UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTE DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

ANDERSON LUIZ DA SILVA

O JORNALISTA EM PERFORMANCE NO INSTAGRAM:

UMA ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE EVARISTO COSTA

2019 CUIABÁ

ANDERSON LUIZ DA SILVA

O JORNALISTA EM PERFORMANCE NO INSTAGRAM: UMA ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE EVARISTO COSTA

Trabalho apresentado à banca examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito para a obtenção do título de bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, sob a orientação da professora Drª Tamires Ferreira Coêlho.

CUIABÁ 2019

“Eu sou dura, ambiciosa, e eu sei exatamente o que eu quero. Se isso faz de mim uma puta, ok.” Madonna

AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho em primeiro lugar à minha avó e ao meu avô, que já não estão mais comigo, mas me ensinaram a ser determinado e a ter forças para superar todos os momentos difíceis com que eu me deparei ao longo da minha vida e nesta graduação. Também o dedico a minha mãe Nilva, por ser essencial na minha vida e me apoiar independentemente das minhas escolhas, sempre visando a minha felicidade, como também a toda minha família e amigos por me incentivarem a ser uma pessoa melhor e a buscar os meus sonhos.

Agradeço ao meu namorado que foi a base estrutural para que eu pudesse concluir este meu trabalho. Também sou profundamente grato pela confiança depositada na minha proposta de projeto pela minha orientadora Tamires Coêlho. Obrigado por me manter motivado durante todo o processo, por me mostrar que o meu trabalho tinha potência e relevância, além de toda a paciência durante esse processo.

Por último, quero agradecer também à Universidade Federal de Mato Grosso, a todo o seu corpo docente e à cidade de Cuiabá, onde fui completamente acolhido e coberto por oportunidades.

RESUMO

O uso das redes sociais por jornalistas e sua performance nas plataformas se relacionam com o vínculo que o profissional gera com o público. Consideramos o jornalista como um sujeito que transforma sua performance no Instagram em uma estratégia para alavancar sua popularidade e celebrizar ainda mais sua profissão. Este trabalho focou em identificar as estratégias usadas pelo jornalista Evaristo Costa na rede social online Instagram. Evaristo era âncora do da emissora Globo de televisão no período da análise, de janeiro a junho de 2017. A interpretação do material coletado se deu a partir do conceito de performance. De acordo com as análises, o jornalista faz uso de uma comunicação padronizada, podendo-se encontrar memes, virais, testes, selfies e temas do cotidiano. O jornalista, ao relacionar o uso do Instagram à sua profissão e ao seu trabalho, torna sua atuação na rede social um trabalho imaterial, que impacta no capital simbólico pessoal e profissional.

Palavras-chave: Jornalismo; Redes Sociais; Instagram; Performance; Evaristo Costa.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...... 7 2. CULTURA DO AUDIOVISUAL ...... 11 2.1 O Ciberespaço e suas linguagens ...... 13 2.2 Redes Sociais Online ...... 15 2.3 Instagram ...... 17 3. DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO COMUNICACIONAL E MÍDIAS DIGITAIS...... 18 4. AS PRÁTICAS SOCIAIS E O SMARTPHONE ...... 22 4.1 Relação da Imagem com o Smartphone ...... 30 4.2 Selfie ...... 31 4.3 Memes ...... 33 5. METODOLOGIA ...... 35 5.1 Quem é Evaristo Costa ...... 35 5.2 Performance como Eixo Metodológico...... 36 6. EVARISTO COSTA EM PERFORMANCE NO INSTAGRAM ...... 41 6.1 O eu narrador no Instagram de Evaristo Costa ...... 41 6.2 O eu real no Instagram de Evaristo Costa ...... 48 6.3 O eu espetacular no Instagram de Evaristo Costa ...... 53 6.4 Selfie no Instagram de Evaristo Costa ...... 61 6.5 O Meme no Instagram de Evaristo Costa ...... 65 6.6. A Performance no Instagram como Trabalho Imaterial e Elemento Olimpiano ...... 68 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 71 REFERÊNCIAS ...... 75

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente há muita especulação sobre o papel do jornalista diante de uma realidade voltada às redes sociais. Discutiremos a performance nas redes sociais como um objeto de estudo importante para o campo da Comunicação, diante das possibilidades que a internet oferece na propagação de informações, e, além disso, partindo de como o jornalista se coloca no meio dessa realidade onde a maioria das pessoas estão conectadas. O desenvolvimento tecnológico impactou diversas vezes na rotina da produção jornalística desde o surgimento da TV, dos computadores até o do smartphone como o conhecemos. A apuração de uma notícia nos anos 60, quando só existia o impresso e poucas televisões, se dava através do deslocamento do jornalista até o local do fato ou ao local onde estava o entrevistado. Para reunir informações era necessário se deslocar. A distribuição da notícia não era algo tão instantâneo como é hoje, a impressão levava alguns dias, sua distribuição mais ainda. O desenvolvimento do jornalismo na televisão trouxe uma maior rapidez à apresentação dos fatos, mas foi no surgimento das tecnologias relacionadas ao computador, ao celular e à internet que a troca de informações, bem como a apuração e a distribuição de notícias ficou mais rápida. Hoje, a internet está intensamente ligada tanto ao processo de apuração da notícia, como à sua distribuição. Com a evolução das tecnologias comunicacionais e o surgimento das redes sociais virtuais, o jornalismo, assim como o jornalista, teve que se adequar a esse cenário, onde o fazer jornalismo ganhou novos horizontes. O surgimento de novas técnicas de comunicação possibilitou que o jornalista desenvolvesse sua performance nas redes sociais virtuais, sendo este tema nosso foco. Antes do surgimento do Smartphone como o conhecemos hoje, por volta de 1991, e da sua inserção no jornalismo, essa profissão era marcada por uma estética engessada e padronizada: seguia a mesma estrutura ao dar uma notícia, algo objetivo e sério, sendo o referencial daquela época. Hoje, na internet, o jornalismo perdeu um pouco desse enrijecimento e se tornou uma área mais versátil, tornando as notícias mais ricas com fotografias, vídeos e áudios. Além disso, o entretenimento recebeu um pouco mais de atenção por parte do jornalismo. Essas mudanças atingiram vários setores, como a televisão, que ganhou reportagens de entretenimento. E, nas redes sociais virtuais, alguns jornalistas começaram a trazer à tona alguns poucos detalhes dos bastidores dessa profissão. 8

A respeito deste tema, este trabalho analisa a performance do jornalista Evaristo Costa na rede social virtual Instagram1 e como essa performance se articula a estratégias para interação com seu público a fim de se obter um vínculo afetivo. Assim, vamos identificar as estratégias articuladas à sua atuação profissional, construídas pelo jornalista, como também descrevê-las e analisá-las, contextualizando o quê e como foi implementado, no período de janeiro a junho de 2017. Sendo âncora de telejornal por um longo período, o jornalista que, em junho de 2019, foi contratado pela CNN Brasil, trouxe para o seu trabalho um pouco mais de humor, mostrando algumas cenas do que o jornalista passa por trás das câmeras durante seu trabalho prestado na rede de televisão Globo, algo que a TV já fez, mas desta vez produzidas pelo próprio jornalista com uma grande visibilidade na rede social online. Smartphone é um dispositivo capaz de convergir em sua tela impressos, a TV, o computador, o celular e várias outras funcionalidades. Hoje, com um Smartphone é possível produzir um filme, um ensaio fotográfico, scanear documentos, fazer transferências bancárias, fazer compras e acompanhar a vida de milhares de pessoas. E é preciso lembrar que o jornalismo absorveu muitos desses avanços para seu aprimoramento e eficácia, se tornando um convergente de mídias (JENKINS, 2009).

Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. (JENKINS, 2009, p. 29).

As redes sociais virtuais estão dentro desse avanço. No Brasil, até janeiro de 2019, segundo a pesquisa “Global Digital 2019” do site DataReportal – Global Digital Insights, o número de brasileiros ativos em rede social era de 140 milhões aproximadamente, que correspondem a 66% da população total do país (DATAREPORTAL, 2019). Como já mencionado, nosso estudo neste trabalho baseia-se na rede social virtual Instagram. Ainda segundo o site Statista (2019), o Brasil é apenas o segundo colocado pela quantidade de usuários da rede social virtual Instagram, ficando atrás do Estados Unidos com aproximadamente 130 milhões de usuários em junho de 2018, já no Brasil não foi possível encontrar o número total de usuários ativos do Instagram. Entretanto, o Instagram é quarta rede social mais usada no Brasil segundo o Global Digital 2019 (STATISTA, 2019) e, segundo dados de março de 2018

1 Rede com 1 bilhão de usuários até junho de 2018 segundo o site alemão de estatística Statista. 9 do site brasileiro de pesquisa de mercado Opinion Box (2018), no Brasil, cerca de 25% dos internautas entrevistados de um total de 2538, ou seja, aproximadamente 635 pessoas, usam o Instagram. O site Statista ainda mostra que o Instagram Stories, funcionalidade do aplicativo que permite a veiculação de fotos e vídeos instantâneos que permanecem na rede por até 24 horas, estava com 500 milhões de usuários em todo o mundo até janeiro de 2019. Com base nestas informações e nas observações de tantos jornalistas que dessa plataforma se utilizam, essa rede social virtual se torna um ambiente relevante para se observar a performance de um jornalista. Uma breve observação do Instagram de Evaristo Costa deixa perceptível uma intensa interação do jornalista com seus seguidores através de curtidas e, principalmente, de comentários. Um resultado do sucesso dessa interação é o surgimento de notícias sobre o jornalista, muitas vezes relacionando seu perfil na rede social. No decorrer deste trabalho partiremos para uma observação mais profunda dessas interações. Portanto, neste trabalho trataremos do desenvolvimento do audiovisual em relação ao ser humano, do desenvolvimento tecnológico comunicacional às mídias digitais, assim como o uso do smartphone e sua transformação no campo do comportamento humano, se tornando uma prática social. Será abordada também a trajetória de Evaristo Costa como um jornalista de grande audiência na TV e nas redes sociais, além de suas maneiras de lidar com seus seguidores e de quais modos e/ou estratégias se utilizava e utiliza até os dias de hoje para produzir efeitos de comoção, interação e aproximação. No capítulo 2, trataremos da cultura do audiovisual, trazendo o surgimento e a popularização da arte e do vídeo. Abordamos como essa ferramenta baseada completamente na imagem ganhou espaço nas mais variadas plataformas e no cotidiano das pessoas. E, a partir disso, como as redes sociais assumiram um importante papel dentro desta cultura. O surgimento do ciberespaço e das redes sociais impactou consideravelmente na busca pela imagem e pelo vídeo. No capítulo 3 vamos abordar o desenvolvimento tecnológico, desde a televisão até os microcomputadores e smartphones como os conhecemos hoje. A chegada do microcomputador na área jornalística modificou fortemente a rotina do profissional, assim como o smartphone, que otimizou o tempo. No capítulo 4, vamos tratar do conceito de smartphone e como seu uso se configura como prática social, também discutiremos a relação da imagem com o smartphone como processo primordial para o estudo que buscamos com esse trabalho, pois a imagem neste dispositivo é a base dos selfies e memes, que também conceituaremos. 10

A partir do capítulo 5, entraremos nos eixos metodológicos deste trabalho. Introduziremos quem é o jornalista pesquisado e discorreremos sobre o conceito de performance. Já no capítulo 6 faremos a análise da performance de Evaristo Costa na rede social online Instagram. As categorias de análise se baseiam nas categorias de performance conceituadas por Paula Sibilia (2008) e pelos conceitos discutidos neste trabalho de selfie e meme. Terminamos esse capítulo metodológico com a articulação com o conceito de trabalho imaterial, proposto por Lazzaratto e Negri (2001). Ao todo, analisamos 19 publicações. Finalmente, o capítulo 7 se reserva às considerações finais deste trabalho, com as descobertas e insights obtidos durante o processo.

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2. CULTURA DO AUDIOVISUAL

O audiovisual se tornou o tipo de produto cultural mais consumido no nosso cotidiano atualmente. Vemos isso através das audiências que o Youtube e a TV alcançam. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só no Brasil o Youtube é a rede social virtual mais utilizada. Outra base para o fato de o audiovisual ser um produto de grande popularidade, é o lançamento corrente de várias plataformas streaming2 de produções audiovisuais, como a Netflix, e outros que estão surgindo atualmente, como: Amazon Prime Video, Apple TV, e, até o Youtube lançou seu streaming de produções audiovisuais, o Youtube Originals. A corrida dessas grandes empresas por implementar streamings de vídeo para a sociedade só confirma que há demanda para esse consumo. Segundo descrevem Ramos e Bueno (2001), no final do século XX, houve uma enorme transformação das produções culturais como uma das principais economias mundiais, principalmente nos países ricos.

A consolidação da cultura como um campo econômico foi um trabalho que envolveu políticas culturais, alterações nas legislações, criação de novos mecanismos fiscais e, sobretudo, aplicação de um volume de capitais considerável (RAMOS; BUENO, 2001, p. 10).

Nos Estados Unidos havia uma intensa produção cultural na década de 30, e foi então que ocorreu um enorme “surto” da popularização da cultura e das artes nos Estados Unidos, entre eles a indústria cinematográfica e os museus nova-iorquinos. O surto causou proporções internacionais promovendo uma “desterritorialização” da indústria cultural, antes só norte- americana, para todo mundo, que entrou em fluxo com o desenvolvimento tecnológico comunicacional e, assim, constituiu-se o espaço cultural globalizado de hoje. (RAMOS; BUENO, 2001). Assim, constatamos que o “surto” da circulação de bens culturais e artísticos nos Estados Unidos foi muito importante para que a indústria cultural, sobretudo a audiovisual, fosse popularizada ao redor do mundo. Mas só foi na década de 70, segundo Ramos e Bueno (2001), que houve uma revolução tecnológica na indústria cultural. A tecnologia de acesso da cultura industrial, considerada “de difícil manipulação e de alto custo”, teve seu desenvolvimento para outras de

2 O conceito de streaming é a transferência de dados na internet, ou seja, é o envio de informações multimídia de servidores para clientes. 12 estilo mais doméstico, tornando o receptor um produtor, fazendo com que a cultura audiovisual ultrapassasse as barreiras das grandes gravadoras e estúdios. Assim,

Nos anos 80 e 90, houve uma ampliação considerável do número de produtores que conseguiram entrar no mercado utilizando a tecnologia doméstica. O campo das artes plásticas também foi afetado, com os artistas incorporando em suas produções os recursos audiovisuais, modificando o próprio universo material do artista plástico. (RAMOS; BUENO, 2001, p. 11).

Diante de um contexto no qual o avanço tecnológico tornou a captação e disseminação do audiovisual mais acessível, toda e qualquer pessoa pode produzir um material audiovisual. Décadas atrás só era possível ter contato com o audiovisual por meio da TV, do cinema e do rádio, como público, como espectador. Hoje, temos computadores e celulares capazes de fazer incríveis produções com apenas o apertar de um dedo, nos tornando autores ao mesmo tempo em que somos espectadores. Com o avanço da tecnologia sobre as mídias, sobretudo em câmeras, smartphones e filmadoras, e com o avanço das telecomunicações, surgiram vários produtores de conteúdo, um fenômeno que se estende até os dias atuais. A disseminação em larga escala do audiovisual, assim como da fotografia, fez com que surgisse o espetáculo. Os acontecimentos começaram a ganhar uma grande cobertura, visibilidade e divulgação exagerada, fazendo com que os fatos importantes para a sociedade não fossem tão notados. Esse fenômeno, o espetáculo, foi o pivô para a expansão da globalização (KELLNER, 2006) e contou com a ajuda das redes sociais digitais. O Youtube é uma rede social online que permite a internautas o compartilhamento de seus próprios vídeos, além de explorar quem ali compartilhou também. Segundo as estatísticas3 de 2019 da própria empresa, o site tem mais de 1,9 bilhão de internautas, quase um terço dos usuários da Internet, e mais da metade das visualizações do YouTube é feita em dispositivos móveis. Em relação a esses dados pode-se presumir o quanto o produto vídeo é consumido, principalmente pelo meio smartphone. No surgimento das redes sociais, o marketing foi uma das áreas que se desenvolveu dentro delas, por sua facilidade de compartilhamento e liberdade. Desta maneira, muitas pessoas têm se desenvolvido de maneira pessoal dentro dessas redes sociais, num processo de marketing pessoal. Assim, elas conseguem influenciar e reunir milhares de seguidores, recebendo o nome de Influenciadoras Digitais.

3 Dados disponíveis em: https://www.youtube.com/yt/press/pt-BR/statistics.html. Acesso em: 25/06/2019 13

A interação na rede mudou, especialmente para os jornalistas. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, os jornalistas começaram a se aventurar nas redes sociais virtuais, com o objetivo de aproximar as pessoas que os seguem e os admiram. Um exemplo disso são alguns perfis no Instagram de jornalistas como os de Evaristo Costa e William Bonner. Com o crescimento de conteúdos criados pelos internautas, o surgimento da linguagem meme e a ascensão da imagem pessoal como marketing nas redes sociais online, o jornalismo conseguiu se adaptar a cada um desses caminhos. Hoje, temos notícias nas redes sociais, jornalistas que se tornaram Influenciadores Digitais e várias outras adequações. Também é possível observar, através destes dados, a supervalorização da imagem e não da escrita. É fato a ascensão de aplicativos de imagem como Instagram, Snapchat e também da tecnologia, seus avanços no quesito imagem e vídeo. O ciberespaço não parou de desenvolver novas linguagens, como é o caso de uma nova funcionalidade que surgiu com o Instagram e está tomando conta de todos os aplicativos de seu proprietário, Mark Zuckerberg4: o Stories, funcionalidade multimídia e instantânea, feita para publicar um conteúdo de imagem na rede por até 24 horas ou até enquanto você não a deletar. Desta maneira, vamos buscar entender agora como esse ciberespaço se estabeleceu e de que maneiras surgiram as linguagens que nele se desenvolvem.

2.1 O Ciberespaço e suas linguagens

O ciberespaço é o mundo da internet. É o espaço, como o próprio nome já diz, onde ocorre a comunicação entre os internautas e, por ser o lugar que ocorre essa comunicação, é onde acontece o aperfeiçoamento e o nascimento de novas formas de linguagens.

Esse contexto em que estamos contidos hoje de velocidade da informação, do acesso e das formas de comunicar na sociedade, André Lemos descreve muito bem em seu livro, Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea (2015). “O ciberespaço representa o mais recente desenvolvimento da evolução da linguagem” (p.14), onde relata esse espaço propriamente dito, como uma nova forma de cultura dentro da sociedade, onde estamos ligados e penetrados como a cultura alfabética. (NASCIMENTO; BRAGANÇA, 2018, p. 85).

Desta maneira, o autor nos coloca que essa nova forma de cultura é um prolongamento da linguagem oral e escrita, não as extinguindo, e que, segundo Lemos (apud NASCIMENTO;

4 Mark Zuckerberg é fundador e proprietário do Facebook. Atualmente ele também tem propriedade sobre o Instagram e WhatsApp. 14

BRAGANÇA, p. 85), o ciberespaço é um lugar de liberdade, pois interliga tudo e todos. Observamos essa ideia como um exagero se comparada à realidade de países, sobretudo do hemisfério Sul. Nos últimos dados divulgados pela Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 20175, observamos que o acesso ao ciberespaço ainda é restrito a algumas regiões e classes sociais. Em 2017, cerca de 25% dos domicílios não tinham acesso à internet. Outro contraponto à ideia de liberdade em relação ao ciberespaço é ter nossos movimentos mediados por algoritmos ao navegar na internet. Por mais que o ciberespaço não esteja ao alcance de todos e não seja tão livre quanto alguns defendam, não podemos ignorar a forte interação que ele gera. Assim, o ciberespaço:

[...] não se configura apenas como uma ambientação, mas sim como um meio de informação de cultura e expressão, onde se podem expressar suas singularidades e, ao mesmo tempo interagir dentro desta ambientação com as mesmas, criando novas pluralidades de relacionamento. (NASCIMENTO; BRAGANÇA, 2018, p. 86).

A definição de liberdade dada por Lemos, mencionada por Nascimento e Bragança, implica o fato de o internauta produzir conteúdo e compartilhar ideias. Seguindo essa reflexão, podemos pensar na atualidade e encontrar vários perfis no Instagram, por exemplo, que se tornaram famosos pelo conteúdo que produzem ou por alguma moda que lançam. Esse fato de o internauta também ser um sujeito ativo online, faz com que possamos refletir sobre o termo interatividade. De acordo com Nascimento e Bragança, é um termo discutido já há muito tempo, levando em questão as cartas, os jornais, conversas telefônicas, a TV, entre outros. Já com a chegada dos computadores, algumas mudanças ocorreram.

Com a interação mediada por computadores, o ciberespaço possibilitou um novo contexto da convenção na rede, e passa a ser oralizada, as noções de espaço começaram a ser “quebradas” e o surgimento de novas ferramentas capaz de medir as interações humanas possibilitou a expressividade e a sociabilização com um, ou vários tipos de relações dentro de uma estrutura social, onde essas novas ferramentas passaram a medir nossos rastros, por ser uma ligação social e sobretudo as diversas mudanças para a sociedade em suas estruturas sociais, que parte de pessoas e também que atores pudessem construir-se interagindo e comunicando-se com outros atores, assim a rede é constituída, de pessoas (pessoas, grupos, laços socias), e conexões (interação ou laços sociais). (NASCIMENTO; BRAGANÇA, 2018, p. 88).

5 Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de- noticias/releases/23445-pnad-continua-tic-2017-internet-chega-a-tres-em-cada-quatro-domicilios-do-pais. Acesso em: 22/06/2019. 15

Assim, chegamos às redes sociais na internet, onde há interação, geração de vínculos, troca de ideias, mudando as formas e os meios de se comunicar.

2.2 Redes Sociais Online

As redes sociais da internet se baseiam na estrutura social, que só existe com atores, nós e que não pode nos isolar ou isolar essas conexões, segundo Nascimento e Bragança (2018, p. 88). Nas redes sociais, os indivíduos expressam sua personalidade, compartilhando seus gostos, experiências, preferências, opiniões e valores, sendo também possível através delas a constituição de laços sociais, conectando pessoas ao proporcionar a comunicação. Assim:

O surgimento de um novo sistema eletrônico de comunicação caracterizado pelo seu alcance global, integração de todos os meios de comunicação e interatividade potencial, está mudando e mudará para sempre nossa cultura. (CASTELLS, 1999, p. 414).

Então, as redes sociais online implicam diretamente o sistema descrito por Castells, por possuírem um alto índice de integração e interatividade de seus atores. Boyd e Ellison (2007) conceituam as redes sociais online como uma rede que permite a construção de um perfil, público ou não, restringido por um sistema, implicando uma lista de contatos em que é possível uma conexão, possibilitando a visualização e a navegação de seus atores. Dentre as redes sociais online mais usadas atualmente no mundo estão o Facebook, o WhatsApp, o Twitter, o Instagram e o Youtube. Segundo dados divulgados pela pesquisa da Global Digital 2019, as 10 redes sociais mais usadas no Brasil são: YouTube, Facebook, WhatsApp, Instagram, Facebook Messenger, Twitter, LinkedIn, Pinterest, Skype e Snapchat. Assim, a rede social mais usada no Brasil é o Youtube, deixando o Instagram em quarto lugar. O Youtube é uma plataforma de vídeo streaming, o que pode justificar sua colocação no Ranking. O Facebook agrega uma série de funcionalidades como fotos, vídeos, mensagens, lembranças e notícias. O WhatsApp é um software disponível para diversos tipos de smartphones, utilizado essencialmente para troca de mensagens de texto instantaneamente, além de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão à internet, e sua distinção para com os outros aplicativos de comunicação é sua política de privacidade sobre as mensagens que seus usuários trocam. O site6 do aplicativo afirma que as mensagens são de quem as emite, não sendo de acesso para mais ninguém, nem para a própria empresa. Segundo eles, foi implementada

6 Disponível em: https://www.whatsapp.com/legal/?lang=pt_br#key-updates. Acesso em 26/06/2019. 16 uma criptografia de ponta a ponta e outras ferramentas de segurança. O WhatsApp afirma que não mantém as mensagens dos usuários após o envio das mesmas. Da maneira que elas estão criptografadas, a própria empresa e terceiros não podem lê-las de maneira alguma. Entretanto, as redes sociais entram em contraponto com a ideia de liberdade que a cibercultura nos tenta transmitir. Fuchs (2015) afirma que as mídias sociais deixaram a distinção entre vida privada e vida pública mais “porosa”, pois existem atividades que executamos nas mídias de teor pessoal, como ler algum artigo, fazer uma ligação, ou de teor público como mandar e-mails de trabalho e estudar. Em seu artigo “Mídias Sociais e a Esfera Pública”, Christian Fuchs nos coloca o exemplo de veículos de transporte coletivo. Neste caso, “a mídia inclui ferramentas que permitem aos passageiros usar o tempo de transporte tanto para o trabalho quanto o lazer, em locais de mobilidade; são tecnologias líquidas para a organização do tempo e do espaço” (FUCHS, 2015). Assim, Fuchs afirma que o Facebook é uma dessas ferramentas que faz a liquefação de limites através da socialidade integrada, que é a agência neste ambiente usando da cognição, comunicação e cooperação, e dos papéis sociais integrados, que é o fato de os usuários do Facebook estarem ali desenvolvendo vários papéis: amigo, consumidor, trabalhador etc. Assim, o Facebook funciona como espaço de convergência de todos esses dados e papéis em um só lugar. O comportamento do usuário envolve dados privados e preferências pessoais de acesso em sua conta na rede social como: seguir, curtir e comentar, comidas, celebridades, estilos de roupa, visão política etc. Estes dados, através de um algoritmo, são convertidos em produtos para serem “vendidos para anunciantes que queiram direcionar seus anúncios para os usuários” (FUCHS, 2015). Ainda segundo Fuchs (2015), o Instagram, ao transformar os dados de usuários em bens, se legitima com a ajuda das políticas de privacidade.

Nós podemos compartilhar o Conteúdo do Usuário e suas informações (incluindo, entre outras, informações de cookies, arquivos de log, identificadores de dispositivo, dados de localização e dados de uso) com empresas que façam parte legalmente do mesmo grupo de empresas do qual o Instagram é parte ou que se tornem parte deste grupo ("Afiliadas"). As Afiliadas podem usar essas informações para ajudar a fornecer, entender e aprimorar o Serviço (incluindo o fornecimento de análises) e os próprios serviços das Afiliadas (incluindo o fornecimento a você de experiências melhores e mais relevantes). Contudo, essas Afiliadas respeitarão as escolhas feitas por você sobre quem pode ver suas fotos. (Política de Privacidade do Instagram, versão de 01 de novembro de 2017)7.

7 Disponível em: https://www.facebook.com/help/instagram/402411646841720. Acesso em 02/08/2019. 17

Não menos importante, o Instagram está em quarto lugar, e é baseado no compartilhamento de fotografias e vídeos, sendo o nosso foco neste trabalho, como será visto a seguir.

2.3 Instagram

A rede social online Instagram se baseia em um álbum de fotografias e vídeos. É, assim, um site de rede social (SRS). De acordo com as pesquisadoras norte-americanas Danah Boyd e Nicole Ellison, os sites de redes sociais se baseiam em

serviços baseados na web que permitem aos indivíduos construírem um perfil público ou semipúblico dentro de um sistema restrito, articularem uma lista de outros usuários com quem eles compartilham uma conexão e olharem e cruzarem sua lista de conexões e aquelas feitas por outros dentro do sistema. (BOYD; ELLISON, 2007, p. 211).

Baseia-se no Instagram o compartilhamento de imagens e vídeos com a possibilidade de aplicação de filtros sobre eles. Foi lançado em 6 de outubro de 2010, ganhando popularidade rapidamente, chegando a mais de 100 milhões de usuários em 2012. Criado pelos engenheiros Kevin Systrom e Mike Krieger (brasileiro), o conceito da criação por trás do aplicativo, segundo eles, era de resgatar a nostalgia das fotos clássicas e do instantâneo como nas Polaroids (PIZA, 2012). Segundo dados do site8 do próprio aplicativo, o Instagram tem mais de 1 bilhão de usuários ativos mensais, sendo 500 milhões ativos todos os dias. E mais de 500 milhões de usuários usam o Stories todos os dias. Ainda segundo a empresa9, até março de 2019, mais de 50 bilhões de fotografias foram compartilhadas. O site Mobile Monkey relata que a rede social online está crescendo 5 vezes mais rápido que o uso geral de redes sociais nos Estados Unidos, chegando a 300% nos últimos dois anos. Portanto, o site de rede social online Instagram se torna um objeto de suma importância para a pesquisa deste trabalho, que traz como tema a performance do jornalista na rede social. Sua audiência, popularidade e carga imagética fazem dele uma base de dados com rico material para estudo da performance humana.

8 Disponível em: https://business.instagram.com/. Acesso: 05/08/2019. 9 Disponível em: instagram-press.com. Acesso: 06/08/2019 18

3. DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO COMUNICACIONAL E MÍDIAS DIGITAIS

Um jornalista da década de 70 não poderia imaginar que poderia imprimir milhares ou milhões de exemplares de uma notícia em minutos, ou que poderia simplesmente editar um erro apertando um botão. A tecnologia de produção de mídia, principalmente no campo da Comunicação, deu um salto gigantesco a partir das últimas três décadas do século XX. Segundo Abreu (2002), até os anos 50, os veículos de comunicação que detinham o monopólio no Brasil eram as rádios e os impressos e, após isso, chegou a televisão, e a primeira emissora do país e da América Latina foi a TV Tupi, de propriedade de Assis Chateaubriand, que foi inaugurada em setembro de 1950. Com o crescimento industrial, surgiu a necessidade de se fazerem propagandas. Elas começaram a ser veiculadas em jornais, que, com o tempo, passaram a ser até 80% da receita de um jornal por volta dos anos 60.

Foi exatamente a partir daí, no segundo governo Vargas (1950- 1954), que o processo de industrialização do país se tornou mais visível e, no governo Juscelino Kubitschek (1956- 1960), mais acelerado e irreversível. Com a maior diversificação da atividade produtiva trazida pela indústria, começaram os investimentos de peso em propaganda e surgiram as primeiras agências de publicidade. Era preciso, agora, anunciar produtos alimentícios e agrícolas. Em pouco tempo, os jornais passaram a obter 80% de sua receita dos anúncios. (ABREU, 2002, p. 9).

A televisão, trazendo a propagação e distribuição do vídeo, teve sua participação na popularização da imagem do jornalista. Então, começou a se aprofundar a imagem do jornalista, trazendo a ele prestígio e reconhecimento. Ainda nos anos 50, e tratando do desenvolvimento tecnológico comunicacional, surgiu o computador. Segundo Briggs e Birke (2006), os computadores surgiram para propósitos de guerra. No Brasil, segundo o site da Universidade Federal de Pará (UFPA, 2017), em 1972 tivemos a construção de um computador de estrutura de computação clássica com o nome de "Patinho Feio". Seu tamanho era descomunal, com o “peso de 100 quilos, um metro de comprimento, um metro de altura e 80 centímetros de largura”. Já em 1972, se construiu o primeiro grande computador do país que foi chamado de “Cisne Branco”, para o uso da marinha. Em 1979 surgiram a linha dos ZX-80, um computador pequeno e barato. Ainda segundo o site da UFPA, em 1984 foi lançado no Brasil o MSX, o primeiro computador doméstico que se tornou popular no país. 19

“[...] foi na virada da década de 80, com a invenção da World Wide Web (WWW) pelo físico inglês Tim Berners-Lee, que se iniciou o boom da Internet...” (MURAD, 1999). Já a prática do jornalismo na Web iniciou-se nos Estados Unidos e data do final da década de 80. (GONÇALVES, 1996, p. 4).

Em 1989 eram apenas 42 os jornais online. A explosão do número dos portadores de computadores com acesso à rede em meados dos anos 90 viabiliza a ampliação dessa linha de atuação. Em 1994 se estimava que havia 38 milhões de usuários da Internet e que o número cresceria para 56 milhões até o final de 95. A projeção era de que outros 200 milhões de usuários ingressariam na rede até 1999. Com esses números impressionantes, muda a relação com um mercado, então tratado, como um simples nicho, e mais explorado em caráter experimental pelas agências de notícias do que pelos jornais. O cenário começa a sofrer modificações, através do lançamento das versões on-line de vários jornais impressos. (GONÇALVES, 1996, p. 4).

Ainda de acordo com Gonçalves, no Brasil, os grandes jornais como o Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo entraram em um processo de informatização em 1995 com suas páginas registradas na WWW. As máquinas de escrever deram espaço para os computadores. De acordo com Santos, Neto e Conceição (2009, p. 5):

Na época que as redações foram informatizadas houve muitas demissões de jornalistas, e havia receio dos jornalistas a respeito das novas tecnologias. Conforme os anos o jornalista foi obrigado a acompanhar as tendências das tecnologias da informação, a partir desse entrosamento entre os programas de computador e o jornalista, nasceram novos profissionais.

Esses novos profissionais, os jornalistas, estão acompanhando as tendências até hoje. O espaço ocupado pelos jornalistas não só chegou às mídias digitais, como também a espaços constituintes dessas mídias, como as redes sociais virtuais, que ganharam cada vez mais notoriedade e adeptos da área jornalística. Evaristo Costa é um exímio exemplo desse caso, que, com carisma e com a ajuda do processo de popularização que a televisão trouxe a ele, hoje é um dos jornalistas mais seguidos da rede social Instagram. Entretanto, um fator significante e que facilitou a conquista das redes sociais foi o surgimento e a popularização do Smartphone. Aparelhos de celular com tecnologia comparável a um computador. O primeiro telefone móvel (celular) comercial foi inventado em 1983 e pesava aproximadamente 1 kg. Tinha um custo elevado, permitindo que só os mais ricos o tivessem (MANTOVANI, 2005, p. 3). Com a evolução da tecnologia comunicacional, surgiu o primeiro 20 smartphone em 1992 (UCEL, 2009 apud OLIVEIRA; UBAL; CORSO, 2014, p. 2). Suas características distintas do celular são o acesso à internet, portar sistema operacional que varia dependendo da marca, capacidade de armazenamento de dados maior, assim como também na produção e armazenamento de arquivos multimídia, como fotos, vídeos e músicas. Smartphone, do inglês, como o próprio nome já diz, significa telefone inteligente. É um telefone celular, mas com recursos comparados aos de um microcomputador. Carregando um sistema operacional, hoje, no mercado brasileiro, três sistemas dominam o mercado: o IOS, o ANDROID e Windows Phone. Quando o usuário compra um smartphone, o aparelho já vem com um sistema operacional, sendo impossível trocá-lo. Nesses sistemas são desenvolvidos “Apps” (Applications), softwares que realizam as mais diversas tarefas, entre elas: player de áudio, gravação e edição de vídeo e áudio, fotografar e editar imagens, GPS, redes sociais, programas de mensagens instantâneas etc. O hardware desses aparelhos é caracterizado por possuir telas para visualização de vídeo e fotos, além de fones de ouvido para ouvir conteúdo multimídia. Os aparelhos de ponta executam as atividades de captura e reprodução de informações em diversos formatos com qualidade profissional. O smartphone é só um dentro de um leque de dispositivos que se enquadram nas mídias digitais. Mídia digital “seria o espaço que comporta os meios de comunicação que se utilizam da linguagem binária da informática” (PERNISA JR, 2002, p.175), sendo composta por informações que podem estar em uma mescla de áudio, vídeo e imagem. O termo também é conceituado a partir de tudo que aparece em telas de dispositivos como computador, tablet e smartphones. Pela linha de pensamento de Carlos Pernisa Jr, as mídias digitais são pensadas de maneira plural porque implicam um conjunto de meios.

[...] a mídia digital é algo já intrinsecamente plural. Isso leva a pensar nos casos mais específicos de meios que são tratados hoje como espaços novos da comunicação, como a rede mundial de computadores – Internet – e todas as suas ramificações – intranets e extranets –, os CD-ROMs e os DVD-ROMs, mais recentes. Todos estes meios utilizam-se da pluralidade como suporte: o som, a imagem e o texto. (PERNISA JR., 2002, p. 175-186).

Assim, esse conceito de mídias digitais o descreve como uma linguagem plural, lugar onde os suportes de imagem, som e vídeo podem aparecer simultaneamente, ou seja, uma interconexão multimídia. Pernisa Júnior, em 2002, baseando-se nos pensamentos de Pierre Lévy, abordou as possibilidades de surgimento de novas linguagens e de um novo meio que iria se consolidar através da interconexão multimídia. A descrição dessas possibilidades entra em 21 grande relação com o que temos hoje quando nos deparamos com GIFs10 e memes11, nos seus mais variados formatos12. Já segundo Martino (2014, p.24), a informação é o principal conceito de mídias digitais. Ele explica que informação é sinônimo de dado novo, algo de inédito que surge. O autor exemplifica com um sistema de informação, o qual ele faz referência sob a linha de pensamento de Umberto Eco. Baseadas nas reflexões acima, podemos pensar que Mídias Digitais, então, é toda e qualquer informação que seja transmitida via áudio, vídeo ou imagem virtualmente. Não é o meio, é o formato em que se propagam e, consequentemente, por qual meio se propagam. Se temos uma informação digital, ela consequentemente irá ser propagada por um meio digital. Em relação a esse conceito, temos o smartphone que se coloca como figura central desta pesquisa e que implica diretamente o conceito de mídias digitais, pois é um dispositivo tecnológico que tem como uma de suas principais características compartilhar informações de maneira também multimídia. Sua capacidade de compartilhamento e produção multimídia facilitou sua rápida popularização. Hoje é muito difícil encontrar alguém sem um celular smartphone. Como veremos no próximo tópico, o uso do smartphone para acesso às redes sociais no mundo e no Brasil atualmente é frequente. Essa realidade faz das redes sociais virtuais um sucesso, principalmente o Instagram. Considerando que os jornalistas são o nosso principal foco neste trabalho em relação à sua performance na rede social Instagram, há que se abordar o uso do smartphone como prática social, como veremos a seguir.

10 GIF – Do inglês “Graphics Interchange Format”, traduzido como formato de intercâmbio de gráficos. Trata-se de um formato de imagem da Internet lançado em 1987 para disponibilizar um formato de imagem com cores. 11 O meme se descreve como um vídeo, frase, imagem, expressão etc. Geralmente é copiado e compartilhado rapidamente na Internet por muitas pessoas. O meme normalmente é de teor humorístico, satírico, para zombar uma pessoa ou situação. 12 Formato, ou seja, vídeo, áudio, imagem GIF, JPEG ou outro qualquer tipo. 22

4. AS PRÁTICAS SOCIAIS E O SMARTPHONE

Toda sociedade possui uma cultura, um conjunto de costumes e tradições que são passados de geração em geração e vão morrendo e/ou se adaptando conforme o tempo avança. Baseada nos conceitos de McLuhan, Santaella (2003 apud NASCIMENTO; BRAGANÇA, 2018, p. 84) compreende que a passagem de uma cultura a outra, no contexto atual, fez e está fazendo com que os meios de comunicação entrem em constante transformação sociocultural. Assim, Santaella divide essas transformações em cultura oral: conhecimentos passados de geração para geração, mas guardados na memória; cultura escrita: a cultura passa a ser lida, relida e corrigida, a memória passa a ser eternizada; a cultura impressa: que é a impressão sobre o papel; a cultura de massa: uma sociedade que surge junto com a revolução industrial e com o senso de coletivo; e a cultura das mídias: a sociedade deixa de absorver tudo passivamente e passa a ter poder de escolha, como o controle remoto e a TV fechada (SANTAELLA, 2003 apud NASCIMENTO; BRAGANÇA, 2018). Conforme Nascimento e Bragança:

Podemos dizer que a cultura das mídias é uma cultura disponível, e a cultura digital: é a interatividade do homem com a “máquina”, a individualização da mensagem e da informática, possibilita a disseminação de todos e para todos, podemos também chama-la de cultura do acesso. (NASCIMENTO; BRAGANÇA, 2018, p. 84).

Assim, o smartphone se encaixa nesta cultura do acesso ou cultura digital, local que Santaella (apud NASCIMENTO; BRAGANÇA, 2018, p. 85) trata como uma cultura que há novos meios de comunicação e informação personalizada, o ciberespaço, pois é um dispositivo que dá ao indivíduo autonomia para produzir, escolher e distribuir conteúdo. O indivíduo está inserido em uma sociedade que cria, aprende e reproduz comportamentos, tornando-os práticas sociais que compõem a cultura. A partir dessa reflexão, inserimos o smartphone neste contexto. Desde quando surgiu, em 1992, o smartphone foi a cada ano ganhando mais funcionalidades, desenvolvendo suas capacidades, qualidades e potencialidades multimídia, tanto na produção quanto na distribuição de mídias. Hoje, encontramos celulares com capacidade de produzir fotografias em qualidade profissional. O desenvolvimento de suas funcionalidades foi crucial para a apreciação e apropriação do dispositivo pela sociedade como um objeto inseparável. Tornando-se um dispositivo bastante presente na vida do ser humano, o smartphone foi cada vez mais usado, pois ele possibilita, além de sua capacidade de produção multimídia, o 23 acesso à internet. A internet, constitutiva do ciberespaço, não exclui nenhuma outra das culturas citadas por Santaella, é um prolongamento delas segundo Lemos (2015, p.14 apud NASCIMENTO; BRAGANÇA, 2018, p.85).

Um dos méritos da cibercultura descrito por Lemos (2015), é a liberdade em rede, um espaço que interliga pessoas, documentos, máquinas, e relacionamento, ele não se configura apenas como uma ambientação, mas sim como um meio de informação de cultura e expressão, onde se podem expressar suas singularidades e, ao mesmo tempo interagir dentro desta ambientação com as mesmas, criando novas pluralidades de relacionamento. É possível devido o ciberespaço ser considerado um espaço propriamente de circularidade de informação livre e descentralizada, onde a linguagem digital é traduzida na linguagem da informática. (NASCIMENTO; BRAGANÇA, 2018, p. 86).

Hoje, políticos fazem suas propagandas eleitorais via redes sociais virtuais, como a partir do uso do aplicativo de mensagens WhatsApp nas últimas eleições. Uma pessoa acompanha o modo de preparo de uma receita por um site pelo smartphone enquanto se desloca pela cozinha, assim como também o usa para acompanhamento dos batimentos cardíacos durante um exercício físico na rua ou na academia, ou ainda, ela pode simplesmente pedir comida pelo dispositivo através de um aplicativo, ao invés de se locomover até um estabelecimento para isso. O dispositivo ainda possibilita o pagamento de boletos e transferências bancárias com aplicativos desenvolvidos pelos próprios bancos. Vemos que incorporamos o smartphone ao criar e reproduzir essas práticas do dia-a-dia, pois esse dispositivo está presente conosco a todo momento, facilitando e/ou substituindo várias tarefas. Por reunir possibilidades de produção de imagem, áudio e escrita e, às vezes, com tudo isso simultaneamente e por apropriação do espaço físico, o modo das pessoas de se relacionar e se comunicar ganhou novas formas segundo Lemos:

Os DHMCM aliam a potência comunicativa (voz, texto, foto, vídeos), a conexão em rede, a mobilidade por territórios informacionais (Lemos 2006), reconfigurando as práticas sociais de mobilidade informacional pelos espaços físicos das cidades. Trata-se da ampliação da conexão, dos vínculos comunitários, do controle sobre a gestão do seu espaço e tempo na fase pós- massiva da comunicação contemporânea. (LEMOS, 2003 apud LEMOS, 2007, p. 25).

Na citação acima, o autor se refere ao smartphone como “Dispositivo Híbrido Móvel de Conexão Multirredes” (DHMCM). Lemos conceitua o smartphone assim, pois seguindo sua linha de pensamento: 24

O que chamamos de telefone celular é um Dispositivo (um artefato, uma tecnologia de comunicação); Híbrido, já que congrega funções de telefone, computador, máquina fotográfica, câmera de vídeo, processador de texto, GPS, entre outras; Móvel, isto é, portátil e conectado em mobilidade funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de Conexão; e Multirredes, já que pode empregar diversas redes, como: Bluetooth e infravermelho, para conexões de curto alcance entre outros dispositivos; celular, para as diversas possibilidades de troca de informações; internet (Wi-Fi ou Wi-Max) e redes de satélites para uso como dispositivo GPS. (LEMOS, 2007, p. 25).

Podemos ver que o smartphone mudou a forma como as pessoas se relacionam com o lugar, com o tempo e entre si, tornando as conexões comunitárias mais frequentes. Lemos (2007) afirma que o DHMCM está se apropriando dos espaços físicos (cidades), pois há vários aplicativos que permitem que os usuários mandem localização ou interferiram em alguma parte deste espaço físico, seja onde estiver, fazendo anotações eletrônicas, deixando uma foto, um vídeo ou áudio, ou comentários de crítica sobre um lugar. Assim, ele baseia esse processo no aumento das conexões comunitárias. No último relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 201713, o percentual de domicílios com acesso à internet foi a 74,9%, de 69,3% confirmados em 2016. O relatório também mostra que o percentual de celulares por domicílio chegou a 93,2%. Atualmente, temos uma juventude conectada. O acesso à internet pelo celular aumentou de 94,6% para 97,0%, segundo o relatório do IBGE de 2017. O relatório ainda mostra que a maior parcela desse percentual é de pessoas dos 20 aos 24 anos, de um total de 126,3 milhões de pessoas entrevistadas. Segundo o relatório, as pessoas constatam que o celular possui uma maneira de compartilhamento de arquivos diferente do e-mail, e que também possibilita a chamada por voz e vídeo.

A comunicação interpessoal segue como a atividade online preferida pela ampla maioria dos jovens brasileiros. As redes sociais e os aplicativos de mensagens instantâneas figuram no topo dos conteúdos mais acessados, em todas as regiões do País. (FUNDAÇÃO TELEFÔNICA, 2015, p. 24).

A partir desses dados vemos o quão enorme está o acesso da sociedade brasileira ao smartphone e à internet e certamente a maior finalidade é o uso das redes sociais virtuais. Esse acesso trouxe o encurtamento do espaço e do tempo. Hobsbawn (1995, p. 22) afirma que, em

13 Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de- noticias/releases/23445-pnad-continua-tic-2017-internet-chega-a-tres-em-cada-quatro-domicilios-do-pais. Acesso em: 22/06/2019. 25

1980, o mundo estava repleto de uma tecnologia em constante avanço, cujas mais impressionantes eram em relação às revoluções nos transportes e na comunicação, que encurtaram o tempo e as distâncias e facilitaram a troca de informações. Complementando Hobsbawn, a partir do pensamento de Cebrián, podemos refletir se o uso do smartphone causa uma diminuição das interações sociais presenciais. Hoje é comum ver uma reunião via videoconferência, ver e e/ou realizar trabalhos acadêmicos de grupo via videoconferência, entre outras práticas.

O cibernauta de nossos dias não é apenas um navegante: é também um navegante solitário, ainda que ele mesmo não tenha consciência de sua condição. Sua capacidade de relacionar-se com os outros, nesse universo global por que passeia, vai conduzi-lo a um ensimesmamento, a um fechamento em si mesmo em relação aos que lhe estão mais próximos. (CEBRIÁN, 1999 apud PARADELLO, 2011, p. 8).

Cebrián (1999 apud PARADELLO) defende que o indivíduo se tornará mais reservado, dando preferência a contatos intermediados pela tecnologia por sua capacidade de privacidade e acomodação. Lemos (2007) afirma que as conexões comunitárias na internet aumentaram, enquanto Cebrián (1999) afirma que houve uma diminuição das interações sociais presenciais por causa do encurtamento do espaço e tempo que o smartphone causou. Então, podemos refletir, a partir dos autores, sobre como o uso do smartphone conectado a uma rede online faz com que realmente se gere uma intensa conexão comunitária, embora não seja presencial. Cebrián ainda afirma sobre a preferência do indivíduo por contatos intermediados pela tecnologia. Por mais que as pesquisas mostrem um grande número de internautas, a reflexão de Cebrián não deve ser generalizada, visto que, atualmente, apesar de a conexão virtual entre as pessoas ser grande, isso não excluiu e também não diminuiu drasticamente a possibilidade de estabelecer relações pessoais presenciais. A conexão comunitária existente advinda dos smartphones é resultado da interação e de sua apropriação nos espaços físicos com fotos, vídeos e comentários, como já dito anteriormente. Diante de todos os fatos vemos que o smartphone é uma tecnologia cada vez mais presente na vida do brasileiro. Com ele é possível se localizar no tempo e espaço, acessar a web e, a partir disto, saber o que acontece no mundo em tempo real, entrar em contato com seus amigos, familiares e até com personalidades famosas, ou inclusive fazer compras. Com o avanço de suas funcionalidades e aplicativos (ou “apps”), as relações pessoais tendem a não necessitar mais da relação face-a-face para acontecer. Reuniões, trabalhos, 26 decisões, entrevistas de emprego, discussão de cunho amoroso, agendamento de consultas médicas e jurídicas, passaram do encontro pessoal para encontros virtuais, se tornaram e-mails, mensagens instantâneas. Com isso, as pessoas tendem a delegar mais atividades ao smartphone, se tornando dependentes desse dispositivo. Entrando no campo da psicanálise, alguns estudiosos da área da comunicação e da psicologia, como Freud, Lévy e Bauman (apud MENDES, 2015) trabalham a ideia de nos tornarmos muito necessitados da tecnologia. Freud (2010 apud MENDES, 2015) menciona o ser humano como um protético, referindo-se à tecnologia, pois, na maioria dos casos, as pessoas não andam sem ele. Segundo Mendes (2015, p.134), Freud antevê o futuro:

[...] Em O mal-estar na civilização, Freud ([1930] 2010) se indaga sobre a insistência da infelicidade humana a despeito dos prodigiosos avanços científicos e tecnológicos de sua época. “[...] o ser humano tornou-se, por assim dizer, um deus protético, realmente admirável quando coloca todos os seus órgãos auxiliares; mas estes não cresceram com ele, e ocasionalmente lhe dão ainda muito trabalho” (FREUD, [1930] 2010, p. 52).

Mendes defende que os smartphones se encaixam nos avanços tecnológicos mencionados por Freud. Nesta busca de superação de tempo e espaço e nesse avanço de velocidade ao qual se refere Freud, Pierre Lévy faz uma observação: “[...] cada novo sistema de comunicação e de transporte modifica o sistema das proximidades práticas, isto é, o espaço pertinente para as comunidades humanas (LÉVY, 1996 apud MENDES, 2015, p. 135). Em 2004, Bauman, ao falar dos celulares, antecessores dos smartphones, falava do quão nossa vestimenta se adequava para portar esses celulares conosco:

Na verdade, você não iria a nenhum lugar sem o celular (‘nenhum lugar’ é, afinal, o espaço sem um celular, com um celular fora de área ou sem bateria). Estando com o seu celular, você nunca está fora ou longe. Encontra-se sempre dentro, mas jamais trancado em um lugar (BAUMAN, 2004, p. 78 apud MENDES, 2015, p. 135).

Sobre este conceito, podemos ver o quão o celular nos coloca inseridos no que acontece no mundo. O fato de o smartphone ser um item tecnológico inseparável, acaba fazendo com que ele faça parte de nossas práticas sociais cotidianas em uma intensidade tão grande que a falta dele gera comoção alheia, como veremos a seguir no caso do jornalista Evaristo Costa. 27

Em 26 de abril de 2017 o jornalista Evaristo Costa teve um problema com o seu smartphone14. O seu dispositivo, segundo fotos divulgadas por ele, estava com sua tela totalmente trincada e, pela rede social Instagram, Evaristo afirmou que estaria offline por causa do ocorrido com o smartphone. Instantaneamente, ocorreram milhares de comentários de seus seguidores sobre o fato em sua publicação, chegando a um total de 4.392 comentários, como mostram abaixo as imagens do seu perfil no Instagram.

Figuras 1 e 2 – Postagem de Evaristo Costa sobre celular quebrado e sua repercussão

14 Disponível em: https://revistaquem.globo.com/QUEM-News/noticia/2017/04/evaristo-costa-quebra-celular-e- diz-que-ficara-longe-das-redes-sociais.html. Acesso em: 09/02/2019. 28

Fonte: Captura de tela do Perfil de Evaristo Costa no Instagram em 11 de julho de 2019.

Sendo um meio através do qual o jornalista interagia e ainda interage com seus seguidores, Evaristo se tornou notícia em vários sites brasileiros como mostram as imagens abaixo.

Figuras 3 a 7 – Repercussão em sites noticiosos sobre o celular quebrado de Evaristo Costa

29

Fonte: Captura de tela dos sites RD115, TVeFamosos/Uol16, Caras/Uol17, Folha18, RevistaQuem/Globo19

Os milhares de comentários recebidos por Evaristo Costa devem-se a meses de interação com seus seguidores. Uma interação intensa que, consequentemente, acabou criando um sentimento de identificação e afetividade dos seguidores com o jornalista. O fato também repercutiu nas redes sociais Facebook e Twitter, com centenas de comentários e milhares de curtidas.

15 https://rd1.com.br/evaristo-costa-quebra-celular-causa-nas-redes-sociais-e-aponta-pecado-de-padre-fabio-de- melo/ 16 https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2017/04/26/evaristo-costa-quebra-o-celular-e-diz-que-vai-dar- tempo-das-redes-sociais.htm 17 https://caras.uol.com.br/tv/evaristo-costa-quebra-o-celular-e-avisa-que-ficara-longe-das-redes-sociais-por- tempo-indeterminavel.phtml 18 https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2017/04/queridinho-nas-redes-sociais-evaristo-costa-quebra-o-celular- e-diz-que-ficara-offline.shtml 19 https://revistaquem.globo.com/QUEM-News/noticia/2017/04/evaristo-costa-quebra-celular-e-diz-que-ficara- longe-das-redes-sociais.html 30

Desta forma, vemos que Evaristo Costa se utiliza de métodos que podem ser entendidos como estratégias de aproximação com o público, através de publicações de fotografias e vídeos. A internet, assim como o smartphone, possui uma carga imagética forte, sendo este um dos principais pilares da comunicação online e das redes sociais virtuais. Sabendo da forte influência que a fotografia tem sobre nossas vidas, vamos relacioná-la ao smartphone na seção a seguir.

4.1 Relação da Imagem com o Smartphone

O smartphone é um dispositivo multimídia, capaz de produzir fotografias, vídeos e áudios, sendo essas algumas de suas principais funcionalidades como já contextualizado anteriormente. Cientes de sua propagação atual, vale ressaltar que ele é um dos dispositivos cuja apropriação interferiu na construção da sociedade em que vivemos, lugar que a maioria das redes sociais virtuais se baseia em fotografias. Segundo Córdova e Jesus (2015), na história do homem com a imagem, as pinturas desempenham a função de representação da realidade, sendo através delas que se construía uma relação de comunicação, ainda que de maneira mimética.

Na história da arte, o retrato propriamente dito, tomado no sentido da representação figurativa, mais ou menos realista, mais ou menos abstrata, do outro ou de si mesmo, ocupa lugar específico. [...] A sua história, história de um movimento de introspecção e extrospecção, é marcada por uma certa ideia de mimesis, enquanto esta pode ser vista como o processo impulsivo de imitar, não a realidade, mas uma sua representação. (MEDEIROS, 2000, p. 37 apud CÓRDOVA; JESUS, 2015, p. 4).

Assim, Córdova e Jesus (2015) nos trazem, através da linha de pensamento de Medeiros, que o retrato pintado constrói uma relação mimética e que, a partir disso, o sujeito desenvolve uma relação consigo mesmo e com os outros. Porém, o autor pontua que, ao retratarmos algo ou alguém, inclusive nós mesmos, colocamos a subjetividade e a “re(criação)” no processo. Assim, não há uma fidelidade no retratar a realidade (CÓRDOVA; JESUS, 2015). A fotografia e o homem possuem uma relação vista por alguns teóricos como a de um caçador (CÓRDOVA; JESUS, 2015). O mundo é visto pelo fotógrafo como um espaço de caça, onde só há o observador e o observado:

Não se trata de captar a realidade. É apenas o ato que está circulando em suas veias. A fotografia não é a arte de captar, ao contrário, é a arte de soltar. Como 31

se a cada disparo da máquina fosse o fotógrafo que se esvaísse em disparada. Fotografia: esvair-se. O fotógrafo nada recebe, ao contrário, é como se, através do obturador aberto, ele se permitisse um voo cego, um mergulho de se expor. Clic! (OMAR, 1988 apud SANTAELLA; NOTH, 2012, p. 116).

Então, vemos que a fotografia não é uma captura da realidade, é na verdade o soltar da imaginação à exposição. Segundo Córdova e Jesus (2015), quando a fotografia ainda era novidade na sociedade, o poder aquisitivo que ela dava e seu significado fez com que fosse uma arte somente de acesso da classe dominante. Nesta época, segundo Medeiros (apud CÓRDOVA; JESUS p. 5), a fotografia estava ligada à condição econômica, à afirmação social e à representação de si. Antes, a construção da subjetividade a partir da fotografia era constituída apenas de três fatores externos, segundo Córdova e Jesus (2015): o autoconhecimento, as relações e a reflexão por elas geradas e o convívio. Com o avanço tecnológico comunicacional, Córdova e Jesus afirmam que surgiu outro fator externo crucial para esse processo de subjetivação do sujeito, o olhar da sociedade. Com a fácil distribuição da imagem de si pelas tecnologias comunicacionais, a forma com que se olha para os indivíduos e as relações se transformou. “O olhar do outro – agora mais próximo e, por vezes, invasivo – modifica o comportamento do observador” (CÓRDOVA; JESUS, 2015, p. 6). Nesta distribuição da imagem de si e nesta busca do eu e da relação social pela imagem, hoje, ouvimos falar, e mais do que isso, vemos a todo momento nas redes sociais virtuais os selfies, produzidos e propagados pelo smartphone. Nas últimas décadas, com os avanços nestas áreas, houve uma integração dos dispositivos de comunicação com a fotografia. Esses dispositivos também se tornaram câmeras fotográficas. Assim, quando surgiram os smartphones, já estava grande sua capacidade de fotografar e filmar.

4.2 Selfie

O Selfie é uma fotografia tirada pela própria pessoa por celular ou câmera digital e compartilhada na internet. É um autorretrato, portanto, a palavra selfie é um neologismo em inglês, originado do termo self-portrait, que significa autorretrato. É formada da junção do substantivo self (em inglês, "eu") e o sufixo ie.

Os dicionários Oxford, ao incorporar o termo e elegê-lo como a “palavra do ano de 2013”, definem selfie como “Uma fotografia que alguém tira de si mesmo, normalmente tirada com um smartphone ou webcam e compartilhada através das redes sociais (SELFIE, 2015 apud PASTOR, 2017, p. 159). 32

Esse tipo de fotografia, os selfies, geralmente são casuais, tirados nos mais variados e inusitados lugares e momentos, há selfies com os amigos numa festa, selfies pulando de paraquedas, selfies comendo, selfies no trabalho, selfies no salão de cabeleireiro ou selfies no topo do prédio mais alto de Dubai. Geralmente os autores dessas fotos costumam estar sozinhos, mas também há selfie em grupo e também em espelhos. Segundo Aaron Hess (2015, p. 1630 apud PASTOR, 2017, p. 160), o selfie é uma prática social, pois relaciona fotografia e smartphone, direcionando ao ato de tirar uma foto de si mesmo. E, como sabemos, esse ato está presente em vários momentos do dia do ser humano. Pastor (2017) explica que o selfie não é apenas um autorretrato, é essencialmente a versão digital da fotografia interagindo com o smartphone.

Essa relação com o smartphone permite, de maneira híbrida, o surgimento e popularização de uma prática que não apenas traz influências de uma evolução da representação de si e de uma construção de intimidade a partir da imagem, como também sua inserção em uma lógica de instantaneidade, compartilhamento e comunicação. (PASTOR, 2017, p. 160).

Assim, a prática de tirar um selfie é reproduzida pela sociedade com a finalidade de comunicação e expressão. Pois, é uma prática que é repetida pelos demais e esse processo cria uma identificação entre seus autores, é um comportamento reconhecido. E, como já refletido acima, com a fácil propagação que a tecnologia dá às fotografias, os selfies estão em todos os lugares. De acordo com Córdova e Jesus (2015), a tecnologia comunicacional tem grande influência sobre a subjetivação do sujeito a partir da fotografia, por estar ao olhar de todos. Assim, colocamos o smartphone como o nosso foco neste estudo. Sobre o fato do selfie ser observado pelo outro, Córdova e Jesus afirmam que o olhar do outro se torna “controlador, coercitivo e individualizante”, fazendo com que o observado fique cada vez mais envolvido com uma identidade.

As massas, na perspectiva de Foucault (1983), podem ser vigiadas e manipuladas, perdem a capacidade de construírem a própria identidade e seus processos de subjetivação são altamente controlados. Os detentores do poder geram a falsa ilusão de que a realidade é o que a ‘massa’ pensa ser, quando, na verdade, é apenas uma construção, é uma realidade, talvez, ‘virtual’ (CÓRDOVA, 2015, p. 7).

33

Córdova e Jesus nos propõem que a tecnologia constrói uma falsa realidade, pois cria nas pessoas um pensamento de que são elas que escolhem e mandam, e na verdade são manipuladas. Desta forma, podemos conceber que muita coisa que vemos nas redes sociais virtuais não é realmente aquilo, mas apenas o que querem que vejamos. Muitos perfis do Instagram nos dão a ilusão da espontaneidade. Nesse sentido, vamos ao encontro do perfil do jornalista Evaristo Costa no Instagram. Lá, ele publicou e ainda publica muitas fotos e vídeos do que denota ser os bastidores de sua profissão, dando a impressão aos internautas de que o que ali por ele é mostrado é algo que jamais a TV mostraria. Esse fato implica uma estratégia de aproximação com seus seguidores, também entendida como uma performance, visto que temos uma personalidade diante do olhar público em uma plataforma digital online.

4.3 Memes

A definição de memes é muito ampla e tem algumas perspectivas. Segundo Maia e Escalante (2014), o termo meme surgiu por volta do ano de 2000 no ciberespaço, principalmente nas redes sociais, e em 2005 ele se tornou uma imagem caricata, com estética precária. Dentro desses aspectos o meme se tornou uma ferramenta para transmitir os sentimentos e as relações pessoais com humor no ciberespaço. Há memes que são predominantemente constituídos de imagem, como os print screen, ou seja, fotos de pessoas, celebridades, personagens de animação, animais, que, segundo os autores, podem ou não vir acompanhadas de um texto, pois os memes também vêm com uma carga de humor e criatividade. Podemos reconhecer um meme por sua imitação de algo ou alguém, por seu alto nível de propagação, imitação e por sua viralização principalmente. Primeiramente vamos discutir o termo meme por alguns pesquisadores do assunto como Dawkins (1979), Dennett (1998), Maia e Escalante (2014) e Shifman (2011). A primeira definição do termo meme veio do biólogo Richard Dawkins (1979), em seu livro O Gene Egoísta. Pela ótica evolucionista, ele conceituou o termo meme como uma espécie de transmissões culturais capazes de se replicarem de maneira veloz, o comparando com um vírus. Daniel Dennett (1998)20 complementou Dawkins, afirmando que o meme é um “pacote de informação” com atitude, dando exemplo “com alguma roupa fenotípica que tem efeitos diferenciados no mundo que assim influenciam suas chances de se replicar”. Já diante dos

20 Disponível em: https://ase.tufts.edu/cogstud/dennett/papers/MEMEMYTH.FIN.htm. Acesso em: 27/07/2019. 34 estudos meméticos, Heylighen e Chielens (2009) tratam a cultura “como uma série de padrões de informação (memes) que seria transmitida de pessoa a pessoa, como genes ou vírus” (apud MAIA; ESCALANTE, 2014). Por terem características culturais, Shifman21 (2011, p.2) afirma que a abrangência cultural torna memes de propagação global ou local, entende-se que se um meme possui características culturais de maior abrangência geográfica, ele tem mais chances de ter alcance global, se ele tem características culturais mais restritas geograficamente, ele se torna um meme local. Segundo Maia e Escalante (2014), o fato de o meme se propagar rapidamente e passar por mutações nos leva à ideia de imitação de Gabriel Tarde. O autor descreve a imitação como um processo no qual as pessoas imitam as outras, partindo de costumes, manias, emoções, roupas, assim como vemos na moda atualmente que sai das telas do cinema ou da novela e vai para as ruas. Ele ainda ressalta que somos levados a imitar comportamentos em favor das relações sociais e afetivas. Desta forma, Tarde explica que essa imitação sofre mutações com tempo, assim como havíamos visto com o meme. A ideia de imitação nos remete à ideia de performance, pois o indivíduo, ao imitar um costume, uma maneira, roupa ou algo do tipo, está atuando, performando para poder se comunicar ou buscar identificação social no meio em que vive. Desta forma, no próximo capítulo, estaremos refletindo sobre a performance dos indivíduos, principalmente dentro da rede social Instagram.

21 Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/eb90/3acf8ee5107d442219e3bafecb995cad5452.pdf?_ga=2.227350237.171422 6474.1562716700-37401456.1562716700. Acesso em: 27/07/2019. 35

5. METODOLOGIA

A análise do perfil de Evaristo Costa no Instagram é feita no período de janeiro a junho de 2017. Esse período foi selecionado levando em consideração o nível de interação de Evaristo com seus seguidores por ainda estar como âncora do Jornal Hoje da rede de televisão Globo. Portanto, lembrando que o Instagram é uma rede social baseada em imagens e vídeos e uma ferramenta que envolve subjetividade humana, pautada na performance do indivíduo, é importante conhecermos melhor o jornalista Evaristo Costa, e também discutirmos o conceito de performance que estamos trazendo para análise.

5.1 Quem é Evaristo Costa

Nascido em São José dos Campos – São Paulo em setembro de 1976, Evaristo Costa ganhou grande popularidade através de sua profissão, o jornalismo. Formado em Jornalismo pela Universidade Braz Cubas, de Mogi das Cruzes, ingressou na profissão em 1995, quando ainda estava na faculdade. Em setembro de 1999, iniciou na TV Globo São Paulo, onde foi repórter especial do programa Mais Você em São Paulo, apresentado por Ana Maria Braga. Somente em 2004, foi efetivado como titular do Jornal Hoje, ao lado de , onde ficou por aproximadamente quatorze anos. (MEMÓRIA GLOBO, 2019)22. Em 19 de julho de 2017, foi divulgado pela mídia que Evaristo não mais apresentaria o Jornal Hoje e não renovaria com a Rede Globo, apresentando sua última edição do Jornal Hoje no dia 27 de julho de 2017. Através de suas contas no Twitter e no Instagram, o jornalista anunciou seu desligamento da TV Globo. Jornalistas como Evaristo Costa se apropriaram do Instagram não só como estratégia de marketing para sua vida pessoal e social como também para seu trabalho como apresentador no Jornal Hoje da emissora de televisão Globo. Suas publicações no Instagram, no Facebook e no Twitter geram interações por parte dos seus seguidores e feedbacks desse público. Nesses anos de telejornal e três de Instagram, já que sua primeira publicação data do dia 04 de maio de 2016, Evaristo conquistou e se tornou uma celebridade por causa da sua forma irreverente de se comportar nas redes sociais, nada convencional para um jornalista apresentador de uma bancada de telejornal. O comportamento descontraído e irreverente nas redes sociais gerou uma aproximação com o público, com os telespectadores e com os internautas da rede, algo entendido como uma

22 Disponível em: http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/evaristo-costa.htm. Acesso em: 28/07/2019. 36 estratégia. Hoje o jornalista conta com 7 milhões de seguidores, mais de 600 publicações e uma média de trezentas mil curtidas em suas publicações. Observamos que Evaristo Costa é o segundo jornalista brasileiro mais seguido do Instagram, só ficando atrás de Fátima Bernardes, que conta com 8,3 milhões de seguidores. O cotidiano de um telejornal é atribulado. Em meio às pressões, pautas, prazos, entrevistas, pautas caídas e episódios tensos, Evaristo Costa consegue mostrar pelo seu perfil no Instagram o “outro lado da história”, um lado mais descontraído, despojado e com humor, deixando a imagem do jornalista de bancada de telejornal mais humanizada. As estratégias usadas por ele variam desde memes à interação particular com um ou mais seguidores. A repercussão disso junto aos seguidores se deu na produção de uma festa de aniversário com tema “Evaristo Costa”, assim como uma homenagem em um bloco de carnaval dedicado ao jornalista e ter se tornado tema de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Todos esses fatos foram e são publicados por ele em suas redes sociais. Sua gestão do Instagram é performática. De acordo com o Dicio, Dicionário Online de Português (2017), performance é quando alguém ou algo está atuando, também podendo significar o desempenho daquela pessoa ou coisa. No teatro é o ato em que o artista cria uma atuação a partir de sua arte. No esporte é o desempenho físico do atleta. E ainda existem alguns outros conceitos sobre a palavra. No entanto, neste trabalho vamos nos ater à performance em seu âmbito comportamental e subjetivo nas redes. O avanço das tecnologias comunicacionais, o aperfeiçoamento da foto e do vídeo e a facilidade de compartilhamento dessa produção própria (muitas vezes íntima) com a sociedade fizeram com que a aparência daquilo que se vê se tornasse algo bastante trabalhado por quem usa estas tecnologias, como será visto a seguir.

5.2 Performance como Eixo Metodológico

Estabelecemos uma relação com as múltiplas facetas do eu sugeridas por Paula Sibilia (2008), que são: eu narrador, eu privado, eu visível, eu atual, eu autor, eu personagem e eu espetacular. Então, a performance de que estamos tratando é o comportamento visual que a pessoa projeta de si para o ambiente. Segundo Paula Sibilia (2008), esse comportamento integra um conjunto de imagens, de performances já existentes na sociedade, porque é através dele que o indivíduo busca que sua existência seja legitimada. Assim, essa performance também é praticada e percebida nas redes sociais, se colocando à visão do público, mostrando aquilo que é ou aquilo que se deixa 37 ver que é. Esse fenômeno acaba se configurando em um produto, porque há consumação. Tratando do consumo, Giddens (2002 apud PEREIRA DE SÁ; POLIVANOV, 2012) afirma que há uma relação com padrões de comportamento e com as escolhas de estilos de vida. O sujeito recebe diariamente muitas referências visuais vindas das redes sociais online e isso compõe suas escolhas e comportamento.

[...] as escolhas efetivadas cotidianamente pelos sujeitos em sociedades modernas que acabam por construir rotinas e, mais do que isso, acabam por compor quem são esses sujeitos. (GIDDENS, 2002 apud PEREIRA DE SÁ; POLIVANOV, 2012, p. 577)

As escolhas dos indivíduos buscam a legitimação do olhar do outro. Aproximando esse conceito do nosso objeto, compreendemos que as fotografias e imagens de Evaristo Costa no Instagram seguem a mesma estética imagética vista nos demais perfis da rede social. Esse aspecto promovido por ele tem por objetivo buscar causar comoção e identificação pessoal com seus seguidores e demais usuários do Instagram. Evaristo se utiliza de estratégias como a apropriação de memes e busca fazer com que algumas publicações suas se tornem virais. Na faceta de o eu narrador, Sibilia nos fala sobre o indivíduo ser o autor das suas publicações, que esse indivíduo costuma ser tríplice, pois ele é o autor, o narrador e o personagem. Entretanto, por mais que o indivíduo tenha essas características, o que é mostrado não deixa ser uma ficção, pois, por estar sob o olhar de terceiros, instantaneamente essa produção passa pelo processo da subjetivação.

Embora se apresente como “o mais insubstituível dos seres” e “a mais real, em aparência, das realidades”, o eu de cada um de nós é uma entidade complexa e vacilante. [...] É uma ficção necessária, pois somos feitos desses relatos: eles são a matéria que nos constitui enquanto sujeitos. A linguagem nos dá consistência e relevos próprios, pessoais, singulares, e a substância que resulta desse cruzamento de narrativas se (auto)denomina eu. (SIBILIA, 2008, p. 31).

Aproximando esse conceito da imagem do jornalista Evaristo Costa no Instagram, e como denota seu perfil, ser algo construído por ele mesmo, podemos colocá-lo como um eu narrador, pois Evaristo mostra seu eu fazendo e sendo. “A experiência de si como um eu se deve, portanto, à condição de narrador sujeito: alguém que é capaz de organizar sua experiência na primeira pessoa do singular” (SIBILIA, 2008, p. 31). Em meio à discussão da performance humana, percebe-se que há um apreço por aquilo que é real. Em relação a tudo que é publicado nas redes sociais, na TV, no rádio, ou seja, na 38 mídia, o indivíduo busca aquilo que chega mais perto da realidade. Assim, Sibilia (2008) conceitua mais um tipo de performance, o eu real. Segundo a autora, as pessoas buscam algo que não seja encenado, ou que pareça menos encenado possível, sendo um dos motivos “o anseio por consumir lampejo da intimidade alheia”.

Em meio ao sucesso dos reality shows, o espetáculo da realidade faz sucesso: tudo vende mais se for real, mesmo que se trate de versões dramatizadas de uma realidade qualquer. [...] o excesso de espetacularização que impregna nosso ambiente tão midiatizado anda de mãos dadas com as diferentes formas de “realismo sujo” hoje em voga. (SIBILIA, 2008, p.195).

A autora pontua que esse “movimento” de expor seu íntimo tem seu lugar privilegiado, a internet. Assim, concebemos que as redes sociais online são um palco de revelações e confissões íntimas, isso tanto em imagens fotográficas, vídeos ou textos. É fato que podemos encontrar várias publicações no Facebook, Instagram e Twitter que sugerem que estamos compartilhando um momento íntimo, ou pelo menos é isso que parece. Vemos que, desta maneira, apesar de o Instagram de Evaristo Costa possuir um tom de passar os bastidores reais da profissão de jornalista, há a dúvida de que, muitas vezes, o que é mostrado nem sempre é “real”. Assim, defendemos que o autor de seu perfil na rede social faz parecer que estamos no seu íntimo, dando uma sensação maior de proximidade, identificação e afetividade, embora algumas características das publicações sejam estratégicas para atrair atenção dos seus seguidores. Outro conceito de performance de Sibilia a ser pontuado neste trabalho é o eu espetacular. Nesse sentido, o sujeito tem sua imagem trabalhada, propagada, popularizada nas mídias sociais. A imagem é produzida e trabalhada especificamente para o consumo. Um exemplo óbvio são as celebridades. Madonna, Michael Jackson, Britney Spears, Anitta, Roberto Carlos, Ana Carolina, Pitty, entre outros. Cada um tem seu público específico e suas imagens trabalhadas de acordo com esse público de consumo. Assim, Sibilia trata da performance do eu espetacular. O indivíduo se torna uma “mercadoria espetacularizada”. “Sua personalidade emerge como um atraente produto para ser consumido e inclusive imitado” (SIBILIA, 2008, p.269). Evaristo Costa trabalha sua imagem de uma maneira mais descontraída e despojada nas redes sociais online, algo que chamou atenção ao público no início justamente por ele ser um jornalista. Até então não se via um jornalista global com tal comportamento em redes sociais. O trabalho sobre essas imagens foi de rápida propagação, pois Evaristo se colocou com uma linguagem mais familiarizada com a internet, compondo memes e virais desde então. 39

Esse trabalho realizado no Instagram, com sua imagem em relação direta com sua profissão, consequentemente alavancou sua popularidade como jornalista. Assim, esse trabalho de interação e postagem nas redes possivelmente acaba se tornando parte de sua rotina profissional. Essa relação nos leva ao conceito de trabalho imaterial de Maurizio Lazzarato e Antonio Negri (2001).

A categoria clássica de trabalho se demonstra absolutamente insuficiente para dar conta da atividade do trabalho imaterial. Dentro desta atividade, é sempre mais difícil distinguir o tempo de trabalho do tempo da produção ou do tempo livre. [...] Em outras palavras, pode-se dizer que quando o trabalho se transforma em trabalho imaterial e o trabalho imaterial é reconhecido como base fundamental da produção, este processo não investe somente a produção, mas a forma inteira do ciclo "reprodução-consumo": o trabalho imaterial não se reproduz (e não reproduz a sociedade) na forma de exploração, mas na forma de reprodução da subjetividade. (LAZARATO; NEGRI, 2001, p. 30).

Assim, entendemos que a performance que Evaristo realiza no Instagram é tão conectada à sua profissão que, instantaneamente, aquela prática se torna parte das tarefas do seu âmbito profissional. Também entendemos que essa performance online é um trabalho imaterial, que não está discriminado formalmente como atividade de trabalho, mas que efetivamente se tornou parte da sua profissão de jornalista. O profissional se utiliza desse processo para gerar vínculo com seu público, que provavelmente é um público que sai da tela do smartphone e vai para a tela da TV assistir ao telejornal, ou um público que se sente próximo aos valores que Evaristo aplica à sua profissão de jornalista como o que é expresso no figurino, na rotina produtiva e no compartilhamento dos presentes que recebe. Evaristo se relaciona muito com o imaginário e os gostos do seu público. Vemos isso, por exemplo, em publicações que têm como tema a segunda ou a sexta-feira. Assim como descrevem Lazzaratto e Negri,

É o trabalho imaterial que inova continuamente as formas e as condições da comunicação (e, portanto, do trabalho e do consumo). Dá forma e materializa as necessidades, o imaginário e os gostos do consumidor. E estes produtos devem, por sua vez, ser potentes produtores de necessidades, do imaginário, de gostos. A particularidade da mercadoria produzida pelo trabalho imaterial (pois o seu valor de uso consiste essencialmente no seu conteúdo informativo e cultural) está no fato de que ela não se destrói no ato do consumo, mas alarga, transforma, cria o ambiente ideológico e cultural do consumidor. Ela não reproduz a capacidade física da força de trabalho, mas transforma o seu utilizador. (LAZZARATTO; NEGRI, 2001, p. 45).

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Esse trabalho imaterial realizado por Evaristo, além de inovar nas formas e condições de se comunicar com seus seguidores, amplia seu público. Assim, o jornalista está o tempo todo se vinculando a ele e criando laços que envolvem a subjetividade dele e daqueles que o acompanham. Todas essas estratégias ajudam a construir um capital simbólico em torno do jornalista, o que consequentemente ajuda a valorizar seu trabalho de jornalista. O seu trabalho como jornalista se torna mais valoroso, uma vez que ele tem esse capital simbólico nas redes. Após discutirmos o que entendemos por performance neste trabalho, vamos nos ater ao perfil do Instagram de Evaristo Costa a fim de analisar sua performance no aplicativo, suas estratégias de aproximação através da imagem junto ao público.

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6. EVARISTO COSTA EM PERFORMANCE NO INSTAGRAM

Como já mencionado, vamos trazer para nossa análise as publicações do perfil do Instagram de Evaristo Costa no período de janeiro a junho de 2017, que somam ao total 118 publicações, de acordo com nossas observações. Analisaremos a performance em 19 publicações pré-selecionadas baseadas nas categorias de análise escolhidas. As fotografias e vídeos publicados mostram que ele adere a tendências popularizadas nas redes sociais gerando identificação e aproximação junto ao público que partilha dessas tendências. Além disso, optou-se por selecionar publicações que tenham relação direta ou indireta com a profissão de jornalista. A performance conceituada por Sibilia (2008) será um dos nossos eixos analíticos deste trabalho, juntamente com as categorias de selfie e meme. Assim, vamos elevar a categorias de análise os conceitos de selfie, meme, uma reflexão sobre trabalho imaterial e os seguintes conceitos relacionados à performance de Paula Sibilia: eu narrador, eu real e eu espetacular, que serão apresentados a seguir.

6.1 O eu narrador no Instagram de Evaristo Costa

Vamos iniciar nossa análise pelo eixo performático sob a luz dos conceitos de Paula Sibilia, sendo tratado neste tópico o eu narrador. Das 19 publicações de Evaristo selecionadas, publicadas no período de janeiro a junho de 2017, 5 publicações foram escolhidas para serem articuladas a este conceito. O Instagram é uma rede social que tenta materializar a pluralidade de relacionamentos que a cibercultura possibilitou. Ele é pautado sobre a imagem e, assim, seus usuários se autopromovem nesta plataforma, que só é possível fazer uso de todas as suas funcionalidades através do smartphone, na busca de reconhecimento social. Com a popularização dos smartphones, o surgimento de várias práticas a partir dele se tornaram comuns, como o compartilhamento de selfies em rede por exemplo. Nestes selfies, podemos enxergar vários elementos de performance, inclusive os que estamos abordando neste trabalho. Assim, podemos encontrar em selfies o eu narrador, que é o principal tema deste tópico.

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Figura 8 – Post de Evaristo em 18 de janeiro de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

De maneira breve, Sibilia (2008), explica que o eu narrador é o indivíduo que é capaz de contar sua história, em primeira pessoa, é o se mostrar “fazendo e sendo”. Como podemos ver na imagem acima obtida com a captura de tela, o jornalista mostra ser o próprio autor de suas publicações. A respeito de seu estilo de cabelo ele escreve: “Já vou avisando, o cabelo está milimetricamente arrumado”. Nesta frase, além de escrever em primeira pessoa, Evaristo se utiliza de um estética visual totalmente diferente do que víamos na bancada do telejornal Hoje. A foto acima, tirada em um ângulo plongeé, mostra claramente um estilo de cabelo desordenado. Diante de uma câmera de estúdio, em ângulo frontal na altura dos olhos, não veríamos tamanha desordem. Essa estética visual usada por Evaristo no Instagram está permeada por doses de humor e autoexposição. Essa autoexposição entra muito no campo dos bastidores. Evaristo, ao mostrar momentos como este, que é o de seu cabelo dessarumado em frente à bancada de um dos maiores telejornais da televisão aberta brasileira, momentos antes de entrar no ar, leva ao público muitas respostas de anseios de como as coisas são por trás das câmeras. Mesmo que não seja de fato exatamente aquilo que é mostrado, pois há uma performance e uma seleção prévia do que mostrar ou não. O smartphone é um dispositivo que se enquadra dentro do conceito de mídias digitais. Assim, o reconhecemos, como conceitua Pernisa Júnior (2002), enquanto um dispositivo plural, que promove o encontro de vídeo, som e fotografia num mesmo suporte. Também ponderamos 43 a compatibilidade do Instagram com o dispositivo smartphone, uma vez que a plataforma suporta o encontro destes formatos de mídia. Destacamos, nesse sentido, a produção e postagem de vídeos feitos pelo jornalista. Um episódio que ilustra muito bem o eu narrador descrito por Sibilia em formato de vídeo é uma publicação (Figura 9) feita por Evaristo em 27 de janeiro de 2017, como mostra a captura de tela abaixo. O vídeo inícia com uma mensagem colada nas costas de Evaristo, a imagem corre por cima do ombro do jornalista até revelar o jornalista digitando em seu smartphone. Esse vídeo foi uma resposta dele a vários seguidores que o questionavam sobre a autoria dos seus comentários na rede social. Com o vídeo, Evaristo tentou garantir que respondia aos comentários feitos pelos seus seguidores, ou seja, garantia ser o autor dos comentários da sua conta na rede social.

Figura 9 – Postagem de Evaristo em 27 de janeiro de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Esse questionamento é gerado muitas vezes por causa de vários casos de outros famosos que têm suas redes sociais online administradas por assessores. Muitos perfis também têm administração feita por softwares de administração de redes sociais como Buffer, Hootsuite, Sprout Social e Everypost, dentre vários outros disponíveis. Eles permitem o agendamento de publicações, o envio de mensagens automáticas em respostas a conversas iniciadas, assim como monitoram o engajamento das publicações. No entanto, esses softwares eram majoritarioramente usados por empresas para aperfeiçoar o alcance ao seu público-alvo. 44

Com o aumento de influenciadores digitais que se vêem como empresas, softwares como esses começaram a se popularizar. Em algumas de suas publicações encontramos outras características das categorias analisadas como a de meme e a de selfie na imagem abaixo, mas essas características também se relacionam a uma publicação performática de eu narrador, pois, como podemos observar na captura de tela, o próprio jornalista tirou a foto, construiu o meme e, por fim a publicou na rede social, o Instagram. Desta forma, uma mesma publicação pode representar mais de uma categoria deste trabalho.

Figura 10 – Postagem de Evaristo Costa em 6 de fevereiro de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Voltando à nossa categoria analisada, o eu narrador, podemos ver que em todas as imagens que constam neste tópico o jornalista é autor, narrador e personagem de suas publicações, dessa forma, sendo um indivíduo tríplice, conforme conceituam Pereira de Sá e Polivanov (2012). Nas imagens abaixo, podemos observar que se refere à publicação de um vídeo. Nele, Evaristo entra em um provador de roupas vestindo uma roupa casual, após fechar a porta vemos várias peças de roupas voarem pelo teto do provador, nos transmitindo a ideia de troca de roupa, 45 e de repente, como em segundos, Evaristo sai todo alinhado de terno e gravata, roupa com que ele apresenta o telejornal. Ele faz uma alusão ao personagem de história em quadrinhos Superman, em que o super-herói necessita vestir um traje para cumprir o seu dever.

Figura 11 – Sequência de vídeo postada por Evaristo em 18 de fevereiro de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Observa-se que, na história original do personagem Superman, ele é um super-herói que se disfarça de jornalista. No vídeo, Evaristo é um jornalista que se disfarçaria de pessoa comum. Assim, conseguimos refletir que Evaristo tenta, de maneira bem-humorada, enaltecer o profissional jornalista equiparando-o a um super-herói. Neste caso, ele precisa da roupa que lhe dá autoridade para apresentar o telejornal, assim como o Superman precisa de seu macacão azul e vermelho para cumprir com seu trabalho. Desta forma, Evaristo consegue remeter à profissão de jornalista uma performance de super-herói da população. Evaristo também gera toda uma imagem mítica e idealizada da profissão de jornalista ao mostrar no vídeo sua roupa de trabalho, com blazer e gravata, um camarim para troca de roupas juntamente com um closet, muitas vezes contando até com figurinista. Isso tudo no ambiente de trabalho, com roupas concedidas pela emissora. Uma realidade fortemente 46 discrepante da maioria das outras empresas de jornalismo do Brasil, assim como de seus profissionais. Assim, Evaristo denota a materialização do jornalista idealizado, ou seja, âncora de uma grande emissora de televisão com direito a ternos, figurinista, maquiagem e camarim. Essa publicação além de ser algo produzido por ele mesmo, também denota o humor que o jornalista traz para representar sua profissão. Dessa vez, ele mesclou a sua figura de jornalista com elementos da cultura pop. O ato de Evaristo usar figuras da cultura pop em suas publicações faz com que elas se direcionem a um público mais segmentado. No caso do Superman, o direcionamento é amplo pela popularidade do personagem, mas para os amantes de super-heróis é um tiro certeiro. Na imagem abaixo, o conceito de selfie poderia ser questionado, pelo fato de não estar aparecendo seu rosto. No entanto, antes de tudo, o conceito de selfie se relaciona à busca pela expressão, a várias imagens que não necessariamente possuem o rosto, como fotografias que mostram somente a boca, ou o corpo no espelho. Assim, a foto de Evaristo é, de fato, um selfie.

Figura 12 – Postagem de Evaristo em 27 de março de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Ainda no tema da segmentação das postagens, na imagem acima, Evaristo se utiliza do senso comum de que a segunda-feira é um dia ruim, pelo fim de semana ter terminado. 47

Assim, ele faz uma publicação com uma caixa de papelão na cabeça que possui desenhado um rosto que denota desânimo e, de acordo com sua legenda, uma estratégia para esconder o rosto. Portanto, o que Evaristo parece querer passar com a publicação foi o seu estado de humor, juntamente com a vontade de não mostrar um rosto amassado e cansado do fim de semana. De acordo com a legenda que se refere à segunda-feira, o jornalista faz alusão de que esse dia é realmente entediante por ter acabado o fim de semana de folga e que sua cara não estaria dentre as melhores. Novamente, Evaristo se utiliza de uma performance em que ele se narra como um personagem que detesta a segunda-feira, entretanto com bom humor. Muitos seguidores se sentem representados, se identificando com aquele sentimento, mesmo que de maneira cômica. Nos comentários de sua publicação, como mostra a figura abaixo, podemos ver algumas reações de seus seguidores no Instagram.

Figura 13 – Reações dos seguidores em comentários

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

No comentário de @lidirube ela relata “acho q vou usar uma dessas amanhã no trabalho...”. Neste comentário é totalmente visível a identificação com o sentimento de Evaristo em uma segunda-feira, levando a seguidora a sentir o desejo de replicar o gesto do jornalista. O perfil @willian.galdino comenta com um emoticon que reflete a tristeza, insinuando 48 solidariedade com o sentimento do jornalista. O perfil @raissa_saantos12 comentou: “nos traz muitos sorrisos verdadeiros”. A sua qualificação de “sorrisos” como verdadeiros, denota a sua identificação com a realidade de milhares de pessoas. Assim, podemos ver pistas do engajamento, da identificação e da proximidade gerada por publicações em que Evaristo performa de maneira mais humana, como mostram os comentários. Publicações deste tipo são uma das estratégias que geram a proximidade com seu público.

6.2 O eu real no Instagram de Evaristo Costa

Nesta categoria de análise pelo eixo performático sob a luz dos conceitos de Paula Sibilia, discute-se o eu real. No período demarcado, que vai de janeiro a junho de 2017, selecionamos 4 publicações, entre fotografias e vídeos para esta análise. De maneira breve, Sibilia (2008) explica que o eu real é o lado íntimo do indivíduo em relação às redes sociais, são publicações que revelam mais do que as pessoas geralmente veem na internet. Exemplos são reality shows como Big Brother Brasil, que é uma “novela da vida real”, assim como conceitua a própria emissora, detentora do programa. Assim, programas que invadem as casas de famosos, publicações de rituais de beleza, exercícios físicos entre outros, geram engajamento por dar abertura à realidade por trás daquela imagem tão célebre. Entretanto, a preferência e anseios por conteúdos imagéticos já é fato antigo, como a cultura do audiovisual. Uma obra ou publicação que mostra a realidade, ao contrário da ficção, só aumenta mais o interesse do público. Evaristo Costa, em seu Instagram, fez muitas publicações, que, como mencionado anteriormente, o projetam muito humano, fazendo com que provavelmente seus seguidores entendam que aquele é o “Evaristo real”.

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Figura 14 – Postagem de vídeo por Evaristo em 27 de janeiro de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

A publicação acima, que já trouxemos no eu narrador, se relaciona facilmente com a performance de um eu real. O vídeo mostra Evaristo digitando em seu smartphone que estaria, como diz a legenda, respondendo os comentários de seus seguidores. A sua imagem digitando no celular foi certeira para fazer seus seguidores pensarem que sim, é ele mesmo que escreve, mesmo que a verdade não seja essa. Pois, segundo Sibilia (2008), o eu real, por mais real que seja, ainda está carregado de subjetividade, por estar sob o olhar alheio. Mais que isso, a imagem de Evaristo numa cadeira digitando o retira novamente de um pedestal, em que geralmente pensa-se que pessoas do escalão de Evaristo jamais lhe responderiam. O papel colado em suas costas foi essencial para mostrar de maneira profunda que ele nem podia parar para falar porque estava ocupado respondendo seus seguidores. O selfie a seguir foi publicado em uma segunda-feira. Evaristo está na redação do Jornal Hoje, com a cabeça apoiada na mão, cara “amassada”, de olhos fechados e denotando sono, segundo sua legenda. Percebemos a sua facilidade em compartilhar novamente seu momento de descontentamento com a segunda-feira. Como já sabemos, Evaristo usa bastante estratégias que englobam pensamentos e comportamentos que geralmente as pessoas sentem e compartilham nas redes.

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Figura 15 – Postagem de Evaristo em 13 de fevereiro de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Mas é necessário ponderar como Evaristo se projeta na imagem. O jornalista, âncora do Jornal Hoje, está sem terno, com a cara amassada sobre suas mãos, cabelo desordenado, tudo em sua mesa da redação. Ou seja, um Evaristo sem os escudos que a roupa, o enquadramento da câmera da televisão, a maquiagem e o cabelo arrumado trazem para si em ação na televisão. Ao ver o jornalista na televisão, geralmente temos a imagem de ser alguém sempre bem arrumado e comportado. Essa publicação destoa de todos esses conceitos, colocando Evaristo como um cidadão comum. Na montagem de fotografias a seguir, publicada no Instagram no dia 22 de fevereiro de 2017, vemos como Evaristo faz para deixar a camisa ajustada ao seu corpo, algo que o telespectador não saberia somente o vendo pela televisão. O âncora faz uso de uma fita crepe na parte das costas de Evaristo para tornar a camisa justa ao seu corpo. Assim como ele se apresenta na imagem, sentado de pernas cruzadas no chão da bancada do JH.

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Figura 16 – Postagem de Evaristo em 22 de fevereiro de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

O jornalista, ao fazer essa publicação no Instagram, mostrou aos milhares de seguidores que nem tudo é exatamente como veem pela televisão. Evaristo dá a ideia de que o que o telespectador não pode ver na televisão, ele vê no seu perfil no Instagram. Assim, mais uma vez Evaristo usa da ideia de mostrar “o real” dos bastidores do Jornal Hoje, assim também como mostra o eu real enquanto jornalista na bancada de seu programa. Outro aspecto a ser observado é o da roupa não ser do tamanho do jornalista e necessitar de reparos precários e temporários. Essa publicação só mostrou que nem ele escapa de ter roupas que não lhe caem bem na emissora Globo, dando outra significação para o eu real. As estratégias de aproximação usadas por Evaristo já chegaram a um alto nível de aproximação, como mostra a figura abaixo, de nº 17, publicação feita por Evaristo no dia 6 de março de 2017. Nela Evaristo relata a história de um jovem que pediu a ele uma gravata emprestada e ele respondeu dizendo que o ajudaria. Assim, Evaristo publica a foto do jovem com sua gravata, juntamente com o diálogo que teve com o rapaz. Seus seguidores ficaram impressionados, como pode ser visto em um comentário mostrado na figura 17. Assim, Evaristo transmite aos seguidores que o Instagram não é somente um espaço virtual de aproximação ilusória. Ele mostra que, na sua rede social, o seu seguidor pode ter uma proximidade, uma intimidade maior com ele, tornando reais alguns episódios, dentro das possibilidades do jornalista. 52

Figura 17 – Postagem de Evaristo em 06 de março de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

No dia 14 de março de 2017, Evaristo publica um selfie comendo um pastel de camisa e gravata. Uma foto considerada ousada para um âncora de um telejornal global, visto que muitas pessoas não gostam de ser fotografadas comendo. Evaristo está comendo um pastel, ao que parece, iguais àqueles de feira, com muita gordura, como mostra a embalagem na foto.

Figura 18 – Postagem de Evaristo em 14 de março de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram 53

Neste tipo de publicação, Evaristo desce do pedestal colocado por muitas pessoas por ele ser um jornalista de uma grande emissora e de um grande telejornal. A legenda desta publicação nos faz pensar que o jornalista é um fã de pastel, não sendo um ato que ele faz esporadicamente em sua vida. Evaristo tenta transmitir com essa publicação que, além de amar pastel, essa é uma prática frequente. Essa publicação é entendida como uma das estratégias para se aproximar mais de seus seguidores. Ele performa a fim de mostrar o seu eu real, pois o fato de comer pastel na rua é uma imagem que podemos encontrar diariamente pelos centros de várias cidades do Brasil, entre pessoas comuns e anônimas. Assim o jornalista exalta o seu eu real como “gente como a gente”, tornando sua imagem mais humanizada.

6.3 O eu espetacular no Instagram de Evaristo Costa

Ainda sob a luz dos conceitos de Paula Sibilia, vamos tratar do eu espetacular. No período demarcado, selecionamos 7 publicações que se enquadram nessa categoria e dizem respeito ao âmbito jornalístico. De maneira breve, Sibilia (2008), explica que o eu espetacular é o ato do indivíduo se projetar para o ambiente de uma maneira em que ele possa causar curtidas, comentários, compartilhamentos, se transformando assim num produto, pois é consumido, podendo até ser imitado. É a autopromoção com a promoção exacerbada da sua própria imagem. Relembramos a cultura do audiovisual e a cultura do acesso, onde há uma busca por conteúdos imagéticos ao mesmo tempo que todos conseguem se tornar produtores e consumidores de produtos audiovisuais, pelos avanços tecnológicos e popularização de práticas sociais relacionadas a essas tecnologias. Na imagem abaixo, obtida com captura de tela, Evaristo, de maneira extremamente bem-humorada, publicou uma imagem fazendo referência a mais um produto da cultura pop, a banda mexicana RBD (Rebeldes). Na publicação, é Evaristo que aparece na bancada do jornal Hoje, mas com a cabeça trocada por um dos integrantes da banda, fazendo um trocadilho com a banda e o ato de fazer rebeldia na sexta-feira. A sexta-feira é sinônimo de festa para milhares de pessoas no Brasil, pois a maioria possui folga do trabalho no sábado e domingo. Evaristo se utilizou desse elemento do senso 54 comum, juntamente com referências da cultura pop, para atrair a atenção de seus seguidores, a fim de alcançar uma maior aproximação.

Figura 19 – Postagem de Evaristo Costa em 19 de maio de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Entendemos essa imagem como representante de um eu espetacular por Evaristo se apropriar da cultura pop para popularizar sua imagem. O trocadilho de uma sexta-feira rebelde com a banda Rebeldes provavelmente mexeu com o imaginário de vários de seus seguidores, na possibilidade de replicarem a ideia. Assim, Evaristo faz uso de uma figura espetacular, que é uma banda de música de grande sucesso nos anos 2000, com sua imagem e carreira, sendo essa mais uma maneira de atrair seu público. Na captura de tela abaixo aparece uma publicação de Evaristo onde ele entra em mais uma febre, um tipo de teste que viralizou: “Qual Celebridade Você Se Parece?”. Esse teste geralmente era encontrado na rede social Facebook e lá era feito e compartilhado por milhares de internautas. Evaristo aproveitou o viral e compartilhou o teste de maneira humorística. O resultado do teste foi ele mesmo, embora não saibamos sobre a veracidade desse resultado no teste.

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Figura 20 – Postagem de Evaristo Costa em 27 de março de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Os comentários da publicação denotam familiarização, identificação e proximidade com a publicação de Evaristo. O perfil @cunhamila comenta: “Então é verdade?! Pareço Angelina Jolie, uffaaa!”: seu comentário demonstra que ela já havia feito o teste em que o resultado foi a atriz hollywoodiana Angelina Jolie.

Figura 21 – Comentários da publicação de 27 de março de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

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Outros aspectos que devemos observar é que Angelina Jolie já foi considerada uma das mulheres mais bonitas do mundo, além de ser uma celebridade de “alto escalão”. Dessa forma, no teste cujo nome é “Qual Celebridade Você Se Parece?”, vemos o próprio Evaristo Costa construído como uma celebridade, ainda que não se saiba se a imagem é ou não uma montagem. Evaristo, um jornalista de televisão, é visto pela grande maioria de seus seguidores como uma celebridade e, nesta publicação, vemos que o jornalista se autopromove como uma. E, como já conceituado, o conceito do eu espetacular está intensamente relacionado com celebridades, pois elas têm a sua imagem em constante promoção no meio social. Na publicação a seguir, o perfil @manuella._ comentou “não é que isso funciona mesmo”, afirmando o seu conhecimento do teste, mas comentando com muito humor o resultado. O perfil @jpinheiroficial comenta que havia feito o teste e o resultado da celebridade com a qual ele se parecia foi o próprio Evaristo. Sendo assim, esse internauta que havia feito o teste nos faz refletir sobre a veracidade do resultado publicado por Evaristo, legitimando-o, assim como também reforça a nossa reflexão de um jornalista como celebridade.

Figura 22 – Comentários da publicação postada por Evaristo em 27 de março de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Na imagem seguinte, vemos o que seria uma comemoração com a foto de Evaristo Costa. Ao ler a legenda da foto, vemos que se trata de um carnaval de rua. Evaristo foi visto como parte da fantasia de um casal no carnaval de 2017. Esse fato se relaciona diretamente à sua imagem de jornalista celebridade. Sua maneira de lidar e se comportar nas redes sociais foi necessária para alcançar esse patamar. 57

Comportamentos como o de utilizar virais da internet, de usar assuntos populares para se expressar, inclusive com selfies, são estratégias de aproximação com as quais Evaristo consegue sair das telas e ir para a rua como alegoria de festas e comemorações.

Figura 23 – Postagem de Evaristo Costa em 11 de fevereiro de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Na foto em que Evaristo “aparece” num bloco de carnaval, o casal o coloca como participante, como um integrante do bloco, assim como transmite a fotografia ao mostrar a moça oferecendo uma cerveja a ele e a legenda da foto. A liberdade que seus seguidores têm ao executar essa ideia entra em relação com a aproximação que Evaristo gera através das redes. O modo como ele se comporta no Instagram, com suas publicações e interação, gera tamanha aproximação a ponto de vermos cenas como essa, assim como também na postagem abaixo, de 20 de fevereiro de 2017, em que ele vira tema de acessórios em uma festa de formatura.

Figura 24 – Postagem de Evaristo Costa em 20 de fevereiro de 2017 58

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

O ato de o jornalista compartilhar fatos como estes, comunicando que ele aparece em outros ambientes, o coloca como eu espetacular justamente por ele estar promovendo sua imagem e sua legitimidade junto ao público. A publicação acima mostra também resultados de seu comportamento na rede social e também da autopromoção. O jornalista está presente como tema em uma festa de formatura, que provavelmente deve ser do curso de Jornalismo. Evaristo é um dos jornalistas mais populares entre estudantes da área, não somente pela qualidade de seu trabalho, mas por seu carisma na TV e nas redes sociais. A legenda colocada por ele em sua publicação, como mostra a figura 24, revela outra estratégia usada pelo jornalista. Evaristo comenta de quais eventos ele já foi tema e eleva um questionamento: “Qual será a próxima?”. Desta maneira, ele provavelmente incita seus seguidores a praticarem ações do mesmo tipo e a enviarem registros fotográficos desses feitos a ele. Porque a legenda também denota que o jornalista vai continuar publicando o que aparecer. Além de participar de bloco, Evaristo também publicou que foi o tema de um bloco. Em 2017, houve um bloco de carnaval com o nome de Evaristo Costa. O jornalista não perdeu a oportunidade e compartilhou isso no Instagram com seus seguidores. Tanto a execução da ideia pelo bloco, assim como o ato de Evaristo ter publicado este fato no seu Instagram entra em relação com tudo o que já discutimos.

Figura 25 – Postagem de Evaristo Costa em 25 de fevereiro de 2017 59

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Sobre o ato de Evaristo publicar em seu perfil no Instagram as fotografias em que ele aparece em comemorações e outros eventos, que certamente são seus seguidores que lhe enviam, podemos refletir que esse processo está baseado em uma troca, havendo interesse em ambos os lados, sendo assim, uma via de mão dupla. Ao publicar essas fotografias em seu perfil, fotografias como as de acima, o jornalista tenta explorar o seu processo de legitimação com o público, e os seus seguidores, ao enviar a fotografia para ele, além do carinho, têm a esperança de ganharem mais visibilidade ao terem sua fotografia publicada no perfil de Evaristo Costa. Também podemos salientar o aspecto de que provavelmente o jornalista, busca, através desse ato, transparecer uma figura pública mais humana e acessível, demonstrando interesse e afeto por seus seguidores. Um outro aspecto a ser observado em relação a essas publicações que remetem à participação de Evaristo como tema/personagem de eventos são as datas. Observamos que, entre as publicações das figuras 23, 24 e 25, temos um intervalo de, aproximadamente, uma semana. A publicação de figura nº 23 foi publicada no Instagram no dia 11 de fevereiro, a publicação de figura nº 24 foi à rede no dia 20 de fevereiro e a publicação de figura nº 25 foi à rede no dia 25 de fevereiro. Essa amostra nos serve como base para chegarmos à reflexão de que sua legenda serviu de modo persuasivo para incitar seus seguidores na replicação destas práticas. Na figura de nº 24, Evaristo escreve a legenda: “De aniversário e carnaval a festa de formatura. Cada semana uma novidade. Qual será a próxima?”. Assim, o jornalista incentiva seus seguidores a práticar mais ações como estas, de o colocar como tema de algo, e compartilhar com ele, principalmente com a indagação “Qual será a próxima?”. 60

Dessa forma, vimos que Evaristo usa muito dessa estratégia de se mostrar popular em outros meios, como comemorações e festas, acionando o seu eu espetacular, mas um outro aspecto é o jornalista usar sua imagem na construção de um meme. Como vemos na figura abaixo, Evaristo aparece em uma foto com a expressão de entediado. A foto possui sobre si legendas em caixa alta na parte superior e inferior, uma estética própria de memes. Além de este tipo de publicação atrair curtidas pelo compartilhamento do mesmo sentimento de vários seguidores, as características que a imagem possui, próprias de memes, facilmente poderia viralizar. Há uma autopromoção em sua imagem, que possivelmente seria replicada. Assim, vemos o eu espetacular novamente.

Figura 26 – Postagem de Evaristo Costa em 31 de março de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

A publicação a seguir é mais um prova dos resultados de suas estratégias que geraram aproximação. Evaristo certamente recebe por mensagens privadas caricaturas sua feitas por fãs. Um aspecto fundamental dessa publicação é a de como ela foi desenhada: Evaristo de terno, a roupa ícone do jornalista idealizado, demonstrando como as pessoas enxergam o jornalista, ainda que saibamos que a realidade de muitos profissionais é outra.

Figura 27 – Postagem de Evaristo Costa em 25 de março de 2017 61

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Assim, vemos que as publicações de Evaristo têm muita relação com o eu espetacular pela sua autopromoção e também pela propagação da sua imagem em vários ambientes. A seguir, analisamos as publicações do jornalista nos baseando nos selfies.

6.4 Selfie no Instagram de Evaristo Costa

No período demarcado, que vai de janeiro a junho de 2017, 19 imagens foram pré- selecionadas para este trabalho, 3 dessas publicações entram no nosso conceito de selfie. Neste período, foram pouco frequentes os selfies, pois, do universo total de publicações mapeadas somente 20 foram classificadas como selfies. Os selfies são resultados da relação do smartphone com a imagem e estão ligados a uma série de fatores externos ao ser humano, pois sua produção tem por finalidade estar sob o olhar público. De maneira breve, os selfies se configuram como fotografias tiradas pelo próprio indivíduo com o smartphone ou com uma webcam, muitas vezes no espelho ou até em grupos, para serem publicadas nas redes sociais online. Não são considerados selfies fotografias do indivíduo (no caso, fotografias de Evaristo) em que ele mesmo não tenha tirado a foto. De acordo com Pastor (2017), sua significação está coberta de subjetivação, pois o selfie entende- se como uma prática de comunicação e expressão social, ou seja, podemos entender o ato de produzir um selfie como prática social. Nas imagens a seguir estão as publicações do perfil de Instagram de Evaristo Costa identificadas a partir do conceito de selfie utilizado neste trabalho. Podemos ver, nas imagens 62 de captura de tela no decorrer desta seção, que os selfies publicados por Evaristo em seu Instagram são aparentemente casuais. Dentre as 20 imagens consideradas selfies no período analisado, ele está em seu camarim no seu trabalho, dentro do carro, no estúdio e na redação do telejornal que ele apresenta, há selfie comendo, na rua caminhando, selfie no espelho e no aeroporto. Vemos que isso reflete exatamente em nosso conceito de selfie, visto que Evaristo sempre estampa seu rosto nas mais variadas situações vividas por ele no seu dia-a-dia. Na imagem abaixo, que possui uma estética de meme, um selfie é feito dentro do carro. Pela nossa observação, provavelmente o selfie foi feito pelo período da manhã, já que o assunto se refere à segunda-feira. Outro aspecto a ser observado é a expressão facial de Evaristo, que denota tédio. Assim, esse selfie comunica o sentido completo do sentimento que Evaristo quer compartilhar, que é o seu descontentamento com esse dia. Então, o selfie não é somente a fotografia de um rosto, é todo um conjunto de aspectos, como expressão facial, ambiente e iluminação.

Figura 28 – Postagem de Evaristo Costa em 6 de fevereiro de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Na imagem a seguir, figura de nº 29, o selfie é feito já no estúdio do Jornal Hoje, mas o estúdio está com as luzes apagadas, dando a sensação aos seus seguidores de estarem vendo os bastidores. Nesse selfie, Evaristo se apresenta com o rosto animado, com um leve sorriso. Esse aspecto leva em consideração a relação com seu trabalho, a partir de uma expressão facial de satisfação.

Figura 29 – Postagem de Evaristo Costa em 8 de fevereiro de 2017 63

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Apesar de poder ser considerada uma foto casual, na imagem podemos ver detalhes do estúdio do Jornal Hoje que durante o programa, não veríamos, como por exemplo, o chão. Um dos conceitos defendidos por Hess e Pastor (2015) é a relação da fotografia com o smartphone, que faz com que o indivíduo seja levado a produzir uma foto de si mesmo. Assim, Pastor explica que esse fenômeno é a fotografia digital interagindo com o smartphone, popularizando essa prática. Vemos na figura a seguir um selfie compartilhado por muitos do Instagram: o selfie no espelho. Nesta busca por se comunicar, Evaristo se utilizou desse processo como uma maneira subjetiva de se afirmar pronto para apresentar o telejornal, uma maneira de dizer para as pessoas que estão conectadas no Instagram que podem ir vê-lo na TV em seguida. Utilizando- se do selfie no espelho, Evaristo se compara às milhares de pessoas que praticam o mesmo tipo de selfie, tentando causar assim um sentimento de identificação e autenticidade com seus seguidores, além da aproximação instantânea.

Figura 30 – Postagem de Evaristo Costa em 24 de março de 2017 64

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Podemos ver a identificação e a aproximação que a publicação causou com os seus seguidores através dos milhares de comentários feitos na publicação, assim como mostra a figura 31, abaixo.

Figura 31 – Comentários na postagem de 24 de março de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Os comentários de elogio denotam a aproximação dos seguidores que Evaristo causa ao publicar um selfie, neste caso, no espelho.

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Figura 32 – Selfie no espelho feito por Evaristo Costa em 24 de março de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Outro aspecto a ser lembrado é a sua vestimenta. Evaristo está mostrando a sua roupa de trabalho, assim como seu crachá de jornalista de uma das maiores emissoras brasileira de televisão.

6.5 O Meme no Instagram de Evaristo Costa

No período demarcado, das 118 publicações ao total, 19 foram entendidas como meme, de acordo com a descrição já abordada do conceito. Discutiremos aqui duas delas. Além de suas características estéticas e estruturais já conceituadas anteriormente, a característica mais forte do meme é comunicar de maneira rápida e humorada. Por ter características virais que o tornam rápido, o meme causa uma interação social profunda. Ele tem alta capacidade de replicação, por sua imitação e também por sua estética caricata e cômica. Assim, refletimos que o meme é uma outra linguagem advinda da pluralidade de relacionamentos que a cibercultura nos possibilita. Nas imagens a seguir estão as publicações do perfil de Instagram de Evaristo Costa, que, de acordo com o conceito que trabalhamos, estão classificadas como memes. Algumas 66 poderão possuir características de outros conceitos como o de selfie e os “eus” performáticos, algo que já foi discutido no decorrer das análises.

Figura 33 – Meme publicado por Evaristo Costa em 13 de abril de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Na publicação acima, Evaristo usa, como já dito anteriormente, o senso comum para falar da sensação de ter um dia de folga cancelado. Ele faz uma captura de imagem de uma edição do telejornal em que ele apresenta, em um momento em que está com a cabeça baixa, de forma que, junto com as palavras inscritas sobre a imagem, comunica decepção. Assim, Evaristo consegue comover milhares de seguidores que compartilham e se identificam com esse sentimento. Evaristo consegue passar seu sentimento de tristeza de maneira cômica. Assim como Maia e Escalante (2014) conceituam, o meme possui em sua imagem um print screen de alguém famoso. Além disso, podemos analisar nesta publicação outra ideia de meme, o de imitação. Esse sentimento de tristeza de ter o dia de folga cancelado é um sentimento compartilhado por muitos na rede social, Evaristo está imitando de maneira humorística, usando o meme como plataforma. Observamos que o jornalista se utiliza muito de assuntos virais da rede social para pautar suas publicações. Assuntos como este de atribulações no trabalho, segunda-feira tediosa e alegria de uma sexta-feira, são temas de muitas de suas publicações no Instagram. Assim, na foto, a imitação também entra na estética da edição, no uso das legendas superiores e inferiores, como geralmente vemos em vários outros memes na figura de nº 34, a seguir.

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Figura 34 – Memes que usam famosos

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Na imagem a seguir vemos o uso do mesmo recurso, o meme. Através de várias fotos, Evaristo transmite sua felicidade em ser sexta-feira. Vale ressaltar a autonomia com a qual ele coloca um chapéu em meio à redação da emissora Globo, algo que ainda afirma a profissão de jornalista como algo divertido, quando, na realidade, o dia de um jornalista é atribulado de responsabilidades, prazos e pressões. Devemos nos ater a vários outros sentidos que o jornalista busca com a publicação. À primeira vista, entendemos como uma publicação de uma referência à cultura mexicana, principalmente em relação à legenda, mas a real situação é outra. Ao observamos atentamente sua legenda, vemos que o chapéu é proveniente do estado do Sergipe, mas o que, à primeira vista, nos leva a entender como um chapéu mexicano é a sua legenda, que ele inicia com “Arriba! Arriba!”. Todos esses símbolos de grande semelhança à cultura mexicana, em junção com a sexta-feira, nos levam a essa conclusão superficial. A legenda da foto também nos revela que o chapéu foi um presente. Observamos que o jornalista faz questão de dividir o protagonismo das suas fotos com os presentes que recebe para dar continuidade à proximidade com seus seguidores, assim como adora os presentes, 68 incitando os seguidores a enviá-los. Muitas vezes, o desejo de um fã é ver seu presente aparecendo na mídia com seu ídolo.

Figura 35 – Meme publicado por Evaristo Costa em 2 de junho de 2017

Fonte: Captura de tela do perfil de Evaristo Costa no Instagram

Esse comportamento do qual o jornalista se utiliza é muito parecido com o de influenciadores digitais, pois eles recebem presentes e os publicam, além de fazerem uso de muitos selfies e se autopromoverem através da criação de memes de si mesmos. Através do meme, Evaristo evoca esses vários sentidos numa só imagem. Assim, o meme empregado pelo jornalista consegue ser uma boa estratégia de conseguir não somente a atenção dos seus seguidores, como também o engajamento.

6.6. A Performance no Instagram como Trabalho Imaterial e Elemento Olimpiano

A relação entre a performance do jornalista no Instagram e a constituição do que abordamos como trabalho imaterial na seção 5.2 levou à observação de várias de suas publicações. O jornalista se apropria de várias linguagens da internet para se relacionar com seus seguidores, como já observamos neste trabalho, dentre elas, os memes, os selfies, o uso de tendências da internet, ou seja, elementos que o jornalista aciona para gerar comoção e 69 engajamento junto a seus seguidores. Vemos que o trabalho do jornalista não é somente mais apurar, cobrir e checar. O jornalista reconfigura sua profissão em termo de valores simbólicos, usando sua performance nas redes sociais. É certo que jornalistas de televisão costumam seguir todo um protocolo de como se comportar nas redes sociais e, apesar de a performance de Evaristo Costa no Instagram ser algo que aparentemente não segue nenhuma regulamentação, vemos que, diante de tudo que foi analisado sobre sua performance, esse comportamento é proposital e provavelmente envolve autorização da emissora a partir da proposta do telejornal que o jornalista apresenta. Existe relação entre sua performance na TV e sua performance no Instagram. Se colocarmos em comparação o e o Jornal Hoje, ambos da emissora Globo, veremos claramente que os dois telejornais possuem propostas diferentes. Assim, observamos que o Jornal Hoje, que se apresenta como mais despojado, moderno e informal, conversa harmoniosamente com a performance de Evaristo no Instagram. Podemos ponderar que o jornalista se alinha muito à resposta do público. Evaristo altera sua performance conforme a situação, as tendências e também a partir de experimentos que ele utiliza. Um exemplo de experimento são suas publicações de eventos em que os seus seguidores o inseriam como tema, como na formatura e no bloco de carnaval. Em uma das publicações Evaristo incentiva indiretamente que seus seguidores enviem mais materiais daquele tipo, a partir da frase “Cada semana uma novidade. Qual será a próxima?”. Dessa forma, identificamos que o uso das redes sociais pelo jornalista, em particular o Instagram, relaciona-se diretamente com sua profissão. Evaristo Costa mostrou os bastidores do Jornal Hoje, ele fez uso de uma performance que o consolida como celebridade, assim como se transportava a situações próximas da realidade da maioria dos cidadãos. Ele faz isso tudo através do Instagram e, por ser nesta rede social, identificamos como trabalho imaterial, pois não é uma tarefa formalmente requerida nas suas atribuições profissionais. No entanto, ao praticá-las, acabam se incorporando à rotina de trabalho do jornalista, agregando valor pessoal e profissional. A oscilação entre uma performance mais célebre e uma mais humana nos leva ao conceito de “olimpianos” de Edgar Morin (1997). O autor descreve pessoas do alto escalão, como políticos, atrizes e atores do cinema, playboys, reis, príncipes, princesas, rainhas, atletas e artistas como seres olimpianos, remetendo-os a deuses. Um detalhe é que Morin também classifica alguns lugares como de olimpianos, como a ilha de Capri e as ilhas Canárias. Nesta linha de pensamento, o autor descreve:

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Os olimpianos, por meio de sua dupla natureza, divina e humana, efetuam a circulação permanente entre o mundo da projeção e o mundo da identificação. Concentram nessa dupla natureza um complexo virulento de projeção- identificação. Eles realizam os fantasmas que os mortais não podem realizar, mas chamam os mortais para realizar o imaginário. [...] Conjugando a vida quotidiana e a vida olimpiana, os olimpianos se tornam modelos de cultura no sentido etnográfico do termo, isto é, modelos de vida. São herói modelos. Encarnam os mitos de autorrealização da vida privada. (MORIN, 1997, p. 107).

Assim, entendemos que Evaristo Costa, ao se utilizar de publicações que o mostrem como tema de bloco de carnaval e de formatura, além de publicações análogas ao Super- Homem e publicações que mostrem os bastidores do telejornal, comendo um pastel ou lidando com sua folga cancelada, implica diretamente essa dupla natureza à qual se refere Morin. O jornalista entra nessa “circulação permanente” entre a projeção e a identificação, ou seja, projeção (performance) mais célebre, como uma publicação que o representa como famoso na sociedade, e a identificação (performance) mais humana, como uma publicação dele comendo um pastel. Publicações humanizadas geram identificação com a maioria de seus seguidores. Esse efeito só é possível pela cultura olimpiana em que ele se coloca e que também é uma marca que a televisão carrega consigo. O trabalho imaterial realizado por Evaristo Costa no Instagram se incorporou tão fortemente à sua profissão que, agora, possivelmente sua atuação profissional depende dele. Além disso, a performance, que identificamos como trabalho imaterial, é repleta de oscilações entre publicações que apresentam tom divino e tom humano.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Construímos uma análise do jornalista Evaristo Costa a partir da performance como elemento narrativo na rede social Instagram. Buscamos entender as estratégias utilizadas pelo jornalista para alcançar uma maior interação com os seus seguidores. Entretanto, toda essa discussão foi devidamente atrelada à profissão de jornalista. Hoje, o cotidiano de um jornalista foi quase totalmente reconfigurado com as redes sociais online. A cultura do audiovisual é um elemento muito forte. Tudo o que conhecemos por mídia está relacionado à imagem. Tornamo-nos devoradores incansáveis de imagens. O surgimento das mídias digitais foi essencial para o crescimento desse processo. Assim, a cibercultura facilitou o surgimento das redes sociais digitais e de algumas delas que se pautam em imagens como o Instagram. O smartphone, como o conhecemos hoje, é a principal plataforma de acesso às redes sociais digitais. Relacionando a alta busca da imagem pelo ser humano, o que se refere à cultura do audiovisual, e o fato de o smartphone ser a principal plataforma de acesso a essas imagens, criou-se uma prática social a partir desse dispositivo. Assim, vimos que Evaristo Costa se utilizou muito bem dessa tecnologia para promover o seu eu profissional, assim como seu eu pessoal, já impulsionado pela televisão. Há uma relação muito forte entre esse aspecto e a liquefação descrita por Fuchs (2015). Evaristo, ao usar o Instagram para compartilhar tarefas do seu cotidiano como amigo, consumidor, trabalhador e atrelar isso à sua profissão de jornalista, implica diretamente a liquefação com que a rede social age, neste caso, o Instagram. Ele a usa para criar uma aproximação com seus seguidores, o que, de alguma forma, é de rendimento pessoal, ao mesmo tempo que se autopromove como jornalista do Jornal Hoje. Uma estratégia utilizada por Evaristo foi encontrada em todas as categorias de análises: o uso do tema de segunda e sexta-feira como assunto de publicação. Observamos que esse tema foi muito recorrente em suas publicações no período analisado. Neste caso, o jornalista faz uso de assuntos virais da internet. Pois, notamos que sempre há publicações em uma segunda-feira referentes à tristeza do fim de semana e publicações de alegria com a sexta-feira. E o clima feliz de uma sexta-feira é fortemente representativo, de exemplo temos a popular hashtag “sextou”. Também observamos durante nossa análise que há um regime de extrema visibilidade em que o Instagram nos coloca. Houve uma constatação de que, no decorrer do período analisado, o número de curtidas que o jornalista recebeu em suas fotos foi aumentando gradativamente. Esse fato pode ser um indício de que as estratégias usadas em suas publicações no Instagram estavam gerando uma aproximação com os usuários da rede social. 72

Foi observado também um alto uso de duas estratégias em suas publicações. A primeira estratégia é uma performance mais humana, que se manifesta em ações como a interação do jornalista com seus seguidores através de comentários, com o compartilhamento de presentes e fatos que seus seguidores lhe enviam e ainda por publicações referentes a assuntos do cotidiano que estejam em alta no dia, como folga cancelada, comer um pastel, o fim do fim de semana etc. O jornalista faz uso de publicações que envolvem mais o cotidiano de pessoas comuns, a partir de sentimentos como tédio e desânimo com o início da semana de trabalho, assim como alegria numa sexta-feira. Isso humaniza o jornalista, que possui as características de uma webcelebridade. A outra estratégia é de uma performance mais voltada à sua autolegitimação como uma celebridade. Para essa performance, Evaristo se utiliza do compartilhamento do comportamento dos seus fãs em relação a ele, como: tema de festa, formatura e bloco de carnaval, além de também compartilhar no Instagram alguns dos presentes que recebe. O jornalista também produz publicações que o elegem como celebridade, como testes online ou publicações de outras pessoas que o consideram como um jornalista-celebridade. Outra estratégia que constrói essa performance é o uso da sua própria imagem na construção de memes de conteúdo corriqueiro dos seus seguidores, como, por exemplo, nas publicações sobre segunda e sexta-feira. Assim, essa projeção que Evaristo faz de si dialoga fortemente com os indivíduos que estão no Instagram, pois, suas publicações buscam gerar identificação com a maioria dos seus seguidores. Ele atua expressando sentimentos que geralmente são compartilhados por outras pessoas. Ele cria uma estratégia de se comunicar que provavelmente as pessoas gostariam de replicar. Os atos de seus seguidores de comentar, curtir e replicar suas publicações são entendidos neste trabalho como resultados, ou seja, aproximação. Observamos que a estratégia em que Evaristo publica fotos de seus seguidores nas quais ele é o assunto é um processo de troca, pois, ao publicar a fotografia de seguidores que o colocam como tema de um evento, o jornalista se legitima como uma celebridade ao mesmo tempo que se demonstra humano, pela aproximação que a publicação causa com seus seguidores, pelo fato de a foto estar publicada em seu perfil. Entretanto, o jornalista se utiliza de uma performance de interação muito forte em seu perfil no Instagram. Observamos que o seu comportamento de responder a diversos seguidores, através de comentários em suas publicações gera uma interação real e intensa, se tornando uma estratégia eficaz na busca pela aproximação com seu público, como vimos no caso de uma gravata dada por Evaristo a um seguidor. Assim, constatamos que o uso de memes, selfies e 73 quaisquer tipos de publicações de aproximação não são as únicas ferramentas para impulsionar a aproximação, pois o ato de interagir na forma de comentários já gera resultados. Este estudo serviu como base para enxergarmos como os jornalistas lidam com as redes sociais numa época em que a profissão está desacreditada. Evaristo consegue, com maestria, manter sua credibilidade, carisma e popularidade através do uso das redes sociais. Isso demonstra o quão importante as redes sociais são para a sobrevivência de um profissional, sobretudo do jornalismo, que possui grande exposição midiática. Entretanto, é bom lembrarmos que a televisão não perde seu poder. Evaristo é um dos jornalistas mais famosos, mesmo não produzindo seu trabalho em canais como o Youtube ou com um perfil de notícias no Instagram ou Facebook. Seu legado se iniciou na TV. As redes sociais potencializaram sua popularidade e influência. Também podemos refletir que sua apropriação da rede social Instagram é um processo no qual ele reconfigura a profissão de jornalista. Suas publicações, entendidas como parte de uma estratégia, criam um capital simbólico que reflete diretamente em seu trabalho, acrescentando valor à sua atuação como jornalista. A partir de sua estratégia de se adaptar a memes e a determinados assuntos do imaginário do seu público, ele obtém um vínculo afetivo. Tecnicamente, a performance desenvolvida no Instagram não está prevista em seu contrato de trabalho, mas, indiretamente, é algo que traz ganhos para o jornalista e para a empresa na qual trabalha. Hoje, há uma atenção muito grande das empresas sobre as redes sociais. Em relação a Evaristo Costa, que se encontrava sob um contrato com uma emissora onde possivelmente existiam várias restrições, era muito provável que seu trabalho desenvolvido no Instagram fosse efetuado com autorização da emissora, para que não se chocasse ideologicamente em relação à imagem da empresa. Assim, refletimos que o jornalista ajudava a fortalecer os valores que a empresa defendia, num ambiente que não é, diretamente, vinculado à emissora. Assim, podemos observar que o trabalho do jornalista não é mais o mesmo. Hoje, o estar nas redes sociais é assertivo e necessário. Refletimos que há o uso intenso de “fórmulas prontas”, ou seja, de tendências das redes sociais como memes, temas do cotidiano etc. Dessa forma, podemos definir todo esse processo como uma reconfiguração da profissão de jornalista, uma vez que isso traz capital simbólico para o profissional, destacando-o na área jornalística. Ora Evaristo se apega à figura mítica do jornalista, com os bastidores do Jornal Hoje, ora Evaristo está com a roupa do telejornal comendo um pastel na rua ou como tema de bloco de carnaval. Essas são provas de como a profissão de jornalista se reconfigurou. 74

A partir destas constatações, é possível, futuramente, pensarmos em um aprofundamento em questões como a celebrização do jornalista e o uso das redes sociais como chave para adquirir capital simbólico para sua profissão. Trouxemos alguns conceitos que se relacionam diretamente aos estudos sobre celebridade, webcelebridade e influenciadores digitais. Assim, neste trabalho, observamos a performance online de um jornalista, mas também geramos dados que podem, futuramente, servir como base para outras pesquisas do campo comunicacional.

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