O Olhar De Assis Horta: Tradição E Dignidade Em Retratos De Operários
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE ARTES E DESIGN – IAD PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES, CULTURA E LINGUAGENS Cleber Soares da Silva O olhar de Assis Horta: Tradição e dignidade em retratos de operários Juiz de Fora 2017 1 Cleber Soares da Silva O olhar de Assis Horta: Tradição e dignidade em retratos de operários Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens da Universidade Federal de Juiz de Fora como requisito parcial a obtenção do grau de Mestre em Arte, Cultura e Linguagens. Área de concentração: Teorias e processos poéticos interdisciplinares. Orientadora: Profª. Dra. Raquel Quinet de Andrade Pifano Juiz de Fora 2017 2 3 À Ana, Clara, Bia e Alice. 4 AGRADECIMENTOS Sou grato a todos os que de uma maneira ou outra contribuíram para essa pesquisa. Agradeço primeiramente à minha orientadora, professora Raquel Quinet de Andrade Pifano, pela confiança em mim e pela dedicação dispensada a essa pesquisa. Suas leituras críticas e pertinentes e as muitas horas de orientação me ajudaram a refletir sobre as várias possibilidades que se apresentavam e contribuíram na escolha do melhor caminho a seguir. Suas análises sempre inteligentes permitiram que refletíssimos juntos sobre arte, fotografia e história. Agradeço à professora Ana Maria Mauad, que ao participar da banca de qualificação me ajudou a situar historicamente e de forma mais objetiva a figura de Assis Horta indicando leituras essenciais para que isso fosse feito. Nessa mesma ocasião o professor Luís Alberto Rocha Melo sugeriu ajustes e incentivou a pesquisa mais aprofundada sobre questões trabalhistas e relações de classe. Foram essas sugestões que enriqueceram e direcionaram melhor o trabalho. À professora Maraliz de Castro Vieira Christo agradeço pela boa vontade, pelos ensinamentos e dicas sobre a história da fotografia de negros no século XIX, pelos vários livros emprestados e principalmente pelas palavras sempre encorajadoras. Sou grato aos professores do PPG-ACL/IAD-UFJF, às secretária Lara Velloso e Flaviana Polisseni e aos colegas mestrandos com os quais pude conviver nesses últimos dois anos e com os quais aprendi tantas coisas sobre tantos assuntos diversos. Agradeço também aos funcionários e colaboradores do IPHAN, principalmente às pesquisadoras Bettina Zellner Griecco e Brenda Coelho pelas dicas fundamentais. Não posso deixar de agradecer e ressaltar a atenção com que fui recebido pelos funcionários do Arquivo Central do IPHAN (ACI-RJ) no Rio de Janeiro. Com a mesma atenção e boa vontade fui recebido por Joanna Balabram para pesquisar a coleção de Chichico Alkmim no acervo do Instituto Moreira Salles (IMS). Agradeço muito a cooperação dos dedicados profissionais dessas duas instituições tão importantes. Ao designer e curador Guilherme Horta agradeço tanto pelas informações a mim fornecidas como também pela inciativa de ter dado visibilidade às fotos de operários do acervo de Horta, em Belo Horizonte. Sem esse primeiro olhar, que gerou o projeto Assis Horta: A democratização do retrato fotográfico através da CLT, contemplado com prêmio Marc Ferrez de fotografia/Funarte, em 2012, certamente levaríamos mais tempo para conhecer essas belas fotografias. 5 Agradeço à todos da família Horta, especialmente ao atencioso e paciente Isnard Horta pelas respostas a tantos e-mails, pelas conversas informais, pela disposição em atender minhas solicitações da melhor maneira possível e pela autorização do uso das imagens do acervo de Assis Horta que ilustram esse texto. Agradeço também à Sávio Horta e irmãs por me receberam gentilmente em Belo Horizonte para a realização da entrevista que impulsionou meu trabalho e contribuiu para essa dissertação. Finalmente e principalmente, agradeço a Assis Alves Horta, o seu Assis, de quem serei sempre um grande admirador, pelo talento e dignidade com que construiu sua história de vida e sua fotografia. Obrigado! 6 RESUMO O mineiro Assis Horta foi um dos mais importantes fotógrafos a prestar serviços ao SPHAN, atual IPHAN, na chamada fase heroica da instituição, quando esta foi dirigida por Rodrigo Melo Franco de Andrade e contava em seu quadro de funcionários com grandes intelectuais ligados ao movimento modernista brasileiro. Os registros fotográficos feitos por Horta contribuíram para o tombamento de Diamantina em 1938 e, mais tarde, em 1999, para o reconhecimento da cidade como Patrimônio da Humanidade, pela Unesco. Em paralelo ao trabalho documental, Horta desenvolveu sua carreira bem-sucedida de retratista com grande produção, como comprovam os mais de cinco mil negativos em vidro que compõem seu acervo. Por seu estúdio fotográfico e sob seu olhar, passou toda a sociedade diamantinense entre as décadas de 1930 a 1980, mas foram os retratos de operários, feitos entre os anos 1930 e 1940, que lhe deram maior projeção a partir de 2008. Foi graças à Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), decretada pelo governo de Getúlio Vargas, em 1943, e à obrigação das fotos 3x4 em carteiras de trabalho que muitos operários tiveram contato com a fotografia pela primeira vez. Os retratos de afro-brasileiros e mestiços pobres, seus familiares e amigos feitos no Photo Assis são herdeiros das tradições da fotografia oitocentista e dos carte de visite. Os cerca de 200 registros visuais divulgados em exposições e mostras até o momento só encontram analogia nos retratos de Militão Augusto de Azevedo, produzidos em fins do século XIX na cidade de São Paulo e na obra do também diamantinense Chichico Alkmim, realizada no começo do século XX. Os retratos aqui destacados são a comprovação da empatia entre o talentoso fotógrafo e sua nova clientela, parcela da população brasileira que, segundo a historiografia, foi tradicionalmente explorada comercialmente em fotografias de cunho pitoresco ou exótico e depois relegada ao esquecimento. Nas belas imagens feitas por Assis Horta analisadas nessa pesquisa, percebe-se que o jogo fotográfico se completa de maneira eficaz e o fotografado, não mais um objeto de cena, se mostra dignamente sujeito do próprio retrato... enfim um cidadão. Palavras-chave: Fotografia; Retrato; Patrimônio; Negros e mestiços; Assis Horta. 7 ABSTRACT Assis Horta, one of the most important photographers of Minas Gerais worked for SPHAN, current IPHAN, in the so-called heroic phase of the institution, when it was directed by Rodrigo Melo Franco de Andrade and had as part of its staff great intellectuals linked to the Brazilian modernist movement. Horta‘s photographic records contributed for the listing of Diamantina in 1938 and later, in 1999, for the recognition of the city as Unesco World Cultural Heritage Site. Together with the documentary work, Horta developed his successful career as a portraitist with great production as evidenced by more than five thousand negative glass plates that are part of his collection. In his photographic studio and under his attentive observation, the whole society of Diamantina passed between the 1930s and the 1980s, but it was the portraits of workers, made between the 1930s and the 1940s, that gave him greater projection since 2008. It was thanks to the Consolidation Of Labor Laws (CLT), decreed by Getulio Vargas' government in 1943, and the obligation of 3x4 photos in work documents that many workers had contact with photographs for the first time ever. The portraits of poor Afro-Brazilians, their relatives and friends made at Photo Assis are heirs to the traditions of the nineteenth-century photography and of the carte de visite. The approximately 200 visual records published in exhibitions and cultural fairs so far are only analogous to the portraits of Militão Augusto de Azevedo, produced at the end of the 19th century in the city of São Paulo and in the work of Chichico Alkmim, also from the city of Diamantina, held at the beginning of the XX century. The photographs highlighted here are a proof of the empathy between the talented photographer and his new clients, a part of the Brazilian population that, according to historiography, was traditionally commercially exploited in picturesque or exotic photographs and then forgotten. In the beautiful images made by Assis Horta that are analyzed in this research we can notice that the photographic game is completed in an effective way and the ones photographed, are no longer an object of scene. They are worthily subjects of their own portrait ... ultimately, citizens. Keywords: Photography; Portrait; Patrimony; Black and mixed race; Assis Horta. 8 LISTA DE FIGURAS O Caderno de figuras que ilustram essa dissertação encontra-se no Anexo 1, a partir da p. 201. Figura 1: Atestado da prestação de serviço de Assis Horta como fotógrafo ao IPHAN. Figura 2: Mapa de Diamantina com delimitação do sítio histórico tombado em 1938 pelo IPHAN e pela Unesco em 1999. Figura 3: Fotografia de cálices e custódia (ostensório) em prata. Diamantina, MG. 1962. Fotografia. Assis Horta. Figura 4: Verso com anotações sobre fotografia de cálices e custódia. Igreja de Santa Cruz. Diamantina. Fotografia. Assis Horta Figura 5: Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Diamantina, 1949. Fotografia. Assis Horta. Figura 6: Missal ―Ressureição de Cristo‖, do acervo da Igreja de São Francisco de Assis. Diamantina, s/d. Fotografia. Assis Horta. Figura 7: Recibo de ordem de pagamento. 1949. Figura 8: Recibo com relação de fotos feitas. 1945. Figura 9: Interior do Mercado de Diamantina. Diamantina. 1938. Fotografia. Erich Hess. Figura 10: Alunas do Colégio Nossa Senhora das Dores. Diamantina. 1938. Fotografia. Erich Hess. Figura 11: Garimpeiros (mineração no rio Paraúna/apuração de ouro). Diamantina, s/d. Fotografia. Assis Horta. Figura 12: Vista de Diamantina, Largo de Santo Antônio. Diamantina, c. década de 1930. Fotografia. Assis Horta. Figura 13: Vista de Diamantina, c. década de 1930. Fotografia. Assis Horta. Figura 14: Vista Diamantina 360º (reprodução). Diamantina, c. década de 1940. Fotografia. Assis Horta. Figura 15: Mineração do rio Paraúna. Diamantina, c. década de 1930. Fotografia. Assis Horta. Figura 16: Área de garimpo. Diamantina, s/d. Coleção Chichico Alkmim. Fotografia. Chichico Alkmim.