Elogio Da Bobagem – Palhaços No Brasil E No Mundo / Alice Viveiros De Castro – Rio De Janeiro: Editora Família Bastos, 2005
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O ELOGIO DA BOBAGEM palhaços no brasil e no mundo BOBAGEM O ELOGIO O ELOGIO palhaços no brasil enomundo palhaços no brasil p a l h a ç o s n o b r a s i l e n o m u n Alice Viveiros de Castro Alice Viveiros d o DA Alice Viveiros de Castro Palhaços no Brasil e no Mundo © 2005 Alice Viveiros de Castro Impresso no Brasil / Printed in Brazil Feito o depósito legal na Biblioteca Nacional Catalogação na fonte / AVC Castro, Alice Viveiros de O Elogio da Bobagem – palhaços no Brasil e no mundo / Alice Viveiros de Castro – Rio de Janeiro: Editora Família Bastos, 2005 ISBN 85-89853-03-9 1. Palhaços: Artes circenses 2. Circos – História I. Título. II. Título: Palhaços no Brasil e no mundo. CDD - 791.33 Alice Viveiros de Castro Estrada do Contorno, 7 Fazenda da Grama 27460-000 Rio Claro - RJ Se a alegria faz parte do brasileiro, o circo e sua magia fazem parte da alegria. E alguém imaginaria um circo sem palhaço? Para que não se perca de vista que o mundo do circo é muito mais sério do que pode parecer à primeira vista, vale recordar que tampouco houve, nos tempos de antanho, uma Corte sem bufão, ou uma feira sem saltimbancos. Ao longo da história, lá estiveram eles – palhaços, bufões, saltimbancos – espalhando a seriedade da alegria. Lá estiveram e, pensando bem, cá estão: fazem parte das tradições que perduram. Então, contar a história do palhaço de circo ao longo dos tempos é missão árdua, de objetivos sérios. E, muito em especial, a história do palhaço no Brasil. Como tudo, ou quase tudo, neste país de singularidades, o palhaço brasileiro vem de raízes diferentes, e se expressa com linguagem absolutamente pessoal nas diversas regiões do país. Há desde o animador das pastorinhas ao Catirina do bumba-meu-boi, chegando aos palhaços de circo que fizeram, além de escola, a alegria de gerações. Este livro também aborda outro aspecto normalmente deixado de lado quando se menciona a profissão do palhaço: sua função social, direta e sem disfarce algum. São os ‘Doutores da Alegria’ nos hospitais, os ‘Palhaços sem fronteira’ nas zonas de conflito armado. Enfim, além de manifestação cultural, profundamente mergulhada nas tradições brasileiras, a profissão de palhaço se renova e ganha novas responsabilidades. Sempre atenta à importância de se documentar e preservar os aspectos mais relevantes da cultura brasileira, a Petrobras patrocina este projeto. Maior empresa do país e maior patrocinadora das artes e da cultura no Brasil, a Petrobras tem, além de suas responsabilidades empresariais, uma outra, que prevalece sobre todas: contribuir para o desenvolvimento do nosso país. Um país que não conhece, preserva e respeita sua cultura, sua identidade, jamais será uma Nação desenvolvida. Temos essa consciência. E também por essa razão, apoiamos iniciativas como esta. In memoriam de Oscar Polydoro, João Angelo Labanca e Julinha A meus pais, que me ensinaram a dar valor ao que realmente importa nessa vida: amor, amizade e festa. A meus irmãos e sobrinhos, cúmplices na farra e nas horas difíceis. À Nasa e à Fafá por tanto, e à mi Nena, por tudo. indice INTRODUÇÃO 10 1. PALHAÇOS SAGRADOS E PROFANOS 16 O Riso e a Razão – O Riso e o Rito Egito – China – Índia – Grécia – Os Mimos Roma – O Santo Palhaço 2. O CÔMICO NA IDADE MÉDIA E NO RENASCIMENTO 26 O mundo ao contrário, a festa dos loucos e dos asnos Jograis, goliardos, bufões, trejeitadores Os Bobos da Corte Os saltimbancos e as feiras Commedia dell’arte e a farsa atelana Charlatões e Prestidigitadores A Arte de Tabarin 3. O CLOWN E O PALHAÇO DE CIRCO 50 Richard Tarlton – o clown da rainha William Kemp e Robert Armin – os clowns de Shakespeare O Circo e o palhaço de Circo Nomes e nomes Os espetáculos de circo no fi nal dos setecentos e início dos oitocentos O palhaço a cavalo e o palhaço da cena Joe Grimaldi A invenção da “evolução” dos palhaços A lenda do nascimento do augusto Foottit e Chocolat – o modelo da relação dominadora Os Hanlon-Lees e a comicidade física 4. E NO BRASIL? 84 Diogo Dias, o primeiro palhaço no Brasil O Circo no Brasil Volantins e Saltimbancos no Novo Mundo Os precursores O Circo no século XIX A Barraca do Telles 5. UM JEITO BRASILEIRO DE SER PALHAÇO 102 Em linguagem de preto, surge o palhaço cantor brasileiro Alcazar Lirique e a moda das cançonetas e couplets Os palhaços cantores Payadores, o Circo-criollo e Pepe Podestá 6.PALHAÇOS DE FOLIAS E FOLGUEDOS 116 Folias de Reis O Velho do Pastoril Mateus e Biricos, os cômicos do Boi O Palhaço nos Mamulengos 7.GRANDES PALHAÇOS DO BRASIL 138 1. Polydoro 2. Alcebíades Pereira 3. Benjamin de Oliveira 4. Eduardo das Neves 5. Pompílio 6. Juan Cardona e os Stuart Teresa, a família do Oscarito 7. Chicharrão e todos os Queirolo 8. Piolin 9. Pedro Gonçalves – Dudu, o palhaço empresário. 10. Arrelia 11. Carequinha – Tá certo ou não tá ? 12. Picolino I e II 8. A FESTA CONTINUA! 204 Os palhaços do século XXI O Teatro redescobre o Circo Do lado de cá do muro Palhaços de Palco Xuxu São Paulo Viva a Arte do Encontro Palhaços de Picadeiro E a palhaça o que é? Palhaços de Hospital e os Doutores da Alegria 9.A ÉTICA DO RISO 256 Per ludum, per jocum Por brincadeira, por prazer INTRODUÇÃO O PPaallhaçohaço é a fi gguraura ccômicaômica poorr eexcelência.xcelência. EElele é a mmaisais eenlou-nlou- qquecidauecida eexpressãoxpressão ddaa ccomicidade:omicidade: é ttragicamenteragicamente ccômico.ômico. TTudoudo qqueue é aalucinante,lucinante, vviolento,iolento, eexcêntricoxcêntrico e aabsurdobsurdo é ppróprioróprio ddoo ppa-a- llhaço.haço. EElele nnãoão ttemem nnenhumenhum ccompromissoompromisso ccomom qqualquerualquer aaparên-parên- cciaia ddee rrealidade.ealidade. O paalhaçolhaço é ccomicidadeomicidade ppuurra.a. O palhaço não é um personagem exclusivo do circo. Foi no picadeiro que ele atingiu a plenitude e fi nalmente assumiu o papel de protagonista. Mas o nome palhaço surgiu muito antes do chamado circo moderno. Aliás, seria melhor dizer “os nomes”. Uma das grandes difi culdades que a maioria dos autores encontra ao estudar a origem dos palhaços está na profusão de nomes que essa fi gura assume em cada momento e lugar. Clown, grotesco, truão, bobo, excêntrico, tony, augusto, jogral, são apenas alguns dos nomes mais comuns que usamos para nos referir a essa fi gura louca, capaz de provocar gargalhadas ao primeiro olhar. O que nos interessa neste estudo é o arquétipo. Esse ser que parece vindo de um outro planeta tão semelhante ao nosso, essa fi gura que não é ninguém que conhecemos e que no entanto reconhecemos ao 1 primeiro olhar, não surgiu em um momento defi nido, foi sendo construída ao longo dos séculos e assumin- 1 11 M do papéis e formatos diferenciados, tendo como única função provocar, pelo espanto, o riso. E G A B O Em português temos um nome comum para todas as possíveis formas assumidas por essa fi gura: B A D PALHAÇO. Mais adiante, vamos enfocar essas diferentes facetas e nomes. Agora, no entanto, o que O I G O queremos ressaltar é que ninguém tem dúvida quando se depara com uma dessas fi guras: “Este é um L ELOGIO DA BOBAGEM DA E ELOGIO palhaço!” E não importa se sua cabeleira é vermelha e os sapatos enormes ou se, ao contrário, ele veste um sóbrio terno e está sem nenhuma maquiagem. Identifi camos um palhaço não apenas pela forma, mas principalmente pela sua capacidade de nos colocar, como espectadores, num estado de suspensão e tensão que, em segundos - sabemos de antemão -, vai explodir em risos. Imagino que o primeiro palhaço surgiu numa noite qualquer em uma indefi nida caverna enquanto nossos antepassados terminavam um lauto banquete junto ao fogo. Em volta da fogueira, numa roda de companheiros, jogavam conversa fora. Comentavam a caçada que agora era jantar e falavam das arti- manhas usadas, dos truques e da valentia de cada um. É quando um deles começa a imitar os amigos e exagera na atitude do valentão que se faz grande, temerário e risível na sua ânsia de sobrepujar a todos. E logo passa a representar as momices do covarde, seus cuidados para se esquivar do combate, sempre exagerando os gestos, abusando das caretas, apontando tão absurdamente as intenções por trás de cada ação e o ridículo delas que o riso se instala naquela assembléia de trogloditas. E todos descobrem o prazer de rir entre companheiros, de rir de si mesmo ao rir dos outros... EEssesse nnossoosso ppersonagemersonagem iimagináriomaginário ssobreviveuobreviveu a ttodasodas aass cca-a- ttástrofesástrofes nnaturais,aturais, iinclusivenclusive ààss cconstruídasonstruídas ppeloselos hhomens.omens. EEstevesteve ppresenteresente nnasas bbatalhas,atalhas, nnasas ffestasestas e nnosos rrituaisituais mmaisais ssagrados,agrados, ssempreempre ccumprindoumprindo o mmesmoesmo ppapel:apel: pprovocarrovocar o rriso.iso. Muitos estudos já foram feitos sobre este fenômeno: o riso. “O Homem é o único animal que ri“ - disse Aristóteles. Mas por quê? Qual a função do riso? Não vamos aqui nos dedicar a essa discussão, não é esta a nossa questão. Rimos porque é bom e isso basta. O prazer tem sentido em si mesmo, não precisa de explicação. E aí talvez esteja um dos pontos mais importantes da fi gura do palhaço: sua gratuidade. Sua função social é fazer rir e dar prazer. Ele não descobre as leis que regem o universo, mas nos faz viver com mais felicidade. E esta é sua incomparável função na sociedade. Enquanto milhões se dedicam às nobres tarefas de matar, se apossar de territórios vizinhos e acumular riquezas, o palhaço empenha-se em provocar o riso de seus semelhantes.