Dr. Maia Gonçalves Dá Cc/ Para O Senhor Bastonário Da Ordem Dos Médicos
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2 nortemédico EDITORIAL SAÚDE: UM NOVO GOVERNO. UMA NOVA POLÍTICA? Este número da Revista nortemédico vai chegar aos colegas com algum atraso. Entendeu o CR e eu próprio que se deveria aguar- dar a constituição da nova equipa ministerial da Saúde para perspectivarmos aquilo que nos poderão reservar os tempos mais próximos. Neste aspecto, tivemos a mesmas atitude que o país em geral, aguardando ansiosamente a constituição do novo Governo. No que se refere aos médicos, o sucesso parece ser inevitável. Se recordarmos os dislates, a inépcia, a arrogância, a falta de sentido de estado, a sobranceria, a auto-suficiência, o autoritarismo e o Miguel Leão partir de cadeiras de António Correia de Campos, é impossível Presidente da SRNOM fazer pior. Neste contexto, o novo Ministro é um homem com sorte. Contudo, como não vale a pena (re)fazer as exéquias de ninguém, vamos ao futuro e àquilo que prevejo serem as virtudes, as dificuldades e as incógnitas dos novos tempos governativos. COMECEMOS PELAS VIRTUDES: 1 – A equipa ministerial tem força. O Primeiro-Ministro (PM) assim o demonstrou, afirmando, sem tibiezas, que teve os minis- tros que quis. Gerou, desse modo, uma condição indispensável ao funcionamento da sua equipa. Na Saúde, como nas outras pas- tas, não temos uma equipa de segunda ou de recurso. Temos uma equipa de primeira e que corresponde àquilo que o PM entendeu como o necessário para governar a saúde de Portugal. 2 – A equipa ministerial tem apoio político parlamentar sóli- do. Este facto, não despiciendo, permitirá ao PSD, ao CDS e, por- tanto, em última instância, ao Governo, avançar com propostas como, por exemplo, a relativa ao acto médico, que o PSD viu inviabilizada na anterior legislatura dada a sua condição de parti- do minoritário. Do mesmo modo, a nova coligação tem todas as condições para resistir ao folclore mediático do BE, impedindo, por exemplo, a legitimação das medicinas ditas alternativas. 3 – A equipa ministerial tem tempo e é politicamente coesa. Existem excelentes condições para que se trate de uma equipa de legislatura capaz de conduzir políticas sustentadas e coerentes. Como disse o Dr. Dias Loureiro, esta equipa, como o resto do Governo, tem o poder de e para cumprir o contrato eleitoral que os partidos que o sustem celebraram com o eleitorado. Apesar de retornar ao tema a propósito das dificuldades deste Governo, é importante sublinhar-se que o facto da equipa ministerial ser cons- tituída por personalidades ligadas ao PSD permite dispensar uma negociação permanente, no que se refere à execução das políticas de saúde, com o outro parceiro da coligação. 3 PASSANDO ÀS DIFICULDADES: truturas decisórias intermédias de primeiro nível (ARS’s e Sub-Regiões de Saúde) e de segundo nível (Hospitais e Centros de Saúde). Deste facto pode 1 – A situação financeira do País. Na saúde, como resultar descentração, descentralização ou desor- em outros sectores com impacto social dificilmen- ganização. Tudo irá depender das relações do actu- te geradores de receita, a acção do Governo está al poder político com os dirigentes daquelas estru- condicionada pela situação de catástrofe económi- turas. Neste cenário, é legítimo equacionar a influ- ca e financeira que o PM anunciou durante a sua ência – conhecida e até certo ponto compreensível campanha eleitoral. Não sabemos ainda se aquela – das estruturas partidárias nas nomeações para fun- situação implicará medidas restritivas e quais. Ao ções da administração pública. Sendo certo que é nível das infra-estruturas e dos equipamentos? Pela inaceitável não privilegiar as competências técni- contenção dos salários dos profissionais de saúde? cas, seria também uma hipocrisia pensar-se que é Por uma maior comparticipação directa dos cida- possível cumprir-se uma nova política de saúde em dãos no autofinanciamento dos seus cuidados de sectores estratégicos (seja pelo volume de profissi- saúde? onais que abrangem, seja pelo peso orçamental que 2 – As políticas de saúde do PSD e do CDS. possuem) se estes continuarem a ser dirigidos por Estamos perante um governo de coligação. E se quem manifestamente se identificou com a gestão este facto permite, ao mesmo tempo que exige, es- do Dr. Correia de Campos. tabilidade política, como salientou o Presidente da República na cerimónia de tomada de posse do Go- verno, também é verdade que o mesmo facto pode COM ESTAS VIRTUDES, DIFICULDADES E INCÓG- impedir a concretização da quarta virtude: a coe- NITAS, QUAL O PAPEL DA OM? são. Trata-se, afinal, de saber se a política de saú- de, ainda que executada por uma equipa ministe- Eu diria, genericamente e sempre, o mesmo. Este rial oriunda do PSD, vai resultar do consenso ou novo poder político tem a obrigação de saber que do somatório dos programas eleitorais dos dois par- a OM é independente dos Partidos Políticos e dos ceiros da coligação, que, em alguns casos, são de Governos. Por isso, o diálogo existente com a Mi- difícil consensualização ou, até, contraditórios. nistra Manuela Arcanjo não significou apoio ao PS; como também o combate político e ideológico con- POR FIM, AS INCÓGNITAS: tra Correia de Campos não significou um ataque àquele partido. O mesmo se pode dizer em relação em relação aos governos do PSD. A oposição a 1 – A equipa ministerial não integra profissio- Leonor Beleza não foi oposição ao PSD, como o nais de saúde. O facto da equipa governativa da relacionamento cordial com Arlindo de Carvalho saúde ser constituída por personalidades com não significou suporte político àquele partido. curricula profissionais na área da gestão pode ou De tudo isto resulta uma única postura possível: não ser relevante. A tradição mostra que são preci- aplaudir quando se concorda, criticar quando se samente os ministros menos envolvidos no sector discorda. E se só esta pode ser a posição institucio- da saúde que mais capazes são de gerar consensos nal da OM, também se pode acrescentar que entre e estabilidade. Vejam-se os exemplos de João Mo- os médicos e na direcção da OM coexistem, como rais Leitão, Maldonado Gonelha, Arlindo de Car- é saudável, as mais díspares personalidades, com valho ou Manuela Arcanjo. O tempo dirá se a tra- as mais diversas opções ideológicas ou partidárias. dição continua a ser o que era. Daí resulta a vitalidade e perenidade da OM e não 2 – O papel das assessorias técnicas da equipa qualquer enfraquecimento. Daí resulta que não vis- ministerial. A equipa agora empossada vai ficar lumbro alguém na OM que esteja disponível para dependente das assessorias técnicas que vier a cons- ser constituído em correia de transmissão de qual- tituir e da máquina administrativa do Ministério quer poder estranho aos médicos, seja este político da Saúde. Tal pode implicar, como é óbvio, a neu- ou não. Daí resulta ainda que o nosso “programa tralização ou o adiamento das decisões políticas. de governo” é o resultante dos nossos códigos e Pode também significar a transferência de poderes regulamentos, também eles interpretados de acor- técnicos para aquelas assessorias deixando à equi- do com vontades eleitorais periodicamente expres- pa ministerial a gestão dos assuntos eminentemente sas. Nós, na OM, vamos continuar a pugnar pelo organizacionais e financeiros. As implicações de programa apresentado e discutido com a Ministra remeter para técnicos decisões de carácter político Manuela Arcanjo. Sabemos que o novo Governo relevante para a actividade dos profissionais de saú- vai tentar cumprir o seu. Espero que todos nos sai- de são tremendas e de difícil previsão. amos bem. Mas isso só o futuro dirá. 3 – O papel das hierarquias locais e regionais. A ausência de profissionais de saúde na equipa governativa aponta para o reforço do papel das es- nortemédico 4 POLÍTICA DE SAÚDE DR. BAGÃO FÉLIX UM SISTEMA DE SAÚDE LIVRE DE AMARRAS IDEOLÓGICAS COM UM NOVO GOVERNO PRESTES A INICIAR FUNÇÕES, NORTEMÉDICO FOI SABER QUAIS AS PRINCIPAIS MEDIDAS QUE, SEGUNDO UM OPINION LEADER NAS MATÉRIAS DA SAÚDE E SEGURANÇA SOCIAL COMO TEM SIDO O DR. BAGÃO FÉLIX, DEVERIAM NORTEAR O PRÓXIMO EXECUTIVO NA ÁREA DA SAÚDE. A COABITAÇÃO RESPONSÁVEL E AMADURE- CIDA ENTRE O SECTOR PÚBLICO E PRIVADO, BEM COMO A JUNÇÃO DAS ESTRUTURAS DOS MINISTÉRIOS DA SAÚDE E DA SEGURANÇA SOCIAL, FORAM ALGUMAS DAS MEDIDAS QUE O DR. BAGÃO FÉLIX CONSIDEROU IMPORTANTES PARA A NECESSÁRIA REFORMA DO SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE. UM SIS- TEMA QUE, SEGUNDO ELE, NÃO DEVERÁ SER ALIMENTADO DE IDEOLOGIA, MAS DE SENTIDO DE RESPONSABILIDADE, SENTIDO DE SERVIÇO PÚBLICO, ÉTICA PROFISSIONAL E GESTÃO ADEQUADA DE RECURSOS. ENTRETANTO, E CONTRARIAMENTE AO QUE NA ALTURA DESTA ENTREVISTA DISSE DESEJAR, O DR. BAGÃO FÉLIX ACABOU INCLUÍDO NO ELENCO DO NOVO GOVERNO, COMO MINISTRO DA SEGURANÇA SOCIAL, O QUE, SE DE ALGUM MODO ALTERA O CONTEXTO EM QUE SE EXPRESSOU, TAMBÉM CONFERE MAIOR RELEVÂNCIA ÀS OPINIÕES POR ELE EMITIDAS. 5 (nortemédico) – Começava por lhe perguntar dicina, o usos de cartões inteligentes, etc. Devemos quais devem ser as grandes preocupações do ter em conta que a tecnologia não é só um factor próximo Governo no que diz respeito à Saúde? de aumento dos custos unitários da saúde, pode (Dr. Bagão Félix) – É difícil responder em síntese, também ser um factor de diminuição dos custos mas creio que em primeiro lugar é preciso uma processuais. maior eficácia dos dinheiros públicos, eficácia entendida no sentido social do termo. Em segun- Referiu que a política de medicamentos deve do lugar, uma reforma que não se limite apenas permitir efectivas poupanças quer no domínio a tolerar a iniciativa privada, mas que permita dos genéricos quer no da unidose. Para além uma coabitação eficaz entre o serviço público e destas, que outras medidas podem ser tomadas as iniciativas fora do estado. Por fim, penso que para reduzir os gastos com os medicamentos? é muito importante alterar o modo e modelo de Acha que as farmácias sociais são uma boa gestão das unidades e estabelecimentos de saúde e política? construir um sistema nacional de saúde que inclua Eu não antipatizo com o alargamento das farmácias como parte fundamental o SNS, mas que não se sociais, agora essa não é uma medida de fundo, é confunda com ele.