Aeronáutica

BNDES Setorial 43, p. 119-165

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo?

Paulus Vinicius da Rocha Fonseca Sérgio Bittencourt Varella Gomes João Alfredo Barcellos*

Resumo Este artigo trata do apoio fi nanceiro ao Grupo Bombardier pela província de Quebec, Canadá, onde se localiza sua sede. Aborda de forma sintética a história da empresa, desde sua origem como fabricante de veículos para neve até chegar ao grupo atual, integrado por indústrias aeronáuticas e de material de transporte ferroviário, um dos maiores do mundo nesses seg- mentos. Fazem-se então uma análise de indicadores econômico-fi nanceiros da empresa e uma breve comparação com a Embraer, principal concorrente aeronáutico. As operações de aporte fi nanceiro estatal na Bombardier, de US$ 1 bilhão, feito pela província de Quebec, e de US$ 1,5 bilhão pela Caisse de Depôt et Placement du Québec (CDPQ) são analisadas tendo em vista a crise fi nanceira gerada pelo Programa CSeries e as novas e inovado- ras aeronaves comerciais da Bombardier. Por fi m, são avaliadas possíveis consequências desse ativismo governamental tanto para o Canadá quanto para outros países fabricantes de aeronaves, como o Brasil.

* Respectivamente, contador, com MBA em Controladoria e Finanças pela Universidade Candido Mendes (Ucam-RJ), engenheiro e gerente com PhD em Dinâmica de Voo (Cranfi eld University, Inglaterra) e ar- quiteto, com mestrado em Engenharia Civil/Área de Transportes pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP), do Departamento de Comércio Exterior 1, da Área de Comércio Exterior do BNDES. 120 Introdução O legítimo sucesso alcançado pela Embraer no mercado global é sempre motivo de admiração e orgulho nos mais diversos círculos da sociedade brasileira. Tal sucesso costuma ser entendido, quase exclusivamente, com base na excelência dos produtos e na qualidade das ações de marketing e vendas da empresa. Pouco se discute ou se debate a respeito do principal concorrente da Embraer: a empresa canadense Bombardier, de origem anterior e inventora do jato regional, há mais de 15 anos o carro-chefe do faturamento da Embraer. O presente artigo visa começar a preencher essa lacuna. A principal motivação para sua elaboração foi a recente “megaoperação” fi nanceira que injetou recursos da ordem de US$ 2,5 bilhões na Bombardier, oriundos da província de Quebec, onde estão a sede da empresa e suas principais unidades fabris. Embora seja consenso que governos costumam apoiar as indústrias aeronáuticas localizadas em seus respectivos territórios (GOMES, 2012) via compras de itens de defesa, fomento a Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) etc., não é todo dia que se assiste a uma injeção de capital estatal bilionária em uma empresa privada do setor. O que estaria em jogo e quais as consequências para o mercado em geral e para a Embraer em particular? As próximas cinco seções tentam elucidar essas questões. A seção “Breve histórico” aborda desde a origem da Bombardier até a formação do conglo- merado atual. Menciona o contencioso Brasil-Canadá, o qual fez com que a Organização Mundial do Comércio (OMC) fosse palco para que brasileiros e canadenses entrassem em litígio pelos apoios ofi ciais providos a seus respectivos fabricantes no fi nanciamento às exportações de aeronaves. A seção “Qual seria o real porte empresarial do Grupo Bombardier?” procura A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier fazer uma rápida radiografi a da Bombardier atual com base nos dados de balanço publicados, começando pelo grupo, “descendo” para a Bombardier Aerospace e, em seguida, fazendo algumas comparações entre os números desta última e da Embraer. Já a seção “Por que Quebec resolveu investir?” tenta entender o investimento bilionário da província de Quebec, tema central do artigo. A seção “Algumas consequências do aporte governamen- tal” procura avaliar as consequências dessa ação, fazendo um esforço para extrair possíveis lições para o setor em todo o mundo. Por fi m, conclui-se o artigo com os pontos principais levantados nas seções anteriores, apontando algumas possíveis questões para o futuro. Aeronáutica 121 nancia- fi -elétricas, após diesel lhos. Atualmente, mantendo Atualmente, lhos. fi . . Em 1942, é criada a Bombardier . Em 1942, é criada nalidade inicial era a concessão de nalidade inicial snowmobiles fi snowmobile cação no portfólio dos investimentos. fi A história da Bombardier tem início em 1936 quando Joseph-Armand Joseph-Armand em 1936 quando tem início história da Bombardier A de Quebec, em 1964, a empresa, baseada na província Depois de sua morte, O sucesso do veículo criado por Bombardier na década de 1930 e seus O sucesso do veículo criado por Bombardier a dependência de um único produto, que já apresentava dezenas Todavia, Ao longo dos anos, questionamentos sobre a condução dos negócios e o Ao longo dos anos, questionamentos Inicialmente, a atenção da empresa voltou-se para a indústria ferroviária. Inicialmente, a atenção da empresa voltou-se para a indústria ferroviária. nanceiro da empresa, cuja nanceiro da empresa, Bombardier consegue a patente de um veículo motorizado para uso em ter- motorizado para de um veículo consegue a patente Bombardier neve – o renos cobertos por que cinco anos dirigida por seu genro, Laurent Beaudoin, Canadá, passou a ser e listar a Bombardier ao vender dois milhões de ações depois abriu o capital, de ações: Havia dois tipos Toronto. valores de Montreal e Ltda. nas bolsas de investidores (com direito a dez votos cada) e as dos demais as da família (com por parte doscada). Isso mantinha o controle da empresa direito a um voto a viúva e seus cinco herdeiros de Bombardier: Breve histórico Breve Origens familiares Snow Car Limited. mento aos compradores dos vários modelos foi muito grande, de tal sorte que, se no inverno de 1959- vários modelos foi muito grande, de em 1969 as vendas anuais atingiram -1960 foram vendidas 225 unidades, 2004). Em 1972, foi fundada a quatrocentas mil unidades (HADEKEL, Bombardier Capital, Inc.) como o braçoBombardier Credit, Inc. (atualmente fi mais ameno em 1973 no Canadá, à de concorrentes, aliada a um inverno econômica, que impactaram diversos crise mundial do petróleo e à recessão modo considerável. Isso resultou em países, fez as vendas diminuírem de uma necessidade de diversi A formação do conglomerado A formação controle da empresa pela família ocorreram em função da geração de lucros controle da empresa pela família ocorreram ou reveses nos negócios. o controle na família, são cinco os herdeiros de Joseph-Armand Bombardiero controle na família, são cinco os herdeiros o Conselho Diretor da empresa. entre os 17 membros que compõem Em meados dos anos 1970, a Bombardier adquiriu a fabricante de locomo- Ltda.). Esta Worthington – Works tivas de Montreal (Montreal Locomotive era, então, a terceira maior fabricante de locomotivas 122 uma compra de ações feita pela Société Générale de Financement (SGF).1 Sete anos mais tarde, a Bombardier ganharia uma licitação para fornecer trens de subúrbios para a cidade de Chicago. Na década de 1980, o Canadá decidiu privatizar suas empresas estatais fabricantes de aeronaves ( e de Havilland) em decorrência dos altos custos para o desenvolvimento de projetos e de uma nova recessão mundial. Foi quando a Bombardier aproveitou a oportunidade para investir na indús- tria aeronáutica, adquirindo a Canadair Ltda. em 1986, que já contava com uma aeronave executiva a jato: o Challenger. Ampliando seus negócios na indústria aeronáutica, em 1989 a Bombardier comprou do governo britânico a fabricante de aeronaves PLC, instalada na Irlanda do Norte. Estimulada pelas novas necessidades das companhias aéreas americanas, a Bombardier desenvolveu seu jato regional a partir do projeto do Challenger, que, com algumas modifi cações e o alongamento de sua fuselagem, resul- tou no Canadair Regional Jet (CRJ) de cinquenta assentos (Figura 1), que recebeu várias encomendas durante o em 1989.

Figura 1 | CRJ 100 A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier

Foto: Anthony92931/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0.

1 A SGF foi constituída em 1962 para fi nanciar, com recursos públicos, projetos que gerassem cresci- mento econômico na província do Quebec. Aeronáutica 123 . snowmobile 2 Nessa época, a Embraer já tencionava desenvolver um jato regional como um jato regional desenvolver a Embraer já tencionava Nessa época, de equipamento Bombardier comprou dois fabricantes Ainda em 1989, a nos anos 1990, novas Com o crescimento do mercado aeronáutico , a Bombardier inovava ao Em 1995, com a criação da subsidiária continuaria suas aquisições Na década de 1990, a empresa canadense linha do tempo apresentada na Figura 2 indica o crescimento da A Em 2003, a Bombardier vendeu sua divisão de produtos recreativos da qual fazia parte o 2 consequência natural do sucesso que a empresa vinha tendo no mercado vinha tendo que a empresa natural do sucesso consequência de 19 e Bandeirante e Brasília, a turbopropulsão com os modelos americano, no Embraer materializou-se Essa intenção respectivamente. trinta assentos, cinquenta capacidade para em 1995, com Jet (ERJ-145), lançado Regional a concorrer com o CRJ. assentos, e que veio Metalliques e o fran- BN Construction Ferroviaires et ferroviário: o belga (TGV). Foi dos trens de alta velocidades ANF Industrie, fornecedor cês dos trens que fariam o contrato para fornecimento quando também ganhou Já nesse perío- ligando a França à Grã-Bretanha. a travessia do Eurotúnel, no nesse setor, a empresa que a disputa por contratos do, estava claro para acionária ou teria mais sucesso se tivesse participação continente europeu, material ferroviário. No ano seguinte, contasse com fabricantes locais de britânico de equipamento ferroviário a Bombardier comprou o fabricante Procor Engineering Ltda. Corp., um dos fabri- aquisições foram feitas pela Bombardier: Aerospace (ao lado da Gulfstream cantes americanos de jatos executivos Aircraft Manufacturing Company); e a fabricante Corp. e da Lockheed então de pro- Aircraft Company, canadense de aeronaves, de Havilland priedade da Boeing. mesmo jato executivo (por ela fabri- possibilitar o compartilhamento de um e detentores de parcelas da aeronave. cado) por diferentes coproprietários a Constructora Nacional de Carros de no setor de transporte ferroviário: Adtranz, e a Waggonbau a Deutsche Talbot, Waggonfabrik Ferrocarril S.A, a produzia seus sistemas elétricos de que, além de produzir trens, também Alstom a competir com a Siemens e a propulsão. Isso ajudou a Bombardier de equipamentos ferroviários. por novos contratos de fornecimento com diversas aquisições nos setores de transporte sobre trilhos Bombardier, e aeronáutico. 124 Figura 2 | Linha do tempo da formação do grupo Bombardier

Aquisição BN Construction Ferroviaires Aquisição et Metalliques Constructora Nacional de Carros de Ferrocarrill Aquisição ANF Industrie Aquisição Urban Transportation Aquisição Development Short Brothers PLC Corporation Ltda. Aquisição Constituição Aquisição MLW Pedidos Aquisição da Bombardier Lohner- Worthington do CRJ no de Havilland Aquisição Snow Car Ltda. Werke Ltda. Paris Air Show Aircraft Company Adtranz

1936 1942 19691971 1972 1976 1986 1989 1990 1992 1995 1997 2000

Patente do Abertura do Constituição da Aquisição Aquisição Constituição Aquisição snowmobile capital Bombardier Canadair Ltda. Learjet Corp da Flexjet Deutsche Credit Inc. Waggonbau Aquisição Aquisição Procor Waggonfabrik Engineering Ltda. Talbot

Fonte: Elaboração própria.

Todavia, o início do século XXI também trouxe más notícias para a Bombardier. A aquisição da Adtranz mostrou-se problemática e surpreen- deu o mercado com a falta de uma análise mais acurada sobre os dados da empresa (dívidas, contratos etc.). Isso, além de um contrato da Bombardier, da década de 1990, para fornecimento de trens para a americana Amtrak que sofria com atrasos e problemas técnicos. O ataque terrorista de 11 de setembro em Nova York fez com que a perspectiva de crescimento das vendas de aeronaves regionais fosse prejudicada. Tais fatores abalaram a credibilidade da empresa no mercado fi nanceiro. O conjunto acumulado de tais eventos obrigou a Bombardier a iniciar um processo de profi ssionalização de sua gestão. Para a alta administração, hou- ve a contratação, em 2003, de um novo chief executive offi cer (CEO), Paul

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier Tellier, profi ssional experiente na administração pública federal do Canadá e que, designado CEO da Canadian National Railways, foi o responsável pela reestruturação e privatização da empresa, tornando-a mais efi ciente e com melhores resultados fi nanceiros e operacionais. A prematura saída de Paul Tellier da empresa, ao fi m de 2004, fez com que Laurent Beaudoin reassumisse então o cargo até 2008, e seu fi lho, Pierre Beaudoin, fosse designado o novo CEO da Bombardier. Pierre ocupou essa posição até 2015, quando foi substituído por Alain Bellemare, profi ssio- nal que atuou nas empresas UTC Aerospace Systems e Pratt & Whitney (DUHAMEL, 2015). Aeronáutica 125 indústria nanciamento de sua fi domínio da tecnologia e mercados nanceiros, fi Guerra. Diante do perigo da amea- m da Segunda nanceiros foram criados para fazer frente a essa fi fi tecnológicos, em um mundo cada cativos avanços fi projetos naqueles setores tinham, e aindacou claro que os fi para a promoção das exportações, a geração de empregos geração de empregos para a promoção das exportações, a 3 No Canadá, são exemplos de instrumentos utilizados: a criação em 1944 No Canadá, são exemplos de instrumentos Todavia, logo Todavia, O papel do governo canadense no apoio e O papel do governo Em diversos países, um dos aspectos característicos após a Segunda Segunda após a aspectos característicos países, um dos Em diversos O país criou, em 1982, o Defense Industry Productivity Program (DIPP), O país criou, em 1982, o Defense Industry Productivity Program (DIPP), O EDC desempenha atualmente funções equivalentes às do BNDES Exim. do Export Credit Insurance Corporation, atualmente Export Development atualmente Export Development do Export Credit Insurance Corporation, Canada (EDC), aeroespacial remonta ao aeroespacial remonta desenvolvimento de variados projetos, demanda, não só contribuindo para o dos produtos deles resultantes. como também apoiando a exportação ça de expansão do bloco soviético, várias empresas que haviam produzido bloco soviético, várias empresas que ça de expansão do no Canadá foram estimuladas a operar aeronaves e equipamentos militares que atuavam no setor aeroespacial em conjunto com empresas americanas e de defesa. produção e venda. O alto têm, longo tempo de maturação, desenvolvimento, a um retorno de longo prazo requeria o custo dos investimentos associados comum entre os países que investem aporte de recursos públicos, situação defesa. Por esse motivo, diversos ins- em suas indústrias aeroespacial e de trumentos e programas 3 a seus produtos. vez mais globalizado, onde empresas e governos competem para assegurar onde empresas e governos competem vez mais globalizado, recursos matérias-primas, Guerra Mundial e, mais acentuadamente a partir da década de 1970, foi a 1970, foi a da década de a partir e, mais acentuadamente Guerra Mundial e, muitas Estado, reduzindo reformulação do da necessidade de percepção não se contrapunha sua participação em empresas. Isso vezes, eliminando nacional que de apoiar segmentos da economia às decisões estratégicas importavam em signi O papel do(s) governo(s) foi importante? foi governo(s) do(s) O papel o qual foi substituído em 1996 pelo Technology Partnerships Canada (TPC). Technology o qual foi substituído em 1996 pelo e o desenvolvimento da economia; a criação em 1965 pela província de a criação em 1965 pela província de e o desenvolvimento da economia; com mandato para promover o Quebec de um fundo de pensão (CDPQ), província; e a fundação de uma com- desenvolvimento da economia dessa estratégicos nos negócios panhia estatal (SGF) para fazer investimentos de Quebec. 126 Nesse último, dois terços de seu orçamento anual vêm sendo destinados à indústria aeroespacial, embora limitados a um teto de fi nanciamento público de 33% por projeto.4 Esses elementos explicam, em parte, o apoio à Bombardier, ao longo de seu processo de crescimento, nos âmbitos federal e provincial, assim como o de países onde a empresa possui subsidiárias. Também explicam o apoio recebido no desenvolvimento de novos projetos de aeronaves e em sua co- mercialização e na disputa por contratos de fornecimento de equipamentos para ferrovias, metrôs e outros sistemas de transporte urbanos. Assim, ainda em 1980, quando a Bombardier anunciou um programa de investimentos em suas três fábricas de Quebec, recebeu subsídios e emprés- timo com baixos juros de dois órgãos do governo (HADEKEL, 2004) – o Departamento Regional de Expansão Econômica (CAD$ 7,5 milhões) e a Sociedade de Desenvolvimento Industrial (CAD$ 3,7 milhões). Já em 1989, na compra da Short Brothers PLC da Irlanda do Norte, a Bombardier se benefi ciou do fato de o governo britânico ter retirado as dívidas da empresa de seu balanço para poder viabilizar sua privatização. Trata-se de um procedimento relativamente comum, adotado por governos para a venda de empresas estatais. Na aquisição da Canadair Ltda., o DIPP apoiou fi nanceiramente os projetos de modifi cações, aquisição de nova turbina, alteração de asas e o alongamento da fuselagem do Challenger. Ao EDC coube fi nanciar a expor- tação dessa aeronave, ainda que tivesse apenas 52% de conteúdo canadense, quando as regras do EDC permitem fi nanciamento com um mínimo de 60% de origem nacional. A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier Em 1992, quando a Bombardier introduziu no mercado os jatos regionais CRJ 200, perante uma nova recessão mundial atribuída a vários fatores (cri- se nas bolsas de valores, guerra do Iraque etc.), o governo do Canadá, por meio do EDC, não titubeou no fi nanciamento à exportação de tais aviões. Cabe destacar que o início do fi nanciamento governamental para a venda

4 A indústria aeroespacial no Canadá conta com uma forte atuação de sua associação (Aerospace Industries Association of Canada – AIAC) com os governos – federal e provinciais –, na obtenção de apoio fi nanceiro para o setor. Em 2014, de acordo com a AIAC, ele gerava 180 mil empregos (diretos, indiretos e induzidos) e foi responsável por CAD$ 29 bilhões do produto interno bruto (PIB) canadense. Nesse ano, investiu CAD$ 1,8 bilhão em pesquisa e desenvolvimento. Aeronáutica 127

5 cação e cação fi nanceiro público nanceiro fi aliado nanciamento governamental, fi de o nanciar suas exportações levou à percepção fi ), caso fosse necessário revendê-la para abater o saldo para abater necessário revendê-la ), caso fosse ). nanciamento privado ainda não tinham certeza de seu não tinham certeza privado ainda nanciamento fi eld fi nanciamentos, além de possíveis subsídios nos preços das ae- nanciamento à exportação (venda e arrendamento de aeronaves) fi fi playing residual value residual

Já alguns anos depois, em 1996, a Embraer logrou sua primeira venda para em 1996, a Embraer logrou sua primeira Já alguns anos depois, Internamente, o governo canadense recebe muitas críticas relativas aos Internamente, o governo canadense Portanto, o importante papel do Portanto, o importante level públicos e à forma como foram concedidos a diversas em- nanciamentos O processo de desenvolvimento de uma aeronave demora cerca de quatro anos até sua certi com recursos públicos, de tal sorte a favorecer uma concorrência equânime com recursos públicos, de tal sorte a ( ronaves. Assim, em 1996, o Canadá iniciou uma reclamação contra o Assim, em 1996, o Canadá iniciou uma reclamação contra o ronaves. Ao longo desse contencioso, que durou até 2002, os dois Brasil na OMC. Todavia, de parte de suas alegações. países obtiveram o reconhecimento bem não exercer o direito a medidas Canadá e Brasil consideraram por pela OMC, e foram em busca de um retaliatórias, apesar de endossadas levou à celebração, no ano de 2007, melhor relacionamento bilateral, o que Aircraft on Export Credits for Civil em Paris, do Sector Understanding para a Cooperação e Desenvolvimento (ASU) no âmbito da Organização ASU estabeleceu, desde então, parâmetros-padrão Econômico (OCDE). O para o ao comprometimento do Canadá e do Brasil em relação às exportações às exportações do Canadá e do Brasil em relação ao comprometimento em questionamen- fabricantes de aeronaves, resultou de seus respectivos a falta de equidade nas condições tos recíprocos na OMC. Isso envolvia desses de cinco a sete anos de produção e venda até que o investimento comece a dar retorno positivo. a ExpressJet Airlines. Ficou então claro que o canadense CRJ 200 competiria então claro que o canadense CRJ Airlines. Ficou a ExpressJet apoio Além disso, o brasileiro ERJ-145. diretamente com o devedor de um eventual cliente inadimplente. um eventual cliente devedor de as instituições de as instituições fi Federation (CTF) apontou Taxpayers presas. Particularmente, a Canadian 15% dos empréstimos concedidospara o fato de que, de 1982 a 1998, apenas CTF continua sendo um A foram pagos. TPC) e nos dois programas (DIPP crítico forte do apoio governamental à Bombardier (WUDRICK, 2015). sucesso, ou mesmo do valor de mercado que a aeronave teria ao longo dos a aeronave teria ao de mercado que ou mesmo do valor sucesso, anos ( de que dispunham para de que dispunham quanto Embraer e Bombardier concorreriam no mercado global. Bombardier concorreriam no mercado quanto Embraer e 5 dos jatos regionais foi providencial e importante. Por ser um produto novo, Por ser um produto e importante. regionais foi providencial dos jatos 128 Entretanto, a indústria aeroespacial é um setor em constante demanda por inovações tecnológicas e, independentemente da origem familiar da Bombardier e de seu controle acionário, gera retornos apenas em longo prazo dos investimentos realizados. Com custos e receitas em dólares americanos e diante de eventuais conjunturas mundiais adversas (epidemias, guerras, crise econômica etc.), requer apoio governamental para seu desenvolvimen- to. O quadro da canadense Bombardier apresentado neste artigo indica que parte substancial desse apoio tem-se dado tanto por meio de incentivos de créditos concedidos diretamente à empresa quanto pelo fi nanciamento da exportação de seus produtos.

Qual seria o real porte empresarial do Grupo Bombardier? O Grupo Bombardier O grupo atua em dois mercados distintos: no setor aeroespacial – com a fabricação de aeronaves executivas, comerciais e anfíbias e com serviços de engenharia e produção de aeroestruturas – e no mercado de material ferroviário, com a fabricação de trens e equipamentos corre- latos, sistemas de sinalização e controle, além de serviços de apoio. A Bombardier possui diversas empresas subsidiárias pelo mundo, sendo as mais signifi cativas situadas no Canadá, nos Estados Unidos, no México e na União Europeia. No fi m de dezembro de 2014, o Grupo Bombardier contava com cerca de 71 mil colaboradores (entre empregados e prestadores de serviço). Detinha ainda oitenta centros de engenharia e produção distribuídos por 28 países e centros de serviços espalhados pelo mundo.

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier O tamanho da Bombardier pode ser avaliado pelos números de seu ba- lanço patrimonial6 (Tabela 1). Trata-se de uma empresa de US$ 22,9 bilhões em ativos em 2015, já tendo sido de US$ 29,4 bilhões ao fi m do ano de 2013, quando chegou a acumular um patrimônio líquido de US$ 2,5 bilhões e receitas de US$ 20 bilhões.

6 Em 2011, a Bombardier passou a adotar o padrão de contabilidade do International Financial Reporting Standards (IFRS), optando por fazer o fechamento de seu balanço em 31 de dezembro de cada ano. Até então, a empresa fazia o fechamento de seu exercício social no dia 31 de janeiro de cada ano. Dessa forma, quando indicado nas tabelas, quadros e gráfi cos jan. 2011, isso representa os números correspondentes ao período de 1º de fevereiro do ano anterior até 31 de janeiro do ano indicado. O exercício concluído em 31 de dezembro de 2011 teve apenas 11 meses (1º de fevereiro de 2011 a 31 de dezembro de 2011), tendo o exercício social da Bombardier anterior terminado em 31 de janeiro de 2011. Aeronáutica 129

55 (4.054) . Compreende desde os Compreende desde os

Compreende aeronaves desde a

nanceiras (DFP) da Bombardier de janeiro fi Segmento dedicado a material fer-

547 1.320 2.449 . 960 1.410 . (Learjet), passando por jatos médios (Challenger), até (Learjet), passando por jatos médios 11.663 11.981 11.417 11.793 13.786 13.435 11.823 13.199 8.921 13.444 12.62022.120 9.912 12.415 10.719 23.356 14.386 12.823 13.119 23.339 9.497 14.977 12.105 25.238 14.495 9.965 29.363 10.798 27.614 11.375 22.903 12.125 13.128 14.124 15.134 Jan. 2010 Jan. 2011 2011 2012 2013 2014 2015 light | Composição do balanço patrimonial da Bombardier (US$ milhões) (US$ da Bombardier balanço patrimonial do | Composição Trabalha com o desenvolvimento e produção de componentes es- com o desenvolvimento e produção Trabalha principalmente para as outras truturais para aeronaves, fornecendo aeronáuticas, em especial divisões da BA, além de outras empresas e a Boeing. Envolve a produção de naceles para motores,Airbus para a Além disso, oferece o suporte técnico para partes da fuselagem e asas. de aeronaves e fornece projetos de modernização e/ou atualização aeroespacial. partes e peças e outros serviços de engenharia (BT): Bombardier Transportation turboélices Q400 até os jatos CRJ 700/900/1000 para a aviação re- turboélices Q400 até os jatos CRJ 700/900/1000 da família CSeries, com gional e o Programa em desenvolvimento de suporte técnico para os jatos os modelos CS 100 e CS 300, além CRJ 200 vendidos no passado. Aerostructures and Engineering Services (BAES): Bombardier aeronaves de grande porte e alcance (Challenger 650 e a série Global). aeronaves de grande porte e alcance (Challenger Aircraft (BCA): Bombardier Commercial Bombardier Business Aircraft (BBA): Bombardier Business categoria roviário – projeto, desenvolvimento e produção de trens (Figura 3), vagões, infraestrutura e demais serviços relacionados à indústria de trens, com projetos sendo instalados, desenvolvidos ou aperfeiçoados em diversas partes do mundo.

Os principais setores de atuação da empresa estão agrupados em dois de atuação da empresa estão agrupados Os principais setores · · · · Ativo corrente corrente Ativo não Ativo total Passivo corrente Patrimônio líquido Passivo não corrente de 2010 a dezembro de 2015. Fonte: Elaboração própria, com base nas demonstrações Fonte: Elaboração própria, Tabela 1 Tabela grandes blocos: Bombardier Aeroespace (BA) e Bombardier Transportation Transportation Aeroespace (BA) e Bombardier grandes blocos: Bombardier divisões: (BT). Nesses blocos, existem as seguintes 130 Figura 3 | Bombardier Frecciarossa 1000

Foto: Hoff1980/Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0.

Na média dos últimos dez anos, o setor aeroespacial proporcionou aproximadamente 52% do total de receitas, e o setor de transporte ferro- viário respondeu por 48% (Gráfi co 1), demonstrando um equilíbrio entre os dois blocos. A liquidez geral da empresa, ou seja, a relação entre seu ativo corrente e o passivo corrente, caía desde janeiro de 2010, quando atingiu 1,13, até A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier o fechamento do ano de 2014, quando baixou a 0,98. Em setembro de 2015, esse índice voltava a um patamar mais confortável de 1,09, muito em função da reestruturação que está em curso na empresa, especialmente no setor aeroespacial. Destaque quanto aos números do terceiro trimestre de 2015: existe um desequilíbrio entre o valor total dos ativos e do passi- vo. Embora a relação de liquidez geral tenha melhorado, a relação entre o ativo total e o passivo total (corrente e não corrente) fi cou abaixo de 1. A empresa apresentou um patrimônio líquido negativo de US$ 3,66 bilhões e um passivo 15,34% superior ao ativo total, situação que exige atenção por parte da administração do grupo.

Aeronáutica

131 2015

54% 46% 2014

52% 48% 2013

52% 48% 2012 51% 49%

Transporte 2011

53% 47% Jan. 2011 Jan.

51% 49% Jan. 2010 Jan.

52% 48% Jan. 2009 Jan. Aeroespacial 51% 49%

em uma época na qual as vendas de aeronaves aeronaves em uma época na qual as vendas de

7 Jan. 2008 Jan. 55% 45%

co 1), co

fi Jan. 2007 Jan.

56% 44% Jan. 2006 Jan. 55% 45% | Distribuição da receita da Bombardier entre os dois principais blocos dois principais blocos os entre da Bombardier | Distribuição da receita 0 20 40 80 60 100 Já o lucro líquido da Bombardier teve crescimento em janeiro de 2009, Já o lucro líquido da Bombardier teve Quanto à receita (Tabela 2), em 2014 o setor aeroespacial somou somou 2), em 2014 o setor aeroespacial Quanto à receita (Tabela em 2008. Em 2012, o segmento aeroespacial voltou a repre- agrada fl nota de rodapé 6. Ver Gráfico 1 Gráfico (%) de atuação sentar a maior parte da receita da empresa, com o retorno do crescimento com o retorno do crescimento sentar a maior parte da receita da empresa, os de grande porte, de das vendas de jatos executivos, especialmente maior valor unitário. resultado do exercício (DRE) do res- demonstrado na demonstração do de 2010, em decorrência da crise pectivo período, tendo caído em janeiro se recuperaram, as vendas (e os lucros) internacional. Já em 2010 e 2011 especialmente para os Estados Unidos, seu principal mercado, que responde em média por 50% das vendas da BBA. executivas tiveram uma queda em função da crise econômica mundial função da crise econômica mundial executivas tiveram uma queda em de 7 Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier de 2006 a 2015. Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da US$ 10,5 bilhões e o de transporte ferroviário faturou US$ 9,6 bilhões. ferroviário faturou US$ 9,6 bilhões. US$ 10,5 bilhões e o de transporte o 2009 a 31 de dezembro de 2011, No período de 1º de fevereiro de mais da metade da receita bruta da segmento ferroviário respondeu por Bombardier (Grá 132 Tabela 2 | Receita por segmento e resultado do período (US$ milhões)

Jan. Jan. Jan. Jan. Jan. Jan. 2011 2012 2013 2014 2015 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Aeroespacial 8.087 8.230 9.713 9.965 9.357 8.614 8.594 8.628 9.385 10.499) 9.897 Transporte 6.639 6.586 7.793 9.756 10.009 9.098 9.753 8.140 8.766 9.612) 8.275 Ebit 357 553 740 1.411 1.098 1.050 1.202 695 923 (566) (4.838) Lucro 249 268 317 1.008 707 769 837 598 572 (1.246) (5.340) líquido Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier de janeiro de 2006 a dezembro de 2015.

As margens de resul tado da Bombardier oscilaram signifi cativamente no período analisado. A margem Ebit (lucro antes das despesas e receitas fi nanceiras e tributos sobre o resultado, na sigla em inglês), em relação ao faturamento total do período, estava em 2,4% na DRE de janeiro de 2006, chegando a 7,2% em janeiro de 2009 com média de 5,5% entre janeiro de 2010 e o fi m de 2013. Em 2014 e 2015, esse índice fi cou negativo, e a margem líquida (o lucro líquido do período perante as respectivas receitas) também fi cou negativa, ambas infl uenciadas por despesas extraordinárias pelo reconhecimento de perdas no valor recuperável de ativos afetos ao programa do jato executivo Learjet 85 (Figura 4) e ao programa CSeries.

Figura 4 | Mockup Learjet 85 exposto em Paris em 2009 A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier

Foto: Georges Seguin (Okki)/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0. Aeronáutica 133 (6,2%) 3,2% 3,6% 4,6% 4,3% Margem operacional Margem 3,7% co 2) do resultado das vendas subtraído resultado das vendas co 2) do fi relação apresenta uma boa ca que a empresa fi 5,1% Margem líquida 1,8% 1,8% no quarto trimestre de 2014. Reconheceu uma perda de uma perda de no quarto trimestre de 2014. Reconheceu de US$ 3.235 milhões relativos ao Programa CSeries. Foi re- 1,7% | Margens de resultado da Bombardier (% do faturamento) da Bombardier | Margens de resultado Jan. 2006Jan. 2007 Jan. 2008 Jan. 2009 Jan. 2010 Jan. Jan. 2011 2011 2012 2013 2014 5 0 15 10 (5) 20 (10) Em virtude da adoção das normas do International Financial Reporting Em virtude da adoção das normas do No terceiro trimestre de 2015, houve o reconhecimento de perdas por A margem operacional (Grá operacional margem A entre o valor de suas vendas e o custo para produzir os bens e serviços ofer- os bens e serviços e o custo para produzir de suas vendas entre o valor operacional vem decrescendo desde que a margem tados. Ocorre, porém, extraordinárias de reconhecidas as perdas por despesas 2009, mesmo antes de ativo). (a exemplo de baixas Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier de 2006 a 2015. Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Gráfico 2 Gráfico Standard (IFRS) em 2011, a Bombardier fez a aplicação de teste de a Bombardier fez a aplicação de teste de Standard (IFRS) em 2011, impairment 85. Em 2015, foram reconhecidas US$ 1.357 milhões no Programa Learjet no total de US$ 1.163 milhões. perdas pelo cancelamento desse programa Por conta disso, a Bombardier demitiu cerca de mil funcionários no México e nos Estados Unidos em janeiro de 2015. Durante 2014, houve uma redução de 3,7 mil postos de trabalho na BA. impairment dos custos dos produtos vendidos comparado à receita total esteve sempre à receita total esteve comparado dos produtos vendidos dos custos de 18,6% atingiu um máximo em 2015), e 10,9% (valor registrado acima de de 2009. Isso signi em janeiro 134 duzido assim o valor acumulado desse projeto: de US$ 3.989 milhões em dezembro de 2014 caiu para US$ 1.633 em setembro de 2015, já computados os investimentos e gastos nesse programa em 2015. Com o reconhecimento de tais perdas, o resultado do grupo foi fortemente afetado. Em 2014, houve prejuízo de US$ 1.246 milhões. Em 2015, as perdas reconhecidas levaram a outro prejuízo bilionário da ordem de US$ 5.340 mi- lhões, tornando o patrimônio líquido de 2015 negativo (Tabela 1).

Teste de impairment Com a adoção do International Financial Reporting Standard (IFRS), isto é, das Normas Internacionais de Contabilidade, pelo Canadá, as empresas de capital aberto do país passaram a ser obrigadas a efetuar o teste de impairment regularmente. Esse teste está defi nido no International Accounting Standard (IAS 36) como a avaliação do valor recuperável de ativos não fi nanceiros. O objetivo é garantir que os ativos de uma empresa não sejam reconhecidos acima de seus valores recuperáveis. Segundo a norma, um ativo é reconhecido acima de seu valor recuperável se seu valor contábil exceder o valor a ser recuperado por meio do uso ou da venda do ativo. Nesse caso, o ativo é descrito como apresentando problemas de recuperação, e a entidade reconhece uma perda por redução no valor recuperável.

A Bombardier Aeroespace (BA) Formada pelos segmentos de aviação comercial, aviação executiva e aeroestruturas e engenharia, a BA é a maior área do Grupo Bombardier em receita; o setor terminou o ano de 2015 com aproximadamente 27,6 mil co- laboradores. Entre os três segmentos, a aviação executiva representa a maior receita, seguida pelo segmento de aeroestruturas e engenharia (Gráfi co 3). Com a crise econômica defl agrada em 2008, a receita, até então crescente, do A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier segmento de aviação executiva teve um período de declínio entre 2009 e 2010. Desde 2011, o segmento de aviação executiva tem expandido tanto em receita absoluta (Gráfi co 3) quanto em participação relativa à receita total (Gráfi co 4). Em contrapartida, o segmento de aviação comercial vem perdendo espaço dentro do grupo. Em 2012 e 2013, representou menos de 15% (Gráfi co 4). Em 2014, voltou a crescer, passando de uma receita de US$ 1.250 milhões, em 2013, para US$ 1.956 milhões. Nos nove primeiros meses de 2015, esse segmento registrou uma queda de 13% nas receitas em relação ao mesmo período de 2014, com redução na quantidade de jatos comerciais entregues de 45 para apenas 35.

Aeronáutica

135 2014

5,1%

24,2% 70,7%

2013 2012

54,7% 18,6% 26,7% 2011

Aeroestruturas eAeroestruturas engenharia Aeroestruturas eAeroestruturas engenharia Jan. 2011 Jan.

13,3% 53,7% 33,0%

Jan. 2010 Jan. Jan. 2009 Jan. Executivo Executivo

12,9% 53,2% 33,9%

Jan. 2008 Jan. Jan. 2007 Jan. 30,4% 20,0% 49,6%

Comercial Jan. 2006 Jan.

Comercial Jan. 2005 Jan. 24,5% 45,6% 29,9% Jan. 2011Jan. 2011 2012 2013 2014 2015 | Composição da receita da Bombardier Aeroespace por segmento (%) por segmento Aeroespace da Bombardier da receita | Composição | Receita por segmento da Bombardier Aeroespace (US$ milhões) Aeroespace da Bombardier por segmento | Receita - 0 1.000 10 3.000 5.000 2.000 70 30 50 20 4.000 6.000 40 80 60 90 100 Gráfico 3 Gráfico Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier de 2006 a 2015. Gráfico 4 Gráfico Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier de 2006 a dezembro de 2014. Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da 136 O backlog8 da aviação comercial tem sido pouco satisfatório para a empresa (Gráfi co 5). Mesmo tendo registrado dois períodos de alta no número de novos pedidos de aeronaves da família CRJ, em 2007 e 2012-2013, o volume de pedidos e entregas tem permanecido em um patamar pouco confortável (Gráfi co 6). A maior parte dos novos pedidos de aeronaves tem sido da família CSeries, cuja previsão inicial de en- trada em serviço seria para 2013-2014, tendo sofrido vários atrasos em seu desenvolvimento. Apenas em dezembro de 2015, o modelo CS 100 (primeiro a ser produzido e entrar na fase de ensaios em voo para certi- fi cação) obteve a Certifi cação de Tipo emitida pela Transport Canada, a autoridade de aeronáutica civil canadense. As primeiras entregas estão previstas para 2016. Em virtude dos atrasos, algumas encomendas de empresas aéreas correm o risco de serem canceladas. A BA não tem conseguido novos pedidos desde 2014 (SINCLAIR, 2015; OWRAM, 2015), o que vem a ameaçar sua meta declarada de trezentos pedidos fi rmes no backlog no dia da primeira entrega de um CS 100 (Figura 5), postergada para 2016.

Figura 5 | Bombardier CS 100 A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier

Foto: Alexandre Gouger/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0.

8 Número de pedidos fi rmes acumulados para novas aeronaves a serem produzidas e entregues.

Aeronáutica

137 2015 3 79 44 26 199

39 2014 2 243 243 25 59 204 98

42 2013 3 29 26 182 180 111

26 2012 4 14 36 179 148

107

38 2011 4 33 45 163 Aeronaves anfíbias CSeries 133 48

24 Jan. 2011 Jan. 4 41 56 155 Aeronaves comerciais – jatos – comerciais Aeronaves 80 CRJ

77 62 2010 Jan. 5 61 60 176 50

113 Jan. 2009 Jan. 75 4 54 235

Turboélice 146 2008 Jan. 1 62 56 66 232 120

Aeronaves executivas Aeronaves Aeronaves comerciais – turboélices Jan. 2007 Jan. 155 2 48 64 212 107

histórico de aeronaves da Bombardier (unidades) da Bombardier de aeronaves histórico Jan. 2006 Jan. 2 76 28 197 110 76

---- Backlog 2005 Jan. | Aeronaves entregues anualmente (unidades) anualmente entregues | Aeronaves 1 | 22 131 175 91 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 86 - - 50 150 350 250 100 50 300 200 400 150 250 100 300 200 Gráfico 5 Gráfico Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier de 2006 a 2015. Gráfico 6 Gráfico Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier de 2006 a 2015. Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da 138 Nos últimos anos, foi registrado um aumento da demanda mundial por aeronaves turboélice para substituir, em parte, a frota de jatos regionais em voos de curta duração e curta distância, em razão dos elevados preços do combustível de aviação no quinquênio 2010-2014. Os modelos da BA, porém, não atingiram grande êxito no mercado. Os pedidos do Q400 (Figura 6) fi caram bem abaixo dos recebidos pela concorrente direta, a ATR, consórcio entre a Alenia Aermacchi (Itália) e o Airbus Group. Em dezembro de 2013, a BA tinha um backlog de aeronaves turboélice de 26 unidades, tendo entregue 29 no ano, enquanto a ATR tinha um backlog de 221 unidades e entregue 74.

Figura 6 | Bombardier Q400 A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier

Foto: Kentaro Iemoto, de Tóquio, Japão/Horizon Air Bombardier DHC8-Q400(N424QX)/Wikimedia Commons/CC BY-SA 2.0.

Aviação executiva – Bombardier Business Aircraft (BBA) Divisão responsável pela concepção, desenvolvimento e produção de aeronaves executivas. Representa atualmente mais de 50% da receita da BA. A BBA produz jatos executivos de variados tipos e tamanhos (Quadro 1), conforme já informado. Aeronáutica 139 cação. fi (km) ** Alcance nal de certi fi nidas pela National fi guração desejada por cada cliente. fi * 6 a 78 a 98 a 9 3.815 3.778 5.926 9 a 10 7.408 10 a 1310 a 1310 a 1710 a 13 9.630 11.112 13.705 14.631 Número de assentos Número , podendo variar conforme a con , podendo variar conforme standard | Famílias de jatos executivos da Bombardier em produção da Bombardier de jatos executivos | Famílias | Challenger 605 Atualmente estão em curso os programas das novas aeronaves execu- Atualmente estão em curso os programas Learjet 70 Learjet 75 350 Challenger 650 Challenger Global 5000 Global 6000 Global 7000 Global 8000 de combustível mínimas de Alcance máximo teórico, com as reservas Capacidade na versão Learjet Challenger Global Família/nome Business Aviation Association (NBAA), voando à velocidade de cruzeiro típica. Aviation Business ** Fonte: Elaboração própria, com base nas informações contidas no portal da Bombardier. com base nas informações contidas no portal Fonte: Elaboração própria, * Quadro 1 Quadro Foto: Steven Byles, de Cingapura/A7-RZA Challenger 605/Wikimedia Commons/CC BY-SA 2.0. Commons/CC BY-SA Challenger 605/Wikimedia Foto: Steven Byles, de Cingapura/A7-RZA Figura 7 Figura Esses programas de novos jatos executivos acumularam, até setembro de Esses programas de novos jatos executivos 2015, um custo de US$ 1.961 milhões. tivas de longo curso, Global 7000 e 8000, cujas primeiras entregas estão tivas de longo curso, Global 7000 2018. O programa do Challenger 650, previstas para o segundo semestre de 7), está em fase uma evolução do modelo 605 (Figura 140 Em 2015, a Bombardier entregou 33% das aeronaves executivas co- mercializadas no mundo, fi cando com 36% de uma receita estimada em US$ 21 bilhões. O mercado de jatos executivos é altamente competitivo. Cada modelo de aeronave concorre com diversos outros, não somente no fator preço, mas também em quesitos como conforto, capacidade de passageiros e alcance, dependendo da missão a que se destina (MIGON et al., 2011). Existem cinco empresas concorrendo com a Bombardier, que conta com o maior portfólio entre elas (Quadro 2).

Quadro 2 | Aeronaves concorrentes dos modelos de jatos executivos da Bombardier, dez. 2014

Classe Fabricante Bombardier Dassault Embraer Gulfstream Cesna Jatos leves L 70 Phenom 300 CJ4; CJ3+ (light) L 75 XLS+ L 60XR;* L 85** Legacy 450 G150 Sovereing+ Jatos médios CL 350 Falcon 2000S Legacy 500 G280 Latitude (midsize) CL 605; CL 650 Falcon 2000 LXS Legacy 600 G450 X+; Longitude*** CL 800* Falcon 900 Legacy 650 G550 Hemisphere*** Jatos de grande Glo 5000 F5X*** Lineage 1000 G500 porte (large) Glo 6000 F8X;*** F7X G600; G650 Glo 7000;*** G650ER Glo 8000*** Fonte: Elaboração própria, utilizando critérios gerais da Bombardier. * Aeronaves com a produção interrompida. ** Programa de desenvolvimento suspenso em 2015. *** Programa em fase de desenvolvimento.

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier Os jatos executivos são desenvolvidos e produzidos nas unidades do Canadá (Toronto e Montreal) e nos Estados Unidos (Wichita), com centros de serviços, escritórios de vendas e suporte técnico em mais de 15 países. O escritório central fi ca localizado em Dorval, Quebec.

Aviação comercial – Bombardier Commercial Aircraft (BCA) É responsável pela concepção, desenvolvimento e produção das aero- naves comerciais da Bombardier. Produz os jatos regionais da família CRJ, os turboélices da família QSeries e está efetuando o desenvolvimento da família CSeries (Quadro 3). Aeronáutica 141 Preço de lista Preço (US$ milhões) cam localizadas fi máximo

* (km) Alcance ca localizado em Montreal, na província fi 66 a 7876 a 9067 a 86 2.553 2.876 2.063 41,0 46,0 31,3 97 a 104 3.004 49,0 108 a 133130 a 160 5.741 6.112 71,8 82,0 | Famílias de aeronaves comerciais da Bombardier em produção em da Bombardier comerciais de aeronaves | Famílias ** Os jatos regionais (família CRJ) competem diretamente com as competem diretamente com as Os jatos regionais (família CRJ) com capacidade entre sessenta e No mercado de aeronaves regionais, e a engenharia da aviação comercial produção A CS 100 CS 300 CRJ 900 CRJ 1000 Q 400 CRJ 700 início de entregas ainda em 2016. Em desenvolvimento. O CS 100 tem previsão de Na versão de maior alcance de cada modelo de aeronave. QSeries CSeries CRJ Família/nome assentos N. de Fonte: Elaboração própria, com base nas informações contidas no portal da Bombardier. com base nas informações contidas no portal Fonte: Elaboração própria, * ** Quadro 3 Quadro no Canadá (Mirabel, Toronto e North Bay), no Reino Unido (Belfast – Reino Unido (Belfast – e North Bay), no Toronto no Canadá (Mirabel, Irlanda do Norte), no México (Querétaro) e em Marrocos (Casablanca), em com centros de serviços, escritórios de vendas e suporte técnico 19 países. O escritório central de Quebec. aeronaves da Embraer (E-Jets 170/175/190), com o jato ítalo-russo com o jato ítalo-russo aeronaves da Embraer (E-Jets 170/175/190), MRJ em desenvolvimento pela Superjet SSJ100 e com as aeronaves As novas aeronaves da família CSeries terão entre Mitsubishi no Japão. as versões menores e 195 da Embraer, seus concorrentes, além dos E2 190 em um mercado A320 e Boeing 737, entrando Airbus dos jatos das família pelas gigantes do setor aeronáutico altamente competitivo e dominado mundial (Quadro 4). entregou 27% das unidades, entre 99 assentos, em 2014, a Bombardier de um total entregou 32% e a Embraer 35% ATR A turboélices e jatos. as DFPs de 2014 da Bombardier). de 692 aeronaves (de acordo com 142 Quadro 4 | Modelos concorrentes das aeronaves comerciais da Bombardier

Fabricante Tipo de aeronave Turboélice Jatos regionais Jatos comerciais N. de N. de assentos N. de assentos assentos 60-90 60-79 80-100 100-119 120-149 Bombardier Q400 CRJ 700 CRJ 900 CRJ 1000 CS 100* CS 300* ATR ATR 72 Avic MA 60; MA-700* Embraer E-170 E-175; E-190 E-190 e E2-195* E2-175* E-195; E2-190* Comac ARJ 21* Mitsubishi MRJ 70* MRJ 90* Sukhoi SSJ 100 Airbus A318 A319; A319Neo* Boeing 737-600 737-700 NG; 737-7 Max* Fonte: Elaboração própria, utilizando os critérios gerais da Bombardier. * Aeronaves em desenvolvimento.

Aeroestruturas e engenharia – Bombardier Aerostructures & Engineering Services (BAES) A Bombardier Aerostructures & Engineering Services é uma unidade de serviços especializada na criação, desenvolvimento e produção de estruturas aeronáuticas complexas. Produz itens tais como fuselagem, A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier asas, portas, estabilizadores horizontais e naceles para motores aero- náuticos, feitas em ligas metálicas ou materiais compostos. Também atua na fabricação de sistemas e componentes elétricos e mecânicos, montados em partes e peças aeronáuticas. Essa divisão é capacitada para trabalhar na engenharia de aeronaves, testes de equipamentos e certificação aeronáutica. A maior parte de sua receita é oriunda das outras divisões da BA. Cerca de 25% de sua receita provém da fabricação de peças e fornecimento de serviços de engenharia a outras empresas e no fornecimento, reparo ou modifi cações de partes e peças para aeronaves Bombardier usadas. Aeronáutica 143 orestal orestal fl | Bombardier 415 | Bombardier O modelo anfíbio Bombardier 415 é a maior aeronave de combate a de combate a Bombardier 415 é a maior aeronave O modelo anfíbio Tal segmento está distribuído geograficamente em seis países, in- em seis países, geograficamente está distribuído segmento Tal Em 2014, foi lançada a versão 415 MP, com a adequação da aeronave para Em 2014, foi lançada a versão 415 MP, Foto: Horticultural marxist/Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0. Commons/CC BY-SA Foto: Horticultural marxist/Wikimedia Figura 8 Figura Aeronave anfíbia – Bombardier Amphibious Aircraft anfíbia – Bombardier Aeronave incêndio em produção no mundo. Foi desenvolvido para esse tipo de ati- no mundo. Foi desenvolvido incêndio em produção serviço a uma necessidade apresentada pelo vidade, atendendo cluindo cinco unidades de manufatura e engenharia, localizadas no no engenharia, localizadas manufatura e cinco unidades de cluindo México (Querétaro), do Norte (Belfast), (Montreal), Irlanda Canadá com dois Conta ainda e Índia (Bangalore). (Casablanca) Marrocos nos Estados localizados pós-venda, serviços e atendimento centros de central fica e Irlanda do Norte (Belfast). O escritório Unidos (Dallas) localizado em Montreal. outros tipos de missões, como busca e salvamento – Search and Rescue (SAR),outros tipos de missões, como busca e entre outras, adotando um padrão multimissão. transporte de carga, canadense (Figura 8). canadense (Figura 144 Bombardier x Embraer A Embraer é a principal rival da Bombardier no mercado de jatos re- gionais desde meados da década de 1990, quando lançou a família de jatos regionais ERJ 145, concorrente direta dos jatos regionais CRJ 100/200 da Bombardier. De 1997 a 2005, as duas empresas disputaram ferozmente o mer- cado de aviação regional norte-americano, que concentra cerca de 75% das aeronaves desse porte vendidas no mundo. Entre 1997 e 2004, a Bombardier dominava o mercado, respondendo por mais de 50% das aeronaves entregues. A Bombardier começou a produzir aeronaves de maior capacidade em 2001, com o início da produção do CRJ 700, se- guida do CRJ 900 em 2003. Com o início das entregas da família de E-Jets da Embraer, o E-170 em 2004, o E-175 e o E-190 em 2005 e o E-195 em 2006, iniciou-se uma inversão no mercado, com a Embraer entregando mais jatos regio- nais do que a Bombardier. Além disso, houve um declínio das vendas e entregas de jatos de trinta a cinquenta assentos no mercado mundial (Gráfi co 7). Desde 2004, a Embraer já é a terceira maior fabricante de aeronaves comerciais, à frente da Bombardier e atrás de Boeing e Airbus (FONSECA, 2012).

Gráfico 7 | Número de jatos comerciais entregues no ano (unidades)

350

300

250 121 87 A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier 153 134

200 157 120 150 162 96 130 122 214 92 100 60 191 98 175 100 32 165 105 106 90 50 105 110 81 64 72 48 62 56 60 59 41 33 14 26 0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Bombardier Embraer

Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs de 2006 a 2015 da Bombardier e da Embraer. Aeronáutica 145 ciente fi m de exercício em fi ndo em dezembro do fi Bombardier , de longo alcance, não consegue captu- alcance, não consegue , de longo large Embraer co 8). Em virtude do aumento nas entregas em 2014 em 2014 virtude do aumento nas entregas co 8). Em fi caz entre as empresas. fi ns de comparação apenas, os demonstrativos da Bombardier com | Bombardier x Embraer: receitas dos respectivos setores de setores dos respectivos receitas x Embraer: | Bombardier fi 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 m do exercício da Embraer e da Bombardier, a manutenção dos valores originais permite a manutenção m do exercício da Embraer e da Bombardier, fi - 1,5 3,5 2,5 1,0 4,5 3,0 0,5 2,0 4,0 A Embraer também entrou no mercado de jatos executivos em 2002 e em 2002 de jatos executivos entrou no mercado Embraer também A A receita total da BA, nos últimos dez anos, tem sido 67% superior à da últimos dez anos, tem sido 67% superior receita total da BA, nos A janeiro de 2006 até janeiro de 2011 foram considerados relativos ao ano janeiro de 2006 até janeiro de 2011 Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs de 2006 a 2015 da Bombardier e da Embraer. Nota: Para ano anterior indicado. Embora não tenham sido ajustados em decorrência da diferença de um mês ano anterior indicado. Embora não tenham sido ajustados em decorrência da diferença de um mês entre o comparação e Gráfico 8 Gráfico (US$ bilhões) aviação comercial para garantir a lucratividade. então começou a concorrência direta entre alguns modelos das duas fabri- modelos das direta entre alguns a concorrência então começou não porém, por tem ganhado mercado, Embraer A segmento. cantes nesse na classe possuir aeronaves e nos três primeiros trimestres de 2015, o setor de aviação comercial da trimestres de 2015, o setor de aviação e nos três primeiros não o su seu desempenho, mas ainda Bombardier vem melhorando Embraer. No entanto, no setor de aviação comercial, a Embraer tem obtido setor de aviação comercial, a Embraer No entanto, no Embraer. entre às da BA sendo cerca de duas vezes superiores receitas 56% maiores, 2010 e 2014 (Grá rar uma fatia desse segmento que é a mais rentável. É nesse setor que a setor que a rentável. É nesse que é a mais desse segmento rar uma fatia década, podendo melhores resultados há mais de uma Bombardier alcança mundial. das líderes da aviação executiva ser considerada uma 146 De maneira geral, o lucro líquido dos dois grandes segmentos da Bombardier combinados (BA + BT) é superior ao apresentado pela Embraer. A exceção foi o período de 2005 a 2007, quando seu resultado foi inferior ao de sua concorrente (Gráfi co 9). Em 2008, essa situação se reverteu, ao apresentar uma margem líquida de 5,1%, melhor resultado em uma década. Mas se a comparação for quanto à margem líquida, a Embraer obteve me- lhores resultados no decênio 2005 a 2014, com uma margem líquida média de 5,8%, enquanto o Grupo Bombardier fi ca em 2,3%. Em 2014, o resultado do grupo foi fortemente afetado pelas baixas por impairment ocorridas na BA, o que consumiu o já baixo resultado obtido pela BT. Em 2015, com o reconhecimento de mais perdas, o prejuízo foi da ordem de 30% do faturamento da BA no ano.

Gráfico 9 | Bombardier x Embraer – lucro líquido (US$ milhões)

1.500

1.000

500

-

(500)

(1.000)

(1.500) 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Embraer Bombardier A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier e da Embraer de 2006 a 2014. Nota: Para fi ns de comparação apenas, os demonstrativos da Bombardier com fi m de exercício em janeiro de 2006 a janeiro de 2011 foram considerados relativos ao ano fi ndo em dezembro do ano anterior indicado. Embora não tenham sido ajustados em decorrência da diferença de um mês entre o fi m do exercício da Embraer e da Bombardier, a manutenção dos valores originais permite comparação efi caz entre as empresas.

Mesmo o lucro operacional da BA, desconsideradas as despesas não recorrentes, tais como as baixas por impairment, tem apresentado resulta- do abaixo do obtido pela Embraer. Na Tabela 3, observa-se que o Ebit da Bombardier e o da Embraer, desconsiderados os gastos extraordinários, Aeronáutica 147 . Ao rmes), fi backlog . large de jatos comerciais bai- backlog da Embraer está associado a pedidos da Embraer está associado a pedidos co 10 decorreu das encomendas de jatos das encomendas de jatos co 10 decorreu fi 4,78,5 4,8 6,9 6,3 7,3 5,8 5,5 4,4 9,9 4,1 11,4 4,2 8,6 backlog 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 473,0 448,0537,0 554,0 379,4 502,0 391,7 382,0 318,2 388,0 611,9 437,0 713,4 543,0 em unidades de jatos comerciais (pedidos em unidades de jatos comerciais (pedidos sete anos, em dois dos últimos desse patamar car acima fi regionais. culdades em conseguir novas vendas de jatos fi backlog | Bombardier x Embraer: resultados operacionais (valores em US$ milhões em US$ (valores operacionais resultados x Embraer: | Bombardier co 10). A Embraer teve uma queda entre 2007 e 2013, resultante da Embraer A co 10). fi Enquanto a Embraer tem margens Ebit sempre superiores a 5,5%, a BA a BA superiores a 5,5%, Ebit sempre a Embraer tem margens Enquanto Outro aspecto importante a comparar entre as empresas é sua capacida- Outro aspecto importante a comparar A BA vinha, desde 2005, com um BA A Portanto, constata-se que, no cômputo geral, a situação empresarial atual Portanto, constata-se que, no cômputo geral, a situação empresarial atual Ebit BA Ebit Embraer Ebit Embraer (%) Margem Ebit BA (%) Margem Ebit Embraer Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier e da Embraer de 2009 a 2014. Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da e percentual sobre receita operacional) receita sobre e percentual Tabela 3 Tabela mesmo atuando em setores em tese mais lucrativos e de maiores margens, de maiores margens, setores em tese mais lucrativos e mesmo atuando em de jatos executivos da classe como a comercialização somente conseguiu somente conseguiu representam margens bem distintas na comparação com as respectivas com as respectivas distintas na comparação bem margens representam receitas operacionais. se comparar o de de geração de receitas futuras, representada em parte pelo de de geração de receitas futuras, representada crise econômica de 2008. Na época, aumentaram o número de cancelamentoscrise econômica de 2008. Na época, aumentaram de pedidos e as di observa-se que há um crescimento para ambas as empresas a partir de 2012 observa-se que há um crescimento para (Grá xo, representando pouco mais de um ano de produção. Grande parte do ano de produção. Grande parte do xo, representando pouco mais de um crescimento mostrado no Grá está atrasada em mais de CSeries, cuja conclusão do desenvolvimento As encomendas dos jatos em produção continuam pequenas, e três anos. vendas relevantes na retomada a empresa não tem conseguido angariar onde os CRJ 700 e 900 concorrem do mercado regional norte-americano, Outro fator que contribuiu para o cresci- com o E-Jet 175 da Embraer. mento considerável do é mais favorável para a Embraer, apesar de esta ter um porte bastante inferior é mais favorável para a Embraer, para a nova família de jatos, a E2, prevista para cumprir suas primeiras para a nova família de jatos, a E2, prevista para cumprir suas primeiras entregas em 2018. 148 ao da Bombardier. No entanto, a Embraer segue na posição de terceiro maior fabricante de jatos comerciais do mundo – graças aos E-Jets –, enquanto a Bombardier mantém essa terceira posição na fabricação de aeronaves civis em geral, graças ao sucesso de seus jatos executivos.

Gráfico 10 | Bombardier x Embraer: backlogs dos respectivos setores de aviação comercial (unidades)

600

500

400

300

200

100

0 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Embraer Bombardier

Fonte: Elaboração própria, com base nas DFPs da Bombardier e da Embraer de 2006 a 2015.

Por que Quebec resolveu investir? O investimento patrocinado pela província de Quebec na Bombardier em 2015 foi estruturado em duas tranches, que totalizam US$ 2,5 bilhões.

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier A primeira tranche – US$ 1 bilhão – é voltada especifi camente para o Programa CSeries, e a segunda, US$ 1,5 bilhão, embora não tenha destino específi co dentro do grupo, deverá, por questão de absoluta necessidade, ser aplicada majoritariamente nesse programa. As seções seguintes tentam explicar como se chegou a essa situação.

A promessa do Projeto CSeries Desde que nasceram como um projeto de nova aeronave – antes de virar um programa –, os jatos da família CSeries estiveram associados a uma aura de avanço com salto tecnológico. Simbolizavam o maior empreen- Aeronáutica 149 - fi cativa. Como cativa. fi ciente para ser con ciente para fi – o Bandeirante e o Brasília – o Bandeirante e 9 nanceiros. Tal perspectiva não poderia deixar não poderia perspectiva Tal nanceiros. fi guração com motores mais potentes, o CRJ 200, o qual fi rmado, com um atrativo à época inigualável: um motor à época inigualável: um motor rmado, com um atrativo fi leira com quatro assentos, dois de cada lado da fuselagem. leira com quatro assentos, dois de cada lado fi começou a trabalhar na evolução m da década de 1980, a Bombardier fi Como passos seguintes, tanto a Bombardier como a Embraer viriam a pro- Como passos seguintes, tanto a Bombardier A Bombardier inventou o jato regional. A década de 1980 consagrou década de 1980 A inventou o jato regional. Bombardier A Nessa época, a Bombardier já dispunha em seu portfólio do Canadair Nessa época, a Bombardier já dispunha essencialmente Aeronaves de pequeno porte, com capacidade de 19 a cinquenta assentos e empregadas gurada cada duzir jatos maiores, mas as soluções adotadas foram distintas. A Bombardier, Bombardier, A adotadas foram distintas. duzir jatos maiores, mas as soluções a novamente pioneira, produziu sucessivas versões derivadas do CRJ 200, que saber os CRJ 700, CRJ 900 e CRJ 1000, cobrindo a faixa de capacidade Nascia assim o Canadair Regional Jet (CRJ), inicialmente como CRJ 100 Nascia assim o Canadair Regional e, depois da recon Até o encerramento de sua de 1992. teve grande sucesso comercial a partir haviam sido entregues. Dessa forma, produção, pouco mais de mil unidades quase cinco anos, embora esta última a Bombardier precedeu a Embraer em vendidas do concorrente ERJ-145 viesse atingir a marca de 941 unidades 2014). (MATHEWS, inteiramente novo, gerando economia de combustível de 12% a 15% em gerando economia de combustível inteiramente novo, signi tecnológico existente, uma inovação relação ao padrão de gerar controvérsias dentro da própria empresa: o Projeto CSeries foi CSeries foi o Projeto da própria empresa: controvérsias dentro de gerar período de e, depois de um ao mundo em 2005 apresentado originalmente 2008, foi “esquecido”. Em foi paulatinamente com o mercado, interação formalmente con a e no Brasil. Porém, essa regional nos Estados Unidos, na Europa aviação com aeronaves turboélice aviação era equipada se chegou a essa situação? 9 Challenger 600, um jato executivo de porte relativamente grande. Portanto, Challenger 600, um jato executivo de dado: proceder ao alongamento da fu- o caminho de menor esforço estava A a poder acomodar cinquenta assentos. de forma selagem do Challenger, pelo fato de essa aeronave executiva iniciativa era particularmente indicada ampla o su ter uma fuselagem de seção transversal da Embraer, o Jetstream da BAE Systems, o F-27 da Fokker e o Dash 8 da da BAE Systems, o F-27 o Jetstream da Embraer, Assim, Bombardier. posteriormente essa linha para a Boeing, a qual vendeu já no natural para esse segmento: o jato regional. dimento da Bombardier Aerospace tanto em aspectos físicos (pelo porte físicos (pelo porte tanto em aspectos Aerospace da Bombardier dimento quanto em das aeronaves) no tráfego doméstico ou internacional transfronteiriço. Os jatos BAe 146 e Fokker Mk28 – com modelos no tráfego doméstico ou internacional transfronteiriço. Os jatos BAe 146 e Fokker Mk28 – com modelos rotas de setenta a cem assentos – não eram vistos então como “regionais”, embora operassem várias caracterizáveis como tais. Isso mudaria na virada da década de 1980 para a de 1990. 150 vai de setenta a cem assentos. Já a Embraer partiu, em 1999, para o projeto de uma família inteiramente nova de aeronaves, os E-Jets, e o E-195 comporta até 122 assentos. Porém, nessa nova etapa da concorrência no mercado – de 2004 até hoje –, a Embraer se tornou líder, com uma vantagem média aproximada de dois para um dos E-Jets sobre os CRJs. Dessa forma, foi natural a Bombardier lançar uma família inteiramente nova de aeronaves, na segunda metade da década passada. Denominada de CSeries, a família comportaria dois modelos, a saber, o CS 100 (110 assentos) e o CS 300 (135 assentos, podendo chegar a 149 com algumas modifi cações). Porém, a empresa desejava – e precisava de – algo para se diferenciar da concorrência. Uma oportunidade se materializou com um novo projeto de motor que poderia ser empregado. A norte-americana Pratt & Whitney Aircraft Engines (P&W), no decorrer de sua história, sempre esteve entre os três maiores fabricantes de motores aeronáuticos do mundo, juntamente com a também norte-americana General Electric (GE) e a britânica Rolls Royce. Na primeira geração dos jatos comerciais da Boeing – os sucessivos modelos 707, 727, 737 e 747 –, a P&W chegou à posição de líder de mercado, principalmente nas aeronaves narrowbodies10 campeãs de vendas na história da aviação comercial, o 727 e o 737. No entanto, conforme a segunda geração de jatos comerciais narrowbodies chegava ao mercado, a partir de 1985, a P&W perdeu sua proeminência. A nova versão da família de aeronaves B737 passou a empregar exclusivamente um motor resultante de joint venture entre a GE e o Grupo Safran (francês), denominado CFM-56. Já a família do Airbus A320 oferecia a opção entre o mesmo CFM-56 e o V2500, produzido pela International Aero Engines

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier (IAE) – um consórcio formado originalmente por cinco empresas: P&W, MTU (alemã), Rolls-Royce, Mitsubishi e Kawasaki (japonesas), às quais se somaria a Ishikawajima. Assim, a P&W fi cou com sua participação diluída no segmento de maior volume de vendas de todo o mercado mundial. Isso foi ainda agravado pelo fato de que, no A320, o V250011 fi cou com uma fatia um pouco abaixo de 50%.

10 São aeronaves “estreitas” – apenas um corredor, empregadas essencialmente em rotas de curto ou médio alcance. 11 Uma versão atualizada do motor IAE V2500 equipa o KC-390, o novo avião-tanque e cargueiro militar da Embraer. Aeronáutica 151

fan , ocorre E a segunda era era E a segunda 12 , que gera grande volume grande volume , que gera a relação entre a rotação (alta) do 13 , ca. Esse arranjo proporciona maior empuxo e mais fi que é, na verdade, uma hélice com um número muito narrowbodies fan turbofan desmultiplicadoras. xa, provida por engrenagens fi | Turbina PW 1000G exposta no Berlin Air Show 2012 PW 1000G exposta no Berlin Air Turbina | Em um motor a jato do tipo Nesse quadro, a P&W tomou duas decisões fundamentais na primeira na primeira duas decisões fundamentais tomou a P&W Nesse quadro, motor a jato “puro”. do que no ciência energética é voz corrente na indústria que as receitas de manu- Embora isso não seja publicado formalmente, motor a jato aciona uma hélice convencional na parte dianteira, por meio No motor turboélice, um fi o mesmo, só que, em vez da hélice, há um superior de pás, envoltas por uma carenagem especí e eixo central do motor – acionado pela turbina – e a rotação (baixa) do eixo central do motor – acionado pela a tenção comprariam quatro ou cinco motores novos ao longo da vida típica de um motor aeronáutico jato (25 a trinta anos). 13 de engrenagens que desmultiplicam os giros do primeiro até chegar à hélice. Já no jato 12 Foto: Bin im Garten/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0. Commons/CC BY-SA Foto: Bin im Garten/Wikimedia é uma razão matemática Figura 9 Figura um salto tecnológico para assegurar sucesso nesse retorno. Nasceu, Nasceu, nesse retorno. assegurar sucesso tecnológico para um salto como (GTF), Turbofan da MTU, o Geared assim, com a participação mostra a Figura 9. de vendas e, principalmente, receitas de manutenção. e, principalmente, de vendas metade da década passada. A primeira era que deveria retornar ao mer- que deveria retornar primeira era A década passada. metade da para aeronaves cado de motores 152 Já no GTF, há a interposição de uma “caixa de marchas” entre o eixo da turbina e o do fan, fazendo com que a relação de giro entre os dois possa ser regulada conforme a fase do voo (decolagem, cruzeiro, descida etc.). Isso eleva a efi ciência energética do motor a tal ponto de possibilitar economia no consumo de combustível de 10% a 15%. Essa foi a rota tecnológica perseguida pela P&W para lançar e desenvol- ver, na segunda metade da década passada, a família de motores denominada PW1000G Pure Power. A incorporação de versão específi ca desse motor ao projeto do CSeries, o PW1500G, foi um casamento entre nubentes absolu- tamente alinhados: ambos visavam ao sucesso ao adentrarem os respectivos segmentos de mercado dos quais estavam, até então, total ou parcialmente ausentes, e por meio de excelência tecnológica fundada em inovação.

A crise do CSeries A reação do mercado ao Programa CSeries, ofi cializado em 2008, esteve longe de ser unânime. As empresas aéreas responderam com um otimismo cauteloso, dando as boas-vindas à grande economia de combustível prome- tida, em uma época em que o barril de petróleo estava acima de US$ 100, mas preferindo ver o produto em ação para crer. A reação forte veio do grande duopólio da indústria, constituído por Airbus e Boeing (NEWHOUSE, 2008). Isso porque o Programa CSeries visava, inicialmente, à faixa de mercado que, grosso modo, poderia ser ca- racterizada como a de cem a 150 assentos. Evidentemente que um sucesso nessa faixa levaria a Bombardier para voos mais altos, a faixa de 150 a duzentos assentos. Ocorre que é justamente nessa última faixa que Boeing e Airbus têm a maior parte de suas vendas de jatos narrowbodies.

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier Na época do lançamento do Programa CSeries, os carros-chefes de vendas (para entrada em serviço dali a dois ou até cinco anos) da Boeing e da Airbus eram, respectivamente, o B737-800 e o A320.14 São aeronaves confi guradas para 150 a 189 assentos, dependendo do espaço entre as fi leiras, com uma ou duas classes etc. Abaixo disso, a Boeing tinha o B737-700 (126 a 159 assentos) e o B737-600 (108 a 132 assentos); os correspondentes da Airbus eram, respectivamente, o A319 e o A318. O 737-600 e o A318 revelaram-se

14 Ambos conhecidos no mercado, jocosamente, como cash-cows, ou seja, “vacas leiteiras” para seus respectivos fabricantes. Aeronáutica 153 tam- 15 , o E-195-E2, ago- top cialmente o Programa E2 fi A320neo cialmente o Programa fi car que seu produto fi Boeing o Programa cialmente em agosto de 2011 fi ). As aeronaves da família A320 passariam a oferecer A320 passariam a oferecer da família As aeronaves ). A Boeing só lançaria o Boeing A uma postura bastante cautelosa, Já a Embraer (US$ 6,3 bilhões) adotou Em dezembro de 2010, a Airbus lançou o Em dezembro de 2010, a Configurou-se assim um quadro de conflito: as duas empresas duas empresas um quadro de conflito: as Configurou-se assim apresentadas referem-se à receita operacional líquida (ROL) consolidada dos respectivos As cifras new engine option de seus E-Jets, depois de certi na ra alongado para até 132 assentos, não teria concorrentes diretos nem A318). Airbus (que também resolveu não ter sucessor para o Boeing nem na como de praxe. Esperou pelo anúncio da Boeing, não somente no que dizia como de praxe. Esperou pelo anúncio para saber se a nova família respeito ao B737 Max, mas principalmente ao B737-600 – sua intenção não era contemplaria uma aeronave equivalente Apenas em junho o gigante americano. entrar em concorrência aberta com o a Embraer lançou Air Show, de 2013, no Paris ( tecnologia GTF) ou o motor CFM Leap1A. Este (com o motor PW1100G CFM International (CFMI) para último seria desenvolvido pelo consórcio anteriormente, é uma das duas opções substituir o CFM-56, que, como visto não incorpore A320. Embora o Leap1A existentes para aeronaves da família que as melhorias a ele incorpo- o consórcio CFMI garante a tecnologia GTF, Pure Power. aos novos P&W radas gerarão benefícios iguais ou superiores opção de motor: o CFM Leap1B, 737 Max. Nesse caso, há apenas uma Airbus. similar àquele desenvolvido para a bém nova entrante no produto em questão. A reação não levou muito reação não levou muito A no produto em questão. bém nova entrante tempo para ser deflagrada. 15 Corporation (UTC). Technologies está incorporada à United P&W A grupos empresariais em 2014. incumbentes no mercado duopolizado, Boeing (US$ 90 bilhões) e (US$ 90 bilhões) e mercado duopolizado, Boeing incumbentes no Bombardier sendo desafiadas pela nova entrante Airbus (€ 60 bilhões), (US$ 65 bilhões), com o apoio firme da P&W (US$ 20 bilhões), um fracasso de vendas, não sendo mais fabricados. O Programa CSeries O Programa sendo mais fabricados. de vendas, não um fracasso do e imediato aos mercados um assalto direto percebido como foi assim como isso funcionasse de que com a clara perspectiva A319, e do B737-700 o B737-800 do duopólio: ao coração para se chegar rapidamente alavanca ainda do mercado” aos incumbentes tornava esse “assalto A320. O que e o uma economia de o fato de que o CSeries entregaria mais dramático era do motor PW1500G. a 15%, graças à tecnologia GTF combustível de 10% 154 Só havia uma opção de motor: o PW1700G para o E175-E2 e o PW1900G para os E190-E2 e E195-E2, com a tecnologia GTF. No cômputo geral, em dezembro de 2015 o impacto da reação Boeing/ Airbus/Embraer no Programa CSeries foi estarrecedor:

· a Airbus acumula pedidos fi rmes para 4.443 aeronaves da família A320neo; · a Boeing acumula pedidos fi rmes para 2.955 aeronaves da família B737Max; · a Embraer acumula pedidos fi rmes para 267 aeronaves da família E2, com opções para mais 265; · a Bombardier acumula pedidos fi rmes para 243 aeronaves da família CSeries, com opções para mais 162, cifras consideradas não totalmen- te seguras pelo mercado (SPINGARN; COWLEY; CAIADO, 2015); · a P&W viu a demanda de seus novos motores PW1000G crescer na década passada – de um potencial inicial de um ou dois milhares (nos CSeries), nesta década se encontra em mais de dez mil unidades,16 atingindo seu objetivo fundamental: retornar, com sucesso, ao centro do mercado mainstream da aviação comercial.

O quadro assim delineado não signifi ca, muito menos sinaliza, em absolu- to, um fi m próximo para o Programa CSeries. Mas ele acabou por penalizar a Bombardier fortemente no lado fi nanceiro. Depois de sucessivos atrasos nos cronogramas do programa, sobretudo por problemas de engenharia, as primeiras entregas do CS100, previstas originalmente para 2013, só deverão

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier ocorrer em 2016. Como em qualquer outro tipo de indústria, isso acarreta ao menos os seguintes problemas:

i. A postergação signifi cativa – medida em anos – do início das en- tregas faz com que o capital investido, na fase de desenvolvimento do programa, primeiro aumente as estruturas físicas, de pessoal e de P&D e que têm de ser sustentadas por muito mais tempo do que

16 Foram aqui incluídos os pedidos fi rmes de compras de motores para as 223 unidades do jato regional de 92 assentos MRJ90 da Mitsubishi. Embora não concorra diretamente com os CSeries, sua única opção de motor é o PW1200G, com a tecnologia GTF da P&W. Aeronáutica 155 , cativos, fi , como visto – production ramp-up production impairment robusto e numeroso. Isso por acaba por coincidir – em virtude dos acaba por coincidir backlog nanceiro. fi nanceira. Ainda em 2015, foi necessário Ainda em 2015, nanceira. fi

ramp-up tsunami serão reali- primeiras entregas à fase em que as nal fi desse setor, os novos modelos Global 7000/8000, por os novos modelos Global desse setor,

uma fase que se denomina agrada fl atrasos do programa – com aquele de repagamento do capital levan- – com aquele de repagamento do atrasos do programa se pode estar desenvolvimento do programa, então tado para a fase de problemática. diante de uma situação originalmente orçado; depois, faz com que o adiamento do início do adiamento do início faz com que o orçado; depois, originalmente mais necessariamente capital torne-o repagamento desse período de do ponto de vista oneroso, série de um aumento da cadência de produção em ou seja, o gradual signi Isso requer investimentos produto até então inexistente. todos os seus fabricante (Bombardier) como de tanto por parte do se o período da cadeia produtiva. Ora, fornecedores e subcontratados de dos investimentos zadas, é de No caso do programa CSeries, essas duas “ondas” acima se combinaram, No caso do programa CSeries, essas Tendo em vista o porte do Grupo Bombardier (US$ 20 bilhões de Grupo Bombardier (US$ 20 bilhões de em vista o porte do Tendo A gravidade desse quadro geral fez com que a Bombardier cancelasse o gravidade A ii. Quando chega a chega ii. Quando realizar uma baixa contábil – tecnicamente um realizar uma baixa contábil – tecnicamente produzindo quase uma de US$ 3,23 bilhões. É preciso atentar para o fato de que uma indústria para o fato de que uma indústria de US$ 3,23 bilhões. É preciso atentar quando adiciona-se o “fator matador” aeronáutica só chega a essa condição à situação já crítica: a falta de um ROL/2014) e as cifras mencionadas, não é surpreendente que soluções não ROL/2014) e as cifras mencionadas, não é surpreendente que soluções ortodoxas tenham sido buscadas e, para espanto geral, tenham sido encontra- Além disso, sua forma de implementação das em prazo relativamente curto. tem alguns aspectos de bastante originalidade, como mostrado a seguir. pelo menos dois anos, ou seja, para 2018. pelo menos dois anos, ou seja, para Programa Learjet 85 e postergasse o início das entregas da próxima geração Programa Learjet 85 e postergasse do melhor produto dois motivos: a carteira precisa ser robusta – clientes sólidos – para que a dois motivos: a carteira precisa ser recursos adicionais no mercado, não empresa tenha facilidade de levantar carteira precisa ser numerosa, para que previstos no orçamento original; e a mantida por vários anos, baixando o uma alta cadência de produção seja pedidos do programa CSeries não carteira de A custo unitário de produção. desejáveis, depois de sete anos parece já ter adquirido essas características das primeiras entregas. de existência e às vésperas do início 156 A solução político-financeira Conforme amplamente noticiado na imprensa internacional (SEIFMAN et al., 2015; TRIMBLE, 2015), a situação delicada em que a Bombardier se encontrava, com tendência de piora, começou a ser equacionada em novem- bro de 2015. Isso depois de várias tentativas frustradas de se buscar sócios, investidores ou partícipes dos mais variados tipos na China, na Airbus etc. (SPINGARN et al., 2015; FLOTTAU; PERRETT, 2015).

O investimento estatal de Quebec no programa CSeries Em outubro de 2015, o Governo de Quebec, no Canadá, acertou com a Bombardier um investimento de US$ 1 bilhão no Programa CSeries. Esse aporte será destinado à criação de uma subsidiária pela Bombardier para dar continuidade a esse programa. A Bombardier irá transferir todos os ativos, passivos e obrigações do programa para essa nova empresa, fi cando com 50,5% do capital da sociedade, e a província de Quebec terá 49,5% com a injeção de US$ 1 bilhão. O aporte dos recursos está condicionado a uma série de ações de reorganização interna na Bombardier e à possibilidade futura do exercício do direito de conversão desse aporte em participação no capital do Grupo Bombardier. A perspectiva é que essa operação se concretize ainda em 2016. Da parte do governo de Quebec, o principal interesse está em manter em seu território, por um período mínimo estipulado em vinte anos, as instalações e atividades de administração, produção, engenharia, pesquisa e desenvolvimento do Programa CSeries e, sobretudo, manutenção e criação de postos de trabalho e do conhecimento técnico.

A fórmula afi nal encontrada tem por base uma forte atuação estatal por parte Quebec, a notória província francófona do Canadá. Ali se localiza o palco principal da longa história da Bombardier e é onde a empresa tem

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier sua sede e principais unidades fabris. A província designou duas fontes de recursos: seu próprio tesouro e seu fundo de pensão, o CDPQ, o qual aten- de às necessidades de previdência complementar e de seguros de diversas entidades públicas e parapúblicas. Já como destinos dos recursos foram designados respectivamente a Bombardier Aerospace – com US$ 1 bilhão – e a Bombardier Transportation – com US$ 1,5 bilhão. O total de recursos alocados em benefício do Grupo Bombardier atinge, portanto, a cifra total de US$ 2,5 bilhões com regras que permitem sua uti- lização, a critério da empresa, essencialmente para o programa CSeries. Os textos em destaque “O investimento estatal de Quebec no programa Cseries” Aeronáutica 157

gurar fi for holding performance nanceiras, nanceiras, consideradas fi nanceira estruturada e bastante complexa. nanceira estruturada e bastante complexa. fi da BT acima do esperado, a conversibilidade dos acima da BT da BT. Entre os muitos detalhes do acordo, podem-se Entre os muitos da BT. um comitêque abaixo do mínimo ajustado, deverá ser criado fi nanceiras estruturadas como “de mercado”. São opera- fi performance ca. Por outro lado, o acordo prevê uma série de condicionantes ca. Por outro lado, o fi performance O investimento da CDPQ: US$ 1,5 bilhão em títulos O investimento da CDPQ: US$ 5 bilhões. Os recursos estarão disponíveis em da BT ca uma avaliação fi classe B, cuja conversão em participação acionária do grupo poderá ser exercida classe B, cuja conversão em participação acionária em até sete anos. o nível das reservas menor que a esperada, a conversibilidade pode aumentar, chegando a 42,5% do chegando aumentar, menor que a esperada, a conversibilidade pode total de ações da Holdco. investimento. de uma IPO após cinco anos da efetivação do de 15% a.a. no valor dos títulos ou justo de mercado e uma valorização mínima de 15% acumulada. depois de três anos com valorização mínima títulos da CDPQ pode ser reduzida ao mínimo de 25%. Se a títulos da CDPQ pode ser reduzida ao mínimo especial, composto por três diretores independentes, sujeitos à aceitação da sujeitos à aceitação da especial, composto por três diretores independentes, o nível mínimo das reservas. CDPQ, para desenvolver um plano para restabelecer acima da Bombardier Transportation, a BT Holdco. Esses títulos são conversíveis Holdco. a BT Transportation, acima da Bombardier que Holdco, ao equivalente a 30% do capital, o na BT em participação acionária signi e critérios de pontos: destacar os seguintes • mínimo de 9,5% a.a. CDPQ deverá auferir um retorno A • de US$ 105,9 milhões em ações O Grupo Bombardier oferece uma garantia • Caso Bombardier deverá manter um caixa-reserva mínimo de US$ 1,25 bilhão. A para o Grupo Bombardier aplicar livremente, não estando vinculados a uma a uma aplicar livremente, não estando vinculados para o Grupo Bombardier atividade especí Em 19 de novembro de 2015, a Bombardier anunciou um novo investimento de 2015, a Bombardier anunciou um novo Em 19 de novembro de nova na forma de emissão de títulos de uma US$ 1,5 bilhão pela CDPQ, • detidos ou promover o lançamento CDPQ pode negociar livremente os títulos A • momento, garantido o valor Bombardier pode recomprar os títulos a qualquer A • manter as unidades existentes na província de Quebec. Obrigatoriedade de Portanto, trata-se de uma operação e do Grupo Bombardier no cumprimento das Exigirá esforços por parte da BT cláusulas e condicionantes assim acertadas. • Havendo uma • Havendo A primeira impressão ao se analisar o vultoso aporte de recursos de primeira impressão ao se analisar o vultoso aporte de recursos de A Algumas consequências do aporteAlgumas consequências governamental e “O investimento da CDPQ: US$ 1,5 bilhão em títulos” apresentam as as em títulos” apresentam US$ 1,5 bilhão da CDPQ: e “O investimento duas operações principais dessas características mercado. porte em qualquer de grande as duas operações Quebec na Bombardier é que foi feito um razoável esforço para se con 158 ções conhecidas no jargão do mercado fi nanceiro como de renda variável, envolvendo participação acionária ou equivalente (equity), não sendo assim classifi cáveis como de empréstimo ou mútuo. A vantagem para a empresa é seu caráter de “não exigível”, ou seja, não há prazo fi xado ou rígido de repagamento ao investidor estatal. Foram, porém, incluídas cláusulas de performance – rentabilidades mínimas exigidas, de redução de riscos –, exigências de caixa mínimo e até de saída da operação por parte das entidades envolvidas. Tal desenho visa evidentemente desviar críticas que poderiam levar a uma contestação desse aporte estatal bilionário na OMC. No caso da indústria aeronáutica, isso é especialmente relevante: por diversas vezes, ao longo dos últimos 25 anos, Boeing e Airbus têm levado França, Alemanha, Inglaterra e Espanha (as chamadas “nações Airbus”) e Estados Unidos a longas e custosas disputas na OMC sobre subsídios governamentais a essas indústrias (NEWHOUSE, 2008). A presente operação seria passível de contestação na OMC? A primeira consideração a se fazer, nesse caso, é que algum país (ou antes disso, um fabricante sediado nesse país) tem de se sentir lesado para levar uma ação dessas adiante. Embora haja tal possibilidade, a predisposição atual dos demais fabricantes não parece indicá-la. Airbus, Boeing e Embraer registraram pedidos consideráveis de suas famílias de aeronaves de última geração – respectivamente “neo”, “Max” e “E2”, tendo o sucesso desses programas já sido assim assegurado. Já os pedidos fi rmes de CSeries estão estacionados em 243 desde 2014, algo claramente desconfortável.

A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier A segunda consideração diz respeito a duas questões que, provavelmen- te, prosseguirão sem resposta nos próximos anos, independentemente do sucesso ou fracasso do programa CSeries:

i. Tendo em vista a situação atual do Grupo Bombardier, uma operação como essa, de US$ 2,5 bilhões, seria factível por fontes privadas, “de mercado”? ii. A cláusula que impõe ao Grupo Bombardier a permanência de suas principais unidades administrativas, de engenharia e fabricação em Quebec, pelos próximos vinte anos, é uma cláusula “de mercado”? Aeronáutica 159 casse fi VAN DER LINDE, 2015). VAN apud cativa política para – apoiar seu cativa política para – apoiar fi a assertiva de que se cando-se com fi ABOULAFIA, 2015). As empresas canadenses desempenham papéis-chave em diversos papéis-chave em diversos As empresas canadenses desempenham do Canadá trabalhará com projetos aeroespaciais globais, e o governo promover suas capacitações ao empresas de todo o setor de forma a no Programa CSeries (EMERSON participarem, com a Bombardier, apud Desde que essa declaração foi feita, o programa do CSeries acabou por Desde que essa declaração foi feita, o programa do CSeries acabou por A terceira consideração a se fazer é que o Canadá teve sucesso ao consideração a se fazer é que o Canadá teve sucesso ao terceira A Em defesa da Bombardier, deve-se levar em conta que, com relação ao em conta que, com deve-se levar da Bombardier, Em defesa De fato, considerando-se o longo histórico descrito do Grupo Bombardier o longo histórico descrito do Grupo De fato, considerando-se fazer uso de fornecedores e parceiros internacionais de forma muito mais fazer uso de fornecedores e parceiros internacionais de forma muito mais construir, ao longo de várias décadas, uma cadeia produtiva da indústria ao longo de várias décadas, construir, Com aproximadamente setecentas aeronáutica realmente digna desse nome. of Canada (AIAC), Association Aerospace Industries empresas integrando a o país conta, além da Bombardier, gerando cerca de 76 mil empregos diretos, Whitney Canada, tais como Pratt & com indústrias de peso considerável, etc., todas com unidades GE Canada, CAE Inc. Textron, Bell Helicopter qualquer governo sente-se na em Quebec (AIAC, 2015). Nesse contexto, justi obrigação de – ou ao menos tem a na posição de espectador, assistindo às forças do livre-mercado atuarem a assistindo às forças do livre-mercado na posição de espectador, seu bel-prazer. item (i), notícias publicadas na imprensa mundial dão conta de que a empresa dão conta de que na imprensa mundial publicadas item (i), notícias sem Airbus, porém no Grupo na China e soluções ao menos teria tentado que se trata a inferência de (ii), é inescapável Já no caso do item sucesso. O e assim executado. pública, de caso pensado de política essencialmente “Qualquer inves- parece concordar com essa avaliação: ministro canadense é ainda maior. traz risco, mas o risco de não realizá-lo timento como este estamos fazendo isso mas estamos ajudando a Bombardier, Naturalmente que 2015 todo” (DAOUST, para o setor como um principal fabricante de aeronaves, justi da cadeia produtiva será incalcula- esse fabricante for a pique, todo o resto o programa CSeries teve claramente velmente prejudicada. Originalmente, essa conotação: em Quebec, sua importância econômica e as interações anteriores governo- econômica e as interações em Quebec, sua importância província esperar que o governo daquela -empresa, não é razoável 160 descompromissada com o Canadá do que originalmente previsto. Além disso, o restante da cadeia produtiva canadense teve um desempenho muito superior ao da Bombardier em termos de crescimento anual, geração de empregos, exportações etc. (ABOULAFIA, 2015; AIAC, 2015). Fica apa- rente que a iniciativa de Quebec na Bombardier tem exatamente esse foco: a Bombardier e os aerospace jobs17 gerados na província, e não o contexto maior da indústria aeroespacial canadense. A consequência prática desse quadro foi resumida pelo título de um livro do jornalista canadense Peter Hadekel que descreve as interações Estado-Bombardier até 2004: Silent partners. Ou seja, os contribuintes canadenses (ou ao menos os de Quebec) seriam sócios “silenciosos” do Grupo Bombardier. Portanto, dado esse contexto geral, no qual se situam as operações atuais que totalizam US$ 2,5 bilhões, classifi cá-las de “hospital de empresa” pode até parecer justifi cável. Seria, no entanto, diminuir suas importâncias no que elas têm de mais essencial: são resultantes de política pública, de caso pensado e executado, visando preservar os mais de 34 mil aerospace jobs da Bombardier Aerospace, com pouco mais da metade sendo na Província de Quebec. Estes últimos, por sinal, auferem um salário médio que é o dobro do salário médio geral naquela província (VAN DER LINDE, 2015). Por outro lado, a alternativa sugerida no título, de considerar-se que Quebec deu uma lição para o mundo, talvez seja exagerada. Mas fi ca difícil descartar a avaliação de que Quebec deu o tom para todos os países – inclu- sive o Brasil – que abrigam um setor aeroespacial importante: aerospace jobs, pela renda gerada e pelo que signifi cam no contexto atual de economia do conhecimento e da inovação (sem falar nas implicações para a defesa nacional), devem ser preservados e incentivados. De certo modo, a mensa- gem vinda de Quebec parece clara: não existe “solução de mercado” estrito A Bombardier e o apoio bilionário de Quebec: “hospital de empresa” ou lição para o mundo? ou lição para “hospital de empresa” e o apoio bilionário de Quebec: A Bombardier senso para o setor de Aeroespaço e Defesa (A&D).

Conclusões A refl exão de que o Grupo Bombardier é um grupo de sucesso – dada sua longa história – parece bastante defensável. Atuar na produção de ae- ronaves comerciais, de jatos executivos – com maior gama de produtos do

17 Empregos gerados em indústrias aeroespaciais e de defesa. Aerospace jobs é hoje uma expressão – ou mesmo palavra de ordem – consagrada em todo o mundo, especialmente para rotular as políticas públicas focadas em sua geração e sustentação. Aeronáutica 161 da produção; ramp-up relutassem em se compro- nanciadores fi os se apresentam: uma entrada em operação fi nanceira daí resultante pareceu ameaçar a sustentabilidade do pareceu ameaçar a sustentabilidade do nanceira daí resultante fi Seria o caso de se concluir que uma estratégia de “inovação com ataque Seria o caso de se concluir que uma que elos entre Estado e indústria pa- A&D é um setor em Dessa forma, O ponto central, no entanto, foi que a empresa decidiu partir para uma entanto, foi que a empresa decidiu O ponto central, no CSeries, assim se delineou para o programa perspectiva negativa, que A Portanto, em 2016, três desa a mercados estabelecidos e maiores que o seu” é arriscada demais e só deve a mercados estabelecidos e maiores especiais? Naturalmente que tal as- ser praticada em circunstâncias muito TICs, fármacos etc. Mas depois como sertiva parece inválida para setores de indústria aeronáutica de porte, da Segunda Guerra Mundial, no setor apenas empresas fundadas como as novas entrantes bem-sucedidas foram fórmula, China está seguindo essa A Airbus e Embraer. estatais, a saber, nos programas de jatos e turboélices com investimentos estatais massivos comerciais em desenvolvimento atualmente no país. que recem inevitáveis. O presente caso Quebec-Bombardier parece indicar Mas, no contexto tais elos podem adquirir tantas formas quanto se desejar. A&D atingiu certa maturidade, para atual dos países em que a indústria de e tem de haver uma ampla aceitação do produto no mercado. e tem de haver uma ampla aceitação que seja bem-sucedida dos CS 100 junto à Swiss International Air Lines; o à Swiss International que seja bem-sucedida dos CS 100 junto incluindo o programa não pode sofrer mais atrasos, trajetória de risco elevado, que combinou um produto inovador – o CSeries elevado, que combinou um produto trajetória de risco o ataque a segmentos do mercado Pure Power – com com o motor P&W reação destes A setor. prerrogativa dos dois gigantes do que, até então, eram projeções de captura rápida e bem focada, desfazendo as foi relativamente Bombardier havia feito. de mercado que a clientes e fez com que potenciais com aporte bilionário. Com isso, grupo, Quebec teve de entrar na empresa estaria assegurada: potenciais clientes a continuidade do programa CSeries ou CS 300, em um momento no qual podem assim se decidir pelos CS 100 foi iniciada. o início da produção seriada delas já que qualquer outro fabricante, além da produção de aeroestruturas e ma- de aeroestruturas além da produção outro fabricante, que qualquer contrapor o os aspectos. E, ao sob todos aeronáutica é admirável nutenção produção de com a dos mercados aeroespaciais cíclico notório desempenho montado empresarial teria esse grupo e material ferroviário, equipamentos vencedora. uma estratégia – com o programa. Quando a meter – ou aumentar seu comprometimento situação 162 além do domínio tecnológico e da inovação, os elos se justifi cam na forma da manutenção e sustentação dos aerospace jobs.

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, 9 out. 2015. nanceiras padronizadas (DFPs) nanceiras padronizadas fi nanceiras padronizadas (DFPs) de nanceiras padronizadas de (DFPs) padronizadas nanceiras de (DFPs) padronizadas nanceiras nanceiras padronizadas (DFPs) de (DFPs) padronizadas nanceiras (DFPs) de nanceiras padronizadas (DFPs) de nanceiras padronizadas (DFPs) de nanceiras padronizadas (DFPs) de nanceiras padronizadas fi fi fi fi fi fi fi fi Aviation Week & Space Technology & Space Week Aviation Demonstrações Demonstrações Demonstrações Demonstrações Demonstrações Demonstrações Demonstrações Demonstrações Demonstrações Demonstrações Demonstrações . Disponível em: . . aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. Acesso em: 10 dez. 2015. Acesso em: aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. . 10 dez. 2015. Acesso em: aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. . 2007 2008 Disponível em: . Acesso em: 8 dez. 2015. aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. Acesso em: 10 dez. 2015. Acesso em: aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. . Acesso em: 10 dez. 2015. aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. . Acesso em: 10 dez. 2015. aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. . Acesso em: 10 dez. 2015. aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. . Acesso em: 10 dez. 2015. aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. ListResultados.aspx?idCanal=GHSVkh17Mf9OzMsR3YK6wg>. em: . . 2012 2013 2014 164 FONSECA, P. V. R. Embraer: um caso de sucesso com o apoio do BNDES. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, n. 37, p. 39-66, jun. 2012. GOMES, S. B. V. A indústria aeronáutica no Brasil: evolução recente e perspectivas. In: LAGE, F. (org.). BNDES 60 anos – perspectivas setoriais. Rio de Janeiro: BNDES, 2012, v. 1, p. 138-184. HADEKEL, P. Silent partners: taxpayers and the bankrolling of Bombadier. Montreal, Canada: Key Porter Books, 2004. IFRS – INTERNATIONAL FINANCIAL REPORTING STANDARD. IAS 36 Redução no valor recuperável de ativos, jan. 2013. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. 2015. MATHEWS, J. For RJs, size matters. Aviation Week & Space Technology, Nova York, Penton, v. 173, n. 3, 27 jan. 2014. MIGON, M. N. et al. Panorama-síntese da aviação executiva a jato. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 34, p. 95-132, set. 2011. NEWHOUSE, J. Boeing versus Airbus: the inside story of the greatest international competition in business. Nova York: First Vintage Books Edition, 2008. OWRAM, K. More than 100 Bombardier CSeries orders at risk of delays or cancellations, analysis says. Financial Post, 10 ago. 2015. Disponível em: . Acesso em: 30 nov. 2015. SEIFMAN, S. M. et al. Bombardier looks to move foward. North America

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