Trabalho E Imaginário Em Potosí-Bolívia
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Trabalho e Imaginário em Potosí-Bolívia Amanda Carvalho Padilha Belo Horizonte 2012 2 Amanda Carvalho Padilha Trabalho e Imaginário em Potosí-Bolívia Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação, Conhecimento e Inclusão Social da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração: Política, Trabalho e Formação Humana. Orientadora: Professora Dra. Daisy Moreira Cunha 3 Amanda Carvalho Padilha Trabalho e Imaginário em Potosí – Bolívia Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação, Conhecimento e Inclusão Social da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração Política, Trabalho e Formação Humana Orientadora Daisy Moreira Cunha Aprovada em 2012. Comissão Examinadora _____________________________________________________ Profa. Dra. Daisy Moreira Cunha Universidade Federal de Minas Gerais Orientadora _____________________________________________________ Prof. Dr. Antônio Júlio Menezes Universidade Federal de Minas Gerais _____________________________________________________ Prof. Dr. Pablo Lima Uiversidade Federal de Minas Gerais _____________________________________________________ Prof. Dr. Rogério Cunha Universidade Federal de Minas Gerais ___________________________________________ Profa. Dra. Regina Célia Passos Ribeiro de Campos Universidade Federal de Minas Gerais 4 AGRADECIMENTOS À vida, que insiste e nunca divide. Aos que não desistiram de mim. A quem quiser contribuir com este empreedimento. A vocês que precisam tanto quanto os mineiros de Potosí. Aos mineiros de Potosí. Ao Deus do céu que vive aqui em baixo. 5 RESUMO Esta pesquisa evidencia a realidade de trabalho dos mineiros de Potosí na Bolívia. É uma realidade marcada pela dureza das condições de vida, mas também por um rico imaginário. Para compreender essa complexidade busquei como referencial teórico a junção entre dois conceitos, um de Simone Weil e outro de Yves Schwartz. O conceito de enraizamento e o conceito de corpo-si. É uma pesquisa exploratória pois a distância e as dificuldades do campo não permitiu a permanência mais tempo nele. Pode- se concluir que, diferentemente da experiência de Weil na fábrica, que é de resignação, a vida dos mineiros, em condições mais difíceis, é de resistência. Eles resistem fortalecidos pela cultura, valores e todo o imaginário. Além da necessidade de sobrevivência, a dinâmica cultural é também um importante fator no dia a dia na mina. O mais interessante da dinâmica cultural é que se pode identificar que ela traz consigo a dimensão espiritual da vida dos mineiros. Quando as forças materiais se esgotam é do espírito que eles tiram energia para continuar trabalhando. 6 ABSTRACT This research highlights the reality of working miners of Potosí in Bolivia . It is a reality marked by the hardness of living conditions , but also by a rich imagination .To understand this theoreptical complexity, we seek as a reference a junction between two concepts of Simone Weil and other Yves Schwartz . The concept of rooting and the concept of self- body. It is an exploratory research because the distance and difficulties of the field , do not allowed us to stay longer in it. It has as a conclusion that, unlike the experience of Weil in the factory, which is resignation, the lives of miners in the toughest conditions, is resistance. They resist sustenaied by the the culture, values and all imagery . Besides the need to survive, the cultural dynamic is also an important factor in everyday life of the mine. The most interesting of the cultural dynamic that we can identify , is that it brings the spiritual dimension of life of the miners. When the material forces are exhausted, is from the spirit that they take energy to keep working. 7 SUMÁRIO 1) INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8 2) ENRAIZAMENTO E CORPO-SI: NOTAS PARA UM DIÁLOGO ........................ 21 3) ASPECTOS HISTÓRICOS E BOLÍVIA ATUAL .................................................... 61 4) E A MINA COMEÇA A FAZER PARTE DO SEU SER ......................................... 82 5) RELAÇÕES DE TRABALHO E IMAGINÁRIO SOCIAL.................................... 100 6) ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO E PROCESSO DE TRABALHO ................. 106 O CASO DA EMPSA-COOPERATIVA UNIFICADA .......................................... 106 CASO MINA KORI MAIO ...................................................................................... 107 COMIBOL ................................................................................................................ 108 7) CONDIÇÕES DE TRABALHO: JORNADA E INSALUBRIDADE .................... 121 8) CONCLUSÃO..........................................................................................................133 9) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 140 10) ANEXO I – MAPAS E FOTOS ............................................................................. 145 11) ANEXO II – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO ...................................................... 162 12) ANEXO III – ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA A ENTREVISTA EXPLORATÓRIA ....................................................................................................... 163 8 1) INTRODUÇÃO Cerro Rico encontra-se 1 a 4303m, o ar é raro e existe muita poeira. Para subir à mina, passa-se, antes, pelo mercado onde se compra pequenos presentes para os mineiros: folhas de coca, tabaco, álcool, refrigerantes (que é o que eles mais gostam) etc. As mulheres são absolutamente proibidas de entrar nas minas, sob pena de que aconteça uma desgraça. O reino do Supay 2, d’ El tío3 é exclusivamente masculino. Dentro da mina só se bebe álcool, com exceção das crianças e dos doentes. Depois de uma viagem de carro, chega-se à Mina Rosário - Cooperativa Unificada datada do séc XVII, o principal mineral extraído dela é o estanho. A mina está rodeada por casilhas 4. Existe também uma pequena casa de madeira para a família ‘guardiã da mina’. A boca da mina é sustentada por concreto e antigas pedras cobertas por sangue de lhama. Já nas minas mais recentes, as entradas são feitas com eucalipto. Na entrada existe uma lista, feita à mão, com a escala dos mineiros que trabalharão em cada dia da semana. Os mineiros vestem-se com calças, blusas, sandálias e capacetes com uma lâmpada sustentada por querosene. Existem também os tubos que conduzem ar comprimido para a perfuração e ventilação. Ao entrar-se pela galeria principal, percebe-se muita água, poeira e lama, que aumenta à medida que se caminha. Dentro da mina, existem várias galerias nas quais só se pode entrar arrastando-se e onde a temperatura varia de muito quente a muito fria. Dentro da mina, os mineiros entram e saem como formiguinhas, curvados, com suas mochilas nas costas levando prata (Ag), zinco (Zn), estanho (Sn), Chumbo (Pb). Para eles é como se não houvesse ninguém lá. Em seguida surgem dois homens que empurram um vagão cheio de minério. Depois de lhes oferecer uma garrafa de refrigerante, eles trocam algumas palavras conosco. Interrogados sobre sua função – o 1 Utilizo, agora, a terceira pessoa do plural porque relatarei, neste tópico, minha estada na mina juntamente com uma mineira que me guiou em junho de 2009. 2 O Deus do indômito. Espírito maligno, força vital, categoria genérica dos lugares e das entidades selvagens (não domesticadas do mundo). 3 El tío é uma estátua de barro que representa as forças malignas. Cada mina seu tío. 4 Barracos de pau a pique para os mineiros utilizarem como vestuário e guardarem seu material de trabalho. 9 que empurra o vagão diz ser transportista. Transporta uma tonelada por carrinho e ao todo empurra vinte carrinhos por dia. Em seguida, indagado sobre sua profissão, ele diz não ter profissão e que trabalha na mina por falta de opção. Para trabalhar na mina é só ir até ela e começar, não existe nenhum critério. Os mineiros começam como peãos (assistentes) e trabalham de meio a um ano, então passam à segunda mão 5. Nesta posição entregam a metade de sua produção ao chefe e a outra metade fica para eles. Depois de seis ou sete anos passam a ser sócios da cooperativa. O sócio da cooperativa tem seu lugar próprio e entrega à cooperativa 20% de sua produção para aposentadoria, enfermidade e impostos. Os mineiros que não têm idade para traballhar costumam trabalhar como Jukeadores 6. Continuando chega-se até El tío . Ele se chama Jorge tem dois cornos e um grande falo. É feito de argila, pelos de porco e está adornado com folhas de coca, confete, serpentina, bandeirinhas, fumo, álcool e fetos de lhama. El tío é a entidade a quem a grande maioria (noventa por cento) dos mineiros presta culto. Toda terça e sexta-feira, presenteiam-no com álcool 96º. Eles acreditam que fazendo isso a entidade os protege contra acidentes 7 e, também, ajuda-os na produção. Duas vezes por ano, fazem o sacrifício de lhama em oferenda ao tío , um relacionado à festa do Espírito Santo e o outro ao carnaval mineiro. O primeiro ritual acontece em maio ou em junho. Em 2009 foi em 30 de maio. O segundo sacrifício eles fazem no dia primeiro de agosto. Enquanto estão sacrificando a lhama dão-lhe folhas de coca e álcool. As esposas dos mineiros preparam o fogo com lenha e pedras no