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XXII CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS CLÁSSICOS

Antiguidade: Desejo & Liberdade

CADERNO DE RESUMOS

Universidade Federal de Juiz de Fora Juiz de Fora, MG 2019

Versão 2

DIRETORIA DA SBEC

PRESIDENTE DE HONRA: FILOMENA YOSHIE HIRATA (USP) PRESIDENTE: TATIANA OLIVEIRA RIBEIRO (UFRJ) VICE-PRESIDENTE: LUISA SEVERO BUARQUE DE HOLANDA (PUC-RIO) SECRETÁRIA GERAL: BEATRIZ CRISTINA DE PAOLI CORREIA (UFRJ) SECRETÁRIA ADJUNTA: JULIANA BASTOS MARQUES (UNIRIO) TESOUREIRA: CHARLENE MARTINS MIOTTI (UFJF) TESOUREIRA ADJUNTA: FERNANDA CUNHA SOUSA (UFJF)

COMISSÃO CIENTÍFICA

ANDERSON ZALEWSKI VARGAS (UFRGS) ALESSANDRO ROLIM DE MOURA (UFPR) ANA MARIA CÉSAR POMPEU (UFC) BRUNNO VINICIUS GONÇALVES VIEIRA (UNESP) CAROLINA DE MELO BOMFIM ARAÚJO (UFRJ) ERIKA MORAIS ANGLIKER (UNIVERSITY OF LONDON) FÁBIO DUARTE JOLY (UFOP) FABIO FAVERSANI (UFOP) FÁBIO VERGARA CERQUEIRA (UFPEL) FERNANDO BRANDÃO DOS SANTOS (UNESP) FERNANDO JOSÉ DE SANTORO MOREIRA (UFRJ) GABRIELE CORNELLI (UNB) HENRIQUE FORTUNA CAIRUS (UFRJ) JAA TORRANO (USP) JACYNTHO LINS BRANDÃO (UFMG) KATIA MARIA PAIM POZZER (UFRGS) LENI RIBEIRO LEITE (UFES) MARCIA VASQUES (UFRN) MARIA APARECIDA DE PAIVA MONTENEGRO (UFC) MARIA BEATRIZ BORBA FLORENZANO (USP) MARIA CECÍLIA DE MIRANDA NOGUEIRA COELHO (UFMG) MARINA REGIS CAVICCHIOLI (UFBA) NEIVA FERREIRA PINTO (UFJF) NORBERTO LUIZ GUARINELLO (USP) PAULA DA CUNHA CORRÊA (USP) PAULO MARTINS (USP) PEDRO PAULO ABREU FUNARI (UNICAMP) REGINA MARIA DA CUNHA BUSTAMANTE (UFRJ) RENATA GARRAFFONI (UFPEL) ROBERTO BOLZANI FILHO (USP) TEODORO RENNÓ ASSUNÇÃO (UFMG)

COMISSÃO ORGANIZADORA

AGATHA PITOMBO BACELAR (UNB) ANA THEREZA BASILIO VIEIRA (UFRJ) BEATRIZ CRISTINA DE PAOLI CORREIA (UFRJ) CAROL MARTINS DA ROCHA (UFJF) CHARLENE MARTINS MIOTTI (UFJF) FÁBIO DA SILVA FORTES (UFJF) FERNANDA CUNHA SOUSA (UFJF) GUSTAVO HENRIQUE MONTES FRADE (UFJF) JULIANA BASTOS MARQUES (UNIRIO) LUISA SEVERO BUARQUE DE HOLANDA (PUC-RIO) TATIANA OLIVEIRA RIBEIRO (UFRJ)

EQUIPE DISCENTE

ADRIANA ROCHA MIRANDA VALLE (UFJF) ADRYELE GOMES (UFRJ) ANA CLARA VIZEU LOPES (UFJF) ANA PAULA DE SOUZA FREITAS (USP) ARTUR BEZERRA (UFRJ) BEATRIZ CORRÊA OSCAR DA SILVA (UFJF) BIANCA NASCIMENTO (UFRJ) CHRISTIANO PEREIRA DE ALMEIDA (UFJF) DANIELA BATISTA TAVARES (UFRJ) DANIELA BRINATI FURTADO (UFJF) DANIELA THIELMANN (UFJF) DIEGO AZEVEDO LOPES (UFJF) EDUARDO DUARTE MOREIRA (UFRJ) FERNANDA JARDIM (UFRJ) FERNANDO ADÃO DE SÁ FREITAS (UFJF) FILIPE CIANCONI RODRIGUES (UFJF) FREDERICO KREPE DA SILVA (UFJF) GLEYCE KELLY FREIRE DELMONDES (UNIFESP) HEITOR RODRIGUES PINHEIRO (UFJF) HELENA COUTINHO (UFRJ) IGOR FERNANDES LOPES (UFJF) ISADORA DE SOUZA BELLI (UFJF) JEANNIE BRESSAN (UFRJ) JÉSSICA RODRIGUES DE OLIVEIRA (UFJF) KEVIN RIBEIRO BORGES (UFJF) LETÍCIA MACHADO MIRANDA (UFJF) LÍVIA GALLUCCI (UFRJ) LYDSSON AGOSTINHO GONÇALVES (UFJF) LUÍZA DINIZ ARAÚJO (UFJF) MARIA OZANA LIMA DE ARRUDA (USP) MARINA ALBUQUERQUE (UFRJ) MILENA VELLOSO (UFRJ) PABLO DE MORAES MOREIRA DA SILVA (UFJF) RAFAEL APARECIDO MONPEAN (USP) RAMON DE TOLEDO ROLDI (UFJF) RAPHAELLA NASSER RODRIGUES (UFJF) RENAN PAIVA (UFRJ) SÍLVIA DE LOURDES LEMES AGUIAR (UFRJ) VITÓRIA INGRID DOS SANTOS DA SILVA (UFRJ) WILLAMY FERNANDES GONÇALVES (USP)

REALIZAÇÃO: SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS CLÁSSICOS

APOIO:

XXII CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS CLÁSSICOS Antiguidade: Desejo & Liberdade

ÍNDICE GERAL (clique no número da página e você será remetido diretamente a ela)

CONFERÊNCIAS ...... 1 Conferências 1 ...... 1 Conferências 2 ...... 1 Conferências 3 ...... 2 Conferências 4 ...... 3 Conferências 5 ...... 4

MESAS-REDONDAS ...... 6 Mesa-Redonda 1 ...... 6 Mesa-Redonda 2 ...... 7 Mesa-Redonda 3 ...... 8 Mesa-Redonda 4 ...... 10 Mesa-Redonda 5 ...... 11 Mesa-Redonda 6 ...... 12 Mesa-Redonda 7 ...... 13

MESAS COORDENADAS DE GRUPOS DE ESTUDO ...... 15 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 1 ...... 15 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 2 ...... 16 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 3 ...... 18 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 4 ...... 20 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 5 ...... 21 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 6 ...... 22 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 7 ...... 23 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 8 ...... 24 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 9 ...... 25 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 10 ...... 27 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 11 ...... 28 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 12 ...... 29 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 13 ...... 30 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 14 ...... 32 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 15 ...... 33 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 16 ...... 35 COMUNICAÇÕES ...... 36 Sessão de Comunicação 1 ...... 36 Sessão de Comunicação 2 ...... 37 Sessão de Comunicação 3 ...... 38 Sessão de Comunicação 4 ...... 40 Sessão de Comunicação 5 ...... 41 Sessão de Comunicação 6 ...... 42 Sessão de Comunicação 7 ...... 44 Sessão de Comunicação 8 ...... 45 Sessão de Comunicação 9 ...... 47 Sessão de Comunicação 10 ...... 49 Sessão de Comunicação 11 ...... 50 Sessão de Comunicação 12 ...... 52 Sessão de Comunicação 13 ...... 53 Sessão de Comunicação 14 ...... 55 Sessão de Comunicação 15 ...... 56 Sessão de Comunicação 16 ...... 58 Sessão de Comunicação 17 ...... 59 Sessão de Comunicação 18 ...... 61 Sessão de Comunicação 19 ...... 62 Sessão de Comunicação 20 ...... 63 Sessão de Comunicação 21 ...... 65 Sessão de Comunicação 22 ...... 66 Sessão de Comunicação 23 ...... 68 Sessão de Comunicação 24 ...... 69 Sessão de Comunicação 25 ...... 70 Sessão de Comunicação 26 ...... 72 Sessão de Comunicação 27 ...... 73 Sessão de Comunicação 28 ...... 74 Sessão de Comunicação 29 ...... 76 Sessão de Comunicação 30 ...... 77 Sessão de Comunicação 31 ...... 79 Sessão de Comunicação 32 ...... 80 Sessão de Comunicação 33 ...... 81 Sessão de Comunicação 34 ...... 83 Sessão de Comunicação 35 ...... 84 Sessão de Comunicação 36 ...... 86 Sessão de Comunicação 37 ...... 88 Sessão de Comunicação 38 ...... 89 Sessão de Comunicação 39 ...... 91

PÔSTERES ...... 93 MINICURSOS ...... 107 Minicurso 1 ...... 107 Minicurso 2 ...... 110 Minicurso 3 ...... 111 Minicurso 4 ...... 116 Minicurso 5 ...... 117 Minicurso 6 ...... 120 Minicurso 7 ...... 122 Minicurso 8 ...... 124

CONFERÊNCIAS

SEGUNDA-FEIRA, DIA 02/09: 10:30 ÀS 12:30

Conferências 1

Local: Anfiteatro Compartilhado FALE/ICB

Christian Werner (Universidade de São Paulo, Brasil) "Ilíada" e a necessidade da guerra

O número de conflitos com as mais diferentes causas (geopolíticas, econômicas, sociais, religiosas, étnicas, jurídico-policiais etc.) que, pela sua violência e/ou pela retórica de seus agentes e vítimas, são semantizados como uma guerra (amiúde do bem contra o mal) só faz aumentar. Tendo em vista esse contexto contemporâneo, proponho discutir se e como a , poema no qual a Guerra de Troia é Ilíada pensada como uma forma de justiça retributiva, abre espaços de ação (livre?) externos à necessidade da aniquilação do outro intrínseca a tal enfrentamento bélico, em particular, manifestações de piedade em relação ao inimigo.

Dan-el Padilla-Peralta (Princeton University, EUA) Epistemicide: the Roman case

The desire to recover and preserve the antiquity that is nowadays designated “classical” is rooted in the conviction that knowledge of that antiquity is a good. But does (or should) awareness of the historic and ongoing epistemicides in which classical antiquity has been implicated change the texture of that desire? Relying on the definition of epistemicide advanced by Boaventura de Sousa Santos, this lecture will argue (1) that the Roman Republic and Empire engineered a staggering loss of cognitive diversity throughout the ancient Mediterranean; (2) that recognition of the magnitude of this loss and its ripple- effects should inform our contemporary affective orientation towards classical antiquity.

TERÇA-FEIRA, DIA 03/09: 17:00 ÀS 19:00

Conferências 2

Local: Anfiteatro Compartilhado FALE/ICB

Maria Wyke (University College London, Reino Unido) Desire: Cleopatra and Cinema’s Star System

In the propaganda produced by Augustus to justify the foundation of the principate, his civil war against Antony was presented as a primal struggle of the west against the east, and of man against woman. Queen Cleopatra VII, it was claimed, had dangerous ambitions to rule over Rome and equally dangerous

1 powers to subordinate men to her erotic authority. Cinema was an important vehicle for transmitting that conception of Cleopatra to the modern world as simultaneously horrifying and alluring. At the beginning of the twentieth century, cinema introduced a radically new way of seeing and experiencing the ancient world (embodied, often in colour, set to music, and, above all, in movement). It offered audiences the experience of being in ancient history and made that history available to millions of spectators. This conference will explore how cinema brought Cleopatra into the modern world and utilized her representation on screen as a site to explore or to challenge modern conceptions of femininity, sexuality and norms of desire. An Italian film of 1913 and an American film of 1917 both attempted to contain the Egyptian Queen within a narrative of Roman conquest, but the personae of the film stars who played her effectively broke out from under such masculine control. Hollywood’s versions of Cleopatra of 1934 and 1963 equally struggled to domesticate and eroticize Cleopatra’s political ambitions yet, at the same time, they celebrated her sexual power over men on screen and off-screen publicity about their star performers. Through the star performance of Cleopatra, therefore, cinema has regularly opened up a temporary escape from everyday constraints into an exotic space of female sensuality and power. Spectators across the world have been invited to desire and take possession of an orientalized Cleopatra or, in contrast, to identify with her and even to enact her seemingly transgressive desires in their own lives.

Regina Bustamante (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil) Ecos ovidianos no Palácio do Catete: os desejos de Apolo

O atual Museu da República no Rio de Janeiro está abrigado no Palácio do Catete, construído na segunda metade do século XIX para ser originalmente o domicílio urbano do Barão de Nova Friburgo. Foi considerado como a residência mais suntuosa do II Império. O principal dos seus aposentos de recepção é o Salão Nobre ou Salão de Baile, cujo esquema decorativo centra-se em Apolo, deus greco- romano da Beleza e da Música, o que estava condizente com a função social do local. As referências a Apolo encontram-se presentes desde o dourado “solar” predominante no recinto, ao parquê com liras estilizadas, as paredes com lunetas figurativas das narrativas míticas de Apolo ao teto com a corte olímpica, em que a divindade tem um lugar de destaque. Nesta conferência, serão analisadas as lunetas que apresentam cenas dos casos amorosos de Apolo. Para tanto, cotejaremos essas imagens com passagens de de Ovídio, que narram alguns dos desejos amorosos da divindade. Metamorfoses

QUARTA-FEIRA, DIA 04/09: 11:00 ÀS 13:00

Conferências 3

Local: Anfiteatro Compartilhado FALE/ICB

Cléo M. Carastro (École des Hautes Études en Sciences Sociales, França) Désir d’Antigone, entre Anciens et Modernes

L’histoire est bien connue : à la mort de son frère Polynice, Antigone est prête à braver le décret de Créon, roi de Thèbes, qui a interdit d’ensevelir le cadavre du séditieux. La contrainte exercée par la loi humaine est-elle dirimante face au désir de la fille d’Œdipe de rendre honneur au défunt selon la loi

2 divine? Sujet désirant et désirée, capable d’occuper plusieurs places dans la constellation familiale, Antigone est prête à s’affranchir des normes écrites, en contestant le pouvoir en place. En proposant un modèle alternatif pour penser l’affiliation et le politique dans la cité, elle pose un défi aussi bien aux Anciens qu’aux Modernes, à la philosophie comme à la psychanalyse, à l’anthropologie comme au féminisme, pour saisir les vertus d’Eros, entre contrainte et liberté.

Gabriele Cornelli (Universidade de Brasília, Brasil) Quem ri por último: Platão e a Comédia da Morte (Pl. R. 620a)

A presente conferência pretende oferecer um olhar cuidadoso com relação a uma característica específica do engajamento mais amplo e complexo de Platão com a comédia. Platão parece revelar o quão profundo ele está conectado com o imaginário, estilo e ideias da comédia exatamente quando ele aborda a questão da morte. Vamos começar por uma pergunta bem precisa: por que Sócrates chama γέλοιος, engraçada, a descrição do próprio momento da reencarnação das almas no mito do julgamento final no livro X da (620a2)? Ao fazê-lo, Platão parece surpreendentemente transmitir uma aura cômica a uma cena República cósmica que, de outro modo, seria francamente trágica. A fim de responder a esta pergunta estaremos cavando nos possíveis significados de alguns detalhes embutidos na textura alusiva da história de Er. Os resultados desta investigação sobre os detalhes cômicos destas páginas finais de serão espelhados República com o drama real que está constantemente por detrás das obras de Platão: o da condenação injusta e da morte trágica de Sócrates. Platão recorre novamente aos elementos da comédia, usando plenamente suas ferramentas e motivos, na narrativa dos últimos dias de Sócrates no . Por que Platão para quer Fédon "divertir" em um ponto em que provavelmente não esperamos que ele o faça?

QUINTA-FEIRA, DIA 05/09: 15:00 ÀS 17:00

Conferências 4

Local: Anfiteatro 1 do Instituto de Ciências Humanas (ICH)

Enrico Medda (Università di Pisa, Itália) Passioni proibite. Alcuni personaggi ‘scandalosi’ di Euripide di fronte al proprio desiderio erotico

Euripide è noto per aver portato sulla scena Ateniese antichi miti i cui protagonisti si lasciano andare a passioni proibite e disturbanti: adulterio, incesto, e persino desiderio erotico per un animale. In particolare, la rappresentazione di personaggi femminili che cercano apertamente la soddisfazione sessuale era percepita, almeno da una parte del pubblico, come una minaccia per la posizione dominante dei cittadini maschi nella società Ateniese. Ma in che modo questi personaggi analizzano ed eventualmente giustificano il loro desiderio erotico nella cornice della struttura drammatica? E in che misura esso è rappresentato come il prodotto di una scelta autonoma piuttosto che come una malattia della mente mandata dagli dèi e dunque inevitabile? Per illustrare questi punti, verranno discusse figure come Fedra, Stenebea, Pasifae, Elena e Macareo.

Isabella Tardin Cardoso (Universidade Estadual de Campinas, Brasil) 'Theatrum mundi': Filologia e Imitação

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Se o prazer em fazer de conta e imitar é, conforme afirma Aristóteles ( 1448b4-19), um indício do Poética apreço do ser humano pelo conhecimento, é notável que nos Estudos Clássicos (ou, , na lato sensu Filologia Clássica) isso se dá duplamente. Isso porque, no estudo da literatura antiga, tal imitação ( imitatio em latim; em grego) não apenas se mostra no objeto de conhecimento (o texto), mas também mímesis como um princípio fundamental de sua investigação. A ideia de "teatro do mundo" ) - (theatrum mundi famosa sobretudo na obra de renascentistas como Calderón e Shakespeare, mas registrada desde a Antiguidade e até hoje em textos filosóficos e literários - pode, segundo propomos, ajudar a pensar aspectos importantes do processo de imitação que ocorre nas pesquisas em nossa área. Uma imitação seletiva - pautada, pois, por afinidade ( ) e rigor ( ) - vem a constituir métodos adotados ao longo philia logos da história da disciplina. Por meio de breves exemplos, nossa fala visa, assim, convidar à uma reflexão sobre afinidades epistemológicas entre Ciência e Arte na lida com a textos da Antiguidade grega e romana.

SEXTA-FEIRA, DIA 06/09: 11:00 ÀS 13:00

Conferências 5

Local: Anfiteatro Compartilhado FALE/ICB

Etienne Helmer (Universidad de Puerto Rico, Porto Rico) El Bien económico: un acercamiento filosófico antiguo

Si bien es cierto que los filósofos antiguos se acercaron a los temas del deseo y la libertad de manera tanto moral como metafísica, no es menos cierto que los examinaron también como conceptos políticos y sociales en el sentido amplio de la palabra. Se trataba, para la mayoría de ellos, de determinar cómo el animal social humano podía hacer compatibles la tendencia insaciable y agresiva de sus apetitos de poder y riqueza, con la justicia y la libertad requeridas para que la polis o republica pueda mantenerse como comunidad cívica. Sin embargo, el aspecto económico de dicha articulación entre deseo y libertad ha sido muy poco estudiado. Es en este aspecto que me enfocaré, en y con la tradición filosófica griega clásica y helenística. Contrario a una tenaz tradición interpretativa según la cual los filósofos griegos relegaban la esfera económica a una mera necesidad exenta de consideraciones éticas, y hacían de la ética y la política los saberes exclusivos del Bien, propongo mostrar que la economía, como conjunto de fenómenos y actividades específicos, y reflexión acerca de dichos fenómenos y actividades, era un lugar teórico y práctico central para pensar el Bien como articulación problemática del deseo y la libertad. Son varias las preguntas que, dentro de la reflexión económica antigua llamada el logos , oikonomikos evidencian la preocupación de los filósofos al respecto. Por ejemplo, ¿cómo administrar bien la entidad económica, sea domestica (el ) o sea cívica (la )?, y en particular, ¿debe ser la adquisición oikos polis limitada o ilimitada? Me concentraré en la cuestión que quizás más evidencia la aguda conciencia que filósofos como Platón, Jenofonte, Aristóteles y Filodemo de Gadara tenían de la problemática relación entre deseo y libertad en el ámbito económico: la del buen uso de las adquisiciones económicas. Se tratará de examinar no solo el buen uso de la riqueza producida por el o la , sino también el buen uso oikos polis de la actividad económica en el desarrollo ético y político de los individuos y de los grupos.

4

Maria Beatriz Borba Florenzano (Universidade de São Paulo, Brasil) A moeda na Grécia antiga: indivíduo e liberdade

A criação da moeda no Mediterrâneo antigo e sua difusão promovida pelas gregas foi um reflexo de póleis mudanças importantes que ocorriam na sociedade helênica. Ao mesmo tempo, a ampla circulação destes discos metálicos pelo Mediterrâneo potencializou o que podemos chamar de uma mudança profunda na noção de valor dessas sociedades. Essa mudança significou que enquanto na Idade do Ferro grega e no Período Arcaico a sociedade funcionava com uma noção de valor (concreto) que prendia o indivíduo a hierarquias sociais rígidas, a introdução da moeda possibilitou a abertura de um caminho em direção à liberdade individual na medida em que representava uma noção de valor (abstrato) desvinculada de grupos e hierarquias sociais fixas. Nesta conferência, é nossa intenção apresentar uma reflexão sobre o papel desempenhado por estes pequeninos objetos de metal neste longo processo de construção da liberdade individual e eventualmente de justiça social.

5 MESAS-REDONDAS

SEGUNDA-FEIRA, DIA 02/09: 15:30 ÀS 17:30

Mesa-Redonda 1

Local: Auditório da Faculdade de Letras

Carolina de Melo Bomfim Araújo (Universidade Federal do Rio de Janeiro) O império da crença e a coerção do desejo

Este trabalho pretende mostrar por que Platão não tem o mesmo conceito de liberdade que temos. O argumento é de que em Platão encontramos dois modos – plausivelmente incompatíveis – de justificar a ação humana: o intelectualismo e a . Ambas as teses trazem consigo uma carga forte de akrasía determinismo. Pelo intelectualismo sempre agimos conforme nossa crença sobre o bem; pela akrasía somos arrastados pela força de nossos desejos. Nesse quadro conceitual parece ausente a perspectiva central ao nosso conceito pós-cartesianismo de liberdade: a posição da indiferença. Ao que tudo indica, Platão não concebe a deliberação segundo o padrão de um observador que analisa duas possibilidades equipolentes de ação. Isso foi tomado por muitos como razão para não buscarmos nos antigos respostas para dilemas próprios ao nosso tempo. Por outro lado, críticos ao projeto iluminista decidiram pôr exatamente esse pressuposto em xeque: por que a indiferença não é senão mais uma das nossas crenças sobre o bem? Concluo com um paralelo entre liberdade e que opõe capacidade e exercício, i.e., autárkheia o princípio de uma faculdade da razão versus o do exercício constante quer de uma atividade intelectual, quer de uma força erótica.

Maria Aparecida de Paiva Montenegro (Universidade Federal do Ceará) Quando desejo e liberdade são demasiados: a crítica à democracia em "República" VIII

Em VIII (557b e segs.), a crítica de Sócrates à democracia recai justamente sobre sua República característica principal, em princípio considerada sua maior virtude, qual seja, a liberdade. Ao supor que na democracia cada um teria liberdade para fazer o que quisesse, o resultado seria, além da emergência dos mais variados tipos de indivíduos, a ausência de qualquer obrigação por parte dos mesmos, incluindo-se aí a do próprio governo. Concedendo aos cidadãos a liberdade de seguir apenas os seus desejos, a democracia poderia ser considerada como a mais bela forma de governo, caso não implicasse em “repartir de modo igual uma espécie de igualdade entre os iguais e os desiguais” ( .558c). Rep Pretendemos mostrar que a crítica de Sócrates não pressupõe uma defesa da desigualdade entre os cidadãos para se manter a justiça na ; antes, aponta para o erro de se tratar como iguais desejos pólis necessários e desnecessários. Isto acarretaria na impossibilidade de se educar os jovens na observância da hierarquia de desejos e prazeres, favorecendo assim o surgimento do avesso da liberdade, a saber, a tirania.

Olimar Flores Júnior (Universidade Federal de Minas Gerais) ‘Μηδὲν ἐλευθερίας προκρίνων’: a liberdade cínica entre lei e natureza

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Pretende-se demonstrar que a seção doxográfica da biografia de Diógenes de Sínope atribuída a Diógenes Laércio (D. L. VI 71), ao articular as noções de liberdade, lei e natureza, confirma a tese de que o cinismo antigo seria menos um movimento anti-prometeico, fazendo convergir os modos do primitivismo e do animalismo, mas uma forma original de pragmatismo, que tende a suspender – bem entendido: no domínio da ética e não no de uma taxonomia ontológica, a que o cínicos foram em geral indiferentes – a oposição aparentemente intrínseca ao binômio , sedimentada historicamente nomos-physis na tradição filosófica ocidental de matriz europeia como um de seus pilares constitutivos.

TERÇA-FEIRA, DIA 03/09: 11:00 ÀS 12:45

Mesa-Redonda 2

Local: Anfiteatro Compartilhado FALE/ICB

Adriane da Silva Duarte (Universidade de São Paulo) Ântia conta um conto: uma história de assombração em "Efesíacas" (V. 7)

, de Xenofonte de Éfeso (II d. C.), é o menos apreciado dos romances gregos em vista do estilo, Efesíacas considerado simplório do ponto de vista narrativo e desprovido de ornamentação quando comparado às obras dos demais romancistas. No entanto, em um aspecto, o emprego das narrativas intercaladas ( ), ele se destaca. São exemplos os relatos biográficos de Hipótoo (III.2.1-15) e de embedded narrative Egialeu (V.1.4-11), que vêm recebendo alguma resposta crítica. Proponho aqui examinar um curto relato que Ântia, a heroína do romance, conta ao rufião que quer submetê-la à prostituição (V. 7.6-8) na tentativa de evitar esse destino, e que, me parece, ainda não recebeu a devida atenção. Ao contrário das histórias anteriores, a de Ântia se configura enquanto um relato mentiroso, a exemplo dos que Odisseu conta nos episódios itacenses da Odisseia, e é feito com o intuito de enganar e manipular seu interlocutor. O exame dessa narrativa contribui, assim, para estabelecer a caracterização da personagem, a uma só vez inspirada em Odisseu e em Penélope.

Emiliano J. Buis (Universidade de Buenos Aires) Objetos jurídicos, cultura material do direito e caracterização de personagens nas "Vespas" de Aristófanes

A "virada performativa" nos estudos jurídicos forneceu ferramentas teóricas interessantes para um melhor exame da prática da justiça em sociedades específicas ao longo da história. Isso é particularmente verdadeiro para o direito ateniense, levando em conta tanto sua natureza agonística e retórica quanto a preeminência do procedimento sobre as normas substantivas. Contudo, pouca atenção tem sido dada até agora aos elementos físicos concretos envolvidos na práxis do direito na Atenas clássica. Minha intenção aqui é estudar as referências de Aristófanes ao direito a partir de uma perspectiva baseada na importância dos objetos do litígio: considerando que a comédia é permeada pelo contato corporal (ou seja, socos e golpes) e por experiências sensoriais (tato, visão ou olfato), interessa-me explorar a materialidade de sujeitos e objetos, sua relação e a potencialidade do contato humano e não humano. De um modo geral, essas demonstrações físicas cômicas sugerem na representação das que um estudo de gestos e ações Ve s p a s

7 expressivas sobre as coisas pode contribuir para uma compreensão mais abrangente da dinâmica subjetiva dos dispositivos judiciários atenienses.

Jacyntho Lins Brandão (Universidade Federal de Minas Gerais) Ciro da Pérsia e Alexandre Magno segundo Glauber Rocha

Em 1973, Glauber Rocha, então exilado em Roma, foi convidado pela RAI (Rádio e Televisão Italiana) a escrever um roteiro baseado em duas obras de Xenofonte, e , devendo caber-lhe Ciropedia Anábase também a direção do filme planejado e nunca realizado. O roteiro, intitulado "O nascimento dos deuses", foi publicado pela própria RAI em 1986, com brevíssima notícia escrita pelo próprio Glauber e introdução de Luigi Rondi (livro por mim traduzido para a Fundação Palácio das Artes, de Belo Horizonte, que está cuidando de sua publicação). O que mais se destaca em "O nascimento dos deuses" é quanto, do projeto inicial, Glauber avançou, concentrando-se em duas figuras, a saber, Ciro da Pérsia e Alexandre Magno (e abandonando completamente o assunto da ). Esta comunicação examina o Anábase uso que, no roteiro citado, se faz das fontes antigas, considerando que o cineasta se baseou principalmente na e em Heródoto, para criar a saga de Ciro, a segunda parte do díptico, dedicada a Alexandre, Ciropedia dependendo sobretudo de Plutarco.

Mesa-Redonda 3

Local: Auditório da Faculdade de Letras

Fábio Vergara Cerqueira (Universidade Federal de Pelotas) Um outro amor é possível! O namoro e a liberdade amorosa na Grécia ocidental segundo a iconografia dos vasos ápulos

O sul da Itália, entre o século VIII e o século IV a.C, foi palco de um multifacetada experiência de interculturalidade, resultante do deslocamento de contingentes populacionais gregos oriundos do Egeu continental e insular, que criaram instalações coloniais em territórios então habitados em grande parte pelos mais variados povos itálicos. Ao longo deste período, os habitantes das cidades gregas resultantes deste processo mantiveram interações culturais, sociais, econômicas e bélicas com estas populações locais, interações que oscilavam entre o pacífico e o conflitivo. Assim, pela via da paz ou da guerra, as trocas foram regra constante, de modo que um e outro estão expostos a influências culturais da outra cultura, e, neste processo, geram o novo, um terceiro termo, marcado por uma fácies cultural híbrida, transculturalizada. No início do processo de colonização, com a vinda dos primeiros “colonizadores” gregos, ocorreram muitos casamentos interétnicos, basicamente entre homens gregos e mulheres nativas. O matrimônio foi assim uma experiência intercultural. Neste contexto, é presumível que a erótica na sociedade colonial da Magna Grécia tenha sido impactada por estas situações, sujeita a vivenciar e valorizar comportamentos afetivos que não necessariamente repliquem a matriz de afetividade da Grécia heládica. No século IV a.C., a cerâmica de figuras vermelhas produzida inicialmente em Tarento, e posteriormente em oficinas no interior indígena da Apúlia e até mesmo da Lucânia, explora com originalidade cenas de conteúdo amoroso, com notável contraste com relação à iconografia dos vasos áticos do final do séc. VI a início do séc. IV. Na comparação, podemos dizer que se opera, na pintura dos vasos ápulos, uma inversão na iconografia do amor, agora com uma quase invisibilidade dos amores

8 homoeróticos e uma grande visibilidade (mesmo que idealizada) de amores heterossexuais entre indivíduos em posição social simétrica. Abraços, afagos, carícias e muitos beijos (mas não relações sexuais) são amplamente representados. Este repertório de imagens redefine visualmente a relação entre os gêneros masculino e feminino nas relações amorosas. As cenas de trocas amorosas entre homem e hetaira, ou entre erastes e erômenos, frequentes na iconografia ática, cedem lugar às cenas de flerte entre noivo e noiva, cenas de namoro entre marido e mulher, rareando radicalmente (mas não desaparecendo completamente) as cenas alusivas a relações com hetairas ou efebos. Este nova erótica, alternativa aos padrões propalados até então pela cerâmica ática, mantém relações com um universo funerário igualmente marcado por traços regionais, no âmbito da assim chamada escatologia funerária.

Katia Pozzer (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Imagens Eróticas Mesopotâmicas – por uma arqueologia do desejo

A história visual é um campo de operação de grande valor estratégico para o conhecimento histórico da sociedade, de sua organização, funcionamento e transformação. Para a História, as fontes iconográficas e a cultura material são plenas de revelações históricas, desde que tratadas com metodologias adequadas. Os artistas antigos criaram um repertório que compreende diversos tipos de cenas e de personagens, cuja identificação é rica de significados. A civilização mesopotâmica produziu milhares de documentos sobre sua história cotidiana, suas crenças e costumes. Dentre estes, textos e objetos relacionados a práticas eróticas estão atualmente preservados em grandes coleções de museus europeus. Nossa proposta é analisar algumas destas imagens e, sempre que possível, relacioná-las aos documentos escritos, buscando depreender uma estética do desejo. A discussão sobre o status da representação visual na Mesopotâmia é uma questão fundamental para a história da arte do Antigo Oriente Próximo. Atualmente acredita-se que a noção de , da representação como meio de imitação de coisas reais do mundo não é adequada mímesis para entendermos a arte mesopotâmica. As civilizações antigo-orientais acreditavam no poder dos significantes e de seu status como parte integrante do real. Esta noção de representação para assírio- babilônicos é possível uma vez que o domínio do real incluía, por definição, múltiplas camadas e um complexo sistema de signos que podemos descrever como "realmetasemiótico".

Marcia Vasques (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) Desejo e liberdade no Egito Romano: conquista, propaganda e resistência

Quando tratamos do Egito romano precisamos abordar de início a complexidade da sua sociedade, heterogênea e múltipla, étnica e culturalmente, que pode ser analisada tanto do ponto de vista de elementos de continuidade com uma tradição que remonta ao período faraônico quanto com transformações decorrentes das séries de conquistas estrangeiras que o país sofreu, sobretudo desde os persas até os romanos. Um exemplo de manutenção da tradição é a forma de representação iconográfica dos faraós, inclusos os estrangeiros, nos relevos dos templos egípcios, adorando as divindades nativas e mantendo a ordem, vinculada ao conceito de Maat. Apesar disso, podemos nos perguntar se os egípcios não tiveram uma ação de resistência e um desejo de liberdade do domínio estrangeiro. Por isso, propomos abordar nessa comunicação duas reflexões a respeito da sociedade egípcia: a sua passividade e o seu desejo de liberdade. Eram os egípcios tão pacíficos como a historiografia quer mostrar? Tanto os Ptolomeus quanto os imperadores romanos foram retratados nos relevos dos templos egípcios como faraós, seguindo o modelo de propaganda real. Mas enquanto a cultura material, promovida pelo Estado,

9 segue os parâmetros da propaganda política oficial dos conquistadores, fontes epigráficas e literárias, clássicas e egípcias, indicam que houve resistência, tanto por parte de uma elite sacerdotal egípcia quanto da população. Por outro lado, fica a pergunta: mas o que era liberdade para os egípcios?

QUARTA-FEIRA, DIA 04/09: 17:00 ÀS 18:45

Mesa-Redonda 4

Local: Anfiteatro Compartilhado FALE/ICB

André Malta (Universidade de São Paulo) Apropriações platônicas: Homero no diálogo “Alcibíades Segundo”

O objetivo é comentar citações da poesia homérica presentes no de Platão, Alcibíades Segundo especialmente o uso que faz de .1.31-32 (sobre a questão da responsabilidade humana) e a referência Od ao épico cômico . As passagens mostram não só a extrema liberdade com que Homero é usado Margites nos diálogos, mas também a possibilidade, paradoxalmente, de sua exploração, hoje, como chaves para nossa própria abordagem da épica.

Manon Brouillet (Université de Picardie Jules Verne, France) Désir des dieux, liberté des hommes. De la double motivation à la coagency dans les épopées homériques

Dans le monde épique où les actions des héros et leur résultat semblent toujours suspendus à la volonté des dieux, une liberté humaine est-elle envisageable ? C'est en ces termes que les relations entre les hommes et les dieux dans l' et l' ont souvent été envisagées. On aurait d'un côté des dieux Iliade Odyssée tout-puissants, qui pourraient se contenter de suivre leurs désirs, qu'il s'agisse des pulsions destructrices d'une Héra prête à tout pour voir Troie détruite ou de la passion amoureuse de Calypso, et d'un autre côté des hommes à la liberté restreinte, jouets de puissances divines qui les dépassent. La réalité épique est plus complexe, et les dieux sont aussi confrontés à la liberté et au désir des hommes, qui se refusent à eux, qui contrecarrent leurs plans. Au-delà du seul plan narratif, nous proposons d'adopter une perspective d'anthropologie religieuse pour rendre compte de la manière dont hommes et dieux composent ensemble. Il s'agira de montrer que actions humaines et divines ne constituent pas deux plans distincts d'une même action, comme « deux faces d'une même médaille » (Lesky), ce qui, de fait, limiterait considérablement la liberté humaine. Le modèle de coagency, ou partage d'agentivité, permet de rendre compte de nombreux cas où l'action est réalisée de manière conjointe par les dieux et les hommes, sans que les uns soient actifs et les autres passifs, ni qu'il s'agisse nécessairement d'une collaboration. Agents humains et non-humains, chacun avec leur part de désir et de liberté, sont pris dans une intrication d'agentivité qui permet d'interroger différemment la relation qu'ils entretiennent. C'est bien au cœur de l'action que l'épopée situe le point de contact et la proximité entre hommes et dieux.

Teodoro Rennó Assunção (Universidade Federal de Minas Gerais) O banho de Odisseu no episódio de Circe na "Odisseia" (X, 358-365)

10 Breve estudo, em forma de comentário, sobre os elementos comuns e os singulares (como, a partir do aquecimento, a mistura da água e o seu efeito terapêutico) da cena típica de banho de Odisseu por uma serva, no episódio de Circe na (X, 358-365), em conexão tradicional com a cena do banquete, Odisseia que incluirá a preliminar lavagem das mãos (cf. X, 368-370) e é anteriormente preparado, em Odisseia conjunto com o banho, por outras três servas, enquanto Odisseu está na cama com Circe (cf. X, Odisseia 348-357). E, complementando, um brevíssimo comentário sobre a bem concisa cena do banho de seus companheiros por Circe (cf. X, 449-451), também antecedendo a de um banquete. Odisseia

QUINTA-FEIRA, DIA 05/09: 11:00 ÀS 13:00

Mesa-Redonda 5

Local: Auditório da Faculdade de Letras

Guilherme Gontijo Flores (Universidade Federal do Paraná) Traduzir um riso: a verve satírica na "Arte poética" de Horácio

A recepção moderna da horaciana quase sempre tendeu para a exegese da obra como uma Arte poética espécie de tratado epistolar, muito embora várias leituras sempre reparassem na peculiaridade de sua organização aparentemente sem ordem clara. Para além disso, tanto a abertura como o fim do poema sempre intrigaram os estudiosos, por saírem completamente de qualquer enquadramento tratadístico e se apoiarem no riso, um ao modo do que encontramos nos horacianos desde a obra satírica. Com sermones base nessa instabilidade genérica, pretendo apresentar alguns problemas tradutórios que envolvem a decisão de ler a como uma obra que apresenta muitos momentos de riso e que demandam, Arte poética sobretudo no caso de uma tradução poética, uma linguagem que restaure o caráter satírico de algumas passagens.

João Batista Toledo Prado (UNESP-Araraquara) Tristes tropos: desejo e liberdade na poesia latina

O cerceamento das liberdades individuais, sobretudo no tocante à expressão do desejo e suas manifestações, é prática corrente nas sociedades controladas por uma elite social no poder, que o exerce autoritariamente de modo a pervadir uma ideologia e garantir sua prevalência – para alguns, uma das formas de totalitarismo (TAYLOR, 1999, p. 280-2). Se, por um lado, só pode haver totalitarismo stricto sensu em sociedades pós-industriais e no seio de Estados nacionais com controle de aparatos de comunicação de massa, por outro lado, é quase inevitável ceder à tentação de caracterizar o período de Augusto como uma de suas formas ancestrais ou um seu potencial ensaio, já que a origem do manejo político-ideológico da sociedade dimanava da mesma fonte de poder, que era o (o que garante e princeps sustenta a comparação ao menos nesse sentido). Exatamente por isso, a poesia da época de Augusto muitas vezes ecoou aspectos da ideologia do principado, difundindo-a, refletindo-a, refratando-a. O gênero poético que talvez com ela mais polemizou foi a elegia latina, em que formas da tópica foram habilmente dirigidas para permitir uma espécie de espaço ou recuo necessário à expressão dos desejos, veiculada pelo eu instalado no discurso. Este texto pretende oferecer um contributo para a reflexão sobre formas de recepção contemporânea de algumas das manifestações poéticas do fim da República romana e

11 início do período imperial, não como mero reflexo do exercício de um protocolo de e tropos tópos instrumentais, mas como hábil forma de resistência para a expressão humana do desejo em sua ampla gama de formas.

Raimundo Nonato Barbosa de Carvalho (Universidade Federal do Espírito Santo) Tradução e transgressão em "Metamorfoses" X, 298-518

Comentário crítico sobre o episódio relativo à metamorfose de Mirra, procurando explicitar os processos de transposição da forma do original para a forma da tradução, tanto no que existe de convergência entre elas, como na transgressão necessária para que a tradução exista como um texto artístico autônomo. A partir dessa reflexão, tentarei propor um modelo mais eficaz de crítica de tradução, que, ultrapassando o mero cotejo entre texto original e texto derivado, revele, sem hierarquizações prévias, os traços culturais que permitem que histórias, personagens, imagens e pensamentos migrem de uma forma para outra, de um contexto linguístico e cultural para outro.

Marco Formisano (Ghent University, Bélgica) A vingança de Eco. Desejo, voz e corpo nas "Metamorfoses" de Ovídio e em "HER" de Spike Jonze

As ovidianas não são somente o poema das transformações do corpo, mas também da voz Metamorfoses sem corpo, nomeadamente do texto sem a sua materialidade. Nesse poema o leitor é frequentemente lembrado que o corpo - em latim o também é o texto - não é sempre necessário para que a palavra corpus se faça presente. Pelo contrário, a escritura material e a voz são frequentemente alternativas. Particularmente impressionante é o episódio de Eco, no livro III, onde a ninfa infeliz acompanha a história de Narciso como porta-voz do corpo que desapareceu. Vamos buscar interpretar o filme , HER de Spike Jonze (2013), como uma narração que idealmente recoloca em uma perspectiva pós-humana essa discussão sobre voz e escrita, onde será possível analisar algumas aproximações com o conto ovidiano. Nessa apresentação, procuro tratar das implicações teóricas da comparação entre o texto latino e o filme contemporâneo, levando em conta tanto os estudos recentes sobre a voz, quanto a diferença da mídia - a escritura material e o filme sonoro e visual.

Mesa-Redonda 6

Local: Prédio da Reitoria, Auditório das Pró-Reitorias

O lugar dos Estudos Clássicos no Brasil Henrique Cairus (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Paulo Martins (Universidade de São Paulo) Fabio Faversani (Universidade Federal de Ouro Preto) Gabriele Cornelli (Universidade de Brasília)

A proposta da Mesa é colocar em discussão o papel e o lugar dos Estudos Clássicos diante da desvalorização das Humanidades no Brasil a partir de janeiro de 2019 e dos pronunciamentos do Ministro da Educação. A pauta dessas discussões incluem também questões relativas às priorizações nos financiamentos de pesquisas e o novo modelo de pós-graduação que se se quer instalar, sobretudo no que

12 tange ao papel e ao lugar do Mestrado. A Mesa tem também como um de seus objetivos tentar alinhavar um discurso capaz de satisfazer cobranças de resultados por parte da Sociedade que financia nossas pesquisas.

SEXTA-FEIRA, DIA 06/09: 15:00 ÀS 17:00

Mesa-Redonda 7

Local: Auditório da Faculdade de Letras

Anderson Zalewski Vargas (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Como usar o passado clássico para resistir? A contribuição de Charles Martindale para a história da Recepção da Antiguidade (Clássica)

“Recepção” pode ser considerado um termo em vias de popularização no campo dos Estudos Antigos brasileiros. Considerando as pesquisas realizadas a partir de aportes teóricos específicos, contudo, seu nascimento pode ser remontado ao início dos anos 2000 (2015, p. 12) ou mesmo aos começos dos 90 do século passado, quando foi lançado (1993). Seu autor, Charles Martindale, já Redeeming the text aposentado, pode ser considerado um de seus mais importantes proponentes, a partir de uma amálgama de ideias da Estética da Recepção alemã (especialmente de Hans Jauss), da desconstrução de Jacques Derrida e da hermenêutica de Hans-Georg Gadamer. Através daquele e de outros trabalhos, Martindale desenvolveu uma proposição particular com notáveis implicações para a pesquisa no universo da Antiguidade e mesmo da pesquisa histórica em geral. Sua relevância foi reconhecida pela edição de número especial de (2013), comemorativo a . A exposição avalia as Classical Receptions Journal Redeeming proposições de Charles Martindale para as pesquisas que têm como objeto o Mundo Antigo em si e também as suas cadeias de recepções ao longo do tempo, as quais permitem ampliar o sentido e a importância de passado, em geral restrito ao interesse de seus especialistas e particulares interessados. Talvez possam contribuir para nossas apropriações da Antiguidade para realizar o propósito do XXII Congresso da SBEC de usarmos aquele passado para resistirmos nos tempos difíceis que vivemos.

Fábio Joly (Universidade Federal de Ouro Preto) Liberdade e escravidão no período Júlio-Cláudio

Esta comunicação visa apontar alguns aspectos da relação entre liberdade e escravidão nos principados de Augusto a Nero, situando-a no contexto de embates políticos no seio da aristocracia e desta com o imperador, e também integrando na análise os setores servis em suas estratégias de resistência e conformação às relações de dominação, em que a manumissão e a possibilidade de obtenção de cidadania, plena ou parcial, eram elementos importantes. A hipótese de partida é que, sob os Júlio- Cláudios, assiste-se a uma reformulação das noções de liberdade e escravidão, seja no nível político, como metáforas, pela presença do e consequente cerceamento à competição aristocrática por honra e princeps benefícios materiais, seja no nível das relações escravistas, pela reconfiguração das relações entre manumissão e cidadania a partir de Augusto.

13 Renata Garraffoni (Universidade Federal do Paraná) História Antiga e sua recepção: entre o desejo e a liberdade

Há cerca de dois anos tenho estudado mais a fundo a questão da recepção do mundo clássico no início do século XX, em especial entre os poetas simbolistas que viveram em Curitiba em suas primeiras décadas. A partir de escritos de Emiliano Pernetta e Dario Vellozo, bem como sua retomada por Paulo Leminski décadas mais tarde, é possível notar leituras muito particulares dos antigos gregos e suas formas de pensar e viver em diferentes momentos da História de Curitiba e da formação da identidade paranaense. Temas como liberdade, cidadania, desejo de construir um novo lugar sempre são pensados em um singular cruzamento de passado grego e presente curitibano. Assim sendo, tendo como referência os estudos teóricos de recepção de Lorna Hardwick, o objetivo dessa reflexão é discutir a relação entre história antiga e sua recepção curitibana, explorando temas literários e políticos, ou seja, novas formas de viver, sentir e compreender o mundo.

Uiran Gebara da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco) História Antiga: desejo, liberdade e emancipação

O propósito desta apresentação é refletir a respeito do papel que o estudo da Antiguidade e, em particular, da História Antiga, desempenha na cultura brasileira e em que sentido esse papel pode ser associado não à construção de uma identidade nacional conservadora, associada a uma vinculação naturalizada à Europa e ao Ocidente, mas sim à uma identidade brasileira plural e emancipadora.

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MESAS COORDENADAS DE GRUPOS DE ESTUDO

SEGUNDA-FEIRA, DIA 02/09: 17:30 ÀS 19:00

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 1

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

RHETOR – Grupo de Estudos de Retórica e Oratória Antiga

Sandra Lúcia Rodrigues da Rocha (Doutora - UnB) παραδείγµατα Sobre a Falsa Embaixada (Dem. 19): a retórica de de Demóstenes

Dem. 19 é um discurso baseado principalmente em argumentos de probabilidade. Trata-se de uma acusação contra Ésquines, na forma de εὐθύναι, de que este não havia desempenhado corretamente sua função de embaixador junto a Filipe da Macedônia, em 346 BC. A incorreção objetivamente estaria nos conselhos equivocados de Ésquines para a assembleia do povo ateniense; mas tais conselhos seriam resultado, argumenta Demóstenes, de Ésquines ter sido corrompido por Filipe. Corrupção, portanto, é o tema central. Tão antigo, tão contemporâneo, tão susceptível à interpretação individual dos jurados. Nesta comunicação, pretendo mostrar como a fragilidade das provas não-técnicas de Demóstenes contra Ésquines obrigam-no a explorar com ênfase uma retórica de παραδείγµατα como fio condutor de sua argumentação. À retórica de παραδείγµατα parece estar subordinada a própria apresentação das provas não-técnicas. Diante do resultado do júri, perceberemos que o recurso a modelos e antimodelos de cidadãos empregado por Demóstenes no discurso em questão constitui uma estratégia de convencimento bastante eficaz, mas não suficiente. Minha hipótese é de que isso se deva possivelmente ao fato de que a ética política dos atenienses era um dos fundamentos da democracia a ser permanentemente reconstruído e reelaborado, com base na experiência política. Ou seja: não havia uma idealização da prática política que considerasse comportamentos exemplares acima de qualquer suspeita. E a história de vários líderes políticos atenienses, alguns mencionados em Dem. 19, mostra isso muito bem.

Ticiano Curvelo Estrela de Lacerda (Doutor - UFRJ) Crise democrática na Atenas do séc. IV: o discurso “Areopagítico” de Isócrates

Durante o séc. V, a colina do Areópago exercia papel fundamental na vida política ateniense. Os areopagitas formavam o mais antigo Conselho, debatendo as questões mais importantes, além de atuar como um “Supremo Tribunal” para os crimes de homicídio, exercendo funções políticas e jurídicas da . Todavia, após as reformas constitucionais de Clístenes e Elfíaltes, o Areópago perde parte de sua pólis importância política, em razão da crescente influência dos democratas. Mais de um século depois, em meados do IV, os atenienses vivem a retomada de certo protagonismo perante os gregos, liderando a Segunda Liga Marítima, passadas algumas décadas da Guerra do Peloponeso, num aparente momento de tranquilidade política. Porém, buscando alertar os cidadãos para a importância que o tribunal do Areópago deveria voltar a exercer na cidade, Isócrates compõe o discurso , ficcionalmente Areopagítico

15 proferido naquela colina, a fim de exortar os atenienses a uma nova reforma política, visto que a antiga Constituição teria levado Atenas a um momento de lassidão, muito em razão do então poder limitado conferido aos areopagitas. A presente comunicação tem como objetivo analisar excertos do discurso que são significativos para a compreensão do pensamento político do autor, que vê na política democrática de seu tempo uma decadência da imagem da cidade diante dos demais gregos. Embora não seja propriamente um teórico da democracia, Isócrates oferece aqui valiosos ensinamentos de sua doutrina política, alinhada a seu ideal de , que encontra em sua filosofia pragmática as diretrizes para o paideia exercício da antiga democracia que precisa ser restaurada.

Priscilla Gontijo Leite (Doutora - UFPB) Oligarquia, democracia e liberdade em Demóstenes

Demóstenes, desde a Antiguidade, é considerado um modelo de primazia retórica e sua imagem passou a ser associada à luta pela liberdade dos atenienses diante do avanço do poderio macedônico na Hélade e à defesa da democracia e dos valores a ela relacionados. Ele realizou diversos discursos para convencer seus concidadãos a agiram de forma rápida contra Filipe II da Macedônia e na sua estratégia retórica, o orador utilizou vários elementos persuasivos, dentre eles utilizou as noções de democracia, oligarquia e liberdade. O objetivo da comunicação é apresentar alguns exemplos do uso desses conceitos nos discursos de Demóstenes para entender a oposição entre oligarquia e democracia. Apesar do orador não ser um teórico das formas de governo, seus discursos ajudam a pensar na experiência democrática de Atenas, modificada após a Guerra do Peloponeso. Mesmo com todas a mudanças, a liberdade continua sendo um traço fundamental da democracia.

Marco Valério Classe Colonnelli (UFPB) O paradigma de Aquiles na "Apologia" de Platão

Por toda obra platônica encontramos comparações, alusões e citações de personagens literárias que servem a fins bem específicos às argumentações de seus interlocutores. Dentre as personagens de maior riqueza comparativa, sem dúvida, encontra-se Aquiles. Este personagem possui nos diálogos platônicos contornos que o delimitam dentro de um espectro que abarca sobretudo a e a de Homero. Na Ilíada Odisseia e na , ambas de Aristóteles, o paradigma é utilizado sobretudo para Retórica Retórica a Alexandre demonstração ou ilustração de um ponto específico no argumento. Ações, discursos e caráter de heróis são explorados para os mais diversos matizes argumentativos. A sua utilização não é diferente na Apologia . Sócrates, entre 28b-29a, se associa a Aquiles para demonstrar sua intrepidez face a morte que se de Platão aproxima. Assim, o herói, utilizado como paradigma, possui uma função clara e específica no discurso de defesa do filósofo. Nesta comunicação, o nosso intento, então, é precisar qual foi a imagem do herói utilizada pelo filósofo em sua defesa.

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 2

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1033 (ex-1402)

Núcleo de Cultura Clássica (1)

16 Ana Maria César Pompeu (Doutora - UFC) Afrodite e Dioniso: Desejo e Liberdade nas Mulheres de Aristófanes

Aristófanes se ocupa somente de Dioniso e Afrodite, de acordo com Sócrates no diálogo de O Banquete Platão, 177e. Ali o discurso atribuído ao comediógrafo narra um mito da origem de Eros para os humanos, três gêneros duplos: homem-homem, mulher-mulher e homem-mulher, o andrógino, partidos ao meio por sua impiedade, gerando o desejo, Eros, de união das metades partidas. O mito apresenta características das peças , com seu coro hermafrodita, e , com a presença de Lisístrata Tesmoforiantes Agatão, poeta trágico e anfitrião do banquete do diálogo platônico, homem com aspecto de mulher, e do Parente de Eurípides, que se disfarçará de mulher para entrar no Tesmofórion. O andrógino também se apresentará em : mulheres disfarçadas de homens para entrar na Assembleia. Eros Assembleia das Mulheres e Afrodite representam o desejo de união; Dioniso é Eleutério, o Libertador. Ele é o deus da embriaguez e do Teatro e aparece nas comédias, especialmente, na paródia dos sacrifícios, transformando o sangue em vinho, tragédia em comédia, morte em salvação. Analisaremos a presença dos dois deuses, Afrodite e Dioniso, nas peças femininas de Aristófanes: , e , Lisístrata Tesmoforiantes Assembleia das Mulheres mostrando como, para o feminino dessas peças, a liberdade está atrelada ao desejo de união, Dioniso atrelado à Afrodite.

Solange Maria Soares de Almeida (Doutora - UFC) O uso das artes da tecelagem e do bordado na luta das mulheres

Na literatura clássica, são encontradas várias narrativas que apresentam lãs, fios, fusos, tecidos, teares e demais elementos ligados à tecelagem capazes de atribuir poderes, algumas vezes, extraordinários, às mulheres que os utilizam. Embora fragmentada, a tragédia , de Sófocles, narra o mito de Procne e Tereu Filomela, reescrito posteriormente por Ovídio, em . Impedida de falar, após ser violada e ter Metamorfoses a língua mutilada, Filomela usa como voz a lançadeira, que transporta o fio púrpura entre os fios brancos da urdidura e dá forma à trama que revela aos olhos de sua irmã, Procne, as imagens da violência perpetrada por seu cunhado, Tereu. Nossa proposta é apresentar, como instrumento de luta e resistência feminina, o uso da tecelagem, no mito grego, e o uso da , na atualidade brasileira. Em espanhol, arpilleria é um tecido grosseiro, geralmente, estopa, juta ou outro tipo de fibra similar, em português, seria arpillera serapilheira, palavra pouco usada. A técnica da foi bastante utilizada pelas mulheres, no Chile, arpilleria como forma de denunciar as atrocidades cometidas pela ditadura militar (1973-1990), e, desde 2013, no Brasil, pelo Coletivo Nacional de Mulheres, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB,) que, inspirado pelo poder de transgressão dessa arte, tornou o bordado instrumento de denúncia. Essa arte manual que antes era uma forma de subsistência é agora uma ferramenta de luta.

Edilane Vitório Cardoso (Doutoranda - UFC) Epos e Melos em cena: do espetáculo e da narrativa bélica em "Os Persas" e "Os Sete contra Tebas"

Das tragédias de Ésquilo (525? – 456? a. C) remanescentes, duas são objeto de interesse da proposta de comunicação que ora apresentamos: e . As duas peças giram em torno de Os Persas Os sete contra Tebas conflitos bélicos e colocam em cena o arranjo das ações e seus eventuais desdobramentos sob o signo da guerra; em ambas há a articulação entre o mundo dos deuses e o mundo dos homens. A tragédia Os (472 a. C) é a mais antiga do tragediógrafo grego que nos chegaram. Nela, os recentes fatos Persas

17 históricos e políticos envolvendo Grécia e Ásia, especificamente a batalha de Salamina, ocorrida em 480 a. C, travada entre gregos e persas nas chamadas guerras médicas (490-479 a. C), são incorporados ao imaginário e às noções míticas que constituem o assunto para o drama esquiliano. Os sete contra Tebas (467 a. C) é também uma tragédia que exalta Ares, uma vez que os elementos marciais são meticulosamente evidenciados, seja nas descrições dos guerreiros em combate, nas insígnias dos escudos, nos pormenores do combate, nas súplicas e imprecações advindas do coro de mulheres. Em função disso, o estudo analisa de que modo e são evocados e explorados no texto dramático esquiliano, epos melos como essas categorias – concebidas no âmbito do drama – das próprias ações no palco –, se articulam nas duas peças cujo assunto central orbita em torno da temática bélica. Com vistas ao debate, nos respaldamos nas teorizações de Lesky (2003), Aristóteles (1987), Torrano (2009), Standford (1983), Kitto (1990).

Maria Liduína de Araújo (Especialista - UFC) As Moiras e Liberatropa: uma leitura do destino, em "Lisístrata", de Aristófanes

De acordo com a Mitologia Grega as Moiras são as responsáveis pela distribuição da sina ou quinhão para os mortais. O referido estudo foi embasado em algumas questões advindas de pesquisas desenvolvidas sobre a obra (411 a.C.), uma peça, do representante maior da Comédia Antiga Grega, Lisístrata Aristófanes (c. 445 a.C. – c. 385 a.C.), em que foi formulada a noção da não aceitação do destino. Liberatropa, representante das atenienses, a personagem responsável por essa desobediência e iniciadora da saga contra o preestabelecido (destino). Assim, por não querer seguir as normas, que impedem a cidadania das mulheres na , Liberatropa, em , desenvolve o papel de personagem crítica, a pólis Lisístrata fim de driblar as barreiras do destino, tornando-o mutável através de sua criatividade e inteligência no tecer da batalha contra as Moiras.

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 3

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1040 (ex-1412)

CirceA

Christiano Pereira de Almeida (Doutorando - UFJF) Sobre a linguagem em Aristóteles: uma leitura do "Da interpretação" e das "Refutações sofísticas"

O presente trabalho tem como objetivo estabelecer uma análise da concepção de linguagem nas obras Da e , visando a investigar se elas apresentam algum esboço de reflexão sobre interpretação Refutações sofísticas a linguagem. A questão que orienta a presente investigação é: que tipo de relação pode ser estabelecida entre os discursos significativos e os declaratórios? Tal problema, por sua vez, leva a presente investigação a verificar quais as relações que podem ser estabelecidas entre o discurso, as coisas existentes e o pensamento.

Fernando Adão de Sá Freitas (Doutorando - UFJF) Linguagem, dialética e estoicismo no "De dialectica" de Santo Agostinho

18 O presente trabalho tem como foco principal apresentar alguns dos tópicos ou elementos do estoicismo contidos no tratado de Santo Agostinho (IV-V d.C.). Abordaremos como Agostinho De dialectica empreende uma reflexão sobre a etimologia estoica, assim como o conceito de [dizível], cuja dicibile discussão gira em torno do fato de que esse termo seria uma tradução latina para o conceito estoico de , estabelece uma ponte entre os postulados da e as considerações em relação a linguagem que lektón Stoá Agostinho erigiu na Antiguidade Tardia. Para realizarmos essa análise, recorremos às observações de Pinborg (1975), Pépin (1976), Colish (1990), Long (2005) e de Baratin & Desbordes (2007). Dessa forma, procuramos demonstrar que o estoicismo também esteve presente nas postulações de Agostinho, servindo, em alguns casos, como ponto principal de seu pensamento sobre a linguagem e a dialética.

Frederico Krepe da Silva (Mestrando - UFJF) A refutação socrático-platônica como método filosófico

Os diálogos de juventude de Platão, embora marcados pelo predomínio de temáticas éticas, também nos apresentam um Sócrates que se utiliza de um método bastante característico no processo de perguntas e respostas, o método de refutação ( ). Se nos atentarmos para a descrição que Platão faz da prática élenkhos socrática, podemos ver que esse tipo de refutação é o principal motivo da sabedoria atribuída a Sócrates, que conhece a própria ignorância, ao mesmo tempo que é sua ruína, sendo descrito como um dos principais motivo de sua condenação. O método utilizado por Sócrates consiste em buscar extrair definições acerca de temas éticos de seus interlocutores, que são colocadas à prova por meio de um jogo de perguntas e respostas que tenta explorar pressupostos contraditórios, implícitos na definição, que inviabilizam a própria definição em questão, fazendo com que o interlocutor seja refutado e caia em contradição. Esse tipo de prática refutatória é apresentado como uma dialética negativa ou destrutiva, em oposição a uma futura dialética propositiva e positiva. Buscamos fazer uma reflexão sobre esse tipo de dialética refutatória enquanto método filosófico com a intenção de proporcionar um melhor entendimento metodológico da dialética platônica de juventude. Para isso, usaremos os comentários feitos acerca da obra platônica, em especial da metodologia dos diálogos de juventude, assim como as reflexões na obra platônica, embora poucas e dispersas, acerca da refutação enquanto prática, onde o filósofo ateniense nos apresenta comentários, com um olhar mais metodológico, acerca desse tipo de dialética.

Daniela Brinati Furtado (Mestranda - UFJF) Os limites entre o ser e o conhecer no "Tratado do não-ser" de Górgias de Leontini

No , Górgias nos parece limitar a possibilidade de o logos expressar fielmente as coisas Tratado do não-ser que não são da mesma natureza que este, ou seja, esse logos não consegue traduzir fielmente em palavras as coisas que não são tais palavras. Diante disso, o atual trabalho tem como objetivo refletir sobre a possibilidade de Górgias apresentar uma certa preocupação epistemológica no , tendo Tratado do não-ser em vista a seguinte passagem que temos acesso através de Sexto Empírico: “tais são, portanto, as aporias de Górgias. Com base nelas, perde-se o critério de verdade, pois do que não é, do que não pode ser conhecido, e do que não é de natureza a ser transmitido a outrem, não poderia haver critério” (§87). Ou seja, propomo-nos considerar a possibilidade de Górgias ter apresentado uma reflexão sobre a relação entre o ser e aquele que se diz conhecê-lo e, portanto, também refletiremos sobre a questão da comunicabilidade desse ser e algumas das consequências “epistemológicas” do pensamento do sofista.

19 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 4

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex-1415)

LEIR - Laboratório de Estudos do Império Romano (1)

Alexandre Agnolon (Pós-doutor - UFOP) O tema do "Julgamento de Páris" em epigramas do grego Rufino

O presente trabalho tratará dos epigramas eróticos de um certo Rufino, poeta grego de dificílima datação, cujos versos estão conservados na primeira parte dos da ou . epigrammata erotika Antologia Grega Palatina Debruçar-me-ei particularmente sobre um ciclo de epigramas dedicado ao "Julgamento de Páris", temática sem paralelo na poesia epigramática grega e romana. Os objetivos principais, portanto, do trabalho são a) apresentar, em tradução poética, os epigramas de Rufino do referido Ciclo; e b) discutir o Ciclo do Julgamento levando em consideração o gesto ecfrástico do poeta, bem como as relações que, em termos de , o poeta estabelece entre o discurso poético e as artes figurativas. ut pictura poesis

Giovana Faversani (Mestranda - UFU) Catulo e a Musa Puerilis: papéis erótico-sociais e o epigrama grego nos poemas do Ciclo de Juvêncio

O trabalho que se apresenta é a síntese de pesquisa, em estágio de desenvolvimento, no âmbito do mestrado da Universidade Federal de Uberlândia. Dessa forma, a presente comunicação tem como foco os poemas do assim chamado Ciclo de Juvêncio: textos pederásticos ou homoeróticos ou, se se quiser ainda, dedicados à , compostos por Catulo no século I a.C. Trata-se de dez poemas – 15, 16, Musa puerilis 21, 23, 24, 26, 40, 48, 81 e 99 – d’ . O objetivo é discutir, a partir de uma análise prévia O Livro de Catulo dos referidos poemas, dois pontos fundamentais, quais sejam: a) o modo como o poeta acomoda (ou emula) em latim temática já recorrente em poetas epigramáticos gregos praticantes da , mousa paidiké como Calímaco, Meleagro e Asclepíade de Samos, hoje compilados no décimo segundo livro da Antologia Palatina e b) como os poemas do Ciclo, em sua , mimetizam, nos papéis sexuais res ficta desempenhados pelos amantes, as relativas posições sociais ocupadas pelas personagens, levando em consideração a configuração social romana da época tardo-republicana.

Gabriel Cabral Bernardo (Doutorando - USP) Autocontrole e liberdade em Esparta

Já foi apontado por vários acadêmicos que o autocontrole espartano, um topos literário identificável já no século V, se tornou parte da Miragem Espartana principalmente nos séculos posteriores ao Período Clássico. Entretanto, ignora-se frequentemente que tal traço, mesmo que exagerado pelos autores antigos, ainda representava um elemento importante do ethos do cidadão espartano. O objetivo dessa apresentação é debater a centralidade do autocontrole para a manutenção, em Esparta, da liberdade de seus próprios cidadãos, isso por meio da consideração de um grupo quase sempre esquecido quando se fala do caráter espartano ideal: os hilotas, o paradigma espartano da escravidão. Isso será feito considerando principalmente os episódios nos quais hilotas, usados (forçadamente) como exemplos negativos de descontrole, reproduzem e internalizam, nos espartanos, um traço importante de sua identidade. Veremos

20 que, por meio de tal prática, os espartanos conseguiam “justificar” ideologicamente não só sua posição como cidadãos livres e superiores, mas também a dos hilotas como escravos e inferiores.

TERÇA-FEIRA, DIA 03/09: 14:00 ÀS 15:30

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 5

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

Estudos sobre o Teatro Antigo (1)

Jaa Torrano (Doutor - USP) Coerção e Desejo na Tragédia Grega

Nas tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, observa-se a reiteração do padrão de situações de impasse, descritas como “jugo da coerção” ( / ), que se resolvem pela transformação do anágkes lépadnon zeúgmata escopo da coerção em objeto do desejo. Em variantes associadas à personagem de Pílades, a solução do impasse vem do planejamento de uma ação cujo risco mortal se dilui no impasse e constitui ao mesmo tempo a aceitação e a superação do impasse.

Wilson Alves Ribeiro Jr. (Doutor - USP) O drama satírico “Ônfale”, de Íon de Quios: tradução e comentários

Íon de Quios (c. 484-422 aC), um dos mais versáteis autores da Antiguidade, competiu nos concursos atenienses com ditirambos, tragédias e dramas satíricos na época de Sófocles e Eurípides, mas nenhuma de suas obras foi integralmente conservada. Nesta oportunidade será apresentada a tradução portuguesa dos fragmentos remanescentes do drama satírico , uma das poucas representações dramáticas Ônfale conhecidas do mito de Héracles e da rainha Ônfale, com breves comentários sobre sua possível posição nas diversas partes do drama.

Maria Cristina Rodrigues da Silva Franciscato (Doutora - USP) A má conotação do novo na tragédia ática

O novo, indicado através dos termos , e cognatos, costuma, de forma implícita, ou kainós neós explicitamente, ter má conotação nas tragédias áticas, indicando algo ruim. O pensamento grego não parecia ver o novo com muito otimismo. O novo é aquilo que se precipita no conhecido, transtornando a ordem estabelecida. Assim também age a . Do ponto de vista daquele que a sofre, ou dos que dela týkhe participam, a costuma ser o novo, que surge como problema. týkhe

Beatriz de Paoli (Doutora - UFRJ) Ser híbrido, ser outro: as Danaides nas "Suplicantes" de Ésquilo

As , representadas em torno de 463 a.C., narram a história das cinquenta filhas de Dânao, que, Suplicantes fugindo de sua pátria, o Egito, chegam a Argos, terra de sua ancestral Io, buscando asilo e proteção, visto

21 que seus primos, os Egipcíades, pretendem desposá-las à força. O objetivo desta comunicação é discorrer sobre alguns aspectos da caracterização das Danaides nessa tragédia esquiliana, tendo como fio condutor o par de opostos gregos-bárbaros e procurando observar em que medida essa caracterização cria aquilo que Hartog (1980) denomina de “efeito de alteridade” e como esse “efeito de alteridade” está a serviço de uma representação majoritariamente pejorativa dos bárbaros.

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 6

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

Limes - Fronteiras Interdisciplinares da Antiguidade e suas Representações (1)

Charlene Martins Miotti (Doutora - UFJF) A literatura antiga como instrumento de resistência ao neofascismo

Este trabalho visa apresentar as principais conclusões de um estudo piloto realizado entre 2018 e 2019 com cerca de 60 alunos de 2 cursos noturnos de literatura grega e latina na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), avaliando afeto e humor autodeclarados (EKKEKAKIS, 2013) após cada aplicação em um conjunto de oito atividades de “Aprendizagem Baseada em Equipes” (ABE/TBL) sobre a , a Ilíada , a poesia mélica arcaica (cânone dos 9 poetas), a de Eurípides, o , os Teogonia Medeia De Amicitia Carmina , a e a de Horácio. Através de estudos de caso sobre essas obras que compõem o Catulli Eneida Arte Poética básico dos “Estudos Fundamentais” em literatura antiga (a como mote para debate curriculum Teogonia sobre intolerância religiosa e Enéias percebido como herói refugiado, por exemplo), assuntos contemporâneos sensíveis foram trazidos à discussão, permitindo aos estudantes externar suas próprias preocupações em relação à ascensão da extrema direita ao poder. Consideramos que tal abordagem pode contribuir para a construção da autoestima e encorajá-los a expressar sua opinião enquanto negociam com os pares para chegar a soluções conjuntas, como esperamos demonstrar através de dados quantitativos e qualitativos com base nas percepções dos sujeitos. Em última análise, acreditamos que uma experiência inclusiva na sala de aula pode diminuir as taxas de desistência, um fator-chave na democratização efetiva da educação superior iniciada em 2012, quando o sistema de cotas raciais e sociais para as universidades públicas foi sancionado como parte de uma estratégia governamental mais ampla para reduzir a desigualdade em nossa sociedade.

Juliana Bastos Marques (Doutora - UNIRIO) Para compreender no século XXI as escalas e proporções do mundo antigo

Pretendo nesta palestra apresentar e discutir alguns problemas da percepção de espaço e escala na segunda década do século XXI para compreender o mundo antigo. Nosso mundo acentuou radicalmente nos últimos anos uma mudança na percepção de escalas, tanto nas relações espaciais e temporais do ser humano com seu ambiente, como parte das reflexões sobre o , quanto nas próprias e diversas spatial turn redes de sociabilidade, inclusive os círculos intelectuais. Como essas mudanças rápidas e profundas dos nossos dias afetam nossa visão do passado clássico? Ao delinear o quadro dessas mudanças atuais, que determinam a visão do mundo produzida no nosso próprio dia-a-dia, a reflexão mostra um caminho para repensar esse passado como fundamentalmente diferente do nosso, ressaltando também sua

22 historicidade e o caráter de construção das narrativas sobre ele. Nesse sentido, um foco primordial do debate é o próprio ensino da História Antiga, palco tão evidente das diferenças entre sociedades no eixo do tempo.

Leni Ribeiro Leite (Doutora - UFES) Reflexões acerca do uso de práticas ativas no ensino de Língua Latina

Partindo de experiências desenvolvidas a partir de 2016 junto ao curso de Letras da Universidade Federal do Espírito Santo, esta comunicação procurará delimitar o uso dos termos Práticas Ativas ou Latim Ativo, definido-os; descrever atividades realizadas com turmas de língua latina; refletir sobre os objetivos e os resultados dessas atividades; e propor a inclusão de práticas ativas nas aulas regulares de língua latina.

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 7

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2044 (ex-1413)

Laboratório de Estudos da Antiguidade Oriental - LEAO

Katia Maria Paim Pozzer (Doutora - UFRGS) De deuses e reis nas imagens assírias

A relação entre deuses, deusas e realeza têm sido muito importante ao longo de três milênios da história da Mesopotâmia. Para examinar essas relações, às vezes íntimas, optamos por analisar alguns selos- cilindros pertencentes à coleção do Museu Britânico, publicados por Edith Porada e Dominique Collon, datando do período paleoassírio. O selo-cilindro era portador de significados, símbolo de poder, autoridade e status social. Poderia ser uma oferenda votiva ou funeral, um presente para os deuses ou um amuleto protetor. O padrão representado nos selos geralmente consistia em cenas figurativas e seu uso era a marca de uma classe social alta, como reis, escribas, homens de negócios, onde cada motivo era único e imutável. Alguns temas têm uma longa história, como a cena de "introdução", em que uma oração de oração é introduzida por uma divindade secundária na presença de um deus maior. Partindo da ideia de que a imagem na antiga Mesopotâmia não era considerada semelhante a uma realidade original presente em outros lugares, mas sim que ela continha a realidade em si, propomos analisar essas imagens. Do conceito mesopotâmico do mundo real que inclui, por definição, várias camadas e um complexo sistema de signos, é possível compreender os aspectos político-ideológicos que permeiam essas relações, através da análise da composição artística, gestos dos personagens, objetos presentes na cena? Podemos determinar o simbolismo presente no universo imaginário desses selos-cilindros?

Marina Pereira Outeiro (Doutoranda - UERJ) "As mulheres melhores e mais sábias, que Zeus, amavelmente, concedeu aos homens”: a conectividade entre Grécia e Cuxe nas representações das atenienses e meroenses na Atenas Clássica (V a.C.)

Considerando a conectividade, promovida pelo Mediterrâneo, entre Cuxe e Grécia –, nossa pesquisa se empenha em estudar a formação do paradigma ideal de feminino vinculado às práticas da tecelagem e das atividades religiosas, construído com base na justaposição da função social desempenhada pelas

23 atenienses e meroenses, privilegiando a análise das tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, bem como os vasos cerâmicos dedicados as temáticas de Penélope, Andrômeda, as Danaides e os de kantharos janiform dupla face – que apresenta a mulher em primeiro plano

Nicoll Siqueira da Rosa (Mestre - UFRGS) Imagens de escrita e leitura nos afrescos de Pompeia

As interações culturais entre Grécia, Roma e o Oriente Antigo e a forma como pensaram e desenvolveram suas línguas permitiram a construção de um imaginário visual relacionado às atividades de escrita e leitura, que pode ser verificado em obras de arte da antiguidade. Neste trabalho será apresentado o resultado da pesquisa de dissertação de mestrado “Representações e funcionalidades da escrita e da leitura em Pompeia”, trazendo as imagens de afrescos da cidade de Pompeia que representam corpos leitores e/ ou escritores, as quais estão imbuídas desse imaginário. O intuito é demonstrar as performances realizadas durante estas atividades e o que elas pretendem significar, focando especificamente nas interações que permitiram a construção desse imaginário a respeito da linguagem e do modo de representá-la visualmente. Esse trabalho contou com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 8

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex-1415)

Gêneros poéticos na Grécia Antiga: tradição e contexto

Antonio Orlando de Oliveira Dourado Lopes (Doutor - UFMG) A referência à ‘lascívia’ (makhlosyne) em Il. 24.30 e no fragmento 132 Merkelbach-West de Hesíodo

Quando aparece na , Helena já não está mais envolvida eroticamente com Páris, aceitando deitar-se Ilíada com ele apenas porque Afrodite a obriga. Se, por um lado, o comportamento de Helena parece colocar em questão o erotismo de sua relação com Páris, por outro o poeta afirmará em 24.30 que foi a Ilíada ‘lascívia feminina’ ( ) lançada por Afrodite que causou a união com Páris, consequentemente makhlosyne levando a tantas mortes. Como o termo ‘ ’ não aparece nenhuma outra vez nos poemas makhlosyne homéricos, alguns comentadores antigos colocaram em dúvida a autenticidade da passagem, que introduziria segundo eles uma compreensão da relação erótica estranha à como um todo. Todavia, Ilíada o esclarecimento do termo em um escólio da a partir da referência ao fragmento hesiódico 132 M- Ilíada W (= fr. 81 Most) traz novos elementos para sua interpretação.

Gustavo Henrique Montes Frade (Doutor - UFJF) Odisseu como “rei-estrangeiro” na "Odisseia"

O final da restabelece a ordem social em Ítaca e o status social privilegiado de Odisseu com o Odisseia massacre dos pretendentes e a intervenção divina que impede o confronto entre o herói e os parentes dos pretendentes. A proposta aqui é ler esse desfecho tendo em mente, num primeiro momento, a leitura de

24 um helenista como Svenbro (1984), que se baseia na vingança como uma instituição da sociedade grega arcaica, e, num segundo momento, tendo em mente a teoria do “rei-estrangeiro”, apresentada por Marshall Sahlins (por exemplo, no livro de 1985, e retomada no de 2017, em conjunto com David Graeber), em que o padrão para o estabelecimento de um poder soberano numa comunidade tem como fundação um grande ato de violência.

Fernando Rodrigues Junior (Doutor - USP) Os três prólogos das "Argonáuticas" de Apolônio de Rodes e o embate entre o modelo homérico e a poesia calimaquiana

Este trabalho tem como objetivo comentar os três prólogos presentes nas de Apolônio de Argonáuticas Rodes e discutir de que maneira eles estabelecem um diálogo com a tradição épica e, particularmente, com a poesia homérica. Inseridos no início dos livros 1, 3 e 4 de modo a abarcar os diferentes estágios da viagem (trajeto de ida, estadia na Cólquida e trajeto de retorno à Grécia), o narrador, por meio deles, introduz questões fundamentais que serão abordadas ao longo dos quatro livros, de modo a inserir esse poema no âmbito de um debate literário desenvolvido no período helenístico, tendo como modelo a poesia calimaquiana.

Juarez Carlos de Oliveira Pinto (Mestrando - USP) Helena e o fim da linhagem dos heróis

O motivo pelo qual teve início a Guerra de Troia é bastante conhecido: o rapto de Helena perpetrado por Páris. No entanto, essa ação tem causas e consequências no que podemos chamar de contexto cósmico da poesia hexamétrica grega arcaica. Sendo assim, a presente comunicação visa explicar como o rapto de Helena é imbuído de sentido no âmbito da ordem cósmica regida por Zeus e demonstrar de que modo esse rapto é importante para se pensar o fim da chamada linhagem dos heróis. Para isso, parto de fragmentos do hesiódico e os discuto a partir de passagens da e de Catálogo das Mulheres Ilíada testemunhos e fragmentos do , assumindo a perspectiva proposta por Jenny Strauss Clay, Cantos Cíprios Barbara Graziosi e Johannes Haubold segundo a qual os poemas hexamétricos representam momentos diferentes da história do cosmo. Defenderei que Helena é essencial no processo de estabelecimento da soberania e da ordem de Zeus, processo esse que abarca a destruição da mencionada linhagem que, pela proximidade que tem com os deuses, se mostra nociva.

QUARTA-FEIRA, DIA 04/09: 9:30 ÀS 11:00

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 9

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex-1415)

Estudos sobre o Teatro Antigo (2)

Renata Cazarini de Freitas (Doutoranda - UFF) Jocasta em três momentos: teatro grego, romano, inglês

25 A trama do de Sêneca é, na sua essência, similar à do de Sófocles, mas a inclinação Édipo Édipo Tirano dos personagens numa e noutra peça é muito distinta. O Édipo senequiano é um foragido do destino: tem medo, se apresenta desde o início inseguro, temeroso de ver sua sina cumprida, um homem que põe em si mesmo pouca fé. O vate Tirésias ironiza: sendo cego, deixa escapar muita coisa, a velhice o impossibilita de receber diretamente o oráculo, por isso, conduz os rituais de aruspício e necromancia para descobrir o assassino de Laio. Creonte é mais um mensageiro do que o futuro regente de Tebas: um portador do oráculo de Apolo inseguro e amedrontado com o que viu e ouviu, um portador do vaticínio de Laio horrorizado com a invocação dos mortos. Apenas Jocasta mantém-se um personagem assertivo em Sêneca, tal como na tragédia grega, com o discurso constituído em grande parte de máximas morais, mas sem as opiniões contundentes contra os vaticínios encontradas no texto de Sófocles. A frequente presença de Jocasta na cena senequiana mesmo quando ela não tem falas, apenas como tutela de Édipo, dá mais corpo ao personagem, se for essa a decisão do encenador, pois não há didascália esclarecedora a respeito. Vale observar que a entrada de Jocasta em cena é tardia na peça sofocliana. Na versão do Édipo de Sêneca do poeta inglês Ted Hughes, Jocasta ganha mais projeção, com um longo monólogo sobre as agruras de ser mãe de uma estirpe maldita.

Luiz Guilherme Couto Pereira (Doutorando - USP)

O que a performance pode nos dizer sobre a "Medeia"

Tomando por base os estudos de Oliver Taplin sobre a performance como elemento constitutivo de significado no teatro grego, o presente trabalho analisa as entradas e saídas de cena na de Medeia Eurípides para reconhecer aspectos da obra que possam escapar à observação no estudo do texto escrito.

Barbara da Costa e Silva (Doutoranda - USP) Timão, Cnemão e a arqueologia da misantropia cômica

Nesta comunicação investigo a caracterização da personagem cômica Cnemão, o misantropo de , peça com a qual Menandro teria obtido o primeiro lugar nas Leneias de 316 a.C. A Dyskolos personagem, um velho e raivoso misantropo, não era original, de modo que o frescor da peça dificilmente residiria nesse ponto. O prazer não estaria necessariamente na originalidade, mas sim na familiaridade da personagem: misantropos já povoavam os palcos cômicos desde a Antiga. Desta forma, busco investigar a constituição da personagem partindo da análise de outros misantropos cômicos anteriores.

Samea Rancovas Ghandour Cunha Giraldes (Mestranda - USP) Liberdade associada ao lugar de fala na caracterização de Andrômaca e Hermíone na peça "Andrômaca" de Eurípides

Este trabalho integra o recorte temático que vem sendo desenvolvido no último biênio pelo grupo de pesquisa Estudos sobre o Teatro Antigo da FFLCH-USP: “A caracterização da personagem no teatro greco-romano”. O escopo aqui é perscrutar a caracterização de Andrômaca e de Hermíone na peça de Eurípides a partir de uma perspectiva da liberdade associada ao de lugar de fala atribuído a Andrômaca essas duas mulheres de acordo com sua condição presente.

26 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 10

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

Linceu - Visões da Antiguidade Clássica

Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (Doutor - UNESP) A resenha de José de Alencar às "Geórgicas, de Virgílio", por António Feliciano de Castilho: considerações sobre vertentes tradutórias e crítica literária

Em "O vate bragantino", nome de uma série de artigos publicada em 1872, José de Alencar defende Odorico Mendes do ataque de Pinheiro Chagas, que exaltara a tradução das de António Geórgicas Feliciano de Castilho e menosprezara o trabalho do tradutor do brasileiro. Mais que isso: Alencar parece indicar aos seus leitores, com a autoridade de patrono das Letras Nacionais, um modo de tradução "literalista", na esteira do labor odoricano, que seria a forma correta de traduzir. O polemista, que chega a oferecer uma tradução própria de versos virgilianos, critica Castilho pela falta de precisão vocabular, pelo maior tamanho de sua tradução em relação ao original e pelo estilo frouxo resultante de uma tradução parafrástica. O presente trabalho pretende oferecer uma reflexão sobre as vertentes de tradução no séc. XIX e, sobretudo, pensar como a recepção dos clássicos foi, e ainda é, uma estratégia discursiva para contrapor estilos e modos de expressão literários dentro de uma dada sincronia.

Giovani Silveira Duarte (Mestrando - UFOP) Da elegia erótica romana à lírica romântica: a tradução parafrástica dos "Amores", de Ovídio, por António Feliciano de Castilho (1858)

A pesquisa tem como objetivo analisar, a partir do cotejo de concepções clássicas e modernas acerca dos gêneros lírica e elegia, de que modo a tradução parafrástica da obra , de Ovídio, elaborada por Amores António Feliciano de Castilho em 1858, privilegia a língua de chegada, o Português, e despreza os critérios tradicionais que pautavam, na Antiguidade, o gênero elegíaco, visto que o tradutor lança mão de variações diversas referentes sobretudo à métrica ao longo da obra, chegando a inclusive inserir versos que não estavam na versão latina. O trabalho não se pretende meramente comparativo, ou seja, a simplesmente cotejar ingenuamente o original e o seu correspondente em língua vernácula, com vistas a demonstrar as diferenças entre um texto e outro, mas, sim, quer sob a luz dos critérios tradutológicos explicitados no prefácio da obra pelo erudito português, quer mediante noções antigas e modernas desses gêneros poéticos, perceber a relação agonística e emulativa travada entre o poema ovidiano e a nova fatura portuguesa.

Letícia Nataly Almeida (Mestranda - UNESP) Imitação e reverência: a colagem de episódios vertidos por Bocage na tradução de António Feliciano de Castilho para as Metamorfoses de Ovídio

A presente comunicação apresenta resultados parciais de um projeto de pesquisa que tem por objetivo a recuperação da tradução integral e parcialmente inédita das , de Ovídio, feita por António Metamorfoses Feliciano de Castilho no século XIX. Levando em conta a importância das como fonte Metamorfoses

27 literária e mitológica autêntica da Antiguidade greco-romana esta obra possui diversas traduções em língua portuguesa, sendo uma das mais conhecidas, ainda que parcial, aquela feita por Bocage. Na passagem do século XVIII para o XIX, esse poeta e seus seguidores, conhecidos como elmanistas, representam aquela vertente tradutória que preza pela domesticação do estrangeiro aos costumes da língua de chegada, ou seja, pela nacionalização da obra na tradução. Sendo um fiel discípulo das ideias de Bocage, António Feliciano de Castilho procura aplicar esse modo de traduzir em suas versões de obras clássicas. A adequação às ideias bocagianas vai para além da escolha de uma vertente tradutória: Castilho, em sua tradução para as , considerando tão grandioso o trabalho tradutório deste poeta e Metamorfoses “reconhecendo que para o igualar faleciam inegavelmente as forças” (CASTILHO, 1841, p. XXX), decide incorporar as fábulas vertidas por Bocage em sua própria tradução, realizando emendas e correções para ligá-las, quando necessário o fosse. A comunicação a ser apresentada pretende expor uma discussão acerca da relação entre Castilho e Bocage, levando em conta questões como a da tradição literária em tradução, plágio, reverência e imitação.

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 11

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1033 (ex-1402)

Cátedra UNESCO ARCHAI: As Origens do Pensamento Ocidental (1)

Ariadne Borges Coelho (Doutoranda - Universidade de Coimbra) Dioniso e Ariadne: Liberdade e Desejo

Este trabalho estuda o mito de Ariadne e a sua relação com Dioniso. A liberdade e o desejo vivenciados pela heroína, a Hierogamia Dionisíaca e a ambiguidade da morte/imortalidade demonstram a situação peculiar de Ariadne. Através da análise das fontes clássicas principais (Hesíodo, Homero, Virgílio, Catulo e Propércio) demonstraremos as versões do mito. Bernabé (2013), em seu estudo sobre Dioniso, evidencia Ariadne como a única esposa de Dioniso e interpreta a representação dela como deusa, na origem do mito, e mortal, na épica antiga, por mais especial que fosse. Oliveira (2008) chama a atenção para a abordagem dos mitos de temática feminina para que não haja repetição de estereótipos.

Rosane de Almeida Maia (Doutoranda - UnB) As mulheres no governo da pólis

A escrita dos dez livros da coincide com um período convulsionado em Atenas, marcado por República repentinas e traumáticas mudanças políticas. Nesse contexto, a personagem Sócrates aborda as vicissitudes atenienses para explicitar críticas e apresentar propostas ousadas para uma nova constituição. Recorrendo à imagem de onda ( ) a ser ultrapassada com dificuldade pelo navegador, uma vez que o discurso kymia teria de enfrentar opiniões comuns já muito consolidadas na , apresenta as seguintes normas visando pólis fundar a cidade bela ( ): 1) educação para as mulheres tornarem-se governantes; 2) comunhão de kallipolis mulheres, filhos e bens entre os guardiães; 3) necessidade de os filósofos serem governantes ou dos governantes serem filósofos. Ao longo do livro V essas medidas são examinadas com vistas a enfrentar o esfacelamento da coesão na e para recuperar a unidade da comunidade de cidadãos ( pólis koinonia ). Assim, apresentaremos os argumentos para convencer e justificar as mulheres no governo, ou politike

28 seja, a proposta normativa inscrita na “primeira onda” do livro V da . Destacaremos que a República investigação, por meio do pensamento e da reflexão, propiciou que o discurso sobre a capacidade intelectiva das mulheres sustentasse uma legislação adequada à natureza ( ). Ressaltaremos, por fim, physis como a necessidade de uma legislação que se mostrasse sintonizada com os desafios políticos suscitou uma ampla investigação acerca da natureza humana, da cidade e do que fazer para o bem comum.

Fernanda Israel Pio (Mestranda - UnB) Eros, virtude e liberdade no discurso de Fedro do "Banquete" platônico

Esta comunicação objetiva ressaltar, no âmbito do discurso de Fedro, no , a diferença entre as Banquete honras advindas de uma conduta virtuosa executada através de possessão divina e as honras que são devidas na ausência de tal possessão. Fedro promove um elogio a Eros, que, segundo ele, é um deus capaz de tornar virtuoso mesmo o mais vil dos homens, e apresenta três exemplos de amantes, com enfoque na coragem ou não de morrer por outrem: Alceste, que por amor se dispõe a morrer no lugar do marido Admeto, é honrada pelos deuses com o retorno do Hades; Orfeu, que ao invés de seguir a amada Eurídice na morte, adentra vivo no Hades para recuperá-la, é punido, não recupera a amada e é morto por mulheres e, por fim, Aquiles, que morre vingando Pátroclo, e recebe honras ainda maiores que as de Alceste, sendo encaminhado à "ilha dos bem aventurados". Essas honras superiores são justificadas, segundo Fedro, por Aquiles ( ) não estar possuído por Eros. Sua ação virtuosa em condição de erômenos liberdade (ausência de possessão) é considerada mais honrável e mais admirável pelos deuses, a que se forma no entorno de Eros. Fedro valoriza a liberdade numa espécie de elogio à autonomia do homem, ou ainda, promove um elogio ainda mais grandioso a Eros, por sua influência indireta, independente de possessão, manifestada na proximidade ou a partir do exemplo de um amante ( ). erastés

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 12

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

LEIR - Laboratório de Estudos do Império Romano (2)

Fábio Faversani (Doutor - UFOP) Provinciais, libertos e romanização: um estudo sobre múltiplas identidades no Império Romano

O objetivo desse trabalho é analisar a multiplicidade de identidades envolvidas na Romanização como parte de um conflito entre diferentes setores da aristocracia imperial. Consideramos Romanização como um processo no qual os provinciais tiveram um papel ativo e seus interesses próprios. Além disso, os provinciais, ao participarem de um processo de Romanização, se mantém como provinciais. Nesse trabalho analisamos alguns aspectos específicos relacionados à tomada de posições proeminentes por provinciais em um processo de Romanização. Para tanto, tomamos os casos de , como Agrícola apresentado por Tácito. Como contraponto, apresentaremos a visão dada por outro setor ascendente, aquele dos libertos, através da crítica feita a ele por Petrônio. Se, por um lado, Tácito elogia a ascensão dos provinciais, notamos, lendo Petrônio, que tal elogio de novos setores na elite não era consensual e havia um conflito aberto no interior da aristocracia. Para alguns, novos membros seriam um novo impulso para

29 Roma. Para outros, contudo, era nada mais do que um sinal de decadência. Desse debate, concluímos que a aristocracia era multifacetada e envolvia uma multiplicidade de percepções das identidades em conflito.

Caroline Morato Martins (Doutoranda - UFOP) Entre matrimônio e maternidade: a fama de Agripina Maior e Lívia Drusa

As obras de Tácito e Suetônio construíram narrativas posteriormente ao período denominado como dinastia Júlio-claudiana. Nesta comunicação, apresentaremos a investigação que fizemos acerca da fama de duas específicas personagens femininas da narrativa destes autores latinos: Agripina Maior e Lívia Drusa. Analisaremos como a construção ou reconstrução da fama ligadas às duas personagens convergem, nos e nas , para uma alteração de suas condições ético-morais. A alteração da Anais Vidas dos doze césares fama destas duas mulheres é ocasionada pela morte de seus respectivos maridos. Ao tornarem-se viúvas, ambas se alteram nas narrativas: passam de esposas virtuosas a mães ambiciosas e movidas pelos vícios. Neste sentido, refletiremos sobre o delineamento, para estes dois casos, de uma passagem da fama à infâmia por meio de balizas relacionadas ao matrimônio e maternidade.

Luis Henrique Carminati (Mestrando - UFOP) A moeda na República Romana: memória, comunicação e poder

O objetivo desta comunicação é discutir como a moeda, na Antiguidade romana, era um objeto que era atribuído dois valores: econômico e simbólico. Isso relaciona-se com o fato de que a ampla produção de tipos monetários e a construção de um repertório imagético permitiu que a moeda fosse estabelecida como um dos principais meios de comunicação naquele contexto. A cunhagem de amoedações proporcionava uma padronização nas trocas econômicas e, ao mesmo tempo, uma legitimação da organização política. O fundamento que denomino por “valor simbólico” era elaborado através da iconografia que era disposta no corpo da moeda. Logo, as amoedações estavam vinculadas diretamente ao seu contexto produtivo, seja ele social, econômico ou político. Em Roma, no século I AEC, o contexto de acirramento político dos grupos aristocráticos apresentava-se na apropriação do espaço da moeda, proporcionando também embates no campo das representações. Os tipos monetários supervisionados por Lúcio Cornélio Sula são um exemplo de como as moedas evidenciavam os conflitos existentes na República romana. É importante destacar que, a rigor, o discurso numismático apresenta perspectivas diferentes das fontes literárias: o repertório numismático-imagético construiu discursos de maneira bastante sutis algo que nos permite compreender tanto continuidades quanto rupturas do processo histórico em que ele estava inserido. O período em questão estava permeado de emergentes transformações e conflitos políticos, como, por exemplo, a ascensão de um “poder pessoal” em detrimento da autoridade das instituições públicas. Consequentemente, os tipos monetários cunhados naquele contexto ostentavam mensagens diretamente vinculadas a estes embates políticos, relação que procurarei enfatizar.

SEXTA-FEIRA, DIA 06/09: 9:30 ÀS 11:00

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 13

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex-1415)

30 Limes - Fronteiras Interdisciplinares da Antiguidade e suas Representações (2)

Debora Regina Vogt (Doutoranda - UFRGS) Antigos e modernos: a relação entre Harrington e Maquiavel

O objetivo desta proposta de trabalho é demonstrar a relação entre a prudência moderna, essencial no pensamento de Harrington, e as definições advindas da Antiguidade. A ligação entre Maquiavel e Harrington permeia boa parte do seu texto e tem como objetivo reafirmar ideias já presentes nele. Seu uso, mais do que autoridade, seria também elemento de demonstração para ideias que também acreditava como verdadeiras. A importância do florentino é vital, já que nele estão presentes os fundamentos do que ele entende como liberdade e do próprio republicanismo. Por meio da ligação entre diferentes autores e seus próprios problemas em sua época, Harrington procura demonstrar ao seu leitor como a república deveria ser constituída. Para isso, o florentino é muito importante, já que permite ao pensador estabelecer as bases de sustentação de sua argumentação. Assim como ele fundamentou muito de seu pensamento nas autoridades antigas, Maquiavel será usado diversas vezes como forma de autoridade, justificando a arquitetura conceitual. Desta forma, se os gregos romanos e o próprio relato bíblico são as partes antigas que fundamental sua argumentação no sentido de demonstrar como sua república tem a base de sua sustentação na Antiguidade, Maquiavel é seu contemporâneo, que demonstra muitas das necessidades de seu mundo. O florentino também é um leitor dos antigos, aparecendo suas referências longamente em seus livros, mas o ponto mais importante é que ele estabelece as bases do governo moderno, possibilitando que Harrington se aproprie de muitas ideias presentes em seu texto.

Alessandro Carvalho da Silva Oliveira (Mestrando - UFES) A representação da Concordia Ordinum no retorno de Cícero

Propomos uma exposição das representações das relações entre as ordens sociais de Roma descritas em uma carta de Cícero a Atico, na qual o orador narra seu retorno a Roma. Em decorrência das leis aprovadas no ano de 58 a.C., Marco Tulio Cícero exilou-se de Roma para evitar que lhe fosse atribuída uma pena mais grave pela ordem de execução de conjuradores. Durante esse período, ele perdeu considerável parte de seu patrimônio, além de não possuir mais acesso a um espaço de poder no qual, ao longo de sua vida, investira recursos para ocupar. Esse fato o prejudicou, impedindo-o de exercer as virtudes esperadas de um aristocrata romano naquele período, o que fez com que ele buscasse uma restauração de si próprio para recuperar sua posição social. Concordando com Gordon Kelly quando afirma que o exílio é resultado de da falha da e da dissonancia do do exilado com o da concordia ethos aristocracia local, evidenciamos como Cícero associa seu retorno com a representação da e das concordia suas virtudes.

Camilla Ferreira Paulino da Silva (Doutora - UFES) A auctoritas de Horácio

Nessa comunicação discutiremos a construção da de Horácio nas . Analisaremos o auctoritas Epístolas discurso proferido por esse poeta, no decorrer de suas obras, como uma defesa do que denominaremos de , contrastando-o com o . Veremos também de que modo Horácio se cursus poetarum cursus honorum

31 posiciona, por meio da construção de sua persona epistolar, como alguém detentor de uma que auctoritas lhe conferia uma posição privilegiada entre os que pretendessem se lançar na poesia, projetando, por associação a Augusto, sua imagem de poeta consagrado aos novos membros da elite imperial nascente.

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 14

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

Grupos subalternos e práticas populares na Antiguidade

Giovan do Nascimento (Doutorando - USP) Exílio Clerical e Comunicação na Antiguidade Tardia: a correspondência entre Fulgêncio de Ruspe e os monges de Scytha (519 – 523)

O objetivo desta comunicação consiste em avaliar a capacidade do exílio clerical de estruturar condições de comunicação que beneficiam os exilados, viabilizando a difusão de suas contra narrativas acerca do exílio, bem como a produção de redes de comunicação que viessem a endossá-las. Para isso, a comunicação se concentrará no caso particular da troca de cartas entre o bispo Fulgêncio de Ruspe, exilado da África para a Sardenha por desacatar a proibição de novas ordenações episcopais instituída pelo rei vândalo Trasamundo, e os monges de Scytha por meio das cartas 15, 16, 17 e do tratado Sobre a [ ] do fulgenciano. Esse caso verdade da predestinação e da graça De veritate praedestinationis et gratiae corpus demonstrará que Fulgêncio e os seus companheiros exilados, ao se empenharem em responder às indagações teológicas de seus interlocutores, concedendo-lhes suporte em suas controvérsias religiosas, fizeram dessa comunicação um instrumento para tornar sua legitimidade e as suas próprias ideias mais conhecidas no Oriente, produzindo e reforçando redes de comunicação que poderiam lhes ser eventualmente favoráveis em sua luta contra o religioso do Reino vândalo. establishment

Juliana Marques Morais (Doutoranda - USP) Martírio e resistência: o caso da Controvérsia Donatista (séculos IV e V)

Entre meados do século IV e início do século V, a divisão da Igreja africana entre cecilianistas e donatistas gerou uma série de conflitos envolvendo as duas comunidades religiosas. Em diferentes ocasiões, autoridades seculares interferiram no confronto com o objetivo de restaurar a unidade. Contudo, desde o princípio da controvérsia os donatistas se mostram resistentes às investidas imperiais. Os documentos do período demonstram o quanto essas ações foram entendidas como uma "nova perseguição" e aqueles que morreram em defesa da Igreja donatista, como os novos mártires do período. É possível afirmar, que os textos que reproduzem essas histórias (Passio) serviram não apenas para ressaltar os feitos heroicos dos mártires, mas também, para denunciar as falhas e crueldades dos adversários religiosos. Nesta comunicação, buscamos demonstrar, a partir de um estudo de caso, como os donatistas construíram uma imagem de si enquanto a “Igrejas dos mártires” e de seus opositores enquanto “Igreja do Diabo” e o quanto essas construções serviram para criar um modelo de resistência nos tempos de perseguição.

32 Pedro Benedetti (Doutorando - USP) O limes do Reno como zona de contato na Antiguidade Tardia (350 – 419): as relações sociais na fronteira entre texto e arqueologia

Os estudos que envolvem as fronteiras na antiguidade foram muitas vezes influenciados pelas noções modernas de limites entre estados nacionais, especialmente europeus. A presente comunicação argumenta que, para investigar as relações que se desenvolvem entre um lado e outro do Reno na antiguidade tardia, devemos compreender a região do limes menos como uma linha abstrata de contenção territorial, separando duas nações, e mais como uma zona de contato social onde se desenrolam situações por vezes tensas, por vezes pacíficas. Argumentaremos que os debates contemporâneos acerca das fronteiras e seus papéis podem nos oferecer um arcabouço teórico interessante de modo a ajudar a interpretar dados textuais e arqueológicos tomados em conjunto a fim de compreender as relações sociais na região do limes do Reno.

Rafael Aparecido Monpean (Doutorando - USP) Os sentidos das ruas na Antiguidade Tardia: as transformações das vias públicas e das sensorialidades urbanas na África do Norte durante os séculos IV-VII

Pretendo apresentar nesta comunicação como as transformações nas cidades de Cartago e Sabratha, ao longo dos séculos IV-VII de nossa era, podem ser compreendidas pelas modificações de suas vias públicas. Esta abordagem se insere num esforço de entender as mudanças urbanas na Antiguidade Tardia Mediterrânica por meio das experiências sensoriais que são compostas também pelas e nas vias públicas. Portanto, creio que é imprescindível investigar, para além da característica inerente das ruas como espaço de locomoção, a importância dos locais que atravessam e conectam, os edifícios e os atores sociais que elas colocam à visibilidade ou invisibilidade, os elementos e as práticas que tornam mais ou menos acessíveis e, em especial, as sensibilidades (sobretudo olfativas) que ganham espaços nas configurações urbanas nos séculos mais tardios das cidades que estudamos.

Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 15

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

Núcleo de Cultura Clássica (2)

Orlando Luiz de Araújo (Doutor - UFC) O olhar dos amantes e a construção narrativa em "Dos amores apaixonados" de Partênio de Niceia

A comunicação aborda, a partir do olhar da figura dos amantes, a relação que se estabelece entre o discurso narrativo e a forma de narrar o desejo. Para nossa análise, selecionamos historietas que compõem a obra , de Partênio de Niceia (I a.C.). Com base no conceito de focalização, Dos amores apaixonados tomado da narratologia, argumentamos que, nessas narrativas, o olhar é o elemento impulsionador do desejo e tem um papel importante para a construção da narrativa.

33 Lauro Inácio de Moura Filho (Doutor - IFCE) A liberdade dos escoliastas de "Acarnenses" no uso das citações de obras da Antiguidade

Os escólios da comédia (BEKKER, 1829; DINDORF, 1838; DÜBNER, 1855; MARTIN, 1882; Acarnenses RUTHERFORD, 1896) contêm dezenas de citações de inúmeras obras da Antiguidade clássica. Os textos citados vão desde a e a até os , de Arato. Os autores citados são igualmente os mais Ilíada Odisseia Fenômenos variados possíveis: Xenofonte, Demóstenes, Hesíodo, Tucídides e Arquíloco, dentre muitos outros. Quando citavam algum trecho de todo esse repertório textual, os escoliastas de usavam de uma certa Acarnenses liberdade. O presente trabalho tem como objetivo geral analisar a liberdade dos referidos escoliastas no uso das citações de obras da Antiguidade clássica. A pesquisa revelou que diversas citações foram adaptadas ou editadas pelos autores dos escólios. Os resultados da investigação mostraram ainda que não há como fazer afirmações generalizantes acerca dos escoliastas de . É preciso fazer uma distinção entre os vários Acarnenses escoliastas, levando em consideração especialmente os manuscritos em que se encontram os escólios. Por exemplo, os escólios do 127 (a. U. 5. 10), século XIV, e os do . Códice Estensis gr. Códice Laurentianus plut 31,15, século XIV, apresentam uma maior liberdade para adaptar e editar as citações que fizeram. Chega-se, portanto, à conclusão de que é preciso ter cautela no estabelecimento de obras fragmentárias quando o único testemunho dos fragmentos estabelecidos for determinado escoliasta de . Acarnenses

Kleber Bezerra Rocha (Mestrando - UFC) O escravo Carião como um “khorodidáskalos”, em “Pluto", colocado com um discurso alusivo a Diceópolis, em "Acarnenses"

O objetivo desse estudo é verificar no discurso do escravo Carião, em (388 a.C.), uma alusão, como Pluto , ao discurso de Diceópolis, em (425 a.C.), pois aquele personagem, mesmo khorodidáskalos Acarnense sendo escravo, partilha com Crêmilo (seu senhor) as principais funções na última peça completa de Aristófanes e este é o protagonista na primeira peça do mesmo autor. Para isso utiliza-se de dois referenciais teóricos principalmente: Duarte (2000), que faz uma análise completa da comédia aristofânica através da parábase, e Vasconcelos (2007), que estuda sobre o valor da “arte alusiva” na poesia latina e a função que a alusão tem, como formadora de sentido, na criação literária.

Edinaura Linhares Ferreira Lima (Mestranda - UFC) Heitor: herói covarde ou corajoso?

Ao ler-se a no canto XXII , tem-se Heitor parado diante dos muros de Troia, o rei Príamo e a rainha Ilíada Hécuba, se desesperam ao ver seu filho tão amado, esperando o confronto com um outro guerreiro transtornado de ira. Deste modo, vê-se a chegada de Aquiles as muralhas de Troia, o semideus que foi banhado nas águas do rio Estige quando ainda era uma criança por sua mãe, a divindade Têtis, com a finalidade dele tornar-se imortal. Entretanto, por causa de seu calcanhar que não adentrou no rio, Aquiles conheceu a efemeridade e o temor da morte. Assim, era esse guerreiro tão imponente, o melhor dos aqueus, um ser meio humano e meio deus, que o príncipe humano esperava para combater. Desta maneira, quando Heitor vê diante de si um guerreiro tomado por uma cólera ensandecida, sentimento causado pela morte de seu estimado amigo Pátroclo, que o príncipe troiano matou. Assim, o homem Heitor foi tomado por medo e correu ao redor das muralhas, foi preciso a deusa Atena, usar de um subterfúgio para obrigá-lo a enfrentar Aquiles nas muralhas, onde encontrou a morte. Por isso, é válido o questionar-se: Heitor era covarde ou corajoso?

34 Mesa Coordenada de Grupos de Estudo 16

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2044 (ex-1413)

Cátedra UNESCO ARCHAI: As Origens do Pensamento Ocidental (2)

Silvio Marino (Professor visitante - UnB) Quais desejos? Qual liberdade? Platão e a "Constituição dos Atenienses" do Pseudo-Xenofonte

Objetivo desta comunicação é comparar a leitura que Platão e o Pseudo-Xenofonte dão da liberdade da democracia. A este fim se apresentarão uma série de ocorrências do termo e de seus cognatos eleutheria para mostrar a raiz comum e as diferenças entre estes dois autores sobre o que significa “homem livre” e qual é a dinâmica entre liberdade e escravidão a partir de uma fenomenologia cujo objeto são os desejos. Na , a discussão sobre a justiça e a felicidade ocupa um grande espaço e é o centro de gravidade República acerca do qual também gravitam outros assuntos. Dois destes assuntos, centrais para idear a e lê- kallipolis la em comparação às várias experiências históricas, são o desejo e a liberdade; e de fato é mesmo o desejo que determina o tipo de homem que cada um é. Todavia, “desejo” e “liberdade” se dizem de muitas formas, e a maioria das vezes o desejo é o que atrapalha a consecução da liberdade, de uma liberdade pessoal, outras vezes, o desejo – neste caso filosófico – é a única maneira de alcançar aquela liberdade que é primeiramente liberdade “dos” desejos. dos diálogos platônicos, a escravidão produzida pelos Topos desejos impede a consecução da e deixa o homem numa condição vil ( ). Todavia na eleutheria aneleuthera o termo “liberdade” e “livre” têm uma semantização diferente daquela Constituição dos Atenienses platônica: a partir destas diferenças se apresentarão as diferentes imagens do “homem livre”.

Tadeu de Menezes (Mestrando - UnB) Os fragmentos de Heráclito como caminho para a reconciliação entre mito e logos

A história da Filosofia é marcada pela tensão entre mito e logos, vistos, respectivamente, como oposição entre pensamento arcaico e pensamento racional. No entanto, desde suas origens, a tradição grega entendia e mito como sinônimos, ou seja, como narrativa, fala ou estória. Apenas com Platão os logos termos passam a significar dois níveis de discurso: o narrativo ( ) e o analítico ( s). A eikos mythos eikos logo partir de então surge a crítica ao mito e à sua experiência compacta, que unifica o humano, o divino e o cosmos. Como alternativa, impõe-se a prática filosófica como lugar de análise e de verificação racional. A emergência do registro escrito em contraposição à tradição oral sinaliza a necessidade de um discurso filosófico cada vez mais cioso de estabilidade e precisão. A palavra que antes tinha um caráter mágico e ritual e reportava-se diretamente às coisas divinas agora apenas tangencia a realidade na busca de explicar o mundo: está instaurada a ruptura entre linguagem e realidade. Nesse contexto, os fragmentos de Heráclito (séc. VI e V a.C) tornam-se reveladores na discussão entre , mito e explicação do mundo. logos Para ele há apenas um discurso que tudo preenche e que tudo explica: o divino. Ao contrário da logos linguagem ordinária que contém limitações e se torna um obstáculo ao conhecimento, o é o logos discurso que traduz o cosmos de maneira unificada. Como tal, ele aponta caminhos para a superação de um pensamento dual (mito- ) com vistas a um horizonte de saber mais relacional e abrangente. logos

35 COMUNICAÇÕES

SEGUNDA-FEIRA, DIA 02/09: 14:00 ÀS 15:30

Sessão de Comunicação 1

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2039b (ex-1409)

O ethos feminista na Filosofia Helenística: Leontion, Aspasia e Hipparchia Antonio Julio Garcia Freire (Doutor - UERN); Maria Alexandra Valadas (Doutoranda - MSU)

Os corpos das mulheres na Antiguidade foram objeto de violência simbólica e moral, além de trágicos locais de violência física. A maioria dos discursos ( ) das mulheres foi apagada da História da Filosofia logos ou apenas considerada de menor importância. Livres pensadoras, artistas, poetas e filósofas foram negligenciadas em suas épocas: um silêncio imposto pelo patriarcado e pela misoginia que levou ao apagamento das suas histórias, além de serem frequentemente citadas com conotações pejorativas. Ser pensadora na antiguidade clássica era ser equiparada a prostituta ou cortesã ( ). Filósofas como hetaíra Leontion (D.L., X: 23), Aspásia (Blundell, 1998: 98) e Hipárquia (D.L., VI: 96-98) foram alguns desses exemplos. A negação da sua autonomia, do ponto de vista epistemológico e moral, parece ter privado essas mulheres de seu . No entanto, as experiências de dominação e repressão na Antiguidade ethos Clássica impostas a essas mulheres, foram rejeitadas por essas pensadoras, que não aceitaram as limitações impostas ao seu gênero, incorporando o exercício de sua . Justamente porque não estavam autárkeia circunscritas a um domínio privado ( ), suas reivindicações éticas e epistemológicas foram perdidas idios devido a práticas estruturais de violência real e simbólica. Dar voz a essas mulheres é dar visibilidade à sua participação na prática da filosofia na esfera pública, revisando a historiografia, e abrindo um pequeno espaço para a compreensão das mulheres intelectuais na Antiguidade Clássica. Além disso, permite compreender as práticas de misoginia que levaram ao seu silenciamento moral e epistêmico, e como a insurgência contra elas permitiu criar e recriar seu próprio . ethos

O rapto de Cassandra na pintura da cerâmica ática: um estudo sobre a violência contra a mulher na Grécia antiga Maria Cristiane Pinheiro (Mestranda - UNIFESP)

Esta pesquisa aborda os vasos áticos conhecidos como a iconografia do Rapto de Cassandra a partir abordagem dos estudos de gênero. Considerando os estudos anteriores, a hipótese de trabalho será a de que os pintores tinham em mente não só o tema do sacrilégio de Ájax, mas também o da violação sexual de Cassandra; hipótese que, se confirmada, inscreve esta cena na temática da violência contra a mulher em geral, e, especificamente, na questão do estupro, levando em consideração os recortes: temático: Violência sexual contra a mulher (como o tema é tratado na História da Arte Antiga em geral e na Arte Grega em particular (especificamente: Pintura cerâmica), espacial (Grécia) e temporal (séculos VI-V a.C.) Busca-se, assim, estudar a iconografia do rapto de Cassandra na pintura da cerâmica ática a partir dos estudos de gênero, visando demonstrar que a mesma foi vítima de estupro. Espera-se, com isso, além de contribuir para o avanço dos estudos iconográficos da pintura da cerâmica ática, colocar em discussão

36 este tema da Grécia antiga e também tão presente no mundo atual. A análise ocorrerá através do método de estratégia narrativa que defende que as artes visuais têm maneiras fundamentalmente diferentes de contar uma história, análises usadas por Harvey Alan Shapiro (1994) e Joan Breton Connelly (1993), além dos textos que contribuirão para a interpretação dessa narrativa.

"Electra" de Sófocles: marcas de um discurso influenciado pelo gênero Marcelle Pereira Santos Bento (Mestranda - UFC)

Ésquilo, Sófocles e Eurípedes compõem o trio dos maiores tragediógrafos gregos que marcaram o período clássico do teatro. Eles tiveram um papel importante ao eternizarem o mito de Electra. O presente trabalho propõe-se a fazer a análise da obra de Sófocles. O intuito de analisar esta Electra tragédia justifica-se pelo fato de tratar de um tema que reflete o papel social da mulher no período clássico grego. O estudo tem como objetivos analisar como a questão de gênero influencia na construção das obras literárias gregas antigas e identificar como as personagens femininas estão representadas no teatro ateniense dentro da obra de Sófocles. A pesquisa contribuirá para ampliar o conhecimento Electra de como a mulher era representada na tragédia de Sófocles e o aprofundamento desta pesquisa proporcionará um estudo da questão de gênero e do discurso feminino na Literatura Comparada em Línguas Clássicas.

Sessão de Comunicação 2

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2044 (ex-1413)

A Guerra do Peloponeso como pano de fundo da tragédia "Helena" de Eurípides Luciana Ferreira da Silva de Lima (Doutoranda - UFRJ)

Na peça , datada de 512 a.C., Eurípides narra o reencontro de Menelau e sua esposa, os quais Helena haviam sido separados por obra da deusa Hera antes da famosa guerra de Troia. Nessa versão do mito, a rainha de Esparta não foge com Páris Alexandre, mas é levada para o Egito, onde permanece escondida até ser descoberta por seu esposo, após a vitória dos gregos sobre os troianos. Considerando-se, portanto, o contexto de produção desta tragédia, vê-se que ela foi criada no mesmo período em que ocorrera o desastre da Sicília, e, por esse motivo, pretende-se analisar, neste trabalho, a forte crítica do poeta à guerra que levara Atenas ao declínio.

Dionysus Lysios Luana de Almeida Telles (Graduada - UFJF)

A peça de Eurípides é considerada um importante testemunho do culto dionisíaco; nela, As Bacantes Eurípides esboça a oposição entre o mundo natural dionisíaco e um outro mundo, aquele resultante da construção humana, representado, na tragédia, por Penteu. Lá, as mênades de Dionísio invertem valores civilizacionais essenciais para a estrutura religiosa da grega antiga, como a e o papel pólis thysia tradicional da mulher, e os “colocam em cheque”, pois estas mulheres simbolizam o ser que se embaralha à natureza sob a tutela de seu deus cornífero. Pretendo neste trabalho, analisar a possibilidade de uma proposta soteriológica natural na figura de Dionísio Lysios, apresentando como através do êxtase

37 dionisíaco as bacantes de Eurípides podem experienciar a liberdade das amarras da civilização e da ordem civil, ao se voltarem para o ambiente natural; o confronto representado por Penteu e as bacantes marca exatamente a postura do homem civilizado e das mulheres selvagens do deus touro. A postura pro poleôs dessas mulheres realça a característica da figura do Outro em Dionísio, como trabalhada por Vernant, um deus que despedaça a ordem social e humana ao fundir as oposições que estruturam a civilização racional – o selvagem e o civilizado, o masculino e o feminino, o céu e a terra. Percebe-se então, ao se analisar a tragédia, a importância dos conceitos de natureza e liberdade expressos através das mênades dionísiacas.

A política e o ‘logos': o embate de Antígona e Creonte Milena Rosa Araújo Ogawa (Doutoranda - UPEL)

Política e possuem uma relação orgânica, e assim abordaremos o embate jurídico, de ordens logos religiosa e civil, multifacetado da obra , do dramaturgo grego Sófocles (495-406 a.C.). A fonte Antígona versa sobre os desdobramentos da decisão da realização ou não dos ritos fúnebres a Polinices, irmão de Antígona. Aqui abordaremos as querelas sobre seu enterramento que pontuam problemáticas sobre a legitimidade do “sangue real” (Labdácidas), dos preceitos divinos, da condenação do fratricídio, do decreto real contrário à purificação do “traidor da Cidade”, além dos limites e inflexões dos poderes representados pelas personagens Antígona e Creonte.

Justiça e Justificação no "Agamémnon" de Ésquilo Fernanda Mattos Borges da Costa (Mestranda - UFRJ)

A única trilogia completa que o tempo nos legou foi a , de Ésquilo. As três peças compõem uma Oresteia riqueza temática indiscutível e qualquer comentário construído sobre quaisquer de suas peças, em prol de coerência e concisão, é fadado a selecionar um corte interpretativo específico dentre tantos possíveis. Tendo em vista que Justiça é seguramente um dos temas principais da trilogia, o presente trabalho irá analisar três passagens do nas quais personagens se propõe a justificar, de alguma forma, Agamémnon ações que são em tudo injustificáveis: o sacrifício da filha e o assassinato do rei. Tais justificativas, a nosso ver, remetem alguma ideia de justiça nas ações humanas, de acordo com as circunstâncias, os valores e o conhecimento que empregam no momento de decisão. Através da análise dos trechos do Coro a respeito do Sacrifício de Ifigênia executado por Agamémnon, bem como dos monólogos de justificação de Clitemnestra e de Egisto sobre o assassinato do rei em seu retorno da Guerra de Troia, reuniremos os argumentos utilizados nas três ocasiões para selecionar três tipos de justiça de acordo com a perspectiva dada pelas personagens sobre suas próprias ações, ou sobre as ações alheias no caso do rei. Estas perspectivas poderão, em seu turno, ser confrontadas entre si para apontar as diferentes frentes argumentativas quanto ao que é Justiça nos termos da primeira peça, o que pode ser confrontado com o conhecimento divino de justiça de Zeus, "saber por sofrer", e com os temas de Justiça à luz das peças subsequentes.

Sessão de Comunicação 3

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

38 "Fedra" e a construção da moral estóica em Sêneca Camila Machado Reis (Mestranda - UFMG)

Sêneca foi um homem de múltiplos talentos, cuja produção filosófica e literária também alcançou o mundo político, tendo ele ocupado cargos cruciais no Império. O filósofo tornou-se uma das personagens mais influentes de Roma em uma época violenta e tirânica; sendo assim, sugere uma reflexão sobre moral e virtude, utilizando-se dos mitos como alegorias em suas tragédias, cujo estilo elaborado fazia encenar a apoteose das paixões humanas. Na tragédia , Hipólito, casto devoto de Diana, se Fedra assemelha ao imperador Marco Aurélio que se vangloriava pela própria castidade. Ora, sendo o sexo um impulso natural que pode acarretar em vício, também é instrumento de moralização pelo estóico. Se Fedra aparece doente de desejo, representando o oposto da , Hipólito é o beato tomado por horror ao saber dos intentos da madrasta.Traduzimos a de Sêneca e discutimos o estoicismo romano Fedra em sua obra trágica. Sendo a razão a principal força balizadora do que subjuga (ou deveria sapiens subjugar) até mesmo o sexo, buscamos discutir a representação da sexualidade e o comportamento aprovado pelo homem ideal estóico nas . Epistulae morales ad Lucilium

"Hino a Zeus" de Cleantes e elementos da poética estóica Danilo Costa Nunes Andrade Leite (Doutorando - USP)

Cleantes, o segundo líder do estoicismo antigo, é mais conhecido por seu , uma amálgama de Hino a Zeus hino religioso e poema filosófico tratando do governo racional-divino do cosmos e do problema da origem do mal. Com características arcaizantes, versos hexâmetros dactílicos, dicção épica, e uma doutrina sobre o universo dialogando com o pitagorismo e Heráclito, Cleantes obtém um efeito muito buscado pelo estoicismo desde Zenão: o de se fundir ao passado, ou melhor, o de absorver a herança cultural no sistema estoico. Nesta comunicação, a intenção é expor duas premissas programáticas que levariam a tal resultado: uma é poética, sobre a afinidade entre a forma artística e o assunto divino e sua tarefa potencialmente pedagógica; a outra é de crítica do pensamento herdado, um projeto que implica em estudar, esclarecer e corrigir seus antecessores literários e filosóficos.

'Me muttire nefas?' Pérsio e dissidência literária no principado de Nero Marihá Barbosa e Castro (Doutoranda - UFES)

A interpretação das de Aulo Pérsio Flaco como críticas a Nero representa boa parte da tradição de Saturae leitura da obra desde a Antiguidade, a começar pela própria . Os poemas, embora não Vita Persii mencionem o imperador, tratam de vícios que a persona satírica diz observar em seu tempo. A Vita Persii está inserida em um espaço discursivo que representava Nero como tirano – o que se relaciona com a afirmação da identidade flaviana –, sendo possível compreendê-la como uma produção que participou, em sua circulação, do rumor político. A visão de Pérsio como dissidente fortalece o discurso que justifica sua obscuridade como resultado de uma escrita que buscou certo nível de dissimulação para, assim, tecer críticas que não pudessem ser prontamente identificadas pelo leitor inepto – seriam, portanto, de circulação mais restrita. Essa atitude teria sido conscientemente escolhida pelo satirista como forma de escapar da censura promovida por Nero. Mesmo que outras interpretações tenham sido elencadas para explicar a obscuridade e a liberdade como tema recorrente nas sátiras – sobretudo quando as leituras

39 biografistas perdem espaço e a sua veracidade passa a ser amplamente questionada –, não é possível ignorar esse longo caminho de recepção traçado pela obra poética.

Sobre medo e esperança no segundo livro das "Epístolas Morais" de Lúcio Aneu Sêneca Ana Azevedo Bezerra Felicio (Mestranda - Unicamp)

O presente estudo visa apresentar resultados parciais de nossa pesquisa sobre a imagem do leitor nas cartas iniciais da obra de Lúcio Aneu Sêneca. Nesta comunicação vamos tratar de um tema Epístolas Morais muito presente no segundo livro da obra: o medo. Consideraremos, secundariamente e a título de contraste, a questão da esperança, também tematizada. Propondo uma abordagem de cunho intratextual que leva em conta o diálogo entre as cartas, percebemos que, enquanto na Carta 4 o medo é apenas mencionado, na Carta 13 e 15 o assunto é tratado com uma reflexão filosófica aprofundada. No estudo, poderemos apontar com mais precisão se há ou não, nas cartas em apreço, um efetivo delinear do caminho espiritual do discípulo pautado pela complexificação filosófica dos assuntos tratados. Essa progressão tem sido sustentada de maneira ampla por estudiosos (BRAREN, 1989; ROSATI, 1989), mas ainda não assinalada em passagens específicas das epístolas (BERNO, 2006).

Sessão de Comunicação 4

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex1415)

O vitupério e as práticas invectivas na literatura romana Iana Lima Cordeiro (Doutoranda - UFES)

Propomos uma pesquisa de doutorado cuja finalidade seja a descrição da teoria e da prática do vitupério, observando o que se afirma direta ou indiretamente sobre a modalidade nos tratados de retórica e analisando de que forma essa invectiva se cumpre no discurso. A partir de textos romanos poéticos e prosaicos, observaremos o vitupério utilizado em diferentes gêneros. Na poesia, analisaremos os textos dos satiristas Lucílio, Horácio, Pérsio e Juvenal, bem como os dos epigramatistas Catulo e Marcial. Na prosa, trabalharemos com discursos de Cícero e cartas de Plínio, o Jovem. Nosso objetivo é conseguir uma visão panorâmica da presença do vitupério no discurso para que possamos, por fim, chegar a nosso objetivo de formular uma teoria que descreva seu funcionamento.

Peludos e depilados: masculinidades romanas e performatividade de gênero em Marcial e Juvenal Diogo Moraes Leite (Mestre - USP)

Marcos Valério Marcial, epigramatista latino do século I de nossa era, e Décimo Júnio Juvenal, satirista de fins do século I e início do II, criticaram mordazmente os costumes de sua época. A historiografia sobre virilidade romana aponta para a existência de um modelo idealizado de masculinidade, inspirado nos romanos de tempos anteriores, como Mârio Cúrio Dentato (século III a.C.) e Marco Fúrio Camilo (século IV a.C.). Os dois poetas compartilham, algumas tópicas e alguns pontos de vista sobre a sociedade romana, fundamentados nos mesmos princípios morais da aristocracia. Neste trabalho apresentaremos os primeiros versos da Sátira II de Juvenal e alguns epigramas de Marcial que têm como tópica indivíduos que, embora efeminados, “performam” como esses austeros romanos de masculinidade exemplar.

40 As matronas de Éfeso: leitura comparada da fábula XIII de Fedro e dos capítulos CXI CXII do "Satyricon" de Petrônio Marcelo Rocha Brugger (Doutorando - UFMG)

Este trabalho tem como objetivo apontar as diferenças de perspectiva adotadas por Petrônio e Fedro ao narrarem, em suas obras, uma mesma fábula. Intitulada “A viúva e o soldado” ( ) na XIII Vidua et miles fábula do apêndice de Fedro, a narrativa encontra ecos no capítulo CXI do de Petrônio, em Satyricon liber episódio conhecido como “A matrona de Éfeso” ( ). Os dois autores, ao comporem a Matrona Ephesi mesma narrativa, apresentam-na não só com formas distintas (metro e prosa), divergindo também no modo de descrever a personagem principal e nos julgamentos de suas atitudes ao longo da diérese. Para evidenciar essa divergência, consideraremos os aspectos sociais do século I no que diz respeito aos costumes, à organização da sociedade em ordens e à família romana. Tentaremos, ainda, relacionar os autores a seus discursos, em uma tentativa de justificar as diferenças nas duas narrativas no que diz respeito à apresentação de costumes, resultando, assim, em uma segunda relação: obra literária e motivação do discurso.

O discurso sobre o espaço como índice político na poesia de Estácio Natan Henrique Taveira Baptista (Doutorando - UFES)

O espírito laudatório da época flaviana pode ser visualizado quando examinadas não só as invocações épicas de Estácio, mas também suas dedicatórias nos livros de silvas: encontramos ali elogios não só aos ricos patronos, mas também ao imperador Domiciano. Sobre a presença do princeps flaviano na poesia estaciana, muito foi interpretado: uma “presença contínua, controlando a obra inteira” (DOMINIK, 1994, p. 167); “um pouco incômoda e obsessiva” (ROSATI, 2002, p. 246); “[...] uma variedade de posições que incorporam elogios e críticas, tranquilidade e ansiedade” (NEWLANDS, 2002, p. 21). A imagem de Domiciano é construída a todo o momento seja por símiles, a serviço das ampliações dentro das écfrases do espaço, seja em associações com as divindades ou semidivindades – como Stat. Silu. 1 ; 1.1; 1.4; 4. .; 4.4; 5.1; . 1.27-34; . 1.14-1. Tendo em vista a relação prolífica entre .praef. praef Theb Achil poesia e espaço, buscaremos nessa comunicação, por meio da Análise do Discurso, explorar como se deu a relação entre a figura imperial e a paisagem pública romana conjugada nos textos estacianos. Inferimos que a utilização de Domiciano em Estácio parece responder a uma tensão política da qual o vate se aproveita com frequência, dialogando com o poder e barganhando por ele. Ao mesmo tempo, a sistematicidade do encômio topográfico revela os usos do espaço para além do pretexto artístico da composição poética, inserindo o poeta na lógica do poder romano.

Sessão de Comunicação 5

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

A potência dos metaplasmos: Homero e João Guimarães Rosa Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa (Doutor - UFMG)

41 A leitura silenciosa - restrita no mundo antigo e difundida e regularmente praticada no mundo moderno - manifesta uma forma de vida voltada para o mundo interior, para o privado e o secreto. A leitura vozeada, ou fala simplesmente gravada, pelo contrário, é ato de comunicação social, é liturgia, e vem se tornando forma de comunicação cada vez mais presente. Propomos, com base nos estudos dos metaplasmos e da oralidade dos textos de João Guimarães Rosa e Homero, seguindo a metodologia de leitura de mesa dos atores para a compreensão dos textos escritos para teatro, traduções dos textos antigos comprometidas com a performance oral. Evidentemente, partindo de textos escritos, relativizamos a oposição ‘oral e escrito’ e buscamos novas formas de fixar partituras de fala. O processo está de acordo com a proposta de Carlos F. Clamote Carreto; abandonamos a “perspectiva cognitivista e evolucionista da leitura baseada em vários pressupostos (ou equívocos) teóricos e metodológicos potencialmente falaciosos para adotarmos uma perspectiva mais pragmática baseada nas funções inerentes a cada modo de leitura” (CARRETO, 2016, p. 6).

Homero n''Os Brasileidas" de Carlos Alberto Nunes Helena Gervásio Coutinho (Mestranda - UFRJ)

Esta comunicação apresenta os resultados de um estudo sobre os traços da épica de Homero presentes no poema épico , de Carlos Alberto Nunes, voltando-se a atenção para as estruturas ora Os Brasileidas denominadas ‘modelos cênicos homéricos’. Toma-se como ponto de partida a análise dos traços herdados da épica grega antiga com o texto em sua edição pela Melhoramentos, de 1962. A partir da Os Brasileidas leitura da e da , e d’ , notou-se a relação estreita entre este e os dois primeiros Ilíada Odisseia Os Brasileidas épicos. Foram identificadas vinte e três cenas n’ que parecem remeter, quase integralmente, a Os Brasileidas passagens da e da de Homero. Ilíada Odisseia

Os gêneros retóricos e seu caráter poético-argumentativo em "Prosopopéia", de Bento Teixeira Barbara Faria Tófoli (Mestranda - UFES)

O poeta Bento Teixeira, inserido nas práticas letradas da América Portuguesa, recupera preceitos retórico-poéticos da Antiguidade Clássica, integrando-os ao seu poema (1601), de maneira a Prosopopéia persuadir seu público em favor das causas portuguesas. Dentre os elementos recepcionados por Teixeira que integram seus versos, está a filiação aos gêneros retóricos epidítico, deliberativo e judicial. Diante disso, recorrendo aos manuais de retórica antiga, pretende-se verificar o aspecto argumentativo de , a partir de um estudo sobre os gêneros retóricos na Antiguidade e sua recepção na poética Prosopopéia seiscentista.

SEGUNDA-FEIRA, DIA 02/09: 17:30 ÀS 19:00

Sessão de Comunicação 6

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, 1034a (ex-1406)

Atração de caso em orações infinitivas: dados de Heródoto, Platão e Xenofonte Caio Borges Aguida Geraldes (Mestrando - USP)

42 O fenômeno “atração de caso” de pronomes relativos recebeu atenção especial na história da sintaxe. Desde o século XVI a proposta de uma elipse de um elemento pronominal que forçasse a realização de um marcador de caso oblíquo no lugar de um acusativo é tida como , dando espaço para communis opinio diversas explicações teóricas. Em Grego Antigo – e mais raramente em Latim – , construções do tipo (DcI) e (GcI) podem apresentar uma “atração” semelhante dativus cum infinitivo genitivus cum infinitivo que, no entanto, não se deixa explicar imediatamente por uma elipse pronominal: um lexema nominal co-referencial ao objeto oblíquo da oração matriz, atuando como sujeito ou predicativo de um infinitivo, pode tanto aparecer como um acusativo (semelhante à construção a , AcI) ou no ccusativus cum infinitivo mesmo caso de seu co-referente. Por ora, não se propôs nenhuma explicação estrutural para a variação entre construções atraídas e não atraídas, nem o valor semântico geral foi definido e tampouco se determinou qual seria a construção padrão, como se nota em comentários técnicos a textos gregos. Pretende-se com essa comunicação apresentar dados coletados dos dialetos ático e jônico (especificamente de Heródoto, Platão e Xenofonte) que apresentem atração de caso de predicativos e adjuntos de sujeitos de orações infinitivas, bem como a ausência da atração onde ela seria possível, e discutir a partir deles elementos formais e pragmáticos que nos permitam delimitar quais princípios linguísticos estão em jogo nesse fenômeno.

O comportamento sintático do adjetivo na obra "Fasti", de Ovídio Eliana da Cunha Lopes (Mestre - FGS/RJ)

O presente trabalho tem por objetivo tecer comentários críticos sobre o comportamento sintático do adjetivo na obra , de Ovídio. Utilizaremos, particularmente, os versos 285 -328, do Terceiro Livro Fasti dos , abrangendo o mês de março ( ) dedicado ao culto do deus Marte, pai mitológico Fastos martius mensis de Rômulo e Remo.

Processos de mudança em sufixos pré-desinenciais de verbos do latim Luiz Pedro da Silva Barbosa (Doutorando - UFF)

Este trabalho reúne as conclusões parciais da investigação acerca dos processos de mudança que incidem sobre os sufixos pré-desinenciais de verbos latinos. Os morfemas estudados são: - , incoativo, que sc aparece em verbos como , (florecer); - , frequentativo, que aparece em verbos como floresco, -is, -ere ta , (preguntar con frequencia); - , meditativo, que aparece en verbos como rogito, -as, -are turi parturio, -is – , (estar prestes a dar à luz). Esses sufixos aparecem em descrições de gramáticos da Antiguidade Tardia ire compondo uma categoria que intitulam – a forma do verbo. O apareto teórico que orienta Forma Verbi esta pesquisa é o da Gramática de Construções (Traugott & Trousdale, 2013; Hilpert, 2014), em especial ao processo de construcionalização gramatical. O principal desta etapa de análise é o conjunto de processos que resulta na perda da face conteudística do sufixo e a consequente perda de composicionalidade entre ele e o radical. O deste trabalho é constituído por uma ampla seleção de corpus textos latinos, de diversos gêneros, entre os séculos III a.C. e V d.C.

Presença e ausência do 'ut' completivo em Plauto: os dados de 'facio' e 'uolo' e as perspectivas futuras de pesquisa Alex Mazzanti Junior (Doutorando - USP)

43 Enquanto no latim clássico há uma preferência quase absoluta por se introduzir orações completivas de subjuntivo com a conjunção , vemos, em Plauto, a ocorrência ainda frequente desse tipo de oração sem ut a conjunção (parataxe ou justaposição do subjuntivo ao verbo principal). Após recolher os dados de facio e seguidos por subjuntivo nas 21 peças de Plauto, uma série de critérios foi aplicada, a fim de se uolo verificar se havia alguma regra que regesse essa alternância. O critério mais relevante foi a morfologia do verbo principal. O verbo apresenta 36% de subjuntivos justapostos, número que aumenta a 55%, se facio considerarmos somente formas imperativas de . O verbo apresenta 68% dos exemplares com facio uolo justaposição, número que aumenta a 82%, se considerarmos somente o tipo . Assim, sequitur coniunctiuus entende-se que, quando o verbo principal tem uma forma deôntica (ordem, desejo, concessão), como um imperativo ou o próprio verbo , há preferência pela justaposição, o que pode ser explicado pela uolo origem paratática da estrutura. Esse comportamento identificado em dois verbos precisa ainda ser testado com outros verbos ou expressões principais. Nessa nova fase da pesquisa, serão considerados: verbos de ordem, comando etc.; verbos de súplica, pedido etc.; verbos de conselho; verbos de permissão; expressões impessoais como , , , , , , , etc.; verbos de optumum est tempus est decet aequom est opus est usus est necesse est desejo, preferência etc.; além dos verbos e , cujas análises já foram efetuadas. facio uolo

Sessão de Comunicação 7

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1037 (ex-1410)

O mito de Dafne e Apolo a partir da figuratividade Ingrid Moreno Ferreira (Mestranda - UNESP)

O trabalho tem como o episódio de Dafne e Apolo, que integra a obra (livro I, 452 – corpus Metamorfoses 567), de autoria de Ovídio (43 a.C. – 17 d.C.), um grande poeta da Roma Antiga. O trecho selecionado para a investigação conta como se deu a transformação da ninfa Dafne em loureiro, o que ocorreu em decorrência de uma perseguição do deus Apolo a ela. A partir de estudos acerca dos processos de figuratividade do discurso, a pesquisadora propõe uma investigação da narrativa e a explora a fim de que sejam identificados expedientes de iconicidade, que proporcionam os efeitos de ilusão referencial. Procura-se explorar a figuratividade poética do texto latino em questão, valendo-se do instrumental teórico que a Poética e a Semiótica Literária fornecem. Como resultado dessa investigação, pretende-se produzir um discurso metalinguístico para se reconhecer os recursos da figuratividade poética determinantes da expressão.

Pompeu e a liberdade na "Pharsalia" Pauliane Targino da Silva Bruno (Doutora - UFC)

O presente trabalho pretende mostrar como a liberdade é representada através de Pompeu na . Pharsalia Lucano apresenta esse chefe como o protetor da liberdade de Roma e como líder defensor dos interesses da cidade; contudo, o poeta também trata da liberdade pessoal desse chefe. Nesse poema, pode-se dividir tal relação entre Pompeu e a liberdade em três partes: política, como salvador da república; social, como representante da plebe; e, individual, a sua própria liberdade. Assim a análise dessa personagem em diálogo com o conceito estoico de liberdade presente em de Sêneca revela que Pompeu atinge a Cartas à Lucílio

44 sua liberdade através da sua morte e apoteose. No entanto, pode-se dizer que falha como representante sócio-político de Roma, pois não vence a guerra e nem impede o surgimento da tirania.

Ser no valor tal como no talhe: algumas considerações sobre as possibilidades intertextuais da construção de Jasão por Valério Flaco Jessica Frutuoso Mello (Mestre - UNIFAL)

A refere-se, de modo geral, a empreitada de Jasão que, acompanhado por cerca dos cinquenta Argonáutica melhores heróis da Grécia, parte de Iolco, na nau Argo, rumo à Cólquida em busca do Velocino de Ouro, objeto mágico que obterá com a ajuda da princesa e feiticeira Medeia, que se enamora pelo estrangeiro. Ainda que, em linhas gerais, existam diversas versões que tratem literariamente dessa história, os episódios que as compõem diferem-se em maior ou menor medida. Assim, há autores, como Píndaro, que contemplam uma possível faceta de feiticeiro em Jasão, enquanto outros, como Lícofron e, aparentemente, Dosíadas, consideram seu cozimento em um processo de rejuvenescimento, ou, como ocorre em Diodoro, a posição de capitão da nau Argo dada a Héracles/Hércules. Tendo como objeto principal a versão épica de Valério Flaco, propõe-se uma análise a respeito das escolhas feitas, em relação à tradição anterior, para a construção de sua viagem dos argonautas, dando ênfase aos possíveis impactos que esta seleção de episódios poderia ter gerado na construção de Jasão. Espera-se demonstrar que os processos de aproximação e afastamento de determinados paradigmas contribuem para a criação de uma caracterização épica de Jasão distinta daquela proposta, principalmente, por Apolônio de Rodes – seu modelo mais óbvio por tratar, no mesmo gênero, do mesmo tema –, já que permitiriam a acentuação de determinados aspectos, como seu desempenho bélico e seu papel de líder incontestável dos argonautas, ao longo da narrativa.

A importância do epos pastoral para a restauração da ordem cósmica Paulo Henrique Oliveira de Lima (Doutorando - USP)

As é o maior e mais extenso poema épico grego preservado. Composta por Nono de Dionisíacas Panópolis e datada do século V d.C., a epopeia apresenta o ciclo de Dioniso, desde o estabelecimento de seus antepassados, culminando em sua apoteose. O poema é caracterizado pela , que engloba poikilía diversos gêneros literários em uma obra. Epopeia, drama, hinos, entre outros gêneros são objetos de uma simbiose única cujo objetivo é criar o mais variado poema grego antigo já escrito. A poesia bucólica é um dos gêneros emulados por Nono. Nos dois primeiros cantos das , há a batalha pelo Dionisíacas controle cósmico entre Zeus e Tífon, após o estabelecimento dos Olímpicos. Com o roubo dos tendões do filho de Cronos pelo monstro, Cadmo é incumbido da missão de recuperá-los, disfarçado de pastor. É exatamente nos dois primeiros cantos da epopeia que ocorre a assimilação da poesia bucólica, com a imitação de diversos elementos presentes nesse gênero. A presente apresentação tem como objetivo elencar os elementos pastorais emulados no poema de Nono e compará-los com suas possíveis fontes, os poetas bucólicos helenísticos.

Sessão de Comunicação 8

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2039b (ex-1409)

45 A crise dos clássicos ou a crise das clássicas? Rafael Guimarães Tavares da Silva (Doutorando - UFMG)

A crise tem sido uma constante nas mais diversas disciplinas da área de Humanidades desde meados do século XX até o presente, sobretudo a partir de uma alardeada crise da leitura e dos valores tradicionais pretensamente atrelados a ela, tal como indica o tom apocalíptico de uma série de títulos lançados nas últimas décadas nessa área. Apesar dos posicionamentos políticos radicalmente diversos de cada autor envolvido nesse tipo de publicação, todos parecem compartilhar de um mesmo mal-estar perante a desvalorização social de certas práticas culturais tradicionalmente benquistas – como a leitura, a interpretação de textos, a escrita – e avançam uma série de proposições práticas a fim de tentar contornar essa situação crítica. Apoiando-nos nas discussões recentes de Jenkins (2015), Adler (2016) e Bloxham (2018), pretendemos compreender de que modo os Estudos Clássicos têm se comportado no epicentro dessa situação crítica, isto é, na cena intelectual dos EUA nas últimas décadas. A partir de uma série de debates fervorosos que os Estudos Clássicos conheceram nesse país – donde se alastraram para o resto do mundo acadêmico, inclusive o Brasil –, vamos delinear as tensas e estimulantes relações que essa disciplina tem mantido, por um lado, com diferentes teorias feministas e estudos culturais, por outro, com novas formas de conservadorismo. Para isso, pretendemos demonstrar a diferença entre "estudar os clássicos" e "estudar as clássicas", acompanhando as nuances desse intricado debate teórico a partir de suas raízes na fundação da Filologia Clássica enquanto disciplina fundamental da [formação] da Bildung nova universidade alemã.

Possibilidades de leitura extensiva no ensino de latim no Brasil Rafael Trindade (Mestre - UFES)

Discute-se aqui a necessidade e as possibilidades de inserção de leitura voluntária extensiva no contexto brasileiro de ensino de latim. Entende-se a fundamental importância deste tipo de leitura de acordo com as pesquisas em aquisição de segunda língua (SLA), que têm produzido consistentemente evidência em favor da hipótese de que uma língua só pode ser adquirida através da exposição a compreensível. No input caso das línguas clássicas, a leitura é a principal forma de , e o objetivo maior dos alunos interessados input nelas. A maior dificuldade, no entanto, reside naturalmente no exíguo espaço de tempo oferecido pelas disciplinas de graduação, situação em que a maior parte do ensino de latim ocorre no Brasil. Interessamo-nos em investigar o que tem sido feito neste sentido, como o uso de metodologias híbridas, e o que mais pode ser feito nesta direção.

Uma proposta de curso sequencial em Estudos Clássicos Lucia Sano (Doutora - UNIFESP)

A proposta desta comunicação é compartilhar a experiência que os docentes de Estudos Clássicos têm tido na Universidade Federal de São Paulo (campus Guarulhos) com um projeto de Curso Sequencial de Complementação de Estudos na área de Clássicas. Concebeu-se um projeto desenvolvido no âmbito da graduação que sugere ao aluno uma formação interdisciplinar (Língua e Literatura, Filosofia, História e História da Arte) a partir do acompanhamento de um grupo de disciplinas já regularmente ofertadas pelos cursos mencionados (Línguas e Literaturas Gregas e Latinas; Filosofia Antiga; História Antiga; História da Arte Antiga, entre outras). Observou-se a partir da divulgação da proposta do Curso

46 Sequencial um aumento bastante significativo de alunos interessados em estudar e realizar pesquisa em Estudos Clássicos. Além disso, o Curso Sequencial pode fortalecer a área em casos em que inexiste a possibilidade de diplomação em cursos específicos (por exemplo, bacharelado em Grego ou Latim), como é o caso na maioria das universidades brasileiras.

Por uma maior valorização dos escólios antigos Lauro Inácio de Moura Filho (Doutor - IFCE)

Os escólios antigos, indiscutivelmente, são uma ferramenta hermenêutica que auxilia bastante os leitores hodiernos no aprofundamento da leitura de obras do mundo antigo. Hoje, entretanto, o valor dos escólios tem sido subestimado. Costuma-se achar que eles só possuem valor como paratexto de outra obra. Contudo, os escólios antigos podem e devem ser considerados atualmente como obras com relevante valor intrínseco. A partir dos escólios da comédia grega (BEKKER, 1829; DINDORF, 1838; Acarnenses DÜBNER, 1855; MARTIN, 1882; RUTHERFORD, 1896), de Aristófanes, demonstramos que os escólios, sejam de que obra for, podem ser analisados e valorizados como um em si, desvinculado corpus da obra que comenta. Chegamos a tal conclusão a partir da análise de quatro aspectos intrínsecos dos escólios de : como aporte lexicográfico; como testemunho de fragmentos de obras perdidas; Acarnenses como substrato de uma seção da , de Heliodoro; e como auxílio gramatical para Colometria de Aristófanes o conhecimento da dialetologia grega antiga.

Sessão de Comunicação 9

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2044 (ex-1413)

Eudaimonia e política no mundo ocidental do século XXI Ana Lúcia Magalhães (Doutora - FATEC - Faculdade de Tecnologia de Cruzeiro)

Aristóteles, na , associa felicidade à afirmação de que “todo conhecimento e trabalho Ética a Nicômaco visam a algum bem” e tanto pessoas comuns quanto as de cultura superior consideram “ser esse fim a felicidade de identificar o bem viver e o bem agir com o ser feliz”. A diferença entre eles está em que para os primeiros, a felicidade se associa aos prazeres, enquanto os mais refinados a identificam à honra, pois ela é a finalidade da vida política. A visão política ali mostrada está mais próxima do conceito de virtude, entendida sob dois aspectos: 1) intelectuais, que englobam a sabedoria filosófica, a compreensão e a sabedoria prática e 2) morais, que consideram a liberalidade e a temperança. Aristóteles complementa que a virtude não nasce com o homem, mas vem com treinamento, assim, pode ser exercitada. Com base nesses conhecimentos, uma análise retórica e discursiva de textos de mandatários da Alemanha, com história antiga e remanescente de duas grandes guerras e Estados Unidos, com história relativamente recente, é capaz de mostrar presença da . A escolha das peças discursivas se deu tendo em vista acontecimentos recentes e de visibilidade. Após análise, concluiu-se que o discurso da première alemã está permeado de , pois existe forte componente de nobreza quando procura cuidar daqueles que eudaimonia procuram o país, enquanto o do presidente americano desconsidera a no sentido aristotélico, eudaimonia uma vez que exclui o outro.

47 O funcionamento da oralidade no Cristianismo Originário: uma abordagem a partir da relação entre cultura oral e cultura escrita Iuri Nunes (Mestrando - UFJF)

No período do Cristianismo Originário, as primeiras gerações de seguidores assumiram a tarefa de propagar a memória de Jesus essencialmente a partir de comunicações orais. E mesmo após essas tradições de/sobre Jesus serem registradas em vários gêneros de textos escritos, as transmissões orais ainda eram fortemente utilizadas pelos pré-cristãos. Diante do papel fundamental do recurso da oralidade na vivência das experiências cristãs originárias, pode-se dizer que a abordagem do funcionamento da oralidade constitui uma importante chave de leitura para a compreensão das primeiras manifestações do cristianismo. A partir das discussões proporcionadas pelo campo de estudo sobre a relação entre cultura oral e cultura escrita, pretende-se debruçar sobre o funcionamento da oralidade no período do Cristianismo Originário, baseando-se nas representações das práticas orais presentes na literatura cristã originária. Para isso, em um primeiro momento, apresentar-se-á o entendimento acerca da noção de oralidade através dos recentes estudos sobre cultura oral e cultura escrita, apontando suas principais características na antiguidade. Em seguida, pretende-se apresentar uma discussão sobre o funcionamento da oralidade no Cristianismo Originário, especificamente a relação entre a representação das práticas de oralidade nos textos judaico-cristãos do século I d.C.

Códice 2437 (o manuscrito grego da Biblioteca Nacional do RJ): recenseamento e descrição Maria Olívia de Quadros Saraiva (Doutora - UFMG)

A presente comunicação tem como objeto o manuscrito grego pertencente ao acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o códice 2437 do grego. Inicialmente, o propósito é inseri- Novo Testamento lo no quadro dos manuscritos dessa espécie, tratando de sua descoberta e do recenseamento internacional imposto aos manuscritos do , por meio do que chegaremos à numeração 2437 do códice. Novo Testamento Num segundo momento, quanto aos aspectos materiais, segue a sua descrição codicológica.

Tradução e reescritura no Esdras Deuterocanônico Gilbson Gomes Bento (Mestrando - UFC)

Esta pesquisa tem como objeto a tradução do livro de Esdras deuterocanônico, uma reescritura intertextual feita pelo Grupo de Estudos da Septuaginta da Universidade Federal do Ceará (GES-UFC). Este grupo estuda os textos bíblicos do em seu aspecto literário e cultural, sem ligação Antigo Testamento direta a um determinado credo religioso, aprofundando-se no estudo do dialeto do grego. A koiné é a primeira tradução dos textos bíblicos do hebraico para o grego e sua influência literária é Septuaginta grande na recepção da cultura hebraica pela cultura helenista. Nossa pesquisa objetiva analisar de que modo essa tradução reescreve esse texto antigo e que relações de intertextualidade pode apresentar com a literatura grega e as literaturas persa e judaico-cristã. Como arcabouço teórico-metodológico, utilizamos o conceito de Reescritura de Lefevere, o conceito amplo de Intertextualidade de Kristeva e o conceito mais estrito de Colocação lexical de Adam em nossa análise. A pesquisa está ainda em andamento, mas nossos resultados apontam ligações com obras filosóficas, literárias e religiosas de autores como Platão, Ésquilo e os evangelistas, além da influência persa da obra . A significância do trabalho vai além da Avesta simples análise intertextual. O estudo é pioneiro nos estudos brasileiros de literatura comparada em

48 línguas clássicas porque aborda aspectos culturais, históricos e filológicos ainda não abordados por outros estudiosos.

Sessão de Comunicação 10

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

Sobre a pantomima: apontamentos sobre os textos de Luciano de Samósata e Plutarco Pedro Ipiranga Jr. (Doutor - UFPR)

A obra de Luciano de Samósata constitui o primeiro tratado de maior fôlego para tratar da Sobre a dança dança, de modo genérico, e da pantomima, de modo particular, e se afigura como uma apologia da arte da dança dramática frente a todo um quadro de suspeição do teatro em geral, bem como uma reabilitação dos artistas profissionais do palco. No enredo do diálogo, apresentam-se a acusação de Crato dirigida à dança, baseada em argumentos especialmente de teor moral, e a defesa realizada pelo amigo Licino. Por seu turno, Plutarco desenvolve uma questão aí correlata em seu texto No (9, 15), em que Banquete discorre sobre alguns termos técnicos na dança, estando implícita a referência à pantomima. Dessa forma, o objetivo do trabalho é, a princípio, apresentar, comparativamente, as perspectivas de um e outro autor sobre a dança dramática da pantomima.

Performance e performatividade das "Histórias" de Heródoto: tempos e modos da 'apódexis' Tatiana Ribeiro (Doutora - UFRJ)

Desde há muito, estudiosos da obra de Heródoto discutem e formulam hipóteses acerca de que audiência teriam tido as , e de como teriam sido publicizados os distintos que compõem sua obra. Histórias lógoi Narrativas que se refazem, e se singularizam, a cada apresentação; narrativas que buscam se ajustar ao contexto-instante de determinadas audiências; possíveis "recitações" em em festividades cívico- agônes religiosas são conjecturas apresentadas por vários estudos, considerando-se suas motivações, seus propósitos particulares e diferentes focos. Pretende-se, nesta comunicação, apresentar algumas perspectivas formuladas para o estudos da performance das , considerando-se aqui também sua Histórias recepção em escritos literários posteriores.

Conceitos fundamentais de música a partir de Aristóxeno: uma discussão epistemológica Paulo Eduardo de Barros Veiga (Pós-doutorando - USP)

Aristóxeno de Tarento (360? – 300? a. C.), discípulo de Aristóteles, foi o filósofo grego que estabeleceu os principais conceitos que estruturam o pensamento artístico-musical. Tendo em vista a importância da música ao conhecimento e à educação, na Grécia Antiga, Aristóxeno, seguindo principalmente o modelo aristotélico, estabeleceu importantes definições de teoria musical, como os conceitos de tom, ritmo e sistema, organizando-a, de modo a conceber seu tratado de Harmonia. O filósofo, logo, foi o primeiro a, de fato, sistematizar a música, estabelecendo aquilo que se poderá chamar de Musicologia. O filósofo de Tarento não se preocupou apenas em pensar a música do ponto de vista de seu papel socioeducativo, sob inspiração platônica, mas, para além de uma instituição importante à , transcendeu a discussão, da pólis esfera místico e social, ao pensamento imanente, de índole categorizante, sistematizando, assim, a

49 epistemologia musical. Para além de uma percepção geométrica, inspirada no modelo pitagórico, Aristóxeno contribuiu largamente para uma percepção mais sensorial e artística da Música, dando-lhe um campo autônomo, independente da Cosmologia e da Matemática. Propõe-se uma discussão sobre a obra de Aristóxeno, tendo em vista uma preocupação epistemológica principalmente do conceito de Sistema (σύστεµα, em grego, posteriormente, , em latim), incluindo a migração do termo – já nos séculos systema XVI e XVII, com Kepler (1571-1630) e Galileu (1564-1642) – da Música para as Ciências.

Elementos retóricos na "Symphonia Armonie Celestium Revelationum" de Hildegard von Bigen Ana Carolina dos Santos Castro (Mestranda - UEA)

Hildegard von Bigen é uma compositora medieval que cativou o interesse de estudos musicológicos devido a sua grande habilidade na escrita de cantos litúrgicos e peças de moralidade. Entre suas inúmeras obras destaca-se a , uma coletânea de 77 canções para uso Symphonia Armonie Celestium Revelationum litúrgico, compostas a partir do ano de 1150. Esses cantos , todos escritos em latim, possuem uma variedade melódica que vai de peças altamente ornamentadas até as mais simples e contidas, tudo isso refletindo a sua íntima familiaridade com os gêneros de canto e as práticas de composição do canto medieval tardio. A singularidade das canções está na inextrincável relação entre palavras e melodia, que vai além das associações da teoria musical moderna e cruza para o campo da retórica, mas especificamente no que se refere à parte da retórica conhecida como . A partir da relação entre elocutio música e palavra, aspectos como a estilização do período, cláusulas, ritmo e outros elementos retóricos serão analisados no trabalho em questão.

TERÇA-FEIRA, DIA 03/09: 9:30 ÀS 11:00

Sessão de Comunicação 11

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2039b (ex-1409)

Do 'seruus' plautino ao amarelo suassuniano: representações da escravidão clássica e moderna Vanessa Fernandes Dias (Mestranda - UFV)

A escravidão foi, ao longo da história da humanidade, uma instituição naturalizada e entendida como modelo de exploração necessário para o desenvolvimento de diversas civilizações. Conquanto haja diferenças elementares no que se refere aos critérios de dominação e à maneira por que era compreendida, as sociedades romana e brasileira constituíram-se ao longo de séculos sob uma estrutura escravocrata. Dessa maneira, propomos refletir sobre a concepção do sistema de escravidão nessas sociedades por meio das peças , de Titus Maccius Plautus e (1955), de Ariano Suassuna. Miles Gloriosus Auto da Compadecida O foco de análise incidirá, pois, na relação dialógica (BAKHTIN, 2002) observada na composição das personagens cômicas Palaestrio e João Grilo, respectivamente. No decorrer da argumentação, buscaremos salientar o processo criativo do dramaturgo paraibano ao recriar estética e socialmente o seruus callidus plautino de acordo com a sua poética e visão de mundo, bem como examinar, a partir dos elementos estruturais das respectivas comédias (CANDIDO, 2006), as implicações culturais, morais e políticas da cultura escravista nos contextos da Itália clássica (JOLY, 2005) e do Brasil (FREYRE, 2003; GOMES, SCHWARCZ, 2018), uma vez que os desdobramentos nefastos da escravidão colonial ainda perduram na

50 mentalidade da sociedade brasileira, sendo o trabalho escravo uma realidade complexa, sobretudo na região do Nordeste de nosso país, apresentando-se com nova roupagem mesmo após a promulgação da última e mais concisa Lei Imperial. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

O amor como 'pathos': Eros e a paixão erótica na peça "O Mercador" de Plauto Stefanie Cavalcanti de Lima Silva (Doutoranda - UFC)

Desde os tempos mais remotos, busca-se compreender o Amor; os diálogos de Platão discutiram essa temática, assim como os tratados de Aristóteles e outros importantes textos da antiguidade clássica discutem a origem do Amor como uma divindade (Eros) e também como uma doença ( ). Neste insania trabalho propomos, examinando a personagem do na peça de Plauto, analisar as senex O Mercador consequências do encontro com o deus Eros sob a perspectiva da filosofia estoica, isto é, de uma doença ( ) cujo tratamento era dado pela filosofia, e discutir, por meio das atitudes da personagem Demifão, insania os malefícios do descontrole e da falta de moderação diante da paixão erótica. Primeiramente investigamos as diferentes origens de Eros, em seguida analisaremos como Eros aparece no texto plautino e qual a sua relação com as personagens da peça, suas influências e consequências. A contar de Platão já se discutia uma noção do amor como algo nocivo caso não seja controlado. Através da utilização de um modelo médico, a filosofia helenística aplicou uma extensa parte de seus estudos a explicar essa concepção e, em um período de estudos maturados, oferecer um tratamento para aqueles que, uma vez acometidos de tal doença, necessitassem de cuidados especiais. Tal investigação apoia-se principalmente em textos filosóficos de Platão ( e ), Aristóteles ( e ) e Cícero ( Fedro O Banquete Retórica Ética a Nicômaco De Senectute e ) e em textos de autores contemporâneos, como Martha C. Nussbaum ( Diálogos em Túsculo Theory of ) e Aude Lancelin e Marie Lemonnier ( ). Desire Os Filósofos e o Amor

O "Miles Gloriosus" e a estirpe dos 'valentões': reminiscências de Plauto nos entremezes "O soldado valentão" e "Torturas de um coração" Sonia Aparecida dos Santos (Doutoranda - Unicamp)

A utilização de tipos é comum na produção teatral de Plauto, que lança mão de uma galeria da qual vai pinçando figuras e situações para compor suas histórias. Muitos destes são retomados das comédias gregas que lhe serviram de modelo. Alguns aparecem em grande parte das peças plautinas, como ocorre com o (jovem apaixonado) ou o (escravo ardiloso); outros têm pouca participação, adulescens seruus callidus sendo relegados a papéis secundários. É o que acontece quase sempre com o (soldado). Uma miles exceção é a comédia , em que o protagonista Pirgopolinices, se gaba o tempo todo da O soldado fanfarrão própria valentia e do poder de seduzir as mulheres, qualidades que no decorrer da trama não se mostram verdadeiras - o que serve de recurso para potencializar o efeito cômico ao longo da história. Igualmente, ocorre nos entremezes , produção anônima portuguesa de 1773, e O soldado valentão Torturas de um de 1951, obra do dramaturgo paraibano Ariano Suassuna. O referido tipo ressurge com a coração roupagem dos personagens Ferrete e Cabo 70, respectivamente, que, assim como o antecessor da antiguidade, são tipos que se autodenominam valentões. Levando em conta aspectos intertextuais, apreensíveis no cotejo das obras referidas, bem como teorias da recepção modernas (Jauss, 1967; Iser, 1972 e Hardwick 2003), nossa apresentação pretende, a partir da análise e comparação de tais personagens,

51 verificar em que medida nas referidas produções ecoam características do romano, além de miles gloriosus perceber as diferenças resultantes do contexto e época em que estas obras foram produzidas.

Sessão de Comunicação 12

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2044 (ex-1413)

A linguagem desbragada e obscena na Poesia Latina Weberson Fernandes Grizoste (Pós-doutorando - UNESP)

Em primeira mão, entende-se por obscenidade as descrições de amor sexual em que haja a expressão (hoje considerada) impudica e torpe, mesmo de forma despudorada, em conformidade com as palavras de André (2006, 59): uma “linguagem desbragada e, mesmo, obscena, mais próxima do que hoje chamaríamos pornografia do que do sensualismo erótico”. Embora não haja o interesse de delimitar uma linguagem em detrimento da outra, é certo que mesmo na antiguidade já havia uma definição do obsceno e do indecoro na poesia. Da sexualidade em si, podemos enxergar na censura aos versos de Catulo uma representação da reprovação de comportamentos sexuais e, quanto a isto há uma defesa no 16 e também no 5, de que o poeta devesse ser casto e não a sua poesia. A linguagem obscena não Carmen se restringe apenas à sexualidade e aos atos de sexo, ela aparece também em poemas de temas singulares como a defecação, o hálito da boca, o cheiro e higiene do corpo, os costumes estrangeiros e na forma de reprovação social de alguma coisa – em resumo, são palavras direcionadas a atos de reprovação social. Aqui encontramos uma linguagem de baixo calão, indecente e torpe, muitas vezes com figuras de linguagem extraídas de imagens típicas dos atos e órgãos sexuais; e noutras vezes restritas apenas a uma linguagem crua.

Tício e o desejo erótico em Lucrécio e Propércio Francisco Edi de Oliveira Sousa (Doutor - UFC)

Este trabalho examina o emprego de Tício como alegoria do desejo erótico em Lucrécio e Propércio. Nas (4.34-37), Cícero conceitua a virtude ( ) e seu contrário ( ) e as paixões Tusculanae uirtus uitiositas decorrentes da ; em 4.35 (em contexto estoico), ao comentar o medo de um mal vindouro, uitiositas informa que poetas usam a figura de Tântalo com uma pedra suspensa sobre a cabeça (também no De 1.60, em contexto epicurista) para representar essa paixão. Essa variante do mito é menos comum, finibus a mais corrente ocorre na 11.582 (que Cícero conhece e cita em . 1.10); e essa das Odisseia Tusc Tusculanae é a mesma variante usada por Lucrécio (3.980-981) na interpretação das fábulas do Aqueronte (3.978-1023), passagem que aborda ainda Tício, Sísifo, Cérbero e as Fúrias. Assim, Cícero forneceria uma chave de leitura para figuras que aparecem na referida passagem de Lucrécio e que são retomadas por poetas augustanos – como Virgílio, Horácio, Propércio, Tibulo e Ovídio; em contrapartida, ao retomarem tais figuras de Lucrécio, os poetas também refletiriam ao menos uma concepção filosófica, a da teoria das paixões. Nesse contexto, examinamos em particular a figura de Tício, alegoria do desejo erótico, cara à elegia augustana, e o poema 3.5 de Propércio, que alude ao e resgata essas figuras. Logo, um suposto diálogo entre Cícero e Lucrécio a respeito de determinado tema filosófico e da linguagem usada para representá-lo na filosofia e na poesia pode redimensionar a leitura de poetas augustanos.

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“Acredite em mim, querido: não me considero ser um homem, não o sinto” (Petr. Sat. 129.1): os limites do desejo no "Satyricon", de Petrônio Fabrício Sparvoli Godoy (Mestrando - USP)

A presente comunicação insere-se sob o escopo da pesquisa de mestrado “Masculinidades no , de Satyricon Petrônio: entre práticas e representações”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História Social da FFLCH/USP, orientada pelo Prof. Dr. Norberto Luiz Guarinello e financiada pela FAPESP. Utilizando-me da noção, no entender de Butler, de citacionalidade de gênero enquanto ferramenta de análise, procurarei esboçar uma análise atenta aos possíveis limites do desejo, no , de Petrônio, Satyricon observáveis em um processo de construção de masculinidade. Centro-me, para tanto, nas representações do personagem Encólpio e das relações estabelecidas por ele no texto seja com outros personagens masculinos, seja com femininas. Nesta comunicação, será enfatizada, especificamente, a análise de Petr. . 126-140, trecho que integra a parte final da obra. Malgrado seu estado fragmentário, o trecho que Sat abordarei permite pensar uma ampla variedade de representações literárias, nas quais o personagem Encólpio deseja outros e outras personagens. Os desejos de Encólpio, no entanto, muitas das vezes não têm a sua consecução efetivada. É o processo de construção literária de limites à dita consecução dos desejos de Encólpio, através, por exemplo, da maldição de Priapo e da consequente impotência sexual que lhe acomete, que pretendo explorar nesta comunicação.

O epos nas elegias de Propércio Maria Ozana Lima de Arruda (Doutoranda - USP)

O presente trabalho pretende investigar a épica em Propércio, por meio da análise das elegias introdutórias dos livros do poeta, nas quais ele dialoga com esse gênero, tendo em vista que esse contexto é propício à discussão metapoética e que o elegíaco pode fornecer importantes dados para a compreensão de ambos os gêneros, bem como da relação que o poeta estabelece com o em cada um dos livros. epos

Sessão de Comunicação 13

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

Terâmenes nas "Helênicas" de Xenofonte Lucia Sano (Doutora - UNIFESP)

Uma das figuras mais controversas da história da democracia ateniense, sendo tanto um dos principais idealizadores do golpe oligárquico de 411 a. C., quanto um dos atores que leva a sua derrocada, Terâmenes é personagem central dos dois primeiros livros das de Xenofonte em razão de seu Helênicas envolvimento na condenação à morte dos generais da Batalha das Arginusas (406 a. C.) e por sua atuação como parte dos chamados Trinta Tiranos, grupo dentro do qual ele acaba por fim se tornando voz dissidente, do que veio a resultar sua execução em 404 a.C. Tão interessante quanto a manutenção de sua influência na cidade ao longo desses anos, a despeito do seu envolvimento no golpe de 411 e na ação decisiva que teve em uma condenação da qual os atenienses vieram a se arrepender fortemente, é a narrativa que Xenofonte faz de suas ações, de seu discurso de defesa e execução. O objetivo desta

53 comunicação, pois, é investigar o retrato que Xenofonte faz de Terâmenes e como ele é representativo do momento crítico pelo qual passava a cidade de Atenas.

Abuso de poder: o caso de Demétrio Poliorceta e sua Lâmia Marina Pelluci Duarte Mortoza (Doutora - UFMG)

Entre os século I e II de nossa era, Plutarco escreveu sua famosa coleção de anedotas sobre as vidas de importantes dignitários do Mundo Antigo. Um deles, Demétrio Poliorceta, foi considerado o "salvador" da democracia ateniense. Após um período de governo tumultuado em que o comando da havia pólis sido deixado nas mãos de Demétrio de Falero, um representante das oligarquias dominantes, Demétrio Poliorceta devolveu aos atenienses o controle de sua cidade. Demétrio Poliorceta adentrou de surpresa o Pireu com suas trirremes em 307 a.C., e lá desembarcou, subindo com suas tropas até a Ágora, de onde Demétrio de Falero já havia fugido. Acontece que Demétrio Poliorceta devolveu o governo da aos pólis habitantes, mas na prática ficou na cidade como um "convidado ilustre" que era abusivamente honrado pelos habitantes da cidade. Macedônio que era, ele se revelou tão tirano quanto seu xará anterior, e aceitou os exagerados presentes e ainda exigiu outros tão descabidos, explorando a cidade e seus habitantes de tal maneira que eles acabaram por odiá-lo. Esse trabalho vai contextualizar esse momento histórico e fazer um breve comentário sobre episódios ridículos do autoritarismo de Demétrio Poliorceta, apresentando para tal fim trechos traduzidos da obra de Plutarco, . Todos os trechos Vidas-Demétrio abordados tratam da relação de Demétrio com uma hetaira chamada Lâmia, que ficou famosa por ser a preferida do general macedônio. Como vamos ver, para agradá-la Demétrio não poupou esforços, chegando a explorar gravemente a já combalida cidade de Atenas.

Debate político e imagens da democracia: análise de dois episódios da "História da Guerra do Peloponeso" João Pedro Argondizo Correia (Mestrando - USP)

A relação de Tucídides com a democracia é objeto de debate e controvérsias. Contudo, a História da permanece uma obra central para a reflexão sobre esse regime político e, de modo Guerra do Peloponeso mais amplo, sobre o pensamento político grego do século V a. C. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é realizar uma análise do modo como a democracia ateniense transparece em dois episódios da narrativa de Tucídides, nomeadamente, o debate sobre Mitilene (3.36-49) e o debate sobre a expedição à Sicília (6.8-24). Esses dois episódios constituem momentos de deliberação e tomada de decisão pelos atenienses em meio à guerra contra os lacedemônios e apresentam, cada um, dois discursos opostos proferidos por cidadãos da . O cenário da Assembleia, os discursos antilógicos reportados, os pólis argumentos utilizados pelos oradores e, por fim, a própria decisão posterior do compõem uma rica démos fonte para a análise do fenômeno democrático em Atenas, tal qual nos apresenta Tucídides. Em jogo nesses debates estão não apenas as decisões sobre o curso de ação da , mas também a própria imagem pólis que Atenas tem de si e de sua democracia. Imagens e visões de mundo embatem-se na Assembleia por meio das palavras atribuídas aos oradores, as quais significam o mesmo sistema dentro do qual elas operam. Espera-se que a discussão proposta e a análise realizada contribuam para a reflexão acerca da relação de Tucídides para com a democracia e do funcionamento desse regime em Atenas.

Modos de julgar absolutos e relativos em Xenofonte e Varrão. Elementos de uma gramática cultural comparada Lorenz Rumpf (Doutor - Universität Frankfurt)

54 Some exemplary passages from Xenophon's (16; 18) and Varro's (1,23; 1,51) Oeconomicus De re rustica will be examined in a close reading which is part of a comparative study of specific differences between Greek and Roman modes of thought and interpretation. I refer to an earlier comparative study in which I tried to show that a 'comparativistic' and a 'superlativistic' mode of judgment are typical of Roman and Greek historians, respectively. My aim is to analyze another sample case of a powerful tendency on the Greek side to construct 'closed' systems of reference and to make 'absolute' statements and judgments, while comparable Roman texts are generally characterized by a more 'relativistic' mode of thinking: e.g., Xenophon has a holistic notion of the of a property, while Varro focuses on its multifariousness phýsis and options of 'relative' amelioration. Even on an ironic reading, these differences are obvious. The interpretive categories established may be seen as elements of a more comprehensive 'cultural grammar' which may lead, e.g., to a better understanding of the differences between Greek and Roman work ethics. I approach these problems starting from syntax and morphology, focusing, e.g., on the grammatical categories of comparative and superlative and specific differences in their use. The fact that similar patterns of difference emerge between texts belonging to quite different literary genres points to their larger significance.

Sessão de Comunicação 14

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

Alcançando a imortalidade: representações da apoteose de Héracles na cerâmica grega dos séculos VI e IV a.C Paulo Henrique Pagliarelli dos Reis (Pós-graduando - Universidade de Santo Amaro)

O trabalho discute a figura mitológica de Héracles representado na iconografia dos vasos cerâmicos gregos entre os séculos VI e IV a.C. Com ênfase nas cenas de introdução ao Olimpo que consagram a Apoteose do herói, após uma vida de gestas e aventuras. Essa pesquisa apresenta os principais resultados obtidos da catalogação e descrição da iconografia na cerâmica, fazendo uma relação da leitura do material com a documentação textual. O recorte do documental teve como base o site do Arquivo Beazley corpus pertencente ao Centro de Pesquisa de Arte Clássica da Universidade de Oxford. Pretende-se, assim, refletir sobre os papéis e atributos de Héracles enquanto figura heróica e divinizada, e sua possível importância na identidade grega presente na cultura material visual.

As estatuetas de terracota gregas Ana Paula de Souza Freita (Mestranda - USP)

O presente trabalho tem como objetivo principal trazer um panorama geral da fabricação, circulação, usos e funções das estatuetas de terracota no mundo grego; visa também apresentar um histórico dos arquétipos produzidos em terracota e traçar hipóteses acerca das mudanças e desenvolvimentos dessas peças, relacionando-as com a movimentação do pensamento e da sociedade de então.

Uma análise cognitiva do sacrifício animal na cultura visual (imperial) romana Thales Moreira Maia Silva (Doutorando - UFJF)

55 O sacrifício animal compunha a prática ritual mais prestigiada do Império Romano e, portanto, suas representações figuravam proeminentemente em sua cultura visual. Entretanto, em muitos estudos religioso-iconográficos recentes, a maioria das teorias previamente estabelecidas a respeito dos ritos romanos foi abandonada sem que quaisquer alternativas ou modelos explicativos fossem oferecidos. Isso acabou por culminar em um cenário acadêmico no qual o sacrifício animal foi, majoritariamente, entendido como evidente e/ou não-interpretável e, consequentemente, suas representações visuais foram, predominantemente, limitadas a analises iconográficas de elementos figurativos progressivamente menores, negligenciando, assim, a atenção a qualquer continência sócio-religiosa. Com isso em mente, um conjunto de teorias e abordagens recentemente desenvolvidas pela Ciência Cognitiva da Religião talvez possa auxiliar os estudiosos clássicos a remediar essa, profundamente insatisfatória, conjuntura. Tomando como exemplo a prática do sacrifício animal e suas representações visuais na Ásia Romana e focando-se em como o, assim chamado, modelo de Esgotamento de Recursos Cognitivos poderia nos ajudar a elucidá-las, a presente apresentação tentará ilustrar uma maneira pela qual tal circunstancia poderia ser atenuada. Em tal modelo, a exposição a ritos intensos impediria que os indivíduos formassem representações causais e intencionalmente significativas de suas interações religiosas, uma vez que o processamento da opacidade ritual utiliza de recursos cognitivos preciosos que, de outra forma, se direcionariam ao tratamento de seu conteúdo simbólico. Isso, então, levaria a uma lacuna inferencial, amplificando, posteriormente ao ato ritual, a busca individual por tais interpretações, facilitando, assim, a comunicação de proposições coletivas por meio de narrativas verbais e representações visuais.

Ser ou não ser grego: identidade e alteridade no registro arqueológico de natureza funerária na Grécia Geométrica Camila Diogo de Souza (Doutora - USP)

Essa comunicação tem como objetivo discutir conceitos de identidade na Grécia Antiga por meio da análise da documentação arqueológica de natureza funerária. Morrer constitui uma das formas pelas quais as sociedades gregas se reconhecem e identificam enquanto uma unidade cultural com elementos comuns. Contudo, a variabilidade e especificidades nas práticas funerárias constituem instrumentos e formas de expressão cultural que marcam e definem identidades e alteridades locais. A análise interdisciplinar dos aspectos da cultura material dos contextos funerários do Período Geométrico, entre 900 e 700 a.C., possibilitam levantar reflexões sobre o papel do espaço dos mortos e dos rituais funerários executados pelos vivos enquanto espaço de memória e de construção de identidades.

Sessão de Comunicação 15

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex-1415)

Ler Hipócrates na Segunda Guerra Mundial Lívia Gallucci (Mestranda - UFRJ)

Pretendo nesta comunicação apresentar o papel da medicina antiga na legitimação da medicina ocidental na primeira metade do século XX. Desde o final do século XIX, a revolução microbiológica transformou a forma como os médicos e pacientes entendiam a clínica e foi responsável por reformular discursos, ambientes e perspectivas médicas. A aparente hegemonia das teorias de Pasteur, contudo, não apagou completamente ideias e teses do antigo paradigma, mas os transformou e, agora em outro lugar, foram

56 usados ora para legitimar esse novo paradigma médico, ora para contrapor as ideias provenientes dessa nova racionalidade médica. A medicina antiga, usada durante o século XVII e XIX para legitimar os compromissos teóricos dos autores desses séculos, no século XX foi usada pelas teorias neo-hipocráticas que advogavam uma medicina menos científica e mais voltada para a relação médico-paciente. Por outro lado, médicos como Walter Bradford Cannon, se apropriaram de ideias antigas – como a vis medicatrix – e as cientificizaram. Pretendo, também, apresentar a leitura que Canguilhem propõe de naturae Hipócrates a partir dos manuais de medicina.

Maquiavel leitor de Tito Lívio e de Plutarco: a imitação da história condicionada pelas necessidades da ação Raul Francisco Magalhães (Doutor - UFJF)

Maquiavel em seus , obra escrita em seu período de exílio, Discursos sobre a primeira década de Tito Livio apresenta duas facetas antitéticas na interpretação da história: primeiro, conforme a regra retórica do seu tempo, clama pela necessidade de imitar a virtude romana na constituição das leis para, na verdade, introduzir um elemento novo e disruptivo dentro do aristocrático humanismo renascentista: reflexão de que o ‘povo’, pensado como um agente coletivo portador de , deve necessariamente compor o virtù projeto de criação da unificação da Itália. A segunda faceta da imitação é sua completa negação, ou seja, o verdadeiro conhecimento dos fatos passados é impossível se dependemos dos historiadores e então as necessidades da luta política obrigam-nos a ler os relatos da antiguidade de forma diversa àquela escrita por seus autores. É de grande importância lembrar que Maquiavel conseguia com esse movimento mostrar os limites claros do humanismo cívico renascentista, que prescrevia a adoração do passado para explicar os temas políticos, porém faz isso numa operação tipicamente inscrita na retórica humanista revisitando historiadores como Tito Lívio e Plutarco.

A genealogia do "Mal-estar na Civilização" e a antecipação da Segunda Tópica freudiana no discurso de Carnéades Ísis Lopes d'Oliveira Zisels (Mestre - UFOP)

A pesquisa compara o mecanismo social repressor descrito por Freud (1929) com a crítica do ceticismo grego ao paradigma ontológico da moral, lançando um olhar genealógico à questão antropológica e sociológica apresentada pelo médico e psicanalista vienense em (1929). Para tanto, O mal-estar na civilização analisa o caráter fundamental da pulsão à luz do discurso do cético Carnéades de Cirene (219-129 a.C.) resgatado em excertos na obra de Cícero ( , Livro III), posteriormente completados por De República Lactâncio ( , V). O cético acadêmico opôs-se ao realismo moral dos estoicos, alegando Institutiones Divinae que o homem, em seu desejo, perseguia impulsivamente a própria vantagem. Ora, para tal egoísmo, fora necessária a conveniência do Direito (LACTANCE, [303-311 d.C.]1973). Rechaçou, ainda, o critério socrático de verdade, substituindo-o pelo aprofundamento no (afecção) da alma. Neste momento, páthos referiu-se à (representação) correspondente aos (fenômenos). O ser humano, assim, phantasía phainómena projetar-se-ia no mundo ao julgar as aparências através da (sensibilidade) ou da (intelecto). aísthesis diánoia Destarte, seria impossível dignificar as crenças representativas, razão pela qual a verdade estaria restrita ao âmbito perceptivo e não ontológico (PORCHAT, 2013, p. 306). Eis aqui um primeiro vislumbre da noção de subjetividade a partir da esfera do desejo. Não por acaso, analogamente desenharam-se os pensamentos do psicanalista Sigmund Freud e do filósofo alemão Friedrich Nietzsche no século XIX. Herdeiros do

57 ceticismo, ambos representaram o “ponto de contestação de toda a verdade” (FOUCAULT, 1978, p. 159), percebendo a realidade psíquica e as motivações inconscientes das ações humanas.

Terça-feira, dia 03/09: 14:00 às 15:30

Sessão de Comunicação 16

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1033 (ex-1402)

Estudo dos verbos depoentes latinos sob a perspectiva da linguística funcional Fernanda Cunha Sousa (Doutora - UFJF)

Nosso estudo pretende aliar questões de língua latina a conceitos de linguística moderna com a finalidade de contribuir para a melhor compreensão de fenômenos morfossintáticos vinculados aos chamados verbos depoentes. Comumente os depoentes são descritos nas gramáticas de latim como os verbos que “perderam” a sua forma ativa, mas conservaram seu sentido, isto é, são verbos que se conjugam em sua forma plena (excluem-se aqui as formas nominais) conforme a voz passiva, mas podem ser traduzidos conforme a voz ativa ou a reflexiva. Mas entendemos que essa explicação não comporta a variedade de verbos classificados como depoentes e várias situações de uso e tradução desses verbos, como demonstraremos por meio de exemplos que permitam comparar usos de latim arcaico, clássico e tardio. Por isso, nosso objetivo, nesta pesquisa, é contribuir para o estudo da língua latina (e das neolatinas por consequência), proporcionando análises das diferentes combinações morfossintáticas envolvendo esses verbos, o que auxiliará a compreensão de como essas possibilidades têm se modificado ao longo do tempo, expressando diferentes maneiras de perspectivização, de acordo com as necessidades expressão dos usuários da língua em diferentes períodos. Assim, nossa proposta visa contribuir para discussões sobre a relação entre morfologia, sintaxe e semântica na construção do sentido verbal dessas estruturas que possibilite o vislumbre de diferentes matizes de expressividade a partir das escolhas de complementação que acompanham esse tipo de verbo.

Três propostas para o entendimento do sincretismo passivo em latim: reparo fonológico, voz média e argumentalidade Lydsson Agostinho Gonçalves (Mestrando - UFJF)

O objetivo deste trabalho é discutir possíveis análises para o fenômeno do sincretismo da voz passiva em latim sob uma perspectiva teórica formalista, a da Morfologia Distribuída (HALLE & MARANTZ, 1993; MARANTZ, 1997). Em latim, a concordância passiva é ativada em alguns outros contextos além da passiva canônica: construções impessoais, anticausativas, contextos médios e depoentes. Esse tipo de sincretismo também é observado, total ou parcialmente, em outras línguas, de diferentes famílias, o que sugere que é um mecanismo sistemático. Apresentamos três possibilidades de análise encontradas na literatura para a explicação do fenômeno, quais sejam: (i) a de Pujalte & Saad (2012), que propõe que a marca é um dispositivo da fonologia para assegurar a boa formação de sentenças em que não há a presença de um argumento verbal agente; (ii) a de Alexiadou (2013), segundo a qual o efeito de extensão do uso da marca passiva está relacionado à presença de um núcleo de voz média nas línguas em que isso ocorre; e (iii) a de Lazzarini-Cyrino (2015), que interpreta a marca como um argumento do verbo

58 incorporada ao seu domínio. Discutimos as previsões feitas em cada abordagem e sua adequabilidade ao latim.

Verbos de invocação nos Papiros Gregos Mágicos Patrícia Schlithler da Fonseca Cardoso (Doutoranda - USP)

Os Papiros Gregos Mágicos (PGM) são um conjunto de manuais de feitiços e outros textos mágicos encontrados no Egito, datando especialmente do século II EC. Encontramos neles diversos encantamentos dirigidos aos deuses, pedindo a realização de ações em prol do praticante. Uma parte muito importante desses pedidos são as invocações, presentes na grande maioria deles. Realizamos um levantamento dos verbos utilizados para invocar um deus, seja para chamá-lo para participar do ritual ou apenas para captar sua atenção. Partindo de uma divisão inicial entre formas imperativas e indicativas, estabelecemos algumas categorias de análise. Os verbos imperativos foram divididos conforme suas funções, como verbos de movimento e de escuta (µόλε e κλῦθι, por exemplo), enquanto os verbos indicativos de primeira pessoa (καλέω, ὑµνέω e ὁρκίζω, entre outros) foram classificados conforme seu uso especializado nos textos. Através da análise desse vocabulário, podemos observar as maneiras com as quais os praticantes desses feitiços se comunicavam com os deuses e que tipos de relações eram estabelecidas no momento da invocação.

A partícula 'atár' em grego clássico Clara Lacerda Crepaldi (Pós-doutoranda - USP)

No drama grego clássico, a partícula indica dois principais tipos de contraste. Em seu uso mais atár comum, ela marca um contraste discursivo, uma fronteira na estrutura conversacional, como o início de uma nova troca ou par adjacente. Mais especificamente, pode indicar uma mudança de interlocutor, atár ou a introdução de um novo tópico ou novo foco visual, ou uma abrupta descontinuidade temática, como uma interrupção. Além do mais, pode também marcar negação de expectativa, especialmente atár quando precedida de um preparatório. Quando expressando negação de expectativa, a partícula mén instrui o interlocutor a processar o segmento discursivo seguinte como contradizendo ou eliminando alguma informação possivelmente inferida do segmento anterior. Por meio da comparação de dados do drama (Ésquilo, Sófocles, Eurípides e Aristófanes) e da prosa clássica (Heródoto, Platão e Xenofonte), esse trabalho pretende fornecer uma descrição compreensiva de em grego clássico. atár

Sessão de Comunicação 17

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1040 (ex-1412)

Liberdade: finalidade da forma democrática de governo David Pessoa de Lira (Doutor - UFPE)

Aristóteles, na 1365b.25-1366a.8, afirma que o maior e o melhor meio para obter êxito na Ars Rhetorica persuasão dos ouvintes é discursar sobre as formas de governo, distinguindo seus hábitos, instituições e costumes. Segundo Aristóteles, a democracia é a forma de governo em que os cidadãos distribuem os cargos por meio de escolha ou sorteio. Na oligarquia, os mais honrados são nomeados enquanto que, na aristocracia, a escolha se dá pela educação estabelecida por lei. A monarquia é um governo de um único

59 indivíduo tanto na forma de realeza quanto na forma de tirania. Assim, o fim da democracia é a liberdade, da oligarquia é a riqueza, da aristocracia é a educação e a legalidade, da tirania é a segurança do próprio tirano. Aristóteles não menciona nada sobre o fim da realeza. Em todo caso, ele conclui que é necessário saber os costumes e instituições legais, mas as escolhas para isso são realizadas por interesse. Por esta razão, objetiva-se, por meio de uma análise da obra aristotélica, confrontar as formas de governo e sua interação com a finalidade democrática da liberdade e escolha. O problema da oligarquia está no fato de que seu governo era baseado na riqueza para poucos. A aristocracia mantinha a educação por meio da legalidade e da instituição legal, ou seja, para os que eram considerados melhores. A tirania não se baseava em leis estabelecidas, mas na lei evocada pelo tirano com a finalidade de salvaguardar sua autoridade e poder.

Uma teoria do desejo na "Ética Nicomaqueia" de Aristóteles Juliana Santana de Almeida (Doutora - UFT)

Nesse trabalho buscaremos esclarecimentos sobre a teoria do desejo na , com apoio no Ética Nicomaqueia . Para completar a tarefa proposta, começaremos com uma análise da capacidade ( ) De anima dynámis anímica global de desejar: a . O desiderativo está entre aquelas capacidades que permitem ao corpo órexis executar as atividades indispensáveis à sua existência. O desejo é natural ao homem e ocasiona movimento em vista de um fim, sendo comum a todos os viventes. No entanto, somente a ação humana é composta por movimentos considerados bons quando há associação entre desejo e intelecto. Entendemos que por isso I 13 indica o desejo como devendo se harmonizar com as sugestões de Ética Nicomaqueia ação do intelecto prático, para que o desejo mova de certo modo (ou do modo certo). A possibilidade de tal harmonização existe pois o desejo, apesar de não racional, é capaz ouvir e seguir a razão, mais ou menos, o que nos leva a crer que Aristóteles propõe mais de uma forma de desejo. Portanto, após definirmos brevemente sua forma geral, restará tratar as formas específicas do desejo: querer ( ), boûlesis impulso ( ) e apetite ( ). Estas se associam às diferentes emoções e influenciam ações thymós epithymía variadas. Por fim, ao falar de três tipos de desejo buscaremos esclarecer o seguinte: deveríamos inferir uma capacidade desiderativa divisível? Pretendemos responder esta questão, pois tendemos a pensar uma faculdade global desiderativa que se manifesta em três formas quanto à sua capacidade de ouvir e obedecer à razão.

A alma na filosofia epicurista da obra "De rerum natura" de Tito Lucrécio Caro Thales Perente de Barros (Mestrando - UFU)

O trabalho aqui apresentado é parte de um mestrado em andamento que se propõe a traduzir e elaborar uma exegese filosófica do livro três do poema de Tito Lucrécio Caro. O poema De rerum natura De rerum é a obra filosófica mais detalhada que nos chega, bem dizer completa, sobre a filosofia de Epicuro. natura Ou seja, nenhuma obra expõe com tanta clareza e riqueza de detalhes a filosofia de Epicuro, uma vez que as outras fontes acerca da filosofia do autor, em sua maior parte, se perderam no decorrer dos séculos. De modo mais geral, o livro em questão trata do medo da morte e almeja combater as crenças disseminadas acerca do tema. Mais especificamente, os temas filosóficos tratados no interior desse livro são a psicologia e a ética, expondo sua teoria materialista acerca da alma e visando a autonomia do indivíduo sobre as próprias crenças, com o objetivo de promover a potência do mesmo para o cuidado de si, em favor de minimizar suas dores e sofrimentos. Já na comunicação a ser apresentada, o objetivo é expor um pouco da

60 temática específica da alma material, tal como descrita por Lucrécio. Para tanto, será utilizado o próprio texto do poema , livro três, linhas 94 a 416. Ademais, serão utilizadas também notas e De rerum natura comentários recolhidos a partir de uma bibliografia específica sobre a mesma obra.

Sessão de Comunicação 18

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1037 (ex-1410)

Perséfone, seu rapto e o lugar do desejo feminino Thais Rocha Carvalho (Doutoranda - USP)

O rapto da deusa Perséfone pelo senhor dos mortos, Hades, é, sem dúvida, uma das mais conhecidas narrativas míticas, influente mesmo na antiguidade, a ponto de estar no cerne de uma das mais importantes tradições religiosas gregas: os Mistérios de Elêusis. A brutalidade do evento é muito bem narrada no (versos 4-39), detalhando a reação de pavor da deusa ao ser levada Hino Homérico a Deméter para o mundo dos mortos. Considerando o episódio apenas do ponto de vista de Hades e do rapto em si, as oportunidades de agência da jovem deusa são praticamente nulas. No entanto, partindo do ponto de vista de Perséfone, analisando suas atividades na campina antes do rapto e mesmo a escolha apresentada a ela por Hades quando Hermes vai buscá-la nos ínferos ( versos 359-374), uma Hino Homérico a Deméter, nova possibilidade de interpretação se abre, uma centrada nos desejos da própria Perséfone. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é analisar esses possíveis desejos e decisões tomadas pela deusa a partir da leitura de alguns trechos-chave do . Hino Homérico a Deméter

Mobilidade feminina e metamorfose no mito de Ariadne Ariadne Borges Coelho (Doutoranda - Universidade de Coimbra)

Este trabalho estuda o mito de Ariadne por meio da análise das principais fontes clássicas: , de Teogonia Hesíodo; e , de Homero; , de Virgílio; X e , de Ovídio; Ilíada Odisseia Eneida Heróide Metamorfoses Epílio 64, de Catulo; e , de Propércio. Konstantinou (2018), em seu estudo Elegias Female Mobility and gendered , analisa o que a mobilidade feminina demonstra a respeito da relação do space in Ancient Greek Myth gênero. Através da representação de Ariadne, nas variantes do mito, vamos analisar como a mobilidade feminina empreendida pela heroína está relacionada ao seu protagonismo. Oliveira (2008) chama a atenção para a abordagem dos mitos de temática feminina para que não haja repetição de estereótipos. Junto de Oliveira (2008), consideramos a roca e o fio como símbolo do ato sexual. No nosso entendimento, Ariadne utiliza o fio para se libertar de uma família e de um herói controladores, escolhendo a imortalidade dionisíaca do Mito sob forma de constelação. Uma escolha cuja simbologia pode nos iluminar até os dias atuais, para nos lembrar de nosso auto protagonismo.

O corpo feminino como repositório da dor da perda Katia Teonia Costa de Azevedo (Doutora - UFRJ)

A distinção na expressão da dor da perda entre homens e mulheres pode ser notadamente observada desde a Antiguidade. Às mulheres se atribuía um tempo mais prolongado de luto e as marcas da dor da perda eram cunhadas em seus próprios corpos com aflitivos golpes de autossuplício, cuja violência se contrasta

61 com a fragilidade normalmente conferida às mulheres. O canto lugente entoado pelas dava o tom praeficae de um pranto marcadamente feminino numa performance que unia lamento à exacerbação das emoções. A partir de textos de autores latinos, propomos observar a representação da mulher e do seu corpo como um templo da dor da perda na antiguidade clássica.

A liberdade do poeta e do escultor: representações do erotismo de Afrodite Nathalia Thomazella (Doutoranda - UFMG)

Em uma análise que leva em conta o 5 à Afrodite, mais especificamente, a passagem entre Hino Homérico os versos 155 – 167, como fonte literária, e a escultura denominada Afrodite de Cnidos de Praxíteles (350 a.C), faremos um estudo intersemiótico ao investigar a liberdade que se valeu o poeta e o escultor no que diz respeito às diferentes formas de se representar esta deusa, e como o desejo e o erotismo estão presentes em cada uma dessas obras.

Sessão de Comunicação 19

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1034a (ex-1406)

Festas da Primavera: um estudo da recepção dos antigos gregos em Curitiba Renata Senna Garraffoni (Doutora - UFPR)

Na virada do século XIX para o XX um grupo de poetas simbolistas do círculo de Curitiba, que incluía Dario Vellozo e Emiliano Pernetta, passou a realizar uma série de eventos em que os antigos gregos se fizeram presentes, conhecidos como Festas da Primavera. Tais eventos eram dedicados às artes, à poesia e aos esportes, as pessoas presentes costumavam se vestir com túnicas gregas. Entre tais eventos, destacou-se a coroação de Emiliano Pernetta como Príncipe dos Poetas, no Passeio Público de Curitiba em 1911, realizada por musas gregas e a meio a um grande banquete. O objetivo dessa comunicação é realizar uma análise do evento, bem como discutir a recepção grega no cotidiano curitibano do início do século XX e as práticas poéticas e artísticas que dali surgiram.

Uma relíquia epigráfica: considerações sobre dois tempos do Rio de Janeiro Danilo Oliveira Nascimento Julião (Mestre - UFRJ)

Existe na zona norte do Rio de Janeiro, na Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos, uma inscrição latina. Podem-se observar ali informações importantes sobre a história do próprio monumento – outrora localizado em outro sítio – e relacionado ao fundador da cidade. A partir dos estudos de D’Encarnação (1996), Drenkpol (1936) e Julião (2018), buscaremos analisar os usos desta inscrição epigráfica como um eco de antigas inscrições romanas na cidade do Rio de Janeiro, emoldurado num registro de pedra um instante de nossa história.

'Garum': desejo, consumo e liberdade de escolha Paulo Pires Duprat (Doutorando - Unicamp)

62 Esta comunicação pretende apresentar as últimas novidades acerca da trajetória histórica do no garum entorno do Mediterrâneo, com especial atenção para a Hispânia do período romano. Buscamos, assim, contribuir para o campo, oferecendo um estudo de cunho multidisciplinar, traçando um fio condutor capaz de dar nexo à imensa quantidade de dados gerados sobre o tema nas últimas décadas. Vamos enfatizar a contribuição da Anforologia, que tem demonstrado de forma reiterada que o foi uma garum mercadoria muito importante para a população romana, uma inestimável fonte de proteína de baixo custo, empacotada e despachada a longa distância. Diante destas questões, será possível afirmar que, na Antiguidade, o consumidor podia satisfazer seu desejo e tinha alguma liberdade de escolha? Vamos aproveitar a oportunidade para tornar público algumas descobertas e publicações advindas de nossa pesquisa de doutorado, oferecendo uma oportuna atualização das informações que foram prestadas na edição de 2017 do Congresso da SBEC.

Heraion: A identidade sâmia através do espaço Aline Porfirio Neves (Mestranda - USP)

O Heraion foi tido por Heródoto como o maior santuário de sua época. Sendo originalmente acessado via mar, foi no século VII a.C anexado, por meio da construção de uma Via Sacra, à Samos e se tornou o símbolo máximo da . Durante o Período Arcaico, o templo foi monumentalizado por tiranos como pólis forma de afirmar poder, o quê só foi possível por conta da forma ligação do povo sâmio com o santuário e com a sua deusa políade, Hera.

TERÇA-FEIRA, DIA 03/09: 15:30 ÀS 17:00

Sessão de Comunicação 20

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

Modos de ocorrência e emprego do mito em "Aetna", poema didático da Roma Antiga Matheus Trevizam (Doutor - UFMG)

Nesta comunicação, desejamos apresentar a questão dos modos de ocorrência e emprego do mito na obra chamada , a qual é um poema com a extensão de 644 versos e data, possivelmente, da época da Aetna “latinidade argêntea” (segunda metade do século I d.C. – cf. VOLK, 2005, p. 70). Observamos, assim, primeiro que algumas partes dessa obra parecem bem mais propícias que outras à concentração de histórias míticas, dado que o conteúdo geral do texto, sendo antes vinculado a explicações vulcanológicas sobre o monte Etna e seus abalos, nem sempre favorece acolher narrativas com teor fabuloso. Todavia, certas passagens – a exemplo da longa introdução geral da obra, compreendida entre v. 1-93; da enumeração, entre v. 567-601, de alguns lugares e/ou obras de arte muito procuradas para visitas no estrangeiro, inclusive por seus elos com histórias fabulosas quaisquer (Atenas de Teseu e Filomela, Troia de Heitor e Aquiles etc.); e do relato sobre os dois de Catânia (Anfinomo e Anapias), inserido pii fratres bem ao fecho de (v. 602-644) – correspondem a trechos nos quais a incorporação de temas míticos Aetna se faz de modo perceptível, no texto em pauta. Além disso, interessa-nos comentar que as maneiras de empregar o mito parecem sofrer variações ao longo de : enquanto, na introdução, as histórias Aetna fabulosas que se contam (como a da Gigantomaquia) para explicar o vulcanismo são desacreditadas como

63 meras liberdades dos poetas, no último trecho citado o autor desse poema comporta-se como se não atacasse frontalmente a validade do relato.

Os 'remedia' de natureza científica no "Opus agriculturae", de Paládio Luis Augusto Schmidt Totti (Doutor - UNESP)

No capítulo 35 do livro I do tratado agronômico romano , de autoria de Paládio Opus agriculturæ (Rutilius Taurus Aemilianus Palladius, séc. V. d.C.), são apresentadas receitas ( ), muitas delas de remedia natureza mágica, para a proteção da propriedade rural contra pragas e fenômenos climáticos. Ao lado dessas prescrições, no mesmo capítulo, há outras com reconhecida validade científica. O autor parece não fazer questão de distinguir magia e ciência, uma vez que ele apresenta juntas, de forma indiscriminada e sem distinções, as duas espécies de receitas. O objetivo primário desta apresentação é reconhecer essa modalidade de preceitos científicos, diferenciando-os dos de natureza mágica. O escopo secundário é demonstrar de que forma esse receituário, composto de procedimentos de valor mágico combinados com outros de cunho científico, podem indicar uma intenção do autor, vinculada ao propósito de seu tratado. A análise dos remedia enfatiza um estudo específico dos materiais e substâncias (como plantas, objetos e substâncias de origem vegetal, animal e mineral) empregados nessas receitas e de sua validade para a Ciência hoje. No entanto, é possível igualmente examinar procedimentos (ou técnicas) de então e confrontá-los com práticas contemporâneas. Para a identificação dos com validade científica, remedia recorreu-se à literatura científica e a conteúdos produzidos tanto por instituições especializadas em agricultura, como a EMBRAPA, como também por Secretarias de Agricultura e instituições de Ensino Superior.

Impressões romanas sobre a história da medicina mágica Ana Thereza Basílio Vieira (Doutora - UFRJ)

A magia, cuja origem se liga provavelmente à Pérsia, teve como seu principal propagador Zoroastro. Estendendo-se por Babilônia, Assíria e Egito, chega à extensão do império romano durante o período da República. Ao longo dos tempos, ela foi utilizada não só em rituais como em curas e tratamentos os mais diversos. Os elementos que funcionarão como remédios dependem de fatores como a seleção dos animais, a época, o local e o modo mais propícios para o seu abate, formas de aplicação e época em que isso poderá ocorrer. Uma pequena história da magia e da medicina dela decorrente é descrita por Plínio o velho, na . Anaxilau e Xenócrates são suas escolhas para discorrer acerca da história da História Natural medicina, enquanto que Sêxtio Níger lhe inspira a falar sobre a medicina mágica. De apelo muito duvidoso para os romanos, a utilização da magia, mesmo em tratamentos, sofre desprezo ainda maior a partir do interesse do imperador Nero pelas artes mágicas. Plínio apresenta todos esses aspectos em sua obra, valendo-se ainda de outros tantos autores, enunciados ao passo em que a descrição da história da medicina avança. Apresentaremos aqui uma panorâmica das impressões de Plínio sobre a medicina mágica, servindo-nos, sobretudo, dos estudos de Bidez et Cumont (1938; reed. 2007) e Dickie (2001).

A metodologia pliniana das artes Ana Carolina Aquarolli Martins (Mestranda - USP)

64 A presente comunicação tem por objetivo apresentar, como indicado pelo título, um estudo comparativo entre os livros da de Plínio, o Velho que dizem respeito às artes, sendo eles o XXXIV, Naturalis Historiae XXXV e XXXVI, que tratam respectivamente de metais e da escultura em bronze, da pintura, de pigmentos e das artes plásticas, e de rochas, minérios e da escultura em pedra (sendo incluídas ainda algumas obras arquitetônicas bem como observações mais apropriadamente atribuídas à “área” da edificação); há, com isso, o intuito de explicitar a metodologia empregada pelo autor ao expor, organizadamente, questões de ordem geológica, geográfica, etiológica e artística. Dessa forma, busco esclarecer os seguintes pontos: em que sentido se dão as anedotas apresentadas; de que maneira são ordenados os índices de pintores e escultores arrolados – sendo gregos e italianos; e a maneira como são incluídas observações ligadas à medicina e à cura de doenças e disfunções em livros que dizem respeito, como afirmado acima, à história da arte, ainda que já tenham sido expostas e aprofundadas ao longo de outros volumes da enciclopédia pliniana.

Sessão de Comunicação 21

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex-1415)

As especificidades da "Arte Gramatical" de Terenciano Mauro Isabela Maia Pereira de Jesus (Mestranda - UNESP)

A arte gramatical do autor latino Terenciano Mauro, apresenta Terentianus de littera, de syllaba, de pedibus, conceitos relacionados à Poética Clássica greco-latina, tendo como foco os recursos sonoros dos versos de renomados poetas latinos. Ao longo do tratado, observa-se que Terenciano Mauro confere especial atenção à expressividade de seu texto, revelando certo teor poético do tratado técnico, na medida em que lança mão de recursos expressivos que também demonstram a técnica e habilidade do gramático na elaboração de sua linguagem. À luz dos estudos de John Langshaw Austin (1990) a respeito do conceito de performatividade, nessa comunicação serão discutidas algumas das características do tratado, demonstrando, por meio de exemplos, as particularidades da obra de Terenciano Mauro.

Gramática em perspectiva: postulados metodológicos para a compreensão da 'ars' desde Antiguidade aos nossos dias Carlos Renato Rosário de Jesus (Doutor - UEA)

Neste trabalho, pretendemos apresentar um panorama acerca de nossa pesquisa de pós-doutorado, que tenciona fazer um estudo crítico das formulações teóricas e didáticas relativas ao conceito, estrutura e finalidades das Gramáticas de língua portuguesa escritas por linguistas, com ênfase na investigação dos critérios que norteiam suas escolhas metodológicas e epistemológicas. Dedicar-nos-emos à compreensão histórico-epistemológica da Gramática, enquanto disciplina e teorização da linguagem, com o devido direcionamento à sua produção em língua portuguesa, sempre levando em conta a herança greco-romana da arte. Com isso, esperamos estabelecer parâmetros de análise para a compreensão crítica sobre as motivações teórico-metodológicas das gramáticas de língua portuguesa, no contexto de suas formulações linguísticas recentes e de suas bases clássicas. Com isso, espera-se fornecer subsídios sólidos para a compreensão ampla do ensino da língua portuguesa em seu aspecto gramatical.

65 Marius Plotius Sacerdos, a primeira gramática latina remanescente e a tradição gramatical no século III Filipe Cianconi Rodrigues (Mestrando - UFJF)

Situado no século III, Mário Plócio Sacerdote – Marius Plotius Sacerdos – foi um gramático e professor em Roma. Pouco se sabe sobre sua vida pessoal, salvo alguma informação, cujo registro advém do próprio autor em sua obra. Sua é divida em três livros: o primeiro é dedicado às , Ars Grammatica partes orationis “partes da oração”, tratando, em seguida, dos “vícios e virtudes” da escrita; o segundo uitia virtutesque livro é sobre , “das regras gerais dos nomes e dos verbos”, que lida de catholicis nominum atque verborum com as terminações dos nomes e dos verbos latinos; o terceiro e último livro é destinado ao estudo da métrica, . À vista disso, Sacerdote, através de uma breve descrição apresentada na introdução do de metris terceiro livro, declara que havia escrito e dedicado o primeiro livro de sua a seu amigo Gaiano, filho Ars de um ilustríssimo senhor que participava da ordem senatorial de Roma – tendo seus dois outros livros sido encomendados posteriormente. Nosso trabalho inclui uma tradução comentada (em andamento) do primeiro livro da , obra de grande importância para nosso conhecimento acerca da Ars Sacerdotis sobrevivência da tradição dos latinos, realçando algumas idiossincrasias deste autor cujo grammatici trabalho sobreviveu durante os séculos.

Do que é feita a elocução Marina Albuquerque de Almeida (Doutoranda - UFRJ)

O conceito moderno de 'estilo' – dο qual deriva o de 'estilística', disciplina que foi testemunha da querela entre a Linguística e os estudos literários no século XX –, herdou da Retórica antiga o seu conteúdo (figuras e tropos) e foi largamente usado como tradução direta do conceito latino (em especial no elocutio tratado [Περὶ ἑρµηνείας], de Demétrio), e tradução (no geral, indireta) de conceitos gregos, De elocutione como ἑρµηνεία, λέξις e φράσις. Há ainda outros conceitos que parecem intimamente ligados ao de estilo, como os de e . Compreendendo que as referências clássicas do conceito de 'estilo' ornatum decorum se mostram essenciais para a escrita da história deste conceito moderno, esta comunicação buscará apresentar um catálogo de conceitos antigos que encontraram no 'estilo' (ou , em inglês e/ou francês) style a sua tradição tradutória, além de tentar construir uma breve história de cada uma desses percursos tradutórios.

Sessão de Comunicação 22

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

O papel ativo do espectador na comédia aristofânica - do real ao ficcional Elisana De Carli (Doutora - UFSC)

O objetivo é analisar, na comédia aristofânica , a conformação e repercussão do cômico, no seu Cavaleiros acionamento do espectador através de inferências de conteúdo até manifestações físicas do público, como risos e aplausos, o que configura o jogo teatral, especialmente, na comédia. Esse formato elabora uma dinâmica de transito entre os níveis do real e do ficcional, o qual se reflete na noção de figuração e de metalepse, proposta por Carlos Reis (2015, 2013). Esse tecido é habitual em Aristófanes e repercutiu para

66 além do palco, sendo também observado ainda hoje, como no gênero cômico atual, o , stand up comedy indicando a potencia desse recurso e a importância do espectador para a comédia.

Tradução de nomes em "A Paz" de Aristófanes Greice Drumond (Doutora - UFF)

É nosso objetivo apresentar o resultado do trabalho de retradução da peça de Aristófanes (V séc. a. A Paz C.).Por isso, exporemos as soluções tradutórias aplicadas aos nomes da personagens da peça, pois, para enfatizar sua função dramática , eram-lhes dados, no texto de partida, muitas vezes, “nomes falantes”, formulados por meio de uma lexicalização que indica mais diretamente a atuação daquele indivíduo que está sendo representado no drama cômico. Além disso, em nossa retradução, decidimos atualizar alguns nomes retirados do contexto histórico de Atenas, procurando reproduzir um efeito parecido ao que foi ocasionado na performance da peça. Destacamos a importância da intervenção criativa do tradutor, necessária para trazer à língua de chegada, de forma aproximada, a cor e o brilho percebidos no original. Assim, procuramos ilustrar, com trechos retirados da peça traduzida, a relação entre a análise teórica no campo dos Estudos da Tradução e a prática tradutória em si.

E o humor? Uma proposta de tradução do primeiro prólogo de "Rãs" Maria Clara da Cunha Machado (Graduada - UFF)

Uma das principais características da Comédia Antiga era sua relação com a realidade da (πόλις) pólis ateniense do séc. V a.C. As críticas que Aristófanes fazia às figuras públicas e às circunstâncias políticas, socioeconômicas e culturais, através de piadas, trocadilhos, ironias e inferências podiam ser compreendidas pelo público dos Festivais dedicados a Dioniso. Obviamente, um leitor dos dias de hoje desconhece as referências tópicas e situacionais de mais de 2000 anos, o que dificulta em grande medida o acesso à compreensão de uma tradução desse gênero. O presente trabalho propõe, portanto, uma análise a respeito das dificuldades da manutenção do humor nas traduções e as estratégias que podem ser empregadas para gerar os mesmos efeitos no público moderno, isso sem esquecer o caráter performático inerente a um texto dramático e as dificuldades próprias que essa característica acarreta no processo tradutório. Dessa forma, considerando-se todas as questões levantadas, buscou-se realizar uma tradução do primeiro prólogo da comédia de Aristófanes que tivesse por objetivo a manutenção do aspecto Rãs humorístico e da capacidade de interpretação da obra, sem abrir mão das referências culturais e históricas, de maneira a tornar o texto acessível para uma nova geração de leitores que, em sua maioria, não é composta de estudiosos e/ou conhecedores dos assuntos aos quais a Comédia Antiga se remetia.

A "reconstrução" da linguagem cômica de "Cavaleiros" na atualidade Stefania Sansone Bosco Giglio (Doutoranda - UFRJ)

Aristófanes foi um comediógrafo que produziu suas peças entre os séculos V e IV a. C., nas quais tratava da realidade política do seu tempo, criando caricaturas políticas e um discurso irônico, com base em referências históricas satirizadas por meio de piadas e gracejos. Para compreender esse jogo de referências, os leitores modernos precisam conhecer a realidade em que o autor escrevia, os problemas sociais de Atenas, os políticos citados e os objetivos de sua comédia. Nosso trabalho, portanto, tem como objetivo mostrar de que maneira é possível “reconstruir” essa linguagem do texto cômico na atualidade por meio

67 da tarefa tradutória, visto que, segundo Chapman (1983, p. 42), a relação entre a fidelidade para com um texto e a necessidade de transmiti-lo de forma clara e imediata é indispensável para representar as características do gênero.

Sessão de Comunicação 23

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2044 (ex-1413)

As faces das mulheres imperiais nas moedas de Roma Tais Pagoto Bélo (Doutora - MAE-USP)

Esta apresentação oral irá demonstrar a imagem pública das mulheres imperiais romanas, pertencentes a família Júlio-Claudiana, através das moedas existentes durante o Principado, sob o poder de Augusto (63 a.C. – 14 d.C.) até a morte de Nero (54 d.C. – 68 d.C.). Tem-se o intuito de ilustrar como, nesse período, essas mulheres conseguiram melhorar sua visibilidade publicamente, por meio de afazeres ligados à família imperial, que as levaram ao Patronato e, consequentemente, à autopropaganda, englobando a própria imagem em moedas, a qual era uma forma de se demonstrar poder. As mulheres dessa época eram restritas à vida privada e doméstica devido à existência da , que era significante e marcava as patria potesta relações de poder do pai dentro da família romana, classificando a mulher como desigual ao homem. A conquista das mulheres em ter seus nomes lembrados, através de estátuas, placas e moedas, era algo recente no final da República e início do Império, tendo sido estabelecida através do Patronato. A lembrança da pessoa, dessa forma, era algo importante e poderia repercutir por gerações na família. As moedas com representações das mulheres imperiais possibilitam não somente reconstruir cronologicamente a existência delas na história, mas também revelam que elas eram ativas na vida pública e tinham poder para obterem a cunhagem de suas imagens, demonstrando a força pública que essas mulheres conquistaram, mesmo estando sob a de seus pais, maridos ou irmãos. potesta

Sulpícia: reflexões sobre uma persona poética feminina em Roma antiga Talita Janine Juliani (Doutora - UNIFESP)

Nossa comunicação se coloca como uma tentativa de contribuir para o debate acerca da poetisa romana Sulpícia (c. I a.C.), raro testemunho de uma voz feminina na literatura latina. Após breve seção introdutória, cujo objetivo é abordar pontos específicos do estado da questão, proporemos uma análise da persona poética que se projeta no pequeno corpus de Sulpícia considerando sobretudo dois poemas, a saber, aqueles que abrem os dois ciclos de composições a ela relacionados, números 3.8 e 3.13 do Corpus . Conforme tentaremos argumentar, as interessantes relações que se desenham entre os dois Tibullianum poemas sugerem que a figura que aparece descrita em 3.8 pode ser entendida como uma antecipação da persona que fala em 3.13, um retrato por meio do qual, portanto, se traçariam algumas diretrizes de leitura da representação autoral de Sulpícia. Valendo-nos de abordagem intertextual e de leitura metapoética dos textos selecionados, concluímos que a representação de uma persona poética feminina em Roma Antiga parece também se construir a partir de elementos da tradição literária, e dentro dos limites do gênero que está se exercitando - nesse caso, a elegia amorosa romana.

68 O modelo ideal e o modelo não-ideal: algumas formas de perceber a mulher romana Patricia Lucas Ferreira (Mestranda - UFRJ)

A sociedade romana antiga refletia o modo de agir e pensar dos homens, transformando em prioridade as suas vontades. As mulheres, inferiorizadas, não possuíam grandes privilégios na maioria das situações e, ainda assim, mesmo entre elas havia tratamento desigual. Os romanos tinham em mente um padrão ideal de mulher, as chamadas matronas, que seguiam algumas regras morais, gozando de poucas prerrogativas; aquela que fugisse desse padrão não era bem vista e ficava ainda mais à margem da sociedade. O presente trabalho, ainda em fase inicial, destina-se a desvendar esses diferentes tratamentos dispensados à mulher pela sociedade e pelo direito romano durante o Império de Cláudio. Serão úteis para nosso estudo algumas legislações romanas, como a , que ordenava a Lex Iulia de maritandis ordinibus et Papia Poppaea contração de matrimônios, e a , que punia a mulher e o amante em caso Lex Iulia de adulteriis coercendis de infidelidade ou de estupro, bem como textos de Tácito e Suetônio, além dos trabalhos de Duby e Perrot (1993) e Freisenbruch (2014), que nos ilustram acerca do comportamento da mulher romana à época estudada.

Lucrécia: a representação da figura feminina em Tito Lívio e Clarice Lispector Elaine Cristina Prado dos Santos (Doutora - Universidade Presbiteriana Mackenzie/ USP)

A conquista do espaço feminino, segundo reflexões de Zinani (2006: 25), acontecerá na medida em que a mulher assumir seu discurso e realizar uma arte e uma crítica centradas na figura feminina, adquirindo voz e visibilidade a subverter o silêncio milenar a que sempre foi submetida. A partir desta afirmação, este trabalho tem por objeto fazer um estudo a partir da lenda romana a respeito da violação de Lucrécia, retratada na obra da antiguidade: ( ), de Tito Lívio, com a intenção de História de Roma Ab Urbe Condita procurar estabelecer relações históricas, míticas e temáticas entre as figuras femininas: Lucrécia, como um mito do ideal de mulher virtuosa e honrada, e a personagem feminina, Lucrécia Neves, em Cidade , de Clarice Lispector. Esta comunicação ter por alicerce as leituras de Mircea Eliade, Joseph Sitiada Campbell, Sant'Anna e Simone de Beauvoir.

Sessão de Comunicação 24

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1033 (ex-1402)

Odisseu encantador dos feácios: a performance estratégica das aventuras na "Odisseia" Rafael de Almeida Semêdo (Mestre - UFRJ)

Nesta comunicação, analiso as estratégias de Odisseu ao narrar suas aventuras diante dos feácios dos cantos 9 a 12 da . Investigo como sua performance parece arquitetada para agradar sua plateia e Odisseia convencê-la a conduzi-lo de volta para casa. Argumento que o herói, como bom orador, narra os eventos de seu passado de maneira conveniente a seus objetivos prementes, adequando o relato de suas experiências ao gosto de sua plateia e às suas intenções imediatas. Assim, com uma “história agradável e proveitosa” ( ), o protagonista logra não apenas encantar seus anfitriões, meilíkhion kai kerdaléon mûthos mas também os induz a auxiliá-lo em seu retorno.

69 O navio de Argos, a memória e tradição dos rituais marítimos na fundação de território em Apolônio de Rodes Alair Figueiredo Duarte (Doutor - UERJ)

Segundo a lenda do navio de Argos, Athená inspirou a construção do barco e teria aconselhado Jasão a levar o carpinteiro que construiu a embarcação em sua viagem na busca pelo Velocino de Ouro. No regresso a Corinto, esse carpinteiro deveria construir uma excelente nau para o herói Argonauta e este teria que oferecê-la aos deuses em um santuário. Muito aquém de um ritual para a vitória em uma batalha ou completar o ciclo de uma longa jornada, percebemos que a relação envolvendo homens, cavalos e ofertar o que se tem de melhor aos deuses, possibilita identificar memórias de grupos ao fundarem territórios.

Hesíodo e os heróis Juarez Carlos de Oliveira Pinto (Mestrando - USP)

Ao pensarmos na figura dos heróis no contexto da poesia hexamétrica, é comum que lembremos dos épicos homéricos, isto é, a e a e sobretudo de Aquiles e Odisseu. No entanto, embora de Ilíada Odisseia um modo não tão episódico quanto nos poemas homéricos, a figura dos heróis está disseminada na poesia hesiódica, seja na , seja em , mas sobretudo no fragmentário Teogonia Trabalhos e Dias Catálogo das . A partir, então, da análise das ocorrências do termo e de outros contextos em que Mulheres hērōs esperaríamos que ele ocorresse, procuro delinear na presente comunicação uma perspectiva acerca de como a figura do herói é configurada e apresentada no supérstite da poesia hesiódica. corpus

QUARTA-FEIRA, DIA 04/09: 15:30 ÀS 17:00

Sessão de Comunicação 25

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

A "Antígona" de Sófocles e o teatro de Luiz Riaza Nayra Mikie Dias Kikuchi (Mestranda - UNIFESP)

Esta comunicação objetiva apresentar o estudo da recepção da tragédia sofocleana , na peça Antígona (1982), do espanhol Luis Riaza. Encenada em 441 a.C., a tragédia de Sófocles narra a Antígona... ¡cerda! desobediência da protagonista Antígona, filha de Jocasta e Édipo, ao decreto de seu tio e rei, Creonte, que proíbe o sepultamento dos que investiram contra Tebas, dentre os quais se incluía seu irmão, Polinices. A narrativa de Sófocles motivou inúmeras releituras no decorrer dos séculos, sobretudo, em contextos de ebulição política, como a Revolução Francesa e as 1ª e 2ª Guerras Mundiais, de igual forma, ora para legitimar o governo tirânico, ora para denunciar a opressão vivida na Ditadura Franquista, a heroína sofocleana foi objeto de diferentes recriações dentro da literatura espanhola. Já na Espanha dos anos 80, Antígona, que na luta antifascista significou a resistência de centenas de republicanos, tem sua imagem corrompida, em outras palavras, passa a ser desmistificada diante da crise ideológica vivida na transição política; Riaza e sua Antígona são parte desse contexto. Usando técnicas e tendências das principais vanguardas europeias, dentro de um projeto poético experimental, o dramaturgo espanhol cria uma interessante atualização do texto clássico, ao mesmo tempo em que estabelece diálogo com Antígonas

70 espanholas anteriores. Dessa forma, para esta apresentação pretende-se observar, a partir de diferentes aspectos, as semelhanças e diferenças que fizeram da obra moderna uma paródia da fonte clássica.

Tradução e recepção na dramaturgia uruguaia contemporânea: Clitemnestra e Jocasta em cena Maria Fernanda Gárbero De Aragão (Pós-Doutoranda - UFMG)

Nesta comunicação, abordarei as traduções que fiz de duas peças teatrais ( [2002] e Jocasta, uma tragédia [2012]), escritas originalmente em espanhol, pela dramaturga uruguaia Clitemnestra, falso monólogo grego Mariana Percovich. Tanto em uma quanto em outra, Percovich recria as personagens por meio de uma voz crítica e disposta a refazer a trajetória de ambas, quando encenadas e ouvidas na contemporaneidade. Ao falarem de si, Clitemnestra e Jocasta constroem relatos que trazem consigo demandas de gênero, atualizando questões e discutindo episódios que vemos em Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Os monólogos confirmam um projeto de voz-escuta que encontramos nestes e em outros textos da dramaturga, pois são as memórias destas mulheres que iluminam o palco e reinventam a mãe-esposa de Édipo e a assassina de Agamêmnon, ora representadas como a amante dilacerada pelo reconhecimento, e a mulher que não aceita a morte da filha e questiona a ideia de vitória na guerra.

Amor e danação, desejo e liberdade: o mito de Medeia por Jocy de Oliveira Francisca Luciana Sousa da Silva (Doutoranda - UFMG)

Propomos, nesta comunicação, discutir a instância poética de um drama incansavelmente revisitado. Um mito lido e traduzido como símbolo de resistência resiliência, de um lado; um discurso pautado em ∕ crises e aporias de caráter cíclico, do outro. Costurando mito e discurso, uma música que atravessa diferentes tempos e espaços. Em (2005-2007), Jocy de Oliveira parte do mito de Kseni – a Estrangeira Medeia para falar de amor e de perda, suas conquistas e seus efeitos colaterais, desejo e liberdade. Do fragmento à nova composição, ela trata de questões, à época da montagem, bastante urgentes e que seguem em pauta. São elas: a guerra, o terrorismo, os deslocamentos forçados, a exploração da terra, a violência com e a violação do outro. A multiartista lança luz à condição de estrangeira da personagem Medeia tomando como referência o mito e suas relações com o mundo contemporâneo. Em cena, a palavra dá lugar ao gesto, que, por sua vez, faz ecoar outros tantos estranhamentos: deslocamento, exílio, expatriação, exclusão. Trata-se de uma das nove óperas da artista que abordam a figura feminina e seus valores, um resgate do mito de Medeia sob um ângulo político da mulher desterrada, cuja potência poética reside na tensão verbo-corpo-imagem atravessada pela música. E se ela não tivesse chorado, partido, feito o que fez por aquele homem? É o tema de um dos monólogos da vídeo-ópera analisada: . O aparato metodológico exercitado envolve teoria da tradução e da performance, Who cares if she cries? considerando, entre outros conceitos, o de resiliência.

"Alceste" de Eurípides pelas lentes do Barão de Paranapiacaba Fernando Brandão dos Santos (Doutor - UNESP)

A presente proposta de comunicação tem como foco a tradução de de Eurípides publicada em Alceste 1908 pelo Barão de Paranapiacaca, poeta, jornalista, advogado, tradutor, professor e político carioca, cujo nome civil é João Cardoso de Meneses e Souza (1827-1915). Trata-se da primeira tradução brasileira da

71 primeira peça supérstite de Eurípides, apresentada ao leitor como “tragédia em 5 actos/versão poética portugueza”. Pretendo examinar, então, quais são as bases teóricas que sustentaram a tradução do Barão.

Sessão de Comunicação 26

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2039b (ex-1409)

A ordem das palavras na história da tradução da poesia latina para a língua portuguesa Willamy Fernandes Gonçalves (Mestrando - USP)

O tradutor Paulo Henriques Britto (2006, p. 56) definindo a tradução de poesia, considera que “o máximo que se pode exigir de um poema traduzido é que ele capte algumas das características reconhecidas como importantes do poema original, e que seja lido como um poema na língua-meta”. Nesse espírito, tradutores brasileiros têm procurado reproduzir um dos aspectos mais importante na diferenciação entre poesia e prosa, o metro. De fato, abundam os experimentos métricos que buscam reproduzir o efeito dos metros greco-latinos em língua portuguesa. Por outro lado, a língua latina, graças ao sistema de casos, possui uma grande liberdade na ordenação das palavras e é de se esperar que essa liberdade tenha sido explorada por seus poetas para a criação de efeitos poéticos: haveria algum "característica reconhecida como importante" da poesia latina relacionada à ordem das palavras? Lateiner (1990), Dainotti (2015) analisam a presença da sintaxe mimética (uma forma de iconicidade pela ordem das palavras) em Ovídio e Virgílio: é possível traduzir esses efeito em português, uma língua com ordem das palavras muito mais presa do que o latim?

A noção de equivalência em tradução: contribuições da linguística estrutural Beatriz Bueno Machado Rodrigues Torres (Mestranda - UNESP)

Essa comunicação apresentará discussões proporcionadas por um trabalho de pesquisa de mestrado que busca abordar a questão da tradução de textos clássicos latinos, especialmente da literatura latina clássica, a partir dos conhecimentos fornecidos pela teoria da linguagem – da linguística saussuriana, e seu desenvolvimento por Hjelmslev, à Semiótica de Greimas. Valendo-se desse instrumental teórico, é possível compreender a língua dos antigos romanos como língua materna e o texto latino como objeto de significação, isto é, como uma semiótica. As noções estruturais de língua, texto, semiótica e, sobretudo, a noção de valor podem se mostrar bastante pertinentes para pensar o processo de tradução entre diferentes línguas em que se propõe a busca por um equivalente. Vale ressaltar que o termo equivalência em tradução, apesar de largamente discutido, ainda é muitas vezes tomado como sinônimo de “igualdade”. Nesse sentido, a pesquisa a ser apresentada nessa comunicação pretende demonstrar que compreender equivalência à luz da noção saussuriana de valor permite desfazer essa confusão com a ideia de igualdade e pode ser uma reflexão interessante para aqueles que se dedicam à atividade tradutória.

Traduzir o hexâmetro: apontamentos a partir do poema "Da natureza" de Parmênides Italo Vieira Lima (Mestrando - UFC)

Esta comunicação tem por objetivo apresentar uma pesquisa sobre a tradução do poema filosófico de Parmênides de Eleia, . Trata-se de um texto filosófica – filosofia pré-socrática –, no entanto, Da natureza

72 entextualizado numa forma poética arcaica grega, comum a Homero, por exemplo: o verso hexâmetro. Nesse sentido, busca-se aqui explicitar a estrutura geral do hexâmetro, primeiramente; em seguida, apresentar algumas das características do hexâmetro parmenídico, e alfim, refletir sobre as possibilidades de traduzir o poema em investigação: como traduzir um poema que possui uma métrica, na língua de partida, divergente da língua de chegada? Para tal, parte-se aqui dos apontamentos de Haroldo de Campos para sua transcriação da de Homero e de outros textos desse tradutor (mas não se Ilíada limitando a ele) com vistas a verter para o português brasileiro o poema filosófico , de Da natureza Parmênides. Para essa tradução o que se procura ressaltar é a sonoridade da língua-fonte na operação tradutora, visando recriar tal sonoridade na língua-meta.

A Écloga I de Calpúrnio Sículo: uma proposta de tradução Daniel Falkemback Ribeiro (Doutorando - UFPR)

Diante da pouca atenção dada no Brasil à poesia bucólica latina além de Virgílio, propomos a execução de uma tradução poética dos sete poemas que compõe a obra de Tito Calpúrnio Sículo. Em nossa comunicação, apresentaremos apenas a Écloga I, traduzida com base na concepção de emulação rítmica de Guilherme Gontijo Flores e Rodrigo Tadeu Gonçalves (2014; 2017). O nosso enfoque será a prática da tradução como recriação, reescrita, recepção e, inclusive, retradução, pois o poeta já foi vertido em prosa para nossa língua, em 1996, pelo português João Beato. Baseamo-nos, principalmente, na visão de tradução como criação e crítica de Haroldo de Campos (1962), vislumbrando também considerações sobre o ritmo de Henri Meschonnic (1982; 1999). Relacionada ao texto, também será exposta nossa reflexão em desenvolvimento acerca do fazer tradutório e dos usos do hexâmetro como metro e discurso pelo poeta romano. Poderemos, dessa forma, rever Calpúrnio Sículo em um novo contexto, em diálogo tanto com a tradição literária em que se inseriu quanto com o nosso repertório como leitores lusófonos.

Sessão de Comunicação 27

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

O estatuto epistemológico das leis no "Político" de Platão Frederico Krepe da Silva (Mestrando - UFJF)

Platão se ocupou de uma série de temas em sua vasta obra filosófica, desde a ontologia até a ética e a filosofia política. Dentro de suas formulações filosóficas, pouco escreveu acerca da natureza e filosofia das leis, embora tenha escrito bastante sobre política. Um dos diálogos onde a questão das leis emerge com mais destaque é o , obra da fase tardia de Platão que tem como tema principal a busca pela Político definição precisa do verdadeiro governante. Dentre as discussões presentes no diálogo, uma de importante apreensão é a que diz respeito ao papel que deve ser dado para a leis nas cidades. As leis são tratadas no diálogo como cópias imperfeitas de um modelo de governabilidade ideal que é empreendido pelo verdadeiro político. Este deve buscar a verdadeira ciência do governo a partir de uma investigação que passe pelo conhecimento de certas realidades inteligíveis, enquanto que as leis devem espelhar esse governante para produzir justiça e equilíbrio. Tais concepções demonstram o esboço de um certo estatuto epistemológico das leis, o que buscamos elucidar no presente trabalho, tentando estabelecer relações

73 importantes entre as concepções epistemológicas e políticas de Platão com a forma com as leis se apresentam no diálogo para que possamos oferecer um entendimento adequado ao tema.

O lugar de Zeus no "Crítias" de Platão Matheus Oliveira Damião (Doutorando - UFRJ)

No final do diálogo , Platão nos apresenta a justiça de Zeus sendo aplicada aos habitantes de Crítias Atlântida. Zeus é capaz de ver o estado daqueles homens, já que, da morada eterna dos deuses, no centro do universo, ele vê tudo o que participa da geração. Ao perceber-se da desordem, Zeus aplica a justiça, se colocando como quem governa segundo o . Essa conclusão do diálogo realça a importância, nómos manifesta ao longo dos diálogos - , do ato de visualizar a ordem e de sua relação com o Timeu Crítias e o . Dessa forma, o objetivo deste trabalho é discutir algumas características dos tratados kósmos nómos e manifestas na figura de Zeus, presente no encerramento do último diálogo. Timeu Crítias

O que é um critério? Gislene Vale dos Santos (Doutora - UFBA)

Pensar em critério é pensar no estabelecimento ou reconhecimento de um ponto firme a partir do qual se possa tomar uma decisão. Ao menos, sucintamente, essa é uma das concepções de critério que aparece tanto no pensamento de Parmênides como no de Platão. Desde essa compreensão sumária pretende-se, a partir dos textos destes pensadores, entender como é possível refletir acerca de critérios que fundamentem uma verdade para o discurso. Em outras palavras, a pesquisa será desenvolvida com um passo específico do de Parmênides (DK28B7) e alguns trechos d' e do de Platão, na tentativa de Poema A República Timeu levantar a questão acerca do que seja um critério e dos elementos possibilitadores do espírito crítico, tão em desuso na 'emergência' política de nosso tempo.

A reprodução humana segundo Aristóteles e Galeno Laila Lua Pissinati (Mestranda - UFES)

O objetivo dessa comunicação é levantar os principais conceitos acerca do processo de reprodução humana presente nos escritos de Aristóteles e Galeno, com ênfase na função e participação dos corpos masculinos e femininos no processo. Aristóteles e Galeno tornaram-se verdadeiras autoridades nos assuntos ligados aos corpos até o século XVIII. Todo bom tratado médico da posteridade fazia referência a pelo menos um desses autores. A teoria humoral de Hipócrates, reelaborada por Galeno, bem como a filosofia natural de Aristóteles serviram de base para explicar o funcionamento dos corpos humanos durante todo o medievo e grande parte da modernidade. Os desdobramentos dessas e de outras noções sustentaram também as especulações acerca da reprodução humana. É muito conhecida a constante aristotélica que reduz a mulher ao papel de receptáculo em que o homem depositaria a sua semente, enquanto Galeno, nesse sentido, ficou conhecido por sua concepção de sexo único. Estes e outros postulados apareceram nesta comunicação.

Sessão de Comunicação 28

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex-1415)

74

O diálogo de Dante Alighieri em "A divina comédia" com Virgílio em "Eneida" Izabella Maddaleno (Doutora - UFJF)

A proposta deste trabalho é comparar a obra do escritor italiano Dante Alighieri com o A divina comédia texto clássico de Virgílio, . Neste processo comparativo, procuraremos nos deter especificamente Eneida para a construção do Inferno, representada por Virgílio. Lembremos que o Inferno virgiliano está dividido em sete partes distintas: a) o lugar das crianças mortas / recém-nascidas; b) o dos inocentes condenados injustamente; c) o dos suicidas; d) o das vítimas do amor; e) o dos guerreiros; f) o do Tártaro; g) os Campos Elísios. Vale ponderar que quanto à temática da vida após a morte, de um certo modo, sempre esteve presente em todas as civilizações. Neste sentido, Virgílio nos oferece uma descrição detalhada sobre Inferno. É fato que Dante Alighieri dialogou com a obra latina, utilizando-se, através do processo intertextual de elementos e aspectos do imaginário clássico virgiliano. Buscaremos estabelecer ainda comparações entre os personagens Eneias e Dante que peregrinaram no reino dos Mortos. Assim, esse trabalho inscreve-se na linha de pesquisa de literatura comparada. Entre os teóricos que usaremos para análise destaca-se principalmente Erich Auerbach.

A visita de Fiacchi a Esopo Jeannie Bressan Annibolete de Paiva (Mestranda - UFRJ)

Esta comunicação apresenta parte dos resultados da pesquisa sobre as cem fábulas de Luigi Fiachi, autor florentino do final do século XVIII. Pretende-se examinar a produção poética do autor tendo em vista como elabora suas fábulas -- e como ele amplia os limites definitórios do gênero. Fiacchi, que recebeu o epíteto de "il Clasio", mescla em suas fábulas "esópicas" a emulação de outros gêneros da Antiguidade, num exercício de erudição ao gosto tanto das rodas literárias das Academias nas quais o autor se empenhava em imiscuir-se (Fiacchi era membro da Accademia della Crusca) quanto da estética árcade.

"Asterix", recepção dos clássicos e a construção do imaginário social francês Lucas Ferreira Vieira (Mestrando - UNIRIO)

A presente comunicação visa analisar o uso da Bande Dessinée, , roteirizada por René Goscinny e Asterix desenhada por Albert Uderzo, como uma forma de recepção dos clássicos com o desígnio de resgatar práticas sociais e culturais como elementos a compor a construção de um imaginário social francês. Como recorte temporal para este trabalho foi escolhido de 1959 a 1968, tendo em vista que o corpus documental e iconográfico selecionado para análise tem relação com a situação deste momento. Como documental e iconográfico foram selecionadas as seguintes histórias: (publicado de corpus Asterix o gaulês 29 de outubro 1959 a 14 de julho de 1960), (publicada de 11 agosto de 1960 a Asterix e a Foice de Ouro 23 de março de 1961), (publicado de 22 de março 1962 a 10 de janeiro 1963), Asterix Gladiador Asterix (publicado de 10 de novembro de 1966 a 6 de abril de 1967) e (publicado de Legionário O escudo Averno 15 de junho de 1967 a 16 novembro de 1967). A questão teórica da comunicação é composta pela Recepção dos Clássicos a partir de Lorna Hardwick, o conceito de Imaginário Social de Bronislaw Baczko, o conceito de Comunidades Imaginadas de Benedict Anderson e o conceito de Paradigma Indiciário de Carlo Ginzburg. Também será utilizado o teórico dos quadrinhos Thierry Groensteen. A

75 parte metodológica da comunicação é pautada no livro, , do historiador Peter Burke e Testemunha Ocular no trabalho da semiologista Martine Joly.

Sessão de Comunicação 29

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2044 (ex-1413)

A recepção da História Antiga na literatura de cordel nordestina: um estudo dos Cordéis de Desafio (1900-1950) Airan dos Santos Borges de Oliveira (Doutora - UFRN)

Desde o século XIX os estudos sobre o Cordel no Brasil apontam para uma origem lusitana, mas sabemos que a Literatura de Cordel na forma atual é um gênero criado no Brasil, por brasileiros e no Nordeste, sobretudo no Sertão paraibano. Nos primeiros folhetos, os cordelistas apontavam para um Sertão inóspito, mas carregado de imagens idílicas, de heroísmos, de personagens que fugiam das normas estabelecidas por uma desejada sociedade moderna. No universo criado pelos poetas, personagens e espaços da Antiguidade são acessados para integrar as narrativas. A cultura clássica que nos é apresentada pelos olhos e pelas mãos dos poetas cordelistas, aparece como um patrimônio compartilhado e que inspira ou, dito de outro modo, é um conjunto de saberes que tem uma vivência e um sentido próprio para o poeta: é o lugar da tradição, que tem um ar de presença contínua, que avança pelas gerações, guardada pela lembrança mais íntima e afetiva. Em meio à diversidade tipológica que define a Literatura de Cordel, no presente trabalho, apresentarei o estudo, em andamento, dos Cordéis de Desafio, isto é, cordéis cuja estrutura básica do texto consiste em um embate, uma disputa entre dois poetas com o objetivo de provar qual é o mais sábio. Nesta ocasião, iniciarei as análises a partir das seguintes questões: como os elementos da Antiguidade são acessados/interpretados/apropriados na construção narrativa dos cordéis de desafio? Qual é a função da História Antiga na construção do texto cordeliano?

A via triumphalis: locus da memória triunfal Ivan Grecco de Vasconcelos (Mestrando - USP)

Dentre os elementos constituintes da prática do triunfo, celebração da vitória bélica da romanidade, aquele mais característico é a procissão militar que atravessa as ruas de Roma do Campo de Marte ao Capitolino. O cortejo de soldados, cativos e butim conduzido pelo general vitorioso simultaneamente imita as celebrações passadas e configura a prática para os comandantes futuros. A cada celebração, porém, registros manubiais são acrescidos à paisagem, funcionando como âncoras de uma memória triunfal para uma posteridade. Esta comunicação visa apresentar de que maneira o espaço, o material e a memória se encontram imbricados e mutualmente determinantes através do exame da rota percorrida pelos em diferentes momentos. triumphatores

Modelos teóricos para o estudo da religião grega antiga: da religião da pólis à religião antiga vivida Felipe Perissato (Doutorando - MAE-USP)

Nas últimas duas décadas do séc. XX, a emergência de um paradigma estruturalista marcou os estudos sobre a religião grega antiga. A Religião da , como então foi intitulada, buscava interpretar os cultos Pólis

76 antigos como parte integrante da entidade política-institucional maior do Mundo Grego: a . No Pólis entanto, o chamado das Humanidades impulsionou novas metodologias, tecnologias e Spatial Turn perspectivas de análise, o que teve um impacto bastante positivo nos estudos sobre o Mediterrâneo Antigo. Assim, questões como mobilidade, conectividade, desterritorialização, fluxos e redes de interação se tornaram centrais nas teses publicadas a partir dos anos 2000, os quais vêm favorecendo a elaboração de modelos interpretativos capazes de considerar a dinâmica e diversidade das manifestações religiosas. Portanto, esta apresentação procura analisar os estudos sobre religião grega antiga, do enfoque aos rituais protagonizado pelos trabalhos de Walter Burkert (1986; 1991) e interpretações amplas como a Religião da de Christiane Sourvinou-Inwood (1990; 2000) e Robert Parker (2005) às recentes revisões críticas Pólis e interpretações decorrentes do , como são os casos do estudo da religião antiga por meio das Spatial Turn redes (social networks) proposto por Esther Eidinow (2011) e da Religião Antiga Vivida proposta por Jörg Rüpke (2019) e outros pesquisadores do Centro Max Weber de Erfurt (2015). Nosso objetivo é destacar os principais estudos, indicando a importância primordial da Arqueologia em articular as diferentes abordagens e, por fim, propor uma reflexão interdisciplinar que se insira em um contexto global de narrativa histórica.

Exílio clerical e condições de comunicação na África vândala: o caso de Fulgêncio de Ruspe (468 – 533) Giovan do Nascimento (Doutorando - USP)

O objetivo da presente comunicação consiste em compreender as condições concretas que o exílio estruturou para a comunicação dos clérigos nicenos da África vândala. Para isso, a comunicação irá se concentrar no caso do bispo Fulgêncio de Ruspe (468 – 533), exilado da África para a Sardenha pelo rei vândalo Trasamundo por desacatar o seu impedimento a novas ordenações episcopais na África. A justificativa de se concentrar no caso de Fulgêncio é porque ele se trata do caso de clérigos exilados mais bem documentado na África vândala, com um corpus constituído por cartas, tratados e uma biografia que torna possível rastrearmos a evolução de sua comunicação antes, durante e depois do exílio. Todavia, para analisar as particularidades estruturais desse caso, ele será comparado com outros casos menos documentados de clérigos mencionados na [ História da Perseguição Vândala na África Historia persecutionis ] de Victor de Vita. A comunicação concluirá que Fulgêncio gozou de uma série de Vandalorum Africae condições geopolíticas e socioeconômicas favoráveis ao reforço de suas alianças com aristocratas e clérigos de dentro e de fora da África durante o exílio, bem como à disseminação de suas ideias em Cartago, na Península Itálica e no Oriente.

QUINTA-FEIRA, DIA 05/09: 9:30 ÀS 11:00

Sessão de Comunicação 30

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2039b (ex-1409)

Clássicos e a Internet: apropriações do mundo greco-romano on-line Lorena Pantaleão da Silva (Doutoranda - UFPR); Ingrid Cristini Kroich Frandji (Doutoranda - UFPR)

A presença de representações e apropriações da cultura clássica no Brasil não é um fenômeno recente. Desde o período imperial, podemos observar assimilações do mundo greco-romano, seja na presença da

77 coleção Pompeiana no Museu Nacional, na arquitetura neoclássica em espaços como a antiga sede do governo federal, o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Neste mesmo sentido, são múltiplas as referências desde as citações em artigos da revista do IHGB até a utilização de referências ao mundo antigo em movimentos identitários locais, conforme apontam as pesquisas recentes sobre o Paranismo, realizadas por Renata Garraffoni. Com a internet estas apropriações passam a ocorrer também no ambiente virtual. Desta forma, a análise dos usos do passado clássico realizadas por grupos políticos e propagada por meios digitais tem sido objeto de estudo por parte de acadêmicos como Donna Zuckerberg e Curtis Dozier. Inspiradas por este tipo de abordagem e tendo em mente o histórico de apropriações do mundo clássico no Brasil, pretendemos expor algumas considerações sobre materiais coletados na internet, dentre os quais e ensaios que fazem uso de referências ao mundo antigo para defender argumentos políticos e memes econômicos contemporâneos.

Atualização do Dicionário Digital Grego-Português: o ambiente de desenvolvimento Rúbens Antônio Rodrigues (Graduado - UNESP)

Já apresentado no XXI Congresso da SBEC em 2017, o se mostrou Dicionário Digital Greco-Português uma ferramenta de trabalho para estudantes de Grego, pois permite acesso rápido dinâmico e interativo à seus verbetes. Vem sendo atualizado constantemente, tanto as interfaces de consulta e gerência quanto a estrutura da base de dados, a fim de oferecer melhor desempenho nas consultas. A presente comunicação dá detalhes técnicos do ambiente de desenvolvimento e também o modelo de trabalho adotado; relata sobre problemas encontrados e como foram solucionados; e por fim fala sobre perspectivas para versões futuras. (FAPESP proc. 2017/02161-2)

Atualização do Dicionário Digital Grego-Português: uma integração de saberes Anise Abreu Gonçalves D Orangé Ferreira (Doutora - UNESP); Rúbens Antônio Rodrigues (Graduado - UNESP)

No XXI Congresso da SBEC em 2017 apresentamos, dentro de uma mesa coordenada, a primeira versão para web do . Nessa mesa, apresentamos nossas motivações, revisitamos Dicionário Digital Grego-Português os recursos digitais bilíngues existentes para grego-português, comentamos nossas decisões sobre o ponto de partida, mostramos a linha do tempo das etapas que culminaram na primeira versão, descrevemos os procedimentos da digitalização e anotação do corpus, do etiquetador automático, do buscador e da interface de busca. Na atual fase de desenvolvimento do dicionário, em sendo um projeto contínuo de acesso aberto, a presente comunicação que inclui as participações da pesquisadora associada M. Celeste C. Dezotti da área de grego e linguística e de Rúbens A. Rodrigues, da área da computação, visa a apresentar as suas inovações ocorridas desde 2018. Serão apresentados relatos sobre decisões e métodos, problemas encontrados, procedimentos e recursos adotados, na tecnologia, conteúdos e na forma, tanto para a produção como para a consulta da versão atualizada já publicizada e da nova versão em vias de se tornar pública. (FAPESP proc. 17/02161-2) (CNPq proc. 432895/2018-3)

Dicionário Digital Ilustrado Latino-Português: parâmetros iniciais Giovanna Longo (Doutora - UNESP)

78 Mesmo com o crescente avanço na criação e desenvolvimento de ferramentas tecnológicas para facilitar o acesso à informação na área de humanidades, pesquisadores da área de Estudos Clássicos no Brasil ainda se veem obrigados a recorrer a recursos em língua estrangeira para agilizar e aprimorar suas pesquisas. Dentre todos os instrumentos necessários para o trabalho com fontes textuais em língua latina, o dicionário bilíngue é aquele do qual jamais será possível prescindir. Nesta comunicação serão apresentadas as discussões iniciais de uma proposta de elaboração de verbetes para um dicionário-piloto digital ilustrado com base em um córpus de textos latinos autênticos de diferentes gêneros e estilos, valendo-se do instrumental teórico e metodológico fornecido pela Linguística de córpus, pela Lexicologia e pela Lexicografia, bem como dos estudos e técnicas desenvolvidos nos últimos anos pelas Humanidades Digitais.

Sessão de Comunicação 31

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1033 (ex-1402)

Diana e Actéon: Ovídio em três tempos Carol Martins da Rocha (Doutora - UFJF)

Essa comunicação tratará da recepção do episódio de Diana e Actéon, um dos mitos narrados por Ovídio no terceiro livro das (v. 137-252). Para isso, escolhemos refletir primeiramente sobre o Metamorfoses modo como a narrativa ovidiana foi recebida na pintura renascentista. Elegemos então duas das obras de um dos principais representantes da escola veneziana no Renascimento o pintor italiano Ticiano Vecellio (c. 1473/1490-1576). Para observar elementos da poesia de Ovídio que podem ter sido privilegiados pelo pintor, centraremos nossa análise nos quadros “Diana e Atteone” (1556 e 1559) e “La morte di Atteone” (1579-1576), que fazem parte da série de pinturas intitulada “Poesie”, inspirada na obra do poeta augustano e dedicada a Filipe II da Espanha (1527-1598). Ensejando refletir sobre a permanência dos elementos ovidianos em tempos mais atuais, trataremos ainda do vídeo intitulado “Metamorphosis: Titian 2012”, parte de uma experiência multiartística, baseada em histórias de mudança representadas por Ticiano. A exibição “Metamorphosis: Titian 2012”, que incluiu entre outras atividades a reprodução de tal vídeo, foi realizada, entre 11 de julho e 23 de setembro de 2012, pelo museu The National Gallery, que hoje abriga as mencionadas obras do pintor.

Desejo, liberdade e censura nas "Metamorfoses" de Ovídio Manuel Rolph de Viveiros Cabeceiras (Doutor - UFF)

Roma, a cidade dos amores, assim era pra Ovídio, a maior cosmópolis da antiguidade, cuja pax estendia- se por todo o Mediterrâneo e além. Atraía então para si gente a mais diversa em costumes, valores e aspirações, suscitando o despertar de novos modos de sentir entre os seus habitantes e desafiando os mais atentos a dar resposta à revolução que do privado transbordava cada vez mais para o público. O exame de duas dessas respostas é o que se propõe aqui: a poética, de Ovídio e da liberdade, de um lado e do outro a política, de Augusto e da censura, tendo ao centro aquele que fora concebido para ser o épico de um novo mundo e do povo que o forjara: . As Metamorfoses

79 Figuratividade poética no mito de Aristeu Beatriz Scatena Bertini (Mestranda - UNESP)

Este projeto de pesquisa apresenta a proposta de desenvolver uma análise do texto latino, a partir dos conhecimentos teóricos fornecidos pela Linguística, pela Poética e pela Semiótica Literária, focalizando principalmente os aspectos da figuratividade da expressão. Para a leitura do texto, que integra o IV Canto das de Virgílio, poeta romano do período clássico, busca-se perceber os efeitos de sentido, Geórgicas através da linguagem, que é a responsável pela expressão desses efeitos. O resultado é um discurso metalinguístico, em que se pode constatar a expressividade poética decorrente, em grande parte, dos recursos figurativos empregados no texto. Para tanto, foi feita uma tradução de estudo do corpus selecionado, acompanhada de notas de cultura (mitologia, história, geografia, filosofia etc.), necessárias para uma maior compreensão do texto.

Sessão de Comunicação 32

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

Lamento ritual e forma trágica em "As Troianas", de Eurípides Joseane Mara Prezotto (Pós-doutoranda - UFC)

Tragediógrafos como Eurípides teriam ‘emprestado’ de suas compositoras originais - mulheres efetivamente engajadas em rituais de lamentação, bem como do contexto tradicional de performance oral, elementos do gênero de lamento fúnebre, integrando-o a sua poesia dramática no contexto do espetáculo ritualizado. Com o intuito de argumentar a favor dessa colocação, analisaremos o lamento presente em As : vv. 1287-1352 (êxodo: coro de troianas e Hécuba). Pretende-se discutir suas características Troianas estruturais e performativas em comparação com outros lamentos trágicos considerados como uma cena típica da tragédia. Tais elementos serão confrontados a uma compreensão da função do lamento fúnebre na sociedade grega clássica, com foco no papel das mulheres, sendo a questão do gênero um fator de tensão constantemente mobilizado pelo drama trágico. Abordamos, portanto, um gênero de poesia popular oral, relacionado sobretudo às funções sociais, religiosas e criativas das mulheres na antiguidade, incorporado pelos poetas no que se transformará em um dos gêneros literários mais importantes da história cultural do ocidente.

“Tiestes" de Sêneca: crise moral e política José Eduardo dos Santos Lohner (Doutor - USP)

Em Roma, o mito dos Pelópidas tornou-se imagem emblemática das crises internas surgidas a partir do século II a.C. e agravadas na época imperial após a morte de Augusto. O de Sêneca é Tiestes atestadamente a última de uma série de versões dramáticas latinas desse mito, iniciada pelo poeta Ênio. Datando provavelmente do início dos anos 60 d.C., essa peça dá relevo a ações e a imagens que refletem a crise política e moral instalada na corte em decorrência da conduta tirânica de Nero, sobretudo depois do afastamento de seu conselheiro Sêneca. O descomedimento na luta pelo poder e nas ações com vistas à destruição de adversários, aspecto central retratado no conflito entre os irmãos Atreu e Tiestes, é um fato diretamente relacionável à realidade política sob Nero. Sêneca analisa essa questão pelo enfoque

80 filosófico-moral, fundamentado no estoicismo romano, de modo que os conflitos da ação central são mostrados como efeito da sujeição a condicionamentos passionais e são contrapostos à perspectiva de sua superação e de afirmação da liberdade interior. Sendo inviável na época imperial qualquer forma explícita de oposição, a peça indiretamente exprime oposição ideológica ao quadro político e aos valores dominantes na corte de Nero, não só pelo significado associado ao mito dos pelópidas na tradição dramática latina, mas também pela crítica moral. Para ilustrar esse conteúdo, serão destacadas algumas passagens do poema representativas dos fatos aqui mencionados.

Um estudo comparativo das odes corais em "Héracles" e "Hercules Furens" Ana Paula Mendes Carvalho (Mestranda - UFJF)

Este estudo tem como objetivo a análise do coro nas tragédias , de Eurípides, e , Héracles Hercules Furens de Sêneca, em uma perspectiva comparativa. O coro, formado por um grupo coletivo e anônimo, utiliza as virtudes do herói como conteúdo para colocá-las em questão segundo as normas da . Assim sendo, pólis esta pesquisa explora as possíveis semelhanças, assim como as diferenças encontradas nas odes corais que possam tornar as peças singulares.

A misoginia de Eurípides a partir de sua tradição biográfica Camila de Moura Silva (Mestranda - UFRJ)

Sabe-se que Eurípides foi o poeta clássico a granjear maior prestígio nos séculos subsequentes à sua morte. Com isso, as do poeta que chegaram aos nossos dias são muito mais vultosas em termos de Vidas anedotas e cenas dramáticas que as de seus predecessores. Um fato, no entanto, nos chama a atenção. Em todas as cinco principais fontes de que dispomos (a Γένος καὶ βίος Εὐριπίδου, dita ; a Genos Vita latina de Aulo Gélio; a sinopse biográfica de Thomas Magister; a ; e o verbete do Vida fragmentária de Sátiro ), seus biógrafos ou compiladores aludem à misoginia do poeta. Esta comunicação apresentará Suda sucintamente a questão, buscando entender em que medida a Comédia Antiga influencia o surgimento dessa tradição, bem como um ponto de inflexão entre a recepção da tragédia euripidiana na Antiguidade e em nosso século.

Sessão de Comunicação 33

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex-1415)

µίµησις A da alma: um estudo do excerto 38C-39C do "Filebo" de Platão Simone de Oliveira Gonçalves Bondarczuk (Doutora - UFRJ)

O excerto 38b-39c do refere-se ao primeiro processo de formação das opiniões e discursos na Filebo alma, por meio de imagens, como forma de conhecimento, sejam eles verdadeiros ou falsos. Tal processo está circunscrito no âmbito da e, portanto, o seu grau de clareza deve corresponder igualmente ao eikasía grau de verdade do objeto ( . 511e), sintetizado em imagens. Assim sendo, Sócrates precisa demonstrar Rep qual a natureza dessa operação da alma, para bem situá-la em termos de reconhecimento tanto do falso quanto do verdadeiro. Para tanto, o filósofo estabelecerá uma imagem-síntese bastante complexa de um demiurgo interno à alma, identificando-o, em seguida, com um pintor ( ) e escrevente zográphos

81 ( ) que grafa discursos na alma. O presente trabalho se propõe a fazer uma tentativa de grammatistés interpretação deste processo mimético intra anímico. A partir dessas considerações sobre a alma multifacetada, serão levantadas as implicações filosóficas decorrentes dessa imagem-síntese para a teoria geral do conhecimento em Platão.

A 'psykhagogía' como movimento no "Fedro" de Platão Bárbara de Abreu Freitas (Mestranda - UFMG)

O termo (ψυχαγογία), é uma transposição platônica, ou seja, uma transposição psykhagogía terminológica, pois a era entendido na Grécia como uma prática de invocar as almas dos psykhagogía mortos, como prática de conjuros e encantamentos (ἐπῳδή). No diálogo , Platão busca formular Fedro uma técnica discursiva, chamando por ele de retórica e apresentada como . Evidentemente psykhagogía que a retórica investigada no diálogo não é a mesma que ele havia recusado no diálogo , pois em Górgias sua formulação a retórica psicagógica, ou, a retórica filosófica, poderia ser uma (τέχνη). Herdeiro tékhne da tradição gorgiana, que considerava a palavra (λόγος) como mágica (µαγεία, γοητεία) em seu caráter encantatório (ἐπῳδή) e em sua dualidade remédio\ veneno (φάρµακον), Platão buscará mostrar o poder que a palavra (λόγου δύναµις) pode exercer sobre o ouvinte se usada corretamente. Para tanto o conhecimento dos tipos certos de discursos e os tipos de alma (gêneros da alma) se torna necessário, pois o discurso apenas será realmente persuasivo se tocar a de seu interlocutor. Para haver a condução psykhé filosófica é preciso que o interlocutor esteja aberto para se deixar conduzir, internamente, por meio do movimento da alma em busca ao conhecimento, e exteriormente, por meio do movimento dialético. Dessa forma, a presente comunicação pretende, por meio da noção de , analisar o movimento psykhagogía ideal proposto por Platão, necessário para ter a verdadeira persuasão e, assim, a aproximação ao conhecimento verdadeiro.

Qual a liberdade do artista plástico de Magnésia? A questão da beleza na cidade idealizada nas "Leis" de Platão Lethicia Ouro de Almeida Marques de Oliveira (Doutora - Colégio Pedro II)

No último diálogo escrito por Platão, , encontramos a idealização do que seria a segunda melhor As Leis cidade possível, mais próxima de uma realização histórica do que a cidade criada em . A República Diferentemente do que ocorre neste diálogo, nas a cidade tem um nome, Magnésia, e, nela, há maior Leis liberdade no uso das artes para a educação. De fato, nesta cidade a educação se realiza através do coro que, por sua vez, imita posturas e harmonias expressas através das pinturas e esculturas, localizadas nos templos da cidade. No Livro II do diálogo, o personagem Ateniense elogia a prática egípcia, no que diz respeito às artes plásticas, de manter os mesmos cânones de representação, evitando inovações. Minha comunicação refletirá sobre esse elogio: as razões pelas quais Platão prefere a manutenção de padrões artísticos e o que representa esta prescrição dadas as diversas obras plásticas produzidas em Magnésia.

(νοητὸν ζῷον) Ser vivo inteligível no "Timeu" de Platão George Matias de Almeida Júnior (Doutorando - UFMG)

Nesta comunicação será apresentado o problema do “ser vivo inteligível” (νοητὸν ζῷον) do Timeu (39e1), também dito ὅ ἔστιν ζῷον (39e8) e παντελής ζῷον (32b2), postulado como o modelo que o

82 Demiurgo utiliza para produzir o mundo (sendo este um “ser vivo visível” (ζῷον ὁρατόν; 92c7)). Serão discutidas rapidamente algumas interpretações contemporâneas sobre o significado do singular conceito de ser vivo inteligível, a partir da demonstração de como a definição do foi absorvida pela Timeu interpretação da teoria dos dois mundos atribuída a Platão, o que fez com que se aviltasse a sua significação mais intrigante, a consideração filosófica sobre a vitalidade do paradigma. É sugerido que o ser vivo inteligível pode ser interpretado de outra maneira, emergindo como um problema em outra base, uma vez afastado do dogma dos dois mundos, e de sua fácil e enganosa solução, que postula o νοητὸν ζῷον como uma Forma inteligível ou um sistema de Formas inteligíveis. Normalmente lida a partir de interpretações dualistas analíticas, algumas das discussões sobre o ser vivo inteligível na literatura secundária não esclarecem a peculiaridade da noção de νοητὸν ζῷον, possuem incoerências internas, levam a absurdidades e, sobretudo, se chocam contra a letra do texto do . Timeu

Sessão de Comunicação 34

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

A arquitetura dos livros de Marcial: efeitos da disposição interna dos epigramas Robson Tadeu Cesila (Doutor - USP)

O estudo da estrutura e composição de um livro de poesia – o exame de quais poemas o compõem e que posição ocupam em sua arquitetura interna – pode revelar sentidos nem sempre percebidos quando a interpretação se limita a considerar apenas os poemas individualmente. No caso da obra de Marcial, cujos volumes de epigramas se revelam cuidadosamente estruturados, esse aspecto também não pode ser ignorado. Para exemplificá-lo, descreveremos, nesta comunicação, como estão arranjados os epigramas no interior do Livro VIII do poeta. Tentaremos demonstrar ainda que tal disposição visa, sobretudo, a contribuir com o objetivo maior do poeta, que é a construção do louvor do dedicatário e figura dominante desse livro: o imperador Domiciano.

A relação entre a métrica e a temática nos epigramas neolatinos: alguns exemplos em Jean Visagier Ricardo da Cunha Lima (Doutor - USP)

Durante o Renascimento europeu, a poesia epigramática escrita em latim pelos humanistas teve uma ampla difusão. Com efeito, o gênero epigramático foi o preferido daquela época para uma produção literária que imitava de perto os modelos da Antiguidade clássica. Um dos autores do período foi o francês Jean Visagier, latinizado Ioannis Vulteius, que publicou suas obras entre 1536 e 1538. Assim como ocorre com seus colegas, podemos ver em seus poemas uma relação entre o metro escolhido para a composição e o assunto do epigrama. Esta comunicação pretende apresentar o contexto intelectual do Humanismo quinhentista francês na região de Lyon e esclarecer alguns princípios desse tipo de elaboração poética, exemplificando-os com algumas peças de Visagier nas quais se observa uma variação métrica palpável.

O orador ideal, de Cícero, e o pregador ideal, de Vieira: uma análise comparativa Jéssica Natália Souza Santos (Mestranda - UEA)

83 Cícero (106-43 a.C.), como um dos principais nomes da Retórica antiga, dedicou-se a estudar perfil e papel do orador ideal, especialmente, na sua obra (46 a.C.), trazendo o retrato do orador ideal, na Orator primeira parte da obra, e, na segunda, um importante estudo para a teoria da prosa e do ritmo. Muitos séculos depois de Cícero, especificamente no século XVII, viveu o jesuíta Antônio Vieira (1608-1697), tido pela maior parte dos críticos literários como um dos grandes pregadores da história, em referência a seus sermões artisticamente elaborados. Um dos sermões mais conhecidos de Vieira é o Sermão da (1653), que tem como objetivo apresentar suas ideias sobre a arte da pregação, enumerando as Sexagésima condições ideais que o pregador deve apresentar para que seu sermão atinja a conversão. Nota-se que tanto Cícero, na Antiguidade Clássica, quanto Vieira, no período Moderno, preocuparam-se com a questão do estilo do orador/pregador, então, esta comunicação pretende apresentar as principais características e condições que deveriam ter o orador, de Cícero, e o pregador de Vieira, para que tivessem sucesso no discurso/sermão alcançando a persuasão/conversão do auditório. Para a análise, foram usadas as obras dos autores (traduzidas/adaptadas) e comentários de estudiosos do assunto. Como resultados, serão apresentados pontos em comum entre o “modelo ideal” de orador/pregador para os autores estudados, que nos fazem concluir que o tratado de Cícero foi importante para a Retórica antiga, mas, também, foi aceito na modernidade, visto que Vieira faz uso de conceitos ciceronianos na construção da pregação ideal.

A Construção Retórica da Alteridade em "Otelo", de William Shakespeare Murilo Cavalcante Alves (Doutor - UFAL)

A comunicação aborda a tragédia de William Shakespeare, , sob o ponto de vista da alteridade, e Otelo não do ciúme, como vem sendo tradicionalmente analisada pela fortuna crítica do dramaturgo inglês. Nessa perspectiva, problematiza o papel relevante, mas usualmente ignorado, do epíteto “o mouro de Veneza”, por vezes adicionado ao título da tragédia. Por sua vez, utiliza alguns conceitos da retórica para caracterizar essa construção.

SEXTA-FEIRA, DIA 06/09: 9:30 ÀS 11:00

Sessão de Comunicação 35

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1033 (ex-1402)

O louvor ao ordinário nas cartas laudatórias de Frontão Fabrizia Nicoli Dias (Mestranda - UFES)

De origem equestre, Marco Cornélio Frontão foi um orador, tutor e magistrado romano que viveu durante o século 2 d.C. sob a dinastia antonina. Apesar da existência de registros que atestam a produção de discursos de sua autoria, apenas uma coleção de cartas fragmentada do autor sobreviveu até os dias atuais. A maioria das missivas que compõem a correspondência é destinada a membros imperiais, inclusive as cartas em que matérias de caráter pouco honroso como o fumo, o pó e a negligência são elogiadas. Interessa-nos, neste estudo, investigar como tais epístolas laudatórias se vinculam à tradição de encômios conhecidos sob a designação de paradoxais, cuja especificidade consiste no louvor de elementos que, a princípio, não o mereceriam por serem triviais ou, ainda, indignos.

84

Gênero declamatório e representação da meretriz em Pseudo-Quintiliano Beatriz Rezende Lara Pinton (Mestranda - UFJF)

Nesta comunicação temos como objetivo apresentar nosso projeto de dissertação e suas linhas gerais. Tomamos como o caso denominado Poção de Ódio (14-15), inserido nas , de corpus Declamações Maiores Pseudo-Quintiliano, escritas entre os séculos I e IV. O caso se desdobra em duas declamações: a primeira de acusação, em que um jovem pobre alega ter sido vítima de envenenamento por uma poção de ódio ministrada por uma prostituta; e a segunda de defesa, na qual um orador fala em nome da prostituta acusada. Tais declamações funcionavam como exercícios de gênero judicial, aplicados nas escolas de retórica romanas, com o intuito de aprimorar as habilidades oratórias dos alunos. A partir da tradução do do latim para o português, buscamos investigar a construção de personagens e cenários corpus declamatórios em paralelo com as influências da comédia romana, com ênfase na representação da , evidenciando como a posição social da personagem e a prática da magia são articuladas na meretrix bona argumentação da acusação e da defesa. Exploramos também o contexto de popularização da declamação enquanto gênero retórico romano, apontando os possíveis propósitos didáticos e os debates morais e sociais que se insinuam nos discursos das personagens das declamações.

Os cegos nas declamações latinas Fernando Miranda Fiorese Furtado (Mestrando - USP)

Nos quatro textos que compõem o das declamações latinas, encontramos 13 ocorrências de corpus personagens cegas, estando 4 destas entre as 19 de Pseudo-Quintiliano, exemplos Declamações Maiores mais completos de declamação dos que chegaram a nós. O objetivo do presente trabalho é apresentar e discutir como se afiguram as personagens cegas no conjunto dessas 13 declamações.

Tibério e Caio Graco nos discursos ciceronianos (63 a.C – 53 a.C) Jonathan Cruz Moreira (Mestre - UNIFESP)

O objetivo desta comunicação consiste em avaliar a relação entre a memória sobre os irmãos Tibério e Caio Graco (Tribunos da Plebe em 131 a.C e 121 a.C respectivamente) entre os grupos subalternos de Roma em meados do século I a.C., e a importância da opinião popular para os grupos dirigentes da república. Para isso, nos concentraremos na análise de discursos do orador Marco Túlio Cícero, importante figura política do período e cônsul em 63 a.C. Analisaremos como o orador referia-se aos irmãos Graco em discursos ao povo, cuja audiência era diversa, e o tratamento das mesmas figuras históricas quando os discursos eram diante do senado, por tanto, entre iguais. Para isso, nos concentraremos nos textos, , , I-IV e , I-III. Pro Rabirio Pro Milone In Catilinam Pro Sestio De Lege Agraria Buscaremos com isso demonstrar que, mesmo meio século após a morte de Tibério e Caio Graco, a referência e a crítica aos seus nomes por parte do orador diante da plebe era feita com cuidado, por vezes até mesmo com reverência, sugerindo que os tribunos e suas ações ainda possuíam forte favor popular; o que não se repetia quando os discursos eram proferidos entre senadores, quando os irmãos Graco eram tratados de forma negativa.

85 Sessão de Comunicação 36

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1040 (ex-1412)

A paródia no "Satyricon", de Petrônio, e sua transposição em língua portuguesa via tradução Lívia Mendes Pereira (Doutoranda - Unicamp)

Neste trabalho apresentaremos as características da utilização da paródia realizada por Petrônio no . A partir disso, avaliaremos como estas paródias foram transpostas por tradutores brasileiros em Satyricon língua portuguesa e de que forma essas traduções se relacionam com a produção do próprio autor latino. Muitos estudiosos debruçaram-se sobre a temática da paródia presente na obra petroniana, entre eles: Sullivan, (1968); Gian B. Conte, The Satyricon of Petronius: A Literary Study The hidden author: an (1997); Paulo Sérgio Ferreira, interpretation of Petronius’ Satyricon Os elementos paródicos no Satyricon de (2000); Marcos Carmignani, Petrónio e o seu significado El Satyricon de Petronio: Tradicion literária e (2011). Apresentaremos algumas concepções destes autores e destacaremos como a intertextualidade técnica da paródia pode nos revelar a leitura que Petrônio efetuou de seus cânones e contemporâneos da literatura latina. Segundo Carmignani (2011, p.249), na obra petroniana há uma clara mostra de que seu autor sente uma profunda nostalgia pelos anos dourados da literatura latina, porém está permanentemente desafiando essa tradição literária. Destacaremos, portanto, alguns exemplos de trechos em que Petrônio faz referência às obras épicas e líricas de tradição latina. Pretendemos, assim, realçar as alusões indicadas por Petrônio e analisar como elas foram reelaboradas nas traduções para a língua portuguesa, com ênfase na tradução realizada por Paulo Leminski, sempre em comparação com outras traduções.

A tradução da carta-prefácio da "Utopia" Ana Cláudia Romano Ribeiro (Doutora - UNIFESP)

Já se mostrou o quanto as quatro primeiras edições da são mediadas pelos paratextos Utopia (McCutcheon, 2015) e como estes paratextos criam uma “dinâmica de leitura muito particular, muito mais paradoxal, dialógica e até mesmo utópica” relacionada a uma “concepção dialógica do livro e do homem” (Vallée, 2013, p. 2). Certamente o paratexto mais publicado nas edições do libellus aureus , brasileiras ou estrangeiras, a carta-prefácio que Thomas More endereça a Pieter Gillis anuncia e moreano precede o grande diálogo dos livros I e II. Eles trazem, respectivamente, uma discussão sobre o funcionamento das instituições políticas, sociais e econômicas da Inglaterra quinhentista, soluções para alguns de seus problemas específicos e, em seguida e em contraponto, a descrição da paradoxal república utopiana feita por Rafael Hitlodeu, o marinheiro-filósofo português de igualmente paradoxal ethos (Sylvester, 1968). Esta carta-prefácio também pode ser lida como um guia poético e hermenêutico da , uma participando de uma estética do engano honesto que se funda no paradoxo Utopia ars poetica (McCutcheon, 1983). Sem escapar ao modelo retórico epistolar amplamente difundido à sua época, nela encontramos suas partes principais: , , , e . Sua linguagem é salutatio exordium narratio petitio conclusio semelhante à dos livros I e II, sendo notáveis as figuras de som, repetições e paralelismos, lítotes, enargueia, metáforas, ironia, humor e tom satírico, em um discurso variado. Apresento aqui uma análise geral da carta-prefácio, bem como trechos da minha tradução que buscam reproduzir aspectos característicos da linguagem poética expressa na . Utopia

86 As traduções das obras amorosas ovidianas no Império do Brasil: relevância e embates Lourdes Madalena Gazarini Conde Feitosa (Doutora - USC/Unicamp)

Após a independência do Brasil, em particular após a ascensão do imperador Pedro II ao trono, houve um intenso empenho em constituir um Estado e uma identidade nacional. Em uma terra com grande população escrava e um desafiador amálgama étnico e cultural e de diferenças sociais, procurou-se estabelecer o conceito de cidadania tendo como modelo o neoclassismo, transfigurado em elementos literários, arquitetônicos e artísticos. Os estudos Clássicos passaram a ser amplamente incentivados não só nas dependências do colégio Pedro II, criado em 1838 na cidade do Rio de Janeiro, como também por pesquisadores independentes, conteúdos os quais o imperador também era um entusiasta. Esse apoio dado pelo monarca, caracterizado por uma espécie de mecenato, foi fundamental para o desenvolvimento do conhecimento clássico no Brasil, consolidado na tradução para o português de obras da Antiguidade, na compra de artefatos do período e na inserção de conteúdos referentes à Antiguidade no currículo escolar. Dentre as obras traduzidas estão e , do romano Públio Ovídio Nasão, versadas Os Amores A Arte de Amar para o português pelos irmãos lusitanos Antônio e José Feliciano de Castilho. O propósito desta apresentação é o de analisar aspectos que envolvem a versão destas obras e suas publicações em um cenário político e social que, ao mesmo tempo em que valorizava o vínculo com elementos neoclássicos, precisava resolver os atritos identificados entre os códigos morais vigentes na época e os elementos “eróticos” contidos nas obras ovidianas. (Pesquisa realizada em parceria com o historiador Hélio Gustavo da Silva Andrade.)

ΠΕΡΙ ΤΟΥ Ω ΣΤΟΙΧΕΙΟΥ: Sobre a relevância do estudo de um tratado alquímico para os dias de hoje – uma perspectiva psicológica Rubia Santiago Menezes Bento Gonzaga (Mestranda - UFC)

A ideia de traduzir o tratado alquímico ΠΕΡΙ ΤΟΥ Ω ΣΤΟΙΧΕΙΟΥ, um documento escrito em grego, entre os séculos III e IV d.C., pelo renomado alquimista gnóstico grego-egípcio Zósimo de Panópolis, traz consigo uma pergunta do tipo “Por quê?” ou, talvez melhor, “Para quê?”. Ao investigar, percebe-se logo estar diante de um documento cujas imagens remetem aos mitos dos povos grego, egípcio e médio- orientais e seus argumentos, referenciando os sábios dessas tradições, passam pela etimologia, pelas ideias gnósticas, pela filosofia platônica, evidenciando na obra o sincretismo característico daquele tempo e lugar. Do ponto de vista da pervivência histórica dos clássicos, traz um conhecimento forjado sob os auspícios da língua e da cultura gregas, sincreticamente situado, partícipe do fio histórico que fundou a cultura ocidental. A tradução, outrossim, é relevante para a pesquisa em Psicologia Analítica, de C. G. Jung, pois o estudo da alquimia confirmou hipóteses e fundamentou alguns de seus conceitos mais autênticos. Pela flagrante carência de tradução da obra de Zósimo de Panópolis para a língua portuguesa, essa tradução tem por horizonte enriquecer a bibliografia do autor nessa língua; fomentar pesquisa acerca da alquimia nas diversas áreas afins e fomentar pesquisa no âmbito da Psicologia Analítica propriamente dita.

87 Sessão de Comunicação 37

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2039b (ex-1409)

O ‘topos' da exortação militar nas "Dionisíacas" de Nono de Panopolis Paulo Henrique Oliveira de Lima (Doutorando - (USP)

A exortação militar, também conhecida como exortação de batalha ou exortação bélica, é um tipo de discurso utilizado em campo de batalha para encorajar um aliado, um exército ou a si mesmo a lutar. Diferente da persuasão, em que o orador deve incumbir uma ideia ou convencer o interlocutor a fazer alguma coisa que ele não faria por vontade própria, a exortação é um tipo de elocução que busca encorajar alguém a fazer algo que já iria fazer. No caso da exortação bélica, um comandante geralmente estimula seu soldado ou sua tropa a lutar. A guerra é um tema recorrente principalmente na poesia épica. Todavia, como a temática bélica é um dos principais assuntos da historiografia antiga, o discurso de um general ou comandante a seus soldados antes da batalha é atestado nas obras de quase todos os historiadores. Independente do gênero literário, da extensão e do local onde são apresentadas no texto, as exortações apresentam similaridades entre elas, seja em Homero, Tucídides, Políbio ou Nono de Panópolis. Dessa forma, a presente apresentação tem como objetivo apresentar os principais , os topoi lugares-comuns, as fontes argumentativas do gênero discursivo exortativo utilizados por Nono de Panópolis nas . Dionisíacas

Escravidão e liberdade na obra de São Gregório de Nissa Bruno Salviano Gripp (Doutor - UFF)

São Gregório de Nissa é considerado pela maioria dos estudiosos da escravidão no mundo antigo como o autor que, em toda a Antiguidade, teve o posicionamento mais crítico diante dessa instituição. Com efeito, ele dedicou dois textos, a e a , à Quarta Homilia sobre o Eclesiastes Quinta Homilia sobre o Pai Nosso crítica a essa instituição. Neles, ele argumenta que o homem, por ser o administrador de toda a criação e imagem de Deus, não pode ser vendido e tem uma "graça autossuficiente" (αὐτεξούσιος χάρις) que o faz independente de qualquer outro ser humano.

Uma perspectiva distinta dos discursos apologéticos através do "Otávio", de Minúcio Félix (Séc II - III EC) Marcela da Penha Coco (Mestranda - UFES)

As pesquisas voltadas à produção apologética dos primeiros séculos, de nossa era denotam o interesse centralizado dos pesquisadores em documentações oriundas das produções de homens que, desempenharam funções de expressiva importância dentro da igreja que se delineava. Exemplos dessa tradição podem ser percebidos, no grande número de pesquisas que, versam sobre a história do cristianismo, a partir de obras como: o , de Tertuliano, as , de Justino o Mártir, Apologético Apologias , de Eusébio de Cesaréria, , de Agostinho de Hipona. Todos esses História Eclesiástica A Doutrina Cristã autores, respeitadas as condições relativas aos seus contextos e seus distanciamentos temporais, têm em

88 comum seu comprometimento com a afirmação e reafirmação da igreja a qual estavam vinculados. Em perspectiva distinta, Minúcio Félix (séc II - III EC) No , embora não ocupasse nenhuma posição Otávio na estrutura da igreja cristã produziu uma apologia ao cristianismo, buscando transpor as barreiras elevadas, por meio dos discursos dicotômicos acerca das distintas práticas religiosas do período. Portanto, é nosso interesse, nessa comunicação pontuar alguns elementos da obra , e a cenografia requerida Otávio por Minúcio Félix na produção de seu diálogo apologético.

A recepção do modo de vida vegetariano segundo fontes platônicas na obra de Clemente de Alexandria Pedro Ribeiro Martins (Doutor - UFRJ)

O fenômeno do vegetarianismo na antiguidade, termo usado para referir-se a uma abstinência voluntária de animais fundamentada em uma argumentação ética, religiosa ou de visão de mundo, proporcionou um autêntico debate tanto entre defensores deste estilo de vida, como Porfírio de Tiro e Plutarco, quanto entre os que desenvolveram argumentos contra a abstinência de carne, como representantes dos estoicos, epicuristas, peripatéticos e até mesmo Heráclides Pôntico, contemporâneo de Platão e membro de sua Academia ( 1.4-26). Com base na leitura da obra (DA) de Porfírio pode-se De Abstinentia De Abstinentia afirmar que a discussão sobre o consumo de carne perpassa temas decisivos não só para os filósofos platônicos, como também para os primeiros teólogos da igreja. Ademais, esta obra contém argumentações em torno do modo de vida vegetariano de filósofos como Xenócrates, Heráclides Pôntico e Teofrasto. Por sua vez, o sexto livro dos de Clemente de Alexandria contém igualmente uma Stromateis análise dos costumes sacrificiais pagãos. Neste contexto, são discutidos os tratados Sobre a alimentação de Xenócrates e de Polemon (Stromateis. 7.6.32.9). Nesta animal Sobre a vida segundo a Natureza comunicação, pretendo traçar a importância da discussão sobre a abstinência de carne entre os membros da escola platônica acima citados para o estabelecimento das práticas ascéticas presentes na obra de Clemente de Alexandria.

Sessão de Comunicação 38

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1037 (ex-1410)

O Homem é uma mistura de prazer e saber Weriquison Simer Curbani (Doutorando - UFES)

O texto se propõe a discutir e aprofundar a compreensão entre prazer e saber a partir da análise de como isso se articula no interior do indivíduo no diálogo , de Platão. Uma vez que, em termos platônicos, Filebo o humano é constituído de corpo e psiquê, há que se entender como se dá essa mistura e os efeitos internos dessa relação no percurso/processo dialético da obra. Além disso, compreender a gênese dessa mistura, que é o humano, ante a natureza do Uno.

Razão prática e desejo na ética de Aristóteles Dionatan Acosta Tissot (Doutorando - USP)

89 Na fortuna crítica concernente à psicologia moral aristotélica, duas interpretações sobre a interação entre razão e desejo na realização das ações são muito bem atestadas. De um lado, faculta-se à razão ( / dianoia ) o papel instrumental de meramente deliberar sobre os meios apropriados à realização de um fim, nous que é posto pelo desejo ( ); de outro, defende-se que a razão possui o papel de deliberar também orexis sobre os fins, pois todo fim pode ser considerado um meio para atingir um fim ulterior. Segundo os que defendem a segunda posição, apenas não deliberaríamos sobre o fim último, que é a felicidade ( ). Neste trabalho, a partir de uma análise dos livros II, III e VI da e do livro eudaimonia Ethica Nicomachea III do , pretendo (i) mostrar que a primeira linha de interpretação repousa em um equívoco e a De Anima segunda é apenas parcialmente verdadeira e (ii) defender que a razão realiza uma tarefa relevante na determinação dos fins - seja na própria produção de um desejo, que iniciará o processo racional da deliberação ( ); seja na modificação do conteúdo desiderativo que dá origem ao processo bouleusis deliberativo, a partir de uma melhor compreensão (oriunda da investigação sobre os meios) daquilo que comporta desejar um determinado fim.

Unidade e multiplicidade em Platão e no Platonismo Renato Matoso R. G. Brandão (Doutor - PUC-Rio)

O conceito de unidade exerce um papel central na teoria das ideias de Platão. Afinal, está justamente na unidade das ideias a razão de sua perfeição, indestrutibilidade e imutabilidade. Essa noção, contudo, entra em conflito direto com outra característica fundamental das ideias, a saber: o fato de que essas entidades são causas das entidades do mundo sensível. Como pode algo radicalmente uno ser a causa de uma multiplicidade de entidades sensíveis? Em minha apresentação, abordarei os paradoxos ligados à noção de unidade radical das ideias platônicas tanto na obra do próprio Platão, quanto na obra de outros platonistas da Antiguidade.

Aprender com o 'phármakon': introdução a uma genealogia da ambivalência Erick Luiz Araujo de Assumpção (Doutor - UFF)

Propõe-se analisar o tratamento dado à ambivalência nos textos homéricos e platônicos. Parte-se da hipótese segundo a qual conceitos centrais desses campos textuais são meios para se lidar com a ambivalência. Chega-se a esse tema a partir do chamado “problema das drogas” e de seu ápice, a vigente “guerra às drogas”, cujas consequências negativas atingem, predominantemente, grupos humanos marcados por condições de suscetibilidade e vulneração, como a população negra. Tem-se o intuito, portanto, de jogar luz sobre a contemporaneidade desde a antiguidade, herdando perspectivas que permitam a ampliação da lente com qual se olha um problema. Ampliação que possa permitir perspectivas menos mortíferas sobre as drogas. Para tanto, a atenção será guinada, inicialmente, para o conceito de como é apresentado, em especial, na , distinguindo-o da comida floral dos lotófagos phármakon Odisseia ( , IX). Realça-se que a existência e o manejo do coloca certos problemas, no sentido Odisseia phármakon de que força o pensamento a traçar estratégias de prudência, faz com que emerjam certas práticas no lidar com a sua ambivalência própria, que é, logo se verá, compartilhada pela relação de , relação entre xenía anfitrião e hóspede. Em seguida, buscar-se-á verificar as rupturas e continuidades em relação ao termo na obra de Platão, especificamente em dois diálogos: o e o , pois neles é explicitada a Fedro Banquete ambivalência, também, de Sócrates.

90

Sessão de Comunicação 39

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 1034a (ex-1406)

A escrita historiográfica de Tácito como transmissão e prova de 'libertas' sob o Principado Danielle Chagas de Lima (Doutoranda - Unicamp)

A presente comunicação visa abordar como a narrativa de Tácito não só transmite de , exempla libertas mas como também sua própria escrita demonstra um gesto de liberdade de expressão sob o Principado. Para tanto, serão observados os retratos de algumas personagens taciteanas, sobretudo, os de Trásea Peto e de Helvídio Prisco, duas figuras de fibra que figuram nos e nas , respectivamente, e que Anais Histórias demonstraram notável ao resistirem à adulação corrente no senado imperial. Filiados ao que se constantia chamou “oposição estoica”, Trásea Peto e Helvídio Prisco se tornaram daqueles que com exempla perseverança reivindicaram a senatorial, exibindo, assim, sua . Trásea, senador à época de libertas uirtus Nero, foi considerado pelo historiador a . Dando provas de firmeza e resistência, seguiu sua uirtus ipsa carreira política oferecendo a outros exemplo de uma conduta guiada pela liberdade de posicionamento num senado em que já não havia autonomia para se deliberar de forma livre da adulação ao . princeps Tendo ele mesmo enunciado a necessidade dos naquele período, serviu de modelo e exempla constantiae inspiração a seu genro Helvídio Prisco, cuja participação no senado, durante os impérios de Galba a Vespasiano, continuou a clamar pela a, inspirando-se na memória de Trásea Peto. Tácito libertas senatori reconhece a importância da transmissão de , tema presente na biografia de Agrícola, na qual exempla reflete sobre a supressão da . Ao narrar esses , Tácito os transmite à posteridade, e, ao libertas exempla mesmo tempo, faz de sua escrita uma prova de do historiador, possível no principado de Trajano. libertas

A historiografia filosófica em Xenofonte Jorge Steimback Barbosa Junior (Doutorando - UFRJ)

Xenofonte é um dos três historiadores clássicos cujo trabalho foi preservado de forma completa. Pensado como continuação da história escrita por Tucídides, o relato xenofonteano traz uma marca específica na medida em que torna o passado recente matéria de reflexão moral segundo os padrões socráticos. A presente comunicação visa a dar conta de tais aspectos, na tensão que delineiam com a tradição e com seus contemporâneos.

Amiano Marcelino e o pensamento histórico tucidideano Pedro Benedetti (Doutorando - USP)

Esta apresentação tem como objetivo buscar as possíveis influências do pensamento histórico de Tucídides na obra de Amiano Marcelino. Na qualidade de um historiador que tenta se inserir na tradição clássica, nuançaremos no primeiro momento a imagem de Amiano como continuador de Tácito, dando ênfase em sua ligação com a historiografia grega. A partir daí, tentaremos identificar na metodologia professada por Amiano, em sua concepção de História e dos usos que podem ser feitos dela, possíveis leituras e interpretações de seu colega ateniense, atentando-nos também para o que faz de Amiano Marcelino um historiador peculiar, não apenas em seu tempo.

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Reformas morais e a 'damnatio memoriae' durante/no Principado de Domiciano em Tácito, Suetônio e Dião Cássio Milena Rosa Araújo Ogawa (Doutoranda - UFPel)

Neste trabalho serão discutidas as reformas morais empregadas durante o Principado de Domiciano a partir das fontes (Tácito), (Suetônio) e (Dião Cássio) atreladas Anais Vida de Domiciano História de Roma ao processo de , destruição de parte das representações do . Nessa perspectiva, damnatio memoriae princeps será analisada a de Domiciano e a sua negativa imagem discursiva na Antiguidade dentro da auctoritas memória coletiva, que estigmatizou o imperador, bem como promoveu uma carga – que ainda hoje podemos afirmar ser ideológica – desfavorável em sua reputação.

92 PÔSTERES

SEGUNDA À SEXTA (2 A 6 DE SETEMBRO): EXIBIÇÃO DOS PÔSTERES

QUARTA-FEIRA, 04/09, 14H ÀS 15H30: DEBATE COM OS AUTORES

Local: Corredor entre o Anfiteatro Compartilhado FALE/ICB e o 2º andar do Bloco 1.400

A Caverna de Platão nas grutas de Millôr Vinícius Antônio Ferreira Hespanhol (Graduando - UFMG)

Em e em , pretendeu-se A Caverna de Platão nas grutas de Millôr Poemeu – a superstição é imortal demonstrar o profícuo diálogo de Millôr Fernandes com a literatura clássica, a partir de coincidências entre esses textos e o diálogo platônico na , especialmente a reformulação particular de Millôr República Fernandes da Alegoria da Caverna de Platão. A relevância desse estudo consiste em um subsídio para inserir o autor na genealogia cultural de autores clássicos, e, com isso, estimular o seu estudo na academia, aprofundando os trabalhos em um autor sobre quem, até então, pairam, na maior parte, referências humorísticas. Para tanto, consideraram-se estudos teóricos e bibliográficos sobre Millôr Fernandes, tanto de outros autores quanto do presente autor. A análise pormenorizada dos textos em questão sugere que Millôr não só dialoga com a literatura ática, mas é capaz de reinterpretá-la. A Alegoria da Caverna parece ser ampliada em textos, à primeira vista, despretensiosos, por se tratar de um autor considerado apenas em seu caráter humorístico. Desse modo, torna-se possível sua inserção na genealogia literária, qualidade que pode integrar um autor contemporâneo em um potencial grupo de autores clássicos.

A comédia ática e o desejo pelo protesto transgressivo: o feminino como instrumento dessacralizante e sarcástico de crítica política João Pedro Pereira Coutinho (Graduando - UERJ)

No auge da democracia ateniense, o comediógrafo Aristófanes, pretendendo uma crítica às estruturas de poder de sua época, encenou uma de suas maiores obras: . O gênero comédia, já A Assembleia de Mulheres ultrapassando os limites do humor inconsequente, figurou, aqui, como canal claro de uma insatisfação pública, exposta através de estruturas irreverentes e audaciosas. Assim, pretendendo atingir a elite política de sua , o autor lança mão do feminino, tornando-o expressão máxima de seu sarcasmo. Ao pólis contrário do que uma leitura superficial poderia revelar, o comediógrafo não combate a desvalorização feminina de sua época, mas utiliza-a para atingir o âmago da dignidade de seus governantes. Divertindo- se com as estruturas de sua sociedade, Aristófanes dessacraliza uma das instituições mais tradicionais da Atenas clássica, isto é, a Assembleia dos cidadãos. Expressão máxima da democracia ateniense, esse espaço era indispensável para decisões que envolviam todo o corpo da cidade e dá-lo às mulheres violava a estrutura cívica vigente. A ofensa a ele seria, por isso, uma ofensa à lei regulamentadora dos direitos e deveres dos cidadãos que assentavam, sobre essas estruturas políticas, as bases da Hélade. Nossa pesquisa visa, nesse sentido, observar os ocorridos no texto supracitado, pretendendo relacioná-lo a um enérgico desejo de manifestação política, cujas reivindicações encontraram terreno fértil nas estruturas da comédia

93 ática. Como bem salientou a professora Guida Horta, quando tratou da figura do herói cômico, se nos é impossível atingir os poderosos com a política, vamos rir de tudo e esperar que isso os atinja no seu orgulho.

A construção da persona satírica de Pérsio nas sátiras I, II, III e IV Ruth dos Santos Silva (Graduanda - UFES)

O presente trabalho analisa a construção da satírica nas sátiras I, II, III e IV do poeta romano Aulo persona Pérsio Flaco. Nossa análise utiliza o conceito de a partir dos estudos de Paulo Sérgio Vasconcellos persona (2016) e Diskin Clay (1998), em que os estudiosos propõem a distinção entre a poética e o autor persona empírico frente à leitura dos textos literários que, por vezes, são tomados pelo viés autobiográfico. Além disso, utilizamos o conceito de proposto por Dominique Maingueneau, que considera que todo éthos texto escrito possui um tom que confere autoridade ao que é dito e permite ao leitor a construção da representação de quem escreve. Desse modo, percebemos que a construção da satírica de Pérsio, persona nas sátiras em questão, apresenta um conservador que se excede nos vulgarismos para criticar a éthos sociedade romana e seus padrões, contrário à literatura contemporânea e ao helenismo, avesso ao apego material e defensor dos estudos da filosofia estoica.

A construção do 'éthos' na "Farsália" de Lucano: canto I e II Thayrynne de Faria Coutinho (Graduanda - UFES)

No presente trabalho analisamos a construção do poético nos dois primeiros cantos da epopeia éthos histórica de Lucano, . Ao tentar lidar com o paradigma imposto pela , Lucano compôs uma Farsália Eneida obra fragmentada e complexa que destoa dos ideais sacramentados na obra virgiliana. Notamos, assim, a presença de um narrador que participa ativamente da própria narrativa por meio de apóstrofes, expondo suas opiniões em relação aos acontecimentos e aos personagens. Para tanto, nos valemos dos conceitos de de Maingueneau (1995; 2008), assim como a tradição retórica de Aristóteles na e éthos Retórica Quintiliano na . Entendemos que através de recursos que o legitimam como vates, o Institutio oratoria narrador de Lucano com seu teor crítico, assume sua posição ao lado dos valores republicanos e condena aqueles que rompem com essa ordem.

A materialidade do mundo dos mortos nas representações iconográficas da cerâmica ática do Período Clássico Bruno dos Santos Menegatti (Graduando - USP)

A cultura visual do mundo dos mortos (Hades) veiculada pela produção cerâmica ática (Atenas), e composta pelo fim do período arcaico e meados do período helenístico, é contemplada neste estudo pelo mapeamento iconográfico e análise dos papéis sociais a partir de um documental formado por 248 corpus objetos cerâmicos, entre vasos e fragmentos, que ramificam seu alcance narrativo e funcional por sua forma, datação e técnica de pintura. Dentre essa tipologia cerâmica, os lécitos de fundo branco se destacam pelo seu caráter exclusivamente funerário tanto no que se refere às suas funções, quanto sua composição pictórica que materializa o mundo dos mortos. Por outro lado, cenas de figuras negras e vermelhas, cujo contexto arqueológico é diverso, permanece constante uma representação mitológica épica e excepcional. Os pilares constituídos por este recorte da cultura material ateniense permite refletir sobre um imaginário latente do que percorre um caminho durante o todo o período clássico, da au-delá

94 idealização abstrata em direção ao personalismo funerário – que antecipa aspectos da cosmovisão helenística – e comungando com todos os paralelismos e intermitências de uma iconografia rica, multifacetada e não-linear.

A Presença das Musas no Ensino das Literaturas Jessica Candida Ferreira (Graduanda - UFRJ)

Este trabalho objetiva apresentar um estudo sobre metodologias participativas no ensino das Literaturas, em diálogo com a Antiguidade Clássica. A pesquisa partiu do pressuposto de que há a necessidade de se buscar recursos para além do texto literário em sala de aula, visto que somente o texto não se mostra atrativo para instigar o interesse dos alunos. O exemplo grego nos mostra que na Grécia antiga havia uma prática literária totalmente voltada em suas origens para a oralidade, em visível contraste com a sociedade moderna na qual a escrita ocupa um papel proeminente no ensino das literaturas. Sendo assim, este estudo busca tanto fundamentar epistemologicamente a importância da memória, consolidada pelas práticas poéticas orais, quanto, a partir da análise de relatos de experiência em sala de aula, propor novas abordagens para o texto literário aplicado ao ensino das Literaturas na Educação Básica. Para tanto, será utilizada a proposta de Brandão (2015), que observa como as Musas, filhas de Zeus e de Mnemósine (deusa da memória), representam toda a memória, de acordo com os seus atributos específicos, concedidos por Zeus e definidos pelos seus nomes. Também será utilizado o conceito grego de , mousiké como no contexto da poesia mélica, em que figuravam cantores, dançarinos com acompanhamento musical e uma métrica específica na composição poética. A proposta das práticas de ensino de Literaturas para além do texto tem como finalidade fazer com que os alunos experienciem e construam memórias literárias vivas e identitárias.

A 'uariatio' no mito de Eco e Narciso, nas "Metamorfoses" de Ovídio, como exercício de um poeta 'lascivus' Dreykon Fernandes Nascimento (Graduando - UFES)

Quintiliano, em diversas passagens da sua (4.1.77; 10.1.88-9; 10.1.93), categoriza Instituição oratória Ovídio e as suas obras de serem excessivamente . Diferentemente de Horácio, contudo, que exercia lascivi a crítica literária enquanto ocupava também o lugar social de poeta no principado augustano, Quintiliano a exerce em posição exclusiva de orador, em nome de uma instituição oratória sólida e voltada majoritariamente para o fórum público. Assim, não crendo ser apenas um vocábulo cujo lascivus significado é facilmente localizável num dicionário de língua latina, investigamos no presente trabalho o valor objetivamente retórico subjacente ao termo usado por Quintiliano, e se é adequado à obra lascivus ovidiana, analisando a ou mistura genérica no mito de Eco e Narciso, presente no canto 3 das uariatio . Para tal, aparelhamo-nos com estudos de Barchiesi (2006), Farrell (2009), Fedeli (2010), Metamorfoses Fonseca (2015), Feldherr (2006), Harrison (2006), Hutchinson (2013), Keith (2002), Pavlock (2009) e Rosati (2002) sobre o uso dos gêneros poéticos por Ovídio e com estudos de Feldherr (2006), Fox (2007) e Vansan (2016) sobre a relação entre retórica e literatura, a posição de Quintiliano e sob que instância de poder fala quando rotula Ovídio de . lascivus

As Literaturas Grega e Latina no Currículo Escolar Brasileiro (Colégio Pedro II, 1850-1950) Thaís Caroline Correa Galego (Graduanda - UNESP); Luiza Monteiro Garcia (Graduanda - UNESP)

95 Nesta oportunidade apresentaremos os resultados de duas pesquisas de Iniciação Científica que são complementares entre si e utilizam as mesmas fontes primárias: Thaís Galego pesquisa as obras dos autores latinos mais lidos na escola secundária brasileira entre os anos de 1850 e 1950; Luiza Garcia, a partir dos mesmos documentos (os Programas de Ensino do Colégio Pedro II) investiga os autores gregos mais lidos pelos alunos da instituição que era referência nacional naquele período. Embora incipientes, as pesquisas utilizam os referenciais da Nova História Cultural e conclui que: a) a escola adota os livros mais respeitados pelo círculo dos eruditos; b) tais leituras podem ter contribuído para a afirmação de uma identidade masculina, haja vista a valorização das guerras, combates, armas e do amor cortês.

Aspásia de Mileto: reflexões sobre uma filósofa do quinto século aEC. Milena Ribeiro da Silva (Graduanda - UnB)

Neste trabalho iremos tratar da figura histórica de Aspásia de Mileto, procurando apreciar de maneira especial a construção historiográfica de uma figura altamente polêmica. Iniciaremos fazendo uma breve apresentação de quem foi a filósofa, seguido por um estudo de passagens do diálogo platônico . Menexeno As páginas de Platão iluminam o social de Aspásia, sua relação com Péricles, sua relação com status Sócrates e, por fim, sua capacidade oratória. Autores como Plutarco, Aristófanes, Crátino, e outros serão também fontes para este estudo. Desejamos, fundamentalmente resgatar um fragmento de um mundo ainda pouco conhecido, aquele de grandes e influentes pensadoras, como Aspásia, Safo de Lesbos e Hipácia de Alexandria. Em todos os casos, trabalha-se com uma suspeita metodológica: deve ter havido outras tantas, silenciadas por causa da misoginia e da representação de gênero antiga.

"Auto dos Enfatriões": recepção do clássico "Anfitrião" de Plauto pelo poeta português Camões Letícia Machado Miranda (Graduanda - UFJF)

O presente trabalho visa fazer uma análise da peça , de Luís Vaz de Camões, uma Auto dos Enfatriões adaptação de de Plauto, em comparação com o texto original. Para isso, foi usada como base a Anfitrião conceitualização desenvolvida por Lorna Hardwick (2003) acerca dos estudos de recepção dos clássicos. Portanto, serão exploradas as semelhanças e diferenças dos textos no que concerne suas estruturas, público alvo, personagens, influências e outros aspectos, como a presença da lírica de Camões em várias passagens. Além disso, tais análises a serem feitas têm como o enfoque a questão da distinção cultural entre as sociedades das épocas em que as peças foram escritas.

"Catasterismos" de Pseudo-Eratóstenes: o surgimento das constelações Eduardo Duarte Moreira (Graduando - UFRJ)

Neste trabalho serão apresentados os primeiros resultados da pesquisa de Iniciação Científica que tem como proposta o estudo e a tradução de capítulos selecionados da obra , de Pseudo- Catasterismos Eratóstenes, nunca traduzida para a língua portuguesa. O título da obra, , indica a ação de Catasterismos transformar em estrelas seres vivos ou objetos inanimados. Trata-se de narrativas curtas a respeito das origens míticas das estrelas e das constelações, distribuídas em 48 capítulos. A obra em si, provavelmente do século I a.C., seria, em realidade, um epítome de uma obra maior do séc. III a.C., hoje perdida, cuja autoria foi atribuída pelos antigos a Eratóstenes de Cirene: matemático, geógrafo, astrônomo e bibliotecário-chefe da biblioteca de Alexandria. Os capítulos cuja tradução apresentaremos e

96 comentaremos são os correspondentes às narrativas de Pseudo-Eratóstenes sobre o Boieiro, a Ursa Maior e o Touro.

Ciniras e Mirra - O elemento catártico nas Metamorfoses de Ovídio Renata Samantha da Cruz (Graduanda - UFOP)

Este projeto de Iniciação Científica se propõe ao estudo da composição do poema "Ciniras e Mirra", do livro X das de Ovídio, em que o poeta inter-relaciona o gênero épico ao trágico, através do Metamorfoses elemento catártico de forma a guiar o emocional do leitor ou ouvinte. Para isso, será realizado um estudo da de Aristóteles ( ), poética Horaciana ( ) e outros textos, no intuito Poética Ars Poetica Epístola Ad Pisones de demonstrar de que maneira este aspecto, característico do gênero trágico, aparece no mito Ciniras e Mirra e, também em outros mitos da obra do poeta latino. Também será analisado o engenho de Ovídio ao utilizar elementos retóricos que visam à persuasão, com base na de Aristóteles ( ), Retórica Rhetoricae para se tentar compreender os recursos de que Ovídio se vale na composição das suas . Metamorfoses

Díke e hýbris em Hesíodo e Sólon Andrezza de Oliveira Santos Pequeno (Graduanda - UFRJ)

O projeto aborda conceitos chaves da poesia grega arcaica que estão implícitos nas palavras e . díke hýbris A partir disso, a abordagem foca nos poemas de Hesíodo e de Sólon, com o intuito de analisar os mencionados conceitos sob um ângulo histórico-literário e sócio-juridico. Descreve-se como essas palavras, escolhidas por, muitas vezes, aparecerem e por representarem conceitos chaves dos poetas abordados, são usadas nos devidos textos poéticos e a sua relação intertextual com base em , Teogonia Os de Hesíodo e as elegias de Sólon. Com base nas diversas traduções portuguesas, será Trabalhos e Os Dias analisado como uma mesma palavra é traduzida nos diferentes poetas, e até mesmo em um único fragmento. A pesquisa iniciou-se coletando dados da produção poética de Hesíodo e de Sólon, destacando as palavras chaves a serem utilizadas no projeto e observando o contexto em que estão inseridas. Os resultados iniciais sublinham a importância de , sobretudo em de díke Os Trabalhos e Os Dias Hesíodo, pois o número de ocorrências de tal termo é expressivo. Na tentativa de explicar o uso abundante de , começou-se a consultar literatura especifica como, por exemplo, díke The poetry of justice: de Michael Gagarin, 1992. Sendo assim, esse trabalho visa a Hesiod and the origins of Greek Law contribuir para os estudos clássicos, especificando a importância e o uso do conceito de justiça ( ) em díke relação à desmedida e à insolência ( ) em produções poéticas específicas do século VII e começo do hýbris século VI a.C.

Espaço e comunidade: um estudo de caso das transformações dos fóruns de Lépcis Magna dos séculos III ao VI Nara Francini Alves de Oliveira (Graduanda - USP)

As transformações na paisagem urbana durante a Antiguidade Tardia, como as modificações e eventual abandono dos fóruns, foram muitas vezes vistas como evidências do declínio da cidade antiga. A partir dos anos 1990, no entanto, a crítica ao conceito de decadência e o desenvolvimento de novas abordagens que davam maior ênfase à análise do espaço enquanto produção social modificou a tônica dos estudos, ao considerar que a transformação dos espaços implicava também na transformação da sociedade. É nesse sentido que o estudo dos fóruns das cidades ao longo desse período ganha significado. O objetivo

97 principal desta pesquisa foi entender em que medida as transformações nos fóruns revelavam as mudanças da comunidade durante a Antiguidade Tardia. Para isso realizamos um estudo de caso dos fóruns de Lépcis Magna utilizando os vestígios arqueológicos e as inscrições honoríficas do século III ao século V e as demais do século VI. Por meio da descrição e mapeamento das transformações físicas de cada fórum buscou-se identificar evidências de transformação em relação à natureza dos espaços. Quanto às inscrições, analisou-se os dedicantes e homenageados assim como suas caracterizações, as justificativas e os tipos de inscrições restantes no século VI para compreender a cultura epigráfica dos espaços e verificar as mudanças e continuidades na prática. Com esses dados, foram feitos mapas para o Fórum Antigo por este oferecer meios para entender o processo de mudança assim como um catálogo com todas as inscrições utilizadas, incluindo sua tradução, considerações físicas e comentários históricos e bibliográficos.

Fronteiras do Desejo: Comportamentos de uma Virgem Vestal em Roma Letícia Maria Quintella Viana (Graduanda - UFPB)

O trabalho proposto versa sobre o exercício de controvérsia 6-8 elaborado por Sêneca, o Velho, em que uma virgem vestal é acusada de incastidade por ter escrito um verso a respeito das delícias do casamento. A parte da acusação relaciona discurso e comportamento para argumentar que a sacerdotisa teria maculado o templo e se desviado de suas funções ao escrever tal verso. A parte da defesa, desvinculando o discurso do comportamento, argumenta que o talento poético da sacerdotisa não é incompatível com a vida recatada, própria de uma vestal. A fim de compreender os argumentos mobilizados por ambas as partes, buscaram-se informações contextuais a respeito da função social da vestal no mundo romano, bem como dados linguísticos acerca de algumas palavras-chave que guiaram a pesquisa, especialmente aquelas relacionadas ao desejo. Espera-se com isso identificar certos padrões quanto a expectativa que se tinha com relação às sacerdotisas, entendendo ainda quais eram os limites da liberdade da mulher neste período da história.

Guerra Catilinária e corrupção: Estudo sobre as estruturas romanas na República Bárbara Amaral Liguori (Graduanda - UFOP)

Roma, no século I a.C., viveu um momento conturbado, caracterizado pelo declínio da República e ascensão do Império. Período não somente de rupturas, mas de ampla fronteira com “momentos imperiais em meio à república e momentos republicanos em meio ao império” (Faversani, 2013), onde destaca-se a questão da corrupção moral e a incapacidade da instituição governamental em manter a população sob controle. Assim, surgem personagens que tentaram subverter essa ordem instaurada com estratégias anti- sistêmicas objetivando a transformação do Estado e da sociedade. É o caso de Lúcio Sérgio Catilina. O presente estudo se volta para esse momento de vicissitude do cenário sócio-político latino, bem como para o papel da corrupção na queda da república, como a sociedade foi afetada, e o que possibilitou o surgimento de Catilina. Outros elementos são incorporados à chave de pesquisa ao propor os romanos “lançados no luxo e nos vícios, [...] se tornando amantes de ambições desmedidas sem almejar o bem da república, mas apenas seus interesses pessoais” (Faversani, 2013). Em qual medida a estabilidade precária – catalizadora da guerra civil – era resultado da desordem das instituições públicas e dos próprios governantes, que moralmente corrompidos levavam a república à ruína? Como uma sociedade marcada por valores morais, que é acusada de corrupção, não colapsaria? Como emerge dessa instabilidade alguém

98 que romperia o sistema e recuperaria o ‘passado glorioso’ de Roma? Proponho responder tais questões, mantendo em vista a figura de Catilina e os conflitos produzidos em torno dele, enfatizando a corrupção como motor da atuação política.

Homero e "los aedas de ahora": os gregos antigos em "La Edad de Oro", de José Martí Bianca da Silva do Nascimento (Graduanda - UFRJ)

Nas páginas de , periódico mensal publicado de julho a outubro de 1889, durante seu La Edad de Oro exílio nova-iorquino, José Martí leva às crianças da América um conjunto de escritos que buscam lhes oferecer, como recreio e instrução, um conhecimento da literatura universal e dos costumes de diferentes povos. Dentre esses textos, destaca-se “La Ilíada, de Homero”, no qual a epopeia homérica é recontada canto a canto, revestida do ideal heroico e cívico martiano. Entre as narrativas dos feitos de guerra e a própria história do texto da Ilíada e sua recepção, Martí parece projetar em Homero o ideal heroico a que aspirava em sua empreitada pela independência e a construção de uma consciência identitária latino- americana. Neste trabalho, pretende-se observar como Martí apresenta os heróis homéricos e como os relaciona aos demais personagens do primeiro volume de . Os personagens dos textos La Edad de Oro “Tres héroes”, “Meñique” e “La Ilíada de Homero” figuram como modelos de heroicidade de tempos e espaços distintos, da Grécia antiga à América contemporânea de Martí, que nas palavras finais do primeiro número da revista, em “La última página”, os reúne e, em certa medida, os irmana.

Homero em português: quatro traduções da “Ilíada" Renan Paiva da Silva (Graduando - UFRJ)

Este trabalho, fruto de minha pesquisa de Iniciação Científica realizada no âmbito do Programa de Estudos em Representações da Antiguidade, tem como objetivo examinar e problematizar as traduções da para a língua portuguesa realizadas por tradutores brasileiros, a saber: a de Odorico Mendes, em Ilíada versos decassílabos, de 1874; a de Carlos Alberto Nunes, em versos núnicos, de 1945; a de Haroldo de Campos, em versos dodecassílabos, de 2002; e a de Christian Werner, em versos livres, de 2018. Primeiramente, faremos uma introdução ao universo de cada tradutor e de sua época, bem como das propostas tradutórias de cada um deles - como, por exemplo, a concisão e os latinismos de Odorico, a linguagem arcaizante de Nunes, os neologismos de Campos, a precisão conteudística de Werner. Em seguida, discutiremos trechos selecionados de cada uma das traduções, em que consideraremos as propostas de cada tradutor, o contexto histórico em que se situam e as suas diferentes opções de tradução do termo , tendo em vista que a tradução dessa palavra, cuja carga semântica não é comportada por áte nenhum vocábulo vernacular, é especialmente indicada para uma abordagem do projeto tradutório e hermenêutico de cada um dos tradutores estudados.

"Ilíada", "Odisseia" e "Eneida" - A adaptação de clássicos Grego-Romanos para crianças e jovens no Brasil Mariana Correia Jabor (Graduanda - UFRJ)

Quando Ezra Pound, em seu célebre livro (1934), nos diz que “Literatura é novidade ABC da Literatura que PERMANECE novidade”, o autor, ao concentrar a sua definição na concepção de novidade- permanência-novidade, nos propõe uma significativa reflexão em torno da compreensão da obra clássica. E se o que faz de uma obra um clássico é a sua permanência, a novidade não pode estar no âmbito da

99 forma, nem da linguagem, mas da matéria em si, que deve romper as barreiras do tempo e do espaço. Uma obra clássica se configura no âmbito do humano e questões humanas são atemporais, perpassam sociedades e atravessam idades. Considerando a importância de apresentar os clássicos a crianças e jovens, as adaptações dessas obras se configuram como um relevante método de estímulo à leitura, bem como na formação de leitores e, no âmbito do nosso objeto de pesquisa, na introdução de crianças e jovens ao universo da antiguidade clássica greco-romana. Tomando como base o repertório de publicações voltadas ao público infanto-juvenil de obras com a temática da antiguidade greco-romana, que vem sendo elaborado desde 2016, sob a coordenação da professora Katia Teonia, propomo-nos, nesse trabalho, apresentar, nesta fase da pesquisa, um levantamento das edições da , e publicadas no Ilíada Odisseia Eneida Brasil dedicadas, exclusivamente, ao público infanto-juvenil.

Introdução às raízes gregas do racismo brasileiro Adryele Maria Gomes de Oliveira Duarte (Graduanda - UFRJ)

O pôster visa expor os resultados preliminares da pesquisa de Iniciação Científica que procura examinar o lugar de Guilherme Piso - médico holandês que veio junto à Corte de Nassau para o Brasil - na construção do imaginário de brasileiro e de homens das Índias Ocidentais. Nesse prisma, Piso utiliza como inspiração de sua obra o , mais História Natural e Médica das Índias Ocidentais corpus hipocraticcum especificamente o tratado hipocrático , que, por sua vez, demonstra que as Ares, águas e lugares características de um povo são determinadas, pelo menos até certo ponto, pelo clima. O médico holandês segue essa ideia, iniciando o “Livro Primeiro” com trechos em que o tratado expõe os principais pontos que devem ser estudados para que se possa explicar os traços físicos e o caráter do indivíduo, como as estações do ano, os ventos, e a qualidade da água. Para Piso há degeneração dos homens devido ao cruzamento de raças, pois, misturando-se, perdem sua índole nativa. Algo análogo ocorre com os vegetais, ainda segundo Piso, pois, a transposição espacial também os degenera, ainda que essa degenerescência não dependa da mistura. Em ambos os casos, a degenerescência se ata a questões climáticas: nos vegetais de forma mais direta; nos homens, de forma menos direta, mediada pela mistura racial e pelo tempo cronológico, conforme a tese hipocrática do . O estudo, neste momento, está AAL voltado para a pista oferecida por Gilberto Freyre que coloca Piso em um privilegiado em tal locus contexto.

Investigando a transgeneridade na Antiguidade: o caso da antiga Mesopotâmia Luís Eduardo Ferreira Hofmeister (Graduando - UFRGS)

Segundo uma das máximas de Judith Butler e da Teoria Queer a ela atribuída, não há nenhum aspecto do gênero que seja inerente ao sexo biológico: gêneros são construções sociais sobre corpos sexuados, atribuindo-lhes determinados papéis a serem desempenhados na sociedade. Entretanto, há diversas ocasiões em que há um não-conformismo do indivíduo com o gênero a si atribuído, e é nesses casos em que ocorre o fenômeno da transgeneridade. Tal fenômeno não é exclusivo da sociedade moderna, e pode ser rastreado até o momento em que o gênero se sobrepôs ao sexo nas relações interpessoais; assim sendo, torna-se possível rastrear a presença de pessoas transgênero até na mais remota antiguidade. O presente trabalho tem como objetivo investigar a existência da transgeneridade na antiga Mesopotâmia a partir de textos escritos e imagens: seu social entre seus iguais cisgêneros, seu lugar perante os deuses. Para status

100 tal, busca apropriar-se do conceito de gênero à época e das regras de comportamento que eram atribuídas aos gêneros binários masculino e feminino, sendo, assim, possível identificar suas transgressões.

Latim Instrumental para Bibliotecários: uma proposta Marcelle Mayne Ribeiro da Silva (Graduanda - UFRJ)

Esta apresentação visa expor uma proposta de curso de latim instrumental voltado para bibliotecários. Tal proposta partiu do pressuposto de que bibliotecários, sobretudo os que lidam com obras raras de latim, não conseguem realizar uma catalogação totalmente eficaz de obras raras em latim, visto que não têm o conhecimento do idioma. Por outro lado, é interessante para um docente de latim em formação ter contato com as diferentes e específicas demandas de ensino de latim. Nesse sentido, o Curso de Línguas Aberto à Comunidade de Latim (CLAC-Latim) trouxe no período de 2019/1 a modalidade “Latim instrumental para bibliotecários”. O curso teve a duração de um semestre e abordou conhecimentos básicos de língua latina, como conceitos de declinação e casos latinos, numeração e calendário, partindo sempre de páginas de rosto em latim, retiradas principalmente do acervo de obras raras da Fundação Biblioteca Nacional.

Lésbia e a poesia neotérica de Catulo Bille Alan Oliveira da Silva (Graduando - UERJ)

Este trabalho apresenta brevemente a relação de Caio Valério Catulo com Lésbia, fonte de inspiração de sua obra neotérica, num lirismo que rompe com a tradição poética latina. Influenciado pela poesia alexandrina e, por pejorativa antonomásia de Cícero, epitetado , Catulo produziu versos poeta nouus mediante uma linguagem ora informal ( ), ora erudita ( ). Adotando formas sermo uulgaris carmina docta poéticas que estilizam as experiências individuais e ao mesmo tempo os preceitos do gênero lírico, este poeta inseriu representações de sentimento na literatura latina, de um modo que se tornou referência na arte literária ocidental.

Mapeando Imagens: mulheres na Mesopotamia Caroline Schmidt Patricio (Graduanda - UFRGS)

Partindo do projeto “Arte, história e cultura material: um estudo de selos-cilindros mesopotâmicos” em andamento no grupo LEAO (Laboratório de Estudos da Antiguidade Oriental) coordenado pela professora Katia Pozzer, a pesquisa a ser apresentada representa um recorte específico focado na questão de gênero na Mesopotâmia. Utilizando-se do método de leitura de imagem proposto por Erwin Panofsky (1939) em conjunto com uma bibliografia específica sobre o contexto sociocultural na Mesopotâmia e outras formas de análise revisionistas contemporâneas, numa tentativa de formar, como diz Bahrani, “uma rede metodológica que não apenas informa a investigação dessa cultura passada, mas também confronta a questão de como chegamos a fazer sentido do passado”, foram estudadas imagens onde o recorte está na representação da mulher. O foco principal não está somente na tentativa de esmiuçar quem são as figuras ali inscritas, mas o que elas representam e como essa representação pictórica moldou - ao mesmo tempo em que foi moldada - a mulher real existente no contexto social daqueles povo; sendo assim, nosso ponto assemelha-se ao de Bahrani pois, como a autora, queremos enxergá-las [as mulheres babilônicas] “como uma projeção de fantasias culturais, uma noção construída de

101 feminilidade específica daquela sociedade”. Dois casos em específico foram priorizados, as representações da deusa Ishtar e a emblemática figura desconhecida chamada de “mulher nua”. As imagens utilizadas no trabalho são de selos-cilindros pertencentes à Babilônia e o período corresponde desde 2000 AEC até a dinastia Cassita.

Mitologia em Quadrinhos Isadora de Souza Belli (Graduanda - UFJF)

Pretendemos demonstrar como o projeto de extensão Contos de Mitologia promove o retorno da pesquisa na área de Estudos Clássicos da UFJF para a sociedade ao apresentar a proposta do ano de 2019. Nosso trabalho tem sido realizado com turmas de 5º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Tancredo Neves. Por meio da contação de histórias e de atividades lúdicas realizadas a partir dessa contação, os estudantes se apropriam desses saberes, criando suas próprias narrativas, adaptando esse conhecimento para o contexto atual. Baseados nos mitos de criação ovidianos presentes na obra e a partir da recepção dos mitos por parte dos alunos, com conversas, reflexões em sala de Metamorfoses aula, o objetivo deste ano é a elaboração de uma história em quadrinhos. Cada uma das cinco turmas participantes terá um mito para adaptar e os alunos serão divididos de acordo com suas habilidades e preferências, conjugadas às etapas necessárias para a confecção do trabalho coletivo, como pretendemos demonstrar em nossa apresentação. Com essa proposta, além de promover a aproximação do aluno com a universidade e a antiguidade clássica através da leitura e da contação de histórias, contribuímos também para a formação docente dos participantes. A troca de saberes realizada não somente na direção do professor para o aluno, mas também do aluno para o professor em formação cria um ambiente de crescimento mútuo, de aprendizado contínuo e reconhecimento dos frutos dos trabalhos realizados, além da difusão de aspectos da literatura e da cultura romana para além do ambiente universitário.

Monstros gregos da Renascença: Representações prodigiosas do Novo Mundo Fernanda Jardim de Farias Andrade (Graduanda - UFRJ)

O trabalho visa discutir os prodígios descritos pelos viajantes europeus do século XVI das espécies e gentes que encontravam nas Américas em consonância com os paradigmas gregos. Walter Raleigh, Ambroise Paré, Jean de Léry, André Thévet, Pero Magalhães Gândavo, Hans Staden se propõem a descrever as maravilhas que descobriram nesse novo continente, e outros como Ambroise Paré, Ulisse Aldrovandi e Theodore de Bry que não tiveram um contato direto com os possíveis monstros. Essas são, por exemplo, obras que parecem utilizar as descrições com referências de autores da Antiguidade, como Heródoto, e fazem dos prodígios ou para propor um recurso de inteligibilidade de um mundo novo e inusitado ou para assegurar o mesmo sabor exótico que os antigos souberam suscitar ou, ainda, para sugerir uma identidade entre as terras distantes dos gregos e as terras distantes deles próprios.

O "fazer poético" presente nos prólogos de Terêncio e Plauto Luan Pereira dos Santos (Graduando - UERJ)

A metalinguagem esteve presente em obras literárias desde a antiguidade. O teatro latino é uma das formas artísticas em que tal prática se atualiza. Tendo isso em vista, o presente trabalho tem como objetivo refletir algumas questões relacionadas ao “fazer poético” que são expressamente evidenciadas nos

102 prólogos de Terêncio e, em alguns momentos, em Plauto. A fim de atingir esse objetivo, serão analisados os prólogos das obras , , e , visando expor algumas preocupações Amphitruo Captivi Eunuchus Adelphoe literárias desses autores em comparação com outras manifestações poéticas da antiguidade, mostrando, a partir disso, aquilo que consideram adequado ao gênero da comédia.

O Controle Ideológico nas cenas de banquete na "Odisseia": o caso do porqueiro Adriana Rocha Miranda Valle (Graduanda - UFJF)

O presente trabalho visa investigar as relações ideológicas aristocráticas atreladas às cenas de banquete presentes na por meio de uma análise do porqueiro Eumeu nos cantos XIV à XVI, baseada nas Odisseia proposições sobre escravidão e ideologia feitas por Thalmann (1998). Os cantos mencionados dão maior destaque aos personagens escravizados - tanto a aqueles considerados pelo narrador da como Odisseia “modelos de ação”, como Eumeu e Filoitio, quanto a aqueles que desviam dos bons padrões, como Melântio - o que permite comparar as ações destes personagens em relação a Odisseu com os posicionamentos de outros personagens aristocráticos diante do herói homérico, especialmente em contextos de recepção de estrangeiros. Dessa forma, é possível compreender como essas cenas se configuram como um instrumento de propagação de uma ideologia aristocrática arcaica.

O Culto de Epona em Roma: Estudo de Caso dos Altares Dedicados à Epona pelos 'Equites Singulares Augusti' Jessica Regina Brustolim (Graduanda - USP)

O culto da deusa celta Epona, normalmente analisado dentro do debate mais amplo acerca da Romanização, é compreendido ou como uma forma de resistência às mudanças trazidas pela presença romana na Gália ou como uma forma de aceitação e conformidade com estas mudanças. No início dos anos 2000, Jane Webster propôs que o conceito de Criolização, aplicado à arqueologia colonial americana, fosse empregado para compreender as relações galo-romanas e as mudanças resultantes destas relações. Assim, analisando Epona e seu culto utilizando o conceito de Criolização, e tomando como fontes os altares coletivos dos , o objetivo desta comunicação consiste em Equites Singulares Augusti questionar qual a forma de memória coletiva construída entre os devotos de Epona dentro do grupo de veteranos dos e qual a importância do culto da deusa para estes veteranos. Este Singulares Augusti questionamento será explorado através da tradução e interpretação das inscrições nos altares, da análise do latim utilizado, da fórmula empregada nas inscrições e da análise onomástica dos nomes dos veteranos. Meu objetivo é demonstrar que há uma coesão interna no grupo de veteranos e que o culto de Epona não representa uma forma de resistência nem de conformidade, mas é um dos elementos presentes na negociação de identidade feita por estes veteranos em um momento de mudança.

O Desejo, o desígnio e o lamento: Uma leitura comparatista do abandono de Dido e Ariadne por seus respectivos amantes, Enéias e Teseu Raquel da Costa Pereira (Graduanda - UERJ)

No livro IV da , Virgílio, ao construir o mito base da fundação romana, insere à obra épica Eneida características do discurso elegíaco, quando se propõe a narrar o envolvimento amoroso entre a rainha de Cartago, Dido, e o fundador de Roma, Eneias. O discurso emotivo da rainha dos cartagineses promove

103 mudança no relato épico, fazendo com que a narrativa heroica desse lugar a um canto lamentoso que evidencia o desejo pelo retorno do amante. Em seu infortúnio aproxima-se da, também enjeitada, princesa de Creta, Ariadne que, assim como Dido, após empenhar-se para auxiliar seu amante é friamente abandonada em Naxo por Teseu. A partir da leitura do Canto IV da épica de Virgílio, , Eneida e do fragmento 64 dos poemas de Catulo, serão confrontadas disparidades e similaridades do discurso lamentoso das personagens rejeitadas, Dido e Ariadne. Além de destacar a descrição do desejo antes e após o infortúnio, retomaremos a motivação do abandono, isto é, os desígnios de Teseu e Eneias, e, consecutivamente, a intervenção divina. Tendo essas questões em vista, contemplaremos as composições de diferentes gêneros, dentro dos quais é possível observar uma utilização do feminino como fator relevante na humanização da narrativa.

O estilo de Ésquilo e Eurípides representado nas traduções das "Rãs" de Aristófanes Marina Dornelles Ferreira (Graduanda - UFOP)

Este trabalho tem como objetivo discutir como o estilo dos poetas trágicos Ésquilo e Eurípides é representado em diferentes traduções em português da comédia do poeta grego Aristófanes. A partir Rãs da disputa pelo trono da tragédia presente no da peça, é possível observar que Aristófanes traça um agón modelo de poesia trágica a ser seguida e digna de retornar ao mundo dos vivos, no caso, a de Ésquilo. Em função disso, nosso propósito é analisar nas traduções em português de Junito Brandão (1957), Mário da Gama Kury (2000), Trajano Vieira (2014) e Tadeu Bruno Andrade (2014) se, ao longo do tempo, as escolhas lexicais dos tradutores afetaram, ou não, a percepção de como o poeta cômico representa o estilo e as peças de Ésquilo e Eurípides.

O Herácles de Heródoto: Selvagem e Civilizado Vitória Ingrid dos Santos da Silva (Graduanda - UFRJ)

Pretende-se, neste trabalho, apresentar as primeiras etapas desenvolvidas na pesquisa de Iniciação Científica, iniciada em dezembro de 2018, que tem por escopo o estudo da representação da figura de Héracles nas de Heródoto, considerando-se também o tratamento conferido a esse herói na Histórias tragédia sofocliana, produção coeva àquela do Historiador de Halicarnasso. No elenco de heróis gregos, Héracles surge como uma sorte de paradigma da natureza e da conduta heróica, desempenhando muitas vezes o papel de herói civilizador. No entanto, Héracles se nos mostra, por vezes, como a própria figura do selvagem. Como afirma Hartog (1999: 65), nas , mais precisamente no livro IV, ele é um Histórias herói "viajante que explora e marca os limites da terra, mas é também um defensor da humanidade"; de acordo com a versão dos gregos do Ponto, ele está na origem de parte dos citas, um povo caracterizado pelo nomadismo e a selvageria. Intenta-se aqui, então, apresentar as observações preliminares do estudo da figura de Héracles no cita. Para tal estudo, foram utilizadas as traduções de Schrader(2007 [1979]), lógos Silva & Guerreiro (2000) e Purvis (2009).

Práticas ativas de oralidade no ensino de latim Jéssyca Muniz Alves (Graduanda - UFES)

Mesmo no século XXI, muitos professores de Latim ainda enfrentam problemas devido à inadequação dos métodos aos objetivos (LEITE, 2015, p. 137). A aquisição da linguagem é inconsciente e nem todos

104 os alunos conseguem progredir em latim através dos programas tradicionais com foco em gramática, o que contribui para que as pessoas pensem que a língua latina é difícil e que só alguns conseguem aprendê-la (PATRICK, 2015, p. 115). Uma das práticas docentes que vem sendo utilizada para se ensinar latim e tem provocado as mais diversas reações entre a comunidade acadêmica é o uso das práticas ativas, que eram utilizadas já na Antiguidade (LEITE, 2015, p. 131-133). Visto isso, são objetivos desse projeto: refletir sobre a perspectiva de ensino de língua latina voltado efetivamente para a aquisição da competência de leitura; promover e fomentar a reflexão teórica da comunidade acadêmica brasileira acerca das questões que envolvem o ensino de línguas clássicas, em especial o uso de práticas ativas; desenvolver, validar e testar nas universidades integrantes novos materiais didáticos e paradidáticos para o ensino de línguas e literaturas clássicas em contexto universitário.

Razão e paixões: o "Agamêmnon" de Sêneca como veículo do estoicismo Lucas Benevenuto Mitraud Vieira Alves (Graduando - UFOP)

É quase consenso, entre os estudiosos de Lúcio Aneu Sêneca, que as tragédias desse filósofo apresentam figurações de matizes da doutrina estoica. Contudo, poucos são os estudos que de fato se detêm em uma análise aprofundada a respeito de como seriam os aspectos filosóficos transpostos para o verso dramático. Em vista disso, busca-se, na presente pesquisa, traçar uma linha interpretativa que permita com que se tenha uma noção mais precisa de como se dariam, porventura, transposições desse tipo. Para tanto, foi desenvolvido um argumento com fim de identificar, no senequiano, exemplos que indiquem, Agamêmnon de forma sistematizada, a transparência de um tema caro ao estoicismo: a disputa entre razão e paixões humanas, discutida por Sêneca sobretudo em seu tratado . Mediante a leitura atenta desse Sobre a Ira tratado e do drama acima referido, como também do corpus epistolográfico do filósofo, foi possível constatar como a criação trágica de Sêneca aparenta, de fato, ter sido pensada com vista à disseminação de motivos estoicos, uma vez que diversas passagens do corroboram essa interpretação. Esta Agamêmnon pesquisa, então, atua como passo inicial para que a discussão em torno dessa hipótese se torne cada vez mais prolífica, de modo a permitir que cada vez mais se torne palpável a possibilidade de se tomar as tragédias senequianas como meio eficaz de ensino de filosofia.

Recepção e adaptação das fontes em Alexandre, de Plutarco Lucas Ferreira da Silva (Graduando - UNIRIO)

Com base em minha última proposta de análise do texto plutarquiano, a respeito de suas contradições na construção da personagem e do caráter de Alexandre, procuro compreender nesta nova etapa de minha pesquisa quais foram as fontes utilizadas pelo biógrafo e apontar em que momentos a adaptação de Plutarco destas fontes difere, ou não, daquela de Arriano, que, como sabemos, utilizou o mesmo material que Plutarco como fonte. Busco também nomear as anedotas que Plutarco insere por entre o material de suas fontes históricas para corroborar a construção que pretende do caráter de seu Alexandre, e a maneira como o biógrafo, por vezes, se utiliza de alguns mecanismos de escrita que, propositalmente impercetíveis para o leitor, fazem certas distorções da cronologia dos fatos para tornar, segundo Pelling, a leitura mais agradável. Acredito que a recepção e a adaptação das fontes por Plutarco, bem como as distorções de fatos e a inserção de conteúdo anedótico, tenha sido planejada para corroborar a personificação de Alexandre como um rei ideal, e que, quando examinamos seu texto cientes das contradições existentes na formação desta personagem, o uso de tais técnicas por parte do biógrafo se

105 torna evidente. Assim, a proposta deste trabalho é um olhar mais atento ao texto plutarquiano, não para julgar se o biógrafo teria feito um uso "adequado" de suas fontes, mas para que possamos estudar sua biografia, a nossa fonte, de maneira mais apurada e crítica, sabendo das imprecisões que a mesma pode conter.

Tradução de "Speculum stultorum", de Nigel de Longchamps Josué Gabriel de Freitas Kahanza Zito (Graduando - UFRJ)

O objetivo deste trabalho é apresentar a proposta da pesquisa “Tradução de , de Nigel Speculum stultorum de Longchamps”. Nosso primeiro contato com a referida obra deu-se por ocasião de nossa participação no projeto “Os clássicos no acervo de Obras Raras da Biblioteca Nacional”, em que atuamos ao longo de 2018. A ideia de traduzirmos a referida obra surgiu de nosso interesse em conhecê-la no original e do fato de que ela se encontra ainda inédita em português. Além disso, buscávamos desenvolver uma pesquisa que pudesse contribuir para a divulgação de uma obra rara do acervo da Fundação Biblioteca Nacional, colaborando com determinados setores da sociedade, a saber, pesquisadores e profissionais que lidam com obras raras em latim e com a literatura do Medievo. Até agora, em nossa pesquisa, dedicamos os cinco meses iniciais ao levantamento e leitura de livros e artigos sobre o autor, a obra em questão e seu contexto histórico-cultural. Simultaneamente, procedemos a uma tradução dos primeiros 30 versos, cujo excerto foi selecionado para esta apresentação como amostragem inicial de nosso trabalho.

'Vt pictura amores': a imagem de Eros e sua emulação entre os pintores humanistas Etiene Martins Lage Duarte (Graduando - UFOP)

O presente trabalho dedica-se a dois momentos distintos: a) breve apresentação da figura ambígua e inconstante de Eros, “o doce-amargo”, como motivo amoroso desde Safo e sua presença posterior entre os poetas romanos, especialmente os elegíacos; e b) a recepção da divindade nas artes figurativas dos meios humanistas, em que sua imago, em linhas gerais, como Eros “triunfante”, assume estatuto de subgênero da pintura. O presente pôster tem como fim demonstrar que a representação de Eros, de “doce-amargo” às imagens de natureza militar forjadas no interior da elegia romana, em que o poeta é vítima cativa e ferida pelas flechas do filho de Vênus – e – , de tópica da seruitium amoris militia amoris poesia converte-se em topos da pintura na medida em que os artífices do período, conscientes da emulação que perfaziam, plasmavam na tela o topos poético, o que por seu turno põe em evidência as homologias já bem conhecidas desde tempo antigo entre poesia e pintura, entre discurso e imagem.

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MINICURSOS

TERÇA (03/09) À SEXTA (06/09), DAS 8H ÀS 9H30

Minicurso 1

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2037 (ex-1401)

Clássicas em crise? Feminismos, culturalismos, conservadorismos e outros “ismos” nos Estudos Clássicos Prof. Mestre Rafael Guimarães Tavares da Silva (Doutorando - UFMG)

EMENTA: A crise tem sido uma constante nas mais diversas disciplinas da área de Humanidades desde meados do século XX até o presente, sobretudo a partir de uma alardeada crise da leitura e dos valores tradicionais pretensamente atrelados a ela, tal como indica o tom apocalíptico de uma série de títulos lançados nas últimas décadas: (BLOOM, 1989); O declínio da cultura ocidental Quem matou Homero? (HANSON; HEATH, 1998); (SPIVAK, 2003); A morte de uma disciplina A literatura em perigo (TODOROV, 2010). Apesar dos posicionamentos políticos radicalmente diversos de cada um desses autores, eles parecem compartilhar de um mesmo mal-estar perante a desvalorização social de certas práticas culturais tradicionalmente benquistas – como a leitura, a interpretação de textos, a escrita – e avançam uma série de proposições práticas a fim de tentar contornar essa situação crítica. Apoiando-nos nas discussões recentes de Jenkins (2015), Adler (2016) e Bloxham (2018), pretendemos compreender de que modo os Estudos Clássicos têm se comportado no epicentro dessa situação crítica, isto é, na cena intelectual dos EUA nas últimas décadas. A partir de uma série de debates fervorosos que os Estudos Clássicos conheceram nesse país – donde se alastraram para o resto do mundo acadêmico, inclusive o Brasil –, vamos delinear as tensas e estimulantes relações que essa disciplina tem mantido, por um lado, com diferentes teorias feministas e estudos culturais, por outro, com novas formas de conservadorismo. Revisitando esses debates, nosso intuito é suscitar a reflexão acerca de questões cada vez mais frequentemente colocadas aos classicistas por uma sociedade que – com razão – quer compreender: “por que estudar as Clássicas? Para quê?” Ou ainda: “de que modo o ensino de autores clássicos contribui para a formação dos universitários? E o ensino de línguas clássicas? De que modo esses campos podem se mostrar atrativos para mais estudantes? De que modo tal estudo pode se tornar relevante para a vida universitária como um todo? Ou até mesmo para não universitários?” Sem propor respostas prontas a essas difíceis questões, o presente minicurso acredita ser necessário suscitar esse debate a fim de delinear estratégias capazes de reverter o atual quadro de crise nas Clássicas – e nas Humanidades em geral –, renovando o interesse público por esses campos de estudo e as próprias abordagens tradicionais tão características deles.

PROGRAMA: Aula 1: Panorama sucinto da história dos Estudos Clássicos no ensino superior, principalmente a partir dos studia [humanidades] durante o Renascimento italiano até a fundação das humanitatis Altertumswissenchaften

107 [ciências da antiguidade] na universidade alemã, com a sugestão dos principais posicionamentos teóricos no tocante ao papel desse campo de estudos perante a sociedade (WILAMOWITZ, 1998; PFEIFFER, 1976; READINGS, 1996; KALLENDORF, 2007; ADLER, 2016). Na sequência, exposição sobre a cena intelectual estadunidense do pós-guerra a fim de definir as balizas teóricas que guiarão o célebre debate de fins do século XX, qual seja, o das Culture Wars (GRAFF, 1992; CUSSET, 2003; JENKINS, 2015; ADLER, 2016; BLOXHAM, 2018).

Aula 2: Delineamento de algumas abordagens feministas possíveis no campo dos Estudos Clássicos (BEAUVOIR, 2009; POMEROY, 1995; LORAUX, 1981; RABINOWITZ; RICHLIN, 1993; LORAUX, 2009). Rastreamento das críticas – normalmente de conservadores (classicistas ou não) – a essas abordagens (BLOOM, 1989; KRAMER, KIMBALL, 1997; HANSON, HEATH, 1998). Legado desse debate para os Estudos Clássicos na contemporaneidade (JENKINS, 2015; ADLER, 2016; WYLES, HALL, 2016).

Aula 3: Delineamento de algumas abordagens culturalistas feitas no campo dos Estudos Clássicos (DIOP, 1979; BERNAL, 1987; 2001). Rastreamento das críticas – normalmente de conservadores (classicistas ou não) – a essas abordagens (LEFKOWITZ, ROGERS, 1996; KRAMER, KIMBALL, 1997; LEFKOWITZ, 1997; HANSON, HEATH, 1998). Legado desse debate para os Estudos Clássicos na contemporaneidade (JENKINS, 2015; ADLER, 2016).

Aula 4: Sugestão de como os classicistas têm repensado seu campo a fim de responder ao desafio imposto pelas mudanças histórico-sociais e teóricas na contemporaneidade: revisão do legado dos debates entre feministas, culturalistas e conservadores; panorama da história dos estudos de “recepção” nessa área, desde os manuais mais antigos sobre a tradição clássica – como o de Highet (2015) ou o de Bolgar (1973) – até propostas recentes de estudos de recepção clássica: abandonando – pelo menos em parte – a perspectiva sugerida por uma pretensa primazia axiológica atrelada à primazia cronológica, esses estudos têm oferecido cada vez mais a possibilidade de se abordar, sob um viés consideravelmente menos marcado pelo colonialismo, uma multiplicidade de fenômenos culturais, tais como os relativos à recepção por meio da tradução, do teatro, do cinema e até mesmo da política (CANFORA, 1980; TAPLIN, 1990; HALLETT, NORTWICK, 1996; HARDWICK, STRAY, 2008; JENKINS, 2015). Considerações finais, a partir das propostas de classicistas para a questão de uma “crise nas Clássicas” (ROMILLY, 2003; CANFORA, 2014; JENKINS, 2015; ADLER, 2016; BOUINEAU, 2018; MORLEY, 2018).

BIBLIOGRAFIA: ADLER, Eric. . Ann Arbor: University of Michigan Press, 2016. Classics, the Culture Wars, and Beyond BEAUVOIR, Simone. . Trad. Sérgio Milliet. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. O segundo sexo BERNAL, Martin. . London: Free Association Black Athena: The Afroasiatic roots of classical civilization Books, 1987. BERNAL, Martin. Black Athena . Ed. David Chioni Writes Back: Martin Bernal responds to his critics Moore. Durham; London: Duke University Press, 2001. BLOOM, Allan. Trad. João Alves dos Santos. São Paulo: Best Seller, 1989. O declínio da cultura ocidental.

108 BLOXHAM, John. Ancient Greece and American Conservatism: Classical Influence on Modern Right. London; New York: I. B. Tauris, 2018. BOLGAR, R. R. . Cambridge: Cambridge University Press, The Classical Heritage and Its Beneficiaries 1973. BOUINEAU, Jacques. (Org.). . Paris: Les Belles Lettres, 2018. L’Avenir se prépare de loin CANFORA, Luciano. . Bologna: Il Mulino, 2014. Gli antichi ci riguardano CANFORA, Luciano. . Torino: Einaudi, 1980. Ideologie del Classicismo CUSSET, François. French Theory: Foucault, Derrida, Deleuze & Cia et les mutations de la vie intellectuelle . Paris: Éditions la découverte, 2003. aux États-Unis DIOP, Cheikh Anta. . Paris: Présence Africaine, 1979. Nations Nègres et Culture GRAFF, Gerald. . New Beyond the Culture Wars: How teaching the conflicts can revitalize American education York; London: Norton & Company, 1992. HALLETT, Judith; NORTWICK, Thomas Van (Ed.). Compromising Traditions: The personal voice in . London; New York: Routledge, 1996. classical scholarship HANSON, Victor Davis; HEATH, John. Who Killed Homer?: The Demise of Classical Education and the . New York; London; Toronto; Sydney; Singapore: The Free Press, 1998. Recovery of Greek Wisdom HARDWICK, Lorna; STRAY, Christopher. . Malden; Oxford; A Companion to Classical Receptions Carlton: Blackwell Publishing, 2008. HIGHET, Gilbert. . New York; The Classical Tradition: Greek and Roman influences on Western literature Oxford: Oxford University Press, 1976. JENKINS, Thomas. . Antiquity Now: The Classical World in the Contemporary American Imagination Cambridge: Cambridge University Press, 2015. KALLENDORF, Craig (Ed.). A . Malden; Oxford; Carlton: Blackwell Companion to the Classical Tradition Publishing, 2007. KRAMER, Hilton; KIMBALL, Roger (Ed.). . Chicago: Ivan R. Dee, The Future of the European Past 1997. LEFKOWITZ, Mary. . New Not out of Africa: How Afrocentrism became an excuse to teach myth as history York: Basic Books, 1997. LEFKOWITZ, Mary; ROGERS, Guy MacLean (Ed.). . Chapel Hill; London: The Black Athena Revisited University of North Carolina Press, 1996. LORAUX, Nicole. . Paris: Les enfants d’Athéna: Idées athéniennes sur la citoyenneté et la division des sexes Maspero, 1981. LORAUX, Nicole. . São Paulo: Edições Loyola, 2009. Tragédia de Atenas: a política entre as trevas e a utopia MORLEY, Neville. Cambridge: Polity Press, 2018. Classics: Why it matters? PFEIFFER, Rudolf. Oxford: Clarendon Press, 1976. History of Classical Scholarship: From 1300 to 1850. POMEROY, Sarah. . New York: Goddesses, Whores, Wives, and Slaves: Women in Classical Antiquity Schocken Books, 1995. READINGS, Bill. . Cambridge (MA); London: Harvard University Press, 1996. The University in Ruins ROMILLY, Jacqueline de. . Paris Éditions de Fallois, 2003. Une Certaine idée de la Grèce SPIVAK, Gayatri. New York: Columbia University Press, 2003. Death of a Discipline. TAPLIN, Oliver. . Trad. Ana Maria Pires, Cristina Duarte, Cristina Peres, Eduarda Ferreira, Fogo grego Jorge Pires e Luís Maio. Lisboa: Gradiva, 1990. TODOROV, Tzvetan. . Trad. Caio Meira. 3. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2010. A literatura em perigo

109 WILAMOWITZ-MOELLENDORF, U. von. Mit einem Nachwort und Geschichte der Philologie. Register von Albert-Henrichs. 3. Auflage. Stuttgart; Leipzig: Springer Fachmedien Wiesbaden GmbH, 1998. WYLES, Rosie; HALL, Edith (Ed.). Women Classical Scholars: Unsealing the Fountain from the Renaissance . Oxford: Oxford University Press, 2016. to Jacqueline de Romilly

Minicurso 2

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2039b (ex-1409)

O Apologético de Tertuliano como lugar do diálogo entre paganismo e cristianismo Prof. Dr. Luís Carlos Lima Carpinetti (Professor Associado - UFJF)

EMENTA: As acusações levadas ao tribunal contra os cristãos. A revisitação dos mitos da fama e de Júpiter. A reabilitação dos cristãos em face das acusações de lesa-majestade. A religião cristã em seus elementos primordiais: a Trindade, a criação do mundo e a redenção, os anjos e os demônios. A questão do martírio.

PROGRAMA: Aula 1: Apresentação do panorama sócio-econômico do Império no tempo de Tertuliano. Leitura e tradução de textos: a Fama e Júpiter.

Aula 2: Os primeiros cristãos na sociedade romana: a relação dos cristãos com a figura do Imperador, suas orações como respaldo à continuidade e manutenção da sociedade romana. A trindade. Leitura e tradução de textos.

Aula 3: Exposição da doutrina cristã: a criação, a redenção, a Igreja cristã. Os gênios tutelares, os anjos e os demônios. Leitura e tradução de textos.

Aula 4: O martírio entre os pagãos e entre os cristãos. Modificações da língua latina presentes no texto de Tertuliano: estaríamos diante de uma espécie de romance precoce, concomitante com a língua da Antiguidade Tardia? Leitura e apresentação de lista de vocábulos novos introduzidos por Tertuliano na língua latina.

BIBLIOGRAFIA: ALLARD, J.-Félix. . Paris: Dondey-Dupré, 1827. (Arquivo em PDF). Nouvelle traduction de l’Apologétique BAYET, Jean. . Paris: Payot, 1999. La religion romaine D’ALÈS, Adhémar. . Paris: Beauchesne et éditeurs, 1905. (Arquivo em PDF). La théologie de Tertullien DUMÉZIL, Georges. . Paris: Payot, 1974. La religion romaine archaïque

110 FREDOUILLE, Jean-Claude. . Paris: Institut d’Études Tertullien et la conversion de la culture antique Augustiniennes, 2012. MARROU, Henri-Irénée. . Paris: Éditions du Seuil, 1985. L’Église de l’Antiquité tardive MOHRMANN, Christine. . 2 tomes. Roma: Edizioni di Storia e letteratura, Études sur le latin des chrétiens 1961. OSBORN, Eric. . Cambridge: Cambridge University Press, 1997. Tertullian, the first theologian of the West (Arquivo em PDF). PLINE LE JEUNE. . Texte établi et traduit par Anne-Marie Guillemin. Paris: Les Belles- Correspondance Lettres, 2003. RENAN, Ernest. . 2 vol. Paris: Robert Laffont, 1995. Histoire des origines du christianisme TERTULIANO. . Madrid: Editorial Gredos, 2001. Apologético, A los gentiles TERTULLIAN. . Translated by T. R. Glover. MINUCIUS FELIX. . Apology. De Spectaculis Octavius Translated by Gerald H. Rendall. London, Cambridge: Harvard University Press, 1931. TERTULLIEN. . Texte établi et traduit par Jean-Pierre Waltzing. Paris: Les Belles-Lettres, Apologétique 2002. TERTULLIEN. . Texte établi et traduit par Jean-Pierre Waltzing, avec la collaboration de Apologétique Albert Severyns. Paris: Les Belles-Lettres, 2003. TERTULLIEN. . Traduction et introduction par l’Abbé Antoine de Genoude. Paris: Les Oeuvres complètes Belles-Lettres, 2017. WRIGHT, Roger. . Versión española de Latín tardío y romance temprano em España y a la Francia carolingia Rosa Lalor. Madrid: Gredos, 1982. (Capítulo II, em especial).

Minicurso 3

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2041 (ex-1417)

Arqueologia das Práticas Mortuárias na Grécia Antiga: o espaço dos mortos e a construção de memória e identidades Profa. Dra. Camila Diogo de Souza (Professora Visitante Associada - UNIFESP)

EMENTA: A cultura material proveniente dos contextos funerários constitui objeto de investigações e debate nas diferentes abordagens de estudo em Arqueologia Clássica desde os seus primeiros delineamentos enquanto disciplina. Grande parte do conhecimento das sociedades antigas se deve aos registros arqueológicos de natureza funerária. Perspectivas recentes fundamentadas na interdisciplinaridade por meio da Bioarqueologia e áreas afins, como por exemplo, Tafonomia e Zooarqueologia têm contribuído de forma essencial na análise integrada dos contextos funerários. A arquitetura, o tipo e a orientação dos enterramentos, a “história” do morto em vida e após a deposição, a constituição do mobiliário funerário e, finalmente, a topografia dos sepultamentos examinando a localização e a distribuição dos túmulos, constituem o conjunto de práticas e representações da morte que é engendrado pelas aspirações dos vivos. Assim, o agenciamento do espaço dos mortos torna-se um elemento fundamental no conhecimento de vários aspectos do mundo dos vivos. O minicurso "Arqueologia das Práticas Mortuárias na Grécia Antiga" tem como objetivo geral discutir alguns contextos funerários da Grécia Antiga enquanto fonte de conhecimento das sociedades.

111 Para isso, faz-se necessário entender e refletir sobre as diferentes abordagens teórico-metodológicas da “Arqueologia da Morte” aplicadas ao seu objeto de estudo, o registro arqueológico funerário. A discussão dos aspectos e parâmetros da organização do espaço funerário terá como foco de análise o contexto histórico do processo de formação e origens da , processo esse que suscita questões inerentes à pólis problemática das interações entre o espaço dos vivos e o espaço dos mortos, visando compreender os possíveis significados, papéis, funções e implicações das diversificadas formas de uso e especialização do espaço funerário enquanto espaço de memória e de construção de identidades.

PROGRAMA:

Aula 1 (03/09) – A materialidade da morte: introdução aos métodos e técnicas da Arqueologia da Morte. - O tratamento da morte: questões introdutórias; - A materialidade da morte: conceitos, características e especificidades o registro arqueológico de natureza funerária; - A multiplicidade da cultura material funerária: métodos e técnicas de estudo.

Aula 2 (04/09) – A morte e a Arqueologia: panorama historiográfico. - Os mortos e a Arqueologia: história e historiografia; - As correntes teóricas (as “fases”), abordagens e as interpretações dos contextos funerários.

Aula 3 (05/09) – A Grécia Antiga e os mortos: características e configuração do espaço funerário. - Os estudos da morte e a Antiguidade grega: abordagens e perspectivas; - A construção do espaço dos mortos e a formação da : identidades e alteridades. pólis

Aula 4 (06/09) – A Grécia Antiga e os mortos: construindo memória e identidades. - Estudo de caso: - Construindo memória e identidades em Argos do Período Geométrico: o papel dos mortos e na formação da enquanto modelo da passagem “aristocracia homérica” para a “aristocracia hoplítica de pólis nascimento”.

BIBLIOGRAFIA: BALUT, P.-Y. 1986. Signal de Mort. 4: 315-349. RAMAGE BECK, L. A. 1995. . New York: Plenum Press. Regional Approaches to Mortuary Analysis BINFORD, L. R. 1971. Mortuary Practices: their study and their potential. In: BROWN, J. Approaches to . American Antiquity (36) : 6-29. the social dimension of mortuary practices BROWN, J. A. (ed.). 1971. . Memoirs of the Society Approaches to the social dimension of mortuary practices for American Archaeology 25, Issue as American Antiquity 36. BUIKSTRA, Jane E., LAGIA, Anna. 2009. Bioarchaeological Approaches to Aegean Archaeology, In: SCHEPARTZ, L. A., FOX, S. C., BOURBOU, C. (eds.). 2009. New Directions in the Skeletal HESPERIA, Supplement 43, p. 7-30. Biology of Greece. CHAPMAN, R.; KINNES, I. and RANDSBORG, K. 1981. . Cambridge: The Archaeology of Death Cambridge University Press.

112 CHARLES, R. P. 1963. , Athènes, Études anthropologiques des nécropoles d’Argos, Études Péloponnésiennes III Paris : École française d’Athènes. COLDSTREAM, J.N. 1968. , Greek Geometric pottery. A survey of ten local styles and their chronology London: Methuen & Co. Ltd. COLDSTREAM, J.N. 1976. . London: Methuen & Co. Ltd. Geometric Greece COLDSTREAM, J.N. 1984. . The Formation of the Greek Polis: Aristotle and Archaeology Geisteswissenschaften Forschungen, Vorträge G272. Opladen: Westdeutscher Verlag : 7-22. COURBIN, P. 1957. Un tombe géométrique d’ Argos. 81 : 322-386. BCH COURBIN, P. 1966. , Paris : De Boccard. La céramique géométrique de l’Argolide COURBIN, P. 1974. Les Tombes Géométriques d’Argos, I (1952-1958). , Études Péloponnésiennes VII Athènes, Paris : École française d’Athènes. DUDAY, Henri. 1990. L’Anthropologie « de Terrain » : reconnaissance et interprétation des gestes funéraires. n.s., t. 2, no. 3-4, p. 29-50. Bull. et Mém. De la Soc. D’Athrop. De Paris, DUPLOUY, A. 2006. Le prestige des élites : recherches sur les modes de reconnaissance sociale en Grèce entre Paris : les Belles lettres. les Xe et Ve siècles avant J.-C. FOLEY, A. 1988. The Argolid 800-600 B.C. , vol. LXXX, Göteborg. SIMA FOLEY, A. 1998. Ethnicity and the topography of burial practices in the Geometric period. In : PARIENTE, A.; TOUCHAIS, G. . Actes de la Table Argos et l’Argolide. Topographie et Urbanisme Ronde Internationale 28/4 – 1/5/1990 – Athènes, Argos. Athènes ; Nauplie ; Paris : Υπουργείο Πολιτισµού ; Ecole francaise d'Athenes ; De Boccard : 137-143. GARLAND, R. 1985. . London: Duckworth. The Greek Way of Death GOLDSTEIN, Lynne. 1976. . PhD thesis, Northwestern Spatial Structure and Social Organization University. GOODY, J. R. 1962. . London: Tavistock. Death, Property and the Ancestors GOWLAND, R. and KNÜSEL, C. (eds.) 2006. Oxford: Oxbow Social Archaeology of Funerary Remains. Books. HÄGG, R. 1974. Die Gräber der Argolis in sumykenischer, protogeometrischer und geometrischer Zeit. 7:1, Lage und Form der Gräber, Uppsala. BOREAS HÄGG, R. 1980. Some Aspects of the Burial Customs of the Argolid in the Dark Age. (13): AAA 119-26. HÄGG, R. 1982. Zur Stadtwerdung des dorischen Argos. In: PAPENFUSS, F.; STROCKA, V. Palast und Hütte. Beiträge zum Bauen und Wohnen im Altertun von Archäologen, Vor- und Frühgeschichtlern. Tagungsbeiträge eines Symposiuns der Alexander von Humboldt-Stiftung Bonn – Bad Godesberg . Berlim: Zaberndruck, Mainz am Rhein: 297-307. veranstaltet vom 25-30 November 1979 in Berlim HÄGG, R. 1983. Burial Customs and Social Differentiation in 8th-Century Argos. HÄGG, R.; MARINATOS, N. . The Greek Renaissance of the Eight Century B. C.: Tradition and Innovation Proceedings of the Second International Symposium at the Swedish Institute in Athens, 1-5 June, 1981. Stockholm: 27-31. HÄGG, R. 1987. Sumbycenaean Cremation Burials in the Argolid?, 1: 207-211 Aegaeum HÄGG, R. 1998. Argos and Its Neighbours: Regional Variations in the Burial Practices in the Protogeometric and Geometric Periods. In: PARIENTE, A.; TOUCHAIS, G. Argos et l’Argolide. . Actes de la Table Ronde Internationale 28/4 – 1/5/1990 – Athènes, Topographie et Urbanisme

113 Argos. Athènes ; Nauplie ; Paris : Υπουργείο Πολιτισµού ; Ecole francaise d'Athenes ; De Boccard : 131-135. HOUBY-NIELSEN, Sanne H. 1996. Women and the Formation of the Athenian City-State. The evidence of burial customs. 11, p. 233-59. Métis HUMPHREYS, S. C. and KING, H. (eds.) 1981. Mortality and Immortality. The Anthropology and . Archaeology of Death Proceedings of a Meeting of the Research Seminar in Archaeology and Related . London: Academic Subjects held at the Institute of Archaeology, London University, in June 1980 Press. JENSEN, C. K. and NIELSEN, K. H. (eds.). 1997. Burial and Society. The chronological and social analysis . Aarhus: Aarhus University Press. of archaeological burial data LAGIA, Anna. 2007. Notions of Childhood in the Classical Polis: evidence from the Bioarchaeological record, In: CHOEN and RUTTER, p. 294-308. LANGDON, S. 2001. Beyond the Grave: Biographies from Early Greece, 105: 579-606. AJA LUCE, J-M. 2007. Géographie Funéraire et Identités ethniques à l’Âge du Fer en Grèce. 73 : Pallas 39-51. MARCHEGAY, S.; Le DINAHET, M. et SALLES, J. (eds.). 1998. Nécropoles et Pouvoir. Idéologies,

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115 WHITLEY, J. 2006. Objects with Attitude: Biographical Facts and Fallacies in the Study of Late Bronze Age and Early Iron Age Warrior Graves. Vol. 12, no. 2: 217-232. CAJ ZEITLIN, F. I. and VERNANT, J.-P. (eds.) 1991. . Princeton: Mortals and Immortals: collected essays Princeton University Press: 50-74.

Minicurso 4

Local: Faculdade de Letras, sala 1007: Laboratório de Línguas

Usando plataformas online abertas para consulta, alinhamento de traduções, e para anotações linguísticas de textos de línguas históricas Profa. Dra. Anise Abreu Gonçalves D´Orange Ferreira (Professora Assistente Doutora - UNESP) Prof. Mestre Michel Ferreira dos Reis (Doutorando - UNESP)

EMENTA: O minicurso visa apresentar e fomentar a prática de alguns recursos digitais disponíveis em plataformas na internet, elaborados por colaboradores do Consórcio Sunoikisis D.C., para alinhar e comparar traduções, anotar manualmente a morfologia, árvore sintática, entidades nomeadas, relações e transcrições de textos digitalizados de línguas históricas, mais especificamente, o grego e latim, bem como para consultar edições digitais anotadas, demonstrando suas funcionalidades, procedimentos de uso e suas aplicações. Dentre os recursos, serão explorados e utilizados os editores de alinhamento Alpheios e o de Arethusa, na plataforma Perseids, o Ugarit, o i-Aligner; de entidades nomeadas, relações e treebank transcrições, Recogito, e plataformas de consulta, tais como Tündra.

OBSERVAÇÃO: É recomendável que participantes levem seus computadores pessoais.

PROGRAMA:

Aula 1: e edições digitais. Catálogos. Plataformas de consulta e edição. Alinhamento de tradução, Corpora anotação em árvore sintática de dependência ( ), anotação de entidades de nomes e suas dependency treebank relações.

Aula 2: A plataforma Perseids e suas ferramentas Arethusa e Alpheios; Ugarit e i-Aligner; Recogito.

Aula 3: Familiarização com as orientações de alinhamento e de anotação morfossintática e com as instruções do Recogito. Consulta no PerseusGreek@Tündra. Exercício prático.

Aula 4: Exercício prático de alinhamento e anotação. Proposta de projeto colaborativo. Discussão dos resultados.

116 BIBLIOGRAFIA: BAMMAN, D.; CRANE, G. 2011. The Ancient Greek and Latin Dependency Treebanks. In: SPORLEDER, C.; VAN DEN BOSCH, A.; ZERVANOU, K. (Ed.) Language Technology for , Berlin Heidelberg: Springer- Cultural Heritage: Selected Papers from the LaTeCH Workshop Series Ver l a g, p . 7 9 - 9 8 . BAMMAN, D.; CRANE, G. 2010. Corpus Linguistics, Treebanks and the Reinvention of Philology. 2010, vol.P176, p. 542-551. Disponível em: Informatik Acesso em: 10 abr. 2019. BAMMAN, D.; CRANE, G. 2008. , Guidelines for the syntactic annotation of Ancient Greek treebanks version 1.1. Tech. rep., Medford: Tufts Digital Library. Disponível em: Acesso em: 30 dez. 2018. CELANO, G. G. A. 2014. Guidelines for the annotation of the Ancient Greek Dependency Treebank 2.0. Tufts University e Universität Leipzig. Disponível em: Acesso em:13 abr. 2019. FERREIRA, A. (Org.) 2015. Araraquara: Introdução aos textos clássicos na era digital do terceiro milênio. Letraria. Disponível em: FRANZINI, G., ANDORFER, P., ZAYTSEVA, K. 2016. Catalogue of Digital Editions: The Web . DOI: //doi.org/10.5281/zenodo.1250797. Disponível em: . Acesso em: 20 abr. 2019. LEE, J.; HUI, Y.C.; KONG, Y.H. 2013. Treebanking for Data-driven Research in the Classroom In: Sofia, Bulgaria: Proceedings of the Fourth Workshop on Teaching Natural Language Processing. Association for Computational Linguistics. p. 56-60. Disponível em . Acesso em 20 abr. 2019. RECOGITO. 2019. . Disponível em: . Acesso em 15 abr. 2019 ROMANELLO, M.; BODARD, G. (Ed.) . London: Ubiquity Digital Classics Outside the Echo-Chamber Press, 2016. DOI: Acesso em 15 abr. 2019. THE PERSEIDS PROJECT. 2019. . Tufts University. Disponível em: . Acesso em: 20 abr. 2019.

Minicurso 5

Local: Centro de Ciências, Auditório 2

Poemas filosóficos no período helenístico Prof. Mestre Danilo Costa Nunes Andrade Leite (Doutorando - USP)

EMENTA: A proposta de minicurso consistirá no estudo e análise filosófica de composições poéticas em língua grega do período helenístico: o e os de Arato, também influenciado pelo Hino a Zeus Fenômenos estoicismo e os . As três composições serão contextualizadas filosófica e literariamente, os Ve r s o s D o u ra d o s principais problemas serão apresentados e uma tradução será exposta, quando outra não estiver à disposição.

117 PROGRAMA: O minicurso será desenvolvido em 4 encontros divididos em 2 partes, a primeira referente a uma leitura comentada de composições filosóficas em versos em língua grega do período helenístico, com comentário literário (intertextualidade, figuras e metro), contudo centrado na discussão de teses filosóficas atinentes à ontologia e ética pitagórica, estoica etc. A segunda parte se refere à exposição e debate de textos teóricos selecionados. Os três poemas enfocados são os pitagóricos, cuja datação é disputável, o Ve r s o s D o u ra d o s de Cleantes de Assos, filósofo estóico, de Arato, também influenciado pelo Hino a Zeus Fenômenos estoicismo. Uma tradução será proposta tanto para o como para os , ao passo Hino a Zeus Ve r s o s d o u ra d o s que os serão abordados na recente tradução ao vernáculo indicada abaixo. Fênomenos A programação do curso seria a seguinte:

Aula 1: Raízes da poesia filosófica helenística: exemplos de literatura sapiencial, filósofos e poesias pré-socráticas, hinos religiosos e poesia do séc. IV a.C.

Aula 2: Deificação de conceitos; estudo de exemplos dos ; principais problemas envolvendo os Hinos órficos Ve r s o s pitagóricos. dourados

Aula 3: “Estética” helenística de Calímaco; estudo do de Cleantes em seus principais problemas. Hino a Zeus

Aula 4: Os de Arato e estudo de exemplos de desdobramentos romanos. Fênomenos

BIBLIOGRAFIA: ALLEN, T. W. (Ed.) . vols. 2-3. Oxford: Clarendon Press, 1931. Homeri Ilias ÁLVAREZ, M. A. S. La inteligencia de Zeus en el poema órfico de Derveni (OF 18.1): ¿φρήν o νοῦς? in: MARTÍNEZ, M. J. A.; HERNÁNDEZ, R. M.; LEYRA, I. P. (Eds.) Estudios papirológicos: textos Madrid: Fundación Pastor de Estudios Clásicos, literarios y documentales del siglo IV a.C. al IV d.C. 2017, p. 55-81. ÁLVAREZ, M. A. S. La de Pitágoras. , v. 84, n. catábasis Emerita, Revista de Lingüística y Filología Clásica 1, 2016, p. 31-50. Disponível em: < doi: 10.3989/emerita.2016.02.1424>. Acesso em: 9 de abril de 2019. ARNIM, Hans Friedrich August von (Ed.) . 4 vols. Leipzig: Teubner, Stoicorum veterum fragmenta 1905-1924. ATHANASSAKIS, A. N. . Baltimore: The John Hopkins University Press, 1976. The Homeric hymns BARACAT JÚNIOR, J. C. (Org.) Arato, Fenômenos. , Porto Alegre, v. 38, jan.-jun. Cadernos de Tradução 2016, p. 1-84. BEEKES, R. S. P. . 2 vols. Leiden: Brill, 2010. Etymological Dictionary of Greek BEKKER, I. (Ed.) . Berlin:?, 1828. Aratus cum Scholiis BLAKENEY, E. H. . London: SPCK, 1921. The hymn of Cleanthes. Texts for students 26

118 BOERI, M.D.; SALLES, R. (Eds.) . Santiago de Chile: Los filósofos estóicos: ontología, lógica, física y ética Universidad Alberto Hurtado, 2012. BREMER, J. M. Zeus’ lightning in early Greek myth and in Kleanthes’ Hymn. , Rocznik Humanistyczne v. 54-55, n. 3, 2006-2007. Disponível em: . Acessado em: 1º set. 2016. BURNET, J. (Ed.) . 5 vols. Oxford: Clarendon Press, 1922. Platonis opera CHANTRAINE, P. . 4 vols. Paris: Éditions Dictionnaire étymologique de la langue grecque: histoire des mots Klincksieck, 1968-1980 DIELS, H.; KRANZ, W. (Eds.) . 3 vols. 6. ed. Berlin: Weidmann, 1903. Die Fragmente der Vorsokratiker DIGGLE, J. (Ed.) , v. 2. Oxford: Clarendon Press, 1981. Euripidis fabulae DORDA, E.C. . Madrid: Gredos, 1993. Arato, Fenómenos. Gémino, Introdución a los Fenómenos FURLEY, W. “Types of Greek hymns”, , v. 81, 1993, p.21-41. Eos FURLEY, W; BREMER, J. M. (Ed.) Greek Hymns: Selected Cult Songs from the Archaic to the Hellenistic .2 vols. Tübingen: Mohr Siebeck, 2001. Period FURLEY, W. “Homeric and Un-Homeric hexameter hymns: a question of type” in: FAULKNER, A. (Ed.) . Oxford: Oxford University Press, 2011. Homeric hymns: interpretative essays HÜLSER, K. (Ed.) . 4 vols. Stuttgart: Frommann-Holzboog, Die Fragmente zur Dialektike der Stoiker 1987-1988. KIDD, D. (Ed.) . Edited with introduction, translation and commentary. Cambridge: Aratus, Phaenomena Cambridge University Press, 1997. KIRK, G. S.; RAVEN, J. E. . Trad. C. A. L. Fonseca et al. Lisboa: Fundação Os filósofos pré-socráticos Calouste Gulbenkian, 1979. LONG, A.A.; SEDLEY, D.N. (Eds.) 2 vols. Cambridge: Cambridge The Hellenistic philosophers. University Press, 1987. LUCRECIO. . Introducción, versión rítmica y notas de R. B. Nuño. 2.ed. De la natura de las cosas Ciudade de Mexico: UNAM, 2013. MACEDO, J. M. . Campinas: Editora da Palavra ofertada: um estudo retórico dos hinos gregos e indianos Unicamp, 2010. MAIR, G.R. (Ed.) . London; New York: Heinemann; Putnam’s Son. 1921. Callimachus, Lycophron, Aratus MARCOVICH, M. (Ed.) . Merida, Venezuela: Talleres Graficos : texto griego y comentarios Universitarios, 1968. MARTIN, J. (Ed.) . Florence: La Nuova Italia Editrice, 1956. Arati phaenomena NAUCK, A. (Ed.) . Hildesheim: Olms, 1964 (repr.) (Leipzig: Teubner, Tragicorum Graecorum fragmenta 1889). NORDEN, E. . Leipzig: Teubner, Agnostos Theos: Untersuchungen zur Formengeschichte religiöser Rede 1923. PEARSON, A. C. (Ed.) . New The fragments of Zeno and Cleanthes: with introduction and explanatory notes York: Cambridge University Press, 1891. SMYTH, H. W. . Cambridge: Harvard University Press, 1956 (1920). Greek Grammar THOM, J. C. . Leiden; New York; Köln: The Pythagorean Golden Verses with Introduction and Commentary Brill, 1995 THOM, J. C. The problem of evil in Cleanthes’ Hymn to Zeus, , v. 41, 1998, 45-57. Acta Classica

119 THOM, J. C. Cleanthes, Chrysippus and the Pythagorean Golden Verses. , v. 44, 2001, Acta Classica 197-219. THOM, J. C. . Tübingen: Mohr Siebeck, 2005. Cleanthes’ Hymn to Zeus THOM, J. C. “Kleantes se Himne aan Zeus”, , 41, v. 1-2, 1996, 44-57. Akroterion VERBEKE, G. . Brussel: Koninklijke Vlaamse Academie van België, 1949. Kleanthes van Assos WA TA NA B E , A . T. . Diss. University of Illinois at Urbana- Cleanthes, fragments: text and commentary Champaign, 1988. WEST, M. L. . Oxford: Clarendon Press, 1982. Greek metre WILAMOWITZ-MOELLENDORFF, U. . Berlin: Weidmannische Buchhandlung, Griechische Verskunst 1921. ZUNTZ, G. Zum Kleanthes-Hymnus. , v. 63, 1958, p. 289-308. Harvard Studies in Classical Philology Disponível em: < http://www.jstor.org/stable/310862> Acesso em: 7 mai 2015.

Minicurso 6

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2044 (ex-1413)

O problema da velhice na filosofia de Aristóteles Prof. Dr. Igor Mota Morici (Professor - CEFET-MG)

EMENTA: No segundo livro da , mais precisamente entre o décimo segundo e o décimo quarto Retórica capítulos, Aristóteles opõe o caráter do jovem e o do velho ao do homem maduro. O Estagirita os descreve fazendo-os coincidir com a oposição entre os extremos – excesso e falta – e o intermediário entre ambos. Assim, é tentador inferir, considerando tal esquema, que a juventude e a velhice conduzem naturalmente aos vícios e que apenas na maturidade se acha a possibilidade da mediania virtuosa. Essa tentação torna-se ainda mais intensa quando, no décimo terceiro capítulo desse livro, Aristóteles esboça uma explicação fisiológica para o fato de os velhos serem covardes: eles são, realmente, frios. Com efeito, o estudo científico sobre as afecções visíveis que acometem o corpo humano senescente, tais como a calvície, o branqueamento dos cabelos e a perda dos dentes, presente no quinto livro da obra Sobre a , parece corroborá-la. Ora, é certo que a própria constituição material dos indivíduos geração dos animais humanos impõe-lhes restrições de toda ordem à medida que envelhecem. Mas isso acarretaria um envelhecimento necessariamente marcado por insalubridade e sofrimento? Uma resposta positiva traz consigo uma consequência inesperada: o idoso estaria fadado à senilidade e impossibilitado, portanto, de ser feliz. E o problema de fundo, a que se pode denominar “problema da velhice”, reside na seguinte pergunta: é possível conservar na velhice as condições corpóreas necessárias ao exercício das faculdades relevantes para a felicidade? À primeira vista, algumas passagens difusas nos tratados psicofisiológicos de Aristóteles levam a crer na inexorabilidade da decrepitude da velhice. No entanto, um passo que não tem sido tratado com a mesma diligência que os capítulos supracitados da pelos estudiosos da velhice Retórica no pensamento aristotélico, a saber, . I 5, 1361b 28-31, define o que seria um bom envelhecimento Rhet ( ). Aí se lê que envelhece bem quem envelhece lentamente sem sofrimentos, o que resulta das eugería virtudes do corpo, quais sejam, saúde e vigor, e do concurso do acaso. Poder-se-ia objetar que o tom hipotético do capítulo em que se encontra a passagem, na qual Aristóteles exemplifica através da noção de felicidade e suas partes constitutivas a abordagem retórica das opiniões ilustres, retira-lhe a

120 legitimidade para abonar o que seria um posicionamento do Estagirita relativo ao tema. Entretanto, como pretendemos mostrar, esse trecho não só veicula um conteúdo efetivamente aristotélico, mas fornece também uma chave de leitura para a questão. Destarte, este minicurso apresentará os resultados de uma pesquisa empreendida sobre a velhice humana no âmbito da filosofia aristotélica, cujo propósito fora o de responder ao referido problema percorrendo as várias passagens em que Aristóteles aborda o envelhecimento e suas causas.

PROGRAMA: Aula 1: Interpretações acerca do tema da velhice no pensamento aristotélico.

Aula 2: As condições psicofisiológicas do envelhecimento.

Aula 3: A velhice na : felicidade, tempo de vida e experiência. Ética Nicomaqueia

Aula 4: Considerações finais sobre o problema da velhice.

BIBLIOGRAFIA: Fontes primárias: BYWATER, Ingram. (ed.) . Oxford: Clarendon Press, 1962 [1894]. Aristotelis Ethica Nicomachea LOUIS, Pierre. (texte établi e traduit par) Paris: Les Belles Lettres, Aristote. De la génération des animaux. 1961. ROSS, W. David. (edited with introduction and commentary) . Oxford: Clarendon Aristotle. De anima Press, 1961. ROSS, W. David. (a revised text with introduction and commentary) . Oxford: Aristotle. Parva Naturalia Oxford University Press, 1955. ZINGANO, Marco. (tradução, notas e comentários) Aristóteles. Ethica Nicomachea I 13 – III 8: Tratado da . São Paulo: Odysseus Editora, 2008. virtude moral

Fontes secundárias: ASSUNÇÃO, Teodoro R. “O exemplo de Príamo na Ilíada (XXIV, 525-549) e na Ética a Nicômaco (1100a6-9)”, 102 (2000), p. 178-189. Kriterion BEAUVOIR, Simone de. . Paris: Gallimard, 1970. La vieillesse BESNIER, Bernard. “L’âme végétative selon Aristote”, 9 (1997), p. 33-56. Kairos BYL, Simon. “Platon et Aristote ont-ils professé des vues contradictories sur la vieillesse?”, Les Études 42 (1974), p. 113-126. classiques CATRYSSE, Andrée. . Paris: L’Harmattan, 2003. Les Grecs et la vieillesse. D’Homère à Épicure GRIMALDI, William M.A. . New York: Fordham University Press, Aristotle. Rhetoric II: A Commentary 1988.

121 GRIMALDI, William M.A. . New York: Fordham University Press, Aristotle. Rhetoric I: A Commentary 1980. KING, R.A.H. . London: Duckworth, 2001. Aristotle on life and death MINOIS, Georges. . Trad. Serafim Ferreira. História da velhice no Ocidente da Antiguidade ao Renascimento Lisboa: Teorema, 1999. NUSSBAUM, Martha. . Trad. A Fragilidade da Bondade. Fortuna e Ética na Tragédia e na Filosofia Grega Ana Aguiar Cotrim. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. PUENTE, Fernando Rey. “A morte como término, mas não como finalidade da vida em Aristóteles”, v. 29, n. 93 (2002), p. 95-102. Síntese REPICI, Luciana. “‘Tutto invecchia per opera del tempo’. Senilità e senescenza in Aristotele”, em CRISCIANI, C.; REPICI, L.; ROSSI, P.B. (a cura di) Vita longa. Vecchiaia e durata della vita nella tradizione medica e aristotelica antica e medievale. Atti del Convegno internazionale (Torino, 13-14 . Firenze: Sismel/Edizioni del Galluzzo, 2009, p. 19-40. giugno 2008) RICHARDSON, Bessie E. Old age among the Ancient Greeks. The Greek Portrayal of Old Age in Literature, Baltimore: Johns Hopkins Press, 1933. Art, and Inscriptions. RYLE, Gilbert. “On forgetting the difference between right and wrong”, em MELDEN, A.I. (ed.) Essays . Seattle: University of Washington Press, 1958, p. 147-159. in Moral Philosophy SMALL, Helen. . Oxford: Oxford University Press, 2007. The long life WOODCOX, Adam. “Aristotle’s Theory of Aging”, 45 (2018), p. 65-78. Cahiers des études anciennes

Minicurso 7

Local: Faculdade de Letras, Bloco 1.400, sala 2045 (ex-1415)

Vozes femininas, críticas feministas: os poemas homéricos em debate Profa. Dra. Lettícia Batista Rodrigues Leite (Doutora - Universidade de Paris 1-Panthéon-Sorbonne)

EMENTA: Em uma obra publicada no ano de 1897, sob o título: ( The Authoress of the Odyssey A autora da ), o romancista e ensaísta Samuel Butler sustenta a provocativa tese de que a teria sido Odisseia Odisseia escrita por uma jovem siciliana de cultura grega. Ainda que seu argumento não tenha sido levado a sério pelos helenistas de sua época e posteriores, fato é que ele continua a reverberar. Nesse sentido podemos citar, por exemplo, as reimpressões da obra em inglês (1921-1922, 1967, 2004) e a sua tradução para outros idiomas (2009 para a tradução em francês). Seja como for, para além de Butler e de sua tese, é notória, em trabalhos relativamente recentes realizados por pesquisadoras e pesquisadores, uma busca por inserir novas perspectivas de leituras críticas que privilegiam as personagens mulheres presentes seja na seja na . Trabalhos que, para Ilíada Odisseia além de seus objetivos mais específicos, trouxeram contribuições de ordem geral para o âmbito da crítica homérica. Em diálogo com a tradição e crítica dos poemas homéricos, podemos também evocar um trabalho de reescrita homérica que radicaliza a tese de S. Butler, colocando-a em prática de algum modo: , da escritora canadense Margaret Atwood, de 2005. Obra escrita de uma A Odisseia de Penélope perspectiva claramente feminista, por uma mulher, e cuja narrativa é enunciada por e na perspectiva de Penélope.

122 Tendo em vista o horizonte brevemente apresentado acima, o objetivo dos quatro encontros deste minicurso será apresentar e problematizar os aspectos centrais de trabalhos que, de diferentes formas, se inserem nas perspectivas apresentadas.

PROGRAMA: Aula 1: Uma autora para a ? Samuel Butler e a . Odisseia A autora d Odisseia

Aula 2: Poemas homéricos: vozes femininas e... feministas?

Aula 3: Transcriações feministas: , de Margaret Atwood. A Odisseia de Penélope

Aula 4: Balanço final das contribuições das perspectivas feministas à crítica homérica.

BIBLIOGRAFIA: ATWOOD, Margaret. . Trad. Celso Nogueira. São A Odisseia de Penélope. O mito de Penélope e Odisseu Paulo: Companhia das Letras, 2005. BEYE, Charles. “Male and Female in the Homeric Poems”. , 3(2), 87-101. Disponível em: https:// Ramus doi.org/10.1017/S0048671X00004537. Acesso em: 12 abr. 2019. BUTLER, Samuel. . London: Jonathan Cape, 1922 [1897]. The Authoress of the Odyssey BUTLER, Samuel. . Trad. Christian Angelliaume. Viry-Châtillon: À l’écluse d’aval, L’Auteure de l’Odyssée 2009. CASTRO, Elis; VASQUE, Sandra Verônica. “A Odisseia de Penélope”. ΤΟ ΕΛΛΗΝΙΚΟ ΒΛΕΜΜΑ - - UERJ, vol.03, 2-8, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.12957/ Revista de Estudos Helênicos ellinikovlemma.2017.31384. Acesso: 12 maio 2019. CLAYTON, Barbara. . Oxford: A Penelopean Poetics: Reweaving the Feminine in Homer’s Odyssey Lexington Books, 2004. DOHERTY, Lillian. “La ‘maternité’ de l’Odyssée”, [En ligne], 32 | 2010, Clio. Femmes, Genre, Histoire mis en ligne le 31 décembre 2012. Disponível em: http://journals.openedition.org/clio/9877. Acesso em: 12 maio 2019. DOUGHER, Sarah. “An Epic for the Ladies: Contextualizing Samuel’s Butler Theory of “Odyssey” Authorship”. , vol.34, n.32, p.173-184, 2001. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/ Arethusa 44578429. Acesso em: 21 jul. 2018. FARRINGTON, Benjamin. . New York: Haskell House Publishers, 1974 Samuel Butler and the Odyssey [1929]. GRAVES, Robert. . Garden City (NY): Doubleday, 1955. Homer’s Daughter HOLMBERG, Ingrid. “The Odyssey and Female Subjectivity”. , vol.22.2, p.103-122, 1995. Helios LIMA, Kelly. Penelopeia: figurações de Penélope na Odisseia, de Homero, e em "A Odisseia de Penélope", de . 2013. 116f. Dissertação (mestrado) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes. Margaret Atwood

123 Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2013. Disponível em: http://hdl.handle.net/1884/30327. Acesso em: 26 mar. 2019. PAPADOPOULOU-BELMEHDI, Ioanna. . Paris: Belin, 1994. Le chant de Pénélope PERCEAU, Sylvie. “La voix d’Hélène dans l’épopée homérique : fiction et tradition”. Cahiers Mondes [en ligne], 3| 2010, mis en ligne le 23 mai 2012. Disponível em: https:// Anciens journals.openedition.org/mondesanciens/829. Acesso em: 11 mai 2019. RUYER, Raymond. . Paris: Copernic, 1977. Homère au féminin SEBILLOTTE-CUCHET, Violaine. “Touché par le féminisme. L’Antiquité avec les sciences humaines”. In: PASCAL, Payen; SCHEID-TISSINIER, Evelyne. Anthropologie de l’Antiquité. Anciens objets, . Brepols, 2012, p.143-172. nouvelles approches WRIGHT, Frederick. . London: Routledge, 1923. Feminism in Greek Literature. From Homer to Aristotle

TERÇA (03/09) À SEXTA (06/09), DAS 9H30 ÀS 11H

Minicurso 8

Local: Centro de Ciências, Auditório 3

Mitografia Grega Prof. Dr. Marcos Martinho(Professor Livre-Docente -USP)

EMENTA: O termo “mitógrafo” é atribuído a prosadores gregos que, na verdade, foram filósofos, historiadores, gramáticos, e se dedicaram a duas práticas discursivas: 1) à composição e reunião de narrativas míticas; 2) à interpretação destas. O minicurso pretende apresentar as práticas mitográficas, explicando alguns aspectos fundamentais delas e ilustrando-as com exemplos extraídos de autores vários.

PROGRAMA: Aula 1: composição das narrativas míticas - qual é a natureza das narrativas míticas compostas pelos mitógrafos? - analisaremos a natureza das narrativas míticas de Ferecides, Asclepíades, Apolodoro.

Aula 2: reunião das narrativas míticas - que critérios os mitógrafos empregaram na reunião das narrativas míticas? - analisaremos os critérios empregados nas coleções de narrativas míticas de Eratóstenes, Partênio, Apolodoro.

Aula 3: interpretação filosófica das narrativas míticas - o que levou autores gregos a supor que as narrativas míticas encerravam sob o seu sentido aparente um outro sentido? - qual a natureza e o escopo da interpretação filosófica das narrativas míticas? - os antecedentes da interpretação filosófica remontam a Xenófanes, Metrodoro, e o desenvolvimento segue com estóicos tais como Crisipo.

124 Aula 4: interpretação histórica das narrativas míticas - o que levou autores gregos a supor que as narrativas míticas tiveram um sentido original que com o tempo se transformou noutro sentido? - qual a natureza e o escopo da interpretação histórica das narrativas míticas? - os antecedentes da interpretação histórica remontam a Heródoto, Tucídides, e o desenvolvimento segue com Evêmero, Paléfato.

BIBLIOGRAFIA: ALGANZA ROLDÁN, M. La mitografía como género de la prosa helenística: Cuestiones previas. . v.17, p. 9-37, 2006. Florentia Iliberritana HENRICHS, A. Three approaches to Greek mythography. In: BREMMER, J. (ed.). Interpretations of . London / Sydney: Croom Helm, 1987. p. 242-77. Greek mythology PELLIZER, E. La mitografia. In: CAMBIANO, G. & al. (ed.). . Lo spazio letterario della Grecia antica Roma: Salerno Editrice, 1993. v. 1.2, p. 283-303.

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Imagens: “The Atalanta Lekythos”, 500-490 a.C. Atribuído ao pintor grego Douris. Cleveland Museum of Art Arte: Lívia Gallucci & Madiana Barros 2019

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