Tradição Nas Velhas Guardas Da Portela E Da Mangueira
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS TATIANE DE ANDRADE BRAGA Quando penso no futuro, não esqueço o meu passado: tradição nas Velhas Guardas da Portela e da Mangueira Niterói 2020 1 2 TATIANE DE ANDRADE BRAGA Quando penso no futuro, não esqueço o meu passado: tradição nas Velhas Guardas da Portela e da Mangueira Tese apresentada ao Programa de pós-graduação do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense na área de concentração de Estudos literários para a subárea literatura brasileira e teorias da literatura e linha de pesquisa literatura, história e cultura para obtenção do grau de doutora em literatura brasileira. 3 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação da publicação 4 Nome: BRAGA, Tatiane de Andrade. Título: Quando penso no futuro, não esqueço meu passado: tradição nas velhas guardas da Portela e da Mangueira. Tese apresentada ao Programa de pós-graduação do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense na área de concentração de Estudos literários para a subárea literatura brasileira e teorias da literatura e linha de pesquisa literatura, história e cultura para obtenção do grau de doutora em literatura brasileira. 5 Aprovada em:____________________ Banca examinadora: Professora Doutora Claudia Neiva de Matos (Orientadora). Instituição: Universidade Federal Fluminense. Julgamento: Assinatura: Professora Doutora Célia de Moraes Rego Pedrosa. Instituição: Universidade Federal Fluminense. Julgamento: Assinatura: Professor Doutor Felipe da Costa Trotta. Instituição: Universidade Federal Fluminense. Julgamento: Assinatura: Professora Doutora Denise Barata. Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Julgamento: Assinatura: Professor Doutor Walter Garcia da Silveira Júnior Instituição: Universidade de São Paulo Julgamento: Assinatura: 6 Agradecimentos Ao amanhecer, ao anoitecer Cantam em bando aves fazendo verão Ouve-se acordes de um violão E são eles, verdes periquitos, Têm o peito forte tal qual o granito E são lindas as suas canções (“Amanhecer”, de Cartola) Tenho encontrado alguns parceiros indispensáveis no samba da vida. Marcio Souza, agradeço pelo afeto compartilhado. Joice Braga, Andrea Costa, Vivian Lopes, Vanessa Danielli, Michele Santiago, Renata Lopes, Livia Lopes, Nízia Moura, Thomás Cavalcanti, Naira Sampaio, Mariana Simões, agradecida. Cláudia Matos, agradeço a parceria carinhosa e duradoura. Sou grata aos professores Walter Garcia, Denise Barata, Felipe Trotta e Célia Pedrosa por aceitarem o convite para compor minha Banca de Doutoramento. Às professoras Martha Ulhôa e Viviana Gelado, agradeço as contribuições inestimáveis trazidas na qualificação dos capítulos iniciais desta tese. Sou grata também a Carminha, por desempenhar seu ofício transbordando afeto. A Carlinhos e Irani, agradeço pela existência. 7 Vou imprimir novos rumos Ao barco agitado que foi minha vida Fiz minhas velas ao mar Disse adeus sem chorar E estou de partida Todos os anos vividos São portos perdidos que eu deixo pra trás Quero viver diferente E a sorte da gente É a gente que faz (Paulinho da Viola) 8 RESUMO: BRAGA, T A. Quando penso no futuro não esqueço o meu passado: tradição nas Velhas Guardas da Portela e da Mangueira Palavras-chave: Velha Guarda; Portela; Mangueira; Tradição; Subjetividade; Coletividade. Esta tese investiga algumas noções de tradição que permeiam a poética das Velhas Guardas da Mangueira e Portela. Em geral, ao samba chamado “tradicional” se atrelam noções como raiz, pureza e autenticidade, muito difundidas nas escolas de samba. Essa visão, por vezes, se confronta com outras, mais receptivas à inovação. A demanda por uma imagem identitária singular entre as escolas de samba é reforçada pelo quadro de disputa do carnaval. Sambistas pioneiros e veteranos servem de inspiração e modelo para os mais jovens. A sociabilidade entre sambistas favorece a construção de uma expressão poético-musical gestada e amadurecida dentro dos grupos, resultando numa poética comunitária eficaz, que os engrandece. A relação entre sujeito e lugar também é fundamental para compreender as noções de tradição no samba, pois o sambista formado nos redutos devolve à sua escola os louros de sua experiência. As Velhas Guardas são formadas pelos sambistas mais reconhecidos desses redutos, ou a eles prestam tributo, sendo consideradas guardiãs da tradição do samba. 9 ABSTRACT: BRAGA, T A. When I think about the future, I don’t forget my past : Tradition in the Velhas Guardas of Portela and Mangueira. Keywords: Velhas Guardas; Portela; Mangueira; tradition; subjectivity; colectivity. This thesis dissertation investigates certain notions of tradition which pervade the poetics of the Velhas Guardas from Mangueira and Portela. Notions such as root, pureness and authenticity, widespread among samba schools, are usually associated with the so called “traditional samba”. This conservative idea of tradition tends to be opposed to innovation. The demand for a unique identity portrayal among samba schools is reinforced by the carnival championship dispute in which pioneer and veteran sambistas are seen as models and inspiration to younger generations. The conviviality among sambistas favours the construction of a musical and poetic expression which is matured within the groups, generating an effective communitary poetics, which ennobles them. The connection between subject and place is also fundamental to understand the notions of tradition in samba. The sambistas forged at the samba schools bring the benefits of their acquired experience back to these places. The Velhas Guardas are formed by the most distinguished sambistas or pay tribute to them, being considered guardians of the samba tradition. 10 SUMÁRIO: 1. “Viemos apresentar o que a Mangueira tem”: introdução teórica e corpus...........................................................................13 1.1 O sujeito e a pesquisa..................................................................13 1.2 O samba e seus saberes ....................................................15 1.3 Perspectivas teóricas da tradição........................................22 1.4 Escolas de samba e Velhas Guardas..................................27 1.5 Corpus.........................................................................................58 2. “Conheço bem teu passado, pertenço à tua raiz”: tempo, espaço e intersubjetividade nas Velhas Guardas....................58 2.1 Samba, lugar e tradição.....................................................62 2.2 As instâncias da coletividade no samba............................84 2.3 Sambistas, Velhas Guardas, redutos e tradição..............86 3. “Se estou errado, me perdoa. Eu sou o samba em pessoa”: a formação do sambista e os veios temáticos na poética das Velhas Guardas .................................................................................................90 3.1 A tradição no samba.....................................................................95 3.2 A ritualização da corporeidade no samba...................................101 3.3 O samba e o sambista: representação do sambista na poética das Velhas Guardas.....................................................................................106 3.4 Os amores do sambista.............................................................115 4. “Fala, Mangueira, fala. Mostra a força da sua tradição”: as muitas tradições do samba..................................................................123 4.1 Tradição e inovação na obra de Paulinho da Viola ..........................123 4.2 Bezerra da Silva, Velhas Guardas e suas visões de tradição...........134 11 4.3 As tradições dentro e fora das Velhas Guardas............................141 5. “Chega de demanda”: (in)conclusões..................................150 6. Referências..............................................................................155 7. Anexo......................................................................................172 12 1. “Viemos apresentar o que a Mangueira tem”1: introdução teórica e corpus 1.1 O sujeito e a pesquisa Seguir o que meu coração ditar Outras verdades procurar 2 Este trabalho resulta de uma busca pessoal iniciada ainda antes do mestrado. Graduada em Letras Português/Inglês e professora do idioma estrangeiro por muitos anos, não encontrava entre meus pares eco para meus questionamentos culturais, sociais, históricos e políticos; por isso decidi trilhar novos caminhos à procura de respostas para minhas questões. A mudança de perspectiva culminou numa tentativa de realizar uma arqueologia da identidade e do pertencimento através de uma busca que começou em mim e transbordou. Um ponto nevrálgico dessa busca é a relação entre subjetividade e coletividade: em que medida o eu se constrói a partir da adoção de um ponto de vista comunitário e vice- versa? Minha tentativa arqueológica parte do princípio de que a identidade é uma construção complexa: um mosaico, cujos cacos são juntados para dar origem a um todo com certo sentido. Stuart Hall (2014, p. 11-12) analisa três concepções de identidade: a do sujeito do Iluminismo (individualista e centrado na razão e em sua consciência); a do sujeito sociológico (que se dá em diálogo com o mundo e com os outros sujeitos) e a do sujeito pós-moderno (fragmentado, instável e em constante mutação). Mercer (apud. Hall, 2014, p. 10) afirma que a “identidade somente se torna uma questão quando está em crise,