Parte II Estratégias E Evolução Da Oposição Silvense Na

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Parte II Estratégias E Evolução Da Oposição Silvense Na Parte II Estratégias e Evolução da Oposição silvense na Consolidação do Regime Salazarista (1935-1949) 1 - Movimentos e Momentos da Oposição em Silves 1.1 - O Jornal A Rajada O semanário A Rajada foi fundado a 8 de Dezembro de 1935, em Silves 1, como “Semanário Regionalista, Noticioso e Literário”, por um novo grupo editor, formado por João Brás 2 (Director) e Mateus da Silva Gregório (Editor). Teve como colaboradores uma plêiade de escritores e poetas e de muitos outros que aspiravam a sê-lo 3. Em comum partilhavam também a oposição ao regime salazarista, conciliando em seu redor um grupo de velhos republicanos e democratas e um brilhante grupo de jovens, que já tinham sido ou 1 O jornal era composto e impresso na Tipografia Socorro, de Vila Real de St.º António. 2 João Brás Machado, filho de José Brás Machado e de Teresa Rosa Cantinho, ambos de Silves, nasceu em S. Brás de Alportel a 13 de Março de 1912. Ainda criança acompanhou a sua família no regresso a Silves. Fez o curso na Escola Comercial e Industrial de Silves e estabeleceu-se como industrial de cortiça até 1943. Em 1947, casou-se e foi residir para Portimão, onde mais tarde se empregou como funcionário corporativo. Destacou-se como versejador e poeta. Desde muito jovem estivera ligado aos jornais, nomeadamente aos Vibração e A Rajada , ambos oposicionistas ao regime salazarista, e às tertúlias poéticas. Colaborou ainda em outros jornais e revistas do Algarve e do País, nomeadamente em O Diabo, Ala Esquerda, Espectáculo, Correio do Sul e na revista Costa de Oiro , onde escrevia com o pseudónimo de «Menestrel». Como poeta obteve 550 prémios em Jogos Florais e noutros concursos realizados no País e no estrangeiro. Nesse contexto, em 1951, num torneio lírico organizado pela Propaganda Turística Portuguesa, foi chamado de “Príncipe dos Poetas”. Em 1953, foi publicado o seu primeiro livro de poemas, intitulado Esta Riqueza que o Senhor me Deu... Em 1977, foi eleito membro da Associação Internacional de Poetas, de Cambridge. Seguiu-se a publicação A Mário Lyster Franco, aquele Abraço … Poema (mais 14 inéditos), 1978. Para o Teatro, escreveu a peça em um acto Casar por Anúncio, tendo recebido o «Prémio Diário de Lisboa», e produziu três autos em verso, El-Rei Xexé, Serração da Velha e Máscaras . Para o teatro de revista escreveu as peças Sendo Assim Está Certo, Fitas Faladas, Feira de Agosto e Isto só Visto, com a qual foi inaugurado o Cine-Teatro de Portimão. Toda a sua obra para Teatro foi representada, mas não editada. Figura na «Colectânea de Poemas de Dez Poetas Algarvios», de Joaquim Magalhães. Foi ainda jornalista desportivo, dirigente associativo e desportivo e treinador de futebol. Foi fundador e Director do Grupo de Amigos de Portimão e do Grupo de Estudos Algarvios (GEA). Faleceu em Portimão, a 22 de Junho de 1993. 3 António Pereira, Julião Quintinha, Câmara Reis, Almeida Lança, Ilídio de Andrade, Rogério Martins, João Gomes Fuseta, Armando de Miranda, Mateus da Silva, Joaquim João Raminhos, José Custódio Cabrita, Américo Durão, Teófilo Fontainhas Neto, Frederico de Castro Correia, José Bruges d’ Oliveira, Nuno de Salvaterra, etc.. 202 que vieram a ser perseguidos pela ditadura. Foi o arauto de um grupo de rapazes desejosos de fazer algo de notável pela sua terra e pela sua província, dotando-a, não só de um órgão de comunicação que defendesse os seus direitos, como ainda de um veículo de formação literária e cultural, no qual, nas entrelinhas, se podia adivinhar um incessante combate ao regime e à restrição das liberdades. O semanário foi um incansável defensor dos interesses da cidade de Silves, nomeadamente da sua indústria 4 e do operariado corticeiro, que era quem primeiramente sentia as consequências do declínio da indústria. Foi nesse sentido que o jornal divulgou o contributo de 20$00 para o jantar de Natal dos operários mais necessitados, dado por Vítor George Sadler 5, para que o seu exemplo fosse imitado por outros industriais da terra 6. A Rajada advogava que se todos os industriais procedessem como ele, isto era, “se melhorassem as condições de vida dos trabalhadores, facilitando-lhes o que mais necessitam, cuidando do seu futuro (…) o papão do Bolchevismo (…) não existia ou estaria ainda a dormir o sono do idealismo” 7. No seu primeiro número, o jornal dava a conhecer que se propunha iniciar “uma luta pertinaz contra a injustiça, contra o mal” 8. No seu primeiro editorial fez um ataque cerrado às ditaduras. Julião Quintinha referiu “a grande desordem europeia” 9, sempre motivada por paladinos da ordem, como Napoleão, Mussolini, os Camisas Negras e Primo 4 Cf. A Rajada, n.º 1, 8 de Dezembro de 1935, p. 4, «Um Grave Problema nacional» (artigo sobre a crise da indústria corticeira, que transcreveu uma exposição enviada pela Associação Industrial de Silves ao Ministro dos Negócios Estrangeiros sobre a necessidade de se exportar a matéria-prima transformada e não em bruto, como então se fazia, o que originava desemprego no sector). O debate deste assunto prolongou-se ainda no n.º 5, de 5 de Janeiro de 1936, p. 3, «Cortiças! Cortiças! É preciso resolver o problema» e no n.º 8, de 26 de Janeiro de 1936, p. 1, «Um grave problema industrial ou um critério fundamentalmente errado» (artigo polémico e anónimo contra alguns pontos de vista defendidos pelo «Portugal Corticeiro» relativos à crise no sector). 5 Vítor George Sadler nasceu a 3 de Dezembro de 1885, em Inglaterra. Chegou a Silves, em 1908, para gerir a “Avern, Sons & Barris”, a Fábrica do Inglês. Para a gerência da fábrica possuía uma procuração alargada dos proprietários. Procedeu à instalação de uma máquina motriz central e reorganizou a produção fabril. Até 1953, presidiu aos destinos desta unidade industrial. Praticou muitos actos de filantropia em auxílio de operários velhos e doentes. Em alturas de redução de dias de trabalho, pagava aos operários a semana inteira, tendo sido considerado “o melhor dos patrões”. A sua tolerância fazia com que a Fábrica do Inglês fosse a fábrica onde melhor se organizava a assistência aos operários doentes, aos presos políticos e suas famílias. Casou-se com uma silvense, Corina Taveira Sadler. Tinha uma particularidade nos seus gostos: detestava perfumes. Faleceu em Silves, a 12 de Setembro de 1953. O seu funeral foi de enorme participação popular. 6 Cf. A Rajada, n.º 4, 1 de Janeiro de 1936, p. 3, «Um gesto nobre digno de ser imitado». 7 Ibidem. 8 Ibidem , n.º 1, 8 de Dezembro de 1935, p. 2, «A abrir» (Artigo de Rui de Chelb). 9 Ibidem , p. 1, «o Elogio da Ordem» (Artigo de Julião Quintinha). 203 de Rivera. “O que é que eles querem? [Certamente] uma ordem contra os outros que lhes permita a sua acção injusta arbitrária e desordenada” 10 . Para combater este tipo de ordem, o jornalista pedia aos leitores: “Procuremos atear essa luz, pensando nos tantos que tombaram para nos dar o pouco que possuímos nos nossos dias” 11 . O jornal ansiava dar resposta à “inquietação espiritual da nova geração”, contra a “rotina secular” e os “ídolos fossilizados” 12 , atacando “os velhos do Restelo” 13 . Publicou em cada número uma novela de autor diferente, 14 nomeadamente as composições de João Brás e de António Pereira, de magnífico recorte estilístico. Mantinha uma série de secções regulares que espelham os modos de vida, a sociedade e a cidade da época 15 . O jornal saiu em defesa do professor Samora Barros 16 , a quem tinha sido levantada uma sindicância, “feita aos seus actos políticos e profissionais” 17 , abrindo uma subscrição abonatória deste professor. O jornal também prestou homenagem ao ex-director da Escola Comercial e Industrial, o velho republicano José Emílio Vila Lobos, entretanto afastado das suas funções pelo regime salazarista 18 . Desde o primeiro número, sempre “Rimando contra a maré 19 ”, o jornal agitou a cidade, tal como o Vibração o tinha feito havia alguns anos, e os ataques não se fizeram esperar. Em cada número que saía, ficava cada vez mais visível que o jornal era “avesso à 10 Ibidem , n.º 1, 8 de Dezembro de 1935, p. 1, «o Elogio da Ordem» (Artigo de Julião Quintinha). 11 Ibidem . 12 Ibidem , n.º 6, 12 de Janeiro de 1936, p. 1, «Ditadura». 13 Ibidem , n.º 1, 8 de Dezembro de 1935, p. 1, «Mais além» (Poema de António Pereira). 14 Ibidem, n.º 1, de 8 de Dezembro de 1935, «Pecado» por Mateus Moreno; n.º 2, de 15 de Dezembro de 1935, «Um Pequeno Romance de Praia» por Julião Quintinha; n.º 4, de 1 de Janeiro de 1936, «Aquele rapaz triste do casino» por João Brás; n.º 5, de 5 de Janeiro de 1936, «O Homem a quem não sucedeu coisa nenhuma» por Armando de Miranda; n.º 6, de 12 de Janeiro de 1936, «Judeu» por Mateus Silva; n.º 7, de 19 de Janeiro de 1936, «O Assalto» por Américo Durão; n.º 8, de 26 de Janeiro de 1936, «José Francisco» por Bourbon e Menezes; n.º 9, de 2 de Fevereiro de 1936, «O Estranho Amor de Maria Rosa» por João Brás. 15 Secções regulares: «Fitas Faladas» (noticiário breve, local e nacional); «Corridinho» (crónicas literárias de sabor local); «Correspondência» (noticiário de várias localidades algarvias); «Novela» (contos e novelas de vários autores); «Cinema» (crítica e apresentação das fitas no Teatro Mascarenhas Gregório); «Caixa de Correio» (secção dirigida por João Gomes Fuseta); «Secção Esperantista» (sobre o ensino do Esperanto); «Desportos»; «Bilhetes-postais» (respostas do Director aos seus leitores e amigos); «Sala de Visitas» (notícias dos assinantes e amigos que visitaram a redacção, chegadas e partidas, etc.); «Anedotas», etc.
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