Estilo E Som No Audiovisual

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Estilo E Som No Audiovisual ESTILO E SOM NO AUDIOVISUAL organização débora opolski filipe barros beltrão rodrigo carreiro organização débora opolski filipe barros beltrão rodrigo carreiro SÃO PAULO SOCINE 2019 DIRETORIA: Presidente: Angela Freire Prysthon (UFPE) Vice-presidente: Ramayana Lira de Sousa (UNISUL) Secretário Acadêmico: Fernando Morais da Costa (UFF) Tesoureiro: Cristian da Silva Borges (USP) Secretário: Sancler Ebert Cezar Migliorin Alessandra Brandão Denize Araújo Bernadette Lyra Maria Helena Costa Luciana Correa de Araujo LIVRO ESTILO E SOM NO AUDIOVISUAL Organização: Débora Opolski, Filipe Barros Beltrão e Rodrigo Carreiro Revisão: Os autores Projeto gráfico e diagramação: Gelson Pereira Capa: Malu Farinazzo Ficha catalográfica: Morena Porto (CRB 14/1516) P584 Estilo e som no audiovisual [recurso eletrônico] / organização Débora Opolski, Filipe Beltrão, Rodrigo Carreiro. – São Paulo: SOCINE, 2019. 268 p. 4 ISBN 978-85-63552-28-0 Formato E-book: PDF 1. Produção audiovisual. 2. Recursos audiovisuais. 3. Cinema - História CDD 791. C D U 8 6 9 . 0 ( 8 1 6 . 4 ) C D D B 8 6 9 . 9 3 ÍNDICE Introdução Som, Estética e Tecnologia Som e ritmo interno no plano-sequência: Five, Andarilho 13 Fernando Morais da Costa (UFF) O Candinho e a construção do som marginal 29 Kira Santos Pereira (UNILA) Desconcerto sob regência: os efeitos sonoros diacrônicos de Alan Splet para Veludo Azul 49 Fabiano Pereira (UAM) Som que se ouve, silêncio que se escuta: o estilo sonoro de Lisandro Alonso 71 Roberta Coutinho (UFPE) Música, Som e Audiovisual Kubrick com Ravel: a Experiência Audiovisual da Valsa como Signo de uma Impossibilidade 94 Ivan Capeller (UFRJ) O simbolismo da música do teatro kabuki e o cinema de fantasma no Japão 125 Demian A. Garcia (UNESPAR) Estranhos no Paraíso: compositores com uma câmera na mão e algumas ideias na cabeça 140 Vanderlei Baeza Lucentini (colaborador ECA-USP/PGEHA-USP) 160 Luíza Beatriz A. M. Alvim (UFRJ) Cinema, som e história O som direto no cinema brasileiro: fragmentos de uma história 183 Márcio Câmara (UNIFOR) As canções de Chico Buarque nas trilhas do cinema brasileiro 203 Márcia Carvalho “Música serve pra isso”: André Abujamra e a autoria camaleônica nas trilhas do cinema brasileiro 226 Geórgia Cynara Coelho de Souza (UEG) 247 Suzana Reck Miranda (UFSCar) INTRODUÇÃO Débora Opolski (UFPR), Filipe Barros Beltrão (UFPE) e Rodrigo Carreiro (UFPE) O XIII congresso da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual costuma ser lembrado, pela maioria dos participantes, por ter acontecido, em outubro de 2009, exatamente na mesma semana em que a Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo inaugurava o belo prédio em que as aulas do curso de Audiovisual passaram a ocorrer. As instalações novas em folha, as salas de aula bem equipadas, o amplo estúdio de gravações onde ocorreu a festa de encerramento do encontro, tudo isso vêm à memória quando o evento é mencionado pelos participantes. Para os pesquisadores que estudam o som em cinema e audiovisual, contudo, aquele congresso resgata uma memória ainda mais especial. Foi ali, há exatos dez anos, que o seminário que trata do tema iniciou a jornada de uma década que este livro comemora. Embora mesas temáticas já reunissem alguns desses pesquisadores desde alguns anos antes, o congresso de 2009 viu nascer um projeto mais ambicioso, que recebeu apoio e incentivo da então Diretoria da SOCINE (dirigida por Denilson Lopes, da UFRJ, e Andrea França, da PUC-RJ): a criação de um seminário específco de estudos do som, proposto e coordenado, na ocasião, por Fernando Morais da Costa (UFF), Suzana Reck Miranda (UFSCar) e Eduardo Santos Mendes (USP). Embora não fosse possível adivinhar com antecedência, as seis sessões de apresentações do seminário, que reuniram 18 pesquisadores e tiveram sala lotada em todos os três dias, funcionaram como marco inicial da constituição de uma rede de pesquisa consistente e duradoura. Uma década 6 ESTILO E SOM NO AUDIOVISUAL depois, com eventuais mudanças de nome e de coordenadores (ao todo, 12 pesquisadores ocuparam a posição no período), o seminário de estudos do som teve uma expansão contínua, aglutinou um número crescente de interessados e se tornou o principal fórum de debates da área, entre os pesquisadores brasileiros do audiovisual. Todos os anos, professores de som de cinema trocam ideias e referências bibliográfcas, discutem conceitos e novidades tecnológicas, se esforçam para contribuir com a crescente expansão dos estudos na área – um fenômeno global que encontrou, no seminário, um espaço de interlocução no Brasil. Dez anos. Uma data redonda. A ideia de organizar uma coletânea de textos que refetisse o avanço e a popularização dos estudos do som, bem como a pluralidade de abordagens e conceitos que circulam no seminário, já vinha sendo discutida há alguns anos. Em 2018, diante da iniciativa tomada pela Diretoria da SOCINE, encabeçada agora por Angela Prysthon (UFPE) e Ramayana Lyra (Unisul), no sentido de liberar uma pequena verba para que os seminários temáticos pudessem organizar e-books, a coordenação do seminário – agora chamado Estilo e Som no Audiovisual – decidiu que era um momento perfeito para celebrar o aniversário e consolidar ainda mais a rede de interlocuções que, como menciona o membro fundador Fernando Morais da Costa no capítulo que assina neste livro, vem atuando, durante todos esses anos, através de iniciativas como artigos escritos em coautoria, formações de grupos de pesquisa, edições de números especializados em revistas acadêmicas e – por que não? – as tradicionais e sempre proveitosas conversas em mesas de bar. O esforço da atual coordenação culmina, pois, com um e-book que comemora os 10 anos da formação desta rede de pesquisadores, importante para cada um de nós em múltiplos níveis. O processo seletivo necessário para a organização do livro levou em consideração a importância da inclusão de membros do grupo fundador do seminário, e quatro pesquisadores que participaram de todos os dez congressos ocorridos desde 2009 foram convidados a marcar presença no livro: Fernando e Suzana, representando a primeira coordenação; Luíza Alvim, que foi coordenadora por dois mandatos; 7 e Rodrigo Carreiro, co-organizador da publicação e também coordenador em duas oportunidades. Esses quatro personagens participaram de todos os seminários realizados no período de 10 anos. Os outros capítulos que completam o livro foram selecionados entre 18 textos enviados para avaliação por pesquisadores que participaram do seminário em algum ponto de suas trajetórias pessoais. Para efeito de edição, os organizadores decidiram dividir os 12 artigos em três blocos temáticos, cada um composto por quatro textos. O primeiro bloco, intitulado Estética e Tecnologia, traz capítulos cuja abordagem explora, com maior ou menor ênfase, a infuência das tecnologias de captação, edição, mixagem ou reprodução na estética sonora das produções audiovisuais. O segundo bloco, Música e Som, traz contribuições que discutem, como o próprio título deixa claro, as conexões cada vez mais sofsticadas entre a trilha musical e o sound design de flmes, produções televisivas e streaming. O terceiro bloco, Som e História, privilegia abordagens que enfatizam cineastas, ciclos de produção ou momentos importantes da teoria e da história do cinema, sempre da perspectiva sonora. O artigo que abre o primeiro bloco, intitulado “Som e ritmo interno no plano-sequência: Five, Andarilho”, de Fernando Morais da Costa (UFF), remete diretamente ao congresso de 2009, já que se trata de uma atualização da comunicação lá apresentada. A partir dos flmes citados no título, o artigo discute e coloca em cheque a noção de plano-sequência – uma tomada longa e sem cortes na banda visual –, notando que essa espécime de tratamento da imagem exige, da contraparte sonora, uma abordagem inversamente proporcional, já que a trilha de áudio frequentemente precisa ser extensivamente manipulada, e está sujeita a dezenas de cortes. O texto de Kira Pereira (Unila) também explora maneiras dissonantes de construir o som de um flme, concentrando-se da experiência anárquica e iconoclasta do cinema marginal brasileiro e, mais particularmente, no média-metragem Candinho, de Ozualdo Candeias. O artigo procura analisar o papel do som na construção do espaço diegético do flme, destacando 8 ESTILO E SOM NO AUDIOVISUAL uma maneira mais autoral, crua e anárquica – e certamente menos industrial – de pensar e fazer o cinema. A seguir, Roberta Coutinho (UFPE) mergulha no estudo da estilística sonora através de uma detalhada análise da obra do cineasta argentino Lisandro Alonso. A partir de uma abordagem revisionista da lendária discussão a respeito da suposta predominância que os estudos da imagem possuem sobre os estudos do som, na teoria cinematográfca, a autora procura chamar a atenção para a importância do silêncio como elemento recorrente na flmografa de Alonso, sublinhando como essa opção estilística tem tanta importância para o reconhecimento autoral do cineasta quanto as imagens desdramatizadas de seus flmes. Fabiano Pereira (Universidade Anhembi Morumbi) encerra o primeiro bloco temático com um ensaio analítico a respeito do flme Veludo Azul, clássico de David Lynch. Pereira destaca a colaboração estreita do cineasta com o sound designer Alan Splet como evento que teve papel central na defnição do estilo sônico dos flmes subsequentes de Lynch, a partir da utilização de músicas pop, ambiências atmosféricas e contrastes entre som e imagem. O segundo bloco de textos se inicia com o texto de Ivan Capeller (UFRJ), que realiza análises de sequências de flmes de Stanley Kubrick para demonstrar que a valsa surge, nesses títulos, como signo de uma impossibilidade. O texto relaciona o pensamento audiovisual dado à valsa por Maurice Ravel, no poema sinfônico La Valse (1920), e por Kubrick no conjunto da sua obra. Ivan afrma que a valsa aparece como signo de impossíveis regularidades de tecnologia e linguagem em 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), do estado e da sociedade em Laranja Mecânica (1972), e das noções de subjetividade e sociedade em De Olhos Bem Fechados (1999).
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    1 A burla do gênero: Cacilda Becker, a Mary Stuart de Pirassununga. Heloisa Pontes (profa. do Departamento de Antropologia da Unicamp e pesquisadora do Pagu, Núcleo de Estudos de Gênero) I- Corpo, nome, marca, gênero. Um dos domínios sociais e simbólicos mais intrigantes na circunscrição das relações de gênero diz respeito às conexões entre corpo, marca, nome e renome. De acordo com a literatura antropológica disponível sobre o assunto, o processo de renomeação, quase sempre associado a situações rituais, é um dos marcadores sociais por excelência da aquisição de prestígio e de status nas sociedades não ocidentais. Marcados nos corpos, esses ritos sinalizam, sobretudo para os homens que deles participam, a transição para a maioridade e o avanço na “carreira” social1. Essa conexão entre corpo, marca e gênero tem suscitado interpretações distintas a respeitos dos significados envolvidos nos rituais que a enfeixam: ritos de passagem, na acepção de Van Gennep, ou de instituição, como mostra Bourdieu. Assentados na exclusão e na violência simbólica, eles visam separar, segundo o sociólogo francês, “aqueles que já passaram por eles daqueles que ainda não o fizeram e, assim instituir uma diferença duradoura entre os que foram e os que não foram afetados”2. Uma versão ligeiramente modificada e com fotos das atrizes Cacilda Becker e Maria Della Costa foi recentemente publicada na revista Tempo Social. Revista de sociologia da Usp, vol.16, n.1, 2004, pp.231-262. 1 Sabemos, por exemplo, a partir da documentação deixada pelos viajantes e cronistas dos séculos XVI e XVII, brilhantemente analisada por Florestan Fernandes, que, para os homens da sociedade Tupinambá, fazer a guerra, sacrificar ritualmente os prisioneiros, ganhar nome e renome eram a face e contra-face de um mesmo fenômeno e a forma suprema de “graduação” social.
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