UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

EDUCAÇÃO E TELEJORNALISMO: e as Notícias sobre qualificação para o trabalho

Isabela Ruberti

Orientador: Prof. Dr. Pedro L Goergen

2010

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Dedicatória

À memória do meu querido pai Antonio Carlos Ruberti, que me ensinou ser íntegra, corajosa e independente.

À minha mãe Ana Madalena Bera Ruberti, sempre ao meu lado.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador e amigo querido, Prof. Dr. Pedro L. Goergen, por confiar em mim, por me incentivar nos momentos difíceis, por me instruir com afeto e sabedoria. Agradeço ainda pelas aulas consistentes e lindas, sobretudo pela acolhida generosa essencial para realização deste trabalho, meu eterno reconhecimento. Ao meu querido co-orientador, jornalista e Prof. Dr. Belarmino Cesar Guimarães da Costa, pela colaboração e diálogos pertinentes. Sobretudo, pelos impertinentes. Também pelos anos de convivência na UNIMEP, com os quais aprendi muito e pela amizade fraterna. Ao professor membro da banca e amigo querido Prof. Dr. José Luís Sanfelice, por me fazer entender a beleza da história e pelas aulas ricas que ampliaram minha visão e me ajudaram neste trabalho. Também pelos e-mails que me deram força para concluir mais essa etapa de luta. Ao membro da banca examinadora e amigo Prof. Dr. Hermógenes Saviani Filho, pelo estímulo e observações ao meu trabalho. À Profª. Dra. Helia Vannuchi de Almeida Santos, membro da banca examinadora, pela amizade e observações ao meu trabalho. Aos meus irmãos Maristela Ruberti e Julio Cesar Ruberti, pelo carinho e apoio. Às minhas irmãs de alma, Anna Ferrer Roselló e Eneida Baccaro Modonezi, sempre prontas para me ouvir e ajudar. Cultivar amizades como a nossa é privilégio de poucos. À família Bera e Ruberti, pelo afeto. À minha família da Espanha, pelo carinho, apoio e pelas noites de boa música regadas de paella e muita alegria. Às amigas de infância, Simone Saville e Elis Cristina, grandes parceiras de aventuras e sonhos. Às amigas Fabíola, Larissa e Rita, pelas palavras de incentivo e orações. Aos amigos Aldo e Rodrigo pelo apoio. Aos professores e colegas da UNIP, Omar Bueno, Ivani Vecina e Roni Muraoka pelo incentivo e brincadeiras. Aos alunos da Faculdade de Educação e aos funcionários da pós-graduação, em especial a Nadir, Cleo e Rita pela atenção. À editora-chefe do JH, Teresa Garcia e pela recepção amistosa e generosa na TV Globo em São Paulo.

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(...) suspeito muito do uso que se faz em grande escala da televisão, na medida em que creio que em grande parte das formas em que se apresenta, ela seguramente contribui para divulgar ideologias e dirigir de maneira equivocada a consciência dos espectadores. Eu seria a última pessoa a duvidar do enorme potencial da televisão justamente no referente à educação, no sentido da divulgação de informações e esclarecimentos.

Theodor W. Adorno.

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RESUMO

Este estudo teve por objetivo investigar as mediações que norteiam o processo de construção da notícia sobre educação na TV. Trata-se de um estudo que analisa como o Jornal Hoje (JH) da Rede Globo de televisão seleciona, apura, edita e disponibiliza as informações relacionadas à educação. O telejornal (JH) que é diário e está presente na grade da emissora desde 1971, em seu horário de exibição é o mais importante em matéria de noticiário da TV, e exerce grande influência sobre sua audiência. Nessa perspectiva, o estudo centra-se particularmente nas mensagens que relacionam educação e trabalho. As transformações que marcam o mundo laboral na contemporaneidade afetam os indivíduos que são cada vez mais exigidos no que diz respeito à formação escolar. Para atingir uma melhor posição no mercado de trabalho, os indivíduos precisam ser “qualificados”, ou seja, a escola precisa dar ênfase nas capacidades e competências adquiridas na escola fabril para „garantia‟ de emprego. Nesse contexto, a partir da literatura estudada verificou-se a relação mercantil e ideológica das matérias, que muitas vezes respondem aos interesses da elite econômica e política. Também foi realizada entrevista com os editores do telejornal para compreender o processo de codificação das mensagens. Estabelecemos como corpus, reportagens exibidas pelo (JH), no período de abril a julho de 2008. Foram selecionadas matérias com referência à educação para análise qualitativa. O estudo verificou que a pauta de educação e trabalho está presente no (JH) de maneira significativa. Constatou também que as reportagens muitas vezes são associadas à oportunidade de emprego e renda.

Palavras-chave: Educação; Telejornalismo; Notícia; Trabalho; Qualificação

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ABSTRACT

Education and journalism: Jornal Hoje and the news about qualification for the job.

This study aimed to investigate the mediations that guide the process of building the news on TV about education. This is a study that examines how the Jornal Hoje (JH) of Rede Globo television selects, clears, edits and provides information related to education. Television news (JH), which is daily and it is present in the grade of station since 1971, not only in its time of exhibition, it is the most important on the TV news and has a great influence on its audience. From this perspective, this study focuses more particularly on the messages that relate education and work. The transformations that mark the contemporary world of work affect individuals who are increasingly required in regard to their professional education. To achieve a better position in the labor market, individuals need to be "qualified", ie focus on capabilities and skills acquired in factory schools to 'guarantee' of employment. In this context, as from the literature study it was found the ratio of commercial and ideological matters, which often respond to the interests of economic and political elite. It was also conducted interviews with television news editors to understand the process of encoding messages. Established as a corpus, reports displayed by the (JH) in the period April 2008 to July of that year. Materials were selected with reference to education for qualitative analysis. The study found that the scriptwriting of education and work are present in the (JH) significantly. Also noted that the reports are often linked to employment opportunities and income.

Key-words: education ,journalism, news, job, qualification

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 1

CAPÍTULO I - FALÁCIAS DA NOTÍCIA SOBRE EDUCAÇÃO E EMPREGO NA TV ...... 13 1.1. QUANDO A EDUCAÇÃO VIRA NOTÍCIA ...... 20 1.2. QUANDO A NOTÍCIA VIRA EDUCAÇÃO ...... 24

CAPÍTULO II - OS TELEJORNAIS E A REDE GLOBO ...... 28 2.1. JORNAL HOJE: O TELEJORNAL INTIMISTA E SIMPÁTICO NO HORÁRIO DO ALMOÇO ...... 32 2.2. JORNAL HOJE E A PASSAGEM DO TEMPO ...... 33 2.3. JH: INTIMIDADE NECESSÁRIA ...... 40 2.4. A INTERATIVIDADE NO JH ...... 47

CAPÍTULO III - EDUCAÇÃO E TRABALHO ...... 48 3.1. CONCEITO DE TRABALHO ...... 51 3.2. O CONCEITO DE EDUCAÇÃO ...... 53 3.3. AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO ...... 55 3.4. EDUCAÇÃO, TRABALHO E JOVENS ...... 61 3.5. MÍDIA, CAPITALISMO E EDUCAÇÃO ...... 65

CAPÍTULO IV - INDÚSTRIA CULTURAL E TV ...... 73 4.1. A INDÚSTRIA CULTURAL E A DESCARACTERIZAÇÃO DA PRÁTICA JORNALÍSTICA ...... 83 4.2. CONCEITO DE NOTÍCIA ...... 89 4.3. A NOTÍCIA TRANSFORMADA EM MERCADORIA ...... 89 4.4. A NOTÍCIA ELETRÔNICA: ASCENSÃO DO AUDIOVISUAL ...... 93

CAPÍTULO V - A TV ABERTA E SUA IMPORTÂNCIA NO BRASIL ...... 100 5.1. TELEJORNALISMO: INÍCIO ...... 102 5.2. A LINGUAGEM DO TELEJORNAL ...... 103 5.3. TELEJORNALISMO: DO PAPEL PARA TELA ...... 113 5.4. TELEJORNALISMO: O DISCURSO DA NOTÍCIA DOMINANTE ...... 115 5.5. A LINGUAGEM DA INTERATIVIDADE ...... 116 5.6. TELEJORNAL E IMAGEM ...... 120

CAPÍTULO VI - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...... 126 6.1. O CAMPO DA PESQUISA ...... 126 6.2. CONTEÚDO GERAL CAPTURADO ...... 129

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CAPÍTULO VII - RESULTADOS ...... 134 7.1. REDE GLOBO ...... 134 7.2. ASPECTOS GERAIS DO JORNAL HOJE NA ATUALIDADE ...... 134 7.3. ASPECTOS DA APRESENTAÇÃO DO JH ...... 135 7.4. TEMAS ABORDADOS NO JORNAL HOJE ...... 138 7.5. QUADROS DO JH ...... 140 7.6. JH: EDUCAÇÃO E TRABALHO ...... 142 7.7. A REPORTAGEM NO JH ...... 143 7.8.1 Análise qualitativa das matérias factuais ...... 145 7.8.2. Análise das matérias especiais ...... 158 7.8.3. Análise das matérias de autopromoção ...... 164

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 167

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 171

ANEXOS ...... 183

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 Principais Redes de TV aberta do país ...... 100 Quadro 2 Participação das maiores redes brasileiras na audiência nacional das 7 às 24 horas (%) ...... 101 Quadro 3 Perfil telespectadores do JH por faixa etária ...... 136 Quadro 4 Perfil telespectadores do JH por classe social ...... 137

Tabela 1 Matérias “Educação e Trabalho” JH - Março/2008 ...... 128 Tabela 2 Matérias “Educação e Trabalho” JH - Abril/2008 ...... 129 Tabela 3 Matérias “Educação e Trabalho” JH - Maio/2008 ...... 130 Tabela 4 Matérias “Educação e Trabalho” JH - Junho/2008 ...... 131 Tabela 5 Matérias “Educação e Trabalho” JH - Julho/2008 ...... 132 Tabela 6 Matérias factuais ...... 143 Tabela 7 Matérias especiais ...... 157 Tabela 8 Matérias de autopromoção ...... 163

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INTRODUÇÃO

A questão primordial de investigação nesta tese é a análise das mensagens produzidas sobre educação e trabalho. São temas que aparecem em forma de reportagem no telejornal e que vêm obtendo cada vez mais espaço na mídia brasileira. Isto se deve à necessidade crescente de informar os indivíduos sobre uma educação “para” a conquista de um emprego no mercado de trabalho. Exigência do impacto das transformações ocorridas no mundo laboral nas últimas três décadas, que necessita na nova fase do capital (tardio) de uma força de trabalho mais complexa, sofisticada. A escola da sociedade moderna é influenciada por esta poderosa ideologia herdada do Toyotismo/Fordismo1, assim como a mídia. Por isso, o foco sobre a relação educação e trabalho torna-se essencial para os setores da atividade econômica. Já não existem dúvidas de que vivemos hoje num mundo da informação e do entretenimento. Mundo este oferecido e interpretado principalmente pela mídia, cada vez mais presente na vida de todos nós. A TV afeta os modos de agir e de pensar dos indivíduos. Ela é ao lado da escola hoje, uma grande educadora. Trata-se de perceber, então, que inevitavelmente, a TV acaba impactando parte da educação e da cultura. Atualmente, o foco maior são as crianças e os jovens. Pois bem, a televisão funciona como um veículo de papel estratégico. Conforme relatam TRAQUINA (2004), SCHUDSON (2002) e PENA (2005), o modelo de que o jornalismo reproduz o real tal como ele é, sendo uma espécie de fotografia da realidade, já não encontra mais guarida nas pesquisas desenvolvidas na área. Além disso, é sabido que a TV deforma o espaço público. O volume de artigos sobre telejornalismo em nossos periódicos nem de longe faz jus à importância desse gênero no país. Gênero de penetração cultural sem precedentes na história do Brasil. Infelizmente, há ainda certo preconceito dos pesquisadores com a televisão e seus produtos. Ela deveria ser levada mais a sério, mas não o é. Naturalmente que existem pesquisas,

1 O Toyotismo é um modo de organização da produção capitalista baseado em procedimentos altamente flexíveis. Saviani (2005), diz que: Sob a inspiração do toyotismo, busca-se flexibiliar e diversificar a organização das escolas e o trabalho pedagógico, assim como as formas de investimento. (...) prevalece a busca pela produtividade guiada pelo princípio de racionalidade, que se traduz no empenho em se atingir o máximo de resultados com o mínimo de dispêndio. H. Ford (1863-1947) coloca em prática as teorias de Taylor, lançando a produção em série. Ao contrário da produção artesanal, nessa concepção o cliente não tem escolha. Os fabricantes elaboram produtos para suprirem o gosto do maior número de pessoas possíveis. O produto é "empurrado" para a população. 1

mas são poucas diante da força da TV. Não podemos esquecer jamais, que a visão de mundo dos indivíduos é, sobretudo hoje, construída pela TV e pela Internet. É notório que os meios de comunicação de massa como fenômeno possuem uma enorme importância no campo da educação. Tal processo não foi desencadeado ontem, mas no período de consolidação da mídia no século passado. A velocidade das transformações que torna a informação que vem das telas em referência – “base de conhecimento” para muitos deve ser uma preocupação constante para a escola. Há uma opinião majoritariamente positiva sobre a televisão por parte de educadores e especialistas da área, como meio de informação e de aprendizagem. Partimos do pressuposto de que a TV exerce papel relevante no processo de socialização das gerações atuais e futuras. Por sua força e audiência, ela causa profundas transformações em nossa sensibilidade e nas formas tradicionais de circulação do saber. Pois, como afirma Marcondes Filho: “A TV maquia, ordena, dispõe, arranja os acontecimentos das esferas políticas, econômica, cultural, social, esportiva, de tal sorte que esses eventos deixam de ser o que são para serem como “montados em estúdio” (MARCONDES FILHO, 2009, p.161). A estreita relação entre sociedade e telejornalismo no Brasil garante à televisão o papel de principal veículo de comunicação de massa para o acesso a informações do universo do emprego, da educação, da vida. Cada vez mais desencantados com o poder público, os indivíduos recorrem à tevê para buscar informação e entretenimento. Pelo fato de monopolizar a comunicação é importante compreender que as mensagens são construídas com fins específicos. O objetivo da TV é o consenso, isto é, ela atribui a quase todos os eventos a mesma importância e apresenta as normas de integração social. Desse modo, a escola é desafiada a pensar o complexo universo televisivo e sua inovação tecnológica. Nesse sentido, a compreensão da influência dos telejornais, no que diz respeito a sua forma e conteúdo, se torna determinante para o desvelamento das estratégias de codificação da mensagem, já que tais assuntos, por exercer uma função informativa e formativa (pedagógica) sobre a população contribuem para construção e reprodução da realidade social. Assim, muitos aspectos relevantes da pauta dos meios vêm tendo sua importância suprimida. Podemos, de maneira geral, identificar estes aspectos relacionando-os ao uso da linguagem empregada na notícia, à contextualização do assunto para o receptor e à postura crítica a que deve remeter a matéria. Contudo, a presença ou ausência de tais elementos reflete a acelerada transformação do jornalismo eletrônico brasileiro no chamado jornalismo de mercado.

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Por tudo isso, ao ter como objetivo neste estudo examinar o repertório das notícias sobre educação e trabalho no jornal de TV da Rede Globo – Jornal Hoje (JH), que dá enfoque para essas questões e têm interesse nessas pautas, não podemos deixar de registrar que existe ainda a preocupação de refletir sobre o espantoso progresso obtido na área econômica pelos países mais ricos, ao lado do fato, de que tal progresso não contribuiu para a inclusão social da população mais empobrecida, mas, pelo contrário, parece que só fez agravar e aumentar o número de indivíduos excluídos do trabalho formal, da cultura e de uma educação de qualidade. Sobre essa realidade, HOBSBAWM (2000, p.98) considera que: “A verdadeira dificuldade está na forma de distribuir a riqueza”.

A pesquisadora e o telejornalismo

A preocupação do tema em discussão é fruto do interesse pela relação educação e comunicação que teve início na graduação e depois no mestrado em educação (2002-2004). Nesse estudo procuramos compreender a linguagem da TV e o uso da mesma no ensino fundamental da escola pública, em virtude da necessidade da alfabetização audiovisual. Tendo apresentado, portanto, o objetivo de examinar as reportagens do jornal de tevê que - articulado com os interesses do capitalismo traz em suas edições informações sobre como tornar-se empregável no novo mundo do trabalho, faz-se necessário, registrar a trajetória da pesquisadora e sua relação com o telejornalismo e a educação. Afinal, não há nenhuma razão para negar o campo de estudo de origem. Admitir desconhecimento seria embaraçoso no que se refere ao universo do telejornalismo. Relação que na atualidade tem importância para ambos os campos do conhecimento. A escolha da profissão é um momento importante. Às vezes tomar tal decisão e eleger o ofício que guiará sua vida, sua maneira de estar e pensar o mundo acontece de maneira tranquila, mas na maior parte dos casos é bem difícil. O engajamento da pesquisadora em questões políticas e sociais e o bom espírito utópico de mudar o mundo foram ao encontro do jornalismo. A rebeldia própria da juventude, a recusa em aceitar o mundo tal como ele é – cheio de desigualdades e absurdos fortaleceram tal decisão. Antes mesmo da faculdade, já “corria atrás da notícia” – a descoberta da profissão foi só uma questão de tempo.

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O primeiro contato com a televisão foi na infância. Como milhões de brasileirinhos da geração de 1970 (quando a TV estava se consolidando no país), assistir a tela mágica virou hábito e também uma alternativa de entretenimento. O aparelho nessa época ainda emitia a programação em preto e branco e ficava na sala de estar apenas. Os programas preferidos eram: TV Globinho, o Sítio do Pica-Pau Amarelo, desenhos e, claro, as populares telenovelas da Rede Globo. Na TV Educativa de São Paulo (TV CULTURA) chamada na época de TV da Fundação Padre Anchieta, o programa era o Bambalalão e Vila Sésamo. Também nessa emissora um programa chamado „Ensaio‟ era bem intrigante. Tudo parecia confuso, as pessoas falavam para câmera sem que houvesse alguém perguntando com um microfone – de repente cantavam ou simplesmente riam. Personagens da música como Elis Regina e o Vinicius de Moraes eram entrevistados. Os enquadramentos feitos pelo câmera man também eram distintos, ora a imagem mostrava somente o detalhe da mão ou o cigarro do músico, ora um close up no rosto. Tudo muito intimista, diferente da outra emissora. Contudo, só tinha permissão para ficar diante do aparelho depois da escola e das tarefas. Depois das oito horas da noite o negócio era brincar, ouvir música ou ler, pois a TV estava terminantemente proibida, às vezes uma exceção era feita. No caso, para assistir ao mais antigo e respeitado programa de entrevistas da televisão brasileira, o Roda Viva. O formato de arena e o entrevistado no centro com vários jornalistas perguntando era muito significativo. Muitas vezes não conseguia entender as entrevistas, mas adorava ver o entrevistado sob pressão. Vivíamos os tempos de Ditadura Militar com propaganda política na TV – que para os rebeldes de casa era um absurdo. Ainda sob o impacto da televisão, um gênero da programação era muito atraente – o telejornal. Ao recordar da cobertura das Diretas Já, a memória é de meu pai diante da TV assistindo ao telejornal e proferindo uma série de verdades sobre a reportagem do que, para ele, não retratava com clareza o que estava de fato acontecendo no país. Isto marcou muito. Mais tarde, ao estudar esse período, entendi o porquê. Por outro lado, chamava mais atenção a maneira como aqueles acontecimentos históricos estavam sendo transmitidos. A figura do repórter intrépido que falava segurando um microfone para a TV era algo extraordinário. Ou seja, só pensava na possibilidade de sair também por aí com um microfone entrevistando as pessoas. Aos dezenove anos ingressei na faculdade de jornalismo. Em 1990 comecei a carreira como jornalista na Rádio Brasil de Campinas, tendo sido chamada para atuar primeiramente como rádio escuta (no jornalismo é aquele que ouve todas as

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outras emissoras para obter informação e evitar que a concorrente saia na frente) depois como repórter. Nessa época estava no primeiro ano do curso de jornalismo na Universidade Metodista de Piracicaba e apesar de saber muito pouco sobre o universo do jornalismo, o tempo e as aulas confirmaram o acerto da escolha. Com o passar dos anos as dificuldades da profissão foram aparecendo e se mostraram inúmeras e muito maiores que o glamour aparente dos anos iniciais. Na faculdade, os professores ensinam sobre o cotidiano do trabalho jornalístico, mas é a prática diária aliada à teoria que forma um bom jornalista. Assim sendo, um pouco mais experiente e preparada, comecei a perceber a grande responsabilidade de quem escolhe essa profissão. Não foi fácil conseguir o primeiro emprego em uma rádio. Nunca é fácil para quem está começando na profissão. Foram três longos meses de idas e vindas até a emissora quando, intrigado com a minha insistência, o diretor da Rádio Brasil de Campinas (Valdenê Amorim) resolveu me receber. Diante da minha determinação, ele não teve outra saída, fui contratada. É relevante ressaltar que ajuda muito ter um padrinho. Esse não foi o caso. A vontade de começar na área, um pouco de sorte, disposição para o trabalho e a coragem conspiraram a favor. É bom insistir que é preciso muita disposição para o trabalho – quem enfrenta a rotina do jornalismo sabe que não existe fim de semana e menos ainda feriado. Depois de tanto esforço para começar na profissão, o grande sonho foi realizado: trabalhar na TV. Na afiliada da Rede Manchete em Campinas passei por todas as editorias: de esportes à política. Trabalhei como redatora, editora, produtora para, finalmente, ir para rua trabalhar como repórter. Essa experiência foi fundamental para formação, aprendizado e carreira. Como repórter tive o privilégio de entrevistar pessoas famosas, políticos, cientistas, esportistas, pessoas comuns, personalidades desagradáveis e extraordinárias. Com todas elas aprendi alguns dos segredos da profissão e da comunicação. Lembro-me com carinho especial da entrevista que fiz com o grande ator do teatro brasileiro, já falecido, Paulo Autran. Com pouca experiência fiquei muito nervosa. Ele me recebeu com simplicidade e simpatia e atendeu prontamente todos os pedidos para a realização da matéria. No alto dos seus setenta anos teve a paciência de esperar que eu gravasse minha passagem (quando o repórter aparece no meio da matéria) até que ela ficasse perfeita. Nesse dia aprendi muito sobre generosidade e talento. No final da década de 1990, na TV Bandeirantes, assumi a chefia de reportagem e também a bancada do telejornal. Como apresentadora de TV, corria contra o tempo para fazer um telejornal de qualidade e dominar as câmeras para melhor interação e diálogo com o

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telespectador. Outro desafio e fator relevante é a questão do fazer ao vivo. No telejornalismo ao vivo, tudo precisa dar certo. O apresentador não pode errar no momento da narração dos fatos, segurança e tranquilidade são fundamentais para capturar a audiência. A estrutura e sequencia das matérias precisam ter coerência durante o desenvolvimento do noticiário. E a grande lição: a empatia com o público. É indispensável para apresentar um telejornal. Mas, trabalho em televisão é trabalho em equipe. Por isso, é tão especial, pois depende da colaboração de muitas pessoas. No caso da reportagem, é essencial. O repórter é o operário da informação, ele sustenta todo o processo de produção do trabalho jornalístico. A equipe de reportagem, que sai da emissora com uma pauta, é composta por um cinegrafista, o repórter e o motorista. O líder da equipe é justamente o repórter. Quando se trata de uma reportagem especial, um produtor integra o grupo. Na rua tudo pode acontecer. Por isso, a equipe precisa trabalhar em sintonia. Às vezes um fato novo surge e é preciso deixar a pauta inicial e sair correndo para cobrir tal acontecimento. É nessa hora que a equipe precisa mostrar que trabalha unida. Televisão é imagem. Por isso, cinegrafista e repórter precisam ser parceiros na realização da reportagem, o texto do repórter precisa casar com a imagem do cinegrafista, caso contrário, a matéria ficará sem nexo. Quando há essa cumplicidade na equipe (nem sempre isso ocorre), o resultado do trabalho é excelente. Terminada a matéria na rua é hora de voltar para a emissora. Lá, outra equipe já espera pelo material, que será decupado e editado. Geralmente, o repórter acompanha esse trabalho junto com o diretor de imagens. Somente depois de todo esse processo é que a história é liberada pelo editor-chefe para finalmente ir ao ar. Um último detalhe, em TV tudo é muito acelerado. Rapidez na codificação da história é um dever e uma necessidade. Depois da experiência adquirida como telejornalista, a vontade de ensinar concretizou-se. Comecei a trabalhar como professora na Universidade. O campo da educação embora fosse diferente do jornalismo diário me era caro e desafiante. A prática conquistada nos doze anos de rua e estúdio me fez ver que já era hora de compartilhar o que havia aprendido. Isso me obrigou a voltar para escola, afinal é preciso estudar para ensinar. O contato com a nova geração de alunos de comunicação social me animou e me ajudou a continuar fazendo o que eu mais gosto. Com turmas enormes nas instituições privadas, o desafio é formar jornalistas plenos, conscientes da responsabilidade social dessa profissão que não é pouca. É sempre bom lembrar que o jornalista é também um educador. Seu objetivo deveria ser sempre o de informar para formar.

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Sobre o objeto

O Jornal Hoje (JH) da Rede Globo é um telejornal de referência nacional. A principal razão para essa escolha foi o fato dele ser o mais antigo telejornal do país com um formato peculiar, distinto dos outros noticiários, o que possibilita uma identificação maior com a população brasileira. O JH aborda temáticas da agenda cultural, da educação, do mercado de trabalho, culinária, entretenimento e procura tornar o mundo menos hostil para o telespectador, por isso, mais intimista, dialogal e familiar. Outro importante aspecto que vale ser destacado é o fato de o telejornal ser produzido pela emissora que possui a maior audiência do país, o que dá ao noticiário „credibilidade‟ e muito poder de persuasão. Na atualidade, o telejornalismo precisa dar lucro, ser leve, divertido e sedutor ou perde o público para os concorrentes de mercado (BUCCI, 2000, p.142). No caso do JH essa necessidade é ainda mais crucial. Ele fala para crianças, jovens e adultos (aposentados e donas-de-casa), no horário do almoço. O JH depende de ser popular, pois, pela popularidade mantém sua audiência e visibilidade. Os apresentadores Sandra Annenberg e são centrais para o noticiário. Uma evidência da personalização em torno dos telejornalistas na fase denominada por Umberto Eco de neotevê. A relação com os telespectadores é cada vez mais parecida com uma conversa. Além do Jornal Hoje, outros telejornais de emissoras concorrentes como: TV Record e TV Bandeirantes, entre outras, também trazem em seus noticiários vespertinos informação, no entanto, tais telejornais não apresentam o mesmo formato e tampouco tratam do tema educação e mercado de trabalho com a mesma atenção que o telejornal da família Marinho, que veicula também em sua programação, em horários diferenciados, programas como o Globo Educação, Globo Universidade, Globo Ciência e o Novo Telecurso2. A parceria entre a Fundação Roberto Marinho e instituições empresariais demonstra a “preocupação” da rede com a relação educação e qualificação profissional.

2 O Novo Telecurso renova uma parceria bem-sucedida entre Fundação Roberto Marinho, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Social da Indústria (SESI) e outras instituições. Um trabalho cooperativo que soma conhecimento e experiências acumulados de milhares de cientistas, educadores, especialistas de diversas universidades e instituições, assim como produtores, alunos e professores que vivenciam o Telecurso em todo o país. Todos se tornam, de certa forma, coautores na medida em que o projeto “se alimenta” continuamente dessas fontes para aprimorar e criar materiais pedagógicos e ações de implementação e de formação continuada (www.globo.com). 7

Como gênero nobre dentro da grade de programação da Rede Globo, o Jornal Hoje transmite e veicula valores e princípios da indústria cultural, já que o telejornal é produto da emissora que reconhecidamente está inserida dentro de uma sociedade capitalista. A notícia do JH segue regras próprias que incluem uma técnica de produção capaz de ser compreendida por todos os telespectadores. Pelo telejornal, a sociedade brasileira recebe sistematicamente mensagens sobre um dos temas que mais afligem o brasileiro, a empregabilidade. Ou seja, a relação do trabalhador com o processo de trabalho. Relação que depende cada vez mais dos conhecimentos (educação formal) e técnicas adquiridas, ou em uma palavra, qualificação. O problema é que o trabalho diminui a cada dia que passa. Com a crise financeira mundial de 2008, mais de dois milhões de pessoas perderam seus postos de trabalho no Brasil. Os mais afetados pela pouca oferta são os jovens segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tal situação é resultado da globalização econômica. As mensagens construídas pelo telejornal são resultado de uma atividade profissional vinculada a uma organização de comunicação que se dedica a interpretar a realidade social, com o objetivo de ser mediadora dos acontecimentos para o público. Eis onde entram os produtores da notícia para realizar ajustes na informação. A eficácia dos meios de comunicação impele grande parte da população a ter uma única versão da realidade. A técnica viabiliza uma melhor montagem cênica de notícias e ajuda a formar o consenso e impressionar mais o telespectador que é cada vez mais submetido a notícias feitas para distrair. Nesta pesquisa, várias inspirações metodológicas norteiam o trabalho. Os pressupostos teóricos da Escola de Frankfurt serviram de embasamento para compreensão da Sociedade de Massa (Indústria Cultural X Manutenção planejada do povo em um estado de ignorância), priorizando a relação educação e comunicação na medida em que:

Evidencia-se, hoje uma grande disputa entre os meios de comunicação, de um lado, e as tradicionais agências de socialização - escola e família - de outro. Ambos os lados pretendem ter a hegemonia na influência da formação de valores, na condução do imaginário e dos procedimentos dos indivíduos/sujeitos (BACCEGA, 2005, p.21).

Por isso mesmo, uma análise da notícia sobre educação na TV se obriga a considerar não apenas a dinâmica do movimento do capital, mas também os valores éticos, ou melhor, a crise ética que envolve o complexo universo jornalístico a partir da invenção da imprensa, marco da entrada na época moderna. Ao tratar a educação no contexto do jornalismo eletrônico (de tevê),

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colocamos em discussão a fundamental função social dos meios de comunicação para países com características como o nosso, ou seja, países com problemas sociais e econômicos graves e, portanto, muito dependentes da informação que vem das telas. Na verdade, a televisão tendo o poder de excluir, montar e transformar aspectos da realidade através do processo de fragmentação da notícia, não promove uma melhor compreensão da realidade. A mensagem na era tecnológica como observa MARCONDES FILHO (2009), se interessa apenas em ser um rito.

Delimitação

Esta tese teve como preocupação analisar as reportagens sobre educação formal e trabalho no jornal de tevê JH no contexto das novas relações entre educação e trabalho colocadas a partir da concepção produtivista da educação. Para essa concepção, a educação é considerada um instrumento de acesso ao emprego. Assim, ela teria como função na atualidade formar os indivíduos para o mercado e para as competências exigidas pelo novo mundo do trabalho. A ênfase nesse modelo vem sendo difundida em grande parte pela mídia, neste caso, pelo telejornal. De segunda a sábado, o JH vai ao ar no horário de 13h15 às 13h45. Como já apontamos, o noticiário é exibido em rede nacional e está na grade de programação da emissora desde 1971. A tendência de cada edição diária é trazer para o telespectador conteúdo informativo de serviço, com matérias especiais, notas, entrevistas e entretenimento. Em seu estilo intimista, o JH também se preocupa com o “cidadão”, por isso procura mostrar e ensinar em suas reportagens direta ou indiretamente o que é certo e errado quando o assunto é o mercado de trabalho e educação. O objetivo é salientar o novo perfil da atividade produtiva e o quanto ser qualificado pode fazer a diferença na hora de conseguir um emprego. A escolha do ano de 2008 para pesquisa se deu de modo aleatório, pois há trinta e nove anos o JH entra na casa dos brasileiros. É, portanto, um telejornal estável na grade da emissora. Durante quatro meses consecutivos (período de abril a julho de 2008) foram gravadas e selecionadas reportagens exibidas pelo JH cujo conteúdo informacional nos forneceu dados sobre as notícias. No que diz respeito à escolha dos meses, nos pareceu um período bastante significativo e válido por se tratar de meses em que as festas nacionais já estão encerradas e a busca por emprego e o período letivo são retomados, salvo algum acontecimento extraordinário. Vale ressaltar que o período de abril a julho de 2008 corresponde à fase de queda das bolsas 9

mundiais e a iminência da crise dos bancos e de desaceleração econômica. Consideramos, portanto, o tamanho da amostra do objeto pesquisado suficientemente representativo. Antes de prosseguir, é relevante destacar que o noticiário segue uma política editorial ao longo do ano. Por isso, as reportagens são codificadas respeitando tais critérios que muitas vezes esbarram em interesses privados. O discurso do telejornal não é nem neutro nem objetivo. Ele expõe os fatos através de uma lógica formal, não reflexiva. Neste sentido, Bernardo Kucinski faz a seguinte crítica:

No jornalismo neoliberal, a mídia fala em nome do interesse público, mas serve ao interesse privado. A privatização do Estado correspondeu a privatização das concessões de rádio e de TV. O processo deu-se no bojo da concentração das emissoras de rádio e de TV em poucas mãos; só que essas mãos foram, em sua maioria, as de políticos conservadores. No Brasil da era neoliberal, 31,2% das emissoras de rádio e de TV são controladas por políticos conservadores. (KUCINSKI, 2005 p.119).

Realizamos ainda, entrevista conceitual, com a editora-chefe, Teresa Garcia e com a jornalista e âncora do JH, Sandra Annenberg. A entrevista conceitual é uma técnica jornalística que possibilita ao entrevistador buscar bagagem informativa; põe sua curiosidade e espírito aberto a serviço de determinados conceitos, que reconhece que a fonte a ser entrevistada detém. A pesquisa procura elucidar, a rigor, duas hipóteses fundamentais: a) a tevê tende a exercer influência sobre o telespectador, portanto, as reportagens sobre o mundo da escola e da qualificação para conquista do emprego, apresentadas no telejornal, acabariam por reforçar os interesses do capital. b) o impacto do novo formato e estilo do jornal de tevê, cada vez mais dialogal, ainda é um desafio para estudantes e professores sem formação prévia para compreender a dinâmica de produção das mensagens. Nesse cenário, não se pode pensar a TV no Brasil separada dos interesses políticos e econômicos. O interesse público, de acordo com a prática jornalística ética, deveria ser o critério principal de seleção e edição dos fatos que se tornarão notícia. As matérias sobre educação e trabalho, estudadas aqui, dizem respeito a reportagens que tratam de temas do universo da educação formal e também aquelas que abordam a temática da escolha da profissão e qualificação para o mercado de trabalho. Quando assistimos ao JH, temos acesso à informação que a equipe do telejornal coloca no ar que, por sua vez, selecionou conteúdos que foram previamente editados e enviados para redação por outros profissionais, geralmente de agências de

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notícias e assessorias de imprensa. Portanto, os fatos são recebidos através da maneira de ver e pensar da emissora. E como a emissora enxerga à educação? É no âmbito dessas questões e desse direcionamento teórico que este estudo foi sistematizado. O trabalho está dividido em sete capítulos. No Capítulo I, discutimos a função pedagógica da notícia. Em outras palavras, como a pauta de educação vira notícia. Ou ainda, quando a notícia vira educação. Com base na literatura e em investigações, refletimos e avaliamos até que ponto esse discurso é compreensível para o telespectador. No Capítulo II, é apresentado um panorama da relação entre educação e trabalho. Em seguida, o foco da discussão é a educação, o trabalho e os jovens, as possibilidades reais de empregabilidade e qualificação em tempos de trabalho degradante. O espetáculo televisivo e a transformação da educação em negócio e suas relações com a mídia finalizam o capítulo. No Capítulo III, a abordagem da Indústria Cultural e da TV se deu, primeiramente, acerca da definição do conceito de Indústria Cultural. Foi abordada também a descaracterização da prática jornalística e suas implicações para o trabalho jornalístico. E, por fim, uma discussão sobre a notícia transformada em mercadoria e ascensão da mídia eletrônica. No Capítulo IV, são abordadas questões como a importância da TV aberta no Brasil. Também a linguagem do telejornal: imagem, interatividade e a influência dessa linguagem sobre os telespectadores que irão pautar suas conversas a partir do que foi disseminado pelo telejornal. No capítulo V, verificamos quais são os telejornais exibidos pela Rede Globo. Fizemos uma incursão também pela trajetória e transformações do objeto deste estudo, o Jornal Hoje. Para discutir tal trajetória foi necessário passear pela história da TV Globo, levando em conta as diretrizes da rede para perceber o quanto e como através do telejornal ela influencia os comportamentos e atitudes dos telespectadores. No Capítulo VI, é feita uma descrição da metodologia utilizada na pesquisa. Durante quatro meses consecutivos, de abril a julho de 2008, foi gravado o material para análise. Para o desenvolvimento da pesquisa adotamos uma abordagem qualitativa. Também utilizamos a análise de conteúdo que, de acordo com BERELSON (1971) consiste em descrever o conteúdo manifesto de forma objetiva e sistemática e, ainda como afirma o autor, é uma técnica usada com o intuito de determinar a frequência relativa de diversos fenômenos da comunicação. O autor ainda defende que ao utilizar este método, o pesquisador lida com registros que já existem, como gravações em vídeo, por exemplo, e faz inferências aos mesmos.

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No Capítulo VII, apresentamos os resultados da pesquisa e as análises das reportagens selecionadas do JH.

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CAPÍTULO I FALÁCIAS DA NOTÍCIA SOBRE EDUCAÇÃO E EMPREGO NA TV

No processo de investigação que está culminando nesta tese, o propósito principal do trabalho é mostrar como, partindo de certa variedade de reportagens sobre educação e qualificação para o trabalho, o telejornalismo exerce não apenas a função de informar, mas também uma função pedagógica sobre o público. Ou seja, opera de forma pedagógica, já que a notícia passa a ser referência para o público. Uma forma de conhecimento e de aprendizagem no novo mundo da chamada idade da mídia3. E essa é a razão pela qual, nos preocupa a forma como essa notícia é apresentada para o grande público, já que a imprensa de massa vem assegurar a transmissão de informações sobre a vida cotidiana, mas como afirma SODRÉ (1984, p.16), também amplia, em novas formas, a centralização do poder e o disciplinamento do cidadão. Este é o problema que se coloca para o telespectador: como perceber a forma de poder exercida pela tevê. O jornal de TV funciona como uma grande janela para realidade. Tudo é organizado para que os indivíduos recebam o mundo dentro de uma certa normalidade. Para GOERGEN, assim como na escola "tudo ali converge para adaptar o indivíduo às expectativas do sistema e, particularmente, ao mercado que é o novo e todo poderoso deus, diante do qual todos devem se curvar" (2003, p.5). Nesse sentido, o telejornalismo desempenharia o papel de lugar de segurança. Ao tratar da questão de lugar de segurança no telejornal, VIZEU (2008, p.21) ressalta que a confiança, a crença e a segurança são centrais para sobrevivência do homem. Ele afirma que no dia a dia adotamos uma postura de suspensão da dúvida em relação ao cotidiano. Ou seja, cremos que as coisas são como estão evidenciadas na realidade. Na verdade, o que fica sugerido é que as pessoas não têm dúvidas com relação ao que observam e percebem no dia-a-dia. Diante da árdua realidade, as pessoas suspenderiam a dúvida.

3 Antonio Albino Canelas Rubim, em seu artigo intitulado A contemporaneidade como idade mídia, define a idade mídia: “Assim como a era das navegações marítimo-geográficas inaugurou um novo mundo, também agora, por volta de 500 anos depois, vive-se, para o mal e para o bem, o limiar de um outro novo mundo, de espaço planetário e em tempo real, possibilitado pelas redes eletrônicas e televivenciais de comunicação. Esse novo mundo - descoberto através de navegações de outro tipo, as virtuais - aparece ainda hoje como zona quase inexplorada, nova fronteira do capitalismo, como demonstra a expansão acelerada da economia na Internet, e como lugar privilegiado das novas lutas políticas e emancipatórias da humanidade (RUBIM, 2000, p.32). 13

Quando assistimos ao noticiário de TV a tendência é a de confiar em tudo o que foi mostrado, organizado e montado. Então, as notícias de educação e trabalho são também recebidas como uma mensagem que faz parte da realidade circundante. Com efeito, a fábrica de notícias – o jornalismo recolhe as informações de “interesse do público” e dá ênfase aos aspectos que defendem a correlação direta entre educação e desenvolvimento econômico. De fato, as mensagens se viabilizam segundo os critérios de mercado. Afinal, a televisão também é uma empresa. Curiosamente, o princípio da independência editorial é um valor publicamente assumido pelas maiores empresas de comunicação. Em outras palavras, independência editorial, significa manter a autonomia para apurar, investigar, editar e disseminar a informação de interesse público, sem que qualquer outro interesse impeça essa tarefa. Acontece que existem enormes distâncias entre seguir o código de ética e a prática diária do jornalismo. O apelo à educação como instrumento que qualifica para o trabalho não sai das manchetes dos telejornais. Para Pablo Gentili (2002), os manuais da Teoria do Capital Humano contribuem para condicionar a educação ao desenvolvimento do mercado, e consequentemente à conquista do emprego. A esse respeito, ele ressalta que:

A Teoria do Capital Humano estava vinculada a uma certeza que os economistas burgueses e inclusive alguns marxistas compartilhavam: não pode existir desenvolvimento econômico sem um consequente desenvolvimento econômico do mercado de trabalho. Mercados de trabalho excludentes teriam um efeito negativo e involutivo sobre o próprio sistema econômico, já que a economia não pode crescer excluindo pessoas indefinidamente. Mas, no novo século, a evidência parece ser outra: as economias podem crescer excluindo e multiplicando a discriminação a milhares de pessoas. Nesse sentido, o discurso da empregabilidade tem significado uma desvalorização do princípio (teoricamente) universal do direito ao trabalho e, de forma associada, uma revalorização da lógica da competitiva interindividual na disputa pelo sucesso num mercado estruturalmente excludente. (...) Nessa perspectiva, o indivíduo é um consumidor de conhecimentos que o habilitam a uma competição produtiva e eficiente no mercado de trabalho. A possibilidade de obter uma inserção efetiva no mercado depende da capacidade do indivíduo em “consumir” aqueles conhecimentos que lhe garantam essa inserção. Assim, o conceito de empregabilidade se afasta do direito à educação: na sua condição de consumidor o indivíduo deve ter a liberdade de escolher as opções que melhor o capacitem para competir (GENTILI, 2002, p. 54-55).

A perspectiva econômica, política e social do neoliberalismo reivindica ao novo tempo da técnica, uma formação de base mais prática e utilitarista. O culto ao trabalho talvez seja neste século o principal ideal do mundo capitalista. No Brasil, tal culto é retratado pelos meios de 14

comunicação de massa. A notícia sobre o mundo do trabalho afeta as expectativas dos indivíduos. Ela não é codificada apenas para ser uma novidade passageira, para revelar fatos e acontecimentos inusitados. Ela altera o quadro social. Uma série de resoluções no cotidiano do trabalho é transmitida aos indivíduos pela TV. Não há tempo para debatê-las, discuti-las. O pensamento dominante aparece nas reportagens como forma de atender os indivíduos para aquilo que eles precisam saber sobre o novo mercado de trabalho. Marcio Pochmann (2007) analisa a centralidade do trabalho no contexto das mudanças registradas nas últimas décadas e afirma que estamos diante de uma falsa disjuntiva que vem sendo colocada pelo pensamento dominante. Segundo ele, tal disjuntiva pressupõe que os trabalhadores aceitem os empregos possíveis gerados pela nova ordem econômica internacional ou, do contrário, a alternativa é o desemprego. Então, parece que a única saída é mostrar no telejornal, a escola como uma instância de integração de cada sujeito ao mercado. Por isso, a cultura da empregabilidade é pauta certa nos telejornais. É a pauta correta, necessária como forma de atrair a atenção do público para a questão urgente da conquista do emprego. As transformações econômicas e a chegada de novas tecnologias trouxeram novos desafios ao trabalhador. Ou seja, o aumento da produtividade provocado pelo aumento da tecnologia, ao mesmo tempo, colocou em declínio algumas atividades do antigo modelo fabril. O que se observa é o surgimento de novas atividades e a variação dos trabalhos que exigem dos indivíduos mais qualificação para as capacidades e competências solicitadas pelo mercado de trabalho. Outra consequência dessa nova perspectiva de acordo com Pochmann é o fato de que estamos vivendo um momento de profunda mudança na base técnica. A disciplinarização da ciência nos levou a isso. Ainda de acordo com POCHMANN (2007):

Guardada a devida proporção, vivemos um momento parecido com aquele registrado há 150 anos, quando o capitalismo sofreu uma profunda transformação com o advento da segunda revolução tecnológica. Entre outras novidades, foi introduzido o tear mecânico. Essa mecanização tornava o homem um apêndice do processo produtivo e oferecia do ponto de vista técnico, uma jornada muito menor que a praticada no período. Já era possível, por exemplo, o ingresso no mercado de trabalho a partir dos 15, 16 anos de idade. A nova tecnologia abria a perspectiva de uma profunda intensificação do trabalho com enormes ganhos de produtividade (POCHMANN, 2007).

Ele prossegue:

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Foi necessário um amplo movimento, que uniu as forças sociais, políticas, científicas e econômicas, bem como a grande Depressão de 1920, duas Guerras Mundiais e uma alternativa ao capitalismo liberal (Revolução Russa, em 1917) para que fosse aberta a perspectiva de transformar a possibilidade técnica em realidade. Chegou-se então a uma nova forma de organização do trabalho. A legislação e as convenções coletivas estabeleceram um patamar de relações de trabalho que irrompeu o século XX sustentado em jornadas de trabalho menores – de oito horas, por exemplo, com o ingresso no mercado a partir dos 15 anos de idade, sendo que os adolescentes antes dessa faixa etária passaram a ter acesso à educação universal. Os trabalhadores conquistaram também, a partir de 30-35 anos de trabalho, os benefícios da aposentadoria. (...) Estamos ingressando num capitalismo pós-industrial em que a produtividade é cada vez mais sustentada no trabalho imaterial. Estamos falando de atividades do setor terciário, não mais fortemente vinculadas ao setor agrícola, pertencente ao segmento primário, e as atividades secundárias – como a indústria, por exemplo.

Dissemina-se assim, a velha retórica da educação e progresso. A despeito dessa retórica SODRÉ esclarece o seguinte:

No Brasil, essa possibilidade assumiu o caráter de mito a partir de 67, quando se começou a fazer crer que a distribuição de renda é um problema de educação: quanto mais instruído, principalmente em nível técnico-científico, mais bem aquinhoado na vida estaria o cidadão. Este mito recalca o fato de que o mercado privilegiado de trabalho é – assim como o modelo de crescimento econômico do país – excludente e seletivo. Na verdade, só há retransferência salarial de renda concentrada para alguns: a lógica do mercado não pode ter os mesmos princípios para todos. Mas a educação sempre foi um bom suporte para as ilusões do progresso pela capacidade individual, portanto um pólo irrecusável de atração para as camadas média (SODRÉ, 1984, p.109).

A defesa da educação e das escolas para formação humana precisa ser mostrada na TV do ponto de vista da cultura e não apenas do ponto de vista da economia capitalista. Essa avalanche de imagens e informações que invade os lares dos indivíduos, principalmente dos jovens vai formando suas percepções do mundo exterior. O essencial é comunicar e convencer através das mensagens produzidas de que os valores transmitidos são os que corresponderiam ao êxito pessoal. Tal estratégia, evidentemente, reforça o princípio diretor desta sociedade que é a competição pelo emprego, pelo consumo e pela sobrevivência. IANNI (2002) destaca outro aspecto importante que não pode ser desprezado, e deixa claro que a educação não pode ser concebida como uma ação estratégica individual, mas sempre como ação de socialização e de promoção dos indivíduos, ele afirma: 16

A educação, a religião, a família, a política e o trabalho são inserções importantes, por meio das quais o indivíduo situa-se na sociedade, bem como no grupo social e na classe social, em modo de ser, sentir, pensar, agir, compreender, explicar, imaginar. Todo indivíduo, tomado em sua singularidade ou como membro da coletividade, se forma, socializa, situa e move desde essas articulações. Mas cabe ressaltar a importância da educação, da contribuição decisiva que a educação formal desempenha na profissionalização e na cultura, no discernimento do espaço e tempo, do presente e passado, do próximo e remoto. Isto porque a educação formal, compreendendo os três níveis, a despeito das diferenças entre ensino público e privado, leigo e religioso, contribui decisivamente para a formação cultural do indivíduo e da coletividade, compreendendo as condições de transformação da população em povo, sendo este uma coletividade de cidadãos; todos seres sociais em condições de se inserirem nas mais diversas formas de sociabilidade e nos mais diversos jogos de forças sociais (IANNI, 2002, p.32).

E, nesse contexto, a força do telejornal é indiscutível. O discurso do telejornal é marcado pela mediação dos fatos para os indivíduos. Ele seduz os telespectadores e a partir de suas imagens cria um mundo diferente do real e penetra em todas as esferas da vida. O mundo do trabalho e o campo da educação não escapam dessa realidade. É pela televisão que muitos jovens e adultos aprendem sobre como conseguir o primeiro emprego ou como se comportar em sociedade. No entanto, esse poder de criar mundos não se circunscreve ao ambiente íntimo e protegido dos estúdios fechados (ARBEX, 1995). Com as novas tecnologias de transmissão o planeta foi interconectado e exaustivamente monitorado pelas câmeras. BAUDRILLARD (1995) desmascara os veículos de comunicação de massa. Para ele: "O que caracteriza os veículos de massa é a sua não-comunicação", entendendo-se comunicação como troca, isto é, como reciprocidade de discursos. Para HERMAN E CHOMSKY (2003) a defesa da objetividade jornalística esconde na verdade, interesses que são velados ao público. Ao anunciar determinados assuntos sob determinados enquadramentos os telejornais favorecem os seus interesses e os interesses de seus grandes patrocinadores – forças econômicas e políticas que expressam a ideologia do poder através das reportagens cotidianas apresentadas pelos veículos de comunicação. Acontece que tais reportagens, em maior ou menor grau de interferência, são sempre codificadas com o argumento de que atendem ao interesse do público. Matérias sobre como conseguir o primeiro emprego, treinamentos, cursos de capacitação para o trabalho e a necessidade de estudar permanentemente são exemplos de informações que são sistematicamente

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transmitidas. Tudo aquilo que possa apontar para os indivíduos o sucesso no mundo cada vez mais competitivo do trabalho. Por isso, além de informar os indivíduos, tais reportagens também podem ser vistas como produtos ideológicos. No telejornalismo, no rádio ou no jornal, notícia é sempre produto. E por ter essa característica são produzidas em uma linha de montagem. Por outro lado, notícia é também um ponto de vista. É, sobretudo, uma história capaz de despertar o interesse e fazer as pessoas reagirem. Na atualidade, os meios de comunicação de massa vão além de simplesmente dar as notícias. A televisão sendo um fenômeno da “aldeia global” e da sociedade do espetáculo tornou- se parte dos eventos que cobre. Por isso, tudo aquilo que não deve ser mostrado ou esclarecido fica suspenso. Nas últimas décadas ela ficou tão eficiente e poderosa a ponto de conseguir mudar o modo como as pessoas reagem sobre determinados temas. A interpretação dos fatos dada pela TV predomina muitas vezes sobre todas as outras possíveis visões. ARBEX (1995, p.51) destaca que, a televisão, principalmente, mantém assim o seu poder absoluto de enunciar convincentemente a “verdade” dos fatos, mantendo-se como uma espécie de anestesia social que absorve a energia social, devolvendo-a sob a forma de imagens para uma massa amorfa de consumidores. É relevante ressaltar, o caso da âncora do Jornal Nacional em 1998. Na época a jornalista e economista, Lilian Witte Fibe. Naquele momento, ciente de sua falta de empatia com o público e de sua não adaptação ao noticiário deixou a bancada mais cobiçada do telejornalismo brasileiro. Em entrevista à revista Veja em fevereiro do mesmo ano, para falar sobre sua saída do JN e sobre a concepção adotada pelo telejornal naquele momento, os jornalistas da revista escreveram o seguinte:

Ela acha que um telejornal deve dedicar a maior parte de seu tempo a notícias mais densas, principalmente de política e economia. Já a Globo faz um telejornal programado para ser o líder do gênero no país com base em pesquisas rigorosas. De acordo com essas pesquisas, o telespectador brasileiro, que é diferente do americano, gosta de noticiários em linguagem simples, com apresentadores fixos e baseados principalmente em reportagens de serviço, comportamento, saúde, meio ambiente, além de ciência e tecnologia. Isso chama mais a atenção do que assuntos tidos como sérios por telespectadores educados. Lillian não se adaptou a essa concepção de jornalismo. É em parte por isso que está saindo (A PESSOA..., 1998, p.79).

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Tal relato evidencia o quanto a notícia televisiva tem importância significativa para a grande maioria dos brasileiros que dependem deste meio de comunicação de massa para obter informação. Os motivos para a inserção maciça da televisão (aberta) nos lares brasileiros são vários (não iremos abordá-los por não ser este o foco), mas sem dúvida, o econômico é o principal. Sem custos para além da compra do aparelho, é possível pela tela da TV navegar pelo universo inesgotável dos gêneros da programação. Para um povo que tardiamente teve acesso à escritura e leitura, a televisão é um anestésico contra as patologias da vida moderna. Ficamos comovidos, chocados, curiosos ou impressionados quando recebemos os fatos pela TV. Pelo forte efeito provocado nos telespectadores, a notícia precisa passar credibilidade. Para assegurar tal pressuposto, os canais abertos precisam de acordo com BUCCI (2000, p.66), “ostentar a imagem de independência, pois a simples expectativa de independência vai se tornando inegociável para a opinião pública”. Por isso, o jornalismo só se impõe pela credibilidade, ainda que tal independência seja na verdade um ideal ou um valor a ser buscado. No Brasil, para conseguir alcançar a liderança e a „credibilidade‟ junto ao telespectador, na década de 1970, tanto a Rede Globo como outras emissoras abertas tiveram que tratar de buscar soluções para superar a condição de país subdesenvolvido. É o momento da consolidação da programação televisiva. A orientação governamental, portanto, reivindicava ações na área de educação, para, entre outras atitudes, como ressalta BENEVENUTO (2005, p.230) garantir a outorga dos canais. As iniciativas no que diz respeito à educação não foram tomadas com o propósito de melhorar o nível do telespectador. O que estava em jogo eram as pressões políticas que forçavam os empresários de comunicação a atenderem as demandas do governo. Por isso, segundo Muniz Sodré, uma

(...) função educacional ou culturalista para a televisão começa a ser reivindicada com insistência. (...) Não era apenas as emissoras educativas oficiais o que se desejava, mas a própria culturalização do sistema de televisão comercial. (...) A TV se apega à sua fórmula (culturalista) jornalístico- telenovelesca (em 1972, o orçamento da Globo era de 42% para o telejornalismo e 30% para as novelas: em 1974, a emissora destinava 53% às novelas). O mito educacional se fez presente em todos os instantes desta fórmula, mas de uma maneira muito peculiar nas telenovelas (SODRÉ, 1984, p.110-111).

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Nesse sentido, o telejornalismo tem lugar de destaque na programação da TV, mas segue o modelo da ficção. Uma rápida pesquisa pelos números da audiência pode confirmar essa afirmação. Todos os dias, milhões de pessoas assistem aos telejornais brasileiros para se sentirem informadas, visto que acreditam na objetividade dos fatos. Mas o que desejamos esclarecer é o que justamente não interessa esclarecer. A notícia eletrônica é produzida e editada na atualidade para reproduzir os valores do neoliberalismo econômico. Mas que valores são esses? Para GOERGEN (1986) são os valores que excluem o homem da esfera pública o homem político, ou seja, o homem que fala e age. Na ação e no discurso, possíveis somente na relação com os outros, os homens mostram quem são, isto é, revelam suas identidades pessoais e regulares e, assim, ingressam no mundo humano. Pode-se afirmar dessa forma, que nosso telejornal é falacioso quando não pratica um jornalismo que permite o confronto de ideias, e sim a uniformidade e a mesmice propostas pelos dominantes. Por fim, a notícia sobre educação e trabalho, no que se refere à sua influência no reforço e na ampliação do senso comum e na reprodução de uma ideologia hegemônica, contribui para a (de)formação cultural dos indivíduos em uma sociedade de massa onde tudo é pautado pela lógica do consumo, logo do capital. Nestes tempos de crise ética, a notícia sobre educação e trabalho (re)produzida nas redações dos telejornais caracteriza-se pelos ditames da indústria, do comércio, da economia. A notícia é assim apresentada de forma ahistórica, autoritária e unilateral, com o objetivo único de reproduzir tais valores. O telejornal apenas conspira com a atual ordem mundial, com a diferença de que muitas vezes, quem codifica a mensagem, tampouco compreende a importância da editoria de educação. Trata-se apenas de selecionar de maneira maniqueísta o bem e o mal.

1.1. Quando a educação vira notícia

A mais importante e assistida emissora de televisão deste país, Rede Globo, seguida das demais redes (exceção para TV Cultura) dedica muito pouco tempo nos seus telejornais para a notícia sobre educação. É bom deixar claro que a notícia da editoria de esporte, cotidiano, política e "cultura" (entretenimento) tem prioridade e, portanto, ocupa maior espaço nos telejornais. Apesar dessa falta, no caso específico do JH, se estabelece entre o telespectador e o noticiário

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uma relação diferenciada. Porque no JH há a “preocupação” com o público que é composto de jovens, donas-de-casa e aposentados em sua maioria como já apontamos. Há duas linhas de conduta para que a educação vire manchete e notícia nos telejornais, a primeira trata de reforçar e legitimar os programas governamentais e baseia-se nas fontes oficiais. Ministério da Educação, Escolas públicas e privadas, Instituições de apoio à educação. De modo geral, o telejornal segue a reboque daquilo que os jornais e agências de notícias publicam, com a novidade que muitas pautas na atualidade são retiradas de blogs da internet, sites e, às vezes, das sugestões encaminhadas pelos telespectadores. Assim, “aqueles que possuem o poder econômico ou político podem facilmente obter acesso aos jornalistas e são acessíveis a eles” (WOLF, p.235). Tal fato revela o caráter emblemático das mensagens oficiais. No Brasil, o poder público gasta milhões em anúncios nas principais emissoras de TV do país. Como então deixar de falar do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou do Programa Universidade Para Todos (PROUNI)? Além da prestação de serviço que sempre ajuda à população, a notícia de educação neste caso, beneficia ambos os lados – a emissora e o Estado. A segunda procura "explorar" os fatos jornalísticos do universo educacional que extrapolam a normalidade. Há uma infinidade de possibilidades, o acontecimento bizarro, os escândalos, acidentes, povo fala, violência etc. Temos a seguinte situação: por exemplo, do jovem pobre que passa no vestibular da Unicamp tendo estudando a vida toda na escola "pública", ao jovem rico que invade a escola e agride o professor e os colegas. Isso é manchete que dá audiência, que chama o telespectador. Como é possível que alguém que tenha estudado na escola do Estado a vida inteira consiga passar em um dos vestibulares mais concorridos do país. Incrível, não? Pobreza não é sinônimo de incapacidade intelectual. Mas é este o tratamento que será dado à matéria. Afinal, não devemos esquecer que a universidade pública é para os mais bem alimentados, nascidos, cultos. Por outro lado, como é possível que um jovem de classe alta possa ter agredido o professor e os colegas? Provavelmente é doente, está envolvido com más companhias ou usou drogas. Em ambos os casos, a notícia é levada ao telespectador a partir dos estereótipos e de uma realidade que é construída pelos jornalistas nos bastidores das redações desses telejornais no momento da edição e finalização da reportagem. Editar significa não apenas montar a notícia, mas, principalmente, reconfigurá-la fazendo valer o ponto de vista que interessa à emissora. “No estúdio, o diretor de TV escolhe as tomadas, ele também introduz seu viés. Logo, o que vemos

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num ao vivo não passa de um resultado de muitas escolhas, de muita gente interferindo, em suma, é uma produção, não é a coisa em si”, ressalta MARCONDES FILHO (2009, p.84). Desse modo, ficam evidentes os motivos pelos quais a notícia sobre educação não vem recebendo por parte dos jornalistas de TV o tratamento que merece, ou seja, a escolha pelo critério do interesse público. As matérias são produzidas para serem atraentes para o público dos telejornais. O encaminhamento que será dado está diretamente relacionado aos índices de audiência. O telejornal é um produto dentro da fábrica de sonhos, logo precisa também gerar lucro. A atual estrutura dos noticiários de TV privilegia os anunciantes, eles são parte integrante do conjunto dos valores/notícia. É justo, então, dizer que os jornalistas conhecem pouco seu público e seus interesses. Vejamos o que afirma Wolf:

É um aspecto difícil de definir, rico em tensões contrastantes. Por um lado, os jornalistas conhecem pouco seu público: embora os aparatos promovam pesquisas sobre as características da audiência, sobre seus hábitos de audição e sobre suas preferências, os jornalistas raramente os conhecem e têm pouca vontade de conhecê-los. Eles precisam apresentar programas informativos, e não tentar satisfazer o público; quanto menos souberem do público, mais atenção podem dar às notícias (...). Por outro lado, a referência e o apelo às necessidade, às exigências dos destinatários são constantes, e nas próprias rotinas de produção estão encarnadas assunções implícitas sobre o público (WOLF, 2008, p.222).

Hoje, essa realidade mudou um pouco. As emissoras de televisão contam com a “contribuição” mais direta dos telespectadores. Através de e-mails que são enviados para o telejornal é possível também monitorar a audiência, que sugere pautas e faz críticas ao trabalho dos jornalistas. Mas, a leitura dos e-mails não significa em absoluto que o interesse do público está sendo considerado. A tecnologia facilitou o processo de “comunicação”. É só mais um recurso do qual dispõe o editor-chefe do telejornal para mensurar o trabalho de sua equipe e identificar como anda a tolerância do público para determinados temas. Ou, quando muito aceitar uma sugestão de pauta do telespectador, desde que tal sugestão não seja diferente da proposta editorial do noticiário. O uso de perguntas enviadas por e-mail pelos telespectadores para redação também é muito comum na atualidade. Mas há uma pergunta fundamental para entender porque a notícia sobre educação é apresentada ao telespectador de maneira superficial e acrítica. A quem interessa manter a sociedade sem as reais informações sobre a situação da educação nacional? Obviamente que

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somente interessa à fração dominante do poder, no nosso caso, aos políticos e empresários, que por interesses econômicos pessoais (que não contribuem para desenvolver a soberania nacional) aliam-se aos poderosos do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) para concretizar seus objetivos que visam perpetuar uma educação para o mercado de trabalho, para o consumo. Neste sentido, é esclarecedora a observação de ABÁDIA SILVA, (2002, p.203):

Trata-se, na verdade, de difundir a ideologia do desenvolvimento a fim de abstrair - sem o uso da força bélica, mas por medidas de retaliação, de punição, de suspensão de contrato e do consentimento dos governados - o desenvolvimento capitalista sem riscos para os países avançados. O consentimento dos governados é obtido na mudança de governos e também quando as condições internas atingem dimensões críticas e insustentáveis de tal modo que a intervenção externa possa parecer alívio necessário. grifos nossos (ABÁDIA SILVA, 2002, p.203).

A escola tem um papel fundamental na busca de saídas para enfrentar a nova pedagogia da hegemonia. É na escola, e apenas na escola, que estudantes e professores podem discutir sobre o contexto histórico atual e, portanto, conhecer melhor a realidade, fazer escolhas e posicionar-se diante da manipulação dos fatos. Trata-se, nesse sentido, de estabelecer a luta por uma escola mais politizada, mais preocupada com os interesses sociais concretos. Na verdade, uma escola que prepare melhor seus alunos, que serão médicos, publicitários, professores e também jornalistas e como jornalistas indivíduos resistentes à desonestidade intelectual e à manipulação da notícia sobre educação ou qualquer outra. É preciso não esquecer que a TV de (forma). Como aponta Arlindo Machado em seu A arte do vídeo:

A televisão penetrou tão profundamente na vida política das nações, espetacularizou de tal forma o corpo social que nada mais lhe pode ser “exterior”, pois tudo o que acontece pressupõe a sua mediação, acontece, portanto, para a tevê. Aquilo que não passa pela mídia eletrônica torna-se estranho ao conhecimento e sensibilidade do homem contemporâneo. Não se diz mais que a televisão “fala” das coisas porque acontecem; agora ela “fala” exatamente porque as coisas acontecem nela (MACHADO, 1997, p.8).

No que diz respeito ao telejornalismo, a educação só é notícia quando é informação de fontes oficiais, quando trata dos fatos que não podem ser evitados o tempo todo, quando vira espetáculo, ficção, ou no pior dos casos, quando vira banalidade e entretenimento.

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1.2. Quando a notícia vira educação

Equivoca-se quem imagina que a televisão não educa, ou ainda, não contribui para ditar modelos e projetos educacionais. Um pequeno grupo de jornalistas da Rede Globo de televisão juntamente com personalidades (atrizes e atores) desta mesma emissora têm participado e se esforçado para propagar, para dar apenas este exemplo, entre outros tantos, o projeto "Amigos Da Escola4". O projeto, uma espécie de "bandeira" em prol da educação brasileira da rede, procura reforçar a importância da educação para o desenvolvimento da nação brasileira. É sempre necessário destacar que a referida rede de tevê detém desde a década de setenta a hegemonia da audiência no país. Isso significa que a notícia sobre a criação de um projeto educativo deixa de ser apenas uma notícia, é muito mais do que isso, tal notícia passa a ser copiada como modelo de educação. As pessoas são convidadas por essas "personalidades famosas" a contribuírem com o projeto, que se restringe em transferir para a sociedade civil a responsabilidade (do Estado) de melhorar a qualidade da escola e do ensino. Por meio dele, a rede ganha pontos nacionalmente com o telespectador, aparece como uma empresa preocupada com a educação das crianças brasileiras. Por isso é tão importante discutir a questão da ideologia. Não há dúvida de que a educação é transformada em valor. Essa percepção, acredito, é exacerbada pela rede. Mas, a luta por uma educação de qualidade, certamente, não se reduz ao entusiasmo dos protagonistas do projeto. O problema é que fica subjacente que tal abordagem é na verdade uma estratégia que atende a interesses determinados de múltiplas tendências políticas e ideológicas. Segundo CHAUÍ:

4 Amigos da Escola é um projeto criado pela Rede Globo (TV Globo e emissoras afiliadas) que tem o objetivo de contribuir com o fortalecimento da escola pública de educação básica por meio do trabalho voluntário e da ação solidária, e implementada em parceria com a Petrobrás, o Faça Parte, Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), além de instituições e empresas comprometidas com a educação de qualidade para todos. O projeto incentiva a participação de voluntários (inclusive alunos, professores, diretores e funcionários) no desenvolvimento de ações educacionais - complementares, e nunca em substituição, às atividades curriculares/educação formal - e de cidadania em benefício dos alunos, da própria escola e seus profissionais e da comunidade. O Amigos da Escola é um projeto de comunicação, de implementação descentralizada. Ele utiliza a força mobilizadora da Rede Globo para sensibilizar a população e a comunidade escolar a darem sua contribuição para a melhoria contínua da escola pública (em seu papel essencial de educação formal e centro da comunidade); e desenvolve ferramentas úteis para a escola que realiza, ou pretende realizar, atividades com voluntários. Informações retiradas do site da emissora www.globo.com.

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A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar, o que devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças como as de classes e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento de identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação ou o Estado "(CHAUÍ, 1983, p.12.).

Como apontamos, somente quando a informação prende o telespectador para um dado específico da realidade educacional, a exemplo de greves, vestibulares, concursos, a educação transforma-se em notícia. Por outro lado, a notícia é transformada em educação, em maior ou menor intensidade, por necessidade ideológica ou por sua condição de espetáculo na sociedade chamada de consumo por Jean Baudrillard. Parece que o mais importante na informação passa a ser aquilo que ela tem de espetacular ou de fantástico. Mostrar as reportagens do projeto "Amigos Da Escola" significa reproduzir a falsa ilusão de uma educação e de uma escola "Para Todos" que está dando certo. A informação ganha status de conhecimento, o que deforma e confunde ainda mais a pouca formação crítica do indivíduo. O que os telejornais também não destacam em suas escaladas (termo técnico jornalístico para apresentação das principais notícias), ou melhor, a notícia que não circula ou é impedida de ser propagada, é aquela que revela a ideologia que circula nos meios de comunicação, ideologia que corresponde ao projeto político da Terceira Via, que procura orientar o ajustamento dos cidadãos, do conjunto da sociedade civil e da aparelhagem de Estado na justa medida das demandas e necessidades do reordenamento do capitalismo. Ou ainda nas palavras de COUTINHO:

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Partindo da constatação de que nosso país já é uma sociedade de tipo "ocidental", ainda que orientada para uma ocidentalidade de tipo "americano", eles afirmam que a burguesia brasileira tem agora de se empenhar para ser não apenas classe dominante, como já o é há mais de um século, mas também classe dirigente, educadora do consenso, tal como é exigido nas sociedades mais complexas, nas quais o Estado se ampliou graças à incorporação dos aparelhos da sociedade civil. (COUTINHO, 2005, p.13).

Nessa perspectiva, a questão da ética jornalística e a falta dela comprometem o compromisso do telejornalismo de levar até o público os problemas reais da educação nacional. As grandes corporações de tevê trabalham no mesmo sentido dos interesses do poder hegemônico. O fosso socioeconômico no Brasil poderá ser diminuído consideravelmente quando houver investimento maciço em educação, para tanto, a educação não pode ser difundida pela TV a partir do conceito de educação produtivista, exatamente porque tal conceito é pura ilusão. É uma fabricação, uma ideologia. Em síntese, é necessário, que nas escolas não se confunda a pedagogia capitalista com a pedagogia emancipatória que desafortunamente anda sem espaço nos ambientes escolares, apesar do esforço e resistência de uma minoria de educadores. Atento ao debate educacional atual, PUCCI (2009) critica o modelo de ensino. Segundo ele, as reformas escolares, necessárias para adequar a educação aos novos tempos, descartaram a antiga autoridade do mestre e, ao mesmo tempo, enfraqueceram ainda mais a dedicação e o aprofundamento íntimo do espiritual, ele afirma:

Com a introdução da escola nova e das metodologias, provindas do pragmatismo americano, a atenção se volta ao aluno, à sua iniciativa, às coisas que dizem respeito à sua vida, aos acontecimentos do momento; e com isso, o novo e o útil se fazem abundantes na educação escolar. A sabedoria do mestre, fruto de sua longa experiência com as coisas do espírito e da tradição, se torna démodé diante das exigências do “que fazer” formativo contemporâneo. O aluno, que se identificava com o mestre no processo formativo e, ao mesmo tempo, era desafiado a superá-lo, agora não tem espaço e tempo para se dedicar a generalidades e especulações. E uma formação funcionalista gera condições propícias para que o educando se adapte mais e mais ao sistema que o devora (PUCCI, 2009, p.71).

É verdade que muitos defendem a tese de que não cabe à televisão educar, que esse não é o seu papel, sua função é informar e entreter o público, ficando isenta de qualquer outra responsabilidade. A grande questão, no entanto, é que a televisão converteu-se em um poderoso instrumento de educação popular e, ao mesmo tempo, ainda é pouco explorada pela escola que, 26

por vários motivos, não aprendeu discuti-la, questioná-la. É na escola que se aprende também sobre o valor da verdade, que informação não é conhecimento e, principalmente, sobre a importância da luta por um sistema de comunicação e educação menos excludente, na perspectiva de superar a visão produtivista.

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CAPÍTULO II OS TELEJORNAIS E A REDE GLOBO

Versão eletrônica para milhões, o telejornalismo ocupa hoje um lugar central na vida dos brasileiros. Dentro desse contexto, as notícias televisivas contribuem em muito para um diagnóstico da democracia brasileira. Os números sobre a audiência revelam o escândalo da maciça penetração da TV no seio da sociedade.5 Desse modo, o telejornal aparece como gênero e instrumento essencial de poder para as emissoras. MARCONDES FILHO (1989) é enfático em afirmar: "Fundamental no telejornal é o caráter de show da notícia e da realidade social".

Neste início de século XXI, a informação que chega pelas telas ganha cada vez mais força e credibilidade. Sem uma revolução pedagógica consistente, a população brasileira de baixa renda (principalmente) depende da televisão para informar-se, para aprender e para sentir-se participante da sociedade. Por trás dessa dinâmica encontra-se sempre uma realidade trágica. A verdade é que apesar das transformações tecnológicas, dos avanços culturais, científicos, vivemos também a era do terrorismo. Cresce a violência, a miséria, o desemprego, a corrupção, a irracionalidade para com a natureza e as injustiças. Nesse cenário de crescentes desigualdades a televisão contemporânea a serviço do capital está comprometida com a disseminação do que Adorno chamou de retrocesso do conceito de formação cultural. Em um debate intitulado Televisão e Formação, diz ele:

5É ilustrativo o número da audiência na TV brasileira apresentado por Capparelli: "Se alguém, por exemplo, procurar saber quais são os dez programas de maior audiência na televisão no ano de 2000, num ranking por média de telespectadores, descobrirá que os dez foram da Rede Globo, sendo quatro programas de informação, três programas de ficção e três programas de shows de variedades. Dentre esses dez mais assistidos, o primeiro foi uma telenovela com share médio de 67% e 35 milhões de telespectadores, e o décimo, um telejornal com share de 51% e 21 milhões de telespectadores. Os programas telejornalísticos dividiam-se entre o telejornal de referência da Globo, "Jornal Nacional", e o sensacionalista "Linha Direta"; entre os de ficção, duas telenovelas e o filme semanal (geralmente norte-americano) do programa "Tela Quente", consistindo no único momento em que a produção estrangeira sobressai na programação continuada. Já os programas de variedades dividem-se entre um show humorístico, um show de variedades híbrido, com fortes componentes de informação, e um show de comportamento. Caso esses relatórios sofressem um corte diacrônico, se descobriria que a hegemonia da Rede Globo no mercado nacional existe há mais de 30 anos e que ela sempre esteve na situação de quase monopólio, mesmo não dispondo de um número excessivamente maior de canais de televisão ou de repetidoras". Venício A. de Lima, Sérgio Capparelli. Comunicação e televisão: desafios da pós-globalização. São Paulo: Hacker, 2004. 28

Começo destacando que o conceito de formação possui um duplo significado em face da televisão (...). Por um lado é possível referir-se à televisão enquanto ela se coloca diretamente a serviço da formação cultural, ou seja, enquanto por seu intermédio se objetivam fins pedagógicos: na televisão educativa, nas escolas de formação televisivas e em atividades formativas semelhantes. Por outro lado, porém, existe uma espécie de função formativa ou deformativa operada pela televisão como tal em relação à consciência das pessoas, conforme somos levados a supor a partir da enorme quantidade de espectadores e da enorme quantidade de tempo gasto vendo e ouvindo televisão (...). Além disto, gostaria de acrescentar que não sou contra a televisão em si, tal como repetidamente querem fazer crer. Caso contrário, certamente eu próprio não teria participado de programas televisivos. Entretanto, suspeito muito do uso que se faz em grande escala da televisão, na medida em que creio que grande parte das formas em que se apresenta, ela seguramente contribui para divulgar ideologias e dirigir de maneira equivocada a consciência dos espectadores. (ADORNO, 1995, p.76.)

No caso do Brasil, um exemplo contundente dessa maneira equivocada de dirigir a consciência dos espectadores é apresentada diariamente no Jornal Nacional - JN que sistematicamente insere no ar para os brasileiros uma interpretação da realidade que é na verdade uma simulação da realidade. Transformado em simulacro, o telejornalismo se descaracteriza, torna-se superficial e não atende aos interesses do indivíduo. Assim, Adorno chama atenção para o grande problema da televisão: que é justamente o conteúdo, a programação e a forma pela qual ela é concebida. Na TV a forma de produção é mais importante que o conteúdo. E por causa desse favorecimento da forma sobre o conteúdo a realidade fica reduzida ao banal, ao que não é essencial, ela é uma máquina de fazer o nada. Tudo é esquecido, tudo desaparece instantaneamente. No caso da notícia, MARCONDES FILHO (2009) lembra que nenhum relato é suficientemente trabalhado para criar raiz, tudo evapora.

O JN é a estrela do telejornalismo da Rede Globo. Ele estreou na grade da emissora no dia primeiro de setembro de 1969, dia em que o governo nomeava uma Junta Militar para governar o país, por causa do afastamento médico do presidente Costa e Silva. A propósito, o noticiário completou em 2009, quarenta anos. Desde o início tornou-se o grande porta-voz do governo militar e de governos que sucederam os militares e a principal fonte de informação para os brasileiros. Foi o primeiro telejornal a ser transmitido em rede nacional. É apresentado em uma única edição diária, no horário nobre, às oito da noite. Vai ao ar de segunda a sábado e é dividido em blocos. Em geral, as matérias exibidas tratam de temas nacionais e internacionais, o esporte também aparece com bastante destaque e as reportagens não ultrapassam o tempo de um minuto e

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meio. Exceção para reportagens especiais como tragédias, olimpíadas, eleições, copa do mundo, séries ou entrevistas ao vivo. De acordo com o editor-chefe do JN, William Bonner6, a organização do trabalho de produção do telejornal depende muito do trabalho em equipe. No Brasil, todas as afiliadas da emissora alimentam o JN com informações. São feitas reuniões de pauta com a equipe para escolha e seleção dos assuntos que deverão aparecer no noticiário. Ao longo dos 40 anos do JN foram muitas as mudanças. Sem dúvida, a principal delas foi a substituição dos antigos locutores que apresentavam o JN por jornalistas. Recentemente a era das novas tecnologias trouxe velocidade, agilidade e conexão em tempo real com o mundo, sobretudo, novas formas e critérios da elaboração do texto, da imagem e da edição do conteúdo exibido. O JN é um marco na TV e também o espelho de um Brasil bem embaçado. O telejornal nacional matutino da emissora é o . Vai ao ar de segunda a sexta-feira às 07h15min, com quarenta e cinco minutos de duração. Com um formato especial traz as principais informações que serão notícias ao longo do dia. Era apresentado direto de Brasília, hoje a redação e apresentação deslocou-se para o Rio. Trata-se de um telejornal com um tempo de produção e exibição das matérias diferenciado. Jornalistas especializados em economia, esporte, cultura e política participam do noticiário fazendo suas análises e comentários sobre a realidade brasileira e mundial. É um telejornal que procura interpretar os assuntos do dia para o telespectador, que irá enfrentar o início da rotina de trabalho. Está na grade da emissora desde 1983. Antes do Bom Dia Brasil, às 06h25min entra no ar o Bom Dia São Paulo, telejornal direcionado para o Estado de São Paulo. Segue o formato tradicional, blocos e chamadas de repórteres que comunicam as informações do início da manhã a partir de seus municípios, ou de cidades vizinhas com fatos de interesse dos paulistas. É desde o início um telejornal prestador de serviços. Entrou no ar em 18 de abril de 1977 e foi o primeiro a utilizar Unidades Portáteis de Jornalismo o que possibilitou a entrada ao vivo dos repórteres em todo o estado. O primeiro Globo Notícia vai ao ar às 09h40min e possui cinco minutos de duração. Aparece ao longo da programação da emissora. É uma síntese das principais informações ocorridas no país e no mundo. Na verdade, uma maneira de manter as informações atualizadas

6 Entrevista concedida à revista Época em 2009 pelos 40 anos do Jornal Nacional. 30

para o telespectador, uma consequência da pressão feita pelas novas mídias como twitter e blogs, para não falar da Internet. Tradicionalmente, o Globo Esporte vai ao ar às 12h45min. É um telejornal exclusivamente preocupado em cobrir e relatar os assuntos do mundo do esporte. Foi ao ar pela primeira vez em 14 de agosto de 1978. Podemos afirmar, sem erro, que grande parte dos trinta minutos de exibição do noticiário são dedicados ao primeiro esporte do país, o futebol. São raras às vezes que se abre espaço para outros esportes. Recentemente, o Globo Esporte passou a ser apresentado em São Paulo, por uma equipe de jornalistas da capital. Os outros estados seguem com a produção carioca. Entretanto, cabe ressaltar que as reportagens exibidas são praticamente as mesmas. No Rio maior ênfase para os clubes cariocas, obviamente. Na sequencia da programação da emissora temos o Jornal Hoje. O último telejornal da rede é o - JG. Exibido às 23h45min de segunda a sexta e com trinta minutos de duração, o noticiário fecha a programação jornalística da emissora. Estreou na grade da emissora no dia 2 de abril de 1979. É importante destacar que o Jornal da Globo é visto por um público diferenciado. A propósito, o próprio apresentador atual do JG William Waack faz uma comparação entre o JN e o JG e afirma o seguinte:

São produtos bem diferentes, voltados para públicos diferentes. O Jornal da Globo, do ponto de vista jornalístico, é um produto de alta classe, voltado para o melhor segmento do público, que tem mais poder aquisitivo e escolaridade. É um público que exige análise e opinião (VENCESLAU apud PORCELLO, 2008, p.57).

A meta de redatores, apresentadores e editores desse telejornal é fazer um resumo dos principais fatos do dia no país e no mundo. Para isso, apresenta análises feitas por especialistas, principalmente de economia e política, grandes reportagens, séries e entrevistas de estúdio. Por outro lado, possui também um tom mais leve, cultural e humorístico. Mais do que uma estratégia para cativar o público, o JG busca explorar nesse horário os interesses do telespectador de alta classe e ser também um noticiário dinâmico de fim de noite. Os outros programas como o Globo Rural, Fantástico, Profissão Repórter, Globo Repórter e Pequenas Empresas também são programas jornalísticos, mas apresentam um formato diferente dos telejornais da rede e não são relevantes para essa pesquisa.

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A Rede Globo faz permanentemente publicidade de todos os seus telejornais, essa estratégia visa manter a audiência conquistada e fidelizar novos telespectadores. Este último item está cada vez mais difícil de conseguir dentro do novo panorama televisivo nacional, diante da oferta de novos canais pagos e abertos e das novidades que vez por outra abalam a rede. Assim, a emissora mostra sua força, padrão de qualidade e investimentos em tecnologia na luta pela hegemonia. Em suas autopropagandas mostra repórteres em ação, apresentadores, vinhetas, e os fatos em si, tudo para vender positivamente o produto telejornalístico. É quase impossível para o telespectador resistir a tantos apelos. De fato, o desempenho dos publicitários e das peças da casa é uma alavanca importante para manutenção absoluta da audiência, como já foi apresentado.

Sem tempo para o diálogo em virtude das exigências da vida moderna que ameaça, individualiza, isola e angustia, os indivíduos obtém mais rapidamente - mesmo que de maneira menos reflexiva - a informação necessária para lidar com o cotidiano. Dessa forma, a tevê se transforma em refúgio para os indivíduos de todas as classes sociais, a televisão é encarada como a grande companheira, um aparelho de muitos sentidos, monopolizador da atenção. Ela está sempre ligada, ainda que não haja interesse pela programação exibida naquele momento. As imagens e informações que transmite configuram e condicionam gradualmente os gostos desses indivíduos, em grande parte de maneira inconsciente. Os telejornais mobilizam as pessoas e são eficientes na construção dos modelos de pensamento que irão determinar a cultura e o agir social. Dentro desse contexto, a televisão segue sua marcha em nome da audiência, do grotesco e da despolitização que resulta em lucratividade e manutenção da ordem vigente.

2.1. Jornal Hoje: o telejornal intimista e simpático no horário do almoço

Em uma emissora onde a tradição da notícia esteve sempre relacionada ao furo jornalístico, a fatos políticos, esportivos e a futilidades parece estranho observar a prioridade dada pelo JH para a pauta de educação e trabalho nos últimos tempos. Questionar essas reportagens, analisá-las e verificar a intenção de suas mensagens é o objetivo desta tese. É preciso decifrar o sentido oculto das mensagens para compreender os significados apresentados pelo telejornal. Para isso, fizemos primeiro uma incursão pela trajetória do JH. 32

2.2. Jornal Hoje e a passagem do tempo

O JH é um dos mais antigos telejornais da Rede Globo7. Entrou no ar pela primeira vez em 21 de abril de 1971. Inicialmente era restrito ao Rio de Janeiro, de onde herdou o horário do extinto Show da Cidade. Em 03 de junho de 1974, o JH passou a ser exibido em todo o território nacional. Nessa época, a emissora acabava de se transformar em rede, no sentido moderno da palavra, com transmissões via satélite. Léo Batista e Luís Jatobá foram os primeiros apresentadores do JH, que nasceu como uma revista diária, com matérias sobre arte, espetáculos e entrevistas. A revista diária, em formato televisivo procura levar até o telespectador, informação, diversão e cultura. Em função do sucesso da TV, o telejornal passou a ser o meio prioritário para saber o que acontece no mundo. Dessa forma, o JH trabalha com reportagens factuais, mas também é conhecido por ser um telejornal mais "light" e mais descontraído, geralmente tratando de assuntos como moda, comportamento geral, arte, cultura e culinária, além de dicas para o cidadão brasileiro. As questões sobre educação e mercado de trabalho também passaram a ocupar um espaço basilar na produção do noticiário. Nessa condição, o Jornal Hoje é uma espécie de jornal eletrônico diferenciado. O momento do nascimento do JH é também o momento do crescimento da classe média e da concentração populacional, sobretudo, nos grandes centros. Eis porque cabia inserir na grade de programação da emissora um noticiário que dialogasse com essa massa populacional que começava a movimentar a economia. No poder o general Emílio Garrastazu Médici (1969/1974), que teve em seu governo o período de maior repressão durante a ditadura militar. Foi também no governo Médici que se deu o chamado "milagre econômico". Nesse cenário, o Estado foi fundamental para o desenvolvimento da indústria de eletrônicos, interessada em produzir equipamentos de som e de televisão. Investiu pesadamente em publicidade o que fortaleceu as agências e a mídia eletrônica. Ao lado das grandes empresas viabilizou o capital nacional e abriu o país para os produtos culturais estrangeiros, como os "enlatados" filmes norte-americanos,

7 De acordo com César Bolaño (Professor da Universidade Federal de Sergipe), a emissora encontrou o mercado brasileiro na sua adolescência e, ao ingressar nele, deu-lhe novo rumo. Não evidentemente, pela força interior ou pelas capacidades subjetivas do seu criador, Roberto Marinho, mas por todas as circunstâncias que o levaram à condição de capitão de empresa e indústria televisiva no Brasil, o mais bem sucedido de todos. Jogou a seu favor, no início, além, naturalmente, de ser já empresário do ramo da comunicação - e sua origem familiar no jornalismo é também fator explicativo a ser considerado em algum momento -, a adequação do projeto aos interesses do regime militar e o capital (conhecimento e dinheiro) do grupo Time-Life. 33

discos e séries popularescas de tevê. Nesse momento, ainda não havia no Brasil uma produção sólida de conteúdos "culturais" que fosse capaz de atender as necessidades da emergente indústria de entretenimento. Deste modo, tanto o JH como o jornalismo de televisão consolida-se na década de 70. A preocupação maior das redes era expandir a programação, dando mais espaço para os noticiários. No entanto, a produção em um primeiro momento terá mais força no eixo Rio-São Paulo. O modelo de sucesso dos telejornais é importado dos Estados Unidos, fórmula que visava a qualidade técnica, o espetáculo nas imagens e a suntuosidade dos cenários. A atuação dos jornalistas ou pelo menos uma grande parte deles (nesse período) é um exemplo daquilo que Adorno e Horkheimer caracterizaram como dialética do iluminismo (esclarecimento): a utilização da racionalidade (conhecimento) para comunicar uma visão de mundo de uma minoria. A combinação dessa racionalidade com a proliferação das imagens na forma de telejornal vai transformar a vida social dos brasileiros em todas as suas dimensões. Em outras palavras, a TV irá ocupar o espaço social para propagar a “cultura senhorial” da sociedade brasileira. As relações serão pautadas entre um superior que “manda” (emissora), e um inferior que “obedece” (telespectador). Assim, era importante para as forças políticas da ditadura contar com o apoio de uma emissora de televisão para propagar e publicizar seu ideal de modernidade, baseado no capitalismo monopolista dependente e na exclusão da participação política. Mas esse apoio da emissora carioca teve um preço: as restrições impostas pelo regime à liberdade de expressão. Na verdade, o Estado nesse período conseguiu obter um controle sobre o conteúdo das mensagens, principalmente, na empresa da família Marinho. Trata-se de uma estratégia de imposição pela mídia de uma identidade nacional.

CHAUÍ (2006, p.27-28), por sua vez, nos apresenta o processo de elaboração da "identidade nacional" entre os anos de 1950 e 1970, e destaca os seguintes traços:

1) Ausência de uma burguesia nacional plenamente constituída, tal que alguma fração da classe dominante possa oferecer-se como portadora de um projeto hegemônico, não tendo, portanto, condições de se apresentar como classe dirigente; há um vazio no alto;

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2) Ausência de uma classe operária madura, autônoma e organizada, preparada para propor um programa político capaz de destruir o da classe dominante fragmentada. Por suas origens imigrantes e camponesas, essa classe tende a desviar-se de sua tarefa histórica, caindo no populismo; há um desvio embaixo;

3) Presença de uma classe média de difícil definição sociológica, mas caracterizada por uma ideologia e uma prática heterônomas, oscilando entre atrelar-se à classe dominante ou ir a reboque da classe operária;

4) As duas primeiras ausências e a inoperância da classe média criam um vazio político que será preenchido pelo Estado, o qual é, afinal, o único sujeito político e o único agente histórico;

5) A precária situação das classes torna impossível a qualquer delas produzir uma ideologia, entendida como um sistema coerente de representações e normas com universalidade suficiente para impor-se a toda sociedade. Por esse motivo, as ideias são importadas e estão sempre fora do lugar.

A TV Globo irá contribuir para o projeto político do Estado. O regime militar implementou ações que reduziram muito o espaço público de sociabilidade. Os ambientes públicos como as praças, as ruas, os parques foram pouco a pouco perdendo seu significado. A ditadura militar vai privatizar o espaço público e também o Estado. Uma nova sociabilidade será construída. Inicia-se um processo em que os bens simbólicos passaram a ser consumidos por um público cada vez maior. O novo espaço de convivência serão os grandes centros comerciais. A televisão será fundamental para que o Estado possa concretizar a proposta de integração nacional. Esse pacto fortalece a Rede Globo, que dá início a sua hegemonia nacional enquanto líder na preferência do telespectador brasileiro. O espetáculo eletrônico começa ser construído. O que se buscava era dar um tom emocional às notícias, e ao mesmo tempo, chamar a atenção dos

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brasileiros para as questões de ordem patrióticas8. A questão da linguagem utilizada pelo Jornal Nacional é essencial para entender o discurso jornalístico daquele momento. A euforia dos telespectadores frente ao novo modelo de telejornal revela as artimanhas do noticiário que para os padrões da época era altamente qualificado. É natural que a população ficasse encantada e ao mesmo tempo impressionada com o JN. Segundo BARBOSA E RIBEIRO o JN ao longo dos anos irá se transformar no telejornal mais importante da emissora, justamente em função de sua linguagem:

A linguagem utilizada no Jornal Nacional e, posteriormente, em outros telejornais de rede era intimista. Pensava-se numa família brasileira reunida na sala de jantar, em torno da televisão, tal como antes ocorrera com o rádio. Mas a fala da televisão era mais próxima, coloquial, diferente do rádio, onde o narrador se exaltava, falava mais alto, como se procurasse o ouvinte por todos os cantos da casa. A imagem provocava a sensação da realidade iminente. Daí também a mudança do modelo empregado pela TV Globo em relação ao que existia no então telejornal líder de audiência, o Repórter Esso. (BARBOSA & RIBEIRO, 2005, p.211).

Assim, sob um regime de repressão, a televisão passou a ser o elo entre os indivíduos e a sociedade. Exatamente por isso irá projetar e impor pouco a pouco uma noção de identidade nacional que não é legitima. O telespectador será levado a crer que pode escolher e participar das decisões nacionais, quando na verdade estará totalmente vulnerável e sujeito a uma única escolha: a do canal. Ainda sobre essa tendência de identidade nacional, Gabriel Priolli expressa o seguinte:

8"Marilena Chaui explica de onde veio a ideia de patriotismo e Estado forte disseminada pela ditadura militar através da TV Globo: "Veio dos economistas alemães a ideia do "princípio de nacionalidade", isto é, um princípio que definia quando poderia ou não haver uma nação ou um Estado-nação. Esse princípio era o território extenso e a população numerosa, pois um Estado pequeno e pouco populoso não poderia "promover à perfeição os vários ramos da produção". Desse princípio derivou-se uma segunda ideia, qual seja, a nação como um processo de expansão, isto é, de conquista de novos territórios, falando-se, então, em "unificação nacional". Dimensão do território, densidade populacional e expansão de fronteiras tornaram-se os princípios definidores da nação como Estado. Todavia, o território em expansão só se unificaria se houvesse o Estado-nação, e este deveria produzir um elemento de identificação que justificasse a conquista expansionista. Esse elemento passou a ser a língua, e por isso o Estado- nação precisou contar com uma elite cultural que lhe fornecesse não só a unidade linguística, mas lhe desse os elementos para afirmar que o desenvolvimento da nação era o ponto final de um processo de evolução, que começava na família e terminava no Estado. A esse processo deu-se o nome de progresso "(CHAUI, 2006, p.17-18).

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A televisão tem sido um poderoso instrumento de difusão desse sentimento nacional, que articula incluídos e excluídos em torno de uma certa ideia básica de Brasil, e existe ao mesmo tempo como unidade e diversidade. Cumpre esse papel, com mais clareza, desde o início dos anos 70, quando a tecnologia permitiu a implantação de uma rede de telecomunicações em todo o território e as imagens puderam trafegar a longas distâncias. Centrada no Rio de Janeiro e em São Paulo, os dois maiores mercados de produção e consumo do país, a indústria televisiva expandiu-se para todos os outros estados e vem produzindo um determinado imaginário - por meio, sobretudo, das telenovelas e dos noticiários -, que se pretende nacional e que acaba sendo assim apreendido, com consequências profundas na política, na economia e nas relações sociais. É o Sudeste branco falando para o Brasil, em nome do Brasil, como se fosse todo o Brasil, e com a anuência pacífica da maioria dos brasileiros. (PRIOLLI, 2003, p. 15-16)

Transmitir as notícias para todo o Brasil tinha, pois, uma função claramente política. Utilizando-se da mesma linguagem do JN, o JH no horário do almoço irá trazer para o telespectador um estilo inovador. É o momento de relatar de maneira especial as peculiaridades do cotidiano brasileiro. O "nacionalismo" está em alta e, portanto, é preciso mostrar e destacar para o telespectador as personalidades que enchem o povo de orgulho: na música, na literatura, na dança, no esporte, no cinema. É assim fácil de perceber que a penetração do JH irá se dar sem maiores resistências. Afinal, o JH irá projetar uma realidade cultural do país que irá agradar o telespectador considerado pelas pesquisas de audiência média, que neste momento está sujeito a uma educação que deixa muito a desejar. A censura, os expurgos, as aposentadorias compulsórias, o arrocho salarial, a dissolução de partidos políticos, de organizações estudantis e de trabalhadores chegaram para ficar por longo tempo. Pouco mais tarde introduzir-se-ia também a prática da tortura. Com esses recursos os militares, de fato, contiveram à crise econômica, abafaram a movimentação política e consolidaram os caminhos para o capital multinacional (SHIROMA, 2004, p. 32). No Brasil, nunca houve a efetivação de um Estado do Bem Estar Social. As ações nessa direção foram interrompidas justamente pelos militares. Nas considerações acima, fica evidente que a ideia de progresso do governo militar, ou, o projeto de modernização do país, não incluía uma reforma na educação que atendesse as necessidades dos indivíduos das chamadas classes sociais subalternas. Com a reforma do ensino dos anos de 1970 firmou-se os termos do novo regime. Ou seja, uma educação voltada para a formação de "capital humano", isto é, desenvolvimento de uma educação atrelada ao mercado de

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trabalho, modernização de hábitos de consumo, integração da política educacional aos planos gerais de desenvolvimento e segurança nacional, defesa do Estado e controle político-ideológico da vida intelectual e artística do país. Nas palavras de SHIROMA (2004): “o governo militar procurou equacionar o sistema educacional em vista dessa finalidade, subordinando-o, aos imperativos de uma concepção estritamente econômica de desenvolvimento”. Nesse processo, o JH em suas edições vai privilegiar os assuntos que fortaleceram está ideia de progresso, de paz e de inclusão social, mas já usando uma narrativa que visava legitimar seu caráter inovador. Nessa fase, a prática do telejornalismo na Rede Globo está se consolidando. Em setembro de 1966, Armando Nogueira assume a direção do jornalismo e começa ampliá-lo, com a aquisição de mais equipamentos e a contratação de novos profissionais9. A produção estética da notícia procura tratar os fatos como ocorrências distantes da realidade cotidiana das pessoas. Pode-se dizer que é através do apelo para a sensibilização dos fatos que é construída a narrativa do telejornalismo na Rede Globo. Em síntese, o objetivo é cativar a audiência permitindo o surgimento da ideia do Padrão Globo de Qualidade. O investimento para imprimir esse padrão virá da publicidade oficial - Estado e também através de outros setores da economia. A Rede Globo sempre esteve preocupada com sua audiência, já que isto significava garantir o monopólio dos investimentos publicitários. Para isso desde o início buscou analisar e avaliar o público. Por meio de pesquisas próprias ou através do Instituto Brasileiro de Estudos de Opinião Pública - Ibope eram feitas sondagens para verificar se a grade de programação estava mobilizando a audiência. Em outras palavras agradando a população. É dessa forma que serão construídos os programas. E foi assim que, o chamado Padrão Globo de Qualidade foi instituído. Entre os horários de telenovelas e telejornais são introduzidos programas de auditório, populares, tecnicamente bem produzidos e transmitidos, mas por outro lado, extremamente sensacionalistas e de baixo nível. Tais formatos ajudaram a emissora a ganhar prestígio junto à audiência e com isso trazer para o departamento comercial anunciantes de peso. Programas apresentados por líderes de opinião ufanistas que vangloriam o poder de consumo, as celebridades nacionais, o individualismo, o racismo e o sucesso a qualquer preço fizeram história na casa. Este quadro reforça o interesse da Rede Globo em conquistar a audiência. A banalização da programação e o exagero no grotesco começa a incomodar uma pequena parcela da sociedade.

9 Rede Globo 40 anos de poder e hegemonia. São Paulo: Paulus, 2005. 38

Preocupados com a baixaria da programação e também com as críticas, a direção da emissora opta por uma nova filosofia de programação. Neste momento (virada dos anos 70), a saúde financeira da Rede carioca já estava equilibrada. Era necessário atingir um público mais qualificado, já que 60% do público das classes C/D já haviam sido cooptados. Como aponta João Freire Filho o projeto da emissora era fazer um veículo de publicidade. Assim:

O padrão global de qualidade consubstanciava o intento declarado da emissora do Jardim Botânico de ser “popular" sem ser "popularesca", sedimentando, no imaginário (e no orgulho) nacional, uma concepção mista de qualidade televisiva, capaz supostamente de harmonizar distintos critérios de excelência: junto ao peso do discurso empresarial (êxito comercial; infra- estrutura; empregos; índices de audiência; exportação de programas; "uma das maiores emissoras do mundo"), firmava-se, também, certa dimensão artística e cultural (apuro técnico; efeitos especiais; cenários; programação visual; modernização dos gêneros; divulgação da tradição, da cultura, dos artistas e dos autores nacionais). Prêmios internacionais e a reverência da imprensa a certos núcleos de excelência, como as "séries brasileiras", ajudavam a legitimar o novo padrão (FREIRE FILHO, p.172, 2005).

Nesse contexto, telespectadores do JH de todo o Brasil passaram a assistir a sessão de moda de Cristina Franco, a conhecer as previsões dos astrólogos para o dia, a aprender receitas culinárias, a assistir e ouvir as crônicas de Rubem Braga, as novidades e tendências da música com o jovem Nelson Motta e a estar informados sobre os principais fatos do país e do mundo. Devemos lembrar que os anos de 1970 foram a fase de mais intenso deslocamento geográfico na história do país, para chegar ao fim do século com mais de 80% da população vivendo em áreas urbanas (CAPPARELLI, 2004). Isto corresponde a considerar que a televisão com seus programas e telejornais iniciava aqui um processo de “alfabetização” desses migrantes, em sua grande maioria semianalfabetos. A televisão é assim referência para essa população, o pão e o circo dos 90% sem cultura. Pode-se dizer que a fórmula adotada pelo JH trouxe bons resultados para a emissora. A apresentação adotada pelo JH foi inovadora no sentido de colocar pela primeira vez mulheres

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diante da câmera10. Sônia Maria, Ligia Maria e Márcia Mendes conduziram o telejornal com charme e profissionalismo. Esse trio fez-se porta-voz de um espaço emergente para a mulher brasileira na TV. Elas permitiram que um novo programa totalmente dedicado à mulher fosse criado, A TV Mulher. A TV Mulher caracteriza uma programação de gênero, que destaca a ascensão econômica e social de determinado segmento. Nas telenovelas, através do merchandising social, é mais nítido o papel da TV em incidir em mudanças de padrões de comportamento, gosto. Mas isto também acontece com os telejornais. Em seguida, o JH introduz também um novo jeito de entrevistar, explorando ambientes agradáveis fora do estúdio. Examinando a mídia, CHAUÍ (2006) aponta que não é casual que os noticiários no rádio e na televisão, ao promover entrevistas em que a notícia é intercalada com a fala dos direta ou indiretamente envolvidos no fato, tenham sempre repórteres indagando a alguém: O que você sentiu/sente com isso/ ou O que você achou/acha disso? ou Você gosta? Não gosta disso? "Essa tendência inaugurada no JH, de buscar a intimidade das personalidades públicas dá lugar aos sentimentos e emoções impedindo o essencial: uma reflexão sobre a notícia.

2.3. JH: intimidade necessária

O JH é um telejornal diferenciado. Isto quer dizer que apresenta um formato mais intimista e traz com mais alegria temas de variedades, com ênfase para as pautas que dizem respeito ao cotidiano do seu público. Começa sempre com a chamada escalada (principais notícias do dia), vinheta de abertura (clímax para chamar o receptor) e em segundos com a trilha musical de costume, os apresentadores estão ao vivo lendo as cabeças das matérias (notícias). Na sequencia entram os repórteres com as reportagens. Uma reportagem tradicional de telejornal é linear: Inicia-se com o tradicional off (narração), sonora (entrevista), passagem (o repórter em cena reportando o essencial da matéria) e, por último, às vezes, um encerramento. Essa é a rotina de

10 O telejornal com um único apresentador é o mais comum, chegando mesmo a constituir o sistema clássico do que poderíamos chamar, no telejornalismo noticioso, de informativo tipo texto-legenda, pois ele apresenta semelhanças curiosas com esse recuso do jornalismo impresso. É texto-legenda porque se baseia em imagens com textos curtos e passagens ao vivo também muito curtas. Um telejornal com dois ou mais apresentadores implica melhor tratamento plástico. A notícia passa a ser mais explicativa, é quase uma estória em torno de um fato concreto. Além disso, dois apresentadores dão mais ritmo e estabelece união entre a imagem visual e a mental do telespectador. A mulher como apresentadora é uma peça importante de um noticiário, sem que, necessariamente, diga aquilo que interesse exclusivamente às mulheres ou que seja apenas um "enfeite" no programa. (SAMPAIO, W. p.88-93, 1971). 40

um telejornal. Nos bastidores, entretanto, uma equipe trabalha contra o tempo para produzir, editar, checar e selecionar tudo que irá para o ar.

Simpáticos, bonitos e muito bem entrosados, os apresentadores atuais do JH, Sandra Annenberg e Evaristo Costa anunciam as principais notícias do dia em frases muito curtas, intercaladas pela vinheta do jornal tocando ao fundo. O JH está no ar. Um diálogo com o público inicia-se. O telespectador é projetado nesse modelo imaginário. Além disso, a representação dos âncoras unida à estratégia de fazer do telejornal um bate-papo, uma conversa com o telespectador que se identifica com a fala agradável, dá muito certo. A sensação é de uma intimidade com a tela e os jornalistas. O diálogo entre o JH e o público é simples, bem simples. A apresentadora, por exemplo, ao término de uma matéria sobre educação diz para o colega e para o telespectador que foi uma boa aluna. Impossível resistir a tanta simpatia e intimidade. É essa exposição que transmite a „sensação‟ de conversação. O telespectador logo pensa na sua escola, professor e no seu desempenho.

“A gente confia muito um no outro. E isso é uma delícia. Nada disso é pensado. Eu me sinto a vontade. Então flui. Minha ideia é apresentar de forma mais conversada. Acho que faltava uma coisa mais falada e menos lida. O Evaristo tem um perfil mais jovem, ele representa uma outra geração que alimenta muito o jornal. Ele é um cara muito para cima e trouxe uma jovialidade para o telejornal” (Sandra Annenberg em entrevista concedida para pesquisadora em 30/04/2010).

“Entramos no ar na hora do almoço e o público desse horário quer ver uma notícia gostosa. Estamos falando com donas de casa, estudantes e com as pessoas que conseguem ir para a casa na hora do almoço. O horário permite certa descontração – O Boni definiu o JH como o jornal do gerúndio – é um jornal que está acontecendo, muita coisa já aconteceu e muita coisa está por vir. Ele tem muito vivo, isso é muito ágil, muito divertido, é muito gostoso. São palavras que definem bem o jornal. Não precisa ser sisudo para passar credibilidade”. (Sandra Annenberg em entrevista concedida para pesquisadora em 30/04/2010).

As entrevistas, marca registrada do telejornal no passado, revelavam as inquietações, os êxitos, os fracassos e os planos das mais diversas personalidades do Brasil. O sofá de Leda Nagle, (apresentadora nos anos de 1980) onde se sentaram nomes como Carlos Drummond, Pelé, Caetano Veloso e Tom Jobim transformou-se muitas vezes em divã. É inegável que durante toda sua trajetória, o JH preocupou-se justamente em ser um telejornal simpático e de variedades sem

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maiores ambições. Mas, é preciso registrar que a qualidade e o conteúdo das entrevistas dos anos de 1980 para cá, já não são mais as mesmas. Na atualidade, só as celebridades da teledramaturgia e estrelas de pouca importância no cenário nacional aparecem nas entrevistas. Recentemente, o escolhido foi o ator Fábio Assunção, em virtude do seu envolvimento com as drogas. Pouco se falou de sua recuperação, a entrevista tinha como objetivo especular sobre a minissérie „Dalva e Herivelto‟ produto que iria estrear na emissora. Não é por acaso, como assinala MARCONDES FILHO (2009), sob uma perspectiva da publicidade, que a notícia é criada com certo sensacionalismo, como se fosse uma peça publicitária feita para ser desejável e invejada. Ao enxergar o telespectador apenas pela ótica mercantil, a informação vira mercadoria. O telejornal precisa apresentar suas reportagens das mais diferentes maneiras. É o produto bem embalado que irá causar impacto. Por isso, o texto deve explicar a imagem de modo simples e direto. Como na publicidade, o produto deve prender o consumidor de imediato, com a notícia de tevê o mesmo deve acontecer. Essa estratégia é muito eficaz no JH, pois, ao mesmo tempo seduz o telespectador pela aparência das notícias, independentemente de seu conteúdo, e mais uma vez simula a comunicação, a interação do telejornal com sua audiência. Foi também no JH que pela primeira vez os repórteres apareceram sem gravata e com o cabelo comprido. O modelo de inédita liberdade do JH, ainda que constantemente negociada com o diretor de jornalismo Armando Nogueira (na época) tinha relação direta com a explosão da televisão. A televisão se difundia, consolidava-se como grande veículo de entretenimento, ligado inexoravelmente a notícias. Informar tornou-se uma preocupação relevante em todo lugar durante a década de 70. O mundo está dividido pela Guerra Fria, o Brasil alinha-se com os EUA e a televisão reforça o modelo de consumo importado. O que isso significa? Ora, a produção massiva de aparelhos receptores (em cores) fez com que a tevê se tornasse acessível para população. A ascensão da televisão é notável e, à medida que os avanços tecnológicos foram concebidos, havia a necessidade de modernizar o telejornal, para um maior controle da audiência e da informação. É constrangedor constatar que a notícia imediata, rápida, de frases curtas apresentada no telejornal desconsidera a capacidade de compreensão dos espectadores. Tudo deve ser explicado pelos apresentadores. Os jornalistas passam, assim, a ocupar o lugar que tradicionalmente cabia a grupos de classes sociais e partidos políticos. Desaparece o jornalismo investigativo e entra em

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cena o jornalismo de opinião, interpretativo, que faz de seus âncoras celebridades nacionais que transmitem não apenas as notícias, mas confiança. Trata-se de pessoas que estão acima de qualquer suspeita, possuidores de "muito saber" e, portanto, dignas de credibilidade como os grandes locutores da época de ouro do rádio brasileiro, que eram aclamados pelo público. Ao explicar sua relação com o público e sua posição, Sandra Annenberg, afirma:

“A minha relação com a exposição limita-se ao jornal que eu faço. Eu não sou artista, sou jornalista. Embora, eu entenda que isso seja uma confusão na cabeça do telespectador. Porque depois da gente vem o videoshow, que também é a mistura da ficção com a realidade” (Sandra Annenberg em entrevista concedida para pesquisadora em 30/04/2010).

De fato, como escreve Laurindo Leal Filho, no livro a TV aos 50, a televisão brasileira é herdeira do rádio em todos os sentidos. Dele vieram a mão de obra pioneira, as fórmulas dos programas e o modelo institucional adotado. Diferentemente dos Estados Unidos, onde a inspiração estava no cinema, ou da Europa, onde o teatro era referência, aqui o rádio foi a grande escola para a televisão. Dessa maneira, o JH procurou trazer para o telespectador um pouco do improviso do rádio, simplicidade e prestação de serviço. Por isso, a aparência mais descontraída de seus repórteres e o tom sempre intimista de sua linguagem. Além disso, com as novas tecnologias, os jornalistas passaram a ir ao local do acontecimento não apenas para apurar as informações, mas também para gravar sua passagem11 acumulando as funções de produtores e apresentadores de suas matérias. Não é por acaso como assinala BOURDIEU (1997), em Sobre a Televisão, que ao insistir nas variedades, a televisão tem de fato uma espécie de monopólio sobre a formação das cabeças de uma parcela muito importante da população. A capacidade de convencimento das notícias de variedades consistem nessa espécie elementar, rudimentar, da informação que é muito importante porque interessa a todo mundo sem ter consequências e porque ocupa tempo, tempo que poderia ser empregado com notícias mais pertinentes para a formação dos indivíduos, mas que não é. Nos anos de 1980 a modernidade trouxe inúmeras transformações que contribuíram para a consolidação do JH na grade da emissora. O jornal foi ganhando agilidade com as mudanças

11 Passagem é o termo utilizado no jargão jornalístico para os quinze ou trinta segundos em que o repórter aparece na matéria. É geralmente a chance que o jornalista tem de justificar sua entrada e fazer dela o grande clímax da reportagem, o que é cada vez mais raro de se ver. No Brasil, a passagem começou a ser regra nos telejornais no começo da década de 1980. Antes, quando era usada a película, muito mais cara, o repórter aparecia pouco no vídeo. 43

tecnológicas, como a substituição do filme pelo videoteipe e a geração via satélite, que trouxe a possibilidade de estar em todas as partes do Brasil e do planeta. A introdução dessas mudanças, no plano cultural, só fez aumentar o prestígio do JH, uma vez que os telespectadores foram ao longo do tempo se acostumando com esse "jeito" diferente e descontraído de apresentar informação. Na década de 1980, a emissora estava absolutamente segura de seu poder. Para que se tenha uma perspectiva histórica basta lembrar que em 1968 as Organizações Globo detinham concessões de televisão nos três principais mercados do país: Rio de Janeiro (Canal 4), São Paulo (Canal 5) e Belo Horizonte (Canal 12). Nos quatro anos seguintes, a rede se instalaria também em Brasília e em Recife. A partir daí a Globo deslancha uma agressiva política de contratos de afiliação. Dessa forma, em 1973 já eram seis as emissoras afiliadas, número que mais do que dobrou no ano seguinte, chegando a 13. Em 1982, o total de afiliadas passou a 36, isto é, 12 vezes o número de 10 anos atrás. A Globo chega a 1982 - ano da primeira eleição direta para governadores desde 1964 - como a quarta maior rede de televisão do mundo, composta de 6 emissoras geradoras, 36 afiliadas e mais de 5 estações repetidoras, o que dá um total de 47 emissoras, cobrindo 3.505 dos 4.063 municípios brasileiros. Isso significa 93% da população total do país e 99% dos 15,8 milhões de domicílios com TV existentes naquela data. De acordo com dados de 1980, 75% dessa imensa audiência era cativa da programação da rede. O Jornal Nacional, por exemplo, era visto diariamente por uma média de 60 milhões de telespectadores, quase três vezes o número de telespectadores mobilizados por programa similar no Japão e mais de quatro vezes o número de telespectadores que assistiam ao telejornal noturno da BBC de Londres (LIMA, 2005, p.118). Foi esse poder de persuasão e convencimento que levou a emissora do Jardim Botânico tão senhora de si a publicar em 1983 um anúncio de página dupla que trazia a seguinte mensagem: Como é possível mobilizar o Brasil inteiro em um só dia - e na sequencia a resposta imperativa: "E preciso ser Rede Globo"12. É preciso também ressaltar dois importantes acontecimentos da década de 80 que mudaram o curso da história do país e também o do telejornalismo da TV Globo: o primeiro é a crise da economia nacional que se aprofunda provocando recessão; o segundo é a mobilização social em todos os setores, o declínio da ditadura militar e o movimento das Diretas-Já. Nessa época os telejornais da casa incluindo o JH

12 Revista Veja, nº787, 5/10/193, pp. 146-147. 44

sonegavam informações sobre o movimento. Em entrevista a Revista Veja sobre os 15 anos do Jornal Nacional o patriarca da família, Roberto Marinho, e jornalista responsável pelas organizações Globo, justifica-se:

Achamos que os comícios pró-diretas poderiam representar um fator de inquietação nacional, e por isso, realizamos num primeiro momento apenas reportagens regionais. Mas a paixão popular foi tamanha que resolvemos tratar o assunto em rede nacional (LIMA, 2005).

Eis um exemplo que indica com clareza a ideia de controle sobre a informação, seleção e edição da notícia na emissora. "Achamos que os comícios poderiam representar um fator de inquietação nacional"? Tal declaração deixa implícito o "medo" que as mudanças políticas reivindicadas pela sociedade e seus representantes naquele momento pudessem trazer para o equilíbrio financeiro da empresa e seus privilégios. Inquietos estavam os mandachuvas da rede que felizmente se viu obrigada a finalmente cobrir em seus telejornais o movimento das Diretas Já, caso contrário, todo seu prestígio junto à população brasileira poderia ser abalado. A peculiaridade da situação, entretanto, não diminuiu em nada a força política e os interesses da emissora. A esse respeito, o depoimento do ex-presidente da República José Sarney, presente na biografia intitulada Roberto Marinho, do jornalista é esclarecedor:

O Tancredo o consultava, mas ele não indicava. Inclusive o Tancredo falou: "Convide o Antonio Magalhães para o Ministério das Comunicações". E o Doutor Roberto disse a ele: "Não, presidente, o senhor convide". Então, quando soube que o Antonio Carlos seria o ministro das Comunicações, o Ulysses Guimarães disse ao Tancredo: "Hoje o PMDB rompe com você. É inadmissível que seja o Antonio Carlos. O PMDB rompe com o governo". Aí o Tancredo bateu na perna do Ulysses e disse: "Olha, Ulysses, eu brigo com o papa, eu brigo com a Igreja Católica, eu brigo com o PMDB, com todo mundo, eu só não brigo com o Doutor Roberto”grifo nosso (SANTOS & CAPARELLI, 2005).

O telejornalismo praticado nas organizações da família Marinho depende direta ou indiretamente dos recursos públicos e, claro, dos interesses políticos, marcado pelos interesses do aparelho de Estado ou de grupos empresariais privados. Tal constatação demanda permanentemente uma análise da mídia, como, do JH, justamente para que haja resistência e discernimento crítico sobre a avalanche de notícias que visam a reprodução de valores, hábitos, gostos e saberes da cultura de dominação.

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Em agosto de 2001, o Jornal Hoje saiu dos estúdios e passou a ser exibido direto da redação. Carlos Nascimento deixou o cargo de editor-chefe para se dedicar à função de âncora, junto com Carla Vilhena. Em janeiro de 2003, começa outro capítulo: com apresentação de Carlos Nascimento e Sandra Annenberg, o JH muda a linguagem e o conteúdo para resgatar sua vocação. Assim, voltam às entrevistas especiais, gravadas e ao vivo; os grandes temas de comportamento humano, social e de cidadania ganham destaque, bem como as reportagens sobre educação, arte e cultura em todo o Brasil; e a linguagem se torna cada vez mais dialogal.

Em fevereiro de 2004, nova mudança na apresentação do JH: Evaristo Costa, o "moço do tempo", passa a ser o par de Sandra Annenberg. Mas o formato não muda. A dupla de apresentadores caiu no gosto dos telespectadores. Deixam de ser os produtores da informação para ser a própria notícia. Em levantamento para este estudo, sites e blogs foram pesquisados que falassem de ambos os jornalistas. A discussão sobre a qualidade das notícias, o conteúdo do JH é o que menos interessa e aparece nesses espaços. Do chat aos portais na Internet, o interesse do público é sempre o mesmo: todos querem saber onde Sandra corta o cabelo; qual a data de nascimento do Evaristo; qual a idade da filha da Sandra e por aí vai. Esse movimento aponta uma inversão segundo HAGEN:

quando estão na TV – ambiente visto como espetaculoso -, no desempenho do papel de apresentadores, ocupam o espaço do real, sendo amparados e legitimados pelo “discurso da verdade” presente no jornalismo. Paradoxalmente, fora do universo televisivo, constroem uma vida espetacular, justamente no que o senso comum convencionou chamar de “vida real”. As festas de gala, as roupas de luxo, as férias passadas em lugares exóticos e paradisíacos, os amores que apresentam e transformam em espetáculo a “vida real”, glamourizando justamente o espaço em que o público e os apresentadores de telejornal pareciam ter pontos de contato – a cotidianidade – , já que é daí que o jornalismo tira sua principal matéria-prima de trabalho (HAGEN, 2008, p.31).

Também merece destaque, na atualidade, a busca cada vez maior de envolvimento dos seus apresentadores com o público. Por isso, a estratégia adotada é deslocar um dos apresentadores para rua. No caso do JH, geralmente o âncora, Evaristo Costa. Com a saída do estúdio oferece-se ao público outro ponto de referência e o diálogo entre os apresentadores. Outro recurso comum é usar nas edições um monitor de plasma com o objetivo de promover uma maior intervenção dos apresentadores diretamente nas reportagens.

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2.4. A Interatividade no JH

A interatividade no JH ainda dá os primeiros passos, mas já é possível afirmar que há maior interesse na colaboração do público. Os telespectadores não interferem na construção do telejornal, não entram em contato direto com os apresentadores, redatores ou editores. Eles apenas são convidados a entrar no endereço eletrônico do jornal para ‟sugerir‟ como já foi ressaltado, pautas de matérias de seu interesse. Isto ocorre por e-mail, telefone (cada vez mais raro e difícil) e às vezes através das salas de bate-papo com os apresentadores, geralmente no aniversário do noticiário. Dessa maneira, voltamos à questão principal: não há interatividade, apenas simulação. Quem pode garantir que a reportagem que é anunciada pelo apresentador como sugestão do telespectador foi realmente sugerida por ele ou levada em conta? O telespectador não estava lá na linha de montagem do telejornal para ter essa certeza.

“Há pouco tempo não tinha internet para trabalhar. Muito menos o acesso do telespectador ao JH. De repente o telespectador está fazendo o jornal junto com a gente. Claro, existe uma linha editorial. Uma coisa é aceitar sugestão. É tudo muito novo” (Sandra Annenberg em entrevista concedida para pesquisadora em 30/04/2010).

É interessante observar, no caso do JH, que a conversa, que agora passa a ser uma importante estratégia dos telejornais para melhorar o entrosamento com o telespectador, sempre foi um dos recursos de sua gramática de informação. No passado havia mais rigor. Os apresentadores não eram tão “próximos” do público como na atualidade, entretanto, o sucesso do JH está diretamente relacionado ao fato de ter buscado sempre essa “interação”. O padrão “quadrado” de austeridade dos demais produtos jornalísticos da Globo nunca fez parte do seu universo. A cumplicidade emocional com o telespectador sempre foi seu grande trunfo. O público do século XXI é mais ansioso, “exigente” e deseja participar da informação. É com a nova geração chamada de “nativos digitais” que o JH preocupa-se. Para essa geração, mais interessante que assistir ao telejornal é criar, ter voz, “interagir”. Mesmo que tudo não passe de uma grande ilusão. O que está em jogo, na verdade, é a capacidade de continuar persuadindo o público, a forma dessa persuasão é que muda.

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CAPÍTULO III EDUCAÇÃO E TRABALHO

As relações entre educação e trabalho tem sido alvo de discussão de diversos especialistas na matéria. Assim, vamos recorrer a Marx entre outros autores para entender a fase atual dessa relação. Ou seja, as transformações da educação e do trabalho na história recente da sociedade brasileira. Procuraremos demonstrar porque, nas últimas três décadas, a concepção de educação produtivista marcada pelos interesses do capital em formar trabalhadores qualificados vem consolidando-se como um modelo de ensino chave para o progresso do capitalismo. A passagem do século XX para o século XXI, chamado de século da informação, comunicação e do conhecimento, em função do avanço da ciência e da tecnologia trouxe mudanças profundas para os meios de produção e para as condições de trabalho. Uma reorganização social complexa, na qual a educação é chamada a inserir em seu modelo formal novos conhecimentos. Para SAVIANI (2002, p.18), vivemos na fase contemporânea sob um grau de controle que logrou deter a grande burguesia sobre as crises cíclicas do capitalismo.

Diferentemente da primeira revolução industrial, que operou a transferência das funções manuais para as máquinas, essa nova revolução transfere para as máquinas as próprias operações intelectuais, razão pela qual esta época é também chamada de “era das máquinas inteligentes”. Nesse processo, a capacidade produtiva do trabalho humano inegavelmente atinge proporções ilimitadas. A produção automatiza-se, isto é, se torna autônoma, auto-regulável, o que permitiria liberar o homem para a esfera do não- trabalho, possibilitando o cultivo do espírito através das artes, das ciências, da filosofia e do desfrute do tempo livre. Entretanto, essas potencialidades são tolhidas pelas relações sociais vigentes que, fundamentadas na apropriação privada dos meios de produção, dificultam a generalização da produção baseada na incorporação maciça das tecnologias avançadas (SAVIANI, 2002, p.21).

É unanimidade nos estudos contemporâneos sobre educação e trabalho, portanto, que o avanço tecnológico não liberou o homem do trabalho, ao contrário, fez dele ainda mais dependente do emprego para alcançar as necessidades materiais maximizadas pela sociedade de consumo. O problema, é que, nas últimas três décadas, a visão produtivista da educação contribuiu muito para que os trabalhadores ficassem neutralizados. Agora, tudo gira em torno do

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desempenho econômico. O desemprego que deveria ser considerado um fator de crise, segundo SAVIANI (2002), deixa de ser fator de crise para converter-se em um dos elementos de controle das crises econômicas, a partir das relações sociais vigentes que são comandadas pelos interesses do sistema financeiro internacional. Contrário a essa tendência, SAVIANI (2002) resume a sua análise:

A educação, que tenderia, sobre a base do desenvolvimento tecnológico propiciado pela microeletrônica, à universalização de uma escola unitária capaz de propiciar o máximo de desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos e conduzi-los ao desabrochar pleno de suas faculdades espirituais, é colocada, inversamente, sob a determinação direta das condições de funcionamento do mercado capitalista. É, com efeito, aquilo que poderíamos chamar de “concepção produtivista de educação” que domina o panorama educativo da segunda metade do século XX (SAVIANI, 2002, p.22).

A empregabilidade está cada vez mais associada à qualificação para o trabalho. Tal condição valoriza o ensino técnico e todo o sistema educacional como instrumento de acesso ao mercado de trabalho de maneira mais eficaz e veloz. Assim, a qualificação técnica se coloca como uma saída para milhões de indivíduos que precisam enfrentar os desafios atuais da sobrevivência. A partir dessa constatação, a educação passa a ser vista como um conjunto de conhecimentos que habilitam o indivíduo a uma competição produtiva e eficiente no mercado de trabalho. De acordo com Pablo Gentili (2002), “a possibilidade de obter uma inserção efetiva no mercado depende da capacidade do indivíduo em “consumir” aqueles conhecimentos que lhe garantam essa inserção”. Da mesma forma, GENTILI (2002) ressalta que a tese da empregabilidade se distancia do emprego quando não leva em consideração o capital cultural dos indivíduos. Trata-se de perceber, então, que a educação não pode e não deve significar apenas desenvolvimento econômico como anunciam todos aqueles que defendem e financiam a tese da qualificação para o trabalho como pré-requisito fundamental para a empregabilidade. Nessa perspectiva, FRIGOTTO (2002) diz que:

De um lado, a ideologia da globalização e, de outro, a perspectiva mistificadora da reestruturação produtiva embasam, no campo educativo, a nova vulgata da pedagogia das competências e a promessa da empregabilidade. Ao individualismo do credo neoliberal somam-se os argumentos fundados no credo do pós-modernismo que realçam as diferenças (individuais) e a alteridade. Neste particular a diferença e a diversidade, dimensões importantes da vida humana, mascaram a violência social da

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desigualdade e afirmam o mais canibal individualismo (FRIGOTTO, 2002, p.71).

O grupo de intelectuais, organizações empresariais, líderes de opinião e representantes da ideologia de uma educação voltada para o trabalho que qualifica, disseminam um ponto de vista unilateral sobre o conceito de empregabilidade. Para eles:

A empregabilidade é um conceito mais rico do que a simples busca ou mesmo a certeza e emprego. Ela é o conjunto de competências que você comprovadamente possui ou pode desenvolver – dentro ou fora da empresa. É a condição de se sentir vivo, capaz, produtivo. Ela diz respeito a você como indivíduo e não mais à situação, boa ou ruim da empresa – ou do país. É o oposto ao antigo sonho da relação vitalícia com a empresa. Hoje a única relação vitalícia deve ser com o conteúdo do que você sabe e pode fazer. O melhor que uma empresa pode propor é o seguinte: vamos fazer esse trabalho juntos e que ele seja bom para os dois enquanto dure; o rompimento pode se dar por motivos alheios à nossa vontade. [...] (empregabilidade) é como a segurança agora se chama (FRIGOTTO, 202, p.72).

O educador Pablo Gentili (2002) nos confirma que: “A revalorização do papel econômico da educação pode ser reconhecida na própria origem da escola pública como escola de massas”. Assim, tanto por pressão da necessidade de emprego como por estratégia de sobrevivência e consumo, os indivíduos são levados a acreditar que a escola poderá lhes proporcionar uma ascensão social e econômica desejada. Sem dúvida, há enormes distâncias entre o que se promete nos centros de ensino e a realidade escolar. Retomando a crítica ao modelo produtivista de educação, Pablo Gentili ainda acrescenta:

Os pobres latino-americanos são hoje mais pobres e mais “educados”. “Educados num sistema escolar pulverizado, segmentado, no qual convivem circuitos educacionais de oportunidades e qualidades que mudam conforme a condição social dos sujeitos e os recursos econômicos que eles têm para acessar a privilegiada esfera dos direitos da cidadania (GENTILI, 2002, p.59).

A partir de então, criam-se discursos disseminados pelos meios de comunicação de massa, com a intenção de influenciar a sociedade e reforçar para mesma a necessidade permanente de qualificação para o trabalho via educação. O que tais discursos não revelam para sociedade é que a dinâmica de ensino das escolas técnicas, faculdades e universidades são modificados de acordo com a condição social dos sujeitos e os recursos econômicos que eles têm para acessar conteúdos

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de maior qualidade. A oportunidade de “empregabilidade”, dessa forma, fica reduzida no capitalismo contemporâneo à capacidade individual e a fatores culturais e econômicos que privilegiam uma minoria em detrimento da grande maioria de brasileiros que mesmo conseguindo chegar aos centros de ensino públicos ou privados, não consegue compreender e interpretar as configurações e os movimentos da sociedade.

3.1. Conceito de trabalho

A rigor, o conceito de trabalho é o elemento central na compreensão da realidade, uma vez que é por meio dele que o homem se humaniza e interage com a natureza e com os outros homens. Isto significa que a sociedade nada mais é do que produto das relações entre os trabalhadores, mulheres e homens, crianças e adolescentes, adultos e velhos. Conforme o pensamento de Karl Marx, o trabalho é a expressão da práxis humana, elemento constitutivo do ser. Segundo MARX:

A maneira como os indivíduos manifestam sua vida reflete exatamente o que eles são. O que eles são coincide, pois, com sua produção, isto é, tanto com o que eles produzem quanto como a maneira como produzem (MARX e ENGELS, 1998, p.11)

Ou seja, trabalho é para Marx, toda atividade que o homem realiza com sua força física e com o intelecto. Pode-se afirmar que o trabalho é atividade que envolve a práxis visto que nada é feito sem que exista a antecipação do pensamento e nenhum pensamento por mais criativo que seja conseguirá se concretizar sem a ação. É na ação que se analisa a práxis. Portanto, o que diferencia os homens dos demais animais é sua capacidade de criar. Dessa forma, o trabalho é o esforço do homem para transformar seu meio e a si mesmo. Por isso, Marx evidencia essa condição ao afirmar que o trabalho é:

(...) um processo (...) em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. (...) Põe em movimento as forças naturais de seu corpo – braços e pernas, cabeça e mãos –, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza externa e modificando- a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza (MARX, 2003, p.11).

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Recorro a algumas outras concepções clássicas de trabalho para compreender seu sentido histórico13: a) Na política, Aristóteles afirma que o trabalho é incompatível com a vida livre e defende o ócio, diferenciando-o da preguiça. Segundo ele, “exaltar a inércia mais do que a ação não corresponde à verdade, porque a felicidade é atividade”. É no ócio que o homem encontra a virtude, qualidade relacionada à prática. Para a Antiguidade Clássica, os cidadãos não deveriam ser artesãos, mercantes ou camponeses, pois não restaria tempo para as atividades política, filosófica e artística. b) Para Santo Agostinho, o trabalho era um preceito religioso. Trabalhar e rezar deveriam ser as atividades gloriosas de todos os cristãos. Ele considerava a agricultura a principal atividade humana, verdadeiro ato religioso. O labor era, portanto, uma forma de impedir que o ócio conduzisse o homem aos vícios. No livro sobre o trabalho dos monges, ele apresenta a doutrina do trabalho manual, dissolvendo os argumentos que existiam na época contra esse tipo de labor. c) O trabalho como garantia de salvação eterna: essa é uma das ideias presentes da teoria protestante. Para Max Weber, o enaltecimento do trabalho foi decisivo para o desenvolvimento do capitalismo industrial. O sociólogo explica que, para o protestantismo de João Calvino, as habilidades do trabalho devem ser incentivadas, na medida em que são ofertas divinas. A teoria da predestinação afirma que um dos sinais de salvação é justamente a riqueza acumulada. Incerto seu destino, o fiel buscaria, incessantemente, o trabalho e o lucro. d) A ideia de Hegel, de que o trabalho é a mediação entre o ser humano e o mundo, está presente no livro Lições de Jena (1803-1804). Ele afirmava que o trabalho era uma atividade espiritual e que o homem só podia ser realmente homem se fosse capaz de satisfazer suas necessidades por meio do trabalho. Segundo Hengel, que formulou a primeira teoria filosófica do trabalho, a atividade faz com que o egoísmo seja substituído pela realização das necessidades de todos. A liberdade em sociedade também seria fruto do trabalho.

13 As concepções acima foram retiradas da revista CULT nº 39 que apresentou para seus leitores em 2009, um dossiê sobre o sentido do trabalho e seus rumos no século 21. 52

e) Em a condição humana, Hannah Arendt retoma a distinção grega das três atividades fundamentais: o labor, trabalho e ação. O labor corresponde ao processo biológico do corpo do homem pela sobrevivência. O trabalho propriamente dito, que corresponde à poesis, significa fazer, fabricação, criação de um produto por técnica ou arte; corresponde ao artificialismo da existência humana. A ação, por sua vez, se exerce diretamente entre os homens, sem a mediação das coisas nem da matéria. É o domínio da atividade em que o instrumento é o discurso, a voz e a palavra.

A crítica do trabalho no mundo industrial feita por Karl Marx permanece definitiva como denúncia da exploração da força do trabalho humano até hoje. Os homens definem-se pelo que fazem, e a natureza individual depende das condições materiais que determinam sua atividade produtiva. Pelo trabalho se altera a relação do homem com a natureza. No sistema capitalista, pelo monopólio dos meios de produção, da força, da violência física, os capitalistas que detém também o poder político e ideológico, sempre submeteram os trabalhadores a condições de estranhamento e alienação do trabalho. Na atualidade, a luta dos trabalhadores unidos foi enfraquecida pelas novas formas de organização do trabalho. O novo trabalhador, o operário polivalente luta agora unicamente para manter-se empregável. Os direitos e conquistas obtidos nos anos de 1980, chamada pelos economistas de “década perdida”, foram pouco a pouco sendo esmagados pelas políticas e forças econômicas.

3.2. O Conceito de Educação

A educação é essencial para a vida em sociedade. Ser humano é a capacidade de compartilhar o que já sabemos entre todos. A educação tem como meta primeira, para além dos conteúdos obrigatórios transmitir a cada um dos seres pensantes que não somos únicos, que nossa condição implica viver em sociedade com os nossos semelhantes. Desta forma, a educação é vista por Marx não como uma mercadoria que deve qualificar o homem para o mercado de trabalho, mas para a vida. Segundo essa perspectiva, a educação precisa promover uma revolução e transformar indivíduos em cidadãos. Daí a importância dos “educadores” que devem assumir essa função e a causa dos oprimidos. A educação deve ser referência para o ser humano. Ela é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, para uma nova 53

modernidade ética. De acordo com SAVATER (1997, p.15), a educação é tarefa de sujeitos e sua meta é formar também sujeitos, não objetos e mecanismos de precisão. Por isso,

O objetivo dos que lutam contra a sociedade mercantil, a alienação e intolerância é a emancipação humana. A educação que poderia ser uma alavanca essencial para a mudança, tornou-se instrumento daqueles estigmas da sociedade capitalista: fornecer os conhecimentos o pessoal necessário à maquinaria produtiva em expansão dos sistemas capitalistas, mas também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes (MÉSZÁROS, 2005 p.15).

Para ADORNO (1995), a educação não é mera transmissão de conhecimentos, mas a produção de uma consciência verdadeira. Tal consciência pode ser caracterizada como a intenção de emancipação do homem, através do processo de humanização e politização do mesmo pela educação. Porém, a educação na atualidade não consegue realizar o projeto de formação dessa consciência, ela cumpre à orientação técnica imposta pela economia através de critérios empresariais e administrativos que objetivam uma educação de resultados. Assim, o capital exige novos conhecimentos e novas habilidades do homem que deseja ser empregável no novo sistema produtivo, que não cessa de transformar-se. Conforme sustenta SANFELICE (2005): trabalho e educação têm em comum o fato de serem ações humanas. O termo “educação”, em qualquer de seus usos, na linguagem comum ou na linguagem dos especialistas e profissionais de educação, refere-se à prática educativa. Do latim, ação de criar, de nutrir e cultivar. O termo “trabalho” em sentido geral é todo esforço físico ou intelectual com o objetivo de em proveito próprio ou de terceiros produzir ou desenvolver algum bem ou serviço. Nas sociedades capitalistas, o trabalho pode ser definido também como trabalho assalariado. Para Sanfelice, essa é a situação da maioria dos homens que trabalham em tais sociedades. Cito um trecho de sua análise sobre o trabalho de acordo com a teoria marxista:

A análise marxista, que tem exercido profunda influência sobre o estudo do trabalho, desenvolve insight básico. O trabalho, de acordo com a perspectiva marxista, está subordinado ao propósito de reproduzir e expandir o domínio material e político da classe capitalista. A massa da população está separada dos meios de produção e subsistência e, por conseguinte, é compelida a ingressar no trabalho assalariado a fim de sobreviver. Através do sistema de trabalho assalariado, os trabalhadores estão submetidos à exploração sistemática: os salários são adiantados para capacidades humanas e não para alguma quantidade determinada de trabalho realizado. Dentro do processo de produção, eles são encorajados e ardilosamente induzidos a trabalhar por certo período de tempo e com certo nível de intensidade, de modo a assegurar 54

que o valor com que contribuem exceda o valor de seus salários. A diferença, a mais valia, forma a base do lucro capitalista (SANFELICE, 2005, p. 124).

Conforme relata IANNI (1999, p.20), “a relevância do trabalho, em geral em suas formas particulares e singulares, começa a revelar-se quando se reconhece que o capitalismo transformou o mundo em uma espécie de imensa fábrica”. A educação passa, neste caso, a ser entendida como um processo mecânico para a execução de tarefas produtivas e lucrativas. O que importa é a instrução técnico-científica. Usa-se a propaganda e a televisão para promover a ideia de que é somente pela qualificação oferecida nas mais variadas instituições de ensino que se alcança um emprego, uma vaga. É por isso que a educação torna-se sinônimo de oportunidade de emprego remunerado e sobrevivência para milhões de pessoas e não mais um meio de transformar a si mesmo e a sociedade. A crise do processo formativo e educacional, portanto, é uma conclusão inevitável da dinâmica atual do processo produtivo. Cada vez mais a racionalidade do trabalho e da produção determina as relações de integração submissa dos indivíduos às estruturas de dominação. Trata-se, como diz IANNI (1999) de uma configuração histórica problemática, atravessada pelo desenvolvimento desigual, combinado e contraditório. Daí a importância da pressão da sociedade e da elaboração de novos pressupostos teóricos para as políticas de educação exigindo igualdades e justiça social.

3.3. As mudanças no mundo do trabalho e da educação

Com efeito, as profundas mudanças no mundo do trabalho colocam novos desafios para a educação. O capitalismo vive um novo padrão de acumulação decorrente da globalização da economia e da reestruturação produtiva. Portanto, esse novo padrão empurra os trabalhadores para uma formação fragmentada. A escola moderna é influenciada pela ideologia da educação produtivista. Para essa concepção, a escola é igual a uma fábrica. Professores e alunos na linha de montagem do trabalho pedagógico. Ensinar e aprender depende de uma série de tarefas e procedimentos para que resultados satisfatórios sejam alcançados. No entanto, o paradigma do Taylorismo/Fordismo, ou seja, da produção em massa entra em crise. Um novo modelo entra em cena, o toyotismo, por ter sido desenvolvido na fábrica da

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Toyota. Essa nova forma de organizar a produção será também adotada pela escola. É importante assinalar que, a partir dessa concepção o operário assume o controle de qualidade na fábrica, com autoridade de parar a produção e dar sugestões de como melhorar o processo de fabricação dos automóveis, no caso da Toyota. A escola irá se apropriar desse modelo para formar indivíduos mais flexíveis e capazes de assumir múltiplas funções. Esse é o novo perfil exigido dos trabalhadores e das escolas. Assim, com o advento da Sociedade da Informação e do Conhecimento, a educação é chamada a formar pessoas para enfrentar esse novo mundo, o mundo digital e de convergência das mídias. Nunca se falou tanto em desenvolvimento e progresso como na atualidade. Todo esse progresso, entretanto, nos levou a um período de retrocesso, ou pelo menos a mudanças desagradáveis e de grande impacto social. Aumento da miséria, da exclusão social e do desemprego. Portanto, a velha e ainda não superada escola, com seu modelo formal e burocrático, já não é adequada para o novo modelo de educação solicitado pelo mercado, ou seja, pelo capital, que exige em todos os níveis maior flexibilidade como apontamos e instrumentalização do ensino. Trata-se de difundir a ideologia do trabalho e da qualificação proposta pela elite dirigente. Para KUENZER (1998):

Como resposta às novas exigências de competitividade que marcam o mercado globalizado a exigir cada vez mais qualidade com menor custo, a base técnica de produção fordista, que dominou o ciclo de crescimento das economias capitalistas no pós 2ª guerra até o final dos anos sessenta, vai aos poucos sendo substituída por um processo de trabalho resultante de um novo paradigma tecnológico apoiado essencialmente na microeletrônica, cuja característica principal é a flexibilidade. Este movimento, embora não seja novo, uma vez que se constitui na intensificação do processo histórico de internacionalização da economia, reveste-se de novas características, posto que assentado nas transformações tecnológicas, na descoberta de novos materiais e nas novas formas de organização e gestão do trabalho (KUENZER, 1998, p.33).

Nesse sentido, o discurso atual da mídia, dos capitalistas, dos políticos e tecnocratas da educação é um discurso fundado na administração do ensino para a introdução de uma cultura organizacional. Para essa cultura, a educação é entendida como o sistema produtivo. Segundo esse discurso, não há crise, não há desemprego, mas há excesso de trabalhadores que precisam de qualificação profissional. Qualificação significa acesso ao desenvolvimento técnico. A educação é descaracterizada e apresentada como imprescindível para a competência laboral. Nesse cenário, 56

não seria possível fazer uma reflexão sobre a educação, sem considerar o trabalho. Tema sempre presente nos debates atuais, assim como o desemprego e o aquecimento global. E, de fato, é preciso reconhecer que a evolução do mundo do trabalho é bastante preocupante para a educação e para os trabalhadores. KUENZER (1998) analisa essas mudanças e sua influência na forma de educar. Nas suas próprias palavras:

Estabelecem-se novas relações entre trabalho, ciência e cultura, a partir das quais constitui-se historicamente um novo princípio educativo, ou seja, um novo projeto pedagógico através do qual a sociedade pretende formar os intelectuais/trabalhadores, os cidadãos/produtores para atender às novas demandas postas pela globalização da economia e pela reestruturação produtiva. O velho princípio educativo, decorrente da base técnica da produção taylorista/fordista vai sendo substituído por um outro projeto pedagógico determinado pelas mudanças ocorridas no trabalho (KUENZER, 1998, p.36).

O modelo de produção capitalista acentua cada vez mais a separação entre trabalhadores e dirigentes, ou seja, entre trabalho intelectual e trabalho instrumental. Por isso, é importante destacar que a educação, ao alavancar a formação dos indivíduos cumpre um papel central no mundo contemporâneo. No Brasil, segundo dados publicados pelo DIEESE, a taxa de desemprego total14 referente às regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e ao Distrito Federal atingiu, em maio de 2010, 13,2% da PEA. Em números absolutos, essa taxa representa 2.904.000 (dois milhões, novecentas e quatro mil) pessoas desempregadas num total de 19. 068.000 (dezenove milhões, sessenta e oito mil) pessoas que compunham a PEA. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em relatório divulgado em 2009, projetou que aproximadamente 1,5 bilhões de trabalhadores sofrerão redução em seus salários (Relatório mundial sobre salários 2008 – 2009). Ricardo Antunes reflete sobre a realidade atual do trabalho e completa afirmando que:

14 Segundo a metodologia de pesquisa adotada pelo DIEESE, “desempregados - são indivíduos que se encontram numa situação involuntária de não-trabalho, por falta de oportunidade de trabalho, ou que exercem trabalhos. 57

Em plena eclosão da mais recente crise financeira, estamos constatando a corrosão do trabalho contratado, a erosão do emprego regulamentado, que foi dominante no século 20 e que está sendo substituído pelas diversas formas alternativas de trabalho e subtrabalho, de que são exemplo o “empreendedorismo”, o “trabalho voluntário”, o “cooperativismo”, modalidades que frequentemente “substituem” o trabalho formal, gerando novos e velhos mecanismos de intensificação e mesmo autoexploração do trabalho (ANTUNES, 2009, p.55).

Outra situação importante que modela o mundo do trabalho hoje é a sua arbitrariedade e desrespeito para com os direitos da infância. Quanto a isso Ricardo Antunes diz que:

Se a ordem societal dominante dificulta o acesso dos jovens em idade de trabalhar, ela inclui, por outro lado, precoce e criminosamente crianças no mercado de trabalho, não somente no Sul, mas também nos países capitalistas avançados. Pouco importa que o trabalho hoje seja supérfluo e que centenas de milhões de assalariados em idade de trabalho se encontrem em desemprego estrutural (ANTUNES, 2009, p. 56).

É interessante notar que no Brasil, uma das preocupações da gestão atual é evitar que isso ocorra. Dessa forma, projetos sociais como o Programa Universidade para Todos (PROUNI) tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação em instituições privadas de educação superior, entre outros, visam garantir acesso à educação para os mais pobres. Mas a verdade é que tais projetos fundados no princípio da estabilidade econômica e nos pactos com as elites dirigentes conservadoras servem apenas como amortecedores para os conflitos sociais. Servem também aos interesses de perpetuação das estruturas políticas conservadoras que se reproduzem no interior dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Por essas e outras razões que não cabe aqui detalhar, o Estado de Bem-Estar Social foi substituído pelo Estado intervencionista, o Estado (neo) que, no interesse de quem o domina, interfere na educação e, em todas as áreas da vida do cada vez mais pseudo-cidadão. O Estado é gerido pela economia, logo cabe à educação sob a capa do “interesse coletivo” servir incondicionalmente ao seu senhor. Para sublinhar essa condição SAVIANI (2006) desenha a teoria da Escola como Aparelho Ideológico de Estado. Nesse aspecto:

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Ao analisar a reprodução das condições de produção que implica a reprodução das forças produtivas e das relações de produção existentes, Althusser é levado a distinguir no Estado os Aparelhos repressivos de Estado (o governo, a administração, o exército, a polícia, os tribunais, as prisões etc.) e os Aparelhos Ideológicos de Estado (...). A distinção entre ambos assenta no fato de que o Aparelho Repressivo de Estado funciona massivamente pela violência e secundariamente pela ideologia enquanto, inversamente, os Aparelhos ideológicos de Estado funcionam massivamente pela ideologia e secundariamente pela repressão (SAVIANI, 2006, p.22).

A educação, dessa forma, tem caráter ideológico, pois através dela são transmitidos valores politicamente significativos. De qualquer forma, é importante ressaltar que

(...) O aparelho ideológico escolar; em lugar de instrumento de equalização social, constitui um mecanismo construído pela burguesia para garantir e perpetuar seus interesses. Se as teorias do primeiro grupo (por isso elas bem merecem ser chamadas de não-críticas) desconhecem essas determinações objetivas e imaginam que a escola possa cumprir o papel de correção da marginalidade, isso se deve simplesmente ao fato de que aquelas teorias são ideológicas, isto é, dissimulam, para reproduzi-las, as condições de marginalidade em que vivem as camadas trabalhadoras (SAVIANI, 2006, p.24).

Em geral as políticas educacionais vigentes no Brasil tendem a enfraquecer as instituições sociais. Maria Abádia da Silva nos alerta sobre esse quadro:

A escola pública fundada nos princípios da solidariedade, da justiça social, da emancipação, da ética e dos valores da democracia, construídos historicamente por meio das batalhas e lutas dos trabalhadores, vê-se subordinada aos princípios econômicos e de mercado – racionalidade, produtividade, competitividade e seletividade – e o discurso oficial preconiza a eficiência da administração da escola pública fundada nesses princípios. Como acreditar nessa eficiência, se os mesmos critérios utilizados na economia com resultados insatisfatórios são reaplicados na educação pública? Assentada sobre estruturas capitalistas, sem ações conjuntas que a fortaleçam e os sujeitos que a viabilizem, a escola pública distancia-se cada vez mais de sua função de significado enquanto instituição formadora de cidadãos livres e autônomos. Nesse sentido, as políticas para a educação pública do país procuram assemelhar-se às políticas das empresas, das indústrias e do mercado. ( SILVA, 2002, p.166)

A tendência colonizadora evidencia-se nos documentos oficiais do Banco Mundial. O campo de produção dessa política são os ciclos de negociações entre as equipes do Banco Mundial e do Governo Federal. Nelas delibera-se sobre a finalidade da educação nacional, forma, conteúdo e direção. A reunião é pautada sempre pela orientação dos executivos do Banco, que 59

cobram dos tecnocratas da educação brasileira que os projetos educacionais sigam à risca os critérios exigidos pelo Banco. Como recompensa, os créditos são aprovados com o discurso de que serão usados para desenvolver o país e melhorar a educação. O que fica evidente é que tais políticas, apesar do barulho na mídia, não mudaram o sistema educacional como alardearam. Pelo contrário, a qualidade do ensino é cada vez mais lamentável. Tomemos por exemplo o esquema da situação apresentado por LOGAN:

1. Milhões de escolares aprendem o mesmo conteúdo na mesma ordem linear guiados por um currículo uniforme ditado por uma burocracia centralizada (...) de educação. 2. Os professores continuam usando o velho estilo de aprendizagem livresco que não leva em conta a natureza da economia na era da informação, nem sequer as necessidades da vida cotidiana. 3. Os estudantes não encontram elementos suficientemente relevantes na sua escolarização, o que explica sua porcentagem de fracasso (LOGAN, 1995, p. 7-5).

Dentro da perspectiva exposta, a escola enfrenta a concorrência dos aparatos de tecnologia visualmente mais sofisticados e rápidos na hora de emitir a informação e o saber, e ainda sofre, pois, na atualidade parece ser a forma de transmissão de seu conhecimento ultrapassado, diante do da mídia. Segundo MARTÍN BARBERO (1999, p.14): “A sociedade conta hoje com dispositivos de armazenamento, classificação, difusão e circulação muito mais versáteis, disponíveis e individualizados que a escola”. Em síntese, a situação acima descrita reflete ainda o quadro da educação no Brasil. Nesse cenário, os meios de comunicação estão encarregados de gerar conteúdos que são admitidos como relevantes. A influência do processo de extensão da ideologia neoliberal (com o suporte da mídia), em forma de pensamento único, passa a levar para o terreno do conhecimento as ideias e a cultura do imperativo desse modelo de mercado livre. Compreender a relação entre educação e trabalho, mais do que nunca, passa a ser prioridade nas escolas. Além disso, a realização desse ou daquele curso superior ou profissionalizante não é garantia para a conquista de um emprego.

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3.4. Educação, trabalho e jovens

Em 2000, segundo dados do IBGE, o Brasil tinha uma população (entre 10 e 19 anos) de, aproximadamente, trinta e cinco milhões de jovens, desses sete milhões viviam na área rural e o restante nos grandes centros urbanos. Segundo o IBGE, o desemprego atingiu em 2009 diretamente os mais jovens, as demissões chegaram a 21% para os que têm entre 15 e 24 anos. E quais são os maiores anseios desses milhões de jovens? Para a maioria absoluta, estudar para alcançar um lugar no mercado de trabalho. Nesse período de transição, da adolescência para a vida adulta, esses jovens passam pelo processo chamado de conquista do pensamento formal, é o momento de uma nova relação com o mundo adulto. Considerando essa situação, é essencial que essa passagem proporcione aos jovens condições reais de participar da sociedade. Caso contrário haverá um processo de regressão, ou seja, muitos continuarão adolescentes. O medo, as frustrações, o mercado competitivo, as desigualdades de formação universitária e a falta de oportunidades de trabalho permitirão que eles sejam cooptados pelo sistema de consumo e pela indústria da mídia. Dessa forma, não há autonomia, nem emancipação. Assim, gerar empregos para a juventude é um dos desafios para as políticas públicas voltadas para essa população. A política de inclusão dos jovens no mercado de trabalho, proposta pelo ProJovem (Programa Nacional de Inclusão de Jovens), criado em 2005, pelo Ministério do Trabalho, visa qualificar esses jovens para este mercado, cada vez mais competitivo. ANTUNES (2009, p. 9) ressalta que: “A escola profissional não deve transformar-se numa incubadora de pequenos monstros aridamente instruídos para um ofício sem ideais gerais, sem alma, mas apenas com o olho infalível e a mão firme”. Essa temática tem aparecido com destaque nos telejornais brasileiros e no Jornal Hoje.

Diz-se que a maior parte não arruma emprego por falta de escolaridade. Por isso, na outra ponta, os estudos alongam-se cada vez mais. Acontece que todo este jogo é, pelo menos em grande medida, ilusório, uma vez que o número de empregados é objetivamente limitado. A cada novo empregado corresponde um novo desempregado. Quanto mais qualificados existirem melhor para as empresas. Mesmo supondo uma situação em que todos os aspirantes ao emprego fossem muito bem qualificados, o número de desempregados não seria reduzido, apenas os desempregados seriam mais qualificados, como ocorre nos países do Primeiro Mundo (GOERGEN, 1998, p.65).

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Podemos pensar no fenômeno do desemprego como um processo de reorganização global da força de trabalho. Trata-se de uma precarização do trabalho. Tragicamente, quanto mais a população vem aumentando, menor é a capacidade de incorporar os jovens ao mercado de trabalho. Poucos são os que conseguem emprego e seguridade social. Somente os jovens com excelente capacitação conseguem competir, os demais são marginalizados. Vão para a informalidade ou são submetidos a jornadas de trabalho exaustivas. Para ANTUNES (2009, p.54), esta é a situação que vivenciamos hoje: não encontramos empregos para aqueles que dele necessitam para sobreviver e os que ainda estão empregados em geral trabalham muito e não ficam um dia sem pensar no risco do desemprego. (BERNARDO, apud LUCENA, 2001, p.23) diz que: “o desemprego da juventude é o resultado de uma dualidade estrutural do capitalismo monopolista, onde os progressos da mais valia relativa não permitem absorver e liquidar a esfera da mais valia absoluta”. A contradição entre emprego para poucos e desemprego para muitos gera um ambiente de incertezas, de angústia para milhões de pessoas que sofrem o impacto das mudanças causadas pela globalização econômica e tecnológica. Em entrevista à Revista Sem Terra, aos 92 anos de idade, o historiador Eric Hobsbawm (considerado o maior historiador marxista da atualidade), autor de algumas das mais importantes obras acerca da história recente da humanidade apresenta suas opiniões sobre a crise econômica e o desemprego.

(...) a depressão econômica não pode ser resolvida apenas via restauração do crédito. São essenciais medidas concretas para gerar emprego e renda para a população, de quem depende, em última instância, a prosperidade da economia global (HOBSBAWM, apud GLASS, 2009, p.119).

O historiador também faz uma reflexão sobre o futuro e deixa claro sua preocupação com a agressão ao meio ambiente e a falta de políticas públicas que possam conter o avanço do crescimento populacional. Segundo HOBSBAWM,

Se a crise ambiental global não for controlada, e o crescimento populacional estabilizado, as perspectivas são sombrias. Mesmo se os efeitos das mudanças climáticas possam ser estabilizados, produzirão enormes problemas que já são sentidos, como a crescente competição por recursos hídricos, a desertificação nas zonas tropicais e subtropicais, e a necessidade de projetos caros de controle de inundações em regiões costeiras. (...) Do ponto de vista econômico, o centro de gravidade do mundo continuará a se mover do Oeste (América do Norte e Europa) para o sul e o leste asiático, mas o acúmulo de riquezas ainda possibilitará às populações das velhas regiões capitalistas 62

um padrão de vida muito superior às dos emergentes gigantes asiáticos (HOBSBAWM, apud GLASS, 2009, p.123).

Esse é o cenário que se produzirá num futuro próximo, caso medidas urgentes não sejam tomadas agora. Refletindo sobre o desemprego e a crise planetária, GOERGEN (2007) faz as seguintes considerações:

A falta de trabalho exclui multidões da atividade laboral, que é precisamente o processo constituinte do ser humano (POCHMANN, 2004). O desemprego fere o homem em sua essência, pois agride a humanidade do ser humano, impedindo-o de participar condignamente da construção da sua própria identidade. Ironicamente, o autor do desenvolvimento e do progresso é excluído e condenado a uma violenta e agressiva competitividade que não só legitima a agressão e a eliminação do outro, mas se transforma numa das mais excelsas virtudes do nosso tempo.

A agressão ao meio ambiente gera uma vulnerabilidade de proporções inusitadas que ameaça a sobrevivência da própria humanidade. A poluição da água, do ar e da terra, bem como a poluição visual, a sonora e a olfativa, são, todas elas, consequência da intervenção irresponsável sobre o meio ambiente, que pode ter efeitos terminais, conforme alertam os cientistas de todo o mundo. O mesmo se aplica à manipulação genética, ao uso de hormônios, ao emprego de insumos químicos, visando o lucro rápido sem considerar as consequências de longo prazo.

A vergonhosa onda de corrupção que se abate, cínica, perversa e espetacularizada, sobre o espaço público, gera uma reação de repúdio talvez sem precedentes no país. Para além dos casos específicos de imoralidade pública, aparece no horizonte a ameaça da falência das instituições sociais ante o fenômeno de miscegenização entre o público e o privado, que ameaça os próprios fundamentos do estado de direito.

Resumindo esses itens, aos quais poderiam ser acrescentados tantos outros, pode- se dizer que estamos vivendo um domínio sem precedentes da razão instrumental e

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utilitarista (ADORNO, 1985), para a qual os fins justificam os meios. Conceitos como eficiência, eficácia, lucro, domínio e vantagem assumem posição central nas relações humanas da sociedade contemporânea.

A educação é responsabilizada por esta situação. Diz-se que ela tem um papel decisivo no crescimento econômico e na redução da pobreza. A ênfase é maior para o campo da educação profissional. Segundo NEVES (2000, p. 196), a expressão educação profissional é de uso recente na nossa literatura educacional. Ela ressalta ainda:

Enquanto nos países capitalistas em geral, a educação profissional não substitui a escolarização regular básica do conjunto da força de trabalho, no Brasil, inversamente, devido à seletividade crônica da nossa educação escolar, da base ao ápice da pirâmide educacional, essa modalidade vem historicamente se consubstanciando em educação compensatória à escolarização regular das massas trabalhadoras. Essa rede paralela de ensino se transforma, portanto, em única oportunidade das massas trabalhadoras de obterem alguma formação para o mundo do trabalho. Além desse aspecto puramente técnico, o acesso às instituições de educação profissional tem-se prestado concomitantemente, a conformar passivamente, instrumentalmente, à sociabilidade urbano-industrial, frações consideráveis de trabalhadores que realizam tarefas simples no mercado de trabalho (NEVES, 2000, p. 196).

A formação profissional continuada que deveria promover a igualdade de oportunidades e inserção dos jovens no mercado de trabalho, só faz acirrar a competição por postos de emprego e aumentar a exclusão. Para LUCENA (2001, p. 25), a formação profissional transformou-se em uma armadilha. O desemprego, diz ele, “é concebido como sinônimo de força. O mercado é para os mais fortes, cabendo aos mais fracos conviver com a miséria como o último suspiro para a morte”. Outra mudança importante é a velocidade com que se adquirem novos conhecimentos enquanto outros se tornam obsoletos. Isso obrigaria a educação a formar trabalhadores “jovens” adaptáveis, capazes de construir conhecimentos sem dificuldades, atendendo à exigência da economia. No entanto, a resistência ao modelo tradicional de ensino dos jovens, a rebeldia, a falta de concentração causada, muitas vezes, por problemas nutricionais e o desinteresse pelo esforço cognitivo condena esses estudantes ao desemprego e a informalidade laboral. No Japão, por exemplo, jovens operários migram em busca de trabalho nas grandes cidades e se submetem a dormir em cápsulas de vidro do tamanho de um caixão. No Brasil,

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imigrantes peruanos e bolivianos trabalham mais de 17 horas para as pequenas empresas de confecção. Esses são alguns exemplos de trabalho degradante. A propósito, Antunes chama atenção para a origem do trabalho.

Ao mesmo tempo em que expressa o momento da potência e da criação, o trabalho também se originou nos meandros do “tripalium”, instrumento de punição e tortura. Se era, para muitos, dotado de uma ética positiva, própria do mundo dos negócios (cujo significado etimológico é negar o ócio), para outros, ao contrário, tornou-se um não valor, estampado na magistral síntese de Marx: “Se pudessem, os trabalhadores fugiriam do trabalho como se foge de uma peste!”(ANTUNES, 2009, p. 54).

Em O Capital, Marx afirma que a produção capitalista possui uma tendência a desqualificar grandes somas de trabalhadores apostando na qualificação de pequenas parcelas. Isto porque quanto mais descartáveis forem os trabalhadores melhor para o capital. É pela reposição da mão de obra “desqualificada” que o capital acumula mais capital. Segundo SANFELICE (1989, p.15): “é necessário ir além do trabalho fragmentado e alienado, sendo o pressuposto para a construção de uma sociedade superior a junção daquilo que o capital separou: o saber e o fazer”. Este mesmo autor aponta um caminho para superar o desafio da educação e trabalho para os jovens: “Temos que violentar a educação, as condições de trabalho e a moral burguesa vigente, para que possamos construir outro estatuto de princípios éticos, visando uma sociedade superior à atual”, (SANFELICE, 2005, p.134).

3.5. Mídia, capitalismo e educação

Os meios de comunicação desempenham papel essencial no Brasil para o consumo e para o capitalismo. Eles substituíram o espaço público de reivindicação coletiva, a organização dos movimentos sociais e a fundamental participação política que faz possível o sonho de mudanças e justiça social. O elevado número de analfabetos e analfabetos funcionais do país neste início de século XXI, resultado de uma política educacional capitalista e catastrófica, ou em outras palavras, de negócio ao lado dos baixos salários pagos para a maioria da população permite que a influência da mídia sobre a sociedade seja um axioma.

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A desvalorização histórica da educação e o crescente número de pessoas desempregadas e desqualificadas para o novo mundo do trabalho, transformado pelas tecnologias e orientado pelo regime de acumulação flexível, reivindica uma força de trabalho que tenha uma formação que suporte as mudanças da produção enxuta. Dessa forma, não é por acaso que o telejornalismo assuma tanta importância, a ponto de representar um dos principais canais de informação sobre o mercado de trabalho. A estreita afinidade que a televisão mantém com o público brasileiro – evidência do predomínio da oralidade sobre a escrita na cultura nacional – explica a correspondência entre linguagem popular e linguagem televisiva, sobretudo nas novelas e programas humorísticos (REZENDE, 2003, p.24). De fato, para uma população de tradição oral que tem poucas oportunidades de acesso à cultura (teatro, concertos, exposições e livros etc.) a TV se coloca como uma alternativa consoladora. É o veículo principal (o mais idolatrado), o veículo do poder, o elo que “une” os brasileiros em torno dos assuntos nacionais e internacionais. Avento aqui a hipótese de que, inibindo a participação dos indivíduos e restringindo a percepção dos mesmos sobre os problemas sociais a uma visão espetacular e distante da realidade, a TV promove o modelo de produção do capital. Essas questões, repetidas vezes colocadas entre os que se dedicam a estudar o fenômeno, parecem não indignar as autoridades. Afinal, como assinala PRIOLLI (2003) a televisão tem sido um poderoso instrumento de difusão desse sentimento nacional, que articula incluídos e excluídos em torno da ideia básica de Brasil. A ideia básica de Brasil que passa na TV é a de um projeto de governo aliado ao consenso político e econômico mundial. O denominado pensamento único neoliberal pode ser compreendido como dominação. Sob este pensamento, uma série de transformações expressa o avanço e as intenções da ideologia neoliberal. A doutrina neoliberal como assinala SINGER (1998, p.15) teve início na segunda metade dos anos de 1970 e tornou-se hegemônica nos de 1980. Tal doutrina resulta na reforma do estado, desestatização da economia, privatização de empresas produtivas e lucrativas governamentais, abertura de mercados, redução de encargos sociais relativo aos assalariados por parte do poder público e das empresas ou corporações privadas, informatização de processos decisórios, produtivos, de comercialização e outros, busca da qualidade total, intensificação da produtividade e da lucratividade da empresa ou corporação nacional e transnacional. Também a globalização do mundo como formulado por IANNI (1999) expressa um novo ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório de alcance mundial.

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Desde os anos cinqüenta, é pelos meios eletrônicos que a população tem acesso aos bens culturais, além da escola. Após a segunda Guerra Mundial, ou no período de reestruturação das Nações afetadas por essa guerra, o Estado capitalista assumiu novas obrigações e assim como o Estado, as corporações jornalísticas também, pois a produção em massa requeria investimentos em capital fixo e condições de demanda relativamente estáveis para que fosse lucrativa. O Estado tinha o papel de controlar os ciclos econômicos, combinando políticas fiscais e monetárias. As políticas eram direcionadas para o investimento público, principalmente para os setores vinculados ao crescimento da produção e do consumo em massa, e tinham, ainda, o objetivo de garantir o pleno emprego. O salário era complementado pelos governos através de seguridade social, assistência médica, educação, habitação. O Estado acaba exercendo, também, o papel de regulador dos acordos salariais e dos direitos dos trabalhadores na produção; era o chamado Estado de bem-estar social (HARVEY, 1989) 15. Esse processo civilizatório é disseminado especialmente pela TV, que invade os lares com suas imagens hiper-fantásticas (digitalizadas de alta definição) e consegue dessa forma atrofiar nossos sentidos, nossa capacidade de pensar, de compreender (ainda que por algumas horas) - logo de reagir ao mundo e efetivamente agir. KEHL (2004) vai mais além, e diz:

Diante da TV ligada, isto é, diante de um fluxo contínuo de imagens que nos oferecem o puro gozo, não é preciso pensar. O pensamento é um trabalho, e ninguém aguenta pensar (trabalhar) o tempo todo. Ele só é convocado a operar quando falha a realização de desejos. (...) Isso não quer dizer que as pessoas parem de pensar para sempre por efeito desse gozo imaginário, mas que, diante do fluxo de imagens, paramos de pensar. E quanto mais o fluxo de imagens ocupa espaço na nossa vida real e na nossa vida psíquica, menos é convocado o pensamento (KEHL, 2004, p.90-91).

É exatamente esse produzir imagens sem cessar que sustenta toda a estratégia moderna de dominação capitalista. Como reprodutora da lógica de mercado vigente, a TV exalta o progresso desenfreado e o desenvolvimento tecnológico e científico contemporâneo. Este progresso é um

15 Ainda de acordo com Harvey, o Estado de bem-estar social não se disseminou da mesma forma em todos os países, que apresentaram variações segundo seu modo de administrar as relações de trabalho, segundo sua política monetária e fiscal e seu investimento público, os quais eram determinados, internamente, pelas relações de classe e, externamente, pela posição hierárquica que os países ocupavam na economia internacional e pela taxa fixada com base no dólar. No terceiro Mundo, a questão era ainda mais crítica, pois houvera uma promessa de desenvolvimento e, na realidade, o fordismo proporcionava maior domínio capitalista, gerando, contudo, poucos ganhos para a maioria da população em termos de qualidade de vida e bem-estar social, garantidos pelo Estado. Foi nesse contexto que as corporações obrigaram-se a acirrar a competição, através de novas formas de racionalidade da produção, reestruturação e intensificação do controle do trabalho (para isso, era necessário cooptarem-se os sindicatos), assim como de aceleração do tempo de giro do capital e de fusões (HARVEY, 1989). 67

dos responsáveis pelo avanço do poder de sedução da TV e também da burguesia dirigente. É necessário, que tudo seja explicado, interpretado pelos chamados especialistas, já que o homem comum, perdido em meio a tanta informação precisa de ajuda para compreender seu tempo. No entanto, os argumentos para defesa dessa necessidade de explicação apresentam-se inconsistentes. Por exemplo: embora tenhamos que reconhecer o papel educativo da TV e sua contribuição para a conscientização da população sobre temas diversos, é preciso estar alerta para o fato de essas explicações serem dadas muitas vezes, ou na maioria das vezes, por personagens que interessam ao veículo ou por personagens que com suas declarações não alteram em nada o quadro social, político e econômico. Além disso, as maiorias silenciosas envolvidas pela TV e suas imagens acabam entregando-se inteiramente a ela. O social desaparece. Na verdade, de acordo com HERMAN E CHOMSKY (2003), as funções sociais da mídia de massa são reduzidas em entreter, informar, inculcar valores, crenças e códigos de conduta, além de integrar os indivíduos às estruturas sociais. Por isso, a mídia em consonância com as identidades legitimadoras de poder (proprietárias das empresas de comunicação) é um instrumento de propagação de um projeto de dominação sob a falsa aparência de informação. Nesse sentido, a criação dessas novas tecnologias ampliou sem dúvida a comunicação humana, mas por outro lado, como afirma ARENDT (2008) apequenou o homem, que foi enfraquecido politicamente por causa de sua subordinação ao trabalho compulsivo para o consumo, que resultou em sua incapacidade de pensar. Embora não se possa generalizar, hoje temos um homem mecânico, que executa tarefas pré-estabelecidas por outros homens e, portanto, uma mídia dominada pela técnica que está se sobrepondo ao humano, a sensibilidade política e ao sentido ético. É através dessa lógica que é também a de mercado, da promoção de produtos publicitários e dos conteúdos de entretenimento e informação que a televisão garante sua audiência e existência. Como esclarece GOERGEN (2001), “a informação televisiva veio acentuar os traços do hedonismo contemporâneo, da ilimitada promoção da subjetividade”. A propósito, observa MORIN (2002): “O consumo dos produtos se torna, ao mesmo tempo, o autoconsumo da vida individual. Cada um tende não mais a sobreviver na luta contra a necessidade, não mais a se enroscar no lar e na família, não inversamente, a consumir sua vida na exaltação, mas a consumir sua própria existência”. Não é de surpreender, portanto, que o homem atual, totalmente

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envolvido pelo canto televisivo adote a TV como remédio para o agitado mundo em que vivemos.

Diante da tela da televisão está acontecendo uma mutação profunda e radical: desaparece o homo sapiens e nasce o homo videns. Junto com o primeiro, porém, desaparece também a capacidade de conceber ideias claras e distintas (SARTORI, 2001, p. 11)

Embora seja este, como de fato me parece o quadro, não podemos culpar a televisão como a única responsável por ele. Que a TV chegou para ficar e para perturbar nossos sentidos não há mais dúvidas. Por outro lado, devemos nos perguntar se o homo videns do século XXI não é fruto também da incompetência da instituição família e escola. Não seriam elas as responsáveis em primeiro plano pela formação de nossas competências culturais, sociais e políticas? Penso que sim. Nesse sentido, em uma sociedade hierarquizada e injusta como a nossa, nem todas as famílias podem ofertar às novas gerações o saber culto e letrado, ao mesmo tempo, as escolas tampouco conseguem transmitir todos os ensinamentos. Prosseguindo, quero acrescentar que além dessas duas instituições, uma outra trabalha em sintonia com a televisão para agravar esse quadro. Trata-se do Estado. É sabido que a educação no Brasil nunca foi prioridade real do governo. A própria televisão jogando politicamente com o Estado, inúmeras vezes em seus telejornais, entrevistas e programas sensacionalistas reclama essa “incapacidade” do governo de solucionar os problemas educacionais do país. No instante seguinte, porém, a TV ressalta os projetos e o discurso falacioso do Estado para a educação. Nesse jogo político e econômico interminável, os perdedores são sempre os mesmos, a sociedade. Aparentemente a televisão tenta demonstrar para o grande público, ou o chamado homem médio (constituído a partir da sociedade de massa) que ela é isenta das tramoias e de todo o engodo político brasileiro. Na verdade, ela atua como a principal mediadora entre o povo e a realidade. Não é por acaso que ela convoca à população a participar de campanhas que visam melhorar à educação. Por detrás desse apelo esconde-se a verdadeira realidade, ou a verdadeira mediação entre a televisão e as forças políticas vigentes. Em síntese, ambas trabalham para manter a ordem social e não para modificá-la. Essa ordem no que diz respeito à educação na contemporaneidade articula-se para a propagação de uma educação de direção única, novamente em consonância com o pensamento neoliberal, ou seja, uma educação utilitarista.

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Para a imprensa de modo geral, os assuntos são considerados relevantes à medida que interessam a um grande número de pessoas, quando causam impacto ou afetam a vida dos indivíduos. Na contemporaneidade, nada é mais relevante que falar sobre emprego. De fato, o maior problema, o maior medo dos indivíduos de acordo com os institutos de pesquisa. O panorama mostrado na TV é assustador. Os números ainda mais. Assim, a preocupação com a “educação” para o trabalho está diariamente na pauta dos telejornais. Além disso, a educação foi transformada em espetáculo pela televisão. Todas as profissões desfilam suas peculiaridades na tela. O importante é mostrar para o jovem estudante e para o trabalhador desempregado quais são as habilidades exigidas para exercer essa ou aquela profissão. A subordinação da produção de conhecimento aos interesses empresariais não deixa dúvida. É pela televisão também que as instituições de ensino são apresentadas. Na verdade, tais instituições públicas ou privadas vendem ao estudante, transformado em consumidor, um conhecimento útil, que só é considerado útil se gerar lucro. Inconscientemente o telespectador é induzido a acreditar que uma boa formação, antes de tudo, está associada a uma boa colocação no mercado de trabalho. A educação vira espetáculo, pois ela pode ser encontrada também nos grandes centros comerciais. O espaço tradicional do saber, antes constituído de prédios construídos para acolher os estudantes e a comunidade acadêmica, agora ganha nova roupagem. Tais espaços são atrativos, coloridos e recheados de lojas e objetos de consumo. Conforme argumenta ZUIN (2003) o que realmente interessa é a produção de uma imagem que destaque de alguma forma, que faça impressionar seu portador. A concentração, a interação com os amigos, a alegria de compartilhar um dia de aula, enfrenta a concorrência dos artefatos, dos anúncios, dos fast foods e da total entrega aos prazeres das novidades que não tem fim. Transformada em mercadoria a educação precisa seguir os ditames do capitalismo, ou seja, a aparência passa a ser uma preocupação maior. É necessário seduzir o consumidor, as embalagens precisam ser cada vez mais atrativas e sofisticadas. Ainda conforme assinala ZUIN (2003), é assustador também verificar que estudar nestes novos ambientes se torna mais uma maneira de se diferenciar da maioria. Afinal, tais estabelecimentos se firmam pela marca, insistentemente propagada pela TV. E nesse sentido, como explica COELHO (2003), esses mecanismos no caso das instituições de ensino visam à dimensão estética da mercadoria educação. Mas, a preocupação com a imagem da instituição de ensino, não se esgota no momento em que o aluno ingressa na

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instituição, ela continua a existir durante o período em que ele frequenta o curso. Ainda de acordo com COELHO, o próprio processo educacional (a produção/transmissão de conhecimento) é influenciado pela mercantilização da educação. O professor transformado em showman precisa entreter os alunos. Os estudantes, vistos como clientes, atuam como consumidores, ou seja, comportam-se como espectadores passivos a espera do grande espetáculo, capaz de prender a atenção de todos e dar muito prazer. Enquanto uma atividade que acontece no “tempo livre”, a educação passa a assumir no contexto da sociedade capitalista de consumo (neoliberal) características das demais atividades de lazer, é na verdade mais um produto da indústria cultural como um telejornal, por exemplo. O reinado da sociedade capitalista de consumo de acordo com DEBORD (1997) é o reinado da sociedade do espetáculo. Na sociedade do espetáculo, as imagens são muito importantes, já que elas antecipam o desejo de consumo e nos incentivam a todo o momento a comprar produtos dos quais não precisamos. Tal lógica de produção anula o telespectador-crítico e exalta o telespectador consumidor. Por isso, parece natural que milhões de brasileiros assistam ao mesmo tempo a mesma coisa. O formato espetacular, comum às emissões de ficção e de realidade, representa a fórmula mágica capaz de magnetizar a atenção de um público tão diversificado. O espetáculo destina-se basicamente à contemplação, combinando, na produção telejornalística, uma forma que privilegia o aproveitamento de imagens atraentes – muitas vezes desconsiderando o seu real valor jornalístico – com um conjunto de notícias constituído essencialmente de fait divers (REZENDE, 2003, p. 25). Nesse cenário, a perspectiva de informar para formar, que deveria ser o objetivo do telejornalismo desaparece. Fica evidenciada a mensagem instantânea, o lugar-comum. Desaparece também a função social, uma vez que os telejornais atrelados às corporações econômicas que financiam o espetáculo, em nome de interesses comerciais desprezam as necessidades de informação relevante para as camadas mais populares da sociedade. Dessa forma, é muito improvável que o telejornal seja um meio de informação preocupado com quaisquer questões sociais, que não sejam as comerciais. O que a mídia não nos diz é que:

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O aparecimento e o desenvolvimento da violência nas relações sociais estão ligados a fatores objetivos – o império da propriedade privada e a divisão das sociedades em classes – que tornaram impossível até agora a solução das contradições fundamentais por um caminho pacífico. A luta de classes se desenvolve historicamente com um coeficiente maior ou menor de violência, mas a experiência histórica demonstra que quando está em perigo a existência da classe dominante, esta não vacila em recorrer às formas violentas mais extremas, inclusive o terror maciço, pois nenhuma classe social está disposta a abandonar voluntariamente o cenário da história (SANFELICE, 2005, p. 133).

Assim, a mídia envolve os humildes de nascença e formação com seu discurso dominante. O valor da educação, do trabalho em nossa sociedade e seu questionamento fica a cargo das minorias dirigentes. Não é discutida pela sociedade, pelo pobre. Este é obrigado a mergulhar na pobreza e se convencer de que assim está melhor. Há, portanto, uma renúncia da dignidade, da experiência e, essencialmente, ao conhecimento.

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CAPÍTULO IV INDÚSTRIA CULTURAL E TV

Parcela considerável do povo brasileiro desconhece o fato de que aqui a televisão é uma concessão pública. Isso significa dizer que ela pode ser explorada comercialmente, mas deveria estar comprometida com uma oferta de conteúdos de qualidade para os telespectadores, com o objetivo de consolidar uma visão crítica da realidade. No entanto, é vista apenas como entretenimento e negócio. Como observa com grande pertinência COMPARATO (1991), se a televisão é o grande poder social que forja a mentalidade e os costumes do povo, a democratização da televisão deveria ser a primeira e principal tarefa de um programa de instauração democrática. Não é isso o que assistimos no Brasil, qualquer reflexão mais acurada esbarrará nos monopólios de alguns ou no poder da fala de poucos. Assim, a sociedade na idade da televisão encontra-se administrada pela manipulação das telas. Infelizmente, os meios de comunicação promovem atitudes de passividade. Por isso há no meio social, cada vez menos participação, consciência de si e sentido crítico. Para a socióloga e pesquisadora HAROCHE (2008), as relações que ligam os indivíduos uns aos outros, agora são fugazes, efêmeras, inconstantes, desengajadas de um projeto político de sociedade. O indivíduo é marcado pela fragmentação, a descontinuidade para consigo mesmo, sendo inapreensível pelos outros. HAROCHE insiste em afirmar que as pessoas precisam de conversas, de relações sensíveis e intelectuais, que não podem passar a vida na frente das telas. Acontece que no Brasil, a televisão chega praticamente a todos os municípios e está em 99% das residências, segundo dados do IBGE (2006). Segundo o Ibope, em maio de 2004, só na grande São Paulo, o telejornal de maior audiência foi visto por mais de três milhões de pessoas. Consequentemente é inestimável o papel que o telejornalismo vem desempenhando ao longo de sua história. Produzida para ser fascinante e patrocinada pela indústria cultural a tevê nos pede passividade e conformismo. É perigosa na medida em que constrói a notícia a partir dos interesses de uma minoria. Uma em cada quatro concessões comerciais de emissoras de televisão no país está nas mãos de políticos. É o que apontou levantamento feito em agosto de 2001 pela Folha de São Paulo. Essa constatação esclarece a tendência de se fazer aqui um telejornalismo quase sempre preocupado apenas com os interesses econômicos e políticos e, portanto, doutrinador. 73

MARCUSE (1969) descreve de forma crítica a ideologia dos telejornais ao analisar a moderna sociedade industrial, sua produtividade e irracionalidade:

Os meios de transporte e comunicação em massa, as mercadorias casa, alimento e roupa, a produção irresistível da indústria de diversões e informação trazem consigo atitudes e hábitos prescritos, certas reações intelectuais e emocionais que prendem os consumidores mais ou menos agradavelmente aos produtores e, através destes, ao todo. Os produtos doutrinam e manipulam; promovem uma falsa consciência que é imune à sua falsidade. E, ao ficarem esses produtos benéficos à disposição de maior número de indivíduos e classes sociais, a doutrinação que eles portam deixa de ser publicidade; torna-se um estilo de vida. É um bom estilo de vida - muito melhor do que antes - e, um bom estilo de vida milita contra a transformação qualitativa. Surge assim um padrão de pensamento e comportamento unidimensionais no qual as ideias, as aspirações e os objetivos que por seu conteúdo transcendem o universo estabelecido da palavra e da ação são repelidos ou reduzidos a termos desse universo. São redefinidos pela racionalidade do sistema dado e de sua extensão quantitativa. (MARCUSE, 1969, p.30.)

Em artigo publicado no Jornal O Estado de São Paulo em 15 de novembro de 2009, a professora da Universidade de São Paulo e filósofa Olgária Matos, escreveu o seguinte: “Na sociedade pós-moderna, o consenso é produzido pela mídia e suas pesquisas de opinião, através da eficiência persuasiva da televisão, que primeiramente cria a opinião pública e depois pesquisa o que ela própria criou”. Para a filósofa essa é a razão pela qual massificação significa perda da qualidade do conhecimento produzido e transmitido, adaptado às exigências de massas educadas pela televisão, com dificuldade de atenção e treinadas para a dispersão, mimadas por uma educação que se conforma a seu último ethos. Dessa forma, a influência da mídia de massa na sociedade é um campo permanente de estudo. Recebe e faz contribuições em todas as áreas do conhecimento. A análise do poder da TV, sua ideologia e falta de ética amparada pelos conceitos filosóficos de trabalhos importantes de vários autores é um instrumento necessário para a compreensão dos meios de comunicação de massa no Brasil. Dessa maneira, a filosofia, a sociologia da comunicação e a educação contribuem para um melhor entendimento da cultura contemporânea, fortemente influenciada pelos meios eletrônicos. Para MARCONDES FILHO (2009), na era tecnológica, emerge a imprensa como o único grande canalizador capaz de “organizar” de alguma maneira as aspirações, as reivindicações ou a insatisfação da sociedade. O

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jornalismo de televisão é hoje o espaço da comunicação, em que os brasileiros se reconhecem e no qual se dá a construção da realidade social para formar opiniões e a mediação dos fatos. Por isso, a contribuição dos estudos de ADORNO E HORKHEIMER no início do século XX são determinantes para compreensão da transformação da cultura em mercadoria, ou seja, o conceito de indústria cultural. Os Frankfurtianos acusados de apocalípticos e pessimistas foram os primeiros a denunciar o processo de dominação estética, cultural e da consciência. Para esses teóricos, a racionalidade técnica na chamada „sociedade administrada‟, em lugar de garantir a emancipação dos indivíduos, os submeteu à racionalidade econômica, aos meios de comunicação de massa e as suas estratégias. Como resultado dessa situação, a mídia reforça os padrões culturais prevalecentes, o que somos depende dos bens de consumo que podemos comprar. O homem é rebaixado a mero consumidor de mercadorias. Descaracterizada a cultura, ocorre o embrutecimento do ser humano e de todas suas relações sociais. Assim, entendemos o conceito de indústria cultural a partir da seguinte definição: A indústria cultural revela-se a meta do liberalismo, do mundo moderno. A propósito, explica GOERGEN (2006), que: “Livre da submissão religiosa e guiado unicamente por sua razão, o homem seria o dono de seu destino, imaginava-se”. Mas não foi isso o que aconteceu. GOERGEN (2006) completa: “Mal desconfiavam os iniciadores desse programa que esta razão, libertadora das cadeias do autoritarismo, haveria de converter-se ela mesma numa espécie de novo deus cujas divindades menores haveriam de conduzir os homens a uma nova forma de alienação”. Por isso, o objetivo último da indústria cultural é a dependência e servidão dos homens, para alcançar tais objetivos, utiliza o processo de fabricação e mercantilização da cultura. A lógica é a do capital que objetiva a produção de bens de consumo padronizados impedindo que a cultura não industrializada possa emergir. A cultura deixa de ser cultura para transformar-se em objeto de entretenimento em prejuízo ao seu sentido, entretanto, objeto de grande poder ideológico para as identidades legitimadoras da sociedade.

Através da ideologia da indústria cultural, o conformismo substitui a consciência; jamais a ordem por ela transmitida é confrontada com o que ela pretende ser ou com os reais interesses dos homens. Mas a ordem não é em si algo de bom. Somente seria uma ordem digna desse nome. Que a indústria cultural não se preocupe mais com tal fato, que ela venda a ordem in abstracto, isso apenas atesta a impotência e a carência de fundamento das mensagens que ela transmite (COHN, 1971, p.293).

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Os grupos multimídia e grandes corporações de comunicação aparecem no cenário mundial global. As tecnologias de reprodução e difusão de bens culturais (televisão, internet, cinema etc.) atingem plateias cada vez maiores, e através da propaganda de seus produtos disseminam um modo de vida que tem como valor supremo o consumo. Para HABERMAS o consumo vai além dos produtos divulgados pela mídia. Para ele:

O mercado dos bens culturais assume novas funções na configuração mais ampla do mercado de lazer. Outrora os valores de troca não alcançavam nenhuma influência sobre a qualidade dos próprios bens. A consciência específica desses setores só se mantém agora, no entanto, em certas reservas, pois as leis do mercado já penetraram na substância das obras, tornando-se imanente a elas como leis estruturais. Não mais apenas a difusão e a escolha, a apresentação e a embalagem das obras, mas a própria criação delas enquanto tais se orienta, nos setores amplos da cultura de consumo, conforme os pontos de vista da estratégia de vendas no mercado. Sim, a cultura de massa recebe o seu duvidoso nome exatamente por conformar-se às necessidades de distração e diversão de grupos de consumidores com um nível de formação relativamente baixo, ao invés de, inversamente, formar o público mais amplo numa cultura intacta em sua substância (HABERMAS [1962], apud HOHLFELDT & FRANÇA 2007, p. 139).

Dessa forma, a mensagem é a do consumo perpétuo, vazio de sentido. No prefácio da obra de Jean Baudrillard, A Sociedade de Consumo, Mayer escreve que: “O consumo, na qualidade de novo mito tribal, transformou-se do mundo contemporâneo”. Para BAUDRILLARD (1995): "Da mesma maneira que a sociedade da Idade Média se equilibrava entre Deus e o Diabo, a nossa liberal e moderna equilibra-se no consumo e na abundância, criada pela multiplicação de objetos", de bens materiais. Por isso, ao empregar pela primeira vez o termo indústria cultural em seu célebre texto "Dialética do Esclarecimento" em 1947, Adorno junto com Horkheimer procura mostrar que a expressão "cultura de massa" é inadequada, tal cultura é fabricada pelas corporações industriais para atender e agradar as massas que são assim conduzidas ao consumo. Os defensores dessa expressão querem dar a entender que se trata de algo como uma cultura que emana espontaneamente das próprias massas. Costa que também compartilha da opinião de Adorno e Horkheimer explicita que já era visível a existência de um setor da produção da cultura comprometido com as estruturas de mercado, segundo ele

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A utilização do rádio, do cinema, e dos meios impressos existentes, como instrumentos de propaganda política de regimes autoritários, durante particularmente a ascensão do nazifascismo e na era stalinista, e a incorporação destes meios na perspectiva de valorização do American way of life fizeram com que Adorno e Horkheimer, nos EUA, país onde se encontravam exilados e que dispunham de uma indústria de informação e de entretenimento mais empreendedora e massiva, estabelecessem relações de proximidade entre autoritarismo econômico-político e fascismo cultural (COSTA, 2001, p. 108).

Interessada nos homens apenas enquanto consumidores ou empregados, a indústria cultural reduz a humanidade às condições que representam seus interesses. Nas palavras do próprio Adorno, a indústria cultural, "impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente". Para isso, conta com instrumentos persuasivos poderosos - os meios de comunicação de massa que transformaram a arte e a informação em mercadoria. Ao visarem a produção em série em larga escala e a homogeneização, são as técnicas de reprodução que determinam o consumo. Segundo Adorno, a indústria cultural também é portadora da ideologia dominante. A tese de Adorno e Horkheimer sobre o desenvolvimento da consciência de massa, ou melhor, sobre o impedimento desse desenvolvimento através do uso da televisão e demais meios de comunicação, nos coloca diante do problema central do homem moderno. Sob a influência da mídia de massa, ele se vê obrigado há uma obediência aos padrões ditados por ela. Coisificado pela mídia fica desprovido de uma visão de mundo crítica. Dessa forma, tudo é mediado pela tecnologia.

Aliada à ideologia capitalista, e sua cúmplice, a indústria cultural contribui eficazmente para falsificar as relações entre os homens, bem como dos homens com a natureza, de tal forma que o resultado final constitui uma espécie de antiiluminismo. Considerando-se que – diz Adorno – que o iluminismo tem como finalidade libertar os homens do medo, tornando-os senhores e liberando o mundo da magia e do mito, e admitindo-se que essa finalidade pode ser atingida por meio da ciência e da tecnologia, tudo levaria a crer que o iluminismo instauraria o poder do homem sobre a ciência e a técnica. Mas ao invés disso, liberto do medo mágico, o homem tornou-se vítima de novo engodo: o progresso da dominação técnica. Esse progresso transformou-se em poderoso instrumento utilizado pela indústria cultural para conter o desenvolvimento da consciência das massas (ARANTES, 2000, p.08).

Eis a razão de a diversão tornar-se também um prolongamento do trabalho. “O sistema precisa dos homens como trabalhadores (trabalho assalariado), como economizadores

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(impostos, empréstimos, etc.) e, cada vez mais como consumidores” BAUDRILLARD (1995). A transformação dos indivíduos em meros consumidores dessa cultura fabricada implica em uma situação de dependência. Portanto, a indústria cultural obriga o homem moderno ao prazer. Para Adorno, a diversão é buscada pelos que desejam esquivar-se ao processo de trabalho mecanizado para colocar-se, novamente, em condições de se submeterem a ele. Tal situação é evidenciada na medida em que: “Para compensar o caráter não livre do trabalho, a ideologia da sociedade de consumo atribui ao tempo não dedicado ao trabalho característica de “tempo livre” (COELHO, 2003 p.27). Desejamos evidenciar, que a cultura e os costumes sociais que já estavam sendo “fabricados”, com o surgimento da televisão e sua popularização passam a ser orientados definitivamente pela indústria cultural, que tem como aliada as novas tecnologias de comunicação. A velocidade e a superficialidade dos tempos modernos são realimentados diariamente pela tevê. Isso significa dizer também, que o homem está cada vez mais submetido à estrutura de controle dos meios de comunicação. Ou melhor, o homem perdeu o controle, todas as suas atividades são controladas pelo mercado.

Esta representação do descontrole do homem sobre a racionalidade instrumental embutida na técnica não desapareceu e supõe retomar o argumento de Horkheimer e Adorno, que caracterizam a indústria cultural como aparatos técnicos que paradoxalmente mistificam a realidade, quando se supunha o potencial de emancipação nos progressos científicos e nas produções culturais tornadas disponíveis pela massificação. A perda de controle da máquina é um sinal da contradição entre a existência de uma sociedade que se firma na autonomia do sujeito, em sua capacidade de escolha e de busca do prazer e, ao mesmo tempo, a afirmação da heteronomia cultural, de cada consumidor se objetivar nas estatísticas da audiência. Eis a retomada do argumento: a massa é um elemento secundário, de cálculo; acessório da maquinaria (Horkheirmer & Adorno, 1990). Uma ilustração deste descontrole se verifica na relação entre índices de audiência e a pauperização da qualidade das mensagens televisivas (COSTA, 2001, p. 109).

No Brasil a mensagem da televisão é triunfante. Ela debilita e dificulta o acesso à cidadania. Favorece uma visão encurtada da vida, consumista, exaltando o individualismo, o mais esperto, dando voz ao mais belo, ao mais competente. Há nesse ambiente uma extraordinária capacidade do veículo de capturar e influenciar os indivíduos. Como escreveu MCLUHAN (1969), depois da tevê muitas coisas já não funcionam tão bem. Se assim é, as palavras de Mauro Wolf são pertinentes, ele afirma: 78

A manipulação do público – buscada e conseguida pela indústria cultural, entendida como forma de domínio das sociedades altamente desenvolvidas – passa, portanto, no meio televisivo mediante efeitos que se realizam nos níveis latentes das mensagens. Estas fingem dizer uma coisa e, em vez dela, dizem outra; fingem ser frívolas e, no entanto, ao se colocarem além do conhecimento do público, reforçam seu estado de dependência. O espectador, mediante o material que observa, é continuamente colocado na condição de assimilar ordens, prescrições e proscrições sem saber (WOLF, 2005, p. 82-83).

Por outro lado, a TV é o fenômeno social e cultural mais impressionante da história da humanidade. Vale a pena lembrar mais uma vez que nenhum outro meio de comunicação exerce tanto fascínio e ocupa tantas horas da vida das pessoas como a televisão (mesmo com a chegada da Internet). A esse respeito, HOINEFF aponta o seguinte,

A cultura televisiva no Brasil está profundamente ligada à ausência de alternativas de uma sociedade sem acesso a outros tipos de consumo cultural, em especial aqueles que levam o espectador para fora de casa. Mesmo no seu apogeu, contudo, a televisão genérica brasileira acabou servindo, voluntariamente ou não, a um processo de alienação cultural da sociedade e não foi capaz sequer de atingir as expectativas das pequenas comunidades. Substituiu valores culturais autênticos por outros artificialmente impostos, sobretudo a partir da implantação das grandes redes (HOINEFF, 1996, p.53).

Essa afirmação é real. É pela tevê aberta, genérica que milhões de brasileiros (a maioria pobre) são encorajados diariamente ao consumo de bens só acessíveis aos dois por cento mais ricos da nação. Nada mais trágico. Estas massas são injustamente conduzidas e condenadas ao grotesco. Apenas para que não haja exageros na afirmação do grotesco, ou que tudo é abusivamente bizarro na TV, vez por outra aparece um produto de qualidade, mas são raros esses momentos nas redes comerciais. Nesse sentido, às emissoras cabe apenas o compromisso com a diversão barata, com o objetivo de lucrar milhões. Para Inimá Simões, esta realidade consolidou- se nos últimos dez anos com a incorporação de contingentes até então à margem do consumo. Ele ressalta,

(...) como aconteceu nos EUA, a TV Aberta passou a sofrer a concorrência da TV a cabo e de outras formas de acesso via satélite. Tais fatos interferiram diretamente na programação das principais redes, acirrando a concorrência pelo bolo publicitário. Em razão do novo quadro, proliferaram os abusos nos horários destinados ao grande público no tocante às imagens que consagram a violência e a veiculação de uma sensualidade calcada nas artes meramente rebolativas, com enquadramentos marotos. Ou abordagens pretensamente

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sofisticadas, que tomam por base o comportamento de uma classe média/alta angustiada (SIMÕES, 2003, p.93).

De acordo ainda com o professor Nelson Hoineff, estudioso da televisão e dos meios de comunicação,

Ao se dirigir ao mesmo tempo a tanta gente a televisão assume o ônus da fabricação de um produto incapaz de satisfazer a necessidades específicas de informação e entretenimento. Num e noutro caso, a televisão brasileira, em particular, cria padrões estéticos que não vão refletir as expectativas naturais da sociedade, mas impor a ela as expectativas dos que a dominam (HOINEFF, 1996, p.53).

Por isso, a televisão é um pilar importante da indústria cultural. Ela reforça o individualismo e um modelo de sociedade que não pensa no coletivo. Além disso, dissemina e enaltece a “cultura” do bem-estar. Nela o indivíduo busca incessantemente o sucesso e a “felicidade” e evita de todas as maneiras o enfrentamento com a realidade, com os problemas da vida e da existência. O importante é ser moderno e seguir as diretrizes impostas pela modernidade. FREIRE (1995) diz que a modernização é o que melhor resume essa nova ideologia moral. Ele aponta algumas características desse modernismo:

Ser neoliberal em economia; Ser a favor da privatização de tudo que possa vir a dar lucro; Cultuar a tecnologia da informática e das multimídias; Ser liberado em matéria de sexualidade; Adotar o consumo ostentatório como estilo de vida; Construir identidades pessoais pela filiação a grupos particularizados por marcas corporais, traços étnicos, convicções religiosas etc; Fazer do sucesso na mídia sintoma de auto-realização e da linguagem da publicidade meio intelectual privilegiado das discussões culturais.

A partir desse modelo de modernização disseminado pela televisão, as pessoas tornam-se cada vez mais “passivas” ignorando que estão sendo enganadas sobre a realidade. O mais lamentável é que esse fato, ou seja, o estratagema de domínio da indústria cultural, não faz o menor sentido para grande parte dos indivíduos. Muitos acreditam que irão triunfar e, sobretudo, 80

que os sonhos serão concretizados. Todos os dias os diversos apresentadores, atores e personagens da tevê insistem nessa falácia. Nesse cenário, a tevê, através dos gêneros de sua programação contribui muito para o fortalecimento de uma incultura coletiva. A ideia é essa mesma. Trabalha-se com a produção de entretenimentos de fórmulas fixas. Adorno ressalta o porquê de tais fórmulas, que definem segundo ele:

o modelo de aptidão do espectador, antes que ele se interrogue diante de qualquer conteúdo específico, determinando assim, em ampla medida, o modo em que será percebido qualquer conteúdo específico. Por conseguinte, para compreender a televisão, não é suficiente colocar em evidência as implicações dos vários espetáculos e dos tipos de espetáculos, mas deve-se fazer um exame de pressupostos, dentro dos quais funcionam as implicações, antes que se pronuncie uma única palavra. Muito importante é o fato de que a classificação dos espetáculos foi tão longe, que o espectador se aproxima de cada um deles com um modelo estabelecido de expectativas, antes de se encontrar diante do espetáculo em si (ADORNO, 1954, p.388 apud WOLF, 2005).

Nessa mesma perspectiva, COSTA (2003) adverte que: “a invisibilidade do controle que a indústria cultural exerce sobre nossa maneira de perceber e de representar” destrói a capacidade criativa do livre pensar dos indivíduos. Acomodados e adaptados às suas interpretações pelo apelo da imagem e da repetição, não contamos com o pensamento e a reflexão para transformar mais nada. Hanna Arendt diz que os homens ficaram supérfluos. Agora importa o propósito do hedonismo. A indústria cultural, junto com a TV cria então subjetividades coletivas, que expressam os valores, gostos, desejos etc. do poder. Pode-se dizer que seja essa talvez, uma das razões, do proprietário da rede de TV aberta - Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), o apresentador e animador de plateia Silvio Santos, gostar tanto de distribuir dinheiro em seus programas para as chamadas “colegas de trabalho”. Como porta-voz do capitalismo, a mídia exerce tal papel sem maiores obstáculos. Portanto, o sujeito central do desenvolvimento deixa de ser o ser humano e passa a ser o mercado, a mercadoria e o capital. A tevê com sua proliferação de imagens impede de maneira progressiva que haja abertura para o questionamento. Tudo é antecipado por ela e produzido pela indústria cultural com objetivos utilitaristas.

A televisão falhou redondamente no compromisso de se fazer respeitar, de se fazer encarar como uma forma maior de veiculação do pensamento – e só existe uma razão plausível para isso: ao contrário de literalmente todas as outras formas de expressão, incluindo-se aí até o

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circo, a televisão, ela mesma, nunca se levou a sério. Não se levou a sério porque o veículo é refém e vítima dos que o controlam – e simplesmente não tem interesse em incentivá-lo a se transformar em algo que transcenda interesses mesquinhos. E que se amparam, para exercer esse nefasto poder no mito da audiência, um dos conceitos mais frágeis que qualquer grupo em busca de hegemonia política ou econômica já foi capaz de forjar. E, no entanto, poucas outras formas de expressão – se alguma – teriam tantos motivos para se fazerem levar a sério (HOINEFF, 1996, p.92).

O desenvolvimento de uma consciência crítica da TV e da indústria cultural depende essencialmente de um novo projeto de sociedade. Nele a mídia não seria tão poderosa (no caso Brasileiro e Latino-Americano), mas haveria uma revolução não na informação e nas tecnologias, mas sim no conhecimento, tão empobrecido e cada vez mais elitizado. O que se postula aqui é a luta pela democratização dos meios de comunicação, indispensável para a mudança no paradigma da mídia. É dentro desse contexto que se coloca a questão de uma mídia mais crítica, que se oponha ao pensamento único disseminado pelas corporações oficiosas. Segundo HALIMI:

O pensamento único sonha com um debate democrático destituído de sentido uma vez que deixaria de ser juiz entre os dois termos uma alternativa. Ceder a esse pensamento é aceitar que, por toda, parte, a rentabilidade tome o lugar da utilidade social, é encorajar o desprezo pelo político e submeter-se ao reino do dinheiro (HALIMI, 1998, p.68).

Os consumidores da televisão a partir de um novo projeto de sociedade teriam possibilidades reais de aprender, de entender e, portanto, de transformar a televisão em algo mais inteligente e cultural. Esse conhecimento nos permitiria também romper com as identidades legitimadoras. Isto implicaria em uma retomada da prática política pelos “cidadãos”. É o que assinalava FURTADO (1993): “O desafio que se coloca no umbral do século XXI é nada menos do que mudar o curso da civilização, deslocar o seu eixo dos meios a serviço da acumulação, num curto horizonte de tempo, para uma lógica dos fins em função do bem-estar social, do exercício da liberdade e da cooperação entre os povos”. Ainda que, por enquanto, apenas trate- se do sonho de um novo projeto de sociedade. Até o surgimento da TV nos anos de 1950, a formação dos indivíduos ocorria dentro da família, da escola, da religião. Como apontaram os Frankfurtianos, tais instituições estão perdendo sua influência socializadora para a mídia. Atualmente, a TV é a grande

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“alfabetizadora”, ela ensina tudo e a todos. Ela usa também, tecnologias cada vez mais modernas e aposta permanentemente no engodo das massas. COSTA (2001) lembra outro aspecto importante, diria pontual: “O surgimento de novos suportes técnicos não criou ainda um ambiente favorável para a realização dos ideários humanistas e nem a técnica, com toda sua sofisticação, foi capaz de gerar uma sociedade esclarecida”. Em verdade, vivemos sob o impacto da barbárie tecnológica.

4.1. A indústria cultural e a descaracterização da prática jornalística

O conceito de prática jornalística utilizado neste trabalho é o proposto por MARCONDES FILHO (1989): "É uma maneira de se dar eco às posições pessoais, de classe ou de nações através de um complexo industrial-tecnológico, que além de preservar uma suposta impessoalidade, afirma-se, pelo seu poder e soberania, como a verdade". Partimos, portanto, da tese de que a prática jornalística vive uma crise ética, já que o compromisso do jornalista com o interesse público e a verdade dos fatos foi substituído pela necessidade de sobrevivência e pelos interesses do capitalismo moderno. Nesse contexto, verificamos que a ofensiva neoliberal utiliza- se, em larga escala, de sua ideologia para impedir a "verdade" jornalística, a democratização da informação e do conhecimento. Na sociedade atual, massacrada de inverdades, para HORKHEIMER (1978): Não é que a verdade esteja ausente, mas sim que foi corrompida e engolida pela realidade presente. O autor observa, ainda, que a questão em causa não é apenas de verdade ou de justiça, mas a própria busca da verdade e o compromisso com a justiça, ou, em outras palavras, a possibilidade de transcender o não-significado e o mesmo, a mera coisidade do ser. Para Kant o valor verdade transcende todos os demais e se coloca de modo absoluto para a prática jornalística. De forma semelhante, Eugênio Bucci, pensador da realidade dos oligopólios de comunicação nacional a partir de uma dimensão ética e profissional faz as seguintes considerações sobre essa prática na atualidade:

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A prática jornalística nunca dependeu tanto da reflexão e do estudo como agora. Uma redação não é um balcão onde notícias são empacotadas. Uma redação é um núcleo encarregado de pensar. Ela é tanto melhor quanto melhor for a sua capacidade de elaboração coletiva. A qualidade do que ela apura, escreve, narra, edita, fotografa e desenha é consequência do modo como ela pensa – ou do modo como ela não pensa. Jornalistas não são “mineradores” de informação exclusiva que ocasionalmente são instados a pensar, mas precisam ser pensadores com grande capacidade executiva. O jornalismo é uma atividade intelectual – ou é inconsequente e tolo (BUCCI, 2000, p.199).

Como jogo político, a prática jornalística brasileira sempre dependeu direta ou indiretamente dos recursos públicos e dos interesses da classe política. Num processo de correlação de forças, a história do nosso jornalismo está atrelada a história de formação do Estado brasileiro. Chauí nos lembra que:

Acrescentemos a isso as duas grandes dádivas neoliberais: do lado da economia, uma acumulação do capital que não necessita incorporar mais pessoas ao mercado de trabalho e de consumo, operando com o desemprego estrutural; do lado da política, a privatização do público, isto é, não só o abandono das políticas sociais por parte do Estado e a "operação preferencial" pelo capital nos investimentos estatais. A política neoliberal recrudesce a estrutura histórica da sociedade brasileira, centrada no espaço privado e na divisão social sob a forma da carência popular e do privilégio dos dominantes, pois a nova forma do capitalismo favorece três aspectos de reforço dos privilégios: 1) a destinação preferencial e prioritária dos fundos públicos para financiar os investimentos do capital; 2) a privatização como transferência aos próprios grupos oligopólicos dos antigos mecanismos estatais de proteção dos oligopólios, com a ajuda substantiva dos fundos públicos; 3) a transformação dos direitos sociais (como educação, saúde e habitação) em serviços privados adquiridos no mercado e submetidos à sua lógica. No caso do Brasil, o neoliberalismo significa levar ao extremo nossa forma social, isto é, a polarização da sociedade entre a carência e o privilégio, a exclusão econômica e sociopolítica das camadas populares, e, sob os efeitos do desemprego, a desorganização e a despolitização da sociedade anteriormente organizada em movimentos sociais e populares, aumentando o bloqueio à construção da cidadania como criação e garantia de direitos (CHAUÍ, 2000, p. 94).

A lógica do pensamento de Marilena Chauí, nos leva ao jornalismo que trabalha contra a soberania nacional. Trata-se de oligopólios de comunicação que valorizam a estratégia neoliberal e contribuem para a banalização das desigualdades sociais e para o conhecimento superficial da realidade. A "liberdade" de imprensa tão defendida pela própria imprensa, ou pelo menos por um grupo de profissionais que se encontra estrategicamente bem posicionado, serve apenas para salvaguardar os interesses de disseminação de informações que corroboram as teses neoliberais.

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O esclarecimento das camadas populares e sua politização através das notícias dão lugar para o antiiluminismo. O declínio da informação jornalística e do papel do profissional jornalista está diretamente ligado ao fato de que o compromisso com a verdade, com a "liberdade" de expressão e o direito de informar e ser informado não por acaso foi substituído por valores do poder econômico. Somos vítimas, portanto, de uma imprensa que propaga uma informação superficial, que não oferece ao público condições de refletir sobre os acontecimentos e suas causas históricas. As informações que tratam de mostrar a necessidade de mudanças na situação real da vida cotidiana, são editadas, cortadas ou esvaziadas em sua importância. Os problemas reais e as contradições sociais ficam de fora da pauta jornalística diária. Pode-se afirmar que o conteúdo dos jornais é muitas vezes, caracterizado por uma variedade de notícias que são contrárias às necessidades e aos interesses da sociedade. Produzindo uma parte importante da história de nosso tempo, as notícias contribuem mais para esvaziar os esclarecimentos profundos, a fazer ler a imediatez do mundo, percebido de maneira grosseira, sem verdadeira análise nem rigor. São problemas antigos que foram acentuados na atualidade, onde a desinformação reina soberana. Nas palavras de Balzac, em As Ilusões Perdidas, "O jornal, em vez de ser um sacerdócio (...), tornou-se comércio; e como todos os comércios, é sem fé nem lei!". MARCONDES FILHO (1989) resume e explica bem esse processo de deturpação da realidade. Trata-se, portanto, de montar uma segunda natureza dos fatos sociais, diferente, e em muitos casos, oposta à verdadeira natureza das coisas. Fazer jornalismo não é só divulgar notícias ideologicamente orientadas, mas também, e principalmente, redimensionar o conjunto dos fatos sociais (notícias) de acordo com essa natureza artificial. O mundo que o jornalismo recria é, portanto, um outro mundo, com outros fatos e outra atribuição de importância, que já não tem muito haver com a realidade. É um mundo forçado, cristalização ideológica da realidade que seus produtores almejam e situam como ótima (MARCONDES FILHO, 1989, p 35).

Descrito desta forma, o jornalismo na modernidade é, portanto, um importante pilar de sustentação para as corporações capitalistas. Ele prepara o caminho para a legitimação de mensagens que irão manter os indivíduos dependentes da política consumista. Não por acaso a notícia é fragmentada. A produção fragmentada é uma técnica mercadológica. A lógica dos fatos é rompida e com ela a dimensão de totalidade fica suspensa. Essa forma de exposição da notícia

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desconexa e manipulativa impede que os indivíduos sejam conscientes do processo de construção da notícia. Desta forma, podemos relacionar a fragmentação da notícia com a fragmentação do trabalho:

A divisão do trabalho constitui o primeiro exemplo de como, enquanto o homem permanece na sociedade natural, ou seja, enquanto existe uma clivagem entre o interesse particular e o interesse comum, enquanto, por conseguinte, a atividade é dividida não voluntariamente, mas naturalmente, a própria ação humana torna-se um poder estranho oposto a ele, que o escraviza em vez de ser por ele controlado. Pois tão logo a distribuição de trabalho se instaura, cada homem tem uma esfera de atividade exclusiva e determinada, que lhe é imposta e da qual ele não pode escapar (MARX, 1983, p.53).

O jornalista deixa de ser um indivíduo que tem o tempo do pensar necessário à prática de sua profissão. Investiga e busca a verdade dos fatos de modo mecânico, fabril e transforma-se em um operário da informação. A rigorosa imposição da divisão do seu trabalho o obriga a especializar-se. Seu trabalho é controlado, verificado e, na maioria das vezes, modificado. Ele é excluído do processo global de realização consciente de produção da notícia. É um mero executor de tarefas, que se repetem e se repetem a partir de algumas técnicas empregadas no ato da produção. Quem tenta resistir à lógica da indústria da notícia aprende rápido que para sobreviver é necessário integrar-se a ela. A indústria cultural defende a qualquer preço o progresso, o individualismo e o acúmulo de bens materiais. Para consolidar tais objetivos, usa os meios de comunicação de massa como instrumento fundamental para a diminuição da luta de classes, para a disseminação de notícias que mais confundem que esclarecem e para divulgação de modos de vida que incentivam as pessoas ao conformismo. Trata-se de uma prática repressiva que despreza totalmente as necessidades do interesse público. Portanto, temos a partir do estudo da indústria cultural, o entendimento da cultura do consumo que é uma cultura alienada porque desenvolve necessidades de acordo com a lógica da produção de mercadorias, e não de acordo com a lógica do desenvolvimento humano. Assim, estrutura as necessidades individuais segundo as necessidades do sistema capitalista. Do ponto de vista econômico produz mais e vende mais a base de uma força de trabalho dócil que trabalha alienada em troca de poder consumir os bens que produz, das quais as notícias são parte.

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A chamada economia do consumo e a política do capitalismo empresarial criaram uma segunda natureza no homem, que o liga libidinal e agressivamente à forma de mercadoria. A necessidade de possuir, consumir, manipular e renovar constantemente aparelhos, dispositivos, instrumentos, máquinas, oferecidos e impostos aos indivíduos, a necessidade de usar esses utensílios mesmo correndo perigo de vida, tornou-se uma necessidade biológica no sentido que acabamos de definir. A segunda natureza do homem milita, por conseguinte, contra qualquer mudança que possa perturbar ou talvez até abolir essa dependência que o homem tem de um mercado cada vez mais densamente ocupado por mercadorias - abolir sua existência enquanto consumidor consumido a si mesmo no comprar e vender. As necessidades geradas por esse sistema são, portanto, necessidades eminentemente estabilizadoras, conservadoras: a contra-revolução ancorada na estrutura instintiva (MARCUSE, 1973, p.20).

A esse propósito ainda insiste MARCUSE:

Por detrás do véu tecnológico, (por detrás) dos véus políticos de democracia, aparece a realidade, a escravidão universal, a perda da dignidade humana, substituída por uma liberdade de escolha pré-fabricada (...) A forma consumista (commodity form) torna-se universal, enquanto que ao mesmo tempo, com o desaparecimento da competição livre, a qualidade inerente ao bem de consumo deixa de ser uma fator decisivo na sua comercialidade (MARCUSE, 1973, p.14-15).

A descaracterização da notícia, nos grandes e pequenos jornais, na televisão e no rádio é realizada por forças que ficam aparentemente ocultas. Ao lado disso, "a prática jornalística torna- se minimalista". Entramos na fase da "indústria da consciência", estágio mais avançado da indústria cultural. As notícias, assim, como as mercadorias alimentam freneticamente a voraz necessidade dos indivíduos de satisfação de seus desejos. Tais desejos são satisfeitos de maneira ilusória, já que o conceito de necessidade como já apontamos foi totalmente distorcido e atrelado ao sistema de produção de bens de consumo e consumo. Conforme TÜRCKE (2004, p.70), a sociedade da sensação transformou cidadãos emancipados em irresponsáveis: quando o poder de fascinação da sensação audiovisual desperta a força de integração da sociedade, cresce a necessidade de se lançar, de forma imediata, à vida real e seus perigos, como se estivesse sob o efeito de um feitiço audiovisual. De fato, ainda segundo Türcke, o indivíduo que pode desejar a derrocada da vida real é aquele que se sente enganado na sua própria vida. Ele não tem o controle de sua vida que é devidamente calculada como se fosse uma mercadoria, ao mesmo tempo que se transforma num telespectador que se protege da vida real por meio de uma tela. A sociedade da sensação 87

representa, portanto, a via pela qual tornar-se percebido significa ser. O que não é percebido é um nada; quem não é percebido é um ninguém. Na necessidade, no desejo da sensação, encontra-se a angústia da existência de uma sociedade inteira. Tal fato faz com que se torne prioritário o lema da sociedade da sensação: "impressionar para sobreviver", pois se impõe a necessidade de que a luta para a existência seja interpretada como luta para a percepção (TÜRCKE, 2004, p. 69). Portanto, a tarefa de lutar pela democratização dos meios de comunicação de massa depende da formação de um homem o qual, reconhecedor da importância de sua ação participativa na sociedade possa efetivamente perceber o mundo, e ser percebido como aquele que é capaz de interferir nos processos que determinam um único projeto político, o projeto burguês - neoliberal. É urgente também reexaminar a postura e a prática jornalística. Sem isso, a mentalidade média dos jornalistas „formados pelas também médias‟ universidades, em sua maioria privadas, continuará a reproduzir os interesses da indústria cultural. Na era das assessorias de imprensa e agências de comunicação especializadas em criar notícias, o saber ficou ainda mais distante das redações, foi terceirizado. Contudo, na crise da modernidade, sobra o jornalista como o “último homem” afirma MARCONDES FILHO, que ressalta ainda:

Num quadro – simbolizado mediaticamente pela queda do muro de Berlim – de progressivo desaparecimento dos atores “revolucionários” (indivíduos, classes, grupos), dos sindicatos, dos partidos políticos, da oposição artística, literária, intelectual, das organizações da sociedade civil que constituíam a esfera pública que protestava, que saía às ruas, que reclamava, que se organizava em torno de ideias, ideologias, visões de mundo, o jornalista parece ser o reminiscente, o único porta-voz do social. Por ser ao mesmo tempo mediador e introdutor das novas tecnologias, ele ainda faz as vezes de apresentador do novo mundo (como a televisão, a “tela”, que é, a um só tempo, o último reduto da modernidade e o aparelho de acesso ao novo quadro social). Mas esse império tardio é efêmero, pois na era das tecnologias do virtual é a própria técnica que se coloca como centro das atenções (MARCONDES FILHO, 2009, p.47-48).

Nesse sentido, decifrar a sutileza desse movimento é compreender o jornalismo praticado hoje. Desse esforço e coragem depende a prática de contar histórias, em outras palavras, o jornalismo que deseja romper com os valores impostos pela modernidade falida.

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4.2. Conceito de notícia

Caracteriza-se pelo acontecimento que foge à rotina, como se fosse um desvio, ruptura da sequencia natural dos fatos. Por isso explica-se a tendência do jornalismo em dedicar maior espaço a notícias negativas e sua exploração do sensacionalismo. Para MARCONDES FILHO (1989) e algo "anormal", que provoca uma reação imediata, por ser extraordinário e incomum. Esta busca pelo novo, pelo diferente, faz com que os fatos contingenciais, e sem muita importância histórica, às vezes, acabem tomando o espaço das questões realmente de interesse social.

4.3. A notícia transformada em mercadoria

Em sua obra clássica, O Capital, Karl Marx chamava de fetichismo da mercadoria, o fato de o valor de troca da mercadoria ser mais importante que o seu valor de uso. Um exemplo dessa realidade pode ser visto diariamente na televisão, na publicidade e seus produtos ou nas notícias. No primeiro caso, temos a imposição da necessidade de consumo de um determinado produto que passa a oferecer uma imagem de valor agregada ao bem. É muito mais “impressionante” desfilar com o carro importado e de luxo, que desfilar com o carro popular. Essa imagem de valor, de status, que se apresenta como natural, somente se consolida aos olhos dos indivíduos, em função da insistente emissão de informação para a massa disseminada pelos meios de comunicação. No segundo caso, da notícia, ocorre o mesmo. Na codificação das notícias, a imagem que a mídia constrói da realidade é a imagem patrocinada pelo capital. Por essa razão, do ponto de vista de Habermas, a notícia como mercadoria vai recebendo cada vez mais investimento para melhorar sua aparência e sua vendabilidade. Com efeito, criam- se as manchetes, os destaques, as reportagens, tudo é projetado para dar visibilidade à notícia, ou seja, trabalha-se e investe-se muito mais na capa, no logotipo, nas chamadas de primeira página. Assim, a notícia vira uma máquina de fazer dinheiro. Exceções à parte, a maioria dos jornalistas, como defende HALIMI em seu livro “Os novos cães de Guarda”, articulam-se na atualidade, numa espécie de confraria e se apressam a zelar pelos interesses de seus empregadores. Assim, o

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que se percebe, é que a notícia é um negócio. Ou como diriam ADORNO E HORKHEIMER, a ideologia é o negócio. Em 2008, o país ficou consternado com o “caso Isabela”. A tragédia da menina e da família virou um grande negócio para a mídia. Em nome do dinheiro, da notícia vendável, do sensacionalismo, e da audiência foram esquecidos todos os princípios éticos que “deveriam” nortear o trabalho jornalístico. A população não “reagiu” aos exageros da mídia, ao contrário, durante todo o período de cobertura (exageradamente longo) revelou-se interessada até o final. A notícia transformada em mercadoria, portanto, elimina a possibilidade do indivíduo perceber o contraditório, o grotesco e mais, anula a possibilidade de uma intervenção.

O quarto e último jornalismo, o do fim do século XX, é o jornalismo da era tecnológica, um processo que tem seu início por volta dos anos 70. Aqui se acoplam dois processos. Primeiramente, a expansão da indústria da consciência no plano das estratégias de comunicação e persuasão dentro do noticiário e da informação. É a inflação de comunicados e de materiais de imprensa, que passam a ser fornecidos aos jornais por agentes empresariais e públicos (assessorias de imprensa) e que se misturam e se confundem com a informação jornalística (vinda da reportagem principalmente), depreciando-a „pela overdose‟. Depois, a substituição do agente humano jornalista pelos sistemas de comunicação eletrônica, pelas redes, pelas formas interativas de criação, fornecimento e difusão de informações. São várias fontes igualmente tecnológicas, que recolhem material de todos os lados e produzem notícias.” (MARCONDES FILHO 2000, p. 30).

A matéria-prima do jornalismo é a informação que será transformada em notícia. O que suscita uma questão: a informação que chega aos telespectadores, leitores e ouvintes é mais uma mercadoria da indústria cultural ou a verdade dos fatos? Para Marcondes Filho, “o jornal, o telejornal, cria, a partir da matéria-prima informação, a mercadoria notícia, expondo-a a venda (por meio de manchete) de forma atraente. Sem esses artifícios a mercadoria não vende seu valor de troca não se realiza” (MARCONDES FILHO, 1989, p.25). Para ocupar o tempo de vida das pessoas e penetrar no imaginário delas, a tevê, o jornal, o rádio e mais recentemente a web precisa produzir notícias o tempo todo. Os critérios de seleção e construção das notícias não se mostram para o telespectador. Como qualquer outro produto da indústria cultural, a notícia deve vir embalada com uma aparência sedutora. O seu conteúdo não importa. O telespectador vê e consome o rótulo. É preciso reconhecer que, a notícia sofre a interferência de corporações empresariais. Ou seja, sua importância aumenta quando patrocinada

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pela publicidade. Nesta perspectiva, portanto, a notícia tem valor de troca, de permuta. Daí a impossibilidade de verdade dos fatos. Como afirma BACCEGA (2003, p.107), por sua condição de “espetáculo”, parece que o mais importante na informação passa ser aquilo que ela tem de atração, de entretenimento. Noutros termos, trata-se de entender que a informação tornou-se efetivamente um produto como outro qualquer, que pode ser comprado ou vendido. Partindo dessa premissa, escreve MARCONDES FILHO:

Assim como uma roupa que se pode adquirir em uma loja, assim como uma fruta que se pode obter em uma quitanda, também notícias podem ser compradas. Elas não são somente produtos, como supõe a acepção mais ingênua. Elas são, de fato, “a forma elementar da riqueza no capitalismo” (Marx); são mercadorias. São produzidas para um mercado real e encerram em si a dupla dimensão da mercadoria: o valor de uso e o valor de troca. Ao passar por uma banca de jornais, o indivíduo pode ser atraído para a aquisição de um periódico por força das promessas de satisfação de necessidades ou interesses que essa mercadoria contém. Da mesma forma que uma roupa, um alimento, um objeto de uso pessoal, também o jornal é produzido para a venda. Uma informação pura e simples não é mercadoria. Para tanto é preciso que ela seja transformada em notícia. Um acidente só vira notícia se nele estiver envolvido alguém, que o jornal pretenda destacar, conforme suas intenções, positiva ou negativamente. (...). Para o comprador, o valor de uso realiza-se na aquisição do jornal (MARCONDES FILHO, 1989, p.25).

Ora, sendo a televisão um produto da indústria cultural e a notícia transformada em sua mercadoria de maior valor, claro está, portanto, que não há como negar que a prática jornalística está totalmente subordinada aos ditames mercantilistas ou ideológicos dos proprietários dos meios de informação e seus funcionários de elite. O jornalismo desonesto ou também chamado de marrom sempre existiu e não é um jornalismo isolado desse ou daquele grupo. Vale tudo para vender mais jornal e ter mais audiência. A mídia esvaziada de valores pela indústria cultural exalta o que é fácil, prazeroso, divertido. Vista sob essa ótica, não é possível negar que ela manipula e impede à reflexão. Sem querer incorrer em uma generalização leviana é fato também que hoje a tevê no Brasil é fonte de informação para milhões de brasileiros. Por isso, a massificação da notícia busca o consenso público. Essa forma de notícia tem uma função mediadora entre o receptor e a realidade. Para ADORNO (1995, p.94), “pelo prisma do veículo de comunicação de massa a tarefa que se coloca seria encontrar conteúdos e produzir programas apropriados em seu conteúdo para este veículo, e não impostos ao mesmo a partir do seu exterior”. É pela notícia

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transformada em produto da indústria cultural que se oferece ao telespectador somente aquilo que é interessante. A notícia essencial para a formação do senso-crítico, ou seja, a notícia importante, que faz pensar sobre a sociedade, que promove a práxis, que é entendida como ação transformadora e conhecimento, essa declinou. Hoje o que temos é o “jornalismo mecânico” ou em outros termos, de uma informação violenta. É a forma informativa atual, não há contextualização da notícia para o telespectador. A notícia deve ser rápida, objetiva e simples. São notícias codificadas para o consumidor das grandes cidades, que como a maioria dos indivíduos das sociedades modernas não dispõe de tempo para manter-se “bem” informado. Por isso, o processamento da notícia deve seguir o padrão industrial. Informação acelerada para acompanhar o ritmo frenético da produção fabril. Produzem-se assim as notícias-produtos compatíveis com as possibilidades dos telespectadores. Toda essa trama obedece a um modelo. Nas palavras de COSTA:

A produção da notícia requer, inexoravelmente, algumas variáveis que acusam a impossibilidade dela ser uma expressão objetiva da realidade. Todo fato se expressa pela tensão entre supressão ou destaque. A técnica narrativa derivada do modelo americano, conhecida como pirâmide invertida, representa a separação temporal entre captação informativa e sequencia de exposição, de tal ordem que a organização interna da notícia incorpora a racionalidade técnica presente num sistema que requer agilidade, objetividade, precisão (COSTA, 2001, p.111).

Essa produção industrial da informação nos remete às questões estéticas da codificação da notícia, que não podem ser desprezadas.

No jornalismo, há um ambiente favorável à estetização da violência. Perseguindo o objetivo de ampliar o espectro de receptores, na perspectiva apresentada por Morin (1986), os meios de comunicação buscam a criação de públicos medianos, universais. A massificação da mensagem tem uma correspondência direta com a facilitação do conteúdo. Em outros termos: uma falsa democratização presente na ilusão de que todos podem ter acesso às mesmas mensagens (...). A exploração de crimes, do bizarro, de fatos que mexem com a curiosidade e emoção, acompanhada de narrativas que utilizam os melhores recursos da imagem, expressa bem a possibilidade de esclarecimento pelo acesso à informação jornalística (COSTA, 2001, p.112).

Contraditoriamente, a estética, não essa “estética da violência” dos fatos e acontecimentos cotidianos promovidos pelos meios de comunicação tem outro sentido.

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A estética não se satisfaz com o momentâneo, com o efêmero, com o imprevisto, com o reproduzível; oferece sua constante ao nosso desejo de eternidade, de eterno retorno como forma de participação nas esferas do ideal e da verdade, como teorizou Nietzsche e como Kant já havia proposto, através de uma atitude específica feita de contemplação desinteressada e de finalidade sem fim. Com o inatingível, a estética plasma seu estatuto moral e determina as constantes da sua função que permite que a obra seja ao menos revelada nos meandros que esconde a magia do seu culto (FERRARA, 1986, p.51).

Por fim, a notícia transformada em mercadoria, apenas reporta a versão, a interpretação, que se tenta impor como a realidade para as pessoas, a partir do jogo de poder, de intenções e interesses dos atores que participam ativamente da imprensa.

4.4. A notícia eletrônica: ascensão do audiovisual

No momento em que a imprensa escrita se consolida, a indústria cultural, em ascensão permite comunicar informação através de novos meios de comunicação. Uma nova ordem social, centrada em torno agora da tecnologia eletrônica produz mais uma profunda mudança no modo de vida cotidiano. Através da fotografia, cinema, rádio e televisão pode-se registrar o mundo de uma maneira nova. O impacto dessas novas linguagens promove mudanças significativas nos hábitos culturais sociais. Para MORIN (1967, p. 23) a segunda industrialização, que é a industrialização do espírito se dará no século XX. Século que será marcado pela emergência da Revolução Industrial, do ponto de vista da economia, a produção massiva de bens de consumo e a consolidação de mercados cada vez maiores e interligados promoverá um salto no terreno cultural. Nas palavras de HORKHEIMER (1976) a dominação técnica progressiva se transforma em um meio de oprimir a consciência dos indivíduos. Do ponto de vista cultural, as barreiras de classe social, idades, níveis de educação, acentuavam as diferenças culturais. A imprensa de opinião se diferenciava muito da informação, a imprensa burguesa da popular, a imprensa séria da fácil. A literatura popular estava decididamente estruturada segundo os modelos dos melodramas. A literatura infantil era rosa ou verde, novelas para crianças sabidas ou com grande imaginação. O cinema em ascensão um espetáculo faraônico. Emerge assim um novo tipo de imprensa, cuja característica principal é que

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se dirige a todos. Essa homogeneização terá como norte dominante a temática da juventude, elemento fundamental dessa nova cultura. Os meios de comunicação eletrônicos serão os responsáveis pela disseminação dessa cultura, imperialista (norte-americana) que se estenderá por todo planeta. Neste contexto de mudanças aceleradas, o consumo elevado das mídias eletrônicas terá importância ideológica. O sistema econômico capitalista irá apoiar totalmente o desenvolvimento deste novo sistema comunicativo, pois esse novo sistema irá condicionar a percepção, a sensibilidade e a capacidade de participar dos indivíduos na sociedade. As fronteiras entre os países começam a desaparecer, a informação é o elo entre as culturas. Os meios de comunicação voltados para entreter essa "nova plateia mundial" desenvolvem conteúdos hipnotizantes e transformam-se em meios com imenso poder para modificar as crenças, os valores, os gostos e o comportamento social. A mensagem audiovisual carregada de signos visuais e sonoros (cinema e televisão) traz consigo maior capacidade para manipular a realidade que os meios escritos. Podem criar um mundo ou envolver essa mesma plateia de diversas formas, sem que a mesma consiga perceber tal engodo. A intencionalidade das mensagens fica implícita, e para o grande público desprovido de maior capacidade crítica, tais intenções e conteúdos acabam não sendo percebidos. Nesta perspectiva, TEIXEIRA COELHO destaca algumas características da consolidação desta indústria:

É esse o momento histórico do aparecimento de uma cultura de massa - ou, pelo menos, o momento pré-histórico. É que, de um lado, surgem como grandes instantes históricos desta cultura os períodos marcados pela Era da Eletricidade (fim do século XIX) e pela Era da Eletrônica (a partir da terceira década do século XX) - quando o poder de penetração dos meios de comunicação se torna praticamente irrefreável. E, por outro lado, na medida em que a cultura de massa está ligada ao fenômeno do consumo, o momento da instalação definitiva dessa cultura seria mesmo o século XX, onde o capitalismo organizado (ou monopolista) criará as condições para a efetiva sociedade de consumo cimentada, em ampla medida, por veículos como a TV (COELHO, 1989, p.25).

Paralelamente, este processo de desenvolvimento de aparelhos "modernos" de comunicação foi acompanhado da alfabetização e da universalização da educação. A instituição escolar se consolida como grande responsável pelo ensino da leitura e escritura. Durante vários séculos o monopólio da instrução esteve entregue a essa instituição, que soube como nenhuma outra realizar tal tarefa com competência e eficiência. 94

Entretanto, na medida em que as escolas populares obtinham maior expressão, surgia, com elas, uma concepção popular de educação. Um grande número de pessoas adquiriu a capacidade de leitura e escritura, ou seja, a capacidade de ler e escrever e compreender conteúdos elementares e superficiais, sem, no entanto, serem capazes de fazer uma leitura mais crítica e rigorosa do contexto global ao seu redor. Temos aqui com o surgimento da educação popular um declínio no gosto popular. É importante explicitar que o declínio no gosto popular está diretamente ligado ao declínio dos conteúdos escolares. A educação popular ou ainda a educação das massas é pensada pela classe dominante (burguesia) e pelo Estado (democrático) para ser uma educação em um primeiro momento que iria vencer a barreira da ignorância para transformar os "cidadãos" em indivíduos esclarecidos e "livres". Tal escola chamada de Escola Tradicional falhou no seu propósito, pois muitos estudantes não conseguiram se ajustar a sua metodologia. Era necessário pensar em uma solução para o problema e também em um novo modelo de escola. A chamada Nova Escola, segundo SAVIANI (2006, p. 08), advoga uma pedagogia das diferenças individuais: "Eis a grande descoberta, os homens são essencialmente diferentes; não se repetem, cada indivíduo é único". A pedagogia liberal-burguesa queria uma escola que tornasse o processo educacional objetivo e operacional. Na verdade temos um modelo fabril de escola, ou seja, alunos vocacionados para o trabalho intelectual e liderança e alunos destinados ao trabalho manual e a cargos subalternos. Essa escola utiliza como teoria a pedagogia tecnicista. Para essa teoria os meios de comunicação exercem papel de coadjuvantes ao lado dos educadores. Os aparelhos técnicos como: rádio, TV, vídeo, fitas e mais recentemente computadores e DVDs são inseridos no ambiente escolar sem que professores e alunos em um primeiro momento estejam conscientes do uso dessas ferramentas. Esses recursos são apresentados como estrelas, e farão da escola e do ensino maravilhas. Aqui, novamente o caminho apontado pela educação burguesa refere-se à aquisição de informações que sejam mais eficientes e efetivas, de formação para o trabalho produtivo e não para a formação e emancipação do estudante. É assim fácil perceber que a educação popular irá exercer significativa influencia sobre o gosto popular. Uma escola tecnicista que ensina o elementar de maneira programada não tem tempo para os saberes críticos, elevados, cultos. As ciências humanas ficam em segundo plano, as disciplinas técnicas e exatas são as "temíveis". A interpretação de textos e do mundo, como

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aponta os dados estatísticos dos Ministérios de Educação mundo afora e, em especial, os dados do sistema educativo Latino-Americano, mostram com precisão a fragilidade dessa capacidade. Com efeito, a pedagogia da existência vai ter esse caráter reacionário, isto é, vai contrapor-se ao movimento de libertação da humanidade em seu conjunto, vai legitimar a dominação, legitimar a sujeição, legitimar os privilégios (SAVIANI, 2006). Privilégios que serão acentuados em um mundo orientado cada vez mais por um projeto de modernidade. A maior parte dos programas de rádio, cinema e televisão dedicam-se ao "entretenimento e ao consumo", isso nos obriga aceitar o fato de que tais programas juntamente com a educação popular causam um impacto sobre o gosto popular. A penetração desses conteúdos em todas as esferas da vida social gera conformismo e pouca capacidade para compreender o sentido real dos acontecimentos. Em meados do século XX, a tradição escolar passa a ser ameaçada pela mídia. A escola deixa de ser a única fonte de saber e de informação, perde sua autonomia relativa e começa a competir diretamente primeiro com o rádio, e na sequencia com a televisão. É o momento da explosão da informação e do conhecimento, também do discurso consumista desmascarado, impulsionado pela expansão do capital e da tecnologia. Sem desconsiderar a importância dos meios eletrônicos e sua influência social, é preciso ressaltar, no entanto, que a instituição escolar como instituição responsável pela transmissão do conhecimento e do processo de formação humana será sempre o lugar de compreensão do mundo, da história. Nesse sentido, GOERGEN (2001) é categórico ao defender que:

(...) Uma comunidade escolar que alimenta o propósito de favorecer uma formação ética dos seus alunos não pode simplesmente submeter-se às exigências de um sistema regido pelos princípios neoliberais, mercadológicos e de competitividade que afastam e rivalizam os indivíduos na contramão do sentido ético que é o de congregar e solidarizar. Não defendo aqui um modelo escolar que represente algo como uma “bolha” ética protegida da contaminação do social. Ao contrário, escola e sociedade devem estar intimamente relacionadas, mas não no sentido de que o educativo deva simplesmente colocar-se a serviço do sistema. A educação deve dar-se a partir da realidade sociocultural e econômica, pois é nela que os educandos vivem hoje e irão viver no futuro como profissionais; mas isso não pode ocorrer pelo fomento de uma atitude de condescendência com os traços desumanos, injustos, destrutivos e antiéticos que esta realidade ostenta. O preço que a escola paga pela submissão acrítica aos ditames da razão instrumental é a perda da dimensão ético-política do projeto histórico de emancipação. Para que isso

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ocorra, o aluno precisa ser despertado para os problemas fundamentais do sujeito, da comunidade e do mundo de modo geral (GOERGEN, 2001, p.83)

A história do século XX já não pode ser contada sem a presença da televisão. Neste contexto, qualquer análise sobre a cultura e a sociedade passa necessariamente pelo foco da televisão. Ela é a religião moderna, atua na área dos valores, de formação de consciências, de transmissão de ideologias. Trata-se do meio de comunicação mais poderoso do planeta. Ela produz a sensação de saber-se e sentir-se integrado dentro de uma coletividade. No caso do Brasil, a exemplo de outros países latinos, ela é parte essencial do sistema familiar, é tão valorizada que os telespectadores não imaginam a possibilidade de viver sem ela. Tecnologicamente de ponta, atualizada e, muitas vezes, à frente do que se faz no resto do mundo, a televisão brasileira estruturou-se em condições semelhantes ao poder dos senhores do café. Com suas grandes fazendas e plantações a elite cafeeira decidia sobre o destino do país, ao povo e aos da senzala coube sempre aceitar tais decisões, assim também acontece com os senhores do audiovisual e da informação. Sentados em suas confortáveis poltronas os senhores da mídia decidem diariamente o que milhões de pessoas irão assistir. É pela televisão, ou melhor, pelos telejornais ou ainda através do telejornalismo que milhares de telespectadores brasileiros, diariamente informam-se da realidade social do país. Uma realidade muitas vezes forjada, diferente e contrária a verdade real dos fatos. Logo, o sistema de radiodifusão brasileiro assim como a constituição do Estado brasileiro tem como característica marcante às relações de coronelismo político. A "ideologia do favor" é parte da forma de atuação daqueles que utilizam o mandonismo para manter as camadas populares fora do cenário político. Essa questão é fundamental ao analisarmos a configuração política do cenário das comunicações. Os antigos coronéis políticos transformaram-se em "coronéis eletrônicos”16, que, em lugar da propriedade rural, usam agora a propriedade de

16 A expressão "coronelismo eletrônico" inclui a relação de clientelismo político entre os detentores do poder público e os proprietários de canais e televisão, o que configura uma barreira à diversidade representativa que caracterizaria uma televisão na qual o interesse público deveria ser priorizado em relação aos interesses particulares. Hallin e Papathanassopoulos afirmam que a lógica do clientelismo provoca uma ruptura da autonomia das instituições sociais, mantendo um alinhamento da mídia com interesses partidários ou familiares. A prática de clientelismo entre Estado e meios de comunicação de massa é uma característica parenta desde a formação da imprensa. Em 1861, Karl Marx já denunciava que os jornais londrinos não representavam a opinião popular, mas a voz dos políticos que lhe dariam benefícios. Na verdade, o clientelismo é práxis da esfera política que sequencialmente se insere na comunicação de massa por conta do seu intrínseco caráter estratégico. Assim como a corrupção, o clientelismo é apontado como uma das patologias dos sistemas democráticos (CAPPARELLI, 2005, p.80). 97

estações geradoras e retransmissoras como forma de extensão de seus poderes, (CAPPARELLI, 2005, p.78). O projeto de desenvolvimento econômico-político dos governos militares possibilitou ao país condição para uma industrialização pesada. Ocorreu, então, uma associação entre o Estado e os investimentos das grandes empresas estrangeiras. Isso fez com que: "os militares brasileiros priorizassem alguns setores estratégicos da economia investindo em infraestrutura (...). As telecomunicações estavam entre esses setores estratégicos e foram fortemente privilegiadas" (CAPPARELI, 2005, p.78). Essa forma de industrialização estimulou a urbanização acelerada, o que agravou a situação do desemprego, aumentando a marginalização social e os bolsões de miséria rural e urbana. Foi nesse contexto e beneficiada por essa política de integração nacional que a mais importante emissora de televisão do Brasil, Rede Globo emergiu no cenário nacional, para ser uma aliada em um primeiro momento do governo militar e na sequencia porta-voz das elites políticas, empresarias e dominantes do país. Os problemas da ditadura militar acirram-se com a pressão da classe trabalhadora, com a inflação descontrolada e com o aumento da dívida interna e externa. Era preciso apelar para o clientelismo e para uma política social assistencialista. A Rede Globo será assim um braço poderoso dos militares para a manutenção da ideologia de "ordem e progresso" contra todos aqueles que pudessem oferecer resistência a essa ordem. Com uma programação moderna e com o estabelecimento do "padrão Globo17" de jornalismo, a emissora passou a líder de audiência e de maneira retumbante invadiu os lares dos brasileiros para transformar-se hegemonicamente em referência nacional. Em todos os países, conforme COMPARATO (1991), o sistema de atribuição de canais de televisão funda-se em ato administrativo - de autorização, concessão ou permissão - porque há

17 Na Globo, a telenovela compõe a grade de programação desde 1965, quando da compra da TV Paulista, mas passou a compor um projeto particular, proposto em 1968, por Walter Clark, personagem significativo da história do campo televisivo no Brasil. Esse padrão de televisão denominado, ao longo dos anos, "horário nobre", ou prime- time, permitiu que a Globo consolidasse um modelo de produzir e ver televisão vigente até os dias de hoje; modelo concebido e organizado ao redor de uma ideia aparentemente simples: um telejornal, o Jornal Nacional, enquistado em meio a duas telenovelas, as populares novela das 7 e novela das 8. Atribui-se a esse padrão a possibilidade de se ter fixado, no Brasil, um hábito de ver TV; hábito coletivo de assistir à televisão em família, com ofertas de programações e horários reforçando-se mutuamente: o público em geral, mesmo que dividido por interesses variados, acompanha a primeira telenovela enquanto espera o telejornal e assiste ao telejornal enquanto aguarda a próxima telenovela. Hábito que garantiu à Globo uma histórica fidelidade de público e o aumento gradativo dos índices de audiência, principalmente durante as décadas de 1970 e 1980 (BORELLI, 2005, p. 188.) 98

um espaço limitado a ser administrado pelo Poder Público: o campo de difusão das ondas hertzianas. Até a constituição de 1988, o poder concedente era o Executivo federal, mais precisamente o seu chefe, isto é, o presidente da República; e o ato de concessão não se regulava por critérios objetivos de interesse público. Dessa forma, o presidente dispunha segundo COMPARATO (1991), de um formidável poder de avassalamento das demais forças políticas e econômicas, em benefício próprio. É no contexto apresentado que o Governo de Juscelino Kubitschek, em 1958 irá outorgar a concessão às organizações Globo. Inaugurada em 1965, a TV Globo, viria a constituir uma rede nacional e se transformaria em uma das maiores, mais influentes e poderosas redes de televisão no mundo. Ou seja, ela representa o império das comunicações no Brasil ligado diretamente ao capital privado e à difusão de sua ideologia. Nesse sentido, concordamos com a análise de GOERGEN(2001 p. 54): “A informação televisiva veio acentuar os traços do hedonismo contemporâneo dos desejos individuais. Tudo é apresentado em forma de notícia, rápida, neutra, sem comentários, com ares de amoralidade”. Dessa maneira, a notícia eletrônica é indiscutivelmente o narcótico que logra inculcar nas pessoas um modelo de sociedade altamente individualista.

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CAPÍTULO V A TV ABERTA E SUA IMPORTÂNCIA NO BRASIL

Tradicionalmente a TV aberta no Brasil tem uma importância significativa. Como já apontamos, os brasileiros acreditam mais na mídia que no governo. Dentro desse contexto, não é possível pensar à TV como um simples eletrodoméstico que nos oferece entretenimento e diversão. No Brasil, ela é responsável por parte da realidade social, política e econômica da realidade brasileira. Por isso, para milhões de telespectadores, o telejornalismo oferecido pela TV aberta ocupa um lugar de destaque, sendo a principal fonte de informação. Mesmo com as mudanças tecnológicas provocadas pela chegada da TV Digital, os principais radiodifusores do país continuam desempenhando um papel hegemônico. Como afirma MARCONDES FILHO (2009: 216), o canal líder da TV aberta a TV Globo, conseguiu não apenas conservar sua posição, como conquistar a primeira posição no setor de televisão a pagamento, além de desenvolver ações transnacionais exitosas, afirmação que revela e corrobora a concentração e centralização do poder de mercado das redes que tradicionalmente controlam a informação no país. Esta mesma emissora também é a que atinge a maior quantidade de municípios e domicílios. Ela está presente em 5.470 municípios, ou seja, em 99, 2% dos lares brasileiros. Na sequencia aparece o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) igualmente disponível na quase totalidade dos domicílios, seguidos por Bandeirantes, Record e Rede TV! que oscilam entre 80% e 90%, segundo dados do Grupo de Mídia de São Paulo em 2006. Entre os grupos que ocupam os primeiros lugares, não há disparidades muito substanciais entre a quantidade de geradoras e retransmissoras. A grande diferença ocorre na capacidade de conquistar os telespectadores. A Globo sai na frente com uma programação que privilegia o gênero telejornalístico e a teledramartugia. Veja o quadro a seguir:

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Geradoras + Redes Propriedade Geradoras retransmissoras

Globo Família Marinho 121 121

Sistema Brasileiro de Família Abravanel 91 107 Televisão

Rede Record de Televisão Bispo Edir Macedo 76 98

Bandeirantes Família Saad 43 79

Rede TV! Amílcare Dalevo Jr 41 ND

Central Nacional de Família Martinez 4 ND Televisão (CNT)

TV Gazeta São Paulo Fundação Cásper Libero 1 27

Music Television (MTV) Família Civita 9 55

Governo federal e estaduais, Educativa 20 - universidades e fundações

Total 406 - Quadro 1: Principais redes de TV aberta do país ND: Não disponível Obs: Geradoras são emissoras comercializáveis localmente. Fonte: Grupo de Mídia de São Paulo. Mídia dados 2006. São Paulo, 2006, p.162; autores.

O próximo quadro não deixa dúvida do poder da TV aberta no Brasil. Os números mostram que a Rede Globo de televisão ainda desfruta do primeiro lugar absoluto nos índices de audiência, revelam também, que sua audiência nacional média, no período das 7 às 24 horas, gira em torno dos 50% dos telespectadores, bem abaixo da média histórica vigente até a metade dos anos de 1990. Como se pode notar, seus índices caíram, de forma bastante consistente, entre 1995, quando apresentava 65% da audiência no período, e 2001, o ponto mais baixo na curva (49%), com pequenas oscilações. A partir de 2002, ensaia um movimento de recuperação, chegando a 57% em 2004, mas em 2005 nota-se uma nova queda como afirma BOLANHO & BRITTOS (2009, p.218). Se este quadro será modificado nos próximos anos, ainda é cedo para saber. O fato é que a emissora vem mantendo a liderança histórica. Por outro lado, essa liderança 101

já não é tão confortável como no passado. De qualquer forma, ela segue detendo mais da metade da audiência diária se comparada com as outras emissoras. É um poder absurdo para um país continental como o Brasil. Veja os números no quadro abaixo:

Quadro 2: Participação das maiores redes brasileiras na audiência nacional das 7 às 24 horas (%)

*Até metade de 1999, a Rede TV! chamava-se Manchete e era controlada pela família Bloch. **O percentual da CNT, a partir de 2000, foi agregado ao indicador outras, correspondente às pequenas emissoras independentes e às educativas. Nem sempre os números foram 100%. Fontes: Grupo de Mídia de São Paulo. Mídia dados 1998, p.86; Mídia dados 2000, p.115; Mídia dados 2004, p.159; Mídia dados 2006, p.163.

5.1. Telejornalismo: início

O telejornalismo nasceu com a própria televisão brasileira. Foi no dia 20 de setembro de 1950, data da inauguração do antigo canal 3 de São Paulo - a PRF-3 TV. Implantada por Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, dono do império de comunicação Diários e Emissoras Associados na primeira metade do século XX, o conceito de telejornalismo era o de que: não é a única coisa séria na tevê, mas a mais séria. O primeiro telejornal chamava-se "Imagens do Dia" e ficou no ar durante três anos sob a produção e apresentação de Ruy Rezende. Como observa SAMPAIO (1971), o telejornalismo brasileiro vem experimentando mudanças sensacionais:

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estruturais, políticas, culturais e tecnológicas. No entanto, nenhuma delas pôde evitar o sensacionalismo, a competição e a coleta de informações a qualquer preço.

Dessa forma, por mais que o telejornalismo seja enquanto gênero, uma importante peça na montagem da grade de programação das emissoras de televisão, não por acaso, como afirma Marcondes Filho (1989) no jornal de televisão só há fragmentos e peças soltas. Isso significa dizer que existe uma uniformidade na elaboração da notícia televisiva. È justamente essa uniformidade na feitura da notícia, caracterizada pela fragmentação da realidade, que produz grande atração para o telespectador. Dele não é exigido nenhum esforço de compreensão. O noticiário audiovisual é na verdade, um anestésico que tranquiliza e acalma ou apenas um exaltador dos ânimos. Cabe ao telejornalismo, construir simbolicamente, a atualidade imediata, para que os temas dominantes do cenário nacional sejam pauta de discussão para todo o país.

Recentemente, o Brasil parou para comemorar a conquista do direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Na verdade, não foi o país que parou. Os telejornais através do poder de manipulação das imagens e mensagens chamaram toda nação para festa arquitetada no dia dois de outubro de 2009 no Rio de Janeiro, sede dos jogos. A força das imagens da festa carioca e do filme belíssimo, (justiça seja feita) do cineasta Fernando Meirelles, mobilizou em questão de segundos os brasileiros. Movidos pelas chamadas entusiasmadas dos apresentadores de TV, pela emoção do presidente Lula e demais autoridades, no instante do anúncio do país vencedor, tinha- se a impressão de que já estávamos vivendo o momento da abertura dos jogos. Espetáculo televisivo e gratificação sensorial, exemplo de jornalismo de má qualidade. Questionamentos sobre as condições reais do país para sediar o evento de tamanha dimensão e os benefícios para o povo, nem sequer foram mencionados pelos telejornais. Resta assim apenas a catarse.

5.2. A linguagem do telejornal

A linguagem do telejornal é a linguagem da TV, com algumas poucas singularidades. Por isso, como diz MARCONDES FILHO (2009), a máxima da TV é a de que não pode existir nada de complexo, complicado, “difícil”, que dê trabalho ao telespectador. Impossível pensar a vida e o mundo sem o noticiário da TV. Ele é um marco porque registra a história e ao mesmo tempo, uma conquista do homem do século XX. A linguagem é seu instrumento. Com ela conta

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histórias, registra os fatos, emociona, comunica e manipula os acontecimentos. A sedução que a linguagem exerce sobre o homem existe desde sempre. Tal fascínio pode ser observado na literatura, nas artes, nas lendas, nos mitos, na filosofia e mais recentemente na televisão. A linguagem na televisão, entretanto, depende muito da imagem. Há, portanto, um sem fim de sinais que expressa inovação, ilusão e, sobretudo, emoção. Em As tramas da rede, ADAUTO NOVAES (1991, p. 9) diz: “que a natureza da televisão impede ao intelectual e ao observador comum qualquer possibilidade de compará-la com outros momentos e outras formas de expressão cultural”. Segundo ele, exige, pois, a invenção de outros meios de análise: isolar o artifício, conhecer o seu sistema material, aprender a ver e a ouvir, distinguir o que pode arruinar valores e sentimentos. Através dos noticiários televisivos a informação vira mensagem audiovisual. Trata-se da linguagem do telejornal que iremos verificar a seguir. No que diz respeito à linguagem televisiva é importante destacar primeiro, que cada país desenvolve uma linguagem própria de televisão. O desenvolvimento dessa linguagem, entretanto, dependerá da cultura, da memória e das outras formas de comunicação social desse país. No caso do Brasil, a linguagem televisiva não contou com uma tradição cultural na sua constituição. Ela apropriou-se de formas de expressão popular, recebeu influência direta do circo e do rádio (MARCONDES FILHO, 1988). No caso dos telejornais, o improviso e as dificuldades técnicas marcaram o início das transmissões e seu formato. O que se fazia era na verdade um rádio com imagens. Com o passar do tempo, a linguagem foi sendo aprimorada e tornou-se cada vez mais sofisticada. Texto e imagem bem articulados fizeram surgir um novo modelo de telejornal, mais dinâmico e profissional. Em meio a todo esse processo, o telejornalismo assume o papel de tratar a realidade por meio de uma abordagem puramente objetiva, técnica e estética. O compromisso com o social dá lugar ao compromisso com a chamada atualidade, que tem como característica a superficialidade, não havendo assim uma preocupação com o conteúdo da notícia e a apuração criteriosa dos fatos. Outro dado importante sobre o telejornal no Brasil é que para 56% dos brasileiros, o telejornalismo é a principal fonte de informação. Segundo pesquisa da agência de notícias Reuters, da Rede Britânica BBC e dos Media Centre Poll da Globescan que fizeram o levantamento em dez países em 2006. A pesquisa também apontou que no Brasil, a mídia é mais

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confiável que o governo. Notícia que foi manchete tanto no Jornal o Globo como no telejornal noturno do mesmo grupo, Jornal da Globo no mesmo ano. Não por acaso foi noticiada tal pesquisa. De alguma maneira a mídia eletrônica passou a assumir a posse da verdade e só é crível e respeitável o que nela é veiculado ou está inserido (VICCHIATTI, 2005). Na verdade, mais uma oportunidade para reforçar a importância da mídia e, porque não dizer, seu poder. Quer seja quer não, o jornalismo é um quarto poder que, sobretudo devido ao acesso habitual às fontes oficiais, sustenta o poder instituído e o status quo (TRAQUINA, 2005). O exemplo recente desse poder no Brasil pôde ser constatado na construção da “imagem” do ex-presidente da república, Fernando Collor de Melo. De um lado, os homens de marketing político trabalhando para transformar Collor em salvador da pátria e do outro, as emissoras de tevê criando histórias sensacionais sobre o nordestino que fizeram crer o povo. Dessa forma, o telejornal é hoje a grande arena do Brasil. Como arena, o telejornal apresenta e desfila os grandes temas nacionais. É preciso salientar ainda que com sua linguagem cada vez mais atraente, os telejornais cumprem uma função de intervenção no mundo, através de palavras, sons e, sobretudo, de imagens. Todo esse processo se produz como assinala VIZEU, (2008) num campo complexo de construção, desconstrução, significação e ressignificação de sentidos. A informação jornalística, parte integrante da lógica sistêmica da indústria cultural, diz Costa, coloca-se enquanto instância questionável do esclarecimento da realidade (COSTA, 2002, p. 189). De acordo com FICHER (2003), não existe quase nenhum programa de TV que não tenha primeiramente existido sob a forma de palavra escrita. Dessa forma, quais seriam, então, as prerrogativas da linguagem do telejornal? A linguagem do telejornal é muito parecida com a linguagem falada, uma de suas características mais marcantes. Ela tem como base a linguagem verbal, mais utiliza a imagem e recursos técnicos para a construção do seu discurso. De acordo com ECO (2001, p. 374), a linguagem de televisão resulta da combinação de três códigos: o icônico, o linguístico e o sonoro. Por isso, o telejornal procura usar uma linguagem verbal que seja compreensível para todos os indivíduos, independente de seu nível de instrução.

Malgrado as variações locais por especificidades culturais ou linguísticas e por diferenças de suporte econômico, o telejornal se constrói da mesma maneira, se endereça de forma semelhante ao telespectador, fala sempre no mesmo tom de voz e utiliza o mesmo repertório de imagens sob qualquer regime político, sob qualquer modelo de tutela institucional (privado ou público), sob

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qualquer patamar de progresso cultural ou econômico (MACHADO 2003, p.104).

Daí a padronização da linguagem em quase todo o mundo. Ao mesmo tempo, de acordo com PATERNOSTRO (1991), a linguagem do telejornal é a busca do coloquial e é também determinada pelo universo cultural do público. A questão da linguagem é assim colocada por ela:

A busca do coloquial consiste, principalmente, na necessidade de se encontrar um nível comum de entendimento para a mensagem que se vai transmitir. Quanto mais palavras (...) forem familiares ao telespectador, maior será o grau de comunicação. Uma mensagem com um texto simples tem capacidade de atingir um maior público heterogêneo (classes sociais, instrução e idades diferentes). (PATERNOSTRO, 1991, p.55).

Dessa forma, o estilo da narrativa do telejornal busca uma uniformidade naquilo que é escrito para ser lido, objetivando a compreensão imediata de todos os telespectadores sem nenhum tipo de alfabetização. Como ressalta PRETTI (1991, p. 234), no telejornalismo, pode-se notar o flagrante contraste entre esse estilo lido e a naturalidade da fala, quando se observam os breves depoimentos colhidos de improviso, que escapam do implacável corte do trabalho final de edição. Acontece que o texto lido nos telejornais é cuidadosamente produzido. Trata-se de construir uma narrativa de impacto, com o objetivo de chamar o telespectador para um diálogo com a notícia. É preciso ter em conta também, que a imagem e a voz do âncora de telejornal são essenciais para que ocorra o envolvimento da audiência. Atento a essa realidade, Costa diz que

A rigor, a definição de notícia está afeta aos princípios de seleção e exclusão. Ressaltar ou desconsiderar aspectos da realidade, transformados em objeto noticioso, depende de muitos fatores, entre eles, a subjetividade do profissional, o seu domínio do tema e a sua capacidade de reelaborar o fato. A restrição decorre também do tempo/espaço industrial necessário para a informação ser veiculada, tornando, por exemplo, a exposição da notícia na televisão altamente fragmentada, descontínua (COSTA, 2002, p. 146).

Assim, a codificação da linguagem do jornal de tevê reúne os três códigos de comunicação para enviar uma mensagem ao telespectador que será sempre uma representação da realidade e dos fatos. BACCEGA lembra alguns efeitos nocivos que não saltam à vista do telespectador sobre essa questão:

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Hoje, o mundo é trazido até o horizonte de nossa percepção, até o universo de nosso conhecimento. Como não podemos estar presentes em todos os acontecimentos, em todos os lugares, temos que confiar nos relatos. O mundo que nos é trazido pelos relatos, que assim conhecemos e a partir do qual refletimos, é um mundo que nos chega editado, ou seja, ele é redesenhado num trajeto que passa por centenas, às vezes milhares de mediações, até que se manifeste no rádio, na televisão, no jornal. São essas mediações – instituições e pessoas – que selecionam o que vamos ouvir ver ou ler; que fazem a montagem do mundo que conhecemos (BACCEGA 2005, p.223).

Na construção das notícias, os jornalistas utilizam um repertório de informações ideológicas que acabam por acrescentar significados, sentidos e valor aos fatos noticiados. É uma tentativa de, no caos reinante do mundo contemporâneo, de orientar o receptor para aquilo que seria o mais importante de se saber, de se estar informado. Por isso, o tempo de concentração do homem moderno, hoje é considerado um tempo publicitário. Um tempo maior do que um comercial de televisão não é suportável. Dessa forma, o noticiário de tevê apresenta diversos assuntos, sem conexão dentro de um espaço de tempo rápido. Uma avalanche de informação fragmentada, com o único objetivo de não fazer refletir sobre os fatos. Ou melhor, perceber a realidade. TURCKE (2004), em interessante artigo, diz que o percebido restringe-se ao que se sobressai. Por isso, a linguagem do telejornal precisa sobressair-se. Na verdade, provocar uma reação no receptor, geralmente acompanhada de expectativa, emoção, comoção e euforia. Nas palavras de HOINEFF:

A televisão aberta brasileira considera natural que quase cem milhões de pessoas estejam autenticamente pensando em ver a mesma coisa ao mesmo tempo, não importa se o telespectador esteja no centro de São Paulo ou no interior da floresta amazônica, não importa se ele seja um grande empresário ou sem-terra, um intelectual ou um analfabeto. É difícil, conscientemente, imaginar absurdo maior. Mas a televisão aberta alimenta-se há quase cinqüenta anos, com serena naturalidade, de tal pressuposto (HOINEFF, 1996, p.110).

Pela hipótese da agenda-setting formulada pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann e pelo norte-americano Maxwell MacCombs, o que é discutido pela sociedade foi pré-determinado pelos meios de comunicação, sem intenção persuasória. Em outras palavras, a hipótese da agenda-setting defende que

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Em consequência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público é ciente ou ignora, dá atenção ou descuida, enfatiza ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas tendem a incluir ou excluir dos próprios conhecimentos o que a mídia inclui ou exclui do próprio conteúdo. Além disso, o público tende a conferir ao que ele inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos meios de comunicação de massa aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas (WOLF 2003, p.143).

A ideia de uma agenda e de uma lista organizada pelos jornalistas é um procedimento que visa modelar a realidade aos interesses das grandes redes de comunicação. Relatório recente de uma Comissão Especial da ONU adverte que 85% das notícias que circulam no mundo são geradas pelos EUA. A agência de notícias Reuters, uma das mais importantes do planeta, com escritórios em 94 países, envia informações atualizadas oito mil vezes por segundo para os seus 511 mil usuários. É inegável a interferência política e ideológica da mídia. Assim, devemos ter o cuidado de observar o padrão da agenda, o que nela se coloca e qual o efeito do material selecionado. São questões sobre fontes de informação e audiência. Atualmente, o jornalista mal consegue dar conta de extrair da grande massa de informação produzida no mundo, àquelas que interessam à sua comunidade. Além disso, as notícias selecionadas pelos jornalistas são das mesmas agências de notícias. Diariamente é feita uma sondagem para verificar quais os assuntos mais relevantes a serem noticiados. Nas palavras de Vicchiatti

Também há uma tendência à hierarquização da notícia por parte do receptor: o que é veiculado na TV teria maior importância que o veiculado no rádio; a qualidade gráfica aplicada nos impressos garantiria maior credibilidade e respeito; e assim por diante. A linguagem da televisão rápida e superficial, com muitos cortes de imagens e texto – vai se impondo de tal maneira, que os impressos têm mostrado a triste tendência da superficialidade. Também contribui para essa superficialidade, a pressa que as empresas impõem aos profissionais, numa vã tentativa de competição com um meio tecnologicamente (a TV) muito mais avançado (VICCHIATTI, 2005, p.101).

MARCONDES FILHO (1988) lembra ainda, que o trabalho do telejornal acaba sendo o de recolher as notícias da realidade e criar uma nova realidade com as notícias recolhidas. Complementa afirmando que o telejornal só extrai da matéria a parte que lhe interessa. O editor decide o enfoque que lhe dará, quanto tempo gastará para sua difusão, que manchete utilizará. Uma pista para compreendermos que a construção da linguagem do telejornal esbarra nas posições políticas do emissor da notícia, no repertório cultural do operário da notícia (o 108

jornalista) e em suas intenções e interesses enquanto empresa. Quanto a isso MARCONDES FILHO diz ainda que:

(...) Percebe-se que a função do telejornal não é a de noticiar nem divulgar fatos que interessem à sociedade, mas de modelá-los, esticá-los ou comprimi- los, reproduzindo assim a vida política e social conforme os critérios ideológicos e particulares de jornalistas, proprietários ou patrocinadores. É também a de criar outro mundo, outra história que pouco tem que ver com o mundo real, pois sofre toda uma série de mutilações. O telejornalismo cria, portanto, uma outra natureza, uma segunda natureza, que se impõe a milhões de lares no país, como se fosse a verdade e não aquela do mundo real (MARCONDES FILHO, 1988, p. 56).

Não há por outro lado, uma posição crítica por parte da maioria dos telespectadores, no que diz respeito a essa construção do mundo. Diante da tela de LCD, o telespectador quer interagir cada vez mais com caixa mágica. No mundo inteiro, o telejornal é um gênero da televisão de referência. Os telespectadores não querem os fatos como eles são, mas querem sentar em suas confortáveis poltronas e receber informação. A literatura e as pesquisas mostram que a televisão, assim como o telejornal, também significa para o homem moderno, um “totem”, uma droga contra a realidade e em favor da ilusão de paz e tranquilidade. Parece, então, seguindo a perspectiva de MARCONDES FILHO (1988) que no noticiário de tevê só aparece o que é belo, feliz. Isso não é verdade. O cotidiano envolve crimes, escândalos, ódios, tristezas, tensões, conflitos e insegurança. Grosso modo, podemos dizer que a linguagem do telejornal deveria ressaltar as informações essenciais e não suprimi-las. Trata-se de trazer o maior número de detalhes e explicações para que as notícias sejam compreendidas e não apenas comentadas. O centro da discussão, nesse tópico sobre a linguagem do telejornal é, sem dúvida, seu caráter formativo e noticioso. É através do telejornal que podemos assistir, por exemplo, a crise no Senado, acompanhar os números do desemprego no Brasil e as notícias sobre a educação e, ao mesmo tempo, conversar ao telefone, usar o computador, ouvir música etc. Então, estarão atentos os telespectadores para os fatos noticiados? É exatamente por isso que a linguagem do telejornal é codificada para que quase nada seja assimilado. Tal linguagem funda-se como afirma FISCHER (2003), justamente nessa dispersão, e busca de todas as formas responder a ela, a fim de capturar atenções e emoções. Ademais, por causa dessa tendência a provocar uma atenção tão dispersa, tão vaga, a palavra no telejornalismo 109

tem de ser a mais clara possível. Como no rádio, o telespectador precisa ser cooptado de imediato, caso contrário, todo o esforço de codificação da informação estará perdido. Por outro lado, o envio da mensagem sem ruído, não dá garantias de que o telespectador foi capaz de retê-la ou capaz de pensar. O essencial seria fazê-lo compreender a notícia em seu contexto histórico e social. MARCONDES FILHO escreve:

O telejornalismo é, portanto, um gênero de televisão que transmite algo muito diferente do que a priori se propõe. Onde deveria haver informação, há encenação; onde deveria haver crítica, bagatelização; onde deveria haver utilidade púbica, há comérco (MARCONDES FILHO, 1988, p.59).

Essa crítica torna-se necessária porque coloca em evidência o desvio ético desse gênero em nome dos ditames mercantilistas. Prova disso é o atual estágio do telejornal, cada vez mais próximo do gênero de ficção e das coberturas que enaltecem os modelos reacionários e conservadores. Eugênio Bucci completa:

É por isso que, hoje, o telejornalismo no Brasil dificilmente pode ser compreendido como resultado de um esforço autêntico pela busca da verdade. Há exceções por certo. Há emissoras de TV pública que desafinam do coro comercial das grandes redes. Há momentos ou coberturas de excelência jornalística mesmo nas redes comerciais – mas não constituem a regra. O negócio do telejornalismo não é o jornalismo. Seu negócio é outro. Seu negócio não é sequer a veiculação de conteúdos. As grandes redes de televisão aberta têm como negócio a atração dos olhares da massa para depois vendê-los aos anunciantes (BUCCI, E, 2004, p. 130).

Por isso, torna-se tarefa importante refletir e avaliar a linguagem do telejornal e sua real influência. O telejornal é uma grande janela para realidade. No entanto, mostra a realidade de maneira distorcida, alterando nossa percepção sobre ela. Apesar disso, como já foi apontado, o telespectador brasileiro informa-se cada vez mais pela mídia eletrônica. Ele acredita na credibilidade e seriedade dos telejornais. Com efeito, a literatura existente sobre o assunto entre outros temas, continua questionando a linguagem do telejornal e a construção da notícia, sobretudo, seu papel jornalístico enquanto gênero comprometido com um serviço de interesse público e responsabilidade social. O ponto fulcral é saber que o telejornal ajuda a construir uma realidade outra, diretamente relacionada aos sistemas simbólicos. A propósito diz MARCONDES FILHO:

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O elemento vivo das pessoas, seu “motor”, aquilo que as faz ter vontade de viver, não está no real, no cotidiano nem no mundo do trabalho e sim no imaginário. E a televisão é a forma eletrônica mais desenvolvida de dinamizar esse imaginário (MARCONDES FILHO, 1988, p.11).

É pelo imaginário que os sistemas de valores são reforçados. O poder eficiente da televisão como instrumento de penetração cultural baseia-se em grande parte nessa capacidade de criação de mitos. A invasão da televisão em nossas casas não se dá apenas de maneira material. Ela invade também o mundo secreto da fantasia, dos fetiches. A TV permite copiar papéis e sonhar com o impossível. Maria Rita Kehl explica como isso é possível.

Era uma vez um menino excepcionalmente talentoso para o futebol. Ele teve uma rápida ascensão, de craque do seu time para craque da seleção brasileira, daí para herói nacional, de heróis a símbolo sexual e de símbolo sexual a garoto propaganda de todos os produtos imagináveis, associados ou não ao esporte. Sua consagração veio quando, em plena Copa do Mundo de 1998, foi transformado em stand de vendas da Nike. O país passou a comentar, fascinado, menos a qualidade de seu futebol do que o valor de seu contrato com a multinacional (...). Vista por outro ângulo, essa história poderia ser contada assim: era uma vez um jogador de futebol que foi transformado em imagem. Essa imagem emitiu para o mundo todo fulgurações de fetiche, mas o jogador desapareceu atrás dela (KEHL, 2004, p.63).

Tanto pelas notícias do telejornal como pela ficção reforçam-se os mitos. Para MARCONDES FILHO (1988, p.14), é falsa, portanto, a tese de que somente as produções no sistema imaginário são relaxantes assim como a recíproca, a de que estas só são relaxantes. A cultura de massas se torna o grande fornecedor dos mitos, que são como aponta, MORIN (1997), os condutores do lazer, da felicidade, do amor. O movimento que a impulsiona viaja do real para o imaginário e vice-versa. A linguagem do telejornal busca dessa forma integrar os indivíduos e incentivá-los a todo instante a passividade, a acomodação e a apatia. Notícias atraentes, cada vez mais fragmentadas e entretenimento, eis a fórmula de sucesso dos noticiários de televisão na atualidade. Ou em uma única palavra, espetáculo.

Hoje em dia as pessoas não questionam se o que o jornal está mostrando é verdadeiro ou não. Mais importante que isso, o espetáculo-telejornal tem de ser instigante, tem de fixar a audiência. Não se pode dizer que as notícias que são apresentadas são falsas, isso também não é correto. São acontecimentos reais, casos efetivamente ocorridos, situações que geram interesse das agências, dos jornalistas ou de pessoas comuns que resolveram denunciar. (...) A televisão olha esses fatos de uma perspectiva estética, ela os traduz em sua linguagem. E 111

o que significa isso? Ela cria em torno deles um documento, uma notícia, uma matéria adaptando-os ao seu modo de repassar o mundo (MARCONDES FILHO, 2009, p.84).

Em uma análise mais profunda, o espetáculo no telejornal tem que mexer com as emoções dos telespectadores, sensibilizar. Por isso como ressalta Umberto Eco, as lágrimas são mais importantes que a verdade na TV. Como visto anteriormente, o telejornal é constituído de imagens interessantes, que sejam atraentes e que tirem o público da monotonia. As matérias, portanto, devem transmitir a aflição, a desolação o medo; mas também imagens de luta, generosidade, trabalho e alegria. O importante é prender o telespectador. A cena da vida real é um elemento decisivo para reter o telespectador. Por outro lado, qualquer imagem não cabe no telejornal. É preciso insistir no poder de ligação, do fazer sentir, do envolvimento da TV. Segundo MARCONDES FILHO (2009), o telespectador busca na TV sentir as mesmas emoções que ele gostaria de poder viver na vida real, presenciando a coisa. Toda vez que a TV lhe proporciona isso, ou seja, quando ela o faz chegar às lágrimas, ele sente internamente um conforto, o de ter participado vivamente do acontecimento. Tanto é assim que isso lhe dá um valor de verdade e de autenticidade. Ora, ele pensa, se eu senti é porque a coisa me tocou como uma vivência real. Claro está, que ele, o telespectador, não percebe e não sabe que as emoções são manipuláveis e nisso a indústria do cinema ensinou muito à TV. Dessa forma, ressalta Marcondes Filho “o real tem de se moldar aos modelos da ficção para ser telejornalismo. Ele ainda reflete sobre a perspectiva técnica da produção de emoções.

(...) A produção de emoções e envolvimento é uma questão técnica: pelo tempo dispensado às imagens, pela lentidão das cenas, pelo tom sério do narrador em off, pela música, eu posso fazer toda uma narração se derramar em lágrimas mesmo que o fato não seja para tanto (MARCONDES FILHO, 2009, p.86).

Em nível global, o telejornalismo substitui a verdade pela emoção. Os fatos são vistos através de uma perspectiva estética, ou seja, a TV traduz essa perspectiva em sua linguagem. Isso porque, o enfoque da notícia, de uma matéria é adaptado ao seu modo de interpretar o mundo. Logo, a angulação da câmera, os zooms, a posição do repórter em relação ao cinegrafista, os entrevistados e também os offs, tudo é feito numa linguagem-padrão exaustivamente copiada do

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manual de redação e repetida. Só depois dessa rotina, os fatos podem ser expostos, ou se tornarão telejornalísticos.

5.3. Telejornalismo: do papel para tela

Como o jornalismo impresso, telejornalismo é informação e prestação de serviço. Captura de imagens e sons, seleção de imagens, construção de textos e edição dos fatos. A questão central é sempre a mesma: saber se esta ou aquela informação despertará mais ou menos interesse do público alvo, e a partir disto, fazer a escolha do que vai para o ar. A diferença é que no telejornal, o tempo da notícia é crucial. Os jornalistas vivem sob a tirania do fator tempo, o desafio diário é elaborar um telejornal orientado para um determinado horário e com um determinado tempo. Há um ritmo a seguir, para que os acontecimentos virem notícia.

No que se refere ao ritmo, as notícias na TV passam em processo rápido mas não como nos antigos filmes mudos. Nestes, ocorre uma diferença de velocidade semelhante à técnica de reduzir a quantidade de quadros por segundo na filmagem ou no projetor. O ritmo rápido da TV é diferente: a troca ligeira de planos – como na publicidade – produz um “efeito de aceleração”, não captável de imediato pela percepção, mas exige inconscientemente a fixação em minicenas, em minerrelatos, construindo narrativas rápidas e em tempo recorde. (...) Mas há algo de podre na eleição do rápido como categoria central do telejornalismo. Paul Virilio acredita que o imediato seja uma nova forma de dominação, pois dificilmente o rápido poderá ser democratizado. “A urgência poderá assassinar a democracia”, diz ele, atribuindo à compulsão ao ligeiro, instantâneo, imediato, a mesma tendência antes atribuída ao poder único, à autocracia: a seleção natural não dos melhores, não dos mais capazes, mas dos mais rápidos, segregando automaticamente os mais lentos, os menos competitivos, os mais reflexivos (MARCONDES FILHO, 2009, p.81).

O fato é que a lógica da velocidade está diretamente, tanto relacionada à rapidez com que cada emissora traz um fato ao público quanto ao ritmo de apresentação das notícias. O famoso “furo” no jargão jornalístico perdeu completamente o sentido. Antigamente dar um furo significava sair na frente com uma matéria bombástica que fosse relevante para o país. Na atualidade, um tema não é bom ou importante pela sua qualidade, mas é bom se for apresentado antes que os outros. Podemos citar como exemplo, o caso do Senador da República Eduardo Suplicy que foi convidado por uma repórter de TV a vestir uma cueca vermelha em pleno Congresso Nacional. A notícia se alastrou rapidamente, mas primeiro foi vista na emissora da 113

repórter que ganhou mais notoriedade ao mostrar o senador de calção vermelha, claro, em cima do terno. Qual a importância dessa notícia para a Nação? Nenhuma. Por isso, “é preciso notar que o rápido é sempre perigoso e pode facilmente levar a consequências desastrosas”, completa MARCONDES FILHO (2009). O citado senador quase foi processado por falta de decoro parlamentar, mas não passou do quase. Na verdade, o critério do imediato no telejornal pode levar a perigos maiores. Isso ocorre em função da ruptura com uma das regras mais importantes do jornalismo: a checagem e verificação dos fatos. Sem essa responsabilidade e disciplina temos ações marcadas somente pela reação espontânea, precipitada, o que pode levar a equívocos, a juízos prematuros e a grandes erros de cobertura. No Brasil, os casos mais famosos dessa falta de disciplina na cobertura se deram com a Escola Base18 e Bar Bodega19. No moderno telejornalismo evitam-se palavras complicadas de se falar. São necessários textos atraentes com palavras de fácil assimilação e expressões que marquem o receptor. Os textos devem ser preferencialmente curtos, sem sofisticação, abrindo caminho até o telespectador sem criar ruídos. No telejornal, a cenografia e aparência dos apresentadores constituem elemento importante da narrativa, dando „credibilidade‟ e beleza ao gênero. A iluminação e a trilha sonora são elementos essenciais para o clima do telejornal. Os enquadramentos e movimentos de câmera orientam o olhar do telespectador para o que deve ser visto e como deve ser visto. A edição dos fatos determina o ritmo da narrativa, seus cortes e planos, recortam a realidade e dão equilíbrio para a reportagem.

18 Em março de 1994, vários órgãos da imprensa publicaram uma série reportagens sobre seis pessoas que estariam envolvidas no abuso sexual de crianças, todas alunas da Escola Base, localizada no bairro da Aclimação, na capital. Os seis acusados eram os donos da escola Ichshiro Shimada e Maria Aparecida Shimada; os funcionários deles, Maurício e Paula Monteiro de Alvarenga; além de um casal de pais, Saulo da Costa Nunes e Mara Cristina França. A divulgação do caso levou à depredação e saque da escola. Os donos da escola chegaram a ser presos. No entanto, o inquérito policial foi arquivado por falta de provas. Não havia qualquer indício de que a denúncia tivesse fundamento. 19 O crime chocou o País, pela futilidade dos criminosos ao assassinarem duas pessoas inocentes durante o assalto ao Bar Bodega, bem como, pela maneira em que se deu a investigação do caso pela Polícia Judiciária – Polícia Civil do Estado de São Paulo, contrariando todas as garantias constitucionais prevista à pessoa humana, que no caso, 9(nove) jovens, entre eles alguns menores, os quais foram alvos de confissões brutais, “adquiridas” sob torturas, espancamentos, choques elétricos, e toda forma de agressão.

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A televisão é uma espécie de linha de montagem mental. Ela trabalha sob um ritmo contínuo e sem parada, como um tique-taque de um relógio, exigindo por cada segundo que passa uma nova cena, uma nova cara, uma nova frase, um novo movimento. Ditadura massacrante de um movimento regular e interminável, ela é o aprimoramento da nossa escravidão ao relógio. (...) Cada segundo, especialmente nos horários e programas de maior audiência, são altamente valorizados. E nada deve se perder. Por isso a marcação, o compasso de cada pausa, de casa notícia, de cada entrevista (MARCONDES FILHO, 2009, p.87).

Por último e não menos significativo, a interpretação dos fatos pelos apresentadores, que representam no momento do exercício da transmissão da informação um personagem. Uso o termo apresentadores para designar jornalistas que são âncoras de telejornais e não locutores como Cid Moreira, por exemplo. Hoje tais profissionais foram alçados à categoria de „estrelas‟. A reverência aos apresentadores pode ser notada através dos inúmeros convites para revistas e programas de TV que tratam da vida das celebridades, ou seja, das estrelas. Uma nova tendência que coloca os apresentadores, não mais como os que buscam a informação, mas aqueles que se transformaram na própria notícia. O conteúdo produzido pelos telejornais brasileiros, com algumas poucas exceções (caso da TV Cultura de São Paulo), por exemplo, consiste em ser o mais factual possível, não levando em consideração as análises necessárias e essenciais à compreensão adequada da informação veiculada e, consequentemente, à formação crítica dos telespectadores. Há quem discorde desta minha afirmação defendendo a tese de que ao telejornal cabe apenas informar. Por outro lado, além de não formar a audiência para a realidade, os telejornais através de sua linguagem deformam a realidade e induzem o público para uma “atitude” pré-determinada pelas forças políticas e econômicas dirigentes. A informação veiculada pelos telejornais é preponderantemente sobre o que interessa aos grupos dominantes: governo, economia, empresas, e educação para o trabalho.

5.4. Telejornalismo: o discurso da notícia dominante

A primeira pergunta que pode nos assaltar ao tomarmos contato com a expressão telejornalismo é: Por que o telejornalismo exerce tanto fascínio sobre os telespectadores a ponto de no horário de sua exibição tornar-se mais importante do que qualquer outro evento no

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quotidiano dos indivíduos? A resposta a essa pergunta pode se justificar por vários motivos, no entanto, pode-se encontrar a resposta no fato de que o telejornalismo busca fundamentalmente através de sua narrativa causar o impacto necessário para alcançar seu maior objetivo, a audiência. Protagonista do discurso sensacionalista, autoritário, teatral, ritual e construído para simular a realidade, o telejornalismo é ao mesmo tempo, espaço de identidade tribal, de emoção e de sentimento, ou melhor, espaço para sensação de integração, participação e falsa informação. Um palco alucinante, que transforma a notícia em espetáculo. De acordo com MARCONDES FILHO (1989) o radiojornalismo e o telejornalismo, embora sejam atividades jornalísticas que obedecem às regras gerais de produção de notícia e distorção dos fatos, têm, além disso, aspectos adicionais que os tornam, enquanto atividade noticiosa, formas que reforçam características, como superficialização da transmissão dos fatos, reforço ao esquecimento e recepção acrítica. O discurso da TV exige comunicadores que tenham muita empatia, logo que sejam capazes de sustentar de forma coloquial o clima de diálogo. Segundo REZENDE (2000), ao cumprir a função fática, o discurso da TV se estabelece como um contato permanente entre o emissor e o receptor, por meio de um espetáculo contínuo levado diretamente ao telespectador que o recebe no aconchego do meio familiar. A função fática predomina em todos os programas. No caso do telejornalismo às interpelações dos apresentadores são ainda mais intimistas, novamente insistindo na retórica de uma conversa, de um diálogo. O telejornal traz o mundo, os problemas de outras pessoas e por isso, permite conhecer as respostas por outros a problemas semelhantes. Tal fato gera um forte sentimento de participação.

5.5. A Linguagem da Interatividade

A tendência contemporânea e recente dos noticiários televisivos é a interatividade. O fenômeno da chegada da Internet nos anos de 1990 no Brasil trouxe a necessidade para empresas, usuários, escolas, bancos, governo e meios de comunicação analógicos, de mergulharem no mundo virtual. O que começou como um experimento de investigação e desenvolvimento impulsionado pelo governo dos Estados Unidos se transformou em uma rede de informação que superou todo tipo de barreiras: tecnológicas, políticas e geográficas. De aparato de Defesa Militar

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e acadêmico, a Internet invadiu praticamente todos os âmbitos da sociedade. Nesse universo virtual, uma nova forma de interação apareceu (e-mails, salas de bate papo, sites de relacionamento). A nova ordem tecnológica permitiu a formação de tecidos sociais por onde flui todo tipo de informação. Vivemos agora em um planeta interconectado.

Com tanta velocidade, informação e transformação, as corporações de comunicação se adiantaram em disponibilizar seus conteúdos em formato digital. A Internet passou a ser explorada como mídia, permitindo o acesso aos conteúdos dos demais meios de comunicação de massa, dando ao indivíduo a possibilidade de navegar por jornais, telejornais, rádios, conteúdos culturais, políticos, acadêmicos e de entretenimento do mundo todo. É nesse contexto que a interatividade passa a ser elemento essencial para os telejornais, que aos poucos estão inserindo em seus formatos mensagens que convidam o telespectador a participar da produção da notícia. Iniciativa que objetiva imitar a Internet em sua comunicação interativa.

Segundo MARCO SILVA (2000, p. 84), a expressão comunicação interativa já se encontrava no meio acadêmico nos anos de 1970 expressando bidirecionalidade entre emissores e receptores, expressando troca e conversação livre e criativa entre os pólos do processo comunicacional. Essa concepção de comunicação apareceu em meio às críticas aos veículos de comunicação (rádio, jornal e televisão) que seguem um modelo de transmissão unidirecional. Nesse modelo, o emissor tem o controle da mensagem que será enviada aos receptores. Pela teoria da comunicação e a partir do modelo proposto pelo teórico funcionalista, Harold Lasswell, em 1948, o ato da comunicação pode ser descrito através das seguintes questões:

Quem? (Emissor) - Diz o quê (Mensagem) - Em que canal? (Meio) - Com que efeito (Feedback).

Conforme relata Arlindo Machado (2003), os precursores dessa crítica Hans M. Enzensberg e Raymond Williams colocam a interatividade como uma forma de superação do modelo unidirecional. O primeiro destaca o “sistema de trocas”, de intercâmbio, de conversação, de feedback entre os agentes da comunicação. O segundo ressalta que a maioria das tecnologias vendidas como „interativas‟ eram na verdade „reativas‟, pois diante delas o usuário não fazia senão escolher uma alternativa dentro de um leque de opções definido. Podemos citar como exemplo, o programa Você Decide da Rede Globo, que se encaixa perfeitamente na crítica de Williams.

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Retomando a questão da linguagem interativa do telejornal, a discussão, na verdade, dirige-se para o fato de que um novo público engendrado pelas novas tecnologias de comunicação está atento para as novidades do mundo digital. Nesse mundo, a mídia clássica resistia à interatividade, situação que não será mais possível. A propósito, SANTAELLA (1989) tem uma formulação apropriada no que diz respeito à linguagem:

Para termos uma ideia das transmutações que estão se operando no mundo da linguagem, basta lembrar que, ao simples apertar de botões, imagens, sons e palavras (a novela das 8, um jogo de futebol, um debate político...) invadem nossa casa e a ela chegam mais ou menos do mesmo modo que chegam a água, o gás ou a luz (SANTAELLA, 1989, p.14).

O novo receptor, agora usuário de redes de comunicação digitais, manipula a mensagem, produz material audiovisual e modifica a mensagem o tempo todo.

Cada vez mais, os públicos estão reclamando ser ouvidos, ter seu espaço nos meios de comunicação. E, minha experiência como diretor de um meio de comunicação é que esse processo de petição de audiência dos públicos é cada vez mais forte. Ao mesmo tempo proliferam as associações de telespectadores, os clubes de ouvintes, de leitores, que a sua maneira estão realizando verdadeiras auditorias éticas dos meios. Estão julgando os meios e estão respondendo aos meios, de uma maneira não suficientemente eficaz, no momento, por falta de canais, mas essas associações se aproveitarão sem dúvida dos avanços tecnológicos e reclamarão a disponibilização das novas tecnologias a seu serviço (SINOVA, 1994, p.396).

Portanto, ele deseja maior participação também nos meios de comunicação de massa, caso da televisão aberta. Por outro lado, como destaca SINOVA, os públicos são intrusos e não são bem-vindos no processo de comunicação social, ele completa:

São a parte débil diante dos gestores das mídias que selecionam mensagens e controlam todo o processo excluindo os verdadeiros titulares da informação, que são os cidadão (...) Até agora, a intervenção dos públicos nesse processo de comunicação social se realiza somente mediante uma concessão dos gestores. As respostas dos receptores, as respostas dos públicos são selecionadas pelos gestores da comunicação. As chamadas telefônicas ou as cartas (recentemente vídeos e e-mails) que se recebem nos meios de comunicação entram no processo da comunicação mediante um ato de concessão, mediante um ato de generosidade, digamos assim, dos controladores do processo (SINOVA, 1994, p. 393).

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Esse quadro chama atenção para o impacto que as transformações tecnológicas podem causar no processo comunicacional. Nas palavras otimistas de SINOVA: “as novas tecnologias devem aumentar a presença dos públicos no processo de comunicação, elas põem nas mãos dos públicos a capacidade de se converterem em gestores de meios de comunicação”. É exatamente por isso, e para fazer frente a essas novas tecnologias que o telejornalismo vem gradativamente abrindo espaço para o telespectador que quer intervir na construção da notícia. É uma estratégia para manter e resgatar a audiência que “abandona” o telejornal, por mídias mais interativas. Aparentemente pode estar ocorrendo um declínio da hegemonia da notícia na tevê. Mas só aparentemente. Em 2009 o Jornal Nacional completou 40 anos. O âncora atual, William Bonner, entrevistado pela reportagem da Revista Época em 2009 afirmou que o JN possui 60% da audiência no horário de sua transmissão. Tal fato corrobora mais uma vez a força do noticiário televisivo que está longe, pelo menos no Brasil, de ser ameaçado por outra mídia.

Os indivíduos estão seduzidos pelas novas formas de comunicação: Da internet ao telefone celular com sinal digital e tevê. Mas por enquanto, o que se encontra nas discussões de grande parte dos portais do ciberespaço são os temas polêmicos mostrados pela tevê. A banalidade do Big Brother, das telenovelas e das notícias sensacionalistas que não têm fim. É oportuno lembrar a afirmação de SARTORI (2001), de que o mundo em que vivemos já está se apoiando nos ombros da geração-televisiva uma espécie recentíssima de ser humano criado pela televisão. Não apenas criado, mas intensamente teleguiado. Ele completa:

É por isso que a televisão está produzindo uma espécie de permutação, uma metamorfose, que atinge a própria natureza do homo sapiens. É por isso que a televisão não é somente um instrumento de comunicação; é ao mesmo tempo também Paidéia20, um instrumento “antropogenético”, um médium (meio) que gera um novo ántropos, um novo tipo de ser humano (SARTORI, 2001, p.23).

Também podemos considerar o avanço da interatividade e das mudanças no processo de comunicação, a partir de outra perspectiva. Essa não muito otimista. Como sustenta Jean Baudrillard, os receptores encontram-se passivos e sedentários em seus sofás e não percebem a

20 O termo grego Paidèia significa a formação da criança (pais, paidòs). Werner Jaeger no seu clássico estudo de (1946) estende o sentido do termo a toda formação do homem (SARTORI, p.23). 119

programação como imposição, mas como necessidade de informação. O poder de dominação, de fascínio, de hipnotização da televisão sobre os indivíduos, é expresso em seu dizer irônico que a imagem do homem sentado, contemplando num dia de greve sua tela de televisão vazia, constituirá no futuro uma das mais belas imagens da antropologia de nosso século. O teórico francês sempre deu destaque especial à televisão, a qual, segundo ele, através da produção exagerada de imagens, signos e mensagens, originou o mundo simulacional. Seguindo este pensamento, Baudrillard defendia ser impossível encontrar um bom uso dos media, em suas palavras: ele não existe. De fato, apesar do avanço das tecnologias, os receptores, no que diz respeito à televisão são mais excluídos que incluídos na programação. Arlindo Machado (2003) chama nossa atenção para o grande desafio da contemporaneidade: o desafio da inserção democrática da televisão e completa perguntando: Será possível combater a concentração da televisão? De minha parte, entendo que há uma cultura da dominação que é pura reprodução dos valores do poder. Dessa forma, a interatividade criada pelos telejornais é falsa. Serve apenas como imitação das outras mídias e é um novo modelo de negócios. O esforço das mídias convencionais, portanto, passa pela necessidade em se adaptar a linguagem das novas mídias interativas. Há a expectativa de que a nova tecnologia (TV Digital) leve para os telejornais a mesma interatividade dos computadores em rede, com diálogos e comentários em tempo real. Como isso irá ocorrer e quando, ainda não se sabe. O que se sabe é que as mudanças já estão acontecendo e vieram para ficar. Este contexto irá alterar também a construção das notícias e o comportamento dos apresentadores de telejornal. Por outro lado, tais mudanças irão alterar pouco ou muito pouco, a capacidade dos telejornais de manipular os fatos para o consumo e deleite do público, cada vez mais aturdido e insensível com o admirável mundo novo.

5.6. Telejornal e imagem

Para onde quer que nos voltemos, há a imagem. Por toda parte no mundo o homem deixou vestígios de suas faculdades imaginativas sob a forma de desenhos, nas pedras, dos tempos mais remotos do paleolítico à época moderna segundo JOLY (1996). Desse modo, o telejornal reflete a maneira moderna de mostrar a imaginação do homem. As imagens audiovisuais inundaram a 120

realidade. O espectador ligado na tela da tevê pode assistir como testemunha a qualquer acontecimento no planeta. Ele pode não ter acesso ao mundo através da experiência, mas recebe o mundo através das representações que aparecem no telejornal como verdadeiras. A propósito, em 2005, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) – órgão do governo que traz os números brasileiros nas áreas de saneamento apontou que o número de famílias brasileiras com tevê em cores é maior do que o das com saneamento básico. Essa situação ocorre em todas as faixas de renda e em todos os Estados. Os números mostram que no Brasil, há 162,9 milhões de pessoas que moram em domicílios com televisão colorida – 32,3% a mais do que os 123,2 milhões que estão em domicílio com rede coletora de esgoto ou fossa séptica. Ou seja, a televisão é considerada mais importante que a própria saúde. Deve-se esclarecer que tais números refletem nas classes mais pobres a falta de compromisso político para resolver o problema do saneamento básico e sua relevância para a saúde. Nesse sentido, é interessante observar os números. Segundo informa Porcello:

De 1994 até 2004, os brasileiros, compraram mais de 40 milhões de aparelhos de televisão, número superior ao de todos os aparelhos de TV comprados desde o início das transmissões no país (1950) até a implantação do Plano Real. Nas classes média e alta, o índice de aparelhos na casas é de 100%; na classe emergente é de 96% e na classe pobre é de 87%. O universo pesquisado foi o de eleitores aptos a votar em outubro de 2002, e a conclusão foi de que a absoluta maioria – de 87% a 100% dos eleitores – tem TV (PORCELLO, 2008, p.50).

Neste contexto, é impossível ficar imune as imagens da tevê? Para muitos sim. BRASIL (2005) afirma que a imagem surge como simples forma de registro, mas se apresenta, hoje, como um novo conceito de conhecimento. A ação hipnótica exercida pela tela pode levar uma pessoa a ficar horas em frente da televisão. Segundo o Ibope, três horas em média por dia são dedicadas pelos brasileiros ao hábito de assistir televisão. A televisão – como diz o próprio nome – consiste em ver de longe. Pela imagem atinge-se, portanto, as pessoas e cria-se um consenso em torno do cotidiano. Assim, o telejornal é janela para ver o mundo. Ele também modela hábitos, influencia comportamentos e impõe linguagens. A propósito, a televisão é um meio que faz surgir imagens. Esse fenômeno é um fenômeno do homem contemporâneo. O discurso que a tevê comunica é o discurso da emoção. A intenção é mobilizar a sensibilidade, a intuição. De posse do controle remoto e trocando de canais em um ritmo frenético e incessante o indivíduo experimenta uma sensação de poder. Na verdade, 121

uma falsa sensação de poder já que ele só compreende pela sensação. A imagem é hoje a forma superior de comunicação.

A precedência da imagem é o que caracteriza a situação das culturas contemporâneas como um processo de “dislexia”, segundo o qual está se reduzindo nas pessoas a capacidade de ler textos, principalmente textos longos que envolvem certa abstração (MARCONDES FILHO, 1993, p. 101).

Temos uma abundância de livros hoje que em sua maioria não são lidos. Se virarem Best Seller é porque foram mostrados primeiro pela televisão, ou seja, como ícone. Pode-se dizer que a chamada sociedade da imagem é o mesmo que sociedade da mídia. A onipresença da mídia é o ambiente fértil onde se realiza uma nova expansão do capitalismo. Para JAMESON (1996), assim como a industrialização e a urbanização mudaram o ritmo e as feições da vida no século XIX, as linguagens midiáticas alteraram decisivamente os modos de vida atuais. A sociedade baseada na imagem, de maneira brutal diminuiu a força da cultura literária anteriormente predominante. Joan FERRÉS (1996) atenta para essa realidade e chama atenção para o fenômeno televisivo:

Se compararmos os efeitos da leitura e do ato e assistir à televisão observaremos um paradoxo surpreendente: enquanto apenas aqueles que sabem ler costumam apegar-se à leitura, a maior adicção à televisão costuma ocorrer entre aqueles que não domimam a sua linguagem. Enquanto somente os que sabem ler correm o risco de uma influência negativa das leituras, ocorre o contrário com a televisão: quanto menor for o conhecimento dos códigos, maior será o risco de uma influência negativa (FERRÉS, 1996, p. 79).

Esta constatação se aproxima do pensamento de FRIDMAN quando o mesmo diz que o capitalismo contemporâneo alimenta a sociedade visual, já que nessa sociedade a imagem, seja ela expressiva ou comunicativa, sempre será uma mensagem produzida para um público:

O que se vê é a "estetização da realidade" (expressão que Jameson toma emprestado de Walter Benjamin) em que a arte se mistura indissoluvelmente à compra e venda de produtos através da criação de narrativas que favorecem investimentos imaginários e libidinais dos consumidores em torno das mercadorias. Nas palavras de Guy Debord (1997), proferidas há trinta anos, "a imagem é a forma final da reificação" ou derradeira realização do capital, fundamento da sociedade da imagem ou do espetáculo. A estetização da realidade promove a colonização do inconsciente e da natureza pelo mercado, processo indissociado do pós-modernismo considerado por Jameson a lógica cultural do capitalismo tardio (FRIDMAN, 1999).

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Para o telespectador, talvez para maioria, a imagem é um convite à fantasia, à imaginação. O caráter polissêmico da imagem encanta e o aproxima da tevê. O fascínio dos sinais e o poder das imagens carregadas de emoção são irresistíveis. As imagens expressivas emprestam à linguagem do telejornal sua força. Por isso, independentemente de qualquer definição acadêmica (tele) jornalismo é uma fascinante batalha pela conquista de mentes e corações. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens (ROSSI, 1980). No telejornalismo a imagem é casada com a palavra. Como escreveu Jean Luc Godard (apud JOLY, 1994), imagem e palavras se completam, uma precisa da outra para funcionar, para serem eficazes. Por outro lado, no jornal de tevê não faltam imagens para serem criticadas. Também na antiguidade, filósofos como Sócrates e Platão não deixaram de expressar seu repúdio à imagem:

A imagem pode se parecer como a coisa representada, mas não tem à sua realidade. É uma imitação de superfície, uma mera ilusão de ótica, que fascina apenas as crianças e os tolos, os destituídos de razão. O pintor, portanto, produz um simulacro (eidolon, de onde deriva nossa palavra ídolo), ou seja, uma representação falsa, uma representação do que não existe ou do que não é verdade, engodo, imagem (eikon) destituída de realidade, como as visões do sonho e do delírio, as sombras projetadas no chão ou os reflexos na água. Nesse sentido, a atividade do pintor é charlatanice pura e o culto dos simulacros (eidolon latreia, de ondederiva idolatria), a forma não religiosa de idolatria (BRASIL, 2005, p.6)

Considerando, portanto, a relação da imagem com o público fica evidente sua fragilidade diante da mesma. Enquanto produto informativo e cultural, o telejornal apoia-se nas cores, formas, palavras e sons para levar até o telespectador a construção da realidade. A imagem hipnotiza, seduz. No jornal de tevê imperam as imagens “persuasórias”, controladas, editadas, construídas, corrigidas e manipuladas. É interessante notar que enquanto algumas pessoas acreditam no que está impresso, uma grande maioria acredita no que vê e, de preferência, na tevê. Isso acaba acontecendo, pois

O espectador tipicamente moderno é aquele que se devota à televisão, isto é, aquele que sempre vê tudo em plano aproximado, como na teleobjetiva, mas, ao mesmo tempo, numa impalpável distância; mesmo o que está mais próximo está infinitamente distante da imagem, sempre presente, é verdade, nunca materializada. Ele participa do espetáculo, 123

mas sua participação é sempre pelo intermédio do corifeu, mediador, jornalista, locutor, fotógrafo, cameraman, vedete, herói imaginário (MORIN, 1969, p.70).

Desse modo, a força da imagem, cada vez mais atraente e tecnológica é capaz de mobilizar um país inteiro para assuntos que talvez nem fossem ao ar se o cinegrafista não estivesse no lugar certo, na hora certa, para filmar o ocorrido. Aqui, lembro o caso da adolescente “Eloá” que foi sequestrada e morta pelo ex-namorado em sua própria casa em 2008. O fato parou o país. Os telejornais trataram o episódio de maneira sensacionalista e dedicaram horas mostrando as imagens da tragédia. A repetição da imagem exaustivamente pelos veículos de comunicação cria uma espécie de comoção no espectador que a todo o momento é impulsionado a ver e rever o fato reportado. Tais imagens são responsáveis por aumentar vertiginosamente a audiência. Por outro lado, toda essa violência mostrada insistentemente tem uma outra razão, para além da audiência. A tevê brasileira vive da violência, como o poder no Brasil. Ela é uma indústria que ameaça a sociedade civil. A realidade desenhada pelas notícias do telejornal ou pelas imagens violentas colhidas no cotidiano apavora e impressiona. Até meados dos anos de 1970 raramente uma notícia sobre sequestro, tiroteio, morte ia parar na tevê ou nos telejornais mais importantes. Hoje, tais notícias ocupam cada vez mais um espaço significativo. A propósito, Teixeira Coelho é enfático ao comparar a violência na tevê brasileira com a de outros países. Segundo ele:

(...) A TV brasileira não pode combater a violência, tem de estimulá-la. A TV brasileira gera violência. Porque precisa atemorizar os habitantes deste país. Em outros lugares, a violência já existe especificamente para a TV: os torcedores de futebol ingleses pintam a cara com tintas de guerra e partem para o combate por saberem-se focalizados pela TV (Chegaremos lá, aqui também). A diferença é que a TV inglesa não convida à prática, não a reforça com sua divulgação. O Brasil é um país violento porque vive sob condições políticas, sociais e econômicas injustas e porque tem uma TV injusta. Não é mais complicado que isso (COELHO, 1991, p.121).

Nessa perspectiva, a pauta sobre a violência tende a ser no telejornal brasileiro, um modelo para a perpetuação da imagem que mostra os excluídos, a periferia e os destituídos de força social. COSTA (2002) explica como a estética da violência no jornalismo contribui para a perda da sensibilidade no que diz respeito ao sofrimento, pois,

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A compulsão pela novidade informativa e a exploração da curiosidade, do grotesco, acomodando a narrativa dos fatos à determinação da lógica de que tudo deve fluir rapidamente e paradoxalmente de forma repetitiva em diversos canais, meios e circunstâncias, traz comprometimentos à formação da sensibilidade em tal ordem que, de modo crescente e cumulativo, o receptor deixa de ser capaz de se sensibilizar quanto ao trágico, à miséria, à dor. A repetição continuada da violência amortiza a indignação e age no sentido de sua banalização (COSTA, 2002, p.135).

A chamada civilização da imagem segundo DELEUZE (1987) é a denominação, sobretudo, de uma “civilização do clichê”, cuja explicação pode referir-se duplamente à inflação icônica que assenta na redundância, e por outro lado na ocultação, distorção ou manipulação de certas imagens, de tal maneira que estas em vez de ser um meio para descortinar a realidade ocultam-na. Assim, Deleuze insiste, afirmando que existe um interesse geral em “esconder algo na imagem”, este algo não é mais que o seu próprio caráter de persuasão. Dessa forma, as imagens no telejornalismo de atualidade são o produto de uma manipulação. É necessário, portanto, criticar a fé absoluta nas imagens e na tecnologia. É importante educar o telespectador e fazê-lo perceber que a informação do telejornal não supõe conhecer. É preciso duvidar das imagens pré-fabricadas, evidentes. A propósito, uma das definições mais antigas sobre a imagem foi dada por Platão (A República): “Chamo de imagens em primeiro lugar as sombras, depois os reflexos que vemos nas águas ou na superfície de corpos opacos, polidos e brilhantes e todas as representações do gênero”. Nesse sentido, imagem é igual a instrumento de comunicação, divindade e assemelha-se ou confunde-se com o que representa. Visualmente imitadora, pode enganar ou educar.

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CAPÍTULO VI PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A seguir será descrita a metodologia utilizada na pesquisa. Durante quatro meses consecutivos que vai de abril a julho de 2008 foram gravadas reportagens do telejornal da Rede Globo de televisão, Jornal Hoje, objeto de estudo dessa pesquisa. Para o desenvolvimento da pesquisa foi adotada uma abordagem qualitativa. Também foi utilizada a análise de conteúdo que, de acordo com BERELSON (1971) consiste em descrever o conteúdo manifesto de forma objetiva e sistemática e, ainda como afirma o autor, é uma técnica usada com o intuito de determinar a frequência relativa de diversos fenômenos da comunicação. O autor ainda defende que ao utilizar este método, o pesquisador lida com registros que já existem, como gravações em vídeo, por exemplo, e faz inferências aos mesmos.

6.1. O campo da pesquisa

Este trabalho teve como objetivo analisar a notícia de educação com foco no mercado de trabalho do JH. Mais do que ser assistida, a televisão precisa ser estudada, já que ela influencia os hábitos de crianças, jovens e adultos, dita modelos de comportamento e impõe temas que serão discutidos pela sociedade. Dessa forma, a pesquisa avalia e analisa reportagens do telejornal para verificar como ele apresenta sob a forma de notícia, as informações sobre educação e mercado de trabalho. Segundo CORRÊA (2007, p. 35): “Este tipo de análise é útil na identificação das mensagens ideológicas ocultas nos meios de comunicação, podendo revelar as intenções dos que utilizam os veículos de massa para criar um consenso social”. Entre os vários veículos de comunicação existentes, escolhemos como objeto de estudo o texto jornalístico para telejornal (áudio e imagem). Ao fazê-lo, sabemos que entre o fato a ser objeto da informação até o texto final são muitos os elementos que interferem no processo de produção jornalística. O percurso entre o objeto da notícia, até a edição final da reportagem levada ao telespectador elimina a possibilidade de uma neutralidade total dos fatos. Os telejornais utilizam na produção das reportagens, uma série de técnicas, como: ângulos de câmera, enquadramentos especiais, iluminação, posição do repórter para conferir significados sociais, ou

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melhor, para construção da realidade. Por isso, nos interessa esse percurso, o da construção da notícia sobre educação no JH e como ela é apresentada ao telespectador. Estabelecemos como corpus, reportagens exibidas pelo JH, no período de abril a julho de 2008, cujo conteúdo informacional visa nos fornecer dados referentes às notícias de educação e trabalho. De segunda a sábado o JH vai ao ar no horário de 13h15 às 13h45. Consideramos o tamanho da amostra do objeto pesquisado suficientemente representativo, por se tratar de um telejornal de referência para o telespectador brasileiro e estável na grade da emissora desde 1971. Realizamos ainda, entrevista conceitual, com a editora-chefe do JH e apresentadores. A entrevista conceitual é uma técnica jornalística que possibilita ao entrevistador buscar bagagem informativa; põe sua curiosidade e espírito aberto a serviço de determinados conceitos, que reconhece a fonte a ser entrevistada detém (MEDINA, 1986, p.16). Partindo da observação da estrutura do telejornal JH e de suas notícias, a metodologia baseou-se na seleção do material para análise. Nossa primeira tarefa foi identificar as notícias relacionadas à categoria educação e mercado trabalho, de interesse da pesquisa. Assim, temos a seguinte trajetória: A primeira etapa consistiu na coleta do material para análise, tendo como objetivo a gravação do JH diretamente da internet. Na presente etapa também fizemos uma edição do conteúdo do telejornal. Selecionamos apenas as reportagens de interesse da pesquisa. A segunda etapa teve como objetivo registrar de forma manuscrita o conteúdo das reportagens, encaminhando-as para análises críticas das situações de construção dessas notícias. Para tanto, observamos também o formato das matérias, sempre subordinado ao tempo, elemento básico da estrutura de produção da notícia eletrônica. Na terceira etapa selecionamos as matérias de interesse da pesquisa, com o objetivo de levantar os temas geradores para reflexão. A escolha das reportagens para análise obedeceu a três critérios que serão descritos a seguir: 1 - Para a seleção das matérias foi essencial a presença de palavras-chave que fizessem referência à temática do estudo. Todas as edições gravadas do telejornal foram pré-editadas pela autora com o objetivo de restringir propositadamente o conteúdo captado às notícias sobre educação e mercado de trabalho. Assim, foram revistas as matérias da edição diária do JH do período amostrado selecionadas a partir da presença das seguintes palavras: Educação, trabalho, qualificação, jovem, emprego, política, e inclusão.

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É importante destacar que o trabalho de captação das matérias foi realizado em virtude das novas tecnologias de comunicação. Com a implantação do portal da Globo.com em 1999 e consolidação do mesmo no ano de 2000, a rede passou a disponibilizar toda a grade e „conteúdos‟ da programação para os usuários da Internet. Na atualidade as matérias da edição diária do JH podem ser vistas ou baixadas pelo internauta no instante seguinte ao término do telejornal. Além dessas notícias que foram exibidas, ainda há as notícias em desenvolvimento (notícias que vão mudando ao longo do dia) em função da checagem e chegada de novas informações na redação. Dessa forma, através da página do JH é possível acessar o que foi e o que será notícia na TV. 2 - Optamos por descartar todas as matérias que não tivessem relação e relevância com a proposta do estudo. O importante a ser observado nas reportagens é o direcionamento estratégico delas para afirmação de um discurso político e ideológico que oculta interesses dominantes. 3 - Optamos também por selecionar apenas reportagens „externas‟, ou seja, aquelas em que o repórter vai à campo para buscar as informações e entrevistas, justamente para verificação e sondagem das falas dos personagens e personalidades que junto com o jornalista contam determinada história dos fatos. Esses critérios foram definidos pela pesquisadora, para melhor delimitar o trabalho e as análises.

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6.2. Conteúdo geral capturado

As tabelas a seguir apresentam as matérias jornalísticas que foram capturadas para estudo nesta pesquisa:

TABELA 1: Matérias “Educação e Trabalho” JH - Março/2008

DATA MATÉRIAS “EDUCAÇÃO E TRABALHO” JH TEMPO 01/03/2008 Estudar no exterior - 03/03/2008 Escola bilíngue - 04/03/2008 Oficina de cinema - 17/03/2008 Separação por nota 2‟45” 18/03/2008 Combate à pedofilia 2‟29” 18/03/2008 Divisão de Classes 5‟10” 18/03/2008 Aulas alternativas 2‟10” 18/03/2008 Músicas para bebês 3‟ 24/03/2008 Combate à dengue no Rio (ameaça às escolas) 2‟57” 24/03/2008 A mesada certa – Série Educação Financeira 3‟24” 26/03/2008 Pedofilia na Internet 2‟56” 26/03/2008 Provinha Brasil 2‟ 28/03/2008 “Jovens do Brasil”: Trabalho Infantil 2‟46” 28/03/2008 Reforma Ortográfica 2‟44” 28/03/2008 Jovens do Brasil 6‟55” 29/03/2008 Novas regras do Fies (Financiamento Estudantil) 1‟ 31/03/2008 Fazer o quê? (Sobre vestibular - Ao vivo) 8‟15”

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TABELA 2: Matérias “Educação e Trabalho” JH - Abril/2008

DATA MATÉRIAS “EDUCAÇÃO E TRABALHO” JH TEMPO 01/04/2008 Celular banido da escola 2‟35” 03/04/2008 A morte entre as crianças 3‟35” 03/04/2008 Juventude previdente 1‟24” 04/04/2008 Ranking do Ensino Médio 3‟35” 07/04/2008 Fazer o quê? (vestibular) 8‟40” 08/04/2008 Ocupação da Reitoria UnB 1‟17” 10/04/2008 Reitor UnB se afasta 1‟47” 11/04/2008 “Amigos da Escola” 3‟44” 14/04/2008 Ocupação Reitoria UNB 2‟12” 14/04/2008 Fazer o quê? (vestibular) 6‟20” 15/04/2008 CPI Convoca Reitor Unifesp 2‟01” 16/04/2008 Alfabetização de adultos 2‟22” 18/04/2008 Desocupação UnB 0‟30” 22/04/2008 Jovens Embaixadores 1‟48” 25/04/2008 Merenda Saudável 2‟44” 28/04/2008 Primeiro emprego (início da carreira profissional) 6‟07”

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TABELA 3: Matérias “Educação e Trabalho” JH - Maio/2008

DATA MATÉRIAS “EDUCAÇÃO E TRABALHO” JH TEMPO 05/05/2008 Qualidade no ensino 5‟26” 07/05/2008 Aprender brincando 1‟58” 09/05/2008 Aulas suspensas em universidade de Fortaleza 1‟ 12/05/2008 Convívio em república 6‟34” 16/05/2008 Educação entre altos e baixos 2‟07” 19/05/2008 Lição nota dez 2‟10” 19/05/2008 Fazer o quê? (vestibular) 4‟62” 20/05/2008 Lição para os pais 2‟25” 21/05/2008 Cartilha anti-furacão 1‟54” 26/05/2008 Fazer o quê? (Profissões) 3‟51”

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TABELA 4: Matérias “Educação e Trabalho” JH - Junho/2008

DATA MATÉRIAS “EDUCAÇÃO E TRABALHO” JH TEMPO 02/06/2008 Fazer o quê? (vestibular - Gastronomia) 4‟37” 03/06/2008 Desafio diário (alunos mal transportados) 2‟15” 05/06/2008 Geração Verde 3‟13” 06/06/2008 Pufe de garrafa PET 2‟16” 06/06/2008 “Projeto Música” 4‟44” 09/06/2008 Violência na sala de aula 2‟17” 09/06/2008 Fazer o quê? (vestibular - Designer de Games) 4‟20” 12/06/2008 Trabalho infantil - 1,5 milhão de crianças trabalhando 2‟12” 12/06/2008 Limites para os adolescentes - Fugir de casa 3‟ 12/06/2008 Apaixonados por animes 4‟02” 16/06/2008 Educação sexual em casa 5‟19” 16/06/2008 Fazer o quê? (vestibular – Telecomunicações) 4‟15” 17/06/2008 Síndrome de Burnout (professores) 2‟10” 20/06/2008 Feira do Primeiro Emprego 2‟41” 27/06/2008 Cursinho para o Enem 1‟54” 27/06/2008 Crianças do Brasil em cartaz XXXX 30/06/2008 Plágio na Academia 3‟ 30/06/2008 Fazer o quê? (vestibular – Relações Internacionais) 4‟45”

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TABELA 5: Matérias “Educação e Trabalho” JH - Julho/2008

DATA MATÉRIAS “EDUCAÇÃO E TRABALHO” JH TEMPO 02/07/2008 Despesas de férias 1‟48” 05/07/2008 Intercâmbio de férias - 05/07/2008 Juventude das letras 1‟51” 07/07/2008 A brincadeira de Hoje 1‟23” 07/07/2008 Fazer o quê? (Carreira no Exército) 4‟16” 09/07/2008 Brincadeira de Hoje 1‟22” 11/07/2008 Brincadeira de Hoje 1‟ 14/07/2008 A nova vida de Ubirajara 2‟52” 14/07/2008 Fazer o quê? (Arquitetura e Design de Interiores) 4‟33” 17/07/2008 Vacinação em dia nas férias 3‟17” 21/07/2008 Fazer o quê? (Medicina e Biomedicina) 4‟33” 28/07/2008 Fazer o quê? Jornalismo e Publicidade 5‟42” 29/07/2008 Sono na volta às aulas 2‟41”

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CAPÍTULO VII RESULTADOS

7.1. Rede Globo

Inaugurada em 1965, a TV Globo do Rio de Janeiro - canal 4, junto com as outras concessões de televisão das Organizações Globo é a rede nacional de televisão mais poderosa do Brasil e uma das mais influentes do planeta. A história do telejornalismo da TV Globo está incluída no passado de nosso presente (BORELLI, 2005, p. 206). É pelos telejornais, e também pelas telenovelas que a emissora alcança a massa e promove uma integração nacional. Bourdieu assinala:

A Globo coloca-se como uma indústria, um instrumento de modernização e integração e um fator de identidade nacional. Seus prêmios no exterior, especialmente as telenovelas, ilustram sua “vontade de ser líder” e não a mostram como uma empresa de “embrutecimento” do público (BOURDIEU, 1997 p. 96).

É dentro desse quadro que operam os telejornais da emissora. Ao lado disso, o interesse do público pela informação que é o objeto da empresa. Sem o telespectador não há audiência, ou em outras palavras, capital. Assim, os telejornais da casa são instrumentos importantes para manutenção de sua ideologia, poder político e econômico.

7.2. Aspectos gerais do Jornal Hoje na atualidade

Na visita que fizemos à TV Globo em São Paulo, no dia 30 de março de 2010, foi possível observar o processo de edição, finalização e apresentação do JH. A editora-chefe, Teresa Garcia, nos informou que o público do jornal é formado por pré-adolescentes, público economicamente ativo e pessoas da terceira idade. Trabalham para colocar o JH no ar, atualmente, doze jornalistas em São Paulo entre editores de texto e imagem, repórteres e apresentadores que formam o núcleo da equipe de rede. O JH ainda recebe de acordo com a telejornalista, a contribuição de todas as praças da emissora no Brasil e dos escritórios da Globo no exterior.

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Não existe na equipe de jornalistas nenhum profissional que seja especialista em educação. Semanalmente, pelo menos uma reportagem sobre essa pauta faz parte das edições diárias do JH, a média de reportagens, no entanto, pode chegar a três. Teresa Garcia, também deixou claro ao tratar da relação entre educação e trabalho no JH que é a demanda da audiência, ou seja, o interesse do público que faz com que essas reportagens sejam pautadas com frequência, já que faz muito sucesso, ou ainda, trata-se do quadro de maior sucesso do telejornal. Fato que revela a necessidade do público em estar informado sobre as exigências do mercado de trabalho. Por ser um telejornal nacional, o JH apresenta um formato peculiar. A editora-chefe esclarece que a prioridade é a notícia (Hard news - assuntos de impacto), ela diz que: “Não fugimos das notícias, mas ocupado o espaço da notícia, sobra espaço para outros tipos de reportagens que dão identidade para o jornal”. Ela ainda ressalta que o telejornalismo praticado no JH também investe muito em matérias de prestação de serviço, saúde, educação e comportamento. “Toda essa roupagem depende dos apresentadores”, acrescenta. Ou seja, de como os âncoras Sandra Annenberg e Evaristo Costa narram os fatos. É dessa forma que o telespectador percebe que o telejornal é mais leve – (Soft news). Ela diz: “Os assuntos são narrados de forma descontraída e agradam o público desse horário”. O horário do almoço oferece um tempo para codificação das reportagens mais flexível. Elas podem ter em média entre dois e cinco minutos, dependendo do tema e assunto, podem ainda chegar a seis minutos. Tempo diferente do padrão usual da rede. Outro destaque do JH é a química dos apresentadores que segundo a editora Teresa Garcia, é uma marca do telejornal. Segundo ela, o feedback dos telespectadores impressiona. Uma das razões para essa boa avaliação do público está na inovação da linguagem. “Eles conversam muito mais – Outro dia minha empregada disse: eles agora estão conversando com a gente em casa. Exatamente essa é a intenção que a gente tem”, ressalta a jornalista.

7.3. Aspectos da apresentação do JH

O JH é apresentado em uma única edição diária. Utiliza como cenário a redação do jornalismo da Rede Globo em São Paulo. O símbolo do telejornal é constituído do logotipo “H” que aparece ao fundo da bancada dos apresentadores e também nas vinhetas de entrada e intervalo do jornal. Em função da informatização das redações e das possibilidades trazidas com 135

o sistema digital – Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) o JH conta também com uma TV de plasma como recurso para entrada dos repórteres, que em todas as praças do país são chamados para transmissão ao vivo com informações da ordem do dia. Os apresentadores Sandra Annenberg e Evaristo Costa conversam com os jornalistas através dessa TV de plasma, que permite maior agilidade e interação dos apresentadores com os repórteres e o público. É pela tradicional bancada de telejornal que os dois âncoras conduzem o noticiário. Para ter empatia com o telespectador, além de profissionalismo é preciso dominar a linguagem das câmeras. A jornalista Sandra Annenberg ressalta que ao longo dos dez anos a frente da bancada do JH, muita coisa mudou na linguagem e interação com o público. “Eu sou de uma geração que estava ainda no pré-coloquial. A gente lia o que escreviam sem nenhum tipo de interferência. Era aquele tom padronizado”, analisa. E para compreender o estilo dialogal do JH na atualidade é preciso atentar para o sucesso da informalidade e sintonia dos âncoras. As mudanças segundo Sandra Annenberg aconteceram aos poucos. “O público foi mudando, o mundo foi mudando, nós fomos mudando e o nosso trabalho amadurecendo. Essa busca pelo coloquialismo é uma busca minha muito antiga. Eu sempre tentei não empostar a voz, não ser essa locutora. Sempre tentei fazer mais para o próximo: Vem cá que eu vou te contar uma história”, ela destaca. Tal expansão e mudanças para a apresentadora é resultado de uma confluência de fatores. Ela acrescenta: “Tem a percepção da Teresa de que a gente pode fazer assim. Tem o meu diálogo com o Evaristo que rola redondo. Eu já passei por outros colegas de bancada e não rolou da mesma maneira. Eu faço o Jornal Nacional JN aos sábados e o JN está em vias de... está tentando buscar essa linguagem. Mas, a cada sábado eu estou com um colega, é diferente” afirma. Ainda sobre a apresentação das notícias no estúdio, Sandra revela que no Brasil, ainda estamos anos luz do jornalismo americano que é muito coloquial. “Eles não têm vergonha de ousar. E, a gente tem ousado e arriscado muito. Tô vendo a hora que vão puxar minha orelha” brinca. Feitas todas essas ponderações, a jornalista ainda nos fez uma revelação muito oportuna sobre uma possível mudança mais radical no formato de apresentação do JH. “A gente já discutiu várias vezes sobre ao invés de ter uma bancada, ser uma sala, mas não podemos esquecer que é um telejornal” concluiu. O que se observa também na ancoragem do JH é que não importa o assunto, a dupla de apresentadores comenta os fatos, às vezes brinca ou ainda emite pequenas considerações sobre os problemas ou acontecimentos inusitados mostrados na tela. Sandra

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Annenberg define a importância do trabalho como âncora: “Eu sei que o tempo todo eu estou dando exemplo. O jornal tem uma função social”. É visível que o objetivo do JH é ser mesmo cada vez mais descontraído e próximo da sua audiência, principalmente dos mais jovens. A seguir o perfil do telespectador do JH. O quadro três apresenta a somatória de mulheres e homens acima de dezoito anos e demais faixas etárias. No quadro quatro, o perfil por classe social.

Quadro 3: Perfil dos telespectadores do JH por faixa etária.

Fonte Ibope Telereport - abr/07 – http://www.comercial.redeglobo.com.br/programação-jornalismo/ hoje. Acesso: 09/08/2008

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Quadro 4: Perfil dos telespectadores do JH por classe social.

Fonte Ibope Telereport - abr/07 – http://www.comercial.redeglobo.com.br/programação-jornalismo/ hoje. Acesso: 09/08/2008

7.4. Temas abordados no Jornal Hoje

Ao examinar o JH é possível verificar sua estrutura editorial. Pode-se dizer que as categorias temáticas apresentadas visam uma programação uniforme para todo país, o que diminui os custos de produção e aumenta a capacidade de comercialização do espaço publicitário. O fato de ser um telejornal com formato peculiar permite a produção de matérias voltadas para prestação de serviço baseadas no fait divers. Abaixo a relação de temas destacados pelo jornal:

a) Mundo: Em todas as edições é exibido um VT que apresenta uma síntese dos principais acontecimentos no mundo. Quando a matéria merece maior destaque é feita uma reportagem especial.

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b) Política: São relatados os principais fatos do dia no Brasil. Um repórter entra ao vivo de Brasília em todas as edições com as informações mais importantes, votações, escândalos e projetos. c) Economia Doméstica: São retratados diferentes assuntos do interesse de aposentados e donas-de-casa. Geralmente matérias sobre reajustes salariais, poupança, aumento de preços dos alimentos, planos de saúde etc. d) Saúde: São comuns reportagens que ensinam o telespectador a cuidar melhor da saúde. Muitas vezes são matérias sobre prevenção de doenças ou sobre a situação dos hospitais e postos de saúde públicos no Brasil. Geralmente o JH mostra a falta de atendimento e médicos nesses estabelecimentos. e) Educação: É uma temática muito presente no telejornal. São abordados os aspectos positivos da área, mas também os negativos. O JH procura dar muita ênfase para a educação (formal) fundamental, para o ensino técnico e para o vestibular. Dessa forma, as matérias, em grande parte, centralizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo tratam de relacionar a necessidade de boa educação com o fator empregabilidade, principalmente para pais e alunos. f) Meio Ambiente: São matérias educativas que buscam retratar a necessidade de cuidar melhor do planeta. Em geral, são reportagens feitas em escolas, que mostram projetos onde crianças e adolescentes aprendem a respeitar a natureza. Os problemas causados pela poluição, desmatamento, lixo e empresas também são mostrados. g) Ciência e Tecnologia: Aparece com frequência na pauta do telejornal. O enfoque é para feiras de ciência que envolve estudantes do país ou para resultados de pesquisas das universidades que beneficiam à população. Matérias internacionais que mostram as últimas novidades tecnológicas também são o ponto alto dessa editoria. h) Direito do Consumidor: São frequentes no JH e buscam mostrar para o telespectador como usar o código do consumidor. i) Meteorologia: „A moça do tempo‟ entra em todas as edições para apresentar um panorama do clima no Brasil. 139

j) Catástrofes: Em geral, o JH exibe reportagens que relatam os fatos sobre tragédias provocadas pela força da natureza (furacões, enchentes, desabamentos etc.).

k) Segurança: São explorados, os fatos sobre ocorrências policiais e o medo dos cidadãos que vivem nas grandes metrópoles com relação a assaltos, sequestros e bala perdida.

l) Esporte: Aparece às vezes nas edições, geralmente em época de olimpíadas ou Copa do Mundo, ou na ocasião de grandes êxitos dos atletas brasileiros.

m) Arte e Cultura: São retratados diferentes assuntos, em geral, as reportagens mostram museus, grandes obras de arte, exposições itinerantes, espetáculos e entrevistas especiais com personalidades da cultura nacional. O JH também abre muito espaço para que a música que agrada os jovens esteja sempre presente nas edições.

n) Entretenimento e lazer: São matérias que trazem para o telespectador sugestões de passeios turísticos, lugares especiais do Brasil, dicas de shows, eventos populares, curiosidades e tudo aquilo que diverte o público.

O princípio editorial da cobertura dos fatos deve respeitar a comunidade na qual a TV está inserida. Esse deveria ser o critério que influenciaria a pauta do telejornalismo e a forma de apresentação dos temas. No caso do JH, por se tratar de um telejornal nacional vale a pena reforçar que o padrão de qualidade da rede ajuda garantir a „credibilidade‟ do noticiário. Tal credibilidade depende cada vez mais das demandas voltadas para o consumo. Por isso, tal como sugere BUCCI (2000) a mídia em geral e o jornalismo em particular são moldados por essas demandas, ou como postulou Cremilda Medina que a notícia é um produto à venda, também no telejornal. Os quadros do JH confirmam essa tese, eles vão muito além da notícia.

7.5. Quadros do JH

O Jornal Hoje possui quadros fixos que ao longo da semana são apresentados no telejornal. Os quadros são popularescos, educativos, divertidos e buscam atender aos interesses de manter a audiência do noticiário e a prestação de serviços. Vejamos quais são eles a seguir:

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a) Dicas Domésticas: São dicas de que como resolver pequenos problemas domésticos. “Tudo aquilo que nossa avó ensinava à nossa mãe, que passava pra gente” diz o texto do site do telejornal. Destinado às donas-de-casa e ao público em geral. b) Tô de folga: Traz sugestões de passeios para conhecer melhor o Brasil. As reportagens mostram geralmente lugares paradisíacos de Norte a Nordeste do país. No final da reportagem dicas de onde se hospedar e comer. Tal indicação deixa evidente a relação comercial da notícia com os fatos relatados. c) Mercado de trabalho: Este quadro vai ao ar nas segundas-feiras para tratar essencialmente do mundo do trabalho e das seleções de emprego. As reportagens são em grande parte direcionadas para os jovens em busca do primeiro emprego. O quadro dá dicas sobre qual a melhor forma de conseguir um emprego. Mostra o ponto de vista do empregador e as atuais exigências do mercado. A repórter responsável pelas matérias é jovem o que ajuda na identificação com o público. d) Você faz a notícia: Reportagens feitas a partir de sugestões dos telespectadores. Pelo site do JH o telespectador pode enviar pautas e também sugerir temas para a equipe do jornal. e) Conversa ao vivo: Um especialista é convidado para tirar dúvidas dos telespectadores sobre o assunto do dia. Geralmente entra na pauta de discussão questões sobre beleza, saúde, educação, comportamento etc. O problema desse quadro é o tempo. Nem sempre dá para esclarecer os telespectadores, pois tudo acontece muito rápido. f) Causos do Brasil: São histórias curiosas e inusitadas de personagens ou lugares do país. O objetivo é divertir os telespectadores e nada mais. g) Hoje cidadania: O quadro traz matérias que mostram o „significado‟ da palavra cidadania e também investiga o comportamento dos brasileiros sobre o que é ser cidadão. h) Jovens do Brasil: Evaristo Costa, apresentador do JH vai em busca dos jovens brasileiros para mostrar o que pensa e como se diverte a juventude. Os conflitos são os da adolescência e tudo que envolve tais dilemas. Os jovens do Brasil são 141

mostrados em festas, nas chamadas baladas ou na rua. Às vezes problemas como drogas; trabalho explorado e infantil e violência são discutidos pelo quadro com os jovens.

i) Só no site: Matérias exclusivas para a Internet que não aparecem no telejornal. Uma estratégia para interagir com os nativos digitais, público adolescente do JH.

7.6. JH: educação e trabalho

Afinado com a importância que a educação e a educação profissional e tecnológica têm para os telespectadores e para o desenvolvimento do país, o JH segundo sua editora-chefe, Teresa Garcia, olha para essa questão com muito carinho. “A ideia é usar o espaço do jornalismo para informar, para criar oportunidade de crescimento intelectual. Estamos falando o que as pessoas têm interesse, da necessidade de quem assiste, essa relação é que define as pautas,” esclareceu a editora. Ao se referir à demanda do público, mais uma vez ela destacou a resposta dada através do site do jornal. Segundo a jornalista, também existe a preocupação interna da equipe do JH em produzir essas matérias para auxiliar as pessoas na hora de conseguir um emprego. “A gente faz muitas matérias para ajudar as pessoas a se posicionarem melhor dentro da própria carreira, como reivindicar um aumento de salário, como se comportar no ambiente de trabalho. Você sempre está prestando um serviço interessante para as pessoas,” explicou. Sobre as matérias de educação, Teresa Garcia informou que o principal cuidado é fazer uma reportagem que seja adequada e respeite o interesse do público: “O que de fato é o interesse das pessoas, isso é o que mais exige discussão e esforço intelectual da equipe”, segundo a jornalista. “A televisão é realmente um veículo altamente potente, com um poder imenso de distribuição da informação e de conceitos. Atualmente a interação, justamente, essa mão dupla que está se dando nos meios de comunicação, está intensificando isso de uma forma muito forte. A gente não só pauta a reportagem, mas a gente pauta o que o telespectador pede; isso não era comum,” completa. Segundo a jornalista Sandra Annenberg, o JH se preocupa muito também com a educação informal. Ela diz que a educação familiar é fundamental na atualidade e, por isso, o jornal pode contribuir muito. “Nós precisamos pensar que estamos contribuindo para formação de um

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cidadão. Trazemos à família para a consciência, para o debate e estamos todos preocupados com o acesso à escola. Nós fazemos parte do todo, somos uma das células que formam a educação. E aí entra um pouco a função de mediador,” conclui. Mesmo considerando que a reportagem de educação e trabalho do JH é pautada sob o critério do interesse público, não há como deixar de lado a questão das normas internas da empresa ou em outras palavras, o conflito de interesses. Com isso, como afirma BUCCI (2000, p.118), o velho desafio do jornalismo, o de ser independente do anunciante ou do governo, também mudou de lugar, diz ele: “Agora, trata-se de saber se ele consegue, além de ser independente do governo ou do anunciante, ser independente dos próprios donos”. O fundamental é que os educadores ensinem os alunos e aprendam também, como reconhecer as verdadeiras intenções do telejornal ao transmitir uma reportagem. É urgente que a instituição escola seja capaz de fazer refletir criticamente sobre o universo da televisão.

7.7. A reportagem no JH

Reportagem em telejornalismo é o trabalho que começa dentro da redação e compreende checagem e apuração dos fatos. Segundo a editora-chefe do JH, Teresa Garcia, todos os dias após o encerramento do jornal, a equipe se reúne para pensar as reportagens que estarão na edição do JH do dia seguinte. Como gênero jornalístico privilegiado, a reportagem se afirma como o lugar onde se desenrola a narração jornalística. E é mesmo, a justo título, uma narrativa – com personagens, ação dramática e descrições de ambiente (SODRÉ, 1986, p.9). Por isso, no JH as matérias seguem esse modelo. As informações sobre educação e trabalho, reportagens que são o objeto desta tese são distribuídas em um ou dois minutos geralmente. Recebem sempre por parte do repórter quando envolve personagens, uma humanização do relato. Para Teresa Garcia, as grandes conquistas dos brasileiros no campo da educação e do trabalho devem ser destacadas pelo jornal, para ela, são conquistas que devem ser comemoradas. O grande diferencial do JH na produção dessas reportagens, no entanto, está no tempo de codificação das matérias. O repórter pode narrar os fatos com um tempo que muitas vezes ultrapassa o padrão da própria emissora, devido às peculiaridades do horário de exibição do JH. Dependendo das características da notícia, ela pode chegar até os seis minutos. No JH, constatamos que as sonoras dos entrevistados são mais longas e variadas. Entretanto, as fontes - os entrevistados de educação e trabalho muitas 143

vezes se repetem. A editora-chefe do JH argumentou que é difícil conseguir agendar os entrevistados, por isso, recorrem aos educadores e profissionais já habituados a falar ou conhecidos da equipe. Outra situação recorrente nas reportagens é o fato de mostrarem em maior número de vezes as escolas privadas e menos as públicas. Essa tendência é questionável. Mas, a editora Teresa Garcia e a âncora Sandra Annenberg explicaram que é complicado conseguir autorização para gravar nas escolas do Estado. Segundo as jornalistas, nas escolas privadas existe um termo assinado previamente pelos pais, o que facilita o trabalho da equipe de reportagem. Nessa perspectiva, faremos na sequencia desta tese uma análise de algumas reportagens selecionadas do JH com o objetivo de perceber os mecanismos da produção da informação e a partir desta análise desmistificar tais mecanismos. As matérias selecionadas foram analisadas conforme a classificação nas categorias de tipo (factual, especial, autopromoção). Esta organização nos possibilitou condensar os discursos semelhantes e recorrentes facilitando a análise.

7.8. Análise das matérias factuais

TABELA 6: Matérias factuais MATÉRIAS SELECIONADAS TIPO DE DATA TEMPO TEMÁTICA PARA ANÁLISE CONTEÚDO 17/03/2008 Polêmica: Salas separadas por nota 2:46 Educação Formal Factual 01/04/2008 Proibição do uso de celular na escola 2:33 Educação Formal Factual 16/05/2008 Atraso dos alunos brasileiros diminui 2:07 Educação Formal Factual 05/05/2008 Qualidade no ensino 5:26 Educação e Emprego Factual 20/06/2008 Feira do primeiro emprego 2:41 Educação e Emprego Factual

As matérias factuais representam a maior parte do material selecionado. São na verdade as reportagens dominantes que permeiam o telejornal. As outras matérias também factuais entram nas categorias de política e emprego.

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7.8.1 Análise qualitativa das matérias factuais

A seguir fizemos análises das matérias selecionadas. As reportagens também estão disponíveis na versão audiovisual em suporte eletrônico (DVD).

MATÉRIA 1: Salas de aula separadas por nota. A reportagem é chamada de polêmica pelos apresentadores do JH. Dirige-se aos estudantes, pais e professores. Apresenta opiniões divididas de alunos e pais. Traz entrevistas com especialistas que defendem a tese de que o modelo em questão não é aconselhável, pois estimula o aluno a competição. Diferentemente dos especialistas, o diretor da escola (particular) defende que os alunos precisam aprender desde cedo que o mercado de trabalho vai absorver os melhores, os mais capazes de competir. Os apresentadores chamam o telespectador para votar sobre a polêmica e dar sua opinião na página do jornal na Internet no final da reportagem.

Características e formato da reportagem: A reportagem usa como cenário o ambiente externo e interno da escola. O posicionamento da câmera pelo cinegrafista visa capturar uma sequencia de tomadas (cenas) que mostrem a atmosfera da escola. Os ângulos são feitos em plano médio em sua maioria, ou seja, todos os participantes da matéria aparecem da cintura para cima no vídeo, em outros momentos usa-se o plano aberto – o que ajuda o público a ter uma visão mais abrangente da escola. Para os detalhes como fachada externa da escola, o close up. Os valores estéticos mostrados pelas imagens estão por toda parte. Alunos uniformizados; Salas com ar condicionado; Professores alinhados, em síntese, o ambiente diferenciado, não deixa dúvida para o telespectador que se trata de uma escola privada. Os cortes são rápidos (o chamado corte seco) e as sonoras (entrevistas) curtas. O que dá ritmo para reportagem. A iluminação é uniforme e privilegia a luz ambiente. O repórter aparece em „passagem‟ (no meio da reportagem) uma vez para dar ênfase ao esforço dos alunos. Os estudantes são entrevistados na sala de aula e sentados, o que denota obediência e dá também mais credibilidade para matéria. Pais, professores e especialistas, ou melhor, adultos, aparecem em ângulos abertos ou em pé, para reforçar a figura de autoridade. O tom utilizado pelo repórter durante a narração dos fatos é bem adequado e casa perfeitamente com as imagens exibidas, ele também busca cumplicidade ao entrevistar os estudantes, por isso é extremamente simpático ao se dirigir a eles. Os efeitos sonoros usados na 145

matéria são as risadas dos alunos sobre o tema discutido, o recurso é utilizado com muita propriedade, o que garante ao telespectador segundos de descontração, nem tudo precisa ser tratado com seriedade na escola. Outro detalhe interessante da arquitetura estética da matéria é a hierarquia das sonoras, os pais são mostrados fora da escola, professores e alunos estão juntos. O diretor pedagógico (autoridade máxima) está sozinho – separado. Os especialistas também não pertencem aquele centro de estudos. A impressão que fica após assistir à reportagem e as imagens é a de uma escola bem parecida com uma empresa, aliás, existe uma tomada que mostra em letras garrafais a palavra recepção na entrada da escola.

Reflexões e crítica: Os âncoras do JH na chamada da matéria brincam com a questão de ser ou não bom aluno. Na sequencia assumem um tom mais sério para tratar da polêmica da separação por notas em Goiânia. Aqui já evidenciamos o que Paulo Freire chamou de características da consciência de massa, ou seja, o gosto não propriamente do debate, mas da polêmica pela televisão. O desempenho por notas para ter o direito de estudar na sala com os mais inteligentes é a pauta que mobiliza a matéria. O repórter, Flávio Castro, usa o termo sala vip21. Os alunos que se destacam viram celebridades. Hoje em dia vip é sinônimo de especial, destacado. Essa é outra característica da sociedade de massa – moderna, a visibilidade. Assim, a fama torna-se mais importante do que a cidadania (KEHL, 2004, p.143). A análise anterior evidencia o sonho de excluídos e incluídos na atualidade, o sonho da famosidade. Todos querem aparecer na TV, pois aparecer na TV significa ter projeção e respectivamente dinheiro. O sujeito não se torna mais visível ao participar da massa – pelo contrário - mas compensa sua invisibilidade identificando-se com a imagem do líder ou do ídolo (KEHL, 2004, p.153). Pertencer a classe dos alunos com nota mais alta significa se fazer visível, ser percebido. Significa sair do anonimato, ser reconhecido e ganhar fama na escola, não somente entre os colegas de turma, mas em toda escola. Significa também sair na frente como preconiza a educação “para” o mercado de trabalho. A escola mostrada pela reportagem deveria romper com essa mentalidade da sociedade pós-burguesa, mas aceita tais diretrizes e as reproduz em seu seio. A questão do desempenho dos alunos no caso específico dessa escola, não tem nada a ver com a realidade da escola pública brasileira, onde estudam milhões ou a maioria. A reportagem deixa claro que houve uma

21 Do inglês: very important people. 146

imposição de tal modelo aos pais e alunos. Neste caso, nota-se uma semelhança com a escola estatal, onde as decisões acontecem de maneira vertical ou com o modelo produtivista, que está de olho nas competências e resultados. Nas entrevistas temos pais que concordam e discordam com a segregação por sala, o mesmo acontece com os alunos, evidentemente não houve discussão prévia com os interessados por parte da instituição. Segundo FREIRE (1983, p.46): Educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam significação dos significados. É preciso lembrar que a prática da não-participação nas escolas tem criado identidades passivas e submissão. Realidade cada vez mais presente em todos os níveis de ensino. Isto revela mais uma vez a lógica da ideologia neoliberal. A questão do desempenho por nota ou avaliativo deixa muito claro também que a escola adotou as diretrizes do Banco Mundial para a educação no Brasil. Tais diretrizes preconizam à ideologia dos resultados. A garantia do padrão de qualidade do ensino está associada à nota. A reportagem também reforça quando se refere ao ranking, que somente os melhores terão chance no mercado de trabalho. A última entrevista (sonora) da matéria é com o diretor pedagógico da escola que defende a tese da competição. Os especialistas em educação contestam o modelo adotado, assim como alguns alunos dizem que a nota não é o elemento mais importante. No entanto, a edição do JH optou por fechar a matéria com o discurso altamente econômico e nada pedagógico do diretor. Conforme aponta BACCEGA (2005, p. 223): “Editar é reconfiguar alguma coisa, dando-lhe novo significado, atendendo a determinado interesse, buscando um determinado objetivo, fazendo valer um determinado ponto de vista”. Essa última fala ou o epílogo da história diz muito da posição da emissora e de como ela quer formar a opinião do telespectador sobre a educação. A sonora do diretor representa a fala do líder – do protagonista da reportagem, daquele que detém o poder de tomar as decisões em nome de todos. Porque o aluno não aprendeu ou não teve um bom rendimento não vem ao caso. O importante é ressaltar que há uma seletividade na educação e também na vida, da base ao ápice da pirâmide. Somente os melhores serão selecionados. Faz-se necessário destacar que todos os especialistas em educação entrevistados na matéria são fontes representativas e influentes no cenário nacional. Apresentaram coerência nas respostas e colocam em xeque o discurso do diretor, mas não são eles que encerram a narrativa. Com isso a reportagem faz circular a informação que exalta a competição e a qualificação para o trabalho. No final da matéria oferece-se ao telespectador a

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chance de opinar, opinar para quê? As respostas já foram dadas, construídas e editadas. Tal proposta visa promover o telejornal, principalmente, na internet e sondar o perfil e a opinião do telespectador através dessas enquetes que no dia seguinte entram como teaser (mensagem rápida) no telejornal, mesmo porque ninguém lembra mais de nada. A seguir apresentamos em storyboard, a transcrição ilustrada da matéria sobre Sala separadas por notas. É um exemplo dos termos jornalísticos22 e da narrativa factual utilizada no JH.

22 Dizemos gravar e não filmar em televisão. Filmar é apenas para os filmes de cinema. Reportagem é o que o jornalista faz no exercício de qualquer função da atividade jornalística. No telejornal, a cabeça da matéria é a presença do âncora no vídeo. Off é o texto narrado para o telespectador sobre o que está vendo na tela da TV. Sonora é a gravação da entrevista. Sobe som é todo som registrado pela câmera. Teaser é a gravação de uma ou duas frases (manchete) faladas pelo repórter no local da matéria. Foco é a definição da imagem através da câmera ou o objetivo da reportagem. Tomada é cada cena ininterrupta captada por uma câmera ou take. Frame é dispositivo que capta uma única imagem ou um segundo de imagem. Zoom recurso utilizado para aproximar o objeto da cena. Pan é uma tomada que ajuda o telespectador a redirecionar a atenção de um alvo para outro. Travelling é o deslocamento da câmera por qualquer meio para aproximar ou afastar o objeto. Cenário é o ambiente do que está sendo gravado. Iluminação é a luz principal que ilumina a cena. Os planos ou enquadramentos podem ser diferentes, existem sete tipos: Plano Geral (PG), Plano Aberto (PC), Pano Americano (PA), Plano Médio (PM) o mais usado no telejornal, Primeiro Plano (PP), Close up e Super close, mostra detalhes do objeto ou pessoa. Os ângulos de câmera são diferentes, são eles: câmera alta – o objeto aparece de cima para baixo ou câmera baixa – o objeto aparece de baixo para cima. No telejornal chama-se escalada o giro de informações durante a abertura do jornal. 148

MATÉRIAS SELECIONADAS PARA TIPO DE DATA TEMPO TEMÁTICA ANÁLISE CONTEÚDO

17/03/2008 Polêmica: Salas separadas por nota 2:46 Educação Formal Factual

(Cabeça da matéria: Apresentação Sandra e Evaristo)

É correto separar as classes segundo o desempenho escolar? Esta prática foi adotada numa escola de Goiânia e divide opiniões de alunos, pais e especialistas.

(Reportagem: Fábio Castro – Goiânia)

OFF 1: Nesta sala só estudam alunos que tiraram mais do que oito e meio em todas as matérias no ano passado.

(Sonora – Pedro Nassif) Perdi muito tempo de sono, programa de televisão nenhum. Só estudo mesmo.

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OFF 2: Quem ficou na classe forte comemora, já os que não entraram na classe VIP ficaram sem graça na hora de contar a novidade em casa.

(Sonora Vanny França) Fiquei sem jeito, meio triste

OFF 3: As opiniões dos pais se dividem.

(Sonora Nadson França ) Eu achei bom porque agora ela se esforça mais.

(Sonora Maria Z. Bandeira) O aluno vai se sentir diminuído em relação aos outros.

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OFF (4): Entre os alunos até quem ficou na turma das notas altas questiona o resultado da prática.

(Sonora Maevy Rocha): Nós amamos e quem tá lá fora se sente mal.

(Sonora Natália Rodrigues): Eu acho que a nota é apenas um elemento, ela não serve para definir onde a pessoa deve estar.

(OFF 5) A professora de literatura diz que sente diferença no ritmo da aula.

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(Sonora Roseli S. Pinheiro - professora): Em outras turmas é lógico que eu dou o mesmo conteúdo. Mas abro para revisão e também para perguntas dos alunos.

(Passagem repórter Flávio Castro)

Especialistas em educação acreditam que o modelo não é aconselhável. Para eles quem ficou na classe de alunos com as menores notas pode até estudar mais, mas será movido pela competição, não pela vontade de estudar.

(Passagem repórter Flávio Castro)

Especialistas em educação acreditam que o modelo não é aconselhável. Para eles quem ficou na classe de alunos com as menores notas pode até estudar mais, ma será movido pela competição, não pela vontade de estudar.

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(Passagem repórter Flávio Castro)

Especialistas em educação acreditam que o modelo não é aconselhável. Para eles quem ficou na classe de alunos com as menores notas pode até estudar mais, ma será movido pela competição, não pela vontade de estudar.

(Sonora Márcia Freire - psicóloga): Não é uma forma proposta que irá acrescentar informação e conhecimento. Como se isto fosse o mais importante.

(Sonora Maria Cassimiro – Conselho Estadual de Educação): A escola não só instrui, ela tem que educar para as diferenças e nós aprendemos muito com as diferenças.

(OFF 6): Para a escola não

(Sonora Flávio Roberto de Castro – Diretor Pedagógico): A realidade da sociedade é uma só, todo mundo cultua os rankings. A competição acontece em todos os momentos, no trabalho, em casa, na rua. Nada melhor que a escola para estar trabalhando essa questão.

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MATÉRIA 2: Proibição do uso de celular na escola. A reportagem aborda a proibição do celular nas escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro. Na matéria a reportagem escolhe uma escola particular como palco para a discussão. Alunos e professores são entrevistados.

Características e formato da reportagem: O palco da ação da reportagem novamente é a sala de aula. O cinegrafista seguindo as orientações da repórter procura capturar as imagens de maneira adequada. Por isso, as tomadas (cenas) mostram a escola, os estudantes, professores e o protagonista da reportagem, o aparelho celular. O recurso sonoro da matéria não poderia ser outro senão o ruído do telefone portátil, que na reportagem é utilizado para explicitar para os telespectadores que o som do aparelho atrapalha a concentração na sala de aula. Os cortes são rápidos de uma tomada para outra, mas há uma preocupação em contar a história equilibrando os diversos elementos de cena. A repórter é enquadrada em plano aberto no início da passagem, no final já está em plano médio, o mais utilizado para a aparição do repórter na tela. As entrevistas são curtas e usam o corte seco. A reportagem segue o padrão básico da informação e procura destacar através da narrativa um tema da ordem do dia.

Reflexões e crítica: Novamente a produção do JH escolhe uma escola particular para realizar a reportagem. Neste caso, nota-se que a cabeça da matéria diz: escolas públicas e privadas do Rio, nem assim uma escola pública foi mostrada. Será que lá as crianças não possuem celular? Até o início da década de 1990, quando as classes C e D não eram consideradas consumidoras, o celular era produzido para classe A e B. Com a estabilidade da moeda, o poder aquisitivo da população melhorou e a compra de aparelhos eletrônicos explodiu a ponto do celular virar um problema na sala de aula. Esse fato não é abordado na matéria pela repórter Tatiana Nascimento. A segurança dos filhos no Rio de Janeiro pode ser uma das justificativas para o uso do aparelho. Na verdade, a necessidade de monitorar os filhos. Também esse fato não é muito explorado pela repórter. Temos então a versão da realidade de uma escola particular. Nessa escola pela narrativa apresentada existem regras para o uso do celular. Advertência para os infratores e confisco do aparelho para os reincidentes. No entanto, pela reportagem os alunos entrevistados não parecem levar muito a sério as regras da escola. Brincam com a nova Lei. Muitos relatam que se esquecem de desligar o aparelho e outros se divertem com a interrupção da aula. O professor diz dar o exemplo ao deixar seu aparelho no armário. Porém, a

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questão mais importante não é abordada pela notícia, a falta de educação dos alunos. Apenas um pai é entrevistado para falar que orienta os filhos sobre como usar o aparelho. Podemos ver, dessa forma, que a matéria parece ter sido feita apenas para não deixar a nova Lei passar em branco, uma propaganda para a prefeitura do Rio de Janeiro, digamos.

MATÉRIA 3: Atraso dos alunos brasileiros diminui. Matéria de caráter oficial. Reproduz as informações do Ministério da Educação sobre a melhora estatística da volta dos brasileiros ao ensino fundamental e médio.

Características e formato da reportagem: Eis aqui uma matéria que abusa dos recursos gráficos. Usa toda a tecnologia disponível para montar o cenário favorável aos números. Através dos gráficos é possível proporcionar ao telespectador maior visibilidade do texto narrado pela repórter que usa um tom animado para dar ênfase aos números positivos da educação. Tudo é mostrado com tabelas e imagens feitas no computador da ilha de edição do telejornal. Do ponto de vista estético, tais informações são mostradas assim, em função da falta de imagens. É um recurso apropriado para ajudar o repórter a contar a história sem que ela fique cansativa ou incompreensível para o público. Afinal, televisão é imagem, sempre. Os entrevistados são mostrados em plano médio e as sonoras são curtas, mas muito significativas e precisas. O testemunho do Ministro da Educação funciona como elemento de afirmação para os gráficos que foram exibidos e dá credibilidade para matéria. A sonora com o economista é o contraponto da notícia ou pelo menos deveria ser.

Reflexões e crítica: No caso dessa reportagem é evidente o tom político e propagandístico. A reportagem trabalha o tempo todo com os números positivos do Ministério da Educação no que diz respeito à diminuição do atraso dos jovens brasileiros no ensino fundamental. Tais concepções mais uma vez reproduzem as intenções da política educacional brasileira em nosso tempo. O Ministro da Educação Fernando Haddad é entrevistado para reforçar o tom político da matéria e também para reforçar a questão da educação para o trabalho, ou seja, a capacidade de trabalho qualificado. Na entrevista ele diz que os jovens estão fazendo um esforço para atender as exigências do mercado de trabalho.

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A educação requerida nestes novos tempos deve segundo a reportagem, preocupar-se com a construção de uma sociedade democrática e competitiva, portanto, não pode ser dissociada de uma formação básica. Na sequencia, um economista aparece para falar o óbvio, ou seja, que apesar dos números positivos é preciso investir na qualidade do ensino. Onde estão os educadores, os especialistas na matéria? As fontes são o ministro e o economista e ambos dizem o mesmo. Mais uma vez, o telejornal relaciona a educação com a chance de empregabilidade. Tal postura atende aos interesses do empresariado, mas isto não fica claro para o telespectador que assiste à reportagem. Ao contrário, ele tem a impressão de que o sistema educacional brasileiro está melhorando e muito. A matéria não é encerrada com a (sonora) do ministro e sim com a entrevista do economista que reforça a idéia de uma política de educação para o crescimento econômico.

MATÉRIA 4: Qualidade no Ensino. A reportagem mostra a diferença entre estudar numa universidade pública e privada na hora de arrumar o primeiro emprego.

Características e formato da reportagem: A repórter Tatiana Nascimento usa um tom agradável para introduzir o tema sobre as diferenças entre estudar e formar-se em uma universidade pública e privada. As tomadas são de estudantes em primeiro plano e plano médio, trabalhando como pesquisador. O objetivo da narrativa é dar ênfase para o fato de que existem aspectos negativos e positivos em ambas as instituições. Por isso, a reportagem primeiro usa como cenário o ambiente acadêmico. A passagem da repórter acontece dentro da universidade – perto dos estudantes, para reforçar a ideia de que é na faculdade que se começa a pensar sobre uma colocação no mercado. Na sequencia, uma especialista em Recursos Humanos aparece para dar dicas de como conquistar esse objetivo, no relato ela deixa claro que os estudantes de universidade pública levam uma vantagem sobre os das universidades privadas quando se trata do currículo, a sonora dela dá credibilidade ao texto. O padrão e ângulos das imagens continuam mostrando apenas os protagonistas da cintura para cima. Terminada a matéria, o palco agora é a Universidade do Rio de Janeiro, lá ao vivo outra jornalista dá continuidade ao assunto. Com ela um grupo de estudantes e uma pedagoga. Agora os enquadramentos são abertos para possibilitar que o telespectador tenha uma visão ampla do cenário e fique mais próximo das expressões dos

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participantes. A pedagoga domina a conversa e deixa claro quais são as vantagens e desvantagens para quem estuda em uma instituição pública ou privada na hora de competir no mercado. O tempo dessa reportagem merece destaque. São cinco minutos e meio para explicar aos jovens o quão importante é estar bem preparado para enfrentar o concorrido mercado de trabalho.

Reflexões e crítica: De modo muito sutil, a reportagem revela que as oportunidades não são iguais para todos. Ou seja, os alunos das universidades públicas terão mais chances e oportunidades de conquistar um emprego que os alunos de instituições privadas. O direito que todos deveriam ter de estudar em universidades públicas não é questionado e muito menos discutido pela reportagem, o enfoque não é este, mas nunca este é o enfoque. Este debate ou polêmica parece não interessar aos jovens. Só a questão do emprego e da educação que qualifica para o trabalho motiva as reportagens. Trata-se de perceber, então, que todas as matérias sustentam a tese da educação como meio de elevação de renda e fortalecimento da capacidade de ser empregável, logo consumidor. Dessa forma, fica implícito que o único responsável pela conquista do emprego é o próprio jovem. Aspectos econômicos, raciais, desigualdades culturais, de escolaridade e sociais não contam. A “culpa” recai toda sobre o estudante que precisa se adequar a novas exigências da escola e do trabalho.

MATÉRIA 5: Forum do 1º Emprego: A apresentadora do JH Sandra Annenberg chama reportagem da jornalista Neide Duarte sobre o primeiro fórum para jovens que buscam o 1º emprego. Na cabeça da matéria ela diz: “O eterno duelo entre experiência e oportunidade”.

Características e formato da reportagem: O cinegrafista seguindo as orientações da repórter Neide Duarte procura capturar as imagens do primeiro ambiente da reportagem – (o centro de convenções em São Paulo), as tomadas são de jovens e dos profissionais envolvidos com o evento, são essas imagens que casam com a narração da repórter, que usa um tom jovial e agradável para falar do tema. Depois do primeiro ambiente, uma mudança de cenário, as imagens agora são da calçada, diante de uma faculdade onde estudantes conversam e, aqui um rápido corte seco para mudar de cenário. Os enquadramentos são todos de plano médio até esse momento. A repórter na continuidade da matéria explora o “sonho” do primeiro emprego – estágio. Vai levar

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duas irmãs para um grande escritório simulando uma entrevista de trabalho. Porém, primeiro as imagens revelam o aspecto esportivo e os sapatos das meninas, aqui um close up nos pés das garotas - aparência nada adequada para o processo seletivo. Em outra tomada (cena), elas já estão vestidas de acordo com a função pleiteada. Nova mudança de cenário, por isso, as imagens mostram o imponente edifício onde elas hipoteticamente desejam trabalhar. A imagem em movimento transmite a impressão da verdade e é acolhida de imediato pelo telespectador jovem que se identifica com a simulação. A repórter Neide Duarte, nesta reportagem não aparece em passagem, a narrativa segue em off. As entrevistas são curtas e assim como as imagens revelam a importância da aparência, sobretudo para conquista do primeiro emprego.

Reflexões e crítica: A tese da empregabilidade associada ao bom desempenho escolar deixa claro que só os mais preparados serão inseridos no mercado. A reportagem também explora muito a questão do comportamento e também da aparência na hora de tentar uma vaga. O jovem precisa mostrar capacidade de adaptação e, portanto, se apresentar de acordo com o exigido pela função. Nos processos de seleção entra em jogo a lógica da competição e só os mais atentos e dispostos a enfrentar tais exigências triunfarão, pelo menos é o que diz a reportagem.

7.8.2. Análise das matérias especiais

TABELA 7: Matérias Especiais MATÉRIAS SELECIONADAS TIPO DE DATA TEMPO TEMÁTICA PARA ANÁLISE CONTEÚDO 28/04/2008 Primeiro emprego 6,07 Trabalho Especial 28/07/2008 Fazer o quê: jornalismo ou publicidade 5,43 Carreira Especial 06/06/2008 Projeto de Música 2:09 Inclusão Social Especial

As matérias especiais recebem um tratamento diferenciado. São mais elaboradas, possuem maior duração e um refinamento por parte da edição que procura caprichar nas imagens e nos recursos sonoros e visuais. Geralmente entram no meio ou no final do jornal, tudo depende da

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relevância do assunto. Quando encerra o jornal essas reportagens são para emocionar o telespectador e passar uma mensagem de positividade.

MATÉRIA 6: Primeiro Emprego. Como consegui-lo? Quadro fazer o quê? A âncora Sandra Annenberg chama a matéria e fala sobre a angústia de conseguir o primeiro emprego. Na cabeça da matéria, ela diz: “O Jornal Hoje mostra os caminhos para os jovens que querem entrar no mercado de trabalho”.

Características e formato da reportagem: A reportagem começa com uma sonora de um jovem que participa de uma dinâmica para o primeiro emprego, o enquadramento é um super close up, que ajuda mostrar toda a tensão do entrevistado. Para introduzir o assunto a repórter utiliza uma narrativa que apresenta um ritmo rápido e um tom firme. As tomadas são em plano aberto para mostrar a dinâmica da empresa de seleção. Por isso, a repórter recorre a elementos gráficos e desenhos ilustrativos para deixar a reportagem ainda mais clara e didática para os telespectadores. As imagens também procuram dar ênfase para as novas tecnologias – o computador é bastante mostrado pelo cinegrafista. A passagem da repórter acontece dentro da sala de aula, ela abre a porta da faculdade para insinuar para público que ao final do curso é chegada hora de abrir outras portas, porém aqueles que conseguem abri-las antes levam vantagem no mercado. Novamente a edição usa o recurso gráfico para ilustrar quais são os estágios mais procurados e cursos. Especialistas no assunto complementam a narrativa. Na transição de um cenário para outro, um corte seco para entrada ao vivo do apresentador Evaristo Costa, que bate um papo com jovens universitários de escolas públicas e privadas (isso para deixar clara a isenção do jornal) e também com uma consultora na área, o objetivo agora é tirar dúvidas dos jovens e explicar para o telespectador quais os cuidados na hora de conseguir um estágio ou o primeiro emprego. Os estudantes falam de suas experiências e servem de exemplo para os jovens em casa. São seis minutos de reportagem, um tempo e um recorte só possível no JH. No encerramento, Evaristo convida os telespectadores para tirar dúvidas na página do jornal na internet.

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Reflexões e crítica: A reportagem destaca uma vez mais, a relação educação e trabalho para conquista da primeira oportunidade no mercado. O problema é que o enfoque é para a qualificação e disputa no mercado. O jovem telespectador é cercado com todas as informações que lhe garantam competir na batalha pelo primeiro emprego, ou estágio. A ousadia de buscar uma linguagem diferenciada ao entrar ao vivo em rede nacional com este tema é louvável, assim como a condução e articulação do âncora Evaristo Costa. Por outro lado, a reportagem não questiona e nem aborda o fato de que não há vagas para todos, tampouco levanta a questão das políticas públicas de apoio ao primeiro emprego para os jovens. Parece que todos os jovens que forem aplicados e seguirem as dicas apresentadas pela reportagem terão sucesso no complexo e conflitante mundo do trabalho contemporâneo.

Matéria 7: Fazer o quê: jornalismo e publicidade. Seguindo essa ideia a reportagem leva um jovem escolhido pela produção (que representa todos os outros jovens interessados nesta profissão) para conhecer a rotina de quem já trabalha no mercado. No caso da reportagem da tabela sete, jornalismo e publicidade. O apresentador do JH, Evaristo Costa é o mediador entre o jovem e o profissional da vez. O foco da reportagem é mostrar para o telespectador que irá prestar vestibular, quais são os aspectos positivos e negativos de determinada carreira.

Características e formato da reportagem: O cenário da reportagem é o ambiente de trabalho de ambos os protagonistas da história. Gravar neste ambiente dá mais sentido e impacto emocional para matéria. A estética do local ajuda dar maior capacidade interpretativa para o telespectador. Afinal, milhares de jovens em casa estão visualizando o universo mostrado. As imagens capturadas pelo cinegrafista que acompanha o repórter passeiam pelo ambiente, os ângulos procuram ressaltar os espaços, os pequenos ambientes de trabalho e as pessoas em ação. As imagens são feitas em movimento e os cortes de uma cena para outra seguem um encadeamento. Por outro lado, o posicionamento da câmera não é uniforme. Os planos são dinâmicos, justamente para se ajustarem ao perfil dos jovens. Dessa maneira, o ritmo da reportagem envolve os personagens e ao mesmo tempo relaciona o texto falado pelo repórter e entrevistados com as imagens. A narrativa bem descontraída e coloquial aumenta o grau de eficiência da comunicação. A boa iluminação também oferece ao telespectador uma visão plástica do ambiente, não

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necessariamente igual. Os efeitos sonoros utilizados na reportagem entram como elemento de conexão e são bastante oportunos, no sentido de também despertar o interesse dos jovens. Há, portanto, uma articulação perfeita dos recursos estéticos e textuais. O tempo de duração da reportagem também deve ser observado, pois foge do tempo convencional, outro fator que aumenta o interesse do público e dá mais „credibilidade‟ ao contexto da história. O repórter que também é um dos âncoras do JH não está ao vivo, o que pressupõe que a reportagem inserida foi gravada. Ou seja, houve tempo para pensar a forma de sua apresentação e edição. Isto nos revela, portanto, o processo de construção da representação da realidade.

Reflexões e crítica: A reportagem começa de maneira acelerada. É importante mostrar logo de cara que o jornalismo é uma correria. Evaristo Costa (âncora do JH) leva a protagonista da história para os estúdios da CBN em São Paulo (A Rádio CBN é afiliada da Rede Globo), lá ambos conversam com o diretor de jornalismo, Heródoto Barbeiro. Não por acaso, a garota é submetida aos conselhos do experiente jornalista. Como ícone da profissão na atualidade, ele representa o sucesso e o glamour da profissão. Nesse contexto, de maneira muito superficial se fala do jornalismo. Parece que não há problemas, que tudo flui tranquilamente e que é muito fácil conseguir um emprego na área, para isto basta estudar e se dedicar. A dificuldade da profissão é o fato de ter que trabalhar muito. Na sequencia, Evaristo segue com outra garota para uma das agências de publicidade mais famosas de São Paulo a W/Brasil de propriedade do publicitário Washington Olivetto. Menos a vontade com a presença da reportagem, o publicitário fala com a garota, mas sem o mesmo entusiasmo do jornalista. De maneira também muito superficial e rápida dá algumas dicas para a jovem sobre a profissão. No final deixa claro que só há vaga no mercado de trabalho para os melhores. O citado publicitário tem um blog na Globo.com, lá ele conta fatos da sua vida profissional e pessoal. As duas profissões são mostradas em flashes e, por isso, iludem e não esclarecem os estudantes, ao contrário, forjam uma atmosfera. Dessa forma, a reportagem mostra para os jovens uma concepção de trabalho voltada à nova visão de mundo que pressupõe uma força de trabalho de novo tipo, adaptada aos conteúdos e práticas do capitalismo neoliberal. Note-se que ambos profissionais destacados na reportagem são sinônimos de sucesso em suas profissões. Um profissional talentoso, mas que não seja conhecido não teria o mesmo impacto. Afinal vivemos na sociedade do espetáculo. Outro ponto a ser destacado é que os jovens convidados pela reportagem são brancos. É sabido que de acordo com o IBGE, 44% da

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população brasileira é parda. Somente brancos cursam jornalismo e publicidade? As imagens do JH parecem querer insinuar isso.

MATÉRIA 8: Educação informal. A reportagem dessa vez tem como palco o Distrito Federal. Itapoã é a cidadezinha. Lá um professor de música desenvolve um projeto de inclusão social com crianças carentes. Crianças que segundo a reportagem ficavam na rua ou iam mal nos estudos antes do projeto.

Características e formato da reportagem: Eis aqui uma matéria que usa a linguagem da televisão para comover e fazer emocionar. O cenário é uma cidade chamada Itapoã e a comunidade de casas simples onde vivem os protagonistas da história. A câmera passeia pelo ambiente para capturar a pobreza do local. Os enquadramentos são próximos quando a repórter aparece no vídeo, mais fechados também nos protagonistas, o que indica para o telespectador maior tensão do que está sendo mostrado. Elas também ajudam deixar a miséria do local mais explícita. Os movimentos de câmera são lentos, a iluminação é tênue e uniforme dentro da casa dos personagens, o que vai pouco a pouco envolvendo e criando o contexto da história para o telespectador. Com uma narrativa linear, com começo meio e fim, a repórter utiliza no início da matéria um tom mais brando, delicado que explora a condição humana dos protagonistas – para depois subir o tom de voz e empregar mais força e ritmo ao contexto do que está sendo mostrado. A humildade das crianças, que são filmadas em close up e sem luxo num primeiro momento, agora é substituída pela estética da apresentação, lá as imagens captam os personagens em ângulos que destacam a alegria dos rostos e uma atitude distinta. A trilha sonora também não pode ser esquecida. Neste caso, ela é a grande estrela da reportagem, pois contribui para a compreensão e funcionamento da matéria. A narrativa novamente agrada aos ouvidos dos telespectadores que ficam bastante sensibilizados com o desfecho da história. A estrutura da reportagem, os elementos e efeitos utilizados produzem assim, uma reportagem muito mais estética e comovente do que informativa.

Reflexões e crítica. Por meio da emoção e da exploração da miséria do local, a matéria conta a história de crianças pobres que através da iniciativa de um professor, mostrado como herói pela

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reportagem transforma a realidade das crianças. O que era no início apenas um coral virou uma orquestra. Pais emocionados exaltam o professor e o projeto e dizem que os filhos melhoraram muito em todos os sentidos, principalmente, em casa e no rendimento escolar. A jornalista imbuída de deixar o telespectador ainda mais sensibilizado entrevista as crianças em suas humildes casas e ressalta a felicidade dos pais. A matéria é na verdade declaratória, ou seja, busca por meio da comoção do telespectador exaltar a solidariedade e a iniciativa de um cidadão. E aí podemos nos perguntar: A quem interessa a história das crianças de Itapoã? A emissora que se afirma como grande líder em defesa da educação. O professor fez tudo sozinho mesmo? Apesar do lado positivo da história, ver que realmente as crianças estão aprendendo música, infelizmente apesar de se tratar de inclusão, a reportagem não diz que o projeto acontece em todo o país. Entretanto, a emissora oportunamente registra a história e ganha com a reverberação que se realizará na comunidade local e entre os telespectadores do JH. Também um dos imperativos do telejornalismo moderno é a base da matéria – a emoção e a comoção da audiência. Mesmo que se leve em conta a importância da formação cultural das crianças (em música), esta depende do esforço do professor e de sua doação. Será mesmo? Certamente isso não é percebido claramente pelo telespectador. Assim posto, a reportagem do JH apenas joga o jogo de interesse político da TV Globo e reforça a linguagem da TV que fundamentalmente objetiva emocionar.

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7.8.3. Análise das matérias de autopromoção

TABELA 8: Matérias de Autopromoção MATÉRIAS SELECIONADAS TIPO DE DATA TEMPO TEMÁTICA PARA ANÁLISE CONTEÚDO 11/04/2008 Amigos da Escola 2,01 Política Autopromoção 14/07/2008 Educação e Emprego 2,53 Superação Autopromoção

As reportagens de autopromoção da emissora também passeiam pelo JH. São matérias sobre projetos e ações da empresa. No JH é muito comum conteúdo sobre o projeto “Amigos da Escola” e “Criança Esperança”, produtos que ressaltam o compromisso social da Rede Globo com a sociedade. Normalmente são exibidas ao longo do ano nas diversas edições do jornal, são importantes, pois estão sempre associadas à questão da educação profissional e ao emprego.

Matéria 9: Amigos da Escola. Primeiro dia temático sobre política. Estudantes de dezessete Estados brasileiros participam do projeto de iniciativa da emissora. Na cabeça da matéria o apresentador diz que o projeto visa fortalecer a relação entre “a escola e a comunidade”.

Características e formato da reportagem: A repórter utiliza um tom animado para narrar o dia temático sobre a importância da política e do voto. A estrutura narrativa é simples e direta para melhor contar a história e atrair o telespectador. Ela conversa com o público. Essa estratégia é muito utilizada em TV, pois denota naturalidade e tranquilidade. As imagens casam com o off e mostram o projeto acontecendo em BH com apresentação de teatro, no Espírito Santo, com o trabalho dos voluntários e teatrinho de fantoches para motivar as crianças, no estado do Recife o museu como cenário para falar da história política do local. É preciso identificar os estados por se tratar de uma reportagem de interesse nacional. A repórter aparece em passagem no museu (no meio da matéria) em plano médio para explicitar a importância de sua história. As sonoras são curtas e buscam dar sequência e coerência para a narrativa. Os enquadramentos procuram mostrar os protagonistas em ação, todos trabalhando pela educação e engajados no projeto “Amigos da

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Escola”. A transição de imagens de um estado para outro tem a finalidade de orientar o telespectador que o projeto acontece em todo Brasil. Por se tratar de uma reportagem que faz “propaganda” do projeto da emissora, a narrativa preocupa-se também em lembrar o telespectador do objetivo do projeto despertando nele o interesse pela próxima edição. Em televisão é importante apresentar um texto que seja claro e ao mesmo tempo curto, sem, no entanto, perder a intensidade da informação. Por isso, no caso desta reportagem os fatos foram bem costurados e seguiram uma organização tradicional com começo, meio e fim.

Reflexões e crítica: A reportagem é muito clara. Trata-se de fazer dentro dos telejornais da emissora propaganda do projeto e promover a iniciativa da rede. No primeiro capítulo desta tese apontamos os objetivos do projeto “Amigos da Escola”.

Matéria 10: A nova vida de Ubirajara. A reportagem em tom emocional explora a história de um ex-morador de rua que passou num concurso e conseguiu um emprego público, sonho de milhões de brasileiros.

Características e formato da reportagem: Essa reportagem quer emocionar o telespectador. Através de uma narrativa em tom singelo, o repórter chama atenção para o protagonista da história, mas também dialoga com o espectador. As imagens em close up e plano médio buscam enquadramentos que mostram o antes e o depois da vida do personagem, um ex-morador de rua. As tomadas registram a rua, o local de estudo, a nova família – para finalmente explorar a chegada do novo trabalhador ao local de emprego. É, sem dúvida, o grande desfecho da reportagem. As sonoras são curtas e procuram ressaltar o esforço e a superação do indivíduo que alcança a cidadania pela conquista do emprego público. Nesta reportagem a qualidade das imagens ajuda a compor o quadro estético da narrativa e dá muita força e ritmo para a história que tem um epílogo parecido aos das novelas da casa, tudo dá certo no final.

Reflexões e crítica: O telejornal tem que provocar emoções, sensibilizar o telespectador. As imagens gravadas devem transmitir a realidade, mas também imagens interessantes que estimulem e sirvam de exemplo para quem está assistindo. De maneira ingênua o telespectador compra a história do ex-morador de rua. Ele se identifica com ela. É mesmo um sonho conquistar

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um emprego público. Como exemplificou a editora-chefe do JH, esse tipo de reportagem é muito bem aceita pelo jornal, que tem a percepção de que elas merecem ser comemoradas e mostradas. Afinal, o ex-morador de rua está representando milhões de pessoas que na mesma situação de injustiça social gostariam de ter a mesma oportunidade. Por outro lado, é preciso esclarecer que há um precipício separando o sonho da realidade. Mas, sonhar não custa nada. Por isso, o jornal alimenta a esperança do sonho. Assim, o telespectador transfere para o personagem suas necessidades e, ao mesmo tempo, conforma-se com a sua realidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao chegarmos às considerações finais deste estudo, sem pretender encerrar a discussão super atual sobre a relação educação e trabalho no telejornal, entendemos que a presença da mídia na sociedade é um campo que precisa ser estudado permanentemente pela escola em função de sua influência e poder. A notícia de educação que é veiculada, não é a da realidade em si, mas a que é construída para seduzir e emocionar. O diálogo estabelecido com o público visa perpetuar uma educação para o mercado de trabalho, para o consumo, ou seja, propagar o modelo de educação produtivista que não quer indivíduos politizados, apenas sujeitos que se sujeitam "a nova pedagogia da hegemonia23" Como observa WOLTON (2004), os noticiários televisivos funcionam como um laço social. Segundo o autor, os laços primários que dizem respeito à família, à vizinhança, à solidariedade de classe, à pertinência religiosa tornam-se cada vez mais distantes, resultando numa fragilidade nas relações entre a massa e os indivíduos. O papel do telejornal é justamente preencher este espaço social, vazio de sentido ético e coletivo. Também muito enfraquecido pelo capitalismo que como processo civilizatório cria o consenso. A partir dos procedimentos de análise, concluímos que o telejornalismo assume hoje enorme importância. Como ressaltamos ao longo desta tese, ele é um lugar de referência para o brasileiro buscar informações. Um exemplo dessa referência é o Jornal Hoje – telejornal da Rede Globo que diariamente leva até os telespectadores notícias do Brasil e do mundo. Dentro desse contexto entendemos que a notícia transmitida pelo jornal recebe um tratamento simplificado na descrição dos fatos, através da linguagem da TV que não pode ser complexa, complicada. Através das notícias transformadas em mercadoria, o homem moderno é levado a desejar coisas supérfluas. As notícias de educação exibidas pelo JH examinadas insistem em valorizar a forma perversa de competição e qualificação para o trabalho como única via para alçar um lugar no concorrido e competitivo mundo do trabalho. Tais reportagens produzem um sentido sobre os fatos que distorcem a realidade. O tecnicismo e o consumismo pautam as reportagens do JH com o objetivo de disseminar os valores calcados nos princípios do individualismo.

23 No sentido concebido por Lúcia Maria Wanderley Neves como aquela que é dada pela burguesia. A nova pedagogia da hegemonia. Estratégias do capital para educar o consenso. São Paulo: Xamã, 2005. 167

Acontece, conforme explica GOERGEN (2003), que na medida em que a educação é chamada a voltar toda a sua atenção às exigências decorrentes da conjuntura econômica, como por exemplo, à educação profissionalizante, ela abandona progressivamente a tarefa de pensar a sociedade e o ser humano como um todo, na perspectiva educativa de sua humanização. É compreensível que esta perspectiva educativa não apareça na cobertura televisiva. A ausência de pluralismo na cobertura, mais uma vez evidencia o comportamento estratégico da mídia brasileira. As reportagens que tratam de mostrar a realidade da educação no Brasil em grande parte são pautadas para ressaltar a importância da qualificação profissional. Há uma necessidade e uma pressão das forças políticas “superiores” que este tema esteja sempre em destaque. Insistimos nesse ponto, por acreditar que a educação é tratada pelos noticiários ora, como a grande salvadora da pátria, ora como a única saída para se conseguir um emprego. Seguindo esse raciocínio, HORKHEIMER (1976) aponta que a crise da razão se manifesta na crise do indivíduo. Como é sabido, nessa sociedade pós-moderna o ser humano é visto como um cliente a ser conquistado permanentemente em função de sua insatisfação recorrente. A comunicação moderna baseada no paradigma do progresso impôs modos de comunicar para divulgar produtos, estratégias políticas, econômicas que objetivaram e objetivam a formulação de políticas de informação funcionais aos interesses hegemônicos. Assim, concordamos que os meios de comunicação de massa estão profundamente comprometidos com os mecanismos de dominação em uma sociedade ocidental injusta, hierarquizada e organizada para divisão desigual de poderes. Sob essa perspectiva, a comunicação social evoluiu para criar uma rede complexa de veículos de comunicação, conglomerados de produção de informação e entretenimento. Por isso, o telejornal convida o telespectador a assistir as notícias com a intenção de construir para ele uma visão de mundo, da emissora, dos jornalistas, dos dominantes. Nessa visão se oculta a realidade. Trata-se de uma imprensa que propaga uma informação superficial, que não oferece ao público condições de refletir sobre os acontecimentos e suas causas históricas. Com um tempo reduzido para tratar de temas complexos, muitas vezes os significados das matérias acabam por reforçar apenas a preocupação do jornal em mediar os fatos para o público, não trazendo nada em seu discurso que possa esclarecer os telespectadores. As fontes apresentadas nas reportagens (sempre as mesmas) acabam por reproduzir significados que interessam ao veículo e que formam um pensamento único sobre o assunto. Quando isso não ocorre esses

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entrevistados aparecem de forma tão irrelevante na matéria que não é possível para o telespectador perceber tal estratégia da edição da notícia. De forma geral, as mensagens do JH apresentam os resultados positivos do sistema e nestes casos trazem o ministro da educação ou outras autoridades políticas como protagonistas. Quando tais notícias não são favoráveis às aparições desses protagonistas, eles desaparecem das matérias. Os especialistas em educação são convidados a falar, no entanto, a edição e os filtros da reportagem cuidam para que, o que é expresso pelos educadores fique meio perdido no meio do assunto. Quando as notícias revelam a inoperância do sistema e seus problemas sem fim, é hora de mostrar a população, para que ela reclame e denuncie a precariedade das escolas, do ensino. No caso das notícias sobre trabalho, quase todas enfocam os degraus de acesso para a empregabilidade. Raras são as reportagens que tratam da exploração infantil, por exemplo, ou dos problemas entre empregados e patrões. Em síntese, o JH segue os ditames mercantilistas e ideológicos não apenas da família Marinho, mas também das muitas vozes ocultas dos capitalistas e políticos brasileiros que patrocinam cada um a sua maneira a fábrica de notícias. O telespectador é apenas um número que deve ser mantido. Portanto, o desafio do homem moderno, seja ele telespectador, professor, trabalhador, jovem ou jornalista é recuperar seu poder de cidadão enfraquecido. A TV não pode seguir soberana como porta-voz do social. Este, poderíamos dizer, é um dos grandes dilemas e desafios da atualidade: formar um ser humano crítico e negador (da realidade que o quer anular) ou formar um indivíduo adaptado, acrítico e afirmador. Formar um ser humano interpelador, capaz não só de absorver as influências, mas de colocá-las numa tela reflexiva que lhe permita avaliá-las, rejeitá-las ou integrá-las seletiva e conscientemente. Sujeitos interpeladores são sujeitos autônomos, capazes de resistir ao sistema, negar a ideologia dominante que se infiltra por todos os poros e condiciona os próprios sentidos. Sem esse ideal nos rendemos, abrimos mão de nós mesmos como seres capazes de escrever nossa própria biografia e conduzir nossa história (GOERGEN, 2003, p.99-105). Dentro do quadro apresentado, finalizamos este trabalho com a certeza do prejuízo formativo causado pela TV em associação com os poderes legitimadores da sociedade. Claro que a TV também contribui para discussão de temas importantes. O problema é que tais temas são sempre impostos pela mídia por razões diversas. A máscara utilizada pelo jornalismo na atualidade precisa ser retirada. Exauridas pelo trabalho, pela correria da vida moderna, as pessoas

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não conseguem perceber a prisão na qual se encontram. Uma prisão de entretenimento e vazio cultural – paradoxalmente de fuga. Infelizmente, até a imprensa escrita hoje se pauta pela TV. A escola, o pensar, a leitura, a experiência e a imaginação tão importantes para formação de sujeitos emancipados, desafortunadamente estão enfrentando a concorrência da mídia, que promove uma visão de mundo formatada para o individualismo desprezando o coletivo. Assim, vivemos em uma sociedade onde a informação dos telejornais e da televisão são para a maioria a única versão da história. Há na verdade, uma deturpação da história. Temos então o chamado telejornalismo “Fast Food” que tem tudo a ver com os tempos modernos.

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ANEXOS

Pauta um: Entrevista Jornal Hoje – Editor-chefe ou editor de educação

(Entrevista com jornalistas da Rede Globo para entender a produção da notícia de educação no telejornal Jornal Hoje - JH).

1) Isabela Ruberti – Quais são os critérios que determinam no JH a pauta de educação?

2) Isabela Ruberti – A rapidez e imediatez caracterizam a atividade jornalística. No JH como acontece a seleção do que é notícia de educação? O que vira notícia?

3) Isabela Ruberti – Como os fatos que envolvem a pauta de educação são checados, verificados? Em geral, quem fala sobre educação no JH?

4) Isabela Ruberti – Com que freqüência as notícias sobre educação são inseridas no telejornal? Existe uma preocupação diária com essa editoria? Se existe, porquê existe?

5) Isabela Ruberti – Para quem o JH codifica\decodifica reportagens sobre educação? E quais são suas principais fontes?

6) Isabela Ruberti – Quantos são os profissionais que trabalham na redação da equipe do JH? Existe um ou mais especializados em educação?

7) Isabela Ruberti – No JH existe alguma norma interna no processo de edição da notícia sobre educação? Uma linguagem especial no tratamento dessa editoria?

8) Isabela Ruberti - O JH tem um quadro chamado “Mercado de Trabalho” que ajuda, ensina e esclarece o telespectador sobre as mudanças e oportunidades no mundo laboral. Qual a relação entre a notícia de educação e a notícia de trabalho, emprego no JH? Como os quadros do JH são definidos?

9) Isabela Ruberti – Qual a estrutura básica do JH? Ele tem um formato de revista?

10) Isabela Ruberti – Para finalizar, nos últimos anos, nota-se que o JH tem trazido para o telespectador um número significativo de mensagens sobre educação e trabalho. Veracidade e compromisso com a cidadania são essenciais no exercício da profissão. Houve a preocupação de dar mais ênfase para essas editorias? Por quê?

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Pauta dois: Entrevista Jornal Hoje – Apresentadores ou apresentador (a)

(Entrevista com jornalistas da Rede Globo para entender a produção da notícia de educação no telejornal Jornal Hoje - JH).

1) Isabela Ruberti – O JH é um telejornal simpático e intimista no horário de almoço dos brasileiros e brasileiras. O objetivo é o de estabelecer, além de informar, um diálogo com o telespectador?

2) Isabela Ruberti – Em geral, o brasileiro se comunica e se reconhece pela TV. Qual o peso de ser âncora de um dos telejornais de maior audiência do país? É preciso muita formação? Como lidar com a categoria de estrela de telejornal?

3) Isabela Ruberti – Qual é o principal princípio editorial que influencia a pauta sobre educação e a sua forma de apresentação?

4) Isabela Ruberti – Qual a importância para o JH, na atualidade, do estímulo à participação dos telespectadores? O JH está mais interativo? Como ocorre essa interação?

5) Isabela Ruberti – O JH fala muito com e para os jovens do Brasil sobre educação e trabalho. É possível delinear a partir dessa experiência, quais são os maiores anseios desses jovens do século XXI?

6) Isabela Ruberti – O maior desafio do jornalismo é fazer as notícias compreensíveis para o público. Em um país como o Brasil, com tantas disparidades sociais, econômicas e educacionais, como o JH enfrenta esse desafio?

7) Isabela Ruberti – Para finalizar, o telejornal tem a função de educar também, ou só a responsabilidade de informar? Quando a notícia vira educação?

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