O Auto Religioso Vicentino Em Diálogo Com a Pintura

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O Auto Religioso Vicentino Em Diálogo Com a Pintura UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS ALEXANDRE HUADY TORRES GUIMARÃES O auto religioso vicentino em diálogo com a pintura São Paulo 2007 ALEXANDRE HUADY TORRES GUIMARÃES O auto religioso vicentino em diálogo com a pintura Tese apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Letras. Área de Concentração: Literatura Portuguesa. Orientadora: Profª. Drª. Marlise Vaz Bridi. São Paulo 2007 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Catalogação na Publicação Serviço de Documentação Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo GUIMARÃES, Alexandre Huady Torres. O auto religioso vicentino em diálogo com a pintura/Alexandre Huady Torres Guimarães; orientadora Marlise Vaz Bridi. – São Paulo, 2007. 228 f.: il. Tese (Doutorado Programa de Pós-Graduação em Letras. Área de Concentração: Literatura Portuguesa) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 1. Auto vicentino religioso 2. diálogo de linguagens 3. processo de ensino- aprendizagem didático-catequético. FOLHA DE APROVAÇÃO Alexandre Huady Torres Guimarães O auto religioso vicentino em diálogo com a pintura Tese apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Letras. Área de Concentração: Literatura Portuguesa. Aprovado em: Banca Examinadora. Profª. Drª. Marlise Vaz Bridi Instituição: Universidade de São Paulo Assinatura: ________________ Profª. Drª. Mônica Muniz de Souza Simas Instituição: Universidade de São Paulo Assinatura: ________________ Profª. Drª. Maria Lúcia Marcondes Carvalho Vasconcelos Instituição: Universidade Presbiteriana Mackenzie Assinatura: ________________ Profª. Drª. Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos Instituição: Universidade Presbiteriana Mackenzie Assinatura: ________________ Profª. Drª. Ana Maria Domingues de Oliveira Instituição: Universidade Estadual Paulista Assinatura: ________________ À Camilla: caminho. Ao José Carlos, à Maria Iris, ao Moa e ao Paulo: exempla. Ao Cláudio e à Érika: aios. AGRADECIMENTOS À Marlise Vaz Bridi, que acompanhou, instruiu e orientou todas as etapas da vida acadêmica; à Maria Helena Peixoto que dedicou sua atenção e seu enorme e constante carinho durante a revisão; ao Wilton Azevedo, eterno orientador do mundo das artes; à Maria Lucia Vasconcelos, sempre e para toda vida a minha educadora; à Maria Zélia Borges, à Regina Brito, à Elisa Guimarães, à Neusa Bastos, à Lilian Lopondo e à Rose Faccina, o constante estímulo e acompanhamento; à Camilla Cafuoco Moreno a dedicação, a confiança, a cumplicidade e o amor manifesto no percorrer de nosso caminho; ao José Carlos Guimarães e à Maria Iris Torres Guimarães, o cotidiano embate e dedicação em busca da educação de seus filhos, ao Moacyr Antonio Torres Guimarães e ao Paulo Fernando Torres Guimarães o olhar, por mais distante que o cotidiano o torne, carinhoso e atento para o eterno irmão mais novo; à Dalka Maria Torres de Camargo pelos primeiros passos, estímulos e ensinamentos do início de carreira; ao Claúdio Lísias e à Érika Juffernbruch, anjos da guarda; à Maria Neusa Lopes por sua inesgotável paciência em relação à organização de meus livros; e, também, ao Luiz, Cá, Cacá, Beto, Dóia, Bi, Betinho, Vanderlei e Sandra. Com reverência, agradeço o amor de todos que se fizeram presentes.José Carlos Guimarães e Maria Iris Torres Guimarães e família Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas. Graciliano Ramos RESUMO GUIMARÃES, A. H. T. O auto religioso vicentino em diálogo com a pintura. 2007. 228 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. O teatro de Gil Vicente traz em si características de um momento de transição portuguesa, assim é marcado por traços que indicam desde elementos medievais até elementos renascentistas. Dentre estes traços um elemento surge, a religiosidade em sua vertente católica que foi dominante para a cultura européia deste período, com mais ênfase na Península Ibérica. A arte, seja ela literária, pictórica, musical, arquitetônica, dentre outras manifestações, serviu, a esta época, em muitas ocasiões, como suporte de um processo didático-catequético. Os três autos vicentinos selecionados, Auto de Mofina Mendes, Auto da Alma e Auto da Barca do Inferno, que destacam o nascimento, o correr da vida e a morte, caracterizam-se, entre outras funções e possibilidades de leitura, como veículos deste processo de ensino aprendizagem religiosa, conseqüentemente, os mesmos são analisados com o intuito de se estabelecer o diálogo com outra linguagem que também exerceu esta função, a pintura, em suas manifestações medievais, renascentistas, barrocas e flamencas. É importante destacar que este processo de análise se vale de uma metodologia mista calcada em pressupostos teóricos advindos de estudos de Bakthin, de Kristeva, da Literatura Comparada e da Gestalt, uma vez que ainda não há um suporte teórico que se ocupe particularmente deste exercício. Palavras-chave: Auto vicentino religioso, diálogo de linguagens, processo de ensino- aprendizagem didático-catequético. ABSTRACT GUIMARÃES, A. H. T. O auto religioso vicentino em diálogo com a pintura. 2007. 228 f. Thesis (Doctoral) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Gil Vicente´s theater brings in itself features of a moment of transition in the Portuguese literature, so it is marked by traces that indicate elements from medieval unti Renaissance elements. Almong these traits, an element arises, the Catholic religion in its side that has been dominant for the European culture of this period, with more emphasis on the Peninsula Iberica.The art, be it literary, pictural, musical, architectural, among other manifestations, served, at that time, on many occasions, as a support to the teaching process-catequetico. The three selected "autos vicentinos", Auto de Mofina Mendes, Auto da Alma and Auto da Barca do Inferno, which highlight the birth, the running of the life and death, are caracterized among other functions and possibilities for reading, as vehicles of this process of teaching religious learning. Therefore, they are reviewed in order to establish a dialogue with another language that also exercises this function, the painting, in its medieval, Renaissance, Baroque and flamenco manifestations. It is important to note that this process of analysis uses a mixed methodology based on theoretical assumptions arising from the studies of Bahktin, Kristeva, Comparative Literature and Gestault, since there isn´t a theoretical support that studies this particular subject. Key words: religious auto vicentino, language dialogue, teaching-learning process of teaching-catequetico. SUMÁRIO 1. GIL VICENTE EM DIÁLOGO COM A ARTE 10 2. GIL VICENTE, A IDADE MÉDIA, O CRISTIANISMO E O MÉTODO DE 29 ANÁLISE 3. AUTO DE MOFINA MENDES: O EXEMPLUM LUMINOSO 68 4. AUTO DA ALMA: O CAMINHO ENTRE EXEMPLA 129 5. AUTO DA BARCA DO INFERNO: OS EXEMPLA AO FIM DO 175 CAMINHO 6. CONCLUSÃO 214 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 219 1. Gil Vicente em diálogo com a arte. ut calamus pennicillo, sic pennicillus calami aemullus Manuel Pires de Almeida 11 O diálogo entre a obra de Gil Vicente e as artes plásticas dos períodos medieval, renascentista, flamengo e barroco é possível realizar-se, entre outras razões, pela temática religiosa e humanista que permeia as manifestações artísticas destas épocas. De fato, é recorrente, em grande parte desta produção, o forte apelo visual das alegorias e símbolos, o colorido do vestuário, o jogo de luz e sombras, encontráveis em ambas as esferas de representação do real (teatro e artes plásticas). Subjacente a esta forma de representação está uma concepção medieval de mundo, de raiz teocêntrica, que, todavia, dividiu espaço com o antropocentrismo nascido durante o Renascimento, e estendeu-se até o Barroco, quando assumiu uma tensão de dimensões talvez mais conflituosas que as medievais. Embora não a única, mas uma das mais significativas fontes da concepção teocêntrica a sustentar a representação de temática religiosa está em São Paulo; para ele, no âmbito terreno, vê-se Deus através de um espelho, de uma imagem, mas na eternidade, ver-se-á face a face. E estar face a face significa um outro registro das percepções. Assim, existe um espelhamento entre o terreno e o transcendente, que não se traduz, exceto em analogias, símbolos, imagens, emblemas e alegorias, ou em enigmas, nas palavras de São Paulo (1Cor.13,12) À guiza de acréscimo ao que já foi dito acima, não é demais recorrer a Huizinga, que afirma, acerca da arte e das letras do século XV, o compartilhamento do recurso à precisão do pormenor, o desenvolvimento de cada pensamento e cada imagem até aos limites, o desejo de dar forma concreta a todos os conceitos do espírito.” (1985, p.286) Esse anseio do homem medieval, dotado de um “espírito plástico e ingênuo” (1985, p.159) se traduz, ainda segundo o mesmo autor, na 12 tendência do pensamento (principalmente religioso) à representação por imagens. Por exemplo, a idéia da Morte, da perecibilidade das coisas terrenas, foi inculcada no espírito dos fiéis não só pelas palavras do pregador, mas também, e sobretudo, pela representação
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