Graciliano Ramos: O Escritor E O Homem

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Graciliano Ramos: O Escritor E O Homem Revista Graduando nº1 jul./dez. 2010 GRACILIANO RAMOS: O ESCRITOR E O HOMEM Eliseu Ferreira da Silva G r a d u a n d o do curso de Letras Vernáculas (UEFS ) [email protected]; [email protected] Resumo : A literatura regionalista ou modernismo de 30 teve seu auge com o advento do romance nordestino, caracterizando -se por adotar uma visão crítica das relações sociais, voltada para os problemas do trabalhador rural, a seca e a miséria, ressal- tando o homem hostilizado pelo ambiente, pela terra, pela cida- de, o homem consumido pelos problemas impostos pelo meio. Um dos autores revelados nessa época, exímio observador psicológico do homem, bem como da sociedade, foi Graciliano Ramos que, mesmo sendo tratado por muitos críticos como um escritor amargo, rude, demonstra o contrário, compaixão, amor, amizade ao narrar os causos de Alexandre com muito bom - humor. Palavras - Chave: Graciliano Ramos- Alexandre e outros heróis - Causos- Solidão-Fan tasia Abstr act : Regionalist Literature or 1930´s Modernism reached its apogee with the introduction of the Northeastern Novel, adopt- ing a critical view of social relationships, addressing to the problems of peasants, draught, misery and their struggle against adversities of the environment, of living in the country and of living in the city. One of the authors emerging from that literary movement, an acute observer of man´s psyche as well as of society, Graciliano Ramos, although taken by some critics as a bitter rude Writer, when narrating the stories of Alexandre in such a light mood, demonstrates the opposite: compassion, love, friendship. Keywords: Graciliano Ramos- Alexandre and others heroes - stories- Solitude-Fantasy J 139 ISSN 2236-3335 Revista Graduando nº1 jul./dez. 2010 INTRODUÇÃO Segundo escritos da época (décadas de 1930 e 1940), o romance, mais do que a poesia e o conto, predominou na Lite- ratura Brasileira, enverendando -se principalmente pelo regiona- lismo e pela abordagem psicológica. Os integrantes da segunda geração modernista, ou modernismo de 1930, não chegaram a causar impacto, dado o relevo social que a revolução ocorrida em outubro daquele ano tinha causado no país. Os abalos so- fridos pelo povo na década de 1930 – a crise econômica pro- vocada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, a cri- se cafeeira, a Revolução de 1930 e o declínio no Nordeste – condicionaram a literatura a um novo estilo ficcional, percepti- velmente mais adulto, mais amadurecido, mais moderno, que seria marcado pela rusticidade, por uma linguagem mais brasi- leira com enfoque direto nos fatos, por uma retomada do plano naturalista, principalmente no propósito de uma narrativa docu- mental . A ficção de 1930 tem seu auge com o advento do roman- ce nordestino, que correspondeu como nenhum outro aos de- sejos de liberdade temática e rigor estilístico, caracterizando -se por adotar uma visão crítica das relações sociais, voltada para os problemas do trabalhador rural, para a seca e para a misé- ria, ressaltando o homem hostilizado pelo ambiente, pela terra, pela cidade, o homem consumido pelos problemas que o meio lhe impõe. GRACILIANO RAMOS: O HOMEM POR TRÁS DO ESCRITOR O crítico Álvaro Lins, em seu Jornal de Crítica (1943 , p. 73), ao relatar o ano literário de 1941, discorre sobre Graciliano Ramos e o lançamento da segunda edição de Angústia, comen- tando que a obra representa um caso de estudo crítico muito difícil para aqueles do tempo de Ramos. E afirma: logo os seus romances nos tentam a confundir, em análises convergentes, a sua figura de escritor e a sua figura de homem. Existem homens que explicam as su- as obras, como há obras que explicam os seus auto- J 140 Revista Graduando nº1 jul./dez. 2010 res. No caso do Sr. Graciliano Ramos, é a obra que explica o homem. Quero dizer: o homem interior, o ho- mem psicológico De todos os escritores nordestinos que se revelaram por volta da década de 1930, Graciliano Ramos talvez tenha si- do o que soube exprimir, com mais sutileza, a difícil realidade do homem nordestino sem se deixar seduzir pelo imaginoso da região, fazendo com que o psicológico prevalecesse sobre o social. O que Graciliano Ramos investiga é o homem vivendo o drama irreproduzível de seu destino, o homem universal. Para Antonio Candido (1996, p. 9), todo grande escritor é dotado de pelo menos uma dessas três preocupações: ‚o senso psicológi- co, o senso sociológico e o senso estético. Na obra de Gracili- ano Ramos esses trê s aspec tos se fundem, se confundem e se completam, alcançando raro equilíbrio‛. Transcreve-se a seguir uma carta de Graciliano Ramos endereçada a Marili Ramos, por oportunidade de um conto que essa lhe enviara - intitulado Mariana -, na qual se pode perce- ber toda a personalidade desse grande escritor. Rio, 23 de Novembro de 1949. Marili: mando -lhe alguns números do jornal que publicou o seu conto. Retardei a publicação: andei muito ocupa- do e estive alguns dias de cama, a cabeça rebentada, sem poder ler. Quando me levantei, pedi a Ricardo que datilografasse a M a ri a n a e d ei -a ao Álvaro Lins. Não q u i s m et ê -la numa revista: estas revistinhas vagabun- das inutilizam um principiante. M a ri a n a saiu num suple- mento que a recomenda. Veja a companhia. Há uns cretinos, mas há sujeitos importantes. Adiante. Aqui em casa gostaram muito do conto, foram excessivos, não vou tão longe. Acheio -o apresentável, mas, em vez de el o g i á -lo, acho melhor exibir os defeitos dele. Julgo que você entrou num mau caminho. Expôs uma criatura simples, que lava roupa e faz renda, com as complica- ções interiores de menina habituada aos romances e ao colégio. As caboclas da nossa terra são meio selva- gens, quase inteiramente selvagens. Como pode você adivinhar o que se passa na alma delas? Você não bate bilros nem lava roupa. Só conseguimos deitar no papel os nossos sentimentos, a nossa vida. A rt e é sangue, é carne. (grifo nosso) Além disso, não há na- J 141 Revista Graduando nº1 jul./dez. 2010 da. As nossas personagens são pedaços de nós mes- mos, só podemos expor o que somos. E você não é Mariana, não é da classe dela. Fique na sua classe, a p res en t e -se como é, nua, sem ocultar nada. Arte é isso. A técnica é necessária, é claro. Mas se lhe faltar à técnica seja ao menos sincera. Diga o que é, mostre o que é. Você tem experiência e está na idade de co- meçar. A literatura é uma horrível profissão, em que só podemos principiar tarde; indispensável muita observa- ção. Precocidade em literatura é impossível: isto não é música, não temos gênios de dez anos. Você teve um colégio, trabalhou, observou, deve ter se amolado em excesso. Por que não se fixa aí, não tenta um livro sério, onde ponha as suas ilusões e os seus desenga- n o s ? E m M a ri a n a você mostrou umas coisinhas suas. M a s — rep i t o —você não é Mariana. E - com o perdão da p a l a v ra - essas mijadas curtas não adiantam. Revele -s e toda. A sua personagem deve ser você mesma. Adeus, querida Marili. Muitos abraços para você Graciliano. Vo- cê com certeza acha difícil ler isto. Estou escrevendo sentado num banco, no fundo da livraria, muita gente em redor me chateando. (RAMOS, 1982) Pode-se notar na carta enviada à irmã que a rigidez, a sisudez, o rigor, talvez frutos da experiência de onze meses como preso político, tenham moldado o homem Graciliano Ra- mos. Percebe-se isso na forma como ele demonstra as obser- vações que sua irmã deveria fazer em respeito ao conto: ‚só conseguimos deitar no papel os nossos sentimentos, a nossa vida. Arte é sangue, é carne‛ (grifos meus). Para Graciliano, escrever não é qualquer coisa, é colocar a vida no papel, é trabalho e tem que ser sincero. Não basta ter só a técnica, es- ta sem a sinceridade não é nada. Graciliano Ramos teve uma vida agitada, passou por experiências que o marcaram profun- damente, como a prisão por perseguição política e, para muitos, ele era considerado um homem amargo, pessimista, franco, quase rude, e é essa dureza da alma que se tenta desmistifi- car em relação à obra Alexandre e outros heróis. Osman Lins ( apud VASCONCELOS, 1997, p.1) diz que o li- vro Alexandre e outros heróis representa, dentro da obra de Graciliano Ramos, ‚uma espécie de pausa, de recreio, que se concede este escritor severo, sofrido, tão exigente em relação J 142 Revista Graduando nº1 jul./dez. 2010 à forma e tão penetrado do sentido trágico da existência‛. O autor de romances e memórias como: Caetés; São Bernardo; Angústia; Viventes das Alagoas; Linhas tortas; Vidas secas; Infância; Insônia; Memórias do cárcere, entre outras obras, também escreveu para crianças, e seu livro de contos Alexan- dre e outros Heróis, ou causos pertencentes ao folclore nor- destino, é considerado por muitos estudiosos como secundário em sua obra. Desprezado pelo cânone literário e pela pesquisa crítico - literária, esses contos precisam de uma investigação que pro- cure demonstrar todo o seu potencial, a sua atualidade, além de jogar uma luz sobre Graciliano Ramos, o seu fazer literário, suas narrativas e o burlesco que circunda as histórias fantasi- osas de Alexandre, a cultura popular e o folclore nordestino. O conto popular é rico em ensinamentos e experiências, que são passados de pessoa a pessoa, de geração a geração, de uma forma agradável, prazerosa e não utilitarista, além de nos pos- sibilitar compreender a vida, o ser humano e respeitar as di- versas culturas presentes no mundo, e é isso que nos faz A- lexandre ao narrar as suas histórias.
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