O Alimento E a Sobrevivência Em Viagens De Exploração Territorial Africana Autor(Es)
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O alimento e a sobrevivência em viagens de exploração territorial africana Autor(es): Martins, Luísa Fernanda Guerreiro Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra; Annablume URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/39662 DOI: DOI:https://doi.org/10.14195/978-989-26-1191-4_32 Accessed : 5-Oct-2021 12:53:26 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. 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As obras consistem 789892 em estudos aprofundados e, na maioria das vezes, de carácter interdisciplinar sobre 9 uma temática fundamental para o desenhar de um património e identidade culturais comuns à população falante da língua portuguesa: a história e as culturas da alimentação. A pesquisa incide numa análise científica das fontes, sejam elas escritas, materiais ou iconográficas. Daí denominar-se a série DIAITA de Scripta - numa alusão tanto à tradução, ao estudo e à publicação de fontes (quer inéditas quer indisponíveis em português, caso OBRA PUBLICADA dos textos clássicos, gregos e latinos, matriciais para o conhecimento do padrão alimentar COM A COORDENAÇÃO mediterrânico), como a monografias. O subtítulo Realia, por seu lado, cobre publicações Os estudos reunidos neste volume refletem, de uma forma geral, sobre a alimentação CIENTÍFICA elaboradas na sequência de estudos sobre as “materialidades” que permitem conhecer a enquanto elemento de extraordinário valor cultural e identitário. Com abordagens história e as culturas da alimentação no espaço lusófono. diversas ao património alimentar, seja numa perspetiva linguística, seja numa análise mais • literária ou cultural, com o devido enquadramento histórico, social e espacial, o conjunto dos trabalhos realça a importância desta temática, desde a Antiguidade Clássica até aos Joaquim Pinheiro é professor auxiliar da Universidade da Madeira (Faculdade de nossos dias. Na verdade, a alimentação e tudo o que com ela se relaciona conduzem-nos Artes e Humanidades) e investigador integrado do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (Universidade de Coimbra). Tem desenvolvido investigação sobre a por uma viagem reveladora da forma de vida do homem e do seu relacionamento com a Aquém e Além-Mar natureza e com outros seres vivos. obra de Plutarco, a mitologia greco-latina, a retórica clássica e o pensamento político Os trinta e quatro contributos da obra estão reunidos nos seguintes capítulos: 1. Patrimónios Alimentares de Patrimónios na Antiguidade Clássica. É membro do Projeto DIAITA - Património Alimentar da Alimentação: património imaterial; 2. Alimentação e património literário; 3. Alimentação Lusofonia (apoiado pela FCT, Capes e Fundação Calouste Gulbenkian). Desde 2013, é e património linguístico; 4. Alimentação: saúde e bem-estar; 5. Alimentação: sociedade Alimentares coordenador do Centro de Desenvolvimento Académico da Universidade da Madeira. e cultura; 6. Alimentação e diálogo intercultural. Com este volume pretende-se também abrir perspetivas sobre novos domínios de pesquisa do património alimentar como fonte Carmen Soares é Professora Associada com agregação da Universidade de Coimbra de saber essencial para a atualidade. de Aquém e (Faculdade de Letras). Tem desenvolvido a sua investigação, ensino e publicações nas áreas das Culturas, Literaturas e Línguas Clássicas, da História da Grécia Antiga e da História da Alimentação. Na qualidade de tradutora do grego antigo para português é coautora da tradução dos livros V e VIII de Heródoto e autora da (Coords.) Além-Mar tradução do Ciclope de Eurípides, do Político de Platão e de Sobre o afecto aos Carmen Soares Joaquim Pinheiro Joaquim filhos de Plutarco. Tem ainda publicado fragmentos vários de textos gregos antigos de temática gastronómica (em particular Arquéstrato). É coordenadora executiva do curso de mestrado em “Alimentação – Fontes, Cultura e Sociedade” e diretora do doutoramento em Patrimónios Alimentares: Culturas e Identidades. Investigadora corresponsável do projeto DIAITA-Património Alimentar da Lusofonia (apoiado pela FCT, Capes e Fundação Calouste Gulbenkian). IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA COIMBRA UNIVERSITY PRESS Coimbra ANNABLUME O alimento e a sobrevivência em viagens de exploração territorial africana The food and survival in African territorial expeditions Luísa Fernanda Guerreiro Martins Universidade de Évora, Cidehus-Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedade; Colaboração no projecto DIAITA – Património Alimentar da Lusofonia [email protected] Resumo: Em 1798, Francisco José de Lacerda e Almeida, partiu de Tete para proceder à primeira travessia científica de África. Mais tarde, em 1884, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens realizaram a expedição desde Angola a Moçambique, aproveitando o conhecimento de anteriores viajantes. Alguns dos aspectos organizativos das viagens de Lacerda e Almeida e de Capelo e Ivens prenderam-se com os alimentos a levar, para além de uma parafernália de utensílios de cozinha e de mesa. No entanto, as duas viagens, a de 1797 e a de 1884 terão sido precariamente preparadas no que respeitava à prevenção do bem-estar alimentar dos seus participantes. Valeram-lhes os encontros com as populações de aldeias e o sucesso em algumas caçadas, não obstante os dias em que se sofria de fome e de sede. Esta comunicação apresenta um estudo aos diários de Lacerda e de Capelo e Ivens, numa perspectiva da dualidade entre a fome e o festim, procurando registar informação sobre a alimentação das populações que os viajantes foram contactando ao longo das viagens e a forma como os europeus se adaptaram aos espaços, gentes, usos e costumes, para conseguirem sobreviver e prosseguir com os seus objectivos. Palavras-chave: Fome; Alimento; Viagem; Exploração; Travessia; Encontros; Visão; Povos; Culturas Summary: In 1798, Francisco José de Lacerda e Almeida left Tete to make the first scientific crossing of Africa. Later, in 1884, Hermenegildo Capelo and Roberto Ivens made the journey from Angola to Mozambique. Some of the organizational aspects of Lacerda e Almeida and Capelo and Ivens were related to the food to take, in ad- dition to a paraphernalia of kitchenware and tableware. However, both expeditions were prepared poorly, with no prevention of food well-being of its members. Their success in some hunting and sharing food with the population they met saved them, despite the days they suffered from hunger and thirst. This paper presents a study of the daily journeys of Lacerda and Capelo, from the perspective of the duality between hunger and the feast, looking to record information about the people that travellers were contacting during their expeditions and how europeans adapted to the spaces, people and customs, in order to survive and pursue their goals. Key-words: Hunger; Food; Expeditions; Exploration; Crossing; Meetings; Vision; People; Cultures DOI: http://dx.doi.org/10.14195/978-989-26-1191-4_33 Luísa Fernanda Guerreiro Martins Apresentação Desde os primeiros contactos dos portugueses com as civilizações africa- nas, as relações entre os povos adquiriu formas diversas. Fontes como relatos, diários e crónicas de viagem, relatórios oficiais, documentos diplomáticos, comerciais, militares e missionários tornaram-se essenciais para a escrita da história da presença portuguesa em África e dos povos africanos e ajudam a compreender os elementos que estruturaram a mentalidade europeia1. Fontes e metodologia Duas fontes serviram de base para a realização deste estudo: a) O “Diário da Viagem de Tete a Cazembe no ano de 1798”2, da autoria do go- vernador dos rios de Sena, matemático e astrónomo Francisco José de Lacerda e Almeida, publicado juntamente com outros diários no volume intitulado Travessia da África pelo Dr. Lacerda e Almeida. b) A obra De Angola a Contracosta em 1884 escrita por Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, resultante da viagem que realizaram de 6 de Janeiro de 1884 a 20 de Setembro de 1885. Com relato publicado em 1ª edição no ano de 1886 pela Imprensa Nacional. Estes documentos revelam duas realidades que, juntamente a todas as circunstâncias difíceis que rodearam estas viagens, colocaram os seus acto- res entre a vida e a morte: a existência de alimentos ou a sua ausência. As expedições decorreram sob a batuta da dualidade entre a sobrevivência e a morte, entre a saciedade e a fome. Para além destes