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JAZZ 8 JUNHO 2015 Ciclo “Isto é Jazz?” Comissário: Pedro Costa

Elephant9 com Caso de estudo Storløkken), seja a que manteve ligações com a new thing (Peter Brötzmann, Os Elephant9 poderiam ser um caso de Evan Parker) como aquela que cortou estudo de várias áreas da investigação. com essa origem preferindo uma orien- A musicológica, se esta não tivesse tação exploratória e não-idiomática parado na música erudita da primeira (AMM, Musica Elettronica Viva, New metade do século XX. A filosófica, se Phonic Art). os pensadores gostassem de música E que rock é esse? Erram por insu- que não sirva apenas como fundo de ficiência de dados os que apontarem acompanhamento para as suas escritas. exclusivamente como matriz da música A sociológica também, embora os dos Elephant9 o rock progressivo cientistas sociais que se debruçam que incluiu o órgão Hammond B-3. sobre os fenómenos da cultura estejam Designadamente, Emerson, Lake & demasiado ocupados a fazer estatísticas Palmer, Deep Purple, Van Der Graaf e a desenhar gráficos. Até a da física Generator e Jethro Tull. Outra vertente quântica, não fosse os pesquisadores de do rock é decisiva para o som final quarks se recusarem a encontrar equi- do trio: o psicadelismo, representado valências com o que acontece no mundo por influências tão díspares quanto macroscópico. Porquê? A resposta é um Hawkwind, Jefferson Airplane, Cream, rebuçado para o intelecto: porque são Jimi Hendrix, os Soft Machine, os Pink uma coisa sendo outra e existem em Floyd e os King Crimson do início e até Teclados Ståle Storløkken Baixo elétrico Nikolai Eilertsen Bateria vários lugares ao mesmo tempo. a kosmische musik do rock alemão de Guitarras Reine Fiske Dependendo da perspetiva, Ståle uns Can e uns Faust. Storløkken, Nikolai Eilertsen e Torstein Mas nem isto chega para compreen- Lofthus formaram um grupo de jazz der a totalidade do universo Elephant9, que toca rock ou um grupo de rock que não satisfazendo acrescentar que o toca jazz. Logo à partida, é confuso, mas grupo deve composicionalmente algo complica-se ainda mais se observamos a Olivier Messiaen, figura da música com o dobro da atenção o que está em contemporânea, e que para o groove, causa. Que jazz é esse? Quem disser que o balanço, dos seus temas haja uma ou é o jazz de fusão dos Weather Report outra reminiscência dos Funkadelic e – Storløkken é um confesso admirador dos Parliament, coletivos de culto do de Joe Zawinul –, dos Lifetime de Tony funk. Se estamos perante uma progra- Williams ou do Miles Davis elétrico mática decisão de mergulhar na música do período entre Bitches Brew e On the da década de 1970 e reproduzir os Corner está apenas a vislumbrar uma seus modelos, inclusive optando pela parte do quadro geral. Tão ou mais utilização de instrumentos vintage e de importantes são o free jazz afro-ame- tecnologia analógica da época, o certo é ricano e a música livremente improvi- que o jazz e o rock destes noruegueses Seg 8 de junho sada europeia («improvisar é o que me NÃO SÃO, de todo, o jazz e o rock que 21h30 · Pequeno Auditório · Duração: 1h · M6 interessa mais musicalmente», confirma então se tocavam. Os Elephant9 pega- ram nas suas premissas e ora esticaram- Death Defying Unicorn, associando cada vez mais fundo em qualquer situa- águia em voo picado, fazendo com o -nas, ora modificaram-nas de dentro ao empreendimento os sopros da ção, tenha esta sido escrita ou resulte fuzz e o pedal de distorção o que fez para fora, inventando uma nova fusão, Jazz Orchestra, as cordas de da mais pura espontaneidade. Até, de John Coltrane com um saxofone em um novo prog e um novo psicadelismo. arco da Trondheimsolistene e o violino súbito, Storløkken levantar a mão e se Interstellar Space. Novos, mas os de sempre, trocando-nos solista de , num total de passar para outro bloco que será tão Identifica ele demasiado os as voltas. 22 participantes. Este disco fornece um espremido de possibilidades quanto foi Elephant9 com o psicadelismo, inter- A ideia de avançar com este projeto outro aspeto, mais elaborado e operá- o anterior. ferindo com a lógica destes de não foi do baixista Nikolai Eilertsen, que tico, por assim dizer, do que já está nos Neste âmbito, os Elephant9 aplicam o “pertencerem” a nada de concreto? Não, aliciou Storløkken não só a participar, Elephant9. princípio ético das músicas que utilizam porque há mais do que essa aborda- como a tomar o comando. A devoção do E o que está? Primeiro que tudo, as metodologias da improvisação, a gem em Fiske. Há, por exemplo, uma teclista pelo Hammond, pelo elé- o «não ter medo de experimentar e escuta do que os outros estão a fazer. atitude punk, que ele foi buscar onde trico Fender Rhodes e pelo sintetizador misturar estilos diferentes», que é Contrapõem-na, no entanto, com outro menos esperaríamos e que não por MiniMoog antecipavam, na sua imagi- aquilo precisamente que a Storløkken que é específico do rock: o de saltar acaso é uma das fontes condutoras do nação, o foco que este teria. Mesmo que mais agrada nos anos 70. «O meu para a frente quando a oportunidade, próprio Storløkken: «Marcou-me muito solta do enquadramento jazz e rock que interesse pelos Weather Report e outras ou, melhor ainda, a total falta dela, a intervenção de John McLaughlin nos pretendia para os Elephant9, a fluidez grandes bandas daqueles anos, tanto o justifica. Argumenta Ståle Storløkken: Lifetime. O som da guitarra é horrível e unidirecional, se bem que construída do jazz como do rock, foi o que fez com «Não devemos temer que se solte ele tocava de forma abandalhada. É tudo por uma imensidade de elementos, das que hoje eu tenha uma mente aberta. algum vapor, desafiando os outros num muito sujo e parece até que usava improvisações dos servia a Acho até que esta característica é a determinado momento. Temos de ser um pedal de wah wah com a bateria Eilertsen como exemplo do que a banda mais importante da minha carreira. simultaneamente humildes e arro- danificada. Provavelmente andavam de poderia ser. Também o que Storløkken Inspiro-me numa enorme variedade gantes. A beleza de tocar com outras cabeça perdida naqueles dias e marim- fazia nos Humcrush, em contexto mais de músicas e a partir daí desenvolvo pessoas está em tomar um caminho que bavam-se para a perfeição, mas foi essa ritmicamente estruturado, era para a minha própria voz, sem me fechar não estava planeado.» abordagem que passou para mim.» ele suficiente indicação de que seria em nenhum género. Estou constante- Quanto a esta particularidade, Há nele ainda, e por mais estranho o músico ideal para a elaboração de mente à procura de outros sons e outras Storløkken é um ótimo exemplo: nin- que pareça, uma perspectiva folk: «Em temas baseados em riffs (repetições de maneiras de tocar», afirma a propósito. guém esperava que um antigo colabo- termos melódicos, sou um guitarrista de motivos). Daí que, quando tocam jazz, os rador de , o guitarrista folclore.» E o certo é que são melodias – Ståle Storløkken surgia como um Elephant9 procurem de imediato sair que imediatamente associamos ao não raro pilhadas da tradição norue- virtuoso dos teclados e um composi- dos seus limites, e quando tocam rock “som ECM”, tivesse tal evolução. Bem guesa – que vai atirando para a massa tor, mas igualmente como alguém que tudo façam para que essa filiação não diferente é o homem que os Elephant9 sonora criada pelos Elephant9, umas trabalha a música com a mente de um seja óbvia. A forma como lidam com convidaram para com eles tocar a sua planantes, cristalinas, outras pesando produtor, ainda que sempre tenha recu- o dualismo composição-improvisação Stratocaster nestes últimos anos, Reine chumbo e derramando ferrugem. sado desempenhar formalmente esta revela uma semelhante atitude de esca- Fiske. Membro dos roqueiros estra- Temos, assim, uma banda que ima- função. Uma característica a que deve pismo. Nunca se percebe muito bem tosféricos Dungen e agora também gina o encontro improvável do mesmo muita da sua fama nos circuitos escan- onde termina uma e começa a outra dos , assim como de uma Zawinul que introduziu o piano elétrico dinavos, recentemente comprovada por e o objetivo é exatamente esse, que a formação de jazz, Svenska Kaputt, no hard bop de Cannonball Adderley meio de uma parceria com o (lendário pauta seja ultrapassada e o que surge esta adição veio reforçar o cunho de com o Keith Emerson que decompunha no Norte da Europa) grupo misto de de surpresa tenha o máximo aprovei- trip interior («sem psicotrópicos», Mussorgsky e Copland com requintes psicadelia e metal Motorpsycho. Gravou tamento. De resto, os ritmos fechados jura Storløkken) da música que vimos de malvadez, submetendo-os a tempos com o projeto de Bent Saether e Hans e hipnóticos que são a sua imagem de ouvindo desde o CD Atlantis. Fiske binários. Mediados por um Hendrix Magnus Ryan o álbum conceptual The marca constituem o terreno ideal para ir viaja pelo interior desta como uma que já anunciava o punk rock quando

4 5 incendiava a sua seis-cordas e se punha Próximo espetáculo a ouvir os feedbacks que irrompiam dos amplificadores. © Mana Estudemos, pois, esta proposta que Metamorfose III nos chega dos fiordes e é bastante mais do que uma estimulante provocação auditiva… Dança Multimédia Ter 16, qua 17, qui 18 de junho Rui Eduardo Paes Grande Auditório (lotação reduzida) Crítico de música, ensaísta, 21h30 · Duração: 1h · M12 editor da revista online jazz.pt Para escolas e grupos organizados: 16h30

Este espetáculo de dança, luz e som é o resultado final do trabalho coletivo realizado nos Workshops de Sonorização Cénica e Iluminação Cénica com bai- larinos finalistas da Escola Superior de Dança. No final, o público é convidado a ir ao palco para interagir com os bailarinos e equipa criativa e saber como se fizeram os efeitos cénicos.

Próximo espetáculo de música

© Pierre Acobas Orchestre Tout Puissant Marcel Duchamp

Música Sáb 20 de junho Grande Auditório · 21h30 · Dur. 1h · M6

Em 2006, a Cave 12, sala de Genebra dedicada à música dita experimental, deu carta-branca ao contrabaixista francês, Vincent Bertholet. Era para ser uma “one night stand”. Tornou-se num projeto musical com quase 10 anos e 3 álbuns edita- dos. Para descrever o que é inclassificável tem-se usado expressões como “afro- -transe-urban-punk”, “música caleidoscópica duma perfeita coesão”. O que mais interessa é a extraordinária música que fazem. Difícil é ficar sentado na cadeira quando a música nos chama para a dança.

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6 As emissões de gases com efeito de estufa associadas à produção desta publicação foram compensadas no âmbito da estratégia da CGD para as alterações climáticas. Conselho de Administração Comunicação Maquinaria de Cena Presidente Filipe Folhadela Moreira Nuno Alves (chefe) Álvaro do Nascimento Estagiárias: Artur Brandão Administradores Sara Amaral Técnico Auxiliar Miguel Lobo Antunes Madalena Costa Vasco Branco Margarida Ferraz Publicações Frente de Casa Assessores Marta Cardoso Rute Sousa Dança Rosário Sousa Machado Gil Mendo Bilheteira Atividades Comerciais Teatro Manuela Fialho Catarina Carmona Francisco Frazão Edgar Andrade Patrícia Blazquez Arte Contemporânea Clara Troni Miguel Wandschneider Serviços Administrativos e Financeiros Receção Cristina Ribeiro Serviço Educativo Sofia Fernandes Paulo Silva Raquel Ribeiro dos Santos Teresa Figueiredo Auxiliar Administrativo João Belo Nuno Cunha Direção Técnica Direção de Produção Paulo Prata Ramos Coleção da Caixa Geral de Depósitos Margarida Mota Isabel Corte-Real Direção de Cena e Luzes Produção e Secretariado Inês Costa Dias Horácio Fernandes Patrícia Blázquez Maria Manuel Conceição Mariana Cardoso Assistente de Direção Cenotécnica de Lemos José Manuel Rodrigues Jorge Epifânio Audiovisuais Exposições Américo Firmino Coordenação de Produção (coordenador) Mário Valente Ricardo Guerreiro Produção Suse Fernandes António Sequeira Lopes Iluminação de Cena Paula Tavares dos Santos Edifício Sede da CGD Fernando Ricardo (chefe) Fernando Teixeira Rua Arco do Cego, 1000-300 Lisboa, Piso 1 Vítor Pinto Culturgest Porto Tel: 21 790 51 55 · Fax: 21 848 39 03 Susana Sameiro [email protected] · www.culturgest.pt

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