Um Lugar Para a Nacionalidade
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UM LUGAR PARA A NACIONALIDADE CRISTINA BETIOLI R IBEIRO CAMPINAS INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM MAIO DE 2003 1 FICHA CATALOGRÁFICA / IEL-UNICAMP Ribeiro, Cristina Betioli R354n O norte – um lugar para a nacionalidade./Cristina Betioli Ribeiro.- - Campinas, SP: [s.n.], 2003. Orientadora: Márcia Azevedo de Abreu Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. 1. Folclore – Brasil. 2. Folclore e nacionalismo. 3. SEC. XIX. 4. Cultura popular - Brasil. 5. Folclore - Brasil - História. I. Abreu, Márcia Azevedo de. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Título. CRISTINA BETIOLI R IBEIRO O NORTE – UM LUGAR PARA A NACIONALIDADE DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO CURSO DE TEORIA E HISTÓRIA LITERÁRIA DO INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM TEORIA E HISTÓRIA LITERÁRIA. ORIENTADORA: PROF.ª DR.ª MÁRCIA AZEVEDO DE ABREU CAMPINAS MAIO DE 2003 3 4 Campinas, 30 de maio de 2003. _____________________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Márcia Azevedo de Abreu ______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Martha Campos Abreu ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Dantas 5 6 AGRADEÇO Aos professores Luiz Carlos Dantas e Martha Abreu: opiniões fundamentais. À afinada orientação e amizade da professora Márcia Abreu. Às colegas de pesquisa, constantes interlocutoras. À presença indispensável dos amigos e da família. Ao incentivo de Pedro Marques, amor e companheiro sempre. 7 8 ÍNDICE APRESENTAÇÃO ............................................................................................. 13 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17 A INVENÇÃO DO POPULAR I. JUVENAL GALENO: primeiras preocupações com a observação do povo ........................... 23 II. JOSÉ DE ALENCAR: facetas nacionalistas ............................................................... 47 III. CELSO DE MAGALHÃES: introdução do cientificismo nos estudos de folclore ................... 53 IV. COUTO DE MAGALHÃES: a descrição do selvagem ................................................... 63 V. FRANKLIN TÁVORA: o projeto da Literatura do Norte ............................................... 69 VI. SÍLVIO ROMERO: o mestiço como definidor do brasileiro .......................................... 81 VII. JOÃO BARBOZA RODRIGUES: o índio civilizado ..................................................... 103 VIII. ALFREDO DO VALE CABRAL: o maravilhoso popular .............................................. 111 IX. JOÃO ALFREDO DE FREITAS: cultura popular no Norte do Brasil ................................. 119 X. ARARIPE JÚNIOR: a poesia sertaneja do Ceará ...................................................... 129 XI. MELO MORAIS FILHO: a escravidão, o Norte e a supressão do índio ............................ 137 XII. SANTA-ANNA NERY: folclore brasileiro em terras francesas .................................... 155 XIII. NINA RODRIGUES: o fetichismo dos negros bahianos ............................................. 165 XIV. JÚLIO CAMPINA: o folk-lore brasileiro ............................................................. 173 CONCLUSÃO ................................................................................................... 179 ANEXO ......................................................................................................... 183 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 209 9 10 RESUMO A presente dissertação de mestrado teve por finalidade localizar, organizar e apresentar os autores que abordaram a cultura popular como tema nacionalista no século XIX. O recorte temporal dos textos encontrados tem início no ano de 1865 e finaliza em 1897. A ênfase na segunda metade dos anos oitocentos evidencia, nesse período, um movimento de idéias em torno do folclore, do povo e dos procedimentos de coleta de cantos e contos populares. Imersa na atmosfera cientificista da época, a grande maioria dos catorze autores localizados debatem a questão do ponto de vista racial, documental e das ciências naturais. No movimento intelectual descortinado neste trabalho, a região Norte é unanimemente eleita como o lugar da genuína nacionalidade. 11 12 APRESENTAÇÃO A cultura popular é tema de interesse para os intelectuais brasileiros desde o século XIX, diferentemente do que registra a maior parte da historiografia brasileira. O assunto fazia parte das preocupações nacionais desde a primeira metade dos anos oitocentos, com a publicação, em 1834, de uma descrição da festa do “Bumba meu Boi”, pelo padre Miguel do Sacramento Lopes Gama, no periódico recifense O Carapuceiro. Essa publicação, a mais antiga de que tivemos notícia, atesta apenas o início de uma trajetória de abordagem do tema popular que, ainda naquele século, ganharia grandes proporções. O presente trabalho procurou rastrear essa trajetória. De início, com o intuito de realizar um estudo que analisasse as abordagens do popular em romances românticos, procuramos encontrar o que supúnhamos ser uma esparsa crítica sobre o assunto, no período. Qual a nossa surpresa, ao descobrirmos uma série de textos teóricos que, dialogando com outros, foi-nos colocando em contato com um extenso debate sobre a cultura popular, especialmente na segunda metade do século XIX. Embora haja, de fato, uma considerável produção romanesca que absorve muito daquelas idéias teóricas sobre a cultura popular, esta dissertação ainda não contempla sua análise. Dada a evidência das dimensões das discussões sobre o folclore na época e a relevância de apresentá- las detidamente, deixamos o estudo dos romances para um próximo trabalho, que por sua vez demandará exclusividade e poderá tirar proveito deste. Com efeito, o crescente interesse pela descoberta do conjunto de autores que discutiram o folclore no período, culminou em uma reunião de textos publicados em periódicos e livros que nos permitiram constituir este trabalho de pesquisa: um inventário que tenta descortinar o movimento de discussões e teorizações a respeito do povo, seus hábitos e produções orais, no século XIX. Buscamos apresentar as principais idéias registradas por autores que participaram das discussões teóricas sobre o folclore de meados dos anos 60 até finais do século XIX. Ressaltamos que, durante o período de pesquisa e 13 elaboração deste trabalho, não poupamos esforços na localização das obras e textos produzidos pelos intelectuais da época, mas ainda assim, admitimos a possibilidade de incompletudes e da ausência de conteúdos ou autores eventualmente não encontrados1. A busca dessas fontes muitas vezes constituiu-se em verdadeiro garimpo, dada a dificuldade de identificação dos teóricos e de localização dos textos. Por esse motivo, valorizamos a apresentação de fragmentos originais – mantendo, quando possível, grafia e gramática datadas – com a finalidade de facilitar o acesso de pesquisadores interessados no assunto. Supomos alguns motivos que conduziram ao ostracismo parte desses autores e obras. O principal seria o gradual desaparecimento do intelectual polivalente – representado pelo bacharel romântico – substituído pelos teóricos especializados. Com o advento e repercussão da sociologia na década de 30 do século XX, e com o surgimento de intelectuais que propunham uma separação mais precisa entre o cientista e o literato – como Mário de Andrade e Amadeu Amaral 2 – os estudos oitocentistas sobre o folclore foram sendo desprestigiados e considerados coleções imprecisas e fragmentadas das criações populares, supostamente orientadas por posturas teóricas não especializadas e equivocadas do ponto de vista científico. Além disso, a escassa institucionalização dos estudos sobre folclore no século XIX, não favoreceu a edificação do assunto como uma disciplina do conhecimento. As novas metodologias dos estudos brasileiros do século XX deixariam a impressão de que os primeiros folcloristas, além de se desviarem dos fatores sociais, reproduziam um popular falsificado, baseado em uma ciência mais impressionista do que parecia ser, na época. Interpretado anacronicamente e marginalizado do interesse historiográfico, o movimento teórico em torno das coletas de cantos e contos 1 Baseamos grande parte de nossa investigação na cronologia biobibliográfica dos autores que discutiram o folclore no século XIX, presente no Dicionário de Folcloristas Brasileiros (Recife, 1999) de Mário Souto Maior (in: http://www.soutomaior.eti.br/mario/paginas/dicfab.htm). Conforme localizamos e lemos os textos encontrados, levantamos também as fontes mencionadas no próprio material consultado, ampliando, dessa maneira, as informações oferecidas por Mário Souto Maior. Resultou deste trabalho a cronologia apresentada em anexo. 2 Cf. VILHENA, Luís Rodolfo. Projeto e missão: o movimento folclórico brasileiro. Rio de Janeiro: Funarte / Fundação Getúlio Vargas, 1997. 14 populares da segunda metade do século XIX está à margem das pesquisas atuais. Permanece em grande parte intacto nos periódicos e livros de época, que se desmancham nas estantes dos acervos, ou se escondem em microfilmes engavetados. As edições recentes de textos relacionados a esse movimento são esparsas. Do que foi possível localizar da época, nossa pesquisa apresenta catorze teóricos do folclore: Juvenal Galeno, Celso de Magalhães,