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PROJETO INTEGRAÇÃO CENTRO Brás, Luz e Barra Funda quase prontas para a interligação metroferroviária Por Juan Garrido FOTOS: RICARDO MARTINS

ENGENHARIA/2004 36 563 uando setembro vier e as Está em fase de acabamento a exe- sas linhas foram transformadas em obras físicas e adequações cução de um grande conjunto de sa- meios de transporte para passageiros, tecnológicas necessárias guões e acessos subterrâneos na tra- embora não tivessem recebido as adap- para a adaptação do viário dicional Estação da Luz, transforma- tações necessárias para um melhor des- estiverem concluídas – con- da agora no principal pólo de integra- locamento dos usuários pela capital. Q forme o planejado –, o Proje- ção do sistema de transporte sobre tri- Para cruzar a cidade de leste a oeste, as to Integração Centro (que integra o Plano lhos no Estado de . “Por meio pessoas precisavam apear no Brás e Integrado de Transportes Urbanos para desse complexo haverá a possibilida- caminhar até a Luz ou Júlio Prestes 2020, o Pitu 2020) estará oferecendo aos de de que a integração seja feita dire- para pegar outro trem para o oeste – e usuários dos trens metropolitanos e do tamente, no nível do subsolo, passan- vice-versa para o usuário que procedia metrô paulistano um riquíssimo leque de do-se do metrô para o trem e vice ver- do lado oeste. possibilidades para acessar o centro da sa. Hoje são duas linhas de metrô a Com o Projeto Integração Centro, a cidade de São Paulo. O investimento to- serem interconectadas, mas quando a ligação leste-oeste é feita sem que seja tal é de 95 milhões de dólares. As obras, Linha 4-Amarela, estiver concluída, necessária a transferência externa. “E executadas sob a batuta da CPTM desde daqui a alguns anos, será igualmente o mais importante é que o usuário só março de 2001, englobam um trecho fer- integrada ao sistema na Luz, pois no vai pagar uma passagem”, ressalta roviário de sete quilômetros entre as es- saguão da estação já está previsto aces- Bicalho. O primeiro passo do processo tações Brás e Barra Funda, tendo na Es- so a ela. Essa linha virá ‘enviesada’, de licitação para implantar o cartão tação Luz – no meio do trajeto – o seu passando por baixo da Linha 1-Azul, inteligente – o projeto Metropass – que grande eixo de convergência. ou seja, passando por baixo de tudo”, será usado no pagamento das viagens “Um dos grandes objetivos da inte- especifica Bicalho. no Metrô, nos trens da CPTM e nos ôni- gração é fazer com que as cinco linhas Antes da execução desse que é um bus intermunicipais gerenciados pela da Companhia Paulista de Trens Me- dos maiores projetos de integração me- Empresa Metropolitana de Transportes tropolitanos, CPTM, cheguem até o cen- troferroviária do mundo, as linhas fer- Urbanos, EMTU (todos vinculados à tro da cidade e se interpenetrem com roviárias que cruzam São Paulo de les- Secretaria Estadual dos Transportes linhas atuais e futuras do metrô – como te a oeste não se interligavam. Até por- Metropolitanos, SMT), foi dado com a a Linha 4-Amarela, que irá da Luz a que foram construídas inicialmente – audiência pública realizada pela SMT Vila Sônia – de acordo com a demanda por diferentes empreendedores – para no dia 15 de junho passado na sede do que houver”, resume o engº José o transporte de cargas, chegando à re- Instituto de Engenharia. Augusto Nunan Bicalho, da Superin- gião central em terminais próprios. O O ato marcou a largada para a esco- tendência de Obras e Montagem da da Luz para os trens da São Paulo lha do concessionário que irá implan- Diretoria de Engenharia e Obras da Railway Company, o da Júlio Prestes tar e operar o sistema. Além de deta- CPTM. A companhia é vinculada à Se- para os da Estrada de Ferro Sorocaba- lhes sobre o projeto, foram apresenta- cretaria de Estado dos Transportes na, e o do Brás (antiga Estação dos o modelo de concessão e os parâ- Metropolitanos e responde por uma Roosevelt, conhecida também como Es- metros da licitação, cujo edital deverá malha ferroviária de 270 quilômetros tação do Norte), para os da Estrada de ser lançado em julho. A conclusão do na Grande São Paulo. Ferro Central do Brasil. Mais tarde es- processo licitatório está previsto para

O ambicioso projeto que vai permitir a interpenetração de cinco linhas da CPTM com três linhas de metrô entrou na reta final. Levado avante desde 2001 pelo governo estadual, com financiamento parcial do BID, o Projeto Integração Centro integra o Plano Integrado de Transportes Urbanos para 2020, o Pitu 2020. O projeto – que será entregue à população no final de setembro próximo – consta da extensão de novas vias no trecho entre as estações Brás e Barra Funda, pátios de manobra, obras de vulto nas estações Luz e Brás e implantação de modernos equipamentos de sinalização e controle. A primeira etapa, já concluída, viabilizou a extensão do Expresso Leste (Linha E da CPTM) até a Estação da Luz, devolveu aos paulistanos o viário da Rua Mauá e finalizou as obras da Estação Brás, com a Linha F passando a operar na parte interna da gare. A segunda e derradeira etapa deverá possibilitar a interconexão das linhas A, B, D e E no trecho Brás-Barra Funda com a entrega da Estação da Luz da CPTM – totalmente restaurada, com acessos e saguões subterrâneos que a interligam à Estação Luz do Metrô – e também vai efetivar a unificação dos três atuais Centros de Controle Operacional da CPTM num mesmo local, o novo CCO do Brás

ENGENHARIA/2004 37 563 TRANSPORTE reportagem FOTO: RICARDO MARTINS dezembro deste ano. O pro- guns dos principais nou o serviço de transportes de passa- jeto Metropass é um siste- bairros da região cen- geiros na região. Ao todo são 24 quilô- ma de bilhetagem eletrôni- tral aos pontos extre- metros percorridos em 32 minutos por ca baseada em cartão inte- mos da Região Metro- 15 modernos trens, fabricados na ligente que, além do trans- politana de São Pau- Espanha, dotados de ar condiciona- porte, tem capacidade para lo, como os municípi- do, bancos anatômicos e vidros com sustentar diversas aplica- os de Poá, Suzano e filtro solar. ções (como vale-refeição, pe- Mogi das Cruzes, o Também os trens da Linha D e da dágio e estacionamento, projeto tem o mérito Linha E (Luz-Guianazes-Estudantes), por exemplo). também de contribuir que paravam no Brás, hoje já param na Com a implantação des- ainda mais para a Estação da Luz. Em setembro, com a se sistema, o usuário pas- revitalização do cen- conclusão do projeto, essas duas linhas sará a utilizar um cartão só tro de São Paulo. Ci- chegarão até a Barra Funda. Da mesma no pagamento das viagens Engº José Augusto Nunan dade, aliás, que é uma forma, a Linha F – Leste Variante, da Bicalho, da Superintendên- feitas por metrô, trens me- cia de Obras e Montagem das mais motoriza- Zona Leste (Brás-Calmon Viana), che- tropolitanos e ônibus inter- da Diretoria de Engenharia das do mundo: para gará à Luz e Barra Funda, sem a neces- municipais. A previsão é e Obras da CPTM cada duas pessoas há sidade de transferências. Em outro sen- que sejam emitidos cerca de um veículo particular, tido, os trens da Linha A, que param 4 milhões de cartões. O Metropass con- ou seja, mais de 5 milhões de veículos hoje na Luz, vão chegar até a Estação templará todas as gratuidades já prati- potencialmente em circulação. Segun- Brás. E os trens da Linha B, que estão cadas no sistema atual, incluindo ido- do o governador Geraldo Alckmin, parando na Estação Júlio Prestes, tam- sos, portadores de deficiência e funcio- “quando o trânsito não anda, a quali- bém irão para o Brás. nários autorizados, e proporcionará dade de vida cai, piora a segurança e a Segundo o engº Bicalho, a Estação maior eficácia à política tarifária de cidade perde emprego”. Brás da CPTM já foi quase que total- transportes. Ao lado da ampliação da via ferro- mente reformada e readequada. “Foi viária permanente da CPTM, que in- construído um mezanino, uma cober- Combate ao caos clui a implantação de nova rede aé- tura espacial de aço pesando 1 100 to- Essa investida do governo paulis- rea, um novo Centro de Controle Ope- neladas e 12 000 metros quadrados ta na melhoria da qualidade do trans- racional (CCO) unificado na Estação protegendo toda a estação, o que per- porte público de alta capacidade – por Brás e sistemas de telecomunicações mite que o usuário saia do trem e não meio do grande projeto de integração e de sinalização de última geração, tome chuva. Agora as telhas têm iso- capitaneado pela CPTM –, além de está quase pronta a profunda readap- lamento. Anteriormente as platafor- constituir mais um importante passo tação funcional e restauração das áre- mas tinham coberturas individuais. para o desafogo do caótico trânsito da as operacionais (gares) tanto da Esta- Dentro está tudo pronto, a comunica- capital, vai retirar das costas da po- ção da Luz quanto da Estação Brás, ção visual, alto-falantes, relógios, cro- pulação da periferia um pouco do peso além de pequenas adaptações na Es- nometria, com muitas lojas no cami- que ela suporta diariamente em suas tação Barra Funda. nho. Além disso, foram introduzidas deslocações da casa para o trabalho O Projeto Integração Centro vai per- escadas rolantes, o que tornou possí- ou outras atividades – e vice-versa. A mitir a interpenetração das linhas A e vel que a integração com o metrô fosse meta é atender 50% da demanda total B da CPTM, que vêm de Osasco e Fran- agilizada de uma forma muito mar- de usuários das linhas de trens metro- cisco Morato, com a linha D, que vem cante”, diz ele. politanos que querem chegar ao cen- de São Caetano e Utinga, e com o Ex- No Brás algumas obras ainda estão tro da cidade. presso Leste, da Zona Leste (que ope- em fase de implantação, caso do CCO Além de ampliar a mobilidade da ra o trecho entre Luz e Guaianazes). O unificado. Bicalho conta ainda que a população, por meio da ligação de al- Expresso Leste, por sinal, revolucio- adequação das plataformas está em

Antes da execução desse que é um dos maiores projetos de integração metroferroviária do mundo, as linhas ferroviárias que cruzam São Paulo de leste a oeste não se interligavam. Até porque foram construídas inicialmente – por distintos empreendedores – para o transporte de cargas, chegando à região central em terminais próprios FOTO: RICARDO MARTINS

ENGENHARIA/2004 38 563 TRANSPORTE reportagem fase final, faltando apenas uma delas. o novo prédio – instalado em uma área cução é constituído não apenas pelas “É justamente a que traz o Expresso de 7 520 metros quadrados – deixou a transformações necessárias para a Leste para o Brás, que só poderá ser população dividida. Boa parte dela grande interligação metroferroviária, mexida quando o CCO estiver pronto”, externou rejeição durante o evento. Os como também pela restauração das edi- detalha. paulistanos o consideravam grande, ficações incorporadas ao complexo Um dos grandes pulos-do-gato do luxuoso e imponente demais para uma Luz. O número de passageiros que pas- projeto é a possibilidade de intercone- cidade que, por mais que crescesse – sam pela centenária estação, hoje na xão com o metrô. Além da integração pensavam na época –, nunca justifi- casa de 50 000 por dia, vai pular para que já é feita no Brás e na Barra Funda caria uma obra de tal envergadura. 300 000 quando a integração começar com a Linha 3-Vermelha do metrô, vai O tempo foi passando e os fatos se a funcionar – com capacidade para atin- possibilitar a interligação, na Estação encarregaram de provar o contrário. A gir 500 000 usuários por dia no futuro. da Luz, com a Linha 1-Azul e com a indústria automobilística encontrou Restaurada, a belíssima gare da futura Linha 4-Amarela, que é a que aqui um ninho acolhedor para se re- Luz vai integrar-se ao processo de virá da Vila Sônia, passando por Pi- produzir e o Brasil resolveu caminhar revitalização da região central da ci- nheiros. Segundo o presidente da na contramão do mundo, colocando dade de São Paulo, que está em mar- CPTM, Mário Bandeira, isso vai pos- todos os seus ovos na cesta do trans- cha há nove anos. O próprio edifício sibilitar a grande integração física e porte rodoviário. Como não poderia da estação (onde funciona hoje a ad- tarifária do sistema metroferroviário. deixar de acontecer, a Estação da Luz ministração) também está em fase fi- Ele lembra que hoje isso já existe, par- perdeu a majestade. E, em que pese seu nal de recuperação, de modo a que se cialmente. Ou seja, o Brás e a Barra grande valor histórico, nunca passou mantenha a concepção arquitetônica Funda já estão integrados fisica e por um processo de restauração. Com original, de 1901. Tanto a gare quanto tarifariamente. E o mesmo ocorrerá em o Projeto Integração Centro, no entan- o prédio da estação foram tombados relação à Luz, ainda este ano, se tudo to, seu esplendor está sendo resgatado. pelo Patrimônio Histórico Nacional correr como o planejado. “No final de em 1976. Mais tarde, a mesma decisão setembro deveremos estar entregando A Luz, restaurada foi tomada pelo Conselho de Defesa a nova Estação da Luz para a popula- No interior da estação, a área da do Patrimônio Histórico, Artístico, Ar- ção”, diz ele. gare está sendo totalmente preservada. queológico e Turístico do Estado de São A Estação da Luz, por sinal, é a que Ou seja, o projeto em fase final de exe- Paulo, Condephaat. vem sofrendo as intervenções mais Com todo esse conjunto de inter- profundas. Um dos cartões postais da venções de engenharia e arquitetura cidade, a Luz já foi uma humilde esta- A investida do governo que vem sendo realizado nos últimos ção de pau-a-pique. Por lá passavam paulista na melhoria da anos, pode-se apostar no efetivo res- imigrantes e cargas oriundos do lito- qualidade do transporte público gate da região da Luz, que está se tor- ral com destino ao interior paulista. nando o pólo da revitalização e re- Também era por onde o café – que vi- de alta capacidade, além de construção do centro histórico da ci- ria a ser o motor da economia do Esta- constituir mais um importante dade de São Paulo. A idéia é que a do de São Paulo – era escoado. Não passo para o desafogo do Luz funcione como elemento indutor demorou muito, no entanto, para que caótico trânsito da capital, vai do robustecimento do centro, para de- a modesta estação se tornasse dimi- volver a São Paulo uma identidade nuta demais para a pujança dos gran- retirar das costas da população que foi se perdendo pelo caminho. Em des barões do café. Tanto que, em 1895, da periferia um pouco do peso qualquer metrópole do mundo, a re- uma empresa com origem no Reino que ela tem que suportar gião do centro é a verdadeira identi- Unido, a São Paulo Railway, deu iní- diariamente em suas dade da cidade. Basta citar que, quan- cio ao processo de duplicação das li- do se pensa em Buenos Aires, logo nhas de carga e passageiros. A empre- deslocações da casa vem a imagem da avenida Nueve de sa de capital britânico tinha sido cria- para o trabalho Julio e do Obelisco – que são a cara da especialmente para explorar o ser- da capital portenha. Quando se pen- viço ferroviário em São Paulo. FOTO: RICARDO MARTINS sa em Paris, o que vem à memória é o Reza a lenda que a estação foi tra- Arco do Triunfo. Em Madri, o Palácio zida de países europeus, peça por Real. Ou seja, cada grande cidade tem peça. A estrutura de aço veio de sua fotografia. Glasgow, na Escócia. Os tijolos, pre- Em São Paulo, se fossem tirados de gos e pinho-de-riga, da Irlanda. Do lado o prédio do Banespa e o Viaduto porto francês de Marselha, foram des- do Chá, estaria se desfigurando por pachadas as telhas cerâmicas. Quan- completo a cara da cidade. A identida- do foi inaugurado, em março de 1901, de, então, está no centro e felizmente

ENGENHARIA/2004 40 563 FOTO: RICARDO MARTINS vem sendo resgatada. O atual processo da CPTM com a Estação Luz do Me- de revigoramento começou com as res- trô, que atende a Linha 1-Azul (Nor- taurações da Pinacoteca do Estado, do te-Sul) e, futuramente, a Linha 4-Ama- Museu de Arte Sacra, da Estação Júlio rela (Luz-Vila Sônia). A ligação será Prestes e com a construção da Sala São feita por um túnel sob a rua Mauá, que Paulo. Depois vieram os trabalhos de separa geograficamente as duas esta- recuperação e restauração do prédio da ções. O túnel – que já está concluído – antiga polícia política, o DOPS, para tem cerca de 150 metros de extensão e transformá-lo no Museu do Imaginá- 10 metros de profundidade. Ele termi- rio do Povo Brasileiro. Outro elemento na na altura da avenida Cásper Líbero indutor será a Estação Luz da Nossa Um dos grandes pulos-do-gato e tem dois acessos, um vindo direta- Língua, projeto – que corre paralela- mente da Estação Luz do Metrô e ou- mente ao de integração metroferroviá- do projeto é a possibilidade de tro dos passeios da avenida Cásper ria – desenvolvido pela Fundação interconexão com o metrô, pois Líbero. Roberto Marinho em conjunto com se- além da integração que já é As principais intervenções físicas cretarias estaduais paulistas e com a feita no Brás e na Barra Funda do Projeto Integração Centro na Esta- iniciativa privada. O prédio será um ção da Luz foram as seguintes: dois grande centro de produção cultural. A com a Linha 3-Vermelha do saguões de distribuição; um acesso na irradiação será feita por meio dos ór- metrô, ele vai possibilitar a Rua Mauá de interligação da estação gãos de comunicação, a começar dos interligação, na Estação da da CPTM com a estação do Metrô; um pertencentes as Organizações Globo. O Luz, com a Linha 1-Azul e com a acesso pela Avenida Cásper Líbero; espaço cultural vai ser utilizado para um acesso pelo lado do ; seminários e discussões. futura Linha 4-Amarela, que é a shafts de ventilação; eliminação das No que tange ao aspecto puramen- que chegará da Vila Sônia, escadas de acesso das passarelas às te de transporte público, o projeto vai passando por Pinheiros plataformas e retorno ao projeto origi- integrar fisicamente a Estação da Luz nal; adequação da via permanente na

ENGENHARIA/2004 41 563 TRANSPORTE reportagem região da estação em conformidade instrumentar a estação inteira, para que preciso então reforçá-las, transferindo com o projeto específico da CPTM; não se corresse o risco de que houvesse as cargas das estruturas metálicas da adequação da rede aérea sobre as li- algum deslocamento ou recalque, e aí estação para essas novas estacas. E fa- nhas; adequação do sistema de sina- fomos escavando ponto a ponto e zer contenções com parede diafragma lização da estação ao novo layout das prospectando as fundações sempre e estacas-raiz ao longo de todo o con- vias; e restauro das instalações da com o acompanhamento do projetista; torno dos saguões. “Além de estacas- gare associada ao projeto de moder- matamos ‘um leão por dia’ mas a obra raiz foram usadas também estacas es- nização funcional. está tecnicamente perfeita e nenhum in- cavadas e outra providência foi evitar cidente grave ocorreu.” o uso de tubulões a ar comprimido A delicadeza dos trabalhos O gerente de contrato da Andrade dentro da estação, para evitar explo- As obras de restauração reconsti- Gutierrez explica que na primeira par- sões que poderiam colocar em risco as tuíram esquadrias de ferro, passare- te das obras foi feito um trabalho de pessoas”, diz. las, galerias, cobertura, os muitos ele- subfundação, porque na estação só A presença de pessoas passando mentos da arquitetura clássica e até havia fundação direta, uma vez que pela estação o tempo todo – uma vez mesmo a caixa do grande relógio (ins- na época em que ela foi construída não que ela não pôde ser interditada, por pirado no Big Ben de Londres), que era conhecido ainda o método de esta- não haver como transferir o público e também volta a funcionar. Por envol- queamento. Uma das primeiras coisas pelo fato de o terminal ser um ponto de ver áreas tombadas pelo patrimônio que se pôde verificar, portanto, foi que circulação permanente de carga para a histórico, todo o trabalho está sendo seria impossível construir os saguões capital e o interior – foi, de longe, a prin- feito com o acompanhamento perma- escavando numa área em que as es- cipal dificuldade encontrada pelos nente de entidades do setor e da Pro- truturas tinham fundações diretas. Foi construtores. A opção pela estaca-raiz motoria Pública. deveu-se principalmente à necessida- As obras, que estão sob a responsa- de de se evitar vibrações. A alternativa bilidade de um consórcio liderado pela A idéia é que a Luz da estaca hélice contínua foi descarta- Construtora Andrade Gutierrez, tam- funcione como elemento da em virtude da limitação do pé-direi- bém proporcionarão uma integração indutor da revitalização do to, por conta dos mezaninos existentes cultural, por permitir um acesso direto em toda a área da estação. à Pinacoteca do Estado. Segundo o engº centro, para devolver a São Essas limitações, como não poderia Anuar Caram, gerente de contrato da Paulo uma identidade que foi deixar de ser, fizeram com que a produ- obra pela Andrade Gutierrez, a cons- se perdendo. Em qualquer tividade fosse reduzida. Se, normal- trutora realizou todos os reforços de grande cidade do mundo, o mente, é possível fazer quatro estacas- fundação da estrutura da estação, as raiz por dia, na Estação da Luz a cons- contenções dos saguões subterrâneos, centro é a verdadeira trutora só conseguiu executar uma a as lajes de teto, a escavação pelo méto- identidade do lugar. Quando se cada 24 horas. Um outro problema en- do invertido e a impermeabilização por pensa em Buenos Aires, por frentado foi o de que todo o transporte geomembrana de PVC. “As obras tive- exemplo, logo surge a de equipamentos para a construção ram início em agosto de 2001 e hoje es- teve que ser feito por via férrea e os tra- tão quase que na sua totalidade pron- imagem da avenida Nueve de balhos foram realizados prioritaria- tas”, confirma ele. Julio e do Obelisco mente no período da madrugada. Segundo Caram, apareceram mui- Conforme explica Caram, a opção FOTO: RICARDO MARTINS tas surpresas durante a execução das do método invertido – adotada por obras. “Isso porque, entre outras coi- consenso entre os técnicos da CPTM e sas, tivemos que fazer o delicado traba- dos órgãos do patrimônio na fase de lho de reforço de fundação, parte do tra- elaboração do plano – consistiu, numa balho em que havia muito mais incer- primeira fase, na execução da laje de tezas do que conhecimento de nossa teto. “Isso para se permitir a liberação parte”, diz. A explicação – diz ele – é da área para a operação de trens. Li- que a estação é toda tombada e não se berando-se a operação, ou seja, dimi- pode sair escavando a torto e a direito. nuindo-se a interferência, pôde-se en- E também não existia à disposição dos trar por um emboque, do lado de fora engenheiros e técnicos nenhum proje- da estação, e efetuar a escavação por to das fundações. Os construtores tive- baixo sem nenhum transtorno para o ram então que abrir todas as fundações público usuário”. Ele diz que a laje de com muito cuidado, porque a estação – teto foi feita em duas fases. A primeira além de protegida pelo patrimônio his- fase consistiu justamente na adoção tórico – estava operando. “Foi preciso de todas as providências logísticas

ENGENHARIA/2004 42 563 FOTO: RICARDO MARTINS FOTO: SANSUY A presença de pessoas passando pela Estação da Luz o tempo todo – já que ela não pôde ser interditada, por não haver como transferir o público e pelo fato de o terminal ser um ponto de circulação permanente de carga para a capital e o interior do estado – constituiu-se, de longe, na principal dificuldade encontrada pela construtora da obra para não se interromper a operação gem (tubos que são cravados após a gem. Algo realmente fantástico, e da estação. Feito isso, passou-se a ope- escavação com hélice horizontal e que quem é engenheiro sabe disso. Fize- rar em cima da laje executada e aí par- servem depois como contenção do mos também enfilagem sob uma gale- tiu-se para a segunda fase, “constru- maciço). Seu relato: “Tivemos que fa- ria de cabos que interliga todo o siste- indo-se” a nova estação e liberando- zer enfilagem de 8 polegadas no aces- ma da CPTM na Estação da Luz – que se depois a estação inteira, como se so Cásper Líbero, uma vez que os ór- não poderia ser remanejada em hipó- nada estivesse acontecendo por lá. “As gãos de patrimônio não permitiram a tese alguma. Tivemos que proceder obras hoje estão todas enterradas”, retirada de uma escada que viabiliza- assim até para poder dar continuida- comemora ele. ria a execução de reforços dos blocos de à laje de teto das estruturas”. Ainda sobre os métodos construti- ali no acesso. Como não havia como Ele conta ainda que foram feitas vos empregados, Caram diz que a realizar esse acesso foi construída protensões nos blocos de concreto e construtora fez também toda a enfila- uma parede de contenção com enfila- impermeabilização com manta de

ENGENHARIA/2004 43 563 TRANSPORTE reportagem FOTOS: RICARDO MARTINS Outro aspecto importante a ser levado em conta na execução de um túnel complexo como o que foi construído na região da Luz, sob a Rua Mauá – que é a que separa geograficamente a estação da CPTM da estação do Metrô –, é o da impermeabilização. Afinal, o túnel tem nada menos que 150 metros de extensão e 10 metros de profundidade

PVC. Outro detalhe técnico lembrado dade de soltar parafusos ou desmon- talada entre a parede diafragma e a por ele: a espessura da laje de fundo tagem de tubulações. parede estrutural do túnel. do saguão é de um metro e meio, devi- Essas quatro bombas submersíveis No piso, a geomembrana foi insta- do à subpressão, o alto nível de água ABS poderão juntas bombear um vo- lada sobre uma base de concreto regu- que existe na região da Luz. “No re- lume total de mais de 5,5 milhões de larizado e posteriormente protegida por sumo da ópera, executamos os túneis, litros por hora, garantindo que não uma camada de argamassa de cerca de mezanino, dois saguões, acesso aos haverá inundações na plataforma de 5 centímetros – e em seguida recebeu o saguões, o restauro da estação intei- passageiros ou interrupções da via concreto armado estrutural que compõe ra e o restauro dos torreões e fachada por onde circulam os trens. Outro as- o piso. No teto, o PVC foi instalado so- Rua Mauá. Fizemos também o restau- pecto importante a ser levado em con- bre a laje do túnel, previamente regula- ro da estrutura metálica, da cobertu- ta na execução de um túnel complexo rizada. Em seguida, recebeu uma ca- ra e do forro da estação. Realizamos como o que foi construído sob a Rua mada de proteção mecânica de arga- pesquisas para descobrir onde encon- Mauá – que separa geograficamente massa de outros 5 centímetros antes da trar o tipo de tijolinhos usados origi- a estação da CPTM da estação do vala ser reaterrada. nalmente, areia, granulometria e tra- Metrô –, é o da impermeabilização. Sobre as características dos geos- ço de rejunte. Só não fizemos a pintu- Afinal, o túnel tem os citados 150 sintéticos empregados no Projeto Inte- ra da fachada, que ficou sob a respon- metros de extensão e 10 metros de gração Centro, o engº Roberto Kochen sabilidade da Fundação Roberto Ma- profundidade. Ele termina na altura – diretor da Geocompany Tecnologia, rinho e seus parceiros – mas os torre- da Avenida Cásper Líbero e tem dois Engenharia & Meio Ambiente, e tam- ões fomos nós que restauramos, e tra- acessos, um vindo diretamente da bém diretor do Departamento de En- ta-se de um serviço extremamente ela- Estação Luz do Metrô e outro dos pas- genharia de Construções Civis do Ins- borado.” seios da Avenida Cásper Líbero. tituto de Engenharia – informa que a A impermeabilização do túnel foi geomembrana de PVC é obtida pelo Drenagem e impermeabilização feita por meio da utilização de uma processo de calandragem, multicama-

Os equipamentos utilizados para geomembrana de PVC FOTO: DIVULGAÇÃO da, com formulação ade- o sistema de águas pluviais e drena- com espessura de 3 mi- quada para atender o gem da plataforma foram quatro bom- límetros. Esta solução é memorial técnico do bas submersíveis ABS, modelo AF inédita no Brasil, apesar projeto baseado na nor- 370/8W3 GB 301, com potência uni- de bastante utilizada ma suiça SAI 280, espe- tária de 50 HP, equipada com rotor de em outros países, prin- cífica para obras enter- ampla passagem de sólidos de até 135 cipalmente na Europa. radas, com algumas al- milímetros – para vazão unitária de A estrutura do túnel é terações solicitadas pelo 1,45 milhão de litros por hora de águas constituída por uma fabricante da geomem- pluviais. parede estrutural de brana (Sansuy S.A. In- O volume de águas pluviais é o to- concreto armado com dústria de Plásticos) e tal das precipitações na área de 79 000 cerca de 60 centímetros aprovadas pela CPTM. metros quadrados da bacia. Toda essa de espessura, uma laje O geocomposto, por água é captada num poço de aproxi- de teto e um piso tam- sua vez, é obtido pelo madamente 40 000 litros onde ficam bém de concreto arma- Engº Roberto Kochen – acoplamento de uma ge- diretor da Geocompany as quatro bombas submersíveis insta- do. Nas paredes a geo- Tecnologia, Engenharia & omembrana de PVC de 3 ladas em paralelo com um sistema de membrana de PVC é Meio Ambiente, e também milímetros com um engate com pedestal fixo e um tubo protegida por dois diretor do Departamento geotêxtil não-tecido de guia único que permite a descida ou geotêxteis não-tecidos, de Engenharia de Constru- polipropileno de 500 g/ içamento das bombas sem a necessi- um em cada face, e ins- ções Civis do IE m² em uma das faces. A

ENGENHARIA/2004 44 563 A superestrutura das vias férreas do lado norte foram desmontadas, as interferências removidas e em seguida iniciada a execução de estacas-raiz de reforço de blocos de fundação existentes e de contenção de vala. Para o fechamento do perímetro de vala foram cravados perfis metálicos provisórios paralelamente à plataforma central FOTO: RICARDO MARTINS utilização do geocomposto foi uma das brica para obtenção dos painéis é a ligado ao tipo de polímero que compõe alterações solicitadas na especificação termofusão por meio de máquina de a estrutura do geotêxtil, devido ao fato inicial para redução de mão-de-obra, cunha quente. do mesmo estar em contato direto com uma vez que o geotêxtil não-tecido ex- O geotêxtil não-tecido, por seu lado, o concreto. terno não precisa mais ser fixado sobre foi empregado na obra como elemento No caso enfocado, o geotêxtil utili- a geomembrana porque já vem acopla- de proteção da geomembrana de PVC, zado é composto de fibras 100% do. O fornecimento do geocomposto foi tendo sido elemento imprescindível polipropileno, polímero altamente re- feito em painéis pré-confeccionados em para o bom funcionamento do sistema. sistente aos fenômenos de reação do fábrica, nas dimensões mais adequa- A proteção da geomembrana nesse tipo concreto durante o período de cura. O das para cada local, e também em bobi- de aplicação é bastante importante no emprego do geotêxtil inadequado colo- nas de 1 400 milímetros, onde os pai- sentido de se evitar eventuais danos ca em risco o desempenho do sistema néis maiores não podiam ser aplicados mecânicos decorrentes do processo exe- de proteção, pois o mesmo pode sofrer por questão de peso ou dificuldade de cutivo dos túneis. Outro fator impor- degradação acelerada devido ao pro- fixação. O processo de emenda em fá- tante a ressaltar – aponta Kochen – está cesso de hidrólise que ataca polímeros

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FOTO: RICARDO MARTINS como o poliéster, por exemplo. Outros da obra, em custos equivalentes – ten- parâmetros físicos e mecânicos foram do sido escolhida finalmente como so- respeitados, segundo especificações lução executiva. técnicas do projetista. Saguões internos – Uma vez adotada, Foram empregados também diver- por consenso, a opção pelo método sos acessórios para conferir maior invertido, os dois saguões internos fo- confiabilidade e impermeabilização, ram executados em três etapas e em visto tratar-se de obra de grande res- vala a céu aberto escorada com ponsabilidade e manutenção onero- estroncas metálicas e/ou atirantadas sa. Os principais acessórios que fize- e com contenção em estacas-raiz jus- ram parte do processo de impermea- tapostas. Na primeira etapa, foram bilização da obra foram: juntas water- bloqueadas para a operação a plata- stop, canal para injeção e perfis de forma e as vias férreas do lado norte, alumínio. até aproximadamente a borda da pla- taforma central. Como foi concebido A superestrutura das vias férreas do o projeto executivo lado norte foram então desmontadas, Até que fosse elaborado o projeto foram removidas as interferências e em executivo da modernização da Esta- seguida iniciada a execução de estacas- ção da Luz, um longo período de dis- raiz de reforço de blocos de fundação cussão foi necessário. O detalhamen- existentes e de contenção de vala. to foi feito por técnicos da CPTM em Para o fechamento do perímetro de conjunto com profissionais dos órgãos A Estação Luz da Nossa Língua vala foram cravados perfis metálicos de preservação do patrimônio históri- contará com oficinas culturais provisórios paralelamente à platafor- co nacional, estadual e municipal. que vão utilizar linguagens ma central e à galeria de cabos exis- Depois de estudadas algumas alterna- como música, teatro, dança, tente, que foi mantida. Foi executado tivas técnicas, a coordenação de enge- o escoramento da vala, a enfilagem nharia de infra-estrutura da CPTM literatura. A interatividade, sob a galeria de cabos, a fundação em submeteu o material aos técnicos dos com suportes tecnológicos tubulões e a estrutura de concreto ar- três organismos do patrimônio, for- sofisticados, mostrará o uso do mado da laje de teto. A seguir foram mando-se então um consenso quanto português em diversas mídias. refeitas as infra e superestrutura das ao partido arquitetônico a ser adota- vias permanentes e restabelecida a do para a restauração e valorização O projeto abrigará ainda fóruns operação de trens sobre a estrutura funcional do edifício. e debates com a missão de executada. As duas alternativas estudadas fo- valorizar a língua portuguesa A escavação da vala prosseguiu ram a do método invertido e a da vala pelo método invertido, sob a laje de teto a céu aberto. Tecnicamente falando, executada, com a colocação de escora- os dois métodos construtivos se eqüi- ria ser feita utilizando as plataformas mento metálico e/ou tirantes interme- valem, as vantagens e desvantagens existentes. Sob o aspecto “prazos de diários e com rebaixamento do lençol que os dois poderiam apresentar são obra”, o método invertido oferecia uma freático até chegar à cota de apoio da específicas de uma obra com interfe- redução significativa, visto que, após a laje de fundo do saguão, situada a cer- rência direta com a operação dos trens execução das subfundações, das pare- ca de 8 metros e meio de profundida- e a circulação de usuários. Ambos des de contenção e da laje de cobertura, de. Em seguida foram executadas as previam a execução da obra com a fer- as obras dos saguões lados norte (lado estruturas da laje de fundo e das pare- rovia funcionando. Por liberar a inte- do Parque da Luz), sul (lado da Rua des laterais de baixo para cima, reti- gração das quatro linhas da CPTM Mauá) e central (onde fica a platafor- rando-se o escoramento metálico e/ou mais rapidamente, o método inverti- ma central) podiam ser executadas si- desativando os tirantes à medida que do levava vantagem, pois não seria multaneamente. a estrutura ia sendo levantada até os necessário aguardar a conclusão das Sob o aspecto de custos, o acrésci- níveis de instalação dos mesmos e con- obras do subsolo. mo da alternativa do método invertido cluindo-se as estruturas até o nível da Para manter a estação em operação foi inferior ao custo das obras comple- laje de teto. na alternativa em valas a céu aberto, mentares de plataformas e passarelas Na segunda etapa, foram bloque- tornar-se-ia necessário a execução de provisórias que a alternativa de vala a adas a plataforma e as vias férreas do plataformas provisórias para embar- céu aberto exigia. Assim, a opção pelo lado sul, executando-se a obra pelo que e desembarque fora da gare; no método invertido somava vantagens mesmo processo utilizado no lado método invertido essa operação pode- operacionais e redução no prazo total norte (primeira etapa), exceto os ser-

ENGENHARIA/2004 46 563 viços de enfilagem sob a galeria de cabos já executados na primeira fase da obra. Na terceira etapa, foi boqueada a plataforma central e foi executado o que ainda resta- va da escavação e das estruturas de concreto do sa- guão, interligando-se as estruturas executadas nos la- dos norte e sul. Acessos – Os acessos Mauá, Cásper Líbero e Jardim da Luz foram executados em valas a céu aberto contidas por estacas escavadas tipo hélice contínua, interligadas por concreto projetado em forma de arco e escoradas por dois níveis de tirantes. A estrutura permanente foi executada em concreto moldado in loco. Túneis – A parte mais delicada da obra foi a passagem de túneis de interligação dos acessos aos saguões, sob o edifício existente sem causar danos ao mesmo. Para tan- to foram previstos poços de acesso a partir dos quais foram executados os túneis pelo processo NATM, ou método austríaco (sendo um de acesso pela Rua Mauá, outro pela Avenida Cásper Líbero, e o terceiro de acesso pelo Parque da Luz). Subfundações – Para atender ao projeto dos novos sa- guões, houve interferência das paredes de contenção com os blocos de fundação que sustentam a cobertura da gare e com as estruturas das passarelas existentes. Sendo assim, houve necessidade de reforço de funda- ção desses blocos, antes do início das escavações da vala escorada. Estação Luz da Nossa Língua Pouco depois do início das obras do Projeto Integra- ção Centro, a Fundação Roberto Marinho uniu-se à Secre- taria de Cultura do Estado de São Paulo, num projeto ambicioso destinado não apenas a recuperar a fachada do edifício da Estação da Luz – cuja conclusão está pre- vista para o ano que vem – como resgatar a própria língua portuguesa. Ali será implantado em futuro próximo um centro de valorização da língua portuguesa – a Estação Luz da Nossa Língua – voltado para os e o público em geral. A idéia é a de ressaltar o papel da língua no dia-a-dia das pessoas. A Estação Luz da Nossa Língua contará com ofici- nas culturais que deverão utilizar diversas linguagens – música, teatro, dança, literatura. A interatividade, ga- rantida por suportes tecnológicos sofisticados, mostra- rá o uso do português em diversas mídias. O projeto abrigará ainda fóruns e debates liderados por institui- ções que tenham como missão a valorização e celebra- ção da língua portuguesa. Afinal, dizem os realizado- res, é a língua que revela nossa identidade, é essencial em nossa cultura e está presente em todos os cantos do planeta. Ou seja, a língua portuguesa é o quinto idioma mais falado, língua oficial de 200 milhões de pessoas. Além da secretaria estadual da Cultura e da Fundação Roberto Marinho (com o apoio da Lei Federal de Incen- tivo à Cultura), participam do projeto: TV Globo, IBM do Brasil, Petrobras, Votorantim, Vivo, Correios, secre-

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taria estadual de Educação e Banco Antes de se refazer qualquer peça, mendada uma segunda avaliação, rea- Nacional de Desenvolvimento Econô- foi preciso passar por uma cuidadosa lizada pelo professor Mário Mendon- mico e Social, BNDES. investigação. O Instituto de Pesquisas ça de Oliveira, da Universidade Fede- Esses trabalhos de restauração ge- Tecnológicas, IPT-USP, mediu a quan- ral da Bahia – especialista no assunto raram 100 empregos diretos, entre en- tidade e avaliou a composição dos ma- –, que confirmou que o trabalho seguia genheiros, arquitetos, restauradores, teriais que compõem as argamassas e no caminho certo. pedreiros, marceneiros etc., e mais 150 os elementos arquitetônicos das facha- O jogo de cores realça ainda mais os indiretos. Ao longo do trabalho já fo- das. Só assim foi possível repetir as detalhes artísticos e combina perfeita- ram restaurados 4 230 metros quadra- mesmas fórmulas usadas na época da mente com o tijolo aparente de alguns dos de alvenaria, além de 123 esqua- construção (no final do século 19) e dos pontos da fachada. Uma vez feito drias e cerca de 400 elementos artísti- depois, na reconstrução do edifício (en- isso, está-se cuidando da iluminação, cos diferentes. tre 1947 e 1951). Essa preocupação ga- que foi acrescentada à fachada sem in- Em alguns pontos, a Estação da Luz rante que o aspecto final do edifício se terferir em sua aparência. Algo que vai apresentava problemas graves, como mantenha uniforme. fazer reluzir a estação à noite. A idéia é infiltrações. Muitas vezes, o trabalho Para a definição da cor da pintura mostrar que o prédio está em uso, com dos restauradores precisava ser feito no também houve profunda pesquisa. Ao pessoas circulando em seu interior. Por próprio local, quando se tratavam de todo, foram feitas prospecções estrati- isso, as luzes vão dar um efeito especial peças maiores ou fixas. Porém, grande gráficas – técnica que revela as cama- às janelas. Com iluminação localizada, parte dessa operação foi realizada den- das de tinta originais – em 40 pontos adotada para cada uma das janelas, isso tro de um laboratório instalado no pró- diferentes das argamassas e em mais funciona como principal elemento emis- prio edifício. Rosáceas, folhas de 60 outros locais, entre portas e estrutu- sor de . A partir das marquises, o edi- acanto, balaústres e pináculos entre ras metálicas. Além das análises do IPT fício vai receber uma iluminação mais tantos outros elementos artísticos tive- e dos estudos realizados pela equipe tênue e pulverizada, de forma a não ram que ser refeitos para devolverem o de restauro, que apontavam para o uso competir com a luminosidade das jane-

efeito original. de tinta em tons de amarelo, foi enco- las, mas apenas complementá-la.

○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○ CCO unificado no Brás e nova sinalização coroam o projeto O novo Centro de Controle Operacional que está sendo construído na Estação Brás da CPTM vai integrar os atuais CCOs de Presidente Altino, Luz e Brás em um único local e o moderno sistema de sinalização microprocessado que está sendo implantado entre as estações Barra Funda e Brás vão permitir um intervalo operacional de três minutos

O novo – e unificado – Centro de Hoje funcionam três CCOs na CPTM. as linhas E e F da CPTM. O novo cen- Controle Operacional (CCO) da Com- Um na Estação Presidente Altino, que tro logístico integra as obras do Pro- panhia Paulista de Trens Metropoli- controla as linhas B e C. Outro na Es- jeto Integração Centro, prestes a ser tanos, CPTM, estará funcionando a tação Luz, que comanda as linhas A e concluído. partir de setembro próximo num pré- D. E um terceiro – inaugurado pelo Paralelamente à implantação des- dio construído especialmente para governador Mário Covas em 1998 –, se moderno CCO estará sendo imple- esse fim nos fundos da Estação Brás. na gare antiga do Brás, monitorando mentado um sistema de sinalização

A transição operacional dos atuais CCOs para o prédio novo no Brás será feita sem problemas porque os sistemas dos três CCOs antigos têm equipamentos duais, ou seja, duplicados. O CCO de Presidente Altino migrará para o prédio onde está situado hoje o velho CCO do Brás – que depois será demolido –, valendo o mesmo para o CCO da Luz FOTO: RICARDO MARTINS

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