estudo das ciências sagradas às Luzes portuguesas e como inspiração para reformas subsequentes empreendidas por outras congregações e para a reforma dos Estatutos da Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra em 1772. Malgrado os muitos sucessos que logrou à sua Ordem ao alinhar-se ao regalismo pombalino, o Plano foi revogado em 1780 por Alvará régio após Fr. José Mayne (1723-1792), à época Geral da Ordem Terceira, remeter à rainha D. Maria I, uma petição apelando por este fim. Logo após a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------confirmação da revogação, um manuscrito anônimo e inflamado percorreu a congregação: a Dissertação Theologica, que contestava veementemente a reforma cenaculana em função dos livros que recomendava – posto que eles constavam no Index romano – e fazia uma erudita defesa da prerrogativa da Igreja sobre a censura de livros e escritos, rechaçando textos como o Dedução Cronológica e Analítica (1767), central para o pombalismo, cuja política regalista, desde 1760, substituíra o sistema de tríplice censura em vigor – realizada pelo Desembargo do Paço, pelo episcopado e pelo Santo Ofício – pelo órgão censor da Real Mesa Censória, inteiramente subjugado a autoridade secular, apesar de ter admitido entre seus membros, religiosos como Cenáculo e Mayne. Apesar de aparentemente estarem em lados opostos quanto ao projeto de ensino para o noviciado de sua Ordem, Mayne e Cenáculo compartilhavam o interesse pelos modernos paradigmas científicos da Ilustração. Mayne planejou a aula mayense, uma aula de História Natural Teológica, que em 1792, vai ser inaugurada sob coordenação da Real Academia de Sciencia de Lisboa, no Convento de Nossa Senhora de Jesus de Lisboa, cuja biblioteca-museu, que reunia moderna bibliografia e artefatos de História natural, fora construída pelo colecionismo tanto de Cenáculo, quanto de Mayne. Essa comunicação pretende investigar a partir do diálogo entre os textos do Plano dos Estudos e a Dissertação Theológica, as novas relações entre Igreja e Estado estabelecidas pelas reformas do ministério pombalino, levando em consideração o papel que Cenáculo e Mayne tiveram na introdução de uma bibliografia sobre os modernos paradigmas científicos e filosóficos, ao atuarem ambos como reformadores do ensino, membros da Real Mesa Censória e 457 construtores de bibliotecas-museus típicas do século XVIII ilustrado.

Machado de Assis crítico - Renata William Santos do Vale (UFF)

Este trabalho propõe fazer uma análise da produção crítica de Machado de Assis, especialmente os textos dedicados a discutir os significados da crítica, o papel do crítico, e a expressão da nacionalidade na literatura brasileira de final dos Oitocentos. O período no qual Machado escreve o coloca em posição privilegiada para observar a passagem do predomínio do pensamento romântico para um novo conjunto de ideias que procurassem dar conta de entender e explicar a modernidade vivida e sentida naquele tempo e contexto. Os artigos de crítica de Machado são preciosos porque revelam a visão de um autor particularmente atento e sensível às mudanças e com rara capacidade de observação e articulação do pensamento com o tempo vivido. Machado é um dos primeiros a observar e registrar que a formação da literatura nacional brasileira não se daria tal como a independência, com um “grito do Ipiranga”. Seu argumento foi sendo desenvolvido com a publicação de textos como “O passado, o presente e o futuro da literatura brasileira” (1858), “O ideal do crítico” (1865), “Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade” (1873), e “A nova geração” (1879), só para citar alguns, nos quais discutia a constituição da literatura brasileira e qual o sentido de nacionalidade que essa deveria expressar. Esse seria um processo lento que não havia muito começara a se desenvolver, e merecia incentivo, análises e discussão, para estabelecer as bases de uma tradição literária nacional. No Brasil recém-independente, o Romantismo foi o sistema de ideias que favoreceu a organização de um projeto ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------nacional, tanto no campo da história quanto na literatura. Ao admitir a importância das duas gerações românticas, apesar de constatar que os novos tempos careciam de novas formas de expressão, Machado de Assis reforçava uma tradição do pensamento e o reconhecimento de que as experiências acumuladas ao longo da história literária fizeram surgir as novas gerações de escritores e uma nova maneira de entender o mundo moderno. Entretanto, tinha a clareza de perceber que o indianismo, as descrições da natureza, do exótico tropical, temas clássicos dos românticos, não mais bastavam para caracterizar a nacionalidade da literatura brasileira. Era preciso dar um novo sentido para a identidade nacional, não mais fundada em algo exterior ao homem, mas no que chamou de “sentimento íntimo”, que caracterizaria o homem de seu tempo, sem que ele precisasse descrever o espaço ao seu redor para afirmar-se brasileiro. Desse modo, Machado propunha que o sentimento nacional deixasse de ser identificado exteriormente aos homens, passando para a esfera do íntimo, no qual os escritores seriam nacionais simplesmente por expressarem as ideias de seu tempo.

O Colégio Atheneu Sergipense e a Cidade de Aracaju Estudo das Identidades Locais para a Formação da Escola Pública Secundária 1872 - 1926 - Dayse Araujo Lapa (UNIT)

Neste trabalho, entrelaçam-se acontecimentos que moldaram, no período 1872- 1926, o espaço-tempo do Colégio Atheneu Sergipense e da cidade de Aracaju e configuraram os mecanismos de organização da instrução pública secundária. O 458 objetivo deste trabalho é explorar novas conexões, tendo como referências as dinâmicas relações da cidade em formação, a consolidação de nova sociedade urbana e pré-industrial, o fortalecimento e a expansão da Educação Pública. A cidade múltipla e contraditória impôs aos condicionantes naturais sua força técnica, mudou seu traçado e a ele se adaptou; evoluiu de forma lenta, mas significativa; rompeu em vários momentos o traçado ortogonal do Quadro de Pirro; articulou-se com o antigo núcleo de moradores, situado na colina do Santo Antônio; afastou as classes mais pobres do seu centro político-administrativo e criou seus primeiros signos assentados nos conceitos de modernidade e civilidade das cidades europeias do século XVIII. A localização e a configuração do espaço arquitetônico das escolas instituíram novas relações entre alunos, professores e inspetores. Assim, descortina-se o papel da arquitetura e do urbanismo e se analisam o repertório de soluções técnicas, o programa de necessidades e os aspectos higienistas; constroem-se as analogias com a vida urbana e se identificam o papel do Estado, as condições de oferta da educação, as leis, os códigos e os regulamentos que contribuíram para a configuração da civitas, do lugar com pouca ou nenhuma tradição. O olhar centra-se na pesquisa histórica e documental e na formação do hábito. Utilizaram-se registros fotográficos, desenhos, mapas, leis, códigos e os registros escritos de alguns memorialistas e historiadores sergipanos que produziram informações aqui apresentadas. A pesquisa fundamenta-se na revisão bibliográfica de Porto (2011); França e Falcon (2005); Franco (2015) e Nunes (1984) e nos conceitos teórico-metodológicos de Foucault (1975), Bourdieu (2008) e Chartier (2002). Como a forma e a localização dos edifícios escolares na malha urbana da cidade demarcaram seu lugar e se traduzem em espaços adequados para ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------o ensino? Como responder esta pergunta? Existe uma única pergunta, uma única resposta? Assim, o nexo entre as perguntas e suas respostas pode ajudar o pesquisador a articular saberes, expandindo as possibilidades de análise, de compreensão e de visibilidade das fontes, com aproximação ou não das correntes filosóficas que alicerçaram esta pesquisa e, desse modo, apresentar nova narrativa dessa organização.

O hinário português e brasileiro e a música militar no Brasil: similitudes e singularidades na produção, recepção e circulação dos hinos e músicas militares no final do século XIX e início do século XX - Anderson de Rieti Santa Clara dos Santos (Universidade Nova de Lisboa)

O propósito deste trabalho é estabelecer comparações entre o hinário lusitano do fim do século XVIII e início do século XIX permeado pela cultura política deste contexto, em comparação com o nascente hinário brasileiro do início do século XIX, identificando similitudes e singularidades nos processos de produção, recepção e circulação destes hinos. Os hinos desta época são o marco para a música militar, não somente por serem compostos na expectativa de que fossem executados pelas bandas militares. A partir de então, os seus códigos musicais incorporavam elementos da cultura política de então, em que conceitos como pátria e liberdade ressiginifcavam a monarquia lusitana e eram o prólogo de novos ares de autonomia por parte dos que tomaram parte no processo de Independência do Brasil em 1822, impactando na produção e circulação desses hinos. As bandas 459 militares, a partir desse contexto, farão parte desse circuito, reverberando, portanto, esses novos códigos que traduziam essa nova cultura política. Para o trabalho em lide, o estudo tem como fontes partituras como a que traz inscrita a composição "Hino Patriótico" (1809) de Marcos Portugal (1762-1830), músico que, à época, atuava na corte do regente D. João, e depois para D. Pedro I. Mais emblemáticas ainda são as composições musicais do "Hino da Independência do Brasil" que, embora com a mesma letra de Evaristo da Veiga (1799-1837), trazem distintas versões musicais: uma de Marcos Portugal e outra de seu aprendiz, D. Pedro I

O júbilo em ser perseguido: perseguição e intolerância religiosa nos escritos missionários presbiterianos acerca do Brasil oitocentista - Sérgio Willian de Castro Oliveira Filho (Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha)

As missões transculturais desenvolvidas por comunidades protestantes estadunidenses durante o século XIX propiciaram o desenvolvimento de um corpus documental vastíssimo por parte dos milhares de missionários que se engajaram nesta empreitada. Vários foram os tipos de produção escrita, como: cartas privadas; Reports sobre as atividades da missão e que eram enviados aos comitês missionários; jornais de cunho missionário; panfletos propagandísticos; estudos sobre aspectos socioculturais dos povos tidos por alvo; ficções. Uma das características recorrentes em grande parte desses escrito era a existência de um júbilo implícito na temática alusiva à perseguição, pois, ao mesmo tempo em que se denunciava o outro (perseguidor) como intolerante e ignorante, a literatura ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------missionária fazia a ligação de sua perseguição à concretização dos escritos sagrados, indicando a legitimidade de suas ações. No caso do Brasil Monárquico, durante o século XIX, estava claro a estes missionários quem seria o agente perseguidor: a Igreja Católica alinhada ao Estado. Assim, a presente comunicação tem por objetivo discutir o papel da perseguição religiosa presente nos escritos missionários presbiterianos acerca do Brasil oitocentista enquanto construção de aspectos identitários do protestantismo que se tentava estabelecer neste país.

Os catálogos e manuscritos na escrita da História Política do Brasil no século XIX - Beatriz Pìva Momesso (Universidade Federal Fluminense)

As representações e práticas constituintes de certa cultura política podem ser pensadas para mais além de vertentes intelectuais europeias ou americanas que exerceram sua influência no mundo das ideias de leitores contemporâneos brasileiros do século XIX. O campo político também é o lugar onde o cultural se apresenta como ferramenta para a forja de projetos e programas partidários ou burocráticos do Estado. Nesse sentido, a história política oitocentista em sua subárea cultura encontra-se ainda a caminho de discutir novos métodos de pesquisa para que possa ser escrita. Catálogos de livros e manuscritos de ministros, jornalistas e líderes de partidos ou correntes ideológicas, sobretudo, do Segundo Reinado apresentam grande potencial historiográfico, que ao que tudo indica ainda são pouco explorados. Tal dificuldade, se deve em parte, a pouca colaboração entre a atividade arquivística e a historiográfica. De modo comparativo, e sem dúvida 460 com um olhar teórico e metodológico, serão discutidas algumas experiências historiográficas já consolidadas em que fontes de natureza cultural revelaram traços da identidade nacional em paralelo com uma variedade de catálogos da livraria Garnier que eram frequentados por políticos e manuscritos onde grandes estrangeiros serviam de inspiração para os projetos políticos brasileiros.

Os Mystérios de Paris sob o prisma da sociedade carioca oitocentista - Danielle Christine Othon Lacerda (UFRJ)

Reconhecido como um dos grandes escritores de romances populares franceses, um dos precursores do romance-folhetim do século XIX, o escritor francês Eugène Sue moldou sua escrita e sua imagem para dar voz ao povo marginalizado, discutindo os problemas sociais da cidade de Paris, por meio de suas longas e volumosas obras literárias. O fenômeno social alcançado pelo inovador Les Mystères de Paris mobilizou não apenas a imprensa, o mercado editorial, como também o meio social, político e religioso. Não restrito à sociedade francesa, o romance ultrapassou rapidamente as fronteiras nacionais, alcançando inúmeros países na Europa e na América. No Brasil, a proeminência dos romances de Eugène Sue, motivou o Jornal do Commercio, no Rio de Janeiro, a publicar em folhetim, a versão traduzida para o português, Os Mystérios de Paris, entre 1844 e início de 1845. Embora a temática abordada tratasse de questões típicas da cidade de Paris, a intensa circulação dos romances de Sue na imprensa, livrarias, gabinetes de leitura, nos debates públicos demonstram a sua aceitação e repercussão, contribuindo para imprimir diferentes marcas nas formas de pensar, na circulação ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------de novas ideias e nos modos de representação. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi investigar as gêneses do fenômeno em terras tropicais do romance Os Mystérios de Paris, em que se busca compreender, sob uma perspectiva comparada, as circunstâncias editoriais que envolveram esta publicação em suas diferentes materialidades (folhetins, folhetos, livros, gravuras, teatro) o trânsito das ideias de Eugène Sue, considerando as percepções do escritor acerca de sua própria realidade e como tais percepções foram apropriadas por uma sociedade distinta da realidade do autor, mobilizando os costumes, hábitos, pensamentos políticos e sociais na cidade do Rio de Janeiro, em meados do século XIX.

Pela Voz de José Campello D'Albuquerque Galvão: Diários íntimos como fonte de estudos da Guerra do Paraguai - Janyne Paula Pereira Leite Barbosa (UFF)

Após a declaração da Guerra do Paraguai em fins de 1864, brasileiros e aliados se uniram para enfrentar um inimigo comum, o governo Paraguaio. O Império Brasileiro iniciou um processo de reorganização das forças do exército para compor as tropas e consecutivamente vencer o conflito. Nesse contexto, homens de várias partes do país foram recrutados ou voluntariados para ocupar as fileiras do Corpo da Armada Imperial. Muitos desses cidadãos, de origem pobre ou membros de uma elite social se dirigiram para o sul do país com funções estabelecidas e com o dever de prestar seus esforços a “nação”. Dentre eles, destacamos a presença dos diaristas, homens que registraram o dia a dia da guerra, 461 e que tiveram essas memórias organizadas e impressas para a divulgação pública posteriormente. Os debates historiográficos vêm ao longo dos últimos dez anos analisando esse conflito como uma guerra que foi além do front, ressaltando as práticas sociais, a cultura, a saúde e as doenças, assim como uma rede de sociabilidades que se constituiu nos campos de batalha e nos acampamentos. Nesse trabalho, tenho como objetivo pensar a história do cotidiano deste conflito por meio da análise do “Diário da Guerra do Paraguai” de José Campello d’Albuquerque Galvão, observando-o como um recurso metodológico para pensar os personagens históricos e as práticas socioculturais. José Campello d’Albuquerque Galvão serviu como Voluntário da Pátria na Guerra do Paraguai como tenente da 1º Companhia do Batalhão nº 5 de guerra da Paraíba do Norte, atuando como secretário. Em março de 1865, Campello se apresentou ao governo da Paraíba para prestar seus esforços na frente de batalha e assim o fez, narrando histórias do cotidiano e fatos que se passaram nos acampamentos e no front. As fontes documentais disponíveis para as pesquisas acerca da guerra são diversas: revistas, jornais, documentos oficiais do governo imperial, relatórios, cartas e diários, compõe um grande acervo disponibilizado nos arquivos públicos e privados espalhados pelo país. Assim, pensarei o diário como um recurso metodológico e como uma fonte documental pertinente para compreender a guerra por suas vertentes ainda pouco discutidas, como o estudo das mulheres, dos enfermos, do cotidiano, da cultura e da sociedade. Para isso, observarei os escritos de José Campello d’Albuquerque Galvão como uma escrita de si, onde o ato de narrar as memórias da guerra foi uma prática cultural que traduziu expressões e pensamentos do memorialista por meio da vivência de tal conflito. Partindo desse pressuposto, compreenderei as memórias ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------como uma representação do vivido, como um ato desenvolvido por uma prática, onde o oficial do exército, diarista e memorialista, registrou aspectos do real.

Reflexos de pena e tinta: houve uma literatura de Espelhos de Artistas? - Fernanda Deminicis de Albuquerque (PUC-Rio)

Originalmente, os “espelhos de príncipes” eram obras que procuravam fomentar virtudes exemplares nos príncipes. Apresentavam conselhos diversos desde a filosofia natural até recomendações de higiene; insistiam na importância do exercício articulado das virtudes e o bom uso da religião; explicitavam a oposição daquilo que era o “bom governo” e a tirania. A partir do renascimento, esses elementos foram incrementados por conhecimentos de guerra, artes e letras, com alguma tendência de secularização. Em conjunto, esse gênero literário incorporou os parâmetros de uma educação humanista, moral e religiosa, contribuindo para a difusão de uma espécie de modelo ideal de governante na Europa moderna. A abrangência dos “espelhos” também foi alargada, com a produção de obras destinadas a conselheiros, militares, prelados e até artistas. Os autores de “espelhos” não somente consignavam uma finalidade pedagógica para suas obras, já que procuravam transmitir cânones moralizantes, mas também demandavam a atenção do príncipe ou dos governantes para a importância de serem reconhecidos, a partir da outorga de mercês régias. Entretanto, especialmente as obras de artistas foram compreendidas até o momento como fontes válidas para investigações adstritas às biografias de pintores ou ainda para a escrita de uma história da técnica 462 (tipos de telas e pinceis, pigmentação, produção geométrica de perspectivas, processos de produção, etc). A própria renovação da história política e da história da arte, contudo, exige uma reinterpretação dessas obras, inserindo-as em uma cultura política condizente com o universo de seus autores. É pertinente lembrar que os conselhos agrupados nos "espelhos" eram também um modo de “representar” o trabalho destes artistas. Nesse sentido, o propósito desta comunicação é não apenas analisar uma “literatura de espelhos”, mas sobretudo discutir as possibilidades de enquadrar as obras de artistas (para não citar mais de um exemplo, as “Vidas de Artistas”, de Giorgio Vasari) nesse gênero.

Tradução e circulação das ideias de Alexander Pope no mundo luso-brasileiro (ca. 1769-1819) - Gabriel de Abreu Machado Gaspar (UFF)

A presente comunicação advém do projeto de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. O tema desta pesquisa é a recepção e circulação das obras e ideias do poeta inglês Alexander Pope no mundo luso-brasileiro no contexto do projeto reformista ilustrado de Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812) e da subsequente transmigração da Corte para a América. O Ensaio sobre a Crítica e os Ensaios Morais do poeta foram traduzidos por Fernando José de Portugal e Castro (1752-1817) e publicados, respectivamente, em 1810 e 1811 pela Impressão Régia do Rio de Janeiro. Inspirada pela História do Pensamento Político, a problemática da investigação pode resumir-se em algumas questões: De que modo as traduções portuguesas das obras de Alexander Pope em 1810 e 1811 se relacionam com o momento histórico ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------em que foram realizadas? Qual a relação entre estas traduções e a recepção das ideias do poeta inglês no mundo luso-brasileiro do primeiro quarto do século XIX? Quais as intenções de Fernando José de Portugal ao traduzi-las? Para respondê-las, serão utilizadas, principalmente, as traduções de Fernando José de Portugal, os pedidos de licenças e pareceres de censores da Mesa do Desembargo do Paço, referências alusivas e anúncios de vendas em periódicos e obras de referências.

Um guia para interpretar o país: o caso do Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiros - Maro Lara Martins (Universidade Federal do Espírito Santo)

No final da década de 1940, Rubens Borba de Morais e Willian Berrien organizaram o Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiros (MBEB). A intenção dos organizadores era propiciar um levantamento da bibliografia básica sobre diferentes áreas do conhecimento das ciências humanas, que tiveram o Brasil como objeto de análise e apreciação. A listagem das obras incluiu áreas como filologia, etnologia, literatura, folclore, sociologia, geografia, história, arte, direito, teatro e educação. O Manual contou com o suporte do Comitê de Estudos Latino- americanos da Universidade de Harvard, foi financiado pela Fundação Rockfeller, e utilizou como modelo de publicação, o Handbook of Latin American Studies, que fora publicado pela primeira vez, em 1936. A publicação do Manual estava prevista para o ano de 1943, mas foi adiada devido a vários fatores, sobretudo à entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, dando-se sua publicação apenas seis anos mais tarde. Por isso, a data das publicações coletadas foi até o ano de previsão 463 do lançamento do Manual. Segundo Berrien, esta publicação “trata(va)-se de breve histórico sobre o desenvolvimento e a situação das disciplinas selecionadas, acompanhado de uma bibliografia crítica e seletiva de itens, que deve(ria)m ser básicos para o estudo do assunto.” Os organizadores estavam cientes que este tipo de publicação, apesar das eventuais limitações e lacunas, era fundamental por propiciar um panorama geral dos estudos publicados que versaram sobre o Brasil. Além disso, os organizadores tiveram o cuidado de incluir antes de cada listagem de obras, estudos introdutórios escritos por diversos intelectuais do período, como José Honório Rodrigues, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Junior, Otávio Tarquínio de Souza, Alice Canabrava, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Astrojildo Pereira, Francisco de Assis Barbosa, Robert Smith, Pierre Monbeig e Donald Pierson.

Ver e contar: narrativas de viagem à União Soviética por médicos brasileiros (décadas de 1930 e de 1950) - Gabriela Alves Miranda (Casa de Oswaldo Cruz)

A dimensão da União Soviética como concretude do modelo socialista no mundo despertou o interesse e o imaginário de muitos ocidentais, embalando curiosidades, sonhos e esperanças. Essa comunicação irá tratar do encontro de brasileiros com soviéticos por meio de alguns relatos de viagem que foram publicados com a finalidade de divulgar tal experiência de viagem a públicos mais amplos. Tais narrativas foram, particularmente, escritas por médicos nos anos 1930 e nos anos de 1950. Maurício de Medeiros lançou “Rússia: impressões de viagem e aspectos da medicina soviética” (Calvino Filho/ RJ, 1931), Osório César publicou “Onde o ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------proletariado dirige” (edição do autor/ SP,1932); e fruto de uma mesma excursão, Milton Lobato e Reinaldo Machado lançaram um relato a 4 mãos com o título de “Médicos Brasileiros na União Soviética: impressões de viagem e aspectos da medicina soviética” (Editorial Vitória/ RJ, 1955) e Raul Ribeiro da Silva publicou “Rússia vista por um médico brasileiro” (Civilização Brasileira/ SP, 1956). O turismo era uma esfera importante da política soviética, repercutindo interna e externamente, e era visto como crucial nas relações internacionais com o Oeste. Nesse sentido, os estudiosos que se dedicam ao tema dos relatos de viagem com fins políticos, consideram dois grandes momentos. Um deles entre 1917 e 1939 – que foi seguido de estagnação, consequente ao conflito da Segunda Guerra Mundial – e outro momento, após os anos 1950. Além de explorar a diferença dos contextos das viagens, irá se apresentar aspectos das narrativas, do mundo editorial de orientação comunista e das percepções da ciência e medicina soviéticas. A ideia do livro como ator, assim como da relação entre o livro, seus autores e a cultura política de esquerda estarão presentes nessa discussão, à luz de contribuições historiográficas recentes.

“Mulheres em Revistas no Rio de Janeiro”: A Educação Feminina nas Páginas da Revista Popular (1859-1862) - Adriana Aparecida Pinto (Universidade Estadual Paulista - UNESP - Assis), Gabriella Assumpção da Silva Santos Lopes (Universidade Federal da Grande Dourados)

O que liam as mulheres? O que ler para as mulheres? Como educá-las? Essas 464 questões, dentre outras, movimentam a pesquisa de mestrado em curso, que objetiva compreender formas de educação postas em circulação, por meio dos impressos, e nesse estudo a fonte privilegiada é a Revista Popular. Primeiro empreendimento no ramo dos periódicos do francês Baptiste Louis Garnier no Brasil, circulou quinzenalmente entre os anos de 1859 a 1862, podendo ser considerado um importante registro do pensamento científico e literário dos intelectuais que residiram no Rio de Janeiro (PINHEIRO, 2002). Trouxe uma pluralidade de seções que pretendiam satisfazer e instruir um público diverso, dentre ele, as mulheres, que por volta dos anos de 1830, puderam contar com alguns periódicos como “O Espelho Diamantino (1827)”, “Correio das Modas (1839)”, “ O Espelho das Brasileiras (1831)”, “Novo Correio de Modas (1852)”, “ A Marmota (1857)”. Vale ressaltar que em meados dos oitocentos, a relação entre o universo feminino, a literatura e a imprensa foram se tornando mais próximas (OLIVEIRA, 2011). Sendo assim, interessa para esse trabalho, a partir da compreensão do cenário da época, evidenciar e analisar os modelos de educação e conduta recomendados ou sugestionados à mulher do Rio de Janeiro, de modo direto e indireto, apresentados pelo periódico, na segunda metade do século XIX, com aporte teórico assentado no âmbito da História Cultural em diálogo com o campo educacional e os estudos históricos sobre Mulheres. Nessa percepção, tomamos para exame as seções “Crônicas da Quinzena”, “Instrução e Educação”, bem como a seção de biografias “Brasileiras Célebres”. A seção de “Instrução e Educação” constituiu-se, em parte, de conselhos sobre a educação das moças e crianças. Já a seção “Crônicas da Quinzena”, de possível autoria de Carlos José do Rosário e Joaquim Manuel de Macedo, trouxe figurinos femininos acompanhados de sua ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------descrição e recomendação de uso, como também relatos da vida social da Corte, fornecendo indícios das formas de sociabilidade feminina consideradas apropriadas para o período. A seção “Brasileiras Célebres”, de autoria de Joaquim Norberto, reuniu um conjunto de biografias de mulheres consideradas ilustres, de acordo com os ideais de boa esposa, boa mãe, patriotismo e fé cristã. Os processos de mapeamento, localização e levantamento da documentação, ao lado das análises preliminares realizadas até o momento, permitem afirmar que a Revista Popular esteve atenta a relevância do público leitor feminino, reservando algumas seções destinadas a ele e a sua educação. Embora nesse período, as mulheres alfabetizadas constituíssem um quantitativo reduzido, acompanhavam os periódicos de forma assídua.

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466 ST 47. Militares, poder e sociedade: métodos de história e parcerias

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A Guerra do Contestado (1912-1916) e seus reflexos para a tomada de decisões no campo militar e das relações internacionais - Eduardo Rizzatti Salomão (Escola Superior de Guerra)

Percebida por muitos como um evento de impacto regional, por ter ocorrido em terras do Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, poucos pesquisadores reconheceram que a Guerra do Contestado (1912-1916) promoveu desdobramentos de repercussão mais ampla. Dos esforços para a modernização do Exército brasileiro as políticas no âmbito nacional e internacional no campo militar, muitos foram os assuntos onde a Campanha Militar do Contestado foi lembrada para a tomada de decisões. O objetivo da apresentação é discutir o papel da Guerra do Contestado nas políticas de reorganização do Exército no séc. XX e seus possíveis desdobramentos no campo das políticas de guerra/defesa adotadas pelo Estado brasileiro para com seus vizinhos sul-americanos. Visando subsidiar a reflexão proposta, foram consultados documentos do Congresso Nacional brasileiro, do Ministério da Guerra e do Estado-Maior do Exército, jornais, revistas e obras de época, em particular as produzidas por observadores do conflito. No tocante ao estado da arte atual sobre o tema, destacam-se as produções de Frank McCann e Rogério R. Rodrigues. O propósito mais amplo da apresentação é promover discussões sobre em que medida o Contestado repercutiu para a tomada de decisões estratégicas no campo militar e das relações internacionais.

A linha dura nacionalista e a "nasserização frustrada" do regime militar 467 brasileiro. - Guillaume Azevedo Marques de Saes (Universidade de São Paulo / Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas)

Ao longo da História encontramos uma série de fenômenos políticos que se manifestaram em determinados contextos nacionais, mas cujo impacto fora de suas fronteiras geográficas foi tão grande que eles deixaram de ser apenas um acontecimento histórico em seus respectivos países para dar origem a expressões do vocabulário político universal; é o caso do jacobinismo e do bonapartismo na França, do fascismo na Itália, entre outros. Já dentro do universo dos movimentos políticos de base essencialmente militar, temos o nasserismo, que marcou a vida política do Egito na segunda metade do século XX e que serviu de inspiração para outros regimes militares reformistas do mundo em desenvolvimento. O regime militar do coronel Nasser (1952-1970) se caracterizou por um nacionalismo não- alinhado que pregava a independência em relação aos dois blocos, assim como por uma série de reformas (reforma agrária, modernização e militarização do aparelho estatal, industrialização acelerada) cujo objetivo era transformar o Egito numa potência regional moderna sob a autoridade de uma elite tecnocrática de origem militar. Este modelo nacionalista e reformista militar de caráter pequeno-burguês, que passou a ser designado como nasserismo, acabou sendo exportado para outras nações do mundo árabe e serviu de inspiração para alguns regimes militares sul- americanos como o de Velasco Alvarado no Peru e os regimes efêmeros de Ovando e Torres na Bolívia. No caso brasileiro, o maior exemplo de intervenção militar de tipo nasserista foi sem dúvida o da linha dura nacionalista (Albuquerque Lima e Sílvio Heck, entre outros) que participou do movimento golpista de 1964 mas que ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------pouco depois passou a contestar as orientações políticas e econômicas do regime militar (compromisso com elites financeiras, oligárquicas e corruptas, submissão ao imperialismo norte-americano, política econômica antinacional) e a defender um projeto de aprofundamento do processo ditatorial, de política externa independente e de reorientação do regime no sentido do nacionalismo econômico. O nosso objetivo aqui será o de analisar esta tentativa frustrada de “nasserização” do regime militar – isto é, a tentativa malsucedida de trazer o regime para o campo do nacionalismo e do reformismo autoritário – e situá-la no contexto de um conflito dentro das próprias classes dominantes brasileiras, entre um setor financeiro privilegiado pelo regime e um setor industrial que se sentia prejudicado pelas políticas vigentes e que esboçava uma tímida oposição.

A pesquisa no National Archives e a existência de documentos originais e secretos - Giovanni Latfalla (Ministério da Defesa - EB - Colégio Militar de JF)

Este trabalho tem o objetivo de mostrar a importância da pesquisa histórica sobre o Brasil no National Archives II, em Maryland, Estados Unidos, local com excelentes condições de trabalho, com uma enorme quantidade de fontes sobre o Brasil, sendo que algumas delas, são documentos originais e secretos do Exército Brasileiro.

As Forças Armadas nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem na Perspectiva da Escola Superior de Guerra – 2006/2016 - Luiz Claudio 468 Duarte (Universidade Federal Fluminense)

O fim da guerra fria, com a dissolução do chamado “campo socialista”, retirou dos militares a missão de combate à “ameaça comunista”, em torno da qual os militares brasileiros foram doutrinados desde, ao menos, a década de 1930, após a denominada Intentona Comunista de 1935. Na consolidação do anticomunismo como ideologia unificadora das correntes militares, papel destacado coube à Escola Superior de Guerra. Após a “queda do comunismo” os militares passaram a viver uma dupla “crise de identidade”. Por um lado, a falta de um inimigo a ser combatido, a ausência de uma missão e de uma doutrina unificadora; por outro, a sensação de desprestigio à medida que o modelo macroeconômico de cariz neoliberal posto em prática pelo Estado desde o início da década de 1990 implicou em restrições orçamentárias que, nos discursos de vários representantes da cúpula militar, estavam levando ao sucateamento das FFAA e submetendo os militares a dificuldades financeiras pela compressão dos salários. Simultaneamente o Estado passou a demandar a intervenção das FFAA na repressão a movimentos e protestos sociais e, mais diretamente, no combate ao chamado crime organizado em centros urbanos como o Rio de Janeiro, por meio das ações de GLO. Se inicialmente alguns representantes da cúpula militar expressaram preocupações e mesmo oposição ao emprego das FFAA no combate à criminalidade, com o tempo as resistências diminuíram. Constatou-se a boa receptividade da opinião pública à presença dos militares nas ruas, auxiliando os aparelhos repressivos estaduais. As ações de GLO tornaram-se frequentes o que tem levantando preocupações quanto a essa recorrente intervenção das FFAA em uma questão de ordem interna: a segurança ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------pública, que se tornou uma questão sensível na agenda política dado seu impacto na opinião pública. Serão as ações de GLO a nova missão, a nova base doutrinária, o novo sentido para a existência das FFAA em um país periférico como o Brasil? Que consequências podem advir para a democracia e para as relações entre o poder civil e os militares dessa presença frequente dos militares em assuntos internos como a segurança pública? Pode a autorização presidencial para o emprego da GLO tornar-se uma ferramenta de barganha política entre o Executivo Nacional e os governos estaduais que recorrem ao seu uso? A recorrência das missões de GLO pode levar a uma nova doutrina militar onde os grupos criminosos e movimentos sociais substituam os comunistas como o “inimigo interno”? O trabalho que proponho para é parte da pesquisa de estágio pós-doutoral que realizo no Instituto de História da UFRJ e no qual busco perquirir como a ESG se coloca diante dessa crescente presença das FFAA em missões de segurança pública.

De Monte Caseros à Tríplice Aliança - Pedro Gustavo Aubert (História Social FFLCH/USP)

Com a derrota de Juan Manoel de Rosas em 1852 pelas tropas aliadas do Império do Brasil, Corrientes e Entre-Ríos, e Montevidéu, a monarquia sul-americana passou a disputar protagonismo e supremacia regional com as grandes potências da época. Passou o Império a contar com uma estação naval no Rio da Prata, passou a ser credor da Confederação Argentina e da República Oriental do Uruguai. Os Tratados de 1851 impostos à República Oriental mediante ameaça de guerra 469 colocaram aquele estado sob a tutela do Império. Tal situação não passou desapercebida pelos governos europeus que buscaram neutralizar a influência política adquirida pelo Império. No tocante ao Paraguai, mais de uma década antes de rebentar a guerra foi iniciado um período de pax armada caracterizado por relações políticas beligerantes e pela iminência constante de conflito armado devido ao impasse em torno da navegação fluvial brasileira no Rio Paraguai. Justamente nesse período houve uma forte associação entre os ministérios da Marinha e dos Negócios Estrangeiros sendo em diversos períodos as duas pastas cumuladas pelo mesmo ministro.

Diálogos entre mediadores políticos: a relação entre o Visconde de Pelotas e o Marquês do Herval através de suas correspondências - Guilherme de Mattos Gründling (UFRRJ)

Este trabalho de pesquisa integra um conjunto de estudos que estão sendo desenvolvidos junto ao Programa de Pós-Graduação em História (PPHR) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Linha de Pesquisa: Relações de Poder, Linguagens e História Intelectual, sob orientação da Prof. Dr.ª Adriana Barreto de Souza. O estudo aborda a análise das trocas epistolares do militar e político José Antônio Correa da Câmara, o II Visconde de Pelotas, com o também militar e político, Manoel Luís Osório, o Marquês do Herval, nos anos finais do Império (1870-1879). Sabendo que Manuel Luís Osório, indivíduo de extrema influência em assuntos políticos e militares na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, apesar de ter sido nomeado ao Senado apenas em 1877, exerceu ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------influência sobre boa parte das localidades sul-rio-grandenses após sua atuação na Guerra do Paraguai. Correa da Câmara, homem de confiança de Osório, também alcançou cargos políticos importantes no governo imperial após seu retorno do conflito em terras paraguaias. Sua ascensão política levou-o a ocupar posição de liderança e de prestígio na sociedade política local e dentro do Partido Liberal. Acredita-se que, após esse largo período convivendo e atuando em conflitos bélicos, especialmente na Guerra do Paraguai (1864-1870), mediando situações, organizando tropas e estratégias militares, o crescimento dos vínculos sociais entre esses indivíduos aumentaram seus respectivos núcleos de sociabilidade dentro e fora de suas localidades, levando-os a ascender ao estreito cenário político imperial. Partindo-se da relevância dos vínculos estabelecidos por esses dois indivíduos, o problema que norteia esta pesquisa é conhecer quais as estratégias e os fatores que permitiram a ascensão de Correa da Câmara à esfera política e a sua atuação como mediador político entre a província do Rio Grande do Sul e o Império a partir dos vínculos constituídos em sua relação com Manuel Luís Osório. Em outras palavras, esse estudo tem por objetivo, portanto, compreender as formas de inserção política e as estratégias articuladas pela elite sul-rio-grandense no processo de ascensão à esfera política imperial, analisando-se os diálogos epistolares estabelecidos entre José Antônio Correa da Câmara (Visconde de Pelotas) e Manuel Luís Osório (Marquês do Herval).

Góes Monteiro e o emprego do Poder Aéreo durante a guerra civil de 1932 - Carlos Roberto Carvalho Daróz (Universidade Salgado de Oliveira) 470

Durante a guerra civil de 1932 ocorreu, pela primeira vez no país, o emprego considerável da arma mais temida do período entreguerras (1918-1939): o avião. A aviação federal, na época a Aviação Militar do Exército e a Aviação naval da Marinha, e a Aviação Constitucionalista espalharam o terror nas trincheiras e nas áreas de retaguarda, bombardeando e atacando alvos de interesse militar e apavorando combatentes e civis. Homem de confiança de Getúlio Vargas, o general Pedro Aurélio de Góes Monteiro comandou o Exército Leste e utilizou a aviação como arma estratégica e psicológica no enfrentamento da sedição paulista. A presente pesquisa tem o propósito de analisar o uso da aviação por Góes Monteiro e o debate ocorrido na imprensa acerca dos bombardeios aéreos.

O processo de criação e consolidação da primeira Companhia de Aprendizes Marinheiros do Brasil Imperial (1840) - relatos de uma pesquisa - Jorge Antonio Dias (CPDOC/FGV)

No trabalho procuramos destacar os momentos históricos e políticos percorridos para que fosse criada a Companhia de Aprendizes discutindo e examinando esse processo com base nas diferentes ideias que permeavam as ações de diferentes Ministros da Marinha e as legislações específicas referentes à criação e regulamentação da Companhia. Procuramos desenvolver nesse trabalho a ideia de que as Companhias de Aprendizes foram fundamentais no processo, ainda que parcial e incompleto, de instrução e educação formal dos marinheiros iniciado em meados do século XIX. Servindo ainda para apontar as contradições históricas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------entre recrutamento e composição das praças; um relativo protagonismo dos Oficiais e Ministros da Marinha militares em diferentes momentos na formulação de uma conduta política institucional que colocasse em prática uma efetiva institucionalização e enfardamento para os marinheiros; uma instituição pública para jovens que pudesse fornecer educação, tão rara aos “indivíduos do comum”; e, por fim, a custódia e guarda desses jovens.

O projeto militar pombalino na América portuguesa: alcance, técnicas e elites locais - Christiane Figueiredo Pagano de Mello (UFOP)

A finalidade desta exposição é refletir sobre as experiências de defesa e militarização no Império Ultramarino Português. O contexto espacial delimitado compreende duas áreas: o Norte e o Centro-Sul da América Portuguesa. Utilizaremos uma perspectiva comparativa a fim de obter uma compreensão mais ampla sobre a política militar utilizada pela Coroa Lusitana nas suas possessões ultramarina, na segunda metade do século XVIII. A partir do período pombalino (l750-1777) se passa a reforçar o princípio da interdependência entre os domínios portugueses da América, no que se referia ao encargo da defesa do território. No projeto militar pombalino a forma de batalha e de pensar a guerra foram modificadas: não se tratava mais de um sentimento de defesa local dos governos das capitanias, criando suas guarnições, debaixo das impressões do momento. Tratava-se de organizar um exército debaixo das mesmas leis, da mesma direção e da mesma disciplina. Sob essa perspectiva, o trabalho analisa o processo de 471 incorporação das áreas em estudo - Norte e Centro-Sul da América Portuguesa - na nova lógica militar implantada em Portugal a partir de 1750, bem como os seus efeitos nos grupos armados das elites locais.

O projeto político do estado brasileiro sobre vigilâncias das fronteiras para a defesa territorial durante a primeira metade do século XX - Fernando da Silva Rodrigues (Universidade Salgado de Oliveira)

Esta investigação tem como proposta analisar o projeto político do Estado brasileiro no processo intervencionista de ocupação do sertão Norte brasileiro, face aos interesses de defesa e de vigilância das fronteiras. A pesquisa apoiou-se no uso de documentação produzida pelo Ministério da Guerra, articulando essa produção documental com os interesses modernizadores na primeira metade do século XX, com os interesses do Brasil republicano, na ocupação do território através da intervenção regional e de uma política relacionada à defesa do espaço. Fortalezas, militares, cidades, colonização, e fronteiras são temas importantes para se entender a formação de parte do território brasileiro. Articulados, esses temas sinalizam a dinâmica da política de Estado implementada nessa parte da América, para defender o território.

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Os criados e seus amos nos navios da Armada Imperial: aspectos parciais do “efeito disciplinar global” entre os subalternos - Pierre Paulo da Cunha Castro (Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha)

As análises em torno da disciplina na Marinha, no período em que vigorou a prática dos castigos corporais, foram durante muito tempo vinculadas às abordagens sobre o processo da Revolta dos Marinheiros de 1910. Devido a curta distância temporal em relação ao evento, muitas pesquisas foram afetadas pelos períodos autoritários que dominaram o Estado brasileiro, contribuindo para que, também, refletissem as disputas ideológicas em torno da revolta. Somente no atual período democrático, surgiram pesquisas que ampliaram o estudo da disciplina a bordo dos navios para o período do século XIX, apresentando novos olhares que compreenderam, de diferentes formas e variados aspectos, a manutenção da disciplina em um período onde não há registros de revoltas contra os castigos. De maneira geral, esses trabalhos preocuparam-se em compreender as causas da revolta analisando os rígidos códigos disciplinares que estavam em vigor. Considerando a necessidade de abordar como foi possível o mais elementar espaço da Marinha, o navio, operar segundo uma lógica de aplicação de castigos corporais adotada para manter a disciplina, a pesquisa que se segue é a ampliação de um dos resultados parciais da busca de uma fonte que reunisse os registros de todos os indivíduos que embarcaram no mesmo navio em um determinado período – o Livro de Socorros. Assim, ao nos afastarmos das abordagens que propuseram o entendimento do castigo corporal, a partir da análise dos Artigos de Guerra, como um suplício 472 proveniente dos regimes absolutistas, buscamos entender como a “vigilância hierárquica” e a “sansão normalizadora” se consolidaram, concomitantemente com a complexificação das atividades nos navios híbridos (movidos à vela e à vapor), atuando no estabelecimento das relações entre comandantes, oficiais, grupos intermediários e setores subalternos, a fim de perceber como aqueles homens agiam em torno do sistema disciplinar a que estavam submetidos, estabelecendo complexas relações que sustentaram a manutenção de uma disciplina aparente, enquanto estavam submetidos aos regulamentos disciplinares que previam a aplicação de castigos corporais. Este primeiro e parcial trabalho considera os aspectos das relações entre os indivíduos que embarcaram nos navios como criados dos oficias, e seus amos, relacionando-os com os diferentes grupos embarcados, possibilitando o entendimento do “efeito disciplinar global” sobre estes indivíduos, bem como da institucionalização específica deste grupo, que ocorreu somente em 1908 com o novo regulamento ao Corpo de Marinheiros Nacionais, quando foi instituída uma companhia de taifeiros, constituída pelas praças de bom comportamento que desejassem empregar-se no serviço da taifa.

Os desafios educacionais de um século: a saga das transformações “contadas” pelos comandantes da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (1919 – 1923) - Fabio da Silva Pereira (Universidade Salgado de Oliveira)

A investigação diz respeito ao período que compreende as mudanças ocorridas no plano educacional com a introdução do aperfeiçoamento militar no Exército Brasileiro (EB) a partir de 1920, com o apoio da Missão Militar Francesa (MMF). ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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O referencial bibliográfico e empírico em que se apoia e com que trabalha este estudo centra-se em documentos pessoais dos comandantes da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), em documentos educacionais gerados no sistema de ensino militar, além da bibliografia especializada de autores militares e civis. A partir da revisão histórica, foram analisadas as ações ocorridas no processo de condução do ensino na EsAO, estabelecendo elementos essenciais para a compreensão do objeto do estudo. Este estudo tem como objeto de pesquisa contextualizar as transformações e os desafios enfrentados por esses comandantes em momentos críticos da história nacional. O estudo biográfico de 53 (cinquenta e três) chefes militares propicia a tônica do discurso, ora legalista, ora em prol de mudanças nos destinos do país. O EB, sintonizado com as conjunturas, percebeu a inadiável necessidade de promover um processo de atualização no seu Sistema de Ensino e elevar a EsAO à condição de uma das escolas mais importantes da Força Terrestre. Esta pesquisa justifica-se como contribuição à literatura acadêmico- científica e técnica da área de História do Brasil.

Política de Esportes durante a Ditadura Militar: Educação Física, Moral e Cívica - Fabiana Ortiz do Nascimento (Universidade de São Paulo)

O marco dos 50 anos do Golpe Militar trouxe à tona o tema do Golpe e da Ditadura Militar para a ordem do dia. Diversas reações têm sido externalizadas, sejam críticas ou saudosistas. Nas últimas décadas um debate revisionista vem, inclusive, contestando a denominação do regime instaurado no Brasil no período de 1964 à 473 1985, e em detrimento da denominação ditadura militar, se achando conveniente o uso do termo "ditadura civil-militar". Por outro lado, o esporte, quanto fenômeno social, não passa a margem dos contextos sociais, políticos e econômicos que compõem as sociedades que o acolhem. Tendo ele capacidade de penetrar diferentes estruturas sociais, o esporte comporta interesses que envolvem o Estado, o mercado e as organizações sociais ou sociedade civil, estando por vezes no centro, como motivo ou como condutor, de determinados conflitos. O presente trabalho trata das políticas púbicas de esporte durante a ditadura militar no Estado de São Paulo, visto que o esporte foi um dos bastiões de busca de apoio popular ao regime vigente no país. No Estado de São Paulo o Departamento dos Desportos esteve sob o comando militar, e neste período houve um aumento significativo na interferência do Estado no esporte, como o aumento substancial de equipamentos públicos de Esporte. Também abordaremos a intersecção de agentes públicos e dirigentes de entidades esportivas no Estado.

Regime militar autoritário de 1964: o aparelho repressivo - Aloysio Castelo de Carvalho (Universidade Federal Fluminense)

O regime político que emergiu após o golpe de 1964 apresenta uma característica marcante: o poder de decisão que as Forças Armadas adquiriram e expandiram em relação aos outros atores políticos. Diferentemente das intervenções militares em 1945 e 1954, quando os governos foram depostos e o poder civil restaurado, o golpe em 1964 redefiniu o papel das Forças Armadas. A organização militar, pela liderança do Exército, passou a impor sua concepção do Estado Nacional. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Orientados pela Doutrina de Segurança Nacional elaborada pela Escola Superior de Guerra, os dirigentes militares organizaram um Estado com vasto aparato repressivo de controle político e social. A violência política exercida pelo Estado modifica-se de acordo com as circunstâncias históricas. A violência pode ser considerada legal, constitucionalizada, como no caso dos Estados democráticos de direito. Pode também atingir formas extremas de ilegalidade e até mesmo adquirir características que a aproxime do terrorismo de Estado, quando a política está submetida ao conceito de guerra. Foi o que ocorreu no Brasil a partir de 1964, sobretudo entre 1968 e 1973. Com a justificativa de conter a desobediência de setores oposicionistas da sociedade civil e sustar o crescimento de grupos de esquerda, não foram poupados esforços na mobilização de recursos repressivos. O Estado, nesse processo, ampliou seu perfil policial com relação às manifestações sociais e suas leis de defesa ganharam maior potencial para intimidar os inimigos internos. Os indivíduos e grupos sociais perderam por completo suas garantias legais, ficando desprotegidos ante as ameaças das forças de segurança que não conheciam limites para as suas operações. A eliminação dos oponentes do cenário institucional, através de práticas repressivas, acabou favorecendo uma cultura muito peculiar aos regimes autoritários: a do medo. Soma-se a isso o intenso controle sobre as diversas mídias, desnorteando a sociedade quanto aos rumos que o país tomava. Eis em síntese os componentes do esquema repressivo erguido após 1964. Na hierarquia do poder, de acordo com a responsabilidade de garantir a ordem autoritária, a Polícia Política se encontrava em primeiro plano, constituindo com a Justiça Militar e a Censura um sistema integrado, que era amparado 474 juridicamente pela Lei de Segurança Nacional. Analisamos as estruturas e os papéis desempenhados pelos órgãos do aparelho repressivo, sobretudo entre 1968 e 1973, período no qual aparecem como instrumentos privilegiados de defesa dos governos militares. Para realizar a pesquisa, recuperamos nos arquivos da Escola Superior de Guerra as conferências e palestras realizadas por militares, representantes políticos e autoridades do governo.

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475 ST 48. Mundos do trabalho e ditaduras no Brasil republicano

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"Movimentos subversivos no Alto da Serra": ferroviários de Petrópolis no pré e no pós-1964. - Glauber de Oliveira Montes (PPGHIS/UFRJ)

Este resumo tem como objetivo apresentar uma pesquisa sobre os ferroviários da cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, e seu papel nas lutas sociais e políticas travadas na cidade, entre os anos de 1960 e 1969, com base na interpretação de documentos de época da polícia política e da 67ª Delegacia de Polícia, livros de memórias, entrevistas orais e também da imprensa local e carioca, além da literatura acadêmica que tem relação com o assunto. A pesquisa concentra-se em duas fases contíguas porém distintas: de fins de 1960 a abril de 1964 e daí até 1969. O marco divisor na periodização da pesquisa é o golpe de 1964. O primeiro momento estudado vai, portanto, de novembro de 1960, quando da Greve da Paridade e criação do Pacto de Unidade e Ação, até o golpe de abril de 1964; e a segunda fase, do golpe ao ano de 1969, em que ocorreram cassações de direitos políticos como uma espécie de última etapa de perseguição a militantes petropolitanos de esquerda envolvidos nas lutas do “pré-64” – entre eles, ferroviários. Nesses marcos, a pesquisa dá maior ênfase ao período entre 1960 e 1964, buscando entender a importância dos ferroviários no processo de radicalização política que culminou no golpe de 1964, como eles eram monitorados pela polícia política e como essa vigilância acarretou em prisões e perseguições logo após o golpe, supondo-se que a categoria tenha tido considerável importância no processo descrito, sabendo-se que foi duramente impactada pelo golpe e pela ditadura subsequente. As fontes levantadas têm permitido analisar o papel e a 476 relevância da categoria no processo descrito, bem como o monitoramento policial sobre os sindicalistas ferroviários e em suas relações com outros ativistas políticos no pré-1964, demonstrando a importância dessa vigilância prévia para as prisões e indiciamentos após o golpe. Além disso, esses documentos são elementos para se avaliar o impacto do golpe e da Ditadura Militar sobre o sindicalismo petropolitano, especificamente quanto à categoria dos ferroviários, demonstrando a existência de prisões, atos de violência física e psicológica, além de cassações de mandatos e direitos políticos de ferroviários e suas lideranças; considerando ainda a extinção da ferrovia em Petrópolis pela Ditadura, em 1964, e as consequências desses diversos impactos para a categoria dos ferroviários.

A ditadura e os canavieiras de Guariba (SP) - Julia Chequer (FGV)

O presente trabalho se propõe a analisar os efeitos da ditadura militar, em especial do Programa Nacional do Álcool, em Guariba, interior de São Paulo. O pequeno município cresceu rapidamente sobretudo a partir do Proálcool, em 1975, atraindo migrantes, sobretudo camponeses do Vale do Jequitinhonha e do Nordeste, para o trabalho na lavoura de cana-de-açúcar. Em poucos anos de vigência do Programa, o município se tornou, ao mesmo tempo, referência na produção de álcool, com modernas usinas, e palco de um massivo movimento grevista, em 1984. O programa está inserido no projeto de desenvolvimento nacional da ditadura militar, em especial da modernização da agricultura, cujas intenções já estavam presentes no Estatuto da Terra, lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964. Buscamos, assim, compreender de que maneira as transformações no município fazem parte desse ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------projeto, apresentando também uma breve análise de como estas questões aparecem nas no jornal A Comarca de Guariba.

A greve dos trabalhadores do sal da Cabo Frio em 1960 e seus desdobramentos políticos - João Henrique de Oliveira Christovão (CPDOC/FGV)

No período compreendido entre junho e julho de 1960 os trabalhadores da cadeia produtiva do sal em Cabo Frio fizeram uma greve emblemática por seus direitos que eram, até então, sistematicamente desrespeitados. A resposta dos donos de salina e do governo foi uma fortíssima repressão que culminou com a invasão da cidade por tropas do exército e uma verdadeira caça às bruxas aos líderes daquele movimento. Esse trabalho busca analisar as condições que levaram ao movimento grevista, a ação do Estado na repressão e os desdobramentos ocorridos a partir daí. Uma das questões que se impõe nesse episódio é em que medida os acontecimentos ocorridos ali dão mostras da dimensão do caráter autoritário do Estado e apontam para a possibilidade de endurecimento do regime?

Desnaturalização dos discursos do terceiro governo da Ditadura Civil-Militar (1969-1974): a construção da história a partir da imprensa - Jonathas Duarte Oliveira de Souza (UFPE)

Este trabalho objetiva tornar público os resultados avançados de pesquisa realizada no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). 477 Com intuito de investigar a relação entre os discursos jornalísticos e as propagandas governamentais do terceiro governo da Ditadura Civil-Militar (1969-1974) que estimularam a migração de trabalhadores pobres do Nordeste para a Amazônia, foi movimentada uma série de documentos provenientes da imprensa e de publicações oficiais a fim de desnaturalizar a ação e a positividade com que esses órgãos agiam. Assim, analisando a bibliografia especializada no tema associada à robusta produção discursiva sobre as políticas públicas do período em questão, foi possível construir uma narrativa que demonstra a associação desses importantes setores para construção da imagem revolucionária da ditadura de 1964, bem como os dispositivos linguísticos que se utilizavam os jornais para convencimento da população. A argumentação também terá por objetivo fazer um debate no campo da historiografia, versando sobre o uso da imprensa como fonte histórica.

Grevismo e Repressão Judicial: Brasil, Anos 1980 - Richard de Oliveira Martins (UNICAMP)

O trabalho que apresentaremos trata de agumas das diferentes modalidades de repressão judicial com que se depararam lideranças metalúrgicas como consequência de sua participação nos movimentos grevistas que marcaram o período da chamada "abertura política". Partimos do fracasso da tentativa de criminalização de alguns dos dirigentes metalúrgicos de São Bernardo do Campo, na sequência da greve que conduziram em 1980, através de seu enquadramento na Lei de Segurança Nacional. Aquele processo se encerraria em 1983 com um veredito do Supremo Tribunal Militar que, na prática, reconhecia a incompetência ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------da Justiça Militar para avaliar matérias relacionadas às greves, praticamente no mesmo momento em que uma nova Lei de Segurança Nacional, supostamente mais branda, era aprovada pelo governo Figueiredo. Dois anos depois, já sob Sarney, quando ativistas e sindicalistas metalúrgicos de São José dos Campos também se viram alvo de processos criminais como resultado de sua participação numa greve com ocupação de fábrica, a nova LSN não foi mobilizada; a repressão promovida pelo Governo do Estado de São Paulo contra os grevistas se amparou em artigos do próprio Código Penal, numa evidente tentativa de caracterizá-los como simples criminosos, despolitizando a greve e escamoteando o caráter também eminentemente político da própria repressão.

No front interno: trabalhadores, esforço de guerra e lutas contra a carestia em Niterói (1942-1945) - Luciana Pucu Wollmann do Amaral (Professora da rede pública estadual e municipal do Rio de Janeiro)

Este trabalho tem como objetivo analisar como a experiência da carestia vivenciada por milhares de trabalhadores durante a Segunda Guerra Mundial, acabou colocando essa discussão no patamar do debate político nacional e da conquista de direitos. Tratando-se de um período marcado por mobilizações populares em prol da entrada do Brasil na guerra, aqueles anos também foram marcados por sacrifícios impostos aos trabalhadores que foram convocados a servir na linha de frente da “batalha da produção”. Desta maneira, se por um lado, o discurso patriótico motivado pela conjuntura de guerra buscou justificar medidas como a 478 ampliação da jornada de trabalho, suspensão de direitos trabalhistas e espoliação salarial; por outro, este também forneceu material discursivo para àqueles que se engajaram nas lutas por melhores condições de vida e trabalho durante a guerra e no período imediatamente posterior a esta. Em Niterói, o “esforço de guerra” elevou os custos com alimentação a tal ponto, que a capital fluminense chegou a registrar a maior alta de preços de gêneros alimentícios em relação às demais capitais da região sudeste e até mesmo, das demais capitais brasileiras em alguns períodos entre 1942 e 1944. No campo de batalha interno da cidade, a luta dos preços X salários motivava denúncias contra os açambarcadores, os “tubarões” do mercado negro e os antipatriotas que aumentavam preços e adulteravam produtos vendidos à população. Neste cenário, as lutas contra a carestia e da alta no custo de vida tiveram um impacto significativo na experiência de luta e na consciência de classe dos trabalhadores da capital fluminense nos anos 1940 e também na década seguinte. Logicamente, que esta não era uma exclusividade da cidade de Niterói e nem tampouco uma novidade na vida dos trabalhadores brasileiros que com frequência, precisam “esticar” o salário ao final do mês para garantir o mínimo necessário para a sua sobrevivência e da sua família. Outras pesquisas ambientadas em Santos, São Paulo, Amazonas e Rio Grande do Sul, ainda que não estejam necessariamente centradas na temática da guerra, enfatizam a importância daqueles anos para a experiência dos trabalhadores, seja pelas consequências da superexploração ou pelas possibilidades de ação e/ ou (re)formulação do repertório de lutas dos trabalhadores a partir das mudanças ocasionadas pela entrada do Brasil na guerra. Desta maneira, buscaremos a partir de um estudo espacialmente localizado – Niterói – perceber como as lutas e medidas tomadas contra a carestia ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------conformam, em seu conjunto, um processo de politização da carestia que irá se manifestar com força no cenário político fluminense (e brasileiro) no pós 1945.

O Ministério do Trabalho e Programa Especial de Bolsa de Estudos (PEBE) - Heliene Chaves Nagasava (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea)

O golpe militar de 1964 marcou uma profunda alteração no papel do Ministério do Trabalho. A pasta, especialmente no período do intervalo democrático, tinha galgado os primeiros postos da máquina burocrática, passando a ser um dos principais ministérios do Poder Executivo. No entanto, a ditadura transferiu o poder decisório de questões centrais para os trabalhadores para os ministérios da área econômica e para os aparelhos repressivos, o que levou tanto ao desmantelamento físico da sua própria estrutura, com a redução do seu orçamento e quadro de funcionários, quanto à perda simbólica do seu papel de negociador com a classe trabalhadora. A ditadura militar passou a promover uma nova política para os trabalhadores que, definida como “novo trabalhismo”, termo cunhado por Roberto Campos, ministro do Planejamento de Castelo Branco, visava promover a democratização das oportunidades, ampliando as atribuições dos sindicatos e deslocando o seu foco de atuação das reivindicações salariais para o desenvolvimento, em associação com o governo, de projetos e programas de investimentos nos setores sociais de produtividade indireta. O fato dessa política ser criada, resumida e divulga pelo ministro do Planejamento já evidencia a pouca 479 influência do Trabalho. Carro chave dessa nova política foi o Programa Especial de Bolsa de Estudos (PEBE), citado como uma importante ação governamental para aumentar o número de sindicalizados, promover um alívio salarial para os trabalhadores e estimular a sua educação. O programa, criado em janeiro de 1966 ainda sob a gestão do Ministro do Trabalho Walter Peracchi Barcelos, foi um dos mais importantes para o governo Costa e Silva e visava fornecer bolsas de estudos para filhos de trabalhadores sindicalizados. Uma das mais importantes fontes de renda veio da Aliança para o Progresso e a sua repercussão foi aventada de tal forma que se tornou vitrine para sindicalistas internacionais e membros da OIT que visitariam o país. Um dos principais canais de divulgação do PEBE foi os Boletins informativos da Agência Nacional, órgão de notícias do governo federal, que eram distribuídos para a imprensa. No final dos anos 1960, enquanto o país convulsionava em manifestações públicas contra a ditadura e a classe trabalhadora se organizava em greves contra o arrocho salarial, o Ministério do Trabalho passou a ignorar tais acontecimentos limitando-se a divulgar boletins quase exclusivamente sobre o PEBE. Nesse sentido, nesse trabalho pretendo analisar os boletins divulgados pelo Ministério do Trabalho, via Agência Nacional, para tentar compreender qual modelo de trabalha e trabalhador a ditadura queria construir, refletindo sobre a efetividade do PEBE e levantando hipóteses sobre o seu impacto sobre a classe trabalhadora.

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Os prejulgados como instrumento de controle nas ações trabalhistas nos acórdãos coletivos durante a ditadura civil-militar - Claudiane Torres da Silva (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro)

Cinquenta anos depois do golpe civil-militar, essa pesquisa colabora com as demais pesquisas quando constata que as relações estabelecidas entre o Poder Executivo e o Poder Judiciário colocou um peso enorme nas decisões proferidas pela Justiça do Trabalho. Nesse sentido, proponho entender a Justiça do Trabalho como um espaço de debates e ações jurídicas que possuem um apelo social imprescindível na sociedade brasileira. Em momentos, de crise e golpes de Estado, os tribunais trabalhistas atuam em defesa de um ramo do Direito que deve servir ao equilíbrio de forças entre o capital e o trabalho. A análise buscou perceber como uma instituição com características democráticas, o Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, sofreu intervenções através do Provimento n. 20/64 e viu suas atividades serem atingidas com as leis, os decretos e os prejulgados que alteraram sua estrutura atingindo aqueles que a utilizavam. Os caminhos para apresentar a atuação da Justiça do Trabalho e dos sindicatos patronais e dos trabalhadores na cidade do Rio de Janeiro ainda tem muito a esclarecer, mas proponho aqui resumir um importante diagnóstico das ações coletivas peticionadas pelas entidades de classe durante o período de 1964 e 1979. A atuação das turmas de magistrados no Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região mostrou-se bastante heterogênea ao longo desse período. Nesse sentido, o debate acerca do Direito do Trabalho no tribunal, por um lado esbarrou em decisões mais ousadas em vista de 480 uma certa autonomia conquistada nas sentenças coletivas que fugiam das orientações do regime, por outro lado, em momentos específicos, acatou a legislação e atos administrativos impostos ao longo desse período.

Pastoral Operária: a experiência política e religiosa em Volta Redonda e no ABC Paulista e (1978-1988) - Luiz Fernando Mangea da Silva (UFRRJ)

A presente comunicação faz parte da definição do objeto da minha pesquisa de doutorado que tem como objetivo a análise da transformação das práticas sociais, políticas, culturais e religiosas da Pastoral Operária (PO) e do movimento operário de Volta Redonda, Sul do Estado do Rio de Janeiro, e do Grande ABC Paulista, no período de transição da ditadura militar para o período de redemocratização do Brasil, entre os anos de 1978 e 1988. A escolha espacial se dá pela importância tanto de Volta Redonda quanto do ABC no cenário político nacional, já que essas regiões geográficas serviram de relevantes espaços de experiências políticas desenvolvidas não só pelos operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), instalada em Volta Redonda, mas também, pelos trabalhadores das diversas fábricas situadas no ABC Paulista. Volta Redonda e o ABC, no final da década de 1970 e durante a década de 1980, foram importantes núcleos de experiências política e social para o movimento operário e para os movimentos católicos. Foram práticas de lutas desenvolvidas por esses atores sociais, e que se estenderam até a promulgação da Constituição Brasileira de 1988. Entendemos que as reivindicações da classe trabalhadora de Volta Redonda e do ABC Paulista foram importantes não só para incluir uma pauta de interesse dos trabalhadores, mas ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------também, como sendo fundamentais para criar um consenso de restauração da democracia brasileira.

Resquícios do Estado Novo: greves de trabalhadores têxteis, repressão policial, eleições municipais e cassações arbitrárias em 1948 - Felipe Augusto dos Santos Ribeiro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

A presente comunicação pretende analisar o intenso ciclo de greves de trabalhadores têxteis ocorrido no Estado do Rio de Janeiro, entre os anos de 1948 e 49, particularmente nos municípios de Magé, Niterói, Nova Friburgo e Petrópolis. Simultaneamente, buscaremos relacionar essas mobilizações operárias com o contexto da eleição municipal de 1947 (a primeira a ser realizada após o fim do Estado Novo). Neste processo eleitoral, diversos trabalhadores têxteis foram eleitos vereadores, a maioria cassada arbitrariamente no ano seguinte, sob a alegação de "comunismo". Discurso similar foi utilizado para justificar a repressão às greves de 1948 e 49, com a realização de "torturantes interrogatórios" dentro dos escritórios das fábricas e depoimentos de trabalhadores "ditados por policiais". Dessa forma, a comunicação busca refletir sobre as continuidades de práticas características da ditadura do Estado Novo no contexto democrático após 1945.

Sindicalismo e Redemocratização: o sindicalismo metalúrgico de Volta Redonda e Região, dos anos 70 até meados dos anos 80 - Eduardo Ângelo da Silva (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) 481

Essa apresentação examina o sindicalismo metalúrgico no Sul Fluminense após o Golpe civil-militar de 1964, com maior foco nos anos 70, e suas transformações, concomitantes ao processo de abertura política do regime militar, até 1985. A análise tem como base o periódico de importância regional “Jornal Opção”. Através do “Opção” buscamos as relações entre o tipo de sindicalismo existente e a comunidade, num contexto de rápidas transformações sindicais e políticas. Procuramos enredar as práticas sindicais em um panorama maior de intenções e ações dos trabalhadores e da ditadura civil-militar. Assim, analisamos as práticas das três gestões de Waldemar Lustoza (1974-1983), consideradas como características de um sindicalismo assistencialista e burocrático. Destacamos suas bases sociais, seu perfil como presidente e o processo de desgaste de sua liderança relacionado à ascensão da Oposição Sindical Metalúrgica. Observamos ainda as disputas eleitorais do período e o início da primeira gestão de Juarez Antunes, eleito em 1983 para a presidência do sindicato. A cidade, Área de Segurança Nacional e sede da Usina Presidente Vargas, principal unidade produtiva da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), foi alvo de grande atenção dos governos militares e das forças opositoras ao regime. O sindicalismo local esteve em permanente relação com as rápidas transformações contextuais e é esse panorama, relacionado aos investimentos políticos de setores opostos, que se pretende destacar.

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Uma contestação à ditadura brasileira: o Movimento dos Trabalhadores (1978-1985) - Isabella de Faria Bretas (UFG)

O Movimento dos Trabalhadores, surgido no final da década de 70 em Goiás, defendia um projeto autonomista que, segundo documentos oficiais da própria organização, revela a crença na possibilidade de as massas organizarem-se autonomamente em função da transformação revolucionária da sociedade. Evidentemente, a questão da autonomia é a questão do poder. O Movimento tem autonomia na medida em que tem poder de se organizar e de se administrar por si mesmo, e é tanto menos autônomo, quanto mais recebe de instâncias externas, as normas as quais se submete. O Movimento dos Trabalhadores surge, portanto, a partir da tentativa de autonomia das massas, da articulação global de todas as organizações, sem a interferência externa do partido, pois o partido se organiza a partir da própria organização das massas. O MT foi um dos movimentos que mais aglutinou forças na formação de um partido de massas no campo popular e que se concretizou no Partido dos Trabalhadores (PT). Em um primeiro momento, o Partido dos Trabalhadores incorporou não só bandeiras populares, mas as formas organizacionais dos movimentos populares no Brasil, como por exemplo a formação de núcleos por local de trabalho e moradia, representação desses mecanismos nos instrumentos de direção, etc. O PT foi possivelmente o único partido que se aproximava de uma tipologia de “partido de massa”, nos moldes das organizações socialistas cujas tentativas de implantação já haviam sido realizadas em outros países. A temática sobre o Movimento dos Trabalhadores aborda 482 concepções leninistas sobre a formulação da independência dos trabalhadores que discutem, sobretudo, a questão da autonomia. Essa questão é central na problemática política do marxismo e envolve toda a discussão sobre revoluções, estratégias de luta e ideologia dos trabalhadores e militantes de esquerda. As lutas reivindicavam liberdades democráticas, resistência à ditadura, ainda que não fosse o confronto direto, reforma agrária, direitos trabalhistas no campo e na cidade, uma vez que o MT também tinha bases urbanas como, por exemplo, na construção civil, na luta por moradias, etc. Por meio de organismos autônomos de trabalhadores, ligados ao campesinato ou assalariados agrícolas uma dimensão revolucionária destacou-se devido ao mérito próprio dessas organizações.

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483 ST 49. Novos temas e debates sobre a imprensa e circulação de impressos no século XIX: interseções entre a história cultural e a cultura política

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"Princípios políticos acomodados à Capacidade dos Farroupilhas": vicissitudes da linguagem política radical no tempo das Regências - Marcello Otávio Neri de Campos Basile (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O trabalho aborda o pensamento político de Marcelino Pinto Ribeiro Duarte, veiculado no jornal O Exaltado, que circulou no Rio de Janeiro entre os anos de 1831 e 1835. Concentra-se na análise do vocabulário político expresso por meio das definições de 23 conceitos acerca dos fundamentos e tipos de governo e de soberania, publicados nas páginas do referido jornal, em dezembro de 1831. Padre e professor de origem capixaba, Marcelino esteve vinculado, durante a fase das regências trinas, aos liberais exaltados da Corte. Suas ideias e práticas, no entanto, revelam, ao mesmo tempo, sintonias e dissonâncias em relação ao projeto predominante do grupo radical, lançando luz sobre as vicissitudes do debate político transcorrido no período em questão.

A identidade politica regressista nas paginas do o Cronista e do o Brasil (1836- 1840) - Tatiane Rocha de Queiroz (UNIRIO)

Desenvolvemos uma reflexão baseada na premissa de que a imprensa periódica ao longo dos anos de 1836 a 1842 tornou-se um importante instrumento de ação entre os principais grupos políticos do império, que a utilizaram não só para divulgar e delinear suas ideias, mais como um meio possível de delimitação e de conformação de suas identidades. Ou seja, a imprensa passou a fazer parte do processo de 484 desenvolvimento de uma nova consciência política que visava interferir diretamente no espaço público através dos seus projetos de ação. Era o momento de construção de significados, de delimitação de espaços políticos. A imprensa tornou-se uma ‘’arena’’ pública de apresentação de ideias, valores, significados e interesses. Que passaram a ser politizados por seus expositores que encenavam suas batalhas políticas numa espécie de palco, no qual personagens situados em campos opostos de movimentavam em torno de seus posicionamentos, de suas escolhas e de seus interesses pessoais e ou do grupo o qual eram coligados.

A imprensa a serviço da República: campanhas republicanas na imprensa brasileira em fins do século XIX - Camila de Freitas Silva Bogéa (Unirio)

Nosso objetivo no presente trabalho é analisar as diferentes campanhas republicanas veiculadas pelos jornais: A Província de S. Paulo – publicado em São Paulo, O Paiz – publicado na Corte, e A Federação – publicado em Porto Alegre, entre 1884 e 1889. Representantes do movimento republicano nas principais províncias do país, formavam a trindade da propaganda republicana via imprensa e seus editores e diretores Rangel Pestana, Júlio de Castilhos e Quintino Bocaiúva, a frente do debate. Detentores das letras e produtores de discursos diretamente relacionados às discussões públicas da cidade e do Estado, os jornalistas constituíam um grupo de intelectuais cujas opiniões ecoavam na sociedade. Conscientes de seus papéis, buscavam guiar a opinião pública através de artigos e editoriais. Em momentos de mudanças eram os informantes da situação à população. Era nas portas das edições que se reuniam grandes parcelas da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------população para descobrir ou se informar do que estava ocorrendo. Desta forma, destacaremos a atuação destes importantes jornais, que ligados em diferentes níveis ao movimento republicano, foram importantes instrumentos na construção de uma opinião que, não só passa a atentar para a necessidade de reformas, como também vai se tornando cada vez mais receptiva em relação à ideia de um governo republicano no país. Ainda que estivessem, os três, empenhados na propaganda republicana, esta se deu em muitas frentes e por diferentes grupos, com diferentes projetos. É neste sentido que apontamos a existência de campanhas republicanas, procurando ao longo do trabalho apresentar os debates e ideias de República defendidas pelos jornais.

A imprensa e os pastores: a difusão do presbiterianismo no Brasil (1880- 1903) - Pedro Henrique Cavalcante de Medeiros (UFRRJ)

A intenção de nossa comunicação é fazer uma breve análise do uso da imprensa pelos protestantes, principalmente os de confissão presbiteriana, no Brasil, no fim do século XIX. Desde o início da missão presbiteriana no Brasil, em 1859, a imprensa foi tomada como aliada para a difusão da nova religião entre os brasileiros. Ao analisarmos a Imprensa Evangélica, fundada em 1864, vemos que além da divulgação da mensagem propriamente evangélica, os presbiterianos também procuraram formar uma opinião pública em favor dos direitos civis dos não católicos, em questões relacionadas aos registros civis, ao casamento civil, à secularização dos cemitérios e à liberdade de culto com proselitismo. A partir da 485 década de 1880 outros periódicos protestantes surgem. Entre os presbiterianos, a grande mudança ocorre a partir de 1892, com o fim da publicação da Imprensa Evangélica, e o surgimento, em 1893, do jornal O Estandarte como órgão oficial da instituição. Essa mudança refletia o crescimento nacional da instituição com a maior influência dos líderes nativos, dentre eles, principalmente, Eduardo Carlos Pereira, fundador de O Estandarte. Ao fazermos um levantamento sobre a relação entre os pastores nacionais presbiterianos e o uso da imprensa para divulgação da mensagem evangélica, observamos que dos 47 pastores que foram ordenados até 1903, dezoito atuaram na imprensa diretamente, seja fundando ou escrevendo nesses jornais. Em 1903, a instituição chega ao ápice da disputa com relação à autonomia do trabalho brasileiro em relação à dependência das juntas missionárias norte-americanas, resultando na primeira cisão denominacional de uma igreja evangélica no Brasil. Essa disputa também se refletiu nos jornais, em 1901 foi fundado O Puritano, de Álvaro Reis, que se opunha a O Estandarte, como novo órgão oficial do presbiterianismo no Brasil. Portanto, nosso propósito será discutir como a imprensa serviu como um campo de disputas religiosas no Brasil, no fim do século XIX. Como referencial teórico, partimos dos conceitos de campo religioso de Pierre Bourdieu. Como referencial metodológico, procuramos seguir as orientações de John Pocock sobre o contextualismo linguístico.

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A luta contra o anonimato na imprensa brasileira do final do século XIX - Raquel Machado Gonçalves Campos (Universidade Federal de Goiás)

Em fevereiro de 1885, o recém-lançado "A Semana", periódico de vocação literária dirigido por Valentim Magalhães, publicou um artigo intitulado "Moralidade da imprensa", em que se ataca o "Jornal do Commercio" por explorar o anonimato, em particular em sua seção "A pedidos". O ataque, que teve continuidade nas semanas seguintes", foi respondido pelo órgão atacado, conforme se pode depreender dos textos saídos em "A Semana". Apenas alguns meses depois, em 04 de julho, o jornal de Magalhães trouxe um texto de Urbano Duarte, intitulado "O anonymo na imprensa brasileira", no qual a publicação anônima era novamente objeto de condenação. Vinculada a uma pesquisa em andamento e que conta com o apoio do CNPq, esta comunicação visa analisar os termos dessa querela contra o anonimato, investigando suas possíveis implicações políticas. Afinal, o "Jornal do Commercio" era o principal bastião do pensamento conservador na imprensa carioca e 1885 foi mais um ano chave da causa abolicionista, abertamente defendida pelo grupo de literatos reunidos em "A Semana".

A mulher por ela mesma: vozes femininas no jornal "A Família" - Lívia Assumpção Vairo dos Santos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

No Brasil da segunda metade do século XIX, começam a emergir ideias de emancipação feminina em consonância com o pensamento europeu, especialmente 486 aquele suscitado por Mary Wollstonecraft e difundido por Nísia Floresta em terras brasileiras. Neste contexto, impressos como A Família: jornal literário dedicado a educação da mãe de família, fundado e dirigido pela professora e redatora-chefe Josephina Álvares de Azevedo, atuam como um espaço democrático de voz para as mulheres falarem sobre sua própria condição através das publicações de artigos de uma rede de leitoras que também agiam como colaboradoras ativas. A partir deste objeto, podemos ter um exemplo mais amplo do que representava ser mulher – cultural e socialmente – bem como ter contato com opiniões femininas divergentes no que concerne à subordinação em relação à figura masculina e à necessidade de autotutela. Busca-se, deste modo, demonstrar que apesar das limitações impostas ao belo sexo, dos poucos recursos que dispunha e de suas escassas oportunidades de atuação no mundo público, a imprensa foi um instrumento que colaborou significativamente para que as mulheres rompessem a clausura da esfera privada e o silenciamento de suas vozes, passando a levar seus anseios, angústias e desejos a público, ou melhor, à opinião pública, tentado conferir visibilidade e reconhecimento às suas próprias demandas e a criar uma rede de apoio e debate, onde as questões da vida feminina pública e privada se entrelaçavam.

A recepção d'O mulato de Aluísio Azevedo a partir dos periódicos: crítica literária e interlocução intelectual - Raick de Jesus Souza (COC/FIOCRUZ)

Umas das obras ficcionais de Aluísio Azevedo que mais geraram controvérsia entre os intelectuais de seu tempo foi certamente O mulato; primeiro romance de cunho ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Naturalista do autor e segundo de sua carreira. Como é sabido a partir do estudo biográfico Aluísio Azevedo: vida e obra publicado em 1989 por Jean Yves-Mérian, este romance conheceu duas formas, uma primeira, publicada inicialmente em São Luís do Maranhão em 1881 e uma segunda edição, com sensíveis alterações realizadas por Aluísio Azevedo, publicada em 1889 no Rio de Janeiro. A partir do cotejamento dos periódicos de circulação no Maranhão e no Rio de Janeiro entre os anos de 1880 a 1890, entre eles O Pensador, Pacotilha e Revista Ilustrada, este estudo analisa a crítica acerca da obra O mulato, percebendo quais sãos os eixos fundamentais em que pairam as suas críticas, bem como analisar como Aluísio Azevedo e seus defensores e colegas profissionais se posicionaram frente à crítica. Aluísio Azevedo parecia estar sempre atento às críticas sofridas pela sua obra e se esforçava ao máximo para responde-las. É sensível seu anticlericalismo e podemos mesmo afirmar que diferente do que apontam alguns dos seus principais interpretes, Josué Montelo e Gilberto Freyre, acreditamos que o eixo central da obra O mulato é mostrar não apenas a condição do “homem de cor”, mas em especial da corrupção do clero. Em sua participação na imprensa, fica evidente que um dos temas que mais mobilizou o autor não foi a discussão racial e sim a questão moral do clero. O que este estudo evidencia é que Aluísio Azevedo explorou diversas outras temáticas tanto na edição de 1881, quanto na de 1889, e que seu anticlericalismo vai sendo deixado de lado em prol de outros assuntos, sobretudo após a separação da Igreja do Estado com o movimento republicano no final do século XIX. O nosso autor parece ter incorporado as leituras que foram feitas acerca de sua obra no processo de reelaboração, não apenas modificando algumas 487 trajetórias de suas personagens como valorizando pontos pouco explorados em sua primeira edição. Como demonstraremos, Aluísio Azevedo parece ter se aproveitado da crítica de sua obra para a correção das supostas “imperfeições”, amputando-a de diversos pontos contraditórios e controversos. Foi curioso notar a partir da análise dos periódicos do qual Aluísio Azevedo era colaborador seus diversos mecanismos para promoção de sua obra e para respostas às críticas sofridas. O jogo entre ficção e realidade é indelevelmente uma das principais marcas presentes na escrita de sua obra e no conteúdo da resposta de suas críticas.

As visões sobre as hierarquias sociais nos jornais exaltados do final do Primeiro Reinado e início do Período Regencial - Camila Borges da Silva (UERJ)

O início da Regência, após a abdicação de d. Pedro I, foi marcado pela emergência de projetos políticos que versavam sobre os modelos institucionais que o Estado imperial deveria adotar e que foram sufocados durante o Primeiro Reinado, de maneira que esse foi um momento de alargamento da opinião pública. O fechamento da Assembleia Constituinte, em 1823, e a outorga da Constituição, em 1824, foram percebidos por alguns grupos como a imposição de um projeto político não deliberado no espaço legítimo de representação: o Legislativo. Dentre as polêmicas debatidas em 1823, no Parlamento e na imprensa, que emergiram com força no final da década de 1820, estava o papel das condecorações honoríficas e suas implicações políticas. Entendia-se que, por um lado, as condecorações construíam uma nobreza e que, por outro, serviam como elemento de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------fortalecimento do poder central, em detrimento do Poder Legislativo. Dessa forma, a discussão sobre esses instrumentos se interpenetrava com os debates acerca da organização do poder e da hierarquia social. O objetivo da comunicação é perceber, por meio da análise de periódicos ligados aos liberais exaltados - corrente política que foi perseguida durante o governo do primeiro imperador -, as visões desse grupo sobre a organização social do Império, compreendendo, deste modo, as percepções sobre a manutenção das ordens honoríficas no Brasil independente.

Biografia, imprensa e política em Luís Augusto May: um redator controvertido no Império do Brasil (1792-1833) - Myriam Paula Barbosa Pires Gouvea (UFJF)

Este trabalho objetiva apresentar resultados parciais de pesquisa Doutoral que trata de mapear e analisar aspectos da Biografia do político, militar e redator Luís Augusto May. Seus periódicos foram A Malagueta e A Malagueta Extraordinária circulados na Corte do Rio de Janeiro e constam das principais fontes para nossa investigação que traz como recorte os anos de 1782 – nascimento de May – e 1850, ano de sua morte.

Discursos republicanos na circulantes na imprensa de oposição do Rio de Janeiro entre os anos 1870 e 1879 - Mariana Nunes de Carvalho (UERJ)

Este trabalho tem como objetivo principal analisar os sentidos que eram atribuídos 488 à palavra república e os projetos de república que veiculavam nos periódicos de oposição à monarquia que circulavam na corte entre os anos 1875 e 1879. Aqui apresentaremos um mapeamento de periódicos, entre jornais, folhas e folhetos, de oposição ao regime monárquico, que foram levantados para serem analisadas ao longo do doutorado. Portanto, este trabalho aqui apresentado é um breve recorte do que desenvolverei nestes anos de pesquisa. A leitura e análise destas fontes permitirá compreender não somente o discurso político circulante na imprensa deste período e os projetos de república que eram propostos por estes homens em um período de baixa atividade política liberal, mas trará ao debate historiográfico fontes de pesquisa praticamente inéditas, e estes periódicos são três delas. Cânones que estudaram a história da imprensa como Nelson Werneck Sodré e Rizzini não citam em suas obras tais periódicos. Além do mais, este trabalho possibilitará a descoberta de novos atores políticos atuantes na imprensa da corte de um período crucial para a história do Brasil que é o da crise do segundo reinado. Parte-se do pressuposto de que a fala contida nestes periódicos discute não apenas o conceito de república, mas conceitos como democracia, liberalismo, cidadania, aí incluindo o debate sobre a participação política e relações de trabalho. A análise do discurso proferido nestes periódicos enfatizará as propostas políticas dos redatores em substituição à monarquia e aprofundará a investigação dos sentidos que tais conceitos ganharam nesse período. Acredita-se que estas expressões tiveram seu sentido ampliado no âmbito das manifestações políticas que marcaram estes anos, uma vez que a sociedade vinha sofrendo mudanças estruturais, oriundas da intensa atividade econômica do período, quando surgiram bancos, indústrias, empresas de navegação a vapor, e o país ia em direção a uma modernização capitalista. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Entre cientistas e republicanos: o Boletim do Museu Paraense no final do século XIX (1894-1907) - Igor Nazareno da Conceição Corrêa (COC/Fiocruz)

Durante a segunda metade do século XIX mudanças importantes estavam em processo no mundo e por consequência no Brasil. O mundo científico já não era mais o mesmo depois da nova visão trazida com a "Origem das Espécies" de Darwin, o desenvolvimento industrial alcançava níveis muito maiores do que no século anterior e a ideia de transformação política ainda se fazia presente em sociedades insatisfeitas com seus regimes de poder. As palavras evolução, progresso e transformação, ganhavam um sentido ímpar dentro daquele contexto peculiar. No Brasil a monarquia dava lugar ao regime republicano instaurado no ano de 1889 que, naquele momento ainda caminhava no sentido de se legitimar. Muitos dos cientistas e instituições científicas brasileiros se inseriam dentro daquele novo contexto recebendo benesses de um Estado que recorria a inúmeras estratégias para se consolidar. No Pará, processava-se uma mudança não somente no nome (que saíra de Província para Estado), mas também na esfera política e na científica. O recém reformulado Museu Paraense (1894), ressurgiu exatamente no contexto de instauração do governo republicano na região do Pará. Assim sendo, as demandas de interesses políticos mostravam suas nuances dentro daquela instituição científica que tinha "renascido" sob a égide progressista do governo republicano paraense. Este ponto de tangência pode ser percebido no periódico publicado pelo Museu Paraense que era conhecido como Boletim do Museu 489 Paraense. Este periódico tinha uma circulação ampla, alcançando níveis regionais nacionais e internacionais e tinha o objetivo de apresentar para o público leitor, as pesquisa que eram desenvolvidas pelo Museu Paraense. Contudo a chamada "seção administrativa" do periódico serve como um "topoi" onde o científico e o político dialogavam de acordo com os interesses mútuos. O presente trabalho se propõe a analisar como que o Boletim do Museu Paraense funcionou como um espaço de interseção entre a retórica científica mas também política, dentro de uma especie de proto-cooperação que beneficiava a esfera científica formada pelo Museu Paraense, mas também a política representada no jovem governo republicano paraense.

Estampando o gosto: gênero e moda na imprensa feminina no Rio de Janeiro Oitocentista - Everton Vieira Barbosa (Universidade Federal Fluminense)

Desde que os impressos periódicos voltados ao público feminino começaram a ser publicados no Rio de Janeiro, no século XIX, um dos maiores assuntos tratados pelos redatores no período era sobre a moda. Perpassada pelo universo feminino, a moda consumida no Brasil, na maioria das vezes, tinha origem estrangeira. Enquanto os tecidos e demais acessórios ligados à produção de vestimentas e adereços utilizados no corpo tinham procedência inglesa, as gravuras com imagens, as informações impressas sobre a moda, sobre os tipos de acessórios, sobre a descrição de vestimentas e sobre os espaços adequados para o uso daquele traje tinham procedência francesa. Tanto os tecidos e demais materiais da Inglaterra, quanto as gravuras e os impressos periódicos sobre o universo da moda de origem ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------francesa desembarcavam no porto do Rio de Janeiro, atendendo a demanda de consumidores que crescia constantemente pela cidade e pelo país. No Rio de Janeiro, estes objetos e as informações se cruzavam nos estabelecimentos de moda espalhados pela cidade, acessado pelas modistas, pelos alfaiates e pelos demais indivíduos ligados ao uso das roupas e dos acessórios corporais. Tal cruzamento possibilitou a atualização de assuntos do mundo modista que pairava sobre a Europa, mas também permitiu a construção de um determinado gosto sobre os tipos de vestimentas adequados para serem utilizados por homens, mulheres e crianças em distintos espaços de sociabilidade no Rio de Janeiro. Deste modo, temos como objetivo dar visibilidade à circulação destes objetos, utilizados no Rio de Janeiro para compor as vestimentas e acessório, e de informações que possibilitavam instruir e moldar os comportamentos e os usos que deviam ser feitos destas roupas por seus consumidores. Para alcançarmos tais objetivos, tomaremos como fonte de análise o periódico Le Moniteur de la Mode (1843-1913), de origem francesa, O Jornal das Senhoras (1852-1855), de origem brasileira, e outras fontes impressas, além de algumas informações que permitam identificar parte dos materiais de origem estrangeira que desembarcavam no porto do Rio de Janeiro. A partir desta análise, será possível compreender como o circuito modista acontecia e como a ligação entre o objeto e as informações disponibilizadas pelos impressos periódicos circulava e forjava não apenas um estilo e um padrão apropriado de se vestir em determinados locais, mas também se constituía como um ato político, na medida em que instruía e construía o gosto modista entre o público leitor da imprensa feminina na segunda metade do século XIX. 490

Imprensa, política e sociedade: o recrutamento de menores para Armada Imperial nas páginas do Argos da Província de Santa Catarina e do Diário de Pernambuco - Wagner Luiz Bueno dos Santos (UNIRIO)

Nas últimas décadas da primeira metade do século XIX, a Marinha Imperial inaugurou um modelo de recrutamento que se consolidou como grande projeto de arregimentar e formar praças no último quartel daquele século. Ampliar o número de recrutáveis foi o objetivo das autoridades navais quando criaram, na Corte em 1840, a Companhia de Aprendizes-Marinheiros. A instituição combinava espaço de aprendizagem para o ofício de marinheiro com o serviço de bordo nos vasos de guerra. Dessa forma a Marinha Imperial buscou, assim, ampliar suas fileiras, recrutando crianças e jovens nos mais variados recantos do território imperial. Pretendemos verificar o alcance desse projeto em relação à população das vilas e cidades e a reação dos indivíduos a essa nova forma de arregimentar homens para a Armada. Pois, a medida que se elaborava e desenvolvia o novo modelo de recrutamento nos corredores da política imperial, personagens, como Capitães do Porto, Inspetores dos Arsenais de Marinha, Comandantes das Companhias de Aprendizes-Marinheiros, Juízes, Presidente das Províncias, entre outras autoridades locais, formavam uma rede bem costurada para arregimentar filhos, netos, sobrinhos e tutelados para o serviço da Armada. Nesse processo de consolidação do recrutamento para as Companhias de Aprendizes, foi importante a atuação de alguns setores como o da imprensa. Sua contribuição para formação da opinião pública durante aquele processo é o nosso objeto de análise, pretende------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------se verificar de que maneira a imprensa atuou para o equilíbrio entre força e consenso, na medida em que estas duas categorias constituíam, de forma pendular, a relação entre a rede de recrutamento e o tecido social. Nesta perspectiva, buscamos compreender de que forma setores da imprensa atuaram no momento em que foi colocado em prática o recrutamento de jovens e crianças para Marinha Imperial na segunda metade do século XIX.

Monarchia-democracia: Justiniano e o seu projeto político final para a Monarquia nos anos de 1860 - Gladys Sabina Ribeiro (UFF)

As últimas ideias de Justiniano foram registradas em um folheto de 1860, intitulado Monarchia-democracia. Este reproduziu artigos no Jornal do Commercio, nos dias 23, 24 e 25 de maio desse mesmo. Ali expôs mais uma vez o seu projeto político para a Monarquia. Fez uma análise minuciosa dos aspectos que o governo devia seguir ao refutar o opúsculo Os cortesão e a viagem do Imperador, de José Joaquim Landulfo da Rocha Medrado. Ao morrer em 10/07/1862, fazia dez dias que começara a publicar, junto com Firmino Rodrigues da Silva, o novo Constitucional. Neste jornal defendia o que julgava dever ser o norte do Partido Conservador. Se anteriormente as ideias dos conservadores divergiam aqui e ali, agora então, na conjuntura dos anos de 1860, estavam mais dispersas ainda. Apesar disso, as ideias de Justiniano continuaram a fazer eco não só na historiografia que tratou da primeira metade do século XIX, mas tornaram-se contraponto para os políticos que nesses anos pensavam novas propostas para o Brasil, tanto desde o campo do 491 partido conservador, do partido liberal, e até mesmo dentre os que passaram a formar a Liga Progressista, o partido do mesmo nome e o partido republicano, mais adiante. Magalhães Júnior, seu biógrafo, afirmou que Justiniano foi um contraponto a tudo o que Tavares Bastos escreveu nos anos seguintes. Dentro desta perspectiva, em Os Males do Presente e a Esperança do Futuro, haveria uma crítica expressa ao projeto de Justiniano quando dividiu esta obra em “Realidade, Ilusão e Solução”. Joaquim Nabuco também teria lhe tomado emprestado a linha mestra dos primeiros capítulos de Um Estadista do Império. São as ideias contidas neste folheto, em opostas as de Landulfo, que serão apresentadas nesta comunicação.

O DEMOCRATA: Uma opinião da Imprensa no Pará no alvorecer da República - Daniella de Almeida Moura (UFPA)

Nas últimas décadas do século XIX, o desenvolvimento das atividades relativas à imprensa, pode ser observado com o número considerável de jornais diários surgidos neste período. Examinando tal momento no Pará, o presente artigo tem como objeto e fonte de pesquisa um dos periódicos da imprensa paraense do final dos oitocentos – O Democrata, que começou sua circulação no alvorecer da República em 01/01/1890, tendo como seu término o ano de 1895. Foi um jornal de circulação diária, órgão do Partido Republicano Democrático, portanto divulgava suas ideias objetivando aproximar os leitores do seu corpo político. Diante disso, busca-se analisar a partir da materialidade deste impresso como se constitua sua estrutura editorial, quanto custava, quem o escrevia, de que forma foi construindo uma cultura política, como seus redatores se manifestaram sobre ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------diversos assuntos, qual público leitor pretendia alcançar, como circulava na cidade e no Estado, observando as diferenças regionais, partidárias e de classe, sem perder de vista os contextos envolvidos e de que forma o espaço do jornal era utilizado para polemizar e influenciar a opinião pública.

O I Congresso Internacional de História da América como parte da Diplomacia Cultural no Centenário da Independência do Brasil: a circulação de intelectuais no IHGB - José Lúcio Nascimento Júnior (UERJ)

O presente trabalho, resultado de pesquisa de mestrado, visa demonstrar como o Primeiro Congresso Internacional de História da América, organizado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), realizado no Rio de Janeiro no Centenário da Independência do Brasil, em setembro de 1922, fazia parte das estratégias de diplomacia cultural do Ministério das Relações Exteriores. Voltado não apenas para historiadores, ele reuniu intelectuais, homens de Estado e diplomatas, tendo como objetivo debater a produção e estabelecer acordos sobre e para a escrita da História da América. Partindo da análise das atas do Congresso, demonstramos que a proposta de Conde de Afonso Celso de união dos países com objetivo de escrever uma da História da América comum aos países do continente tinham tanto um caráter de cooperação intelectual (e de produção historiográfica) quanto diplomática, dialogando com os debates do pan-americanismo e com o nacionalismo do pós-I Guerra Mundial (1914-18). Os debates sobre como elaborar o projeto e os acordos realizados para que o mesmo fosse efetivado demonstram 492 que tanto os membros de IHGB como de outras delegações tinham objetivos acadêmicos como diplomáticos, tais como ficou evidente na posição da delegação canadense. Conclui-se que o Congresso deve ser visto como parte das estratégias de diplomacia cultural brasileira na década de 1920 e como marco na produção historiografia brasileira.

O Regresso e a formação do conservadorismo brasileiro - Luaia da Silva Rodrigues (UFF)

"Reação centralizadora e monárquica"; "direita conservadora" ; "embrião do futuro Partido Conservador". Assim foi definido o Regresso pela historiografia brasileira. Sempre, ou quase sempre, associado ao projeto conservador Saquarema. Enquanto seus precursores, os regressistas seriam uma espécie de os primeiros conservadores brasileiros. No entanto, ainda no primeiro reinado, políticos defendiam ideias próximas a famosa bandeira de ordem e de centralização política característica dos regressistas. Nesse sentido, algumas perguntas se fazem necessárias. Será que o conservadorismo no Brasil surgiu com o Regresso durante as disputas políticas regenciais? As ideias regressistas eram realmente inéditas? Se não, de que maneira elas se manifestaram e se desenvolveram no discurso político brasileiro? Responder tais perguntas não é tarefa fácil, mas este esforço reflexivo se torna indispensável para a compreensão tanto da formação do Estado brasileiro quanto das construções historiográficas a este respeito. O principal objetivo deste trabalho é discutir as possíveis aproximações e afastamentos entre o pensamento de duas personalidades fundamentais em todo esse processo: José Joaquim Carneiro de ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Campos, o marquês de Caravelas, e Bernardo Pereira de Vasconcelos. O fio condutor destas reflexões seriam as possíveis implicações desses políticos com a formação de um campo conservador no Brasil.

O Visconde de Taunay e o elogio do Império na República - Isadora Tavares Maleval (Departamento de História de Campos (CHT-UFF))

Os anos que se seguiram ao início de vida republicana foram de extrema agitação no Brasil. A querela entre opositores e partidários do novo regime foi uma constante, resultando em uma cultura letrada que acaba nos servindo como testemunha daqueles momentos turbulentos. As opiniões destoantes em relação à República eram apregoadas sobretudo por meio de escritos de ocasião, como a imprensa periódica. Muitos homens de letras, assim, posicionavam-se frente aos acontecimentos recentes e podem ser categorizados como “publicistas”: indivíduos que, partícipes daqueles “novos tempos”, faziam o “uso público da razão”, transformando-se em escritores políticos, que, portanto, agiam através da escrita em seu tempo e interviam na coisa pública. Podemos perfeitamente localizar dentro desse quadro a extensa produção de Alfredo d’Escragnolle Taunay (1843-1899). Ao escrever artigos para periódicos com tiragem expressiva, tais como o Jornal do Commercio, o visconde expôs incessantemente suas opiniões negativas a respeito do regime republicano. É o caso da coletânea intitulada Império e República (1933), um aglomerado de textos que haviam sido divulgados em jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo depois do golpe, mas também de escritos notadamente 493 memorialísticos, como sua autobiografia, publicada com o título de Memórias (1948). No campo da literatura, é possível incluir no mesmo conjunto de textos antirrepublicanos o romance O encilhamento (1894). Partindo de tais fontes, este trabalho pretende demonstrar não só o posicionamento político do escritor, como também colaborar com os debates historiográficos mais recentes, em torno do papel da imprensa e dos impressos na construção da opinião pública e na consolidação de determinadas culturas políticas. Por isso, a análise privilegiará determinadas perspectivas que têm sido estimuladas pela história dos livros e dos impressos, entendidos como relatos do tempo em que foram elaborados e como agentes que intervieram nos processos e episódios que constituem a história.

Origens da Imprensa no Brasil: Estudo prosopográfico de redatores de periódico editado entre 1808 e 1831 - Luis Otávio Silva Pincigher Pacheco Vieira (USP)

Este projeto pretende o desenvolvimento de uma posopografia, - uma biografia coletiva - dos redatores de periódicos no Brasil em atividade durante o processo de Independência (1808 -1831) . Escolhemos uma amostra de 28 personagens, contemplando, através dela, todas as províncias luso-americanas onde foram produzidas folhas periódicas. Dentro desta amostragem, procuramos equilibrar o número de indivíduos escolhidos de cada província em proporção com a quantidade de periódicos surgidos nas mesmas. O objetivo deste trabalho é a unificação parcial dessa multiplicidade de trajetórias distintas num quadro, a fim de se fazer observável um panorama e um perfil de um grande ator coletivo ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------formado pelos redatores de periódicos, sem, evidentemente, deixar de considerar as especificidades das atuações de cada um.

Os "penny bloods" e a imprensa radical nos anos 1840 na Inglaterra - Matheus Rodrigues da Silva Mello (UERJ)

A proposta de trabalho a ser exposto tem como tema principal a análise dos impressos de tipo Penny Blood que circularam durante a década de 1840, nos primeiros anos da Era Vitoriana. Tais impressos compreenderam uma nova forma literária, identificada como subgênero do romance, inovadora tanto pelos seus temas quanto pelo potencial de veiculação de ideias. Vieram ao público nos moldes de narrativas sensacionais, serializadas em partes, frequentemente semanais, de oito ou dezesseis páginas cada, contando com uma xilogravura em cada número, vendidas a preços módicos de um penny e tendo o objetivo de alcançar, sobretudo, os trabalhadores das camadas inferiores da sociedade. Deste modo, volta-se o olhar para alguns penny bloods que alcançaram o sucesso e despertaram a atenção das classes dirigentes por sua tônica radical, são eles: The Mysteries of London (1844- 1848) e Wagner, the Wehr-Wolf (1846-1847), ambos de autoria de George William MacArthur Reynolds (1814-1879). Diversos outros autores ingleses também tiveram seu espaço e produziram trabalhos expressivos, em grande medida inspirados por diversas publicações estrangeiras. A década de 1840, em que os penny bloods se afirmam e se multiplicam, deve ser tomada como momento sensível no que tange às transformações da própria sociedade - a revolução 494 industrial inglesa deixava à mostra suas contradições, a miséria e a condição degradante da working class são pontos relevantes -, mas foi ainda um momento que experimentou o aumento das taxas de instrução (literacy) dos trabalhadores, impulsionada pela profusão de impressos baratos. G. W. M. Reynolds, nesse sentido, é pensado em um quadro de autores que enxergaram o potencial desta nova forma como instrumento privilegiado de difusão de conceitos, fazendo uso deste veículo para a exposição das condições de vida dos menos afortunados e alimentando uma imprensa radical alinhada ao movimento Cartista.

Os embates nos bastidores da cesura joanina (1808-1821) - Maíra Moraes dos Santos Villares Vianna (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Este trabalho se propõe fazer uma análise da censura durante o período joanino (1808-1821), priorizando o papel dos censores régios no processo da censura. As fontes utilizadas serão os pareceres dos censores referentes aos pedidos de licenças encaminhados à Mesa do Desembargo do Paço, presentes no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Nesse trabalho, mais importante do que explorar os procedimentos censórios serão abordados os embates, identificados a partir da leitura dos pareceres, nos bastidores da censura, ou seja, objetiva-se compreender a atuação dos censores dentro de tal local e as possíveis divergências entre eles e com o escrivão da Mesa do Desembargo do Paço. A chegada da corte joanina ao Rio de Janeiro acarretou em inúmeras mudanças para a cidade, a qual passa por transformações no âmbito social, político e cultural. Adaptações estruturais passam a ser fundamentais para acolher os novos habitantes, como aponta Kirsten Schultz ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------na obra Versalhes Tropical, há uma reconstrução do Império Português. Dentro das mudanças é possível destacar a reconfiguração dos aparelhos políticos e administrativos, os quais passam a atuar em prol da coroa. Dentre eles, destaca-se a instalação da Mesa do Desembargo do Paço, tribunal responsável pela realização da censura. Apesar de já atuar em Portugal, no Brasil irá surgir com a chegada da corte, pois é quando é concedia a permissão para a instalação da Impressão Régia, demandando a existência de um tribunal para a fiscalização dos impressos, evitando a propagação de ideias que fossem contrárias à coroa, a religião e os bons costumes. Utilizando o estudo de Maria Beatriz Nizza da Silva A Corte no Brasil e a distribuição de mercês honoríficas, propõe-se apresentar a inserção dos censores régios dentro do grupo da nobreza, possibilitando assim caracterizar o espaço da censura enquanto um local em que as relações desenvolvidas podem ser apresentadas a partir da lógica de sociedade de corte, apropriando-se do conceito de Norbert Elias e o adaptando a corte joanina. Partindo de tais questões, objetiva- se apontar o espaço da censura como um local de embates entre os atores que lá atuavam, vislumbrando o cargo exercido enquanto uma ferramenta que possibilitava a reafirmação e distinção entre os demais, características marcantes de uma sociedade marcada por privilégios e hierarquias, onde o reconhecimento garantia status. Dessa forma, o aparelho censório pode ser compreendido além da sua função de fiscalização dos impressos sendo, também, uma manifestação da sociedade de corte.

Perióticos femininos: Lugar de resistência, embates e relações de 495 poder - Isadora de Mélo Costa (UERJ)

Na segunda metade do século XIX, no campo da cultura impressa, ocorreu uma ampliação das produções culturais circulantes. Tais transformações promoveram não somente uma diversidade de temas impressos, mas também de público leitor, opiniões e construções de papéis sociais. Nesse contexto, periódicos voltados para as mulheres afloraram em diversas regiões do Ocidente, como O Jornal das Senhoras (1852-1855, Rio de Janeiro) e A Esperança: Semanário de recreio literário dedicado às Damas (1865-1866, Porto). Esses periódicos abarcam questões que nos permitem problematizar a representação feminina no período, além dos projetos de mulher que se almejavam. Assim, o presente trabalha toma esses impressos como fonte e objeto, ao mesmo tempo em que analisa a representação feminina reproduzida e circulada pelos mesmos, colocando-os como lugar de resistência, embates e, portanto, relações de poder. Para tanto, recorre-se à história comparada, nos moldes de Marc Bloch e utiliza-se da abordagem da história política e cultural como arsenal teórico-metodológico de compreensão desses impressos que, de forma alguma, eram alheios ao seu contexto produtor. Eram produtos e agentes de um tempo de incertezas, ambientes nos quais novos papeis eram lançados ao universo feminino.

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Representações liberais do Governo na imprensa (1844-1846) - Juliana da Silva Drumond (UFRRJ)

O trabalho tem a preocupação de perceber o primeiro gabinete do Quinquênio Liberal a partir das suas relações com a imprensa da época, procurando inseri-lo dentro do processo de consolidação monárquica. A comunicação trata da análise do governo Liberal, durante o primeiro gabinete do quinquênio, através dos jornais liberais: Conservador, Filho da Joanna, A Tribuna, O Novo Tempo e do jornal conservador: O Brasil. Esses periódicos aparecem na imprensa no momento em que o gabinete está no poder e de um modo geral assumem um discurso ministerialista. Nenhuma dessas folhas mantém continuidade de circulação após o período de governo do ministério de 2 de fevereiro. A análise dialoga essas publicações liberais com as publicações dO Brasil, uma vez que este jornal era um forte representante do Partido Conservador e sempre estava dialogando com os jornais de oposição. Principal folha conservadora, fazia forte oposição ao gabinete liberal no poder; permitindo um outro olhar sobre as posturas políticas adotadas pelo gabinete. O presente trabalho tem a preocupação de entender as ações políticas pelo olhar das folhas contemporâneas; como os jornais que surgiram para tratar dos assuntos de governo identificavam o projeto político do ministério e se percebiam a existência de uma agenda política própria. Assim como também analisar de que modo as folhas ministerialistas enxergavam o ministério em relação a um projeto político liberal, qual era a postura da oposição em relação a ele e como se dava o diálogo entres essas folhas. 496

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497 ST 51. O Vale do Paraíba, a Segunda Escravidão e a Civilização Imperial

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A acumulação e a concentração da propriedade escrava na Vila de Cantagalo. - Rodrigo Marins Marretto (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho tem por objetivo analisar as estruturas escravistas da Vila de Cantagalo, estabelecendo um padrão de posse de escravos. Para que possamos cumprir tal objetivo contaremos com um conjunto de documentos que incluem um acervo de 344 inventários post-mortem, compreendendo os anos de 1810 e 1880. Tais documentos são essenciais ao buscarmos identificar o padrão de posse de cativos e a estrutura escravista que compunha esta realidade. Para analisar esse corpo documental partimos da seguinte metodologia: dividimos os documentos de 10 em 10 anos e para estes períodos dividimos os proprietários em 5 categorias – micro proprietários, 1 a 4 escravos; pequenos proprietários, 5 a 19 escravos; médios proprietários, 20 a 49; grandes proprietários, 50 a 99 e megaproprietários, com mais de 100 cativos.Utilizaremos os documentos e a metodologia supracitados para avaliar o impacto da segunda escravidão na Vila de São Pedro de Cantagalo, localizada na área Oriental da Bacia do Rio Paraíba. O conceito de segunda escravidão, forjado por Dale Tomich, refere-se, justamente, a atuação de um bloco histórico composto por EUA, Cuba e Brasil, empenhados na reestruturação do tráfico de escravos em escala e intensidade nunca antes aplicadas. Segundo o autor, o sul dos Estados Unidos, o Brasil e Cuba passaram a compor o mercado internacional em escala atlântica durante o desenvolvimento do capitalismo industrial, sob a influência política e econômica da Inglaterra que passava àquela época, a transformar a economia mundial. Cantagalo, apesar de sua povoação 498 tardia, finais do século XVIII e início do século XIX, foi dominada pelas propriedades agroexportadoras, encaixando-se nos quadros do conceito de Tomich. A escravidão em Cantagalo encontrava-se difundida pelos mais diversos estratos sociais que residiam na localidade, devido fundamentalmente ao tráfico internacional de escravos. Desta forma, o impacto do tráfico de escravos sobre a Vila de Cantagalo vai conformar um perfil de proprietários que ao longo do tempo vão acumular e concentrar um grande volume de cativos nas mãos de poucos senhores de escravos.

A defesa por uma ideia de colonização africana nos jornais A Patria e O Paiz pós abolição do tráfico de escravos na província do Rio de Janeiro, 1850 a 1860 - Alessandro Mendonça dos Reis (PPGH Universo)

A ideia de colonização africana no pós abolição do tráfico de 1850 provocou na imprensa da província do Rio de Janeiro debates quanto a melhor forma de se fazer a transição da mão de obra escrava para a livre. O governo vislumbrou o projeto de colonização europeia previsto na Lei de Terras e fomentado em 1854 através da Repartição Geral de Terras Públicas. Apesar do projeto ter apoio e um encaminhamento concreto para a sua realização, dois jornais se manifestaram contra ele, A Patria e O Paiz. Esses periódicos passaram a defender e propor que ao invés de colonos europeus, colonos africanos livres nos mesmos moldes fossem trazidos. Falar sobre o assunto colonização africana e defende-lo suscitou entre os jornais que se colocaram contra a ideia o pensamento de que ali estaria um tráfico disfarçado. Assim, as argumentações contra e a favor de europeus e africanos como ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------colonos ganhou as páginas da imprensa da corte. Os questionamentos forma muitos, no entanto, uma decisão naquele momento era concreta, o tráfico finalmente estava abolido. Na visão sobre o africano como melhor mão de obra estava argumentos que remetiam ao costume em lidar com este tipo de trabalhador. Quanto aos europeus, pairava a questão de que finalmente o Brasil entraria e um processo civilizatório. No momento da transição da mão de obra mutias perguntas e afirmações se fizeram pertinentes para definir se a viabilidade do colono europeu valia a pena ou mesmo que discretamente continuidade do africano como colono livre seria a solução. Era necessário garantir que a riquezas advindas da lavoura no fosse prejudicada.

A escravidão como representação pictórica – análise iconográfica de litografias de viajantes europeus - Leila Cristina Gibin Coutinho (UERJ)

O presente trabalho trata-se de um resumo de tema da monografia, já em desenvolvimento, no qual analiso as representações da escravidão urbana no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XIX, a partir dos álbuns Rio de Janeiro Pitoresco (1845), de Louis Buvelot e Louis Auguste Moreau, e em Panorama de la ville de Rio de Janeiro (1845), de Iluchar Desmons, em colaboração com outros artistas. A chegada e permanência da sociedade de corte portuguesa ao Rio de Janeiro, no início do século XIX, traria grandes modificações a cidade. Destaco a abertura dos portos às nações amigas e ainda a vinda da Missão Artística Francesa que, somadas, possibilitam a entrada de um grande número de estrangeiros, 499 majoritariamente europeus, na urbe carioca. Estes, por sua vez, deixaram inúmeros relatos, expressos em vários formatos: textos, diários, cadernos, pinturas, desenhos, entre outros. Estes europeus, registraram a cidade em seus diversos aspectos como a vegetação, os morros, a população, seus hábitos e costumes. Portanto, é inevitável que esses relatos evidenciem a experiência da escravidão, já que os escravos estão presentes em toda a cidade, executando trabalhos de carregamento de água, barbeiro, venda de quitutes e frutas, entre outros. Uma vez que o Rio de Janeiro é um grande porto de chegada de escravos e também é uma cidade majoritariamente negra, cerca de 40% da população no Rio é escrava. Assim, estes viajantes deixam sua produção de herança aos historiadores, que representam diferentes visões sobre a escravidão. Dito isto, para a realização do projeto, utilizo o conceito de representação, tendo em mente, que a imagem não é mero reflexo do real, deste modo, a apreensão da especificidade das fontes visuais será abordada através da análise pautada pelo enquadramento escolhido pelo artista em relação a cidade e seus personagens, além da distribuição das figuras no quadro, tal suas vestimentas, suas posturas e os locais da cidade em que estão transitando. Ocorre, que a repetição temas e elementos pictóricos é encarada como indício da intencionalidade, por parte dos seus autores, de evidenciar dada representação dos escravos e da urbe. Desta maneira, reforçamos a utilização da iconografia como fonte histórica que possibilita ampliar a leitura sobre a escravidão e a cidade.

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A estrutura fundiária no Médio Vale do Paraíba (Bananal, 1800- 1860) - Breno Aparecido Servidone Moreno (FFLCH-USP)

O objetivo deste trabalho é investigar a evolução da estrutura fundiária em Bananal, São Paulo, na primeira metade do século XIX. A partir do cruzamento de três fontes primárias distintas – o Inventário de Bens Rústicos (1819), o Registro Paroquial de Terras (1855-1858) e os Inventários post mortem (1830-1860) – pretende-se mostrar que, nesse período, teria havido um processo de concentração de terras por um grupo restrito de escravistas. Na passagem do século XVIII para o XIX, antes da montagem da cafeicultura escravista em Bananal, a maior parte das terras já se encontrava sob o domínio desses senhores de escravos, cuja maioria era de médios escravistas (donos de 20 a 49 cativos). O controle prévio das terras em matas virgens permitiu que eles adquirissem uma quantidade cada vez maior de mão de obra cativa. Ao mesmo tempo, tais senhores iniciaram o processo de montagem da planta produtiva de suas fazendas de café. No decurso desse período, os médios escravistas se enriqueceram e tornaram-se megaproprietários (donos de 100 ou mais cativos). E a cidade de Bananal se transformou em uma típica região de plantation escravista, articulando-se ao mercado global a partir da produção de café em larga escala.

A interiorização dos médicos no Vale do Paraíba Fluminense Oitocentista - Anne Thereza de Almeida Proença (COC/FIOCRUZ) 500 Este trabalho tem como objetivo analisar a assistência à saúde fora das instituições estabelecidas, como Santas Casas, na região do Vale do Paraíba fluminense. Para tal, nos guiaremos pela chegada de médicos à região, com destaque para os estrangeiros, e o desenvolvimento de estratégias comuns para se estabelecerem e construírem seu campo profissional. O recorte temporal escolhido corresponde ao enriquecimento do Vale, devido ao fortalecimento da região no mercado exportador de café, e à análise das relações estabelecidas por estes profissionais. Através da análise de trajetórias profissionais, observaremos as características comuns aos clínicos que optavam por atuar neste interior, que moldavam e eram moldadas pelas relações que eram construídas com os próprios colegas e com importantes setores sociais. Destacaremos a forte presença de médicos nas enfermarias estabelecidas em propriedades do Vale do Paraíba fluminense, contratados pelos grandes fazendeiros, partindo da hipótese de que esta modalidade de atuação seria a forma que lhes daria mais garantia em relação ao recebimento dos vencimentos, estabilidade financeira e profissional, além de ser o caminho mais seguro para alcançar as expectativas pretendidas para suas carreiras e de atingir o reconhecimento da região.

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A política de obras públicas no Rio de Janeiro do século XIX e sua contribuição para a expansão do Estado Imperial - Clarice de Paula Ferreira Pinto (UNIRIO)

A comunicação tem como objetivo a análise da política de obras públicas na Província do Rio de Janeiro, entre 1836, ano de criação da Diretoria de Obras Públicas, e a década de 1860, quando os investimentos em infraestrutura de transporte na província fluminense, antes direcionados prioritariamente para a construção e melhoramento de estradas, pontes e canais, passaram a ser dirigidos para a expansão das ferrovias. A transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, demandou uma série de melhoramentos e ampliação dos caminhos então existentes para atender ao crescimento do mercado fluminense. Assim, durante o período joanino, foi estimulado o investimento na construção de algumas estradas, entre elas as estradas do Comércio (1817) e da Polícia (1820), que durante longo tempo figurariam como importantes vias da província. Apesar dessas iniciativas, a comunicação entre o interior e o litoral continuou a se mostrar insuficiente, apresentando inúmeras dificuldades para quem se arriscava a seguir por esses caminhos. Assim, é somente a partir da década de 1830, quando a expansão cafeeira já alcançara o Vale do Paraíba fluminense, que podemos perceber com maior clareza uma política de obras públicas direcionada para a construção e reformas de estradas, pontes e canais. Entre 1836 e 1840, os recursos da província foram aplicados nos melhoramentos das estradas da Serra da Estrela, da Polícia, do Comércio, de Itaguaí, além da Estrada de Angra a Rezende e da 501 construção da ponte sobre o rio Paraíba do Sul. Durante a década de 1840, os recursos foram aplicados nas obras da Estrada de Cantagalo a Macaé, Estrada de Porto das Caixas a Cantagalo, Estrada do Rodeio, Canal Campos - Macaé, entre outras. As décadas de 1850 e 1860 assistiriam a um investimento maciço em obras públicas. Tais investimentos estavam não só relacionados à estratégia de manter os altos índices da produção cafeeira, mas também visavam garantir o apoio político dos cafeicultores em relação ao Estado Imperial. Entre as obras realizadas no período estão a Estrada do Presidente, entre a vila de Itaguaí e a da Barra Mansa; a Estrada de Petrópolis até a ponte do Paraibuna; a Estrada do Porto das Caixas até Nova Friburgo e Cantagalo; a Estrada de Campos a São Fidélis, prolongada até Cantagalo; a Estrada da Serra do Paraty, além da Estrada Normal de Estrela e a Estrada União e Indústria - essas últimas sendo consideradas como projetos de maior importância.

As Companhias Têxteis Fluminenses e a Moralização das Classes Pobres pelo Trabalho (1871-1888) - Gabriela Gomes Rodrigues de Souza Guerra (UNIRIO)

A presente comunicação pretende compreender as novas e complexas relações de trabalho que foram tecidas na ainda incipiente indústria têxtil fluminense. Para isso, serão analisadas as trajetórias das Companhias Brasil Industrial e Petropolitana durante o período de transição da escravidão para o trabalho livre. A partir da análise dos relatórios anuais dirigidos aos acionistas das fábricas e dos periódicos que circulavam na imprensa da Corte, busca-se identificar as estratégias utilizadas

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------pelos empresários têxteis para disciplinar e controlar sua mão de obra através da chamada moralização pelo trabalho.

Compra e Venda de Africanos(as) na Corte do Império: ofícios e práticas culturais na segunda metade do oitocentos - Larissa Bagano Dourado (UFF)

Durante séculos, milhões de africanos(as) foram escravizados(as) e levados de suas terras para as Américas. Durante a travessia, suas práticas culturais já começavam a se modificar diante da nova experiência. Os nomes dos africanos(as) sequestrados(as), escravizados(as), e vendidos(as) foram deixados de lado, e novos nomes dados, com intuito de separá-los de sua herança africana (BERLIN, 1996). No entanto, atribuíam junto ao nome o lugar de origem (Maria mina, Paulo Angola, João Congo), que não intencionalmente, fortaleciam seu lugar de pertencimento. A cultura africana nas Américas então é construída a partir de suas heranças, mas também a partir de novas experiências, pois a cultura de o povo não é formada apenas pelas permanências, mas também como as pessoas se adaptam, reagem e interagem diante de novas condições. É nesse sentido que pensamos em fundamentar esse trabalho, não apenas com objetivo de visibilizar os africanos e as africanas que foram comercializados no Rio de Janeiro, mas também pensar nas suas práticas culturais advindas da África, bem como nas suas vivências e resistências após o fim do tráfico Atlântico. Para isto, analisamos os registros de africanos(as) escravizados(as) comercializados na corte do Império brasileiro, entre o período de 1861 a 1863, além de notícias do jornal Diário do Rio de Janeiro. 502

Laura Congo e a família escrava do Barão do Tinguá: reflexões sobre a família no Vale do Paraíba Fluminense (1830-1889) - Olívia Dulce Lobo (Programa de Pós-Graduação em História/UNIRIO)

A presente apresentação propõe trazer o tema da família para as discussões sobre a sociedade oitocentista do Vale do Paraíba fluminense, considerando a instituição familiar como um elemento importante para se entender a formação e a movimentação da fração da classe senhorial que habitou essa região histórica, especialmente a cidade de Vassouras. Nesse intuito, farei uma breve exposição de minha pesquisa, desenvolvida no mestrado acadêmico e que leva o mesmo título desta proposta. Por meio da micro-análise da família Corrêa e Castro, abastada proprietária de fazendas de produção do café, alcançamos a trajetória de Pedro Corrêa e Castro (1785-1869), o barão do Tinguá, um dos seus membros mais lembrados pelos memorialistas e pela memória local, que manteve uma vida familiar guardada no âmbito privado com Laura Congo, sua escrava africana, com quem tivera seis filhos reconhecidos e legitimados em testamento. A partir deste caso, discutiremos o conceito de família senhorial, como modelo que fez parte de um conjunto de representações da classe senhorial, e suas brechas. Em primeiro lugar, tal modelo estipulava uniões entre famílias de mesma posição social ou dentro da mesma família, a fim de expandir ou de manter o patrimônio e de estabelecer linhagens prestigiosas, do ponto de vista senhorial. Em segundo lugar, o homem de boa família deveria se mover para criar esses laços com pessoas de prestígio, tanto sanguíneos quanto por amizades, e ocupar lugares de destaque ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------social, como cargos políticos, e obter títulos de nobreza e condecorações. Ao não se casar dentro de sua classe e gerar seis herdeiros com Laura Congo, o barão de Tinguá não seguiu os referidos parâmetros familiares. Entretanto, em compensação, ocupou vários cargos de prestígio – foi vereador, juiz de paz e provedor das Irmandades locais – e obteve o título de barão com grandeza, simultaneamente à convivência com sua escrava. Ele não foi o único senhor a estabelecer relações com escravas, o que, inclusive, não era proibido, de acordo com os códigos senhoriais, desde que fosse restrito ao âmbito privado. No entanto, sua história guarda peculiaridades no que toca ao reconhecimento em testamento dos seus seis filhos e menção à mãe deles, à durabilidade do convívio com Laura e, por fim, ao êxito ao transmitir-lhes seus bens. Mesmo que o modelo de família senhorial tivesse peso no funcionamento daquela sociedade e nas articulações do interior da classe senhorial, havia dentro dele permissões, no âmbito das práticas cotidianas e do vivido, para a existência de outras formas familiares, como a de Laura e Pedro.

Migração e ocupação da Capela de Santana do Piraí: o processo de povoamento e distribuição de terras na formação do Vale do Paraíba fluminense (1781-1812) - Vladimir Honorato de Paula (Universidade Severino Sombra)

A Capela de Santana do Piraí, na segunda metade do século XVIII, se transforma numa importante área de ocupação colonizadora dentro dos limites da Freguesia de 503 São João Marcos. Muito antes da elevação da primitiva ermida dedicada a Nossa Senhora de Santana à condição de capela curada na década de 1770, as férteis zonas sediadas entre os rios Piraí e Paraíba do Sul se converteram em área de exploração econômica assentada na produção agrícola. A partir do trabalho de viajantes, cronistas, memorialistas e da leitura de fontes de pesquisa, temos que ao tempo da elevação da ermida a capela curada, a prática agrícola se ampliava para abranger uma serie de atividades, com destaque especial para a produção e beneficiamento da cana de açúcar e o desenvolvimento de culturas de mantimentos para subsistência e eventual comercialização dos excedentes no pequeno comércio de abastecimento. Portanto, a possibilidade de obtenção de terras férteis situadas num local de fronteira agrícola em processo de abertura e numa região favorecida pela existência de condições ideais no fomento à prática da agricultura foi o incentivo básico para a migração de indivíduos oriundos de diferentes partes do Império Português e da América Portuguesa. Diante do que foi exposto, portugueses naturais das mais distantes e distintas áreas se encontram na Freguesia de São João Marcos dando início a formação e organização de uma sociedade colonial de base estamental, escravista e assentada na posse e uso da terra na Capela de Santana do Piraí. Tendo como interesse a formação da Capela de Santana do Piraí, o objetivo principal do presente trabalho será o desenvolvimento de uma análise sobre essa sociedade colonial em gestação. Assim, pretendemos analisar esse desenvolvimento a partir de três objetivos secundários: pensar o deslocamento espacial pelo Império Português como forma de ascensão social e econômica a partir de novas possibilidades de investimento, articular a idéia da aquisição de terras e a promoção de atividades econômicas em áreas de fronteira agrícola em ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------expansão como forma primordial de acúmulo de riqueza material e o estabelecimento de ligações familiares na sedimentação de núcleos familiares em zonas de ocupação pioneira com objetivos previamente articulados.

Migrações e a segunda escravidão: encontros e desencontros da primeira trata de colonos - José Juan Pérez Meléndez (University of California, Davis)

Com a consolidação do tráfico ilegal de escravos após 1831, o Rio de Janeiro e outras cidades portuárias do Império do Brasil experimentaram também um reponte em entradas de migrantes nominalmente livres. Como explicar essa simultaneidade entre um crescente (e maior) comércio de escravos e o despontar, antes do tempo consignado pela historiografia, de um mercado em colonos que sentou as bases protocolares e políticas da era das migrações em massa? Os historiadores têm explicado esse e outros fenómenos migratórios no Brasil oitocentista dentro de marcos estruturais, ora através do tropo da “substituição” do trabalho escravo por “braços para a lavoura” trazidos do além-mar, ora como manifestações análogas de trabalho forçado dentro do marco da “segunda escravidão” ou de conjunturas no âmbito do sistema-mundo. Esta comunicação examinará os contornos de um negócio emergente em colonos com a intenção de salientar que alguns dos seus atributos coincidiram com as transformações do tráfico de escravos graças às parcerias entre traficantes e capitães de navios. Contudo, outras características desse comércio incidiam em questões governamentais que nem sempre enquadravam com os princípios descritivos da “segunda escravidão”. Quais foram 504 os modelos deste negócio em colonos, na sua maioria dos Açores? Quais os traços e, através deles, os princípios operativos desse tráfico em migrantes? E quais, em termos gerais, são algumas das dificuldades práticas e teóricas de pesquisar e escrever essa história de cara aos pressupostos das aproximações interpretativas recentes ao s.XIX, particularmente do díptico de capitalismo e escravidão?

Nas praias do tráfico: o contrabando de africanos no complexo cafeeiro - Thiago Campos Pessoa Lourenço (Universidade Federal Fluminense)

Nessa comunicação desenvolveremos a hipótese de que o Vale do café se constituiu vinculado ao reerguimento e reestruturação do tráfico negreiro na clandestinidade. Entre meados de 1830 e início da década de 1850, praias, ilhas e enseadas do litoral da Serra do Mar foram os espaços de finalização do comércio negreiro em boa parte das antigas províncias cafeeiras. Muitos deles figuravam como fazendas, sítios e chácaras da elite do café. Como resultado de pesquisa em desenvolvimento, identificaremos alguns desses portos clandestinos, relacionando-os com seus respectivos donos, no mar que segue do sul fluminense ao norte da antiga província de São Paulo.

Notas sobre as bases geográfico-administrativas de estatísticas populacionais nos séculos 18 e 19 - Heitor Pinto de Moura Filho (UNIRIO-PPGH)

Trataremos nesta apresentação de uma questão a que a historiografia quantitativa pouco alude, que é a necessidade – preliminar a qualquer análise diacrônica ou ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------mesmo a uma simples tabulação de dados – de compatibilizarmos as unidades geográfico-administrativos que serviram de sucessivas referências às estatísticas produzidas no passado. A afirmação de que a freguesia, o município ou a comarca tal tinha x habitantes num ano e y habitantes noutro pode não ter qualquer sentido comparativo, caso estas unidades geográfico-administrativas tenham tido seus limites alterados no intervalo. Além disso, mesmo que, no período de interesse, regiões mais abrangentes – como a província do Rio de Janeiro ou o conjunto de municípios do Vale do Paraíba do Sul – não tenham sofrido alteração em seus limites externos, é quase certo terem ocorrido, neste intervalo, omissões de registro que invalidam as comparações desejadas. No Brasil, diversos sistemas institucionais produziram fontes de interesse demográfico. No período colonial, as estruturas militar, administrativo civil, administrativo eclesiástico, judicial civil e judicial eclesiástico, acrescidas, no Império, dos sistemas policial, eleitoral e hospitalar-sanitário, expandiram-se, adensando-se e promovendo sucessivas alterações nos limites de suas respectivas circunscrições. Ao longo de toda este período, devemos destacar a integração da burocracia eclesiástica católica às burocracias dos poderes laicos. É importante atentarmos para a nomenclatura de classificação das circunscrições eclesiásticas, utilizada para dar título às estatísticas. Foi variada a terminologia de categorias que qualificavam as circunscrições geográfico-administrativas dentro da estrutura eclesiástica e a posição do clérigo que ali exercia o sacerdócio. Nem sempre as distintas situações podem ser inferidas somente do contexto. Por fim, o termo “distrito” merece destaque devido à grande variedade de seus significados, que evoluíram desde o 505 século XVIII até hoje em dia, em especial com relação a circunscrições estatísticas. No século XVIII, a palavra traz referência genérica a certa região, sendo simultaneamente empregada como designação de unidade geográfica militar. Ainda no Império, vemos o termo mais frequentemente associado – no contexto de estatísticas demográficas – aos distritos de paz e simultaneamente como subdivisão de uma freguesia. Com a República, a palavra passa a ser adotada para nomear as subdivisões administrativas formais de um município, substituindo as freguesias, curatos, capelas e os “distritos de freguesias” da época imperial.

Ocupação do solo e trajetórias familiares: Vassouras e o café no século XIX - Magno Fonseca Borges (UNIRIO), Thiago de Souza dos Reis (UNIRIO/UVA/UNESA)

A colonização das terras que dariam origem a vila de Vassouras foi incrementada no início do século XIX e foi seguida de perto pelo desenvolvimento da cultura do café. A abertura das áreas florestais permitiu que houvesse a fixação de indivíduos e ramos familiares, oriundos de diversas atividades econômicas, que investiram seus capitais na construção de um complexo sistema cafeeiro que se tornaria um dos mais destacados na produção do café ao longo daquele século. Nosso objetivo com o presente trabalho é reconstruir a trajetória de alguns desses indivíduos e ramos familiares, atentando para suas estratégias de reprodução social e de riqueza. Entre eles, observaremos com especial atenção os Teixeira Leite, os Werneck, os Ribeiro de Avellar e os Correia e Castro.

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Os negócios do tráfico: o comércio ilegal de escravizados através do negociante Manoel Pinto da Fonseca (1838 - 1851) - João Marcos Mesquita (UNIRIO)

Em novembro de 1831 o império brasileiro promulgou a primeira lei de abolição do tráfico de escravizados para o seu território. Seu sucesso inicial foi iminente, com a aliança entre o Estado brasileiro e as forças repressivas britânicas, que conseguiram reduzir o desembarque de escravos em números inexpressivos, em comparação aos anos anteriores. Contudo, em meados da década, o comércio ilegal de cativos dava os primeiros sinais de seu recrudescimento, devido à formação do complexo cafeeiro na bacia do Vale do Paraíba e do dinamismo da região do sul Fluminense. Nesse aspecto, o tráfico atlântico de escravizados, agora sob a forma de contrabando, se tornou fundamental para as pretensões econômicas e políticas da classe senhorial que se constituía ao longo da década de 1830. Assim, foi necessária a reestruturação deste comércio, que havia sido deixado de lado por muito dos traficantes tradicionais, já que o alto risco da operação negreira não era compensado pelos lucros da empreitada. A renovação dos mecanismos de funcionamento do tráfico de escravos ficou, então, na mão de novos agentes comerciais – muitos dos quais já tinham funções menores nos meandros do tráfico legal –, que viam a elevação dos preços dos cativos, devido ao aumento exponencial da demanda pelo complexo cafeeiro que se instituía naquele momento. Dessa maneira, muitos foram os novos aventureiros do tráfico, no entanto, pouquíssimos receberam o mesmo destaque que Manoel Pinto da Fonseca. Manoel Pinto da Fonseca, português, radicado no império do Brasil desde a década de 1820, 506 foi um dos mais proeminentes negociantes do infame comércio no período do contrabando, sobretudo, na década de 1840. De caixeiro a dono de uma das principais firmas da praça comercial do Rio de Janeiro, Fonseca estabeleceu conexões que envolviam os dois lados da costa litoral africana ao centro-sul brasileiro, garantindo sua ascensão econômica e social na Corte imperial, mesmo com as suspeitas das autoridades brasileiras e do Foreign Office (órgão responsável pela repressão ao tráfico do império britâico). Nesse sentido, este trabalho buscara discutir empiricamente a atuação de Manoel Pinto da Fonseca no mercado ilícito de escravizados para o Brasil ao longo da década de 1840, destacando as estratégias por ele traçadas para garantir a continuidade de suas operações negreiras e sua importância na sociedade carioca.

Racionalidade econômica e transição para o trabalho livre - Rodrigo Goyena Soares (USP)

O artigo busca discutir a racionalidade econômica do emprego da mão escrava no contexto da crise do Império. A análise é realizada considerando-se, para o Oeste Paulista e a bacia do Paraíba, a produtividade cativa e livre e, ainda, o preço do escravo apto a trabalhar na lavoura e os salários dos trabalhadores rurais. Conclui- se que, em ambos os casos e do ponto de vista da racionalidade econômica, o escravo continuava a ser mais vantajoso do que o trabalhador livre. O artigo indaga então sobre os porquês da transição, ainda que lenta, para o trabalho livre no Oeste Paulista. Apontam-se razões econômicas e políticas, ao discutir-se as políticas de subvenção à imigração, o imposto sobre o tráfico interprovincial e a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------disponibilidade de mão de obra. Defende-se a posição que a transição para o trabalho livre, no Oeste Paulista, foi antes política do que econômica. Para a cafeicultura paulista, a abolição fazia sentido, não tanto pelo lado econômico, já que o capital empatado na propriedade cativa seria perdido, mas pelo político, considerando-se que o fim da escravatura poria definitivamente em xeque um sistema partidário ancorada, em grande parte, na cafeicultura fluminense.

Segunda Escravidão e Capitalismo no Século XIX: um debate necessário - Ricardo Salles (Unirio)

Nos últimos anos vem se travando um vigoroso debate em torno do conceito de segunda escravidão e da relação entre escravidão e capitalismo no século XIX. A apresentação visa traçar um panorama desse debate, relacionando-o com as discussões sobre o tema nas décadas de 1960 e 1970, bem como discutir a pertinência da retomada do debate.

Tráfico Ilegal no sudeste brasileiro, pós-1850 - Walter Luiz Carneiro de Mattos Pereira (UFF)

O tema proposto é parte de um estudo sobre o tráfico ilegal de africanos no litoral do sudeste brasileiro, mais precisamente, pela possibilidade de identificar os principais agentes envolvidos no negócio, que atuavam entre as fronteiras integradas do norte da província do Rio de Janeiro e o sul do da província do 507 Espírito Santo, ou seja, uma história social do tráfico ilegal. Abalados com o cerco ao tráfico ilícito, traficantes e negreiros promoveram escapadas ao contínuo mar de praias fluminenses capixabas, entre as barras dos rios Paraíba do Sul, Itabapoana e Itapemirim, por enseadas e deltas entre as duas províncias. A insistência em desembarques de africanos nessas áreas contíguas denunciava a abertura de rotas que partindo do litoral de atingiam o interior das províncias, seja para chegar às margens do rio Paraíba do Sul, em Campos dos Goytacazes, e daí acompanhando o leito do rio Muriaé, em direção ao extremo norte fluminense; seja adentrando ao sertão capixaba, ultrapassando Cachoeiro do Itapemirim. Os dois destinos iam dar em Minas Gerais, penetrando na sua Zona da Mata. O café avançava pela tríplice fronteira e fazia sua ocupação dilatar rapidamente. Portanto, a persistência do tráfico ilegal de africanos por aquelas plagas, pode ser tomada como um importante fator na composição ou recomposição da força de trabalho no espaço definido. Assim, o trabalho investe na possibilidade de apontar estratégias individuais ou coletivas, dentro da trama que enredou o tráfico ilegal de africanos, depois de 1850. A redução da escala permite observar a articulação de pessoas envolvidas seja na repressão e no combate, seja na ilegalidade do tráfico, cujas ações revelam as dimensões históricas do contexto.

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“Para dar de mamar a nhonhô”: amas de leite e maternidade escrava no Rio de Janeiro Imperial - Mariana de Aguiar Ferreira Muaze (UNIRIO)

Na sociedade imperial, as referências as amas de leite são múltiplas e, muitas vezes, ambíguas. Sobre elas falam os anúncios de jornal, as cartas privadas, as alforrias concedidas em inventários, as teses médicas, as fotografias, ora valorizando sua limpeza, saúde, recato, fidelidade, obediência e paciência; ora denegrindo esse tipo de função como ocorria com alguns médicos e cientistas, principalmente na segunda metade do século, quando o discurso higienista se fortaleceu. De uma forma ou de outra, essas fon-tes nos mostram que a prática da amamentação de crianças brancas por amas de leite escravas foi recorrente entre as famílias da classe senhorial do Império e que as mesmas resistiram, ao máximo, em abandona-la a despeito das críticas. As relações escravistas exercidas na esfera privada entre amas de leite e seus senhores, se por um lado acabavam por criar afetividades, dedicação e fidelidades entre os sujeitos históricos envolvidos (bebês, amas de leite, mães, etc); por outro eram gesta-das num ambiente de abuso, humilhação, violência física e simbólica, característico da própria escravidão como instituição. Portanto, a função dessas mulheres as inserias numa dinâmica privada extremamente conflituosa. A elas era permitida a convivência e a par-ticipação direta na vida senhorial, sem tampouco modificar seu status de propriedade e a condição de violência física e simbólica a que todo escravo estava submetido. Na maioria das vezes, esse trabalho implicava em abrir mão do aleitamento de seus próprios filhos, para cuidar do de outra mulher. A análise proposta, pensa a agência escrava, a partir 508 de dois prismas relaciona-dos. Primeiro, a grande incidência de amas de leite dependia fortemente do costume vi-gente da não amamentação dos filhos por parte das senhoras da classe senhorial, que pensavam tal ato como diferencial social, um elemento de prestígio, respaldado por habi-tus senhorial escravista pautado em relações sociais discricionárias, autoritárias e hierár-quicas. Segundo, entender a função das amas de leite depende da compreensão de quem eram essas mulheres de forma mais verticalizada, ressaltando sua agência, considerando questões sobre qual o destino de seus filhos, que relações continuavam mantendo com suas famílias de origem durante o aleitamento e que estratégias eram capazes de tecer no ambiente doméstico senhorial.

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509 ST 52. Pesquisas em estudos africanos: parcerias e perspectivas interdisciplinares

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A biografia histórica nos Estudos africanos: literatura e política na luta pela independência de Cabo Verde e Guiné Bissau. - Gustavo de Andrade Durao (UFRRJ)

A compreensão acerca dos processos de emancipação dos países africanos correu, na maioria das vezes, sob uma ótima idealizada, demonstrando a independência como algo consumado. O continente europeu foi o espaço em que se encontrou as primeiras representações da História Colonial, para somente depois de algum tempo se pensar em História da África. Apesar de tudo os contatos coloniais entre os povos africanos e as civilizações europeias até hoje não estão totalmente resolvidos. O colonialismo português carrega o estigma de ter sido um dos últimos a aceitar a métrica imperial nas relações transnacionais e é nesse contexto que Amílcar Cabral é um dos autores mais importantes, pois ocupa lugar privilegiado no debate sobre o pós-colonial nas produções, relacionando-se com outras manifestações literárias surgidas na década de 1980. Com isso é possível perceber como os conceitos de liberdade e de cultura são, em parte, emblemáticos desse novo intelectual africano, que é ao mesmo tempo militante, literato e personagem líder nessas representações dos movimentos de independência. Amílcar Cabral é um pensador fundamental, contudo, devido talvez a “ilusão biográfica” pode ter permanecido durante muito tempo no campo das análises raciais (ainda hoje extremamente importantes) mas que o não possibilitou uma análise mais aprofundada do seu papel na teoria pós-colonial. Por conta dos seus escritos de época, como o “Retorno às bases” (1973), seguido por “Unidade e Luta” (1974) e 510 ainda “A arma da teoria” (1976) ele nos auxilia a desvendar ainda muitas relações entre a antiga colônia, entre o papel do “entre-lugar” do pensador africano e ainda, os dilemas em fazer um único processo de independência para dois países tão distintos.

A Conjuração dos Degredados em Angola, 1763 - Juliana Diogo Abrahão (UFRRJ)

Em um episódio de 16 de Março de 1763, o governador de Angola, Antônio de Vasconcelos (1758 e 1764), em carta ao secretário dos negócios ultramarinos, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, se reportou a uma “conjuração de degredados”. Como o governador, em 1763 o juiz de fora de Luanda e os camaristas informam ao secretário ultramarino sobre o atentado dos degredados e as “desordens que eles têm cometido”. Novamente, o governador reforçou o lastimoso “atentado dos degradados” e descrevendo as lideranças e as penas aplicadas. A partir daí, o governador rogou para que não se mandassem degredados de “vil conduta”, incluindo o líder José Álvares de Oliveira, natural de Porto Alegre. Segundo Elias Alexandre, militar que em 1782 foi voluntariamente para Angola, o governador Antônio de Vasconcelos tomou posse em 14 de outubro de 1758, cujo “gênio circunspecto se inclinava á justiça: era mais Juiz; que Orador: o suplício seguia-se imediatamente ao delito.” O governador condenara vários degredados que participaram da conjuração que objetivava atentar contra a sua vida. Era de conhecimento público, segundo as testemunhas do Juízo da Inconfidência, que o réu José Alvares “tinha determinado surpreender a guarda do ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Governador, matando depois, e aos seus subalternos, fazendo o mesmo aos Ministros, matando também depois aos mais moradores, que se lhe opusessem”, tudo isto para fugir com destino ao Recife de Pernambuco. Contudo, uma testemunha denunciante, afirma que estes degredados pretendiam voltar ao Reino de Portugal, pois “ficavam perdoados por um Decreto que tinha saído do Rei, no qual perdoava a todos os criminosos, que se quisessem recolher ao Reino”. Podemos observar através deste decreto que ao perdoar o Rei demonstra a sua face como pastor, como pai, segundo António Manuel Hespanha. Mesmo com a prática do crime nunca se quebram os laços, “o rei nunca deixa de estar no horizonte de quem prevarica; que se antes não se deixou impressionar pelas suas ameaças, se lhe submete, agora, na esperança do perdão”. Nesse sentido, os degredados não perdiam a esperança de participar do pacto político com o rei. A punição era para orientar, dar parâmetros, não apenas castigar pessoas diante das demais, punir nesta sociedade demonstrava um ato de amor, de graça, de misericórdia e justiça. O Rei, personificação da lei, deveria agir como pai, que tem o dever moral de punir seus súditos para educá-los. Deve-se lembrar de que estamos buscando analisar uma sociedade católica, na qual a Igreja representava o papel da moral, uma função de controle sobre o homem, exigindo que os homens obedecessem às leis, ou seja, que as leis os guiem. O Estado existia, mas não representava o grande controlador da sociedade e das relações estabelecidas.

A Política Externa Independente e os discursos sobre a Arte da África em um mundo sem fronteiras - Gabrielle Nascimento Batista (Programa de Pós- 511 Graduação em Artes Visuais (UFRJ))

Impulsionado pelos impactos da crise do Ocidente, em meados do século XX, o Brasil reconfigurou-se no âmbito da política, buscando adequar-se às novas demandas mundiais. Nesse contexto, situa-se a descolonização de países africanos e o estímulo na desconstrução das “falsas doutrinas da desigualdade das raças”, bem como o encorajamento dos “princípios da igualdade”. A África, para o presidente Jânio Quadros (1961), era o palco perfeito que possibilitaria a expansão econômica do Brasil e o tornaria uma potência emergente. Para tal, o governo brasileiro abriu embaixadas no oeste da África — nos planos da Política Externa Independente — e nomeou Raymundo Souza Dantas, um jornalista negro, como embaixador em Gana, no intuito de divulgar o país como uma “democracia racial”. Gasparino da Mata e Silva serviu como adido de imprensa nesta embaixada, entre 1962-1963, e além de atuar como diplomata, exerceu também o papel de colecionador de arte africana. A montagem dessa coleção compreende, paralelamente, um cenário de transformações do mundo da arte, onde a Unesco assumiu um importante protagonismo no estímulo da construção de narrativas artísticas universais, em um mundo que se desejava horizontal. Nessa reinvenção da história da arte, os críticos acreditavam que o cânone europeu estava esgotado e, por isso, os museus deveriam renovar os seus acervos a partir das representações identitárias dos países não-ocidental. Damata, aliás, relata que esse período foi marcado por uma corrida entre os colecionadores, justamente porque os objetos “primitivos” assumiram valores extraordinários no mercado de arte. O colecionador também conta que recolheu as peças em diversas tribos africanas, ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------dando preferência às culturas materiais utilizadas em práticas tradicionais. No seu entendimento, os utensílios comprados em feiras eram produzidos em série e, por isso, assumiam a categoria de souvenir, sem valor museológico. Apesar da embaixada em Gana ter sido considerada pelo embaixador Souza Dantas como “uma missão condenada”, para o adido Damata as experiências no outro lado do Atlântico o possibilitou dialogar com prestigiosos agenciadores, inclusive com críticos vinculados à AICA — associação artística criada no âmbito da Unesco. Diante do destaque que assumiu na imprensa, a partir dos escritos em que reconstrói paradoxalmente as culturas africanas à imagem do ocidente, vendeu a coleção para o Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1964, por 2 milhões de cruzeiros, como “um acervo de arte de altíssimo valor”. Nesse sentido, esse trabalho abordará dois aspectos: o projeto político do Brasil em Gana, na política Externa Independente de Quadros; e os jogos de poder utilizados por Damata, na consagração e na artificação dos objetos africanos.

Avassalamento, Justiça e alguns tributos e taxas cobrados na Angola portuguesa de Fernão de Sousa (1624-1630) - Alec Ichiro Ito (USP)

Este texto discorrerá sobre o funcionamento de alguns tributos e taxas que eram cobrados pelos capitães de presídios, moradores e demais agentes portugueses que atuavam na Angola portuguesa dos séculos XVI e XVII. Para tal, analisaremos as definições esboçadas para algumas práticas tributárias e taxativas que foram incorporadas pelo oficialato régio, amiúde de maneira ilícita, durante o governo de 512 Fernão de Sousa (1624-1630). A princípio, essas práticas eram de origem mbundu, sendo identificadas na escrita administrativa com os nomes de “infuta”, “loanda”, “ocamba”, “infuca”, “baculamento” e outros mais. Nossas principais considerações estão divididas em duas partes. Na primeira, argumentaremos que a experiência histórica dos contatos luso-africanos atesta para a tentativa de fortalecer o sistema tributário e os mecanismos de controle e fiscalização portugueses, cristalizando com isso um espaço de ordenação judiciário gerido a partir de Luanda e dos presídios do interior. Na segunda parte, comentaremos que o processo de tradução e explanação dessas práticas, na medida que também eram vocábulos incorporados, girava em torno da comparação semântica, da polissemia e da imposição de um significado renovado ao empréstimo lexical, de sorte que o processo de significação acabava infundido pela experiência colonial de dominação. Concluiremos que as práticas de “infuta”, “loanda”, “ocamba”, “infuca” e “baculamento” estavam relacionados à formação de uma nova tessitura sociopolítica na Angola portuguesa, incontornavelmente influenciada pela situação assimétrica dos contatos luso-africanos e pela imposição do avassalamento aos sobas (chefes). No final das contas, os sobas vassalos acabavam relegados a um contrato de comprometimento que, por um lado, abarcá-los-ia em uma só Justiça, operante em função do Governo do corpo místico do rei; por outro lado, esse mesmo contrato relegava-os ao estatuto de membros dessemelhantes e inferiores da sociedade hierárquica e desigual da Angola portuguesa.

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Lugha ya Taifa: Abordagens sobre a formação do suaíli como língua franca na África oriental - Felipe Barradas Correia Castro Bastos (UNICAMP)

Estimativas recentes apontam que a língua suaíli (kiswahili) é utilizada como língua franca por aproximadamente 80 milhões de falantes numa vasta porção do continente africano (ROY, 2013) numa dimensão territorial que compreende Somália, Quênia, Tanzânia e Moçambique, na costa índica, e Ruanda, Uganda, Burundi e a República Democrática do Congo na região lacustre da África central. Este trabalho busca ponderar acerca das ambiguidades identificáveis no processo histórico que conduziu à atual difusão do suaíli de maneira a elencar um conjunto fundamental de perguntas, bem como apontar às respostas que lhes foram dadas em diferentes períodos. Em primeiro lugar, como um conjunto de “dialetos” relativamente intercomunicáveis e falados em diversas vilas costeiras da África oriental séculos antes da invasão colonial foram alçados ao estatuto de língua franca durante o colonialismo britânico na África oriental e no Katanga belga? Em segundo lugar, quais foram as razões elencadas por colonialistas para proceder pela deliberada seleção e manipulação linguística do dialeto zanzibari (Kiunguja) para a criação de um “suaíli padrão” (kiswahili sanifu) a partir de 1930? E, por fim, por quais maneiras a língua suaíli foi apropriada como elemento central no processo de independência e construção de identidade nacional na atual República Unida da Tanzânia? O objetivo principal da análise destas questões é situar historicamente a apropriação da língua suaíli enquanto “língua nacional” (lugha ya taifa) da Tanzânia independente como um ponto de partida para outras reflexões sobre o 513 componente linguístico dos processos de libertação do continente africano. Por meio de perspectivas teóricas oriundas da sociolinguística, da antropologia e do campo de estudos africanos e literários, buscamos argumentar que olhares atentos às vicissitudes históricas que determinaram a promoção de determinadas línguas em relação a (ou em detrimento de) outras podem ser elucidativos de fenômenos de grande envergadura, tais como o estabelecimento de redes suaílis de comércio caravaneiro, o advento do colonialismo na África oriental e a mobilização política conduzida por movimentos anticoloniais. Por fim, propõe-se que a análise diacrônica do contexto sociolinguístico tanzaniano – no qual se solidificou o primado da língua suaíli – pode servir para refletir a respeito das “ideologias linguísticas” produzidas e perpetuadas pela modernidade europeia, em particular a correlação causal traçada entre diversidade linguística e instabilidade política.

Memória, cinema e império colonial: uma análise do documentário Angola - no outro lado do tempo, de Mário Brito (1996) - Isabel de Souza Lima Junqueira Barreto (Empresa Municipal de Multimeios)

O documentário Angola, no outro lado do tempo, de Mário Brito (1996), objeto do presente texto, é um rico exemplo de como a seletividade da memória atua para perpetuar uma determinada visão do passado. Apresenta-nos a Angola colonial nos anos 1960 e 1970. A obra audiovisual em questão retrata uma vida e uma sociedade que não mais existem: uma espécie de paraíso tropical em que tudo funcionava sem maiores atritos, na visão de uma minoria privilegiada. Mário Brito, através de sua película, buscou passar a ideia de uma sociedade pulsante, com riqueza e ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------crescimento econômico, avançada nos costumes em relação à própria metrópole. Imagens, entretanto, têm, não raro, uma força que extrapola intenções de construção denotativa de uma dada memória coletiva. Ao longo da película, o que se torna cristalino para o observador atento é a patente desigualdade e a exploração na qual se assentava aquela sociedade. Busco, por meio de um quadro teórico que se propõe a pensar a relação entre memória, cinema e império colonial, a partir das obras de Marc Ferro, Michael Pollack e Patrícia Ferraz de Matos, entre outros, mostrar como o filme ora analisado se insere na perpetuação de uma dada representação do império colonial português. Visão difundida ainda nos dias atuais, de que o colonialismo lusitano era soft em relação aos demais empreendidos por nações europeias. O Portugal contemporâneo tenta se alhear sub-repticiamente das máculas inoportunas de seu passado colonial, como bem demonstra o antropólogo Miguel Vale de Almeida em passagem do último episódio da série Racismo à Portuguesa, ao declarar de forma enfática e luminar: “metemos o racismo em baixo da cama, metemos a escravatura em baixo da cama, metemos a violência em baixo da cama, metemos a guerra colonial em baixo da cama”, tendo a Revolução dos Cravos e os governos subsequentes fracassado em derrubar o sedutor, porém ilusório, mito do “bom colonizador”. O filme em questão continua, portanto, a despertar importantes e atualíssimos questionamentos para a análise da memória social construída no pós-colonialismo. Isso faz com que o racismo, na atualidade (que se quer mais instruída e integrada), seja também posto “em baixo da cama”, como águas passadas que se deseja esquecer. Para contextualizar a memória coletiva que Mário Brito buscou retratar, irei lançar mão de passagens de edições 514 da Revista Notícia publicadas entre Janeiro de 1974 e Fevereiro de 1975. Fazendo um contraponto a elas recorro a estudiosos da guerra de libertação nacional e das revoltas ocorridas em Angola às vésperas do princípio da guerra colonial, como a ocorrida nas plantações de algodão da Baixa do Cassange em Janeiro de 1961.

Música e oralidade para compreensão das dinâmicas sociais no Congo-RD (1930-1961) - Evelyn Rosa do Nascimento (PUC-Rio)

A comunicação tem por objetivo discorrer sobre importância da música popular no cotidiano de sociedades africanas, tendo como recorte a sociedade colonial congolesa, atual Congo-Kinshasa, analisando a rumba congolesa - gênero musical de grande popularização na década de 1950 - como exemplar das múltiplas determinações, trocas e relações existentes no período. Nesse sentido, nosso estudo tem a música como documento histórico e como ponto de referência para uma abordagem social sobre a influência da rumba congolesa. Dessa forma, propomos apontar o impacto dessas canções nas interações sociais e na formação de uma identidade congolesa urbana que se gestava durante o período de luta pela libertação.

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O "messias" negro: Frantz Fanon e a luta revolucionária - Pedro Beja (PUC- Rio)

Esta proposta de comunicação se propõe a analisar, ainda que de forma preliminar, a atuação intelectual e revolucionária do ativista e teórico martinicano Frantz Omar Fanon entre os anos de 1947 e 1952 a partir de um estudo de caso dos conceitos trabalhados pelo autor na obra “Pele Negra, máscaras brancas” (1952). Adotando o termo “messias negro” para caracterizar Fanon, tendo em vista o memorando de 1968 do COINTELPRO (Programa de Contrainteligência norte-americano conduzido pelo FBI) que elaborou cinco necessidades de prevenção aos grupos nacionalistas negros, o objetivo central desta comunicação será reconstruir histórica e sociologicamente a atuação de um sujeito político que serviu de base para todos os movimentos de luta por direitos civis nas décadas posteriores a 1950 até hoje.

O Ndongo e o envolvimento no tráfico atlântico de escravizados (século XVI) - Luciana Lucia da Silva (PPGHIS/IH - UFRJ)

A comunicação proposta busca apresentar alguns aspectos da relação mantida entre portugueses e povos Mbundu – denominação dada aos falantes do kimbundu que ocupavam uma larga faixa da África Central Ocidental – no momento inicial da presença estrangeira na região, que se deu já no século XVI, em decorrência da associação do Ndongo ao tráfico atlântico de escravizados. O reino do Ndongo, 515 habitado por um subgrupo entre os Mbundu, se situava na região que ficou conhecida como Angola a partir do início da presença portuguesa no local. Ao se relacionar com europeus, em especial os portugueses, e enviar um enorme contingente de pessoas para as Américas, o Ndongo esteve intimamente ligado ao Atlântico e, portanto, exposto aos efeitos do contato com diferentes culturas. Dessa forma, é necessário se pensar a história do Ndongo, no período aqui considerado, em conexão com a existência de um Mundo Atlântico no qual os Mbundu não apenas se inseriram, mas ajudaram a construir. Além disso, é preciso considerar que nessa região foram mantidas relações bastante diferentes daquelas estabelecidas pelos portugueses em outras localidades da costa africana até então. Nela deram-se contatos, estabeleceram-se alianças e conflitos de forma bastante intensa e peculiar entre portugueses e africanos; o que viria a resultar no estabelecimento da futura colônia de Angola. Portanto, o objetivo deste trabalho é pensar dinâmicas presentes nos primeiros contatos entre os portugueses e os habitantes do Ndongo, que tinha como pano de fundo o tráfico atlântico de escravizados. Buscaremos perceber nesse momento inicial o fator relacional entre interesses portugueses e Mbundu – os quais certamente estiveram envolvidos nesse processo, mas têm o seu papel muitas vezes negligenciado na escrita da história. Portanto, questionamos quais teriam sido as motivações, os interesses e as expectativas presentes no desejo do estabelecimento dessa relação tanto para portugueses quanto, e principalmente, para africanos. Além de problematizar o lugar e a importância da escravidão na sociedade Mbundu, pensando-a como fator imprescindível para a inserção do Ndongo no comércio atlântico de escravizados.

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O olhar do jurista José Gonçalves Cotta sobre os ritos de iniciação: uma análise do "Projecto Definitivo do Código Penal para os Indígenas de Moçambique" - Cristiane Soares de Santana (UFBA)

O ato de codificar era uma estratégia de buscar normatizar os comportamentos visando o combate das práticas culturais das populações indígenas. O lobolo, os ritos de iniciação, as festas, as crenças religiosas e os cuidados de saúde, etc. constituíram espaços de combate entre o poder do colonizador e a resistência dos nativos. Compreendendo o “Projecto” definitivo do Código Penal dos Indígenas da Colônia de Moçambique como instrumento jurídico elaborado por um jurista português José Gonçalves Cotta a mando da administração colonial, buscaremos apresentar nesta comunicação as representações sobre as práticas ritualísticas dos nativos na obra supracitada.

O que é ser civilizado? O que é não ser civilizado? Representações coloniais dos povos da Guiné "Portuguesa" - Isabelle Baltazar Cunha da Cruz (UFBA)

Resgatando brevemente a trajetória do conceito de civilização no decorrer da Modernidade, é possível acompanhar os usos que são atribuídos no decorrer dos séculos. Foi possível identificar durante o século XVI, XVII e XVIII, dois sentidos para o termo: primeiro, levar à civilidade; e o segundo sentido está vinculado à jurisprudência. Diante de uma série de novas experiências e transformações, e a partir de diversas obras publicadas a significação relacionada à jurisprudência caiu 516 em um processo de desuso. Obtendo apenas um único uso no século XIX, formou- se um conceito unificador. O termo passou a designar, primeiramente, o processo que torna os homens civilizados, e posteriormente o resultado acumulativo deste processo. É neste contexto que é possível notar e estabelecer a relação entre a acepção de progresso e o conceito de civilização. Através desta relação surgem variadas teorias científicas a fim de distinguir as etapas do processo civilizador e os estágios do progresso das sociedades, com o intuito de criar um quadro dos progressos do espírito humano e dos diversos estágios de aperfeiçoamento sucessivos. Passando por teorias dos mais variados campos do conhecimento, tem- se a busca por pensar e compreender os ciclos e etapas da civilização. Foi através destas teorias e dos discursos construídos a partir delas que se legitimou a justificativa da colonização em África. Mais, afinal de contas, o que é ser civilizado, na Guiné "Portuguesa"? O que é não ser civilizado? Por quais caminhos perpassam as significações e sentidos deste conceito nas classificações realizadas sobre os Povos da Guiné? Ao se utilizar do termo de não-civilizado para representar os Povos que habitavam a Guiné, é possível identificar a lógica como o Estado se imagina (o civilizador) e a maneira como classifica as sociedades que "administra" (os que necessitam de serem civilizados). Mais qual seria a ordem de classificação que guia o olhar colonial? Estaria ela baseada na questão da língua e da alfabetização? Através de dispositivos culturais, econômicos, religiosos? Ou até mesmo a partir da concepção de raça? Causa estranheza notar que sociedades desenvolvidas culturalmente e na esfera do comércio, tenham sido classificadas como não civilizadas. Outro fator a ser observado neste artigo, é pensar como eram classificados os "assimilados" da Guiné. Minha intenção é a partir destes ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------questionamentos e da análise de distintos documentos (Acto Colonial, Censos, os documentos originados a partir da Missão de Geografia à Guiné e fotografias) provar como este conceito foi utilizado a partir da visão/ideologia eurocêntrica, e se a partir das sociabilidades e relações existentes entre portugueses e os distintos grupos da Guiné, houve a possibilidade de modificações nestas representações.

Podemos falar em África na Antiguidade Tardia? Um ensaio sobre os pós coloniais e suas contribuições ao tema - Waleska Souto Maia (PUC-Rio)

Os estudos sobre a pluralidade do continente africano e as diversas representações sobre a África, ao longo de inúmeros períodos históricos, vêm sendo expandidos e enriquecidos desde a denominada, genericamente, teoria pós-colonial. Neste campo teórico, complexificado e (re) significado pelos atuais estudos que envolvem a História da África, destaca-se no que se refere a busca por uma desnaturalização e a compreensão da representação de África V.Y. Mudimbe. Amparada por sua reflexão desenvolvida em A ideia de África, de que a própria denominação do continente deve ser problematizada, defendo que, a partir dos documentos de Agostinho de Hipona, e fontes de sua época, precisamos considerar e historicizar o que se entendia por África na Antiguidade Tardia, as relações de conflito e poder , continuidades e descontinuidades em torno de tal representação desde o Mundo Antigo, tendo meu recorte temporal específico no denominado Baixo Império Romano. Objetiva-se assim, apresentar o que a historiografia e Agostinho apresentam como África em meados do século V. A escolha de 517 Agostinho se faz na medida em que ele atuou em Hipona, uma das cidades púnicas transformadas no processo histórico que ficou conhecido como Romanização, assim como o autor nascera em Tagaste, atual Argélia. Apesar da relação do autor com o espaço situado no Norte da África, suas ideias são muitas vezes apresentadas desconectadas das tensões política, econômicas e sociais ali existentes, o que será problematizado com base, fundamentalmente, na História Crítica e Social desenvolvida por Neal Wood, The Social History of Political Theory e Ellen Wood, Citizen to lords: The Social History of Westerns olitical Thought From Antiquity to the Middle Ages. Finalmente busca-se apresentar a singular importância dos estudos pós coloniais para a historiografia desenvolvida no Brasil, nas últimas décadas, sobre o Baixo Império Romano. Dialogando com Brunno Oliveira Araujo, Uma Introdução ao Baixo Império Romano: Pesquisa e Debate Científico no Brasil, entre outros, desenvolverei uma análise sobre de que maneira os estudos pós coloniais, impactaram o entendimento em torno de Imperialismo e a definição clássica de Romanização, ruindo com a ideia de mera aculturação dos povos dominados “subordinados” a cultura clássica romana. Ainda sob este prisma, ocorre a ruptura com a percepção do expansionismo romano como meramente defensivo e de aculturação. Assim busca-se assinalar a complexidade do processo e as várias teias de alianças e poder ali instauradas.

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Representar, Testemunhar e Narrar: Raça e nação na literatura de Pepetela - Carolina Bezerra Machado (UFF)

Para Pepetela a fronteira racial existente em Angola teria ficado mais evidente quando deixou Benguela e foi dar continuidade aos seus estudos em Lubango, cidade de maioria branca. De acordo com o escritor, lá as crianças negras ‘recebiam tratamento diferenciado, sendo mais vigiadas e castigadas em sua disciplina”. Portanto, para o escritor angolano, a vivência frente à essas diferenciações raciais existentes em seu país, vão marcar as suas posições como intelectual. Os debates acerca da questão racial estarão presentes na maior parte de suas obras, ressaltando, sobretudo, o racismo do período colonial, mas apontando para os problemas enfrentados pela sociedade angolana no período anterior e posterior a independência. Essas primeiras percepções sobre o social influenciarão a sua escrita, trazendo problemáticas que levarão ao desenvolvimento de uma concepção nacionalista baseada na integração racial. A partir destas questões, o objetivo da presente comunicação é problematizar as representações sobre raça e nação em Angola a partir de alguns romances de Pepetela, destacando, sobretudo, a complexa relação social que envolve os seus personagens.

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519 ST 53. Políticas públicas no Brasil: trajetórias e debates

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A Constituição da Capital Imperial enquanto projeto unificado: O Desenvolvimento do Saneamento (1843-1865) - Sandrine Alves Barros da Silva (UFF)

Buscando compreender a forma como as políticas sanitárias se estabelecem na cidade do Rio de Janeiro no período entre 1843 e 1865, o presente trabalho analisará o processo de elaboração dos projetos de obras públicas, cruciais para a construção da capital imperial, além de discutir a transformação na noção de saneamento, vinculada inicialmente à intervenções higienistas, e relacionada às políticas sanitárias ligadas à construção civil no período assinalado. Para tal, recorreremos a noções de Estado, bem como as influências exercidas por este e pelas frações intelectuais do período, seja por meio de medidas legais, ou ações cotidianas. Sobre este aspecto, abordaremos o Decreto n° 598 de 1850, a partir do qual são destinadas verbas e orientações administrativas de gerenciamento de uma política sanitária, além de identificarmos que um eixo das medidas de saneamento se junta à expansão da cidade, e também à “expulsão” das classes mais pobres para fora do seu centro administrativo. Nos é fundamental observar que a análise de marcos jurídicos, como o supracitado, sinaliza para o processo de formação de um novo campo de saber com bases técnico-científicas, o da Engenharia Civil, que ao se distanciar das funções e corporações militares, conforma-se enquanto espaço de formulações e debates que expressarão interesses políticos e econômicos em disputa no período. Como marco desse processo, cabe apontar a inauguração, em 1858, dos trajetos iniciais da Estrada de Ferro Dom Pedro II, que possibilitava a 520 ligação das áreas centrais da cidade às periferias, possibilitando a concretização do projeto que se iniciou com os médicos higienistas, de remanejamento populacional, além de marcar as maiores modificações do perímetro urbano que aconteceram na capital.

A política penitenciária e o processo de construção de uma nova unidade prisional em Iporá-GO - Marcello Rodrigues Siqueira (UEG)

Este trabalho trata da política penitenciária tomando como objeto de investigação a unidade prisional do município de Iporá-GO no período compreendido entre 2014 e 2018. É um tema-problema que tem ocupado os estudiosos, preocupado as autoridades e conquistado cada vez mais espaço nas mídias e redes sociais. Depois da inspeção da Unidade Prisional de Iporá realizada pelo Conselho Penitenciário, o Deputado Estadual Mauro Rubem, Presidente da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Legislação Participativa, encaminhou o relatório desta inspeção para o Ministério Público de Goiás. O MP recebeu a representação e em 16/01/2014 entrou com uma ação civil pública com pedido liminar com obrigação de fazer (Construção de nova unidade prisional, colônia agrícola/industrial e reforma em construção para funcionamento como casa de albergado) contra o Poder Público Estadual. Então, caberia perguntar: O Poder Judiciário pode intervir na política criminal adotada? Seguindo a linha de pensamento adotada por Oliveira (2008), parte-se do pressuposto de que o Poder Judiciário pode e deve intervir em políticas públicas para conferir aplicabilidade aos direitos fundamentais, sobretudo, quando se trata de controle e intervenção nas políticas penais, desde que voltada à ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------salvaguarda dos direitos e garantias fundamentais. Nesse sentido, o objetivo é conhecer e analisar as propostas e desafios da política penitenciária adotada e, mais especificamente, avaliar a situação considerando a unidade prisional de Iporá-GO. Para tanto, tomou-se como principais documentos de referência o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária de 2015, a Política Penal do Governo Federal que trata da “Construção de Estabelecimentos Penais Estaduais”, o Plano Plurianual (PPA) 2016-2019 do Estado de Goiás no que se refere ao Programa de Estruturação e Modernização das Unidades de Segurança Pública e, mais especificamente, a referida Ação Civil Pública. Nº. 18140-37.2014.809.0076 (201400181407). Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa teórico-empírica realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e eletrônicas.

A Tutela Jurídica Do Louco Infrator: Um Estudo Acerca do PAILI em GOIÁS (2006-2019) - Tatiana de Freitas (UEG)

Neste trabalho busca-se realizar uma análise crítica acerca do instituto da tutela jurídica no ordenamento brasileiro destinado aos “loucos” e, mais especificamente, avaliar as possibilidades e limites do Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (PAILI) em Goiás no período compreendido entre 2006 e 2019. Segundo a Portaria Nº 019/2006-GAB/SES, o PAILI foi criado considerando a Lei nº 10.216/01, a resolução nº 5 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, de 4 de maio de 2004, as propostas da III Conferência Nacional de 521 Saúde Mental e o relatório do Seminário Nacional para Reorientação do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. Nessa linha de tempo, a problemática subjacente ao tema central diz respeito à própria regularidade do serviço, dinâmica e funcionamento do PAILI. Então, caberia perguntar: O modelo tradicional de tutela jurídica do louco infrator foi superado? Os interesses individuais e coletivos foram respeitados? E a pergunta-chave: que benefícios reais o PAILI trouxe para pacientes e familiares? A hipótese é que a inserção de direitos fundamentais sociais tem por base a igualdade real de oportunidades aos diversos segmentos sociais, inclusive do louco infrator, vindicando a realização de políticas públicas como instâncias de acesso e de bem estar psicofísico social da pessoa. Para fundamentar teoricamente esta pesquisa recorreu-se a Delgado (1992), As razões da tutela; Gonçalves (2012), Tutela de interesses difusos e coletivos; Silva (2010), O desafio colocado pelas pessoas em medida de segurança no âmbito do Sistema Único de Saúde: a experiência do PAILI-GO; Soares e Diniz (2016), Os serviços substitutivos em Saúde Mental e as alternativas à lógica manicomial: O Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (PAI-LI) como prática inovadora; entre outros. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa teórico-empírica realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e eletrônicas por meio de uma abordagem multidisciplinar abrangendo tanto os aspectos históricos quanto os jurídicos. Entre os resultados, espera-se que o acompanhamento de casos concretos possa evidenciar – ou não – a necessidade de adequação das políticas públicas.

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As contradições público privado no discurso do governo de Goiás com base no decreto 8469 de 2015 - Thalia Stéfany Lima Correia (UEG - Iporá)

O objetivo deste texto é analisar o decreto 8469 de 2015 que se trata da justificativa para a implantação da gestão da educação básica compartilhada com Organizações Sociais em Goiás. O governador do estado, Marconi Perillo (PSDB) apresenta, no referido decreto, um discurso que eleva a educação privada e reduz a educação pública. Nesse discurso aponta que a educação básica tem muito o que melhorar e a iniciativa privada torna-se um exemplo a seguir ou pode prestar o devido serviço para a melhoria do segmento público. Constatamos que, em vários casos, os mesmos professores atuam nas instituições públicas e privadas. Também, que a precariedade da escola pública, que sofre com a falta de valorização do professor, falta de incentivo para gestores, falta de estímulo para alunos e professores, falta de material que possa atender às necessidades educacionais e melhores estruturas físicas da escola é responsabilidade do Estado que se exime da responsabilidade e sinaliza para uma culpabilização dos profissionais do segmento público. A questão metodológica que conduz essa pesquisa é a análise documental com vistas a uma crítica social e análise do discurso de profissionais que atuam nos dois segmentos, público e privado, para uma comparação com o discurso do governo.

Educação e migração nas escolas públicas estaduais do município de Amorinópolis-GO (2014-2018) - Morgana Priscila Soares Vivaldo (UEG) 522 Esta pesquisa discute a relação entre educação e migração tomando como objeto de investigação as escolas públicas estaduais do município de Amorinópolis-GO no período compreendido entre 2014 e 2018. Por meio desta pesquisa foi possível perceber que estudantes migrantes têm passado por diversos tipos de dificuldades que, em última instância, tem levado à evasão escolar. Esta é a principal problemática a ser tratada nesta pesquisa. Em relação aos objetivos, busca-se discutir as relações entre educação e migração e, mais especificamente, conhecer a situação dos estudantes migrantes nas referidas escolas, analisar o papel do Estado e as transformações decorrentes de suas ações na formulação e implementação de políticas públicas educacionais. Quanto a fundamentação teórica destaca-se os trabalhos de Bartlett, Rodríguez e Oliveira (2015), Espinosa e Vendramini (2016), Queiroz e Santos (2015), entre outros. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa teórico-empírica baseada em ampla pesquisa bibliográfica, eletrônica e documental.

Estado, Políticas e História da Educação: dos processos de criação, expansão e reestruturação da Universidade Estadual de Goiás (1999-2016) - Suzana Rodrigues Floresta (FAI)

O objeto de investigação desta pesquisa foi delimitado considerando-se os processos de criação, expansão e reestruturação da Universidade Estadual de Goiás no período compreendido entre a sua criação em 1999, por força da Lei 13.456, de 16/04/1999, e o ano de 2016. Primeiro, a estruturação da UEG sempre foi uma política para o desenvolvimento do Estado de Goiás? Segundo, a UEG já nasceu ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------estrategicamente beneficiando todos os municípios do Estado? Para alguns autores o desenvolvimento é frequentemente associado (e confundido) com crescimento econômico e industrial. Além disso, pelo seu caráter difuso, é alvo de constantes questionamentos, de sucessivas construções e desconstruções. Mais que um conceito estático, é um processo dinâmico. Por isso, pensá-lo na atualidade é um enorme desafio. Portanto, parte-se do princípio de que o desenvolvimento é um processo complexo que não pode ser observado somente por meio de indicadores agregados que escondem assimetrias e desigualdades, nem pode assentar em bases frágeis que comprometam a sua continuidade. Serão adotados vários procedimentos metodológicos necessários para se obter respostas aos questionamentos e aos objetivos propostos. De certa forma, a intenção aqui é realizar uma "análise de política". Trata-se de uma técnica de estudo e pesquisa que permite formar uma opinião acerca de determinada política pública. De acordo com os interesses e do ponto do qual se interpreta e analisa, podem-se obter diversos julgamentos sobre a mesma, possibilitando comparações com outras. Na perspectiva da "análise" serão considerados os discursos oficiais e não oficiais, ou seja, os discursos explícitos e implícitos, considerando, inclusive, o estudo da ausência de uma política, já que o silêncio acerca de uma determinada questão pode ser uma estratégia de ação frente à mesma. Nesse sentido, entre os autores escolhidos para analisar as políticas públicas no âmbito desta pesquisa destacam- se: 1) em relação a fase da agenda, Kingdon (1984); 2) para a fase de formulação de políticas foi selecionado os seguintes autores: Hoppe, Graaf e Dijk (1985); 3) quanto a fase de implementação, Kiviniemi (1985); 4) finalmente, Franco e Cohen 523 (1988) vão subsidiar as discussões em torno da avaliação das políticas públicas.

O Direito Surdo: analises sobre a aplicação do Decreto 5626 nas escolas publicas de segundo seguimento da região metropolitana do Rio de Janeiro - Tuanny Dantas Lameirão (UFRRJ)

Até o início do século XX a surdez era vista apenas por uma perspectiva clínica, o surdo era pensado como incapaz de adquirir autonomia, moralmente incompleto, do qual era necessário tutelar e ensinar a pensar e comportar se. Nos anos subsequentes houve grandes avanços quanto ao entendimento do surdo e da surdez como uma diferença, lutas foram travadas em diversos meios: acadêmico, escolar e social, buscando incorporar uma nova ótica que perceba o surdo como indivíduo ativo na sociedade, porém, este ainda é um espaço em disputa. Se de um lado a virada do século XX para o XXI é um marco da confirmação hegemônica do capitalismo neoliberal que precariza os direitos trabalhistas e sociais e consequentemente amplia a exclusão; por outro, este foi o momento de crescimento do debate acerca do diferente na educação, do direito ao acesso e permanência de grupos historicamente marginalizados ao ensino, incluindo os Surdos. As Declarações Mundial de Educação para todos e de Salamanca, assinadas por diversos países incluindo o Brasil, são marcos da significativa ampliação do discurso em prol da inclusão. Em meio ao crescimento desse discurso e da visibilidade internacional dos movimentos de universalização do acesso ao ensino básico, o Brasil inicia um processo legislativo em diferentes setores da educação: gestão, currículo, avaliação entre outros, incluindo o que aqui referenciamos: a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------inclusão. No que tange a inclusão de surdos essas mudanças legislativas se intensificam a partir da posse do governo Lula, 2003. Dentro de uma pauta política de investimentos em inclusão social e reivindicados por movimentos sociais e populares da comunidade surda temos a criação de uma legislação que afirma direitos aos surdos, entre as leis destacasse a Lei n° 10.436/02, que afirma a Libras como língua materna dos surdos, e o Decreto nº 5.626 que garante às pessoas surdas, o direito à educação inclusiva, com adequações necessárias para o acesso à comunicação, à informação e à educação. Como consequência de processo os tivemos o aumento exponencial de matriculas de alunos surdo em salas de aulas regulares de ensino na rede pública. Dentro deste panorama é inegável os avanços legislativos acerca da inclusão de surdos e uma mudança radical representação política e cidadã do indivíduo surdo, mas com se dá a incorporação dessas políticas públicas dentro do ambiente escolar? Nesse trabalho intentamos analisar a incorporação da legislação vigente, sobre tudo o decreto n° 5.626 em diferentes municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Os historiadores no debate sobre as cotas raciais: os sentidos da disciplina - Matheus de Carvalho Leibão (UERJ)

O estudo pretende discutir o posicionamento de historiadores perante às diferentes iniciativas de políticas de ação afirmativa em prol da entrada de estudantes negros e índios nas universidades públicas brasileiras. A discussão se pautará a partir da análise de textos de opinião publicados por profissionais do campo da História no 524 jornal "O Globo", além de entrevistas concedidas por eles ao mesmo veículo. Como recorte cronológico da pesquisa, foi escolhido o período entre 2003 e 2012, que compreendem o início das cotas raciais na UERJ e a aprovação da lei 12.711/2012, também conhecida como "Lei de Cotas". Entende-se aqui que, apesar de não serem o tipo de profissional mais constante nos debates promovidos pelo jornal, os historiadores cumprem um papel importante na promoção do debate sobre esta forma de politica pública ao aprofundarem discussões pertinentes sobre o passado das relações raciais brasileiras. Portanto, o foco deste estudo está na forma como os historiadores contribuíram para a formação de determinados entendimentos acerca da relevância do racismo na composição social brasileira, de que forma ele se entrelaça com a desigualdade social, e também de como se conformou um certo consenso acerca da identidade nacional em torno da ideia da mestiçagem.

Políticas Públicas em Educação: A questão da violência escolar, capacitação docente e segurança no ambiente escolar em Iporá-GO - Patrícia Machado Alves (Universidade Estadual de Goiás)

Este trabalho tem como objeto de investigação a política pública em educação do município de Iporá-GO. De acordo com o art. 7˚ da Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios atuarão em regime de colaboração, visando ao alcance das metas e à implementação das estratégias objeto deste Plano. Assim, o objetivo desta pesquisa é verificar se o município de Iporá tem garantido as políticas de combate à violência na escola, inclusive pelo ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------desenvolvimento de ações destinadas à capacitação de educadores para detecção dos sinais de suas causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a adoção das providências adequadas para promover a construção da cultura de paz e um ambiente escolar dotado de segurança para a comunidade. Para tanto, tomou- se como principais documentos de referência o Plano Nacional de Educação e a Lei Complementar nº 06/2015 que institui o Plano Municipal de Educação. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa teórico-empírica realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e eletrônicas.

Propostas e desafios da Política Criminal: Complexidade Constitucional e a Conflitividade Social em Iporá-GO - Maiana Tainara Silva Dias (Universidade Estadual de Goiás)

Este trabalho tem como objeto de investigação a criminalidade no município de Iporá-Go. Trata-se de um tema-problema que tem afetado o meio urbano e rural, preocupado as autoridades e ocupado cada vez mais espaço nas mídias e redes sociais. Nesse sentido, o objetivo é analisar as propostas e desafios da política criminal adotada e, mais especificamente, repensar a realidade socioeconômica de Iporá-Go na sua relação com a criminalidade. Para tanto, a segurança pública é encarada como objeto privilegiado para se pensar a complexidade constitucional e a conflitividade social. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa teórico-empírica realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e eletrônicas. 525

Territórios da loucura: repensando o Programa de Assistência Integral ao Louco Infrator no Estado de Goiás - Laressa Alves Moraes (UEG)

O presente trabalho busca conhecer e analisar os processos de territorialização do louco infrator, tendo como ponto de partida o Programa de Assistência Integral ao Louco Infrator – Goiás (PAILI - GO), no período compreendido entre 2006 e 2019, na sua relação com o Ministério Público do Estado de Goiás, o Sistema Único de Saúde (SUS), o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) e demais colaboradores. Para tanto, recorreu-se a uma abordagem multidisciplinar abrangendo aspectos históricos, geográficos e legais relacionados a temática em questão. Dentre os principais documentos de referência destacam-se: O Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator do Estado de Goiás (PAILI-GO), o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária de 2015 e o Plano Plurianual (PPA) 2016-2019 do Estado de Goiás. Quanto à fundamentação teórica, recorreu-se a várias obras, como Foucault (2009; 2006; 2001; 1973),e Goffman (1987), Santos (2001; 2002),e Haesbaert (2002). Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa teórico-empírica, realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e eletrônicas.

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Um Olhar Atento e Crítico da Crise Política no Brasil Contemporâneo - Anayce Adya Azevedo Marques (UEG), Sabrina Carlindo Silva (Escola Estadual Edmo Teixeira)

A presente pesquisa se propõe, numa vertente geral, navegar sob a crise política governamental e sob o sistema político nacional brasileiro contemporâneo, de forma clara e objetiva, exibindo seus efeitos e suas configurações na política social, institucional e principalmente, na política educacional (âmbito este que se encontra visivelmente assoberbado e inserto). Com isso, será possível sinalizar a influência da mídia a partir da segunda metade do século XX, principalmente a televisiva, que se mantém incisiva neste tortuoso período em relação as questões políticas, e assim, como essas informações são absorvidas pelos diferentes grupos que compõe a sociedade brasileira. Por fim, analisar como as crianças e jovens de uma faixa etária de 10 a 15 anos assimilam e filtram as informações explícitas e divulgadas diariamente pelos diferentes tipos de mídias, nos grupos familiares e nas instituições de ensino sobre a atual situação política do Brasil contemporâneo, esse estudo será desenvolvido num recorte temporal de 10 anos (2008 a 2018). Como metodologia geral, será realizado inicialmente um levantamento bibliográfico, com leituras de teses, artigos e livros referenciados a proposta de estudo, em sequência, será realizado ainda um estudo de campo, com aplicação de questionários a alunos de 8º e 9°ano, com perguntas básicas sobre o atual cenário político do Brasil do século XXI. 526 Uma floresta dentro da disputa do legal e ilegal: as várias facetas e desafios do Mutirão de Reflorestamento na recuperação ambiental da Mata Atlântica - Caroline dos Santos Souza (UERJ-FFP)

Este trabalho tem por objetivo analisar os desafios que englobam o Mutirão de Reflorestamento, projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro, tendo em vista o processo de recomposição da Mata Atlântica. A relação entre comunidade e Estado, os deslizamentos de encostas, as relações de trabalho e o ecoturismo são peças norteadoras da discussão. Neste trabalho usaremos como fontes as tabelas de produtividade, gráficos e depoimentos tanto dos técnicos da prefeitura quanto dos mutirantes que vão ilustrar o projeto na comunidade.

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527 ST 54. Por um século XIX ampliado: constituições e modernizações de práticas e saberes diversos

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A visualidade na história: autópsia na historiografia oitocentista brasileira - Eduardo Wright Cardoso (UFRRJ)

Recurso fundamental para a escrita da história antiga, a visão não deixou de participar da elaboração e do desenvolvimento do conhecimento histórico na modernidade. É certo, todavia, que os pressupostos que nortearam o “ver” passaram por profundas modificações. A visão é empregada não somente como um expediente que determina o contato e a relação com eventos e tempos diversos, mas ainda como recurso narrativo que atribui valores e resultados específicos para a obra historiográfica. Como objeto de pesquisas, portanto, a visualidade permite explorar inúmeras possibilidades analíticas que incluem a atuação do historiador a partir da autópsia, o valor atribuído às fontes ou testemunhos nos relatos, a legitimidade da história do tempo presente, a utilização de metáforas e recursos visuais na narrativa historiográfica, bem como o lugar do leitor e a recepção da obra. Nesse sentido, o texto “Dúvidas sobre alguns pontos da História Pátria” (1862), de Joaquim Manuel de Macedo, orador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), possibilita abordar os contatos e diferenças entre a autópsia antiga e sua versão moderna, além das variações da visibilidade que dizem respeito não só ao tempo, mas também ao espaço. O presente trabalho, pois, tem como escopo investigar o estatuto da visualidade como recurso epistemológico para a historiografia brasileira durante o século XIX, momento no qual o ofício adquire contornos mais precisos e definidos. Para abordar a visualidade como recurso à escrita da história, emprega-se a noção de “distância histórica”, tal como concebida 528 por Mark Salber Phillips, como ferramenta heurística, na medida em que a categoria oferece subsídios para a reflexão acerca da constituição do par sujeito e objeto, cuja análise perpassa esse trabalho. Assim, a delimitação da “História Pátria” e de um passado depurado de incertezas, depende do manejo e do emprego da visibilidade direta das fontes ou do próprio historiador.

Asilo de Santa Leopoldina: um espaço de educação e caridade à infância desvalida da capital do Estado do Rio de Janeiro (1854-1860) - Leonardo Dias da Fonseca (ProPed - UERJ), Sônia de Oliveira Camara Rangel (UERJ)

Este artigo objetiva problematizar as iniciativas assistenciais à infância empreendidas na cidade de Niterói, antiga capital da província do Rio de Janeiro a partir da segunda metade do século XIX. Para este intento, elegemos como foco de análise o Asilo de Santa Leopoldina que criado em 1854, por iniciativa da Assembleia Provincial Fluminense tinha como intuito atender a meninos e meninas órfãos e desvalidos da província. O movimento analítico empreendido visa compreender a criação do Asilo como parte das ações educativas desenvolvidas pelo Estado Imperial na promoção, criação e manutenção de instituições destinadas a educar e prestar atendimento à infância pobre. A partir dos anos de 1850 previa- se, como parte das inciativas estatais, a criação de asilos e casas de educandos e artífices (CUNHA, 2000, p.91) nas capitais provinciais. Este movimento, em grande parte, associou Estado, Igreja e iniciativa privada como parte de um esforço conjugado no sentido de atuar na sociedade empreendendo atendimento à infância pobre. No caso do Asilo de Santa Leopoldina, sua criação envolveu a ação ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------articulada entre o Estado Imperial, os filantropos e a Irmandade Católica de São Vicente de Paulo que fora criada, em 1854, a partir do Decreto da Presidência da Província, número 4, com a finalidade de administrar o asilo, exercendo caridade e educação à infância desvalida. Embora a Lei número 537 de 19 de junho de 1850, estabelecesse a criação do asilo, a instituição somente foi criada em 1854 a partir do Decreto número 5 da Presidência da Província. Esta tinha como finalidade receber meninos e meninas abandonados, indigentes ou órfãos que educados nas primeiras letras e na aprendizagem de um oficio deveriam ser "restituídos a sociedade". Para isso, o asilo foi organizado em dois estabelecimentos: a casa de educação e o instituto colegial a fim de promover caridade, proteção e educação. Entre os anos de 1854 a 1860 o asilo de Santa Leopoldina mudou três vezes de sede. Os motivos alegados assentavam-se na argumentação médico-higienista que considerava as instalações do asilo inapropriadas e insalubres para atender, proteger e educar à infância. Importa considerar que a periodização proposta justifica-se tendo em vista ter sido o ano de 1854, constituída a sua criação e 1860, ano em que o asilo passou a ser uma instituição destinada unicamente ao atendimento das meninas desvalidas. O repertório documental acionado neste artigo é constituído por exemplares dos periódicos A Pátria e Jornal do Commercio, bem como de relatórios da Presidência da Província do Rio de Janeiro e de relatórios da mesa administrativa da Irmandade São Vicente de Paulo.

Capitalismo, comunismo e a história do futuro: apontamentos de pesquisa sobre a "A máquina do tempo" de H. G. Wells (1895) - Pedro Nogueira da 529 Gama (UFRJ)

Herbert George Wells (1866-1946), popularmente conhecido como H. G. Wells, foi um dos autores mais importantes da literatura “científica” do seu tempo, o complexo período que compreende o final do século XIX e o alvorecer do século XX. Singular observador do seu tempo, Wells produziu obras em que procurou entender as múltiplas transformações do homem e das sociedades humanas, emitindo críticas e alertas. O escritor inglês frequentemente apresentou suas aflições em sua literatura ficcional, com inúmeras referências e julgamentos sobre o seu próprio tempo. O futuro da humanidade foi, indubitavelmente, umas das mais urgentes preocupações de Wells. Entre as obras a abordar essa temática, encontra- se A máquina do tempo, de 1895. Essa obra foi o primeiro romance de fôlego de H. G. Wells. Ela faz parte desses casos singulares da literatura a inaugurar um subgênero, o das histórias de “viagens no tempo”. Como lembra Bráulio Tavares, no prefácio da edição brasileira de 2010, a obra de Wells e seu próprio autor eram filhos da era industrial e da mentalidade racional que concebeu e produziu uma infinidade de máquinas que revolucionaram, categórica e irremediavelmente, o modo de viver humano. Com a locomotiva, o navio a vapor, a fotografia, o cinema, entre muitas outras invenções, nada jamais seria como antes. De certa maneira, essas máquinas representavam uma pretensão de controle do homem sobre o Espaço e o Tempo e remetiam às ideias de individualismo e liberdade . Assim, essa comunicação propõe explorar algumas possibilidades interpretativas a respeito das críticas do autor presentes em A máquina do tempo, obra que se tornou icônica e merecedora de atenção e cuidado. Como hipótese preliminar, entende-se que Wells ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------lançou mão da distopia futurista para tratar de temas e questões relacionadas ao seu tempo histórico e às suas próprias idiossincrasias. Nesse sentido, as distopias alegóricas de Wells contribuem para interrogar epistemologicamente as aspirações utópicas de alguns dos chamados “neologismos” da modernidade, como o capitalismo e o comunismo, e sua inevitável relação com a dimensão temporal. Na ficção de Wells, pode-se compreender que esses termos e ideias são empregados de forma paradoxal, ora como um modelo de utopia, ora como o seu avesso, a distopia, sendo ambos localizados no futuro.

Carlos Gomes: música e identidade no século XIX - Mariana Franco Teixeira (UFF)

O presente trabalho tem como objetivo mostrar o papel da ópera Il Guarany de Carlos Gomes, baseada no romance O Guarani de José de Alencar, para o processo de formação de identidade nacional durante a política do Segundo Reinado. A partir daí, pretendemos avaliar a conjuntura política do momento, tal como o processo de construção de identidade nacional. O século XIX é marcado pela busca da formação de uma identidade nacional que legitimasse o processo de independência em 1822. A política do Segundo Reinado orienta-se nesse sentido. D. Pedro II torna-se incentivador de uma arte, literatura, de uma produção cultural que incentiva o sentimento de nacionalismo, de pertencimento, de exaltação da nação brasileira. O romantismo chega ao Brasil no século XIX e é marcado pelo sentimento nacionalista, ele será um instrumento de consolidação dessas ideias de 530 cunho nacionalista, buscando consolidar a ideia de sentimento de pertencimento nacional utilizando-se da exaltação da pátria. É nesse cenário que surge a figura de Antônio Carlos Gomes, o homem que irá revolucionar a música e a ópera brasileira, elevando o Brasil ao âmbito internacional. Carlos Gomes nasceu em Campinas, em 1836. Seu pai também era músico, assim, desde jovem teve contato com a música e já se inclinava no mundo artístico. Em junho de 1859, desembarcou no Rio de Janeiro. Graças a sua experiência em São Paulo, ele chegou como artista já próximo de sua afirmação definitiva e não como iniciante, instalando-se na capital do império no momento em que a ópera nacional se encontrava em voga. Lá, ele foi apresentado ao imperador, estendendo sua rede de contatos com as elites do império. Em julho matriculou-se no Conservatório, dirigido por Francisco Manuel da Silva, que veio a se tornar seu tutor intelectual. Ele sempre almejou viajar à Europa a fim de alavancar sua carreira; esse era um plano existente quando iniciou seus estudos no Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Em 4 de setembro de 1861, no Teatro da Ópera Nacional Carlos Gomes apresentou sua primeira ópera, A Noite do Castelo. Foi aclamado pelo público e pela corte, sendo condecorado pelo Imperador com a Ordem da Rosa. Em 1863 estreou sua segunda ópera, Joana de Flandres. Foi a partir do sucesso no Rio de Janeiro que Carlos Gomes tornou-se uma espécie de herói nacional, a figura que seria capaz de elevar o Brasil, através da arte, à civilização e ao progresso. Em 1863, Carlos Gomes partiu para a Europa. Ele conseguiu uma bolsa de estudos que o Conservatório de Música, financiado pelo governo imperial, oferecia a um aluno a cada cinco anos. A política imperial visava incentivar às artes e à ciência. Assim, partiu para Milão, a capital da ópera italiana, elevando, a partir daí, a cultura brasileira no âmbito internacional. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Catálogos Universais de Línguas: etnologia, linguística e projetos transnacionais no oitocentos - Iuri Bauler Pereira (PPGHIS/UFRJ)

A proposta desta comunicação é explorar as possibilidades de abordagens transnacionais da produção letrada oitocentista através do exame da circulação de textos etno-linguísticos elaborados como projetos de escopo global. Tendo como ponto de partida o Império da Brasil, explorarei os glossários, catálogos e atlas linguísticos de Hervás y Panduro, Peter Simon Pallas e Karl Von Martius, destacando suas conexões com o iluminismo e tradições humanísticas modernas, a emergência da etnologia e linguística, e romantismo como movimento intelectual transnacional.

Entre o Direito Natural e a sensibilidade romântica: História, progresso e liberdade no XIX francês - Carlos Mauro de Oliveira Júnior (UERJ - FFP)

Nosso objetivo, nesta comunicação, é explorar as relações entre o vocabulário do Direito Natural oriundo do Século das Luzes e alguns valores e modelos de uma abordagem não universalista e romântica. Para realizarmos este objetivo, nos valeremos de um texto de Benjamin Constant de Rebecque: De l’esprit de conquête et de l’usurpation. Em nossa hipótese, o pensador suíço tentou conciliar em seu opúsculo político uma ideia de progresso da sociedade civil, próxima ao chamado Iluminismo escocês, e certos aspectos do pensamento conservador de Edmund 531 Burke, evitando os excessos dos Ultras. Neste sentido, Constant acabou ajudando a criar uma forma diferente de narrativa da História em que os ditames da filosofia eram “resguardados” de uma possível abstração, ou seja, “atualizados historicamente”.

Industrialização e Imprensa na formação das salinas artificias da Região dos Lagos Fluminense (1850-1900) - Hana Mariana da Cruz Ribeiro Costa (UFRRJ)

O presente trabalho tem por objeto de pesquisa a produção salineira no entorno da Lagoa de Araruama, no Estado do Rio de Janeiro, entre os anos de 1850 e 1900. Temos como ponto de partida a investigação da formação das salinas artificiais nas terras salgadas da Baixada Fluminense, atualmente conhecida como Região dos Lagos. A segunda metade do século é caracterizada por inovações importantes para a salicultura na região. A investigação do discurso da industrialização presente no final do século XIX e as instituições que o difundiam, como a extinta Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, servirão como base para traçar nossa exposição acerca da disputa entorno da produção do sal pela classe dirigente dos donos de salinas. Esses homens, que possuíam prestígio político e econômico, estenderam seus investimentos à extração do sal, formando Sociedades Anônimas que fomentavam o avanço tecnológico das manufaturas, da agricultura e de atividades extrativistas. Através de periódicos como; O Auxiliador (Revista mensal da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional), o Jornal do Commércio e O jornal do Agricultor será possível encontrar o discurso científico empregado na busca do desenvolvimento econômico do Brasil Imperial e mais tarde Republicano. Também ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------utilizaremos como fontes de pesquisa os pedidos de patentes e aperfeiçoamentos de maquinários industriais (Privilégios Industriais). Trabalhando as fontes de forma quantitativa e qualitativa, analisaremos a corrida pela modernização e estabelecimento da salicultura. Além de seu desenvolvimento no âmbito político e científico, em uma escala regional e nacional. Buscamos aqui os primórdios de uma indústria que cresceu na região e teve seu apogeu e decadência durante o século XX.

O Clube de Engenharia toma partido: intelectuais e a disputa por hegemonia no Rio de Janeiro (1874-1910) - Fernanda Barbosa dos Reis Rodrigues (Mast)

Nosso trabalho se volta para o estudo da trajetória, atuação e conjunto de intervenções e articulações definidas por engenheiros brasileiros que, através do Clube de Engenharia, assumem um papel fundamental na reformulação da cidade do Rio de Janeiro – do ponto de vista estético, econômico e cultural no período assinalado. Nosso recorte histórico se justifica por episódios que julgamos fundamentais para o estudo da consolidação do campo da engenhara no país, com a fundação da Escola Politécnica no Rio de Janeiro, alcançando o mandato do presidente Rodrigues Alves (1902 – 1906), que coexistiu com o governo e reforma urbana de Francisco Pereira Passos no cargo de prefeito da então capital da República, e com a grande obra de modernização do porto carioca sob a direção de Francisco Bicalho – ambos membros proeminentes do Clube –, obras que foram entregues, em grande parte, no ano de 1910 – quando se fecha, ao nosso ver, o 532 primeiro grande ciclo de ações dos engenheiros agremiados naquela entidade, capilarizadas nos serviços e obras públicas. Dentro desse contexto histórico, tornou-se possível, para nós, conceber a importância daqueles agentes como “porta-vozes da modernidade”, condição viabilizada pelo seu capital intelectual, chamando atenção para o saber técnico da Engenharia Civil enquanto um vetor da modernidade no país, em particular, na cidade do Rio, em um período de construção das ideias de “civilização” e “progresso”. Para tanto, reunimos algumas referências importantes para o debate teórico acerca da compreensão do Estado na literatura marxista e marxiana, confrontando-os com a interpretação liberal hegemônica do mesmo presente em grande parte da historiografia do período, expondo os conceitos-chaves com os quais operacionalizamos em nosso estudo, presentes na obra de A. Gramsci. Não obstante, debruçamo-nos sobre o processo de formação dos engenheiros civis brasileiros, que se dá em meio ao período de expansão da produção cafeeira fluminense no Vale do Paraíba, cujo aparato primordial será as obras públicas de “melhoramentos”, especificamente, as estradas de ferro e sob a direção, inicialmente, de engenheiros ingleses. Buscamos identificar o processo de institucionalização da profissão de engenheiro civil no país, tornada possível dentro de uma agenda de obras de beneficiamento da produção cafeeira pautada pelos interesses econômicos daquelas frações hegemônicas identificadas aos setores agroexportadores. A partir da agenda de eventos organizados pelo Clube logo nos primeiros anos de sua existência, é possível identificar o processo de legitimação e fortalecimento político da entidade, que, nessa espiral, abrigará disputas internas que se tonam mais expressivas com a crise do bloco imperial agrário e escravista de finais do século XIX. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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O tradicionalismo nostálgico na Restauração Meiji (1868): percursos para a concepção nacional japonesa moderna - Mateus Martins do Nascimento (UFF)

Neste ano a famosa Restauração Meiji (1868) completa aniversário de cento e cinquenta anos e muitos festejos envolvem esta que é uma das datas mais emblemáticas para o moderno estado japonês. Afinal de contas, remonta a sua fundação e legitimidade. Assim intentamos destacar a inovação institucional que significou o movimento Meiji e explicitar a sua possibilidade de ser um objeto dos estudos históricos bem como dos estudos sobre o direito nas sociedades asiáticas, especialmente aqueles que analisem o paradigma da construção discursiva das identidades nacionais contemporâneas. No nosso entendimento, a famosa era é o ponto alto de afirmação de um regime moderno de sociabilidade, responsável por uma nova lógica nacional - ou concepção nacional - traduzida como “kokutai”, tendo como pressuposto básico que o conceito seria (1) um caso de tradução intercultural (Richter, 2007) realizado pela elite política Meiji no contexto da modernização do Japão no oitocentos (tanto em função da sua entrada no cenário internacional como também a partir das críticas internas em andamento desde o final do séc. XVIII), (2) formadora de uma nova retórica de interação social, que conceituamos como tradicionalismo nostálgico. Nosso olhar se voltou a este tema na esperança de conseguir encontrar, nos fatos históricos concernentes, explicações para a postura nacional japonesa evocada mesmo na atualidade: no processo observamos que a construção histórica da sociabilidade nipônica moderna perpassa 533 uma relação de ressignificação de saberes antigos, os quais foram revisitados no momento de consolidação da restauração (1868-1889) e mobilizados para se fundar uma nova sociabilidade japonesa (Eisenstadt, 2010). Portanto, o objetivo principal deste texto é analisar este processo. Desta forma, notamos a proeminência dos textos fundacionais Kojiki (712) e Nihon Shoki (720) como fontes legitimadores de uma noção moderna do que é ser japonês, ou seja, um paradigma de niponicidade baseado numa suposta especificidade, reafirmado na Constituição do Império do Japão de 1889. Partindo das análises de Hisayasu Nakagawa (2008), Eiko Ikegami (1995), buscamos examinar os percursos da institucionalização da cidadania nesses documentos e o processo como um todo no qual variáveis forças sociais atuaram integradas, misturando as petições do público como discurso do poder. É notório que o objetivo principal dessa operacionalização do discurso dos documentos antigos buscou consolidar uma coerência, ou seja: fixar modelos e referências, uma tradição ortodoxa e, no limite, um cânone literário e identitário acessível a todo o corpo nacional. Portanto a análise desse processo se faz crucial para entender a afirmação dessa canonicidade relacionando-a ao conceito de nação moderna.

Um flerte à etnologia: Ladislau Netto e uma coleção africana no Museu Nacional - Carolina Cabral Ribeiro de Almeida (UFF)

Em meio a curiosidade que rege o ser humano, estava Ladislau de Souza Mello e Netto. Ao longo de sua jornada como diretor do Museu Nacional, o botânico revelava alto interesse pela ciência em outros campos que não aquele de sua ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------formação. No segundo quinquênio de 1870, podemos observar nos trabalhos realizados pelo diretor que seu interesse pela etnologia havia começado. Junto a publicações que tratavam da botânica brasileira, surgiam artigos voltados à cultura indígena. Neste trabalho, retrataremos o interesse do cientista em colecionar objetos apreendidos nas chamadas “casas de dar fortuna”, pela Polícia da Corte. Deste modo, exporemos alguns dos motivos que levaram este homem ao seu singular anseio pela etnologia, voltada para a cultura negra no Rio de Janeiro, ainda na última década da escravidão.

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535 ST 55. Práticas de parcerias e epistemologia interdisciplinar: sobre história do poder, das instituições e das ideias políticas

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A Alternativa Para o Progresso: O Nacionalismo-Desenvolvimentista, Seus Intelectuais e o Planejamento Educacional nos Anos 1960 no Brasil - Lincoln de Araújo Santos (UERJ)

Os anos de 1960 no Brasil despertam interesse não só pelo ato de descontinuidade do regime democrático, mas também pelo cenário de profunda riqueza cultural, num protagonismo de intelectuais que formularam, antes mesmo desta década, um acervo de produções nas ciências sociais, na literatura e nas artes, promoveram olhares diversos sobre o país e, na perspectiva de um despertamento, propondo em seus debates e reflexões um projeto nacional de desenvolvimento. Desta forma, na economia, na sociologia-antropologia e na educação, intelectuais do status de Celso Furtado e Darcy Ribeiro, Paulo Freire e Anísio Teixeira, seja como operadores de governo e de Estado ou como autores de obras sobre o país que são as referências até hoje de análise da formação da sociedade brasileira, sinalizaram possibilidades de um processo civilizatório autônomo latino- americano e, em especial brasileiro. Estes intelectuais que marcaram as suas presenças em ideias e projetos políticos, transitaram em espaços de atuação comuns, lugares que frequentaram e conceberam como expressão de um tempo histórico onde o desenvolvimentismo comprometia-se com um projeto de poder de caráter nacional.

A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA): o nascimento do primeiro movimento social ateu do Brasil? - Danilo Monteiro Firmino (UERJ- 536 FFP)

Embora seja uma realidade na sociedade, o ateísmo é um objeto pouco abordado nas ciências humanas, ainda mais se for comparado com os estudos que existem das religiosidades de maneira geral. Conforme demonstra o CENSO 2010, existe um número significativo de ateus no Brasil, ateus esses que procuram, principalmente em ambiente virtual, algum tipo de organização. Nesse sentido, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) desponta como o principal representante do ateísmo em terras brasileiras. Criada em 2008, a associação tem como principal objetivo a “luta contra a discriminação que os ateus sofrem na sociedade brasileira e pela verdadeira laicidade do Estado”. Com postagens constantes e intensa movimentação nas redes sociais, a ATEA se coloca na “linha de frente” da militância ateísta brasileira. Esse trabalho procura demonstrar que, mais do que um grupo organizado de ateus no espaço virtual, a ATEA pretende atuar na sociedade “real”, agindo principalmente através do poder judiciário. A hipótese que se coloca é que estamos diante do surgimento do primeiro grande movimento ateu no Brasil, que ganha contornos de movimento social. Para demonstrar essa hipótese, o trabalho procura dialogar com aparatos teóricos fornecidos principalmente pelos autores Alain Touraine e Pierre Bourdieu.

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A Cruzada das Mulheres Portuguesas atrás da linha da frente - Nulita Raquel Freitas Andrade (Inst. de História Contemporânea/Universidade Nova de Lisboa)

A eclosão da Grande Guerra, em 1914, não se desenrolou apenas com homens na frente. Ocorreu também behind the lines, onde as mulheres desempenharam vários papéis. Na Ilha da Madeira (Portugal), pelo seu enquadramento numa zona estratégica do Atlântico, as populações vieram a sentir um particular desassossego, pois o flagelo dos mares, de que falava Basílio Teles, vinha reforçar, simultaneamente, o isolamento natural e o pânico, sobretudo, após o bombardeamento em Dezembro de 1916 e no ano seguinte, que ocasionaram o afundamento de três navios surtos na baía do Funchal, a perda de vidas humanas e alguns prejuízos na cidade. Num contexto pautado pela depressão colectiva, insegurança, instabilidade e miséria, havia que dar resposta aos problemas que afectavam os madeirenses. A Viscondessa da Ribeira Brava, D. Joana Isabel Meneses e Macedo, como fundadora e presidente da delegação da Cruzada das Mulheres Portuguesas (CMP), na Madeira, desempenhou um papel importante no apoio aos mais carenciados e às famílias dos soldados expedicionários, entretanto, enviados para África e Europa. A partir das notícias publicadas pela imprensa da época, entre os anos de 1916 e 1917, e o cruzamento de diferentes fontes de informação provenientes dos acervos documentais e jornalísticos, depositados em diferentes arquivos e bibliotecas, designadamente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no Arquivo Regional da Madeira, na Biblioteca Nacional de Portugal, na Biblioteca Pública Regional da Madeira, entre outras, procurar-se-á, em traços 537 largos, problematizar o papel desempenhado pelas mulheres na Grande Guerra, sumariar os comportamentos e os traços da personalidade D. Joana Meneses e Macedo e apresentar a actuação da Viscondessa da Ribeira Brava como presidente da delegação da CMP e uma das protagonistas do poder local madeirense.

A missão Mitre no Brasil em 1872: disputas diplomáticas e na imprensa - Ana Paula Barcelos Ribeiro da Silva (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Neste trabalho objetivamos analisar como o jornal La Nación, em Buenos Aires, e o Jornal do Commercio, no Rio de Janeiro, trataram a missão diplomática de Bartolomé Mitre no Brasil em 1872. Neste contexto, após a Guerra do Paraguai, o general, historiador e ex-presidente argentino (entre 1862 e 1868) esteve no Rio de Janeiro a fim de negociar o território do Chaco no Paraguai e a ratificação do Tratado de Aliança, assinado no início da guerra. Inserido numa pesquisa mais ampla na qual pretendemos compreender as motivações da sua influência nos historiadores que na primeira metade do século XX defenderam a ruptura com as rivalidades entre Brasil e Argentina, Mitre se torna uma instigante janela de reflexão para a análise das relações diplomáticas entre a república e o império nas décadas de 1870 e 1880. A missão no Brasil em 1872 trata-se de um dos episódios mais destacados do período e permite uma reflexão sobre os olhares mútuos entre os países, as tensões políticas e as disputas territoriais. Ao mesmo tempo, permite pensar o porquê da escolha de Mitre pelo presidente Domingo Sarmiento para representar a Argentina nas negociações, suas relações com políticos brasileiros proeminentes como o Visconde do Rio Branco e o próprio imperador Dom Pedro ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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II e a leitura mais amena, embora transpassada por interesses estratégicos, que ele faz do império e reverbera em seu país, sobretudo a partir do La Nación, jornal por ele fundado em 1870. No Brasil, o Jornal do Commercio, envolvido na defesa dos interesses do império no Prata, também noticia o episódio em tom ácido contra o país vizinho. É nesse sentido que os periódicos ganham destaque neste breve artigo, em especial entre os anos de 1871 e 1872, embora outras fontes também possam ser utilizadas. Pensamos, assim, de um lado, o olhar de Mitre sobre o Império e seu papel neste momento de acirradas disputas políticas e territoriais, e de outro, a forma como o Jornal do Commercio entende o conflito com a Argentina e a chegada do seu representante no país. Lembrando que, por aqui, o jornal também apresentou nas últimas décadas da monarquia um tom mais ameno nas referências à república vizinha, como fez o La Nación no mesmo período em relação ao império brasileiro. Acreditamos que estas relações e a aproximação de Mitre com o Brasil tenham possibilitado que, décadas depois, ele fosse apropriado como argumento de autoridade na defesa da ruptura com antigas rivalidades e da integração entre Brasil e Argentina por meios diplomáticos, institucionais e históricos.

A Política Externa de Artur Bernardes (1922-1926): História e Historiografia - Jônatan Coutinho da Silva de Oliveira (SEEDUC)

O presente trabalho pretende analisar, de forma crítica e comparada, a historiografia sobre a política externa brasileira na Primeira República com 538 enfoque nos anos sob a presidência de Artur Bernardes (1922-1926). Neste período, o Brasil atuava na linha de frente da Liga das Nações, enfrentando problemas de ordem política nas relações internacionais já estudadas por alguns autores brasileiros. Na Liga, a política combativa e altiva do Brasil é entendida de formas muitas vezes divergentes pela historiografia mais tradicional sobre o tema, levando a diferentes questões. Internamente, a chancelaria de Félix Pacheco e o início da crise da Primeira República serviam de ingrediente primordial nas decisões e ações em política externa. Portanto, compreende-se que não há um componente de política externa que não tenha uma dimensão interna. A política externa de Artur Bernardes e Felix Pacheco é ilustrativa desse entendimento.

A revista Les Temps modernes e o Terceiro mundo (1945-2016) - Rodrigo Davi Almeida (UFMT/Cuiabá)

Fundada em outubro de 1945, em Paris, e dirigida pelo prestigioso e já consagrado grupo existencialista de filósofos e escritores de Saint-Germain-de-Prés, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Maurice Merleau-Ponty, a revista Les Temps modernes objetivava “posicionar-se nos eventos políticos e sociais de sua época no sentido de produzir determinadas mudanças na condição social do homem e na concepção que ele tem de si mesmo”. De fato, tanto antes quanto depois dela, outras revistas que compõem o “campo da intelectualidade francesa de esquerda” estavam – como Esprit, criada em 1932 por Emmanuel Mounier e relançada após a Liberação, e La Nouvelle Critique, criada em 1948 pelo Partido Comunista Francês – dispostas ao engajamento, não obstante suas “visões sociais de mundo” ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------diametralmente opostas. Não por acaso, e em pouco tempo, Les Temps modernes constituíram-se como privilegiado observatório mundial das publicações da intelectualidade de esquerda dedicada ao estudo crítico de temas e problemas contemporâneos da literatura, da filosofia, da história e da política. No entanto, neste trabalho, objetiva-se estabelecer as posições políticas de Les Temps modernes relacionadas ao Terceiro Mundo, a partir da análise de seus editoriais e dossiês temáticos. A principal hipótese de trabalho considera que as posições políticas de Les Temps modernes sobre o Terceiro Mundo têm um fundamento histórico-social (segundo a perspectiva goldmanniana). Nessa esteira, pode-se distinguir duas fases bem distintas na evolução da revista. A primeira fase corresponde à trajetória de Sartre e, historicamente, com o processo de descolonização, a emergência do Terceiro Mundo e as expectativas da revolução social tricontinental. Eis o “período sartriano” (1945-1980), anti-colonialista e anti- imperialista, sem dúvida, o mais engajado do periódico. A segunda fase corresponde à direção assumida por Claude Lanzmann, após a morte de Sartre e, do ponto de vista do contexto histórico, com o fim do “terceiro mundismo” e do “socialismo real” e a imposição da agenda neoliberal em escala global. Eis, portanto, o “período lanzmanniano” (1980-2016) durante o qual uma mudança na periodicidade da publicação da revista terá impacto decisivo. Anteriormente mensal, seus números serão bimestrais, trimestrais e até quadrimestrais. Na prática, isso significa que ela se torna incapaz de registrar e de se posicionar sobre os eventos históricos no momento em que eles se manifestam. Sendo assim, o periódico adotará uma linha político-editorial que abandona suas características 539 originais e contradiz os objetivos inicialmente projetados por Sartre e pelo seu núcleo diretor.

Afinidades eletivas: Alexandre Herculano, D. Pedro II e a secularização do direito de família - Gizlene Neder (UFF)

Neste trabalho discutimos o processo de secularização dos casamentos (e do direito de família) destacando as trocas intelectuais entre D. Pedro II e Alexandre Herculano face à modernização das leis civis sobre casamento no Brasil e em Portugal em meados do século XIX. O Iluminismo jurídico europeu avançou no encaminhamento de reformas da legislação, à luz do constitucionalismo moderno (o que para Portugal e para o Brasil implicou a limitação dos poderes absolutistas de seus monarcas e a aprovação de constituições que implantaram monarquias constitucionais). Este processo implicou idas e vindas e os monarcas bragantinos (nas duas margens do Atlântico) equilibraram-se entre sentimentos políticos absolutistas e as pressões políticas pelas reformas. O debate mais acalorado, e também o mais difícil, foi o que implicou a substituição do Livro IV das Ordenações do Reino de Portugal (as Ordenações Filipinas de 1603); justamente o que reúne o conjunto de leis sobre direito de família. As dificuldades políticas dos governantes e dos juristas reformistas situaram-se na imbricada relação entre o Estado e a Igreja católica, pois tanto em Portugal quanto no Brasil vigia o regime de Padroado, com forte presença do clero na política. Enfocaremos a sociabilidade política e intelectual entre duas personalidades que refletiram e atuaram no para a secularização dos casamentos. ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Após o enterro o renascimento - Flávia Beatriz Ferreira de Nazareth (UERJ)

Esse trabalho busca analisar a construção mítica da figura de Rui Barbosa tendo como fonte histórica primaria as imagens de seu enterro em 1923. As imagens de arquivo serão trazidas para demonstrar o esforço de manutenção da memória de Rui Barbosa e em seguida vamos localizar este personagem na história nacional e avançar nas interpretações históricas no que tange a sua contribuição para a formatação do Brasil republicano contidas na Constituição republicana escrita por ele em 1891 e outorgada pelo Marechal Floriano. A hipótese de trabalho é observar no culto da memória de Rui Barbosa o escamoteamento da permanência dos mecanismos políticos autoritários de dominação por ele defendido e transmutado em normas jurídicas.

Artifícios da crítica modernista contra a dependência cultural - Marcelo Neder Cerqueira (UFF)

A reflexão histórica e social em torno do tema centro / periferia motivou o pensamento crítico latino-americano na virada para o século XX, eletrizando a luta de classes naquele contexto específico de aceleramento das transformações burguesas. Trata-se de um tema trabalhado com distintas variações pelas vanguardas modernistas na América Latina, de norte a sul, e que pode ser observado na obra de pensadores que foram influentes no pensamento latino- 540 americano no século XX, como Jorge Luis Borges, Alejo Carpentier, Mário de Andrade, Machado de Assis, Leopoldo Zea, Néstor Taboada Terán e Sérgio Buarque de Holanda – para dar alguns exemplos que viemos pesquisando. Pretende-se nesse artigo realizar um breve panorama crítico em torno da questão com o objetivo de desarmar algumas das armadilhas ideológicas que se fizeram presentes na qualificação da condição periférica latino-americana. Para tanto, em um primeiro momento, propõe-se uma visada política sobre a história das ideias e a relação entre cultura política e cultura religiosa na virada para o século XX na América Latina. Em seguida, pretende-se demonstrar alguns exemplos de análises críticas inovadoras que foram ensaiadas por Jorge Luis Borges e Alejo Carpentier.

Conservadorismo e perspectiva varnhageniana: análise de um conceito - Ingrid Silva Lucas (UNIRIO)

Francisco Adolpho de Varnhagen (1816-1878), chamado também pelo título de Visconde de Porto Seguro, amplamente conhecido por sua contribuição à historiografia brasileira, e por muitos tratado, por tal empenho, como “primeiro historiador brasileiro”, é igualmente conhecido pela descrição e/ou característica de conservador por aqueles que se debruçam sobre seu pensamento, posicionamento político e obras. Neste contexto, o principal elemento que abordaremos neste artigo é justamente a descrição pela qual que é vastamente utilizada para caracterizá-lo: conservador. No entanto, ao mesmo tempo é de tão imbricada compreensão no contexto em que se insere o historiador: o Brasil do

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------século XIX. A partir desta discussão, buscaremos ampliar a abordagem do conceito de conservadorismo para compreender o pensamento do historiador e seu período.

Crime e Castigo: Efeitos de longa duração na formação de operadores do direito - Rosely Maria da Silva Pires (UFES e UFF)

A herança coimbrense produziu efeitos culturais e ideológicos de longa duração sobre a formação política brasileira. Muitos foram os projetos e legislações marcados pelo positivismo Jurídico. Os estudiosos da escola do Recife como Tobias Barreto, Clovis Bevilacqua e Silvio Romero se destacam na reforma do ensino do direito no Brasil ao formularem teses com conceitos filosóficos e históricos. As produções desses autores desenvolvem críticas ao pensamento hegemônico e contribuem para uma soberania intelectual. Embora na faculdade do Recife estivesse ainda um ambiente coimbrense, também era muito forte um liberalismo radical. Inúmeros são os autores que se dedicaram a destacar a importância da escola do Recife como ruptura epistemológica com a cultura jurídica e religiosa imposta por Portugal, dentre estes pesquisadores, destacamos os trabalhos de Gizlene Neder, coordenadora do laboratório Cidade e Poder da Universidade Federal de Niterói. Neste trabalho, nos propomos a pensar sobre a reforma do ensino jurídico no Brasil, problematizando questões como: A retórica do bacharelismo acerca da justiça com suas permanências históricas, no pasqueanismo, autoritarismo, pragmatismo, e dogmatismos juridicistas; A contradição do ser humano expresso em sentimentos, emoções e afetos 541 compreendido aqui afeto como política e; O crime como predestinação das minorias. Concluímos o trabalho discutido as permanências e rupturas na formação de operadores do direito considerando como objeto de estudos a escola do Recife. Com objetivo de pensar como a lógica perversa das ideologias conservadoras opera nos propomos a dialogar com paradigma indiciário de Carlos Ginzburg. O autor nos sugere ficarmos atentos às pistas, indícios e sinais buscando ler as narrativas às avessas, talvez até contradizendo as percepções daquele que a construiu. À escuta de Gisálio Cerqueira Filho, nos apoiamos no método clínico em extensão, direcionando nossa observação e análise para a narrativa de um personagem do livro Crime e Castigo que servirá para problematização da formação de operadores do Direito. Em Crime e Castigo, publicado inicialmente em 1866, Dostoiévski nos apresenta o personagem Raskolnikov, que também foi alvo de estudos de Nietzsche, Freud e alguns outros autores. O romance contém a narrativa da vida de Rodka Raskolnikov, estudante de direito que comete um crime. A escolha do método se dá pela intenção de observação das emoções e afetos, por vezes inconsciente e contraditórios, presente nas relações sociais estabelecidas pelo personagem.

De areia e de pedra: as duas construções do forte do Imbuhy - Henrique Cesar Monteiro Barahona Ramos (Cândido Mendes)

O trabalho proposto versa sobre a polêmica em torno da construção do forte na ponta do Imbuhy no século XIX, mediante uma metodologia indiciária, tendo como fonte documental as notícias dos jornais e relatórios oficiais do Ministério da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Guerra daquela temporalidade. A pesquisa se insere nas discussões sociojurídicas sobre a Aldeia Imbuhy, uma comunidade tradicional de acordo com a Política Nacional de Desenvolvimento dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, da qual os seus moradores vêm sendo expulsos pelo Exército Brasileiro com o pretexto de ser a área pública, supostamente destinada à segurança nacional. Os dados até então levantados durante a pesquisa em andamento nos revelam o contrário, isto é, que os pescadores da Aldeia Imbuhy preexistem à construção da fortificação naquela localidade. Vem daí o título deste artigo: “De areia e de pedra: as duas construções do forte do Imbuhy”, introduzindo uma nova narrativa sobre a edificação do forte e sobre os pescadores daquela comunidade tradicional, fazendo emergir novos personagens, novos fatos, e com eles uma nova história social daquela região diferentemente da versão oficial contada nas ações judiciais pelo Exército Brasileiro. Trata-se, em suma, de uma análise do poder a partir da disputa de versões históricas sobre aquela localidade que são moduladas e hierarquizadas pelo Poder Judiciário, encontrando aderência com a temática do ST-55, sobre a história do poder e das ideias políticas e suas apropriações nas políticas institucionais. As obras do forte do Imbuhy, chamado de “Forte D. Pedro II”, foram iniciadas em dezembro de 1863, tendo sido acompanhadas de perto pelo próprio Imperador que fez diversas visitas ao local. Entretanto, quando chegou o ano de 1867, o pouco que havia sido feito parou. De toda a dinheirama de 793:000$000 prevista para a construção do forte no Imbuhy em 1865, o saldo que ainda restava recebeu outra destinação, mais apropriada aos tempos de guerra o Paraguai. Esta fortificação teve a sua construção reiniciada 542 apenas no final da década de 1890, sendo inaugurado já no período republicano, por Campos Sales, em 1901.

Dilemas e agruras na passagem à modernidade no Brasil: rede de sociabilidade, teologia e política no pensamento do Barão do Rio Branco, Oliveira Lima e Gilberto Freyre - Marcia Barros Ferreira Rodrigues (UFES)

Análise indiciária tendo como eixo da discussão os dilemas e agruras presentes na passagem à modernidade no Brasil por meio da análise da rede de sociabilidade entre José Maria da Silva Paranhos Júnior (Barão do Rio Branco (1845-1912); Manoel de Oliveira Lima (1867-1928) e Gilberto Freyre (1900-1987). O ponto de partida histórico é a Reforma Protestante no século XVI e o Concílio de Trento (1545-1563) e as reações da Igreja católica frente à Reforma e as dissidências no seu campo. Nesse contexto emergem debates calorosos entre duas tendências teológicas e políticas do campo católico, a saber, o jansenismo e o jesuitismo, com prolongamentos expressos no neotomismo na virada do século XIX para o XX. Nosso recorte temporal é o debate teológico estendendo-se ao político entre o jansenismo, tendência dissidente da Igreja Romana e o jesuitismo, vertente oficial do vaticano desde Leão XIII (1878-1903) e suas repercussões no Brasil na passagem à modernidade. O foco da análise é a atuação política e intelectual do Barão do Rio Branco, Oliveira Lima e Gilberto Freyre como desdobramentos desse debate e campo de disputa. Não nos interessa o debate religioso ou teológico propriamente dito, mas as repercussões políticas ou os deslizamentos dessas ideias para o campo político. Especificamente, a pista que interessa-nos interpretar a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------partir desta perspectiva são as ambivalências e contradições entre o pensar, o sentir e o agir dos personagens históricos em suas ações e analisar a natureza complexa da cisão: teológica, ideológica, política e psicológica provocada por este “cisma”.

El Mundo e o Correio da Manhã: o discurso da imprensa nacional argentina e brasileira sobre as secas de Santiago del Estero e do Ceará (1932- 1937) - Leda Agnes Simões de Melo (UERJ/FFP)

O presente trabalho, fruto das pesquisas em andamento do doutorado, visa realizar uma análise comparada da história das secas ocorridos no nordeste brasileiro e no noroeste argentino,especificamente no Ceará e em Santiago del Estero, na década de 1930. No semiárido cearense a seca de 1932-1933 foi mais uma estiagem que atingiu a região e ocasionou uma onda de mortes, fome, sede e migrações tanto para a capital de Fortaleza, como uma migração subsidiada pelo governo para áreas da Amazônia. Em Santiago del Estero, a seca de 1935-1937 também levou a população a migrar, pedir trabalho, alimentação, muitos morreram de fome, sede e foram para as capitais em busca de assistência. Essas duas regiões do Brasil e da Argentina, são acometidas pelas secas ao longo de suas trajetórias e o discurso em torno delas é o ponto-chave deste artigo. Nesses dois países, a imprensa esteve presente na construção de uma narrativa específica sobre essas localidades semiáridas, principalmente os jornais das capitais como o Correio da Manhã – no Rio de Janeiro e o periódico El Mundo – em Buenos Aires. El Mundo foi um jornal de grande circulação na capital de Buenos Aires e em todo o mês de dezembro de 543 1937 ininterruptamente fez uma verdadeira campanha assistencial em prol dos atingidos pela forte estiagem. Com notas pequenas, ou com reportagens que ocupavam páginas inteiras – destaca-se um número significativo delas –, El Mundo retratou a seca santiagueña, pelo viés assistencial em sua grande maioria. Une-se a isso, o fato do periódico ter enviado a Santiago del Estero o escritor Roberto Arlt que relatou a miserabilidade da seca de 1937 em suas crônicas chamadas “El infierno santiagueño”. Diversas reportagens divulgadas no Correio da Manhã noticiaram a estiagem cearense em todo o período de 1932 a 1933. Do mesmo modo que o diário El Mundo, com notas pequenas, reportagens que ocupavam uma página inteira sobre o problema da seca de 1932 ou mesmo refletindo a questão do semiárido nordestino fizeram um tipo de representação sobre o Ceará sertanejo na década de 1930, bem como sobre o que eram os sertões e o sertanejo, reapropriando-se de falas de intelectuais nordestinos que abordavam o tema do semiárido, ou mesmo também enviando correspondentes para região. Nesse sentido, pretendemos fazer uma análise comparada das semelhanças discursivas desses periódicos no que tange as secas ocorridas nos seus países, arraigadas, muitas vezes, em velhas dicotomias como progresso/atraso, seca/falta de desenvolvimento, litoral/interior, ou mesmo que viam a natureza e o clima como problemas centrais dessas regiões e que justificavam, assim, a pobreza dessas áreas.

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Ideias jurídicas e circulação intelectual: as revistas acadêmicas das Faculdades de Direito (Brasil 1891-1931) - Gabriel Souza Cerqueira (UFF)

Neste trabalho, gostaríamos de analisar a circulação intelectual e a reprodução das ideias jurídicas na conjuntura de criação e consolidação das Faculdades de Direito nas primeiras décadas do regime republicano, através do periodismo jurídico. As Faculdades de Direito como centro de formação jurídica, deixam marcas na construção da cultura jurídica. As primeiras faculdades brasileiras foram criadas em 1827, sediadas em Recife e São Paulo. Suas marcas são deixadas sob perspectivas acerca do direito muito particulares. São Paulo com uma percepção mais pragmática, tecnicista e liberal do direito. Recife, por sua vez, ilustrada, aberta aos diálogos interdisciplinares e às inovações teóricas. Com o período republicano no ocorre a abertura que possibilita o surgimento de diversos outros centros de formação jurídica (e.g. as Faculdades Livres de Direito de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro). Uma grande circulação de intelectuais e de ideias segue à essa abertura. Por ser um período (entre 1889 e 1930) de discussões essenciais sobre a formação social brasileira (controle social em um país pós-escravidão e em vias de desenvolvimento de uma classe de trabalhadores livre, criação de um código civil e de um direito de família diante da separação entre Igreja e Estado, construção do aparato judicial soba forma republicana, entre outros) os juristas e bacharéis serão chamados a se posicionar, ao mesmo tempo em que tem que lidar com uma reorganização do campo jurídico nas respectivas faculdades. Seus posicionamentos, ideias, debates serão expressos e publicados nas revistas 544 acadêmicas das respectivas faculdades. Essas revistas se configuram assim como importantes lugar sociabilidade intelectual e circulação de ideias. Em tempos de intenso protagonismo das discussões legais sobre a política no Brasil (e no mundo), acreditamos que pensar com a história pode ajudar a compreender os caminhos do presente.

Igreja e Sociedade no Discurso de Dom Frei José da Santíssima Trindade (1820-1835) - Anna Karolina Vilela Siqueira (Ufop)

A presente comunicação tem por objetivo a discussão das representações e das relações de Igreja e sociedade oitocentistas presentes no discurso religioso de D. Frei José da Santíssima Trindade - Bispo de Mariana entre 1820 e 1835. Pretende se desenvolver um estudo do Bispado, almejando a compreensão da ação de Dom Frei José enquanto intelectual atuante, tentando identificar suas concepções teológico políticas e como essas ideias circulavam em Minas Gerais num contexto de processos de Independência, onde as ideologias liberais ganhavam força e a monarquia se enfraquecia. Para isso, utilizamos como fonte os relatos deixados por D. Frei José, como as visitas e cartas pastorais. A partir da análise das fontes, juntamente com a discussão teórica, buscaremos identificar, a atuação do Bispo frente ao Clero na Diocese de Mariana, pós reformulação do Seminário, ponderando a tentativa de implementação e legitimação das suas ideias de ordem no âmbito religioso, político e social.

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Memória, silêncio e cultura política em " Olhos d´água" de Conceição Evaristo - Silvana Cristina Bandoli Vargas (Colégio Pedro II)

A obra “ Olhos d´água”, de Conceição Evaristo, é percebida como referência cultural na literatura produzida por mulheres negras no Brasil. Para além dos recortes de gênero ou etnia, é proposta uma leitura das recorrências e dos apagamentos que se cristalizam na obra como dobras, trabalhando com os operadores textuais derridianos, em que os arquivos da cultura política se manifestam como memória silenciada ou reconstruída. As intercessões entre passado e presente constroem um caminho poderoso de identificação na obra literária da autora e, de forma recorrente, inspiram outras mulheres. De tal forma, a memória reconstruída produz novos sentidos e investe na descoberta de um mundo de permanências em que os signos religiosos são como pedras angulares que marcam o caminho das lembranças da Mãe. Assim, a maternidade como referência da origem do mundo encaminha significados e aponta descobertas do que é necessário lembrar ou esquecer. A infância, ora da narradora e ora da filha, é a junção de passado/presente como permanência e recorrência com o objetivo, talvez pedagógico, de criar uma narrativa do mundo. A leitura e análise da obra permitem, desta forma, a marcação dos caminhos em que a definição de fronteiras entre o vivido, o imaginado e o narrado não se completa e deixa em aberto uma vivência construída na escrita, escrevivência.

Metáforas da Modernidade - A Utopia de Brasil dos Anos JK nas transversais 545 do tempo - Ana Maria Cardoso Ribas (Colégio Pedro II)

Os Anos JK são um dos momentos mais expressivos da história contemporânea da República brasileira. Discuti-lo, sob uma abordagem teórico-metodológica que enfatiza os vínculos entre história, política e cultura, permite reconhecer as articulações entre o projeto civilizatório de criação e difusão de um Brasil novo – cuja materialidade envolveu, para além do econômico, recomposições político- institucionais, ideológicas e estético-culturais – e a reconstrução do moderno entre nós, enquanto metáfora do desejo de ruptura com o passado que começara a perder as suas funções normativas para e no presente. Isso convergia para uma preocupação maior que marca os anos cinquenta em diante – a “autoridade do futuro” como eixo normativo das experiências humanas individuais e/ou coletivas no tempo, recriando outras vivências e sociabilidades. Vale destacar que essa enunciação discursiva do moderno associada à retórica do novo, para além de uma visão binária, ampara-se em uma concepção de modernidade, que é apreendida como algo que se inscreve nas dobras do social ao invés de um processo que se supõe aquém do tempo, de lenta duração e de recepção defasada. A epopeia da modernidade, auto designada como natural, foi imaginada como caminho possível para superar díades aparentemente irreconciliáveis – desenvolvimento e subdesenvolvimento; tradição e modernidade; antigo e novo; cosmopolitismo e provincianismo; nacional e estrangeiro; campo e cidade. E a essa epopeia também se vinculava, sob os auspícios do Estado, um ambicioso projeto modernizador que se supunha capaz de reunir as forças e os talentos criativos dispersos da coletividade e fazer com que os brasileiros não se sentissem mais “exilados” em ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sua própria terra. O projeto nacional desenvolvimentista representou a argamassa que formatou a cultura política dominante nos Anos JK, além de se incorporar à história como vocabulário político chave que materializou a utopia de um Brasil novo. Tal projeto se edificou como “redentor da nação” e instrumento propulsor das transformações históricas a serem realizadas em nome de uma modernização conservadora, vista como rota principal para a indústria moderna. A nova capital federal sintetizaria, nesse escopo, a utopia do Brasil novo, sob a promessa de virar de ponta cabeça o país multissecularmente atrasado e dependente e ultimar um “destino promissor” à comunidade nacional, ao integrar simbólica e geopoliticamente as tantas territorialidades do litoral e do sertão. Porquanto se julgava factível introduzir novos ordenamentos político-culturais que, por meio da tríade desenvolvimento-trabalho-democracia, superassem o que era entendido como imemorial atraso, alicerçassem as bases da tão almejada harmonia social e conquistassem, material e culturalmente, a autonomia da nação.

Não blasfemarás contra Sua Santidade! Gilberto Freyre: trânsfuga para o protestantismo, críticas ao papado e rejeição de sua obra pelo catolicismo romano - Claudio Marcio Coelho (Professor SEDU/ES)

Nossa comunicação discute a repercussão da experiência protestante do jovem Gilberto Freyre em sua formação intelectual, especialmente, os efeitos políticos de suas críticas ao papado. A conversão de Gilberto Freyre ao protestantismo, na adolescência, e suas responsabilidades religiosas na Primeira Igreja Batista do 546 Recife, PE, possibilitou-lhe a realização de diversas atividades como o estudo intensivo da Bíblia, a evangelização de comunidades pobres na periferia do Recife e proferir discursos no púlpito da Igreja. Entre estes discursos, o jovem batista, aos 16 anos, proferiu a mensagem “A Bíblia como uma força civilizadora” (1916), na qual enaltecera o desenvolvimento econômico, político e moral dos Estados Unidos como consequência de uma nação que construiu seus alicerces sobre a Bíblia Sagrada. Segundo G. Freyre, contrariamente, o povo brasileiro, pobre e ignorante, estava “corrompido pela fradaria” e “enfraquecido pela idolatria papal”. Tais práticas, aliadas ao pouco conhecimento do texto sagrado resultaram no subdesenvolvimento das nações latino-americanas. Muito embora G.Freyre tenha retornado ao catolicismo aos 19 anos, buscando uma reconciliação com a religião de seus pais, e tenha enaltecido a ação civilizatória da Igreja Romana na colonização e na formação da sociedade brasileira, em obras como “Casa-Grande & Senzala” (1933), a liderança católica pernambucana assumiu uma postura categórica e intransigente, acusando-o de ser inimigo “embuçado” do catolicismo. Considerando tal contexto e o esforço de tradução do acontecer social, nosso trabalho está situado no campo da história das ideias políticas e religiosas, na confluência entre cultura religiosa e política. Enfatizamos os efeitos políticos dos sentimentos e das práticas religiosas na produção intelectual de Gilberto Freyre. Assim, o problema que enfrentamos consiste na seguinte questão: Quais os efeitos políticos e ideológicos da trânsfuga do jovem católico G. Freyre para o protestantismo? Defendemos a hipótese de que a traição afetiva de Gilberto Freyre, como consequência de sua conversão ao protestantismo batista e de suas críticas ao papismo (ao que chamou de “idolatria papal”), bem como, a aliança política ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------entre seu pai Alfredo Freyre e os missionários batistas em Pernambuco, repercutiram na rejeição de sua obra pela Igreja Católica no Brasil. Esta rejeição exacerbou-se pela ação predatória do movimento de Reação Católica e da liderança jesuítica em Pernambuco.

O debate da censura na Nova República - Ana Carolina Cavalcante Pinto (UFRRJ)

O presente trabalho tem como objetivo central discutir até que ponto a Constituição de 1988 marca o fim da censura no Brasil. Recortando o período compreendido entre 2000 e 2010 e utilizando como fonte o Jornal do Brasil, além da legislação da Classificação indicativa instituída no lugar da censura e em vigência até hoje, buscamos mostrar que ao contrário dos períodos em que vivíamos uma ditadura, e que contávamos com uma censura pública, acreditamos que na Nova República foram desenvolvidos novos mecanismos, mais discretos e indiretos, de censura. Essas práticas se manifestam na perseguição a autores e obras sob forma de processos judiciais, em leis de regulamentação do que pode ser ou não considerado um insulto, no controle dos incentivos culturais e artísticos, que impedem amadores de produzir sem apoio governamental, e cumprem o papel de definir o que é “moral e correto” para a sociedade e/ou governantes. Tais práticas configuram uma censura insubstancial, indireta.

O discurso médico brasileiro sobre as doenças hereditárias no pós II Guerra 547 Mundial - Raíssa Barreto dos Santos (UFF)

Neste trabalho analiso o discurso médico brasileiro sobre as doenças hereditárias no pós- II Guerra Mundial para mostrar como ocorreram mudanças na prática médica no Brasil após a repercussão das atrocidades cometidas pelos médicos nazistas. Através de uma pesquisa feita na Hemeroteca Digital, na biblioteca de Ciências Biomédicas de Manguinhos e no Acervo Especial de Obras Raras foi possível entender como nos jornais estava circulando as notícias sobre as experiências feitas em humanos nos campos de concentração durante o Nacional Socialismo. O discurso sobre anemia falciforme mudou por conta dos debates sobre relações raciais, impulsionados principalmente pela pesquisa feita pela UNESCO no Brasil, considerado amplamente até então como um exemplo de democracia racial. Diante da constatação da existência de um preconceito racial, os artigos médicos científicos passaram a ter maior cautela ao referenciar indivíduos marcados pelo racismo. Em relação as doenças hereditárias, foi possível perceber que tal mudança se deu pela grande repercussão das atrocidades feita por médicos nazistas. Nas notícias existe a tentativa de desvencilhar a medicina do projeto de Estado, como se os abusos de autoridade só fossem possíveis graças ao nazismo. Perpassando por temas como exame pré-nupcial e eugenia, busca-se entender como medidas de controle tiveram espaço na sociedade brasileira mesmo no pós-II Guerra Mundial.

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O lugar da política pública cultural: uma revisão bibliográfica - Rosely Tavares de Souza (UFPE)

O levantamento bibliográfico é um assunto pertinente ao trabalho do pesquisador. Desse modo, afirmamos que realizar essa tarefa é mapear um cenário que se pretende pesquisar, ela nos permite angariar um repertório necessário para que possamos debater e desenvolver estudos que cubram lacunas na literatura e apontar novas contribuições para a historiografia sobre um tema ainda escassamente discutido na área de História. Problematizamos textos publicados acerca da elaboração da política pública cultural. Desse modo, toma-se como objetivo dessa análise compreender como o tema foi tratado no Brasil e quais áreas do conhecimento se dedicaram ao mesmo. A pesquisa parcial foi realizada em consulta as dissertações e teses disponíveis nos repositórios das principais universidades do país, depois de analisadas, consultamos quais as principais referências citadas pelos autores das referidas pesquisas acadêmicas que discutiram políticas públicas culturais. De pronto, identificamos que são raros os trabalhos historiográficos que se dedicaram ao tema. Ao realizar a leitura e estudos dos principais autores que pesquisaram a temática, como exemplo: Lia Calabre e Sergio Miceli buscou-se obter o entendimento de qual “cultura” estava em disputa pelos agentes culturais que pertenciam ao estado ou fora dele no processo de elaboração da referida política entre as décadas 1970 e 1980.

O lugar dos Lazaristas na Igreja e na política portuguesa setecentista. 548 Apontamentos iniciais - Jefferson de Almeida Pinto (IF Sudeste MG)

Este trabalho de pesquisa busca traçar um panorama cultural e político da Congregação da Missão, em Portugal, no século XVIII. Nosso recorte temporal vai de sua instalação em Portugal no ano de 1717, ao tempo do reinado de Dom João V, até 1777, quando se encerra o período em que Sebastião José de Carvalho e Melo ― o Marquês de Pombal ― governou o país. Trabalhamos com a hipótese de que a Congregação da Missão seria um ponto de equilíbrio entre a Congregação do Oratório e a Companhia de Jesus. A Missão conciliaria duas características teológico-culturais que marcariam as duas outras congregações, isto é, o jansenismo e o ultramontanismo. Com a expulsão dos inacianos de Portugal e de suas colônias, essas congregações começam a ganhar visibilidade no universo político português e com a ruptura das relações entre Pombal e o Oratório, a Congregação da Missão passa a ser o principal ponto de apoio no âmbito das instituições religiosas à monarquia portuguesa.

O movimento abolicionista cearense: escrita da história, identidade e alteridade em diálogo (1884-1956) - Camila de Sousa Freire (UERJ)

Em 25 de Março de 1884 a então província do Ceará obteve a libertação de todos os escravos de seu território, a partir de um movimento abolicionsta que se iniciou em 1881, e atuou de forma intensa a partir de então, alternando entre radicalismo e conservadorismo, mas que conseguiu seus objetivos de ser a primeira província do Império a libertar seus escravos e ter seu pioneirismo destacado na história da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------província. Naquele momento, o Ceará que era considerado como periferia - como analisamos a partir da relação de centro e periferia trabalhada por Carlo Ginzburg- passa a ser o centro das atenções do Império, tornando-se exemplo a ser seguido não só pelas províncias próximas mas também pelas províncias do Sul, com seus abolicionistas mantendo contato constante com os abolicionistas da Corte, com trocas de informações e táticas de atuação próprias dos movimentos sociais de então, como analisamos a partir de Tzvetan Todorov e Angela Alonso. Dessa forma, o Ceará de certa forma dita o percurso do movimento abolicionista, que as outras províncias buscam seguir, invertendo a relação de centro e periferia ao longo do movimento e em seu desfecho, quando torna-se realmente um exemplo a ser seguido pela forma pacífica com a qual se deu, ponto inclusive ressaltado pelos próprios abolicionistas cearenses. Posteriormente, a historiografia cearense, principalmente aquela escrita pelo Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, buscou destacar aquele fato como o principal acontecimento da sua história, baseando boa parte da sua identidade regional no fato de ter sido a primeira província a libertar os escravos no Brasil. Dessa forma, buscamos entender todo esse processo de escrita da história e formação dessa identidade regional cearense baseada no movimento abolicionista, desde seu princípio, no desenrolar dos acontecimentos, quando os abolicionistas já buscavam definir a memória que desejavam que fosse legitimada para a posteridade; até o trabalho do próprio Intituto do Ceará em reforçar esses elementos e costituir de fato a imagem da Terra da Luz. 549 Pensamento político e econômico no Império Luso-Brasileiro: José Acúrsio das Neves e José da Silva Lisboa (1798-1832). - Jônatas Roque Mendes Gomes (UFF)

Este trabalho objetiva refletir de forma comparada sobre os escritos políticos e econômicos, além das atuações de José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu (1759- 1835), e José Acúrsio das Neves (1766-1834), ambos juristas, historiadores, economistas e políticos. Analisaremos como estes agentes históricos pensavam seu tempo e as experiências sociais e políticas nas quais participaram. O recorte cronológico abarcado neste projeto se situa entre os anos de 1798 e 1832, abrangendo o período de atuação e de publicação dos personagens elencados. Neste período, Acúrsio das Neves e Silva Lisboa participaram e extraíram experiências de uma série de acontecimentos como a invasão napoleônica e a consequente transferência da Corte lusa para a colônia americana, o período joanino, a Revolução Pernambucana (1917), a Revolução do Porto (1920), as Cortes de Lisboa, a independência do Brasil, a sucessão de D. João VI e a Abdicação de D. Pedro I. Buscamos analisar como esses agentes, com suas trajetórias, seu pensamento social, econômico e político e suas redes de sociabilidade refletiam sobre questões do seu tempo, que se referem diretamente aos eventos apontados acima.

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Representação e Ordem em Eric Voegelin - Pedro Damazio Franco (PUC-RJ)

Na teoria política moderna, representação é geralmente entendida como o meio através do qual uma sociedade se articula para a ação institucional que efetivamente reflete a vontade de seus membros. Na sua crítica das premissas subjacentes à ciência política moderna, Eric Voegelin busca dar contado que ele enxerga como um vasto campo de fenômenos políticos costumeiramente ignorado por tais teorias. Preparar uma sociedade para a ação coletiva é certamente uma função indispensável da ordem política mas, de acordo com Voegelin, ela é subordinada a outra: Toda sociedade, das antigas às modernas, se incumbe da tarefa de justificar sua própria existência através de símbolos que articulem a relação significativa entre o homem, a sociedade, e a subjacente ordem do ser. Em outras palavras, uma sociedade sempre buscará representar a Verdade em sentido existencial, e é essa forma de representação que determinará a maneira pela qual ela se articulará para a ação representativa. Foi essa premissa fundamental que fez com que Voegelin abandonasse seu projeto de uma história das ideias e embarcasse em sua mais ambiciosa história da Ordem. Nosso trabalho buscará apresentar pontos relevantes da teoria da representação voegeliniana em três partes. Primeiro, concentraremos nas teorias postuladas na sua ‘Nova Ciência da Política’ de modo a clarificar o papel exercido por símbolos de representação existencial na manutenção de coesão social ao longo da história de acordo com o autor. Segundo, tentaremos apresentar a maneira pela qual, de acordo com Voegelin, símbolos são efetivamente engendrados na história para representar a concepção de uma sociedade em 550 harmonia com a verdade existencial. Aqui focaremos na descrição do processo de simbolização colocado no primeiro volume da magnum opus de Voegelin, Ordem e História. O autor descreve o processo como sendo animado por certos anseios existenciais presentes no ser humano conforme ele procura conferir um sentido à própria existência que possa ser expandido ao resto da sociedade. Terceiro, procuraremos mostrar a maneira pela qual, no contexto da teoria apresentada, tais símbolos são sujeitos à atrofia, isso é, se tornam esvaziados de seu sentido existencial - um processo que inevitavelmente torna as instituições que se formaram em torno de tais símbolos sujeitas à crises e colapso.

Rigor, Sacrifício - expiação: o sofrimento psíquico – religioso como punição e a cultura jurídica brasileira - Adriano Ribeiro Paranhos (UFF)

Nossa análise leva em consideração todas as dimensões da vida de José de Alencar e da realidade brasileira para a investigação das obras Asas de um anjo e Expiação. Duas peças que nos mostram as ideias de culpa como crime e expiação como pena. Procuramos problematizar essas duas peças articulando as ideias de pureza, amor como obra de arte e sacrifício/expiação. As partes se complementam, não apenas por seus personagens, mas também pelo conteúdo envolvido. Não se trata, portanto, de peças comuns do ponto de vista das influências que o autor deixou evidente no transcorrer delas. É interessante observar que há questões enigmáticas na realização das peças por Alencar, sobretudo, no que diz respeito ao casamento, discutido amplamente desde a década de 1850, colocando no debate público os limites do religioso e civil na sociedade. A perspectiva adotada aqui, levará em ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------consideração o diálogo entre a obra e seu tempo, bem como as relações que marcaram a subjetividade do seu autor. O fato de José de Alencar ter sido filho de padre, que lhe custou tal apelido, está ligado ao fato de seu pai ter se mantido padre com os poderes que a batina lhe dava, e também pela Igreja ter poder de estabelecer que tipo de relação poderia ser considerada matrimônio. Entendemos que não foi obra do acaso Alencar ter lutado contra o celibato, por exemplo. Para as peças que ora analisamos, questionamos o seguinte: José de Alencar tentou de alguma maneira desafiar o jogo social no tocante ao casamento? Essa pergunta nos ajudará na condução dessa primeira incursão nesses textos, sobretudo pelo fato de o Brasil ter experimentado durante o século XIX algumas vivências da modernidade europeia, com relevo para aquelas pertinentes aos bens materiais. É preciso dizer nessa parte introdutória que há uma defesa da cultura jurídica brasileira (com ênfase no direito penal que privilegia o fato de a própria pessoa confessar seu crime como parte da punição - penitência) e seu caráter autoritário, excludente, fundado em práticas inquisitoriais (que também usavam a tortura física como instrumento de obtenção de prova). Queremos, com isso dar espaço para investigarmos tais peças como possíveis leituras do direito no Brasil. Essa observação se faz necessária pelo fato de a peça fazer um julgamento de uma personagem em praça pública. Há uma defesa por parte do autor da seguinte questão: punir uma pessoa faria bem a ela, derivando daí uma suposta busca pela recuperação de uma pena interminável e intermitente.

Teatro de sombras: a propaganda de guerra no Brasil durante o primeiro 551 conflito mundial - Livia Claro Pires (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Em 1914, França, Grã-Bretanha e Império Alemão romperam com as décadas de paz no continente e lançaram a Europa nos campos de batalha. A declaração de neutralidade feita pelo governo de Hermes da Fonseca, ainda em agosto daquele ano, parecia ter resguardado o Brasil das intempéries da guerra, fazendo valer a distância imposta pelo oceano Atlântico. No entanto, não tardou para que os desdobramentos do conflito e sua transformação em uma guerra de âmbito global rompessem as barreiras levantadas por decretos governamentais e relações diplomáticas, alcançando a realidade brasileira. Nesse sentido, as necessidades beligerantes de sobrepujar o inimigo não apenas militar, como moralmente, angariando o máximo de apoio possível ao que se convencionou chamar de “causa”, transformou a propaganda em peça vital do primeiro conflito de massa do século XX. E, como instrumento de guerra, foi direcionada a diferentes regiões, sobretudo aos países neutros. O presente trabalho tem por proposta analisar a propaganda enviada tanto pelos Aliados, quanto pelo Império Alemão, ao Brasil, sua recepção pelos grupos da sociedade e sua influência sobre a decisão, no ano de 1917, de tornar o país beligerante na Grande Guerra.

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Tratamentos para um Desvio: cura e profilaxia do "homossexualismo" no Rio de Janeiro durante a Primeira República - João Gomes Junior (UFF)

O presente trabalho visa abordar o pensamento social e político a partir do discurso médico acerca das formas de tratamento da homossexualidade e da prostituição masculina, bem como das tentativas de reintegração e inserção daqueles indivíduos, na cidade do Rio de Janeiro ao longo do período conhecido como Primeira República, período que representou novas possibilidades e experiências, resultado direto da mudança no clima político, que influenciou a vida social, cultural e política dos homens envolvidos em práticas homoeróticas. A partir da segunda metade do oitocentos, o indivíduo identificado em Foucault como “o personagem do homossexual” deixou de ser criminalizado para ser definido a partir e nas práticas médicas. A medicina-legal passou a reivindicar o direito de fala “sobre os anormais” e a tratar como seu objeto particular as “sexualidades perversas”. E foi o discurso desses médicos, que pode ser analisado como interpelações absolutas constituintes dos aparelhos ideológicos , entre outros fatores (como a opinião pública, o discurso literário e jurídico etc), que criaram as possibilidades para a produção do corpo homossexual e a perseguição daqueles indivíduos. Para os médicos aqui estudados, era necessário encontrar meios de salvar aqueles homens e reabilitá-los para a sociedade enquanto cidadãos morais e respeitáveis, tirando-os dos vícios e da marginalidade e colocando-os a serviço da evolução e do desenvolvimento social, econômico e urbano do país e do Rio de Janeiro. Ao entendermos que o espaço social é formado por diversos atores e que 552 esses encontram-se em disputa permanente, seja de maneira simbólica ou material, visamos debater a questão da criminalização e da perseguição aos homossexuais que se prostituíam ou não. Num diálogo multidisciplinar com áreas como a antropologia, a sociologia e a filosofia, e partindo de nossa base de formação historiográfica, temos como objetivo mais amplo compreender como aqueles indivíduos se reconheciam, elaboravam suas redes de solidariedade e sociabilidade a partir de suas apropriações dos discursos contrários a eles, desenvolviam performances e resistiam às perseguições e pressões sociais e políticas do período. Pensando igualmente segundo conceitos como o moderno e a modernidade, as rupturas e as continuidades, destacamos que a importância de um trabalho com esta temática, portanto, encontra-se no interesse acadêmico em derrubar tabus que ainda cobrem e silenciam segmentos históricos importantes para a compreensão da sociedade e da formação das identidades sociais contemporâneas.

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553 ST 56. Rural no Brasil: História & Parcerias

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A busca pelo reconhecimento étnico e territorial dos Kanela do Araguaia - Juliana Cristina da Rosa (Universidade Federal de Mato Grosso), Paulo Sergio Delgado (UFMT)

A partir da primeira década do novo milênio, começam a surgir notícias com diferentes narrativas e discursos sobre um “novo” grupo indígena que se autodenomina Kanela do Araguaia que “incomoda” pelas estratégias e ações de ocupações de áreas nos municípios de Canabrava do Norte e Santa Terezinha, ou ainda, pelo simples fato de estarem reivindicando o reconhecimento de sua identidade étnica junto a órgãos públicos como a Fundação Nacional do Índio ou assistência médica por meio dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas. Em meio ao processo de luta por reconhecimento étnico e territorial por parte dos Kanela do Araguaia, pouco se divulgou pelos meios de comunicação locais sobre as origens desse grupo e os motivos que os levaram a desenvolver tais estratégias e ações depois de mais de cinquenta anos residindo nos municípios de Santa Terezinha, Canabrava do Norte e Luciara. Diante disso, essa apresentação tem como objetivo problematizar a trajetória desses grupos a partir da década de 1930, quando são expulsos da aldeia do Morro do Chapéu, localizadas no estado do Maranhão, que passavam por um intenso processo de conflito com fazendeiros. A partir de fontes orais é possível identificar elementos narrativos dessa trajetória de expulsão de suas terras e a busca pela sobrevivência diante da violência e ameaças por parte de fazendeiros e jagunços desde suas aldeias de origem até as cidades por onde passaram ao longo de sua trajetória até chegarem ao Araguaia, em busca da 554 Bandeira Verde. Essa situação de intensa violência e fuga da comunidade de origem, assim como, a partir de uma nova expulsão violenta de uma área onde haviam tomado posse em Miracema, Goiás resultou na ocultação consciente da identidade indígena ao longo de uma trajetória de luta pela sobrevivência. Existem relatos de que os mesmos não foram aceitos como trabalhadores ou posseiros pelo fato de serem indígenas, e ao se estabelecerem no Araguaia, passaram a conviver, casar e desenvolver atividades com ribeirinhos, retireiros e posseiros, silenciando sobre sua origem e identidade indígena por medo de novas expulsões e violências. Neste novo contexto, reconstruíram um modo de vida diferenciado, incorporando o sistema local em seu cotidiano e igualmente fazendo parte dele por meio de alianças num processo sinérgico no qual novas relações foram construídas. A partir da construção narrativa dessa trajetória marcada por conflitos, é possível analisar como a memória coletiva dos Kanela do Araguaia foi marcada pelo silenciamento diante de uma história oficial, mas também como nas últimas duas décadas, houve um movimento em que as memórias subalternas vieram à tona, que foram incorporadas às estratégias de reconhecimento pela etnicidade e territorial empreendidas pelos Kanela do Araguaia.

A cubanização do Brasil no governo João Goulart (1961-1964): uma perspectiva de parte da imprensa fluminense - Pedro Henrique Barbosa Balthazar (Colégio Andrews)

O trabalho pretende discutir o papel de parte da imprensa carioca na campanha de desestabilização e na conspiração que contribuíram com a deposição do governo ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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João Goulart (1961-1964). Para isso, se concentra nas representações sobre a noção de "cubanização" do Brasil e sua relação com o mundo rural, a partir da análise de temas como as Ligas Camponesas e as visões sobre a região Nordeste. Tal discurso serviu para desqualificar movimentos sociais no campo e foi utilizado para legitimar o golpe de 1964.

A legislação agrária do Pará e o acesso a floresta amazônica (1930- 1964) - Edilza Joana Oliveira Fontes (UFPA)

A comunicação pretende discutir como a Floresta Amazônica foi pensada pelos governos federais e pelo governo estadual no período de 1930 a 1964, e que medida a legislação agrária criada a partir da chamada Revolução de 30 tentou controlar o acesso a floresta. Nesta comunicação pretendemos discutir os arrendamentos, os castanhais, o acesso a floresta, o acesso aos seringais, o controle sobre as atividades extrativistas feita pelos governos ditatoriais de 30 quando o interventor do Pará era Magalhães Barata, tenente que assumiu o poder do estado a partir de outubro de 1930. Pretendemos discutir a legislação tentando perceber o texto legal e o controle que os governos de Magalhães Barata e posteriormente de José Malcher queriam estabelecer em relação ao acesso às terras devolutas, aos seringais e aos castanhais, e como esta proposta de controle principalmente as terras devolutas entram em colapso com a proposta de marcha para o oeste, e posteriormente com a proposta de ocupação desses seringais devido a Segunda Guerra Mundial. Neste sentido, a análise da legislação pode nos revelar os conflitos existentes dentro de uma elite 555 que estava perdendo poder e o nascimento de uma outra elite que a partir do controle burocrático do estado começa a se estabelecer no Pará, e tentar ocupar o espaço antes ocupados pelas elites agrárias, que na época do período da borracha no estado controlavam os grandes seringais e com isso também controlavam os governos estaduais. Trabalhamos principalmente com a legislação pós movimento de 30, tentando analisar sua relação com os projetos governamentais para a Amazônia a partir do governo de Getúlio Vargas.

A produção agrária e o mercado Imobiliário: A empresa Normandia S.A. nas terras iguaçuanas. - Rubens da Mota Machado (Programa de Pós-Graduação em História)

No início do século XX, a região de Nova Iguaçu vivenciou grandes transformações em sua estrutura econômica, quando a produção agrária, até então predominante no perfil econômico da região, passou a conviver com uma nova prática econômica récem-chegadas nas áreas agrícola iguaçuana, a transformação das tradicionais terras agrícolas em novas áreas de moradia. Neste comunicação iremos tratar especificamente da atuação da Companhia Normandia S.A na aquisição, transformação das áreas agrícolas em um novo mercado imobiliário em franca expansão nas primeiras décadas do século XX em Nova Iguaçu.

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As Negociações da Terra no contexto social do rural carioca oitocentista: fragmentações, transformações e negociações (Inhaúma-1830-1870) - Rachel Gomes de Lima (UCAM)

O objetivo deste trabalho é debater brevemente a estrutura fundiária da freguesia rural de São Tiago de Inhaúma compreendendo sua lógica de funcionamento e da transformação de suas propriedades dentro do contexto histórico por qual passava a cidade do Rio de Janeiro entre 1830 e 1880. Trata-se de uma análise de suas propriedades agrícolas considerando, principalmente, as relações sociais e as redes de sociabilidades constituídas pelos proprietários locais e a influência destas relações nos mecanismos de transmissão das propriedades, nas negociações, nos conflitos, nas diferentes formas de usos e nas diferentes concepções de direitos de propriedade da terra.

Colonização, expansão agrícola e indigenismo no sul da Bahia Oitocentista: A experiência da colônia nacional Cachoeira de Ilhéus - Ayalla Oliveira Silva (UFRRJ)

Na segunda metade do século XIX, no sul da Bahia, tanto o governo provincial quanto o local e os fazendeiros estavam envolvidos em expandir a fronteira agrícola regional, pois as terras da região eram consideradas as melhores para o cultivo do cacau, que estava em ascensão, naquele momento, como produto de exportação. Nesse contexto, por iniciativa do governo provincial se iniciou na região sul da 556 Bahia, um projeto de implantação de colônias nacionais agrícolas cujos objetivos eram acolher a população do norte, atingida pela prolongada seca, bem como tornar aquela região colonizada, uma vez que o sul da Bahia, àquela altura, ainda se encontrava pouco “habitado” e explorado pelo processo da colonização. Contudo, as autoridades provinciais e locais tinham que lidar com o principal empecilho para tornar exitoso o seu projeto, que se tratava das populações indígenas, a exemplo dos botocudos e pataxós, que habitavam densamente o sul da Bahia e se colocavam resistentes ao avanço da colonização em seus territórios. No desenrolar desse processo, por decreto provincial de 1870 foi criada a colônia nacional Cachoeira de Ilhéus localizada na estrada que ligava a vila da Vitória à vila de Ilhéus. Essa região funcionava como corredor comercial entre a Bahia e Minas e também uma faixa regional de extremo conflito entre particulares e indígenas não submetidos à experiência dos aldeamentos de catequese. Portanto, a colônia Cachoeira devia desempenhar um papel peculiar em relação às demais colônias agrícolas, aliás, ela tinha como papel central “civilizar” os botocudos e pataxós que “infestavam” a região. Além disso, a colônia deveria funcionar como suporte para a promoção do desenvolvimento do comércio e o acesso de colonos à região. Consolidou-se naquela zona, portanto, um corredor regional de suma importância para o trânsito de pessoas, tropas e boiadas que desciam do centro para o litoral a fim de escoar os seus produtos no porto de Ilhéus. Realidade na qual estavam envolvidos vários e distintos atores: capuchinhos italianos, índios aldeados e índios não aldeados, particulares, colonos, e autoridades dos governos locais e provinciais. Nessa proposta de comunicação, através da análise das fontes compulsadas no Arquivo Público do Estado da Bahia objetivo, portanto, recuperar a atuação da colônia ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Cachoeira enquanto experiência política de colonização e indigenista específica, voltada para o sul da Bahia, na segunda metade do século XIX.

Colonização, Propriedade e Projetos Agrícolas no Paraná (Segunda Metade do Século XX) - Marcos Nestor Stein (UNIOESTE)

Essa comunicação visa apresentar uma análise de material documental relacionado a projetos de colonização e de desenvolvimento agrícola que foram implementados, durante a segunda metade do século XX, em várias regiões do estado do Paraná. O foco são discursos que procuram naturalizar e cristalizar determinada concepção de propriedade privada da terra - desclassificando outras formas de seu uso e posse - e a sua interface com a produção de determinados sentidos identitários para os habitantes desse estado. A análise é um dos resultados parciais da investigação, vinculada ao INCT Proprietas: história social da propriedade, que aborda registros escritos por diversos pesquisadores - engenheiros agrônomos, antropólogos, sociólogos, etc. -, ligados a empresas colonizadoras, órgãos do governo brasileiro, como o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (INDA), instituições internacionais de pesquisa, entre outros, que permitem problematizar várias questões que estão relacionadas ao mundo rural paranaense, como, por exemplo, o estabelecimento de agricultores estrangeiros e a elaboração de projetos agrícolas.

Discutindo a morada na Zona da Mata de Pernambuco: a década de 1970 em 557 pauta - Clarisse dos Santos Pereira (Universidade Federal Fluminense)

O sistema de morada é analisado dentro das ciências sociais como um conceito para denominar a complexa relação entre patrões e trabalhadores rurais assalariados que estabeleciam sua moradia dentro das propriedades dos empregadores. Em parte da historiografia convencionou-se falar que este sistema perpetuou-se, na Zona da Mata de Pernambuco, até a década de 1950, momento no qual se deu início o processo de contínua expulsão dos trabalhadores de suas casas. Tais trabalhadores, instalados precariamente em cidades próximas às fazendas, passaram então a ser chamados de pontas de rua. Contudo, outros estudos, especialmente na área da antropologia, apontam que grande parte dos trabalhadores dos engenhos e usinas de cana permanecia, ainda da década de 1970, morando nos locais onde trabalhavam. Este artigo tem como objetivo discutir o tipo de morada observado na Zona da Mata de Pernambuco, especificamente nos engenhos da cidade de Goiana, em meados e fins da década de 1970. Tal fenômeno, apesar de guardar semelhanças com o sistema de morada que existiu até a década de 1950, apresenta características e questões muito específicas, que explicita um tipo específico de exploração patronal e que está ligado também ao contexto de autoritarismo político pelo qual passava o Brasil. A partir da análise de processos trabalhistas da Junta de Conciliação e Julgamento do município de Goiana e de entrevistas com trabalhadores rurais realizadas na década de 1970 pela antropóloga Lygia Sigaud, é possível apontar questões e debater sobre as similitudes e diferenças entre estes dois acontecimentos, criando assim novas interpretações e novos entendimentos

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------sobre o modo de vida e as relações de trabalho dos trabalhadores rurais da zona canavieira pernambucana.

Entre as curvas e as retas: a paisagem-mosaico e paisagem-poder - Ancelmo Schorner (UNICENTRO - Campus de Irati/PR)

Esta comunicação é parte das pesquisas que desenvolvemos na Rede Proprietas, no Pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense e na pesquisa a respeito dos faxinais no Paraná, que conta com apoio financeiro da Fundação Araucária, através do Convênio 17/2017. Os povos tradicionais do Brasil, entre eles os faxinais, têm vivido um longo processo histórico de conflitos no âmbito da manutenção do território, da preservação ambiental e da conservação do patrimônio imaterial. Dessa forma, a prática de um padrão alternativo, ou agroecológico, expressa uma luta contra processos dominantes de homogeneização técnica (Brandenburg, 2005), o que quer dizer que produção agrícola deixou de ser vista como uma questão puramente técnica, passando a ser entendida como um processo condicionado por dimensões sociais, culturais, políticas e econômicas (FLORIANI, 2011). A partir disso, podemos dizer que a dinâmica e a maleabilidade da produção dos camponeses faxinalenses não é vista como processos em estagnação ou atraso. Uma primeira consideração a fazer é que a produção agrícola representa, para os camponeses, um de seus principais campos de batalha, na qual eles “constróem, reconstroem e desenvolvem uma combinação de recursos específica, equilibrada e harmonizada” (PLOEG, 2008). 558 A agricultura, dessa forma, implica, acima de tudo, criar ativamente coisas, recursos, relações e símbolos. Nesta comunicação partimos da idéia que paisagem não é o que se vê, mas o que se constrói, se destroi e se sente, isto é, elas são realidades culturais percebidas através de representações, de valores e de pontos de orientação que são de natureza cultural e não científica (LATARJET, 1997). Para Deffontaines (2006), a produção da paisagem pelo agricultor é entendida como ato de suas práticas a partir das quais ele mobiliza as proporções, as escalas, os ritmos, as cores, as sombras e as luzes. Desse modo, o agricultor é também produtor de formas, de uma linguagem visual da agricultura que resulta na maneira pela qual o agricultor pensar sua atividade e a sua relação com o meio ambiente. Assim, por um lado, as paisagens do agroextratismo expressam um regime de verdade do agronegócio, de forma que as paisagens agrárias se convertem em espaços hegemônicos marcados por linhas retas e por figuras quadrangulares, ou seja, se transformam em uma ruralidade industrializada, o que chamamos de paisagens- poder. Por outro lado, as tradições técnicas das economias camponesas são atravessadas por elementos que indicam uma maneira de perceber, sentir, pensar e ligar-se com o mundo de acordo com suas atividades cotidianas, em uma continuidade entre o ser, o fazer e o conhecer que implica colocar, literalmente, as mãos da terra para construir paisagens-mosaico.

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Espionagem e fontes para uma história rural da Amazônia durante a ditadura militar - Thiago Broni de Mesquita (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O objetivo do trabalho é apresentar fontes que foram produzidas pelo SNI entre 1968 a 1985 e que apresentam questões de conflitos relativos a posse da terra na Amazônia a partir do olhar da espionagem do governo. Nesse período a Amazônia foi alvo de múltiplas intervenções dentro de um projeto de integração nacional que a pensava com um olhar de fora, mobilizando excedentes populacionais de diversos estados e abrindo a região aos interesses do grande capital nacional e internacional. Dentro de um cenário de conflitos no mundo rural que se espalhavam por todas as regiões do país, parcerias foram firmadas no governo com a intenção de propor soluções e tentar dirimir problemas. Tal parceria ficou conhecida no alto escalão do governo como “Grupo de Trabalho Interministerial” (GTI) instituído através da Portaria Secreta 325-B/74 e composto por funcionários indicados pelos ministros das principais pastas. Os trabalhos eram coordenados pelo Ministro da Justiça e a coleção de 51 atas de reuniões fazem parte do fundo de “Questões Fundiárias”, uma vez que grande parte delas discutem questões relativas ao mundo rural brasileiro e questões fundiárias. Em síntese, é possível afirmar que o principal objetivo do GTI era a elaboração de um diagnóstico preliminar, a fim de que fossem traçadas linhas de ação do respectivo programa e que fosse realizado o levantamento das áreas onde ocorriam com maior frequência e de forma mais grave os conflitos sobre a propriedade de terras. Entre outras questões levantadas através da parceria entre os ministérios é possível citar o registro de um processo, datado 559 de 05/09/1974, que foi encaminhado por Ronaldo Rabello de Brito Poletti ao Ministério da Justiça, abordando questões referentes à atuação de grupos econômicos que se empenhavam, desabridamente, na venda de terras de domínio da União, segundo essa documentação, tais grupos mantinham escritórios, filiais ou agentes que operavam em vários pontos do território nacional, captando uma clientela incauta constituída em imensa maioria por lavradores, anunciavam e vendiam lotes e glebas que não lhes pertenciam, situadas em maior parte na Amazônia legal, estimulando migração tumultuária e a ocupação irregular de extensas áreas, provocando um sem número de problemas, a começar pela perturbação da atividade dos órgãos de governo, o que inviabilizava toda tentativa de racionalização do uso da terra. Outras documentações correlatas que fazem referências a questões envolvendo a região amazônica, e que foram produzidas fora do GTI, no ano de 1974, também compõem a série de “Questões Fundiárias”, denotando a capilaridade de atuação dos órgãos de investigação junto à administração pública, firmada a partir de parcerias que muito falam sobre o rural no Brasil e em especial na região amazônica.

Fronteiras e Conquistas Territoriais: análise dos sertões da Comarca do Rio das Mortes (1740-1808) - Marcelo do Nascimento Gambi (UFF)

Este trabalho visa analisar a conquista territorial nos sertões à oeste da Comarca do Rio das Mortes, Capitania de Minas Gerais, entre os anos de 1740 a 1808. A partir da descoberta dos veios auríferos, esta região atraiu um número significativo de indivíduos desejosos pelo metal precioso. Entretanto, outras práticas foram se ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------desenvolvendo concomitante a extração do ouro, em destaque, as atividades de cunho alimentícia. Serão nas atividades agropastoris que focaremos as nossas análises. Na medida em que cresciam o número de indivíduos nesta comarca, maior foi a necessidade de ocupar novas áreas, portanto, as fronteiras se expandiram em especial para as áreas compreendidas como os sertões. Neste embate com índios e quilombolas, a conquista territorial foi se formando nestas áreas, juntamente com a ampliação das atividades alimentícias. Dessa maneira, nossa proposta busca analisar, por meio da utilização das cartas de sesmarias, a dinâmica das fronteiras nesta comarca. A relação direta entre a conquista territorial e as interações existentes entre os espaços das minas e dos currais moldariam esta região ao longo de todo o século XVIII, na medida em que as fronteiras se mantinham abertas ou fechadas. Ademais, ressaltamos que esta proposta de trabalho buscará também identificar os aspectos sociais referentes aos sesmeiros que se deslocaram para estas áreas, de forma a demonstrar uma racionalidade no processo ocupacional da Comarca do Rio das Mortes.

Hipólito da Costa e os apontamentos sobre o Plano de Correios e Colonização - Marieta Pinheiro de Carvalho (UNIVERSO), Vitória Fernanda Schettini de Andrade (UNIVERSO)

O objetivo de nossa comunicação é apresentar algumas reflexões sobre uma memória redigida por Hipólito da Costa entre os anos de 1822 e 1823, com o título Apontamentos para um plano de Correios e Colonização no Brasil. Tal documento 560 integra uma correspondência entre Hipólito da Costa e José Bonifácio de Andrada e Silva e tem como propósito contribuir sobre um tópico que seria enfrentado e debatido durante muito tempo ao longo do período imperial: a questão da terra e da colonização. Nessa memória, o personagem analisado deixou em evidência sua contribuição para pensar seu projeto de ocupação da terra, apresentando propostas para os problemas vividos, e se consagrando como um dos grandes letrados da sua geração.

História e Geografia: aproximações conceituais para o estudo das fronteiras políticas e do Império do Brasil - Alan Dutra Cardoso (UFF)

Consideradas parceiras de longa data, a História e a Geografia passaram por processos de aproximação e afastamento ao longo da História. Cindidas pela organização e especialização científica dos campos de conhecimento no oitocentos, se acercaram teórica e metodologicamente, a partir da virada crítica inaugurada pela Escola dos Annales. Mobilizado pelos matizes que reaproximaram os campos – especialmente através das contribuições inaugurais de Fernand Braudel e Yves Lacoste –, o presente trabalho elucidará as aproximações conceituais entre a História e a Geografia, no que concerne aos estudos sobre a formação do Estado e delimitação das fronteiras. Ao ter como problemática central a questão dos limites territoriais do Império, advogamos que sua disputa e tentativa de demarcação estiveram associados ao projeto conservador gestado neste período, cujas bases eram a preservação do seu território e a legitimação de sua soberania. Dotadas de historicidade, as fronteiras são tradicionalmente apresentadas como o espaço da ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------interação e do movimento, ao mesmo tempo em que podem ser definidas como as linhas que (de)limitam a soberania de um país frente outro. Balizados nesta segunda definição e assentados na proposição de Demétrio Magnoli, nos preocuparemos em estabelecer a relação entre o conceito e as novas interpretações da Geografia política e da Geopolítica, materializados, especialmente, nos conceitos de “díade” e “horogênese”.

Machado de Assis na Diretoria da Agricultura: Um informe de uma pesquisa em andamento - Pedro Parga Rodrigues (UFF/UFRRJ)

Trata-se de apresentar nossa pesquisa atual sobre a atuação de Machado de Assis no Ministério de Agricultura, Comércio e Obras Públicas nas décadas de 1870 e 1880. Nestes estudos, pretende-se perceber influência de sua atuação na Diretoria da Agricultura em sua atividade literária. Esta repartição lidava com a questão fundiária. O escritor escreveu um conto chamado “Três capítulos inéditos do Gêneses”, no qual debochou dos conflitos de terras oitocentistas e da noção de propriedade senhorial. O humor com o assunto foi retomado em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

Memórias de vidas no campo: a Revolução Verde e as transformações nas “artes de fazer e conviver” dos trabalhadores de bairros rurais da serra Fluminense (Nova Friburgo e Sumidouro) (1950-2000) - Gabriel Almeida Frazão (Instituto Federal Fluminense) 561

A comunicação tem como objetivo apresentar os primeiros resultados do projeto de pesquisa intitulado: Memórias de vidas no campo: a Revolução Verde e as transformações nas “artes de fazer e conviver” dos trabalhadores de bairros rurais da Serra Fluminense (Nova Friburgo e Sumidouro) (1950-2000). Iniciado no segundo semestre de 2017, o trabalho é fruto do anseio de se entender melhor o processo mais recente de ocupação e desenvolvimento econômico de duas regiões rurais, que, segundo uma das possibilidades aventadas, teriam profundas ligações históricas. Ele faz parte do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre as Ruralidades Fluminenses (IFF/CNPq), tendo recebido apoio financeiro do CNPq por meio de 2 bolsas de iniciação científica. A pesquisa, composta por uma equipe multidisciplinar, concentra-se sobre as práticas econômicas, sociais e culturais das regiões citadas nos últimos 50 anos. Tal recorte se justifica pela hipótese de que as maiores mudanças na produção dos trabalhadores rurais e, por consequência, no seu modo de vida, ocorreram entre as décadas de 60 e 70, por conta da chegada do pacote tecnológico da Revolução Verde. Tratando-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, a História Oral foi utilizada como um dos pressupostos teórico- metodológicos mais fundamentais. Por meio dela, a memória social e coletiva dos moradores dessas regiões foram analisas à luz dos conceitos de táticas, estratégias, modos de ser, de fazer e de conviver elaborados por Michel Certeau (2008). Os dados foram recolhidos por meio de entrevistas baseadas em um roteiro temático. Tendo como referência os bairros rurais existentes nas regiões abrangidas pelo projeto, optou-se por recolher informações de famílias com ascendência portuguesa, consideradas, pelos agentes locais, como as mais antigas de cada ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------localidade. Dessa forma, 1 representante de, no mínimo, 3 famílias de cada bairro rural foi entrevistado, totalizando 33 inquéritos. Em um semestre de trabalho, os dados já permitem confirmar as semelhanças entre o desenvolvimento dessas áreas, que, apesar de hoje fazerem partes de diferentes municípios, possuem ligações históricas. As entrevistas confirmam as alterações nos modos de vida dos trabalhadores por conta da mecanização, do uso de adubos e de outras inovações trazidas pela Revolução Verde. Ademais, os dados apontam para novas possibilidades investigativas, como um estudo mais aprofundado sobre o processo de ocupação das terras, no século XIX, o que pode ser feito a partir dos nomes dos ascendentes citados pelas famílias. Por fim, a transcrição e disponibilização dos dados para instituições de pesquisas locais contribuirão para outros estudos sobre o rural fluminense.

O aforamento como uma das formas de aceso às terras públicas de São Francisco do Sul, no nordeste do litoral catarinense - Eleide Abril Gordon Findlay (Universidade da Região de Joinville- Univille)

O processo de ocupação do território do Núcleo de São Francisco do Sul, a partir do século XVI, ocorreu de forma similar ao restante daquele adotado no restante da colônia nacional, que por sua vez se configurou sob a égide das decisões e ordenamento jurídico da Metrópole portuguesa. No inicio do povoamento da Freguesia de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco (1656), e posteriormente na Vila de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco (1662), a 562 forma de acesso à terra aos homens livres era a concessão de sesmarias, além da posse de boa fé caracterizam a ocupação territorial até o inicio do século XIX. Com a proibição da concessão de sesmaria pelo governo Imperial em 1822, as autoridades governamentais catarinenses utilizaram a distribuição de terras públicas como forma de ocupação e “manutenção” da ordem na Província. Ao final do século XIX, na Vila de São Francisco do Sul, o aforamento de terras públicas se transformou em um significativo instrumento de acesso à terra por parte dos homens livres e pobres. De acordo com o ordenamento jurídico português e posteriormente o brasileiro, o foreiro detém o domínio útil da propriedade, e o domínio real continua a ser do poder público. A compreensão da importância do aforamento para a conformação territorial da cidade, bem como a possibilidade de o morador se transformar em proprietário de um terreno, ou data de terra, se constitui em no principal objetivo do estudo, posto que, possibilitará entender o significado de ser foreiro de terras públicas. Nesse sentido, além de analisar o processo de aforamento do patrimônio público do município de São Francisco do Sul, o estudo se propõe a identificar o sentido e significado do ser foreiro, a partir da história de vida do próprio detentor do titulo de aforamento.

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O Castanhal de serventia pública no vale Amazônico do Baixo Tocantins: Luta, Resistência e Permanência na terra (1930- 2005) - Adriane dos Prazeres Silva (UFPA)

Os castanhais de serventia Pública no Pará, mais conhecido como castanhais do povo, foram espaços dentro da floresta reservado a coleta livre de castanha, segundo minhas pesquisas existiram 40 castanhais do povo no Pará, com advento da república, houve a tentativa do Estado Legislar esses espaços e para tanto, era necessário se inscrever na prefeitura do respectivo município, a ordem de entrada nos castanhais ocorriam mediante pagamento de receitas as prefeituras municipais, porém mesmo no século XXI, ainda existe resistência para permanência nessas terras. A memória que os moradores da Amazônia possuíam desses castanhais era de algo positivo, uma conquista desses sujeitos diante do estado. Entretanto, houve a venda dessas terras ocasionada pela mudança da dinâmica de ocupação desses espaços, proporcionado em parte pela entrada dos grandes projetos patrocinados pelos governos militares. Uma das consequências foi à venda dessas terras e a questão da instalação da propriedade privada, simbolizada pela cerca, impactando diretamente no modo de vida dessas populações. Logo, a resistência e a negação desse projeto que não condizia como o modo de vida dessas pessoas passou a ser combatido e de maneira gradual as articulações desses habitantes da floresta foram se fortalecendo e se adaptando para resistir e manter o costume de habitar a floresta. 563 O engenheiro Beaurepaire Rohan e a questão agrícola no Brasil no final do Império - Eveline Almeida de Sousa (Universidade Federal do Oeste do Pará)

Por meio das reflexões do engenheiro militar Henrique Beaurepaire Rohan (1812- 1894), este trabalho discute como as propostas para a organização do espaço rural no Oitocentos estavam relacionadas com tentativas de reforma na lavoura brasileira e na estrutura da grande propriedade. O Visconde de Beaurepaire Rohan atuou ao longo de todo o Segundo Império na direção de obras públicas, na construção de estradas, em atividades de mapeamento e exploração do território em diferentes regiões. Assumiu ainda funções administrativas no governo Imperial e no Comando do Exército, além de participar de agremiações e sociedades como o IHGB e a Sociedade Central da imigração. A partir de suas experiências, elaborou uma série de textos e relatórios que versaram principalmente sobre temas ligados ao campo da engenharia e ao território, discutiu também questões como a escravidão, a lavoura e a imigração. Nesta comunicação, pretende-se analisar como as propostas elaboradas pelo autor, direcionadas para o abolicionismo, para a assimilação de trabalhadores livres e criação de colônias agrícolas, eram pensadas de acordo com a organização do território, a modernização das técnicas agrícolas e modificações na estrutura da grande propriedade. Matérias examinadas por ele em trabalhos como “O futuro da Grande lavoura e da grande propriedade no Brasil” (1878) e “Emancipação do elemento servil considerada em suas relações morais e econômicas” (1883), nos quais o argumento moral era fundamental. Busca-se ainda relacionar estas questões com seu ofício de engenheiro, considerando seu engajamento político enquanto membro desta categoria de profissionais. O que nos ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------ajuda a pensar como os engenheiros, enquanto grupo social, debruçavam-se sobre temas de interesse nacional mobilizando conhecimentos produzidos por eles e suas experiências no território do Império.

O Maranhão no século XVIII: conflitos e questões - Amanda Cristina Araujo de Oliveira (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho faz parte do projeto de pesquisa desenvolvido no estágio em Iniciação Científica no INCT Proprietas, realizado entre março de 2017 e março deste ano. Dedico-me, portanto, ao estudo das trajetórias governativas no Maranhão do século XVIII, tendo como centro da discussão a conturbada relação entre governadores, magistrados, jesuítas, colonos e indígenas, que se evidencia, principalmente, nas estratégias de enriquecimento pessoal e ascensão social que envolve os indígenas como mão de obra e possuidores de terras. Uma população que, apesar de colonizada e explorada, possuía terras e era protegida por uma lógica salvacionista, ainda que esta proteção fosse consideravelmente frágil, e seus limites, incertos, sobretudo quando o conceito de "guerra justa" se coloca em debate.

O SPI e o Governo da Bahia em 1910: A Legislação fundiária e o avanço sobre as terras indígenas do sul do estado - Talita Almeida Ferreira (UFRRJ)

Com o objetivo de prestar assistência aos índios do território brasileiro e 564 transformá-los em trabalhadores rurais que contribuíssem com o crescimento da nação, foi criado, no Ministério da Agricultura, o Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais - SPILTN, em 1910. Este órgão, a partir de 1918, passou a se chamar apenas SPI. A política indigenista do SPI foi influenciada pelas ideias positivistas, que defendiam que os povos indígenas estariam no estagio “primitivo” da escala “evolutiva” da humanidade. Portanto, era preciso levá-los à “civilização” através de uma politica tutelar. Dirigido pelo militar positivista Candido Mariano da Silva Rondon, a politica indigenista do SPI caracterizou-se por seu caráter laico, tutelar e protecionista para com os indígenas. O SPI foi instalado em várias regiões do Brasil e se estruturou a partir de um conjunto administrativo, regimentos, decretos e código civil. Em dezembro de 1910 foi enviado ao sul da Bahia o primeiro inspetor regional, Pedro Maria Trompowsky Taulois, que se dirigiu para a região com o objetivo de instalar a inspetoria e iniciar os trabalhos de “pacificação e atração” dos diferentes grupos indígenas que viviam dispersos nas matas e transitavam pelos rios Gongogi, Colônia, Pardo e Jequitinhonha. A questão da terra estava no centro da política indigenista inaugurada a partir do SPILTN, pois pressupunha obter terras para agrupar essas populações em postos. Mas, a recém fundada República Brasileira assegurou um alto grau de autonomia aos estados federativos para legislarem em seus territórios e administrar suas terras devolutas. Diante disso, o Governo Federal deveria entrar em acordo com os governos estaduais ou municipais para obter as terras necessárias para o desenvolvimento da política indigenista. Assim, analiso neste trabalho a política de terras na Bahia nas primeiras décadas da República, onde leis e decretos impactaram de forma significativa os direitos de acesso à terra ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------das populações indígenas. Neste sentido, insiro nesta problemática tanto as populações indígenas aldeadas ou de antigos aldeamentos, como os grupos ainda não conquistados e territorializados. De diferentes formas, esses povos tiveram suas terras invadidas e expropriadas com o avanço das frentes agrícolas. Sendo assim, problematizo como a Lei de Terras da Bahia nº198 foi utilizada por fazendeiros para se apossar dos territórios indígenas nas primeiras décadas da República e as tentativas de funcionários do Serviço de Proteção aos Índios de dialogar com as autoridades estaduais para obter as terras necessárias para a implementação da política indigenista tutelar.

Os livros de economia rural da Casa Literária do Arco do Cego: autores e editores no final do século XVIII português - Nivia da Conceição Pombo (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

A comunicação apresentará notas de uma pesquisa em andamento sobre as relações entre o empreendimento editorial denominado Casa Literária do Arco do Cego (CLAC) com os autores e tradutores que assinaram as obras integrantes de seu catálogo. De vida efêmera – suas atividades tiveram início em 1799 e encerraram- se em 1801 –, a CLAC voltou sua atenção para a publicação de estudos sobre os temas da Agricultura e da História Natural, envolvendo nessa produção letrados, artífices, entre outros profissionais do livro. Financiada pela Secretaria de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos, o empreendimento foi idealizado pelo ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho e dirigido pelo botânico Frei Veloso. O 565 apoio do poder régio à iniciativa, bem como os investimentos dos tipógrafos de Lisboa no empreendimento, são aspectos que revelam uma lógica distinta dos nossos dias no que tange à finalidade da produção do livro. Suas atividades enquadram-se no chamado “sistema literário do Antigo Regime”, no sentido proposto por Carla Hesse, conjugando práticas de proteção, mercês e privilégios típicos da cultura política da monarquia portuguesa. Entre as finalidades da CLAC encontram-se a seleção de textos voltados para o fomento agrário, as “trasladações em português de todas as Memórias estrangeiras que fossem convenientes aos estabelecimentos do Brasil” e a divulgação desses impressos entre os cultivadores da América portuguesa. Atentos às transformações implementadas nos campos europeus e nas Américas, D. Rodrigo e frei Veloso formaram uma biblioteca voltada para o tema da produção agrícola, investindo não só na publicação, mas também na compra de livros que pudessem atualizá-los sobre essa temática. Outro aspecto que se destaca é a preocupação com a dispersão das memórias produzidas pelos letrados acerca das potencialidades coloniais. Escritos que, de acordo com a historiografia, seguiam para o centro do poder metropolitano com propósitos distintos, inserindo-se tanto nas instituições de produção do saber, como a Academia das Ciências de Lisboa, quanto na economia das mercês, como parte das solicitações de ofícios e privilégios. Mais do que divulgar o saber, a CLAC pretendia reunir e imprimir os escritos que pudessem colaborar, particularmente, com o “melhoramento” da “economia rural” do Brasil. A discussão estará centrada em dois objetivos principais: 1) problematizar a composição dessa livraria, atentando para os mecanismos de aquisição e mapeamento primário das obras; 2) contribuir para o debate sobre o papel das Luzes portuguesas, considerando a ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------relevância do tema da agricultura no reformismo, tanto como estratégia de fomento econômico, quanto como um tema nevrálgico para a estrutura social e política do Antigo Regime luso.

Propriedades nas fronteiras: os projetos do ministro D. Rodrigo de Souza Coutinho para os sertões fluminenses - Marina Monteiro Machado (UERJ)

O presente trabalho se debruça sobre o projeto luso, mediado pelo ministro d. Rodrigo de Souza Coutinho para os sertões fluminenses, na passagem do século XVIII para o XIX. Pensando o avanço da fronteira a partir de uma política de desenvolvimento da então colônia. A análise volta-se para a transformação de terrenos supostamente baldios em propriedades privadas sob o argumento de superação do atraso na agricultura. O projeto justificava a individualização das terras em nome do aumento da produção e da fixação populacional. Para o estudo, destacamos propostas dos memorialistas do referido recorte, que buscam realçar a eficácia produtiva da propriedade individual. Reafirmando a necessidade de vedação das terras, os memorialistas procuravam garantir a segurança da propriedade, evitando intromissões e violações do território, agora alheio. Engessava a mobilidade e a independência de alguns setores campesinos, reunida e transformada em mão-de-obra livre assalariada. O mesmo se pode reconhecer para os grupos indígenas da colônia, que eram possibilidades reais para a exploração da mão-de-obra nas fazendas. A reunião dos índios em um aldeamento, e a territorialização destes grupos, antes nômades, revela uma mudança na 566 dinâmica da ocupação territorial e o novo valor que aos poucos se agregava às terras até então ocupadas. A fronteira era aberta para o avanço de uma colonização realizada por modelos idealizados, com pressupostos e interesses de indivíduos europeus ou seus descendentes, com os esforços máximos na cultura da terra.

Quando o sertão manda na capital: História política e redes de clientela da elite política de: Santa Cruz, Campo Grande e Guaratiba (1892-1917) - Igor Estevam Santos de Oliveira (FGV)

O presente trabalho visa analisar as trajetórias, construção e consolidação de algumas lideranças políticas de relevância na região de Santa Cruz, Campo Grande e Guaratiba. Lideranças essas que obtiveram altos cargos nos primeiros anos da república, algumas chegando ao senado federal e prefeitura da Distrito Federal. Os mais notórios dessas elites políticas seria o grupo “triângulo” composto: Raul Barrozo, Felipe Cardoso Pires e Augusto de Vasconcellos. Outros políticos afiliados e aliados dessas lideranças também perpetuam-se como herdeiros da influência delas. Como fonte são usados e analisados desde jornais, registros de nascimentos e discursos parlamentares. A influência do grupo se fez em diversos setores da sociedade carioca, até mesmo em grupos de carnaval.

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Vargas e os trabalhadores do campo: a construção de noções de justiça, coragem e direitos - Marcus Dezemone (Universidade Federal Fluminense)

O objetivo desse trabalho é investigar a apropriação por trabalhadores no campo dos processos de produção e de divulgação da legislação social, ambos ocorridos nos governos liderados por Getúlio Vargas. Apesar de parte da historiografia ainda considerar os trabalhadores rurais afastados dos benefícios materiais e simbólicos da legislação trabalhista, diversas pesquisas têm chamado atenção para efeitos não previstos pelos formuladores de tais políticas e seus impactos no campo brasileiro. A partir de fontes como depoimentos orais, correspondências dirigidas à presidência da república, processos administrativos e processos judiciais, nas regiões sudeste e nordeste, o trabalho procura destacar a construção de categorias nativas como “coragem” e “justiça” e os significados por elas assumidos. Pretende- se com isso indicar uma relação entre a apropriação do discurso oficial e das leis de um lado, e o processo de erosão da autoridade tradicional de proprietários rurais no campo brasileiro, de outro. Defende-se que isso foi fundamental para as mobilizações sociais observadas nos anos 1950 e 1960, aspecto explorado e estimulado por diferentes atores que investiram na militância e na organização dos trabalhadores rurais até o golpe de 1964.

Viuvez: caminhos e trajetórias de transmissão patrimonial através de heranças nos Oitocentos - Yasmin Hashimoto Tonini (UFF) 567 Este trabalho recupera a nítida escassez teórica da discussão em torno do tema que abrange a História das Mulheres e a História da Família, no que se refere ao lugar da viúva nos processos judiciais e seu direito à propriedade da terra. Trata-se de processos que envolviam conflitos fundiários entre as mulheres que se tornavam beneficiárias, apenas por encontrarem-se no lugar de viúvas, e o litigante, geralmente, indivíduos próximos à família, que questionavam a legitimação de propriedade transmitida às mulheres, valendo-se do aparato jurídico de que dispunham. Os objetivos do trabalho visam colaborar nos estudos sobre a História das Mulheres, que têm se tornado mais abrangentes, adensando reflexões sobre os mais diversos debates historiográficos. Dentro desta perspectiva, apresenta-se as especificidades que o tema exige, como a discussão do aparelho jurídico nos Oitocentos; o papel da mulher atuante na sociedade, mesmo que a partir de um manto de tradições históricas e familiares, sendo tal forma de atuação de igual relevância nas transformações sociais; as dificuldades e estratégias para administrar uma propriedade recebida através da herança. Há ainda o recorte econômico que se faz necessário no tratamento das fontes, considerando que não eram todas as famílias a preparar inventários sobre seus bens; o comportamento interno dos membros familiares diante da figura feminina como chefe de domicílio e os impactos nas relações interpessoais. Dessa forma, apresentaremos as fontes destacando a utilização dos processos judiciais, que expõem as contendas surgidas e direcionadas à Coroa, a reguladora da concessão de sesmarias, que tinha como base as Ordenações Reais. Além disso, pretende-se elaborar análises a partir do mapeamento de inventários e testamentos relacionados às famílias, a fim de mensurar de forma mais precisa níveis de riqueza, sem deixar de observar o recorte ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------econômico, baliza essencial para as ponderações acerca do tema. Como recorte cronológico, estabelecemos o ano de 1808, pela vinda da Corte Portuguesa para a Colônia, marco temporal que desencadeia inúmeros processos sociais, inclusive o estabelecimento de uma imprensa no Brasil, situação que anteriormente não era permitida. A partir do estabelecimento da imprensa, será possível analisar casos de viúvas que por ventura apareçam citadas em jornais da época. O projeto destaca-se pelo potencial instigante de acompanhar diálogos multidisciplinares para o estudo de famílias inteiras, diretamente afetadas pelo momento de transição entre colônia e império. No mesmo sentido, acreditamos que contribui para a diversidade de horizontes historiográficos, trazendo para o estudo da História das Propriedades uma conexão inevitável entre História da Família e da Mulher e Direito das Sucessões.

“Declaro que sou senhor e possuidor”: os registros de terras possuídas e seu uso como fonte à pesquisa em História da Propriedade no Brasil - Flávia Paula Darossi (Universidade Federal de Santa Catarina)

A Lei nº 601, de 18 de set. de 1850, que dispôs sobre as terras devolutas do Império, promulgou em seu 13º artigo a obrigatoriedade do registro das terras possuídas no Brasil; e o capítulo IX do Decreto nº 1.318, de 30 de jan. de 1854, regulamentou sua execução por freguesia nas paróquias do Império. Atualmente, estes registros tornaram-se fontes indispensáveis para a pesquisa em História da Propriedade Brasileira e encontram-se conservados em Arquivos do Poder Público. Proponho 568 realizar uma investigação sobre suas dimensões teórica e metodológica, e apresentarei os resultados iniciais da pesquisa sobre os registros das terras possuídas de Lages, município correspondente à região do Planalto de Santa Catarina no século XIX.

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569 ST 57. Uma Idade Média para o século XXI – parcerias e colaborações acadêmicas na escrita da História

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Alle in o lyveree of a solempne and a greet fraternitee: parcerias urbanas na Baixa Idade Média - Viviane Azevedo de Jesuz (CULTURA INGLESA)

Muitas parcerias foram estabelecidas no contexto urbano do Baixo Medievo. Os citadinos imaginavam-se, de fato, como membros de grupos mais amplos, assim como também estabeleciam relações pessoais dentro dos diferentes grupos dos quais participavam, criando várias esferas de influência. Dentre essas parcerias, as principais formas de associação que se colocavam eram as guildas e as fraternidades. Partindo do caso inglês, abordamos as principais linhas que configuram as associações formadas no âmbito da cidade medieval, assim como as relações construídas internamente nestes grupos de ordem profissional e religiosa. Como chaves de acesso, lançamos mão da narrativa The Canterbury Tales, atribuída a Geoffrey Chaucer em fins do século XIV, e do Parish Fraternity Register: Fraternity Of The Holy Trinity And Ss. Fabian And Sebastian, da Paróquia St. Botolph without Aldersgate, a fim de analisar as estratégias utilizadas na construção de laços comunitários que corroboram para a legitimação da identidade citadina.

As dores simonianas e os incunabulos: as nuances da narrativa escrita de um culto antijudaico - Vinicius de Freitas Morais (UFF)

O culto ao menino de dois anos e meio, que morreu na cidade de Trento na semana santa do ano de 1475, se formou a partir de uma estrutura narrativa da lenda de 570 crime ritual. As relações de conflito entre cristãos e judeus tornam-se mais frequentes a partir do século IXI e alcançam o seu ápice na Baixa Idade Média. Esta apresentação demonstrará como a importância atribuída ao dogma da transubstanciação está associada com a devoção do beato Simão de Trento. Bisca- se provar também como a narrativa escrita e imagética se constituíam como um meio de rememoração das dores simonianas aos fiéis deste pequeno mártir

As Expressões do Medievalismo no Século XXI - João Batista da Silva Porto Junior (Universidade Federal Fluminense)

Apesar de parecer inverossímil, em pleno alvorecer do século XXI a Idade Média está em voga – quiçá na moda – essa afirmação é facilmente comprovada em uma simples observação da quantidade de livros, filmes, séries televisivas e jogos eletrônicos relacionados à temática. Cada vez mais popular, o medievo europeu continua fascinando e influenciando. Por outro lado, crescem e se aprofundam, nas diversas áreas do conhecimento, os estudos acadêmicos sobre este importante período histórico, ajudando a desmistificar e contestar a equivocada ideia da longa noite de mil anos. Não apenas em artigos científicos, na literatura, no videogame e/ou na filmografia moderna de vultosas bilheterias que a Idade Média se destaca, muitas das suas características ainda impregnam o cotidiano contemporâneo. Diversos elementos e práticas socioculturais como música, danças, moda, lutas e até mesmo algumas técnicas da culinária medieval que pareciam esquecidas, estão sendo “recriadas”. O atualmente apelidado de “Recriacionismo Histórico” ou “Reconstituição Histórica”, ou ainda “Reencenação Histórica”, do inglês ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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“Historical Reenactment” ou “Living History”, associado à inovadora metodologia da “Arqueologia Experimental” tem desempenhado um importante papel nas pesquisas empíricas acerca das técnicas produtivas antigas. Centenas de objetos do cotidiano medieval e até mesmo grandiosas obras arquitetônicas estão sendo recriadas e reconstruídas por intermédio deste método que celebra o feliz matrimônio entre a teoria e a prática. Ademais, em alguns casos, também vem desenvolvendo um novo modus vivendi de imersão no passado, conseguindo reproduzir experiências relativamente realistas e cultivando um número crescente de admiradores e adeptos. Também são extremamente relevantes as feiras, os festivais e outros espetáculos com temática medieval, que desde fins do século XX proliferam-se em praticamente todo o mundo ocidental e conseguem reunir milhares de pessoas. Na Europa, alguns desses eventos aliam-se a preservação do patrimônio imaterial das tradições culturais e caíram rapidamente no gosto popular. A cada ano, um novo evento desponta no já recheado calendário de festas “medievais” europeias. Atraídos pelo som do alaúde e animados pelas brincadeiras dos saltimbancos, malabaristas, fantoches e bobos da corte, muitos ainda hoje se embriagam de hidromel, fartam-se com carne de javali, assistem e/ou participam dos jogos de feitos de armas entre outras encenações históricas. Diante deste vastíssimo proscênio, repleto de atores e cenas tão diversas, o grande desafio que se descortina é conseguir traçar um panorama geral desta tendência passadista e, até certo ponto, nostálgica pelo medievo em plena contemporaneidade.

As fronteiras historiográficas do "Ocidente Medieval" - Leandro César 571 Santana Neves (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A redução drástica e quase extinção do conteúdo de História Medieval pela Base Nacional Curricular Comum (BNCC) vem levando nos últimos meses os medievalistas brasileiros a indagarem sobre a área no panorama acadêmico. Inspirado nesta tentativa de relegitimação e no repensar da área, propomos nesta apresentação discutir um tema pouco discutido pela medievalística brasileira: o termo "Ocidente Medieval". Seguimos a tendência da medievalística estadunidense, representada principalmente por Christian Raffensperger e Yulia Mikhailova, os quais argumentam que a adoção da ideia de Idade Média como somente a noção contemporânea de Europa Ocidental não só possui bases modernas de construção de alteridade e identidade, mas também é prejudicial ao estudo do próprio período, especialmente ao que concerne o medievo da categoria "Europa Oriental", ignorando a visão identitária e espacial dos próprios medievais ao perpetuar um isolamento entre ambas as partes.

As grandes transformações na escrita da História Medieval – as parcerias entre a França e o leste europeu nas décadas de 60 e 70 do século XX - Vânia Leite Fróes (Universidade Federal Fluminense)

A comunicação pretende trazer para discussão as mudanças historiográficas de meados do século XX, analisando os diálogos entre os medievalistas do leste europeu e a França, no momento em que as mudanças políticas no mundo eslavo coincidem com os movimentos europeus de cunho social e com a emergência das ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------discussões na antropologia histórica, na sociologia, nas comunicações e na linguística. São exemplos marcantes os contatos de Georges Duby e Jacques Le Goff com Geremek, W. Kula e outros.

As Livrarias dos Mosteiros e a interdisciplinariedade na Idade Média: os casos de Santa Cruz de Coimbra e Santa Maria de Alcobaça (séculos XII- XVI) - Carolina Chaves Ferro (UniCarioca)

Esta apresentação contempla uma análise das livrarias dos dois mosteiros mais influentes, no que diz respeito à cultura letrada, durante a Idade Média portuguesa, o de Santa Cruz de Coimbra e o de Santa Maria de Alcobaça. Busca-se um inventário pormenorizado das obras com o objetivo de compreender quais eram os exemplares e que alcance eles tiveram dentro de um reino português que necessitava, cada vez mais, de preservar sua história, honrar seus monarcas e a família real e reafirmar seu poder e sabedoria. Pretende-se demonstrar como este tipo de pesquisa cuja temporalidade é a Idade Média jamais seria possível sem um trabalho interdisciplinar. As áreas de Comunicação, Sociologia, Letras, Filosofia, Arquivologia e Biblioteconomia são de suma importância para o estudo dos livros na passagem do período medieval para o período moderno e constituem importante exemplo de como é necessário mais parcerias e colaborações acadêmicas na área de ciências sociais e humanas.

As mulheres em Beowulf: a condição feminina na sociedade anglo-saxã 572 (séculos VII e VIII) - Hayanne Porto Grangeiro (UFF)

Nas sociedades tribais germânicas tradicionalmente referidas por reis e guerreiros, a figura feminina também se destaca. As mulheres anglo-saxãs atuavam de forma muito mais efetiva e independente governando reinos poderosos, criando e levando exércitos à batalha e fundando e governando importantes comunidades religiosas quando comparadas às suas suas sucessoras no período normando. Além de líderes, desempenhavam papeis de semelhante importância no cotidiano dessa sociedade. Portanto, este trabalho se propõe a apresentar a fase inicial de uma pesquisa de mestrado que analisa a condição feminina na sociedade Anglo-Saxã dos séculos VII e VIII tomando por base o poema épico anglo-saxão Beowulf.

As narrativas do passado e a construção da memória Lancaster (Inglaterra - século XV) - Caio de Barros Martins Costa (UFF)

Em 1399 após anos de instabilidades políticas, revoltas camponesas e problemas com a aristocracia, o rei Ricardo II de Plantageneta é deposto do trono inglês, ascendendo ao mesmo Henrique de Bolingbroke, então Duque de Hereford, como Henrique IV de Lancaster. Com o surgimento da nova dinastia ao trono, novas instabilidades atingiram o reino. Os anos de Henrique IV, entre 1399 e 1413 viram um conjunto de revoltas contra a nova dinastia e um levante no País de Gales contra o domínio inglês na região. Após sua morte, é elevado rei seu filho Henrique V, que presenciou e combaterei os heréticos lollardistas e retomou os embates contra os franceses em meio a Guerra dos Cem Anos, vencendo a Batalha de Agincourt ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------em 1415, que garantiu a legitimação da nova dinastia ao trono. Após sua morte em 1422, seu filho Henrique VI com apenas nove meses de idade torna-se rei, iniciando um contexto de extremas instabilidades, primeiro pelas brigas em torno da regência e mais tarde, a eclosão da Guerra das Rosas entre Lancaster e York. O contexto Lancaster foi marcado pelas guerras e embates pela legitimação do poder régio, autoridade real e manutenção da ordem, sendo também uma era privilegiada para a construção da imagem régia e construção da identidade inglesa. Em meio a tais questões, multiplicou-se o número de crônicas, biografias sobre reis, contos e poemas, muitos também feitos sob solicitação da monarquia. Nessas fontes observamos os usos de narrativas do passado como instrumento de justificação do presente, predileções de um futuro, como também uma forma de legitimar ou não reis. O passado tornou-se um instrumento essencial na construção da imagem régia inglesa no final da Idade Média, une elementos de uma tradição regional, histórica e mitológica acerca da Inglaterra. Engloba ainda o passado da Cristandade e suas heranças greco-romanas e céltico-germânicas, além, é claro, da influência das narrativas bíblicas. Nesta comunicação, visamos apresentar as primeiras reflexões acerca da importância das narrativas do passado para os cronistas do século XV, na construção de uma memória de uma dinastia. É parte dos primeiros questionamentos de uma pesquisa de Doutorado em fase embrionária. Tem-se um foco teórico-metodológico em autores, sobretudo britânicos, que discutem de alguma forma a questão do tempo e o poder régio na região no final do medievo. Além claro, primordialmente, as crônicas do século XV. Discute-se os diálogos, as possibilidades e novas formas de pensar o poder régio inglês. 573

Ensaios sobre uma Idade Média Oriental: Diálogos e parcerias acadêmicas na construção de uma historiografia árabe medieval no século XXI - Dandara Arsi Prenda (Universidade Federal Fluminense)

Este ensaio, pensado para a edição do encontro de historiadores pela ANPUH-RJ com a temática parcerias visa traçar uma análise sobre a historiografia árabe medieval e as suas iniciativas no século XXI através de diálogos e colaborações de diversas áreas de conhecimento. Seguindo o caminho aberto pela escola dos Annales, primeiramente nos estudos da História Política no século XX, este balanço propõe uma exploração da historiografia árabe medieval através de parcerias visando conteúdos relativos às linguagens, redes de poder e cultura política, entre outros elementos que direcionaram a atenção de pesquisadores ao longo do século XXI. Ao longo desta investida também estará em evidencia a questão do arabismo medieval e as iniciativas em vigência nos meios acadêmicos do Brasil e do mundo, assim como esboço estatístico dos estudos destas temáticas estruturadas a partir do sistema de parcerias.

Lisboa Medieval – A grande "Çidade e de mujtas e desvairadas gentes" - Priscila Aquino Silva (Unilassale RJ)

Lugar de troca, de grandes festas, dos especialistas, das feiras, do acúmulo, dos negócios e do ócio, berço de uma nova lógica que foge a muitos valores feudais, a cidade medieval é prenhe de significados e sentidos. Projeção do que se entende ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------por mundo, espaço de utopias e idealizações, lugar de interação, de sociabilidades, da vida comunitária, compartilhada, e também, da exclusão social. A cidade medieval é um lugar em formação, policêntrico e multifacetado, permeado de espaços não construídos e de enclaves rurais. Fechada, cercada por muralhas que simbolizam o poderio militar e político dos citadinos, que protegem dos perigos exteriores, mas que deixam em exibição as abissais diferenças sociais. Seus muros aproximam e separam, unem e dividem, e se tornam os limites de um ambiente social edificado por confrarias e fraternidades, comunas e Catedrais. Um lugar onde a imponência das construções eclesiásticas revela o poder não só ideológico, mas também político da Igreja; um espaço em ebulição, entrecortado de estradas e caminhos – uma “encruzilhada de estradas” – que evidenciam o papel de destaque que possui o comércio e os mercadores na vida citadina. Estamos também diante de um não lugar, a parte de sonho e de imaginário que pode ser construído pelas mãos humanas. Desde a Jerusalém celeste da Bíblia, modelo de paraíso, à cidade dos mortos, passando por Dante Alighieri que espacializa céu, purgatório e inferno, a cidade é uma referência fundamental – e representa a consolidação de um ideal. Cidades que nascem e fazem nascer a Europa . E não se fala aqui de qualquer cidade medieval. Fala-se de Lisboa, denominada por Fernão Lopes como a “a grande çidade e de mujtas e desvairadas gentes”. As crônicas e narrativas do período nos revelam feições distintas da Lisboa medieval. O humanista Damião de Góes , por exemplo, nos descreve a topografia da cidade, dando detalhes das edificações, das ruas, do imaginário marítimo e do termo da cidade. Fala dos reis e do oceano em uma saborosa descrição salpicada com apontamentos satíricos. Já os escritos de 574 João Brandão sobre a Grandeza e Abastança de Lisboa em 1552 nos deixam antever uma Lisboa repleta de números, de comércio, de produtos, ofícios e profissões, cantando os louvores e as rendas de uma cidade rica e opulenta. Essas fontes relatam sobre uma cidade em transformação constante. Narram também sobre o rei D. João II (1481 a 1495) – não poderiam deixar de citar os feitos e os empreendimentos do Príncipe Perfeito. Por isso são preciosas ao tentar desvendar o rosto e as representações dessa cidade que é palco de constantes intervenções sanitárias e de higiene do Príncipe Perfeito e da sua principal ação de centralização hospitalar – o Hospital Real de Todos os Santos.

O "Thésaurus des images médiévales" e as bases de dados iconográficos como ferramentas para o estudo das imagens medievais - Tereza Renata Silva Rocha (Universidade Federal Fluminense)

O GAHOM (Groupe d'Anthropologie Historique de l'Occident Médiéval), fundado pelo medievalista Jacques Le Goff, em 1978, possui como uma de suas linhas de pesquisa a análise das imagens medievais. O grupo, além de discutir questões de cunho teórico-metodológico, tem contribuído no campo empírico através de um banco de dados, com o mapeamento de material iconográfico de várias partes do Ocidente cristão, possibilitando o acesso dos pesquisadores a muitas fontes iconográficas medievais. Esse material é disponibilizado aos pesquisadores na sede do grupo. Já online, pode-se consultar o "Thésaurus des images médiévales", um instrumento de indexação que permite construir um banco de dados de imagens. O objetivo da indexação é duplo: permitir a busca fácil de imagens relevantes e dar ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------informações básicas sobre as imagens. Nesta apresentação, pretendemos discutir a importância desse tipo de ferramenta para a análise de imagens medievais, procurando refletir sobre as possibilidades de se produzir bancos de dados de imagens no Brasil. Além disso, apresentaremos nossa experiência com o "Thésaurus" do GAHOM e o trabalho de indexação para a análise de imagens na nossa Tese de Doutoramento.

O espaço do sagrado e o espaço do trabalho nos vitrais da catedral de Chartres (França – Século XIII) - Debora Santos Martins (PPGH - UFF)

Ao longo das transformações profundas que tem lugar nos séculos XII e XIII, na Europa, uma delas pode ser atestada em sua concretude: a mudança arquitetônica. Nesse período, para além da intensificação no uso da pedra para a construção dos edifícios de culto, há uma mudança muito mais sensível, de estilo, o advento do gótico. A proposta do estudo é, portanto, tomar a Catedral de Chartres - um exemplar do estilo gótico medieval e que abriga o maior conjunto de vitrais do século XIII - em sua materialidade e, focalizando as representações dos ofícios medievais nos vitrais doados pelas corporações da cidade, estabelecer relações identificáveis entre a construção arquitetônica e as ideologias e mentalidades do período e aproximar-se dos mecanismos internos de organização da sociedade, de como ela se pensa, organiza, age e muda, concebendo a sociedade como produto da ação humana e, portanto, as formas segundo as quais o homem continuamente cria e recria a sua realidade. Considera-se a catedral em sua totalidade, como um 575 objeto, um artefato, uma fonte material dessa pesquisa. Sua construção “é o resultado inegável da ação humana sobre a realidade física” inseparável de seu contexto. Portanto, as representações contidas em seus vitrais são “uma espécie de resíduo físico das relações sociais” . A catedral é o coração dentro do corpo citadino, o locus da Concórdia, ela também uma representação do corpo, mas o de Cristo. A relação da cidade com a catedral é a da Eucaristia, do corpo de Cristo no corpo do homem, da catedral no corpo da cidade. Essa relação tem a marca da transcendência, da comunhão entre o céu e a terra, do encontro da Jerusalém celeste com a cidade dos homens, onde tem lugar a Eucaristia, a comunhão do material e o imaterial que é o ponto máximo dessa relação entre o físico e o espiritual. A catedral além de representar um espaço ordenado do Cosmos segundo dons, hierarquias e lugares, mostra também através dos ofícios o aspecto funcional deste espaço de trocas, o corpo unitário da cidade.

O mito afonsino no século XXI: o rei sábio em perspectiva historiográfica - Leonardo Augusto Silva Fontes (Arquivo Nacional)

Afonso X, rei de Castela e Leão (1252-1284), foi um dos monarcas mais marcantes do medievo e seu legado perdura até hoje – principalmente no campo da cultura escrita. Mas nem sempre o rei sábio foi um tema historiográfico popular como nas últimas décadas, nas quais diversos trabalhos (sobre os mais variados aspectos de sua biografia e de seu reinado) vêm sendo desenvolvidos não apenas na Península Ibérica, e com menos força em França e Inglaterra, mas também no além-mar da Europa, como no Brasil e na Argentina. Assim, esse trabalho visa debater o mito ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------afonsino que foi construído pela historiografia sobre o rei sábio, muitas vezes buscando consolidar conceitos contemporâneos como propaganda régia, tolerância, alteridade, poder simbólico e identidade nacional – um legado polêmico e de longuíssima duração.

Os estudos medievais no Brasil: entre a ilha de Crusoé e a Ilha da Fantasia - Edmar Checon de Freitas (Universidade Federal Fluminense)

A despeito de seu crescimento qualitativo e quantitativo dos estudos medievais no Brasil nas últimas décadas os pesquisadores que atuam nesse campo convivem ainda se ressentem de um certo isolamento acadêmico. É verdade que o intercâmbio entre medievalistas brasileiros e de outros países tem se intensificado, sobretudo neste começo de século. Mas as parcerias com outros setores da pesquisa em História e com as ciências Humanas e Sociais no seu todo permanecem bastante acanhadas. Nesta comunicação discutiremos algumas das dificuldades que a nosso ver contribuem para esse estado de coisa, bem como buscaremos refletir acerca das possibilidades de superação de tais problemas.

Paisagem, ambiente natural e Idade Média: contribuições e parcerias entre a História, geografia e ciências naturais - Jonathan Mendes Gomes (Universidade do Estado de Minas Gerais)

A presente proposta surge de algumas reflexões nascidas de minha pesquisa no 576 doutorado que envolve transformações nas relações dentre o homem e a natureza no territorio portugues em finais da Idade Média. Trata-se de afirmar as contribuições que podem surgir no campo da História com o incentivo a abordagens interdisciplinares entre ciências naturais e ciências humanas e sociais. Especialmente ao se considerar o espaço geográfico, em boa parte, como construção do homem através da história, valorizando-o como objeto histórico (de longa duração), bem como questionando os equívocos da perspectiva do determinismo geográfico. Agregar análises sobre os efeitos dos impactos da intervenção humana no modelo natural, nos mostra uma Idade Média cujo meio natural já se encontrava em estado considerável de antropização, inclusive tornando-se um período fundamental na transformação do ambiente em toda a Europa. Enfim, apesar da perspectiva ambiental progredir como relevante questão nos estudos históricos recentes, ainda se faz pertinente um reabastecimento dos fundamentos da análise geográfica com elementos que lhe faltam, especialmente quando voltada ao período medieval.

Para além da História: visões de tempo, espaço e cidade na construção dos estudos em Idade Média - Josena Nascimento Lima Ribeiro (UFF)

No campo da História, a parceira com outras áreas do saber têm sido uma constante na tentativa de encontrar novas evidências e questionamentos sobre documentos e fatos já conhecidos. Assim sendo, conceitos como tempo, espaço e a visão da cidade estão em pauta por meio da conversa da História com disciplinas tais como a Filosofia, Geografia, Antropologia e Arquitetura. Pesquisadores sustentam-se na ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------afirmativa de que tempo e espaço são categorias que devem ser analisadas como termos pertencentes a processos históricos. Sob o ponto de vista de tais categorias, os eventos encontram a sua raiz e só podem ser separados por via de abstração. Deste modo, identificamos na cidade um denominador importante de tais discussões pois, na medida em que se efetivam as relações humanas em ambientes que os antepassados construíram monumentos, em que destacaram fatos históricos e edificaram o cotidiano, coloca-se em cena a ferramenta da memória, tão essencial para a construção dos conhecimentos históricos. Nesta comunicação temos por objetivo demonstrar como as demais áreas do saber têm ajudado historiadores a compreenderem e ressignificarem categorias já conhecidas dos estudos históricos, em especial em relação à Idade Média. Apresentaremos como Jacques Le Goff, Aaron Gourevitch, Jean-Claude Schmitt, Henri Pirenne, Luís Krus e outros já se lançaram na tentativa de ressignificar os acontecimentos e as memórias por meio da investigação das temporalidades e do espaço na medievalidade. Por fim, apresentaremos como tais pesquisas encontram terreno fértil de análise nas conjecturas sobre a cidade medieval e nas ações dos segmentos sociais que a compunham nos séculos XIV e XV.

Perspectivas contemporâneas para o medievo: usos do passado, apropriações e (re)significações - Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ)

Em torno do medievo e de seus referenciais inscrevem-se uma multiplicidade de apropriações e (re)significações que dialogam, na atualidade, inclusive, com 577 perspectivas de poder. Refletir sobre o papel e os diferentes sentidos dessas apropriações que reinscrevem traços do medievo em nosso campo político é um dos propósitos desse trabalho. Para tanto essa reflexão se volta para questões que não só pontuam a construção historiográfica da Idade Média na longa duração como também se questiona o papel e o alcance dos “usos do passado” em torno desse referencial de tempo-espaço que é a Idade Média.

Uma Idade Média 2.0: Parcerias virtuais para o ensino de história medieval no Brasil - Douglas Mota Xavier de Lima (Universidade do Oeste do Pará), Mariana Bonat Trevisan (UNINTER/UNIANDRADE)

O termo “web 2.0” costuma estar relacionado a serviços que promovem participação e a produção de valor por parte dos usuários e de forma crescente tem sido empregado em práticas educativas que visam quebrar o isolamento das instituições de ensino e explorar redes de aprendizagem e colaboração nacionais e internacionais que aproximam professores, pesquisadores e estudantes. O cenário educacional brasileiro, tanto na educação básica, como no ensino superior, tem demandado dos docentes e das instituições estratégias de ensino e aprendizagem que incorporem as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), promovendo uma formação conectada com as transformações em voga no mundo atual. Nesse sentido, a comunicação tem como objetivo discutir a potencialidade da web, especificamente da web 2.0, para o ensino, pesquisa e extensão de História Medieval no Brasil. Para tal, parte-se das atividades de ensino desenvolvidas em duas instituições nacionais e apresenta-se relato de experiência acerca da parceria ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------entre a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), especificamente na área de História Antiga e Medieval, e o Centro Universitário Internacional (UNINTER), que consistiu na elaboração de uma videoaula especializada sobre o medievo, material disponibilizado para os estudantes de ambas as instituições e ao público em geral através de redes de relacionamento virtual. Compreende-se que esta modalidade de parceria acadêmica oferece vias de trabalho colaborativo com base na internet, articulando professores e alunos e permitindo a superação de barreiras geográficas, logísticas, econômicas e de quadro profissional que marcam o meio acadêmico brasileiro. Do mesmo modo, apontam-se limitações e desafios para a implementação e a multiplicação destas experiências, assim como problematiza-se a especificidade dos estudos medievais em meio a tais estratégias.

Viagens medievais em uma abordagem interdisciplinar: contribuições da geografia para estudo das viagens e trocas no Mediterrâneo do século XII - Anna Carla Monteiro de Castro (Universidade Federal Fluminense)

A comunicação estará centrada na interdisciplinaridade como elemento central para a produção historiográfica no século XXI. Desde as contribuições da Escola dos Annales, o campo historiográfico se expandiu consideravelmente e as abordagens decorrentes, bastante frutíferas, atestam a relevância dessas parcerias. A comunicação lidará especificamente com a maneira como o estudo histórico da medievalidade tem se enriquecendo com o contato com a Geografia, sobretudo através de obras como a de Braudel e a de Vidal de la Blache e de que maneira 578 estas temáticas convergem no desenvolvimento da pesquisa sobre viagens no Mediterrâneo no século XII.

Viagens Medievais: Uma visão antropológica nas viagens de Jean de Mandeville e Marco Polo. - Claudia Marilia Marques Espanha (UFF)

Estudo das viagens medievais ocorridas na Baixa Idade Média, especificamente no período circunscrito do século XIII e XIV, através dos viajantes Jean de Mandeville e Marco Polo, onde foram observadas as diversas formas em que o Oriente, nas terras e povos além de Jerusalém, foi representado, a descrição do maravilhoso, do diferente, ou seja, do "outro", do que foi observado pelos viajantes nas diversas terras, ilhas e reinos e como essa alteridade relacionada ao Oriente, ao "outro" foi sendo foi sendo construída, apresentando o Oriente no seu plano simbólico, mostrando como o Oriente é essencialmente o lugar do "outro", descrevendo como o "outro" é criado, como é visto e compreendido pelo Ocidente latino.

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579 ST 58. “A classe trabalhadora vai ao paraíso?” O Ensino de História e diferentes sujeitos em processos formais e não formais de escolarização.

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A comunidade vai à universidade: sobre os processos de identificação e pertencimento dos licenciandos de origem popular no espaço acadêmico - Warley da Costa (UFRJ)

Este artigo, elaborado para este evento, é desdobramento da pesquisa em andamento sobre a trajetória de estudantes de origem popular na Universidade. Considerando que o grupo de estudantes vinculados ao Programa Pet-Conexões de Saberes Identidades são estudantes licenciandos, e entre eles, licenciandos do curso de História, trataremos neste estudo das trajetórias, memórias e lutas desse grupo para sua integração no espaço acadêmico. Deste modo, este texto situa-se em meio aos embates travados acerca da democratização do ensino superior e em particular da universidade pública no Brasil e como os nossos futuros professores de História de origem popular enfrentam os desafios ao ingressarem nesta arena “paraíso”. A Universidade pública enfrenta hoje uma crise institucional (CHAUÍ, 2003; GABRIEL, 2003; MOEHLECKE, 2011; SANTOS, 2004) tendo em vista que não conseguiu dar conta das novas demandas sociais. A ampliação do número de estudantes de origem popular que ingressou nas universidades públicas nas últimas décadas desestabilizou a universidade que passou a questionar a sua própria “razão de ser”. À luz da modernidade, criada para formar a elite intelectual dirigente do país, a universidade foi chamada a ressignificar o seu papel diante dos diferentes grupos (formados maciçamente por negros, mulheres, trabalhadores) que adentraram na universidade. Por outro lado, esses grupos, historicamente alijados desse processo enfrentam também o desafio de ingressarem em um espaço que lhes 580 parece totalmente estranho, ao qual não se sentem pertencer, como se estivessem em uma festa para a qual não haviam sido convidados. Esses estudantes, em sua maioria, se percebem em posição de desvantagem em relação aos outros alunos oriundos de escolas consideradas de “excelência”. É no bojo desse debate que o presente artigo se debruça privilegiando os depoimentos sobre as trajetórias de vida dos licenciandos participantes do Programa Pet-Conexões. O Projeto intitulado “A comunidade vai a Universidade: sobre os processos de identificação e integração dos estudantes de origem popular no espaço acadêmico” inserido no programa citado anteriormente, se estendeu durante seis anos e envolveu 43 estudantes dos cursos de licenciatura. A pesquisa em andamento é fruto deste projeto. Para o presente artigo, foram selecionados entrevistas de licenciandos de História, participantes do Projeto, a fim de compreender suas percepções sobre o espaço acadêmico, suas perspectivas profissionais e a importância de sua participação nas ações do projeto para sua formação acadêmica, profissional e pessoal. Espera-se, dessa forma, contribuir para a superação dos desafios enfrentados pela luta para a inclusão de grupos étnico-raciais até então sub-representados no espaço acadêmico.

A construção da democracia na escola - A experiência das ocupações - Cecilia Rebelo de Oliveira Matos (Escola Eleva)

Com base em entrevistas feitas durante e depois das ocupações da rede estadual do Rio de Janeiro, busco compreender quais modelos de escola foram propostos pelos estudantes e o que mudou após aquela experiência. O conceito de Skolé pensado por Masschelein e Simons e a ideia de espectro de Derrida são os pontos de partida ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------para essa reflexão. Nos interessa discutir sobre as transformações que ocorreram para os estudantes e professores dessas escolas, pensando sobre liberdade e autonomia para ambos dentro do espaço escolar.

Com quantos gigabytes se faz o aperfeiçoamento de professores? : A experiência com a disciplina online “Professor-pesquisador e suas escritas” no âmbito do Curso de Aperfeiçoamento da UFRJ - Ana Carolina Oliveira Alves (Universidade Estadual de Campinas), Henrique Dias Sobral Silva (UFMG)

O presente trabalho apresenta uma proposta de investigação da experiência docente com a disciplina online “Professor-pesquisador e suas escritas” no âmbito do Curso de Aperfeiçoamento para professores da Educação de Jovens e Adultos, proposto pela Faculdade de Educação da UFRJ. Ministrada entre os meses de novembro de 2017 e março de 2018, o objetivo desta disciplina era colaborar com o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da escrita acadêmica na formação do professor-pesquisador, no campo do conhecimento em Educação, sem negar a necessidade de introduzir o professor-pesquisador aos métodos e nos instrumentos de pesquisa, considerando o trabalho científico em toda a sua amplitude e, em última instância, como uma ação teórica sobre uma determinada realidade. Diante deste cenário, a presente comunicação, com base em um relato de experiência, discute a aprendizagem na EAD, com o objetivo de analisar a produção escrita dos sujeitos e seus percursos de aprendizagem no processo de formação online, relacionada com uma nova forma de encarar a produção de textos acadêmicos. 581 Além do relato de experiência, nossa investigação de natureza quali-quantitativa foi baseada nos comentários e atividades enviadas pelos cursistas pela plataforma online e também pelos gráficos e relatórios de acesso e uso desta, emitidos pelo website. Os resultados apontam que, a modalidade de Ensino a Distância, tem um forte potencial facilitador e agregador e não pode ser menosprezada, tendo forte potencial para colaborar com a melhoria da qualidade da formação continuada de professores da EJA.

Construção de sentidos: representações e ensino de História na deficiência visual - Mauro Marcos Farias da Conceição (IBC/RJ)

Este artigo tem por objetivo desenvolver estudos relativos à metodologia e habilidades da prática docente a serem aplicadas no ensino de História, e na cognição da disciplina, aos alunos com deficiência visual. Considera-se, sobretudo, a associação que se estabelece, nesta área do conhecimento, entre palavras, conceitos e imagens para a formação de sentidos. Objetiva-se investigar, analisar e compreender os aspectos mentais que possibilitam a estes discentes empregar modalidades reflexivas na conformação de entendimento, sentidos e compreensão. As práticas culturais e representações simbólicas norteiam os estudos sobre as palavras e imagens como instrumentos de comunicação no ensino de História. A imagem configura-se como elemento dispensável aos alunos com deficiência visual. As palavras são essenciais e transportam mensagens na comunicação a pessoas com deficiência visual. Entretanto, quanto às palavras, reafirma-se a

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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------observação de Marc Bloch (2001), na obra “Apologia da História”, de que “... a palavra, por sua vez, é equivoca.”

Ensino de história e extensão universitária - possibilidades emancipatórias na/da educação de jovens e adultos - Alessandra Nicodemos Oliveira Silva (UFRJ)

Esse resumo é um relato de experiência do Projeto de Extensão Os sentidos de viver a cidade: o Rio de Janeiro como espaço vivido dos trabalhadores , que foi desenvolvido ao longo do ano de 2015, no âmbito do Projeto Narrativas do Estado do Rio de Janeiro: um estudo a partir de diferentes vozes. O referido projeto tinha como objetivo principal mobilizar e articular uma ação extensionista na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na cidade do Rio de Janeiro, procurando, principalmente, captar e registrar as vozes de um tipo especifico de sujeito que circula pela cidade: os estudantes-trabalhadores; gerando ressonância, visibilidade e valorização as suas percepções sobre a cidade, como espaço vivido e ao mesmo tempo, como espaço de memória em suas experiências como sujeitos de uma determinada classe social.

Ensino de história, educação de jovens e adultos e direitos do trabalho em tempos de transição - Luciana Nery dos Santos (UERJ)

Esta comunicação tem como objetivo apresentar algumas possibilidades de 582 desenvolvimento de sequências didáticas de história para estudantes jovens e adultos do ensino médio privilegiando o estudo dos direitos do trabalho no século XX. O ponto de partida para a elaboração do material serão as entrevistas de história oral realizadas nos anos 1980 por Ângela de Castro Gomes com trabalhadores que exerceram militância política no início do século XX e que estão reunidas no livro Velhos militantes (GOMES et al., 1988). Serão utilizadas também fotografias, jornais e revistas de época, relatórios de associações de classe, documentos de arquivos privados e documentação oficial. A opção pelo trabalho com fontes diversificadas possibilitará o estímulo à leitura e interpretação de documentos e temporalidades variadas e o reconhecimento do aluno como sujeito ativo na relação de ensino-aprendizagem, e não como mero receptor de conteúdos. As motivações para a escolha dessa temática estão relacionadas: à minha atividade docente como professora de história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Secretaria do Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC/RJ), às inquietações provocadas pelo avanço da precarização das relações de trabalho e da naturalização das formas de exploração, à relevância da temática para os alunos e à identificação de uma carência de materiais didáticos específicos que reconheçam as especificidades e potencialidades do trabalho com alunos jovens e adultos. Este trabalho constitui parte da pesquisa em andamento no mestrado profissional em ensino de história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e no curso de aperfeiçoamento em educação de jovens e adultos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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História e Língua Portuguesa: uma proposta de integração curricular a partir da leitura e da escrita - Carolina Vianna Dantas (EPSJV/FIOCRUZ), Viviane dos Ramos Soares (UFRJ)

Esta comunicação apresenta uma proposta de integração curricular entre as disciplinas História e Língua Portuguesa tendo como eixos a leitura e escrita. Partimos do princípio de que ler e escrever e seus processos de significação são determinados historicamente. Tal proposta se materializou a partir do trabalho realizado no Curso Técnico de Nível Médio em Saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (FIOCRUZ), que recebe um quantitativo significativo de estudantes das periferias do Rio de Janeiro. Esse trabalho está estruturado sob duas perspectivas derivadas da tese de que é imprescindível desenvolver uma relação menos ingênua com a linguagem. A primeira perspectiva é a da educação politécnica, que propõe educar os jovens no conflito e na contradição e que o aprendizado, pela classe trabalhadora, dos saberes sistematizados pela humanidade é uma estratégia de luta contra a dominação e a divisão social do trabalho. Já a segunda perspectiva conjuga a integração curricular e o direito ao passado. Todo texto é historicamente datado, trazendo referenciais da realidade social do seu tempo. Leitura e escrita são fundamentais para a construção pelo jovem de uma leitura histórica aprofundada do mundo. Nessa comunicação especificamente, apresentaremos o relato de um trabalho desenvolvido, desde 2015, com alunos do 1º ano do ensino médio sobre a literatura e história africana. Língua como estrutura e língua como acontecimento foram trabalhados de modo que a história e as 583 culturas da África e afro-brasileiras fossem problematizadas pelas vozes presentes nesses textos, buscando, a partir do letramento racial, promover a identificação e a valorização dos referenciais do passado africano e afro-brasileiro, e a desnaturalização, no presente, dos estereótipos raciais e do racismo, associados à problematização de diferentes formas de opressão. Desse modo, demonstraremos algumas estratégias de aprendizagem que escapam de uma rede de sentidos cristalizados, que podem ser complementados, negados, reafirmados e questionados por meio da argumentação crítica, fundamentada, contextualizada, e se possível, criativa. Numa perspectiva de luta pela emancipação do sujeito-aluno- escolarizado, é preciso desconstruir o imaginário de que a leitura e a escrita envolvem a atribuição de um sentido único e verdadeiro, e que, dominado o código, todos têm condições inequívocas de ler e de escrever. Essas constituem estratégias indispensáveis para o direito ao exercício da cidadania e da autonomia intelectual e para a construção de projetos de transformação da sociedade.

Mulheres, Mulheres jovens, mulheres presas: desconstruindo preconceitos na aula de História. - Fabiana de Moura Maia Rodrigues (UFF)

Esse trabalho é fruto da pesquisa do pós doutoramento na Universidade Federal Fluminense e também de uma experiência vivida na escola estadual Maria Montessori inserida na unidade prisional. Partimos do pressuposto de que a educação escolar em unidades prisionais é um direito garantido por lei. Esse trabalho teve como referenciais teóricos Julião (2016) que debate sobre os desafios para a efetivação do direito à educação, Ferreira (2014) em seus estudos sobre o ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------quantitativo de apenados na escola, Vieira (2012) sobre as especificidades da educação em espaços de restrição e privação de liberdade e Freire (1968) que aponta a reflexão sobre a prática e o processo dialógico. O trabalho foi desenvolvido em na turma AF-201 EJA, formada por 08 alunas. A ideia foi discutir a relação entre a África e o Brasil a partir de uma perspectiva histórica para positivar nossas heranças culturais e atender ao que determina a Lei 11.645 de 2008 que criou a obrigatoriedade da História e cultura afro-brasileira e indígena. O reconhecimento do conhecimento prévio das alunas e a reflexão sobre a temática nortearam a prática. O filme escolhido para encaminhar o debate foi “Na Rota dos Orixás: O Atlântico Negro”. O documentário resgata as influências de diferentes culturas africanas no Brasil, destaca os diferentes laços que nos ligam, a religiosidade, as manifestações culturais, a musicalidade, etc. Além de desconstruir a ideia de história da África que se liga apenas a escravidão e a exploração, mas ressalta os grandes reinos, suas manifestações culturais, suas conquistas e sua imensidão. No entanto, não deixa de trabalhar com as lutas, resistências e a escravidão. o debate foi rico e inesperado, as alunas que antes do trabalho demonstraram alguma forma de preconceito foram sendo questionada por outras de forma respeitosa e outras puderam assumir sua religiosidade até então escondida. Acreditamos que esse foi o início de uma possibilidade de desvelar a opressão e um convite a um comprometimento de na práxis transformar a realidade como alerta Paulo Freire. Conseguimos desconstruir alguns preconceitos e possibilitar que algumas alunas pudessem assumir suas religiões sem medo, alcançamos nosso objetivo. 584

Reflexão sobre a Construção dos Centros de Estudos de Jovens e Adultos no Rio de Janeiro: uma Perspectiva História (1960 até 2013) - Cacilda Fontes Cruz (UNIRIO)

O elemento motivador para a escolha desse tema partiu da minha experiência como professora de História num Centro de Educação de Jovens e Adultos, a Rede CEJA, na cidade do Rio de Janeiro. Essa rede consiste em unidades escolares estaduais que oferecem o ensino Fundamental (anos finais) e Médio, em regime semipresencial na modalidade de Educação a Distância. A origem do CEJA remonta aos Centros de Ensino Supletivos (CES) que foram fundados a partir de 1970. Os CES pretendiam ser uma alternativa para que alunos trabalhadores que tinham abandonado o universo escolar ou nem mesmo iniciado a sua vida escolar pudessem concluir seus estudos. Assim esses alunos encontravam no ensino supletivo uma via compensatória para o ensino seriado regular. Essa concepção de suplência ou de reposição a partir da Nova LDB – Lei n 9394/96 cai em desuso. A constituição de 1988 reforça o conceito de Educação como um direito assegurado. A história recente desses Centros reforça essa reformulação pois a Resolução n◦ 4673/2011 publicada 25 de fevereiro de 2011, pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, SEEDUC-RJ que alterou a nomenclatura Centro de Estudos Supletivos (CES) para Centro de Estudos de Jovens e Adultos (CEJA) e estabeleceu uma parceria entre o Centro de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, Fundação CECIERJ e a SEEDUC-RJ para a gestão da referida Rede. Um dos aspectos inovadores dessa reformulação foi a questão da tecnologia que ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------passou a estar presente no cotidiano escolar da Rede CEJA, por exemplo, quando professor utiliza o Sistema Acadêmico , ou quando um aluno se conecta com um professor através de um fórum de duvidas disponível CEJA virtual – Plataforma on-line, na qual se localiza o Ambiente Virtual de Aprendizagem, instalado na Plataforma Moodle. Contudo, deve se analisar até que ponto essa mudança tornou possível uma ressignificação da concepção inicial desses Centros de Estudo.

Tempos a Aprender: Ensino de História como condição de futuro - Renato Coelho Barbosa de Luna Freire (UERJ/FFP)

Parte-se do entendimento de que o ensino de história tem como função servir de orientação para a vida prática dos sujeitos. A didática da disciplina deve se ocupar dos processos de aprendizagem que considerem as relações temporais do saber histórico. Passado, presente e futuro se conjugam, fornecendo sentidos para o que se ensina e se aprende. Paralelamente, o ensino de história carrega a duplicidade do fazer político: genericamente, aprender é um ato político, como defendeu Paulo Freire. Especificamente, o saber histórico permite a formação política para intervenção na sociedade. Deste lugar, o ensino de história se volta para o futuro, objetivando formar sujeitos conscientes da historicidade humana. O olhar das práticas é para o futuro no fomento de utopias, definidas como projeto de futuro. Logo, compreender as relações temporais passado – presente é ampliar o ensino de história de uma perspectiva tradicional ainda persistente nas salas de aula, em que apenas se detém no passado como recorte temporal privilegiado dos estudos 585 históricos, para incluir as relações temporais com ênfase no futuro enquanto horizonte de expectativas. Possibilita-se a construção de diferentes projetos de sociedade, pela abertura de novos regimes de historicidade. O diálogo entre o ensino de história e a teoria da história permite abastecer os referenciais teóricos específicos do saber histórico, sustentando as práticas educativas escolares de formação básica. A compreensão do objeto “tempo histórico” e as ferramentas operativas da história política possibilitaram abordarmos empiricamente a aprendizagem histórica escolar nas reflexões sobre o tempo sóciohistórico e da história política. A questão que norteou a pesquisa foi interrogar como os professores, a partir de determinados conteúdos, mobilizaram saberes e práticas para capacitar os aprendizes na construção de projetos de futuro, individuais e coletivos?

Tornar-se professor de história: leitura e escrita no curso na formação do professora no curso de Licenciatura Parfor/UFRRJ - Patricia Bastos de Azevedo (UFRRJ)

O artigo que apresentamos é parte da pesquisa em desenvolvimento: Tornar-se professor de História: correlações de poder e força nas práticas de letramento na licenciatura de História PARFOR/UFRRJ. Buscamos apresentar o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), assim como os referenciais teóricos que mobilizamos para pensar este campo de pesquisa e seus indícios. O foco principal de nossa pesquisa é compreender na formação do professor de História/PARFOR as correlações de força e poder que constituem as ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------práticas de oralidade e letramento neste processo formativo dos alunos. Para este artigo analisaremos a produção da monografia de conclusão de curso. Utilizaremos como indício as entrevistas realizadas com os professores/alunos que concluíram o curso em 2016.2. O Decreto n.º 6.775, 29 de janeiro de 2009, instituiu a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica e disciplinou a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no fomento a programas de formação inicial e continuada. O PARFOR possibilitou a entrada de um perfil de professores/alunos possuidores de marcas identitárias e saberes acumulados ao longo de seus percursos no mundo da vida e do trabalho sobre práticas de letramento diferenciadas dos alunos que tradicionalmente ingressam na universidade. Esses professores/alunos carregam, portanto, saberes que possuem concepções sobre validade e pertinência relativas às práticas de oralidade, leitura e escrita. No processo de formação na graduação, essas pretensões são questionadas e tensionam as tradições letradas constituídas na universidade, abalando as certezas cristalizadas em alguns segmentos acadêmicos. As tensões geram verdadeiras rachaduras epistémicas-pedagógicas, mais evidenciadas em algumas licenciaturas que outras. Vale ressaltar que as práticas pedagógicas, no âmbito acadêmico e nas Ciências Humanas, são marcadas pela fala, pela leitura e pela escrita. No entanto, diferente das produzidas pelos professores/alunos, são práticas de letramento que, ao longo do tempo, se constituíram como legítimas e válidas na difusão do conhecimento gerado na universidade e na formação por ela efetivada. Nesse sentido, a pesquisa que fundamenta este artigo busca dialogar com os dois níveis da educação brasileira, a 586 Educação Básica e a Superior, já que a formação de professores se caracteriza como um lugar de transmissão e consolidação de práticas letradas, as quais podem ora promover a emancipação de indivíduos e grupos sociais, ora agravar as concepções de letramento de caráter elitista e excludente e se configurar como um instrumento de manutenção hegemônica do status quo.

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Índice de autores

A

Ademas Pereira da Costa Junior ...... 307 Aden Assunção Lamounier ...... 61 Adriana Aparecida Pinto ...... 464 Adriana Salay Leme ...... 267 Adriane dos Prazeres Silva ...... 563 Adriano de Carvalho Mendes ...... 13 Adriano Ribeiro Paranhos ...... 550 Agata Bloch ...... 347 Agda Lima Brito...... 202 Aguiomar Rodrigues Bruno ...... 424 Alair Figueiredo Duarte ...... 372 Alan Dutra Cardoso ...... 560 Alec Ichiro Ito ...... 512 Alessandra Nicodemos Oliveira Silva ...... 582 Alessandro Léccas Marçal Neves ...... 146 Alessandro Mendonça dos Reis ...... 498 Alex Conceição Vasconcelos da Silva ...... 69 Alexander da Silva Braz ...... 157 Alexandre Black de Albuquerque ...... 354 Alexandre de Almeida ...... 70 Alexandre de Sá Avelar ...... 338 Alexandre Pinto de Souza e Silva ...... 91 Alexandre Ribeiro Neto ...... 284 Alexandre Ribeiro Samis ...... 56 Alexia Shellard ...... 447 Aline Aparecida Gama Vieira ...... 290 Aline Beatriz Pereira Silva Coutinho ...... 74 Aline Carla Batista de Laia ...... 232 Aline de Almeida Hoche ...... 137 587 Aline dos Santos Portilho ...... 348 Aline Miranda e Souza ...... 312 Allister Dias ...... 23 Almir Pita Freitas Filho ...... 355 Aloysio Castelo de Carvalho ...... 473 Amanda Bastos da Silva ...... 99 Amanda Cristina Araujo de Oliveira ...... 564 Amanda da Cruz Xavier ...... 407 Amanda Dias de Oliveira ...... 82 Amanda Rodrigues ...... 221 Ana Beatriz Pestana Gomes...... 244 Ana Carolina Cavalcante Pinto ...... 547 Ana Carolina Galante Delmas ...... 449 Ana Carolina Oliveira Alves ...... 581 Ana Caroline Matias Alencar ...... 337 Ana de Melo ...... 187 Ana Flávia Merlim Dias ...... 13 Ana Inés Seitz ...... 149 Ana Karina Cordeiro Alves Sorrentino ...... 400 Ana Lima Kallás...... 389 Ana Lucia de Almeida Soutto Mayor ...... 35 Ana Lucia Vaz ...... 153 Ana Maria Cardoso Ribas...... 545 Ana Paula Barcelos Ribeiro da Silva ...... 537 Ana Paula Brasil de Matos Guedes ...... 249 Ana Paula Leite Vieira ...... 137 Ana Paula Lopes Pereira ...... 418 Ana Regina Luz Lacerda ...... 449 Anayce Adya Azevedo Marques ...... 526 Ancelmo Schorner ...... 558 Anderson de Rieti Santa Clara dos Santos ...... 459 Anderson Rodrigo Tavares Silva ...... 91 André Barbosa Fraga ...... 134 André de Faria Silva ...... 416 Andre Luis Prudencio Sena ...... 247 André Silva Ranhel ...... 415 Andrea Cristina de Barros Queiroz ...... 142

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Andrea Reis de Jesus ...... 369 Andréa Reis Ferreira Torres ...... 416 Andreia Cristina Lopes Frazão da Silva ...... 413 Andréia Gardênia Fernandes Oliveira Stival ...... 323 Andreia Nunes da Silva ...... 17 Andressa Cristina de Miranda do Carmo ...... 165 Andressa Melo da Fonseca ...... 334 Angela Maria da Silva ...... 440 Angela Maria Roberti Martins ...... 56 Angelica Borges ...... 282 Angelica Müller...... 141 Anna Beatriz de Sá Almeida...... 206 Anna Carla Monteiro de Castro ...... 578 Anna Carolina de Abreu Coelho ...... 101 Anna Karolina Vilela Siqueira ...... 544 Annateresa Fabris ...... 97 Anne Elise Reis da Paixão ...... 424 Anne Thereza de Almeida Proença...... 500 Annelyse Guedes Ramos ...... 15 Antonio Barbosa Lisboa ...... 290 Antonio Carlos Higino da Silva ...... 186 Antonio Ramos Bispo Neto ...... 187 Aristeu Elisandro Machado Lopes ...... 103 Arthur da Costa Orlando ...... 175 Arthur Gomes Valle ...... 31 Augusto Leandro Rocha da Silveira ...... 414 Augusto Neves da Silva ...... 193 Ayalla Oliveira Silva ...... 556 Ayssa Yamaguti Norek...... 147

B

Bárbara Alves Benevides...... 424 Barbara Cristina Soares Pessanha Araripe ...... 61 Bárbara Geromel Campanholo ...... 161 588 Barbara Maria de Albuquerque Mitchell ...... 178 Barbara Maria França Gomes ...... 39 Bárbara Rosalino Pinheiro Matos ...... 11 Beatriz Cerbino ...... 126 Beatriz Izabelli Zumba Elihimas ...... 118 Beatriz Magno Alves de Oliveira ...... 252 Beatriz Pìva Momesso ...... 460 Beatriz Virgínia Gomes Belmiro ...... 37 Berilo Luigi Deiró Nosella ...... 244 Bianca Racca Musy ...... 320 Braulio Taruel da Rocha Fonseca ...... 435 Breno Aparecido Servidone Moreno ...... 500 Bruno Borja ...... 50 Bruno Corrêa de Sá e Benevides ...... 320 Bruno Flávio Lontra Fagundes ...... 308 Bruno Martins dos Santos...... 35 Bruno Rodrigues Pimentel...... 90 Bruno Souza Duarte Lima ...... 358 Bruno Tavares Magalhães Macedo ...... 443

C

Cacilda Fontes Cruz ...... 584 Caio de Amorim Féo ...... 36 Caio de Barros Martins Costa ...... 572 Caio Rodrigues Schechner...... 80 Calori de Lion Antonio Ricardo ...... 243 Camila Borges da Silva ...... 487 Camila da Silva Santanna Figueiredo ...... 418 Camila de Freitas Silva Bogéa ...... 484 Camila de Sousa Freire ...... 548 Camila Fernandes Pinheiro ...... 230 Camila Freitas Santos ...... 253 Camila Pizzolotto Alves das Chagas ...... 240 Camilla Agostini ...... 326 Camilla Oliveira Mattos ...... 96 Cândido Gonçalo Rocha Gonçalves ...... 315 Carina Maria Guimarães Moreira ...... 257 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Carla Cristina Da Silva Lavinas...... 39 Carlo Maurizio Romani ...... 62 Carlos Eduardo Costa Barbosa ...... 433 Carlos Eduardo de Freitas Lima ...... 146 Carlos Eduardo Pinto de Pinto ...... 88 Carlos mauricio Franklin lapa ...... 223 Carlos Mauro de Oliveira Júnior ...... 531 Carlos Roberto Carvalho Daróz ...... 470 Carlota Boto ...... 299 Carol Teresa Cribelli ...... 127 Carolina Arouca Gomes de Brito ...... 263 Carolina Bezerra Machado ...... 518 Carolina Cabral Ribeiro de Almeida ...... 533 Carolina Chaves Ferro ...... 572 Carolina Christiane de Souza Martins ...... 196 Carolina Coelho Fortes ...... 413 Carolina Mara Teixeira...... 304 Carolina Mariano de Oliveira ...... 30 Carolina Soares Sousa ...... 136 Carolina Vianna Dantas ...... 583 Caroline Amorim Gil ...... 203 Caroline dos Santos Guedes ...... 260 Caroline dos Santos Souza ...... 526 Caroline Moreira Vieira Dantas ...... 192 Cátia da Costa Louzada de Assis ...... 183 Cauê Cardoso Polla ...... 298 Cecilia de Fátima B. Macedo...... 120 Cecilia Rebelo de Oliveira Matos ...... 580 Cecília Riquino Heredia ...... 162 Célia Cristina da Silva Tavares ...... 452 Célia Santana Silva ...... 396 Cesar Augusto Rodrigues de Albuquerque ...... 156 Cezar Honorato ...... 362 Charleston José de Sousa Assis ...... 147 Christiane Figueiredo Pagano de Mello ...... 471 589 Cícero João da Costa Filho ...... 66 Cinthya de Oliveira Nunes ...... 386 Cintia de Lourdes Martins Araujo ...... 210 Cíntia Medina de Souza ...... 104 Clarice de Paula Ferreira Pinto ...... 501 Clarissa Mattana de Oliveira ...... 401 Clarissa Ramos Gomes ...... 101 Clarisse dos Santos Pereira ...... 557 Claudeniz Fernandes Guimarães ...... 371 Cláudia Maria de Farias ...... 395 Claudia Marilia Marques Espanha ...... 578 Cláudia Rodrigues ...... 429 Cláudia Santos Turco ...... 325 Claudiane Torres da Silva...... 480 Cláudio Amaral Overné ...... 135 Cláudio de Paula Honorato ...... 427 Cláudio de Sá Machado Jr...... 297 Claudio Marcio Coelho ...... 546 Claudio Vinicius Felix Medeiros ...... 334 Cleber Eduardo Karls ...... 272 Cleber Ribeiro de Souza ...... 17 Cleiton Batista de Oliveira ...... 418 Clemente Gentil Penna ...... 359 Clícea Maria Augusto de Miranda ...... 193 Cristiane Bomfim Cruz do Nascimento ...... 388 Cristiane dos Santos Silva ...... 196 Cristiane Soares de Santana ...... 516 Cristiano Ferreira de Barros...... 332

D

Daiana Maciel Areas ...... 363 Daiane Estevam Azeredo...... 125 Dalila Varela Singulane ...... 110 Dandara Arsi Prenda ...... 573 Daniel Camurça Correia ...... 341 Daniel de Pinho Barreiros...... 366 Daniel Levy de Alvarenga ...... 108 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Daniel Ribera Vainfas ...... 368 Daniela Paiva Yabeta de Moraes ...... 442 Danieli Machado Bezerra ...... 26 Daniella de Almeida Moura...... 491 Danielle Christine Othon Lacerda ...... 460 Danielle Mendes da Costa ...... 417 Danilo Monteiro Firmino...... 536 Danilo Nagib Queiroz de Mattos ...... 166 Dayane Ponciano de Lima ...... 380 Dayse Araujo Lapa ...... 458 Debora Luisa de Freitas da Silva ...... 275 Debora Santos Martins ...... 575 Denise Maria Couto Gomes Porto ...... 454 Denise Pires de Andrade ...... 249 Desire Luciane Dominschek Lima...... 286 Dheane de Oliveira Dias ...... 16 Diego Antonio Galeano ...... 319 Diego da Silva Ramos ...... 159 Diego Uliano Rocha ...... 267 Dilene Raimundo do Nascimento ...... 87 Dinah de Oliveira ...... 253 Diogo da Costa Salles ...... 237 Diogo Jorge de Melo ...... 309 Diogo Nunes dos Santos ...... 409 Dirceu Franco Ferreira ...... 319 Domingas Nathália Moreira dos Santos Rosa ...... 444 Douglas de Souza Liborio ...... 93 Douglas Mota Xavier de Lima ...... 577 Douglas Santos Bastos ...... 78

E

Edelson Costa Parnov ...... 76 Edilma Soares da Silva ...... 43 Edilza Joana Oliveira Fontes ...... 555 590 Edina Laura Costa Nogueira da Gama ...... 368 Edite Moraes da Costa ...... 123 Edivaldo Barbosa de Almeida Filho ...... 445 Edmar Checon de Freitas ...... 576 Edna Braga Pereira ...... 184 Eduardo Ângelo da Silva ...... 481 Eduardo Carracelas Lamela ...... 59 Eduardo da Costa Pinto d'Avila ...... 236 Eduardo de Souza Gomes ...... 261 Eduardo dos Santos Chaves ...... 154 Eduardo Nazareth Paiva ...... 325 Eduardo Rizzatti Salomão ...... 467 Eduardo Rodrigues Rio ...... 124 Eduardo Silva Leite ...... 403 Eduardo Wright Cardoso ...... 528 Elaine Cristina Ventura Ferreira ...... 102 Elaine Monteiro ...... 182 Elaine P. Rocha ...... 195 Eleide Abril Gordon Findlay ...... 562 Eleonora Abad Stefenson ...... 181 Eliana Santos da Silva Laurentino ...... 279 Eliane de Mesquita Sabino dos Reis ...... 38 Elias da Silva Maia ...... 374 Elis Regina Barbosa Angelo ...... 31 Elisabete Gonçalves de Souza ...... 378 Elisangela Goulart Moreira ...... 294 Elizabeth Santos de Souza ...... 343 Elza Maria Ferraz de Andrade ...... 246 Elzira dos Santos Matos ...... 112 Emili Feitosa de F. Olenchuk ...... 420 Eminny Aly Carmel Ghazzaoui ...... 151 Eraldo Da Silva Duarte ...... 67 Erica Barros de Almeida Araujo ...... 437 Érica Oliveira Fortuna ...... 320 Estevao Barbosa Damacena ...... 371 Evelin Reginaldo e Silva ...... 250 Eveline Almeida de Sousa ...... 563 Evelyn Furquim Werneck Lima ...... 248 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Evelyn Morgan Monteiro ...... 391 Evelyn Rosa do Nascimento ...... 514 Everardo Paiva de Andrade ...... 181 Everton Vieira Barbosa ...... 489

F

Fabiana Bruce da Silva ...... 96 Fabiana de Moura Maia Rodrigues ...... 583 Fabiana Ortiz do Nascimento ...... 473 Fabiano Cataldo de Azevedo ...... 453 Fabiano Dias Azevedo ...... 153 Fábio Afonso Frizzo de Moraes Lima ...... 36 Fabio Costa Peixoto...... 121 Fabio da Silva Pereira ...... 472 Fábio Dias Júnior ...... 44 Fabio Paride Pallotta ...... 107 Fabíola Amaral Tomé de Souza...... 341 Fabíola de Cássia Freitas Neves ...... 11 Fabrício Augusto Souza Gomes ...... 96 Fabrício Fonseca da Silva ...... 225 Federico Eduardo Urtubey ...... 92 Felipe Augusto dos Santos Ribeiro ...... 481 Felipe Barradas Correia Castro Bastos ...... 513 Felipe da Silva Duque ...... 235 Felipe Malachini Maia ...... 370 Felipe Rodrigues Alfonso ...... 175 Felipe Santos Magalhães ...... 321 Felipe Tito Cesar Neto...... 429 Fernanda Barbosa dos Reis Rodrigues...... 532 Fernanda Blaso de Miranda Rodrigues ...... 400 Fernanda Coelho Mendes ...... 164 Fernanda Deminicis de Albuquerque ...... 462 Fernanda Mattos da Silva ...... 399 Fernanda Pires Rubião ...... 183 591 Fernando Augusto Souza Pinho ...... 117 Fernando da Silva Rodrigues ...... 471 Fernando Lacerda Simões Duarte ...... 377 Fernando Rodrigo dos Santos Silva ...... 276 Flávia Beatriz Ferreira de Nazareth ...... 540 Flávia Paula Darossi ...... 568 Flavia Ribeiro Veras ...... 204 Flavio Alexandre Martins Xavier ...... 437 Francielly Nunes Silva ...... 184 Franciliete S. Campos Souza ...... 265 Francine Iegelski ...... 329 Francisco Eduardo Alves de Almeida ...... 366 Francisco José Leandro Araújo de Castro ...... 160

G

Gabriel Almeida Frazão ...... 561 Gabriel Braz de Oliveira ...... 417 Gabriel Cheleiro Justino ...... 151 Gabriel de Abreu Machado Gaspar...... 462 Gabriel Elysio Maia Braga ...... 424 Gabriel Lecznieski Kanaan ...... 360 Gabriel Souza Cerqueira ...... 544 Gabriela Alves Miranda ...... 463 Gabriela Gomes Rodrigues de Souza Guerra ...... 501 Gabriella Assumpção da Silva Santos Lopes ...... 464 Gabrielle Nascimento Batista ...... 511 Gelsom Rozentino de Almeida ...... 52 George Leonardo Seabra Coelho ...... 441 George Luiz de Abreu Vidipó ...... 323 Geraldyne Mendonça de Souza ...... 309 Gilmara Rodrigues da Cunha Pereira...... 300 Gilson dos Reis Melo Filho ...... 42 Giovanni Codeça da Silva ...... 114 Giovanni Latfalla...... 468 Giselda Shirley da Silva ...... 170 Gizlene Neder...... 539 Gladys Sabina Ribeiro ...... 491 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Glauber de Oliveira Montes...... 476 Glauco Costa de Souza ...... 71 Glauco José Costa Souza ...... 349 Glícia Caldas Gonçalves da Silva ...... 199 Graciella Fabrício da Silva ...... 239 Grimaldo Carneiro Zachariadhes ...... 145 Guaraci Fernandes ...... 301 Guilherme de Mattos Gründling ...... 469 Guilherme Lima Silva Junior...... 270 Guilherme Marchiori de Assis ...... 343 Guilherme Moerbeck ...... 331 Guilherme Muniz Safadi ...... 89 Guillaume Azevedo Marques de Saes ...... 467 Gustavo Alvim de Góes Bezerra ...... 353 Gustavo de Andrade Durao ...... 510

H

Hana Mariana da Cruz Ribeiro Costa ...... 531 Haroldo de Resende...... 119 Hayanne Porto Grangeiro ...... 572 Heitor Pinto de Moura Filho ...... 504 Helber Renato Feydit de Medeiros ...... 191 Helena de Cassia Trindade de Sá ...... 169 Heliene Chaves Nagasava ...... 479 Heloiza de Cacia Manhães Alves ...... 132 Hendie Tavares Teixeira ...... 16 Henrique Cesar Monteiro Barahona Ramos...... 541 Henrique Dias Sobral Silva ...... 581 Higor Figueira Ferreira ...... 186 Hosana do Nascimento Ramôa ...... 289

I Iara Andrade Senra ...... 261 592 Ieda Avenia de Mello ...... 171 Igor Acácio Corrêa Guimarães ...... 358 Igor Estevam Santos de Oliveira ...... 566 Igor Fernandes de Alencar ...... 171 Igor Nazareno da Conceição Corrêa ...... 489 Igor Soares Rodrigues ...... 204 Ingara Carolinne ...... 425 Ingrid Fonseca Casazza ...... 262 Ingrid Gomes Ferreira ...... 215 Ingrid Silva Lucas ...... 540 Ingrid Souza Ladeira de Souza ...... 63 Iohana Brito de Freitas ...... 111 Ioneide Maria Piffano Brion de Souza ...... 156 Isabel de Souza Lima Junqueira Barreto ...... 513 Isabella de Faria Bretas ...... 482 Isabella Paula Gaze ...... 227 Isabella Santos Pinheiro ...... 247 Isabella Villarinho Pereyra ...... 143 Isabelle Baltazar Cunha da Cruz ...... 516 Isabelle Cristina da Silva Pires ...... 208 Isadora de Mélo Costa ...... 495 Isadora Tavares Maleval ...... 493 Israel Pinheiro ...... 396 Iuri Azevedo Lapa e Silva ...... 376 Iuri Bauler Pereira ...... 531 Ivan Ducatti ...... 48 Ivonete Cristina Silva Campos ...... 274

J

Jacqueline Ribeiro Cabral ...... 383 Jadir Peçanha Rostoldo...... 269 Janailson Macêdo Luiz ...... 395 Janaina Martins Cordeiro...... 160 Janaina Pamplona Ribeiro ...... 387 Janaina Santana Alves da Silva ...... 39 Janyne Paula Pereira Leite Barbosa ...... 461 Jaqueline Vieira de Aguiar ...... 295 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Jeane dos Santos Caldeira...... 197 Jefferson de Albuquerque Mendes...... 412 Jefferson de Almeida Pinto ...... 548 Jenifer Cabral ...... 456 Jerrison Patu de Melo Alves ...... 34 Jéssica Cristina Resende Máximo ...... 333 Jéssica de Freitas e Gonzaga da Silva ...... 366 Jessica Silva Tinoco Gimenez ...... 304 João Alberto da Costa Pinto ...... 48 João Batista da Silva Porto Junior ...... 570 João Carlos Escosteguy Filho ...... 306 João Cícero Teixeira Bezerra...... 251 João Filipe Domingues Brasil ...... 439 João Gomes Junior ...... 552 João Henrique de Oliveira Christovão ...... 477 João Marcelo Barbosa Dergan ...... 363 João Marcos Mesquita ...... 506 João Paulo Charrone ...... 405 João Paulo França Streapco ...... 347 João Victor Machado da Silva ...... 399 João Vitor Hugo Menezes do Nascimento ...... 107 Joceneide Cunha dos Santos ...... 394 Joélia dos Santos Rodrigues ...... 436 Joice Soares ...... 322 Jônatan Coutinho da Silva de Oliveira ...... 538 Jônatas Roque Mendes Gomes ...... 549 Jonathan Mendes Gomes ...... 576 Jonathas Duarte Oliveira de Souza ...... 477 Jordan Luiz Menezes Gonçalves ...... 288 Jorge Antonio Dias ...... 470 Jorge Emanuel Luz de Souza ...... 315 Josafá Veloso ...... 245 José Conceição da Silva ...... 310 José Damiro de Moraes ...... 60 José Ernesto Moura Knust ...... 44 593 José Eudes Alves Belo...... 118 José Fernandes Neto ...... 433 José Fernando Saroba Monteiro ...... 152 José Juan Pérez Meléndez ...... 504 José Lúcio Nascimento Júnior ...... 492 José Marcio Figueira Junior ...... 14 José Nicolao Julião ...... 335 José Ricardo Moreno Pinho ...... 436 Josena Nascimento Lima Ribeiro ...... 576 Jougi Guimarães Yamashita ...... 167 Juçara de Souza Nassau ...... 93 Julia Chequer ...... 476 Juliana Bonomo ...... 202 Juliana Cristina da Rosa ...... 554 Juliana da Conceição Pereira ...... 190 Juliana da Silva Drumond...... 496 Juliana Diogo Abrahão ...... 510 Juliana Marques do Nascimento ...... 155 Juliana Prata da Costa ...... 406 Juliana Santos de Lima ...... 278 Juliana Timbó Martins ...... 326 Julio Cezar Oliveira de Souza ...... 358 Júlio Cláudio da Silva ...... 394 Juniele Rabêlo de Almeida ...... 307

K

Kaio Tavares Rodrigues ...... 353 Kalna Mareto Teao ...... 434 Kaori Kodama ...... 294 Karina Avelar de Almeida ...... 145 Kátia Brasilino Michelan ...... 414 Kelly Cristina da Costa Bezerra de Menezes Mamedes ...... 404 Kleverton Bacelar Santana ...... 325

L

Laíne Soares Mendes ...... 76 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Lana Lage da Gama Lima ...... 80 Laressa Alves Moraes...... 525 Larissa Bagano Dourado ...... 502 Larissa Cardoso Feres Elias ...... 255 Larissa Nobre de Souza ...... 413 Larissa Velasquez de Souza...... 85 Larisssa Mendanha Cabral ...... 270 Laryssa Muniz do Amaral ...... 125 Laura de Souza Cury ...... 98 Laura Vianna Vasconcellos ...... 133 Leandro César Santana Neves ...... 571 Leandro Duarte Montano...... 183 Leandro Miranda Malavota ...... 123 Leda Agnes Simões de Melo ...... 543 Leidson Malan Monteiro de Castro Ferraz ...... 252 Leila Cristina Gibin Coutinho ...... 499 Leila Rodrigues da Silva ...... 409 Lenna Carolina da Silva Solé Vernin ...... 387 Léo Manso Ribeiro ...... 279 Leonardo Augusto Silva Fontes ...... 575 Leonardo de Freitas Onofre ...... 100 Leonardo de Oliveira Souza ...... 155 Leonardo Dias da Fonseca ...... 528 Leonardo Faria Cazes ...... 165 Leonardo Fernandes Hirakawa ...... 373 Leonardo Leonidas de Brito ...... 357 Leonardo Oliveira Silva ...... 427 Leonardo Seiichi Sasada Sato ...... 342 Leonardo Silva ...... 207 Letícia Freixo Pereira ...... 113 Letícia Gonçalves de Mattos ...... 69 Letícia Moura Gomes Rosa ...... 29 Letícia Pumar Alves de Souza ...... 336 Letícia Saldanha Simmer ...... 83 Licia Goms Quina ...... 150 594 Lilia Reijane Ribeiro dos Santos Menezes ...... 444 Lina Gorenstein ...... 80 Lincoln de Araújo Santos ...... 536 Linderval Augusto Monteiro ...... 348 Lissa dos Passos e Silva ...... 199 Lívia Assumpção Vairo dos Santos ...... 486 Lívia Batista da Costa ...... 272 Livia Cintra Berdu ...... 206 Livia Claro Pires...... 551 Livia Goncalves Magalhaes ...... 143 Lívia Nascimento Monteiro ...... 195 Lorena Fernandes Antunes ...... 94 Lorhan Lascolla de Souza...... 128 Lourdes Madalena Gazarini Conde Feitosa ...... 26 Luaia da Silva Rodrigues ...... 492 Luan Mendes de Medeiros Siqueira ...... 360 Luana Pires de Arantes ...... 376 Luana Rodrigues Mota ...... 67 Lucas Bagio Furtoso ...... 330 Lucas Moreira Calvo ...... 406 Luciana Araújo de Souza ...... 407 Luciana Borges Patroclo ...... 286 Luciana Correa Barbosa Botelho ...... 281 Luciana de Fátima Marinho Evangelista...... 101 Luciana Lucia da Silva ...... 515 Luciana Nery dos Santos ...... 582 Luciana Penna Franca...... 254 Luciana Pucu Wollmann do Amaral ...... 478 Luciane Cristina Scarato ...... 296 Luciane da Silva Nascimento ...... 237 Luciene Pereira Carris Cardoso ...... 217 Lucimar Felisberto dos Santos ...... 178 Lucius Fabius Ben Jah Jacob Gomes ...... 214 Ludmila Gama Pereira ...... 225 Luis Otávio Silva Pincigher Pacheco Vieira ...... 493 Luís Ricardo Araujo da Costa ...... 94 Luiz Antonio Belletti Rodrigues ...... 135 Luiz Claudio Duarte ...... 468 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias ISBN: 978-85-65957-09-0 ------

Luiz Felipe Vieira Ferrão ...... 451 Luiz Fernando Mangea da Silva ...... 480 Luiz Gustavo Guimarães Aguiar Alves ...... 179 Luiz Mário Dantas Burity ...... 451 Luiz Mário Ferreira Costa ...... 65 Luiza das Neves Gomes ...... 65 Luiza Helena Dias Braga ...... 32 Luiza Melo Fortunato ...... 285 Luiza Nascimento de Oliveira da Silva ...... 173 Luiza Rabelo Colombo ...... 222 Luiza Tonon da Silva ...... 79 Lurian José Reis da Silva Lima ...... 198

M

Mabel Meira Mota ...... 381 Magno Fonseca Borges ...... 505 Maiana Tainara Silva Dias ...... 525 Maicon Mauricio Vasconcelos Ferreira ...... 327 Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos ...... 24 Maíra Moraes dos Santos Villares Vianna ...... 494 Manuel Rolph Cabeceiras ...... 372 Manuela Rodrigues Fantinato ...... 331 Mara Regina do Nascimento ...... 423 Marcela Cockell Mallmann ...... 388 Marcela Martins Fogagnoli ...... 270 Marcela Moraes Gomes ...... 302 Marcella Sulis...... 268 Marcello José Gomes Loureiro ...... 176 Marcello Otávio Neri de Campos Basile ...... 484 Marcello Rodrigues Siqueira ...... 520 Marcelo da Silva Lins ...... 53 Marcelo do Nascimento Gambi ...... 559 Marcelo Henrique Bezerra Ramos ...... 234 Marcelo Neder Cerqueira ...... 540 595 Marcelo Sant´Ana Lemos ...... 443 Marcelo Timotheo da Costa ...... 384 Marcia Barros Ferreira Rodrigues ...... 542 Marcia Narcizo Borges ...... 269 Márcia Oliveira Gama ...... 428 Marcia Regina da Silva Ramos Carneiro ...... 67 Márcia Spadetti Tuão da Costa ...... 226 Marcio A. Lauria de M. Monteiro ...... 49 Marcio Douglas Floriano ...... 238 Marcio Lucas Moreira Rodrigues ...... 22 Marco Marques Pestana ...... 213 Marcos Aguiar ...... 215 Marcos Guimarães Sanches ...... 172 Marcos Luiz Bretas da Fonseca ...... 318 Marcos Moreira Marques ...... 23 Marcos Nestor Stein ...... 557 Marcus Dezemone ...... 567 Marcus Silva da Cruz ...... 403 Marcus Vinicius de Oliveira da Silva ...... 104 Marcus Vinícius de Souza ...... 412 Marcus Vinicius Fritsch de Almeida ...... 250 Marcus Vinicius Rubim Gomes ...... 429 Margarete Farias de Moraes ...... 382 Maria Ana Quaglino ...... 361 María Cecilia Colombani...... 431 Maria Celeste Ferreira ...... 169 Maria Célia da Silva Gonçalves...... 114 Maria da Conceição Vilela Franco ...... 423 Maria das Graças Reis Gonçalves ...... 229 Maria de Fátima Barbosa da Silva ...... 117 Maria de Nazaré Sarges ...... 89 Maria do Carmo Gregório ...... 194 Maria Eliza Moreira Zahner ...... 81 Maria Helena Cavalcanti Virgulino ...... 291 Maria Helena de Macedo Versiani ...... 109 Maria Helena Valentim Duca Oyama ...... 256 Maria Isabel Wang Boselli Rautenberg ...... 329 Maria Isaura Rodrigues Pinto ...... 29 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Maria Júlia Dutra Rabelo ...... 408 Maria Letícia Corrêa ...... 127 Maria Lúcia Bezerra da Silva Alexandre ...... 277 Maria Margarida Cintra Nepomuceno ...... 136 Maria Regina Candido ...... 427 Maria Sebastiana Reges da Silva ...... 435 Maria Teresa Bandeira de Mello ...... 87 Maria Teresa Toribio Brittes Lemos ...... 430 Mariana Cardoso de Araujo ...... 308 Mariana da Silva Rodrigues de Lima ...... 56 Mariana de Aguiar Ferreira Muaze ...... 508 Mariana Franco Teixeira ...... 530 Mariana Kelly da Costa Rezende ...... 204 Mariana Nunes de Carvalho ...... 488 Mariana Reis de Castro ...... 316 Mariana Rodrigues Tavares ...... 452 Mariarosaria Fabris...... 92 Marieta Pinheiro de Carvalho ...... 560 Marília Miranda Alves Carvalho ...... 82 Marilia Rodrigues de Oliveira ...... 317 Marina Mônica de Freitas ...... 434 Marina Monteiro Machado ...... 566 Mario Sergio Ignácio Brum ...... 212 Marisangela Lins de Almeida ...... 185 Mariza da Gama Leite de Oliveira ...... 281 Marjorie Nogueira Chaves ...... 397 Marlon de Souza Silva...... 251 Maro Lara Martins ...... 463 Marta de Carvalho Silveira ...... 419 Marta Ferreira da Silva ...... 275 Marta Valéria Ribeiro dos Santos Martins ...... 68 Martha Myrrha Ribeiro Soares ...... 378 Martina Spohr...... 47 Maryana Gonçalves Souza ...... 283 Marysther Oliveira do Nascimento ...... 120 596 Mateus Martins do Nascimento ...... 533 Matheus Caracho Nunes ...... 120 Matheus Da Silva Lima ...... 45 Matheus de Carvalho Leibão ...... 524 Matheus Henrique Marques Sussai ...... 68 Matheus Rodrigues da Silva Mello ...... 494 Matheus Santos Santana ...... 356 Maurício Gonçalves Margalho ...... 361 Mauro Amoroso ...... 216 Mauro de Oliveira Tavares Junior ...... 134 Mauro Marcos Farias da Conceição ...... 581 Mayara Ramos Saldanha ...... 419 Maybel Sulamita de Oliveira ...... 190 Melina Teixeira Souza ...... 84 Melissa de Miranda Natividade ...... 232 Michele Helena Peixoto da Silva ...... 428 Michelle Samuel da Silva ...... 172 Milaysa de Oliveira Cabral Paz ...... 211 Miriam Cabral Coser ...... 81 Mirian Cristina Siqueira de Cristo ...... 278 Monica Cristina de Moraes ...... 22 Mônica de Souza Nunes Martins ...... 127 Morgana Priscila Soares Vivaldo ...... 522 Murilo Gonçalves dos Santos ...... 326 Myriam Paula Barbosa Pires Gouvea ...... 488

N

Nadya Maria Deps Miguel ...... 192 Nahyá Soares Nogueira ...... 287 Nara Maria de Paula Tinoco ...... 170 Natália de Fátima de Carvalho Lacerda ...... 456 Natalia de Souza Miranda...... 446 Natália Gadiolli Carneiro da Silva ...... 248 Natasha Moreira Piedras Ferreira ...... 149 Nathalia Agostinho Xavier ...... 402 Nathália Cardoso Rachid de Lacerda ...... 404 Nathália de Ornelas Nunes de Lima ...... 425 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Nathalia dos Santos Nicolau ...... 235 Nathália Fernandes Pessanha ...... 140 Nathália Serenado da Silva ...... 406 Nayanne Magna Ribeiro Viana...... 203 Nielma Nunes Dantas de Lima ...... 387 Niely Natalino de Freitas Leyendecker ...... 386 Nilciana Alves Martins ...... 58 Nívea Silva Vieira ...... 220 Nivia da Conceição Pombo ...... 565 Nulita Raquel Freitas Andrade ...... 537

O

Olavo Passos de Souza ...... 42 Olívia Dulce Lobo ...... 502

P

Pamela Mota Bastos ...... 111 Pâmela Torres Michelette ...... 402 Pâmella Ferreira Campos...... 346 Pâmella Santos dos Passos ...... 41 Patricia Bastos de Azevedo ...... 585 Patrícia Machado Alves ...... 524 Patrick Fernandes Abêlha ...... 38 Paula Cristina Pereira Guimaraes ...... 223 Paula dos Reis Moita ...... 180 Paula Ribeiro ...... 94 Paulo Cesar dos Reis ...... 211 Paulo Cruz Terra ...... 206 Paulo Duarte Silva ...... 399 Paulo Fernando Araujo de Melo Cotias ...... 39 Paulo Roberto Alves Teles ...... 259 Paulo Roberto Elian dos Santos ...... 382 Paulo Sergio Delgado ...... 554 597 Paulo Vitor Sauerbronn Airaghi ...... 380 Pedro Beja ...... 515 Pedro Bogossian Porto ...... 148 Pedro Cassiano Farias de Oliveira ...... 53 Pedro Damazio Franco ...... 550 Pedro Ernesto Miranda Rampazo ...... 22 Pedro Guimarães Marques...... 318 Pedro Guimarães Pimentel ...... 50 Pedro Gustavo Aubert ...... 469 Pedro Henrique Barbosa Balthazar ...... 554 Pedro Henrique Cavalcante de Medeiros ...... 485 Pedro Henrique Duarte Figueira Carvalho ...... 453 Pedro Henrique Pedreira Campos ...... 357 Pedro Henrique Souza dos Santos ...... 41 Pedro Nogueira da Gama ...... 529 Pedro Parga Rodrigues ...... 561 Pedro Rocha Fleury Curado ...... 362 Pedro Spinola Pereira Caldas...... 336 Pierre Paulo da Cunha Castro ...... 472 Priscila Aquino Silva ...... 573 Priscila Petereit de Paola Gonçalves ...... 342 Priscilla Perrud Silva ...... 97

R

Rachel Gomes de Lima ...... 556 Rafael da Silva e Silva ...... 205 Rafael do Nascimento Souza Brasil ...... 47 Rafael dos Santos Gomes ...... 12 Rafael Farias dos Reis ...... 416 Rafael Martins de Marcelo Fallone...... 338 Rafael Mattoso ...... 210 Rafael Monteiro de Oliveira Cintra ...... 328 Rafael Navarro Costa ...... 131 Rafael Peçanha de Moura ...... 343 Rafael Vaz da Motta Brandão ...... 358 Rafaela Mateus Antunes dos Santos Freiberger ...... 158 Raick de Jesus Souza ...... 486 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Raimundo Hélio Lopes ...... 138 Raimundo Nonato de Castro ...... 88 Raisa Monteiro Capela ...... 26 Raíssa Barreto dos Santos...... 547 Ramon da Conceição Fagundes ...... 14 Raphael Oliveira da Silva ...... 163 Raphael Pavão Rodrigues Coelho ...... 81 Raphael Rajão Ribeiro ...... 109 Raquel Alvitos Pereira ...... 577 Raquel Machado Gonçalves Campos ...... 486 Rayane Araujo Lopes ...... 420 Rayssa Porto de Araujo Cruz ...... 18 Rayssa Sampaio Teixeira...... 346 Regina Coeli Alcantara Silva...... 295 Regis da Costa Argüelles ...... 227 Rejane Rosa do Amaral Monteiro ...... 29 Renan Costa da Silva ...... 401 Renan Rubim Caldas ...... 311 Renata Augusta Ré Bollis ...... 299 Renata Bastos da Silva ...... 11 Renata dos Santos Soares ...... 392 Renata Jardim Quadros...... 271 Renata Klautau Malcher de Araujo...... 173 Renata Rodrigues Brandão ...... 391 Renata Spadetti Tuão ...... 230 Renata William Santos do Vale ...... 457 Renato Coelho Barbosa de Luna Freire ...... 585 Renato Luís do Couto Neto e Lemos ...... 52 Renato Pereira Brandão ...... 440 Ricardo George Muller ...... 367 Ricardo José de Azevedo Marinho ...... 19 Ricardo Núñez Amin Dick ...... 271 Ricardo Pereira Cabral ...... 373 Ricardo Salles...... 507 Richard de Oliveira Martins ...... 477 598 Richardson Herculano Santiago...... 83 Rita de Cássia Gomes Nascimento ...... 231 Roberto Augusto A. Pereira ...... 131 Rodrigo Alberto Alves Marques ...... 40 Rodrigo Davi Almeida ...... 538 Rodrigo de Almeida Ferreira ...... 307 Rodrigo de Azevedo Cruz Lamosa ...... 239 Rodrigo de Souza Goulart ...... 390 Rodrigo dos Santos Rainha ...... 408 Rodrigo Goyena Soares ...... 506 Rodrigo Maia Monteiro ...... 317 Rodrigo Marins Marretto ...... 498 Rogéria Moreira de Ipanema ...... 95 Ronaldo Sávio Paes Alves ...... 218 Ronan Bezerra de Araújo ...... 435 Rosa Maria Garcia Monaco ...... 386 Rosana de Oliveira Prado dos Santos ...... 261 Rosana Mendonça Ferreira Muniz ...... 217 Roselâine Casanova Corrêa ...... 102 Rosely Maria da Silva Pires ...... 541 Rosely Tavares de Souza ...... 548 Rosemary Saraiva da Silva ...... 455 Rossana Moreira do Espirito Santo Teixeira...... 400 Rubens da Mota Machado ...... 555

S

Sabrina Carlindo Silva ...... 526 Sabrina Costa Braga ...... 142 Sabrina Machado Campos ...... 197 Samuel Silva Rodrigues de Oliveira ...... 313 Sandrine Alves Barros da Silva ...... 520 Sara Pereira dos Santos Bragança ...... 40 Savio Queiroz Lima...... 74 Senia Regina Bastos ...... 137 Sergio Luiz Monteiro Mesquita ...... 355 Sergio Vieira da Silva ...... 224 Sérgio Willian de Castro Oliveira Filho ...... 459 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Shirlei Rodrigues Lourenço da Silva ...... 392 Sidney Barata de Aguiar ...... 348 Sidney Silva dos Santos...... 213 Silene Orlando Ribeiro ...... 187 Silvana Cristina Bandoli Vargas ...... 545 Silvaneide Gonçalves Ferreira ...... 446 Silvério Augusto Moura Soares de Souza ...... 58 Siméia de Nazaré Lopes ...... 180 Simone Aparecida Fontes ...... 454 Sofia Alvarez Dias ...... 74 Sonia Regina de Mendonça ...... 228 Stefanie Cavalcanti Freire ...... 453 Stephane Ramos da Costa...... 182 Suzana Bitencourt ...... 283 Suzana Regina Camillo de Abranches ...... 255 Suzana Rodrigues Floresta ...... 522 Suzane Mayer Varela da Silva ...... 83 Suzanne Mendonça dos Santos ...... 383 Sylvia Regina Bastos Nemer ...... 30

T

Taciana Sene Lúcio ...... 381 Talita Almeida Ferreira ...... 564 Talita Daniel Salvaro ...... 442 Talita Francieli Bordignon...... 220 Tamires Mascarenhas Pecoro ...... 154 Tatiana de Freitas ...... 521 Tatiane Rocha de Queiroz ...... 484 Teresa Vitória Fernandes Alves ...... 388 Tereza Renata Silva Rocha ...... 574 Thadeu Mendonça Martins Correa ...... 37 Thaina Schwan Karls ...... 268 Thaís Marcello de Almeida ...... 77 Thaís Maria Cruz de Moura ...... 42 599 Thaise Rezende Lima ...... 45 Thalia Stéfany Lima Correia ...... 522 Thalles Braga Rezende Lins da Silva ...... 415 Thiago Broni de Mesquita ...... 559 Thiago Campos Pessoa Lourenço ...... 504 Thiago Cavaliere Mourelle ...... 132 Thiago de Souza dos Reis ...... 505 Thiago Fidelis...... 133 Thiago Herzog ...... 243 Thiago Vasquinho Siqueira ...... 233 Thiago Vinícius Mantuano da Fonseca ...... 352 Tiago Braga da Silva ...... 379 Tiago Martins Simões ...... 20 Tiago Santos Almeida ...... 330 Tiago Santos Groba ...... 259 Ticiana Santa Rita ...... 276 Tuanny Dantas Lameirão...... 523

U

Ulisses Monteiro Coli Diogo ...... 159 Ursulina Maria Silva Santana ...... 266

V

Valdinar da Silva Oliveira Filho ...... 30 Valéria da Conceição Chaves ...... 364 Valtair Afonso Miranda ...... 419 Valtuir Freitas Silva Júnior ...... 34 Vandeir José da Silva ...... 174 Vandelir Camilo Neves Deolindo Mario ...... 426 Vanessa Batista da Silva ...... 450 Vanessa da Costa Lamas ...... 372 Vanessa de Almeida Moura ...... 75 Vanessa dos Santos Novais ...... 301 Vanessa Gonçalves Bittencourt de Souza ...... 254 Vânia do Carmo ...... 334 Vânia Leite Fróes ...... 571 ------Universidade Federal Fluminense Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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Velsa de Fátima Donato Teixeira Ferreira ...... 297 Verena Alberti ...... 304 Verónica Capasso ...... 92 Verônica Santos Borba ...... 57 Victor Almeida Gama...... 70 Victoria Gonçalves Lisboa ...... 37 Vinicius Alves do Amaral ...... 162 Vinícius da Silva Ramos ...... 144 Vinicius de Freitas Morais ...... 570 Vinicius Patrocínio Pereira Costa ...... 71 Vinícius Rocha do Nascimento...... 213 Vitor Deccache Chiozzo ...... 370 Vitor Hugo Monteiro Franco ...... 274 Vitoria A. Fonseca ...... 305 Vitória Fernanda Schettini de Andrade ...... 560 Vívian Marcello Ferreira ...... 79 Viviane Azevedo de Jesuz ...... 570 Viviane dos Ramos Soares ...... 583 Viviane Grace Costa ...... 288 Viviane Soares Aguiar ...... 265 Vladimir Bertapeli ...... 439 Vladimir Honorato de Paula ...... 503

W

Wagner Luiz Bueno dos Santos ...... 490 Waleska Souto Maia ...... 517 Walkiria Maria de Freitas Martins ...... 112 Walter Luiz Carneiro de Mattos Pereira ...... 507 Wanderson Fabio de Melo ...... 51 Wanderson Oliveira ...... 34 Warley da Costa ...... 580 Washington Dener dos Santos Cunha ...... 294 Wellison da Silva Rocha ...... 438 Wesley Garcia Ribeiro Silva ...... 322 600 Weslley Fontenele Frota ...... 245 William Marcos Botelho ...... 140 William Vaz de Oliveira ...... 25

Y

Yasmin Bragança ...... 77 Yasmin Hashimoto Tonini...... 567 Yasmin Trindade Machado ...... 164 Ygor Martins da Cruz ...... 25 Yohanna de Moraes Guimarães ...... 77

Z

Zuleide Silveira ...... 285

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