Edson Gomes: a Trajetória De Vida De Um Ícone Do Reggae Nacional.” Relações De Classe E Raça Na Formação Da Cultura Brasileira
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS RICARDO EMMANUEL SANTANA REINA MACHADO “EDSON GOMES: A TRAJETÓRIA DE VIDA DE UM ÍCONE DO REGGAE NACIONAL.” RELAÇÕES DE CLASSE E RAÇA NA FORMAÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais: Cultura, desigualdades e desenvolvimento da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais. Sob a orientação do Prof. Dr. Antônio Liberac Cardoso Simões Pires Cachoeira-BA Julho/2015 1 RICARDO EMMANUEL SANTANA REINA MACHADO “EDSON GOMES: A TRAJETÓRIA DE VIDA DE UM ÍCONE DO REGGAE NACIONAL.” RELAÇÕES DE CLASSE E RAÇA NA FORMAÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais: Cultura, desigualdades e desenvolvimento da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais. Sob a orientação do Prof. Dr. Antônio Liberac Cardoso Simões Pires Cachoeira-BA Julho/2015 2 Apresentação RESUMO Esse trabalho traz uma investigação da trajetória de Edson Gomes como cantor e compositor que se destacou no cenário da indústria fonográfica e da música popular brasileira nas décadas de 80 e 90 através do reggae. A pesquisa descreve as manifestações políticas e sociais das populações negras baianas no contexto da reafricanização. O estudo aborda as principais manifestações culturais que caracterizam o reggae no Brasil e as influências desses valores na trajetória de Edson Gomes como artista popular. O foco do estudo é análise da versão local do gênero no processo de troca simbólica e material com os valores culturais nacionais. Por fim, apresentaremos uma análise etnográfica do disco Reggae Resistência como produto cultural que se insere no campo das relações de classe e raça vivenciadas no Brasil no final da década de 80, centenário da abolição. O estudo traz um debate a cerca do discurso político e social contido nas letras das músicas. O trabalho foi realizado através da análise de entrevistas, matérias em jornais, revistas e fotos que reconstroem os fatos sociais. O método da história oral aliado à pesquisa documental possibilitou a descrição da readaptação do gênero jamaicano às condições nacionais e sua influência no fenômeno da reafricanização baiana. Palavras-Chave - CLASSE - CULTURA POPULAR - REAFRICANIZAÇÃO - RAÇA – REGGAE 3 ABSTRACT This work is a scientific investigation about the artistic trajectory of Edson Gomes as singer and compositor that has made success in the phonographic industry of Brazilian popular music in the 80’s and 90’s, through reggae music. The research describes the Bahia’s black people political and social manifestations in the context of reafricanization. The studies aboard the afro heritage expressed in Brazilian reggae and its influence in Edson Gomes’s composition. The research focus is analyze the local version of a Jamaican’s rhythm in its process of symbolical and material exchange with national cultural values. The work finished with a ethnographic analyses about the Reggae Resistance album considered as a representative cultural product of reafricanization. Forward The research brings the relations of class and race experienced in Brazil in the end of 80’s, abolition centenary anniversary. The study brings a discussion about the social and political contents in his lyrics. The work has been realized by the analyses of interviews, newspapers, magazines and photos collected to build his trajectory. The Oral History method united to documental research enables this description of Jamaican’s rhythm in the national basis and its influence in reafricanization phenomena. Key Words – CLASS – POPULAR CULTURE — REAFRICANIZATION - RACE – REGGAE 4 LISTA DE IMAGENS E FIGURAS Fotografia1 – Porto Cachoeirano, pg. 30 Fotografia 2 – Porto Sanfelista, pg. 30 Imagem 1 – Contra capa, capa e Lay out alternativo do disco Catch a Fire, Island, 1972 pg. 33 Imagem 2 - Genealogia do reggae, Revista Super Bizz, pg. 36 Imagem 3 – Capa do disco Transa, pg. 51 Imagem 4 – Capa do disco Realce, pg. 52 Imagem 5 - Contra Capa do disco Realce, pg. 52 Fotografia 3 – Bob Marley no Brasil, Festa da Ariola, Rio de Janeiro,1980, pg. 53 Fotografia 4 – Bob Marley no Brasil, Futebol Ariola, Rio de Janeiro, 1980, pg. 54 Fotografia 5 – Marcus Garvey, pg. 55 Imagem 6 – Capa do disco Bahia Jamaica, pg.56 Fotografia 6 - Gil e Cliff na Bahia em 1980, pg. 57 Fotografia 7 – Gil e Cliff na Bahia em 1980, pg. 57 Imagem 7 – Capa do disco, Viver, Sentir e Amar, Lazzo, pg. 58 Imagem 8 – Capa do disco Raça Humana, Gil, pg. 59 Fotografia 8 – Rua dos Artistas, Cachoeira-BA, pg. 74 Fotografia 9 – Edson Gomes em campo, pg. 81 Fotografia 10 – Fachada do hotel Colombo, pg. 94 Fotografia 11 – Hotel Colombo e Praça 25 de Junho, pg. 94 Fotografia 12 – Edson Gomes, 1984, pg. 97 Fotografia 13 - Studio 5, pg. 98 Fotografia 14 – Edson Gomes, 1986, pg. 103 Imagem 9 – Capa do compacto Canta Bahia, pg. 107 Imagem 10 – Contra Capa do compacto Canta Bahia, pg. 107 5 Imagem 11 – Disco compacto do Canta Bahia, pg. 107 Imagem 12 – Capa do disco História do Brasil, Sarajane, pg. 110 Fotografia 15 – Edson Gomes e Ray Company, 2014, pg. 112 Imagem 13 – Capa do disco do Troféu Caymmi, pg. 115 Imagem 14 – Contra capa do disco Troféu Caymmi, pg. 115 Imagem 15 – Capa do disco Reggae Resistência, Edson Gomes, pg. 122 Imagem 16 – Contra capa do LP Reggae Resistência, Edson Gomes, pg. 122 Imagem 17 – Matéria da Tribuna da Bahia sobre o lançamento do Reggae Resistência, pg. 126 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO PG. 8 1. HEREDITÁRIO: NOME, CAMPO E HABITUS PG. 14 2. FILHO DA TERRA: O RECÔNCAVO E O REGGAE NACIONAL PG. 24 2.1 HISTÓRIA DO BRASIL : O TROPICALISMO E O REGGAE NACIONAL PG. 47 3. CÃO DE RAÇA - A REAFRICANIZAÇÃO DOS NEGROS BAIANOS NA DÉCADA DE 80 PG. 63 3.1 AS INTERSECIONALIDADES DE CLASSE E RAÇA NA TRAJETÓRIA DE EDSON GOMES PG. 72 3.2 OVELHA NEGRA: O FUTEBOL E A INFLUÊNCIA DA MPB NA MÚSICA DE EDSON GOMES PG. 80 4. CAMPO DE BATALHA: HOTEL COLOMBO E ALTO DAS POMBAS, 53 PG. 91 4.1 O FESTIVAL CANTA BAHIA, O SHOW DO AD LIBITUM E O TROFÉU CAYMMI PG. 106 4.2 REGGAE RESISTÊNCIA: UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA DA OBRA FONOGRÁFICA PG. 121 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS - EDSON GOMES O MAIOR REGGAEMAN DO BRASIL PG.142 6. ANEXOS (FOTOS EXTRAS) PG. 147 7. REFERÊNCIAS PG.149 7 INTRODUÇÃO Esse trabalho científico foi construído em boa parte das suas arestas em decorrência de minha vivência no meio musical e artístico. A música teve suma importância na minha formação educacional. Acredito que foi através dela que me integrei aos elementos sonoros e as regras teóricas. Os ritmos e as possibilidades de harmonizar sons diversos em melodias sonantes e dissonantes. Parte dessa formação clássica, adquiri num curso de piano, e foi lá que pude compreender a partitura e sua linguagem descricional do tempo, das notas e das pausas. Em casa tive na figura do meu pai Zilson Sant’Anna, um acervo poderoso da boa música produzida no Brasil e alguns clássicos internacionais do Jazz e do Blues das décadas de 60, 70 e 80. Nessa discoteca estrelavam nomes como: Roberto Carlos, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Ray Charles, Frank Sinatra, Tom Jobim e principalmente João Gilberto. Sempre que oportuno discutiamos sobre música. Meu pai tinha uma poderosa voz e cantava muito bem. Sua família é oriunda do munícipio de Irará, e a ligação com a música se materializa na figua do produtor musical Roberto Santana e dos músicos Lucas Santana e Tom Zé. Na adolescência passei a me interessar pelo violão, instrumento portátil e versátil que no Brasil é culturalmente indentificado com o poder da harmonização. Logo, por sua praticidade, as cordas e o pinho substituiriam definitivamente o piano, que se tornou um segundo instrumento. Através de um tio materno, Raimundo Reina, afixionado por Reggae, colecionador de discos, conheci a obra de Bob Marley, Alpha Blondy, e posteriormente Edson Gomes. Em consequência desse envolvimento rítmico musical, fundei com amigos de escola, uma das primeiras bandas de reggae de Salvador, a Filhos de Jah, em 1994. Além da predileção pelo ritmo, no meu caso havia ainda uma convivência prévia no Recôncavo, onde passei boa parte das férias infantis e estudantis. E foi a partir dessa experiência de convívio que tive o contato com o fenômeno do reggae baiano. Presenciei a atuação dos principais nomes do reggae local, Edson Gomes, Nengo Vieira, Sine Calmon, Tim Tim Gomes, enfim, fui cativado pela música produzida regionalmente por esses agentes. Não sou exógeno ao território, e isso foi imprescíndivel para a realização da pesquisa no prazo de vinte e quatro meses. O primeiro show de reggae que vi na vida foi de Edson Gomes. Eu tinha treze anos, em férias no Recôncavo, quando Gomes tocou no coreto em frente a Igreja de Senhor São Félix, localizada na cidade mesmo nome no estado da Bahia. Ele já havia lançado seu 8 segundo disco, Recôncavo (EMI, 1990). Foi uma experiência impactante. Observei Rastas vindos das cidades viznhas e a adesão da classe média local ao show de Edson Gomes. Edson Gomes tem predileção pelo futebol. Chegou a desejar se tornar profissional do esporte como veremos adiante. O conheci como associado do Clube dos Velhinhos. Essa associação futebolística sanfelista foi fundada em 1970, por Alberto Reina, meu tio. O clube se reune até os dias atuais sempre nas tardes de sábados, no Estádio Municipal Arlindo Rodrigues em São Félix para pratica do futebol. Edson Gomes se dirigia sempre ao canto da arquibacanda antes de iniciar a partida. Cumprimentava a todos, mas de maneira reservada não participava das brincadeiras nas rodas do grupo de desportistas.