ANA PAULA SILVA LADEIRA COSTA

FLUXO INTERNACIONAL DE FICÇÃO: A BRASILEIRA NA BOLÍVIA

Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo – SP, 2008

ANA PAULA SILVA LADEIRA COSTA

FLUXO INTERNACIONAL DE FICÇÃO: A TELENOVELA BRASILEIRA NA BOLÍVIA

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós- Graduação em Comunicação Social da Umesp - Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Profa. Dra.Anamaria Fadul

Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo – SP, 2008

FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação de mestrado sob o título “Fluxo internacional de ficção: a telenovela brasileira na Bolívia”, elaborada por Ana Paula

Silva Ladeira Costa, foi defendida e aprovada em 8 de abril de 2008, perante a banca examinadora composta por Anamaria Fadul, José

Marques de Melo e Maria Aparecida Baccega.

Assinatura do orientador: ______

Nome do Orientador: Anamaria Fadul

Data: São Bernardo do Campo, ____ de ______de ____

Visto do Coordenador do Programa de Pós-Graduação: ______

Área de concentração: Processos Comunicacionais

Linha de Pesquisa: Comunicação Massiva

Projeto temático: Recepção de telenovela

Aos meus pais e ao Adilson, com amor.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que nos momentos de dificuldades me deu força suficiente para superá-las e, através delas, me permitiu aprender a cada dia. Aos meus pais, exemplos de caráter e de generosidade, que sempre lutaram para realizarem os sonhos de seus filhos. O meu eterno agradecimento pelo amor, pelo companheirismo e pela dedicação incansável. Aos meus irmãos, Fernanda e Raphael, e à Sthefania, pela amizade incondicional e refúgio nos momentos mais difíceis. Ao meu marido Adilson e à sua família, que sempre se fizeram presentes. Meu agradecimento pelo apoio, pelo carinho e pela amizade sincera. À querida professora e orientadora Anamaria Fadul, que desde o início acreditou no projeto, incentivando constantemente. Agradeço pela confiança, pela dedicação e pelos ensinamentos que foram indispensáveis neste processo. Aos tios Germán e Heloísa e aos primos Carolina e Manuel, pela contribuição no trabalho de campo e pelo apoio incondicional. À tia Claudete, que fez de sua casa o meu porto-seguro. Aos amigos do mestrado, que me permitiram compartilhar minhas dúvidas e angústias. Á Capes, pelo apoio à realização do mestrado e da pesquisa. Aos professores e funcionários da Universidade Metodista de São Paulo e à Cátedra Unesco de Comunicação, especialmente aos professores José Marques de Melo, Sandra Reimão e Antônio Carlos Ruótolo, pelos ensinamentos e pelo apoio constante. À Globo Universidade, que forneceu importantes informações para a pesquisa. Aos professores e às Universidades de Santa Cruz de la Sierra: Ingrid Steinbach (Universidad Privada de Santa Cruz); Martha Paz (Universidad Evangélica Boliviana); Ramón Fernández Reyes (Universidad Estatal René Moreno) e a Erick Torrico, da Universidad Católica de La Paz. Aos profissionais e às emissoras de Santa Cruz de la Sierra, que concederam importantes entrevistas: Mayco Guzmán (Megavisión); Carlos Novaro, Ingrid Tapia e Carlos Rojas Canedo (Unitel); Marco Aurélio Tapia (Red Uno); Willman Camargo (Bolivisión); Gloria Natusch Cuéllar (Safipro) e Vivian Moreno (A.T.B.). Às famílias que colaboraram com esta pesquisa, disponibilizando parte de seu tempo ao concederem as entrevistas.

RESUMO

O fluxo internacional da telenovela brasileira na América Latina sempre enfrentou a concorrência daqueles tradicionais países produtores, México e . Entretanto, na Bolívia, país de tradição cultural hispânica e indígena, as da Rede Globo alcançam altos índices de audiência. O objetivo principal desta pesquisa foi descobrir como essa telenovela é vista pelos telespectadores bolivianos e o motivo dessa preferência. A partir da teoria dos Usos e Gratificações, de Elihu Katz, realizou-se uma pesquisa qualitativa em Santa Cruz de la Sierra, com a aplicação de questionários e a realização de entrevistas, buscando compreender a recepção da telenovela nessa cidade. Foram analisadas, também, as grades de programação das principais emissoras deste país e seus índices de audiência. As principais conclusões foram: o sucesso das telenovelas brasileiras na Bolívia deve-se às temáticas abordadas, ao reconhecimento da qualidade de sua produção e das imagens veiculadas, assim como às estratégias de venda da emissora brasileira. Os telespectadores desse país utilizam o conteúdo das telenovelas como instrumento de informação e de aprendizagem e o gênero satisfaz a necessidade de evasão da realidade e as necessidades afetivas.

Palavras-chave: Fluxo Internacional de Telenovela; Telenovela Brasileira; Rede Globo; Telenovela Latino-americana; Bolívia; Usos e Gratificações;

RESUMEN

El flujo internacional de la telenovela brasileña en América Latina siempre ha enfrentado la competencia de aquellos tradicionales países productores, México y Venezuela. Sin embargo, en Bolivia, país de tradición cultural hispánica e indígena, las telenovelas de Red Globo logran altos índices de audiencia. El objetivo principal de esta pesquisa fue descubrir como esa telenovela es vista por los telespectadores bolivianos y el motivo de esa preferencia. A partir de la teoría de los Usos y Gratificaciones, de Elihu Katz, se realizó una pesquisa cualitativa en Santa Cruz de la Sierra, con aplicación de encuestas y realización de entrevistas, buscando comprender la recepción de la telenovela en esta ciudad. Fueron analizadas, también, las grades de programación de las principales emisoras del país y sus índices de audiencia. Las principales conclusiones son: el suceso de las telenovelas brasileñas en Bolivia se debe a las temáticas abordadas, al reconocimiento de la calidad de su producción y de las imágenes vehiculadas, así como a las estrategias de venta de la emisora brasileña. Los telespectadores de ese país utilizan el contenido de las telenovelas como instrumento de información y de aprendizaje y el género satisfaz la necesidad de evasión de la realidad y las necesidades afectivas.

Palabras-clave: Flujo Internacional de Telenovela; Telenovela Brasileña; Red Globo; Telenovela Latino-Americana; Bolívia; Usos y Gratificaciones;

ABSTRACT

The international flow of the Brazilian telenovela in Latin America has always faced competition from those traditional producers, and Venezuela. However, in Bolivia, the country of Spanish and native cultural tradition, the soap operas from Globo Network reach high registers of public. The main goal of that research was to figure out how that telenovela is watched by the Bolivian audience and the reason for this preference. Starting from the Uses and Gratifications theory, from Elihu Katz, a qualitative research was developed in Santa Cruz de la Sierra, with an application of questionnaires and accomplishment of interviews, looking for understanding the reception of the telenovelas in this city. The programming schedules of the most important networks of this country and its report of audience were also analyzed. The principal conclusions were: the success of the Brazilian telenovelas in Bolivia owes itself to the themes boarded; to the quality recognition of its production and to the televised images, as well as to the Brazilian network's selling strategies. The audience from this country use the content of the soap operas as instrument of information and learning and the style satisfies the necessity of evasion from reality and the affective necessities.

Key words: International flow of Telenovela; Brazilian Telenovela; Globo Network; Latin American Telenovela; Bolívia; Uses and Gratifications;

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10 Exportação e Internacionalização da Telenovela 11 Recepção da Telenovela 14 Teoria dos Usos e Gratificações 16 Usos e Gratificações na Bolívia 17

Capítulo I - QUESTÃO DO MÉTODO 21 Metodologia Qualitativa e suas Técnicas 22 Escolhas feitas 32 Amostra 41 Fontes utilizadas 43

Capítulo II. UM GÊNERO TRANSNACIONAL 45 Contexto Brasileiro 47 Cenário Latino-Americano 50 Novos Players 54

Capítulo III – TELEVISÃO NA BOLÍVIA 57 Perfil do País 57 Chegada Tardia 62

Capítulo IV - TELENOVELA NA BOLÍVIA 72 Grade de Programação 72 Importação de Programas 76 Produção de ficção televisiva no país 81 Audiência da Telenovela 82

Capítulo V. RECEPÇÃO DA TELENOVELA NA BOLÍVIA 89 O Trabalho de Campo 89 Usos e Gratificações dos Telespectadores Bolivianos 94

Capítulo VI. ANÁLISE DOS DADOS 98 Os Questionários 98 As Entrevistas 107

CONCLUSÕES 122

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 127

ANEXOS 134

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INTRODUÇÃO

Desde seu surgimento na América Latina, na década de 1950 até os dias de hoje, a telenovela tem reforçado sua importância nas grades de programação de emissoras ao longo de toda esta região, assegurado o crescimento e expansão de importantes cadeias de comunicação e conquistado novos públicos consumidores em outras regiões do mundo. Para alcançar estes novos mercados, as maiores empresas produtoras deste gênero agiram de forma estratégica, ao consolidar sua influência inicialmente sobre os países vizinhos. Na década de 1950, a emissora mexicana já exportava para outros países da América Latina e, duas décadas depois, a Rede Globo também começava a vender seu principal gênero de ficção para Uruguai e . A garantia de índices de audiência satisfatórios pelas emissoras dos outros países da América Latina, somada à falta de recursos para a produção das próprias telenovelas, impulsionou diversas emissoras a comprarem este gênero. Atualmente, encontram-se, neste cenário, as mesmas protagonistas, Rede Globo e Televisa, que juntamente com emissoras e produtoras da Venezuela, Colômbia, e estão concorrendo por espaço tanto no continente americano como fora dele. Entre os países importadores de ficção televisiva do México e do Brasil, destaca-se a Bolívia. A tímida produção televisiva devido à falta de recursos financeiros e técnicos, fez com que o país, desde o surgimento da televisão, recorresse à pirataria ou à compra de telenovelas originárias destes dois países. Erick Villanueva, Karina Miller e Esperanza Sardón (2000, p.54) assinalam a importante presença da telenovela brasileira na Bolívia, cuja televisão tem como característica principal a presença majoritária de conteúdos importados em relação aos conteúdos produzidos nacionalmente. Eles esclarecem que aproximadamente 80% da programação é de origem estrangeira, sendo que a telenovela e os seriados nacionais são praticamente desconhecidos: “a categoria telenovela que é a que ocupa maior ranting de audiência nacional, corresponde sempre a produções estrangeiras, especialmente de origem mexicana e brasileira”. Em julho de 2007, eram exibidas 22 telenovelas nas principais emissoras do país, o que mostra claramente a importância deste gênero para as emissoras. Observou-se, ainda, que as telenovelas brasileiras importadas pelas emissoras bolivianas são quase sempre originárias da Rede Globo. O interesse por esta investigação partiu, justamente, da constatação do absoluto sucesso da telenovela brasileira na Bolívia. Apesar das diferenças culturais entre os dois

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países e da barreira provocada pela diferença de idiomas, os telespectadores assistem, prioritariamente, as telenovelas brasileiras. A maior proximidade cultural da Bolívia com o México resultante do fato dos dois países falarem a mesma língua e da histórica relação de importação de produtos televisivos, não impediu que as telenovelas brasileiras concorressem diretamente com as telenovelas da Televisa. Diante destas observações, surgiu o interesse em se observar o fluxo das telenovelas brasileiras para este país e sua recepção pelos bolivianos, para se compreender quais os motivos que os levam a assistirem as telenovelas brasileiras. E, a partir da teoria dos usos e gratificações de Elihu Katz, pretende-se avançar na pesquisa, examinando que usos fazem os telespectadores com os conteúdos apreendidos através das telenovelas brasileiras e quais as gratificações que eles têm ao assisti-las. A partir dessa questão, estabeleceu-se como um objetivo geral, a compreensão do fluxo das telenovelas brasileiras para a Bolívia e, como objetivo específico, a verificação de como este gênero é recebido pelos telespectadores, quais as mensagens apreendidas e qual importância deste gênero para as emissoras de televisão do país. Percebe-se, assim, a necessidade de se compreender a força da telenovela latino- americana, único gênero capaz de ser exportado de maneira significativa para outros continentes e, inclusive, para países de primeiro mundo. A observação de seu impacto em outras culturas é fundamental, não apenas para o desenvolvimento de uma pesquisa sobre o movimento de contra-fluxo de comunicação, mas também para a análise do impacto das telenovelas brasileiras em um país vizinho. A não existência de pesquisas sobre este tema na Bolívia é mais uma constatação de sua relevância para o avanço da pesquisa sobre esse gênero televisivo, assim como na teoria dos fluxos internacionais de comunicação que adquiriu maior relevância com o processo de globalização da comunicação.

Exportação e Internacionalização da Telenovela

Os estudos sobre a internacionalização da telenovela brasileira, de certa forma, foram precedidos por pesquisas que buscavam compreender como se dava o fluxo de programas de televisão no mundo. A primeira pesquisa foi realizada por Karl Nordestreng e Tapio Varis (1979) e analisava o fluxo dos programas televisivos em 57 países. O Inventário internacional da estrutura dos programas de televisão e circulação internacional dos programas observou o fluxo de programas de televisão e mesmo que não tivesse como atenção principal o fluxo da ficção televisiva, marcou a chegada de uma série de pesquisas cujo foco era o fluxo das soap

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operas para outras partes do mundo. Neste período, os pesquisadores observaram que aproximadamente 52% dos programas exibidos nas emissoras dos países latino-americanos eram comprados dos Estados Unidos. Na década seguinte, Livia Antola e Everett Rogers (1984) realizaram uma pesquisa que tinha como objetivo principal determinar o fluxo de programação televisiva entre os países latino-americanos e os Estados Unidos. Ao compararem os resultados da pesquisa realizada por Nordestreng e Varis (1979), eles observaram que houve uma considerável queda nos índices de produções importadas em relação às produções nacionais na América Latina. Segundo os autores, as telenovelas e os humorísticos foram os principais responsáveis pela queda da importação de produções dos Estados Unidos. Eles observaram, ainda, que os países latino-americanos de baixa produtividade televisiva passaram a importar produtos dos países vizinhos, o que diminuiu ainda mais a compra dos produtos norte-americanos (1984, p. 186). Durante este período, as telenovelas já representavam cerca de 70% das exportações de emissoras da Argentina, Brasil, México e Venezuela (1984, p.187) e os índices de audiência da programação nacional era muito superior aos índices registrados durante a audiência de programas importados dos Estados Unidos. (1984, p.189). Numa análise comparativa, Antola e Rogers constataram que a telenovela mexicana Os ricos também choram obteve mais sucesso que o seriado norte-americano Dallas na maioria dos países latino-americanos. No entanto, registrou-se uma baixa exportação de programação televisiva da América Latina para os Estados Unidos. Os autores afirmam que Brasil, México e Argentina foram os países que tiveram mais condições técnicas e demonstraram mais talento quando ocorreu o surgimento da televisão. Segundo eles, para um país se tornar um exportador de produtos televisivos, as produções devem ter boa qualidade, com bons atores e boa imagem, e o tema não deve ser muito local, para que os telespectadores de outros países possam se identificar. As principais conclusões de Antola e Rogers demonstraram a redução da importação e dos índices de audiência dos produtos provenientes dos Estados Unidos, apesar de se reconhecer a sua importância. Os pesquisadores observaram, também, que o México era o principal exportador de produtos da América Latina com direção aos Estados Unidos e que a Televisa liderava o fluxo de programas gravados em espanhol. Constatou-se, ainda, que o Brasil e México lideravam as exportações na região analisada. (1984, p.199) No final da década de 1990, Daniël Biltereyst e Philippe Meers (2000) também realizaram pesquisa em que se analisava o fluxo e o contra-fluxo de comunicação. Em sua pesquisa, assinalaram o desenvolvimento da produção televisiva local em alguns países

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latino-americanos e a participação global de emissoras desta região, o que tornou ainda mais complexo o fluxo internacional de programas. Eles lembram que as produções midiáticas dos países de 3º Mundo e a efetiva participação destas produções no mercado externo transformaram os estudos de comunicação internacional que anteriormente era pautada no imperialismo e dependência cultural desde a década de 1960. A partir deste cenário e da observação de que a telenovela estaria no centro de muitas discussões teóricas a respeito do fluxo internacional de comunicação, os autores analisaram a participação do gênero no mercado internacional de programação televisiva. Dentre as principais discussões envolvendo a telenovela, questionou-se se o contra-fluxo de programas televisivos é realmente significativo, já que as telenovelas preenchem grades de programação em horários de baixa audiência na Europa, exceto em Portugal. Desta maneira, Biltereyst e Meers relativizaram a teoria de crescimento do contra-fluxo de comunicação e atribuíram à telenovela a função de preencher as grades de programação das emissoras de países europeus. Já os estudos sobre a internacionalização da mídia brasileira são mais recentes e vêm sendo alvo da pesquisa de estudiosos de diversas áreas. Na perspectiva dos geógrafos Thérry e Mello, (2005, p.17) a visibilidade do Brasil no cenário internacional não corresponde ao seu grau de desenvolvimento econômico. Outros países, neste mesmo estágio, não gozam desta mesma situação. Na visão desses autores, a telenovela e o futebol são responsáveis por esse fenômeno. Rede Globo, como principal exportadora de telenovelas, está entre as primeiras emissoras do mundo e contribui para essa nova postura do Brasil no cenário mundial, e especificamente na América Latina. Na área da economia, se admite que a telenovela é o gênero responsável pela internacionalização da Rede Globo. Grael e Rocha (1987: p.139) e Felipe Rizzo (2005) afirmam que a telenovela não foi importante apenas na conquista e liderança absoluta da Rede Globo no mercado de interno, mas também representou o grande motivador da penetração no mercado externo. Na área da comunicação, Mazziotti (2004: p.389) considera a telenovela como o “único produto de reconhecimento internacional da televisão latino-americana”, devido às políticas de comercialização, à qualidade técnica e à carga de emoção das histórias narradas pelo sucesso internacional e, portanto, responsável pelo seu sucesso internacional. Para José Marques de Melo, este sucesso se deve especialmente à capacidade das telenovelas da Rede Globo de promover a identificação e a participação dos telespectadores através da linguagem coloquial, da escolha de personagens de classe média e da presença do mito de ascensão social (1988, p.52). Ele aponta também a inovação da linguagem e os recursos técnicos da

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Rede Globo como elementos que justificam o interesse crescente em relação às telenovelas desta emissora (1988, p.54). Além disso, ela abriga nos focos dramáticos e no comportamento dos personagens os valores universais, que podem ser reconhecidos por milhões de telespectadores estrangeiros. Ele completa: “em relação ao mercado externo, os estrategistas comerciais da Globo perceberam três ingredientes que impressionam os telespectadores: as cenas externas, a naturalidade dos atores e o enredo em suspense” (1988, p.55)

Recepção de telenovela

Paralelamente ao surgimento das pesquisas que analisavam o fluxo internacional de comunicação e, mais especificamente, sobre a exportação das telenovelas brasileiras, surgiram também pesquisas interessadas pelos impactos causados pelas soap operas, especialmente pelo seriado Dallas. McAnany e La Pastina (1994) citam como exemplos as pesquisas realizadas por Ien Ang em 1985, por Tamar Liebes e Elihu Katz em 1984 e por Herzog- Massing em 1984. Todos estes pesquisadores procuravam compreender o que o seriado Dallas representava para audiências fora dos Estados Unidos. O sucesso das telenovelas brasileiras no país e no exterior provocou o interesse dos pesquisadores em estudar a audiência e a recepção deste gênero. Embora o interesse em estudá-las tenha surgido tardiamente, uma vez que a telenovela começou a ser veiculada no país na década de 1950, o primeiro trabalho científico sobre o assunto foi escrito somente em 1974, por Sonia Micelli P. de Barros. Hoje, no entanto, o país possui um número considerável de pesquisas científicas sobre esse o gênero. Pode-se afirmar que a criação do Núcleo de Pesquisa em Telenovela, na ECA-USP em abril de 1992, e do Grupo de Trabalho que estudava especificamente a telenovela em 1993 – hoje transformado no Núcleo de Pesquisa de Ficção Seriada – na Intercom foi um importante incentivo para a produção de pesquisas de telenovelas. (NARCISO; MALCHER: 2005) Numa revisão teórica e metodológica abrangente, McAnany e La Pastina (1994) chamaram a atenção para o estudo de recepção da telenovela na América Latina. Eles explicam que foi em meados dos anos 1980 que os pesquisadores do Brasil, Colômbia, México e começaram a estudar o gênero enquanto forma de cultura popular, influenciados pelas perspectivas teóricas de pesquisadores como Canclini, Martín-Barbero e Gonzáles. Estas novas abordagens teóricas deixaram de lado a visão de que “os meios, especialmente os de comunicação transnacional, eram todo-poderosos e as audiências vítimas passivas” (McANANY; LA PASTINA, 1994, p.18).

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Ondina Fachel Leal (1990), Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Sílvia Helena Borelli e Vera da Rocha Resende (2002) e Heloísa Buarque de Almeida (2003) realizaram pesquisas sobre a recepção da telenovela. Partindo de abordagens teóricas e metodológicas variadas, todas estas pesquisadoras reconhecem a autonomia dos telespectadores na recepção do gênero, observando que a leitura do conteúdo pode variar de acordo com o gênero e a classe social das pessoas entrevistadas. Mazziotti (2004) chamou a atenção para a escassez de análises sobre o consumo e repercussão da telenovela em lugares diferentes, embora a análise da recepção seja feita pelas emissoras através dos índices de audiência. Para ela, a forma pela qual os programas são vistos é de suma importância. A interpretação está estreitamente relacionada com negociações, com as trocas entre culturas, com a construção de um sentido e o que tudo isso faz com a configuração das identidades e com a vivência das próprias subjetividades. (2004, p.390)

Ondina Fachel Leal (1990) também acredita na necessidade de se verificar a maneira pela qual o telespectador assiste a telenovela. Partindo de uma etnografia dos objetos, ela dá continuidade a uma pesquisa que se interessa pelas experiências individuais de seus entrevistados. Ela busca compreender significados sobre vivências cotidianas, familiares e de classe no recontar a telenovela. Desta forma, ela acredita que é possível resgatar um sistema de cultura em si. Lopes, Borelli e Resende (2002) também se interessam pela vivência cotidiana das famílias, integrando-se a elas e tentando descobrir quais as mediações que atravessam a recepção da telenovela, a partir da proposta teórica de Martín-Barbero (2003). Partindo de uma perspectiva teórica diferente de Leal, estas pesquisadoras tentam compreender como as diferenças de classe social, educação e cultura podem influenciar a recepção das telenovelas, observando-se especialmente a instituição familiar. Estes trabalhos são exemplos de uma tendência teórica que se estabeleceu no país há aproximadamente duas décadas. O interesse pela recepção e não apenas pela audiência da telenovela reflete a perspectiva de que o receptor não é uma vítima passiva da mensagem transmitida pela mídia, tendo autonomia e assumindo características próprias de acordo com suas condições sócio-econômicas, seu gênero, o nível escolar, etc.

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Teoria dos Usos e Gratificações

Na década de 1980, Liebes e Katz dedicaram-se à análise da recepção do seriado Dallas em três países, utilizando o método comparativo para a análise dos dados fornecidos pelos grupos focais realizados. Foi a partir dessa pesquisa que se formularam as bases teóricas para a pesquisa sobre a recepção da telenovela na Bolívia. Os principais aspectos analisados por esses autores, que partiram da teoria dos Usos e Gratificações, são os seguintes:

(1) considerando o entretenimento como gênero que abre portas da esfera pública e torna político o privado (2) colocando mais peso no texto, identificando suas ambições hegemônicas, e a extensão de sua abertura; (3) contextualizando o espectador sociologicamente em vez de psicologicamente; (4) observando os modelos de decodificação do espectador, e os envolvimentos e vulnerabilidades que lhes acompanham; (5) observando a criação de significados através de interações grupais; (6) Prestando atenção à forma como as leituras reflexivas às vezes levam às mudanças sociais; (7) examinando a extensão da consciência do telespectador e o conteúdo e estrutura do texto, interpretando as interpretações em vez de confiar somente na auto-avaliação do telespectador; (8) tendo consciência de que este é um jogo sem fim; (9) utilizando métodos quase-etnográficos. (1993: p.X. tradução nossa.)1

Apesar dos pesquisadores terem utilizado como técnica os grupos focais, tem-se no presente trabalho e na obra de Liebes e Katz um fator comum: a busca pelas gratificações dos telespectadores, acreditando que cada grupo encontra sua própria forma de leitura, apresentando diferentes envolvimentos, mecanismos de auto-defesa e vulnerabilidade. Pressupõe-se, portanto, que a audiência televisiva é ativa, pois escolhe o conteúdo ao qual se expõe. Antonio Carlos Ruótolo (1993, p.65) explica que “o foco central da teoria dos usos e gratificações é o conjunto de motivações que levam os telespectadores a expor-se à televisão. Não se pergunta o que a televisão está fazendo às pessoas, mas sim o que as pessoas estão fazendo com a televisão”. Segundo Armand e Michèle Mattelart, esta corrente teórica nasceu nos anos de 1970, quando a sociologia funcionalista se abriu para uma nova questão: “o que as pessoas fazem da mídia?” (2004, p.150). Eles explicam que neste momento, afastou-se das teorias dos efeitos

1 Texto original: “(1) by regarding entertainment as genres that open Gates to the public sphere and politicize the private; (2) by placing more weight on the text, identifying its hegemonic ambitions, and the extent of its openness; (3) by contextualizing the viewer sociologically rather than psychologically; (4) by observing the patterns of viewer’s decodings, and the involvements and vulnerabilities that accompany them; (5) by observing the manufacture of shared meanings through group interaction; (6) by paying attention to the way reflexive readings may sometimes lead to social change; (7); (8) by being aware that this is an endless game; (9) by using quase-ethnographic methods.”

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diretos, tentando-se superar as teorias dos efeitos indiretos ou limitados, criando-se uma noção própria da leitura negociada:

O sentido e os efeitos nascem da interação entre os textos e os papéis assumidos pelas audiências. Ao envolvimento delas vinculam-se as decodificações; por sua vez, esse envolvimento depende da maneira pela qual as diferentes culturas constroem o papel do receptor. (MATTELART;MATTELART, 2004, p.151)

Não apenas as diferentes culturas constroem o papel do receptor. Ruótolo explica que as condições sociais e psicológicas dos telespectadores são os fatores que motivam ou não o ato de se assistir televisão:

A motivação, formada a partir das situações sociais e psicológicas dos telespectadores, passa numa segunda etapa a ter um papel mediador e modificador do comportamento e dos efeitos relacionados à audiência da televisão. O modelo teórico de usos e gratificações poderia ser resumido no postulado de que a motivação é variável intermediária entre as condições sociais e psicológicas dos telespectadores e o seu comportamento televisivo (incluindo-se aqui os efeitos da exposição ao meio. (RUÓTOLO, 1993, p.65)

No Brasil, existem poucas pesquisas orientadas pela teoria dos usos e gratificações, uma vez que se adotou a teoria das mediações de Martín-Barbero (2003) como já se observou anteriormente. Nesse sentido, foram os paradigmas propostos por Elihu Katz e Tamar Liebes na comparação entre a audiência dos telespectadores de diferentes nacionalidades que serviram como uma base teórica para a atual pesquisa.

Usos e gratificações na Bolívia:

Na Bolívia, a primeira pesquisa realizada sobre a recepção de telenovela também se utilizou da teoria dos usos e gratificações de Elihu Katz. Ela focalizou a recepção de telenovelas em Santa Cruz de la Sierra e foi realizada por Marco Antonio Curi Melgar e Sandra Yacqueline Duran El-Hage em 1996. Esses autores se concentraram nos usos que os telespectadores fazem dos conteúdos dos meios de comunicação para obterem gratificações ou satisfazerem suas necessidades. No entanto, partiram de uma metodologia quantitativa, através da aplicação de questionários que foram preenchidos exclusivamente por mulheres de bairros populares. Desta maneira, eles puderam analisar as diferenças na forma e nas razões

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de assistir às telenovelas de acordo com a faixa etária, o estado civil, o grau de estudos e a profissão destas mulheres. Eles observaram, dentre outras coisas, que as mulheres com baixa escolaridade estão mais expostas à influência das mensagens das telenovelas do que as mulheres com uma educação mais formal, pois elas se interessam em buscar conselhos nos conteúdos das novelas para ajudar na superação individual (1996: p.53). Verificou-se também que as profissões destas mulheres influenciam a maneira e as motivações de ver as telenovelas: As mulheres estudantes buscam nestes melodramas formas de condutas para utilizá-las no momento adequado e preciso, da mesma forma para saber como defender-se e atuar diante de conflitos amorosos. As mulheres comerciantes vêm telenovelas para se distraírem depois de uma longa jornada de trabalho; ao mesmo tempo, podem fugir da dura realidade em que se encontram. As mulheres que desenvolvem trabalhos de casa buscam nas telenovelas uma forma de liberação emocional, por se encontrar permanentemente em seu lar e se sentir desvalorizada na sua capacidade intelectual, necessitam o meio para reforçar seus conhecimentos, habilidades e poder combater as dificuldades de seu casamento e de sua família. É assim que é a preferência destes programas porque sua realidade é similar à que transmite nas telenovelas. As modistas, cabeleireiras e artesãs utilizam as telenovelas como uma forma de relaxamento depois de realizar seus trabalhos manuais. As professoras, secretárias e enfermeiras vêm na mesma proporção estes gêneros televisivos que os outros programas, porque geralmente sua fonte de trabalho não permite se dedicar inteiramente ao consumo delas. (MELGAR, EL-HAGE, 1996, p.65. Tradução nossa)2

Também se constatou que 79% da amostra assistem mais as telenovelas que qualquer outro gênero e que as telenovelas de maior audiência são as de procedência mexicana e brasileira. Cada uma representou 36% da preferência das mulheres entrevistadas. As diferentes características das telenovelas de cada nacionalidade levam as telespectadoras a assisti-las. As telenovelas mexicanas, por exemplo, têm mais semelhanças com o contexto social boliviano, com as crenças religiosas, com a linguagem e com os valores. (MELGAR, EL-HAGE, 1996, p.71). Além disso, os temas seriam mais passionais, familiares e sociais e

2 Texto original: “Las mujeres estudiantes buscan en estos melodramas formas de conductas para utilizarlas en el momento adecuado y preciso, al igual de como poder defenderse y actuar ante conflictos amorosos. Las mujeres comerciantes miran telenovelas para distraerse después de una larga jornada de trabajo; al mismo tiempo pueden evadir su dura realidad en que se encuentran. Las mujeres que desarrollan labores de casa buscan en las telenovelas una forma de liberación emocional, por encontrarse permanentemente en su hogar y sentirse subvalorada en su capacidad intelectual, necesitan el medio para reforzar sus conocimientos, habilidades y poder combatir las dificultades de su matrimonio y familia. Es así que la preferencia de estos programas es porque su realidad es similar a la que se transmite en las telenovelas. Las modistas, peinadoras y artesanas utilizan las telenovelas como una forma de relajación después de realizar sus trabajos manuales. Las profesoras, secretarias y enfermeras miran en igual proporción estos géneros televisivos que otros programas, porque generalmente su fuente laboral no le permite dedicarse enteramente al consumo de estas.”

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poderiam servir de conselhos às mulheres que esta amostra abrangeu. Por outro lado, as telenovelas brasileiras apresentam “um realismo onde mostram temas latentes, como similares formas de vida dos povos latino-americanos e satisfazem as necessidades estéticas mostrando diversos ambientes naturais nas suas imagens” (MELGAR, EL-HAGE, 1996, p.71. Tradução nossa)3. Observa-se, portanto, que as principais conclusões dos pesquisadores se referiram às gratificações das telespectadoras ao assistirem as telenovelas e não à maneira como estas pessoas assistem as telenovelas.

Estes melodramas são utilizados como uma necessidade de evasão da realidade já que, mediante a distração, ocupam seu tempo livre e de maneira que se isolam de seus problemas. Assim mesmo, as consumidoras utilizam as mensagens para aprender algumas atitudes e modos de comportamento que lhes influenciem na forma de atuar para resolver conflitos diários que lhes acontece em suas vidas. (MELGAR, EL-HAGE, 1996, p.83. Tradução nossa)4

A pesquisa que agora apresentamos se divide em seis capítulos. O primeiro discute a escolha dos métodos e técnicas de pesquisa a serem utilizados, confrontando suas vantagens e desvantagens. Realiza-se, também uma revisão bibliográfica sobre as metodologias empregadas em outros trabalhos sobre a telenovela e sua recepção. Descrevem-se as técnicas de pesquisa utilizadas, como a entrevista em profundidade e a aplicação de questionários e as dificuldades encontradas durante o trabalho de campo e na escolha da amostragem. O segundo capítulo focaliza a telenovela enquanto gênero latino-americano que ganhou importância mundial graças à sua exportação. São traçadas as principais características referentes à sua produção e aos mercados consumidores, dando-se atenção especial à América Latina e aos novos países produtores. No que se refere ao Brasil, o principal fenômeno examinado foi a projeção que as telenovelas da Rede Globo ganharam no mercado nacional e internacional. No caso da América Latina, examinaram-se as emissoras e produtoras de telenovela no México, Colômbia e Venezuela. Além disso, foram considerados

3 Texto original: “un realismo donde muestran temas latentes, como ser similares formas de vida de los pueblos latinoamericanos y satisfacen las necesidades afectivas estéticas mostrando diversos ambientes naturales em sus imágenes.” 4 Texto original: “Estos melodramas son utilizados como una necesidad de evasión de la realidad ya que mediante la distracción ocupan su tiempo libre y de esta manera se aíslan de sus problemas. Asimismo, las consumidoras utilizan los mensajes para aprender algunas actitudes y modos de comportamientos que les influencien en su forma de actuar para resolver conflictos diarios que les acontece en su vida.”

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também os novos produtores que, apesar de não possuírem tradição na produção de telenovelas, têm obtido sucesso com a comercialização do gênero. O terceiro capítulo descreve a Bolívia através de dados demográficos referentes aos aspectos econômicos, sociais, educacionais e os meios de comunicação no país. Através destas informações, buscou-se traçar um panorama da mídia na Bolívia. Em seguida, descreve-se a trajetória da televisão boliviana com o objetivo de visualizar a situação de suas principais emissoras. No quarto capítulo, faz-se uma análise da grade de programação dos quatro mais importantes canais de televisão bolivianos. Através dela, é possível avaliar a importância da telenovela diante dos outros gêneros exibidos por estas emissoras. Observa-se também a relação dos programas nacionais com programas importados, na grade de programação. Além disso, apresentam-se dados relativos à audiência televisiva na cidade de Santa Cruz de la Sierra através dos quais é possível avaliar quais são as emissoras mais assistidas e os horários de maior audiência de telenovela. O quinto capítulo descreve a realização do trabalho de campo, as principais dificuldades encontradas e como se obteve as informações necessárias. São apresentadas as características das 14 famílias analisadas e descritos os principais usos e gratificações destes telespectadores, baseados na perspectiva teórica proposta por Elihu Katz. No último capítulo apresentam-se os resultados da aplicação dos questionários nas famílias de telespectadores, assim como a análise das entrevistas realizadas com os telespectadores de telenovelas brasileiras na Bolívia. Através dos resultados obtidos com os questionários e as entrevistas, foi possível, portanto, responder as principais questões propostas nesta pesquisa, relativas às necessidades dos telespectadores satisfeitas pelas telenovelas, as principais transformações cognoscitivas ocorridas e as motivações que levam os bolivianos a assistirem este gênero proveniente do Brasil.

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CAPÍTULO I QUESTÃO DO MÉTODO

Esta pesquisa faz parte de um grupo de trabalhos que se voltam para a realidade regional, que têm como objeto de estudos a telenovela e que pretendem compreender a perspectiva do receptor. Sendo a telenovela um objeto de estudos capaz de atravessar vários aspectos sociais, isto possibilita ao pesquisador um grande número análises científicas, que podem se diferenciar no emprego dos métodos, das técnicas ou das perspectivas teóricas. Esta é uma característica comum às pesquisas em ciências sociais, cujos estudos envolvem aspectos humanos como cultura, economia, educação e política (GODOY: 1995: p.58). Diante desta variedade de questões, as metodologias quantitativas e qualitativas apresentam-se como possibilidades igualmente plausíveis. Embora as ciências sociais se caracterizem pelo emprego dos dois tipos de abordagem científica, observa-se que, atualmente, há uma valorização dos procedimentos qualitativos. E isto se deve, segundo Epstein (2005: p.26), ao caráter reducionista dos trabalhos quantitativos. Ele afirma que, apesar desta característica ser compartilhada por todos os tipos de procedimentos metodológicos, pode-se dizer que a operacionalidade das pesquisas quantitativas ainda está mais voltada para as ciências naturais. Estas pesquisas geralmente partem de hipóteses pré-definidas, preocupando-se mais com a quantificação dos resultados e com o estabelecimento de variáveis (GODOY: 1995a, p.58). A metodologia qualitativa, utilizada freqüentemente pelas ciências sociais, é realizada em ambiente natural, possibilitando ao pesquisador a coleta direta dos dados; é descritiva, podendo definir como determinados fenômenos se manifestam nas atividades e interações diárias e quais significados que as pessoas dão às coisas que as cercam. Por esta razão, há a necessidade do contato direto com o objeto estudado, da aproximação e compreensão da perspectiva do outro. (GODOY: 1995a) No momento de decidir qual tipo de metodologia deveria ser utilizada para descobrir os usos e as gratificações dos telespectadores bolivianos ao assistirem as telenovelas brasileiras, observou-se que existem poucos estudos que partem dessa perspectiva. Essa escolha exigirá a descrição e exploração do assunto e um envolvimento do pesquisador, que deverá analisar o fenômeno no próprio contexto onde ocorre. Opta-se, portanto, pela metodologia qualitativa de pesquisa.

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Metodologia qualitativa e suas técnicas

Este trabalho pretende descobrir e compreender um pouco do universo do receptor, partindo de premissas que se apresentaram para o campo comunicacional há pouco mais de duas décadas. Emile McAnany e Antonio La Pastina (1994, p. 18) afirmam que Néstor García Canclini, Jesús Martín-Barbero e Jorge A. Gonzáles impulsionaram uma mudança de posicionamento da pesquisa na América Latina, que anteriormente estava focada especialmente na questão da hegemonia cultural. Os dois pesquisadores lembram que, depois de um longo período em que se deu pouca atenção à audiência, este grupo de pesquisadores foi responsável pelo interesse crescente pelo estudo da cultura popular, pelas mediações, e pela interpretação da audiência. A partir daí, estudiosos do Brasil, Colômbia, México e Peru passaram a estudar a telenovela enquanto uma forma da cultura popular. Atualmente, é possível encontrar um número significativo de trabalhos que analisam a teleficção brasileira, especialmente a telenovela. Depois de uma tímida produção de trabalhos científicos sobre o gênero na década de 1970, houve um considerável aumento no número de trabalhos na década seguinte (FADUL: 1993, p.170) tanto no Brasil, quanto nos países europeus e em outras regiões latino-americanas. Hoje, é possível detectar inúmeros exemplos de estudos de audiência que utilizaram métodos quantitativos e qualitativos, bem como exemplos de trabalhos que utilizaram os dois métodos na investigação sobre a telenovela. Em uma revisão bibliográfica que abrangeu 26 trabalhos sobre audiência de telenovelas, Emile McAnany e Antonio La Pastina (1994) deram início a uma discussão sobre o que a exposição à televisão e ao conteúdo de entretenimento poderia ocasionar na sociedade e em sua cultura. Os autores se dedicaram, especialmente, à crítica dos métodos empregados nestas pesquisas, demonstrando as debilidades e as incoerências de algumas delas. Foram analisados trabalhos brasileiros, chilenos, mexicanos peruanos e venezuelanos, dos quais eles criticaram a falta de explicações dos pesquisadores sobre a escolha da metodologia, o emprego de questionários sem representatividade estatística e a realização de etnografias por pessoas pouco preparadas. Posteriormente, Esther Hamburger também dedicou parte de sua pesquisa (2005) à revisão de trabalhos científicos que já tiveram como objeto de estudo a telenovela e como principal foco a audiência de seus telespectadores. Sua revisão bibliográfica permite uma apreciação da ênfase que a recepção da mídia ganhou em vários tipos de trabalhos, a partir da década de 1980, e das principais técnicas de investigação que foram utilizadas.

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Uma profusão de estudos empíricos resultou desse foco na recepção da televisão. Pesquisadores usaram técnicas qualitativas, como grupos focais ou cartas de fãs em resposta a um anúncio publicado em uma revista especializada, para analisar como os telespectadores interpretam programas de televisão estrangeiros. Esses trabalhos discutem como sentidos e imagens relativos a programas norte-americanos são apropriados em contextos locais Outros pesquisadores recorreram ao uso de entrevistas, mais ou menos extensas, para captar interpretações de telespectadores sobre novelas na América Latina. (HAMBURGER: 2005, p.16)

Ruótolo (1996: p.04) explica que, apesar do recorrente uso do group discussions (grupos de discussão), as pesquisas qualitativas permitem o uso de várias técnicas, incluindo o estudo de caso, a etnografia, os grupos Delphi, as entrevistas qualitativas e a observação simples ou participante. Atualmente, nas pesquisas qualitativas de recepção da telenovela, pode-se identificar o uso de alguns procedimentos de pesquisa com mais freqüência, como a etnografia, o grupo focal e as mais variantes formas de entrevista. Entre os instrumentos de coleta de dados dos trabalhos revisados por McAnany e La Pastina (1994), pode-se afirmar que a maioria é de caráter qualitativo. Apesar da pouca referência ao uso dos métodos e das técnicas, os dois pesquisadores chegaram à seguinte constatação: “Em geral, notamos que os dois métodos mais utilizados foram o questionário e o estudo de caso utilizando etnografia. Grupos de discussão (focus groups), pesquisa-ação e outras metodologias também foram utilizadas” (1994, p.27).

Etnografia

Para Godoy (1995: p.28), a etnografia é a ferramenta utilizada por aqueles pesquisadores que desejam descrever grupos sociais, comportamentos e significados culturais através da observação. Para isso, partem para o trabalho de campo na tentativa de contextualizar os fenômenos que acontecem num determinado ambiente sócio-cultural. Isso exige do pesquisador muita dedicação, tempo e conhecimento prévio sobre o ambiente no qual ficará imerso. No Brasil, vários pesquisadores têm este mesmo objetivo de descrever comportamentos sociais correlacionados à audiência de telenovela. Pesquisadores como Ondina Fachel Leal, Heloísa Buarque de Almeida e Maria Immacolata Vassallo de Lopes foram a campo e realizaram trabalhos etnográficos, com algumas diferenças no emprego das técnicas e das perspectivas teóricas.

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Hamburger (2005: p.26) chama a atenção para um destes trabalhos precursores no estudo de recepção da telenovela. Trata-se da dissertação de mestrado em antropologia social apresentada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em agosto de 1983, por Ondina Fachel Leal. Pode-se afirmar que esta é uma das pesquisas de maior impacto acadêmico que teve a telenovela como objeto de estudos. A leitura social da novela das oito (1986) tornou-se um livro de uso freqüente nas escolas de comunicação e pelos interessados pela recepção da telenovela. A autora parte de uma visão frankfurtiana para definir o que seria a indústria cultural, uma característica que reflete a noção da autora de que a produção de símbolos está ligada ao modo social de produção (LEAL: 1986, p.07). No entanto, a antropóloga ignora que a indústria cultural possa manipular ou massificar e realiza uma comparação entre dois grupos sociais opostos recontando a história de uma telenovela. O interessante a ser observado, neste caso, é a metodologia utilizada pela pesquisadora para realizar esta comparação entre estas duas classes de telespectadores. Leal faz uso da etnografia de objetos (fotografando as casas, os objetos e as pessoas); da entrevista-não diretiva; da observação direta (e que ela considera, de certa forma, participante) e da entrevista com o autor da novela analisada. Ela freqüentou a casa de dez famílias de cada classe social, observando o comportamento das esposas, dos maridos e das crianças e a relação com a vizinhança durante a exibição da telenovela Sol de Verão. Para isso, procurou unidades familiares heterogêneas quanto a idade, sexo, origem étnica e crença religiosa. Esta seria, portanto, a primeira pesquisa de destaque sobre a recepção da telenovela que tenha feito o uso da etnografia para observar a o comportamento dos telespectadores. Foram observadas, no total, dez famílias de cada grupo social, num total de 20 famílias. Heloísa Buarque de Almeida (2003: p.38) observa que a diferença de classe social na construção de sentidos é um dos aspectos que motivam os pesquisadores brasileiros a realizarem etnografias. Ela considera o trabalho de Leal como um “esforço etnográfico mais amplo, não se limitando a noção de etnografia a entrevistas”. Compartilhando deste interesse de Leal de descrever o comportamento de grupos sociais, Almeida (2003) realiza uma etnografia de recepção com famílias de classes médias e populares em Montes Claros, Minas Gerais. Ela tenta compreender o diálogo entre a cultura dos telespectadores e das mensagens produzidas pela Rede Globo, observando a recepção da telenovela O Rei do Gado durante toda a exibição desta narrativa. Ao todo, foram 14 grupos residenciais observados e mencionados pela autora em seu trabalho, tendo ocorrido visitas freqüentes e variadas a 12 famílias durante sete meses.

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Em termos de técnica de pesquisa, para refletir sobre o papel da televisão no cotidiano, buscava assistir às novelas com pessoas que tinham o hábito de acompanhar as narrativas, ou O Rei do Gado em particular. Esta proposta exigia um contato com o ambiente doméstico. Eu apresentava a pesquisa dizendo tratar-se de um estudo sobre a influência da televisão na família e como a família interagia com a TV. Ao invés de perguntas diretas, eu visitava regularmente algumas famílias, assistia à novela com eles, e conforme a conversa começava, eu apenas incentivava que as pessoas dessem sua opinião e refletissem sobre os conteúdos e programas. (ALMEIDA: 2003, p.66)

Num segundo momento da pesquisa, Almeida observou o meio publicitário em São Paulo e a relação dos profissionais desta área com a telenovela. Foram entrevistadas oito publicitárias de agências renomadas, coletados dados de revistas especializadas em propaganda, índices de audiência, pesquisas de mercado, dentre outras informações. “De forma bem diversa ao trabalho de campo em Montes Claros, esta parte foi feita em São Paulo, em contatos esporádicos com tom bastante profissional, com gravador e fitas postos”, explica Almeida. Observa-se, portanto, que apesar do trabalho da pesquisadora caracterizar-se como uma etnografia, fez-se o uso de outros métodos de pesquisa, também necessários para se chegar ao objetivo traçado. Esta característica multimedológica da pesquisa apresenta-se como uma nova tendência, tendo como matriz trabalhos mais recentes, desenvolvidos num paradigma que se ocupa da investigação das mediações que atravessam a recepção da telenovela. Uma pesquisa mais recente, realizada por Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Silvia Helena Simões Borelli e Vera da Rocha Resende (2002) parte para o trabalho de campo com o objetivo de compreender as mediações que atravessam a recepção da telenovela e observar a articulação das lógicas comerciais da produção com as lógicas culturais do consumo. Apesar de também ter-se realizado um trabalho etnográfico, a pesquisa diferencia-se das anteriores pelo emprego de vários instrumentos técnicos e metodológicos. Foram realizados, além da observação etnográfica, questionários de consumo, entrevista da subjetividade, entrevista do gênero ficcional, entrevista da videotécnica, história de vida, história de vida cultural, entrevista da produção e grupo de discussão. Foram analisadas quatro famílias, das classes popular, média e média alta. O emprego desta multiplicidade de técnicas, justificou-se pela perspectiva teórica escolhida e pela busca de quatro mediações: cotidiano familiar, subjetividade, gênero ficcional e videotécnica.

O estudo das mediações na recepção de telenovelas exigiu a construção de uma metodologia multidisciplinar para assegurar a recepção da telenovela pensando tanto o espaço da produção como o tempo do consumo, articulados

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a partir de quatro lugares de mediação: 1) o cotidiano familiar, em que ocorrem os usos, consumo e práticas relacionados com a telenovela; 2) a subjetividade, do sujeito que reelabora os conteúdos simbólicos da telenovela; 3) o gênero ficcional, como estratégia de comunicação e de reconhecimento cultural; 4) a videotécnica da televisão como modo de produção e dispositivos técnicos de teledramaturgia. (LOPES; BORELLI; RESENDE: 2002, p. 41)

Assim como as três pesquisadoras, Thomas Tufte (2000) também analisou o gênero em questão ao realizar sua etnografia de mídia, examinando sua trajetória e a forma como ele poderia estar conectado à cultura popular. Além disso, observou o dia-a-dia dos telespectadores, a rotina particular de cada um dos grupos analisados e o fluxo da mídia, com seus respectivos lugares de luta e de interação. Num trabalho de campo extenso, Tufte pôde separar os dados coletados em sete grupos: 1) entrevistas com sete diferentes representantes de produção de telenovelas; 2) visitas à Rede Globo e entrevistas com representantes de diferentes estágios do processo de produção; 3) identificação e coleção de textos de mídia secundária; 4) gravação de 12 capítulos da novela ; 5) observação participante em três áreas de baixa-renda no Brasil; 6) levantamento quantitativo de informações com 105 pessoas, de duas áreas analisadas; e 7) treze entrevistas qualitativas com mulheres de 13 a 63 anos. As treze entrevistas qualitativas foram realizadas na casa de treze mulheres, onde Tufte esteve duas vezes. Em cada uma destas casas, ele passou tempo suficiente para conhecer os parentes, vizinhos e amigos de cada família. Esta observação participante, inclusive durante a transmissão da telenovela, permitiu que o pesquisador visualizasse sob quais condições socioeconômicas viviam estas pessoas, como elas organizavam seu tempo e qual uso social faziam da televisão. Apesar de considerar a observação participante como um procedimento central na busca do conhecimento etnográfico, Tufte critica o perigo do método de objetivar o campo de interesse da pesquisa. “O dilema é expresso no próprio conceito, contendo o desejo de observar e ao mesmo tempo participar da prática social. O método implica a intenção de não atrapalhar as práticas culturais.” (TUFTE: 2000, p.41. Tradução nossa)1 O levantamento quantitativo da pesquisa foi realizado em duas áreas urbanas do país, com 105 mulheres: 49 na Vila Nitro Operária, em São Paulo, e 56 em Calabar, em Salvador.

1 Texto original: “The dilemma is expressed in the concept itself, containing the wish both to observe and simultaneously participate in a social practice. The method implies the intention of not disturbing the cultural practices.”

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Esta parte da pesquisa investigou as três principais áreas de interesse. A primeira tratava das condições de vida das mulheres entrevistadas, incluindo seu estado civil, a renda familiar e o número de filhos. A segunda parte investigou o hábito de assistir televisão de cada uma delas, dos horários que se dedicavam a esta atividade, qual era a emissora preferida etc. A terceira parte tratava dos outros hábitos de mídia das entrevistadas, incluindo o rádio e a mídia impressa. Para a realização da etnografia de mídia, Tufte escolheu áreas urbanas de baixa-renda, com diferenças regionais entre elas. Se, de um lado, o levantamento quantitativo ocorreu apenas em São Paulo e em Salvador, a entrevista qualitativa foi executada também em Canoas, Rio Grande do Sul. Observa-se, portanto, que apesar dos trabalhos citados anteriormente se enquadrarem no grupo de pesquisa de abordagem qualitativa, dois destes trabalhos (LOPES, BORELLI, RESENDE, 2002; TUFTE, 2000) empregam técnicas de pesquisa quantitativas. Isso, no entanto, não os descaracteriza como etnografias de recepção. Observa-se que outras diferenças se estabelecem, por exemplo, entre o tipo de etnografia realizada por Almeida (2003), e pela etnografia de mídia realizada por Thomas Tufte (2000). Elas se referem principalmente à abrangência da investigação. Apesar dos dois pesquisadores terem realizado a observação participante, esta técnica teve mais relevância na pesquisa de Almeida, totalmente baseada no trabalho de campo. Tufte, por outro lado, ocupou-se mais da investigação de como os telespectadores apropriavam-se da mídia, incluindo os hábitos de consumo das mensagens oriundas não apenas da televisão, mas também do rádio e da mídia impressa. Através das palavras de Fabrício Silveira (2006: p.26), verifica-se que Roger Silverstone classifica a etnografia de mídia como aquela que “estudaria as estruturas e os processos através dos quais os meios de comunicação de massa se inserem, se acomodam, sustentam ou reproduzem a vida social e cultural”. Silveira completa:

Nesse sentido, assume-se que a opção pela etnografia não é meramente uma questão de método; do mesmo modo, a opção pela recepção é a opção pelo ‘mundo vivido’ do receptor como objeto de estudo e como lugar privilegiado para o entendimento global do processo/fluxo comunicacional. (SILVEIRA: 2006, p.26)

Chama-se a atenção para aquilo que este pesquisador chama de “fronteiras disciplinares” (2006: p.26), ou seja, do ponto até onde se limita a antropologia, chamada por ele como disciplina-mãe do método etnográfico, e a comunicação. “A intersecção de ambas

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parece estar se dando, hoje, em duas direções: na captura/incorporação, pela primeira, do ‘objeto’ constituído (ou em vias de constituição) pela segunda, e na captura, pela segunda, do método constituído pela primeira”, explica Silveira. Pode-se afirmar que os trabalhos de Heloísa Buarque de Almeida e de Ondina Fachel Leal situam-se, portanto, no primeiro caso. Tratam-se de pesquisas antropológicas que se apropriam de um gênero comunicacional como objeto de estudos. Já a investigação de Lopes, Borelli e Resende e aquela de Tufte são pesquisas da comunicação que utilizam um método de pesquisa originário da antropologia.

Group discussion

Pergentino Mendes de Almeida define os groups discussion ou grupos de discussão como “uma investigação não-estruturada de um tema, usando-se pequenos grupos, com uma moderação basicamente não-dirigida” (1980: p. 02). Nele, o mediador deve interferir menos do que poderia interferir num grupo focal, por isso, ela pode se assemelhar, muitas vezes à entrevista em grupo. Carlos Eduardo Colina Salazar explica que os grupos de discussão se aplicam a casos que necessitem “captar as representações ideológicas, valores, normas, formações imaginárias e afetivas, etcétera, - vinculados ao tópico investigado – dominantes no estrato social ao qual os membros do grupo pertencem”. (1994, p.212. Tradução nossa) 2 Tem-se como exemplo de pesquisa que utilizou esta técnica no Brasil, o trabalho de Cláudia de Almeida Mogadouro (2005), que tentou descobrir as experiências sócio-culturais que os jovens de uma escola pública vivenciaram através dos meios de comunicação. Para isso, ela realizou grupos de discussão aliados à aplicação de questionários. Depois da aplicação de 669 questionários, a autora realizou os grupos de discussão com 25 alunos selecionados. Durante cinco semanas, eles foram divididos em pequenos grupos que se encontravam para falar sobre os principais temas da novela . Ao final, a pesquisadora reuniu todos eles numa discussão mais demorada. A princípio, ela relata que houve um constrangimento generalizado na discussão de temas mais polêmicos. No entanto, depois da terceira discussão em grupo, ela conseguiu extrair opiniões dos alunos a respeito de sexo e violência, por exemplo. Para estimular a discussão, ela transmitia trechos dos capítulos da novela que já haviam sido citados pelos estudantes. Ela comenta:

2 Texto original: “La discusión de grupo permite captar las representaciones ideológicas, valores, normas, formaciones imaginarias e afectivas, etcétera, - vinculados al tópico investigado – dominantes en el estrato social al que los miembros del grupo pertenecen”.

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As cenas exibidas foram fundamentais para que as discussões se desencadeassem. Ficou claro que o fato da novela ser um repertório conhecido e sobre o qual qualquer pessoa pode falar, contribuía para a desinibição. Os debates foram conduzidos pela pesquisadora de forma que, depois de se falar das personagens ou das cenas, os alunos também falassem sobre sua família e o modo como a novela era vista (com quem, com que freqüência etc). (MOGADOURO, 2005, p.13)

Grupos focais

Maria Eugênia Belczak Costa (2005, p.181) conceitua os grupos focais como “um tipo de pesquisa qualitativa que tem como objetivo perceber os aspectos valorativos e normativos que são referência para um grupo em particular”. Ela explica que se trata de uma entrevista coletiva, que busca a compreensão e não a generalização. Pesquisas qualitativas de estudos de audiência interessadas mais pela comparação entre a recepção de um mesmo produto em diversas culturas, em diferentes territórios geográficos, utilizaram os grupos focais como instrumento de pesquisa. Exemplo importante deste tipo de pesquisa foi realizado na década de 1970 por Liebes e Katz (1993), que observaram a recepção do seriado Dallas, que alcançou sucesso mundial. A perspectiva teórica dos usos e gratificações e a intenção de realizar uma investigação comparativa bastante extensa sugeriram o emprego de grupos focais e não de alguma variante da etnografia. Os pesquisadores explicam que o estudo analisou as diversas formas de leitura do seriado americano em seis diferentes comunidades culturais. Foram escolhidos sub-grupos específicos em Israel, sendo a maioria de imigrantes e não de israelenses: árabes, marroquinos judaicos, novos imigrantes vindos da Rússia e antigos trabalhadores de fazendas coletivas em Israel, os Kibutz. Foram analisados também grupos de telespectadores americanos, que seria originalmente a audiência de Dallas, e grupos de telespectadores japoneses em Tókio, lugar onde o seriado não obteve sucesso algum. O trabalho foi tão extenso que abrangeu a investigação de 66 grupos de aproximadamente seis pessoas cada, totalizando 400 entrevistados. Foram escolhidos casais de amigos ou de familiares com etnia, idade e educação semelhantes em cada grupo. Depois, confrontando os dados recolhidos de um grupo com os outros, realizou-se a comparação. A

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preferência por observar a etnia em vez da idade, sexo ou classe social devia-se ao objetivo de observar a exportação de significados para outras culturas.

Por que grupos? Escolhendo o método de entrevistas de grupos focais [...] nós estávamos, de fato, operacionalizando a hipótese de que um pequeno grupo de discussão seguindo a programação é a chave para entender o processo de mediação pelo qual um programa como este entra na sua cultura. [...] Os grupos focais obrigam os participaram a pensarem sobre e ficarem discutindo sobre o assunto de uma maneira que certamente não é natural. As habilidades de análise reveladas em algumas destas discussões estão, provavelmente, muito além do nível de discussão diária sobre televisão e provavelmente isto é inspirado pela seriedade em que a opinião dos participantes é solicitada. Os membros do grupo são convocados a falarem de forma generalizada sobre os temas, as mensagens e as características, bem como das funções dos programas para os telespectadores, em níveis de abstração que não são usuais nas conversas sobre a vida privada. Desta forma, os grupos focais foram como catalisadores para as expressões individuais de opiniões latentes, para a generalização do consenso grupal, para a livre associação da vida, e para a declaração analítica sobre arte. (LIEBES; KATZ: 1993, p.28. Tradução nossa)3

Além dos grupos focais, os investigadores aplicavam questionários a cada participante dos grupos focais, o que lhes permitia obter informações individuais e dados geralmente não obtidos na execução da técnica escolhida. Para a realização da pesquisa, foi necessária a contratação de uma equipe de apoio especializada, responsável pela organização de muitos dos grupos focais realizados. Só assim, foi possível a comparação entre os grupos de telespectadores de Dallas.

Entrevista

Com a proposta de investigar a leitura da telenovela Que Rei Sou eu?, Marília Sluyter- Beltrão foi a campo entre julho e agosto de 1989 e realizou entrevistas com moradores da comunidade de Sapé, na Paraíba. As entrevistas particulares foram importantes para

3 Texto original: “Why groups? By choosing the method of focus-group interviews […] we were, in effect, operationalizing the assumption that the small-group discussion following the broadcast is a key to understading the mediating process via wich a program such as this enters into the culture. […] Focus groups impel participants to think about and stay with the subject being discussed in a way wich is surely not natural. The analytic abilities revealed in some of these discussions is probably far beyond the level of every-day discussion of television and is probably inspired by the seriousness with wich participant’s opinions are solicited. Group members were asked to generalize about themes, messages, and characters, as well as about the functions of such programs for the viewer, at levels of abstraction which are unusual in gossip. Thus, the focus group was a catalyst for the individual expression of latent opinion, for the generation of group consensus, for free- associating to life, and for analytic statements about art.”

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confrontar as identificações individuais com as experiências coletivas. Ao todo, a pesquisadora entrevistou nove pessoas, de ambos os sexos, com idade variando entre 17 e 57 anos. “Eu procedi dando atenção ao processo de identificação dos entrevistados enquanto indivíduos em relação aos personagens da telenovela, bem como através da experiência coletiva deles em relação a Sapé e à sociedade brasileira como um todo”, explica. (SLUYTER-BELTRÃO: 1993, p.64. Tradução nossa)4. Ao contrário das pesquisas analisadas anteriormente, observa-se neste caso, que a unidade familiar não foi decisiva enquanto elemento a ser observado. Justamente por isso, não foram exigidos laços familiares entre os entrevistados. Sluyter-Beltrão demonstra que, na comparação entre o país retratado na telenovela Que Rei Sou Eu? e o Brasil, os entrevistados utilizam bagagem cultural e experiências prévias individuais e coletivas. E, apesar dela não deixar claro qual o tipo de entrevista utilizou, demonstra que a técnica foi necessária para extravasar a visão comum dos moradores de Sapé e chegar às conclusões sobre a experiência de cada entrevistado. Partindo de uma tradição latino-americana em sua análise, Gladis Toniazzo faz uma pesquisa da recepção da Telenovela Terra Nostra numa tribo de índios terena. Seu objetivo principal é analisar a influência exercida pela televisão na vida destes indígenas, habitantes da aldeia urbana “Marçal de Souza”, localizada em Campo Grande. Para realizar tal análise, ela elaborou uma metodologia que consistiu na observação não-participante em visitas semanais regulares e entrevistas semi-estruturadas. Ela explica: “A metodologia é a da recepção que procura entender o papel da televisão no cotidiano da aldeia indígena urbana e sua influência na construção do imaginário dos seus moradores”. As técnicas utilizadas para este trabalho de campo são de caráter qualitativo. Toniazzo classifica seu trabalho como um estudo de caso, em que foram selecionados 10 indivíduos com características típicas que pudessem contribuir para seus objetivos e que fossem telespectadores da telenovela Terra Nostra. Com estes moradores da aldeia, ela realizou entrevistas semi-estruturadas, utilizando recursos da história oral e observando-os durante o momento da recepção do gênero. Paralelo a isto, Linhares fez uma observação direta intensiva, visitando a tribo duas ou três vezes na semana. A pesquisadora não faz menções em relação ao uso de etnografia, deixando a sensação de que as entrevistas tiveram mais ênfase do que a própria observação realizada no campo.

4 Texto original: “I proceed by focusing on the processo f identification of the interviewees as individuals in relation to telenovela characters, as well as via their collective experiene [sic] in relation to Sapé and to Brazilian society as a whole.”

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Escolhas feitas

A escolha de uma técnica de pesquisa entre tantas opções oferecidas pela metodologia qualitativa partiu de algumas considerações: 1) o propósito da investigação; 2) o tempo disponível para o trabalho de campo; 3) as características sócio-culturais do pesquisador versus as características dos entrevistados; 4) os recursos financeiros e de profissionais especializados para a realização da técnica. Ora, o propósito de realizar uma análise da recepção de telenovelas entre telespectadores distantes geográfica e culturalmente, trouxe consigo a observação de que esta pesquisa, de caráter exploratório, pretendia conhecer mais o assunto discutido na perspectiva do consumidor do que conhecer profundamente seu comportamento ou o ambiente em que vive. Partindo deste aspecto, recusou-se a etnografia enquanto instrumento metodológico. A segunda observação faz referência ao caráter exploratório da pesquisa, o que recusaria qualquer análise de dados quantitativos ou a realização de um grande número de grupos focais ou de grupos de discussão. O segundo aspecto a ser considerado refere-se ao tempo disponível para a realização da pesquisa. Deve-se levar em conta que a pesquisa demandou um tempo dedicado não apenas ao encontro da amostra a ser analisada, mas também do conhecimento do campo a ser estudado. Por se tratar de uma dissertação de mestrado, tem-se um espaço de tempo mais limitado do que as pesquisas realizadas no doutoramento. Isso determinou a utilização de um método cuja aplicabilidade se mostrasse igualmente prática e eficiente. Excluiu-se, portanto, a etnografia como uma possível técnica a ser empregada. Como explica Travancas (2005, p.100), a etnografia “exige um ‘mergulho’ do pesquisador, ou seja, não é um tipo de pesquisa que pode ser realizada em um período muito curto e sem preparo”. Somado a isto, um dos fatores que mais pesou na escolha da técnica foi o fato de que as diferenças culturais entre a pesquisadora e os entrevistados poderiam causar uma artificialidade nos resultados. O risco da desconfiança, da dificuldade de comunicação e da superficialidade dos resultados deveria ser superado pelo uso de uma técnica que proporcionasse empatia entre os interlocutores e aprofundamento dos dados procurados. A quarta observação na escolha da técnica está, de certa forma, ligada também ao fator temporalidade. O alto custo de técnicas que demandassem mais tempo na coleta de dados e na análise das informações obtidas apresentar-se-ia como entrave para a realização do trabalho de campo.

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Tendo este trabalho o objetivo de analisar os usos e as gratificações dos telespectadores bolivianos, pensou-se, a princípio, na realização de grupos focais ou de grupos de discussão. Esta proposta estaria inspirada na pesquisa realizada por Liebes e Katz (1993) em território israelense, estadounidense e japonês. No entanto, diante de todas as considerações citadas acima, observou-se que esta escolha traria consigo algumas dificuldades de aplicação e de se chegar ao resultado esperado. Ruótolo (1996) explica que os grupos de discussão são aplicáveis em pesquisas de cunho exploratório ou clínico. No caso desta pesquisa, de característica exploratória, esta técnica poderia ser aplicada em campo, não fossem as desvantagens observadas na relação dos aspectos analisados anteriormente. Uma delas refere-se ao fato de que a pesquisa seria realizada em território estrangeiro, o que causaria dificuldade na interlocução entre o entrevistador e os entrevistados. A diferença idiomática, cultural e social poderia fazer com que a presença de uma pesquisadora estranha agravasse pontos considerados negativos nos grupos de discussão: a artificialidade e a superficialidade. Normalmente, isto já ocorre no desenvolvimento da técnica, visto que as pessoas são observadas por terceiros enquanto fazem comentários, demonstram reações ou fazem declarações. Dependendo do assunto discutido, a exposição de opiniões preconceituosas, de revelações íntimas ou de idéias polêmicas pode dar lugar à racionalização nas falas dos interlocutores. Sobre este aspecto, Pergentino Almeida (s/d) faz o seguinte comentário:

Vamos admitir os fatos: as pessoas mentem e mudam seu comportamento verbal, em discussões em grupo, eliminando qualquer sentido a uma contagem de opiniões. Mais que isso, as pessoas podem mentir de quatro diferentes maneiras, durante uma discussão: contando uma mentira (conscientemente ou não); apresentando meias-verdades; omitindo suas verdadeiras opiniões e atitudes; ou através de qualquer combinação desses pecadilhos, os quais, juntos, vão levar o analista ingênuo a uma grande mentira. A coisa mais importante para qualquer pessoa, participando de um grupo desconhecido, é obter proteção contra uma possível agressão do grupo, através de sua contribuição para a estabilidade do grupo. Alguma originalidade e individualidade são espontaneamente abandonadas em troca da aceitação do grupo, especificamente naqueles aspectos aos quais o indivíduo imagina que o grupo atribui maior valor. (ALMEIDA: s/d, p.02)

Nota-se, ainda, que a técnica é ineficiente no estudo de grupos de baixa escolaridade ou com dificuldade de verbalizar os sentimentos. Nestes casos, Ruótolo indica a realização de entrevistas em profundidade, também conhecidas como entrevistas qualitativas. Esta técnica

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oferece a vantagem do indivíduo entrevistado estar sozinho e poder se expressar num ambiente em que se sinta seguro e não competitivo, sem a influência da resposta de terceiros. Estas características da discussão em grupo e dos grupos focais exigiriam experiência do mediador na aplicação da técnica e a contribuição de outras pessoas na coleta de dados (gravação, anotações e observação dos entrevistados). Como demonstra Almeida, um mediador deve ser experiente o bastante para prestar atenção à dinâmica do grupo, às opiniões individuais manifestas, às atitudes não verbais, aos processos de bloqueio, ao fluxo e ao nível do debate. Tudo isso poderia tornar a pesquisa ainda mais dispendiosa e demorada. Ruótolo (1996: p.05) chega a sugerir técnicas de estimulação para superar esta racionalização de sentimentos e de comportamentos, mas também considera altos os custos financeiros e metodológicos da discussão em grupo. Para evitar tais problemas, sugere novamente a realização de entrevistas qualitativas ou em profundidade. Com esta técnica, explica Ruótolo, “o pesquisador ganha maior profundidade, sem ter que recorrer a jogos de difícil interpretação. Os significados emergem do próprio entrevistado.” (1996: p.05) Outro empecilho que se apresentou diante da possibilidade de se realizar uma discussão em grupo em território estrangeiro é a dificuldade de se aplicar a técnica em lugar apropriado e de deslocar os entrevistados até este local. Como explica Ruótolo, estas dificuldades ganham mais proporção nos grandes centros urbanos, diante da violência urbana e do precário sistema de transportes. Confrontando novamente a técnica de grupos de discussão com a entrevista qualitativa, observou-se que a segunda seria mais apropriada no levantamento dos dados. Esta entrevista oferece facilidade na seleção dos entrevistados, sendo que a técnica pode ser aplicada em qualquer lugar, dependendo da conveniência dos interlocutores. Esta flexibilidade da entrevista qualitativa permite, inclusive, a realização de outros encontros com o mesmo entrevistado, para obtenção de informações importantes que possam, eventualmente, terem sido deixadas de lado anteriormente. Ruótolo (1996: p.04) acrescenta que a entrevista em profundidade é ideal para conhecer plenamente o assunto estudado através da perspectiva do entrevistado. Ele argumenta: “O pressuposto da entrevista qualitativa é o da empatia. É do envolvimento livre e não-diretivo do pesquisador com o entrevistado no sentido de conhecer as raízes e significados de suas opiniões, crenças e comportamentos que surgem as informações”. Se, por um lado, a entrevista qualitativa proporciona este aprofundamento, ela impede qualquer tipo de padronização na organização dos resultados. Goode e Hatt (1977: p.239) explicam que este foi o motivo do desuso desta técnica por algum tempo. Mas por outro lado,

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lembram que através do desenvolvimento de formulários ou da aplicação de outras técnicas, não era possível obter tanta profundidade nos resultados. Por isso, eles argumentam:

Há um movimento a favor das entrevistas qualitativas através do uso do roteiro de entrevista , que exige certos itens de informação sobre cada informante, mas permite ao entrevistador reformular a questão para adequá-la à compreensão do momento. Isto permite ao entrevistador expressar a questão de tal maneira que o informante pode entendê-la mais facilmente. Quando a ocasião exigir, o entrevistador pode descer mais profundamente. Isto permite uma informação mais adequada das respostas para cada questão. Além disso, o desenvolvimento da análise de conteúdo e o código qualitativo permitem uma padronização das respostas não de tipo “sim-não”. Assim, uma das objeções básicas às entrevistas qualitativas foi parcialmente removida. (GOODE; HATT: 1977, p.239)

Diante destas observações, constatou-se que a técnica de pesquisa ideal na aplicação deste trabalho seria a entrevista em profundidade. Fatores como a fácil aplicabilidade, os resultados mais aprofundados e a análise simplificada, foram decisivos nesta escolha.

Entrevista em profundidade

Todo e qualquer tipo de entrevista pode ser definido como um processo de interação social entre duas ou mais pessoas, através do qual se deseja obter algum tipo de informação. (GOODE; HATT: 1977, p.240; HAGUETTE: 2001, p.86). As principais diferenças entre um tipo de entrevista e outro se referem principalmente à forma de captação dos dados, ou seja, pelo uso ou não de roteiros, pelo grau de liberdade dos envolvidos na execução da técnica e pela forma como as perguntas são feitas. Jorge Duarte assim define a entrevista em profundidade ou qualitativa:

Técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada. Entre as principais qualidades dessa abordagem está a flexibilidade de permitir ao informante definir os termos da resposta e ao entrevistador ajustar livremente as perguntas. Este tipo de entrevista procura intensidade nas respostas, não-quantificação ou representação estatística. (2005: p.62)

Selltiz et al (1974, p.294), que separam as entrevistas entre padronizadas e menos sistemáticas, classificam a entrevista qualitativa como entrevista menos sistemática. Nesta abordagem, encontram entrevistas focalizadas, entrevistas clínicas, entrevistas profundas e entrevistas não-diretivas, diferenciando cada uma delas. Atribuem a flexibilidade como

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principal característica da entrevista menos sistemática, considerando que isto contribui para revelar aspectos afetivos nas respostas dos entrevistados. De fato, as entrevistas qualitativas buscam elementos para compreender situações que envolvem o universo íntimo do entrevistado, para explorar fenômenos pouco conhecidos e para descrever processos complexos. Por isto, o ideal é que ela seja aplicada com apenas um entrevistado de cada vez. Duarte (2005: p.64) divide a entrevista em profundidade em dois tipos: as abertas e as semi-abertas. “As primeiras são realizadas a partir de um tema central, uma entrevista sem itinerário, enquanto as semi-abertas partem de um roteiro-base”, explica. Por outro lado, Guion (2006: p.01) estipula regras para a execução da entrevista qualitativa que já incluem um formato semi-estruturado à seqüência de perguntas. Apesar da liberdade que a autora confere à técnica, de deixar que novas questões surjam durante a entrevista, ela sugere uma lista de questões pré-formuladas. Pelo fato das entrevistas abertas não proporcionarem nenhum padrão de respostas, elas podem apresentar o risco de se perder o foco, ou seja, da entrevista tornar-se uma conversa longa, mas pouco aproveitável para efeitos de investigação científica. Duarte (2005: p.65) afirma que esta técnica oferece vantagens para aqueles pesquisadores que têm como ponto de partida questões amplas, que ainda fazem sondagem para formulação de roteiros ou de questionários. No entanto, reconhece que “a capacidade de aprofundar as questões a partir das respostas torna este tipo de entrevista muito rico em descobertas” (2005: p.65). Aqui, optou-se pela aplicação das entrevistas semi-abertas. A grande vantagem desta técnica é que ela une a flexibilidade da entrevista aberta com a organização de um roteiro, o que ajuda o pesquisador a não perder o foco da pesquisa. Ou seja: ele deve seguir aquela lista de questões pré-definidas, mas pode alterá-las de acordo com a necessidade, criando novas perguntas e aprofundando mais em certas questões caso considere interessante. Portanto, o estímulo para novas discussões deve partir mais do entrevistador do que do entrevistado. O que não se pretende, aqui, é obter um padrão de respostas como nas entrevistas quantitativas, em que o pesquisador não pode criar novas questões, preso ao questionário. “A lista de questões-chaves pode ser adaptada e alterada no decorrer das entrevistas. Uma questão pode ser dividida em duas e outras duas podem ser reunidas em uma só, por exemplo”, explica Duarte (2005: p.66). Definida a amostra de telespectadores a serem entrevistados, partiu-se para o campo com todas as questões que a pesquisa pretendia investigar. Ander-Egg (1969, p.112) explica que o primeiro passo a ser tomado pelo pesquisador é o de fazer um primeiro contato com as

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pessoas selecionadas para a amostra. Este é um momento importante, em que se explicam os objetivos da entrevista e no qual se pode criar, de antemão, uma relação de confiança, cordialidade e simpatia entre o entrevistador e o entrevistado. Esta relação positiva é chamada pelos pesquisadores de Rapport (ANDER-EGG, 1969, p.114; GOODE, 1977, p.245) Nesta primeira conversa, deve-se escolher o momento e o local mais apropriado para realizar a entrevista, verificando a disponibilidade de tempo dos entrevistados. Além disso, é importante que o pesquisador conheça previamente o campo e faça contato com os líderes da comunidade ou do grupo investigado. (ANDER-EGG, 1969, p.112; DUARTE, 2005, p.71). Desta maneira, depois do contato inicial, foram definidas questões como o local a realizar a entrevista e horários mais convenientes para cada entrevistado. Explicou-se o objetivo da pesquisa para estabelecer essa relação de confiança e a necessidade de cada membro da família de preencher o questionário com informações sócio-econômicas e questões sobre a recepção da telenovela. O momento seguinte foi o da entrevista propriamente dita. Guion (2006, p.02) chama a atenção para a necessidade de se levar um guia da entrevista, de forma que isto facilite na organização do pensamento e das questões que deverão ser exploradas. De início, Duarte (2005, p.72) aconselha que o entrevistador obtenha as informações básicas sobre seu entrevistado, como idade, emprego, formação, etc. Em seguida, o pesquisador deve fazer um relato sobre seu trabalho, traçando os principais objetivos que pretende alcançar com a entrevista. A primeira pergunta deve ser ampla e deve indicar o tema geral da pesquisa (DUARTE, 2002, p.72). As questões seguintes devem incentivar a fala e a reflexão do entrevistado, sendo interrompida pelo entrevistador sempre que for necessária uma provocação ou uma nova pergunta. Assim Duarte descreve o procedimento:

O pesquisador faz a primeira pergunta e explora ao máximo cada resposta até esgotar a questão. Somente então passa para a segunda pergunta. Cada questão é aprofundada a partir da resposta do entrevistado, como um funil, no qual perguntas gerais vão dando origem a específicas. O roteiro exige poucas questões, mas suficientemente amplas para serem discutidas em profundidade sem que haja interferências entre elas ou redundâncias. A entrevista é conduzida, em grande medida, pelo entrevistado, valorizando seu conhecimento, mas ajustada ao roteiro do pesquisador. (DUARTE: 2005, p.66)

Guion (2006, p.03) atribui ao pesquisador três características indispensáveis na realização de uma entrevista em profundidade: ele deve saber escutar atentamente, ser

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paciente e ter flexibilidade para alterar a entrevista quando for preciso. Thiollent (1985) também considera necessária esta capacidade do entrevistador de observar não só o conteúdo do diálogo, mas também o comportamento do informante. Para ele, características como idade, sexo, educação e raça podem interferir na percepção, atitude e expectativas do outro. Somado a isto, como demonstra Ander-Egg (1969: p.120), a ausência de segredo nas entrevistas podem resultar em situações em que o entrevistado não dá uma resposta sincera ao entrevistador.

Os efeitos da interação entre os dois personagens não se limitam ao conteúdo explícito da fala. Também foram incorporados, à luz da metodologia da entrevista clínica, os elementos não-verbais do comportamento: silêncios, mímicas, hesitações, etc. Além disso, a influência das diferenças psicossociais entre entrevistador e entrevistado foi equacionada como condicio namento não-verbal da resposta. (THIOLLENT: 1985, p.82)

Estas emoções não verbalizadas, Goode (1977, p. 241) chama de indícios sublimiares. Ele sugere que o entrevistador desenvolva a prontidão de lê-los, comparando com as observações de outras pessoas e verificando se os resultados destes indícios estão corretos. Dois instrumentos de coleta de dados possibilitaram a revisão de todas estas informações e foram aplicados durante as entrevistas em profundidade: as anotações e a gravação em áudio. As anotações ajudam o pesquisador a revisar aspectos que ele julgou relevantes durante a realização da técnica, especialmente aquelas informações que não foram verbalizadas pelo interlocutor. Por sua vez, as gravações em áudio permitem o registro literal de toda a entrevista, o que oferece mais segurança para o pesquisador. “Ouvir a transcrição ajuda o entrevistador a perceber nuances, detalhes e questões que o ajudarão nas novas entrevistas, até mesmo na correção de seus próprios erros de condução”, explica Duarte (2005, p.77). As anotações e as gravações foram feitas de forma discreta, para que o entrevistado não se inibisse. O último passo referente à entrevista qualitativa que o pesquisador deve tomar é a transcrição das entrevistas gravadas. Por isso, terminadas as entrevistas realizadas na Bolívia, as gravações foram transcritas imediatamente. Só assim, lembra Duarte, o ambiente e as respostas estarão vivas na memória. Além disso, “o próprio pesquisador deve fazer a transcrição. É uma oportunidade de aprender com a própria entrevista, identificar aspectos que não ficaram registrados, começar a estruturar o trabalho” (2005,p.77).

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Observação não- participante

Na tentativa de compreender melhor o universo no qual os telespectadores assistem as telenovelas, propôs-se a realização de uma observação não-participante, ainda que não fosse uma observação freqüente e sistemática. Para realizar tal observação, seriam escolhidas famílias bolivianas que se diferenciassem pelo nível educacional e sócio-econômico de seus membros e que fossem telespectadoras da telenovela Belíssima, da Rede Globo, que estava sendo exibida por um canal local. A partir da escolha destas famílias, seriam feitas visitas irregulares que ocorreriam de acordo com a necessidade de se observar cada uma delas. Na ocasião destas visitas, seriam aplicados os questionários para auxiliar na investigação e na escolha posterior de um dos membros para serem entrevistados individualmente. Apesar de a observação não-participante ser utilizada freqüentemente como instrumento de pesquisa nas etnografias e etnografias de mídia, nesta investigação científica não havia o propósito de se realizar qualquer tipo de etnografia. Isto se justifica pelo pouco tempo disponível para o trabalho de campo. E, como já foi comentado, a etnografia exige tempo e dedicação do pesquisador por, no mínimo seis meses. No entanto, durante o trabalho de campo, observou-se uma forte resistência dos entrevistados em conceder a entrevista e, especialmente, em permitir que este procedimento fosse realizado dentro de suas casas. A maioria dos entrevistados escolheu locais públicos – praça, local de trabalho, o lado de fora da casa e sacristia da igreja - para conceder a entrevista, impondo dificuldades para a visita às suas casas. Além disso, a telenovela da Rede Globo que estava sendo exibida naquele período, era transmitida às 21 horas. A transmissão tardia e o frio intenso do inverno faziam com que a maioria dos telespectadores tivesse uma audiência isolada. Alegaram, com freqüência, que assistiam às telenovelas na cama, com roupas de dormir. Todos estes fatores impossibilitaram a realização de uma observação não- participante durante o trabalho de campo e a aplicação do questionário pessoalmente aos outros membros de cada família.

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Questionário

Antonio Carlos Gil (2006, p.128) define o questionário como “a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas”. Com a aplicação do questionário, este trabalho não objetivou nenhuma representatividade estatística. Esta técnica foi empregada apenas como instrumento de apoio à pesquisa qualitativa, na busca de informações sobre a amostra que não poderiam ser obtidas através das entrevistas em profundidade. Ele foi preenchido por todos os membros das famílias analisadas. O questionário investigou questões sobre os aspectos sócio-econômicos dos entrevistados, incluindo dados sobre gênero, faixa-etária, nível de escolaridade e hábitos de audiência daqueles que compõem a família analisada. Com esta medida, pretendeu-se ter mais garantia de se conseguir informações importantes, de forma que elas oferecessem mais confiança nos dados apresentados pelo entrevistado durante a entrevista qualitativa. Selltiz et al (1974, p.268) explicam que o questionário é um processo pouco dispendioso, de fácil aplicação pelo pesquisador. Ele exige menos habilidade daquele que o aplica, menos explicações, menos tempo e oferece respostas mais padronizadas. Estas características da técnica motivaram seu uso nesta investigação, que dedicou-se com mais afinco aos resultados obtidos através das entrevistas em profundidade. Este mesmo procedimento, de aplicar o questionário paralelamente à outra técnica, também foi realizado por Liebes e Katz (1993). Em sua pesquisa em território israelense, japonês e estadounidense, os pesquisadores aplicaram questionários para obter outros tipos informações dos participantes dos grupos focais, sem a intenção de obter resultados quantitativamente confiáveis. Os 37 questionários aplicados seguiram o mesmo padrão, ou seja, as perguntas foram apresentadas da mesma forma para todos os entrevistados. Selltiz et al (1974, p.286) explicam que a finalidade de se aplicar um questionário padronizado é de “assegurar que todas as pessoas entrevistadas respondam à mesma pergunta”, pois eles consideram que a ordem das perguntas pode influenciar a resposta dos entrevistados.

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Amostra

Um dos passos fundamentais do trabalho de campo é a escolha da amostra, pois é através dela que são obtidas as respostas para as questões propostas nos objetivos do trabalho. E, ao contrário das pesquisas quantitativas, o que importa na abordagem qualitativa não é a representatividade no número de entrevistados, e sim as características de cada um deles. Por isso, uma amostra bem escolhida é o segredo do sucesso numa pesquisa bem realizada. Como explica Goode (1977,p.269), a amostra é a menor representação de um todo maior e, através de sua seleção, é possível encontrarmos a resposta para a pesquisa dispondo de menos tempo e menos dinheiro. Além do mais, como explica Gil (2006, p.99), o universo que as pesquisas sociais abrange é tão grande, que seria impossível observá-lo em sua totalidade. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, este trabalho foi baseado na análise de uma amostra não-probabilística, ou seja, que não permite a aplicação de fórmulas estatísticas. As principais vantagens que residem neste tipo de amostra são a conveniência e a economia de tempo e de dinheiro (SELLTIZ et al, 1974, p.578; GIL, 2006,p.101). Somado a isto, como afirmam Selltiz et al (1974, p.271), as entrevistas qualitativas atingem uma amostra melhor do que a população geral, pois neste tipo de caso, as pessoas têm mais disposição para ajudar a responder ao propósito da pesquisa.

A amostra, em entrevistas em profundidade, não tem seu significado mais usual, o de representatividade estatística de determinado universo. Está mais ligada à significação e à capacidade que as fontes têm de dar informações confiáveis e relevantes sobre o tema de pesquisa. Boa parte da validade a pesquisa está associada à seleção. É possível, entrevistando pequeno número de pessoas, adequadamente selecionadas, fazer um relato bastante consistente sobre um tema bem definido. [...] É importante obter informações que possam dar visões e relatos diversificados sobre os mesmos fatos. Pessoas com papéis sociais diferentes, recém-chegadas ou que tenham deixado a função recentemente, podem dar perspectivas e informações bastante úteis. (DUARTE, 2005, p.68-69)

No caso desta pesquisa, foi necessário em primeiro lugar, escolher entrevistados que sejam, necessariamente, telespectadores das telenovelas da Rede Globo. Apesar de não compartilharem outras tantas características, eles deviam ter este ponto em comum. Escolhe-se como tipo de amostragem, portanto, a amostragem classificada por Gil (2006, p.104) como amostragem por tipicidade ou intencional, em que se seleciona um subgrupo da população com base em informações disponíveis sobre ela, com a finalidade de

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representá-la. Duarte (2006, p.69) cita, inclusive, que as amostras por conveniência e intencionais são as únicas possíveis para a realização de entrevistas em profundidade. Selltiz et al explicam que as amostras intencionais têm por princípio a escolha pelo próprio pesquisador dos casos que devem aparecer na amostra. Ou seja: supõe-se que determinadas pessoas apresentam a tipicidade necessária para representar um universo maior. Selltiz et al afirmam que “uma estratégia comum da amostragem intencional é escolher casos julgados como típicos da população em que estamos interessados, supondo-se que os erros de julgamento na seleção tenderão a contrabalançar-se” (1974,p.584). Observa-se, portanto, que apesar de Selltiz et al não diferenciarem os dois tipos de amostragem, sua classificação do que seria a amostragem intencional se aproxima daquela descrita por Gil como amostragem por tipicidade ou intencional. Marconi e Lakatos, por sua vez, são os únicos a descreverem a amostragem por tipicidade de forma que lhe dê certa autonomia da amostragem intencional. Como amostragem intencional entendem aquela busca uma amostra representativa. “Uma das formas é a procura de um subgrupo que seja típico, em relação à população como um todo”, explicam (2002, p.53). Optou-se pela abordagem de Gil, que se baseia, de alguma forma, na idéia de que uma amostra por tipicidade é implicitamente uma amostra intencional. Foram escolhidos quatorze telespectadores da cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, para a realização das entrevistas em profundidade. A cidade de Santa Cruz foi escolhida pelo fato de ter sido observada previamente, tendo-se notado que os telespectadores desta região boliviana têm por costume assistir às telenovelas brasileiras. O fato de se conhecer a cidade e de se ter a facilidade de fazer contatos com pessoas para a composição da amostra, foi decisivo nesta escolha. Santa Cruz de la Sierra caracteriza-se pelo desenvolvimento econômico mais acelerado que das outras cidades do país e pela influência sofrida pela cultura brasileira, causada pela presença maciça de brasileiros nesta região, pela proximidade territorial e pelo consumo da música e das telenovelas brasileiras. Os entrevistados foram escolhidos a partir de suas características, de acordo com o público telespectador destas telenovelas descrito pelos diretores das emissoras bolivianas. Uma das principais distinções relatadas entre o público telespectador das telenovelas brasileiras e das telenovelas mexicanas exibidas nas emissoras do país refere-se ao nível social. De acordo com Carlos Novaro, diretor de programação da Unitel, e Marco Tapia Peña, diretor comercial da Red Uno, as telenovelas brasileiras são assistidas por telespectadores da classe média e média alta, enquanto as telenovelas mexicanas são assistidas por telespectadores das classes mais baixas. Eles informaram também que há bastante equilíbrio

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na proporção do público telespectador feminino e masculino. Isto foi observado no trabalho de campo e refletiu na amostragem, pois os homens apresentaram mais disponibilidade para darem entrevistas e demonstraram mais interesse a respeito da temática a ser discutida. Escolheu-se, portanto, uma amostragem baseada nestes dados. Foram escolhidos 14 telespectadores dos sexos masculino e feminino, com idades variando entre os 20 e os 76 anos.

Fontes Utilizadas

Além das fontes bibliográficas sobre a Bolívia, foram obtidos dados demográficos, econômicos, sociais, educativos e comunicacionais pela pesquisadora em sua visita ao Instituto Nacional de Estatística e também através do Anuário Estatístico, publicado pelo instituto. Os dados referentes aos municípios bolivianos relacionados ao IDH, IDHM e ao número de habitantes foram obtidos na Internet, em site do governo, o que permitiu fazer um ranking com os dez municípios mais desenvolvidos do país em relação a esses indicadores. Com o objetivo de se conseguir informações sobre o sistema televisivo boliviano, a programação e a presença da telenovela brasileira no país, foram realizadas e gravadas entrevistas com os profissionais das áreas comerciais e de programação das emissoras Unitel, Red Uno, Bolivisión, ATB e Megavisión, todas localizadas em Santa Cruz de la Sierra. Isso foi possível graças ao fato de todas as quatro principais redes comerciais terem sua sede nesta cidade, lugar escolhido para o trabalho de campo. Também foram realizadas visitas às principais Universidades de Santa Cruz: Universidad Evangélica Boliviana, Universidad Privada de Santa Cruz, Universidad Católica de Santa Cruz - Diakonía, Universidad Estatal René Moreno e Udabol. Nestas oportunidades, foram trocadas informações com os diretores dos cursos de comunicação e realizadas visitas às bibliotecas, onde eram recolhidas fontes bibliográficas. Além disso, foram obtidas informações por e-mail com o pesquisador Erick Torrico Villanueva, da Universidad Católica de La Paz, no mês de junho de 2007. Com relação aos dados sobre a exportação de telenovelas pela Rede Globo, buscou-se um contato com a emissora através da Globo Universidade, para a atualização dos dados existentes. Não foi possível entrevistar pessoalmente e nem por e-mail os responsáveis pela direção de negócios internacionais, de forma que os dados foram obtidos através de respostas às perguntas mais importantes, enviadas por e-mail à emissora e respondidas pelo setor

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responsável. Foi realizado, então, um segundo contato com este setor da emissora, pedindo-se, por exemplo, a lista de produtos exportados para a Bolívia. No entanto, este dado, assim como os outros, não foi enviado pela emissora, que alegou que são informações confidenciais e que não poderiam ser publicadas.

Conclusões parciais

Após uma revisão bibliográfica sobre os métodos e técnicas das pesquisas sobre telenovela no Brasil, finalmente adentrou-se no universo metodológico desta pesquisa. Observando o problema proposto, chegou-se à conclusão de que esta seria uma pesquisa de caráter qualitativo, cujas técnicas utilizadas serviriam de apoio à descoberta do universo no qual está inserido o telespectador de telenovelas no território brasileiro e boliviano. Comparando as diversas modalidades de entrevista e de observação de campo, concluiu-se que seria mais apropriada a realização da entrevista qualitativa como principal instrumento de investigação. Recusou-se o uso de algumas técnicas naturalmente mais dispendiosas e. consequentemente, o emprego de grupos focais e de groups discussion. Mas, por outro lado, sentiu-se a necessidade de conhecer pessoalmente o universo do qual estes telespectadores fazem parte, justificando-se a aplicação de questionários. Ainda que a última técnica não fosse o principal instrumento de coleta de dados, julgou-se que as entrevistas qualitativas não seriam suficientes para apresentar à pesquisa informações sobre o momento da recepção da telenovela na família destes telespectadores. Fez parte da metodologia da pesquisa, portanto, a revisão bibliográfica do tema e a realização destas técnicas de pesquisa.

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CAPÍTULO II UM GÊNERO TRANSNACIONAL

Depois de um longo período de conquista e consolidação no mercado interno, emissoras e produtoras de televisão de toda América Latina se lançam no mercado mundial, tomando como exemplo as vitoriosas experiências da Rede Globo e da Televisa. Com a abertura de novos canais de TV por assinatura e, conseqüentemente, de demanda de novos produtos, emissoras venezuelanas, colombianas, e peruanas também assumem uma nova postura empresarial, voltada para o mercado externo através da venda de um de seus principais gêneros – a telenovela. Um conjunto de emissoras produtoras e exportadoras está formando uma “indústria da telenovela”, que atingiu uma dimensão internacional nas duas últimas décadas do século passado e na atual. Justamente por isso, pode-se considerar este gênero como um produto transnacional, uma vez que ele superou seus mercados locais e é consumido atualmente por um mercado marcadamente global, em que empresas de diferentes nacionalidades se unem para a realização de projetos comuns. Este processo vem sendo estudado por vários autores, entre os quais se destaca Daniel Mato (2001, p.3), que vai estabelecer uma diferença entre globalização e transnacionalização:

Chamo transnacionalização da indústria à dispersão e desenvolvimento de relações de produção e processos de trabalho entre unidades produtivas situadas em diferentes países. No caso desta indústria, este processo envolve atividades em várias capitais da América La tina e em algumas dos Estados Unidos (basicamente Miami), Europa e Ásia. Enquanto isso, chamo globalização do consumo da telenovela à marcada tendência de que os produtos desta indústria sejam consumidos a nível crescentemente planetário. (MATO, 2001, p.3. Tradução nossa)1.

Para esse autor, o forte crescimento neste movimento de transnacionalização é resultado da abertura de novos mercados na Ásia, Europa e Oriente Médio. Por outro lado, a

1 Texto original: “Llamo transnacionalización de la industria al despliegue y desarrollo de relaciones de producción y procesos de trabajo entre unidades productivas situadas en diferentes países. En el caso de esta industria este proceso involucra actividades en varias ciudades capitales de América Latina, y en unas pocas de Estados Unidos (básicamente Miami), Europa y Asia. En tanto, llamo globalización del consumo de la telenovela a la marcada tendencia a que los productos de esa industria se consuman a nivel crecientemente planetario”

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criação de escritórios no exterior, vai facilitar o comércio entre os países e as estratégias como a contratação de elencos multinacionais e co-produções com participação de empresas de países diferentes também vão colaborar para o crescimento desta transnacionalização. Antonio La Pastina (2004) e Joseph Straubhaar (2204) observam que houve uma mudança nos mercados consumidores de telenovela que antes eram lingüístico-culturais e agora são nitidamente globais. O gênero passou a ser aceito não apenas em países da América Latina, mas também em novos mercados. Mas, até que ponto esta transnacionalização poderia interferir nas características mais essenciais do gênero? Segundo Maria Immacolata Vassallo de Lopes (2004, p.18), a lógica do mercado mundial poderia estar neutralizando as “características de uma latino-americanidade” e fragilizando a integração sentimental dos países latino-americanos, estimulada anteriormente pela própria telenovela.

O processo de globalização, ao mesmo tempo em que confunde o campo de competência dos territórios-nações, introduz um elemento de fragilidade nas marcas de identidade cultural que neles se configuraram historicamente. A diferença cultural, enquanto corresponde a uma identidade histórica e geograficamente constituída, é submetida à tensão pela norma da competitividade introduzida no mercado de bens culturais e pela forte tendência da conquista de um público externo. A transgressão das fronteiras nacionais é também a transgressão de universos simbólicos.

Martín-Barbero (2004) também observa um duplo movimento em relação à globalização da telenovela. Segundo esse pesquisador, há uma globalização dos mercados, resultante em públicos “cada dia mais neutros, mais indiferentes” (2004, p.27). E, para ele, esta mesma tendência de contratação de profissionais multinacionais citada por Mato, pode reduzir a telenovela a um “receituário rentável de fórmulas de narrativas e de estereótipos folclóricos” (2004, p.27). Por outro lado, ele nota através do recente sucesso das telenovelas colombianas uma necessidade de reforçar as expressões culturais de um povo:

Será verdade que a globalização dos mercados significa a dissolução de toda a verdadeira diferença ou sua redução a receitas de folclorismos congelados? Ou esse mesmo mercado - como nos mostra o êxito internacional das telenovelas colombianas Café ou Betty, a feia – não está nos pedindo certos processos de inovação temática e expressiva que permita acrescentar às linguagens uma sensibilidade mundializada, a diversidade de narrativas e imaginários pelos quais passa a expressão cultural desses povos? (2004, p.27- 28)

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Nota-se, portanto, que houve uma mudança de postura empresarial por parte destas emissoras latino-americanas. Se anteriormente as telenovelas eram produzidas visando prioritariamente o público interno, atualmente existe uma dinâmica de comercialização voltada também para estes novos mercados consumidores. No entanto, como lembra Nora Mazziotti, “apesar de a venda internacional de telenovela ser o principal das exportações das empresas latino-americanas – por volta de 70%-80% de suas vendas internacionais-, os rendimentos mais altos provêm do mercado local.” (2004, p.388). Com isso, as empresas se vêm orientadas a competir não apenas pelo público local, mas também por uma fatia de um novo público telespectador que se forma, concorrendo com emissoras de outros países.

Contexto brasileiro

O Brasil e, especificamente, a Rede Globo têm sido responsáveis por altos índices de exportações de telenovelas da América Latina para outras partes do mundo. Numa pesquisa que analisa o processo de internacionalização da Rede Globo, Felipe Portes Rizzo Assunção observa que o gênero em questão contribuiu de forma substancial à conquista e liderança do mercado interno pela emissora (2006, p.75):

Esta contribuição, porém, não se restringiu a levar a emissora ao posto de líder de audiência, mas foi também determinante em sua internacionalização. [...] o grande motivador das exportações foi o domínio de um gênero próprio, a telenovela, que possuía boa aceitação interna, mercado potencial no exterior e que tinha como vantagem a formação de hábito no telespectador.

Conforme explica Márcia Perencin Tondato (1998, p.15) o processo de internacionalização se intensificou a partir de 1985 com a compra do controle acionário da Telemontecarlo pela Rede Globo. Inicialmente, essa emissora reaproveitava as telenovelas já exibidas no país para exportá-las sem nenhum tipo de adaptação, mas ao longo dos anos transformou sua estratégia de venda para o exterior, investindo em escritórios em outros países e realizando adaptações de seus produtos para os novos mercados. O início desse processo se deu com a venda das telenovelas O bem-amado para o Uruguai em 1973 e Gabriela para Portugal em 1976. O sucesso deste gênero impulsionou a Rede Globo nos anos 1980 a abrir escritórios no exterior e a comprar a Telemontecarlo, com resultados muito negativos Nos anos 1990, optou-se por uma outra estratégia, ou seja, uma

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pequena participação na SIC, uma emissora portuguesa que surgiu com a mudança do Sistema Televisivo, que passou de público para um sistema misto, público comercial.

De acordo com executivos da empresa, continuar apostando nas telenovelas parecia ser a estratégia mais acertada para obter retorno com baixos investimentos adicionais. A teledramaturgia despertava o interesse de parceiros internacionais como a SIC, Telemundo e Rettequatro, que buscavam exclusividade na programação e co-produção de tramas brasileiras. Apenas para citar como exemplo, em 2004, 52 novelas seguiram para 70 países. Ao todo foram mais de 23 mil horas de programação comercializadas.” (ASSUNÇÃO, 2006, p. 93)

Este sucesso, segundo Tondato (1998, p.105), deve-se à dinâmica de comercialização, às características culturais dos países exportadores e importadores, da imagem dos países exportadores e das características sociais da recepção. Pode-se também atribuir este sucesso à trama da telenovela brasileira, que envolve diversos núcleos dramáticos, aborda temáticas sociais e fala de conflitos passíveis de acontecer em qualquer parte do mundo.

De forma resumida pode ser dito que, internamente, o gênero telenovela brasileiro se desenvolveu de forma a afastar-se do “dramalhão mexicano”, aproximando-se de um gênero universal, naturalmente construído, caracterizado, entretanto por elementos reconhecedores de sua origem, um produto único, sem falsa transnacionalização. Externamente, tais características, aliadas a um alto grau de profissionalização na comercialização, permitiram sua aceitação em diferentes países que, mesmo privilegiando o folhetim, não deixam de consumir os outros sub-gênero.

A consolidação no mercado externo e o conseqüente investimento no mercado externo fizeram com que a emissora lançasse, em 1999, a TV Globo Internacional, um canal Premium à la carte, disponível em todo o mundo. Conforme Assunção (2006), em 2005, a Rede Globo já enviava seus sinais a 45 países através da TV Globo Internacional:

Em 2005 a TV tinha cerca de 1,8 milhões de assinantes, sendo 1,4 milhões adeptos do pacote básico (todos na América Latina) e cerca de 400 mil adeptos do pacote Premium espalhados por 63 países. Lançado em agosto de 1999, em 2005 o canal disponibilizava a programação da Rede Globo para os cinco continentes no mundo.

Mais recentemente outras emissoras retomaram para valer o investimento na produção de telenovelas. A Rede Record foi a primeira, depois da Rede Globo, a buscar

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outros mercados fora do Brasil de forma sistemática, ainda que no passado outras emissoras como o SBT e a Manchete tenham vendido suas telenovelas para vários países. Inicialmente, a estratégia da emissora foi a oferta gratuita de sinal por satélite para os países da África e Europa com objetivos de evangelização. Atualmente, está presente em grande número de países de vários continentes, incluindo a América do Norte, a Europa, a África e a América Latina. Com a decisão de investir firmemente na produção de telenovelas voltadas para o mercado interno, a emissora construiu uma cidade cenográfica no Rio de Janeiro. As vendas para o mercado externo são uma conseqüência natural diante do sucesso que vem sendo obtido com estas produções. Straubhaar exemplifica a TV Azteca, do México, e o SBT como emissoras que desafiam as grandes produtoras de seus respectivos países. Estrategicamente, suas telenovelas tratam de outros tipos de conteúdo e de outro estilo de narrativa, com o intuito de se diferenciar das maiores produtoras de telenovelas. Ocorre que, muitas vezes, as telenovelas destas emissoras concorrentes também conseguem conquistar, por um espaço de tempo, o mercado internacional. Observa-se o exemplo das telenovelas produzidas no Brasil na década de 1990:

Embora líder inconteste de produção, audiência e exportação de telenovelas brasileiras, não é de hoje que a Rede Globo enfrenta concorrência das demais redes abertas com produção própria no gênero dramaturgia. No passado recente da TV brasileira, houve momentos de alguma movimentação das demais redes, como o caso da extinta Manchete nos anos 90 (com "Pantanal", "Ana Raio", "Dona Beija" etc) e as ocasionais investidas do SBT nos intervalos entre as produções mexicanas ("Éramos Seis", por exemplo, trazia a então atriz novata Ana Paula Arósio; "As Pupilas do Sr. Reitor", entre outras).2

Hoje se observa no país uma tendência que se repete por toda indústria de telenovelas na América Latina – a realização de co-produções de telenovelas. A TV Bandeirantes, por exemplo, lançou em 2005 Floribella, em co-produção com a produtora Argentina RG-B. Em 2006, a mesma emissora lançou a telenovela Paixões Proibidas, em co- produção com a Rádio e Televisão Portuguesa (RTP) e com a produtora portuguesa NBP3. Exemplos como este se repetem constantemente.

2 PARENTE, Edianez. Competição chega às telenovelas. Revista Tela Viva, setembro 2005. Disponível em: http://www.telaviva.com.br/revista/153/televisao.htm . Acesso em 20 de janeiro de 2008. 3 FREDERICO, Daniele. Ligados pela história e pela co-produção. Tela Viva. Novembro 2006.

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As co-produções são recentes na América Latina. Enquanto a Rede Globo se associa à Telemundo, segunda rede hispânica dos Estados Unidos e comprada recentemente pela gigante NBC, para fazer co-produções destinadas exclusivamente ao mercado externo, o SBT também está tratando de co- produzir com a Univisión dos Estados Unidos, associada da mexicana Televisa. (LOPES, 2004, p.18-19)

Com esta medida, portanto, as empresas se resguardam de riscos econômicos ao investirem em uma telenovela e, automaticamente, garantem um novo mercado para exibirem suas produções.

Cenário latino-americano

Vários países da América Latina produzem telenovelas desde a década de 1960. Com o passar dos anos, em cada país e respectivas emissoras, as produções vão adquirindo características muito específicas. Apesar da possível “neutralização da latino-americanidade”, ainda são encontrados elementos que permitem diferenciar as telenovelas de acordo com a sua nacionalidade. Estas características foram construídas aos poucos através da cultura e da história da televisão de cada país. As diferenças podem ser observadas até mesmo dentro do Brasil e do México, em que emissoras como Televisa e Rede Globo criam um novo nicho de mercado, dando oportunidade a outras redes menores de produzirem suas próprias telenovelas. (STRAUBHAAR, 2004, p.104; LA PASTINA, REGO, STRAUBHAAR, 2003, s/n.).

Com a ampliação do mercado de produção de telenovelas, assiste-se à entrada de novas produtoras, que são responsáveis por movimentar o fluxo do gênero na América Latina e da América Latina para outras regiões. Segundo Mazziotti

As principais empresas produtoras e distribuidoras no negócio da telenovela são: Televisa, TV Azteca, Argos (México); TV Globo, Rede Record (Brasil); Caracol TV, RCN, RTI, Invento (Colômbia); Venevisión; RCTV (Venezuela); Pol-ka, Telefé Internacional, Cris Morena Group (Argentina); Telemundo, Fonovideo, Tepuy (Estados Unidos); Dori Media Group (Israel- Argentina).4

4 Texto original: “Las principales empresas productoras y distribuidoras en el negocio de la telenovela son: Televisa, TV Azteca, Argos (México); TV Globo, Rede Record (Brasil); Caracol TV, RCN, RTI, Invento (); Venevisión; RCTV (Venezuela); Pol-ka, Telefé Internacional, Cris Morena Group, (Argentina); Telemundo, Fonovideo, Tepuy (Estados Unidos); Dori Media Group (Israel-Argentina).”

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Nota-se que dois países latino-americanos produtores de telenovelas ficaram fora da lista. São eles o Peru e o Chile. No Peru, as telenovelas começaram a ser produzidas a partir dos anos 1960. Nesta mesma década, a telenovela Simplemente María, produzida pela Panamericana Televisión, alcançou um grande êxito e chegou a ser exportada para outros países. Mas posteriormente, as dificuldades de produção impostas pelo governo militar, reduziram a produtividade de telenovelas no país, inclusive da Panamericana Televisión, que era a principal produtora de telenovelas até esta época. Na segunda metade da década de 1980, a PROA, uma produtora independente dos canais de televisão, que estavam sofrendo uma crise econômica, começa a produzir telenovelas para transmissão nos canais nacionais. No entanto, a produtora não conseguiu aumentar o índice de telenovelas nacionais na grade de programação das emissoras. (QUIROZ, 1993, p.40) Atualmente, o Peru não possui muita representatividade na indústria da telenovela e suas principais emissoras de TV atravessam dificuldades financeiras que comprometem sua programação. As telenovelas mais recentes foram realizadas em co- produção com a Venezuela, sendo responsáveis produtoras como Iguana Producciones, Alomi Producciones e Panamericana. Já no Chile, nas décadas de 1980 e 1990, as emissoras buscavam o sucesso das telenovelas através da compra de roteiros brasileiros e da busca de um padrão de qualidade inspirado na Rede Globo (ALENCAR, 2005, p.03) (GARAYCOCHEA, 2007, p.09). Hoje, as duas principais emissoras do país – Nacional e Universidad Católica – têm obtido bastante êxito no mercado interno com a produção de suas próprias telenovelas, apesar do alto índice de importação deste gênero:

Vale dizer que a maior parte das telenovelas que a TV aberta chilena emite são de origem estrangeira. Estas obras alcançaram em 1997 18,7% das horas de emissão total, no entanto esta cifra baixou nos anos seguintes: a um 9,9% em 98 e a 12,4% em 99. [...] Contudo, as telenovelas nacionais são as preferidas e as que alcançam a maior audiência. (SANTA CRUZ A., 2003, p.15. Tradução nossa)5

Mas, se as novelas chilenas conquistaram o mercado interno, o mesmo não se pode dizer do mercado externo. Pouco mais de uma dúzia delas [telenovelas] puderam ser vendidas a outros países latino-americanos. TVUC tentou colocar suas produções Sabor a ti y

5 Texto original: “Vale decir, la mayor parte de las telenovelas que emite la TV abierta chilena son de origen extrangero. Dichas obras alcanzaron en 1997 el 18,7% de las horas de emisión total, aun cuando esa cifra descendió en los años siguientes: a un 9,9% el '98 y a un 12,4% el '99. […]Sin embargo, las telenovelas nacionales son las preferidas y las que concitan la mayor audiencia.”

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Cerro Alegre no mercado espanhol, mas sem êxito. De fato, só nos anos 80 esta estação conseguiu vender duas de suas obras; elas foram La madrasta , exibida no Uruguai e Semidiós, que conseguiu ser exibida no Peru, Bolívia, Venezuela, México e Itália. Nos 90 somente Playa salvaje chegou a ser vendida, neste caso, à televisão da . (SANTA CRUZ A., 2003, p.16. Tradução nossa.)6

Entretanto, não é vista com o mesmo otimismo por Oscar Garaycochea (2007, p. 08) a produção de telenovelas no Chile. Ele lembra que os canais La Red, Mega e o Canal 13 tiveram que recorrer a produções estrangeiras porque suas novelas não faziam sucesso no mercado interno. Ele acrescenta que a venda da telenovela Machos à rede espanhola TVE foi realizada com preços muito abaixo do que normalmente se observa no mercado. No caso do México, as telenovelas são produzidas tradicionalmente pela Televisa, que começou a exportar o gênero ainda na década de 1950, aproximadamente 20 anos antes da primeira exportação de telenovela pelo Brasil. (MAZZIOTI, 2004, p.385). A emissora produzia mais de 12 telenovelas ao ano que se somam às mais de oito telenovelas produzidas pela TV Azteca (MAZZIOTI, 2004, p.386), o que mostra a força e a presença maciça do gênero nas grades de programação das emissoras do país. Este fato, somado à sua circulação ao redor do mundo faz do México o maior produtor e exportador de telenovelas até os dias de hoje. Na lista das 10 telenovelas mais vendidas no mundo, organizada por Nora Mazziotti (2004, p.393), constam títulos de telenovelas importadas pelo SBT e exibidas no Brasil, como Os ricos também choram, Esmeralda, Rosalinda, Maria Mercedes, Marimar e Maria do Bairro. Outro país que também tem se destacado no mercado de telenovelas é a Venezuela. São dezenas de títulos de sucesso produzidos pelas emissoras RCTV e Venevisión exportadas para várias partes do mundo. Daniel Mato assinala que mesmo assim, estas emissoras preenchem suas grades de programação com telenovelas importadas:

Desde 1995, cada um destes canais tem transmitido umas cinqüenta telenovelas. Em ambos os casos, não mais de quinze são de produção própria, enquanto as restantes são importadas. No caso da VV, a maioria das importadas são produções da Televisa do México, sua empresa associada na propriedade do canal Univisión de Miami. No caso da RCTV, as importadas têm sido por parte iguais mexicanas e colombianas, de diversas empresas produtoras. (MATO, 1999. Tradução nossa)7

6 Texto original: “Poco más de una docena de ellas han podido ser vendidas a otros países latinoamericanos. TVUC intentó colocar sus producciones Sabor a ti y Cerro Alegre en el mercado español, pero sin éxito. De hecho, solo en los años 80 dicha estación logró vender dos de sus obras; ellas fueron La Madrasta, exhibida en Uruguay y Semidiós que logró ser colocada en Perú, Bolivia, Venezuela, México e Italia. En los 90 solamente Playa Salvaje llegó a ser vendida, en este caso a la televisión de Costa Rica.” 7 Texto original: “Desde 1995 cada uno de estos dos canales ha transmitido unas cincuenta telenovelas. En ambos casos no más de quince han sido de producción propia, mientras que las restantes han sido importadas. En

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Se, de um lado, Venevisión é associada à Univisión de Miami, a RCTV faz parte da 1BC que, por sua vez, é proprietária da Coral Pictures, distribuidora das telenovelas produzidas pela RCTV para outras partes do mundo. A Colômbia, através de suas principais emissoras RCN e Caracol, tem exportado telenovelas de sucesso como Pedro, el Escamoso, Café com Aroma de Mujer e Betty, la fea. São telenovelas com características muito próprias do humor colombiano e que têm agradado tanto ao público interno como externo. Até 2001, a novela Cafe con Aroma de Mujer, do mesmo autor de Betty, la fea, já havia sido vendida para 77 países (MAZZIOTTI, 2006, p.06) Neste mesmo ano, a Caracol vendeu 12 milhões de dólares e a RCN 13,5 milhões de dólares. Na Colômbia, de acordo com os dados ministrados pela RCN Televisão, o crescimento nas vendas internacionais é notório. Passou dos 4.000 milhões de pesos em 1999 para 43 milhões em 2002. O maior mercado está nos Estados Unidos (45 por cento), seguido por México (11 por cento). No caso de Caracol Televisão, nos primeiros meses de 2004 somaram 25 milhões de pesos. (MAZZIOTTI, 2006, p.06 Tradução nossa)8

Para Cervantes (2005), o diferencial das telenovelas colombianas está nas características de seus personagens. Nelas, o público marginalizado de seu país consegue encontrar características muito semelhantes às suas próprias. As comunidades indígenas, os grupos de negros assentados na Colômbia e de mestiços das distintas regiões têm chegado à televisão da mesma maneira que a vida urbana e a cultura popular com seus conflitos sócio-econômicos, a ida dos campesinos à cidade e os conflitos no interior da família de classe média têm delineado novos personagens que cada vez mais se parecem aos colombianos (CERVANTES, 2005, p. 293-294. Tradução nossa)9

No entanto, a pesquisadora demonstra pouco entusiasmo em relação à exportação das telenovelas deste país, acreditando que a globalização possa impor um tipo de identidade

el caso de VV la mayoría de las importadas han sido producciones de Televisa de México, su empresa asociada en la propiedad del canal Univision de Miami. En el caso de RCTV, las importadas han sido por partes iguales mexicanas y colombianas, de diversas empresas productoras.”

8 Texto original: “En Colombia, de acuerdo con datos suministrados por RCN Televisión, el crecimiento en las ventas internacionales es notorio. Se pasó de 4.000 millones de pesos en 1999 a 43 mil millones en el 2002. El mayor mercado está en Estados Unidos (45 por ciento), seguido por México (11 por ciento). En el caso de Caracol Televisión, en los primeros seis meses del 2004 sumaron 25 mil millones de pesos.” 9 Texto original: “Las comunidades indígenas, los grupos de negros asentados en Colombia y los mestizos de las distintas regiones han llegado a la televisión de la misma manera que la vida urbana y la cultura popular con su conflictos socioeconómicos, el arribo de los campesinos a la ciudad y los conflictos al interior de la familia de clase media han delineado nuevos personajes que cada vez lucen más similares a los colombianos”.

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também globalizada, diminuindo, então, as características da identidade regional encontradas até então.

No que se refere à Argentina, existem três principais produtoras de telenovelas: a Pol-ka, a Telefé Internacional e a Cris Morena Group. Há também o Dori Media Group, que realiza telenovelas para o mercado israelense e argentino. O país que, no começo da história de sua televisão, exportava roteiros para outros países como o Brasil (ALENCAR, 2005, p.02), hoje adota como uma de suas estratégias a compra de roteiros de sitcoms dos Estados Unidos. Atualmente, o país produz a série “Donas de casa desesperadas”, em conjunto com o Brasil, Colômbia e Equador. Além disso, a crise econômica ocorrida em 2001 prejudicou o mercado de telenovelas – o preço de venda de seus capítulos de telenovelas no exterior caiu abruptamente e representa um valor irrisório se comparado ao preço de vendas das telenovelas provenientes de outros países.

Novos players

Diante da variedade de ofertas de telenovelas produzidas e vendidas pela América Latina, surgem novos produtores inspirados nos modelos latino-americanos, mas adaptados ao seu próprio mercado estratégico. Tradicionais produtoras de sitcoms como a Fox, a Sony, a CBS e a Paramount já estão produzindo suas versões em inglês de novelas produzidas anteriormente em outros países.

Os americanos querem fazer novela com o know how dos latinos, mas ao gosto do seu público doméstico, com elenco americano e falada originalmente em inglês. De quebra, querem assimilar a produção destes formatos e também exportá-los, pois no mundo inteiro há espaço nas grades das TVs para o gênero.10

Uma das estratégias destas novas produtoras de telenovelas é de realizar parcerias com emissoras de outras regiões. Como já se assinalou, há co-produções entre países como a Argentina e Israel, Peru e Venezuela, Brasil e Portugal etc. Um exemplo desta tendência que se firma no mercado internacional são as adaptações do roteiro de importantes telenovelas colombianas, cujo principal exemplo é Betty, la fea, produzida pela emissora colombiana RCN e adaptada para novos mercados.

10 Disponível em: PARENTE, Edianez. Americanos querem know how das novelas. Janeiro/Fevereiro . 2006. Tela Viva, p. 17

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A Freemantle, idealizadora de formatos como “Ídolos”, foi uma das empresas que adaptou o roteiro desta telenovela e, com isso, obteve sucesso na Alemanha. Atualmente, Betty, la fea está sendo exibida no Brasil em novo formato, através do Canal Sony. A Sony, por sua vez, comercializou o sucesso Pedro, o escamoso, a telenovela chilena Machos 11 e, mais recentemente, investiu em Zorro, la espada y la rosa12. Esta procura pelas telenovelas é resultado de um certo esgotamento no mercado das sitcoms e do excesso de reality-shows e game shows, o que tem levado as emissoras a buscarem produtos roteirizados para distrair sua audiência. Desta maneira, as emissoras esperam conseguir um público fiel, mesmo diante da grande concorrência de canais e, conseqüentemente, da vasta oferta de programação. Esta nova necessidade do mercado já havia sido detectada por Denise D. Bielby e por C. Lee Harrington (2005) que observaram que se por um lado, a TV norte-americana sempre teve uma resistência muito forte aos produtos estrangeiros e sempre foi mono- lingüística, por outro lado a chegada da TV por assinatura proporcionou a queda da audiência das principais redes e o surgimento de importantes redes latinas, como Univisión e Telemundo, que registravam altos índices de audiência. A constatação da redução da audiência e a busca por um grande público latino-americano vivendo nos Estados Unidos impulsionaram, portanto, as produtoras de soap operas a realizarem alterações nas características deste gênero. A partir daí, os autores afirmam que, na década de 1990, houve uma abertura dos Estados Unidos para o gênero latino-americano e, conseqüentemente, uma “telenove-lização” das soap operas americanas.

Conclusões parciais

O gênero telenovela surgiu praticamente junto com televisão e, especificamente na América Latina, sua história muitas vezes se confunde com a história de muitas emissoras de televisão. Apesar de se considerar a telenovela como um gênero televisivo bastante antigo, observa-se que mudanças de ordem econômicas e culturais se impõem, transformando-o constantemente. Ainda que a exportação de telenovelas pelas emissoras latino-americanas não seja um fato recente – o México exportou sua primeira telenovela ainda na década de 1950 –

11 CASTRO, Daniel. Outro canal: Sony entra no mercado de telenovelas. Folha de São Paulo. 13 set. 2003. Disponível em: . Acesso em 20 de janeiro de 2007 12 ESTELARIZA Marlene Favela una telenovela de Sony. 28 fev. 2007. El siglo de Correón. Disponível em . Acesso em 20 de Janeiro de 2007.

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somente nas três últimas décadas este fluxo se intensificou. Um novo comportamento do mercado de telenovelas impulsionou uma aceleração nas vendas da América Latina em direção à Ásia, Europa e Oriente Médio, de forma que hoje não é possível realizar uma análise do mercado de bens culturais sem citar o caso das telenovelas latino-americanas. O rearranjo das empresas no cenário mundial e a participação de novas produtoras de telenovelas mostram a importância que telenovela adquiriu em regiões tão distantes da América Latina. Novas questões se colocam a respeito do gênero e das características que ele pode assumir com estas transformações: haveria realmente uma mudança nas matrizes culturais expressas na telenovela de cada país? Este gênero adquire novas características com estas novas produtoras? O que este mercado globalizado procura no gênero? Quais as especificidades da telenovela em cada país?

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CAPÍTULO III TELEVISÃO NA BOLÍVIA

Um perfil do país

Para se compreender o sistema televisivo boliviano, é necessário apresentar uma visão geral dos aspectos demográficos, econômicos e educacionais do país, pois eles são fundamentais para sua análise. A Bolívia é um país de muitos contrastes sociais e econômicos e com um pequeno desenvolvimento econômico. Existem diferenças não apenas entre as camadas sociais mais ricas e mais pobres, mas também um forte contraste entre as regiões do país. As capitais das províncias, em geral, são as regiões que proporcionam mais acesso aos meios de comunicação, à saúde e à educação, enquanto o interior é basicamente rural, com restrito acesso a esses serviços. Alguns departamentos apresentam índices relativamente altos de PIB per capita, enquanto outros são extremamente pobres, com um PIB per capita que chega praticamente à metade daquele de outras regiões e com índices alarmantes de analfabetismo, marginalidade e indigência. Através de indicadores econômicos, como o PIB por exemplo, é possível constatar que algumas regiões têm uma indústria mais desenvolvida e que, indiretamente, oferecem acesso aos meios de comunicação pela população. É onde se encontram também os maiores anunciantes do país e a maior parte do público telespectador. A localização das emissoras de televisão, com suas diretorias e filiais, estão nas cidades de La Paz, Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba. A Bolívia está dividida em nove departamentos (províncias) que totalizam 327 municípios, como se pode observar no Quadro 1. O departamento de La Paz, seguido pelos departamentos de Santa Cruz e de Cochabamba, possui o maior número de habitantes, municípios e domicílios. No departamento onde está a capital do país vive 28,4% da população boliviana. O segundo departamento mais populoso é o de Santa Cruz de la Sierra, que também apresenta uma porcentagem de quase um quarto da população em seu território. O departamento de Cochabamba, por sua vez, representa 17,59% da população boliviana. Juntos, os três departamentos representam as regiões com o maior número de domicílios do país, sendo que o de La Paz sozinho possui 32% dos domicílios bolivianos.

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Quadro 1 Dados demográficos da Bolívia (Em números absolutos e em porcentagem) Departamentos Habitantes Número de municípios Número de domicílios Nos. Abs. % Nos.Abs. % Nos.Abs. % La Paz 2.350.466 28,40 80 24,46 630.072 31,85 Santa Cruz 2.029.471 24,52 56 17,12 428.653 21,67 Cochabamba 1.455.711 17,59 45 13,76 352.411 17,81 Potosí 709.013 8,56 38 11,62 180.323 9,11

Chuquisaca 531.522 6,42 28 8,56 118.918 6,01 Oruro 391.870 4,73 35 10,70 104.123 5,26

Tarija 391.226 4,72 11 3,36 87.157 4,40 Beni 362.521 4,38 19 5,81 65.481 3,31

Pando 52.525 0,63 15 4,58 10.527 0,53 Bolívia 8.274.325 100 327 100 1.977.665 100 Fonte: Anuário Estadístico 2004

Apesar de a Bolívia ser um país predominantemente urbano, com 62% da população vivendo nas cidades, há ainda uma população bastante expressiva vivendo no campo, conforme se observa no quadro abaixo. Nos departamentos de Potosí, Pando e Chuquisaca a população rural ultrapassa a população urbana. No entanto, estes departamentos possuem pouca representatividade em número de habitantes. Entre todos os departamentos analisados, o de Santa Cruz é o mais urbanizado, com 76% da população vivendo nas cidades. Potosí, por outro lado, representa o departamento mais rural da Bolívia, com uma população de 469.930 habitantes morando no campo.

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Quadro 2 População Urbana e Rural (Em Números Absolutos e Em Porcentagem) Departamento Total Urbana Rural La Paz 2.350.466 1.552.146 66 798.320 34 Santa Cruz 2.029.471 1.545.648 76 483.823 24 Cochabamba 1.455.711 856.409 59 599.302 41 Potosí 709.013 239.083 33 469.930 67 Chuquisaca 531.522 218.126 41 313.396 59 Oruro 391.870 236.110 60 155.760 40 Tarija 391.226 247.736 63 143.490 37 Beni 362.521 249.152 68 113.369 32 Pando 52.525 20.820 39 31.705 61 Bolívia 8.274.325 5.165.230 62 3.109.095 38 Fonte: Anuário Estadístico 2004

Aspectos Econômicos e Educacionais

Em seguida, encontram-se informações a respeito da pobreza no país, divididas de acordo com os departamentos e entre a população classificada como pobre e não pobre. Segundo estas informações encontradas no Anuário Estatístico 2004 do INE, constatou-se que o departamento de Santa Cruz de la Sierra apresenta o menor índice de pobreza e uma taxa de marginalidade nula. Entre todos os departamentos analisados, este também apresenta a maior porcentagem da população com as necessidades básicas satisfeitas. Potosí, por outro lado, representa o departamento cujos registros de indigência e de marginalidade atingem os números mais altos em comparação com os outros departamentos. Aproximadamente 36,10% da população desta região vive em situação de indigência e apenas 5,6% tem as necessidades básicas satisfeitas. Santa Cruz de la Sierra, o departamento mais urbanizado do país, registra os dados mais satisfatórios a respeito da condição de pobreza de sua população. Cerca de 23% de seus habitantes tem as necessidades básicas satisfeitas.

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Quadro 3 População por Condição de Pobreza, segundo Área e Departamento (2001) (Em porcentagem). Não pobres Pobres Departamento Necessidades Limiar Básicas da Pobreza Indigência Marginalidade Satisfeitas pobreza Moderada

Santa Cruz 23,3 38,7 31,1 7,0 0,0 Cochabamba 18,9 26,1 32,9 18,7 3,3 Tarija 18,7 30,5 35,9 14,6 0,3 La Paz 15,4 18,4 35,9 28,3 2,1 Chuquisaca 13,8 16,1 29,3 34,6 6,2 Oruro 12,8 19,3 38,9 27,3 1,6 Pando 7,3 20,3 40,5 31,8 0,2 Beni 6,5 17,5 48,8 25,7 1,6 Potosí 5,6 14,7 32,8 36,1 10,8 Bolívia 16,6 24,8 34,2 21,7 2,7 Fonte: Anuário Estadístico 2004, pág. 319

O registro do PIB e do PIB per capita confirma as diferenças sócio-econômicas já citadas. O departamento de Santa Cruz apresenta o produto interno bruto mais alto de todos os departamentos, numa marca que chega a ser seis vezes maior que a de Potosí, que tem o menor PIB de todos os 10 Departamentos do país. Ao se examinar os dados referentes ao PIB e ao PIB per capita, apresentados no Quadro 4, pode-se perceber a profunda desigualdade econômica existente no país. Os três departamentos com maior desenvolvimento econômico – Santa Cruz, La Paz e Cochabamba – representam 71,60% de todo o PIB do país. Já com relação ao PIB per capita, as distorções não são tão grandes. Os departamentos com os melhores índices (acima de US$ 1.000,000) são aqueles com o menor número de habitantes, como os departamentos de Tarija e Pando com um pequeno número de habitantes (391.226 e 52.525 respectivamente), vindo em terceiro lugar aquele de Santa Cruz com US$ 1.072,00, que já possui uma grande população e também um grande PIB. No que se refere aos aspectos educacionais, verifica-se que os menores índices de analfabetismo entre a população acima de 15 anos de idade pertence ao departamento de Santa Cruz, com mais de 7% de analfabetos nesta faixa etária e os maiores ao Departamento de Potosí com mais de 28%. Também na questão educacional as diferenças regionais são bastante profundas.

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Quadro 4 Indicadores Econômicos e Educacionais (2003) (Em Nos. Absolutos e Em Porcentagem) Departamento PIB (em Milhares PIB per Capita Taxa de Analfabetismo de Bolivianos) (em US$) (%) Nos. Abs. % Nos. Abs.

Beni 2.154.084 3,47 718 8,88 Cochabamba 10.619.501 17,13 867 14,53

Chuquisaca 3.026.911 4,88 678 26,97 La Paz 15.395.385 24,84 789 11,39

Oruro 3.149.405 5,08 964 10,61

Pando 586.913 0,94 1255 10,37

Potosí 2.709.960 4,37 466 28,42

Santa Cruz 18.348.898 29,61 1072 7,26

Tarija 4.260.624 6,87 1280 14,10

Bolívia - total 61.958.714 100 870 13,28

Fonte: Anuário Estadístico 2004 (1) População acima de 15 anos de idade

Qualidade de Vida

Depois das considerações sobre os aspectos demográficos e educacionais, é também importante examinar os indicadores de qualidade de vida nos nove departamentos. No Quadro 5 é apresentado um Ranking com dados sobre a qualidade de vida que a população encontra em cada cidade. O primeiro refere-se ao Índice de Desenvolvimento Humano. Esse Ranking, assim como os outros, é liderado por Santa Cruz de la Siera, La Paz e Cochabamba, com algumas variações e presença de outras cidades entre os três primeiros lugares. No Ranking do número de habitantes, Santa Cruz de la Sierra representa a cidade com o maior número de habitantes do país. No censo realizado em 2001, calculou-se uma população de 1.135.526 habitantes morando nesta capital. La Paz, por sua vez, apresentou uma população de aproximadamente 793 mil habitantes. El Alto, cidade do mesmo departamento da capital do país, registrou uma população de aproximadamente 650 mil habitantes. Cochabamba, capital de seu departamento, registrou uma população de pouco mais de 515 mil habitantes.

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Quadro 5 Ranking do Índice do Desenvolvimento Humano, do Índice Municial de Bem-estar e do Número de Habitantes. Índice Desenvolvimento humano Índice Municipal de No. de habitantes Bem-estar 1) Cochabamba La Paz Santa Cruz de la Sierra 2) Santa Cruz de la Sierra Santa Cruz de la Sierra La Paz 3) Camiri Cochabamba El Alto 4) La Paz Tarija Cochabamba 5) Puerto Guijarro Montero Sucre 6) Montero Oruro Oruro 7) Puerto Suárez Cobija Tarija 8) Tarija Tiquipaya Potosí 9) Cobija Puerto Guijarro Sacaba 10) Trinidad Sucre Quillacollo Fonte: Fichas Municipales1

Chegada tardia

Diante das informações estatísticas da Bolívia apresentadas anteriormente, relacionadas com a situação econômica da população e seu restrito acesso aos meios de comunicação, pode-se compreender porque a televisão chegou tão tardiamente no país. De fato, a primeira emissora de televisão, pertencente ao governo boliviano, começou suas emissões experimentais no ano de 1968 e regularizou as transmissões no ano seguinte, quando passou a transmitir por cinco horas diárias (RIVANEDEIRA PRADA, TIRADO CUENCA, 1986, p. 79). A história da televisão, segundo Fernández Medina (2004) pode ser dividida em três fases. A primeira trata justamente de seu surgimento no país, num período que se estende de 1969 a 1984. A segunda fase que ele chama de “a televisão durante a década perdida e o desenvolvimento de um modelo”, envolve o período de 1984 a 1990. A última e mais recente fase, por ele considerada “a nova etapa da televisão na Bolívia”, abarca a década de 1990 a 2000.

1 Disponível em: . Acesso em 10 de outubro de 2007.

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A respeito da primeira fase, pode-se afirmar que foi um período de recursos técnicos escassos e deficientes. Os equipamentos eram tão obsoletos, segundo narrativa de Raúl Rivanedeira Prada e de Nazaro Tirado Cuenca (1986), que esta condição resultou numa denúncia pública da empresa fornecedora dos aparatos técnicos. Somado a isto, o primeiro canal de televisão foi um instrumento útil para aumentar a influência e poder do governo militar:

A televisão na Bolívia surgiu em 1969, em plena ditadura. De caráter estatal, cinco anos mais tarde se converteu na ferramenta com a qual o governo militar do general Banzer tratou de neutralizar a influência das emissoras mineiras e de evitar que estas operassem com êxito (MEDINA, Francisco Javier Fernández, 2004, p.381. Tradução nossa)2.

Estas emissoras mineiras, como explica Medina (2004, p.379-381), foram responsáveis por dar voz a uma classe de trabalhadores explorada e reprimida. No entanto, muitas tiveram que atuar clandestinamente, outras foram bombardeadas pelo exército ou simplesmente fecharam as portas por problemas financeiros ou pela diminuição do número de sindicatos. Até o ano de 1973, a televisão boliviana permaneceu nas mãos do governo e o monopólio estatal só foi rompido quando as universidades foram autorizadas também a transmitir os sinais. Neste período, estruturou-se o Sistema Integrado de Televisão Universitária, formada por oito canais em todo território nacional – em La Paz, Santa Cruz de la Sierra, Tarija, Cochabamba, Oruro, Sucre, Potosí e Trinidad. No entanto, isso não garantiu ao público telespectador uma programação independente do controle do governo. A ocupação das universidades e de seus respectivos canais pelos militares “colocou os canais universitários sob o estreito controle do Ministério do Interior e reduziu enormemente a sua relativa independência”, explica Elizabeth Fox (1989: p.203. Tradução nossa)3. O sistema televisivo boliviano, portanto, nessa primeira fase se apresentava com uma forte presença do Estado, como se pode observar pela descrição abaixo, feita por Medina (2004, p.382)

2 Texto original: “La televisión en Bolivia surgió en 1969, en plena dictadura. De carácter estatal, cinco años más tarde se convirtió en la herramienta con la cual el gobierno militar del general Banzer trató de neutralizar la influencia de las emisoras mineras y de evitar que éstas operaran con éxito.” 3 Texto original: “La subsiguiente ocupación de las universidades y la designación de rectores militares por parte de García Meza situó los canales universitarios bajo el estrecho control del Ministerio del Interior y redujo enormemente su relativa independencia.”

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Em 1979 a estrutura do mercado televisivo na Bolívia estava formada por nove canais de televisão: oito de universidades estatais com cobertura regional e um canal estatal com cobertura nacional. Os primeiros se financiavam mediante subvenções do Tesouro Geral da Nação, enquanto o canal estatal completava a receita com publicidade, o que lhes dava uma maior estabilidade financeira. Nesse mesmo ano o general Padilla autorizou a concessão de licenças para canais privados de televisão. Mas antes que as licenças fossem assinadas, seu regime foi derrubado pelo general García Meza, que rapidamente restabeleceu o monopólio estatal da televisão e designou reitores militares às universidades, de maneira que seus canais passaram a estar sob o controle do Ministério do Interior e a relativa independência que tinham até então, chamadas estações, se reduziram consideravelmente. (MEDINA: 2004, p.382. Tradução nossa)4

A televisão funcionou, nesta primeira fase, mais como um instrumento para frear a ação das emissoras de rádio mineiras e da comunidade universitária e para ser porta-voz das idéias do governo militar do que para responder às necessidades do mercado ou da população. A segunda fase citada por Medina, compreende o período de 1984 a 1990 e trata da proliferação dos canais privados. Seu início se deu em 20 de outubro de 1984, quando o Canal 9, privado, desafiou o monopólio governamental e começou a emitir. Esse fato foi possível porque dois anos antes, em outubro de 1982, foi restabelecida a democracia, o que permitiu uma abertura para transmissão ilegal de canais privados.

[...] O governo não fez praticamente nada. Aceitou mansamente a ilegalidade do novo canal, criado no meio de uma turbulenta e intensa campanha publicitária do setor privado. A campanha criticava o monopólio governamental na televisão e, entre outras razões, para a repentina aparição daquele canal, expunha a necessidade da liberdade de expressão, de mercados livres e a defesa dos interesses regionais de La Paz. [...] Em 1988 existiam 35 canais locais de caráter privado; 18 deles distribuídos em áreas urbanas e 17 tinham cobertura provincial. (FOX: 1989, p.203. Tradução nossa)5

4 Texto original: “En 1979 la estructura del mercado televisivo en Bolivia estaba formada por nueve canales de televisión: ocho de universidades estatales con cobertura regional y un canal estatal con cobertura nacional. Los primeros se financiaban mediante subvenciones del Tesoro General de la Nación, mientras que el canal estatal completaba los ingresos con publicidad, lo cual le daba una mayor estabilidad financiera. Ese mismo año el general Padilla autorizó la concesión de licencias para canales privados de televisión. Pero antes de que las licencias se asignaran su régimen fue derribado por el general García Meza, quien rápidamente restableció el monopolio estatal de la televisión y designó rectores militares en las universidades, de manera que sus canales pasaron a estar bajo el estrecho control del Ministerio del Interior y la relativa independencia que tenían hasta entonces dichas estaciones se redujo considerablemente.”

5 Texto original: “[…] El gobierno no hizo prácticamente nada. Aceptó mansamente la ilegalidad del nuevo canal, creado en medio de una turbulenta e intensa campaña publicitaria del sector privado. La campaña criticaba el monopolio gubernamental en la televisión y, entre otras razones, para la repentina aparición de aquel canal, exponía la necesidad de la libertad de expresión, la de mercados libres y la defensa de los intereses regionales de La Paz. […] En 1988 existían 35 canales locales de carácter privado; 18 de ellos estaban distribuidos en áreas urbanas y 17 tenían cobertura provincial.”

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Os canais privados de televisão, segundo Medina (2004, p.383), reclamavam a liberdade de expressão, mas também criticavam a má gestão do monopólio governamental na televisão. Além disso, o Canal 7 havia sofrido abusos, manipulações e censuras. Do surgimento do primeiro canal privado na Bolívia, em 1984, até o final desta década, houve uma proliferação de emissoras privadas. No final desta fase já existiam aproximadamente 70 canais privados, além da rede estatal de repetidoras que cobriam os nove departamentos do país e as oito estações distritais urbanas dependentes das universidades públicas (MEDINA, 2004, p.384). No entanto, “a grande maioria deles não cumpre os mínimos requisitos legais, técnicos, de infra-estrutura e programação para serem consideradas entre os teledifusores”, lembram Torrico Villanueva, Herrera Miller e Pinto Sardón (2000: p. 49) A terceira fase, que englobou toda a década de 1990 representou para Medina uma “nova etapa da televisão na Bolívia”, e foi marcada pelo crescimento da mídia no país. Segundo esse autor, neste período houve um aumento considerável no número de emissoras de rádio e de TV e de jornais. Se, de um lado, as principais emissoras privadas não passavam de cinco, por outro lado, elas conseguiram enfraquecer a força dos canais universitários. (Medina: 2004, p.385).

A televisão privada começou a ser protagonista no novo cenário, pois a abertura às importações e a estabilidade da moeda aumentaram o fluxo comercial e deram lugar à vigência do crédito e, junto a eles, ao mesmo tempo, emergiu um significativo volume de publicidade. A isso se somou, com as periódicas eleições presidenciais e municipais, outro importante volume de propaganda, melhorando a situação financeira de, pelo menos, as principais estações.

Torrico Villanueva, Herrera Miller e Pinto Sardón (2000: p. 51), contudo, não reconhecem muitas mudanças na programação das emissoras bolivianas nesta nova fase. São praticamente quatro canais de sucesso no país, que seguem importando a maior parte da programação exibida. Estes canais são de propriedade de quatro grandes grupos, que possuem investimentos em vários tipos de negócios que vão desde jornais e emissoras de rádios até supermercados, empresas de telefonia, cervejarias e bancos financeiros.

Apesar desta diversidade dada pela presença de um canal estatal, de canais universitários, canais privados e outros confessionais, o sistema televisivo boliviano começa durante a década de 1990 um caminho em direção ao oligopólio e a configuração de redes controladas por uns poucos atores que concentram uma alta porcentagem da oferta televisiva e, ao mesmo tempo, se

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repartem grande parte dos investimentos em publicidade. (MEDINA, 2004, p.389. Tradução nossa)6

As principais emissoras

Atualmente, as cidades de La Paz, Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra concentram as mais importantes emissoras do país. E, como se pode observar através do Quadro 7, estas cidades concentram o maior número de aparelhos de TV, segundo o censo realizado em 2003.

Quadro 7 Número de emissoras de TV e de domicílios com TV

Departamento No. de Emissoras Número de domicílios com TV Beni 36 30.738 Cochabamba 45 199.354

Chuquisaca 22 46.066 La Paz 55 337.671 Oruro 24 55.198 Pando 15 4.151 Potosí 29 61.267 Santa Cruz 49 287.315 Tarija 34 53.580 Bolívia - total 309 1.075.340

Entretanto, os dados do Quadro 7, retirados do Anuário Estadístico 2004, não coincidem com as observações feitas por Torrico Villanueva, Herrera Miller e Pinto Sardón (2000: p.51), que registram um número menor de emissoras no país. As duas fontes de

6 Texto original: “Pese a esta diversidad dada por la presencia de un canal estatal, canales privados y otros confesionales, el sistema televisivo boliviano comienza durante la década de 1990 un camino hacia el oligopolio y la configuración de redes controladas por unos pocos actores que concentran un alto porcentaje de la oferta televisiva y, al mismo tiempo, se reparten gran parte de los ingresos por publicidad”.

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informação reconhecem, contudo, que há uma concentração de número de emissoras de TV nas regiões de La Paz, Cochabamba e Santa Cruz:

Na Bolívia, para uma população de 7 milhões, 413 mil e 827 habitantes, existem cerca de 99 canais privados de televisão, mais uma rede de nove estações que formam a estatal e outra de oito que compõem o Sistema de Televisão Universitária, o que supõe um total de 116 canais legalmente estabelecidos, sem tomar em conta aqueles que têm, inclusive, regras pendentes com a Superintendência de Telecomunicações. Bolívia é um dos países latino- americanos com maior número de canais com relação ao número de habitantes (um por cada 63,9 mil habitantes). A cifra estimada de aparelhos de TV é próxima a 500 mil unidades, o que equivale a um televisor para cada quinze pessoas. Não obstante, esta distribuição não é homogênea, sendo que há uma clara concentração nas principais cidades (La Paz, Cochabamba e Santa Cruz) e imediatamente depois em cidades secundárias e nas capitais da província. (TORRICO VILLANUEVA, HERRERA MILLER, PINTO SARDÓN, 2000, p.51)

Observa-se, através do quadro, que a cidade de La Paz, Santa Cruz e Cochabamba apresentam os maiores números de domicílios com televisores e de emissoras de TV. Isso se deve, especialmente, ao nível de desenvolvimento e ao número de empresas anunciantes destas regiões. Uma das primeiras cidades com acesso à televisão privada foi Santa Cruz de la Sierra, no ano de 1984. Na época, através do atual Canal 5 ATB, que a princípio transmitia comerciais de antenas parabólicas, a população da cidade teve acesso aos sinais de estações do Brasil, Venezuela e México. Nesse mesmo ano, surgiu o canal 13, que também transmitia programas pirateados. (Farell, 2005, p.37) Como se pode observar no Quadro 8, Santa Cruz de la Sierra tem um expressivo número de canais abertos em VHF (7) e em UHF (5).

VHF UHF Canal 12- Cristal Canal 18 – Megavisión Canal 4 - Bolivisión Canal 33 – Gigavisión Canal 5 – ATB Canal 36 – Cadena “A” Canal 7 – Televisión Boliviana Canal 42 – P.A.T. Canal 9 – Unitel Canal 57 - Sitel Canal 11 - Universitária Canal 13 – Red Uno

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No entanto, apenas algumas destas emissoras conseguem projeção nacional e índices de audiência capazes de competir com as outras emissoras do país. As principais emissoras são Bolivisión, A.T.B., Unitel e Red Uno e transmitem em rede nacional. O alto índice de audiência destas emissoras pode ser verificado em La Paz, Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba, com variações no ranking de uma emissora para a outra, de acordo com a cidade. Em entrevista concedida pelo Departamento Comercial da Rede Globo, foram feitas as seguintes observações a respeito das principais emissoras bolivianas e do público telespectador: Politicamente a Bolívia é muito segmentada e na área de comunicação, podemos dividi-la em 3 grandes centros: Santa Cruz / La Paz e Cochabamba. Atualmente, os canais nacionais mais importantes são: ATB Bolívia, Red Uno e Red Unitel. Dependendo da região, um canal pode ser mais forte que outro, por exemplo, em Santa Cruz , poderíamos dizer que a Red Unitel seja mais forte, em Cocha Bamba , a Bolivisión e em La Paz , a ATB Bolívia. Isso se dá, por causa das diferenças políticas, sociais e culturais de cada região. O gênero telenovela é muito difundido na região e líder de audiência nos canais.

O canal Bolivisión nasceu em 1984, com o nome Galavisión. Sua programação era, inicialmente, voltada pra um público elitista que consumia “programação enlatada destinada ao entretenimento” (CHÁVARE MIRANDA; TERCEROS RODRÍGUES, 2002: p. 11. Tradução nossa). Em 1994 a emissora passou a pertencer ao empresário cochabambino Ernesto Asbún, que mudou o nome do canal para Bolivisión. Naquela época, 51% da emissora pertencia ao empresário e 47% das ações à sua esposa. Medina (2004, p.389) explica que a rede surgiu através da associação de uma série de canais regionais: Antena Uno Canal 6 de Cochabamba, Canal 2 Telesistema Boliviano de La Paz, Canal 4 Galavisión de Santa Cruz, entre outros canais do interior. Em 2007, Angel Gonzáles, empresário mexicano, adquiriu 10% das ações dessa rede televisiva, anunciando que aumentará sua participação na empresa. Atualmente, a emissora retransmite telenovelas mexicanas, venezuelanas e colombianas, além de séries, programas de variedades e telejornais. O canal A.T.B. nasceu em abril de 1984, mesmo ano de criação do canal Bolivisión. A princípio, esta emissora chamava-se “Canal 5 Tele-Sat” e se destinava especialmente ao comercial de antenas parabólicas receptoras de sinais via-satélite. (CHÁVARE MIRANDA; TERCEROS RODRIGUES, 2002: p.12)

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Essa emissora, em 1986, já contava com aparelhos que lhe permitia transmitir sinais durante as 24 horas do dia. Entretanto, segundo Rivanedeira Prada e Cuenca Tirado (1986, p.134)

Sua programação nacional é muito escassa. Toma sinais de estações do Brasil, Venezuela e México de programas esportivos, musicais, notícias e longas- metragens que retransmite arbitrariamente. Mais de 80 por cento de seus programas são apropriados de estações estrangeiras. (RIVANEDEIRA, TIRADO CUENCA, 1986: p.136. Tradução nossa)7

Atualmente, conforme explica Amaly Gutierrez Farrel, “o Canal 5 ATB junto aos jornais La Razón, El Nuevo Dia, Extra e ao portal Bolivia.com formam o maior grupo midiático da Bolivia” (2005: p.39. Tradução nossa)8. No entanto, os participante majoritários são Inversiones Grupo Multimedia de Comunicaciones S.A, e Prisa Internacional. Chávare Miranda e Terceros Rodrígues explicam que o canal mudou de nome e de proprietários diversas vezes e somente em 1997 recebeu o nome atual.

ATB Rede Nacional não é um canal da sede do governo que emite para todo o país. Muito pelo contrário, é uma associação de teledifusoras bolivianas; ou seja, uma união de canais autônomos que emite uma grande porcentagem de sua programação em rede, no entanto cada canal tem a autonomia de oferecer ao seu público espaços locais, com programas de acordo com as exigências regionais, principalmente os informativos, que cobrem as necessidades de cada região. (2002: p.12. Tradução nossa)9

Em entrevista realizada no trabalho de campo em julho de 2007, Vívian Moreno afirmou que a emissora mexicana Televisa era sócia do canal A.T.B., o que poderá explicar as características da programação da emissora, que transmite com freqüência as telenovelas e seriados produzidos pelo canal mexicano. Torrico Villanueva, Herrera Miller e Pinto Sardón (2000, p.52) também mencionam esta participação da Televisa na emissora boliviana:

7 Texto original: “Su programación nacional es muy escasa. Toma señales de estaciones de Brasil, Venezuela y México, de programas deportivos, musicales, noticias y largometrajes que retransmite abitrariamente. Más del 80 por ciento de sus programas son apropiados de estaciones extranjeras.” 8 Texto original: “Canal 5 ATB junto a los periódicos La Razón, El Nuevo Día, Extra y el portal de Internet Bolivia.com conforman el grupo mediático más grande de Bolivia: Inversiones Grupo Multimedia de Comunicaciones S.A., con una significativa participación de Prisa Internacional es el socio mayoritario”. 9 Texto original: “ATB Red Nacional no es un canal de la sede de gobierno que emite para todo el país. Muy por el contrario, es una asociación de teledifusoras bolivianas; es decir, una unión de canales autónomos que emite un gran porcentaje de su programación local en red, sin embargo cada canal tiene autonomía de brindar a su público espacios locales, con programas de acuerdo a las exigencias regionales, principalmente los informativos, que cubren las necesidades de cada región.”

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Um caso digno de menção é o da rede ATB (Associação de Teledifusores da Bolívia) organizada ao redor de um dos primeiros canais de televisão privada, que desde 1993 incorporou em sua estrutura proprietária, com 25% das ações, a Televisa S.A., do México. As prioridades programáticas desta Rede, que é a mais importante na Bolívia, giram em torno dos materiais produzidos pela transnacional mexicana, especialmente do gênero telenovela.

O Canal Unitel surgiu em Santa Cruz de la Sierra em fevereiro de 1987 com o nome Red Tele Oriente. A princípio, os sinais chegavam apenas às cidades vizinhas à Santa Cruz de la Sierra. Em seguida, esta rede passou a fazer parte da Rede A.T.B., de forma que a sociedade se desfez apenas em 1997. (CHÁVARE MIRANDA; TERCEROS RODRÍGUES, 2002: p. 14) Atualmente, é uma das três emissoras líderes de audiência no país e está em primeiro lugar no departamento de Santa Cruz. Seus sinais são transmitidos nas nove capitais do país e em outros 41 municípios. Esta emissora possui contrato de exclusividade com a Rede Globo e retransmite, em horário nobre, as telenovelas brasileiras. O canal 13 surgiu em Santa Cruz de la Sierra em fevereiro de 1984, em conjunto com os outros canais que se apoiaram no projeto de lei apresentado no poder legislativo e que suprimia o monopólio estatal em matéria de televisão. Em 1999, a Rede que se chamava Cruceña de Televisión juntou-se à Andina de Teledifusora e passou a se chamar Red Uno. Atualmente, é uma das emissoras mais fortes do país e se encontra em segundo lugar no nível de audiência na cidade de Santa Cruz.

Conclusões parciais

A chegada tardia da televisão na Bolívia reflete, em grande parte, a estrutura econômica enfrentada pelo país ao longo de sua história. Enquanto o México já exportava suas primeiras telenovelas, o país ainda assistia o lento advento desta nova tecnologia, proporcionado por um governo militar que utilizava este meio de comunicação como um instrumento de combate às classes trabalhadoras. Como se observou neste capítulo, todos os estados do país compartilham os mesmos tipos de problema, que vão desde os altos índices de pobreza até a incipiente industrialização. Nas poucas regiões que apresentam um índice de desenvolvimento econômico e social satisfatórios, encontram-se as principais emissoras de TV.

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A programação destas emissoras que, a princípio, era preenchida por sinal pirateado de emissoras de países vizinhos, ainda encontra uma dificuldade na produção nacional. Isto se soma à falta de recursos técnicos e humanos pelas emissoras de TV, reflexo da falta de anunciantes e do pouco acesso da população aos aparelhos de TV no país.

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CAPÍTULO IV TELENOVELA NA BOLÍVIA

Grade de programação

Para se compreender o lugar que a telenovela ocupa na grade de programação dos canais de televisão bolivianos, foram examinadas as grades de programação das quatro mais importantes emissoras que somente transmitem telenovelas importadas, pois nenhuma delas tem produção própria. O período estudado foi o mês de julho de 2007, quando foi realizado o trabalho de campo desta pesquisa. Optou-se pelos canais Unitel, Red Uno, Bolivisión e ATB, que são os de maior índice de audiência do país. Mas antes de se partir para esse estudo, é necessário compreender as particularidades da programação dessas emissoras. Marco Tapia Peña, chefe de vendas do canal Red Uno, lembra que no país, ao contrário do Brasil, não existe apenas um horário nobre:

Aqui na Bolívia há três horários nobres. De duas a três da tarde, de sete a oito da noite e de nove às 10. É um horário que as pessoas estão acostumadas. É como no Brasil que, às nove da noite, às 10 da noite, vão ver novelas. Estes horários já são preestabelecidos aqui no costume boliviano. (MARCO TAPIA PEÑA, entrevista.ju l. 2007)

Uma das razões que levam os bolivianos a tratarem o horário de 14 às 15h como horário nobre deve-se ao costume da sesta. Mesmo nas grandes cidades como Santa Cruz de la Sierra, Cochabamba e La Paz, este costume ainda é praticado. No período de 13h às 15h, o comércio das cidades é interrompido e os trabalhadores costumam ir às suas casas para almoçar e descansar, o que aumenta o número de telespectadores em relação aos outros períodos. Este é um dos motivos de o horário ser considerado nobre pelas emissoras de TV do país. Geralmente, os horários nobres são preenchidos com telenovelas.

Unitel

Na emissora Unitel, observa-se a predominância de seriados, telenovelas e filmes importados na grade de programação. São 14 séries, transmitidas especialmente nos finais de semana ou em horários de maior audiência, de acordo com a importância que o produto adquire entre os telespectadores. Em relação aos filmes, eles são divididos em cinco tipos –

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Cine Aventura, Cine Familiar, Cine Insomnio, Cine Más e Señor Cine. São exibidos aproximadamente 38 filmes por semana. As telenovelas ocupam um espaço menor na grade de programação da emissora, especialmente quando se compara com a programação dos outros canais bolivianos. Atualmente, a Unitel transmite quatro telenovelas, de segunda a sexta-feira. Apesar do fato deste gênero não ocupar muitas horas semanais na programação da emissora como os filmes, reconhece-se sua importância através do horário em que são transmitidas. A primeira telenovela é exibida às 9h, voltada especialmente para o público feminino. A telenovela seguinte é exibida às 14h, horário considerado nobre no país. Posteriormente, são exibidas mais duas telenovelas – uma às 18h45 e outra às 21h, horários de destaque para a transmissão de telenovelas. Segundo Carlos Novaro, diretor de programação e de produção do canal, apesar de serem transmitidas telenovelas diariamente, a comparação com outros canais de TV no país mostra que para a Unitel este gênero não é o principal produto transmitido pela emisora. O gênero mais forte no canal são os filmes, pela quantidade de horas transmitidas.

A concorrência transmite mais novelas ao dia pela obrigação de seu contrato com a Televisa e, além disso, compra algumas novelas colombianas. Têm tentado também novelas brasileiras da Globo, que têm comprado. [...] Claro que não dou mais importância a um ou ao outro [gênero]. Um canal deve ter novelas, deve ter filmes, deve ter notícias e deve ter eventos. (CARLOS NOVARO. Entrevista. Jul.2007)

Red Uno Se, de um lado, a Unitel privilegia a transmissão de filmes durante toda a semana, a Red Uno tem nas telenovelas o seu principal produto. O canal transmite apenas nove filmes, em contraste com os 38 filmes exibidos semanalmente pela Unitel. Enquanto a emissora concorrente exibe filmes durante toda a madrugada, a Red Uno pára de transmitir seus sinais. São exibidas oito telenovelas de segunda à sexta-feira e retransmitida uma telenovela na manhã dos domingos. A primeira é exibida às 5h30, sendo seguida pelas outras, que são exibidas às 9h, às 14h, às 15h, às 16h, às 18h, às 19h e às 21h. Assim como o Canal 13 Unitel, a Red Uno dedica sua programação dos finais de semana especialmente à transmissão de seriados.

ATB Em relação à A.T.B., Canal 5, também se observa um predomínio das telenovelas sobre os outros gêneros. Anteriormente, parte das ações do canal pertencia à mexicana

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Televisa. Atualmente, essa empresa não possui participação nos lucros do canal boliviano, mas mantém um acordo de exclusividade na venda de seus produtos. É por este motivo que a A.T.B. normalmente transmite muitas telenovelas originárias do México. Observando sua grade de programação, constata-se a presença de sete telenovelas transmitidas de segunda à sexta-feira pela emissora. Elas são distribuídas pela programação da seguinte maneira: às 6h20, às 11h, às 14h, às 15h às 18h15, às 19h e às 21h. Em comparação a outras emissoras, o Canal 5 transmite poucos seriados. De segunda a sexta-feira, são três seriados e aos sábados e domingos outros três, totalizando seis seriados exibidos por semana. Além disso, a emissora transmite 15 filmes, aproximadamente. Normalmente, eles se concentram no horário noturno (22h) e nos finais de semana. “Noticiários, telenovelas e filmes são o nosso forte. Séries também, mas a maior parte de nossa programação se concentra aí”, comenta a respeito das telenovelas Vivian Moreno, chefe do setor administrativo da ATB em Santa Cruz de la Sierra. Ela completa: “A telenovela é uma das estrelas da televisão”. (VÍVIAN MORENO, entrevista.jul. 2007)

Bolivisión A Rede Bolivisión, por outro lado, é o canal que menos transmite telenovelas. São apenas três na programação, duas pela manhã e uma à tarde. Ao contrário da Unitel, a Bolivisión transmite poucos filmes (05) e somente nos finais de semana. Por outro lado, são exibidas séries procedentes de outros países da América Latina, como Colômbia e México. No mês de julho de 2007, foram transmitidas duas séries, de segunda a sexta-feira, um talk- show, e cinco filmes por semana. Além disso, transmitem-se muitos programas de entretenimento provenientes de outros países, desenhos animados e telejornais. São exibidos quatro telejornais de segunda a sexta-feira e nenhum nos finais de semana. Sobre a importância da telenovela na grade de programação da emissora, Willman Camargo, chefe administrativo da Bolivisión em Santa Cruz de la Sierra, comenta: Dentro do canal ela tem sua importância mais no horário da manhã. No começo da tarde também se vêm as telenovelas. Neste caso, o segmento das mães, dos grupos familiares que estão em casa neste horário. Não é que [a telenovela] não seja importante. Tem sua importância. Está num horário especial. E dedica normalmente, de acordo com a programação, uma hora ou meia hora de programação diária. Da quantidade de horas que temos, são 17 horas de programação. E a hora que dedicamos mais ou menos à novela é mais ou menos de uns 10, 20% da programação. (WILLMAN CAMARGO: entrevista. Jul.2007)

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Apesar dos poucos trabalhos existentes a respeito da mídia comercial boliviana, encontrou-se algumas pesquisas que apresentam um panorama condizente com o que se observou no mês de julho de 2007 neste trabalho de campo. As principais diferenças dizem respeito à escolha das emissoras analisadas assim como aos períodos escolhidos. Amaly Gutierrez Farel (2005) constatou que há um predomínio dos gêneros informativos e de entretenimento na programação dos canais abertos da cidade de Santa Cruz de la Sierra no primeiro Prime Time (20h às 22h). Foram analisadas as grades de programação dos canais A.T.B., Sitel, Cristal de Televisión, P.A.T., Gigavisión, Megavisión, Televisión Universitária, Red Uno, Cadena A e Unitel.

A programação do primeiro horário nobre da televisão aberta da cidade de Santa Cruz quase não apresenta a combinação dos formatos de entretenimento, de informação e de dramatização. De acordo com a análise realizada da programação pôde-se constatar que os formatos mais combinados são os de informação e de entretenimento, enquanto que o formato de dramatização não é muito utilizado. (GUTIERREZ FAREL, 2005, p.143. Tradução nossa)1

Desta maneira, percebe-se uma diferença entre a análise da grade de programação das emissoras de mais sucesso no país realizada em nossa pesquisa e aquela de Gutierrez Farel (2005), uma vez que essa autora contemplou a análise de todos canais de televisão que transmitem na cidade de Santa Cruz de la Sierra, mas focalizando apenas parte de sua programação. Pode-se argumentar, contudo, que se a combinação dos formatos de dramatização e de informação embora não seja a mais freqüente no universo total de emissoras, abrange justamente os canais de maior audiência no país, nas três cidades que são referência no estudo do público telespectador – Cochabamba, Santa Cruz de la Sierra e La Paz. Para Gutierrez Farel (2005), as emissoras que mais recorrem a esta combinação no período de 20h às 22h são: Canal 13 Red Uno, Canal 9 Unitel e Canal 5 A.T.B.. No entanto, é necessário lembrar que as telenovelas não são exibidas somente no horário nobre analisado por Gutierrez Farel (2005). O gênero ocupa um espaço privilegiado na grade de programação das principais emissoras do país, incluindo os períodos matutino e

1 Texto original: “La programación del primer Prime Time de la televisión abierta de la ciudad de Santa Cruz presenta en su minoría la combinación de los formatos de entretenimiento, de información y de dramatización. De acuerdo al análisis realizado de la misma se pudo constatar que, los formatos mayormente combinados son el de información y entretenimiento, mientras que el formato de dramatización no es muy utilizado”.

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vespertino. Nos quatro canais de televisão de maior audiência no país, são transmitidas telenovelas no horário nobre das 14h. O quadro a seguir demonstra um número aproximado de quantas vezes são exibidos os gêneros telenovela, filme, noticiário e séries. Apesar da variação mensal ou semanal, pode-se observar que há um predomínio da telenovela em algumas grades de programação. Como exemplo de variação de resultados, pode-se citar o canal Unitel. No mês de julho de 2007 - período analisado- observou-se um alto índice de transmissão de noticiários e boletins informativos. Este fato deve-se à interrupção da programação normal para a transmissão de informações a respeito dos jogos Pan Americanos realizados no Rio de Janeiro.

Quadro9 Número de Telenovelas, Filmes, Telejornais e Séries exibidos por semana pelos canais de maior audiência (Em Números Absolutos) Gênero de Programa A.T.B. Bolivisión Red Uno Unitel Telenovela: (1) 35 15 41 20 Filme: 15 5 9 38 Telejornal: 15 20 36 30 Série: 21 11 10 22 (1) Número de capítulos transmitidos

Importação de programas

Como vimos anteriormente, as primeiras emissões de televisão aconteceram no ano de 1969. Desde aquela época, a programação foi marcada pela transmissão de produções advindas de outros países, dada a dificuldade de produzir programação numa emissora com poucos recursos técnicos e financeiros. Cerca de 80% da programação do primeiro canal, da Empresa Nacional de Televisión Boliviana, era preenchida por filmes norte-americanos, telenovelas e programas de variedades. (RIVANEDEIRA PRADA, TIRADO CUENCA: 1986, p. 79).

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Além disso, como explicam Torrico Villanueva, Herrera Miller e Pinto Sardón (2000: p.44), a programação era de apenas cinco horas diárias, transmitida das 18h às 23 horas até o ano de 1975.

Entre os programas estrangeiros desse tempo destacam-se, dentro dos gêneros jornalísticos, Panorama Italiano, Panorama Francês; nos gêneros dramáticos, a telenovela La Caldera del Diablo; em séries de aventuras, Los invasores y Rin Tin-Tin; nos gêneros de mistério, Sombras Tenebrosas ola Hora de Hitchcock ; no gênero policial, Los Intocables, El Santo , Misión Imposible e Ironside; no gênero de ciência e ficção, Viaje a los Estrellas e, no gênero humorístico, Los tres Chiflados e La Família Monster. Como se percebe, todos esses programas - os mais importantes de então - eram de procedência norte-americana. Nos gêneros musicais distinguiam-se as produções argentinas; nos educativos, os cursos de inglês, francês e alemão e, finalmente, no gênero infantil, El pájaro Loco, Mister Magoo, Dick Tracy e Plaza Sésamo. (TORRICO VILLANUEVA, HERRERA MILLER, PINTO SARDÓN, 2000, p. 44)

Apesar dessa grande importação, havia no país um grande número de programas dos mais diversos gêneros, menos as telenovelas: Com relação aos programas de produção nacional, apesar de sua baixa porcentagem em relação aos importados, tinha-se produções de grande parte dos gêneros e formatos televisivos, menos os dramáticos. Os recursos humanos responsáveis por essa produção pertenciam ao quadro permanente do canal 7, provinham do teatro, da pintura, da música popular e folclórica, da radiodifusão, e em algum caso particular, eram jornalistas com estudos no estrangeiro.(TORRICO VILLANUEVA, HERRERA MILLER, PINTO SARDÓN, 2000, p.45)

Em uma pesquisa realizada pelo Ipal, Instituto de Pesquisa para a América Latina, no ano de 1988, na programação estrangeira exibida nos canais bolivianos, os gêneros mais transmitidos eram filmes, seriados e teledramas. Observou-se que 74% da grade de programação seriam de procedência estrangeira e que, desta porcentagem, 27,5% seria ocupada por filmes, 26,1% por teledramas e também 26,1% por seriados (MEDINA: 2004, p.391). Pode-se afirmar que houve poucas mudanças neste cenário, pois ainda há uma forte preponderância dos mesmos gêneros estrangeiros, já observados anteriormente.

A categoria telenovela que é a que ocupa maior rating de audiência nacional, corresponde sempre a produções estrangeiras, especialmente de origem mexicana e brasileira. [...] A programação de fim de semana prescinde das telenovelas. No lugar destas, porém, satura a oferta de seriados e filmes de

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procedência norte-americana. (TORRICO VILLANUEVA, MILLER, SARDÓN, 2000, p.54)

A pesquisa realizada por Eduardo Reny Justiniano Coimbra (2004) verificou que eram exibidas 26 telenovelas diariamente nos sinais de televisão captados na cidade de Santa Cruz de la Sierra e que a emissão começava às 6h30 e parava apenas às 23h. Através da análise das grades de programação das emissoras bolivianas, pode-se afirmar que há uma característica comum entre todas elas. Assim como no Brasil, há um predomínio de programação horizontal. Ou seja, os mesmos programas são exibidos de segunda a sexta-feira. Desta maneira, garante-se a fidelidade do público em relação aos programas exibidos durante a semana. Esta mesma estratégia é utilizada pelos canais brasileiros, que assim como as emissoras bolivianas, transmitem telenovelas em horário nobre para garantir a audiência do público nos dias consecutivos.

O melodrama é um elemento unificador do gosto do espectador, fato que é aproveitado pelos executivos do rating para planificar estratégias e pré-vendas de espaços publicitários.[...] No caso das produções estrangeiras que são transmitidas no país, os executivos só esperam que o comportamento da audiência seja igual ou melhor que no país de origem, mas em todos os casos utilizam seus espaços afim de motivar os espectadores a observar suas novas aquisições dramáticas. (JUSTINIANO COIMBRA, 2004, p.19. Tradução nossa)2

Como as emissoras bolivianas não possuem capital suficiente para produzirem teledramaturgia e para ampliarem a programação nacional, a solução encontrada, por quase todos os canais, é a compra de telenovelas, seriados e filmes a preços relativamente baixos de forma a garantir a transmissão de sua programação para um público que já se habituou a estes gêneros comprados de outros países. A justificativa para a compra e exibição de telenovelas com tanta freqüência pelas emissoras bolivianas parece residir justamente neste fato.

A relação entre proliferação de canais de televisão e produção nacional não tem trazido consigo – como já foi dito- um balanço positivo para esta última; pelo contrário, a multiplicação acelerada da quantidade de empresas de televisão tem favorecido quase exclusivamente o comércio importador de produtos televisivos da Argentina e Venezuela, do Peru, Brasil, México e,

2 Texto original: “El melodrama es un elemento unificador del gusto del espectador, cuestión ésta que es aprovechada por los ejecutivos del rating, para planificar estrategias y preventas de espacios publicitarios. […]En el caso de las producciones extranjeras que se transmiten en el país, los ejecutivos sólo esperan que el comportamiento de la audiencia sea igual o mejor que en el país de origen, pero en todos los casos utilizan espacios para introducir campañas promocionales con el fin de motivar a los espectadores a observar sus nuevas adquisiciones dramáticas”.

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lógico, dos Estados Unidos. (TORRICO VILLANUEVA; MILLER, PINTO SARDÓN, 2000, p.52-53).

A compra das telenovelas brasileiras

A presença das telenovelas brasileiras na grade de programação pode ser examinada de dois pontos de vista diferentes: apesar de seu sucesso, algumas empresas bolivianas priorizam a compra de telenovelas de outras produtoras, considerando o valor das telenovelas brasileiras muito alto. Quando as emissoras bolivianas as compram, normalmente as transmitem no horário nobre das 21h, acreditando que exista um público cativo. Quando questionados a respeito do motivo de não comprarem as telenovelas brasileiras, todos profissionais entrevistados citaram apenas o custo financeiro como justificativa. Por este motivo, apesar da grande aceitação das telenovelas brasileiras, sua transmissão é menos freqüente que das telenovelas mexicanas ou colombianas. Das 21 telenovelas exibidas em julho de 2007, apenas uma era brasileira. Embora para a Rede Globo, a principal exportadora de telenovelas no Brasil, o mercado boliviano seja pequeno, ainda assim ele tem uma importância, ao lado de outros países que também não produzem conteúdos. A resposta do Departamento Comercial sobre os motivos que levaram a empresa a exportar suas produções para a Bolívia é que se decidiu “concentrar nossos esforços nos países que compram ‘enlatados’ e não produzem conteúdos”. A justificativa é que através das telenovelas, a empresa adquire espaço no mercado de países em que os meios de comunicação são pobres e não têm muitas condições de produzir conteúdo próprio. De 2003 até 2007, foram comercializados 11 produtos da Rede Globo com a Unitel, que possui contrato de exclusividade nas compras destas telenovelas: Esperança, , O Rei do Gado, Mulheres Apaixonadas, , , , Presença de Anita, América, Belíssima e Cobras e Lagartos. Outras emissoras também compraram telenovelas da empresa brasileira, mas apenas esta forneceu a lista das produções exibidas. Em relação ao horário escolhido para transmitir estas telenovelas e das temáticas procuradas pela emissora no processo de compra , Carlos Novaro explica que a novela da Globo, a central, por suas características, não é para o horário da tarde. [...] no meu critério, a Globo é a melhor produtora de telenovelas que existe na América-latina. [...] Bem, em relação ao conteúdo de seus roteiros, à sua produção, à realização, aos atores, realmente estão na vanguarda. Por

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algum motivo, os produtos conseguem sucesso. As novelas da Globo vendem até na Europa. As outras ocasionalmente têm algum sucesso, compram algum roteiro, dão algum golpe de sorte assim, pode ser. Mas a Globo faz anos que vende na Europa. E não entra qualquer coisa lá . Bem, como profissional da organização de telenovelas, devo dizer que os produtos da Globo, neste aspecto, são os melhores. [...] A Colômbia, hoje em dia, tem tomado um rol muito importante. Também ganha da Televisa pelos conteúdos e pelos atores. Televisa se mantém sempre no mesmo esquema. É o conto da Cinderela a torto e a revés. O pobre odeia o pobre, o rico odeia a rica. A mesma coisa e com maus atores, às vezes. Mas as classes populares dão grande audiência aos produtos da Televisa. Inclusive aqui. Isso é inevitável. Esse é o problema que tem a Globo. Que é aceita amplamente pela classe média, média alta e alta. Mas a classe baixa e baixa prefere a Televisa. [...]A gente briga para ser uma novela central da Globo porque tem um caráter mais cosmopolita. Ou seja, é a mais universal. As outras não, dos outros horários. São dirigidas a outros públicos específicos como para a juventude... Neste caso, a temática é realmente de uma grande cidade, ou da cidade, onde há gente jovem, gente adulta, onde há de tudo. (CARLOS NOVARO, entrevista. Jul. 2007)

A Red Uno, segunda emissora em índice de audiência na cidade de Santa Cruz de la Sierra, também exibe com freqüência as telenovelas da Rede Globo. No entanto, compra com mais freqüência as telenovelas colombianas, mais baratas e com garantia de se alcançar altos índices de audiência. Ele explica os motivos que levam a empresa a comprar, ocasionalmente, as telenovelas da emissora brasileira:

Porque se compram as novelas brasileiras... Primeiro: a televisão boliviana entrou recentemente num nível competitivo já aceitável onde estão nascendo as primeiras tentativas de produzir, de gerar produção própria, programas que geram audiência. É este o nosso caso. É o caso da outra empresa que você entrevistou. E, por que as novelas da Rede Globo? Porque eles têm todo o know-how e o comportamento das novelas no Brasil é similar ao comportamento da audiência aqui na Bolívia. O que quero dizer com isso? Que já conhecemos. Me lembro, há muitos anos atrás, quando traziam as novelas como Dancing Days, como Sasá Mutema, e O Bem Amado, não? Ou seja, todas estas novelas já foram criando uma cultura e estabelecendo horários onde as pessoas já estão acostumadas a ver este tipo de novelas. Por que compramos as novelas da Globo? Porque nos garantem que as novelas que vamos comprar nos darão os bons resultados que esperamos em relação à audiência. E por aí entendemos que o anunciante tem uma opção onde investir e o investimento retorna imediatamente. (MARCO TAPIA, entrevista. Jul. 2007)

Marco Tapia também explica que as telenovelas brasileiras são direcionadas para um público de classe média, enquanto as outras são direcionadas a um público menos favorecido economicamente. Quando você compra uma novela da Rede Globo, está atacando um segmento médio-alto. Seu segmento principal é a gente da classe média, de poder econômico médio pra cima. E não quer dizer que as pessoas da classe média

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para baixo não vejam. Mas o forte, para qual está destinada, é a classe média para cima. O bom nas novelas brasileiras é que há muito luxo, muitos veículos bonitos, mulheres bonitas, lugares paradisíacos. Então é um tema de assimilação. Não é o caso das novelas mexicanas. As mexicanas são mais para o grosso da população. Eu diria que para 70% da população na Bolívia. Por isso têm uma diferença marcada. (MARCO TAPIA. Entrevista. Jul. 2007)

Produção de ficção televisiva no país

A produção e exibição de telenovelas e mini-séries bolivianas é tão escassa, que nem é citada pelos autores e o que se conclui é que o país não possui tradição neste tipo de dramaturgia. Há o registro apenas da Safipro, uma produtora de ficção televisiva de Santa Cruz. Não se pode afirmar que foram produzidas telenovelas, mas sim mini-séries, que foram exibidas nos canais nacionais, especialmente nas emissoras de televisão de Santa Cruz de la Sierra. Foram produzidas quatro tele-séries de 15 capítulos; quatro de 10 capítulos; uma de cinco capítulos e uma de 40 capítulos. Foram produzidos também ciclos de contos e lendas. O primeiro deles, exibido em 1991, tinha 11 temas diferentes exibidos em um capítulo cada. O segundo, exibido em 1994, teve 10 temas e o último, exibido em 1998, tinha 10 temas. Em agosto de 2007, essa produtora completou 21 anos de existência e totalizou apenas estas produções citadas. Todas foram exibidas em emissoras nacionais e algumas retransmitidas ocasionalmente. No período pesquisado (julho de 2007), pode-se observar a presença de uma das teleséries da Safipro na emissora local Megavisión, cujos sinais são transmitidos apenas na cidade de Santa Cruz de la Sierra. A justificativa da emissora para sua exibição é por considerá-la importante para a cidade, pois elas falam das lendas, costumes e tradições desta cidade boliviana. Mayco Guzmán, coordenadora geral da emissora, explicou:

A produção do canal é 100% local. Local, nem mesmo nacional. É local. As novelas são locais, são produzidas aqui em Santa Cruz. É uma produção que temos comprado, em realidade, de uma produtora daqui que se chama Safipro. Eles têm feito várias novelas. Nenhuma é uma história nova, digamos. Quase todas são lendas que, em realidade, caracteriza o povo daqui de Santa Cruz. Porque aqui em Santa Cruz – não sei se você tem visto – no tema político sobretudo, o povo é muito dono de sua terra, do que é Santa Cruz. Então estamos apostando por este lado, digamos de Santa Cruz, e estamos mostrando às pessoas o que elas gostam, as histórias de antes. Há várias histórias, digamos. A viuvinha, por exemplo. Que é uma novela que foi feita e é a história do espírito de uma mulher que andava antes aqui no centro da

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cidade. E tem personagens quase reais, com gente que existiu, mas recriadas, digamos. A outra novela que estamos passando agora é La Virgen de las Siete Calles. […] Esta menina nasceu na zona e a história dela é uma lenda. Então são todas histórias adaptadas da mesma terra, digamos. Para que as pessoas se vejam identificadas com Santa Cruz. (MAYCO GUZMÁN. Entrevista. Jul. 2007)

Apesar do esforço da produtora de Santa Cruz, a grade de programação da Megavisión inclui poucos programas reginais. A crítica feita por Torrico, Herrera Miller e Pinto Sardón (2000) de que muitos programas são “mal-classificados ‘nacionais’” (2000:p.53), pode ser aplicada a esta emissora. Durante o trabalho de campo realizado em julho de 2007, a Megavisión transmitia em seus telejornais as notícias dos jogos Pan Americanos com imagens, texto e voz dos jornalistas da Rede Globo. Ou seja, os cruceños assistem as notícias através de um canal local com uma visão estrangeira dos acontecimentos, em outro idioma. No entanto, reconhece-se o esforço da emissora de realizar produções locais e de falar da cultura regional, especialmente quando se compara com outras empresas que transmitem prioritariamente telenovelas, filmes e seriados estrangeiros para reduzirem os custos.

Audiência da Telenovela

Existem poucas informações a respeito da audiência televisiva na Bolívia. Algumas emissoras trabalham intuitivamente e, esporadicamente, contratam empresas que estudam a preferência do público. Durante as entrevistas com os profissionais das emissoras em Santa Cruz, verificou-se que os dados existentes são superficiais e insuficientes. Willman Camargo, diretor comercial da emissora Bolivisión, afirmou na entrevista concedida em julho de 2007 que a metodologia empregada para a verificação do índice de audiência na Bolívia é questionável. Para ele, a única empresa que mede o índice de audiência televisiva com aparelhos instalados nas casas dos telespectadores, não escolheu de maneira criteriosa a amostragem a ser analisada. Uma pesquisa de mercado realizada pela Captura Consulting em outubro de 2007 com 400 pessoas, entretanto, apresenta importantes elementos para se compreender melhor o lugar que a telenovela ocupa na Bolívia. A amostragem foi probabilística por conglomerados, com seleção aleatória de pontos mostrais e seleção sistêmica de domicílios localizados em Santa Cruz de la Sierra. Os dados referem-se à audiência na televisão, rádio, mídia impressa, Internet, publicidades nas ruas e cinema.

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As informações apontam para a preferência das emissoras Unitel e Red Uno pela população da cidade, como mostra o Quadro 10. Aproximadamente 52% da amostra prefere a primeira e 35% prefere a segunda, como se pode observar pela mesma tabela. As oito emissoras subseqüentes na preferência do público totalizam apenas 13% da audiência de Santa Cruz de la Sierra. Entre elas estão a ATB e a Bolivisión, citadas como principais concorrentes da Red Uno e da Unitel em todo o país.

Quadro 10 Audiência dos Canais de Televisão por Segmentos. NSE (1) Sexo Idade (%) (%) (%) Canais Total Baixa Média Mas. Fem. 16 a 17 18 a 24 26 a 80 Unitel 51,9 50,9 53,2 53,1 50,5 57,6 55,4 48,4 Red Uno 35,1 37,1 32,3 32,5 38,1 28,3 30,5 38,7 ATB 5,0 5,1 5,0 4,5 5,5 3,7 4,7 5,5 PAT 2,9 1,5 4,8 3,2 2,6 4,1 2,2 3,0 Bolivisión 2,8 2,9 2,7 3,4 2,2 3,7 3,3 2,4 Universitária 1,0 0,9 1,1 1,4 0,5 1,9 1,2 0,7 Megavisión 0,5 0,7 0,2 0,6 0,4 0,4 0,2 0,7 TV Nacional 0,4 0,6 0,2 0,7 0,1 0,0 0,9 0,3 Cadena A 0,2 0,1 0,4 0,4 0,0 0,4 0,3 0,1 Sitel 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,2 Fonte: Captura Consulting, 2007 (1) NSE refere-se às classes sociais

No que se refere ao hábito de assistir telenovelas, constatou-se que apenas 9,2% da população analisada assiste telenovelas pela manhã. Neste grupo de pessoas, a maioria é do sexo feminino e tem idade variando entre os 15 e os 17 anos. Observa-se também que as pessoas que fazem parte deste grupo, possuem um nível sócio econômico mais baixo, como aponta o Quadro 11.

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Quadro 11 Penetração de Telenovelas no Período da Manhã por Segmentos. NSE Sexo Idade (%) (%) (%) Penetração Total Baixa Média Masc. Fem. 15 a 17 18 a 24 25 a 60 Sim 09,2 11,9 5,4 4,9 14,0 19,1 11,8 6,2 Não 90,8 88,1 94,6 95,1 86,0 80,9 88,2 93,8 Fonte: Captura Consulting, 2007

As telenovelas mais assistidas pela manhã são da emissora Bolivisión, seguidas pela telenovela da Unitel. A audiência da telenovela exibida às 9h pela Unitel é caracterizada por um nível sócio-econômico mais alto que aquele da audiência da Bolivisión. Neste caso, o público feminino supera em 8% o público masculino, como se pode constatar no Quadro 12.

Quadro 12 Participação de Telenovelas no Período da Manhã por Segmentos. NSE (1) Sexo Idade (%) (%) (%) Participação Total Baixa Média Masc. Fem. 15 a 17 18 a 24 25 a 60 Bolivisión 51,4 53,6 44,4 50,0 51,9 55,6 53,8 46,7 Unitel 45,9 42,9 55,5 40,0 48,1 44,4 46,2 46,7 Cadena A 2,7 3,6 0,0 10,0 0,0 0,0 0,0 6,7 Fonte: Captura Consulting, 2007 (1) NSE refere-se às classes sociais

No primeiro horário nobre da televisão boliviana – de 12h às 15h – há um aumento no índice de audiência das telenovelas, como mostra a Tabela 4. Cerca de 27% da população entrevistada afirmou assistir telenovelas neste horário. Esta audiência é composta por um público mais jovem - 84% dos telespectadores tem idades variando entre os 15 e os 24 anos.

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Quadro 13 Penetração de telenovelas no período das 12h às 15h por segmentos. NSE (1) Sexo Idade (%) (%) (%) Penetração Total Baixa Média Masc. Fem. 15 a 17 18 a 24 25 a 60 Sim 26,8 30,1 22,3 19,9 34,4 49,9 35,3 18,9 Não 73,2 69,9 77,7 80,1 65,6 51,1 64,7 81,1

Fonte: Captura Consulting, 2007 (1) NSE refere-se às classes sociais

A emissora com o índice de audiência de telenovela mais alto no horário da sesta é a Unitel, cujos telespectadores somam 73% das pessoas que vêm o gênero no período de descanso. Telespectadores dos níveis sócio-econômico baixo e alto, dos sexos masculino e feminino, e de todas faixas etárias, preferem assistir telenovelas desta emissora neste horário. A Red Uno, por sua vez, tem uma audiência que atinge 17% do público de telenovelas exibidas entre as 12h e as 15h, como se pode observar no Quadro 14.

Quadro 14 Participação de Telenovelas no Período das 12h às 15h por Segmentos. NSE (1) Sexo Idade (%) (%) (%) Participação Total Baixa Média Masc. Fem. 15 a 17 18 a 24 25 a 60 Unitel 73,2 66,5 82,1 79,5 69,1 66,7 79,5 71,4 Red Uno 17,0 19,2 12,8 15,9 17,6 20,8 15,4 16,3 ATB 7,1 9,6 2,6 2,3 10,3 8,3 5,1 8,2 PAT 1,8 1,4 2,6 2,3 1,5 4,2 0,0 2,0 Megavisión 0,9 1,4 0,0 0,0 1,5 0,0 0,0 2,0 Fonte: Captura Consulting, 2007 (1) NSE refere-se às classes sociais

Passado o período da sesta, o número de telespectadores que assistem telenovelas cai para 7,7%, como se observa na Tabela 6. A maioria da audiência é feminina, com idade entre os 15 e os 17 anos.

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Quadro 15 Penetração de Telenovelas entre 15h e 18h por Segmentos. NSE (1) Sexo Idade (%) (%) (%) Penetração Total Baixa Média Masc. Fem. 15 a 17 18 a 24 25 a 60 Sim 7,7 8,8 6,0 5,8 9,7 21,3 8,8 4,5 Não 92,3 91,2 94,0 94,2 90,3 78,7 91,2 95,5 Fonte: Captura Consulting, 2007 (1) NSE refere-se às classes sociais

Do grupo de pessoas que assiste telenovelas no período depois da sesta, mais da metade assiste as telenovelas da Unitel e aproximadamente 35% assiste as telenovelas da Bolivisión. PAT e Red Uno somam 13% da audiência de telenovelas neste horário, como pode se verificar através do Quadro 16. O grupo de telespectadores da Unitel é composto, em sua maioria, por mulheres. Aproximadamente 69% do público feminino assiste as telenovelas dessa emissora no horário vespertino. O grupo masculino, por outro lado, prefere as telenovelas exibidas pela Bolivisión neste horário.

Quadro 16 Participação de telenovelas entre 15h e 18h por segmentos NSE (1) Sexo Idade Participação Total Baixo Médio Masc. Fem. 15 a 17 18 a 24 25 a 60 Unitel 51,6 57,1 40,0 25,0 66,4 54,5 55,6 45,5 Bolivisión 35,5 28,6 50,0 66,7 15,8 27,3 44,4 36,4 PAT 9,7 9,5 10,0 0,0 15,8 18,2 0,0 9,1 Red Uno 3,2 4,8 0,0 8,3 0,0 0,0 0,0 9,1 Fonte: Captura consulting, 2007 (1) NSE refere-se às classes sociais

O maior público de telenovelas se concentra à noite, em horário nobre. Segundo a pesquisa, 46,2% da população assiste telenovelas neste período do dia em Santa Cruz de la Sierra (Quadro 17). Observa-se que há pouca participação do grupo de nível sócio-econômico médio, apenas 37,3% destas pessoas assistem telenovelas à noite. Nota-se também que a

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maioria das mulheres compõe a audiência neste horário. Quase 63% da população deste sexo vêm telenovelas.

Quadro 17 Penetração das telenovelas noturnas por segmentos NSE (1) Sexo Idade (%) (%) (%) Penetração Total Baixo Médio Masc. Fem. 15 a 17 18 a 24 14 a 60 Sim 46,2 52,7 37,3 31,1 62,9 59,6 52,9 40,7 Não 53,8 47,3 62,7 68,9 37,1 40,4 47,1 59,3 Fonte: Captura Consulting, 2007 (1) NSE refere-se às classes sociais

Entre os 46,2% da população que assiste telenovelas à noite, 45,8% prefere a Red Uno e 44,8% prefere a Unitel, emissora que transmite às 21h as telenovelas da Rede Globo. Somando-se a audiência das emissoras ATB, PAT e Sitel, não se chega aos 10% do público telespectador do gênero neste horário. Nota-se que o público masculino tem preferência pelas telenovelas da Unitel, que são as telenovelas da Rede Globo, enquanto o feminino prefere as duas telenovelas exibidas pela Red Uno, uma produzida no México e gravada nos Estados Unidos e outra de origem colombiana.

Quadro 18 Participação das Telenovelas Noturnas por Segmentos NSE (1) Sexo Idade (%) (%) (%) Participação Total Baixo Médio Masc. Fem. 15 a 17 18 a 24 25 a 60 Red Uno 45,8 48,9 39,7 38,4 50,0 46,9 52,7 42,1 Unitel 44,8 43,5 47,1 53,4 39,8 40,6 41,8 47,4 ATB 7,0 6,0 8,8 5,5 7,8 9,4 3,5 7,9 PAT 2,0 0,8 4,4 2,7 1,6 3,1 1,8 1,8 Sitel 0,5 0,8 0,0 0,0 0,8 0,0 0,0 0,9 Fonte: Captura Consulting, 2007 (1) NSE refere-se às classes sociais

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Conclusões parciais

Através da análise da grade de programação das principais emissoras de televisão da Bolívia, constatou-se que há um índice elevado de gêneros importados. Em geral, são transmitidos seriados, telenovelas, filmes e programas de variedades provenientes tanto da América Latina, como dos Estados Unidos. Os programas de produção nacional são, em geral, do gênero jornalístico ou gravados em estúdio. Não há registro de ficção televisiva produzida na Bolívia e exibido por estes canais durante o período analisado. As telenovelas ocupam, em geral, os horários nobres das principais emissoras. A primeira exibição acontece às 5h30 e a última apenas às 21h. As quatro emissoras analisadas – ATB, Bolivisión, Unitel e Red Uno - somam aproximadamente 110 capítulos de telenovela por semana. Isso evidencia a importância deste gênero para os canais bolivianos. Em relação à audiência televisiva, observa-se que poucos canais concentram a população telespectadora de telenovelas em Santa Cruz de la Sierra. Estas emissoras são a Unitel, a Red Uno e a Bolivisión. De alguma forma, o resultados da pesquisa de audiência é decorrente também do número de telenovelas exibida por cada emissora. À noite, por exemplo, a Red Uno transmite três telenovelas, enquanto a Unitel transmite apenas duas. Esta diferença na grade de programação pode, em parte, explicar o fato do índice de audiência da Red Uno ser mais alto neste horário.

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CAPÍTULO V RECEPÇÃO DA TELENOVELA NA BOLÍVIA

O Trabalho de Campo

O trabalho de campo iniciou-se em 10 de julho de 2007 e se estendeu até o mês de agosto. Nesse período, foram entrevistados profissionais das emissoras Unitel, Red Uno, Bolivisión, ATB e Megavisión, nesta ordem. Paralelamente, foram realizadas as entrevistas com telespectadores de telenovelas e visitadas as faculdades de comunicação, em busca de bibliografia e com o intuito de trocar informações com os professores destas instituições. Os primeiros contatos com pesquisadores de universidades e profissionais das emissoras de televisão foram realizados ainda no Brasil, de forma que algumas entrevistas já estavam agendadas antes mesmo de se chegar ao país. A primeira delas foi realizada com o diretor técnico da Unitel, Carlos Rojas e, em seguida, com Ingrid Tapia, responsável pela programação da emissor e foi possível obter as primeiras informações a respeito da compra das telenovelas brasileiras pela emissora, do acordo de exclusividade da emissora com a Rede Globo e dos critérios de escolha das telenovelas. Em seguida, foi entrevistado o diretor comercial e de programação da emissora, Carlos Rojas, forneceu informações a respeito da compra das telenovelas brasileiras. A facilidade de entrar em contato com os profissionais da Unitel se repetiu em todas emissoras visitadas. Algumas delas não possuem site na Internet, de maneira que não era possível encontrar informações e entrar em contato com os diretores. No entanto, a visita não anunciada não impediu a entrevista e a coleta de dados. Esta abertura proporcionada pelos canais de Santa Cruz de la Sierra compensou, de certa forma, a falta de informações acumuladas a respeito da mídia do país. A realidade com a qual se deparou foi da escassez de dados sobre a audiência televisiva por parte de todas as emissoras, somada ao pequeno conhecimento acumulado pelas faculdades de comunicação do país, no que se refere à programação, aos anunciantes e ao público telespectador. Emissoras importantes do país como a Red Uno e Bolivisión têm pouco material de divulgação de sua programação atual e quase nenhum registro do que já foi transmitido até os dias de hoje.

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Por outro lado, o fato dos escritórios destas emissoras estarem concentrados em Santa Cruz, facilitou o trabalho de campo, tornando desnecessária às cidades de La Paz e Cochabamba. Através de Marco Tapia Peña, responsável pela programação da Red Uno, foram obtidas informações sobre as empresas que fornecem dados de audiência para as emissoras. No entanto, das três empresas citadas por ele, uma já não existia, outra afirmou não trabalhar com este tipo de prestação de serviço e a terceira não quis fornecer os dados porque teria um acordo de sigilo com as emissoras contratantes. Como se explicou no capítulo I, uma das primeiras constatações durante o trabalho de campo foi de que a proposta metodológica inicial não poderia ser totalmente cumprida. Ao começar a busca por telespectadores dispostos a darem entrevista, observou-se uma resistência tanto para receber a pesquisadora em suas casas quanto para falarem sobre o assunto. Em geral, as pessoas procuradas para darem depoimento, pediam para serem entrevistadas em seus locais de trabalho. Quando permitiam a entrevista em suas casas, limitavam o espaço a ser visitado. Apenas três entrevistadas permitiram a entrada nos outros cômodos da casa, de forma que se pôde compreender a maneira como viam televisão somente destas pessoas. Em muitos casos, as pessoas mostravam interesse em falar sobre as telenovelas brasileiras, mas quando a entrevista era solicitada, se esquivavam. Os telespectadores encontravam formas variadas para fugir da entrevista. Uma senhora que vivia num condomínio de classe média alta argumentou que não poderia dar entrevista porque, apesar de gostar das telenovelas brasileiras, não as estava assistindo porque não tinha luz em casa; outra senhora alegou que não assistia telenovelas porque era católica, mesmo depois de fazer comentários a respeito de várias telenovelas brasileiras que havia visto. Por isso, muitas entrevistas foram obtidas apenas através de indicações. A busca por telespectadores começou de maneira aleatória, indo de casa em casa durante o dia e pedindo-se para voltar à noite, num período em que estivessem assistindo às novelas. A resistência já comentada fez com que a mudança de metodologia desse um pouco de liberdade para realizar as entrevistas nos locais desejados pelos entrevistados. À medida que elas eram realizadas, pedia-se indicação de novos entrevistados com as características procuradas. Sendo assim, as entrevistas aconteceram em escritórios, casas, na igreja do bairro e em estabelecimentos comerciais. Foram entrevistadas 14 pessoas, sendo: 10 mulheres e quatro homens, da classe média e média baixa, com idades e níveis de estudo variados, conforme está descrito no capítulo VI.

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A procura por telespectadores começou no bairro El Paraíso, localizado numa região central de Santa Cruz e onde vivem famílias da classe média. Esta decisão partiu da sugestão do Diretor da Faculdade de Comunicação da Universidade Estatal René Moreno, Ramón Fernandez Reyes, que revelou que neste bairro seriam encontrados telespectadores de classe média, que assistem prioritariamente as telenovelas brasileiras. Esta informação foi dada também por Carlos Novaro e por Marco Tapia Peña, que ressaltaram as diferenças sócio- econômicas dos telespectadores das telenovelas brasileiras e mexicanas. Durante o período de permanência em Santa Cruz de la Sierra, observou-se a programação dos principais canais de televisão transmitidos na cidade e a repercussão das telenovelas brasileiras nos principais veículos de comunicação. Notou-se que, neste período, a telenovela Belíssima bem como as outras que estavam sendo exibidas, não foram objeto de discussão nos jornais, revistas, emissoras de rádio ou TV. A ida a bancas de jornais e a procura por notícias fazia parte da rotina no trabalho de campo. As únicas publicações sobre telenovelas tratavam exclusivamente da telenovela e eram destinadas ao público jovem. No principal jornal de Santa Cruz de la Sierra, El Deber, a programação televisiva não era publicada diariamente, de forma que a referência às emissoras era pouco freqüente.

As Famílias Analisadas

A família 01 é formada, atualmente, por três membros. O casal e seu filho, de 20 anos. A filha é casada e mora no exterior. Desta maneira, o questionário foi aplicado apenas para três pessoas. A pessoa escolhida para ser entrevistada foi a mãe, dona de casa, de 48 anos, com segundo grau completo. Ela ocupa seu tempo indo à fazenda da família, cuidando de sua casa e sempre teve o hábito de assistir às telenovelas brasileiras que, em geral, as vê em companhia de seu marido, em seu quarto. O filho normalmente não assiste à televisão com os pais e, por isso, seus hábitos de mídia se diferenciam do restante da família. Esta família tem acesso a todos meios de comunicação: TV a cabo, jornal, Internet e Rádio e vive num bairro de classe média de Santa Cruz de la Sierra. No mês de julho de 2007, todos assistiam apenas uma telenovela, Belíssima, depois de assistir o noticiário transmitido pela Unitel. A segunda família é composta por quatro pessoas: Ariel, sua prima Lala, sua irmã Karina, e por sua mãe, Martha. Ariel, o entrevistado, explicou que sua família mora no bairro mais distante de Santa Cruz, na periferia da cidade. Por isso, pediu que a entrevista fosse realizada em seu local de trabalho, visto que o escritório é localizado no centro da cidade.

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Martha trabalha como cabeleireira, Karina é assistente social e Lala, sua prima, é dona de casa, cuida da casa dos familiares e de seus quatro filhos. Ariel tem 24 anos e trabalha como engenheiro de sistemas. No próprio ambiente de trabalho, apresentou outros amigos que se disponibilizaram a darem entrevistas – Cidar e Arnold. As mulheres que trabalham com Ariel não quiseram dar entrevistas e explicaram que há muitos anos não vêm telenovelas. José Ángel tem 38 anos e é secretário da igreja do bairro onde foi encontrada a maioria dos entrevistados. Além disso, estuda curso normal, nível superior, e tem uma banda na qual toca muitas músicas brasileiras. Vive com os pais, que têm um comércio, e com a irmã, que é arquiteta. Além de assistir as telenovelas, a família divide o hábito de assistir, prioritariamente, os noticiários juntos. Arnold, colega de trabalho de Ariel, vive com os pais, as duas irmãs e a avó. Na quarta família, todos têm o hábito de assistir as telenovelas, com exceção de sua irmã mais nova, Lizeth, e do pai. A avó, Ana, e a mãe, Aida, têm os graus de instrução mais baixos da família. A primeira tem apenas o primário completo e a segunda tem curso técnico médio. O restante da família tem curso superior, inclusive o entrevistado, que atua como engenheiro de sistemas. A quinta família analisada é composta por Cidar, seus pais e duas irmãs. Cidar e suas irmãs têm curso superior, mas seu pai completou apenas o primário. Cidar explicou, na entrevista, que normalmente vê as telenovelas com uma de suas irmãs. No entanto, todos afirmaram no questionário que costumam assistir este gênero acompanhado pelos familiares. A família tem acesso à TV paga e à Internet. Dora Rea foi a sexta telespectadora entrevistada. Desde que ficou viúva, vive sozinha em um apartamento de classe média em Santa Cruz. Além de assistir às telenovelas brasileiras, costuma acompanhar as telenovelas exibidas em um canal da TV por assinatura em que se transmitem telenovelas durante todo o dia. No entanto, não assiste todos os dias. No período de colheita, vai a sua fazenda, onde não tem luz elétrica. Conversa pouco a respeito de telenovelas, pois seus filhos não assistem. Sônia Alejo, sétima telespectadora entrevistada, tem 25 anos, é cochambina e vive em Santa Cruz de la Sierra desde a infância. Atualmente, mora sozinha, trabalha em uma ótica e estuda turismo à noite. Durante o tempo livre, assiste telenovelas, filmes e noticiários. Em relação ao acesso aos outros meios de comunicação, tem hábito de ler o jornal El Deber, tem acesso à TV por assinatura, mas não tem Internet em casa. Como não tem família em Santa Cruz, convive com pessoas que trabalham no comércio local, próximo ao seu trabalho e com vizinhas.

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Elvira, oitava telespectadora entrevistada, também vive sozinha em Santa Cruz. Nunca foi casada, mas teve dois filhos que já não vivem com ela. Atualmente tem 48 anos e trabalha como vendedora de cosméticos. Apesar de viver sozinha, muitas vezes tem companhia para assistir telenovelas, pois muitas amigas freqüentam sua casa. Em relação aos meios de comunicação, escuta rádio, lê ocasionalmente o jornal El Deber e as revistas de beleza e de moda. Isabel Melgar foi a nona telespectadora entrevistada. Ela vive com o marido, a filha, uma neta e uma sobrinha, tem 60 anos, possui o ensino médio completo e trabalha como secretária. Seu tempo livre, quando chega do trabalho, é voltado exclusivamente para as telenovelas. Sempre assiste acompanhada dos familiares, em seu quarto. Da família, apenas sua filha mais velha, Magdalena, tem curso superior. Como a casa da filha é localizada nos fundos de sua casa, Isabel tem contato constante com ela, com quem assiste televisão. A família não possui TV por assinatura, mas tem acesso ao rádio e à Internet em casa. Sílvia Rodriguez é a única entrevistada que assiste as telenovelas da Rede Globo apenas pela Globo Internacional. Divide este hábito com os irmãos e com o primo. A mãe e o pai não assistem telenovelas. Na casa da décima família analisada, apenas Silvia ingressou no curso superior, pois seus irmãos ainda não completaram o ensino médio. Atualmente, estuda medicina e convive com diversos brasileiros que estudam em Santa Cruz.. Parte de sua família vive no Brasil e, por isso, já foi diversas vezes ao Rio de Janeiro. Ela e sua irmã, Maria Silvestre, têm facilidade para compreender o português e, para treinar o idioma, preferem assistir as telenovelas através do canal internacional. Rosa Antelo, décima primeira entrevistada, tem 76 anos, é viúva, mãe de oito filhos e vive sozinha. Durante o dia, tem a companhia da empregada, que assiste com elas as telenovelas e noticiários. Foi a única telespectadora que afirmou não aprender nada com as telenovelas porque “todas são de amor” e já estaria idosa para estas coisas. Como tem problemas de audição, não gosta de assistir as telenovelas colombianas porque os artistas falam muito rápido e ela não compreende bem. Assiste na televisão apenas as telenovelas, os noticiários e um programa de culinária. A telespectadora não tem acesso à Internet, mas tem TV a cabo em casa, rádio e lê o jornal El Deber e a revista Selecciones. Alesandra Durán, décima segunda entrevistada, não é casada, mas vive com seu companheiro, com quem tem uma filha. No entanto, o hábito de assistir telenovelas é individual, pois em sua casa ela é a única que assiste. Por isso, comenta sobre as telenovelas apenas com uma amiga. Alesandra tem 28 anos, tem o ensino médio completo e trabalha como empregada doméstica. Tem acesso ao rádio, mas não lê jornais, somente algumas

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revistas femininas. O acesso à TV a cabo ocorre na casa dos patrões, onde ocasionalmente assiste televisão. Eldy Castedo, entrevistada da décima terceira família, tem 48 anos, tem segundo grau completo e é recém-separada. Mãe de três filhos, tem uma filha e um genro vivendo com ela numa casa de classe média alta num importante bairro de Santa Cruz. A família tem acesso à TV por assinatura, ao rádio e à Internet, mas nenhum dos membros tem o hábito de ler jornais. Todos costumam assistir as telenovelas juntos e, geralmente, aquelas provenientes do Brasil. A última família é composta por apenas duas pessoas: Nelly e sua filha Carmem Lorena. Nelly tem 53 anos e, desde que ficou viúva, vive apenas com sua filha. A mãe tem apenas o primário completo e a filha tem curso superior, mas estava desempregada no período da pesquisa. Elas têm rádio, TV por assinatura, têm o hábito de ler o jornal El Deber, mas não têm acesso à Internet.

Usos e Gratificações dos Telespectadores Bolivianos

A perspectiva dos usos e gratificações, como foi abordada anteriormente, compreende que os telespectadores agem de maneira consciente, na busca por conteúdos que satisfaça suas necessidades. Desta maneira, a audiência da telenovela parte de uma iniciativa do telespectador, cujos objetivos são variados, entre eles o entretenimento, a aprendizagem ou a fuga de problemas e da rotina. Os meios, na verdade, fazem parte de um amplo processo de satisfação de necessidades humanas. A importância e peso dos meios de comunicação serão avaliados de acordo com a disponibilidade que as pessoas têm em contar com outras formas de socialização e informação. As gratificações podem ser obtidas através de um conteúdo midiático (por exemplo, ao assistir a um programa específico de TV), pela familiaridade com um gênero específico (telenovelas, programas esportivos no rádio, etc) e a partir de um contexto social no qual o meio de comunicação é usado (por exemplo, assistir à TV junto com a família). Finalmente, o modelo de Usos e Gratificações estabelece que os juízos de valor sobre o caráter cultural da audiência devem ser colocados em segundo plano à medida que as orientações da audiência se apresentam em seus próprios termos. (RANGEL, 2003, p.08)

Embora reconheça a dificuldade de operacionalizar os motivos psicológicos da audiência, Jair G. Rangel (2003, p.08) lista os principais, a partir daqueles citados por McQuail (apud Rangel, 2003, p.08)

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Busca de informação e conselho Redução da insegurança pessoal Aprendizagem sobre a sociedade e o mundo Sustentação de valores próprios Obtenção de insight sobre suas próprias vidas Experimentação dos problemas dos outros através da empatia Encontro de bases para o contato social Ter um substituto para o contato social Sentimento de conexão ou vínculo com os outros Fuga de problemas e aflições do dia a dia Entrar em um mundo imaginário Passar o tempo Experimentar uma liberdade de expressão de emoções Aquisição de uma estrutura para a rotina diária

Elihu Katz (apud Wolf, 1987, p.80), estabeleceu cinco necessidades dos telespectadores que os meios podem satisfazer: necessidades cognoscitivas, necessidades afetivas estéticas, necessidades afetivas a nível social e necessidades integradoras em nível de personalidade e necessidade de evasão. Nessa perspectiva, pode-se compreender, em primeiro lugar, que as telenovelas satisfazem as necessidades cognoscitivas, já que elas são elementos provedores de conhecimento para o público telespectador. Ainda que não seja perceptível a mudança de comportamento entre estes telespectadores, observa-se um consenso de que a telenovela transmite informações e que, conseqüentemente, gera aprendizagem. Isso se verifica, por exemplo, no discurso de Ariel, que aprendeu a respeito da imigração italiana para o Brasil, sobre a cultura marroquina, sobre a alquimia e sobre a história da escravidão no Brasil através das telenovelas; ou no discurso de Arnold, que aprende através dos erros dos personagens. Além disso, a telenovela impulsiona alguns destes entrevistados a buscarem informações a respeito de questões retratadas na trama, o que contribui também para a aquisição de novos conhecimentos. Dos quatorze telespectadores entrevistados, apenas um deles relatou que não aprende nada com as telenovelas. Em segundo lugar, as telenovelas satisfazem as necessidades afetivas estéticas dos telespectadores a partir do momento que retrata personagens com os quais os telespectadores

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se identifiquem. Para verificar se esta necessidade é satisfeita através das telenovelas, perguntou-se durante a entrevista se os telespectadores se identificam com os personagens. Em geral, as respostas foram positivas, de modo que se reconhece o encontro da realidade com a ficção das telenovelas assistidas. A abordagem de temáticas sociais como o tráfico de mulheres, o alcoolismo e o consumo de drogas satisfazem, de alguma forma, as necessidades cognoscitivas e afetivas estéticas. Satisfaz a primeira necessidade porque presta informações a respeito de importantes acontecimentos sociais e, a segunda, porque faz com que os telespectadores reconheçam os problemas retratados nas telenovelas com os problemas sociais que ocorrem em sua sociedade. Em terceiro lugar, as necessidades afetivas em nível social são atendidas pelas telenovelas a partir do momento em que o hábito de assisti-las é capaz de reforçar os contatos interpessoais. Através da trama, aprende-se a resolver conflitos, a tomar decisões e, por isso, ela contribui para a interação entre as pessoas. As telenovelas têm, por fim, uma função escapista, contribuindo para que os telespectadores consigam liberar as tensões, reduzir a ansiedade e esquecer momentaneamente dos problemas. Por este motivo, afirma-se que elas atendem às necessidades de evasão dos telespectadores entrevistados. Eduarda, Elvira, Eldy e Nely são exemplos de telespectadoras que afirmaram que as telenovelas têm esta função em suas vidas. Através da ficção, conseguem relaxar e esquecer os problemas do dia-a-dia.

Conclusões parciais:

Algumas dificuldades se apresentaram durante a realização do trabalho de campo: a dificuldade de obter as entrevistas, a impossibilidade de ir à casa dos telespectadores e de realizar a observação não-participante e a falta de dados a respeito dos índices de audiência das telenovelas. Diante desses fatos, constatou-se a necessidade de adaptar a metodologia às características da região analisada. Uma das soluções foi a aplicação do questionário aos outros membros das famílias pelo próprio entrevistado, depois de ser devidamente orientado. A facilidade de acesso às universidades e às emissoras de televisão foi um dos aspectos mais positivos e surpreendentes do trabalho de campo. Através destas visitas, foi possível a coleta de informações importantes, bem como de dados bibliográficos. Em relação aos usos e às gratificações dos telespectadores bolivianos ao assistirem as telenovelas, observou-se, nas entrevistas e na análise dos questionários que algumas pessoas

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utilizam as telenovelas como principal fonte de informações e de conhecimento. Através da observação de modelos, as mulheres copiam a moda de vestuário das atrizes das telenovelas, a decoração das casas e observam os comportamentos dos principais personagens. Além disso, as telenovelas têm função escapista, proporcionando aos telespectadores a fuga momentânea dos problemas e a distração através da trama. Observou-se, portanto, que as telenovelas satisfazem as cinco necessidades dos telespectadores assinaladas por Elihu Katz.

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CAPÍTULO VI ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo apresenta os principais resultados obtidos através da aplicação dos questionários às 14 famílias de telespectadores de telenovelas e da análise das entrevistas realizadas com um membro de cada família. Foram aplicados 37 questionários, que possibilitaram uma comparação do comportamento dos telespectadores entrevistados com seus familiares e uma análise dos hábitos de consumo dos meios de comunicação destas famílias. As entrevistas, por sua vez, foram realizadas individualmente e seguiram um roteiro de questões a serem abordadas. Desta maneira, foi possível ordenar as respostas de acordo com o assunto tratado. As principais questões, tanto no questionário, quanto na entrevista com os telespectadores, procuraram investigar as motivações dos bolivianos assistirem telenovelas, o que se aprende com estas produções e porque as telenovelas brasileiras são a preferência deste público telespectador. Algumas perguntas dos questionários se repetiram durante a entrevista. Isso ocorreu porque muitas vezes era necessário que se verbalizassem as respostas e que, desta forma, elas fossem mais detalhadas que nos questionários. Além disso, permitiu-se que as respostas dos telespectadores entrevistados fossem comparadas às de sua família. A aplicação dos questionários, como foi explicado no primeiro capítulo, não tem a finalidade de indicar resultados estatísticos. No entanto, ele aponta o comportamento da amostra analisada e permite uma análise de cada família investigada. Nomeou-se cada família de acordo com a ordem das entrevistas. Desta maneira, a primeira família analisada chama-se Família 01 e assim por diante.

Os questionários

Os 37 questionários foram aplicados, na maioria das vezes, pelos próprios telespectadores entrevistados. Em geral, eram realizados dois encontros com estas pessoas. No primeiro, explicavam-se os objetivos do trabalho, entregava-se o questionário, orientava- se a respeito de sua aplicação para os outros membros da família e marcava-se o próximo

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encontro. No encontro seguinte, era gravada a entrevista e recolhiam-se os questionários já preenchidos pelos familiares e pelo entrevistado. O quadro a seguir apresenta o número de questionários aplicado de acordo com cada família. As famílias 06, 07, 08, 11 e 12 são compostas por mulheres viúvas, solteiras e divorciadas que vivem sozinhas. Apenas a família 12 é composta por duas pessoas – a telespectadora entrevistada e sua filha ainda criança, que não teria condições de preencher o questionário.

Quadro 19 Relação da Famílias, Entrevistados e Número de Questionários Família Entrevistado (a) No. de questionários Família 01 Eduarda Sánchez 03 Família 02 Ariel Terrazas 04 Família 03 José Angel Cuba 04 Família 04 Arnold Terrazas 04 Família 05 Cidar Padilla 05 Família 06 Dora Rea 01 Família 07 Sónia Alejo 01 Família 08 Elvira Ribera 01 Família 09 Isabel Melgar 03 Família 10 Sílvia Rodriguez 04 Família 11 Rosa (Nena) Moreno 01 Família 12 Alesandra Durán 01 Família 13 Eldy Ribero 03 Família 14 Nely Rodriguez 02 Total 37 Fonte: Pesquisa realizada pela autora

Características dos Telespectadores

A amostra de telespectadores é composta por 26 mulheres e 11 homens. Entre eles, cerca de 60% são solteiros, 32% são casados e 8,10% são viúvos. Não há registro de nenhum telespectador divorciado na amostra analisada. Observa-se que o nível de escolaridade aumenta de uma geração a outra. Em geral, os pais têm menos escolaridade que seus filhos e registram-se, entre os adultos da amostra, casos de pessoas apenas com o primário completo. Registrou-se 56,75% da amostra com curso superior; 10,81% com curso superior incompleto; 8,10% com curso técnico; 16,21% com

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segundo grau completo; 18,91% com segundo grau incompleto e 16,21% com o primário completo. Aproximadamente 41% da amostra trabalham. Registram-se profissionais dedicados à web, a trabalhos sociais, ao jornalismo, à arquitetura, à engenharia de alimentos, à venda de produtos de beleza, uma cabeleireira e uma empregada doméstica. Cerca 27% das telespectadoras é dona de casa e, na mesma proporção, registram-se telespectadores que são estudantes. Duas pessoas da amostra já estão aposentadas. A respeito do acesso aos meios de comunicação, observou que apenas 54,05% dos entrevistados têm acesso à Internet; cerca de 65% tem acesso à TV a cabo e 89% tem aparelho de rádio em casa. A maioria informou que tem hábito de ler jornais. Dos 37 telespectadores da amostra, 29 lê o jornal El Deber, de Santa Cruz de la Sierra. Apenas 6 pessoas informaram que não têm o hábito de ler jornais.

Novelas Preferidas

Pediu-se aos telespectadores que preencheram o questionário que citassem suas cinco telenovelas preferidas. Foram mencionadas 46 telenovelas, sendo que 25 delas são brasileiras. As outras telenovelas citadas são provenientes principalmente da Colômbia e do México. O Quadro 2 apresenta as telenovelas mais citadas pelos telespectadores analisados e mostra que as telenovelas brasileiras são as mais apreciadas pelos telespectadores da amostra.

Quadro 2 Telenovelas Preferidas dos Telespectadores da Amostra Telenovela País de origem No. vezes citada O Clone Brasil 11 Belíssima Brasil 10 Pantanal Brasil 09 Betty, a feia Colômbia 08 O rei do gado Brasil 06 A escrava Isaura Brasil 06 Hasta que la plata nos separe Colômbia 06 México 06 Fonte: Pesquisa realizada pela autora

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Emissoras mais Assistidas

Para verificar os canais de televisão mais assistidos neste grupo de pessoas, pediu-se que fossem assinalados os três canais mais assistidos. Constatou-se, através das respostas, que as emissoras Unitel, Red Uno e ATB estão nos três primeiros lugares de preferência destes telespectadores. No quarto lugar de preferência da amostra estudada, encontra-se o canal Activa TV. Destaca-se o número de vezes que este canal foi citado, porque ele é restrito aos assinantes de Cotas Cable, uma empresa de TV por assinatura. Observa-se, ainda, que apenas três telespectadores não citaram a Unitel como uma de suas emissoras favoritas.

Quadro 20 Emissoras mais Assistidas

Emissora No. de vezes citada Unitel 34 Red Uno 28 ATB 10 Activa TV 5 Bolivisión 4 Megavisión 4 Sitel 4 Gigavisión 4 Fonte: Pesquisa realizada pela autora

Gêneros de Sucesso

Entre os principais gêneros assistidos pelos telespectadores da amostra, destacam-se os noticiários, as telenovelas e os filmes, nesta ordem. Pediu-se aos telespectadores que assinalassem os três tipos de programas que mais assistiam. Desta maneira, o número correspondente a cada gênero demonstra quantas pessoas o assiste prioritariamente.

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Quadro 21 Gêneros mais vistos

Gênero No. de vezes citados Noticiários 33 Telenovelas 22 Filmes 20 Esportivos 08 Vídeo-clipe 07 Fonte: Pesquisa realizada pela autora

As questões seguintes tratam especificamente sobre a recepção de telenovelas. Foram formuladas 10 questões com o objetivo de se examinar os motivos de se assistir às telenovelas, a maneira como se assiste e sobre o que se aprende com estas telenovelas. A primeira delas questiona o fato de assistir telenovelas, tentando descobrir porque estes telespectadores geralmente buscam este gênero.

Por que você assiste telenovelas?

Através do questionário, verificou-se que cada telespectador vê cerca de duas telenovelas por dia. A distração é a principal motivação dos telespectadores analisados. Além disso, alguns telespectadores se sentem motivados para assistirem às telenovelas porque, através dela, podem aprender e observar costumes de outros países. Quadro 22 Motivações para Assistência de Telenovelas Respostas No. de pessoas Porque elas me distraem 26 Porque aprendo com elas 18 Porque observo os costumes de outros países 17 Sempre vi telenovelas e tenho isso como um hábito 09 Não há outro programa interessante neste horário 09 Fonte: Pesquisa realizada pela autora

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Qual a sua telenovela preferida, de acordo com a origem?

Para responder a esta pergunta, os telespectadores preencheram o questionário numerando as telenovelas de acordo com a preferência. Desta maneira, o número 1 correspondia à telenovela que o telespectador mais gostava e o número 5 correspondia à telenovela que ele menos gostava. Através do questionário, observou-se que praticamente 80% dos telespectadores da amostra preferem as telenovelas brasileiras às provenientes de outros países (Quadro 5). As telenovelas colombianas são as que ocupam o segundo lugar na preferência da amostra analisada. As telenovelas mexicanas, venezuelanas e, principalmente as argentinas, não ocupam lugar de destaque na preferência do público. Observa-se que as telenovelas argentinas representaram 75% do nível de preferência número 05. Em parte, isso se deve ao fato de que as telenovelas argentinas são menos importadas do que as outras e, como se pôde observar através das entrevistas com os telespectadores, existe uma resistência às telenovelas argentinas porque elas são consideradas muito “atrevidas”. Apenas 7,14% dos telespectadores da amostra preferem as telenovelas mexicanas às outras. O número de telespectadores que indicaram as telenovelas mexicanas como as que eles menos gostam também foi bastante alto, atingindo 17,85% dos telespectadores da amostra. Este alto índice reflete o baixo índice de audiência alcançado pelas telenovelas exibidas pela ATB, conforme se observou anteriormente, no capítulo IV.

Quadro 23 Preferência de telenovelas de acordo com a nacionalidade Nível de Brasileiras Mexicanas Colombianas Venezuelanas Argentinas Preferência (%) (%) (%) (%) (%) 1 78,57 7,14 14,28 ______2 10,7 10,71 53,57 25,00 _____ 3 3,57 25,00 25,00 35,71 10,71 4 3,57 39,28 7,14 35,71 14,28 5 3,57 17,85 ____ 3,51 75,00 Fonte: Pesquisa realizada pela autora

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Com que regularidade você assiste às telenovelas brasileiras?

Aproximadamente 59% dos telespectadores da amostra assistem às telenovelas brasileiras com regularidade, o que mostra o comportamento de um determinado público que tem hábito de sempre assistir às telenovelas transmitidas pela Unitel às 21h, de maneira que começam a assistir as novas produções quando se encerra a anterior. Um pequeno número de telespectadores informou que nunca assiste as telenovelas brasileiras, representando apenas 7,14% da amostra. Quadro 24 Freqüência com que Assiste as telenovelas Brasileiras As vejo com regularidade 58,82% As vejo ocasionalmente 20,58% As vejo muito pouco 14,70% Nunca as vejo 07,14% Fonte: Pesquisa realizada pela autora

Qual telenovela você está assistindo atualmente?

Ao responderem o questionário, os telespectadores especificaram quais telenovelas estavam assistindo naquele período. Apenas uma pessoa da amostra não estava assistindo nenhuma telenovela naquele momento. Foram citadas 13 telenovelas e uma soap opera, Malhação. Belíssima foi a telenovela mais assistida, com quase 73% da amostra acompanhando essa produção. A telenovela colombiana Hasta que La Plata nos Separe foi a segunda telenovela mais vista, mas alcançou apenas 27% da amostra. A porcentagem de telenovelas brasileiras assistidas poderia ser mais alta se elas fossem mais exibidas pelas emissoras bolivianas. Conforme pode-se observar, as outras telenovelas brasileiras assistidas por telespectadores de Santa Cruz são transmitidas pela Globo Internacional.

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Quadro 25 Telenovelas mais Assistidas Telenovela % Belíssima 72,97 Hasta que la Plata nos Separe 27,02 Destilando amor 24,32 La Hija del Mariachi 21,62 Paraíso Tropical (Globo Internacional) 10,81 Las dos Caras de Ana 8,10 Malhação (Globo Internacional) 5,40 Bajo las Riendas del Amor 5,40 Corazón Partido 5,40 7 Pecados (Globo Internacional) 5,40 Eterna Magia (Globo Internacional) 2,70 Decisiones 2,70 Mujer 2,70 Estrela Guia (Globo Internacional) 2,70 Nenhuma telenovela 2,70 Fonte: Pesquisa realizada pela autora

Do que você mais gosta das telenovelas, além da trama?

Observou-se que a maioria das pessoas observa prioritariamente, nas telenovelas brasileiras, os atores e as atrizes e a interpretação de seus personagens. Das pessoas que observam as roupas, a decoração das casas e as paisagens, a maioria é do sexo feminino. Apenas 10 pessoas afirmaram que observam estes detalhes, bem como as músicas tocadas na trama. Apenas duas pessoas afirmaram observar os aspectos técnicos das telenovelas, apesar do reconhecimento dos entrevistados de que as telenovelas brasileiras apresentam uma boa qualidade técnica, conforme constatou-se durante entrevista gravada com os telespectadores.

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Quadro 26 Elementos mais observados pelos telespectadores nas telenovelas brasileiras No. Pessoas Atores, Atrizes e sua interpretação 23 Roupas, a Decoração das casas, Paisagens 10 Músicas 10 Aspectos Técnicos 2 Outro 3 Fonte: Pesquisa realizada pela autora

Você costuma interromper alguma atividade para assistir telenovela?

Esta pergunta tinha como objetivo descobrir o grau de comprometimento do telespectador com o hábito de assistir telenovelas. Observou-se que poucas pessoas interrompem, com regularidade, as atividades que estão executando para assistirem às telenovelas. A maioria afirmou que, ocasionalmente, interrompe suas atividades para ver telenovela.

Quadro 27

% Sempre 8,57 Às vezes 42,85 Muito pouco 22,87 Nunca 25,71 Fonte: Pesquisa realizada pela autora

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Você assiste as telenovelas acompanhado(a)?

Aproximadamente 68% dos telespectadores da amostra assistem telenovelas acompanhados, em geral na companhia de seus familiares. Cerca de 33% da amostra assiste telenovelas sozinho. Quadro 28 % Sozinho (a) 32,43 Acompanhado(a) 67,56

Fonte: Pesquisa realizada pela autora

Você costuma conversar sobre telenovelas? Com quem?

Através do questionário, constatou-se que os telespectadores da amostra conversam pouco a respeito de telenovelas. Quase 48% deles respondeu que comentam muito pouco sobre o assunto, enquanto 25% informou que comenta a respeito das telenovelas todas vezes que as assiste. Normalmente, estes telespectadores conversam sobre as telenovelas com parentes próximos, irmãos, pais, filhos, marido ou mulher. Registraram-se também casos de telespectadores que costumam conversar sobre telenovelas com colegas de trabalho ou de curso.

As Entrevistas

As entrevistas em profundidade objetivaram conhecer quais as gratificações dos telespectadores bolivianos ao assistirem às telenovelas brasileiras. Para isso, investigou-se como são escolhidas as telenovelas, qual a função que elas têm em suas vidas e que tipo de mensagem se extrai deste gênero. Seguiu-se um roteiro de perguntas para que os tópicos pudessem ser organizados posteriormente. Desta maneira, as respostas estão organizadas de acordo com o assunto abordado.

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Por que você assiste telenovelas?

A função principal da telenovela na vida dos telespectadores entrevistados é de distração. Quase todos deram esta justificativa para o fato de assistirem este gênero, independente de sua origem. Se o motivo central é a distração, existem razões que se somam a este motivo: para aprender, fugir dos problemas e observar outros tipos de costumes. Notou-se, no entanto, certa dificuldade dos entrevistados para verbalizarem as razões de assistirem telenovelas. O hábito de vê-las já está tão consolidado em suas vidas e na de sua família, que muitos deles nunca haviam pensado a respeito deste costume. Ariel, Sônia e Nely deram como principal justificativa para verem telenovela o fato de se distraírem através delas. Quem soube verbalizar de maneira mais clara os motivos foi Ariel, que explicou: Primeiramente, as vejo por distração. Sou mais da minha casa. Não saio muito. E evito sair no horário da novela. Segundo pelo drama e o argumento que têm. Eu acho que qualquer pessoa que veja uma novela, ainda que seja só um episódio, o argumento lhe segura, digamos. Não há uma pessoa que não queira ver. As pessoas têm medo porque podem gostar e ficar dependentes. Assim, preferem evitá-la.

Da mesma maneira que Ariel, José Ángel argumentou que assiste telenovelas por distração e por causa da trama de algum personagem que ele goste. Arnold, por outro lado, assiste as telenovelas porque gosta de observar as idéias de outras pessoas e, com isso, extrair lições de vida. Cidar, por sua vez, vê as telenovelas porque adquiriu este hábito ao fazer companhia à sua irmã, enquanto ela as assistia. A partir daí, começou a gostar das tramas e nunca mais parou de vê-las. Dora, por outro lado, assiste telenovelas porque elas demandam menos tempo em frente à televisão do que os filmes. “[Vejo] porque gosto e porque há vezes que não se pode ver um filme completo. Então a telenovela é curtinha e a gente pode ver todos os dias.” Elvira também assiste às telenovelas por distração, depois de assistir aos noticiários, e também para aprender coisas novas. Para Isabel, uma das principais motivações para assistir telenovelas é se esquecer dos problemas cotidianos: “Gosto por isso, porque é o momento que tenho para estar comigo mesma e com essas novelas. Ou seja, me consome um tempinho e me esqueço dos problemas. E não gosto, digamos, que me incomodem na hora que estou assistindo”.

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Eldy e Eduarda também gostam de assistir telenovelas porque elas as distraem e as fazem esquecer da rotina e pensar em outras coisas. Observou-se que os telespectadores que assistem as telenovelas colombianas justificam que as vêem porque são cômicas, os divertem e os fazem rir. São, portanto, motivações diferentes daquelas que se observam em relação às telenovelas brasileiras.

Por que as telenovelas brasileiras?

Perguntou-se aos telespectadores os motivos que os levam a escolherem as telenovelas brasileiras ao invés daquelas originárias de outros países. Em geral, as respostas que justificavam esta audiência faziam referência aos aspectos técnicos, à trama menos melodramática e à beleza das paisagens exibidas. Apesar de se tratar de uma ficção, reconhece-se que as telenovelas brasileiras são realistas e que, por tratarem de temáticas sociais, são também bastante didáticas. Muitas vezes, ao justificarem os motivos de assistirem às telenovelas brasileiras, estes telespectadores faziam comparações e críticas em relação às outras telenovelas, especialmente àquelas originárias do México. Observa-se que as respostas justificando a audiência das telenovelas brasileiras dadas pelos entrevistados diferenciaram-se das respostas obtidas através dos questionários. Em alguns casos, os telespectadores não souberam justificar o motivo de escolherem as telenovelas brasileiras. Ao que tudo indica, o fato delas serem transmitidas em horário nobre, pela principal emissora de TV de Santa Cruz de la Sierra, pode ser a justificativa. Além disso, observa-se que existe um hábito entre os telespectadores da Unitel de sempre assistir telenovelas no horário das 21h. Este hábito se repete mesmo com o término de uma telenovela e o início de outra, criando um costume tão forte quanto os argumentos que encontram para justificar a escolha pela telenovela brasileira. Por este motivo, Carlos Novaro, diretor comercial e de programação da Unitel, afirmou em sua entrevista que as telenovelas brasileiras são exibidas sempre neste mesmo horário porque há um público cativo, que já está acostumado a assisti-las. Desta maneira, a compra de uma telenovela da Rede Globo nunca seria um negócio muito arriscado, apesar do alto-custo. Eduarda Sánchez, a primeira telespectadora entrevistada no trabalho de campo, mencionou este hábito de assistir sempre as telenovelas das 21h da Unitel e falou das imagens das telenovelas brasileiras:

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Gosto das telenovelas brasileiras porque sempre te mostram lugares. As outras, em geral, são uma peça. As telenovelas brasileiras, por outro lado, sempre te mostram coisas para você conhecer. Te digo que há muito tempo não vejo outras novelas, só as brasileiras. Quase sempre, nesta mesma hora, dão novelas brasileiras. Porque são mais bonitas e mais reais. E nas outras tem muita trama e elas são... ah!

Eduarda relatou que normalmente vê apenas uma telenovela por vez e que as assiste apenas aquelas transmitidas pela Unitel, no horário das 21h. Na ocasião, estava assistindo Bellísima e explicou que, apesar de sempre extrair algum tipo de aprendizado das telenovelas, ainda não havia observado nenhum tipo de moral nesta novela da Rede Globo. Ariel assiste telenovelas desde a adolescência. Suas escolhas são críticas e partem mais da observação das características das telenovelas que estão sendo transmitidas do que do próprio hábito de assisti-las. Apesar de gostar muito das telenovelas brasileiras, também assiste as colombianas. No período da entrevista, assistia Belíssima e Hasta que la Plata nos Separe, de origem colombiana.

As telenovelas brasileiras têm este encanto. São cômicas, às vezes têm algum drama curto e também profundo. Aquilo que te atrai, mas não te deixa entediado. Este é o mal das telenovelas colombianas. Quando têm êxito, começam a ‘navegar’ nas novelas. Escrevem além do necessário. Por outro lado, as brasileiras têm um argumento e não o usam como lá. [...] Bem, as novelas brasileiras não é somente drama, não é só comédia. Ou seja, tem de tudo. E muitas vezes não é só de um personagem, mas de um meio também. Não é somente um personagem que tem problema. ‘O que vai acontecer com a fulaninha de tal”, digamos. Mas também são problemas sociais, muitas vezes. Em Bellísima tratam do tráfico de mulheres, prostituição e máfia. Num nível mais limpo, digamos. Mais claro. Antes mostravam os mafiosos como pessoas muito más. Tem de tudo. E isso é muito bom. São destas coisas que eu gosto.

Segundo Ariel, as telenovelas mexicanas são muito óbvias, com histórias que sempre se repetem. Para ele, as telenovelas mais interessantes são aquelas que despertam a curiosidade, que tem personagens inteligentes e que surpreendem.

Desde os doze, treze anos [eu vejo telenovelas]. Via primeiro uma trama mexicana. Já não vejo as mexicanas faz um tempo porque passei a entendê-las depois de ver umas poucas. E sempre o mesmo argumento da garota pobre, que é uma santa, e do rapaz rico que lhe conquistava, pois tinha uma aposta. E ganhava. Então ele se apaixona por ela, mas ela fica sabendo... E ela se torna milionária porque era filha de uma milionária. E por último, ela recorre à avó que lhe cria como se fosse dela. E ao final ela se vinga dele e ele, que era rico, se torna pobre, mas lhe diz que a ama. E ela , como é boa e santa, lhe perdoa. Essa é a mexicana. A típica. E o ator principal tem dois nomes e um sobrenome de altura. Digamos: “Juan Carlos Altatorre” e a pobrezinha lhe chamam de Chuchi. Nem sequer dão um nome à pobrezinha.

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José Ángel, o terceiro telespectador entrevistado, justificou que assiste as telenovelas brasileiras porque sua trama é diferente das outras telenovelas e pela grandiosidade da produção. Além disso, afirmou que às vezes aprende sobre a cultura brasileira e compreende como são realizadas estas produções. Na época da entrevista, assistia Belíssima e Destilando Amor, de origem mexicana.

[Sempre tive o costume de ver telenovelas] mas mais desde a adolescência, digamos. Porque passaram a novela O Bem Amado. E elas [brasileiras] dominam mais que tudo porque são diferentes. São tramas diferentes. Às vezes a gente aprende isso: o comportamento das pessoas.[...] [As telenovelas mexicanas] me parecem muito repetitivas. A trama é repetitiva. Parece que vê a mesma telenovela sempre.Ou seja, têm a mesma trama, digamos.

Arnold, o quarto entrevistado no trabalho de campo, também comparou as telenovelas mexicanas às brasileiras, da mesma maneira que os dois entrevistados anteriores. Na entrevista, relatou que estava assistindo quatro telenovelas: Decisiones, Mujer, Belíssima e Hasta que la Plata nos separe. [As telenovelas brasileiras] despitam a ênfase da mexicana que é a típica novela. A mexicana tem sempre a típica novela que é sempre a mesma trama, a mesma idéia sempre. Mudam o personagem, mas a idéia continua a mesma. Não atrai. [...] E a idéia que têm [nas telenovelas brasileiras] de que um capítulo não te dá a idéia de toda a novela, isto te faz ver mais vezes. Te atrai a ver mais, de terminar de ver. E, mais que tudo, as novelas brasileiras são da cotidianidade igual às colombianas. Então isso atrai minha atenção.

Observa-se, portanto, que muitos telespectadores centram seus argumentos mais na comparação com outras telenovelas do que apenas pelas características das telenovelas brasileiras. Parece, muitas vezes, que eles já escolheram o gênero que querem assistir para se distraírem, mas como a variedade de ofertas é grande, as escolhas são feitas de acordo com as características das telenovelas de cada nacionalidade. Muitas vezes, fica parecendo que a questão central não é “porque assistir telenovelas” e sim “porque as telenovelas brasileiras”. Cidar, o quinto entrevistado, citou as temáticas sociais como um dos principais pontos positivos das telenovelas brasileiras, além da trama. E, da mesma maneira que os outros entrevistados, citou a repetitividade nas histórias das telenovelas mexicanas. No período da entrevista, ele assistia Belíssima, Hasta que la Plata nos Separe e Destilando Amor.

As novelas brasileiras são fora do comum. Igual àquela O Clone... De verdade, te mostram mais paisagens, onde filmam é diferente. Mostram outras

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paisagens. Além disso, mostram coisas da vida real... Por outro lado, mostram as problemáticas da sociedade de lá. Como na novela Laços de Família que mostravam o que era o alcoolismo. Nesta novela que exibem, Belíssima, mostram o que é o tráfico de menores para outros países... É assim em várias novelas.[...] São pontos a favor que eles mostram... Além disso, gosto da trama. Da mudança de uma novela para outra. E as brasileiras são diferentes. De uma para outra é diferente. Não é como as mexicanas ou venezuelanas que “ela era pobre e depois se torna rica”, digamos. Não. É todos contra todos. Ou seja, que uma se mete com , que se mete com a outra. Ao final, todos se metem contra todos.

Dora, a entrevistada da sexta família, não assiste telenovelas com tanta freqüência porque divide seu tempo entre a fazenda onde cultiva cana-de-açúcar e sua casa na cidade. Na época de colheita, não tem acesso à televisão, mas no restante do ano, assiste um canal chamado TVN, que transmite apenas telenovelas, pela TV a cabo, e algumas telenovelas exibidas no canal local. Na época da entrevista, estava assistindo Belíssima, La Hija del Mariachi e Destilando Amor. Sempre tive o costume [de ver telenovelas]. E antes eram quase só brasileiras porque eles trazem as brasileiras. Mas eu não lembraria dos nomes. Mas quando alguém começa a assistir... Vi várias. [Prefiro] as brasileiras. Das mexicanas não gosto. Porque La Hija del Mariachi é colombiana. Não gosto das colombianas. As brasileiras e as venezuelanas são bonitas também. Mas as outras não. […] Não sei… São muito ordinárias! São sumamente ordinárias as novelas. E daqui, vi duas bolivianas. A virgen das Siete Calles e Os pioneiros também era linda.[...] As brasileiras sempre têm gente inculta mas que fala tantas coisas tão bonitas como essa gente da alta. Da alta sociedade. Isso é o bonito. Que não seja como a mexicana. Pois as mexicanas são pura tragédia e puro, como se diz, alegres.

As telenovelas mexicanas são citadas também por Sônia, a sétima telespectadora entrevistada. Desta vez, no entanto, não foram feitas as mesmas comparações dos outros telespectadores. Sônia explicou que a única telenovela colombiana da qual gostou foi Betty, a Feia. Na época da entrevista, assistia apenas Belíssima.

Sempre gostei das telenovelas brasileiras. Além disso, vejo as atrizes, suas roupas... Como se vestem. Sempre muito femininas. E, mais que tudo, não há quase pornografias: beijos de cá, beijos de lá. As telenovelas mexicanas são muito escandalosas. Não gosto.

Apesar de gostar muito das telenovelas brasileiras, a nona entrevistada explicou que elas não são, necessariamente, as suas preferidas. Gosta tanto das telenovelas brasileiras, como das mexicanas. Para ela, é importante que as telenovelas dêem exemplos de caráter, da força do trabalho e da luta da mulher. Estas características, segundo Isabel, são comuns às

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telenovelas procedentes dos dois países. Da mesma maneira que Sônia, Isabel não vê algumas telenovelas por considerá-las muito atrevidas. Considera as telenovelas venezuelanas, colombianas e argentinas muito atrevidas. A décima entrevistada assiste apenas as telenovelas da Rede Globo, através da Globo Internacional. Nunca as assiste através dos canais locais de Santa Cruz de la Siera. Além de Malhação, Sílvia assiste as três telenovelas transmitidas à noite pelo canal brasileiro. Isso se deve, em parte, ao fato da telespectadora já conhecer o Brasil, ter tios residentes no Rio de Janeiro e compreender bem o português. Somado a isso, ela assiste apenas os canais da TV a cabo. Ela justifica que assiste as telenovelas brasileiras por causa da trama e por aprender coisas novas com elas. Nota-se, no entanto, que Sílvia não opta apenas pela telenovela brasileira, mas por toda a programação brasileira. Seu tempo livre frente à televisão é dedicado, quase exclusivamente, à programação da Globo Internacional, que vê com sua irmã mais nova. Sua irmã, por sua vez, justifica que assiste as telenovelas da Rede Globo porque gosta do idioma português. Elvira, a oitava entrevistada, disse que não assiste as telenovelas de acordo com sua origem, mas afirma que sempre gostou das telenovelas brasileiras por causa da beleza dos personagens e das paisagens. Na época da entrevista, assistia Belíssima e Destilando Amor. Ela explicou que normalmente assiste as telenovelas que são exibidas às 21h pela Unitel e que, por isso, sempre assiste as telenovelas brasileiras. Rosa Antelo foi a décima primeira pessoa entrevistada. Foi feita uma visita à sua casa no momento em que assistia a telenovela Belíssima. Questionada sobre o motivo de assistir apenas as telenovelas brasileiras, não soube responder com clareza:

Gosto dos beijos , dos amores e é isso que dão nas novelas brasileiras – as coisas de amor. Porque é uma características das brasileiras, não? Uma se casa, a outra se casa... Sempre vi as novelas brasileiras. Mas não sei porque gosto delas. Não sei... Mostram coisas mais distraídas. Mostram coisas da vida real, não?

No período da pesquisa, Rosa assistia Belíssima e La Hija del Mariachi. Demonstrou, durante a entrevista, a preferência pela primeira telenovela citada. Observou-se, ainda, que Nena assiste às telenovelas brasileiras porque são exibidas pela Unitel, mesma emissora que transmite o noticiário que ela assiste anteriormente. Alexandra, décima segunda entrevistada, também comparou as telenovelas brasileiras às mexicanas: “Não são como as mexicanas que eu digo que são de muita tragédia. Mostram armas e estas coisas. E as brasileiras não mostram estas coisas. Até agora, enquanto vejo

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Belíssima, vi só uma vez. Que matou este doutorzinho. Por isso que eu gosto. Não são violentas.” No período da pesquisa, Alexandra assistia Belíssima e La Hija del Mariachi. Para Eldy, a décima terceira entrevistada, as telenovelas brasileiras e colombianas são as preferidas porque são mais realistas: “Porque a brasileira dá mais a vida real, assim como a colombiana. Tudo o que passa quase diariamente na Colômbia: os assaltos, os roubos... As outras não. As outras são mais superficiais e mostra mais matanças e estas coisas. Não gosto”. Na época da entrevista, a telespectadora assistia três telenovelas: Belíssima, Corazón Partido e Hasta que la Plata nos Separe. Nely, última entrevistada do trabalho de campo, prefere as telenovelas brasileiras, “porque gosto dos lugares onde filmam e, sobretudo, não é monótona. Tem de tudo. Se relaciona com tudo. Gosto disso. Não é só romance, mas também questões de família.”. Nely assistia, durante este período, Belíssima, La Hija del Mariachi e Las dos Caras de Ana. Sua filha, que a acompanhava durante a entrevista, relatou que assiste as telenovelas brasileiras, mas critica o fato delas serem muito longas. Prefere, por isso, as telenovelas colombianas.

Você aprende com as telenovelas?

A maioria dos entrevistados afirmou aprender com as telenovelas. As respostas das mulheres, em geral, se centraram mais na observação dos aspectos físicos das atrizes, na decoração das casas e na forma como as pessoas se comportam em situações formais. Eduarda e Isabel citaram a decoração das casas como um dos aspectos que mais observa e copia das telenovelas brasileiras. Nely observa e copia as roupas dos personagens. Sônia, por sua vez, copia principalmente as roupas, penteados e maquiagem das atrizes, mas afirma que aprende também com os personagens, sua maneira de viver e com sua personalidade. Eldy foi a única entrevistada que citou exemplo de situações em que colocou em prática o que aprendeu nas telenovelas. Através do jardineiro de uma telenovela da Rede Globo, aprendeu a cuidar das plantas de sua casa. Através da cozinheira de outra novela, aprendeu a fazer duas receitas. Ariel lembra que um de seus personagens favoritos – Raimundo Flamel, de lhe impulsionou a buscar informações a respeito da alquimia: Eu queria ser este personagem de Fera Ferida que investigava química e tudo isso. Queria saber do que se tratava esta ciência. Era uma ciência

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supostamente antiga e ele queria transformar uma matéria em outra [...]. Sim, aprendo muitas coisas com as novelas. Por exemplo, justamente a telenovela colombiana que te falei que era da máfia, por ela eu soube como fazem para ganhar dinheiro, como traficam. Ensinam mais ou menos as coisas que normalmente eu ignorava. Mas sim, aprendo muito com as novelas, filmes, com as coisas da televisão. Sim, me fazem aprender. Por exemplo, em Belíssima atualmente as pessoas sabem o que é o tráfico de mulheres. Se as pessoas não vêm, não sabe o que está acontecendo. E isto depende da mensagem, do que querem dar na telenovela.[...] Em Terra Nostra mostravam a vida dos italianos desde a Itália até o Brasil. Como iam, como trabalhavam, italianos que triunfavam, italianos que fracassavam. Se via toda a realidade daquele tempo. Mesmo que nunca tenha lido nada sobre isso, agora já sei. Geralmente, como eu não leio quase nada, pelo menos fico atualizado. Isto que eu gosto nas brasileiras – ou seja- te ensinam outras culturas que não são deles também. O Clone eram os marroquinos, os árabes, ou seja, toda uma cultura ímpar, totalmente diferente daqui. Gostaram tanto da novela que até esteve na moda a música árabe aqui em Santa Cruz há algum tempo.

Quando se questionou a Ariel se as telenovelas podem mudar seu modo de pensar, ele respondeu: Depende da telenovela. A telenovela cômica não tanto. É mais para rir. Mas a telenovelas dramáticas sim, mais ou menos. Gosto quando termina a novela e eu começo a pensar, a analisar. Muitas vezes eu fico pensando na intriga e até sonho com a novela, com o que vai acontecer. Ou também muitas vezes eu começo a escrever o que teria sido melhor se tivesse acontecido. Capto muito a mensagem e Fera Ferida mudou meu modo de pensar. Gostei particularmente da magia e de como era o personagem. Como era belíssimo, inteligente e culpou quase todo o povo para se vingar e até quem o apoiou. E todo mundo não sabia o que fazer, ninguém sabia quem ele era. Gosto muito desta inteligênc ia.

Para José Ángel, a importância da telenovela está no fato de tirar as pessoas das situações habituais e levá-las a discussões diferentes. Exemplifica que, através delas, aprende a receber as pessoas em sua casa, a comer com mais educação à mesa. Aprende-se também com o exemplo de caráter de alguns personagens: Eu diria que com este [personagem] de O Rei do Gado você pode aprender sobre a luta por se superar e, aqui também, através desta de moda, de Belíssima, se pode dizer da persistência por se superar, por viver bem. Quando nos mostram um personagem que era de origem humilde, que é bom, e que consegue o que quer.

Arnold, que afirmou que gosta de assistir telenovelas porque gosta de observar a idéia que outras pessoas têm da vida, falou que aprende através dos erros cometidos pelos personagens: “Porque a gente vê os erros, como o escritor fez. Então vê os erros que

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cometem, as faltas ou coisas boas que fazem. Este tipo de novela sempre tem algo a nos mostrar.” Dora também observa, através dos exemplos das telenovelas, mas apenas as coisas boas: “Aprende por exemplo... Eu via, por exemplo, de jovenzinha, como deve se comportar, como deve ser em sua casa, como deve ser com seu filho, como deve ser com seu esposo. Tudo isso se aprende. Aprende porque não é somente como as pessoas da mente torcida que copiam as partes más.” Uma das principais motivações de Isabel para ver telenovelas é de aprender através delas. Por isso, escolhe minuciosamente quais assistirá e quais permitirá que seus filhos e netos assistam. Bem, é verdade que aqui também ocorre coisas ruins mas não é bom também que alguém veja e, menos ainda, que nosso filho veja [Rebeldes]. Ou seja, esta novela não dá nada de exemplo. Sim, [as telenovelas devem dar] bons exemplos. Como , em que a atriz principal era humilde. Não devolvia o mal. Se lhe faziam mal, ela não devolvia com outro mal. Então, alguém pode pensar “tenho que ser como ela”. A outra era bandida, não vê? “Então não tenho que ser como essa”. […] Estou vendo Destilando Amor. Então aí se vê também o cultivo dos abacaxis, onde fazem no México. Isso ninguém sabe, mas aprende como as pessoas, como os campesinos sofrem para ganhar o pão no campo. E então alguém vem pra cá, pra cidade, com mais comodidade e vê como eles ganham trabalhando de sol a sol. Então um compara a sua vida e pensa “há outras pessoas que sofrem mais que nós”. Nós não queremos economizar um copo d’água. E, sobretudo, igual às outras novelas, sempre se vê que há gente má. No trabalho, às vezes um vizinho, em uma família. Há muita ambição. Então a pessoa tira disso o lado bom e diz “não tenho que ser assim”. Pode acontecer na vida real. Pode ser aqui. Nesta novela que estou vendo, esta mulher fez uma inseminação para segurar o marido que não a quer. Não... Queria fazer, mas não fez... e, no final, o filho é de outro homem. Tudo por dinheiro. Porque tem dinheiro.A outra lhe discrimina porque é campesina. Então a pessoa observa este personagem mau, intrigante. E isso ninguém quer ser. Eu, ao menos, não quero copiá -la. E há uma mulher possessiva que quer saber onde está seu marido a toda hora. O que se aprende aí? Que um casamento não vai bem com uma mulher tão possessiva. Que um tem que confiar na pessoa que ama, não desconfiar e não estar com o telefone a cada instante “onde está?” ou ouvindo o que ele fale. Isso acontece com ela.[…]Uma coisa é ser ciumenta. Mas outra coisa é ser como ela que não vê nem as coisas. Disto as pessoas têm que tirar o lado bom. Não tenho que ser assim. Por isso que eu vejo.

Sílvia também observa os comportamentos dos personagens e aprende através deles. Ela lembra da telenovela Páginas da Vida, que assistiu através da Globo Internacional e fala que uma das coisas que mais observou foi o amor de um pai pela filha na trama. Em Cobras e Lagartos, admirava as roupas, os acessórios e o cabelo da personagem Leona. Quando se

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questionou se ela copiou alguma característica da personagem, afirmou que achava muito bonito, mas que não copiaria porque era muito exótico. Observa-se, portanto, que através do que se aprende nas telenovelas não há, necessariamente, uma mudança de comportamento. No entanto, estes telespectadores adquirem novos conhecimentos e buscam novas informações a respeito dos assuntos abordados na trama. Muitas vezes, eles se inspiram no caráter dos personagens, mas não vivem situações parecidas para copiar o comportamento ou aplicar estes novos conhecimentos.

O que você mais observa nas telenovelas brasileiras?

Esta pergunta foi a que gerou respostas mais distintas entre os entrevistados. Cada um deles observa detalhes específicos nas telenovelas, que vão desde a produção até as histórias de vida dos personagens e à variedade de núcleos dramáticos. Alguns telespectadores elogiaram o trabalho de alguns atores, se lembraram de atuações anteriores e citaram nomes de atores da Rede Globo, como Antônio Fagundes e Glória Pires. Enquanto isso, outras pessoas observavam o dia-a-dia dos brasileiros, as refeições, a relação entre familiares e amigos, como Isabel:

Às vezes me chama a atenção sua alegria. Sua alegria, sua maneira de viver. Eu acredito que eles levantem cedinho, façam seu cafezinho, tomam cedinho... Seus costumes, o suco de laranja... E que estão sempre unidos. Isso eu vejo. É a maneira do brasileiro. Sua maneira respeitosa. Fala de uma maneira muito respeitosa ao papai, à mamãe. Isso, sobretudo, eu observo. Disso eu gosto porque, até agora, não vi nenhuma novela brasileira onde tratem assim, seu pai tão mal. Sempre com muito respeito. Gosto disso.

Estes aspectos são muito observados pelos telespectadores. Como Ariel, que observava o ambiente retratado em Chica da Silva. Eu gostava do ambiente, do quilombo, da comida que preparavam, das feijoadas, da gente culta, da gente pobre, da gente como sofria para sobreviver. Os milionários tinham as mulheres brancas. No entanto, seus maridos saíam com as escravas. E as escravas não eram consideradas como pessoas.

Ele observa que a produção das brasileiras é muito cuidadosa. Observa que as telenovelas de época são todas montadas e que, nestes casos, os atores falam de uma maneira diferente:

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Eu sou amante de filmes, cinema e gosto de ver filmes, de saber quem é o diretor. Gosto da produção que os filmes têm às vezes. A pessoa tem que saber o conceito das tele -produções para dar conta. Uma pessoa normal, ou seja, pode dizer ‘que história bonita’. A mim, me chama a atenção a produção, a montagem da novela, filme ou série. Gosto de saber que tudo foi estudado. E estou atento. Às vezes observo o que estão tocando. Isso é o que mais me emociona nas novelas. E mais ainda nas brasileiras. Por exemplo, Chica da Silva era uma negrinha que tinha sua liberdade e querem que a tratem como branca. É uma produção excelente. É uma produção muito boa que vi.

Outros telespectadores citaram os problemas sociais brasileiros como um dos aspectos que mais se observa nas telenovelas brasileiras: Algumas coisas se parecem [com minha realidade]. Como eu comentava, mostram sobre o que é o alcoolismo. Em que país não se sabe o que é alcoolismo? Em outras telenovelas, mostravam o que eram as drogas. Em O Clone mostravam o que eram as drogas. Isto sim, acontece na nossa sociedade. Então há muitas coisas que sim. O tráfico de menores, digamos. Aqui não se vê muito mas em outros países sim, se vê o tráfico de menores e a prostituição.

Dora também analisa este aspecto da telenovela brasileira. Acredita que muitos acontecimentos da trama são baseados na vida real. “Porque são tantas coisas tão parecidas à vida real que eu penso que não as inventam simplesmente”, comenta.

Você se identifica com os personagens?

A maioria dos telespectadores afirmou se identificar com os personagens das telenovelas. No entanto, houve telespectadores que responderam que a realidade dos personagens é muito distinta da deles e que por isso não se identificavam com a ficção. Mesmo assim, afirmaram que conseguem captar mensagens positivas e lições de vida através das histórias narradas sobre estes personagens. Ariel lembra que o personagem com o qual mais se identificou até hoje foi o protagonista de Fera Ferida. Apesar de não se identificar sempre com os personagens, reconhece que nas telenovelas brasileiras os protagonistas não são tão bonitos e isso lhes dá mais características de realidade. Belíssima é a telenovela brasileira atual que fala justamente da beleza. Mas sua atriz não é muito jovem, não tem bom físico como nas outras novelas. Nas colombianas, todas mulheres são belíssimas. Todas são de bom corpo. Por outro lado, Belíssima sendo justamente uma novela de beleza, de modelos e estas coisas, sua artista principal já tem tantos anos vividos e cai por um manipulador. Ou seja, isso é o bonito na

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novela brasileira. [...] As novelas brasileiras têm uns personagens bem vividos, que saem de gay, que saem de loucos, de doentes, de pobres. Não é só drama que têm. [...] É mais real, realmente. Porque aí você se dá conta que não é somente a moça bonita, de bom aspecto físico que tem seus problemas. Mas se vê que em qualquer lugar, qualquer pessoa pode cair e enfrentar problema.

Cidar considera as telenovelas brasileiras mais reais que as colombianas e venezuelanas por tratar dos problemas sociais. No entanto, alega que geralmente não se identifica com nenhum personagem porque a realidade na qual ele está imerso é diferente da realidade das telenovelas. Depois de analisar os aspectos positivos das telenovelas brasileiras e mexicanas, Isabel explica que gosta destas telenovelas justamente pela identificação que tem com seus personagens: “me identifico com as mulheres que trabalham, que têm que sair para trabalhar. Com elas me identifico. Me identifico com os trabalhadores. Com os que sofrem, com os que se afastam de intrigas”, explica. Com exceção de Ariel, que se identifica com personagens astutos, inteligentes e audaciosos, todos entrevistados afirmaram se identificar, em geral, com os personagens humildes e de bons sentimentos.

Você busca informações a respeito das telenovelas em outros meios de comunicação?

Poucos telespectadores buscam informações a respeito das telenovelas que estão assistindo. Isso ocorre porque os jornais, revistas e programas de televisão bolivianos não publicam muitas notícias a respeito deste gênero. Quando encontram notícias a respeito das telenovelas que estão assistindo, lêem. No entanto, geralmente não vão à procura deste tipo de informação. Os telespectadores que procuram informações são, normalmente, jovens em busca de músicas que escutam nas telenovelas, que querem descobrir o que acontecerá na trama e que querem saber mais sobre os atores e atrizes. Ariel, por exemplo, explica que o que lhe impulsiona a buscar informações sobre as telenovelas são as músicas de fundo e a curiosidade de conhecer o nome dos artistas.

Busco as informações na Internet. Segue o exemplo da novela das duas. Encontrei uma cena que se mistura com uma cena da novela das seis – La

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Hija del Mariachi – em que os personagens vão a um bar justamente onde canta a filha do mariachi. Misturam duas novelas. E quero saber, quando tem um personagem, qual o seu nome verdadeiro. Ou muitas vezes a música que sai. Gosto muito da música brasileira.Custo a conseguir qual música é. E são músicas clássicas. Se escuto uma música e gosto, quero conseguir. Assim, começo a investigar a novela, os artistas, as músicas de fundo que colocam e começo a buscar na Internet e começo a escutar em MP3.

Arnold também procura informações principalmente a respeito dos artistas das telenovelas porque os nomes passam muito rápido e ele não consegue ler. Sílvia, por sua vez, é a única telespectadora entrevistada que tem o hábito de entrar na página da telenovela, no site da Rede Globo.

Incomoda o fato das telenovelas brasileiras serem dubladas?

Esta pergunta gerou praticamente a mesma resposta entre todos entrevistados. Todos já estão habituados a verem as telenovelas brasileiras e não lhes incomoda que sejam dubladas. Mesmo tendo oferta de outras telenovelas, gravadas originalmente em espanhol, esta característica das telenovelas brasileiras exibidas na Bolívia não lhes impede de vê-las. A maioria dos telespectadores elogiou a qualidade da dublagem e explicou que, em geral, a voz que dubla um determinado ator, não muda de uma telenovela para outra. Apenas a família de Sílvia tem o hábito de assistir as telenovelas brasileiras pela Globo Internacional e Arnold, que algumas vezes as viu através deste mesmo canal. Desta maneira, a diferença de idioma se apresenta como um entrave para a maioria dos telespectadores que, por não compreenderem o português, preferem assistir estas telenovelas dubladas, através do canal local.

Conclusões parciais

Observa-se que os telespectadores bolivianos sempre têm como parâmetro de comparação com as telenovelas brasileiras as telenovelas mexicanas. Isto é reflexo da permanente transmissão das telenovelas originárias da Televisa e da Rede Globo para a Bolívia. Desde as primeiras transmissões de televisão neste país, o gênero foi importado prioritariamente do Brasil e do México. Atualmente, o cenário está começando a apresentar mudanças, com as telenovelas colombianas e venezuelanas sendo incorporadas à programação das emissoras e, por isso,

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muitos telespectadores citaram as telenovelas colombianas que, de alguma forma, estão se transformando numas das mais assistidas pelo público. A aplicação do questionário e sua posterior análise permitiram concluir, a respeito da amostra: que as telenovelas brasileiras são mais assistidas do que as provenientes de outros países; que a telenovela é o segundo gênero mais procurado por estes telespectadores; que a Unitel – emissora retransmissora das telenovelas brasileiras - é a mais procurada por este público. Observou-se, ainda, que há pouca oferta de telenovelas brasileiras na grade de programação das emissoras bolivianas. Enquanto se registrava apenas a exibição de uma telenovela brasileira entre todas emissoras bolivianas, um só canal – a ATB – transmitia quatro telenovelas de origem mexicana. Os questionários e as entrevistas possibilitaram constatar que, em geral, os telespectadores assistem as telenovelas com o intuito de se distraírem. A motivação que leva os telespectadores a buscarem as telenovelas colombianas, no entanto, é diferente. Em geral, eles assistem essas telenovelas com o intuito de rirem e de se divertirem, visto que são mais cômicas. A finalidade de assistir telenovelas brasileiras está ligada à distração, à fuga dos problemas e ao aprendizado através da trama. Pode-se afirmar que existe aquisição de conhecimentos através das narrativas das telenovelas e através da observação dos problemas sociais abordados. No entanto, nota-se mudança de comportamento apenas quando se trata da adoção da moda de indumentária, do comportamento social em situações formais e, como foi citado no caso de uma telespectadora entrevistada, que aprendeu a cuidar de seu jardim através de um personagem de uma telenovela e aprendeu duas receitas através de outra personagem. Há ainda exemplo de uma telespectadora que assiste as telenovelas brasileiras através da Globo Internacional para melhorar seu português, já que compreende bem o idioma e sabe falá-lo.

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CONCLUSÕES

Ao final da pesquisa, pôde-se constatar que as escolhas teóricas e metodológicas foram adequadas no estudo do problema de pesquisa proposto no início do trabalho. Através da entrevista com profissionais das principais emissoras bolivianas, se compreendeu a importância da telenovela no país, o fluxo deste gênero do Brasil para a Bolívia e se verificou os índices de audiência obtidos em Santa Cruz de la Sierra. Através da aplicação dos questionários e das entrevistas realizadas com os telespectadores de telenovelas brasileiras, se analisou os principais motivos que leva este público a escolher as telenovelas brasileiras. O primeiro aspecto analisado refere-se à exportação das telenovelas da Rede Globo para a Bolívia. Analisando-se o caso desta empresa, observou-se que o processo de internacionalização se iniciou com a demanda do mercado externo e com os baixos riscos de se investir na exportação das telenovelas. Somado a isto, a Rede Globo ganharia prestígio internacional e garantiria, no futuro, sua posição no mercado internacional. Para isso, a estratégia inicial foi de exportar suas telenovelas para países de língua portuguesa e para países latino-americanos, onde o gênero já possuía forte aceitação do público telespectador. Um dos países para onde a empresa direcionou seu principal produto de exportação foi a Bolívia que, desde o advento da televisão em seu território, exibe as telenovelas brasileiras – legal ou ilegalmente. A telenovela contribuiu, dessa maneira, para preencher as grades de programação das principais emissoras bolivianas que, devido às suas condições financeiras, técnicas e de recursos humanos para produzirem programação regional, não conseguiram produzir no país. A retransmissão ilegal de sinais de emissoras mexicanas e brasileiras aos poucos foi dando lugar à compra legal de telenovelas e filmes, mas sem um aumento considerável da produção local de programas. Através da análise da grade de programação das quatro emissoras de maior audiência, observou-se que, entre os programas importados, destacam-se seriados, telenovelas, filmes e aqueles de variedades provenientes tanto da América Latina, como dos Estados Unidos. A maior parte dos programas produzidos no país é do gênero jornalístico ou de variedades, com gravação em estúdio. Constatou-se a importância da telenovela neste país ao se verificar os horários de sua exibição nas diversas emissoras. Elas ocupam, geralmente, os horários nobres das principais emissoras. A primeira telenovela é exibida às 5h30 e a última às 21h. As quatro

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emissoras analisadas – ATB, Bolivisión, Unitel e Red Uno - exibem 21 telenovelas diariamente. Observa-se, portanto, que o investimento na compra de telenovelas pelas emissoras bolivianas não representa riscos econômicos, pois a importação de programas, em geral, é mais barato do que a produção local, uma vez que não se tem a garantia de se obter o mesmo índice de audiência das telenovelas. Entretanto, apenas uma telenovela brasileira estava sendo exibida durante o período do trabalho de campo, apesar das produções da Rede Globo ocuparem o primeiro lugar na preferência do público boliviano. Esse fato pode ser explicado por causa do alto custo destas telenovelas, em comparação com aquelas provenientes de outros países. Diante deste cenário, estabeleceram-se diversas questões a serem investigadas pela pesquisa. A primeira delas refere-se às motivações dos telespectadores bolivianos assistirem as telenovelas provenientes do Brasil, embora haja uma maior oferta de telenovelas mexicanas, venezuelanas e colombianas no país. A escolha do uso do questionário e sua posterior análise permitiram concluir, a respeito da amostra: que as telenovelas brasileiras são mais assistidas do que as provenientes de outros países; que é o segundo gênero mais procurado por estes telespectadores e que a Unitel – emissora retransmissora das telenovelas brasileiras - é a mais procurada por este público. Quando se perguntou aos telespectadores da amostra a respeito das telenovelas preferidas por eles, constatou-se que as mais lembradas e das quais eles mais gostam são originárias do Brasil. Uma parcela muito pequena da amostra alegou que nunca assiste estas telenovelas. A utilização da teoria dos usos e gratificações permitiu uma análise dos tipos de necessidades e motivações dos telespectadores bolivianos de telenovelas:

· ocorrem transformações cognoscitivas, já que os telespectadores utilizam as telenovelas brasileiras como uma fonte de informação. Através delas, se informam, observam outras formas de cultura, copiam modelos de conduta e aprendem com os erros dos personagens. · através dos dados e das temáticas exibidas nas telenovelas, abre-se um novo tipo de problemática social a se discutir entre os telespectadores; as telenovelas oferecem repertório para conversas entre familiares e amigos. · existem diferentes usos das telenovelas, dependendo do país de sua origem, do tipo de narrativa apresentada e do público telespectador. Nas telenovelas

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brasileiras, por exemplo, a função informativa foi a mais destacada. No caso das telenovelas colombianas, a função de evasão foi mais ressaltada. Através delas, os telespectadores fogem da realidade e se divertem. · as telenovelas brasileiras também são procuradas como uma forma de se fugir da realidade. O momento de assisti-las é um momento de descanso, de se esquecer dos problemas cotidianos e de entrar num mundo irreal, em que a ficção se transforma na principal maneira de gastar o tempo ocioso. · Foram registradas mudanças de comportamento relacionadas à adoção de moda de vestuário pelas mulheres · as telenovelas de horário nobre contribuem para que os familiares se reúnam e criam um hábito comum entre eles. · as telenovelas têm também como função a organização da rotina. Os telespectadores cumprem as mesmas tarefas e assistem os mesmos programas diariamente, de maneira que existe uma repetição na ordem das tarefas realizadas.

Ainda que os telespectadores bolivianos tenham uma cultura hispânica e indígena e que o idioma falado no país seja o espanhol, assistir as telenovelas brasileiras não se apresenta como um empecilho nestes aspectos. A única crítica referente à telenovela brasileira referiu-se à sua longa duração, de modo que o fato das telenovelas serem dubladas não representa nenhum tipo de incômodo para os telespectadores. Por outro lado, foram feitas críticas às telenovelas mexicanas, argentinas e venezuelanas por praticamente todos os telespectadores entrevistados. As telenovelas mexicanas são consideradas muito repetitivas, bem como as telenovelas venezuelanas. As telenovelas argentinas, por sua vez, são consideradas “atrevidas” pelos telespectadores. Já as telenovelas chilenas não são compradas pelas emissoras bolivianas por causa da resistência dos bolivianos em relação aos chilenos e à histórica guerra ocorrida entre os dois países, através da qual a Bolívia perdeu a saída para o mar. A escolha das telenovelas brasileiras é baseada em motivos mais racionais do que passionais. Para explicarem esta preferência, a maioria dos telespectadores as comparou às telenovelas procedentes de outros países. A crítica, em geral, se direcionava às telenovelas mexicanas. No entanto, observaram-se fatores importantes que levam estas pessoas a escolherem as telenovelas brasileiras que se referem à qualidade de produção, à trama que

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varia de uma telenovela para outra, às temáticas sociais que os levam a aprender coisas novas, ao fato delas serem menos violentas e demonstrarem menos cenas de sexo, às paisagens retratadas e ao fato de serem consideradas mais realistas. No que se refere às telenovelas colombianas, observa-se que elas têm obtido muito sucesso em todas as regiões onde é exibida. O roteiro tem agradado tanto ao público, que já foi adaptado para diversos países. Entretanto, não se percebe uma concorrência direta entre as telenovelas brasileiras e as colombianas, pois elas não têm muitas características em comum, e dessa forma as motivações dos telespectadores de assistirem as duas são diferentes. Observou-se, então, uma mudança neste cenário. Se anteriormente as telenovelas mexicanas na Bolívia eram as mais assistidas, junto com as telenovelas brasileiras, hoje as colombianas e venezuelanas começam a ocupar parte do espaço das mexicanas. Esse fenômeno pode ser constatado através de pesquisa de audiência realizada recentemente em Santa Cruz de la Sierra. Dessa maneira, a pesquisa foi realizada num momento em que a telenovela latino- americana adquiriu uma grande visibilidade com a intensificação de suas vendas para novos públicos consumidores, com a entrada de novos produtores em países de primeiro mundo e com a consolidação de uma indústria da telenovela. Este movimento só foi possível graças ao sucesso e consolidação destes produtos nos mercados locais e nos países vizinhos, após décadas de comercialização efetuadas especialmente pela Rede Globo e pela Televisa. Isso mostra a importância deste gênero nos últimos anos, pois a necessidade de ficção televisiva é crescente com o surgimento de novas emissoras nos países do leste europeu e asiáticos. Se, anteriormente o fluxo de telenovelas se dava da América Latina em direção aos países de culturas mais próximas, aos poucos ocorreram mudanças que transformaram este fluxo. Atualmente, o fluxo de telenovelas ganha novo formato e parte também dos países de primeiro mundo em direção às outras regiões. Telenovelas como Betty, a feia marcam esta nova etapa de produção mundial de telenovelas. Os questionamentos feitos sobre a internacionalização do gênero estão relacionados com a possível neutralização das culturas retratadas nestas produções. Apesar de se reconhecer uma mudança de postura empresarial por parte das principais empresas produtoras de telenovelas, ainda é muito cedo para se confirmar esta transformação. As telenovelas brasileiras, por exemplo, só sofrem mudanças em seu roteiro depois da exibição no Brasil e da adaptação para o mercado externo. As telenovelas colombianas, por sua vez, têm obtido sucesso justamente por retratar uma cultura e um humor muito típicos de seu país. Além disso, muitos países produzem telenovelas com a finalidade de se atender somente ao

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mercado interno, como é o caso do Chile e da Argentina cujas telenovelas são pouco comercializadas no exterior. Questões como esta se colocam neste momento em que as telenovelas se transformam num gênero com penetração nos mercados norte-americano, europeu e asiático e abrem perspectivas para novas pesquisas. Sugere-se, portanto, a ampliação da pesquisa realizada na Bolívia, de maneira que se analise o fluxo internacional das telenovelas na América Latina. As características do gênero variam não apenas com a cultura dos países. Aspectos financeiros, técnicos, profissionais e de estratégias de mercado fazem com que a telenovela adquira características específicas em cada região onde é produzida. Com uma pesquisa mais ampla, seria possível estabelecer as principais diferenças que este gênero adquire de acordo com estes mercados produtores, uma análise da reordenação deste fluxo de telenovelas e da importância que representam os novos produtores da indústria mundial de telenovelas. A continuidade desta pesquisa nos outros mercados latino-americanos poderia permitir uma melhor compreensão do fluxo das telenovelas no mercado televisivo latino-americano, da mesma forma como pesquisadores europeus têm buscado examinar a evolução da sua penetração no mercado televisivo europeu.

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ANEXOS

Anexo 1 – Entrevistas com profissionais das emissoras analisadas 138

Anexo 2 – Grades de programação das emissoras analisadas 162

Anexo 3 – Modelo do questionário aplicado às famílias 176

Anexo 4 - Entrevista com telespectadores de telenovelas 179

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ENTREVISTA CARLOS NOVARO DIRETOR DE PROGRAMAÇÃO E PRODUÇÃO DA UNITEL

TRADUÇÃO REALIZADA PELA AUTORA

Trabalhei 10 anos no Canal 4 de Montevideo, Uruguai. E tenho sempre contato com a gente da Globo. No Uruguai, em Caracas, eu estava... Tentaram colocar novelas mas as principais a concorrência passava, no Canal 12, e continuam passando. Ou seja, no Canal 4 que eu estava trabalhando. Tentamos colocar algumas novelas que davam em outros horários da programação da Rede Globo mas não temos... Eu cheguei à conclusão de que as novelas da Globo, a central, por suas características, não é para o horário da tarde. É um programa noturno. Na minha opinião, como produtor inclusive de telenovelas, antes de ser programador, também produtor de novelas na Argentina, sempre gostei do que é ficção na televisão. E, no meu critério, a Globo é a melhor produtora de telenovelas que existe na América-latina. Não lhe digo para ficar bem com você, mas tenho repetido isto até me fartar aqui. Bem, em relação... ao conteúdo de seus roteiros, à sua produção, à realização, aos atores, realmente estão na vanguarda. Por algum motivo, os produtos conseguem. As novelas da Globo vendem até na Europa. As outras ocasionalmente têm algum sucesso, compram algum roteiro, algum golpe de sorte assim, pode ser. Mas a Globo faz anos que vende na Europa. E não entra qualquer coisa lá, não? Bem, ou seja, como profissional da organização de telenovelas, devo dizer que os produtos da Globo, neste aspecto, são os melhores. Sabe, o que tenho a dizer... Na Colômbia, hoje em dia, a Colômbia tem tomado um rol muito importante. Bem, ou seja, também ganha da Televisa pelos conteúdos e pelos atores também. Televisa se mantém sempre no mesmo esquema. É o conto da Cinderela a torto e ao revés, o conto da Cinderela. O pobre odeia o pobre, o rico odeia a rica. A mesma coisa. Com maus atores, às vezes. Mas as classes populares dão grande audiência aos produtos da Televisa. Inclusive aqui, não! Isso é inevitável. Esse é o problema que tem a Globo. Que é aceitada amplamente pela classe média, média alta e alta. Mas a classe baixa e baixa prefere a Televisa. Ou seja, é isso. Uma batalha que, como se diz, é muito difícil, de certa seriedade, de certo prestígio que os produtos da Globo têm representado. São vendidos na nossa programação e assim já era quando eu cheguei aqui. E sempre defendendo esta posição que as novelas da Globo não

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podem perder. Na Argentina agora se cultiva uma espécie de busca de uma marca na programação. Aqui se passam às 21 horas todos os êxitos da Globo. Às 21h colocamos a novela central da Globo. Temos experimentado no ano passado. Compramos Escrava Isaura pelo sucesso da Rede Record. Realmente foi muito bem. A transmitimos às 19h, antes do noticiário. É uma mexicanea da... feita com mão de obra brasileira, mas com esta intenção. O fenômeno Record e Globo.... Estão tratando de imitar a Globo em toda a Record. E tenho falado com a gente da Record quando vamos nas feiras que é isso que eles tentam – a cópia da Globo. E estão fazendo produtos realmente muito interessantes. Esta é a única que nós passamos brasileira, digamos, então com continuidade que é a central da Globo. Neste momento, estamos passando Belíssima e estamos um pouco atrasados. Estamos um pouco mais atrasados por termos contratuais. Vamos passar Cobras e Lagartos que compramos, que não é central. Mas o que acontece é que, por razões contratuais, não podemos mudar de tempo, digamos. Vamos colocar a central. Depois venderão todas as centrais que deram a Globo, uma depois da outra. Isto asseguro. Bom, é isso. Enquanto a telenovela na Argentina compete com duas novelas da Televisa, há novelas da Rede Globo que são um grande sucesso como O Clone que ganhava de qualquer uma. E a novela Belíssima compete, briga, com as duas novelas da Televisa. Por sorte, a concorrência divide a audiência. Então, emparelha todos neste horário. Quando a novela é- eu digo- um boom como foi O Clone, que superava todos os números, mas quando são duas novelas normais, digamos, vão a emparelhar os ratings.

Quando se coloca uma telenovela brasileira na programação, já se espera um público fiel? Sim, este público sempre nos acompanha. Faz anos que esta novela está posta na grade de programação. Este público nos acompanha. Pois eu te digo que há vezes que a novela brasileira produz um boom. Então, nos ratings, nos sobressaímos. Temos mais ratings que o habitual. Senão, mais ou menos emparelho com os outros dois canais que estão passando. Cada um, uma telenovela da Televisa.

Por que as telenovelas brasileiras são transmitidas às 21h e não uma da Televisa, aqui na Unitel? Por que são as mais caras? Sim. As da Globo são as mais caras. No mercado são as mais caras. É um produto caro. A metade do que pode valer... O problema é que se você não emite... Na Televisa hoje são mais contratos. Não pode comprar uma novela. Tem que comprar um montão de coisas. Então isto

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faz ser mais caro mas independente, digamos. A hora da Globo é mais cara que a hora da Televisa.

No mês de junho deste ano, no mês passado, o comportamento da novela da Globo em relação aos outros três canais. Primeiro, vou te dar de cidade por cidade e logo o nacional. Digamos, a média das três cidades. Se tomamos La Paz... Vamos parar no mesmo sempre. La Paz: Unitel, as duas horas meia horas tiveram 71,78. 7.1, 7.8. Bolivisión 3.1, 3.9. ATB teve 3.6, 4.3. Red Uno 6.8, 7.5. Ou seja: aqui há praticamente um empate. Os ratings aqui não estão muito bem elaborados… Em outros lugares dois décimos, três décimos, cinco décimos importam. Aqui não. Realmente não se pode dizer que haja um virtual... há um empate entre Unitel e Red Uno. Cochabamba. O que se vê não foi muito forte, mas... Unitel teve 8.5, 6.3. ATB. Este é o que mais tem. 17.7, 18.7.

Que diferença… o que tem aí? Novela. Novela mexicana. Red Uno: 4.6, 4.5. Bolivisión eu te disse ou ainda não?

Ainda não. Bolivisión 4.4, 4.1. Se bem... é um público similar de Cochabamba e de La Paz. Em La Paz ... É uma média do mês, não? O mais próximo da realidade possível. E passamos a Santa Cruz, onde a Unitel tem 13.4 e 13.2.

Muito bom. Ah, sim. Bolivisión tem 1.8, 1.0. ATB tem 1.8, 2.4. Há uma diferença. O mesmo programa, hã? E Red Uno... Aí, aquí, gostam da outra novela mexicana. 11.5, 11.6. Se pode dizer de um empate? Sim, se pode dizer. Porque realmente há que ver no final do ano todo, mas.. .se pode dizer que é um empate pois os ratings são muito...

Como se pode caracterizar os telespectadores de cada um destes canais? Ah, não... Infelizmente nós não temos.. Eu não posso te dar isso aí pois não tenho esse dado. Mas o que eu sei é que dominamos a classe média, média alta. E a gente que vê, como você disse, as telenovelas mexicanas, é a gente da classe média baixa e baixa e de extrema pobreza, não? Que é a maioria aqui, não? Por isso os ratings altos. Mas no rating médio nacional das

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três cidades, temos a Unitel com 9.7, 9.5. É nacional. Ou seja, me refiro à média das três cidades. Nada mais. Não é Bolívia. Mas a média das três cidades onde... As únicas cidades onde se mede. Que há uma medição de audiência. Temos a Unitel com 9.7 e 9.5, a Bolivisión com 2.8 e 3.2. ATB com 5.5 e 6.2. Baixa muito a média em Santa Cruz. e Red Uno 8.2 e 8.5. Este é o mais próximo de junho. De todo o mês e o que terá uma pauta do comportamento de uma novela que não é um boom, que não é um uau.

Que é Belíssima. Que é Belíssima.

O Clone gerava quanto, mais ou menos? O Clone superava os dois dígitos. Sempre, sempre a dois dígitos. Era fantástico. Até inclusive a repetição que demos do Clone também foi fantástico.

Há alguma temática, algo que se goste. Qual o critério que se segue quando vai comprar uma telenovela? Ah, bem, sim. Isto eu lhe posso dizer. A gente briga para ser uma novela central da Glboo porque tem um caráter mais cosmopolita. Ou seja, é a mais universal, digamos. As outras não, de outros horários. Vão dirigidas a outros públicos específicos: à juventude... Em troca, a temática é realmente de uma grande cidade, ou da cidade. E onde há gente jovem, gente adulta, há de tudo. Bem, esta diversidade é o que interessa, não? Talvez os produtos Globo e sua exposição que estão mais cimentados agora numa determinada audiência podem ter êxito porque, bem, refletem a problemática deste segmento que é o Brasil. Estas novelas não têm conseguido êxito aqui, não? Algumas sim, como Chocolate...

Chocolate com Pimenta. Não.

Mulheres apaixonadas? Esta passamos nós. Bem. Havia outra que bem, que a concorrência transmitiu. A passavam meio-dia e fez bastante força nas novelas do meio dia, que são as novelas colombianas.

Quando se vai comprar uma novela brasileira, quais regras vocês têm que seguir?

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Não. Nós fechamos acordo por outra companhia por três anos. E dois anos desta vez e a anterior foi de três anos. Digamos que era um acordo com Globo que tínhamos a opção de comprar todos os produtos que quiséssemos da Globo.

Qualquer? Claro. A novela que nós quisermos. Uma. Sim, mas sempre escolhemos a novela central que é a que adapta a todo mercado. Não somente ao boliviano. É isso. Assim que estas características que eu te disse da novela central, acontecem coisas que estão representadas nas distintas classes sociais, inclusive sociais, que podem ser as distintas classes de qualquer cidade.

Na sua opinião, por exemplo, são mulheres, homens, qual o tipo e telespectador? Não, não.. A atitude que tem a telenovela brasileira, ainda que hoje em dia acontece com as colombianas também. Mas acho que foi a novela brasileira a primeira que os homens começaram a gostar também. Que os homens também as vêem.

Assistem também? Sim, sim, sim. Eu acho que sim. Lamentablemente, não posso te dar estes dados estatísticos porque não me dão a medição. Estes são os ratings dos domicílios. Domicílios. Assim que não é rating individual. Os homens também.. Em todos lugares se dá.. Que a novela, a princípio, a novela brasileira, dava ao homem vergonha de vê-la. Mas hoje em dia todo mundo vê. Hoje em dia, creio que se haja perdido a vergonha dos homens de ver telenovelas. Outro dia eu estava num restaurante e havia um jovem e haviam meninos de diferentes idades e estavam com duas senhoritas. Estavam mais perto dos trinta que dos vinte. E estavam justamente passando neste restaurante uma novela nossa, das duas da tarde. Eu estava almoçando. E o rapaz explicava às meninas a história da novela. Ele olhava e dizia do que gostava. Esse rapaz estava entusiasmado porque conhecia a história da novela. Me surpreendeu e me surpreende, naturalmente. Assim, eu escutei atentamente o que este rapaz dizia. Assim, hoje em dia é nivelado e vocês estão dominando o mundo agora. Mas que o presidente dos Estados Unidos.

Aqui na Bolívia, não sei se acontece o mesmo que no Brasil. Os jornais, as revistas, tudo fala sobre a telenovela. Aqui também? Ou seja, a televisão falando da televisão, falando das telenovelas...

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Lamentavelmente não há uma vida artística como há no Brasil, como há na Argentina, onde qualquer quantidade de revistas sobre a televisão, de fofocas, de tudo isso. Fofoca, os atores que saem com fulano, que saem com beltrano... Aqui não tem isso. Não há uma vida artística. Não se produz ficção. Os jornais tem um espaço pequeno onde se faz algumas críticas pequenas de televisão. Às vezes, quando o evento é importante, dedicam um pouco mais: meia página. Ou quando temos concurso de beleza que é o que realmente fazemos aqui. Então dedicam fotografia e tudo isso. E, realmente, é isso o que há também nas revistas que se entregam nos retaurantes, onde mais se informa sobre a vida social da cidade. Viu?

Sim, vi. Bom, estes se multiplicam por todos os lados aqui e há mias revistas deste tipo. Não há sobre as novelas, de outras revistas que falem sobre novelas ou sobre atores. Pois aqui não tem. Não tem. Esta é uma indústria incipiente. Nem sequer tem característica de indústria.

Mesmo que a novela ocupe um espaço tão importante na grade de programação, não? Sim, mas nos outros países isto funciona pois os atores e atrizes são locais. Então tem um atrativo fundamental. Isso... Querem saber as histórias de seus atores e atrizes, que bonito que é, que operou... Todos estes tipos de coisas que aparecem nestas revistas. Mas aqui não tem nada disso. Não tem. Há pequenas críticas nos jornais. Nada mais.

O que se pode dizer da importância da telenovela na programação da Unitel? Que espaço ocupa? Nós transmitimos 24 horas. Supostamente, à noite, já à partir das dez da noite, transmitimos filme ou fazemos resumos esportivos e das jornadas quando há eventos esportivos como neste momento, da Copa América. Mas nós transmitimos às nove da manhã uma novela colombiana, às duas da tarde outra novela colombiana, às sete outra novela colombiana. Não temos, não trabalhamos com a Televisa. E às nove, a novela da Globo. Se pode dizer que, em comparação com outros canais, temos poucas novelas. Nosso forte é mais o cinema.

Há alguma comparação entre os gêneros? Qual tem obtido mais sucesso? Depende do filme. O filme às vezes oscila no rating por... Os filmes gostam tanto em La Paz como em Santa Cruz. E gostam muito. A concorrência também briga com a gente com os filmes.

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Então o gênero mais importante da Unitel é o filme? Eu diria que sim, pela quantidade de horas que nós transmitimos programas. A concorrência transmite mais novelas por dia por obrigação de seu contrato com a Televisa e além disso, compra algumas novelas colombianas. Tem tentado com as novelas brasileiras da Globo que também tem comprado. Sim, mas creio que para o canal o que é notícia e o que é filme é... Supostamente, eu não dou maior importância a um ou ao outro. Um canal deve ter novelas, deve ter filme, deve ter notícias e deve ter eventos.

Mas o que atrai mais público? Mais público? Depende... Pode ser um bom filme que tenha alto rating ou pode ser um evento que fazemos que também tenha um alto rating. Não se pode dizer do que tem mais público. Pela quantidade de filmes que passamos, posso te dizer que os filmes têm mais ratings, em comparação com as novelas, mas há novelas de manhã e à tarde. E isso praticamente vê a mulher, a dona de casa. A novela da Globo já é para toda a família. É outra coisa, pelo horário que está posta, às nove da noite. Assim, eu não posso dizer que eu interfiro na programação. A concorrência se arrisca e coloca mais novelas, mais novelas.. Eu não. Não sou de acordo com isso, de colocar mais novelas ou mais filmes ou mais notícias. Tem que tentar fazer, dentro do possível, que é muito difícil, e os custos são muito altos, é um mercado muito pobre... É muito difícil. Então, tinha que estar navegando na coisa equilibradamente e dar a cada target o seu programa. Temos um programa infantil também à tarde que vêm e sem passar desenhos animados, simplesmente. Produção, sorteios e jogos para as crianças. E se assiste! No fim de semana passamos séries e se vê bem, pois trazemos boas séries. As pessoas vêm. Ou seja, tratamos de chegar a todo o público. A produção da televisão aberta deve chegar desde ao menino de 6 anos até a avó de 90. A mulher e o homem. Ainda que, com a aparição do cabo, as classes sociais altas que podem ter o cabo, têm deixado a televisão aberta e se mandado para o cabo. E, teoricamente, bem, se pode rever este tema no futuro na Bolívia. Mas até agora muito pouca gente tem TV a cabo.

É muito cara? É cara, mas além disso, há o problema do nível de pobreza que vive o país. Tem que pensar que 20% tem para viver. E que 80% não tem para viver. Assim, é drástica a coisa.

Na Bolivia, são quantas emisoras que transmitem novelas?

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Red Uno, Bolivisión também transmite.

Brasileira, não? Às vezes transmitem brasileiras. Acho que transmitiu uma, mas argentina. Red Uno, Bolivisión, ATB. PAT também transmite novelas, ou seja, estão mudando. Bolivisión, por exemplo, foi comprada por um empresário mexicano como este Ángel Gonzáles que tem canais por toda América Latina. Assim, sua meta vai ser a compra de todos seus canales e, bem... Há um excesso de canais. O mercado não dá para tantos canais.

Unitel é um canal novo, não? São mais ou menos 10 anos? Antes a Unitel estava junto com a gente da ATB. Ou seja, não existia Unitel. O que te digo... Te digo que este é o meu oitavo ano aqui nesta empresa. Faz 10 anos que separou a gente que era dona no momento da ATB e que criou a Unitel. E começou a trabalhar independentemente. Comrpou o canal de La Paz, tinha este aqui em Santa Cruz. E muito mais recentemente, coisa de dois ou três anos, comprou o de Cochabamba. Estes são os únicos canais da Rede Unitel que a família Monastério é dona. Os outros canais, ao longo do país, são retransmissoras do sinal.

E como está a Unitel em comparação com outros canais, nos aspectos técnicos? É o mais avançado. Nós temos equipamentos que não tem na Bolívia. Disso estou certo. E quisemos avançar mais, realmente.

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ENTREVISTA DE MARCO TAPIA PEÑA – CHEFE DE VENDAS DA RED UNO TRADUÇÃO DA AUTORA

Por que, quando se compram as telenovelas brasileiras, se coloca no horário nobre? Ou seja, às nove, às sete...

Aqui na Bolívia há três horários nobres. De 2 a 3 da tarde, de 7 a 8 da noite e de 9 a 10. É um horário que as pessoas estão acostumadas. É como no Brasil que às nove da noite, às 10 da noite vão ver novelas, não? Estes são horários já pré-estabelecidos aqui no costume boliviano. Agora, porque se compram as novelas brasileiras... Primeiro. A televisão boliviano entrou recentemente num nível competitivo já aceitável onde estão nascendo as primeiras tentativas de produzir, de gerar produção própria, programas que geram audiência. É este o nosso caso. É o caso da outra empresa que você entrevistou. E, por que as novelas da Rede Globo? Porque, bem, eles têm todo o know-how e o comportamento das novelas no Brasil é similar, digamos, ao comportamento da audiência aqui na Bolívia. O que quero dizer com isso? Que já conhecemos. Me lembro, há muitos anos atrás, quando traziam as novelas como Dancing Days, como Sasá Mutema, O Bem Amado, não? Ou seja, todas estas novelas já foram criando uma cultura e estabelecendo horários onde as pessoas já estão acostumadas a ver este tipo de novelas, não? Por que compramos as novelas da Globo? Por que se compra da Rede Globo? Porque, bem, nos garantem que as novelas que vamos comprar nos darão os bons resultados que esperamos em relação à audiência. E por aí entendemos que o anunciante tem uma opção onde investir e o investimento retorna imediatamente.

Vocês têm obtido mais sucesso com as telenovelas da Televisa ou com as colombianas? Têm acontecido casos especiais como O Clone. Não transmitimos. Quem emitiu foi a outra empresa. Foi um caso especial. Não havia outra. Há muito tempo atrás, neste canal, se difundiu uma novela. Como se chamava?

O rei do gado? Não, O rei do Gado foi outra novela, mas não tanto como O Clone. Que era às nove da manhã, que era filmada no Pantanal...

Pantanal?

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Pantanal. Isso. Pantanal. Então, tem havido novelas bem marcadas, que têm dado bons resultados à companhia. Nós com A casa das Sete Mulheres fomos bem. Chocolate com Pimenta também foi bastante bem. A cor do Pecado também foi bastante bem. Temos também Televisa. Si você vê aqui [apontando para os murais] isto é produção da Televisa. Várias novelas como Salomé. Qual novela estava dando na Unitel quando passamos Salomé? Estávamos competindo com uma novela da Televisa versus com uma novela da Globo que estavam dando na Unitel e a nossa teve maior aceitação. É como tinha O clone, O rei do Gado. Nós esperamos que se acabe...

Há uma diferença de comportamento entre os telespectadores da Televisa e da Rede Globo? Bolívia tem uma cultura mexicana muito forte. Aqui eles gostam muito de mariachi. Temos uma influência porque os primeiros filmes que chegaram, os primeiros shows que chegaram por esta parte da Bolívia, não pela fronteira, chegaram com os mexicanos. A música mexicana, os mariachi… Então há uma cultura muito marcada por estas tendências daquela época que foram se arrastando até os nossos dias. Mas a diferença da novela a pelo menos até três anos atrás, é que as novelas mexicanas sucediam de maneira mais fictícia. Agora, as novelas brasileiras tratam mais de se aproximar do real. Inclusive no Clone aproveitaram para fazer uma campanha contra a dengue, não? Por isso, acho que há uma diferença. Agora as novelas mexicanas estão se adequando à realidade. Você vê que tem fantasia mas pode até fazer uma comparação, não?

Mas em termos de rantings, qual tem obtido mais sucesso? Da Televisa ou da Rede Globo? Eu acho que haja um empate. Ou seja, tem havido... Eu diria que se não houvessem O Clone e O Rei do Gado, teria um empate. Mas por estas duas novelas, acho que a Rede Globo tenha um pouquinho de vantagem. Eu te diria que concorrência forte são as novelas da Caracol, as colombianas. São fortes porque entrou Betty, a feia, entrou Pedro, o Escamoso, entrou Anita, no te arrajes, que é da Telemando mas com basicamente o mesmo elenco. Ou seja, é uma concorrência mais... Rede Globo comprou Betty a feia para não transmiti-la!

Mas já passou na Red TV lá no Brasil. É uma rede aberta ou fechada?

Aberta. Mas não sei se é a produção da Colômbia.

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Quando se compra uma telenovela brasileira, qual critério se segue? O que se busca? Uma telenovela para mulheres, para o público jovem... Normalmente, os horários que criados na Bolívia: de 2 a 3 da tarde, de 7 a 8 e de 9 a 10.... O de 2 a 3 é para o público jovem adiante. Ou seja, 15, 16, 17 anos adiante, até os 90 anos. Igual no horário de 7 a 8 da noite, de igual maneira no horário de 9 a 10 da noite. As pessoas vêm muito a televisão na Bolívia. Pela distância, imagino, não? Este é um critério. O outro é que, quando você compra uma novela da Rede Globo, está atacando um segmento médio-alto. Seu segmento principal é a gente da classe média, de poder econômico médio pra cima. E não quer dizer que as pessoas da classe media para baixo não veja. Mas o forte na qual está destinada é na classe média acima. O bom nas novelas brasileiras é que há muito luxo, muitos veículos bonitos, mulheres bonitas, lugares paradisíacos. Então é um tema de assimilação. Não é o caso das novelas mexicanas. As mexicanas são mais para o grosso da população. Eu diria que para 70% da população na Bolívia. Por isso tem uma diferença marcada, não?

E em relação às novelas chilenas, colombianas, argentinas? As colombianas romperam o esquema. Eles romperam o esquema de criar histórias onde as pessoas mais se entretêm do que se sintam assimilados ou que sofram. Porque às vezes a pessoa sofre assim: e vai beijar, e não vai beijar, não se casa ou se casa... As colombianas, ao contrário, todos terminam rindo porque eles fazem as histórias divertidas. Elas são histórias às vezes tristes mas envolvem também, te fazem rir, como Betty, a feia. Isso foi o que fizeram os colombianos para poderem ingressar, competir no mercado, não?

E Venezuela e Chile? Por que produzem também bastantes telenvoelas. Se compra aqui também? Nós já compramos várias novelas aqui e a única que não foi bem foi com uma peruana. Se chamava Si es la Vida. As Chilenas não, pelo que há entre o Chile e a Bolívia. Nós tivemos uma guerra com eles, a maneira de falar dos chilenos não é muito agradável para todo mundo. E eles não querem dubla-la, não? Então não tem, não tem. ... Algumas novelas venezuelanas eram muito ao estilo Televisa pois a Televisa deixou sua escola na Venezuela. São muito ao estilo Televisa. Um apartamento, muito pouco exteriores, a mesma história sempre, não?

Marco, o que você me pode dizer a respeito da importância da telenovela na Red Uno?

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Nós... Te digo que quantas novelas transmitimos por dia. É forte a incidência de telenovelas na nossa programação. Me dê uns minutinhos e eu te digo.

Tenho procurado informações a respeito da grade de programação e não há nada sobre a programação dos canais locais. Sim, não há nada. Olha, nós começamos com uma novela às 5h30 da manhã. O direito de nascer. Às 5h30 da manhã. Logo, às 9 da manhã temos outra novela. Às 11 temos algo parecido a uma novela que são mini-séries mas são da Televisa. Às 2 da tarde temos A Saga, outra novela. Às 3 temos outra novela. Às 4 da tarde temos outra novela que é mais para crianças. Às 6 da tarde, outra novela; às 7 outra novela e às 9 outra novela. Ou seja, há, olhe: 1,2,3,4,5,6,7,8,9 novelas. E no fim de semana temos várias que fazemos um resumo de todos os capítulos que passaram.

Você pode me dar esta programação? Sim, claro que sim.

Tenho procurado e não tenho achado. E nós não temos muito material promocional da empresa. Não tem. É um efeito do mercado.

O que você pode me dizer da história das telenovelas da Rede Globo na Red Uno? Faz muito tempo que transmitem? Sim, faz muito, muito tempo. Pelo menos uns 10 anos. Os provedores têm variado, não? A companhia que te vende tem variado, mas agora há um contrato direto com a Rede Globo. Mas sempre tem... Dancing Days de 1979 deve ser...Depois Pantanal, depois Eles e Elas, Cidades de Areia,

Mulheres de Areia. . Cidade de Cimento… Há um monte. Me lembro desde que era criança.

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ENTREVISTA WILLMAN CAMARGO – CHEFE ADMINISTRATIVO DA BOLIVISIÓN EM SANTA CRUZ

TRADUÇÃO DA AUTORA

Willman, como se caracteriza a Bolivisión frente aos outros canais de televisão da Bolívia? Bolivisión é uma rede nacional que se dedica a difundir informação séria à população boliviana. Se caracteriza por ser uma rede de comunicação que evita ter muitas notícias amarelas, evita o sensacionalismo, evita o excesso, então está concentrada em dar informações totalmente imparciais, totalmente equilibradas e isso, digamos, é uma das características do canal.

Quais tipos de programas a Bolivisión transmite? O forte, o principal que nós temos na Bolivisión, são os nossos noticiários e há também estes programas enlatados e programas que são feitos em co-produção com produtoras independentes. Há estes programas de manhã, o programa depois que faz o noticiário da manhã, um programa que é de família, mais de lar, para um grupo selecionado, para gente mais velha, não? E pela tarde há uns programas que também são programas próprios, que vão direcionados a uma juventude de uma idade entre os dez e os quinze anos. E nos acompanha com bastante êxito um programa que é do México, um programa dos Estados Unidos, perdão. Al Rojo Vivo que também é de notícia assim, tipo espetáculo, ou seja, mais recente que há no mundo, não? E temos uma produção em espaços entre os meios. Temos novelas de manhã e duas à tarde. Não temos telenovelas brasileiras ainda. Temos novelas mexicanas e colombianas.

São quantas novelas? São uma de manhã e duas à tarde. 3 novelas.

Três novelas. Mexicanas e colombianas... 2 mexicanas e uma colombiana. Estamos provando também ter uma novela brasileira. Mas ainda não está contemplada no nosso programinha. [apontando para a programação] Estes aqui são Notícias Bolivisión. É um programa que tem o que acontece até o sábado. Notícias Bolivisión. Este é um programa que já acabou. Um programa de luta livre para jovens e crianças, não? Também programas infantis que dão diariamente, programas das tardes todos

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os dias, de segunda a sexta. Este é um programa também juvenil também aos sábados. Este é um programa também de sábado, dos Estados Unidos. E a novela que é Sueño de Amor.

E qual a importância que a telenovela tem na grade de programação da Bolivisión? Dentro do canal, vamos ver a importância que tem... Tem sua importância mais no horário da manhã, não? Que são mais ou menos da tarde a começo da tarde que se vêm as novelas. O período que mais se vê, que é do segmento das mães, ou seja, de grupos familiares que estão em casa neste horário. Não é, digamos, que não seja importante. Tem sua importância, ou seja, está num horário especial. E se dedica normalmente de acordo com a programação a uma hora ou meia hora da programação diária, não? Tem sua importância, digamos. Da quantidade de horas que temos, que são 17 horas de programação, dedicamos mais ou menos, à telenovela, uma quantidade de uns 10, 20% da programação.

Ou seja, é bastante coisa. Sim, claro. Digamos que haja uma revolução das novelas, não?

Por que não se colocas as novelas no horário nobre? Ou seja, às nove, às sete... Nos sábados nós temos isto. Digamos 2 horas e meia contínua de toda a série de novelas da semana, sem cortes.

Como um resumo. Sim, um resumo. Ou seja, um reprise no sábado e no domingo também tem um espaço. Ou seja, uma reprise.

E por que a Bolivisión prefere transmitir telenovelas colombianas e mexicanas do que as novelas brasileiras? Há uma preferência ou não? Não, não. Isso é, mais que tudo, uma questão de custos. Um tema de custo. De todas maneiras, esta é uma rede nacional. Portanto, digo que o custo de uma novela brasileira fica mais econômico, não? Mas a Bolivisión foi uma precursora das telenovelas brasileiras aqui no meio. Antes se compravam só as novelas brasileiras.

Desde quando? Fazem... Desde que eu saiba, desde 82 mais ou menos… Começaram os canais com as novelas brasileiras. Aqui passaram O Bem Amado, ...

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Hoje em dia as novelas brasileiras são mais caras que naquela época? Hoje em dia há mais variedade, onde escolher. Têm as venezuelanas, as colombianas que estão no âmbito das novelas.

Como se caracterizam os telespectadores da Bolivisión? Os de La Paz, de Cochabamba e de Santa Cruz? Há uma diferença ou são muito parecidos? Há um apego muito forte às novelas brasileiras em Santa Cruz, não? Agora, em La Paz, Cochabamba, eu não sei. Mas em Santa Cruz, sim, tem um segmento bastante forte que se apegou às novelas brasileiras.

Você sabe dizer por quê? Há alguma característica específica dos cruceños? Pode ser pela proximidade do lugar, ou pela maior... os temas que as telenovelas brasileiras abordam são muito mais reais do que das novelas do México, Colômbia e Venezuela, não?

E quais informações você tem da audiência no horário das telenovelas? Há um segmento praticamente dedicado às telenovelas. Depois do período das 7 da noite até mais ou menos... é um segmento noturno, não? Ou seja, um grupo já estabilizado, que tem solicitado novelas no período de 2 a 3 da tarde, não? Quase todas emissoras têm novela neste horário. Quase todos, não?

Comparando a audiência da Bolivisión no horário das telenovelas com os outros canais, como está a Bolivisión? No tema telenovela estamos quase no mesmo nível que na comparação que fazemos de noticiário com outro noticiário que tem em Santa Cruz. Digamos que ocupa o terceiro ou quarto lugar, mais ou menos, na preferência da audiência, não? Ou seja, mais ou menos ocupamos este lugar, o terceiro ou o quarto.

E as outras cidades, como Cochabamba e La Paz? Em La Paz estamos no segundo lugar. Em Cochabamba em primeiro lugar de audiência.

Há uma empresa que mede esta audiência? Há uma empresa que se chama Publimarketing.

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Aqui em Santa Cruz? Eles funcionam em rede nacional. Agora, qual o problema que tem Publimarketing? Publimarketing mede a audiência a cada meia hora. Te diria que tem um problema que há um problema nas meia horas das redes fechadas. De 7, 7 e meia, 8, 8 e meia, digamos... E eles colocam nos hotéis, nos apartamentos... Não têm controle dos domicílios, não? Então há um problema que você sabe, que quando muda o canal muda também o sinal do marcador que eles têm controle. O que acontece é que vai uma criança, digamos, um pai vê as notícias, e muda os dois, não? Ou seja, vai uma criança e muda o canal quando muda o outro controle, não? Quando ele gosta de um programa, não mede mais este programa. Ou seja, fica neste canal o tempo todo. Tem este problema que... Há um segmento também da população da amostra, digamos, do centro da cidade. Não vêm, ou seja, as zonas populares.

Ou seja, há canais que são mais populares e que não... Exato, exato. Não têm ido a uma gama de zonas populares que são grandes; não têm chegado nestes lares, não? Têm ido a hotéis, a zonas mais... têm ido a partes que tenham um mercado que tenha mais sinais, não?Então é uma debilidade na audiência que existe. O único que faz isso na Bolívia é esse. Não há outra citação.

Quando vai começar a passar aqui? Setembro.

O que se espera de Cabocla? Da audiência? Vai passar num horário da noite que eu tenho... uma preferência de audiência para novelas. Para que haja audiência, para que o investimento seja bom, não? Em setembro, no horário noturno.

Às sete ou às nove? Sim, por aí. Às oito da noite.

Ok. Ou seis e meia, sete da noite.

Red Uno e o Canal 09, Unitel, têm uma série com o mercado brasileiro, um tipo de comercio de todas novelas de lá. Trazem mais material porque têm mais recursos, não? E sempre têm

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na programação anual para suas atividades. Nós não temos muito acesso a muitas dimensões econômicas, não? Por exemplo, não somos um canal de muito sensacionalismo, de comprar coisas ruins. Então não somos muito comerciais. Não somos.

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ENTREVISTA VÍVIAN MORENO – ATB (área comercial)

TRADUÇÃO DA AUTORA

Em que posição está a ATB em relação aos outros meios de comunicação na Bolívia? Não temos as marcas de ratings na Bolívia neste momento. Entretanto, a ATB tem estado entre os primeiros lugares dos ratings durante muitos anos, especialmente em La Paz e em Cochabamba, que são praças mais fortes.

E aqui em Santa Cruz? Aqui em Santa Cruz está entre as três redes que lideram no mercado, não?

O que a ATB transmite, especialmente? Noticiários, telenovelas e filmes são o nosso forte. Séries também mas a maior porcentagem se concentra aí.

E qual a importância da telenovela na grade de programação da emissora? A telenovela é uma das estrelas da televisão.

São quantas transmitidas atualmente na ATB? Oito.

De onde elas vêm? A maior parte da Televisa.

Já foram transmitidas telenovelas brasileiras? Numa oportunidade, uma que se chamou Uga Uga.

E como se caracterizam os telespectadores da ATB? ATB é um canal, eu diria, transversal. Por quê? Porque não tem.... É como a mayor parte dos canais de televisão. Não é um canal especializado. Então tem para todo tipo de público, não?

E quais diferenças têm os telespectadores de La Paz, Cochabamba e Santa Cruz?

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Bem, a gente de La Paz e de Santa Cruz é muito diferente, não? Têm uma definição totalmente diferente. De repente, em La Paz, são muito mais sérios para alguma coisa. No que se refere aos noticiários, eles gostam mais de formalidades, em Santa Cruz é mais informal.

E quais informações você tem a respeito da audiência das telenovelas aqui na ATB? É especialmente feminina, sem descartar o público masculino porque, ainda que eles não declarem, de todas maneiras assistem. A verdade é que de todos os segmentos, especialmente o segmento popular, mas sim, temos novelas de todos os segmentos.

Hoje em dia não há uma empresa que meça a audiência? Não existe.

Me falaram de Publimarketing. Não, Publimarketing mede é... Faz um controle publicitário.

Bolivia Media. Bolivia Media no mês de dezembro fez ….

Equipos Mori. Fazem mais questionários qualitativos dos ratings.

E você tem o contato deles? Meu departamento não tem contato direto com eles. O canal tem sim, através de outras pessoas. A partir de outubro, vamos ter uma empresa que vai medir. Uma colombiana.

Vivian, por que não se transmitem as telenovelas brasileiras aqui? Ou seja, por que se transmitem mais as mexicanas, da Televisa? É uma questão de negociação. Anteriormente a Televisa era sócia da ATB. Tinha uma porcentagem na ATB. E, por outro lado, agora é uma questão de custo-benefício. Adicionalmente, sabemos que um canal da concorrência tem direitos à primeira opção. Então, nós não temos interesses em segundas opções.

Ou seja, a Unitel. Sim, isso.

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ENTREVISTA MAYKO GUSMÁN MENDOZA – MEGAVISIÓN- COORDENADORA GERAL

TRADUÇÃO DA AUTORA

Mayko, como você caracteriza a Megavisión frente aos outros canais da Bolívia? Bem, Megavisión tem uma particularidade importante, digamos. Megavisión é parte de uma multimídia que, na realidade, é a única multimídia completa que há na Bolívia. Particularmente, eu trabalhei em muitos meios e este é o único que tem a multimídia completa. Em realidade, o nosso nome é Grupo Media. Temos dois jornais: o jornal El Mundo, temos o vespertino La Nación, que sai nas tarde, que é mais popular, que custa, eu acho, 1,50. É um pouco mais barato. Temos a rádio Mega e temos a Megavisión, o canal. Então, todos fazem produção nacional. Absolutamente tudo. E produzimos tudo aquí mesmo. É a base, na realidade, do nosso canal. Aposta e investe na programação produzida pela gente daqui.

A respeito dos ratings, da audiência do canal. Neste momento somos o primeiro canal a nível local. Obviamente somos um canal somente local. Não chegamos até as províncias de Santa Cruz. Não chegamos mais. Mas somos o número um. No rating e tudo é o primeiro canal a nível local. Porque estamos neste momento tecnologicamente e com a imagem visual à altura de qualquer rede nacional. E se investe bastante nele, digamos. Ultimamente se investiu bastante neles porque não vemos como o melhor canal a nível local, mas ainda nos faltava esta qualidade para sair a nível internacional e nós saímos pela Internet. E nos vêm em todos os lados do mundo! Nos chamam, inclusive ao vivo, de Londres, da China, do Japão, de todo lado.

Não se transmite então Megavisión em La Paz e Cochabamba? Em nenhum lugar. Somente em Santa Cruz, por linha direta e pela Internet, obviamente, nos vêm por todo lado.

Quantos anos a Megavisión já tem? Aproximadamente estamos trabalhando... O que acontece é que a Megavisión já sofreu várias mudanças no que se refere aos donos. Bem, em realidade, duas mudanças, digamos. Mas a primeira foi muito forte. Se dividiu e um parte jornalística abriu seu próprio canal que agora é

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o grupo Gigavisión. E Megavisión ficou como canal. Este outro canal se dedicou somente ao jornalismo e nós começamos a nos dedicar a entreter, a educar, a dar programas infantis, de entretenimento, de revista, de tudo: femininos e mais. Então, tomamos outra linha, totalmente diferente. Aí nasceu o grupo Mega e disso devem ser uns 15 anos.

E a história das telenovelas bolivianas. O que pode dizer? Bem, como eu te explicava, a produção do canal é 100% local. Local, nem sequer nacional. É local. As novelas são locais, são produzidas aqui em Santa Cruz. É uma produção que temos comprado, na realidade, de uma produtora grande daqui que se chama Safipro.Eles têm feito várias novelas. Nenhuma é história nova, digamos. Quase todas são lendas dos costumes que é, em realidade, o que caracteriza o povo daqui de Santa Cruz. Porque Santa Cruz , não sei se você viu, aqui o tema político sobretudo, as pessoas são muito donas de sua terra. Do que é Santa Cruz. Então, apostamos por esse lado, digamos, de Santa Cruz, e estamos mostrando às pessoas o que elas gostam, as histórias de antes. Há várias histórias, digamos. Da viuvinha. Que é uma novela feita que a história é de um espírito de uma mulher que andava antes aqui, no centro da cidade, e com personagens quase reais, com gente que realmente existiu, recreadas. E nós... A outra novela que estamos passando agora é La virgen de las Siete Calles, por exemplo. Você conhece o centro das Siete Calles. E esta menina nasceu nesta zona e a história é dela e é uma lenda de costume. Então todas são adaptadas à história da minha terra, digamos. Para a gente que vê também identificada com Santa Cruz, porque Megavisión é, particularmente, como diz o nosso proprietário geral: “É como ver um canal cruceño em qualquer lugar. O que quero é que a gente reflita tudo o que é Santa Cruz em qualquer lugar do mundo. Isto é o que é Santa Cruz.”.

Vocês têm obtido sucesso com a transmissão destes temas? Sim, sim. Como sempre! Como te digo. São clássicos. São novelas que às vezes a pessoa pensa, quando vê, que pode ver duas, três vezes. Ou seja, por exemplo, eu sou paceña, mas vivo aqui há muito tempo. Estudei o colégio aqui e todas vezes que vejo, volto a ver de novo a novela. E todas as novelas voltamos a passar porque são ciclos diferentes. E cada vez que a vemos, vivemos, tratamos de pensar como era antes a cidade, as casas antigas, as pessoas como pensavam... E se vive de novo. Então, é claro que têm êxito. A gente trata de buscar sua identidade dentro das novelas “Ah, assim era minha avó. Meu avô pensava assim”, digamos. Estas coisas. Estas formas de pensar, estas formas de vestir, digamos.

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E você acha que estas telenovelas competem com as da concorrência ou não? Têm um público muito específico? Não a transmitimos num horário da concorrência porque são novelas que nunca vão competir com uma produção da Telefe ou com uma produção da Rede Globo, digamos. Que são monstros, coisas grandes perto da gente, não? Mas temos no horário em que chega às pessoas. Em que há mais crianças que possam ver. Porque, por exemplo, as novelas que trazem de outros países às vezes tem algumas coisas e segmentos que não são apropriadas a toda a família. Mas nossas novelas estão em horários familiares que não têm concorrência e acho que este é o êxito também, de acomoda-la onde todos possam ver, num horário que não tem nada mais o que ver na televisão local ou nacional. Esta é nossa estratégia, digamos, de colocar estas novelas.

São quantas novelas hoje? São várias. Porque também transmitimos umas espécies de mini-séries locais que fizeram. Há varias lendas. Inclusive temos trabalhado com nossa produtora que fez lendas mais de histórias de antigamente, digamos. El Dorado, La Zona del Pantanal, Las Mujeres de Pantanal... São várias coisas que vão contando da Amazônia e amores na Amazônia, digamos. Deve ser mais ou menos umas 20, no total, de produções mas as que estamos vendo fazem uns oito anos que voltam a passar. E a gente continua vendo, pois é como voltar a ler um livro, digamos.

Atualmente são quantas? Agora temos só uma. La virgen de las Siete Calles.

A que horas se transmite? A transmitimos no domingo. A passamos de manhã, por volta de meio-dia.

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ENTREVISTA DEPARTAMENTO COMERCIAL DA REDE GLOBO

Existe relação entre o preço de comercialização e o número de telespectadores ou o grau de desenvolvimento de um país? Sim, depende de muitos fatores, entre eles o tamanho do mercado publicitário, a economia local, o desenvolvimento do país etc.

Qual a importância do mercado latino-americano para o processo de expansão da empresa no mercado estrangeiro? Muito importante. É um mercado que tem se desenvolvido muito nos últimos anos e a Globo tem reforçado a sua presença não só na América Latina, mas também nos Estados Unidos Hispânico, através de novos acordos. As alianças com muitos países desse mercado são antigas e já temos espaços cativos na grade das emissoras, que sempre apostam nos nossos produtos como ferramentas para compor a grade de programação deles.

As atuais estratégias de comercialização dos produtos da Rede Globo no mercado estrangeiro são a venda de telenovelas e a Globo Internacional. Quais são os dados existentes sobre esta comercialização com a Bolívia? No ambiente internacional não comercializamos somente dramaturgia (novelas, miniseries, séries, infantil), o nosso portfólio internacional conta com a venda de formatos, documentários e a partir de 2005 incorporamos os esportes, tendo o futebol como o principal deles. Para a Bolívia exportamos especificamente dramaturgia desde o ano de 1998. Com relação ao canal internacional (TV Globo Internacional) temos 2 sinais, um com foco no mercado europeu e outro no resto do mundo. Em breve, lançaremos mais 2 sinais novos, um voltado para o mercado do Japão e outro para o mercado de Portugal. Na Bolívia o sinal é distribuído pelo via a cabo pelos distribuidores: Cotas Cable (www.cotascable.com.bo) no canal 48, ITS S.r.L (www.its.com.bo) no canal 51 e Multivisión (www.multivision.com.bo) – canal 50.

O que impulsionou a empresa a exportar para o mercado boliviano? Começamos a concentrar nossos esforços nos países que compram ‘’enlatados’’ e não produzem conteúdos.

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Na história da TV na Bolívia, são observados casos de pirataria de conteúdos produzidos pela Rede Globo. Como a empresa enfrenta esse tipo de procedimento de algumas emissoras? Não temos conhecimento de nenhum caso de pirataria em nenhum país e com nenhum produto nosso.

Quais as especificidades do mercado boliviano? Politicamente a Bolívia é muito segmentada e na área de comunicação, podemos dividi-la em 3 grandes centros: Santa Cruz / La Paz e Cochabamba. Atualmente, os canais nacionais mais importantes são: ATB Bolívia, Red UNO e Red Unitel. Dependendo da região, um canal pode ser mais forte que outro, por exemplo, em Santa Cruz , poderíamos dizer que a Red Unitel seja mais forte, em Cocha Bamba , a Bolivisión e em La Paz , a ATB Bolívia. Isso se dá, por causa das diferenças políticas, sociais e culturais de cada região. O gênero telenovela é muito difundido na região e líder de audiência nos canais.

Qual a estratégia da Rede Globo para competir com telenovelas de produtoras venezuelanas ou mexicanas no mercado latino-americano? Somos reconhecidos pela qualidade e volume de produtos, prova disso, são as nossas recentes nomeações no International Emmy Awards em 2006 e Seoul Drama Awards em 2007.

A Rede Globo estipula condições para a retransmissão de suas telenovelas? Por exemplo: uma vez efetuada a compra, a emissora pode reprisar as telenovelas sem restrições? Sim, as restrições variam de acordo com o cliente e/ou região. Se o cliente quer exibir o programa pela segunda vez, é necessário que ele compre novamente os direitos.

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GRADES DE PROGRAMAÇÃO DAS EMISSORAS ANALISADAS JULHO DE 2007

ATB

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BOLIVISIÓN

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RED UNO:

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UNITEL: PROGRAMACIÓN TV (día: lunes) 23 a 29 de julio

00.30 Cine Insomnio 02.00 Cine Insomnio 04.00 Cine Insomnio 06.00 El Gallito 06.30 Al Despertar 09.00 Corazón Partido 09.30 La Batidora 11.00 Decisiones 12.00 Los Simpson 12.15 A Todo Deporte 13.00 Telepaís Edición Meridiana 14.00 Hasta que la plata nos separe 15.00 Cine Más 17.00 Chicostation 17.45 Los Simpson 18.45 La Hija del Mariachi 20.00 Telepaís Edición Central 21.00 Belísima 22.00 Señor Cine

PROGRAMACIÓN TV (día: martes) 00.00 Resúmen Juegos Panamericanos 01.00 Cine Insomnio 03.00 Telepaís Edición Central 04.00 Cine Insomnio 06.00 El Gallito 06.30 Al Despertar 09.00 Corazón Partido 09.30 La Batidora 11.00 Decisiones 12.00 Los Simpson 12.15 A Todo Deporte 13.00 Telepaís Edición Meridiana 14.00 Hasta que la plata nos separe 15.00 Cine Más 17.00 Chicostation

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18.00 Especial 20.00 Telepaís Edición Central 21.00 Belísima 22.00 Señor Cine

PROGRAMACIÓN TV (día: miercoles) 00.00 Resúmen Juegos Panamericanos 01.00 Cine Insomnio 03.00 Telepaís Edición Central 04.00 Cine Insomnio 06.00 El Gallito 06.30 Al Despertar 09.00 Corazón Partido 09.30 La Batidora 11.00 Decisiones 12.00 Los Simpson 12.15 A Todo Deporte 13.00 Telepaís Edición Meridiana 14.00 Hasta que la plata nos separe 15.00 Cine Más 17.00 Chicostation 17.45 Los Simpson 18.45 La Hija del Mariachi 20.00 Telepaís Edición Central 21.00 Belísima 22.00 Señor Cine

PROGRAMACIÓN TV (día: jueves) 01.00 Cine Insomnio - Historias de Guerra 03.00 Telepaís Edición Central - REPRIS 04.00 Cine Insomnio - Atrapados 06.00 El Gallito 06.30 Al Despertar 09.00 Corazón Partido 09.30 La Batidora 11.00 Decisiones 12.00 Los Simpson 12.15 A Todo Deporte

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13.00 Telepaís Edición Meridiana 14.00 Hasta que la plata nos separe 15.00 Cine Más - Beethoven 17.00 Chicostation 17.45 Los Simpson 18.45 La Hija del Mariachi 20.00 Telepaís Edición Central 21.00 Belísima 22.00 Especial - Miss Bolivia 2007

PROGRAMACIÓN TV (día: viernes) 00.00 Resúmen Juegos Panamericanos 01.00 Cine Insomnio 03.00 Telepaís Edición Central 04.00 Cine Insomnio 06.00 El Gallito 06.30 Al Despertar 09.00 Corazón Partido 09.30 La Batidora 11.00 Decisiones 12.00 Los Simpson 12.15 A Todo Deporte 13.00 Telepaís Edición Meridiana 14.00 Hasta que la plata nos separe 15.00 Cine Más 17.00 Chicostation 17.45 Los Simpson 18.45 La Hija del Mariachi 20.00 Telepaís Edición Central 21.00 Belísima 22.00 Señor Cine

PROGRAMACIÓN TV (día: sabado) 00.00 Resúmen Juegos Panamericanos 01.00 Cine Insomnio 03.00 Telepaís Edición Central 04.00 Cine Insomnio

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05.30 Cine Insomnio 07.00 Cine Familiar 09.00 Justicia Ciega 10.00 Invasión 11.00 Expedientes Secretos X 12.00 Padre de Familia 12.30 American Dad 13.00 Telepaís Edición Meridiana 13.30 Cine Aventura 15.30 Cine Aventura 18.00 Cine Aventura 20.00 Señor Cine 22.00 Señor Cine

PROGRAMACIÓN TV (día: domingo) 01.00 Sexo en la Ciudad 02.00 Cine Insomnio 03.00 Cine Insomnio 05.00 Cine Insomnio 07.00 Cine Insomnio 09.00 Dr. House 10.00 Huesos 11.00 Prision Break 12.00 Mi Nombre es Earl 12.30 Lost: Desaparecidos 13.30 Cine Aventura 15.30 Cine Aventura 17.30 Cine Aventura 19.00 Los Simpson 20.00 Señor Cine 22.00 Esposas Desesperadas 23.00 A Todo Futbol

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MEGAVISIÓN:

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MODELO DO QUESTIONÁRIO APLICADO ÀS FAMÍLIAS

INDICADORES SÓCIO-CULTURAIS

Nome e sobrenome: Idade: Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino Estado civil: ( ) solteiro(a) ( )casado(a) ( ) Viúvo(a) ( ) divorciado (a)

Tem filhos? ( )sim. Quantos? ( ) não

Nível de escolaridade: ( ) Sem escolaridade ( )Primário ( ) Segundo Grau incompleto ( ) Segundo grau completo ( ) Técnico ( )Superior incompleto ( )Superior completo ( ) Pós-graduação

Profissão: ( ) Empregado. Qual profissão? ( ) Desempregado. ( )Estudante ( ) Aposentado ( ) Dona de casa.

SOBRE A TELENOVELA

Quantas telenovelas você vê atualmente?

Em relação às telenovelas brasileiras, você: ( ) as vê com regularidade ( ) as vê ocasionalmente ( ) vê muito pouco ( ) nunca vê

Sobre a maneira como você vê as telenovelas: ( ) As vê sozinho (a) ( ) Vê com outras pessoas. Com quem?

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Costuma interromper alguma atividade para ver as telenovelas? ( ) Sempre ( ) às vezes ( ) Muito pouco ( ) Nunca

Com quem você fala sobre telenovelas?

( ) Marido/ Mulher ( )Filhos ( ) Irmãos ( )Pais ( ) Amigos de trabalho ou de escola ( ) Outros. Quem?

Costuma falar sobre telenovelas: ( ) Todas vezes que vê ( ) Uma ou outra vez que vê ( ) Muito pouco ( ) Nunca

Vê as telenovelas porque (Marque até 3 opções) ( ) Não há outro programa interessante neste horário ( ) Sempre vi telenovelas e isto é um hábito que tenho ( ) Porque me distrai ( ) Porque aprendo com elas ( )Porque observo os costumes de outros países ( )Outros motivos. Quais?

De acordo com a origem das telenovelas que você vê, marque sua preferência de maneira que o número 1 corresponda à telenovela que você mais gosta e que o número 5 corresponda à telenovela que você menos gosta.

( ) Brasileira ( ) Venezuelana ( ) Mexicana ( ) Colombiana ( ) Argentina

Do que você mais gosta nas telenovelas brasileiras, além da história? ( ) Dos atores e atrizes e da interpretação ( ) Das roupas, da decoração das casas e dos lugares ( ) Das músicas ( ) Dos aspectos técnicos ( ) Outros. O quê?

Quais telenovelas você está vendo atualmente?

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SOBRE A TELEVISÃO E OS OUTROS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Quantos aparelhos de TV você tem em casa?

Quais programas você mais assiste? (marque até 3 opções) ( ) Esportivos ( ) Noticiários ( ) Telenovelas ( )Filmes ( )Desenhos animados ( )Programas jovens ( ) Programas femininos ( ) Programas de vendas ( ) Programas culturais ( ) Programas de variedades ( ) Programas humorísticos ( ) Clipes de músicas

Marque os três canais que você mais assiste: ( ) Full ( ) Sitel ( ) Cadena “A” ( ) TV Cristal ( ) Bolivisión ( ) ATB ( ) PAT ( ) TVB ( ) Unitel ( ) Canal Universitário ( ) Red Uno ( ) Megavisión ( ) Activa TV ( ) Gigavisión

Você tem: ( ) Rádio ( ) Internet ( ) TV a cabo

Lê jornais? ( ) Sim. Qual? Quantas vezes por semana? ( ) Não

Lê revistas? ( ) Sim. Qual? ( ) Não

Liste as 5 telenovelas que você mais gostou até hoje:

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ENTREVISTAS APLICADAS AOS TELESPECTADORES DE TELENOVELAS (traduzidas pela autora)

FAMÍLIA 01: Entrevistada: Eduarda Sánchez

Quais programas você gosta de ver na televisão? Além das telenovelas?

Sim. Todos os noticiários que passam. E, além disso, um programa de produção espanhola sobre concursos.

E por quantas horas você vê televisão por dia, mais ou menos? Mais ou menos? Três horas.

E você vê mais telenovelas ou mais noticiários? Vejo só uma novela.

Qual? Belíssima. Só essa.

Quais são os seus canais preferidos? Noticiários, em peral, eu vejo na televisão española e, nos locais, vejo geralmente Unitel e Red Uno.

O que você não gosta na programação destes canais? Eles passam muitas propagandas.

Onde você costuma ver televisão? Na sala, no seu quarto... No meu cuarto.

Com quem? Com Guido?

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Com Guido.

Todo mundo na sua casa vê televisão neste quarto? Sim. Às vezes no meu quarto, às vezes no quarto do Guidito.

Você sempre teve costume de ver telenovelas? Sim.

Desde quando você se lembra? Desde que…. Te diria que desde quando descobriram as telenovelas.

E por que você as vê? Porque é uma forma de me esquecer de todas coisas.

E o que você mais gosta nestas telenovelas? O que você mais observa? Nas telenovelas brasileiras, por exemplo, eu gosto porque mostram paisagens, te mostram lugares sempre. Por isso. As outras, em geral, são umas peças. Por outro lado, nas telenovelas brasileiras sem tem... sempre te fazem conhecer coisas aí.

Você se identifica com os personagens das telenovelas brasileiras? Não, acho que não….

E com os personagens das outras telenovelas latino-americanas? Não….

Mas eles se parecem reais? Sim!

Quais parecem reais? As brasileiras. Te digo que tem muito tempo que não vejo outra. Quase sempre, a esta mesma hora, e à mesma hora dão as telenovelas brasileiras.

E por que você vê as telenovelas brasileiras e não vê as outras? Porque são mais bonitas, são mais reais. Nas outras, há muita trama e são.. ah!

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Você aprende algo com as telenovelas? Sim, algumas vezes. Por exemplo? Por exemplo… Não me lembro…

Você observa as roupas, as músicas? O que mais te chama a atenção? E a decoração das casas? A decoração das casas sim. A decoração mais que tudo.

Você extrai alguma moral, alguma lição de vida, uma mensagem destas telenovelas? Da que estou vendo, ainda não. Mas sempre tem uma.

E isso te ajuda a solucionar problemas da sua vida? Não, não..

Qual a função da telenovela em sua vida? É de me distrair.

Qual o tipo de novela que você mais gosta? As humorísticas, as românticas... Ou seja, eu gosto de todas. Porque passam várias do Brasil aqui. A da fazenda brasileira, do café... Todas essas, igualmente. Gosto de todas elas.

E qual o tipo de personagem que você mais gosta? Não me identifico com nenhum. Em geral a boa, não?

A mulher boa? Sim.

E você fala muito sobre telenovela com outras pessoas? Não, só com o Guido. Comentamos depois que termina e durante também.

Fala sobre o que, por exemplo? Falo do que está passando. “Ah, ela fez muito mal...”

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Não comenta com suas amigas sobre as telenovelas? Com suas vizinhas? Muito pouco, pois não tenho oportunidade.

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FAMÍLIA 02 Entrevistado: Ariel Terrazas

Ariel, o que você faz? Me dedico aos computadores. Aos sistemas.

Quais programas você costuma ver na televisão? De tudo. Filmes, séries, desenhos animados, novelas... Menos esportes.

E por quantas horas, ao dia, você vê televisão? Ah, vejo todo o dia. Agora quando posso. Quando tenho um tempo. Com um tempinho, me coloco na frente da televisão. Senão, vou ver um filme.

Ou seja: você trabalha e, quando chega em casa, vê televisão imediatamente? Quantas horas mais ou menos? Vejo praticamente três horas por dia.

Três horas, então. Antes eram dezoito.

Dezoito? Eu nem dormia.

Quais são os seus canais preferidos? Bem, localmente seria a Red Uno, Unitel, Sitel. Isso.

E os outros canais? O canal 15.

E do que você gosta nestes canais? Geralmente, eu procuro séries. Séries cômicas, mais que tudo. Ações. E quantos dramas tiverem por aí. Mas busco algo mais cômico parar rir.

E do que você não gosta na programação dos canais bolivianos?

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Os canais bolivianos... O Canal 7 não tem uma programação muito boa. ATB é muito sensacionalista e tem muito comercial. Quer vender seu produto de qualquer jeito. Até assessoria do México eles têm. O Canal 48 PAT não gosto, do conhecimento, destas coisas. O Gigavisión e o Megavisión são muito informativos e também se dedicam a vender produtos pela televisão quase o dia inteiro. Não é só notícia. Outros programas eles não têm.

Entre os programas que você mais vê – séries, novelas, noticiários - de qual você mais gosta? Noticiários não muito. Aqui, os noticiários são muito amarelos, sensacionalistas, polêmicos. Geralmente, eles praticamente criam as notícias. Eles inventam, criam. Não há muita informação. Não gosto de ver. Além de filmes, telenovelas, o que mais seria? Discovery Channel é maravilhoso.

Você tem TV a cabo em casa? Não. Tenho aqui no trabalho.

Onde você vê televisão? Onde eu possa.

Mas na sua casa, onde vê? Na minha casa, tenho no meu quarto, na sala, e onde está minha mesa de estudos. Ponho também televisão pela Internet.

Está acostumado a ver televisão com outras pessoas? Sim. Estou acostumado a ver com outras pessoas e vejo até mesmo sozinho.

As telenovelas você as vê com quem? Geralmente eu as vejo sozinho. Mas sempre tem algo de interesse e vêm ver comigo. Mas nas noites, vejo muita televisão com minha mãe.

No seu quarto? Não, na sala.

Com a sua mãe, então.

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Com a minha irmã, assim que ela chega. Mas seu horário é meio apertado. Ao meio-dia eu vejo com minha tia na sala.

Aqui no trabalho você também vê? Sim, agora sim. Porque até ir pra casa e voltar... Então eu fico aqui e vejo uma série na Max e agora o noticiário. E uma novela Hasta que la Plata nos Separe, que passa às duas da tarde. E como entro às três, tenho tempo para ver a novela e depois trabalhar.

Você sempre teve costume de ver telenovelas? Desde quando? Desde os doze, treze anos. Via primeiro uma trama mexicana. Mas já não procuro as mexicanas porque já faz um tempo que eu já entendia as mexicanas depois de ver umas poucas. Que é sempre o argumento da menina que é pobre, que é uma santa e que ele é rico e que a conquistava porque tinha uma aposta, que ganhava. E ele se apaixona por ela mas a outra fica sabendo. E ela se torna milionária porque era filha de uma milionária daí. E, por último, ela procura pela avó que a cria como se fosse dela. E, ao final, ela se vingava e o rico se torna pobre e diz que a ama. E a outra, como é boa e uma santa, perdoa. Essa é a mexicana. A típica. E o ator principal tem dois nomes e um sobrenome de altura, digamos. “Juan Carlos Altatorre” e a pobrezinha a chamam de “Chuchi”. Nem sequer um nome dão à pobrezinha. E o canal concorrente dá uma novela colombiana. El Inútil, Betty, la Fea – um clássico- Pedro el Escamoso¸ Al diablo – uma que eu gostava muito- da máfia e com um argumento muito diferente. Mas a brasileira era a que mais me atraía. Mas que tudo por sua produção. Que é assim: montavam como na época e todos falavam... têm um jeito de falar muito bom. Têm atores muito bons. A mais preferida que tem uma brasileira da qual gostei muitíssimo foi Fera Ferida. Que ele foi ao povoado em que mataram seu pai na frente dele. Daí, ele volta a este povoado depois de muitos anos e se torna um alquimista. Aqui se chamava Fiera Herida, assim que se conhecia.

Fera Ferida no Brasil. Fera Ferida.

Até hoje é a sua telenovela preferida?

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Até hoje é minha preferida. Típica, digamos. As brasileiras têm esse encanto. Porque são cômicas, porque às vezes têm algum drama curto e também profundo, digamos. Aquilo que te atrai mas não te deixa entediado. Não é tão tediosa. Este é o mal das novelas colombianas. Quando têm sucesso, começam a navegar nas novelas. Escrevem a mais. As brasileiras, por outro lado, têm um argumento e não usam como lá na Colômbia. Outra novela. Anita. Eu tinha me esquecida

Presença de Anita. Presença de Anita era muito curta. Eram 15 episódios. Uma mini-série. O argumento era de um homem que não sentia atração por nenhuma mulher mas se apaixonou por Anita. E ele ficou louco por ela ao extremo de ela se matar e depois de sua morte, se tornar mártir.

Não te incomoda que estas telenovelas sejam traduzidas? Ou seja, as telenovelas mexicanas e colombianas não sãotraduzidas... A brasileira? Não, não me incomoda. Às vezes vejo a Globo brasileira, a original, como que... não entendo muito bem o português. Então há palavras que não entendo. Então fico: “O que disse? O que disse?”. E ninguém me ajuda, porque ninguém no meu meio fala português. Por outro lado, as que vejo aqui, localmente, são dubladas. Obviamente eles fazem novelas quase na mesma hora. Pelo menos eu entendo, não? E também, as dublagens são muito boas. Assumem a personalidade dos atores.

Por que você vê as telenovelas brasileiras e não as outras? Por que elas te atraem? Bem, as novelas brasileiras, mais que tudo, não é somente drama, digamos. Não é somente comédia. Ou seja, tem de tudo. E muitas vezes, as novelas não são só de um personagem, mas também de um meio. Não é somente um personagem que tem problema. “O que estará acontecendo com a fulaninha de tal”, digamos. Mas também são problemas sociais, muitas vezes. Em Belíssima, falam do tráfico de mulheres, prostituição, da máfia, num nível mais limpo, mais claro. Antes mostravam a máfia como muito maus. Tem de tudo. E isso é bom, e estas coisas me agradam. Houve uma novela, uma vez, que não me lembro de seu nome... Era sobre um pecuarista.

O Rei do Gado? Não, não... Desta eu me lembraria. Mas teve uma, uma antita. De que o personagem teve um filho fora do casamento. E outro filho com uma servente que foi ao Brasil e teve outro filho.

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A questão é que o filho da servente era como ela. Peão, tudo... E ele encontrou seu pai. Depois volta outro filho mas sem que saibam que era filho. Entra como peão. Há outra de cacau também. Essa é uma clássica. Essas são as que vi com os meus treze anos. Faz tempo.

Quais as telenovelas que você está vendo atualmente? Atualmente, brasileira, à noite, que vejo justamente com minha mãe, é Belíssima. Essa é a única brasileira a que temos acesso hoje.

E as outras que você está vendo? São mexicanas ou colombianas? Colombiana ao meio-dia. Hasta que la Plata nos separe. Atualmente.

São estas que você está vendo então? Sim, sim. Não tenho tempo para ver outras.

E você gosta de Belíssima? Sim, sim. Gosto muito. É um bom argumento. Ou seja, o ator começa como bom e muda. Ou seja, se torna o pior homem do mundo. E Belíssima atualmente é a brasileira que fala justamente sobre o bonito. Mas a sua atriz principal não é muito jovem, não tem um bom físico, como fazem nas outras novelas. Nas colombianas todas as mulheres são lindíssimas, digamos. Todas são de bom corpo, digamos. Em Belíssima, ao contrário, sendo justamente uma novela de beleza, de modelos e estas coisas, sua artista principal já tem tantos anos vividos e se deixa levar por um manipulador. Ou seja, isso é o bonito na novela brasileira. Tem uma novela com o mesmo que está fazendo o grego em Belíssima, só que mais jovem. E era mais velha a senhora também. E ela não importava de deixar sua fortuna, digamos. As novelas brasileiras têm uns personagens bem vividos, digamos. Que aparecem como gays, como loucos, como doentes, como pobres. Não é só drama o que têm.

É mais real? Sim. Realmente é mais real. Porque aí você se dá conta que não é somente a menina bonita, a menina de bom físico que tem seus problemas, supostamente. Mas se vê que em qualquer lugar, qualquer pessoa pode cair e enfrentar problema.

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Qual a novela que você prefere? Belíssima ou La Hija del Mariachi? Não, La Hija del Mariachi não vejo. É às sete da noite e saio daqui mais ou menos às sete.

Não, confundi. A do meio-dia. Como se chama mesmo? Hasta que la Plata nos Separe. Belíssima, se não tenho tempo para ver, não me preocupo muito. Prefiro mais a outra, mais que tudo, porque é cômica. Me faz rir. É de argumentos muito engraçados, enquanto Belíssima é mais dramática. Não é muito dramático, mas é mais suave. A do meio-dia faz comédia. É mais engraçada. Belíssima, por outro lado, não sou tanto assim, de não perder o capítulo do dia. Sei que o bom das novelas brasileiras é que tem cenas do próximo capítulo e, assim, sei mais ou menos o que vai acontecer no dia seguinte. As colombianas e as outras, por outro lado, não têm isso. Se você não vê as propagandas do que vai dar, não sabe.

Você se identifica com os personagens de Belíssima ou da outra novela? Não. Realmente vejo por diversão, para me distrair. O que me identificou, o que gostei e quis ser este personagem foi o de Fera Ferida, que investigava a química e tudo isso. Queria saber do que tratava essa ciência. Era uma ciência supostamente antiga e ele queria transformar uma matéria em outra. Isso era o bonito. Era um pouco mais mágico, digamos assim. Geralmente, as novelas têm esse toque de magia. Como na novela O Clone, em que a tia solteirona, no último episódio, a vêm buscar num cavalo e saem voando. Altamente brasileira. Novelas hindus que davam antigamente são assim. Essa mágica que dão da lâmpada, do vinho, de tudo isso. Eu acredito que, por isso, passaram esta parte nesta cena.

E qual o tipo de personagem que você mais gosta? Algum personagem que me agrada. Vamos ver... Olhe, o que mais gosto é aquele mais vivo. Aquele que sabe o que quer. Pode ser pobre ou rico, mas tem que ser inteligente, digamos. Que agarra e resolve os seus problemas. Atualmente estão dando a história de um gênio que vai a uma casa passar uma semana. Aí ele traça um mapa e faz um plano incrível. E por, uma ou outra razão, sempre sabe o que fazer. Este personagem me agrada muito e me atrai.

Normalmente você aprende alguma coisa com as telenovelas? O que você observa e aprende com elas? Sim, aprendo muitas coisas com as telenovelas. Por exemplo, justamente a telenovela colombiana de que te falei que era de máfia. Aí eu soube como fazem para ganhar dinheiro,

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como traficam. Ensinam mais ou menos. Coisas que normalmente eu ignorava. Mas eu não sabia, ou seja, não me atraia que coisas que acontecem. Que ninguém sabe que existe. Mas sim, aprendo muito com as novelas, com os filmes, com as coisas na televisão. Sim, me fazem entender. Por exemplo, em Belíssima, atualmente, a pessoa não sabe o que é o tráfico de mulheres. Se não vê, não sabe o que está acontecendo. E isso depende da mensagem, do que querem dar na telenovela.

O que você mais observa nas telenovelas? A atuação, os personagens, as roupas, a decoração das casas? Há algo que te chame mais a atenção? A produção, como eu te disse. Sou amante de filmes, de cinema e gosto de ver filmes, de saber quem é o diretor. Gosto da produção que têm os filmes, às vezes. A pessoa tem que ter o conceito de tele-produções para se dar conta. Uma pessoa normal, ou seja, pode dizer “que bonita a história”. A mim, chama a atenção a produção, a montagem da novela, filme ou série. Saber que tudo foi estudado. E estou atento. Às vezes observo o que estão enfocando. Isso é o que me emociona nas novelas. E ainda mais as brasileiras. Por exemplo, Chica da Silva era uma negrinha que tinha liberdade e que queria que a tratassem como branca. É uma produção excelente. É uma produção muito boa que vi.

Essa não foi produzida pela Rede Globo. Porque normalmente as novelas transmitidas pela Unitel são da Rede Globo. Atualmente Unitel está trazendo novelas brasileiras mais novas. Chica da Silva eu vi antes, na PAT, antes que chegasse na Red Uno. Já havia visto antes. Antes que todos conhecessem, eu já conhecia. Globo do Brasil tem direito exclusivo com a Unitel, assim que os outros canais não podem passar enquanto não assinem lá. Sim, vi Chica da Silva faz muito tempo já.

Sim, é mais antiga, não? Sim, e passavam mais ou menos às onze da noite, se me lembro. E agüentava até as onze da noite para ver a novela. E não perdia nenhum capítulo. Eu gostava do ambiente, do quilombo, da comida que preparavam, das feijoadas, da gente culta, da gente pobre, da gente que sofria para sobreviver. Os milionários que tinham as mulheres brancas mas que saíam com as escravas... E as escravas não eram consideradas como pessoas.

Você extrai alguma moral, alguma lição de vida das telenovelas?

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Dependa da telenovela. Na telenovela cômica, não tanto. É mais para rir. Mas a telenovela dramática, sim, mais ou menos. Gosto que termine a novela e eu me coloque a pensar, a analisar. Muitas vezes eu fico com a intriga e até sonho com a novela, com o que vai passar. Ou também muitas vezes começo a escrever o que teria sido melhor que tivesse acontecido. Capto muito a mensagem e, em Fera Ferida , mudei meu jeito de pensar. Gostei particularmente da magia e de como era o personagem que era lindíssimo, inteligente e que procurou o povo para se vingar, até a quem o apoiou. E todo mundo não sabia o que fazer, não sabia quem ele era. Gosto muito dessa inteligência.

Você gosta que as telenovelas falem de quê? Temática de telenovelas atualmente? O que mais estava vendo, mais que tudo eu busco algo que nunca havia visto antes. Se a novela é muito repetitiva como antes, já não dou muita atenção. Temáticas de telenovelas que eu geralmente busco alguma coisa que cause algum impacto. Acho que sou mais exigente. Como agora, nas brasileiras como Belíssima que trata de argumentos muito diferentes que eu havia visto antes nas telenovelas. Por isso continuo vendo. Às vezes a noite inteira, em outras... Geralmente as novelas brasileiras são muito... Não são argumentos muito repetitivos. A dos italianos, imigrantes italianos que vão ao Brasil... Não me lembro o nome agora.

Terra Nostra. Terra Nostra! Sim, agora me lembro. Essa é muito bonita. Aí mostravam a vida dos italianos da Itália até o Brasil. Como iam, como trabalhavam, italianos que triunfavam, italianos que fracassavam. Se via toda a realidade daquele tempo. Assim que, alguém que não tivesse lido nada, agora sabe. Geralmente, como não leio quase nada, pelo menos fico atualizado. Agora, atualmente.. Antes dos italianos. Agora, em Belíssima, são os gregos. Isso que eu gosto nas brasileiras. Ou seja, te ensinam outras culturas que não são deles também. O Clone eram os marroquinos, os árabes, ou seja, toda uma cultura ímpar, totalmente diferente daqui, onde a novela fez virar moda a música árabe há algum tempo aqui em Santa Cruz.

Busca informações a respeito das novelas que está vendo? Sim!

Onde você procura?

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Internet. Segue o exemplo da novela das duas. Encontrei uma cena que se mistura com uma cena da novela das seis – La Hija del Mariachi – que justamente os personagens vão a esse bar onde justamente canta a filha do mariachi. Misturam as duas novelas. E quero saber quando há um personagem, como é seu nome verdadeiro. Ou muitas vezes a música que toca. Adoro a música brasileira. Custo a conseguir quem são. São músicas clássicas. Havia uma novela que se chamava Uga Uga, uma novela brasileira.

Sim, de 2000 mais ou menos. Sim, que o rapaz era tipo um Tarzan. Que o abandonaram e que o avô o traz, que é formal. Em troca, há dois que são.. um que era militar e que teve que fazer...porque era muito honesto. E há uma canção que gostei muito e tenho esta canção. Se escuto uma música e gosto, quero conseguir. Assim, me coloco a investigar a novela, os artistas, as músicas de fundo que colocam e começo a buscar na Internet e começo a escutar em MP3.

Normalmente você fala a respeito das novelas com outras pessoas? Sim.

Com quem? Geralmente com minha mãe. Eu chego em casa à tarde e minha mãe pergunta da novela das duas. “Viu a novela das duas? Que espetacular! O que lhe fizeram?” E vou contar o que vi. Ou seja, com gente que vê novelas sim. Às vezes estou entre amigos, bebendo, e às vezes sai: “Ah, viu a novela?”. E quase todos meus amigos vêm novelas. Mas há muitos que vêm dramas. Ou digamos que alguém perde a novela e o outro pergunta se gosta de novelas... E aí conversamos rápido. Ou seja, é um tema de conversação do meu ciclo.

Por que você vê telenovelas? Com que tipo de finalidade? Geralmente há horários que não vejo tanta novela porque se começo, depois tenho que continuar vendo. Então evito de ver, digamos. Obviamente pelos horários que tenho, digamos. Antes de começar a trabalhar, via novela até das dez da manhã. E agora sim, geralmente, primeiramente as vejo por distração. Eu sou mais de minha casa. Não saio muito. E evito sair no horário da novela. Primeiro por isso e segundo pelo drama e pelo argumento que têm. Eu acredito que qualquer pessoa que comece a ver uma novela, ainda que seja só um episódio, o

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argumento a segura, digamos. Não há uma pessoa que não queira ver. Senão, as pessoas têm medo que possam gostar e ficar viciada. Assim, preferem evitar.

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FAMÍLIA 03 JOSÉ ANGEL CUBA

Quais programas você costuma ver na televisão e por que? Vejo os noticiários para me atualizar da realidade do país. Noticiários. Muitas vezes programas de reportagem para conhecer mais. Gosto de programas de investigação, de biografias e de musicais.

E por quantas horas, mais ou menos, você vê televisão por dia? Três horas mais ou menos.

Três horas. Sim, porque você trabalha e quando chega na sua casa, vê televisão? A que horas você vê? À noite? Bem, à noite, quando tenho tempo.

Ok. E quais são os seus canais preferidos e por que? O Canal 5 ATB, não? O Canal 11, porque eles dão as notícias desde um ponto de vista um pouquinho mais imparcial, digamos, sem tanto apego aos interesses do canal.

O que você não gosta de ver na televisão? Programas assim, de concursos, porque são muito vazios, digamos. Não têm conteúdo.

Onde você costuma ver televisão? No meu quarto e na sala.

As telenovelas vê onde? No meu quarto e na sala.

Também. Vê com outras pessoas? Às vezes com outras pessoas, às vezes sozinho.

Com quem você vive? Com seus irmãos? Com minha irmã e com meus pais.

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Normalmente vocês conversam sobre novelas? Às vezes. Às vezes comentamos.

E que novelas você tem visto? Agorinha?

Sim. Belíssima e Destilando Amor.

Que é de que canal? Belíssima?

Não, a outra. Do treze.

Do treze? A que horas? Na mesma hora.

Na mesma hora? Então você fica mudando de canal? Sim, vejo as duas mas mais a Belíssima. Mas quando tem propaganda...

Não gosta das propagandas? Não, não...

Sempre teve o costume de ver telenovelas? Sim, ou seja... mas mais desde muito adolescente, digamos. Porque passaram a novela O Bem Amado.O Bem Amado. E elas dominam e mais que tudo porque são diferentes. São tramas diferentes. Às vezes a gente aprende com isso. Com o comportamento das pessoas.

Você gosta mais das telenovelas de qual país? Das brasileiras.

Por que?

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Porque são diferentes em relação à trama, digamos. Ou seja, além de terem uma produção bastante grande, a trama é diferente. Às vezes se aprende a cultura e como acontecem estas produções.

E por que não gosta das mexicanas ou das... Me parecem muito repetitivas. A trama parece muito repetitiva. Parece que vê a mesma novela sempre. Ou seja, têm a mesma trama, digamos.

Quais personagens que você mais gosta nas novelas? Não entendi.

Por exemplo: você gosta dos personagens bons, dos inteligentes, dos maus, das crianças, dos adultos.... De que tipo de personagem você gosta? Do bom, digamos. Dos inteligentes e das crianças.

Por que? Ou seja, porque do bom podemos aprender muitas coisas. Do inteligente também. Da criança, às vezes a graça que têm ao atuar, digamos.

E você aprende com eles? Sim.

Por exemplo? Por exemplo.. Como eu te disse, ele te leva a discussões diferentes. Sai um pouco de situações atuais e aprende algo, prestando atenção, como se atua à mesa, como se deve receber...

O que te leva a ver as telenovelas? Há alguma motivação, uma razão para que você as veja? Mais que tudo por distração, digamos. Distração. Ou seja, às vezes por algum personagem, por alguma história, digamos. Ou seja, para saber como vai ser esta telenovela.

De Belíssima, de qual personagem você mais gosta?

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Agora, daquele noivo da Mônica. É impressionante como seu personagem é diferente de Escrava Isaura.

Ele atuou em Escrava Isaura e depois em Belíssima? Ele é muito bom, digamos.

E você gosta deste personagem? Sim, dele e de Mônica também.

Da Mônica também... Ela é a empregada, não? Ou seja, você gosta do noivo que trabalha na fábrica, que trabalha na indústria, que é filho da Katina. Sim.

Deste ou do rico? Não, deste.

Pra você, as novelas brasileiras se parecem reais? Sim.

Se parecem com sua realidade? Me parece que é essa a vida que eles levam. Como fazem suas atividades...

E as outras novelas, as de outros países? Não muito. Ou seja, também pode ser que, digamos, seja a realidade que eles tenham. Mas não pela trama.

Acredita que tenha uma lição de vida nas telenovelas?Você consegue aprender algo?Alguma mensagem? Talvez. Por exemplo este... Eu diria que este de O Rei do Gado. Pode aprender isso da luta por se superar, e aqui também, digamos, por essa de moda, de Belíssima, se pode dizer da persistência por se superar, de viver bem. Quando nos mostram um personagem que era de origem humilde, que é bom, que consegue o que quer.

Cemil.

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Sim!

Quais as histórias que você mais gosta? As telenovelas que falam de que? As que falam de tudo. Ou seja, de superação, digamos.

De superação. Sim, de superação.

Quando você conversa sobre telenovelas, fala com sua família e mais com quem? Às vezes com minha namorada, às vezes com os meus colegas do normal. Ou seja, com as pessoas de minha relação.

E sobre o que você fala? De algum personagem, digamos, de como eles são. Ou seja, de como são suas características.

Você busca informações a respeito das telenovelas em outros meios de comunicação? Não . Não procura nunca? Não.

E te incomoda que as telenovelas brasileiras sejam dubladas, que sejam traduzidas? Não, é melhor.

Mas as telenovelas mexicanas vêm com a voz original, com tudo original. Claro.

E as brasileiras não. Mas não me incomoda por nada, já que não entendo muito o português. E ninguém percebe, digamos. Eles são muito especializados nisso, digamos.

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FAMÍLIA 04: ARNOLD TERRAZAS

Quais programas você costuma ver na televisão? Filmes, algumas novelas e outro programa de músicas.

Quantas horas, mais ou menos, de televisão por dia? Dependendo, mais que tudo, do horário das coisas que vejo, umas três ou quatro horas.

Três ou quatro horas. À noite? Ou seja, durante todo o dia.

Quais são os seus canais preferidos? Preferido, preferido? Seria mias que tudo parte do 13 e 9. Unitel e Red Uno.

Por que? Em parte porque aí tem dois programas que vejo. Estão nestes canais.

O que você não gosta nos outros? Falta de... ou seja... Há um canal que dá só moda, só classes sociais, digamos. Depois há outro que é só noticiário. Só noticiário. Há outro que não tem boa programação, que não chama a atenção.

Onde você vê televisão? No seu quarto? Na sala? No meu quarto.

As telenovelas, por exemplo, você vê com alguém ou vê sozinho? Às vezes com minha família, às vezes sozinho. Depende muito. São muito variados. Às vezes só eu, às vezes com minha família, digamos.

A que horas você vê telenovelas? À noite, às duas, e de manhã.

Quais novelas você está vendo?

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Decisiones, Mujer, Hasta que la Plata nos Separe e Belíssima.

São quatro. Sim.

Sempre teve costume de ver telenovelas? Sim. Porque é só isso que há. Haha. O único bom.

Quais telenovelas você prefere? As mexicanas, as brasileiras... As colombianas e as brasileiras.

Por que? Ou seja, eles despistam a ênfase da mexicana, que é a típica novela. A mexicana tem sempre a típica novela que é sempre a mesma trama, a mesma idéia sempre. Só mudam o personagem, mas a idéia continua a mesma. Não atrai.

Por quais razões vê as outras? Porque é como viver uma idéia da vida que as outras pessoas têm, digamos. Uma lição de vida que as outras pessoas têm. Mais que tudo as novelas brasileiras são da cotidianidade, igual às colombianas. Então isso me atrai a atenção.

O que você mais gosta nestas novelas brasileiras? A idéia que têm de que um capítulo não te dá a idéia de toda a novela. Isso te faz seguir mais. Te atrai a ver mais, a terminar de ver.

Você se identifica com os personagens? Pode ser. Pedaços de vivência, digamos. Um sempre tem. Mas assim, completo, nem tanto.

Nesta novela, Belíssima, por exemplo, qual o personagem que você mais gosta? A do... como se chama? O grego.

O mais velho. Sim.

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Por que? Por que ele se envolve em quase toda a história desde o começo até onde estou vendo.

Estas novelas brasileiras te parecem reais? Sim.

Se parecem com sua realidade? Sim, um porcentagem alto, sim.

E as outras novelas? As colombianas sim. Chamam muito a atenção porque, da mesma maneira, são parte de vivência, digamos.

E normalmente aprende algo com as... Sim, se aprende. Porque a pessoa vê os erros, como o escritor fez. Então vê os erros que cometem, as faltas ou coisas boas que fazem. Por que sempre têm... Esse tipo de novela sempre tem algo que nos mostrar, digamos.

Que tipo de histórias você mais gosta? Das românticas, de investigação... Não. Das de comédia. São as que mais gosto. Porque as trágicas já se sabe como vai terminar. Prefiro as de comédia.

Fala muito sobre telenovelas com outras pessoas? Sim, com a maioria das pessoas da minha família. Como estamos no mesmo ciclo, vemos quase as mesmas novelas.

A que horas vocês vêm novelas juntos? Quase sempre na hora do almoço, digamos. A esta hora nos juntamos.

Falam? Sim, desde que começam.

Costuma fazer outras coisas enquanto vê as novelas?

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Depende. Se é um capítulo muito interessante, sempre te chama a continuar aí e a esperar. Mas como a televisão neste horário tem muitos comerciais, você se distrai um pouco até que comece de novo, digamos.

Busca informações a respeito das novelas que está vendo? Sim.

Onde? Internet.

Em algum site específico? Em algumas, sim. Em algumas não. Algumas procura por todos lados.

Procura informações do que vai passar nas novelas que você está vendo? Sim. Em alguns capítulos sim. Alguns porque... Alguns atores passam muito rápido o nome e não sei...

Te incomoda que as novelas brasileiras sejam traduzidas, que não sejam originalmente em espanhol? Não, não... Ou seja, pelo que vi, algumas novelas eu vi na TV a cabo, é similar. Só que algumas palavrinhas sempre mudam. E uma pessoa que fala um idioma diferente, a vê e acha mais gracioso. Chama a atenção. Uma novela em inglês é mais sóbria, digamos. Não chama tanto a atenção.

Costuma ver novelas na TV a cabo, pela Globo Internacional? Sim, algumas.

Ainda que seja em português? Sim. Entende tudo? Sim, a idéia sim.

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FAMÍLIA 05 CIDAR PADILLA

Cidar, quais tipos de programas você costuma ver na televisão? Programas locais: geralmente algumas novelas, esportes e notícias.

Em que canais? Geralmente no 03, Unitel e ATB. São os únicos canais que vejo. Já dos canais de fora, que são da TV a cabo: Discovery, Fox Sport, MTV e, bem, os canais de filmes que são HBO, MGM e mais um montão, digamos.

O que você gosta neste canais locais? Nos canais locais? Só vejo notícias, esportes de nosso meio e algumas novelas, digamos.

O que você não gosta? Às vezes as notícias. Às vezes são muito sensacionalistas. Às vezes a pessoa chega do trabalho ao meio-dia e procura as notícias e o que mostram são notícias de mortos. Está comento e tem que ver tudo isso.

Quantas horas, mais ou menos, vê de televisão ao dia? Ao dia, mais ou menos, umas quatro horas.

Em que período do dia? Geralmente de 1 às 3 da tarde e de 8 às 11. Varia, não? Mas a média é de umas quatro, cinco horas por dia.

Onde você vê televisão? Na minha casa.

No seu quarto, na sala? Na sala, geralmente vejo. Com minha família

Com sua família?

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Com minha irmã. Geralmente com minha irmã. Meu pai não vê muito o que nós vemos. Mais com minha irmã.

Quais novelas está vendo? Agorinha Hasta que la Plata nos Separe e Belíssima, a brasileira, e a outra, Destilando Amor.

Vê telenovelas nos canais de fora? Novelas? Não. Geralmente nos canais locais, digamos.

Sempre teve costume de ver telenovelas? Bom, comecei recentemente, a partir... Eu vim estudar aqui em Santa Cruz e minha irmã via. Tínhamos só uma televisão. E eu tinha que ver. Nos sentávamos para ver novelas e eu tinha que ver.

De quais novelas você se lembra? Chica da Silva, , Belíssima, Laços de Família.

E as outras? Betty la fea, Pedro, o Escamoso...

São colombianas. Estas são colombianas. Geralmente estas são as que mais tenho visto. Há outras, mas não me lembro do nome, digamos.

Por que vê telenovelas? Ah, comecei.. O motivo foi porque minha irmã via e você vai... e eu continuo vendo.Gostei da trama e continuo vendo. E bem, eu em casa e ela também começamos a falar e, bem, “que vou ver?”. E, bem, víamos as novelas, digamos.

O que mais gosta nas novelas que está vendo atualmente? Das que estou vendo, que são locais, colombianas, gosto mais que tudo porque têm comédia. São bem engraçadas, digamos. E, além disso, têm um drama, comédia y romance. Bem bonita. E as que são brasileiras, é que são fora do comum. Igual àquela O Clone. São fora do comum. De verdade, te mostram mais paisagens, onde filmam é diferente. Mostram outras

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paisagens. Além disso, mostram coisas da vida real, digamos. Por outro lado, mostram as problemáticas que a sociedade daí tem. Como na novela Laços de Família que mostravam o que era o alcoolismo. Nesta novela que dão, Belíssima, mostram o que é o tráfico de menores para outro país, digamos. É assim em várias telenovelas.

Ou seja, em Belíssima, o que mais gosta é isso de aprender algo, de falar de problemas sociais? Não, são pontos a favor que eles mostram, digamos. Além disso, gosto da trama. A mudança de uma novela para outra. E as brasileiras são diferentes. De uma a outra é diferente. Não é como as mexicanas ou venezuelanas que “era pobre e depois se torna rica”, digamos. Não. É todos contra todos. Ou seja, uma se mete com o outro, que se mete com a outra. Ao final, todos se metem contra todos.

As novelas brasileiras te parecem reais? Sim. A fazem mais reais que as venezuelanas e as colombianas.

Se parecem com a sua realidade? Algumas coisas sim, se parecem. Como lhe comentava, mostram o que é o alcoolismo. Em que país não se sabe o que é o alcoolismo? Em outras novelas mostravam o que eram as drogas, digamos. Em O Clone mostravam o que eram as drogas. Isto sim, acontece na nossa sociedade. Então, há muitas coisas que sim. O tráfico de menores, digamos. Aqui não se vê muito mas em outros países sim, se vê o tráfico de menores e a prosituição.

O seja, aprende algo? Sim, aprende, como não?

Há outras coisas que se aprende com as novelas? Geralmente, o que vou aprender nas novelas não é mais do que a trama que dá. Uma coisa sempre aprende, digamos.

Independente da nacionalidade, você se identifica com algum tipo de personagem das telenovelas? Geralmente não, digamos, porque o ambiente em que eu estou é diferente do ambiente em que eles estão.

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Qual o seu personagem preferido em Belíssima? De Belíssima? Bem, como se chama... o personagem que sai… Paschoal.

Fala muito de telenovelas com outras pessoas? Geralmente com as pessoas que vêm, digamos, não? Às vezes comentam: “ah, a novela” e eu digo “Ah, eu também vejo”, digamos. Mas não começo a conversa, digamos.

Com quem conversa na sua casa? Com meus irmãos, às vezes.

Que tipo de história você mais gosta? De histórias?

Sim. As românticas, as de ação... Sim, as românticas, digamos. As que são comédias. As que são cômicas, digamos assim.

Busca informações a respeito das telenovelas que está vendo? Não, não sou tão fanático.

Te incomoda que as novelas brasileiras sejam dubladas, ou seja, que sejam traduzidas? Não, não me incomoda. Gosto de vê-las em espanhol. Não gosto de escutar no seu idioma original, digamos. Uma porque não entendo, digamos. E segundo porque estou acostumado a escutar o diálogo assim. Se escuto de outra forma, me parece estranho, digamos.

Mas não seria melhor se você visse novelas que vêm originalmente no espanhol? A voz é original.. Não me incomoda, digamos. Em nada.

Faz outras coisas enquanto vê televisão? Geralmente não. Geralmente não porque é o meu descanso de todo o dia.

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FAMÍLIA 06 DORA REA

Vamos começar falando onde você nasceu. Onde eu nasci... Onde eu nasci se chamava Manchúria. Mas é Santa Cruz mesmo, eu acho. Porque era campo mas pertence a Santa Cruz mesmo. Foi em março de 1937.

E aqui... Aqui em Santa Cruz eu vivo de novo. Porque vivia antes também, não? Vivo aqui há um ano e cinco meses. Ano e meio.

O que você faz? Serviço de casa, só isso.

Dorita, que programas você costuma ver na televisão? Na televisão vejo o noticiário, vejo um que chama Que no me pierdas todos os dias, que é um programa habitual. Que no me pierdas. E novelas e filmes. Filmes eu vejo bastante à noite nos canais daqui, não?

E quais são seus canais? Eu vejo o 62, que só dá novelas.

É local? Não, não. Acho que é argentino. Se pode ver novela na programação.

E os outros canais? Os canais locais que vejo são o 27

Que é Unitel. Sim, e Red Uno.

Ok. Estes são os dois que eu mais vejo. E o 31 que é... que tem um programa destas meninas, que só falam. De locutores, por assim dizer.

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Por que você gosta destes canais, da Unitel e da Red Uno? São os melhores. São noticiosos, por assim dizer. Têm os melhores programas. Melhores programas que os outros. Por exemplo, os de La Paz são só propaganda política do governo. Aqui tem três canais que só dão propagandas. É tudo do governo. Aqui tem de tudo. Porque tem vários programas bonitos por exemplo na Unitel. Na Unitel tem vários espetáculos. El Mañanero e El Despertar são dois programas que têm de manhãzinha de tudo. Fala de tudo.

São noticiosos? Sim, são só noticiosos. Mas notícias assim, por ejemplo, musicais, de cantores, e daqui, do que fazem.

São quantas horas, mais ou menos, de televisão por dia? Que eu vjeo?

Sim. Quanto será? Porque eu vejo um pouquinho e volto… Umas…. Quando estou aqui todo o dia, umas duas, três horas de tempo em tempo. Porque às vezes, por exemplo, vejo filmes e os filmes duram mais de uma hora. Duas horas por causa das propagandas.

E as novelas, você vê de manhã, à tarde... A novela, quando vejo... Por exemplo, uma que vejo é às nove da noite.

Qual novela? Destilando Amor. E as outras que vejo, são neste canal 62. Uma, por exemplo, se chama De poças purgas, Así son las Mujeres.

São argentinas? São mexicanas, não? Vamos ver em que canal…. Não sei que canal, o que transmite telenovela.

TN. TN. Telenovela.

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Só telenovelas? Só telenovela.

Ok. Eu vejo porque passam as mesmas o dia inteiro. Por exemplo: dão quatro telenovelas por dia, por assim dizer. E as passam todo o dia.

As repetem. Sim, acho que as repetem.

Quais novelas está vendo? Destilando Amor e... E La Hija del Mariachi na Red Uno.

Não está vendo nenhuma brasileira? Nenhuma brasileira.

Mas se lembra das novelas brasileiras? Vi, mas não me lembro de todas. Vi O Clone. Uma beleza. Estão passando O Clone outra vez, mas não sei em qual canal.

Acho que é em um canal mexicano. Não, não, é um daqui. Eu vi O Clone e vi outras.

Você sempre teve costume de ver telenovelas? Sempre tive o costume. E antes eram quase só telenovelas brasileiras, porque eles trazem as brasileiras. Mas eu me lembraria. Quando você começa a ver... Vi várias.

(NETO) A senhora viu Chocolate com Pimenta? Não a vi... Eu estava em Patujú.

Muito boa. Linda! Assim me disse a menina que viu. Lá tem televisão preto e branco e muitas vezes a bateria não era suficiente... Mas Mário comprou uma bateria.

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Prefere telenovelas de que país? Brasileiras. Não gosto das mexicanas. Porque La Hija del Mariachi é colombiana. Gosto das colombianas, das brasileiras e das venezuelanas também, que são bonitas. Mas outras não.

Por que não? Não sei! São muito ordinárias! São sumamente ordinárias estas novelas. E as daqui, vi as bolivianas. La virgen de las Siete Calles, Los pioneros também era linda.

La Virgen de las Sietes Calles é local. Sim, é local. Completamente local porque é uma história...

É mais antiga, dos anos 80... Sim, é uma novela que fizeram de época. Filmaram há muito tempo, já nesta época. Porque a virgem das sete ruas... não sei se você conhece as sete ruas...

Sim, conheço. Ali havia uns bairros, com uns corredores altos, digamos. Só ruazinhas e ali aparecia a virgem das sete ruas. Era uma menina, uma senhorita mas... a novela...

Dorita, por quais razões você vê telenovelas? Quais razões? Bem, porque eu gosto e porque às vezes não se pode ver um filme completo, por assim dizer. Então a telenovela é curtinha e você pode ver todos os dias. E o filme é muito grande para ficar em frente à televisão. Na televisão...

Você se identifica com os personagens das telenovelas? Sim, gosto. Claro.

Qual tipo de personagem você mais gosta? Bem, gosto assim, por exemplo, não tanto como O Clone mas onde tem coisas lindas, coisas alegres. Não só tragédia. Muitas dessas que têm de tudo. Como, por exemplo, as brasileiras. As brasileiras sempre têm gente inculta que fala coisas tão bonitas como essa gente de alta. Da alta sociedade. Isso é o bonito. Que não Sejas como a mexicana. Porque as mexicanas são só tragédia e, como se diz, alegres.

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Essas novelas brasileiras se parecem reais? Eu não... Dizem que parecem reais porque ao final de.. você compara com casos que viu e que tem... e as novelas são tiradas da vida real, ao final. Porque são tantas coisas parecidas com a vida real que eu penso que não só a inventam.

Você aprende algo com as novelas? Aprende! Aprende, por exemplo: Eu via, por exemplo, de jovenzinha, como se deve comportar, como se deve ser em sua casa, como deve ser com seu filho, como deve ser com seu esposo. Tudo isso se aprende. Aprende porque não é somente como as pessoas da mente torcida que copiam as partes ruins.

Que tipo de história você mais gosta? Como eu te diria... Que tenha romantismo, que tenha alegria. E sempre amor entre eles que é o mais lindo, não? De qualquer amor.

Dorita, você fala muito de telenovelas com outras pessoas? Não, porque... Muito pouco porque não tem ocasião não? Por exemplo, Germán não vê.

Você procura informações a respeito das novelas que está vendo? Não, não haveria onde.

Nem nos jornais, nas revistas? Às vezes nos jornais sai. E eu leio sempre. Leio porque, por exemplo, uma vez saiu uma reportagem sobre uma novela que passaram. Mas era mexicana, mas era linda assim. Como se chamava? La Tormenta! Saiu uma revista completa. Duas revistas. Saiu com toda a história do artista, da atriz...

Te incomoda que as novelas brasileiras sejam traduzidas? Não, não me incomoda. Há alguma... São bem feitas as vozes, não? Não passa pela voz da intérprete. Mas não, não me incomoda. Porque às vezes também estão dando uma novela, um filme no canal brasileiro e um pouco a gente entende. Se escuta e, ao final, vai entendendo.

Como você costuma ver televisão? No meu quarto. Não vejo aqui. Vejo no meu quarto.

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FAMÍLIA 07 SÓNIA ALEJO

Sônia, você é daqui, de Santa Cruz? Não. Sou do interior de Cochabamba.

Vive aqui há quanto tempo? Vivo aqui há uns 16 anos.

Vive sozinha? Tenho minha mãe aqui mas já sou independente.

Vive sozinha? Sim.

Sônia, quais programas você costuma ver na televisão? A novela Belíssima. Se tenho tempo, vejo as outras novelas. Mas sempre procuro admirar a novela Belíssima, que gosto muito. A primeira vez que vi até que eu tenha entendido, não? Mas sempre gosto.

Quais outros programas? Notícias, notícias. Primeiro as notícias e depois as novelas.

Por quantas horas, mais ou menos, você vê televisão por dia? Bem, eu... Às duas as notícias. Três, cinco, quatro horas.

A que horas você vê as telenovelas? Às nove, não?

Só vê Belíssima então? Sim, Belíssima.

Nenhuma outra? Não.

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Quais são os seus canais preferidos? O...

Locais, não? Locais?

Sim. Bem, o Canal 9 das novelas e depois o Canal 15, das notícias.

E o que mais você gosta na programação destes canais? Bem, um dá novela e depois os filmes e também os musicais. Os clássicos.

Onde você vê televisão em casa? No meu quarto.

Ou seja, vê televisão na sua cama? Sim.

Sempre teve costume de ver telenovelas? Não sempre. Se me agrada, sim. Mas quando tenho tempo, as vejo. Não sempre. Quando estudo, não tenho tempo para vê-las, não?

E por que você as vê? Bem, primeiro porque... para me distrair um pouco a mente. E depois começo a gostar e fico aí, viciada nas novelas.

Por que uma telenovela brasileira e não uma venezuelana, mexicana ou colombiana? Sempre gostei das brasileiras. Além disso, vejo as atrizes, suas roupas, não? Como se vestem. Sempre muito femininas... E mais que tudo isso, não há pornografias: beijos aqui, beijos lá... As telenovelas mexicanas são muito escandalosas. Não gosto.

O que você pensa a respeito das novelas colombianas e venezuelanas? As colombianas têm... vi uma colombiana que era Betty, a feia que era de comédia, não? E gostei dela. Foi a única que vi. Depois, as outras que estão passando não me agradam.

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Ou seja, sempre vê as novelas brasileiras? Sempre. Havia outra novela também, brasileira. Uma novela que passou. Havia uma que gostei. Mas não lembro do nome. Sempre gostei das brasileiras. Sim, eu gosto.

Você se identifica com os personagens das novelas, com a realidade deles? Sim, sim. Há muitas coisinhas, não?

Aprende algo com as novelas? Aprendo.

Por exemplo? Como a mulher deve se arrumar. Estas coisinhas.

E aprende alguma lição de vida? Aprendo com as pessoas, com sua personalidade, com a maneira de viver.

Ok. E que temáticas, que histórias você mais gosta nas novelas? Nas novelas? Ah, estas de amor, de pessoas que saem adiante trabalhando, não? Gosto disso.

Na novela Belíssima, de qual personagem você mais gosta? Há uma menina que trabalha de empregada.

Mônica. Mônica!

Por quê? Quais características ela tem? É uma pessoa muito simples, não? Simples, amável... Estas coisas gosto nela.

Fala muito das novelas com outras pessoas? Com a dona da casa onde eu vivo. Às vezes estamos as três, sentadas, esperando as novelas. Aí sim, falamos.

Às vezes vê as novelas com elas, às vezes vê sozinha?

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Sim. Às vezes sozinha, às vezes com elas.

Fala com outras pessoas ou só com elas? Pelo momento, com elas, que são minhas conhecidas.

Busca informações sobre as novelas em outros meios de comunicação, em jornais, revistas... Não, não. De verdade não.

Te incomoda que as novelas brasileiras sejam dubladas, traduzidas... que não sejam originalmente em espanhol? Dubladas? Bem, pelo idioma você diz isso, não? Porque em português eu não iria entender nada, não?

Sim, mas as novelas mexicanas são originalmente em espanhol. Sim.

Não seria melhor ver as novelas mexicanas que já são em espanhol? Não me incomoda, pois entendo.

O que você tem aprendido com as novelas? Há coisas que você tem praticado depois de ver nas novelas? Que tenha copiado? Que tenha feito igual na novela?

Sim. Bem, um pouco do jeito de me vestir. Vestidinhos, calças, o penteado...

Você gosta das músicas? Sim, adoro as músicas.

Compra os cd’s? Compro sim.

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FAMÍLIA 08 ELVIRA RIBERA

Elvira, quais novelas você está vendo? Gabriota e Belíssima.

As duas então. Essas eu vejo à noite. Enquanto passa propaganda, ponho na outra.

As duas passam no mesmo horário? Sim, passam.

As novelas brasileiras, você as vê com regularidade, ocasionalmente, pouco... Sempre as vejo.

Sobre a maneira que você vê as telenovelas, as vê sozinha ou com outras pessoas? Sozinha. Às vezes com Sônia, que vai a minha casa. Enquanto ela dorme ou vê, eu vejo as novelas.

Costuma fazer outras coisas enquanto vê as telenovelas? Às vezes.

Fala sobre as novelas com outras pessoas? Sim, com que as vê. Pergunto o que vai acontecer e o que está acontecendo.

Com quem? Com ela e com as minhas amigas que vão a minha casa.

Fala sobre novelas todas as vezes que vê? Agora trabalho vendo. Então tenho tempo de ver as novelas.

Por que você vê telenovelas? Porque me distrai. Sim. E porque há coisas que não se sabia e que se aprende. E vejo as notícias e depois que passam as notícias, busco as novelas.

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De acordo com a nacionalidade das novelas, de quais você mais gosta? Das brasileiras. As outras nem sei. Vejo mas não sei de onde vêm. As brasileiras são as que mais gosto. A que eu menos gosto será... Bem, vejo todas. Hoje em dia as que gosto são Hasta que la Plata nos Separe e esta brasileira.

Além das histórias, o que você mais gosta nas novelas brasileiras? Essas coisas de roupas, das casas... É bem bonito, não?

Quantos aparelhos de televisão você tem em casa? Só um. Eu vivo sozinha.

Que programas você costuma ver na televisão? Esportivos eu vejo pouco. Vejo mais notícias e novelas. Vejo de tudo. Filmes também.

Que canais locais você vê? O Canal 13, o 09 e o 04.

Tem rádio em casa? Sim, tenho.

Internet? Não, não tenho.

TV a cabo? Não.

Lê jornais? Sim.

Quais? El Deber

Quantas vezes por semana?

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Não muito, mas vejo. Duas ou três vezes.

Revistas, você lê? Pouco.

Quais? De produtos que eu vendo e de coisas bonitas.

Elvira, você é daqui de Santa Cruz? Sim, sou.

Sempre viveu aqui? Sim, sempre.

O que você gosta de ver na televisão, além das telenovelas?O que procura na televisão? Busco notícias. O que passa, o que não passa. Isso e... As notícias. Às vees gosto de algunas notícias, às vezes passam algum filme.

São quantas horas, mais ou menos, por dia, que você vê televisão? Quando não estou vendendo as minhas coisas e fico esperando, é bastante tempo. Mas também não paro. Estou sempre ocupada, à noite.

Normalmente são quantas horas? Três, quatro? Sim, isso.

Por que você prefere os canais 09, 13 e 4? Porque nestes canais tem coisas bonitas para se ver.

Por exemplo? O quatro, por exemplo, dão notícias. O quatro, por isso.

E o 09? O nove pela novela e pelas notícias.

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E o treze? O treze também pelas notícias e também há umas novelas bonitas.

O que você não gosta na programação destes canais? Estas brigas que há entre os políticos que até cansam. Já estou por aqui com isso. Chateiam.

A respeito da hora que você vê televisão. À noite, não? Às nove vê Belíssima. Ou seja, como vê? Onde vê? No seu quarto? Sim, vejo na minha cama.

Sempre teve costume de ver telenovelas? Sim.

E de quais você se lembra? De muitas. Já vi muitas novelas no meu quarto. São tantas novelas, que já não me lembro. Sempre vi novelas. Novelas bonitas essas.

O que você mais gosta nas novelas brasileiras? São bonitas. Bonitas as casas, as pessoas...

Você se identifica com os personagens das novelas? Sim, sim.

De Belíssima, por exemplo, de qual personagem você gosta? Essa moça, como se chama?Júlia.

Da principal. Júlia. Sim. Dela. Depois do que era seu marido. Há outro artista também que.. mas não me lembro.

Aprende algo com as telenovelas? Sim, sim. Se aprende algo. Há coisas como… Às vezes algumas coisas que não se sabe e quando vê: “ah, é assim”...

Se lembra de alguma coisa, de alguma situação?

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Não, não me lembro. Mas há coisas.

Que tipos de histórias você mais gosta? Histórias de quê?

De novelas. Gosta das românticas, das de investigação... Das românticas.

Busca informações a respeito das novelas que está vendo? Às vezes sim.

Onde procura? Perguntando a outras pessoas.

Me fale sobre as novelas de outros países. Das colombianas, mexicanas, venezuelanas... O que você mais gosta nelas? Gosto desta colombiana que vejo.

Sim. Por quê? Gosto da gente colombiana. Gosto de ver seus personagens. Claro que há pessoas más e boas, mas tenho uma amiga colombiana que é muito boa pessoa então eu gosto.

E as venezuelanas ou mexicanas? Das venezuelanas muito pouco.

E as mexicanas? Também.

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FAMÍLIA 09 ISABEL MELGAR

Isabel, quais programas você costuma ver na televisão, além das telenovelas? Vejo o noticiário. Depois vejo no meu canal Que no me pierda, no treze.

O que mais você vê no canal 13? Se chama Que no me pierda o programa.

Fala sobre o quê? Geralmente fala sobre política.

São discussões? Sim.

A que horas você vê as telenovelas? Ou seja, vejo agora uma novela mexicana. Primeiro o noticiário. Em seguida, a novela que dão às nove. Por isso, não vejo a outra.

Ou seja, não vê Belíssima porque está vendo esta outra? Sim.

Como se chama essa novela? Como se chama...

La hija del Mariachi se chama? Não, não.

É Gabriota? Isso! Gabriota. Mas o nome não é esse.

Em que canal? No 13.

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Quantas horas de televisão vê por dia? Eu vejo, não mais, de oito a dez, quando chego na minha casa. Vejo o noticiário, a novela, e depois vem, às dez, Que no me pierda.

O outro programa. Sim. O vejo até que termine e depois não vejo mais.

E vê sozinha ou com outras pessoas? Vejo com meu marido. Mais com ele, que também se meteu nisso.

Também gosta de ver telenovelas? Sim. Quando eu gosto, ele começa a ver também. Essa Chocolate com Pimenta víamos juntos. Porque estamos descansando para dormir. Tenho minha filha e uma neta jovenzinha. Ao final...

Vivem todos na mesma casa? Você, com seu esposo, sua filha com sua neta? Sim. E às vezes vemos juntos.

Vêm na sala? Não. Vejo no quarto. Todos se sentam no chão.

Ou seja, neste inverno, todos ficam pertinho. E o que você não gosta na programação destes canais? Não gosto de mulheres desnudas.

Nos canais locais tem muitas coisas assim? Há muitas coisas. São coisas que as crianças não devem ver.

Sim. Disso eu não gosto. E, ultimamente, descobri também esses [fazendo referência a Rebeldes] que mostram as crianças. Um dia me coloquei a escutar com meu neto e também falam coisas ruins. . Ou seja, não é somente a imagem, mas também o que eles falam.

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Sim. O que falam. Apesar de quando eu... Às vezes, de manhã, quando meu neto não está na escola, quer ver o desenho animado. Quando me dou conta, eles também ensinam coisas más. Esses programas não gosto.

Por que vê telenovelas? Há alguma razão? Ou seja, eu… Como trabalho de manhã e à tarde, então... É como um descanso. É puro papel aquí, escrevendo a manhã inteira. Então, é como uma terapia. Ou seja, saio um pouco do stress. Apesar que há muitas novelas más. Às vezes você fica até nervoso.

Sim. Claro. Quando acontece algo com os personagens... Sim. Mas eu gosto, por isso, porque nesse momento que tenho para estar comigo mesma e com as novelas. Ou seja, me consome um tempinho e me esqueço dos problemas. E não gosto, digamos, que me incomodem nesta hora que estou vendo.

Não faz nada?Fica só na frente da televisão, assistindo? Sim, até que termine a novela. E eu estipulo o meu horário. Se vou sair, de verdade, digo: Não posso me comprometer, porque é minha novela. Ou seja, esse capítulo não perco mesmo que tenha algo mais importante.

Se perde algum capítulo, depois tem que voltar a ver... Não, porque não gravo. Não tenho nada disso.

Nunca perde então? Nunca. Ou seja, pergunto. Se tem alguma coisa, tenho que me dar conta.

Ah, claro. E sempre teve costume de ver telenovelas? Sempre. Ou seja, tem uma que estão dando hoje no 13 que é igual ao horário que davam Chocolate com Pimenta. Não gosto. Não gosto que ninguém aqui em casa veja porque é puro... é puro... Ou seja: roubam, assaltam... Ou seja, é uma família envolvida.

E Chocolate com Pimenta é uma novela mais de inocência. Sim, mais de inocência. Mais, digamos, da vida de um local parado. Da vida real.

Mesmo que seja antiga, não?

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Ainda que seja antiga. Bem, é verdade que aqui acontecem coisas ruins mas não é bom que alguém veja e tampouco que nosso filho veja. Ou seja, esta novela não dá nada de exemplo. Nada. Até agora que vi um pouquinho porque meu marido liga a televisão, eu digo “não, não, não, não gosto”.

Acha então que as telenovelas devem dar bons exemplo? Sim, bons exemplos. Como Chocolate com Pimenta, que a atriz principal era humilde. Não devolvia, digamos, o mal. Se lhe fizessem mal, ela não devolvia com outro mal. Então, isso alguém vê e pensa “tenho que ser como ela”. A outra era bandida, não vê? “Então não tenho que ser como ela”.

Sim, e a outra terminou mal, não? Sim, claro. Sempre a má termina mal, não?

Sim, verdade.E o que você aprende com as novelas? Eu, mais que tudo, aprendo, digamos... Estou vendo esta Destilando Amor, se chama. Aí se vê o cultivo do abacaxi, onde plantam no México. Isso alguém não sabe, mas aprende com as pessoas, com os campesinos que sofrem para ganhar o pão no campo. E então alguém pára sua vida aqui na cidade, com mais comodidade, e vê como eles trabalham de sol a sol. Então é isso. Se compara a vida e pensa: “Há outra gente que sofre mais do que a gente”. Nós não queremos economizar um copo d’água. E, sobretudo, igual nas outras novelas, sempre se vê que sempre há gente má. No trabalho, às vezes um vizinho...

Às vezes na família... Na família. Digamos, muita ambição. Então a pessoa trata de tirar o bom e diz “Não tenho que ser”. Pode ser na vida real. Pode ser aqui. Ou seja, esta novela que estou vendo. Ou seja, esta mulher, para segurar o marido que tem, fez uma inseminação... Não, não. Ela queria fazer mas, ao final, não fez e o filho era de outro homem. Tudo por dinheiro.

Uma mulher tentando engravidar de um homem que não a ama e que... Ela queria ter um filho dele porque....

Porque ele tem dinheiro.

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Porque tem dinheiro. E a outra é discriminada por ser uma campesina. Então alguém aí se fixa, digamos, neste personagem mal, intrigante e não quer ser como ele. Eu, ao menos, não quero copiar dela.

São maus exemplos, não? Sim. E tem uma mulher posesiva que quer saber onde está seu marido a toda hora. O que se tira daí? Que o casamento não vai em com uma mulher tão possessiva. Que se deve confiar na pessoa que ama, não desconfiar e não estar com o telefone a cada instante: “Onde você está?” ou ouvindo o que ele fale. Isso acontece com ela. O homem a queria, mas ela não lhe compreende mais e está intrigando. E cada mulher que vê, pensa que está atrás de seu marido.

É ciumenta. Uma coisa é ciumenta. Mas outra coisa é como ela que nem vê as coisas. Isto alguém tem que ver o lado bom. “Não tenho que ser assim”. Por isso eu vejo.

São exemplos que se mostram. Exemplos que temos que resgatar o bom.

O que observa nas novelas, além das histórias e dos exemplos? O que mais te chama a atenção? Às vezes, em algumas, me chama a atenção sua alegria. Dos brasileiros, digamos. Sua alegria, sua maneira de viver. Eu acredito que se levantam cedinho, fazem seu cafezinho, tomam cedinho. Seus costumes, o suco de laranja... E que estão todos unidos. Isso eu vejo. É o jeito do brasileiro. Sua maneira de respeito. Falaz de uma maneira muito respeitosa ao papai, à mamãe. Isso, sobretudo, eu vejo. Isso eu gosto porque, até agora, não vi uma novela brasileira onde tratem assim, ou seja, seu padre tão mal. Sempre com muito respeito. Isso eu gosto.

O que mais você observa a respeito dos brasileiros através das novelas? Eu gosto de sua alegria, às vezes as músicas que colocam de fundo. Às vezes o que sai. Os artistas que saem nas outras novelas.

Te interessam estas coisas dos artistas? Das músicas, das roupas, da decoração?

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Sim, sim! A decoração! A decoração da casa. Digamos, quando se vai a uma festa, como se veste. E como compartilham na festa. Isso eu gosto, não? E sobretudo, suas paisagens que mostram.

E a respeito das novelas mexicanas, venezuelanas e colombianas? As colombianas e venezuelanas são um pouco atrevidas. Quase todas são atrevidas.

Você vê? Sim, vejo. Vi uma, mas agora não lembro do seu nome. Era mais bonita. Mas agora estão dando uma muito... também... essa eu te digo que é venezuelana.

E as mexicanas? Gosto das mexicanas porque são de gente mais simples. Más simples, não? Ou seja, eu sempre vejo, sempre vi, não me lembro bem do nome. Ou seja, sempre mostrando o campesino, o campo, o trabalho, os mais humildes. E as canções. Me encantam. Brasileiras e mexicanas gosto muito.

Quais novelas prefere: mexicanas, brasileiras, colombianas ou venezuelanas?Com sinceridade, não tem que falar que são as brasileiras porque sou brasileira. Sério? As brasileiras e mexicanas. Não vejo outras quase. Não me interessam. As argentinas são também muito atrevidas. Não sei. Não gosto.

Quase não transmitem novelas argentinas aqui. Antes transmitiam mais. Mas hoje em dia não. Hoje em dia não. Bom, para os que têm TV a cabo.

E com que tipo de personagem você se identifica? Me identifico com estas pessoas humildes.

Os trabalhadores. Com as mulheres que trabalham, que têm que sair para trabalhar. Com elas me identifico. Com os trabalhadores que, digamos, me identifico com eles. Não sei. Me identifico com eles. Com os que sofrem, com os que se afastam das intrigas.

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Eles se parecem reais? Parecem reais.

E você conhece pessoas que se parecem com estes personagens, na sua realidade? Às vezes, mas não tanto.

E que tipo de histórias você mais gosta? Histórias? De novelas ou de quê? ] De novelas. Gosto das mais sentimentais.

Das românticas. E onde haja bastante... Que tenha bastante alegria e que não... Porque tem umas que são, como eu diria, que há momentos de alegria mas que há maldade. Essa eu não gosto. Não gosto.

Você procura informações a respeito das novelas que está vendo? Não, não.

Não procura nos jornais, nas revistas? Não, não.

Fala a respeito das novelas com outras pessoas? Ah, sim!

Com quem? Com minhas amigas que às vezes estão vendo, não? E há vezes que chegam na minha casa casualmente e vêm que estou vendo essa novela.

Quando perde algo ou quando está ansiosa para saber algo, fala com elas? Pergunto o que aconteceu.

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FAMÍLIA 10 SÍLVIA RODRIGUEZ

Sílvia, o que você faz? Eu estudo.

O que estuda? Medicina.

Que programas você costuma ver na televisão? Que programas costumo ver na televisão... Eu não vejo muito televisão mas quando vejo, mais que tudo, vejo programas esportivos que eu gosto. De cozinha e de moda.

Você vê os canais locais? Não vejo os canais locais.

Não? Não. Como tenho Cotas Cabo, os canais que eu vejo são de música – MTV, a Globo e o 06.

Entende o português para ver a Globo? Sim, entendo.

Tem relação com brasileiros? Sim, tenho. Meus tios são brasileiros. Minha prima. Vivem no Brasil.

Aquela tia com quem conversei é brasileira? Não, não. Todos familiares brasileiros que tenho, vivem lá. E outro vive na minha casa.

Quando você vê novelas, vê na Rede Globo ou no canal local? Na Globo. Só vejo novelas brasileiras.

O que você gosta na programação da Rede Globo e dos outros canais que você assiste? Do que eu gosto?

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Sim. Do que tem na Globo e dos canais que você vê. Não sei. O que eu gosto... Gosto mais que tudo porque são diferentes. O que se vê aí não é o mesmo que se vê em todos programas. Fazem coisas de outra maneira.

Vê novela todos os dias. Sim.

Quais novelas está vendo? Vejo as três seguidas. Eterna Magia, como se chama a outra?

Sete Pecados. e a outra e também Malhação.

Ou seja, são quase quatro então, não? Nos canais locais então não vê nenhuma? Só vejo uma, no 7.

Qual novela é? Hasta que la Plata nos Separe.

Ok. A que horas passa? Às duas da tarde.

Sempre teve costume de ver novelas? Sempre.

Desde criança? Sim.

De que novelas você mais gostou, de quais você se lembra? As novelas brasileiras que mais gostei?

Não precisa ser brasileira. É que só vejo brasileira.

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Ok. Vamos ver... Gostei de Laços de Familia, Senhora do Destino, Cobras e Lagartos.

Muito engraçada essa. Tem outras. Mulheres apaixonadas e O Clone.

O Clone teve muito sucesso aqui, não? Sim.

Por que você vê novelas?Há uma razão específica? Mais que tudo eu gosto das novelas brasileiras pela trama que tem. Porque aprende coisas com elas. Então estas coisas que passam e alguém não sabe como fazer, aprende.

O que você tem aprendido? O que tenho aprendido... Vamos ver.. Desta Páginas da Vida, você viu?

Sim, vi. Acho que o amor que o pai tinha por sua filha.

Muito bonito, não? Sim. Muito maior que todo o dinheiro que ele... que seu pai quer seu neto apesar de tudo. E também porque quando ela engravida, ninguém, só ele estava ao seu lado. E a maioria das mães são como sua mãe.

Observa outras coisas, como os artistas? Gosto dos artistas, da forma de vestir. Gosto do penteado de Cobras e Lagartos, da Leona.

Muito loira, não? Sim. E como se vestem, a decoração das casas e como mostram sua realidade. Mostram o Rio e São Paulo também, não?E mostram a cultura.

Estas novelas se parecem reais? Parecem reais.

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Parecem, não? Sim, pela trama que têm. Por isso que eu gosto. Te mostram coisas que são reais.

E que tipo de história você mais gosta? Das românticas, das cômicas? Acho que as que eu mais gosto são as dramáticas.

Por exemplo, Páginas da Vida. Por exemplo Páginas da Vida. Não tanto as românticas.

Laços de Família também é bastante dramática, não? Sim, isso! Bastante dramática. E também O Clone todos tinham problemas.

E esta novela, Paraíso Tropical, você gosta? Também está cheia de problemas. Sim.

Fala muito de novelas com outras pessoas? Não, só com minha mãe e com minha irmã.

Sim, pois as novelas que você está vendo não estão sendo transmitidas agora, não? Não. As novelas que estão passando aqui, eu já vi.

Já sabe tudo o que aconteceu e não vai ver de novo, não? Ã-hã.

Busca informações a respeito das novelas em outros meios de comunicação? Ou seja, na Internet, nos jornais... Na Internet, no site da Rede Globo.

Com quem você vê novelas? Sozinha? Não. Vejo com minha irmã.

Aqui nesta sala? Sim.

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Seus pais e irmãos também gostam de novelas? Não. Minha mãe gosta.

Ela vê com você? Não. Não vê as da Globo.

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FAMÍLIA 11 SRA. NENA (ROSA ANTELO DE MORENO)

Quantas horas, mais ou menos, de televisão vê por dia? À noite eu vejo das sete às onze. E ao meio-dia, por meia hora, não?

Senhora Nena, a senhora sempre teve costume de ver novelas? Não. Não sempre. Pois antes eu não vivia na cidade.

Vivia no campo? Vivia.

Não tinha televisão lá? Tinha uma televisão lá, mas não chegava o sinal. Chegava muito pouco. Chegava uma, mas não me lembro....

Desde quando vê novelas? Desde quando?

Sim. Desde que vim pra cá. Deste este ano.

Sobre as novelas brasileiras. O que a senhora gosta nelas? Gosto dos beijos, dos amores... Pois é isso que dão nas novelas brasileiras. Essas coisas de amor. Porque é uma característica das brasileiras, não? As novelas brasileiras... Uma se casa, a outra se casa...

Se lembra das novelas que mais gostou? Não lembro dos nomes.

E as novelas brasileiras se parecem reais? Algumas são, algumas são. Mostram a vida das pessoas.

O que a senhora pensa da novela dos outros países?

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Por exemplo, tenho visto novelas... As que estão dando agora não falam de nada bom. Somente pornô.

E por que prefere as brasileiras? Porque.. Sempre vi as novelas brasileiras. Mas não sei porque gosto das brasileiras. Não sei. Mostram coisas mais distraídas. Mostram coisas da vida real, não?

E que tipo de personagem a senhora gosta? Não me lembro mais dos nomes.

Mas há um tipo? Alguma pessoa?Alguma atriz? Eu sei isso, mas não me lembro dos nomes. Tem uma que está atuando nesta novela que eu gosto. Júlia. Júlia!

Por exemplo: a senhora gosta das mulheres, dos homens, das apaixonadas, de que tipo de personagem? Das que sofrem, que trabalham, que têm família... Gosto de todas, menos das que sofrem.

A senhora busca informações a respeito das novelas? Não.

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FAMÍLIA 12 ALESANDRA DURÁN

Alesandra, quais programas você costuma ver na televisão? Desenhos eu vejo com minha filha. Às vezes quero ver uns programas mas tenho que ver o que ela quer.

Noticiários também? À noite também vemos. Vemos sempre juntos os noticiários.

São, mais ou menos, quantas horas de televisão por dia? Às sete começamos a ver. Normalmente vemos até as 10h30. Eu vejo até as dez e meia. Daí, vou dormir.

Por que prefere estes canais? Unitel, ATB e PAT? Porque aí tem os programas que eu mais vejo. Os que eu mais gosto.

E os outros canais? Porque há muita coisa chata.

Onde você vê televisão? No meu quarto.

Sempre teve costume de ver telenovelas? Não, não sempre.

Desde quando? Desde que vim trabalhar aqui, em Santa Cruz.

Antes não te interessava? Antes eu vivia no campo. Comecei a ver desde os quatorze anos. Desde os quatorze anos que eu saí da minha casa, para trabalhar.

Então já são quatorze anos de telenovelas, não?

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[risos]

O que você mais gosta nas telenovelas? Gosto dos atores, gosto de como se vestem... Vejo coisas novas que nunca vi. Lugares que mostram....

E por que prefere as brasileiras? Porque, porque vocês têm mais... Não são como as mexicanas e, eu te digo, que são de muita tragédia. Mostram pistolas e estas coisas. E as brasileiras não mostram estas coisas. Até agora, enquanto vejo Belíssima, vi somente uma vez. Que mataram o doutorzinho. Por isso gosto. Não são violentas.

E estas novelas se parecem reais? Sim! Passam a vida real. Passam a vida real.

Vê pessoas nas novelas que se parecem com você e com sua realidade? Sim, com minha realidade, com dos meus primos, acontece isso.

Qual o tipo de personagem que você mais gosta? Do bom. O bom é o que eu mais gosto.

E quais são as novelas que você gostou mais até hoje? Gostei de Isaura depois, a que deram depois...

Chocolate com Pimenta? Não. Não a vi. Só vejo Unitel. O rei do Gado! Dessa eu gostei. Depois Belíssima. Me lembro mas esqueci do nome.

O Clone? Ah, O Clone! Essa também eu vi! Essa! Essa! Como não me lembrei dessa? Essa eu vi!

Nenhuma mexicana, colombiana, venezuelana? Todas suas preferidas são brasileiras? A mexicana que eu vi foi esta. La Mentira. Essa eu gostei. La Mentira.

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E você busca informações a respeito das novelas que está vendo? Se sai em algum jornal, de algum artista, eu vejo! Claro, para estar informada, pois! Sempre estou buscando informações destas coisas.

Não te incomoda que as novelas brasileiras não sejam originalmente em espanhol? Que sejam dubladas? Não, pois não entendo. Quando saem em português, não entendo.

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FAMÍLIA 13 ELDY RIBERO

Senhora Eldy, quais programas a senhora costuma ver na televisão? Além das novelas? Das novelas? O… La Batidora, Utilísima e antes se chamava Warner Channel e agora se chama People & Arts, algo assim.

People & Arts? Isso, isso.

Mas nos canais locais? Quase... Os filmes, nada mais.

E as novelas, não? Sim, e as novelas.

Em que canais vê as novelas? No 9 e no 13.

Ou seja, Unitel e... Red Uno.

Por que você gosta destes canais locais e não dos outros? Porque aí tem coisas melhores que nos outros.

O que transmite nos outros que você não gosta? Neles se transmitem coisas que ninguém gosta de ver, não? Transmitem casos da vida real.

Onde vê as novelas? No seu quarto? No meu quarto.

Com seu marido ou sozinha? Sozinha.

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A que horas vê novelas? Agora que não estou trabalhando, vejo uma de manhã, outra depois do almoço e outra à noite.

Ou seja, está vendo três novelas. Três novelas.

Quais são? Corazón Partido de manhã, Hasta que la Plata nos separe e Belíssima. E Gabriota no 30.

Ok. São quatro então. Quatro.

E por que vê estas novelas? Porque são bonitas. AS paisagens que mostram é parte da vida real também, não?

Sempre viu novelas? Sempre

Desde... Desde pequena.

E por que vê? Tem uma razão específica para isso? Ou seja, a gente se esquece um pouco da rotina e pensa em outras coisas.

Se esquece dos problemas. Dos problemas. Sim.

E o que observa nestas novelas? Que coisas? Por exemplo: as atrizes, os atores, as músicas... As músicas e os atores.

Tem alguém que você gosta mais? Um ator preferido? Tem um das novelas brasileiras, mas não me lembro do seu nome. Gordo, bonito.

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Antônio Fagundes? Sim, este.

De cabelo grisalho, não? Sim, meio branco, não?

Você se identifica com os personagens das novelas? Não, não me identifico. Ou seja, a novela é, às vezes, coisas da vida que a pessoa vai vivendo. É bem da vida real.

Se aprende com elas? Se aprende. Sim, se aprende.

Por exemplo, o que você tem aprendido, o que tem observado? Por exemplo, tenho aprendido na novela de um brasileiro que atuava no papel de jardineiro, como cuidar das flores. Aprendi muito com isso.

Há outros exemplos? Sim. Também da outra que cocinaba. Aprendi muito também. Aprendi a fazer duas comidas com ela.

Tem uma lição de vida que você tenha aprendido com as novelas? Sim, que a mulher não deve ser ciumenta em nenhum momento.

Qual novela você prefere: as mexicanas, as brasileiras, as colombianas, as venezuelanas... A brasileira e a colombiana.

Por quê? Porque a brasileira dá mais a vida real, igual à colombiana. Tudo o que passa quase diariamente na Colômbia – os assaltos, os roubos...

E as outras? As outras não. As outras são mais superficiais e mais matanças e estas coisas.

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Não gosta? Não. Não gosto. Não gosto.

Fala muito de telenovelas com outras pessoas? Com minhas amigas sim. Falamos. “Tem visto a novela” “Como foi?”. Essas coisas. Se comenta, não? As novelas que são impactantes, todo mundo comenta.

Quando se encontram, onde estejam? Onde a gente estiver. Vou à cabeleireira, vou trabalhar... E pergunto: “viu a novela essa noite? Conta da tal parte que não vi...”

Busca informações a respeito das novelas que está vendo? Ou seja, se eu busco informações nos meios de comunicação? Sim, busco a notícia.

Ou seja, se você está vendo uma novela e você gosta dela, procura no rádio, nos jornais, na Internet, informações a respeito desta novela? Não, não.

Que tipo de coisas mais te chamam a atenção nas novelas brasileiras? Sua paisagem e as histórias que comentam.

E que tipo de histórias são essas que você gosta? Essa Isaura, por exemplo. Da vida dos escravos, entende? Isaura. Depois, Pantanal. Tudo quase da vida real, de cómo era antes, não?

Ok. E você gosta das novelas mais antigas? Sim. Gosto das mais antigas.

E te incomoda que estas novelas brasileiras sejam dubladas, que não sejam originalmente em espanhol como as mexicanas ou colombianas? Não, porque estão muito bem traduzidas.

São bem traduzidas. Bem traduzidas.

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Quais novelas você gostou mais até hoje? Isaura e Pantanal.

Isaura e Pantanal foram as que você mais gostou? Sim. Agora estão passando Belíssima.

E você está gostando também? Gosto também.

Por que você gostou mais destas novelas: Escrava Isaura e Pantanal? A Escrava Isaura mostra muito o poderio do dinheiro. E o desejo do homem de possuir as escravas. E isso aconteceu na vida real.

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FAMÍLIA 14 NELY RODRIGUEZ

Quais programas vocês costumam ver na televisão? Filha: normalmente os noticiários. Nely: Sim. Os noticiários e depois alguns filmes.

Em que canais locais? Nely: Agora temos TV a cabo. Filha: Sim, mas os canais locais são Unitel e Red Uno. E Bolivisión, o Canal 11.

São mais ou menos quantas horas de televisão por dia? Filha: Ao meio-dia serão umas três horas e à noite não será muito. Nely: Até as dez. No máximo Filha: Outras três horas, acho. Nely: Sim.

Vocês assistem juntas? Nely: Sim, porque pagamos só uma televisão. Filha: Mas às vezes vou à aula e ela assiste sozinha. Nely: Sim, vejo sozinha. Filha: À noite vejo só o noticiário. Não vejo novela. Dá uma hora. E aí vejo outros canais. Musicais.

São os canais da TV a cabo? Filha: Sim.

O que vocês mais gostam na programação local? Filha: As novelas.

Não gostam dos programas locais? Filha: Eu não. Nely: Há alguns que são bons, não? Mas não estou vendo. Estou vendo as novelas.

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As novelas? Nely: Sim. Vejo Belíssima. Às vezes sim, às vezes não.

Quais novelas a senhora está vendo? Filha: Brasileiras?

As brasileiras e as outras. Filha: Hasta que la Plata nos Separe.

Sim, da Unitel. Filha: Sim, da Unitel. E Las dos caras de Ana. Nely: Eu vejo Mariachi. Filha: La hija del Mariachi. Nely: Sim, La Hija del Mariachi e Las dos caras de Ana.

As duas sempre tiveram costume de ver novelas ou não? Filha: sim.

Desde crianças? Desde pequenas? Filha: sim.

A senhora também? Nely: sim.

E por que assistem? Filha: Eu, para distrair. Nely: Eu também.

Têm aprendido algo com as novelas ou não? Filha: observo as roupas. Nely: Sim, eu também.

Sim, mas um comportamento, uma lição de vida...

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Filha: Às vezes inconscientemente, não? Mas, para dizer assim, não saberia o que, digamos.

Há algum tipo de história que vocês gostem? Românticas, dramáticas? As mais engraçadas... Filha: As mais engraçadas. Nely: As mais engraçadas. As mais engraçadas, mais que tudo, porque distraem mais.

Quais novelas vocês preferem, de acordo com a nacionalidade? Filha: Eu prefiro as colombianas porque são mais graciosas. Ao contrário, as venezuelanas e as mexicanas são muito chatas. E as brasileiras são muito compridas! Nely: Eu, pelo contrário, prefiro as brasileiras porque gosto dos lugares onde filmam e sobretudo porque não é monótona. Tem de tudo. Se relaciona com tudo. Isso me encanta. Não é somente romance, mas também questões de família.

São muitos personagens, não? Nely: Sim.

E que tipo de personagem vocês mais gostam? Há um tipo? Filha: Não sei... Não entendi a pregunta.

Vocês se identificam com algum tipo de personagem específico? Filha: Das que estou vendo agora, não, digamos. Nely: Eu também não.

Em Belíssima, tem algum personagem que vocês gostem? Filha: O da Vitória.

Da dona do restaurante, não? Filha: Sim.

E a senhora? Nely: Gosto de Glória Pires. Sempre gostei, desde que essa atriz era criança.

Se chama Júlia.

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Nely: Sim, exatamente.

Por que não assistem as novelas mexicanas? Filha: Para mim, porque são muito chatas. Nely: Não gosto delas.

Buscam informações a respeito das novelas que estão assistindo? Filha: Não, não. Nely: Também não.

Incomoda que as novelas brasileiras sejam dubladas, que não sejam originalmente no espanhol, como as novelas mexicanas ou colombianas? Filha: Para mim não. Nely: Para mim também não.