Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 , , 1937) , 1937) Neues Portugal Neues Neues Portugal Neues Portugal, aufstrebender Staat am am Staat aufstrebender Portugal, Literatura de viagens; Propaganda; Fascismo; Nazismo; Salazarismo. Nazismo; Fascismo; Literatura de viagens; Propaganda; LARA C Authoritarian regimes tend to develop a contradictory relationship with travel. On a contradictory On tend to develop with travel. regimes relationship Authoritarian Os regimes autoritários tendem a ter uma relação contraditória com a viagem. Por contraditória com a viagem. Por tendem a ter uma relação autoritários regimes Os , 1939). ERNANDO 1937) e de Gerhard Pommeranz-Liedtke e Gertrud Richert( Pommeranz-Liedtke 1937) e de Gerhard Atlantik Palavras-chave: | Abstract: it, purposes, on the other hand, they restrict it, for propaganda the one hand, they promote self and hetero-per- State’s for fear of the disruptive effects that might arise to the stability of and Portu- books about Portugal travel the wide range of German from ceptions. Starting the complex the article period, seeks to address published during the Nazi guese on Germany at the involved find themselves and the State literature in which travel, network relational ( Sieburg Friedrich to the books by attention is given time. Special | Resumo: | Resumo: lado, limitam-na, com por outro intuitos propagandísticos, com um lado, promovem-na, dos efeitos fracturantes que dela possam advir para a estabilidade das auto e hetero- receio alemães sobre de viagens de livros da grande diversidade Partindo do Estado. percepções a Alemanha publicados durante o período nazi, o artigo e portugueses pro- sobre Portugal relacional em que a viagem, a literatura e o Estado então a complexa teia sobre cura reflectir ( Sieburg de Friedrich É dada especial atenção aos livros envolvidos. se vêem Universidade Nova de Lisboa, Portugal Universidade Nova de Lisboa, [email protected] F Travel (and) Literature During the Fascist Period: The The Period: (and) Literature During the Fascist Travel in the German-portu- and Literature Travel State, guese Context (1933-1945) Literatura (d)e viagens no período no período (d)e viagens Literatura e a viagem O Estado, dos fascismos: luso-alemão no contexto a literatura (1933-1945) DOI: 10.18441/ibam.16.2016.63.169-192 170 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA nário dasuaidentidade nacional,autorizaourestringe asviagenspelosseusterritórios o EstadodaEra Moderna oimagi- alimentaealimenta-sedaliteratura paraconstruir é aliteraturadeviagens. Dito simplificadora: deumaformaesquemáticae porventura com aliteratura,viagem,e,porfimainda, comoproduto híbridodasduasque ineludível acentralidadedo papeldoEstadoearelação complexaqueesteestabelece dedicados aoestudoeanálisedocolonialismo têmvindoamostrardeumaforma chamadoaatençãonasúltimasdécadas.Com efeito,ostrabalhos e pertinentemente de viagenscolonial,centralidadeessaparaaqual asperspectivas pós-coloniaistêmjusta papel centralefundacionalqueoEstado–leia-se: opoderpolítico–temnaliteratura dades queaplaneadaviagemdeHumboldt àAméricadoSul conheceu. Refiro-me ao literatura deviagensqueestáalgumaforma jápresente nas vicissitudesecontrarie- interessa sobretudo chamaraatençãoparaummododerelacionamento doEstadoeda de viagem,apardasvárias funçõesqueasuaausênciaoupesençapodemter, dado queasseguraatãonecessáriaquantodesejadaverosimilhança aorelatado. de More), umapresença quetemderesto umpapelcentralnateiadiscursiva dotexto, desses Estados-Outros querevelam (veja-se porexemplo descrições (enãoraro muitodetalhadas)dasformasorganizacionaiseadministrativas viagens utópicas,imaginadasoufantasiosas,porseuturno,raramenteprescindem de um capítulosobre asinstituições administrativas danaçãooudasnaçõespercorridas. As quer paíseuropeu, publicadoatéfinaisdoséculo xviii, compreende obrigatoriamente pela AméricaCentraledoSul. umrelato Em contrapartida, deviagemsobre umqual- eoseusubsequentepercurso alternativo pelopoderpolítico português, sil, frustradas – recordem-se asintençõesiniciaisdeumaviagemAlexandervon Humboldt aoBra- esquecer quesãoospróprios estadoscoloniaiseuropeus queasautorizamou as proíbem raramente selhereferem (focadascomoestãonaNatureza), não enoentantoimporta viagens aesse de muitodaprópria geografiadaviagemeépocaemqueéfeitaouimaginada. As papel secundárioelateral,sendoporém queessasualateralidadenotextodepen- certo em tornodosdesafiosqueaviagemcolocaàsdinâmicasficcionaishistórico-literárias. reconhecidamente difusosquenormalmentesemove entre aliteraturaehistória ver atribuídoaoEstadoumpapelderelevo noquadro deumaescritacontornos não émuitocomumencontrarreferências aoEstado. Melhor: nãoémuitocomum Nas reflexões sobre teóricaseanálisestextuaisquesedebruçam aliteraturadeviagens ESTADO,LITERATURADE VIAGENS O 1.E A AVIAGEM Keywords: Atlantik and by Gerhard Pommeranz-Liedtke ( Richert andGertrud Ora apardestasausências-presenças doslivros intermitentesdoEstadoàsuperfície Nos mundosqueemergemdoslivros deviagensoEstadotem–quandoum , 1939). Travel literature; Propaganda; Fascism; Nazism; Salazarism. eldorado naturalistadoséculoxixqueéaAméricaSul, porexemplo, Portugal, aufstrebender Staat am Gulliver deSwift oua Utopia

LITERATURA (D)E VIAGENS NO PERÍODO DOS FASCISMOS Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 171 1 À semelhança do que sucede com os regimes coloniais, os regimes ditatoriais têm os regimes coloniais, que sucede com os regimes À semelhança do estruturais, destas semelhanças do que sucede no entanto, e ao contrário Apesar E, contudo, a literatura de viagens, justamente pelo seu carácter híbrido, constitui E, contudo, a literatura de viagens, (1997 e 2016). (1999) ou Matos (1995), Streim Graf outros entre o caso luso-alemão cf. Para 1 O modo como os regimes ditatoriais condicionam a viagem é bem conhecido: é a lei ditatoriais O modo como os regimes pelo que, tanto a viagem que determina quem pode (ou não) viajar para o estrangeiro, como de certo de literatura de viagens, estão, desde logo, subordina- modo a produção condicionadas por este. e das ao discurso legislativo 2. NÃO É PRECISO VIAJAR 2. como forma de limitar os contornos desse mesmo imaginário, e define-se, quer dizer, é quer dizer, e define-se, mesmo imaginário, os contornos desse de limitar como forma atra- interna como externamente, tanto na sua totalidade, e representado apresentado e costumes. terras, povos as suas descreve de viagens que da literatura vés um lado, como é a literatura. Por complexa com a viagem e com também uma relação nacionais e, imaginários respectivos dos de definir os contornos sabido, não abdicam lado, limitam-nas, por outro intuitos propagandísticos, com por isso, promovem-nas auto advir para a estabilidade das fracturantes que delas possam dos efeitos com receio do Estado. e hetero-percepções publicados em e produzidos de viagem de viagens colonial, os relatos com a literatura seja merecem, a atenção que provavelmente merecido períodos totalitários não têm dominadas por por parte ligada à história, seja por parte mais da investigação das áreas que assim Em certo filológica e cultural. sentido, compreende-se de ordem interesses por parte como pura propaganda seja: muitas destas obras são tidas da história (fican- que, por menorizado), enquanto testemunhal consideravelmente do assim o seu valor filológico consideram-nas textos também menores, seu turno, os estudos de cariz mais a literatura fruto parte por e empobreceu de uma invasão da política que secundarizou literários, portanto, monumentos” e “maus históricos documentos” e a cultura. “Maus encontram raramente por exemplo, de viagens do período fascista europeu, os relatos raras excepções, Salvo áreas. respectivas ou ensaios das lugar nas bibliografias dos livros naturalmente. um lugar privilegiado para tentar perceber como os regimes totalitários projectam e totalitários projectam regimes como os perceber um lugar privilegiado para tentar das identidades nacionais, para procurar suas políticas de (re)construção as executam onde as e toma posse de áreas os modos como o poder político invade compreender limitadas, ou para tentar entender a lógica relativamente influências estatais eram até aí com alguns europeia subjacente à funcionalização política de uma popular tradição reconsiderar por isso procurar séculos, como é o caso da literatura de viagens. Importa envolvidos Estado, a viagem e a literatura se vêem em que o a complexa teia relacional o efeito, dar-se-á aqui (1933-1945). Para dos fascismos europeus no período áureo particular da época. atenção ao contexto luso-alemão 172 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA [1693]: 318)constitui “a final daeducação,normalmentepensadaparaconcluir parte que pretende promover, éaviagemeducativa, aquelaquenodizer deLocke(1764 pareceefeito, aviagemqueo legislador português teremmente,aqueeleautoriza e legislador, parece estarumconceitodeviagemtornadoclássico noséculoxvii: com interessante,-se particularmente porque revelador que,subjacenteaopensamentodo institucional aparentemente estranho(paranãodizer anómalo)dodecreto afigura- por seconsiderarque“prejudica obomnomedopaís”. Ora, esteenquadramento – naverdade devialer-se:proíbe-se –aviagem motivada pela“emigração” económica questão deeducação,atribui-se-lheumafunção derepresentação dopaíselimita-se teria opelouro daordem (policial)interna.Subordina-se aviagemuma portanto provavelmente serialógicoeexpectável, noMinistério doInterior, quenormalmente note-se queodecreto temorigemnoMinistério daInstrução Pública enão,como tanto começarporchamaraatençãoparaoenquadramentoinstitucionaldestetexto: aolongodadécadade20 (cf.observável Valério, noen- 2001:84)–éimportante país noestrangeiro –epossivelmente peloaumentodaemigração motivado emparte leitura detalhada: O preâmbulo dodecreto éporisso,eavários títulos,merecedor português deuma assim comoasraízes, relativamente inesperadaselongínquas,dessepensamento. nacional, entãopresidido por Vicente deFreitas, atribuiàviagemaoestrangeiro, de umaformamaisoumenosexplícitaasfunçõesqueo V governo daditadura ca nestasáreas, masquetemaindaoméritode,aomesmotempo,daraperceber espelha emboamedidaaspráticasepreocupações dosregimes ditatoriaisdaépo- 16.782 de29Abril de1929.Comoseriaesperar, trata-sedeumdecreto que nais ou,parasermaisexacto,apeçalegislativa queregula a“emigração” éodecreto Muito centradona“emigração” enarepresentação quesepretende prestigiante do panhem osseusmaridos. quando tiverem deseguiraspessoas quedêlescuidemoudasmulheres casadasqueacom- a 4ªclassedoensinoprimárioelementar, comexcepção doscomprovadamente anormais, menos dequarenta ecincoquenãoprovem depassagemda3ªpara terobtidoocertificado 1ºNãoArtigo épermitidaaemigraçãoaosindivíduosdemaiscatorzeanosidadee Hei porbemdecretar, paravaler comolei,oseguinte: é umelementodeprogresso ederiqueza;[…] que Considerando queoEstadotemdever defomentarportodasasformasainstrução, difíceis emesmoangustiosas; criamuitasvezesConsiderando queasuafaltadeinstrução aêssesindivíduossituaçõesbem cer geralmentesenãoasprofissões maishumildes; pela degradanteignorânciaquevão ostentaremterrasestranhas,jápornãopoderem exer- Considerando queoanalfabetismodosemigrantesprejudica obomnomedoseuPaís, já tígio daNação; Considerando queaoEstadocumpre evitartudoquantopossacontribuirparaodespres- No aleiquelimitaasviagensaoestrangeiro decidadãosnacio- casoportuguês, LITERATURA (D)E VIAGENS NO PERÍODO DOS FASCISMOS Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 173 Ou seja, o ministro que assina o decreto é per- que assina o decreto seja, o ministro Ou 3 Só assim parece poder justificar-se que a lei que re- lei que que a poder justificar-se parece assim Só 2 de Platão, onde ficam definidas as condições que determinam a autori- onde ficam definidas as condições que de Platão, Leis Um segundo aspecto merecedor de destaque neste decreto está mais especificamen- está de destaque neste decreto merecedor segundo aspecto Um Finalmente, interessa chamar a atenção para as intrigantes coincidências, tanto ao chamar a atenção para as intrigantes coincidências, interessa Finalmente, O modo como a questão da reputação do país se articula com a viagem ao estran- O modo como a questão da reputação Para um Estado que não produz riqueza, excepto a partir e que não tem ac- do seu solo, excepto riqueza, um Estado que não produz Para tomar em relação é necessário determinar quais as medidas que deve tividade comercial, oriundos de países e à entrada de estrangeiros outros à emigração dos seus cidadãos para aos terminantemente proibir constitui uma política inconcebível […] Ora, lugares. outros Estados, parecendo que visitem o Estado ou aos cidadãos que visitem outros estrangeiros e rude, que o uma atitude insociável do mundo, uma vez além disso, aos olhos do resto e reputação […] de usar métodos simultaneamente tirânicos e severos; Estado ficaria com a ser para o mal, é uma coisa que nunca deve para o bem ou aos olhos dos outros, a reputação a maioria dos Estados, a exortação que se faz no sentido […] Para encarada de ânimo leve. […] pública é uma exortação correcta. a uma boa reputação valor de atribuir um elevado portanto, para outras terras e lugares, à questão de ir para o estrangeiro, respeito, que diz No agir da seguinte forma: em devemos também à admissão de estrangeiros e no que se refere será autorizado a anos de idade nenhum homem com menos de quarenta lugar, primeiro ser ninguém deve que seja; em segundo lugar, para qualquer lugar ir para o estrangeiro, mas apenas em missão pública e a título privado, autorizado a deslocar-se ao estrangeiro, de representação. luso-alemãs da época, vejam-se Medina (1998), Seruya (1995 e 2003) e Clara (2013). (1998), Seruya Medina luso-alemãs da época, vejam-se da minha responsabilidade. A não ser que haja indicação em contrário, todas as traduções são cultural e político das relações e o papel por ele desempenhado no quadro Ramos Cordeiro Sobre zação de viagem ao estrangeiro dos cidadãos de Magnesia (Platão, 1961: 949e-950d): 1961: (Platão, dos cidadãos de Magnesia zação de viagem ao estrangeiro gulamenta a deslocação ao estrangeiro de cidadãos portugueses de cidadãos ao estrangeiro a deslocação gulamenta se lei que, como – uma do poder sensíveis áreas várias atravessa acima transcrito, no preâmbulo pode constatar no Ministério internacionais – tenha origem interna às relações do Estado, da ordem Pública. da Instrução que o facto, importa De contexto luso-alemão da época. com o registar te relacionado Ramos, germanis- Cordeiro o texto é Gustavo que assina Pública Instrução da ministro que conhece de Lisboa) e germanófilo da Universidade Germanística ta (catedrático de formativo importânciabastante bem a pode ter no quadro que a viagem ao estrangeiro Ramos Cordeiro de Letras, Superior que depois de terminar o Curso do indivíduo, já passagem pela em Leipzig, e, após uma breve fez um estágio de um ano na Alemanha, licenciatura escrita em alemão e publicada com a sua tese de a Portugal regressa Suíça, 1908). também na Alemanha (Ramos feitamente conhecedor da matéria sobre a qual legisla. sobre feitamente conhecedor da matéria da viagem ao estrangeiro, da regulamentação das considerações como ao nível nível com alguns quando confrontado português apresenta do decreto que este preâmbulo passos das 2 3 a obra e completar o cavalheiro”. a obra e geiro, a responsabilidade de representação do Estado no exterior atribuída ao viajante do Estado no exterior atribuída de representação a responsabilidade geiro, 174 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA Popular doReich porTheodor Alemãode Wilhelm (àépocafuncionáriodo Serviço zieher”), publicadonoboletimoficialdo Ministério daCiência, Educação e Cultura políticos maisradicalizados,comoéocasodaAlemanha nazi. cação”), afastamentoesse queviriaaconhecernovos desenvolvimentos emambientes colocar atónica,utilidadeefuncionalidadedaviagem na“representação” (enãona“edu- deresto, português, consubstanciava jáumafastamentodaconcepçãoviáticaclássicaao não éestaautilidadequesevislumbraparaviagemaoestrangeiro. Opróprio decreto dos fascismosnãoéexactamenteestaaconcepçãodeeducaçãovigente,assimcomo cia eexperiência,comoconsolidava aformaçãodoseucarácter. Ora, duranteoperíodo não ampliava apenasosconhecimentosdojovem, alargandoosseushorizontes devivên- simples percepção econfronto comadiversidade deusos,costumes,povos outradições, dizagem deâmbitolocal(regional ounacionalquefosse).Aviagemaoestrangeiro, a por umindivíduo,umariquezaquesobrepunha aosaberlivresco ouaqualquerapren- uma concepçãodeeducaçãoquevianadiversidade dasexperiências,efectivamente tidas Na basedessaviagem,queerasupostoculminar opercurso formativo dojovem, estava próxima daviagemeducativa edeformaçãoqueaEuropa conheciadesdeoséculoxvii. pareciadramento institucionaldaleiportuguesa estarsubjacenteumanoçãodeviagem do preâmbulo dodecreto De facto,comoacimaficara português. referido, aoenqua- dever), estánoentantotambémpresenteoportunidade naprópria concepção deviagem Afastada temporalmente,mastambém,esobretudo, conceptualmente. que ocinemapermite(Riefenstahl).Acópiaestava todaviamuitoafastada dooriginal. quitectura (Speer) àfilosofia (Heidegger), semesqueceressa nova encenaçãodatragédia país quesepretende descendentedirecto daGrécia Antiganasmaisdiversas áreas –daar- horizonte ideológicodeumpaísprofundamente marcado pelaobsessãogenealógica,um tons substancialmentemaisradicaisnamedidaemquesetransformamnumproduto do fascismos europeus. Comefeito,naAlemanhanaziasapropriações dePlatão conhecem nha, ummomentodecisivo quemarca tambémoiníciodaradicalizaçãoeexpansãodos filósofo grego ganhamumanova dimensãocomasubidaaopoderdosnazisnaAlema- tico-filosóficos doperíodofascistaeuropeu. discussões emtornodasvisõespolíticasdePlatão atravessam muitosdosdebatespolí- relativamente inesperada,masnemporissomenosverosímeis, namedidaemqueas tram muitopróximas dePlatão. Serão indíciosdeumaorigemlongínquaeporventura um indíciomuitoclaro seencon- queasraízes dopensamentolegisladorportuguês daquala“emigração”e aquasecoincidênciadaidadepartir épermitida constituem 4 Vejam-se, entre muitosoutros eamero títulodeexemplo, osensaiosdeHoltdorf (1934), Arendt) cf. Forti (2006), Orozco (1995)ouoestudomais recente deLavallée (2014). dafilosofiaalemãépoca(taiscomoenvolvidos algunsnomes importantes Heidegger, Gadamerou Maaß (1934);Morrow (1940)eMurley (1941);sobre estesdebates,emqueestãode alguma forma Um breve ensaiointitulado“Oestrangeiro comoeducador” (“Das Ausland alsEr- Esse afastamento,maisnotórioeradicalnocasodaAlemanhanazi(comoseterá Aliás, aesterespeito registar nãodeixadeserimportante aindaqueasapropriações do 4 LITERATURA (D)E VIAGENS NO PERÍODO DOS FASCISMOS Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 175

meu poder de decisão , mas no meu comporta- – do lugar e da atmosfera – do lugar e da atmosfera [fremde] [meistern] a situação concreta a [meistern] a situação concreta [Vorstellungen] domine O valor educativo da viagem ao estrangeiro da viagem ao estrangeiro educativo O valor ” (Wilhelm, no original). 1935: 67*, sublinhado Do ponto de vista de Wilhelm, porém, esta “‘doutrina’ de justificação perdeu […] de justificação perdeu “‘doutrina’ esta porém, Wilhelm, vista de ponto de Do Em suma, viajar não era preciso, em certas circunstâncias não era mesmo desejável em certas não era mesmo desejável circunstâncias suma, viajar não era preciso, Em 1933-1945 As publicações que têm origem nas viagens de portugueses à Alemanha ou de alemães de uma forma geral nas estruturas durante o período nazi enquadram-se a Portugal de for- notar algumas diferenças material e conceptual descritas, embora seja possível 3. VIAGEM, LITERATURA, PROPAGANDA: O CONTEXTO LUSO-ALEMÃO O CONTEXTO LUSO-ALEMÃO PROPAGANDA: LITERATURA, VIAGEM, 3. não está portanto na mudança das minhas ideias Intercâmbio Académico, DAAD), é a este respeito particularmente (Wil- elucidativo a este respeito DAAD), é Académico, Intercâmbio a “dou- a que chama e analisar aquilo descrever começa por o autor Nele helm, 1935). todo o sé- marcou doutrina que uma viagem ao estrangeiro”, justificação da trina de a que acima da viagem e formativo” educativo e que assenta no “valor culo xix alemão teria a viagem Wilhelm, mais de um século, prossegue longo de Ao fora já feita alusão. e estrei- às “insuficiências (Korrektur) uma espécie de “correcção” funcionado como (Wilhelm, uma educação local, nacional por 1935: 66*). produzidas tezas de vistas” de a “doutrina Bildung), (“universale” uma cultura “universal” de nos valores Baseada que o alargamento dos na crença pois assentava viagem ao estrangeiro” justificação da culto e, desse modo, do viajante o tornaria mais experienciais e vivenciais horizontes originário (Wilhelm, Estado de onde era 1935: 67*). mais útil ao próprio ao estrangeiro o autor não se trata já de questionar se a viagem Para toda a sua validade”. e torná-lo útil ao Estado, culturais do indivíduo é necessária para alargar os horizontes que medida e em que extensão o do que se trata, sim, é de saber “em é necessário para que eu [Entscheidungskraft] seja, o poder (Wilhelm, 1935: 67*, sublinhados meus). Ou que estou exposto lá fora” da viagem de forma- até aí à justificação que presidira substitui-se ao saber e toda a lógica inverte-se: é já medida em função do alargamento a sua eficácia não ção ao estrangeiro a individual precisamente individuais, mas sim em função da resistência dos horizontes modo ainda: “ de outro Dito esse alargamento. mento em relação ao colorido muito particular – estranho ao colorido muito particular – estranho mento em relação do meu agir e noutras não era de resto possível. Ficavam assim definidos os grandes eixos pelos definidos os grandes eixos assim Ficavam possível. e noutras não era de resto e com a viagem com o estrangeiro ditatoriais na sua relação os regimes quais se regiam de viagens têm decerto um lugar essa onde os textos resultantes relação ao estrangeiro, importante. casos do Estado português Os e do Estado alemão durante o período nazi impostas às restrições tanto no que diz respeito a esta regra, não constituiram excepção obstante ao uso que deram à literatura de viagens. Não à viagem como no que se refere os documentos atrás analisados (o preâmbulo estilísticas e formais, as suas diferenças variantes de um mes- afiguram-se Wilhelm) ensaio de português e o breve do decreto toda a época. mo pensamento autoritário que atravessa 176 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA (1935), aspectos citadinosepolíticosdaAlemanha sas publicaçõesencontram-seovolume dojornalista Torres (1933), deCarvalho da opiniãopúblicainternacionaldepoisderrota sofridanaGrande Guerra. Entre es- políticas queocorriamnumpaísestava claramentearegressar aocentro dointeresse pela necessidadedeproporcionar aumpúblicovasto informaçãosobre astransformações mente heterogéneos. Incluem aspublicaçõesmotivadas pelacuriosidade jornalísticaou Alemanha quetiveram origememviagensentãorealizadas são,defacto,consideravel- de ordem publicadossobre formal,umavez queoconjuntodostextosportugueses a ditados pelacensura,nãoimplicamcontudoumauniformidadediscursiva, pelomenos as autorizaepublica. excepção, sãolimitadasaindaporforça doenquadramentoinstitucionalqueasmotiva, que autorizaasaídadoviajanteedaqueleaceitaacolhê-lo;e,salvo umaououtra pendente da(tambémela)duplaautorizaçãodosEstadosnelaenvolvidos –doEstado se inscrevem: sãolimitadas,emprimeiro lugar, porque aviagemestáobviamente de- duplamente limitadaspelospróprios contextosnacionais(eregimes políticos)emque será feitareferência. ma edeobjectivos quedecorrem decircunstâncias individuaisoulocaisaqueadiante 5 uma viagemdeestudo dade deCoimbraJosé Beleza dosSantos (1936)ou estas publicações dúvida incontornável noquadro dorelacionamento luso-alemãodaépoca.Estãoentre instituições criadaspelojámencionadoGustavo Cordeiro Ramos,umafigura sem delas patrocinada pela Junta deEducação Nacional oupeloInstituto paraaCultura, específico eespecializado, resultantes de “viagens deestudo” àAlemanha,amaiorparte com otítulolapidarde em guerra,viagemessaqueéfeitaaconvitedasautoridadesalemãsepublicada1941 de entre osquais cumpre destacaraviagemdojornalistaMetzner LeoneàAlemanhajá (cf.língua portuguesa Ninhos 2010),mastambémcomtextos de autores portugueses formas, nomeadamentecompublicaçõeserevistas editadaspelasautoridadesalemãsem da alemãvai, aliás,progressivamente devárias invadindo esteespaçopúblicoportuguês riam umbilicaisàLegaçãoAlemãeEscoladacapitalportuguesa. Luso-Alemão deIntercâmbio Cultural, comsedeemLisboaeligaçõesquesedi- conferência já claramente alinhadacomoregime nazieapoiadaderesto peloCentro (1939) noLiceudeLisboa, Sobre orelacionamento luso-alemãonaépoca,vejam-se, entre muitosoutros, os trabalhosmaisrecen- dos ensaiospublicadosemClara eNinhos (2014). tes dePimentel eNinhos (2013), especialmenteaspp. 77-147,Matos eGrossegesse (2011)oualguns Estes constrangimentos,aqueacrescem nocasodapublicaçãoosconstrangimentos Naturalmente nãoperder queimporta devistaqueestasproduções sãotodaselas Paralelamente, sãodomesmomododadosapúblicotextosdecarizdiferente, mais Como euviaAlemanha Uma viagemdeestudoàAlemanha , domédicoArmandoNarciso (1941). Nazis: dezmesesnaAlemanha emguerra Através daAlemanha: assuasdiferentes organizações , ouaconferência doengenheiro civilAntónioPinto , olivro doMajor CarlosAfonsodosSantos , dojuristaeprofessor dauniversi- A medicinanaAlemanha: notasde . 5 Apropagan- Nazis: , uma , uma LITERATURA (D)E VIAGENS NO PERÍODO DOS FASCISMOS Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 177

6 de (2003). Tal Tal (2003). Os Monumentos Monumentos Os sine qua non ), um folheto publicado em 1935 pela “Frente pela “Frente ), um folheto publicado em 1935 , da autoria da fotógrafa Helga Schmidt-Glassner e de Gertrud Gertrud e de Schmidt-Glassner , da autoria da fotógrafa Helga Carlos Carneiro: História da minha viagem à Alemanha da minha viagem História Carneiro: Carlos Portugal Die Bauwerke von Lissabon von Die Bauwerke ( Finalmente, valerá ainda a pena fazer referência à interessante narrativa gráfica de narrativa à interessante referência pena fazer ainda a valerá Finalmente, Esta amostra muito selectiva de textos – note-se que um olhar mais minucioso e – note-se que um olhar mais de textos selectiva Esta amostra muito na época de viagens a Portugal que resultam O conjunto das publicações alemãs (1997 e 2016); sobre as viagens da organização “Força pela Alegria”, que aliás constituem uma recon- pela Alegria”, as viagens da organização “Força (1997 e 2016); sobre sob a égide do Estado, cf. figuração – leia-se: uma politização – da viagem turística organizada, agora de Lisboa é pedido a Richert os monumentos (2005). O folheto sobre (2004) e Semmens Baranowski do no Estrangeiro” da “Organização comissário e principal representante Burbach, por Friedhelm de 1935 (cf. nos países ibéricos em carta de 23 de Fevereiro partido nazi (Auslandsorganisation) 218, 238: I.HA Rep Institut, Ibero-Amerikanisches Kulturbesitz, Preußischer Staatsarchiv Geheimes 133-135). Matos uma série de outras publicações, veja-se das quais resultaram estas viagens a Portugal, Sobre Os documentos conhecidos destas viagens, os publicados e os que se encontram nos documentos conhecidos Os neste contexto na medida em que con- são aliás particularmente interessantes arquivos, doutrina de justificação “nova a Wilhelm sobre referida de atrás firmam a perspectiva dos “homens de confiança secretos com efeito os relatórios da viagem ao estrangeiro”: invariavelmente estes cruzeiros que acompanhavam para as viagens ao estrangeiro” ou a em comparação com a Alemanha” destacam a “inferioridade racial de Portugal 2016: 45- Matos, portugueses (cf. falta de asseio, atitude e cultura dos trabalhadores 6 viagem à Alemanha deixada pelo pintor Carlos Carneiro e só publicada recentemente só publicada recentemente e Carlos Carneiro pelo pintor à Alemanha deixada viagem de com o título como na maioria dos restantes casos, esta última viagem inscreve-se também no (já) também viagem inscreve-se casos, esta última dos restantes como na maioria autorida- origem no convite das que teve institucional uma vez habital enquadramento ao foi endereçado em 1943, convite esse que uma exposição em Berlim des alemãs para das instituições que outra de Berlim, Ibero-Americano pintor portuense Instituto pelo luso-alemã da época. de contactos nó central da rede de verdadeiro assume um papel em publicadas durante o período de obras dezenas teria de enumerar várias exaustivo portugue- que no caso das publicações entanto o mérito de mostrar questão – tem no público fundamental: a zonas de interesse a Alemanha nazi confluem duas sas sobre uma pela questão política e a segunda revela primeira delas é sem dúvida determinada alemã. atenção digna de nota pela ciência condição toca à verdadeira no que sobretudo não é muito diferente, institucional e alinhamento político com os todos estes textos: o seu enquadramento publicado em 1942 de um livro É esse o caso, por exemplo, em questão. dois regimes e intitulado para servir Arbeitsfront) (Deutsche de guia aos visitantes da orga- Trabalho” Alemã do que participaram nas viagens de Freude) (Kraft durch pela Alegria” nização nazi “Força e os Açores. como destino Lisboa, a Madeira 1935 e 1939 tiveram que entre cruzeiro Richert, então responsável pelos países ibéricos no já mencionado Instituto Ibero-A- Instituto pelos países ibéricos no já mencionado Richert, então responsável acompanhado de uma nota introdutória que é significativamente mericano de Berlim, autora de diver- Richert é de resto no Reich. de Portugal ministro Tovar, do Conde de destacar as quais cumpre de entre Portugal sas outras publicações sobre de Lisboa 178 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA aqui desdelogoregistar –desercatólico. nem ofacto–nãoirrelevante equeporissomesmoimporta paraocontextoportuguês não terásidoalheiaapopularidadequeSieburg alcançoucomasuaobrasobre França, teve origemnumconvitedoSecretariado dePropaganda Nacional, conviteesseaque e dabiografia,seincluemviagensà Polónia, Áfricae Japão, oseu livro sobre Portugal biografia dediversos outros publicistaseescritores alemãesdaépoca. culturais alemãsdopós-guerra,espelhaemgrandemedidaaquelaquefoitambéma nazi a, finalmente,autoreeditorigualmenteprestigiadodo partido dasindústrias seu percurso profissional, dejornalistaprestigiado da República de Weimar amembro vel, comvárias reedições naAlemanhaeFrança aolongodasdécadasseguintes.O gal apenas aprimeiraemaisdeterminantedascondições deprodução deste procurará perceber melhorascondiçõesdeprodução destegénero detextosnaépoca. plexas, estasduasúltimasobrasserãoaquiobjectodeumaanálisemaisdetalhadaque sejaporobedeceremportuguês, aconfiguraçõesdiscursivas maiselaboradasecom- Staat amAtlantik intitulado Richert, trud alten Landes ganda Nacional, que oescritorFriedrich Sieburg publicaem1937aconvitedoSecretariado dePropa- onde essasmarcas sãomaissubtisou,pelomenos,nãotãoóbvias. Éocasodolivro mente inquestionáveis nestesdiscursos,mashátambémoutraspublicações daépoca ideologizados)anteriormenteexistentes. paroquiais (enestecasofortemente jáparaalargarhorizontes, massimpara confirmarosjuízos 46). Aviagemnãoservia 7 traduzida parafrancêscomotítulo cação em1929de quando setornouconhecidodosmeiosjornalísticoseliterárioseuropeus comapubli- Friedrich Sieburg eracorrespondente dojornalalemão 3.1. O Cf. Nickel (2010)e,maisrecentemente, Deinet (2014)eZimmermann (2015);sobre Sieburg ve- , étambémumamarca bastanteclaradastransformaçõesqueainstituiçãoliterária Autor deumaobraprofícua emuitoheterogénea, onde,alémdoensaio,dapoesia sobre Portugal no Oliveira Salazar, AOS/D-M/31/9). Alémdolivro, Sieburg deixou entãoaindaumasériede crónicas sado comamulheremDezembro domesmoano(cfArquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Secretariado dePropaganda Nacional, Sieburg esteve nopaísemMarço eAbril de1937,tendo regres- viagens vejam-se Opitz (1990e1993), Streim (1999)e Wege (2005).De acordo comosregistos do jam-se aindaostrabalhosde Taureck (1987),Krause(1993) eBuddenbrock (2007);sobre assuas Este “convite àviagem” doSecretariado porparte dePropaganda Nacional nãoé Seja porapresentarem relação emcomumumaforte dedependênciadoEstado As marcas institucionaiseideológicasdoEstadonacional-socialistasão evidente- Novo Portugal ), edovolume ilustradodeGerhard Pommeranz-Liedtke e(denovo) Ger- Novo Portugal: Retrato deumvelho país ) esurgidoem1939. Frankfurter Zeitung Deus emFrança? Portugal, Estado emergentenoAtlântico . ( Dieu est-ilfrançais? Gott inFrankreich? 7 equeteve umsucessoassinalá- ), obraquefoinoanoseguinte ( Frankfurter Zeitung Neues Portugal. Bildnis eines ( Portugal, aufstrebender Novo Portu- emParis LITERATURA (D)E VIAGENS NO PERÍODO DOS FASCISMOS Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 179 Novo (Sieburg 1937: 6): 1937: (Sieburg Com efeito, o autoritarismo está longe de se reduzir ali à veneração das figuras de das figuras à veneração ali reduzir está longe de se Com efeito, o autoritarismo Ou entre o autor e Ulisses, acrescentar-se-ia. Quer dizer, fica assim, desde o início, fica assim, dizer, Quer acrescentar-se-ia. o autor e Ulisses, entre Ou de intitulada “O pigarro surge na última secção do livro, por seu turno, Deus, Portugal foi para mim um espaço familiar, até ao lugar mais recôndito da minha alma, e ao lugar mais recôndito até um espaço familiar, foi para mim Portugal é que eu já meu destino como aquele momento em que se pergunta: “Onde no entrou me sentei para descansar eu ao fim de um dia, já cansado de caminhar, vivi isto?” Quando percebi o ponto mais ocidental da Europa, não muito longe do Cabo da Roca, numa rocha o meu mim e entre já qualquer diferença, não houvesse subitamente [...] que era como se falecido pai. E a seguir a esta encenação-memória infantil (caracteristicamente inocente e vaga infantil (caracteristicamente inocente e vaga E a seguir a esta encenação-memória Éramos crianças, não sabíamos bem ao certo quem Ulisses fora. Dizia-se que tinha passado que tinha não sabíamos bem ao certo crianças, Dizia-se fora. Éramos quem Ulisses teria fun- a muitas paragens e que também sido levado por muitas dificuldades, que tinha tal e qual o nosso pai [...] que ele era convencidos dado Lisboa. [...] Estávamos conhece durante o período dos fascismos europeus e da sua inegável subordinação à subordinação inegável e da sua europeus dos fascismos durante o período conhece estética se politização da característica de como esta justamente o modo Ora, política. vez uma é particularmente interessante, Portugal, sobre de Sieburg livro no concretiza estruturaque põe a nu a que lhe está na base. mental autoritária e paternalista se estende bem para autoritarismo endémico que de um Trata-se ou Hitler. Salazar de duas figuras da autoridade paternal político-ideológica através além da dimensão mais nada menos do se inicia e termina: nada o livro com as quais significativamente dificilmente o livro que abre (Persönliches) “pessoal” A dedicatória e Deus. que Ulisses Ulisses, do pai do as figuras de introduzindo explícita a este respeito, poderia ser mais numa nebulosa e ambígua envolvendo-as obra é dedicada) e do autor, autor (a quem a 1937: 5): identitária (Sieburg relação Portugal Portugal intermediada pelo pai deste, ao autor, de Ulisses traçada uma linha genealógica directa, simultanea- com o local, uma relação determinante na sua relação que se irá revelar construída em grande medida com base nas proximida- mente paternalista e familiar, regimes alemão e português toda esta primeira que atravessam os des e afinidades entre edição da obra. (mais) um terramoto na cidade de onde se descreve Räuspern Gottes), (Das Deus” da despedida, o Lisboa. O momento é crucial, é o momento porque uma vez, mais a notícia Significativamente momento do final da viagem e também do final do livro. ou predicados. é dada no melhor estilo jornalístico, sem qualquer tipo de adjectivos véspera da mi- final, na no 1937: 267): “Mesmo portanto (Sieburg Como um “facto”, apenas na medida no entanto, é relevante O “facto”, nha partida, deu-se o terramoto”. nos seus contornos, mas sempre veneradora), que atribui à figura paternal a autoridade que atribui à figura paternal a autoridade veneradora), nos seus contornos, mas sempre esta- imediatamente da cidade de Lisboa, Sieburg e as qualidades do mítico fundador com este seu paralela e de índole muito semelhante, belece uma outra relação, 180 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA no momento da sua partida dePortugalno momentodasuapartida éaestetítuloelucidativo (Sieburg 1937:269): explica opresente. OsentidoqueSieburg atribuiao“terramoto” que haviaencenado palavras dePombal nasecretária doautor. ou deumaidentificaçãoquasefísica,comosucede nopassoacimacitadoem relação às outras figurashistóricas),oraaindaatravés dacuriosasugestãodeumaproximidade genealogicamente, comUlisses, oraideológicaepolíticamente,comSalazar (aparde base, sempre, a afinidadedaautoridadeequeaolongoobra vai sendoencenada ora com efeitoumaestreita relação entre sie com oautor, umarelação quetemnasua tivos temposnãoseapresentam comoessencialmentediversos. Todos elesmantêm visível, jáqueSalazar, oInfante D.Henrique, Pombal oumesmoUlisses eosrespec- tamento dasfigurashistórico-políticasqueessaindistinçãotemporalsetornamais ainda queconferem autoridadeejustificamopresente político. Ésobretudo notra- em cântaros imagens deumparaísobíblico,onde“as mulheres aindavão buscaràgua[…]àsfontes indistinções quepermitemaSieburg ver napobreza eatrasodapopulaçãodeAlfama primordial, temumpapelfundamentalnaestratégiadiscursiva deSieburg. São essas renciam, quase sempre confluindonumaespéciedeoutro tempo,nãocronológico e obra, omodocomopassadoepresente (edealgumaformafuturo também)seindife- da cidadedeLisboa). guesa (talcomojáanteriormentesehaviatransformadoemUlisses, fundadormítico centro dasuanarrativa esetransformanoverdadeiro protagonista dahistóriaportu- visão simultaneamentepaternalista,familiareautoritáriaemqueoautorsecolocano folha comoditodePombal estava aindaemcimadaminhamesa”), denunciamuma sença dePombal juntodoautor, umapresença queassumeumplanoquasefísico(“A portuguesa –oMarquêsportuguesa dePombal (Sieburg 1937:268): em queremete oautorpara1755eumafiguratutelarautoritáriadahistória O usodopossessivo “o ainda emcimadaminhamesa. O meuterramototeve lugaràsonze emeiadanoite. A folhacomoditodePombal estava cuidardosvivos”,os mortos, [...]disseraele,efoiassimqueavidaprosseguiu. quês queentão,calmoporentre pensaranofuturo eapenasnofuturo. asruínas. “Enterrar edaqueleMarquêsção damorte dePombal, cujahistóriaeutinhalidonaquelatarde, Mar- fez quaisquerestragos.Mas foiumterramoto,umalembrançade1755,[...]recorda- O terramotoqueencerrou aminhaestadiaemLisboafoicompletamenteinofensivo enão O passado–mítico,históricooudivinoconfere autoridade eaomesmotempo Aliás, omodocomotempohistóricoemíticosetornamindistintosna azar teracontecidoenquanto aquiestava. Oquepensará agoradenós?”[...]“Pelo contrá- passada epediu-meparanão levar amaloincidente. “Quase nuncaacontecepor aqui.Que a temposzelava paraquenãome faltassenada,queixou-se-me dotremor deterradanoite Na manhãseguinteeraahoradepartir. Um quedetempos amável funcionário português, bíblicos ” (Sieburg 1937:236,sublinhado meu). Esãoessasindistinções meu terramoto” (“ Mein Erdstoß”), apardasugestão dapre- LITERATURA (D)E VIAGENS NO PERÍODO DOS FASCISMOS Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 181 um público , 1933) e as respectivas , 1933) e as respectivas Novo Portugal Novo Salazar: o homem e a sua obra Salazar: ; a recensão não parece no entanto ir exactamente ao encontro dos no entanto ir exactamente ao encontro não parece ; a recensão Books Abroad a partir do momento em que os elogios épicos das soluções auto- 9 E de facto, a tradução francesa do livro de Sieburg, da autoria de Pierre da autoria de Pierre de Sieburg, tradução francesa do livro E de facto, a 8 Mas porventura mais interessante do que a recepção internacional do livro de de internacional do livro porventura do que a recepção Mas mais interessante objectivos das autoridades portuguesas, já que sendo globalmente elogiosa (embora nem sempre sem das autoridades portuguesas,objectivos já que sendo globalmente elogiosa (embora nem sempre não deixa (um “jornalista que é quase um historiador e quase um poeta”), da escrita de Sieburg ironia) e ao aos encómios que o autor alemão tece a Salazar fortes dúvidas em relação no entanto de expressar 1939). português (Guérard “Estado totalitário” Este último diálogo terá sido seguramente lido com agrado por parte terá sido seguramente lido Este último diálogo das autori- rio”, consolei-o eu, “este terramoto é um sinal que Portugal tem ainda uma certa relação uma certa tem ainda relação que Portugal é um sinal terramoto eu, “este consolei-o rio”, terramotos?” quase nunca há nos países protestantes que reparou Já com Deus. relação ao regime português por parte de Sieburg, importa chamar a atenção para o indisfarçável e português importa por parte ao regime a atenção para o indisfarçável chamar de Sieburg, relação da história patentes no obituário do autor de apagamento da memória e de re-escrita curioso exercício e num texto publicado e Estaline”) e Salazar e Franco odiou Hitler [Sieburg] (Anónimo 1964: “Ele este significativa- do seu nascimento, texto por ocasião do centésimo aniversário mais recentemente, 1993). (Leonhardt homem sem passado” mente intitulado “Um Guérard, então prestigiado comparatista da Universidade de Stanford, nas páginas da revista literária nas páginas da revista de Stanford, comparatista da Universidade então prestigiado Guérard, norte-americana nele assumidas em das perspectivas aqui em questão e em conta o caso específico do livro Tendo por parte crítica de Albert recensão alemão foi objecto de uma breve que o original a pena referir Vale internacional mais alargado, juntando-se a uma série de outras publicações que zela- série de outras publicações alargado, juntando-se a uma internacional mais que inundaram o espaço público e governante bom nome do país e do seu pelo vam naturalmente especial conjunto de obras merece a partireuropeu 30. Neste dos anos ( de António Ferro destaque o livro as publicações apologéticas e inglesa, mas são diversas traduções francesa, espanhola parte uma boa delas fruto de um português na Europa, que então surgem do regime a cabo levado de divulgação do país no estrangeiro deliberado e programado esforço 2000). Pina outros entre (cf. Nacional de Propaganda pelo Secretariado É que ao contrário do que su- espaço alemão. no próprio seu percurso é o Sieburg português na Alemanha, o regime sobre cedeu com as publicações propagandísticas intencionalmente esquecidas e apagadas da memória que foram, por assim dizer, depois de 1945, Klossowski e publicada em 1938, veio proporcionar a este proporcionar 1938, veio e publicada em Klossowski 9 8 ritárias foram deixando de encontrar eco na Europa, o livro de Sieburg conheceu conheceu de Sieburg o livro eco na Europa, ritárias foram deixando de encontrar edições na Alemanha até, pelo menos, 1968. É certo que novas surpreendentemente da obra. ou reimpressões a simples reedições edições não correspondem estas novas aceites na Alemanha do pós-guerra, seja pelo elogio Essas dificilmente podiam ser de o seu autor ter autoritário que ali se desenha, seja pelo facto explícito do regime de ser interessan- não deixa pelos Aliados até 1948. Mas de publicar estado proíbido publicista uma das primeiras decisões que a sua actividade te notar que ao retomar toma é a de dar a público, em formato de antologia, antigos êxitos editoriais, Sieburg dades portuguesas para nunca tenha sido traduzido da época, muito embora o livro influenciar a opinião pública do volume português. todo o caso não era objectivo Em forma pres- de uma no estrangeiro o país portuguesa, representar procurar mas sim tigiante. 182 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA isso mesmo. em 1959,pastaatribuídaaAndré Malraux pelogeneraldeGaulle, sóviriaconfirmar suntos daestética.AcriaçãoemFrança doprimeiro ministériodosassuntosculturais de umindícioquenãoerajápossível expurgarcompletamenteapolíticadosas- com oregime de Salazar (cf. Fonseca quesim,mastrata-setambém 2007)?Decerto complacênciadaRepúblicapós-guerra, eporumacerta Federal daAlemanhapara doseuautor,ser explicadapelocaracterísticoconservadorismo mesmonafasedo ritária queestava nabasedaversão original. Tratar-se-á quepode deumaestrutura auto- não podedeixardenotarnestaspublicaçõesdopós-guerraamesmaestrutura Portugal obviamente paraoEstadoNovo deSalazar) transforma-se,porexemplo, noneutral mais obviamente comprometedores –otítulooriginal por muitoqueoautorsetenhaesforçado porapagarostraçosdeordem política análise dasvárias ediçõesdovolume deSieburg sobre Portugal. Mas averdade éque ao longodoperíodo. bastante fidedignodasdinâmicas(decontinuidade)do relacionamento luso-alemão curiosoepelo menos,1968,constituindodessemodoumespelhoparticularmente alemão, temumalongevidadeassinalável jáqueérepublicada em1960,1962e, expurgada dospassosquemaisdirectamente sereferiam afigurasdoanterior regime 2010: 92).Ora estareedição antológicade1952,naturalmentemuitotrabalhadae conferências,vros, artigos, etc.sobre assuntosportugueses”, reproduzida emCotrim vidualidades àsquaisforamfornecidoselementosdeestudoparaaelaboraçãoli- havia sucedidoaoSecretariado dePropaganda Nacional (“relação dealgumasindi- expedição depropaganda” doSecretariado Nacional daInformação que português, também quenessemesmoanode1952onomeSieburg constaaindada“listade rer Teil da distância:aoutra dosmelhores parte anos entre osquaissecontamassuasviagens.Éassimqueem1952surgeovolume ção deconcorrer aoprémio fica enviadapelo registada emcarta Instituto Ibero-Ame- deveria seratribuídobianualmenteàmelhor obraestrangeirasobre Portugal. Ainten- Camões, prémio instituídoem1937 pelo Secretariado dePropaganda Nacional eque Portugal, Argentina,Uruguai eParaguai. era,desde1935,responsável Richert mericano deBerlim, porEspanha, ondeGertrud diferente. Équedestavez ovolume nasceudeiniciativa alemã,noInstituto Ibero-A- paganda Nacional, sebemqueessadependênciasejanestecasodeíndoleligeiramente (1939) apresenta edoSecretariado amesmadependênciadoEstadoportuguês dePro- À semelhançado 3.2. O Está aindaporfazer, comorigorhistórico-filológicoqueseriadesejável, uma O livro tinhaumobjectivo muitoespecífico:concorrer àediçãode1939do Prémio ) ondeseincluiaviagemPortugal (Sieburg 1952).Evalerá apenaregistar –,umaleituracomparada,aindaquesuperficial,das várias ediçõesdaobra Prémio Camões Novo Portugal de 1939 deSieburg, olivro dePommeranz-Liedtke eRichert ( Geliebte Ferne: Der schönstenJahre ande- Novo Portugal (queremetia Ama- LITERATURA (D)E VIAGENS NO PERÍODO DOS FASCISMOS Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 183 a escrita à política, dado Portugal – Estado emergente no – Estado Portugal toda 10 , Ed. Steiniger Berlim, Reimar Hobbing 1939. Hobbing Reimar Berlim, Steiniger , Ed. Esta politização pode confirmar-se ainda de outra forma –e este é o segundo dos Esta politização pode confirmar-se que se integrava a que a obra concorria e importa considerar o prémio Finalmente, Além deste objectivo específico do livro, que é evidentemente condição primeira da que é evidentemente condição específico do livro, Além deste objectivo por importa é proposto sublinhar que o livro lugar, e em primeiro sentido, Nesse Instituto Ibero-Americano de Berlim Ibero-Americano Instituto secção cultural Estrangeiros, dos Negócios Ministério Ao de 1939 9 de Novembro Camões, Portugal. Assunto: Prémio da do Ministério Dahnke, Dr. o Conselheiro entre telefónica à conversa Com referência Ibero-Americano o Instituto Merkatz, von e o Dr. Popular, e Cultura Ciência, Educação com os seguintes ser atribuído por Portugal, Camões, a ao Prémio concorrer propõe-se e G. RICHERT: G. POMMERANZ-LIEDTKE autores: Atlântico 242: 37. 218, I.HA Rep Institut, Ibero-Amerikanisches Kulturbesitz, Preußischer Staatsarchiv Geheimes que o Prémio Camões se destinava à “melhor obra literária ou científica” (Pinto 2008: 2008: (Pinto obra literária ou científica” à “melhor Camões se destinava que o Prémio e Richert é, de facto, um ensaio híbrido onde se de Pommeranz-Liedtke 71) e o livro e artísticosmisturam temas e estilos literários tabelas económicas ou com análises e geográfica. observações de ordem e situação do percurso destacar–, nomeadamente através aspectos que aqui cumpre na época. Richert era funcionária de um instituto alemão que, dos autores profissional eram a maior parteembora não fosse uma instituição estatal (tal como não o das Weimar), estava República de instituições culturais ou científicas nascidas durante a da Alemanha nazi (sobre claramente alinhado com as políticas culturais e científicas 2000 ou Liehr et al. Gliech durante o período nazi cf. Ibero-Americano o Instituto então no serviço trabalhava e propaganda de imprensa 2003) e Pommeranz-Liedtke Langer 1983). do departamento do partido de política colonial nacional-socialista (cf. o trabalho cul- para um instituto cultural vocacionado Esta co-autoria, que aproxima e o departamentotural com os países ibero-americanos colonial do partido nazi, não pode evidentemente ser subestimada. de no Secretariado desenhada por António Ferro do Espírito” no âmbito da “Política 10 ricano de Berlim ao Ministério dos Negócios Estrangeiros Alemão em 9 de Novembro 9 de Novembro Alemão em Estrangeiros dos Negócios ao Ministério Berlim ricano de ministério que aquele do livro cartade 1939, 10 exemplares essa que acompanhava a Lisboa: e oficialmente chegar formal fazer deveria sua existência, há ainda outros aspectos que devem ser tidos em consideração para uma ser tidos em consideração aspectos que devem sua existência, há ainda outros surge. mais alargada desta publicação e do contexto em que ela compreensão pelo Estado portu- literário instituído um prémio um instituto cultural alemão para portanto português no âm- se inscrevem como o prémio alemã a proposta Tanto guês. da estética literária. Mas de estatização ou de politização bito do já conhecido processo de é da subordinação do que se trata aqui, na verdade, 184 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA Gibbons peloseulivro o júrique,emMarço de1940,decidiuentregar oprémio de1939aobritânicoJohn Cordeiro Ramos,João Providência deSousa eCostaCelestinodaCosta.Efoieste dojúrianterior,já tinhamfeitoparte aquesejuntaramentãoosnomesdeGustavo deOliveira,por Alberto AgostinhodeCamposeJosé Caeiro daMata, elementosque mente porAntónioFerro, ojúridasegundaediçãodoPrémio Camõeseracomposto Presidido,já queojúripassouaserintegradoapenasporportugueses. ainda enatural- isso sim,deumamudançadafilosofiaqueestava subjacenteàatribuiçãodo prémio, não setratoudeumasimplessubstituiçãoindividualdosseusmembros, tratou-se, composição dojúriapesardeoregulamento semanter(cf. Pinto 2008:136-137): Camões oSecretariado dePropaganda Nacional decidiualterarsubstancialmentea a expensasdoSecretariado dePropaganda Nacional, exactamente umdesconhecidodaselitesculturaisdopaís,quehaviavisitadoem1935 escritor suiçoGonzague deReynold comoseulivro 1937 (emboraoprémio sótenhasidoatribuídoemMaio de1938)efoiganhapelo Propaganda Nacional (cf. Pinto 2008).AprimeiraediçãodoPrémio Camõesdatade 12 11 medida nãosurpreende queoestudodeRui Pedro Pinto sobre estes (Pinto 2008:116). seafirmacomoum verdadeiroruralismo, “compêndio ideológicodoEstado Novo” obra que,sobacapadeumaestadianumaaldeiatransmontanaeapologiado no júridoprémio, portanto. livro deAntónioFerro sobre Salazar em1939,umanodepoisdeEliot terparticipado editora Faber andFaber, amesmaeditoraquehaveria depublicaratraduçãoinglesado ecatólico,estava ligadoà que oescritoramericanonaturalizadobritânico,conservador 2008: 134). Vale apenadestacarpresença de T.S. Eliot nesteprimeiro júrierecordar Lacretelle, Robert de Traz e T.S. Eliot), sendopresidido porAntónioFerro (cf. Pinto e Silva Dias) equatro estrangeiras(Hanns Johst, Massimo Bontempelli,Jacques de deOliveira, (Alberto nalidades portuguesas AgostinhodeCampos,Caeiro daMata Sieburg. Ojúridaquelaprimeiraediçãodoprémio eraconstituídoporquatro perso- da publicaçãodoseulivro estáumprocesso semelhanteaoquemotivou aobrade também paraumresultado quepoderiatersidooutro. não sóumquadro dosbastidores doconcursobastantemaiscomplexo, comoapontam 133). Há noentanto pormenores daedição de1939doPrémio Camõesquemostram, dasuaanáliseaolivro premiadodedique umaboaparte deGibbons (Pinto 2008:103- Sobre estapassagemdeEliot porPortugal cf. Silva ecatólico (2009);sobre opensamentoconservador Cf. Vilas-Boas (2011:142-143);nas “relações discriminadasdasdespesasefectuadas” peloSecre- de Eliot naépocacf. entre outros Ellis (2015:17-65). de 1936. AOS/D-M/31/9) onomedeReynold surgecomalgumafrequência deNovembro de1935aJaneiro tariado dePropaganda Nacional (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Oliveira Salazar, No anoemqueolivro dePommeranz-Liedtke concorreu eRichert aoPrémio É bemsabidoqueahistóriaéescritapelosvencedores (Benjamin 2013)enessa Não crieimusgo 12 ( I gathered nomoss Portugal 11 fazendo suporquenaorigem ) publicadoem1939,uma (1936).Reynold nãoera Prémios doEspírito

LITERATURA (D)E VIAGENS NO PERÍODO DOS FASCISMOS Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 185 de 1937 de 16 de Novembro Novembro de 16 de Ibero-Amerikanisches Archiv Ibero-Amerikanisches 13 Diário da Manhã Diário da 14 Pinto 2008: 97): Pinto apud 242: 37. Outro desses pormenores diz respeito à constituição do júri desta edição do pré- diz respeito desses pormenores Outro A impressão da obra deveria ter estado pronta já em finais de Agosto de 1939. Na sequência de Agosto de 1939. já em finais ter estado pronta da obra deveria A impressão à pôr o livro atrasou-se, de modo que só foi possível da guerra a finalização do trabalho de 1939. dias do mês de Novembro primeiros nos venda Embora na notícia não seja referido quem formulou “os pedidos” para o adiamento pedidos” formulou “os quem na notícia não seja referido Embora A data limite da entrega das obras concorrentes seria 15 de Novembro de 1939, mas “tendo de 1939, mas “tendo Novembro seria 15 de das obras concorrentes A data limite da entrega pela adiamento do período, justificados formulados no sentido dum em vista os pedidos o SPN primeiras semanas de guerra, criada às indústrias gráficas pelas situação anormal Dezembro”. até 5 de dos livros de recepção o prazo decidiu prorrogar O primeiro desses pormenores tem a ver com a decisão de adiar o prazo de recepção de recepção o prazo decisão de adiar com a tem a ver pormenores desses O primeiro 54; o discurso de Agostinho de Campos foi aliás publicado no (cf. Campos 1937). (cf. 218, I.HA Rep Institut, Ibero-Amerikanisches Kulturbesitz, Preußischer Staatsarchiv Geheimes 218, 225: I.HA Rep Institut, Ibero-Amerikanisches Kulturbesitz, Preußischer Staatsarchiv Geheimes 14 13 mio, um júri que, se não era germanófilo, estava pelo menos maioritariamente muito pelo estava mio, um júri que, se não era germanófilo, que Com efeito, não pode deixar de se registar às ideias vindas da Alemanha. receptivo deste júri português membros se encontram os dois catedráticos de novos os três entre Cor- Gustavo (respectivamente de Lisboa e Coimbra germanística das universidades e Costa) e um médico e cientista que havia de Sousa Providência Ramos e João deiro Nacional de Educação na Junta e que nos cargos desempenhados estudado em Berlim alemã um modelo a seguir na ciência viu sempre para a Alta Cultura e no Instituto de vista a empatia (Celestino da Costa). Além disso, importa igualmente não perder do júri membros de dois outros pessoal e profissional com a Alemanha que o percurso dos negócios que tinha sido ministro da Mata, como é o caso de Caeiro deixa entrever, e que, nessa qualidade, limitara a entrada em 1933 e 1935 entre de Salazar estrangeiros Chalante 2011: 46), ou de Agosti- nazi (cf. aos judeus expulsos da Alemanha Portugal 1937 fora o orador de e em Maio nho de Campos, que tinha ensinado em Hamburgo lugar no Ins- que tiveram Vicente convidado das comemorações dos 400 anos de Gil ocasião, num “alemão tendo ali discursado, nessa de Berlim, tituto Ibero-Americano Gertrud Richert em como escreve numa carta de Berlim ao então ministro fabuloso” Hoyningen-Huene. von Lisboa, Oswald do prazo da entrega das obras, a verdade é que um parágrafo da carta é que um atrás citada, que das obras, a verdade da entrega do prazo do Reich Estrangeiros dos Negócios enviou ao Ministério Ibero-Americano o Instituto e Pommeranz-Liedtke de com o livro ao prémio declarando a intenção de concorrer com toda a probabili- deverão, Richert, deixa perfeitamente que esses “pedidos” claro dade, ter tido origem na Alemanha: de 1939 ( de 1939 das obras a concurso. De acordo como o jornal como o jornal acordo De a concurso. das obras 186 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA dada àestampapeloCatholic BookClubbritânico(Gibbons 19139ae1939b).E no Hale emInglaterra eterconhecidoaindaumaoutraedição, nomesmoanode1939, pelo factodeoseulivro premiado emPortugal tersidopublicadopelo editorRobert que nãopodeedeve seresquecida.Uma afinidadequealiásseconfirmaainda mesma visãocristãecatólicadomundo(cf. nomesmosentidoPinto 2008:106) O quesignificaàsuaproximidade de sejuntaaindaaafinidadedeumaPortugal francesa, assimcomoasinúmerasrecensões ecomentários queambosmereceram). 30 (aprová-lo estãojustamenteasvárias edições dooriginalinglêsedatradução Notre-Dame 1928) quefoiposteriormentetraduzidaparafrancêscomotítulode uma peregrinação pedestre aosantuáriocatólicodeLourdes ( viajante ficousobretudo conhecidonosmeiosculturaiseuropeus comum relato de também Calado2005).Mas recordar talvez sejamaisimportante queesteescritor livro queescreveu sobre Portugal (Gibbons 1931e1936;sobre estaspublicaçõescf. cido dopaís(Pinto 2008:108)uma vez queasuaobrapremiada nãofoioprimeiro contexto queacimaficadescrito. queoautorbritâniconãoéumdesconhe- Decerto deumaperspectiva diferenteanálise teráaquidepartir daquela,tendoemcontao da obrae“trajectória” deGibbons, comoPinto (2008:103-115)sugere, masessa (cf. p.ex. Acciaiuloi 2013:50-61eZúquete 2005:55)? tónio Ferro, quetinhadaAlemanhadeHitler maisdistanciada umavisãoporventura acabara deinvadir aPolónia católica? Terá sidodeterminanteaopiniãodopróprio An- ecatólico,terátidorelutânciaportuguês ematribuiroprémio àAlemanhanazique sido porcausadoeclodirdaGuerra, queteve naAlemanhaopaísagressor? Ojúri, -Liedtke eGerturd aganharoPrémio Richert Camõesde1939. estar preparado –detudotersidopreparado– paraquefosseolivro dePommeranz- bem paraalémdoexpectável relacionamento institucional, dência trocada sobre oassuntoentre eHoyningen-Huene, aprópria Richert queestá vale apenadestacaramizadeeafinidadedemodospensar patentenacorrespon- da máquinadepropaganda culturalalemãnesteprojecto. De entre essesdocumentos Ibero-Americano empenhamento deBerlim equedãoeloquentetestemunhodoforte publicação destelivro queseencontramno(pouco)resta dosarquivos doInstituto 16 15 Nobre Guedes, Providência daCosta,Mendes Correia etc.). Pinto, Pires deLima,CabralMoncada, AgostinhodeCampos,Cordeiro Ramos, deentãofazchegaraoInstitutotural portuguesa deBerlim (CelestinodaCosta,Leite daelitecul- importante deagradecimentopeloenviodolivro queumaparte cartões Cf. Geheimes Staatsarchiv Preußischer Kulturbesitz, Ibero-Amerikanisches Institut, I.HARep 218,79. Geheimes Staatsarchiv Preußischer Kulturbesitz, Ibero-Amerikanisches Institut, I.HARep 218,228. É claro quearesposta aalgumasdestasquestõesnãopodedispensar umaanálise Não foientretanto issoquesucedeu.Os terá motivos nãosãofáceisdedescortinar: Quer dizer: osindíciosqueapontamnosentidodetudo sãodiversos emuitofortes A estespormenores acrescem aindaosdiversos documentosrelacionados coma (1934), livro essequeconheceuumapopularidaderelevante nosanos 15 16 assimcomoosdiversos Tramping toLourdes Le vagabond de , LITERATURA (D)E VIAGENS NO PERÍODO DOS FASCISMOS Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 187 A 18 (que é aliás o título de um livro de An- (que é aliás o título de um livro , que viria a ser publicado pela Faber and Faber de de and Faber publicado pela Faber , que viria a ser 17 Viagem à volta das Ditaduras das Ditaduras à volta Viagem Esta breve Esta breve Significarão todos estes factos que uma rede complexa de interesses, sustentada por rede complexa de interesses, que uma todos estes factos Significarão Gustavo é o próprio Camões ter sido anunciado, meses depois de o Prémio Poucos minada das despesas efectuadas no mês de Novembro de 1935. Em todo o caso a publicação do livro todo o caso a publicação do livro de 1935. Em minada das despesas efectuadas no mês de Novembro de Propaganda de 1935 o Secretariado que em Maio é mais complexa uma vez em Inglaterra de Ferro no em língua inglesa”; ‘Salazar’ ao livro “referente Faber Faber and pagamento à já um primeiro fizera que por um cheque despeza está representada que “esta entanto, uma nota desse mesmo mês regista em fechar, facto de no momento de [sic] o Director pelo se encontra ainda em poder do Secretariado, Nacional da Arquivo (cf. que a tradução não satisfazia” o contracto da edição, ter verificado Londres, descriminada das despesas efec- Relação AOS/D-M/31/9, Salazar, Oliveira Arquivo Tombo, do Torre ter sido decisiva como tradutor deverá de 1935). A contratação de Gibbons tuadas no mês de Maio é relativa- cujo percurso moroso, um projecto edição inglesa do livro, de para o sucesso do projecto (cf. Nacional Propaganda de contabilísticos do Secretariado mente fácil de seguir a partir dos registos despesas dos meses AOS/D-M/31/9, Salazar, Oliveira Arquivo Tombo, do Torre da Nacional Arquivo em por intermédio da Casa de Portugal de 1937 em que, sempre de 1936 e Fevereiro de Outubro pela tradução traductôres, e “aos a Gibbons as últimas prestações são pagas respectivamente Londres, alemã, apesar dos não conheceu nenhuma tradução de Ferro que o livro Note-se das ultimas notas”). Clara 2014: 147-148). feitos nesse sentido (cf. esforços Salazar: Portugal and her leader Portugal Salazar: descri- Relação AOS/D-M/31/9, Salazar, Oliveira Arquivo Tombo, do Torre da Nacional Arquivo Cf. 218, 80: 155. I.HA Rep Institut, Ibero-Amerikanisches Kulturbesitz, Preußischer Staatsarchiv Geheimes tónio Ferro de 1927) procurou mostrar, através da análise de dois casos concretos, o da análise de dois casos concretos, através mostrar, de 1927) procurou tónio Ferro da literatura de viagens. duplamente se apropriam modo como os Estados totalitários ou viagem, limitando-a, restringindo-a lugar da própria em primeiro Apropriam-se política procurava ‘corrigir’ assim os efeitos de outras redes de interesses e sobrepunha- de interesses assim os efeitos de outras redes ‘corrigir’ política procurava reestabelecida, A neutralidade portuguesa no conflito mundial estava -se-lhes de novo. também no campo cultural. 18 17 4. O “ESTADO MAIS CRISTÃO DO MUNDO”? MAIS CRISTÃO “ESTADO O 4. que se refere às afinidades do foro mais político importa do mesmo modo sublinhar político importa mais do foro às afinidades modo sublinhar do mesmo que se refere são muito Nacional de Propaganda com o Secretariado de Gibbons que as relações o autor recebe, data em que de 1935, de Novembro pelo menos, já, vêm e anteriores pela tradução a primeira prestação em Londres, da Casa de Portugal por intermédio de também em 1939. Eliot afinidades religiosas, políticas e outras (algumas delas aparentemente mais locais e liga- aparentemente políticas e outras (algumas delas religiosas, afinidades à se sobrepôs Propaganda), de Secretariado dinâmica das actividades do das à própria Camões de 1939 do júri do Prémio que a nítida maioria dos membros empatia política caso importa todo o que sim. Em igualmente É bem possível sentiria pela Alemanha? a Gibbons. prémio que esta história não termina ainda com a atribuição do acrescentar gesto de 1940 e num Ramos que, em carta pessoal datada de 11 de Julho Cordeiro de alguma forma ser compensatório, informa Gertrud Richertque parece da decisão Pública. da Instrução da Ordem português de a agraciar com as Palmas do governo 188 Iberoamericana, XVI, 63 (2016), 169-192 FERNANDO CLARA ao próprio poder político. eempromover,construir masdemodoalgumessareligiosidade sepoderiasobrepor integrantedaidentidadenacionalqueoregimedúvida, parte estava empenhadoem condecoração deuclaramenteaentenderquereligiosidade cristãecatólicafazia,sem – dodiscursopolítico:deumaformasúbtil,masnemporissomenosefectiva, esta po culturalacondecoraçãoveio reestabelecer tambémaordem –leia-se:ahegemonia apontar noutro sentido. De facto,aoreestabelecer nocam- aneutralidadeportuguesa poucosmesesdepoisdeasuaobranãoterganhoaqueleprémio,português, parece em queelaocorre. Porém, pelogoverno Richert acondecoraçãoatribuídaGertrud interpretação destegénero, sobretudo tendoematençãoocontextopolíticoespecífico Prémio Camõesde1939aobritânicoecatólicoJohn Gibbons parecia autorizaruma época, porserpermeável àinfluênciada Igreja católica? Aparentemente, aentrega do cristão domundo” (Mercereau 2013)sediferenciava deoutraspolíticasfascistasda entãocultivavam.tes doEstadoportuguês Significa istoqueapolíticado“Estadomais doacasooudaredeser consideradomero fruto derelações pessoaisqueosrepresentan- serem (deSieburg católicos econservadores aGibbons semesquecerEliot) nãopode o factodemuitosdosprotagonistas estrangeiros “convidados” poraqueleSecretariado uma inegável preocupaçãodescortinar defundocomaquestãoreligiosa. Comefeito, cretariado dePropaganda Nacional nosdoiscasosacimaanalisados,parece serpossível jogo. No porexemplo, naactuaçãoeactividadesdoSe- casoportuguês, eemparticular estético conhecediferentes zação daestética. também,depoliti- os principaisveículos defuncionalizaçãodaliteraturaeportanto, morações eoutros eventos ditos“oficiais”, porque patrocinados pelos regimes, foram discurso políticoerapossível, porconseguinte,fundirsabereestética.Prémios, come- bém peloscaminhosdaestética,numdiscursodepurapropaganda. No quadro do transformava-se assimumdiscursoquejáforadaordem dosaberequeevoluira tam- se modotambém,promovendo-se. dando-lhe orientaçõeseobjectivos, financiando-a,promovendo-a, premiando-a e,des- tradição literáriajábemestabelecidaepopulardesdepelomenosfinaisdoséculo xviii, autorizando-a emcasosespecíficos,eapropriam-se ainda,parasitariamente, deuma Baranowski, Shelley (2004): Anónimo (1964):“Abschied von Friedrich Sieburg”. 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Leipzig: Druck 3.3.1991, Frankfurt a. M.: Vervuert, pp. 356 pp. Vervuert, a. M.: 3.3.1991, Frankfurt - Jahrbuch der Deutschen Schillergesellschaft der Deutschen Jahrbuch , 36, 7, pp. 413-420. , 36, 7, pp. . Berlin: Steiniger-Verlag. . Berlin: de Tovar. Berlin/Zürich: -Verlag. Berlin/Zürich: Tovar. de Macmillan. Palgrave York: Basingstoke/New Em: ideologia ao serviço das relações luso-alemãs (1933-1945) ideologia ao serviço das relações de Lisboa. dade Nova António C. (eds.): A./Franco, Xavier, Gama Em: trato.” Franco. nal Ed. Médica. 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Traduit del’allemand etsuivid’une lettre deBernard Grasset à 9, 2,pp. 344-359. Friedrich Sieburg undProvokateur: –Ästhet Eine Biographie , 24/25,pp. 137-165. Yeats Eliot Review . Frankfurt a.M.:Societäts-Verlag. , 1,24,pp. 66*-67*. , 4,1,pp. 39-59. . Trad. Pierre Klossowski. Paris: Les . Frankfurt a.M.:Frankfurter Socie- . I.Lisboa:Instituto Nacional de (2009), Deutsche Wissenschaft, Erziehung Erziehung Deutsche Wissenschaft, , 26,2,pp. 16-23. A Angústia daInfluência. . Tübingen: R. Wun-. Tübingen:R. (2016). , 8,pp. 329-336. (2014), Estudios Ou- .