Inter-Relações Das Famílias Das Zingiberales1
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2 Sociedade Brasileira de Floricultura e Plantas Ornamentais Inter-relações das famílias das Zingiberales1 CARLOS EDUARDO FERREIRA DE CASTRO Pesquisador Científico do Instituto Agronômíco de Campinas, SP A ordem Zingiberales (Scitamineae, presumíveis ancestrais com três estames, Scitaminales) é claramente delimitada e acei- em um ciclo de antesépalas externas, alter- ta como um grupo natural de oito famílias: nados com outros três, em um ciclo de Zingiberaceae, Costaceae, Marantaceae, Can- antesépalas internas. Interpretações envol- naceae, Lowiaceae, Musaceae, Heliconiaceae vendo padrões de venação e outras caracte- e Strelitziaceae. Essas famílias incluem 89 rísticas anatômicas, teratológicas, de de- gêneros e aproximadamente 1.800 espécies senvolvimento e posicionais também tem abundantemente encontradas nos trópicos sido revistas. úmidos e sazonalmente no trópico seco. Em adição às muitas características A melhor posição taxômica para a celulares que distinguem Zingiberales de ordem Zingiberales encontra-se ainda em outras plantas, existem outras bem evi- debate. Para HUTCHINSON (1973), a or- denciadas e facilmente reconhecidas como: dem deriva de Bromeliales que deriva de 1) Folhas grandes com lâminas pos- Commelinales. TAKHTAJAN (1980) consi- suindo venação transversa e frequentemen- dera que tanto Bromeliales como Zingi- te longo pecioladas; berales tem origem comum em Liliales 2) Inflorescências grandes, com com as plantas apresentando semelhanças brácteas e freqüentemente coloridas. com exemplares da subfamília Aspho- Também existem discordâncias so- deloideae. No esquema elaborado por bre a subdivisão em famílias. Vários auto- THORNE (1983), Zingiberales foi colocada res consideram Zingiberaceae como cons- na superordem Commeliniflorae ao lado tituída por Zingiberoideae e Costoideae. de Bromeliaceae (um integrante de Entretanto NAKAI (1941) descreve a famí- Commelinales). DAHLGREN (1983) esta- lia Costaceae, classificação que embora não beleceu a hipótese da superordem Zingi- reconhecida pelo Royal Botanic Gardens of beriflorae (contendo somente Zingiberales) Edinburgh, é adotada pela maioria dos originária de ancestrais lilifloros em um ramo "pró- commelinifloro - zingiberifloro taxonomistas contemporâneos. - bromelifloro". As flores fornecem a base para a divi- O conceito prevalecente na literatura são da ordem em famílias, embora os hábi- de Zingiberales é a interpretação de sua tos de crescimento e a estrutura das inflo- androcia em termos do arranjo de seus rescências sejam também freqüenternente 1 Palestra proferida no 1Q Simpósio sobre Zingiberales Ornamentais, realizado de 3 a 8 de setembro de 1995, Campinas, SP. Rev. Bras. Hort. Orn., Campinas, v. 1, n.1, 1995 4 Revista Brasileira de Horticultura Ornamental 3 distintas. Dentro da família Zingiberaceae Costaceae, Marantaceae e Cannaceae têm a forma dos estaminódios separa duas tri- somente um estame fértil com os demais bos. É definido por alguns especialistas que, desenvolvendo-se em estaminódios petalói- tanto em Zingiberaceae como em Maran- des ou algumas vezes ausentes. Em Maran- taceae, a estrutura da inflorescência é mais taceae e Cannaceae metade dos estames importante que a estrutura da flor para a férteis são semelhantes a pétalas. distinção de gêneros. Muitos têm sido os usos das espécies distribuídas na ordem Zingiberales. A fa- mília Musaceae oferece as bananas (Musa DESCRIÇÃO GERAL DE ZINGIBERALES sp) e o canhâmo de Manila (M. textilis). Muitas das espécies da família Zingi- Plantas herbáceas rizomatozas, pere- beraceae são utilizadas como aroma- nes, pequenas a arborescentes, a maioria tizantes ou condimentos, destacando-se o terrestres, típicas de habitat tropical e úmi- gengibre, o turmérico e o cardomono. No do. Folhas comumente pecioladas na maio- Brasil, o gengibre é utilizado na fabricação ria das vezes com uma bainha fechada, al- de duas bebidas: a gengibirra e o quentão. gumas vezes liguladas, lâminas foliares Algumas outras zingiberáceas apresentam inteiras com muitas veias laterais que se propriedades medicinais. bifurcam de uma nervura central. Metade A família Marantaceae inclui a da lâmina foliar envolvida pela outra meta- araruta, uma fonte de amido fino e a famí- de na gema. Inflorescência terminal ou la- lia próxima, Cannaceae, a menor de todas, teral, freqüentemente com brácteas gran- oferece rizomas que são comestíveis. des, côncavas a espatiformes com cores variadas e com brilho. Flores normalmente Embora muitas Olltras espécies des- perfeitas zigomorfas ou assimétricas, 3 sas famílias tenham outros usos menores e sépalas distintas das pétalas, 3 pétalas regionais - caso do consumo de botões flo- frequentemente desiguais. Androceu, a rais e bainha de folhas, ou do emprego de mais visível porção da flor, arranjado em folhas para proteção de alimentos no cozi- dois ciclos trímeros; estames perfeitos, 1 mento ou mesmo para a cobertura de abri- fértil (ou 5 ou 6), quando com um, a flor gos e moradias - sem dúvida, o principal e com estaminódios bem visíveis, estes di- mais difundido é a exploração do caráter versos em número, forma, arranjo e fusões, decorativo de suas inflorescências e folhas. normalmente mais vistosos que o perianto. Desse modo, as espécies de Zingiberales Gineceu tricarpelar, sincarpo e basicamen- têm sido cultivadas visando o comércio te trilocular (dois lóculos algumas vezes como flores de corte, folhagens de corte, abortam), com vários óvulos por lóculo; folhagens e floríferas envasadas. ovário ínfero, estilo simples. Sementes com As espécies de Zingiberales apenas abundante endosperma, freqüentemente há poucos anos vêm sendo cultivadas vi- com um arilo. sando a comercialização. Desse modo, não A transformação de estames em se sabe muito sobre técnicas de cultivo e à estaminódios estéries é uma característica exceção do gênero Canna, pouco esforço bem conhecida nas inter-relações das famí- foi concentrado no melhoramento genéti- lias das Zingiberales. Musaceae têm 5 ou co, visando a produção de variedades com raramente 6 estames férteis. Zingiberaceae, características decorativas superiores. Rev. Bras. Hort. Orn., Campinas, v. 1, n. 1, 1995 4 Sociedade Brasileira de Floricultura e Plantas Ornamentais ALTURA DAS PLANTAS podem ser citadas as grandes e espetacula- E DIVERSIDADE DE ESPÉCIES res inflorescências de estrelícias (Strelítzia reginae Ait.) com duas pétalas eretas muito modificadas e somente um estame ausente As maiores plantas da ordem são a e as flores muito pequenas de algumas es- árvore do viajante (Ravenalla mada- pécies de marantáceas, que apresentam gascarienses) que tem um caule lenhoso del- estaminódios de quatro diferentes formas e gado com cerca de oito metros ou mais e somente meio estame funcional. As flores um conjunto radiado composto por 20 ou de Maranta são então assimétricas e como mais folhas, cada uma com 4 a 5 metros de para compensar essa falta de simetria, são comprimento e a gigantesca Musa ingens produzidas aos pares, cada flor uma ima- da Nova Guiné com seu caule falso de 8 gem de espelho das outras. metros de altura. As menores são as herbá- ceas Kaempheria e algumas espécies de Marantaceae que projetam as secas folhas DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA a somente uns poucos centímetros acima Embora a ordem seja representada do solo. por plantas notáveis dispersas pelas regi- As folhas de Musa e Canna distribu- ões tropicais, uma vez que apenas algumas em-se em todas as direções a partir do cau- espécies de Roscoea (Zingiberaceae) sejam le, mas na maioria dos outros gêneros, es- encontradas em climas frios no Himalaia, a tas são distribuídas em duas fileiras. Vari- distribuição das famílias nos continentes é ações de aparência são causadas pela pro- diversa. Possivelmente os membros ximidade ou distanciamento das folhas, lenhosos da ordem, na família Strelit- tamanho das lâminas foliares, pecíolos lon- ziaceae, são os mais antigos no senso gos ou curtos, padrão das nervuras e, espe- evolucionário e têm uma curiosa distribui- cialmente em Marantaceae, pela variação ção descontínua. Imagina-se que no passa- na coloração das folhas. do a família tivesse um maior número de A inflorescência é terminal em uma representantes e que apresentasse uma dis- haste ereta, mas algumas vezes essas has- tribuição mais ampla. Dois dos gêneros, tes são muito curtas e separadas apenas por Ravenala em Madagascar e Phenakosper- folhas longas. Os agrupamentos de flores mum na América do Sul, têm atualmente são localizados nas axilas da bráctea prin- apenas uma espécie. O terceiro gênero, cipal da inflorescência e variam de muito Strelitzia apresenta cinco espécies no Sul compactas a distribuídas. Em muitas espé- da África. cies o agrupamento é reduzido a uma sim- As espécies de Musaceae são confi- ples flor. De forma semelhante, o tamanho nadas, nos trópicos do Velho Mundo, com das flores e de seus componentes mostra o centro de distribuição na região de Burma, grandes diferenças entre as várias famílias, Tailândia e Malásia, mas as bananas tem embora todas tenham o mesmo padrão bá- sido cultivadas em todas as regiões tropi- sico. Esse padrão, contudo, apresenta uma cais e algumas regiões subtropicais. O úni- complicação adicional pela redução do nú- co gênero de Musaceae na África (Ensete) mero básico de seis estames e sua transfor- não produz frutos comestíveis, mas as bai- mação em estaminódios semelhantes a pé- nhas de suas folhas são consumidas como talas (estames estéries). Como extremos alimento na Etiópia. Rev. Bras. Hort. Orn., Campinas, v. 1, n. 1, 1995 j Revista Brasileira de Horticultura