O Português Na África Atlântica

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O Português Na África Atlântica O Português na África Atlântica Márcia Santos Duarte de Oliveira Gabriel Antunes de Araujo Organizadores Angola Cabo Verde Guiné-Bissau São Tomé e Príncipe O Português na África Atlântica UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Reitor Vahan Agopyan Vice-Reitor Antonio Carlos Hernandes FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS Diretora Maria Arminda do Nascimento Arruda Vice-Diretor Paulo Martins COMISSÃO CIENTÍFICA DO LIVRO Charlotte Marie C. Galves (Universidade de Campinas) Eeva Sipolla (Universidade de Bremen) Heliana Ribeiro de Mello (Universidade Federal de Minas Gerais) Waldemar Ferreira Netto (Universidade de São Paulo) DOI 10.11606/9788575063545 Márcia Santos Duarte de Oliveira Gabriel Antunes de Araujo Organizadores O Português na África Atlântica 2ª edição São Paulo, 2019 Catalogação na Publicação (CIP) Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Elaborada por Maria Imaculada da Conceição – CRB‐8/6409 P839 O português na África Atlântica [recurso eletrônico] / Márcia Santos Duarte de Oliveira, Gabriel Antunes de Araujo (organizadores). ‐‐ 2. ed. ‐‐ São Paulo : FFLCH/USP, 2019. 8.427 Kb ; PDF. ISBN 978‐85‐7506‐354‐5 DOI 10.11606/9788575063545 1. Língua portuguesa – África ocidental (aspectos linguísticos) (aspectos sociais) (aspectos históricos). 2. Intercâmbio cultural – aspectos linguísticos. 3. Aprendizagem de língua estrangeira. I. Oliveira, Márcia Santos Duarte de, coord. II. Araujo, Gabriel Antunes de, coord. CDD 469.79966 Autorizada a reprodução e divulgação total ou parcial para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte, proibindo qualquer uso para fins comerciais Serviço de Editoração e Distribuição Coordenação Editorial Maria Helena G. Rodrigues – MTb n. 28.840/SP Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Walquir da Silva – MTb n. 28.841/SP Colaborador Paulo Jeferson Pilar Araújo Preparação e Revisão de Textos Márcia Santos Duarte de Oliveira Maria de Lurdes Zanoli Informação da Contracapa Márcia Oliveira junto a um embondeiro Angola (banco de dados do “Projeto Libolo” – ver: Figueiredo & Oliveira (2016)) Sumário APRESENTAÇÃO Márcia Santos Duarte de Oliveira; Gabriel Antunes de Araujo 07 ANGOLA Variedades de português angolano e línguas bantas em contato Paulo Jeferson Pilar Araújo, Margarida Taddoni Petter, José Albino José 17 Aspectos histórico-culturais e sociolinguísticos do Libolo: aproximações com o Brasil Carlos Filipe Guimarães Figueiredo 47 CABO VERDE Estudos sobre o português falado em Cabo Verde: o "estado da arte" Francisco João Lopes, Márcia Santos Duarte de Oliveira 101 Aquisição do português L2 em Cabo Verde: alguns aspectos morfossintáticos do contato Nélia Alexandre 139 Caboverdiano e Português: cotejando estruturas focalizadas Nélia Alexandre, Márcia Santos Duarte de Oliveira 165 GUINÉ-BISSAU Contribuições para o estudo da prosódia do português de Guiné-Bissau: a entoação do contorno neutro Vinícius Gonçalves dos Santos, Flaviane Romani Fernandes Svartman 191 Estudo Inicial das Perguntas-Q no Português de Guiné-Bissau Eduardo Ferreira dos Santos, Raquel Azevedo da Silva 237 SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE Ditongos no português vernacular de São Tomé e Príncipe Alfredo Cristofoletti Silveira, Gabriel Antunes de Araujo 261 O português dos Tongas de São Tomé Alan Norman Baxter 297 POSFÁCIO Contato, filiação e gênio das línguas Charlotte Marie Chambelland Galves 323 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 337 Apresentação1 Este livro reúne nove ensaios sobre O Português na África Atlântica, re- sultado do trabalho de investigação científica realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Roraima, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Universidade de Lisboa, Universidade de Macau e Universidade de Saint Joseph (Macau), seguidos por um posfácio de Charlotte Galves da Universidade Estadual de Campinas. Os ensaios abordam aspectos linguísticos e sócio-históricos do português falado em Angola, em Cabo Verde, na Guiné Bissau e em São Tomé e Príncipe. Como os trabalhos demonstram, é a diversidade linguística dessa África Atlântica (com suas centenas de línguas do tronco Níger-Congo e as línguas crioulas de base portuguesa) que lança novas luzes sobre os estu- dos do português brasileiro e europeu, bem como para o estudo das línguas em contato com essas variedades de português faladas na África. O português do Brasil e de Portugal contam com milhares de estudos, graças à energia e interesse dos recursos humanos disponíveis em ambos os lados do Atlântico, aos pesquisadores estrangeiros e aos múltiplos intercâm- bios nos últimos 40 anos, tanto entre Brasil e Portugal, como entre cientistas desses países e de todo o mundo. O mesmo ainda não pode ser dito sobre a África lusófona. De um lado, a descolonização tardia de Cabo Verde, Guiné Bissau, Angola e São Tomé e Príncipe, fruto das lutas que culminaram na independência destes Estados nos anos setenta do século passado, e, de outro, a instalação de regimes ora autoritários, ora isolacionistas, bem como à falta 1 Neste livro, os organizadores Márcia Santos Duarte de Oliveira e Gabriel Antunes Araújo agradecem às agências de fomento FAPESP e CNPq pelos diversos apoios. Marcia Oliveira, Paulo Jeferson Araújo e Charlotte Galves (autora do ‘posfácio) mencionam os estudos apresentados nesse texto-livro ao Projeto Temático FAPESP – Processo 2012/06078-9: “A língua portuguesa no tempo e no espaço”. Marcia Oliveira também agradece à FAPESP pelo fomento aprovado para o V Congresso Internacional do GELIC na Praia, Cabo Ver- de, – Processo 2014/12433-1 – em que este volume, em particular, se beneficia. Gabriel Araújo e Marcia Oliveira, como organizadores e autores de capítulos do livro, agradecem ao CNPq pelo apoio por meio de Bolsa de Produtividade de Pesquisa. O PORTUGUÊS NA ÁFRICA ATLÂNTICA de recursos humanos locais treinados na tarefa de descrever e analisar o com- portamento dos vernáculos nesses países resultou em uma lacuna nessa área de estudos. Os ventos democráticos dos anos noventa reabriram os países da África lusófona aos pesquisadores que encontraram vívidas discussões sobre a padronização, valorização e ensino das línguas nacionais, mas pouca discussão havia sobre as peculiaridades e idiossincrasias das variantes vernáculas do por- tuguês. Por outro lado, o discurso oficial transafricano pró-lusofonia defendia que se falava localmente o português europeu, quando se falava o português. Além disso, o papel da escola e da mídia como difusoras da língua oficial não se mostrou aberto às novas realidades. A educação das elites políticas e econô- micas de Cabo Verde, Guiné Bissau, Angola e São Tomé e Príncipe, mesmo após a independência, era mormente feita em Lisboa e Coimbra. A educação lusófila das elites replicava o discurso da presença da variante europeia na Áfri- ca como ponto pacífico. Contudo, os pesquisadores começaram a observar o comportamento das variantes vernáculas e a constatar que a mudança, em relação ao português europeu, era impossível de ser ignorada. Assim, o obje- tivo deste livro é apresentar algumas das evidências que sugerem a especiação do português de Cabo Verde, Guiné Bissau, Angola e São Tomé e Príncipe, influenciados não somente pelo contato linguístico com as línguas nacionais locais mas também pelo comportamento de seus falantes em direção ao novo. Na obra os dois primeiros capítulos abordam o português em Angola, seguidos por três estudos sobre Cabo Verde, dois sobre Guiné Bissau e dois sobre São Tomé e Príncipe, fechando com um posfácio. A seguir, um breve panorama de cada capítulo. No primeiro capítulo, Variedades de português angolano e línguas bantas em contato: Paulo Jeferson Pilar Araujo, Margarida Petter e José Albino José trazem, em primeiro plano, um dos aspectos centrais desse livro: não é possí- vel pensar as variedades vernaculares do português na África Atlântica igno- rando os contatos linguísticos que as moldaram ao longo do tempo. No caso de Angola, o texto investiga, na literatura e em dados colhidos no interior angolano, o contato com as línguas bantu que levou a constituições morfos- sintáticas peculiares, algumas das quais encontradas também no Brasil, o que 8 APRESENTAÇÃO não se trata de uma mera coincidência, dadas as contribuições bantu em solo brasileiro. Porém, a lacuna nos estudos do contato português-grupo linguís- tico bantu só será preenchida quando aumentarmos o nosso conhecimento sobre as línguas do grupo bantu, do passado e do presente, que fizeram e fazem parte do contato. Os lugares-comuns da linguística bantu, argumen- tam os autores, não são suficientes para desnudar os entrecruzamentos e as influências diáfanas. Assim, para o grupo de autores, é o estudo empírico das variedades em contato que permitirá, a partir de um modelo teórico co- eso, seu entendimento. Os autores adotam, para tanto, o modelo teórico de Myers-Scotton, com o objetivo de buscar explicações para as possibilidades de transferência de traços linguísticos no contato entre línguas. O segundo capítulo, Aspectos histórico-culturais e sociolinguísticos do Libolo: aproximações com o Brasil, de Carlos Filipe G. Figueiredo, se dedica a mostrar que, ao longo dos séculos XVI ao XIX, a região angolana do Libolo foi local de captura de seres humanos, posteriormente escravizados e enviados ao Bra- sil, muitas vezes via São Tomé e Príncipe. Porém, ao mesmo tempo em que promoviam missões de captura de escravos (a partir de Luanda), os coloniza- dores portugueses só viriam a ocupar a região no século XX. Para entender-
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