RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 78 [ 1/3/2012 a 7/3/2012 ] Sumário

CINEMA E TV...... 3 Folha de S. Paulo – Filme com Selton Mello faz homenagem a chanchadas...... 3 O Globo - Ancine na berlinda...... 3 New York Film Academy - Ladakh to host very first international film festival...... 5 Folha de S. Paulo - Brics devem se unir também na cultura, diz chefe da MTV China...... 5 Folha de S. Paulo - Agora vai?...... 6 TEATRO E DANÇA...... 7 Corrreio Braziliense - Cenas contrastantes ...... 7 Correio Braziliense - Gestos barrocos ...... 9 Folha de S. Paulo – Pai e filhos...... 11 Folha de S. Paulo – "Peça-desfile" de Melamed mostra espanto com o Brasil...... 12 O Globo – A favor da Maré...... 13 Estado de Minas – Galpão abre seu baú...... 16 Correio Braziliense - Graça feminina ...... 17 Correio Braziliense - Mosaico da dança ...... 19 ARTES PLÁSTICAS...... 20 Correio Braziliense - A liga dos Zeróis...... 20 MÚSICA...... 21 Correio Braziliense - De volta ao estúdio ...... 21 Estado de Minas – Álbum em tom de estreia ...... 22 Estado de Minas – Resgatando um clássico ...... 24 O Globo - No Texas, Brasil busca o Eldorado ‘indie’...... 25 O Globo - Casuarina homenageia centenário de Herivelto...... 27 O Globo - ... E o Anu vai para...... 28 Valor Econômico - Simplesmente CHICO...... 29 Correio Braziliense - A elegância de Rosa Passos...... 31 Correio Braziliense - Cordel sinfônico ...... 32 Folha de S. Paulo - Músico capixaba mira cena internacional...... 34 O Globo - O Pupillo que se tornou mestre...... 35 Folha de S. Paulo - Homem musica...... 37 Correio Braziliense - Explosão rítmica de alegria...... 38 Zero Hora - Elis essencial...... 39 Folha de S. Paulo - Luciana Souza volta a cantar no Brasil após cinco anos...... 40 LIVROS E LITERATURA...... 40 Correio Braziliense - Verso em dois tempos ...... 40 O Globo - O mineiro que dava as cartas...... 41 O Estado de S. Paulo - Paraty Poética ...... 43 Correio Braziliense - A Brasília de Edgar Vasques...... 43 Correio Braziliense - As muitas caras do Chico...... 45 OUTROS...... 46 O Globo - Arte brasileira toma ruas e palcos de Londres...... 46 Folha de S. Paulo – Cinema: MIS abre mostra baseada em Leon Cakoff...... 48

2 CINEMA E TV

FOLHA DE S. PAULO – Filme com Selton Mello faz homenagem a chanchadas

"Billi Pig" pretende se estabelecer entre o cinema comercial e o de autor Longa de José Eduardo Belmonte conta história de corretor de seguros falido que tenta dar golpe em criminoso MATHEUS MAGENTA, DE SÃO PAULO

(02/03/12) Gênero cinematográfico que teve seu auge nos anos 1950, a chanchada ganha novo ânimo com "Billi Pig". É com ele que o diretor José Eduardo Belmonte ("Se Nada Mais Der Certo"), consagrado no cinema autoral, faz sua estreia hoje no circuito comercial brasileiro. No filme, Selton Mello interpreta Wanderley, um corretor de seguros que envolve a mulher (Grazi Massafera) e um padre (Milton Gonçalves) em um golpe contra um criminoso (Otávio Muller). O plano é ganhar dinheiro salvando a vida da filha do bandido com um milagre. Naturalmente, as coisas não saem como o planejado. As confusões criadas pelo protagonista acabam remetendo a Chicó, personagem de Selton Mello em "O Auto da Compadecida" (2000). O milagre que envolvia um gato que "descome" dinheiro no longa anterior agora envolve um pato azul-turquesa. "É um filme fantasioso, ingênuo, uma chanchada brasileira. O Zé [Eduardo Belmonte] resgatou bem isso e a gente tentou entrar nesse fluxo", diz Massafera, que, após várias novelas, se lança no cinema. Marivalda, a aspirante a atriz que interpreta no filme, recebe conselhos de um porco de brinquedo falante (o Billi que dá nome ao filme). "É uma mistura muito doida, com elementos fantásticos e suburbanos", define Selton Mello. Com um lançamento de médio porte (200 cópias), custou R$ 6 milhões e quer repetir o sucesso de "O Palhaço", dirigido por Mello, que teve 1,5 milhão de espectadores. É visto como uma terceira via entre os cinemas comercial e autoral. "Pode ser uma nova possibilidade para nossa produção. 'O Palhaço' desbravou um caminho e cabe a outros segui-lo", diz Mello.

O GLOBO - Ancine na berlinda

Atacada por operadora de TV e cineastas, a agência reguladora monopoliza as discussões no RioContentMarket, maior evento sobre produção de conteúdo audiovisual da América Latina

André Miranda

(02.03.12) Um dos principais palcos de discussão sobre a produção audiovisual no Brasil ganhou, ontem, ares de debate político. Uma mesa realizada pela manhã no Rio- ContentMarket, evento internacional sobre a cadeia produtiva de conteúdo para TV e meios multiplataforma, tratou de um dos assuntos mais polêmicos atualmente no setor: a lei 12.485, que foi aprovada em setembro do ano passado após cinco anos de discussão no Congresso e que trata de disposições para a TV paga no país. No centro da discussão esteve Manoel Rangel, diretor-presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), órgão do governo de regulação e fomento do setor audiovisual. A Ancine sofreu dois ataques durante a semana, um da operadora de TV via satélite Sky e outro de cineastas, criticando normas e apontando uma possível incapacidade da agência de dar agilidade à cadeia do audiovisual. Ambos repercutiram no RioContentMarket.

A crítica da Sky veio em forma de anúncios veiculados em revistas e na TV, apontando o que considera falhas na regulamentação da lei. Já a dos cineastas virou um texto divulgado pela internet, intitulado “Declaração dos direitos dos cineastas”. Em ambos, a Ancine é o foco principal. Enquanto anúncio da Sky diz que “a Ancine está (...) trazendo diversas regras ora incoerentes, ora ilegais e inconstitucionais, afetando diretamente os direitos dos consumidores e a liberdade de expressão e comunicação”, o documento dos produtores diz: “A Ancine, que tem o dever legal de agir em nome dos cineastas brasileiros, não pode baixar regras que inviabilizam a produção audiovisual, que tem como característica principal a agilidade.”

3 As duas manifestações surgem num momento em que importantes Instruções Normativas da Ancine estão em consulta pública, tanto sobre a lei 12.485 quanto sobre a prestação de contas de obras realizadas com recursos de incentivo fiscal. No caso da ação dos cineastas e produtores, o texto foi escrito por Renata de Almeida Magalhães, com apoio de Luiz Carlos Barreto e outros cineastas. Um de seus principais pontos trata exatamente da prestação de contas, dizendo que “os orçamentos dos projetos apresentados traduzem uma estimativa de custos e não podem ser confundidos com o documento definitivo”. Na terça-feira, a Ancine decidiu estender por mais 60 dias uma consulta pública sobre a prestação de contas de projetos.

— A lei brasileira entende que a Ancine é um órgão do Estado brasileiro e não pode se configurar como a representação de um setor profissional específico. Para isso já existem os sindicatos e as associações — defende- se Manoel Rangel. — No documento dos cineastas, há uma série de obviedades que a Ancine já pratica.

Rangel assumiu o cargo de diretorpresidente da Ancine em 2006, teve seu mandato renovado uma vez, mas, por um prazo imposto por lei, terá que deixar a agência em maio de 2013. Formado em Cinema e com uma carreira de documentarista, ele é considerado hoje um importante quadro de seu partido, o PCdo B. No RioContentMarket, após sua apresentação pela manhã, produtores cercaram Rangel para tirar dúvidas ou pedir ajuda na solução de algum processo pendente na Ancine. Paa todos, o discurso era semelhante: “Você tem que procurar a área técnica.”

— Muitas dessas discussões são de ordem meramente política. Tem gente que chega a dizer que a Ancine não deveria existir, o que eu discordo — diz Ricardo Rangel, diretor de operações da Conspiração Filmes. — O que acontece é que temos uma preocupação de a Ancine fiscalizar tanto ao ponto de tornar o negócio difícil. Temos um projeto de série de TV e longa, chamado “Vermelho Brasil”, que chegou à Ancine em dezembro de 2010 e até hoje não foi aprovado. Nós já temos até um primeiro corte de edição feito.

Parte da preocupação em relação à lei 12.485 também tem relação com a falta de agilidade da agência. A lei já está em vigor, mas ainda depende de regulamentação para que seus principais pontos passem a valer. Entre esses, estão a criação de cotas de exibição para a produção brasileira de filmes, séries, documentários e animações em canais com esse perfil; a exigência de que os pacotes oferecidos pelas empresas de TV por assinatura tenham ao menos um terço de canais de filmes, séries, documentários e animações com produção majoritariamente nacional; e a agilização dos processos para a instalação de serviços de TV a cabo nos municípios brasileiros. A regulação de tudo o que tange o conteúdo da lei caberá à Ancine, enquanto os serviços de telecomunicação continuarão sendo regulados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

— A lei que temos foi a lei possível. O espaço de três horas e meia por semana para conteúdo nacional, por exemplo, é simbólico. Mas, pela primeira vez, a produção independente foi contemplada — diz Marco Altberg, presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPITV), que organiza o Rio- ContentMarket. — A Ancine parece ter consciência de seus desafios. Assim como os produtores brasileiros, ela precisa se preparar para o novo, sobretudo na TV, meio que exige uma agilidade diferente da do cinema.

No momento, a voz mais crítica contra a Ancine vem do presidente da Sky, Luiz Eduardo Baptista da Rocha. Nos anúncios publicados pela empresa, são apontadas o que a Sky considera falhas na lei, como uma possível intervenção do Estado em negócios privados, que levaria a um eventual aumento de preços. A Sky também entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) apontando inconstitucionalidades na lei, por entender que a política de cotas seria contrária à liberdade dos meios de comunicação. A empresa ainda veiculou vídeos com atletas, como o jogador de vôlei Giba, questionando o fato de o esporte não ser considerado pela Lei 12.485 um conteúdo qualificado, e afirmando que o espaço dedicado a transmissões ao vivo poderá ser reduzido.

— Nunca fomos contra a confecção de conteúdo nacional, mas somos contra a cota obrigatória, porque quem vai pagar essa conta é o consumidor — afirma Baptista da Rocha. — Na Ancine ninguém trabalha em TV, eles não sabem nada sobre isso e ainda querem decidir o que vamos fazer. Não temos medo de competição. Somos contra a interferência excessiva da Ancine. A agência deveria comprar logo parte das empresas, já que eles querem mandar sem ser donos de nada. Ela age como um porteiro de boate, que decide quem entra, mas não diz o porquê.

4 Rangel prefere não comentar a ofensiva da Sky. De concreto, ele diz esperar que as duas consultas públicas sobre a lei 12.485, cujo prazo de contribuições termina neste domingo, recebam sugestões de todos os lados do debate. A Ancine deve publicar as normas sobre a lei até meados de abril, definindo pontos como a quantidade de reprises permitida pelas cotas ou o que é horário nobre para cada tipo de canal. Até lá, resta esperar pelas cenas do próximo capítulo.

NEW YORK FILM ACADEMY - Ladakh to host very first international film festival

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Ladakh has always been known as a tourist destination, but it will soon host its very first international film festival.

The Ladakh International Film Festival (LIFF), the highest-altitude film festival at 13,500 feet above sea level, will begin on June 15. It will go on for three days and focus largely on introducing world- class cinema to Ladakh.

Veteran film-maker Shyam Benegal has been roped in as the chairman for the festival.

“I am delighted with the response from Indian and International film-makers for the very first edition of the LIFF. This shows that the festival is recognised as a important platform for screening films,” the film-maker said.

The festival has received entries from, besides India, countries like the US, the United Kingdom, France, Italy, Japan, Korea, Pakistan, , France and Nepal.

The films will be viewed by a pre-jury and subsequently by the international jury before the final list of films that will be screened at LIFF will be announced.

Eminent personalities who recently came on board as patrons of the festival include director Santosh Sivan, Festival de Cannes Deputy Director General Christian Jeune, film-makers Shekhar Kapur, Vishal Bhardwaj, Madhur Bhandarkar and Deepti Naval.

The mascot of festival is Schan — the snow leopard. Through its association with the Snow Leopard Conservancy India Trust, the festival will also aim to raise awareness among people on protecting the rare and endangered animal. — PTI

FOLHA DE S. PAULO - Brics devem se unir também na cultura, diz chefe da MTV China

Países querem "blocão" para frear importações de Hollywood

Anna Virginia Balloussier, enviada especial ao Rio

(05.03.12) Chefona da MTV chinesa, Yan Mei bate o olho numa reportagem sobre ela publicada na revista "Serafina", da Folha. Quer saber o que significa o "xing-ling" no título.

Para Mei, expressões e hábitos do Brasil são uma grande interrogação. A recíproca é verdadeira: a China é muito mais do que uma nação sob mordaça cultural do governo, diz a filha de um antigo censor e, hoje, diretora-executiva de um dos canais ocidentais pioneiros no país.

Não à toa, ela foi uma das estrelas do RioContentMar-ket, evento que discutiu o audiovisual para TV na semana passada, no Rio.

Se querem ser parceiros, Brasil e China precisam se entender. "Os chineses adoram vocês, mas o que sabem é superficial. Futebol, Carnaval. Você tem de saber mais sobre o produto. Não é como vagar pelo supermercado e escolher um a esmo", disse à Folha.

Mei participou de debate que serviu, justamente, para entender como se digere uma feijoada de cinco países tão distintos entre si, mas ligados pela economia pujante.

5 A sigla Brics reúne Brasil, China, Índia, Rússia e, agora, África do Sul. E, na opinião de representantes, ninguém deveria esnobar um bloco de quase 3 bilhões de pessoas (40% da população).

Só a Índia movimentou, no setor audiovisual, R$ 6 bilhões em 2011. Cofundador da Miditech, produtora de reality shows como "Indian Idol", Nirat Alva ressalta a vocação superlativa do país. "Um programa com 1 milhão de espectadores não é grande coisa."

Ex-secretário do Audiovisual, o brasileiro Silvio Da-Rin defende um "blocão" cultural. Isso traria "um gigantesco mercado potencial de consumo" e "todos os tipos de locações: praias, lagos, desertos, savanas, florestas, metrópoles..."

Ele corta uma bola levantada pelos Brics: "Não faz sentido comprarmos a vida inteira formatos hollywoodianos".

Na prática, o que o Brasil tem a oferecer? As novelas são pop. Mei diz que "adoraria levar superstars brasileiros a China". Ou tudo pode acabar em . "E se o Brasil reproduzir o Carnaval na China?", questiona a executiva.

FOLHA DE S. PAULO - Agora vai?

Extinção de cópias em 35 mm leva governo e donos de cinemas a corrida para digitalizar as salas no Brasil

Matheus Magenta e Anna Virginia Balloussier de São Paulo

(06.03.12) Os créditos finais devem rolar em breve para a película de 35 mm no Brasil.

Criada pela Kodak no final do século 19, a tecnologia definha nos cinemas mundo afora, assim como a empresa que a fabricou. Após patinar por quase dois anos, a troca em massa dos projetores de 35 mm por equipamentos digitais deve enfim avançar nas salas de cinema brasileiras.

Já aprovado por deputados, um projeto de lei chega ao Senado para desonerar projetores digitais em até 30% e incentivar a construção de cinemas no interior. A previsão, ontem de manhã, era que fosse votado hoje -na quinta, perde a validade.

Na prática, o texto implementa o Cinema Perto de Você, lançado com pompa pelo então presidente Lula em 2010. Para cidades de 20 mil a 100 mil habitantes, é visto como luz no fim do túnel para o escurinho do cinema.

Em 1975, 80% das salas estavam no interior. Hoje são 50%, e muito disso se deve aos multiplex nas capitais. Se aprovado, o programa disponibilizará ao setor R$ 500 milhões para investimentos e empréstimos. Também concederá isenção de tributos federais e incentivos para a construção de salas Brasil adentro (veja quadro abaixo).

EMPRESAS

De olho no cenário, 16 empresas, donas de quase mil salas de cinema no país (42% do total), formaram um grupo em janeiro para negociar a digitalização coletiva.

O grupo decidiu pelo modelo VPF (taxa de cópia virtual; leia mais abaixo), dominante nos EUA. Em vez de gastarem quase R$ 2.500 por cópia em película, estúdios e distribuidores pagam às salas de cinema metade desse valor por cada filme digital.

Parte dos recursos sairá do bolso deles, que querem menos gastos com cópias e mais segurança contra a pirataria.

O Brasil conta hoje com 2.377 salas de cinema, segundo estimativas do Filme B, portal que monitora o mercado. Do total, 514 salas já têm projetores digitais.

6 A digitalização deve chegar até 2014 às mil pertencentes às empresas. A troca do restante deve ocorrer em seguida, gradativamente.

Há uma corrida contra o tempo nesse processo porque, segundo previsões, a película estará praticamente extinta no mundo em 2015. Dois fatos corroboram as previsões: o pedido de concordata da Kodak e a afirmação da associação dos donos de cinema dos EUA de que a película deve sumir do país em 2013.

DISTRIBUIÇÃO

Para o cineasta Cacá Diegues ("Bye, Bye, Brasil"), o dilema até agora era este: "É muito barato passar filmes digitais, porém muito caro instalar a tecnologia".

Por isso, o Cinema Perto de Você vem a calhar, apesar do atraso. "Nos EUA, o dinheiro para instalar a digitalização saiu todo dos US$ 800 bilhões do governo [pacote de socorro financeiro na crise econômica de 2008]. Serviu para incentivar a cultura e proteger a população", diz o diretor.

Sem a desoneração dos equipamentos, o Brasil "perde competitividade", especialmente às portas de uma Copa e uma Olimpíada, diz o produtor Adriano Civita.

"Quando vou comprar um computador, pago o dobro de um americano. Isso se eu não for financiá-lo com taxa de juros -aí pago três vezes mais. Isso no computador, no software, na câmera. E vai para toda a cadeia produtiva."

O diretor Sérgio Borges ("O Céu sobre os Ombros") acha que é preciso mais. "Falta uma política específica para aumentar a distribuição dessa produção independente."

GARGALOS

A Ancine (Agência Nacional do Cinema) já demonstra preocupação com possíveis gargalos numa expansão acelerada do parque exibidor.

Para Manoel Rangel, presidente da agência, devem faltar equipamentos, mão de obra e empresas capacitadas e livres para construir salas.

"Só desonerar não resolve. Mas as soluções estão na política do governo federal com cursos de engenharia, capacitação e facilidades para a infraestrutura", diz à Folha. TEATRO E DANÇA

CORRREIO BRAZILIENSE - Cenas contrastantes

O ator Marcos Fayad estreia dois espetáculos: Voar, colagem de contos sobre o homem do interior de Goiás, e A realidade é doida varrida, que encena a vida e a obra de Antonin Artaud

Mariana Moreira

(1º.03.12) Ator com longo caminho percorrido em produções teatrais e televisivas do país, o goiano Marcos Fayad vem a Brasília em uma temporada de duas semanas, para mostrar duas visões de mundo. Esse é nome do projeto que reúne dois espetáculos-solo, com temas distintos. De hoje a domingo, no Teatro Goldoni, as montagens Voar e A realidade é doida varrida serão encenadas em sequência, com um pequeno intervalo as separando. “É a primeira vez que farei os dois juntos e estou em pânico com a maratona”, diverte-se o ator.

Na primeira etapa da noite, ele dá vida ao protagonista de Voar, espetáculo que é, na verdade, uma colagem de dois contos publicados pelo autor goiano Gil Perini na obra Pequeno livro do cerrado.

7 Enquanto o primeiro traz pitadas de realismo fantástico para contar a história de um homem que voava, o segundo adiciona a história (real) de um homem miserável que encontrou um imenso diamante e passou a enfrentar o eterno dilema entre ser e ter. “O autor me disse que já não sabe mais o que eu escrevi e o que é obra dele. A peça tem uma teatralidade e uma poética comoventes”, destaca o ator.

O espetáculo, que já rodou Brasil, Portugal e Espanha, faz um resgate digno desse homem interiorano, comumente visto como matuto. “O cerrado goiano raramente é enfocado pelo cinema, teatro e tevê, e, quando aparece, é ridicularizado, retratado de forma pejorativa”, destaca. A preparação para o papel durou três meses e incluiu viagens de desbravamento das estradinhas secas e empoeiradas do estado, para dedos de prosa com gente simples das fazendas, laboratório que permitiu ao filho de catalão reproduzir a fala dos habitantes da região. “Todo o português que consideramos errado está nos Lusíadas, é arcaico, foi usado por Camões”, explica. Em suas andanças, Fayad ainda trocou objetos novos por roupas antigas desses homens e ganhou de presente até um banco de madeira quase centenário, parte do cenário do espetáculo.

Realidade Em seguida, ele muda o tom e apresenta seu novo espetáculo, A realidade é doida varrida, em que encarna a vida e a obra do poeta, ator, escritor e dramaturgo Antonin Artaud. Fayad, que já foi psicanalista e estagiou com a psiquiatra , certo dia recebeu um chamado do ator Rubéns Corrêa. À beira da morte, o ator queria dar de presente ao iniciante o texto que havia encenado durante 10 anos. Quando questionou o fato de nem sequer ter idade para viver Artaud, ouviu de Corrêa: faça quando se sentir maduro. O processo levou 35 anos e Fayad assumiu o papel no ano passado, em ensaios abertos numa capela desativada em Goiânia, cidade onde vive. A estreia profissional do espetáculo, no entanto, será hoje, em Brasília.

Durante muitos anos, ninguém ficou com a missão que Fayad retoma hoje, no palco do Teatro Goldoni. Depois da passagem por Brasília, o espetáculo segue para São Paulo, Curitiba, , Portugal e, quem sabe, Florianópolis. “É um texto muito bonito e denso, um monólogo poético que se assemelha a um soco na boca do estômago”, afirma o ator, que, apesar de viver a pouco mais de 200 quilômetros de Brasília, raramente se apresenta nos palcos da capital. “Viajo o Brasil inteiro, e o mundo, e percebo que Brasília vai pouco a Goiânia e vice-versa.”

Quando eleito, o então governador goiano Henrique Santillo descobriu as origens de Fayad e o convidou a passar uma temporada em seu estado natal. O artista, que hoje comanda sua própria companhia teatral, Martim Cererê, nunca mais foi embora. Agora, chega a Brasília para atualizar o público a respeito de sua vasta carreira.

Duas visões de mundo Espetáculos Voar e A realidade é doida varrida, com Marcos Fayad. De hoje a sábado, às 21h, e domingo, às 20h, no Teatro Goldoni (208/209 Sul, entrada pelo Eixo L; 3244-3333). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia). Não recomendado para menores de 12 anos.

8 Marcos Fayad na pele de Antonin Artaud, o visionário ator e dramaturgo: soco na boca do estômago

CORREIO BRAZILIENSE - Gestos barrocos

A beleza dos movimentos e a trilha sonora, com Villa-Lobos e compositores do século 17, são os trunfos da coreógrafa Márcia Milhazes para Camélia, espetáculo que tem estreia nacional hoje em Brasília

Nahima Maciel

(1º.03.12) Foi na frente de um museu espanhol que Márcia Milhazes percebeu como lidar com espaços abertos. Convidada para realizar uma apresentação na abertura de um panorama da arte brasileira na Espanha, a coreógrafa concebeu pequenos quadros de gestos e movimentos precisos apresentados na entrada da instituição. Gostou do resultado e criou Camélia, coreografia de 50 minutos com estreia marcada para hoje no vão do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A peça é um marco na trajetória de Márcia, acostumada ao palco italiano e ao ambiente sóbrio e silencioso do teatro.

Hoje, os três bailarinos dirigidos pela coreógrafa, entre eles a brasiliense Ana Amélia Vianna, estarão cercados de todas as eventualidades comuns a um espaço aberto. Barulhos de carros, vozes e poluição visual fazem parte da cena aberta e Márcia acredita poder driblá-los com a beleza dos movimentos e da trilha sonora de Camélia. “Essa coreografia tem uma coisa inusitada, porque não estamos numa sala formal de teatro. A ideia é trazer a dança com toda a sua força, seu gesto e sua dinâmica, mas com o viés de instigar as pessoas a olhar para isso de outra maneira. Me encanta a ideia de a plateia estar muito próxima. No teatro, a plateia pode ficar mais distanciada”, comenta. Concebido pela irmã de Márcia, a artista plástica , o cenário também será espaço de interação com o público, que poderá caminhar pelos 13 metros de cena antes do espetáculo.

Curiosamente, Camélia nasceu no silêncio. A rotina criativa de Márcia é bem precisa. Embora se alimente de artes visuais, literatura e música, a coreógrafa concentra a criação unicamente nas possibilidades gestuais do corpo. Primeiro nascem os movimentos, depois o contexto. Dessa sequência Márcia retira a essência do conjunto. “Não me apoio em outra mídia para criar as frases coreográficas”, avisa. “Trabalho a textura do corpo. As outras questões que vão formar a obra vêm depois. São pesquisas muito solitárias e que andam de forma paralela. A questão do gesto é destrinchada com cada um dos bailarinos.”

9 Longe da mesmice O gesto é a unidade mais preciosa do trabalho de Márcia. Por conta do foco na capacidade humana de comunicar uma infinidade de sutilezas apenas com o movimento, a coreógrafa tem certa obsessão quando desenvolve uma nova obra. A cada criação, ela fica mais barroca, mais orgânica. Em Camélia, Márcia assume ter exercitado extremos. Ex-bailarina clássica, com experiência em companhias modernas e de vanguarda, ela se incomoda com uma certa mesmice percebida no mundo da dança contemporânea. “Minha vida foi tão dedicada a isso que fico triste quando vejo a dança fragilizada por sua própria mídia”, explica. “Todo mundo cola todo mundo, falta pesquisa de fato e os espetáculos ficam enfadonhos. Por causa de tanta banalização, estou muito mais barroca, mais orgânica, mais técnica e volumosa, com mais gestos.”

A trilha sonora compõe e divide Camélia em três blocos temáticos focados na brasilidade da música erudita nacional. Primeiro estão os motivos sacros e barrocos de Francisco Xavier Batista, Padre José Maurício e Carlos Seixas, todos compositores brasileiros do século 17 interpretados pelo cravista Marcelo Fagerlande. “Você acha que é Bach, mas é música brasileira”, avisa a coreógrafa. O segundo bloco traz Heitor Villa-Lobos com Prelúdio nº2 , para piano e violoncelo, e Sonata para cordas. Márcia não queria nada óbvio, mesmo assim decidiu incluir a Ária das Bachianas brasileiras nº 5, trecho mais conhecido entre todas as composições de Villa-Lobos. “Não ia utilizar essa peça, mas o Villa é ainda tão desconhecido que decidi usar”, conta.

A terceira intervenção é um retorno ao século 17, com peça anônima escrita para viola da gamba. “A trilha também tem acordeom em uma composição mais antiga, mas parece música contemporânea. Começa no século 17 e é impressionante como você vê o Brasil já na sonoridade daquela época.” É para um mundo fragmentado e distante no tempo, conduzido por linguagem corporal contemporânea, que Camélia e Márcia Milhazes pretendem transportar o público.

Cenário luxuoso Beatriz Milhazes faz parte do grupo de artistas plásticos brasileiros mais requisitados no mundo. Em 2008, o quadro O mágico foi vendido por R$ 1,7 milhão em leilão da Sotheby’s — o preço mais alto já pago por uma obra de um artista vivo brasileiro na casa britânica. Para o cenário de Camélia, Beatriz criou intervenção inspirada em instalação feita com pedras preciosas para a Fundação Cartier, em . Desde que Márcia deixou os palcos como bailarina e passou a se dedicar à coreografia, tem sempre a irmã como parceira na concepção dos cenários e figurinos dos espetáculos.

Camélia Coreografia de Márcia Milhazes. Hoje, às 20h20; sexta e sábado, às 20h20; e domingo, às 19h20. Até 18 de março, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB — SCES, Trecho 2, Lote 22). Entrada franca. No próximo sábado, às 18h, haverá um bate-papo com Márcia Milhazes.

10 Os cenários de Beatriz Milhazes marcam os espetáculos da companhia, como Tempo de verão (2006)

FOLHA DE S. PAULO – Pai e filhos

Antunes Filho inicia novo ciclo artístico com "Balaio", espetáculo criado por jovens atores

No sentido horário, o diretor Antunes Filho e os atores-autores de "Balaio": Camila Turin, Isabel Wilker, Stella Prata, Cristiano Salomão, Emerson Danesi (ao fundo), Mariana Delfini, Nathália Corrêa e Carolina Sudati (Foto: Lenise Pinheiro/Folhapress) GABRIELA MELLÃO, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(01/03/12) Desde que finalizou o ciclo em que transpôs ao palco obras fundadoras da cultura brasileira, como "Policarpo Quaresma" e "A Pedra do Reino", o encenador Antunes Filho anda inquieto. Ele procura algo que não consegue definir.

11 Ao menos parte do que buscava garante ter encontrado em "Balaio", espetáculo que estreia na próxima segunda-feira e que foi criado por sete jovens artistas a partir de seus empurrões.

"Tem uma vertente em 'Balaio' que pode dar frutos. Há algo no espetáculo que desperta, te faz abrir os olhos", avalia o encenador, responsável pelo CPT, o principal centro de estudos da arte do ator no país.

"Balaio" recusa a tradição teatral e surge de um diálogo estreito com as artes plásticas. "Pensei em apresentar este espetáculo numa galeria de arte ou na Bienal. É uma atividade desamarrada, solta, provocativa, próxima das instalações e performances."

É de modo um tanto abstrato que o espetáculo se debruça sobre os temas da figura paterna, do artista à margem e da angústia da memória -cada um deles apresentado em uma cena distinta.

Apenas à primeira vista "Balaio" pode ser confundido com Prêt-à-Porter, programa que há 13 anos apresenta ao público espetáculos criados pelos artistas do CPT.

Apesar de também ser um exercício teatral formado por três cenas curtas e realizado pelos atores (que também são dramaturgos, produtores e diretores do projeto), a linguagem é outra. Não se presta a contar uma história linear. Ao contrário, é fragmentada.

O falso naturalismo também é rejeitado. Não há personagens em cena, mas situações. "O espetáculo é uma instalação viva", define o ator-autor Cristiano Salomão.

Cena: um peixe se debate no chão depois de ser lançado para fora do aquário. Além de sintetizar as sensações de deslocamento próprias do mundo contemporâneo e de sua arte, a cena também traduz a busca de Antunes que serviu de alimento aos jovens artistas de "Balaio".

"Estamos instalados num caos absoluto, numa fase de passagem. Estou batalhando para ver como a dramaturgia pode encontrar novos horizontes", explica Antunes.

O diretor mira o teatro contemporâneo de vanguarda, mesmo sem saber o que o termo significa -segundo ele, apenas o futuro vai dizer o que é contemporâneo: "Meu barco está à deriva. Vamos ver em que ilha irá aportar".

Raio-X Antunes Filho

VIDA

Nasce em São Paulo, em 12 de dezembro de 1929

CARREIRA

É um dos mais importantes diretores de teatro do Brasil. Desde 1982 coordena o CPT (Centro de Pesquisa Teatral), principal centro de estudos teatrais do país

PRINCIPAIS PEÇAS

"Macunaíma" (1978), " - O Eterno Retorno" (1981), "A Pedra do Reino" (2006), "Policarpo Quaresma" (2010)

FOLHA DE S. PAULO – "Peça-desfile" de Melamed mostra espanto com o Brasil

"Adeus à Carne" cria experimento com performance quase sem texto em sua primeira montagem em grupo

Espetáculo tem trilha sonora que vai de The Who ao funk, passando por Antony and the Johnsons e Elis Regina MARCO AURÉLIO CANÔNICO, DO RIO

12 (01/03/12) "A comissão de frente cria uma certa expectativa no público por sua coreografia diferenciada." A frase, sussurrada por um narrador fora de cena, introduz uma das alas do desfile carnavalesco que Michel Melamed, 35, armou em sua nova peça, "Adeus à Carne", em cartaz no Rio.

Ela também serve para falar da própria carreira de Melamed, autor, ator e diretor de quem o público se acostumou a esperar "coreografias diferenciadas" desde a marcante "Regurgitofagia" (2004), na qual ele recebia choques a cada reação da plateia.

Em "Adeus à Carne", o artista carioca leva seus experimentos com a linguagem teatral ao extremo, numa performance quase sem texto.

"É uma radicalização da linguagem e das ideias que vinham sendo trabalhadas nos meus espetáculos anteriores", diz Melamed à Folha.

"O público é convidado a interpretar, a inventar o espetáculo. O espetáculo não existe, não tem uma condução linear de acontecimentos. Ele passa a existir quando as pessoas estabelecem conexões."

O que se apresenta para a plateia é uma sequência de cenas, cada uma delas associada a uma parte do desfile carnavalesco (comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira, velha guarda etc.).

Mas, fora a demarcação de cada ala, anunciada pelo narrador, e alguns elementos cenográficos, não há nada que lembre as escolas de samba: são seis atores (é a primeira peça de Melamed em grupo) encenando momentos de violência, humor, drama, amor.

Acompanhando cada sequência da montagem, está uma trilha sonora que vai de The Who ao funk "proibidão", passando por Antony and the Johnsons, Elis Regina e Nana Caymmi.

CHOQUE COM O BRASIL

A peça, segundo Melamed, reflete o choque que ele teve em sua volta ao Brasil após uma temporada em Nova York, onde montou "SeeWatchLook" no ano passado.

"Quando voltei, a brutalidade saltou aos olhos, e o espetáculo acabou se transformando numa perplexidade com essa brutalidade. Não é possível achar que tudo isso que acontece todo dia é normal, o nível de corrupção policial, a impunidade."

Para o autor, é preciso que o público olhe para o país e interprete o que vê, assim como a plateia de "Adeus à Carne". "O Brasil precisa se reinterpretar: a gente precisa olhar e dizer novamente o que ele é ou o que queremos que ele seja."

O GLOBO – A favor da Maré

A coreógrafa Lia Rodrigues estreia espetáculo no galpão do complexo de favelas onde instalou a sede da sua companhia e montou uma escola de dança

Catharina Wrede

(1º.03.12) Eram 10h15m da última terça-feira, calor escaldante no Rio, quando Fabiana dos Santos, de 9 anos, adentrou com a mãe o número 181 da Rua Bittencourt Sampaio, na comunidade da Nova Holanda, no Complexo da Maré. Sorridente e animada, a menina negra e esbelta trazia em mãos uma ficha com seus dados. Queria se inscrever na escola de dança que funciona ali. A coreógrafa Lia Rodrigues correu para recepcionar as duas e disparou, empolgada: — Que linda, ela já tem a perninha de bailarina! Está pronta para começar a dançar!

Após ficar fechado por mais de 20 anos, o galpão de pédireito alto e teto de zinco onde funcionava uma antiga fábrica se transformou, em 2008, no Centro de Artes da Maré. Capitaneado por Lia, o local, além de abrigar uma escola de dança que oferece aulas gratuitas para moradores da comunidade — o projeto Dança Para Todos —, passou a ser o endereço da Lia Rodrigues Companhia de Danças. O grupo, com 22 anos de existência, estreia hoje, às 20h, “Piracema”, que

13 fica em cartaz até o dia 11. Segundo espetáculo que Lia cria dentro do galpão, o balé reflete a militância da coreógrafa em unir a cidade através da dança.

— Estar aqui na Maré é um projeto de vida — define Lia, que é fundadora do Festival Panorama de Dança, cuja direção deixou em 2005. — Brinco sempre que tenho cinco filhos: a Diana, com 29 anos; o Luiz, com 25; a Inês, com 23; a minha companhia, com 22; o Panorama, que fez 20 e foi meu filho por 14 anos; e agora esse projeto da Maré, que já tem nove anos.

Lia desbravou a Maré em 2003. Levada pela professora e crítica de dança Silvia Soter, do GLOBO, para conhecer o projeto Redes de Desenvolvimento da Maré, a coreógrafa se apaixonou. Dedicado a promover um desenvolvimento sustentável voltado para a transformação estrutural das favelas da Maré, o Redes realiza ações ligadas a áreas como educação, segurança pública e cultura.

— Nessa época, eu estava cheia de questões, e me perguntava: “A cidade não é só a Zona Sul, onde a gente transita. Será que a arte contemporânea pode criar um diálogo com outras partes do Rio?” A cidade não é e não pode ser partida. Queria fazer alguma coisa como cidadã. E eu nunca teria conseguido sem a ajuda do Redes.

No início, Lia se instalou na Comunidade Morro do Timbau, outro bairro do complexo da Maré. Com a parceria do Redes, que sempre apoiou financeiramente o projeto, ela deslocou a sede da sua companhia para lá e criou uma escola de dança.

— O encontro com a Lia foi fundamental, tanto para ela consolidar o projeto dela quanto para nós, que queremos transformar a vida na Maré. A gente se alimenta mutuamente — diz Eliana de Sousa, fundadora e diretora do Redes. — A Lia trouxe a possibilidade de construir um polo cultural aqui.

Coordenador do Observatório de Favelas da Maré — organização social de pesquisa, consultoria e ação pública dedicada à produção do conhecimento sobre as favelas e fenômenos urbanos —, Jailson de Souza reafirma a importância de Lia na comunidade:

— O que nos une é esse projeto de cidade mais unida e democrática. Tornou-se comum que centros culturais se estabelecessem nas áreas nobres do Rio, mas temos uma visão de que a arte pode aproximar a cidade e diminuir suas barreiras, e a Lia entendeu isso.

A escola de dança criada por Lia permaneceu no Morro do Timbau até 2005, quando, segundo ela, acabou a verba. A partir daí, ela se dedicou à companhia, fazendo constantes apresentações na Europa. Foi quando, em 2008, à procura de um novo espaço, deparou-se com o galpão atual. O lugar estava “podre, sem teto, imundo”, mas ela o alugou e, desde então, vem reformando seu Centro de Artes da Maré com dinheiro das turnês internacionais e do Redes, que contribui com 50% dos custos. O projeto Dança Para Todos voltou a funcionar (com verba da Petrobras e da EFG Hermes Foundation) em novembro do ano passado, e hoje conta com 120 alunos. Lá, além da companhia de Lia e da escola de dança, projeções de filmes são feitas para a comunidade e um projeto de sala de cinema já está encaminhado junto ao município e ao governo do estado.

Assim como “Pororoca” (2009), espetáculo de estreia da companhia de Lia no Centro de Artes da Maré, a criação de “Piracema” — que estreou em Paris em novembro de 2011 e depois fez turnê pela Bélgica durante o festival de arte Europália, que este ano homenageou o Brasil — se deu neste tumultuado cenário de poeira e escombros.

— Acho que para ficarmos aqui, precisamos resistir. As condições de trabalho foram muito penosas, tinha terra, poeira, ratos. “Pororoca” foi um embate. Eu quis falar sobre esta coisa de estar junto, de se unir, e foi um espetáculo mais solar. “Piracema” é lunar, nostálgico, denso, o reverso da alegria. Acho que é um espetáculo bossa nova — reflete a coreógrafa.

Apesar da comparação, não há trilha sonora, tampouco cenário, em “Piracema”. Em um palco bem baixo coberto por linóleo e rodeado por cortinas pretas, os 11 bailarinos da companhia fazem solos simultâneos no espaço, sem se encostarem ou se olharem. Trechos de canções de Tom Jobim são cantarolados de vez em quando pelos próprios dançarinos, que se movimentam sem parar durante cerca de uma hora. Ao final, a única música que se ouve é “Wave”, que entra de mansinho e preenche a encenação.

14 — É muito importante que este seja um centro cultural como qualquer outro que frequentamos na Zona Sul — diz ela.

Mas Lia sabe que o deslocamento ainda não é natural. Por conta disso, todos os dias de espetáculo, um serviço de vans saindo do Parque dos Patins, na Lagoa, vai levar o público até a Maré.

Após a temporada, o balé vai rodar as lonas culturais do Rio e ficar um mês em cartaz no Espaço Cultural Sergio Porto, no Humaitá, pelo Fada (Fundo de Apoio à Dança, criado pela Secretaria municipal de Cultura).

— A década de 1990 foi gloriosa para a dança, mas, desde então, vivemos um deserto. Acho que o Fada tem tudo para ser uma verdadeira fada madrinha — opina Lia.

Sua vontade é criar uma trilogia de espetáculos sobre a escolha de permanecer na Maré e se deslocar geograficamente na cidade.

— Acho que, por ser paulistana, tenho uma característica de bandeirante dentro de mim. Gosto de desbravar. Estar aqui me faz sentir viva.

LIA RODRIGUES puxa as cortinas do Centro de Artes da Maré: “É muito importante que este seja um centro cultural como qualquer outro que frequentamos na Zona Sul”, diz ela, que oferece vans saindo da Lagoa

15 NO GALPÃO, os bailarinos ensaiam “Piracema”, que reflete a militância da coreógrafa em unir a cidade através da dança e estreia hoje no Brasil depois de ter passado por França e Bélgica

ESTADO DE MINAS – Galpão abre seu baú

ARTES CêNICAS » Para celebrar os 30 anos de estrada, a companhia mineira volta para as ruas e remonta seu maior sucesso, Romeu e Julieta. Para completar, retoma parceria com o diretor Gabriel Villela

Ensaio do espetáculo Romeu e Julieta, na sede do Grupo Galpão, com o diretor Gabriel Villela Thaís Pacheco

(02/03/2012) Foi assim: ano passado, planejando os preparativos para a comemoração dos 30 anos do Grupo Galpão, a trupe pensou em reaver uma de suas principais parcerias e remontar um dos espetáculos de maior sucesso de público e crítica.

Fez então contato com o diretor Gabriel Villela, para que ele voltasse a dirigir Romeu e Julieta, que teve estreia em 1992, em Ouro Preto. Villela aceitou o convite.

Há cerca de um mês começaram os preparativos. Cada integrante pegou seu texto, relembrou suas cenas e voltou a tocar instrumentos. Depois, abriram os baús em que guardavam figurinos e objetos de cena. Então, reuniram-se para voltar a tocar as músicas. Tudo sob supervisão do diretor assistente Arildo de Barros.

Na segunda-feira, receberam Gabriel Villela pela primeira vez e, logo na quarta, chamaram algumas pessoas da imprensa para conversar, contar os planos e apresentar o que estava sendo feito ali.

Não houve um ensaio completo. Apenas a passagem de algumas músicas, sob a supervisão do diretor e da preparadora vocal Babaya. Para mostrar que não estão ali a passeio e que levam a sério até um rápido trecho de ensaio, foram logo apresentando a cena mais comovente da tragédia shakespeariana, em que o dia raia e Romeu (Eduardo Moreira) e Julieta (Fernanda Vianna) se despedem.

O pequeno público (nove pessoas) se emocionou. A atriz Teuda Bara, que foi assistir à cena da plateia, chorou e avisou: “É meu espetáculo preferido”.

16 Na terra de Shakespeare

A partir de agora, o objetivo é “colocar o espetáculo todo de pé”, como definiu Gabriel Vilella, até o dia 6. Depois ele vai para São Paulo e só volta na semana santa. Até lá, o grupo segue os ensaios sem ele.

A estreia da remontagem será em Londres, no Shakespeare's Globe Theatre, ao lado de outras 36 peças do autor, na programação do Globe to globe que apresenta montagens de diversos países. O Galpão sobe ao palco inglês nos dias 19 e 20 de maio.

A ansiedade é grande, mas Eduardo Moreira conta que recebeu o recado de um dos diretores do teatro: “Quando eles foram discutir a programação, decidiram que a versão do Romeu e Julieta tinha de ser a nossa, porque adoraram”.

20 anos depois

Desde a primeira vez em que Romeu e Julieta foi montada pela trupe, até hoje, 20 anos se passaram. Com duas décadas a mais de experiência e outros pontos de vista dos envolvidos, o que muda?

“Quando estreamos, eu não tinha consciência da qualidade poética desse espetáculo. Agora, voltando, em outro instante, tenho tido perturbações emocionais bem fortes”, garante Gabriel Villela.

Ele explica o que muda: “É o fato de reencontrar o grupo em outro lugar e momento, mexer na base comum das nossas histórias e mexer numa história que tem sua vida e identidade próprias, além de matéria-prima poética de primeira grandeza.”

O ator Rodolfo Vaz fala ainda da diferença física. “Voltamos a fazer uma mecânica de treinamento que chamamos de trave, em que os atores se equilibram e dão o texto, o que cria qualidade diferente na voz. Vinte anos atrás, fazíamos com mais disposição, hoje é diferente, mas a gente encara muito bem”, garante o ator.

Sobre a idade dos atores e diretor em comparação à dos personagens, eles preferem separar as coisas. “Estou grisalho, mas o espetáculo não. Romeu e Julieta não define esse instante nosso. Não podemos trazê-lo para essa natureza cinquentinha. Temos de acessá-lo nessa plenitude juvenil que é o espaço da tragédia shakesperiana. E isso é o triunfo da arte sobre a vida”, conclui Gabriel Villela.

Há projeto para temporadas da montagem em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, mas ainda sem data definida.

Memória

Na estrada

Além de Londres, Inglaterra, e diversas cidades brasileiras, entre 1992 e 2003 Romeu e Julieta do Galpão foi apresentado em outros oito países: Uruguai, Colômbia, Venezuela, Alemanha, Espanha, Portugal, Holanda e nos Estados Unidos. A história do espetáculo soma 274 apresentações em 91 cidades pelo Brasil e o mundo.

CORREIO BRAZILIENSE - Graça feminina

Festival de palhaças mostra, de hoje a 1º de abril, o avanço da participação da mulher no terreno da comédia circense

Desde a adolescência, a atriz Manuela Castelo Branco queria ser palhaça. Em seus fingimentos de menina, o clown sempre teve espaço. Depois de se matricular em curso de arte circense, aprender a fazer acrobacias e andar em cima da perna de pau, o desejo se cristalizou. “Preenchi um oco que existia”, descreve ela.

17 Até assumir as dificuldades, como o preconceito sexista e a vergonha de se expor ao ridículo, Manuela trilhou longo caminho. No trajeto, encontrou muitas mulheres que foram movidas pela mesma inspiração: a de fazer graça e despertar risada.

Hoje, elas começam a comemorar o mês da mulher, que é também o mês do circo, fazendo o que mais gostam: palhaçada. A lona da Circa Brasilina (inaugurada recentemente na BR-020) se abre, a partir das 20h, para o Temporada de Palhaças no Mês da Mulher — TPMs.

O festival é resultado de uma longa pesquisa das organizadoras em torno do protagonismo feminino. Há três anos, foi criada a Bienal Internacional de Palhaças, mas as representantes do gênero sentiram falta de um evento anual. Março foi escolhido porque, além de ter o Dia Internacional da Mulher (8), tem o Dia Internacional do Circo (28). “A ideia é um encontro anual só com palhaças locais”, explica a organizadora.

Nem sempre foi fácil abrir o nicho de atuação para as mulheres engajadas na palhaçaria. “Já fui expulsa de uma praça por um palhaço que era o dono do pedaço e dizia que eu não podia me apresentar lá, por ser mulher”, conta. Na época, há cerca de 10 anos, causava estranhamento ver mulheres dirigindo caminhões, ocupando altos cargos e invadindo nichos cada vez mais masculinos. Mas elas perseveraram e começaram a criar uma cultura. “O maior sinal disso é que tenho uma coleção de artigos de palhaças e antigamente era a maior dificuldade para achá-los. Hoje, eles são comercializados normalmente, até em lojas de R$ 1,99. As palhaças começam a fazer parte do imaginário das pessoas”, acredita.

Hoje, a safra de risadas começa com Madame Dolores, a grande cartomante!, espetáculo da palhaça Madame Dolores, encarnando personagem que, para trazer luz ao mundo, estudou engenharia elétrica e meditação. “A figura da cartomante já faz parte do universo feminino. Ficou conosco essa carga do sétimo sentido, da intuição. Dolores faz mágicas e trabalha com adivinhação”, destaca Manuela. No próximo fim de semana, a própria Manuela sobe ao picadeiro para apresentar Show/de/ para/com mágicas, no qual números clássicos, que usam cartas de baralho, cordas e outros objetos conhecidos do grande público, são feitos por uma palhaça deveras atrapalhada. “O espetáculo filosofa sobre o espaço da mulher dentro do circo. Tradicionalmente, a mulher é a bonitona, que faz o papel de ajudante do mágico”, destaca.

A programação tem sequência, nos próximos dias 17 e 18, com a criação da palhaça Maisena Magnólia, alter ego cômico da escritora Clara Rosa, que acabou “empalhaçando” três de seus livros para levá-los à cena e transportar crianças de todas as idades para sua imaginação e seus pensamentos. O espetáculo ganhou o nome de um dos livros, Um amor de encanto. Em 24 e 25, a atriz e ritmista Mariana Baeta encena o espetáculo Saia de Pandora, com música, mandingas e mistérios. De dentro da saia, ela tira objetos que permitem a continuação da história. “É uma proposta mais heavy metal, passa pela improvisação”, explica a organizadora do ciclo.

No penúltimo fim de semana da mostra, Viva a celulite!, da cômica Anasha Gelli, bate de frente com a estética das Barbies, apresentando o “Sindicato das Gordinhas Bem Resolvidas”. Anasha surge em cena com o corpo forrado de enchimento. “É um espetáculo provocativo, que questiona tudo o que nos é imposto: ser mãe, ser mulher, magra, lutar contra a celulite, ser educada e por aí vai. Ela vem rasgar tudo”, revela. A temporada termina com Hipotenusa, que resgata a experiência de dança de sua intérprete, Ana Vaz, em um divertido híbrido entre a palhaça e a bailarina.

Temporada de Palhaças no Mês da Mulher — TPMs Hoje e amanhã, às 20h, na Circa Brasilina, (BR-020, Km 2,5, lote 3, ao lado da passarela de pedestres do condomínio Império dos Nobres, antes de Sobradinho — 8464-2544). Ingressos a R$ 20 e 10 (meia). Quem comprar entradas entre 9h e 14h pagará preço de meia-entrada. Classificação indicativa livre. Aos sábados e aos domingos, até 1º de abril.

Diferenças Desde que se embrenhou no universo da palhaçaria, Manuela Castelo Branco começou a pesquisar a natureza do humor feito por mulheres. Ela é grata à tradição masculina por não deixar o ofício morrer, mas acredita ser necessário que as mulheres encontrem a própria comicidade, sem ter de se encaixar na lógica dos homens. “Acho que nosso riso é mais dengoso, menos escrachado. Não passa tanto por aqueles palhaços que se sacaneiam e se ridicularizam. Temos um riso mais

18 amoroso, delicado e emocional. Já existem homens palhaços, como Zambelê e Zé Regino, que têm uma alma mais feminina. Eu, quando entro em cena, não quero fazer rir a qualquer preço. Também quero encantar”, explica.

CORREIO BRAZILIENSE - Mosaico da dança

A trajetória de bailarinos e coreógrafos no Distrito Federal é contada em vídeo por artistas como Hugo Rodas, Gisèle Santoro e Rodrigo Mena Barreto

Yale Gontijo

(05.03.12) Em setembro do ano passado, uma grande exposição montada no Espaço Cultural da 508 Sul narrava a história da dança no Distrito Federal. Fotos e vídeos ilustravam os começos e recomeços da arte desenvolvida aqui desde o início da cidade. Um dos destaques era um vídeo documentário com depoimentos de dançarinos de várias modalidades no DF. A exposição terminou, mas o vídeo, um registro histórico, está disponível no YouTube e no site www.historiadadanca.com.br.

Em cerca de 40 minutos, não há sequer uma sequência de dança. Os artistas apenas falam. E, quando falam, dizem muito sobre a trajetória da dança no DF. “A ideia era contar a história pelas falas de todo mundo. Nas entrevistas, tentávamos abordar os mesmos assuntos para montar um mosaico”, explica um dos diretores do projeto, o jornalista Daniel Zukko.

Zukko e Juliana Castro (dançarina e professora de sapateado) tiveram trabalho de investigação dos mais difíceis. “Nós enviamos um questionário com perguntas para vários profissionais. E eles nos enviavam nomes de outros profissionais que deveriam constar do projeto. Quando vimos, existia um leque enorme”, relembra Juliana. Um catálogo foi montado com pequenas biografias profissionais dos personagens de várias gerações e também está disponível nesse endereço eletrônico.

História da dança no Distrito Federal empreende narrativa histórica desde os primórdios da dança em Brasília. Momentos espinhosos, como o trabalho criativo durante a ditadura militar, são relembrados vivamente. “Os militares censuravam a palavra. Mas não o gesto. Não podíamos gritar um nãaao (com pavor), mas podíamos fazer o gesto”, recorda-se o ator, diretor e coreógrafo Hugo Rodas no vídeo.

No momento mais emotivo do documentário, o coreógrafo e bailarino Rodrigo Mena Barreto lembra o último encontro com a mentora, Mironilce (Miro) Regino, morta em um acidente automobilístico. “A polícia disse que a única coisa que sobrou intacta dentro do carro dela foi o CD com as músicas do espetáculo. Guardo o CD a sete chaves até hoje”, conta Barreto.

Primeiros passos No dia da inauguração de Brasília, 21 de abril de 1960, um grande espetáculo de música e dança foi encenado na rampa do Congresso Nacional. Bailarinas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro foram convocadas para dançar entre os monumentos da nova capital. Entre elas, Gisèle Santoro, viúva do maestro Claudio Santoro. “No encerramento da apresentação, explodiu uma cascata de fogos de artifício. Foi a primeira vez que vi fogos de artifício explodirem daquele jeito. Não deu para ver muito da cidade. Sei que tinha muita poeira. Nem me passou pela cabeça ficar aqui”, diz Gisèle, hoje com 63 anos. Essa foi a primeira apresentação oficial de dança na cidade. Os passos inaugurais.

Mais tarde, Brasília se transformaria em um celeiro de dançarinos de muitas modalidades. E a família Santoro teria grande participação nas bases do ensino da arte na cidade. Claudio Santoro desenhou o curso de música na Universidade de Brasília (UnB) e tentou implementar o ensino da dança no Teatro Nacional, mas foi impedido de levar o projeto adiante por causa do regime militar. Por alguns anos na década de 1970, a família Santoro teve de se mudar para a Alemanha em exílio. “Fomos Dom Quixotes lutando contra moinhos de vento. Quando voltamos para o Brasil, tudo tinha ido para o beleléu. Eu já tive de começar e recomeçar minha carreira tantas vezes… Hoje em dia, minha tristeza é pelas gerações que foram prejudicadas”, ressente-se Gisèlle.

Há anos produtores, bailarinos, coreógrafos e teóricos da dança lutam pela profissionalização e pela qualidade do ensino no DF. “A dificuldade da dança é geral. Em Brasília, a gente sente mais porque a

19 cidade tem pouco tempo de vida. Essa trajetória não dá saltos, precisa de um tempo para acontecer, mas as pessoas daqui têm um nível profissional muito bom. A infraestrutura é que ainda não está montada com maturidade”, analisa a coreógrafa Yara de Cunto, organizadora do livro A história que se dança — 45 anos da dança em Brasília, escrito por Susi Martinelli e lançado em 2006. A história que os governos decidiram não registrar está sendo escrita, passo a passo, pelos profissionais da dança no Distrito Federal. ARTES PLÁSTICAS

CORREIO BRAZILIENSE - A liga dos Zeróis

O mais novo projeto de Ziraldo, em cartaz no Museu Nacional, revisita em telas grandes os personagens de gibi que marcaram a infância do autor mineiro

Pedro Brandt

(07.03.12) Ziraldo está entusiasmado com a pintura. Tanto que já pensa na continuação de Zeróis: Ziraldo na tela grande, exposição que, a partir de hoje e até 29 de abril, ocupa o Museu Nacional da República. As 44 peças (que podem chegar a 2m x 2,40m) expostas conjugam duas paixões do cartunista, ilustrador e escritor (entre tantas outras funções) mineiro, as artes plásticas e as histórias em quadrinhos.

Os super-heróis povoam as criações de Ziraldo há bastante tempo. Várias das ilustrações de seus Zéróis — publicados originalmente no Jornal do Brasil e no Pasquim — se tornaram emblemáticas, como a que mostra Tarzan, Capitão América, Fantasma, Batman e Super-Homem na terceira idade. Ou aquela na qual Tarzan se balança em um cipó, tendo Jane, sua mulher, pendurada em suas partes íntimas (fazendo o homem macaco gritar, não para convocar os animais, como de costume, mas de dor lancinante).

Foi justamente a imagem do casal das selvas que deu início à série de pinturas que resultou na exposição. “Um marchand do Rio me visitou e pediu que eu fizesse uma pintura dessa ilustração do Tarzan numa tela de dois metros”, conta Ziraldo, 79 anos. Algum tempo depois, o mesmo marchand pediu mais pinturas dos Zeróis: a demanda por elas em sua galeria foi enorme. Surgiu então a ideia da exposição — apresentada pela primeira vez entre julho e setembro de 2010 no Rio de Janeiro. Muitas das telas já têm dono (a do Tarzan, por exemplo, não vem a Brasília) e estão emprestadas para circularem pelos museus. “Não gosto desse negócio de um quadro ficar pendurado na parede de alguém e ninguém mais poder vê-lo. Gostaria muito que alguma instituição, um banco ou uma universidade ficasse com toda a coleção”, comenta o pai do Menino Maluquinho.

Onomatopeias Além de ampliar algumas imagens já conhecidas, Ziraldo criou tantas outras exclusivamente para o projeto (que levou três anos para concluir). Nas telas, os super-heróis da infância do autor dialogam com alguns de seus quadros e pintores favoritos, como Picasso, Velázquez, Goya, Dali, Grant Wood, Edward Hopper, Georges Mathieu, Roy Lichtenstein e Andy Warhol — os dois últimos, inclusive, também brincaram com personagens de quadrinhos em suas obras. “Sei que a arte pop está ultrapassada. Mas meu intuito nem é fazer arte. Faço isso porque é muito divertido de fazer”, afirma Ziraldo, que participou da lendária trupe do jornal Pasquim.

Entre as imagens que compõem a exposição, o artista mineiro-carioca tem uma preferida: uma breve história em seis quadros narrada apenas com desenhos e onomatopeias na qual o Capitão América, depois de um dia de muita ação (“Zing! Zap! Crash!”), desaba na cama vencido pelo cansaço (“Zzzzz”). “Eu adoro criar onomatopeias. Penso em fazer, talvez no ano que vem, uma exposição só com elas”, ele adianta. Em comemoração aos seus 80 anos (a serem completados em 24 de outubro), Ziraldo será homenageado com uma exposição no Palácio Imperial, no Rio de Janeiro. “Será uma amostra das ‘300’ coisas que eu já fiz. Tenho 60 anos de carreira e brinquei ‘nas onze’: livro para criança, história em quadrinhos, ilustração, publicidade, cartazes…”

Visitação

20 O visitante de Zeróis: Ziraldo na tela grande terá à disposição uma equipe de profissionais das artes visuais, letras, filosofia e história para ajudar a melhor explorar e apreciar a exposição. Escolas poderão agendar visitas guiadas — de segunda a sexta-feira, das 9h às 13h — para os alunos pelo telefone 3033-2929.

Zeróis: Ziraldo na tela grande De hoje a 29 de abril, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, lote 2, Esplanada dos Ministérios). Entrada franca. Classificação indicativa livre.

Ziraldo e os Zeróis: "Gostaria que alguma instituição ficasse com toda a coleção" MÚSICA

CORREIO BRAZILIENSE - De volta ao estúdio

Pedro Brandt (1º.03.12) Tecladista do RPM, Luiz Schiavon comenta que o novo disco da banda até poderia ter saído antes. Mas antecipar o quarto álbum de inéditas, avalia o músico, teria sido um equívoco. “Em 2008, pensamos em retomar os shows e tentar conciliar a agenda da banda com a dos nossos projetos individuais. Mas tivemos a sensatez de perceber que o RPM não pode ser um segundo emprego — é um trabalho que lhe toma cada minuto”, afirma.

Elektra é o primeiro disco de novas composições do quarteto paulistano desde Paulo Ricardo & RPM, de 1993, gravado sem a participação de Schiavon e do baterista Paulo P.A. Pagni. O último trabalho de estúdio com a formação original é RPM, lançado em 1988.

Para o tecladista, todo esse tempo foi crucial para a feitura do novo álbum. “O grande desafio foi decidir voltar às nossas raízes, perceber e ter consciência do que é o RPM, a importância de cada integrante, o que cada um faz bem e o que não deve fazer. Quando isso ficou claro para nós, tudo ficou mais fácil”, diz o músico, de 53 anos. Rever os problemas do passado também foi de grande valia. “Hoje, conseguimos olhar para trás e enxergar com clareza que uma coisa pequena pode ter tomado uma proporção enorme e algo importante ter ficado escondido.”

21 Elektra Quarto álbum de estúdio da banda RPM. Produzido por Paulo Ricardo e Luiz Schiavon. Lançamento Building Records, 12 faixas. Preço médio: R$ 25.

Composto por Paulo Ricardo (voz e baixo), Fernando Deluqui (guitarra), Luiz Schiavon (teclados) e Paulo P.A. Pagni (bateria), o RPM surgiu em 1983 e teve uma meteórica e bem-sucedida carreira até implodir, em 1989. A partir dali, a banda voltaria à ativa várias vezes, lançando discos e DVDs ao vivo. Desde 2001, o grupo se apresenta com a formação original.

Nas pistas Com 12 faixas (e mais um disco bônus, com sete remixes), Elektra é sonoramente coerente com o passado do RPM — ainda há espaço para comentários sociais e, mais ainda, para celebrar romances e a vida noturna. O potencial radiofônico da banda se mostra presente em faixas como Dois olhos verdes e Muito tudo — esta, com suas programações eletrônicas e sons de sintetizador, ressalta outra faceta do grupo, a vocação para as pistas de dança. Vidro e cola é balada com jeitão de tema de novela.

“As grandes influências dos artistas de hoje são as bandas dos anos 1980. Então a gente se considera na posição de classic rock (risos). Nesse disco, mostramos algumas referências desses novos artistas. Mas a nossa maior influência no Elektra é o próprio RPM”, aponta Schiavon.

Para o tecladista, a maior satisfação, quase 30 anos depois do começo da banda, é ver que o som do RPM continua, ainda hoje, encontrando novos fãs. “Quando a gente faz show em um lugar mais sofisticado, com ingresso caro, vemos uma galera de mais de 35 anos de idade. Em shows mais populares, com ingresso barato, você vê muita molecada — e cantando desde as músicas do Elektra até Juvenília, um lado B do primeiro disco. Isso mostra que as canções antigas passaram pelo teste do tempo.”

O RPM celebra a vida noturna em Elektra, o primeiro disco de inéditas da banda paulistana desde 1993

ESTADO DE MINAS – Álbum em tom de estreia

André Mehmari lança o CD duplo Canteiro, que reúne canções escritas com 11 parceiros. Pela primeira vez, o pianista mostra seus lados cantor e compositor

22 O pianista fluminense André Mehmari conta que escolheu canções que pudessem ser diferentes, como plantas nos canteiros Eduardo Tristão Girão

(01/03/20120 Com o lançamento do ousado Canteiro, disco duplo de canções escritas com 11 parceiros, o pianista fluminense André Mehmari não pretende apresentar panorama do cancioneiro nacional contemporâneo. Tal variedade (e quantidade: são 30 faixas), explica, reflete apenas sua visão sobre essa forma poético-musical – que, vez por outra, certas discussões atestam estar morta ou decadente. A julgar pelo repertório que o artista apresenta, ela está bem viva. Trata-se de trabalho belo e sofisticado.

Há desde talentos relativamente jovens, como o poeta mineiro Bernardo Maranhão, a veteranos, caso do paulistano Luiz Tatit, por exemplo, passando pelos estrangeiros António Zambujo, Tiago Torres da Silva (ambos de Portugal) e Carlos Aguirre (Argentina). O trabalho é também a estreia de André como cantor e sinaliza sua aproximação do ofício de fazer canções.

“Tenho muitas mais. Com cada um desses letristas tenho um trabalho, mas escolhi canções que pudessem ser como diferentes plantas no canteiro. A ideia de um álbum duplo surgiu na medida em que não queria um disco muito extenso, nem deixar de fora alguns extras. Fora isso, a troca física de um disco significa um respiro, embora saiba que o CD está saindo de uso”, afirma o pianista.

A variedade de formações, timbres, ritmos e vozes (isso para não falar dos letristas) impressiona. A começar pelos instrumentos que Mehmari toca: além das teclas do piano, órgão, acordeom, escaleta, cravo e celesta (semelhante ao glockenspiel), empunha rabeca, flauta, violão, charango, violino, viola, baixo, bandolim, caixa, guitarra e daf (percussão do Oriente Médio).

André assina a letra em apenas uma faixa, Velha inquietude. Canta nessa e em mais algumas (À beira da canção, Cântico dos quânticos e Sal, saudade, entre outras), deixando o microfone para a maioria dos convidados, que somam 14 nomes de peso, como Ná Ozzetti, Jussara Silveira, Mateus Sartori, Mônica Salmaso, Luiz Tatit, Simone Guimarães e Luciana Alves. Só instrumentistas são 26. “Sou sempre um compositor cantando, não um intérprete”, observa ele.

“A coesão vem justamente da diversidade. O que une as canções é esse discurso múltiplo e amplo. A canção atual está longe de ser monótona e os arranjos reforçam isso, com faixas que vão do intimismo à big band”, afirma André. Para dar conta de toda essa diversidade, chamou músicos como Chico Pinheiro (guitarra), Hamilton de Holanda (bandolim), Ivan Vilela (viola caipira) e Teco Cardoso (flauta e saxofone). Também participa a Orquestra à Base de Sopro, de Curitiba.

23 Bernardo Maranhão, com quem André assina nada menos que seis canções (a linda Cruce é cantada em espanhol pelo argentino Carlos Aguirre, em dueto com o pianista), não é o único mineiro a figurar entre os letristas parceiros em Canteiro. Sergio Santos comparece com três composições, duas delas cantadas por ele mesmo: Baião de reza e Última valsa. Piauiense radicado em Belo Horizonte há anos, Makely Ka contribui com Guardar.

Camerístico “O segundo disco é mais camerístico, sem bateria ou percussão, e mais introspectivo. Já o primeiro tem o instinto de compositor muito presente. O encadeamento das canções é muito natural, inclusive com ‘fiapos’ de som que estão presentes entre o fim de uma música e o início da seguinte”, explica o pianista, que gravou quase tudo no estúdio que mantém em casa, em São Paulo – mixagem e masterização foram feitas lá.

Embora não pretenda investir no ofício de letrista (pelo menos por enquanto), André planeja um segundo volume para Canteiro, nos mesmos moldes do primeiro, para 2014. Até lá, prevê que os shows para divulgar esse repertório terão formações diferentes, uma vez que realizar um evento que reúna todos os envolvidos seria muito caro e complicado. O público poderá conferir formação próxima à do disco dias 23 e 24 de abril, quando ele e vários convidados subirão ao palco do Sesc Pompeia, em São Paulo.

Outro disco

“Estou em plena produção, compondo quase que diariamente”, afirma André Mehmari. O artista revela que deverá lançar no segundo semestre disco com Sergio Santos e Chico Pinheiro. “Compusemos juntos, o que é muito raro, pois geralmente cada compositor chega com um pedaço da música”, adianta. Enquanto isso, ele comemora a boa recepção de Canteiro no Japão, onde o disco terá segunda prensagem (a primeira foi de mil cópias). Detalhe: com todas as canções traduzidas para o japonês no encarte. “Quando vejo uma japonesa chorando ao ouvir uma canção minha, fico com o coração reconfortado por perceber seu alcance metafísico”, diz.

ESTADO DE MINAS – Resgatando um clássico

Pacífico Mascarenhas, que também já levou bolo de João Gilberto, vê seu primeiro disco reeditado Kiko Ferreira

(01/03/2012) O folclore em torno do talento de João Gilberto para dar bolo é mais antigo do que se pensa. Quando, em 1958, o mineiro Pacífico Mascarenhas marcou estúdio, no Rio de Janeiro, para

24 gravar o primeiro disco independente brasileiro, o dono da voz e da batida da bossa nova ficou de participar das gravações. E não foi.

Definido, por ele mesmo, como um sujeito que, “aos 23 anos, compunha músicas românticas para cantar em serenatas e reuniões musicais, em ritmo de fox-trote e samba-canção”, Pacífico foi produtor de 100% do disco. Depois de tentar alugar estúdios das grandes gravadoras com tempo ocioso, fechou com a Companhia Brasileira de Discos, a CBD, que depois se tornou Philips, Phonogram, Polygram e Universal, o uso do estúdio na Avenida Rio Branco. Pagou viagem de trem e hospedagem dos músicos mineiros e registrou o LP Um passeio musical com Paulinho e seu conjunto - Músicas de Pacífico Mascarenhas.

Das mil cópias encomendadas, foram fabricadas apenas 880. Com os discos na mão, ele conseguiu boa divulgação nas rádios de Belo Horizonte, que chegaram a fazer uma espécie de rede, para tocar o álbum na íntegra, ao mesmo tempo. O lote foi vendido em uma semana e o disco virou lenda, assunto de pesquisas e item de colecionador.

Com Marcus Vinícius (pseudônimo de Gilberto Santana) nos vocais, Paulinho no piano e arranjos, Dario na bateria e Alvarenga no baixo, Um passeio musical... tem o sotaque jazzístico dos discos de Pacífico e soa como uma preparação para a série Sambacana, que teve seis álbuns gravados entre 1964 e 1981 e contou com as vozes de , Bob Tostes, Suzana Tostes e Joyce, além de instrumentistas como Roberto Menescal, Wagner Tiso, Nivaldo Ornellas e Toninho Horta.

Entre as 14 faixas tem bolero, fox, beguine e samba-canção, além do choro A turma da Savassi, espécie de marca registrada de Pacífico, que tem participação do cantor Luiz Cláudio. Os arranjos de Paulinho, que tocava nas horas dançantes do Minas Tênis Clube nos anos 1950, são funcionais, dançantes e atemporais.

O LP, transformado em CD graças ao trabalho do jornalista e pesquisador Marcelo Fróes, é uma autêntica viagem no tempo, registro primeiro da obra de um dos poucos compositores de Belo Horizonte que canta a cidade com admiração e conhecimemto de causa.

O GLOBO - No Texas, Brasil busca o Eldorado ‘indie’

Agridoce e Tiê são alguns dos artistas nacionais no South by Southwest, festival revelador de astros do pop-rock que começa dia 13

Silvio Essinger

(1º.03.12) Austin, no Texas, nem chega a ser uma das dez maiores cidades dos Estados Unidos, com seus cerca de 800 mil habitantes. Mas, no mês de março, ela apresenta uma invejável concentração de atrações do pop-rock indie mundial por causa do South by Southwest (SXSW), festival que completa 25 anos em 2012, com uma vasta programação de shows que vai do dia 13 ao 18. Como tem sido de costume há alguns anos, um punhado de brasileiros irá tentar a sorte lá, entre os mais de 2.000 artistas que se apresentarão em pequenos show em cerca de 90 palcos. O SXSW é tido como pé quente para novos talentos: White Stripes, Strokes, Norah Jones e Janelle Monáe tiveram lá decisiva exposição antes do estouro na carreira.

No dia 14, o bar Maggie May’s sedia uma noite brasileira do festival com apresentações de Renato Godá, Tita Lima, Tiago Iorc, Agridoce, Tiê e Some Community (banda indie de São Paulo). Tiê, que foi selecionada para se apresentar no ano passado (mas não conseguiu visto de entrada nos EUA) vai desta vez com o guitarrista e produtor Plínio Profeta para mostrar seu disco “A coruja e o coração”.

— Estou indo com meu empresário, esse festival é um lugar que vale para fazer contatos — diz a cantora, que não teve apoio da gravadora para a viagem. — Estou indo como se fosse artista independente.

Radicada em Los Angeles, a cantora Tita Lima participa do SXSW pela terceira vez.

25 — Conheci muita gente lá, desde pessoal das editoras até designers gráficos, que trabalham comigo até hoje. E, por conta do festival, fui convidada para cantar nos projetos Nomo e Echocentrics — diz a moça, filha do baixista e produtor Liminha, que em 2010 lançou seu segundo álbum, “Possibilidades”.

O Agridoce, dupla de folkrock formada pela cantora Pitty com o guitarrista de sua banda, Martin, vai pela primeira vez ao SXSW. No dia seguinte ao show do Maggie May’s, eles tocam novamente no festival, no Velveeta Room.

— Espero que consigamos converter esse investimento num primeiro passo para uma carreira no exterior pro Agridoce — diz Martin.

Pitty tem outros interesses: — Quero ver os shows secretos. Ano passado, teve o do Omar Rodríguez-López (guitarrista do grupo Mars Volta). Ele chamou o vocalista Cedric para cantar e acabou virando uma prévia do disco novo dos caras — diz.

Também debutante no festival, o cantor Tiago Iorc, de Curitiba, leva sua banda ao SXSW para fazer a estreia mundial do show de seu segundo disco, “Umbilical”, lançado em 2011.

— O evento dá uma ajuda de custo no local, mas o investimento da viagem é todo nosso e da gravadora — diz ele, que espera fazer contatos para lançar seu CD nos EUA.

Lugar para fazer negócios

Fora da noite brasileira, o carioca Rogê se apresenta nos dia 15, no Elephant Room, e 17, no Copa. Resultado de sua primeira participação no festival, em que foi só com seu violão (ele agora volta acompanhado do baterista Paulo Braga e do baixista Sidão Santos).

— Tá todo mundo do mundo inteiro lá, é um lugar mais para fazer negócios do que para fazer shows — conta ele, que, logo da primeira vez no SXSW, conseguiu empresário nos EUA e botou músicas em rádios e em uma compilação.

— A única coisa ruim é que eles não dão dinheiro, só as acomodações e a possibilidade de fazer shows e negócios — diz o cantor, que parte levando cópias de seu novo (e ainda inédito) disco, “Brenguelé”.

O SXSW, que começou como uma conferência e festival de música, desde 1994 tem braços para cinema e internet (que, este ano, começam no dia 9). A parte musical, porém, continua a ser a mais visada. Entre os outros músicos brasileiros que participam em 2012, estão a banda Rosie and Me (de Curitiba) e a MC Zuzuka Poderosa (de funk carioca).

26 DEBUTANTES no festival, Pitty e Martin, do Agridoce, que tocam em noite brasileira, dia 14, vão atrás de contatos e da possibilidade de assistir a shows “secretos” dos seus ídolos

A CANTORA Tiê, atração da mesma noite, leva empresário e novo CD

O GLOBO - Casuarina homenageia centenário de Herivelto

Grupo canta do compositor, de hoje a sábado, e lembra , morto no dia 24

Luiz Fernando Vianna

(1º.03.12) O centenário de foi completado em 30 de janeiro sem que nenhum show em homenagem ao compositor fosse realizado. O primeiro do ano, apresentado pelo grupo Casuarina

27 de hoje a sábado, às 19h, na Caixa Cultural, ocorre logo após a morte do cantor Pery Ribeiro, filho mais velho de Herivelto.

— Fomos pegos de surpresa (na sexta passada) e vamos lembrar o Pery cantando “Caminhemos”, a primeira do pai que ele gravou. Se houver condições, também vamos mostrar um vídeo dos dois cantando juntos — diz Gabriel Azevedo, músico do Casuarina que iniciou no ano passado grande pesquisa sobre Herivelto.

Ele contará algumas passagens da vida do compositor, mas a prioridade do espetáculo não é a conturbada relação com a cantora Dalva de Oliveira, que rendeu vários sambas-canções com estocadas mútuas.

— Ele ficou mais marcado pelos episódios com a Dalva do que por suas músicas. E era um grande compositor, com melodias modernas, e versátil: fez tangos, modas de viola, vários gêneros. Preferimos nos concentrar nos sambas. Mas “Cabelos brancos” e “Segredo”, que são da polêmica com a Dalva, não podem faltar — diz Gabriel.

“Segredo” será interpretada amanhã pela convidada Áurea Martins, que chegou a fazer turnê ao lado de Herivelto, morto em 1992. Moyseis Marques participa do show de hoje cantando, pelo menos, “Ave Maria no morro”. No sábado, Nilze Carvalho cantará “Meu rádio e meu mulato”.

Entre os sambas selecionados estão “Isaura”, “Que rei sou eu?”, e “Praça Onze”, parceria com só realizada por muita insistência do ator — que acabou se tornando um dos maiores sucessos de Herivelto e rendeu uma continuação, “Laurindo”. — Ele ainda foi um dos primeiros a homenagear as escolas de samba — ressalta Gabriel, que mostrará “Adeus, Mangueira” e “Mangueira, não!”.

INTEGRANTES do Casuarina (sentados) e três convidados dos shows

O GLOBO - ... E o Anu vai para...

Chico e Caetano entregam prêmio de projeto social em favelas

(1º.03.12) São raros os eventos com elenco tão luxuoso como o que se viu anteontem no Teatro João Caetano. fez o show de abertura e , em dueto com Criolo, a apresentação de encerramento do Prêmio Anu, criado pela Central Única das Favelas para premiar projetos sociais de comunidades de todo o país.

A noite teve Djavan cantando “Flor de liz” e Lázaro Ramos, homenageado por sua carreira e engajamento social. Os apresentadores foram Regina Casé e Marcelo Tas.

28 “Quando me chamaram, eu disse sim na hora ” , contou Djavan, que além de cantar, ainda entregou um dos 30 prêmios da noite. Foram tantos porque havia um troféu Anu dourado para cada projeto mais bem votado nos 27 estados brasileiros, além de três Anu preto para premiar os melhores dos melhores.

“Adorei o preto valer mais que o dourado”, brincou Regina Casé quando soube dos troféus. O Rio de Janeiro foi eleito um dos três melhores do país. René Silva, do jornal e produtora “A voz da comunidade”, do Complexo do Alemão, levou para casa um dos troféus pretos.

Ele botou aparelho nos dentes há um mês e está usando borrachinhas azuis nos ferrinhos dentro da boca. A escolha da cor foi interativa. “Perguntei para os meus seguidores do twitter se azul tava maneiro.” René tem 50 mil seguidores e vai na onda de William Bonner, que ouve a opinião de seus amigos virtuais para escolher a cor da gravata.

O anu é um pássaro preto, com fama de agourento, que a Cufa escolheu para simbolizá- la. “A gente está aqui para tirar o estigma das coisas, então fizemos isso com o anu também”, contava Celso Athayde, diretor da Central Única das Favelas. “Transformamos estigma em carisma.”

Celso lembrava que, assim como Djavan, Chico Buarque aceitou na hora o convite para cantar no evento. “Ele só me pediu um tempo para se preparar”. Chico cantou “Meu guri”, e, depois da passagem de som, conversou com a coluna sobre futebol.

O compositor está encantado com a fase do Fluminense, campeão da Taça Guanabara. “O time todo está ótimo”, disse ele, que elogiou, além das unanimidades Fred e Deco, o atacante Wellington Nem, “jogou muito”, o lateral Bruno, “excelente, um baita lateral”, e o zagueiro Anderson. “A zaga também está boa, Leandro Euzébio é velho de guerra, e ele entrou muito bem.”

Regina Casé, de terninho preto de paetês, “vim vestida de anu preto em noite de gala”, ouviu fiu-fius quando entrou no palco ao lado de Marcelo Tas. “Ô Regina, tem alguém afim de você na plateia”, brincou Tas. E uma voz masculina berra: “É de você, Marcelo!.”

Homenageado da noite, Lázaro Ramos viu, junto com o público, um vídeo ao estilo “Arquivo confidencial” do Faustão, repleto de depoimentos emocionantes de amigos e parentes. A avó Dindinha lembrou que ele sempre foi menino “carinhoso, que me ajudava a pincelar as empadinhas, educadíssimo”. Dona Dindinha o chama de “meu fofinho do meu coração”, e Lázaro fica com os olhos rasos d’água. Tinha o pai do ator, falando que ele é um filho excepcional, João Falcão e Wagner Moura exaltando suas qualidades profissionais e a amizade leal. Taís Araújo elogiou-o por ser “bom pai, marido e amante”. No fim do filminho, Regina pergunta: “Que homem é esse, hein, Taís?”

Entre os premiados, havia projetos de tae-kwon-do, de fabricação de sabão, de cozinhas comunitárias, de escolinhas de surfe, de incentivo à leitura. Em comum, o fato de promoverem inclusão social.

Caetano Veloso e Criolo encerraram a noite cantando “É hoje”, com a banda infantil de percussão da Cufa. Nos discursos, houve momentos de bom humor. Um dos agraciados se classificou “espermatozóide vencedor” e outro, depois de gritar palavras de ordem contra o capitalismo, pediu mais dinheiro e mandou um beijo para o filho, Afrika Bambaata.

VALOR ECONÔMICO - Simplesmente CHICO

Por Zuza Homem de Mello | Para o Valor, de São Paulo

29 "Chico", disco mais recente do cantor e compositor, serve de base para a turnê que já foi vista por mais de 70 mil pessoas; shows extras foram agendados porque as quatro semanas em SP já estavam esgotadas, segundo assessoria de imprensa A canção brasileira, uma das mais admiradas no mundo após a bossa nova, vive em "Chico", CD de Chico Buarque de 2011, um de seus momentos mais belos e profundos da história.

Chico Buarque, talvez o autor mais querido da estupenda geração dos anos 1960 que deu à música popular uma fartura de obras-primas, atinge o auge de sua carreira na idade em que os compositores de música popular, por razões até hoje carentes de explicação, costumam pendurar as chuteiras. Sua sede pela composição foi atiçada em meio a um romance que provavelmente potencializou mais uma vez seu talento para criar canções. Chico sabe como poucos criar canções sintonizadas com seu tempo, músicas de seu lugar.

Inexplicavelmente abandonado pela mesma mídia que consagra um reles ex-BBB como atração, Chico Buarque inicia em São Paulo a temporada que confirma a ansiedade dos dias de hoje pela canção maior da música brasileira. É a continuação de sua sexta turnê em 36 anos de carreira, com shows já assistidos por mais de 70 mil pessoas em Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Novo Hamburgo e Rio de Janeiro. A rapidez com que se esgotaram as entradas para seu espetáculo é impressionante. Como no Rio, em São Paulo também não existiam mais ingressos disponíveis semanas antes da estreia (datas extras foram anunciadas).

A base do espetáculo é o CD "Chico", uma obra com unidade, um disco com conceito. Os pouco mais de 30 minutos formam uma suíte contando uma única história, a de sua maturidade.

"Chico" não é para ser avaliado em sua primeira audição. Como as grandes obras musicais, sua sofisticação exige varias audições atentas para o completo encantamento que cresce quanto mais nos concentramos em suas preciosidades melódicas, rítmicas e harmônicas e em suas letras cujas sutilezas só se revelam aos poucos.

"Querido Diário", que abre o CD e é também a primeira música do disco no set list do espetáculo, nos revela o homem só que chega à sublimação do amor. Na suíte, a primeira manifestação de maturidade. A melodia lida com inteligência passagens que enfatizam as palavras chave dos versos como o intervalo imprevisto em "de eu viver sozinho".

Canção mais encrencada do CD, a marcha "Rubato" em soberbo arranjo de Luiz Claudio Ramos com traços do mestre Chiquinho de Morais, é do craque Jorge Helder, que nem acreditou quando conheceu a letra. Chico convida Aurora para "ouvir agora a nossa música, depressa antes que um outro compositor me roube e toque e troque as notas....". Mas declara estar ele também roubando de outro compositor a "nossa música", dando um polimento para audiências mundo afora, trocando a todo momento o nome da musa Aurora, para Amora, para Teodora num verdadeiro carrossel em que tudo se transforma.

Ao reconhecer quanto a diferença de idade pode afetar a relação, ainda que valha à pena, Chico, encantado, solta o blues "Essa Pequena" cantarolando livremente sobre um solo de guitarra que, com o violino de Krassik, remete ao estilo manouche do jazz parisiense de Django e Grappelli.

Alternando ritmos e abusando propositadamente da gíria juvenil do título, o velho Chico chega à melodia principal de "Tipo um Baião" depois do apropriado recitativo. Da mesma maneira como sabe amarrar o ouvinte com o refrão, deixa claro as diferenças de geração nessa história de amor. Depois mergulha feliz no samba-canção "Se Eu Soubesse" quando a parceira entra em cena. O romance é repleto de alegria no duo com Thais Gulin, que sabe dar ao canto o sabor de quem vive aquilo que interpreta. É o envolvimento.

30 A indefinição, a dúvida entre estar feliz ou triste pela partida da amada é uma lamúria de saudade quando ele se vê só em "Sem Você". Inventa como passar o tempo, carregado de alívio pode até "ir ao museu, ou não... olhando o mar" entoando solitário uma melodia essencialmente brasileira pertencente ao século XXI.

A ode se contextualiza no rasgado "Sou Eu", acertadamente dividido com a interpretação de um músico que dá lição de samba, Wilson das Neves. Como uma resposta do rapaz "que vai mal demais" em "Deixe a Menina" de 1981 com versos como "Deixe a morena contente, deixe a menina sambar em paz", Chico ataca 30 anos depois com "porém depois que essa mulher espalha seu fogo de palha no salão.... quem é que carrega a moça pra casa?". Sou eu.

Talvez a valsa seja o que há de mais profundo nas novas canções de Chico Buarque. Em "Nina", a relação de distância no tempo amplia-se no espaço. A melodia remete de imediato ao universo "morriconiano", onde o modo menor se alterna constantemente com o maior, ela e ele, ele e ela. "Nina diz que se eu quiser eu posso ver na tela, a cidade, o bairro, a chaminé da casa dela.....". Novamente embevecido, sendo ensinado, ela mais jovem. Novamente a maturidade.

A inevitável barafunda da memória que mistura nomes e personagens, lugares e fatos na idade em que os neurônios se dispersam no ar, vem à tona pouco antes do final. "Barafunda" deixa o romântico Chico confuso. Guardou na memória mas perdeu a senha. O que vale é o romance, é ir "até o Cazaquistão atrás dela, a vida é bela".

Poderia aí ter arrematado a suíte, mas há mais um gema. "Sinhá", em parceria com a melodia do brilhante João Bosco e seu violão sombrio, poderia ser a trilha do romance "Equador" na ilha de São Tomé e Príncipe. Assobiando e vocalizando o cântico grave, tendo o surdo tocando as batidas do coração, o historiador da história entra em cena no final da canção, na passagem de menor para maior, para anunciar o desfecho "... herdeiro sarará do nome e do renome de um feroz senhor de engenho e das mandingas de um escravo que no engenho enfeitiçou Sinhá".

Assim se encerra uma masterclass de interpretações, de arranjos e de execuções primorosas, de uma obra-prima da canção brasileira. É o CD tipo romance, o disco tipo mulato, a música tipo que toca fundo. Tem o título tipo apelido. Chico. "Chico" No HSBC Brasil (r. Bragança Paulista, 1.281, Chácara Santo Antônio, SP); qui., 21h30; sex. e sáb., 22h; dom., 18h30; de 1º a 25/3; 30 e 31/3 e 1º,6, 7 e 8/4; ingr: de R$ 120 a R$ 320 (compra por tel. 4003-1212)

CORREIO BRAZILIENSE - A elegância de Rosa Passos

Pela primeira vez, a cantora abre turnê nacional em Brasília com show do álbum em que homenageia a diva Elizeth Cardoso

Irlam Rocha Lima

(02.03.12) Logo depois de gravar o álbum É luxo só, Rosa Passos ganhou de presente do pesquisador e biógrafo Sérgio Cabral o livro Elizeth Cardoso — Uma vida, que ele escreveu e lançou em 1994. Ao lê-lo, a cantora baiana-brasiliense descobriu que tinha muita coisa em comum com a Divina, homenageada por ela no CD, o 15º de sua discografia. E não apenas no campo da música.

“Elizeth, assim como eu, gostava muito de cozinhar para os amigos, a quem costumava ajudar, quando havia necessidade. Era vaidosa e ia para o palco sempre com um modelo criado para a ocasião. Eu também faço isso”, conta Rosa. “Ela apostava em novos músicos, coisa que sempre fiz. Quando Lula Galvão, Jorge Helder, Erivelton Silva, Marco Brito e Nema Antunes — hoje, destaques na cena nacional — estavam em início de carreira aqui na cidade, os chamei para tocar comigo”, acrescenta.

Mas a identificação maior de Rosa com Elizeth é mesmo musical. “Somos cancioneiras. Todas as músicas do É luxo só foram extraídas do legado dela”, diz. Das 10 que gravou, nove farão parte do roteiro do show de lançamento do CD, hoje e amanhã, às 21h, no Teatro Oi Brasília, acompanhada

31 pelo trio formado por Lula Galvão (violão), Rafael Barata (bateria) e Paulo Paulelli (contrabaixo acústico).

Pela primeira vez, ao longo de quase 40 anos de carreira, Rosa toma a cidade como ponto de partida de uma turnê. “Devia isso a Brasília, que me acolheu em meados da década de 1970 e onde, oficialmente, iniciei minha trajetória artística. Já estreei turnê em São Paulo, na Europa e nos Estados Unidos, mas, agora, finalmente será aqui”, comemora.

O público a verá interpretar canções como Olhos verdes (Vicente Paiva), O amor e a rosa (Antônio Maria), Último desejo (), Acontece (), Saia do meu caminho (Custódio Mesquita e Evaldo Ruy), Palhaçada (Haroldo Barbosa e Luiz Reis) e, claro, É luxo só ( e Luiz Peixoto). Tudo com seu estilo característico, meio bossa nova, meio jazz, que a levou a ser chamada pelo escritor e jornalista Ruy Castro de “João Gilberto de saias”.

Rosa incorporou ao roteiro músicas de Djavan, como Obi (que gravara no songbook do cantor), Beiral e Álibi, “incluídas nos meus discos Morada do samba e Romance, respectivamente”, lembra.

“Ultimamente, em todos os meus shows tenho cantado Djavan, com quem me identifico muito como compositor. Meu próximo disco será dedicado à obra dele, que vai dividir a interpretação de uma das canções comigo”, adianta.

Três anos e meio é o tempo que Rosa está sem fazer shows. O último foi no Tim Festival (São Paulo), em 2009. “Preferi dar um tempo para mim, fiquei mais perto da minha neta, mas mesmo assim participei da gravação de alguns discos e de uns poucos shows de músicos amigos, como o do Lula (Galvão), no Teatro dos Bancários, e o da Joana Duah, no Feitiço Mineiro”, comenta.

Entre os discos dos quais ela tomou parte, estão o CD em homenagem ao Buena Vista Social Club, cantando Alma mia (Maria Grever); o da violonista norte-americana Sharon Isbin, interpretando Carinhoso (); e o de Lula Galvão, em que fez releitura de Lígia (Tom Jobim). “Gravei, ainda, Cansei de ilusão (Tito Madi) para a trilha sonora da novela Passione, e fiz duo com Leonel Laterza (cantor mineiro radicado em Brasília) em Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues) no Guardados, o terceiro CD dele. Quer dizer, não deixei a música de lado neste meu período sabático”, brinca.

Rosa Passos Show da cantora, compositora e violonista, acompanhada por Lula Galvão (violão), Rafael Barata (bateria), Paulo Paulelli (contrabaixo acústico) para lançamento do CD É luxo só, hoje e amanhã, às 21h, no Teatro Oi Brasília (Complexo Golden Tulip Brasília Alvorada Hotel, próximo ao Palácio da Alvorada). Ingressos R$ 100 e R$ 50 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3424-7121.

Duas perguntas - Rosa Passos

O que mais lhe chamava a atenção em Elizeth Cardoso? Destaco várias facetas dessa intérprete personalíssima da música brasileira. Ela era extremamente elegante e generosa. Tinha um gosto musical apurado e possuía dicção e respiração invejáveis. Como disse Chico Buarque: “Elizeth Cardoso é a mãe de todas as cantoras brasileiras”.

Depois de Brasília, você levará É luxo só para onde? Entre 6 e 8 de abril me apresento no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Estão sendo marcadas datas para Salvador, Belo Horizonte e Curitiba. Em julho, levarei a turnê à América Latina. Farei shows na Argentina, no Uruguai e no Chile, nas capitais e em outras cidades. Por enquanto, não há nada previsto para Estados Unidos e Europa, até porque quero ficar concentrada mais no Brasil neste ano.

CORREIO BRAZILIENSE - Cordel sinfônico

Está de volta à cidade o musical Estória de João Joana, de Carlos Drummond de Andrade e Sérgio Ricardo

Mariana Moreira

32 (02.03.12) Um estúdio encravado no bairro do Cosme Velho, aos pés do Cristo Redentor, foi escolhido para ser o cenário de um grande encontro entre ídolos da música brasileira. Um time do quilate de Alceu Valença, Geraldo Azevedo e , além de alguns dos mais celebrados instrumentistas do país, se reuniu para ensaiar um espetáculo já conhecido de todos. Na próxima terça-feira, eles reestreiam, em Brasília, o cordel sinfônico Estória de João Joana, o único texto do gênero escrito pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, e musicado pelo multiartista Sérgio Ricardo.

Em 1985 e em 2001, o mesmo espetáculo foi encenado na Sala Villa Lobos, e volta à cidade no mesmo palco. Mais um detalhe: todo o elenco envolvido participou de alguma das montagens anteriores do musical. Nesta nova turnê, os filhos de Sérgio Ricardo, Marina Lufti e João Gurgel, que o acompanham em shows há mais de uma década, também fazem parte do elenco.

“Modéstia à parte, esse musical é um dos melhores trabalhos que já fiz. É um curinga para grandes momentos, quando surge uma pauta no Teatro Municipal, ou algo do gênero”, explica Sérgio Ricardo, homenageado nesta rodada de apresentações, por seus 80 anos. O trabalhou surgiu da admiração mútua entre ele e Drummond. Cantor, compositor, um dos precursores da Bossa Nova e autor de trilhas sonoras inesquecíveis do cinema nacional (entre elas Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe, de ), ele assinou, na década de 1980, a trilha sonora do desenho animado Flicts, de Ziraldo. Drummond ouviu o trabalho, aprovou e dedicou uma crônica à composição. Daí surgiu a amizade, que acabou virando parceria. Num belo dia, Sérgio recebeu do mineiro o texto, com o pedido de que o musicasse. O resto é história.

Gripado, com dor de garganta e sem dormir, Alceu Valença (que já emprestou as cordas vocais a mais de uma apresentação da Estória de João Joana) usou a voz com moderação. Acompanhou as marcações, tirou dúvidas com o amigo Geraldo (a quem chama carinhosamente de Geraldinho) e fez graça o tempo todo. Emendou histórias hilárias, como a de um antigo episódio ocorrido com seu cabelo, “causos” pernambucanos e experiências de shows antigos. “É incrível trabalhar com o Sérgio, com poemas do Drummond, sob a orquestração original de Radamés Gnatalli. Também é muito bom, sobretudo, reencontrar amigos e antigos companheiros de banda. Esse revival vai ser sensacional”, acredita Alceu.

Raridade Geraldinho, por sua vez, entoou com vontade todos os trechos do poema e demonstrava não ter perdido a familiaridade com a obra. O cantor nunca subiu ao palco para interpretar a saga nordestina, mas gravou em disco, ao lado de nomes como Chico Buarque e João Bosco, as palavras de Drummond na melodia de Sérgio Ricardo. Disco esse que é considerado raridade, circula como objeto de desejo entre colecionadores. “Sérgio é um mestre, que está lançando a nós esse desafio de tocar com a orquestra. Esse projeto é uma lisonja para a minha carreira”, orgulha-se.

Em Brasília, os músicos terão o acompanhamento da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, tal qual nas apresentações anteriores. Se na noite da premiére, há quase 26 anos, o regente da noite foi Claudio Santoro, nesta montagem, a batuta ficará a cargo do maestro Cláudio Cohen, que já integrava o naipe de violinos da orquestra. Durante o ensaio, no Rio, ele acompanhou os acertos entre a banda e os cantores, anotou as entradas e adequou à partitura, para trazer as informações completas à sua sinfônica, que estará quase completa no palco, com pouco menos de 70 integrantes. Antes da estreia, a orquestra e a ala “carioca” terão três ensaios para afinar a sonoridade.

“Este projeto é importante para resgatar a obra, valorizar a literatura, os artistas e ainda homenagear a mulher”, destaca Cohen. Afinal, quando se adicionam, ao seu conjunto de músicos, pitadas de Drummond, Sérgio Ricardo, Alceu, Elba, Geraldinho e outros mestres da música nacional, a poção que resulta só pode ser mesmo mágica.

Banda No palco, os artistas serão acompanhados pelo violonista Lui Coimbra, pelo pianista Marcelo Caldi, pelo baixo de Bororó, pelo baterista Jurim Moreira e pelo percussionista Nailson Simões. Todos integrantes da banda original.

Sertão

33 A história , baseada em fatos reais, chegou a ser publicada nos jornais da época. Em um lugarejo pobre e remoto, uma mulher tem uma filha, mas decide criá-la como homem, para que ela sofra menos em um ambiente machista e inóspito. O menino, batizado de João, cresce com hábitos masculinos, mas um dia, acaba parindo uma criança.

Estória de João Joana Cordel sinfônico de Carlos Drummond de Andrade e Sérgio Ricardo, de terça (6 de março) a quinta, às 20h, na Sala Villa Lobos do Teatro Nacional (Via N2 - Setor Cultural Norte - 3325-6239). Ingressos gratuitos, retirados a partir de 12h, na bilheteria do teatro. Classificação indicativa livre.

João Gurgel, Marina Lufti, Elba Ramalho, Alceu Valença, Sérgio Ricardo e Geraldo Azevedo: reencontro

FOLHA DE S. PAULO - Músico capixaba mira cena internacional

Com formação clássica, Lúcio Silva, 23, prepara primeiro disco, que traz influências de pop, "indie" e eletrônica

Com cinco canções, EP lançado no fim de 2010 chamou a atenção de produtores de festival e de três gravadoras

RODRIGO LEVINO, EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

(04/03/2012) Dos nomes, o mais simples e o mais comum. Foi com isso em mente que o capixaba Lúcio Silva, 23, batizou seu projeto musical SILVA.

Formado em violino clássico, lançou em 2010 o EP homônimo, com cinco canções (que pode ser ouvido em bit.ly/nNchQy). Arranjos e instrumentos ficaram por sua conta. A masterização foi do britânico Matt Colton.

"Há músicas ali que comecei a compor na adolescência e só tomaram forma recentemente", contou Silva em entrevista por telefone à Folha, de Vitória (ES), onde vive.

Não lhe interessa ser expoente da nova música nacional, mesmo cantando em português. Seus referenciais são amplos, e os frutos dessa inovação começam a ser colhidos.

34 O mais vistoso é a escalação para o Sónar, que acontecerá em maio. "Devo isso ao EP", diz ele, que fez uma corrida contra o tempo para formar uma banda de apoio.

A curiosidade dos produtores se justifica. Sua música traz ecos melódicos e de manipulação eletrônica usados por nomes como James Blake, Sufjan Stevens e El Guincho, referências incomuns entre novos artistas brasileiros.

Esse caldo de influências se formou na infância, muito por causa da mãe, professora de piano. Aos poucos, o leque se abriu para a música popular e a eletrônica.

A prática veio também das ruas. "Passei uma temporada na Irlanda e, para me manter, tocava em praças."

Enquanto ensaia para o show em 12/5 e se ocupa da gravação do clipe de "A Visita", prepara o disco de estreia.

Até lá, terá de lapidar composições e escolher por qual gravadora lançar o trabalho. Ele recebeu convite de três.

"Só pedi liberdade para produzir e gravar tudo sozinho. Já consegui uma vez, acho que consigo de novo."

O GLOBO - O Pupillo que se tornou mestre

(04/03/2012) Baterista da Nação Zumbi e produtor, o músico pernambucano é um dos nomes mais queridos e disputados da cena brasileira hoje

Silvio Essinger

Na adolescência, Romário Menezes de Oliveira Junior era vidrado no tal de pós-punk, o rock sombrio e deprê de bandas inglesas como Joy Division, The Cure e Sisters of Mercy. E, além da música, curtia o visual dos músicos. O único problema é que ele morava em Recife.

— Eu andava de casaco e touca debaixo de um calor de 35 graus! — lembra, anos depois, o homem que hoje praticamente só atende se for chamado pelo apelido: Pupillo.

Aos 37 anos de idade, o pernambucano é não apenas um dos bateristas mais requisitados do país (tocou nos novos discos das cantoras e Céu, por exemplo), mas também produtor emergente (apronta o novo álbum de Otto, seu velho cliente, ao lado de Junio Barreto, Lirinha, Mombojó, Marina de la Riva, entre outros) e compositor de trilhas para cinema (no momento, faz a do filme “Jardim Atlântico”, do também pernambucano Jura Capela).

Ao lado disso tudo, ele leva sua atividade primordial, a de baterista da Nação Zumbi, a banda que sobreviveu à morte do líder e guru Chico Science, há 15 anos, e agora se prepara para lançar (com show no dia 31, no Circo Voador), o CD e DVD “Ao vivo no Recife”, gravado em 2009 no Marco Zero. Era uma promessa antiga.

— O DVD que a gente gravou em São Paulo (“Propagando”, de 2004) gerou uma cobrança, um ciúme enorme em Recife — reconhece ele, que entrou para a Nação em 1995, aos 20 anos de idade, a convite do próprio Chico, que foi procurá-lo em casa e, não o achando, deixou um bilhete que ele guarda até hoje.

— Ao entrar para a Nação Zumbi, tudo o que eu ambicionava virou realidade — diz Pupillo.

— Vi que poderia gostar de tudo ao mesmo tempo. ‘HD na cabeça’ Já com o apelido dado por seu professor de bateria, o garoto começou a tocar na noite de Recife aos 15 anos.

— Meu pai teve que assinar uma autorização para eu trabalhar como músico. Saí de casa muito cedo, tinha que fazer uma grana — conta Pupillo. — Não consegui entrar para o conservatório porque

35 sou canhoto, e queriam me ensinar como destro. Acabei aprendendo a tocar do meu jeito, o que foi bom, porque não fui induzido a copiar ninguém.

Uma das bandas em que o baterista tocou nesse começo foi a Santa Boêmia, do cantor e compositor Armando Lôbo.

— Pupillo era um baterista disputadíssimo na cidade — recorda Armando. — Uma vez, ele foi tocar em Portugal e o pessoal ficou desesperado, ele tinha uma facilidade muito grande para tocar qualquer estilo, mas com uma pegada pernambucana. Era a menina dos olhos dos bateristas. Pupillo conta que despertou para a produção em 1996, nas gravações do segundo álbum de Chico Science & Nação Zumbi, “Afrociberdelia”.

Durante o processo, ele foi “descobrindo equipamentos e possibilidades”.

— A gente ralou muito para achar a sonoridade que queria. A partir dali, tudo ficou mais fácil — conta ele, que enxergava, então, em Chico Science um artista “com uma necessidade extrema de compartilhar”. — Você via no rosto do cara a alegria quando ele tinha algo novo a mostrar. O passo seguinte foi a participação nas gravações de “Samba pra burro” (1998), disco do amigo Otto.

— Foi um disco de música eletrônica muito orgânico, parte daquele nosso plano de manter a cena de Recife ativa e produtiva — diz Pupillo. Companheiro nessa época de descobertas em estúdio, o produtor Rica Amabis (que trabalhou com Pupillo em uma de suas primeiras produções, o disco tributo a “Baião de Viramundo”), analisa a passagem do baterista para o comando das gravações.

— Eu já vi artista chegar com música que só tinha duas coisinhas e ele vir com um monte de ideias. Pupillo escuta muita música, acho que sai tudo daquele HD que ele tem na cabeça — conta Rica. — Além disso, ele ouve muito o que o artista quer. Não é daqueles produtores que fazem sempre a mesma coisa.

— Um grande diferencial do Pupillo é o entendimento do arranjo como um todo, não somente focado em seu próprio instrumento — acrescenta o produtor Daniel Ganjaman.

— Eu sempre gostei mais de ouvir, de observar, do que de falar. Trabalho com o diálogo — reconhece Pupillo, que prefere as gravações com os músicos com quem tem intimidade. E que intimidade maior o baterista poderia ter do que com seus colegas de Nação Zumbi Lúcio Maia (guitarra) e Dengue (baixo)? Com eles, participou dos projetos Sebozos Postiços (de covers de ), Maquinado (o solo de Lúcio), 3 na Massa (de canções avulsas com diferentes cantoras), Almaz (a banda paralela de Seu Jorge) e das gravações de faixas de “O que você quer saber de verdade”, disco de Marisa Monte lançado no ano passado.

— Pupillo é um dos músicos mais inspirados da minha geração. Quando ele chega, com sua personalidade e inteligência musical, é sempre para somar, resolver. Pupillo é joia rara — festeja Marisa.

Disco com Camila Pitanga Outra cantora que grava com o baterista é Céu, que acaba de lançar o CD “Caravana sereia bloom” e que tem com ele o projeto Sonantes.

— Conheci Pupillo no meu primeiro disco, uns sete anos atrás — diz. — Eu estava nervosa pois era a “cozinha” da Nação Zumbi que eu tinha chamado para participar e, surpreendentemente, eles toparam.

Com o tempo, viramos amigos, e hoje não existe mais cerimônia. Ele é um músico que toca, acima de tudo, para a música. Trabalhando com trilhas sonoras em seu estúdio caseiro, em São Paulo (“Meu violão é um computador”, brinca), Pupillo se concentra agora no próximo disco da Nação Zumbi, que já foi gravado no estúdio Monaural, no Rio, com produção de Kassin e Berna. É um disco feito à moda antiga, em fita magnética.

— Usamos instrumentos emprestados, para mudar a pegada — diz ele. — Não conseguimos nos repetir.

36 Superado o desafio de fazer a direção musical do espetáculo em homenagem a Alceu Valença no carnaval de Recife de 2012 (“Era um perigo mexer naquele repertório, mas só aceitei porque pude dar a nossa visão”, diz), Pupillo se diz muito satisfeito com a nova cena musical da cidade.

— Recife sofre muito é com a falta de apoio da mídia. Não basta tocar nos palcos públicos no carnaval — diz.

Outro de seus projetos para 2012 é o segundo álbum do 3 na Massa. A novidade é a participação da atriz Camila Pitanga em uma música, somando- se a um time de cantoras que tem Céu, Pitty, Thalma de Freitas e Nina Becker. De passagem, Pupillo comenta que sua filha, Camila, de 17 anos, é bem afinada. Será que seria a próxima do 3 na Massa?

— Jamais! — exalta-se. — Torço para que ela enverede por outras áreas. Música é uma ralação danada, não é tão simples assim...

FOLHA DE S. PAULO - Homem musica

Sem deixar a Fresno, Lucas Silveira toca outros três projetos musicais e vai aos EUA com um deles

Lilian Rambaldi, colaboração para a Folha

(05.03.12) Faz algum tempo que a onda de "rock emocore" deixou o topo das paradas. São poucos os expoentes do estilo - aceitando ou não o rótulo "emo" - que conseguiram se descolar dele e enveredar por outros gêneros musicais.

Lucas Silveira, 28, há 12 anos à frente da Fresno, é um deles. Além da banda que o consagrou, ele toca outros três projetos distintos: Visconde, Beeshop e SIRsir.

Com este último, de música eletrônica, ele se apresentará no próximo dia 15 nos Estados Unidos a convite do festival South By Southwest, em Austin, no Texas.

"O SXSW é um dos festivais mais importantes da atualidade. Quando me convidaram, vi que o SIRsir tomou vida própria", contou ele ao "Folhateen".

Silveira está no mesmo "line up" do cantor Bruce Springsteen e fará um dos shows que acontecem em mais de cem espaços da cidade comoteatros, auditórios, bares e casas de show.

Antes de chegar aos Estados Unidos, o cantor e compositor irá à longínqua Bósnia para fazer a foto de capa do disco da banda Visconde.

O grupo, que tem outros 13 integrantes, toca músicas lentas e melancólicas, compostas após o fim do último namoro de Silveira.

"É bem diferente de tudo o que faço. Visconde me aproxima mais da Maria Gadú do que de uma banda de rock", explica.

Mas por que a Bósnia? Segundo ele, o interesse pelo país vem da infância, quando costumava desenhar prédios. "Meu irmão me mostrou fotos de monumentos do Leste Europeu e fiquei impressionado porque era exatamente o que eu criava."

A experiência internacional não é inédita para ele. Com o Beeshop -projeto que pende mais para o "indie" e a música pop e é cantado em inglês- Silveira fez os shows de abertura em uma turnê da banda Anberlin, nos Estados Unidos, em 2011.

Tantos projetos e, até agora, bem-sucedidos, não tiraram o seu foco da Fresno. A agenda de shows da banda em 2012 continua lotada, para alívio dos fãs.

37 "Essas outras coisas eu faço nas brechas da banda. Tento manter uma independente da outra e quero atingir públicos diferentes. Para os shows do SIRsir, por exemplo, uma agência especializada em música eletrônica me encaixa em datas entre os shows da Fresno."

Como se quatro bandas não bastassem, Lucas Silveira tem outros planos em mente, que estão começando a tomar corpo.

O primeiro deles, que é investir em atuação, já está se desenhando: o cantor fez testes para um filme estrangeiro neste mês. Se não for aprovado, ele garante que vai continuar tentando.

O segundo é compor sob encomenda para outros artistas de estilos diferentes.

Com isso, o leque de atividades do cantor e compositor deve se abrir ainda mais.

E o que era só uma banda de rock virou uma espécie de homem-projeto.

CORREIO BRAZILIENSE - Explosão rítmica de alegria

Irlam Rocha Lima

(06.03.12) Os baianos já aplaudiam Magary Lord há mais tempo; mas foi durante o carnaval de Salvador deste ano que brasileiros de outras regiões do país tomaram conhecimento do black semba, o tipo de música que Francisco Pereira Chagas (nome verdadeiro do cantor e compositor) faz e que leva quem a ouve a, imediatamente, cair na dança. Isso pode ser observado nas ruas, praças, becos e avenidas soteropolitanas, cada vez que Circulou, de autoria dele, era interpretada por Ivete Sangalo, Cláudia Leitte, Durval Lelys, Saulo Fernandes, Márcio Victor, Xande e Léo do Parangolé.

Saulo Fernandes, vocalista da Banda Eva, foi quem contribuiu decisivamente para projetar Circulou, depois de gravá-la no CNRT (Conexão Nagô/Rede Tambor), álbum que lançou em 2011. O sucesso foi grande, a ponto de a composição de Magary, em parceria com Fábio Alcântara e Leonardo Reis, ser escolhida como a música do carnaval baiano de 2012 e levada ao país todo por redes de tevê.

Magary começa a colher frutos dessa superexposição na mídia nacional. Tem a agenda cheia de compromissos, que incluem a gravação do programa Esquenta (apresentado por Regina Cassé no começo da tarde de domingo, na TV Globo), entrevistas e shows marcados para Aracaju, Maceió, Rio de Janeiro e Florianópolis. Sábado último, o cantor reuniu 2 mil pessoas no Clube do Servidor, em Brasília, e, em meio à Festa Brasileira, botou o público para dançar black semba, kuduro e suingueira baiana.

A nova sensação da música feita em Salvador tem formação como percussionista. “Comecei batucando lata, como tantos meninos da periferia de Salvador”, afirma o artista de 35 anos, soteropolitano do bairro de Brotas. Embora descoberto pelo grande público recentemente, é longa a estrada percorrida por Magary.

“Meu primeiro instrumento foi um atabaque. Como minha mãe, evangélica, não queria me ver envolvido com a música, guardava o instrumento na casa de uma vizinha. Escondido, ia ao Pelourinho assistir a shows e aos ensaios da Timbalada, no Candeal”, lembra. “Adolescente, criei o grupo Swing Sedução, com o qual tocava em palcos periféricos”, acrescenta.

Nos últimos 10 anos, Magary tem se dedicado ao seu projeto maior, o black semba, ritmo vibrante que oxigenou a música feita na Bahia; e que transforma suas apresentações em uma explosão de alegria. “Minha música é uma válvula de escape, a fuga em busca de algo novo, a partir de uma linguagem desenvolvida ao longo de uma década, voltada para a dança, a diversão e a alegria”, afirma convicto.

Com dois discos lançados, Black semba Bahia (2007) e Escutando Magary (2011), Magary se tornou conhecido antes do estouro de Circulou (pelo menos em Salvador e adjacências), com Inventando moda, gravado no segundo LP, no qual dividiu a interpretação com a filha Kalinde Mayara, de 10 anos. “O Saulo (Fernandes) é meu amigo há pelo menos cinco anos. As primeiras músicas minhas

38 que ele gravou foram A casa amarela e Planta na cabeça, no álbum que dividiu com Ivete Sangalo”, revela.

Duas perguntas/ Magary Lord O que vem a ser o black semba? É um movimento válvula de escape, uma fuga musical em busca de algo novo, uma linguagem com verdade, influenciado pelo som de James Brown, Jackson Five, Wilson Simonal, o tradicional ritmo angolano e o samba de roda do Recôncavo Baiano.

E o que você propõe com essa fusão? Levar ao público um som divertido, alegre e dançante, bem assimilada a partir de Circulou, a música do carnaval baiano deste ano.

ZERO HORA - Elis essencial

Fábio Prikladnicki

Duas caixas reúnem discos de carreira e raridades das décadas de 1960 e 70

(06.03.12) Para lembrar os 30 anos de morte de Elis Regina (1945 – 1982), duas caixas com 25 CDs trazem o essencial de sua (extensa) fase madura. Lançamentos da Universal Music com organização de Rodrigo Faour, Elis Anos 60 (com 10 discos de carreira e dois de raridades) e Elis Anos 70 (11 discos de carreira e um duplo de raridades) – R$ 230 em média cada caixa – incluem os álbuns gravados entre 1965 e 1979 pela antiga Phonogram/Philips.

Dos fundamentais, ficaram de fora Elis, Essa Mulher (1979), lançado pela WEA, que inclui O Bêbado e a Equilibrista; o último disco de carreira, Elis, do selo EMI-Odeon, e Saudade do Brasil, pela Elektra/ WEA, ambos de 1980. De resto, não há muitas lacunas, já que os primeiros álbuns dos anos 1960 – embora já anunciassem um grande talento – têm hoje valor documental.

A primeira caixa traz o momento em que Elis se torna Elis, com a voz e o repertório que viria a definir a sigla MPB. São interpretações de compositores na época também iniciantes e que ela ajudou a consagrar, como . Exemplo disso é Samba Eu Canto Assim (1965), primeiro disco lançado pela Philips. Se você tiver de escolher apenas uma das caixas, no entanto, já que o investimento é grande, vá para Elis Anos 70, que traz discos memoráveis como Ela (1971), com Black Is Beautiful, e os vários intitulados Elis: o de 1972, com Atrás da Porta; o de 1973, com músicas de e da dupla João Bosco e Aldir Blanc; o de 1974, com destaque para três canções de Milton Nascimento e Fernando Brant; e o de 1977, de Romaria.

É bom lembrar que os imprescindíveis Elis & Tom (1974), da célebre versão de Águas de Março; e Falso Brilhante (1976), de Como Nossos Pais e Fascinação, ambos aqui presentes, já tiveram reedições definitivas em CD/DVD áudio pela gravadora Trama – de modo que, se você estiver interessado em excelência de som, vale a pena buscar estas versões avulsas.

Embora os discos das duas caixas apareçam remasterizados, são basicamente os mesmos do pacote Transversal do Tempo, de 1998. Os novos encartes reproduzem mais fielmente a arte dos LPs originais. A dificuldade de encontrar muitos desses títulos para venda individual também é um atrativo.

Os fãs que já têm a discografia da cantora em suas prateleiras podem ficar balançados pelos CDs com raridades. Elis Anos 60 traz Pérolas Raras, coletânea lançada em 2006 com versões alternativas e músicas para festivais, e Esse Mundo É Meu, uma compilação de gravações de 1965 a 1968. No CD duplo de raridades da caixa Elis Anos 70, intitulado No Céu da Vibração, estão curiosidades para os ouvintes gaúchos, com interpretações de Boi Barroso (adaptada por Rogério Duprat), Porto dos Casais (Jaime Lubianca) e Os Homens de Preto (Paulo Ruschel).

Os encartes das duas caixas trazem depoimentos de pessoas que conviveram com a artista. A conclusão, previsível, é que a cantora sobrevive aos modismos da música brasileira. Elis continua essencial.

39 FOLHA DE S. PAULO - Luciana Souza volta a cantar no Brasil após cinco anos

Cantora prepara dois álbuns, um com clássicos da MPB e outro de jazz, inspirado em repertório de Chet Baker

Com influência de poetas como Elizabeth Bishop e Leminski, artista fará dois shows no Sesc Pompéia

(07.03.12) Depois de uma temporada menos intensa, marcada pelo nascimento do filho, Luciana Souza começou 2012 em ritmo acelerado. Envolvida com a preparação de dois novos álbuns, a cantora reservou também um tempo para os palcos brasileiros, onde não pisa há quase cinco anos.

"Às vezes é complicado, tenho projetos que me prendem aqui, um filho pequeno. Tento fazer viagens rápidas, curtas. No final, 80% dos concertos que faço acabam sendo aqui [nos EUA]", disse Luciana por telefone à Folha, de Los Angeles, onde vive.

A cantora se apresentará no Sesc Pompeia neste fim de semana. Antes, passará ao menos dois dias em estúdio gravando "Duos III", disco que dá continuidade a uma celebrada série de álbuns que a levou a concorrer ao Grammy mais de uma vez.

"Duos III" terá a participação de antigos parceiros, como o violonista Romero Lubambo, e será dedicado a clássicos da música brasileira. "As Rosas Não Falam", de Cartola (1908-1980), e "Mágoas de Caboclo", imortalizada por Orlando Silva (1915-1978), estão entre as seleções.

O outro álbum, em preparo, será dedicado ao cancioneiro do trompetista e cantor Chet Baker (1929- 1988), ícone do cool jazz.

"Não sou feita só de samba", avisa Luciana, lembrando que Baker tinha muito de bossa nova. "Vai ser uma sessão mais romântica."

Muito ligada à poesia -já musicou Elizabeth Bishop (1911-1979), e.e. cummings (1894-1962), Pablo Neruda (1904-1973) e Paulo Leminski (1944-1989)-, a cantora tem trabalhado com uma nova paixão: Leonard Cohen, de quem já fez arranjos para dois poemas de "Book of Longing", que devem ser gravados em um próximo disco.

"Sou apaixonada por poesia como sou por música. Essa relação nunca vai acabar."

Nas duas apresentações que fará em São Paulo, a cantora terá a companhia de um trio formado pelos músicos Marcelo Mariano (baixo), Fábio Torres (piano) e Edu Ribeiro (bateria).

"Os concertos terão muitas faixas do 'Tide' [disco que lançou em 2009], que acabei nunca tocando no Brasil. Também terá um pouco de samba, um arranjo meu para 'Chega de Saudade' e alguma coisa do disco novo", contou Luciana.

(FABRICIO VIEIRA)

LUCIANA SOUZA

QUANDO dias 10 (21h) e 11 (19h) ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93; tel. 0/xx/11/3871-7700) QUANTO de R$ 5 a R$ 20 CLASSIFICAÇÃO 12 anos LIVROS E LITERATURA

CORREIO BRAZILIENSE - Verso em dois tempos

Coleção Roteiro da poesia brasileira resgata nomes e estilos das décadas de 1960 e 1990

40 Felipe Moraes

(02.03.12) A história do verso nacional está organizada em divisão cronológica e autoral, de suas raízes mais arcaicas, datadas do século 16, à primeira década dos anos 2000. Com os dois últimos volumes da coleção Roteiro da poesia brasileira (Global), dedicados aos anos 1960 e 1990, completa-se um painel informativo e biográfico de poetas, movimentos estéticos e espíritos geracionais. As coletâneas, que reúnem dezenas de autores, três poemas de cada um e palavras de estudiosos, foram organizadas pela escritora catarinense Edla Van Steen. Nos novos e derradeiros compêndios, a produção nacional aparece em diferentes momentos: nos anos 1960, época da contracultura e do espírito de revolução; nos 1990, da confirmação de tendências culturais de globalização e da variedade de estilos, vontades e vozes.

Pedro Lyra, organizador da antologia que viaja pela década de 1960, acredita que o golpe militar de 1964 serve tanto quanto o divisor político como estético. “Ele mudou não apenas a nossa geração, mas a história do nosso país. Os efeitos foram trágicos. Mas, na cultura, alguns deles foram benéficos. Regimes opressores estimulam a resistência e a contestação. Ninguém precisa da ditadura para fazer cultura. Mas se ela acontece, a gente reage”, diz o também poeta e pesquisador, que lista 41 autores, entre eles Affonso Romano de Sant’Anna, Antonio Brasileiro, Carlos Nejar, Francisco Alvim e Roberto Piva.

Segundo o curador, os anos 1960, até hoje, exibem uma riqueza temática e estilística que nunca pôde ser igualada, tanto em quantidade como em qualidade. Naqueles tempos, a palavra se aproximou da imagem e, em instantes separados, se tornou guia para uma reflexão sobre o próprio fazer poético e arma de protesto social, que se despejaria na produção marginal. Se alguém importante foi esquecido na seleção, não foi por questão pessoal, ele avisa. “Primeiro, me baseei no meu conhecimento. Sou professor da matéria há 40 anos. Depois, em zonas geográficas, reconhecimento da crítica, prêmios e traduções. Alguns ficaram de fora porque os herdeiros não sabem tratar a memória de seus entes queridos e colocam uma série de dificuldades. A mais absurda é cobrar um preço exorbitante para autorizar a divulgação de poemas”, diz Lyra. Geração 90 Paulo Ferraz percebe um descompasso agradável entre os 45 eleitos para compor um panorama dos anos 1990: vêm das cinco regiões do mapa, nasceram entre 1944 e 1979, começaram a escrever no início ou no fim da década, e deixaram um rastro de dicções criativas diferentes, mas complementares. “O que procurei foi incluir poetas que, nesse curto período de tempo, tenham construído uma obra respeitável ou que ainda possam vir a construir, uma vez que quando se trabalha com poetas em plena atividade é um fato que suas obras estão em transformação, daí que uma antologia como essa é um registro do presente e também uma aposta no futuro”, diz ele. Entre os selecionados, Ana Elisa Ribeiro, Fabio Weintraub, Fabrício Carpinejar, Joca Reiners Terron, Maria Lúcia Dal Farra e Sergio Cohn.

Ferraz vê o período como arena de convergência, para usar um termo popular na tecnologia da informação: a contracultura aparece dissolvida e, por outro lado, o ressurgimento do modernismo da primeira metade do século 20 como pilar. Questões de identidade e herança, somadas à abertura política sentida desde a década anterior e à chegada da internet e outros processos tecnológicos, orientam um novo caminho para os poetas.

“O ambiente de pluralidade e diversidade em que vivemos permitiu aos poetas explorarem outros caminhos e saírem de rotas prescrita por terceiros. Isso valeu para a poesia em geral, pois na década de 1990 havia poetas de diversas gerações escrevendo e dialogando entre si, rompendo um pouco com uma certa hierarquia que poderia existir”, completa.

O GLOBO - O mineiro que dava as cartas

Livro sobre Joaquim Rolla revela as histórias do homem que ganhou o Cassino da Urca no jogo

João Máximo

(02.03.12) De tanto ouvir casos contados pelo pai, João Perdigão cresceu acreditando que o tiobisavô, Joaquim Rolla, era homem cercado por lendas de todos os lados. De tanto interessarse pela vida social e cultural carioca dos tempos do jogo, Euler Corradi viu crescer seu interesse pelo

41 Cassino da Urca e o homem que o criou. Ou seja, o mesmo Joaquim Rolla. Ambos de Belo Horizonte, João de 34 anos, Euler de 36, os dois se conheceram por acaso e acabaram juntando forças, em 2006, para escreverem o livro “O rei da roleta — A incrível vida de Joaquim Rolla” (Casa da Palavra), que acaba de chegar às livrarias.

— As histórias contadas por meu pai, em São Domingos da Prata, eram mesmo incríveis — recorda João Perdigão. — Elas ganhavam importância porque eram passadas adiante na mesma casa que meu tataravô construiu há cem anos.

Incentivo de Ruy Castro

Foi uma foto de Joaquim Rolla, publicada por João na internet, que chamou a atenção de Euler. Partiu deste a proposta de pesquisarem juntos os tempos da Urca e de seu criador. Formado em jornalismo, tendo se interessado depois pelas artes, João veria tudo isso passar a um segundo plano, assim que a pesquisa teve início.

— No começo, Euler bancou tudo, pois eu não tinha condições de me dedicar à pesquisa e a outra atividade ao mesmo tempo — diz João. — Em 2007, cheguei a fazer pós-graduação em arte contemporânea. Escrevi um livro sobre a pesquisa e, depois, fomos à casa de Ruy Castro, no Leblon, na época em que ele trabalhava na biografia de . Ele nos incentivou muito e nos pôs em contato com a editora. Através da Lei Rouanet, fomos em frente.

A pesquisa só veio provar a João que não havia exagero nas histórias do pai. Rolla foi, de fato, grande personagem da vida social, cultural, empresarial e mesmo política de sua época. Mineiro, nascido em 1899, teve várias ocupações (vaqueiro, açougueiro, tropeiro, construtor de estradas) antes de tentar a sorte no Rio. Com seu jeito simples, falando como mineiro inculto do interior, a primeira impressão que deu aos moços da cidade grande era a de um matuto.

Em 1933, num jogo de cartas, ganhou uma parte do que era o Cassino da Urca, então uma pobre e nada atraente casa de jogo. No ano seguinte, já seria seu único dono. Mais que isso, um empresário decidido a transformar o local em algo muito superior ao mais chique Cassino Atlântico.

A história de Rolla e dos cassinos que construiu depois, no Rio e em Minas, passa por personagens importantes da vida social e política do Estado Novo: Getúlio Vargas, Assis Chateubrand, Ernani do Amaral Peixoto, Felinto Müller e mais os grãfinos que frequentavam a Urca para ver os maiores astros do show business internacional. Ali se apresentaram Bing Crosby, Tito Guisar, , Josephine Baker, trazidos pelo dinheiro do jogo ou pela Política da Boa Vizinhança, projeto com o qual os Estados Unidos levavam sua música e seu cinema para a América Latina.

E, é claro, as grandes atrações nacionais, Carmen Miranda entre elas. Foi depois de vêla no Cassino da Urca, que o empresário Lee Shubert a levou para os States. E foi também ali que, ao voltar americanizada, ela foi hostilizada pelo público que antes a endeusava.

A política getulista também pesou. Interessado em incrementar o turismo, Vargas legalizara o jogo em 1933 e incentivara a abertura de novos cassinos até o final da década. Com um detalhe: se, por qualquer razão, o jogo fosse outra vez fechado, o governo se comprometia a pagar as indenizações dos empegados que fossem demitidos. O que não aconteceria quando Dutra fechou os cassinos em 1946.

Construtor do Quitandinha

Rolla, excelente negociante (são muitas e interessantes as histórias sobre seus negócios fechados ou recusados), sobreviveria a esse golpe dedicando-se a importantes construções como o Edifício JK, em Belo Horizonte, o Pavilhão de São Cristóvão e, antes disso, ainda como cassino, o Hotel Quitandinha, sua grande obra, cuja inauguração, em 1944, foi um acontecimento.

Naturalmente, há muito mais histórias no livro do que as ouvidas por João em sua infância. Ele e Euler foram buscá- las em jornais antigos, livros, entrevistas e o diário de Mário Rolla, filho de Joaquim. Ilustrado, é o retrato de uma época, um mergulho nos bastidores de um Rio que, na verdade, era a cara do Brasil

42 O ESTADO DE S. PAULO - Paraty Poética

Silviano Santiago fará a abertura da festa, que homenageia Drummond

MARIA FERNANDA RODRIGUES

(03/03/2012) No ano em que Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) será homenageado na 10.ª Festa Literária Internacional de Paraty, de 4 a 8 de julho, Silviano Santiago fará a conferência de abertura. O escritor, crítico literário e colunista do Estado pretende tratar, na noite de 4 de julho, sobre a atualidade e o cosmopolitismo do poeta mineiro, que ele conheceu pessoalmente e com quem organizou Carlos e Mário, livro de correspondências trocadas com Mário de Andrade - que seria lançado em 2002.

"A atualidade de Drummond é inegável. Paralelamente aos outros grandes poetas modernistas, ele apresenta uma diversificação temática, estilística e de dicções poéticas muito grande e isso o torna uma figura bem mais complexa que os demais modernistas. É por essa diversificação que ele nunca cairá no lugar comum da poesia de gosto fácil", diz Santiago, que lançou, em 1976, obra de ensaios sobre o poeta. Ao mesmo tempo, conta, ele tinha um "tino extraordinário para poemas que cairiam no gosto do público, como José".

A questão do cosmopolitismo, uma das grandes características da poesia de Drummond segundo o crítico, deve ganhar destaque na apresentação. Drummond não conheceu a Europa e nem os Estados Unidos, e a Argentina foi o único país estrangeiro que ele visitou, relembra o crítico. "Mas desde o início ele mostra uma visão de mundo muito ampla que coincide com esse desejo do Brasil hoje de falar menos sobre o umbigo e mais sobre as relações internacionais."

Santiago e Drummond se encontraram algumas vezes - a primeira delas foi em 1955. Depois, como eram vizinhos de rua, se cruzaram pelo Rio. Estiveram juntos duas ou três vezes nos famosos Sabadoyles, nome dado às reuniões de sábado realizadas por Plínio Doyle em sua casa, e em outros momentos. Para Santiago, Drummond era tímido, mas não era sério. Tanto que mudava a voz ao atender o telefone para evitar os chatos.

CORREIO BRAZILIENSE - A Brasília de Edgar Vasques

O 10º volume da coleção de livros Cidades Ilustradas homenageia a capital do país. A obra, que começou a ser produzida há dois anos, finalmente chega às livrarias

Pedro Brandt

43 Em março de 2010, o ilustrador e cartunista gaúcho Edgar Vasques esteve em Brasília para tirar fotos, fazer anotações e rascunhos para um novo trabalho. Vasques atendeu ao convite do editor carioca Roberto Ribeiro, da Casa 21, para fazer o décimo volume de Cidades Ilustradas — coleção que anualmente homenageia uma cidade brasileira vista sob a ótica de alguém de fora, seja brasileiro ou estrangeiro. Já participaram do projeto, artistas renomados das histórias em quadrinhos, como o francês Jano, o espanhol Miguelanxo Prado, o argentino Carlos Nine e os brasileiros Lelis e Marcello Quintanilha.

O plano era publicar o título ainda em 2010, para coincidir com o cinquentenário de Brasília, o que não foi possível. “O prazo inicial era de seis meses, mas precisei de nove para finalizar o livro”, contabiliza Vasques, 62 anos. A editora, por sua vez, entre outros projetos, teve que se focar na organização da Rio Comicon, convenção internacional dedicada às histórias em quadrinhos, realizada em novembro de 2010 — que trouxe para a cidade maravilhosa bambas como o italiano Milo Manara, o francês Killofer e os britânicos Kevin O’Neill e Melinda Gebbie (mulher do roteirista Alan Moore).

Para quem quiser conferir o resultado, Cidades Ilustrada — Brasília já está nas livrarias. O livro tem 72 páginas e mais de 50 ilustrações (entre painéis e rascunhos, tanto em aquarelas coloridas quanto rascunhos em preto e branco) e textos do autor comentando suas impressões brasilienses.

Se o poeta Nicolas Behr foi o cicerone do gaúcho quando da visita há dois anos, é Vladimir Carvalho quem assina o texto de introdução. “Nada escapa ao olho clínico de Edgar Vasques: ele registrou com muito humor desde o inevitável kitsch arquitetônico ao mais recôndito e sutil detalhe do cotidiano”, comenta o cineasta.

O ilustrador, no entanto, aponta alguns temas que ficaram de fora — por falta de tempo ou articulação, ele justifica —, como a Universidade de Brasília (UnB) e o rock brasiliense. Mas estão lá desde o roteiro obrigatório numa tour pela cidade (Torre de TV, Igrejinha, Palácio da Alvorada, Museu da República, Congresso, etc.) até cenas que, provavelmente, só o brasiliense reconheceria, como um fim de noite no Beirute, uma passagem subterrânea da W3, a espera pelo ônibus na rodoviária do Plano Piloto… e por falar nisso, o livro não se resume ao avião do urbanista Lúcio Costa e passa ainda por Ceilândia, Vila Planalto e até o Vale do Amanhecer. “Realmente, tentei fugir dos estereótipos, embora não tivesse a pretensão de entender e representar a visão dos habitantes. Na verdade, procurei ver, ao mesmo tempo, as semelhanças com outras cidades brasileiras e as peculiaridades exclusivas da capital”, detalha o artista.

44 Os próximos volumes da coleção Cidades Ilustradas terão como tema São Luís, com desenhos dos irmãos paulistanos Fábio Moon e Gabriel Bá, e Manaus, com ilustrações do também paulistano Lourenço Mutarelli. A cidade fluminese Niterói, ainda sem artista definido para retratá-la, será a próxima da lista.

Cidades Ilustradas — Brasília

CORREIO BRAZILIENSE - As muitas caras do Chico

O povo que mora às margens do Rio São Francisco é fonte de inspiração para os textos de Gustavo Nolasco e as fotos de Leo Drumond

Nahima Maciel

(05.03.12) Quando Gustavo Nolasco visitava os lugares turísticos à beira do Rio São Francisco, procurava evitar os monumentos. Preferia sair à cata das pessoas. Fascinado pelas histórias ribeirinhas do maior rio da região central do Brasil, o jornalista ficava incomodado com a literatura sobre as populações do São Francisco. No que lia, encontrava uma maçaroca de povos que pareciam viver do mesmo jeito, falar com o mesmo sotaque, comer as mesmas coisas e contar as mesmas histórias. “E eu sabia que não era assim”, conta Nolasco. “Resolvi fazer um projeto para mostrar a diversidade da cultura oral do Rio São Francisco.”

Os Chicos — Prosa & Fotografia, uma radiografia poética e sensível da vida ao longo de um rio que será lançada amanhã no Balaio Café, tomou forma graças às pessoas. Acompanhado do fotógrafo Leo Drumond, Gustavo percorreu cinco estados, 2.770km e mais de 60 comunidades em busca de relatos pessoais que espelhassem também a história da região. O projeto rendeu dois livros — um de reportagem e outro de fotografias — e um retrato da diversidade ribeirinha. “Pincei cidades que me dariam a cara daquela região, porque cada região tem uma particularidade: a forma de falar, a culinária, as tradições folclóricas, a vegetação, a história oral e o que o rio representa para aquela comunidade.”

No entanto, a maior diferença Nolasco encontrou no papel do São Francisco para as economias locais. As Minas Gerais são riscadas por diversos outros rios e, segundo o jornalista, não retiram a subsistência do Velho Chico. Mas quando as águas chegam ao Nordeste, o cenário muda completamente. “Em Minas Gerais, ninguém sobrevive do São Francisco. Na Bahia, todo mundo

45 sobrevive do rio.” Nolasco estabeleceu alguns critérios na busca por personagens. Que todos se chamassem Francisco ou Francisca era um deles. “Porque não existe nada mais bonito, quando você ama um lugar, que colocar o nome daquele lugar no seu filho”, destaca.

Com a determinação de entrevistar apenas homônimos do rio, o jornalista se deparou com relatos capazes de remeter à história da região em séculos passados. Uma família de latifundiários nomeia os filhos Francisco desde o século 17, uma espécie de homenagem e reverência às águas das quais retiraram suas riquezas. A pesca e a variedade de peixes retirados do cânion do rio pelos garotos Preto e Pretinhos (ambos Franciscos) nas Alagoas revelam o problema trazido pelas cinco hidrelétricas construídas no Velho Chico: a cada ano, nota-se a escassez na variedade de espécies disponíveis.

Dificuldades Um certo Francisco Fernandes, diretor de teatro, revela que a cultura no sertão do rio também é contemporânea e há palco para o drama em Juazeiro. Mas se há poesia, há também muita tragédia à beira do rio. Assassinatos, estupro, suicídio e pobreza aparecem nas histórias como reflexos e consequências das dificuldades enfrentadas pela exploração desordenada das águas do São Francisco. Nas imagens de Leo Drumond, o que se vê não são os rostos dos personagens descritos nos textos, mas o ambiente no qual vivem, o universo no qual as histórias acontecem.

No início, quando optou por mapear a diversidade da região, Nolasco pensou também em encontrar características comuns entre as populações ribeirinhas, aspectos que pudessem conferir uma certa unidade ao mapeamento. Afinal, um mesmo fluxo de águas une povos de cinco estados brasileiros. “Essa característica é que quem mora ao lado do rio ama o rio.” É por isso que, para lançar o livro em Brasília, o jornalista organizou o evento Homenagem ao Velho Chico, no Balaio Café. Além da projeção de fotos de Leo Drumond e de show do compositor Aloísio Brandão, o público poderá assistir ao curta-metragem Os Chicos, realizado pelos autores durante a execução do projeto. “A gente quer que esse encontro seja a oportunidade para as pessoas que são dessa região se encontrarem, trocarem ideias e lembrarem histórias do rio”, avisa Nolasco.

Homenagem ao Velho Chico Amanhã, a partir de 21h, no Balaio Café (CLN 201, Bloco B). Lançamento dos livros Os Chicos. Nitro Editorial. R$ 50. Projeção de fotos de Leo Drumond. Exibição do curta-metragem Os Chicos. Show do cantor e compositor Aloísio Brandão. OUTROS

O GLOBO - Arte brasileira toma ruas e palcos de Londres

Brasil terá espaço importante nas Olimpíadas Culturais da capital britânica, com shows, peças, exposições e conferências

Luiz Felipe Reis

(04/03/2012) Arealização dos Jogos Olímpicos de Londres, entre julho e agosto próximos, e a subsequente vinda da tocha olímpica para o Rio de Janeiro, em 2016, têm fortalecido as relações entre a Inglaterra e o Brasil não apenas no campo do esporte ou dos grandes negócios. Desde 2009, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Londres (Locog) tem colocado em prática um projeto chamado Olimpíadas Culturais. Trata-se de uma plataforma com uma série de atividades artísticas que irá atingir seu ponto culminante com a realização do London 2012 Festival, entre os dias 21 de junho e 9 de setembro. Dirigido por Ruth Mackenzie, o festival irá espalhar pela capital e por vários locais do Reino Unido grandes eventos ligados à música, ao cinema, ao teatro, à literatura e às artes plásticas, em que a participação brasileira ocupa importante espaço.

— Identificamos prioridades e estamos desenvolvendo projetos culturais conjuntos — diz Ruth. — Muitos artistas brasileiros e britânicos têm trabalhado por todo o Reino Unido. Esses projetos serão apresentados como parte do London 2012 Festival e terão continuidade em interações até os Jogos do Rio, em 2016.

46 Além de o Rio sediar os próximos jogos, a diretora lembra que o governo inglês planeja para 2013 a realização do Ano Cultural da Inglaterra no Brasil, o que reforça a aproximação dos dois países.

— Entre os conceitos que guiam a nossa programação estão a qualidade e a criação de experiências únicas. E essas peculiaridades se relacionam diretamente com as características da cultura e das artes brasileiras.

É um encaixe perfeito com o trabalho que temos feito em Londres. O nosso objetivo é consolidar a cultura no cerne da experiência olímpica.

Convidada pelo governo brasileiro, Ruth esteve no Rio no ano passado, época em que começou a tecer uma série de parcerias do Locog e do British Council com as pastas de Cultura do município, do estado e do governo federal.

— Uma das missões de Londres 2012 é começar a construir e a entregar um legado às Olimpíadas do Rio, criando uma relação efetiva — conta a diretora do festival. — É uma oportunidade fantástica para colaborações entre os dois países, que deverão se manter ativas e cada vez mais estreitas até os Jogos do Rio.

Shakespeare em português O calendário de atividades culturais brasileiras em Londres é recheado, antes, durante e depois do festival. Entre abril e maio, dois imponentes eventos dedicados exclusivamente às obras de Shakespeare também contam com a participação de artistas brasileiros. Produzido pela Royal Shakespeare Company, o World Shakespeare Festival 2012 recebe, no dia 7 de maio, a Companhia BufoMecânica, de Fábio Ferreira e Cláudio Baltar, que encenam “Two roses for Richard III”, inspirada no clássico “Ricardo III”.

— Vamos representar o país num festival que reúne companhias do mundo todo, como a Wooster Group, do Willem Dafoe — diz Ferreira. — E escolhemos “Ricardo III” por se tratar de um drama histórico com potência política ao apresentar argumentos para o ato torpe e corrupto.

Nosso país ainda aplaude vilões como o duque de Gloucester. Já o festival Globe to Globe, que acontece a partir de 21 de abril, reúne todas as 37 peças do bardo em montagens interpretadas em igual número de idiomas.

A língua portuguesa será representada pelo trabalho do Grupo Galpão, que encena “Romeu e Julieta” no lendário Globe Theatre, com direção de Gabriel Villela, no dia 19 de maio.

— Ir para a Inglaterra e ser os únicos representantes da nossa língua com uma peça dessas é especial — diz o diretor, que inicia esta semana os ensaios com o grupo.

Entre 25 de maio e 9 de junho, o Salisbury International Arts Festival terá a sua edição 2012 inspirada nos temas da cultura brasileira. Na grade, uma mostra de cinema com longas nacionais ou sobre o país, como “5xFavela, agora por nós mesmos” e o documentário “Senna”, entre outros.

O programa traz ainda uma exposição da artista Ana Maria Pacheco, a mostra de cenografia teatral brasileira premiada com a Triga de Ouro na Quadrienal de Praga de 2011, uma residência com o grupo AfroReggae, um concerto que une Debussy e Villa- Lobos conduzido pela pianista Cristina Ortiz, no dia 29 de maio, além do espetáculo “Birth”, em 6 de junho, criado pela dançarina Morena Nascimento, egressa da companhia de Pina Bausch, em parceria com o pianista e compositor Benjamin Taubkin.

Jorge Amado

Em junho, mês que marca a abertura do London 2012 Festival, será celebrado em conferências e numa exposição realizadas na British Library e no King’s College, a partir de 8 de junho. Considerado o maior festival de poesia do mundo, o Poetry Parnassus terá a presença do brasileiro Paulo Henriques Britto, no dia 26 de junho. Já nos dias 28 e 29 de junho, a Tanztheater Wuppertal Pina Bausch encena “Água”, no Barbican Theatre, um espetáculo inspirado na natureza do Brasil.

47 Após se firmar no calendário de shows brasileiro, o festival Back2Black terá a sua próxima edição realizada em Londres, entre 29 de junho e 1º de julho, com uma mescla de artistas nacionais e internacionais. No mesmo mês, entre 6 de julho e 4 de agosto, a capital inglesa se transforma em palco a céu aberto para receber a Rio Artists Occupation. Idealizado pela secretaria de estado de Cultura, o evento foca num intercâmbio entre 30 artistas britânicos e brasileiros, que irão apresentar suas criações em ruas, parques, palcos e galerias da cidade.

— A ocupação serve para fortalecer as relações culturais e promover uma imagem dinâmica e contemporânea do Rio, através de seus artistas — diz a secretária Adriana Rattes. Uma semana antes da abertura dos Jogos de Londres, nos dias 21 e 22 de julho, o festival River of Music terá a presença de Gilberto Gil num grande palco montado às margens do Rio Tâmisa. Já em agosto o Victoria and Albert Museum abre uma mostra inteiramente dedicada à arte de Arthur Bispo do Rosário, e em setembro ocorre o Boomba Down the Tyne, que irá mesclar a tradição do bumba meu boi com a cultura do Blaydon Races, do Nordeste inglês.

— O Brasil está na crista da onda, e para além do carnaval e do samba — diz o curador do governo federal, Cid Blanco, responsável pela programação artística da Casa Brasil.

Localizada na Somerset House, um edifício neoclássico no coração de Londres, a Casa Brasil será, além de base do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), um espaço de exposição e eventos culturais, cuja programação ainda está sendo elaborada.

— O mundo está redescobrindo o Brasil, vendo o país com outros olhos, interessados no design, na moda, nos artistas contemporâneos — diz Blanco.

— Então as artes brasileiras estarão muito bem representadas por lá ao longo do ano todo.

FOLHA DE S. PAULO – Cinema: MIS abre mostra baseada em Leon Cakoff

(01/03/12) O Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158) apresenta mostra baseada no livro "Os Filmes da Minha Vida", do crítico Leon Cakoff, morto em 2011. O projeto, que começa hoje, às 19h, e vai até 12/6, reúne filmes de Wim Wenders, , entre outros. Mais em www.mis-sp.org.br.

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