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De Vittorio De Sica, Com 17 Votos

De Vittorio De Sica, Com 17 Votos

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Duas Mortes — Por Ely Azeredo

«Punhos de Campeão» — Por Maryse Barbut e Gilbert Salachas

Robert Wise (filmografia) — Por Paulo Arbex

Esquema («western») — Por Silviano Santiago

O Cinema e o Público — Por Cyro Siqueira

Clouzot e «O Salário do Medo» — Por Jacques do Prado Brandão

Pelos Cine-Clubes — Por Newton Silva ,

Cinema em Revista — Por Maurício Gomes Leite

«Pur-hos de Campeão» —- fotos do filme

Editorial — índice do III Volume

N.° 19 CR $ 10,00 OUTUBRO «19 5 5 . sp^n? Viação Vitória Sociedade Anônima DIRETOR Fabi o vasconceiios

LINHAS: LOURDES BARROCA NOVA GRANADA STO. AGOSTINHO G AMELEIRA (VILA OESTE) Rua Brito Melo, 88 TELEFONE 2-0057 --"' J :" 7 tmSÇ&m—rr-' .^.^mj^ff^f^rif rfflW)WW' x""1.!1,'""1' .'"<

EDITORIAL

No ambiente cinematográfico nacional, o assunto do- minante durante todo este último mês tem sido o da cen- sura. Mal aplacada a onda de exclusão do "The protestos pela filme Blakboard Jungle" (Sementes da Violência) da mostra de Veneza — exclusão devida a providências da embaixatriz americana na Itália — a opinião pública do viu-se chocada com mais dois O país "Martinhpfatos graves. primeiro, a proibição do filme Lutero", de Irving Pichei e Louis de Rochemont; o segundo, a inter- "Rio "Lu- dição do filme nacional, 40 graus". Quanto a terov, a antinomia é perfeita: a proibição baseia-se em princípios religiosos — e e promovida pela polícia, que tem a seu encargo o precipito dever de manter os bons costumes, prender contraventores, obedecer a lei. Não o de impor sanções proibitivas a um filme cujo julgamento caberia, no máximo e no mínimo, à consciência moral de cada um. Já o brasileiro — diria! — é vedado á filme "fundamentumquem exibição por um vago AEsthetices" ("o filme não tem enredo") e outra vaguissima razão moral ("o filme pinta uma cidade de ladrões e pilantras'*). Tudo isto, pela boca de um chefe de polícia. Ora,' desde Croce todo mundo sabe que a censura oficial a qualquer forma de expressão nada tem ou pode ter com o aspecto artís- tico da obra censurada, pois isto é outro assunto — e muito mais sabe todo mundo que a polícia não é órgão controlador da moral ou dos boletins metereológicos ("o título é não há no Rio"). Estamos falso: "non-sense'"quarenta graus, em reino do — e é um passaporte pleno "REVISTA para esse reino que DE CINEMA" espera dar com o artigo de Maurício Gomes Leite, que representa, em suas linhas geroÂs, o pensamento desta publicação. Cuja publicação — e já num assunto mais agradável divulgará, em seu próximo número, entre outras cola- de Fritz Teixeira de Salles boraçÕes, artigos especiais ''Conspiração ("Hollywood contra MacCarthy: de Silên- cio"), Silvio Castanheira ("Música de Western"), João Etienne Filho ("Tom Mix e a Passagem do Tempo73),, Lui- gi Chiarini ("Realismo e Estilo"), Catherine de Ia Roche ("Com a Mão na Massa") e outros. Neste número, a ru- brica "Indicação Crítica" foi substituída pela discussão em torno de "O* Salário do Medo1', devendo reaparecer em sua forma habitual já no mês de novembro.

REVISTA DE CINEMA N.° 19 DIREÇÃO: CYRO SIQUEIRA, GUY DE ALMEIDA, JACQUES DO PRADO BRANDÃO E NEWTON SILVA. — ANO II REDAÇÃO: AV. BIAS FORTES, 1.122 APTO. 127 - BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS. — REPRESENTANTE NO RIO: ELY AZEREDO RUA VOL. III DO LAVRADIO, 98. REPRESENTANTE EM SÃO PAULO: RUDÁ ANDRA- OUTUBRO DE — RUA 7 DE ABRIL, 230 — 13' ANDAR, SALA 1.360 — CAPITAL. Os conceitos emitidos em artigos assinados são de ex- 1955 clusiva responsabilidade do autor. DUAS XVIORTES ELY AZEREDO ROBERT RISKIN Faleceu em Woodland Hills, Califórnia (E. U. A.), aos 58 anos, o escritor e cenarizador Robert Riskin. Não merecia ser ignorado, como foi, pelas agências tele- gráficas. De «seripts» seus, nasceram algumas das comédias mais apreciadas do cinema americano: «Do Mundo Nada se Leva», «Aconteceu naquela noite», «O Galante Mr. Deeds» — todas dirigidas por Frank Capra. Muitos atribuem a Riskin a paternidade total (ou quase) do famoso «toque capreano». E no gosto «capreano» de «A Cidade Encantada» («Magic Town») e «Senhor 880 — argumentos de Riskin dirigidos, respectivamente, por William Wellman e Edmund Goulding — encontraram novos motivos para essa crença. Nasceu em Nova York e já aos 17 anos escrevia na Paramount. Depois entrou para a equipe da Columbia. Com «Aconteceu Naquela Noite» («It Happened bne Night»), ganhou o «oscar» de cenarização, um dos cinco atribuídos à fita (o «melhor filme» de 1934, no qual também, foram premiados Clark Gable, Clauc?vette Colbert e Capra). Riskin também escreveu para o teatro: «She couidn't say no», «The Mad Turtle», «The Lady Lies», etc; e colaborou com Edith Fitzgerald em «Many a Slip» e «Illicit». Algumas vezes, acumulou outras funções: foi produtor de «A Cidade Encan- tada», diretor de «When you're in love», co-produtor de «Adorável Vagabundo» («Meet John Doe»). Era casado com Fray Wray, a veterana atriz de «King Kong» e «Viva Villa!». Outros filmes escritos ou cenarizados por Riskin: «Men in her life», «Men are like that», «Miracle Woman», «American Madness», «The Big Timer», «Platinum Blonde», «Night Club Lady», «Three Wise Girls», «Ann Carver's Profession», «Lady for a day» (original de Damon Runycn), «Ex-Lady», «Broadway Bill», «Carnival», «The Whole Town's Talking», «Lost Horizon» (original de James Hilton), «Shopworn», «The Thin Man Góes Home». JAMES DEAN Com a morte do ator James Dean (24 anos), num desastre de automóvel perde Hollywood uma de suas grandes promessas. Ainda inédito no Brasil, Dean, entre- tanto, já gozava de sólido conceito nos Estados Unidos, sendo apontado por alguns como «a maior revelação de 1955», e, pelos fãs, como um novo Marlon Brando. Em torno de Dean, como de Brando e Montgomery Clift, começava-se a cons- truir o mito do artista arredio e misógino, entrincheirado em sua vida particular, alérgico às luzes e vaidades de Hollywood¦ — uma espécie de Garbo em «blue jeans», Mas não só aos «fanatics» interessou o assunto James Dean. Observadores mais esclarecidos se entusiasmaram com seu trabalho em «East of Éden», versão da novela de John Steinbeck dirigida por Elia Kazan. Como Julie Harris, a estupenda atriz de «Member of the Wedding» («Cruel Desengano»), Brando e Eva Marie Saint («Os^ar» coadjuvante em «On the Waterfront»), Dean é produto do «The Actor's Guild», fabrica de talento que vem enriquecendo de maneira surpreendente a arte dramática americana. ° *•!?*/?*? Cí)m ° c r automóvel de James Dean ocorreu quando êle se dirigia a balinas (Califórnia), para participar de uma corrida automobilística. Na véspera, terminara sua parte em «Giant» (com Elizabeth Taylor), versão do romance de Edna ferber, dirigida per George Stevens. Louis Serrano, correspondente de «O Globo» em Hollywood, esteve antes com o ator. pouco Tomamos a liberdade de transcrever a neta, publicada em sua coluna «Cartas de Hollywood»: «O calado James Dean ir em terras mexicanas no (..) planeja seu possante «Mercedes». Quando lhe perguntei se a Warner estava gostando desses projetos, ele respondeu com seriedade: «Quando um homem vai casa, à noite, o estúdio nao para pode acompanhá-lo e ditar o que pode ou não fazer». E, quanto ao seu ultra-possante «Lotus Mark 8», James me disse vai «like bomb» uma bomba) que a (como E acrescentou, com os olhos brilhando: «Fll be very hard to catch» (Será muito difícil me pegarem)!

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'ám^mÈaSim SV^Mt^tf^K •.o.-Xf. ,a\v/. .. ^í*Mi!»W«tí.-U'.; á.A Punhos de Campeão

Maryse Barbut, S. A. e Gilbert Salachas (Tradução de M. G. L.)

(The Set-Up) — Fil- me americano de 19Jf9 ²Direção: — Cenário: Art Cohn, de um

^¦Hfl 888888 SSoooSn ! B a8BBflB8oWKiOooCTnBSBra^Bhk. poema de James Moncure March — js£ ¦BmKBHB SSflj SbmB Hon bb j B 1S8888ÍBflSSSs^BH^k. Produtor: Richard Goldstonc — Foto- grafia: Milton Kras- ncr — Decors: D. Silvera e J. Altioies ²Montagem: Ro- land Gross — Elen- 1 feái^^^^^^l Pi lllllll I co: Robert Ryan, Audrey Totter, Geor- ge Tobias, Allan Bax- ter, Wallace Ford, Percy HelPon, Hal ill^^iiiiii^^^HIlp Fierberlin, Darryl IB^BÉiP Hickman, Edwin Max ²Distribuição: RKO

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... como das outras vezes, Julie — a esposa do lutador de 35 anos que não conhece senão derrotas em lutas de segunda categoria — está certa de que êle voltará vencido, com o rosto sangrando, um animal ferido, mal- tratado, humilhado, o seu marido,

... Stoker Thompson — um "rate", um tipo "boxeur" de poeta: quis ser porque sonhava com uma vida melhor. Sua vida, êle a passa recebendo fjolpes e esperando — é uma vi- Uma da sociedade que o cerca. Seu triunfo é a derrota de seu próprio passado. '.¦.-^¦r.-f-r^Tf^yy^yff

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Sem nenhum favor ou entusiasmo, «Punhos de Campeão» é, 9?r. 9' hoje, um dos pontos altos de toda a história do cinema, sua-concei- :\, y inação '~^.._„_-..^' mais precisa como a arte das imagens a serviço de um fim comum a todos os povos. Mai-considerado e mesmo desprezado pela crítica estrangeira, recebe aos poucos, e à medida que o tempo acentua suas dimensões excepcionais, a consagração que lhe é in- teiramente devida. Ainda há pouco, em inquérito cujos resultados vão comentados'em'outra parte desta revista, «Punhos de Campeão» foi colocado pela crítica de Belo Horizonte entre os quatro primei- ros filmes a serem salvos no caso de um dilúvio universal. Não é apenas uma obra-prima — é o máximo a que poderia aspirar o ei- nema como arte autônoma, livre de influências secundárias e acces- sórias, mas ligado sempre à problemática humana, em seu mais fl elevado grau de dignidade. E é como uma homenagem a esta obra-prima do cinema que a «REVISTA DE CINEMA» transcreve a seguir, na tradução pri- morosa de Mauricio Gomes Leite, o longo ensaio de autoria de Ma- ryse Barbut, S.A., e Gilbert Salachas, do que mais completo já se escreveu sobre o filme de Wise. Este ensaio foi publicado original- mente no número 49 de «Telé-Ciné», revista francesa que se dedica à divulgação detalhada de fichas críticas de filmes, das quais o pre- sente trabalho é exemplo. As fotografias de «Punhos de Campeão», que ilustram esta publicação, foram cedidas gentilmente pela RKO, Rádio.% N. da D.

ARQUIVO CENÁRIO ¦ i — A intriga. Roibert Wise «Punhos de Campeão», cujo título original — — PAULO ARBEX «The Set-Up» significa «A Marmelada», ou «A narra o último combate de um «boxeur» Robert em 1914. Combinação», Wise nasceu Êle tem 35 anos e não conhece senão nos profissional. Como editor, colaborou segunda categoria. seguintes filmes: derrotas em lutas de transcorre, como todas 1939 — "Mãe por Acaso (Ba- Na noite em que o filme chelor Mother) — Direção de as noites, Billy «Stoker» Thompson, o herói da pelí- Garson Kanin. Elenco: Ginger cuia, considera-se em plena forma e acha que vencerá Rogers, David Niven, Charles outras Cobum, Frank Albertson —* seu adversário, Tiger Nelson. E, como das^ R.K.O. Rádio. vezes, sua esposa Julie está certa de que êle será 1939 — "A garota da Quinta derrotado e voltará ferido, com o rosto sangrando, Avenida" Girl) (Fifth Avenue e por isso o induz a abandonar sua profissão. — Direção de Gregory Laçava. nesta noite a luta Elenco: Ginger Rogers. James Stoker, porém, não sabe que Ellison. combinada: Little Boy, o «chefão» do bairro, pagou Walter Connolly, está'«manager» Kathryn Adams — R.K.O. Rá- o de Stoker para que seu lutador «amo- dio. : 39 round. O «manager», convencido de que "O No- leça» no 1939- Corcunda de vencido de maneira, julga ser tre Dame" (The Huncltback of Stoker será qualquer Notre Dame) — Direção de inútil repartir os 50 dólares pagos por Little Boy, e William Dieterle. Elenco: não coloca o «boxeur» ao par do acôrdo. Charles Laughton, Maureen contra todas as estava 0'Hara, Sir Cedric Hardwiche, Todavia, Stoker, previsões, Alan Marshall, Thomas Mit- em forma. Depois de um duro combate, — realmente chell, Edmond 0}Brien derrota Tiger Nelson. Little Boy se acredita traído: R.K.O. Rádio. do Stoker deve «pagar». Após a luta, os capangas 1940— /'Minha esposa favo- «corrigem» e lhe esmagam a mão com um rita" (My Favorite Wife) — gangster o Direção de Garson Kanin — tijolo. Stoker não poderá mais lutar box. sem sen- Elenco: Irene Dunne, Cary Quando sua esposa o reencontra, quase Grani, Randolph Scott, Gaü lhe diz: «Eu esta noite», ao que ela Patricfç ~ R.K.O. Rádio. tidos êle ganhei 7 " ' "' •¦¦'¦

"A 1940— vida é uma dan- responde: «Sim, nós esta sa" (Dance, girls, dance) — ganhamos noite». Direção de Dorothy Arener — 2 — Interesse do Cenário. Elenco: Maureen 0}Hara, À Louis Hayv:ard, Lucille Bali, primeira vista, esta história de uma combi- Ralfh Bellamy, Virgínia Field, nação duvidosa, de um homem sozinho em face — de um Mary Carlisle R.K.O. Rá- bando de contraventores, coloca «The Set-Up» no dio. nero de filmes «noirs»" gê- "O e mesmo de filmes de gangster 1941— Homem que ven- Na América, tais filmes são freqüentemente deu a alma" (Ali that money — dotados can buy) — Direção de Wil- assim como os romances nos eles se inspiram — quais liam Dieterle Elenco: Wal- de Dashiell Hammett aos primeiros de Faulkner de ter Huston, Simone Simon, um reforço James Craig, Anne Shirley, profundo psicológico (como «Pacto de San- Edward Arnold, Jane Darwell, gue»), ou portadores de um depoimento, tendo às — vezes Gene Lockhart R.K.O. Rá- até o valor de requisitório, sôbre certos aspectos da dio. vida social norte-americana "Cidadão (como «0 Fugitivo» 1941— Kane" (Ci- «O Justiceiro» ou «A Grande tizen Kane) — Direção de Or- Ilusão»). «Punhos de son Welles — Elenco: Orson Campeão» possui no mais alto sentido esse interesse Ruth e social. Welles, Joseph Cotten, psicológico Porém, não se pode esquecer que Warrick, Dorothy Conninghore o cenário foi retirado de um — R.K.O. Rádio. poema e isso acrescenta muita cousa à compreensão do filme. 1942— "Sete dias de licença" (Seven diay}s leave) — Direção A) Psicologia dos principais personagens. de Tim Whelan — Elenco: Lu- cille Bali, Viciyor Mature, Ha- 10 Stoker. rolei Peary, Ginny Simms, 0 herói do filme, Mapy Cortez — R.K.O. Rádio. Stoker Thompson, é um «rate» "Soberba" um eterno vencido, um daqueles que não são feitos 1943- (The Mag- o sucesso. ' nificent Ambersons) — Dire- para E' sonhador, um tipo de poeta: ção de Orson Welles — Elen- quis se tornar «boxeur» porque sonhava com uma vida co: Joseph Cotten, Dolores melhor, e aos 35 anos julga, embora contra toda espe- Costello, Anne Baxter, Tim rança, alcançar bom êxito. T-Iolt,ri Agnes Moohread — poder Sua vida, êle a pas- K.O. Rádio. sa recebendo e esperando. '±MÁ golpes Não apanha somente, (l&mo diretor: não é apenas esmagado fisicamente; é também aquele 1944— "Maldição de Sangue que não se mete nas combinações, que se engana e de Pantera" (The Curse of the serve Cat People) — Co-direção de de bode expiatório: é uma vítima da sociedade Gunther V. Fritsch — Elenco: que o cerca. Kent Smith, Simone Simon, Stoker não fica Ann Carter, Jane Randolph, de todo inconsciente de sua situa- Julia Dean, Elizabeth Russell ção. Sonha ainda, mas crê muito em seus deva- ²Vai pouco Lewton/R.K.O. Rádio. neios. Neles, acreditaria que sua mulher o faria voltar 1944 — " Mademoiselle Fifi" à realidade. ²Elenco: Sirnone Simon, ~ Quando uma noite decide que dessa vez vencerá, Kurt\ Kreuger interditado é menos no Brasil — Vai Lewtonl pela glória ou fortuna — com as quais não R.K.O. Rádio. pode mais contar — que reencontrar sua confiança "O-o por 1945íbit. — Túmulo Vazio" em si próprio, a confiança de sua mulher e sua digni- (The Body Snatcher) — Elen- dade humana. E' co: Boris Karloff, Bela Lugosi, para provar que era capaz de vencer, Henry Daniel, Sharyn Moffett, ele, o homem solitário, incompreendido, desprezado. Russell Wade Vai Lewtonl A força de necessitaria R.K.O. Rádio. que para isso estava em si mesmo, e e'a se revela seu sobressalto 1946— "A Fera Humana" por de animal ferido diante de um adversário mais êle e ( ou The incitado jovem que ) — pelo ódio e pela cólera. E' uma forca toda Elenco: John Loder, moral, toda Edgard interior, não uma força física, aquela que Barrier, Audrey Long, Russell o conduz à Wade — R.K.O. Rádio. vitória. "Nascido Por isso, 1947- para Matar" essa vitória é real. Socialmente, Stoker (Bom to Kill ou Deadlier than e vencido, pois com a mão esmagada, não mais the Male) poderá Elenco: Lawrence lutar box, mas sua qualidade de homem é revelada, Tierney, Claire Trevor, Wal- e afirmada ter Slezack, Audrey Long por êle próprio, por sua esposa, pela so- Philip Terry R.K.O. Rádib'. ciedade. "Absolvida" 1947 (The 2V) Julie. Criminal — Court) Elenco: Sua Martha 0'Driscoll, Tom Con- presença no fi7me serve imediatamente para way, Junc Clayxoorth — R.K.O. nos mostrar o «boxeur» na intimidade de sua vida Rádio. íamihar e as dificuldades dessa 1948 — "Mistério vida. Mas o casal no Méxi.ro" Stoker-Julie representa sobretudo a oposição entre as (Mysiery in México) — Elen- inclinações co: William Lundigan, Jac- da mulher e do homem. queline White, Ricardo Corte» Julie é uma capaz de amar, sensível e — R.K.O. Rádio. pessoa simples. Procura a felicidade, a segurança, a estabU

— 8 "Sangue 1948 — na Lua" iidade, e tem o dever da vida material: alimenta the Moon) — Elen- (vêmo- (Blood on Ia a refeição), toma-se de cuidados, e con- cd- Robert Mitchum, Barbara preparando Sei Geddea, Robert Prestou, sola. Os valores que defende situam-se sôbre um phyllis Thaxter, Walter Bren- outro plano, diferentes dos de Stoker. Após aceitar ¦nan, Tom Tully — R.K.O. Rá- uma vida em que participa das incertezas e das espe- dío. ranças de um marido seu ideal, ela aban- "Punhos de Campeão y> possuído por 1949— — dona a luta, compreendendo Stoker à raça (The Set-up) Elenco: Ro- que pertence bert Ryan, Audrey Totter, dos heróis ridicularizados, desacreditados, e pretende George Tobias, Alan Baxter, impedi-lo de prosseguir com uma carreira que só lhe Wallace Ford, Percy Helton ²R.K.O. Rádio. trará decepções e desgostos; A tragédia nasce da concomitância de sua abdi- 1950__ "Entre dois juramen- tos" () — Elen- cação e da resolução de seu marido, que decidiu ga- co: Joseph Cottien, Linda Dar- nhar de qualquer maneira a luta «arranjada». Julie, nell, Jeff Chandler, Cornei então, não a Stoker nem mesmo o auxí- Wilde, Dale Robertson — proporcionará Fox. lio morai de sua presença, pois não comparecerá ao «match». errando ruas do 1950— "Três Segredos" Ela nos é mostrada pelas (Three Secreta) — Elenco: bairro barulhento, embaraçada, falsamente alegre, aba- Eleanor Parker, Patrícia Neal, tida enfim, presa de uma torturante meditação. Sua Ruth Roman, Frank Lovejoy, alma, esmagada, experimenta ao menor estímulo o Leif Erickson, Ted de Corsia ²Warner/United States. calvário de Stoker. que está, como sempre, a ponto 1951_ "Terrível Suspeita" de se realizar. (The House on Telegraph Seria esquematizar consideravelmente o persona- — Vàlentiva Hill) Elenco: gem de Julie tomando-o unicamente como o símbolo Cortese, Richard Basehart, de Stoker. William Lundigan, Fay Baker, de um ideal material e mesquinho, oposto ao Gordon Gebert — Fox. Na verdade, o comportamento da mulher é muito mais 1951— "O Dia em que a complexo, e, portanto, muito mais rico. terra parou" (The day the Julie entra em estado de crise. Essa crise é o earth stooã still) — Elenco: Michael Rennie, Patrícia Neal, ponto de supuração de um longo périplo interior que Hugh Marlowe, Sam Jaffe, se descobre devorado pela dúvida e pela contradição. Billy Qray — Fox. importância atribuída à sua caminhada so- "Cidade A própria 1952— Cativa" (The litária pela cidade (a seqüência, admiravelmente con- Captivecity ou The Tighirope) bem o seu —- Elenco: John Forsythe, catenada, é bastante longa) revela muito Joan Camden, Ray Teal, Ha- estado interior. rold J. Kennedy, Marjorie Sem dúvida, sua resignação, sua submissão à «rè- Crossland — Aspen/United. gle du jeu», pode parecer frágil ou demasiadamente 1952— "A Falsa Verdade" do — «materialista», em função de uma concepção ideal () comparar o compor- filme inédito — Elenco: Victor heroísmo puro. Poder-se-ia então Mature, Patrícia Neal, Edmund tamento de Julie ao da esposa do xerife de «Matar ou — Gween Fox. Morrer» Noon). Em ambos os casos, a mulher "Prisioneiros (High 1953— da Mon-^ abandona seu marido no momento preciso em que êle Gobi) -— gólia" (Úeatination necessita de apoio moral. E' possível medir, em tal Elenco: Richard Widmark, e Don Taylor, Casey Adams, comparação, o abismo que separa o cálculo frio — Murvyn Vye, Judy Dan egoísta da primeira dessas duas mulheres da dolorosa Fox, tecnicolor. decisão que atormenta a consciência de Julie. Uma 1953 — "Ratos do Deserto" sossegada de uma cômoda vida a — aspira a felicidade (The Desert Rabs) Elenco: colocar um fim ao intolerável so- Richard Burton, James Mason, dois; a outra quer Robert Newton, Robert Dou- frimerito de um homem já gasto, depois de haver par- Ademais, Olas, Chips Rafferty, Torin ticipado por muito tempo desse sofrimento. Thatcher —- Fox. marido, e isto é importante, Julie não abandona seu 1953__ "Meu filho, minha sua luta, o que — mas se desinteressa cientemente por vida" (So Big) Elenco: Jane do xerife. Wyman, Sterling Hayden, não se dá com a esposa Nancy Olson, Steve Forrest, Não nos esqueçamos de que mesmo se «Punhos de Elizabeth Hyer, como um «poema Fraaer, Martha Campeão» pode e deve ser considerado Tommy Retting — Warner. de signi- trágico» e compreendido «no segundo grau 1954— "Um Homem e Dez E sobre — ficacão», êle tem suas raízes na realidade. Destinos" () a de Julie Elenco: William Holden, Fre- o realista, vivo, material, posição plano é mesquinhez; dric March, Barbara Stanu>yck, não é condenável. Seu bom senso não June Allyson, Walter Pidgeon, e exprime ê^e tem origem no seu amor por Stoker Shelley Wintera, Paul Douglas, de conciliar os im- Louis Calhem, Nina Foch, a tragédia do casal, a dificuldade e da realidade Dean Jagger, Tim Considine üerativos contraditórios do ideal puro — M.G.M. «The Set-Up» poderia tornar-se "Helena ürosáica. Sem Juüe, 1954 _ de Tróia" um despojado, depurado porem ale- (Helen of Troy) — Elenco: unicamente poema 9 Rossana Podesta, Jacques górico e espiritualizado. O papel — a tal Sernas — Warner, Warnerco- — ponto in- lor, cinemascope. grato da mulher, dá ao filme sua densidade huma- na. As últimas palavras de Julie: «Nós ganhamos esta noite», exprimem com certa crueldade Como associado: a fusão do produtor ideal sobre-humano de Stoker com aquele, dolorosa- 1953 — "A volta ao Paraíso" mente humano, de sua esposa. (Return to Paradise) — Dire- ção de Mark Robson — Elen- Esta psicologia dos personagens principais já in- co: Gary Cooper, Roberta dica o caráter bastante particular de «Punhos de Cam- Haynes, Barry Jones, Moira com relação aos outros filmes Mc Donald — Aspen/Robson- peão» de box, tais como Wise-Theron Warth/United Ar- «O Invencível» (Champion) e «L'Air de Paris» (am- tistst tecnicolor. bos interessantes, com características distintas),

B) 0 Documento:

Aspecto social e Personagens secundários

... o boxeur negro, forte, ágil € calmo, o personagem mais equilibrado e o que tem maior "chance" de ser bem sucedido. ,. «The Set-Up» não é um filme sobre q box. Êle contém, todavia, um interesse documentário relativo ao panorama da «nobre arte», e talvez através desse meio, sobre alguns aspectos de toda a civilização americana. Com efeito, o filme apresenta tipos humanos decorrentes dessa civilização e por ela formados. Esses tipos cons- tituem o mundo que cerca os dois principais personagens da fita, que fixa o lugail de ambos e que, em parte, se opõe a eles ou os esmaga. Os personagens secundários têm, pois, um papel definido para atuar no drama; falaremos mais adiante a respeito desse papel. Mas eles não são abstrações; possuem uma realidade humana, uma presença pela qual nos são impostos como seres vivos. lv) Os «boxeurs». Representam os aspectos diversos de uma mesma entidade: o «boxeur» de segunda categoria, aquele que faz do box seu ofício mas nem é campeão e nem e famoso. que São: ²O belo rapaz triunfante, vitorioso na luta, seguro de si mesmo, don juanesco, caracterizado suas por roupas vistosas, seu andar desenvolto, sua voz forte e vulgar, sua indiferença desprezível frente aos outros. ²O jovem principiante sem afetação, que é tomado de pavor antes da sua primeira luta. Desta vez, êle será vencedor, mas talvez Stoker tenha sido também vencedor no seu primeiro combate, como faz crer sua meditação: «Eu me recordo da luta... punha primeira há 20 anos.,.». Êle representa a desaparecida de Stoker. juventude ²O velho lutador sempre derrotado, que faz prever o que será Stoker alguns anos depois... O box tornou-se para êle um trabalho mecânico (enquanto aguarda o

— 10 - da luta, êle se absorve na momento leitura de uma revista), e ao mesmo tempo, pela reação contra a possibilidade de um desespero crescente, sua capacidade de imagina- ção aumentou a ponto de se transformar em obssessão, e, após sua última derrota, em loucura. ²O «boxeur» jovem religioso que «joga a cartada do céu», por um sistema análogo ao Pari de Pascal, do mesmo modo que Stoker, no momento de escolher entre confirmar sua vitória e se submeter à combinação, jogará a cartada da dignidade humana. Este personagem indica claramente que é preciso procurar a significação real do filme além do documento sobre o ambiente do box, e mesmo além da simples psicologia. ²O «boxeur» negro, forte, ágil e calmo, aparece como o personagem mais equilibrado, e é o que tem maior «chance» de ser bem sucedido. O conjunto desses lutadores, mostrados na famiiiaridade do seu vestiário co- mum, apresenta a única visão um pouco encorajadora deste filme «uoir»: uma espécie de camaradagem esportiva que se opõe ao egoismo consumado dos «combinadores», e à violência bárbara dos expectadores. 29) Os Combinadores. São os personagens mais banais do cinema americano, vistos em inúmeros filmes de gangster, principalmente em «Sombras do Mal» (Night and the City), onde sao focalizadas as combinações em combates de «catch». ²Little Bcy é o gangster que impõe sua lei de terror e de interesses sórdidos no estreito mundo por êle dominado. Fisicamente fraco, covarde e sádico, êle não participa de brigas, mas assiste ao «trabalho» que obriga os outros a fazer. De uma frieza de réptil, permanece sempre aparentemente impassível, com o olhar imó- vel, cjz lado de sua amante vulgar e turbulenta. ²O «manager» e o massagista de Stoker, o primeiro mais audacioso, o se- gundo mais tímido, formam uma dupla bastante típica dos fracos e medíocres «mar- ginais» do «ring», que vivem de combinações duvidosas e especulam sobre as fraudes que os outros aceitam. ²Tiger Nelson, o adversário de Stoker, é um bruto vaidoso — com seu «peignoir» de seda, seus gestos de grande «vedette», suas saudações risonhas ao pú- blico — que procura as vitórias fáceis e só gosta de participar das fraudes. O mundo dominado por Little Boy é, com evidência e brutalidade, aquele da «lei do mais forte»; como o «boxeur» mais forte vence o mais fraco, do mesmo modo há o jovem vendedor de jornais no começo da fita toma o lugar dos mais velhos. Não piedade, não há senão lutas de interesses egoístas. 3Ç) Os Espectadores. Os espectadores formam imediatamente um personagem coletivo que se apre- senta como uma hidra de 1.000 cabeças, que gosta de sangue, é uivante, violento, insensível. Alguns tipos representativos foram escolhidos e estudados no meio da multidão, como: vez num ²A mulher de aspecto burguês que, antes de entrar pela primeira mais entu- estádio de box, diz «isso é repugnante», e depois se revela a espectadora siasmada pelo «massacre». identifica aos lutadores, e golpeia o ar ²O jovem de aparência tímida que se ao mesmo tempo que eles. — ii — ²O homem gordo, um pouco repugnante, que come sem parar, imperturbável enquanto os «boxeurs» se defendem e sofrem. ²O velho «boxeur» cego que grita: «esmurre-o no olho», e toma partido pelo lutador que está ganhando. Essa multidão é vivamente observada, da maneira mais crua e mesmo mais cruel. Os seres que a compõem são, talvez, «honradas pessoas», na sua vida cotidiana, mas exteriorizam diante de um espetáculo de box as más forças de sadismo e de violência que existem em todo homem. A massa anônima nos revela certos aspectos de nós mesmos que, em geral, cuidadosamente ocultamos à nossa consciência (raros são os espectadores que puderam se reconhecer nessa multidão; porém, se eles fossem colocados diante de um combate de box...). Tais pessoas são também «intoxicadas». Como os «boxeurs» vivem de sonho, eles vivem, durante o tempo da luta, fora de sua vida normal, de sua personalidade cotidiana; comportam-se como se estivessem «dominados». Essa multidão é idêntica àquela que anda pelas ruas vizinhas do estádio de box e por onde Julie passa: os indivíduos que se divertem nos «pequenos jogos» de um parque de atrações, que escutam o rádio, que dançam ao som de uma música de jazz, os namorados que se abraçam no canto das portas. Tais pessoas vivem na irrea- lidade da «distração» (não é por acaso que os dançarinos são mostrados em sombras chinesas); seu «dancing» chama-se «Dreamland» (terra de sonho) e seu bairro «Pa- radisè City»; o mundo em que vivem pertence um pouco aos «paraísos artificiais». Mas tal mundo não se encontra «à parte». Cada um de nós o conhece. E' o universo noturno (não é atoa que o filme se passa durante a noite), feito de senho, de imaginação, de casualidade, de alegria fabricada e de angústia, enquanto que o mundo diurno (no qual Julie deseja se refugiar) seria feito de matéria real, de segu- rança, de vida sólida e normal.

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REALIZAÇÃO

.., Little Boy, Construção. fisicamente fra- co,, covarde e sádico,, permanece aparentemente impassível, ao lado de sua amante vulgar e turbulenta.

A construção é aquela de uma obra clássica, ligando as unidades de lugar, tempo e ação. Unidade de lugar: A ação se desenvolve inteiramente no pequeno espaço que compreende o estádio de box com o vestiário, o hotel onde mora Stoker e o de atrações, parque todos esses locais situados na mesma rua pela qual anda Julie. Tal condensação voluntária, além de contribuir para a concentração c para a eficácia

19 marca bem a vontade dramática, dos autores em dar ao universo que descrevem um valor simbólico. ²Unidade de tempo: A ação se desenvolve seguindo o tempo real da duração outros termos, do filme. Em são confundidos o tempo real da projeção e o tempo fictício do filme. Disso resulta, certamente, uma excepcional intensidade dramática: nem um segundo da angústia e do sofrimento dos protagonistas nos deixa de ser revelado. Em particular, a luta entre Stoker e Tiger é filmada integralmente (pro- cesso usado por Mareei Camé em «L'Air de Paris»). Os planos do relógio ritmando o filme, desde às 21,5 horas até às 22,25 hs., marcam esta importância cbcecante do tempo. Êle se torna, assim, um personagem do drama. Age junto à tensão dos «boxeurs» antes da luta, no seu estado físico e moral durante a mesma, na angústia da mulher que aguarda o final de tudo. Não é uma simples parte da ação, mas sim um gerador ativo de sentimentos. ²Unidade de Ação: E' a combinação, a qual é o assunto das primeiras ima- gens e que encontra sua conclusão no último episódio da película. Todos os persò- nagens ficam em função, conscientes ou não, desse «arranjo». Por outro lado, toda a ação gira em torno de Stoker e de seu drama interior. A importância deste personagem reforça a unidade do filme. — Decoupagem e Montagem. Não é motivo para admiração que num filme tão rigorosamente construído, o «decoupage» e a montagem se confundam: com efeito, «The Set-Up» estava por certo planejado, na sua continuidade e duração, antes mesmo do seu momento de filmagem. Os planos se encadeam com uma necessidade absoluta, seguindo um ritmo inevitável. Aí, chegamos à característica essencial do estilo de Robert Wise, que não pode ser estranhado se lembrarmos que seu trabalho foi retirado de um poema. fóse estilo se caracteriza, na verdade, pela importância do ritmo, que possui o rigor de uma obra poética clássica. Já assinalamos a volta periódica, no decorrer do filme, dos planos do relógio, Reencontra-se o mesmo ritmo obcecante com todos os outros elementos do celulóide, seguindo — bem entendido — períodos variáveis para cada elemento. Por exemplo: passagem periódica do estádio de box ao quarto do hotel; volta periódica ao vestiário antes e depois de cada luta dos 6 «boxeurs»; ritmo da rua, passagens de trens e ca- minhões, etc... Este ritmo é particularmente preciso durante as cenas da luta: ritmo dos planos dos espectadores filmados periodicamente durante toda a noite (a senhora — — amante, burguêia — o jovem — o gorducho que come o cego Little Boy e sua etc...); ritmo sobretudo dos socos que constantemente golpeiam os lutadores. Por conseguinte, não é tanto a rapidez do ritmo quanto a sua regularidade, oprimindo-o como faria o o que aumenta progressivamente a tensão do espectador, barulho enervante de uma gota d'água caindo regularmente num vaso. E' o ritmo violência das imagens, as o mesmo que a crueldade da visão do homem e que a quais é também o ritmo tornam a angústia descrita pelo filme quase insuportável. Mas mesmo dizer que lhe dá, além dessa agonia, seu caráter de poesia trágica; pode-se seu caráter litúrgico e sagrado. iluminação. — A plástica da imagem: enquadramentos, décor, encontrado, mais nitidamente Esse caráter de grandiosidade trágica é ainda estilo do de modo indissociável talvez, no estilo plástico das imagens, qual participam iluminação. a composição dos quadros, os decorados e a

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No décor não há nenhum realismo, nenhuma procura do detalhe pitoresco' o quarto do hotel, o vestiário, o «ring», todavia, são provavelmente reconstituições exatas da realidade, mas o modo pelo qual elas são iluminadas e enquadradas, sem nenhuma insistência. sôbre os objetos não essenciais, torna os lugares despojados quase estilizados, e até em alguns instantes claramente surrealistas (como o teto visto por Stoker quando este está meio desmaiado, e o estádio vazio, onde êle fica como que acuado no. final da fita).,.

O fato do filme ter sido rodado em preto e branco tem sua importância na criação de seu universo plástico. «The Set-Up» é desses filmes que não são conce- bíveis em cores. A côr seria muito realista para seu universo noturno, onírico, e para essa sublimação da matéria, da violência, da luta física, que se exprime nas lutas num estilo plástico que lembra o de Miguel-Ângelo. Como não pensar diante desses, bustos nus de homens corpo a corpo, com os olhos crispados, os músculos retesados, enquadrados com uma composição de assombrosa perfeição, nos combates de Titans, nos personagens mitológicos vistos por pintores clássicos ?

— O Sóm.

O som participa do ritmo do mesmo modo que a montagem das imagens. Volta-se à mesma repetição periódica de ruídos, como os golpes do gongo, e sobretudo aos delírios da multidão, gritarias, ameaças, gritos de alegria, assovios ou aplausos. Tais ruídos marcam, no fundo, as cenas do vestiário, certas cenas da rua (por inter- médio do rádio que transmite o «match», por exemplo). Mais inquietantes ainda são os barulhos surdos dos murros, e o ritmo dos gemidos dos «boxeurs». As músicas são também ruídos: música de «dancing», canções (onde aparece a palavra «Paraíso»), que acompanham era contraponto as cenas de angústia e vio- lência (Julie errando pela rua- e sobretudo a perseguição íinal). O diálogo é muito hábil, contribuindo, através de frases aparentemente banais, de conversações vivamente captadas, para exprimir certos aspectos do profundo sentido.do filme: assim são as frases ditas pelo jovem «boxeur» que «joga a cartada de Deus», a disputa entre os vendedores de jornais, as discussões entre Julie e Stoker, e o ambíguo «Nós ganhamos esta noite».

— A Interpretação.

Robert _ Ryan tem uma presença, uma justeza e uma sinceridade extraordinária. Nao se pode esquecei* sua vista fatigada, seu olhar suave e desiludido, seus pobres sorrisos quando Êle.espera que sua esposa virá ou com o qual encoraja seus cama- radas. Nao se pode esquecer sobretudo sua máscara trágica no sofrimento físico, sua iigura martelada por golpes, cheia de sangue e inchada, seu doloroso estafamento durante a luta. A força desta interpretação contribui para a centralização do interesse sobre a personalidade do herói e, por isso, para a unidade do filme. Audrey Totter nem sempre chega à altura de Ryan. Faz de Julie, por seu olhar banal, seu penteado, sua toilette, seu comportamento, um personagem física- mente mas seu perfeito, desempenho demasiadamente neutro diminui talvez o inte- resse que se pode tomar pelo seu drama. Todos os personagens secundários estão inexcediveis, em veracidade e presença, tanto por suas expressões quanto por seu aspecto físico e seus trajes.

— 14-— ... e quando, uma noite, decide que dessa vez vencerá, é menos pela glória ou fortuna — com as quais não pode mais contar — do que por reencontrar sua confiança em si próprio, a confiança de sua mulher e sua dignidade humana. Dessa decisão nada o poderá afastar.

,., não sabe, porém, que nessa noite a luta está combinada: Little Boy, o "chefão" do bairro, comprara o treinador de Stoker. Este, contra todas as previsões., estava em forma, derrotando o adversário. Não é unia simples vitória física — é o triunfo sobre a prepotência. ... na sua vitória está o protesto inconformista contra o mundo sórdido dominado por Little Boy, com evidência e brutalidade o da lei do mais forte; como o pugilista mais forte vence o mais fraco, do mesmo modo, no início da noite o jovem vendedor de jornais toma o lugar dos mais velhos'. "gangster" Stoker é acuado, então, pelo e seus asseclas.

¦ ¦ • nao é tanto a rapidez do ritmo quanto a sua regularidade o aumenta que progressivamente a tensão do espectador opnmindo-o como faria o barulho enervanív de uma dágua sobre uma gota lata. O ritmo, mais do que a crueldade dos homens c a violência das imagens. O ritmo, lhe dá, além dessa agonia, que seu caráter de poesia trágica, Utürgica, alem dc^m agonia, seu caráter de poesia trágica, Utürgica, sagrada.

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II Importância I

do Filme

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,.. o treinador e o massagista de Stoker, o primeiro mais au- A expressão de um mito. dacioso, o segundo mais tími- do, fracos e medíocres margi- nais do "ring".

O estudo da psicologia e do aspecto social de «Punhos de Campeão» pode fazer pressentir que o trabalho de Wise é não somente mais que um filme sôbre box, porém, ainda, mais que um estudo psicológico e um documento social. Há neste filme uma significação metafísica que compreende e excede esses três aspectos. Com efeito, voltemos aos personagens do drama. Todos, «boxeurs», combina- dores, espectadores, constituem a sociedade que cerca Stoker e Julie, em particular tem como impor a Stoker seu destino de homem ven- Stoker. Essa sociedade papel 1 cido. Stoker é o homem solitário, que quer ganhar, ou seja, afirmar sua liberdade, falamos fixar seu próprio destino — o que êle faz no momento dessa escolha da qual mais acima. A semelhança de Stoker com Prometeu é evidente. Êle se revolta contra a lei sociedade inteira) e dos deuses (a lei imposta pelo gangster, pela multidão, pela por isso ultrapassa sua condição de homem (realmente, ultrapassou sua condição de conseguiu vencer). homem, pois foi por um esforço quase sobre-humano que se tem em Semelhante interpretação do filme não é uma afirmação abusiva se dado conta o estilo antes definido. Recordemos o caráter de poesia trágica pelo unido ao cias- ritmo, o caráter mitológico e sobre-humano dado pela plástica. Isto, Set-Up» das tragédias antigas, de sissismo da construção, permite aproximar «The do herói oprimido pelo destino Sófocles em particular, ocupando Stoker o lugar comenta a ação. (Oedipo, v. g.), e a multidão o lugar do coro que combinação Portanto com o resumo da intriga, de uma história de que poderia então concluir «Punhos de MT ser o tema de um filme de gangsters banal, pode-se que Este filme fornece a brilhante Campeão» é de fato a expressão de um mito eterno. expressão onde o estilo, o conteúdo das confirmação de que o cinema é um meio de cria o assunto, o e, imagens, a construção no tempo e no espaço, são aquilo que qual nesse caso, cousa muito diversa da anotação do cenário.

17

"¦ M mkx>ux*k*-^*J*^-*.-' «Vá>'.'.V«»w'«i''i f ff'iiiii*if ilWfWlltitwtftffiPwl-iàm- ESQUEMA PARA: "WESTERN" PROCURA DE UM PURO INVOLUÇÃO CINEMATOGRÁFICA) • 5 (ou

SILVIANO SANTIAGO

Antes de procuráramos estudar o «western» é necessário fazer uma definição, ou, caso não queiram a palavra, fazer linhas curvas para se chegar ao «western», E' esta, pelo menos, a nossa intenção. (Explicação primeira: talvez não exista o «western» puro no cinema. Talvez — — e é quase certo, com algumas exceções se aproxime do «western» primitivo. Procuraremos aqui defini-lo e, depois, historicamente mostrar sua evolução e cine- matogràficamente sua involução).

* * VOCABULÁRIO «Western»: gênero de filmes americano. A definição se completará até o final, .«Cowboy»: (terá como sinônimos: primeiro, pioneiro; depois, rancheiro; e muito posteriormente, habitante das cidades do «west») — homem a cavalo, vestido gros- seiramente, com revólveres, dorme ao relento (ou em casas rústicas), a caminho í para, ou no, «west» dos E.U.A., e que vive entre 1.848 e fins do século XIX. * * |:«WESTERN» PURO jjFato histórico inicial: foi descoberto OURO no «west» dos Estados Unidos da América; complemento: a) elementot ¦ vivente (humano) ,histórico/ temporal (^ local b) elementoí ritmo cinematográfico | narração

5f5 5j€ 5jt VIVENTE: «COWBOY»: o homem em sociedade primitiva. DesbravamcnLo. Usa revólver: defesa — própria não há lei nem homens pagos para o defender — encontrará sempre dificuldades. Anda a cavalo: percorre longas distâncias — não há meios de transporte — o nomadismo. Usa roupas fortes e resistentes: uso constante e durante longo espaço de tempo — nem sempre é possível lavá-las. Dorme em qualquer lugar: não existe casas (ou se existem são rústicas) _— o nomadismo. TEMPORAL: existiram fatos e estes podem ser marcados, ou definidos, no tempo (calendário):- 1.848 até o fim da corrida.

— 18 — LOCAL: «west» dos Estados Unidos da América.

x NARRAÇÃO: maneira de se contar uma história. Exposição (filmica) de uma série de fatos. RÍTMO: determinação do «tempo» cinematográfico.

$¦ * *

ELEMENTOS VIVENTES (humanos) POSTERIORES: (época: 1.848 — 1.900) índio: habitante da região para aonde o «cowboy» se dirigia. Encontro , natural e lógico entre ambos. Guerra como conseqüência de: invasão de território-defesa de território, antagonismo de raças (o branco soberbo, etc:), etc. «Gold-diggers» (cavadoras de ouro): mulheres que seguiam os homens no intuito dé ganhar dinheiro (mercantilismo). Soldados da guerra da secessão: durante este período travou-se a guerra da secessão; algumas batalhas se deram no «west», daí o aparecimento destes personagens. Encontro, também, com o elemento índio. Poste- riormente, na década vermelha, aparecem como os «esfarrapados». Sheriff: homem pago pela comunidade para limpar a cidade. — Organizador. (Vide, como melhor exemplo, o personagem Kane Gary Cooper — em «Matar ou Morrer» (High Noon).) etc.

* * *

(Explicação segunda: como vimos, a evolução do «western» no calendário não determina a involução do «western» do cinema).

* * *

FINAL personagem Marcos da involução narração local do «western» puro tempo ritmo Exemplos: 1)a necessidade de um aprofundamento do caráter do personagem originou o «western» psicológico; «western» lento ou 2)o ritmo, elemento fundamental no cinema, determina: «western» rápido (de ação); secessão» determinados 3)o elemento vivente «soldados da guerra da (já da civil; pelo tempo e pelo local) originou o «western» guerra "l/C/. vJH^., , fcJLty • (Agosto-Setembro de 1955)

19 Cinema e o Público CYRO SIQUEIRA "No 1945-1955': VINTE FILMES A do. Com nomes e datas se ten- do: caso de um dilúvio taria — SALVAR o julgamento de toda universal e considerando que uma época praticamente des- toda a produção mundial — até A exemplo do que periódica- conhecida pelos juizes o que, 19kh tenha sido preservada em mente realizam os colunistas além de ilógico, seria preten- conjunto, para exame — futuro literários e tendo em vista sioso e inútil. quais os vinte filmes que prin- você cipahnente um inquérito recen- Isto pensado, verificamos que salvaria consigo, do pe- te, ríodo de 19^5 a 1955?->» "Tempo",promovido pela revista a melhor política seria a de da Itália — de que circunscrever a pergunta a um já se falou aqui — tentou o período da história do cinema Foram ouvidos, neste ínquê- crítico que assina estas linhas sobre o os elementos cha- rito, Jacques do Prado qual "CorreioBran- fazer um levantamento geral mados a opinar o pudessem fa- dão (crítico do da do estado do cinema m,eãiante zer co?n absoluto conhecimento Tarde" e da REVISTA DE Cl- a NEMA), formulação, a 18 pessoas li- de causa, não como simples es- "DiárioCarlos Denis (crítico gadas, ãe uma maneira ou de pectadores de obras excepcio- do de Minas"), Paulo outra, ao problema cinemato- nais apresentadas excepcional- Arbex (crítico do "Informador gráfico, da clássica: Comercial"), Mauricio hX'No pergunta mente, mas como participantes, "O Gomes caso de um dilúvio uni- como verdadeiras e legítimas Leite (crítico de Diário" e versai, e se lhe fosse dada a testemunhas do desenvolvimen- da REVISTA DE CINEMA) oportunidade, Fritz Teixeira quais os vinte to do cinema nesse período. "Folha de Salles (cri- filmes que você salvaria consi- Localizamos, o ttQo da de Minas", "O então, marco Debate" "Jornal go?" Esta era a pergunta ini- inicial em 19ifi — como pode- e do Povo") ciai, calcada dÀretamente nos ríamos Silviano Santiago (de "O Diá- ter escolhido 19A2 ou- rio" modelos citados, tanto os lite- 1940. A surgiu e da REVISTA DE CINE- preferência pa- MA), João "O vários como o do semanário ra que se tivesse uma visão Eticne Filho (de italiano. Com o meditar, Diário"), : Guy de Almeida (de po- ideologicamente coerente da %xO Diário" i rém, surgiram dúvidas de vá- época examinada: o apôs-guer- e da REVISTA DE ria ordem sobre CINEMA), Geraldo Fonseca in a utilidade e ra. Nem o clima de ante-guer- "Tribuna mesmo a viabilidade de tal in- (crítico da de Mi- ra, nem a trepidação do perío- nas"), Afonso quêrito, nas bases em que fô- do bélico — mas o após-guerra "Diário de Sousa (crítico ra colocado. do da Tarde"), Afonso í{ Em primeiro lu- como estado mental e ambien- "Correio gar, e supondo, com razão, Torres (ex-crítico do que tal permanente até agora. Não do Dia"), Newton alguns cios filmes escolhidos o são apenas dez anos de cine- Silva ida' no REVISTA DE CINEMA), Sil- fossem cinema mudo, em ma. E' todo o período da len- que medida as respostas e os vio de Vasconcellos (colabora- ta reconstrução da paz, o tra- dor da REVISTA resultados interessariam ao lei- balho de recuperação, um mun- DE CINE- tor? Saber MA), Mario Lúcio Brandão que Potemkin, Em do novo, uma longa fase da (co- Busca do Ouro ou A Mãe^ são laborador da REVISTA DE Cl- história esta que o cinema sin- NEMA), Raymundo clássicos, merecendo a salvação tetisa nestes vinte e erudita soes do inquérito, acreditamos tos consultados foi publicada, e tão vaga, êle que ja- a "Es- inais viu Potemkin? que pergunta atenderia a to- diariamente, pelo jornal De outro dos, formulada do seguinte mo- tado de Minas". lado, havia a questão dos ele- mentos consultados, a maioria dos quais buscados nos qua- dros da crítica militante, da A SELEÇÃO DOS VINTE E DOIS REVISTA DE CINEMA e do Centro de Estudos Cinemato- Computados os resultados, somados votos gráficos,' elementos, portanto, os dader, quase todos jovens, cujo co- às diversas películas, foram os seguintes os vinte e dois nhecimento do cinema mudo ou filmes (o acréscimo de dois deve-se ao empate verifica- mesmo da década dos trinta do se terá dado, na última colocação) escolhidos pelos desoito votan- no máximo, pela tes como visão de uma dezena de filmes àqueles a serem salvos, no caso de um dilúvios representativos, entre os Potemkin. quais — «Ladrões de Bicicletas» di Bicicietti A Mãe ou Em Bus- — (Ladri ca do Ouro. Numa seleção da Itália, 1948), de Vittorio De Sica, com 17 votos. ordem pedida seriam, então — «Matar incluídos esses clássicos — vis- ou Morrer» (High Noon — EE. UU., tos em exibições especiais de 1952), com 15 votos. cine-clubes e filmotecas, já co- o ~ mo clássicos — todos eles, com <

( Apresentação, seleção de textos et seqüência de J. P. BRANDÃO FICHÃRIO: Direção de Henry-Georges Clouzot. Produção de Raymond Borderie Adaptação e diálogos de Jerome Geromini e Clouzot. Fotografia de Armand Thirard. Música de Georges Auric. Elenco: Charles Vanei Yves Montand, Peter Van Eyck, Folco Lulli, William Tubbs, Vera Amado Clouzot, Dario Moreno, Jo Dest e outros. Estúdios Filmosonor Vera Film-Fono Roma, 1953.

APRESENTAÇÃO . Ir;! A excepcional repercussão "O do filme de Henry-Georges Clouzot, Salário do Medo", nos meios críticos e inte- í; lectuais de Belo Horizonte, levou-nos a lhe dedicar uma seção especial desta revista, não só reproduzindo os co- mentários da imprensa sôbre a película, como também, l« resumo, em a polêmica que se estabeleceu, originada pela cr6- nica de Cyro Siqueira, entre alguns elementos da imprensa | ;jmembros do CEC e outros, notadamente os srs. Fábio Lucas' Fritz Teixeira de Salles e Floriano Vae.* íHRessaltou à primeira vista, como aliás era de se esperar :|devido ao tema central da película, que os comentários _debordaram os .aspectos cinematográficos da questão, enca- ]|mmhando-se ou se des encaminhando para discussões de na- tureza diversa, parecendo tentar a análise escatolôgica da II obra do diretor francês. Exaltando-se os ânimos, cegando se as paixões, nada mais poderia obter de proveitoso na discussão que, do filme lli e da significação da obra de Couzot, a diatribes passou, como é comum e insinuações de caráter pessoal que nada inte- ressam à análise proposta. Por esses motivos, e só por isso, resumimos ao máximo os comentários, conservando apenas, o na medida do possível que diz diretamente ao estudo de "O Salário do Medo". Procuramos também ordenar os comentários, desde o re- a sua análise e discussão; Wr™+{rentanto desvirtuar*°br.a.até temendo no o pensamento dos autores por audlauer l emes quanto ao valor da obra em apreço. INTRODUÇÃO: ji 0 Filme vigoroso violento, l^ama e de um impiedoso fatalismo e de amarga crueldade, < a doen«a tropical, a degradação moral e a deslocação do ambienteLh?6; \de uma região hostil e árida da América Latina contribuem descrever o episódio amargo de um para grupo de párias que, sacrificados com esses elementos de ordem socai se encarregam da difícil tarefa de transportar pelas estradas rudi- CrÍnhÕ6S C°m »*™&™™ Z tf a T?8 r para apagar o incêndio de qUe ^^ a Cada h°mem dóíarS»m a recomP^^ de dois mil Paulo Arbex

99 A História

«A história de «O Salário do Medo» está disposta em duas fases idênticas em sua motivação. Desenvolvida em torno de um fato inesperado — o incêndio de um campo de petróleo, próximo a uma pequena aldeia de um país da América Cnníral .— apresenta, na sua primeira parte, o modo de vida da aldeia, onde, à semelhança de «0 Tesouro da Sierra Madre», vários indivíduos esperam algum acontecimento excepcional para conseguirem dinheiro e se libetarem da ociosidade que os atingiu. A oportunidade vem com o acidente no departamento petrolífero vizinho, que ne- cessita urgentemente de um carregamento de nitroglicerina, que terá de ser feito às pressas, em caminhões. Ncs homens que farão o transporte é que se reúne, então, na segunda fase do filme, o grande núcleo dramático da fita: a possibilidade de uma explosão inte- diata, o medo de qualquer engano, que destruirá completamente os veículos e a am- bicão pelo dinheiro, tudo se reúne para que Couzot atinja no final sua «mensagem pessimista». J. M. Gomes Leite A Mensagem Contra: ««Le Salaire de Ia Peur» externa a estúpida concepção que Clouzot faz da vida. E' um trabalho nauseabundo, mostrando o «mundo» impiedoso, cruel e sádico de seu rea^zador. O mal estar que ocasiona no espectador é chocante e deixa uma triste impressão da humanidade vista por Clouzot. Sente-se sua desordem «intelectual». no Optou pela desumanização dos seus tipos e de seus ambientes. Preferiu pintá-los lado desprezível da desventura e da desgraça humana. Jamais se pôde imaginar que o cinema pudesse apresentar obra tão bestializada e tão vil». Afonso de Souza

A favor: «O filme, comparado às produções anteriores do grande cineasta, assinala evi- dos dente evolução no sentido da procura dos fatores sociais, como determinantes Tanto em o «O problemas e das questões mais graves do homem contemporâneo. a substância Corvo» como em «O Anjo Perverso» (Le Corbeau» e «Manon Lescaut»), é caracte- essencial dos dramas focalizados com pronunciada nuança de sadismo cruel raiz existencialista. Ambas a* risticamente gratuita, de uma gratuidade de evidente negahvista e deses- películas revelam uma constante de «ato gratuito», de pessimismo perado, ainda mais acentuado pelo já referido sadismo. o sentido de denso Mas agora, em «O Salário do Medo», embora permaneça Tudo no grande filme pessimismo, a' miséria é toda ela honestamente conseqüente. mais o d-stmguem é conseqüente e neste fato reside, parece, uma das qualidades que da cincmatosraf.a euro- não dos filmes anteriores de Clouzot, como de grande parte péia dos últimos anos. humanas sem deturpá-las Aqui o conteúdo social marcou todas as atitudes equilíbrio em seus retratos, entre nunca. Pelo contrário, o cineasta obteve admirável em si, e aqueles caractenst.cos este «sinal» da infra-estrutura que o homem carrega . • como sendo o escopo da mais essencialmente, * individualistas,j- ;^„oiicfQC quennp munubmuitos tui.amconsideram enfim». verdadeira essência do ser — sua origem metafísica, Fritz Teixeira de Salles

o o ANÁLISE E DISCUSSÃO Expositor: «Aqui, porém, o veterano homem de cinema introduz uma mal assimilada pesquisa social, onde as intenções esbarram, depois do seu enunciado inicial, nas próprias qualidades existencialistas da «mensagem» de Clouzot», cujo anarquismo não consegue ser ultrapassado nem completamente vencico. A princípio a película procura retratar o ambiente miserável de um indeter- minado país sul-americano (o romancista Georges Arnaud, autor da novela, fala na — Guatemala e Clouzot alude à Venezuela) dominado por um poderoso e onipresente «trust» de petróleo. Reconstituído totalmente no sul da França, esse «decor» vive apenas em função de Clouzot, que falha não somente nos tipos como ainda na am- bientação, que tanto lembra a Venezuela como lembraria o Chile e o México de onde vêm, diretamente, aqueles índios acocorados à beira da estrada — ou o sul da Itália. Se em tal trecho do filme (a primeira parte), o diretor francês se permite abandonar o terreno do virtuosismo, no qual tem feito evoluir sua carreira, entre- a um gando-se estudo sociológico que mesmo sem ser bem sucedido guarda certas características positivas, dentro em breve tropeça êle no recurso demagógico, exter- nado naquele improvável comício armado junto à cerca do campo petrolífero, quando «Le Salaire de Ia Peur» perde completamente o rumo, sufocando-se num falatório inconseqüente, só terminado com o fecho de ouro, outro lugar comum, do clássico «homicídio branco», o caminhão chegando com os feridos. Logo após, todavia, inicia- se a longa viagem dos caminhões carregados de nitroglicerina — e aí a película atinge a um elevado grau artístico sem avançar além dos limites de um exercício de técnica e narrativa extraordinariamente bem executado». Cyro Siqueira 1'" Opositor: «Assim V. chega (CS.) a afirmar que a película atinge a um elevado grau artístico «sem avançar além dos limites de um exercício de técnica e narrativa extraor- dinariamente bem executado». Ora, nem era preciso mais, meu caro Cyro! Pois que mais poderia ambicionar qualquer diretor de cinema do que «um exercício de técnica e narrativa extraordinariamente bem executado»? Não conheço a novela que inspirou o filme. Mas, pelo que vi no cinema — e c o que interessa - ali não existe «uma mal assimilada pesquisa social», nem inteaçoes se esbarrando nas tais «qualidades existencialistas» da mensagem (que V. ironiza com aspas) de Clouzot. * ~ existentyr1"™ ** Se P°de dizer assim ~ desenvolvida í"0^8 é ^kti- ?XCelenC,a< pois a luta ™«tra a morte e não aceitação deía ou submissãosubmV<,sTo covardey a sua trama. Tudo o que mata e morre não é existencialista não. aíUma ^ fatal na SUa história de CÍouz^i8? uC°ÍSa, de e néra i" A P\ , ««* «m ^«xo «*» a eSCraVÍdã° SCm Peias> faz com sacrllP, 7T «™ «* ««*» homens ^ dema,S CSPeranÇaS Para mant- Z^Z,^ a^a outra, primitiva e V^*°> a Única consideração vamos dizer metafísica que •o fíSeMnTyfWme comporta, data vema, é o estudo admirável realiza ju* que da psicologia do Medo tão escravizado.- que a libertação dele gerou o vício fatal para o último — 24 da aventura; remanescente audácia no enfrentar o risco. Imprudência que, ao cabo, termina por arruiná-lo. Porque V, não viu essas coisns é que acho que V. mal-compreendeu o filme». Fábio Lucas 2* Opositor: «Sei perfeitamente que esta realização ostenta diversos aspectos negativos, todos eles vinculados ao existencialismo que sempre marcou a obra de Clouzot. Fomos, se não nos falta a memória, os primeiros a assinalar a influência negativista e desesperada do existencialismo na cinematografia européia, quando da exibição, entre nós, de «O ídolo Caído», «O Pária das Ilhas» (de Carol Reed), acentuando o sentido existencialista do seu argumentista predileto, Graham Greene, apesar do seu catolicismo. Mesmo a propósito de «O Anjo Perverso» de Clouzot, dizíamos: <:E nota-se também uma evidente influência do existencialismo no pensamento do diretor, que foi também o argumentista da película. . . «o que marcou todo o desenrolar do filrye por aquele fatalismo cego, brutal e desesperado». Esta influência continua em «O Salário do Medo» — que, no entanto representa um considerável passo à frente no sentido de constatar a realidade social-econômica do nosso tempo, através do petróleo, um dos capítulos mais importantes do impe- rialismo moderno em todo o mundo, mas particularmente importante para nós bra- sileiros, no momento empenhados numa luta decisiva pela Petrobrás. A significação do filme decorre exatamente do fato de ser o seu diretor um existencialista e, no entanto, chegar às mesmas conclusões de condenação violenta e radical ao truste que os esquerdistas e nacionalistas. Seu depoimento vale precisamente porque o filme não é marxista mas individualista. Fritz Teixeira de Salles Mediador: «Para uma análise completa de «Le Salaire de Ia Peur» torna-se indispensável um retrospecto da carreira de Clouzot, que permitirá uma consideração mais extensa de suas opiniões e uma revelação de valores que, isolados, podem parecer arbitrários, mas que na verdade apresentam entre si uma inter-dependência constante». J. M. Gomes Leite 2V Opositor: «Achamos ainda que «O Salário do Medo» ataca este problema (do petróleo) direta e honestamente, atingindo a sua finalidade, isto é, a platéia reage diante da está apresentado no película de um modo que raramente ocorre. O problema como filme, se nos depara não como depoimento político interessado, mas como depoimento influências, mas de um cineasta que não chegou a tal conclusão levado por quaisquer se o exis- pela constatação simples e direta de uma realidade. E isso demonstra que verdade não o trairá nunca. Nao se tencialismo pode trair o povo, a realidade, a tais ou convicções políticas ou pode exigir que um cineasta ou escritor tenha quais e o filme o foi». filosóficas. Podemos exigir que sejam honestos frente à realidade Fritz Teixeira de Salles t Expositor: natureza e se entrega a «O diretor não resiste às solicitações d,e sua própria com um prazer sádico, em mostrar um hábil jogo anarcoide e negativista, detendo-se, — 25 — a destruição lenta do grupo até seu completo esfacelamento. São definitivos, por exemplo, os momentos em que Clouzot faz com que a camera siga, em um,inimitável gozo pelo detalhe perverso, até mesmo a desintegração das coisas inanimadasa queda da vagoneta e do estrado de madeira, o longo incêndio do final — prática que continua com relação aos próprios homens». Cyro Siqueira Mediador: «Como prova de que nem sempre o filme é conduzido para este aspecto existe a explosão de um dos caminhões, onde o diretor de «Manon» usa da elipse extraor-* dinária, que em sua simplicidade emocionou tanto quanto o excepcional momento do desastre no citado «Mercado de Ladrões»». J. M. Gomes Leite Expositor: «Quanto a esses (os homens) é que a violência negra do diretor atinge seu ponto máximo, desumanizando-se por completo na seqüência do poço de petróleo; aí, como acentuou Glauco Viazzi, o horror é de tal forma exasperado e exasperante que deixa de ser patológico para tornar-se irreal; os personagens já não são mais críveis e a situação se resolve num jogo, uma convenção a Guignol — e a tensão cai a zero. Do mergulho no óleo negro surgem não mais dois indivíduos mas duas figuras satânicas, tipos teratológicos, que mais se assemelham às criações siderais das fan- tasias científicas». Cyro Siqueira ... lv Opositor: «Indo nós ao cinema da infância buscar as valentias de Popeye, encontramos o rosto amarrado de Frankestein, V., meu caro Cyro, resolveu-se por chamar de existencialismo o rosto amarrado de Frankestein. V. teve medo das figuras saídas do óleo negro e chama-as de «figuras satânicas», «tipos teratológicos», criações side- rais de fantasias científicas» Tudo isto é Frankestein...» Fábio Lucas Expositor: «O sentido existencialista de «O Salário do Medo» não se detém na genera- hdade, avançando muito mais, até chegar à equação final de seu grande conflito — o super-problema de Kulechov — quando, depois de abandonada a pesquisa social do •meio desaparece (que nitroglicerinizada), Clouzot vai destruindo lentamente todo o grupo de homens que haviam tentado rebelar-se contra o domínio do truste e a miséria por ele imposta. Aos poucos, os quatro «desesperados», que encarnavam de certa maneira - e sempre segundo um espírito romântico nada dialético — o incon- íormismo, a luta contra o despotismo econômico colonizador, são eliminados impie- dosamente, porque uma das constantes da filosofia da existência é a impossibilidade luta, a mutihdade dos esforços o homem 2 que faz para tornar-se livre, o niilismo QUe nT qUahJdade aos atos heróic°s d™

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j.» Opositor: «Poderia citar outro autor para dizer que o que nega a existência é a escra- vidão econômica. Assim Lefelvre, depois de explicar que, diante do capitalismo e da moral burguesa, os produtos do esforço humano se transformam em abstrações que o escravizam, como, por exemplo, o próprio capital», Fábio Lucas Expositor: «Clouzot não expôs o conflito social. Conflito que, em si mesmo é de uma realidade terrível, de uma inegável autenticidade, de uma presença que está aí a poucos palmos de nossa cara — a aludida escravidão econômica, traduzida, no nosso caso, num colonialismo rombudo e agressivo. Na escolha desse conflito é que estão aquelas características positivas de «O Salário do Medo». Mas, e daí? Clouzot começa falhando na criação de seu país sul-americano, que não existe a não ser em sua imaginação, e onde se agitam personagens sumários psicologicamente ataba- Ihoados». Cyro Siqueira \{) Opositor: «A localização geográfica não desvirtua a tese. A ação do truste é nociva, seja na Venezuela ou na América Central, seja no Oriente Próximo ou no Tirol; e até mesmo em Santa Rita do Ibitipoca». Fábio Lucas Expositor: «Bela Balazs, o grande teórico húngaro, chama a atenção, num trabalho a res- peito da ideologia no cinema, para a necessidade incontornável que os filmes de luta têm de justificar sua enunciação apoiados numa realidade geográfica exata, insofis- mável. Localizar conflitos sociais verdadeiros em ambientes falsos ou duvidosos — acrescenta — representa apenas uma nova forma de escapismo e conformismo, como acontece nos filmes americanos que mostram os cavaleiros da Távola Redonda lutando pela liberdade e a favor dos pobres, séculos e séculos atrás». Cyro Siqueira 29 Opositor: drama em si mesmo: «Mas, está gritante e absorvente, a causa fundamental do independência econômica^ o salário que promete ao homem miserável uma vindoura lhe é 0 dilema: arriscar a vida em cada minuto, ou vivê-la com a dignidade que ou a vitória. própria. A sordidez da miséria ou a morte ignorada na explosão total, humildade e E a grandeza do filme está exatamente nesta mescla entre grandeza do homem, dignidade e vilipendio». Fritz Teixeira de Salles Expositor: social» é êle «Nestes instantes em que Clouzot se entrega ao «conflito quando insinuar ao escorrega também na demagogia - pois demagogia é pretender povo do lugarejo sul- que o domínio econômico se traduz naquela miséria sem recursos o conforto físico para americano. O domínio econômico traz antes de tudo a pompa, elevado «O Salário os dominadores e agregados, um padrão de vida aparentemente domínio econômico é como um vilão a antiga: do Medo» procura dar a entender que o

97 tudo nele denuncia miséria, prepotência e burrice. £ o perigo de se ensinar isso ao povo, percebem? E se o povo passar a identificar o domínio econômico comente quando verificar nele o aparecimento desses sinais da «realidade» clouzotiana, não acham que será uma imensa maldade? Para terminar, gostaria de citar um trecho do ensaio publicado por Glauco Viazzi na revista «L'Eco dei Cinema», número 68, a propósito de Clouzot e o «Salário do Mêdo», quando o crítico diz que a primeira parte do filme é um eloqüente atestado do desequilíbrio do diretor, construída que foi sobre plano «dalla demagogia deli antiborghesismo tenuto unicamente sul piano dei costume e delPideologismo verbale»». Cyro Siqueira CONCLUSÃO Paulo Arbex: «0 Salário do Mêdo» é obra de méritos inegáveis e faz jús aos elogios da crítica e do público». J. M. Gomes Leite: «Amargo, pessimista, «O Salário do Mêdo» apresenta com inusitado vigor um dos temas que mais tem tocado os grandes cineastas modernos; na sua enorme sin- ceridade é um excelente filme, muito bem interpretado por Charles Vanel, Peter Van Eyck, Yves Montand e Folco Lulli». Fritz, Teixeira de Salles: «Tudo em «O Salário do Mêdo» é sério, profundo e violento. Tudo sugere a meditação. Tudo foi criado por um dos mais perfeitos e completos artistas da tela de todos os tempos, Georges Clouzot. Este, temos certeza — é um filme que ficará, que vencerá o tempo». Afonso de Souza: ««Salário do Mêdo» não deve ser visto por pessoas de nervos fracos. Os fortes sairão da sala de exibição com vontade de vomitar». Fábio Lucas: «O filme demonstra apenas que o truste é um mal. Se fosse demagógico ou «dirigido» faria um comício, sublevaria as massas e derrotaria o truste, inaugurando uma vida bela, com trigais em flor a servir de «back-ground», e um beijo a funcionar com «happy-end». O mal estaria derrotado como na história do artista que vence o bandido. Negar filme que o é anti-conformista porque não fêz isso é parnasianismo». Cyro Siqueira: «Filme evidentemente muito bem feito e de um sólido amarramento dramático mas nao chega que a ser a obra prima proclamada tantos, num en- i»S*' tusiasmo por justificável provocado pela película que surgiu no centro francês». da enorme crise do cinema * O Centro de Estudos Ci- biu os filmes Noite Nup- nematográficos de Minas ciai, de King Vidor e Pa- Gerais e a «Revista de Ci- PELOS raíso Perdido, de Abel Gan- nema» acham-se empenha- ce. dos na tarefa de organizar C I N I o futuro Congresso Nacio- Clubes, con- * nal dos Cine Extraímos do excelente clave que permitirá o con- boletim do dos cine clubes programa das graçamento 519 e 529 sessões do Cine brasileiros e a discussão Newton Silva Clube «IMAGEM», de Por- dos problemas comuns a tügal, o seguinte trecho: todos os cine clubes nacio- nais. Eintre outros objeti- «A divulgação da cultura vos, o Congresso possibili- cinematográfica através tornácional dos tara a elaboração dos es- de Cine Clubes) cine clubes nasceu na Fran- tatutos do cinema não-co- ça e teve em Louis Delluc criação da Fede- «F/ considerada como ci- mercia1, a ne clube o seu fundador, ao criar Nacional dos Cine toda a associação ração da fins não lucrativos, em Janeiro de 1920 um a exemplo do ten- Clubes, que do objeto a jornal intitulado «Cine- feito recentemente na por principal foi de filmes em ses- Club». Poucos meses de- e na França. projeção Argentina s5es Os cine clu- pois, em Junho do mesmo privadas. ano, realizou-se a levar bss contribuem por todos os primeira Espera o CEC a sessão de cine clube no Pé- bom termo os entendimen- meios para o desenvolvi- mento da cultura, dos es- piniére-Cinéma com duas tos que se estão processan- conferências. tudos históricos, da técnica Uma de Emi- do junto ao Ministério da le Cohl, o e da arte cinematográficas: inventor do de- Educação e Cultura e à senho animado, o desenvolvimento dos sobre «Os Assembléia Legislativa de para desenhos animados e os fil- Minas Gerais; a data da intercâmbios culturais cine- entre os mes de truque» e outra do realização do futuro Con- matográficos po- realizador André vos o encorajamento do Antoine gresso está merecendo < es- e subordinada ao tema «Ci- filme experimental». pecial relevância por parte nema de ontem, de hoje e da comissão organizadora, de amanhã». Rapidamente a fim de que permita o o cine clubismo se espalhou * Ci- comparecimento do maior O Centro de Estudos por todo o mundo e mais número possível de delega- nematográficos de Minas intensamente depois da úl- dos e membros colaborado- Gerais exibirá durante os tima guerra, criando-se Fe- res, em época útil. meses de outubro e novem- derações Nacionais e Inter- bro, 6 filmes franceses, nacionais, Cinematecas, cen- Assim, a comissão orga- inéditos em Belo Horizonte tros de estudos cinemato- nizadora sugere os meses e que são: gráficos, revistas especiali- de janeiro ou julho de zadas, etc. 1956, permitindo o compa- A Dama e o Morto, do recimento dos universitá- Louis Daquin, Rápido da rios e secundaristas. Noite, de Mareei Blistene, Passados 30 anos sobre O Assassino Já Chegou, de a criação do primeiro cine- Estão convidados todos Leon Mathot, Noites Peri- clube em França, os ami- os cine clubes a se mani- gosas, de Leon Mathot, A gos do cinema português festar quanto à data a ser Dama das Onze Horas, de despertaram para o cine- escolhida; aquela que obti- Jean Devaivre e Oito Ho- clubismo e hoje em Portu- ver maior número de ade- mens Num Castelo, de Ri- gal, do Minho ao Algarve, soes será automaticamente chard Pottier. Nas sessões desenvolve-se um grande a designada. As sugestões, de l9 e 8 de outubro, o CEC movimento em prol da sé- bem como as teses e cola- exibiu Les Mains Sales, ba- tima arte. (...) E como clubes borações poderão desde já seado em peça de Jean só através dos cine ser enviadas à Comissão Paul Sartre, Patrulha Per- se poderá formar um escol Organizadora do Congresso dida, de John Ford e In- de espectadores conscientes Nacional dos Cine Clubes, fâmia, de William Wyler. das suas idéias, prevenidos Caixa Postal 1253, Belo Ho- contra os adulteradores du- rizonte. ma verdadeira arte que é o * Comemorando seu 49 cinema e capazes de com- a as obras de Definição de Cine Clube aniversário, transcorrido preenderem exi- e como o cinema (segundo a Federação In- 15 de setembro o CEC qualidade; — 29 se deve aprender, porque é qualquer estímulo intelec- tendo exibido «Bim, o bur- um formidável meio de ex- tual e manifestam impüdi- rinho». cultural e uma au- camente a sua pressão preferência Foi têntica fonte de conheci- por espetáculos que não os fundado no Rio de mentos; e ainda porque de- obriguem a forçar as le- Janeiro mais um cine-clu- sejam os cine-clubes fazer tárgicas meninges. (...) be, o «NOVOS RUMOS» mais e melhor lembrou o elevando-se assim para 5 o Cine-Clube do Porto em boa O Cine Clube de Araca- número de cine-clubes em hora que vantajoso seria ju está exibindo os filmes funcionamento na Capital um ENCONTRO entre os programados através da da República. dirigentes dos cine-clubes. «Campanha de Divulgação O da Arte Cinematográfica», Centro de Estudos (...) Cinematográficos de Minas (H. Espírito Santo, m da Filmoteca do Museu de Actualidades)» Arte Moderna de São Pau- Gerais exibirá pròximamen- íe varies filmes ló, à qual aderiu; já foram pertencen- * tes à filmoteca da Embai- A cidade de Coimbra, recebidos para exibição os em Portugal serviu de ce- filmes «Zero de Conduta», xada Francesa, como Pa- nário ao V ENCONTRO «Sangue de Poeta», «O Ho- eific 231, Gaugin, Van dos dirigentes dos cine-clu- mem Mosca», «Canção do Gogh, Cézanne, A vida dramática de Maurice Utril- hes portugueses. À propó- Ceilão» e «Max e a Quin- sito, transcrevemos aqui o quina». O nosso represen- Io. O Hipocampo, etc. artigo de Armindo Bianco, tante em Aracaju, José Li- À no «Século Ilustrado» sôbre ma de Azevedo, acaba de lista de endereços de cine-clubes brasileiros, di- o referido conclave: ser designado também, pe- Ia Filmoteca do Museu vulgada no número anterior «O ENCONTRO consti- de Arte Moderna, como repre- de «REVISTA DE CINE- tuiu, para além dos seus MA», acrescentamos o do aspectos de necessária sentante da mesma para os jor- Estados Cine Clube Universitário, nada de confraternização, de Sergipe, Ala- Pernambuco, da Faculdade de Filosofia algo assim como um goas, Paraíba, que Ceará, Piauí e Maranhão. da Universidade do Rio pretexto para aferir forças Grande do Sul, em Porto e examinar o longo e di- Recebemos do Cine Alegre. fícil Clu- caminho já percorrido. be de Rio Maior, em Por- O «REVISTA que se fêz até agora tem tugal, os boletins referen- DE CINE- a sua importância, á sua tes às exibições MA» recebeu um amável valia. de «Mac- Corria-se, entretanto, beth», «As Minhas Duas ofício de Braga, Portugal, o risco grave de chegar a Mulheres», comunicando a constituição, um com Buster ponto morto, talvez Kéáton «A naquela cidade, do Clube de mesmo e Respeitosa», a um beco sem saí- baseada em Sartre. Cinema de Braga. Foram da. A apatia cultural em seus fundadores e dirigem que se vive, propicia certo Na Argentina, ainda seus destinos os srs, ambiente foi cons- de hostilidade à tituída Federação drs. José Augusto Ferreira idéia cine-clubista. a Argen- (...) tina dos Cine Clubes, Salgado e Álvaro Forte, Jo- Muita gente não se aperce- (F.A.CC), que (por nosso sé Moreira (que assina a beu ainda de que o cine- intermédio) comunicação), Roby Amo- clube se destina solicita o inter- a criar es- câmbio dos cine rim, Antônio Salgado Ze- pectadcres esclarecidos clubes bra- e sileiros com a novel nha Leite e Luiz Dias da que o baixo coeficiente entida- ar- de, enviando material Costa. Em apartado, envia- tístico do cinema de infor- quase mativo, como boletins, fo- nos também exemplares dos todas as latitudes se deve, Canto lhetos, fichas técnicas, etc. programas-plaquetes edita- à leviandade ou so- O endereço dos Clube de Cinema freguidão material da F.A.C.C. é pelo dos pro- o seguinte: José de Braga. Magnificamente dütores, às erradas exigên- Maria Mo- reno, 507 — Buenos Aires, apresentados, esses progra- cias de um público que ha- bitualmente República Argentina. mas são dedicados, respec- se contenta tivamente, ao ciclo do cine- com o medíocre e o corri- O Clube de Cinema de ma americano (sessões pa- queiro. (...) As salas es- Fortaleza exibiu durante curas transformaram-se o ra o estudo da obra de Or- em mês de setembro os filmes sen um longo refúgios de Welles), com preguiçosos «O Inventor da Mocidade», trabalho de Domingos Mas- mentais, povoadas como «A Montanha dos Sete são Abu- earenhas sôbre Welles e o por indivíduos que, na tres» e «Edouard et Caro- sua maioria, anúncio da exibição de «A parecem de- line». O CCF já criou c Dama de Xangai», «Otelo», sinteressados de todo e seu departamento infantil, «Macbeth». Outro progra- 30 ma é dedicado ao ciclo do do da obra de Vittorio De para que continue sempre cinema francês (sessões pa* Sica), com notas de José com o mesmo ímpeto ini- ra o estudo da obra de Re* Moreira e a exibição de na- ciai. (Endereço: Av. Ma- né Clair), com uma cole- da menos do que «Ladrões rechal Gomes da Costa, tânea realizada por Luís de Bicicletas», «Milagre em 265, V — Ev — Braga — Neves Real e a exibição de Milão», «Umberto D» e Portugal). «Le Silence est d'Or» e «La «Stazione Termine». Beauté du Diable». Final- Toda a correspondência mente, a terceira plaquete Ao Clube de Cinema de para esta secção deverá ser é consagrada ao cinema ita- Braga os melhores votos da dirigida à Caixa Postal üano (sessões para o estu- «REVISTA DE CINEMA» 2186 — Belo Horizonte,

LAVANDERIA EUREKA CAMISAS a mais As camisas se gastam após longo uso. Nem mesmo com cuidadosa lavagem poderemos salva-las. Nós a faremos durar mais... porém não poderemos lhe dar vida eterna... Portanto, antes de nos enviar as suas camisas na próxima vez delas "já viram me- examine-as quanto ao uso e veja se algumas lhores dias". Então compreenderá que algum dano que porventura tanto em casa fora. vier a encontrar poderia acontecer também quanto o nosso tratamento às suas ca- Mas, para maior uso que o habitual misas é sem rival. indepen- E as camisas são acabadas visando melhor aparência nossos dente da "SUO idade". Estamos as suas ordens nos postos de recepção e entrega. PRETO: CENTRO:BARRO Santo. 993Rua,rP?rS0,a1oo Rua Espírito <^llso Tel S-llSOrel- FUNCIONÁRIOS:BARROCA:TÊWKESVL: Av. Contorno 1.22So 8 9 Rua Alagoas, 1.050 -Esq. Rua Juiz de Fora, 1232 " 4-4854 C. Colombo - Tel. 4 5845 Esq. li ImaZHK. Tel. 2-2591Tel.

31 Cinema em Revista

MAURÍCIO GOMES LEITE

* * «Cahiers du Ciné- o belo papel». E Chabrol nos religiosos na narrativa, ma», revista também fran- procura «chaves» e símbo- o tom poético ao qual esta cesa, recebeu com grande los para o filme, vendo em obedece) devidas unicamen- estardalhaço o já falado Mankiewicz um habilíssimo te ao já falecido ex-crítico «A Condessa Descalça» observador, um crítico sar- do «Time». Henry Hart, na (The Barefoot Countess), castiço — às vezes «cheio sua apreciação de «The de Joseph L. Mankiewicz. de cólera e ódio». Night and the Hunter», nc- Além de um «Bilhete Cri- Na mesma revista, e en- ta a presença de três te- tico» de Jacques Audiberti, tre os depoimentos dos cir- mas no entrecho retirado nada menos que quatro fa- cunspectos críticos france- I da novela de Dávis Grubb, mosas personalidades de ses, três ou quatro fotogra- um dos quais é a inocên- «Cahiers» dão seus depoi- fias de Ava Gardner. Com cia e durabilidade da infân- mentos sobre «A Condes- legendas. cia. E salienta a perfeição sa»: Jacques Doniol-Val- fotográfica com que muitas croze, François, Truff aut, * * * cenas são descritas, fazen- Philippe Demonsablon E em «Films in e Review», do surgir «sets» expressic- Claude Chabrol, editada pelo Na- que exa- tional Bcard nistas e fazendo com que minam o estudo faz of Review of que do Motion Pictures, exteriores e interiores de- meio cinematográfico o di- a crítica do último filme cenarizado nunciem, respectivamente, retor Mankiewicz, depois preocupações sociológicas e de se sair excelentemente por James («Uma Aventu- ra na África») Agee, «The psicológicas. A fita con- bem daquela descrição do tém, ainda, uma inovação: ambiente Night of the Hunter», que teatral em «A ela é iniciada por um pre- Malvada» About Eve). traz, ainda, Charles Laugh- (Ali ton no seu «debut» como fácio que reúne várias to- Demonsablon acha que a diretor. A película parece madas de seqüências futu- crítica a Hollywood é per- ras, constituindo um «trail- feita, confirmada, de res- ser de ponta a ponta deter- minada por Agee, pois ela ler» situado antes do de- to, pelo livro «The Produ- senvolvimento normal da cei», de Richard Brooks, apresenta certas partícula- ridades inclusão de hi- ação. com o qual, ao que tudo (a parece, sè relaciona em ai- y guns pontos. Doniol-Val- Novos Filmes _ * * * Lançado na croze, França há uns num dia de transbor- poucos meses, «L'Oro di Napoli», o último dante lirismo, filme diri- após classi- gido por Vittorio de Sica, vem recebendo ficar Mankiewicz grandes como o elogios da crítica daquele especialmente autor de uma país, da re- das obras vista «Tele-Cine», que lhe dedica, no de filmes) seu número 50 (conjunto mais (Julho-Agôsto de 1955), uma análise em tipo de ficha, fascinantes do cinema ame- como e do seu costume. ricano, A versão integral de «L'Oro elege Maria Vargas, di Napoli» contém seis a episódios, dois dos quais não principal personagem da foram exibidos em Paris, reduzindo-se fita, como a a fita, graças heroína cine- a atitude dos distribuidores franceses, matográfica mais comple- a quatro apenas, sob os títulos de «O Fanfarrão», «Teresa», «Os Joga- xa, mais rica e mais estra- dores» e «Pizza nha a Crédito». TÔdas as histórias foram já surgida na tela. extraídas de um romance «Ela multiplica Pandora de Giuseppe Marotta, não possuindo, no entanto, nenhuma ligação entre si, a por Paola e Paola por Gil- nao ser uma unidade da, e Ava de tom e espírito e o mesmo local Gardner lhe em- onde transcorrem, Nápoles. presta uma beleza sem Quase todos os seus per- ri- sonagens sao gente comum, a começar vai e os mais belos da pelo parasita pés do primeiro «sketch», que explora uma modesta família terra». Truff aut descobre napolitana. Os outros, a prostituta de «Teresa» e o auto-biograf ias: Humphrey casa vende Bogart, que pizza num pequeno botequim, são que vive um dire- igualmente retirados tor cinematográfico, da vida cotidiana, e só o velho é Man- conde (interpretado kiewicz, «e não vamos re- pelo próprio de Sica) de «Os Jo- gadores» (onde joga cartas com um dez preendê-lo por atribuir a si anos) garoto de toge um pouco das características dos demais relatos. Na fita se alternam drama e comédia: Cn-en- nema e a Censura", que nos os dois últimos trechos são cômicos, EE. UU. estava ne iniciando quanto o segundo a reação "contra o problema de consciência de uma decaída as < orreias narra que extra-oficiais e oficiosas que se casa com um jovem ricaço e vem a saber que seu procuram ditar as normas de marido sé a desposara por um remorso antigo que o como fazer", por meio de um Gilbert; Salachas, em «Tele-Cine», movimento formal (com a rea- mortificava. discu- lização de fitas como "0éu dando de causa a de Sica, o fato Amarelo", "Rio te, ganho do mesmo "Ninguém Vermelho", abandonado, temporariamente com «L'Oro di Crê em Mim", CCA ter Na- Rua a escola neo-realista. Salachas não Sem Nome"-, audaciosas no poli», pensa que terreno sexual, e "A Luz é se deve criticar um cineasta só porque êle se afasta Para Todos", (iRancor", "Fron- norma, feiras Perdidas", "Clamor desta ou daquela ressaltando que a riqueza de "O Ru- criador se manifesta liberdade mano" e Que a Carne Her- um justamente pela de da", no campo do anti-racis- estilo e pela. variedade de gêneros que aborda. Estra- mo), c por meio de um mo- nha, por isso. a frieza demonstrada pelo júri de Cánnés vimento organizado, iniciado maneira de receber o filme. Logo após, o crítico por Samuel Goldwin e Tennes- na see Williams, nó sentido de francês define os temas essenciais de «L'Oro di Na- modificar, o chamado Código quais «gravitam em torno, da vida e da mor-' de Produção (Br cen Office). poli»,,;os Hoje, te; a morte está presente em todos os episódios e cinco anos após a pu- bliCação do citado artigo, po- principalmente naquele onde ela não figura efetiva- demos notar que a reação for- mente, «Os Jogadores», onde é feito o contraste entre mal continua, 7nagnificàmenté representada aristocracia decadente con- "A por cousas como a velha (representada pelo Montanha dos Sete Abu- de) e a Temàticamente, a fita de de Sica três", "O juventude». "Justiça Mundo não Perdoa", é ainda comparada a uma realização de Bunuel, «La Injusta", etc, e que Cielo», onde estava a mesma mis- o Código de Produção vem Sabida ai presente sendo, dia a dia, relegado a tura de «realidades trágicas e fatos exuberantes, tra- um plano de Ínfima importãn- duzidos em estilo lírico». cia na censura ianque. A ien- dência geral nos dias que cor- No que diz respeito à realização, Salachas vê na rem é, portanto, a eliminação «mise-en-scène» do realizador de «Milagre em Milão» dos perniciosos "Offices", bem como da notória uma de inovações estéticas, muito bem defini- "Legião e histérica procura da Decência" (católi- Vis pela utilização de imagens simétricas e equilibra- ca, como não poderia deixar das durante a maioria dos «sketches». • «Em «Os Jo- de ser), a qual, funcionando encontramos um verdadeiro festival de cam- de comum acôrd.o com o gador&s»'contra-csmposj "Breen" o o "Johnston Office" e e em. «Teresa» três personagens (segundo Villegas Lopez, no pos "Cinema", (Teresa, o marido e uma outra pessoa) dialogam si- seu livro o Código — observa o crítico, notando uma se- Johnston é controlado pelo mèíricnmente» jesuíta FakJier Lord, represen- mclhanç-2, flagrante como estilo de Wyler. Já em tando as ligas católicas do outras ocasiões, pode ser constatada a presença visível país), procura cortar toda e dúvida como qualquer manifestação mais de muitos planos isolados, sem propositais, audaciosa de Hollywood. E3 110 caso r!a cena final de «Os Jogadores», que termina com satisfação que recebemos com a fecalização de um elevador e que Salachas as últimas notícias vindas dá um «expressionismo gran- capital do cinema, que dizem qualifica como sendo de estar a censura cedendo t< ? - diÒSO»; reno dia a dia: porém, e in- Sua análise, bastante detalhada, é encerrada com felizmente, ao mesmo tempo di Napoli» é um grande que isso acontece, a nossa cen- a observação de que «L'Oro sura, a desorganizada c-nsvra, filme porque possui «qualidade estética incontestável, brasileira que nem princípios ressonâncias líricas, sutilezas neo-realistas, reabilita- possui, dá exemplos, nesses meditação metafísica». últimos dias, de incríveis ati- ção do excepcional e convite à tudes retrógadas, agindo como um paredão moralista que se opõe a quaisquer ofensas às — LUTE RO, "BLACKBOARD iegidos organizações %n~ nossas tradições maioicaveis, por eles JUNGLE" E A CENSURA — 'terditarfluentes, com o jogo de %n- segundo querem fazer filmes: brincam e só crer. Não é novo, e nem terminará conseguem com isso prejudi- arte como o cinema, Não passaremos aos exem- tão cedo., o problema da cen- car uma recente e sura o já tão prejudicado com pios começando pelo cinematográfica. Falar qual, revoltante caso de "Rio, 40 sobre êle atualmente é a sua crescente industrializa- quase lutar também Graus", film.e nacional conde- lugar-comum, mas a presente ção, tem que conter nota com comissões de moralidade e nado pela polícia por é plenamente Justificável imagens demais fortes da em vistu aconte- outros organismos hipócritas por dos últimos êle, cine- população do Rio de Janeiro, cimentos relacionados com a que impecíem que nem exemplo de cen- ma, se iguale às demais ar- já que proibição de alguns filmes, sura injusta êle ê: 6 burrice, com com tes, no que se refere à liber- cortes em outros e Lembro- como bem sugeriu Paulo Men- a atitude de uns — ou dade de expressão. "Diário poucos em 1950 o meu ami- des Campos no Cario- muitos? —- puritanos totalitá- me de que Assim sendo, podemos rios Cyro Siqueira escrevia, ca". "Martin disfarçados em censores. go "0 Ci- falar de Luther", pro- Brincam esses senhores, pro- num artigo chamado 33 dução americana de Irving religioso ou arreligioso. E se está sofrendo cerrada campa Pichei e Louis de Rochemont, o filme é fanático por ser nha por parte dos críticos fie impedida de vir ao Brasil anti-católico, me deseul- cinema esclarecidos. "por que Porém torcer a História e ser pem os incansáveis e sempre acontece que a Censura fincou ofensiva à Igreja Católica"; se- ativos batalhadores da Ação pé, não atendendo a nenh^-ni Católica, gundo o parecer dos ilustres e também os peque- dos apelos formulados peja senhores que o proibiram. Co- nos polícias sem farda dos maioria dos jornais brásilei- mo se a liberdade de expres- Centros Católicos de Cinema: ros. Assim, "Martin pelo que parece são e d€ culto não existisse a recíproca seria também ver- Luther" — filme pro- essas bandas, "Lutero" dadeira, e onde vocês por foi "A iriam testante, segundo a opinião do interditado a partir de um colocar Virgem de Fátima", Chefe de Censura, sr. Lafaiette conceito de moralidade, exibido ali mesmo — falso "A no Cine Stockler só poderá ser exi- totalmente incoerente com os Brasil, ou Canção de Ber- bido, no Brasil, em paróquias atos anteriores da censura nadette", exibido e reprisado de idêntica religião, O que é brasileira. Tal injustiça fêz em vários cinemas da capitalt um absurdo a ser Combatido com que a maioria dos nossos Para a Censura Oficial, tais veementemente pela crítica de críticos reclamasse veemente- argumentos são também vali- cinema do Brasil - - absurdo (Lu- mente contra a medida, apon- dos, pois ela interditou cuja extensão procurei sugeirr tando na mesma, como era ter o" baseando-se em /.• rmos nas linhas acima, as quais são. lógico, um facciosismo religio- idênticos aos enunciados peio também,, um protesto contra a so que indiscutivelmente a órgão católico em sua hota, interdição da película de Pi- determinou, e provando (como e por isso mesmo, pslà fra- chel e Rochemont. o fêz Décio Vieira Otoni, que queza de suas justificativas, no "Diário Carioca" vem se distinguindo como um grande batalhador contrário aos mé- Mas antes que eu seja acusado todos empregados pela censu- de parcial, por ra) que, segundo o Regula- detender apenas um filme impedido de circular livre- mento da Censura, aprovado mente, quando há muitos outros em idênticas condi- no tempo do governo Linha- çoes, vejamos os fatos res (Capítulo II — Dos Di- que se sucederam, nos últimos reitos e das Garantias Indivi- meses, ainda no campo da censura cinematográfica dMais — artigo 141, como atividade "por parágrafo proibitiva. No Festival de Veneza a 8<>), motivo de convicção sra. religiosa, Clare Boeth Luce, Embaixador dos EE. UU. na filosófica ou políti- Itaha, ca, ninguém será privado de julgou «Blackboard Jungle» (no Brasil, «Se- nenhum dos seus direitos". As mentes de Violência») um atentado à críticas dos sua pátria, e jornalistas afeta- solicitou a retirada dã película do citado Festival ram a Ação Católica, que, dias «Blackboard após o início da campanha con- Jungle» foi dirigido na Metro por Ri- tra a proibição, enviou aos charcl Brooks (o autor de «The Producer», livro jornais uma nota explicativa. onde explica o que é a censura cinematográfica americana c_e Nos três primeiros itens, a modo definitivo), e se baseia no livro de Evan nota esclarece que a Ação Ca- Hunter que trata do problema da delinqüência tólica não influiu na decisão narrando juvenil, da uma história ocorrida na «North Manual Censura Oficial, por nem Trades ler assistido ao filme, apesar High School» com um professor britânico que de poder fazê-lo. No 4«.> item, Ia pretende lecionar. O professor Ford) é sur- uma beleza como síntese de (Glenn propósitos, ela declara: "Em- preendido por uma verdadeira «gang» de rapazes que bora sem atuação no opera na Escola, «gang» tenta "Martin ocorrido que raptar uma pro- com o filme Luther". fessora e procura intimidar o novo mestre, atacando-o a Ação Católica não esconde inclusive sua desaprovação com canivetes à mão. O ambiente é de tai ao mesmo, torma baseada no que informaram carregado que Louis Calhem, um professor ve- outros Centros Católicos d<> Ci- terano, recomenda a Ford: «Não seja um herói, e nun- nema. Falta ao filme iôd.ri e ca objetividade de as costas para a classe», opinião renovada qualquer his'óri- um dos poi ca; nem chega a ser uma pe- alunos, que diz em dado momento: «Você já lícula protestante; seu cará- tentou lutar com 35 rapazes ao mesmo tempo, pro- ter formalmente anti-católico tessor?». Nesses o torna apenas um simples termos é desenvolvida a película, cujo negócio de fanáticos, como diretor, Richard Brooks, parece voltar à consciência definido". iX foi Como' se vê, a social de «Terra em Fogo» e «A Hora da Vingança» justificativa é absurda, mas (como diretor) e de foi nesses termos em que se «Dilema de uma Consciência» baseou também a Censura Ofi- (como cenarista), após um período de estagnação. 0 ciai. Mas, afinal, vigor onde fica- com que êle tratou semelhante tema deve ter mos? Se falta ao filme obje- sido tividade histórica, muito grande, para que as interessadas tal ausência na pessoas não pode ser maior que as preservação da América do Norte como modelo americanices de "O Manto de civilização "Demetrius Sa- começassem — como mrs. Luce — a grado", o Gladia- movimentar-se dor" e outras no sentido de impedir o filme de- bobagens épicas nunciar de comumente produzidas pelos os defeitos existentes no ensino ianque. estúdios do Quan- de Hollywood. Se não soube que «Blackboard Jungle» fora retirado do é uma película protestante, ninguém de Veneza, Dore Schary, chefe de tem nada com isso: dafestival produção o que todo mundo de bom Metro e responsável por cousas como «Rancor» e «Conspiração senso exige é a exibição de do Silêncio», declarou, segundo telegra- um filme, seja religioso, ãnii- ma da AFP: «E' revoltante! Eu pergunto se a sra.

o impedirá «Time» e «Life», Luce revistas de seu ma- presentada, nos de serem distribuídas no estrangeiro primeiros rido, porque pu- anos, pelo Dmytryck de blicam cousas que não são favoráveis aos EE. UU.». «Rancor», pelo Kazan de Schary^ parece ter Assim, perdido aquela convicção de «Boomerang» (O Justicei- cinco anos atrás, quando, ao ser o Código de Produção ro) e de «Gentlemen's cineastas atacado pelos progressistas de Hollywood, Agreement» Luz é Pa- cs do mesmo, (A defendeu princípios dizendo que apesar ra Todos), pelo Dassin de tudo o Código a realização de permitia de ótimas pe- «Brutalidade» e pelo Zin- lículas. Sobre a qualidade artística de «Blackboard hemann de «A Sétima Jungle» (que, no momento em que esta revista estiver Cruz». Mas o fato mais circulando, já deverá ter sido exibido no Rio), valho- importante da nova linha me, para defini-la bem, dos críticos William Everson, adotada pelos cineastas and Filming» de «Films (revista que chamou o filme ianques foi, prossegue Si- de «Sensation of the Summer») e do cronista anônimo billa, a redescoberta do ho- do «Time». Everson diz: «No conjunto, «Blackboard mem e de sua dignidade Jungle» é um filme superior a «O Selvagem»; é au- fundamental. A seguir, o dacioso e honesto, e possui um brilho que qualquer autor se perde em algumas jornal diário de Nova Iorque poderá confirmar. Ape- linhas buscando qualificar nas no seu «climax», que apresenta antes de tudo uma os «temas» então surgidos, solução fácil, é que êle destoa do restante». Do crítico adaptando-os a uma «tra- do «Time»: «O filme possui consciência social, uma dição americana» que nun- cólera honesta e uma breve mas vital benevolência». ca é bem definida — e que Ao lado desses acontecimentos, que envolveram melhor se acha examinada «Martin Luther» e «Blackboard Jungle», houve, tam- nos artigos de Guido Ge- bém, nos últimos dias, uma volta, por parte da crítica, rosa traduzidos para a RE- a casos de censura antigos, como o de «No Orchids VISTA DE CINEMA, nos for miss Blandish» — «um filme que tem assassinatos quais a literatura da «Ge- em excesso» — ou o da interdição de «O Selvagem» ração Perdida» é apontada para a Inglaterra (caso abordado no número de verão como a base das realiza- de «Sight and Sound», secção «In the Picture»). E ções atuais de Hollywood. os leitores poderão encontrar em «Anhembí» de Se- Gêneros são especificados, tembro o protesto de Trigueirinho Neto aos cortes especialmente aqueles refe- sofridos, na Itália, por «Senso», de Visconti, protesto rentes ao filme de guerra, expresso por uma «Carta Aberta a Luchino Visconti», ao «western», ao policial ou escrita por Cavalcanti, e pela publicação do cenário semi-documentário («o va- integral da referida película. lor dos filmes de gangster Parece que tudo isso foi o que aconteceu nesta do período, do ponto de metade de segundo semestre de 1955 com relação à vista crítico, é insignifican- censura cinematográfica. O que nos coloca seriamente te»), à comédia, ao filme desconfiados do destino do cinema. musical, e analisados de maneira um tanto ligeira, passando-se, logo depois, à Publicações — .y$;:P. Por to no panorama geral do segunda parte do estudo, absoluta falta de espaço, cinema americano, salien- dedicada aos quatro direto- não pudemos falar, no nú- tando que só se ocupará res julgados como os mais mero anterior desta revis- das tendências renovadoras importantes do após-guer- ta, do artigo de Giuseppe surgidas nesse período. Na ra: John Huston, Billy Sibilla «América do após- guerra tudo estava estag- Wilder, Fred Zinnemann e guerra: as Novas Vozes», nado, diz o autor, estabe- Elia Kazan. Sobre Huston, publicado no primeiro nú- lecendo um confronto en- pouco interesse oferecem as mero de 1955 (Janeiro- tre a etapa de crise dos quatro páginas escritas Março) da «Rivista dei Ci- cinco anos anteriores («on- acerca de seu estilo e de nema Italiano». O artigo de Clark Gable encontrava seus filmes: parece-me que procura observar a geração refúgio nas Ilhas dos Ma- Sibilla nada acrescenta ao de diretores ianques surgi- res do Sul, e onde o cine- que já conhecemos do dire- dos (ou revelados) no após- ma escapista e o «boy- tor de «Relíquia Macabra», limita-se a considera- guerra, sendo para isso di- meets-girl» entoaram o seu pois vidido em três fà- hino, constituindo uma cri- lo dotado de um sentimen- partes diferente, cilmente identificáveis pe- se nascente por volta da to fatalista, po- na rém, do de lo leitor. Na primeira, Si- entrada dos EE. UU. pessimismo billa tenta situar os dez deflagração») . Vencido o Wilder, graças à «piedade» re- tem dos seus anos posteriores ao confli- Eixo, houve a reação, que persona- 35 gens. Após considerar «O Boulevard», mas sim para mem contra o tempo» — Segredo das Jóias» como a prosseguir com o estudo da «um filme de ritmo mono obra-prima de Huston, natureza do homem») é a tono, per- prolixo, pleno de IaCt"! mesma de valem gunta até quando êle fica- que se ai- cunas», gostando mais dP» rá de férias, após sua fase guns críticos para conde- «O Justiceiro», no terreno hollywoodiana — trecho já nar sua obra, fazendo re&- dos filmes mais cinemato- reproduzido num dos nú- trições ao aspecto negati- gráficos do cineasta consi- — meros anteriores deste men- vista que ela apresenta derado. Abandonando a sário. Já Billy Wilder pro- ponto que, segundo minha, pesquisa, que sem dúvida pòrciona um estudo mais opinião, é muito mais com- seria mais proveitosa, das sério, fundamentado princi- plexo do que parece, me- tendências sociais de Ka~ palmente na sua formação recendo, para ser conve- zan, o autor se deixa levar expressionista e na adapta- nientemente estudado, um pelo lado formal (cinema ção que êle faz para o ei- conhecimento das razões versus teatro, quase sem- nema da substância literá- (literárias, muitas delas) pre) que êste denuncia em ria americana no lapso de que levaram o diretor ger- seus trabalhos, notadamen- tempo colocado entro as mânico a criar o seu estilo. te em «A Luz é Para To- duas guerras. «Wilder Intolerante, pois, quanto a dos» e «Uma Rua Chamada afundou as mãos na visão Wilder, Sibilla continua Pecado». desencantada .? sem véus com o seu panorama do Na última do da sociedade parte ar- que americana novo cinema de Hollywood tigo, encontramos a apre- ofereceram numerosos es- traçando a personalidade de ciação dos diversos critores», direto- (...) «o que o Fred Zinnemann e Elia Ka- res de linha — conduziu a uma primeira visão de- zan. O primeiro é um dos embora tidos como menos sesperada, negra, desolada, diretores «que mais senti- importantes do que os qua- existente em cada uma de ram as solicitações dos tro — suas fitas maiores» — primeiros que atua- problemas atuais; a guerra, ram nos últimos dez anos assim se expressa o autor, com todas as suas conse- na América voltando-se, do Norte. Um então (mas de quências, materiais e mo- após outro são esses modo ainda insuficiente) dire- rais, parece constituir o tores relacionados com seus para uma relação entre fulcro do seu interesse». O filmes Hollywood mais significativos, e a literatura autor procura provar isso Sibilla, ianque, esta última pecando então, pela reure- mediante a dissecação de omissão de alguns nomes sentada por James M. Cain, filmes importantíssimos co- importantes único e pela ausência autor citado como ba- mo «Ato de Violência» de um se (de exame geral e mais para a formação artís- modo geral pouco conside- tica do profundo do papel que ca- diretor de «Crepús- rado na filmografia de Zin- da um culo dos Deuses». dos elementos cita- «Pacto nemann), «The Men» (Es- dos desempenha de Sangue» foi o filme na cine- em píritos Indômitos, «filme de matografia de Hollywood. que Wilder «evidenciou sobriedade excepcional»), suas Se o artigo ganha muito predileções pelos as- «Teresa» («relação da menos guer- em objetividade e documen- pectos salubres da ra com a sociedade») e «A tação, sociedade e do indivíduo», perde bastante na Um Passo da Eternidade» falta de verificação dos fa- predileções que, segundo («onde o diretor concentra tores me Sibilla sociais, técnicos e ar- parece, tem na sua atenção sobre uma das tísticos conta de um dos defeitos que determinaram causas da guerra, o milita- o soerguimento da cinema- que o grande cineasta apre- rismo»). Segue-se um exa- senta. Tanto é tografia analisada. Mesmo que no exa- me, infelizmente rápido, de assim, me de «The Big Carnival» fica-se ao par do «High Noon» (Matar ou espírito (A Montanha dos Sete que proporcionou Morrer) e «The Member of uma mudança nos Abutres), êle declara que the Wedding» quadros Wilder se identifica (Cruel De- da mesma, pelas curtas ei- espiri- sengano), êste último «de tualmente com seu tações de George Cukor, perso- escasso interesse», e passa- George Stevens — cuja nagem negativo, e que com se a Kazan, isso cujas obras adaptação de «An American coloca uma pesada in- «possuem o caráter terrogação de ilus- Tragedy» para a tela é ti- no futuro desen- tração de um texto volvimento de sua pré- da como medíocre — Wil- obra. Tal existente». Após se ocupar atitude do ensaísta italiano liam Wyler, Russell House, das primeiras obras do di- Cyril Endfield, Hugo Haas, (somada à declaração de retor de «Viva Zapata!», «não foi Joseph Losey (os quatro que para criticar Sipilla, estranhamente, con- um ambiente determinado últimos tidos como desço- sidera «Pânico na Rua» bridores que êle realizou «Sunset da América pro- que narra «a luta do ho- vinciana, uma «América — 36 derivada da lite- Amarga» E' pena que Sibilla não nenhuma menção também à ratura e contida em filmes faça a menor referência a nova turma da Metro «O Poço da Angus- como Anthonny Mann, realizador (Sturges, Mayer), sendo tia», «Justiça Injusta», da nova geração que fêz ainda esquecido seu Pecado» e «O Cúm- princi- «Eco do pelo menos três excelentes pai inspirador, Dore Scha- plice das Sombras»), Al- filmes nos últimos dez ry. Apesar dessas falhas, fred Werker, Richard anos; a Nicholas Ray, em o autor não se esquece de Brooks, Lazlo Benedeck, idênticas condições, consi- Joseph Burstyn, — a cujo produtor Robert Rossen deradíssimo atualmente pe- que «introduziu nos EE. «A Grande Ilusão» «faltou ia crítica francesa e diretor UU. o melhor cinema eu- melhor definição psicológi- de «Amarga Esperança» ropeu, notadamente o ita- — Robson ca», Mark (do (They Live By Night), liano, em filmes do quilate qual não se cita «Meu «Cinzas que Queimam» e de «The Forgotten Villa- Maior Amor», o melhor fil- «Paixão de Bravo»; a Jean ge», «The Quiet One» e me romântico da «nova fa- Negulesco e Henry Ha- «The Little Fugitivo». se» de Samuel Goldwin) e thaway, não 'Wise, que são «no- Robert o realizador vas vozes» mas que pràti- de «The Set-Up» (Punhos camente se completaram no Ainda que incompleta, de Campeão), filme que após-guerra; a Joseph H. portanto, a visão que o es- merecia um exame mais Lewis, o diretor de «O critor italiano fornece do completo infelizmente sinte- Czar Negro» e «Mortal- cinema americano do após- tizado em linhas Já mente Perigosa», introdu- guerra não deixa de ser quinze curiosa, em citações um mais tor de um novo estilo no por significar, pelo pouco menos, uma tentativa de longas aparecem Dmytryck filme policial; a Rudolph «O Preço de uma Vi- Mate, a Richard Fleischer, fixar as principais corren- (cujo tes cinematográficas da» «foi o seu canto do eis- a Gordon Willes a Abraham surgi- das Hollywood nos úl- Jules Dassin e Joseph Polonsky a Ted Tetzlaff, em ne»), e E Giuseppe — este, tido «novíssimos» nos seus timos anos. aí, Mankiewicz pro- nos oferece uma inexcedível na cons- especialmente em Sibilla como pósitos, idéia sem dúvida sólida do do diá- cousas como «O Gangster», trução do cenário e consiste a nova logo as suas «A Força do Mal» e «Nin- que gera- para pelícu- ção dos cineastas ianques. Ias. guém Crê em Mim». E

—r—--—— —— — ' ELICIO DOS SANTOS

G.° OFÍCIO ÜDÍG NOTAS

Rua Espírito Santo, 946 — Esquina de Rua Goitacazes FONE: 2-2337

Escrituras e Procurações, Autenticação de Fotostática Reconhecimento de Firmas, Testamentos -

37- I . rewisIa

ÍNDICE GERAL DO III VOLUME

(Números 11 a 19)

Almeida, Giry de — Anotações diversas, n. 13-14 p. 4; 15-17 p. 62; 18 p. 33 Andrade, Mario de — Caras, n. 13-14 p. 35 Andrade, Ruda — Do mito ao ritmo, n. 15-17 p. 24 Anotações diversas, Gu

— Cierosa, Guido O cinema e a cultura americana, n. 13-14 p. 30í O cinema e o homem natural, n. 18 19 — p. Gomes, P. E. Sales A ópera do cavalo e do pobre, n. 15-17 p. 10* Huston em Férias, Giuseppe Sibilla, n. 13-14 22 — p. Imamura, Taihei À arte japonesa e o desenho animado, n. 11-12 p. 45 Indicação crítica, ns. 11-12 p. 49-50; 13-14 37-41; 15-17 74-76; 18 35-49 — ps. ps. ps. Jacobs, Lewis À procura de um estilo, n. 15-17 p. 58 John Huston, Cyro Siqueira, n. 13-14 p. 5 — Kirou, Ado O erotismo nos filmes dançados, n. 11-12 p. 37 — Leite, João Maurício Gomes Dois filmes de Fred Zinnemann, n. 15-17 p. 68f Cinema em revista, n. 15-17 p. 43 Cinema em revista, n. 18 p. 40, 19 17 — p. Limbacher, James L Cronologia da côr no cinema, n. 15-17 p. 7.1 Lucas, Fábio — Sobre a crítica de cinema, n. 18 p. 9 Mack Sennett e a comédia americana, Cyro Siqueira, n. 15-17 p. 46 Mito ao ritmo (Do), Rudá Andrade, n. 15-17 p. 24 Mitiv, Jean — Os primórdios do cinema, n. 15-17 p. 40 Novais, J. Roberto Duque de — Pelos cine-clubes, n. 11-12 p. 55 Ópera do cavalo e do pobre (A), P. E. Sales Gomes, n. 15-17 p. 10 Primórdios do western (Os), Jean Mitr*y, n. 15-17 p. 40 Procura de um estilo (À), Lewis Jacobs, n. 15-17 p. 58 Punhos de Campeão, Maryse Barbut e G. Salachas, n. 19 p. 5 Roche, Catherine de Ia Roche — O estrelismo, n. 18 p. 9 Robert Wire, Paulo Arbex, n. 19 p. 7 «Shane», J. P. B., n. 18 p. 13 Salachas, Gilbert, e M. Barbut — Punhos de Campeão, ii. 19 p. 5 Salles, Fritz T. de.— Aspectos político-sociais do western, n. .15-17 p. 31 Santiago, Silviano — Western (esquema), n. 19 p. 23 Sennett, Mack — «Cloud-cuckoo eountrty», n. 15-17 p. 52 Como arremessar um pastelão, n. 15-17 p. 56 Sibilla, Giuseppe — Huston em férias, n. 13-14 p. 22 Silva, Newton — Pelos cine-clubes, ns. 13-14 p: 43, 15-17 p. 79, 18 p. 4, 19 p. 34I Siqueira, Oyro — A dança no cinema, n. 11-12 p. 32 Cinema em revista, n. 11-12 p. 6 Cinema em 54, n. 11-12 p. 7 John Huston, n. 13-14 p. 5 O cinema e o público, n. 15-17 p. 77 O cinema e o público, n. 18- p. 23, 19 p. 25 Western: forma dramática, n. 15-17 p. 3 Mack Sennett e a comédia americana, n. 15-17 p. 46 Smith, Vernon — O «gag-room», n. 15-17 p. 55 Tendências da crítica mineira, Antônio César, n. 15-17 p. 63 Valor cinematográfico do ballet americano, Glauco Viazi, n. 11-12 p. 36 Vasconcellos, Sfylvio— O herói cinematográfico, n. 18 p. 5 Viazi, Glauco — O valor cinematográfico do ballet americano, n. 11-12 p. 36 Vives, Madeleine — O gangster é um homem, n. 13-14 p. 24 Warshow, Robert — A câmera cinematográfica e o americano, n. 11-12 p. 23 Walyne, Donald — O «west» selvagem, n. 15-17 p. 13 Western (esquema), Silviano Santiago, n. 19 p. 23 Western: forma dramática, Cyro Siqueira, n. 15-17 p. 3 15-17 27 Western: início e permanência, Elisa Franklin, n. p. «West» selvagem, Donald Wayne, n. 15-17 p. 13 «DISQUE M PARA MATAR»

Assim opinou Ely Azeredo, crítico da «Tribuna de Im~ prensa», sobre este filme de Alfred Hitchcock: Em «Disque M para matar», Hitchcock é o realizador bri- lhante, o narrador absorvente, e também o cineasta que impõe suas características a qualquer argumento. O filme exibe seu gosto pela situação estranha (toda a diabólica seqüência com Milland e Anthony Dawson) e pelo «suspense» construído em torno de um objeto aparentemente insignificante (a chave es- quecida) . Grace Kelly, a substituta de Ingrid Bergman na obra de Hitchcock (com quem trabalharia depois em «A janela Indiscreta» e «To Catch a Thief»), empresta um pouco de seu encanto e sen- sibilidade a um papel sem complexidades. Todas as personagens são peças de um excitante jogo de xadrez que a Scotland Yard, na pessoa do Inspetor Hubbard (John Williams, ótimo), acaba ganhando. (Lançamento em Belo Horizonte no mês de novembro próximo)

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(Lei 29, de 10 de dezembro de 1947 — Decreto n. 2.869, de 17 de outubro de 1948 — Juros de 7%).

2a SÉRIE - SORTEIO REALIZADO EM 30 / 9 / 955

Número base para os prêmios de CrS 1.000.00 486.147

Número base para os prêmios de CrS 500,00: 81.662

Secretaria das Finanças do Estado de Minas Gerais, 30 de Setembro de 1955. Ulisses Silva. Chefe da 1.a Secção.— Visto. Müton Xavier de Castro, Chefe do Departamento da Despesa Variável. fo fe-vt XÁ/L/l&~>/ * *

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t \ VUnMft J *t *&Ufi&U4 AMA. Ji^U^x ) t> w íi 'douto ^o^u. $4(Lu4 ) O SESI em Minas Gerais Cinema em Juiz de Fora Maria Luiza Ao iniciarmos nossas atividades no bairro de Vitorino Braga, em Juiz de Fora, com as sessões das terças-feiras às 19 horas, notamos que a maioria dos espectadores era constituída por meni- nos e adolescentes, variando as idades de 8 a 16. O local em que funciona nosso ci- nema não é o que desejaríamos, mas, é-nos bastante difícil encontrar local ade- quado. No galpão do Grupo Escolar «Duar- te de Abreu», foi adaptada uma peque- na tela, e os bancos de madeira, e aigu- mas cadeiras, não oferecem grande con- íôrto aos assistentes. Com a fmalidade de conhecer me- lhor os frenqüentadores do cinema, or- ganizamos e lançamos um pequeno in- qiivjrioo para ser respondido por todos os industriar ios> hab^uais freqüentadores de nossas sessões cinematográficas. O inquérito constou apenas de 5 pe- -mm m : quenas questões com espaço em branco, y, para as respostas. A 5 perguntas do inquérito foram: i") Que acha do nosso cinema ? 2tf) Que tipo de filme prefere ? Que sugestão nos dá para que reine ...... ordem e d.scipima em nossas ses- soes cinematográficas ? man- 4") Você está disposto a cooperar co- Ao lado de exigiçõcs cinematográficas, o SESI serviço de teatro é uma realidade nosco para que haja disciplina em tém um que já nosso cinema ? vitoriosa. Visitando recentemente as cidades de Juiz de Fora, Cataguazes e São João dcl Rei, os seus ar- da idéia 5") Que acha de se passar de tistas amadores receberam ali aplausos conságradores vez em filme só adul- "Medéia", quando, para — O acima focaliza uma cena de tos, a entrada de crian- flagrante proibindo-se de grande poder emocional. ças ? 100 o-/.7o das respostas à 1* pergunta nos tipos de seriados, far-west, etc. A 5iJ pergunta foi respondida quase Uma pequena maioria gosta de ou- no total, negativamente. tros gêneros como românticos, aventuras Como o nosso público é constituído e comédias. na maioria de crianças, justifica-se a res- Chegamos à conclusão da grande in- posta. sáKr fluência que exerce nos meninos, os fil- Os adultos gostaram da idéia, pois ^^m TOr mes de «bandidos e mocinhos», incitan- eles têm sido muitas vezes prejudicados, y , *>„ do-os a valentia, brigas e mau compor- deixando o SESI de apresentar filmes tamento. (Notamos que especialmente melhores, considerando não serem os quando passamos estes filmes é maior a mesmos aconselhados para menores; mas, indisciplina por parte dos freqüentado- as crianças venceram pelo número. res). Pelo pequeno inquérito realizado, fi- Na 3* pergunta as sugestões foram camos conhecendo melhor o gosto, opi- variadas, sendo que a maioria optou pe- níões e sugestões dos nossos assistentes. Ia retirada imediata dos desordeiros da Ficamos certas da grande apreciação sala de projeção. de que o nosso cinema tem entre os in- Na 4* pergunta a resposta foi una- dustriários, quer pe\a recreação, quer pe- nime: sim, Ia ciducação que difunde. " yy M/a* ' m

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I Contribuinte M i ne i ro

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O Governo do Estado está vivamente empenhado na realização de obras de caráter social e econômico, que visam o engrandeci- mento de Minas Gerais. Ao contribuinte honesto cumpre pagar pontualmente seus tributos, a-fim de facilitar o desenvolvimento normal desses empreeen- dimentos. O descumprimento dos deveres tribu- tários, alem de lesivo aos interesses da socie- dade, provoca o transtorno financeiro e eco- nômico do contribuinte, através da imposição de multas.

y* (Divulgação da Secretaria das Finanças)

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